REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações Ltda.
ISSN: 1983-0882
A oficina filosófica como proposta de intervenção a partir de
István Mészáros
The philosophical workshop as an intervention proposal based
on István Mészáros
El taller filosófico como propuesta de intervención a partir de
István Mészáros
DOI: 10.54033/cadpedv21n2-018
Originals received: 01/04/2024
Acceptance for publication: 01/26/2024
Bernardo Silva Araújo
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Instituição: Secretaria Municipal de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação
(SEMECTI)
Endereço: R. Cônego Nestor, s/n, Centro, São Bernardo – MA, CEP: 65550-000
E-mail:
[email protected]Pedro Pereira dos Santos
Doutor em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
Instituição: Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Endereço: Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Ininga, Teresina – PI,
CEP: 64049-550
E-mail:
[email protected]Marquele de Moura Santos
Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Instituição: Secretaria Estadual de Educação do Piauí (SEDUC)
Endereço: R. Sebastião, 49, Centro, Picos – PI, CEP: 64600-000
E-mail:
[email protected]RESUMO
A presente pesquisa visa refletir sobre a oficina filosófica como uma possível
proposta de intervenção para o ensino de filosofia com estudantes no ensino
médio a fim de fortalecer o interesse deles por esse componente curricular.
Trata-se de uma pesquisa que se fundamenta no método materialista histórico-
dialético e no pensamento do filósofo István Mészáros, que inspira o debate
sobre um ensino de filosofia comprometido com a formação omnilateral do
sujeito sócio-histórico. Participaram da pesquisa seis (06) estudantes do ensino
médio de uma escola pública do munícipio de Joca Marques, no Estado do Piauí.
Os dados foram organizados e analisados conforme a técnica análise de
conteúdo de Bardin. Os resultados revelam que a proposta de intervenção é um
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importante recurso para contribuir com que os estudantes despertem o interesse
pelas aulas de filosofia, pois podem se posicionar criticamente acerca de um
determinado tema relacionado com o cotidiano deles. Diante disso, espera-se
que a oficina possa contribuir com os educandos, uma vez que pode educá-los
para a criticidade, a superação do senso comum, a visão crítica do mundo e o
engajamento na luta pela superação radical da sociedade de classe.
Palavras-chave: proposta de intervenção, oficina filosófica, ensino de filosofia.
ABSTRACT
This research aims to reflect on the philosophical workshop as a possible
intervention proposal for teaching philosophy to high school students in order to
strengthen their interest in this curricular component. This is research that is
based on the historical-dialectic materialist method and the thought of the
philosopher István Mészáros, which inspires the debate on philosophy teaching
committed to the omnilateral formation of the socio-historical subject. Six (06)
high school students from a public school in the municipality of Joca Marques, in
the State of Piauí, participated in the research. The data were organized and
analyzed according to Bardin's content analysis technique. The results reveal that
the intervention proposal is an important resource to help students arouse interest
in philosophy classes, as they can take a critical position on a certain topic related
to their daily lives. In view of this, it is hoped that the workshop can contribute to
students, as it can educate them to be critical, to overcome common sense, to
have a critical view of the world and to engage in the struggle to radically
overcome class society.
Keywords: intervention proposal, philosophical workshop, teaching philosophy.
RESUMEN
Esta investigación pretende reflexionar sobre el taller filosófico como posible
propuesta de intervención para la enseñanza de la filosofía a los alumnos de
bachillerato con el fin de potenciar su interés por este componente curricular.
Esta investigación se fundamenta en el método materialista histórico-dialéctico y
en el pensamiento del filósofo István Mészáros, inspirador del debate sobre la
enseñanza de la filosofía que apuesta por la formación omnilateral del sujeto
socio-histórico. Participaron en la investigación seis alumnos de enseñanza
media de una escuela pública de la ciudad de Joca Marques, en el estado de
Piauí. Los datos se organizaron y analizaron mediante la técnica de análisis de
contenido de Bardin. Los resultados muestran que la intervención propuesta es
un recurso importante para ayudar a los alumnos a despertar el interés por las
clases de filosofía, ya que pueden posicionarse críticamente sobre un tema
determinado relacionado con su vida cotidiana. Por lo tanto, se espera que el
taller pueda contribuir con los alumnos, ya que puede educarlos para ser críticos,
superar el sentido común, tener una visión crítica del mundo y comprometerse
en la lucha por la superación radical de la sociedad de clases.
Palabras clave: propuesta de intervención, taller filosófico, enseñanza de la
filosofía.
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1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho é resultado da pesquisa desenvolvida no âmbito da
proposta de intervenção do Mestrado Profissional em Filosofia da Universidade
Federal do Piauí (UFPI), defendida em 2022, com o título "A filosofia no ensino
médio: uma análise sobre o interesse dos estudantes na perspectiva do filósofo
István Mészáros".
Para tanto, considera-se que o ato de ensinar filosofia é perpassado por
fatores intrínsecos – que são aqueles próprios do processo de ensino e
aprendizagem, como a figura do professor, do estudante, o conteúdo a ser
ensinado, a metodologia e os recursos de ensino –, como também por fatores
extrínsecos – de ordem econômica, política, social e cultural – que, em larga
medida, podem condicionar o ensino do professor em sala de aula.
Pela revisão de literatura previamente realizada, identificou-se que há
diversas pesquisas sobre o ensino de filosofia, porém estas priorizam os fatores
intrínsecos e secundarizam os fatores extrínsecos do processo educativo.
Assim, explica-se de forma unilateral que o pouco interesse dos estudantes pela
filosofia no nível médio é, sobretudo, uma questão de caráter intrínseco e que
pode ser minimizada pelo domínio de conteúdo e pela didática do professor. Na
contramão este estudo demonstra que, para compreender o pouco interesse dos
estudantes, é preciso articular dialeticamente os fatores supracitados a fim de
uma melhor intervenção no problema investigado.
Ao analisar os fatores que ocasionam o pouco interesse dos estudantes
por este componente curricular no ensino médio, espera-se contribuir tanto
para o meio acadêmico, quanto para os jovens estudantes, em especial para
aqueles das escolas públicas. Ao mesmo tempo em que se defende a filosofia
não como tema transversal, mas como conteúdo obrigatório no ensino médio,
posiciona-se também a favor de um ensino comprometido com a formação
omnilateral do ser humano.
A proposta de intervenção visa um ensino de filosofia que envolva todos
os estudantes em um clima de cooperação, respeito, compromisso e diálogo.
Assim, espera-se que os envolvidos se sintam responsáveis por cada ação
realizada, agindo como artesãos no processo de apropriação e reelaboração do
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conhecimento. Para tanto, essa ação requer a participação dos sujeitos
investigados na discussão do tema a ser abordado na oficina filosófica.
Em vista disso, esta pesquisa defende a postura ativa dos estudantes no
processo de ensino e aprendizagem. Almeja-se, então, que o ensino de filosofia
possa contribuir tanto para apropriação de um determinado conteúdo, como
também para reelaborá-lo criticamente, a fim de problematizar o modelo de
sociedade instituído.
Conforme foi observado, quando se investiga os fatores que ocasionam a
pouca identificação dos estudantes do ensino médio com o ensino de filosofia,
encontra-se muitas pesquisas que priorizam o conteúdo e a metodologia
docente, o que também deve ser considerado. Todavia, a leitura de Mészáros
acrescenta outros elementos que complementam o debate sobre o ensino
filosófico, como o fator político, econômico, social e cultural. Desse modo, foi em
diálogo com esse pensador citado acima e com outros que se alinham à
perspectiva materialista histórico e dialética, que se desenvolveu a proposta de
intervenção por meio de uma oficina filosófica.
Embora Mészáros não discuta especificamente sobre o ensino de
filosofia, o conjunto da sua obra contribui para esta proposta de intervenção na
medida em que reflete sobre os mais diversos aspectos da sociedade capitalista,
dentre eles, a economia, a política, o Estado, o poder bélico e a educação situada
em um sistema produtivo que impõe limites nas diversas esferas da vida
humana. Mas, como esse pensador húngaro compreende esse sistema? Qual
seria a sua natureza?
Esse sistema, Mészáros o denomina de capital que se caracteriza pela
lógica compulsiva de extração de mais-valia. Essa lógica é incontrolável e leva
à acumulação incessante do excedente econômico, mesmo que isso signifique
a destruição do meio ambiente, a alienação do trabalhador e a desumanização
da sociedade. Dessa forma, para Mészáros (2011), o capital é um sistema
incorrigível que está colocando em risco a sobrevivência da humanidade.
Assim, o sistema sociometabólico do capital é uma força que, em larga
medida comanda os diversos complexos sociais como a economia, a política, a
filosofia, a cultura, dentre outros. Por isso, esse pensador entende que o capital
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é “[...] o poder econômico onipotente da sociedade burguesa” (Mészáros, 2011,
p. 702). Nesse sentido, sua onipotência não significa que seja insuperável, mas
devido o sistema do capital ser uma força dominante na sociedade burguesa.
Diante disso, o presente trabalho levanta o seguinte problema: em que
medida a oficina filosófica como proposta de intervenção pode contribuir para
despertar o interesse dos estudantes acerca do ensino de filosofia no ensino
médio? A partir disso, tem-se como objetivo geral apresentar a oficina filosófica
como proposta de intervenção, visando contribuir para despertar o interesse dos
estudantes acerca desse componente curricular no ensino médio.
O texto está estruturado em três partes, além desta introdução. Na
primeira, conceitua-se, a oficina filosófica a partir de Mészáros, entendendo-a
como um espaço de debate de ideias, de reflexão e de reinvenção do
pensamento, a fim de desvelar as artimanhas do capital em direção da
emancipação humana. Em seguida, detalha-se os momentos da oficina,
interligados dialeticamente, como um caminho que pode ser trilhado no
componente curricular de filosofia no nível médio. E por fim, são feitas algumas
considerações finais na perspectiva de apresentar as possibilidades do ensino
de conteúdos filosóficos.
2 O QUE É UMA OFICINA FILOSÓFICA?
Valle e Arriada (2012) compreendem que, de maneira geral, a oficina é
um espaço em que se realiza uma atividade laboral, como artesanato,
carpintaria, costura, dentre outros. No campo educacional, ela pode ser vista
como um local em que estudantes e professores se encontram para refletir sobre
um conjunto de questões que são próprias do seu cotidiano. Trata-se, assim, de
uma forma de ensinar e aprender coletivamente, que pretende articular teoria e
prática para compreensão e intervenção em um determinado problema.
Vieira e Volquind (2002) afirmam que a oficina é um lócus de interação,
onde se promove a investigação, a ação e a reflexão, articulando o esforço
individual e coletivo para pensar e intervir no mundo. Assim, neste trabalho,
entende-se a oficina filosófica como um espaço de apropriação de conhecimento
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e de reelaboração do pensamento dos estudantes sobre um determinado tema
que emerge do próprio contexto de investigação.
A oficina filosófica é o espaço de parceria, de debate, de reflexão, de
consenso e de dissenso em torno de um objeto de estudo. O professor e os
estudantes tornam-se companheiros que unem esforços para a compreensão
crítica de si mesmos e do mundo em que vivem. E como parceiros, ajudam-se
mutuamente no processo de aquisição do conhecimento e de recriação do
pensamento, alicerçado pela dúvida, a incerteza e o desejo de construir novas
respostas.
Depreende-se que para construir algo é preciso se apropriar do que já
existe. Para Santos (2018), a apropriação do conhecimento ocorre, sobretudo,
quando os sujeitos mais experientes transmitem o acervo cultural herdado para
as novas gerações. Ele afirma ainda que a educação, como instância mediadora
que possibilita a apropriação do acervo material e cultural a ser apropriado pelos
sujeitos históricos, ocorre tanto no ambiente escolar, quanto em outros espaços
de aprendizagem.
Intui-se que a oficina pode proporcionar aos estudantes um momento de
reflexão para intervirem na realidade, o que requer a apropriação rigorosa de
conteúdos não só para elaborarem respostas imediatas, mas para ampliarem a
sua visão crítica de mundo. Nesse sentido é que “[...] a oficina pode ser
considerada uma oportunidade de vivenciar situações concretas e significativas”
(Valle; Arriada, 2012, p.3).
A oficina filosófica é uma ação que articula os conceitos e a vivência do
professor e dos estudantes em busca da construção de respostas acerca de algo
que os instiga. Ela é, então, uma atividade problematizadora na medida em que
provoca os sujeitos do processo de ensino e aprendizagem a duvidarem do que
está posto no seu convívio social.
Pode-se dizer que, na oficina filosófica, o pensamento dos envolvidos é
afetado, porque quem ensina e indaga também é posto à prova pelos que
aprendem. Por meio dela, aquele que ensina também pode ser desafiado pelo
questionamento dos que aprendem, tornando-se parceiros problematizadores do
que é tido como óbvio, corriqueiro e banal. Nesse sentido é que, à luz do
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pensamento do filósofo húngaro (2011, p. 221-22, grifos do autor), conceitua-se
a oficina de filosofia como um espaço de debate de ideias, de reflexão e de
reinvenção do pensamento, a fim de contribuir para desvelar as artimanhas da
ordem do capital em busca da conquista da igualdade substantiva.
[...] o desafio histórico de ter de lutar contra as catastróficas
implicações dos limites absolutos do capital consiste justamente na
necessidade de encontrar soluções viáveis para cada uma das
contradições nele manifestas, por meio de uma boa redefinição
qualitativa do significado do avanço produtivo, em vez de por
intermédio da fetichista maneira quantitativa de tratar dos problemas
do desenvolvimento utilizada pelo sistema do capital – uma redefinição
qualitativa que abrangesse toda a humanidade em termos de
substantiva igualdade, em vez de continuar excluindo a avassaladora
maioria dos seres humanos dos frutos do avanço produtivo, como
aconteceu durante o longo período de ascendência histórica do capital.
Nessa direção, a oficina, além de ser o espaço para fazer perguntas e
reelaborar o pensamento, é também o momento de problematizar o modelo de
sociedade que se funda na desigualdade humana, mesmo defendendo a
igualdade de todos perante a lei. Nela, o professor desvela, em parceria com os
estudantes, os limites da cidadania neoliberal e os instiga a lutarem pela
igualdade substantiva.
Mészáros (2015, p. 89) esclarece que a conquista dessa igualdade
pressupõe uma nova forma de organização societária que está “[...] longe de
orientar-se para um mundo de sonhos de alguma comunidade utópica de vila
bucólica [...]”, pois será sustentada pelos produtores associados, agora donos
dos meios de produção, e que produzirão a riqueza para o bem comum.
De acordo com essa perspectiva, a oficina filosófica como proposta de
intervenção contribuirá para que os sujeitos sócio-históricos possam refletir
sobre si mesmos e lutar em direção à emancipação humana. Isso se torna
relevante, haja vista que a classe trabalhadora enfrenta tempos de
aprofundamento da desigualdade social, desemprego estrutural, fome, dentre
outros. E foi nesse quadro social que os estudantes, participantes da pesquisa,
demonstraram imensa preocupação em concluir o ensino médio para se
inserirem no mercado de trabalho como empreendedores.
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Essa realidade marcada pelo subemprego, desemprego, informalidade e
incapacidade do poder estatal de garantir às famílias o emprego como um direito
social, forçam-nas a lutar com base nas próprias forças para manter a sua
sobrevivência. Assim, a luta para a família se manter viva reflete também no
cotidiano dos entrevistados, que pretendem se formar para atender a demandas
imediatas. Por essa razão, alguns deles encontraram no trabalho autônomo uma
alternativa para conseguir garantir o próprio sustento e o da sua família, visando
amenizar os efeitos do desemprego causado pela crise estrutural do capital
(Mészáros, 2011).
Desse modo, o discurso do empreendedorismo está muito presente na
vida dos estudantes e dos seus pais, mas também ultrapassa as barreiras do
ambiente familiar. Em muitas escolas públicas, os estudantes são ensinados a
se tornarem empreendedores desde o ensino fundamental, o que se expressa
nas parcerias delas com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE).
A mídia também contribui bastante para nutrir essa ideia, sobretudo
alguns canais de telecomunicação que incentivam, com bastante frequência, as
pessoas a se tornarem donas de seus próprios negócios. Ela propaga um
discurso de que ser um empreendedor tem suas vantagens, como ter horário
próprio de trabalho, superar o desemprego e conseguir ascensão financeira.
Ressalta-se que a oficina filosófica se fundamenta na perspectiva
materialista histórico-dialética, que requer o estudo do tema acima, o qual
emergiu da realidade dos próprios estudantes. Tendo definido o que se entende
como oficina filosófica e o que será trabalhado, cabe detalhar os momentos,
questão que será abordada a seguir.
3 MOMENTOS DA OFICINA
O detalhamento da oficina filosófica demonstra como foi a intervenção em
sala de aula e explicita também um dos caminhos a ser trilhado no ensino de
filosofia no nível médio. Todavia, ela não deve ser seguida como uma receita ou
método pronto, mas apenas como um roteiro flexível a ser reinventado pelo
professor e pelos estudantes de acordo com as diversas realidades educacionais.
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Desse modo, a oficina se constituiu de dois momentos interligados
dialeticamente, que se realizou em semanas diferentes, com duração de
sessenta (60) minutos cada uma. O primeiro momento foi o da apropriação, em
que o professor apresenta o tema a ser discutido, utilizando um texto e um
video que instigue os estudantes a se aproximarem e se identificarem com o
assunto em questão. No segundo, adotou-se outro texto e vídeo que
apresentaram o contraponto do que foi discutido no primeiro momento,
provocando os estudantes ao consenso ou ao dissenso, de forma
fundamentada, o que pode demandar deles a reelaboração do que antes
pensavam sobre o objeto em discussão.
Para esse fim, criou-se um grupo no WhatsApp onde os participantes da
oficina foram adicionados. Posteriormente, disponibilizou-se o material do
primeiro momento para que os estudantes se preparassem para a atividade.
Assim, assistiram ao vídeo “Dificuldades foram gás para mudanças e
empreendedorismo na vida de brasileiros1”, com duração de 12 minutos e 21
segundos, do programa Globo Repórter.
Esse vídeo mostra o exemplo de duas famílias que, mesmo
desempregadas no período de pandemia, conseguiram superar essa dificuldade
por meio da ação empreendedora. A primeira delas, composta por três membros,
ficou desempregada e teve que se tornar empreendedora. A mãe e a filha
passaram a vender bijuterias em uma feira de roupas no Rio de Janeiro, e o pai
se tornou motorista de aplicativo. A segunda família é constituída por um casal
que, ao viver a situação de desemprego na cidade, mudou-se para uma fazenda
no interior de Mato Grosso, onde o homem, ao mesmo tempo em que planta e
cuida de animais, também é mecânico de moto, carro popular e trator. Em um
período de dez anos, ele afirma que conquistou pacientemente a independência
financeira a ponto de se conceber como patrão de si mesmo.
O referido vídeo foi selecionado porque é acessível aos estudantes e
expressa bem o significado do empreendedorismo, tido como o poder de
iniciativa de alguns sujeitos que, em um momento de crise, sobretudo
1 Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8948174/. Acesso em: 12 jul. 2022.
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econômica, utilizam-se da ousadia, do esforço pessoal e da determinação para
superarem os mais diversos entraves que perpassam a sua trajetória de vida.
Assim, a reportagem exibe histórias de sucesso de pessoas empreendedoras
que superaram o desemprego e se tornaram modelo de criatividade e
perseverança diante de uma situação desumana que viveram.
Ao iniciar a oficina filosófica realizada de forma presencial, o professor
ficou atento para saber até que ponto os estudantes desconfiavam do que estava
sendo exposto no vídeo. Pois o empreendedorismo é uma ideologia neoliberal
que responsabiliza o sujeito tanto pelo êxito, quanto pelas suas ruínas na arena
social, omitindo a função do Estado como esfera pública (ANTUNES, 2018) que
legalmente pretende garantir os direitos civis, políticos e sociais.
Dessa maneira, após os estudantes assistirem ao vídeo em casa, o
professor solicitou o compartilhamento de suas opiniões sobre o
empreendedorismo. Esse foi um momento de interação e de troca de ideias
convergentes e divergentes acerca do assunto em pauta, mas em um clima de
respeito e solidariedade.
Em seguida, o professor pesquisador trabalhou o texto a favor do
empreendedorismo, previamente lido pelos estudantes. Não foi feita nenhuma
exposição do conteúdo pelo docente, apenas as seguintes indagações: 1) Como
você define o empreendedorismo? 2) Quais as principais características de uma
pessoa empreendedora? 3) Qual a sua opinião acerca do tema abordado?
Essa atividade e a que a antecedeu foram relevantes para a identificação
e maior apropriação do conteúdo discutido pelos estudantes. Explicou-se ainda
que as respostas construídas por cada um deles deveriam ser fundamentadas
no texto, mas que teriam liberdade para concordar ou não com o pensamento
dos autores.
Feitas essas orientações, o professor apresentou aos estudantes um
artigo escrito por Nóbrega et al. (2013), intitulado: “A necessidade de pessoas
empreendedoras na micro e pequena empresa”2. Esse texto aborda o conceito
do empreendedorismo, as características inerentes ao empreendedor, as
2 Disponível em: http://www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/iniciacao/documentos/anais/7.TECNO-
LOGIA/7CCSADAMT02.pdf. Acesso em: 12 jul. 2022.
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vantagens de ser empreendedor e traz exemplos de pessoas que conseguiram
se tornar empresários bem sucedidos.
Os estudantes leram esse texto em casa e o professor se reuniu com eles
em uma sala para discussão do material. Em círculo, foram debatidas as
questões referentes ao conceito de empreendedorismo, as características do
empreendedor e a opinião dos estudantes sobre o assunto. Destaca-se que esse
momento em grupo possibilitou bastante a interação e colaboração dos
estudantes, que demonstraram se sentir à vontade para participar da oficina.
Nesse clima de leveza, o professor continuou com a oficina filosófica e os
estudantes fizeram seus comentários sobre o vídeo e o texto. De forma unânime,
posicionaram-se positivamente a favor da oficina e destacaram que o tema era
instigante por tratar da realidade deles. Em seguida, foi solicitado que
apresentassem suas respostas acerca das questões disponibilizadas
previamente no grupo do WhatsApp, conforme serão apresentadas a seguir.
3.1 O EMPREENDEDORISMO COMO MANIFESTAÇÃO DA LÓGICA DO
CAPITAL
O empreendedorismo é uma ideologia neoliberal, que teve início na
década de 1970 e vem crescendo nos últimos tempos. No Brasil, esse discurso
ganhou força, principalmente, com a intensificação da crise estrutural do capital,
a redução dos direitos da classe trabalhadora, o avanço das pautas políticas de
extrema direita e o crescente número de desempregados.
O desemprego, segundo Carmo et al (2021) é apresentado pelos
ideólogos do capital como uma falha individual do sujeito que não conseguiu se
adaptar as novas exigências do mercado de trabalho. Assim, responsabiliza o
indivíduo pela sua situação de precariedade em que se encontra e desvia a
atenção dos problemas estruturais que são inerentes ao próprio sistema
sociometabólico do capital, questões que serão discutidas a seguir ao analisar
as falas dos sujeitos da pesquisa.
Sobre a definição de empreendedorismo, dos 06 (seis) estudantes que
participaram da oficina, 01 respondeu que “[...] consiste em investir seu tempo e
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dinheiro em algum tipo de negócio, estudar incessantemente o mercado e os
clientes para saber como melhorar [...]” (Sp1).
Observa-se que o sujeito supracitado tem consciência de que o
empreendedorismo requer investimento, estudo de mercado, conhecimento do
perfil dos clientes e busca constante pelo aperfeiçoamento do negócio a fim de
evitar a falência. A fala do investigado reproduz a ideia de que o êxito depende
da subjetividade do empreendedor, mas demonstra também a dificuldade de
quem empreende, que precisa ter dinheiro para investir, definir bem a clientela e
conhecer a área a qual pretende se dedicar.
Dois estudantes, o que representa (33%) dos sujeitos desta pesquisa,
entendem o empreendedorismo como uma forma de identificar os problemas e
transformá-los em solução. Nessa direção, o Sp2 compreende que o “[...]
empreendedorismo é a capacidade que temos em identificar problemas e fazer
deles uma oportunidade [...]”. Acrescenta ainda o Sp3 que: “[...] Ser
empreendedor é executar sonhos mesmo que haja risco [...]”.
Para esses sujeitos, o empreendedorismo é uma via que transforma
problemas em oportunidades, sendo uma forma de realizar sonhos e correr riscos
para conquistar a felicidade. Porém, em diálogo com Antunes (2018), o que se
percebe é que, pela ideologia do empreendedorismo, os sujeitos tomam para si
um problema de ordem estrutural e o compreendem como se fosse individual.
Para Antunes (2018), o empreendedorismo é um discurso que valida a
lógica do capital na medida em que, num contexto de crise estrutural, os sujeitos,
ao invés de lutarem coletivamente para conquistarem uma nova forma de
sociabilidade, voltam-se para si mesmos e sonham individualmente em se
tornarem seus próprios patrões.
Porém, mesmo trabalhando com o texto e o vídeo a favor do
empreendedorismo, o participante Sp4 desconfia desse discurso e afirma que
ele é “[...] um refúgio para o desemprego, já que vários [...] procuram [...] e
sonham em ter seu negócio próprio [...]”. Divergindo dessa concepção, o Sp5
compreende o empreendedorismo como “[...] uma forma que as pessoas
encontram para se sustentar [...] e de realizar seus sonhos por conta própria [...]”,
e o Sp6 defende que é uma “[...] maneira de você estar livre de um patrão [...]”.
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Pelos fragmentos das falas, percebe-se que um dos sujeitos (Sp5)
entende o empreendedorismo não como sinônimo de liberdade do poder do
patrão (Sp6), mas como válvula de escape que procura minimizar o problema do
desemprego. Parece que essa forma de pensamento que manifesta um embrião
de desconfiança demonstra que, por mais que a televisão, as plataformas digitais
e algumas escolas estejam em sintonia com a ideologia empreendedora, há
espaço também para a contrapartida do instituído, o que pode ser fortalecido
pelo professor no sentido da construção de um novo discurso contra a
hegemonia do capital.
Em sintonia com o exposto, Antunes (2020) afirma que o
empreendedorismo se apresenta como uma solução positiva para superar a
condição dos desempregados e dos desalentados3, mas que ao privilegiar o
aspecto individual, enfraquece a dimensão coletiva da luta de classes.
Sobre a segunda questão que trata das principais características de uma
pessoa empreendedora, os participantes das oficinas destacaram a dedicação,
o esforço, a inovação, a ousadia, a vontade de vencer, etc. Nesse sentido, o Sp1
respondeu que a “[...] principal é a criatividade para poder começar, tem que ser
esforçado, estudioso, ter algum conhecimento de economia [...]”.
Nessa direção, o Sp2 entende que uma “[...] pessoa empreendedora é
capaz de identificar oportunidades, ser inovadora, criativa, determinada,
persistente, preocupada com a realidade e a eficiência”, enquanto que o Sp3
assevera que empreender pressupõe “[...] a criatividade, a capacidade de inovar
e de buscar solução para os problemas [...]”.
As falas demonstram como a ideologia empreendedora enfatiza as
qualidades individuais e secundariza os aspectos econômicos, políticos e sociais
que se articulam para a mobilidade social de um determinado sujeito histórico,
questão essa que é criticada por Valentim e Peruzzo (2017, p. 122), quando
dizem que esse discurso “[...] tem ocupado cada vez mais espaço nas políticas
de governo e nos modelos educacionais adotados pelas instituições de ensino,
sobretudo de nível superior e técnico”.
3
Segundo o IBGE, os desalentados são aqueles que, de tanto procurarem emprego e não con-
seguirem, desistiram de o procurar.
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Para essas autoras, o modelo de educação de viés empreendedor prioriza
o desenvolvimento de sujeitos competitivos para a inserção no mercado de
trabalho, demandando deles inovação, criatividade, flexibilidade e competência,
termos recorrentes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio.
É nesse contexto que quase todos os sujeitos da pesquisa sonham em
ajudar economicamente as suas famílias. Acreditam que podem se tornar
patrões de si mesmos, demonstrando que, embora haja embriões de espanto
filosófico na sociedade em que vivem, ainda tendem a reproduzir discursos que
validam a ideologia empreendedora enaltecedora da ousadia de alguns
indivíduos, como também responsabilizadora dos sujeitos pela sua situação de
pobreza e miséria, explicando-a como resultado da pouca capacidade inventiva,
competente e ousada dos sujeitos sociais.
Ciente, então, da força da ideologia empreendedora expressa na fala dos
estudantes investigados, o professor pesquisador solicitou o registro escrito e o
compartilhamento da opinião deles sobre o tema investigado. Desse modo, após
terem discutido o conceito de empreendedorismo e as caraterísticas de uma
pessoa empreendedora, tiveram um tempo aproximado de vinte (20) minutos
para registrarem as opiniões e as compartilharem no grupo.
Após esse momento, o diálogo foi retomado. O Sp1 expressou certo
receio sobre a atividade empreendedora, justificando que é “[...] um investimento
de alto risco, muito difícil de começar e manter, precisa atender a região e os
possíveis clientes, é preciso ter uma certa sorte. [...]”.
O Sp4 também se mostra cauteloso quando diz que “[...] o
empreendedorismo é um refúgio para quem quer ter o próprio negócio e sair do
desemprego, mas há um porém, pois se não souber investir, isso pode levar a
sérios problemas [...]”.
Essas falas, embora ainda expressem a crença dos sujeitos no
empreendedorismo, parecem manifestar também sinais de desconfiança, de
suspeita, de dúvida, na medida em que afirmam que existem riscos e que é
preciso sorte por parte do sujeito empreendedor. Depreende-se que o professor
de filosofia precisa atentar-se para captar essas desconfianças, problematizando
as contradições do discurso hegemônico.
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Nesse momento da oficina, o pesquisador exercitou a escuta dessas
vozes e todos puderam se expressar. Assim, o Sp2 afirma que o “[...]
empreendedorismo serve para resolvermos problemas ou situações
complicadas, mas ao mesmo tempo realizar sonhos [...]”. Nessa mesma direção,
o Sp3 afirma que o “[...] empreendedorismo é [para] resolver problema [...] e
transformar uma ideia em um negócio lucrativo [...]”.
Tanto os sinais de desconfiança, quanto as afirmações contundentes que
deixam pouca margem para as dúvidas são relevantes para o professor de
filosofia. As certezas expressadas nas falas (Sp1 e Sp2) acima, que asseveram
que o empreendedorismo visa sanar problemas, concretizar sonhos e converter
ideia em lucro, podem ser problematizadas pelo docente a fim de fazê-los
compreender criticamente o porquê de o discurso empreendedor, identificando
os seus apologistas, os destinatários, as instituições sociais envolvidas e as
consequências para a vida dos sujeitos sociais.
Essa postura instigadora do docente de filosofia pode contribuir para que
os estudantes se tornem vigilantes quanto à ideologia empreendedora e
desenvolvam cada vez mais a sua consciência crítica na luta
contrainternalizadora das artimanhas do capital. Nesse sentido é que Mészáros
(2005, p. 107) depreende que a filosofia “[...] contribui de maneira vital para o
desdobramento e a realização completa das potencialidades inerentes a essa
práxis emancipatória”.
Conforme essa perspectiva, o professor é o que escuta as crenças
costumeiras (CHAUÍ, 2011) dos estudantes e as cataloga para problematizá-las.
Foi por meio dessa postura que o pesquisador ouviu a fala do Sp5, que defende
o pensamento empreendedor, porque é “[...] uma forma de realizar [...] sonhos
sem a influência de um chefe ou qualquer outra pessoa [...]”. Dessa maneira, o
Sp6 opina que “[...] as pessoas estão abrindo um negócio, gerando mais
oportunidades de emprego. Então, eu apoio [...]”.
Antunes (2020, p. 3) ressalta que essa ideia do sujeito como patrão e
gerador de oportunidades ganha força em um cenário histórico em que o modelo
de sociedade capitalista é o horizonte. Isso significa que há uma forte tendência
de a maioria das pessoas se familiarizarem com uma realidade marcada pela
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negação da dignidade humana e destruição ambiental. É nesse quadro social
dramático que se fortalece o empreendedorismo como um “elixir do mundo
desprovido de sentido” da emancipação humana.
Desse modo, os sujeitos da pesquisa (Sp5 e Sp6) defendem o
empreendedorismo como possibilidade de emprego, de realização pessoal e de
independência da figura do empregador. Porém, Valentim e Peruzzo (2017, p.
102) esclarecem que “o empreendedorismo se transforma numa das grandes
ideologias do capital, resposta estratégica no contexto de ampliação do
desemprego estrutural”.
Pelo visto, o discurso empreendedor camufla as razões de ser das
mazelas da sociabilidade do capital e convence as classes subalternas de que
problemas como desigualdade social, desemprego, pobreza, baixa escolaridade,
precário acesso à educação escolar e à universidade, ocorrem por falta de
iniciativa pessoal, mas que um novo comportamento ousado do indivíduo pode
reverter essa situação.
Centrado na subjetividade e negligenciando as determinações do real, o
empreendedorismo conquista não apenas os sujeitos investigados, como também
os professores e os profissionais das mais diversas áreas. Foi ciente dessa
ideologia pacificadora do conflito de classes e que, em larga medida, foi absorvida
pelos estudantes, que o pesquisador concluiu essa primeira etapa da oficina.
Já no segundo momento da oficina, o pesquisador adotou um novo texto
que critica a ideologia empreendedora, visando instigar as dúvidas dos
estudantes e identificar a predisposição deles para reelaboração do seu
pensamento acerca do tema investigado. Assim, seguiu-se os mesmos passos
do primeiro momento.
O vídeo escolhido para iniciar esse segundo momento foi o de Ricardo
Antunes, intitulado “O mito do empreendedorismo”4, com duração de 10 minutos
e 03 segundos. Nele, o autor realiza uma crítica contundente à ideia de que para
superar as mais diversas reverberações da crise do capital, basta, sobretudo, a
ousadia, a criatividade e a capacidade de correr riscos.
4 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lqC8yEuFDAs. Acesso em: 12 jul. 2022.
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Além do vídeo, o professor pesquisador compartilhou também o segundo
texto no qual Antunes é entrevistado sobre o tema investigado. O autor
compreende que em um contexto de aprofundamento da crise do capital, as
inovações tecnológicas, que são conquistas da humanidade, foram
preponderantemente colocadas à serviço da extração compulsiva de mais-valia.
Para esse fim, o sistema sociometabólico requer trabalhadores que tenham alto
nível de formação para desenvolver as demandas da esfera produtiva, cultural,
financeira, etc. Esses seletos trabalhadores são os que ainda tendem a
permanecer empregados, enquanto os demais são substituídos pelas máquinas
e equipamentos ultramodernos.
O vídeo e o texto expõem essa realidade, que não é distante da vida dos
estudantes, porque eles mesmos vivenciam o drama do desemprego e
subemprego na família ou na sua comunidade. Desse modo, como os
estudantes tinham lido o texto e assistido ao vídeo, o professor lançou três
questões problematizadoras para que fossem respondidas em dupla, quais
sejam: 1) Segundo o vídeo e a entrevista de Ricardo Antunes, como é definido
o empreendedorismo? 2) Quais os fatores que contribuem para fortalecer o
empreendedorismo? 3) O que você pensa agora acerca do empreendedorismo?
Com base nessas perguntas, cada dupla reuniu-se por um período de
aproximadamente vinte minutos para elaborar, discutir e sistematizar suas
respostas escritas em papel madeira para serem compartilhadas no coletivo. O
Sp1 e o Sp2 foram os primeiros a compartilharem suas respostas sobre o
empreendedorismo, afirmando que ele é “[...] uma forma do Estado se livrar de
suas obrigações quanto aos direitos trabalhistas, iludindo as pessoas [...]”.
Ancorados em outra perspectiva, os estudantes demonstraram que se
apropriaram de um novo conteúdo, conseguindo desvelar o empreendedorismo
como uma tática utilizada por determinados grupos para iludir o trabalhador, na
medida em que ele passa a acreditar em uma aparente autonomia, mas o que
de fato ocorre é a transferência de responsabilidade de uma instância estatal
para a esfera individual.
A segunda dupla afirma que: “[...] o empreendedorismo é um mito que
cresce pelo desemprego, o enfraquecimento das políticas sociais e as novas
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tecnologias [...]” (Sp4 e Sp5). Desse modo, os estudantes, além de concordarem
com a ideia de que o empreendedorismo é um artifício utilizado pelo capital para
escamotear as suas mazelas, destacam também três fatores que contribuem
para o fortalecimento do pensamento empreendedor nesse momento histórico,
como o desemprego, a modernização tecnológica que cada vez mais reduz a
quantidade de trabalhadores empregados nas empresas e a redução das
políticas públicas que visam garantir os direitos sociais conquistados pela luta
dos mais diversos segmentos sociais.
Esse foi também o entendimento da terceira dupla (Sp2 e Sp3), quando
assevera que: “[...] o empreendedorismo é um mito, pois [...] não cria trabalho
digno em meio alto índice de desemprego, o enfraquecimento das políticas
sociais e o avanço de novas tecnologias [...]”.
Para Carmo et al (2021), o empreendedorismo é visto pelos apologistas
do capital como solução para o desemprego, e se fortaleceu em 1970 a partir de
estudos realizados no campo da gestão empresarial. No Brasil, esse discurso
ganhou força em 1990, no mandato do presidente Fernando Collor de Melo,
defensor das pautas neoliberais. Ressaltam os autores supracitados que,
embora essa ideologia defenda a prosperidade do empreendedor, uma
quantidade significativa deles trabalha apenas para sobreviver no mercado de
trabalho competitivo.
A segunda questão tratou dos fatores que contribuem para o
fortalecimento da ideologia empreendedora. A esse respeito, as respostas das
três duplas foram bastante similares, pois afirmaram que: “[...] a troca do homem
pela máquina, aprofundando o desemprego [...] a mídia e o Estado. [...]” (Sp1 e
Sp6). Nessa direção, a dupla Sp4 e Sp5 disse: “[...]. Os trabalhadores são
substituídos por máquinas, ficando assim sem emprego e recorrem ao
empreendedorismo como forma de se sustentar [...]”. Por fim, a dupla Sp2 e Sp3
afirmou que: “[...] há um desemprego estrutural em escala global. Segundo, a
troca da mão de obra pela máquina [...]”.
Uma pequena diferença entre essas respostas expressa-se na fala da
dupla Sp1 e Sp6, na medida em que destaca a mídia e o Estado como fatores
que contribuem para robustecer o discurso do empreendedorismo, que é um
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mecanismo de reprodução do sistema sociometabólico do capital (MÉSZÁROS,
2011). Decerto, os meios de comunicação e o Estado – instância política, jurídica
e administrativa –, sujeitados aos interesses econômicos das corporações
nacionais e internacionais, propagam o empreendedorismo como válvula de
escape do trabalhador desempregado que luta para se manter vivo.
Pelo visto, os estudantes investigados demonstram certa apropriação do
tema, pois explicam o que é e quais fatores principais contribuem para o
revigoramento do empreendedorismo. Percebe-se que nas apresentações das
duplas, de forma processual, emergiram coágulos de espanto e de criticidade que
podem ser potencializados pelo docente de filosofia a caminho da construção da
formação contrainternalizadora dos estudantes (MÉSZÁROS, 2005).
Compreende-se que esses embriões de pensamento crítico que se
manifestam nas falas dos estudantes, se não abortados, são relevantes e podem
contribuir para a maior consistência da formação e fortalecimento do seu
interesse pelo ensino de filosofia. Isso significa que, nas duas oficinas filosóficas,
pôde-se observar uma tendência dos sujeitos investigados em apreender o tema
de forma mais crítica, o que não quer dizer que transitaram, imediatamente, do
senso comum ao pensamento filosófico (SAVIANI, 2013).
Essa tensão parece se manifestar nas falas da dupla Sp1 e Sp2 quando,
a partir das leituras dos dois textos e vídeos, declara o que pensa acerca do
empreendedorismo: “[...] tem dois lados e pode até funcionar, mas não da forma
que a mídia mostra [...]”.
A segunda dupla, Sp6 e Sp3, também compartilha dessa ideia, e diz “[...]
que o empreendedorismo ainda não é observado da forma como deveria [...]”. A
terceira dupla, Sp4 e Sp5, entende que “[...] o empreendedorismo é um mito [...],
é algo extremamente difícil [...]”.
Parece que essas falas expressam a contradição entre as perspectivas
que foram trabalhadas nas oficinas filosóficas e que reverberaram nos
estudantes. Assim, da primeira oficina, a dupla Sp1 e Sp2 tende a conservar a
ideia de que o empreendedorismo é positivo e que pode funcionar mesmo que
seja algo difícil, mas desconfiam do discurso midiático que divulga, de forma
prevalecente, o êxito financeiro de alguns empreendedores, e oculta o fracasso
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da maioria deles. Esse entendimento se aproxima do pensamento da dupla Sp6
e Sp3, que defende que o empreendedorismo tem um lado positivo e que requer
estudo, porém, suspeita quando afirma que “nem tudo são flores”.
Dessas duplas, a terceira, Sp4 e Sp5, foi a que mais se aproximou da
segunda perspectiva, uma vez que confirma a ideia do empreendedorismo como
estratagema utilizado pelo capital a fim de convencer os subalternos de que os
problemas econômicos, sociais e culturais podem ser superados pela iniciativa
individual, sem modificar substancialmente a ordem em vigor.
Pelo que foi demonstrado, a oficina filosófica é o lócus da confrontação de
correntes de pensamentos a fim de compreender o máximo possível um
determinado tema. Em razão do tempo restrito para a realização da intervenção,
o estudo sobre o empreendedorismo centrou-se apenas em um texto e vídeo de
viés neoliberal e em uma entrevista e vídeo de cunho marxista, o que não impede
o professor de filosofia de confrontar outras vertentes de pensamentos.
Percebe-se que, pela oficina filosófica, os estudantes demonstraram não
uma superação radical do discurso empreendedor, mas embriões de criticidade
que, se potencializados pelo docente de filosofia, podem fortalecer a educação
contrainternalizadora na perspectiva meszariana.
Assim, pode-se dizer que a oficina filosófica é o lócus do espanto, da
dúvida, das contradições e das críticas embrionárias. Mas, dadas as devidas
condições de trabalho do professor de filosofia e o contexto social e familiar dos
estudantes, a oficina é potencialmente força mediadora de superação do
pensamento que, acostumado com o cotidiano, desacostuma-se para
transformar a si mesmo e o mundo dialeticamente.
Esse entendimento é explicitado pelos estudantes no momento da
avaliação das oficinas filosóficas. Silveira (2007) defende que o processo
avaliativo é utilizado pelo professor para verificar se os objetivos definidos
previamente foram alcançados; caso contrário, este precisa humildemente
refazer a forma de ensinar para garantir a apropriação e a recriação de parte do
acervo material e cultural construído pela humanidade por parte dos alunos.
Em sintonia com essa perspectiva, foi solicitado aos estudantes que
debatessem em dupla e escrevessem a sua avaliação das oficinas filosóficas
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para compartilhá-la no coletivo. A dupla Sp1 e Sp6 respondeu que: “[...]. Foi
muito proveitosa, abordou um tema necessário na atualidade. A aula conseguiu
chamar a minha atenção e interesse pela filosofia e ao pensar na troca de ideias
e opiniões [...]. Mais pessoas deveriam ter acesso à aulas assim [...]”.
Pelo exposto, as aulas de filosofia via oficina filosófica tornam-se mais
proveitosas, porque o tema investigado é uma chave de leitura crítico-
interpretativa que emerge do contexto dos estudantes. Além disso, desperta
maior interesse deles, possibilita o debate, a interação e suscita a necessidade
de que outras pessoas tenham acesso a esse tipo de conhecimento.
A segunda dupla, Sp4 e Sp5, que avaliou as oficinas filosóficas afirmaram
que esta é “[...] uma excelente forma de despertar o interesse do aluno, usando
o debate. A troca de ideias, tratando de um tema não convencional, dando
atenção à opinião do aluno de uma forma positiva [...]”.
Assim como a primeira dupla, os sujeitos acima entendem que as aulas
de filosofia por meio das oficinas são excelentes, porque, ao promover o debate
e a troca de ideias, desperta os interesses deles. Apontaram ainda que a oficina
possibilitou trabalhar um tema não convencional, e destacaram a relevância da
atenção do professor no momento do compartilhamento das falas.
Nessa direção, a terceira dupla, Sp2 eSp3, compreende que essa foi “[...]
Uma experiência diferente e muito importante, porque leva o aluno à
oportunidade de desenvolver um pensamento próprio, conversa e dialoga sobre
um assunto não trabalhado [...]”.
Essa dupla avalia a oficina filosófica como mediadora da capacidade de o
estudante pensar por si mesmo, o que pressupõe o diálogo, o debate sobre
temas ausentes ou pouco discutidos e a presença do professor como
incentivador e instigador do pensamento crítico.
Pelo exposto, entende-se que a oficina filosófica como uma proposta de
intervenção é um importante recurso para fazer com que os estudantes
despertem o interesse pelas aulas de filosofia. Isso ocorre porque o professor,
ao utilizar esse recurso, não apresenta apenas uma metodologia diferente, mas
também um tema relacionado com a vida deles.
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Para que isso se efetive, os professores de filosofia precisam trabalhar
com uma metodologia que consiga atingir a classe dos subalternos; assim, os
conhecimentos não devem ficar distantes de sua realidade. Nesse sentido, as
oficinas filosóficas podem assumir um importante papel em direção à
emancipação humana, contribuindo para que as massas tenham acesso ao que
há de mais elevado do acervo cultural e científico produzido pela humanidade.
Por fim, destaca-se que na avaliação das oficinas apontaram basicamente
dois elementos comuns. O primeiro deles foi o tema selecionado, que emerge
das condições materiais da vida dos estudantes e de seus familiares, tido pela
dupla Sp1 e Sp6 como “necessário”, e pelas duplas Sp4 e Sp5, Sp2 e Sp3 como
“não convencional”.
O segundo elemento foi o metodológico, como a interação, a relação
professor-aluno, o debate e a troca de ideias. Isso demonstra que o
fortalecimento do interesse dos estudantes pelo ensino filosófico no ensino
médio requer a preocupação com a forma e o conteúdo relacionados aos fatores
econômico, político, social e cultural. Essa dialética pode fortalecer o ensino de
filosofia, mesmo em tempos de retrocesso e negação de direitos conquistados.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A motivação para desenvolver esta pesquisa surgiu durante o Mestrado
Profissional em Filosofia (PROF-FILO) ao analisar os fatores responsáveis pelo
pouco interesse dos estudantes do ensino médio pela disciplina de filosofia. A
partir disso, foi possível concretizar a investigação com uma proposta de
intervenção, visando humildemente contribuir para o ensino dessa disciplina na
escola de nível médio.
O desenvolvimento deste estudo possibilitou refletir sobre a oficina
filosófica como uma possível proposta de intervenção para o ensino de filosofia no
ensino médio, com potencial para despertar o interesse dos estudantes por esse
componente curricular. Assim, a pergunta a ser respondida foi: em que medida a
oficina filosófica como proposta de intervenção pode contribuir para despertar o
interesse dos estudantes acerca do ensino de filosofia no ensino médio?
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Diante disso, percebeu-se que o interesse dos estudantes é condicionado
por fatores extrínsecos, como a economia, a política e a cultura. Demonstrou-se
também que os fatores intrínsecos têm um peso para o problema aqui
investigado, como foi visto na proposta de intervenção, em que os estudantes
destacaram a metodologia do professor, a atenção que o docente dá aos
estudantes e o tema trabalhado.
Defende-se, assim, um ensino de filosofia que dê condições aos estudantes
de se reconhecerem enquanto sujeitos sócio-históricos, de questionem os
problemas acarretados pela lógica destrutiva do capital, e de procurarem contribuir
para superação desse modelo de sociedade capitalista que tanto oprime a classe
trabalhadora. Dessa forma, ao partir dessa perspectiva materialista histórico-
dialética, tem-se o intuito de contribuir para que ensino filosófico esteja
comprometido com a luta pela superação do projeto societário vigente.
Para tanto, visando esse caminho, mesmo ciente das limitações que o
ensino de filosofia enfrenta, elaborou-se uma proposta de intervenção via oficina
filosófica, que visou proporcionar aos estudantes a oportunidade de analisar um
determinando tema presente em seu cotidiano, a fim de que, em seguida,
pudessem reelaborar criticamente seu pensamento. Nessa proposta
interventiva, verificou-se maior participação, diálogo, cooperação e interesse
deles pela aula de filosofia. E como bem relataram alguns entrevistados, as aulas
da oficina foram mais interessantes e menos entediantes, de modo que, em sua
concepção, esse formato deveria ser mais difundido, viabilizando o acesso às
aulas mais interativas e instigantes.
Diante disso, sugere-se que o produto deste estudo seja um recurso a ser
utilizado pelos professores quando se depararem com o problema da pouca
identificação dos estudantes pelo ensino de filosofia. Cumpre salientar que essa
proposta de intervenção é um recurso flexível, isto é, o docente pode adequá-lo
conforme o cotidiano da escola e dos estudantes, e assim, trabalhar com temas
inerentes à realidade em questão.
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