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O Jogador de Basquete e A Nerd - Ana Caroline Viana

Enviado por

edivaniasilva895
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Publicado anteriormente como NOS ACORDES DA NOSSA

CANÇÃO
por ANA CAROLINE
Copyright 2023 © Ana Caroline

Todos os direitos reservados.


Criado no Brasil.

Capa: Ellen Ferreira

Revisão: Mirna Santos


Diagramação Digital: Juju Figueiredo

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com

nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.


Todos os direitos reservados. São proibidos o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,

através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o


consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime

estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código

Penal.
Sumário
Sinopse

Playlist

Dedicatória

Capítulo 1 – Aly

Capítulo 2 – Aly

Capítulo 3 – Aly

Capítulo 4 – Aly

Capítulo 5 – Aly

Capítulo 6 – Aly

Capítulo 7 – Aly

Capítulo 8 – Aly

Capítulo 9 – Aly

Capítulo 10 – Aly

Capítulo 11 – Aly

Capítulo 12 – Aly

Capítulo 13 – Gabo

Capítulo 14 – Gabo

Capítulo 15 – Gabo
Capítulo 16 – Aly

Capítulo 17 – Aly

Capítulo 18 – Gabo

Capítulo 19 – Aly

Capítulo 20 – Aly

Capítulo 21 – Gabo

Capítulo 22 – Aly

Capítulo 23 – Aly

Capítulo 24 – Aly

Capítulo 25 – Aly

Capítulo 26 – Aly

Capítulo 27 – Gabo

Aly

Capítulo 28 – Aly

Capítulo 29 – Gabo

Capítulo 30 – Aly

Capítulo 31 – Aly

Capítulo 32 – Gabo

Capítulo 33 – Gabo
Capítulo 34 – Aly

Capítulo 35 – David

Capítulo 36 – Vitória

Capítulo 37 – Aly

Epílogo – Aly

Agradecimentos

Outras obas

Sobre a autora
Eles são vizinhos.

Eles estudam na mesma universidade.


Ele é popular e jogador de basquete.
Ela é uma nerd virgem que ama música...

Ele ouve a música perfeita todas os dias, mas é cego demais para
enxergar além da melodia.
Ela é invisível demais, mas sua voz encanta a todos...

Alice e Gabriel são completamente diferentes, mas isso não impede

que o destino os coloque juntos...

Dois opostos, uma paixão avassaladora e um sonho a ser realizado,

afinal, o que existe além da melodia?


Este livro possui uma playlist no Spotify Clique aqui para ter
acesso!
Este livro é dedicado a todos os jovens cujo o amor parece
impossível, aqueles com amores platônicos.

O amor as vezes pode vim de uma longa espera, pode nos


deixar marcas irreversíveis, mas sempre, e digo sempre mesmo, em
toda e qualquer ocasião vale apena ser vivido!

Por isso, siga o conselho desta humilde autora e AME,


porém, acima de tudo, SE ame. O amor próprio é o segredo para a
felicidade em todas as áreas da sua vida!
Eu não sei como o mundo funciona, só posso dizer como o

MEU mundo funciona. Tenho uma vida relativamente boa, sou


brasileira e graças a uma bolsa de estudos que ganhei estou a cinco
anos morando em Charlotte.

Passei quatro meses morando em uma república junto com


alguns outros estudantes, três anos para a conclusão do ensino
médio e agora estou cursando pedagogia na principal universidade

da Carolina do Norte.
Os primeiros quatro meses foram de adaptações, fiquei por

um tempo em um alojamento junto com alguns outros estudantes


enquanto minha mãe resolvia as coisas da mudança. Agora moro

com meus irmãos e minha mãe em uma das cidades mais

populosas do estado. Minha mãe já tinha passe livre para cá,


porque ela nasceu na florida, uma verdadeira cidadã americana, ela

e meu pai se conheceram no ensino médio e ao se formarem


decidiram morar no Brasil por um tempo, contudo, esse tempo foi

prolongado ao descobrirem que seriam pais, por algum motivo que


nunca me foi explicado eles resolveram permanecer no Brasil. Meu

objetivo, no entanto, sempre foi morar e estudar aqui e minha mãe

me apoiou quando me inscrevi para a bolsa de estudos que ganhei


com louvor. Sobre o meu genitor, esse sumiu anos antes. Sou uma

boa filha, uma ótima aluna e virgem, bom essa parte poderia

simplesmente ter mudado se as minhas poucas tentativas de fazer


amor não tivessem sido terrivelmente frustradas, mas essa história

eu conto depois.

Me considero segura demais para dizer que sou bonita no


meu ponto de vista, porém, confesso que apesar da minha vida

escolar sempre ter sido excelente, me referindo ao estudo em si,


minha vida social sempre foi um verdadeiro fracasso.

Ando pelos corredores da universidade e me sinto como a

murta que geme do filme do Harry Potter. Vago sem rumo,

melancólica e sem amigos.

Ok, não vou exagerar, mas, tirando a parte do melancólica o

resto é a mais pura verdade.


Nos romances que leio a nerd sempre tem outros amigos

nerds e várias pessoas implicando, até que o mocinho do romance é


forçado a fazer um trabalho escolar com ela e pow! Eles se
apaixonam perdidamente, e a partir daí tudo muda para mocinha

nerd e desajeitada, mas nem isso eu tenho. Não há outros amigos

nerds, não há um mocinho prestes a se apaixonar depois de ser

forçado a fazer um trabalho, nem mesmo existem pessoas

implicando comigo, sou completamente invisível. É triste, mas tem

seu lado bom, e assim que descobri conto qual é.


No entanto, não vou ficar pensando nisso, na verdade nunca

penso, só em dias raros de sofrências, só que hoje é um dia

especial, dia 18 de maio, meu aniversário, hoje completo vinte e três

anos.

Encaro meu reflexo no espelho enquanto me visto.

Vinte e três anos, parabéns, Aly!

Termino de pentear meu cabelo e desço para o café. Minha


família é pequena, somos apenas minha mãe, meus dois irmãos

mais novos e eu, eles já estão sentados a mesa, Sarah tem

dezessete anos e Steven tem oito. Sarah diferente de mim odeia ler,

é uma péssima aluna e totalmente desorganizada, Steven é uma

mistura de nós duas sendo ele um pestinha ambulante. Na escola

eu era invisível e agora na faculdade nada mudou, mas em


compensação, em casa tenho dois que valem por todos os alunos

do ensino médio e os jovens universitários juntos.


— Bom dia, família — cumprimento animada.

— Bom dia, princesa. Como se sente nesse dia tão especial?


— minha mãe me pergunta entusiasmada.
— Como todos os outros, mamãe, porém, mais velha —

brinco.
— Veja pelo lado positivo, pelo menos ninguém vai notar, já

que você é invisível. — Essa é minha adorável irmã, não sei porque
ainda conto as coisas para ela.

— Sarah, não fale assim com sua irmã, ela não é invisível,
apenas gosta de ficar na dela, quietinha e é bom que as pessoas a
respeitam e não a incomodam.

— Ah, claro! É ótimo ser invisível e vagar pelos corredores


como um fantasma buscando um receptor para se conectar com o

mundo dos vivos. — Sarah e seu humor ácido já não me espanta


mais, contudo, minha mãe anda cada vez mais preocupada com

esse comportamento dela.


— Já chega, Sarah Sawyer! Peça desculpas a sua irmã. Hoje
é aniversário dela e eu preciso de um dia de paz e muito amor aqui
dentro. — Olho para minha mãe e vejo o cansaço estampado em

seu rosto.
Desde que meu pai foi embora tem sido dias muito

estressantes, Sarah que sempre foi doce e alegre, ficou amarga,


desobediente e complicada, mamãe vira e mexe está chorando em

seu quarto. Ela descobriu que estava com dois meses de gravidez
logo após ser abandonada, e eu, bom eu o apaguei da minha vida e
da minha mente, o maior sortudo de todos nessa história foi o meu

irmão que nem chegou a conhece-lo.


Tenho em mente que tudo aquilo que plantamos somos

obrigados a colher, sei que em algum momento da vida, ele irá


colher a dor que plantou em nossas vidas. Todas as vezes que vejo
minha mãe chorar escondida, ou olho nos olhos dela e vejo a

infelicidade, desejo que ele sinta o mesmo onde quer que esteja.
Não sou uma pessoa ruim, só que odeio ver as pessoas que

mais amo na vida sofrerem.


— Ei — ouço minha mãe falar e olho para seu lindo rosto que

estampa um falso sorriso. — Vamos parar de moleza e terminar o


café? Vai acabar se atrasando.
— Estou indo, mamãe.
— Querida, hoje é seu aniversário, quero ver nesse rostinho
lindo um belo sorriso, não essa ruguinha de preocupação na testa.
Mais tarde irei preparar algo especial para você, chame alguns

amigos se quiser.
— Ela não vai chamar nenhum amigo, mamãe — Sarah

interrompe grosseiramente. — Porque ela não tem, mas se quiser


pago com a minha mesada uns figurantes para eles saírem nas
fotos — ela se vira para mim com um sorrisinho debochado — Pode

considerar como um presente de aniversário, maninha.


— Já chega, Sarah! — minha mãe a corta. — Vai

imediatamente para o seu quarto e só saia de lá quando eu chamar,


você já tem dezessete anos, minha filha, não deveria agir como uma

criança birrenta, está mais do que na hora de amadurecer, Sarah! —


Victoria Philips Sawyer é a mulher mais linda e guerreira que já
conheci, me orgulho de ser sua filha, mas como disse, o cansaço a

está consumindo, a paciência perdida em momentos como esse a


faz demonstrar o quão pesado está seu fardo e por mais que eu

tente ajudá-la, tudo parece apenas piorar.


— Feliz aniversário, irmã. — diz Steven ao se levantar da
mesa, ele me abraça e me presenteia com seu sorriso largo e

ingênuo.
— Hoje é meu dia de folga e quero meu filhote em casa
comigo, o que acha de faltar a escola hoje, Steven?
— Ebaaaa! — grita e sai saltando em direção ao quarto. Olho

mais uma vez para minha mãe e a vejo sorrindo para mim.
— Eu te amo, mamãe! — digo e sem esperar por sua

resposta, pego minha bolsa e saio.


O dia está lindo hoje. Ao longo do ano, em geral a
temperatura é bem instável. Hoje em particular o tempo está

ensolarado e quente, o que me deixa muito feliz, pois amo o calor e

é uma das poucas coisas das quais sinto falta no Brasil.

Ao sair de casa me deparo com uma cena bem comum na

casa ao lado.
— Qual é o seu problema? Será que não podemos ter uma

manhã de paz nessa casa? Porque tem sempre que está

provocando?
— Eu estou provocando? Porque você não se dá ao respeito

e para de trazer esses merdas para dentro de casa? Eu já falei que


quando a Bia chegar não vai entrar mais nenhum filho da puta aqui

dentro! — Esse é meu vizinho, Gabriel e sua mãe. Eles se mudaram


do Brasil para cá, é um bolsista, assim como eu, astro do basquete,

sonha em entrar para NBA e ao contrário de mim é super popular.

Gabriel e eu estávamos no mesmo avião, no mesmo corredor da


república, estudamos na mesma escola, agora na mesma faculdade

e por uma benção de Deus somos vizinhos, mas mesmo com tantas

coincidências nunca trocamos uma palavra, nem mesmo um "bom

dia". O que é uma pena, porque poderíamos ser bons amigos ou se


dependesse de mim, seriamos muito mais.

Gabriel tem vinte e quatro anos e namora a garota mais

bonita que já conheci, eles estão juntos desde o ensino médio.


Thais tem a mesma idade que Gabo, ruiva, cabelos encaracolados

até a cintura e tem um corpo de causar inveja, ela faz curso de

educação física e já participou de duas competições de body


Building, ou seja, ela é puro musculo, chega a beirar a perfeição.

Diferente de mim que sou quase uma vareta.

A mãe de Gabriel tem sérios problemas com álcool e

constantemente traz homens para dentro de casa, causando assim


a revolta do filho. Ouvi dizer que a irmã de Gabriel está vindo morar
com eles, e o fato de ter tantos homens circulando essa casa parece

ser um problema.

Quando ouço a porta abrir disfarço e me viro para o outro


lado, para que ele não perceba que estava espiando sua vida mais

uma vez. Bom, o quarto dele tem a janela na mesma direção do

meu e pode ser que de vez em quando, ou quase sempre, eu dê

uma espiada nele. Mas não me julguem, ele é lindo demais para
que eu resista, lindo demais para evitar que meu coração bata mais

rápido toda vez que o vejo, ou apenas pense nele.


Meu aniversário está sendo como todos os outros desde que

meu pai foi embora, essa foi mais uma coisa que ele conseguiu
estragar, foi no dia do meu aniversário de quinze anos que ele saiu
para comprar um presente e nunca mais voltou, minha mãe tenta

todos os anos fazer algo diferente, mas não dá muito certo, o clima
nunca mais foi o mesmo, claro que é um dia diferenciado e alegre,
mas não tanto quanto antes.

Hoje é sexta e todas as sextas eu deixo de ser invisível por


algumas horas no pub do Berry, fica a uma hora e meia da minha

casa, mas compensa, não só pelas gorjetas como também porque


sou ouvida, as pessoas me veem de verdade lá, posso até dizer que

gostam de mim.

Passo pelo corredor que leva ao refeitório, porém, paro ao


ver Gabriel e Thais, eles parecem estar no meio de uma discussão,

ele está bem irritado, quase do mesmo jeito que fica com a mãe
todos os dias, fico sem saber o que fazer, se sigo em frente e ignoro

mesmo sabendo que posso atrapalhar, ou se simplesmente dou a


volta. Meu pensamento é interrompido quando de repente milhares

de pessoas começam a encher o corredor, saem de todos os lados

e nenhum deles parecem se importar com a briga de casal que está


acontecendo bem no meio da passagem. Sendo assim decido não

me importar também, sigo o meu caminho para o refeitório, mas não

sem antes olhar nos olhos de Thais, ela não está chorando, no seu
olhar que está focado no meu agora só vejo raiva, ela parece estar a

ponto de matar alguém, Gabo como sempre não me vê. Olho para

frente cortando totalmente nosso contato visual perturbador. Ao


chegar na porta do refeitório dou mais uma olhada, Gabriel não está

mais lá, no entanto, Thais ainda me encara de maneira estranha, e


isso me causa um arrepio. Ela me enxergou, não de uma maneira

boa, mas me enxergou.

— Com Licença. Você pretende entrar ou vai continuar

empatando a porta?

Que beleza, fui enxergada pela segunda vez no mesmo dia e

nenhuma das vezes foi de um jeito bom.


— Me desculpe! — falo sem graça e dou um sorriso amarelo

para Didi, uma menina mal humorada do curso de medicina. —


Acho que a porta meio que emperrou — minto descaradamente e
ela revira os olhos e aponta para frente impaciente.

Me dirijo a fila das refeições e pego uma bandeja, ainda

pensando no porque Thais me olhou daquela forma, e porque eles

estavam brigando no meio do corredor? Gabriel estava tão furioso, a

vinda de sua irmã está mesmo mexendo com ele, bom, é de se

imaginar o porquê.
— Suas pernas emperraram também? — ouço a mesma voz

falar e mais uma vez percebo que me distrai e estou parada igual

uma idiota sem ninguém na minha frente, enquanto atrás de mim

tem uma fila de jovens famintos.

— Me desculpe. — Digo mais uma vez, porém, sem olhar

para ver sua reação. Terceira vez hoje, ponto para mim.

Depois de todos os incidentes fico feliz em saber que a


universidade irá ficar uma semana fechada para uma pequena

reforma e dedetização. Gosto daqui, entretanto, gosto de gastar

meu tempo com a música. O diretor Rony está explicando tudo


nesse momento e olhando para os rostos ao meu redor e todo o

burburinho, vejo que não sou a única a curtir essa folguinha.


A maioria dos estudantes fazem seus cursos e mais alguma

atividade extra, o que torna nossa vida de universitários bem agitada


e ficamos aqui em tempo integral, e isso nos rende uma ajuda de
custos todo mês, entramos na nossa bolha escolar as sete e trinta

da manhã e saímos as dezenove e trinta, o que deixa nossa rotina


um pouco cansativa às vezes. Mas eu gosto!

— Fico feliz em ver o quanto vocês gostam daqui. — diz o


diretor ao ver a animação de todos por ficarem uma semana em

casa. — Espero que curtam bastante a folga e voltem com todo gás.
— Ele se despede e sai da sala.
Depois da notícia ninguém mais se concentra na aula e

somos dispensados mais cedo.

— Já vai sair filha? — ouço minha mãe gritar.


— Estou terminando de me arrumar — respondo do quarto.
Desço as escadas vejo minha mãe fazendo o que sabe de

melhor, cozinhar, ela é perfeita e ama o que faz, já disse a ela que
deveria abrir um restaurante, mas ela não quer. Ponto para o meu

pai, pois antes de sumir estava disposto a ajudá-la a abrir um


restaurante lá no Brasil.

— Que cheiro maravilhoso. O que é? — questiono me


aproximando.
— Estou fazendo a lasanha que o Berry pediu, já mandou

mensagem dizendo que está ansioso.


Embora minha mãe nunca tenha ido ao pub, ela e Berry se

tornaram muito amigos desde que comecei a me apresentar lá, ela


vive mandando comida para ele e ele vive a convidando para sair,
mas ela nunca aceita. Eu sem dúvida gostaria que ela conhecesse

alguém e se permitisse ser feliz ao lado de um homem bacana como


ele.

— Você está acostumando o Berry muito mal — brinco


fazendo-a rir. Amo sua risada. — Está acabando? Vou acabar me

atrasando.
— Estou sim, vá manobrando o carro que em dois minutos
levo pra você.
Quando estaciono ao lado do Pub sorrio ao ver que hoje está

lotado, há vários carros e motos estacionados e daqui posso ouvir a


barulheira. Isso significa que hoje irei faturar o dobro da semana

passada, o que me deixa extremamente feliz. Berry consegue reunir


aqui um público bem diversificado, desde jovens, a pessoas de mais

idade, a maior parte do tempo ele coloca de músicas ao vivo, o que


anima bastante o pessoal, tem áreas vips e na parte de cima alguns
quartos onde já tive que dormir algumas vezes, principalmente

quando chove, então posso dizer que tenho um quarto só meu aqui,
pois ele não deixa ninguém ficar nele além de mim, por isso já tenho

aqui tudo de que eu preciso caso necessário, roupas de dormir,


acessórios de higiene e até uma foto minha e de meus irmãos na
mesinha, também tinha uma da minha mãe, mas Berry a surrupiou.

Ele faz com que eu me sinta em casa, não me falta nada aqui e sou
muito grata por isso, assim como minha mãe.

Entro e vou direto ao encontro dele.


— Minha linda e magnífica mãe fez sua lasanha, Berry —
grito para que me ouça. Berry está de costas arrumando algumas
bebidas na prateleira, ele se vira e pega o pote das minhas mãos.

Suspira ao sentir o aroma e sorri abertamente.


— Obrigado, Aly. Espero que esteja pronta, pois isso aqui

está lotado hoje! E para acabar de me enlouquecer Dara e Endy


discutiram e foram embora.
Dara e Endy são os barmen, um casal de namorados que

Berry faz questão de manter empregados aqui por ser amigo dos

pais deles, porém, eles não têm a menor consideração e são


péssimos funcionários.

— Já te disse o que deveria fazer em relação a eles, né? —

Adjuro e deixo clara minha irritação.

— Não posso, Aly! Sabe disso. Mas, felizmente, eu tenho


você, que hoje além de principal cantora será minha garçonete.

— Eu não sei se você sabe, mas pode ser preso por trabalho

escravo. — Brinco.
— Acha que Nolan irá me prender? — questiona erguendo a

sobrancelha. Tão soberbo.

— Não, ele prefere garantir o trabalho do filho inútil dele. —


retruco.
— Nossa, já vi que hoje você está afiada.

Dou a volta e o encaro de perto, estendo minha mão e seguro


a dele.

— Só não gosto do fato de você ter que se desdobrar para

cuidar de tudo e ainda servir todas as vezes que esses dois brigam.
Não é justo, mesmo eles sendo seus amigos e fazendo vista grossa

para a sua vista grossa. — Berry não pede identidade para os

jovens que estão aqui, são pessoas que tem dinheiro e o ajudam as

vezes, então é como uma troca de favores, ninguém dedura


ninguém e todo mundo fica feliz. Menos eu, que odeio ver ele ter

que dar conta de tudo sozinho, então sempre dou um jeito de

arrumar uma solução. — E se eu conseguir alguns funcionários para


você? Hoje, agora! Quanto está disposto a pagar?

Ele me olha desconfiado e depois abre um sorriso cúmplice,

sacando o que estou prestes a fazer.


— Pago cem dólares para cada um.

— Fechado. Assim que Dodd sair do palco eu assumo e

arrumo seus funcionários.

Sorrio, e me viro para encarar o único local onde posso me


soltar de verdade. É como se quando eu chegasse aqui me

transformasse em uma outra pessoa. Totalmente segura e bem


resolvida. Aqui eu sou popular e tenho até algumas paqueras, eu

grito, pulo e rio e o principal, todo mundo me vê.

Dodd se retira do palco e me aproximo.


— Nossa, Aly. Hoje isso aqui está demais. Olha quantas

pessoas — sua animação é contagiante.

— Estou vendo — sorrio.

Dodd começou a se apresentar aqui um mês depois de mim,


ele é incrível, seu forte é sertanejo, mas ele arrasa cantando todos

os estilos de músicas. Passei a gostar daqui desde que entrei pela

primeira vez, é o lugar mais próximo da minha casa que toca


músicas brasileiras, é considerado o point dos brasileiros.

Subo no palco e ouço algumas pessoas gritarem, Aly. Isso é

muito bom, o frio na barriga a agitação, tudo me dá mais gás.

— Boa noite, pessoas — cumprimento. E agora vem a melhor


parte.

— Boa noite, Aly. — Um verdadeiro coro me responde, me

reconhece, me adoram, eu nem sei definir como é bom.


— Alguém já disse que vocês são maravilhosos? — ouço as

risadas pelo meu elogio e contínuo. — Bom, galera. Como todos

sabem eu sou mãe de família e tenho cinco filhos para alimentar,

então vamos deixar de ser mão de vaca, enfiar as mãos nos bolsos,
bolsas e carteiras e encher minha caixinha que fica bem aqui na

frente. E para aqueles que não tem dinheiro, meu futuro padrasto,
Berry, passa para mim a maquinha de cartão, basta falar que é uma

gorjeta para a cantora mais foda desse pub. — Olho para Berry que

está estufando o peito sorrindo orgulhoso e presunçoso. — Agora


eu tenho uma proposta indecente para fazer. — Sorrio ao ouvir

alguns sons indicando que eles esperam ouvir uma proposta bem

tentadora, mas não é o caso. Em todas as minhas apresentações eu

subo com a mesma fala e sempre me dou bem, minha caixinha


nunca está vazia e pela quantidade de gente percebo que se todos

colaborarem vou ter dinheiro para sustentar até quinze filhos. —

Não é nada disso seus bandos de pervertidos, eu sou uma moça de


família! — brinco. — Minha proposta é a seguinte. Estou precisando

de algumas pessoas para ajudar Berry hoje, como podem ver, o

lugar está em super lotação e estamos sem funcionários para servi-

los, quem se voluntariar e fizer um bom trabalho, irá ganhar cem


dólares no final da noite, e já que estamos falando sobre a

sustentação dos meus cinco filhos e sobre como podem me ajudar,

desses cem dólares eu aceito cinquenta e vamos todos felizes para


casa. E então, o que acham? Quem se candidata?
Ouço o alvoroço, risadas conversas e do nada vejo duas

pessoas no fundo levantarem a mão e mais dois que estão próximos

ao balcão.

— Peço que se aproximem, não consigo ver nem ouvir vocês


daqui — falo animada por ter conseguido rápido a ajuda. Mas minha

animação é tomada por um nervosismo que está me

impossibilitando de ficar em pé, então pego o banco que está atrás


de mim e sento. Os dois rapazes que estavam no fundo se

aproximam e é como se meu corpo tivesse levado uma grande

carga elétrica e minha alma está bem próxima do todo soberano.

Meu Deus, diz que estou tão apaixonada que passei a ter
alucinação.

— Nós iremos ajudar, mas não garanto lhe entregar

cinquenta dólares no final. Terá que cantar muito bem para isso.
Ele está parado na minha frente, sorrindo para mim, olhando

nos meus olhos. Então para garantir que não estou ficando doida,

pergunto:

— Qual o nome de vocês?


— Sou Gabriel e esse aqui — ele apontando para David, que

é seu melhor amigo — É o meu irmão, David.

Merda, merda, mil vezes merda.


Estou ainda parada os encarando enquanto sorriem para

mim, a única coisa que fica gritando na minha cabeça é: Ele me


enxergou.
Saio do meu transe quando Berry sobe no palco e me abraça

sussurrando em meu ouvido.


— Se você continuar os encarando com essa cara, eles vão
desistir, então, por favor diga alguma coisa.

Pigarreio e aceito o desafio que ele me impôs, aqui não sou


Alice a invisível e sim Aly, a cantora fenomenal que todos amam,

respiro fundo e entro na personagem fodona.


— Ok, meninos. Então faremos um desafio. Caso eu seja

muito boa vocês irão ter que me dar setenta dólares, mais da

metade do que irão receber, mas caso as pessoas achem que sou
ruim eu divido meio a meio do que ganhar esta noite. O que acham?
Eles se entre olham e sorriem um para o outro, os outros dois

voluntários que já me conhecem a um tempo estão rindo.


— Fechado, mas porque quem decide são eles e não nós

dois? — David questiona.

— Porque eu tenho cinco filhos para criar e considerando a


nossa aposta, tenho muito mais a perder do que vocês dois. Quem

me garante que vocês não vão trapacear e dizer que não gostaram

só para ficar com minha grana? — provoco.


Nenhum deles está aqui pelo dinheiro, sei disso, cem dólares

para eles não é nada. Estão pela diversão. Tento olhar para o fundo

e ver se enxergo as namoradas deles, mas parecem estar sozinhos,


o que não me surpreende, é aceitável se for considerar a briga de

hoje cedo. Vejo eles se afastarem seguindo Berry em direção ao


balcão e pego meu violão para começar a afinar e dar início ao meu

show. Com tudo pronto e pronta para começar, dou mais uma

olhada para o bar e Gabriel está sorrindo para mim.

ELE ESTÁ SORRINDO PARA MIM!

Fecho os olhos para me acalmar.

Achei a música perfeita, que descreve todos os momentos


em que cantei pensando nele, sabendo que ele estava ouvindo.
Deixo minha mente se esvaziar, começo os primeiros acordes
da canção visualizando o sorriso dele para mim e começo…

— Pra você guardei o amor que nunca soube dar, o amor que

tive e vi sem me deixar, sentir sem conseguir provar, sem entregar, e

repartir.

Consigo encontrar seu olhar mesmo em meio a centenas de

pessoas que me encaram. Ele sorri mais uma vez e isso me dá mais
gás para a parte final que canto diretamente para ele.

— Guardei, sem ter porquê, nem por razão ou coisa outra

qualquer, além de não saber como fazer, pra ter um jeito meu de me

mostrar, achei vendo em você e explicação nenhuma isso requer, se

o coração bater forte e arder, no fogo o gelo vai queimar.

Acabo e recebo muitos gritos e aplausos, olho para minha

caixinha e está tão cheia que colocaram mais uma, procuro por
Gabo e o vejo no balcão esperando que Berry e o outro rapaz que o

está ajudando arrume a bandeja com as bebidas, em seu olhar vejo

algo como, reconhecimento, ele reconheceu a minha voz,

reconheceu a melodia que guardo especialmente para ele.

Me preparo pra outra música e dessa vez vou cantar uma da

minha musa, Ana Carolina, a música perfeita para ele hoje é:


confesso.
— Confesso acordei achando tudo indiferente, verdade

acabei sentindo cada dia igual, quem sabe isso passa sendo eu tão
inconstante, quem sabe o amor tenha chegado ao final, não vou

dizer que tudo é banalidade, ainda há surpresas, mas eu sempre


quero mais.
Agora, olhando para ele, dá para ver a certeza, ele sorri

balançando a cabeça e se vira para servir um grupo de motoqueiros.

Estou na minha última canção, minha caixinha só esteve


cheia assim nas festas de fim de ano, a outra caixa que Berry tinha

colocado já está quase transbordando. Me ponho de pé para


mostrar gratidão pelos aplausos e euforia vinda da minha plateia
favorita.

— Vocês são muito fodas! — grito animada. — Meus cinco


filhos agradecem a compra do mês que irei fazer com toda a grana

que colocaram na minha caixinha e aos rapazes que humildemente


aceitaram nos ajudar esta noite, aguardo meu pagamento no fim do
expediente. Uma salva de palmas aos rapazes pessoal, eles

merecem! Não deixaram ninguém com sede.


Desço do palco e vou recolher as caixas.

— Parabéns, você é realmente incrível. — Fico paralisada


por um minuto, saboreando os efeitos que a voz dele tão perto de

mim causa ao meu corpo.


— Obrigada! — digo, me virando. — Vocês também não
foram nada mal, o pessoal gostou do atendimento. — Ele sorri e

coloca a mão no bolso de trás da calça, tira uma carteira e me


estende algumas notas, o encaro e ergo minha sobrancelha em

sinal de questionamento.
— Você foi ótima, me surpreendeu e merece bem mais que
70 dólares.

— Não precisa, foi apenas uma brincadeira, vocês


trabalharam e merecem o dinheiro. — Ele sorri mais uma vez. Estou

quase pedindo para que ele pare de sorrir assim antes que eu
simplesmente desmaie aqui.

— Trabalhei, mereço, mas o que minha mãe diria de mim se


eu não ajudasse uma menina tão jovem a sustentar cinco filhos? —
brinca, ainda sustentando o sorriso mais branco e mais lindo que já
vi, como se não tivesse terminando de arrancar meu coração do
peito.
— Ok, diga a sua mãe que ela está criando um cavalheiro.

Eu estava me virando para buscar ar e sair de perto dele


quando o ouço dizer:

— É você, não é? A menina que canta para mim todas as


noites. — afirma. Sua certeza de que canto especialmente para ele
me amofina.

Mesmo quase perdendo meu equilíbrio, me viro e cruzo os


braços sobre o peito para que ele não perceba que estou tremendo.

— Meio presunçoso da sua parte, não? — Questiono me


forçando a não sorrir. — Se quer saber se sou sua vizinha, sim, sou

eu.
— Como? — não respondo porque ele parece questionar a si
mesmo. — Quer dizer, eu moro ali há anos, desde que me lembro

ouço a sua voz todas as noites, sempre com a música certa, aquela
que reflete todo o meu dia e meu humor. — Ele está refletindo nas

próprias conclusões e dúvidas e estou admirando seu rosto confuso,


quase tão apaixonada quanto antes. — Eu nunca vi você, na
verdade, eu nunca quis ver você. — A confissão dele me deixa triste

e confusa ao mesmo tempo, ele não parece perceber isso, e contia


sua confissão. — Eu achava que se eu visse a dona da voz, todo o
encanto das músicas sumiria. — Admite.
— E sumiu? — questiono, temerosa.

— Pelo contrário! Estou mais encantado agora e me sentindo


culpado por não ter te conhecido antes.

— Então quando descobrir tudo, você irá se sentir um pouco


pior. — digo, me referindo a todos os outros fatores, todos os
lugares que frequentamos juntos e ele nunca me notou.

— Como assim? — me pergunta, confuso.

Quando estou prestes a responder David chega, nos


interrompendo.

— Nossa, você é realmente incrível, espero que tenha dado

para faturar o bastante para você e seus filhos. — ele coloca em

minha mão o dinheiro que recebeu de Berry e um pouco a mais.


— Sério, não precisa, era só uma brincadeira — digo o

mesmo que falei para Gabriel.

— Claro que precisa! Estou dando de coração, você canta


muito bem e eu não preciso da grana. Espero que Gabo tenha dado

a parte dele também.

— Ele deu sim! — comento sorrindo para eles.


— É isso aí, meu ídolo esse cara. — David aperta a

bochecha do amigo que ainda me questiona com o olhar e diz: —


Vamos cara, está ficando tarde.

Gabriel assente, os dois se despedem de mim e vão até

Berry. Fico observando tudo, ainda não acreditando. Cinco anos, e é


aqui que ele me vê pela primeira vez, é aqui que ele revela que

sabe que todas as músicas que canto a noite são para ele. Ele está

encantado! Encantado por mim! Sorrio e percebo que ele está me

encarando da porta. Me dá um tchau de longe e saí me deixando


aqui com um milhão de borboletas se debatendo em minha barriga.

Eles já estiveram aqui antes, mas todas as vezes eu inventava uma

desculpa e não subia ao palco, apenas ajudava Berry a servir, me


escondendo sempre e sonhando com esse momento, o momento

em que ele passaria a me enxergar!


Uma semana me pareceu uma eternidade, não vejo Gabriel

desde sexta, vi em seu instaram que havia viajado com David


naquela noite depois do pub.
“Não vejo a hora de vê-lo novamente.” Fiquei a semana

inteira imaginando como vai ser daqui para frente, se algo vai
mudar, ou se vou voltar a vagar como um fantasma entre eles.
Desço para o café da manhã e como sempre todos já estão à

mesa.
— Bom dia, família — cumprimento alegre.

— Bom dia, filha. Vejo que acordou bem feliz. Algum motivo
especial?

Quando cheguei sexta feira a primeira coisa que fiz foi correr

para contar o que havia acontecido, minha mãe ficou extremamente


feliz por mim, e Sarah não parou de implicar comigo desde então.
— Só por favor não fica com essa cara de idiota o tempo todo

e vai falar com ele, ou vai continuar invisível até se formar? — Sarah
por mais que tente se esconder por trás de toda a rebeldia está tão

animada para saber o que vai acontecer quanto eu, já falou um

milhão de coisas que devo fazer quando o ver.


A que ponto cheguei, receber conselhos de comportamento

da minha irmã mais nova.

— Dessa vez preciso concordar com sua irmã, filha. — minha


mãe entra na conversa. — Você não pode ficar se escondendo, tem

que tomar uma atitude e puxar assunto com ele.

— Tá legal, mas lembrando que se eu levar um fora dele ou


uma surra da namorada puro musculo, a culpa será de vocês e vou

odiá-las pelo resto da vida. — decreto. Pego o misto quente das


mãos da minha mãe que sorri como se estivesse vendo a filha ir

para o altar e reviro os olhos.

— Posso conviver com essa culpa. — Sarah zomba.

— Pode deixar, Aly. Se esse bobão te deixar mal eu bato

nele! — Steven, meu pequeno homenzinho se levanta a meu favor.

— Você mocinho, não irá bater em ninguém e se continuar


agressivo assim quem vai ficar com o bumbum doendo é você, de

umas boas chineladas que vou dar. — minha mãe o repreende.


Steven ri baixinho e me levanto bagunçando o cabelo dele e
rindo.

— Isso ai, garotão! Tem que defender a honra da sua irmã. —

falo em seu ouvido.

— Não incentive seu irmão, Alice. Ele anda muito agressivo,

já fui chamada na escola duas vezes por ele bater em um

coleguinha.
— Eu só me defendi, mamãe. Ele queria pegar o meu lanche,

Aly, e eu sou um homem, não um rato, não fujo de uma briga. —

explica todo bonitinho parecendo orgulhoso do que fez.

— Isso não é desculpa, Steven.

Saio e deixo os dois se resolvendo ou vou acabar me

atrasando.

Estaciono meu carro e fico olhando para ver se vejo o carro


do Gabriel ou do David, mas nada, nenhum dos dois chegaram

ainda, e como ele ainda não foi pra casa deve vir direto da viagem.

Será que é errado eu ter tantos detalhes sobre ele? Será que sou

tipo o Joe da série You?


Dois períodos de aula se passaram e nada dele, ouvi Thais

falando com Rachel que eles estão a caminho e vão chegar para a
última aula. Rachel é namorada do David, ou pelo menos acha que

é, porque ele mesmo diz para todo mundo que é solteiro.


Aparentemente eles se divertem muito juntos.
— Com licença, eu sou nova aqui, poderia me ajudar a achar

minha sala? — olho incrédula para a menina loira com lindos olhos
castanhos esverdeados e fico em dúvida se realmente está falando

comigo.
— Desculpa, está falando comigo? — pergunto.

— Acho que você é a única pessoa acessível nesse


momento. — responde sem jeito e sei exatamente como ela se
sente.

Tem dois lados bons nisso, eu não sou invisível neste


momento e ela também não vai se sentir assim no seu primeiro dia.

Fico os próximos minutos tentando explicar da melhor forma


como funciona os horários e onde são as salas, então marcamos de

nos encontrar no corredor a cada intervalo, passo meu número para


que possamos ir nos comunicando durante as trocas. Infelizmente a
área de atuação dela é design de interiores, bem diferente da
minha, e ela está no primeiro período, ou seja, não temos nenhuma

matéria em comum.
Assim que entro na sala recebo uma mensagem.

Obrigada por me ajudar, estava me sentindo perdida,


esse lugar tem muita gente preocupada com o próprio

mundinho pelo pouco que vi.


Rio de sua tão rápida e assertiva análise e respondo.
Sei exatamente como se sente, até daqui a pouco.

— Nossa, é sério, não sei como seria meu dia se não tivesse

te encontrado. — Bianca confessa me abraçando. Ela é brasileira e


veio morar com a mãe e o irmão, tem a minha idade e é linda,
parece uma Barbie. Onde passamos tem gente a olhando.

— Eu estudo a anos com muitas pessoas que estão aqui e


você é a primeira aluna a interagir comigo tempo o suficiente para

saber meu nome, então, eu que agradeço pela honra, sem contar
que sua presença é bem vista e notada, onde passamos as pessoas
te olham. — Bianca ri do meu comentário parecendo não acreditar
no que digo.
— Consegui falar com meu irmão, ele disse que o celular

estava descarregado, por isso não me respondia. — explica. O que


quer dizer que meus minutos de visibilidade acabaram.

— Isso é um adeus, espero que se lembre de nossa breve


amizade um dia. — brinco, mas no fundo realmente me lamentando.
Bianca ri do meu drama e balança a cabeça em negação.

— Olha, se depender de mim você nunca mais será invisível,


e também direi ao meu irmão o quão decepcionada estou por ele

não ter enxergado você em cinco anos de convivência escolar.


Nos despedimos mais uma vez e ficamos de nos encontrar

no intervalo do almoço.
Ainda não vi nem Gabriel e nem David, desde sexta percebi
que talvez o problema não seja eles, é como minha irmã sempre diz,

talvez o problema seja eu. Talvez eu me faça invisível de alguma


forma, mas hoje vim decidida a falar com eles, até porque os dois

me pareceram ser ótimas pessoas, me trataram tão bem na sexta, e


foram tão legais com Berry. Entro na sala e vejo a professora mais
linda que temos, em sua aula ninguém fala nada, a beleza dela

toma conta do lugar e parece que todos ficam constrangidos só de


pensar em falar alguma coisa e atrapalhar sua explicação. A aula
dela sempre flui com tanta leveza que quando termina sentimos
falta.

O sinal toca indicando o fim da aula e o início da minha nova


jornada. Saio da sala e vou direto para o refeitório, na fila já

pegando a bandeja avisto Bianca, sentados já com suas bandejas a


direita está Gabriel, David e Connor virados em direção a porta e na
frente deles estão suas namoradas. Respiro fundo e decido ir direto

neles antes mesmo de pegar meu almoço. Quando estou próxima o

suficiente vejo Gabriel olhar para mim, seus olhos encontram os


meus assim como no pub, mas desta vez ele não sorri, nem mesmo

dá um sinal de que me reconheceu. Me aproximo mais e paro atrás

das meninas, fico olhando dele para David até que Connor dá uma

cotovelada em David e os três me encaram, fico nervosa porque


ninguém fala nada, então decido falar.

— Oi meninos. — digo olhando para os dois e sorrindo,

ignoro as três patricinhas me olhando com cara de nojo e falo —


Como foi a viagem de vocês?

Ninguém responde pelo que parece horas, eles estão me

encarando confusos.
— Foi boa... — David quebra o silêncio constrangedor,

finalmente, mas sua resposta sai quase como uma pergunta e agora
ficou mais do que claro que eles não me reconheceram.

— Me desculpem, eu não queria atrapalhar o almoço de

vocês. — me viro pronta para sair correndo, mas minhas pernas


simplesmente não me obedecem, dou apenas alguns passos

travados e paro ouvindo as risadas das meninas, sinto um nó na

garganta e me controlo para não chorar.

— Você viu que estranha? Isso foi bem constrangedor. —


ouço Thais comentar.

— De onde ela saiu e de onde conhece vocês? — Rachel

questiona, também rindo.


— Não faço ideia de quem ela seja, mas fiquei sem graça de

falar. — Gabriel se manifesta. Olho para trás e de tudo que poderia

me ferir dentro dessa situação constrangedora, a pior delas é o


olhar de pena que ele me dirige. Desisto de comer porque perdi o

apetite, mas antes de sair vejo Bianca se sentando com eles.

Que ótimo, pelo visto ela já encontrou uma turma melhor para

se socializar.
Não só perdi a fome, como também perdi a vontade de ficar

aqui dentro, de repente me sinto como se fosse claustrofóbica e


essas paredes estão me sufocando. Corro até meu carro e saio indo

em direção a minha casa, mas meu choro é mais rápido e sou

obrigada a encostar, não enxergo mais nada em minha frente.


Choro durante um tempo, espero me recuperar para voltar a dirigir,

mas essa “recuperação” não vem, então limpo a vista e sigo meu

caminho. Chegando em casa parece que o aperto no peito aumenta,

abro a porta e minha única vontade é correr para me esconder em


meu quarto, mas antes de subir as escadas ouço minha mãe.

— Ei filha, como foi, porque chegou tão cedo? — me viro e

vejo minha irmã ao seu lado.


Ótimo, me poupa repetição.

Elas parecem perceber o meu estado e tentam se aproximar,

então as detenho esticando o braço.

— Lembram sobre nossa conversa mais cedo? — elas


assentem, ambas temerosas. — a partir de hoje considerem-se

odiadas pelo resto da vida. — Cuspo ríspida as palavras e subo

para meu quarto derramando mais lágrimas e sentindo mais dor.


Tranco a porta e me jogo na cama, pensando em quão

estúpida eu fui por pensar que alguma coisa mudaria. Pareci uma

retardada na frente deles, eles me fizeram sentir pior do que quando


ignoravam minha existência. Tiro o celular do bolso e vejo uma

mensagem da Bianca.
Oi, você não apareceu para almoçar comigo. Achei o meu

irmão no refeitório com a namorada e os amigos, queria muito

apresentar eles para você, podemos marcar na saída?


Só pode ser sacanagem, ela é a irmã do Gabriel, foi ela quem

chegou de viagem para morar com eles. Nossa, agora tenho total

certeza que irei voltar a ficar sozinha, ela não encontrou um novo

grupo, ela já pertencia a ele. Como não percebi antes? Como não
liguei os pontos?

Anoiteceu. Acabei adormecendo.

Olho para o celular para verificar a hora e vejo várias

mensagens da Bianca. Mas decido ignorar. Me levanto, olho pela


janela o quarto do Gabriel, a luz está acesa, mas não consigo vê-lo.

Pela primeira vez em anos não sinto vontade de cantar, sei que ele

está esperando a música de hoje, mas não ouvirá!


Me dirijo ao banheiro para tomar um banho e voltar a dormir.
Não faço ideia de como é uma ressaca, mas se for tão ruim

quanto dizem, provavelmente deve se parecer com o que estou


sentido agora. Mesmo depois do banho, passei a maior parte da
noite chorando até finalmente pegar no sono e agora simplesmente

não consigo abrir os olhos, minha cabeça está doendo muito e meu
corpo está pesado.
Me esforço para levantar ainda sem a certeza de que

realmente quero isso, acho que hoje seria um bom dia para faltar, eu
nunca falto, nem mesmo quando estou doente, acho que posso me

dar esse luxo. Tomo banho, coloco uma roupa fresca e desço. Devo
um pedido de desculpas a minha mãe e minha irmã.

— Bom dia. — cumprimento. Sarah, minha mãe e Steven

estão sentados tomando café e me encaram de formas diferentes.


Steven parece estar alheio ao que aconteceu e sorri para mim,

Sarah tem em seu rosto uma expressão que para muitos seria como
neutra, mas vejo as chamas de raiva em seus olhos e minha mãe

me encara dos pés à cabeça e seus lábios não contem o sorriso que
me oferece todas as manhãs, pelo contrário, os lábios dela estão

em uma linha fina e consigo sentir daqui seu descontentamento.

— Não sei o que ele fez com você e sinceramente não quero
saber. Porque estou me segurando para não ir lá bater na porta dele

e mostrar que não tem o direito de maltratar minha filha. Dei o seu

espaço ontem, não deixei Sarah ir te incomodar e me contive em ir


até você, mas não vou permitir que falte hoje! Ele não é isso tudo,

não é tão importante a ponto de fazer você faltar com suas

obrigações, você está se matando de estudar a anos para realizar


seu sonho de se formar e começar a lecionar em uma instituição de

renome, então, repito, ele não vale isso tudo.


Fico encarando minha mãe desabafar com um claro

desapontamento e isso me deixa um pouco irritada. Porque o que

ela espera de mim, é perfeição, e eu não sou perfeita, tenho meus

momentos de fraqueza e esse é um deles, eu mereço um tempo

para mim.

— Você fala como se eu estivesse abrindo mão de um sonho,


quando na verdade eu só quero um dia de paz, um dia para me

recompor, e sobre ele, o problema não foi o que ele fez comigo e
sim o que ele não fez! — ela fica me encarando confusa. — Ele não
me reconheceu, fui falar com eles assim como vocês me

aconselharam e todo mundo riu de mim, fiquei parecendo uma

retardada e ele simplesmente ficou lá me encarando sem falar

nada.

— O que tem de bonito tem de panaca, esse mané. — minha

irmã esbraveja. Fico a encarando porque essa é de longe a reação


que esperava dela. Achei que ia rir de mim, zombar do que

aconteceu, mas na verdade sua reação é quase uma forma de

demonstrar afeição.

— Eu agradeço por se sentirem mal por mim, mas vou ficar

bem, só preciso de um dia no meu quarto, tocando meu violão e

cantando uma música bem sofrida.

— Filha, você nunca faltou, mas confio em você e espero que


saiba o que está fazendo. — minha mãe aceita mesmo contrariada

— Eu sei, mamãe. Não se preocupe.

Tomamos nosso café em silêncio, assim que cada um sai

para suas obrigações eu volto para o meu quarto, quando olho pela

janela vejo Bianca no quarto do Gabriel, ela está sentada na cama

abraçando as pernas e parece estar chorando. Fico procurando por


ele, mas pelo visto está sozinha, corro para procurar meu celular e

vejo mais mensagens de ontem.


Será que aconteceu alguma coisa?

Olá, me desculpe por ter sumido, tive um imprevisto e saí


mais cedo, acabei não mexendo mais no celular. Está tudo
bem?

Fico observando e a vejo se mexer e pegar o aparelho, ela


arfa e começa a digitar.

Não consegui acordar cedo e meu irmão saiu sem mim,


me arrumei para ir pra aula, mas tive um contratempo em casa

que está me impossibilitando de sair.


Sinto um calafrio, tenho certeza que algo grave está
acontecendo.

Você está bem? Precisa de ajuda? Ainda não saí de casa,


posso passar aí para te buscar.

Me ofereço mesmo que pareça estranho para ela, já que


pensa que não sei onde mora. Ando apressada pelo quarto e

começo a me arrumar. Escuto um grito vindo do quarto onde ela


está, corro para a janela e ela está escorada na porta e parece ter
alguém do outro lado querendo entrar. Corro o mais rápido que

posso, desço as escadas com minha bolsa e as chaves do carro,


chego sem fôlego em sua porta e começo a esmurrá-la. Bato, bato,

bato com toda minha força, grito por ela e volto a bater até ouvir
alguém se aproximar.

Um homem completamente embriagado abre a porta e


parece furioso, olho para a rua e não tem ninguém que possa me

ajudar, caso ele tente alguma coisa, o cara é grande e parece


extremamente irritado.
— Oi, meu nome é Alice. — tento manter minha voz firme,

mas sinto um nó na garganta que me faz duvidar da clareza das


minhas palavras, pigarreio para tentar desfazer esse nó e explico. —

Vim buscar a Bia para irmos para a faculdade. — ele me olha


desconfiado e depois olha para trás.
— Ela não está, foi junto com o babaca do irmão dela, mas

se quiser entrar, podemos conversar um pouco e…


— Não, obrigada! — o interrompo, séria — Ela me disse que

está em casa e marcamos de irmos juntas, pode, por favor, conferir


se ela realmente não está? — nojo, nojo, nojo. É tudo que minha

mente grita quando ele estende o braço para encostar em mim, me


afasto e começo a gritar da porta. — Bianca, Biancaaa, vim te
buscar, vamos logo. — Ela finalmente aparece no topo da escada,

está pálida e com os olhos arregalados, e parece não acreditar que


estou ali. — Nossa, amiga. Achei que tinha me feito vir aqui à toa,
seu pai disse que tinha ido com seu irmão.
— Me desculpe — responde descendo as escadas

apressada, sua voz está rouca. — Acabei me atrasando. — ao


passar por ele, Bianca toma todo o cuidado para não o encostar, o

olhar dele sobre ela me dá vontade de vomitar, a puxo de uma vez,


pois parece que estamos em câmera lenta, por mais rápido que
seus passos estejam.

Não dissemos nada, vamos até meu carro e dirijo pegando o


caminho da faculdade, ela encosta a cabeça na janela do carona e

chora. Um choro silencioso e doloroso.


— Ele não é o meu pai. — diz quebrando o silêncio. — É só

mais um bêbado viciado que minha mãe colocou dentro de casa.


— Eu sei, Bianca, eu sei. Fico feliz que tenha conseguido te
ajudar.

— Como você sabia? — ela faz uma pausa e vira o rosto


confuso em minha direção. — Quer dizer, como sabia o que estava

acontecendo e como sabia onde eu morava?


— Eu sou sua vizinha, a janela do meu quarto dá para o
quarto do seu irmão, então vi tudo que estava acontecendo e corri

para te socorrer. — ela fica me analisando e suspira.


— Muito obrigado por ficar espiando o quarto do meu irmão e
ver que eu precisava de ajuda. — diz rindo em meio ao choro.
— De nada. — sorrio — E eu não fico espiando o quarto dele,

foi uma coincidência, estava abrindo minha janela e a vi na cama


chorando.

Ela se ajeita no banco e dá mais um longo suspiro e após uns


minutos criando coragem confessa o que estava tentando dizer.
— Meu irmão não pode saber o que aconteceu lá, Alice. —

estaciono o carro em uma vaga no estacionamento do campus e a

encaro.
— Ele precisa saber! — afirmo. — Eu não sei o que estava

acontecendo lá ao certo, mas era nítido que não era uma simples

briga familiar. — ela se senta de frente para mim, agora chorando

com ainda mais intensidade que antes.


— Não, não era. Quando desci para tomar café e sair, minha

mãe e ele estavam na cozinha, pareciam discutir sobre algo que

meu irmão disse antes de sair, vi quando ele deu um tapa no rosto
da minha mãe e a deitou sobre o balcão, ela pedia para ele parar,

mas cada pedido era um tapa mais forte, ele rasgou a roupa dela e

estava prestes a violentá-la quando chamei sua atenção. — Bianca


faz uma pausa e abaixa a cabeça segurando os cabelos loiros entre
os dedos. — Eu não disse nada. Ele apenas viu que eu estava ali

paralisada os observando. De repente ele sorriu para mim e


perguntou se estava gostando do que estava vendo, perguntou se

eu era tão vagabunda quanto minha mãe. Quando vi que ele a

soltou e começou a vir em minha direção, corri para o quarto do


Gabo e o resto você já sabe.

— Você não pode ficar calada. E se ele tentar pegar você de

novo? Ou pior, se ele conseguir pegar você? — questiono sentindo

medo por ela, tentando mostrar a gravidade da situação.


— Se eu contar isso para o meu irmão ele vai surtar, vai

matar o cara e estragar o resto da vida dele, as chances de ele

conseguir uma vaga na NBA iriam de noventa e oito por cento para
zero. Tem noção do que ele faria com a nossa mãe?

— E se aquele cara conseguir pegar você? — repito. — O

que acha que vai acontecer? Não acha que seu irmão iria arruinar a
vida dele de qualquer forma? Mas com uma diferença, Bia. A sua

vida também estaria arruinada, você carregaria uma marca para o

resto da vida, sabe quantas pessoas vítimas de abusos sexuais

conseguem se reconstruir? — Tento mostrar que ela não está


pensando direito. Estou indignada com tudo isso, enojada só de

pensar nas mãos daquele homem em cima dela.


Bianca não me responde, continuamos sentadas em meu

carro, ela ainda está chorando e percebo que também estou. Não

sei o que fazer para ajudá-la.


— Preciso de um tempo para pensar, só me deixa pensar em

uma forma para contar para Gabo que não me sinto segura lá em

casa e daí vemos o que fazer.

— Olha, você pode ficar lá em casa caso precise, pode


dormir lá e depois vemos o que fazer.

— Sério? Posso mesmo? Seus pais não se importariam?

— Somos só minha mãe e meus dois irmãos mais novos,


tenho certeza que minha mãe não se importaria desde que a gente

conte a verdade para ela, e quem sabe ela nos ajuda a pensar em

alguma coisa?

Ela parece pensar um pouco, mas acaba concordando.


— Eu nem acredito que nos conhecemos ontem e você já me

salvou duas vezes. — diz sorrindo. Meu irmão vai adorar saber que

conheci a menina que canta para ele todos os dias. — Congelo com
seu comentário e tento ignorar o fato de que ela sabe que canto

para ele.

— Bianca. — digo cautelosa. — Seu irmão não pode nos ver

juntas, ele não pode saber que somos amigas e não quero que me
apresente a ele. — Ela fica me encarando com desconfiança.

— Porque não, o que houve? Ontem fiquei com ele até tarde
no quarto para te ouvir cantar. Ele disse que foi a primeira noite que

não cantou desde que ele se mudou.

— É complicado. Te conto hoje à noite na minha casa. Pode


ser?

— Combinado, mas quero saber de tudo. — afirma.

Saber que ele falou sobre mim para ela fez meu coração

idiota aquecer, saber que ele sentiu minha falta, ou pelo menos
sentiu falta da minha música acendeu a chama que tinha apagado

ontem. Ele falou de mim para ela, como não sentir um fio de

esperança com essa informação.


— Combinado. — repito, cautelosa.

Decidimos passar o resto do dia escondidas observando a

equipe de basquete treinar, já havíamos perdido todo o primeiro e

segundo horário de aula, e como nenhuma de nós duas estamos


afim de estudar hoje, ficamos observando o empenho de cada

jogador e conversando sobre nossa vida no Brasil. Todo o drama e a

tristeza de mais cedo saiu do nosso meio, dando espaço para boas
gargalhadas.
— Fala sério, Alice! Meu irmão não é esse babaca que você

está falando, acho que se enganou. — Bianca disse ao irmão que ia


para casa de uma amiga e não voltaria para casa, ele ficou meio
desconfiado, mas como também não viria para casa concordou.

Agora estamos sentadas na minha cama e estou contando tudo que


aconteceu comigo desde que me mudei para Charlotte, o primeiro
momento em que vi o Gabo no terminal de embarque, o alojamento

e sobre todos os jogos de basquete que fui torcer por ele


anonimamente, todas as canções que cantei só para ele.

— Tudo bem, vamos recapitular tudo que você me contou,


você é apaixonada por ele há cinco anos, canta todas as noites, e

só se conheceram real e oficial a uma semana em um pub de um tal

de Berry. Que provavelmente irá se tornar o seu padrasto em breve,


assim que levarmos sua mãe para conhecê-lo pessoalmente. E
mesmo depois de todo o show que fez Gabo ainda não te

reconheceu?
Sorrio mediante a quantidade de informação que ela

implantou e concordo com a cabeça.

— Não, ele não me reconheceu e ainda ficou lá paralisado


vendo os amigos e a namorada dele rirem de mim. — afirmo, ainda

sorrindo, mesmo que não seja algo bom de se lembrar.

— Esse não é o meu irmão. Me desculpe, mas eu me recuso


a acreditar em toda essa história.

— Bianca, está tudo bem. Eu estou bem! — minto, porque na

verdade não está tudo bem e eu estou longe de estar bem.


— Um ova que está! Chorou a noite toda e só parou quando

foi me resgatar. Eu vou dar uma surra no babaca do meu irmão e no


demônio que ele chama de namorada. Ela acha que engana alguém

com aquele cabelo ruivo falsificado, e para que todos aqueles

músculos, meu Deus? — Ela respira fundo, se joga na cama e

confessa. — Não gostei dela e provavelmente se eu for lá te

defender vou tomar a maior surra que já tomei na vida, mas faria

isso por você.


— Você é uma figura, sábia? — olho para o relógio me

acabando de rir e vejo que está quase na hora da minha mãe


chegar. — Minha mãe está quase chegando, quero que fique calma
e conte tudo a ela, assim como me contou. — Vejo quando ela fecha

os olhos e exala o ar profundamente.

— Tem certeza de que ela não sairá correndo para bater lá

em casa? — questiona com medo.

— Sinceramente? — ela assente. — Não sei, o que sei é que

não podemos esconder o que aconteceu hoje. Alguém precisa estar


a par de tudo — concluo.

— Você tem razão. Vamos torcer para que ela entenda e não

fale com Gabo. — Sorrio lembrando o ódio que minha mãe está

dele.

— Acredite, ela não irá falar com ele!

Assim que minha mãe chega peço para que meus irmãos

subam para que pudéssemos conversar com ela, e tirando o fato de

que Sarah achou que eu iria anunciar que sou lésbica só por Bianca

está ao meu lado, nada mais está sendo engraçado. Minha mãe
está uma fera por eu ter me arriscado indo até lá, está furiosa por

Bianca não querer denunciar e nem contar para o irmão e está


furiosa pela irresponsabilidade da mãe deles.

— Mamãe, por favor! — peço exasperada.


— Não tem desculpa! Você está de castigo, Alice. E você
também Bianca, subam agora para o quarto e só desçam quando eu

chamar. — Não achei que minha mãe ficaria tão abalada com tudo
isso. Quando chego ao topo da escada a ouço chorar. Tento pensar

em algo que possa tê-la deixado assim. Só o medo de que eu


tivesse me machucado não é desculpa para que tenha essa reação.

Olho para Bianca e a vejo chorando também, entramos no meu


quarto e caímos juntas sobre a cama.
— Eu queria que minha mãe fosse como a sua. — confessa,

tristonha, me viro para encará-la, a tempo de ver mais uma lágrima


escorrer por seu rosto. — Ela se importa de verdade, demonstra

com atitudes o amor que tem por você.


Fico em silêncio, pois sei o que está sentindo, por muitas

vezes olhei para a família de alguém na rua e senti inveja por terem
um pai que não as abandonou, não era inveja em si, mas um desejo
de viver outra vida de forma diferente da que vivia.
— Você acha que sua mãe já passou por isso? Ela me

pareceu bem apavorada e sentida com tudo, viu como ela ficou
chorando? — Bianca questiona, e realmente faz sentido a sua

dúvida.
— Eu não sei, mas tive essa mesma desconfiança enquanto

subíamos. Quando tudo se acalmar tento conversar com ela.

Já está amanhecendo. Bianca e eu ficamos a noite toda

cantando, ela toca violão muito bem e cantando também não é nada
mal. Não conseguimos dormir depois que tentamos falar com minha

mãe novamente e ela pediu que não tocássemos mais no assunto,


perdemos totalmente o sono, quero saber quem fez isso com ela.
Será que foi meu pai?

— Acho que vou levantar e preparar um café especial para


minha mãe. — informo já saindo da cama.

— Que ótimo. Posso ajudar? — pergunta empolgada.


— Não só pode, como deve. Achou mesmo que eu faria tudo
sozinha? — ela sorri e se levanta também.
Em meia a hora a mesa está posta, e ficamos aguardando

minha mãe descer, deixei claro para Bia que não quero que ela
comente com o irmão sobre mim, por isso não nos encontraremos

no campus, apenas na saída quando tivermos certeza de que


ninguém nos verá. Não sei por quanto tempo iremos conseguir
esconder isso, já que Gabo é meu vizinho, ele pode até não ter me

enxergado durante todo esse tempo, mas sem dúvidas reconheceria


a irmã até se ela colocasse uma peruca.

— Nossa! Caíram da cama, meninas? — ouço minha mãe


brincar do topo da escada. Já está arrumada, porém é nítido que

dormiu tanto quanto Bia e eu, ou seja, nada.


— Bom dia, Mamãe.
— Bom dia, sra. Sowyer — Bia está bem melhor, a sua

energia é contagiante, minha mãe a encara e sorri docemente.


— Bom dia, meninas. Bianca, pode me chamar de Vick.

Como foi a noite de vocês?


— Não tão melhor que a sua pelo visto, mamãe — respondo.
— Quase não dormimos.
Ela dá um sorriso fraco e se senta. Logo meus irmãos se
juntam a nós, mas diferente de todas as manhãs ficamos todos em
silêncio, cada um com o seu prato, em seu próprio mundo e não

consigo arriscar o pensamento de nenhum deles, as expressões em


seus rostos estão tão aleatórias, como se cada um estivesse

criando uma barreira invisível em volta de si e criando um mundo


paralelo, algo completamente diferente da nossa realidade. Assim
como eu faço quando me sinto sobrecarregada da vida real. As

vezes quando sinto falta do meu pai, prefiro imaginar que quando

chegar em casa ele estará me esperando, com um lindo sorriso e o


presente que nunca chegou.

Terminamos o café e enquanto minha mãe lava a louça

depois de muita insistência, todos se ajeitam para sair, vou até ela e

a abraço.
— Amo você, mamãe.

— Te amo muito, querida. — Sorrindo, ela me abraça forte e

diz em meu ouvido — Mais do que consigo demonstrar.


— Quero saber até quando vai levar isso — Bianca reclama
pela milésima vez. Chegamos ao campus e estou estacionando o

carro. Mas ainda não se conformou com o fato de que quero

continuar sendo invisível. — Como vou passar por você pelo


corredor ou te ver no refeitório e não vou falar com você, isso não

tem cabimento.

— É simples, você vai fingir que nunca me viu na vida,

imagina que sou qualquer outra pessoa que não tem a menor
obrigação de dirigir a palavra.

— Impossível! — repete, irritada.

— Bia, se não fizer isso vou ficar muito chateada com você e
te expulsar da minha casa. — Ameaço.

— Nossa, isso foi bem cruel. Tudo bem, vou tentar, mas só

porque não quero ser expulsa.


— Combinado. — Rio do seu jeito, ela é tão especial.

Antes de ir para sala decido pegar uma água, acho que tentar

me esconder agora que Bianca e eu somos amigas está me

deixando nervosa demais, e isso faz com que minha garganta fique
seca, não sei se vou conseguir ir muito longe com tudo e saber que

não tenho o controle chega a ser sufocante.


Chego na sala e não sei se é carma ou alguma piada do

destino, mas estão todos aqui. Gabo, Thais, David, Rachel e

Connor.
Mas pelo amor de Deus eu estudo pedagogia, o que no

mundo reuniria um futuro médico, futuras profissionais da educação

física e um futuro arquiteto, na minha aula, eu sei que não entrei na

sala errada, então, porque, Deus?


E para melhorar as coisas, Rachel está bem no meu lugar.

Porque diabos eles estão aqui na frente e porque estão ocupando o

meu lugar?
Ao procurar um lugar que não seja no fundo da sala vejo que

minha única opção é sentar atrás do Gabo.

Só pode ser uma grande piada do destino.

— Bom dia a todos. — um homem entra nos cumprimentando


e eu corro para a cadeira vazia atras do Gabo. — Meu nome é

Jeremy e sou o novo professor de artes de vocês. A partir de hoje

irei juntar os nossos apreciados atletas, os futuros professores,


médicos e arquitetos em nossas aulas, a sala irá ficar pequena, eu

sei, mas essa é a intenção, tornar vocês mais próximos. Vocês

devem estar se perguntando cadê a professora Delma. Bom, ela

pediu licença devido a um problema particular e assim como fiz


agora vou pedir que todos vocês se apresentem, um a um daí

mesmo, nos lugares de vocês. Vocês não estão no colegial, estão


na faculdade, prestes a se formarem naquilo que tanto desejam, e

as aulas de artes aplicadas em todas as turmas independente do

curso servem para que vocês entendam que a vida é uma


verdadeira arte e nós somos um projeto indefinido.

sem dúvidas é uma grande piada, estou até achando que

estou em um show de stand Up.

— Como estamos em uma aula de artes quero que além de


se apresentarem dizendo seus nomes e idade, digam qual é a sua

arte, o talento que carregam dentro de si.

— Como assim? Que arte? — pergunta alguém do fundo da


sala.

— É simples! Quero que me expliquem aquilo que fazem de

melhor, se dançam, pintam, desenham, cantam, atuam. Qualquer

coisa que possa ser considerado arte e que faz parte da vida de
vocês. — explica.

— Ou seja, temos que falar no que somos bons em fazer.

Certo? — pergunta Baven.


— Exatamente. — concorda. — Vou fazer a primeira

apresentação para que vocês sigam. — Meu nome é Jeremy, tenho


39 anos, sou professor e a minha arte é ensinar. É o que faço de

melhor.

Assisto nervosa um por um se levantar e se apresentar como

foi pedido.
— Meu nome é Gabriel, tenho 24 anos, sou estudante de

arquitetura e minha arte é jogar basquete.

— Meu nome é Victor, tenho 22 anos, sou estudante de


medicina e a minha arte é dançar.

— Meu nome é David, tenho 23 anos, sou estudante de

medicina e minha arte é jogar basquete.

— Meu nome é Bianca, tenho 21 anos, sou estudante de


designe de interiores e minha arte é tocar saxofone. — Olho para

trás e a vejo sentada três meses depois da minha, fico surpresa,

não a tinha visto aqui e não fazia ideia de que ela tocava sax.
— Essa é a minha irmã, e a arte dela é incrível. — Gabo

grita, orgulhoso.

Quase todo o time de Basquete está aqui, então temos

muitos jovens com a mesma arte, temos muitos matemáticos aqui


também, cientistas... Por sorte quase todos os alunos se

apresentaram e não fui vista já que estou praticamente afundada na

cadeira e me escondendo atras dos ombros largos do Gabriel.


Só falta mais uma pessoa, estou quase virando uma poça no

chão de tanto que estou me abaixando atrás dele.


— Meu nome é Thais tenho 24 anos, sou estudante de

educação física e minha arte é beijar. É o que faço de melhor.

Toda a turma começa a rir, enquanto a ruiva exibida joga o

cabelo como se fosse a rainha do baile. O que deve ser verdade, ela
ganharia fácil esse título. Contudo, parece que o professor não

gostou muito da resposta.

— Bom, Thais, a não ser que queria beijar toda a turma para
provar o seu talento daqui a duas semanas, você terá que descobrir

outra arte. Agora sente-se para que eu possa explicar o que

faremos.
Quando ele diz isso, um alívio toma conta do meu corpo,

porque é sinal de que passei despercebida por ele e não vou ter que

me apresentar.

— Esperem, parece que faltou uma pessoa. — Jeremy para


me encarando.

De uma hora para outra esqueço completamente como se respira.

Não sinto minhas pernas, mas me movo até ele que me olha com
curiosidade.
Ao olhar para a turma respiro fundo e tento acalmar os meus
nervos. Minhas mãos estão tremendo e sinto uma vontade de sair

correndo daqui.

— Meu nome é Alice, tenho 23 anos, sou estudante de


pedagogia e — olho para Gabo que está me encarando como toda a

turma. — Minha arte é cantar.


— Você precisava ver a sua cara. — Bia está zombando de

mim desde a hora que saímos da sala. — Estava pálida, com os


olhos arregalados e falou tão baixo que não deu para ouvir quase
nada. E a cara que olhou para o meu irmão quando disse que o seu

talento era cantar. O que estava esperando? Que ele se levantasse


e dissesse: é você amor, que canta para mim todos os dias? Casa
comigo?

— Você quer, por favor, calar a boca? — grito raivosa. — Eu


estava nervosa, não queria que ele dissesse nada, mas mesmo

assim fiquei decepcionada por ele não ter tido nenhuma reação.
Bianca respira fundo e se acomoda no banco do carro, olha

para mim e se prepara para falar alguma coisa, mas acaba

desistindo. Sei que ela quer me ajudar, mas não tem o que se fazer.
— Está preocupada com a próxima aula? — pergunta. Sei

que está se referindo a tarefa que o professor disse que faria.


Conhecendo o desconhecido. — Estou! Muito na verdade —

confesso. — Que tipo de aula é essa, quem é que quer se conhecer


ali? Só queremos nos formar e ser alguém na vida, não precisamos

ficar íntimos de ninguém.

— Bem que você gostaria de ficar íntima do meu irmão —


zomba. Quando me viro para encara-la, Bianca está de olhos

fechados simulando um beijo. Tento ficar séria, mas é impossível,

caio na gargalhada junto com ela. — Vamos torcer para que você
me tire ou que eu tire você. — comenta se recuperando da crise de

risos.

— Vou torcer muito para que isso aconteça, já pensou eu tiro


a Thais, ou a Rachel? — digo fazendo cara de nojo.

— Ou o meu irmão — retruca pensativa, com um sorriso


idiota no rosto.

Estou começando a achar uma péssima ideia essa nossa

amizade.
— O que ele disse? — pergunto, assim que Bia entra em
meu quarto. Depois que chegamos da escola ficamos esperando

Gabo entrar em casa, ela foi até lá se certificar de que ele ficaria em

casa para que ela possa dormir lá essa noite.

— Disse que vai ficar, perguntei se teria problema dormir com

ele no quarto, dei a desculpa de que estava com saudades e ele

nem desconfiou, disse que posso dormir com ele quando quiser.
— Que bom! — digo aliviada. — Mas sabe que não precisa

fazer isso se não quiser né? Pode dormir aqui quando achar

necessário.

— Eu sei e agradeço por isso, mas estou mesmo sentindo

falta do meu irmão. — ela sorri para mim e me abraça. — Eu não sei

nem como te agradecer por tudo isso, espero mesmo que meu

irmão possa te conhecer melhor e ver o quanto você é incrível, Aly.


— sorrio pois esse é o meu desejo a anos.

Bia já está no quarto do Gabo e acaba de me mandar uma

mensagem dizendo que ele está esperando que eu cante alguma


música. Já estava com o violão em mãos quando recebi sua

mensagem.
Ajeito meu violão sabendo exatamente o que tocar.

Meu irmão, faz muito tempo que eu não te canto


Uma canção.
Que eu não te conto uma aventura, um sonho, uma ilusão.

Que eu não me sento calmamente junto com você.


O tempo passa...

Meu irmão, comigo os dias normalmente cumprem sua


função

Entre sinuca, futebol,


Amor e violão.
Termino a canção com lágrimas nos olhos e ao olhar para

porta vejo Sarah me encarando, minha mãe está atrás dela com as
mãos em seus ombros e meu irmão ao lado. Eles não dizem

absolutamente nada, porque não é preciso, também estão


emocionados.

— Boa noite, filha. Amamos você. — minha mãe quebra o


silêncio e se vira para sair.
— Mamãe é tão exagerada, amor é uma palavra muito forte.

Eu gosto um pouco de você — Sarah rebate revirando os olhos e


tentando esconder um sorriso. — Boa noite, Aly.

— Boa noite, família. — Fico parada olhando para a porta


depois que Sarah a fecha. Como eu os amo.

Faz meia hora que acordei. Já tomei meu banho me arrumei


e agora estou olhando Gabo em seu quarto. Ele está sem camisa

procurando alguma coisa que Bia parece ter escondido, os dois riem
e correm pelo quarto. Fico lembrando que não era essa cena que

estava vendo dias atrás, ela feliz, rindo com o irmão e isso me
causa um arrepio.

O que teria acontecido se eu não tivesse ido até lá?


Saio do meu torpor quando ouço meu celular apitar com uma
mensagem.

Bianca - Se continuar nos espiando assim Gabo vai


acabar te vendo, saia dessa janela e se prepare para sair.

Saio depressa da janela, não tinha reparado que os dois já


tinham parado de brincar. Gabo já está vestido e Bia está na janela
olhando para mim, olho para o celular em minhas mãos tremulas e
respondo sua mensagem.
Bom dia para você também. Já estou pronta, vou tomar

café. Te vejo mais tarde!


Desço as escadas e vejo Sarah e Steven emburrados, minha

mãe parece estar na cozinha.


— Bom dia, família. — Cumprimento como sempre, porém
não obtenho resposta. — Posso saber o que houve? — questiono.

— Esse pestinha me acordou jogando água em mim, bati


nele e ainda fiquei de castigo. — Sarah grita, irritada.

— Eu fui lá chamar ela como mamãe mandou, ela não queria


acordar e quando eu disse que jogaria água nela, ela duvidou,

então… — meu irmão é a criatura mais linda dessa vida, ele é tão
fofo mesmo quando faz merda que não tem como ficar chateada
com ele.

— Sarah, como você consegue ficar com raiva dessa coisa


linda. — brinco apertando as bochechas dele.

— Amanhã vou mandá-lo te acordar jogando um copo de


água na sua cara, aí você irá descobrir como ter raiva desse idiota.
— responde, irônica.
— Sarah Sowyer, se você soltar mais uma ofensa para o seu
irmão seu castigo vai de uma para duas semanas. — a seriedade na
voz da minha mãe deixa claro que ela não está para brincadeiras.

Olho para Steven e pergunto:


— E você rapaz, ficou de castigo também?

— Uma semana sem vídeo game e nada de joguinho pelo


celular. — rio da cara de cachorrinho perdido dele e vou até a
cozinha.

— A senhora precisa de ajuda, mamãe?

— Não, filha, pode sentar lá que já levo o café para vocês. —


responde, sorrindo.

O resto da manhã em casa foi tranquilo, mamãe perguntou

sobre Bianca e a tranquilizei dizendo que estava com Gabriel.

Estou estacionando o carro e avisto Thais e Rachel se


aproximarem, elas passam por mim e me arrepio com o olhar que

Thais direciona a mim. Essa é a segunda vez que ela me olha desse

jeito, não faço ideia de qual é o problema dela, mas também não
quero saber.

Ao entrar na sala vejo David, ele está sozinho e isso me dá

um certo alivio, mas não tanto já que mais uma vez ele está próximo
de onde eu sento. Ignoro totalmente o tremor do meu corpo e tomo

o meu lugar.
— Oi, com licença. — paraliso com sua voz ao meu lado.

Ele está falando comigo?

Olho em sua direção e ele sorri docemente. Nunca tinha


reparado o quão bonito ele é.

— Desculpa, sei que esse provavelmente é o lugar que senta

todos os dias, mas você se importaria de trocar, só hoje? — fico o

encarando incrédula e ele parece se envergonhar. — É que estou


esperando meu amigo chegar, e ele pediu que guardasse um lugar

ao meu lado para ele e aqui era o único vago. — abaixo a cabeça

para não mostrar que meus olhos estão cheios de lágrimas. Não sei
o porquê ando tão emotiva essa semana.

Antes que eu possa responder ou me mover ouço Gabo.

— Tu andas meio inútil ultimamente né, cara? Cadê o lugar


que pedi para você separar para mim?

Meu corpo parece receber uma carga elétrica, em um minuto

estou de pé derrubando todo meu material. Os dois se assustam e

ficam me encarando, mas abaixo o olhar e tento catar minhas


coisas.
— Me desculpa, não precisa sair daqui, só estava brincando

com o meu amigo. — Gabo se abaixa para me ajudar a catar tudo e

David vira para o outro lado pegando meus lápis que escorregaram
por debaixo de sua cadeira.

— Está tudo bem, pode se sentar, eu sento aqui atrás. — falo

sem encará-lo. — David me entrega mais uma caneta e o agradeço

jogando tudo na cadeira de trás.


— A Julgar que nem meu namorado e nem o amigo dele

usam absorventes, acho que isso é seu. — Quando olho para cima

vejo Thais com meu pacote de absorvente e toda a sala está nos
encarando. — Vamos minha querida, pega logo, ou você quer que

eu o coloque em você, do jeito que é jeca deve precisar de ajuda

para isso também. A sala inteira começa a rir e eu me encolho na

cadeira, pegando o pacote de sua mão e enfiando na mochila.


— Amor, por favor.

Amor… talvez eles dois se mereçam mesmo. Continuo

encarando minha cadeira enquanto Jeremy entra na sala, sinto que


David está me olhando, mas não me movo.

— Me desculpa por isso, a Thais tem um senso de humor

meio cruel às vezes. — olho para David e ele sorri fraco levantando

os ombros.
— Tudo bem. — respondo, voltando meu olhar para frente.

Eu preferia muito mais voltar a ser invisível.


Sexta feira… A minha semana foi um horror, fui enxergada

várias vezes e em nenhuma delas foi de um jeito bom, tirando a


Bianca, claro. Estamos cada vez mais amigas e sinto que em cada
mancada que o irmão dela dá, ela cria um pequeno rancorzinho por

ele, já orientei para parar com isso, afinal, ele não é obrigado a falar
comigo ou ser meu amigo pelo simples fato dela ser. Já estou
acostumada com isso a um tempo, porém ultimamente com todos

os acontecimentos estou começando a ficar preocupada. Quer dizer,


se for parar para analisar eu estou passando de invisível para

indesejada, me igualando as meninas dos romances clichês, as


nerds que as pessoas implicam, mas observando com realismo,

sabendo que o meu mocinho não irá se apaixonar perdidamente por

mim. Desde ontem quando a adorável namorada dele me


envergonhou com um absorvente, cheguei a uma conclusão.
Parei para analisar com calma tudo, ela me olha com um jeito

de quem sabe de todos os meus piores segredos, mesmo que eu


não esteja escondendo algo ruim de ninguém, me trata com total

desprezo e passou do dia para noite a me odiar. E isso só tem uma

explicação, ela sabe que eu sou apaixonada pelo namorado dela.


Não sei como, mas sabe.

— Aly, a Bia está aqui. — ouço minha irmã gritar do andar de

baixo, sei que Gabo não está em casa, então, não me importo com
o grito.

— Boa noite, está pronta para grande noite? — pergunta Bia

encostando no umbral da porta.


— Você sabe que estou acostumada a cantar no Berry,

certo?
— Sei, então talvez a grande noite seja para mim que irei

assistir. — conclui rindo.

— Exatamente! Já estava pronta para descer, viu se minha

mãe está na cozinha?

— Está sim, e pelo cheiro está fazendo uma sobremesa bem

gostosa.
— Toda sexta ela faz algo diferente para que eu leve para o

Berry, hoje é bolo trufado de chocolate.


— Hoje irei analisar esse tal de Berry e ver se é realmente
gente boa e bonito, se for, arrumaremos um jeito da sua mãe e ele

se conhecerem pessoalmente, é inadmissível os dois serem

solteiros, se falarem pelo telefone a meses, gostarem de você e não

ficarem juntos.

— Se minha mãe sonhar que você quer armar um encontro

pra ela, ela irá te expulsar da nossa casa e se souber que estou
junto serei expulsa também e pararemos debaixo da ponte.

— Se isso acontecer vamos morar com Berry, seu futuro

padrasto. — zomba.

— Vai logo para casa antes que seu irmão chegue, já pensou

na desculpa que vai dar para ele na hora de sair?

— Não preciso de uma desculpa. Eu pedi para que ele me

levasse no pub para que eu conhecesse a famosa cantora. —


paraliso olhando para ela e esperando que ria e diga que está

brincando, mas isso não acontece e minhas mãos começam a

tremer, acho que vou ter um ataque de pânico. Me sento na cama,

respiro fundo.

— Está brincando, né? Você não fez isso.

— Não fiz — respiro aliviada. — Na verdade quem disse que


iria lá hoje foi ele e perguntou se eu queria ir. Ele foi buscar o David
aqui perto e daqui a pouco vem me pegar.

— Porque diabos não me disse isso logo, está aí agindo


como se nada estivesse acontecendo, como se tudo estivesse de

boa, quando na verdade não está?


Bia fica me encarando inexpressiva, se vira para sair, mas
volta antes de chegar as escadas.

— Eu não sei porque está tão furiosa, deveria ter imaginado


que ele voltaria lá, e outra, não te contei porque não estava

querendo te deixar nervosa, já vi que era para ter ficado calada, me


pouparia de ver seu histerismo. — Dessa vez ela se vira e desce a

escada, quando chego a porta a ouço se despedir da minha mãe.


Acho que peguei pesado e acabei a deixando chateada.
Chego ao pub e vejo as letras rosas neon brilhando: Sing. É o

que farei essa noite, cantar até ficar rouca. Desço do carro com meu
violão e agradeço por mais uma vez o lugar está lotado. Passo

pelas portas e vejo Dara e Andy servindo as mesas, pelo visto estão
animados e isso é bom. Melhor do que ver eles brigando e deixando

Berry na mão.
— Boa noite, Berry. Como estão as coisas?
— Boa noite, Aly. Está tudo ótimo, o que tem aí para mim? —

responde sorrindo e olhando para a sacola em minhas mãos.


Quando estava saindo fui até a cozinha e ouvi minha mãe falar com

ele pelo telefone, ele havia dito algo engraçado e ela estava rindo
muito. Fico o encarando tentando analisar a possibilidade de…

— Ei — diz estalando os dedos na frente do meu rosto. —


Você está bem? Viajou e nem me convidou para ir junto.

— Desculpa, Berry, me distrai. Mamãe mandou um bolo


delicioso para nós.
Por mais que seja para ele todo fim de expediente nós

sentamos e ele divide comigo o que minha mãe manda.


— Que ótimo, estava mesmo querendo comer um doce. —

responde animado.
Olho para o palco e vejo um rapaz cantando uma música do
Legião Urbana, vento no litoral, o rapaz parece triste e a canção

ficou perfeita na voz dele.


— Cantor novo? — pergunto apontando para o palco.

— Pois é, Dodd faltou hoje e ele perguntou se podia se


apresentar, já frequenta aqui a um tempo, mas nunca cantou.

Fico encarando-o por mais um tempo até que ele fala:


— A cantora favorita de vocês chegou, vou sair para que ela
comece o verdadeiro show.

Ele se levanta e eu me aproximo.


— Você foi ótimo, amo essa música e sou fã do Legião
Urbana também.
— Obrigado! Mas nem se compara com você se

apresentando. — sorrio e ele se dirige ao balcão. Subo no palco


bem na hora que Bianca, David, Gabo e mais uma menina que não

conheço passam pela porta. Desvio o olhar e ajeito meu banco,


microfone e violão.
— Boa noite, pessoas. — digo sorrindo para todos os rostos

que me observam.
— Boa noite, Aly.

Eu realmente amo isso.


— Não preciso repetir, mas vou assim mesmo, porque sei

que tem gente nova e vocês amam me ver contando a minha


história. — eles riem e eu começo meu drama da noite. — Como a
maioria sabe só tenho vinte e três anos, tenho cinco filhos para criar

e essa semana adotamos uma cadela. — ouço um coro de “oh”.


Olho para Bia e ela fecha a cara me dando o dedo do meio. Sorrio e

continuo. — Bom, com isso agora tenho cinco filhos e uma cachorra,
ou seja, são sete bocas para alimentar e por isso conto com a
colaboração de todos, minha caixinha está aqui na frente e não

fiquem preocupados se ela transbordar, pois meu amigo Berry tem


uma caixa de reserva para colocar aqui e me fazer muito feliz, por
tanto galera, abram as mãos, os bolsos, bolsas e carteiras e vamos
que vamos que a noite é longa e tempo é dinheiro.

Pego meu violão e toco a primeira música inspirada no rapaz


que acabou de descer e inspirada na minha própria situação atual.

Quase sem querer do Legião Urbana.

Tenho andado distraído

Impaciente e indeciso

E ainda estou confuso, só que agora é diferente


Estou tão tranquilo e tão contente.

Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria

Era provar pra todo o mundo

Que eu não precisava provar nada pra ninguém.


Me fiz em mil pedaços pra você juntar

E queria sempre achar explicação pro que eu sentia

Como um anjo caído, fiz questão de esquecer


Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira.

Mas não sou mais tão criança

Oh, oh
A ponto de saber tudo
Já não me preocupo se eu não sei por que às vezes o que eu

vejo quase ninguém vê


E eu sei que você sabe quase sem querer que eu vejo o

mesmo que você.

Quando acabo de cantar sou brindada com uma salva


palmas e muitos gritos, olho para Bia e ela está sorrindo para mim,

os olhos de Gabo estão intensos e focados em mim, é incrível como

ele me olha como se enxergasse minha alma. Uma pena que na

verdade ele não enxerga absolutamente nada.


— Obrigada, gente. Vocês são maravilhosos. Agora vou

cantar uma música para uma amiga minha, ela chegou de repente

na minha vida e ganhou um espaço imenso no meu coração, espero


que gostem. — sorrio mais uma vez para Bia sem me importa se

alguém irá reparar ou não.

Respiro fundo e início a música do Bruno Mars: Count On Me


(conte comigo).

If you ever find yourself stuck in the middle of the sea,

Se algum dia você se encontrar preso no meio do mar


I'll sail the world to find you

Eu velejarei pelo mundo para te encontrar


If you ever find yourself lost in the dark and you can't see,

Se algum dia você se encontrar perdido no escuro e não

puder enxergar
I'll be the light to guide you

Eu serei a luz a te guiar

Find out what we're made of

Descobrimos do que somos feitos


When we are called to help our friends in need

Quando somos chamados para ajudar nossos amigos em

necessidade

— Aly, Aly, Aly. Uhuuul. — Todos esses gritos me fazem

esquecer toda a semana catastrófica que tive, me fazem apenas

agradecer mentalmente a Deus por ter cruzado meu caminho com o


da Bia e agora sermos amigas.

— Obrigada, vocês são fodas demais.

Canto mais quatro músicas, até realmente me senti exausta e


peço para ser substituída. São duas horas da manhã e Berry decidi

que hoje levará até as cinco, ele já ligou para minha mãe avisando

que irei dormir aqui.


— Mais uma vez você foi incrível — ouço Gabo dizer atrás de

mim, estou recolhendo o dinheiro depositado nas minhas caixas —


Se continuar assim vou acabar falindo meus pais para alimentar

você e seus filhos.

— Talvez deva guardar seu dinheiro para usar com as suas


namoradas. — Alfineto, sem me virar.

— Talvez elas não mereçam tanto quanto você. Afinal,

nenhuma delas fazem serenatas para mim toda noite.

— Já disse o quanto isso soa presunçoso. Se você gostasse


tanto assim das minhas músicas, teria ido lá em casa me visitar, ou

me conhecer melhor. — falo sem pensar, sem conseguir frear

minhas palavras e esconder minha tristeza.


— Na semana passada expliquei que tinha medo de quando

descobrisse quem é a dona da voz eu perdesse o encanto pelas

músicas, talvez eu prefira manter você como a voz anônima.

— Isso é uma grande idiotice, mas tudo bem! Cada um sabe


o que fazer da própria vida. — retruco tentando não parecer tão

grosseira.

— Nossa, você é perfeita, sério! Estou encantada pela sua


voz, espero que meu irmão aqui, tenha lhe dado todo o dinheiro
dele. — Bia chega cortando o clima que se tornou um pouco

pesado.

— Ele me deu o suficiente. Obrigada! — ela ainda está

sorrindo, mas levanta uma sobrancelha questionadora. Vejo David


se aproximar com a menina que chegou com eles.

— Olhai aí se não é a minha nova cantora preferida. — diz

ele simpático. — Arrasou mais uma vez. Essa aqui é minha prima
Meg, ela veio passar uns dias e quis conhecer o lugar de tanto que

falamos de você.

Sorrio para a menina que parece uma boneca, ela me

estende a mão e diz:


— Muito prazer, Aly. Você é realmente incrível.

— Obrigada! — agradeço um pouco envergonhada. — Se

não se importam preciso me hidratar e comer alguma coisa. — me


despeço e vou em direção a Berry que está sorrindo.

— Se continuar como está sua mãe poderá largar o emprego.

Você encheu três caixas hoje. — sorrio para Berry e vou para trás

do balcão pegar água, refrigerante e bolo.


Berry está fechando o pub, estou exausta e nem vi Bia e

Gabo indo embora, não nos falamos mais depois que os deixei perto

do palco. Mas recebi uma mensagem da Bia dizendo que iria dormir

na casa de David com a prima dele e o irmão.


Depois de um bom banho me deito e fico encarando o teto

lembrando da forma que Gabriel me olhou enquanto eu estava

cantando, a forma que me olhou enquanto me dizia que tinha medo


de me conhecer melhor.

Como eu queria que ele me conhecesse.


— Você não pode se esconder dele para sempre sabe disso,

né?
— Eu sei, Bia. — afirmo desanimada. — Mas vou fazer isso
enquanto puder.

— Ele está encantado por você, Aly. Falou de você a noite


toda depois que saímos de lá.
— Você consegue perceber o grande problema, e o que

realmente me magoa nessa história?


— Sinceramente? Não! Eu não faço ideia do porque você

finge ser outra pessoa quando está longe do Sing.


— É isso, Bia. Eu não finjo ser outra pessoa, mas parece que

ninguém aceita quem eu sou fora de lá.

— Me desculpa, amiga. Mas acho que se eu não tivesse te


conhecido antes de ir no pub, não iria te reconhecer também. Lá

você incorpora uma outra personalidade, quando você canta se


transforma em outra pessoa, você até se arruma, se maquia, até

seu cabelo cor de nada, fica diferente lá dentro. Então não tem
como comparar.

— Como assim cabelo cor de nada? — pergunto confusa.

— Amiga, seu cabelo não tem uma cor definida, quer dizer,
você não é loira, não é ruiva e também não é morena e

definitivamente essa cor não é castanho.

Puxo uma mexa do meu cabelo para frente e fico


observando, tentando ver se consigo me defender disso, mas não.

Meu cabelo realmente não tem uma cor definida, embora seja

natural.
— Para de fazer essa careta de ofendida, vamos pensar em

um modo de você passar a ser mais quista entre a sociedade, e aos


poucos se infiltrar em um grupo, porque assim como seu cabelo cor

de nada, você precisa mudar sua vida social e esquecer aqueles

podcasts, tá na hora de você amadurecer e entrar no jogo da vida

para ganhar. Nem que seja uns amassos do meu irmão.

Jogo um travesseiro na cara dela enquanto ri da própria

piada e pergunto:
— Tem certeza que você é minha amiga e quer me ajudar?

Porque eu nunca fui tão depreciada na minha vida.


— Aly, é justamente por ser sua amiga que estou te
mostrando a verdade, sabe porque eu ri quando você me contou

que a Thais te chamou de jeca? — faço um sinal de negação com a

cabeça e ela sorri. — Porque você realmente parece uma quando

vai para escola, eu não entendo isso.

— Quer parar! A minha roupa é normal, eu não preciso me

arrumar toda para ir a faculdade, eu prefiro ir confortável.


— Só não te comparo com a Beth a feia porque você tem

uma beleza natural e por isso não fica pior. Mas se você fosse feia,

amiga, não sei o que seria de você. Tem razão em querer ir

confortável, aliás eu também gosto, até porque passamos a maior

parte do nosso dia lá, mas porque fico completamente diferente de

você com minhas roupas confortáveis?

— Eu não sei, Bia. Talvez vocês tenham mais corpo que eu.
Ou sejam muito mais bonitas e se destacam por isso. — Bia revira

os olhos.

— Não é nada disso, você se esforça para ir bonita ao Sing,

mas vai de qualquer jeito para a faculdade. — ela para me

encarando e então sorri de um jeito que mostra que teve uma ideia.

— Já sei o que podemos fazer para provar que o erro está em como
você se vê e se veste. Amanhã eu irei arrumar você! A única coisa
que não vai dar para mudar ainda é o cabelo cor de nada, mas

podemos pelo menos fazer alguma coisa para que ele pareça mais
apresentável, um penteado, sei lá.

— Bia, existe um motivo para que eu não me encha de


maquiagem e não gaste minhas coisas para ir para faculdade. — ela
fica me encarando e levanta a sobrancelha perfeitamente

desenhada fazendo um sinal para que eu prossiga. — É porque eu


não quero chamar a atenção de ninguém, eu gosto das coisas como

estão, gosto de não ser incomodada e se alguém, seja lá quem for,


quiser gostar de mim será assim, eu não tenho que mudar por

ninguém.
— Sem essa, agora você já foi de nerd invisível para
desprezada pelas duas garotas que andam com meu irmão, então

você precisa mudar de status e virar a garota nerd desejada pelos


garotos. Coloca na sua cabeça que a mudança não é para agradar

aos outro e sim a si mesmo. — rebate firme.


— Até que enfim alguém que pensa igual a mim. — olho para

trás e vejo minha irmã de braços cruzado encostada na soleira da


porta.
Era só o que me faltava.
— Escuta aqui vocês duas, eu NÃO quero ser desejada por

ninguém, só quero me formar na faculdade e em algum momento eu


sei que vou conhecer um cara super legal que goste de mim como

sou, sendo jeca ou não, e serei bem feliz com ele.


— Você sabe que estão todos matriculados na mesma

universidade. Você não vai se livrar de nenhum deles a não ser que
desista da bolsa e vá para outra faculdade.
— Isso não vai acontecer! — afirmo.

— Ótimo, porque você faria com que eu passasse a odiar o


meu irmão caso fizesse isso.

— A minha vida não gira ao redor do seu irmão, o fato de ser


apaixonada por ele não faz com que eu me torne uma marionete
guiada pelos passos dele.

— Ótimo! — repete — Fico feliz que tenha admitido que é


apaixonada por ele, é a primeira vez que fala em voz alta. Tirando é

claro, aqueles podcasts ridículos.


— Esquece isso, eu não uso aquilo a anos já disse. —

Defendo-me sem paciência.


— É melhor que apague o site, porque se ele ouvir, ou outra
pessoa, irá te descobrir em questão de minutos.
— Seu irmão não perceberia nem se tivesse uma foto minha
ao lado da dele estampada dizendo o quanto o amo.
Salto da cadeira e corro até a cama onde minha irmã e Bia

estão. Elas me encaram sem entender nada, passo por elas e pego
meu notebook. Abro a página do meu site com os podcast, que não

vejo a anos e encontro o que temia.


Visitas recentes: Bianca Souza, Thais Andrade, Rachel
Gatina, Beven G.

Ai meu Deus, é por isso que ela passou a me odiar, ela ouviu
todos os meus podcasts.

Me jogo na cama e enterro meu rosto no travesseiro.


Sinto as duas se aproximarem de mim e minha irmã exclama

a mesma coisa que eu.


MERDA. Isso tudo é uma grande merda.
— Não tem para onde fugir, amiga. Você precisa se

apresentar melhor, pois a sua fase de invisibilidade definitivamente


acabou!
— Eu não vou sair de casa assim, gente. Não adianta. —
digo irritada. Fui obrigada a acordar cedo e passar por uma sessão

torturante de beleza com minha irmã e Bia. Elas me colocaram em


uma saia meia coxa e uma blusa com decote quadrado e manga

princesa, Bia fez minha sobrancelha e minha irmã fez prancha no


meu cabelo criando umas ondas bem definidas. Fui maquiada, não,
maquiada é elogio, passaram um reboco bem forte na minha cara,

estou parecendo que vou a um baile de gala.

— Ok. Acho que exagerei na maquiagem, mas fora isso você


está ótima. — Sarah admite segurando o riso enquanto me encara.

— Mamãe, por favor. — Imploro por ajuda.

— Querida, tirando essa maquiagem ridícula — ela me

analisa por um tempo e sorri. — Você está linda! Não está vulgar e o
cabelo assim está lindo.

— Mamãe, era para dizer que estou parecendo uma qualquer

e me mandar vestir algo decente para não manchar o nome da


nossa família. — minha mãe rir do meu exagero e sai. Ela virou as

costas e saiu me deixando com as duas retardadas aqui. Respiro

fundo e vou ao banheiro retirar a maquiagem.


— Agora sim! Pega, passa esse gloss e vamos logo sair

daqui porque estou morrendo de fome e vamos acabar nos


atrasando.

Chegamos no campus e espero Bia descer do carro e entrar,

fico me encarando pelo retrovisor do carro, não irei mentir, estou me

achando linda, mas, ao mesmo tempo, sinto que essa não sou eu,
não me visto assim aqui. Sorrio porque amei como ficou minha

sobrancelha, deixando meu rosto ainda mais delicado, é incrível

como uma sobrancelha bem feita consegue mudar totalmente nosso


rosto. Respiro fundo e saio do carro, ajeito minha saia um palmo

mais curta do que costumo usar, ergo a cabeça e caminho quase

que confiante até a entrada.

Respiro ainda mais aliviada por encontrar ninguém


indesejado e nem o desejado também. Sorrio da minha própria

idiotice e me sento. Sinto alguns olhares sobre mim e sinto meu

corpo esquentar, meu rosto deve estar um verdadeiro pimentão.


— Bom dia, espero que tenham feito o exercício que passei

semana passada! — Cindy é nosso professor de cálculos, ele é

extremamente inteligente e adoro sua forma de ensinar, é leve e


descontraída.

— Oi, tudo bem? — olho para o lado e vejo Bread, um dos

mais novos atletas da nossa escola. Ele sorri para mim e fico

confusa, pois nunca falou comigo, nem mesmo um “oi”.


— Oi, estou bem, obrigada. — digo sem graça e sem querer

render assunto para ele.

— Eu nunca te vi por aqui antes. É nova ou trocou de curso?


— reviro meus olhos e sorrio. Não um sorriso forçado, porque

realmente gostei disso. De ser notada e descaradamente

paquerada.

— Na verdade Brad, eu sento nessa mesma cadeira ao seu


lado a meses. — minha vontade de rir aumenta com a cara confusa

dele e o jeito que se joga de volta em seu próprio assento. Fico o

encarando por mais um tempo e começo a rir. Não uma risada


contida, uma verdadeira gargalhada.

— Com licença. — vejo o professor se aproximar e contenho

o riso. — Posso ouvir a piada que foi contada? — diz se sentando

na mesa do Brad, olhando dele para mim.


— Me desculpa, professor — tento me recompor. — É que

Brad achou que eu era nova aqui e tentou me passar uma cantada
ridícula. — me arrependo assim que as palavras saem de meus

lábios. Droga.

— Espero que sua nova roupagem, senhorita Sowyer, não


inclua sua disciplina em sala de aula e muito menos comprometa

sua excelente carreira acadêmica.

Cindy sai me deixando refletir com suas palavras. Será? Será

que se eu mudar meu exterior, irei mudar também minha essência?


Decido não ir ao refeitório hoje, ao invés disso vim para

arquibancada da pista de atletismo, assim como no dia que salvei

Bia. Fico olhando as pessoas se aquecerem até uma voz chamar


minha atenção.

— Eu não sei de quem você está falando, Thais. Não

conheço essa menina.

— Se eu sonhar que você está dando trela para aquela


songa monga nós iremos ter uma briga séria, está me entendendo,

Gabriel?

— Achei que essa já era uma briga séria, e por uma garota
que não faço ideia de quem seja. E outra, se ela é apaixonada por
mim deve saber que sou apaixonado por você e não tenho olhos

para nenhuma outra garota.

Sinto meu coração apertar, de repente conheço a sensação

de uma pessoa tendo um ataque de asma, pois não consigo


respirar, me abaixo um pouco mais na arquibancada. Eles estavam

falando de mim, ela está falando de mim.

Ele não sabe quem eu sou, mas ela sabe e me odeia.


Enquanto ele a ama, e não tem olhos para mais ninguém.
— Você não precisa ficar nervosa, Aly. A aula vai ser

tranquila e se você tirar o meu irmão ou as meninas a gente troca


sem ninguém ver, é só se sentar perto de mim.
— Eu não estou nervosa só por isso, Bia.

A semana passou rápido e hoje já é quinta feira, estou no


carro quase tendo uma crise de ansiedade. Terça e quarta foi uma
mistura de satisfação e pavor, passei a maior parte do tempo

preocupada em me esconder do Gabo e companhia. Fui paquerada


e olhada por vários meninos e cheguei à conclusão de que Bia e

Sarah tinham razão e eu não deveria esconder minha beleza, mas


agora, que estou prestes a ficar cara a cara com eles e ainda correr

o risco de ter que ficar 45 minutos falando sobre tudo um do outro,

estou surtando completamente.


— Ei! Não pira, amiga. Vou entrar e sentar lá atrás, a

probabilidade de você tirar qualquer um deles é pequena e se ainda


assim acontecer vamos trocar.

Bia tenta me acalma e concordo. Preciso me concentrar e


fazer o que sei de melhor, passar despercebida.

— Bom dia, meus artistas preferidos. — Jeremy parece bem

animado nos cumprimentando.

Graças a Deus quando entrei na sala só tinha Bia guardado


meu lugar e alguns alunos da minha turma. Gabo e seus amigos

entraram uns 5 minutos depois, Thais percorreu os olhos pela sala e

logo me encontrou. Sei que estava me procurando porque assim

que nossos olhos se cruzaram ela sorriu de um jeito que me deu um

gelo na espinha e agarrou Gabo visivelmente marcando território.


— Bom, a aula de hoje será um misto de conhecimento e

descobertas, o primeiro tempo faremos para rotular os colegas de

turma, o segundo vocês irão passar quarenta e cinco minutos

conhecendo melhor a pessoa que irei sortear e o terceiro vocês me

contarão se o que achavam do colega de vocês no primeiro tempo


era real ou não. Vamos nomear essa aula de: Conhecendo o
desconhecido. Ninguém vai ficar com as pessoas de sua roda de

amizade. Vamos sair da zona de conforto.

Jeremy se vira para o quadro e começa a escrever algumas

coisas.

— Me digam alguns rótulos que costumam dar para seus

colegas de turma. — As pessoas começaram a falar alguns e o


professor anota no quadro.

Nerd, burro, atleta, popular, abelha rainha, indiferente,

solitário, piranha, gostosa, desnecessário, perdido, patricinha, linda.

Ele anotou todos os rótulos e até riu de alguns e

desconsiderou outros.

— Vocês são realmente cruéis com os colegas, não é. — Não

foi uma pergunta, foi uma constatação. — Agora vou seguir a ordem
dos nomes que tenho anotado e vou citar um, quatro pessoas vão

escolher um desses rótulos para dar ao escolhido. Entenderam? —

A sala inteira confirma e todo mundo parece bem animado com isso.

Menos eu.

— Fabrizia. — Começa. — Gostosa, indiferente, perdida,

burra. — algumas pessoas respondem, ultrapassando o limite de


quatro, mas Jeremy não pareceu se importar, apenas ficou

analisando cada um que se dispôs a falar.


— Bread — continua. — Atleta, sem noção, indiferente,

desnecessário.
— Bianca.
— Tomem cuidado com o que vão falar da minha irmã, seus

idiotas. — Gabo esbraveja olhando para todo mundo e rindo.


— Gostosa. — David grita ganhando um belo soco no ombro

dado por Gabo.


— Fica longe da minha irmã, babaca. — alerta.

— Gabriel, se for bater em todos que rotularem a sua irmã


terá que tapar os ouvidos. — brinca o professor fazendo a sala
inteira rir, até eu. — Vamos, o que vocês veem olhando para Bianca.

— instiga o professor. — Abelha rainha, patricinha, linda.


Olho para Bia e ela sorri para mim, sussurro: — Incrível. — E

seu sorriso aumenta.


— David. — Lindo, popular, atleta, Ned, gostoso.

— Rachel. — Um coral de: gostosa, popular, linda, abelha


rainha e patricinha, soou pela sala.
— Gabriel. — Atleta, lindo, popular, gostoso.

— Meu! — Thais alerta olhando para trás. Olhando para mim.


— Não me lembro de ter colocado esse rótulo no quadro,

senhorita Andrade. — Jeremy a repreende.


— Desculpe, professor — ela dá mais um de seus sorrisos

forçados — É que não resisti.


— Ok, vamos ver o que a turma tem a dizer sobre você.

— Linda, gostosa, abelha rainha, minha e popular. — Gabo


rasga elogios para a namorada sem deixar que nenhuma outra
pessoa a rotule.

— Vamos tentar novamente sem que o casal da sala


estrague o restante da brincadeira. Quero que pessoas que não são

ligadas de nenhuma maneira a Thais a rotule. — o professor não


parece irritado, porém, foi bem direto.
— Abelha rainha, desnecessária, atleta, gostosa, cruel,

arrogante.
Conforme os alunos vão a rotulando o sorriso em seu rosto

vai escorregando até se tornar uma careta. Ela dá uma olhada em


volta e quando seus olhos mais uma vez caem sobre mim faço

questão de falar: — Sem noção.


Devolvo o mesmo sorriso que vem me dando esses dias.
Posso ser na minha, mas não tenho sangue de barata, não vou

mais abaixar a cabeça e deixar que me humilhem.


— Ok, ok. Vamos parar por aqui — Jeremy interrompe. —
Como podem ver senhores, a vida de vocês vai além do círculo de
amizade, e os rótulos são mais dolorosos quando não vem de

pessoas ligadas a vocês. Vamos ao último nome na minha lista.


Senhorita Alice Sowyer.

Um silêncio toma a sala. Ninguém sabe de quem o professor


está falando.
— Levante-se, Sowyer, pelo visto seus amigos de turma não

sabem quem é você, mesmo que tenha se apresentado semana


passada.

Minhas pernas estão trêmulas. Não, minhas pernas não, meu


corpo inteiro está tremendo. Faço o que o professor mandou, mas

mantenho meus olhos no chão até que ouço várias pessoas.


— Nerd, indiferente, solitária, desnecessária.
— Piranha.

Olho na direção de onde veio a voz, Thais me olha com ar de


superioridade. Meus olhos se enchem de lágrimas e sei que se não

sentar agora irei cair no choro. Todos estão me encarando. Gabo


está me encarando e não diz nada, mais uma vez.
— Linda. — Olho para David sem acreditar que o elogio veio

dele.
Então diferente dos primeiros rótulos começo a ouvir. —
Gostosa, linda, inteligente.
Olho para o professor e o mesmo me dá autorização para

sentar através de um aceno.


— Cruéis! Esse é o meu rótulo para vocês. — Jeremy respira

fundo parecendo se recuperar desse momento constrangedor. —


Vamos agora fazer um sorteio. Enquanto vocês se elogiavam e
ofendiam separei a turma, foi bem fácil separar os populares dos

não populares. Conforme for chamando as duplas peço que se

levantem e venham até mim. Vamos fazer uma fila.


Droga, droga, droga

Olho para Bia que entende meu desespero, ela percebeu que

o tal sorteio não era como pensamos e as probabilidades de cair

com qualquer um deles são bem maiores fazendo assim.


— Gregory e Haley, Daniel e Maicon, Robert e Fill, Eleonor e

Déb., Bile e Simon, Renan e Gabriella, Bianca e David, Rachel e

Edward, Beven e Halanna, Gabriel e Alice.


Eu não sei quantos princípios de infarto uma pessoa pode ter

até que realmente morra. Mas hoje eu passei da minha cota, essa

semana eu já morri umas oito vezes, igual na música da Pitty. Vejo


todo mundo olhando para mim, esperando que me levante, mas só
consigo olhar para Thais que me olha como se pudesse me matar

só com esse ato. Vou com cuidado até onde Gabo já está parado
me esperando e não ouço mais nada do que o professor diz, só vejo

as outras pessoas se levantando e vindo para perto de nós. Sinto as

lágrimas escorrer dos meus olhos, mas não consigo as deter, me


encolho ao sentir uma mão tocar meu ombro.

— Ei, sou eu. — Bia segura meu rosto e enxuga com

delicadeza as lágrimas que provavelmente borraram minha

maquiagem — Está tudo bem, nós vamos trocar, você vai com o
David.

— E você? — pergunto fraca.

— Vamos fazer uma troca por motivos de força maior. —


Jeremy para ao da Bia respondendo por ela, não me viro para

Gabo, mas sei que me encara sem entender, consigo sentir o peso

do seu olhar. — A senhorita Sowyer vai com David, Bianca


obviamente não pode ir com o irmão, então, Bianca vai com a

senhorita Miley e Gabriel vai com Josh a quem rotulou como nerd.

Respiro aliviada, mas nem tanto, sinto várias pessoas me

encarando ainda e me sinto constrangida por ter tido um ataque


vergonhoso de pânico.
O professor entrega uma câmera de vídeo e uma lista para

cada dupla e explica como irá funcionar.

Basicamente teremos que interagir um com o outro e filmar


cada resposta. Quarenta e cinco minutos, estou tentando adivinhar

quanto tempo vou levar para ter outro ataque ao lado de David.
David e eu escolhemos a pista de atletismo que hoje está

fazia, seguimos lado a lado sem dizer uma palavra, simplesmente


caminhamos na mesma direção e quando paramos estávamos no
meio do campo, nos sentamos de frente um para o outro e agora

estamos nos encarando.


— Pode começar se quiser. — incentivo, já sem graça com
ele me encarando.

— Você é realmente linda, não disse aquilo só para amenizar


o clima na sala, e peço desculpas pela Thais, ela não é uma má

pessoa. Não sei porque te atacou daquele jeito. — sorrio sem graça.
Não sei se me sinto feliz por ele estar sendo legal comigo, ou

se me sinto mal por ele estar tão perto e não me reconhecer.

Com certeza estou feliz por realmente me achar bonita.


— Eu não acho que ela seja uma pessoa boa, mas não

estamos aqui para falar sobre seus amigos, e sim sobre nós. —
David ergue uma sobrancelha e depois faz uma careta. Fico

encarando-o sem entender enquanto se levanta e começa a andar


de um lado para o outro, de repente se vira para mim e pergunta.

— Qual é mesmo a sua arte?

Droga
— Desculpe, não entendi a sua pergunta. — tento disfarçar.

— O professor disse que embora você tenha se apresentado

na semana passada as pessoas pareciam não se lembrar de você,


isso me leva a crer que seja a menina dos podcasts, a garota

invisível, mas, tem mais uma outra coisa. Qual é a sua arte Alice, ou

eu devo te chamar de Aly?


Droga, droga, droga, mil vezes droga.

— Eu realmente não sei do que está falando, David. E acho


que devemos começar a nossa tarefa.

— Ótimo, vamos começar. — ele tira do bolso o cartão com

as coisas que devemos perguntar um para o outro. — A primeira

coisa que tem na lista é a pergunta que acabei de te fazer. Qual é a

sua arte e logo depois você terá que demonstrá-la enquanto eu filmo

você.
Respiro fundo porque sei que não tenho para onde fugir, ele

já sabe quem eu sou. E não sei porque estou tão desesperada, já


que a alguns segundos fiquei chateada por ele não ter me
reconhecido.

— Tudo Bem, você venceu! Eu sou a Aly, a menina que

vocês viram cantando no Sing.

Ele sorri, continua me encarando e depois faz mais uma

careta engraçada.

— Você está muito ferrada, Aly.


— Como assim, porque? — pergunto realmente confusa.

— Por vários motivos. — diz começando a numerar com os

dedos e voltando a andar de um lado para o outro. — Primeiro, por

fingir ser uma mosca morta que sabemos que não é, segundo, por

se declarar descaradamente em vários podcasts na internet. — se

vira em minha direção e questiona, fazendo uma careta, bem

bonitinha. — Quem faz esse tipo de merda? Se declara para uma


pessoa que nem fala, em um site que qualquer pessoa no mundo

pode ouvir, inclusive a namorada do cara.

— Olha, você viu as datas? Aquilo foi a anos, no ensino

médio, eu era imatura e apaixonada, não podem me julgar por isso.

— Quem liga para datas, você fez aquilo! Continuando —

mais uma vez se vira e continua andando de lá para cá me deixando


um pouco tonta. — Terceiro, você canta para ele todas as noites,
cantou no pub e flertou com ele na primeira vez que fomos falar com

você. Quarto, quando ele te reconhecer aqui na escola, você vai


entrar para lista negra oficial das meninas, a começar pela Rachel e

a Thais que são as piores.


— Achei que você tinha dito que ela era uma boa pessoa, e o
que sua namorada tem a ver com isso? — pergunto, irritada com as

afirmações dele.
— Talvez eu tenha mentido para te confortar, ela não é tão

boa assim e a Rachel não é minha namorada.


— David, vamos a minha defesa agora. — digo me

levantando e ficando de frente para ele. — Eu não finjo nada, eu sou


assim, no pub as luzes, o barulho e talvez as roupas que visto para
ir cantar possa ter me diferenciado um pouco, mas eu nunca menti

dizendo ser outra pessoa, não tenho culpa se vocês são tão lerdos a
ponto de não me reconhecerem, em relação às namoradas de

vocês, elas não podem me odiar por gostar de alguém, nunca dei
mole pra ele, e ele nunca olharia para mim, você viu a declaração

que ele fez para ela na sala? Eles se amam. Seria burrice dela
querer entrar em guerra comigo. Eles se amam. — repito, um pouco
mais desanimada a parte sobre eles se amarem, sinto minha

garganta apertar, como se alguém estivesse me estrangulando.


David fica me analisando e faz um estalo com os lábios.

— Ele já te viu, ouviu e gostou. Só foi lerdo assim como você


disse, e não te reconheceu aqui, mas como ele reconheceria se não

ficam nem cinco minutos na presença um do outro? Se nunca


conversaram? Acha que se não tivesse trocado de dupla essa hora

vocês não estariam tendo essa mesma conversa? Talvez um pouco


diferente, mas com o mesmo teor de reconhecimento? Você pode
não ter se esforçado para fingir ser outra pessoa, mas também não

fez questão de mostra quem era. E a Rachel, não é minha


namorada, nós apenas nos curtimos e sobre o Gabo amar a Thais,

nem tudo é tão perfeito quanto parece!


Volto a me sentar na grama e ele me acompanha, ficamos
em silêncio por um tempo, mirando o horizonte. E eu repassando a

última frase dele.


Nem tudo é o que parece.
— Posso te fazer uma pergunta? — David quebra nosso

silêncio.
— Claro, aliás nós precisamos fazer nossa tarefa, ficar
admirando a vista vai acabar nos atrasando.

— Tudo bem, já vamos começar. — ele vira seu corpo em


minha direção e mais uma vez fica me analisando com olhos
curiosos. — Você ficou muito chateada no dia que veio nos

perguntar como tinha sido nossa viagem e nós não te respondemos


e ainda debocharam de você?

Fico o encarando, tem um brilho de preocupação em seus


olhos e isso me faz ver o quão diferente dos outros ele é.

— Fiquei bastante decepcionada. — admito.

— Me desculpe, de verdade.
— Está tudo bem, esquece isso. Vamos começar nossa

tarefa. Quer ser filmado primeiro?


— Por mim tudo bem! — afirma. Me entrega a câmera que

havia deixado no chão e o cartão com as perguntas, sorrio ao ver


que ele havia mentido, à primeira pergunta é o que você gosta de

fazer e não qual é o seu talento, olho em sua direção e ele dá de

ombro sorrindo de lado.


— Vamos lá — digo com a câmera ligada em sua direção. —

Senhor David Hezekiah, o que você gosta de fazer?

— Sou Jogador de basquete e amo jogar. E só para reforçar,


estou muito estressado por estar sem jogos e sem treinos. — sorrio

e ele espelha o mesmo sorriso no rosto, porém, o dele é mais aberto

e espontâneo.
— Ok, próximo, pretende seguir a sua profissão baseado na

arte que nos citou semana passada ou tem outros planos? — David
alargar mais ainda o sorriso.

— Minha arte não tem absolutamente nada a ver com meu

curso. Meu sonho não é ser um jogador da NBA. Meus pais são

médicos, meu pai é o melhor cardiologista que conheço e minha

mãe é obstetra, eu pretendo ser um neurocirurgião e tenho um

longo caminho a percorrer, depois da nossa formatura todos vão


seguir uma carreira e eu ainda estarei como residente em algum
hospital, ou seja, mais estudos, para só então ter meu diploma na
especialização que escolher.

— Incrível, nunca iria imaginar. — confesso boquiaberta. —

É isso minha gente, vocês estão diante do futuro Dr. Hezenkiah. —

ele solta uma gargalhada e me encara esperando a próxima

pergunta da lista. — Como você se vê daqui a alguns anos após

seguir a carreira desejada?


— Como me vejo? — repete analisando a pergunta. — Bem

sucedido, casado, com 3 filhos e ganhando muito dinheiro.

— Você está realmente me surpreendendo — confesso —

Mas não acho que sua namorada vá querer casar e ter 3 filhos e

estragar o corpo perfeito dela. — implico e ele fica sério.

— Já disse que ela não é minha namorada. E minha mulher

será linda com ou sem os filhos, mesmo não tendo o corpo perfeito,
estando ao meu lado e me fazendo feliz, ela já será perfeita. Não

ligo se será loira, morena, ruiva, só quero chegar em casa e ter

alguém para contar como foi meu dia, para perguntar ansioso como

foi o dia dela e depois tirar todo o estresse do dia com um bom

sexo.

— Bom, caso não tenha mulher até lá tenho umas sugestões


para você. — David me olha curioso com a sobrancelha erguida, e
começo a rir antes de dar a ele minhas sugestões. — Pode ir a uma

psicóloga ou terapeuta e contar tudo e sobre a noite de sexo. —


faço uma pausa colocando a mão no queixo como se tentando

imaginar uma boa substituição para a esposa. — Para isso tem as


profissionais do sexo.
— Você é bem engraçadinha — diz forçando uma risada.

— É eu sou, uma pena que não reparou antes e perdia seu


tempo com suas amigas superficiais. — destaco a palavra amigas

fazendo aspas e ele faz mais uma de suas caretas fofinhas.


— Está vendo? É por isso que você não tem amigos. — fala

sério, mas se vê de longe o deboche em sua voz e em seus olhos.


— Meu nome é Arí, e eu não estou nem aí. — dou a resposta
mais infantil que consigo e caímos na gargalhada. Nos recompomos

e olho para o cartão em minhas mãos, por um momento esqueci


que estava filmando e torço para que no final possa ficar com essa

gravação, será uma boa lembrança. — Não tem mais nada, está
dizendo que a última pergunta será feita na sala pelo professor e diz

que temos que finalizar com uma foto.


— Beleza, passa para cá essa câmera e vamos filmar você e
por último tiramos as fotos. — concordo, encerro o vídeo e passo a

câmera para ele.


— Então senhorita Sowyer, sei que gosta de cantar e é

excelente no que faz, mas existe alguma outra coisa que goste de
fazer?

— Eu amo cantar, a música é a extensão de todos os meus


sentimentos, consigo em uma canção expressar qualquer emoção,

boa ou ruim, minha ou o de outra pessoa e sim, há uma outra coisa


que amo fazer. — faço uma pausa me recordando de quando
aprendi a tocar violão. Foi meu avô que me ensinou e quando

consegui tocar minha primeira canção sozinha ele ficou tão


emocionado que fez questão de me ensinar a tocar vários

outros instrumentos antes de partir e me deixar tão apaixonada pela


música quanto ele era.
— Eu amo ensinar, tenho o dom de instruir. — sorrio.

— Pretende seguir sua profissão baseado na arte que nos


citou semana passada ou tem outros planos para o futuro?

— Pretendo ser professora, e dar aula no colégio que nós


fizemos o ensino médio, ou quem sabe aqui mesmo na faculdade,

se bobear nos dois.


— É sério isso? — David parece indignado, me olha como se
de uma hora para outra estivesse vendo crescer em mim uma

segunda cabeça, ou sei lá o quê.


— Que foi? É sério sim, sou ótima ensinado e gosto de fazer
isso.
— Aly, fala sério, por mais que eu concorde que você é muito

inteligente, que seria uma ótima professora, e até bem gostosa, tipo
aquela nossa professora de história, lembra? Isso não faz sentido,

você tem capacidade de ser tantas coisas e sonha em voltar para o


lugar onde foi menos feliz, porque vamos combinar sua trajetória
aqui em relação às pessoas é deprimente.

Fico boquiaberta com a capacidade que ele tem de sair


dizendo o que pensa mesmo sem se importar com o que vou sentir

ao ouvir tantas coisas grosserias, mesmo não sendo sua intenção


me magoar, ele está realmente indignado com minha escolha de

profissão.
— Meu Deus, qual é o seu problema? Eu quero passar para
eles tudo que aprendi, será um avanço e tanto, a nerd rejeitada

como professora de uma nova geração de David, Gabo, Alice,


Rachel e Thais. Vou fazer com eles o que Jeremy está fazendo

conosco nesse momento, nos obrigando a sair da nossa zona de


conforto e dando oportunidade de pessoas como eu, conhecer
melhor pessoas como você. Mostrar para eles que dói quando
somos julgados sem ter a oportunidade de mostrar que somos
melhores do que aparentamos ser.
David parece desanimado, está visivelmente absorvendo

minhas palavras, quase tão duras quanto as dele foram.


— A vida é sua, faça como achar melhor, mas se eu

estivesse no seu lugar, não iria querer voltar aqui para me deparar
com uma nova geração tão cruel ou mais do que a nossa,
planejando mudar as pessoas. — antes que eu possa rebater ele

fala — Próxima. Como você se vê daqui a alguns anos após seguir

a carreira desejada?
— Me vejo sendo a melhor professora que já passou por

essa instituição, me vejo salvando pessoas como eu de pessoas

como a Thais, e salvando pessoas como a Thais delas mesmo.

Mostrando que nosso futuro começa aqui, e tudo que vivemos e


fazemos aqui irá nos definir para o resto de nossas vidas, a

popularidade, a beleza e o namorado perfeito não vão durar para

sempre, quando pessoas como ela bate de frente com o mundo lá


fora — faço um gesto para os muros altos que nos cercam- e

contínuo. — Ela irá se frustrar vendo que a vida tem muito mais a

nos cobrar do que boas notas e uma alta mensalidade.


Ele olha para o cartão, balança a cabeça como se estivesse

afirmando alguma coisa e diz:


— Acabou, agora é só esperar para ver o que ele irá nos

perguntar na sala.

— Temos que bater a foto. — digo ignorando o clima


estranho que ficou.

— Verdade, eu já sei como e onde tirar a minha e você? —

questiona.

— Não faço ideia, mas vamos tirar a sua e depois pensamos


na minha, temos dez minutos para fazer isso.

David diz que quer a foto dele na quadra de basquete,

juntamos nossas coisas e caminhamos em silêncio. Nossa escola é


imensa, a pista de atletismo onde estamos fica na parte de trás, a

grama está sempre muito bem aparada e as arquibancadas sempre

limpas.
Ao passar pelo corredor indo em direção a quadra de

basquete vimos em uma sala vazia Gabo e Josh. Eles estão tão

concentrados que não nos viram, fico admirando o jeito despojado e

brincalhão do Gabo, ele parece estar ensinando Josh a chegar em


uma garota, o menino parece um pimentão de tão vermelho, mas

encara Gabo com um sorriso e parece admirá-lo assim como eu.


Cabelos negros como a noite, olhar marcante, ombros largos e

fortes, rosto bem desenhado, ele não tem lábios grossos, pelo

contrário, os lábios dele são finos e bem delineados, um pouco


rosado eu acho, todo som que sai daqueles lábios mexe comigo de

uma forma inexplicável, e a risada que está dando me dá vontade

de entrar e me juntar a eles só para ouvir mais de perto esse som

rouco e delicioso.
— Você quer ensinar vários adolescentes a serem pessoas

melhores, mas quando vai aprender que se continuar se

escondendo e omitindo o que sente vai sempre ser uma mera


expectadora da vida dele? — sinto o braço do David repousar

calmamente sobre meus ombros me tirando do transe, e sua frase

me deixa desconcertada.

— Chega de me criticar e vamos logo bater nossa foto. —


digo nos guiando para a quadra. Ele mantém o braço envolvendo

meus ombros e sorri balançando a cabeça em negação.

David e eu voltamos para sala e nos sentamos lado a lado no


fundo, o professor havia nos orientado que ao voltar era para

permanecer sentado com a dupla escolhida, pedi a ele que

sentássemos lá atrás para não ficar perto do Gabo quando ele


voltasse. O que não deu certo, já que assim que ele entrou procurou

pelo amigo e se sentou ao nosso lado.


Nossas fotos foram engraçadas, chegando na quadra ele

pegou uma bola e pediu que eu batesse a foto no exato momento

em que ele a arremessasse, fizemos umas quatro tentativas até sair


uma foto decente. A minha foto foi tirada no refeitório, o idiota pegou

um violão emprestado com um grupinho estranho, andamos quase o

colégio inteiro atrás deles porque David sabia que sempre

carregavam um violão, me fez subir na mesa e pediu que as


pessoas que estavam no refeitório ficassem na frente da mesa onde

fiquei em pé, pediu que levantassem as mãos e bateu a foto. Desci

rindo e quando fui conferir, sorri em aprovação, parecia que eu


estava no meio de uma apresentação. Ficou ótima.

— E então meus pupilos? Como foi passar um tempo com

seus não colegas? — Jeremy entra interrompendo meus

pensamentos e a conversa animada que estava rolando entre


David, Gabo e Josh. — Deve ter sido boa já que nem todos voltaram

ainda. conclui rindo. Logo a sala lota novamente e me bate um

verdadeiro pânico quando Thais nos vê sentados juntos, os olhos


dela não estão em mim e sim em Gabo. Seu olhar é mortal. Dou
graças a Deus, que ela não vem para cá, se senta com Vick na

terceira fileira do canto esquerdo.

David sente meu nervosismo e segura minha mão encima da

mesa, olho em seus olhos e ele me dá um sorriso tranquilizador.


— Peço que tragam para mim as câmeras e deixem em

minha mesa.

David se levanta levando a nossa câmera e a de Gabo para a


mesa do Jeremy. Me atrevo a olhar para o lado quando percebo que

estou sendo observada. Ao me ver encarando-o de volta Gabo sorri

para mim. Sinto todos os meus pelinhos se arrepiando e desvio o

olhar sem retribuir o sorriso, fecho os olhos e sei que essa visão
dele sorrindo para mim vai me atormentar para sempre.
Fico encarando a menina ao meu lado, tentando entender o

porquê de ela ter tido aquele ataque de pânico, pelo simples fato de
ter que fazer dupla comigo. Ela parece sentir meu olhar sobre ela e
vira o rosto me encarando timidamente, dou um sorriso tentando

não parecer um idiota a esquadrinhando, mas imediatamente ela


desvia o olhar, abaixando a cabeça, exala profundamente de olhos
fechados e se mantém assim até David retornar para se sentar ao

seu lado novamente, tampando totalmente minha visão e impedindo


que eu a veja.

— Você acha que ele irá mostrar nossos vídeos para a turma
inteira? — a ouço perguntar para David.

— Espero que não, ou você estará muito mais ferrada do que

eu disse que estaria antes da gente começar a filmar. — fico


imediatamente intrigado com o que ela poderia ter dito que a está

deixando tão preocupada, fico curioso para ver o conteúdo desse


vídeo. Será que falou algo sobre o porquê tem tanto medo de mim?

Ou falou sobre minha namorada ter a chamado de piranha?


— Perfeito! Agora que estamos todos aqui e que já me

entregaram as câmeras vamos refazer a brincadeira que fizemos

antes de sair. — o professor cortou minhas teorias dando


continuidade à aula.

— De novo? — alguém pergunta do outro lado.

— Sim, mas agora será diferente, as duplas formadas irão


rotular o parceiro com o qual passou esse tempo e dizer se a visão

que tinham antes sobre ele ainda é a mesma ou se mudou alguma

coisa.
Olho para Josh ao meu lado, ele continua sorrindo desde que

entramos na sala, nosso tempo juntos me fez vê-lo completamente


diferente do que achei que era, o menino tem talento, é mega

inteligente, é bonito e sabe bater um bom papo. Rimos horrores

juntos e quero que todo mundo tenha essa mesma visão dele, para

que nunca mais o rotulem como um nerd sem significância, o cara

tem presença, apenas não se impõe.

— Vamos iniciar pela primeira dupla formada, Gregory e


Haley.
Gregory é o primeiro a falar pedindo desculpas por ter
chamado Haley de desnecessária e burra.

— Ela é uma pessoa incrível e será uma ótima profissional.

— a menina sorri feliz pelo elogio e está

visivelmente emocionada. Conheço os pais dela, Haley passa

por situações difíceis cuidando dos avós dela sem a ajuda dos pais

que são mesquinhos a ponto de não querer o casal de velhinhos em


sua gloriosa casa.

Ela se levanta tímida fazendo elogios ao Gregory e

agradecendo por ele ter mudado de opinião em relação a ela,

demonstrando que ela também havia mudado de opinião em relação

a ele.

— Daniel e Maicon. — Essa dupla é meio exótica, Daniel é

do grupo de matemáticos e Maicon está no grupo de roqueiros,


nada simpático. Assim que são chamados David vira pra mim e

sussurra: — Essa eu quero ver. — nós dois rimos e voltamos a

nossa atenção para a dupla.

Infelizmente a interação dos dois não deu muito certo como o

da primeira dupla e ambos estão se rotulando como desnecessários

e outras coisas nada legais.


— Tudo bem, meninos, já chega, sentem-se, pois já

entendemos que vocês não deram tão certo. — Jeremy decide


intervir e acaba com a discussão.

Não prestei mais atenção nas outras duplas, estava sendo


engraçado, mas me distrai com algo que Josh e acabamos
embarcando em uma conversa paralela sobre os jogos que

retornarão na próxima semana.


— Bianca e Miley.

Paro minha conversa com Josh quando ouço o nome da


minha irmã. Bia é tão doce, frágil e me sinto um merda por deixar

ela conviver com nossa mãe e aquele verme que ela enfiou dentro
da nossa casa, fico aliviado por ela está sempre fora, odiaria sair e
deixá-la sozinha com aqueles viciados de merda. Não sei qual foi o

exato momento em que passei a desprezar minha mãe, a sentir nojo


dela, mas é exatamente o que sinto hoje. Desprezo e nojo, as vezes

pena, mas muito raramente. Ela tem dinheiro, filhos e uma casa
bacana, não valoriza tudo porque vive na merda, meu pai não nos

deixou por qualquer coisa, nos deixou porque não sabia lidar com
uma viciada. Assim como eu também não sei e um pouco do meu
ressentimento sobra para ele também, porque se um homem feito,

um chefe de família não soube lidar com a mulher viciada, como


pode deixar que duas crianças se virem com isso? Porque não nos

levou com ele?


Olho para Bia mais atento ao momento e ela está rasgando

elogios para a menina que tem um pouco mais de meio metro de


altura eu acho, óculos maior que o rosto e cabelos desgrenhados. A

típica nerd da turma. Miley faz o mesmo com Bia, destacando o


coração gigantesco e a inteligência da minha irmã. Sorrio orgulhoso.
— Obrigado, meninas. É muito bom ver que se entenderam e

gostaram de conhecer um pouco mais uma da outra. Vamos a mais


uma dupla. Edward e Rachel.

Olho mais uma vez para o meu amigo e ele me encara com
um sorriso que diz: Agora sim chegou à parte boa.
David e eu nos conhecemos na república ele é do Texas e

veio com o pai para Charlotte depois que sua mãe faleceu. Nossa
amizade foi instantânea, assim que nos vimos na entrada da

república, nos aproximamos e ficamos amigos, conseguimos manter


um bom diálogo apenas com um olhar, conheço o que cada

expressão dele quer dizer e ele sabe das minhas. David fala
português perfeitamente, sua mãe era brasileira e ensinou a língua
natal para o filho.
— Esse cara é bem nojento — Rachel começou —
inteligente, mas nojento e os quarenta e cinco minutos com ele
foram bem torturantes. — Rachel é de Nova York, uma garota

incrivelmente inteligente, mas força um personagem odioso que não


entendo, ela tem prazer em debochar e menosprezar as pessoas.

Vejo quando Edward abaixa a cabeça e diz tímido:


— Você não foi a melhor companhia também, mas apesar de
tudo, e desse jeito desprezível eu consigo ver algo bom em você.

Todos ficaram calados, ela sentiu aquilo, mas para não dar o
braço a torcer diz:

— Tanto faz! — se vira para o professor e pergunta — Posso


voltar para o lado dos meus amigos, não aguento mais isso?

— Não, não pode! Sente-se que darei continuidade. —


Jeremy leva tudo na esportiva, sempre com um sorriso, mas não
agora, ele foi curto e grosso sem dar um sorriso para amenizar a

situação. — Alice e David. — Chama.


Nessa eu não me atrevo nem a piscar, quero ver cada

detalhe do que meu amigo tem a dizer sobre a menina misteriosa


que surtou porque ia fazer a dupla comigo, preciso intercepta-la
antes que saia correndo quando essa aula acabar, quero saber se
inconscientemente fiz alguma coisa para que ela tivesse medo de
mim.
— Em primeiro lugar gostaria de me desculpar — meu amigo

começa e levanta. — Alice é uma menina incrível e estou bem


irritado comigo mesmo por nunca ter percebido isso, por nunca ter

falado com ela, ou me sentado próximo, por anos em que tivemos


oportunidade nunca ter reparado que o sorriso fácil dela pode tornar
qualquer problema pequeno. Ela será sem dúvidas uma professora

fabulosa, embora eu ache que tem potencial para ser muito mais.

Mas não importa qual a carreira que ela irá escolher, eu só espero
estar próximo para poder comemorar com ela.

Puta que pariu! Isso foi uma declaração de amor? Que porra

esse viado está querendo?

Fico o encarando, mas dessa vez ele não me olha, ele está
encarando a menina com um sorriso cúmplice. O mesmo que troca

comigo quando estamos compartilhando um segredo. Mas que

segredo ele pode ter com uma menina com quem passou apenas
alguns minutos?

Ela se levanta com as bochechas vermelhas e fica ao lado

dele, completamente envergonhada o que a deixa bem bonitinha.


Me ajeito na cadeira para ficar atento ao que ela tem a falar.
— Nossa, eu fiquei sem palavras agora. — admite, abaixando

a cabeça e respirando fundo. — Bom, primeiro quero dizer que


vocês estão diante do futuro melhor neurocirurgião do país, senão

do mundo. — ela volta a encará-lo com o mesmo sorriso cúmplice e

ele passa o braço pelos ombros dela, fazendo com que se


aproximem mais. — Ele é como eu imaginava! Inteligente, gentil,

engraçado e também tem um futuro brilhante pela frente.

— Isso foi impressionante! — Jeremy está embasbacado

assim como toda a turma, assim como eu! — Eu não tenho como
expressar o meu orgulho ao ver que duas pessoas de rodinhas

sociais completamente diferentes interagiram tão bem!

Independentemente do que aconteça nas próximas duplas quero


deixar claro que vocês foram minha maior conquista nesta aula.

Olho de Jeremy todo pomposo com os dois alunos prodígio e

para Rachel, ela está com tanto ódio no olhar que se meu amigo
não soltar a menina nesse momento, ela pode vir aqui matar os

dois. David parece perceber a ira da peguete e solta gentilmente a

garota ao seu lado, os dois desfazem o sorriso bobo e se sentam.

— Gabriel e Josh. — ao ouvir meu nome me levanto, se meu


amigo pode se exibir com a dupla dele, posso me exibir com a

minha.
— Como atleta fui condicionado a me relacionar com outros

atletas, e é difícil abrir mão disso. Tenho certeza que Josh pensa o

mesmo, um cara ligado diretamente com o estudo, um nerd


assumido, não se torna amigo de um atleta egocêntrico como ele

gentilmente me nomeou. — todos riem e eu continuo meu discurso.

— As pessoas costumam nos rotular exatamente assim, sem se

esforçar para enxergar além dos rótulos, infelizmente não é de hoje,


um nerd não se senta na roda dos atletas, os atletas riem dos nerds,

e por aí vai. Hoje pude conhecer um cara além do rótulo e posso

afirmar que ele é a pessoa com quem sem dúvidas fora da zona
escolar eu escolheria para ser meu amigo, porque lá fora não existe

nerd ou atleta, existe Josh e Gabriel, dois jovens, dois seres

humanos que embora tenham ambições diferentes são pessoas

comuns.
— E caralho, os capitães do time decidiram discursar bonito

hoje! — olho para Brad que está com um sorrisinho de deboche me

encarando.
— É disso que estou falando! — aponto para Brad e depois

para David e eu — Nós somos do time de basquete, e quem olha

para Bread e o vê fazendo esses tipos de comentários, nos julgam


igual. Porque andamos juntos e como meu pai dizia para mim, quem

anda com porcos, farelo come.


— Muito bem, essa é a frase ideal para essa aula! — Jeremy

concorda — As pessoas sempre vão te julgar, não só pelos seus

atos, mas principalmente pelos atos das pessoas com quem você
anda. Eu mesmo, olhando para vocês dois — ele aponta para David

e para mim. — Nunca iria imaginar que fossem ser os destaques

desta aula. Vamos ouvir o que Josh tem a dizer sobre você.

Josh se levanta sorrindo de orelha e orelha.


— Eu faço das palavras do Gabo as minhas próprias

palavras. E só para deixar claro, ele não tem nada de egocêntrico, é

um cara incrível com uma personalidade forte e com toda certeza é


alguém com quem teria o prazer de compartilhar uma amizade. Será

um arquiteto muito bem sucedido, tenho certeza, cara. — diz

colocando uma mão em meu ombro.

Nos sentamos depois de Jeremy nos elogiar e agradecer.


Chegou a vez de ouvir Thais e Vick.

— Quero antes de mais nada dizer o quanto estou orgulhosa

do meu namorado. — ela se vira para mim com um sorriso bem


forçado e completa — Você é incrível e é por isso que te amo.
Conheci Thais ainda no Brasil, uma ruiva fabulosa que

morava no Rio de Janeiro, ela me encantou e me enfeitiçou.

Estávamos no enterro da mãe dela, uma velha amiga de noitada da

minha mãe, fui forçado a estar ali, mas no fim sai ganhando, afinal,
sai de lá com ela e não nos separamos mais. Com o tempo

consegui me adaptar com o jeito exuberante dela, nasceu em berço

de ouro, mas sempre teve sérios problemas familiares, se mostra


durona e às vezes até atroz, mas é uma menina frágil e doce. Nosso

relacionamento está se complicando, mas sempre fomos muito

parceiros embora ela tenha um ciúme um pouco exagerado. Sinto o

quanto ela gosta de me exibir, não só aqui, mas onde estivermos


juntos, ela anda desfilando com o queixo erguido, querendo mostrar

o quão intocáveis somos.

Fico tão imerso em pensamentos sobre nós que não ouvi


nada do que eles disseram, só sei que não foram coisas boas, pois

Jeremy está vermelho e segurando com muita garra a raiva.

— Sente-se, senhorita Andrade! E se não se acalmar terei

que pedir que se retire da sala.


Ela vira o rosto quase tão vermelho quanto seu cabelo em

minha direção e seu olhar me fulmina.

Que porra que eu fiz para receber esse olhar?


Jeremy nos passa a importância dessa aula, nos mostrado

que quando nos formarmos iremos nos deparar com coisas e


pessoas completamente diferentes do que somos acostumados, e

precisamos estar preparados para isso, para saber lidar com

qualquer personalidade ou situação.


— Você poderia pelo menos ter me defendido, Gabo. —

Vocifera.
Thais e eu estamos no estacionamento, quando Jeremy
encerrou a aula mal pude me virar para falar com David, estava

prestes a apresentar Josh para ele e intrigado para que ele fizesse o
mesmo com a menina ao seu lado, mas antes de abrir a boca fui
puxado pelo braço. Thais empurrou Josh sem nenhuma gentileza e

me arrastou sala a fora. Lógico, se eu tivesse feito força e dito que


não iria ela não conseguiria mover nem meu dedo, mas não fiz isso,

preferi evitar uma cena na frente da turma. Nem o professor tinha


saído da sala ainda.

— Eu nem vi o que aconteceu, Thais. — defendo-me. —

Quando me dei conta que tinha acontecido algo errado o professor


já estava chamando sua atenção e mandou você sentar. O que

queria que eu fizesse?


— Tudo! Menos ficar lá parado com cara de idiota olhando

sua namorada ser humilhada na sala pela segunda vez no mesmo


dia e na mesma aula daquele professor ridículo que se acha muito

sábio.

Fico parado a encarando xingar nosso professor e nossos


colegas de turma. Eu realmente não sei o que fazer e nem quero

fazer nada quanto a isso, humilhar as pessoas é o que ela mais faz.

Acho que talvez provando um pouco do próprio veneno faça com


que ela caia na real.

— Quer saber! — grita — Cansei, não vou ficar aqui me

esgoelando enquanto você me encara com essa cara sem falar


nada. — ela se vira e vai em direção ao carro onde a amiga está

encostada nos observando. Não vou atrás dela, não a faço parar e
se acalmar, a deixo ir, porque estou sem o menor saco de aturar

mais gritos, já deu por hoje!


Já anoiteceu e estou em meu quarto, Bia foi para casa de
uma amiga e disse que voltaria logo. Faz algumas semanas que ela

abdicou totalmente de seu quarto para dormir aqui comigo. Quando

não estou ela também não vem para casa. Ela mal olha para nossa

mãe assim como eu, tento ao máximo ignorar a presença dessa

mulher nessa casa, mas é difícil. Tem dias que minha vontade é

descer e colocá-la para fora junto com o monte de bosta que ela
alojou aqui dentro, os gritos dos dois a noite me dá ânsia de vomito.

Bia teve uma crise de choro na noite passada, estávamos assistindo

um filme quando minha mãe começou a gritar e o desgraçado

gritava mais alto, os gritos foram virando gemidos, os gemidos

xingamentos… Essa porra toda é tão deprimente, eu não quero

minha irmã aqui, não quero que ela passe por isso. Outro dia vi

como ele olhou para Bianca, e juro por Deus que se ele olhar para
ela daquele jeito na minha frente de novo eu mato o desgraçado. Se

ele sonhar em encostar em um fio de cabelo dela, ele é um homem

morto.

— Que cara é essa, Gabo. — olho para Bia, ela me pegou no

meio dos pensamentos psicóticos.

— Desculpa, não vi que já tinha chegado. — assente e se


senta ao meu lado na cama.
— Você está bem? Porque está com essa cara de louco?

— Quero te perguntar uma coisa, e preciso que seja sincera


comigo. — falo sério e ela se empertiga ao meu lado, seus olhos

azuis escurecem. Ela está com medo.


— O que foi? Fala logo. — exige um pouco aflita.
— Alguma vez o Billy fez ou falou alguma coisa para você?

— ela fica pálida me encarando, seus olhos se arregalam e fica sem


voz. — Bianca, aquele cara encostou em você. — questiono mais

firme já me levantando. A cara de assustada dela está me deixando


aflito e aumenta minha raiva.

— Porque está me perguntando isso? — Bianca está mais


branca que o normal, as mãos sobre o colo estão inquietas, porra
ele fez, tenho certeza, ela não estaria assim se não tivesse

acontecido nada.
— Porra, Bianca, responde logo! — grito e a vejo estremecer.

— Eu vou matar esse desgraçado! — me viro para sair, mas ela


grita, salta da cama e segura meu braço, me impedindo de sair.

Seguro em seus braços e me abaixo até os olhos dela se encontrar


com os meus. — Preciso que me diga agora o que aconteceu, ou eu
irei descer e obrigar ele a me contar, será bem pior. — alerto com a

voz baixa e séria, deixando claro que não estou blefando.


— Não foi nada, Gabo. — diz com cautela. — Você não

estava em casa e ouvi nossa mãe gritar, como não estava


acostumada desci, presenciei a briga deles, tentei argumentar e ele

gritou comigo para que eu subisse sem me meter nas merdas deles.
— fico a encarando, sei que está mentido, tem algo mais.

— Se estiver mentindo para mim, se ele fez alguma coisa


com você, se tentou. — não consigo terminar, só de pensar nisso
sinto meu corpo entrar em combustão. Bia leva as mãos pequenas e

trêmulas até meu rosto e eu mergulho na intensidade azul de seus


olhos que brilham com lágrimas não derramadas.

— Eu juro que foi só isso, ele nunca tentou nada comigo. —


fico mais um tempo a encarando, por mais que ela seja firme no que
diz, sinto que não é verdade, mas resolvo deixar para lá e ficar mais

atento. Puxo-a para um abraço e sinto ela relaxar em meus braços e


eu faço o mesmo, relaxando meus músculos e tornando o abraço

mais confortável.
Ela se afasta e volta para a cama, faço o mesmo me juntando

a ela, ficamos em silêncio por um tempo até que resolvo falar algo
que vem me intrigando a um tempinho.
— Quero conhecer a sua amiga.

— Quê? Como assim, que amiga?


— A que você dorme quando não estou aqui, qual o nome
dela?
— Você não conhece. — fala sem responder o que perguntei.

Me viro de lado apoiando meu corpo com o braço, para ficar de


frente a ela. — Qual o nome dela, eu conheço mais gente que você,

Bianca.
— Sarah, e como disse você não a conhece!

Sexta feira. Que Thais não me ouça, mas esse virou meu dia
da semana preferido. O dia que ela vai para a casa dos avós em

Pineville, uma cidade próxima a Charlotte e eu vou para o Sing, que


se tornou meu lugar favorito desde que vi um anjo se apresentar lá.
Nada nela era definido, eu nem sei dizer qual a cor dos olhos

ou cabelo, só sei que a conexão entre a voz dela e o meu cérebro


foi instantânea, ela é linda, sei que posso sanar todas as minhas

dúvidas indo na casa ao lado e tocando a campainha, e confesso


que já cheguei até a porta, com o dedo prestes a tocar depois que
soube que ela era minha vizinha, mas aí veio o pensamento mais
lógico de todos. O que eu faria? Que desculpa daria a ela?
Oi, você é linda, amo ouvir você cantar e quero te conhecer

melhor, porque sei que corro o risco de me apaixonar, mas olha, eu


tenho uma namorada.

Com esse pensamento me retirei de sua porta e voltei para


minha casa. Não seria justo, nem com ela, nem comigo e tão pouco
com a minha namorada.

Me recuso a me aproximar dela, porque sei que tudo vai

mudar, não vou mais conseguir me afastar e isso não pode


acontecer por inúmeros motivos.
— Você poderia ao menos disfarçar. — berra. Confesso que

estou de saco cheio de ouvir Thais gritar o tempo todo. Ela


simplesmente não consegue ter uma conversa igual gente, tem que
ser sempre aos berros e eu odeio grito, cresci ouvindo-os.

— Se você der mais um grito eu juro que vou te colocar


dentro do meu carro e te levar para sua casa, não estou nem um
pouco afim de brigar, ainda mais com você. — ameaço o mais

brando possível. — Já tinha marcado de sair com o David, e fiquei


surpreso com a sua visita, só isso.

— Quer dizer que o fato de você já ter compromisso com o


seu amigo é mais importante que a sua namorada e é por isso que

você está praticamente me expulsando da sua casa?

Respiro fundo para manter a calma que está por um fio.


— Eu só te expulsaria da minha casa com um motivo muito

forte, e ficar berrando merda no meu ouvido é um desses motivos.


Ela fica me encarando de cenho franzido, mas logo suas

feições suavizam.
— Me desculpa, amor. Eu estou tão chateada de não ter

conseguido viajar e decidi vir direto pra cá achando que ficaria feliz

em passar o fim de semana comigo.


— Amor — falo baixo a puxando para meus braços — Estou

feliz! E vou fazer de tudo para que esse seja o melhor final de

semana desse ano para nós dois, mas ando muito estressado, e
confesso que suas crises de ciúmes e gritos desnecessários estão

realmente me irritando, então vou pedir com todo carinho do mundo

que você se controle mais. Eu amo você, não tem porque ficar
insegura. — Sinto Thais relaxar em meus braços e suas mãos

sobem e descem com um carinho gostoso pelas minhas costas.


— Você não tem noção do medo que tenho de perder você,

já perdi tantas coisas na minha vida, e a ideia de perder você me

deixa louca. Eu te amo tanto, Gabo. — nosso abraço se torna mais

forte e abaixo para beijar o topo da cabeça dela.

— Você não vai me perder, mesmo que um dia a gente não

esteja mais junto como um casal eu vou sempre proteger você,


sempre estarei ao seu lado.
— Não me vejo separada de você, acho que nosso
relacionamento será para sempre, vamos casar e construir aquela

família que você sonha em ter.

Suspiro com essa declaração, porque realmente me imagino

tendo uma família grande e feliz, mas faz um tempo que deixei de

idealizar essa família ao lado dela.

— É sério isso, Gabo? Poxa eu já estou arrumada!

— Desculpa, Bia. Mas não achei que a Thais fosse aparecer

do nada e não quero que ela vá ao pub com a gente.

— Hum… E isso tem a ver com a cantora gata que tem lá e

que por acaso é nossa vizinha?


— Quer falar baixo? — brigo, com medo que Thais ouça. —

Tem tudo a ver, sei que ela deve saber que tenho namorada, mas

isso não significa que quero que nos veja juntos.

— Você tá gostando dela, safado?


— Bia, eu vou colocar uma mordaça na sua boca, fala baixo,

porra! — vocifero.
Minha mãe e o verme que ela chama de namorado saíram,

Bianca estava em seu quarto se arrumando quando Thais chegou,


estávamos nos preparando para o Sing.
— Será que o seu amigo vai sem você? Poderia pedir para

ele passar aqui e me levar. — pede fazendo uma cara de cachorro


sem dono, sorrio apertando a bochecha branquela dela e falo.

— Vou ligar e perguntar, mas quero que fique longe das mãos
grandes dele. ouviu?

— Mãos grandes é? — estou com o telefone nas mãos, já


ouvindo os primeiros toques e desligo. — Esquece, você não vai
com ele, vai ficar comigo e a Thais, vamos arrumar um outro lugar

para ir, só nós três.


— Gabo! — Exclama.

— Quero meus amigos longe de você, Bianca. Já


conversamos sobre isso e também já os alertei, ninguém está

querendo de ter o pau cortado e eu não estou querendo cortar o pau


dos meus amigos por sua causa. — ela sorri debochada e quando
abre a boca é para me encher de mais raiva.
— É melhor mesmo, eu já observei o David, e cortar o pau

dele seria um grande desperdício.


Me viro para sair antes que eu perca de vez a paciência, pelo

visto hoje tiraram o dia para me testar.


— Gabo, eu estou brincando, volta aqui! Nem é tão grande

assim.
Ouço sua gargalhada e reviro os olhos.

Depois de muito discutir o que faríamos, Bianca, Thais e eu


viemos ao shopping curtir um cinema, como Bia ficou emburrada por
ter que ficar segurando vela, Thais chamou Rachel, o que foi ainda

pior porque ela encheu o saco do David e ele veio junto, agora
tenho que lidar com a raiva da minha irmã e a cara feia do meu

amigo.
— Valeu mesmo, maninho — dispara. Thais e Rachel foram

ao banheiro e David foi comprar uma pizza para comermos antes do


filme começar.
— Eu não tinha como adivinhar que ela iria chamar a amiga e
ainda por cima trazer o David, achei que ele iria para o pub.

— Não interessa, certeza que se tivesse pedido para ele me


levar no pub não estaríamos aqui, e eu não teria que segurar uma

vela dupla, seu idiota.


— Atrapalho? — pergunta David. — Já fiz o pedido da pizza,
agora é só esperar.

— Não, David. Você não atrapalha em nada, pode sentar —


respondo.

— É David, senta! Estávamos falando de você mesmo. — Ela


sorri para ele e me olha com cara de quem vai aprontar.

— Sério? Espero que esse babaca do seu irmão não esteja


falando mal de mim.
— Na verdade eu estava falando para ele que se tivesse

pedido que você me levasse ao pub e ele tivesse vindo sozinho para
essa porcaria de cinema não estaríamos aqui, você não estaria de

cara feia e eu não estaria de vela. — David olha de mim para ela
meio confuso.
— Com certeza! Eu já estava saindo de casa para buscar

vocês para ir ao Sing. Se tivessem me alertado dessa arapuca eu


não estaria aqui.
— E teria me levado?
— Claro, se quiser podemos fugir agora mesmo! — eles

conversam como se eu não estivesse na mesa. Bianca para me


atormentar e ele por ser um idiota sem noção do perigo. Os

sorrisinhos que estão trocando estão fazendo meu sangue ferver e


agradeço a Deus quando as meninas se sentam.
— Graças a Deus, o que estavam fazendo que demoraram

tanto? — falo entredentes.

— Desculpem pela demora, paramos para olhar uma


joalheria. — Rachel responde alheia a minha raiva.

Voltamos a ser um casal feliz, um casal contra vontade e uma

vela nada satisfeita.


— Sinto muito, Berry. Mas minha mãe não conseguiu fazer

sua tapioca, ela chegou tarde e muito cansada, disse que na


próxima sexta te recompensará. — Ele faz uma carinha de
decepção e logo sorri.

— Pois diga a sua mãe que só aceitarei as desculpas se o


próximo lanche for entregue por ela. — me encara como se
esperasse uma reprimenda, mas não faço, realmente gostaria de

que minha mãe viesse a conhecê-lo e ambos se tornassem mais do


que amigos virtuais. Outro dia peguei minha mãe observando

atentamente e até com um discreto sorrisinho nos lábios a foto dele


no Instagram, tentei uma abordagem, mas logo ela me cortou

dizendo que são apenas amigos e ela não tem cabeça e nem tempo

para mais do que isso.


— Darei seu recado, mas já sabemos a resposta, né?
— Tenho certeza que ela vai dar o braço a torcer qualquer dia

desses e irá vir até aqui. — diz otimista. Espero que sim.
Espero ansiosa para pegar meu lugar no palco, ansiosa para

ver Gabo, Bia e David entrar pelas portas do Sing. Minha semana

tinha sido de turbulências e vergonhas alheias, mas no final valeu a


pena, David é um cara incrível e surpreendente. Hoje durante o

almoço ele passou por mim esbarrando propositalmente no meu

ombro e cochichou. — Desculpe, não resisti! Talvez sua capa de


invisibilidade esteja perdendo o efeito.

Sorrio com a lembrança.

Acho que teria sido mais cômodo e menos doloroso se eu


tivesse me apaixonado por ele e não por Gabo. David desde que

soube quem eu era faz questão de falar comigo de algum jeito,


mesmo eu implorando que não o faça, e implorando para que ele

nunca revele ao Gabo a verdade. Gabo terá que descobrir por si só

quem sou e tomar a decisão de continuar me ignorando ou de

simplesmente se tornar meu amigo, assim como a irmã e o melhor

amigo dele.

Sinto meu celular vibrar e vejo uma mensagem da Bianca.


Bianca - Amiga, Thais apareceu de surpresa aqui em

casa e meu irmão não quer ir ao Sing com ela na nossa cola,
então decidiu me arrastar a uma seção torturante de cinema
com ele, Thais, Rachel e David.

Aly - Nossa amiga, sinto muito espero que sobreviva a

essa noite. Rs, Da um beijo no meu mais novo amigo e diz que

ele me deve 100 dólares da noite de hoje. Já está quase na hora

de eu assumir o palco.

Bianca - Bom saber que vocês dois já estão com toda


essa intimidade! Quer dizer que 45 minutos foi o suficiente para

se tornarem best friends forever?

Aly - Ciumenta! Divirtam-se, mais tarde nos falamos e

você me conta tudo.

Bianca - Ok, boa noite, Aly e arrasa aí!

Estou sem palavras para expressar o quão importante essa

menina tornou para mim, nossa amizade parece crescer a cada


minuto, parece que nos conhecemos a anos e não a semanas.

Olho para o palco e vejo o menino que cantou semana

passada se apresentar de novo, sorrio porque ele é ótimo. Está

cantando uma música do Coldplay. Yellow.

As pessoas estão bem animadas com ele e isso me dá uma

ideia para animar mais a noite, já formei mentalmente toda a minha


playlist de hoje.
Assim que ele deixa o palco me aproximo o parabenizando e

mais uma vez recebo um elogio dizendo que não se compara ao


meu show, mas na verdade não só se compara como também

supera.
— Boa noite, pessoas! — cumprimento.
— Boa Noite, Aly. — me respondem alegremente, aquecendo

meu coração.
— Espero que estejam todos bem e animados! Hoje pretendo

colocar vocês para ir até o chão! Mas antes como todas as noites
vamos falar um pouco sobre mim e minha vida de mãe de família,

ok? A maioria aqui sabe que tenho cinco filhos para criar e
recentemente adotamos um filhotinho, então preparem-se para
encher minhas caixinhas de grana e semana que vem trago para

vocês uma surpresa.


Eles se alegram e me ajeito com o pedestal, microfone e

playback. Hoje não vou tocar violão.


A primeira música é da Dua Lipa - Future Nostalgia.

Quando a batida começa, eles se animam e eu também.

(Future nostalgia) (Nostalgia futura)


You want a timeless song I wanna change the game Like

modern
Você quer uma música atemporal, eu quero mudar o jogo

architecture, John Lautner coming your way, I know you


like this beat

Como arquitetura moderna, John Lautner chegando no seu


caminho
'Cause Jeff's been doin' the damn thing, You wanna turn

it up loud
Eu sei que você gosta dessa batida, porque o Jeff está

fazendo essa parada, você quer deixar isso alto


Future Nostalgia is the name
Nostalgia futura é o nome.

Termino quase sem fôlego, sorrindo da energia contagiante

que emana nesse lugar, meu corpo parece ter recebido uma carga
máxima de adrenalina, não sei de onde vem essa euforia, mas uma

frase ronda em minha mente. “Gabo não quer ir até o Sing com ela
na nossa cola.”
Isso me conforta porque sei que ele quer evitar que eu os

veja juntos, mal sabendo que faço isso de segunda a sexta.


A próxima música promete agitar um pouco mais. Taylor
Swift.

The Man / O cara


I would be complex, I would be cool

Eu seria complexo, eu seria legal


They'd say I played the field

Eles diriam que curti a vida


Before I found someone to commit to

Antes de encontrar alguém para me comprometer

A noite foi assim, regada de pulos e muita animação, cantei


Anita, Iza, J. Quest e Lady Gaga.

Quando desci do palco mais uma vez minhas três caixas


estavam cheias, mas o que me deixou mais alegre e imaginando um
futuro bem longe da minha realidade foi a mensagem da Bia.

Bianca - Amiga, você tinha razão! David é incrível e


salvou minha noite com piadas ridículas. Trate de se entender

logo com meu irmão e vamos formar um novo quarteto jogando


as bruxas para escanteio. rs
Haviam mais mensagens de um número desconhecido,
quando abri tive uma pequena crise de risos.
David - Espero que não se importe, mas acabei de

torturar e roubar o celular da irmã do meu melhor amigo para


poder conseguir seu número.

David – Espero que sua falta de resposta seja por que


está dando uma de Hannah Montana e não por estar com raiva.
David - Sério, preciso de uma resposta ou sairei do

cinema e vou ao pub para saber se está tudo bem eu ter seu

número.
David - Bianca me acalmou e disse que você também não

está respondendo a ela. Minha conclusão disso é: ou você está

dando o melhor show da sua vida e ganhando muito dinheiro

ou está com raiva de nós dois e vou logo dizendo que a culpa é
toda dela.

Meu Deus, ele é muito surtado, mas gostei do desespero dele

e vou prolongar apenas visualizando sem responder. Sorrio para


uma foto que ele mandou.

Está segurando o pescoço da Bianca e puxando o celular

dela. Não faço ideia de quem bateu a foto, mas ficou bem
engraçada e duvido que Gabo ou uma das meninas tenha ajudado
nisso. Olhando para eles a única coisa que me vem à cabeça é:

Eles fariam um lindo casal.


Seleciono a foto e encaminho para Bia com a seguinte frase:

Eu Shippo.

Chego em casa por volta das 2:00 da manhã, antes de sair


do pub Bia me mandou uma mensagem dizendo que dormiria na

minha casa porque Gabo tinha ido para a casa da namorada.

Quando entro no meu quarto ela está esparramada na cama em

meio uma crise de risos com o celular na mão.


— Ei, tá enlouquecendo já? Só uma noite com a namorada

do seu irmão e já está surtando?

— Aly, estava preocupada você, demorou! — salta da cama,


mas não larga o celular.

— Demorei a sair, fiquei ajudando o Berry a fechar tudo, hoje

tinha menos gente, mas conseguiram fazer uma boa bagunça. O


que estava vendo que está até vermelha de rir? — ela se endireita,

olha para o celular parecendo meio sem graça e diz:

— Estou falando com o David, estávamos te esperando, ele

está em urticária porque você não o respondeu. — olho para ela


com a sobrancelha levantada e um sorrisinho de deboche nos

lábios.
— Estavam tão preocupados comigo que você teve uma crise

de risos?

— Nem vem com esse olhar e esse sorrisinho sugestivo, ele


é engraçado e ficamos aqui conversando para não dormir sem antes

falar com você. Vem vamos tirar uma foto para mostrar que estamos

bem!

Ando até ela desconfiada e me sento ao seu lado. Ela vira o


celular em nossa direção, me viro dando um beijo na bochecha dela

e ela sorri. Assim que envia a foto ele responde.

David - Achei que tinha dormido e me deixado falando


sozinho, o acordo foi no máximo um minuto de espera, para

mostrar que não dormiu. Avisa para a Aly que estou magoado,

achei que depois de 45 minutos no paraíso comigo ela não

resistiria a um dia sem falar comigo, mas além de não pegar


meu número ela ainda ignora minhas mensagens.

Dou uma gargalhada e pego meu celular.

Aly - Nossos 45 minutos no paraíso foram perfeitos e só


te ignorei para ver você correndo atrás de mim.

Em um minuto vem a resposta.

David - Como diria nosso querido professor de artes:

Cruel é a palavra que te define! rs. Boa noite Aly, manda um


beijo para Bia, irei dormir, estava só esperando você chegar

para saber se estava tudo bem!


Tenho a impressão de que ficarei com dor no rosto de tanto

sorrir, desde que começamos nossa pequena amizade David tem

sido um amor, e me faz sorrir bastante.


— Agora é a minha vez de fazer uma piadinha com seu

sorrisinho idiota? — zomba.

— Idiota!
Uma semana e meia e minha amizade com David e Bianca

tem sido promissora, eles insistem que eu devo falar com Gabo o
quanto antes, mas não achei um momento oportuno, ele não foi ao
Sing na semana passada também e hoje eles terão o primeiro dia

de treino depois do recesso dos jogos de basquete, fui intimada


junto com a Bianca a estar presente. Bia e eu decidimos não
esconder nossa amizade mais, por isso ela está ao meu lado com

um saco de salgadinhos e bem animada para ver os rapazes


sarados e irresistíveis como ela mesmo definiu. Junto com o

basquete também vão fazer os ensaios das líderes de torcida. Fico


olhando Rachel e Thais comandar um grupo de meninas e lembrei

da minha irmã dizendo que eu poderia ser uma boa líder de torcida

considerando minhas aulas de dança e o fato de ter um bom


equilíbrio.
Seria um jeito de chamar atenção ou um jeito de ser mais

humilhada na frente de toda a universidade?


— Acho que vou me inscrever para ser líder de torcida, Gabo

me disse que estavam precisando de mais meninas e me incentivou

a participar. — os pensamentos de Bia estavam sendo iguais aos


meus.

— Acredita que Sarah me deu a mesma ideia, ela disse que

sou boa dançando e isso me ajudaria a me enturmar e ficar próxima


do seu irmão. — Bia me encara com uma cara de quem estava

prestes a aprontar alguma coisa.

— Então, amiga… — faz uma pausa me olhando — Sua irmã


comentou isso comigo e eu nos inscrevi para os ensaios de

amanhã. — para de falar e volta o olhar para o treino como se não


fosse nada demais.

— Você só pode estar de sacanagem com a minha cara. —

grito. O que não foi uma boa ideia ja que como as arquibancadas

estavam praticamente vazias, os meninos que estavam sentados na

primeira fileira esperando a vez nos encararam e eu tive que me

afundar no banco de tanta vergonha.


— Sua louca, pra quem não gosta de atenção você chama

muito. Eu fiz porque sabia que você não teria coragem.


— Não é questão de não ter coragem, Bia. É questão de
querer, e eu não quero.

— Para de drama, eu já pesquisei e não vai ser a Thais e

nem a Rachel que vai escolher as candidatas. Será o treinador dos

meninos e a orientadora das meninas.

— Isso não diminui em nada a questão de que eu não quero

participar.
— Você não tem voz, me desculpa, amiga. Hoje vamos

terminar sua transformação e amanhã iniciaremos a integração da

Aly no meio das víboras peçonhentas e dos boys magias.

Abaixo a cabeça pedindo a Deus uma intervenção divina e

volto minha atenção para as líderes de torcida fazendo

alongamento.

— Vocês estão me machucando! — grito.

— Para de ser fresca! estamos quase acabando.

— Minha cabeça está ardendo. — choramingo.


— Amiga, você nunca pintou esse cabelo cor de nada e

quando decide fazer isso quer ser loira, desculpa, mas vai arder
mesmo.

Assim que saímos da universidade viemos para minha casa e


Sarah já estava nos esperando com as tintas e toda a parafernália
que elas julgaram necessário para me transformar. Amanhã quando

formos fazer o teste para líderes de torcida já irei completamente


diferente.

Se estou com medo de passar vergonha? Muito, na verdade


estou apavorada.

Se vou desistir disso? Não posso.


Cinco horas e meia, já são quase uma hora da manhã, esse
foi o tempo levado para uma transformação que incluía, cabelo

pintado, cortado e escovado, sobrancelha, depilação e uma limpa no


meu guarda roupa.

— Meu Deus, o que vocês fizeram com a minha filha. — me


viro em um sobressalto e olho para minha mãe na porta,

imediatamente me viro para Bianca e Sarah que me olham


orgulhosas, não me deixaram olhar o espelho, e agora com a cara
de todo mundo estou com medo de estar ridícula.
— Estou tão ridícula assim, mãe. — ela ainda me olha com

uma expressão engraçada. Corro para o banheiro e paro de frente


ao espelho, fico chocada como minha mãe, não por estar ridícula,

mas por não me reconhecer. Passo as mãos no cabelo. A


sobrancelha parece ainda mais modelada do que a última vez,

minhas unhas estão pintadas de cor vinho, meu cabelo está perfeito
e com um brilho exuberante. Eu estou linda!
Saio do banheiro quase chorando e elas estão lá, rindo para

mim.
— Vem, vamos ter nossa primeira opinião masculina. — sou

puxada por Bianca e ela pede que minha mãe bata uma foto nossa.
— Obrigada, tia.
Um minuto depois o celular apita.

David - Não sei quem é, mas juro que se me apresentar a


ela te ajudo com qualquer cara que queira conhecer.

Rimos e decidimos que não vamos contar a ele, só saberá


amanhã na aula.

Amanhã será o início de uma nova vida para mim e estou


ansiosa. Apavorada, mas ansiosa, já combinamos que mesmo que
Gabo não me reconheça irei me apresentar como Aly. Não vou mais

me esconder!
Chego um pouco mais cedo que o normal, passei uma noite

de merda com Thais falando sem parar no meu ouvido, faz um


tempo que ela cisma com uma menina que segundo ela está
tentando acabar com nosso namoro, chegou a me mostrar uns

áudios da menina falando sobre mim, e minha crise de risos a


deixou ainda mais furiosa, e para piorar cai na besteira de dizer que
achei fofo as coisas que a menina falou. Eu sou o tipo de cara que

dou valor às pessoas e fico triste quando paro para analisar que
talvez em algum momento essa menina possa ter se magoado por

minha causa. E essa importância que dou ao assunto é o que me


diferencia bastante da minha namorada. Consigo ver um gesto

maior em atitudes como a dessa garota que aparentemente não

teve medo de expor o que sente por mim. Thais não me deixou ver
o site da menina e nem me disse quem era, só mostrou uns áudios

soltos perguntando se eu estava a par de tudo aquilo, ou se dou


alguma confiança, não vou mentir que a curiosidade é grande, eu

tenho vontade de conhecer a menina, saber o que a fez gostar de


mim assim, já que até onde sei nunca falei com ela.

— Se escondendo da sua namorada, maninho? — ouço a

voz zombeteira da minha irmã e me viro para respondê-la, mas


perco total o ar quando vejo que não está sozinha e sua companhia

é simplesmente linda.

— Bom dia, Bia. — cumprimento sem desviar dos olhos


verdes que me encaram com curiosidade. — Bom dia… — estendo

minha mão para a menina que agora me encara com um olhar de

diversão. Espero que ela diga o nome. Ouço uma risadinha vindo da
minha irmã e desvio minha atenção até ouvir a resposta da menina

que já não tem um olhar brincalhão, pelo contrário, ela parece estar
com raiva.

— Bom dia, Gabo! Meu nome é Alice, mas você pode me

chamar de Aly ou de vizinha. Como preferir.

Não sei descrever como me sinto. Uma enxurrada de

sentimentos me toma enquanto encaro o discreto sorrisinho que ela

me lança, em seus olhos vejo um brilho de insegurança e


divertimento, mas ainda está com raiva, e agora entendo o porquê.
E sei que nos meus olhos ela pode enxergar vergonha, medo e não
sei mais o que meu olhar pode transmitir no momento.

— Eu estou confuso e bem surpreso. — confesso.

Constrangimento me tomando.

— Imaginei que ficaria, afinal, você seria bem pior do que

aparenta se não ficasse. — responde, arisca. Minha irmã assim

como eu, pareceu surpresa com a resposta da amiga. Tão


grosseira.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — não havia

percebido a chegada da Thais, mas agora entendo um pouco da

rispidez dela, minha namorada não estava sendo agradável com ela

a muito tempo.

— Bom dia, Thais. — Bia corta a tensão que se instalou por

alguns segundos. Thais e Aly se encaram sem piscar.


— O que está acontecendo, Gabo? — insiste, ignorando

minha irmã.

— Nada, amor — falo segurando em sua cintura e colando

seu corpo junto ao meu, vejo Aly percorrer os olhos por nós e faz

um gesto em desaprovação. — Estava apenas dando bom dia para

minha irmã.
— Sei, então vamos logo entrar, quero te mostrar uma coisa

antes da aula começar.


Me despeço das duas e sigo abraçado com Thais para

dentro, antes de entrar olho para trás e vejo Aly de braços cruzados
nos encarando.
Qual é o problema dela?

— Desde quando você fala com aquela garota? — Thais me


questiona, assim que nos sentamos.

— Apesar de ser minha vizinha e agora nossa colega de


turma, confesso que nunca tinha falado ou visto ela antes, e

pensando bem no dia que veio perguntar como foi minha viagem e a
do David, ela está bem diferente hoje, mas tenho certeza de que é a
mesma pessoa. — Estou como se eu tivesse perdido a memória e

agora estivesse me recuperando, veio várias imagens na minha


mente, interligando aquilo que não tinha sido capaz de enxergar

antes. Todas as músicas que refletiam exatamente o meu dia, todos


os olhares da menina estranha que ficava sempre escondida em

algum canto, o pub, o surto no meio da aula de artes por saber que
faria dupla comigo, a voz nos podcasts. Era a mesma voz! Doce,
tímida e marcante.
Meu Deus como eu nunca percebi isso, como não a

reconheci?
— Será que dá para prestar atenção em mim, ou está difícil?

— a voz elevada da minha namorada me desperta do meu momento


de reconhecimento.

— Desculpa, eu não estou me sentindo bem, acho que vou


para casa! — me levanto porque sinto como se o ar daquele lugar
não fosse o suficiente. Thais grita meu nome, mas não paro, passo

como foguete pelos corredores até que avisto David rindo com
alguém, quando me aproximo paraliso de novo. Era ela e eles

pareciam... íntimos?
Eles parecem perceber minha presença, os olhos dela se
prende nos meus e o sorriso morre dando lugar a uma carranca.

Ando a passos largos parando em sua frente e igualando nosso


semblante. Ficando igualmente sério.

— Posso saber qual é o seu problema? — faço a pergunta


que ronda minha mente desde o estacionamento. Ela pisca

parecendo confusa com a pergunta.


— Que isso, cara? — questiona, David.
— Meu problema? Você é tão confuso e decepcionante,

Gabo. Juro que mesmo com tudo que me fez por todo esse tempo
eu ainda tinha esperança de você ser diferente da sua namoradinha.
— Que engraçado, pois o sentimento é recíproco, eu
esperava mais de você também. — falo, encarando seu rosto que

foi tomado por uma expressão não decifrável, talvez agora sim seja
uma real decepção. Mas o que acabei de dizer não expressa

realmente o que sinto, ela vai além do que minha imaginação criou,
e superou as expectativas que criei da menina que ouvia cantar todo
dia.

Contudo acho que depois de hoje não irei mais ouvi-la cantar.
Pelo menos não para mim.

— Acho melhor a gente ir, Gabo! — David segura em meu


braço me afastando do corpo estático a minha frente, nem tinha

percebido que estava a encurralando entre a parede e meu corpo.


Subo mais uma vez meus olhos para os seus e sinto um aperto no
peito ao ver uma lágrima rolar de seus olhos para a bochecha que

está levemente ruborizada. Estico minha mão e com delicadeza


cubro o lado direito do rosto mais lindo que já vi tão de perto, com o

polegar seco a lágrima e a vejo fechar os olhos com meu toque.


Que merda eu estou fazendo? Não sei! Mas a necessidade
de abraçá-la e tentar reparar o dano que fiz está gritando dentro de

mim. Mas não posso fazer isso.


— Eu sinto muito por ter te magoado, Aly. Não foi minha
intenção. — minha voz sai rouca, até mesmo um pouco tímida. Ela
permanece com os olhos fechados, ainda sentindo o toque da

minha mão em seu rosto, meu dedo faz uma leve carícia em sua
bochecha e ela suspira.

— Que caralho vocês estão fazendo aqui?


Porra, agora fodeu tudo mesmo. Thais vai terminar de
trucidar a menina.
Fico observando o casal de idiotas entrar e minha raiva

aumenta, não é possível, David disse que se Gabo passasse cinco


minutos comigo me reconheceria, quando o vi me encarando tive
certeza que tinha me reconhecido, pelo menos como Aly, mas nem

isso. Ele era cego ou o que? Antes de entrar olha para trás e me fita
mais uma vez.
Qual é o problema dele, afinal?

— Amiga, dá um desconto para ele, não tinha como te


reconhecer loira e linda assim.

— Eu amo você, Bianca, mas por favor não fique passando


pano quente nas babaquices do seu irmão. — falo e saio na frente,

não quero que ela tenha que escolher o irmão dela ou eu, ela não

tem que se envolver e se chatear com isso.


Tenho certeza que vou ficar de TPM, estou sensível, irritada e

inquieta.
Sinto uma mão forte puxar meu braço assim que passo pela

porta.
— Você levou mesmo a sério a história de parar de se

esconder — após o susto sorrio para David.

— Seu idiota, quase me matou de susto! — falo batendo em


seu braço.

— Fiquei a noite toda olhando a foto que a Bia mandou, não

reconheci você, mas reconheci o quarto e fui conferir olhando as


outras fotos que me mandaram outro dia, sem acreditar se era

mesmo, mas era. Você está linda, e agora sim irreconhecível. —

David quase me mata de susto, mas acabo rindo do jeito


impressionado que me olha.

Ficamos ali conversando e rindo das bobeiras dele até sentir


que estava sendo observada, quando olho para o corredor vejo

Gabo nos encarando, e o momento de descontração passa, fico

seria o encarando de volta. Ele mantém nosso contato visual e se

aproxima a passos largos, para diante de mim me encurralando

entre seu corpo grande e a parede.

— Posso saber qual é o seu problema? — pergunta, irritado.


Fico calada o encarando, confusa com a pergunta.

— Que isso, cara? — questiona, David.


— Meu problema? — irrito-me. — Você é tão confuso e
decepcionante, Gabo. Juro que mesmo com tudo que me fez por

todo esse tempo eu ainda tinha esperança de você ser diferente da

sua namoradinha.

— Que engraçado, pois o sentimento é recíproco, eu

esperava mais de você também. — sinto meu corpo perder os

comandos, nunca uma frase me doeu tanto, minha visão fica


embaçada com as lágrimas que a toma tão rápido.

— Acho melhor a gente ir, Gabo — David segura no braço

dele, e ainda não consigo me mexer, sinto meu rosto esquentar e

meus olhos ardem. Seu olhar volta para o meu e vejo de imediato

seu arrependimento. Então delicadamente leva a mão ao meu rosto

enxugando a lágrima traiçoeira que escapa.

— Eu sinto muito por ter te magoado, Aly. Não foi minha


intenção. — a voz rouca e arrependida, soa por meus ouvidos, sabia

que ele não era assim, não podia ser.

A mão dele em meu rosto faz meu corpo relaxar, seu polegar

faz uma leve carícia em minha bochecha, seu toque é leve e me faz

pensar em tudo que sonhei com ele por todo esse tempo. Ele me viu

pela primeira vez, não como Aly, mas como Alice. Se arrependeu da
forma que falou comigo, de como me atacou, e não posso reclamar
porque eu o ataquei também, fui rude e arisca, tanto com ele quanto

com a Bia, o que não costumo fazer com ninguém fiz com as duas
pessoas que amo. Esse momento está parecendo uma eternidade,

prefiro ficar de olhos fechados porque é exatamente o que quero!


Eternizar esse momento de carinho e reconhecimento. Mas
infelizmente ele vai acabar da pior forma. Sinto meu corpo retesar e

fecho com mais força meus olhos ao ouvir o grito estridente vindo de
trás de Gabo.

— Que caralho vocês estão fazendo aqui?


Antes de retirar sua mão do meu rosto, ele acaricia com as

costas da mão minha pele e sinto um arrepio. Ao abrir os olhos miro


suas costas que está virada para mim ele está tentando tirar Thais
de perto de nós, olho para David e ele está congelado no lugar me

encarando.
— Tira a mão de mim, Gabriel — grita, o empurrando. No

corredor já está se formando um grupo de pessoas para ver o


espetáculo sendo formado.

— Vem vamos sair daqui — sinto as mãos do David no meu


braço e ele me puxa enquanto ouvimos os gritos nada educados da
louca que Gabo chama de amor. David e eu vamos para o local que

parece ter se tornado o meu refúgio. Ao sentar na grama encosto


meu corpo ao dele e permito que o choro preso saia com toda força,

David acaricia minhas costas e me deita em seu peito. Sinto os


braços dele me envolver em um abraço gostoso depois de um

tempo.
— Está mais calma? — pergunta.

— Eu juro que tentei não me apaixonar, tentei fugir desse


sentimento que cresceu sem a menor lógica e nem permissão, mas
eu não consegui. Eu não consigo esquecer ele e agora tudo que

sinto é a mão dele acariciando meu rosto.


— A gente não manda no coração, Aly. — me aperta mais um

pouco e beija o topo da minha cabeça. — Eu nunca precisei


consolar ninguém, mas acho que tá dando certo, né? — sorrio,
porque sim, ele foi ótimo.

— Sim, você se saiu um ótimo consolador.


— Procurei vocês no colégio todo — olhamos para cima e Bia

parecia ter acabado de sair de uma briga.


— O que aconteceu com você, mulher? — David questiona,

antes que eu possa abrir a boca para fazer o mesmo. Nos


levantamos esperando a resposta.
— Briguei com o meu irmão quando soube o que tinha

acontecido.
— Ele fez isso com você? — pergunto.
— Claro que não, foi a louca da namorada dele que resolveu
se meter na minha conversa, dei uns safanões nela e Gabo me

segurou, daí acabou me machucando.


— Bia, você não tem que se meter em confusão por minha

causa! — a repreendo.
— Eu não briguei por sua causa, briguei porque eu estava
conversando com o meu irmão e aquela louca veio para cima de

mim como se fosse uma delinquente.


Sinto meus olhos arderem de novo e me lanço em direção a

ela com um abraço sem jeito.


— Me perdoa ter falado daquela maneira com você. — peço.

— Amiga, para! Eu entendo você, sei que passa uma barra


aqui com eles, e estou aqui para te ajudar a melhorar, por isso não
vou deixar você desistir da nossa inscrição, será no último tempo.

— Espera, vocês vão se inscrever para serem líderes de


torcida? — David questiona, incrédulo.

— Vamos! Respondemos juntas, e trocamos um sorriso


cúmplice.
Bia e eu marcamos de nos encontrar na porta da quadra de

basquete, onde acontecerá as inscrições para líder de torcida. A


vejo se aproximando ao lado do David e sorrio ao olhar os dois, tão
lindos e cúmplices, acho que nem vou precisar me esforçar para

poder juntar esses dois. Desde o dia que os vi conversando, notei


os sorrisinhos dela para as mensagens dele, senti que poderiam dar
certo juntos.

— Nervosa, amiga? — me questiona ao se aproximar.


— Um pouco e você?

— Estou por você, eu já me acostumei com apresentações


de dança.

— De certa forma eu também, fiz bale durante anos, e

participei de inúmeras apresentações.


— Isso é bom, sinal de que vão arrasar, devem ser bem

flexíveis! — David comenta.


— Nossa, esse seu comentário foi nojento, seu tarado — Bia

repreende e dá um tapa nele.


— Está louca, garota? — grita. — Falei isso porque as

meninas dão piruetas, cambalhotas, descem com as pernas

abertas. — ele a encara com a sobrancelha erguida — Seu irmão


sabe que você tem uma mente tão poluída?

— Idiota — sussurra.

— Vocês dois são engraçados juntos — comento e rio da


cara que os dois fazem.

— Vamos parar de papo e entrar logo, tenho uma notícia boa

e uma ruim, qual você quer primeiro? — Bia começa cortando minha
risada, ela parece sem graça com a situação.

— A ruim primeiro, daí a boa vem para consolar — respondo.


— Ok! A ruim é que os capitães do time vão fazer parte do

jure e… — ela para encarando minha cara confusa, porque o que

tem a ver eles serem jurados? — Aly, você sabe quem são os

capitães do time de basquete, né?

Olho para David e ele nos encara com um ar de riso.

— Vocês vão ficar aí rindo da minha cara ou vão me dizer


quem são os capitães dessa droga? — falo irritada e paraliso

quando ouço.
— Somos nós! — fecho os olhos sem me virar, sinto mais
uma vez meus pulmões buscando ar sem sucesso, pois não consigo

respirar. Gabo sai de trás de mim e para ao lado do David. — David

e eu somos os capitães do time de basquete. Porque a curiosidade?

— Nós vamos nos inscrever para o time de líder de torcida,

Gabo. — Bianca se apressa em responder vendo que de mim não

sai nada. Ele vira para ela e depois volta a me encarar arqueando a
sobrancelha em minha direção, como se eu devesse uma

explicação a ele e isso me deixa irritada, pois não devo.

— Porque está me olhando assim? — questiono — Acha que

não sou capaz?

— Acho você capaz de muitas coisas, Aly. Só estou surpreso,

não sabia que você gostava dessas coisas.

— Eis a questão, Gabriel. Você não sabe nada sobre mim!


Até agora de manhã nem ao menos sabia da minha existência nesta

instituição. — ele não diz mais nada, fica me encarando e assente.

— Vamos, David, o pessoal já está nos esperando, só falta a

gente na bancada.

— Vamos! — responde.

Eles passam por nós e antes de entrar Gabo sussurra em


meu ouvido.
— Boa sorte, Aly. — fecho os olhos, sinto seu hálito quente

em minha pele e isso me causa um arrepio.


— Isso foi bem estranho — Bianca comenta. — Estou

gostando de ver você mais firme, mais decidida, mas não pode
paralisar toda vez que ele se aproximar.
— Só me diz qual era a notícia boa, já que essa foi a ruim.

— A Thais que seria uma das juradas foi embora depois da


confusão de mais cedo e a Rachel parece que está doente e

também não estará presente.


— Isso sim é uma boa notícia.

Ao passar pelas portas percebo a quantidade de meninas


que desejam ser líderes de torcida, eu não fazia ideia que isso era
tão importante para elas. Entramos na fila e sinto minhas mãos

suando a cada passo que damos para perto da bancada, vira e


mexe ao olhar para frente vejo Gabo nos encarando.

— Quero ser entrevista pelo meu irmão, ou o David, aquelas


garotas são tão antipáticas quanto a Rachel.

— O que te leva a pensar que seu irmão é simpático? Você


não vai passar só por ser irmã do capitão do time. — falo.
— Você acordou bem venenosa hoje, né? — diz me

empurrando.
— Desculpa, eu estou meio pilhada, sei que você tem talento

de sobra, mas eu não quero ser entrevistada por ele, portanto se ele
e David estiverem juntos você vai para ele e eu para o David, e se

só ele estiver liberado eu vou deixar outra pessoa passar na minha


frente.

— Aly, por favor! Você vai com ou sem ele e presta atenção
que tá chegando nossa vez.
Olho para frente e tem duas meninas em nossa frente com

três bancadas livres, elas seguem para os lados das meninas


deixando livre a do David, sorrio e quando vou andar a mesa do

Gabo também fica livre, olho para Bianca e ela passa na minha
frente indo em direção ao David me deixando assim para a mesa do
irmão. Olho para o lado e não tem mais nenhuma mesa fazia, olho

para trás, mas já estou no meio do caminho, seria ridículo voltar,


volto a olhar para frente e os três idiotas estão me encarando e

rindo.
Me aproximo e antes de ir para ele me viro para minha

suposta amiga.
— Traidora! — ela e David gargalham da minha cara e
quando chego em Gabo ele sorri irritantemente lindo.

— Fugindo de mim, Alice?


Alice… é a primeira vez que ouço meu nome sair de seus
lábios, e parece tão… tão certo.
Ela fica encarando meus lábios e isso me incomoda um

pouco, porque me dá vontade de encarar os dela também, o que vai


me levar a pensar nela cantando e aos sonhos que tive em que a
beijava após uma música perfeitamente cantada por ela.

Pigarreio tentando chamar sua atenção.


— Eu deveria fugir de você?
— Não deveria, mas também não me surpreenderia se

fizesse, já que é o que você faz a anos. — ela morde o lábio inferior
e vejo em seu rosto um leve rubor, sorrio e ela desvia os olhos, sem

abaixar a cabeça, o que mostra que está mesmo mais segura e


decidida. Como a cantora do Sing.

— Você vai me entrevistar ou vai ficar me encarando com

essa cara de… — ela não completa a frase.


— Cara de? — incentivo.
— Você pode começar ou terei que mudar de mesa? —

arqueio minha sobrancelha e inclino a cabeça de leve para analisá-


la melhor. Quando ela vira o corpo para sair falo firme:

— Se sair daqui está fora!

— Que? — questiona.
— Você ouviu! Se sair da minha bancada esta

desclassificada e não vai se tornar uma líder de torcida. — Olho

para o lado e vejo minha irmã semicerrar os olhos para mim.


— Então comece logo essa droga. — ordena.

— Porque quer ser líder de torcida?

— Não é para ficar perto de você se é o que quer saber!


— Não seria uma novidade, muitas meninas se inscrevem

para isso, mas não achei que fosse seu caso.


— Você se sente muito! — acusa. É visível o quão

desconfortável essa situação é para ela.

— Quando você sair daqui e for se trocar, pergunte para as

meninas no vestiário porque elas estão aqui e você vai ouvir a

mesma resposta de quase cinquenta por cento delas.

— Não é o meu caso!


— Sei que não!

— E então?
Aly troca o peso do corpo de uma perna para outra
constantemente. Decido por ela acabar logo com isso, porque se

fosse por mim ficaria aqui o dia todo encarando cada movimento de

seu corpo.

— Tem alguma experiência com dança e acrobacias?

— Sim, fiz diversas aulas de dança e segui uma pequena

carreira no balé. — a encaro mais uma vez imaginando-a com um


colam e um coque no alto da cabeça. Sorrio com esse pensamento

idiota e volto as perguntas montadas pela equipe de líderes.

— Tem alergia a alguma medicação? Ou algum problema

respiratório?

— Não.

— Problemas com viagens? As vezes temos que viajar para

algum campeonato e as líderes de torcida nos acompanham —


explico.

— Não, nenhum problema com as viagens.

— Ok, Aly. Você está aprovada para a próxima fase, vá para

o vestiário e se troque, quando voltar ira nos fazer uma

apresentação. Preparou alguma coisa?

— Preparei! — diz sorrindo. — Obrigada por me aprovar.


— Imagina, você é exatamente o que estou procurando —

digo piscando e ela abaixa os olhos.


— Não sei o que quis dizer, mas não decepcionarei a equipe.

— Tenho certeza que não!


Ela me olha mais uma vez e sai, quando me viro vejo que
toda a fila já tinha acabado, David está me encarando com uma

careta que diz o quão ferrado estou e exalo profundamente. Ainda


bem que Thais foi para casa, ou isso seria um desastre.

Quando as meninas voltam já estão com uma amostra dos

uniformes e pela cara da Aly, ela não está nada confortável, apesar
de estar absurdamente linda.
— Muito bem, meninas. — A treinadora das meninas dará

início as apresentações com dança e no final votaríamos nas que


mais se destacaram.

Algumas músicas eram ridículas e as apresentações piores


ainda. Oque essas meninas tinham na cabeça? Fico animado com a
apresentação da minha irmã, escolheu uma música da Duo Lipa.

Mas minha animação logo dá lugar a raiva e sou obrigado a agredir


o meu amigo.

— Ai! Está louco, cara? Porque me bateu? — questiona.


— Tira os olhos da minha irmã, David. Estou falando sério,

quero você longe dela, entendeu?


— A sua irmã já está bem grandinha, não precisa que você
diga com quem ela pode ser relacionar ou não.

— David — alerto.
— Relaxa, tá legal? Estamos apenas criando uma amizade.

— Acho bom que sejam só amigos mesmo, e daqueles sem


muita intimidade!
Perdemos tanto tempo que não vimos o final da

apresentação da Bianca e nem vimos a da Aly, quando olhamos ela


já estava finalizando. Deu um giro, um mortal e deslizou de pernas

abertas no chão. David me olhou tão chocado quanto eu e ela


colocou um sorrisinho esnobe nos lábios nos encarando. Não sei

nem que música ela dançou.


Que droga.
— Eu não acredito que vocês ficaram conversando e nem

prestaram atenção na nossa apresentação, o pior, ainda tiveram a


cara de pau de votar.
— Pelo menos votaram a nosso favor! — Alice que estava
calada até então resolve abrir a boca, embora tenha tentado soar

engraçada, era visível sua irritação.


— A culpa foi toda do seu irmão, Bia, que decidiu lutar pela

sua honra na hora que você estava se apresentando — David me


acusa rindo.
— Babaca — falo, empurrando seu ombro.

— Já falei para você parar com isso, não sou mais criança.
Vai ameaçar todos os caras que se interessarem por mim? Eu por

um acaso me meto no seu namoro com aquela sebosa? — Vejo Aly


rir e me viro para ela.

— Não gosta da minha namorada também, Aly?


— O que te leva a pensar que qualquer coisa que você faça
com a sua vida me afeta?

— Bom — digo, me aproximando. — Talvez não tudo, mas


tenho certeza que o fato de ter uma namorada e ela não ser a mais

agradável das meninas com você tem te afetado de alguma forma.


— A única coisa que está me afetando no momento, Gabriel.
É a sua presunção e arrogância.
Fico encarando seu andar firme indo em direção ao banheiro
feminino e sinto David me empurrar.
— Você está muito ferrado, e se continuar com esse joguinho

mesmo sabendo que não pode, irá magoar mais ainda aquela
menina, e ela não merece, por tanto meu amigo, controle-se!

Essa frase mexe comigo, sei que posso magoá-la, mais do


que já fiz, fora que ainda preciso me desculpar por tudo, até pelo
que não sei.
Sinto meu corpo flutuar, não faço ideia em como descrever o

dia de hoje, mas me sinto nas nuvens mesmo com toda a tenção
que rolou.
Ainda posso sentir a mão dele em meu rosto, o carinho que fez na

minha bochecha, posso ouvir sua voz em minha mente... Me


desculpa, por te magoar, Boa sorte, Aly. Alice.
Meu nome ficou tão bonito saindo dos lábios dele. De repente

quero ouvir a voz rouca dele dizendo meu nome a noite inteira.
— Posso saber porque essa cara de boba? — minha irmã

pergunta me tirando dos meus doces e lindos devaneios. — Pelo


jeito a inscrição deu certo.

— Deu muito certo, tão certo que fui aprovada e começo os

ensaios amanhã.
— Que bom, Aly. E o babaca aí do lado?
— Nos falamos, foi um primeiro dia bem conturbado, mas foi

bom. — Prefiro não entrar em detalhes e ela também não insiste,


apenas sorri e sai do meu quarto.

Estava quase adormecendo quando me lembro que preciso

falar com Bianca. Ela atende no segundo toque.


— Diz para mim que conseguiu convencer ele de não ir

amanhã — falo antes que possa dizer “alô”.

— Desculpa, amiga. Não rolou, ele disse que vai, não pode
faltar o treino.

— Que droga, e agora?

— Agora você terá que criar coragem como criou hoje e


enfrentar as feras, estou muito orgulhosa de você, de nós duas na

verdade, passamos por puro talento.

Acordo com meu celular tocando sem parar. Botei para

despertar uma hora antes do normal, preciso me preparar física e

mentalmente, não faço ideia de como será meu dia, li todas as


postagens da Thais no grupo das líderes de torcida, ontem mesmo
Bianca e eu fomos adicionadas, e Thais está irada por saber que

agora faço parte da equipe. Levanto, tomo um banho demorado e

me arrumo, uma maquiagem leve, prendo meu cabelo em um rabo

de cavalo bem preso e alinhado, fico admirando meus fios agora

completamente loiros, que combinaram mais comigo do que aquele

cabelo cor de nada, como diz Bianca. Por falar nela, ontem me
contou que teve uma briga com o irmão, pelo que entendi, ele não

aceitou o fato de sermos amigas e ela ter escondido dele.

Olho pela janela e os dois já acordaram, ele está vestindo a

blusa e ela penteando o cabelo. As imagens dele tão próximo, a

mão em meu rosto, a voz rouca, me toma de novo e fico ali

paralisada torcendo para reviver esses exatos minutos, sim, porque

mesmo com tudo que aconteceu antes, sem dúvidas eu toparia


reviver, só para ter esses instantes de nostalgia.

— Bom dia, vizinha! — ouço a voz grave vindo do outro lado

e paraliso.

Merda. Ele me pegou espiando o quarto dele. Mais uma vez

me distrai observando-o.

— Não vai me responder? Prefere ficar espiando o meu


quarto a falar comigo?
— Você é bem presunçoso, né? Eu não estava espiando o

seu quarto, estava olhando a rua pela minha janela que por
coincidência dá para sua janela — explico.

— Claro! Por coincidência, né? — debocha.


— Se não se importa, vou descer para tomar meu café com
minha família, vizinho.

— Tenha um bom dia, Alice. — Fecho meus olhos


suspirando, eu preciso ouvir meu nome sair dos lábios dele mais

vezes.
— Você também, Gabriel.

Fecho as cortinas vendo-o sorrir para mim. Isso não pode


estar acontecendo, ele não pode mexer comigo mais do que já
mexe. Não pode!

Ao descer não encontro ninguém a mesa. Meus irmãos e


minha mãe já saíram, minha mãe foi chamada pela diretora da

escola do Stiven mais uma vez. O danadinho não anda aceitando


levar desaforo para casa.

Termino meu café e quando me levanto para lavar a louça


minha campainha toca, imaginando ser a Bia, grito.
— Entra, está aberta.
— Como você não respondeu meu bom dia, decidi vir até

aqui. — Sinto meu corpo gelar. O que ele está fazendo?


— Gabo, o que faz aqui? — pergunto, sem me virar.

— Vim receber o meu bom dia, Aly. Sei que sua mãe lhe
educou muito bem, então não me deixe pensar que tem um

problema entre nós, e se tiver, podemos resolver, aqui e agora!


— Não, nós não podemos — respondo me virando para ele.
— Eu não tenho problema com você, mas terei com a sua

namorada se ela sonhar que você veio em minha casa falar comigo.
— Ela não vai saber! E mesmo que saiba, eu não estou

cometendo nenhum crime, nós estamos apenas resolvendo


algumas questões pendentes. Somos vizinhos e colegas, você
aparentemente se tornou melhor amiga da minha irmã e do meu

amigo, o que nos liga de alguma forma, então não podemos ter
problemas nos separando. — explica, sucinto. Respiro fundo,

sentindo seu perfume forte.


— Nós não temos questões pendentes — começo, insegura

— Não precisamos ter uma conversa constrangedora, minha


amizade com sua irmã ou com David não nos liga de forma alguma.
Apenas temos alguns amigos em comum.
— Sabe, Aly. No dia que descobrir você no Sing, eu quis vir
aqui! — ele faz uma pausa, seu semblante fica sério — Na verdade
eu cheguei a vir, estava prestes a tocar a campainha quando minha

consciência me alertou de algo.


— O que? — pergunto. Minha voz é só um sussurro o vendo

se aproximar.
— O que eu diria para você? O que faríamos se eu tocasse a
sua campainha? Eu tenho uma namorada, Aly. A amo e da nossa

maneira somos felizes. Eu a trairia se começasse uma amizade com


você, porque desde que te vi no pub, soube que não me contentaria

em ser só seu amigo. Sem dúvidas eu iria além da amizade com


você e é por isso que embora todas as noites eu torça para te ouvir

cantando, eu nunca quis te ver, porque tinha certeza que me


apaixonaria na hora.
Fico sem palavras, abro e fecho minha boca inúmera vezes,

mas nada sai e ele então decide continuar.


— Mas é obvio que não aconteceu, não é mesmo? Não me
apaixonei assim que te vi — sorri, sem graça — Já que te vejo a

mais de cinco anos, já que você passa por mim todo santo dia nos
corredores da faculdade e eu nunca notei você. Me perdoa, Aly.
Gabo para a um passo de mim, levanta a mesma mão que

ontem acariciou meu rosto e repete o gesto.


— Perdoar pelo que? — questiono em um sussurro. Sou

incapaz de achar minha voz nesse momento. Os olhos dele antes


focados nos meus, desviam para os meus lábios.

— Por ter sido incapaz de me apaixonar por você antes e por

não poder fazer isso agora. Me perdoa por todas as vezes que se
sentiu indesejada. Eu quero que saiba nesse momento que desde
que te vi no Pub, a única coisa que tenho feito é desejar você. Mas

eu não posso, nós não podemos.


— Não faz isso! Por favor, não fala essas coisas para mim, se

não pretende ficar comigo, não me olha assim, se não pretende

fazer isso todos os dias. Não me toque, não se essa for a última vez
que fará.

— Você não entende? Eu tenho alguém, e ela precisa de

mim, eu jurei a uma pessoa que cuidaria dela para sempre.


— Não estou pedindo que a deixe para ficar comigo, estou te

implorando que não me diga coisas que irá me deixar ainda mais

apaixonada por você.


— Me desculpe por isso também, então. Mas ontem à noite

eu passei a madrugada inteira ouvindo todos os seus podcasts


sobre mim, e então me senti meio que obrigado a vir te pedir

desculpas, e dizer que você está enganada sobre tudo que falou em

relação a si mesma. Eu é quem sou cego demais, burro ou lerdo,

como preferir.

— E agora? Como vai ser? Você sabe que eu te amo, eu sei

que mexo com você, mas não podemos ter nada. Eu não posso
tocar você e você também não pode me tocar.
— Nós tentaremos ser amigos. Precisamos ser, o fato de não
poder ficar com você, não os torna inimigos. Eu serei um bom

amigo, juro!

— Não sei se será uma boa ideia — confesso, chorosa.

— Eu também não sei se é, mas me recuso a te tratar como

uma menina invisível, me recuso a não falar com você todos os dias

e compensar a merda que fiz com você todo esse tempo. Não vou
mais fugir da minha vizinha cantora.

— Gabo…

— Não! Por favor, promete que vai tentar, sei que não tenho o

direito de te pedir nada, mas, ainda assim, estou aqui, olhando nos

seus olhos, me desculpando por tudo e suplicando para que me dê

a chance de, pelo menos, ser o seu amigo.

— Tudo bem! — concordo — Aceito ser sua amiga.


A mão que antes estava em meu rosto desce para minha

cintura e ele me puxa para um abraço. Não me faço de rogada

porque é o que quero também, abraçá-lo. Não sei por quanto tempo

ficamos assim, só volto a realidade quando o sinto se mexer e ele

beija minha cabeça, testa, bochecha. Eu estou tremendo como se

estivesse morrendo de frio, mesmo que meu corpo esteja pegando


fogo.
— Acho melhor eu ir! — diz. Está com os lábios quase

encostados nos meus. — Se eu não for agora, vou me arrepender e


me recriminar pelo resto da vida caso siga o que meu corpo deseja

realmente fazer nesse momento.


— E o que é? O que o seu corpo quer, Gabo. — Ele se afasta
alguns centímetros, seu olhar revezando entre meus lábios e meus

olhos. Vejo um brilho de desejo em sua íris verdes. Ele quer o


mesmo que eu.

— Quero beijar você! — confessa. A voz rouca me causa um


arrepio na espinha, fecho meus olhos, não para que, por fim, me

beijo, mas porque sei que mesmo sendo algo que nós dois
obviamente queremos, é algo que não pode acontecer. — E se fizer
isso irei te magoar ainda mais. Na verdade, magoarei a nós dois,

porque embora esse certamente fosse ser o melhor beijo da minha


vida, ele também seria meu maior erro, trairia minha namorada,

usando você e sendo incoerente com quem sou.


Gabo me puxa para mais um abraço e me empurra

delicadamente em seguida. Se recompõe longe de mim e estende a


mão.
— Amigos?

Sorrio quase chorando e respondo.


— Amigos! — Ficamos nos olhando com as mãos dadas por

um tempinho, nossos sorrisos meio contidos.


— Acho que vamos nos atrasar, Desculpa por isso também.

De fato, me atraso, depois que Gabo saiu da minha casa


fiquei quase meia hora repassando nosso quase beijo e todas as

coisas ditas. Eu deveria estar ainda mais apaixonada? Não! Eu não


deveria. Mas estou, e isso é uma grande merda.

Assim que estaciono o carro vejo David e Rachel,


provavelmente Jeremy deu um intervalo, o que é uma boa coisa.

Não queria mesmo entrar no meio de uma aula. Após o intervalo


entro junto com todo mundo, tenho certeza que ele nem notou
minha ausência no primeiro tempo.

Como Rachel não sabe da minha repentina amizade com o


namorado dela, prefiro abaixar a cabeça e passar despercebida.

Mas isso não acontece, porque meu mais novo amigo faz questão
de me expor.
— Bom dia, dona Alice Sowyer. Vai mesmo passa por mim e
não me cumprimentar?
Estranhamente hoje é um dia que as pessoas decidiram que

eu devo ser sociável e simpática. Para quem dias atrás nem era
vista isso é realmente uma grande evolução.

— Desculpa, não queira atrapalhar vocês! — defendo-me.


— Que gentil, pena que não pensou nisso antes de nascer!
— fico boquiaberta com o comentário grosseiro dela e não consigo

revidar.
— E você deveria pensar um pouco mais antes de abrir essa

boquinha linda para falar merda, Rachel. Eu não trato seus amigos
assim e não vou admitir que fale desse jeito com as minhas amigas.

— E desde quando essa garota é sua amiga, David? —


discute.
— Olha, pelo que me lembre, nós combinamos de que nossa

relação não namoro seria sem cobranças, não vou discutir com
você. A Aly é minha amiga e a nova integrante das líderes de torcida

e eu espero não haver problemas entre vocês, ou serei obrigado a


rever nossos dias de curtição.
Rachel exala profundamente e o encara como se pudesse

matá-lo, em seguida se vira para mim com um sorriso ridiculamente


falso e diz.
— Que tipo de problema teríamos? Tenho certeza que essa
nova integrante será… — ela me encara dos pés à cabeça e sorri —

interessante.

— Você precisava ver o barraco, Aly. Meu irmão não se

alterou nenhuma vez e isso parecia deixar ela ainda mais irritada.

Ele deixou claro que se ela fizer alguma coisa para prejudicar você
na equipe ela vai se arrepender. Você tem noção de que meu irmão

ameaçou a namorada dele por sua causa? — Bianca parece uma

criança contando para os pais as artimanhas que o irmão aprontou.

Minha vontade é de rir, mas fico seria. Não faz nem 2 horas que
concordamos em ser amigos e já estou causando desavenças entre

o casal. Porém se parar para pensar venho causando isso a um

tempo. Bem antes da nossa “amizade” se iniciar. — Estou tão


orgulhosa dele, amiga.
— É, eu também! Não por brigar com a namorada dele por

minha causa, mas por estar se posicionando, ele foi tão incrível de
manhã que quase faltei hoje achando que tinha sido um sonho, e

como não queria acordar acabei deitada em meu sofá. Só levantei

quando você me ligou gritando, dizendo que ele te contou o que


houve.

— Por falar nisso, eu ouvi a versão dele, necessito da sua

versão. — Intima.

— Bom, a minha versão é indescritível, talvez não haja


palavras para descrever o que senti.

Caminhamos juntas para a aula de artes, essa se tornou a

minha matéria preferida. Se eu pudesse daria um beijo em Jeremy,


mas não quero ser expulsa por assédio.

— Boa tarde, senhorita Sowyer. Que bom que nos deu a

honra da sua preciosa presença, mesmo que tenha sido no segundo


tempo da minha aula.

— Me desculpa, professor. Eu tive um contratempo.

— Claro, espero que sua mudança exterior não turbe seu

interior.
— Engraçado, você é o segundo professor que me diz isso, o

que me leva a duvidar das minhas escolhas de tinta de cabelo,


talvez se eu tivesse pintado de preto daria um ar mais inteligente.

— retruco. Estou realmente cansada de ser taxada como idiota, até

mesmo pelos professores, o fato de mudar de visual não me deixa


menos nerd, só me deixa mais apresentável.

— As tintas de cabelo também lhe deram uma dose de auto

confiança e ousadia. Mas de maneira alguma te deixa menos

inteligente. O que o seu outro professor provavelmente quis saber,


assim como eu é se a sua mudança de postura e estrutura tem mais

haver com você ou com as outras pessoas. Porque quem muda a

essência buscando agradar uma outra pessoa comete um grave


erro.

— Não se preocupe, fiz por mim!

— Isso é bom, muito bom! Agora sente-se nossa próxima

aula irá me mostrar um pouco mais sobre vocês.


— Obrigada! — respondo. Isso das pessoas duvidarem da

minha capacidade só porque decidi mudar de visual está sendo

ridículo. Meu dia realmente está bem estranho.


— Ele sempre foi legal com você, não deveria ter respondido

dessa forma — Bianca me repreende. — Passou tanto tempo muda

e agora responde as pessoas que não deve.


Balanço a cabeça em negação. Passo por Thais e Gabo,

ambos me olham, claro que de formas diferente, ela está com o


mesmo olhar frio de ameaça que tem me olhado a um tempo e ele

me olha com um meio sorriso e diz:

— Bom dia, Aly.


— Bom dia. — respondo.

Vejo Thais o encarando com semblante carregado de ódio, e

sigo para minha cadeira.

— Eu não sou de colocar lenha na fogueira, mas se ela


pudesse te matar ela certamente mataria, aqui e agora. — Bia

sussurra me fazendo rir.

— Bem-vindos de volta, meus artistas, acho que todo mundo


já chegou, então vamos ao que interessa. Primeiro, quero avisar

que amanhã teremos uma mudança. Como todos sabem, os

professores estão participando de um seminário, semana que vem

serei eu, como amanhã seria minha folga o reitor veio conversar
comigo, nossa aula da semana que vem será transferida para

amanhã e para quem não lembra a aula é para mostrar um pouco

do talento de vocês.
A sala se anima, acho que não sou a única a gostar das

aulas de artes.
— Pensem bem no que farão, pois não será feito em sala de

aula.

— Onde vai ser, professor? — alguém do outro lado da sala

pergunta.
— No auditório. Por isso nossas próximas horas de aula

vamos dividir os alunos que tem a mesma arte. Por exemplo, todos

que colocaram que eram bons em matemática vamos separar e


fazer um campeonato. — explica — Aqueles que são bons nos

esportes, os nomeados “atletas” faremos uma jogada rápida,

colocando as pessoas que se apresentaram como dançarinos para

animar o jogo.
Vejo David olhar para mim e levantar a mão.

O que ele vai fazer?

— E quem canta professor? — pergunta.


— Podemos colocar para cantar a música que os dançarinos

vão dançar, nesse caso terão que entrar em acordo sobre a canção.

Isso não vai dar certo. Pelo menos eu não sou a única que

canto.
— Nossa, essa aula será muito bacana. — Bia se anima.

— Bacana? Eu acho que vai ser uma confusão, isso sim!


— Também acho e é por isso que estou dizendo que será

bacana. — responde, rindo.


Ouço o som de notificação do meu celular, olho para a tela e

vejo que é uma mensagem do David.

David – Acho que vou ficar com ciúmes de ver você

cantando para outra pessoa que não seja eu.


Olho confusa em sua direção e quem está virado para trás

com o celular do David na mão é o Gabo. Sorrio sem graça e ele

volta a olhar para frente. Meu coração bate tão forte que tenho a
impressão de que meu corpo está sacudindo com a pressão das

batidas.

— O que foi isso? O que meu irmão te mandou. — Bianca


questiona.

— Sua curiosa! — respondo, rindo.

— Mostra logo! — ordena.

Viro o celular para que ela leia a mensagem.


— Meu Deus! — exclama, alto.

— Aconteceu alguma coisa, senhoritas? — Jeremy para a

explicação que estava dando e nos encara.


— Não professor, a Bianca não gostou muito da música que

comentei que vou cantar amanhã.


— E que música seria essa? — pergunta, intrigado.
— É surpresa! — digo, sem graça.

— Espero que não seja nada que te coloque em alguma

encrenca com os coordenadores, ou comigo.


— Não será, eu garanto.

Olho para Bia que morde os lábios segurando o riso e jogo

uma borracha nela.


— Au.

— Idiota.

Bianca e eu vamos juntas para o refeitório, fomos informadas


que nosso primeiro ensaio mudou para amanhã depois da aula de

artes e isso me deixa nervosa, a capitã das líderes de torcida é a


doce e meiga namorado do Gabo. Mesmo senda ameaçada por ele
sei que ela irá fazer algo contra mim, eu sinto isso.

— Posso ver a fumaça do seu cérebro sendo queimado de


tento que você pensa. — Bianca brinca.
— Estou preocupada com o que pode acontecer amanhã. —
confesso — A música, o nosso primeiro ensaio.
— Relaxa, os meninos estarão presente nas duas ocasiões.

— Isso sinceramente não me consola, Bia. Eles não vão


poder grudar na gente o tempo inteiro. Eu sinto que vai acontecer
alguma coisa.

— Que coisa? — David pergunta nos assustando.


— Que susto, garoto. De onde você saiu? — Bianca está
com a mão no coração, isso parece diverti-lo já que solta uma

gargalhada chamando atenção na fila.


— Eu estava lá trás na fila quando vi uma oportunidade de
me alimentar mais rápido.

— Ah, claro. E a oportunidade somos nós. — digo, rindo da


cara de pau dele.
— Claro! Para que servem os amigos se não para ajudar o

outro a furar fila?


— Mas que descarado. — Bianca reclama.

— Descarado não, bebê. Esperto seria a colocação certa,


afinal, sabe o que dizem por aí, né? O mundo é dos espertos. —
fala, dando uma piscadinha e pegando uma bandeja.
— Sabe o que mais dizem? — retruca irritada. — Que o mal
do malandro é achar que todo mundo é otário. Então fica esperto,
bonitão. Porque uma hora a sua beleza e descaramento não vai te

livrar de uma fila ou de algo mais sério.


— Fico feliz que você me ache bonitão, mas não deixa o seu

irmão saber disso, ou entraremos em uma fria.


— Ah, me desculpe, eu não sabia que você tinha medo do
meu irmão, então ontem quando me chamou para ir ao cinema de

novo ver aquele filme você não estava falando sério? Porque eu já
até escolhi o dia e a sessão.
Fico observando os dois e um sorriso surge em meus lábios.

Aí tem.
— Você mocinha, pode tirar esse sorrisinho do rosto. Não é
nada disso que você está pensando, somos apenas amigos e não

passará disso. — Bia me puxa para trás e deixa David ir na frente


colocar a comida dele.
— E quem disse que estou pensando em alguma coisa?

Estou apenas admirando a conversa de dois grandes amigos. —


falo, debochando.
Minha noite foi longa, minha conversa com Gabo não sai da

minha cabeça. Ele foi tão sincero e meigo. Só de pensar que ele
gosta de mim, que ficaria comigo me dá vontade de gritar, nosso
quase beijo faz meus lábios formigarem. Quase beijo…

Levanto hoje muito mais leve do que ontem, muito mais


disposta e encorajada. Ainda não sei o que irei cantar, tive uma ideia
assim que o professor falou que seria hoje nossa apresentação,

mas assim que vi a mensagem do Gabo, a ideia que tive foi para o
espaço. Ele falou comigo mais duas vezes ontem, uma no refeitório

e outra no estacionamento, graças a Deus nenhuma delas a


namorada estava perto.

— Bom dia, família. — cumprimento.

— Bom dia, filha. Como você está?


— Bem, hoje irei me apresentar na escola, então torçam para

que dê tudo certo e eu não pague mico.


— Vamos ver se o mané aí do lado te reconhece agora. —

minha doce irmã comenta, ela me encara e sorri, seu sorriso


transmitindo todo amor que se recusa a declara de bom grado.

— Na verdade ele já sabe quem eu sou, ontem nós até

conversamos e ele me pediu desculpas por tudo, propôs até uma


amizade. — minha irmã e minha mãe param o que estão fazendo e

ficam me encarando incrédulas.

— O que perdemos? — minha mãe questiona.


— Eu tomei coragem e me apresentei para ele como Alice,

Aly e vizinha. De primeira ele ficou meio chocado, mas depois

aceitou e ontem de manhã veio até aqui me pedir desculpas.


— E porque só estamos sabendo disso agora? — Sarah

parece bem chateada por não ter contado. — E onde está a regra
de não receber meninos no quarto?

— E quem disse que ele foi para o meu quarto? Eu falei que

ele veio aqui, só isso. — defendo-me.

— Aly, por favor. Você é apaixonada por ele, do nada o cara

vem aqui quando não tem mais ninguém em casa, com certeza ficou

esperando todo mundo sair para entrar. E você vai me dizer que não
rolou nada?
— Não rolou, nós apenas conversamos e foi na cozinha,
ninguém foi para o meu quarto. — me viro para minha mãe — Mãe

a sua filha anda com pensamentos bem impuros para a idade dela,

eu juro que não passamos da cozinha.

— Eu acredito em você, Alice. Suja irmã está apenas

implicando com você como sempre, mas mais tarde quero saber

cada detalhe de tudo isso.


— Ok — confirmo. — Vou pegar meu violão, pode pôr meu

suco na mesa, por favor?

— Coloco.

— Bom dia, amiga.

— Bom dia. Ué, veio sozinha? — pergunto percebendo que


Gabo não está com ela.

— Não, vim com meu irmão, mas parece que o carro do

David deu problema e ele foi buscar ele.


— Ata. Hoje é um grande dia, apresentação, dia de treino…

— Está pronta? — pergunto.


— Estou um pouco nervosa para a apresentação, mas para o

treino estou tranquila, apenas pensando se as nossas amiguinhas


irão falar ou fazer alguma gracinha.
— Acho que com você não, mas comigo… ainda estou com

aquela sensação.
Ficamos conversando sobre a apresentação e nem

percebemos a chegada do David e Gabo.


— Bom dia, meninas — David cumprimenta.

— Bom dia — respondemos juntas. Olho para Gabo.


— Oi, Aly. Como você está?
— Bom dia, Gabo. Estou bem, obrigada.

— Já sabe o que vai cantar — pergunta apontando para o


violão em minhas mãos.

— Ainda não, já pensei em várias possibilidades, mas não


cheguei em nenhuma conclusão. Tem alguma sugestão?

— Posso mesmo escolher uma? — indaga surpreso.


— Claro, poque não?
— Já ouviu a música… — ele para de falar quando seu

celular começa a tocar. Pela cara que fez posso imaginar quem é.
— Oi, onde você está? Passei na sua casa com o David. —

ele faz uma pausa e como percebe que estamos olhando para ele
se vira encostando no carro. — Poderia ter me ligado, iria com você.

— Vamos Bia — chamo não querendo ficar aqui ouvindo o


carinho com que ele a trata, a preocupação em sua voz… — nunca

fui uma pessoa invejosa, não vou começar agora.


Bia e eu nos afastamos deles e seguimos nosso caminho
para dentro, os corredores já cheios me fazem lembrar que até

poucos dias atrás eu andava por eles como uma ninguém, a murta
que geme, como me auto rotulei. Só que agora é diferente, todos

parecem notar a minha presença, algumas pessoas até me


cumprimentam com um aceno de cabeça ou um sorriso.
— Te dou uma mordida do meu chocolate se me contar o que

está pensando — Bianca barganha.


— Estou pensando em como as coisas mudaram. Tudo

mudou, as pessoas, eu!


— Está feliz com essa mudança? Está te fazendo bem?

— Esta sim! — confirmo confiante.


— Então é isso que importa — confirmo com um balançar de
cabeça e um sorriso.
Vamos direto para o auditório que está lotado. Falei com
Jeremy que não quero me apresentar com a turma que ficou de
dançar e ele aceitou uma apresentação solo. Tinha mais duas

pessoas que também fariam. Pouco tempo depois Gabo entra ao


lado da namorada, ela nos encara sorrindo e cochicha algo em seu

ouvido, Gabo olha sério para ela, mas confirma algo e vem em
nossa direção.
Eles só podem estar de sacanagem com a minha cara.

— Bom dia, meninas. — Thais nos cumprimenta e Bianca e


eu nos entre olhamos antes de responder. Ela está sorrindo e isso é

bem estranho. — Vim parabenizar vocês por terem entrado para


equipe, espero que possamos formar uma boa parceria.

Volta a olhar para Bianca, depois olho para David que chegou
e parece meio perdido também.
— Obrigada, Thais! É muito bom saber que temos o seu

apoio. — Bianca responde forçadamente simpática.


— Que isso cunhadinha, o que vocês precisarem podem

contar comigo, meu namorado fez questão de me passar ordens


precisas para cuidar bem de vocês duas, não é, amor? — Agora sim
entendi o jogo dela! Está claro que quer esfregar ele na minha cara

já que foi proibida de fazer qualquer coisa que nos prejudique.


Gabriel não parece notar o joguinho da namorada, ele está meio
perdido, olhando para o nada com a mandíbula contraída,
claramente desconfortável com a situação.

— Obrigada — falo me virando.


— Nós podemos nos sentar aqui? — pergunta.

— Não acho que seja uma boa ideia — Gabo se apressa em


responder.
— Que isso, amor. Vamos ficar perto das meninas, quero me

enturmar com elas.

Ouço Gabo suspirar profundamente e fecho meus olhos


quando ele sede e senta com ela ao meu lado, o que me faz

suspirar pesadamente também.

O tempo se arrasta, não presto atenção em absolutamente

nada, só consigo ouvir os beijos melados, a voz melosa da Thais


falando várias coisas lindas para o namorado, enquanto ele

responde apenas ao básico. Isso para mim está sendo uma

verdadeira tortura. Quero que ela grite comigo, me odeie e tente me


matar. Quero eles longe de mim, sinto minha garganta apertar

quando mais uma vez eles se beijam. Meus olhos ardem e me viro

para os dois, ela está de costas para mim, com o corpo virado para
ele de olhos fechados, o beijando como se não houvesse amanhã,
enquanto ele está duro, correspondendo ao beijo como se fosse um

robô e seus olhos estão abertos, me encarando com pesar.


Me levanto porque isso, com certeza, é pior do que ser

ignorada. Eu preciso sair daqui!

Sinto que tem alguém vindo atrás de mim e embora eu torça


para que seja ele, sei que não é e essa confirmação vem quando

outra mão, diferente da dele me puxa me fazendo parar.

— Ei, não dá esse gostinho para ela. — David, ele tem sido

meu salvador desde que me reconheceu, já me viu em crises de


choro, já me consolou e aconselhou e agora está mais uma vez

tentando me ajudar. Vejo Bianca logo atrás

— Olha, David — diz, roubando nossa atenção — Eu não


estou gostando de você querendo roubar meu posto, você é melhor

amigo do meu irmão, então deixa que dá Aly cuido eu.

Olhamos confusos para ela e toda minha vontade de chorar


se torna uma crise de risos e David me acompanha.

Ela está com ciúmes.


Depois de uma longa conversa, voltamos para o auditório e

Thais está vestida com o uniforme de líder de torcida. Junto com


outras meninas.

— Não vão se apresentar com a gente, meninas?

— Não, eu vou cantar e Bianca fará uma apresentação solo

— respondo firme.
Elas nos encaram com cara de nojo e voltam a conversa

entre si, sigo para o lugar que estava antes. Gabo está no mesmo

lugar, não se vira para mim, mas quando me sento fala:


— Sobre a música…

— Já sei qual música vou cantar, obrigada! — corto

secamente.

Depois de um tempo ele e David vão para o centro, é a vez


deles, as líderes posicionadas, uma banda improvisada, e os

jogadores prontos para uma partida de futebol, meninas contra

meninos. Será algo rápido já que as meninas estão em


desvantagem. Achei legal que o professor abriu essa aula para

pessoas de fora, então foi fácil achar meninas que gostem de

futebol.
Horas, se bobear até anos se passaram até eu ser chamada,

não prestei atenção em nada e nem ninguém, não vi nem o jogo, só


sei que as meninas ganharam porque foi um auê danado. Só penso

na minha apresentação, sei que a música que vou cantar irá me

fazer soltar o choro que esta prezo. Mas será praticamente uma
confissão, e ele vai entender o recado.

Seguro firme meu violão e passo por eles de cabeça erguida,

chego no centro do auditório e é impossível não lembrar do Sing.

Me seguro para não contar a história dos meus cinco filhos e falo.
— Boa tarde! Meu nome é Alice Sowyer e vou cantar uma

música que mexe muito comigo. — Começo timidamente a tocar as

primeiras notas de Stone Cold da Demi Lovato.

Stone cold, stone cold

Pedra fria, pedra fria

You see me standing, but I'm dying on the floor


Você me vê de pé, mas estou morrendo no chão

Stone cold, stone cold

Pedra fria, pedra fria


Maybe if I don't cry, I won't feel anymore

Talvez se eu não chorar, não vou sentir mais nada


Stone cold, baby

Pedra fria, bebê

God knows I tried to feel happy for you

Deus sabe que eu tentei me sentir feliz por você


Know that I a

Sei que eu sou

Even if I can't understand


Mesmo que eu não consiga entender

I can take the pain

Eu aguento a dor

Give me the truth, me and my heart


Me dê a verdade, eu e meu coração

We will get over

Nós vamos conseguir superar


If happy is her, I'm happy for you

Se a felicidade é ela, eu estou feliz por você

Termino a cação como imaginei que seria, em meio as


lágrimas, mas não estava sozinha, parece que consegui emocionar

a maioria das pessoas. O professor me agradece elogiando minha

voz e a minha habilidade no violão.


Ao passar por Thais ela segura meu braço, a encaro

esperando que solte seu veneno.


— Sabe, Alice, eu percebi o seu jogo desde que ouvi seus

áudios ridículos, mas até então relevei porque achei você sonsa

demais para que chamasse a atenção do meu namorado, mas vejo

que de lerda você só tem a cara mesmo. Sabe o que eu percebi


ouvindo você cantar essa música? Fria como pedra… — permaneço

imóvel e ela continua. — Que eu sou o Titanic e você é meu

iceberg, mas diferente do filme, eu não vou afundar, querida, e o


Jack ali — diz, apontando para Gabo que está alheio a nossa

conversa, rindo com David e Josh. — No final das contas ainda será

meu!
— Ela o que? — Bianca grita. Depois da abordagem feita por

Thais decidi sair de vez daquele auditório. Quando Bia deu minha
falta me mandou mensagem e disse a ela que tinha vindo para a
quadra de basquete. Preferi vir para cá já que a pista de atletismo

está ocupada hoje e logo mais é aqui que estarei, frente a frente
com a minha rival.
— Fala baixo, não precisa criar alardes! — brigo — E nem

quero que você comente isso com o seu irmão ou o David. Não sou
mais criança e nem tão boba, sei me defender, deixa ela marca o

território, seu irmão e eu já deixamos claro que seremos amigos.


— Amigos, né? — retruca, debochada. — A tensão sexual

entre vocês é quase palpável, eu não fico confortável perto de

vocês. — Rio, da besteira dita.


— Você é terrível, sabia?
— O que eu sei é que não podemos deixar essa garota

montar em você. E também não vou dar mole para a tal da Rachel,
tinha que ver, ela foi super grosseira comigo por causa do

namoradinho dela. Mas enquanto ele insiste em dizer que não são

namorados, ela faz questão de mostra para os outros que é mentira


e gruda nele igual carrapato. Já percebi que quando estou perto ela

só falta trepar com ele na minha frente. — Fico a analisando

enquanto jorra toda a sua frustração, que mais me parece com uma
crise de ciúmes.

— Sabe o que eu acho? — interrompo. — Que nós duas

teremos um grande desafio. Eles vão fazer parte das nossas vidas
até o fim da nossa faculdade, ou seja, até a nossa a vida adulta.

Vamos ver as formaturas um dos outros e quem sabe ser amigos


pelo resto da vida. Por isso, acho que devemos viver em paz. Seu

irmão tem uma namorada e deixou claro que apesar de ficar mexido

comigo ele não vai deixá-la e o David, bom ele não quer nada sério

com ninguém e isso ele deixa bem claro, apesar de que também

sinto entre vocês uma grande tensão sexual.

— Nunca mais repita isso na sua vida se quiser ter uma! —


ameaça — Ele, amiga, é o sonho de qualquer garota, é atencioso,
inteligente e um ótimo amigo, porém, amigo do meu irmão e ele nos
mataria se qualquer coisa além da amizade rolasse entre a gente.

— Que pensamento retrógrado, e desde quando seu irmão

tem que aprovar seu relacionamento com quem quer que seja? —

questiono.

— Você conhece o Gabo, já viu como ele fica só de ser

insinuado alguma coisa?


— Bianca Mello, me diz agora o que está rolando entre você

e o David ou nossa amizade acaba aqui! — ameaço. Mesmo que já

tenha percebido que eles estão afim um do outro, até esse exato

momento nunca tinha parado para pensar que já poderia ter rolado

alguma coisa.

— Quer parar! Não aconteceu nada — mente. Está nervosa e

é claro que aconteceu, e isso me deixa triste, por achei que


fossemos amigas e ela confiasse em mim para me contar qualquer

coisa.

— Tudo bem, me desculpe! Só achei que fossemos amigas e

que você confiava em mim assim como confio em você! — comento,

deixando claro o meu desapontamento.

— Amiga, por favor. Não é nada disso, é claro que confio em


você, só realmente não aconteceu nada além de que meu coração
idiota está ficando mexido com ele. — Ela abaixa a cabeça e exala

profundamente. — Desde o dia do cinema nós dois passamos a nos


falar todos os dias por mensagem. Nos falamos quase o dia todo e

agora meio que virou uma necessidade, eu não consigo mais ficar
sem falar com ele, acordar e não enviar um bom dia, ir dormir e não
desejar boa noite. Tudo está simplesmente fugindo do meu controle.

— Porque não me disse nada?


— Porque você já tem seus próprios dramas para lidar e eu

não queria te deixar com essa ruguinha de preocupação por uma


coisa boba.

— Isso não é bobeira, isso é você apaixonada pelo.


— Que história é essa, Bianca? Por quem você está
apaixonada? — Bianca e eu demos um salto do banco com a voz

grave do Gabo. O pior é que ele não está sozinho. David nos olha
com a mesma curiosidade e junto deles estão os dois empecilhos

para que minha amiga e eu sejamos felizes com as pessoas que


gostamos. Rachel e Thais, que parecem aguardar a resposta com

tanta curiosidade quanto o questionador da pergunta.


— Não te ensinaram que ouvir conversas escondido é falta
de educação, Gabo? — tento amenizar a situação com uma

brincadeira, mas ele está sério encarando uma defunta, porque


Bianca está tão branca que parece que morreu e esqueceram de

enterrar. Ele desvia os olhos dela para mim e perco a paciência com
seu jeito arrogante. — Não me olhe assim! Eu não sou a sua irmã e

não vou deixar que você a exponha na frente de tantas pessoas, ela
é sua irmã e é minha amiga, então se quer saber por quem ela está

ou não apaixonada faça isso na casa de vocês, porque é em casa


que se lava roupa suja! Não na faculdade na frente de várias
pessoas que para nós duas são estranhas já que nunca se deram

ao trabalho de falar com a gente. — Quando paro de falar estou


sem ar e as pessoas a minha frente sem palavras, Gabo pisca

várias vezes, abre e fecha a boca sem emitir nenhum som. Nem
acredito que disse isso tudo.
Pego a mão da Bia que está gelada e trêmula e a puxo

comigo.
— Se nos derem licença, nós vamos nos trocar! — puxo

minha amiga para o vestiário e nos trocamos sem falar uma palavra,
ela ainda parece em choque. Quando estamos prestes a sair do

banheiro ela começa a gargalhar. A encaro sem entender.


— Eu não acredito que você falou tudo aquilo na cara do meu
irmão — fala, sem folego por causa das risadas. — Você viu a cara

deles? Não, você viu a cara da Thais? Meu Deus, você parecia uma
mãe ursa defendendo a cria. — Sorrio, aliviada por ela ter saído do
transe.
— Amiga, você precisa se impor com o seu irmão! Mas não

vamos mais falar sobre isso, já vimos que aqui não é um local
seguro, mais tarde lá em casa conversamos melhor. Agora vamos

encarar nossa treinadora e mostrar que somos boas o suficiente


para estamos no time.
Quando voltamos para a quadra os meninos já estão

treinando e a equipe de líderes de torcida estão sentadas esperando


a treinadora para uma pequena reunião. Sentamos e logo fomos

abordadas por Thais.


— E então cunhadinha, quem é o sortudo por quem você

está apaixonada?
— Não tem ninguém, quando vocês chegaram estávamos
falando sobre uma série e eu ia dizer que era apaixonada pelo ator

principal, mas meu querido irmão me deixou nervosa com aquele


jeito agressivo.

Thais não pareceu engolir a história, mas não teve mais


tempo de falar nada porque a coordenadora chegou.
— Boa tarde, senhoritas. Como sabem temos cinco novas

integrantes no grupo e gostaria de dar as boas-vindas a elas, hoje


será o primeiro treino delas e tenho certeza que se sairão muito
bem.
Depois da apresentação, vamos para a prática, graças a

Deus Bia e eu fizemos os exercícios juntas e fomos duplas também


no treino. Deu tudo certo e no final ainda recebemos um elogio de

Thais que pareceu realmente satisfeita com nossa performance.

Depois que o treino acabou Bianca e eu fomos tomar um


banho. No estacionamento Gabo nos aborda nada feliz.

— Bianca, vamos comigo no meu carro.

Grosso.

— Oi, para você também, Gabriel — falo. Mas ele não se vira
para mim, continua com os olhos na irmã.

— Gabo, eu não quero ir com você podemos conversar mais

tarde!
— Não, não podemos! Se você não quiser ir para casa

comigo talvez queira lavar nossa roupa suja aqui mesmo. — Ele usa
a frase que disse a ele na hora do flagrante.

— Olha… — começo. Mas Bianca segura meu braço me


impedindo de continuar.

— Tudo bem, amiga.

Ela me dá um beijo na bochecha e sai na frente indo em


direção ao carro do irmão, ele passa por mim sem falar nada e é a

minha vez de segurá-lo.

— Pega leve com ela! — Peço. Seus olhos vão do meu rosto

para a minha mão em seu braço, antes de responder volta a encarar


meu rosto.

— Eu sempre pego! Agora se não se importa. — Ele olha

para minha mão indicando que quer que o solte.


— Me desculpa.

— Não precisa se desculpar, Aly. Eu fico realmente feliz que

minha irmã tenha encontrado uma amiga como você, que me


enfrenta para defendê-la. Mas vocês duas precisam entender que

sou mais do que o irmão dela! Desde muito novo sou irmão, pai e

mãe. A Bianca não pode esconder nada de mim, somos só nós dois

e não quero que ela acabe como minha mãe.


Fico tocada com a forma que ele fala dela. Ele só está

tentando proteger a irmã. Mas isso não muda o fato de que está
agindo errado.

— Entendo a sua preocupação com ela, admiro isso, mas

ainda assim, sufocá-la não é uma boa maneira de protegê-la. Pense


nisso.

Chego em casa e faço tudo correndo, subo, tomo banho, me

arrumo e desço.

— Mãe, tem alguma coisa para o Berry hoje? Mãe…

Vou até a cozinha e nada dela, mas sinto o cheiro de algo no


forno. Vou até a sala, onde ela se meteu?

Estava prestes a abrir a porta quando ouço alguém descer as

escadas.
— Estou aqui, filha — fala, entrando em meu campo de visão.

Fico sem palavras a observando, ela está linda. — O que foi? Estou

feia? Está muito exagerado, não é? Eu falei para sua irmã.


— Não, mãe — a interrompo. — Você está linda. Para onde

vai? — ela suspira, parecendo aliviada e triste ao mesmo tempo.


— Vocês estão com muita pressa?

— Não estou mais — respondo e vou até ela, sei que tem
algo errado. — Me conta o que aconteceu e para onde vai.

— Filha… Você sabe que desde que seu pai foi embora

minha vida se resume a você, seus irmãos e o meu trabalho, certo?


— Sim, o que acho errado e desnecessário, por isso sempre

lhe digo que precisa seguir em frente e ser feliz.

— Acontece que eu não conseguia, eu amei muito o seu pai

e fiquei arrasada e sem ter como contar a vocês que ele não iria
mais voltar, eu conheci a nova família dele meses depois que ele se

foi, na verdade, eu já conhecia a mulher a muitos anos. Um tempo

depois ele me procurou, pedindo perdão e dizendo que queria voltar


para casa, por mim, mas principalmente por vocês. Eu sofri demais

quando disse não. Mas fui fraca e depois de muita insistência aceitei

sair com ele, eu simplesmente me tornei a outra. A amante do

homem que mais amei na vida, o único que amei. — Vejo as


lágrimas rolar pelo seu rosto, mas estou incrédula demais para

consolar minha mãe neste momento. — Filha, isso durou um tempo

e eu não me orgulho, antes de você receber a bolsa aqui eu terminei


tudo com ele, disse que não era a vida que queria para mim, e não

era o exemplo que queria dar para vocês.


— Para onde você está indo? — pergunto, com medo da

resposta.

— Seu avô me ligou hoje. Disse que seu pai está vindo para

cá, ele foi convidado para participar do seminário que está tendo
com os professores e fará uma apresentação no campus também.

— Está me dizendo que está toda arrumada assim para

encontrar aquele homem? — pergunto, desapontada.


— Aquele homem, é seu pai e não! Não é com ele que vou

me encontrar hoje.

— Deveria ter lembrado isso para ele quando nos abandonou

por outra família, ou quando você decidiu virar a amante.


— Eu vou relevar a sua grosseria porque sei o quanto você já

sofreu e sofre por causa dessa história. Só estou te contando para

que você não tenha uma surpresa ao vê-lo na faculdade, ou caso


ele apareça aqui. — Ela exala com sofreguidão — Estou indo ao

Sing e esperava conseguir uma carona com você.

Fico parada, a notícia sobre o homem que me pôs no mundo

perturbando minha mente, como reagirei a ele depois de tantos


anos? E então vem o clarão na mente.

— Você vai ao pub? — questiono, só para confirmar se ouvi

errado.
— Vou, sim! — confirma, com um sorriso contido.

— Mamãe, você descobre que o papai aparecerá aqui e de


repente decide conhecer o Berry? Isso não é justo com ele, ser

usado como válvula de escape.

— Não, filha. Berry e eu nos tornamos muito amigos, eu

converso sobre tudo com ele, contei sobre seu pai, sobre as minhas
inseguranças e medos e ele insistiu para que eu fosse vê-lo hoje.

— Eu realmente gostaria que vocês se dessem bem, mas

não acho que esteja fazendo isso pelos motivos certos. Se não
gosta dele, não sente nada, nem mesmo atração, não deve ir só

para fugir do que pode acontecer com meu pai novamente. Mas

também quero deixar claro que não vou aceitar esse homem dentro
desta casa. — Respiro fundo — Eu não quero vê-lo, mamãe. —

Minha voz falha, embargada pela dor que sinto só de me lembra os

dias que passei na varanda da minha casa esperando que ele

voltasse com o meu presente de aniversário.


— Alice, você precisa ser forte! Já conversei com seus

irmãos — ela faz uma pausa.

— E eles querem ver o pai. Não é? — termino.


— Sim!
— Não o quero aqui, não quero esse homem nas nossas
vidas de novo! Se você aceitar que ele entre na vida de vocês eu

vou embora daqui! Eu juro que largo tudo e fujo. — Me levanto,

vendo o choque em seu rosto. Sei que fui dura, mas preciso que ela
acorde. — Sobre o Berry, ele merece mais!

— Alice Sowyer! — Seu tom é de repreensão.

— Não acho justo, mãe! A senhora pode falar o que for, dar
todas as desculpas do mundo, mas eu não vou mudar minha

opinião. Não vou poder te dar uma carona, me desculpe!

Saio de casa de baixo dos olhos chocados da minha mãe,

sinto meu peito queimar e não consigo mais segurar minhas


lágrimas. Entro no carro e respiro fundo, preciso me acalmar para

começar a dirigir.
Chego ao Sing só por um milagre, levei mais tempo do que o

normal por ter tido que parar algumas vezes para sessar o choro.
Prefiro não me olhar no espelho, devo estar lastimável. Desço do
carro e ao entrar vou direto ao banheiro, preciso me recompor.

— Aly, o que houve? — Berry coloca a cabeça dentro do


banheiro — Sua mãe me ligou preocupada, dizendo que você já
tinha saído a horas.

— Ela te contou sobre a nossa conversa? — questiono,


ignorando sua pergunta.

— Sim, e se me permite dizer, acho que você foi muito dura


com sua mãe!

— Não, Berry. Eu não te dou permissão! Você não tem noção

do quanto eu sofri antes e depois de perceber que ele nos


abandonou! — O choro volta com força, e desta vez eu não tenho

David para me abraçar, nem a Bia para dizer que ia ficar tudo bem.
— Eu achei que ele tinha morrido, que tinha sido sequestrado,

depois de esperar por um mês inteiro passando parte dos meus dias
sentada na varando, entrando apenas para comer, tomar banho e

depois voltava, sonhado com a droga de um presente que nunca

chegou percebi que ele não voltaria. Um dia eu passei em frente a


uma casa com portão de grade branca, era uma casa bonita e

dentro, no quintal, tinha uma menina linda aparentando ter a minha

idade, ela tinha os cabelos cacheados em um tom avermelhado,


mas o que me chamou atenção foi o homem que estava com ela,

eles estavam rindo porque ela não conseguia se equilibrar na

bicicleta. Era ele, meu pai. — Sufoco com o soluço forte que sai da
minha boca. — Sabe o que mais me doí no momento? É que

mesmo depois de tudo, hoje fiquei sabendo que minha mãe ainda
se prestou a ser amante desse homem. Do homem que era para ser

seu marido.

— Não condene sua mãe dessa forma, Alice — defende. Sua

voz é só um sussurro.

— Não quero que você saia com ela, você não merecer ser

usado só porque ela é fraca ou burra demais para resistir a um


homem que desgraçou a nossa vida.
— Chega! — exige irritado. — Não vou admitir que fale assim
da sua mãe, que falte com respeito a ela. Foi eu quem insistiu para

que ela viesse até aqui para conversar, ela precisa de um amigo, de

apoio.

— Ela precisa é ser honesta com você e dizer que nunca vai

querer outra pessoa, mas já deixei claro que se ele pôr os pés

dentro da nossa casa eu saio e você, Berry — faço uma pausa para
buscar o ar que me falta. — Seja inteligente e pule fora, ela é

furada!

Ele não diz mais nada, mas posso ver a raiva em seus olhos,

a mágoa em suas feições. Quando paro em sua frente indicando

que quero sair de lá ele me encara e diz sério.

— Você não vai cantar hoje! Quero que suba para o seu

quarto, sua mãe está vindo.


— Por mim tudo bem não cantar, mas você também não

pode me obrigar a ficar! — o empurro e saio correndo em direção a

porta, antes que a alcance vejo Gabo, Bianca e David entrar, passo

por eles como um furacão e os ouço gritarem meu nome. Do outro

lado minha mãe está descendo do táxi. Ela me vê e também

começa a gritar por mim. Não paro, não posso parar. Corro sem
rumo, sem trégua até meus pés doerem. Sento na calçada, estou

exausta, física e emocionalmente.


Depois de um tempo com a testa recostada sobre meus

joelhos ouço um carro parar no meio-fio, não me dou ao trabalho de


levantar a cabeça, seria bom que fosse um dos maníacos de filmes
de terror pronto para me arrancar a vida e me tirar desse inferno.

Mas não era, infelizmente. A pessoa que senta ao meu lado tem o
perfume conhecido.

— Amiga… — a voz da Bianca soa por meus ouvidos e eu


me lanço nos braços dela retomando o choro. — Calma, Aly. Vamos

sair daqui.
— Não, eu não quero ir para minha casa e nem pra sua,
quero distância de lá. — Me desespero.

— E para a minha? Você aceita ir? — levanto a cabeça e


encontro David e Gabo encostados no carro. Ele sorrir para mim

enquanto Gabo me encara sério, vejo preocupação em seus olhos.


Bianca me ajuda a levantar e entrar com eles no carro. Gabo

na frente com David ao volante e Bianca ao meu lado no banco de


trás segurando minhas mãos, tentando passar o mínimo de
conforto. Depois do que parece uma eternidade David encosta o

carro em frente a uma casa que parece mais uma mansão.


— Você mora aqui? — pergunto.

— Sim, na maior parte do tempo. — ri. — Gostou?


— É linda…

A casa tinha uma aparência de recém-construída, não havia


sequer uma manchinha de chuva, uma cor de verde água com

janelas de vidro temperado, uma grama bem cuidada, três andares


de puro luxo. A porta era de madeira maciça bem desenhada, com 2
metros de altura e não sei precisar a largura, mas era muito larga.

Quando ele abre a porta nos dando passagem fico ainda mais
impressionada, isso aqui é uma casa que saiu direto de uma das

mais caras revistas de arquitetura.


— Minha mãe e meu pai quase não param em casa, então na
maior parte do tempo eu moro aqui sozinho — explica.

— Você deve ter uns cinquenta empregados para limpar isso


tudo.

— Cinquenta é exagero, mas tem bastante, o que não me


deixa me sentir tão solitário.

— O velho drama do pobre jovem menino rico — Gabo


implica nos fazendo rir. Foi a primeira risada da minha triste noite.
— É bom te ver rindo. — Gabo confessa sorrindo para mim.

— Obrigada por virem atrás de mim e me trazerem para cá.


— Não precisa agradecer, coração. Amigos são para essas
coisas e você é nossa mascote agora. — David passa o braço em
volta dos meus ombros — agora vamos, vou mostrar o resto da

minha casa para você, Bianca e Gabo já conhecem tudo por aqui.
Ficamos as próximas horas andando de cômodo em cômodo

rindo das idiotices que nos contava.


Sentamos os quatro à beira de uma enorme piscina e ficamos
em silêncio, admirando a noite, que parece inerte a minha tristeza,

está bastante estrelada e a lua está cheia. Sei que agora é o


momento de contar a eles o que aconteceu.

— Estava completando quinze anos quando meu pai saiu de


casa dizendo que ia comprar meu presente de aniversário, e o que

ganhei foram vários dias sentada na varando de casa esperando ele


voltar, sonhava todas as noites com ele chegando com o presente.
Quando a compreensão de que ele não voltaria me bateu comecei a

chorar achando que ele tinha morrido. Depois de meses passei em


frente a uma casa e no quintal tinha uma menina brincando com um

homem, eu o reconheceria mesmo que estivesse disfarçado. Mas


fiquei ali os observando até que ele se virou de frente para o portão
e tive a certeza, era o meu pai. Cheguei em casa desesperada,

contei para minha mãe, mas só hoje, só agora consigo perceber que
ela não se surpreendeu — levanto a cabeça para eles, tendo agora
a clareza dos fatos. — Ela sabia.
— Eu posso imaginar o quanto foi difícil para você — Bia me

encara emocionada — Eu fui abandonada pela minha mãe e por


meu pai e agora tenho que dividir o meu irmão com uma viciada que

somos obrigados a conviver hoje. Fui criada pela minha vó longe de


quem mais amo na vida — confessa, segurando a mão do irmão.
— Eu sinto muito por vocês — lamento. — Eu tenho tanto

medo de fraquejar, de olhar pra ele e em vez de ódio descobrir que

ainda o amo, confessar que na verdade eu ainda sou a mesma


garotinha sentada na varando esperando meu presente de

aniversário. Minha irmã sofreu tanto, foi para inúmeros psicólogos, e

depois minha mãe descobriu que estava grávida de dois meses do

Steven. Eles são tão parecidos, Steven é uma cópia exata do pai.

Percebo que não vou conseguir dormir e decido voltar para a

beira da piscina. Depois de horas conversando com eles,


conhecendo mais um pouco da história de cada um, resolvemos

subir para dormir. David pegou algumas roupas da prima dele que
vinha as vezes para cá e nos deu para que Bianca e eu ficássemos

mais confortáveis. Na casa há cinco quartos, cada um deveria ficar

em um, mas Bia insistiu em dormi comigo, bom, ela dormiu, eu


apenas revirei na cama chorando.

Passo pelas portas de vidro que dá acesso à piscina, Gabo

sentado só de bermuda, com os pés dentro da água, ele não

percebe minha aproximação.


— Posso me sentar aqui também?

— Desculpa, estava distraído e não te vi chegando, claro que

pode se sentar, vem. — Ele estende a mão para me ajudar.


— Em que estava pensando? — pergunto aceitando a ajuda

e aproveitando o toque de sua mão quente.

— Em você, em nossas vidas. — Ele faz uma pausa e me


encara com olhos complacentes. — Nós éramos apenas crianças,

não deveríamos passar por todas essas merdas. Nossos pais

roubaram nossa infância de forma cruel. Meu pai quase não nos liga

mais, apenas coloca nossa mesada e paga nossas despesas. Sei


que é difícil para ele, sei o quanto amou a minha mãe e ver como

ela se encontra hoje é doloroso, mas caramba, e nós? Bianca e eu


tivemos e temos que lidar com ela querendo ou não. Eu sempre

tentei manter a Bia afastada dela, para que não presenciasse tudo

que vejo, mas agora é impossível, estamos todos na mesma casa.


Vendo nossa mãe se deteriorar a cada dia.

— A vida não facilitou para gente, não é mesmo? — brinco.

— Não! Mas eu estou feliz por ter pessoas como o David

para me ajudar nos meus momentos de fraqueza e estou feliz


porque agora você tem a nós para os seus momentos de fraqueza.

Fico encarando-o com um sorriso, ele acabou de confessar

que está aqui para me ajudar.


— Obrigada! — digo, timidez me tomando. Ele se aproxima

mais de mim e coloca uma mexa do meu cabelo para trás da minha

orelha. — Para de me olhar assim, devo estar horrível depois da

minha crise de choro.


— Não está! Você é linda, Alice — sussurra. A mão que dias

atrás acariciou meu rosto e vem perturbado meus sonhos está

repetindo o gesto. — Linda demais para minha sanidade, você tem


noção do quanto me segurei a noite toda para não pegar você em

meus braços e dissipar a sua dor.

— Gabo… Eu sonhei tanto com o dia em que você me

enxergaria e em como meu corpo se sentiria com seu toque —


admito, fechando os olhos para eternizar seu toque quente em

minha pele e mente.


Ele se aproxima ainda mais de mim, sem cessar com a

caricia, sua outra mão também vem para meu rosto e desce para

meu pescoço.
— E como você se sente? — questiona, rouco.

— Eu não sei — confesso — Não consigo sentir meu corpo e

na minha cabeça só vem um pensamento — abro os olhos e vejo

sua pupila dilatar, assim como a minha, minha visão embaça com a
fantasia de beijá-lo.

— Me conta — suplica — Que pensamento é esse?

— No quanto quero que você me beije. — Mal termino a frase


e seu corpo grande cobre o meu, sua boca toma a minha em um

beijo desesperado. Sinto a grama gelada em minhas costas, com o

peso dele sobre mim. O beijo diminui a velocidade, vira um leve

carinho. Sua língua faz uma dança gostosa com a minha, a mão que
antes estava em meu pescoço desce para minha cintura dando um

aperto firme, arrancando de mim um gemido.

— Não faça isso! — pede, separando nossos lábios e para


minha tristeza afasta minimamente seu rosto.

— Fazer o que? — choramingo.


— Gemer assim enquanto te beijo — rosna.

Mordo meus lábios para conter o sorriso que tenta escapar.

— Não morde os lábios me olhando dessa maneira também!

Tudo e qualquer coisa que você fizer agora irá me levar ao extremo,
entende isso Alice?

Balanço a cabeça em afirmação e ele sorri. Tão lindo, tão

perfeito. Logo sua boca está na minha novamente, dessa vez o beijo
começa calmo e ganha uma intensidade indescritível, através da

bermuda de táctil sinto ele endurecer cada vez mais, aperto a

cintura dele e afasto um pouco mais minhas pernas para senti-lo

melhor, seu membro duro está quente pressionando meu centro


igualmente quente e molhado. Uma de suas mãos sobe por baixo

do tecido fino da blusa de malha que visto e ele caricia meu ceio,

arrancando de mim um gemido ainda mais alto. Levo timidamente


minha mão até sua bermuda, mas Gabo se afasta e salta para

dentro da piscina me deixando na grama gelada com meu corpo

pegando fogo.

Sento frustrada, olho para a piscina e ele está mergulhando


para o fundo, quando finalmente submerge o encaro com raiva.

— Que droga você está fazendo? — vocifero.


— O certo! Me perdoa, Aly. Eu não deveria ter beijado você,

não agora. Você sabe, eu tenho uma namorada, e não posso


cometer com vocês os mesmos erros que nossos pais cometeram.

— A dor que sinto ao ouvi-lo falar isso é indescritível, por um

momento eu agi igual a minha mãe. Amante do cara que amo. Me

levanto ajeitando minha roupa, confusa e ainda mais magoada.


Antes que eu alcance a porta ele sai da piscina e me segura.

— Eu vou aproveitar que o pai da Thais está na cidade e vou

terminar com ela, isso que você está sentindo nunca mais vou
deixar acontecer. Nós faremos uma história bem diferente da dos

nossos pais, Aly. Eu te prometo.


Saio da casa do meu amigo antes das seis dá amanhã com o

carro dele, meu beijo com a Aly aconteceu no momento errado, me


sinto um merda por ter traído minha namorada e colocado a Alice na
mesma posição que a mãe dela, posição que julgamos errado.

Chego na casa da Thais e mandou uma mensagem para saber se


está acordada, o pai dela chega hoje, então estou seguro de que ele
irá confortá-la e mantê-la fora de confusão, ele precisa cuidar da

filha nos primeiros momentos de raiva, onde não poderei vigiá-la


mais.

Lembro do dia em que a encontrei em coma alcoólico, logo


depois da morte da mãe, ela era tão nova e já estava no meio das

drogas graças as nossas mães. Os pais da Thais eram amigos da

minha mãe a anos, desde o tempo da escola. Ele me disse uma vez
que experimentou com elas algumas drogas ilícitas, mas nunca

curtiu e depois que conheceu uma mulher decidiu que não era o que
queria para sua vida. Ele se apaixonou por uma menina que era

doce e pura, e viveram felizes por um bom tempo. Não me contou o


que houve com a menina e nem como acabou ficando com a mãe

da minha namorada. Só sei que ele fez de tudo pela mulher e a

filha, mas Elaine assim como minha mãe não teve jeito, acabou
tendo uma overdose e morrendo. Foi no enterro que pude conhecer

a filha da melhor amiga da minha mãe, a ruiva mais linda que já

havia visto. Saímos de lá juntos, minha mãe sendo amparada pelo


amigo que havia acabado de ficar viúvo e Thais amparada por mim.

Anos depois o pai da Thais conseguiu para nós dois a bolsa na

melhor escola de Charlotte, foi o jeito que ele encontrou de deixar a


filha longe dos amigos viciados, deixando para mim a

responsabilidade de cuidar dela.


Amor – Estou acordada, vou abrir a porta para você.

Desço do carro e caminho lentamente até a porta. Thais

aparece sorridente, mas seu sorriso morre quando vê que não é

uma visita para matar a saudade. Ontem antes de chegar no pub ela

me mandou mensagem dizendo que não iria para casa dos avós,

onde costuma ir todo fim de semana.


— O que houve, amor? — pergunta, com receio.

— Vamos entrar — falo e ela abre passagem.


— O que aconteceu, Gabo? Porque está com essa cara?
— Eu sei que é cedo, mas não existe melhor hora ou melhor

momento para dizer o que tenho pra falar com você e por isso vou

direto ao ponto.

— Não! — grita, sem me deixar concluir. Não vou aceitar,

nem precisa terminar de falar.

— Thais, para! Não torna tudo mais difícil, por favor! — peço.
— Você sabe o quanto gosto de você, o quanto te amei e amo, mas

agora de uma forma diferente.

— Você não pode fazer isso comigo, Gabriel. Não pode fazer

isso com a gente. Você prometeu para mim e para o meu pai que

cuidaria de mim, que ficaria comigo.

— E eu vou continuar cuidando, mas para isso não preciso

ser seu namorado, nós podemos ser…


— Nem termine essa frase! — grita, me interrompendo de

novo. — Não ouse dizer que quer ser meu amigo, porque nós não

seremos, eu vou odiar você para sempre. Você é um mentiroso.

Seu descontrole me deixa mais nervoso e tento me aproximar

para segurar seus braços e fazer com que me olhe e entenda que

não podemos continuar como estamos, mas ela me empurra e se


afasta.
— Eu fiz uma coisa horrível ontem, Thais e você não merece

isso, nós não merecemos!


— O que você fez? — indaga, chorando.

— Beijei outra garota — confesso, constrangido.


— Outra garota? Que garota?
— Não importa! O que quero que você entenda é que para

mim ela não é qualquer garota e se eu não terminar com você vou
me tornar alguém que definitivamente não quero ser.

— Quem é a garota, Gabriel? — indaga, mais uma vez, sua


voz é baixa e transborda rancor.

— Não é sobre ela que quero falar, e sim sobre nós. Quero
que você me prometa que não vai fazer nenhuma besteira, que vai
superar esse rompimento de maneira madura e que se por um

acaso as coisas fugirem de controle e você sentir que vai fraquejar


de novo, você vai engolir o seu orgulho e vai me ligar. Eu prometo

que venho te ajudar, não vou abandonar você, nós só não iremos
mais manter um relacionamento amoroso.

— Sai da minha casa! — sussurra, seu olhar é de ódio, Thais


está irreconhecível.
— Por favor, Thais.
— Sai agora da droga da minha casa, seu maldito traidor! —

grita, me empurrando. — Eu odeio você. Odeio você, Gabriel.


Saio de lá ouvindo seus gritos e xingamentos, fico do lado de

fora por um bom tempo, ouvindo seu choro desesperado do outro


lado. Isso e tão errado, me sinto a pior pessoa do mundo por estar

fazendo isso com ela. Mas como posso abdicar de ser feliz, como
posso simplesmente abrir mão da minha felicidade? No final
nenhum de nós estaria realmente feliz se eu ficar.
Aly
Perdi o sono definitivamente depois do que aconteceu com

Gabo na piscina, a promessa de terminar com a Thais me fez me


sentir bem e ao mesmo tempo mal. Esse misto de emoções está me

deixando doente. Ele saiu bem cedo, vi quando pegou o caro do


David, já vai dar duas horas da tarde e ouço a voz dele vindo da
parte de baixo, saio do quarto e paro no topo da escada, ele está

contando para David e Bianca sobre o término, eles tentam consolar


ele, dizendo que foi o certo, que estava na hora de acabar já que ele

não sente mais o mesmo por ela. Mas ele parece bem nervoso com
o a reação dela.
— E se ela tiver uma recaída? Foi difícil para ela ficar limpa.

Se acabar se drogando de novo vai destruir tudo que lutou para


conquistar, e o pior, se terminar como a mãe, eu não vou me

perdoar nunca.
— Gabriel ela tem pai, você mesmo disse que ele chega hoje!

A obrigação de cuidar dela é dele e não sua, não importa o que


você prometeu, a sua parte você cumpriu e pode continuar
cumprindo caso ela deixe, mas isso não te torna obrigado a namorar

com ela o resto na vida. — Bianca insiste.


— Sua irmã tem razão, cara. Uma coisa é você gostar dela e
cuidar para que ela não volte a beber e a usar drogas, outra coisa é
você ter que abrir mão do que realmente quer só para poder cumprir

o papel do pai dela.


Decido voltar para o quarto, não quero mais ouvir, me sinto

culpada por isso e se alguma coisa acontecer com ela irei me sentir
péssima também. Não acho que seja o momento para descer, ele
precisa de um tempo para absorver tudo, por isso me tranco no

quarto para fazer o que não fiz durante a noite toda.

Acordo sentido o colchão afundar e imagino que seja Bianca,

mas logo percebo que o corpo é bem maior e o perfume forte


amadeirado me causa um formigamento na barriga. Gabo.

Abro os olhos e o encontro sorrindo para mim.

— Achei que teria que beijar para a bela adormecida


despertar. — brinca. Mas mesmo com o sorriso e a brincadeira

percebo que está tenso.


— Bom, se eu soubesse que seria beijada continuaria

dormindo.
— Espertinha — diz, bagunçando meu cabelo. Ele se ajeita

na cama e fica sério. — Fui ver a Thais hoje cedo, conversei com

ela e terminei tudo.


— Eu sei que pode parecer hipocrisia, mas eu realmente

sinto muito.

— Vindo de você eu acredito, sei que tem um coração bom.

— Quer me contar como foi?


— Difícil, doido, mas necessário. Eu me preocupo muito com

ela, Aly. — Ele se vira para mim, ajeita meu cabelo e encara meus

olhos com sofreguidão. — Eu não sei o que acontecerá entre nós


daqui para frente, mas eu preciso que você entenda que ela

significa muito para mim e que um dia fiz uma promessa de que

jamais a abandonaria, não digo como namorado, mas como pessoa,


ela precisa de mim, tem muitos conflitos que não consegue lidar

sozinha. Você é capaz de compreender isso?

Fico um tempo o analisando, tentando entender melhor o que

exatamente significava suas palavras.


— Eu não sei se consigo compreender por completo tudo que

está me dizendo, mas acho que podemos tentar. — Faço uma


pausa — O que vamos tentar? Uma amizade, nos conhecer melhor

ou um relacionamento?

— Eu pretendo tentar compensar todos os dias que você me


amou em segredo. — declara, aproximando seu rosto do meu.

Quando penso que vai me beijar como ontem, ele se afasta

sorrindo. — Quero criar nossa própria melodia com você.

Tenho certeza que se não tivesse secado meu reservatório


de lágrimas ontem à noite choraria de emoção nesse momento.

— Eu quero isso também — confesso, sorrindo.

Será que é isso? Esse é o fim da minha história de amor,


onde o mocinho se apaixona pela nerd e vivem felizes para sempre?
Nosso sábado foi regado de muitos risos e brincadeiras,

assistimos filmes, brincamos de mímica e por alguns momentos


parecíamos 2 casais de adolescentes curtindo o fim de semana em
casa, pelo menos até Gabo surtar e brigar com David por causa da

Bianca. O ciúme dele é completamente descabido, por pouco não


brigou comigo por defender um possível futuro relacionamento.
— Aly, não quero que a nossa primeira briga seja por causa

da minha irmã e do meu melhor amigo, que inclusive já deixei claro


que se tentar alguma coisa com ela deixará de ser meu amigo.

Então, é melhor você parar de querer empurrar os dois para um


relacionamento, ou no fim das contas vou ficar sem amigo, sem

namorada e com uma irmã mega furiosa.

Não discuti porque amei quando ele se referiu a mim como


namorada, mesmo que não sejamos ainda. Conversamos bastante

antes de descer ontem e estabelecemos um momento de


conhecimento entre nós dois, ele também me pediu para que

sejamos discretos no campus, já que até sexta ele estava


namorando com a Thais, ficaria feio para nós três aparecermos na

segunda com uma troca de casal. Ele quer evitar ao máximo que

Thais nos veja juntos. Toda essa cautela em relação a ela me deixa
com um pequeno incomodo, entendo perfeitamente que eles

estavam juntos a anos, que não passou nem 24 horas de um

termino e ele já engrenou em um novo relacionamento, mas a forma


que ele fala dela, que quer cuidar dela mesmo não estando mais

juntos, o carinho… Eu estou deliberadamente com ciúmes.

Me espreguiço espantando meus pensamentos e sorrio, ele é


melhor do que eu sonhei. Pego meu celular e vejo as milhares de

mensagens da minha mãe e da minha irmã, há milhares de ligações


do Berry também. Sinto meu coração apertar, nunca briguei com a

minha mãe, nunca nem ao menos a respondi, mas tudo que

aconteceu sexta feira, foi como se eu não a conhecesse, quais

outros segredos ela me esconde? Será que o motivo do meu pai ter

abandonado nossa família para ficar com outra foi tão forte ao ponto

de ela aceitar a traição e se deitar com ele novamente? Será que


essa volta dele vai mexer com ela, mesmo depois de tanto tempo?
Amor… O sentimento mais complexo do mundo, onde
milhares de pessoas se perdem de si, abrem mão do orgulho por

esse sentimento. Mas até que ponto pode ser chamado de amor,

aquilo que te faz perder a própria dignidade?

Não me vejo sem o Gabo, eu o amo. Mas até que ponto eu

suportaria algo dele em nome desse amor? Bom, eu suportei

inúmeras humilhações, não diretamente dele, mas por ele. Esperei


por cinco anos até que finalmente me olhasse como eu o olho e tem

sido maravilhoso. Mas até quando? Até que ponto?

— Te dou um beijo por cada pensamento. — Estou tão

imersa em pensamentos que não o vi abrindo a porta. Está lindo,

com uma bermuda jeans e uma blusa de algodão vermelha com

gola V.

— Sai daqui você está lindo e eu toda descabelada —


reclamo, e me cubro com o lençol me escondendo dele.

— Confesso que já te vi em melhor estado, mas não me

importo — solta uma gargalhada gostosa — Levanta, nós vamos a

um lugar.

— Não posso ir a um lugar com você usando as mesmas

roupas de sexta, as únicas roupas da prima do David que me cabem


são as de dormir.
— E ficam lindas, do tamanho exato para me deixar

desconcertado. — brinca.
— Gabo — tento ficar seria, mas acabo rindo da cara de

idiota dele. — Sai logo daqui seu tarado.


— Ok — levanta as mãos em sinal de rendição — não se
preocupe com as roupas, a Bia e eu fomos até a sua casa e

pegamos algumas coisas, estão ali no banheiro, também


tranquilizamos a sua mãe, ela estava bem nervosa.

— Quando? Porque fizeram isso sem falar comigo?


— Agora de manhã, ela ligou para Bianca hoje cedo e como

seus amigos decidimos intervir. Sei que você está chateada, mas a
sua mãe é uma mulher incrível e te ama demais, está muito triste
com tudo que aconteceu e como mãe estava preocupada com seu

sumiço, mesmo sabendo que você estava com a gente.


— E como ela está? — pergunto, de cabeça baixa, sem

forças para encará-lo.


— Está triste, mas garanti a ela que amanhã depois da aula

você estará em casa. — Abro a boca para protestar, mas ele me


interrompe, levanta a mão e diz. — Não, Aly. Você não pode
castigar sua mãe assim, precisa enfrentar isso e expor o que sente
sem atacá-la, se ponha no lugar dela, quem te abandonou foi seu

pai e não ela.


— Mas ela o encontrou depois, tiveram um relacionamento e

agora com ele na cidade…


— É a vida dela, Alice. Você não sabe o que ela sente, nem

ao menos se deu ao trabalho de tentar entender os motivos dela.


Não pode julgá-la assim, ainda mais sendo sua mãe. Sei que somos
jovens, mas pare para pensar se você descobrisse algo sobre mim.

Algo ruim, todo o amor que você sente sumiria? Assim do nada, na
hora? Ou você, passado o momento da raiva me daria uma nova

chance?
— É completamente diferente! — defendo-me. Estou ficando
irritada com o sermão. Mal acordei e já tenho que lidar com isso.

— Será? — indaga. Ele se mantém parado de braços


cruzados me encarando por um tempo, então sorri e se vira para a

porta. — Espero você lá em baixo. — Antes que ele saia eu


resmungo.

— Ela nem gosta de você. — Ele se vira confuso.


— Quem não gosta de mim?
— Minha mãe, e você está aí todo homenzinho defendendo-

a. — acuso.
Ele sorri balançando a cabeça em negação.
— Você não existe, Alice Soywer.
Me levanto constrangida e vou ao banheiro, ainda bem que

escolhi um quarto com suíte, embora duvide que nos outros não
tenham. Tomo um banho quente, daqueles que deixam a pele

avermelhada, escovo meus dentes agradecendo por David ser rico


e precavido, tem tudo que precisamos aqui. Saio enrolada na toalha
e vejo o que eles trouxeram para mim, vestido, short, calça jeans,

meu uniforme de líder de torcida e biquíni, vou até a janela e reparo


que o sol parece bem aquecido, decido então pôr um vestidinho de

alça que eles trouxeram.


Desço as escadas ouvindo a risada gostosa da minha amiga,

encontro ela e Gabo na cozinha, ela está vermelha de rir.


— Estou precisando de algo para rir também! — falo,
encarando Gabo de cara feia.

— Basta você olhar para a cara de bunda do seu namorado,


ele é a comédia do dia. — Bianca aponta para ele.

— Eu já o vi hoje, e acredite, ele não me fez rir nem um


pouco.
Gabo sai da bancada da pia onde estava sentado e caminha

em minha direção.
— Quer que eu te faça rir agora, coração? — sussurra em
meu ouvido, uma mão apertando minha cintura.
— Sai, seu doido. Respeita a sua irmã — falo envergonhada.

— Para onde vamos? — questiono longe das mãos grades dele.


— Vocês são tão lindos juntos — Bianca comenta, rindo —

Vamos ao Carowinds.
— O parque aquático? — questiono, incrédula.
— Sim, porque? Tem medo, Aly? — Gabo zomba.

— Digamos que fico muito mais confortável ficando aqui na

piscina do David. Por falar nele, onde está?


— Foi abastecer o carro e comprar umas coisas — Bianca

responde.

Saímos da casa do David as treze horas, paramos em uma

lanchonete para almoçar e agora estamos na fila de entrada do


parque. Gabo segura minha mão com carinho enquanto conta das

vezes que esteve aqui com David.


— Eu não acredito que nunca veio aqui, Aly — David

comenta.
— Eu não tinha com quem vir, minha mãe não gosta e não

me deixaria vir sozinha com meus irmãos. Fora que sou bem

medrosa, não sei nem se vou nos brinquedos que vocês estão
falando, talvez escolha uma piscina tranquila e fique por lá.

— Sei que o que vou dizer não será nada romântico, mas se

fizer isso terei que te deixar nessa piscina sozinha, porque eu não

consigo vir aqui e não me aventurar nos brinquedos mais irados do


lugar, simplesmente não faz sentido. — Gabo parece indignado.

— Um verdadeiro gentleman — zombo.

— Foi o que você pediu a Deus, amiga. Não pode reclamar


agora. — Bianca adora tirar sarro da minha cara. Gabo me abraça

por trás e diz em meu ouvido.

— Vamos comigo se divertir, não vou te deixar sozinha.


Tem como negar um pedido feito assim?

— Vou tentar, mas se eu ver que vou ficar apavorada, você

vai e te espero lá em baixo. Vocês escolheram o parque que tem

mais adrenalina do que divertimento. Aqui tem uma das maiores


montanha-russa do mundo. São no total 14 montanhas-russas e

isso definitivamente não tem nada de romântico.


— Feito! Caso você não curta nos espere em um canto, mas

vou adorar ver você se arriscando um pouco. — diz, dando um

beijinho na minha bochecha. Ele é muito carinhoso, quem olha para


cara de mal dele, não diz. Pareço estar vivendo um sonho.

Finalmente entramos depois de receber algumas informações

na recepção. Bianca assim como eu nunca tinha vindo aqui, mas

diferente de mim está muito animada para ir em todos os


brinquedos, do mais alto ao mais ameno. Nossa primeira parada é

um bate-bate. Faço par com Bianca enquanto Gabo e David pegam

outro carrinho. A brincadeira foi totalmente desleal, eles não davam


espaço para a gente e Bianca se irritou por não conseguir sair do

lugar.

— Sai David, eu não quero mais brincar com vocês — grita, o

empurrando enquanto ele tenta abraçar ela. Gabo que estava rindo
ao meu lado fica sério e antes que ele estrague nosso passeio com

seu ciúme ridículo o puxo para um beijo.

— Sabe, eu esperei tanto para isso, que agora não consigo


parar de beijar você — confesso. Estou sem folego pelo beijo que se

estendeu por mais tempo que planejei.

— Eu sei exatamente porque me beijou e não tem a ver com

o fato de você ter esperado muito para isso. Mas tudo bem, eu estou
amando beijar você também. — Com a mão em minha nuca ele me

puxa para mais um beijo.


— Ou, vocês dois — David chama — Tem crianças aqui,

comportem-se!

— A sorte de vocês dois é que ela beija muito bem e


conseguiu me distrair por um minuto.

— Eu particularmente acho que foi por mais que um minuto

— brinco.

— Engraçadinha. Vamos parar de papo e ir ao que interessa,


quero ir na Fury 325. — Gabo nos arrasta para a montanha-russa

mais alta e pavorosa do lugar.

— Eu não subo aí nem que me pague — protesto.


— Aly, qual é... — Gabo e David reclamam juntos. Bianca

está com os olhos brilhando, tem medo, mas quer ir mesmo assim.

— Gente não dá pra mim, eu tenho medo, não vai rolar!

— Eu estarei do seu lado, amor. Vou segurar sua mão.


— Isso não me conforta! Tenho medo de altura.

— Se você topar ir comigo nesse eu juro que vou com você

em qualquer outro, até no carrossel se quiser — barganha.


Depois de muita insistência e milhões de promessas topo ir

com eles. Nunca senti tanto medo na minha vida, sinto como se
minha garganta estivesse estourando com meus gritos, meu

coração bate tão rápido que sacode todo meu corpo. E quando o

brinquedo finalmente para, me sinto tão mal que não consigo nem

andar.
— O que você está sentindo, Alice — Gabo questiona,

preocupo.

— Uma pressão na nuca, eu não estou bem. Não quero mais


brincar em nada, me leva pra casa — imploro.

— Acabamos de chegar, amiga. — Bianca choraminga.

— Tudo bem, eu fico na piscina de ondas então, eu só não

quero que vocês me obriguem a ir em nenhum outro brinquedo.


— Ok, vem eu vou com você para a piscina de ondas. —

Gabo segura minha mão.

— Não precisa, é sério. Vai se divertir com eles.


— Não vou te deixar sozinha, Aly. Fico com você e depois

que a Bianca brincar ela fica e eu vou. Pode ser? — pergunta para a

irmã.

— Claro! David e eu vamos em mais alguns brinquedos e eu


volto para ficar com ela.

— O bom é que vou poder ir duas vezes nos brinquedos. —

David comenta rindo.


Gabo e eu vamos em direção as piscinas e Bianca e David

seguem para os brinquedos assassinos.


— Você está bem?

— Estou chateada por estragar a diversão de vocês. —

Confesso, triste.

— Ei, para de bobeira, você não estragou nada, eu quem


deveria ter te perguntado antes se aqui seria um bom lugar.

— É um ótimo lugar, só não alguns brinquedos que coloca

em risco a minha vida.


— Hoje em dia respirar já é um risco, Aly. Você pode estar

aqui comigo e de uma hora para outra sentir uma dor e morrer, eu

posso bater minha cabeça na beira da piscina de ondas e morrer ou


dormir e não acordar mais.

— Você tem uma maneira bem estranha de confortar as

pessoas. — Falo, rindo.

— Desculpa — ri — Eu me acostumei ao lado um pouco mais


sombrio de ver a vida e por isso me divirto o máximo que posso,

aproveito cada minuto de felicidade. — Sorrio para ele, enquanto

entramos na piscina, a água está morna e tem poucas pessoas ao


redor, fico entre a parede e ele, admirando meu namorado.

Será que isso é real?


— Que foi? Poque está me olhando assim?
— Estou me perguntando se isso é real, se nós somos reais.

— Ele sorri, uma mão em minha cintura e a outra no batente da

piscina ao lado da minha cabeça.


— Quer que eu te prove o quanto somos reais? — vejo em

sua íris esverdeada um brilho de diversão.

— Como seria isso? — questiono, espelhando seu sorriso.


— Assim… — ele puxa minha nuca com a mão que antes

estava no batente e me beija, um beijo delicado e apaixonante. —

Quando se afasta passa o polegar sobre meus lábios.

— Muito real.
— Demais — concordo. — Mas preciso demais.

Sorrindo se aproxima e volta a me beijar.

A espera por David e Bianca é feita com muitos beijos risadas


e conversas sobre nossos cursos. Quando eles se aproximam sinto

na hora que tem algo errado, Bianca está mais calada e David
parece contido. Espero que Gabo vá com o amigo e me viro.
— Pode me contar tudo, bora desembucha, o que

aconteceu?
— Ele me beijou, o idiota me beijou.
— Como assim beijou? Assim, do nada?
— Amiga, eu estou tão confusa. Isso não pode acontecer!
— O que exatamente não pode acontecer, Bianca?
— Eu não posso me apaixonar pelo melhor amigo do meu

irmão. Não é certo e o Gabo nunca aceitaria. Você viu ontem como
ele ficou só com a hipótese de a gente ficar? Ele vai matar a gente.
— O Gabo não pode mandar em quem você vai gostar ou

não, Bianca. Ele é seu irmão e não seu dono — falo, seria.
— Ontem vocês quase brigaram por nossa causa, mal
começaram a namorar e já iam ter a primeira briga.

— Eu vou conversar com ele. Vou esperar o momento certo,


ele não pode agir assim, agora me conta, o que está acontecendo
entre vocês?

— Esse foi o nosso segundo beijo para falar a verdade —


confidencia, sem graça.
— O segundo? E porque só estou sabendo do primeiro

agora?
— Porque você já tem seu próprio drama para lidar, não

queria colocar mais coisas em cima de você.


— Você pode me contar tudo e qualquer coisa, nunca mais
me esconda nada. Agora vamos a questão, eu acho o David uma
pessoa incriável e seu irmão também acha se não, não seriam
amigos.
— É, porém não bom o suficiente para namorar a irmã dele

pelo jeito.
— Olha elaaa, deu dois beijinhos e já quer namorar —

zombo.
— Melhor do que você, que nem uma olhadinha ganhava e já
sonhava com o casamento — caçoa, rindo.

— Ridícula.
— Você vai enjoar de mim desse jeito. — reclama, manhosa.

Depois que voltamos do parque tomamos um banho e vim


para o quarto onde ela está dormindo, a intenção era ver um filme,
porém estamos a mais de meia hora nos beijando, paramos apenas

para pegar folego.


— Eu duvido que isso aconteça um dia — afirmo.
Passo o polegar contornando seus lábios e a imagem deles

inchados e vermelhos pelos nossos beijos consegue me deixar


ainda mais duro. — Mas você tem razão, estamos indo rápido

demais.
— Eu não acho que beijar seja ir rápido demais, porém,

preciso pausar nossos beijos para conversar um assunto um tanto

delicado com você — fala, um pouco apreensiva e eu tenho quase


certeza que sei sobre o que se trata. Me sento e a ajudo a se sentar

entre minhas pernas.


— Eu acho que sei sobre o que se trata, mas vou deixar você

falar. — Ela deita a cabeça no meu ombro e me olha de lado, me


beija e levanta sentando de frente para mim. Seus olhos brilham, ela

abre e fecha a boca várias vezes procurando o jeito certo de iniciar

a conversa.
— Gabo, eu gosto muito da sua irmã, nós nos tornamos

muito amigas e assim como você eu quero ver ela feliz e quero que

encontre uma pessoa bacana para namorar.


— Compartilho da mesma opinião — falo, aproveitando que

pausou seu discurso. — Mas esse cara legal não é o David,

esquece!
— E porque não? Gabo, ele é um cara incrível, é seu melhor

amigo e trata sua irmã muito bem. Tenho certeza que ele seria um
ótimo namorado. — Respiro fundo, não quero ser rude.

— Aly, ele é um cara quase que perfeito, mas não é o cara

que quero namorando a minha irmã.

— Mas você não pode decidir isso, Gabriel. Quem tem que

dizer se ele serve ou não para ela, é a própria Bianca.

— Eu não… — paro de falar com o toque do meu celular,


pela música sei que é a Thais e pela expressão da Aly, ela também

sabe.
— Será que você pode deixar para atender depois? Estamos
no meio de um diálogo importante — pede.

— Eu posso atender depois, o que não posso fazer é iniciar

uma discussão com você por causa deles. Está acontecendo

alguma coisa? Ela te contou se aconteceu alguma coisa entre eles?

— pergunto, desconfiado.

— Não, eu só acho… — meu celular volta a tocar, agora a


foto da Rachel aparece na tela. Aly, suspira e novamente aperto o

volume para tirar o som.

— Desculpa, pode falar.

— Eu só acho que você deveria ser mais flexível com eles,

qual o problema deles se relacionarem? Somos amigos, viu como

nós nos divertimos hoje?

— Aly, eu preciso que você respeite a minha… — a droga do


celular volta a tocar com a foto da Thais na tela. A encaro e ela

revira os olhos, se apoia em meus ombros e sai do meu colo para a

cama.

— Atende logo, Gabriel. — Dou um beijo em seus lábios e

levanto para atendendo.

— Oi, amor. — Atendo e congelo com o aparelho na orelha.


Mas que porra…
Olho para Alice e ela está com os olhos arregalados em

minha direção, levanta da cama e vai para o banheiro sem me


encarar. Porra.

— Gabriel, está me ouvindo, Alô? — ouço a voz desesperada


do outro lado da linha, não é a Thais.
— Oi, Rachel. Estou ouvindo.

— Gabo, é a Thais, ela bebeu demais, eu cheguei na casa


dela e a encontrei desmaiada no banheiro. — Fecho os olhos e sinto

meu corpo tensionar. — Faz quanto tempo que ela está desmaiada?
Tem certeza que é só bebida?

— Eu não sei, tem várias garrafas de bebidas, não vi mais


nada, eu cheguei agora, não sei a quanto tempo está assim, eu…
me desculpa te ligar assim, você foi a primeira pessoa que me veio

na cabeça.
— Você fez certo, Rachel, eu chego aí em quinze minutos,

tenta colocar ela debaixo do chuveiro, água fria e faz um café bem
forte. — Quando me viro Aly está de braços cruzados encostada na

porta do banheiro. Parece preocupada, mas sem dúvidas está com


raiva e com razão. Desligo o celular sem ouvir o que Rachel está
falando e ando até ela. — Me perdoa, por favor. Foi a força do

habito, eu…
— Claro, até ontem vocês estavam juntos e era assim que

você a chamava — fala, polida demais para o meu gosto. — O que


houve com ela?

— Rachel a encontrou desmaiada em casa, disse que tem


várias garrafas de bebidas espalhadas pela casa, mas não sabe se

ela usou algo mais.


— Você vai até lá?
— Eu preciso ir, amor, eu… — Ela fecha os olhos com a

expressão que uso.


— Vai logo, conversamos quando você voltar. Me mantém

informada, tá legal?
— Claro — respondo. Me aproximo para lhe dar um beijo,
mas ela se afasta um pouco, deixando apenas um selinho em meus

lábios.
Desço as escadas correndo, na sala David e minha irmã

estão vendo um filme, aparentemente inofensivo, perco um tempo


os observando, isso não vai dar certo. Pego as chaves do carro sem

falar nada e saio, estão tão interditos que nem me veem saindo.
Dirijo o mais rápido que posso me sentindo duplamente culpado.
Nem a Aly e nem a Thais merecem estar nessa situação.
— Gabo, que bom que você chegou. — Rachel me

recepciona.
— Oi, Rachel, vim o mais rápido que pude. Como ela está?

— Consegui dar um banho nela e a coloquei na cama,


acordou algumas vezes, mas meio débil e só ficava repetindo seu

nome.
Entro e vou direto para o quarto dela, o cheiro de bebida é
forte, vi algumas garrafas pela sala e próximo a cama. Tento ver se

acho algum vestígio de picadas de agulha em seus braços, mas o


que vejo é um pó branco no criado-mudo. cocaína, sério Thais.

Me viro para Rachel que está em pé próximo a porta.


— Ela falou alguma coisa?
— Só disse que vocês tinham terminado, mas eu não estava

na cidade, cheguei hoje e vim direto para cá, quando cheguei ela
estava desmaiada.

— Porque ela não me ligou? — penso alto.


— Porque você terminou com ela, Gabo. Acha mesmo que
ela se humilharia te ligando? Porque você fez isso afinal?
— Nós já não estávamos bem a tempos, Rachel.

— Você está com outra pessoa? — pergunta. Seu tom é de


acusação.

— Você ouviu o que falei? Não estávamos bem!


— Não precisa me agredir por causa da sua confusão,
Gabriel. Todo mundo erra, o relacionamento de vocês parecia que

estava indo muito bem, até que sua irmã decidiu vir morar com você

e fazer a filha da Carrie - A estranha virar a Cinderela.


— É exatamente por esse motivo que terminei com ela e é

por esse mesmo motivo que o David não assume um

relacionamento sério com você. Vocês duas gostam de humilhar as

pessoas, o olhar de menosprezo que dão as pessoas que não são


do agrado de vocês. Nós não somos assim Rachel. Eu não gosto

dessas coisas, não somos melhores do que ninguém.

— Engraçado, isso não parecia incomodar você já que estão


juntos a mais de cinco anos — acusa.

— Talvez eu nunca tenha parado para prestar atenção em

como esse comportamento pode ser contagioso e doentio.


— Ou talvez você não passe de um babaca traidor que agora

teve uma crise de consciência. A quanto tempo você está pegando


a vizinha e traindo sua namorada, Gabo? — fecho os olhos tentando

buscar um equilíbrio, não sou bom em lidar com provocações,

provavelmente se ela não fosse uma garota não teria tido chance de
terminar a frase.

— Eu não te devo satisfação, Rachel. Você por coincidência

da vida é amiga da minha ex namorada e líder de torcida da minha

equipe e é só por isso que anda no meu círculo de amizade. — Ela


abriu a boca para me responder, mas Thais se meche na cama

chamando nossa atenção.

— Gabo? — pergunta, confusa.


— Oi — digo, me aproximando e sentando ao seu lado. —

Como se sente?

— O que aconteceu? O que você está fazendo aqui?


— A Rachel me ligou dizendo que você estava passando mal,

ela te encontrou desmaiada.

— Ela não deveria ter te ligado. — Reclama, escondendo o

rosto. — Estou bem!


— Não, ela não deveria! Quem tinha que ter me ligado era

você, dizendo que as coisas estavam indo mal e você não estava
suportando. Eu teria vindo antes que você fizesse toda essa

bagunça.

— Você terminou comigo, Gabriel. Porque eu ligaria para te


pedir qualquer coisa e principalmente, o que te faz pensar que eu

admitiria qualquer tipo de fraqueza para você? — seus olhos

enchem de lágrimas.

— Eu estou aqui de qualquer forma, não estou? O que


adiantou o esforço de me deixar longe para fazer merda?

— Está, mas não por que eu chamei, jamais chamaria

sabendo que você pode já estar tocando sua vida com outra
pessoa.

— Thais, eu sei o quanto está sendo difícil para você, mas

não me importa com quem eu esteja, antes de mais nada nós

somos amigos e se depender de mim vamos continuar sendo, não


importa com quem eu toque minha vida daqui para frente, o que

importa é que você sempre fará parte dela. Não mais como minha

namorada, mas como alguém por quem tenho um imenso carinho e


cuidado.

Thais se mexe tentando me afastar.

— Tudo isso é só porque você fez uma promessa e se sente

na obrigação de permanecer me deixando na linha.


— Seu pai já deveria estar aqui com você? Que tipo de

obrigação eu teria com ele aqui? — questiono. — Você não é uma


obrigação minha, mas é a pessoa com quem passei a maior parte

dos meus dias desde que me mudei para cá, é a pessoa com quem

mais compartilhei coisas. Somos mais do que uma promessa, Thais.


— Será que ela, a pessoa por quem você está me deixando

vai aceitar isso? Essa nossa ligação?

— Ela, seja quem for, terá que aceitar — afirmo, mais para

confortar ela do que realmente acreditando que Aly vá concordar tão


facilmente.
Passei a noite inteira esperando o Gabo voltar, mas ele não

veio, amanheceu e eu ainda estou à beira da piscina, um milhão de


pensamentos me ronda. Será que ele se arrependeu? Será que
voltaram? Será que meu felizes para sempre só duraria 42 horas?

— Posso? — a voz de David me assusta.


— Você me assustou, como sempre — brinco. — Claro que
pode.

— Você precisa dormir, ficou aqui a noite toda. Ele não ligou?
— Não, nem se quer uma mensagem — confesso, mostrando

minha frustração.
— Talvez tenha sido mais sério do que pensamos — conclui,

pensativo.

— Mais um motivo para ele ter entrado em contato, pelo


menos com você que também é amigo dela.
— Aly… não sou amigo dela, minha amizade é com o Gabo,

ela fazia parte da equação por ser namorada dele e também por ser
a capitã das líderes de torcida do nosso time. Muitas coisas tirando

o fato do namoro deles ainda vão nos ligar após o término. Se parar

para pensar você só irá se livrar parcialmente da Thais após a


formatura da faculdade, ou seja, serão anos de convivência que vai

requerer paciência e maturidade de vocês dois.

— Eu tive muita paciência enquanto ele não me via, não sei


se terei paciência de esperar mais uma eternidade para que seja só

meu. Será que vai ser assim sempre? Toda vez que ela ligar ele vai

me largar e sai correndo?


— Posso ser sincero? Conhecendo bem o Gabo, é

exatamente assim que vai ser. Ele nunca vai deixá-la na mão, não
por amor, mas por outros motivos que só cabe a ele te contar. —

Fecho os olhos, tentando advinha quais seriam esses motivos e se

serei capaz de compreendê-los. E mais uma vez tenho os braços do

meu amigo me consolando.

— Eu também sou consequência de uma equação? —

pergunto.
— Não entendi.
— Você disse que só se aproximou da Thais por ela ser
namorada do seu amigo e ser líder de torcida do time de vocês.

Agora eu sou exatamente tudo isso. Líder de torcida e namorada do

seu amigo, consequentemente, faço parte da equação.

— Não seja boba, você se tornou minha amiga antes de se

tornar namorada dele.

Estava me preparando para voltar para casa quando Gabo

chegou, eu não desci e ele não subiu. Tento me concentrar em

guardar minhas coisas, mas só penso no que ele está fazendo e

porque ainda não veio falar comigo.

Entro no banheiro, tomo um banho demorado e quando saio

encontro ele na minha cama, parece ter acabado de sair do banho


também, seus cabelos negros como a noite estão molhados e

algumas gotas escorrem para seu rosto. Nenhum de nós dois

abrimos a boca para falar nada, ando em direção a mochila e

guardo a roupa que acabei de tirar.


— Em uma escala de um a dez, qual o grau da sua raiva de

mim? — Voz rouca, olhos baixos, respiração pesada. Culpa e


arrependimento talvez.

— Não estou com raiva, decepcionada e triste sim, com raiva


não — respondo, sem o encarar.
— Pode me dizer o nível desses dois sentimentos, para que

eu possa me redimir de alguma forma?


— Vou dizer o nível e o porquê e aí vemos se você consegue

algo a partir disto. — sento aos pés da cama, mantendo uma certa
distância, porém encarando-o nos olhos. — Sabe, eu realmente me

orgulho de você ser uma pessoa leal, de se importar com ela a


ponto de me deixar aqui sem saber como me sentira sobre isso, fico
feliz ao ver o quanto se dedica aos seus amigos e irmã, o que me

deixou triste foi a sua falta de consideração comigo ao me deixar


sem notícias, você tem noção de quantas coisas se passaram na

minha cabeça? Que talvez você tivesse se arrependido e voltado


com ela. Que ela tinha convencido você a ficar com ela por mais

uma noite, tantas coisas, Gabo — ele faz menção de falar, mas o
calo levantando minha mão para mostrar que não acabei. — Eu
entendo que não vai ser fácil para você se desligar dela e mesmo

que você fique chateado eu preciso te alerta sobre algo. A Thais é


uma pessoa ardilosa, Gabo, e ela fará de tudo para que não

tenhamos um momento de paz juntos, tenho certeza que armará


coisas como essas para te ter sempre nos braços dela e pelo que vi

hoje ela irá conseguir isso facilmente. — Dessa vez ele não se
segura.

— Você acha que ela se embebedou e se drogou só para


conseguir minha atenção? — pergunta, parecendo incrédulo e a
forma que fez isso me irritou mais, porém, não vou demonstrar isso

a ele.
— Conseguiu não foi? Você passou a noite com ela e não

duvido que tenha sido na mesma cama, como fez durante todos
esses anos, esquecendo que agora você se comprometeu com uma
outra pessoa, talvez eu esteja sendo ridícula, por estar querendo

exigir algo de uma pessoa que mal comecei a sair, mas ponha-se no
meu lugar. Você a chamou de amor na minha frente.

— Eu já expliquei sobre isso, foi sem querer, sobre a minha


falta de aviso, eu fiquei sem bateria, não achei um carregador e

depois quando ficou tarde fiquei com medo de te acordar — ele faz
uma pausa, respira fundo e volta seu olhar para o meu. — Eu não
acredito que você acha que ela estava fingindo. Você não tem

noção do estado que ela estava.


— Não vou discutir com você, estou arrumando minhas
coisas para ir pra casa, ia pedir para que você fosse comigo, não
queria encarar minha mãe sozinha, mas pelo jeito você está muito

cansado, então durma e nos falamos outra hora. — Me levanto da


cama, mas ele salta e segura meu braço.

— Deixa eu dormir por meia hora, faço questão de ir com


você, eu disse a ela que te levaria hoje depois da faculdade e
acabou que nem fomos. Me desculpa por todas as gafes que cometi

com você nesse meio tempo, eu prometo que não vai se repetir e se
não for pedir muito, queria que você deitasse aqui comigo, já que

pelo visto você também não dormiu.


Pondero e penso em como senti medo de o perder sem

saborear direito como é estar com ele, me aproximo e deito ao seu


lado.
Assim que sinto sua respiração pesada e me certifico de que

ele está dormindo me levanto, mesmo ele tendo tomado banho


posso sentir o perfume dela impregnado nele, me deixando enjoada

e insegura.
Um mês depois
Eu tinha toda razão e meu relacionamento se tornou um
relacionamento aberto. Aberto para Thais, pois eu tinha que dividir a

atenção do meu namorado com ela praticamente todas as noites.

Todos os nossos momentos eram atrapalhados por uma ligação,


uma mensagem ou a aparição dela sem aviso.

Me sinto cansada e sobrecarregada.

Estou sentada na arquibancada observando Gabo interagir

com a ex.
Na noite em que ele voltou da casa dela e pediu para dormir

comigo não suportei o cheiro dela nele mesmo depois de um banho,

e o pensamento de que aquele cheiro talvez nunca fosse sair dele


está cada vez mais firme em minha mente. Quando ele acordou e

me levou para casa, outro susto.

Ao colocar a chave na fechadura ouvi minha mãe gargalhar.


Parecia feliz e completa e aquilo me enlouqueceu porque ela só ria
assim na presença de uma pessoa. Meu pai.

Olhei para Gabo atrás de mim não podendo acreditar que ela
tinha colocado aquele homem em nossa casa mesmo com tudo que

aconteceu, mesmo depois da nossa briga. Gabo me incentivou a

abrir a porta e para minha surpresa e alívio o homem que estava na


cozinha não era o meu pai, era Berry.

Eles ficaram sem graça quando me notaram e Berry explicou

que tinha ido lá para me ver e saber como eu estava, mas acabou

ficando para o jantar, ambos visivelmente sem graça. Mas aquilo


aliviou toda a tensão do fim de semana. Me desculpei com minha

mãe pela forma dura que a tratei e me desculpei com Berry por tê-lo

chamado de idiota.
Passamos uma boa parte de tempo conversando e

apresentei Gabo como meu namorado, ouvimos as reprimendas da

minha mãe e até do Berry que disse que se sente responsável por
mim também, já que cuida de mim desde que coloquei os pés pela

primeira vez no pub. Eles achavam que nossa relação estava

começando de forma errada e rápida demais, bom, para Gabo sim,

mas para mim demorou uma eternidade. Porém, parando agora


para pensar, realmente começamos errado.
Olho mais uma vez meu namorado passar uma lista para

Thais e ela sorri em aprovação. Eles estão debatendo sobre o jogo

da semana que vem. Mas uma desculpa para grudar nele, a Capitã
do time de líderes de torcida tinha que ter uma boa interação com o

Capitão do time de basquete.

— Está difícil segurar o ciúme? — Bianca se sentando ao

meu lado.
— Seria estranho dizer que estou quase acostumada a dividi-

lo com ela?

— Seria extremamente insano.


— Estou cansada, Bia — confesso — Essa semana já

brigamos três vezes e sempre pelo mesmo motivo, na verdade em

um mês de relacionamento posso contar no dedo quantas vezes

não brigamos.
— Sinto muito, amiga — lamenta — Eu já tentei conversar

com ele, mas ele não aceita. Acha que estou de conluio com você e

implicando com a Thais por não gostar dela também.


— Ela o manipula tão bem que já não tem mais medo, sabe

que eu posso simplesmente cansar e deixar que ele fique com ela

de vez. — Essa é a primeira vez que confesso em voz alta o que

venho pensando nas últimas semanas.


— Amiga…

— Não, Bia, eu vou conversar com ele depois do jogo da


semana que vem e aí ele vai ter que decidir o que quer para a vida

dele. Porque eu já sei o que eu quero da minha, e pode ter certeza

que não é um meio namorado em tempos intercalados. Nós nem


conseguimos ter nossa primeira vez ainda.

Aproveito o silêncio da minha amiga e me lembro como foi o

dia que quase tivemos nossa primeira vez.

Estávamos curtindo um churrasco na casa do David, o pai


dele estava indo viajar mais uma vez e ele quis conhecer a irmã do

Gabo e a nova namorada. Quase rolou um estresse quando antes

de ir embora o pai do David disse que adoraria ter Bianca como


nora. Passado o embaraço curtimos a tarde na piscina e depois

fomos descansar, o clima estava esquentando entre Gabo e eu

quando o celular dele tocou. Decidimos ignorar.

As minhas mãos estavam em toda parte, passeando em seu


corpo, conhecendo meu namorado mais intimamente. Ele beijava

meu pescoço como se beijasse minha boca, sempre muito

carinhoso, uma de suas mãos estava desabotoando o sutiã quando


o telefone voltou a tocar. Mais uma vez ignoramos.
Os beijos foram descendo até que ele pairou sobre meus

seios, os encarou como se estivesse indeciso por qual do dois

deveria começar, o problema era que enquanto ele decidia minha

ansiedade aumentava, a respiração morna dele batia em minha pele


e me deixava mais nervosa. Quando finalmente decide sinto sua

boca delicadamente saborear como se fosse um doce irresistível,

primeiro lento e carinhoso e logo tudo se tornou mais intenso, a


carícia se tornou fortes chupões e leves mordidas, Gabo intercalava

entre um seio e outro nunca negligenciando nenhum. Depois do que

pareceu uma eternidade ele desceu os beijos, intercalando entre,

beijo, lambida e mordida. Eu estava completamente entregue,


quando chegou na altura do meu ventre decidiu me torturar mais,

indo para os meus pés, fazendo uma breve massagem, panturrilha,

coxa e finalmente, finalmente ele chegou ao centro do meu prazer,


só que o telefone começou a tocar mais uma vez e então várias

batidas na porta do quarto. Gabo me deixou na cama e correu para

a porta, quando a abriu Thais se jogou em seus braços chorando.

David estava atrás dela, e desconforto o definia.


— Me desculpa, eu abri a porta e ela já saiu entrando e

correndo para cá.

Frustrante, decepcionante e mais uma noite de brigas.


— Ele disse que não sabe mais o que fazer, também está

sobre carregado, ainda mais com os jogos se aproximando. — Bia


também parece cansada e como sempre eu não posso a deixar

dividida entre seu irmão e eu, por isso evito contar muitas coisas

para ela.

— Deve ser exaustivo mesmo manter duas mulheres e ainda


ter que dar conta de um time inteiro de basquete. — rebato. Estou

mesmo magoada, Gabo levanta a cabeça e me encara, sorri, mas

não o correspondo, apenas o encaro me perguntando se não é a


hora de pular desse barco.

Depois de passarem tudo ele segue em nossa direção com o

sorriso nos lábios.


— Você está me deixando preocupado, porque está tão séria e não

está correspondendo a nenhum dos meus sorrisos?

— Só estou pensativa. — respondo, sem emoção.

— Posso saber sobre o que são esses pensamentos que estão


impedindo a garota mais doce que já conheci na vida de sorrir?

— Não são os meus pensamentos que estão me impedindo de

sorrir, Gabriel, é o fato de perceber que talvez eu tenha feito as


escolhas erradas, mas aqui não é a hora e nem o lugar par

discutirmos sobre isso.


— Eu me sinto um merda por não conseguir ser o suficiente para
você, por não ser capaz de te fazer feliz. — Confessa em um

sussurro.

— Acontece que eu seria feliz se realmente tivesse você, mas eu


não tenho, não por completo.

— Eu te amo, Aly e juro que estou me esforçando.

— E você não vê o quanto isso é errado? Você não deveria se


esforçar, deveria me amar e ponto, mas não, seu amor por mim tem

uma virgula, e essa virgula está matando a gente.

— Gente, aqui não é o lugar para discutir relação, vocês estão

sendo observados. — Olho para Bianca e depois sigo seu olhar e


Gabo faz o mesmo, mais a frente Thais e Rachel estão de braços

cruzados nos encarando, quando ela percebe que a estou

observando também sorri para mim, seu sorriso carregado de


vitória.

— Pelo menos alguém está sorrindo além de você, amor. — alfineto.


Gabo se levanta e estende a mão para que eu a segure, fico
indecisa e ele perde a paciência e me puxa me pondo de pé.

— O que você está fazendo? — questiono.


— Vamos dar uma volta antes do treino começar e mais tarde,
depois do jogo vamos sair, só nós dois. — responde me arrastando
para fora.
Gabo me leva até seu carro no estacionamento, se recosta nele e
me puxa para seus braços, mas o cheiro dela está impregnado nele

de novo e tento me afastar.


— Não quer me abraçar também? — indaga sem afrouxar o aperto.
— Você está com o cheiro dela em você de novo e já disse que me

deixa enjoada.
— Eu sei como podemos resolver isso — declara e eu o encaro. —
Basta você ficar aqui comigo e me agarrar, me beijar e se esfregar

em mim até que o único cheiro que fique seja o seu e o da sua
excitação.
Eu tento me manter séria, mas não consigo e acabo rindo. Gabo

arrasta o polegar sobre meus lábios e sorri.


— É assim que quero te ver, sorrindo, sempre, seu sorriso ilumina
minha alma escurecida, Aly. Você é a luz que brilha na minha

escuridão e só Deus sabe o quanto me doí saber que não estou


fazendo o suficiente para eternizar o sorriso nesses lábios perfeitos.

— Eu te amo — confesso. — Mais do que consigo demonstrar, eu te


amo.
— Meu anjo, eu também te amo, juro que nunca me senti o que

sinto quando estou com você, quando te vejo sorrindo para mim e
cada vez que você diz que me ama sinto meu coração disparar.
— Promete que vamos conseguir passar por tudo isso, que vamos
ser felizes e viver nosso amor? — suplico chorosa em seus braços

fortes.
— Eu prometo, meu anjo, eu prometo.
— Sabe se ele já chegou? — Gabo questiona. Hoje é o dia

que meu pai vai se apresentar no campus, trabalhará aqui durante


um tempo, apesar de ele ter chegado a um mês, graças a Deus
ainda não tive o desprazer de encontrá-lo, mas a partir de hoje não

dar de frente com ele é praticamente impossível. Amanhã ele estará


na nossa aula de artes.
Gregory é diretor de intercambio, boa parte dos alunos

bolsistas veio através dele, o que por muito tempo me incomodou,


muitas vezes o pensamento de estar aqui por que meu pai é diretor

do intercambio me assombrou, mas não! Estou aqui por mérito meu!


— Não, e não quero pensar sobre isso. Prefiro evitar ao

máximo.

— Entendo, eu preciso ir para minha aula, nos vemos no


intervalo?
— Claro! Espero que a sua outra namorada não decida

sentar com a gente hoje, se esfregando em você.


— Achei que já tínhamos conversado sobre isso — responde,

sério.

— Ué, mas o fato de a gente ter conversado não significa que


aceite, Gabo. De hoje não passa, você vai ter que escolher, se ela

sentar eu saio e se você não falar eu falo. E te garanto que não vou

ser nada amigável. Estou cansada das pessoas me tirarem de


idiota.

Gabo exala fundo me olha e sorri.

— Estou cada vez mais impressionado com a sua mudança.


Embora eu fosse adorar ver você rolando no chão com outra garota

por mim, falarei com ela.


— Nossa, não sabia que você era desses machistas

arrogantes. Tenho que rever minhas escolhas para namorado —

reclamo. Antes mesmo de terminar a frase machista ele já estava

rindo.

— Acho bom o casal desgrudar antes que se atrasem para a

aula. — David chega nos tirando da nossa bolha. Tenho sentido ele
tão tristonho ultimamente.
— Oi, bebê. Preciso falar com você, pode ser no intervalo
depois do almoço? — indago, saindo dos braços de Gabo.

— Pode, claro. — diz, sorrindo. Gabo nos olha desconfiado,

mas não diz nada, caminhamos juntos, mas no fim do corredor eles

viram para o lado oposto. Próximo a minha sala vejo Thais

encostada na parede conversando com um homem, fico parada

porque estão perto da porta. Ela faz alguns movimentos com o


braço, é estranho porque eles parecem ser bem próximos, quase…

Íntimos. Perco o ar quando ele estende a mão e faz um carinho no

rosto dela, Thais fecha os olhos e sorri para ele. Eles se afastam e

viram em minha direção. Quase morro ao olhar nos olhos do

homem.

Pai.

Eles paralisam assim como eu, ele solta os ombros dela e dá


um passo vacilante a frente, mas para ao ver minha cara de

incredulidade. Ele está tendo um caso com uma aluna, está tendo

um caso com a Thais.

Saio dali correndo, posso ouvir ele me chamar, mas sua voz

me causa ânsia de vômito. Vou direto para o estacionamento, sei

que ele não me seguiu, vi quando Thais o segurou.


Mando mensagem para Bianca, porque não sei o que fazer,

não posso falar isso para o Gabo.


Em dez minutos Bianca chega no meu carro, está vermelha e

sem folego, entra e conto com detalhes tudo que vi.


— Amiga, eu nem sei o que te dizer — confessa. — Mas de
uma coisa tenho certeza, você precisa contar o que viu para o meu

irmão.
— Acha que ele vai acreditar em mim? — Pergunto, insegura.

— Eu não sei, mas será muito pior se ele descobrir depois e


daí você dizer que já sabia e não contou para ele e outra coisa, bem

mais importante, você deve contar para sua mãe.


— Eu sei, para ela sem dúvidas vou contar, ela precisa saber
o canalha que o ex-marido é, além de adultero é pedófilo, a Thais é

só um ano mais velha do que eu, poderia ser minha irmã.


— Estou chocada de verdade, mas sabe o que é pior, pelo

que você me falou eles nem estavam se escondendo. Quer dizer,


como ele vai ter um caso com uma aluna no campus que vai

trabalhar e nem ao menos tenta disfarçar.


— Eu não sei, Bia. Mas se eu já odiava meu pai, agora eu o
odeio mais e me enojo só de pensar no nome dele.
Não espero o horário da saída, peço para Bianca falar para

Gabo que não estava me sentindo bem e vou para casa, quero
aproveitar que hoje minha mãe está de folga e meus irmãos estão

no colégio para poder falar o que descobri para ela.


— Mãe, Mãe, cadê você? — chamo, assim que entro em
casa.

— Estou aqui em cima, Alice! — grita.


Subo as escadas correndo e entro em seu quarto, ela está

concentrada arrumando o guarda-roupa.


— Porque chegou tão cedo? — pergunta, sem se virar.

— Eu vi meu pai — falo, sem rodeio e ganho sua inteira


atenção.
— Falou com ele? Ele te disse alguma coisa? — questiona,

apreensiva.
— Não, ele não falou nada, estava ocupado demais

assediando uma aluna que tem idade para ser filha dele. — Minha
mãe coloca as mãos no rosto e suspira. Quando me olha não
parece nem um pouco surpresa.
— A senhora não está indignada de saber que seu ex-marido

além de infiel é pedófilo?


— O que você viu exatamente, Alice? — pergunta. Calma

demais para o meu gosto.


— Ele estava no corredor alisando uma menina.
— Alisando como? Onde estavam as mãos dele?

— A senhora só pode estar de brincadeira — quase grito com


ela, e isso não a abala. Ela depois de tudo ainda confia nele, ainda o

defende.
— Me responda o que perguntei.

— Ele estava fazendo um carinho no rosto dela, parecia feliz


e satisfeito e ela mais ainda — acuso.
— Filha, ele não estava assediando essa menina. Você, pelo

menos, tentou conseguir uma explicação com ele?


— Mãe, ele estava alisando-a no corredor da faculdade, que

tipo de explicação você acha que ele teria para isso? Quando você
vai entender que ele não presta? Porque parece que ter
abandonado você com duas filhas e grávida não foi o suficiente para

te convencer — grito. Estou exausta e confusa.


— Você não tem noção do quanto me doí quando me julga
assim. — vejo lágrimas surgirem em seus olhos, e meu coração
aperta.

— Mãe, ele nos faz mal! Desde que soubemos que ele
estaria aqui não temos um dia de paz e agora que chegou, que

descobri isso, as coisas só vão piorar, mas a senhora prefere ficar


ao lado dele, mesmo com tudo isso.
— Quando você der uma oportunidade dele se explicar toda

essa sua raiva vai diminuir um pouco. Eu te garanto, Aly.

— Sabe quando a minha raiva dele vai passar? Nunca! E se


a senhora insistir em ficar ao lado dele, defendendo, colocando

panos quentes, nossa relação ficará insuportável.

Estatuas e cofres e paredes pintados, ninguém sabe o que

aconteceu.
Ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de

entender,
Dorme agora, é só um vento lá fora.

Quero colo! Vou fugir de casa, posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo, tive um pesadelo, só voltar depois das três.

– Renato Russo

Eu tenho um amor especial com as músicas da legião

urbana, elas me fazem refletir. Coloco o violão na base ao lado da

minha cama e me assusto ao ver o Gabo parado na porta.

— Me desculpa, não queria te assustar, cheguei e você


estava tão concentrada e resolvi não atrapalhar, fiquei só aqui

admirando minha namorada linda, cantando com tanto afinco uma

música que diz muito sobre o que nós dois vivemos.


Sorrio porque ele tem razão, essa música diz muito sobre nós

dois. Nossa história é bem parecida, a diferença é que o pai dele

não foi embora por ter outra família e sim por não saber lidar com
uma esposa viciada. Olhando para ele me sinto obrigada a

agradecer por ter a mãe que tenho.

— Entra, amor — chamo.

— A Bia me falou que você estava se sentindo mal e veio


embora, fiquei preocupado, mas não podia faltar ao treino, tentei

ligar e mandei inúmeras mensagens e fui ignorado. O que houve?


— Entrei correndo e deixei minhas coisas no carro. Me

desculpa. — Chego perto dele e beijo seus lábios.

— Vai me contar o que houve? Você estava ótima quando foi


para sala, até me ameaçou.

— Eu vi meu pai, ele estava com uma aluna e tudo que posso

falar agora é que não era um papo de aluna e professor, eles

estavam bem íntimos.


— Como assim, Aly? Está me dizendo que seu pai está tendo

um caso com uma aluna?

— Sim! Embora minha mãe ache que interpretei o ato de


forma errada.

— Aly, olha para mim — pede — Tem certeza do que você

está falando, isso é muito sério e se você estiver interpretando

errado só por que está com raiva dele pode dar um problema
grande. Quem é a garota?

— Qual o problema de vocês? Você e minha mãe ficam

defendendo-o.
— Aly, não estou defendendo, mas pensa comigo, você acha

que se seu pai estivesse mesmo saindo com uma aluna ele daria

mole de ser pego assim tão facilmente? Fora que ele começou hoje,

como conseguiu uma conquista tão rápido?


— Gabo, meu pai é diretor de intercambio, é muito provável

que ele tenha dado a bolsa para amante dele estudar lá — acuso.
— Nossa, que engraçado — comenta, distante.

— O que tem de engraçado nessa história, Gabriel?

— Nada, amor. Você não me respondeu, quem era a


menina? — respiro fundo, mas decido falar de uma vez, talvez essa

seja a chance de ter meu namorado só para mim.

— Era a Thais.

Gabo fica me encarando por um tempo, depois seu rosto se


contorce em uma careta de incredulidade, ele xinga baixinho.

— Não pode ser… — Antes que eu o indague ele se levanta

da cama e se afastando de mim, vai para porta e quando penso que


ele vai sair, se vira para mim.

— Qual o nome do seu pai, Aly?

— Gregory.

Gabo sai em disparada me deixando confusa e


desacreditada. Depois de uns cinco minutos pensando que ele me

deixou sozinha para tirar a história a limpo com a namoradinha

desço e o encontro na cozinha falando baixo com a minha mãe.


Achei que ele tinha ido embora.
— Não quero me meter, mas vocês precisam conversar com

elas, como eu fico nesta situação? Como vou lidar com as duas? —

indaga parecendo furioso.

— Posso saber sobre o que vocês estão falando? Achei que


tinha ido embora tirar satisfação com a sua outra namorada, Gabriel.

— Alice, não vou discutir com você, sua mãe irá te explicar

melhor, mas agora preciso ir. — Ele vai até a porta e antes de sair
fala. — Eu demorei para perceber e sei que fui burro, mas eu estou

realmente apaixonado por você e preciso que confie em mim.

Olho para minha mãe assim que ele bate à porta. Vejo nos

olhos dela que a explicação que ele disse que viria dela não
acontecerá, então volto para meu quarto.
Chego em tempo recorde na casa da Thais, eu não acredito

que isso está acontecendo.


Assim que toco a campainha ela abre a porta toda sorridente,
quando me vê seu sorriso alarga.

— Gabo? O que aconteceu? — pergunta, surpresa.


— Oi, eu na verdade vim falar com o seu pai, ele está aí? —
vou direto ao ponto.

— Está no escritório, mas sobre o que é o assunto?


— É particular, posso ir até lá? — vejo o desapontamento em

seus olhos, mas logo ela sorri e me deixa passar, ficando na sala.
Chego ao escritório e a porta está entre aberta, Gregory

parece distraído lendo um livro.

— Posso entrar? — pergunto, chamando sua atenção.


— Claro, Gabriel! Estou feliz que finalmente nos

encontramos, desde que cheguei temos nos desencontrado e não te


vi hoje na faculdade. — diz, todo cordial.

— Gregory, eu vou direto ao ponto porque não estou com


muito tempo. — ele ajeita a postura percebendo que não é uma

visita formal.

— Claro, aconteceu alguma coisa? — questiona,


preocupado.

— Não sei se já foi informado, mas sua filha e eu

terminamos. — Ele parece surpreso.


— Não, a Thais não me falou nada, pelo contrário, toda vez

que chego ela diz que você esteve aqui.

— Pois é, eu venho sim, mas para ajudá-la, não está sendo


fácil para ela aceitar o fim do nosso relacionamento, mas a grande

questão não é essa, acontece que eu estou em um novo


relacionamento e acabo de descobri que continuo sendo seu genro.

— Seu rosto revira em confusão, e logo depois a clareza.

— Não pode ser… — diz, perdido em pensamentos.

— Você está querendo dizer que está namorando a Alice?

Mas como você soube que…

— Simples, ela viu você e a Thais juntos no corredor da hoje


e achou que o pai, que até então eu não sabia quem era, estava

tendo um caso com uma aluna.


— Eu imaginei pela cara que fez que tinha sido esse o
pensamento dela. Mas não deu para alcança-la porque a Thais me

segurou pedindo para esperar mais um pouco, disse que não está

preparada para enfrentar isso tudo ainda.

— Como assim? Você está me dizendo que a Thais sabe

dessa história toda, sabe que ela e a Alice são irmãs? — pergunto,

incrédulo.
Como ela pode saber se nunca...

— A Thais sempre soube, Gabriel. Nunca escondi dela e nem

da mãe dela enquanto viva, o quanto amava a Victória e meus

filhos, antes de mandar vocês para cá, mostrei a Alice e disse que

ela estudaria na mesma escola que vocês, incentivei ela a se

aproximar da irmã, tentar ser amigas para quando chegasse esse

momento as coisas serem mais fácies, mas a Thais é uma pessoa


muito difícil de lidar, assim como a mãe dela era! Ela não só se

recusou a ser amiga da irmã como pelo que soube se tornou rival.

Acho que é notória a minha raiva e indignação, já que ele

para de falar e me encara com condolência.

— Ela nunca me contou nada, tentou me deixar longe da Aly

o máximo possível, inferniza o meu namoro com ela, me busca


constantemente pedindo ajuda e eu…
— E você faz exatamente o que eu fiz a vida inteira! Cede as

chantagens emocionais, abdica da sua vida para cuidar dela, e tudo


isso por minha culpa! Porque nada do que você fez até aqui é

responsabilidade sua, Gabriel. Mas quando você conheceu a Thais


eu estava no momento de fragilidade total. Confesso que amei muito
a mãe dela, mas as bebidas, as drogas, os outros caras... Me

afastaram, aquela não era a vida que eu queria para mim, e daí eu
conheci a Victória, mãe da Aly. Ela era a menina mais linda e pura

daquele colégio, vi nela a chance de realmente viver algo bom e


calmo. Um dia Elaine teve uma crise psicótica e eu estava no meu

primeiro encontro oficial com Victoria, um dos nossos amigos me


ligou e eu corri para ajudar, quando cheguei em casa a Victoria
estava lá, me esperando, disse que estava apaixonada por mim,

não só pela forma que eu a tratava, mas também como não tive
medo de deixá-la após nosso primeiro beijo para ajudar uma pessoa

que obviamente não estava sobre sua normalidade. Ali eu vi a


mulher da minha vida.

Depois de um tempo, firmamos nosso namoro e as coisas


estavam indo bem até sua mãe junto com a da Thais terem a ideia
de dizer que Elaine estava grávida de mim. Tudo aconteceu rápido

demais, Victória e eu terminamos, voltei com a mãe da Thais, e


quando ela estava de cinco meses descobri que o filho não era meu.

Victória mesmo depois do término continuou minha amiga, e foi a


primeira pessoa que procurei para contar tudo, eu não estava triste

por ter sido enganado e sim aliviado, mas ela não aceitou voltar
comigo, um dia recebi uma ligação da Elaine dizendo que estava

passando mal, quando cheguei na casa dela a encontrei desmaiada,


tinha sangue, bebida e drogas. Naquele dia ela perdeu a criança. Eu
fiquei arrasado, tentei consolá-la, mas ela estava bem, ao entrar no

quarto do hospital estava rindo com a sua mãe, parecia que não
tinha acontecido, e quando questionei, ela me disse que já que o

filho não era nosso, foi bom que tivesse morrido.


A recuperação dela foi boa. Umas semanas depois eu tive
que vir para Charlotte, pois minha mãe tinha sofrido um AVC,

aproveitei a situação e decidi que não voltaria para o Brasil, passei


dois anos aqui e terminei meu ano letivo. Quando voltei nada tinha

mudado, eu ainda era apaixonado pela Vick e Elaine ainda era


apaixonada por mim, eu fiquei entre a cruz e a espada porque a

mãe da Thais por mais louca que fosse era a minha tempestade, eu
gostava dela de verdade e independente dos meus sentimentos
pela Victória, ela mexia comigo. Talvez eu me sentisse um pouco,

por ter duas mulheres lindas e loucas por mim, porém a Vick era
mais sensata, inteligente e sacou minha divisão, me deixou de novo.
Victoria e eu decidimos que o problema era o lugar e voltamos
juntos para Charlotte, formamos, casamos e voltamos para o Brasil,

ia ser só por um tempo, mas encontramos a Elaine e a sua mãe,


ambas bêbadas na virada do ano em Copacabana, essa foi a

milésima vez que a Elaine destruiu meu relacionamento, ela passou


a me procurar constantemente, de alguma forma descobriu onde eu
trabalhava e ia lá me infernizar. Victória cansou e me colocou para

fora de casa, deixou claro que não éramos mais adolescentes para
ter que viver aquela situação. Sai de casa e parei no primeiro bar

que achei, bebi tanto que no final não conseguia me sustentar em


pé e como obra de diabo, uma ruiva, esbelta e linda me carregou

para fora, Elaine me levou para casa dela e nós acabamos na cama,
quando acordei, já tinha feito a merda, ela estava nua, feliz e
satisfeita e eu tinha terminado de destruir meu casamento. Foi difícil

convencer Victória do meu amor, mas depois de uns meses ela me


deixou voltar, não omiti o que fiz na noite que sai de casa e isso

aliviou o peso da notícia que veio meses depois. Elaine estava


grávida e dessa vez era meu.
Respiro fundo, porque a história era de enlouquecer qualquer

um. Esse homem a minha frente parece mais com um poço de


indecisões do que com um homem de fato.
— A mãe da Alice sempre foi uma mulher forte e
determinada, ela me amava e sabia que meu amor por ela era

verdadeiro, estávamos tentando ter nosso primeiro filho a um tempo,


mas ela tinha problemas para engravidar. Ela ficou muito abalada

com a notícia, mas não me deixou, nós conversamos e decidimos


dar total assistência para Elaine.
Estava eufórico, eu seria pai, não era filho da minha esposa,

mas era meu com uma mulher que já havia amado e o fato de ter

recebido apoio da minha mulher me deixou ainda mais feliz, porém,


Elaine não aceitava o fato de que eu não queria nada com ela, me

chantageou enumeras vezes dizendo que mataria nosso filho se eu

não ficasse com ela, me lembrando de sua primeira gravidez e a

forma que perdeu o bebe, mais uma vez abri mão da mulher que
amava e decidi ficar com ela até que Thais nascesse. Quando

peguei ela nos meus braços foi a emoção mais forte que já senti na

minha vida, eu passei o tempo todo chorando, e devido a algumas


complicações durante o parto Elaine teve que ficar internada. Levei

minha filha para casa da Vick e juntos cuidamos dela até que Elaine

recebesse alta. Victoria cuidou da Thais como se fosse sua própria


filha, e com isso, ela disse que queria que eu voltasse para casa e
tentasse novamente, ela queria um filho nosso, mas isso só

aconteceu um ano depois. Quando a Elaine saiu do hospital quase


me matou por ter levado nossa filha para minha casa com a Vick,

por ter deixado ela cuidar da Thais, Elaine não tinha leite e mesmo

se tivesse não poderia amamentar por causa da quantidade de


drogas que tinha em seu organismo, o médico disse que foi um

milagre a Thais ter nascido perfeita, pois a mãe se drogava

diariamente durante a gestação. Ele deixou claro que após o

crescimento ela não poderia nem mesmo sentir o cheiro de drogas,


ou seria facilmente sugada para esse mundo como a mãe.

Um ano equilibrando minha vida entre ser pai, marido e

cuidador. Porque a Eleine não dava trégua. Quando Vick me deu a


notícia da gravidez foi como receber um milagre, ela estava gravida

de uma menina e eu orei todos os dias que essa menina fosse tão

doce quanto Vick era.


— Ela estava gravida da Alice. — sussurro. Interrompendo

sua história pela primeira vez em meia hora. Greg tem lágrimas nos

olhos, e sinto pena dele, uma merda de vida.

— Isso, da Alice! — confirma. — Eu era o homem mais


amaldiçoado e feliz da fase da terra. Eu vivi um verdadeiro inferno,

dividido entre a minha mulher grávida e a minha ex-namorada com


nossa filha. Cansei de ir na casa dela e achar nossa filha sozinha

trancada chorando, ela só voltava no outro dia, caindo de bêbeda.

Foram anos assim.


Mas quando soube que com dezesseis anos minha filha

estava mais uma vez internada em coma alcoólico e com marcas de

violência sexual eu tomei uma posição.

Vejo Greg lutar para segurar um soluço, as lágrimas e o


sofrimento em sua voz estava me deixando como ele. Em lágrimas.

— Era o aniversário de quinze anos da Alice, eu estava

saindo para comprar um presente para ela, quando cheguei na porta


o telefone tocou e era do hospital. Sai correndo e nunca mais voltei.

Não voltei porque não era justo com elas, não era justo fazer a Vick

sofrer mais com a minha falta de pulso firme. Porque se eu tivesse

simplesmente pegado minha filha, entrado com um pedido de


guarda mostrando a vida da mãe dela eu teria ganhado, estaria com

todos os meus filhos juntos e unidos e ainda estaria com a mulher

que mais amei na vida. Porém, eu não fiz, decidi abandonar quem
eu tinha certeza que seria uma ótima mãe independente das

circunstancias.

Sete meses depois encontrei Vick no mercado, ela estava

com 7 meses de gravidez, era meu primeiro filho homem. Foi


impossível não correr atrás dela, expliquei tudo e dei um jeito de

acompanhar a gravidez de perto, quando ele nasceu eu estava lá,


escondido no hospital, Alice e Sarah estavam tão felizes com a

chegada do irmão, mas o brilho nos seus olhos de ambas não era

mais o mesmo e eu me amaldiçoei mais por isso, porque sabia que


era minha culpa.

Fiquei nessa por um bom tempo, toda vez que encontrava

com a Victória, ela me passava tudo que estava acontecendo com

as crianças, com ela e nós tínhamos nosso momento de amor. Um


dia ela me colocou contra a parede, dizendo que não era certo ela

ter saído de esposa para amante e mandou eu escolher. Como pôde

ver, fiz novamente e pela última vez a escolha errada. Eu tinha


medo do que Elaine poderia fazer não só com ela própria, mas com

nossa filha.

— Eu estou realmente sem saber o que fazer ou falar, mas

ao contrário de você eu não vou abrir mais mão da Alice. Você tem
razão, eu estou com uma responsabilidade que não me pertence, a

obrigação de cuidar da Thais é sua e não minha, e mais uma vez,

ao contrário de você, eu sei o que quero da minha vida, ou melhor,


eu sei quem eu quero na minha vida, e eu quero a Aly. Toda sua

história me fez abrir os olhos, a Thais é tão manipuladora quanto a


mãe, mas novamente eu repito, não sou em nada parecido com

você, não estou dividido, eu estou apaixonado pela Alice e só de

pensar que ela nesse momento está revivendo a história da mãe me

deixa doente. Eu sinto muito por você Greg, mas a partir de hoje a
sua filha não terá em mim nem se quer um amigo, pois foi

exatamente o que tentei ser e ela me usou, isso acaba hoje, cuide

da sua filha, pois foi para isso que você abriu mão de tudo. Vou
conversar com ela pondo um ponto final de uma vez por todas na

nossa situação e depois vou atrás da minha namorada dizer que a

amo e que vamos ficar juntos e seremos muito felizes.


Ao sair do escritório vejo Thaís chorando, sentada no

corredor.
— Você ouviu nossa conversa? — pergunto, mesmo a
resposta sendo óbvia.

— A que meu pai te conta como eu desgracei a vida dele?


Ou a parte em que você me igualou a minha mãe e deixou claro o
quanto sou desprezível, como ela foi.

— Eu não queria que fosse assim, mas seja sincera comigo,


alguma das vezes que me chamou você estava realmente

precisando de ajuda? Você tem noção do quanto usado e traído


estou me sentindo?

— Eu amo você, Gabriel. Não estou sabendo lidar com a dor

e nem com a falta que você me faz, será que é difícil para você
entender? — lamenta.
— Não, pelo contrário, eu entendo perfeitamente — afirmo —

Mas você ouviu tudo e por isso sabe que esse seu joguinho de
menina abandonada não vai mais colar comigo. Eu não vou mais

largar a Aly e sair correndo quando você me ligar. Acabou, Thais.

— Essa infeliz vai sempre estar no meu caminho, não é? —


grita, quando me viro para sair. — Ela ficou no meu caminho quando

nasceu, quando meu pai decidiu que deveria conhecê-la, quando

dava uma de songamonga invisível na escola e está agora no meu


caminho me separando de você! Eu amo você e você dizia me amar

também até essa infeliz decidir te roubar de mim.

— Você percebe o quanto isso soa doentio? Você sabia o


tempo todo que ela era sua irmã, mentiu para mim e ainda se acha

no direito de gritar, de exigir. Eu amei você, curti todos os nossos


momentos, mas não amo mais, não curto mais e te olhando agora,

me sinto como se nunca tivesse te conhecido de verdade.

— Não me conhece? E com quem você fodia toda noite, seu

idiota? — vocifera. Fico a encarando tentando entender como nunca

abri meus olhos antes.

— Com certeza com uma bela atriz! — falo, com desprezo.


— Você é um traidor, quer entrar para a família de qualquer

jeito, fodeu com uma e agora vai para outra irmã, vou falar para
Victória tomar cuidado com a Sarah, vai que daqui algum tempo
você decide que deve provar a última irmã da família Soywer.

— Você é repugnante! — cuspo as palavras com amargo.

— E você, Gabriel? Como se classifica nessa história toda?

O santo? O injustiçado? Eu nunca a aceitei como irmã, graças a

mãe dela hoje eu não posso ter meus pais juntos, nunca pude ter

uma família decente.


— Sua mãe morreu por causa das drogas, Thais. Não foi a

mãe da Aly que matou ela — defendo.

— Nós nunca tivemos paz — grita. — Ele sempre estava

choramingando infeliz pelos cantos, sempre jogando na cara da

minha mãe que não estava com ela por amor e sim por medo.

Gregory está parado na porta do escritório, não diz nada e

não parece disposto a fazer isso de qualquer forma.


— Uma vez ele disse a minha mãe que sentia o fato dela não

ter abortado de novo. — Olho para Gregory e o vejo fechar os olhos

e suspirar pesadamente. Era verdade o que ela estava dizendo.

— Eu estava bêbado e cansado, tinha acabado de perder

para sempre a mulher que amava, encontrei sua mãe e a Elena em

uma boate se esfregando em outro cara enquanto por mais uma


noite você ficou trancada em casa — fala com pesar. — Mas eu
sempre amei você e me arrependi do que disse naquela noite no

momento em que as palavras haviam saído da minha boca. Eu não


fazia ideia de que você havia ouvido isso.

— Eu não ouvi, pai. Mas minha mãe sempre fez questão de


me dizer o quanto você a maltratava por causa de outra mulher, ela
me fazia prometer que nunca aceitaria conhecer a tal Victória e nem

os filhos dela. Ela nunca me disse que eram meus irmãos, só fiquei
sabendo quando você me contou. Ela morreu me fazendo odiar

aquela família e nunca deixou que você colocasse em mim o


mesmo sobrenome, mesmo eu adorando o som do nome Soywer.

— Eu sinto muito, Thais — interrompo — De verdade eu não


sei o que fazer, voc…
— Ficar comigo, amor. — Me interrompe. — É isso que você

tem que fazer.


— Não posso! Por favor, intende isso, olha para o seu pai,

para a vida de vocês. É assim que você quer que nossa vida seja?
Você infeliz por eu estar ao seu lado sem amor, nossa filha ouvindo

nossas brigas e eu infeliz me lamentando por não estar com quem


amo de verdade?
— Essa não seria nossa vida! — contesta.

— Essa seria exatamente a nossa vida — afirmo.


— Eu odeio ainda mais aquela família agora, vendo você se

rendendo a elas. — Admite.


— Você já parou para pensar que se tivesse me contado a

verdade não estaríamos passando por isso? — pergunto. — Eu


jamais me envolveria com a irmã da minha namorada — confesso.

Ela não diz mais nada, fica me encarado, com mais lágrimas
correndo por seu rosto, olho para Greg e ele me dispensa com um
aceno de cabeça.

— Eu sinto muito por tudo isso, Thais e espero de coração


que fique bem!

Já dentro do meu caro fico indeciso para onde devo ir, deixei
Bianca na casa do David para poder resolver tudo, não sei se a Aly
falou com ela. Decido ir para casa do meu amigo.

— E agora? O que você pretende fazer? — David questiona.

Contei toda a história para ele e minha irmã, estão ambos


perplexos.
— Sobre o que?
— Sobre a Aly, nós entendemos que você vai ficar com ela,
mas como vai contar toda essa história a ela?

— Eu não vou contar! — afirmo.


— Como assim não vai, Gabo? — contesta minha irmã.

— Não é da minha conta, gente. Essa história não é minha,


não tenho o direito de quebrar um segredo de família que foi
guardado a tantos anos. O que eu posso fazer é ficar ao lado dela

quando lhe contarem a verdade, me desculpar por saber e não dizer


nada e torcer para que ela me perdoe.

— Ela vai ficar muito mal com tudo isso — Bianca comenta.
— Eu sei, e ela vai precisar muito de vocês. Talvez ela decida

se afastar de mim um pouco, para poder assimilar tudo.


— Eu imaginei o mesmo — David concorda.
— Eu vou dar a ela o espaço necessário para que coloque a

mente em ordem, mas não vou desistir dela nunca!


Hoje completa duas semanas que estou sendo negligência,

depois que Gabo saiu da minha casa correndo quando descobriu


que a Thais estava de caso com o meu pai, ele se afastou tanto de
mim e quando estamos juntos parece se sentir culpado por alguma

coisa, já perguntei diversas vezes o que está acontecendo, para


onde ele havia ido naquele dia e as respostas são sempre as
mesmas. "Precisava de respostas", "Não posso te contar, você

precisa confiar em mim".


Hoje viajamos para a nossa participação nos jogos de

basquete e apesar de termos ganhado ele parece bem infeliz, a


comemoração vazia, até David e Bianca se afastaram de mim.

Estão sendo dias horríveis.

Estamos em uma das casas dos pais do David que fica


próximo à cidade que aconteceu o jogo, ela foi aberta para nossa

comemoração, Gabo está na cozinha com os amigos do time, David


e Bianca sumiram e eu estou no quarto um tanto bêbada bolando

meu plano maluco. A casa está cheia, mas a maioria já estão


embriagados, e isso é perfeito para que tudo dê certo. Termino de

me arrumar e me enrolo em um roupão, passo por todos sem ser

notada, assim como era antes, paro ao avistar Gabo, ele está lindo,
sem camisa, com uma bermuda que parece estar prestes a cair de

tão baixa, expondo cada parte de seus músculos bem definidos, ele

está rindo e interagindo com seus amigos, pena que não lembra de
fazer o mesmo comigo.

Caminho até a casa da piscina que parece maior que a minha

casa e mando uma mensagem para o celular dele.


- Amor, não estou bem, por favor, me ajuda. — A resposta

dele é tão rápida que me faz sorrir, e o desespero é tão latente que
não espera minha resposta e me liga.

— Aly, o que houve, onde você está, amor?

— Gabo — choramingo. Prendo o riso para não estragar tudo

e decido não falar mais nada.

— Porra, Alice, onde você está? O que aconteceu? Você está

chorando?
— Eu estou com tanto medo, amor. Vem aqui, por favor.

— Acabei de chegar no quarto, cadê você?


— Estou na casa da piscina. — desligo o telefone quando
ouço ele bater à porta e correr.

Gabo chega sem folego e vermelho gritando meu nome.

— Quer parar de gritar ou vai chamar a atenção de todo

mundo para nós? — Saio do banheiro e o encontro com as mãos na

cabeça vasculhando a sala com o olhar de desespero. Sinto um

pequeno aperto no coração por tê-lo assustado assim.


— Amor, pelo amor de Deus, quer me matar de susto,

aconteceu alguma coisa? — questiona exasperado.

Ando sedutora até ele e o encaro de perto, coloco minha mão

em seu peito e sinto as fortes batidas de seu coração, sua

respiração ainda está irregular.

— Aconteceu sim, eu estou me sentindo completamente

abandonada pelo meu namorado e por meus amigos, vim até aqui
porque fiquei sabendo que tem uma sauna e eu nunca entrei em

uma. — Gabo me olha com atenção enquanto abro o roupão que

vesti e mostro meu corpo com a lingerie de renda vermelha que

comprei. Ele aprecia meu corpo com atenção e passa a língua nos

lábios.

— Alice... — exclama.
— Gabo, eu fiquei com medo de entrar sozinha, e resolvi

chamar você para entrar comigo, porque, olha para mim, e se eu


entro e vem alguém, um dos meninos do time, por exemplo, ia me

pegar vestida assim, sozinha dentro da sauna.


— Qual é o seu plano fazendo isso? — Sua pergunta é quase
um rosnado.

— Eu quero você, quero sentir seu beijo por todo meu corpo
e quero você finalmente dentro de mim. — admito. Pego suas mãos

e coloco em meus seios, Gabo fecha os olhos, parece estar em uma


luta interna, mas eu estou determinada a vencer. Me coloco nas

pontas dos pés e passo a língua por seus lábios, ele geme e ao
abrir os olhos consigo enxergar todo o desejo e a fome que sempre
via quando estávamos juntos. Gabo me pega no colo e envolvo

minhas pernas em sua cintura, suas mãos apertam minha bunda por
baixo do roupão. Ele me coloca sentada sobre uma mesa e devora

meus lábios com desespero.


Gemo de prazer, de saudade e ele morde meu pescoço, todo

seu desespero mostra que também sente minha falta, o observo


enquanto afasta meu sutiã e morde o bico do meu seio. Dou um
gritinho quando sinto uma pontada de dor e ele para.
— Está tudo bem, amor. — o tranquilizo. Em seus olhos vejo

de imediato o arrependimento, eu o puxo para beija-lo, mas Gabo


me afasta.

— Não está tudo bem, aqui não é a hora, nem o lugar para
fazermos isso. Nós não estamos prontos.

— Fale por você! — vocifero. — A virgem aqui sou eu, e sou


eu quem tem que decidir a hora, o lugar e o momento e eu quero
agora, eu vou perder minha virgindade hoje, Gabo! — Minhas

palavras saem tão humilhantes e desesperas, ele estragou tudo.


Sinto meus olhos arderem e antes que as lagrimas escapem de

meus olhos eu decido fugir.


O empurro e desço da mesa, meu roupão fica para trás junto
com o idiota do meu namorado eu corro seminua para fora da casa.

Gabo me alcança perto da piscina e me puxa cobrindo meu corpo,


eu o empurro.

— Me solta, não encosta em mim, já que para você é tão


difícil me ver nua, talvez alguém nessa maldita casa aprecie me ter,

me tomar, me beijar, me fo...


Gabo tapa minha boca com uma mão e com outra me segura
forte contra seu corpo, eu não consigo enxergar nada, mas ouço as
vozes, sei que tem muitas pessoas ao nosso redor vendo meu
show, vendo meu corpo.
— Amiga... — ouço a voz penalizada da Alice e sacudo a

cabeça chorando forte, Gabo ainda está tapando a minha boca e me


arrasta para dentro da casa de novo. Quando me solta vejo Bia e

David atras dele fechando a porta, eu os encaro, encaro minha


nudez e a única coisa que consigo pensar é que eu daria qualquer
coisa nesse exato momento para me tornar invisível de novo.

— Eu quero que vocês fiquem longe de mim, a minha vida


não era perfeita antes, mas nunca me senti tão humilhada e sozinha

quanto me sinto agora e eu daria qualquer coisa para voltar a ser


invisível e nunca ter me aproximado de nenhum de vocês.

— Você precisa se controlar, Alice. — Gabo finalmente


encontra a voz dele e fala alguma coisa.
— E você precisa aprender a ser homem, seu babaca. Me

deixa sair daqui logo. — exijo. Bianca está chorando agarrada ao


David que evita me olhar.

— Olha para mim, David, talvez você sinta mais tesão em


mim do que o seu amigo e descida me...
— Já chega! Cala a porra dessa boca agora, Alice. — Gabo

perde de vez a paciência e grita vindo em minha direção. Ele me


puxa com força e veste o roupão em mim. — Já fodeu com muita
coisa hoje, não precisa de mais nada. Agora eu vou te colocar
dentro do carro e vamos em silêncio para casa.

— São oito horas de viagem e todos nós bebemos, não acho


que seja uma boa ideia. — Bia reclama.

— Ela ficou praticamente pelada se oferecendo para quem


quisesse, ela não via ficar mais nem um minuto nesse lugar e vocês
não precisam vir, podem ficar, o David cuida de você.

— Se vocês forem nós vamos, e assim podemos revezar a

direção e cada um dorme um pouco. — David afirma.


— Ótimo, tudo bem, então. Vocês podem recolher nossas

coisas? Eu vou levar Alice para o carro e esperamos vocês lá. —

Todos os planos são feitos como se eu não estivesse bem ali,

Gabriel me segura firme e me leva para o carro enquanto Bia e


David vão buscar nossas coisas.

— Pode me soltar, por favor, você está me machucando. —

reclamo ao chegarmos no carro.


— Vou te soltar quando estiver dentro do carro.

— Eu não sou criança, Gabriel e você não é meu pai.

— Não, eu sou só o idiota que tenho que pagar pelos erros


dos outros, mas essa porra vai acabar logo, eu não aguento mais.
— Do que você está falando? — questiono.

— Você vai entender, só espero que quando isso aconteça


você possa me perdoar.

Acordo sentindo meu corpo ser erguido, minha cabeça está

explodindo, assim que minha mente que começa a trabalhar,

reconheço os braços que me ergueram e o cheiro, e começo a me

debater, Gabo perde o equilíbrio por um estante e por pouco não me


deixa cair de bunda no chão.

Lamentável e deprimente.

— Aly, eu estou exausto física e emocionalmente, nós


acabamos de chegar na casa do David, se você ainda me ama eu

só peço que me deixe te levar para o quarto, assim você pode

descansar e eu vou tomar um banho e fazer o mesmo. — A voz dele

quase não se faz audível, seu queixo esta apoiado no topo da minha
cabeça, eu solto meus braços e o abraço pelo pescoço dando meu

consentimento. — Obrigado, meu anjo.


Gabo me deixa no quarto e sai sem falar nada, me encolho

na cama e choro, choro de vergonha, de dor, de medo, eu não sei

como deixei as coisas fugirem tanto do meu controle. Depois de um


tempo vou para o banheiro e tomo um banho demorado, ao sair

encontro Gabo dormindo na minha cama, ele parece mais magro e

suas olheiras estão deixando seu rosto perfeito com um ar de

miséria.
O que você está escondendo de mim que está te consumindo

assim, amor?

Levanto por volta das catorze horas, estão todos dormindo,


me arrumo e decido ir para casa, a madrugada foi lamentável e

vergonhosa, ofendi e desrespeitei meu namorado, minha cunhada e

meu amigo. Ao chegar na garagem ouço uma voz rouca chamar

meu nome.
— Fugindo como uma ladra. — David brinca.

— Achei que estava dormindo também. — comento

envergonhada.
— Eu fiquei preocupado e decidi ficar acordado aguardando

vocês levantarem.

— David, sobre o que aconteceu, eu — ele levanta a mão me

calando. — Por favor, não precisamos falar nisso, está tudo bem, eu
sei que você não é assim e está arrependida. Nós somos amigos, e

embora pareça, você não é perfeita, erra como todos nós, afinal,
quem nunca ficou desesperado para perder a virgindade, não é

mesmo. — zomba.

Eu rio e corro para o abraçar.


— Eu realmente sinto muito, eu amo vocês e não me

arrependo da nossa amizade.

— É bom ver que se entenderam, será que vamos nos

entender e eu vou ganhar um abraço assim também? — Levanto a


cabeça e encaro Gabriel que está recostado na porta.

— Você só vai ganhar qualquer coisa de mim quando decidir

me contar a verdade do porque está me tratando desse jeito, o que


tanto esconde de mim. — Ele assente, olha de mim para David e

volta para dentro de casa.

— Você está sendo muito dura com ele, Aly. — David

defende.
— Quer que eu pegue leve com ele? Então me conta você o

que está acontecendo, o que todos vocês andam escondendo de

mim, ou acha mesmo que não sei que todos sabem menos eu?
— Eu só estou dizendo que você precisa pegar leve, não só

com ele, mas a Bia passou a noite chorando por sua causa e não é
justo com ela.

— Eu realmente sinto muito, mas vocês também não estão

sendo justos comigo.

Entro na casa para procurar por Gabo e o encontro descendo


as escadas junto com a irmã, os olhos dela estão inchados e ela me

dá um sorriso tímido.

— Vamos, vou levar você para casa e Bianca e eu vamos


para a nossa. — Gabo passa por mim abraçado com ela e os sigo.

O Silêncio no carro me incomoda e descido quebra-lo.

— Eu sinto muito por tudo que aconteceu, eu estou muito

envergonhada por tudo que fiz.


— Tudo bem, amiga, está tudo bem. — Bia me responde e

Gabo apenas desvia os olhos da pista e me encara rapidamente

sem dizer nada.


Ele me leva até a porta de casa, espera que eu abra a porta e

se vira para ir embora.

— Me perdoar por envergonhar você na frente do seu time e

dos seus amigos. — Ele se volta para mim e dá um sorriso forçado.


— Eu nunca me envergonharia de você, o que me magoa é

saber que estou te fazendo infeliz, mas como eu disse, isso vai

acabar logo. Tenta descansar, Aly e amanhã nos vemos na


faculdade, eu não vou passar aqui, tenho umas coisas para resolver

cedo.
Minha confiança nele morre a cada dia, subo em silêncio vou

para o meu quarto, minha cabeça ainda está doendo muito.

Não sei dizer em que momento eu dormi, mas estava tão

cansada que passei o resto do dia e da noite em meu quarto


dormindo, levanto da cama e olho pela janela, Gabo não está no

quarto e nem Bianca, será que já foi para o tal compromisso? Vou

para o banheiro e encaro meu reflexo no espelho, também emagreci


uns quilos e estou muito pálida e com olhos fundos, não é só o

Gabo que está com cara de miséria.

Já pronta, desço e encontro minha mãe e irmãos sentados


tomando café.

— Bom dia, cumprimento.

— Bom dia, Aly. Está se sentindo bem? — minha mãe

questiona.
— Na medida do possível sim, e vocês, como estão?

— Nós estamos sentindo sua falta, maninha, desde de que

você se tornou popular não fica mais em casa. — Stiven reclama


tristonho.

Vou até ele e o esmago em um abraço cheio de amor.


— Eu sinto sua falta também, meu amor, e acredite, ser
popular é uma droga.

— Ótimo, então volte a ser invisível e fica mais em casa com

a gente. — ele dá de ombros como se tivesse dado uma solução


óbvia. Olho para minha mãe que nos observa e sorrio, faz um tempo

que não me sento com eles para um café da manhã em família.

— E você Sarah, também sentiu minha falta?


— Nem nos seus melhores sonhos, Aly. — implica, mas sorri.

Ela não mudou nada.

Chego no campus atrasada, estaciono meu carro ao lado do

de Gabo, devido ao horario não tem muitas pessoas circulando, sigo


em direção a minha sala, mas vozes alteradas me chamam atenção

dentro de uma sala vazia, eu reconheço a voz dele imediatamente.

— Eu preciso de tempo, Gabriel. Não posso contar a ela


assim — meu pai grita.

— Acho que já teve tempo suficiente! Ela é sua filha droga,


você deve uma explicação a ela.
Ele não estava brigando com meu pai pela Thais, e sim por

mim. Meu peito se enche de alegria.


Chego mais perto e vejo Thais encostada em uma mesa.
Porque ela estava ali? E parecendo satisfeita com a situação.
— Não é tão simples! A mãe dela não me deixou nem chegar
perto da casa delas e ainda arrumou um cão de guarda que parece
prestes a me atacar a qualquer momento, ele está morando lá?

— E se estiver? — Thais se manifesta — Qual o problema se


o cara estiver morando com ela? Você por um a caso está com
ciúmes?

Quando ele ia responder Gabo me vê atrás da porta e os


alerta da minha presença, os três me encaram, Gabo e meu pai
estão com preocupação em seus rostos, mas Thais está com um

daqueles sorrisinhos maldosos.


— Acho que agora é a hora. — Thais debocha.
Gabo e meu pai parecem não concordar. Abro a porta

esperando uma explicação que não vem, pois Gabo ralha dizendo
que ali não era o lugar para termos a conversa e sai me arrastando
para longe.

Mesmo ameaçando terminar, gritando e até batendo nele não


adianta, ele não me conta o que estava acontecendo e o que

estavam me escondendo.
Só me carrega de volta para casa, abro a porta com Gabo na
minha cola e encontro Berry sentado no sofá ao lado da minha mãe.

— Filha, precisamos conversar! — diz séria.


— O que houve? — indago.
— É sobre o seu pai! Eu não aguento mais esconder isso de
você, e depois da ligação que recebi agora pouco do seu pai decidi

parar de omitir as coisas. Mas antes quero que entenda que o


Gabriel não sabia de nada até umas semanas atrás e não cabia a

ele te contar e sim a nós. Seu pai, ele e eu entramos em conflito por
achar que não era o momento certo, mas Gabo nos mostrou que
nunca haveria um tempo certo porque nada do que aconteceu ou

está acontecendo é certo.


Não falo nada, fico a encarando com medo de perder algum
som e não compreender o que está acontecendo.

— Eu amo você, filha, eu tentei convencer ele a te procurar e


contar, assim como fiz anos atrás, mas ele não quis e nem ela.
— A senhora não está fazendo sentido algum, do que está

falando? — Questiono, nervosa.


— Eu vou te contar do começo, acho que assim será mais
fácil — afirma. Me sento ao lado do Berry no sofá. Ele segura minha

mão e sorri para mim, um sorriso contido, daqueles que damos para
tentar consolar alguém.

— Bom, filha. Eu preciso que me ouça sem me interromper


ou eu perderei a coragem — afirmo com a cabeça e ela senta na
mesinha a minha frente, me encarando com seus olhos de tons
indefinidos.

— Seu pai e eu, nos conhecemos no ensino médio. Eu era


como você, isolada, na minha, mas um certo dia ele me notou, eu
estava comprando um doritus e uma Coca-Cola quando ele parou

ao meu lado e disse: — Uma garota que come doritus com Coca-
Cola não deveria ser uma garota e sim um anjo.

Me virei sorrindo, eu já tinha o visto antes, lindo, inteligente e


completamente diferente de mim, era despojado, extrovertido e vivia
cercado de gente. Um americano em terras brasileiras, era assim

que o chamavam.
Meu nome é Gregory, mas pode me chamar de Greg — se
apresentou.

— Victória, mas pode me chamar de Vick. — respondi,


sorrindo.
Depois daquele dia passamos a nos falar frequentemente,

passei meu número de celular para ele e passávamos noite e dia


conversando sobre tudo. Até que os amigos dele souberam da
nossa repentina amizade. Eles eram pessoas horríveis e Greg

chegou a me dizer que não tinha coragem de me apresentar a eles


porque eu era muito pura para me misturar, e até mesmo ele não

merecia ficar ao meu lado.


Um dia eu entendi o que ele quis dizer, estávamos no pátio,
escondidos atrás da cantina, ele estava me confessando que não

aguentava passar um dia sem me beijar quando uma garota


apareceu. Ela era linda, mas parecia perdida no tempo, o cheiro que
emanava dela era forte demais e me fez torcer o rosto, por um

momento o abracei e respirei seu perfume, mas isso não mascarou


o cheiro que vinha dela. Ele ficou tão revoltado e inseguro, pude

sentir os músculos dos braços dele que estavam em minha cintura


se tornarem duros como pedra.
— Greg, eu juro que se você voltar comigo eu deixo tudo pra

lá, bebida, cigarro, farra. Eu só preciso de você comigo. — disse


trôpega nas palavras, ele respirou fundo e me olhou nos olhos,
pedindo desculpas em silêncio. Quando me soltou foi até ela, a

abraçou e beijou o topo da cabeça dela dizendo.


— Você é um caso perdido, pequena. Vou te tirar daqui antes
que alguém te pegue bêbada e drogada pela escola, mas não

vamos ficar juntos, me desculpe.


Naquele momento eu soube que ele era o amor da minha
vida, vi a forma que ele se sentia por eu ter presenciado aquilo, vi a
culpa em seus olhos quando viu a menina daquela forma e
aparentemente o culpando.
Com o tempo eu conheci os pais dele, sua vó e eu selamos

um pacto que durou bastante tempo, fomos felizes a nossa maneira,


nossas idas e vindas eram difíceis e dolorosas, mas eu o amava e
sei que ele me amou tanto quanto. Infelizmente ele não soube

administrar as coisas e acabamos assim.


Passamos por muitos momentos difíceis e eu quero que você
acredite em mim quando digo que nos abandonar foi a coisa mais

difícil que seu pai já fez na vida dele, e se culpa por isso até hoje.
Ele poderia ter feito muitas coisas e ter tomado decisões diferentes,
mas não o fez e não vou culpá-lo mais, ou odiá-lo pelo resto da vida

por isso, e você também não deve. Ele ficou com o lado mais frágil,
a mulher drogada que apareceu naquele dia nos perseguiu por

anos, seu pai também a amou quando estavam juntos, mas devido
a tantas coisas o sentimento se foi, mas o carinho e a preocupação
nunca, ela não cedia, tornou nossas vidas um inferno e eu estava

cansada de lutar por aquilo que deveria ser meu, em uma das
nossas idas e vindas ele teve uma filha com ela, essa filha sofreu
mais do que podemos imaginar sendo subjugada por uma mulher
completamente desequilibrada e seu pai nos deixou para cuidar
delas.

Eu a encaro.
— Ok, eu tenho uma irmã, disso já sabia, eu os vi quando
tinha quinze anos, mas o que isso tem a ver com a volta dele? Aly, a

sua irmã estuda na mesma instituição que você e o Gabo, você se


lembra como era a menina que você viu com seu pai quando era
mais nova?

Paro para pensar, a menina era branca, com os cabelos


cacheados e... Olho para Gabo, ele está me encarando com um
olhar triste.

Não pode ser!


— A Thais? — questiono mesmo já sabendo a resposta.
— Eu sinto muito, Aly. — a voz do Gabo sai como uma

suplica.
— Você sabia? Ficou comigo sabendo que nós duas somos

irmãs?
— Claro que não, eu só soube quando você me contou que
tinha visto seu pai com ela na faculdade, quando você me confirmou

o nome dele eu fui o confrontar. Mas como sua mãe disse, não
cabia a mim te contar, isso é um assunto delicado de família.
— Por isso você se distanciou de mim? Mal me tocava e
estava tão infeliz?

— Foram as piores semanas da minha vida, tentar te manter


longe sabendo que você estava sofrendo.

— Mesmo assim, não me contou, não me deu sequer uma


pista do que estava acontecendo. — acuso.
— Eu não podia, meu amor. — insiste.

— Você me viu sofrer, chorar e me humilhar, sério mesmo


que sua lealdade a eles é maior do que o que sente por mim?
— Eu também sofri, recorri ao seus pais várias vezes até que

tomassem uma posição e te contassem.


— Ela sabe sobre mim? — questiono.
— Sabe, pelo que seu pai me falou, sempre soube, só nunca

nos contou.
— Então o ódio dela não era por eu gostar de você e sim por
sermos irmãs, o fato de nos apaixonarmos só tornou tudo pior.

— Ela tem uma mente tão perturbada quando a da mãe,


Alice. — minha mãe defende.

— É claro que tem, a diferença é que eu não sou você e o


Gabo não é meu pai, eu não vou me sujeitar a isso e também não
quero mais ficar aqui, eu preciso de um tempo, um tempo longe de

todos vocês.
— Está terminando comigo? — Gabo questiona triste.
— Eu estou pedindo um tempo até que eu consiga organizar

a minha mente e acalmar meu coração, você acha que é capaz de


respeitar e aceitar isso?

— Eu espero o tempo que você achar necessario, desde que


você entenda a dimensão do que sinto por você e leve em
consideração o fato de que eu nunca quis te enganar, eu só não

podia falar algo que envolvia tantas pessoas.


— Eu vou ver onde posso ficar, porque aqui vendo vocês
todos os dias não vou conseguir nada.

— Se quiser pode ficar no seu quarto lá no pub, assim eu


posso cuidar de você e sua mãe não fica tão preocupada de você
estar sozinha por aí. — Berry oferece e eu sorrio agradecida, minha

mãe também concorda.

Três semanas depois.


Berry e minha mãe estão namorando, eu ainda estou no meu
quarto no pub, não me sinto pronta para voltar pra casa, minha mãe
contou para meus irmãos toda a história e me disse que eles

aceitaram bem as coisas e tinham saído com Gregory para se


conhecerem melhor... Essa não é uma frase estranha para se referir
a uma figura paterna? Saíram para se conhecerem melhor.

Isso é loucura!
Alguns dias depois da nossa conversa na minha casa eu
decidi terminar com o Gabo, tive a clareza de que eu não tenho a

mesma estrutura que minha mãe e eu jamais suportaria viver essa


vida. Dividir com outra o homem que amo.

Hoje eu entendo o porquê ele me rejeitou na casa do David,


seria um pouco pior perder a virgindade com ele estando envolto de
tantas coisas.

Ele chorou, não foi pouco, chorou muito dizendo que isso não
aconteceria com a gente, jurando que já havia deixado claro para
ela que não iria mais correr para ajudá-la. Mas eu o conheço, sei

que não iria cumprir a finco essa promessa, seu coração é muito
bom para fazer isso e Thais é ardilosa e manipuladora como a mãe
dela era.
Eu o amo tanto, demorei tanto para consegui fazer com que
ele me notasse, mas eu precisava descobrir o limite entre o amor e

a dignidade.
Eu amo você, Gabo. Mas precisava de um tempo para mim.
Estou conversando com Dodd no balcão do pub e vejo

Bianca entrar com os olhos marejados. Peço licença e vou até ela.
— Ei, o que houve? — pergunto. A puxo para um abraço.
Minha amiga também sofreu tanto com toda essa história, tanto ela

quanto David me pediram desculpas por também não terem me


contado nada, mas eu não os culpei nem por um instante, eles eram
completamente inocentes e com certeza não trairiam Gabo que

também não tinha a obrigação de me falar, isso tudo teria sido


evitado se meus pais tivessem sidos sinceros desde o início.

— Minha mãe foi internada, brigou com Billy e ele a espancou


feio. Gabo entrou na briga e os dois quebraram a sala toda, ele foi
para o hospital também. — Sinto meu coração apertar.

— Para qual hospital levaram eles, Bia? Como está o seu


irmão?
— Ele parece que quebrou o braço, nada muito grave, mas

nossa mãe parece que entrou em coma.


— E o Billy?
— Estava muito machucado, mas conseguiu fugir.

Dodd se oferece para nos levar ao hospital, e isso é bom,


porque estou sem condições de dirigir, tremendo e tentando acalmar
minha amiga.

— Chegamos — nos alerta. — Vão na frente enquanto


estaciono o carro — orienta.
Bianca e eu fomos para a recepção e lá encontramos David

conversando com uma enfermeira, quando nos vê ele corre em


nossa direção e abraça Bianca com força.
— Graças a Deus, você sumiu achei que tinha acontecido

alguma coisa com você, seu irmão me ligou da ambulância


contando tudo e me pediu para ir buscar você. Tem noção do
desespero que me bateu quando não te encontrei. — Ele beija a

testa dela e a aperta mais em seus braços. Alivio, carinho e amor


emanam dele.

— Me perdoa, não sabia o que fazer e fui atrás da Aly —


responde, chorosa e corresponde ao aperto do abraço. Decido
deixar os dois e vou em direção a enfermeira que David estava

conversando, digo a ela quem estou procurando e ela me leva até o


quarto.
Gabo não percebe minha presença, está em pé olhando pela

janela, seu braço está engessado.


— Achei que minha cota de emoções estava fechada pelo

resto do ano, mas me enganei, quando Bianca me contou que você


estava machucado, foi quase a mesma dor de saber que fui
enganada a vida toda por meus pais.

Ele não se vira.


— Ela está bem? — A voz dele está rouca e embargada.
Gabo encosta a cabeça na janela e vejo seu corpo sacudir com o

choro. Me aproximo e o abraço por trás, encosto minha cabeça em


suas costas e ouço seu coração bater forte.
— Eu achei que aquele desgraçado do Billy tinha voltado

para pegar ela, quando David me ligou dizendo que não tinha
ninguém em casa, mandei ele ir até a sua para ver, mas sua mãe
disse que tinha acabado de chegar e não viu nada. — Ouço o

soluço e seu corpo sacode mais forte. — Estava aqui planejando mil
formas de matar aquele verme. Tive tanto medo…
— Shiuuu. Está tudo bem! Ela está bem, só foi atrás de mim

assim que vocês saíram na ambulância.


Afrouxo meus braços e ele se vira para mim, seu rosto tão

machucado. Estendo minha mão e faço um carinho nos


machucados. — Fiquei com muito medo também quando ela me
contou que você estava no hospital. — confesso.
— Obrigado por vir, meu anjo! — agradece me abraçando

mais forte. — Significa muito pra mim.


— Eu vou sempre estar aqui, porque eu amo você! —

declaro.
— Você não tem noção do quanto sinto sua falta, anjo. De

como esses dias foram difíceis, passar por você na faculdade sem
poder te abraçar, beijar ou sentir seu toque.
— Eu também senti a sua falta, mas eu precisava desse
tempo para mim, ter a certeza que nosso amor não seria toxico.
Porém, quando Bia chegou chorando dizendo que você estava no
hospital eu só conseguia pensar que não tenho forças para deixar

de te amar, que preciso de você todos os dias da minha vida. —


Olho em seus olhos marejados e sorrio. — Eu te amo, Gabriel. A
aceita voltar a namorar comigo?
— Eu nunca nem deixei de namorar você, sua boba, acha
mesmo que eu, o cara mais popular da faculdade, capitão do time

de basquete iria aceitar levar um é na bunda de uma nerd?


15 dias depois

Você tem certeza que ele não chegou? Bianca, para com
isso, me solta — repreendo.
Gabo havia saído para buscar a mãe dele no hospital. Alice

foi com a mãe e os irmãos no shopping e eu fiquei com a tarefa de


levar Bianca para uma festa que a turma dela estava preparando,

mas ela inventou de passar em casa para pegar uma bolsa. Tenho

certeza de que a festa será uma droga, cheia de patricinhas falando


sobre moda, decoração e designe, mas o que eu não faço por essa

garota.
Me apaixonar por Bianca foi inevitável, ela é doce, direta e

tão forte e madura. Mesmo não tendo uma vida facil ela consegue

tornar tudo mais leve, e por mais que Gabo saiba que eu daria
minha vida por eles, ele insiste em não aprovar nosso

relacionamento e por isso decidimos manter um relacionamento


escondido do meu amigo. Aly e a família dela nos ajuda, mas

Bianca está cada vez menos propensa a esconder nossa relação.

— Quer parar de ser medroso? — briga. — Ele vai demorar e


eu estou mesmo cansada de ficar me escondendo, quando vamos

contar para ele que você está apaixonado por mim e não consegue

mais se manter longe? — zomba.


— Eu né? Quem está me agarrando dentro do carro como se

não houvesse amanhã?

— Estou com saudades, ué. Não sou de namorar escondida


e fica mais difícil ainda quando o meu namorado é o melhor amigo

do meu irmão e não se desgrudam.


— Já falei que é para você mandar a Aly dobrar ele! Ele faz

tudo que ela quiser, ainda mais agora que está morrendo de ciúmes

daquele moleque lá.

— Eu achei que você fosse um cara corajoso, mas está aí se

borrando de medo do meu irmão arrancar suas bolas — Provoca.

A risada dela enche o carro e a puxo para um beijo. Quando


se rende e corresponde pego sua mão e coloco sobre minha calça,

meu pau duro pulsa em sua mão e ela me empurra.


— Melhor você pensar melhor sobre o fato dele arrancar
minhas bolas e ficar com medo também, sentiu o que vai perder se

isso acontecer? — zombo, e morro de rir da cara que ela me olha.

— Que grosso! — me bate, mas não aguenta ficar séria e

começa a rir.

— Você sabe que é, já sentiu algumas vezes e adora. —

provoco a puxando e mordendo seu lábio inferior fazendo-a gemer.


— Fique aqui, vou lá dentro pegar minha bolsa, seu tarado

pervertido.

Fico mexendo no celular e quando saio do carro para reclama

da demora a escrito gritando, corro para dentro da casa e a imagem

que vejo me faz surtar, ela está no chão, com o vestido rasgado e os

lábios sangrando, Billy estava ao lado meio atordoado, pelo que

parece ela o acertou na cabeça com um cinzeiro. Corro até ela e ele
se levanta, tenta me agredir, mas não tem a menor chance, mesmo

com ela em meus braços o acerto em cheio, ele fede a bebida e

parece ter bastante tempo desde o último banho.

Assim que coloco Bianca no carro volto para dentro da casa,

bato tanto no desgraçado que perco a noção do tempo, ouço

barulhos ao redor, vozes e dois homens me tiram de cima dele,


eram policiais.
Bianca e eu somos levados para a delegacia e explicamos

para os policias tudo que havia acontecido.


Fizeram alguns questionamentos a ela, falaram que teria que

fazer alguns exames e passar por uma avaliação, mas tudo que
queríamos era sair daquele lugar. Billy ficou desfigurado, mas o que
queria de verdade era tê-lo matado.

Já em casa a levo para o meu quarto, ajudo a tomar um


banho e deito com ela na cama.

— Me perdoa, eu deveria ter entrado com você. — Peço


baixinho.

— Para, não foi culpa sua. Eu estou feliz que você tenha
chegado a tempo, não posso nem imaginar o que seria de mim se
ele tivesse… — ela não completa a frase, me abraça forte e

esconde o rosto em meu peito.


— Eu então o teria matado — confesso, firme. Sentindo ódio

pelo meu corpo.


— Não fala isso — pede, chorando mais.

— Eu te amo, loira. E não importa o que o seu irmão irá fazer,


se ele nos ama como diz vai quere nos ver felizes e isso só vai
acontecer se estivermos juntos, o Gabo vai ter que aceitar que você
está perdidamente apaixonada e não consegue mais viver sem mim.

— repito as palavras dela e seu sorriso ilumina minha alma.


— Eu te amo, David. Estou perdidamente apaixonada e não

sei mais viver sem você. — afirma. Seguro firme em seu rosto e a
puxo para beija-la, Bianca geme por causa do corte em seus lábios

e me afasto.
— Desculpa, amor.
— Não precisa se desculpa, você pode usar sua boca

gostosa em outras partes do meu corpo e me fazer soltar um


gemido diferente, o que acha? — provoca.

— Quem olha para essa sua carinha angelical não imagina a


devassa insaciável que existe dentro de você, bebê.

— Cadê ela — Gabo pergunta desesperado com Aly ao seu

lado.
— Está dormindo lá no meu quarto.
— Como isso aconteceu, mano? — Gabo chora e me abraça.
— Ela disse que tinha que ir em casa para buscar uma bolsa,
entrou e fiquei esperando no carro, quando vi que estava

demorando fui atrás e ouvi seu grito, entrei ela estava no chão com
ele ao lado, ela o acertou na cabeça, não deu tempo de fazer nada

mais grave, ela só está com as costas dolorida e lábio cortado.


— Obrigado por salvar a minha irmã, David. Eu vou ficar te
devendo a minha vida.

— Eu sei que esse talvez não seja o melhor momento para


isso, mano, mas eu preciso que você saiba de uma coisa. — Gabo

me encara desconfiado e Aly se aproxima cruzando seu braço com


o dele. Ele a encara e depois volta a sua atenção para mim.

— O que está acontecendo, o que vocês estão escondendo


de mim? — indaga.
— Sua irmã e eu estamos apaixonados, Gabriel. Eu a amo e

só de pensar no que poderia ter acontecido com ela hoje caso eu


não estivesse com ela ou não tivesse entrado a tempo me deixa

maluco. Nós precisamos que você entenda que não vamos nos
esconder, você precisa aceitar o nosso relacionamento.
— Relacionamento? Está me dizendo que vocês dois estão

namorando escondido, é isso?


— Amor, por favor, escuta o David, somos todos amigos,
você o tem como irmão. — Aly intervém quando percebe a raiva que
Gabo está tentando conter.

— E você é claro estava a par de tudo, encobertando os dois


e me fazendo de idiota. — ele solta o braço que ela estava

segurando e vem em minha direção. — Eu confiei a você o que


tenho de mais preciso na vida, cara, e em agradecimento tu estava
fodendo com ela bem em baixo do meu nariz. — Esbraveja.

— Já chega, Gabriel — Bianca aparece no topo da escada.

— Eu não admito que você me desrespeite dessa forma, e outra, e


se eu estiver fodendo com ele como você mesmo pontuou sem o

menor pudor, qual é o problema? Você acha que eu sou como a

Aly? Acorda, irmão.

Eu já sei o que é foder desde os meus dezesseis anos que foi


quando perdi minha virgindade. Não sou santa e não quero ser, mas

daí ver você falar de mim como se eu fosse uma qualquer já é

demais.
— Eu não me importo com quem você já dormiu, mas deixei

claro que com ele você não tinha permissão de sair.

— Você não é meu pai, Gabriel. — grita — Eu não sou


criança e se você não parar com essa palhaçada nossa relação vai
ficar insuportável, porque eu não vou abrir mão do David e ele com

certeza não vai abrir mão de mim.


Bianca termina de descer as escadas e para ao meu lado me

abraçando, eu a envolvo em meus braços e beijo o topo de sua

cabeça. Gabriel nos encara com um misto de magoa e traição.


— Se depender de mim você vai embora hoje, eu já liguei

para o nosso pai e contei o que aconteceu está noite, ele sugeriu

que você fosse morar com ele em Nova York, lá você estará segura

e sem dúvidas terá mais oportunidades de estagio dentro do curso


que escolheu, ele inclusive vai te ajudar a montar sua empresa

quando se formar.

— Você prefere me expulsar a me ver com o David, percebe


o quanto isso é doentio e cruel?

— Eu só quero que você fique segura longe de toda a

bagunça que é a vida da nossa mãe, a decisão foi tomada antes de


saber da traição de vocês dois.

— Ela pode ficar aqui comigo, vocês dois podem, não precisa

mandar ela para longe, ela estará segura comigo, Gabriel. —

Intervenho. Meu amigo me olha com amargura.


— Amanhã você vai trancar sua matricula na faculdade e

vamos comprar sua passagem, meu pai vai te buscar no aeroporto,


por hoje, você pode ficar e se despedir dele. — Gabriel nos encara e

depois se vira para Alice que está chorando. — Você pode ficar

aqui, anjo, e se despedir dela também, eu vou para casa cuidar da


minha mãe e amanhã venho buscar vocês duas.

— Essa é a segunda vez que você me expulsa da sua vida, a

primeira eu era muito nova e você também, me deixou com a minha

vó e foi embora com minha mãe, eu sofri muito, porque não


entendia e queria ficar com você, mas agora é diferente, eu entendo

e nunca vou te perdoar. Depois que eu entrar naquele avião você

pode esquecer que teve uma irmã um dia.


— Pode me ameaçar o quanto você quiser, Bianca, mas você

vai morar com nosso pai.

— Você não pode fazer isso com eles, amor. — Alice vai até

ele chorando.
— Aly, ela é minha irmã e minha responsabilidade, eu não só

posso como vou e nós dois não vamos brigar por causa disso, nós

já passamos por muitas coisas.


Meu coração está em pedaços, mas não adianta discutir com

ele, Gabriel é muito cabeça dura e Bia infelizmente não pode se

manter sozinha, ela vai ter que obedecer ao irmão e o pai, como vai
ficar nossa amizade depois disso eu não sei, na verdade eu não

faço ideia de como eu irei ficar sem ela.


Hoje é o último dia de jogo, o fim da temporada de basquete

e tem diversos olheiros, Gabo e Aly estão se preparando e o local


estava ficando cada vez mais cheio.
Berry e eu estamos dando passos largos em nossa relação,

foi difícil aceitar, foi difícil começar, mas estamos felizes, ele está ao
meu lado na arquibancada e interage alegremente com Stiven e
Sarah. Ele se vira para mim sorrindo.

— Sabe quem vai fazer o discurso no final?


— Aly me disse que quem vai fazer o discurso é o Gabo, já

que é o capitão do time.


— Ele é um ótimo rapaz! — afirma.

E eu preciso concordar, embora no começo ele tenha sido um

idiota, cego. Depois se mostrou uma pessoa maravilhosa,


principalmente com a minha filha. Eles ainda têm um conflito e

outro, mas graças a Deus estão felizes juntos.


O principal motivo dos conflitos deles acaba de chegar.

Thais se tornou uma jovem linda, lembro-me dela pequena,


uma pimentinha ruiva. Hoje é chamada por minha filha, sua irmã...

Nossa, que loucura parar para analisar essa bagunça que a vida

fez... Aly a chama de diaba descarada. — Rio. Minha filha é tão


diferente de mim, todas as decisões e falas soam diferentes vivendo

a mesma situação que eu vivi a anos atrás.

Ela ama o Gabriel desde que o viu pela primeira vez, e nunca
teve vergonha de dizer isso, por esse motivo luta pelo

relacionamento deles a todo custo, não deixando evasivas para uma

suposta interferência vinda da ruiva que mesmo ele dizendo que


não, ainda consegue manipulá-lo.

Aly, Gabo, Bia e David entram e se posicionam, eles estão


tão lindos. Bia está triste, mesmo convencendo o irmão a ficar até o

fim da temporada eles não conseguiram fazer com que ele mude de

ideia e em breve ela vai se mudar para morar com o pai.

Berry acena para eles e recebe um discreto aceno dos 4. Aly

me olha com olhos brilhantes e cheios de paixão, a cada dia que se

passa ela está mais perto de viver o seu sonho dela.


— Boa tarde a todos, meu nome é Jeremy, sou o professor

de artes desses pandemônios e tive o imenso orgulho de ser


escolhido pelos mesmos para estar selando essa nova fase que irá
se iniciar. Uns amadureceram de forma inexplicável e outros irão

passar por algo mais para alcançar a maturidade. Decidi assim

como faço em todas as minhas aulas dar a eles uma oportunidade

de se expressar nesse último dia aqui dentro. Por isso, preparei uma

pequena surpresa e espero que todos gostem.

Jeremy se vira para o telão em cima do palco improvisado e o


liga, começa a passar cenas de alunos em uma espécie de

entrevistas. Sempre em duplas, um interrogava o outro sobre o

futuro, mas o vídeo parece editado, colocando partes importantes e

engraçadas de cada um.

Aly aparece com David. Ele explica com um ar sonhador que

quer ter uma família e deseja ser um neuro cirurgião, pois a família

dele é composta por médicos, quer ter filhos e uma esposa para
dividir a vida. A cena passa e eles aparecem no refeitório, Aly ri das

ideias que ele propõe, ele monta uma plateia para ela que segura o

violão em cima da uma mesa. Depois vem Bianca e uma menina

sorridente, Thais e outros alunos, o vídeo acaba com a foto de todos

eles e uma frase: OS RÓTULOS NÃO ME DEFINEM.

Uma salva de palmas, assobios e gritos soa pelo lugar. O


vídeo ficou lindo e eles parecem ter gostado também.
— Esse dia, foi um dos dias mais reveladores que já tive com

esses jovens, ali nós descobrimos que nossa aparência engana


bem mais do que pensamos, eles descobriram que o mundo vai

além de nossa zona de conforto e essas zonas de conforto pode se


tornar o pior lugar do mundo caso não se abram para a imensidão
da vida, caso não deem espaço para o novo e o diferente. Eu tenho

muito orgulho de cada um de vocês e me sinto extremamente


honrado em dizer que fui professor de pessoas tão

extraordinariamente grandiosos como vocês, e digo isso porque


confio que vocês irão sair daqui para vencer cada desafio que a vida

adulta apresentará para cada um.


Fico emocionada, assim como eles, Aly chora abraçada ao
Gabo e a Bianca. Minha menina, cresceu tão rápido…

Os jogadores saem e na quadra ficam as líderes de torcida


dos dois times, elas fazem uma linda apresentação e se retiram

dando espaço para os jogadores, confesso que esse esporte me


deixa nervosa, na verdade qualquer esporte deixa, mas ver esses

meninos saltando em direção a cesta, a disputa pela bola, as brigas


que se desenvolve com cada esbarrão mal dado.
Gabo e David, capitão e Co capitão do time estão dando o

melhor, e o time deles estão na frente por dez pontos, cada salto
que meu genro da parece que ele cria asas, que pode voar e é o

que faz, voa em direção a cesta, porém, no ultimo lança ele sofre
uma falta e fica nas mãos de David à ultima cesta. E é claro que ele

acerta. O lugar é tomado por uma euforia, gritos, aplausos.


Jeremy toma posse do microfone novamente.

— Esses senhoras e senhores são os veteranos se


despedindo com glória da nossa última temporada e agora vou
passar para o Gabriel, ele que é o Capitão titular do time de

basquete levando nosso time a mais de 75 vitórias, 15 empates e 10


derrotas. Vice campeão do Grêmio estudantil perdendo para seu

amigo e também capitão do time de basquete, David Hezekicha.


Dois alunos que quebraram o protocolo, arregaçaram as mangas e
deram duro em cada ponto dessa instituição. É em nome de todos

que digo que vocês são nosso orgulho.


Gabriel se aproxima abraçando Jeremy e pega o microfone.

— Nossa, eu fico até sem jeito com tantos elogios — revela.


— Bom, vamos lá, primeiro. Meu conselho aos novatos é: Não

sigam o padrão determinado pela sociedade! Futuros capitães do


time de basquete, sejam amigos de todos, não só dos jogadores do
time, mas dos professores, dos nerds, dos não sociáveis... E você

que se sente deslocado... Desloque-se, saia do seu mundinho e


mostre que você é capaz de muita coisa, não tenham medo de se
misturar, tenham medo de ser iguais... Tenham medo de ser igual a
mim que por ser muito cego e acomodado quase perdi o amor da

minha vida. Que quase e digo quase por bem pouco deixou de ser
realmente feliz por achar que o comodismo era mais fácil. Mas

galera, acreditem, o mais fácil nem sempre é o certo.


Gabriel explicar os motivos pelos quais cada um deve se
permitir viver fora da caixinha, e nesse momento olho para Berry

que sorri pra mim, me fazendo pensar que eu também quase perdi a
minha segunda oportunidade de ser feliz ao lado de alguém

especial.
— E com isso, antes de entregar o microfone eu queria ler

uma citação que vi no seriado que minha namorada, Alice, ama e


me chamou a atenção o nome da série é One Thee Hill. (Lances da
vida).

Nesse momento há 6.470,818, 671 de pessoas no mundo.


Algumas estão fugindo assustadas. Algumas estão voltando

pra casa. Algumas dizem mentiras pra suportar o dia e outras estão
somente agora enfrentando a verdade.
Alguns são maus indo contra o bem e alguns são bons

lutando contra o mal.


Seis bilhões de pessoas no mundo, seis bilhões de almas… E às
vezes tudo que nós precisamos é apenas uma!
E para mim, meus amigos, essa uma está bem ali — diz

apontado para minha filha que se levanta corre para os braços dele.
Dois meses depois

— Eu acho que meu pai errou, ela é nova demais para


passar por algo assim, tenho certeza que se ele se esforçasse

conseguiria cuidar dela em casa, sem precisar disso tudo — acuso,


frustrada.
— Amor, você fala como se não conhecesse a Thais, ela

quase te matou atropelada alegando que você tinha roubado a vida


dela. Não tinha como manter ela solta por aí, Aly. — Gabo defende

meu pai, um hábito muito irritante que ele adquiriu.

— Sei que o caso dela é grave, mas daí internar ela em uma
clínica... Acho demais, talvez um acompanhamento psicológico

ajudasse. Mas ele como sempre escolheu o caminho mais fácil.


— Você é muito injusta com seu pai, Aly. O fato de você não

conseguir perdoá-lo totalmente faz você enxergar algo errado em


cada passo que ele dá.

— Olha, Gabriel. Essa sua mania de ficar sempre do lado


dele me irrita, eu sou a sua namorada, mas parece que você tem

muito mais consideração por ele do que por mim — reclamo. — Ele

age com você como a Thais agia e você aceita.


— Como assim? — questiona, confuso.

— O meu pai manipula você, quantas vezes você aceitou ir

visitar a Thais?
— Eu achei que já havíamos nós entendido em relação a isso

— comenta, sua voz abaixa dois tons e ele senta em minha cama,

triste.
— Não foi uma conversa e sim uma briga, eu entendo a sua

necessidade de querer ajudá-la, o tempo que ficaram juntos e o fato


dela ser tão dependente de atenção e tal, mas caramba, quando

vocês vão parar para ver o meu lado? — reclamo. — Você já parou

para pensar que nessa história quem mais perdeu foi eu? Meu pai

largou minha mãe e meus irmãos para ficar com ela e a mãe. Minha

mãe estava grávida do Steven quando ele foi embora. Depois que a

Elaine morreu ele preferiu ficar sozinho porque a Thais não aceitava
a ideia de ele amar minha mãe e querer voltar pra casa, anos mais

tarde eu me apaixono por você, sem saber que era namorado da


minha meia irmã, você a escolheu até o dia que me enxergou e
mesmo estando comigo por inúmeros momentos você a escolhe.

— Aly, eu…

— Agora nesse exato momento eu estou aqui me arrumando

para ir com você vê-la, porque algum psiquiatra idiota acha que eu

devo tentar me aproximar dela, ele também não pensou em mim.

Porque se alguém tive ao menos se dado ao trabalho de me


perguntar eu diria o quanto eu não quero ir até lá. E não é porque

não quero ajudá-la. Do fundo do meu coração eu espero que ela

melhore, e que no futuro quem sabe, a gente possa viver como duas

irmãs de verdade, mas agora, nesse momento, a única coisa que

sinto aqui dentro — aponto para o meu coração — é que esse

encontro não vai dar certo.

— Posso falar agora? — questiona. Faço um gesto afirmativo


com a cabeça e me viro para o espelho. — Eu sei que pode parecer

um pouco cedo, mas ela está melhorando, para mim é um grande

avanço. Eu amo você, Alice Sowyer. Isso não vai mudar, porém, eu

preciso que você seja a menina doce e compreensiva que você

sempre foi e entenda a minha necessidade de ajudar uma pessoa

que foi e não vou mentir, é especial para mim. Eu sinto muito por
tudo que aconteceu com os pais de vocês e até culpo minha mãe
também por isso, mas nós não podemos agir como eles, você e eu

somos diferentes e vamos fazer diferente.


Me viro para ele, sentindo no peito a sensação estranha que

me fez perder o sono durante a noite, Gabo parece confiante no que


diz, mas eu não vejo muita diferença entre a história da minha mãe
e a minha, ele assim como meu pai não consegue desvincular-se da

ex, a única que faz um pouco diferente nessa história sou eu. E
talvez me arrependa depois. Todos acreditam que ela mudou,

porém, não estou convencida. Mas não consigo convencer ninguém


que o que estou sentindo não é implicância e nem ciúmes.

— Ei, para de queimar esses neurônios pensando besteira —


brinca e me abraça por trás. — Eu amo você, é contigo que quero
ficar e isso não vai mudar. Agora vamos, nós temos que ir logo

porque hoje é a despedida da Bia. — a tristeza me toma ainda mais.


Pensar que minha amiga vai embora para longe e não vamos mais

nos ver todos os dias.


— Ela já saiu com o David?

— Já, ele veio buscar ela cedo, vai trazer só na hora da festa.
— responde, carrancudo.
— Quando você vai aceitar que eles se amam e você

estragou tudo? Perdeu um amigo por causa de um ciúme ridículo e


sua irmã vai embora com raiva de você.

— Eu os deixei curtirem o dia hoje para se despedirem, não


deixei?

— Você acha que isso é o suficiente para aplacar sua


idiotice? — saio dos braços dele e me viro para ficar de frente. —

Gabo, você bateu no seu melhor amigo, só porque ele se apaixonou


pela sua irmã.
— Nós tínhamos um trato, Aly. Ele não só quebrou como me

fez de idiota.
— Ele salvou a sua irmã de algo horrível, Gabriel. Arriscou a

amizade de vocês para poder ficar com ela, se isso não é uma
prova de amor, não sei mais o que é.
— Eles mentiram — acusa.

— Mentiram porque você é um intolerante, porque todo


mundo tem que entender o seu lado, mas você não entende o lado

de ninguém, é imaturo demais para admitir que errou e pedir


desculpas ao seu melhor amigo e a sua única irmã.

— Muito obrigado por jogar na minha cara que sou infantil e


arrogante, você tem mais alguma ofensa ou podemos ir? — A
expressão em seu rosto mostra que é melhor pararmos por aqui.
— É incrível como você consegue ser tão compreensivo com
uma dependente química, sociopata e não consegue agir com essa
mesma compreensão com quem realmente merece — argumento —

Sou a sua namorada e amo você, é a minha obrigação é mostrar o


quão injusto e infantil você está sendo.

Saio do quarto e o deixo sozinho, ouço seu resmungo, mas


não consigo compreender o que disse.
Pouco tempo depois estamos no carro indo visitar Thais. Meu

pai dirige e nós dois vamos no banco de trás, minha mãe resolveu
vir junto, está na frente conversando com ele sobre o restaurante

que abriu, por mais estranho que pareça minha mãe e Berry se
tornaram amigos do meu pai e os três se dão muito bem.

Gabo ao meu lado está carrancudo e parece divagar em


pensamentos, desde que sua mãe saiu do hospital e o pai dele veio
para a cidade após o ataque que Bianca sofreu, eles decidiram fazer

uma intervenção, e juntos conseguiram internar Elaina em uma


clínica.
— Oi — cumprimento com receio. Chegamos a meia hora,
passamos pelo psiquiatra que está cuidando dela e ele nos passou

os progressos que Thais anda tendo, conversou comigo da


necessidade que ela tem de ver pessoas que gosta e que gostam

dela, por isso pede que Gabo venha pelo menos uma vez por
semana, para que ela não caia em uma depressão, Rachel também
vem visitá-la com frequência assim como meu pai.

A ideia de que eu estivesse aqui hoje veio dele, ela ainda não sabe

que estou aqui, ele quer medir o avanço do tratamento e saber se


ela está pronta para receber autorização para sair de vez em

quando.

— Você? O que está fazendo aqui? — questiona, agressiva.

A ideia era que eu entrasse sozinha para ver a reação dela. Bom,
parece que não foi a esperada pelo doutor.

— Acharam que seria uma boa ideia eu vir te ver e a gente

conversar um pouco — digo, com cautela. Outra recomendação do


Dr. Thais parece um pouco mais velha aqui, seus cabelos ruivos que

estavam sempre incrivelmente alinhados parece um pouco sem

vida, e suas olheiras tomam parte do rosto. Rosto esse que parece
de boneca, ela é incrivelmente linda. Uma pena ser uma pessoa tão
ruim. Dá para ver na forma que está me encarando que ela não

mudou em nada.
— Quem teve essa ideia ridícula?

— Seu psiquiatra. — Ela sorri de forma quase diabólica e isso

me causa um calafrio, ainda estou perto da porta, posso correr


como uma maricas caso meu medo aumente.

— Pensei a mesma coisa — confesso. — Ela para de olhar

para o chão e me encara.

— Se eles soubessem o quanto odeio você jamais a


deixariam entrar aqui. — Sua voz é quase um sussurro. — Odiei

você desde que minha mãe me contou sobre a sua existência, meu

pai falava de você com tanta devoção. O quanto você era


inteligente, o quanto cantava bem, o quanto você era incrível, cada

adjetivo imposto a você era uma pitada de ódio crescente em mim.

Minha mãe me dizia todas as noites que a Victória e você era a


causa da nossa infelicidade, que nós nunca fomos uma família de

verdade porque você e a sua família nunca permitiram isso. Quando

eu conheci o Gabo e comecei a ser feliz de verdade você apareceu,

eu sempre vi a forma que você o olhava, no aeroporto, enquanto ele


se despedia da mãe, você estava lá, o encarando e eu e meu pai

estávamos escondidos esperando você embarcar, ele não queria


que nos visse. Depois na escola e até um quarto de frente para o

dele você conseguiu. Você é igual a sua mãe, Alice. E não vai

descansar enquanto não me ver morta igual a minha. — Estou


estática, minha mão segura a maçaneta da porta com tanta força

que sinto cortar meu dedo. A dor em meu peito volta, eu sabia que

não era uma boa ideia

— A sua mãe morreu porque era uma viciada e se você


morrer da mesma forma que ela, é porque é burra! O Gabo não te

largou por minha causa, ele fez porque quis, olha para você...

Mentirosa, manipuladora e na minha opinião, consegue ser pior do


que a sua mãe morta. — Solto tudo de uma vez e quando me viro

para sair me choco com o corpo do Gabriel parado atrás de mim.

Em um minuto a menina pedante que estava na cama se transforma

em um mar de lágrimas e dor.


— Foi por esse tipo de pessoa que você me trocou, Gabriel?

Ela veio até aqui me jogar na cara que não mereço estar com você

porque não passo de uma viciada de merda. Teve a ousadia de


zombar da morte da minha mãe. Você a conheceu, chorou comigo

quando ela morreu e a sua namorada vem até aqui para

desrespeitar a minha dor. Esfregar na minha cara que não sou

ninguém e não mereço você.


A voz dela ecoa pelos corredores, o choro falso é

extremamente convincente e até eu fico meio abalada. Gabo não diz


nada, mas a forma que me olha diz tudo, ele acredita nela! Meu

peito aperta ainda mais e as lágrimas caiem dos meus olhos sem

permissão, ele continua ali, me encarando como se não me


conhecesse. O empurro e corro pelo corredor em busca da saída,

os gritos dela estão me enlouquecendo, antes de virar para onde

fica a sala olho para trás, Gabo ainda me encara então abaixa a

cabeça e entra no quarto.


— Ah, filha vem aqui. — os gritos parecem ter alcançado a

sala e eles estavam abrindo a porta quando cheguei, minha mãe me

puxa para um abraço e tenta acalmar meu choro. Me viro para o


psiquiatra que me encara com pesar e digo.

— Esquece, pode deixá-la aqui por anos, ela não está nem

perto de melhorar. Puxo minha mãe e a arrasto para a saída sem

encarar meu pai que também parece bem abalado.


— Nós vimos tudo, Alice — revela. — O doutor colocou uma

câmera para filmar o encontro de vocês e avaliar o comportamento

dela.
— Mesmo? Então porque o Gabriel me olhou daquele jeito?

Como se não me conhecesse e ainda ficou lá com ela?


— Ele queria que o encontro desse certo, estava nervoso e

quando a Thais começou a atacar você ele viu o quanto estava

sendo injusto em não te ouvir, decidiu ir até lá para te levar embora,

mas quando ouviu você responder deve ter ficado abalado. Eu sei
que foi difícil lá, mas você pegou um pouco pesado falando da mãe

dela daquela forma.

— Pesado? A senhora está brincando, né? Viu as coisas


horríveis que ela me falou?

— Eu vi, filha. Mas olha a sua posição e olha a dela... Ela é

doente, Alice e... — Minha mãe pausa o que ia falar e encara

alguém atrás de mim. Me viro e encontro Gabo parado nos


encarando, ele está com as mãos no bolso e parece ter chorado.

— Posso falar com você? — pergunta, me prendendo em seu

olhar.
— Vou lá dentro ficar com seu pai, também não está sendo

fácil para ele, quando acabarem aqui vamos embora. — Minha mãe

levanta, dá um abraço em Gabo e segue de volta para dentro. Ele

agora toma o lugar em que ela estava sentada e me observa,


calado.

— Se está esperando de mim um pedido de desculpas,

esquece! Não vai acontecer — declaro.


— Na verdade sou eu quem está buscando as palavras para

me desculpar com você. Desde o início você tem me alertado, foi


contra estar aqui e sempre achou que minhas visitas faziam mais

mal do que bem, alimentando nela uma esperança doentia de que

quando sair daqui vamos ficar juntos.

Eu sinto muito, Aly, de verdade! — pede. — Me perdoa por


ser um péssimo namorado, prometo que vou melhorar e

amadurecer para poder ser no mínimo digno de estar ao lado de

uma pessoa tão incrivelmente linda como você!


Minhas lágrimas voltam a cair e não me envergonho disso, eu

o amo e sei que a partir de hoje tudo será diferente.


6 anos depois
A sensação de sonho realizado me toma assim que piso na
sala de aula onde passei boa parte da minha adolescência. Olho

para cada rosto e consigo enxergar neles meu namorado, minha


cunhada, meu amigo, David e muitos outros que marcaram minha
passagem por aqui.

Cada rosto…
— Bom dia, turma — cumprimento, recebendo de volta

respostas desanimadas. Típico de adolescentes. Sorrio. — Meu

nome é Alice Sowyer e sou a professora de línguas de vocês. Antes


de começar quero que se apresentem para mim e para os demais

colegas, vamos iniciar nosso ano formando um reconhecimento de


território.
Pouco tempo depois todos já haviam se apresento e o clima

de desconforto foi se dissipando.


Saio do colégio e vou direto para o conglomerado onde Gabo

montou a filial de sua empresa, quem diria que ele se tornaria um

engenheiro renomado em tão pouco tempo.


— Posso entrar? — pergunto da porta. Ele está concentrando

lendo alguns documentos.

— Claro, amor. Estava finalizando aqui para ir pra casa.


Como foi o primeiro dia?

— Fiquei com pouco nervosa, mas deu tudo certo, por alguns

momentos eu pude nos ver desenhados nos rostos daqueles


adolescentes e isso me encheu de esperança. Quer dizer, quem

naquela época diária que acabaríamos assim? Nós dois estamos


noivos, sua irmã se tornou a design de interiores mais procurada de

NY e o David um excelente pediatra, ele termina a formação como

cirurgião quando mesmo?

— Daqui a um ano e meio — responde, sorrindo.

— Eu sinto muito orgulho de nós! — falo o abraçando e sento

em seu colo. — A Bianca está animada de estar voltando para cá e


antes que isso gere uma confusão vou te dizer de agora que não

vou aceitar que se meta na vida dela com o David.


— Não começa, Alice — tenta falar, mas o paro.
— Não, Gabo. Já estamos bem grandinhos, a 6 anos atrás

me calei com toda a sua idiotice sobre isso, mas desta vez teremos

um problema sério se você insistir em afasta sua irmã do seu melhor

amigo, que é claramente o cara perfeito para ela.

— Eu não vou mesmo entrar em guerra com você, só vou te

lembrar que minha irmã tem um namorado, quase noivo, então sinto
que não preciso me preocupar com o fato do meu amigo ter tido

uma paixonite por ela.

— Vamos ver até quando eles vão se manter assim depois

que ela chegar. — Afirmo.

— Só, por favor, não fica tentando empurrar os dois um para

o outro. Respeita o namorado dela.

— Amigaaaa! — grito, no aeroporto ao ver Bianca com sua

bagagem

Ela larga tudo e corre.


— Que saudade, cunhada. — Me abraça. — Cadê meu irmão

e o safado do David, achei que viam me buscar.


— Eles ficaram lá em casa preparando nossa janta —

respondo, rindo.
— Bom estarem fazendo um ótimo trabalho, pois estou
faminta. — brinca.

— Vem, vamos logo. Quero saber de tudo, cada detalhe.


— E eu estou faminta e com saudade de vocês.

— Por falar em saudade de nós, já pensou em como será sua


vida aqui? Você o David…

— Não viaja, Aly. Eu estou namorando e ele também, nós


somos só amigos, nos falamos de vez em quando.
— Uhum, vocês eram só amigos quando ele foi em NY ano

passado e isso não impediu você de dormir com ele, sua safada.
— Aly... Nossa, você é tão inconveniente.

— E você é uma mentirosa, sonsa.


A vida é engraçada as vezes. Pode ser barra pesada. Como

quando se apaixona por alguém. Mas eles esquecem de te amar de


volta. Quando a sua melhor amiga e seu namorado te deixam

sozinha. Quando puxa o gatilho ou acende o fogo e não pode voltar


atrás. Como eu disse... No esporte, chamam isso ''de se superar''.

Na vida eu chamo isso de pegar pesado. (...) Sabe a expressão que


"as melhores coisas da vida são de graça"? Bem, essa expressão é
verdadeira.

De vez em quando as pessoas se superam,


Se tornando mais corajosas com elas mesmas

Às vezes, elas te surpreendem.


Às vezes, elas cedem fácil.
A vida é engraçada, às vezes.

Pode nos surpreender


Mas se você estiver perto o suficiente

Você encontrará esperança!


No mundo das crianças...

Numa canção...
Nos olhos de alguém que você ama...
E se você tiver sorte...

Digo, se você for a pessoa mais sortuda desse planeta...


A pessoa que você ama, decidirá te amar de volta."
(Texto final é uma Citação da série One The Hill.)

Fim
Gostaria de agradecer em primeiro lugar a Deus, pois sem

ele jamais teria criatividade para construir essas histórias. Em


segundo lugar a vocês que abdicaram um pouquinho de tempo para
ler este romance, espero que eu tenha conseguido passar a

mensagem certa para cada um e que tenham se apaixonado assim


como eu por Gabo e Aly, por Bianca e David. Esses quatro tomaram
posse do meu coração e das minhas noites de sono. Mas super

valeu a pena, olha onde eles estão agora, arrebatando outros


corações, povoando outras mentes.

Agradeço ao apoio dos meus pais e amigos, mas em especial


agradeço a Juju Figueiredo que além de amiga é minha parceira de

trabalho, confidente, diagramadora, design, orientadora e muito

mais.
Enfim, obrigada a todos por me acompanhar nessa jornada.


Convido vocês a conhecer meus outros trabalhos.

UM AUTISTA EM MINHA VIDA:


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Um conto muito lindo que relata um romance entre uma CEO


arrogante e seu estagiário portador de TEA (Transtorno do aspecto

do autismo).

ESTRELA, MINHA ESCOLHA PERFEITA.


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Estrela é o primeiro livro de uma coleção, onde 4 Autoras se


reuniram para criar 8 Romances baseados em histórias bíblicas.

Estrela é baseado no livro de Ester.


O SEQUESTRO DE KATHERINE: https://amzn.to/2SxduEm

Um dark bem diferente do que se é costumado, uma história

forte e cheia de segredos. (Maiores de 18 anos).

DE VOLTA AO CATIVEIRO https://my.w.tt/0DVwRbOhr0

Segundo livro da história "O sequestro de Katherine"

Que revela um pouco mais da trama e nos mostra a fundo a

vida de cada sequestrador e seus verdadeiros motivos.

ENTRE O AMOR E O ÓDIO:


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Um abraço,

Ana Caroline
Ana Caroline, 32 anos, carioca, ama ler e adora criar mundos

paralelos.
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