Artefatos e matérias-primas
dos povos indígenas do Oiapoque
Iepé e Museu Kuahí
No extremo norte do país, no Estado
do Amapá, moram os povos Karipuna,
Galibi Kali’na, Galibi Marworno e
Palikur. Somam uma população de
aproximadamente 7.000 indivíduos.
Poliglotas, boa parte deles se comunica
em vários idiomas. Além das línguas
indígenas Galibi e Palikur, utilizam o
patoá como língua comum, o português
para comunicação com a população
brasileira e o francês com os vizinhos
da Guiana Francesa. Este livro, fruto de
pesquisas e levantamentos realizados
pelos índios funcionários do Museu
Kuahí, em suas aldeias e junto a artesãos
de suas comunidades, bem como de
oficinas na sede do Museu, revela a
riqueza de conhecimentos sobre os
recursos ambientais existentes em seus
territórios e a variedade de práticas
associada à fabricação de artefatos, de
uso cotidiano e ritual.
Artefatos e matérias-primas
dos povos indígenas do Oiapoque
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O Iepé é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2002, com o objetivo de
contribuir para o fortalecimento cultural e político e para o desenvolvimento sustentável
das comunidades indígenas que vivem no Amapá e no norte do Pará, proporcionando-lhes
assessoria especializada e capacitação técnica diversificada, para que se organizem e
possam enfrentar, de forma articulada, os desafios crescentes que se colocam hoje às suas
comunidades e organizações, para a defesa de seus direitos e interesses.
Conselho Diretor Lúcia Szmrecsányi (Presidente),
Nadja Havt Bindá (Tesoureira), Juliana Rosalen (Secretária)
Conselho Editorial Denise Fajardo Grupioni, Dominique Tilkin Gallois,
Luis Donisete Benzi Grupioni, Lúcia Hussak Van Velthem, Lux Boelitz Vidal
Coordenador Executivo Luis Donisete Benzi Grupioni
Coordenador Executivo Adjunto Décio Horita Yokota
Coordenadora do Programa Oiapoque Ana Paula Nóbrega da Fonte
Assessoria Antropológica ao Programa Oiapoque Lux Boelitz Vidal
Para saber mais sobre o Iepé consulte www.institutoiepe.org.br
Realização
Parcerias institucionais
Esta publicação foi possível por meio do generoso apoio do povo dos Estados Unidos através da
Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O conteúdo é da responsabilidade
dos autores e não necessariamente reflete a visão da USAID ou do Governo dos Estados Unidos.
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Artefatos e matérias-primas
dos povos indígenas do Oiapoque
Iepé e Museu Kuahí
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Copyright © Iepé, 2013
Coordenação das oficinas, edição de textos e seleção das imagens Esther de Castro
Assessoria antropológica e revisão Lux Vidal
Projeto gráfico, capa e diagramação Ana Marconato
Produção do material gráfico Gabriela Menezes
Fotos Esther de Castro: pp. 145 (superior; moças com cuia) e 189 (flecha) • Francisco Paes:
p. 180 (carimbo) • Laércio Fidelis: pp. 156 (saias de miriti) e 181 (flautas) • Lux Vidal: pp. 143,
144, 145 (inferior), 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 157, 158, 159, 160, 161,
162, 163, 164, 165, 166, 167, 167, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 176, 177, 178, 182, 183, 187 •
Miguel Chaves: pp. 175 e 176 (colares), 179 (anel), 184 (escudo).
Apoio à realização das oficinas no Museu Kuahí
As oficinas que deram origem a este livro foram realizadas no âmbito do “Consórcio
Paisagens Indígenas do Brasil”, executado pelo Iepé em parceria com a TNC e com
financiamento do USAID, e do projeto “Construindo uma rede de experiências indígenas e
de projetos sustentáveis para o futuro, no Planalto das Guianas”, apoiado pela Rainforest
Foundation Noruega e desenvolvido pelo Iepé.
Apoio à publicação do livro
Este livro foi editado no âmbito das atividades do Pontão de Cultura “Arte e Vida dos Povos
Indígenas do Amapá e do Norte do Pará”, com financiamento do IPHAN/MinC, e do projeto
“Dos direitos culturais ao desenvolvimento sustentável: articulando atores indígenas e
indigenistas no Amapá e no norte do Pará”, apoiado pela Embaixada da Noruega no Brasil,
ambos desenvolvidos pelo Iepé.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque / Iepé e Museu Kuahí ; [Esther de
Castro, organizadora]. – 1. ed. – São Paulo: IEPE – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, 2013.
1. Índios da América do Sul 2. Índios da América do Sul – Brasil – Cultura
3. Índios da América do Sul – Brasil – História 4. Índios da América do Sul – Brasil – Usos e costumes
5. Índios Oiapoque – Usos e costumes 6. Povos indígenas
I. Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação indígena. II. Museu Kuahí. III. Castro, Esther de.
13-11312 CDD-980.41
Índices para catálogo sistemático:
1. Brasil : Povos indígenas 980.41
2. Povos indígenas : Brasil 980.41
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Índice
Apresentação 7
Introdução 9
Matérias-primas para a confecção dos artefatos 15
Artefatos e instrumentos de fabricação 143
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Apresentação
No final dos anos de 1990, representantes indígenas do Oiapoque
viajaram para a Alemanha quando visitaram vários museus e viram objetos
etnográficos de vários povos indígenas lá guardados. Encantados com
o que descobriram, propuseram ao Governo do Amapá a construção
de um museu indígena na cidade de Oiapoque. Em 17 de abril de 2007
foi inaugurado na avenida principal daquela cidade, próximo ao Fórum
Municipal e à Igreja matriz, o Museu Kuahí dos Povos Indígenas do
Oiapoque. Desde sua inauguração, o Museu vem sendo administrado e
gerido por uma equipe de funcionários índios indicados por lideranças dos
quatro povos daquela região: Karipuna, Galibi Kali’na, Galibi Marworno e
Palikur, que habitam as Terras Indígenas Uaçá, Galibi e Juminã, onde vivem
mais de 7 mil pessoas.
O Iepé tem sido um parceiro do Museu Kuahí desde sua concepção. Nesta
trajetória, vem atuando na consolidação do museu, por meio de ações
como formação em museologia voltado à qualificação dos funcionários
indígenas; organização de exposições de curta e longa duração; preparação
e produção de publicações; promoção de intercâmbios e parcerias com
outras instituições; elaboração e execução de projetos que permitam
diversificar, dar dinamismo e difundir as atividades ali desenvolvidas.
Este livro – escrito e ilustrado pela equipe indígena do Museu Kuahí, em
interação com reconhecidos artesãos nas aldeias do Oiapoque – é fruto de
um conjunto de oficinas de pesquisa voltadas à investigação e ao registro
de matérias-primas empregadas na confecção de artefatos de uso pessoal
e familiar, utilizados em atividades cotidianas e rituais. Essas oficinas
de pesquisa, bem como as atividades de sistematização dos dados e de
organização desta publicação foram coordenadas pela antropóloga Esther
de Castro, com assessoria e acompanhamento da antropóloga Lux Vidal.
Todas as oficinas foram realizadas no âmbito do “Consórcio Paisagens
Indígenas Brasil”, executado pelo Iepé em parceria com a The Nature
Conservancy e com financiamento da USAID, e do Projeto “Construindo uma
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rede de experiências indígenas e de projetos sustentáveis para o futuro,
no Planalto das Guianas”, apoiado pela Rainforest Foundation Noruega e
desenvolvido pelo Iepé. Tais iniciativas foram realizadas em consonância
com outras atividades voltadas ao apoio e implementação do Plano de Vida
dos Povos Indígenas do Oiapoque, sobretudo nas ações referentes à gestão
territorial e ambiental das terras indígenas daquela região.
A publicação deste livro é parte dos resultados das atividades
desenvolvidas por meio do Pontão de Cultura “Arte e Vida dos Povos
Indígenas do Amapá e norte do Pará”, gerido pelo Iepé, com financiamento
do IPHAN/MinC. Por meio deste Pontão também se apoiou, no Oiapoque, a
realização da exposição “Memória e Identidade dos Kali’na Tïlewuju: Eles
partiram para o país dos brancos 1882-1892” e “Os Galibi Kali’na Tïlewuyu
do Brasil 1950-2010” e da exposição “A roça e o Kabe: a produção de
farinha de mandioca no Oiapoque”, em 2010 e 2011, respectivamente, além
de publicações e de um programa de formação de cinegrafistas indígenas.
Todas essas atividades contaram, também, com o apoio da Embaixada da
Noruega no Brasil. Somos gratos a todas essas agências de cooperação,
que permitiram que esse trabalho fosse realizado.
Esperamos que este livro, ao chegar nas aldeias do Oiapoque, reforce a
importância do Museu Kuahí como um espaço de pesquisa, documentação,
divulgação e interação cultural, contribuindo para a valorização dos
conhecimentos e práticas associadas à confecção de artefatos e à gestão
dos recursos naturais existentes nas Terras Indígenas do Oiapoque.
Luís Donisete Benzi Grupioni
Coordenador Executivo do Iepé
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Introdução
Essa publicação é resultante de um processo de aprendizagem de pesquisa
e registro de informações desenvolvido pelos índios funcionários do Museu
Kuahí junto aos artesãos de suas comunidades indígenas. Essa pesquisa
tem como tema as matérias-primas utilizadas pelos Povos Indígenas do
Oiapoque para fazer os seus objetos, muitas vezes denominados, nos
contextos longe das aldeias, de artesanatos. A proposta e a escolha
indígena de estudo das matérias-primas visam colocar na ordem cotidiana
uma reflexão e sensibilização sobre a obtenção e uso de seus recursos
ambientais, assegurando práticas que levem à preservação do meio
ambiente e à continuidade de seus saberes e práticas.
No decorrer das oficinas de pesquisa foi se colocando como uma
abordagem viável do tema a necessidade de procederem ao levantamento,
organização e registro de seus conhecimentos. De modo simultâneo, foi
se tornando mais clara a demanda por transmitir esses conhecimentos
aos mais jovens, retomar certas práticas mais antigas e muito viáveis,
trocar experiências entre as aldeias e entre os povos que compartilham
essa mesma localidade e, em um plano mais amplo, contribuir com dados
para responderem adequadamente a seus desafios socioambientais
contemporâneos. Podemos citar como exemplos desta realidade complexa
a passagem da rodovia BR-156 na área indígena com suas consequentes
mudanças ambientais e sociais quanto a ampliação de redes sociais
gratificantes, como as novas relações possibilitadas pelo Museu Kuahí,
especialmente através de atividades culturais, de formação educacional e
da loja. A própria exposição de artefatos na loja tem ampliado a troca de
informações sobre o fazer artístico, pois é cotidiano o fluxo de artesãos e
seus parentes que por ali transitam, momento em que apreciam, avaliam,
comentam as novidades, às vezes encomendam e compram objetos; por
outro lado, este contexto tem colaborado para o desenvolvimento de uma
consciência sobre as escolhas das matérias-primas e a sustentabilidade dos
objetos feitos para venda.
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Entre outubro de 2008 e julho de 2010, foram realizadas quatro oficinas,
reunindo os pesquisadores funcionários indígenas do Museu Kuahí e
artesãos residentes nas aldeias; participaram também alguns jovens
interessados nas atividades educativas do museu e três pajés. Como
coordenadora das oficinas, incentivei a troca de experiências, a percepção
das diferenças e semelhanças entre a produção artesanal dos grupos
ali representados e ofereci opções aos participantes para registrarem e
organizarem os seus conhecimentos. A pesquisa feita por eles reafirmou
a importância dos modos de interação com o ambiente, apontou o
cuidado que já inspira a obtenção de certos materiais e tornou evidente
a importância do artesão como mestre detentor de conhecimentos
inestimáveis.
A primeira oficina ocorreu entre os dias 6 a 10 de outubro de 2008,
no Museu Kuahí, em Oiapoque. Formamos um grupo de dezessete
pesquisadores e dez artesãos.
Entre os Karipuna, Galibi Marworno, Palikur e Galibi Kali’na, embora
fazer objetos seja uma atividade de domínio público e, idealmente, todos
os homens devam saber fazer todos os objetos necessários à sua vida
de casado, valendo o mesmo para os objetos feitos pelas mulheres,
há homens e mulheres reconhecidos pelo seu ofício, a quem se faz
encomendas, se troca ou se compram objetos bem feitos e belos. Alguns
destes reconhecidos mestres vieram de suas aldeias para participar
dessa oficina. Tivemos assim um grupo seleto, cujos conhecimentos e
experiências mostraram-se como fontes principais para os trabalhos
desenvolvidos; os jovens funcionários indígenas do museu, mais
acostumados com o domínio da escrita, foram fundamentais para o
registro das informações levantadas.
Uma vez que permeou o grupo uma rede social de parentes e havia
uma composição de gerações de jovens e senhores, contamos com um
excelente nível de entrosamento entre os participantes, o que possibilitou
ao grupo trocas de conhecimentos muito importantes. Sendo assim, o
levantamento reafirmou as diferenças e semelhanças entre os objetos,
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bem como quanto à obtenção das matérias-primas entre os quatro grupos
indígenas que, por habitarem localidades ambientalmente diferentes e
possuírem costumes tradicionais diferenciados, também têm acesso a
diferentes matérias-primas, o que leva muitas vezes a fazerem trocas e
vendas de matérias-primas entre si.
Nessa primeira oficina os participantes optaram por fazer um levantamento
dos artefatos feitos na área indígena como um todo, com os nomes regis-
trados, na medida do possível, nas línguas faladas pelos Karipuna, Galibi
Marworno, Palikur e Galibi Kali’na, que são o patoá (língua geral entre os
índios), o palikur e o galibi kali’na, além do português. Às vezes, os parti-
cipantes conheciam o nome em uma língua ou outra, às vezes apontavam
maneiras diferentes de escrever os termos e assim houve muita discussão
entre eles, mediada por alguns professores indígenas ali presentes, o que
também tornou as oficinas dinâmicas. Há poucas palavras em galibi kali’na
porque havia poucos representantes desta etnia nas oficinas e os jovens
falam muito pouco a língua materna, embora a compreendam.
Há um dicionário em patoá e outro, em versão preliminar, em palikur, que
foram usados como referência para a grafia dos nomes publicados; há
também termos coletados diretamente nas oficinas, que não constam nos
dicionários, cuja grafia assumida pelos participantes resulta da sonoridade
da palavra e de aproximações feitas a partir das regras gramaticais dos
dicionários usados nas oficinas, que são:
• TOBLER, Alfred W. Dicionário Crioulo Karipûnha / Português. Brasília:
Summer Institute of Linguistic, 1987.
• GREEN, Harold e GREEN, Diana (colaboração dos Palikur da aldeia
Kumenê). Vocabulário Português – Palikur – Kheuol. Belém: Sociedade
Internacional de Linguística, 2004. Edição preliminar e experimental.
Inicialmente, foi elaborada em conjunto, com uma professora escrevendo
na lousa e os demais participantes completando os dados, uma extensa
relação de todos os objetos, com as matérias-primas necessárias para
a confecção de cada um deles, bem como os respectivos instrumentos,
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indicando, nesse caso, as matérias-primas encontradas na área indígena
e as compradas no comércio regional. Essa relação nos oferece um
panorama concreto das matérias-primas que são necessárias para
se fazer cada objeto. Pensamos que fica subentendido, nesse guia, o
custo, não só no sentido monetário, mas também de investimento em
um conjunto de necessidades a serem satisfeitas para que se possa
fazer um objeto. A partir desta relação de objetos e com a mesma
metodologia, construímos uma lista com cerca de 130 matérias-primas
utilizadas para a confecção dos artesanatos. Registramos, também na
medida do possível, as matérias-primas segundo as línguas faladas
nas áreas. Algumas matérias-primas não estão registradas na língua
portuguesa, outras foram citadas apenas em uma das línguas faladas
na área, às vezes, porque os vegetais não existem igualmente em todos
os lugares, às vezes, porque não são usados por determinado grupo,
que, então, não tem um registro tão presente. Assim, esta publicação
apresenta eventualmente ausências de nomes, resultantes do próprio
ambiente e do contexto de seleção e uso da matéria-prima pelos índios.
Iniciamos o estudo das matérias-primas com a produção de cerca de
50 pequenos textos e desenhos de árvores e animais listados como
matérias-primas para o artesanato. Houve grandes dificuldades, pois
os artesãos geralmente não dominam bem a escrita e muitas vezes
o próprio desenho figurativo se mostrou para eles uma atividade
totalmente nova. A dificuldade nos registros, superada pela ajuda dos
pesquisadores funcionários do museu, foi compensada pela riqueza de
seus conhecimentos sobre as matérias-primas.
Na segunda oficina, de 08 a 19 de junho de 2009, contamos com a
participação de apenas dois artesãos: uma senhora Karipuna exímia
conhecedora de sementes e plumagens e um senhor Palikur detentor de
muitos conhecimentos e práticas, totalmente dispostos a colaborar para
o estudo e registro das matérias-primas que haviam sido levantadas na
oficina anterior. Ambos mostraram-se fontes orais imprescindíveis; os
pesquisadores recorreram a eles e a seus parentes para procederem ao
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estudo das matérias-primas que continuamos a pesquisar. Realizaram
cerca de 100 textos pequenos e seus respectivos desenhos ilustrativos.
A noção de uso com responsabilidade passou a ser enfatizada, diante do
estudo das condições de obtenção das matérias-primas.
Nas duas oficinas seguintes optamos por desenvolver atividades em
campo, nas aldeias, para que se pudesse pesquisar e ver os artefatos
e, principalmente, as matérias-primas, bem como informar as pessoas
sobre a pesquisa em andamento e as atividades do Museu Kuahí. Os
pesquisadores queriam tirar dúvidas, perguntar para mais informantes
e assim, iniciaram a terceira oficina, entre os dias 30 de agosto e 10 de
setembro de 2009, entre os Karipuna, percorrendo as aldeias Manga,
Santa Isabel e Taminã, às margens do rio Curipi. Destacou-se, nessa
etapa, a pesquisadora Bruna dos Santos Almeida, que por residir na Aldeia
Manga, tomou a frente da realização dos contatos com os informantes, o
registro de suas falas em um caderno de campo e a tomada de fotos das
plantas pesquisadas nas aldeias.
Houve grande aceitação das pesquisas por parte das comunidades
como um todo e especialmente entre os artesãos, professoras e líderes
comunitários. As professoras indígenas viram a pesquisa como uma
atividade que organiza os dados, produzindo materiais de uso para suas
atividades nas escolas. Reafirmaram o grande valor de uma publicação,
que possa também ser usada nas escolas. Nessa etapa, iniciamos um
contato presencial com os caciques e representantes da FUNAI também
interessados nos dados sobre questões ambientais.
Apesar de não estar previsto em um primeiro momento, coletamos
matérias-primas que foram doadas espontaneamente por nossos
informantes. Mostramos aos nossos informantes desenhos e textos
produzidos nas etapas anteriores e registramos suas observações sobre
esses materiais.
Uma quarta etapa, entre os dias 5 e 15 de julho de 2010, foi desenvolvida
entre os Galibi Marworno, na aldeia Kumarumã, no rio Uaçá. Os pesquisa-
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dores trabalharam com os artesãos, registrarando fotos de matérias-primas
e contextos de uso, especialmente da confecção de uma canoa.
Ainda nessa oficina, os pesquisadores puderam ouvir, como informante, o
pajé Leven e ampliaram os dados sobre as aves e os peixes usados como
matérias-primas para o artesanato. Conferiram todos os dados, visando já a
presente publicação.
Esta publicação apresenta o ponto de vista dos índios, seus conhecimentos
e aquilo que consideraram necessário, nesta oportunidade, documentarem.
Nesse sentido, as identificações científicas das matérias-primas não foram
colocadas em pauta, mas podem vir a ser pesquisadas com a colaboração
de botânicos e zoólogos em próximas demandas.
Permeia esta pesquisa o registro de um mundo percebido e vivido através
de conceitos e práticas cotidianas que permitem especificar usos, locais,
modos, dificuldades, relações sociais e outros tantos conhecimentos relati-
vos aos artefatos e às matérias-primas. Há pontos de vista ora semelhantes
ora bem diferenciados, pois se trata de quatro grupos indígenas discur-
sando, a partir de seus referenciais ambientais e principalmente culturais
específicos. Os textos mostram uma unidade entre material e imaterial: há
invisíveis a serem contatados e interdições a serem observadas; há objetos
a serem usados sob certas regras e condições; há perigos, doenças e curas,
enfim, há nos objetos e nas matérias-primas substâncias e transformações
conhecidas e devidamente respeitadas pelos índios.
Esther de Castro
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Matérias-primas
para a confecção dos artefatos
15
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Açaí
patoá: Uasei • palikur: Was • galibi kali’na: Wasai
Açaizeiro é uma árvore alta e fina; dá frutos
em cachos, em camadas de açaí. Ele dá frutos
na época do verão e do inverno: no verão, nos
meses de outubro e novembro e, no inverno,
nos meses de abril, maio e junho.
Os homens sobem no pé do açaizeiro para tirar
o açaí, para depois se fazer o vinho de açaí;
as sementes as artesãs usam para fazer seus
artesanatos, como colares, brincos e pulseiras.
Para subir no açaizeiro, os homens usam
uma braçadeira no pé do açaí e uma vez
recolhido o cacho, são as mulheres que
amassam o açaí e fazem o vinho.
Bruna Almeida
O açaí é apanhado na beira dos rios,
igarapés, lagos e também nos quintais
das casas. Aqui na nossa região, o açaí
é apanhado no período do inverno,
nos meses de março a junho.
Por existir muito açaí nas Terras Indígenas,
há uma aldeia com o nome de Açaizal
porque ela está próxima da região chamada
açaizal, onde tem muitos açaizeiros juntos.
Maria Tereza Cristina Jeanjacque
artefatos feitos com açaí:
colar, brinco, pulseira, jamaxim de expedição e japá.
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Acapu
patoá: Uakapou
palikur: Wakap
galibi kali’na: Wakapu
Acapu é uma madeira
que se encontra na Mata Firme.
São as pessoas que escolhem essas
madeiras boas, para serrar nas matas;
geralmente, são os homens que procuram
madeiras como: louro, angelim, andiroba,
jaruba e o acapu para usar na construção
das casas, para os esteios, para as tábuas
e também para outros tipos de móveis.
O acapu é madeira de lei. É difícil
de ser encontrado, pois está longe das
aldeias e já é escasso. Deve ser usado
com cuidado para não acabar.
Enildo Batista Forte
artefatos feitos com acapu: colar, pilão
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Acari
patoá: Gohé • palikur: Uw
O acari é um peixe que vive tanto na água doce quanto na água salgada.
É muito apreciado como alimento.
O formato de sua escama é usado como uma marca para a pintura corporal,
para a pintura das cuias e de vários outros utensílios.
Sidney Vidal
O acari é um peixe da mesma família do tamatá. A marca é como a do tamatá.
Ele não tem dente, o alimento dele é o lodo. É apanhado com a mão; os palikur
pegam este peixe com a mão, quando ele está na desova, nos buracos.
Tem bastante acari na cabeça do rio Urukawa e no rio Curipi até a Ponta do
Mosquito.
Manoel Labonté
artefato feito com o acari: colar
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Acitá
patoá: Acitá
O acitá é uma matéria-prima
que mede mais ou menos
dois metros de altura. Tem
as suas folhas diferentes das
folhas do arumã.
O acitá é encontrado nas
Capoeiras, perto do Baixão
ou Maricagem, mas pode
ser encontrado também
na Terra Firme.
Para os Karipuna, o acitá é
a fibra ideal para se fazer as
peneiras, os tipitis, abanos
e pacaras porque ele é mais
resistente, a fibra dura mais
tempo que a fibra do arumã.
Para se retirar o acitá no mato
são os homens que vão; fazem
assim quando uma pessoa se
casa, quando a peneira está
estragada, quando ele precisa
ele vai tirar; não vai armazenar
porque tem o ano todo e tem
bastante na área.
Enildo Batista Forte
artefatos feitos com acitá:
tipiti, chapéu plimaj, peneira, sakol,
abano, jamaxim e bolsa pathon.
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Aiawa
patoá: Aiawa
É uma árvore grande. Dá flores na época
do inverno em forma de cachos, que
quando estão maduros se abrem e as
sementes caem no chão,
onde os pássaros
chamados Juriti se
alimentam.
Esta semente
é marrom.
As mulheres
ajuntam muitas
sementes para
fazerem seus
artesanatos,
como colares,
pulseiras e brincos.
É uma árvore muito comum de se
encontrar no Mato, na Capoeira e em
Terra Firme. Suas sementes podem ser
armazenadas para ser usadas o ano todo,
porém em lugares secos e sem o acesso
da luz do sol.
Priscila Barbosa de Freitas
artefatos feitos com aiawa:
colar, brinco, pulseira e mastro.
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Algodão
patoá: Kotõ • palikur: Mawru • galibi kali’na: Maulu
O algodoeiro é um arbusto que produz o algodão. Esta planta nasce
através de sementes plantadas na roça ou no quintal de casa.
O algodão é colhido pelos homens, mulheres e até mesmo pelas
crianças por ser uma árvore pequena. Coloca-se o algodão em um
cesto ou bacia para transportá-lo para a casa e quando se colheu em
grande quantidade ele é armazenado para ser usado o ano todo.
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O algodão tem muitas utilidades na aldeia. Serve
para curar a garganta das crianças quando está
inflamada, para fazer a limpeza de ferimentos
quando uma pessoa se machuca e também na
dança do Turé, simbolizando a cura feita pelos
pajés.
A semente do algodoeiro serve para tirar o óleo,
para passar em pessoas paralíticas ou na parte
do corpo paralisado, com o objetivo de tentar
recuperar os movimentos perdidos. Serve para
reumatismo.
A folha do algodoeiro é pilada para retirar o sumo
que se dá para a pessoa que está com a garganta
inflamada e com catarro no peito. Este sumo com
uma pitada de sal e um pouco de água é colocado
para ferver e é muito bom para as pessoas que
estão com diarréia.
O algodão é fácil de ser encontrado nas aldeias.
Priscila Barbosa de Freitas
Os artesanatos usados na dança do Turé que têm
algodão são o butxe, o maracá, o bastão do jãdam,
o chapéu plimaj e a coroa.
As mulheres Galibi Kali’na sabem tecer as grandes
redes de dormir inteiramente de algodão.
Maria Tereza Cristina Jeanjacque
artefatos feitos com algodão:
rede, maracá, colar, pulseira, abano, peneira,
escudo, borduna, carimbo, chapéu plimaj,
adorno dorsal, cocar, flecha, saia de miriti e mastro.
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Andiroba
patoá: Kahapa
palikur: Tipigu
galibi kali’na: Kalapa
Na área não se planta andiroba; é uma
árvore que dá no Mato, na beira do rio. No
mês de maio estão caindo as sementes.
Atualmente, quando alguém corta a árvore,
fica faltando a semente para o uso.
Natã dos Santos e Mariléia Labonté Martins
23
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A semente se junta, coloca no jamaxim, empalha
com outra folha, aí coloca a alça do jamaxim
e leva embora; cada um leva um jamaxim
cheio. Aí quando chega em casa, aquela fruta
de andiroba vai ser colocada na água. Depois
de duas semanas, se tira aquela água e põe
para cozinhar. Depois vai se colocar no sol
por três dias. Aí vão quebrando aqueles frutos
e retirando a massa deles. Aí vão pegar esta
massa e colocar no tipiti. Faz-se um tipiti mesmo
próprio para isso, ele mede mais ou menos 1m de
comprimento e é para retirar o óleo da andiroba.
Aí vão tirando o óleo e engarrafando tudo.
Depois coloca-se tudo em um paneiro e quando
as pessoas quiserem pegar para misturar com
urucum, pegam e usam.
Usam-se também para pintar o banco, o maracá,
para passar nas sementes e caroços usados nos
colares, pulseiras, brincos e anéis para dar brilho
e, muitas vezes, evitar broca.
A andiroba se usava quando se ia caçar no mato
para que o carrapato e o mucuim não peguem na
pessoa.
Manoel Labonté
artefatos feitos com andiroba:
anel, colar, brinco, pulseira, masseira e ralador.
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Angelim
patoá: Angeli
O angeli é uma árvore que dá na Mata
Firme. Ele serve para fazer canoas e a
semente para fazer colares. A derrubada
deve ser feita na lua escura, senão o pau
racha e também dá broca.
Bernadete dos Santos
Angeli é madeira de lei.
Há muitos tipos de Angeli:
angeli vermelho, angeli
amarelo, angeli preto,
angeli rajado. É usado
para fazer móveis e casa,
o assoalho e o forro.
O angeli não é
derrubado à toa, ele
é um pau da Mata.
Joel dos Santos
A semente do angeli é
usada para se fazer
colares. Ela é redonda
de cor preta.
Maristela dos Santos
artefatos
feitos com angelim:
colar, brinco, pulseira,
pilão, masseira e canoa.
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Anta
patoá: Maipuhi • palikur: Arudiki
A anta é um animal grande que vive no mato. Ela fica longe e é difícil
encontrá-la, mas costuma ficar perto dos Igarapés de Terra Firme,
Maricás e Capoeiras antigas.
Quando os homens vão caçar, às vezes encontram e matam uma anta
para comer, com isso as mulheres aproveitam os dentes e os ossos
para fazer colares e pulseiras.
Davi Felisberto dos Santos
Usa-se o osso da coxa e da pata. Serra-se o osso no tamanho desejado,
depois lixa-se a peça e a fura com um ferro.
Edilena dos Santos
O dente da anta é usado para se fazer a flecha butu, rombuda, que
serve para caçar pássaros.
Osvaldo Forte
artefatos
feitos com a anta:
colar e flecha.
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Arapari
patoá: Hapahi
Arapari é uma árvore que não é muito alta; se
encontra à beira dos rios e nas florestas alagadas.
Ela não é plantada.
Seus frutos dão no período de inverno e não
servem para comer. As crianças colhem estes
frutos para brincar, jogando-os na água. As
mulheres coletam estes frutos para fazer
colares ou brincos e os homens aproveitam
os galhos secos do arapari e os levam como
lenha para preparar a comida ou a farinha.
Estas atividades de coleta e brincadeiras
geralmente acontecem quando as pessoas
vão para a roça ou vão pescar.
Davi Felisberto dos Santos
O beruberu é a fruta do arapari. A árvore
nasce nos campos alagados e beiras de rios.
No inverno as frutas caem, e as mulheres e
homens ajuntam dentro das canoas, usam
para fazer colar, brincos, cortinas. A massa que
tem dentro é tirada e fazem o óleo que é usado
em doenças como reumatismo. A mulher que
for tirar o óleo não pode estar menstruada.
Nas regiões dos campos alagados tem muitas
árvores de arapari. As sementes são redondas
e chatas, de cor marrom.
Bruna Almeida
artefato feito com arapari: colar.
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Arara Azul
patoá: Aha • palikur: Karu • galibi kali’na: Kalalawa
A arara azul é encontrada nas matas muito
distantes das aldeias porque elas estão
quase em extinção.
Quando ela é morta, suas penas são usadas
para se fazer cocares, plumagens e brincos.
Bernadete dos Santos
artefatos feitos
com a arara azul:
brincos, cocar, chapéu plimaj,
flecha e maracá.
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Arara Vermelha
patoá: Aha Huj • palikur: Karu • galibi kali’na: Kalalawa
Encontramos este pássaro em Terra Firme. Ele faz seu
ninho nos topos das árvores e anda sempre em duplas.
Quando alguém mata este pássaro para comer, as penas são
arrancadas e guardadas para se fazer colares, brincos, cocares
e outros artesanatos.
A época que se vê mais este pássaro é quando as árvores estão com
frutos como açaí, bacaba, etc.
A arara vermelha está quase em extinção, já não é vista em abundância
porque tem sido muito caçada.
Maria Leucy dos Santos
A arara vermelha é encontrada no começo do verão. Tanto homens como
mulheres podem fazer o artesanato com penas da arara.
Sandra Vidal da Silva
artefatos feitos com a arara vermelha:
brincos, cocar, chapéu plimaj, flecha e maracá.
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Araroba
patoá: Bua pagai blã e Bua pagai huj • palikur: Kinup
As folhas, a casca e o tamanho da árvore são quase iguais,
só é diferente a cor da madeira por dentro: o Bua pagai
blã é de cor branca e o Bua pagai huj é vermelho. Também
a sapopema delas indica a
diferença: a branca é mais
longa e a vermelha é mais
curta. As duas são árvores
altas, de 20 a 25 metros de
altura, as menores são as mais
jovens. São como um pé de manga.
A casca é remédio para diabetes
e para coceira.
Estas árvores não se plantam. Quando se corta,
alguma araruba nasce do próprio tronco que ficou,
mas muitas vezes elas criam aquela broca, uma
espécie de besourinho, que aí mata a madeira.
É madeira de Terra Firme. Para os Galibi
Marworno tem muito na área, mas fica longe
da aldeia, tem que pegar o rio Uaçá, entrar
no Igarapé e depois andar até a Terra
Firme. Para os Palikur, tem que subir o rio
Urukawa, o Igarapé e depois ir à pé até a
Terra Firme.
Para ir cortar pode ir um sozinho,
mas é melhor dois ou até cinco
homens da mesma família:
cunhado, irmão. A
araruba é cortada
com o machado.
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As duas árvores são madeiras para fazer remos. As duas dão
bons remos.
Na hora de trabalhar tem que ter cuidado para não rachar quando é
a madeira vermelha; agora a branca já é mais segura para trabalhar
porque não racha como a vermelha.
Para o trabalho de fazer o remo com o machado se tira a sapopema.
Para lavrar leva até a canoa e segue até chegar em casa; pega o
terçado, um machado também, compasso, plaina, formão, a lixa grossa
que está substituindo a língua de pirarucu; eu às vezes uso a lang txig,
pega, ainda, mais o enxó e um cordel e lavra e lixa e faz o remo todo.
O remo tem duas formas:
uma para homem e
uma para mulher.
O remo de homem
mede mais ou menos
2m e serve para
caçar, para ir mais
longe. O remo de
mulher mede uns
1,5m e serve para
ir até a roça, visitar
a família ou ir lavar
roupa na beira do rio.
O remo tem cabeça, cabo e lâmina.
Em um dia se faz dois ou três remos
prontinhos, mas tem que ser mestre,
senão ele inventa e não fica muito bom.
Gonçalo dos Santos
artefato feito
com araroba: remo.
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Ariranha
patoá: Lut • palikur: Saruw
A ariranha é um animal que tem as patas em forma de nadadeiras. É
encontrado nos igarapés, rios e lagos. É muito comum as ariranhas
andarem em grupos nos igarapés. Alimentam-se de peixes, galinhas,
patos, etc.
Seus dentes são usados para se fazer colares.
Priscila Barbosa de Freitas
artefatos feitos com a ariranha:
colar e pulseira.
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Arumã
regional: Guarumã • patoá: Ahumã • palikur: Hwepri
O arumã pode dar sozinho e pode ser plantado. É uma
planta da terra, nas baixadas, nas cabeceiras dos rios e
pode ser plantada também em casa que fica boa, no ponto.
O arumã tem mais no mato. De canoa a remo se gasta um dia para se
chegar lá. Quando se vai colher arumã, geralmente, colhem-se dois
feixes e armazena na água, mas só por uma semana porque depois ele
já apodrece. Armazena só o suficiente para trabalhar por duas semanas.
Quando ele está maduro, fica de cor verde escuro e a haste é
bem dura, no ponto para fazer os artesanatos. Fazer nate,
trançados como tipiti, peneira, paneiro, abano, sacola, etc.
Mulheres e homens podem colher, tirar a tala e nate,
trançar, em patoá. Fazem tipitis, abanos,
peneiras, paneiros, sacolas, etc.
Gonçalo dos Santos
artefatos feitos com arumã:
tipiti, paneiro, peneira,
abano, cesto e
chapéu plimaj.
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Axiuá
patoá: Axuá
Axiuá é uma árvore
encontrada em Terra
Firme. Esta árvore cresce
acima de dois metros de altura;
ela é muito grande e resistente.
Existem dois tipos de axiuá. Uma tem um
fruto comestível, que dá só uma vez por ano,
e é usada para fazer canoas. O outro tipo as
pessoas não podem comer seus frutos e dela
se extrai a casca do tronco para se fazer a
tinta usada na pintura das cuias.
Maria Leucy dos Santos
artefatos
feitos com axiuá:
cuia, abano, pote,
maracá, banco,
escudo, borduna,
mastro e canoa.
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Bacaba
patoá: Komu
palikur: Wohki
Bacaba é uma
palmeira encontrada
tanto nas Matas
como nas Ilhas; dá
frutos uma vez por
ano, nos meses de
novembro a janeiro.
Suas folhas são
usadas para cobrir
o cabê – casa de
farinha; os frutos
são usados para
fazer o suco e os
caroços servem para
fazer os colares.
Maria Leucy dos Santos
artefatos
feitos com bacaba:
colar, cobertura do
cabê, jamaxim de
expedição e japá.
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Bambu
patoá: Bãbu • palikur: Iwivra
O bambu é encontrado
principalmente perto da Tipoca,
mas dá em toda a área.
É usado para fazer a
buzina cutxi. Com o
bambu não é preciso
conversar para cortar.
Tira uma tora larga,
descasca e depois marca
ele com a marca do cutxi.
Manoel Labonté
O bambu é matéria-prima coletada em
Terra Firme e também em Alagado,
principalmente, perto dos rios e
igarapés. Tem bastante bambu na
região. É uma planta do ano inteiro.
O bambu serve para fazer as
buzinas cutxi. Nesse caso só os
homens cortam.
Com os bambus fininhos as
mulheres fazem colares, e aí
são elas próprias que vão cortar
estes pequenos bambus.
Claudia Renata Lod
artefatos feitos com bambu:
colar, brinco, pulseira, pote e buzina.
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Barro
patoá: Labu • palikur: Ibug; Parawtam
O barro é coletado em alguns lagos, às margens
do rio Urukawá. A família vai de canoa e entra
pelos Campos Alagados até o local; os homens
mergulham e retiram o barro do fundo do lago.
Mariléia Labonté
artefatos feitos com o barro: potes.
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Beija-flor do Mato
patoá: Kulubhi • palikur: Wet / Tukusi / Tukusmak
Este passarinho é como um sabiá, só o nome que é beija-flor, mas
não é um beija-flor, é um passarinho normal.
Tem bastante na Mata; é muito difícil de ver nas Capoeiras, só mesmo
se encontra na Mata, o ano todo.
Quando se mata este passarinho, também se come e se guarda as
penas. O plimaj dele fica muito bonito, bem vermelho.
Manoel Labonté
artefatos feitos com o beija-flor da mata:
o chapéu plimaj, cocar e o maracá.
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Besouro
patoá: Zel Mãmã Solei / Babu • palikur: Katatru / Wagaym
Zel mãmã solei é a matéria-prima utilizada na fabricação do colar butxe,
que é o adorno de pescoço usado na festa do Turé. Usa-se o mãmã solei
também para enfeitar o dossiê do adorno chamado kuhun.
Estas asas não são coletadas, elas são encontradas na mata, na roça,
principalmente na árvore da envira maro-piricito.
Nordevaldo dos Santos
Este besouro só é encontrado na época de queima da roça.
No mês de setembro, quando termina a queima
da roça, passa uma semana e ele aparece na
roça queimada. Também no mês de novembro,
ele gosta de pousar no topo de pau. Então é
quando os artesãos aproveitam muito para
pegar a asa deste besouro para fazer o
artesanato do adorno dorsal.
Hélio Labonté
artefato feito
com o besouro:
adorno dorsal, o butxe.
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Bua Piã
O bua piã é encontrado mais em
capoeiras de Matas Altas. Existe
em grande quantidade. É tirada a
árvore para fazer colher de pau.
Sidney Vidal da Silva
artefato feito com bua piã:
colher de pau
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Buriti ou Miriti
patoá: Bax • palikur: Isaw
O buriti ou miriti, como
também se diz, é uma
árvore com frutos,
encontrada em áreas
alagadas. O fruto é
colhido na época do
inverno por qualquer
pessoa, tanto homens
como mulheres. Como
o miriti cai no alagado,
para chegar até ele
usamos canoa. Seu
tronco é usado nas
aldeias como ponte
durante o verão, já o
braço para fazer rolha,
que é tampa para
garrafa. Com o miriti se
faz a parte de trás do
chapéu plimaj.
Nesta região é fácil
encontrar os miritizeiros,
existem muitos.
Sandra Vidal da Silva
artefatos
feitos de miriti:
peneira, abano, esteira, saia,
paneiro, tipiti, colar, pulseira,
cocar e chapéu plimaj.
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Cabaça
patoá: Kalbas • palikur: Tukugu • galibi kali’na: Tukulu
Quando é plantado, é semeado nas roças nos meses de
novembro e dezembro, quando está sendo feito o plantio das
roças, mas também pode nascer onde cairem suas sementes.
É uma planta rasteira bastante cultivada pelos povos indígenas.
Para ser colhida, é preciso esperar ficar madura. Depois de
ser colhida, é feito um furo na parte de cima e colocada
de molho para que saia toda a massa de dentro do fruto e
em seguida colocada para secar.
É bastante utilizada para levar água para a roça
ou até mesmo guardar água em casa.
Não há nenhuma restrição quanto a quem pode
ou não plantar e colher este fruto.
Evangelina Sônia dos Santos Jeanjacque
artefato feito com cabaça:
recipiente para carregar ou armazenar água e maracá pequeno.
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Caniço
patoá: Batõ Zé • palikur: Ivurhti Kakatyo
O caniço é uma árvore que tem o caule bem reto. É encontrado
na Mata Firme em qualquer época do ano, retirado pelos homens
e transportado para a aldeia em feixes, amarrados com cipó.
Não é difícil retirá-lo do mato. Sua
casca é retirada facilmente; seu
caule é aproveitado na construção
de casas e principalmente usado
para fazer a vara de pesca.
As árvores caniço
são bem altas.
Dieimison Sfair
artefatos
feitos com caniço:
peneira, vassoura,
rodo e maracá de
cabo longo.
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Caninana
patoá: Txo Comun • palikur: Kaybune Igakih
A cobra caninana também é conhecida
como Papa-rato. É uma cobra não
venenosa que fica mais em terra.
Usamos suas vértebras na fabricação de
colares e pulseiras.
Edilena dos Santos
artefatos feitos com a caninana:
colar e pulseira.
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Caracol
patoá: Koklix • palikur: Suguway
O povo Palikur gosta de fazer pulseira para a
criança brincar quando ela estiver chorando e
aí ela para de chorar.
Mateus Emílio
artefatos feitos com o caracol: colar e pulseira.
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Carará
O carará é um pássaro que consegue mergulhar e pegar peixes
no fundo d’água. O carará anda em bandos ou em pares.
Eles são vistos nas aldeias tanto no verão quanto no inverno.
Quando ele é morto, sua carne é muito apreciada para comer e
suas penas servem para fazer cocares, plumagens, colocar em
flechas e em brincos.
Sidney Vidal da Silva
artefatos feitos com o carará:
colar, brinco, cocar, chapéu plimaj, flechas e maracá.
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Carvão
patoá: Xabõ • palikur: Miget
Ao se usar o forno de fazer farinha, vão-se
formando camadas de carvão em fino pó,
na parte de baixo do forno. É chamado de
fuligem e é raspado e misturado com a
casca da árvore chamada de xixi, formando
uma tintura, que serve para pintar as talas
de arumã e de acitá de cor bem escura.
Sidney Vidal da Silva
artefatos feitos com carvão:
tipiti, bolsa pathon, cesto, remo e mastro.
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Cedro
Patoá: Sed • Palikur: Sedri
Os artesãos tiram o cedro no mato, longe
da aldeia; levam quase seis horas de
viagem. Somente os homens tiram esta
madeira por ser um serviço muito pesado
para as mulheres.
O cedro pode ser conservado por até
dois meses em local seco. É uma madeira
resistente, leve e fácil de trabalhar. Os
artesãos fazem esculturas de animais, usam
muito para fazer as canoas e usam até mesmo
na fabricação de casas; também se fazem
guarda-roupas, guarda-louças, estantes
e móveis em geral.
Sidney Vidal da Silva
artefatos feito com cedro:
masseira, canoa, tambor e ralador.
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Cerol e Mani
Cerol
A abelheira é encontrada geralmente na Mata.
As abelhas geralmente procuram as árvores que têm buracos e que elas
sejam bem resistentes para poder fazer a colméia.
O homem ou mulher encontra a árvore e tira a casca no lugar onde está a
colméia; retira as favas e espreme bem para tirar o mel e, assim, aquele
bagaço que fica na mão é o que nós chamamos de cera. O mel só é retirado
nas noites escuras.
Assim temos o cerol de abelha que serve para passar em cordas e fios para
amarrar flechas e arcos.
Mani
Para se ter o mani, derruba a árvore e retira o breu. Chegando em casa, junta
o breu com a cera de abelha mais uma folha de batata-doce. Coloca em uma
panela e leva ao fogo até ficar tudo bem derretido.
Prepara um bambu grosso e do tamanho que se queira o mani; finca no chão
e coloca o líquido dentro e então depois de seco é só tirar do bambu este
preparado endurecido, que passa a se chamar de mani.
O mani serve para passar em cordas para fixar melhor ao amarrar flechas, sa-
gaias, arcos e também serve para passar dentro de cerâmicas como os potes.
Sidney Vidal da Silva
artefatos feitos com cerol: colar, pulseira, flecha, cocar, chapéu plimaj e maracá.
artefatos feitos com o breu mani: colar, brinco, pulseira, masseira, escudo, flecha,
pote e chapéu plimaj.
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Cigana
patoá: Sassa • palikur: Hew
Era uma vez um índio aleijado que foi caçar e ele se perdeu na Mata.
Ele ficou três dias perdido e no quarto dia ele foi olhar e ele viu só cigana.
Ele falou: Eu escutei gente.
E aí de repente um homem apareceu e cumprimentou o índio aleijado.
O homem perguntou ao índio o que estava fazendo ali.
Ele respondeu: Eu perdi o rumo do meu caminho.
Mito narrado e registrado por Mariléia Labonté e Natã dos Santos
artefatos feitos
com as penas da cigana:
colar, brinco, maracá,
chapéu plimaj e coroa.
50 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Cipó
patoá: Ian Fhãs • palikur: Akuywa
O cipó ian fhãs é encontrado na Mata,
na montanha, na beira do rio, nos
igarapés e nas Baixadas.
Esta matéria-prima é coletada pelos
homens, quando saem para caçar ou
trabalhar na Mata; dá muito na área.
Para coletar, no inverno gasta-se
um dia e no verão um ou dois dias;
pode ser armazenado na água, pois
se conserva por muitos dias.
Este cipó serve para fazer peneira,
cesto, vassoura e chapéu.
Nordevaldo dos Santos
artefatos feitos com o cipó:
jamaxim, abano, paneiro, sakol,
bolsa pathon, cesto, peneira, japá,
tambor, cocar e chapéu plimaj.
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Cipó Formiga
patoá: Ian Fumi • palikur: Ip
O cipó formiga também é chamado de corda de
formiga. A corda de formiga é utilizada para fazer
os artesanatos com suas sementes. Já a corda serve
para as pessoas usarem na roça, para amarrar a
maniva da mandioca.
O cipó é uma planta das roças e das Capoeiras.
Enildo Batista Forte
artefato feito com o cipó formiga: colar.
52 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Cipó Olho de Boi
patoá: Akawã / Uei Bef • palikur: Wakao
O olho de boi é encontrado no Mato, na Terra Firme e também no Alagado.
Podemos encontrá-lo sempre no verão.
As mulheres e os homens apanham e juntam todas as sementes. Elas são
utilizadas para se fazer os artesanatos, como: colares, pulseiras, brincos, etc.
Ele também serve como proteção para mau olhado.
Iêda Figueiredo Narciso
artefatos feitos com o cipó olho de boi: colar, brinco e pulseiras.
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Coco
patoá: Koko
palikur: Kuk
galibi kali’na: Kuk
O coco é plantado próximo
das casas e terrenos de roça;
geralmente se planta no início
do inverno.
Tem bastante côco em todo
lugar e qualquer pessoa,
homem ou mulher, pode tirar
esta fruta.
Maxinaldo Forte Filho
O coco é uma palmeira que é
preciso ser plantada e que dura
em média três ou quatro anos
para dar frutos.
Seus frutos são encontrados
todos os meses do ano. Quando a
mulher está menstruada, ela não
pode tirar o coco porque senão a
palmeira não dá mais frutos.
O caroço do côco é utilizado para
fazer pulseiras, colares e brincos.
Evangelina Sônia dos Santos Jeanjacque
artefatos
feitos com coco:
colar, brinco e
jamaxim de expedição.
54 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Colhereiro
palikur: Yay
O colhereiro é encontrado principalmente no oceano, mas pode chegar até
o rio Uaçá. A sua carne é um alimento e suas penas usadas nos artesanatos.
Bruna Almeida
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Cortiça
A cortiça é um tipo de madeira muito leve, que
é utilizada para fazer proa de cascos de canoa e
tábua de cortar crueira.
Esta árvore é encontrada na beira dos igarapés e
tem bastante na área indígena.
Sídney Vidal da Silva
artefatos feitos com cortiça:
carimbo e escudo.
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Cuamba ou Coata
patoá: Kuata • palikur: Kwat
Cuamba é um animal que vive na Floresta. Este animal faz parte da nossa
alimentação, por isso usamos seus dentes e ossos para fazer artesanato.
Edilena dos Santos
artefatos feitos com cuamba: colar, pulseira e brinco.
57
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Cuieira ou Cuia
patoá: Kui • palikur: Tumowy • galibi kali’na: Kuwai
Cuieira é uma árvore que se planta para fazer
artesanato com o seu fruto, que é a cuia.
Para se fazer muda, usam-se os galhos. É
importante plantar em grande quantidade
para nunca faltar.
Temos um jeito de cuidar das cuieiras.
Quando a mulher está menstruada ela não
pode tirar o fruto; se isso acontecer a árvore
perde a força e os frutos não chegam a
amadurecer e caem.
A cuieira produz o ano todo. Tem várias
espécies de cuias; elas variam de tamanho e
de formato. Temos:
Cuia Redonda (Cabeça de Macaco)
patoá: Kui hõ (Tet makak)
palikur: Wakwa atew
Cuia Maracá
patoá: Kui mahaka
palikur: Tumaw waw
Cuia Comprida
patoá: Kui long
palikur: Kyabovip
Cuia Jamaru
patoá: Kui kalbas
palikur: Tumowri tukuginon
Cuia Quatro Lados
patoá: Kui kat faz
Edilena dos Santos
58 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Cumatê
Esta matéria-
prima pode ser
encontrada nas
Ilhas, nas Matas.
Pode-se encontrar
o cumatê o ano todo e
tanto os homens como as
mulheres podem retirar a casca
desta árvore. O transporte até a aldeia
pode ser em paneiros, sacolas, como
a pessoa preferir.
Depois de todo o processo para se fazer
a tinta, sua armazenagem é feita em
garrafas ou em potes. Esta tinta pode
durar até anos.
Diena M. Sfair
artefatos tingidos com cumatê:
cuia, abano, pote de barro, mastro,
banco, chapéu plimaj, maracá,
escudo e borduna.
59
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Cupiuba
palikur: Marawra
A cupiuba é um tipo de árvore muito grande, que é encontrada em qualquer
época do ano, na Mata, muito longe, sempre em Terra Firme.
Para pegar a cupiuba tem-se dificuldades por ser muito longe e porque tem
que puxar até o rio e só quando há muita água. Por isso, só os homens é
quem podem fazer isto.
A cupiuba é utilizada para fazer tábuas e flexal de casas, a cumieira.
Iêda Figueiredo Narciso
artefatos feitos
com cupiuba:
canoa e tambor.
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Curauá
patoá: Lapit • palikur: Kwawta
O curauá é plantado na roça. Com um ano já está
pronto para se retirar a fibra. Aí leva para casa, faz
uma armação que prende ele para puxar a fibra.
Então enrola a fibra e faz o fio usado para fazer os
colares e para os homens amarrarem as flechas.
Bernadete dos Santos
artefatos amarrados com curauá: pacará, peneira,
chapéu plimaj, colar, maracá, tambor, arco e flecha.
61
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Dã Xen
palikur: Wayabra
É um peixe bastante conhecido
na região do Uaçá. Sua época é
no começo do verão, pois a água
começa a baixar e ele sai do campo
para o rio para comer o matupiri
que, em cardumes, está subindo o
rio. Nesta época, fica muito fácil de
pescar um dã xen, é coisa que até
criança pesca.
Com o espinhaço do dã xen se faz
colares e pulseiras.
Sandro Ulisses dos Santos
artefato feito com
espinhas de dã xen: colar.
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Embaúba
patoá: Bua Kanu • palikur: Tukuwi
Embaubeira é uma árvore alta e fina. É encontrada o ano todo na roça,
na capoeira, no quintal de casa e no mato.
Existem dois tipos de embaúba, a da Mata e a da Capoeira. A embaúba
da Mata tem folhas finas e longas e a da Capoeira tem folhas largas e
arredondadas.
A embaúba da Mata serve para fazer remédios caseiros. O chá da folha
serve para diabete, pressão alta e também para emagrecer; o grelo da
embaúba pilado serve para passar e desinflamar feridas.
O pau da embaúba é usado
como vasilha para
colocar o mani (breu
com a fuligem) para
endurecer e depois
armazenar, pois ele é
oco por dentro.
Priscila Barbosa de Freitas
artefato feito com
embaúba: recipiente para
moldar e armazenar o mani.
63
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Embira
patoá: Kuhumin • palikur: Iwapri
Embira é uma árvore que nasce em
Terra Firme, cresce até uns metros de
altura e é fácil de ser encontrada.
Sua casca é extraída para fazer cordas
de paneiros; serve também como
remédio para infecção urinária.
Esta casca pode ser retirada por
homens ou mulheres, mas tem que
saber como retirá-la sem
causar danos à arvore.
Maria Leucy dos Santos
artefatos com alça ou
amarração de embira:
paneiro, tambor e vassoura.
64 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Flecha
patoá: Pahá Flex • palikur: Iyakot
A flecha é plantada nas
aldeias. A flecha é colhida
uma vez por ano; pode ser
por homens, mulheres e
mesmo criança.
O artefato flecha é muito
importante para os homens
porque significa a defesa
dos índios.
Para se fazer a flecha
é preciso que a planta
fique bem reta e para
isso precisa do calor
do fogo.
Sidney Vidal da Silva
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Galo da Serra
patoá: Kok Hox • palikur: Meu
O galo da serra é um pássaro que
se alimenta de frutas e é muito
raro de se ver porque ele mora
nas serras.
A cor das suas penas chama muito
a atenção. Elas servem para fazer
colar, brinco, cocar, chapéu plimaj
e maracá.
Maria Leucy dos Santos
66 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Gambá
patoá: Piã • palikur: Yatwa
Este gambá só é encontrado na
Mata Firme. Ainda tem bastante
deste animal.
É um animal pequeno, que as pessoas
matam quando ele entra em seus
quintais e mata as galinhas para
comer. Dele são, então, retirados os
dentes para fazer pulseiras e colares.
Maria Leucy dos Santos
67
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Garça
patoá: Zeghet • palikur: Waka • galibi kali’na: Pisulu / Akalau
A garça é encontrada nas savanas, nos lagos e nos rios.
No inverno, ela se encontra longe; devido a água grande,
os peixes vão entrando e a garça vai acompanhando.
No verão, ela está mais nos lagos, rios e igarapés onde
há comida, como peixes, matupiri, camarão e outros.
É assim principalmente no começo do verão, quando seca
e os peixes secam também em determinados poços.
Quando uma garça é
caçada, depois se tira e
se guarda as penas.
Davi Felisberto dos Santos
artefatos feitos com
as penas de garça:
mastro, coroa, chapéu plimaj,
colar, maracá e flecha.
68 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Gavião
patoá: Pagãni
palikur: Apakni / Mayg
O gavião é um
pássaro habitante
da floresta, bastante
encontrado nessa
região em qualquer
época do ano, mais
especificamente,
no verão. É um
pássaro carnívoro
que tem um bico
super resistente, que
arranca pedaços;
por ter unhas muito
grandes, furam suas
presas facilmente,
para comer rasgam
a presa com o bico.
O macho é sempre
maior que a fêmea.
Na caça é morto
pelo homem, isto
é, o homem é quem
caça. Serve de
alimento. As unhas
são aproveitadas
para fazer colar e
as penas para fazer
espanador, cocar,
brincos e colar.
Sandra Vidal da Silva
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Guará
patoá: Flamã • palikur: Wahra
A ave guará é encontrada nas praias de lama,
na época do verão, nos meses de julho a janeiro.
Só os homens que a pegam e matam. Suas penas
são utilizadas para enfeites nos artefatos.
Bruna dos Santos Almeida
artefatos com penas de guará:
colar, coroa, chapéu plimaj e maracá.
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Guariba
patoá: Guahib • palikur: Mawruksi
O guariba é um animal que vive nas florestas
de Terra Firme, nas montanhas, em cima das
grandes árvores; às vezes se encontra à beira
dos rios ou em florestas alagadas que ficam
perto das montanhas. Fica longe das aldeias
e é difícil de encontrar. Anda em bando e
sempre canta de tardinha e de manhã cedo.
Quando os homens vão caçar, encontram
o guariba e a matam. Para matá-lo tem
que acertar logo no primeiro tiro, pois se
errar ela se esconde e se acertar nas patas,
imediatamente ele lança
o rabo num galho e não
cai, fica colado, difícil de
cair no chão.
O guariba é para a
alimentação, mas se
aproveita os dentes para
fazer colares ou pulseiras;
a gordura é remédio para
dor de garganta e até
mesmo para curar certas
fraturas. Também o gogó
serve para tomar água
nele, isso evita a gripe e
tosse do guariba e ajuda
a criança a ter uma
voz boa e bonita.
Davi Felisberto dos Santos
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Inajá
patoá: Mahipa • palikur: Kayti
É uma árvore que nasce na
Capoeira e fazendas e dá fruta na
época de verão. Dela é utilizada
a fruta que é comestível; do
caroço são feitos anéis, colares,
pulseiras e brincos. A folha é
usada para fazer o jamaxim e
cobrir o teto da casa.
Maria Leucy dos Santos
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Inajá é uma palmeira encontrada na Mata, perto do rio, no Campo Firme
e também na Montanha. A fruta é para alimento e o caroço é usado para
fazer o colar e a pulseira. Ela dá o ano inteiro; tem muito na área. Pode ser
colhida por homem ou mulher. Homem e mulher não podem pegar se tiver
criança pequena, porque se cortar dá dor geral na criança. A mulher só
come inajá depois que a criança tem seis ou sete meses porque passa no
leite e vai dar dor de barriga e diarréia na criança.
O cruatá é uma vasilha que serve para tudo.
Manoel Azemiro Charles
O inajá é uma planta que se encontra no mato, no cerrado e nas ilhas. Sua
fruta dá de janeiro a abril. Pode ser coletada por qualquer pessoa, pois
quando está madura cai tudo no chão. Os animais como a cotia, paca,
macaco e outros se alimentam também de sua fruta. As pessoas a coletam
para comer com mingau ou farinha e aproveitam o caroço para fazer colares
e anéis.
O cruatá tira-se para colocar mandioca e casca de mandioca. As crianças
usam para brincar de barquinho. Os homens tiram as folhas mais novas do
inajá que estão bem no meio para cobrir as casas.
Davi Felisberto dos Santos
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Jaburu
patoá: Auehu • palikur: Yawyh
O jaburu é uma ave de Campo Alagado e também de oceano. Antigamente
tinha muito na nossa região, atualmente tem pouco. Essa ave aparece
mais no verão, quando começa a construir seus ninhos em cima dos
buritis, nos lugares mais distantes para não ser incomodada pelo homem.
Nós cantamos e dançamos sua dança no Turé.
O jaburu entra na nossa alimentação, suas penas são utilizadas para
fazer artefatos.
Edilena dos Santos
artefatos feitos comas penas do jaburu: colar, maracá, coroa e chapéu plimaj.
74 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Jabuti
patoá: Totxi • palikur: Wayam
Jabuti é um animal que pode ser encontrado nas
montanhas e florestas, em qualquer época do
ano. Sua carne entra na alimentação e seu casco e
ossos entram na fabricação de artefatos.
Edilene dos Santos e Bernadete dos Santos
artefatos feitos com jabuti: colar, brinco e pulseira.
75
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 75 12/5/13 8:17 AM
Jacaré
patoá: Kaimã • palikur: Punamna
O jacaré é um animal que vive no rio, lago e
Campo Alagado. Chega a medir até 6 metros de
comprimento. É um dos alimentos típicos dos
povos indígenas do Oiapoque, pois tem uma carne
saborosa. Também usamos as escamas, dentes e
ossos para fazer artesanatos.
Atualmente, estamos fazendo manejo das
espécies de jacaré para não entrarem em extinção.
Edilena dos Santos
artefatos feitos com o jacaré:
colar, brinco e pulseira.
76 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Japim
patoá: Iapo
É um passarinho que se habitua em
qualquer área e anda em bando.
Todos eles constroem seus ninhos
em uma só árvore. As penas servem
para fazer artefatos.
Maria Leucy dos Santos
artefatos feitos com penas de japim:
colar, coroa, chapéu plimaj e maracá.
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Jenipapo
patoá: Jenipa • palikur: Amuwan
Jenipapo é uma árvore que nasce na beira do
rio e dos igarapés. De seu fruto é extraída a
tinta que serve para pintar vários artefatos,
como as colheres, e fazer a pintura corporal.
A fruta é encontrada
na época do verão.
Maria Leucy dos Santos.
Na nossa região
temos dois tipos de
jenipapo, um que
dá nos Campos
Alagados e outro
que é plantado nos
quintais das casas.
O jenipapo da água serve para pintura
corporal, para o artesanato e como isca para
pescar. O outro tipo, da terra, serve também
para pintura corporal, pintura dos artesanatos
e como alimento para as pessoas.
O período que colhemos o jenipapo é no
inverno. O fruto cai na água e fica boiando;
a gente vai de canoa colhendo os frutos. Para
fazer a tinta, ralam e misturam com carvão
pilado. Na região há bastante jenipapo.
Bruna Almeida
artefato feito
com jenipapo: colher.
78 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Jiboia
A jiboia é uma matéria-prima encontrada na Terra Firme. Quem geralmente
mata a jiboia são os homens, quando ela é encontrada no caminho. Assim
que ela se decompõe, tiram os ossos com cuidado para guardar em local
seco, dentro de pequenas latas ou vasilhas. Para tirar os ossos pode
ser tanto homem quanto mulher; eles são tirados com uma faquinha,
com muito cuidado para não quebrar, e são levados para casa para serem
lavados com água, “quiboa” e sabão para tirar o mau cheiro, depois enxuga
com o pano e por fim fura com ferrinho. Os ossos são assim preparados
para fazer os artefatos, como colar e pulseira.
A jiboia quando está muito grande atrai as pessoas; se não souber a reza,
a pessoa não volta mais para sua casa.
Não há dificuldade de ser encontrada porque tem muita nessa área.
A época que se encontra mais jiboia é no inverno.
Sandra Vidal da Silva e Clemiuria Narciso Monteiro
artefatos feitos com a jiboia: colar e pulseira.
79
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Junco
patoá: Jõ • palikur: Payuvan
O junco é uma matéria-prima para fazer a esteira. Ele é retirado
na época da água grande, época das cheias, no mês de maio,
porque é muito longe no Campo e também na beira do miritizal.
As pessoas vão tirar o junco em conjunto, com a família; elas
que escolhem um dia para trabalharem juntas, levam suas
crianças, mulheres e passam o dia no campo e à tarde voltam
para suas casas. No momento, aproveitam também para cortar
o grelo do miriti para tecer.
Depois, colocam o junco no sol para secar e, então, após alguns
dias, começam a tecelagem para fazer a esteira.
Enildo Batista Forte
artefatos feitos com junco: esteira e flecha.
80 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Jutaí
patoá: Kubah • palikur: Kubahí
O jutaí tem uma fruta que serve
para comer e o seu caroço serve
para fazer colares. É um pouco difícil
de encontrar, por isso não pode ser
desperdiçado. Ele é encontrado em
Terra Firme dentro da mata; para
colher, temos que esperar a fruta
cair no chão porque é uma árvore
de tamanho alto. A semente é
redonda, de cor marrom.
Ariana dos Santos
artefatos feitos com jutaí:
colar e borduna.
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Kaxaikó
palikur: Barakot
Kaxaikó é uma planta que nasce em qualquer lugar e floresce
em qualquer época do ano.
Suas sementes ficam em vagem que quando estão maduras
se abrem, mostrando as sementes que já estão prontas para
a colheita.
Qualquer pessoa pode colher estas sementes, que parecem
com miçangas. As sementes são cozidas para soltarem.
Maria Leucy dos Santos
Há pelo menos duas espécies de Kaxaikó. Possuem as folhas
com coloração diferentes.
artefatos feitos com kaxaikó: colar e maracá.
82 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Kawap (nome Palikur)
É um tipo de árvore só encontrada na
Mata Firme. É cortada para fazer os
carimbos, também as pessoas utilizam a
madeira para fazer casas e outras coisas,
como tacahi, que é a vara para ajudar a
canoa a entrar no alagado e no igarapé,
chegar na roça ou ir mariscar no campo
alagado. Tem kawap em quantidade
normal na área.
Hélio Labonté
artefato feito com kawap: carimbo
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Kumim (nome Patoá)
É um tipo pequeno de taboca bastante encontrada na região do Uaçá, nas
Capoeiras e na Terra Firme. É usada dentro do sinal, a flauta que serve para a
dança do Turé, a dança dos povos indígenas do Oiapoque.
Dieimison Sfair
É uma planta que mede mais ou menos quatro metros de altura, mas ela verga.
É parecido com bambu, mas bem fininho. É uma planta que, se roçar, em
qualquer lugar ela nasce bastante.
Pode cortar toda época, depende do pajé. Só homem pode cortar. Quem vai
buscar as flautas já traz o kumim a mando do pajé. Assim como o sinal, vão
tirar o kumim com cânticos. Assim também
o pajé vai cantar e quem vai trabalhar
com o banco, pintando o mastro,
o bastão, as pessoas que estão
enfeitando, todos vão cantando.
A história conta que
o pajé quando faz
a pajelança, dois
dias antes ele já está
chamando os karuanã
dele para ficar nos mastros
vigiando e nos bancos dele. Vai
medir o comprimento da matéria-prima e vai fazer
a flauta; faz um feixe e coloca perto do mastro.
Hoje em dia, cada pessoa vai fazer a sua própria flauta.
O pajé indica qual é a marca que ele quer.
Sandro Ulisses dos Santos
artefato feito com kumim:
a palheta das flautas.
84 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Lacre
patoá: Lache
Lacre é uma árvore
que encontramos
em qualquer lugar,
principalmente
em roças
abandonadas.
É uma árvore que
cresce bem alta.
Dela é extraída a
tinta para pintar
objetos de madeira.
Para tirar a tinta, é
preciso cortar um
pouquinho o caule
da árvore para
sair o leite, que é
armazenado em
um recipiente.
Esta tinta é tirada
pelo homem e
também pela
mulher. Ainda
tem bastante lacre
nesta região.
Sidney Vidal da Silva
artefatos
feitos com lacre:
escudo e ralador.
85
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Lágrima de Nossa Senhora
patoá: Laghim
A Lágrima de Nossa Senhora é uma matéria-prima que é plantada perto de
casa, no quintal. Ela dá as sementes o ano todo e qualquer pessoa pode tirar.
O transporte dessa semente é fácil porque como ela está no quintal da
casa, então pode levar tanto na mão como em pequenas vasilhas. Deve ser
guardada em local seco para durar por mais tempo. É utilizada em artefatos
como colar, brinco, pulseira, rede de semente (miniatura para enfeite), bolsa
de semente e outros.
Não há dificuldade de ser encontrada porque ela é uma semente fácil de
nascer. O tamanho da semente é médio. É bonita, tem uma cor cinza, meio
branco e brilhoso.
Cleniuria N. Monteiro
É uma planta de espessura fina, arredondada, com altura
mais ou menos de uns dois metros; suas folhas são
compridas, parecidas com as
da cana-de-açúcar.
É de fácil manuseio, pois
não é difícil de furá-la com
a agulha. É muito usada
para fazer colares, brincos
e outros artesanatos. Ela é
muito linda, bem lisinha,
brilhosa, de cor acinzentada.
Márcia M. dos Santos Oliveira
artefatos feitos com
lágrima de nossa senhora:
colar, brinco e pulseira.
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Lang Txig
patoá: Lang Txig • palikur: Kawohkine Ganen
Lang txig é um cipó que nasce na árvore seca.
Nasce mais na Mata, algumas na roça. Pode
colher a folha verde e deixar secar ou já pega
a que está caída no chão, que já está seca.
Ela vai quebrando quando se vai usando.
É uma lixa fraca, mas cada língua dá para
lixar duas cuias. Ela deixa a cuia bem lisa,
brilhante, porque é mais fina que a lixa
comprada. De resto é igual à comprada.
Homem e mulher podem pegar e
usar para trabalhar. As mulheres
usam nas cuias e os homens
usam para fazer arco e flechas.
Em maracá também pode usar.
Não tem problema nenhum.
Lang txig é um cipó encontrado
em qualquer estação.
Gonçalo dos Santos
A Lang txig é usada pelos Galibi Marworno.
Os Karipuna a conhecem, mas não a usam. Os
Palikur não a usam no momento, mas lembram
o nome da planta na língua palikur.
artefatos feitos com lang txig:
colher, colar, brinco, pulseira, cuia,
maracá, arco e flecha.
87
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Louro
patoá: Loho • palikur: Dubwet
O louro é uma árvore encontrada na Mata
Grande. Sua coleta está muito difícil para
os indígenas dos rios Uaçá, Urukawa e
Curipi devido a sua distância das aldeias.
Agora para os indígenas da br-156 é mais
fácil, pois há muitos por perto.
O louro não é plantado, é uma madeira de
lei. Para coletá-lo, é preciso machado ou
motosserra. Só os homem coletam louro.
Davi Felisberto dos Santos
artefatos feitos com louro:
pilão, masseira e banco.
88 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Macaco Amarelo
patoá: Xapaju • palikur: Akarma
Macaco Xapaju. É um tipo de animal que é
encontrado na Mata Firme. O macaco é utilizado
como alimentação e então o artesão pega o
dente para fazer colar. Ainda encontramos
bastante deste macaco.
Hélio Labonté
artefatos feitos com o macaco amarelo:
colar, brinco e pulseira.
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Macaco Chuim
patoá: Xapaju Tamahen • palikur: Kusir
Macaco Chuim é uma espécie que tem nas Matas; tem
bastante na área. Geralmente utilizam os dentes para fazer
pulseiras, colar e também criamos essa espécie de macaco
para enfeite das casas porque é um animal que cria bonito;
eles gostam de comer bananas, ingá e frutas das matas.
Enildo Batista Forte
artefatos feitos com o macaco chuim: colar e pulseira.
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Maguari
patoá: Ghã Goje
O maguari é um pássaro que se encontra nos lagos, Campos Alagados e
beira dos rios, onde há peixinhos para se alimentar. Ele se encontra longe
das aldeias tanto no inverno como no verão. Ele só fica onde tem comida
e água, por isso, no inverno fica nos campos e lagos e no verão é mais nos
lagos e beira dos rios, pois os campos vão secando e os peixes saem para
os lagos e rios.
No começo dessas duas estações dá mais maguari
como outras aves também, pois no começo do
inverno os peixes vão entrando nos campos
e igarapés numa grande quantidade e no
começo do verão, os campos secam e alguns
peixes vão ficando e secando ali.
O maguari sempre se encontra sozinho e não
em bando.
Atualmente o maguari está sendo escasso, devido
à matança dele através da arma de fogo. Com isso
vão espantando-o para longe e é uma ave que está
em extinção nas áreas indígenas do Oiapoque.
Os homens matam mais para comer a carne,
aproveitam as penas para colocar nas flechas,
chapéus, maracás, colares e, às vezes, amarram as
penas compridas juntas para fazer vassourinhas, que
servem para varrer a mesa e
os restos de farinha ou beiju
que se encontram no forno.
Davi Felisberto dos Santos
artefatos feitos com o maguari:
colar, cocar, chapéu plimaj e maracá.
91
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 91 12/5/13 8:17 AM
Makoko (nome Patoá)
palikur: Makuk
Makoko é uma árvore grande que dá
na Mata Firme. A gente tira a casca com
terçado para fazer a tinta que tinge a
cuia. Para tirar a casca, é só na
lua escura, senão a tinta
não sai boa. A mulher que
for preparar a tinta não
pode estar menstruada.
Bernadete dos Santos
artefatos tingidos
com makoko: maracá,
pote, banco, cuia, escudo,
borduna, abano e mastro.
92 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 92 12/5/13 8:17 AM
Mandioca
patoá: Mãiók
palikur: Kaneg
galibi kali’na: Kiere
A mandioca é plantada em
Terra Firme; quando está madura
é arrancada para fazer farinha.
Sua haste é longa; quando é
plantada é cortada em
pedaços. Esta haste é
chamada de maniva.
As folhas são finas e
se parecem com um pé de
galinha. Elas servem para
dar brilho e segurar a tinta
da cuia quando é pintada.
Maria Leucy dos Santos
artefato feito com mandioca: cuia.
93
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 93 12/5/13 8:17 AM
Marajá
patoá: Zaghinet • palikur: Kuruw
É uma árvore que dá na beira do rio. Dela são
usadas as sementes para a confecção dos colares.
Existe bastante árvores de marajá na área.
Maria Tereza Cristina Jeanjacque
artefato feito com marajá: colar.
94 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 94 12/5/13 8:17 AM
Marapinima
patoá: Paira • palikur: Payri
Marapinima é uma matéria-
prima encontrada na Mata
Firme. Certamente é um pouco
difícil para encontrar, mas
normalmente é muito utilizada
para fazer arco, pontas de
flechas e cabo de maracá.
É a madeira mais resistente
que existe.
Hélio Labonté
artefatos feitos com marapinima:
fuso, maracá, chapéu plimaj, arco,
flecha, colar, brinco e borduna.
95
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 95 12/5/13 8:17 AM
Mariana
patoá: Marian
Marianas são pássaros encontrados nas
beiras de rios e lagos; vivem em pequenos
bandos. Quando nós indígenas matamos
uma dessas aves, usamos suas penas para
fazer coroas, brincos e colares.
Sídney Vidal da Silva e Bernadete dos Santos
artefatos feitos com mariana:
colar, brinco, coroa,
chapéu plimaj e maracá.
96 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 96 12/5/13 8:17 AM
Marupá
patoá: Wahupá • palikur: Timaveyni
É uma árvore grande. Ela é nativa,
não se planta. O marupá dá na Mata,
no terreno seco. A casca é amarga,
mas depois de seca não amarga.
Só homens trabalham com o
marupá. Usa-se o tronco para serrar
e fazer as tábuas para as casas.
Serve também para fazer um banco
próprio para apoiar a mulher na
hora de parir. Cada parteira tem o
seu jeito de tratar a mulher.
O marupá tem um dono espiritual.
Gonçalo dos Santos
artefatos feitos
com marupá:
carimbo e mastro.
97
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 97 12/5/13 8:17 AM
Mata-pasta
É uma pequena árvore que cresce em
boa quantidade em um mesmo lugar.
Sua semente serve para fazer colar e as
folhas servem para uma doença de pele
chamada pano branco.
Maria Leucy dos Santos
artefato feito com mata-pasta: colar.
98 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 98 12/5/13 8:17 AM
Meraúba
patoá: Panãpanã
Meraúba é uma árvore
encontrada em Ilhas e no centro
da Mata. É utilizada para fazer
o takahi, o gomo da flecha
e o cabo de maracá.
Tem grande quantidade de
árvores principalmente nas Ilhas.
Sidney Vidal da Silva e Maria Leucy dos Santos
artefatos feitos
com meraúba: fuso, arco,
flecha, borduna e maracá.
99
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 99 12/5/13 8:17 AM
Mergulhão
patoá: Ahekua • palikur: Agaykwa
O mergulhão é encontrado em lugares abertos, como
na beira do rio, Campos Alagados e lagoas. Ele é caçado
pelos homens; serve para alimentação e, depois, as
penas são guardadas pelas mulheres, em lugar seco,
sem muito acesso à luz do sol, para fazer o artesanato.
Suas penas são de cor preta e cinza. São usadas para
fazer kuhun, a coroa usada na dança do Turé.
Maria Tereza Cristina Jeanjacque
artefatos feitos
com o mergulhão:
colar, cocar, chapéu plimaj e maracá.
100 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 100 12/5/13 8:17 AM
Molongo
patoá: Bua Kuie • palikur: Kakahariye
É uma matéria-prima encontrada perto dos igarapés, onde está sempre
alagado. Ele é retirado só pelos homens tanto no inverno como no verão,
mas tem que ser na lua escura porque se tirar em qualquer época, ela vai
rachar. Ainda tem muito dessa matéria-prima na nossa área. Depois de
retirado, se faz as colheres.
Iêda Figueiredo Narciso
artefato feito com molongo: colher.
101
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Morototó
O morototó é uma árvore
que tem uma semente muito
usada para fazer artesanatos.
Para pegar a semente tem
que derrubar a árvore.
Sidney Vidal da Silva
artefatos feitos
com morototó:
colar, pulseira e brinco.
102 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 102 12/5/13 8:17 AM
Mubak
palikur: Timuvu gamamna
O mubak é uma matéria-prima
encontrada em Terra Firme. Coleta-se a
tala que serve para fazer flecha e colar.
É pouco encontrado nos lugares
mais perto, tem mais dentro
da mata fechada.
A melhor forma de
armazenamento
é em lugar seco,
depois de raspado
e colocado um
pouco dentro da
água fria. Sua semente
também é usada para a
confecção de colares e
pulseiras. A coleta é feita
por homens e mulheres.
Sidney Vidal
artefatos feitos com mubak:
colar e pulseira.
103
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 103 12/5/13 8:17 AM
Mucura
patoá: Piã • palikur: Yatwa
Mucura é um animal noturno, que gosta
de roubar e comer as galinhas das pessoas.
Poucas pessoas usam a mucura como
alimentação.
Os dentes da mucura são usados para fazer
colares; a banha pode passar em cima dos
inchaços e inflamações e o pelo serve para
fazer defumação nas casas.
Maria Leucy dos Santos
artefato feito com a mucura: colar.
104 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 104 12/5/13 8:17 AM
Mutum
patoá: Oko • palikur: Timuvu • galibi kali’na: Wuocó
Mutum é um pássaro selvagem. Ele fica na Mata.
Serve de alimento e para fazer artefatos usamos
as penas da asa e da cabeça.
Edilena dos Santos
artefatos feitos com o mutum:
colar, maracá, cocar e chapéu plimaj.
105
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 105 12/5/13 8:17 AM
Mux Lefã
Mux lefã é um besouro
muito raro de se encontrar,
mas quando é encontrado
usa-se seu chifre para fazer
o pingente do colar.
Bernadete dos Santos
artefato feito com
o mux lefã: colar.
106 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 106 12/5/13 8:17 AM
Onça
patoá: Txig • palikur: Kawokwine • galibi kali’na: Cathuxi
A onça pintada é um animal que vive na Floresta. Nós não comemos sua
carne. É muito difícil caçá-la por ser um animal muito feroz. Só a matamos
quando ela caça e mata nossas criações como porcos, bois e galinhas.
Mariléia Labonté e Natã dos Santos
artefatos feitos com a onça: colar e tambor.
107
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Papagaio
patoá: Jako • palikur: Kuwekwe • galibi kali’na: Kulewanò
O papagaio é uma ave que podemos encontrar em
qualquer lugar da Mata. No inverno tem bastante, já no
verão eles vão para muito longe, para as montanhas.
O papagaio é usado como alimento e com as penas
fazemos os artesanatos de colares, brincos e pulseiras.
Iêda Figueiredo Narciso
artefatos feitos com o papagaio:
colar, cocar, chapéu plimaj e maracá.
108 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Papakuaio
palikur: Kwevan
Papakuaio é uma
árvore utilizada para
fazer artefatos como
banco, colher de pau,
carimbo e outros.
Ela só é encontrada
na beira dos rios e
igarapés.
Edilene dos Santos
artefatos feitos
com papakuaio: banco,
carimbo e colar.
109
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Pariri
Pariri é uma matéria-prima que é ajuntada, mas pode ser
plantada por quem preferir ter perto de casa.
É encontrado no Cerrado ou na Capoeira. Suas sementes
dão no final do inverno e no verão. Qualquer pessoa pode
coletar as sementes, colocá-las em lugar seco e armazenar
em uma lata pequena.
As sementes de pariri servem para produzir as joalherias
indígenas, como brincos, colares e pulseiras.
O pé de pariri é rasteiro, os cipós se entrelaçam no chão
ou em qualquer tronco que estiver por perto. Não se tem
nenhuma dificuldade para ser encontrado, pois existe
muito na área.
Diena M. Sfair
artefatos feitos com pariri: colar, pulseira e maracá.
110 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Patauá
O patauá é uma árvore frutífera.
Os frutos são colhidos no inverno
e também no mês de setembro.
Encontramos bastantes árvores
na Terra Firme. Os homens é
que sobem nas árvores, levando
terçado e apanham o cacho.
Quando o cacho está no chão, ele
é debulhado em cima de folhas e
levado para a aldeia no jamaxim.
Diena M. Sfair
artefato feito de patauá: colar
111
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 111 12/5/13 8:17 AM
Pato
patoá: Kana • palikur: Uvayan
Esta ave é encontrada no Campo, na beira do rio.
Dificilmente encontramos no rio Curipi, mas no rio
Uaçá e no Urukauá ainda tem bastante.
Quando alguém mata esta ave, as penas são
retiradas para se fazer artesanatos. Elas são
armazenadas em lugares secos, dentro de caixa
ou sacola. Este processo é feito tanto por homens
quanto por mulheres.
Maria Leucy dos Santos
artefatos feitos com o pato:
colar, maracá, cocar e chapéu plimaj.
112 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 112 12/5/13 8:17 AM
Paxiúba
patoá: Ghã Bua
palikur: Pup
Paxiúba não é plantada,
ela é própria da
natureza e
encontrada na
Mata, principalmente em Terra
Firme. O tronco serve para fazer
arco, ponta de flecha e outros
artesanatos. Para fazer tudo isso
precisa que o tronco seja duro.
Não existe época para tirar a
paxiúba e também só os homens
podem fazer esse trabalho porque
precisa cortar com o machado.
Maria Leucy dos Santos
artefatos feitos
com paxiúba:
colar, arco e flechas.
113
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 113 12/5/13 8:17 AM
Pepina da Mata
patoá: Ãbarari • palikur: Inuvra
Esta planta se encontra na Mata e
nas Capoeiras. Ela não é plantada
e sua fruta dá mais no verão.
Ela pode ser coletada por homem
ou mulher, mas geralmente
é o homem quem coleta.
Davi Felisberto dos Santos
artefato feito com
pepina da mata: colher.
114 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 114 12/5/13 8:17 AM
Pescada
patoá: Akupa • palikur: Akup
A pescada é um peixe encontrado em regiões de água doce. Qualquer
pessoa adulta pode pescar. A pescada quase não tem espinhas; difere de
quase todos os peixes porque tem escamas até a cabeça. Chega a pesar
5kg. Pesca-se com anzol e rede de pescar, nos meses de maio e junho. O
transporte usado para pescar são canoas e barcos.
A pescada tem duas pedras dentro da cabeça, bem alvas, que usamos para
fazer artesanato e também para fazer remédio para infecção urinária.
Sandra Vidal da Silva
artefatos feitos com a pescada: colar e brinco.
115
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Piaçoca
patoá: Kenken
Piaçoca é um tipo de pássaro que vive
no Campo Alagado; também gosta
de morar na beira do rio, sentado em
qualquer mururé. Tem bastante na
área. Sua pena é utilizada para fazer
brincos e coroa.
Sidney Vidal da Silva
artefato feito com piaçoca:
colar, brinco, coroa, maracá e chapéu plimaj.
116 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Pirarucu
patoá: Txuhi • palikur: Khiwy
A língua do pirarucu é a matéria-prima para fazer a lixa usada na
fabricação de artesanatos como: banco, remo, colher de pau, cuia,
arco, ponta de flecha, rodela da canoa, borduna e outros. Ela é
retirada do peixe, que serve como alimento.
Na reserva do Uaçá, entre as três etnias – Galibi Marworno,
Palikur e Karipuna – há uns tempos atrás, o peixe pirarucu quase
foi extinto. Porém de acordo com a organização das comunidades
junto aos órgãos e Ongs competentes e também com o incentivo
aos agentes ambientais, a caça e a pesca do pirarucu
passou a ser proibida em tempo de
procriação, no período de agosto
a janeiro. No restante dos
outros meses a
caça e a pesca
são livres. Hoje
o pirarucu
já se
multiplicou
bastante
na área.
Nordevaldo dos Santos
O pirarucu é um peixe de água doce. A carne é alimento; as
escamas e espinha são usadas para fazer colares e a língua serve
como lixa para a confecção dos artesanatos.
Bruna Almeida
artefatos feitos com o pirarucu:
colar, brinco, pulseira, cuia, arco e remo.
117
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 117 12/5/13 8:17 AM
Pitomba
patoá: Flâbo
palikur: Tugkamwi
É uma pequena árvore
encontrada tanto na
capoeira das roças como nas
matas. Ela dá um pequeno
fruto que pode ser comido.
A pitomba é usada na
fabricação do arco e flecha.
Maria Leucy dos Santos
118 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 118 12/5/13 8:17 AM
Porco do Mato
patoá: Koxô dâ Bua
palikur: Pakir
O porco é uma caça encontrada no mato, muito
longe. É encontrado sempre perto da maricagem,
dos igarapés, na beira dos rios e nas roças. É um
tipo de animal que anda sempre em grupos.
São os homens que caçam os porcos. A época
melhor de caça, quando tem muito porco, é o mês
de junho.
Iêda Figueiredo Narciso
artefato feito de porco: colar.
119
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 119 12/5/13 8:17 AM
Quati
O quati é um animal que vive na Mata.
Na nossa região tem grande quantidade. Eles
podem ser encontrados na beira dos rios.
Bernadete dos Santos e Edilena dos Santos
artefato feito com o quati: colar.
120 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 120 12/5/13 8:17 AM
Socó Boi
patoá: Onohe Bef • palikur: Unu • galibi kali’na: Onorê
Este pássaro é encontrado na beira do rio, campo e igarapés. Quando um
caçador mata para comer, são retiradas as penas e guardadas em sacolas
plásticas para fazer colares e enfeites de flechas.
O socó boi dificilmente é visto pelas pessoas; ele é um pássaro de pescoço
bem longo. Quase não tem carne, mas suas penas fazem com que pareça
um pássaro gordo. Seu canto parece com um mugido de um boi. Tem
bastante deste pássaro na área, apenas na área palikur tem menos.
Maria Leucy dos Santos
artefatos feitos com as penas do socó boi:
coroa, chapéu plimaj, maracá e colar.
121
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 121 12/5/13 8:17 AM
Socó Pilão
patoá: Onohe
palikur: Unu
Socó Pilão é uma ave encontrada nos
Campos Alagados, mas ultimamente estão
quase em extinção. Alimentam-se de peixe.
Sidney Vidal da Silva
artefatos feitos com as penas do socó pilão:
colar, brinco, cocar, chapéu plimaj e maracá.
122 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 122 12/5/13 8:17 AM
Socoí
patoá: Onohe
palikur: Bagha
galibi kali’na: Onorê
O socoí é um pássaro que vive na beira do rio e
também na beira dos igarapés. Alimenta-se de
peixe. Quando é morto, sua pena é utilizada para
fazer artefatos. Tem bastante socoí na área.
Bernadete dos Santos
artefatos feitos com as penas do socoí:
colar, brinco, coroa, chapéu plimaj e maracá.
123
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 123 12/5/13 8:17 AM
Sororoca
patoá: Balu
A sororoca nasce sem plantar no Campo Firme,
onde não tem água, tanto no verão como no
inverno. O homem quando corta é para fazer
o japá, isto é, o toldo que protege a carga ou
mesmo uma pessoa nas viagens e a mulher
corta a semente para fazer colares. Se a
mulher estiver na roça e estiver chovendo, ela
também corta para fazer um abrigo. A água
não vaza nela. Se está chovendo, na hora
corta uma folha para cobrir um bebezinho.
Manoel Azemiro Charles e Nordevaldo dos Santos
124 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 124 12/5/13 8:17 AM
Surucucu
patoá: Siapã Ghaj
palikur: Urukru
É uma cobra bastante
perigosa, muito temida
pelos homens quando
vão caçar. Ela costuma se
esconder nos locais alagados
e Terra Firme. Quando morta,
os ossos são usados para o
artesanato de colares.
Sandro Ulisses dos Santos
artefato feito
com surucucu: colar.
125
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 125 12/5/13 8:17 AM
Taboca
patoá: Kãbuj
palikur: Iwanpu
É uma matéria-prima
que se encontra
com mais facilidade
na beira dos rios
e igarapé. Pode
pegar para fazer
os artesanatos; é
geralmente homem
que faz isso. Os bem
fininhos as mulheres
usam para fazer
o colar.
Sandro Ulisses dos Santos
artefatos feitos
com taboca:
colar e flecha.
126 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 126 12/5/13 8:17 AM
Tento
patoá: Panakoko
palikur: Avuriwka
Quando começa a chover,
ela começa a dar flor. No mês de julho ela
começa a secar e em setembro já começa a cair a
semente. Na minha aldeia está ficando muito difícil
de encontrar porque agora quem vai tirar corta a árvore e
então não tem mais e por isso está ficando difícil.
Matheus Emílio
Esta árvore existe no tamanho grande e pequeno.
Quando a pessoa corta a árvore, ela não nasce mais,
então está ficando raro usar para o artesanato.
Bernadete dos Santos
artefatos feitos com tento: colar, brinco e pulseira.
127
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 127 12/5/13 8:17 AM
Timbó-açu
patoá: Ian Fhâs
palikur: Ykun
Este cipó está
difícil de tirar;
ele é encontrado
nas montanhas e
é tirado para fazer
paneiro e muitos
tipos de cestarias.
Sidney Vidal da Silva
artefatos feitos
com timbó-açu:
paneiro, vassoura,
bolsa pathon,
peneira e jamaxim.
128 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 128 12/5/13 8:17 AM
Tiririca
patoá: Ziakupan
palikur: Sawi
A tiririca é encontrada no Campo Alagado. Sua
semente é coletada no início do verão, quando o
campo começa a secar. Com ela se faz colar e pulseira.
A coleta da semente é feita tanto por homens como
mulheres e é preciso ser usado com cuidado, pois
é pouco encontrada. Precisa ser armazenada em
local seco e não muito quente; a melhor maneira de
armazenar a tiririca é cozinhar, furar e colocar em um
fio para guardar.
Claudia Renata Lod Moraes
artefatos feitos com tiririca:
colar e pulseira.
129
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 129 12/5/13 8:17 AM
Topoio
patoá: Topoio • palikur: Inap
É um peixe que tem muito na área indígena.
Tem o ano todo, mas o período que se pega
mais é no verão. Usa-se linha de mão, arco e
flecha para pescar o topoio. Tanto o homem
quanto a mulher pegam esse peixe.
Fabrício Narciso dos Santoas
artefato feito com espinhas de topoio: colar
130 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 130 12/5/13 8:17 AM
Tracajá
patoá: Tauahu • palikur: Mewha
A tracajá não está em extinção porque nós estamos fazendo o manejo
da espécie, como cuidar dos filhos até um certo tamanho e fazemos a
soltura nos rios e lagos. Ela faz parte da nossa alimentação e usamos o
casco, ossos e unhas para fazer artesanatos.
Edilena dos Santos
A tracajá do mato mora nos Campos Alagados. Sempre a pessoa pode
pegar ela no inverno e também é muito importante para fazer artefatos.
Hélio Labonté
artefatos feitos com tracajá:
colar, brinco, pulseira, fuso e instrumento musical.
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02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 131 12/5/13 8:17 AM
Traíra
patoá: Patagai • palikur: Iyg
Traíra é um peixe de água doce, que fica em poços dos rios, onde há
pedras, tocos de paus, e também fica à beira dos rios e igarapés. Só o
homem pode pegá-lo, devido a ser um peixe muito forte. De dia pegam com
linha e anzol e à noite pega-se com zagaia na beira dos rios e nos igarapés.
Este peixe dá tanto no inverno quanto no verão, mas é no verão que se
encontra mais. É na parte de cima do rio que fica a traíra.
Davi Felisberto dos Santos
artefato feito com espinha de traíra: colar.
132 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Tucano
patoá: Ghô Bec • palikur: Yawk
As penas do tucano servem para ornamentar a coroa do
Turé, o kuhun, o maracá, flecha e brinco. As penas são
retiradas da ave, que é usada como alimento.
O tucano se encontra em várias partes da região em
grande quantidade. Homem e mulher podem utilizar as
penas quando vão ornamentar um adorno.
Nordevaldo dos Santos
artefatos feitos com o tucano:
colar, brinco, maracá, coroa e chapéu plimaj.
133
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 133 12/5/13 8:17 AM
Tucumã
patoá: Uaha
palikur: Waratwi
O tucumã nasce no Mato.
É usado para fazer suco
ou mingau, mas na
primeira menstruação
a mulher não pode
comer porque faz mal,
cria caroços na barriga.
O caroço do tucumã
é usado para fazer
anel e colar, a
tala é para fazer o
abano. Lá na minha
aldeia, São José, tem
bastante tucumã.
Maria Tereza Cristina Jeanjacque
artefatos feitos com tucumã:
anel, colar, brinco, pulseira e abano.
134 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 134 12/5/13 8:17 AM
Turé
patoá: Sinal • palikur: Aramtem
O sinal é uma matéria-prima que não é plantada. É encontrada geralmente
na beira dos igarapés. Não tem uma época exata para seu florescimento.
Ela é do ano todo.
O transporte do sinal depende do lugar, pois em algumas comunidades
é preciso se deslocar de canoa para retirar o sinal. Sua armazenagem só
pode ser por poucos dias, então ele só é retirado quando é para se produzir
flautas para o ritual que será realizado. Se armazenado na água, ele pode
durar até 3 dias, pois ele resseca.
Em algumas comunidades, como na
aldeia Kumarumã, só podem
retirar o sinal pessoas
escolhidas pelo pajé, são
pessoas responsáveis, que
obedecem ao pajé. Somente
os homens podem retirar e para
isso eles não podem comer peixe,
precisam fazer uma defumação e
conversar com o vegetal,
pedindo uma autorização
para o que está prestes a
fazer. Se isso não for feito, a
planta pode não servir para fazer
a flauta, ela racha. A planta já
vem com o espírito. A planta tem
aproximadamente 2m de altura.
Diena M. Sfair
artefato feito com o sinal:
flauta do Turé.
135
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Uade-uade
É uma árvore que se encontra na
Capoeira. As sementes são utilizadas
para fazer colar. Apanha-se o cacho
com um gancho para preservar a
árvore. Tem bastante na área.
Bernadete dos Santos
artefatos feitos com uade-uade:
colar, brinco e pulseira.
136 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 136 12/5/13 8:17 AM
Uaha Mõpe (nome Patoá)
palikur: Waratwi
O uaha mõpe é uma palmeira
encontrada tanto na Terra Firme como
no Alagado. Seus frutos não servem
para o consumo, mas são bastante
apreciados pelos animais, como cotia
e paca. Seus caroços servem para o
artesanato e a árvore serve para fazer
cerca, assoalho de casa e cabê.
Sandro Ulisses dos Santos
O uaha mõpe é uma árvore frutífera,
mas os frutos não são comestíveis
e sim aproveitados para fazer o
artesanato. O caroço é em duro, ele
é esculpido com pequenas facas e
transformado em figuras e marcas
para enfeitar o colar e fazer anéis.
O caule da árvore é retirado pelos
homens, cortado com machado ou
terçado e usado para construção
de casas. Por não ser muito usada
ultimamente na construção de casa,
ela é fácil de ser encontrada nesta
área, nos lugares de Capoeira.
Dieimison Sfair
artefatos feitos
com uaha mõpe:
colar, pulseira e brinco.
137
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 137 12/5/13 8:17 AM
Ubim
patoá: Uai • palikur: Isuvan
Ubim é uma pequena palmeira que serve para cobrir as casas e também é
usada na fabricação da cestaria. O ubim é coletado tanto por homens como
por mulheres. Encontramos ubim em grande quantidade na aldeia Açaizal,
na Maricagem e nas Ilhas; lá para o lado do rio Urukauá, também é comum.
Pode-se tirar ubim toda as épocas.
Sandro Ulisses dos Santos
artefatos feitos com ubim:
forro de cestaria, cobertura de casas.
138 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 138 12/5/13 8:17 AM
Urucum
patoá: Huku • palikur: Ihap
Urucum é uma planta usada por todos os indígenas. Ela
fornece uma tinta muito importante para o índio, então
são colhidos seus frutos no mês de fevereiro a junho e
preparada a tinta tanto por homens como por mulheres.
Sidney Vidal da Silva
artefatos tingidos com urucum:
pote, chapéu plimaj, banco e mastro.
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02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 139 12/5/13 8:17 AM
Veado
patoá: Bix • palikur: Yit
É um animal que é encontrado nas Matas e Ilhas.
O couro é usado para fazer o tambor e os ossos para
fazer os artesanatos.
Maria Leucy dos Santos
artefatos feitos com o veado:
colar, pulseira, flauta e tambor.
140 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 140 12/5/13 8:17 AM
Xiri-xiri
O xiri-xiri é uma árvore encontrada
na Capoeira. É uma envira utilizada
para fazer paneiros, jamaxim e
outros artesanatos.
As frutas são de cachinho e quando
elas abrem é muito delicado, caem
pelo chão; principalmente as
mulheres juntam e armazenam para
usar o ano todo, para fazer colar e
pulseiras. É uma semente pretinha
e peludinha muito utilizada nas
nossas danças.
Diena M. Sfair e Clemiuria Narciso Monteiro
artefatos feitos
com xiri-xiri:
colar, brinco e pulseira.
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Xixi
patoá: Buguni
palikur: Apukun
Xixi é uma árvore nativa,
encontrada na Mata, nas ilhas e na
Terra Firme. Com a casca se faz a
tinta. Só o homem pode tirar a
casca e tira-se só um pequeno
pedaço para a casca voltar a
crescer e não estragar a árvore.
Tanto homem como mulher pode
preparar a casca e fazer a tinta.
Manoel Azemiro Charles
artefatos tingidos com xixi:
tipiti, peneira, bolsa pathon,
sakol, masseira e banco.
142 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 142 12/5/13 8:17 AM
Artefatos
e instrumentos de fabricação
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Cuia
patoá: Kui • palikur: Tumawri • galibi kali’na: Kuwaí
Matérias-primas
• Fruto da cuieira para fazer a cuia.
• Tinturas e fixadores: cumatê; makoko; axiuá; folha
de mandioca.
• Abrasivos: folha do arbusto lang txig; língua e escama
do peixe pirarucu.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; serrote.
• Utensílios para escavar a cuia: colher; tampa de lata;
pedaço de garrafa.
• Utensílios abrasivos para lixar a borda e o interior da cuia:
folha de lang txig; a língua e a escama do peixe pirarucu;
lixas finas e grossas compradas no comércio regional.
144 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 144 12/5/13 8:17 AM
Para escolher a cuia que vai ser colhida, bate-
se com os dedos da mão fechada: se o som
é mais seco, está boa, se o som é fofo, não
serve. Colhe a cuia bem madura, com um mês
ela já está boa, se colher antes, está verde e
com o tempo seca e vai se deformando.
Existem três formatos de cuia, vindos de três
árvores diferentes. São chamadas de cuia
comprida, redonda e maracá.
As pequeninas são usadas para tirar uma
farinha, um caldo, beber um pouquinho de
caxiri... As compridas uso para um mutirão,
um Turé; as redondas para tomar um açaí,
uma bacaba... As duas são bonitas, cada uma
tem a sua utilidade. Com as cuias pequenas,
fechadas, fazemos o maracá.
Dona Xandoca
Na aldeia Estrela tem apenas uma artesã que faz cuia. Ela planta a muda
da cuia perto de sua casa; ela não tem todos os tipos de cuia, que são de
tamanhos diversos, por isso compra alguns tipos de outras aldeias.
Quando vai colher, ela observa bem o fruto, se está maduro ou não e
também observa a beleza: se estiver com algum defeito, ou seja, torta,
cheia de caroço por fora, não se colhe, mas se a cuia é bonita, é colhida
antes de cair da árvore porque se cair no chão, pode se quebrar.
Esta artesã gosta de trabalhar sozinha. Ela diz que mulher menstruada não
pode pegar na cuia quando está sendo pintada, senão a tinta estraga, ou
seja, fica com mau cheiro.
As pessoas compram as cuias grandes para servir o caxiri ou o xibé quando
fazem o Turé ou os mutirões.
Maria Leucy dos Santos, sobre a atividade de sua mãe, a artesã dona Paulina.
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Trançados: a arte de trançar
patoá: Nate • palikur: Humka
Paneiro
patoá: Khukhu
palikur: Kat
galibi kali’na: Kulukulu
Matérias-primas
• Fibras para fazer o bojo
do paneiro: cipó titica;
timbó açu; miriti (buriti);
arumã (guarumã).
• Para fazer a alça: embira
Instrumentos
• Instrumentos de corte:
faca; terçado.
O paneiro serve para se
guardar a tralha de casa,
para se apanhar e guardar
frutos e para o transporte
da mandioca da roça até a
casa de farinha.
Com a boca amarrada,
serve de gaiola na hora da
caça, como um alçapão e
em casa é também gaiola
de galinha ou de pato.
146 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 146 12/5/13 8:17 AM
Cesto
patoá: Pãie
palikur: Kat ou Ewkakatye
galibi kali’na: Pãie
Matérias-primas
• Fibras para fazer o
bojo do cesto: cipó titica;
arumã (guarumã).
• Tintura das fibras:
carvão de forno; tinta
industrial.
Instrumentos
• Instrumentos de corte:
faca; terçado.
Estes cestos são feitos
nos tamanhos grandes
ou pequenos e com ou
sem tampas; os cestos
com tampa são para
guardar objetos e os
sem tampa para apanhar
camarão.
Os Palikur são os que
confeccionam os cestos
com maior frequência.
Usam na aldeia e
também vendem tanto
na área indígena como
fora, inclusive na Guiana
Francesa.
147
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Jamaxim,
o cesto cargueiro
patoá: Katuhi
palikur: Wasimna
galibi kali’na: Katusi
Matérias-primas
• Fibra para o bojo do jamaxim
permanente: cipó.
• Fibra para o jamaxim
descartável: folhas de açaí,
bacaba, inajá ou de coco.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca;
terçado.
A palavra wasimna é geral, usada
para qualquer jamaxim, mas tem
um que é feito na hora, de folha e
depois de usado pode jogar fora,
chama, simplesmente, wasimna
e outro que dura muito tempo e
é usado para carregar os objetos
que se leva na roça, como a
rede, uma vasilha com óleo de
andiroba, etc. que se diz wasimna
uwin, ele tem um valor a mais, é
especial.
Manoel Labonté
148 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 148 12/5/13 8:17 AM
Pacará
patoá: Pagha • palikur: Yamat • galibi kali’na: Yamatu
Matérias-primas
• Fibra para fazer o bojo do pacará: a haste e as folhas do
arumã (guarumã), cantã e ubim.
• Amarração: linha de curauá; linha de algodão.
• Tintura das fibras: carvão de forno; casca da árvore xixi.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; terçado.
O pacará é de uso exclusivo do pajé. Nele são guardados
os objetos usados nos rituais, como o bastão, o maracá
e os cigarros.
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02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 149 12/5/13 8:17 AM
Bolsa
patoá: Pathon • palikur: Karukati
Matérias-primas
• Fibra para o bojo da bolsa:
cipó titica; timbó açu; acitá.
• Tintura: fuligem de carvão;
casca da árvore xixi.
• Dente de cutia.
• Molde: pedaço de tábua.
Instrumentos
• Instrumentos de corte:
faca; terçado.
• Utensílio para ordenar
as fibras já entrecruzadas:
dente de cutia.
• Utensílio para moldar
a bolsa: molde de tábua
usado para garantir a forma
rígida da bolsa.
A bolsa é usada por
homens, para guardar
coisas pequenas, mais
pessoais, cartuchos,
fósforos e também dinheiro.
Ela pode ser feita com a
base menor que a parte
de cima ou com a forma
totalmente retangular. É um
recipiente rígido e, às vezes,
forrado por dentro.
150 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 150 12/5/13 8:17 AM
Sakol
patoá: Sakol • palikur: Wewkanaty
Matérias-primas
• Fibras para tecer o bojo da sacol: acitá; cipó titica.
• Tintura: fuligem; casca da árvore xixi.
• Dente de cutia.
• Molde: pedaço de tábua.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; terçado.
• Utensílio para ordenar as fibras: dente de cutia.
• Utensílio para moldar a sakol: pedaço de tábua com a forma da sakol.
A sakol é uma criação do Sr. Mário, que é Karipuna da aldeia Manga. Sua
inspiração é a sacola, encontrada no comércio regional. A sakol é usada
pelas mulheres para guardar coisas pequenas quando vão viajar, como
quando se vai à cidade de Oiapoque.
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Tipiti
patoá: Kulev
palikur: Matap
galibi kali’na: Madap
Matérias-primas
• Fibras: talas de arumã
(guarumã); acitá; haste das
folhas de miriti (buriti).
• Para o arremate da alça:
uso opcional de pedaço de
corda.
• Tintura para tingir as
fibras, especialmente,
quando o tipiti é feito para
enfeite de paredes: carvão
de forno; casca da árvore
xixi.
Instrumentos
• Instrumentos de corte:
faca; terçado.
• Utensílio para medir o
diâmetro do tipiti: pedaço
de barbante de algodão
ou corda comprado no
comércio regional.
O tipiti é feito pelos
homens. É usado para
espremer a mandioca
ralada, separando o sumo
venenoso da massa usada
para fazer a farinha.
152 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 152 12/5/13 8:17 AM
Peneira
patoá: Manahé • palikur: huw • galibi kali’na: Manale
Matérias-primas
• Fibras para tecer a peneira: arumã (guarumã); haste da folha do miriti
(buriti); acitá.
• Para o suporte da peneira: vareta de pitomba; caniço.
• Para a amarração: fio de curauá; fio de algodão.
• Tintura das fibras, especialmente para peneiras feitas para enfeite de
paredes: fuligem; casca da árvore xixi.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; terçado.
As peneiras são feitas com a trama bem fechada para espremer e
separar a goma do tucupi e com a trama aberta para coar a massa que
vai depois para o forno.
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Abano
patoá: Uauahi
palikur: Awagi
galibi kali’na: Woli-woli
Matérias-primas
• Fibras: arumã (guarumã); acitá;
miriti (buriti); kunanã; cipó.
• Para a amarração: fio de algodão.
• Tintura: cumatê; makoko; axiuá.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca;
terçado.
O abano é usado principalmente
para avivar o fogo, mas também
para virar e servir um beiju.
O abano galibi kali’na é feito de
fibra de kunanã.
154 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 154 12/5/13 8:17 AM
Esteira
patoá: Nat
palikur: Sivava
Matérias-primas
• Fibras: junco; miriti (buriti).
Instrumentos
• Biô: utensílio para enrolar
o fio que amarra os feixes
de fibras entre si e também
faz o peso, que mantém o
trançado em prumo durante
a confecção da esteira.
Vassoura
patoá: Bale
palikur: Asagi
galibi kali’na: Bale
Matérias-primas
• Fibras: cipó titica;
timbó açu.
• Para o cabo
da vassoura:
caniço; miraúba.
• Para amarração:
corda de embira.
• Folha e fibra de
miriti (buriti).
Instrumentos
• Instrumentos
de corte:
faca; terçado.
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02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 155 12/5/13 8:18 AM
Saia de Miriti (Buriti)
patoá: Jip Dji Bax
palikur: Bruk Esawoam / Buguk
Matérias-primas
• Fibra: grelo do miriti (buriti).
• Para amarração das fibras:
algodão, barbante comprado
no comércio regional.
Instrumentos
• Instrumento de corte: terçado.
A saia de miriti é usada pelas jovens nas
festas de comemorações de datas cívicas,
como o dia 7 de setembro.
156 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 156 12/5/13 8:18 AM
Japá, a tolda
patoá: Pame • palikur: Pamaki
Matérias-primas
• Fibras: folhas de açaí; folha de bacaba; folha de inajá; sororoca; cipó.
Instrumentos
• Instrumento de corte: terçado.
O japá é uma cobertura feita para proteger a carga transportada em uma
canoa. Serve também como um guarda-chuva, especialmente, na roça.
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Tecelagem
Tecer – patoá: Nate • palikur: Remepiã • galibi kali’na: Imava
Rede
patoá: Amak
palikur: Pudig
galibi kali’na: Nimogu
Matéria-prima
Algodão.
Instrumentos
Fuso; tear.
Os Galibi Kali’na conhecem como tecer a rede e fiam o
algodão para diversos usos na confecção dos artesanatos.
158 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 158 12/5/13 8:18 AM
Fuso
patoá: Keke • palikur: Tiyut
galibi kali’na: Cutxá
Matérias-primas
• Para fazer o disco do
fuso: a cuia é usada pelos
Karipuna e pelos Galibi
Kali’na; o casco de tracajá é
o costume dos Palikur.
• Para a haste: madeira
qualquer; marapinima;
miraúba é madeira
preferida pelos Palikur.
O fuso é o instrumento
usado na fiação do
algodão. O fio de algodão
é usado na amarração de
vários objetos.
Tear
Matéria-prima
Madeira de qualquer tipo.
Dois pedaços de madeira
são fixados, em paralelo
e na vertical, no chão,
formando o tear, que é o
suporte para a urdidura,
feita com os fios de
algodão alinhados na
direção horizontal.
159
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Cerâmica
Pote de barro
patoá: Ja dji labu • palikur: Darivwit • galibi kali’na: Casiri iene
Matérias-primas
• Para fazer a cerâmica: argila; casca de caripé, kuep – wopné, em palikur.
• Tintura: breu; cumatê; makoko; axiuá; urucum.
• Água.
• Lenha, para a queima da cerâmica.
Instrumentos
• Para o transporte do barro: canoa; remo; takahi.
• Para o preparo da argila: pilão; peneira; cruatá; bacia comprada no
comércio regional.
• Para queima: caixa de fósforo.
• Utensílio para medir a altura e largura da cerâmica: pedaço de
vareta de bambu.
• Utensílios para alisar a superfície da cerâmica: pedaço de cuia;
pedra lisa.
160 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 160 12/5/13 8:18 AM
Marcenaria
Antigamente, o material do índio para trabalhar a madeira era a pedra.
Manoel Labonté
Canoa
patoá: Kanu • palikur: Umuh • galibi kali’na: Kuliyala
Matérias-primas
• Madeiras: iaiá; cupiúba; cedro; angelim; louro; andiroba; jatobá; jaruba;
sucupira; faveira.
• Madeiras para se fazer a tesoura, que suporta a escavação do tronco:
sapopema; livie.
• Madeira para o fogo: lenha.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: machado; terçado; serrote.
• Instrumentos para cavar a canoa: formão; enxó; enxó de goiva.
• Instrumentos abrasivos: lima; esmeril.
• Instrumento para aplainar a madeira: plaina.
• Para juntar as partes: martelo; pregos 2/1 e 3/9.
• Para marcar a madeira: lápis de carpinteiro; compasso.
• Acendedor: caixa de fósforos.
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Remo
patoá: Pagai • palikur: Puwait • galibi kali’na: Abuputxa
Matérias-primas
• Madeiras: araruba.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; terçado; machado.
• Instrumento para desbastar a madeira: enxó.
• Instrumento para aplainar a madeira: plaina.
• Utensílios abrasivos: língua de pirarucu; lixa grossa e fina.
• Para marcar o remo: compasso; cordel tingido de carvão.
162 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Colher
patoá: Kuie • palikur: Kuieg • galibi kali’na: Xibunu
Matérias-primas
• Para esculpir a colher: madeira de jenipapo; molongo; pepina da mata.
• Tintura: cumatê.
• Lixa: lang txig.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; terçado.
• Instrumentos para trabalhar a madeira: formão; plaina.
• Utensílios abrasivos: lixa fina comprada no comércio regional;
folha de lang txig.
Antigamente, entre os Palikur, havia uma dança que os jovens meninos
dançavam com uma colher pendurada na cintura. Era para representar que
eles já sabiam fazer colher, remo, peneira, enfim já sabiam fazer coisas
para a comunidade. Os meninos começavam com doze anos para cima a
aprender a fazer as colheres.
Manoel Labonté
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Ralador
patoá: Ghaj
palikur: Timar
galibi kali’na: Semali
Matérias-primas
• Madeiras para a
base do ralador:
louro; andiroba; cedro.
• Metal para fazer as
pontas do ralador:
ferro; cobre.
Instrumentos
• Instrumentos de corte:
terçado; serra.
• Instrumento para aplainar
a madeira: plaina.
• Instrumentos abrasivos:
lima; esmeril.
• Para o traçado do ralador:
lápis, régua.
• Para a incrustação:
martelo; bancada de ferro;
prego 3/9.
• Para marcar o ralador:
compasso
164 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
02_iepe_oiapoque_MIOLO2.indd 164 12/5/13 8:18 AM
Masseira e Gamela
patoá: Pethen • palikur: Muhubak / Kumuktet • galibi kali’na: Gamelã
Matérias-primas
• Madeiras: cedro; andiroba; angelim; louro; qualquer outra
madeira que dá tábua.
• Tintura: breu; casca da árvore xixi.
• Algodão.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: terçado; serrote.
• Para juntar as tábuas: martelo; pregos.
• Para medir a madeira: trena; cordel; compasso.
As masseiras e gamelas tem a mesma forma, porém as
masseiras são maiores que as gamelas. São recipientes usados
para ralar a mandioca ou coar a massa da mandioca ralada.
Ambas são usadas e guardadas nas Casas de Farinha.
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Rodo
patoá: Hato
palikur: Kuweguetet
galibi kali’na: Rato
Matérias-primas
• Madeiras: caju; sapopema;
caniço, para a confecção do
cabo.
Instrumentos
• Instrumento de corte: terçado.
• Instrumento para aplainar:
plaina.
Tarubá
patoá: Fakai
palikur: Sagap
galibi kali’na: Subala
Matérias-primas
• Madeira: sapopema
de preferência; madeira de
qualquer tipo.
Instrumentos
• Instrumento de corte:
terçado.
• Instrumento para aplainar:
plaina.
Tarubá é um utensílio usado
para revirar a massa de
mandioca no forno.
166 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Pilão
patoá: Pilon • palikur: Maripka • galibi kali’na: Akô
Matérias-primas
• Madeiras: iaiá; angelim; acapu; louro.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: terçado, machado; enxó.
• Instrumentos para trabalhar a madeira: formão; martelo.
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Mastro
patoá: Ma • palikur: Baybwi
Matérias-primas
• Madeiras: marupá; aiawa.
• Tinturas: cumatê; makoko; axiuá; urucum; tinta industrial.
• Algodão.
• Tecido, na cor vermelha.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; terçado, machado, enxó, serrote.
• Para medir a madeira: trena.
• Para aplainar a madeira: plaina.
• Utensílio abrasivo: lixa grossa e fina, compradas
no comércio regional.
• Para unir as partes do mastro: martelo; prego 2/1.
• Para marcar o mastro: régua, compasso, cordel tingido de carvão.
• Utensílios para aplicar as tintas: pincel de pelo; chumaço de algodão.
168 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Escultura
palikur: Ahembakti (Imagem)
Banco
patoá: Bã • palikur: Ept / Ahembakti • galibi kali’na: Mure
Matérias-primas
• Madeiras: louro; papakuaio; marupá.
• Tinturas: cumatê; makoko; axiuá; urucum; carajuru; maivaku; fuligem;
lacre; casca da árvore xixi; algodão.
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; terçado; machado; serrote; serra.
• Instrumento para aplainar a madeira: plaina.
• Instrumentos para escavar a madeira: goiva; formão; arco de poá e bico
de poá.
• Instrumentos abrasivos: lima; esmeril; lixa grossa e fina.
• Instrumentos para medir e marcar a madeira: régua, lápis, compasso,
cordel, trena.
• Para tintura: pincel de pelo; chumaço de algodão.
• Para o transporte: canoa e remo.
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Plumária
Vai-se juntando as penas, põe em uma caixa e a cada duas ou três
semanas coloca no sol, aí não dá mais bichinho. Então separa por tipos e
coloca em uma sacolinha. Está pronta para usar quando precisar.
Bernadete dos Santos
Coroa
patoá: Kuhun • palikur: Yuti
Matérias-primas
• Fibra: cipó titica.
• Penas: garça; arara; tucano; papagaio; mariana; carará; beija-flor; galo da
serra; guará; mutum; pato; japim etc.
• Para amarração e costura: fio de algodão; linha de costura.
• Para colagem: cera de abelha.
Instrumentos
• Instrumento de corte: faca.
• Para costura: tesoura; agulha
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Chapéu Plimaj
patoá: Plimaj
palikur: Suvreg
Matérias-primas
• Fibras: cipó; guarumã
(arumã); acitá.
• Penas de diversas aves e
especialmente de araras.
• Madeira: kuepan;
marapinima.
• Haste da planta chamada
flecha; inajá; miriti (buriti).
• Fios: algodão; curaua;
linha de costura comprada
no comércio regional.
• Tinturas e fixadores:
urucum; cumatê; tinta
industrial (opcional).
• Asas do besouro mãmã
solei.
• Cera de abelha.
• Breu.
Instrumentos
• Instrumentos de corte:
Faca; terçado.
• Para costurar e recortar:
agulha; tesoura.
O plimaj é usado pelos
homens nos eventos
públicos e durante o Turé.
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Adornos corporais
Butxe (nome Patoá)
palikur: Issiut / Ivuriti
Matérias-primas
• Fios de algodão.
• Miçangas
• Asas do besouro mãmã solei.
• Linha de costura
Instrumentos
• Para costura: tesoura; agulha.
O butxe é usado nas costas, preso ao cabelo ou à coroa
durante as danças rituais do Turé. Ele emite o som produzido
pelo encontro dos élitros de besouros entre si, durante a
movimentação dos dançarinos.
Ele é um enfeite, mas marca o ritmo também.
172 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Colar
patoá: Hasad / Kolie
palikur: Akabdet
galibi kali’na: Aneka
Matérias-primas
• Sementes: flãbo; uade-uade;
balu; mãbahui; merarema;
marajá; aiawa; ian fomi; lágrima;
caxaikó; pariri; xiri-xiri; mata-
pasta; morototo; mubak, tento;
panakoko; mucuna; olho de boi;
beruberu; bacaba; jutaí; patauá;
paxiúba; açaí.
As sementes ou caroços do
mubak dão em cachos. Para fazer
o colar mistura-se com outras
sementes. Como são compridas,
em forma de gota, elas são
usadas para se fazer o adorno
que fica pendurado, o pingente,
a medalhinha, como dizemos.
Quando ela é serrada, se faz o
copinho para prender a flor de
plumagem, que chamamos de flor
de dãdilo.
Maristela dos Santos,
reconhecida artesã de colares.
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• Caroços: tucumã; coco; uaha mõpe; murumuru; miriti (buriti).
• Ossos: veado; anta; porco; boi; macaco; onça; jacaré; tracajá. Formação
óssea chamada de pedra, encontrada na cabeça de peixes.
• Dentes: macaco; onça; jacaré; porco; veado; mucura; quati; lontra; boto,
é comprado fora, no Oiapoque, com o pessoal do Cassiporé; gambá; porco
espinho; guariba; kuatá; macaco chuim.
• Espinhas de peixes: traíra; topoio; pirarucu; acari; dãxen.
Há também uma formação mineral na cabeça da pescada, que é chamada
de pedra da cabeça e é usada como pingente nos colares.
• Vértebras de cobras: jiboia; surucucu; caninana.
• Unhas: onça; gavião.
• Escamas: tatu; jacaré; pirarucu.
Do tatu pode-se tirar a escama e fazer o colar ou a pulseira. O tatu pequeno,
de focinho curto.
Joaquim Forte
174 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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• Casco: tracajá; jabuti.
• Besouros: mux lefã; mãmã solei.
• Molusco: caracol.
• Penas: garça; papagaio; arara; tucano;
mutum; japim; mariana; soco-boi; carará; pato;
soco pilão; cigana; galo da serra; maguari;
colhereira; jaburu; guará; piahoca; socoí.
• Bambus: bambu; taboca.
Corta os talos pequeninos do bambu, mede
todos do mesmo tamanho e acerta tudo com
a faca, depois queima as pontinhas com o
ferro quente. Aí pode usar combinando com
sementes e plumagem.
Maristela dos Santos
•Madeiras: violeta; acapu; marapinima;
andiroba; breu.
A marapinima é uma madeira muito
resistente, então é muito boa para fazer o
fecho dos colares, pulseiras e brincos.
Edilena dos Santos
Da andiroba se extrai o óleo que é usado
para untar os caroços e sementes, o que os
deixa com brilho.
Bernadete dos Santos
• Fibras: curauá; miriti (buriti); tucumã;
algodão em fio; linha de costura; linha de
nylon; fio de silicone.
• Cera: cera de abelha.
• Metal: fecho de metal, comprado nas
lojas de armarinhos.
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•Miçangas: as miçangas são
chamadas, em patoá, hassad. São
compradas nas casas de armarinhos
nas cidades de Oiapoque, Belém e
mais distantes como São Paulo e Rio
de Janeiro, quando geralmente são
encomendadas para conhecidos e
parentes em viagem.
Instrumentos
Faca; tesoura; serra com arco; lixa fina e
grossa; língua de pirarucu; esmeril; ferro
de ponta afiada; agulhas.
Homens e mulheres usam colares, mas
os homens usam um colar mais curtinho,
de dentes, de miçangas. Para a mulher
é mais bonito colar com voltas.
Ariana dos Santos e Maristela dos Santos
176 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Pulseira
patoá: Bhasle • palikur: Akawamti
Matérias-primas
• Sementes: angelim; lágrima;
kaxaikó; uadeuade; maramara;
aiaua; sororoca; xiri-xiri; pariri.
• Caroços: tucumã; inajá;
murumuru; uahã mõpe.
• Dentes: macaco; boto;
lontra; veado.
• Vértebras: cobra.
• Escamas: jacaré; tatu; tracajá;
jabuti; pirarucu.
• Fibras: algodão; miriti (buriti);
fio de nylon; fio de silicone.
• Moluscos: caracol.
• Madeiras: andiroba; breu.
• Bambus: bambu.
• Cera: cera de Abelha.
• Miçangas.
Instrumentos
Faca; terçado; serra; lima; lixa grossa
e fina; ferro de ponta fina; lata de
leite; palha de aço; tesoura; alicate.
A lata de leite em pó, vazia e
tampada com a própria tampa de
plástico, é usada como um bastidor
para furar as sementes, pois ao
mesmo tempo em que é firme
para dar apoio é mole para ser
transpassada pela agulha ou ferro
que fura inteiramente a semente.
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Brinco
patoá: Pãdohe • palikur: Itaybiakti
Matérias-primas
• Sementes: uade-uade; maramara; aiawa; angelim;
panakoko; kaxaikó; lágrima; olho de boi; flãbo; xiri-xiri.
• Caroços: tucumã; inajá; uaha mõpe; murumuru; coco.
• Ossos: veado; cobra; a pedra da cabeça da pescada
é usada pelos Galibi Kali’na e pelos Karipuna.
• Dentes: jacaré; macaco.
• Escama: pirarucu.
• Cascos: tatu; jabuti;
• Madeiras: marapinima; andiroba; breu; inajá, a tala.
• Fibras: algodão em fio; linha de costura;
fio de nylon.
• Bambus: bambu.
• Óleo: comprado no comércio para cozinhar,
como verniz.
• Miçangas
• Metais: alumínio para incrustar pequenos detalhes
como pontinhos representando olhos de animais;
gancho: peça que sustenta a montagem do brinco e
por onde ele é pendurado nos orifícios das orelhas.
É comprado no mercado regional.
Instrumentos
Alicate; furador; faca; lima; arco; serra grande e
pequena; esmeril; agulha; lixa grossa e fina;
tesoura; lápis; estilete; bisturi; lã de aço para
polimento; caco de lousa para polimento.
Os brincos são de uso cotidiano das mulheres.
Os brincos com plumagem de pássaros são usados
em eventos e no Turé.
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Anel
patoá: Bag • palikur: Akawakti
Matérias-primas
• Caroços: tucumã; uahá mõpe; inajá;
murumuru.
• Osso: veado.
• Madeira: andiroba.
• Metal: alumínio, retirado em pequenas
lascas de panelas, para incrustação.
Instrumentos
Serra; esmeril; faca com ponta; lápis;
lixa fina; lã de aço comprada no comércio
regional; vela de filtro de água; “pó de
porcelana”.
Chama-se “pó de porcelana” o caco de
lousa moído, que forma uma matéria
argilosa, fina, usada para arredondar
e polir os anéis. As velas de filtro são
igualmente trituradas, fornecendo o pó
para lixar as peças.
Os anéis são de uso cotidiano de homens
e mulheres. Os artesãos especialistas em
esculpir anéis com figuras de animais,
flores, estrelas e marcas vendem na
área e também para fora, diretamente à
pessoa, no comércio em Oiapoque, em
Saint Georges e na loja do museu Kuahí,
onde é um objeto muito admirado e
vendido principalmente para os turistas.
Nordevaldo dos Santos
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Carimbo
palikur: Anot / Anowatvey
Matérias-primas
• Madeiras: papakuaio; cortiça; marupá; kawap, em palikur.
• Fibra: algodão em rama para aplicar a tinta no carimbo.
Instrumentos
Terçado; faca; machado; compasso; formão; goiva; lixa fina e grossa;
prego; serra.
Os carimbos são utensílios feitos em uma peça única de madeira, usados
para a aplicação da pintura corporal. Seus grafismos correspondem aos
grupos que formam a sociedade palikur.
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Instrumentos musicais
O pajé marca o dia para fazer os bancos, o maracá, as flautas, o lakú.
Aí vai enfeitando: uma turma está fazendo os bancos, outra está fazendo
o mastro. Os maracás, as flautas, tudo tem que estar pronto. Tem o
cântico: trabalhando e cantando, quando um termina tem o outro que
faz o cântico. O pajé vai cantando.
Chega o dia da dança, o pajé marca a hora e todo mundo chega naquela
hora; todo mundo respeita o pajé porque ele não é de brincadeira, ele vai
comandar o Turé.
Manoel Labonté
Flauta, o Turé
patoá: Sinal / Karamatá • palikur: Aramtem
Matérias-primas
• Bambus: sinal; kumi.
• Osso de veado
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; terçado.
• Instrumentos perfurantes: ponta de arco; ponta de faca; ponta de bico.
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Maracá
patoá: Mahaka • palikur: Waw • galibi kali’na: Maráca
Matérias-primas
• Cuia pequena, da espécie kui mahaka
• Cabaça
• Penas de todas as aves, menos urubu
• Algodão em fio e em rama
• Curauá
• Para fazer o cabo: marapinima, madeira de preferência para os
maracás de cabo curto; caniço, para os maracás de cabo longo.
• Tinturas: cumatê; makoko; axiuá.
• Cera de abelha
• Breu
• Sementes: kaxaikó; pariri.
• Miçanga
• Tecido nas cores vermelha e azul
• Linha de costura
Instrumentos
• Instrumentos de corte: faca; tesoura;
• Para costura: agulha.
182 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Tambor
patoá: Tãbu • palikur: Sabug • galibi kali’na: Sambula
Matérias-primas
• Madeiras: cedro, de preferência; cupiuba; panakoko.
• Para amarração: corda; embira; curauá.
• Para o tampo: cobra (couro); veado (couro); guariba (couro); onça (couro).
Instrumentos
Faca; machado; formão; ferro afiado; martelo.
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Armas
patoá: Zam • palikur: Iyakokti
Escudo
palikur: Umaduk – escudo que protege o peito do guerreiro.
palikur: Emadutic Unamiya – escudo que protege o antebraço.
Matérias-primas
• Madeira: sapopema de cortiça; lacre; breu.
• Tinturas: cumatê; makoko; axiuá; tinta industrial.
• Fibra: algodão.
• Cera de abelha
Instrumentos
Faca; terçado; formão; machado; plaina; compasso;
goiva; lixa fina e grossa; lima; serrote; lápis; trena;
pincel de pêlo; chumaço de algodão,
184 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Borduna
patoá: Batõ • palikur: Imangi, que é o termo geral para bordunas • galibi kali’na: Irabalí
Matérias-primas
• Madeiras: marapinima; miraúba; jutaí.
• Para amarração e enfeite: algodão em fio e em rama.
• Tinturas: cumatê; axiuá; makoko; tinta industrializada.
Instrumentos
Machado; faca; compasso; lima; trena; plaina; lixa grossa e fina; lápis de
carpinteiro; pincel de pêlo; chumaço de algodão.
1 2 3 4 5
Os desenhos das bordunas maiores (nº1 e nº2) são de bordunas que
servem para matar bichos e antigamente gente também: o índio não luta de
corpo a corpo e lutava com a borduna.
Hoje, usa a borduna como uma arma, como uma espingarda; quando vai
para o mato a leva na cintura.
Antigamente, tecia um cesto e colocava lá dentro as flechas, muitas flechas.
Esse cesto tem alça para colocar nos ombros e deixar as flechas nas costas
para uso. Às vezes a mulher ia com ele e carregava para ele este cesto com
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flechas. Quando ele via e hoje quando ele vê uma anta, guariba, veado, ele
flecha. Se ele errar ele não vai ajuntar esta flecha porque ela é panema; se
ele acertar ele vai ajuntar a flecha porque ela é boa.
Aí se ele acertou, o animal vai cair, aí ele puxa a borduna para cacetar o
animal.
O desenho da borduna menor (nº3 )mostra a arma usada pelos jovens,
de 15 anos em diante. Ele ainda esta aprendendo.
As bordunas nos desenhos nº4 e nº5 são usadas para pesca;
pesca de pirarucu, de jacaré. São menores e bem roliças.
Texto e desenhos de Manoel Labonté
Entre os Galibi Marworno usa-se uma borduna chamada, em patoá,
Batõ txuhi.
Esta borduna é usada pelos pescadores indígenas para matar o
pirarucu. É feita de marapinima ou de meraúba, que são madeiras
de lei próprias para se fazer a borduna. Existia também uma borduna
chamada Batõ paipá, que era uma arma usada para guerrear. Ela era
igual às que o Sr. Manoel desenhou e numerou como 1 e 2, quando
explicou sobre as bordunas entre os Palikur.
Texto e desenho de Sérgio dos Santos
Existia também uma borduna que se usava para o encontro entre dois
povos, um encontro que não era de guerra. Usava-se para demonstrar
respeito pelos visitantes, quando eles eram recebidos na aldeia ou pelo
visitado, quando se estava visitando outro povo.
Manoel Labonté
Na época da ditadura, a borduna era usada para impor um respeito a mais
pelas autoridades, que eram chamadas de Major.
Sérgio dos Santos
186 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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Arco
patoá: Nak • palikur: Ymedgit • galibi kali’na: Ulapa
Matérias-primas
• Madeiras: marapinima; pitomba, na ausência
de marapinima; mirauba; paxiuba; breu.
• Fibra: curauá.
• Fio de nylon.
Instrumentos
Terçado; machado; faca; serrote; lixa; língua
de pirarucu; plaina; lima; afiador de serrote.
O arco compõe com diferentes tipos de flechas
um arsenal de armas usado na caça e pesca.
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Flecha
patoá: Flex • palikur: Yakot • galibi kali’na: Ype
Matérias-primas
• Madeira: marapinima; mirauba; a tala de inajá; breu.
• Taboca
• Junco de flecha
• Ferro
• Osso de veado
• Dente de anta
• Fibra: curauá; algodão em fio.
• Penas: garça; arara.
• Cera de abelha
• Miçanga
Instrumentos
Faca; terçado; machado; martelo ou marreta; serra; lima;
fósforo; bancada de ferro.
A flecha com a ponta de osso é própria para flechar peixes,
caçar e até aves como o mareco e a garça. É osso de veado, de
anta, maipuri, em patoá, de porco do mato, que é a queixada.
Com a ponta de madeira, madeira resistente, é para flechar na
festa do midi durante o mutirão da roça, quando se vai ajudar
ao outro a plantar. É uma atividade que só tem no mutirão de
plantar, no de roçar não tem porque está tudo sujo e a flecha se
perde. Quando a ponta é de marapinima, tudo que se mata com
a ponta de osso se mata também com a marapinima.
A flecha botu pode ter uma, duas ou três cabeças de formas
diferentes, é sempre para matar aves. Se for para uma
brincadeira, pode-se usar qualquer madeira, mas de verdade
é marapinima.
No caso do arpão, a haste é de marapinima e a ponta é de ferro.
188 | Artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque
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A flecha tem cabeça, corpo e ponta. Anda-se com ela
sempre para frente, isto é, com a ponta para baixo, na
frente. A parte das penas é a cabeça.
Para se fazer a cabeça a melhor pena que tem é a do
carará e depois é a da arara. Presta só a asa e o rabo. No
caso do carará, a pena do rabo já é do tamanho que se
precisa; se for pena de arara, aí corta um pedaço da pena
do rabo.
Corta a pena ao meio e amarra com o curauá, em baixo e
depois em cima.
A flecha é bonita quando está bem enfeitada!
Osvaldo Forte
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Participantes das oficinas de formação de pesquisadores indígenas
Funcionários do Museu Kuahí
Ariana dos Santos • Bruna dos Santos Almeida • Cláudia Renata Lod Moraes • Clemiuria
Narciso Monteiro • Davi Felisberto dos Santos • Diena Maciel Sfair • Enildo Batista Forte •
Fabrício Narciso dos Santos • Hélio Labonté • Iêda Figueiredo Narciso • Jaizinho M.
Monteiro • Karina dos Santos • Macinaldo Forte Filho • Maria Leucy dos Santos • Márcia
Maria S. de Oliveira • Maria Tereza Cristina Jeanjacque • Priscila Barbosa de Freitas •
Sandra Vidal da Silva • Sandro Ulisses dos Santos • Sérgio dos Santos • Sidney Vidal da
Silva • Tomás Carlos Aniká Forte
Artesãos
D. Amélia • Sr. Antonio dos Santos • Bernadete dos Santos • Edilena dos Santos •
Sr. Gonçalo dos Santos • Sr. Getúlio e sua esposa D. Joventina • Sr. Joel dos Santos •
D. Maria Alexandrina dos Santos (D. Xandoca) • D. Maria Raimunda • Mariléia Labonté
dos Santos • Maristela dos Santos • Rosimeire • Sr. Manoel Azemiro Charles • Sr. Manoel
Labonté • Matheus Emílio • Natã dos Santos • Nordevaldo dos Santos • Sr. Osvaldo Forte
Pajés
Pajé, Sr. Colombo e esposa • Sr. João Martins, Pajé Jan Jan • Sr. José Andrade, Pajé Leven
Jovens indígenas
Dieimison Sfair dos Santos • Evangelina Sonia dos Santos Jeanjacque • Lucilene dos Santos
Colaboração Institucional
Sérgio dos Santos, diretor do Museu Kuahí
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Museu Kuahí
Av. Barão do Rio Branco, 160 – Centro
68980-000 – Oiapoque – AP
(96) 3521-3293
[email protected]Iepé
Rua Leopoldo Machado, 640 – Jesus de Nazaré
68908-120 – Macapá – AP
(96) 3223-7633
[email protected]
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Esta publicação foi possível por meio do generoso apoio do povo dos Estados Unidos através da
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