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Bibliologia INTRODUÇÃO À BÍBLIA I EBaD — Igreja Evangélica Maranata

IV— ESTRUTURA E CÂNONE DA BÍBLIA

A. VELHO E NOVO TESTAMENTO

1. Os dois testamentos
a. A Bíblia divide-se em dois grandes conjuntos de livros, a que chamamos o Velho (ou
Antigo) Testamento e o Novo Testamento. O VT tem 39 livros e o NT 27, num total de
66 livros.
b. Que significa “testamento”? Significa uma aliança, um pacto, um acordo, um contrato
formal, como a última vontade de uma pessoa. Testamentum é a palavra latina que
traduz “Aliança” ou “Pacto”.

2. “Testamento” na Bíblia
a. No VT o termo usado para testamento é berit, que significa “cortar”. Em Gén. 15:7-18
(quando o Senhor estabelece uma aliança com Abraão) foram cortados animais para
que as duas partes (Deus e Abraão) que estabeleciam o acordo passassem pelo meio
delas.
b. Um pacto implicava que as duas partes ficassem vinculadas a um compromisso. Esse
pacto era sinalizado por um beijo, um aperto de mão, sal (como lemos em Números
18:19) ou até um sapato (como sucedeu com Boaz, o remidor de Rute, cf. Rute 4:7).
c. O Senhor deu a entender que o pacto da Lei era provisório e que haveria um novo
pacto:
“Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de
Israel e com a casa de Judá, não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia
em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, esse meu pacto que
eles invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.
Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o
Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei
o seu Deus e eles serão o meu povo.” Jeremias 31:31-33
d. No NT o termo para testamento é diatheke, que significa “última vontade”, “decreto” ou
“contrato” (cf. Luc. 1:68-73; I Cor. 11:25; Heb. 8:6; 9:4; 13:20).

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Note bem !
De facto, a Bíblia refere os seguintes pactos:
(1) O pacto de Adão - de bênção e maldição (Gen. 3:14-19).
(2) O pacto de Noé - da paciência de Deus (Gen. 8:20-9:17).
(3) O pacto de Abraão - da promessa (Gen. 12:1-3, 6-7; 13:14-17’
15:1-21; 17:1-14; 22:15-18).
(4) O pacto de Moisés - da lei (Exod. 19:1-31:18).
(5) O pacto de Davi - do reino (II Sam. 7:1-17).
(6) O novo e eterno pacto - da consumação (Mat. 26:26-28; I Cor.
11:25; Heb. 13:20).

B. O CÂNONE DA BÍBLIA

Por que tem a Bíblia 66 livros e não 60 ou 70? Por que razão certos livros, como Tobias,
ou o Livro da Sabedoria de Salomão, não fazem parte da Bíblia? Porque temos 4
evangelhos e não 3 ou 5?
Estas perguntas remetem-nos para um tópico muito importante: o cânone da Bíblia.

1. Significado de “cânone”
Que significa “cânone”? Em grego, kanon era uma palavra que designava uma vara de
medir ou régua, isto é, um padrão destinado a aferir medidas. Os cristãos começaram a
usar essa palavra para designar os livros que eles reconheciam como inspirados por
Deus (que estavam dentro da “medida de Deus”), distinguindo-os assim de outros livros
que, embora religiosos, não tinham a marca da inspiração divina. Esses livros chamados
canónicos constituem a norma ou padrão para a vida do crente.
O cânone das Escrituras é o conjunto de 66 livros da Bíblia que são reconhecidos como
divinamente inspirados (II Tim. 3:16) e, nessa qualidade, Palavra escrita infalível e
inerrante de Deus. Quando se afirma que um livro é canónico isso significa que tem uma
autoridade única, distinta de qualquer outro livro. Livros canónicos são portanto livros que
a Igreja reconheceu como sendo inspirados por Deus e que possuem autoridade espiritual
para o cristão.
Note-se que os livros não se tornaram canónicos porque a Igreja assim decidiu. A Igreja
selecionou-os porque, pelo Espírito Santo, os reconheceu como divinamente inspirados.

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Note bem !

“A Igreja não nos deu o cânone do Novo Testamento mais do


que Sir Isaac Newton nos deu a força da gravidade. Deus
deu-nos a gravidade, através da Sua obra de criação, do
mesmo modo que nos deu o cânone do Novo Testamento,
através da inspiração dos livros particulares que o compõem.”
(J. I. Packer)

2. O Velho Testamento

a. O VT judaico
• O regresso do exílio de Babilónia, sob a direção de homens como Zorobabel, Esdras e
Neemias, trouxe consigo um apego ainda maior às Escrituras, sobretudo à profecia.
Por exemplo, Jeremias tinha predito: “E toda esta terra virá a ser um deserto e um
espanto; e estas nações servirão ao rei de Babilónia setenta anos” (Jeremias 25:11) —
profecia que se cumpriu na íntegra.
• Muito provavelmente, Esdras (480–440 AC) esteve envolvido na identificação do
essencial do cânone completo do Antigo Testamento. Supõe-se que este ficou
concluído por volta de 300 a.C., após a escrita de Malaquias (433-424 a.C.). Desde
essa época, os judeus deixaram de ter profetas de confiança e durante 400 anos
nenhum profeta se levantou. Chama-se período interbíblico a esse tempo de ausência
de revelação das Escrituras.

b. A Bíblia hebraica
A Bíblia hebraica ou TANAKH (acrónimo de Torah, Neviim e
Ketubim) contém os mesmos livros que hoje temos nas
nossas Bíblias, mas arrumados de modo diferente. A Bíblia
hebraica divide-se em três conjuntos de livros:
a) Os livros da Lei (ou TORAH), os primeiros cinco livros
da Bíblia;
b) Os Profetas (ou NEVIIM);
Os Profetas dividiam-se em dois grupos:
i. Os profetas anteriores, que incluíam alguns dos livros a que chamamos livros
históricos, como Josué, Juízes, Samuel e Reis.

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ii. Os livros dos profetas posteriores, Isaías, Jeremias e Ezequiel; e 12 livros dos
profetas a que costumamos chamar profetas menores.
c) Os Escritos (ou KETUVIM), que juntavam os restantes livros:
i. Poesia e sabedoria: os livros dos Salmos, Provérbios e Jó.
ii. Os Rolos (Megilloth): Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester.
iii. Históricos: Daniel, Esdras, Neemias, 1 & 2 Crónicas.
Quando Jesus se juntou aos dois discípulos que caminhavam rumo a Emaús,
lemos que ele lhes explicou…
“…que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei
de Moisés [Torá], e nos profetas [Neviim] e nos Salmos [Ketuvim].” Lucas
24:44

Apresentamos a seguir um quadro com os livros do VT de acordo com a organização


tradicional da Bíblia hebraica.

Os livros do VT, ou TANAKH


(A Bíblia que Jesus e a Igreja primitiva conheceram)

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c. O VT dos cristãos
• O número de livros do VT da Bíblia cristã é exatamente o mesmo dos livros da
Tanakh, embora organizados por ordem diferente. A Bíblia católica adicionou outros
livros conhecidos como apócrifos (designados pela igreja romana como
deuterocanónicos). Iremos referir-nos a eles mais adiante.
• O Senhor Jesus Cristo afirmou claramente, em múltiplas instâncias, que o VT hebraico
era a Palavra de Deus. Não poderia haver maior confirmação do que este
reconhecimento feito por Alguém que é, Ele mesmo, a Palavra de Deus em carne.
Note bem !
“Jesus reivindicou para a Bíblia:
(1) Autoridade divina — Mt 4.4,7,10
(2) Indestrutibilidade — Mt 5.17,18
(3) Infalibilidade — Jo 10.35
(4) Supremacia absoluta — Mt 15.3,6
(5) Inerrância factual — Mt 22.29; Jo 17.17
(6) Confiabilidade histórica — Mt. 12.40; 24.37,38
(7) Precisão científica — Mt 19.4,5; Jo 3.12”.
N. Geisler (Enciclopédia de Apologética, pg. 121)

• Os cristãos dos primeiros séculos adotaram o cânone definido pelos judeus. Vemos
que os escritores do NT referem-se a esses livros com muita frequência,
reconhecendo neles autoridade divina.
• Melito, que foi bispo de Sardes, elaborou no ano 170 DC uma lista de livros que
coincidia com a Tanakh e a que chamou “livros da velha aliança”, isto é, do VT.
• No entanto, a arrumação dada pelos crentes da igreja dos primeiros séculos ao VT foi
um pouco diferente. Vamos aqui adotar uma divisão dos livros do VT em 5 grupos,
seguindo a mesma sequência que aparece na Bíblia protestante.
(i) Os livros da Lei - primeiros cinco livros, ou Pentateuco;
(ii) Os livros históricos - de Josué a Ester (12 no total);
(iii) Os livros poéticos - Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares (5 livros);
(iv) Os profetas maiores - 5 livros: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel;
(v) Os profetas menores - de Oseias a Malaquias (12 livros). (A distinção entre
profetas maiores e menores tem a ver com a extensão ou dimensão dos livros e
não com a importância da sua mensagem).

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3. O Novo Testamento
O Senhor Jesus prometeu aos discípulos que enviaria o Espírito Santo para os conduzir a
toda a verdade, para ensinar todas as coisas e para os fazer lembrar de tudo o que
tinham ouvido da boca do Mestre (João 14:26; 16:13). A escrita do NT cumpriu em grande
medida essa promessa, quando os apóstolos registaram por escrito muito do que Jesus
lhes ensinou.
O NT é portanto o registo do ensino apostólico. Os apóstolos e profetas do NT estavam
investidos de uma autoridade espiritual especial, que garantia uma autoridade equivalente
àquilo que escreviam (cf. 1 João 1:1; 4:1,5,6).
a. A formação do cânone do NT foi diferente do VT
(i) Israel: havia uma comunidade fechada que recebia, coligia e avaliava os livros. A
Igreja: era uma comunidade de crentes de várias nações, desprovida de uma
centralidade semelhante à dos judeus.
(ii) Não podemos esquecer que as perseguições, que duraram até 312 AD, não
favoreciam o empreendimento de criar uma lista de livros canónicos. Os escritos dos
apóstolos iam circulando entre as igrejas sem grande controlo. Isso explica que tenha
levado algum tempo a fechar o cânone do NT.
(iii) Outra diferença é que, uma vez definido o cânone neo-testamentário de 27 livros, este
estabilizou a nível global, sem que houvesse tentativas de o alterar introduzindo
outros livros. O mesmo não sucedeu com o VT, que acrescentou em várias ocasiões
outros livros aos canónicos.

b. Estímulos à formação do cânone do NT


Houve três grandes estímulos à formação do cânone do NT: eclesiástico, político e
doutrinário.
(i) Eclesiástico (isto é, proveniente da Igreja): tornava-se necessário saber que livros
podiam ser lidos nas igrejas e traduzidos para outras línguas.
(ii) Político: As perseguições, que incluíam mandatos de destruição dos livros sagrados,
levantavam uma questão: que escritos deveriam a todo o custo ser preservados? O

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imperador Constantino ordenou que fossem feitas 50 cópias das Escrituras: que livros
deveriam fazer parte?
(iii) Doutrinário: nos primeiros séculos surgiram muitas falsas doutrinas, apoiadas em
livros que claramente não eram inspirados. Tornava-se necessário distinguir estes
livros dos verdadeiramente inspirados por Deus.

c. Definição do cânone do NT
Os 27 livros do Novo Testamento foram formalmente reconhecidos pelo Concílio de
Hipona (no Norte da África), em 393 AD e pelo Concílio de Cartago de 397 AD. Foi
decisiva nestes concílios a presença de Agostinho de Hipona.
Seguindo a mesma divisão em cinco agrupamentos, obtemos a seguinte lista de livros do
Novo Testamento:

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Nota: A divisão da Bíblia em capítulos e versículos


Por uma questão prática (para facilitar a leitura e pesquisa da Bíblia), a Bíblia foi dividida em
capítulos e versículos. Esta divisão não faz parte do texto inspirado.
• Divisão em capítulos: A divisão em capítulos que temos nas nossas Bíblias modernas foi feita
por Stephen Langton, Arcebispo da Cantuária, Inglaterra, em 1227. A Bíblia inglesa Wycliffe
(1382) foi a primeira a usar capítulos e essa divisão tornou-se padrão usual nas Bíblias a partir
da Reforma.
• Divisão em versículos: Um rabi judeu, Nathan (em 1448), dividiu o texto hebraico do VT em
versículos numerados. O NT foi posteriormente dividido por Robert Estienne, também conhecido
pelo nome de Stephanus, em 1555. Usou a divisão em capítulos de Langton que, juntamente
com a sua própria divisão em versículos, as Bíblias começaram a incorporar.

C. LIVROS NÃO CANÓNICOS

1. A determinação da canonicidade
Segundo Geisler (Enciclopédia de Apologética, pg. 113), o reconhecimento de um livro,
pela comunidade cristã, como vindo da parte de Deus, passou por um processo que
implicava responder a perguntas como:
(i) O livro foi escrito por um profeta de Deus, um apóstolo ou companheiro de um
apóstolo? Este era um critério essencial para que o livro fosse aceite.
(ii) A mensagem do livro não contradiz as outras Escrituras? Diz a verdade sobre
Deus? Está de acordo com outras revelações? Porque Deus não se pode
contradizer, este critério é muito importante.
(iii) O livro obtém o consenso geral da Igreja? Este consenso era obtido tendo em
conta os dois aspetos a seguir.
(iv) O autor do livro foi confirmado com sinais de Deus? Não sendo essencial, este
facto contribuía para autenticar o livro como Escritura. O autor do livro foi aceite
pelo povo de Deus como servo fiel e porta-voz do Senhor? (Cf. 2 Ts 2.13).
(v) O livro tem em si o poder de Deus? Ao contrário das palavras humanas, a Palavra
de Deus tem poder para edificar e transformar. Ela é viva e eficaz (Hb 4.12).
Muitos livros surgiram para os quais não era possível responder satisfatoriamente a
perguntas como estas. Esses livros foram considerados não canónicos. Eles não são
todos iguais e, por isso, iremos categorizar esses livros, que se distinguem claramente
dos livros inspirados que fazem parte da Bíblia.
Vamos dar sobretudo atenção ao VT, uma vez que é aqui que surge uma questão muito
importante: a dos livros apócrifos.

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2. O VT: os livros extracanónicos do judaísmo


Como já observámos, a nossa Bíblia contém exatamente o mesmo número de livros que
constam das Escrituras hebraicas, embora, devido ao facto de estarem arrumados de
forma diferente, a Escritura hebraica apresente 22 livros e o nosso Velho Testamento 39
livros.
Mas surgiram outros livros religiosos que, de algum modo, parecia poderem integrar o
cânone bíblico. No entanto, não o foram. Porquê? Embora possam ter qualidade literária,
elevação espiritual e fidedignidade histórica, esses livros não possuem a autoridade divina
dos livros bíblicos e não devem em caso algum ser confundidos com estes últimos.
Vamos referir-nos a esta questão que tem hoje importância para nós, inclusive porque,
pelo menos em parte, está na base da diferença entre a Bíblia católica e a protestante.
Há quatro categorias de livros extracanónicos do VT:

a. Os livros perdidos do Antigo Testamento


Ao lermos o Antigo Testamento verificamos que este refere livros cujo rasto se perdeu.
Indicamos a seguir o nome desses livros e a respetiva referência bíblica.

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Vejamos: o facto de o texto bíblico inspirado citar esses livros não fará deles livros
canónicos? Se um dia eles fosse descobertos, não deveriam ser acrescentados à nossa
Bíblia?
A resposta é negativa. O facto de Paulo, segundo se supõe, ter citado em Tito 1:12 o
filósofo grego Epimenedes, não significa que a obra deste filósofo seja inspirada por
Deus.

b. Livros rejeitados por todos: os pseudepígrafos


No período do Velho Testamento, circulavam livros religiosos que passaram a ser
designados pelos judeus por ”pseudepígrafos” (ou “pseudo-epígrafos”). Mas esses livros
têm algumas características que logo os evidenciam como não inspirados.
(i) Verdade histórica e inspiração divina
• Porquê pseudepígrafos? “Pseudo” significa algo que é falso, embora nem tudo nos
livros seja falso. Há afirmações e referências nestes livros que são verdadeiras,
como sucede com outros livros. Mas o facto de um livro conter verdades históricas,
por exemplo, não implica que ele seja inspirado pelo Espírito Santo. A inspiração
abrange a totalidade do livro, palavra por palavra, e não apenas uma pequena
secção.
(ii) Livros de especulações
• Uma característica desses livros é a sua natureza especulativa. Um exemplo:
surgiram muitas especulações (sem dúvida motivadas pela curiosidade) em torno de
Enoque, que estão na base do Livro de Enoque. Ou em torno de Moisés e o destino
do seu corpo, o que terá dado origem à obra Assunção de Moisés.
• É tudo falso nesses livros? Não; Judas vs. 14 e 15 citam o primeiro e 2 Tim. 3:8 o
segundo. Mas em lado algum se afirma que estes livros são dotados de autoridade
de Escritura inspirada.
(iii) Escrita tardia
• Outra característica dos pseudepígrafos é que surgiram tardiamente, quando o
cânone do VT já estava encerrado. Isto é, estes livros surgiram durante os 400 anos
do chamado período interbíblico, também chamado de tempo do silêncio profético,
porque só com João Batista Deus voltaria a revelar-se através de um profeta.
• Contêm muitos sonhos, visões e revelações, mas misturados com muitas heresias.
(iv) Lista (parcial) dos pseudepígrafos
• Livros lendários: O livro do Jubileu, Epístola de Aristeias, O livro de Adão e Eva, O
martírio de Isaías.
• Apocalípticos: Livro de Enoque, Assunção de Moisés, 2 Enoque (ou O livro dos
segredos de Enoque), 2 Baruque (ou O apocalipse siríaco de Baruque), 3 Baruque
(ou O apocalipse grego de Baruque).

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• Didáticos: 3 Macabeus, 4 Macabeus, A história de Aicar.


• Poéticos: Salmos de Salomão, Salmo 151.
• Históricos: Fragmentos de uma obra de Sadoque.
Esta lista não é completa. Surgiram outros que vieram à luz por ocasião da descoberta
dos rolos do mar Morto.

c. Os livros questionados por alguns — antilegómena


• Alguns livros que pertencem ao cânone bíblico foram em algum momento colocados
em dúvida. É o caso de cinco livros em particular do VT: Cântico dos Cânticos,
Eclesiastes, Ester, Ezequiel e Provérbios. Mas em tempo oportuno foram defendidos
e considerados canónicos.
• Veja-se um exemplo: o Cântico dos Cânticos foi considerado por alguns rabis como
sensual. O próprio Lutero expressou dúvidas a respeito deste livro. Mas um rabi
escreveu o seguinte em defesa deste livro:
“Livre-nos Deus! Ninguém jamais em Israel criou controvérsia acerca do Cântico
dos Cânticos (…); todas as eras somadas não equivalem ao dia em que o Cântico
dos Cânticos foi dado a Israel. Todos os Escritos são santos, mas o Cântico dos
Cânticos é o Santo dos Santos.” (cit. in Geisler, Introdução Bíblica, pg. 91).
Hoje, este livro é estudado por nós como um repositório de revelações
extraordinárias a respeito de Cristo e a Igreja, bem como do plano profético que se
desenrola nos últimos dias.
• As dúvidas que surgiram sobre o livro de Ester têm a ver com a ausência do nome de
Deus neste livro. Mas é bem claro que, mesmo estando ausente o nome, a Presença
de Deus é uma constante irrefutável ao longo deste livro.
• São questionamentos que foram ultrapassados e cedo a canonicidade destes cinco
livros foi reconhecida.
• Também o Novo Testamento teve os seus livros em disputa, nomeadamente: as
epístolas de Tiago e Judas, II Pedro, II e III João, o Apocalipse de João e a Epístola
aos Hebreus. O próprio Lutero teve os seus antilegómena: ele questionou Hebreus,
Tiago, Judas e Apocalipse. Mas esses questionamentos pontuais nunca foram
suficientes para colocar em causa a canonicidade dos 27 livros que fazem parte do
NT.

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D. A QUESTÃO DOS APÓCRIFOS


Na secção anterior vimos que surgiram muitos livros que são unanimemente
reconhecidos como não canónicos. Mas há outros que são aceites pela Igreja católica e
rejeitados pelos judeus e protestantes.
É fácil constatar que as Bíblias católicas romanas têm mais livros, no Velho Testamento,
do que as Bíblias hebraicas e evangélicas. Esses livros são chamados Apócrifos pelos
judeus e pelos protestantes e Deuterocanónicos pelos católicos. Porquê estas diferenças
e porquê estas designações?

a. Lista dos livros apócrifos


(i) São os seguintes os livros apócrifos do VT:
• Adições ao livro de Daniel (episódios do Salmo de Azarias e o cântico dos três
jovens, a História de Susana e Bel e o dragão)
• Adições ao livro de Ester
• Baruc
• Eclesiástico (ou Sirácida ou Ben Sirá)
• Livro de Judite
• Primeiro Livro de Macabeus ou I Macabeus
• Segundo Livro de Macabeus ou II Macabeus
• Livro de Tobias
• Sabedoria
(ii) Note-se que há também livros apócrifos do Novo Testamento, em grande quantidade.
Porém, quer a igreja romana quer os cristãos evangélicos não aceitam qualquer deles
como canónicos. Muitos desses livros estão diretamente associados ao surgimento de
heresias várias, entre as quais avulta o gnosticismo (uma espécie de filosofia da Nova Era
dos primeiros séculos da Igreja).
Alguns exemplos desses apócrifos do NT são os seguintes:
• Evangelhos da infância — especulações sobre a infância de Jesus. O evangelho de
Tomé conta supostos milagres de Jesus em criança.
• Outros evangelhos, como o de Marcião, o Evangelho dos Hebreus, o Evangelho dos
Nazarenos, o Evangelho dos Ebionitas, o Evangelho de Maria (conhecido também
como o Evangelho de Maria Madalena) — muitos refletindo tendências gnósticas.
• Evangelhos da Paixão — focados na morte de Jesus, tais como a Declaração de
José de Arimatéia e o Evangelho de Pedro, entre outros.
• E muitos outros textos da mesma natureza, que a Igreja desde cedo denunciou e
afastou do cânone bíblico.

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b. Significado de “apócrifo” e de “deuterocanónico”


A palavra “apócrifo” significa oculto, de origem incerta, falso ou suspeito. Do ponto de
vista jurídico, um documento apócrifo é aquele que não tem identificação ou assinatura,
que não está autenticado. No âmbito da Literatura, apócrifo designa uma obra de um
autor desconhecido.
É este o qualificativo usado para designar os livros do VT que não faziam parte da Bíblia
hebraica e que não foram reconhecidos pela Igreja cristã.
Esses livros foram introduzidos no cânone da Bíblia católica apenas no século 16, no
contexto de um movimento destinado a combater a Reforma protestante, chamado
Contra-Reforma. Essa decisão teve como objetivo justificar certas doutrinas que a Bíblia
não confirma.
Veja-se um exemplo: a oração pelos mortos, ensino que contraria o ensino da Bíblia, mas
que é referido no livro dos Macabeus (2 Macabeus 12:45,46). Lutero criticou fortemente
esse ensino e a resposta católica foi a canonização do livro dos Macabeus e outros. No
entanto, não canonizaram outros livos apócrifos, como 2 Esdras. Será que foi porque 2
Esdras 7:105 contém uma advertência muito forte contra a oração pelos mortos?
Os livros apócrifos foram introduzidos na Bíblia pela Igreja romana durante o Concílio de
Trento (1545-1563) e foram chamados deuterocanónicos — palavra que significa
“segundo cânone”. Obviamente, trata-se de livros que não devem ser colocados ao lado
dos livros inspirados. Por isso, devemos evitar a utilização de Bíblias que os contenham.

c. Razões para rejeitar os livros apócrifos


Os Apócrifos foram incluídos na Bíblica católica com o propósito de apoiar algumas das
crenças da Igreja Católica que não estão em concordância com a Bíblia.
Exemplos: a já mencionada oração aos e pelos mortos, petições aos “santos” nos Céus,
adoração a anjos e “doações de caridade” como expiação pelos pecados. Há partes dos
livros Apócrifos que são verdadeiras e corretas. No entanto, contêm muitos erros
doutrinários e até históricos. Por isso, devemos considerá-los como textos religiosos e
históricos falhos e não como a Palavra de Deus inspirada, inerrante e aceite como fonte
de autoridade espiritual.
Norman Geisler (Introdução Bíblica, pgs. 100-101) resume da seguinte forma as razões
para não incluir na Bíblia os livros apócrifos:
1. A comunidade judaica jamais os aceitou como canónicos.
2. Não foram aceites por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.
3. A maior parte dos primeiros grandes pais da igreja rejeitou sua canonicidade.
5. Jerónimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os
livros apócrifos.

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6. Muitos estudiosos católicos romanos, mesmo durante a Reforma, rejeitaram os livros


apócrifos.
7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até à presente data,
reconheceu os apócrifos como inspirados e canónicos, no sentido integral dessas
palavras.
E acrescenta:
“À vista desses factos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os
cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se fossem Palavra de Deus,
nem os citem em apoio autorizado a qualquer doutrina cristã.”
Estes livros falham nos critérios de canonicidade (cf. supra C.1).
1. Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.
2. Não têm a autoridade de Deus.
3. Contêm erros históricos (cf. Tobias 1.3-5 e 14.11) e graves heresias, como a oração
pelos mortos.
4. Embora possam ter algum valor religioso, na maior parte trata-se de texto repetitivo,
que frequentemente já se encontra nos livros canónicos.
5. Há evidente ausência de profecia, o que não ocorre nos livros canónicos. Isto é, os
apócrifos nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas.
7. O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originariamente apresentados,
recusou-os terminantemente.
Além disso, deve sublinhar-se que a comunidade judaica, ao longo dos séculos, nunca
mudou de opinião a respeito dos livros apócrifos e a Igreja fiel nunca aceitou os livros
apócrifos como Escrituras Sagradas.

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