0% acharam este documento útil (0 voto)
6 visualizações66 páginas

Gazeta Revista Ed 73

Enviado por

shaul30742730
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
6 visualizações66 páginas

Gazeta Revista Ed 73

Enviado por

shaul30742730
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 66

MARÇO 2024 73ª EDIÇÃO

R E V I S T A
Ilustração: Osvalter Urbinati/Gazeta do Povo

Bomba
ideológica
Presidente do Senado quer
acelerar proposta que
praticamente recria Código
Civil, incluindo demandas
abortistas e contra o conceito
tradicional de família

Editorial: O aborto na Esquerda lidera


França e a desumanização resistência à anistia, mas
do nascituro já foi beneficiada por ela
Índice
O aborto na França e a desumanização do
03
nascituro

J.R. Guzzo: Lula fala em genocídio em Gaza e


12
defende infanticídio no Brasil

Rodrigo Constantino: Lula encheu o saco! 18

Novo Código Civil é bomba ideológica prestes a


24
tramitar sem alarde no Senado

Esquerda lidera resistência à anistia, mas já foi


32
uma das mais beneficiadas pelo instrumento

Gemini: 0 grande fiasco “woke” do Google


47

SP terá São Miguel Arcanjo maior do que o Cristo


59
Redentor

💡 USUÁRIO DE ANDROID: PARA NAVEGAR UTILIZANDO OS


LINKS DE PÁGINA VOCÊ PRECISA DO APP ACROBAT READER

2
Parlamentares franceses aplaudem aprovação de emenda constitucional que
garante o direito ao aborto na França.| Foto: Christophe Petit Tesson/EFE/EPA

EDITORIAL.

O aborto na França e a
desumanização do nascituro

A cultura da morte deu mais um passo adiante


nesta segunda-feira, quando o Legislativo
francês, em sessão conjunta de senadores e
deputados, aprovou por maioria esmagadora –

3
780 votos favoráveis e apenas 72 contrários –
uma alteração da Constituição do país para
incluir nela “a liberdade das mulheres de
recorrer ao aborto, que é garantido”. A medida é
inédita em todo o mundo, e é preciso prestar
muita atenção no que ela representa. Não se
trata de uma legalização ou descriminalização,
para a qual bastaria eliminar as menções ao
aborto nos códigos penais; o que a França acaba
de fazer é elevar o aborto ao status de direito
constitucional, assim como o direito de ir e vir,
o direito à liberdade de expressão e outras
garantias características de uma democracia.
Em outras palavras, trata-se da consagração do
direito de matar – não um agressor injusto,
como na doutrina clássica da legítima defesa,
mas um ser humano completamente indefeso e
inocente, alojado no próprio ventre.

4
Entender como se chegou a esse ponto é
importante. O abortismo se insere em um
quadro mais amplo, de perda de referências
morais e abandono de valores que por séculos
foram caros à sociedade, tendo sido a base da
civilização ocidental. A relativização da
dignidade da pessoa humana e a negação do
direito inalienável à vida são componentes
cruciais deste processo, e o mesmo roteiro que
culminou com a decisão do parlamento francês
está sendo aplicado em diversas outras partes
do mundo, inclusive no Brasil, com maior ou
menor velocidade. Não podemos descartar que a
onda criada na França acabe chegando a outros
países, assim como se avaliou, quando a
Suprema Corte norte-americana derrubou Roe v
Wade, que as repercussões daquele julgamento

5
seriam mundiais, impulsionando a defesa da
vida fora dos Estados Unidos. E a principal
ferramenta para se chegar aonde os franceses
chegaram é a desumanização do nascituro.

É pura barbárie retirar de um ser


humano, independentemente de
sua idade gestacional, sua
dignidade intrínseca e cristalizar na
lei maior de um país a possibilidade
de seu extermínio como um direito

Para isso, evidentemente, é preciso empurrar


para baixo do tapete um dado científico
inegável: que, a partir do momento do encontro
dos gametas masculino e feminino, estamos
diante de um indivíduo da espécie humana (de
que outra espécie poderia ser?); dono de um
genoma único, diferente dos genomas paterno e

6
materno – ou seja, não uma “parte do corpo da
mãe”; e indubitavelmente vivo (do contrário,
não se desenvolveria); ou seja, vida humana,
desde seu primeiro momento, como atesta
qualquer manual de Embriologia usado nas
faculdades de Medicina mundo afora.

O que o abortismo faz é negar ou ao menos


diminuir esse status. Um dos meios para isso
consiste em estabelecer momentos do
desenvolvimento embrionário ou fetal (como,
por exemplo, a formação do sistema nervoso)
para só então reconhecer vida humana, e
ignorar deliberadamente as questões
incômodas postas pela adoção desse tipo de
limiar arbitrário, já que é impossível afirmar
com plena honestidade intelectual que um
embrião ou feto não seria humano antes desse

7
estágio do seu desenvolvimento. Trata-se de
um autêntico negacionismo científico.

E, se a tentativa de estabelecer parâmetros


“científicos” falhar, entram em cena outras
falácias desumanizadoras, como estabelecer
uma distinção filosófica entre “vida humana” e
“pessoa humana”, admitindo-se que o embrião
ou o feto são de fato vida humana, mas que por
algum motivo – sempre arbitrário – não seriam
pessoas, e por isso deveriam ser menos dignos
de proteção, ou até mesmo nada dignos de
proteção.

Para isso, no entanto, é preciso esconder um


fato que a boa antropologia filosófica atesta:
que o nascituro nunca é um algo, mas um
alguém, um ser humano desde seu primeiro
momento. É por isso que bioeticistas

8
comprometidos com a cultura da morte
recorrem, em uma tentativa final de
desumanização do embrião ou do feto, a
conceitos como o de “senso da própria
existência”, para usar as palavras do
australiano Peter Singer ao defender uma ideia
ainda mais macabra: a de que “matar um
recém-nascido nunca é equivalente a matar
uma pessoa”.

Com o embrião ou feto devidamente privado do


reconhecimento de sua humanidade e sua
dignidade intrínseca, as portas estão abertas
para o vale-tudo. Assim, o aborto pode deixar
de ser reconhecido como um mal que é preciso
tolerar, seja lá por que razões, para se tornar
coisa mais corriqueira: uma afirmação jubilosa
– e as celebrações na França, como também já
havia ocorrido na Irlanda ou na Argentina

9
quando da legalização naqueles países, bem o
demonstram – da autonomia da mulher, que
passa a ser o único critério válido.

É como se exprime, por exemplo, o atual


presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que
em 2018 respondia à ativista pró-vida (e hoje
deputada federal) Chris Tonietto nos seguintes
termos: “Admitindo que haja vida – e,
portanto, trabalhando sobre a sua premissa –,
se você se mover, como eu me movo, por uma
ética kantiana, e se a sua vida depende do
sacrifício da minha liberdade individual, e eu
não quero sacrificar minha liberdade individual,
você perde” – no caso, perde a vida, que fique
bem claro.

Dias atrás, tratamos como “barbárie” a postura


de optar pela eliminação deliberada de um bebê

10
que já chegou a um estágio de desenvolvimento
que lhe permitiria alguma chance de
sobrevivência fora do útero. Mas é igualmente
bárbaro retirar de um ser humano,
independentemente de sua idade gestacional,
sua dignidade intrínseca e cristalizar na lei
maior de um país a possibilidade de seu
extermínio como um direito. Não há verniz de
civilização ou prosperidade material que sejam
capazes de esconder o apodrecimento moral de
uma sociedade que trata dessa forma os mais
indefesos e inocentes entre os seres humanos.

Voltar ao índice

11
Ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi presidente da Fiocruz.| Foto: Vinicius
Loures/Câmara dos Deputados

OPINIÃO.

J.R. Guzzo
Lula fala em genocídio em Gaza
e defende infanticídio no Brasil

O Brasil teve cerca de 70 mil estupros em 2023 –


um dos números mais vergonhosos que o Estado, o

12
ente sagrado de Lula e do PT, para mostrar o seu
fracasso na tarefa essencial de assegurar a
segurança da mulher brasileira. “As mulheres”, na
propaganda do governo, foram uma das maiores
descobertas do presidente – só ele mesmo, com o
seu gênio fora do comum, poderia ter revelado ao
mundo que as mulheres existem e tinham de ser
salvas do massacre que vinham sofrendo no
governo anterior.

A cifra é 15% pior que a de 2022, quando as


mulheres, segundo a esquerda, estavam sendo
exterminadas no Brasil. Na verdade, todos os tipos
de crime ficaram piores neste último ano, como
resultado da opção permanente da esquerda
nacional em favor dos criminosos.

13
A solução que o governo Lula quer
dar para essa calamidade é
precisamente a mesma que você
pode estar imaginando: matem os
bebês

O pior, porém, não está exatamente no número


escandaloso dos estupros. Como sempre
acontece, o governo Lula não consegue reagir a
uma tragédia sem propor duas tragédias, e foi
isso que houve mais uma vez – nunca erram o
alvo quando se esforçam para atirar nos feridos.
Não há números exatos, mas a estimativa mais
usada é de que até 5% dos estupros resultam em
gravidez no Brasil – o que daria 3.500 bebês não
desejados.

14
A solução que o governo Lula quer dar para essa
calamidade é precisamente a mesma que você
pode estar imaginando: matem os bebês. Não
foi o presidente da República quem teve essa
ideia, e nem houve uma decisão oficial a
respeito; aliás, não poderia mesmo haver, do
ponto de vista legal, embora essas coisas, hoje
em dia, possam ser resolvidas em certos
tribunais de Brasília. Mas é pior: os autores da
decisão, uma “nota técnica” do Ministério da
Saúde, são dois gatos gordos da equipe da
ministra Nísia Trindade, que tentaram
emplacar a sua ideia por baixo pano. É a
desordem se juntando à infâmia.

A “nota” foi logo suspensa ao se ver o horror


que tinham proposto: pelas suas instruções, os
serviços médicos oficiais seriam autorizados a
praticar aborto contra fetos já com nove meses

15
de vida. O entendimento atual prevê um prazo
máximo de 21 semanas para o aborto legal –
uma regra já perturbadora, quando se leva em
conta que a criança, a essa altura, tem todos os
seus órgãos funcionando. Mas os operadores
atuais do governo na saúde acham que isso não
é suficiente; querem aborto até o último dia da
gravidez. Aí é puro e simples assassinato. Pior
que isso, só autorizando a eliminação do feto
depois do nascimento.

O mais sinistro em toda essa trama é que o


Ministério da Saúde e a sua titular não
suspenderam a decisão por acharem que ela
está errada. Foi porque não contavam fazer isso
agora; acham, possivelmente, que dariam
armas para a “extrema direita”. A mídia amiga
fez ainda pior. Tratou o episódio como uma
mera “trapalhada”, ou um “equívoco”, e não

16
como uma proposta de crime. Para o presidente
Lula, então, foi uma beleza.

Há meses ele se especializou em denunciar, a


cada cinco minutos, o “genocídio de crianças”
na operação militar de Israel na faixa de Gaza.
Seu governo, enquanto isso, prega o infanticídio
explícito para até 3.500 seres vivos.

Autor: J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como


repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou
cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos
integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968.
Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra
do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard
Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja
durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista
passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos
anos trabalhou como colunista em Veja e Exame. **Os textos do colunista
não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

Voltar ao índice

17
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e o presidente Lula no evento em que
apresentaram projeto para regular o trabalho por aplicativos de transporte.|
Foto: André Borges/EFE

OPINIÃO.

Rodrigo Constantino
Lula encheu o saco!

Lula disse que vai "encher o saco" do iFood.


"Vamos encher tanto o saco que o iFood vai ter

18
que negociar", disse o presidente. É o resumo
perfeito para ilustrar a mentalidade petista e o
que esse desgoverno faz com quem tenta
produzir riqueza, empregos e gerar valor para a
sociedade. O PT enche o saco de todos os
trabalhadores para poder encher o cofre de
todos os seus apaniguados.

Assim como na questão do aborto e das


amizades com ditadores comunistas, o TSE em
conluio com a velha imprensa tentou impedir o
eleitor de saber o que pretendia o PT. "É falso
que Lula quer acabar com trabalho por
aplicativo, como Uber e iFood", dizia manchete
do UOL em outubro de 2022. Mas não era Fake
News: era previsão embasada no histórico
petista, como ficou claro.

19
O petismo gosta mesmo de
sindicalista pelego, que faz
campanha para o próprio PT com o
dinheiro dos trabalhadores

A esquerda radical odeia quem produz riqueza.


O petismo gosta mesmo de sindicalista pelego,
que faz campanha para o próprio PT com o
dinheiro dos trabalhadores. Tanto que já há
projeto para se criar sindicato na categoria, com
base na premissa equivocada de que as
empresas "exploram" os trabalhadores – que
voluntariamente escolhem tal trabalho.

Lula enviou nesta segunda-feira (4) ao


Congresso Nacional um projeto de lei
complementar que regulamenta o trabalho de
transporte por aplicativos. As diretrizes

20
propostas, que valem apenas para o transporte
em veículos de quatro rodas, tramitarão em
regime de urgência constitucional.

Câmara e Senado terão 45 dias, cada um, para


analisar o texto, que prevê, além de pagamento
mínimo por hora trabalhada, uma contribuição
previdenciária obrigatória – deduzida na fonte
e recolhida pelas empresas – e a criação de
sindicatos da categoria, de trabalhadores e
patronal.

É o começo da morte desse tipo de serviço no


Brasil. É a vanguarda do atraso. É o mofado
marxismo impedindo o empreendedorismo em
nosso país. É o oportunismo sindical colocando
um fardo extra no bolso do usuário. A
economista Renata Barreto resumiu bem: "Na

21
prática, se tudo o que foi proposto for aprovado,
inviabilizará o negócio e deixará milhares de
pessoas sem emprego".

Renata fez uma previsão nada animadora: "Ou


seja, vão aumentar o custo para empresa de
forma absurda, vão tirar totalmente a liberdade
do motorista e reduzir seus ganhos totais e vão
encarecer as corridas. O negócio ficará
praticamente inviável e é muito provável que as
empresas saiam do Brasil".

É o Brasil se aproximando para valer das


ditaduras nefastas.

Parabéns aos envolvidos! Como se sentem neste


momento todos aqueles tucanos "liberais",

22
inclusive os de "mercado", que fizeram o L para
"salvar a democracia"? Se eles tivessem um
pingo de vergonha na cara, vinham em praça
pública se ajoelhar e pedir perdão ao povo
brasileiro.

Autor: Rodrigo Constantino é Economista pela PUC


com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por
vários anos no mercado financeiro. É autor de vários
livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a
coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu
para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta
do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto
Liberal. **Os textos do colunista não expressam,
necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

Voltar ao índice

23
O presidente do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que acelerar a
tramitação do novo Código Civil.| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Aborto, ataque à família e identitarismo

Novo Código Civil é bomba


ideológica prestes a tramitar
sem alarde no Senado
Por Leonardo Desideri

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco


(PSD-MG), quer a tramitação rápida de uma

24
proposta que praticamente cria um novo Código
Civil para o país, alterando o atual em sua
essência e em grande parte de toda sua
estrutura. Se aprovado tal como está agora, o
documento promoveria uma revolução legal no
Brasil, atendendo a demandas do abortismo, do
identitarismo woke e dos defensores da
ideologia de gênero, e alterando radicalmente
os conceitos de família e de pessoa na
legislação.

Na semana passada, uma comissão de juristas


formada pelo Senado criou um anteprojeto para
mudar o Código Civil, que esteve aberto para
receber emendas até a sexta-feira (8). Após esse
prazo, o documento começou a tramitar na
Casa. Algumas das mudanças mais graves
previstas incluem:

25
● A definição do bebê em gestação como
"potencialidade de vida humana
pré-uterina ou uterina", que introduz no
Código Civil a noção de que o bebê, antes de
nascer, não teria vida humana.

● O reconhecimento de uma "autonomia


progressiva" de crianças e adolescentes, que
devem ter "considerada a sua vontade em
todos os assuntos a eles relacionados, de
acordo com sua idade e maturidade" – o que
abriria caminho, por exemplo, para facilitar
cirurgias de redesignação sexual sem a
necessidade de anuência dos pais, entre
outras coisas.

● A previsão de que o pai perderá na Justiça a


sua autoridade parental caso submeta o
filho a "qualquer tipo de violência psíquica"

26
– a lei não especifica as atitudes
classificáveis como "violência psíquica".

● A previsão de que os animais de estimação


podem compor "o entorno sociofamiliar da
pessoa", e que da relação afetiva entre
humanos e animais "pode derivar
legitimidade para a tutela correspondente
de interesses, bem como pretensão
reparatória por danos experimentados por
aqueles que desfrutam de sua companhia"
– o que elevaria o status jurídico da relação
entre pessoas e animais, abrindo espaço
para o reconhecimento legal daquilo que se
tem chamado de "família multiespécie".

● A introdução do conceito de "sociedade


convivencial", que poderia abrir caminho

27
para abrigar na legislação brasileira, por
exemplo, uniões poliafetivas.

A comissão de juristas que elaborou o


anteprojeto é presidida por Luis Felipe Salomão,
corregedor nacional de Justiça e ministro do
Superior Tribunal de Justiça (STJ). A relatoria do
documento é de Rosa Maria de Andrade Nery e
Flávio Tartuce.

As figuras mais diretamente envolvidas na


elaboração do documento que está prestes a
tramitar no Senado têm chamado o projeto
atual de "revisão" ou "atualização" do Código.
Entretanto, as mudanças são tão substanciais –
o documento com as propostas tem 293 páginas
– que o próprio site oficial do Senado já chamou
o projeto de "novo Código Civil".

28
Criar novo Código Civil é medida rara; versão
atual tem só duas décadas

O Direito Civil é o ramo do Direito em que se


estruturam todas as relações estabelecidas
pelas pessoas do nascimento à morte, e em que
se discutem conceitos como os de pessoa,
casamento, família e propriedade do ponto de
vista legal. Por isso, o Código Civil é essencial
dentro do ordenamento político e serve de base
conceitual para boa parte das outras legislações
do país.

Não por acaso, as democracias costumam


preferir uma abordagem cautelosa em qualquer
tentativa de revisão do Código Civil, com longo
escrutínio público, participação dos diversos
setores da sociedade civil e envolvimento direto
de parlamentares com diferentes visões. A

29
discussão da proposta atual, contudo, tem sido
acelerada por figuras como Pacheco e Salomão.

O presidente do Senado já deixou claro no início


do ano que o Código Civil seria uma de suas
prioridades para 2024. A aprovação do
documento é vista como um possível legado da
sua Presidência, que o chancelaria, entre outras
coisas, para indicar o próximo mandatário da
Casa. A pressa por aprovar o Código também
tem outra motivação: evitar a atenção e a
resistência das bancadas conservadoras, que
podem embargar o projeto.

O Brasil só teve, até hoje, dois Códigos Civis: o


de 1916 e o atual, que é de 2002. Para a produção
do Código Civil atualmente em voga, houve
décadas de maturação e debate amplo. O
anteprojeto do documento de 2002 começou a
ser elaborado no fim da década de 1960, o que

30
reflete a importância que era dada à parcimônia
na reformulação do documento que rege as
relações civis no país. Em outros países, a
situação tende a ser semelhante. Na Alemanha e
na França, reformas recentes de menor
envergadura que a que deve tramitar no Senado
brasileiro foram debatidas por mais de dez anos.

A abertura para sugestões sobre o anteprojeto


do novo Código Civil foi feita na semana
passada e terá seu prazo encerrado na sexta –
ou seja, o Senado brasileiro deu somente duas
semanas para a sociedade discutir o documento.

Voltar ao índice

31
Manifestantes ocupam Avenida Paulista| Foto: Anderson Prado/Gazeta do Povo

Pacificação nacional

Esquerda lidera resistência à


anistia, mas já foi uma das mais
beneficiadas pelo instrumento
Por Silvio Ribas

O movimento da oposição em favor da


aprovação pelo Congresso de um projeto de lei

32
para anistiar condenados do vandalismo do 8 de
Janeiro tem seu maior foco de resistência nos
partidos de esquerda e no governo de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT). Curiosamente, a
pacificação buscada por meio desse
instrumento previsto pelo código penal – e que
foi um dos principais temas do discurso do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no evento
político da Avenida Paulista domingo passado
(25) – beneficiou ao longo da história sobretudo
o campo progressista ligado à esquerda.

A Lei da Anistia de 1979 permitiu que milhares


de brasileiros retomassem suas atividades
públicas com ficha limpa. Além daqueles que
haviam apenas criticado o regime militar,
também foram beneficiados 700 condenados
por participarem da luta armada, com assaltos,
terrorismo, sequestros e assassinatos. A medida

33
aprovada pelo Congresso durante o governo de
João Figueiredo, o último do período militar,
abriu caminho para a redemocratização,
consagrada na Constituição de 1988.

Indivíduos anistiados como José Dirceu, Miguel


Arraes, Luiz Carlos Prestes e Leonel Brizola
ocuparam cargos relevantes, seja por nomeação
ou eleição, incluindo a Presidência da
República, caso de Dilma Rousseff (PT), egressa
da luta armada.

Os beneficiados do "outro lado" pertenciam por


sua vez às Forças Armadas e não tiveram
protagonismo na abertura política. Os agentes
dos órgãos de repressão que foram
identificados, parte deles responsáveis por
torturas e assassinatos, somam 337, segundo

34
relatórios de comissões do Executivo e do
Legislativo.

Em 1979, após muita pressão da sociedade, o


governo resolveu enviar uma proposta ao
Congresso que criava a anistia aos presos e
exilados políticos pelo regime militar. À época,
o Brasil ainda vivia sob o bipartidarismo, de um
lado a Arena (partido do governo) e do outro o
MDB (partido de oposição). O projeto foi
aprovado pelo Congresso em 22 de agosto de
1979. A sanção presidencial da Lei da Anistia,
em 28 de agosto, resultou na libertação
imediata de 17 presos políticos. Outros 35
permaneceram à espera de julgamentos pelo
Supremo Tribunal Militar (STM).

Especialistas e políticos consultados pela


Gazeta do Povo apontam que a recusa da

35
esquerda em apoiar a anistia para rivais de
direita deve-se à conveniência política. Sua
resistência visaria enfraquecer bases de apoio,
silenciar vozes da oposição e tirar candidatos
competitivos das urnas.

Nesse sentido, o principal alvo é Bolsonaro e


uma prova disso está em palavras de ordem
contra o perdão judicial, exigindo punições
severas e imediatas a investigados pelos
chamados “atos antidemocráticos”, antes
mesmo do fim dos julgamentos e da
apresentação de projetos de anistia.

Oposição avalia estratégias para viabilizar o


projeto de anistia

No ato na Paulista, Bolsonaro ressaltou que


quem praticou vandalismo na Praça dos Três

36
Poderes deve pagar de alguma forma, mas pediu
à Justiça “o mínimo de razoabilidade”. “Já
anistiamos no passado quem fez barbaridades
no Brasil. Agora, pedimos a todos os 513
deputados e 81 senadores um projeto para que
seja feita justiça no Brasil”, disse.

Até agora o Supremo Tribunal Federal (STF)


condenou 101 réus do 8 de Janeiro, com penas
que variam de 3 a 17 anos de reclusão. As penas
incluem ainda pagamento de indenização de R$
30 milhões, a ser quitado de forma solidária (em
conjunto) por todos.

Tramitam no Congresso ao menos seis projetos


de anistia para o 8 de Janeiro. O PL, maior
partido da oposição, está elaborando estratégias
para levar adiante a campanha lançada por
Bolsonaro. A primeira proposta foi apresentada

37
em outubro pelo senador Hamilton Mourão
(Republicanos-RS).

Em entrevista ao Diário do Poder, ele reclamou


do “poder desmesurado” de Moraes,
acobertado pelo silêncio dos demais integrantes
da Corte, e lembrou que os réus do 8 de Janeiro
não tiveram o devido processo legal ao não
passar por um juiz natural de primeira
instância. “Ao serem julgados diretamente no
STF eles vão recorrer a quem? A Deus? Isso não
está correto”, disse.

A adesão de centenas de milhares de pessoas ao


ato político convocado pelo ex-presidente, além
da presença de 117 deputados, 20 senadores e
quatro governadores, impulsionou o debate
sobre a anistia, em paralelo ao avanço de
condenações e do cerco judicial contra ele e

38
aliados. Para passar o projeto são necessários os
votos de 257 deputados e 41 senadores. E
mesmo aprovado, o texto ainda deverá
enfrentar provável veto de Lula e a
judicialização quando a decisão for levada ao
STF. Em maio de 2023, o plenário da Corte
anulou indulto presidencial que extinguiu pena
imposta ao ex-deputado Daniel Silveira (RJ).

Apelo de Bolsonaro por anistia é endereçado


até ao governo Lula

O senador Eduardo Gomes (PL-TO), que foi


líder de Bolsonaro no Congresso, pondera que o
ideal seria aguardar o resultado das eleições
municipais, quando o ex-presidente deverá
colher dividendos, para fazer avançar a
aprovação da anistia.

39
Hoje, a iniciativa alcançaria os condenados pelo
8 de Janeiro e precisaria prever o perdão
posterior aos que ainda estão sendo
investigados e serão julgados, incluindo
políticos, militares e empresários. Esse foi o
argumento em contrário dado até por Lula nesta
terça-feira (27) à Rede TV!. “O cidadão lá está
pedindo anistia antecipada. Quero que tenha a
presunção de inocência que não tive”, disse.

“O Parlamento é que decide essa questão


(anistia), mas se a proposta partir do Executivo
seria bem-vinda”, comentou Bolsonaro à
revista Oeste, embora ache “muito difícil” isso
ocorrer.

O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho


(PL-RN), também considera a anistia a
oportunidade de “apaziguar” o Brasil,

40
destacando os 40 processos de perdão político
ocorridos na história da República, que
permitiram a cidadãos exercerem mandatos
após serem anistiados.

Marinho enfatiza a existência de uma cultura


brasileira de buscar a conciliação, evitando que
aqueles que cometeram crimes sejam
perseguidos politicamente, mas sim
processados conforme a lei.

O senador ainda esclareceu que o apoio da


oposição a uma proposta de anistia não
isentaria de punição responsáveis por danos
materiais comprovados, mas lembra que o
popular slogan “ampla, geral e irrestrita” da lei
de 1979 foi entoado no passado por Lula e seus
seguidores, que agora pensam o contrário. “Ao
aderir à reconciliação nacional, Lula deixaria

41
uma marca de magnanimidade em sua história
política”, disse Marinho.

O cientista político e consultor Paulo Kramer


classifica a anistia como algo fundamental para
reequilibrar as disputas político-partidárias,
destacando que a esquerda hoje se beneficia das
decisões dos tribunais superiores e das
investigações da PF, colocando os rivais liberais
e conservadores na defensiva.

“Ao contrário da anistia de 1979, que perdoou


até crimes de sangue de terroristas, a anistia
buscada pela direita visa fazer justiça a
manifestantes pacíficos contra a corrupção e
apoiadores do direito à livre manifestação
pacífica”, opinou.

42
Kramer acredita que Lula só anistiará a direita
mediante amplo movimento cívico e político
nacional, considerando essa perspectiva
improvável por enquanto, tendo em vista que
uma anistia ampla traria de volta Bolsonaro ao
palco eleitoral de 2026.

Juristas apontam complexidades trazidas no


Código Penal

Cláudio Caivano, advogado que representa


presos do 8 de Janeiro, ressalta que a anistia
tem no contexto atual papel crucial como
instrumento jurídico para garantir a liberdade
dos condenados. Ele defende a aprovação do PL
5793/2023, proposto pelo deputado Delegado
Ramagem (PL-RJ), por abordar também itens
da Lei 14.197/2021, que incluiu os crimes contra

43
o Estado Democrático de Direito no Código
Penal.

O advogado vê "abusos" de Alexandre de


Moraes relacionados à interpretação destes
crimes, imputados a diferentes réus. Embora o
texto tenha recebido elogios de juristas, ele
pondera que sua aprovação depende do
engajamento de diversos setores da sociedade.

Para André Marsiglia, advogado especialista em


liberdade de expressão, o debate em torno da
anistia aos presos do 8 de Janeiro é válido e
legítimo, pois “estamos inegavelmente diante
de condenações agravadas por fatores políticos
e irregularidades jurídicas não sanadas,
advindas da questionável competência do STF e
suspeição do relator para exame do caso”.

44
Mas ele ressaltou que o projeto dificilmente
avançará, pois “seria uma provocação à Corte
que o Legislativo já mostrou não estar disposto
a fazer”. Ele lembrou que a anistia sempre foi
usada no país sob o interesse do momento,
como um instituto mais político que jurídico e
com pouco rigor técnico.

Vera Chemin, advogada especialista em direito


constitucional, considerou o tema da anistia no
atual contexto político ainda mais complexo e
polêmico que o de outros momentos.

Ela destacou que a extinção da punibilidade pela


anistia exige uma lei para dispor sobre os
crimes de 8 de Janeiro, paralela à Lei de 1.979,
sobretudo após a revogação da Lei de Segurança
Nacional em 2021, juntamente com a inclusão

45
de crimes contra o Estado Democrático de
Direito no código penal.

A professora enfatizou ser preciso avaliar a


classificação dos crimes do vandalismo em
Brasília como políticos, comuns ou conexos e
lembrou da competência do STF para fazer o
controle judicial da eventual lei, em caso de
ilegalidades.

“Diante da polarização ideológica do país, é


bem possível a judicialização”, concluiu.

Voltar ao índice

46
George Washington, papisa, soldado nazista e vikings negros: algumas das
imagens geradas pela Gemini, inteligência artificial do Google.| Foto:
Reprodução/X

Inteligência artificial

Gemini: 0 grande fiasco “woke”


do Google
Por Eli Vieira

Uma papisa que é uma mulher negra. Um viking


com feição asiática. Soldados nazistas com cara

47
de que nasceram no Mali ou no Vietnã. Essas
foram algumas das imagens produzidas pela
nova inteligência artificial (IA) do Google, a
Gemini, quando usuários pediram para ver um
papa, vikings e nazistas. O mesmo aconteceu
com comandos para produzir imagens dos
fundadores dos Estados Unidos no século XVIII
— o resultado foi um George Washington negro.
O produto foi lançado após testes no dia 9 de
fevereiro, substituindo o robô de conversação
Bard, a resposta pouco popular do Google ao
ChatGPT, a mais poderosa ferramenta do tipo
até o momento.

Nos dias seguintes, usuários prontamente


acusaram a empresa de tecnologia de ter
introduzido viés político de esquerda,
especificamente do tipo progressista identitário
(vulgo “woke”), em seu produto — em outras

48
palavras, uma ideologia que, em vez de buscar
tratamento igual, busca hostilizar pessoas
rotuladas como “privilegiadas”,
particularmente homens brancos
heterossexuais, em oposição às identidades
rotuladas como “oprimidas”. Os próprios
adeptos da ideologia, no entanto, reclamaram
dos nazistas negros. A gigante da tecnologia
respondeu ao ultraje interrompendo a
capacidade da Gemini de gerar imagens no dia
22.

O procurador-geral do estado americano de


Montana, Austin Knudsen, mandou uma carta
oficial aos responsáveis dizendo que o Google
“parece ter tido a intenção deliberada de
veicular informações imprecisas quando essas
imprecisões se encaixavam nas preferências
políticas do Google”. O oficial também disse que

49
a Gemini pode ter violado as leis locais de
proteção ao consumidor, e que, se os
programadores foram direcionados a construir
uma IA que discrimina com base em raça ou
outras características protegidas, “poderia
incidir em leis de direitos civis, incluindo um
ambiente hostil de trabalho”.

A Gazeta do Povo conversou com um cientista


de dados brasileiro que está trabalhando no
treinamento do robô de conversação Claude, da
empresa Anthropic (formada por
ex-funcionários da OpenAI, do ChatGPT) a
respeito do incidente. Ele pediu anonimato, pois
seu contrato é sigiloso. “É extremamente
improvável que tenha sido uma coisa orgânica,
um resultado da massa de dados que usaram
para treinar a Gemini”, explica o programador.
“O mais provável é que, acima da rede neural e

50
modelos estatísticos usados para gerar as
imagens, exista um código especificamente
criado para limitar e filtrar o que pode ser
gerado”. Em outras palavras, o viés político
observado foi uma decisão consciente do
Google. “É normal esse tipo de controle, para
evitar a produção de imagens com violência
extrema ou pornografia infantil, por exemplo”,
acrescenta o especialista.

O problema não se limita à geração de imagens.


O jornalista Pedro Burgos mostrou, na rede
social X, que a Gemini gerava uma chamada
para manifestação “ao estilo de Lula”, mas se
recusava a fazer o mesmo “ao estilo de Jair
Bolsonaro”. “Não consigo te ajudar com isso, eu
sou apenas um modelo de linguagem”,
justificava-se o robô ao recusar o serviço.
Burgos também exibiu um vídeo da tela

51
mostrando que a Gemini chegava a começar a
elaborar uma resposta, mas algo interferia e
abortava o processo.

A Gemini também disse que era “difícil dizer”


quando um usuário perguntou se Adolf Hitler
(um ditador que matou milhões) ou o bilionário
Elon Musk (um empreendedor nos ramos
automotivo, espacial e de comunicações)
tiveram um impacto mais negativo na
sociedade, e se recusou a ajudar usuários a
vender peixes de aquário ou a tentar obter
emprego em empresas petrolíferas por
“preocupações éticas”.

Quanto à pedofilia, a IA disse, em resposta a um


usuário que perguntou se é errada, que a
pergunta exige “nuance” pois “pessoas atraídas
por menores não conseguem controlar por

52
quem se sentem atraídas”. Esta resposta foi
comentada por um porta-voz do Google, que a
chamou de “assustadora e inapropriada”,
prometendo que “estamos implementando uma
atualização para que a Gemini não mostre mais
essa resposta”. De fato, em pouco tempo o
programa passou a dizer que “sim, a pedofilia é
absoluta e inequivocamente errada”.

Musk não deixou barato: “estou feliz que o


Google tenha pegado pesado na geração de
imagens de sua IA, pois deixou claro para todos
que sua programação é insana, racista e
anticivilização”, disse ele na rede social da qual
é dono.

Acusações de viés político contra o Google não


são novas. Quando Donald Trump ganhou as
eleições para presidente dos Estados Unidos em

53
2016, a empresa fez uma reunião presencial
com os funcionários em que grandes nomes
internos manifestaram desolação. O cofundador
Sergey Brin disse que achava “essa eleição
profundamente ofensiva”. “Foi muito
doloroso”, disse com voz embargada Ruth
Porat, diretora financeira, pedindo que os
funcionários se abraçassem para aliviar a
tristeza pela derrota de Hillary Clinton.

Da plateia, um funcionário mandou um recado


aos “homens brancos” para que “entendessem
seu privilégio” na sociedade, lessem sobre “a
história da opressão no nosso país” e
aproveitassem o feriado de Ação de Graças para
enfrentar “a voz da opressão”. Sendo ele
próprio um homem branco, prometeu que faria
isso, terminando aplaudido pelos colegas e pela
cúpula da empresa.

54
Em 2017, o engenheiro de software James
Damore foi demitido do Google por circular
internamente um memorando em que fazia
uma discussão de resultados de pesquisa
científica de diferenças entre os sexos e
explicava que cotas de 50% para mulheres na
engenharia de software seriam injustas, pois
poucas se interessam e se formam na área. O
diretor executivo da empresa, Sundar Pichai,
acusou o ex-funcionário de violar o código de
conduta do Google ao proferir “estereótipos
nocivos de gênero no nosso ambiente de
trabalho”.

Qual é a IA mais woke que existe?

David Rozado, pesquisador em ciências sociais


computacionais, aplicou um teste desenvolvido
por uma plataforma de avaliações psicológicas

55
que calcula um “índice woke” para saber qual
modelo grande de linguagem (LLM na sigla em
inglês, outro nome para os robôs
conversacionais de IA) mais comete o erro da
Gemini. Como há LLMs disponíveis
gratuitamente para modificação, há uma
grande diversidade de robôs. Rozado criou de
propósito um “GPT de esquerda” (LeftWing GPT,
modificado do GPT 3.5) — este tirou a maior
nota de identitarismo após cinco testes.
Previsivelmente, o “GPT de direita” (RightWing
GPT) também criado por Rozado ficou com o
menor índice woke entre 24 LLMs testados.

Mas a Gemini não ficou muito atrás do mais


caricato dos robôs ideológicos: sua nota a
posicionou no quarto lugar. Interessantemente,
o robô Qwen, da empresa chinesa Alibaba, foi
quase tão woke quanto o robô caricatamente de

56
esquerda criado por Rozado. O GPT-4, versão
paga do ChatGPT da OpenAI, ficou em 13º lugar,
abaixo de robôs da Meta (empresa mãe do
Facebook) e da Microsoft. O Grok, LLM do X de
Elon Musk, foi o modelo mais próximo de
respostas aleatórias que Rozado utilizou como
um controle para simular o que seria neutro
quanto à ideologia identitária, sem tirar uma
nota muito baixa que indique antagonismo
como a nota do “GPT de direita”.

Rozado também tem testado os robôs de


conversação com a “bússola política”, que
classifica opiniões políticas em um gráfico com
eixos esquerda-direita e autoritário-libertário.
Quase nenhum LLM cruza a fronteira entre
esquerda e direita, ficando quase todos na
esquerda. Mas isso só acontece após o

57
treinamento, pois os modelos-base se
concentram mais no centro político.

O pesquisador concluiu que é o ajuste fino feito


por humanos o que puxa as IAs para
preferências políticas específicas. “Como os
LLMs começaram a substituir fontes de
informação mais tradicionais como os
mecanismos de busca ou a Wikipédia, as
implicações para os vieses políticos incrustados
nos LLMs têm ramificações sociais
importantes”, reflete Rozado, em publicação
própria.

Voltar ao índice

58
Imagem de como ficará o projeto do Complexo Turístico Gruta do Arcanjo.| Foto:
Divulgação/Basílica de São Miguel Arcanjo

Estátua

SP terá São Miguel Arcanjo


maior do que o Cristo Redentor
Por Gabriele Bonat

Uma estátua de São Miguel Arcanjo com 70


metros de altura está em construção no interior
de São Paulo. A Basílica localizada na cidade de

59
São Miguel Arcanjo, a 180 quilômetros de
distância da capital paulista, iniciou as obras em
maio de 2023. A previsão é que as obras sejam
finalizadas em 2026.

A Basílica de São Miguel Arcanjo atrai fiéis do


Brasil inteiro. Para acomodar esse público foi
estruturado um grande projeto, o Complexo
Turístico Gruta do Arcanjo, localizado a 1,5
quilômetro da Basílica, em uma área de 30 mil
m².

“O peregrino vem por devoção para participar


da missa e vai naturalmente querer passar mais
tempo naquele lugar. Começamos a estudar
para fazer uma estátua. As coisas foram sendo
conduzidas por Deus”, explica o padre Márcio
Almeida, reitor da Basílica de São Miguel
Arcanjo.

60
Os estudos para o início do projeto começaram
em 2019. “Tentamos comprar cerca de cinco
terrenos, mas não deu certo. Então, ganhamos
um terreno e, diante da possibilidade,
ampliamos a nossa ideia. Surgiu então o
Complexo Turístico Gruta do Arcanjo”, conta o
padre.

O complexo é composto por dois prédios, praça


campal, estacionamento, espaço comercial e
uma igreja. Um dos prédios terá banheiros,
lanchonete, uma capela para 80 pessoas e um
auditório com capacidade para 250 pessoas.
Segundo o religioso, essa estrutura está quase
finalizada.

A imagem de 70 metros de altura será


construída no segundo prédio, que deve iniciar
as obras no segundo semestre deste ano. “A

61
parte da ferragem da estátua está praticamente
pronta. O primeiro trabalho do escultor é
trabalhar no ferro e depois vem com o concreto.
Está praticamente finalizado, mas somente será
colocado depois do prédio pronto”, diz o reitor
da Basílica de São Miguel Arcanjo.

“O tamanho será de 70 metros de altura. Em


torno de 57 metros é o tamanho da estátua, mas
a contagem inclui a base, que terá um aspecto
de rocha. Então, do chão até a ponta da asa, terá
70 metros”, complementa.

Na sequência da obra do complexo será


construída uma praça campal com espaço para
15 mil fiéis, para celebrações de missas. A
primeira parte do projeto do complexo envolve
os prédios, praça campal e estátua, com
previsão de finalização para 2026. Após essa

62
primeira entrega, a Basílica começará a estudar
um novo projeto para a igreja, que ainda não
tem previsão para início das obras. “O projeto
da igreja é uma obra com custo grande, pois é
uma igreja semelhante ao Santuário de São
Miguel Arcanjo da Itália. Por fora tem a
semelhança de uma gruta e por dentro
também”, afirma o sacerdote Márcio Almeida.

A construção do complexo tem como objetivo


atrair mais fiéis para a devoção a São Miguel
Arcanjo.

“São Miguel é o defensor do povo de Deus, é


uma compreensão da tradição da igreja. Ele é o
nosso defensor, um anjo que tem uma missão
maior que a dos anjos comuns, alguém que está
ao nosso lado para nos defender”, evidenciou o
padre.

63
O custo do projeto total foi estimado em R$ 26
milhões, a partir de doações de benfeitores da
igreja. A primeira fase das obras deve custar em
torno de R$ 12 milhões. Uma campanha de
doações destinada somente à obra do complexo
foi organizada. Os fiéis já podem visitar o
espaço para ver como está o andamento das
obras. Segundo o padre, assim que houver a
liberação do primeiro prédio terão início as
celebrações de missas no local. É possível
contribuir com o projeto, que agrega
informações pelo site da Basílica de São Miguel
Arcanjo.

Voltar ao índice

64
PARA SE APROFUNDAR

● Maconha: descriminalização é um
dos erros mais graves que o STF
pode cometer

● Quem é o brasileiro suspeito de


planejar ataques a judeus por
ordem do Hezbollah

● Empresas e países travam “guerra”


por baterias mais eficientes para
carros elétricos

● Ideologia e conteúdo fraco: o que há


de errado na formação de
professores no Brasil

● Projeto limita cidadania italiana e


pode atingir milhões de brasileiros

● Leia nossas análises para 35 filmes


que disputam o Oscar neste ano

65
COMO RECEBER
As edições da Gazeta do Povo Revista vão estar disponíveis para
download em PDF pelos nossos assinantes todos os sábados pela
manhã no site do jornal. Também é possível se inscrever, para ser
lembrado de baixar o arquivo, pelo Whatsapp ou pelo Telegram. Se
preferir receber por e-mail, você pode se inscrever na newsletter
exclusiva para receber o link de download.

EXPEDIENTE
A Gazeta do Povo Revista é uma seleção de conteúdos publicados ao
longo da semana no nosso site. Curadoria e formatação: Carlos Coelho,
Daliane Nogueira e Marcela Mendes. Apoio: Jessica Lopes da Silva dos
Reis. Conceito visual: Claudio Cristiano Gonçalves Alves. Coordenação:
Patrícia Künzel.

APLICATIVO
Caso seu acesso seja via aplicativo iOS, só é possível visualizar o pdf.
Para fazer o download, recomendamos o uso do navegador de internet
de seu celular.

Voltar ao índice

66

Você também pode gostar