A Essência Da Cura e Redenção - Auricélio Gonçalves Coriolano
A Essência Da Cura e Redenção - Auricélio Gonçalves Coriolano
### Prólogo
Desde cedo, ele sentiu o peso de carregar o estigma de "ovelha negra" de sua
família. Lutou contra o alcoolismo e mergulhou nas dores de sua própria
existência. Mas, longe de serem fracassos, essas batalhas foram os marcos
de uma jornada interior — uma travessia que poucos ousam enfrentar.
Descobertas e Sonhos
Amor entre cartas e canções
Entre a Biologia e a Matemática
Desafios e Esperança
Um sinal do universo
Uma luz na escuridão
Horizontes Espirituais
Sincronicidade
Hipnose
Geometria Sagrada
O transdutor Cósmico
Civilizações Antigas
A Arca e o Tecido do Espaço-Tempo
O Enigma do Tetragrammaton
Emmanuel(Jesus): A Arca Viva
A Era de Aquário
O Preço da Ausência
Sonhos Lúcidos
Descobertas na clínica
Encontro com uma terapeuta holística
A Ovelha Cósmica: A Jornada de Célio para a Cura e redenção
Descobertas e Sonhos
Célio nasceu em uma cidadezinha no interior do Ceará. A pequena vila, com suas
ruas de terra batida e casas de adobe, era um lugar onde o tempo parecia correr
mais devagar. Os moradores, sempre prontos para uma prosa na calçada ao
entardecer, conheciam-se pelo nome e compartilhavam histórias de gerações.
Célio adorava brincar descalço com seus irmãos e amigos na rua. As tardes eram
preenchidas com jogos de bola, banhos de rio e aventuras pela mata. A natureza ao
redor era seu playground, e ele explorava cada canto com uma curiosidade
insaciável. Naquela época, a tecnologia ainda engatinhava, especialmente na sua
cidadezinha. O objeto mais tecnológico em sua casa era um rádio que captava
algumas faixas de estações, trazendo notícias e músicas que alimentavam a sua
imaginação.
Célio tinha como ídolos seus pais, batalhadores incansáveis que vieram do interior
para a cidade em busca de melhores oportunidades. Sua mãe, uma dedicada
professora, lutava para garantir que seus seis filhos tivessem acesso à educação.
Seu pai, um trabalhador rural e poeta de cordel, era um defensor fervoroso dos
direitos dos trabalhadores rurais. Os valores de justiça social e a importância da
agricultura familiar sustentável foram profundamente enraizados em Célio,
moldando sua visão de mundo e seu caráter.
À medida que crescia, a sua curiosidade só aumentava. Ele passava horas olhando
para as estrelas, imaginando o que havia além do véu noturno. Sua mãe, uma
mulher de fé profunda, o levava à igreja onde ele ouvia atentamente as histórias
bíblicas. Mas sua mente inquieta sempre buscava mais respostas. Célio não
aceitava respostas prontas e fazia perguntas que desafiavam o comum.
Um dia, ainda criança, ele perguntou ao padre: "Se Deus criou o universo, quem
criou Deus?" Essa pergunta, embora simples, refletia seu pensamento crítico e sua
busca incessante por respostas. O padre ficou pensativo, e Célio percebeu que nem
todas as perguntas tinham respostas fáceis. Esse momento destacou sua
curiosidade natural e seu desejo de entender o mundo de maneira mais profunda.
Com sua alma sensível e dedos ágeis, encontrou na música um refúgio e uma
forma de expressão que palavras sozinhas não poderiam capturar. Seu violão era
uma extensão de si mesmo, e as melodias que fluíam dele eram como conversas
íntimas compartilhadas com quem quisesse ouvir.
Ele não apenas tocava; ele comunicava sentimentos e pensamentos, criando uma
ponte entre sua alma e o mundo exterior.
A música era sua verdadeira voz, e com ela, se revelava. Ele era mais do que um
menino com perguntas sobre o universo, ele era um artista, um sonhador, cuja
paixão pela música era tão profunda quanto sua curiosidade pelas estrelas.
Célio, ao concluir o ensino básico em sua cidade natal, precisou mudar-se para
outra localidade para cursar o ensino médio. Lá, por suas boas notas, foi convidado
a estagiar em um banco. Na era primordial da internet, transmitia dados usando um
computador com conexão discada. Ele se via, com curiosidade, transferindo
informações entre bancos, como se desbravasse um novo território.
Era uma época em que a internet discada era a principal forma de conexão, e ele se
deslumbrava com aquela tecnologia inovadora. Entre os sons característicos da
conexão, ele transferia dados maravilhados com as possibilidades que se abriam
diante de seus olhos.
Enquanto trabalhava, Celio não podia deixar de imaginar o que o futuro reservava.
Ele sonhava com um tempo em que a informação estaria ao alcance de todos, em
qualquer lugar do mundo. Visualizava-se acessando dados de bibliotecas distantes,
informações que jamais encontraria nas pequenas bibliotecas de sua cidade.
Foi nesse cenário que ele teve seu primeiro contato com o álcool, algo que
inicialmente encarou como parte do ritual de transição para a vida adulta. Nas
festas, uma bebida ou outra parecia intensificar as emoções, soltar as amarras da
timidez e criar um sentimento de liberdade que o encantava. Célio gostava da
sensação, a forma como o álcool transformava o mundo ao redor, fazendo tudo
parecer mais leve e sem limites.
Para ele, o álcool era apenas mais um elemento de diversão, algo que ele
acreditava estar completamente sob seu controle. Naqueles dias, Célio não fazia
ideia de que essa relação, aparentemente inocente, carregava consigo uma
profundidade que ele só compreenderia muitos anos depois. O que era apenas mais
um detalhe de sua juventude viria a se tornar uma marca em sua vida, uma sombra
que o acompanharia nos momentos mais inesperados.
Mas naquele momento, tudo parecia simples e descomplicado. Ele não imaginava o
quanto o álcool se entrelaçaria em sua jornada e as batalhas que o aguardavam no
futuro.
No início, Célio se dedicou aos estudos, mas rapidamente se viu envolvido nas
tentações da vida noturna. Jovem e cheio de curiosidade, ele começou a frequentar
festas e bares, onde o álcool se tornou uma companhia constante. As noitadas
começaram a atrapalhar seus planos.
Pouco tempo depois, Célio recebeu a notícia de que deveria retornar à sua terra
natal para servir o exército, encerrando assim sua breve e tumultuada aventura na
cidade grande.
Ao voltar para sua cidade natal, Célio teve uma surpresa ao encontrar seu avô em
condições muito diferentes das que havia deixado. O homem que antes era lúcido
agora estava debilitado pela demência, vivendo com seus pais na mesma casa.
Célio, que também morava com eles, dividia seu tempo entre o serviço no Tiro de
Guerra e as noitadas com os amigos, onde o álcool era uma constante.
Apesar de suas escapadas noturnas, Célio sempre encontrava tempo para ajudar
seu avô. A convivência com ele, agora em um estado de regressão mental,
despertava em Célio uma curiosidade profunda sobre a mente humana. Ele
observava seu avô voltar a ser criança, chamando sua filha de "mãe".
Muitas noites, Célio ficava na calçada com seu avô, conversando sob o céu
estrelado. Às vezes, seu avô parecia voltar ao normal, e Célio se alegrava ao ver
um vislumbre do homem que conhecera. Mas esses momentos eram fugazes, e
logo a demência tomava conta novamente.
Um jovem cujo coração parecia imune ao amor verdadeiro, estava cercado por
pretendentes. Garotas de todos os cantos se encantavam por ele, mas seus
sentimentos permaneciam serenos como um lago sem ondas. No entanto, o
destino, com suas tramas inesperadas, trouxe uma surpresa em seu caminho. Por
uma coincidência, um acaso do universo, uma garota chamada Anne, de outra
cidade, cruzou seu caminho. E naquele momento, quando seus olhares se
encontraram, Célio soube que ela era diferente.
Ela não era como as outras que viam nele apenas o jovem desejável; ela olhava
para ele e via a alma por trás do sorriso. Nos olhos dela, ele viu o reflexo de sua
própria essência, e algo dentro dele despertou. Era um sentimento novo, profundo e
avassalador. Pela primeira vez, Célio sentiu o que tantos poetas tentaram descrever
em versos: o amor verdadeiro.
Nas noites em que a lua brilhava sobre a cidade e a música preenchia o ar, Celio
com a bebida se transformava. Ele se tornava o centro das atenções, um imã para
risos e olhares curiosos. As garotas se reuniam ao seu redor, atraídas por sua
súbita eloquência e charme desinibido e seu violão alado.
Foi em uma dessas noites que Anne apareceu, como uma visão entre a multidão.
Seus olhos encontraram os dele, e algo floresceu. Uma conexão que não precisava
de palavras, apenas da promessa silenciosa de um futuro compartilhado.
Eles dançaram, riram e compartilharam segredos ao som de canções que só eles
podiam ouvir. E quando a noite deu lugar ao amanhecer, Célio sabia que havia
encontrado algo mais poderoso do que qualquer coisa: o amor.
Nessa época, Célio, que sempre teve uma paixão pela música, decidiu aproveitar
seu talento com o cavaquinho. Junto com seu irmão, que tocava pandeiro, e alguns
amigos, resolveram montar uma banda de pagode. Isso era algo muito novo na
região, onde o forró dominava a cena musical.
Essa nova fase trouxe muita alegria e realização para Célio. A música não só o
conectava com seus amigos e a comunidade, mas também lhe dava um propósito e
uma forma de expressar suas emoções e criatividade. A banda de pagode se tornou
um marco na cidade e região, chegando a dividir os palcos com bandas de
expressão nacional, mostrando que, com paixão e dedicação, é possível inovar e
conquistar novos espaços.
A distância entre as cidades de Célio e Anne era mais do que meros quilômetros;
era uma lacuna tecida pelo tempo e pela tecnologia que ainda engatinhava. Em uma
era onde as palavras viajavam no ritmo lento dos dias e das noites, a
correspondência escrita era a ponte que unia dois corações separados pelo destino.
Eles encontraram na arte das cartas, um consolo para a saudade que os consumia.
Cada envelope selado carregava muito mais do que tinta no papel; carregava
suspiros, sonhos e um pedaço da alma de quem escrevia. Para Célio e Anne, cada
carta que chegava era um evento, uma celebração da conexão que desafiava as
barreiras do espaço.
Célio se sentava sob a sombra de uma árvore frondosa, sua caneta dançando no
papel, compondo cada palavra com a delicadeza de quem pinta um quadro. Ele
descrevia o céu acima dele, as estrelas que talvez ela também estivesse
contemplando, criando um elo invisível entre eles.
A vida acadêmica é uma maré que arrasta até mesmo os corações mais
apaixonados para longe das margens do amor juvenil. Sua amada foi chamada por
essa maré, convocada para mergulhar nos estudos e abraçar o futuro que a
academia prometia. Era uma oportunidade brilhante, mas que carregava consigo o
peso da separação.
Célio sentia um misto de orgulho e melancolia. Ele sabia que o caminho dela era
luminoso e necessário, mas o pensamento de suas visitas se tornarem menos
frequentes trazia uma sombra ao seu coração. A música que antes fluía livremente
de seus dedos agora carregava notas de saudade, e as cartas que trocavam, antes
cheias de planos e sonhos, agora continham também palavras de encorajamento e
promessas de um reencontro.
Ele pensava consigo mesmo, "Não, isso não é suficiente. Eu tenho que dar um
jeito."Sabia que seu amor pela aprendizagem poderia ser a chave para estar mais
perto dela. "Eu vou estudar, eu vou me dedicar à vida acadêmica," ele decidiu com
determinação. Era uma decisão que exigiria sacrifício, mas para Ele a possibilidade
de estar ao lado de sua amada valia qualquer esforço.
Assim, ele trocou as noites de apresentações por noites de estudo, os acordes por
livros, e a euforia da plateia pelo silêncio da biblioteca. Cada página virada era um
passo em direção a ela, cada capítulo concluído, uma promessa de reencontro, Ele
estava em uma nova jornada, não apenas em busca do conhecimento, mas também
do amor que dava sentido a tudo.
Essa descoberta foi um despertar, um chamado para uma jornada maior. Ele
começou a enxergar a matemática como uma porta de entrada para algo mais
profundo. Agora, em vez de ver o mundo como um lugar aleatório e caótico, Célio
notava padrões, simetrias, proporções. O que antes era simples acaso, ele agora
via como expressão de uma inteligência harmônica e esteticamente perfeita,
impressa em cada canto da criação.
Ela falava das rosas com uma reverência quase sagrada, explicando a
complexidade de suas estruturas, o significado de suas cores e o perfume que cada
uma exalava. Célio, por sua vez, via o mundo através dos números e estava sempre
pronto para mostrar como a matemática se manifestava em tudo ao seu redor.
"Veja," ele dizia, apontando para a disposição das pétalas de uma flor, "a proporção
divina, está aqui também." E com um sorriso, ele explicava como a natureza segue
padrões matemáticos, como as espirais das sementes do girassol e as ramificações
das folhas.
O pavor de enfrentar o público era uma corrente fria que o prendia, uma âncora que
o mantinha submerso em um mar de insegurança.
Ele sabia que tinha muito a oferecer, ideias a compartilhar, mas quando chegava o
momento de se expressar, as palavras pareciam fugir, e o silêncio tomava seu lugar.
Era uma batalha interna entre o desejo de ser ouvido e o temor de ser julgado.
"Eu tenho que superar isso," Célio pensava, "tenho que encontrar minha voz."
Isso o atraía para a bebida, um eco de um passado que ele desejava esquecer. Ele
sabia que precisava ser melhor, mas a timidez o deixava frustrado, incapaz de
transmitir o que realmente queria.
Célio queria entender essa sombra dentro de si. Sua busca era constante, uma
jornada para compreender e superar essa timidez que o acompanhava.
A história de Célio é um lembrete de que todos nós temos nossas lutas internas,
nossos demônios pessoais. Mas também é uma história de resistência e de
esperança, pois mesmo nas noites mais escuras, Célio buscava a luz da manhã, a
promessa de um novo dia onde ele poderia ser mais do que suas sombras, mais do
que seus medos.
Apesar de tudo, era um tempo de descobertas, de sonhos compartilhados sob o teto
de uma instituição que prometia um futuro cheio de possibilidades. Juntos, eles
navegavam pelas complexidades da matemática e pela elegância da biologia,
imersos nas equações que tentavam desvendar os mistérios do universo. A cada
aula, cada discussão, parecia que o conhecimento os unia em algo grandioso,
criando um laço que transcendia o simples ambiente acadêmico.
Com o término da faculdade, ela, sua companheira de alma, teve que retornar à sua
cidade natal, ao seio de sua família. E ele? Ficou à deriva na solidão de um campus
que agora ecoava com o silêncio de sua ausência.
Decidiu, então, que não poderia deixar que a distância os separassem. No fundo,
sabia que perto dela, encontrava a serenidade que tanto buscava. Com
determinação, prestou uma prova para transferir seu curso para a universidade de
sua cidade. O destino, em sua ironia poética, lhe concedeu a aprovação.
Desafios e Esperança
Após muito tempo de namoro, Célio e Anne estavam mais próximos do que nunca.
No entanto, Célio começou a sentir uma pressão crescente para dar o próximo
passo em seu relacionamento: o casamento, um sonho que Anne sempre teve.
Célio, percebendo a importância desse seu desejo, decidiu que era hora de
oficializar a união.
Era uma noite onde cada estrela no céu parecia abençoar a união deles. A brisa
suave carregava a promessa de um futuro juntos, enquanto Célio afinava seu violão,
o coração cheio de canções ainda não escritas.
Com os primeiros acordes, a conversa cessou,
Todos os olhos se voltaram para o noivo apaixonado.
Ele começou a tocar, e a melodia flutuou,
Como um rio de luz, em harmonia perfeita com a noite iluminada.
A música de Célio era mais do que uma simples canção; era o reflexo de uma
jornada compartilhada, um hino à vida que construíram e ao futuro que os
aguardava. E sob o manto de uma noite estrelada, eles dançaram, cercados por
aqueles que amavam, celebrando o começo de uma nova etapa em suas vidas.
Nos dias bons, Célio era o companheiro amoroso e dedicado que Anne conhecera e
amara. Juntos, riam, faziam planos para o futuro e se deliciavam com a simples
presença um do outro. No entanto, de tempos em tempos, Célio mergulhava em
crises profundas de humor e questionamentos existenciais, que o arrastavam para o
álcool como uma fuga desesperada de algo que ele próprio não conseguia entender.
Esses períodos de instabilidade tornavam-se cada vez mais frequentes, afetando a
harmonia do lar e colocando em risco o casamento que ambos haviam construído.
Anne, entre a esperança e a frustração, lutava para sustentar o amor, mas a
crescente dificuldade de Célio em lidar com seus próprios conflitos tornava tudo
mais pesado e incerto.
Anne sabia que o amor e o apoio eram essenciais, mas também entendia que Célio
precisava encontrar a força dentro de si para superar esse desafio. E assim, entre
altos e baixos, eles seguiam juntos, enfrentando as dificuldades e celebrando as
vitórias, na esperança de que um dia a sombra se dissipasse de vez.
Célio sabia que o caminho para a sobriedade não era linear, era uma estrada
sinuosa cheia de altos e baixos. Mas em sua busca por conhecimento, ele começou
a entender que o vício não era uma sentença, mas um desafio a ser superado.
Célio e Anne estavam ansiosos para começar uma família. Quando Anne
engravidou pela primeira vez, a alegria foi imensa. No entanto, a felicidade foi breve,
pois Anne não conseguiu segurar o feto. A tristeza tomou conta do casal, mas eles
decidiram tentar novamente.
Na segunda tentativa, a história se repetiu, e a dor da perda foi ainda mais profunda.
Determinados a realizar o sonho de ter um filho, Célio e Anne buscaram ajuda
médica. Começaram um tratamento com um pediatra renomado, mantendo a
esperança de que um dia, finalmente, conseguiriam segurar seu bebê nos braços.
Um Sinal do Universo
Foi então que um senhor se aproximou, e com palavras simples, mas carregadas de
significado, apontou para um bêbado que cambaleava em sua bicicleta pela rua.
"Veja, eu não posso julgar", disse o senhor, "pois também já estive naquela
escuridão, perdendo tudo aos poucos, mas minha mulher permaneceu ao meu
lado". Ele contou como sua esposa o resgatava dos bares, e como, tocado por uma
força maior, encontrou refúgio e redenção na igreja.
E foi assim que a vida, como um rio que encontra finalmente seu caminho para o
mar, mudou de curso. Uma princesa chegou, trazendo luz e renovação. O senhor
apontou para o outro lado da rua, onde sua filha corria ao seu encontro,
chamando-o com alegria. "Pai!", ela exclamava, e o abraço que se seguiu foi um
testemunho silencioso da transformação que o amor e a fé podem operar.
Observando aquela cena, Celio sentiu uma epifania. A vida, com todas as suas
coincidências e reviravoltas, era um milagre a ser celebrado.
E Célio olhou para o horizonte, vendo a última estrela a brilhar no manto noturno
que lentamente se desfazia com a chegada da alvorada. Uma sensação de
serenidade o envolveu, uma paz tão profunda e plena que ele nunca sentira antes
em sua vida. Era como se o universo, em sua imensidão silenciosa, aplaudisse sua
decisão corajosa. A decisão de não se separar, de permanecer fiel ao que seu
coração sabia ser verdadeiro, ressoava em harmonia com o cosmos. E naquele
momento, Célio soube que tudo estaria bem.
Célio decidiu que era hora de parar com suas recaídas. Ele e Anne iniciaram uma
nova fase de amor, uma era de renovação e esperança. Resolveram abandonar os
tratamentos médicos. Célio acreditava que, se fosse para ser, seria, independente
de qualquer coisa. Eles estavam convencidos de que o amor que compartilhavam
era suficiente para superar qualquer obstáculo.
Então, em uma reviravolta do destino, quando menos esperavam, aconteceu o
milagre. Contra todas as probabilidades, Anne descobriu que estava grávida. A
notícia veio como uma bênção inesperada, um sinal de que o universo realmente
conspirava a favor deles. A alegria de Célio era imensurável, e juntos, eles se
prepararam para receber o novo membro da família que, de alguma forma, sabiam
que estava destinado a eles.
Sua esposa, Anne, trazia no ventre não apenas uma nova vida, mas a promessa de
um amor renovado e a esperança de dias mais felizes. Ela era a gravidez mais linda
do mundo, radiante com a luz de quem carrega o futuro nos braços. Todos viam
neles um casal abençoado, destinado a superar as tempestades e a colher os frutos
da perseverança.
Quando a pequena Ana veio ao mundo, Célio sentiu uma conexão instantânea, um
elo tão forte que parecia ter sido forjado nas estrelas. A menina tinha os olhos
curiosos e o sorriso fácil, e cada vez que ele a segurava, sabia que estava
segurando um pedaço do céu.
"Você é meu milagre", ele sussurrava para a filha, enquanto ela dormia
tranquilamente em seus braços. "E juntos, vamos construir uma história linda."
Alguns meses haviam se passado desde que os Pais de Anne deixara um vazio em
suas vidas. Em meio à celebração nupcial de uma parente querida, o ar estava
carregado de alegria e promessas de novos começos. Foi nesse cenário de festa e
esperança que Célio, após um longo período de sobriedade, decidiu permitir-se um
gole. Mal sabia ele que aquele ato, aparentemente inocente, desencadearia uma
série de eventos que redefiniriam seu caminho de maneira irrevogável.
No dia seguinte, a ressaca emocional de Célio era palpável. A frustração por ele ter
sucumbido à bebida na véspera do Dia das Mães era uma ferida aberta, agravada
pela ausência da Matriarca. A pressão era insuportável; o peso da saudade,
imensurável. Em um impulso desesperado sua esposa deixou o pequeno ser aos
cuidados dele, ainda atordoado pela noite anterior. Sem rumo, ela entrou no carro e
partiu, deixando para trás a vida que conhecia, impulsionada pela dor e pelo vazio
que só uma filha que perde uma mãe pode sentir.
Ela partiu sem destino, o coração atordoado pelo turbilhão de emoções, desejando,
em seu íntimo, que o fim a encontrasse, dirigiu sem rumo, perdida em pensamentos
sombrios, até que a clareza a atingiu como um raio de sol cortando nuvens
tempestuosas. De repente, ela se viu diante da Igreja de Nossa Senhora de Fátima,
o mesmo nome de sua mãe. Era como se forças celestiais a tivessem guiado até ali
para acalmar sua alma conturbada. Ao entrar no sagrado recinto, suas preces
subiram aos céus, e as lembranças de sua filha, a razão de seu viver, inundaram
seu ser. Foi nesse momento de epifania que ela encontrou a força para retornar ao
lar, ao amor que ainda pulsava forte por sua pequena.
Horizontes Espirituais
Após a tragédia que abalou suas estruturas, Célio e Anne, unidos pelo luto e pela
esperança de dias melhores, decidiram recomeçar em outro lugar. Escolheram a
cidade costeira onde a prima de Anne, que sempre fora como uma segunda mãe,
residia. Era uma cidade de praias deslumbrantes, onde o horizonte parecia prometer
novos sonhos e possibilidades.
A nova cidade costeira trouxe consigo um sopro de renovação para Célio e Anne.
As praias deslumbrantes e o horizonte infinito pareciam prometer novos começos e
possibilidades. Cada dia era uma oportunidade para criar memórias, ver a filha
crescer e redescobrir a beleza da vida.
Certo dia Anne foi convidada para uma palestra em um centro espírita local. Célio,
sempre solícito, foi buscá-la ao final do evento. Ao chegar, ele não pôde evitar sentir
um leve preconceito, uma resistência inicial ao ambiente que lhe era desconhecido.
Enquanto esperava por Anne, um dos palestrantes se aproximou e, com um sorriso
acolhedor, convidou Célio a conhecer mais sobre o espiritismo. Relutante, mas
curioso, ele aceitou o convite.
Ao adentrar o salão e ouvir as explicações sobre a doutrina espírita, Célio foi
gradualmente se encantando. As palavras sobre a imortalidade da alma, a
reencarnação e a lei de causa e efeito ressoavam profundamente em seu coração.
Ele percebeu que, ao contrário do que imaginava, o espiritismo não era uma religião
distante ou estranha, mas sim uma filosofia que se alinhava com muitos de seus
próprios pensamentos e questionamentos sobre a vida.
Célio saiu do centro espírita naquela noite com uma nova perspectiva, sentindo-se
mais leve e inspirado. O conhecimento que adquiriu ali não só dissipou seus
preconceitos, mas também abriu sua mente para novas possibilidades e
entendimentos sobre a espiritualidade.
A cada livro lido, a cada palestra assistida, Célio sentia-se mais conectado com uma
verdade maior. A doutrina espírita não apenas oferecia consolo, mas também uma
compreensão profunda da vida e da morte, do sofrimento e da redenção.
Anne, por sua vez, encontrou no centro espírita um espaço de acolhimento e cura.
As sessões de prece e os estudos em grupo ajudaram-na a lidar com a perda dos
pais e a encontrar forças para seguir em frente. Juntos, Célio e Anne começaram a
reconstruir suas vidas, apoiando-se mutuamente e encontrando na espiritualidade
um novo sentido para suas existências.
Certa vez, ele se deparou com uma frase que o fez refletir profundamente: "Quem
come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso." Essa ideia
ressoou em seu íntimo, pois ele compreendia que cada descoberta o afastava mais
da ignorância, mas também o distanciava de um estado de inocência e simplicidade.
Aprendeu que as crenças são como vestes que devem se adaptar ao corpo de
nossas experiências. À medida que crescemos e mudamos, nossas ideias e
convicções também devem evoluir. Ele entendeu que a religião é como um barco
que nos serve para atravessar o rio das incertezas da vida. No entanto, ao alcançar
a outra margem, não se deve carregar o barco consigo, mas sim agradecer-lhe pelo
serviço prestado e seguir adiante.
Célio, com o coração aberto e a mente inquieta, sabia que havia mais horizontes
para explorar. O espiritismo havia sido uma luz em tempos de escuridão, mas sua
alma ansiava por mais. Ele partiu em uma jornada pelas diversas religiões do
mundo, buscando entender as semelhanças e diferenças que tecem o tapeçaria da
fé humana.
Apesar das inúmeras diferenças entre essas tradições, Célio descobriu um fio
comum que as unia: a busca pelo significado, pela conexão e pelo divino. Ele
percebeu que todas essas crenças, de alguma forma, procuravam responder às
mesmas perguntas fundamentais sobre a vida, a morte e o propósito da existência.
Para Célio, essa diversidade de perspectivas era uma fonte inesgotável de
sabedoria e inspiração, e ele estava determinado a continuar sua jornada de
exploração e aprendizado.
Era uma tarde qualquer, mas para Célio, não seria apenas mais um dia. Ele
caminhava pelas ruas movimentadas, perdido em pensamentos sobre os padrões
numéricos que tanto lhe fascinavam. Horas iguais, números espelhados, uma
sequência que parecia dançar diante de seus olhos, sussurrando segredos do
universo.
Ao passar por uma livraria antiga, algo inexplicável o puxou para dentro. O cheiro de
papel e tinta o envolveu, e ele se deixou levar pelos corredores repletos de
sabedoria encadernada. "Estou apenas olhando", disse a si mesmo, mas no fundo,
uma voz interior sussurrava que ele estava ali para encontrar algo especial.
Intrigado e um tanto cético, seguiu a direção indicada. Seus passos ecoavam pelo
silêncio da livraria, e ele sentia o peso de cada olhar dos autores que o observavam
das capas dos livros. Chegando à seção de psicologia, ele olhou para a prateleira e
esperou. Nada aconteceu. "Isso é ridículo", pensou.
Célio sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele se sentou em uma poltrona
próxima e começou a ler avidamente. O livro explicava que a sincronicidade, um
conceito desenvolvido por Carl Jung para descrever eventos que são "coincidências
significativas" – ocorrências que, embora não tenham uma relação causal, parecem
estar profundamente conectadas por meio de significado.
Jung, em colaboração com o físico Wolfgang Pauli, explorou a ideia de que essas
coincidências não são meramente acasos, mas sim manifestações de um princípio
subjacente que conecta a mente e a matéria. Eles sugeriram que o universo é
estruturado de tal forma que eventos aparentemente aleatórios podem, na verdade,
estar interligados por um padrão maior, refletindo a ordem do inconsciente coletivo.
Célio refletia sobre como esses conceitos se manifestavam na vida cotidiana
através da sincronicidade, eventos significativos que parecem coincidir de maneira
significativa. Ele lembrou-se de algumas histórias que ilustravam esses fenômenos.
A primeira história era sobre um homem que havia perdido seu filho jovem.
Enquanto caminhava na praia, o homem estava pensando no filho quando pisou em
algo duro na areia. Ao olhar, descobriu que era uma moeda rara, uma das moedas
que seu filho mais estimava em sua coleção. A probabilidade de encontrar
exatamente aquela moeda era mínima, e o homem sentiu que era um sinal de que
seu filho ainda estava presente de alguma forma. Esse evento foi um exemplo claro
de sincronicidade, sugerindo uma conexão entre o mundo material e o espiritual.
Outra história envolvia um grupo de senhoras que jogavam baralho e haviam
perdido uma amiga querida. Um dia, enquanto jogavam e lembravam
nostalgicamente da amiga, mencionaram um pássaro que ela gostava muito. Nesse
momento, um pássaro igual ao que a amiga adorava começou a bater na vidraça.
Elas abriram a janela, e o pássaro entrou, voando entre elas. As senhoras ficaram
maravilhadas e filmaram o evento, sentindo que a presença da amiga estava ali com
elas. O pássaro permaneceu por um tempo antes de finalmente voar embora,
deixando-as com uma sensação de conexão espiritual.
Célio lembrou da sua própria história no estacionamento do hospital, onde aquele
dia mudou a trajetória da sua vida e sua filha nasceu.
"A sincronicidade está sempre presente para aqueles que estão dispostos a ver."
Hipnose
Célio decidiu assistir a um show de hipnose, imaginando que veria ali mais do que
simples truques; buscava, na verdade, uma oportunidade de observar de perto a
complexidade da mente humana e a linha tênue entre consciente e inconsciente.
Enquanto o hipnotizador, com olhar penetrante e voz tranquila, induzia os
voluntários ao transe, Célio refletia sobre o estado hipnótico como um espaço onde
a percepção do real era maleável, permitindo que a mente absorvesse sugestões
capazes de transformar até as mais arraigadas crenças. Sob hipnose, as pessoas
realizavam ações que desafiam a lógica cotidiana, revelando como o subconsciente
responde a comandos que fogem ao controle racional.
A hipnose e o efeito placebo revelavam uma verdade central para ele: o universo,
em sua essência, é mental, uma ideia explorada por místicos e filósofos como
Platão e refletida na máxima “O Todo é mente” do Caibalion. Se a mente humana
tem o poder de alterar a percepção, o que impede que, em uma escala maior, o
próprio universo seja uma projeção mental, uma criação sustentada pela
consciência? Ao mergulhar nessas reflexões, Célio viu a hipnoterapia como uma
ferramenta que oferecia acesso direto ao subconsciente, permitindo reprogramar
crenças e alinhá-las com uma visão mais positiva e saudável de si mesmo. Foi
então que ele se deparou com o livro A Biologia da Crença, de Bruce Lipton, que
trouxe uma explicação científica para o que parecia ser, até então, uma questão
filosófica.
Geometria Sagrada
Célio caminhava pelas ruas desertas, guiado por uma sensação inexplicável. Seus
olhos foram atraídos por um edifício imponente: um centro maçônico, com uma
porta entreaberta, como se o chamasse. Sem hesitar, ele entrou, sentindo o ar
solene que preenchia o salão vazio, banhado por uma penumbra discreta.
O silêncio quase reverente o levou até a biblioteca, onde estantes de livros antigos
se erguiam ao redor. Ele começou a observar os títulos meticulosamente, até que
um livro em particular prendeu sua atenção: "Geometria Sagrada". Com uma
curiosidade quase magnética, ele o retirou da prateleira e começou a folheá-lo,
admirando as complexas figuras e as descrições de conhecimento ancestral.
Foi então que uma voz o interrompeu suavemente. “Posso ajudar em algo?”,
perguntou o homem que surgira ao seu lado, o tutor da biblioteca. Ele tinha uma
expressão serena, mas seu olhar era perspicaz. Surpreso, Célio explicou
rapidamente: “A porta estava aberta e achei tudo isso... fascinante. Esse livro, em
especial, chamou minha atenção”.
O tutor observou Célio por um instante, notando seu brilho nos olhos e o fascínio
genuíno em sua expressão ao segurar o livro. Com um leve sorriso, disse em um
tom quase conspiratório: “Pode levá-lo. Este é um livro que, talvez, tenha esperado
por você. Mas guarde para si – esse conhecimento é uma jornada pessoal.”
Os sólidos platônicos são formas geométricas perfeitas, cujas faces são polígonos
regulares idênticos, com ângulos e arestas iguais. Eles são os blocos de construção
do mundo, refletindo os princípios e poderes mais fundamentais e essenciais
relacionados à vida. Essas formas não são meras curiosidades matemáticas; elas
são símbolos poderosos que estão intrinsecamente associados aos elementos
clássicos da natureza - terra, água, ar, fogo e éter.
Esses sólidos não apenas refletem a ordem e a harmonia do cosmos, mas também
incorporam os projetos divinos subjacentes a todos os níveis da existência. Desde a
estrutura cristalina dos minerais até a complexidade das formas biológicas, desde a
vastidão do espaço estelar até a intricada dança das partículas subatômicas, os
sólidos platônicos estão presentes, sussurrando a verdade eterna de que tudo está
conectado.
Ao estudar a Flor da Vida, Célio descobriu que ela não apenas simboliza, mas
também atua como um modelo funcional para a criação. As formas geométricas que
emergem deste padrão, como a **Semente da Vida**, o **Fruto da Vida** e a
**Árvore da Vida**, são fundamentais para entender a estrutura intrínseca do
espaço-tempo e a interconexão de todas as coisas.
As representações mais antigas da Flor da Vida, descobertas no Templo de Osíris
em Abydos, Egito, datam de mais de 6000 anos. Os antigos egípcios reconheciam
que este desenho, muito além de sua beleza estética, era um portal para o
conhecimento transformador, chamado por Thoth de "Ovo da Metamorfose".
Duas escolas de mistério, o Olho Esquerdo e o Olho Direito de Hórus, ensinavam os
princípios femininos e masculinos da criação, respectivamente. A geometria sagrada
era o coração desses ensinamentos, enfatizando que a criação emerge do vazio, do
nada, impulsionada pelo movimento do espírito.
Este símbolo, chamado de flor, reflete o ciclo da vida de uma árvore frutífera. A flor
dá lugar ao fruto, como uma cereja, que contém em seu interior a semente. Esta
semente, ao cair no solo, inicia um novo ciclo de vida, transformando-se em outra
árvore, perpetuando assim o processo de criação.
Ele refletia sobre a matéria em nossa realidade tridimensional, onde formas cúbicas
são comuns. Contudo, ao explorar a geometria interna de um cubo, Célio percebeu
que, ao "desvendar" seus cantos, surgia algo mais essencial: uma estrutura oculta
composta por dois tetraedros entrelaçados. Estes tetraedros, ao se refletirem
mutuamente, formavam uma estrela de oito pontas – conhecida como tetraedro
estrela ou, em algumas tradições, o Merkabah. Para Célio, esta configuração era
um símbolo universal de interconexão e dualidade, demonstrando como, dentro da
matéria, a criação se desdobra em pares complementares, em um ciclo eterno de
interação entre forças opostas.
Assim, Célio via no tetraedro estrela não apenas uma figura geométrica, mas um
mapa, uma representação do equilíbrio e da simetria que regem o universo.
Célio percebeu que a **Estrela de Davi** não era apenas um símbolo de identidade
ou fé, mas um mapa para entender as leis fundamentais que governam tudo o que é
e será. Era um convite para explorar a harmonia divina que reside na intersecção do
visível e do invisível, do conhecido e do desconhecido.
A simetria era inegável, e Célio logo traçou paralelos com as antigas tradições que
reverenciavam o número 12. Os 12 apóstolos em torno de Jesus, as 12 tribos de
Israel, os 12 signos do zodíaco — cada um, em sua cultura, representava uma
formação que orbitava em torno de um centro, uma unidade superior. Era como se
esses padrões fossem mensagens codificadas, deixadas pelos sábios ancestrais,
revelando uma mesma verdade: a presença de uma ordem universal, em que o
equilíbrio absoluto só poderia ser alcançado pelo encontro de todas as direções em
um centro comum.
Pesquisadores apontam que a geometria sagrada pode ser a chave para entender a
existência do campo de ponto zero. Este zero cósmico é modelado na figura desse
vetor, também conhecido como cuboctaedro, que é a matriz de energia geométrica
mais fundamental do cosmos. Em outras palavras, o vetor equilíbrio representa a
geometria do ponto zero ou campo unificado.
Este equilíbrio perfeito é visto como a união dos opostos e conecta toda a matriz do
universo. Fuller sugere que o Vetor Equilíbrio define os limites da capacidade da
mente humana de compreender o universo, entrelaçando todo o espaço-tempo em
uma matriz pré-geométrica, um campo infinito de equilíbrio.
A partir deste ponto de equilíbrio, todo o universo pode ser criado, preenchendo o
espaço-tempo. É a geometria do ponto zero, onde qualquer manifestação no
universo, física ou metafísica, começa com uma flutuação neste campo, que contém
energia infinita.
Será que essa imagem aponta para algo além da mera dualidade das forças
opostas? Talvez o ponto de interseção entre o yin e o yang — essa singularidade
central, o ponto zero — não seja apenas um ponto de equilíbrio, mas o próprio
caminho do meio, o Tao, onde a unidade primordial de tudo se manifesta.
Nesse ponto de absoluto equilíbrio, talvez resida a essência divina, o vazio fértil de
onde toda polaridade emerge e para onde toda criação retorna. Poderia esse centro
ser o código essencial do universo, onde matéria e espírito se encontram e se
fundem no mistério mais profundo da existência. Talvez, ali, em uma quietude além
do movimento, esteja a chave que conecta tudo o que é, uma dança eterna e
sagrada.
Célio via o universo como uma estrutura holográfica, uma imensa e complexa
organização geométrica. Não que tudo fosse ilusório, mas que tudo era um reflexo
holográfico de algo maior, de um "algo real" que estava por trás da matemática e da
estrutura universal. E esse "algo real" era o que ele, em seus estudos e meditações,
chamava de Criador, ou "Deus".
Para ele, esse termo ia além das crenças limitadas. Era o último grau de
entendimento da realidade, um convite para transcender os sentidos, expandir a
consciência, e perceber a conexão com o Divino. Tudo estava conectado. Todos
faziam parte desse sistema geométrico, ordenado e criado com um propósito maior.
As pessoas podiam ignorar, mas não podiam evitar serem parte dessa unidade. Ele
via, com clareza, que todos estavam entrelaçados em uma rede de energia e
propósito, mantida por uma harmonia que poderia ser compreendida se alguém
estivesse disposto a enxergar o universo além dos olhos físicos.
Célio lembrava dos estudos sobre a Árvore da Vida, revisitando tudo o que havia
aprendido. Entre seus estudos, as teorias de Nassim Haramein o fascinavam,
especialmente por conectarem antigas tradições espirituais com estruturas
geométricas profundas e universais. Para Haramein, a Árvore da Vida cabalística
não era apenas um conjunto de esferas e linhas místicas; ela ocultava uma
estrutura geométrica precisa, revelando, possivelmente, um código que permeia o
universo.
Célio, ao ler essas ideias, ficou impressionado com a forma como a Árvore da Vida
parecia ganhar um novo significado, não só como símbolo místico, mas como uma
chave para a energia universal. Haramein demonstrava que, ao unir o tetraedro e o
octaedro em uma configuração tridimensional, surgia uma estrela de tetraedros com
um octaedro central, revelando a "matriz isotrópica vetorial": um padrão de 64
tetraedros que representaria a totalidade da energia cósmica.
Para o pesquisador, a Árvore da Vida era uma representação exata dessa matriz
isotrópica, um "mapa" do equilíbrio universal. Célio via, naquelas palavras, uma
transformação profunda do símbolo cabalístico, que agora transcendia a filosofia e
se aproximava da própria estrutura da realidade. Inspirado, ele absorvia a teoria de
que a Árvore da Vida não era um elemento isolado, mas um conjunto de oito
Árvores interconectadas, formando a rede de 64 tetraedros. Essa descoberta
parecia a peça que faltava para explicar a Árvore como um padrão de força e
equilíbrio, uma construção que unia tradições antigas e revelava o segredo da
energia universal ao ser "dobrada" sobre si.
Enquanto se aprofundava nos estudos, Célio sentia que essa teoria revitalizava a
Árvore da Vida, mostrando-lhe um caminho onde mística e ciência convergiam para
iluminar as mesmas verdades.
O deslumbre de Célio diante desses conhecimentos é palpável. Ele percebeu que,
na essência da geometria sagrada, reside a chave para compreender a
interconexão de todas as coisas, desde o microcosmo até o macrocosmo, um
entendimento que transcende o tangível e toca o divino.
O transdutor cósmico
A vida como a conhecemos emerge da água, e não é por acaso que a molécula de
H₂O possui uma geometria tetraédrica, o mesmo padrão que estrutura o vácuo
quântico. Essa geometria revela a profunda conexão da água com a arquitetura do
universo. Tanto a água quanto a sílica, com suas estruturas tetraédricas, são
transdutores – dispositivos que capturam informações do vácuo e as retransmitem
para o mundo visível. O vácuo, essa vasta dimensão de energia potencial invisível,
pode ser visto como o limbo ou o reino espiritual, enquanto a realidade física que
experimentamos é a "resolução" dessa informação invisível.
A água, portanto, não é apenas o elemento que cria e sustenta a vida, mas também
a ligação que atravessa o evento horizonte, transportando informações e energias
das dimensões invisíveis para o plano físico. Imagine uma gota de água caindo do
céu: ela assume a forma de uma esfera ao cair do espaço, e, ao arrefecer, forma
uma estrutura mais estável, como um floco de neve, com sua geometria hexagonal
e fractal. Cada floco de neve é único, mas todos compartilham a mesma simetria e
evidência fractal, um reflexo das dinâmicas do espaço e do vácuo moldando a
realidade visível.
Jesus, ao falar sobre nascer da água e do espírito, estava talvez nos lembrando de
que a água é o elo físico que nos conecta a essa dinâmica eterna de vida e
renascimento. Assim como a água transita entre estados e transporta informações
do vácuo, a alma transita entre os mundos, renascendo repetidamente, carregando
consigo as informações do espírito, da essência invisível que a molda. Para Célio,
essa passagem de Jesus não era apenas sobre transformação espiritual interior,
mas uma referência à reencarnação – um processo contínuo em que a alma se
purifica e renasce através da água, o transdutor cósmico da vida.
Civilizações Antigas
Intrigado, Célio explorou outras fontes antigas. Nas Escrituras, Ezequiel falava de
um trono feito de cristal, um arco-íris ao redor, como se estivesse descrevendo uma
força essencial que movia um veículo celestial. O Velho Testamento descrevia
também a Arca da Aliança, como se esta fosse um objeto dotado de poder próprio,
capaz de realizar prodígios e garantir a proteção de quem o possuísse.
Para Célio, Atlântida e Lemúria não eram apenas mitos. Eram peças de um vasto
quebra-cabeça. Um legado deixado para as gerações futuras, codificado em lendas,
esperando ser redescoberto. Se a "energia cristalina" descrita era real, então ela
representaria um elo perdido, uma conexão entre o conhecimento do passado e o
potencial do futuro – um ponto de convergência com a geometria do espaço, onde
matéria e espírito se uniam em uma harmonia profunda.
Crescido em uma família católica, Célio sempre teve uma relação complexa com as
escrituras. O Antigo Testamento, em particular, parecia-lhe um enigma, uma coleção
de histórias e leis que não ressoavam com ele tão profundamente quanto o Novo
Testamento. Com as teorias de Nassim Haramein, uma nova percepção começava
a se formar em sua mente: e se o Antigo Testamento fosse um código a ser
decifrado?
Célio começou a ver o Antigo Testamento sob uma nova luz. Ele passou a
considerar a possibilidade de que as histórias e leis contidas nele fossem mais do
que simples narrativas ou mandamentos religiosos. Talvez fossem, na verdade, uma
forma de transmitir conhecimentos profundos sobre a estrutura do universo e a
nossa conexão com ele. Essa nova perspectiva não só enriqueceu sua
compreensão das escrituras, mas também aprofundou sua conexão espiritual,
permitindo-lhe ver a interseção entre ciência e espiritualidade de uma maneira
totalmente nova.
Ele começou a ver as narrativas antigas sob uma nova luz, imaginando-as como
registros codificados de uma sabedoria perdida, talvez até mesmo da própria
Atlântida. As histórias de dilúvios, de gigantes, de profetas e reis poderiam ser
metáforas para eventos e conhecimentos que transcendiam a compreensão literal.
Com essa nova perspectiva, Célio sentiu uma conexão mais profunda com sua fé e
com o legado espiritual de seus antepassados. Ele percebeu que, assim como
muitos antes dele, estava diante de um caminho de descoberta que poderia levar a
humanidade a um entendimento maior de si mesma e do universo.
Viajando pelas histórias do Antigo Testamento, encontrando nelas ecos das lendas
de Atlântida e outras civilizações perdidas. Em suas mãos, o livro sagrado se abria
na passagem da Arca da Aliança, descrita com dimensões precisas, uma caixa de
madeira revestida de ouro puro que parecia ter sido feita sob medida para o
enigmático sarcófago encontrado nas grandes pirâmides, aquela caixa poderia ser
um capacitor. Os túmulos, desprovidos de múmias, sugeriam outro propósito.
Ele recordava que cada pirâmide era coroada por aquedutos, veias da terra que
conduziam águas subterrâneas. Essas águas, suspeitava, eram maleáveis ao toque
invisível da energia. Os antigos, mestres na arte de manipular o invisível,
energizavam essa água, fazendo brotar um Éden na terra, um jardim de abundância
onde a flora prosperava. E se essa água, vibrante de energia, fosse o elixir que
prolongava a vida? O corpo humano, afinal, é em sua maioria água. Talvez fosse
esse o segredo para a longevidade lendária dos antigos, aqueles que, segundo os
contos, viveram séculos.
Célio estava imerso nos estudos das antigas escrituras, buscando entender os
mistérios que o pesquisador Nassim Haramein havia desvendado. Ele se
debruçava sobre o relato bíblico da travessia do Rio Jordão, onde as águas foram
milagrosamente detidas, permitindo que as tribos de Israel passassem em terra
seca.
“Seca, as águas do Jordão voltaram ao seu lugar e correram ao nível em que
estavam antes,” leu ele, sua voz ecoando no silêncio. A história era conhecida, mas
Célio via algo mais profundo ali, uma evidência de um fenômeno que transcendia a
compreensão comum — um possível Efeito Gravitacional que poderia parar o
curso de um rio.
A revelação veio como um sussurro das páginas amareladas: “Porque o Senhor
Vosso Deus secou as águas do Jordão diante de vós até o atravessarem. O Senhor
Vosso Deus fez justamente o que ele tinha feito com o Mar Vermelho ao secá-lo
para o podermos atravessar.” Essas palavras, que pareciam ter sido omitidas da
narrativa popular, sugeriam que a Arca da Aliança era mais do que uma simples
caixa; era um artefato de poder incomensurável, capaz de influenciar as próprias
forças da natureza.
Célio refletiu sobre a possibilidade de que a Arca, que muitos acreditavam ter sido
construída no Monte Sinai após a abertura do Mar Vermelho, na verdade continha
um poder que já estava presente durante aquele milagre. A “caixa” não era apenas
um receptáculo; era um veículo para transportar um Cristal pelo deserto, um cristal
que talvez fosse a fonte do poder da Arca.
O Enigma do Tetragrammaton
Quando o estudo terminou, ele correu para a biblioteca em busca do livro "Cidade
no Além". Lá, ele contemplou a descrição da cidade astral “nosso lar” formada como
a Estrela de Davi, com seus 6 ministérios com 12 ministros em cada um, e o
governo centralizado no meio. Os números dançavam em sua mente: 6 × 12 = 72,
o mesmo número que ele associava aos 72 nomes de Deus, metade do código
divino. A revelação o deixou em êxtase, uma mistura de assombro e felicidade,
enquanto ele refletia sobre a magnitude daquela descoberta.
Emmanuel(Jesus): A Arca Viva
Célio com os olhos fixos nas páginas antigas, sentia o peso da história em suas
mãos. As descrições bíblicas, que ele agora acreditava serem registros de uma
tecnologia avançada,
A ideia de que a Arca poderia ser uma fonte de poder tão imensa quanto perigosa
era ao mesmo tempo aterrorizante e maravilhosa.
"A Arca foi para Sião e aí a estrela de Tetraedros chamava-se **Estrela de Sião**,"
ele recitou, seguindo a trilha dos antigos. "Quando foi para o Templo de Salomão,
chamava-se **Escudo de Salomão**. Quando foi para as mãos de David, foi a
**Estrela de David**."
Era mais do que uma simples mudança de localização; era uma **Geometria
sagrada** que se desdobrava, revelando a conexão intrínseca entre a Arca e o
próprio tecido do espaço-tempo. Célio percebeu que ao analisar os movimentos da
Arca, ele estava desvendando um mapa cósmico, uma geometria que estava
diretamente ligada com a Arca e, por extensão, com o destino da humanidade.
Célio refletia sobre as implicações profundas daquelas palavras. A Arca, uma vez
escondida nas sombras do Templo de Salomão, agora ligada aos Essénios e ao
nascimento de Emmanuel(Jesus), parecia ser mais do que um artefato; era um
símbolo de uma verdade maior.
"Emmanuel, chamado de Arca viva," Célio murmurou, "poderia ser a ponte entre o
divino e o terreno, entre o poder da tecnologia e a pureza do espírito."
Célio refletia sobre as lições de Emmanuel, aquele que muitos acreditavam ter
nascido sob a sombra da Arca da Aliança. Jesus, um espírito de luz e sabedoria,
veio à Terra para proclamar uma mensagem de amor incondicional, uma força
catalisadora para uma nova era de entendimento e tecnologia. Ela imaginava Jesus,
com suas parábolas enigmáticas e símbolos sagrados.
Ela ponderava sobre a fundação da vida, a essência do que Jesus tentou ensinar. A
escolha de seus doze apóstolos não era aleatória; refletia um conhecimento
profundo do universo. Célio lembrava-se do estudo sobre o Cubo de Metatron, com
seus treze círculos interconectados, doze ao redor de um central. Os apóstolos ao
redor de Jesus, o décimo terceiro no meio, simbolizavam mais do que mera
companhia; eram a representação física de uma verdade cósmica, um
conhecimento ancestral deixado por seres avançados que haviam pisado na Terra
muito antes da humanidade entender seu significado.
A história dos filhos de Aarão, Abiú e Nadab, servia como um lembrete sombrio do
poder da Arca e da responsabilidade que vinha com ela. Era um aviso de que o
universo, em sua natureza de feedback, refletiria a natureza destrutiva da
humanidade de volta para si mesma.
Ele sabia que a verdadeira harmonia não estava apenas no interno ou no externo,
mas no equilíbrio entre ambos. Era esse o feedback, a retroalimentação, que
poderia levar a humanidade a um novo amanhecer.
Célio estava imerso sobre as teorias do surgimento da humanidade e o papel das
antigas civilizações. Ele acreditava que a Terra havia sido visitada por uma
civilização avançada que decidiu ajudar a humanidade a evoluir. Para ele, a ideia de
que o Universo é um fractal, onde cada parte reflete o todo, fazia sentido. Essa
civilização, ao semear planetas, estaria criando centros de aprendizagem que
beneficiariam todo o Universo.
Célio via essas histórias como mais do que mitos; para ele, eram evidências de uma
tecnologia avançada que havia sido entregue à humanidade. Ele acreditava que
essa tecnologia poderia explicar muitos dos mistérios antigos e oferecer uma nova
compreensão sobre o que realmente aconteceu no planeta Terra. Através de suas
pesquisas, Célio esperava desvendar esses segredos e compartilhar esse
conhecimento com o mundo, ajudando todos a crescerem juntos, assim como a
civilização avançada havia planejado.
Com essa nova perspectiva, Célio, não apenas encontrou a reconciliação entre os
testamentos; ele encontrou uma ponte para o passado, um caminho para entender
as raízes mais profundas da humanidade e talvez, a chave para desvendar os
mistérios que ainda permaneciam ocultos sob as areias do tempo.
Os nossos irmãos mais velhos que nos ajudam em nossa evolução há muito tempo;
Provavelmente, dariam-nos símbolos com informação muito importante sobre a
Estrutura do Universo.
E esperariam que, quando essa civilização evoluísse e atingisse níveis de
conhecimento mais altos, que eles fossem capazes de decifrar esses símbolos que
foram deixados para esses povos antigos.
Principalmente, se o código estiver envolvido num contexto religioso para que
pudesse perdurar através das Eras. Para que entendessem que era um Código
Sagrado, e assim transmitiriam a informação através dos tempos.
Célio considerou que talvez houvesse uma sabedoria intrínseca em esperar até que
a humanidade estivesse pronta, até que o amor fosse entendido não apenas como
um sentimento, mas como o alicerce de uma civilização avançada.
Com essa nova perspectiva, Célio viu os textos antigos sob uma nova luz. Não eram
apenas contos de tempos idos, mas lições esperando para serem redescobertas,
ensinamentos que poderiam, um dia, levar a humanidade a um novo ápice de sua
existência.
E agora, Célio via tudo sob uma nova luz, como se estivesse olhando para o
passado com um novo par de olhos.
"É isso," ele disse, quase em um sussurro. "Os olhos que veem não apenas o
presente, mas também o passado e o futuro. O segredo que foi dado ao homem não
era apenas para ser guardado, mas para ser descoberto, compreendido e,
finalmente, compartilhado."
"Em meio ao silêncio contemplativo da pesquisa, havia um zumbido subjacente,
uma corrente elétrica de excitação que percorria o ar. Não era apenas o som do
conhecimento sendo adquirido, mas o som dele sendo compartilhado. Em cada
palavra escrita, em cada descoberta publicada, havia a certeza reconfortante de que
ele não estava sozinho.
A Era de Aquário
À medida que nos aproximamos da cintilante Era de Ouro, é dito que um novo
despertar aguarda nossa espécie.
Será que estamos à beira de uma nova era?" ele se perguntou. A Era de Aquário,
tão falada, tão mística, parecia estar batendo à porta da humanidade, trazendo
consigo promessas de uma nova consciência.
Célio sempre foi fascinado pela ideia de que a evolução humana não é um processo
lento e constante, mas sim marcado por saltos abruptos e transformações rápidas.
A pesquisa de Anne Dambricourt-Malassé, que sugere que mudanças significativas
no desenvolvimento humano podem ocorrer em períodos relativamente curtos,
alimentou essa fascinação.
Com essa nova perspectiva, Célio se dedicou ainda mais à sua pesquisa, buscando
entender como as forças cósmicas poderiam estar moldando o futuro da
humanidade. Ele se perguntava: "E se estivermos testemunhando o nascimento de
uma nova era para nossa espécie? Uma era onde a ciência e a espiritualidade
convergem, onde o externo e o interno se encontram, e onde cada um de nós
desempenha um papel vital na ascensão da consciência coletiva."
Tudo isso lhe oferecia uma peça do quebra-cabeça cósmico, mas ao mesmo tempo,
afastava-o dos que amava.
O Preço da Ausência
Sua esposa, cada vez mais distante, lutava para reconhecer o homem com quem
havia se casado. A casa, antes cheia de risadas e conversas, agora era tomada por
um silêncio que crescia a cada página virada. Célio, mergulhado em seus estudos,
parecia ter se afastado do mundo que havia construído ao seu redor, sem perceber
como as refeições em família se transformaram em jantares solitários, entre pilhas
de livros e luz de tela.
"Você mudou", ela sussurrou, a voz baixa e cheia de tristeza, como se falasse
consigo mesma, perdida na penumbra da sala. "Você está aqui, mas é como se não
estivesse."
Essas palavras eram como espinhos para Célio, que, de imediato, quis negar,
argumentar que fazia tudo por elas. Mas a verdade surgiu com força, desmoronando
suas defesas. Sentiu-se incompreendido e ofendido, incapaz de lidar com a
frustração e o vazio que o diálogo trazia.
Quando a última gota de esperança evaporou, ele se viu à beira do abismo, onde a
única companhia era o eco das dúvidas e o antigo hábito que ele lutara tanto para
esquecer: o álcool. A bebida, uma velha amante traiçoeira, o seduzia novamente
com a promessa de apagar aquela dor, aquela frustração, mas tudo o que lhe
entregava era um novo fardo, um desespero que, a cada gole, o levava mais fundo
em sua própria sombra.
Certa manhã, ele acordou com o rosto colado ao chão frio, o gosto amargo da
derrota em sua boca. O silêncio da casa era ensurdecedor. Ele se levantou,
cambaleante, e caminhou até o quarto da filha. Ela não estava lá. A cama estava
arrumada, os brinquedos no lugar, mas a vida que ela trazia estava ausente.
Foi então que ele soube. Ele havia perdido tudo. Não por falta de amor, mas por
falta de presença. O conhecimento que ele tanto valorizava não tinha lhe ensinado
como manter sua família, como valorizar os momentos pequenos, como viver o
agora.
Com lágrimas que não sabia que ainda podia derramar, ele fez uma promessa. Uma
promessa de mudança, de redenção, de um novo começo. Talvez ainda houvesse
tempo, talvez ainda houvesse esperança. Mas primeiro, ele tinha que se encontrar
novamente, antes de poder encontrar sua família.
Célio se viu em uma encruzilhada, onde cada escolha parecia levar apenas a mais
escuridão. Mas mesmo na mais profunda desesperança, havia uma centelha de luz
- a lembrança de tudo que ele havia superado, o amor de sua esposa e filha, e os
ensinamentos que havia absorvido. Era essa centelha que poderia, mais uma vez,
guiá-lo de volta para a luz.
Buscando uma saída para aquela solidão, ele passou a se refugiar na companhia
dos amigos e na camaradagem dos bares. Ali, entre risos abafados e o conforto
efêmero de um copo sempre cheio, Célio tentava escapar das dores e frustrações
que o perseguiam. Mas o alívio durava pouco, e o vazio retornava, tão constante
quanto a presença do álcool, que se tornava a única fonte de consolo em noites
cada vez mais solitárias.
Durante essa fase complicada, Célio começou a conhecer pessoas que o
intrigavam, figuras que pareciam trazer algo inesperado à sua vida. Alguns deles
demonstravam habilidades incomuns, dons que ele não compreendia totalmente.
Sincronicidades começaram a ocorrer, sinais que o faziam se questionar sobre o
sentido de tudo aquilo. Ele se via rodeado de pessoas que falavam sobre
espiritualidade, sobre mensagens e sinais do universo, e era como se a vida
tentasse lhe transmitir algo profundo – algo que ele, porém, não conseguia decifrar
em meio ao peso da culpa e da saudade.
Sonhos Lúcidos
"Não são como sonhos normais, Célio. Eles parecem reais... tão reais que eu não
consigo distinguir se estou acordado ou dormindo”.
Célio, que até então escutava com atenção, franziu o cenho ao ouvir Natan
mencionar a palavra 'demônio'. "Natan, cara, você está falando sério? Você acha
mesmo que isso é coisa do demônio?" perguntou, incrédulo.
Natan, com os olhos fixos em uma velha Bíblia que repousava sobre a mesa,
assentiu. "Está aqui, ó. Na Bíblia. 'Demônio', está escrito." Ele apontava para
passagens aleatórias, tentando encontrar alguma que justificasse seu medo.
Célio, irritado com a superstição de Natan, rebateu: "Natan, tudo que o homem
ignora, não existe para ele. A Bíblia tem suas virtudes, mas você está preso ao lado
sombrio. Isso aí é falta de conhecimento. São sonhos lúcidos, cara. Deixa eu te
explicar o que são sonhos lúcidos."
Natan, com um olhar pensativo, voltou-se para Célio e disse: "Eu tenho esses
sonhos, Célio, sonhos onde sei que estou sonhando. Eles são tão vívidos... é como
se eu pudesse fazer qualquer coisa."
Célio sorriu, seu olhar era o de quem conhecia bem aquele terreno. "Você está
falando de sonhos lúcidos, Natan. É um dom raro e poderoso. Muitos grandes
pensadores usaram esse estado de consciência para explorar as profundezas da
mente e da alma."
"Veja, Carl Jung, por exemplo, explorou os sonhos lúcidos como um meio de
dialogar com o inconsciente," explicou Célio. "Ele acreditava que esses sonhos
poderiam revelar insights profundos sobre nosso eu interior e até mesmo facilitar a
cura psicológica."
"E o que eu posso fazer com esse dom?" perguntou Natan, ansioso.
Célio levantou os olhos para o céu noturno, onde a lua, em sua plenitude,
derramava uma luz prateada sobre o mundo. Era como se cada raio lunar fosse um
pincel, tingindo a escuridão com as cores dos sonhos. As estrelas cintilavam como
faróis distantes, guiando os navegantes da noite através dos mares do
subconsciente.
Natan observava, hipnotizado pela beleza celeste que se desdobrava diante deles.
“É incrível, não é?” murmurou ele. “Como algo tão distante pode parecer tão
próximo em nossos sonhos.”
Célio assentiu, um sorriso suave em seus lábios. “Nos sonhos, Natan, não há limites
para onde podemos ir ou o que podemos fazer. A lua lá em cima pode ser tão
acessível quanto a terra sob nossos pés.”
Era um momento de tranquilidade, um interlúdio pacífico antes de mergulharem
novamente nas profundezas de sua conversa. Célio, com sua sabedoria, estava
prestes a abrir as portas do entendimento para Natan, mostrando-lhe que os sonhos
lúcidos eram uma dádiva, não uma maldição.
"Você pode aprender muito sobre si mesmo, Natan. Pode enfrentar seus medos,
praticar habilidades, resolver problemas... Os sonhos lúcidos são um laboratório
para a mente, um espaço onde a criatividade não tem limites."
Impulsionado por um ímpeto súbito, Célio pegou o livro e saiu de casa. A noite já
havia caído, mas a ideia de encontrar Natan o motivava. Ele se dirigiu ao barzinho
mais próximo, um lugar onde Natan poderia estar.
Ao chegar, encontrou Márcio, outro amigo, sentado sozinho. "Você viu o Natan?"
perguntou Célio, ansioso. Márcio balançou a cabeça, indicando que não. Curioso,
ele questionou o motivo da procura. Célio, então, revelou o livro em suas mãos,
explicando seu propósito.
Foi nesse exato momento que Natan apareceu, pedalando sua bicicleta até o bar.
"Célio, onde está o livro que você prometeu?" ele perguntou, quase sem fôlego.
Célio ergueu o livro, um sorriso de admiração se formando em seu rosto. "Aqui, na
minha mão," ele respondeu. "Isso não pode ser apenas coincidência, é
sincronicidade."
Célio levantou-se, seus olhos fixos no céu noturno, onde as estrelas cintilavam
como faróis distantes. Márcio e Natan seguiram seu olhar, esperando pelas palavras
que viriam.
Ele se sentou, formando um círculo com os amigos. "Pensem nas vezes em que
algo extraordinário aconteceu, algo que parecia tão improvável que desafiava a
explicação lógica. Não era apenas sorte ou coincidência. Era o universo se
comunicando conosco, através de eventos carregados de significado."
"Sincronicidade não é apenas sobre eventos externos," continuou Célio, "é também
sobre reconhecer o reflexo de nossos pensamentos e emoções no mundo ao redor.
É um diálogo entre o interior e o exterior, entre a alma e o cosmos."
Eles refletiram sobre isso. "E quando reconhecemos esses sinais," disse Célio,
"quando aprendemos a ler as mensagens que o universo nos envia, começamos a
entender o verdadeiro propósito das nossas jornadas."
A vida muitas vezes nos surpreende com esses encontros inesperados que nos
fazem questionar se há algo maior em jogo, uma força invisível que tece os fios do
destino.
Muitas pessoas acreditam que o universo está sempre em ação,
independentemente das circunstâncias. Essa ideia sugere que mesmo nos
momentos mais caóticos ou desordenados pode haver um propósito ou uma direção
que não estamos plenamente conscientes. É uma perspectiva que encoraja a
reflexão sobre como nossas ações e decisões, mesmo as aparentemente pequenas
ou insignificantes, podem estar interligadas de maneiras que não compreendemos
totalmente.
Descobertas na clínica
Perdido em um redemoinho de pensamentos e manias, Célio sentia o peso da
solidão comprimindo seu peito. A ausência de sua amada e filha tornava cada canto
de sua casa um lembrete constante do que ele havia perdido. Não era apenas a
companhia que lhe faltava, mas a parte de sua alma que parecia ter partido com
elas.
De repente, a porta se abriu e um novato entrou. Seus olhos varreram o quarto com
uma curiosidade que parecia desafiar sua situação. "Olá, sou John Wayne," disse
ele, com uma voz que carregava uma estranha mistura de confiança e
vulnerabilidade.
Mas havia algo em John, algo que Célio não conseguia identificar. Era como se ele
buscasse naquelas páginas não apenas consolo, mas respostas para perguntas que
Célio também se fazia. Talvez, pensou Célio, todos nós estamos procurando por
algo maior, algo que dê sentido ao caos de nossas vidas.
E assim, naquele quarto de triagem, dois homens começaram uma jornada não
apenas de recuperação, mas de descoberta espiritual, cada um com seu próprio
guia - um com a Bíblia, o outro com as perguntas que o mantinham acordado à
noite.
John, em sua segunda internação e com a sabedoria endurecida pelas batalhas
travadas contra seus próprios vícios, rapidamente se tornou um farol para Célio, que
enfrentava a tempestade de sua primeira experiência naquele lugar. Entre eles,
nasceu uma camaradagem inesperada, uma cumplicidade que se reforçava nas
longas noites de introspecção no quarto que dividiam.
John, com sua presença magnética, contava a Célio histórias de uma vida repleta
de aventuras – relatos que pareciam saídos de um filme, cheios de ação e
reviravoltas, narrativas quase inacreditáveis de fugas improváveis e encontros
misteriosos. Célio, fascinado, ouvia atentamente, mergulhado na dúvida: seriam
aquelas histórias reais ou apenas delírios da mente inquieta de John? Contudo, a
verdade pouco importava. Para Célio, aquelas noites eram uma fuga bem-vinda e
um novo vislumbre de amizade em meio ao caos da recuperação.
Certa noite John compartilhou com Célio algumas experiências intensas que o
assombravam profundamente: ele se via flutuando fora de seu próprio corpo, uma
sensação tão real que desafiava tudo o que conhecia sobre a realidade.
"Isso soa como projeção astral, John," explicou Célio, com um olhar atento, mesmo
diante das objeções fervorosas de John, que via esses fenômenos como tentações
demoníacas. "Não é algo para temer, mas para compreender."
Célio se acomodou ao lado dele, observando-o com uma tranquilidade que parecia
de outro mundo. "John," ele começou, a voz baixa e firme, "você já refletiu sobre o
que realmente é a projeção astral? É a jornada da alma, uma experiência que nos
permite explorar além dos limites do corpo físico."
Ele continuou, a voz suave, quase hipnótica. "Dentro de nós, existe um corpo mais
sutil, um veículo de nossa consciência, capaz de se desprender e viajar por espaços
e dimensões que transcendem tudo o que conhecemos. Esse é o corpo astral –
uma parte de nós que está sempre presente, mas raramente percebida."
"Projeção astral não é um simples dom," disse Célio, "é uma habilidade intrínseca
ao ser humano. É como descobrir um sentido novo, uma capacidade de explorar e
interagir com o universo de um modo extraordinário. Enquanto estamos nesse
estado, temos plena consciência de nossas ações e intenções, e cada experiência
traz uma compreensão mais profunda da nossa existência."
Célio fez uma pausa, deixando que as palavras ganhassem vida no silêncio. "E esse
é o dom que você possui, John. Uma habilidade que sempre esteve latente em
você, esperando para ser despertada e dominada."
John fitou o chão, as crenças que o haviam sustentado parecendo agora frágeis
diante da vastidão de possibilidades. "Isso... isso muda tudo," murmurou, sentindo a
própria fé ser desafiada e ampliada por essa nova visão de realidade.
Célio apenas sorriu, compreendendo que juntos haviam tocado o véu do mistério,
aquele lugar entre o conhecido e o insondável.
Naquela noite, uma nova presença chamou sua atenção. Amanda, uma garota que
nunca havia pisado em um centro espírita, aceitou o convite de amigos para
participar da mesa de estudos. Enquanto as palavras do evangelho ecoavam pelo
ambiente, Amanda começou a tremer levemente, entrando em um estado de transe.
Célio, com sua sensibilidade aguçada, percebeu o que estava acontecendo.
Rapidamente, ele pegou seu caderno e caneta e os colocou nas mãos trêmulas de
Amanda. Sob a influência de uma força invisível, ela começou a escrever. Palavras
fluíam em uma caligrafia que não era a sua, formando textos e mensagens que
pareciam vir de outra dimensão. Quando ela retornou ao seu estado normal, estava
confusa, sem lembrança alguma do ocorrido.
Célio fez uma pausa, escolhendo cuidadosamente suas palavras. "Tudo começa
com a glândula pineal, que é muitas vezes chamada de 'terceiro olho'. Esta pequena
glândula no centro do nosso cérebro é o ponto de ligação entre o corpo físico e o
espírito. Quando um espírito deseja se comunicar, ele envia impulsos
eletromagnéticos que são captados pela nossa glândula pineal."
Ele fez um gesto com a mão, como se desenhasse o processo no ar. "Esses
impulsos são então transformados pela glândula pineal em vibrações energéticas
que o nosso cérebro traduz em pensamentos. No caso da psicografia, esses
pensamentos são convertidos em palavras escritas. É como se o espírito ditasse a
mensagem diretamente para a nossa mente inconsciente, e nós apenas
transcrevêssemos."
"Exatamente," confirmou Célio. "Ela capta as energias sutis dos espíritos e nos
permite traduzir essas mensagens em algo compreensível. Existem diferentes tipos
de mediunidade na psicografia. Por exemplo, a psicografia mecânica, onde a mão
do médium é guiada diretamente pelo espírito, sem a interferência do pensamento
consciente. Já na psicografia intuitiva, o médium recebe as ideias do espírito e as
traduz em palavras, usando seu próprio estilo de escrita."
Amanda parecia fascinada. "Então, a comunicação pode ser mais direta ou mais
interpretativa, dependendo do tipo de mediunidade?"
"Isso mesmo," disse Célio, sorrindo. "Cada médium tem uma forma única de se
conectar e traduzir as mensagens espirituais. No seu caso, Amanda, você
experimentou a mediunidade mecânica. Eu percebi que você fechou os olhos e sua
mão começou a escrever automaticamente. Você não estava consciente do que
estava escrevendo e, depois, não se lembrava do conteúdo. Além disso, a caligrafia
não era a sua."
Amanda arregalou os olhos, surpresa. "Então, foi o espírito que realmente escreveu
através de mim?"
Célio assentiu. "Exatamente. É um processo fascinante e, ao mesmo tempo, uma
grande responsabilidade."
Amanda sentiu um arrepio percorrer sua espinha. "Então, estamos sempre cercados
por esses espíritos?"
"Sim," confirmou Célio. "Eles estão aqui, agora, conosco. Alguns esperam por um
contato, outros simplesmente observam. Mas todos fazem parte de um sistema
maior, uma rede de energia e consciência que transcende o que conhecemos como
realidade."
Ele olhou nos olhos dela, profundamente. "E quando você se abre para essa
realidade, quando você se conecta com amor e desejo de comunicação, você
permite que essas vibrações se alinhem. É assim que o contato acontece. É assim
que você recebe suas mensagens."
Amanda sentiu uma nova onda de compreensão. "E essas habilidades... elas
podem ser fortalecidas?"
Com isso, Amanda sentiu uma paz que nunca havia conhecido antes. Ela estava
pronta para explorar esse novo mundo, guiada pela sabedoria de Célio e pelos
espíritos que agora sabia que estavam sempre presentes.
A monitora sempre dizia que eles, os adictos, eram especiais. Célio refletia sobre
isso, pensando em como tantas pessoas sensíveis acabam perdidas, buscando nas
drogas um refúgio para um potencial que não sabem como desenvolver. Era uma
fuga da dor, uma busca por equilíbrio em meio ao caos da vida.
A clínica se tornou um lugar de descobertas, não só para ele, mas para todos que
estavam dispostos a olhar além dos seus próprios problemas e ver o potencial
escondido dentro de si.
Certo dia, ele a encontrou em um café, onde haviam marcado de conversar. Quando
se sentaram, Célio tomou coragem, aproximou-se e, com um ar sério, pediu para
que ela olhasse nos seus olhos. "Anne," disse ele, num sussurro que parecia
carregar todo o peso de seu arrependimento, "olhe no fundo dos meus olhos. Dizem
que eles são a janela da alma."
Ela respirou fundo, e sua voz saiu firme, porém triste. "Célio, eu trabalho muito para
reconstruir minha vida. Eu não posso… eu não posso voltar atrás," disse ela,
tentando conter a emoção. "As coisas mudaram. Eu mudei. E essa... essa história
entre nós, Célio, não tem mais volta."
A rejeição, embora gentil, atingiu Célio como uma tempestade. Ele sentiu seu
coração se partir mais uma vez. Saindo do café, o peso das palavras de Anne o
envolveu como uma sombra. Aquela sensação de fracasso e vazio, que ele havia
tentado tanto superar, retornava com força. Perdido e magoado, Célio buscou
refúgio em seu velho hábito, cedendo à tentação do álcool, que sempre parecia
prometer uma trégua para suas dores.
A cada gole, ele sentia-se afundar mais, uma espiral de tristeza e arrependimento
que o afastava do homem que estava tentando se tornar.
"Estou naquela de novo, Célio. Vou recair no crack. Vamos dar uma volta comigo?"
respondeu John Wayne, com um tom de desespero.
Célio lembrou-se das histórias que John Wayne contava na clínica e pensou: "Eu
tenho que viver essa história. Tenho que viver aquilo que parecia um filme na minha
cabeça."
Célio ficou abismado com as coincidências que encontravam pelo caminho. Ele se
perguntava se aquilo era um chamado, se ele realmente deveria estar ali. Sentia-se
como um avatar, vivendo uma realidade que não parecia sua.
Eles frequentaram muitas favelas, onde Wayne apresentou Célio a várias pessoas,
incluindo traficantes. Participaram de eventos e vivenciaram inúmeras
sincronicidades, evitando fatalidades por pouco. A cada momento, Célio ficava mais
abismado com a veracidade das histórias de Wayne.
Um dia, exaustos e desgastados, Célio e John Wayne tiveram uma conversa séria.
Célio disse:
— John, precisamos parar. Voltar para a clínica. Estamos cansados. Talvez sejamos
avatares em alguns momentos, talvez a espiritualidade esteja nos usando, mas
temos que reconhecer nossos limites. O que você viu, eu também vi. Aconteceu
para nós dois.
John Wayne, com um olhar cansado, concordou.
— Você está certo, Célio. Talvez nossa missão aqui tenha terminado. Eu tenho filho,
você também. Precisamos voltar para eles.
Célio continuou:
— John, você pode continuar ajudando de outra forma. Nas suas projeções astrais,
você pode vir a essas favelas com outros amigos espirituais e ajudar a evitar coisas
ruins. Mas agora, precisamos voltar. Não podemos continuar assim.
Célio, na sua confusão mental, observava a distância crescente entre ele e sua filha.
A mãe da menina, movida por um impulso de retorno, havia voltado para a cidade
praiana.
Mesmo estando junto de sua família e recebendo tratamento psicológico sério, Célio
continuava a enfrentar oscilações de humor e recaídas na bebida. Essas recaídas o
deixavam com a mania de que estava em contato com seres de outras dimensões.
Ele frequentemente dizia a si mesmo e aos outros que essas entidades estavam
tentando se comunicar com ele.
Priscila sorriu, percebendo a inquietação dele. "Célio," ela começou, "você já ouviu
falar sobre o carma? Não como uma punição, mas como uma lição que atravessa o
tempo e o espaço?"
"O carma," ela explicou pacientemente, "não é um destino fixo. É uma ressonância
com as escolhas que fizemos no passado. Mas aqui está a beleza disso: podemos
mudar essa ressonância."
Embora percebamos o tempo como uma linha reta, ele é, na verdade, concêntrico e
torcional. O eterno agora abriga todas as possibilidades simultaneamente.
Priscila olhou para Célio com um sorriso acolhedor enquanto o convidava para
visitar sua clínica. "Célio, você já ouviu falar sobre hipnoterapia?" perguntou ela,
com um brilho de curiosidade nos olhos.
Célio assentiu, lembrando-se dos estudos que havia feito sobre o assunto. "Sim, já
estudei um pouco, mas nunca tive uma sessão," respondeu, intrigado.
Na espiral do tempo
Chegando no dia e hora marcados, ao entrar na clínica de Priscila, Célio foi
imediatamente envolvido por uma atmosfera tranquila e acolhedora. O ambiente era
simples, mas cuidadosamente organizado, com cada detalhe parecendo ter um
propósito e um lugar específicos. A luz suave preenchia o espaço, banhando as
paredes em tons quentes e convidativos.
No centro de uma das paredes, ele viu uma mandala de geometria sagrada. Seus
olhos foram atraídos pelos padrões intrincados e simétricos que pareciam pulsar
com uma energia própria. Havia ali um enigma, um código secreto, como se aquelas
formas estivessem contando uma história antiga. Ao redor, outros símbolos místicos
decoravam o ambiente — O Cubo de Metatron, o Símbolo da Flor da Vida —, cada
um emanando uma sensação de paz e harmonia.
Célio estava deitado no divã, os olhos fechados, enquanto Priscila o guiava em uma
jornada profunda pelas memórias de seu passado. Conforme se aprofundava, ele se
viu transportado para sua infância, no sertão, um tempo marcado pela luta de seus
pais, trabalhadores rurais que enfrentavam desafios diários em defesa da reforma
agrária e pela fundação do sindicato local.
Imagens vinham à tona. Ele via seus pais, o rosto cansado pelo trabalho duro, mas
com os olhos brilhando de determinação, enquanto enfrentavam as autoridades
locais. Recordou-se das humilhações que aqueles políticos e fazendeiros influentes
lançavam sobre sua família. Palavras cortantes, risadas desdenhosas, olhares que
o faziam se encolher. Mesmo criança, ele absorvia a dor que seus pais sentiam.
Via-se ao lado deles, sentindo-se exposto, pequeno, humilhado, marcado por
aquela mesma sombra de desprezo.
— Eu me sentia tão... invisível, tão sem valor — murmurou Célio, com a voz
embargada. — Todos na cidade sabiam quem eram meus pais, e eu não tinha como
escapar. Eu era visto como “o filho deles”, o filho dos que ousavam desafiar os
poderosos. Senti que todos me julgavam e que, de alguma forma, eu também era...
insignificante.
— Célio, olhe para isso agora com outros olhos — sugeriu ela, sua voz suave
guiando-o. — Seus pais, apesar de todas as dificuldades, tiveram coragem de lutar
pelo que acreditavam. Aquela vergonha que você sentia era a reação de uma
criança que ainda não compreendia o valor daquilo que eles estavam fazendo. Olhe
para eles agora como o adulto que você é, reconhecendo a importância do que eles
fizeram para tantas famílias, para a comunidade.
A imagem de seus pais ganhou uma nova profundidade. Célio percebeu, pela
primeira vez, que o peso daquela vergonha não era realmente dele. Aquelas
humilhações não diminuíam o valor de seus pais; pelo contrário, elas ressaltavam a
força deles em resistir. Eles eram vistos como “insignificantes” pelos poderosos
porque esses mesmos poderosos temiam a união e a determinação dos
trabalhadores.
Célio começou a sentir uma onda de orgulho crescer dentro de si. A coragem de
seus pais, o sacrifício e o esforço por uma vida mais digna para todos — esses
eram legados de grande valor.
— Seus pais, Célio, eram sementes de uma mudança que ecoa até hoje. Eles
lutaram por uma causa que transcende as gerações. Ao lembrar disso agora, você
pode ver que o que antes parecia fraqueza ou vergonha era, na verdade, um
símbolo de força. Hoje, você pode se libertar desse peso e reconhecer o valor deles,
e também o seu próprio valor, como herdeiro dessa luta.
Com essa nova compreensão, Célio sentiu como se uma corrente invisível estivesse
se desfazendo. Ele entendia que não precisava mais carregar aquela vergonha, que
podia se expressar com autenticidade e orgulho, livre das amarras daquele
passado. A luta de seus pais, antes um fardo, agora era uma fonte de inspiração,
uma prova de que ele tinha dentro de si a mesma coragem, e que também podia
seguir sua vida sem medo de se expressar, de tomar sua voz e seu lugar no mundo.
Priscila ajustou o tom de sua voz, suave e acolhedora, guiando Célio através do
tempo, como uma mão invisível que o conduzia pela espiral da memória.
— Célio, quero que você continue a viajar... mais e mais, para trás. A cada
respiração, vá além... até o útero de sua mãe... além disso, até uma vida passada
— ela sussurrou, com uma tranquilidade que parecia dissolver qualquer barreira
entre o presente e o passado.
Aos poucos, Célio começou a falar, com uma voz carregada de emoções antigas. —
Eu... estou vendo uma cena. Vejo uma mulher. Ela era minha esposa. Mas, então...
uma outra apareceu. Algo dentro de mim se perdeu. Acabamos tramando contra
minha esposa. Planejamos sua morte... tudo para que eu pudesse ficar com essa
outra pessoa.
Célio respirou fundo, como se cada palavra fosse um passo em um campo de dores
não resolvidas. — Depois que ela morreu, o arrependimento me consumiu...
comecei a beber. A culpa foi me destruindo aos poucos. E, ao final... lembro de
morrer em frente a um bar, sozinho.
Por um momento, o silêncio tomou conta. Então, com delicadeza, Priscila o trouxe
de volta ao presente, guiando-o para que contasse sobre sua vida atual.
— Eu... encontrei essa mulher novamente, Priscila. Ela é minha ex-esposa nesta
vida. A mulher por quem me apaixonei tanto... e nossa filha... Ela era aquela esposa
que eu traí.
— Célio, esse ciclo de dor e arrependimento não precisa mais se repetir. Esse amor
pode ser resgatado, mas agora de uma forma livre, sem as sombras do passado. É
hora de você perdoar a si mesmo, romper o ciclo, deixar essa culpa e esse
sofrimento para trás.
— Célio, tudo o que você viveu até aqui o trouxe para este exato instante. O
passado existe como aprendizado, mas o poder de transformar está no agora. Cada
escolha que você faz, agora, tem o poder de criar uma nova realidade. Entenda que
você não está preso às escolhas de outra vida, nem mesmo às marcas dessa vida.
O universo nos concede o dom de recomeçar a cada instante.
Célio respirou fundo, sentindo como se algo dentro dele se libertasse, um peso
antigo que finalmente começava a se dissolver. Priscila sorriu com gentileza e
continuou:
Célio sentiu seu coração bater mais leve. Ele começava a vislumbrar o que Priscila
queria dizer: o amor era sua maior chance de redenção, o caminho para reconstruir
laços com sua filha e com a mulher que já fora sua esposa. E mais do que isso, o
amor era a chave para sua liberdade interior, para caminhar numa direção onde a
dor e a culpa não mais ditassem seus passos, mas onde o perdão e a luz fossem
seus guias.
Depois daquela sessão de hipnoterapia com Priscila, Célio nunca mais foi o mesmo.
Algo dentro dele havia despertado; era como se as correntes invisíveis que o
mantinham preso à culpa e ao desespero tivessem começado a se desfazer. A partir
desse encontro, ele deu início a uma profunda jornada de autoconhecimento, guiado
por uma nova compreensão sobre a dor, a escuridão e o poder da transformação.
Por um longo período, Célio havia caminhado nas trevas, onde cada passo parecia
mais pesado que o anterior. A dor e a confusão o acompanhavam como sombras
persistentes, e ele se sentia perdido em um labirinto sem saída. Mas, nesse abismo
de desespero, ele começou a perceber algo diferente. A escuridão, que antes lhe
parecia uma força puramente destrutiva, agora revelava seu verdadeiro potencial: a
de ser um portal para o renascimento. Célio decidiu, então, não fugir mais de seus
medos e angústias, mas enfrentá-los.
Por toda a vida, Célio carregara o estigma de ser a ovelha negra da família. Seu
problema com o álcool era um segredo à vista de todos, uma sombra que o seguia
silenciosamente, turvando cada conquista com uma névoa de incerteza. Ele não
conseguia entender como, com tanta sede de conhecimento e esforço para
expandir-se além dos limites convencionais, ainda se encontrava preso nesse ciclo
vicioso.
Em uma noite dessas, durante uma reflexão intensa, ele teve um vislumbre
revelador. Talvez ele não fosse apenas a ovelha negra, mas sim a ovelha cósmica
de sua linhagem. Inspirado por Bert Hellinger e sua psicoterapia sistêmica, ele se
via como aquele que carregava o fardo das gerações passadas, mas que também
possuía o potencial de curar e transformar as dinâmicas familiares.
Ao reavaliar sua luta contra o álcool, a bipolaridade e sua incessante busca por
conhecimento além do véu, Célio começou a ver essas experiências não como
falhas, mas como marcas de uma jornada profunda e transformadora. Cada desafio
enfrentado era uma oportunidade de crescimento, um passo em direção a um
entendimento mais profundo de si e de seu papel no universo.
Com essa nova perspectiva, ele enxergou que sua transformação pessoal poderia
ecoar através das gerações, trazendo alívio e cura aos seus ancestrais. Ele iniciou
um processo de cura que ia além dele mesmo, enfrentando seus medos e os
aspectos de sua vida que refletiam esses antigos padrões. Cada mudança em sua
consciência era um passo para a liberdade - uma liberdade que reverberava no
tempo, libertando as almas daqueles que vieram antes dele.
Célio não estava apenas mudando a própria vida; ele estava reescrevendo a história
de sua família, dando a si e aos seus descendentes a chance de viver uma nova
realidade. A cada passo, ele se aproximava da cura e do renascimento, motivado
por uma esperança renovada.
Esse caminho transformador trouxe também uma reconexão com sua filha. Cada
visita passou a se tornar um momento de amor e aprendizado mútuo, onde o
vínculo entre eles se fortalecia. A cada instante ao lado dela, Célio sentia um amor
crescente que o inspirava a continuar sua jornada de autotransformação.
Agora, ele percebia que sua trajetória não era apenas sobre encontrar respostas,
mas sobre viver com as perguntas e compreendê-las como uma forma de sabedoria
em constante evolução.
Continua…
Mensagem ao Leitor
Se você chegou até aqui, quero expressar minha gratidão por ter me acompanhado
nessa jornada de conhecimento e reflexão. Este livro foi escrito com o coração e a
esperança de trazer algo de valor à sua vida. Se, de alguma forma, ele despertou
novas ideias, inspirações ou ressoou com sua busca por compreensão, convido
você a apoiar este projeto.
Sua contribuição, mesmo que simbólica, será essencial para que eu possa
aprimorar e publicar futuras edições, levando essa obra a mais leitores. Caso deseje
contribuir, qualquer valor será recebido com imensa gratidão e investido diretamente
na continuidade desse trabalho.
Muito obrigado por sua leitura, apoio e confiança. Que essa obra seja apenas o
começo de uma jornada de conhecimento que possamos trilhar juntos.
Com gratidão,
Auricélio Gonçalves Coriolano