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AF Na Gestao Municipal Nivel Superior Vol2

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2

Hospital MINISTÉRIO DA SAÚDE


L. Municipal
VO

Central de
Farmácia
Gestão e planejamento da
Abastecimento
Farmacêutico
Pública

Assistência Farmacêutica
no SUS
Unidade
de Pronto
Atendimento

Central de
Abastecimento
Farmacêutico COLEÇÃO
Assistência Farmacêutica na gestão municipal:
USF/UBS da instrumentalização às práticas de profissionais de
nível superior nos serviços de saúde

PROJETO
Atenção Básica: capacitação, qualificação dos
serviços de Assistência Farmacêutica e integração
das práticas de cuidado na equipe de saúde
Centro de
referência em
IST/AIDS

BRASILIA - DF 2020
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção Primária à Saúde
Departamento de Promoção da Saúde

Gestão e planejamento da
Assistência Farmacêutica no SUS

VOLUME 2

COLEÇÃO
Assistência Farmacêutica na gestão municipal: da instrumentalização às práticas
de profissionais de nível superior nos serviços de saúde

PROJETO
Atenção Básica: capacitação, qualificação dos serviços de Assistência Farmacêutica e
integração das práticas de cuidado na equipe de saúde

BRASILIA - DF
2020
2020 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: http://bvsms.saude.gov.br.

Tiragem: 1ª edição – 2020 – versão eletrônica

Elaboração, distribuição e informações: Grupo executivo: Innovativ – HAOC: Noemia Urruth Leão Tavares
MINISTÉRIO DA SAÚDE Hospital Alemão Oswaldo Cruz: Gestão dos processos de EaD: Rangel Ray Godoy
Secretaria de Atenção Primária à Saúde Aline Fajardo Débora Schuskel Rondineli Mendes da Silva
Departamento de Promoção da Saúde Karen Sarmento Costa Modelagem Instrucional e Pedagógica: Suetônio Queiroz de Araújo
Esplanada dos Ministérios, Samara Kielmann Débora Schuskel Tiago Marques dos Reis
bloco G, 7º andar CONASEMS: Gestão dos Processos do Curso: Vera Lucia Luiza
CEP: 70058-900 - Brasília/DF Elton da Silva Chaves Gicelma Rosa dos Santos Revisão técnica:
Tel.: (61) 3315-6101 Hisham Mohamad Hamida Adrielly Saron Alves Silva Lopes Camila Tavares de Sousa
Site: www.aps.saude.gov.br Ministério da Saúde: Gestão do ambiente virtual de Felipe Tadeu Carvalho Santos
E-mail: [email protected] Olivia Lucena de Medeiros aprendizagem: Karen Sarmento Costa
Hannah Carolina Tavares Domingos Alline Tibério Patrícia Silveira Rodrigues
HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ Produção audiovisual:
R. João Julião, 331, Bela Vista Izabella Barbosa de Brito Leonardo Régis Leira Pereira
Anders Rinaldi Angelin Orlando Mário Soeiro
CEP: 01327-001 – São Paulo/SP Coordenação geral do projeto: Designer Instrucional: Elton da Silva Chaves
Tel.: (11) 3549-1000 Ana Paula N. Marques de Pinho Daniel Tschisar
Site: www.hospitaloswaldocruz.org.br Coordenação editorial:
Samara Kielmann Elaboração do conteúdo e texto: Júlio César de Carvalho e Silva
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS Coordenação técnica do curso: Adriane Lopes Medeiros Simone Revisão de texto:
MUNICIPAIS DE SAÚDE Karen Sarmento Costa Andréia Turmina Fontanella Julia Nader Dietrich – Educomunicação e
Esplanada dos Ministérios, bloco G, André Yoshikane Shoshima
Gestão do projeto: Jornalismo
anexo B, sala 144 Anna Heliza Silva Giomo
Zona Cívico-Administrativo Aline Fajardo Karina Santos Rocha Projeto gráfico e capa:
CEP: 70058-900 – Brasília/DF Camila Tavares de Sousa Luciane Anita Savi Laura Camilo – L7 Design
Tel.: (61) 3022-8900 Flávia Landucci Landgraf Marco Aurélio Pereira Normalização:
Site: www.conasems.org.br Mariana Castagna Dall’Acqua Maria Cristina Sette de Lima Delano de Aquino Silva – Editora MS/CGDI

Ficha Catalográfica

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde.
Assistência Farmacêutica na gestão municipal : da instrumentalização às práticas de profissionais de nível superior nos serviços de saúde [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2020.
4 v. : il.

Conteúdo: v. 1. Assistência Farmacêutica: da organização ao acesso a medicamentos e os desafios de sua integração à rede de atenção do SUS. v. 2. Gestão e planejamento da Assistência
Farmacêutica no SUS. v. 3. Serviços farmacêuticos técnico-gerenciais: operacionalização e prática nos municípios. v. 4. Os serviços farmacêuticos gerenciais na qualificação do cuidado em saúde.
Modo de acesso: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/gestao_planejamento_assistencia_farmaceutica_sus.pdf
ISBN 978-85-334-2867-6 (coleção)
ISBN 978-85-334-2869-0 (volume 2)

1. Prática farmacêutica baseada em evidências. 2. Atenção Primária à Saúde. 3. Procedimentos clínicos. I. Título.
CDU 615.12

Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2020/0331

Título para indexação:


V. 2. Pharmaceutical Assistance management and planning in the Brazilian Public Health System
Sumário
p Prefácio 06

a Abertura 08
Desafios para a gestão municipal:
qualificação e integração da Assistência Farmacêutica na Atenção Básica/Atenção Primária à Saúde

A5 Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal 14


i Introdução 16

Aspectos gerais sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) 16

O papel das Conferências de Saúde e dos Conselhos de Saúde 19

Governança e Gestão: responsabilidades dos gestores do SUS 20

O termo accountability no âmbito da administração pública no Brasil 22

Mas o que significa Gestão? 22

Controle interno e externo no SUS 26

Gestão da Assistência Farmacêutica 29

Modelos de organização e de gerenciamento da AF 33

Síntese da Aula 36

Referências 37
A6 Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS 40
i Introdução 42

Financiamento como função dos sistemas de saúde 43

Antes do financiamento da AF: o planejamento orçamentário e fundos de saúde 46

Financiamento da Assistência Farmacêutica 52

Organização do financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS 55

Síntese da Aula 63

Referências 64

Material Complementar 66
A7 Planejamento no âmbito do SUS 68
i Introdução 70

Planejamento no Sistema Único de Saúde 72

Aspectos normativos 72

Pactuação interfederativa e a agenda de planejamento no território 77

Ciclo do planejamento e do orçamento público 79

Instrumentos da Política Fiscal e da Política de Saúde 81

Cronograma dos instrumentos de planejamento e orçamento 82

Papel da sociedade na governança da Saúde:


do planejamento ascendente ao controle e fiscalização no SUS 87

Ferramentas utilizadas no planejamento do SUS: do SARGSUS ao DigiSUS-Gestor 88

Síntese da Aula 91

Referências 91

Material Complementar 93
A8 Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal:
métodos e aplicações 95
i Introdução 97

Aspectos gerais sobre a Assistência Farmacêutica 97

Importância do planejamento 98

Ciclo PDCA 102

Tipo de planejamento 105

Análise SWOT 107

Planejamento Estratégico 108

Síntese da Aula 126

Referências 126
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA

Prefácio
Esta obra é fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde (MS), na fi- e reflexões críticas e agrega materiais para a promoção do aperfeiçoamento
gura da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), o Hospital Alemão conceitual e das práticas dos profissionais que atuam na gestão da AF dos
Oswaldo Cruz (HAOC) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de municípios, em prol da qualificação da Rede de Atenção à Saúde (RAS) e,
Saúde (CONASEMS). principalmente, da melhoria das condições de saúde das pessoas, sempre
considerando as necessidades de saúde locais e a organização própria do
Por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sis-
trabalho e da gestão dos territórios.
tema Único de Saúde (PROADI-SUS) realizou-se o projeto Atenção Básica:
capacitação, qualificação dos serviços de assistência farmacêutica e inte- Ainda no âmbito do projeto, foram desenvolvidos outros três cursos, cada
gração das práticas de cuidado na equipe de saúde, com objetivo de for- qual voltado a diferentes agentes da AF municipal, da gestão central ao
talecer a Atenção Primária à Saúde (APS) mediante o aprimoramento dos balcão, ressaltando a importância do trabalho corresponsabilizado e inte-
serviços da Assistência Farmacêutica (AF) e sua inserção nos processos de grado. O material elaborado para subsidiar estas formações foi também
cuidado em conjunto às equipes nas unidades de saúde. publicado, resultando nas coleções Assistência Farmacêutica na gestão
municipal: da instrumentalização às práticas de profissionais de nível médio
Segundo dados obtidos da Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização e
e/ou técnico nos serviços de saúde, Cuidado Farmacêutico na Atenção
Promoção do Uso Racional de Medicamentos no Brasil (PNAUM)1, realiza-
Básica: aplicação do método clínico e no livro Gestão do Cuidado Farma-
da em 2015, dentre os desafios para a melhoria da AF em municípios estão:
cêutico na Atenção Básica.
sua ausência no organograma das secretarias (24%) e no plano de saúde
(18%), a falta de autonomia financeira (61,5%) e de conhecimento dos va- Os produtos deste projeto – incluindo este volume – foram estruturados na
lores disponíveis (81,7%), a falta de adoção de procedimentos operacionais perspectiva de desenvolvimento de uma RAS capaz de responder e poten-
para seleção, programação e aquisição (cerca de 50%), e o fato da maioria cializar o desempenho do Sistema Único de Saúde, em termos da garantia
dos responsáveis pela assistência farmacêutica avaliar a organização da AF do acesso, qualidade e eficiência econômica, objetivando a integralidade
como boa e ótima (58,8%) apesar dos indicadores preocupantes. do cuidado e a resolutividade das ações em saúde, passos importantes
para a evolução dos serviços de atenção na saúde pública brasileira.
Ademais, o Brasil figura entre os maiores consumidores globais de medica-
mentos, o que denota a necessidade do acompanhamento e orientação com Em nome da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, parabenizamos a
vistas ao uso racional, e demanda a implantação de registros estruturados que equipe técnica que elaborou e sistematizou os conteúdos da obra e convi-
favoreçam a análise dos impactos gerados por estas tecnologias de cuidado. damos os leitores a uma boa leitura.
Por tais razões, torna-se fundamental fomentar o progresso dos serviços farma-
cêuticos na APS, tanto os técnico-gerenciais quanto os técnico-assistenciais.
Coordenação-Geral de Prevenção de
O conteúdo desta publicação, resultante do curso Assistência Farmacêuti-
Doenças Crônicas e Controle do Tabagismo
ca na gestão municipal: da instrumentalização à prática nos serviços (pro-
fissionais de nível superior) oferecido pelo projeto, é baseado em conceitos Ministério da Saúde

Assistência Farmacêutica e sua integração na Rede de Atenção do SUS: da organização ao acesso a medicamentos | 6 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA

Referências
1. Gerlack LF, Karnikowski MG, Areda CA, Galato D, Oliveira AG, Álvares
J, Leite SN, Costa EA, Guibu IA, Soeiro OM, Costa KS. Gestão da as-
sistência farmacêutica na atenção primária no Brasil. Revista de Saúde
Pública. 2017 Nov 13;51:15s.

Assistência Farmacêutica e sua integração na Rede de Atenção do SUS: da organização ao acesso a medicamentos | 7 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

APS
RAS

Abertura

Desafios para a gestão municipal: qualificação e integração da


Assistência Farmacêutica na Atenção Básica/Atenção Primária à Saúde

Autores: Samara Kielmann, Aline Fajardo, Mariana Castagna Dall’Acqua, Flávia Landucci Landgraf, Camila Tavares
de Sousa, Karen Sarmento Costa, Patrícia Silveira Rodrigues, Olivia Lucena de Medeiros, Hannah Carolina Tavares
Domingos, Izabella Barbosa de Brito, Elton da Silva Chaves, Hisham Mohamad Hamida

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Desafios para a gestão municipal: qualificação e integração da


Assistência Farmacêutica na Atenção Básica/Atenção Primária à Saúde
Autores: Samara Kielmann, Aline Fajardo, Mariana Castagna Dall’Acqua, Flávia Landucci Landgraf, Camila Tavares de Sousa, Karen Sarmento
Costa, Patrícia Silveira Rodrigues, Olivia Lucena de Medeiros, Hannah Carolina Tavares Domingos, Izabella Barbosa de Brito,
Elton da Silva Chaves, Hisham Mohamad Hamida
Os desafios impostos pela transição demográfica e epidemiológica em dagógica do trabalho em saúde voltado ao indivíduo, família, comunida-
curso no Brasil, que se caracterizam pelo aumento da população, trans- de e equipe de saúde2.
formações nas estruturas etárias e perfil de adoecimento, demandam
Enquanto sistema de apoio, entende-se como fundamental a qualifica-
do Sistema Único de Saúde (SUS) capacidade de resposta ao cenário
ção das atividades técnico-gerenciais a serem desenvolvidas, que de-
complexo, atualmente apresentado, que envolve tripla carga de doen-
vem estar integradas e sincronizadas com vistas à garantia do abaste-
ças, com uma predominância das doenças crônicas e ainda elevada
cimento dos medicamentos, nas diferentes unidades funcionais, com
prevalência de doenças parasitárias, infecciosas e da morbimortalidade
suficiência, regularidade e qualidade para atender as necessidades
por causas externas, impondo necessidade de reorganização das prá-
singulares da rede de atenção à saúde 2.
ticas, da estrutura e da lógica de funcionamento institucional do SUS
como resposta a estas demandas. A Política Nacional de Atenção Básica inova ao explicitar como diretrizes
da assistência farmacêutica na atenção básica o desenvolvimento de
A organização do SUS em redes de atenção à saúde (RAS), sob coor-
denação da Atenção Básica/Primária em Saúde, tem se colocado
como resposta na superação da fragmentação sistêmica e do modelo
ações de assistência farmacêutica e do uso racional de me-
de atenção à saúde baseado em ações curativas e centrado no médi-
dicamentos, garantindo a disponibilidade e acesso a medi-
co, sendo eficaz tanto na organização de um modelo horizontal, arti-
camentos e insumos em conformidade com a RENAME, os
culado, proativo, focado na integralidade do cuidado e reorientação da
protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas, e com a relação
gestão do cuidado com abordagem multi e interdisciplinar, quanto no
específica complementar estadual, municipal, da união, ou
enfrentamento aos desafios impostos pelo atual cenário demográfico,
do distrito federal de medicamentos nos pontos de atenção,
socioeconômico, epidemiológico e sanitário1.
visando a integralidade do cuidado3:Art.7.
Neste contexto, é fundamental a integração sistêmica da Assistência
Farmacêutica às RAS, por meio da oferta dos serviços farmacêuticos
que englobam atividades técnico-gerenciais (seleção, programação, Esta também reconhece a necessidade da garantia de qualificação da
aquisição, armazenamento e distribuição dos medicamentos e insumos) força de trabalho para a gestão e a atenção à saúde, a partir do estímulo
enquanto apoio à rede e, nos diferentes pontos de atenção da rede, o e viabilização da formação, educação permanente e continuada dos pro-
cuidado farmacêutico, sob a dimensão clínico-assistencial e técnico-pe- fissionais com qualificação dos serviços ofertados à população3.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

No que se refere à Assistência Farmacêutica no SUS, mesmo identifican- poração de tecnologias e estratégias de acesso a medicamentos no
do um conjunto de avanços significativos - por exemplo, a melhor orga- SUS, aos aspectos relacionados à gestão interfederativa, planejamen-
nização das responsabilidades executivas no âmbito do pacto federativo, to, financiamento e avaliação da assistência farmacêutica e às aborda-
ampliação do investimento na área pelos entes federados e do acesso gens da operacionalização e práticas dos serviços farmacêuticos nos
a medicamentos, melhor estruturação de serviços farmacêuticos nos municípios e as contribuições destes para a qualificação do cuidado
municípios e presença de sistemas informatizados - reconhece-se que em saúde.
ainda persistem barreiras e desafios a serem enfrentados2. Entre eles, a
Adotou-se no curso que os
não implementação na totalidade dos municípios da política de assistên-
cia farmacêutica, deficiências nos processos de planejamento e gestão,
ações focadas no medicamento e no insumo e não no usuário, recursos
serviços farmacêuticos constituem-se no conjunto de ativida-
humanos pouco qualificados, inadequação de procedimentos técnico-
des e processos de trabalho relacionados ao medicamento,
-gerenciais, ambientes pouco adequados às exigências e necessidades
protagonizados pelo farmacêutico (em especial nas ações fi-
dos serviços farmacêuticos, relações municipais de medicamentos pouco
nalísticas), e desenvolvidos no âmbito da atenção em saúde
baseadas em critérios técnico-científicos, nível de integração baixo entre
com vistas a potencializar sua resolubilidade. Esse conjunto
os diferentes serviços farmacêuticos e destes com os demais serviços de
de atividades compreende tanto atividades técnico-gerenciais
saúde da rede e a incipiência dos serviços farmacêuticos assistenciais4,5.
(atividades de apoio) quanto clínicas (atividades finalísticas) di-
Neste cenário, torna-se premente o desenvolvimento de ações pedagógi- rigidas a indivíduos, família e comunidades2:115.
cas para capacitar profissionais que atuam na gestão da Assistência Farma-
cêutica municipal. Tendo em vista a demanda de formação aos profissionais
de nível superior que atuam nos serviços farmacêuticos técnico-gerenciais,
O percurso pedagógico fundamenta-se no construtivismo com ênfa-
a equipe do Projeto da Atenção Básica, elaborou, desenvolveu e dispo-
se na participação ativa dos profissionais, que são instigados a expe-
nibilizou aos municípios brasileiros o Curso Assistência Farmacêutica
rimentar e (re)construir o conhecimento. Esta abordagem pedagógica
na gestão municipal: da instrumentalização à prática nos serviços
contribui para o desenvolvimento de estruturas conceituais e para
(profissionais de nível superior). A formação tem como objetivo instru-
a construção reflexiva e crítica do conhecimento dos profissionais
mentalizar e capacitar os profissionais de nível superior que atuam na ges-
de nível superior, elementos estruturantes da aprendizagem signifi-
tão da Assistência Farmacêutica municipal visando o aperfeiçoamento das
cativa proposta pelo curso. Esse tipo de abordagem requer desses
práticas profissionais, contribuindo para a qualificação do sistema de apoio
profissionais uma postura proativa no processo de ensino-aprendiza-
da Rede de Atenção à Saúde e integração com o cuidado em saúde.
gem para estudarem com autonomia e com comprometimento com
Os conteúdos abordam desde a contextualização do Sistema Único o curso, planejando o tempo de dedicação e criando uma rotina de
de Saúde na perspectiva da organização e integração da Assistência estudos adequada às suas vidas pessoais e profissionais, como es-
Farmacêutica nas Redes de Atenção à Saúde, com avaliação e incor- quematizado na Figura 1.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Figura 1. Desenho pedagógico do curso

Situação de aprendizagem: Aprendizagem de adulto:

problematização (estudo sujeito ativo, capaz de responsável pelo próprio


reflexão crítica
de caso, caso prático) buscar/pesquisar aprendizado

fundamentação teórica soluções criativas


ambiente do curso como
desafios práticos espaço para compartilhamento realizar o curso no seu próprio
ferramenta de trabalho
(tomada de decisão) de dúvidas ritmo e tempo
(reflexão e revisão das práticas)

Módulo
• Vídeo de abertura
• Cenário reflexivo

Unidade de Aprendizagem da Aula


Certificação

Ponto de Partida Base teórico-prática Atividades E-book Concluindo o Ciclo


• Antes de iniciar/ • Videoaula/Aula • Fórum temático • Vídeo de
Ambientação interativa • Quiz encerramento
• Vídeo de abertura • Material • Questionário objetivo • Avaliação da reação
do curso complementar • Questão dissertativa e do comportamento

Roteiro de
Aprendizagem

Vivência educacional e social do participante

Fonte: Elaboração própria.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Considerando o ineditismo e a importância desse material para a for- Para apoiar a compreensão dos leitores, seguindo a própria organização
mação de profissionais de nível superior que atuam nos serviços far- dos cursos, cada volume e suas respectivas unidades de aprendizagem
macêuticos técnico gerenciais no SUS, e levando em conta a situação são ilustradas com quadros e figuras que facilitam a apresentação das
imposta pela pandemia da doença COVID-19, que exige respostas mais informações, bem como referências e indicações de leituras complemen-
imediatas dos serviços farmacêuticos com vistas à garantia do acesso tares. A cada aula, também são apresentados os objetivos de aprendiza-
aos medicamentos necessários dentro da realidade da Atenção Básica, gem e um breve resumo do conteúdo apresentado.
o Grupo Executivo do Projeto, constituído pelo Hospital Alemão Oswal-
Esperamos que os gestores e profissionais que atuam nos serviços far-
do Cruz, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e Mi-
macêuticos no contexto da Atenção Básica possam utilizar esse material
nistério da Saúde - Secretaria de Atenção Primária à Saúde (MS/SAPS),
para ações de educação permanente com a equipe, visando o aprimora-
propôs a organização dessa coleção, a partir do material didático elabo-
mento e a maior integração das práticas entre os diferentes profissionais
rado no curso, com a expectativa de ampliar o conhecimento e as opor-
e a melhoria na qualidade da oferta desses serviços à população.
tunidades dos profissionais na qualificação dos serviços farmacêuticos.
Desejamos que esta publicação democratize o conhecimento voltado à
O conteúdo dos módulos, aqui apresentados em formato de volumes, foi
formação desses profissionais e seja um incentivo para a qualificação dos
pensado de forma encadeada para que o profissional caminhe por todas
serviços farmacêuticos na Atenção Básica/Atenção Primária à Saúde a
as unidades de aprendizagem de forma fluída e organizada como um
fim de avançarmos nas conquistas nessa área e superarmos as barreias
ciclo, com foco na discussão de casos práticos, próximos do cotidiano
e desafios apontados, tendo como perspectiva a oferta de serviços de
vivenciado, discussões para a operacionalização dos serviços farmacêu-
qualidade e humanizados alinhada aos princípios e diretrizes do SUS.
ticos técnico-gerenciais e apoio nos serviços farmacêuticos clínicos.
Boa Leitura!
Por essa razão esta coleção está organizada em quatro volumes, com-
postos por um conjunto de capítulos (unidades de aprendizagem):

» Vol. 1 - Assistência Farmacêutica: da organização ao acesso a medi-


camentos e os desafios de sua integração à rede de atenção do SUS
» Vol. 2 - Gestão e planejamento da Assistência Farmacêutica no SUS
» Vol. 3 - Serviços farmacêuticos técnico-gerenciais: operacionali-
zação e prática nos municípios
» Vol. 4 - Os serviços farmacêuticos gerenciais na qualificação do
cuidado em saúde.

| 12 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Referências
1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº. 4.279, de 30 de dezembro de
2010. Estabelece as diretrizes para organização da Rede de Atenção
à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da
União. 30 dez 2010.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde.
Departamento de Saúde da Família. Gestão do Cuidado Farmacêutico na
Atenção Básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Primária
Saúde, Departamento de Saúde da Família – Brasília: Ministério da Saúde;
2019. 384 p.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de
2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a
revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União. 22 set 2017.
4. Manual do(a) Gestor(a) Municipal do SUS: “Diálogos no Cotidiano” /
CONASEMS-COSEMS-RJ-LAPPIS/IMS/UERJ. Rio de Janeiro: CEPESC/
IMS/UERJ; 2016. 324p. ISBN: 9788595360006.
5. Costa KS et al. Avanços e desafios da assistência farmacêutica na
atenção primária no Sistema Único de Saúde. Rev. Saúde Pública. 2017.
51 (supl 2), 3s.

| 13 |
5
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Aula

Gestão do SUS e da Assistência


Farmacêutica municipal

Autores: Marco Aurélio Pereira e Suetônio Queiroz de Araújo

| 14 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Ementa da aula

Esta aula aborda os aspectos gerais sobre o Sistema Único de Saúde e a


organização e o funcionamento da gestão do Sistema, trazendo a sua interface com a
Assistência Farmacêutica, assim como os aspectos legais, estruturais, governança e gestão e
modelos de gestão da Assistência Farmacêutica nos municípios.

Fonte: Imagem - Flaticon ©.

Objetivo de aprendizagem

Conhecer e compreender a importância da gestão do Sistema Único de


Saúde e da Assistência Farmacêutica, com enfoque na visão enquanto gestor(a) do SUS;
conhecer o processo de gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica, as suas instâncias
de pactuação e o controle social, a partir de conceitos gerais, as normas relacionadas,
a importância das ações de controle interno e externo e do papel do controle social e os
modelos de gestão da Assistência Farmacêutica nos municípios.

Fonte: Imagem - Flaticon ©.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 15 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Introdução Aspectos gerais sobre o


A assistência farmacêutica depende de uma série de fatores para que se Sistema Único de Saúde (SUS)
concretize enquanto um direito constitucional. Os aspectos relacionados
ao seu financiamento sustentável, a um planejamento bem elaborado e O SUS tem os seus pilares construídos a partir das deliberações da 8ª Confe-
uma boa gestão estão entre os desafios colocados para que a sociedade rência Nacional de Saúde, passando a ser garantido como um direito social,
tenha garantido o acesso e uso racional dos medicamentos. Desta forma, conforme determina o artigo 6º da Constituição Federal (CF) de 1988, pro-
compreender o papel que se deve desempenhar na organização da assis- porcionando acesso universal ao sistema público de saúde. O Sistema deve
tência farmacêutica, em especial no âmbito municipal, é condição funda- ser organizado com base nas seguintes diretrizes: descentralização com di-
mental para que seja alcançado o objetivo maior da gestão da saúde que é reção única em cada esfera de governo; atendimento integral, com priorida-
o de melhorar a qualidade de vida da população. de para as atividades preventivas, sem prejuízo aos serviços assistenciais; e
participação da comunidade, sobre a qual falaremos mais adiante1.
A Constituição também determina, em seu artigo 196, que:

A saúde é direito de todos e dever do


Estado, devendo ser garantida mediante políticas
sociais e econômicas, que visem à redução de
risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação2.

Como já vimos na Aula 1, do Módulo 1*, o SUS organiza-se, a partir da Cons-


tituição Federal, em um conjunto de normas, como leis, decretos e portarias,
que dão as bases legais para o pleno funcionamento do Sistema e permitem
à sociedade saber os seus direitos. Aqui, destacamos duas leis, tidas como
Fonte: Imagem - Shutterstock ©. as Leis Orgânicas da Saúde: Lei nº 8.080/1990 e Lei nº 8.142/1990.

*Nota do editor: Este livro integra a coleção Assistência Farmacêutica na gestão municipal: da instrumentalização às práticas de profissionais de nível médio e/ou técnico nos serviços de saúde e apresenta o
conteúdo das aulas do Módulo 2 de curso homônimo oferecido pelo Projeto Atenção Básica, realizado no âmbito do PROADI-SUS. As aulas do Módulo 1 podem ser acessadas no vol. 1 desta mesma coleção,
Assistência Farmacêutica: da organização ao acesso a medicamentos e os desafios de sua integração à rede de atenção do SUS.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 16 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

A Lei nº 8.080/1990, como posto, “dispõe sobre as condições para a pro- Para que a descentralização ocorra de maneira a não penalizar apenas um dos
moção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento entes federados, ela deve se pautar no princípio da hierarquização e da regiona-
dos serviços correspondentes e dá outras providências”3. Em seu artigo 7º, lização. Nesse caso, a hierarquização significa que o SUS deve estar organizado
está determinado que, além das diretrizes previstas na Constituição Federal, com base em níveis crescentes de complexidade, ou seja, da atenção primária
o SUS será desenvolvido com base em um conjunto de princípios, dentre à alta complexidade. Assim, busca-se que “casos de menor urgência possam
os quais destacamos, em virtude da abordagem desta aula, os princípios da ser resolvidos em instâncias que não cheguem a centros especializados de alta
descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera complexidade, melhorando a eficiência e a eficácia de todo o sistema”.
de governo e com ênfase na descentralização dos serviços para os municí-
A regionalização, um grande desafio para a gestão do SUS, pode ser
pios e regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde.
definida como:
A descentralização, que, além de ser um dos princípios organizativos ou
técnico-gerenciais do Sistema Único de Saúde, também é determinada
como uma das diretrizes do SUS, conforme dispõe a Constituição Federal, […] um processo de articulação funcional
e está relacionada com a redistribuição de recursos e de responsabilidades
entre União, estados e municípios. Esse princípio tem como objetivo uma
em um determinado território, onde se busca
prestação de serviços com maiores qualidade e eficiência, devendo estes integrar todas as ações e serviços em uma
estarem organizados em níveis crescentes de complexidade, em unidades ampla rede de atenção à saúde. Essa deve
geográficas específicas e para clientelas definidas4,5. se fundamentar em um trabalho coordenado
entre as unidades de saúde de diversos níveis e
densidades tecnológicas, a partir de mecanismos
clínicos, gerenciais e de governança que
permitam aos usuários uma atenção contínua e
integral, abrangendo a promoção, a prevenção, a
cura e a reabilitação (p. 89)7.

Fonte: Imagem - Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Fonte: Imagem - Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 17 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Por fim, um outro princípio que precisa ser destacado é o da “participação ticipativa direta, os cidadãos discutem e votam diretamente sobre as prin-
da comunidade”. Inicialmente, vale destacar que o Sistema Único de Saú- cipais questões de seus interesses, sem a necessidade de haver alguém
de é um patrimônio do povo brasileiro, sobre o qual todos nós possuímos que os represente6.
direitos e deveres. Ao mesmo tempo em que está definido um conjunto
de responsabilidades do Estado para com os cidadãos, também existem
responsabilidades dos cidadãos para com o SUS, de forma a garantir que
o seu tratamento e recuperação sejam adequados8.
Para falar um pouco mais sobre isso, vamos retornar à nossa Constitui-
ção Federal, que, em seu artigo 1º, determina que:

A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos estados e municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Es-
tado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
» a soberania;
» a cidadania;
» a dignidade da pessoa humana;
» os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
» o pluralismo político2.

Você sabe o que significa ser um Estado Democrático de Direito? Vale res-
saltar o que diz a própria CF 88, no parágrafo único do artigo 1º: “Todo o
poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição”. Isso significa que vivemos
em uma república, cujo poder do povo será exercido de maneira indireta
Fonte: Imagem - Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.
ou direta. Essas formas de participação são denominadas de democracia
representativa e democracia participativa direta.
No caso da saúde, existem instâncias deliberativas, de relevância reco-
A democracia representativa é aquela em que os cidadãos escolhem re- nhecida, que contribuem com o processo democrático de participação da
presentantes por meio dos processos eleitorais, nos quais pessoas são comunidade na gestão participativa do SUS, conforme previsto na Consti-
eleitas para diferentes cargos, com o objetivo de representar os interesses tuição Federal vigente. São os Conselhos de Saúde e as Conferências de
do povo na tomada de decisões no âmbito público. Já na democracia par- Saúde que compõem o controle social da saúde9,10.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 18 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Os Conselhos de Políticas Públicas apresentam-se como espaços onde Enfim, fica evidente que controle social pode ser compreendido como a
a população participa da tomada de decisões na Administração Pública, participação do cidadão na gestão pública, seja na fiscalização, no mo-
além de contribuir com o processo de fiscalização e de controle dos gastos nitoramento ou no controle de ações da Administração Pública. Também
públicos, colaborando com a avaliação das ações governamentais. Assim, representa um mecanismo de fortalecimento do exercício da cidadania6.

o controle social torna-se um tema  papel das Conferências de Saúde


O
evidentemente prioritário no campo da saúde, e dos Conselhos de Saúde
onde uma democracia mais participativa deve
ser priorizada. Tanto para o Estado quanto para
a sociedade, o controle social tornou-se modelo
concreto de proposta participativa de construção
do Sistema Único de Saúde (p. 33)11.

Portanto a gestão participativa no SUS compreende o conjunto de ferra-


mentas de deliberação e de gestão compartilhada, com destaque para as
Conferências de Saúde, que são os instrumentos essenciais para a formu-
lação das políticas de saúde, atendendo aos anseios e às necessidades da
população, manifestados pelos próprios cidadãos. Sobre a gestão partici-
pativa, falaremos mais à frente6,12.

Fonte: Imagem - Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

As Conferências Nacionais de Saúde foram instituídas em 1937, sendo que


a primeira somente ocorreu em 1941, ano em que foi criado o Conselho
Nacional de Saúde, cujo objetivo era ser um órgão consultivo do Ministério
da Saúde. As atribuições dos Conselhos de Saúde, bem como o caráter e
o formato das Conferências de Saúde, como temos hoje, surgiram a partir
Fonte: Imagem - Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. da Constituição Federal de 198810,13.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 19 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Os Conselhos e as Conferências de Saúde foram instituídos pela Lei nº Em relação ao processo de gestão, vale destacar que, para que municí-
8.142, de 28 de dezembro de 1990, enquanto instâncias colegiadas do pios, estados e Distrito Federal recebam recursos para a cobertura das
SUS, com base no princípio da participação da comunidade na gestão ações e dos serviços de saúde a serem implementados, os entes deverão
do SUS. É preciso lembrar que essa lei define a participação social na contar com o Conselho de Saúde, com composição paritária. Além disso,
saúde a partir da criação do SUS. Antes de 1990, ou seja, antes do SUS, deverão contar com Relatórios de Gestão, instrumento de gestão que tere-
já havia sido criado o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e já haviam mos a oportunidade de aprofundar os conhecimentos na Aula 7.
ocorrido oito Conferências Nacionais de Saúde, sendo que somente na
E você? Já participou de alguma Conferência de Saúde ou de uma
oitava houve participação da população, como passamos a ter a partir da
reunião do Conselho de Saúde?
aprovação da Lei14.
De acordo com a Lei, as Conferências de Saúde passaram a se reunir
a cada quatro anos, com a representação paritária dos diversos seg-
mentos que atuam no SUS, com a finalidade de “avaliar a situação da
Governança e Gestão:
saúde e propor diretrizes para a formulação da política de saúde nos
níveis correspondentes”. Estas são convocadas pelo Poder Executivo e,
responsabilidades dos
extraordinariamente, pelo próprio Conselho. A sua organização e normas
de funcionamento serão definidas em regimento próprio, aprovadas pelo
gestores do SUS
respectivo Conselho14.
Como já vimos anteriormente, o SUS prevê que a sua gestão seja participa-
Os Conselhos de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, devem ser tiva, ou seja, que a comunidade seja protagonista na avaliação e na proposi-
compostos por: ção de políticas públicas.
Nesse contexto e trazendo a agenda atual do SUS, discutindo-se as atividades
de governança e gestão em saúde, é necessário apontar alguns aspectos e
[...] representantes do governo, prestadores diretrizes que precisam nortear a agenda dos gestores municipais à luz das
de serviço, profissionais de saúde e novas práticas e exigências, inclusive de órgãos de fiscalização e controle.
usuários, atua na formulação de estratégias Dessa forma, é necessário conhecer um outro conceito, também bastan-
e no controle da execução da política de te importante: o da governança. Este conceito, muito divulgado na década
saúde na instância correspondente, inclusive de 1990 nos Estados Unidos, segundo alguns autores, foi construído origi-
nalmente para a área privada. Outros autores apontam que o conceito de
nos aspectos econômicos e financeiros, governança foi amplamente divulgado a partir de um documento do Banco
cujas decisões serão homologadas pelo Mundial, publicado em 1992, intitulado Governance and Development, no
chefe do poder legalmente constituído em contexto de se analisar o papel do Estado no desenvolvimento, em busca da
cada esfera do governo14. maior efetividade das políticas públicas. O fato é que esse tema se tornou um
importante campo de pesquisa em ciências políticas e sociais em geral15.16.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 20 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

A governança pode ser definida como: Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a governança no setor
da saúde refere-se a diversas funções governamentais, realizadas pelos
governos e decisores, para atingir os objetivos da Política Nacional de Saú-
[…] a capacidade dos governos de exercer de favoráveis à sua cobertura universal. É um processo político que envolve
equilibrar diferentes influências e demandas, por exemplo, as dos usuários
autoridade, controle e poder na administração dos serviços de saúde, de profissionais da área e de fornecedores de insu-
dos recursos sociais e econômicos de mos e medicamentos17.
um país por meio do planejamento, da Para o Tribunal de Contas da União (TCU), por um lado, a governança
formulação e da implementação de políticas ocupa-se de avaliar a situação, determinar a direção e monitorar os aconte-
e do cumprimento de funções para o cimentos para acompanhar se a direção determinada está sendo seguida,
desenvolvimento (p. 1077)16. ao passo que a gestão ocupa-se de elaborar os processos de trabalho
para executar o ciclo Planejar-Executar-Avaliar-Agir, com o objetivo de ir na
direção determinada pela governança18.
Assim, entende-se governança como um conjunto de instrumentos que tem Essa governança no SUS, assim como apontam os órgãos de controle e a
como objetivo avaliar, direcionar e acompanhar a atuação do administrador literatura, precisa se articular, principalmente, com as demandas da socie-
público, com vistas a que sejam garantidos serviços públicos de qualidade15. dade, e esse papel de representação deliberativa está a cargo do controle
social, por meio dos Conselhos de Saúde18.
Figura 2. Relação entre Governança e Gestão

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Fonte: Imagem - Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Fonte: TCU (p. 26)18.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 21 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

 termo accountability no âmbito da


O
administração pública no Brasil
A expressão accountability é entendida como a obrigação que têm
as pessoas ou entidades às quais se tenham confiado recursos, in-
cluídas as empresas e organizações públicas, de assumir as res-
ponsabilidades de ordem fiscal, gerencial e programática que lhes
foram conferidas e de informar a quem lhes delegou essas responsa-
bilidades. Espera-se que os agentes de governança prestem contas
de sua atuação, assumindo integralmente as consequências de seus
atos e omissões 18.
Tradicionalmente, a implementação do sistema de governança deve
incluir mecanismos de prestação de contas e de responsabilização,
para garantir a adequada accountability. A International Federation
of Accountants (IFAC), em 2013, acrescenta a esses mecanismos a
necessidade de um contexto de transparência, a fim de garantir a
Fonte: Imagem - Shutterstock ©.
sua efetividade 18.
Essa estrutura que articula o modus operandi do Sistema Único de Saúde no Assim, trazendo para a realidade do dia a dia da política de saúde no
tocante à governança e à gestão precisa observar os aspectos e as etapas Brasil, essa accountability adequada deve acontecer a partir das ativi-
indispensáveis para sua execução adequada, com a finalidade de garantir aos dades permanentes de prestação de contas e atos de transparência da
cidadãos os melhores e mais eficientes serviços de saúde. Nesse sentido, é parte da gestão da saúde para com os Conselhos de Saúde, Legislativo
papel dos Conselhos de Saúde conduzir esse ciclo de “Avaliação, Direciona- e sociedade civil. Falaremos um pouco mais sobre esse processo de
mento e Monitoramento” das ações e dos serviços públicos de saúde, incluin- accountability na Aula 718.
do as questões orçamentárias e financeiras, abordadas em aulas específicas.
Outra ação ainda pouco utilizada, mas que cada vez mais se articula às Mas o que significa Gestão?
agendas da gestão pública e cobranças desses órgãos de controle, diz
respeito à utilização nas rotinas públicas, incluindo, na saúde, a gestão de Ao se buscar a definição de gestão em dicionários disponíveis na internet,
riscos, em especial na Assistência Farmacêutica. Esta se apresenta como encontramos que gestão significa o ato de gerir, de gerenciar, de admi-
uma das áreas mais fiscalizadas e sujeitas a inconsistências, fraudes e cor- nistrar. Também é encontrado como sinônimo de administração, tendo as
rupção, tendo em vista que é a área mais impactante orçamentária e fi- suas origens nas funções administrativas apontadas por Fayol, em 1916:
nanceiramente para a Administração Pública, após a folha de pagamento planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. A administração diz
funcional, quer seja da União, estados e municípios. “o que fazer” e a gestão tem a função de “fazer acontecer”15,19.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 22 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

L
Legalidade é o próprio alicerce do Estado Democrático
de Direito, traduzindo a ideia de que o administrador
público só pode fazer o que a lei autoriza.

Impessoalidade traduz a ideia de que a imagem do

I
Fonte: Imagem - Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.
administrador público não deve ser identificada quando
Em virtude da abordagem desta aula, precisamos ter a compreensão do a Administração Pública estiver atuando, assim como
que significa “gestão pública”, pela dimensão da responsabilidade do impede a promoção pessoal do próprio administrador.
gestor em compatibilizar os recursos, que são finitos, com as múltiplas e
complexas necessidades da sociedade. Além disso, também para aten-
der e dar respostas às recorrentes críticas da sociedade, justas ou não,
em relação à qualidade do serviço público. Assim, a gestão pública ba- Moralidade relaciona-se com as decisões legais
seia-se em organizar o atendimento dos serviços aos anseios do “princi-
pal cliente do Estado: a sociedade” (p. 33)15.
Um ponto importante a ser considerado nesse caso é que não se pode
M tomadas pelo agente público, com bases éticas,
acompanhadas pela honestidade, visando obter uma
finalidade de interesse público.
fazer uma simples comparação entre as práticas e as ações desenvolvi-
das na gestão pública e na gestão privada. É comum que alguns falem
sobre a baixa eficiência do Estado, apontando que, se fosse privado, o Publicidade tem por objetivo tornar do conhecimento

P
serviço prestado seria melhor. Vale lembrar que a gestão pública possui público os atos da administração e tem ligação estreita
um conjunto de regras que determinam limites, não podendo o(a) ges- com a transparência, além de conferir eficácia jurídica
tor(a) simplesmente ignorá-las, conforme o princípio constitucional da le- aos atos administrativos, não podendo ser usada como
galidade, sobre o qual falaremos a seguir. forma de propaganda pessoal do administrador.
Cabe fazer apenas o que a lei autoriza e tem como meta o bem-estar
social. Já ao gestor privado, é possível fazer aquilo que a lei não proíbe15.
A Constituição Federal, em seu artigo 37, determina que a “administração

E
Eficiência é o dever de fazer uma boa gestão, a fim
pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos estados, de atender os anseios da sociedade, conseguindo
do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios da legali- resultados positivos e satisfatórios ao menor custo.
dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”2, que podem
ser assim definidos2,11:

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 23 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

O(A) gestor(a) deve pautar as suas atividades e planos de trabalho sob es- direta ou indiretamente20. A gestão participativa objetiva gerar um clima or-
ses princípios, tendo a certeza de que as suas ações podem ter impactos ganizacional “para que todos os colaboradores possam contribuir com a
positivos na vida das pessoas, assim como podem ser catastróficos para o organização e se sentir parte integrante da equipe” (p. 62)15.
coletivo e, também, para si mesmo.
As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde são algumas des-
Sobre a governança e gestão da Assistência Farmacêutica no SUS, te- sas instâncias, com as quais o(a) gestor(a) deve ter diálogo, mas não por
remos a oportunidade de aprofundar essas discussões nas aulas Plane- simples visão burocrática ou legalista. Enquanto conselhos de políticas
jamento no âmbito do SUS e Planejamento da Assistência Farmacêutica públicas, eles objetivam garantir maior democracia, na qual os cidadãos
municipal: métodos e aplicações (Aulas 7 e 8). Com o que foi exposto até participam de forma ativa na avaliação e no monitoramento das ações go-
agora, precisamos sublinhar alguns apontamentos sobre características da vernamentais11.
gestão pública:
A Emenda Constitucional nº 29/2000 deu maior relevância aos Conselhos,
pois determinou que: “os recursos dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios destinados às ações e serviços públicos de saúde e os trans-
» O(A) gestor(a) precisa ter a capacidade de compreender os seus
feridos pela União para a mesma finalidade serão aplicados por meio de
limites legais, conhecer as regras e, dentro delas, estabelecer as
Fundo de Saúde que será acompanhado e fiscalizado por Conselho de
suas atividades, de forma a atingir objetivos que devem ser previa-
Saúde, sem prejuízo do disposto no artigo 74 da Constituição Federal”. A
mente elaborados.
Lei Complementar nº 141/2012 consolidou as competências dos Conse-
» Da mesma forma como se deve respeitar o que determina as leis, lhos de Saúde, que até então estavam definidas em Resolução do Conse-
é preciso buscar a eficiência, enquanto um dos princípios da ad- lho Nacional de Saúde9.
ministração pública.
Articulação interfederativa
Como o SUS tem responsabilidades dos três entes da Federação, foram
Agora que você já viu uma série de conceitos, vamos destacar algumas constituídos, inicialmente, por meio de portaria, fóruns permanentes de
das características da gestão do SUS. Como já foi dito anteriormente, o pactuação e negociação entre os gestores, nos âmbitos federal, regio-
Sistema Único de Saúde, além do que prevê a Constituição Federal, possui nais e estaduais.
leis que o organizam e outras normas que dão a ele condições exclusivas,
A Lei nº 12.466/2011, que modificou a Lei nº 8.080/1990, reconheceu
quando comparadas com outras áreas. Vamos a elas.
como foros de negociação, ou “instâncias de pactuação” entre gestores,
quanto aos aspectos operacionais do Sistema Único de Saúde (SUS), a
Gestão participativa Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e as Comissões Intergestores Bipar-
Como já conceituamos anteriormente, uma das características da gestão tite (CIB). A CIT é composta pelo Ministério da Saúde, o Conselho Nacional
do SUS é que há, nela, outros atores, além dos gestores, que contribuem de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias
na Elaboração, implantação e monitoramento de políticas públicas. A es- Municipais de Saúde (Conasems). Em cada estado, a CIB é composta pela
sência da criação do SUS fortalece a concepção de Estado Democrático Secretaria Estadual de Saúde e pelo Conselho de Secretarias Municipais
de Direito, no qual a sociedade tem participação nos processos decisórios, de Saúde (Cosems).

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 24 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

O Conass é a entidade nacional que representa as Secretarias de Estado A atuação da CIT e das CIB tem como objetivos: decidir sobre os aspectos
da Saúde dos 27 estados, incluindo o Distrito Federal, nas pactuações operacionais, financeiros e administrativos da gestão compartilhada do SUS,
nacionais, na CIT, com o Ministério da Saúde e com o representante das em conformidade com a definição da política consubstanciada em planos
5.570 secretarias municipais de saúde, o Conasems. de saúde, aprovados pelos Conselhos de Saúde; definir diretrizes, de âmbito
nacional, regional e intermunicipal, a respeito da organização das redes de
ações e serviços de saúde, principalmente no tocante à sua governança
institucional e à integração das ações e dos serviços dos entes federados;
Saiba mais! fixar diretrizes sobre as regiões de saúde, distrito sanitário, integração de
Navegue pelos os sites dos Conselhos: territórios, referência e contrarreferência e demais aspectos vinculados à in-
tegração das ações e aos serviços de saúde entre os entes federados.
Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de O Decreto nº 7.508/2011, que regulamenta a Lei nº 8.080/90, instituiu também
Saúde (Conasems); a Comissão Intergestores Regional (CIR), que, no âmbito regional, está vincula-
da à Secretaria Estadual de Saúde para efeitos administrativos e operacionais,
devendo observar as diretrizes da CIB. Sobre o Decreto, o Conasems mani-
festou que: “evidenciou-se como ação das mais urgentes, já que se configura
Fonte: Imagem – Flaticon ©. como instrumento de controle e de incentivo à transparência, à melhor gover-
nança regional e à maior responsabilização entre os entes” (p. 31)11.
As pactuações no âmbito Estadual, na CIB e na CIR, ocorrem entre os re-
presentantes locais, da Secretaria de Estado da Saúde e das Secretarias Figura 3. Estrutura de pactuação intergestores na Gestão do SUS
Municipais de Saúde, estas últimas sendo representadas pelo Cosems local.
Comissão Intergestores Tripartite
Responsável pelas pactuações no âmbito
nacional entre os gestores CIT
(Ministério da Saúde, CONASS e CONASEMS)

Comissão Intergestores Bipartite


(SES e COSEMS (SMS)
Responsável pelas pactuações no âmbito CIB
estadual entre os gestores

Comissão Intergestores Regional


(SES e SMS)
Responsável pelas pactuações no âmbito das regiões CIR
de saúde em cada estado ou entre os gestores

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Fonte: Elaboração própria.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 25 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

E define controle externo como:


Controle interno e externo no SUS
No Sistema Único de Saúde, o controle é exercido por meio da partici-
pação da comunidade e do governo. Pela sociedade, ele é exercido por o controle é considerado externo
meio do controle social, conforme já tratamos anteriormente. Na esfera
governamental, ele é exercido por órgãos de controle, internos e externos.
quando é efetivado por um poder
O Ministério da Saúde define controle interno como sendo: sobre o outro. É realizado por órgãos
externos, que fiscalizam as ações
da administração pública e seu
funcionamento, envolve a verificação
aquele em que o Poder Público do exercício regular da competência
controla suas próprias ações, atribuída pela lei (p. 7)21.
objetivando assegurar a execução
destas dentro dos princípios
básicos da administração pública. As ações de auditoria são de responsabilidade do Sistema Nacional
Compreende as atividades de avaliação de Auditoria (SNA), que é formado por componentes municipais, esta-
duais e federal. Já o controle externo é exercido pelo Poder Legislativo,
do cumprimento das metas, da pelos Tribunais de Contas da União, dos estados e dos municípios e
execução dos programas de governo pelos Ministérios Públicos, federal e estaduais 21. A Constituição Fede-
e dos orçamentos e de avaliação da ral estabelece em seu artigo 31 que: “A fiscalização do município será
exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo,
gestão dos administradores públicos,
e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na
utilizando, como instrumentos: forma da lei” 2.
o monitoramento, a avaliação de A atuação dos Controles Internos Municipais não segue exclusivamen-
desempenho e a auditoria. Assim, te orientações previstas em normas federais, são adotadas diretrizes
o Controle Interno é um controle orientadoras expedidas pelos Tribunais de Contas Estaduais, principal-
primário, exercido por órgão que se mente no tocante às gestões administrativa, financeira e patrimonial do
município, em conformidade com o disposto na Constituição Federal
subordina ao executor do próprio ato e na Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, é imprescindível que
examinado (p. 7)21. os Controles Internos Municipais elaborem normas regulamentares pró-
prias referentes ao seu funcionamento e às suas atribuições4.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 26 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Nesse momento, a articulação entre os profissionais do Controle Interno Controladoria Geral da União (CGU)
e da Assistência Farmacêutica é fundamental, pensando na eficiência
Conforme está descrito em sua página na internet,
das atividades da gestão e para, conjuntamente, observarem as norma-
tivas dos Tribunais de Contas (TC) e os aspectos técnicos da área da
saúde, incluindo as exigências sanitárias, de infraestrutura, gestão de
estoques, gestões orçamentária e financeira, gestão de riscos e trans- a Controladoria-Geral da União (CGU) é
parência e uso de dados a serem utilizados e padronizados no âmbito o órgão de controle interno do Governo
da gestão da AF. Federal responsável por realizar atividades
relacionadas à defesa do patrimônio público e
ao incremento da transparência da gestão, por
meio de ações de auditoria pública, correição,
Saiba mais! prevenção e combate à corrupção e ouvidoria.
Você sabe se o seu município possui controle
A CGU também deve exercer, como Órgão
interno? A Assistência Farmacêutica possui alguma Central, a supervisão técnica dos órgãos que
articulação com o controle interno? Vamos, então, saber um compõem o Sistema de Controle Interno
pouco mais sobre os órgãos de controle. e o Sistema de Correição e das unidades
de ouvidoria do Poder Executivo Federal,
prestando a orientação normativa necessária22.
Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Sistema Nacional de Auditoria (SNA) Lembre-se!


O SNA, instituído pela Lei nº 8.689/1993, é constituído pelos órgãos e
unidades criados nas três esferas de governo, cuja atribuição é realizar Para os municípios, a Controladoria Geral da União
auditorias, que servem como ferramentas de apoio à gestão, contribuin- e dos Estados são consideradas como controle
do com a Elaboração ou revisão dos instrumentos de gestão do Sistema externo ao Governo Municipal.
Único de Saúde21. Compõe o SNA o Departamento Nacional de Audito-
ria do SUS (DENASUS) do Ministério da Saúde.
Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 27 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Tribunal de Contas Ministério Público


Os Tribunais de Contas, também denominados como Corte de Contas, O Ministério Público, de acordo com o artigo 127 da Constituição Fe-
surgem a partir da necessidade de adoção de sistema de controle no Es- deral, “[...] é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
tado Democrático. Os Tribunais de Contas no Brasil, ao longo do tempo, Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime demo-
firmaram-se como organismos de controle das atividades financeiras do crático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. Tem como
Estado, abrangendo as áreas contábeis, financeiras, orçamentárias, ope- princípios institucionais a unidade, a indivisibilidade e a independência
racionais e patrimoniais23. Tribunais de Contas da União e dos estados funcional e ao Ministério Público é assegurada a autonomia funcional
são considerados controle externo aos municípios, no entanto municípios e administrativa2.
como São Paulo e Rio de Janeiro possuem TC próprios, uma vez que
Com a Constituição, o Ministério Público passou à condição de defensor
foram criados antes da CF 88, que passou a vetar a criação de novos
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e indivi-
tribunais municipais.
duais indisponíveis, tendo:

[…] suas atribuições no âmbito da tutela


coletiva definidas e ao mesmo tempo
ampliadas, competindo-lhe promover o
inquérito civil e a ação civil pública (ACP)
para a defesa do patrimônio público e
de outros interesses difusos e coletivos,
entre outras funções elencadas no art.
129 da CF/1988 (p. 183)24.

SER GESTOR DO SUS


Em recente publicação do Manual do(a) Gestor(a) Municipal do SUS:
“Diálogos no Cotidiano”, no que se refere à função de Gestor do SUS, o
Fonte: Imagem – Shutterstock ©. Conasems afirma que:

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

» Ser gestor(a) do SUS se afirma no agir político, que também é


Gestão da Assistência
técnico e ético;
Farmacêutica
» Para ser gestor(a) do SUS é preciso manter diálogo permanente
com o controle social instituído, com a comunidade e com a so- Como já foi demonstrado, o SUS, pela sua importância e complexidade,
ciedade civil organizada; tem se efetivado a partir de um processo histórico de superação de desa-
fios. É fato que muito se avançou, mas é preciso compreender quais são os
» Ser gestor(a) do SUS é manter diálogo permanente com o profis-
desafios atuais, cujo impacto seja estruturante para tornar o SUS uma reali-
sional de saúde, entendendo-o como o ator principal na consoli-
dade em cada canto do País e na vida de todos os brasileiros e brasileiras.
dação das práticas de saúde do município;
Nesse momento, um dos maiores desafios do SUS está em resolver as ques-
» Ser gestor(a) do SUS é manter diálogo permanente com sua equi-
tões relacionadas ao seu financiamento. Ao longo de sua história, o SUS foi sub-
pe de direção, capaz de conduzir os processos de coordenação
financiado, tendo esse quadro se agravado a partir da aprovação no Congresso
do Sistema de Saúde;
Nacional da Emenda Constitucional nº 95, proposta pelo Poder Executivo25.
» Ser gestor(a) do SUS é manter diálogo permanente com seus
pares na gestão da saúde;
» Ser gestor(a) do SUS é manter diálogo permanente com seus Saiba mais sobre a emenda
pares na gestão do município e na relação com o estado e União; constitucional nº 95!
» Ser gestor(a) é manter diálogo permanente com os poderes le- » IDISA-Instituto de Direito Sanitário Aplicado Domin-
gislativo, judiciário e comissão de saúde (p. 29-35)11. gueira 23;
» CONASEMS sobre a EC95;
» OPAS;
» CONASS;
» CNS.
Assim, considerando o que foi apresentado até o momento, ser gestor(a)
do SUS significa ser a autoridade sanitária com responsabilidade pública
de garantir a consolidação das políticas de saúde, com base nos princí-
Fonte: Imagem – Flaticon ©.
pios e nas diretrizes do SUS, definidos na Constituição Federal e nas Leis
Orgânicas da Saúde, na garantia da saúde como direito. Além disso, “exi-
ge um agir político de mediação e diálogo permanente, com participação Em relação à Assistência Farmacêutica, não seria diferente. Como parte
do dirigente e sua equipe da secretaria municipal de saúde nas instâncias integrante do SUS, inserida na Política Nacional de Saúde, um dos seus
de decisão e de negociação, já existentes no arcabouço jurídico normati- maiores desafios está relacionado, ainda, com a superação do proble-
vo do SUS” (p. 28)11. ma do financiamento. De maneira particular, a gestão e a estruturação

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 29 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

da Assistência Farmacêutica são consideradas como importantes estraté- Então o que é importante identificar na compreensão da situação inicial?
gias para a garantia de acesso qualificado aos medicamentos e, também,
Um primeiro aspecto fundamental é conhecer a situação da saúde e do
para consolidar o próprio sistema de saúde19,25.
sistema de saúde local. Esse processo não pode ser considerado apenas
E por onde começar? Como o Gestor da Assistência Farmacêutica para análise da situação inicial, já que esse ponto deve ser avaliado con-
no meu município daria os seus primeiros passos para estruturar e tinuamente. Ao analisar a situação da saúde, você poderá caracterizar o
organizar os serviços farmacêuticos? perfil epidemiológico da população, reconhecendo doenças mais preva-
lentes por faixa etária e sexo, hábitos e costumes, perfil de morbimortali-
A primeira palavra que deve vir à sua mente é PLANEJAMENTO, que é definido
dade, entre outros. A análise do sistema de saúde permitirá, por exemplo,
como “um processo que busca estabelecer com clareza e de forma integrada
conhecer o funcionamento e a organização da rede local, a capacidade
o conjunto de ações e iniciativas a serem adotadas para que a organização
instalada, a oferta de serviços e as demandas, a estrutura física, os equi-
alcance uma situação futura desejada com base em conjunto situacional exis-
pamentos e os recursos humanos envolvidos. Para isso, é importante
tente no presente” (p. 44)15. Além disso, para se garantir um gerenciamento
definir o que se deseja verificar, quais as fontes de informação e o que se
qualificado da Assistência Farmacêutica, além do planejamento, estão a orga-
deseja aferir (indicadores)26.
nização e a estruturação das atividades que são desenvolvidas15,27.
O passo seguinte é conhecer como a Assistência Farmacêutica está
Contudo, não será possível dar nenhum passo se não tivermos certeza sobre
relacionada dentro da estrutura do município, ou seja, a que área ela
o caminho que queremos seguir e aonde queremos chegar. Mas, sobre isso,
está subordinada. Identificar, portanto, se está vinculada ao gabinete
nos aprofundaremos nas Aulas 7 e 8.
do secretário, à coordenação responsável pelas ações de saúde ou à
Como parte do processo para se elaborar um bom planejamento está a com- estrutura administrativa. Verificar se está presente enquanto diretoria,
preensão da situação inicial, ou seja, qual é o diagnóstico sobre em como se coordenação ou uma gerência e observar se ela está ligada diretamente
encontra a Assistência Farmacêutica. Vale destacar que, em virtude dos di- ao secretário. Enfim, conhecer, dentro do organograma, como a As-
versos atores envolvidos no SUS – usuários, trabalhadores e gestores –, além sistência Farmacêutica está localizada. Este é um aspecto importante,
da percepção de cada um deles, que pode ser diferente a partir do ângulo pois entender hierarquicamente como os processos ocorrem contribui
em que se avalia, é preciso buscar isso de forma dialogada. As ferramentas e também para avaliar quais os fluxos e os aspectos políticos – como as
os dados a serem utilizados para se encontrar o correto diagnóstico, precisa articulações e negociações necessárias para que se possa colocar o
levar em conta que esta construção precisa ser coletiva19. planejamento em prática19,27.
Também é importante conhecer qual estrutura organizacional, que aqui con-
ceituaremos como sendo a “definição de papéis, competências e respon-
sabilidades, cuja representação formal deve constar no organograma e na
matriz de competências e responsabilidades, entre outros instrumentos de
gestão das organizações” (p. 53)19.
É preciso saber quais são níveis hierárquicos, competências, normas e pro-
cedimentos existentes19,26.
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 30 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Vale destacar que a ausência de uma estrutura organizacional bem definida Um último aspecto a ser observado, com o mesmo grau de importância,
e de diretrizes organizacionais, assim como as questões relacionadas à am- é como está estruturada a Assistência Farmacêutica, física e administra-
biência física e às relações trabalhistas e falhas de comunicação, são gera- tivamente, e em relação aos recursos humanos e às atividades clínicas
dores de conflitos organizacionais19. desenvolvidas no território. Aqui, é preciso identificar como está orga-
nizada a AF do ponto de vista das atividades técnico-gerenciais desen-
volvidas, consideradas fundamentais para viabilização do funcionamento
dos serviços de saúde na rede. No Módulo 3*, será abordado de forma
mais detalhada como cada um dos serviços farmacêuticos de apoio à
rede contribui na disponibilidade dos medicamentos e na qualificação da
Assistência Farmacêutica do município11,26.
Com base nas informações que comporão a análise sobre a situação ini-
cial, a gestão da Assistência Farmacêutica tem o desafio de organizar o seu
planejamento, integrando “de forma articulada, os produtos, os serviços e
o fazer coletivo; a disponibilização e o uso de medicamentos, os resultados
logísticos, os clínicos e sociais, considerando os seguintes fatores que in-
fluenciam sua execução” (p. 126)11.

Fatores demográficos: envelhecimento da população,


população, infantil vulnerável, crescimento populacional,
mudanças nas características epidemiológicas e
distribuição geográfica da população;

Fatores tecnológicos: desenvolvimento de novos


equipamentos, medicamentos e insumos, novas
técnicas de divulgação de informação e de novos
dados sobre esta tecnologia existente, biotecnologia;

Fonte: Imagem – Shutterstock ©.

*Nota do editor: Este livro integra a coleção Assistência Farmacêutica na gestão municipal: da instrumentalização às práticas de profissionais de nível superior nos serviços de saúde e apresenta o conteúdo das
aulas que compõem o Módulo 2 de curso homônimo oferecido pelo projeto Atenção Básica: capacitação, qualificação dos serviços de Assistência Farmacêutica e integração das práticas de cuidado na equipe de
saúde, realizado no âmbito do PROADI-SUS. As aulas do Módulo 3 podem ser acessadas no vol. 3 desta mesma coleção, Serviços farmacêuticos técnico-gerenciais: operacionalização e prática nos municípios.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 31 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Os desafios para a organização da Assistência Farmacêutica estão postos


Fatores sociológicos e educacionais: expectativa neste curso de forma a trazer para você as diferentes realidades e os con-
e colaboração dos usuários, abuso e uso incorreto
textos vivenciados pelos gestores e profissionais da AF nos municípios bra-
de novas tecnologias, readequação da educação e
educação permanente do pessoal de saúde, definição
sileiros. Tais desafios, em muitos aspectos, também refletem a própria difi-
de critérios éticos para a promoção da saúde com a culdade de organização da Rede de Atenção à Saúde ainda com falhas na
equipe de saúde, com o usuário e com a comunidade, ordenação, muito fragmentada e frágil na coordenação do cuidado.
participação da comunidade; Logo, a abordagem proposta para esse momento trará para as nossas refle-
xões sobre a gestão da Assistência Farmacêutica municipal diferentes formas
Fatores econômicos: aumento de custos da ou modelos que esses atores locais responsáveis pela Assistência à Saúde dos
assistência sanitária, economia nacional e mundial, usuários do SUS encontraram para (re)organizar os serviços farmacêuticos. Isso
as insistentes desigualdades sociais, administração é feito à luz dos seus territórios, observando os perfis epidemiológicos, as dis-
eficiente de recursos econômicos; ponibilidades orçamentárias e financeiras e as situações políticas, tanto para ga-
rantir a disponibilidade de medicamentos e produtos para a saúde como para
Fatores políticos: prioridades na aplicação dos observar as diferentes dimensões que envolvem o acesso do cidadão às ações
recursos direcionados para a saúde, mudanças na e aos serviços da saúde a serem priorizados na AF.
política econômica, critérios das instâncias normativas
e jurídicas em assuntos sanitários como políticas de A proposta desta abordagem não é para estabelecer parâmetros compa-
Estado, regulamentações sanitária e fiscal; rativos entres essas diferentes formas ou modelos encontrados pelos ges-
tores municipais para a organizar e gerenciar a AF. A proposta tem como
finalidade de caracterizar alternativas diante das diferentes realidades muni-
Fatores profissionais: diversidade na formação dos cipais no território brasileiro e apontar alguns cenários reais para a tomada
profissionais de saúde, relações trabalhistas, falta de de decisão da gestão municipal.
padrão nos processos de trabalho de atenção ao usuário;
Apesar de termos aspectos particulares que envolvem a gestão da AF, pre-
cisamos pensar o território, mas priorizando todo o ciclo de planejamento
estabelecido para o setor público e os seus atores descritos anteriormente
Fatores de prestação de assistência sanitária: e que são indispensáveis para a melhor gestão da área.
acesso aos serviços, tripla carga de doenças, uso racional
de medicamentos, segurança e eficácia de tratamentos, Nesse sentido, a abordagem da gestão nesta aula focará nas percep-
planejamento das ações em saúde, integração de equipes ções necessárias a esse planejamento, porém sob a ótica dos modelos
e da rede de serviços (inclusive regionalizada), regulação existentes de gestão da AF nos municípios. Observaremos, neste caso,
das relações público-privado. a organização e o gerenciamento da rede, mas entendendo que, na Aula
8, cada definição apresentada nesse momento se articulará com os ins-
trumentos de planejamento do SUS, especialmente os modelos descritos
Fonte: Imagem - Flaticon ©. no decorrer da aula.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 32 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Dessa forma, de modo geral e observando os modelos mais comuns de


 odelos de organização
M organização e gerência da Assistência Farmacêutica municipal, a decisão
e de gerenciamento da AF dessa modelagem organizacional depende de pontos complementares
que passam por pactuações entre os gestores. Por exemplo, não é inco-
No primeiro momento, aspectos que prevalecem na decisão da gestão mum pactuações realizadas na CIT, CIB e CIR apontarem para a neces-
estão mais relacionados aos controles financeiro e de estoques, o que sidade de um município absorver, sob a sua gestão, estabelecimentos
é normal, especialmente em momentos de crise financeira e em tempos hospitalares e/ou ambulatoriais que venham a ser construídos ou mesmo
de EC 95. Isso não é diferente na área da Assistência Farmacêutica, no que existiam no território do município, mas que estavam sob gestão dos
entanto, em um segundo momento, após discussões e reflexões com os estados ou da União para atender aos princípios da descentralização do
profissionais das áreas e o uso de evidências para a tomada de decisão, Sistema. O impacto e o modelo de gestão e gerência desses novos servi-
não é incomum que aspectos relacionados ao acesso e à qualidade do ços precisam ser planejados à luz da escolha de organização e gerência
uso dos medicamentos, com segurança e ganhos de escala, influenciem da rede bem como da Assistência Farmacêutica, no entanto é fato que
adaptações nesses modelos municipais. nem sempre isso acontece.
Esse tema é muito instigante para avançarmos em vários debates, porém Assim, nossa discussão precisa ser estruturada a partir dos modelos
o que percebemos é que não existe clareza sobre os modelos e métodos de gestão da rede e da Assistência Farmacêutica existentes no País
de escolha para sua implantação em um território municipal, especialmente e, para ajudar o entendimento, categorizamos aqueles mais comuns
porque não existem muitas referências ou estudos, prioritariamente foca- encontrados nos municípios brasileiros. Por diferentes justificativas
dos no âmbito dos municípios, que, de fato, apoiem a tomada dessa deci- técnicas e políticas, sem dúvida, o seu município enquadrar-se-á em
são deste ou daquele modelo. uma das alternativas de modelos, mas esse aspecto será aprofundado
na Aula 7. Adiante, estão os modelos de gestão mais comuns encon-
trados nos municípios.

Modelo Centralizado
Para esse modelo, a opção da gestão é realizar todas as etapas e pro-
cedimentos da Assistência Farmacêutica, incluindo o gerenciamento de
estoques e a dispensação em um único estabelecimento, independente-
mente da distribuição territorial da população e dos estabelecimentos de
saúde no município. Nesse modelo de centralização da gestão também
se inclui a gestão financeira, ou seja, a rede de serviços farmacêuticos
realiza a sua programação de ações e serviços da AF, porém, a despesa
por esses serviços (quando privado e/ou conveniado), bem como a com-
pra do produto (medicamentos e produtos para a saúde), se dá integral-
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. mente no nível central.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 33 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Assim, nesse modelo, cabe às unidades de saúde o encaminhamento dos


usuários ou das prescrições de medicamentos e de produtos para a saúde
ao estabelecimento centralizador, que, por sua vez, realiza a entrega e/ou
presta os serviços clínicos farmacêuticos. A maioria dos municípios de pe-
queno porte opta por esse modelo que possui fatores positivos no tocante
à gestão orçamentária/financeira bem como à de estoques, mas que, no
entanto, pode penalizar o usuário caso aspectos relacionados ao acesso não
sejam identificados e tratados no modelo.

Modelo Parcialmente Descentralizado


Nesse modelo, a gestão opta por realizar as etapas e os procedimentos da
Assistência Farmacêutica, incluindo a gestão de estoques e de entrega de
medicamentos em mais de um estabelecimento, observando alguns aspec-
tos de distribuição territorial da população e dos estabelecimentos de saúde
no município, agregando as questões relacionadas ao acesso como estraté-
gicas para a descentralização.
Apesar da descentralização de algumas etapas e procedimentos, nesse
modelo parcial não se inclui a gestão financeira, e a rede de serviços
farmacêuticos realizará a sua programação de ações e serviços da AF.
Entretanto, a despesa por tais serviços (quando privado e/ou convenia-
do), bem como a compra de produtos (medicamentos e produtos para a
saúde), se dá no nível central. Nesse sentido, cabe às unidades/farmá-
cias descentralizadas o armazenamento e o atendimento dos usuários ou
das prescrições no próprio estabelecimento, assim como a entrega de
medicamentos e produtos e a prestação de outros serviços clínicos pelo
profissional farmacêutico.
Além disso, aspectos relacionados ao acesso do usuário aos serviços ,
medicamentos e produtos passam a ter maior relevância na decisão de
descentralizar parcialmente a gestão de etapas da gestão da AF, mesmo
que, em alguns aspectos (por exemplo, controle de estoques e uso de tec-
nologias, como software online ou mesmo informatização das farmácias)
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. sejam dificultadores, em virtude das condições do território.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 34 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Modelo Descentralizado de contratos por parte do ente público e rompimentos de contratos por
irregularidades agravadas por situações de perda de informações geren-
Nesse modelo, a gestão opta por descentralizar as etapas e procedi-
ciais ao final do contrato terceirizado. Essas questões acarretam des-
mentos da Assistência Farmacêutica, incluindo a gestão de estoques e
continuidades, muitas vezes assistenciais, principalmente quando esses
a dispensação em todos os estabelecimentos farmacêuticos, observan-
aspectos técnicos e de gestão de longo prazo não são pensados no
do alguns aspectos de distribuição territorial da população e dos esta-
momento da contratação.
belecimentos de saúde no município, agregando questões relacionadas
ao acesso como estratégicas para a descentralização. Além disso, são
observadas outras formas de contratação de prestação de serviços no
território, sob gestão direta ou contratada de entidades públicas, tais
como consórcios, seja por Organizações Sociais da Saúde (OSS), seja
por outras formas de terceirização diretamente ao setor privado previs-
tas em lei. Pode ocorrer também parcerias com o Estado para absorver
a prestação de serviços das farmácias do componente especializado
com responsabilidades e financiamento compartilhados.
Esse modelo descentraliza as etapas e procedimentos, incluindo a ges-
tão financeira por meio de contratos específicos ou convênios, em que
a rede realiza a sua programação de ações e de serviços da AF. Nesse
modelo, a remuneração pelo serviço (quando privado ou conveniado) e
a compra do produto (medicamentos e produtos para a saúde) serão
realizadas globalmente nos moldes contratuais, quando terceirizado,
ou transformando os estabelecimentos em unidades gestoras do seu
orçamento, no caso das públicas. Cabe às unidades gestoras descen-
tralizadas ou terceirizadas toda a gestão de estoques, compras, pro-
gramações, armazenagem, distribuição, transporte e atendimento aos
usuários e/ou as prescrições no próprio estabelecimento, além de ou-
tros serviços clínicos prestados pelo profissional farmacêutico. Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Para esse modelo, adotado por boa parte dos municípios considerados Em contratos terceirizados (ou mesmo em outras formas de parcerias pú-
de médio e grande porte, percebe-se uma forte indução de formas tercei- blico-privadas, ou a opção por modelos de gestão 100% pública, porém
rizadas de contratação, especialmente de logística farmacêutica, incluin- descentralizada), percebemos claramente que a decisão agrega outras
do transporte. Porém, alguns problemas relevantes nessas contratações prioridades técnicas, como o acesso do usuário e a incorporação de as-
são identificados em auditorias de órgãos de controle (municipais, esta- pectos epidemiológicos e nosológicos, para além daqueles financeiros e
duais e federais), demonstrando, por exemplo, algumas falhas na gestão de controle estoques.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 35 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

No seu município, qual é o modelo de gestão da Assistência Farma-


cêutica? E por que se optou por esse modelo de gestão da AF?
A partir dos comentários feitos e das reflexões estabelecidas, tentaremos
apresentar possíveis soluções para aprimorar a sua articulação com es-
ses atores e algumas ferramentas de gestão previstas no planejamento em
saúde. Isso ajudará a compartilhar experiências entre os alunos e contri-
buirá para troca de experiências em nosso fórum de debates. Sobre esses
modelos de organização da Assistência Farmacêutica, iremos discutir de
forma mais detalhada na Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêu-
Modelo Centralizado tica municipal: métodos e aplicações, tendo em vista que muitas dessas
situações também acabam se moldando a partir das legislações vigentes
pactuadas no SUS pelas diferentes instâncias de gestão do SUS.

Síntese da Aula
Nesta aula, buscamos tratar da gestão do SUS e da Assistência Farma-
cêutica do ponto de vista conceitual, das suas especificidades e da sua
Modelo Parcialmente Descentralizado relação com o controle social. Foram abordados ainda os aspectos legais
do controle externo e interno e dos modelos de gestão. Esperamos que
após a compreensão do que foi abordado nesta aula, articulado com o que
vimos e veremos nas outras aulas, os profissionais farmacêuticos possam
aprofundar seus conhecimentos sobre os desafios da gestão pública, es-
pecialmente da Assistência Farmacêutica.

Modelo Descentralizado

Fonte: Imagens – Flaticon © e HAOC ©.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 36 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

9. Brasil. Tribunal de Contas da União (TCU). Orientações para


Referências conselheiros de Saúde. 2. ed. Brasília: TCU, Secretaria de Controle
Externo da Saúde; 2015. 111 p.
1. Brasil. Ministério da Saúde [homepage da internet]. O que é o Sistema 10. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). As
Único de Saúde? [acesso em 18 nov. 2019]. Disponível em: http:// Conferências Nacionais de Saúde: evolução e perspectivas. Brasília:
www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude. CONASS; 2009. 100 p.
2. Brasil. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do 11. Conasems, Cosems-RJ, LAPPIS, IMS, UERJ (organizadores). Manual
Brasil de 1988. [acesso em 18 nov. 2019]. Disponível em: http://www. do(a) Gestor(a) Municipal do SUS: “Diálogos no Cotidiano”. 2. ed.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. revisada, ampliada. Rio de Janeiro: CEPESQ; 2019. 424 p.
3. Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as 12. Brasil. Ministério da Saúde [homepage da internet]. Participação
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a e Controle Social. Gestão Participativa em Saúde [acesso em 18
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá nov. 2019]. Disponível em: http://www.saude.gov.br/participacao-e-
outras providências. Brasília, DF, set. 1990 [acesso em 18 nov. 2019]. controle-social/gestao-participativa-em-saude.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm.
13. Conselho Nacional de Saúde (CNS). Histórico [homepage da internet].
4. Carvalho GA. A saúde pública no Brasil. Estud. Av. 2013;27(78):7-26. [acesso em 17 nov. 2019]. Disponível em http://conselho.saude.gov.
br/historico-cns.
5. Brasil. Fiocruz [homepage da internet]. Pense SUS [acesso em 2 dez.
2019]. Disponível em: https://pensesus.fiocruz.br. 14. Brasil. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a
participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde
6. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde (CNS). 16ª
(SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos
Conferência Nacional de Saúde. Documento orientador de Apoio
financeiros na área da saúde e dá outras providências. Diário Oficial
aos Debates. Brasília, DF, 4 a 7 ago. 2019 [acesso em 18 nov. 2019].
União, Brasília, DF, 31 dez. 1990 [acesso em 18 nov. 2019]. Disponível
Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/16cns/assets/files/
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm.
Documento_Orientador_Aprovado.pdf.
15. Altounian CS, Souza DL, Lapa LRG. Gestão e governança pública
7. Brasil. Ministério da Saúde. Manual de planejamento no SUS. Brasília:
para resultados uma visão prática. Belo Horizonte: Fórum; 2018.
Ministério da Saúde; 2015. V. 4 (Série Articulação Interfederativa). 136 p.
16. Ribeiro PT, Tanaka OU, Denis JL. Governança regional no Sistema
8. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução
Único de Saúde: um ensaio conceitual. Ciência & saúde coletiva.
CNS nº 553, de 9 de agosto de 2017. Aprova a atualização da Carta
2017;22(4):1075-84.
dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária da Saúde, que dispõe
sobre as diretrizes dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária da 17. World Health Organization. Health systems – Governance [acesso em:
Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, jan. 2018. 13 jul. 2017]. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/health-
systems-governance#tab=tab_1.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 37 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

18. Brasil. Tribunal de Contas da União. Guia de governança e gestão em


saúde: aplicável a secretarias e conselhos de saúde. Brasília: TCU;
2018. 112 p.
19. Leite SN, et al. (organizadores). Gestão da Assistência Farmacêutica.
Florianópolis: Ed. da UFSC; 2016. V. 2 (Assistência Farmacêutica no
Brasil: Política, Gestão e Clínica). 160 p.
20. Marinho PS. Gestão participativa nas políticas públicas no âmbito do
Sistema Único de Saúde: principais componentes e desafios. Cad.
Ibero-Amer. Dir. Sanit. jan./mar. 2015;4(1):120-42.
21. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa. Departamento Nacional de Auditoria do SUS. Vamos
conversar sobre Auditoria do SUS. 3. reimpr. Brasília: Ministério da
Saúde; 2015.
22. Brasil. Presidência da República. Controladoria-Geral da União.
Institucional acesso em: 20 nov. 2019]. Disponível em:
https://www.gov.br/pt-br/orgaos/controladoria-geral-da-uniao
23. Mileski HS. Tribunal de contas: evolução, natureza, funções,
perspectivas futuras. Interesse Público: Revista de Direito Público.
2007;9(45):267-79.
24. Ismail MLDAA. O papel do Ministério Público no controle de políticas
públicas. Boletim Científico ESMPU. jan./dez. 2014;13(42-43):179-208.
25. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde.
Departamento de Saúde da Família. Gestão do Cuidado Farmacêutico
na Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2019.
26. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e
Insumos Estratégicos. Assistência farmacêutica na atenção básica:
instruções técnicas para sua organização 2. ed. Brasília: Ministério da
Saúde; 2006.
27. Brasil. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Assistência
Farmacêutica no SUS. Brasília: CONASS; 2007.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 38 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Autores
Marco Aurélio Pereira Suetônio Queiroz de Araújo
Graduação em Farmácia pela Universidade Católica de Santos (UNISAN- Doutorando e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade de Brasí-
TOS), especialização em Farmacologia e Mestrado em Saúde Pública lia, especialização em Gestão e Auditoria no Sistema Único de Saúde
área de atuação Gestão em Saúde pela Escola Nacional de Saúde Públi- (SUS), atuando há mais de 20 anos nas áreas da gestão pública e saúde
ca “Sergio Arouca” pela Fiocruz. Atuou em farmácia, drogaria e em far- pública com ênfase na assistência farmacêutica, gestão e planejamento,
mácia hospitalar. Foi professor da Universidade Santa Cecília e professor além de controle e gestão na saúde com foco nos gastos e compras
adjunto da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, nas disciplinas públicas. Atua como consultor do Escritório das Nações Unidas para
História da Farmácia; Introdução às ciências farmacêuticas; Saúde Pú- Serviços em Projetos (UNOPS) e Organização Pan-Americana da Saú-
blica; Deontologia e Legislação Farmacêutica. Foi Coordenador Geral de de (OPAS), com a Elaboração e supervisão de projetos de cooperação
Gestão do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da com organismos internacionais (Banco Mundial e OPAS) contemplando
Saúde, onde coordenou o Programa Farmácia Popular do Brasil, de 2009 pesquisas de campo para o fortalecimento do sistema de saúde e na
a 2016. Tem experiência na área de Farmácia, atuando principalmente integração e organização das redes de atenção à saúde. Desenvolveu
nos temas saúde pública, assistência farmacêutica, uso racional de medi- consultorias para consórcios públicos na saúde e projetos educacionais
camentos, política nacional de assistência farmacêutica e Programa Far- na modalidade à distância. No Brasil essas consultorias priorizaram o
mácia Popular do Brasil. Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ministério da Saúde (MS), Organi-
zação Pan-Americana da Saúde, Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo e Mato Grosso, bem como assessoramento técnico na Assistên-
cia Farmacêutica para o Colegiado de Secretários Municipais de Saúde
e Ministério Público na área da Promotoria da Saúde, além de exercer
cargos na gestão da Assistência Farmacêutica na Secretaria de Estado
da Saúde de Alagoas e em municípios.

Aula 5 - Gestão do SUS e da Assistência Farmacêutica municipal | 39 |


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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Aula

Financiamento da Assistência
Farmacêutica no SUS

Autor: Rondineli Mendes da Silva

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Ementa da aula

Esta aula aborda as principais funções e modelos de financiamento em saúde


e o financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS no contexto atual e o planejamento
orçamentário na Assistência Farmacêutica no município.

Fonte: Imagem - Flaticon ©.

Objetivo de aprendizagem

Entender as principais funções e modelos de financiamento em saúde e


o financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS no contexto atual e
compreender a importância do planejamento orçamentário e as responsabilidades da
gestão municipal no financiamento da Assistência Farmacêutica.

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Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 41 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Introdução Isso toma contornos mais complexos quando se está diante de cenário
de constantes restrições orçamentárias e financeiras, cuja alocação de
recursos de forma equânime em um país com tantas desigualdades so-
Você sabia que o tema do financiamento à saúde tem se constituído numa
ciais pode afetar o êxito das ações de saúde que, como você pode ter
preocupação permanente dos gestores, que envolve todos os países do
percebido no seu cotidiano, se reflete no campo de Assistência Farma-
mundo, tanto as esferas de macrogestão como de microgestão?
cêutica (AF). Ademais, outro fato está ligado ao crônico subfinanciamento
Esse assunto está presente na agenda de debates dos sistemas de do SUS, que dificulta ainda mais o cumprimento dos preceitos constitu-
saúde, inclusive o SUS. Isso se dá pela sua importância social e pela cionais do direito à saúde.
participação, cada vez maior, não só na economia como um todo, mas,
Na seara das ações e serviços públicos de saúde (ASPS) ofereci-
em particular, nas contas públicas e nos orçamentos das famílias. Ou
dos no campo da saúde, os medicamentos são responsáveis por boa
seja, trata-se de uma questão central para o acesso a medicamentos.
parte do consumo de recursos financeiros, muitas vezes escassos.
Todos os envolvidos diretamente com a construção de sistemas de São produtos de ampla utilização, totalmente imbricados nas diferen-
saúde, principalmente daqueles doutrinariamente estabelecidos em pa- tes fases do processo de atenção em saúde. Além de ser elemento
drões conceituais do estado de bem-estar social, são desafiados per- central para conferir credibilidade do serviço prestado e melhoria da
manentemente em garantir, por meio das questões do financiamento da qualidade de vida do usuário. A falta de acesso pode incorrer em pre-
saúde, a universalidade e a integralidade, com sustentabilidade. juízos efetivos à saúde.

Leia um pouco mais! Atenção!


Sobre micro e macrogestão, sugerimos a leitura Você já notou que muitas vezes as falhas na
do texto O SUS necessário e o SUS possível: provisão de medicamentos (faltas) não são
estratégias de gestão, de Luis Eugenio Portela decorrentes exclusivamente da ausência
Fernandes de Souza. de recursos? Esses problemas também
podem estar associados a fragilidades no
O artigo retrata de forma interessante os três níveis (macro,
planejamento e na gestão orçamentária e
meso e micro), além das quatro dimensões da gestão
financeira, ainda pouco conhecida por nós.
(sociopolítica, institucional, técnico-sanitária e administrativa).

Fonte: Imagem - Flaticon ©. Fonte: Imagem - Flaticon ©.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Fatores como o envelhecimento da população, mudança no perfil epide-


miológico e transformações na prática clínica pressionam fortemente os Financiamento como função
custos da saúde. A população idosa brasileira, que representava 7,2% em
1990, tem perspectiva de atingir 13,7% em 2020 e quase um quarto da dos sistemas de saúde
população (23,8%) em 20401. Observa-se, portanto, uma forte e positiva
relação entre a faixa etária populacional e os gastos com saúde, de forma Para se discutir o financiamento da AF, é importante compreender sintetica-
que, quanto mais crescente a parcela de idosos na população, maior tende mente o arranjo histórico da organização do financiamento da saúde no Bra-
a ser a participação dos gastos com saúde na renda dos indivíduos2,3. sil, pois esse processo evolutivo guarda relação e tem reflexos diretos na AF.
Atos legais instituídos, desde a Constituição Federal de 1988, passando Você já deve ter se deparado com a trama envolvida ao discutir ou ouvir
pelas leis nº 8.080/1990 e nº 8.142/1990, Normas Operacionais Básicas sobre as regras de financiamento de medicamentos. Como veremos mais
e de Assistência à Saúde em suas várias edições, acrescidas de inúme- adiante, todos os três gestores têm responsabilidades, com contrapartidas
ras portarias fazem parte dos antecedentes históricos do financiamento da financeiras estabelecidas.
saúde, assim como da AF no SUS. Esses atos surgiram da necessidade de
O sistema tributário brasileiro é complexo, uma vez que possui diversos tipos
ratificar a responsabilização e distribuição de atribuições aos demais níveis
de tributos e normas, que são base para o financiamento dos sistemas de
de governo, bem como definir as formas de financiamento e especificida-
saúde. Vale destacar que conhecer as especificidades do Brasil é funda-
des locais, aplicadas aos medicamentos4.
mental para compreender o arranjo interligado do país que conta com um
sistema federativo constituído de três esferas: a União, os estados e os mu-
nicípios, que estabelecem relações intergovernamentais para a constituição
e execução de políticas públicas, como o SUS5, e também, a política de AF.

Fonte: Imagem – Shutterstock ©. Fonte: Imagem – Shutterstock ©.

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De acordo com a Constituição de 1988, o SUS é financiado com recursos partir de 2018, vigoraria o limite do exercício anterior, atualizado pela
do orçamento da seguridade social (OSS) da União, dos estados, do Dis- inflação de doze meses. Na prática, a EC 95 congela as despesas pri-
trito Federal e dos municípios. As fontes podem ser: (a) o faturamento das márias, reduzindo-as em relação ao PIB ou em termos per capita por
empresas, por meio da Contribuição para o Financiamento da Seguridade duas décadas. Essa questão certamente terá consequências negativas,
Social (Cofins); (b) o Programa de Integração Social e de Formação do pois pode comprometer o funcionamento do SUS11.
Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep); (c) o lucro líquido das empre-
sas com a criação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL);
(d) parcela da receita de concursos de prognósticos (loterias) e receitas
próprias, e (e) contribuição sobre a folha de pagamento das empresas
(considerada a principal fonte de custeio do seguro social)6. No caso da
saúde, as principais fontes de financiamento são a CSLL e a Cofins, pa-
gas pelas empresas à União.
Desde a Constituição de 1988, uma questão pungente tem sido o de-
bate sobre a existência de estabilidade de fontes de recursos para a
execução das ações de saúde pública, isso envolveu nos anos 1990 a
instituição da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
(CPMF), que depois foi extinta, sem resultar em aumentos de recursos
para a saúde.
Já em 2000, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 29, que buscou
trazer maior regularidade do financiamento da saúde7. Assim, foram fi-
xados percentuais de gasto em Saúde para estados e municípios, res-
pectivamente 12% e 15 % de suas receitas próprias. Para a União, no
entanto, não há vinculação de percentual. Em janeiro de 2012, por meio
da Lei Complementar nº 141, essa organização foi finalmente regula-
mentada mantendo-se a regra até então vigente, segundo a qual os
gastos mínimos a serem realizados pela União seguem a correção dos
valores empenhados no ano anterior pela variação nominal do Produto
Interno Bruto (PIB)8,9.
Você deve estar acompanhando as diversas discussões sobre a Emen-
da Constitucional nº 95/2016 (EC 95), que introduziu um novo regime
fiscal10, determinando que, em 2017, as despesas primárias teriam
como limite a despesa executada em 2016, corrigida em 7,2%. E a Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

sequilíbrio nas despesas com medicamentos como consumo final de bens


e serviços de saúde por produto, cujos dados mostram que o desembolso
Leia um pouco mais! direto pelas famílias tem peso elevado, na proporção de quase 90% contra
Além da emenda do congelamento de gastos, o que fica a cargo dos entes governamentais.
há propostas recentes sobre uma possível Em que pese às deficiências apontadas sobre as fragilidades no acesso da
desvinculação orçamentária que pode afetar a saúde população aos medicamentos, é preciso destacar a presença de alguns
e, consequentemente, a AF. O Conselho Nacional de avanços em programas que têm bom desempenho no contexto da as-
Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) elaborou uma sistência farmacêutica: a disponibilidade de produtos imunobiológicos no
nota técnica sobre essa questão. Quer saber mais? Acesse o Programa Nacional de Imunizações e a política de distribuição de medica-
site do Conasems e leia na íntegra a nota. mentos aos portadores do HIV/AIDS.

Fonte: Imagem - Flaticon ©.

No seu dia a dia, você já deve ter presenciado discussões ligadas ao finan-
ciamento, mas percebeu que existem diversos empregos para essa pala-
vra? Existem distintas abordagens dedicadas a esse tema, uma delas se
refere à entrada de recursos econômicos para financiar o sistema de saúde,
tendo relação mais próxima com as fontes de financiamento; uma outra
está ligada à partição interna dos recursos para as diversas ações e servi-
ços de saúde, que podem ser empregados para atenção primária, média e
alta complexidade, assistência farmacêutica etc.
Afirmar que o SUS é subfinanciado significa que, no Brasil, o padrão dos
gastos públicos em saúde corresponde a menos de 50% do gasto total em
saúde, ou seja, o gasto privado é proporcionalmente superior ao qual ape-
nas 23% da população têm acesso12. Isso torna evidente o paradoxo do
financiamento da saúde em um país que tem organicamente um sistema
universal, no qual a saúde é direito de cidadania.
Duas grandes pesquisas13,14 de caráter nacional apontam dados interes-
santes sobre a elevação dos gastos privados das famílias brasileiras com
medicamentos, que despendem recursos financeiros de forma expressiva
com sua compra direta (out of pocket) apesar das possíveis melhorias no
setor público. Tal situação fica mais patente quando se verifica o grande de- Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Antes do financiamento da AF: […] instrumento de planejamento


o planejamento orçamentário e governamental em que constam as
despesas da administração pública
fundos de saúde para um ano, em equilíbrio com a
arrecadação das receitas previstas. É
Um passo importante para qualificar a gestão da AF no SUS pode estar rela-
cionado ao envolvimento da equipe de AF no processo de planejamento, que
o documento onde o governo reúne
também envolve a questão orçamentária e de Elaboração do plano de saúde, todas as receitas arrecadadas e
pois ambos podem ser momentos estratégicos para fortalecimento da AF. programa o que de fato vai ser feito
Uma forma de entender o conceito de orçamento público é pensar que essa com esses recursos. É no orçamento
peça atua como uma lei que, entre outros aspectos, exprime em termos onde estão previstos todos os recursos
financeiros a alocação dos recursos públicos. Assim, essa peça se reveste arrecadados e onde esses recursos
como um instrumento de planejamento que espelha as decisões políticas,
estabelecendo as ações prioritárias para o atendimento das demandas da serão destinados15:6.
sociedade, em face da escassez de recursos8. O orçamento público também
é definido como:
No Brasil, o orçamento público é composto pelos seguintes instrumen-
tos de planejamento previstos na Constituição Federal de 1988: Plano
Plurianual (PPA); Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); Lei Orçamentária
Anual (LOA). Esses instrumentos dão suporte à Elaboração e execução
orçamentária brasileira, comumente conhecido como ciclo orçamentário,
e são estritamente relacionados entre si, formando um sistema integrado
de planejamento e orçamento que deve ser adotado pelos municípios,
estados e União.
Ao estudar a gestão pública, um tema muito presente é o planejamento
estratégico (que pode ser de longo prazo), assim como os planejamentos
tático e operacional. Essa divisão também pode ser comparada quando
se trata de orçamento público15. Esses instrumentos representam uma
“pirâmide orçamentária”, que apresenta uma comparação entre o orça-
mento e o planejamento (Figura 4).
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Figura 4. Relação entre o planejamento e o orçamento Quadro 1. Características centrais dos instrumentos legais de
planejamento orçamentário

Instrumentos
legais de
planejamento
do gasto
LOA: público Algumas características
operacional PPA
Plano que estabelece as diretrizes, os objetivos e
as metas do Governo pelo período de quatro anos,
sendo revisado anualmente. Também denominado
LDO: de planejamento estratégico de médio prazo da
tático administração pública brasileira

LDO
Anterior à lei orçamentária, define as prioridades e metas
PPA: da administração pública para o exercício financeiro
estratégico seguinte e orienta a Elaboração da LOA. Inclui as despesas
de capital (investimento), dispõe sobre mudanças na
legislação tributária, estabelece a política de aplicação
Fonte: ENAP (p. 11)16. das agências de fomento e define as metas fiscais. É a
LDO que diz quais são as despesas mais importantes
que o Poder Executivo deve fazer a cada ano. Em
No Brasil, temos como característica a adoção do orçamento-programa, outras palavras, é a LDO que faz a ligação entre o plano
pois sua concepção está ligada à ideia de planejamento. Desse modo, o estratégico de médio prazo, estabelecido no PPA, com o
orçamento deve considerar os objetivos que o governo pretende alcançar plano operacional de curto prazo, representado pela LOA
durante um determinado período15.
LOA
A integração orçamentária e financeira tem o propósito de estabelecer, de Estima as receitas e autoriza as despesas do Governo para
forma objetiva, o inter-relacionamento entre a execução orçamentária e a o exercício financeiro seguinte, de acordo com a previsão de
execução financeira. Apresentamos a seguir os pontos comuns entre as arrecadação. É definido como orçamento propriamente dito.
etapas que compõem os fluxos e processos pertinentes, na qual ocorre a Contém as ações e os programas de trabalho, atrelados
compatibilização com o fluxo de caixa. com seus respectivos valores orçados para o ano

Cabe exclusivamente ao Poder Executivo elaborar o PPA, a LDO e a LOA,


cujas características são descritas de forma resumida no Quadro 1. Fonte: Elaborado a partir de CONASS9 e ENAP15.

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Como mencionado no quadro anterior, a LOA é o instrumento que significa Quadro 2. Execução do Programa do PPA 0330 - Assistência Farmacêutica
o orçamento em si. O Quadro 2, a seguir, exemplifica hipoteticamente os - Apoio financeiro para aquisição e distribuição de medicamentos do
valores executados no Programa de Trabalho do PPA, denominado Assis- Componente Básico da Assistência Farmacêutica no exercício de 2018
tência Farmacêutica, e que foram apresentados em um Relatório Anual de
Gestão aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde. Cada município pode
ter formatação específica, mas, em geral, tanto as informações de execu- Órgão 19 - Secretaria Municipal de Saúde
ção orçamentária como de cumprimento de metas físicas ou de indicadores Programa 0330 – Assistência Farmacêutica
são necessárias. Os conteúdos referentes aos recursos orçamentários pro-
gramados normalmente levam em conta os valores oriundos dos repasses Garantir o fornecimento de medicamentos no contexto da
somados das contrapartidas de cada esfera de gestão. No entanto, outras atenção primária em saúde para os pacientes atendidos nas
Objetivo
ações além da aquisição de medicamentos podem ser incorporadas, como unidades da rede, permitindo aos usuários a continuidade de
atividades de qualificação, melhorias na infraestrutura etc. seu tratamento

Público-alvo População da Cidade

Meta Física Anual Recursos Orçamentários


Diretriz LOA
Programada Realizada Programados Executados

Assistência R$ R$
500.000.000 506.756.055
Farmacêutica 80.754.188,47 79.568.802,36

Meta Física Anual Recursos Orçamentários


Ação LOA
Programada Realizada Programados Executados

Medicamentos
R$ R$
consumidos 500.000.000 506.756.055
80.754.188,47 79.568.802,36
na APS

Ação “Medicamento Consumidos na Atenção Primária”:


resultados mostram compatibilidade entre a meta física
Avaliação
realizada e a execução orçamentária (quase 99%). A situação
da diretriz
pode ter refletido a pequena ampliação na dispensação de
(justificativa)
medicamentos devido ao baixo aumento de cobertura da
Estratégia de Saúde da Família no ano de 2018

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Fonte: Elaboração própria.

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Além da Elaboração da proposta orçamentária do SUS, os entes federati- Um estudo recente17, que mapeou em uma amostra de municípios a par-
vos, em seu âmbito administrativo, conforme determina a Lei nº 8.080/1990 ticipação e o conhecimento dos profissionais responsáveis pela AF na Ela-
e para uma relação mais direta com a política de saúde, precisam elaborar boração dos conteúdos relacionados aos instrumentos de planejamento
seus planos de saúde. orçamentário (PPA, LOA, LDO) e da saúde (PMS, PAS, RAG), identificou
pontos preocupantes. A participação dos atores responsáveis pela AF no
A Portaria de Consolidação nº 1, de 28 de setembro de 2017, estabelece
processo de Elaboração da LOA foi de 12% e no PPA 24%. Com relação
diretrizes para o planejamento do SUS e traz quatro instrumentos relaciona-
aos instrumentos gerais do planejamento da saúde, a participação no PMS
dos ao planejamento em saúde, com repercussão para o financiamento da
e no RAG foi, respectivamente, 52% e 33%. Os resultados em geral indi-
AF, são eles: (a) Plano Municipal de Saúde (PMS); (b) Programação Anual
cam baixo envolvimento dos técnicos da AF e isso já aponta deficiências da
da Saúde (PAS); (c) Relatório Anual de Gestão (RAG); (d) Relatório Detalha-
gestão farmacêutica pública municipal, que vai requerer, dentre inúmeros
do do Quadrimestre Anterior (RDQA)16.
elementos, a concretização de ações dirigidas à melhoria na qualidade das
Em geral, a área de AF não é a responsável direta pela consecução tan- atividades técnico-administrativas locais.
to do planejamento orçamentário quanto dos instrumentos característicos
previstos na Portaria de Consolidação nº 1/2017. Não obstante, a inserção
técnica dos profissionais da gestão da AF pode trazer ganhos de qualidade
no processo de Elaboração do planejamento local, minuciando o desenvol-
vimento da gestão e do planejamento mais integrado.

Saiba mais!
A publicação intitulada Manual do(a) Gestor(a)
Municipal do SUS: “Diálogos no Cotidiano” aborda
elementos do escopo temático e do cotidiano do
planejamento em saúde aplicado à gestão municipal. De forma
abrangente aborda também os instrumentos de planejamento
do SUS anteriormente retratados, com os quais a AF precisa
contribuir. Para ler o manual clique aqui.

Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Como mencionado antes, os elementos subjacentes ao financiamento da AF


envolvem perspectivas concretas de gestão com planejamento, no entanto, a
realidade ainda sinaliza a presença de amadorismo na administração pública. Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

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Figura 5. Representação de transferências fundo a fundo

Orçamentos próprios
Orçamento Fundo Nacional
Nacional de Saúde MS

DICAS! LEIS
Você sabia que a transferência fundo A Lei Complementar nº 141/2012
a fundo, comum no financiamento também destaca que os fluxos de
na assistência farmacêutica básica, recursos financeiros devem ocorrer Orçamentos próprios

de Saúde
Unidades
é um fluxo de repasses entre por meio dos fundos de saúde (Figura
contas bancárias, e podem ser 5). E mais, o fundo de saúde, mantido Orçamento Fundo Estadual
acompanhadas regularmente por em funcionamento pela administração Estadual de Saúde SES
extratos bancários? O Ministério da direta da União, dos estados, do
Saúde, por meio do portal do Distrito Federal e dos municípios é
Fundo Nacional de Saúde a unidade orçamentária e gestora
apresenta de forma transparente dos recursos destinados às ASPS. O
os dados de repasses! Fundo Nacional de Saúde (FNS) é o
Além do sítio do FNS, existem
gestor financeiro, na esfera federal, Orçamentos próprios
dos recursos do SUS18.
outras duas ferramentas de
Orçamento Fundo Municipal
monitoramento bastante úteis: a A transferência fundo a fundo SMS
primeira é o aplicativo InvestSUS, consiste no repasse de valores, Municipal de Saúde
disponível para smartphones, que regular e automático, diretamente do
retrata os repasses do FNS. Instale FNS para os Estados e Municípios,
no seu celular e acompanhe os independentemente de convênio ou
repasses de seu município. instrumento similar, de acordo com as
condições de gestão do beneficiário,
O outro é o Sistema de Apoio à
estabelecidas desde a Norma Transferências intergovernamentais
Elaboração do Relatório Anual
Operacional Básica 01/1996.
de Gestão do SUS (SargSUS)
que permite o acesso público ao Pagamento a prestadores
RAG dos municípios. Verifique a
situação do seu município no site Legenda: MS - Ministério da Saúde; SES - Secretaria de Estado de Saúde; SMS - Secretaria
do SargSUS. Municipal de Saúde.

Fonte: Elaboração própria.


Fonte: Imagem – Flaticon ©.

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Desde os anos 1990, com a instituição do SUS no Brasil, as regras de fi- Já o Bloco de Investimentos, destinado à aquisição de equipamentos,
nanciamento têm passado por inúmeras transformações. Uma importante obras de novas construções para as ASPS, e obras de reforma e/ou ade-
organização foi relativa à constituição dos blocos de financiamento, em quações de imóveis já existentes também tem conta corrente única.
2006 na qual a AF figurava explicitamente como bloco. Não obstante, a
Há muitos debates em torno do financiamento ser constituído por inúmeras
partir de janeiro de 2018 os recursos do Ministério da Saúde (MS), des-
“caixinhas” e essa mudança poderia ser uma tentativa de reduzir isso. Mes-
tinados a despesas com as ASPS, a serem repassados aos estados, ao
mo com as controvérsias nesse cenário, essa alteração reforça ainda mais
Distrito Federal e aos municípios, estão organizados e transferidos na forma
a necessidade de qualificação dos gestores municipais para dar conta dos
de dois blocos de financiamento: custeio e capital.
procedimentos de planejamento orçamentário-financeiro.
Desse modo, os cinco blocos (Atenção Básica, Atenção de Média e Alta
Assim, o bloco de financiamento da AF (associado aos outros cinco) se
Complexidade, Vigilância em Saúde, Assistência Farmacêutica, Gestão do
juntaram ao bloco de custeio. Contudo, isso não impede que, em termos
SUS) passam então a compor unicamente o Bloco de Custeio, no qual os
organizacionais, a administração pública organize seus orçamentos em
respectivos repasses destinados à manutenção da prestação das ASPS
“grandes temas”, tais como os cinco blocos antes existentes.
e ao funcionamento dos órgãos são realizados fundo a fundo, para uma
única conta financeira.

Pesquise e reflita!
Há diversos debates quanto aos reflexos da
unificação dos blocos de financiamento no SUS.
Para estimular sua reflexão, assista à videoaula da
professora Blenda Leite, produzida pelo Conasems, que traz
aportes sobre esse tema.

Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Essas mudanças reforçam, por meio da Lei Complementar nº 141/2012, a


necessidade de acompanhamento das prestações de contas e da transpa-
rência a ser empregada na gestão dos recursos, inclusive no envolvimento
do Conselho de Saúde sobre avaliação da gestão do SUS no âmbito do
respectivo ente da Federação.
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

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Não obstante, Velásquez et al.21 destacam que o Estado não necessaria-


Financiamento da Assistência mente deve arcar e fornecer todos os medicamentos, porém os governos
precisam garantir que os mecanismos de financiamento – públicos, priva-
Farmacêutica dos ou ambos – sejam conduzidos de modo a garantir um acesso universal
aos medicamentos essenciais.
O financiamento público na área de medicamentos é tema central para o
Ainda partilhando dessas várias opções de financiamento de produtos far-
desenvolvimento das ações de AF, tanto que a Política Nacional de Medi-
macêuticos, a definição objetiva de critérios a serem empregados para ava-
camentos (PNM) estabeleceu, na Diretriz de Reorientação da AF, a neces-
liar tais alternativas precisam ser bem estruturados. Essas diversas opções
sidade de articulação em três pontos: (1) garantia de recursos pelas três
(Quadro 3), podem assim ser traduzidas por meio de arranjos que envol-
esferas para distribuição direta ou descentralizada de medicamentos, (2)
vem os setores públicos e privados para a provisão de medicamentos, dos
descentralização plena da aquisição e distribuição; (3) financiamento espe-
quais três são representados no Brasil.
cífico para os medicamentos da atenção básica.
A Política Nacional de Assistência Farmacêutica, que trouxe uma com- Quadro 3. Possibilidade de sistemas de financiamento e distribuição
preensão mais abrangente sobre Assistência Farmacêutica na perspectiva de medicamentos e caracterização no Brasil
de integralidade de suas ações, por meio dos seus eixos estratégicos tam-
bém ressalta a garantia de acesso e equidade às ações de saúde inclui, Financiamento Distribuição
necessariamente, a Assistência Farmacêutica19.
É possível demarcar alguns modelos gerais no tocante ao financiamento Pública Privada
de medicamentos que são, principalmente, o financiamento público, de-
sembolso direto pelas famílias, sistema de seguro saúde, financiamento Público (1) Financiamento público (2) Seguros ou sistemas
por doadores e com fundos locais e empréstimos de desenvolvimento, que para a distribuição em de saúde que fazem
podem ser dirigidos a governos ou aos indivíduos. Cada um com caracte- unidades públicas reembolso ou contratam
rísticas muito diferenciadas20. No Brasil: Assistência sistemas de distribuição
Farmacêutica na Atenção No Brasil: modalidade
Básica e Farmácias do Aqui Tem Farmácia Popular
Componente Especializado no Programa Farmácia
da AF Popular do Brasil

Privado (3) Usar cobrança de taxa (4) Sistemas


de serviços prestados em totalmente privados
unidades públicas No Brasil: farmácias
No Brasil: modelo comerciais privadas
não adotado

Fonte: Imagem – Shutterstock ©. (continua)

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(continuação) A história da AF no Brasil esteve atrelada historicamente ao desenvol-


vimento de ações de financiamento à saúde, que assim envolveram a
1. Financiamento e provisão públicos: medicamentos totalmente finan- provisão e disponibilidade de medicamentos desde a Lei Eloy Chaves, de
ciados, adquiridos e comprados por unidades governamentais. Pode ofe- 1923, que estabeleceu as Caixas de Aposentadorias e Pensão (CAPs),
recer insuficientes incentivos quanto à eficiência. Potencialmente equitati- sendo considerado o início das políticas sociais no Brasil. Dentro desse
vo. Monopsônio (único comprador), possibilitando comprar a menor preço. modelo de seguridade social, eram concedidos serviços médico-assis-
Usado em países da África, Ásia, Europa e América Latina. tenciais e medicamentos aos “segurados”, ou seja, somente para aqueles
que contribuíam formalmente.
2. Reembolso pelo seguro social: reembolso às farmácias ou usuários
quanto ao atendimento realizado. O modelo pretende capturar os benefí-
cios de suposta eficiência do setor privado, mas a custo administrati-
vos que podem ser altos.
3. Pagamento de taxa em serviços públicos: os medicamentos são
abastecidos por almoxarifados públicos e dispensados em unidades públi-
cas de saúde mediante o pagamento de uma taxa pelos usuários.
4. Mercado privado: nesse caso, o paciente arca com 100% das
despesas. Funciona em todos os países, em maior ou menor medida.

Fonte: Luiza et al. (p. 215)22.

Os medicamentos são produtos de primeira necessidade para as pes-


soas e fundamentais na atenção à saúde, com impacto nos gastos to-
tais em saúde nos países e, por isso, vem recebendo atenção por parte
dos governos nas discussões relativas ao seu peso no gasto em saúde
nas últimas décadas. Nesse sentido, nos países da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), medicamentos
representaram 15% do total de gastos em saúde em 201323.
Dados do National Health System (NHS), o sistema de saúde britânico,
revelam gastos de mais de 15 bilhões de libras por ano com medica-
mentos e suprimentos médicos24.
De acordo com Vieira25, entre 2010 e 2016, as despesas do SUS aumenta-
ram em 30%. Nesse mesmo período, o gasto do SUS com medicamentos
passou de R$ 14,3 bilhões para R$ 20 bilhões, representando um cresci-
mento de 40%. Ao mesmo tempo, a participação do gasto federal com
medicamentos subiu de 11% em 2010 para 16% em 2016. Fonte: Imagem – Arquivo do Senado Nacional ©.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Já nos anos 1970, foi instituída no governo militar a Central de Medi- Tal característica traz responsabilidades maiores para a gestão da AF,
camentos (CEME). O documento de base para a organização da CEME desde a etapa de obtenção até a dispensação desses produtos, em
trazia inúmeros propósitos, como atingir acesso a medicamentos aos conformidade com a perspectiva da PNM.
75% da população com baixo poder aquisitivo26. Essa foi uma fase his-
Nos 30 anos do SUS, o movimento descentralizador no financia-
tórica marcante, cujo caráter centralizador esteve fortemente presente.
mento da AF, especialmente voltado ao contexto da atenção bási-
A Central vigorou entre 1971 e 1997, sendo um ator relevante no cená-
ca/atenção primária em saúde tem sido um processo constante. Em
rio aplicado à promoção do acesso a medicamentos.
1999 foi inaugurado, pela vigência da Portaria GM nº 176, o incen-
Com o processo de promulgação da Constituição Federativa do Brasil tivo à assistência farmacêutica básica, competindo ao MS a gestão
de 1988, logo em seguida com o advento do SUS, foi necessário rever a central dos Programas Estratégicos. Estabeleceu-se o repasse fi-
operacionalização das políticas públicas de saúde, especialmente a de nanceiro direto do fundo federal aos fundos estaduais e/ou muni-
medicamentos. Assim, o papel descentralizador do MS para os municí- cipais, permitindo a estes entes governamentais maior autonomia
pios é marcante no advento do SUS. na aquisição de medicamentos, mobilizando sua própria estrutura
administrativa e de serviços 11.
Até meados dos anos 2000, o financiamento era de um recurso
mínimo de R$ 2,00 por habitante/ano. Existiam, ainda, normas es-
pecíficas e focais, como financiamento para área de saúde mental,
que não envolvia os municípios, até então. Em 2005, foram publi-
cadas diversas portarias que proporcionaram aumentos no aporte
de recursos.
Os mecanismos de financiamento do SUS foram sucessivamente
se aprimorando, tendo impacto direto nas atividades e gestão da
AF, tanto que o Pacto de Gestão instituído em 2006 reforçou que o
financiamento da AF era de responsabilidade dos três gestores do
SUS, devendo agregar a aquisição de medicamentos e insumos,
e também a necessária organização da AF, que deveria envolver a
estruturação dos serviços de saúde 27. Além disso, estabeleceu-se a
AF como um dos blocos de financiamento do SUS.
A existência de normativas e definição de responsabilidades de fi-
nanciamento vão além das regras relativas aos medicamentos bá-
sicos, pois outros grupos de medicamentos, com normas específi-
cas, também estiveram presentes concomitantemente ao longo do
tempo.
Fonte: Imagem – Shutterstock ©.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 54 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

 rganização do financiamento da
O Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica (CESAF)
Assistência Farmacêutica no SUS Esse componente tem financiamento exclusivo do Ministério da Saúde
para o custeio dos medicamentos destinados ao tratamento de doen-
Na Aula 3 do Módulo 1* apresentamos o financiamento da Assistência ças que, por sua natureza, possuam abordagem terapêutica estabeleci-
Farmacêutica pública na perspectiva da operacionalização do acesso da, com perfil endêmico, que tenham impacto socioeconômico e sejam
aos medicamentos. Vamos agora aprofundar nossa discussão sobre consideradas problemas de saúde pública pelo gestor federal. O CESAF
esse assunto. objetiva disponibilizar medicamentos para o atendimento de programas
estratégicos de saúde, congregando medicamentos para controle da tu-
Desde a instituição do antigo bloco de financiamento da AF, os re-
berculose, da hanseníase, antirretrovirais dos programas de DST/AIDS,
cursos estão categorizados em três componentes: Estratégico, Espe-
endemias focais como malária, leishmaniose, doença de Chagas e outras
cializado e Básico, em que os entes gestores do SUS, dependendo
doenças endêmicas de abrangência nacional ou regional, sangue e he-
da especificidade de cada grupo, participam financiando, através da
moderivados, entre outros.
aquisição direta ou por repasse de contrapartidas financeiras. Mesmo
por meio da organização dos blocos não se percebeu grande expan- Esse grupo possui uma logística de funcionamento própria, tendo a par-
são nos recursos para a AF11. ticipação das três instâncias de gestão do SUS. Ao MS cabe, principal-
mente, programar, adquirir e distribuir aos estados. As Secretarias Es-
Ressalta-se que existem outras formas de financiamento de medicamen-
taduais de Saúde podem armazenar, distribuir e apoiar a programação,
tos no SUS, como o caso dos oncológicos. Esses produtos requerem
enquanto os municípios também armazenam, distribuem aos pontos de
procedimentos específicos, fornecidos por estabelecimentos habilitados
cuidado e promovem a dispensação.
em oncologia. São informados como procedimentos quimioterápicos
no subsistema de autorização de procedimentos de alta complexidade
(APAC), do Sistema de Informação Ambulatorial do SUS (SIA-SUS).
Assim, mesmo com a extinção dos blocos, por meio da Portaria Mi-
nisterial nº 3.992, de 28 de dezembro de 2017, a Portaria de Consoli-
dação nº 6, de 28 de setembro de 2017, que trata das normas sobre
o financiamento e a transferência dos recursos federais para as ASPS
do SUS, manteve a conformação dos Componentes de Financiamento
da AF28.
Nos subitens a seguir são descritos cada um dos três componentes
da AF no SUS. Fonte: Imagem – Shutterstock ©.

*Nota do editor: Este livro integra a coleção Assistência Farmacêutica na gestão municipal: da instrumentalização às práticas de profissionais de nível médio e/ou técnico nos serviços de saúde e apresenta o
conteúdo das aulas do Módulo 2 de curso homônimo oferecido pelo Projeto Atenção Básica, realizado no âmbito do PROADI-SUS. As aulas do Módulo 1 podem ser acessadas no vol. 1 desta mesma coleção,
Assistência Farmacêutica: da organização ao acesso a medicamentos e os desafios de sua integração à rede de atenção do SUS.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 55 |


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Componente Básico da Assistência Farmacêutica (CBAF)


O CBAF está voltado para a aquisição de medicamentos e insumos no âmbito da atenção básica em saúde. Tem como base de organização a Re-
lação Nacional de Medicamentos (Rename), em vigor, que envolve tanto o anexo I (medicamentos do CBAF) como o IV (insumos).
No horizonte do financiamento do CBAF sucessivas atualizações têm sido instituídas. A mais recente foi fruto da reunião da Comissão Intergestores Tri-
partite (CIT) ocorrida em outubro de 2019, na qual o Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF) apresentou proposta de
modificação no financiamento desse Componente, que foi deliberado com parecer favorável para a mudança, tanto pelo Conselho Nacional de Secretários
de Saúde quanto pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde29. Desse modo, a Portaria GM/MS nº 3193, de 10 de dezembro de 2019
alterou a Portaria de Consolidação GM/MS nº 6, de 28 de setembro de 2017, e estabeleceu mudanças que envolvem os seguintes pontos30:

» adoção do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) para ajuste do valor per capita na contrapartida federal, na tentativa
de considerar a equidade no financiamento da AF. Os valores por habitante poderão variar segundo classificação dos municípios nos
cinco grupos do IDHM, conforme apresentado no Quadro 4;
» atualização da população de referência para o repasse, utilizando a estimativa Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019
para as contrapartidas dos três entes, sem redução de custeio;
» manutenção dos valores atuais das contrapartidas estaduais e municipais, ambos permanecendo em R$ 2,36.

Quadro 4. Valores de contrapartida federal por habitante ano do CBAF segundo as faixas de Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

Faixa IDHM Contrapartida federal habitante/ano

Muito baixo R$ 6,05

Baixo R$ 6,00

Médio R$ 5,95

Alto R$ 5,90

Muito alto R$ 5,85

Legenda: IDHM: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal.

Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil/Ministério da Saúde30.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 56 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Conforme as regras vigentes, por meio das atualizações da Portaria


de Consolidação nº 6/2017, o somatório dos valores das contrapar-
tidas mínimas dos três entes de gestão poderá ocorrer na faixa entre
R$ 10,57 (maior IDHM) a R$ 10,77 (menor IDHM), dependendo do Importante!
enquadramento do IDHM de cada município, distribuídos da seguinte Tomando por base as diversas portarias
forma: União: R$ R$ 5,85 a R$ 6,05 (variação segue faixa de IDHM) ministeriais ao longo dos 30 anos de financiamento público
por habitante/ano; estados e municípios (e Distrito Federal) no míni-
da AF na atenção básica (antes Farmácia Básica), verifica-
mo R$ 2,36 por habitante/ano cada ente 28,30. Alguns pontos sobre o
se uma elevação superior a 420% no somatório das
financiamento do CBAF:
contrapartidas correntes mínimas per capita das três esferas
de governo, desde 1999.

Cabe refletir, considerando a inflação, sobre o aumento de


» Estão inclusos nas contrapartidas dos estados e municípios a aqui- preços dos medicamentos e outras políticas na Assistência
sição dos insumos (seringas, lancetas e tiras reagentes de medida Farmacêutica e se esses valores estão desatualizados.
de glicemia capilar) aos pacientes insulinodependentes;
Alguns entes governamentais têm apontado que o
» a contrapartida federal financia exclusivamente a aquisição de me- crescimento do gasto público per capita em medicamentos
dicamento; pode estar acima do valor pactuado, podendo sobrecarregar
» os estados, desde que pactuados na Comissão Intergestores Bi- a gestão municipal.
partite (CIB), poderão aumentar suas contrapartidas;
Talvez você possa fazer esse estudo em sua cidade e
» municípios e Distrito Federal podem aplicar recursos para ativida- contribuir nessa discussão!
des de adequação de espaço físico das farmácias no SUS (aqui-
sição de equipamentos e mobiliários) e/ou de educação conti-
nuada voltada à qualificação dos recursos humanos da atenção
básica ao teto de 15% da soma dos valores dos recursos finan-
ceiros, das contrapartidas municipal e estadual; Fonte: Imagem – Flaticon ©.

» ao Ministério da Saúde cabe o financiamento, aquisição e repasse Não obstante, esses arranjos de financiamento podem ser mais comple-
direto da insulina humana NPH 100 UI/ml, insulina humana regular xos, pois ao serem consideradas as pactuações em instâncias de delibera-
100 UI/ml, medicamentos contraceptivos e insumos do Programa ção pelas CIB, envolvendo os estados e municípios, é possível a existência
Saúde da Mulher (DIU, diafragma e preservativos). de valores mínimos superiores aos contidos nas normas do MS.
Outra ponderação decorre da possibilidade de existência de outros gas-
tos na aquisição de medicamentos na atenção básica, realizados pelos

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 57 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

entes subnacionais independentemente da norma de financiamento ou


das deliberações pactuadas, que podem tornar os gastos por habitante
Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF)
ainda mais elevados. Como exemplo podemos citar gastos com a judi- Historicamente, já havia uma base de organização dirigida ao financiamento
cialização que podem estar contribuindo para elevação das despesas de medicamentos do Componente Especializado, chamados anteriormen-
com medicamentos. Por outro lado, alguns municípios também podem te de Alto Custo e Excepcionais, pois esse grupo de medicamentos era
estar utilizando recursos do CBAF para medicamentos fora das pac- de responsabilidade do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da
tuações do SUS, como apontado na Pesquisa Nacional sobre Aces- Previdência Social (instância antecessora do SUS) e, posteriormente, sua
so, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos no Brasil execução foi descentralizada aos estados e vem passando por inúmeras
(PNAUM) – Serviços31. mudanças até o momento atual, que foram — e ainda são — normatizadas
por intensa base legislativa.
Esse mesmo estudo de representatividade nacional, que levantou pon-
tos sobre o financiamento do CBAF no âmbito da gestão municipal, No momento, as regras de financiamento do CEAF estão estabelecidas
mostrou que 54% dos municípios possuem o regime de descentraliza- na Portaria de Consolidação nº 6, de 28 de setembro de 2017 (que in-
ção parcial e 31% contam com mecanismo de gestão totalmente des- corporou a Portaria GM/MS nº 1.554/2013). A Portaria de Consolidação
centralizada na execução dos recursos. Representantes dos municípios que conglomerou e redefiniu regras de financiamento do SUS relaciona os
do Sul e Centro-Oeste foram aqueles que avaliaram mais positivamente medicamentos que compõem as linhas de cuidado para as doenças con-
sobre a suficiência dos recursos do CBAF para atender às suas deman- templadas, que por sua vez devem estar garantidos mediante pactuação
das locais, com percentual de satisfação médio de 37,6%. Por outro entre a União, estados, Distrito Federal e municípios28.
lado, municípios do Norte avaliaram o grau de suficiência em patamar
bem menor, de 13,6%31.
Cabe também mencionar o Programa Farmácia Popular do Brasil, um bra-
ço da assistência farmacêutica do SUS, que tem seu financiamento inte-
gralmente público e assumido pelo MS, além disso, coteja com parte do
elenco de medicamentos do CBAF.
Por meio de sua vertente de parceria com as farmácias privadas, o Far-
mácia Popular ganhou em capilaridade, atingindo a maioria das cidades
brasileiras. Introduziu um mecanismo até então novo: o copagamento para
uma cesta de medicamentos.
Por meio da ação Saúde Não Tem Preço, ocorreu a liberação de co-
pagamento para algumas classes de medicamentos que, associado
à livre demanda existente no Programa, pode ser responsável pela
explosão de gastos, com pagamentos às farmácias conveniadas,
ainda que com redução do custo per capita e assim, lança luz sobre
a sua sustentabilidade 32.
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

O acesso a esses medicamentos acontece em diferentes níveis de atenção Apesar da portaria vigente que regulamenta o CEAF tratar de sua organiza-
à saúde, razão pela qual a Elaboração e a aprovação do CEAF ocorreram ção por meio de três grupos, os medicamentos do grupo 3 são financiados
simultaneamente à atualização da Portaria relacionada ao CBAF. conforme regras do CBAF, já apresentados anteriormente.
Independentemente do grupo ao qual pertença o medicamento no CEAF,
Quadro 5. Características e responsabilidades de financiamento no CEAF
seu acesso em nível ambulatorial deve ter por base os critérios de diagnós-
tico, indicação de tratamento, inclusão e exclusão de pacientes, esque-
Grupos Características Responsabilidade de
mas terapêuticos, monitoramento, acompanhamento e demais parâmetros financiamento
contidos nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) estabe-
lecidos pelo Ministério da Saúde. Esses PCDT definem quais são os medi- I Elevado impacto financeiro para o CEAF Grupo 1A -
camentos disponibilizados para o tratamento das doenças contempladas, Produtos indicados para doenças financiamento e
com seus respectivos códigos de classificação internacional de doença. mais complexas aquisição centralizada
no MS
A incorporação, exclusão, ampliação ou redução de cobertura de medica- Utilizados em casos de refratariedade ou
intolerância à primeira e/ou à segunda Grupo 1B - financiados
mentos no âmbito do CEAF ocorre mediante decisão do Ministério da Saú- pelo MS com
linha de tratamento
de, assessorado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias transferência de
no SUS (CONITEC). Envolvidos em ações de
recursos financeiros aos
desenvolvimento produtivo no complexo
estados e DF
industrial da saúde
Divididos em dois subgrupos:
» 1 A - depende de informação dos
estados para sua programação, que
ocorre no âmbito do MS
» 1B - aquisição, programação, armaze-
namento, distribuição e dispensação
realizadas pelos estados e DF

II Menor complexidade de tratamento Responsabilidade


da doença executiva e financeira
Situações de refratariedade ou intolerância das SES e do DF
à primeira linha de tratamento
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Aquisição, programação, armazenamento,
distribuição e dispensação pela SES e DF
A estruturação desse componente é marcada pela divisão de três grupos
de medicamentos (Quadro 5), com definição explícita a depender do grupo Legenda: MS - Ministério da Saúde; SES - Secretaria de Estado de Saúde; SMS -Secretaria Municipal
de Saúde; DF - Distrito Federal
de instâncias gestoras responsáveis por seu financiamento, gerenciamento
e formas de organização distintas. Fonte: Elaboração própria.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 59 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Com a finalidade de sintetizar a ampla discussão sobre os Componentes de Finan- Cabe ainda frisar que, ao longo do tempo, as regras definidas pelo MS no
ciamento da AF, atualmente contemplados no bloco de custeio do SUS, o Quadro tocante ao financiamento da AF estavam estritas hegemonicamente à aqui-
6 sumariza as principais características de funcionamento e responsabilidades de sição de medicamentos, sendo tímidas as previsões de recursos para estru-
financiamento público da AF brasileira, conforme seus três componentes. turação e organização dos serviços farmacêuticos, elemento relevante para
o êxito das ações de AF. Entretanto, esse panorama mudou em 2006, após
Quadro 6. Características e responsabilidades de financiamento da AF no Brasil o Pacto pela Saúde, quando passou a existir a possibilidade de destinação
de recursos a esse objetivo.
Responsabilidade
Componente Características Ainda vigora, através do Bloco de Custeio de Gestão do SUS, outra possibili-
de financiamento
dade de financiamento para a estruturação de serviços e organização de ações
Ministério da Saúde de assistência farmacêutica, no Componente para a Qualificação da Gestão28.
Tratamento de grupo de agravos
compra e distribui
específicos, agudos ou crônicos, Dados da PNAUM-serviços31 mostram baixo investimento (11,9%) em ati-
Estratégico medicamentos às SES
contemplados em programas vidades dirigidas à qualificação ou capacitação de profissionais da AF nos
CESAF ou diretamente aos
estratégicos do MS com protocolos
Municípios, dependendo municípios. Quanto às despesas com estruturação e manutenção da AF,
e normas estabelecidas
do porte 54,3% dos municípios mobilizaram recursos para essa finalidade. Tanto as
Estratégia de acesso a Divididos em três grupos:
deficiências no emprego de recursos voltadas à capacitação como na es-
medicamentos no âmbito do SUS, » Grupo I - MS truturação dos serviços farmacêuticos são preocupantes, impondo outros
que visa a garantia da integralidade » Grupo II - SES desafios para a concretização de uma assistência farmacêutica capaz de
Especializado contribuir efetivamente na melhoria da saúde da população.
do tratamento, em nível ambulatorial » Grupo III - União,
CEAF
Abordagens terapêuticas estados, DF e
estabelecidas em PCDT, municípios (segue as
publicadas pelo MS regras do CBAF)
Aquisição de medicamentos e
insumos no âmbito da APS Três esferas de gestão,
Elenco de referência de com contrapartidas
medicamentos e insumos mínimas definidas
Básico complementares, com base na As contrapartidas
CBAF Rename vigente estaduais ou municipais
Adoção do princípio da equidade podem ser aumentadas,
por parte do ente federal, conforme conforme pactuação
classificação do IDHM dos na CIB
municípios no financiamento

Legenda: IDHM: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, MS: Ministério da Saúde, SES: Secretaria
de Estado de Saúde, SMS: Secretaria Municipal de Saúde, CIB: Comissão Intergestores Bipartite

Fonte: Elaborado a partir de CONASS9 e ENAP15. Fonte: Imagem – Shutterstock ©.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 60 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Uma iniciativa para superação desses problemas tem sido executada por
meio do Programa Nacional de Qualificação da Assistência Farmacêutica
Desafios da gestão municipal no financiamento
no âmbito do Sistema Único de Saúde (Qualifar-SUS). Seu financiamento da Assistência Farmacêutica
é exclusivo do Ministério da Saúde e desde 2012 possui linhas de apoio a
O financiamento da AF é apenas uma etapa que vai muito além dos valores
estrutura, educação, informação e cuidado farmacêutico.
orçamentários, planos que cabem no papel, ou das apreensões pertinen-
Esse Programa, voltado à melhoria das condições estruturais da AF, tem tes ao ciclo logístico. A gestão também precisa apoiar a estruturação de
como foco os municípios brasileiros de extrema pobreza, priorizando municí- serviços farmacêuticos no sistema de saúde, com o objetivo de apoiar os
pios de até 500 mil habitantes. Sucessivamente municípios têm sido habilita- usuários e a equipe de saúde, favorecendo e, muitas vezes, determinando
dos no Programa, foram 629 em 2017 e mais 651 em 2018. Com essa evolu- o uso seguro de medicamentos, maximizando seus resultados positivos.
ção, chegou-se a um total de 2.862 habilitados a receber incentivo financeiro,
É cogente no atual cenário político-econômico a proposição de ações à
representando pouco mais da metade dos municípios brasileiros33. Apesar
sustentabilidade e garantia de recursos para o financiamento de medica-
disso, o estudo da PNAUM-serviços trouxe questionamentos quanto ao real
mentos no Brasil. Ainda mais quando se debate quais são os limites atuais
impacto e à situação da baixa cobertura populacional do Qualifar-SUS31.
e os critérios de acesso universal à assistência farmacêutica integral garan-
tida pelo poder público no Brasil.
Nitidamente estamos frente a um aumento necessário no gasto com medi-
camentos no SUS. Dados da Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização
e Promoção do Uso Racional de Medicamentos, efetuada entre 2013 e
201434,35 mostram maior acesso gratuito a um importante elenco de medi-
camentos essenciais entre as populações mais pobres.

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

É comum, no contexto de financiamento da Assistência Farmacêutica na


atenção básica, a provisão dos medicamentos do CBAF e do CESAF, no
entanto, é preciso que a gestão esteja organizada, tanto a nível central
como local, para acompanhar o consumo e a utilização de medicamentos,
pois os municípios são também responsáveis pela programação desses
produtos, além da gestão eficiente dos recursos. Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 61 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

O fato de a dispensação dos medicamentos ocorrer sem quaisquer


restrições quanto às características demográficas, econômicas ou so-
ciais dos usuários demonstram avanços dos princípios norteadores
do SUS, como a universalidade. Não obstante, devem ser aplicadas
regras de ordem clínica ou administrativa para o alcance de boas prá-
ticas farmacêuticas22.
A incorporação de novos medicamentos, muitos mais caros, no SUS e a
crescente judicialização, com cifras preocupantes, tensionam ainda mais o
financiamento e o acesso a medicamentos pelo SUS.
Esses dados, somados aos gastos do Governo, que vem aumentando
gradativamente, certamente serão comprometidos com o congelamen-
to do teto dos gastos públicos pela EC 95/2016. Soma-se a isso o
crônico subfinanciamento do SUS que afeta e limita sua atuação, ainda
mais em um país em vias de desenvolvimento, populoso, com dimen-
sões continentais, tudo isso associado às doutrinas de um sistema de
saúde vanguardista, que tem a universalidade, integralidade e equidade
como princípios.
Fonte: Imagem – Shutterstock ©.
Como demonstrado ao longo desta aula, na Administração Pública o or-
çamento, mesmo revestido de formalidades legais, dentre outras potên- No entanto, é necessário ter coerência para que se construa um percurso
cias, tem papel marcante ao servir como instrumento de gestão e de pla- sólido na consolidação da AF pública no SUS. Torna-se, portanto, funda-
nejamento na alocação de recursos financeiros e de estabelecimento de mental contar com habilidade técnica para correlacionar o financiamento
ações de saúde, com reflexos no financiamento da AF. Assim, a luta por às boas práticas de gestão, permitindo instituir parâmetros de eficácia e
um financiamento em patamares adequados à AF, dentro das organizações eficiência, ainda mais em um sistema de saúde que busca desenvolver po-
públicas, pode se constituir em ação essencial na formulação e possivel- líticas de medicamentos com foco na cidadania e no bem coletivo.
mente na avaliação de políticas de saúde, visando o aprimoramento da
Nesse sentido, o enfoque de respeito aos direitos humanos e o acesso
transparência.
à saúde como direito humano fundamental são elementos centrais para
Outros desafios estão relacionados à maior integração dos gestores da AF assegurar a melhoria das condições de saúde das populações. Ademais,
no processo de Elaboração de etapas do ciclo orçamentário e dos instru- a organização das atividades e das ações da assistência farmacêutica no
mentos característicos do planejamento de saúde, em especial do Plano SUS associada às demais políticas públicas de saúde e sociais, ao longo
Municipal de Saúde. Cabe destacar os esforços destinados à boa capaci- dos anos serão capazes de pavimentar o processo instalado de concreti-
dade de gestão, além das atividades técnico-assistenciais e gerenciais que zação da cidadania, coerente com os princípios constitucionais do direito à
per se já apresentam características complexas. saúde, pois não pode ser uma agenda inconclusa.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 62 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Síntese da Aula
Esta aula revisitou o tema do financiamento no contexto da assistência far- Por fim, foram elencados alguns desafios, principalmente no esforço para
macêutica pública do SUS. Sem dúvida essa temática sempre está presen- que a AF, no âmbito dos municípios, cumpra seu papel social de promoção
te nos debates ligados ao desenvolvimento de políticas públicas e sociais, do acesso qualificado a medicamentos seguros e eficazes. Nesse sentido,
ainda mais no cenário da saúde, que tem no medicamento um elemento faz-se necessário o desenvolvimento de competências para a realização de
central e que possui especificidades mercadológicas e de acesso que o planejamento para uma melhor gestão dos recursos da AF e para a garan-
diferenciam de qualquer outro bem de consumo. tia de um financiamento adequado, resultando, portanto, na melhoria dos
resultados em saúde para a população.
Assim, é importante compreender o pano de fundo do financiamento da
saúde que no Brasil possui relação direta com a seguridade social e que
depende de fontes de recursos estáveis para dar conta dos inúmeros de-
safios coerentes com os princípios ético-doutrinários do SUS. Esforços
como a Emenda Constitucional nº 29/2000 seguida da promulgação da Lei
Complementar nº 141/2012 ainda não solucionaram plenamente o crônico
subfinanciamento e ainda estão sob constante ameaça, como o congela-
mento de gastos.
Os elementos característicos da gestão pública-orçamentaria e do planeja-
mento do SUS (plano municipal de saúde, relatório de gestão, entre outros) são
apresentados no sentido de trazer conhecimento aos atores envolvidos com a
AF e fazer um convite a esses profissionais no processo de sua construção. As
leituras de aprofundamento indicadas ao longo do texto visam promover uma
integração no cotidiano da AF com o planejamento e a gestão.
Foram abordadas as características do financiamento da saúde no Brasil,
como os repasses fundo a fundo e as novas alterações nos mecanismos
de repasse, buscando associá-los a alguns marcos evolutivos, assim como
os elementos inerentes aos repasses em uma única conta, por meio do
Bloco de Custeio, que nesse caso poderá exigir maior capacidade técnica
e de gestão para uma adequada alocação dos já escassos recursos.
Além disso, foi feita uma breve contextualização histórica sobre o finan-
ciamento da AF no Brasil, até o estágio que engloba os Componentes de
Financiamento, principalmente o Básico da AF, em que os municípios pos-
suem maior governabilidade na gestão.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 63 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

8. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), organizador.


Referências Para entender a gestão do SUS. Brasília: CONASS; 2011. 13 p.
9. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). A Gestão do
1. Mendes A da CG, Sá DA de, Miranda GMD, Lyra TM, Tavares RAW.
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brasileira: exigências atuais e futuras. Cad Saúde Pública. Maio 10. Brasil. Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro 2016. Altera
2012;28(5):955-64. o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o
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3. Silveira RE da, Santos Á da S, Sousa MC de, Monteiro TSA. Gastos
11. Bermudez JAZ, Esher A, Osorio-de-Castro CGS, Vasconcelos DMM
relacionados a hospitalizações de idosos no Brasil: perspectivas de
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uma década. Einstein São Paulo. Dez. 2013;11(4):514-20.
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4. Zaire CEF. A relação entre a indústria farmacêutica e a Assistência Jun. 2018;23(6):1937-49.
Farmacêutica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS): a compra
12. Saldiva PHN, Veras M. Gastos públicos com saúde: breve histórico,
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situação atual e perspectivas futuras. Estud Av [Internet]. 2017 [acesso
– Mestrado em Saúde Coletiva]. Rio de Janeiro: Instituto de Medicina
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5. Dain S. Os vários mundos do financiamento da Saúde no
13. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa
Brasil: uma tentativa de integração. Ciênc Saúde Coletiva. Nov.
de orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e
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condições de vida [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2010 [acesso em
6. Brasil. [Constituição de 1988]. Constituição Federal da República 28 nov. 2019]. 222 p. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/
Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, out. 1988. visualizacao/livros/liv45130.pdf.
7. Brasil. Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000. 14. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Coordenação de
Altera os arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e Contas Nacionais. Conta-satélite de saúde: Brasil, 2010-2015. Rio de
acrescenta artigo ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, Janeiro: IBGE; 2017. (Contas Nacionais nº 59). Disponível em: https://
para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101437.pdf.
e serviços públicos de saúde. [Internet] [acesso em 28 nov. 2019].
15. Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). [Curso] Introdução
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
ao Orçamento Público. Módulo 1: Entendendo o Orçamento Público.
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Brasília: ENAP; 2017 [acesso em 28 nov. 2019]. Disponível em:
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-%20Entendendo%20o%20Orcamento%20Publico.pdf.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 64 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

16. Brasil, Ministério da Saúde. Portaria de Consolidação nº 1, de 28 de 22. Luiza VL, Silva RM da, Mattos LV, Bahia L. Fortalezas e desafios dos
setembro de 2017. Consolidação das Normas sobre os direitos e modelos de provisão e financiamento de medicamentos no Brasil.
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23. Belloni A, Morgan D, Paris V. Pharmaceutical expenditure and policies:
17. Nora LCD, Costa KS, Araújo SQ, Tavares NUL. Análise da assistência past trends and future challenges. Report OECD Health Working
farmacêutica no planejamento: participação dos profissionais e a Papers n. 87. Paris: OECD; 2016. 75p.
qualificação da gestão. Cad Saúde Coletiva. Set. 2019;27(3):278-86.
24. Samuels A. Control of the cost of medicines and medical supplies to
18. Brasil. Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012. the NHS: Health Service and Medical Supplies (Costs) Act 2017. Med
Regulamenta o § 3º do Art. 198 da Constituição Federal para dispor Leg J. Mar. 2018;86(1):16-18.
sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela
25. Vieira FS. Evolução do gasto com medicamentos do Sistema único
União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços
de Saúde no período 2010 a 2016. Texto para Discussão n. 2356.
públicos de saúde; estabelece os critérios de rateio dos recursos de
Brasília; Rio de Janeiro: IPEA; Jan. 2018.
transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e
controle das despesas com saúde nas 3 (três) esferas de governo; 26. Bermudez J. Indústria farmacêutica, estado e sociedade: crítica da
revoga dispositivos das Leis nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, política de medicamentos no Brasil. São Paulo: Editora Hucitec;
e 8.689, de 27 de julho de 1993; e dá outras providências. [Internet] Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos; 1995. 204 p.
[acesso em 28 nov. 2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ (Saúde em debate; Phármakon).
ccivil_03/leis/LCP/Lcp141.htm.
27. Silva RM da. Programa “Aqui tem Farmácia Popular”: expansão entre
19. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 338, de 6 de maio de 2004. 2006-2012 e comparação com os custos da assistência farmacêutica
Aprova a Política nacional de Assistência Farmacêutica. [Internet]. na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. [Tese]. Rio de
2004. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2014.
cns/2004/res0338_06_05_2004.html
28. Brasil, Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria de
20. Velasquez G. El papel del Estado em el financiamiento de Consolidação nº 6, de 28 de setembro de 2017. Consolidação das
los medicamentos. In: Bermudez JAZ, Oliveira MA, Esher A, normas sobre o financiamento e a transferência dos recursos federais
organizadores. Acceso a medicamentos: derecho fundamental, papel para as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde.
del Estado. Rio de Janeiro: ENSP/Fiocruz; 2004. p. 25-40. [Internet] [acesso em 28 nov. 2019]. Disponível em: http://bvsms.
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21. Velásquez G, Madrid Y, Quick JD. Reforma sanitaria y financiación de
los medicamentos. Ginebra: OMS; 1998. 29. Brasil, Ministério da Saúde. Pauta - 9ª Reunião Ordinária da Comissão
Intergestores Tripartite/2019 [Internet]. 2019 [acesso em 28 nov.
2019]. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/
pdf/2019/outubro/31/PAUTA-DA-CIT-Outubro.pdf.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 65 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

30. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.193, de 9 de dezembro


de 2019. Altera a Portaria de Consolidação no 6/GM/MS, de Material Complementar
28 de setembro de 2017, para dispor sobre o financiamento do
Componente Básico da Assistência Farmacêutica no âmbito do
1. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Sistema Único de Saúde (SUS). [Internet] [acesso em 11 dez. 2019].
Desvinculação orçamentária: análise de cenário no SUS. [Internet]
Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-3.193-
[acesso em 28 nov. 2019]. Disponível em: https://www.conasems.
de-9-de-dezembro-de-2019-232399751.
org.br/conasems-publica-analise-tecnica-da-possibilidade-de-
31. Faleiros DR, Acurcio F de A, Álvares J, Nascimento RCRM do, Costa desvinculacao-orcamentaria-e-aponta-colapso-nas-contas-publicas-
EA, Guibu IA, et al. Financing of Pharmaceutical Services in the municipal municipais/.
management of the Brazilian Unified Health System. Rev Saúde Pública
2. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
[Internet]. 22 set. 2017 [acesso em 28 nov. 2019];51(suppl.2). Disponível
Manual do(a) Gestor(a) Municipal do SUS: “Diálogos no Cotidiano”.
em: https://www.revistas.usp.br/rsp/article/view/139734.
[Internet] [acesso em 28 nov. 2019]. Disponível em: https://www.
32. Silva RM da, Caetano R. Gastos com pagamentos no Programa Aqui conasems.org.br/wp-content/uploads/2019/07/manual_do_gestor_
Tem Farmácia Popular: evolução entre 2006-2014. Physis Rev Saúde F02_tela.pdf.
Coletiva [Internet]. 24 maio 2018 [acesso em 28 nov. 2019];28(1).
3. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
Web aula unificação dos blocos de financiamento – Módulo 2
arttext&pid=S0103-73312018000100402&lng=pt&tlng=pt.
[videoaula]. 26 jul. 2018 [acesso em 28 nov. 2019]. Disponível em:
33. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Relatório Anual de https://www.youtube.com/watch?v=YLQEDHORgzk.
Gestão (RAG) 2018 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2019
4. Souza LEPF. O SUS necessário e o SUS possível: estratégias de
[acesso em 28 nov. 2019]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/
gestão. Uma reflexão a partir de uma experiência concreta. Ciência
bvs/publicacoes/relatorio_anual_gestao_rag_2018.pdf.
& Saúde Coletiva. 2009 [acesso em 28 nov. 2019];14(3):911-918.
34. Tavares NUL, Luiza VL, Oliveira MA, Costa KS, Mengue SS, Arrais Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v14n3/27.pdf.
PSD, et al. Free access to medicines for the treatment of chronic
diseases in Brazil. Rev Saúde Pública [Internet]. 2016 [acesso
em 28 nov. 2019];50. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102016000300313&lng=en&nr
m=iso&tlng=en.
35. Barros RD de, Costa EA, Santos DB dos, Souza GS, Álvares
J, Guerra AA, et al. Acesso a medicamentos: relações com a
institucionalização da assistência farmacêutica. Rev Saúde Pública.
22 set. 2017 [acesso em 28 nov. 2019];51(Supl 2):8s. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51s2/pt_0034-8910-rsp-S1518-
51-s2-87872017051007138.pdf.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 66 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Autor
Rondineli Mendes da Silva
Graduado em farmácia industrial pela Universidade Federal Fluminense
(UFF). Doutorado e mestrado em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina
Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Atual-
mente é pesquisador em saúde pública do Departamento de Política de
Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz e docente do
quadro permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da
ENSP/Fiocruz. Especialista em farmácia hospitalar (UFF), vigilância sanitária
de produtos (ENSP/Fiocruz) e em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde
(ENSP/Fiocruz). Tem experiência de coordenação e gestão da assistên-
cia farmacêutica na administração pública. Exerce atividades docentes no
campo da saúde pública, com ênfase em assistência farmacêutica, econo-
mia da saúde e estudos de avaliação de tecnologias de saúde.

Aula 6 - Financiamento da Assistência Farmacêutica no SUS | 67 |


7
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Aula

Planejamento no âmbito do SUS

Autores: Marco Aurélio Pereira e Suetônio Queiroz de Araújo

| 68 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Ementa da aula

Esta aula aborda o planejamento ascendente no âmbito SUS; os instrumentos


de planejamento e programação em saúde aplicados à gestão municipal; a importância do
planejamento regional integrado; a participação do controle social no planejamento do SUS.

Fonte: Imagem - Flaticon ©.

Objetivo de aprendizagem

Entender o processo de planejamento no âmbito do SUS; compreender os


diferentes instrumentos de planejamento e programação aplicados à gestão
municipal; reconhecer o papel do planejamento regional integrado para a qualificação
da atenção à saúde nos municípios; entender a participação do controle social no
planejamento do SUS.

Fonte: Imagem - Flaticon ©.

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 69 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Entender esse processo na saúde e como ele se articula com o seu dia a
Introdução dia nos municípios é um dos objetivos desta aula, que será complemen-
tada pela Aula 8, a qual abordará em detalhes o Planejamento Estratégi-
O planejamento no Sistema Único de Saúde (SUS) é uma função gestora co Situacional (PES) e as diferentes ferramentas e etapas desse processo
que, além de requisito legal, é um dos mecanismos relevantes para assegu- para a Assistência Farmacêutica. Nesse momento, é preciso entender que
rar a unicidade e os princípios constitucionais do SUS. Expressa as respon- o planejamento no modelo de Gestão Pública no país tem seu início nas
sabilidades dos gestores de cada esfera de governo em relação à saúde estratégias de governo que muitas vezes são norteadas ainda no processo
da população do território quanto à integração da organização sistêmica. A eleitoral municipal, estadual, distrital e federal, quando algumas propos-
tarefa de planejar exige conhecimento técnico que por sua vez se expressa tas, majoritariamente vencedoras podem vir a ser implementadas, inclusive
em instrumentos e ferramentas desenvolvidas em processos de trabalho1,2. aquelas que envolvem o Sistema Único de Saúde.
No setor público foram estabelecidas, desde a Constituição Federal de Assim, é fundamental destacar, conforme ilustra a Figura 6, que para ini-
1988, algumas regras para planejamento e após algumas décadas diferen- ciar o planejamento no setor público, especificamente no SUS e nas três
tes metodologias e ferramentas de apoio a esse processo, especialmente esferas de governo, é necessário observar, principalmente no escopo mu-
aquelas de caráter contábil e financeira, avançaram significativamente. Di- nicipal, a estruturação do Plano de Governo, que trará muito das particu-
ferentes abordagens e tecnologias passaram a fazer parte deste processo laridades e propostas estabelecidas ainda no processo eleitoral, para, em
de planejamento nas diferentes esferas de governo compondo o dia a dia seguida, se estabelecerem as estratégias da Política Econômica e Social, e
da gestão pública, especialmente na saúde. posteriormente traçar as prioridades fiscais, traduzidas anualmente na Lei
de Diretrizes Orçamentária e Lei Orçamentária Anual, que trarão na estrutu-
ra formal as informações sobre as prioridades de investimentos no Sistema
Único de Saúde local, organizadas a partir do Plano de Saúde1.

Fonte: Imagem – Shutterstock ©. Fonte: Imagem – Shutterstock ©.

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 70 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Figura 6. Contextualização da Política de Saúde (Processo de


Planejamento Integrado do Governo)

Plano de
Governo

Políticas
Econômicas e Sociais Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Nesta aula, o nosso o foco estará direcionado aos instrumentos a serem


elaborados no âmbito da gestão municipal da Saúde, prioritariamente o
Política Fiscal Plano Municipal de Saúde, que consolidará as prioridades na área com
(PPA, LDO e LOA) suas metas e seus indicadores a serem alcançados nos quatro anos de
governo, para servir como base para elaborar ano a ano as propostas de
Programação Anual da Saúde (PAS), sendo esta a base para a proposta
do setor saúde no orçamento municipal. No “Orçamento” deverá constar
o detalhamento das receitas e despesas do município para o ano subse-
quente que são submetidas ao legislativo municipal (Câmara) que, por sua
Política de vez, analisa e aprova as chamadas Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e
Saúde (Plano Lei Orçamentária Anual (LOA) como vimos na Aula 61,3.
de Saúde) Algumas legislações acabam se tornando norteadoras dessa proposta de or-
ganização do Planejamento em Saúde, inclusive no aspecto orçamentário e
financeiro. No final desta aula constam algumas sugestões de possíveis fontes
de estudos complementares ao tema abordado, as quais são consideradas
marcos legais da gestão orçamentária e financeira do setor público e do SUS,
a saber: Constituição Federal 1988, Lei nº 8.080/1990, Lei nº 8.142/1990, De-
creto nº 7.508/2011, Lei Complementar nº 141/2012; Lei nº 4.320/1964, Lei
Fonte: Manual de orçamento e finanças públicas para Conselheiros e Conselheiras de Saúde1. Complementar nº 101/2000 e Lei Complementar nº 131/2009.

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 71 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Planejamento no Sistema Único de Saúde Art. 15. O processo de planejamento da


saúde será ascendente e integrado, do nível
Aspectos normativos local até o federal, ouvidos os respectivos
Conselhos de Saúde, compatibilizando-se
O planejamento em saúde no Brasil passou por diversas orientações técni- as necessidades das políticas de saúde com
cas originadas a partir de pactuações tripartite, na Comissão Intergestores
Tripartite (CIT), e complementadas em pactuações locais em Comissões a disponibilidade de recursos financeiros.
Intergestores Bipartite (CIB) e Comissões Intergestores Regional (CIR), até […]
chegarmos à atual conformação para o planejamento no SUS, que, descri-
to no Decreto nº 7.508/2011, regulamenta a Lei nº 8.080/1990, dispondo
Art. 16. No planejamento devem ser
sobre a organização do Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento considerados os serviços e as ações
da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, dando em prestados pela iniciativa privada, de forma
seguida outras providências. complementar ou não ao SUS, os quais
Nesse sentido, vale lembrar que a proposta de (re)organização do SUS, deverão compor os Mapas da Saúde
após anos de debates, se consolidou em algumas normativas, fruto da
regional, estadual e nacional4.
reflexão dos gestores, profissionais de saúde, usuários e outros atores do
setor Saúde, público e privado, para que fosse possível estruturar uma
proposta de organização em Redes Regionais de Atenção à Saúde que
subsidiassem o poder legislativo e executivo na Elaboração da legislação
complementar que versa sobre o tema “planejamento em saúde”, especial-
mente à luz das orientações descritas no Decreto nº 7.508/2011.

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 72 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Nesse caso, podemos dizer que as contratações por Organizações Sociais


da Saúde (OSS), instituições filantrópicas e contratos diretos com serviços
privados instalados nos territórios municipais, assim como consórcios pú-
blicos ou públicos de direito privado precisam ser mapeadas e inseridas na
estrutura do plano municipal de saúde.
Outro aspecto importante se refere à integração do planejamento entre os
entes federados, algo ainda muito difícil de acontecer, mas que vem sendo
um esforço permanente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (Conasems) para que essa agenda ocorra localmente no âmbito dos
estados em pactuações na CIB, tendo em vista a previsão do referido decreto.

Art. 17. O Mapa da Saúde será utilizado na


identificação das necessidades de saúde
e orientará o planejamento integrado dos
entes federativos, contribuindo para o Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

estabelecimento de metas de saúde.


Ainda sobre o Decreto nº 7.508/2011, quando observamos particularmente
Art. 18. O planejamento da saúde em âmbito as demandas da saúde que envolvem a Assistência Farmacêutica, é ne-
estadual deve ser realizado de maneira cessário entender que ao observar aspectos relacionados à Relação Na-
regionalizada, a partir das necessidades dos cional de Medicamentos Essenciais (Rename) existe a possibilidade
de inserção de elencos complementares locais a partir do perfil epidemio-
Municípios, considerando o estabelecimento lógico e protocolos clínicos, desde que baseados em evidência para essa
de metas de saúde. complementariedade de elencos. Além, é claro, de estabelecer atividades
Art. 19. Compete à Comissão Intergestores gerenciais e assistenciais da Assistência Farmacêutica conforme a Relação
Nacional de Ações e Serviços de Saúde (Renases).
Bipartite – CIB de que trata o inciso II do
No âmbito das Comissões Intergestores serão estabelecidas as respectivas
Art. 30 pactuar as etapas do processo
responsabilidades e a forma/modalidade de financiamento e se pactuará a
e os prazos do planejamento municipal organização e o funcionamento das ações e serviços de saúde integrados
em consonância com os planejamentos em Redes de Atenção à Saúde no âmbito das deliberações e diretrizes es-
estadual e nacional4. tabelecidas pelo Conselhos de Saúde. Assim, como vimos na Aula 5, essas
comissões são assim denominadas:

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 73 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Comissão Intergestores Tripartite (CIT), “no âmbito da

I.
União, vinculada ao Ministério da Saúde para efeitos Saiba mais!
administrativos e operacionais;”4 membros: Ministério Para saber mais sobre as Comissões Intergestores, o
da Saúde, CONASS (representando os estados) e Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)
CONASEMS (representando os municípios) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (Conasems) acesse a Lei nº 12.466/2011.
Comissão Intergestores Bipartite (CIB), “no âmbito do

II.
Estado, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde para
efeitos administrativos e operacionais […]”4. Membros: Fonte: Imagem – Flaticon ©.
representante do estado, Secretaria Estadual de Saúde,
representação dos municípios e COSEMS. De uma forma geral, a organização das atividades previstas para Elabo-
ração e execução do planejamento no setor público e, no nosso caso,
Comissão Intergestores Regional (CIR), “no âmbito especificamente no SUS necessariamente seguem alguns ritos formais es-

III.
regional, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde para tabelecidos em lei.
efeitos administrativos e operacionais, devendo observar Para além do Decreto nº 7.508/2011 e ainda abordando os aspectos le-
as diretrizes da CIB.”4 Membros: representante do estado, gais do planejamento no SUS, é importante destacar que as disposições
Secretaria Estadual de Saúde e representantes dos orçamentárias e financeiras apontadas na Emenda Constitucional (EC) nº
municípios da região de saúde da respectiva CIR. 29/2000, apesar de 12 anos passados até a definição do que seriam os
gastos e regras das despesas em saúde, foram normatizadas a partir da
Lei Complementar (LC) nº 141/20125, inclusive com o apontamento de uso
de software oficial para publicização das informações orçamentárias, indis-
pensáveis à prestação de contas, como é o caso do Sistema de Informa-
ção sobre Orçamento Público em Saúde (Siops).

Saiba mais!
Emenda 29 – site do Planalto - EC 29/2000.
Lei complementar 141 – site do Planalto - LC 141/2012.

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 74 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

A LC 141/2012 regulamenta o § 3o do Art. 198 da Constituição Federal Cabe destacar que, desde 2018, algumas das regras previstas na LC
para dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela 141/2012 para o investimento mínimo em Saúde pela União deixaram
União, estados, Distrito Federal e municípios em ações e serviços públicos de vigorar, transformando o que seria piso de investimento em teto, o
de Saúde, bem como estabelece os critérios de rateio dos recursos de que ocorreu após as regras estabelecidas pela Emenda Constitucional
transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e con- nº 95/2016 que estipula um teto para aumento dos gastos públicos da
trole das despesas com saúde nas três esferas de governo5. União por 20 anos. Essa medida já implicou em redução dos investi-
mentos em saúde, impactando diretamente o aumento de investimento
Logo, as estruturas de Governança e Gestão da Saúde no Brasil passam a
por parte dos estados e municípios8,9, como demonstra a Figura 7. Esse
ter uma conformação legal estruturada inclusive em papéis claros de atua-
aspecto é de fundamental relevância para o planejamento municipal e
ção e participação da sociedade, bem como das responsabilidades dos
especificamente para a área da Assistência Farmacêutica.
gestores perante a gestão e transparência dos gastos públicos comple-
mentados pelas Leis nos 8.080/1990 e 8.142/19906,7.
Figura 7. Composição dos gastos com ações e serviços públicos de saúde

Federal
72,0%

52,4%
50,5% 49,3%
48,2%
46,7% 45,8% 46,6%
44,7% 45,3% 45,3%
43,4% 42,6% 42,4% 43,0% 42,8% 43,4%

31,6%
29,0% 30,7% 31,1% 31,0% 30,8%
27,3% 27,6% 28,4% 28,8% 29,4%
25,6% 24,7% 26,3% 27,0%
25,5%
27,6%
26,9% 26,9%
26,3% 25,8% 26,0% 25,3% 26,7% 26,5% 26,0% 25,5% 25,8%
24,0% 26,0% 25,5%
Municipal 16,0% 22,1%

12,0%

Estadual
1993 ... 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Conasems (p. 42)8.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

A Portaria de Consolidação nº 1/2017, em seu Capítulo I, Título I, estabelece diretrizes para o planejamento do SUS e define como instrumentos do plane-
jamento em saúde o Plano Municipal de Saúde (PMS), a Programação Anual da Saúde (PAS), o Relatório Anual de Gestão (RAG) e o Relatório Detalhado
do Quadrimestre Anterior (RDQA), além de orientar os pressupostos para o planejamento6.
O Quadro 7 a seguir resume os referidos instrumentos do Planejamento em Saúde.

Quadro 7. Instrumentos do planejamento em saúde

Instrumento Para que serve?

O PMS é o instrumento central de planejamento para definição e implementação de todas as iniciativas no âmbito da saúde
de cada esfera da gestão do SUS para o período de quatro anos. É esse plano que norteia a Elaboração do planejamento e
Plano Municipal de Saúde (PMS) orçamento do governo no tocante à saúde
Marco Legal: § 8°, Art. 15, Lei O Plano Municipal de Saúde consolida as políticas e compromissos de saúde numa determinada esfera de governo. Nesse sentido,
n° 8.080/1990 reflete, a partir da análise situacional, as necessidades de saúde da população e as peculiaridades próprias de cada esfera
No PMS estão retratados os objetivos macro da gestão, os quais são apresentados com as grandes metas e indicadores para
o quadriênio seguinte

A PAS é o instrumento que operacionaliza as intenções expressas no Plano Municipal de Saúde e tem por objetivo anualizar as
Programação Anual de Saúde (PAS) metas do PMS e prever a alocação dos recursos orçamentários a serem executados
Marco Legal: § 2°, Art. 36, LC Na Programação Anual de Saúde são detalhadas as ações e serviços, conforme a Relação Nacional de Ações e Serviços de
n° 141/2012 Saúde (Renases) e a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename); as metas anuais; os indicadores; e a previsão
de alocação de recursos orçamentários no ano

Relatório Anual de Gestão (RAG) O RAG é o instrumento que apresenta os resultados alcançados com a execução da PAS, apurados com base no conjunto de
diretrizes, objetivos e indicadores do Plano Municipal de Saúde, além de orientar eventuais redirecionamentos que se fizerem
Marco Legal: Art. 36, LC necessários ao PMS e às PAS seguintes. Por essas características, é por meio desse instrumento que os gestores do SUS
n° 141/2012 prestam contas das ações do Plano Municipal de Saúde operacionalizadas pela PAS e que foram executadas no ano anterior

Relatório Detalhado do
Quadrimestre Anterior (RDQA) O RDQA é um instrumento de monitoramento e acompanhamento da execução da PAS. Deve ser apresentado pelo gestor
do SUS até o final dos meses de maio, setembro e fevereiro, em audiência pública, na Casa Legislativa do respectivo ente
Marco Legal: § 5°, Art. 36, LC da federação
n° 141/2012

Fonte: Elaborado a partir do Manual de Planejamento no SUS2.

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Outrossim, para a construção do Planejamento em Saúde, na perspectiva


ascendente e integrado, do nível local ao federal, espera-se que gestores, Pactuação interfederativa
técnicos, conselhos de saúde e sociedade em geral contribuam com a
definição das estratégias prioritárias para a oferta das ações e serviços e a agenda de planejamento
públicos de saúde aos cidadãos, bem como avancem nos formatos e
publicidade dos instrumentos de prestação de contas e transparência, no território
aprimorando o que chamamos de accountability e que abordaremos mais
a adiante6,7.
Assim, o PMS deve estar sempre em “diálogo” com os dispositivos le-
gais do SUS e em sintonia com os espaços participativos da gestão, em
especial do Conselho Municipal de Saúde (CMS) e das Conferências de
Saúde. Além disso, o PMS é o elemento fundamental à Programação
Anual de Saúde (PAS) e ao Relatório Anual de Gestão (RAG)2,3.

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Nas rotinas de pactuação do SUS é preciso deixar claro para os gestores e


técnicos que elaboram o planejamento municipal alguns trâmites burocráti-
cos e formais para que se estabeleçam oficialmente as diretrizes, objetivos,
metas e indicadores necessários à Elaboração do Plano Municipal de Saú-
de (PMS), conforme o Plano Plurianual (PPA). Ou seja, a partir do chamado
ciclo de planejamento que se dá a cada quatro anos, no primeiro ano de
cada mandato do poder executivo, nesse caso o municipal, são estabeleci-
das algumas rotinas necessárias à Governança e Gestão do Sistema Único
de Saúde, inicialmente no PPA e em seguida no Plano Municipal de Saúde
(PMS), para que, em agendas anuais, possam ser elaborados a Programa-
ção Anual de Saúde (PAS) e o Relatório Anual de Gestão, além dos respecti-
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. vos relatórios orçamentários e financeiros correspondentes3,7.

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É importante destacar que esse ciclo se reflete nas orientações da Portaria


de Consolidação nº 1/2017 e a partir da Lei nº 141/2012, em que o Plano
Municipal de Saúde deve ser o instrumento central de planejamento para
definição e implementação de todas as iniciativas no âmbito da saúde de
cada esfera da gestão do SUS, para o período de quatro anos, explicitan-
do, assim, os compromissos do governo para o setor saúde e refletindo, a
partir da análise situacional, as necessidades de saúde da população e as
peculiaridades de cada esfera6.
Para a Elaboração do Plano Municipal de Saúde com base nas diretri-
zes do PPA, os gestores locais precisam estabelecer, com aprovação do
Conselho de Saúde após a realização de Conferência de Saúde, as Di-
retrizes Municipais que farão parte do plano e a partir das quais serão
estabelecidos os Objetivos Estratégicos, suas Metas e Indicadores,
assim como o Orçamento ano após ano, este também submetido ao
poder legislativo, ou seja, a Câmara legislativa municipal, para aprecia-
ção, ajustes e aprovação dos Projetos de Leis de Diretrizes Orçamentá-
rias (LDO) e Leis Orçamentarias Anuais (LOA) que ocorrerão durante os
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.
quatro anos de vigência do PMS e PPA3.
Nesse sentido, faz-se necessária uma articulação no âmbito da gestão Figura 8. Etapas de pactuação interfederativa entre os gestores do SUS e
municipal para a definição de metas e indicadores que sejam consisten- de deliberação dos Conselhos de Saúde
tes e principalmente que tenham garantia do investimento no orçamento
local e isso inclui a oferta de serviços, financiamento solidário com os Pactuações Intermunicipais na CIR e submissão ao CES
demais entes para estruturas regionais que precisam ser pensadas ou
que já existam, mas que precisam ser adequadas em suas infraestru-
turas e operações, assim como dispor de equipes qualificadas, a partir Planos e Metas Regionais na CIR e na CIB e submissão ao CES
das premissas estabelecidas na organização do SUS com foco nas Re-
des Regionais de Atenção à Saúde e todas as dimensões e níveis do
sistema de saúde. Planos e Metas Estaduais na CIB e submissão ao CES

A lógica estabelecida para o planejamento ascendente precisa acontecer


de fato observando algumas sequências institucionais relacionadas às pac- Plano e Metas Nacionais na CIT e submissão ao CNS
tuações entre os entes e às aprovações nas instâncias dos Conselhos de
Saúde, como prevê a LC nº 141/2012 em seu artigo 30, § 1º ao 3º, confor-
me ilustra a Figura 8. Fonte: Elaboração própria.

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No entanto, é importante ressaltar que no âmbito dos Conselhos de Saúde


não existe instância de deliberação regional, apenas municipais e estadual, Ciclo do planejamento e
cabendo, nesse caso, ao Conselho Estadual de Saúde analisar as pactua-
ções regionais e propor possíveis realinhamentos de estratégias e priorida- do orçamento público
des articuladas às necessidades da macro e/ou da região de saúde.
Dessa forma, o planejamento no SUS necessariamente precisa ser
um instrumento dinâmico e de permanente atualização, a partir das
sensibilidades e necessidades locais, baseado em evidências, buscando
articular as diferentes demandas, aspectos normativos, sociodemográficos
e culturais, ser inclusivo e amplamente debatido com a sociedade nas suas
diferentes formas e cada vez mais apoiado por tecnologias que facilitem a
transparência e o acesso ao cidadão às informações de saúde e presta-
ções de contas.

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

O processo de planejamento no SUS tem sua base normativa muito atrela-


da ao modelo do Planejamento Estratégico Situacional (PES), mas, nesse
contexto, o que buscamos trazer é algo para além dos momentos estabe-
lecidos no PES que serão abordados e aplicados em maior profundidade
para a Assistência Farmacêutica na Aula 8, na qual serão abordados as-
pectos relevantes dos seguintes momentos: explicativo, normativo, estra-
tégico e tático-operacional.
O que precisamos ter em mente, neste momento, é que, qualquer que seja
o método adotado, o processo estabelecido para planejamento público, não
apenas em saúde, precisa ser pensado com a participação dos atores en-
volvidos nos diferentes ambientes e níveis de gestão, mas especialmente
dos principais beneficiários das entregas planejadas, ou seja, dos cidadãos e
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. cidadãs usuários do SUS.

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Assim, ao olhar para a Assistência Farmacêutica planejada enquanto um Figura 9. Ciclo do PDCA e a adaptação para o Planejamento no SUS
dos capítulos do Plano Municipal de Saúde, fica evidente que ela deve en-
volver todos os seus atores, uma vez que é transversal a todas as ações e
serviços da rede, bem como fonte significativa de informações e de cuida-
• Planejar • Fazer • PPA • PAS
do que são preciosas para a tomada de decisão dos gestores.
(Plan) (Do) • PMS • LOA
Todas as áreas e setores envolvidos no PMS precisam traduzir suas de-
mandas em Ações, Objetivos, Metas e Indicadores que podem ou não ser
atrelados a rubricas orçamentárias, mas, uma vez contempladas no plano, Planejar Executar
essas metas e indicadores precisam responder aos objetivos propostos de P D e Replanejar
acordo com uma das políticas estabelecidas no SUS. Portanto, é preciso
entender que o ciclo do PDCA estará presente permanentemente em cada
local estabelecido no planejamento do seu município.

A C Avaliar Monitorar

• Agir • Verificar • Conferência • RAG


(Act) (Check) de Saúde • RDQA
• RREO

PDCA (tradicional) PDCA- Saúde/SUS

Fonte: Adaptada do Manual de orçamento e finanças públicas para Conselheiros e Conselheiras de Saúde1.

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

O Tribunal de Contas da União (TCU), ao recomendar ao Controle Social e


O PDCA será abordado em detalhes na Aula 8, mas, de forma resumida, po-
aos Gestores as boas práticas de governança e gestão, trouxe para dentro
demos dizer que é um método de planejamento, mais conhecido pela sigla,
do processo de planejamento o peso do olhar do órgão de controle que,
que em inglês significa: Plan – Do – Check – Act, ou ainda Plan – Do –
a partir dessas práticas estabelecidas em pactuações intergestores, à luz
Check – Adjust, que podem ser traduzidas na literatura como Plan (planejar),
do regramento das políticas públicas pactuadas pelos gestores da saúde,
Do (fazer, executar), Check (checar, controlar, verificar), Act (atuar, agir, corrigir).
passaram a ser cada vez mais cobrados por efetivá-las em benefício da
Para a nossa abordagem utilizaremos: planejar, fazer, verificar e agir. vida do cidadão1.

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Dessa forma, ao iniciar o planejamento e tentar estabelecer as estratégias Figura 10. Etapas do Planejamento Ascendente e Integrado: atores,
prioritárias para o seu município é preciso entender a aplicabilidade do ciclo análises de informações e instrumentos da Política Fiscal e da Saúde
do PDCA em todo momento e local que se propõe realizar atividades de
planejamento na lógica ascendente, ou seja, esse ciclo precisa ser aplicado Política Relatórios Relatórios
desde a Unidade Básica de Saúde até o nível central das secretarias de LDO LOA
Fiscal Quadrimestrais Bimestrais
saúde, segundo as boas práticas da Governança e Gestão e observando
sempre os aspectos da regionalização, do Planejamento Regional Integra-
do (PRI) e da governança das Redes de Atenção à Saúde (RAS) no âmbito Política de
PNS PAS RDQA RAG
Saúde
do SUS, na lógica de organização de macrorregiões de saúde1,6,7,9.

Análise da Situação Análise Orçamentária


Reflita! de Saúde e Financeira
Integrado (PRI) e governança das Redes de Atenção
à Saúde (RAS), no âmbito do SUS? Demográficos PNS

Para aprofundar seus conhecimentos, sugerimos a Sociodemográficos PAS


Prioridades Nacionais
leitura dos seguintes textos: Epidemiológicos RAG e Transnacionais
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Assistencial RDQA
Regionalização da Saúde. Posicionamentos e Orientações. Prioridades Estaduais
Infraestrutura RREO e Interestaduais
MS – Portaria de Consolidação nº 1, 28 de setembro de 2017.
Recursos Humanos LOA
MS – Manual de Planejamento do SUS.
Prioridades das Regiões e
CONASS – Planejamento Regional Integrado – Orientações Macrorregiões de Saúde
Tripartite para o Planejamento Regional Integrado.

Prioridades dos Municípios


Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Instrumentos da Política Fiscal e da Política de Saúde Prioridades dos


Estabelecimentos e Distritos
Os instrumentos relacionados à política fiscal e da saúde, no âmbito da ges-
tão pública, conforme demonstrado na Figura 10, fazem parte dessa dinâmi-
ca de planejamento do país, especificamente do SUS, e são utilizados para Prioridades da Comunidade (Audiências
organizar as entregas à sociedade a partir das diferentes formas de arreca- Públicas, Conferências e Conselhos de Saúde)
dação e que acabam se traduzindo em dois blocos de ferramentas de apoio
à governança e gestão, construídos de forma ascendente. Fonte: Elaboração própria e Imagem - Flaticon ©.

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Esse processo de construção coletiva e ascendente precisa contemplar as Figura 11. Cronograma dos instrumentos de planejamento e orçamento
percepções regionais e macrorregionais, para que sejam atendidos os as-
pectos estabelecidos na agenda de regionalização, do Planejamento Regio-
nal Integrado (PRI) e da governança das Redes de Atenção à Saúde (RAS).

 ronograma dos instrumentos de


C 01. 02.
planejamento e orçamento • RAG • RAG
• 3 RDQA • 3 RDQA

ano

ano
Para orientar o processo de trabalho durante o planejamento municipal (Figu-
ra 11) é preciso conhecer os prazos estabelecidos para cada instrumento a • PMS e PPA • PAS, LDO
ser construído durante esse processo de priorização de ações e metas para e LOA
os gestores e profissionais da saúde. • PAS, LDO e LOA

03. 04.
• RAG • RAG
• 3 RDQA • 3 RDQA

ano

ano
• PAS, LDO • PAS, LDO
e LOA e LOA

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Fonte: Adaptada do Manual do Gestor Municipal3.

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Com esse escopo e a definição cronológica no quadriênio já é possível começar a organizar suas atividades com o objetivo de construir parte do capítulo
da Assistência Farmacêutica nesse Plano Municipal de Saúde e articular os demais instrumentos anuais e quadrimestrais necessários para garantir a trans-
parência dos resultados alcançados versus investimentos alocados e gastos com as Ações e Serviços Públicos de Saúde (ASPS).
O PMS deve conter uma análise situacional da saúde do município (estrutura do sistema, sua rede de saúde, condições sociossanitárias, fluxos de acesso,
recursos financeiros, descrição dos processos de gestão do trabalho e da educação na saúde e descrição dos processos de inovação tecnológica em
saúde), uma descrição dos objetivos, diretrizes, metas e indicadores e uma descrição dos processos de monitoramento e avaliação. Sua validade é de
quatro anos – a contar a partir do segundo ano do governo recém-eleito até o primeiro ano do próximo governo – devendo ser apresentado até março do
primeiro ano de governo e, consequentemente, subsidiando o planejamento orçamentário do município3.
Assim, diante desse cenário e dessa cronologia, inicia-se, por exemplo, um dos métodos referenciados pelo Conasems para a realização do planejamento
em saúde, ou seja, o método do Planejamento Estratégico Situacional (PES), tomando por base, a premissa de um diagnóstico situacional para, em segui-
da, aplicar as etapas do método e as ferramentas de apoio ao processo e a priorização dos objetivos, diretrizes, metas e indicadores, bem como estruturar
o processo de monitoramento e avaliação do PMS. Essa sequência de instrumentos e conteúdos fica mais clara no Quadro 8.

Quadro 8. Etapas, instrumentos, atividades e conteúdos utilizados no planejamento municipal da saúde


Etapas Instrumentos Atividades e conteúdos básicos
a) Identificar os dados e informações locais assistenciais e gerenciais da RAS, regionais e
macrorregionais relevantes ao planejamento
b) Identificar os dados e informações locais assistenciais e gerenciais da
Levantamento de dados e
1ª Etapa Assistência Farmacêutica
informações do território
c) Consolidar dados e informações do território no formato estabelecido pela
equipe de planejamento da Secretaria de Saúde para futura análise e consolidação
na análise situacional
a) Elaboração da análise da situação de saúde:
- identificação das necessidades de saúde
- identificação da capacidade instalada e dos vazios assistenciais
Análise situacional (capítulo - identificação dos fluxos de acesso aos produtos e serviços da AF
do PNS): uma espécie de
2ª Etapa b) Definição de prioridades sanitárias:
“fotografia” do momento
da Elaboração - diretrizes, objetivos, metas, indicadores e prazos de execução
c) Organização dos pontos de atenção da RAS
d) Elaboração da Programação Geral de Ações e Serviços de Saúde
e) Definição dos investimentos programados

(continua)

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(continuação)

Etapas Instrumentos Atividades e conteúdos básicos

Momento explicativo:
- Identificação de problemas
- Seleção de problemas prioritários/estratégicos (classificação criteriosa dos problemas)
- Descrição dos problemas (uso de indicadores e descritores qualitativos e quantitativos)
- Elaboração da rede de causalidade dos descritores de problemas e identificação dos nós críticos
(ponto da rede de causalidade em que se avalia estrategicamente a intervenção e sobre a qual se
formulará uma ação)
Planejamento Estratégico Momento normativo:
Situacional (PES):
- Definição da situação-objetivo (transformação dos descritores em resultado esperado)
a Elaboração do Plano
- Elaboração do plano de operações (cada operação é um conjunto de ações)
Municipal de Saúde precisa
ser participativa, então, - Reconhecimento de cenários possíveis
3ª Etapa é estratégico para o seu - Definição dos recursos necessários e dos produtos e resultados esperados em cada ação
êxito envolver as áreas da Momento estratégico:
Assistência Farmacêutica e
- Análise de viabilidade (segundo as diversas dimensões do plano: política, econômica, cognitiva,
articular para garantir o apoio
organizativa etc.)
do setor de planejamento
da SMS - Elaboração de uma agenda estratégica
- Discriminação dos recursos necessários
- Identificação de quais atores controlam os recursos necessários e quais são as suas motivações
perante o plano
- Definição de operações estratégicas (operações necessárias e não viáveis)
Momento tático-operacional:
- Definição das ações a serem executadas com responsáveis e agenda, avaliação do plano, segundo
variáveis como os descritores dos problemas, os nós críticos, o andamento das operações, entre outros

(continua)

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(continuação)

Etapas Instrumentos Atividades e conteúdos básicos

Plano Municipal de Saúde Avaliação da governabilidade:


(PMS) – Versão Preliminar:
4ª Etapa hora de avaliá-lo antes de - Durante a construção das propostas da AF para o PMS é preciso realizar a governabilidade de cada
submetê-lo ao Conselho uma delas, mas, também pode ser realizada após concluída a estruturação do Plano, sendo feita na
Municipal de Saúde totalidade das propostas

Submeter ao CMS
Deve ser validado pelo CMS para atender os quatro anos de gestão: do segundo ano da gestão que
se inicia ao primeiro ano da gestão subsequente

Plano Municipal de Saúde Na estrutura final do PMS submetida ao CMS deve constar:
(PMS) – Versão Final: hora de
5ª Etapa - Análise situacional da saúde do município
submetê-lo para avaliação do
Conselho Municipal de Saúde - Objetivos, diretrizes, metas e indicadores
- Monitoramento e avaliação

O Conselho Municipal de Saúde realizará a análise e emitirá o parecer conclusivo para aprovação do
PMS no DigiSUS Gestor

Programação Anual de Saúde Apresentar para a PAS:


(PAS) – realizada a cada ano: - Ações a serem realizadas
6ª Etapa sua validade é de um ano,
sempre o ano subsequente a - Recursos a serem mobilizados
sua apresentação. - Metas a serem alcançadas

(continua)

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(continuação)

Etapas Instrumentos Atividades e conteúdos básicos

LDO e LOA: serão elaboradas


- Apoiar a Elaboração dos Projetos de Lei (PLDO e PLOA) com base na PAS e após aprovação
7ª Etapa a cada ano, de acordo com a
pelo Legislativo
PAS estabelecida pela SMS

Relatório Anual de Gestão - Resultados atrelados à PAS


(RAG): período de um ano, - Objetivos, diretrizes, metas e indicadores
8ª Etapa
tendo como objeto o ano - Metas previstas e executadas
anterior a sua apresentação - Execução orçamentária

Relatório Detalhado do - Resultados da execução da PAS


Quadrimestre Anterior - Recursos aplicados no período
9ª Etapa (RDQA): conteúdo semelhante
ao RAG, referente ao - Auditorias realizadas ou em execução e suas recomendações
quadrimestre anterior - Oferta e produção de serviços da rede própria e conveniada/ contratada

Fonte: Elaborado a partir do Manual do Gestor Municipal3.

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É importante destacar que o TCU, assim como outros órgãos de controle,


 apel da sociedade na governança da Saúde:
P para além da Elaboração do Plano de Saúde, passou a reforçar a cobrança
do planejamento ascendente ao controle e das gestões municipais sobre a utilização de uma política local de gestão
de riscos articulada com o controle interno municipal.
fiscalização no SUS
O aspecto da participação da comunidade, desde o domicílio durante os
atendimentos e visitas dos profissionais de saúde até as grandes mobiliza-
ções institucionais da sociedade como as conferências de saúde, passaram Saiba mais!
a ser alvo de análise e monitoramento nacional e internacional. 10 passos para a boa gestão de riscos.
Referencial básico de gestão de riscos.
No âmbito nacional, o TCU aponta inclusive a importância dessas atividades para
o monitoramento do órgão, especialmente quando entende que a Secretaria de
Saúde precisa estabelecer minimamente as estratégias de priorização, como:
Fonte: Imagem – Flaticon ©.

I. Realização das Conferências de Saúde;

Se as pactuações dos gestores nas CIR, CIB e CIT que


II. impactam o planejamento estão sendo realizadas;

Se as diretrizes do conselho de saúde para o Plano de Saúde,


III. inclusive quanto à priorização, estão estabelecidas;

Se audiências públicas para obter sugestões para o Plano de


IV. Saúde são realizadas;
Se os resultados das Conferências de Saúde, das pactuações entre os
V. gestores nas CIR, CIB e CIT e nas audiências públicas e as diretrizes do
conselho de saúde, são considerados no Plano de Saúde;
Se o Plano de Saúde está estabelecido de forma compatível com o
Plano Plurianual e se o Plano de Saúde está devidamente elaborado
VI. e contém: análise situacional; definição de objetivos; definição de pelo
menos um indicador para cada objetivo; definição de metas para cada
indicador; processo de monitoramento e avaliação dos indicadores;
VII. Se o Plano de Saúde é aprovado pelo conselho de saúde7. Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

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Ferramentas utilizadas no planejamento


do SUS: do SARGSUS ao DigiSUS-Gestor Saiba mais!
DigiSUS Gestor.
De acordo com as orientações do Conasems, os gestores municipais devem Painel de Apoio à Gestão do CONASEMS.
se atentar sobre a necessidade de não apenas produzirem os instrumentos,
mas, também, de fazerem uso do DigiSUS Gestor – Módulo de Planejamento
(DGMP), ferramenta que compõe a estratégia e-Saúde e que desde 2018
substitui o antigo Sistema de Apoio ao Relatório de Gestão (SARGSUS)3,11. Fonte: Imagem – Flaticon ©.

O DigiSUS Gestor – Módulo de Planejamento (DGMP) é um sistema de


Cada município acaba tendo um setor ou equipe de planejamento que
informação desenvolvido a partir das normas de planejamento do SUS,
conduz esse processo de organização das informações municipais da
devendo ser alimentado pelas gestões municipais e estaduais, segundo
saúde de acordo com uma agenda local no começo de cada governo,
as informações produzidas nos instrumentos de gestão (PMS, PAS, RAG
então, nesse momento o principal ponto é entender como a Assistência
e RDQA) e as pactuações interfederativas (metas e indicadores pactuados
Farmacêutica se insere nesse contexto de planejamento.
nacionalmente na Comissão Intergestores Tripartite – CIT)3,11.
O primeiro passo é realizar um
levantamento das necessidades
da AF a partir das informações
obtidas nos estabelecimentos
de saúde e disponíveis no setor,
preferencialmente com o apoio e
uso das técnicas e ferramentas
normalmente utilizadas pela área
do planejamento na secretaria.
Em seguida, deve-se articular
tais necessidades em forma de
metas e indicadores mensuráveis
que possam ser alimentados, por
exemplo, na plataforma DigiSUS
Gestor ou em outra ferramenta
local que possibilite o acompa-
nhamento do que foi planejado Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/
Fonte: Imagem – Shutterstock © e Conasems ©. (Figuras 12 e 13). Levante Filmes/Conasems ©.

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Uma vez consolidadas as informações da saúde municipal, a equipe de pla- Figura 13. Imagem do ambiente de acesso por esfera e perfil no Módulo
nejamento alimentará o Plano Municipal de Saúde com todas as metas e in- Planejamento do DigiSUS Gestor
dicadores que serão priorizados, acompanhados e monitorados pelos quatro
anos de vigência do plano. Lembrando que o PMS inicia sua construção no
primeiro ano da gestão atual, mas só entrará em vigência no segundo ano
da gestão, finalizando no primeiro ano do governo ou gestão subsequente.

Figura 12. Imagem do ambiente Planejar do DigiSUS Gestor e


ferramentas disponibilizadas

Fonte: DigiSUS Gestor11.

É importante que a gestão da Assistência Farmacêutica apresente as propos-


tas da área previstas para o Plano Municipal de Saúde ao Conselho Municipal
de Saúde e mantenha uma agenda permanente de articulação com este órgão
para esclarecer a execução das atividades propostas e realizar a devida pres-
tação de contas dos recursos programados. O Conselho monitorará todas as
metas e indicadores programados no módulo de planejamento do DigiSUS
Gestor, então, é necessário entender esse processo e essas etapas no seu
município e subsidiar a tomada de decisão do gestor sempre que demandado.
No DigiSUS Gestor é possível informar as metas anuais a serem perseguidas
pela gestão, inclusive da Assistência Farmacêutica, que fazem parte da Pro-
gramação Anual de Saúde (PAS) baseando-se no que foi previsto no Plano
Fonte: DigiSUS Gestor11. Municipal de Saúde para os quatro anos (Figuras 14 e 15).

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À medida que a execução da PAS começa a acontecer é possível informar Figura 15. Imagem da Programação Anual de Saúde no módulo
o alcance das metas da Assistência Farmacêutica naquele ano e esse resul- planejamento do DigiSUS Gestor
tado anual será consolidado e fará parte da prestação de contas da Secre-
taria de Saúde por meio do Relatório Anual de Gestão a ser submetido ao
Conselho Municipal de Saúde para análise.

Figura 14. Imagem da Programação Anual de Saúde no módulo


planejamento do DigiSUS Gestor

Fonte: DigiSUS Gestor11.

É necessário ter clareza da importância desses instrumentos de plane-


jamento do SUS, em especial o PMS e a PAS, uma vez que eles dão
subsídios não apenas para a gestão do SUS, mas, também, para a for-
mulação e gestão do orçamento municipal. Nesse sentido, o cronograma
e os prazos que regem tais instrumentos estão intimamente ligados ao
Fonte: DigiSUS Gestor11. cronograma dos instrumentos legais do orçamento municipal.

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Síntese da Aula Referências


Nesta aula apresentamos a estrutura organizativa do planejamento do 1. Brasil. Ministério da Saúde, Conselho Nacional da Saúde (CNS).
setor público no Brasil e como isso precisa ocorrer de forma ascendente Manual de orçamento e finanças públicas para Conselheiros e
no Sistema Único de Saúde, com a participação tanto da comunidade e Conselheiras de Saúde [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério
da Unidade Básica de Saúde quanto da alta gestão do Sistema de Saú- da Saúde; 2016 [acesso em 8 dez. 2019]. Disponível em: http://
de, obedecendo os aspectos normativos da pactuação interfederativa bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_financas_publicas_
na região, no estado e no âmbito federal à luz do ciclo do planejamento conselheiros_conselheiras_saude.pdf.
e do orçamento público, sempre com foco na melhoria da política de
2. Brasil. Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz. Manual de
saúde destacando a importância da Assistência Farmacêutica nesse
planejamento no SUS. 1ª ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde, 2016
cenário de governança em saúde. A partir dos conteúdos abordados e
[acesso em 8 dez. 2019]. (Série Articulação Interfederativa, volume
com base nas leituras recomendadas esperamos apoiar os profissionais
4). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
farmacêuticos atuantes nos municípios brasileiros nesse permanente
articulacao_interfederativa_v4_manual_planejamento_atual.pdf.
processo de qualificação da gestão da Assistência Farmacêutica.
3. CONASEMS-COSEMS-RJ-LAPPIS/IMS/UERJ, organizadores. Manual
do(a) Gestor(a) Municipal do SUS: “Diálogos no Cotidiano”. 2ª ed.
revisada, ampliada. Rio de Janeiro: CEPESQ; 2019 [acesso em 10
dez. 2019]. Disponível em: https://www.conasems.org.br/orientacoes-
ao-gestor/publicacoes/.
4. Brasil. Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta
a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a
organização do Sistema Único de Saúde – SUS, o planejamento
da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, jun. 2011
[acesso em 8 dez. 2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7508.htm.

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 91 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

5. Brasil. Lei Complementar nº141, de 13 de janeiro de 2012. 10. Brasil. Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016.
Regulamenta o § 3º do art. 198 da Constituição Federal para dispor Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para instituir
sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela o Novo Regime Fiscal, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços União, Brasília, DF, dez. 2016 [acesso em 10 dez. 2019]. Disponível
públicos de saúde; estabelece os critérios de rateio dos recursos de em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e emc95.htm.
controle das despesas com saúde nas 3 (três) esferas de governo;
11. Brasil, Ministério da Saúde. DigiSUS Gestor. [Internet] [acesso em
revoga dispositivos das Leis nos 8.080, de 19 de setembro de 1990, e
10 dez. 2019]. Disponível em: http://digisus.saude.gov.br/gestor/#/
8.689, de 27 de julho de 1993; e dá outras providências. Diário Oficial
planejamento.
da União, Brasília, DF, jan. 2012 [acesso em 8 dez. 2019]. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp141.htm.
6. Brasil, Ministério da Saúde. Portaria de Consolidação nº 1, de 28
de setembro de 2017. Consolidação das normas sobre os direitos
e deveres dos usuários da saúde, a organização e o funcionamento
do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, set.
2017 [acesso em 10 dez. 2019]. Disponível em: http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0001_03_10_2017.html.
7. Brasil, Tribunal de Contas da União (TCU). Guia de governança e
gestão em saúde: aplicável a secretarias e conselhos de saúde.
Brasília: TCU, Secretaria de Controle Externo da Saúde; 2018.
Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/guia-de-
governanca-e-gestao-em-saude.htm.
8. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Documento político e técnico para diálogo com os candidatos nas
eleições em 2018. [Internet] [acesso em 10 dez. 2019]. Disponível em:
https://www.conasems.org.br/wp-content/uploads/2018/07/livreto_
presidenciaveis_tela_F02.pdf
9. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Regionalização da Saúde. Posicionamentos e Orientações. Brasília:
Conasems; 2019. [Internet] [acesso em 10 dez. 2019]. Disponível em:
https://www.conasems.org.br/orientacoes-ao-gestor/publicacoes/.

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 92 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Material Complementar
1. Brasil. Constituição Federal de 1988 [acesso em 10 dez. 2019]. 10. Brasil, Ministério da Saúde. Portal DigiSUS Gestor. [acesso em 10 dez.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ 2019]. Disponível em: http://digisus.saude.gov.br/gestor/#/planejamento
constituicao.htm
11. Brasil, Ministério da Saúde. Portaria de Consolidação nº 1, 28 de
2. Brasil. Emenda Constitucional nº 29/2000 [acesso em 10 dez. 2019]. setembro de 2017. [acesso em 10 dez. 2019]. Disponível em: http://
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0001_03_10_2017.
Emendas/Emc/emc29.htm html
3. Brasil. Lei Complementar nº 101/2000 [acesso em 13 dez. 2019]. 12. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Planejamento
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm Regional Integrado. Orientações Tripartite para o Planejamento
Regional Integrado. [acesso em 14 dez. 2019]. Disponível em: https://
4. Brasil. Lei Complementar nº 131/2009 [acesso em 15 dez. 2019].
www.conass.org.br/guiainformacao/planejamentoregional-integrado/
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm
13. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS).
5. Brasil. Lei nº 12.466/2011 [acesso em 8 dez. 2019]. disponível
Painel de Apoio à Gestão do CONASEMS. [acesso em 10 dez. 2019].
em: Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
Disponível em: https://www.conasems.org.br/painel-de-apoio-a-
2014/2011/Lei/L12466.htm
gestao-ferramenta-reune-informacoes-para-auxiliar-planejamento-do-
6. Brasil. Lei nº 4.320/1964 [acesso em 13 dez. 2019]. Disponível em: gestor/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm
14. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS).
7. Brasil. Lei nº 8.080/1990 [acesso em 11 dez. 2019]. Disponível em: Regionalização da Saúde. Posicionamentos e Orientações. [acesso
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm em 10 dez. 2019]. Disponível em: https://www.conasems.org.br/
orientacoes-ao-gestor/publicacoes/
8. Brasil. Lei nº 8.142/1990. [acesso em 10 dez. 2019]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm
9. Brasil, Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz. Manual de
planejamento no SUS. 1ª ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde, 2016
[acesso em 8 dez. 2019]. (Série Articulação Interfederativa, volume 4).
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/articulacao_
interfederativa_v4_manual_planejamento_atual.pdf

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 93 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Autores
Marco Aurélio Pereira Suetônio Queiroz de Araújo
Graduação em Farmácia pela Universidade Católica de Santos (UNISAN- Doutorando e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade de Brasí-
TOS), especialização em Farmacologia e Mestrado em Saúde Pública lia, especialização em Gestão e Auditoria no Sistema Único de Saúde
área de atuação Gestão em Saúde pela Escola Nacional de Saúde Públi- (SUS), atuando há mais de 20 anos nas áreas da gestão pública e saúde
ca “Sergio Arouca” pela Fiocruz. Atuou em farmácia, drogaria e em far- pública com ênfase na assistência farmacêutica, gestão e planejamento,
mácia hospitalar. Foi professor da Universidade Santa Cecília e professor além de controle e gestão na saúde com foco nos gastos e compras públi-
adjunto da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, nas disciplinas cas. Atua como consultor do Escritório das Nações Unidas para Serviços
História da Farmácia; Introdução às ciências farmacêuticas; Saúde Pú- em Projetos (UNOPS) e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS),
blica; Deontologia e Legislação Farmacêutica. Foi Coordenador Geral de com a Elaboração e supervisão de projetos de cooperação com organis-
Gestão do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da mos internacionais (Banco Mundial e OPAS) contemplando pesquisas de
Saúde, onde coordenou o Programa Farmácia Popular do Brasil, de 2009 campo para o fortalecimento do sistema de saúde e na integração e or-
a 2016. Tem experiência na área de Farmácia, atuando principalmente ganização das redes de atenção à saúde. Desenvolveu consultorias para
nos temas saúde pública, assistência farmacêutica, uso racional de medi- consórcios públicos na saúde e projetos educacionais na modalidade à
camentos, política nacional de assistência farmacêutica e Programa Far- distância. No Brasil essas consultorias priorizaram o Conselho Nacional
mácia Popular do Brasil. de Saúde (CNS), Ministério da Saúde (MS), Organização Pan-Americana
da Saúde, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e Mato Grosso,
bem como assessoramento técnico na Assistência Farmacêutica para o
Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS) e Ministério Pú-
blico na área da Promotoria da Saúde, além de exercer cargos na gestão
da Assistência Farmacêutica na Secretaria de Estado da Saúde de Ala-
goas e em municípios.

Aula 7 - Planejamento no âmbito do SUS | 94 |


8
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Aula

Planejamento da Assistência Farmacêutica


municipal: métodos e aplicações

Autores: Marco Aurélio Pereira e Suetônio Queiroz de Araújo

| 95 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Ementa da aula

Esta aula aborda aspectos gerais sobre a Assistência Farmacêutica e os


métodos de planejamento aplicados na Assistência Farmacêutica municipal.

Fonte: Imagem - Flaticon ©.

Objetivo de aprendizagem

Compreender a importância do planejamento das atividades a serem


desenvolvidas no âmbito da Assistência Farmacêutica municipal e regional;
conhecer métodos de planejamento a serem aplicados na gestão da Assistência
Farmacêutica municipal e regional.

Fonte: Imagem - Flaticon ©.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 96 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Introdução Aspectos gerais sobre a


A garantia do acesso aos medicamentos é um direito da sociedade, previs- Assistência Farmacêutica
to em lei, e que não pode ser pensado apenas pela perspectiva da aquisi-
ção e distribuição de insumos. Acesso, nesse contexto, tem uma dimensão Como foi abordado na Aula 2, no Módulo 1*, a partir das definições,
que compreende todo o conjunto de ações envolvidas para que o medica- conceitos e responsabilidades determinadas para cada uma das esfe-
mento esteja disponível na quantidade necessária, com a qualidade devida ras de gestão, segundo a Política Nacional de Medicamentos e a Po-
e que atenda às necessidades da população, sendo usado e prescrito sob lítica Nacional de Assistência Farmacêutica, fica evidente que a efeti-
a lógica do uso racional. Para isso, é necessário que o conjunto dos atores vação da Assistência Farmacêutica como direito vai depender de uma
envolvidos com a Assistência Farmacêutica desenvolvam suas ações de gestão capaz de garantir a articulação de todas as etapas envolvidas
maneira articulada e planejada, tendo os princípios e diretrizes do Sistema em sua construção1,2,3.
Único de Saúde como norteadores dessas ações.
Tendo como pressuposto que a Assistência Farmacêutica tem um caráter
Dessa forma, o planejamento das ações a serem desenvolvidas deve ser sistêmico, para que seja garantida a racionalidade, eficiência e qualidade dos
resultado de uma construção coletiva, a partir da concepção de que o SUS serviços, é fundamental a construção de diretrizes e objetivos bem definidos,
deve ser estimulador e, ao mesmo tempo, respeitar o processo democrá- a partir de um planejamento bem elaborado3.
tico de participação da comunidade e do conjunto de sujeitos que contri-
É fundamental, ainda, que a Assis-
buem na efetivação das políticas de saúde.
tência Farmacêutica seja entendi-
da em todas as suas dimensões
como apontamos na Aula 5, em
que aspectos técnicos e políticos
interferem no modelo de organi-
zação e gerência escolhido pela
gestão municipal. A racionalidade
da maioria das gestões municipais
está focada nas questões orça-
mentárias e financeiras que podem
e normalmente interferem nessa
escolha de modelos centralizados,
parcialmente descentralizados e Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/
Fonte: Imagem - Shutterstock ©. descentralizados. Levante Filmes/Conasems ©.

*Nota do editor: Este livro integra a coleção Assistência Farmacêutica na gestão municipal: da instrumentalização às práticas de profissionais de nível médio e/ou técnico nos serviços de saúde e apresenta o
conteúdo das aulas do Módulo 2 de curso homônimo oferecido pelo Projeto Atenção Básica, realizado no âmbito do PROADI-SUS. As aulas do Módulo 1 podem ser acessadas no vol. 1 desta mesma coleção,
Assistência Farmacêutica: da organização ao acesso a medicamentos e os desafios de sua integração à rede de atenção do SUS.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 97 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Importância do planejamento

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Nesse sentido, a Assistência Farmacêutica precisa ser pensada, por exem-


plo, para além dos componentes de financiamento (básico, estratégico e
especializado), uma vez que em muitos municípios essa área assume tam-
bém o papel da gestão hospitalar e ambulatorial de média e alta complexi- Fonte: Imagem – Shutterstock ©.
dades, seja com gerência direta pelo setor público, seja transferindo essa
gerência a contratações terceirizadas por fundações, organizações sociais, Para tratar desse tema, conceituaremos planejamento como:
consórcios e outras formas de contratualização das ações e serviços.
Logo, o nosso objetivo nesta aula é fazer com que você, profissional do
Apoio Técnico, se localize nas agendas de planejamento do seu município,
[…] instrumento gerencial que deve estar
região e estado, para que possa planejar suas ações, metas e indicado- apoiado no conhecimento exato da nossa
res articulando-se às agendas do planejamento do SUS e pensando na realidade, das nossas condições e das nossas
Assistência Farmacêutica como um agente transversal a toda a Rede de dificuldades. Planejar significa, portanto,
Atenção à Saúde e fundamental para a qualificação da assistência à saúde.
orientar a ação do presente para que
A ideia aqui é que você consiga, a partir do conteúdo abordado, refletir sobre possamos organizar e estruturar um conjunto
a realidade do seu município e o que pode ser aprimorado, desde a Unidade
Básica de Saúde, passando pela logística, infraestrutura, sistema de infor- de atividades, conforme critérios previamente
mação, absorção de novas tecnologias, recursos humanos e financeiros, de estabelecidos, visando modificar uma dada
forma a priorizá-los para alcançar sua imagem-objeto, ou seja, como a As- realidade (p. 56)3.
sistência Farmacêutica precisa estar após os quatro anos da atual gestão.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 98 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Vale destacar que planejamento em saúde se origina a partir da neces-


sidade de melhor utilização de recursos na década de 1960, em virtude
da necessidade de qualificação da gestão das políticas sociais. Um dos
primeiros instrumentos de planejamento em saúde aplicado no continente
americano foi o método Cendes/OPAS5.
Elaborado na década de 1920, a partir da concepção de que o planeja-
mento é uma ferramenta de Estado que contribui para a promoção do
desenvolvimento social e econômico, tem foco no gerenciamento da es-
cassez de recursos e busca desenvolver ações com maior efetividade. Foi
muito difundido no Brasil e se estruturava com base no cruzamento de
informações sobre os recursos utilizados, custos por absorção e agravos
evitados, cujo resultado era utilizado para orientar as decisões sobre a alo-
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.
cação de recursos ou análise de desempenho de sistemas e programas7.
Planejar, portanto, deve ser compreendido como um processo sistematiza- Essa estratégia passou a perder relevância por uma série de fatores, como
do, dinâmico, contínuo, realista e participativo, que terá como produto um a dificuldade de obtenção de informações adequadas. Em seu lugar, ou-
plano de ação, elaborado a partir da identificação de problemas, o que im- tras estratégias passaram a ser utilizadas em nosso país, dentre as quais
plica em um profundo conhecimento da situação que se deseja melhorar3,4. o planejamento estratégico situacional7, que será abordado de forma mais
detalhada na seção Planejamento Estratégico desta aula.
Esse plano de ação, que apresentará os objetivos e metas, estratégias, de-
finições de prazos e de responsáveis, deve refletir as discussões realizadas
com os mais diversos atores envolvidos com o tema de forma a garantir
que todos tenham convicção de que o estabelecido no plano contribuirá,
de fato, para o alcance das metas planejadas5,6.
Para o contexto da abordagem desta aula, estratégia deve representar:

[…] o conjunto de diretrizes que contemplam


a definição de uma situação presente ou
marco inicial, de uma situação futura desejada
e das ações necessárias para percorrer de
forma segura o melhor caminho e alcançar os
objetivos pretendidos. (p. 41)6.
Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 99 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Com base no que foi exposto até o momento, fica evidente que planejar é
um ato indispensável e como estamos tratando do planejamento na esfera
pública, vale considerar as ideias defendidas por Carlos Matus, que nos
ajudam a compreender a gerência como um ato de governar, especialmen-
te a que ficou conhecida como “triângulo de governo”5, ilustrada na Figura
16 a seguir.

Figura 16. Triângulo de governo

Projeto de
governo

Fonte: Imagem – Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

A definição de uma estratégia tem como objetivo a definição de um refe-


rencial institucional, envolvendo a missão e os valores de uma organização, Capacidade
Governabilidade
seus objetivos e metas, além da forma como os recursos serão utilizados de Governo
e os processos para sua execução. Para a Elaboração de uma estratégia
é preciso definir um plano estratégico e seus desdobramentos, como se
dará a execução dessa estratégia, envolvendo o acompanhamento e os
realinhamentos necessários para que seus resultados sejam alcançados6. Fonte: Elaboração própria.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 100 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Destaca-se que o planejamento é parte de um conjunto de ações que, de


maneira sequencial e contínua, são utilizadas no ato de administrar, deno-
Projeto de governo: trata dos conteúdos de
01. atividades que se pretende realizar para alcançar
os objetivos planejados, traduzindo-se como a
minado ciclo administrativo PDCA, que hoje é uma das ferramentas mais
conhecidas para dar suporte à gestão5,6.
necessidade de ter uma direção, projetos e leis que
orientem as decisões3,5.

Capacidade de governo: refere-se a quão


02. necessário é manter e mobilizar recursos
operacionais, técnicos e humanos para se alcançar o
que está projetado. Está relacionada com o conjunto
de habilidades, experiências, metodologias e
técnicas que contribuem para a garantia de uma boa
governabilidade3,5.

Governabilidade: expressa a relação entre as


03. variáveis controladas e as não controladas pelo
ator no processo de governo. Essas variáveis são
ponderadas pelo valor ou peso que representam
nas ações do ator. A governabilidade do sistema
refere-se, então, à possibilidade de ação ao
controle de seus efeitos. Quanto maior o número de
variáveis decisivas controladas pelo ator, maior será
a sua governabilidade, ou seja, maior será a sua
liberdade de ação e o seu potencial resolutivo no
enfrentamento de obstáculos […] (p. 61)3

Fonte: Imagem - Flaticon ©. Fonte: Teaser – XXXV Congresso Conasems ©.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 101 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

A seguir, discorreremos sobre cada uma das etapas do ciclo PDCA:


Ciclo PDCA
O ciclo PDCA (Figura 17), cuja sigla vem dos verbos, em inglês, plan –
do – check – act, que significam planejar – fazer – verificar – agir, obje-
Plan (planejar):
tiva a estruturação de ações de uma organização, com vistas a potenciali-
zar o alcance de resultados a partir da definição de planos bem elaborados, Nesse estágio, que se reflete enquanto uma
de uma correta execução, além do devido acompanhamento dos indicado- ação estratégica, considera-se a avaliação dos
res definidos no plano e o aprimoramento permanente das ações5,6. procedimentos atualmente utilizados e a forma
como podem ser melhorados. Aqui se estabelece qual a
Figura 17. Ciclo PDCA missão da organização, seus objetivos, metas, procedimentos e
metodologias necessárias para que os resultados previamente
definidos sejam alcançados5,7.

Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Ainda nessa etapa, é importante que a gestão da Assistência Farmacêutica


Plan Do se envolva, de fato, com a construção do planejamento da secretaria, para
Planejar Fazer garantir que as ações, metas e indicadores sejam contemplados.

Do (fazer):
Esse é o momento em que as ações planejadas são
Act Check executadas, ou seja, quando o plano entra em ação.
Agir Verificar
Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Uma vez que as metas da Assistência Farmacêutica são garantidas no


Plano Municipal de Saúde, essa é a etapa de executar o que foi planejado
por meio da programação anual de saúde com o orçamento aprovado na
Fonte: Elaboração própria. Lei Orçamentária Anual.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 102 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

De acordo com o referido manual:

Check (verificar):
Nessa etapa, em que estão presentes os processos a eficiência é definida como a relação
de monitoramento e avaliação, busca-se observar, entre os produtos (bens e serviços)
com base nos resultados acumulados até então, se
o plano está sendo executado conforme planejado.
gerados por uma atividade e os custos
dos insumos empregados para produzi-
los, em um determinado período
Fonte: Imagem – Flaticon ©.
de tempo, mantidos os padrões de
qualidade. Essa dimensão refere-se ao
Essa verificação, ou monitoramento, do que será feito precisará ser descri- esforço do processo de transformação
ta no Relatório Anual de Gestão e nos Relatórios Quadrimestrais. de insumos em produtos. […] (p. 12)8.

Act (agir):
É nesse momento que se busca corrigir o que
foi identificado como problema ou falha na etapa
anterior, de monitoramento e avaliação, e que
compromete o alcance dos resultados. O objetivo dessa
etapa é aprimorar a execução do plano, na busca por maior
qualidade, eficiência e eficácia5.

Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.


Nesse momento, é importante que a avaliação seja feita em conjunto com
o controle social.
Podemos citar como exemplo o processo de aquisição de medicamentos
Para melhor compreensão, vamos adotar os conceitos para eficiência e no município: de nada valerá uma correta seleção de medicamentos se não
eficácia, conforme dispõe o Manual de Auditoria Operacional do Tribunal houver a mesma excelência para a aquisição dos produtos. Nesse caso, é
de Contas da União (TCU)8. preciso ressaltar que a aquisição é um procedimento com dimensões técni-

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 103 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

cas, administrativas, legais e econômicas. Se não houver o entendimento de Portanto, se as etapas anteriores forem bem executadas, a gestão poderá
que essas características se complementam, podemos ter comprometido o ter como resultado um maior alcance das metas planejadas, demonstrando
padrão eficiência dessa ação, pelo fato de, por exemplo, este se tornar um eficácia nos serviços prestados na Assistência Farmacêutica.
procedimento meramente burocrático. Ou, ainda, ter os medicamentos dis-
Vale destacar o que foi abordado na Aula 5, sobre gestão do SUS e da
poníveis, porém adquiridos por um valor que poderia ser menor3.
Assistência Farmacêutica Municipal, quanto aos conceitos de gestão e go-
E eficácia diz respeito: vernança e a relação com o planejamento.
Como vimos anteriormente, o planejamento é uma das ferramentas funda-
[…] à capacidade da gestão de cumprir mentais de suporte à gestão, lembrando que gestão é um instrumento ado-
tado pela instituição para se alcançar resultados previamente definidos, utili-
objetivos imediatos, traduzidos em zando-se de recursos materiais, de pessoal, processos e práticas para isso8.
metas de produção ou de atendimento,
Já a governança trata de todas as medidas que auxiliam na avaliação de
ou seja, a capacidade de prover bens ou condições e opções, determinando a “direção, o monitoramento, a con-
serviços de acordo com o estabelecido formidade o desempenho e o progresso, alinhando, desta forma, planos e
no planejamento das ações (p. 12)8. objetivos […]”. (p. 247)8.
A governança, por meio de permanente avaliação, direcionamento e moni-
toramento, não se responsabiliza pelas tarefas a serem executadas. Cabe
a ela, a partir da definição de estratégias para a gestão, esta, sim, respon-
sável pela execução das tarefas, a avaliação da existência de mecanismos
de controle das tarefas executivas, de forma a monitorá-las e adotar as
devidas medidas corretivas, se necessário8,9.

Saiba mais!
Para saber mais sobre o ciclo PDCA, acesse:
Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Ferramentas para Gestão de Processos – ENAP
Gestão da Assistência Farmacêutica (MS/UFSC)
Eficiência, portanto, está relacionada com a melhor relação possível entre o Manual de Planejamento no SUS (Ministério da Saúde)
impacto ou benefício de determinada ação e o custo para o seu alcance,
buscando fazer mais com menos recursos. Já eficácia está relacionada em
realizar, da melhor forma, as ações que foram planejadas, alcançando o me-
lhor resultado, em uma situação ideal, em relação aos objetivos concebidos3,5. Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 104 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Tipo de planejamento

Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Antes de se decidir sobre o tipo de planejamento a ser aplicado, é rele-


vante que sejam feitas algumas considerações previamente. A primeira
Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.
é saber se todos os envolvidos no processo de construção do planeja-
mento, desde a sua elaboração até a sua execução, compreendem a
Por isso é relevante que se tenha a certeza de que a elaboração de um
sua importância.
planejamento conta, previamente, com a compreensão das partes inte-
É possível que a equipe de trabalho possa ter a compreensão da im- ressadas, de que cada membro da equipe é importante e necessário.
portância do seu papel, tanto individual quanto coletivo, bem como da Nesse caso, é fundamental que o gestor desperte o interesse e envolva
própria instituição, na garantia da efetivação das políticas de saúde. a equipe em um processo de pactuação sobre a real importância de se
Ocorre, que em muitos momentos, os atores envolvidos com a execu- mudar uma situação detectada. Dessa forma, o gestor conseguirá con-
ção de tarefas técnico-gerenciais não são envolvidos com o planeja- tar com amplo envolvimento, permitindo que os integrantes da equipe
mento, ficando assim mais distante o envolvimento de parte da equipe, se sintam parte do processo, e não meros espectadores ou executores
no entendimento do porquê da execução de determinadas atividades. de ações, para as quais não foram chamados a participar5.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 105 |


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O gestor não pode alimentar a divisão, como existe em algumas or-


ganizações, onde determinadas pessoas estão focadas em pensar ou
elaborar ações para que outras simplesmente às executem. O não en-
volvimento de todas as partes interessadas, seja da alta direção que
deve “patrocinar” o que será planejado, seja da equipe que executará as
tarefas resultantes do planejamento, além da desmotivação generaliza-
da, pode também impedir que os objetivos sejam alcançados5,6.
É preciso lembrar que aquele que ocupa ou ocupará o papel de gestor,
em boa parte dos casos, lidará no seu cotidiano com um grupo desmo-
tivado, ou por condições de trabalho precarizadas, ou por estruturas
desarticuladas e debilitadas, ou ainda pela falta de valorização de sua
atividade. E esses aspectos não podem ser subjugados, já que impac-
tam diretamente no alcance dos objetivos.
Por isso, o gestor precisa exercer suas atividades, para além do que
está determinado como princípios para a gestão pública, conforme des-
tacado na Aula 5. É preciso desenvolver um conjunto de habilidades
que permitam que se aja com liderança, tido como a “capacidade de
comandar uma equipe de pessoas no alcance de metas desafiadoras,
de modo sustentável, e influenciar positivamente o comportamento de
todos os profissionais pertencentes ao grupo” (p. 57)6.

Saiba mais!

Sobre liderança e trabalho de equipe,


recomendamos a leitura do livro Gestão da
Assistência Farmacêutica5.

Fonte: Imagem – Flaticon ©. Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

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Ressalta-se o que o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo


Cruz (FioCruz) destacam que:
Análise SWOT
A técnica SWOT, cuja sigla deriva do inglês Strengths (forças), Weaknesses
(fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças), permite
o planejamento no Sistema conhecer a realidade da instituição, identificando seus talentos, necessida-
de de aprimoramentos, pontos fortes e fracos, relacionados aos seus am-
Único de Saúde é uma função bientes interno e externo, dando condições à organização de aperfeiçoar
gestora que, além de requisito seus processos de trabalho, políticas e estruturas6.
legal, é um dos mecanismos
relevantes para assegurar Figura 18. Análise SWOT
a unicidade e os princípios
constitucionais do SUS.
Expressa as responsabilidades Pontos positivos
dos gestores de cada esfera de
governo em relação à saúde da
população do território quanto
à integração da organização
Forças Oportunidades

Ambiente externo
Ambiente interno
sistêmica. A tarefa de planejar
exige conhecimento técnico que
se expressa em instrumentos e
ferramentas desenvolvidas em
processos de trabalho (p. 24) 7. Ameaças
Fraquezas

O próximo passo, ainda antes de se optar por um tipo de planejamento, é


a definição do contexto do ambiente no qual está inserida a organização.
Para isso, algumas ferramentas podem ser utilizadas para a compreensão Pontos negativos
do seu ambiente de atuação, e uma delas é a análise SWOT6.
A análise da situação de saúde foi abordada na Aula 5. Sugerimos que esse
conteúdo seja revisitado. Fonte: Elaboração própria.

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O ambiente interno da instituição ou dentro do estabelecimento de saú-


de, dentro de um setor, por exemplo a AF na secretaria, dentro da far-
mácia na UBS ou na CAF etc.), que se compõe de pontos fortes e fracos Oportunidades: são aspectos positivos sobre
da instituição, sobre os quais se tem mais governabilidade, é expresso os quais a organização precisa estar atenta, pois
da seguinte forma6: podem contribuir com o seu crescimento e/ou
contribuir favoravelmente para que os objetivos
sejam alcançados.

Forças: representam as características positivas Fonte: Imagem – Flaticon ©.


da organização, como habilidades, capacidades e
competências.

Ameaças: são os aspectos desfavoráveis que


dificultam, impedem ou retardem a organização
Fonte: Imagem – Flaticon ©.
de atingir seus objetivos ou metas. É importante
identificá-las, pois, mesmo com baixa governabilidade
sobre elas, podem ser evitadas ou abrandadas.

Fraquezas: são as características negativas


Fonte: Imagem – Flaticon ©.
da instituição, como a falta de habilidade e
de capacidades. Apontam as deficiências e
Uma vez identificados esses aspectos na Assistência Farmacêutica ou
desarticulações da organização, entre outros
nas áreas ou setores a ela relacionados, se faz necessário consolidá-los
aspectos que podem impedir que determinados
e debatê-los com a equipe para identificar aqueles que serão atacados
objetivos sejam alcançados.
prioritariamente nos quatro anos do Plano de Saúde e ano a ano na
Programação Anual de Saúde.

Fonte: Imagem – Flaticon ©.


Planejamento Estratégico
Já o ambiente externo representa aspectos positivos e negativos que Podemos destacar duas concepções de planejamento: o planejamento tra-
podem interferir no alcance de objetivos da instituição, sobre os quais dicional, ou normativo, e o planejamento estratégico. O planejamento tra-
se tem pouca influência ou governabilidade. Aqui se observam as opor- dicional é composto por algumas etapas, como diagnóstico, prognóstico,
tunidades e ameaças que podem afetar a instituição, que podem ser fixação de objetivos e metas, seleção, formulação do plano, programação
explicitadas da seguinte forma6: dos recursos financeiros, humanos e físicos, execução e avaliação/controle3.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 108 |


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Já o planejamento estratégico: Observe no Quadro 9 abaixo algumas diferenças entre o planejamento nor-
mativo e o planejamento estratégico.

é um método de raciocínio capaz de verificar Quadro 9. Diferenças entre o planejamento tradicional ou normativo e o
planejamento estratégico
a coerência das proposições possíveis em
relação ao objetivo perseguido. Esse método Planejamento Tradicional/ Planejamento estratégico
busca definir um conjunto de operações que Normativo
devem ser utilizadas com a finalidade de
mudar a realidade (p. 57)3.
Unidimensional – feito Multidimensional – considera aspectos
considerando-se, em geral, econômicos, políticos, sociais, cognitivos
apenas os recursos econômicos etc.

Cenários alternativos – trabalha com a


Determinístico – há uma única incerteza e um conjunto complexo de
explicação verdadeira variáveis em jogo, admitindo diferentes
possibilidades de cenários

Sem contexto – abstrato, sem Contextualizado – trabalha com o contexto


se situar na realidade explícito, parcialmente explicável

Desconsidera os atores sociais Considera a existência de outros atores


– não existe o “outro” sociais – eles também fazem parte do jogo

Proposta de ação para o


Trabalha com vários planos de ação
político, com anúncios de
segundo as circunstâncias
resultados previstos

Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Fonte: Adaptado de Marin et al. (p. 58)3.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 109 |


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É possível identificar três linhas de pensamento sobre o planejamento


estratégico. O primeiro é o de Mario Testa, que considerava o pla-
nejamento como prática histórica, o Postulado de Coerência – in-
terpretando os problemas de saúde como problemas sociais – e a
Proposta de Diagnóstico. A segunda vertente é de Carlos Matus,
que formulou o Planejamento Estratégico Situacional. E a terceira é a
Proposta de Medellín, organizada a partir de discussões promovidas
pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e na Faculdade
de Saúde Pública de Medellín, apresentada em documento elabora-
do por Juan José Barrenechea e Emiro Trujillo Uribe3,11.

Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

O planejamento estratégico é utilizado para formular a estratégia organi-


zacional a longo prazo, tendo como objetivo superar problemas relaciona-
dos com a formulação dos planos, nesse caso, de saúde. É uma forma de
cálculo que antecede a ação devendo, portanto, ser permanente, de forma
a não inviabilizar o plano e permitindo que se alcance os objetivos deter-
minados. Esse modelo buscará responder perguntas como “por quê?” e
“quando?”3,5,6.
O que diferencia o plano estratégico do plano tático é que este atua a
médio prazo e trabalha com áreas específicas da instituição, como um de-
partamento (no nosso caso, a AF), buscando responder perguntas como
“onde?” e “como?”. Já a diferença para o plano operacional é que este
opera com curto prazo e está relacionado com a utilização de instrumentos
a serem aplicados para o alcance de resultados esperados em setores ou
tarefas específicas, buscando responder à pergunta “o quê?”6. Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 110 |


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Planejamento Estratégico Situacional (PES)


A literatura aponta uma grande diversidade de modelos de planejamen-
to, dos quais os mais utilizados são o Balanced Scorecard (BSC), Prima
de Desempenho, Hoshin Kanri ou Gerenciamento Pelas Diretrizes (GPD)
e o Planejamento Estratégico Situacional (PES). Por isso, não exis-
te um modelo único, certo ou errado, para se fazer o planejamento. É
preciso buscar o método que melhor se aplica a sua realidade e que seja
de fácil operacionalização6,10.
Para nossa aula, vamos abordar o PES, que acaba sendo o método mais
comum no setor da saúde, detalhando sobre as etapas que o compõem e
alguns aspectos para sua instrumentalização. Para uma melhor compreen-
são, quando se fala que um planejamento é situacional significa que é
preciso ter bem definido o objeto que se pretende planejar e o contexto
existente. Trata-se de um método em que a ação, o sujeito e a situação
atuam centrados em problemas identificados e nas operações que
serão realizadas para a solução desses problemas3,5.

Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

No PES, quem o planeja está dentro do objeto a ser planejado, participando


tanto do problema quanto da solução a ser aplicada, tendo a compreensão
de que este atua reconhecendo os sujeitos que estão presentes na realida-
de que se quer planejar, propondo-se a ser participativa. Além disso, atua
para além da perspectiva econômica e tem como base a dimensão política
do planejamento3,12.
O PES conta com quatro momentos que devem ser organizados com a
equipe da SMS e da Assistência Farmacêutica para que seja possível pla-
nejar o objetivos, metas e indicadores que irão compor o capítulo da Assis-
tência Farmacêutica no Plano Municipal de Saúde, são eles: o momento
explicativo, o momento normativo, o momento estratégico e o mo-
mento tático-operacional.
Fonte: Shutterstock ©. Na seção a seguir descreveremos cada um desses momentos.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 111 |


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A identificação do problema, portanto, deve ser um processo coletivo, e


Momento explicativo deve(m) ser definido(s) de forma minuciosa, pois o que para alguns atores
Essa é a etapa em que se analisam a realidade atual e a distância entre pode ser um problema, para outros pode representar uma oportunidade.
o presente e o futuro desejado. Nesse momento ocorre a identificação Da mesma forma, o que pode ser um grande problema para alguns, para
de “problemas”, a partir da visão e da participação dos diversos atores outros não necessariamente representam algo tão grave5.
envolvidos no contexto. Problema, nesse caso, representa todas as in-
Os problemas, simples ou complexos, podem ser classificados quanto
satisfações ou situações impeditivas para se alcançar um propósito3,5.
a natureza, posição na organização, governabilidade e complexidade5.
Conforme já destacado na Aula 5, esse momento de análise da situação
atual dever ser permanente, já que a realidade se atualiza constantemen-
te, por isso os momentos não podem ser colocados em ordem linear.
Saiba mais!
Nessa etapa deve ser realizada a identificação dos problemas, a sele-
ção daqueles considerados prioritários e a Elaboração de uma agenda Sobre cada uma das características,
estratégica. Além disso, os problemas devem ser descritos e deve ser recomendamos a leitura do livro Gestão da
elaborado um mapeamento com base na causalidade dos problemas, Assistência Farmacêutica5.
para identificação dos nós críticos12.

Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Um passo importante está na definição de problemas, considerado es-


sencial para se encontrar uma correta solução. A definição deve conter,
ao menos, as seguintes informações: tamanho do problema, número de
pessoas atingidas, localização e dimensão temporal5.
Da mesma forma, é preciso priorizar os problemas por meio da atribui-
ção de valores para cada um. Esse é o momento em que os atores deci-
dem sobre quais problemas da Assistência Farmacêutica deverão ser prio-
rizados, já que não é possível resolver todos ao mesmo tempo, além disso,
eles possuem interfaces entre si. Os critérios que devem ser considerados
nessa priorização são: magnitude (número de pessoas atingidas e a fre-
quência com que ocorrem); transcendência (grau de interesse das pes-
soas em solucionar esses problemas); vulnerabilidade (grau de fragilida-
de mediante as intervenções possíveis, com a tecnologia disponibilizada);
urgência (prazo necessário para a intervenção, mediante a gravidade das
consequências do problema); factibilidade (disponibilidade de recursos
Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. materiais, humanos, físicos, entre outros, para a solução do problema)3,5.

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Figura 19. Esquema da árvore explicativa

Saiba mais!
Sobre parâmetros de priorização de problemas,
recomendamos a leitura do livro Gestão da
Assistência Farmacêutica (p. 127-132)5. Consequências

Fonte: Imagem – Flaticon ©.

Nessa etapa também é importante a descrição e explicação do proble-


ma (da Assistência Farmacêutica ou que tenha impacto sobre ela), a
partir de descritores, com informações quantitativas e qualitativas de um
problema, com as respectivas causas e consequências. Os descritores
de um problema estão relacionados com as situações mais visíveis de
um problema e constituem uma referência para o monitoramento da
evolução desse problema3,5.
Ainda para essa etapa, uma ferramenta comumente utilizada é a chamada Problema central
a árvore explicativa do problema, ilustrada na figura a seguir.

Causas

Fonte: Elaboração própria.

A comparação com a árvore se dá pois entendemos o problema central


como o tronco da árvore, as causas, ou seja, a identificação dos fatores
que levaram ao problema, seriam a raiz, já os galhos seriam as consequên-
Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. cias do nosso problema central.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 113 |


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O objetivo da construção da árvore explicativa é que fique estabelecida a relação do problema com as suas causas, e destas com as suas próprias
causas. Além disso, é preciso que ela seja Elaborada da forma mais detalhada possível, ramificando ao máximo as causas e consequências, e buscando
a relação entre elas. Dessa forma ficará estabelecido um fluxo de causalidade, permitindo assim a identificação de nós críticos3,5.
Para melhor compreensão, vamos usar como exemplo uma árvore explicativa cujo problema central é a falta de medicamentos, apresentado por Marin et
al., no livro Assistência Farmacêutica para Gerentes Municipais3.

Figura 20. Árvore explicativa do problema: falta de medicamentos

Piora na qualidade da
atenção à saúde

Consequências
Insatisfação Retorno do paciente
do usuário à farmácia

Dispensação
incompleta

Falta de
medicamentos Problema central

Ausência Ausência da lista Recursos


Perdas
de programação de medicamentos financeiros escassos

Causas
essenciais padronizado

Aquisição Armazenamento
inadequada inadequado

Fonte: Adaptada de Marin et al. (p. 64)3.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 114 |


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Nesse caso, os descritores propostos seriam: “diminuição na resolutividade das ações em saúde; grande percentual de demanda não atendida na
farmácia; reclamações do usuário em relação à falta de medicamento” (p. 64)3.
Após a Elaboração da árvore explicativa, os sujeitos devem desenvolver a árvore dos objetivos, na qual serão elencadas as situações imaginadas e de-
sejadas, como resultado da mudança que será produzida pelo planejamento. Ao final, ao se comparar as duas árvores, será possível identificar as causas
que possuem impactos significativos na derivação de um problema, os denominados nós críticos.
Vamos novamente demonstrar por meio do exemplo apresentado por Marin et al.:

Figura 21. Árvore dos objetivos

Melhoria na qualidade da atenção à saúde

Qualidade de atendimento Redução da demanda não


ao usuário atendida de medicamentos

Melhoria na qualidade da atenção à saúde

Realização Lista de medicamentos Regularização dos Redução


de programação essenciais padronizados recursos financeiros de perdas

Normatização técnica Implantação de boas práticas


da aquisição de armazenamento

Capacitação de RH

Fonte: Adaptada de Marin et al. (p. 64)3.

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Momento normativo
Nesse momento são desenhados os planos, definidas as operações e ações que devem refletir a situação ideal a partir do momento explicativo. Aqui
se busca detalhar as ações e a operação, relacionadas a um objetivo específico e a serem executadas durante a vigência do plano, buscando sanar os
nós críticos que foram identificados na etapa anterior3,5.
O resultado dessa etapa será demonstrado por meio de uma planilha operacional ou matriz operacional, definindo quais as operações e ações deverão
ser operacionalizadas para o alcance dos objetivos específicos5.

Quadro 10. Exemplo de matriz operacional

Problema ou nó crítico: falta de capacidade de Recursos Humanos


Gerente:
Produto: profissionais capacitados na implementação da Assistência Farmacêutica
Resultado esperado: melhoria no acesso da população aos medicamentos essenciais
Operação: Capacitação de profissional de nível superior

Análises de eficiência
Ações Prazo Responsável Grupos de Apoios Recursos
e eficácia

Cursos Número profissionais


Boas Práticas de Materiais Financeiros treinados
90 dias Flávia Universidade MS
Armazenamento e Cognitivos Mudanças de prática de
Distribuição trabalho

Palestras
Lei de Licitações Redução de erros nos
30 dias Paulo Universidade Materiais Cognitivos
e Aquisição de processos de aquisição
Medicamentos

Sistema de Informação Melhoria da qualidade


180 dias Vera CFF Materiais Cognitivos
de Medicamentos das informações

Fonte: Adaptado de Marin et al. (p. 65)3.

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E factibilidade “significa a existência de recursos financeiros, tecnológi-


Momento estratégico cos e de gerenciamento para a realização do projeto” (p. 87)5.
Outros elementos também podem ser considerados, tais como os ce-
nários e os atores. Os cenários ajudam a identificar aspectos que estão
para além da capacidade de ação, os quais devem ser identificados
para que se possa avaliar como eles podem contribuir positivamente ou
negativamente para o cumprimento dos objetivos. Podem ser conside-
radas parte do cenário as variáveis política, social, econômica, cultural e
administrativa, observando-as a partir de perspectivas otimistas e pes-
simistas e do cenário provável3.
Outro elemento a ser considerado são os atores envolvidos, buscando
identificar qual o interesse destes com o plano, que valores dão e quais
são suas ações possíveis, como cooperação, tolerância, cooptação,
enfrentamento, negociação e conflito3,5.
Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Nessa etapa, após definidas as operações e as ações que serão exe-


cutadas para se atingir um objetivo específico, é possível verificar o que
de fato pode ser feito e o que é preciso para viabilizar o plano. Assim,
a partir de um olhar estratégico, é necessário avaliar a viabilidade do
plano, bem como sua factibilidade3,5.
Viabilidade, nesse caso:

é a possibilidade política de se realizar um


projeto. Essa possibilidade vai depender do
grau de apoio, de rejeição ou de indiferença
que outros atores ou grupos sociais,
importantes no enfrentamento do problema,
venham a se manifestar (p. 87)5.
Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 117 |


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Momento tático-operacional
Esse é o momento de agir, da execução propriamente dita. As análises rea-
lizadas nas etapas anteriores são transformadas em ações concretas. Nos
momentos anteriores um plano foi definido, indicando responsáveis, prazos
e as estratégias de viabilidade e de factibilidade3,5.
Não existe um modelo único ou ideal sobre como organizar e executar um
plano, porém é preciso ter um grupo responsável pelas operações, coorde-
nação permanente do plano e avaliações periódicas3.

Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©.

Agora, após toda a teoria apresentada nesta aula, você, como responsável
pela Assistência Farmacêutica, deverá ter condições de se organizar diante
dessa agenda de planejamento municipal e regional que é prioridade na
gestão da saúde neste momento.
Pensando nessa organização das atividades e tentando compilar diversas
literaturas e ferramentas utilizadas, no caso do planejamento estratégico
situacional, estruturamos uma proposta de agenda (Quadro 11) para o pla-
nejamento da AF frente às prioridades para construção e monitoramento do
Plano Municipal de Saúde e dos demais instrumentos obrigatórios para a
gestão municipal e também para o Planejamento Regional Integrado (PRI).
Fonte: Webdoc Brasil, aqui tem SUS/Levante Filmes/Conasems ©. Vamos planejar?

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 118 |


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Quadro 11. Agenda do Planejamento da Assistência Farmacêutica articulado ao Planejamento no SUS

Atividades Método(s), ferramenta(s)


Instrumentos Responsável Prazos
e conteúdos básicos e software(s)
Você pode utilizar as bases de dados locais da assistência
a) identificar os dados e informações farmacêutica (hórus ou sistemas próprios), planilhas em
locais assistenciais e gerenciais da RAS, excel, planos de saúde (municipal, estadual e nacional) atual
regionais e macrorregionais relevantes ao e, se existir, o plano regional da macrorregião de saúde,
planejamento assim como os sistemas nacionais como CNES, SIA, SIH,
Levantamento de b) identificar os dados e informações FNS, SISAB etc.
dados e locais assistenciais e gerenciais da (Nome da pessoa 2º mês de
1ª Etapa
informações assistência farmacêutica Importante: essas informações também servirão para que responsável) gestão
do território c) consolidar dados e informações do você contribua com a Elaboração da prestação de contas
território no formato estabelecido pela por meio do rag, tanto da gestão anterior, para aqueles
equipe de planejamento da secretaria de municípios no início de gestão, como também será sua
saúde para futura análise e consolidação rotina a cada ano, tendo em vista as prestações de contas,
na análise situacional ou seja, a chamada accountability abordada na Aula 5 e
obrigatória na gestão pública
Utilizar as bases de dados locais da assistência farmacêutica
a) Elaboração da análise da situação
(hórus ou sistemas próprios), e os sistemas nacionais como
de saúde:
CNES, SIA, SIH, SISAB etc.
- Identificação das necessidades
Além do DigiSUS Gestor e do antigo SARGSUS (para
de saúde
consultar o RAG dos anos anteriores), SIOPS, Painel de
- Identificação da capacidade instalada e
Apoio à Gestão do CONASEMS, Painel de Indicadores da
dos vazios assistenciais Até o 3º
Análise situacional SVS/MS, FNS, Sala de Situação de Saúde do Município e
- Identificação dos fluxos de acesso aos mês de
(capítulo do PNS): do Estado, Relatório da Conferência de Saúde, entre outros
produtos e serviços da AF gestão e
uma espécie Obs. 1: também é importante dialogar com o conselho de (Nome da pessoa
2ª Etapa b) definição de prioridades sanitárias: atualizado
de fotografia do saúde para entender o atual contexto da saúde na visão do responsável)
- diretrizes, objetivos, metas, indicadores em
momento da controle social
e prazos de execução agendas
Elaboração
c) organização dos pontos de atenção locais
Obs. 2: nesse momento, é fundamental articular com
da RAS
a equipe do setor de planejamento municipal para
d) Elaboração da Programação Geral de
entender e debater sobre as prioridades estabelecidas no
Ações e Serviços de Saúde
Planejamento Regional Integrado e no Plano Regional
e) definição dos
que envolvem a assistência farmacêutica para a sua
investimentos programados
macrorregião e/ou região de saúde

(continua)

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 119 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

(continuação)
Atividades Método(s), ferramenta(s)
Instrumentos Responsável Prazos
e conteúdos básicos e software(s)
Nessa etapa, que ocorre quase
simultaneamente à 2ª etapa, você poderá
utilizar várias ferramentas e metodologias
Momento explicativo: de apoio para identificação dos problemas
- Identificação de problemas e priorizá-los utilizando ao menos duas
- Seleção de problemas prioritários/ ferramentas, dentre as quais sugerimos:
estratégicos (classificação criteriosa - Brainstorming (chuva de ideias), árvore de
dos problemas) problemas e objetivos, análise SWOT diagrama
- Descrição dos problemas (uso de de ishikawa (espinha de peixe), diagrama
de pareto, matriz GUT, parâmetros ou (Nome da
indicadores e descritores qualitativos 2º mês
critérios de priorização adaptada (magnitude; pessoa
e quantitativos) da gestão
Planejamento estratégico transcendência; vulnerabilidade; urgência e responsável)
situacional (PES): - Elaboração da rede de causalidade factibilidade), matriz de esforço e impacto,
dos descritores de problemas e entre outras
A Elaboração do plano
identificação dos nós críticos (ponto da
municipal de saúde Essas ferramentas ajudarão a responder as
rede de causalidade em que se avalia
precisa ser participativa, atividades propostas nessa etapa
3ª Etapa estrategicamente a intervenção
então, é estratégico para Obs.: Assim como na análise situacional,
e sobre a qual se formulará uma ação)
o seu êxito envolver as ressalta-se a necessidade de dialogar com
áreas da assistência o conselho de saúde para contribuir na
farmacêutica e articular identificação dos principais problemas
com o setor de
planejamento da SMS Momento normativo:
Nesse momento a proposta é, a partir dos
- Definição da situação-objetivo problemas identificados e priorizados, construir
(transformação dos descritores em uma planilha operacional, definindo quais
resultado esperado) são as operações e ações que deverão ser
- Elaboração do plano de operações operacionalizadas para o alcance dos (Nome da
(cada operação é um conjunto de ações) objetivos específicos 2º mês
pessoa
de gestão
- Reconhecimento de cenários possíveis Aqui você também poderá usar nas reuniões responsável)
- Definição dos recursos necessários e de equipe as ferramentas de priorização
dos produtos e resultados esperados sugeridas na 3ª etapa caso surjam muitas
em cada ação estratégias e ações para atingimento do
objetivo específico

(continua)

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 120 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

(continuação)

Atividades Método(s), ferramenta(s)


Instrumentos Responsável Prazos
e conteúdos básicos e software(s)
Momento estratégico:
- Análise de viabilidade (segundo as
diversas dimensões do plano: política, Nesse momento você pode aplicar o
econômica, cognitiva, organizativa etc.) Triângulo de Governo (TG) – suporte para
avaliar a governabilidade das propostas –,
- Elaboração de uma agenda
mas ele também será aplicado na etapa de
estratégica
consolidação do plano, antes de submetê-lo (Nome da
- Discriminação dos recursos ao conselho de saúde 2º mês
pessoa
necessários da gestão
Assim como no momento anterior, você responsável)
- Identificação de quais atores também poderá usar nas reuniões de equipe
Planejamento estratégico controlam os recursos necessários e as ferramentas de priorização da 3ª etapa
situacional (PES): quais são as suas motivações perante caso surjam muitas estratégias e ações para
A Elaboração do plano o plano atingimento do objetivo específico
municipal de saúde - Definição de operações estratégicas
precisa ser participativa, (operações necessárias e não viáveis)
3ª Etapa então, é estratégico para
o seu êxito envolver as
áreas da assistência Nesse momento a proposta é, a partir dos
farmacêutica e articular Esse é o momento de agir, da execução
Momento tático-operacional:
com o setor de propriamente dita. As análises realizadas nas
planejamento da SMS - Definição das ações a serem
etapas anteriores são transformadas em ações
executadas com responsáveis e
concretas. Nos momentos anteriores um plano
agenda, avaliação do plano, segundo (Nome da 2º e 3º
foi definido, indicando responsáveis, prazos,
variáveis como os descritores dos pessoa mês de
estratégias de viabilidade e de factibilidade.
problemas, os nós críticos, responsável) gestão
Mas, lembre-se de que não existe um modelo
o andamento das operações,
único ou ideal para organizar e executar
entre outros
um plano, porém é preciso ter um grupo
responsável pelas operações, coordenação
permanente do plano e avaliações periódicas

(continua)

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 121 |


PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

(continuação)
Atividades Método(s), ferramenta(s)
Instrumentos Responsável Prazos
e conteúdos básicos e software(s)
Utilize o Triângulo de Governo (TG) – suporte para avaliar
a governabilidade das propostas, pois trata-se de uma
ferramenta para a análise das possibilidades de governança.
O TG é composto por três aspectos da governança:
Avaliação da governabilidade: - plano, projeto ou política, ou seja, o que
Plano municipal de
- durante a construção das propostas se estabelece como objetivo ou o que se deseja realizar
saúde (PMS) – versão
da AF para o PMS é preciso realizar a - capacidade de governo, as habilidades com as quais a gestão Março do
preliminar: hora (Nome da
governabilidade de cada uma delas, pode contar primeiro
4ª Etapa de avaliá-lo antes pessoa
mas, também pode ser realizada - governabilidade, que corresponde aos fatores que influenciam ano de
de submetê-lo ao responsável)
após concluída a estruturação do a governança governo
conselho municipal
plano, sendo feita na totalidade das - variáveis relacionadas aos recursos necessários à gestão e
de saúde
propostas ao plano (recursos financeiros, humanos, técnicos, estruturais
etc.). Sobre os quais se tem maior ou menor capacidades de
controle
- Quanto maior o controle sobre os recursos, maior a
governabilidade do ator
Submeter ao CMS:
Deve ser validado pelo CMS para Nessa etapa é importante subsidiar o secretário municipal de
atender os quatro anos de gestão: saúde nas agendas em conjunto com o conselho municipal
do segundo ano da gestão que se de saúde tendo em vista questões técnicas e operacionais
inicia ao primeiro ano da gestão pertinentes à área da assistência farmacêutica
Plano municipal subsequente O responsável pela AF precisa se apoiar nessas agendas e
de saúde (PMS) – Na estrutura final do pms submetida traçar estratégias de atualização permanente das informações Final de
versão final: hora ao cms deve constar: estratégicas para a gestão, ou seja, precisa atuar diretamente na (Nome da março do
5ª Etapa de submetê-lo - Análise situacional da saúde gestão da informação com as áreas da ses, assim como com a pessoa primeiro
para avaliação do do município comunicação responsável) ano de
conselho municipal - Objetivos, diretrizes, metas No DigiSUS Gestor serão disponibilizadas as informações do governo
de saúde e indicadores Plano e suas metas e indicadores para possíveis alterações/
- Monitoramento e avaliação ajustes após recomendações do Conselho Municipal de Saúde
O Conselho Municipal de Saúde e para futuro monitoramento do PMS, da Programação Anual de
realizará a análise e emitirá o parecer Saúde (PAS) e Relatório Anual de Gestão (RAG), bem como da
conclusivo para aprovação do PMS no parte orçamentária e financeira
DigiSUS Gestor
(continua)

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

(continuação)

Atividades Método(s), ferramenta(s)


Instrumentos Responsável Prazos
e conteúdos básicos e software(s)
A cada ano você precisará apresentar
ao setor de planejamento da
Programação anual de
Apresentar para a PAS: SMS a programação das ações e
saúde (PAS) – realizada a
- Ações a serem realizadas serviços da AF, baseada no plano (Nome da
cada ano: sua validade é Março de cada um dos
6ª Etapa de saúde, porém, com a proposta pessoa
de um ano, sempre o - Recursos a serem mobilizados 4 anos de governo
de metas a serem alcançadas no responsável)
ano subsequente a - Metas a serem alcançadas ano subsequente, incluindo valores
sua apresentação
financeiros para subsidiar a lei
orçamentária anual (LOA)

- LDO: o
encaminhamento
À câmara de
vereadores deve ser
feito 8 meses e meio
Essas informações serão alimentadas antes do encerramento
pela equipe da SMS no DigiSus Gestor do exercício financeiro
LDO e LOA: serão - Apoiar a Elaboração dos projetos (15 de abril)
e SIOPS, mas a área da assistência (Nome da
elaboradas a cada ano, de lei (PLDO e PLOA) com base - LOA: o
7ª Etapa farmacêutica precisará monitorar o pessoa
de acordo com a PAS na PAS e após aprovação encaminhamento
que planejou e sempre que necessário responsável)
estabelecida pela SMS pelo legislativo
realizar os ajustes recomendados pelo À câmara de
CMS ou pelo legislativo municipal vereadores
Deve ser feito até 4
meses antes do final
do exercício financeiro
(31 de agosto)

(continua)

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

(continuação)

Atividades Método(s), ferramenta(s)


Instrumentos Responsável Prazos
e conteúdos básicos e software(s)
Com base na PAS aprovada e
executada no ano anterior, você
deverá apresentar até fevereiro de
cada ano, ao setor de planejamento
da SMS, o que conseguiu executar da
Relatório anual de gestão - Resultados atrelados à PAS; programação das ações e serviços da
(RAG): período de um - Objetivos, diretrizes, metas e AF no ano anterior, a partir das metas (Nome da Final de março de
8ª Etapa ano, tendo como objeto indicadores programadas, com as justificativas, pessoa cada um dos 4 anos
o ano anterior a - Metas previstas e executadas quando necessário, inclusive os responsável) de governo
sua apresentação valores financeiros executados a partir
- Execução orçamentária
da lei orçamentária anual (LOA)
As ferramentas utilizadas nesse
momento em conjunto com o setor de
planejamento da SMS serão o DigiSus
Gestor e o SIOPS
Ainda com base na PAS aprovada,
você deve subsidiar a área do
planejamento com informações sobre
a execução das metas e orçamento
- Resultados da execução da PAS de cada quadrimestre, totalizando 3 Deve ser entregue
Relatório detalhado do relatórios ao ano (1º de janeiro a abril; nos meses de maio,
- Recursos aplicados no período
quadrimestre anterior 2º de maio a junho e 3º de julho a setembro e fevereiro,
- Auditorias realizadas ou em dezembro) (Nome da
(RDQA): conteúdo referentes aos
9ª Etapa execução e suas recomendações pessoa
semelhante ao RAG, Esses relatórios servirão para, a cada quadrimestres janeiro-
- Oferta e produção de serviços da responsável)
referente ao quadrimestre, a secretaria consolidar abril, maio-agosto e
quadrimestre anterior rede própria e conveniada/ as informações e submetê-las à análise setembro-dezembro,
Contratada do conselho municipal de saúde respectivamente
As ferramentas utilizadas nesse
momento em conjunto com o setor de
planejamento da SMS serão o DigiSus
Gestor e o SIOPS
(continua)

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

(continuação)

Atividades Método(s), ferramenta(s)


Instrumentos Responsável Prazos
e conteúdos básicos e software(s)
Orientações para preenchimento:
Instrumentos: descreva os instrumentos e as principais ações que precisam ser identificados e/ou elaborados que apoiem a construção e monitoramento do Plano
de Saúde Municipal
Atividades: descreva o que será necessário para cada etapa e instrumentos de forma objetiva e pensando em um produto consolidado que apoie a construção e
monitoramento do Plano de Saúde Municipal
Métodos utilizados: descreva quais ferramentas tecnológicas podem ser utilizadas ou métodos e dinâmicas irá usar em cada etapa
Responsável: defina uma pessoa e não setores ou equipes, pois as indicações difusas acabam desresponsabilizando a entrega para a alta gestão do produto e
perde-se o devido respeito aos prazos do planejamento
Prazos: informe com o dia ou pelo menos o mês e o ano. Precisam ser definidos prazos observando o tempo de entrega final estabelecido pelo Secretário de Saúde
para o planejamento municipal e as etapas subsequentes da execução do PMS, como PAS, RAG e RQDA

Fonte: Elaboração própria.

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Síntese da Aula Referências


Nesta aula apresentamos os aspectos gerais sobre a Assistência Farma- 1. Brasil, Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução
cêutica que fazem parte desse contexto de planejamento em saúde e sua CNS nº 338, de 06 de maio de 2004. Aprova a Política Nacional de
importância no planejamento, bem como alguns conceitos e ferramentas Assistência Farmacêutica. Diário Oficial da União, Brasília, DF, maio
de suporte na condução das atividades do chamado ciclo do PDCA, além 2004.
de contextualizá-los nos diferentes momentos do Planejamento Estratégico
2. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde.
Situacional (PES) organizando e articulando essas agendas e instrumentos
Departamento de Atenção Básica. Portaria 3.916 de 30 de outubro
do planejamento em saúde para apoiar o dia a dia da gestão da Assistência
de 1998. Política nacional de medicamentos. Diário Oficial da União,
Farmacêutica. A partir dos conteúdos abordados e com base nas leituras
Brasília, DF, nov. 1998.
complementares recomendadas esperamos apoiar os profissionais farma-
cêuticos atuantes nos municípios brasileiros a se integrarem às agendas 3. Marin N, Luiza VL, Osorio-de-Castro CGS, Machado-dos-Santos S,
locais e regionais de planejamento em saúde, melhorando a gestão e a organizadores. Assistência farmacêutica para gerentes municipais.
assistência ao cidadão. Rio de Janeiro: OPAS/OMS; 2003. 373 p.
4. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e
Insumos Estratégicos. Assistência Farmacêutica na Atenção Básica:
instruções técnicas para sua organização 2ª ed. Brasília: Ministério
da Saúde; 2006.
5. Leite SN, et al., organizadores. Gestão da Assistência Farmacêutica.
Florianópolis: Ed. da UFSC; 2016. (Assistência Farmacêutica no
Brasil: Política, Gestão e Clínica – volume 2). 160 p.
6. Altounian CS, Souza DL, Lapa LRG. Gestão e governança pública
para resultados: uma visão prática. Belo Horizonte: Fórum; 2018.
7. Brasil, Ministério da Saúde. Manual de Planejamento no SUS.
Brasília: Ministério da Saúde; 2015. 136 p. (Série Articulação
Interfederativa – volume 4).
8. Brasil, Tribunal de Contas da União. Manual de auditoria operacional
/ Tribunal de Contas da União. 3ª ed. Brasília: TCU; Secretaria de
Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo (Seprog); 2010.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

9. Brasil, Tribunal de Contas da União. Guia de governança e gestão


em saúde: aplicável a secretarias e conselhos de saúde. Brasília:
TCU; 2018. 112 p.
10. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e
Insumos Estratégicos. Planejar é preciso: uma proposta de método
para aplicação à assistência. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
11. Giovanella L. Planejamento estratégico em saúde: uma
discussão da abordagem de Mário Testa. Cad. Saúde Pública
[Internet]. 1990 [acesso em 9 jan. 2020];6(2). Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X1990000200003&lng=en.
12. CONASEMS, COSEMS-RJ, LAPPIS, IMS, UERJ, organizadores.
Manual do(a) Gestor(a) Municipal do SUS: “Diálogos no Cotidiano”.
2ª ed. revisada, ampliada. Rio de Janeiro: CEPESQ; 2019. 424p.

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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A5 A6 A7 A8

Autores
Marco Aurélio Pereira Suetônio Queiroz de Araújo
Graduação em Farmácia pela Universidade Católica de Santos (UNISAN- Doutorando e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade de Brasí-
TOS), especialização em Farmacologia e Mestrado em Saúde Pública lia, especialização em Gestão e Auditoria no Sistema Único de Saúde
área de atuação Gestão em Saúde pela Escola Nacional de Saúde Públi- (SUS), atuando há mais de 20 anos nas áreas da gestão pública e saúde
ca “Sergio Arouca” pela Fiocruz. Atuou em farmácia, drogaria e em far- pública com ênfase na assistência farmacêutica, gestão e planejamento,
mácia hospitalar. Foi professor da Universidade Santa Cecília e professor além de controle e gestão na saúde com foco nos gastos e compras públi-
adjunto da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, nas disciplinas cas. Atua como consultor do Escritório das Nações Unidas para Serviços
História da Farmácia; Introdução às ciências farmacêuticas; Saúde Pú- em Projetos (UNOPS) e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS),
blica; Deontologia e Legislação Farmacêutica. Foi Coordenador Geral de com a Elaboração e supervisão de projetos de cooperação com organis-
Gestão do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da mos internacionais (Banco Mundial e OPAS) contemplando pesquisas de
Saúde, onde coordenou o Programa Farmácia Popular do Brasil, de 2009 campo para o fortalecimento do sistema de saúde e na integração e or-
a 2016. Tem experiência na área de Farmácia, atuando principalmente ganização das redes de atenção à saúde. Desenvolveu consultorias para
nos temas saúde pública, assistência farmacêutica, uso racional de medi- consórcios públicos na saúde e projetos educacionais na modalidade à
camentos, política nacional de assistência farmacêutica e Programa Far- distância. No Brasil essas consultorias priorizaram o Conselho Nacional
mácia Popular do Brasil. de Saúde (CNS), Ministério da Saúde (MS), Organização Pan-Americana
da Saúde, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e Mato Grosso,
bem como assessoramento técnico na Assistência Farmacêutica para o
Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS) e Ministério Pú-
blico na área da Promotoria da Saúde, além de exercer cargos na gestão
da Assistência Farmacêutica na Secretaria de Estado da Saúde de Ala-
goas e em municípios.

Aula 8 - Planejamento da Assistência Farmacêutica municipal: métodos e aplicações | 128 |


Volume 2 Coleção

Biblioteca Virtual em Saúde


do Ministério da Saúde
bvsms.saude.gov.br

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