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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2023.0000044998
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0019378-10.2021.8.26.0000 e código RI00000347Z7V.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Revisão Criminal nº
0019378-10.2021.8.26.0000, da Comarca de Campinas, em que é peticionário
RODOLFO RAMOS COSTA.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANDRE CARVALHO E SILVA DE ALMEIDA, liberado nos autos em 27/01/2023 às 18:49 .
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 1º Grupo de Direito
Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: POR
MAIORIA, com declaração de voto divergente do desembargador Costabile e
Solimene, deferiram o pedido revisional e absolveram o peticionário Rodolfo
Ramos Costa, com fundamento legal no art. 386, V, do Código de Processo
Penal, por ausência de provas da autoria delitiva, com extensão dos efeitos ao
corréu Robson Moraes da Costa, tornando, assim, definitiva a liminar que
determinou a expedição de alvarás de soltura para os réus , de conformidade com
o voto do relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores FIGUEIREDO
GONÇALVES (Presidente), MÁRIO DEVIENNE FERRAZ, FRANCISCO
ORLANDO, ALEX ZILENOVSKI, IVO DE ALMEIDA, COSTABILE E
SOLIMENE, ALBERTO ANDERSON FILHO E ANDRADE SAMPAIO.
São Paulo, 27 de janeiro de 2023.
ANDRÉ CARVALHO E SILVA DE ALMEIDA
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
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Revisão Criminal nº 0019378-10.2021.8.26.0000
Peticionário: Rodolfo Ramos Costa
Voto nº 4343
Revisão Criminal Júri Decisão
manifestamente contrário à prova dos autos
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Inexistência de testemunhas presenciais
Vítima não ouvida em juízo Testemunhas que
nada disseram contra os denunciados
Revisão deferida para absolver.
Vistos.
Cuida-se de revisão criminal ajuizada por Rodolfo
Ramos Costa contra decisão da 2ª Vara do Júri da Comarca de Campinas que,
definitivamente, o condenou à pena de 07 anos de reclusão, por infração ao art. 121,
§2º, I e IV, c.c. o art. 14, II e art. 29, todos do Código Penal.
Pretende a defesa de Rodolfo, preliminarmente, a
cassação da decisão que deu provimento ao recurso Ministerial, restabelecendo-se a
decisão de impronúncia; a anulação do processo para que seja determinado que o
julgamento seja realizado pela 5ª Câmara de Direito Criminal. No mérito, pugnou
pela absolvição do peticionário, com fundamento no art. 386, III, do Código de
Processo Penal, com extensão dos efeitos ao corréu.
Foi deferida liminar pelo Exmo. Sr. Desembargador
Amaro Thomé, então relator da presente revisão criminal, concedendo a Rodolfo o
direito de aguardar o julgamento do pedido revisional em liberdade, com efeito
extensivos ao co-denunciado Robson Moraes da Costa (fls. 402/407).
A d. Procuradoria de Justiça manifesta-se pela
procedência da ação revisional, cassando-se a decisão que condenou o peticionário e
determinando-se a sua absolvição, por ausência de provas da autoria delitiva
(fls.417/420).
É o relatório.
Revisão Criminal nº 0019378-10.2021.8.26.0000 -Voto nº 4343 2
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Rodolfo Ramos Costa foi julgado e condenado pela
Tribunal Popular da 2º Vara do Júri da Comarca de Campinas, à pena de 07 anos de
reclusão, por infração ao art. 121, §2º, I e IV, c.c. o art. 14, II e art.29, todos do
Código Penal.
Interposto recurso de apelação, foi-lhe negado
provimento pela Colenda 8ª Câmara Criminal Extraordinária deste Egrégio Tribunal,
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por v.acórdão da relatoria do Exmo. Sr. Desembargador Edison Brandão,
participando do julgamento os Exmos. Srs. Desembargadores Luis Soares de Melo e
Carlos Monnerat (fls. 609/625, dos autos em apenso).
O v.acórdão transitou em julgado em 24/05/2017 para o
Ministério Público e em 29/04/2017 para Rodolfo (fls.628, dos autos em apenso).
Agora, por meio da presente revisão criminal, busca-se
seja reconhecida inexistência de provas para sustentar a condenação de Rodolfo.
Inicialmente, impõe-se salientar que as questões
preliminares ficarão superadas, diante da apreciação do mérito do recurso.
Ocorre que, na análise dos argumentos deduzidos e das
provas produzida na ação penal, respeitado o entendimento da Colenda 8ª Câmara
Criminal Extraordinária negando provimento ao recurso de apelação interposto pelo
peticionário e mantendo a decisão proferida pelo Tribunal do Júri, penso, tal qual
ponderado pelo ilustre Procurador de Justiça, que, de fato, a condenação foi
embasada exclusivamente nos elementos constantes do inquérito policial o que,
como bem é sabido, não serve de fundamento para o decreto condenatório,
principalmente, quanto não reproduzido em juízo, perante os princípios
constitucionais da ampla defesa e do contraditório.
Segundo dispõe o art. 155, do Código de Processo
Penal, “ O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas”.
Tal dispositivo legal, segundo jurisprudência, se dirige,
também, aos senhores jurados que, para devem fundamentar o veredito em prova
produzida em juízo, sob pena de se violar os princípios constitucionais da ampla
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defesa e do contraditório.
Nesse sentido:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL.
HOMICÍDIO. QUALIFICADORAS FUNDADAS
EXCLUSIVAMENTE EM DEPOIMENTO INDIRETO
(HEARSAY) COLHIDO NA ESFERA POLICIAL.
APLICABILIDADE DO ART. 155 DO CPP AOS VEREDITOS
CONDENATÓRIOS DO TRIBUNAL DO JÚRI. PROPOSTA DE
MUDANÇA DO ENTENDIMENTO DESTE STJ. RECURSO
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ESPECIAL PROVIDO, PARA SUBMETER O RÉU A NOVO
JÚRI. 1. Consoante o entendimento atual da Quinta e Sexta
Turmas deste STJ, o art. 155 do CPP não se aplica aos vereditos
do tribunal do júri. Isso porque, tendo em vista o sistema de
convicção íntima que rege seus julgamentos, seria inviável aferir
quais provas motivaram a condenação. Tal compreensão, todavia,
encontra-se em contradição com novas orientações
jurisprudenciais consolidadas neste colegiado no ano de 2021. 2.
No HC 560.552/RS, a Quinta Turma decidiu que o art. 155 do
CPP incide também sobre a pronúncia. Dessarte, recusar a
incidência do referido dispositivo aos vereditos condenatórios
equivaleria, na prática, a exigir um standard probatório mais rígido
para a admissão da acusação do que aquele aplicável a uma
condenação definitiva. 3. Não há produção de prova, mas somente
coleta de elementos informativos, durante o inquérito policial.
Prova é aquela produzida no processo judicial, sob o crivo do
contraditório, e assim capaz de oferecer maior segurança na
reconstrução histórica dos fatos. 4. Consoante o entendimento
firmado no julgamento do AREsp 1.803.562/CE, embora os
jurados não precisem motivar suas decisões, os Tribunais locais
quando confrontados com apelações defensivas precisam fazê-
lo, indicando se existem provas capazes de demonstrar cada
elemento essencial do crime. 5. Se o Tribunal não identificar
nenhuma prova judicializada sobre determinado elemento
essencial do crime, mas somente indícios oriundos do inquérito
policial, há duas situações possíveis: ou o aresto é omisso, por
deixar de analisar uma prova relevante, ou tal prova realmente não
existe, o que viola o art. 155 do CPP. 6. No presente caso,
conforme o levantamento do TJ/MG, as qualificadoras do art. 121,
§ 2º, I e IV, do CP se fundamentam apenas em um testemunho
indireto (hearsay testimony), colhido no inquérito policial.
Contrariedade ao art. 155 do CPP configurada. 7. Recurso especial
provido, para cassar a sentença e submeter o recorrente a novo
júri.” (REsp 1916733/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 23/11/2021, DJe 29/11/2021).
"HABEAS CORPUS" - JÚRI - GARANTIA CONSTITUCIONAL
DA SOBERANIA DO VEREDICTO DO CONSELHO DE
SENTENÇA - RECURSO DE APELAÇÃO (CPP, ART. 593, III,
"D") - DECISÃO DO JÚRI CONSIDERADA
MANIFESTAMENTE INCOMPATÍVEL COM A PROVA DOS
AUTOS - PROVIMENTO DA APELAÇÃO CRIMINAL -
SUJEIÇÃO DO RÉU A NOVO JULGAMENTO -
POSSIBILIDADE - AUSÊNCIA, EM TAL HIPÓTESE, DE
Revisão Criminal nº 0019378-10.2021.8.26.0000 -Voto nº 4343 4
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OFENSA À SOBERANIA DO VEREDICTO DO JÚRI -
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RECEPÇÃO, PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988, DO ART. 593,
III, "D", DO CPP - ALEGAÇÃO DE FALTA DE JUSTA CAUSA
PARA A INSTAURAÇÃO DA PERSECUÇÃO PENAL -
PROVA DA MATERIALIDADE DO CRIME E DE
EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS IDÔNEOS DA AUTORIA DO
FATO DELITUOSO - EXAME APROFUNDADO DAS
PROVAS - INVIABILIDADE NA VIA SUMARÍSSIMA DO
"HABEAS CORPUS" - EXISTÊNCIA DE EXAME DE CORPO
DE DELITO DIRETO - ALEGAÇÃO DE
IMPRESTABILIDADE DO LAUDO PERICIAL -
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INOCORRÊNCIA - EXAME TÉCNICO ELABORADO POR
PROFISSIONAIS MÉDICOS - RECONHECIMENTO DE
OCORRÊNCIA DE VESTÍGIOS MATERIAIS PECULIARES À
PRÁTICA DO CRIME DE ABORTO - PEDIDO INDEFERIDO.
A SOBERANIA DO JÚRI E O RECURSO DE APELAÇÃO
FUNDADO NO ART. 593, III, "D", DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. - A soberania dos veredictos do Júri - não
obstante a sua extração constitucional - ostenta valor meramente
relativo, pois as decisões emanadas do Conselho de Sentença não
se revestem de intangibilidade jurídico-processual. A competência
do Tribunal do Júri, embora definida no texto da Lei Fundamental
da República, não confere, a esse órgão especial da Justiça
comum, o exercício de um poder incontrastável e ilimitado. As
decisões que dele emanam expõem-se, em conseqüência, ao
controle recursal do próprio Poder Judiciário, a cujos Tribunais
compete pronunciar-se sobre a regularidade dos veredictos. A
apelabilidade das decisões emanadas do Júri, nas hipóteses de
conflito evidente com a prova dos autos, não ofende o postulado
constitucional que assegura a soberania dos veredictos do Tribunal
Popular. - A mera possibilidade jurídico-processual de o Tribunal
de Justiça invalidar, em sede recursal (CPP, art. 593, III, "d"), a
decisão emanada do Conselho de Sentença, quando esta se achar
em evidente conflito com a prova dos autos, não ofende a cláusula
constitucional que assegura a soberania do veredicto do Júri. É
que, em tal hipótese, o provimento da apelação, pelo Tribunal de
Justiça, não importará em resolução do litígio penal, cuja
apreciação remanescerá na esfera do Júri. Precedentes. Doutrina. -
Inexiste, entre o art. 593, III, "d", do CPP e o texto da Constituição
promulgada em 1988 (CF, art. 5º, XXXVIII, "c"), qualquer relação
de incompatibilidade vertical. Conseqüente recepção, pelo vigente
ordenamento constitucional, da norma processual em referência. A
VIA SUMARÍSSIMA DO "HABEAS CORPUS" É
INCOMPATÍVEL COM O EXAME APROFUNDADO DA
PROVA PENAL. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
tem acentuado que o exame aprofundado das provas não encontra
sede juridicamente adequada no processo de "habeas corpus". A
postulação que objetive ingressar na análise, discussão e valoração
da prova será plenamente admissível na via recursal ordinária, de
espectro mais amplo, ou, ainda, na via revisional. A condenação
penal definitiva imposta pelo Júri é passível, também ela, de
desconstituição mediante revisão criminal, não lhe sendo oponível
a cláusula constitucional da soberania do veredicto do Conselho de
Sentença.” (HC 70193, Relator(a): CELSO DE MELLO, Primeira
Turma, julgado em 21/09/1993, DJ 06-11-2006 PP-00037
EMENT VOL-02254-02 PP-00292 RTJ VOL-00201-02
PP-00557)
Revisão Criminal nº 0019378-10.2021.8.26.0000 -Voto nº 4343 5
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Por aqui, segundo se verifica dos autos, nada se
produziu durante a instrução criminal ou no plenário que, ainda que superficialmente,
indicasse Rodolfo e Robson como autores da tentativa de homicídio praticada contra
Renato Cardoso de Oliveira.
As pessoas ouvidas sob o crivo do contraditório nada
presenciaram e, por isso, limitaram-se a confirmar a violência cometida contra
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Renato, sem, no entanto, apontarem qualquer indício de possível participação dos
denunciados.
Na realidade, há, apenas, os isolados relatos da vítima,
feitos na fase inquisitiva, onde ela, após declarações, efetuou reconhecimento
fotográfico dos dois condenados (fls. 17/19, dos autos principais), uma vez que ela,
posteriormente, foi novamente vítima de homicídio que, no entanto, agora se
consumou, de modo que, por isso, não pode ser ouvida em juízo.
Não bastasse isso, não foi ouvido qualquer policial que
tivesse participado dos trabalhos investigativos e, principalmente, alguém que
pudesse confirmar, ainda que indiretamente, as declarações da vítima feitas no
inquérito.
Então, porque as pessoas ouvidas nada disseram que
pudessem corroborar o relato do ofendido e o reconhecimento fotográfico que teria
feito na fase inquisitiva, e, ao contrário, porque elas colocaram em dúvida a
honestidade e correção da vítima, impõe-se reconhecer, efetivamente, que o decreto
condenatório foi manifestamente contrário à prova dos autos.
Ante do exposto, pelo meu voto, prejudicadas as
preliminares defensivas, defiro o pedido revisional e absolvo o peticionário
Rodolfo Ramos Costa, com fundamento legal no art. 386, V, do Código de
Processo Penal, por ausência de provas da autoria delitiva, com extensão dos
efeitos ao corréu Robson Moraes da Costa, tornando, assim, definitiva a liminar
que determinou a expedição de alvarás de soltura para os réus.
André Carvalho e Silva de Almeida
Relator
Revisão Criminal nº 0019378-10.2021.8.26.0000 -Voto nº 4343 6