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Tempo, 5 - Ok - Dossie - Variações Do Mesmo Tema Sem Sair Do Tom

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e-ISSN 2175-1803

Variações do mesmo tema sem sair do tom: imprensa,


Comissão Nacional da Verdade e a Lei da Anistia*

Resumo
Este artigo objetiva investigar o papel da imprensa no Fernando Perlatto
debate público em torno da Comissão Nacional da Verdade Doutor em Sociologia pela Universidade do
(CNV), a partir da análise dos editoriais publicados sobre o Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professor do
tema pelos jornais Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de Departamento de História da Universidade
São Paulo. Busco compreender de que maneira esses jornais Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Juiz de Fora, MG - BRASIL
participaram das controvérsias públicas sobre as “memórias
[email protected]
conflitantes” da ditadura e da transição democrática, orcid.org/0000-0003-4301-0826
enquadrando determinadas interpretações e representações
sobre esse passado. Apesar de algumas diferenças, é
possível perceber um posicionamento comum dos editoriais
desses jornais, que se aproximam no sentido de enquadrar o
debate público sobre a CNV com o intuito de defender a Lei
da Anistia, de 1979, se contrapondo à sua revisão e à punição
daqueles que praticaram violações aos direitos humanos
como agentes do Estado.

Palavras-chave: Comissão Nacional da Verdade. Memórias.


Imprensa. Enquadramento. Lei da Anistia.

Para citar este artigo:


PERLATTO, Fernando. Variações do mesmo tema sem sair do tom: imprensa, Comissão
Nacional da Verdade e a Lei da Anistia. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 27, p.
78 - 100, maio/ago. 2019.

DOI: 10.5965/2175180311272019078
http://dx.doi.org/10.5965/2175180311272019078

*
O autor agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo apoio à pesquisa As
controvérsias públicas em torno da Comissão Nacional da Verdade: ditadura, história e memória, financiada
pelo Edital Universal, que deu origem a este artigo.

Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 27, p. 78 - 100, maio/ago. 2019. p.78
Tempo & Argumento
Variações do mesmo tema sem sair do tom: imprensa, Comissão Nacional da Verdade e a Lei da Anistia
Fernando Perlatto

Variations on a theme without


leaving the tone: press,
National Truth Commission
and the Amnesty Law

Abstract
This article aims to investigate the role of the press in the
public debate around the National Truth Commission (CNV),
based on the analysis of the editorials published about this
subject by the newspapers Folha de São Paulo, O Globo and
O Estado de São Paulo. It seeks to understand how these
newspapers took part in the public controversies about the
“conflicting memories” of the dictatorship and the
democratic transition, framing certain interpretations and
representations about this past. Despite some differences, it
is possible to perceive a common position of these editorials,
which have similar approaches in the sense of framing the
public debate on the CNV in order to support the Amnesty
Law, of 1979, in opposition to its revision and to the
punishment for those who committed human rights
violations as agents of the State.

Keywords: National Truth Commission. Memories. Press.


Framing. Amnesty Law.

No dia 16 de maio de 2012, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto, com a


presença de quatro ex-presidentes da República que governaram o Brasil desde o início
do processo de redemocratização do país – José Sarney, Fernando Collor de Mello,
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva –, a então presidenta, Dilma
Rousseff, fez um discurso que marcava a instalação da Comissão Nacional da Verdade
(CNV) e o início dos trabalhos voltados para a investigação de crimes e de violações aos
direitos humanos ocorridos no período entre 1946 e 1988, com ênfase especial sobre os
vinte e um anos de ditadura militar, entre 1964 e 1985. Dilma destacou em sua fala:

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Tempo & Argumento
Variações do mesmo tema sem sair do tom: imprensa, Comissão Nacional da Verdade e a Lei da Anistia
Fernando Perlatto

Embora saibamos que regimes de exceção sobrevivem pela interdição da


verdade, temos o direito de esperar que, sob a democracia, a verdade, a
memória e a história venha à superfície e se torne conhecidas, sobretudo,
para as novas e as futuras gerações. (...). Ao instalar a Comissão da
Verdade não nos move o revanchismo, o ódio ou o desejo de reescrever a
história de uma forma diferente do que aconteceu, mas nos move a
necessidade imperiosa de conhecê-la em sua plenitude, sem
ocultamentos, sem camuflagens, sem vetos e sem proibições. (O Globo,
17/05/2012, p. 4)

Durante os dois anos seguintes, até a publicação do Relatório Final da CNV, em


dezembro de 2014, os sete membros que compuseram a CNV trabalharam com o apoio de
mais de duzentos colaboradores e pesquisadores, investigando e esclarecendo as
violações de direitos humanos ocorridas durante o período da ditadura1. Ainda que a CNV
não tenha se constituído a partir de um vazio institucional, tendo em vista a existência de
iniciativas importantes de governos anteriores no que concerne à proposição de políticas
voltadas para a justiça de transição, seu envio como projeto de Lei ao Congresso Nacional
pelo presidente Lula em 2010 – respondendo às reivindicações de familiares de mortos e
desaparecidos, consubstanciada na 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos e no 3º
Programa Nacional de Direitos Humanos –, bem como a aprovação do projeto de Lei nº
12.528, em 18 de novembro de 2011 e a instalação da CNV em 2012, marcaram uma nova
etapa no debate acerca das políticas públicas de memória do Brasil.

A instalação da CNV, a realização de seus trabalhos e, sobretudo, a publicação do


Relatório Final provocaram uma série de debates e controvérsias públicas, envolvendo
diferentes setores da sociedade, como familiares de mortos e desaparecidos, militantes
dos direitos humanos, políticos, intelectuais, representantes de órgãos do Estado e da
sociedade civil, assim como segmentos associados às Forças Armadas. O que estava em
jogo, em grande medida, era a disputa sobre os sentidos e significados do passado, ou,
dito em outros termos, o embate sobre as memórias públicas da ditadura militar. Essas
controvérsias no tempo presente tiveram, na imprensa, um locus importante de

1
A CNV foi composta por sete membros, nomeados pela presidenta Dilma Rousseff. Quando da instalação
da comissão, em 2012, assumiram como conselheiros os membros: Claudio Lemos Fonteles, Gilson
Langaro Dipp, Jose Carlos Dias, José Paulo Cavalcanti Filho, Maria Rita Kehl, psicanalista e jornalista; Paulo
Sergio Pinheiro e Rosa Maria Cardoso da Cunha. Em outubro de 2012, Gilson Dipp se afastou por
problemas de saúde e em junho de 2013, Claudio Fonteles renunciou ao cargo, sendo substituído por
Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari.

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Variações do mesmo tema sem sair do tom: imprensa, Comissão Nacional da Verdade e a Lei da Anistia
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manifestação, tendo esta se transformado em uma arena pública de debates


fundamental em torno das memórias sobre esse passado. A grande imprensa,
especialmente, se conformou como um ator importante nessas disputas sobre o passado,
vocalizando ideias, defendendo pontos de vista e buscando “enquadrar” a forma como o
debate sobre o passado transcorreu na esfera pública.

Este artigo objetiva, precisamente, refletir sobre o papel da imprensa nas


controvérsias públicas em tono da Comissão Nacional da Verdade. A partir da análise dos
editoriais publicados sobre o tema por três jornais de grande circulação no país – Folha de
São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo 2 –, procuro compreender de que forma esses
órgãos da imprensa buscaram intervir no debate público sobre as memórias da ditadura,
enquadrando determinadas visões e perspectivas sobre o passado e o processo de
transição à democracia, enquadramento este que encontra na defesa da Lei da Anistia, de
1979, seu eixo principal de sustentação3. A hipótese que procuro explorar é a de que, a
despeito de pequenas variações nos posicionamentos dos três jornais, expostos em seus
editoriais, é possível perceber um tom semelhante, que, de maneira geral, buscou
enquadrar o debate sobre a CNV na esfera pública, de sorte a evitar que os embates em
torno do tema pudessem levar a uma discussão mais aprofundada sobre as possibilidades
da revisão da Lei da Anistia e a uma possível punição daqueles que praticaram violações
aos direitos humanos como agentes do Estado.

Até mesmo pelo fato de ter sido constituída há poucos anos e por ter finalizado
seus trabalhos recentemente, poucas pesquisas mais sistemáticas foram desenvolvidas
sobre a Comissão Nacional da Verdade. Os estudos já produzidos têm privilegiado
enfoques diversos, tais como a relação da comissão com outros processos de justiça de
transição, a análise da composição da CNV e da dinâmica de seu funcionamento, assim
como seus sentidos e significados nas políticas de memória sobre a ditadura, sobretudo

2
A escolha destes três jornais se justifica pelo fato de se constituírem como periódicos que possuem ampla
audiência no país. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), em
2018, os jornais Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo consolidaram-se entre aqueles veículos
impressos de maior tiragem e de maior número de assinantes digitais.
3
A noção de “enquadramento” para pensar as disputas públicas de memória se ancora no diálogo com
diversos autores que buscaram refletir sobre essa temática a partir de ângulos diversos, com destaque
para: POLLAK (1989), TODOROV (2000), HUYSSEN (2000; 2014).

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Variações do mesmo tema sem sair do tom: imprensa, Comissão Nacional da Verdade e a Lei da Anistia
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pensada em uma perspectiva comparativa com outros contextos que vivenciaram


experiências de regimes autoritários (BAUER, 2017; MACIEL, 2014; NEVES; 2012; PEREIRA,
2015; PERLATTO; HOLLANDA, 2017;). Contudo, um campo que ainda merece maior
atenção por parte da bibliografia especializada, diz respeito aos debates públicos que
tiveram lugar na imprensa em torno da Comissão Nacional da Verdade. Desde o momento
inicial da constituição de um grupo de trabalho para a elaboração de um projeto de lei
orientado para a criação da comissão, em 2010, até a publicação do Relatório Final, em
2014, a CNV e todas as questões a ela relacionadas produziram controvérsias públicas
variadas, que polarizaram debates e discussões entre diferentes segmentos da sociedade
brasileira sobre as características da ditadura civil-militar e acerca dos processos que
conduziram à transição para a democracia.

De maneira resumida, é possível dizer que os debates públicos em torno da


Comissão Nacional da Verdade estiveram relacionados a diferentes aspectos, tais como, a
necessidade ou não da instalação de uma comissão com o perfil da CNV para investigar
violações dos direitos humanos praticados no Brasil; de que maneira seria composta a
comissão e quais os critérios utilizados para a escolha dos seus membros; qual seria o
alcance do período a ser investigado pela CNV, devendo ele se restringir à ditadura civil-
militar de 1964 a 1985, ou os trabalhos deveriam se estender, abarcando também o
período da ditadura do Estado Novo, de 1937 a 1945; qual seria o prazo de funcionamento
dos trabalhos da Comissão e se este tempo seria suficiente para o desenvolvimento das
atividades anunciadas. Porém, as principais controvérsias públicas em torno da CNV
estiveram associadas ao alcance jurídico-político dos trabalhos da comissão: deveria ela
ter apenas um caráter de investigação e pesquisa sobre o período de repressão, ou
poderia também propor medidas orientadas para a revisão da Lei da Anistia, de 1979, de
modo a instituir processos criminais contra o Estado e contra indivíduos que praticaram
crimes contra os direitos humanos? Este artigo está interessado em investigar de que
maneira os debates em torno dessa questão se fizeram presentes na imprensa brasileira,
nas controvérsias públicas em torno da CNV.

Para proceder a esta análise, o texto está dividido em duas partes: na primeira, o
intuito será o de realizar uma reflexão mais ampla sobre a imprensa e seu papel no

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Variações do mesmo tema sem sair do tom: imprensa, Comissão Nacional da Verdade e a Lei da Anistia
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sentido de promover, na esfera pública, determinados enquadramentos em torno de


memórias públicas sobre o passado, de modo geral, e sobre a ditadura, em particular; na
segunda parte, buscarei, mediante a análise de editoriais, investigar de forma mais
sistemática os posicionamentos dos jornais Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São
Paulo em torno da instalação e dos trabalhos da CNV, bem como da publicação de seu
“Relatório Final”. O intuito será o de demonstrar de que maneira, não obstante algumas
variações, todos eles construíram argumentos em um mesmo tom, que buscou
enquadrar o debate na esfera pública e se opor a qualquer postura considerada
revanchista, que implicasse na revisão da Lei da Anistia.

Imprensa, enquadramento de memórias e ditadura


Um dos campos que têm sido mais privilegiados pelos estudos dedicados à
compreensão do golpe civil-militar de 1964 e da ditadura então instalada no país, se
relaciona com o papel da imprensa ao longo desse período. Se, de um lado, os últimos
anos testemunharam a profusão de trabalhos interessados em investigar a censura que
se abateu sobre determinados setores da imprensa (AQUINO, 1999; FICO, 2002); de
outro, têm se expandido pesquisas orientadas para apresentar outras dimensões das
relações entre os governos militares e os órgãos da imprensa, com o intuito de se
destacar que, ao lado da censura e da autocensura, e diferentemente da construção de
uma memória sustentada na ideia de resistência, havia também relações de apoio e de
colaboração de segmentos da imprensa com a ditadura, não apenas durante o golpe de
1964, mas no decorrer do regime, inclusive por parte de entidades como a Associação
Brasileira de Imprensa (ABI) (KUSHNIR, 2004; MOTTA, 2017; ROLLEMBERG, 2010;). Ao
longo dos últimos anos, novos trabalhos vêm buscando investigar de que maneira, já no
contexto da transição e da democracia, foram construídas pela imprensa representações
diversas sobre a ditadura civil-militar no Brasil e sobre o processo de transição (BIROLI,
2009; CARVALHO, 2015; NAPOLITANO, 2017). A grande imprensa, nessa perspectiva,
compreendida como “ator político”, nos termos de Maria Helena Capelato (2014), tem se
configurado como uma fonte importante para a conformação de determinadas visões e
representações sobre a ditadura e a transição democrática no tempo presente.

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Paralelamente ao avanço das pesquisas desenvolvidas no campo historiográfico


que vêm buscando investigar as relações entre imprensa e ditadura, tem-se ampliado, de
forma cada vez mais significativa, em outros campos de investigação, trabalhos
dedicados a refletir de que maneira a imprensa tem atuado no sentido de pautar e
enquadrar debates e controvérsias públicas que têm curso em uma determinada
sociedade. Diversos estudos têm procurado destacar que, apesar do discurso ancorado
em uma pretensa imparcialidade e neutralidade, os órgãos de imprensa detêm um papel
seletivo central no processo de determinação das agendas e de enquadramento dos
debates em torno de questões públicas, acabando por conferir maior destaque e
visibilidade a certas temáticas e assuntos e a determinados pontos de vista em
detrimento de outros, contribuindo decisivamente para a forma como certas temáticas
são debatidas na esfera pública. Esses trabalhos vêm buscando chamar a atenção para a
importância da imprensa não apenas no enquadramento do debate público em torno de
pautas diversas, mas também na administração do espaço no qual se processa esse
debate (DEARING; ROGERS, 1996; FERES JR et. al, 2013; McCOMBS; SHAW, 1972; MIGUEL;
BIROLI, 2010).

Além das notícias informativas, das reportagens, dos textos opinativos e das
cartas dos leitores, os jornais impressos da grande mídia, em geral, possuem um espaço
específico reservado para a manifestação pública de suas respectivas opiniões a respeito
de temáticas diversas. Este espaço, chamado de editorial e, publicado diariamente,
aborda, na maioria das vezes, a partir de uma perspectiva particular, assuntos que
ganharam destaque e visibilidade na esfera pública, no momento mesmo em que aquele
artigo é escrito. Trata-se de textos nos quais os editores dos jornais expõem de forma
mais aberta e explícita seus posicionamentos e opiniões sobre temas variados, tendo em
vista as orientações políticas e ideológicas mais gerais que, a despeito do discurso da
imparcialidade, orientam aqueles órgãos de imprensa. Os editoriais assumem um papel
importante no sentido de darem o tom mais geral da forma como aquele órgão da
imprensa aborda determinada temática, privilegiando ou secundarizando certas
questões. Esses espaços acabam por misturar “a autoridade da opinião parcial com a
autoridade do capital jornalístico” (FERES JR et. al, 2013, p. 15) e, a partir da leitura desses

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textos, é possível compreender de que maneira um jornal enquadra determinada


temática ou assunto.

É interessante colocar esses dois campos de investigação – as pesquisas


historiográficas dedicadas à compreensão da relação entre imprensa e ditadura, de um
lado; e os trabalhos voltados para a investigação sobre o caráter seletivo da imprensa na
administração do debate público, de outro – em conexão com os estudos que vêm sendo
realizados ao longo dos últimos anos em torno da inquirição acerca da relação entre as
mídias, as disputas de memórias e dos usos públicos do passado (HUYSSEN, 2000; LEE;
NINAN, 2012; NEIGGER et. al, 2011). O intuito do estabelecimento desse diálogo é o de
refletir de que maneira a grande imprensa – em especial, na produção de seus editoriais –
atua no processo de “enquadramento” de determinadas memórias sobre o passado, a
partir das interpretações e das representações construídas sobre períodos históricos
específicos.

Ainda que a maior parte dos editoriais publicados pelos jornais seja direcionado a
debates sobre assuntos contemporâneos, em determinados momentos, motivados por
controvérsias públicas em torno do tempo presente, a imprensa acaba por redirecionar
sua atenção para a discussão a respeito de temáticas do passado, construindo
determinadas interpretações e representações acerca de períodos históricos específicos,
a exemplo do que ocorreu quando da publicação do polêmico editorial da Folha de São
Paulo, em 17 de fevereiro de 2009, que chamou a ditadura brasileira de “ditabranda”
(Folha de São Paulo, 17/02/2009, p. A2), e do editorial publicado pelo jornal O Globo em 1º
de setembro de 2013, quando, pela primeira vez, esse órgão da imprensa reconheceu
publicamente o erro pelo apoio dado ao golpe de 1964 e à ditadura que então se seguiu
(O Globo, 01/09/2013, p. 15). Editoriais como esses, muitas vezes, impulsionam novas
discussões públicas sobre o tempo presente e sobre o passado, evidenciando o quanto o
enquadramento de “eventos traumáticos” (FICO, 2012) relacionados ao passado
provocam variadas disputas e controvérsias na esfera pública em torno da memória no
tempo presente.

Parto, portanto, do pressuposto segundo o qual a “grande imprensa”, a despeito


de seu discurso de imparcialidade, se coloca como um ator fundamental nas disputas

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públicas de “memórias conflitantes” sobre o passado, em especial na construção de


determinados “enquadramentos” de períodos históricos específicos4. Não obstante a
existência de memórias conflitantes, a mídia – sobretudo quando possui visão
homogênea a respeito de determinado assunto –, a partir da construção de
enquadramentos específicos, desempenha papel relevante no sentido de conferir maior
destaque a certas representações do passado, contribuindo para conformar aquilo que
Marcos Napolitano (2017, p. 348) chamou de “memória hegemônica” relacionada a
determinado período histórico. Na próxima seção, buscarei analisar de que maneira,
durante os trabalhos da CNV, os editoriais relacionados à temática e publicados por três
jornais de grande circulação no país – O Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo
– construíram interpretações semelhantes em relação à ditadura e ao processo de
transição e, que, apesar de pequenas diferenças, se aproximavam na construção de um
determinado enquadramento em defesa da Lei da Anistia de 19795.

“Grande imprensa”, CNV e a Lei da Anistia


Ainda que os debates em torno da revisão da Lei da Anistia, de 1979, não tenham
se iniciado em tempos recentes, atravessando o processo de redemocratização do país e
a elaboração da Constituição de 1988, não restam dúvidas de que, ao longo dos últimos
anos, ele ganhou novos contornos6. A criação da Comissão Especial sobre Mortos e
Desaparecidos Políticos, em 1995, o estabelecimento da Comissão da Anistia em 2002 e,
sobretudo, o julgamento por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) da Ação de

4
O termo “memórias conflitantes” se ancora na crítica realizada por Andreas Huyssen ao conceito de
“memória coletiva”, de Maurice Halbwachs: “A mudança de perspectiva que proponho, (...), tem por
premissa nosso abandono do conceito de memória coletiva mais ou menos estável de um grupo ou nação
como um ideal, muito menos como descrição de qualquer realidade histórica. Em vez disso, parto da
observação de que todos os fenômenos da memória costumam ser conflituosos e estar em fluxo
constante no tempo” (HUYSSEN, 2014, p. 181).
5
Na análise realizada na próxima seção, dediquei especial atenção aos editoriais publicados a partir de
2009, quando ocorreu uma enorme repercussão pública em torno do PNDH-3, que previa a criação de
uma Comissão da Verdade. Até o momento da publicação do Relatório Final da CNV, foram analisados
editoriais dos jornais selecionados que discutiam direta ou indiretamente os trabalhos da Comissão, que,
de alguma maneira, abordavam temáticas vinculadas à ditadura inaugurada em 1964 e à Lei da Anistia de
1979.
6
Sobre as controvérsias em torno da “justiça de transição”, de modo geral, e da Lei da Anistia, em
particular, ver, entre outros: AARÃO REIS FILHO (2010); BARAHONA DE BRITO (2013); RODEGHERO
(2014); SCHNEIDER (2018).

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Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 153, em 2010, impulsionaram


controvérsias e debates públicos importantes em torno da Lei da Anistia de 1979,
mobilizando diferentes entidades e segmentos sociais e políticos. A publicação do Plano
Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que previa a criação de uma Comissão da
Verdade, e a aprovação e o início, de fato, do funcionamento da CNV, contudo,
provocaram uma intensificação das controvérsias públicas que diziam respeito à Lei da
Anistia, na medida em que diferentes atores vislumbravam a possibilidade real de que a
lei fosse revisada, permitindo-se, assim, a punição daqueles que cometeram crimes contra
os direitos humanos em nome do Estado brasileiro7.

O artigo 1º da lei que estabeleceu a criação da CNV atribuiu a ela o objetivo de


“promover a reconciliação nacional” e o seu artigo 4º, § 4º determinou que a comissão
não teria “caráter jurisdicional ou persecutório”, devendo respeitar, conforme destacado
pelo artigo 6º, “as disposições da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979” [a Lei de Anistia]
(BRASIL, 2011). Apesar disso, houve, durante todo o período de seu funcionamento,
intensa disputa dentro da CNV acerca da inclusão ou não do tópico da responsabilização
criminal de agentes da ditadura no seu Relatório final, com destaque para os
posicionamentos públicos favoráveis nesse sentido dos conselheiros Paulo Sergio
Pinheiro, Rosa Maria Cardoso da Cunha e Maria Rita Kehl. O documento final, lançado
pela comissão em dezembro de 2014, acabou por incorporar na seção “Recomendações”,
entre as “Medidas Institucionais”, a crítica à Lei da Anistia por ser ela “incompatível com
o direito brasileiro e a ordem jurídica internacional” e a defesa de sua revisão para
aqueles que cometeram “crimes contra a humanidade, imprescritíveis e não passíveis de
anistia”, apesar da posição divergente de um dos conselheiros, José Paulo Cavalcanti
Filho. O documento sustenta explicitamente a defesa da responsabilização “jurídica –
criminal, civil e administrativa – dos agentes públicos que deram causa às graves violações
de direitos humanos ocorridas no período investigado pela CNV” (BRASIL, 2014).

7
A publicação do PNDH-3 ocorrida no final de 2009, particularmente, impulsionou diversas polêmicas e
controvérsias, que repercutiram diretamente na forma como se deu posteriormente a criação da CNV. Há
que se destacar, nesse sentido, as disputas em torno do trecho do documento que abordam a criação de
uma Comissão da Verdade e que ocorreram no âmbito do próprio governo federal, envolvendo o Ministro
da Defesa, Nelson Jobim e o Secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. Sobre o tema, ver: DIEGUEZ
(2011).

Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 27, p. 78 - 100, maio/ago. 2019. p.87
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Nos debates públicos, que ganharam novos contornos na sociedade brasileira


desde o estabelecimento da CNV até a publicação do Relatório final, a imprensa
desempenhou papel de enorme importância, buscando intervir nas disputas públicas de
memórias que se colocaram em torno das interpretações e das representações sobre a
ditadura inaugurada em 1964 e a redemocratização do país. Ao se analisar os editoriais da
“grande imprensa” – em especial, aqueles publicados pelos jornais O Globo, Folha de São
Paulo e O Estado de São Paulo –, percebe-se de que maneira essas publicações procuraram
participar das controvérsias públicas sobre temáticas diversas relacionadas à CNV,
posicionando-se em questões que iam desde a composição da comissão até o seu prazo
de funcionamento, passando pela discussão do período a ser investigado pela Comissão –
devendo ele se concentrar na ditadura iniciada em 1964 ou também contemplar o período
do Estado Novo. Porém, a maior parte dos editoriais publicados pelos três jornais esteve
preocupada em discutir e em se posicionar em uma perspectiva contrária a qualquer
iniciativa por parte da CNV que implicasse na revisão da Lei da Anistia, de 1979. A busca no
sentido de “enquadrar” esse debate aproxima O Globo, a Folha e o Estadão, cujos
editoriais, a despeito de pequenas variações, impuseram um mesmo tom na defesa da Lei
da Anistia e na condenação a qualquer ação que pudesse ser interpretada como
“revanchismo”.

Antes mesmo da instituição da CNV, quando houve uma enorme repercussão


pública em torno do PNDH-3, lançado em 2009, que sinalizava para a criação de uma
comissão nos moldes daquela que foi posteriormente instituída, o jornal O Globo lançou,
em 13 de janeiro de 2010, um editorial intitulado “Erro de avaliação”, no qual já
denunciava o “revanchismo” da “orwelliana” Comissão da Verdade proposta pelo
governo Lula, colocando-se em uma posição contrária a qualquer movimento orientado
na direção de rever a Lei da Anistia, de 1979, reabrindo “um capítulo já encerrado da
história”:

A orwelliana ‘Comissão da Verdade’, encharcada de revanchismo, é uma


criação do governo Lula. Cabe, a propósito, registrar que nada se tem a
opor que a sociedade consiga amplo acesso aos registros oficiais dos
anos de chumbo, em especial os familiares dos mortos e desaparecidos.
O inadmissível é revogar a anistia a favor de um lado, e com isso reabrir um
capítulo já encerrado da história. Se o ‘programa de direitos humanos’ se

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resumir a um estratagema político, a fim de servir de toque de reunir


para a esquerda, houve erro de cálculo. (O Globo, 13/01/2010, p. 6, grifos
meus)

Em editorial publicado em 11 de março de 2011, com o título “Os militares e as


vítimas da ditadura”, o jornal O Globo deu sequência à crítica à criação de uma Comissão
da Verdade, interpretando-a como uma demonstração de “insensibilidade política” por
parte do governo Lula – com o apoio do Ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi,
e do Ministro da Justiça, à época da proposição do plano, Tarso Genro –, que teria
permitido “que grupos da esquerda autoritária, incrustados no poder” levassem adiante
“a revisão da Lei de Anistia, a fim de permitir a condenação na Justiça de agentes públicos
autores de sequestros, tortura, assassinatos etc.”. Para o jornal O Globo, a Lei da Anistia,
reafirmada pelo STF, “foi recíproca”, ou seja, “perdoou militares, policiais e também
passou a borracha no prontuário de terroristas e guerrilheiros”. Ao se referir à polêmica
que ocorreu quando, dias antes, o próprio jornal publicara uma reportagem com um
documento escrito pelo Comando do Exército, com apoio da Marinha e da Aeronáutica,
contra a criação da CNV, o editorial trouxe à tona a importância de se olhar para o outro
lado da história, afirmando que os militares “não precisam se preocupar com o
revanchismo, já descartado pela Justiça, mas têm razão ao reivindicar a apuração de
crimes cometidos pela esquerda armada. A história precisa ser contada por inteiro” (O
Globo, 11/03/2011, p. 6).

Entretanto, foi no dia 26 de setembro de 2011 que O Globo publicou um de seu


editoriais mais fortes contra qualquer tentativa de revisão da Lei da Anistia por parte da
CNV. De acordo com o jornal, em texto intitulado “Perdão negociado”, a
redemocratização teria sido “o fecho exitoso de uma longa e delicada negociação entre
um regime nos estertores, mas ainda forte, e a oposição, em busca de um objetivo mais
do que meritório: uma transição sem violência”. Trata-se de um elogio explícito ao
“gradualismo e a intensa negociação entre o poder vigente e oposicionistas”, que “iriam
dar um caráter de moderação à anistia, concedida, portanto, a ambos os lados”. Para o
jornal, a vitória de Lula, em 2002, teria levado a Brasília “militantes da esquerda armada
do final da década de 60/início dos anos 70”, grupo esse que tentou, a partir do segundo
mandato de Lula, “abrir uma brecha para rever a Lei de Anistia, por meio do programa

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nacional de defesa dos direitos humanos”. O editorial procura reafirmar a importância da


CNV “para obter informações sobre o paradeiro de pessoas desaparecidas naquela
guerra suja, jogar luz em episódios obscuros”, bem como “informar a famílias e amigos o
destino das vítimas, assim como relatar para a História aquela época dramática, a fim de
que ela não se repita”. Porém, se coloca frontalmente contrário à tentativa de “converter
a comissão num tribunal de acusação”, que “além de ilegal, seria contrariar o processo de
redemocratização” (O Globo, 26/09/2011, p. 6).

Em editorial intitulado “A Comissão da Verdade”, publicado pelo jornal O Estado de


São Paulo em 02 de outubro de 2011, o periódico também defende a Lei da Anistia e
problematiza qualquer iniciativa que busque colocar em cheque a “reconciliação
nacional” representada por aquela lei. O texto se estrutura em volta da crítica ao fato de
a CNV ter aberto uma possibilidade para que diversos grupos tentassem “abrir brechas na
Lei da Anistia, a partir de uma perspectiva unilateral”. Apesar da ressalva, o texto elogia
“a maneira como a Comissão está sendo construída”, parecendo “indicar que o bom
senso afinal prevalecerá, em benefício do objetivo maior de reconciliação nacional e da
construção de um futuro assentado em bases de convivência democrática”. De acordo
com o editorial, a CNV deveria manter-se focada exclusivamente na investigação sobre o
passado, na medida em que “a Lei da Anistia colocou um ponto final” em qualquer
discussão sobre “a possibilidade de levar a julgamento agentes do Estado responsáveis
por mortes, torturas e desaparecimento” (O Estado de São Paulo, 02/10/2011, p. A3).

A instalação oficial da CNV em 16 de maio de 2012 suscitou novos editoriais


dedicados aos trabalhos da comissão. Nesse mesmo dia, da posse dos sete integrantes da
CNV, o editorial do jornal O Globo, com o título “O que se espera da Comissão da
Verdade”, saudou a composição heterogênea da mesma – “Se a psicanalista Maria Rita
Kehl pode ser considerada próxima ao PT, há um ex-ministro da Justiça e um ex-
secretário de Direitos Humanos de FH, José Carlos Dias e Paulo Sérgio Pinheiro” – e a
moderação da proposta aprovada, que, ao contrário daquela divulgada no PNDH-3, que
“surgiu contaminada pela visão revanchista de alguns setores do governo”, apontou para
o respeito à Lei de Anistia, que teria beneficiado “os dois lados”, tendo sido o resultado
“de uma ampla negociação entre líderes da oposição e os generais, ao contrário do que

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aconteceu em outros países latino-americanos”. O mérito da CNV, portanto, estaria em


promover uma investigação do passado “sem revanchismo”, que conformaria a
“maturidade política” do país: “O Brasil, assim como retirou por impeachment um
presidente do Planalto, sem uma vidraça estilhaçada nas ruas, conseguiu fazer uma
transição de volta à democracia também sem violência” (O Globo, 16/05/2012, p. 6). No dia
13 de maio de 2012, o jornal O Estado de São Paulo publicou o editorial intitulado “A
Comissão escalada” elogiando a criação e a escolha dos integrantes da Comissão, porém
ressaltando que a ela caberia investigar o passado, inclusive dando aos agentes públicos
“a oportunidade de contar o que fizeram”, sem, é claro, “o risco de pagar por seus atos”,
o que implicaria em uma revisão da Lei da Anistia (O Estado de São Paulo, 13/05/2012, p.
A3). Em 18 de maio do mesmo ano, O Estado de São Paulo retornou ao tema, e publicou
um editorial intitulado “Uma fala exemplar”, no qual elogia o discurso de Dilma Rousseff
naquela ocasião, sobretudo pelo fato de ela reafirmar, ainda que implicitamente, a defesa
da Lei da Anistia, ao destacar que a CNV não foi criada movida pelo “revanchismo”. De
acordo com o jornal, os esforços direcionados para a investigação dos crimes cometidos
no passado são necessários e não devem ter “por objetivo derrogar a Lei da Anistia, de
1979” (O Estado de São Paulo, 18/05/2012, p. A3).

A Folha de São Paulo publicou, em 25 de maio de 2013, o editorial intitulado “Em


defesa da Anistia” com tom semelhante na crítica ao “revanchismo” e à tentativa de
rediscutir uma decisão referendada pelo STF, em 2010, referente à Lei da Anistia, de 1979.
O documento teria se mostrado “profícuo, com o passar do tempo”, refreando “ímpetos
que poderiam levar a um processo de aprofundamento de conflitos e divisões, em
prejuízo do reencontro da sociedade consigo mesma e com a reconstrução da
democracia ora consolidada, de maneira inédita na história do país”. Ao invés de “uma
imposição”, a “anistia ampla foi um pacto que assegurou a transição democrática”, que
estaria diretamente vinculada à “tradição brasileira da reconciliação”, que, ao invés de ser
interpretada “como sinal de fraqueza histórica”, deveria ser compreendida como algo de
enorme importância, tendo “contribuído para que o país não se dilacere em lutas
internas”. O editorial foi motivado pela manifestação de alguns dos membros da CNV a
favor da revisão da lei de 1979, após um evento que comemorou um ano de trabalho da
comissão. De acordo com o jornal:

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No que tange à proposta de mudar a Lei da Anistia, trata-se de recorrente e


rematado equívoco, cujas repercussões danosas se fazem pressentir em
vários níveis. Já de início, declarações nesse sentido, a um ano do
encerramento das pesquisas, fomentam a discórdia no próprio grupo,
uma vez que alguns de seus membros são contrários à proposta. Ao
mesmo tempo, reaviva-se a desconfiança de que os trabalhos em curso se
pautem pelo espírito de revanchismo, o que por sua vez alimenta a
reticência de representantes das Forças Armadas que resistem, muitas
vezes de maneira inaceitável, a colaborar com as requisições da
comissão. [...]. A Comissão da Verdade faz um trabalho valioso de
restabelecimento de fatos históricos. Deveria se concentrar em sua
tarefa em vez de abraçar propostas inoportunas que extrapolam o seu
próprio escopo. (Folha de São Paulo, 25/05/2013, p. A2, grifos meus)

Em diferentes editoriais publicados ao longo dos trabalhos da CNV, a Folha de São


Paulo buscou reiterar a defesa à Lei da Anistia e se posicionar contra qualquer tentativa
que buscasse uma revisão da mesma. Em 26 setembro de 2012, quando da divulgação da
notícia segundo a qual no documento de óbito de Vladmir Herzog – por iniciativa da viúva
Clarice Herzog e da Comissão da Verdade – passaria a constar que sua morte decorreu de
lesões e maus-tratos nas dependências do Exército, a Folha de São Paulo publicou um
editorial destacando que ações no sentido de “esclarecer os fatos e reconstituir a
memória” deveriam ser aquelas a orientar os trabalhos da CNV, e não ações no sentido de
rever a Lei da Anistia. Conforme destacado pelo jornal: “À luz do espírito conciliatório da
Anistia, os atos da comissão não podem legalmente se revestir de caráter jurisdicional,
para condenar ou para absolver” (Folha de São Paulo, 22/09/2012, p. A2). Em editorial
publicado em 20 de setembro de 2014, intitulado “Primeiro passo”, o jornal reforça a ideia
segundo a qual: “O principal mérito da Lei da Anistia, promulgada em 1979, foi o de
permitir que o processo de democratização do país se desse num clima desanuviado dos
ressentimentos que pesavam sobre ambas as partes em conflito” (Folha de São Paulo,
20/09/2014, p. A2).

O jornal O Globo voltaria à defesa da Lei da Anistia em diferentes momentos, com


destaque para dois editoriais publicados em 2014. Em 25 de setembro daquele ano, em
editorial intitulado “Limites da Comissão Nacional da Verdade”, o jornal, além de
defender a ideia de que, “para ser isenta, a comissão deveria, na busca pela ‘verdade’,
também registrar a história de vítimas de movimentos radicais de esquerda”, retoma a
defesa de se avançar no conhecimento do passado “sem fins judiciais”. Embora

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valorizasse a importância da iniciativa do então ministro da Defesa, Celso Amorim, no


sentido de encaminhar um ofício à CNV, reconhecendo formalmente a responsabilidade
do Estado nas violações dos direitos humanos durante o período da ditadura, o editorial
critica aqueles que defendem a ideia de que caberia às Forças Armadas um pedido de
desculpas formal às vítimas do arbítrio, na medida em que esse gesto, uma vez mais,
estaria vinculado à busca por “revanchismos”. Como destacado pelo jornal: “E também
não cabe qualquer pedido de desculpas dos militares, pois já é evidente o
reconhecimento de erros pelo Estado. O passado tem de ser conhecido para que não se
repita no futuro. Mas sem revanchismos, como prevê a anistia” (O Globo, 25/09/2014, p.
22).

Em um editorial ainda mais direto, publicado em 02 de dezembro de 2014, com o


título “Uma visão unilateral da Lei da Anistia”, ainda antes da divulgação do Relatório
final da CNV, O Globo reafirma sua posição em defesa da Lei, “concedida de forma
recíproca em 1979”, resultado da “bem-sucedida negociação entre generais e a oposição,
àquela época, sancionada livremente pelo Congresso”. O jornal adianta que “não se
espera um relatório equilibrado”, prevendo que “o viés que deverá ter o relatório deriva
da própria contaminação ideológica do processo de criação da Comissão”, que
remontaria ao PNDH-3. O jornal lamenta que, a despeito de algumas resistências, “os
grupos mobilizados para rever o alcance da Lei da Anistia, confirmada pelo próprio
Supremo, continuam a agir”. De acordo com o editorial, se revisão deve haver, ela
também deve ser direcionada para os “crimes cometidos pela chamada esquerda
armada”, dando como exemplos o “assassinato do tenente Mendes a coronhadas de
fuzil, por um grupo da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) comandado pelo capitão
Carlos Lamarca, desertor do Exército”, a “morte do soldado Mario Kozel Filho, num
atentado contra o Comando Militar de São Paulo, de autoria da mesma VPR” e o
assassinato “de outro militar, Orlando Lovecchio, ferido por bomba no consulado paulista
dos Estados Unidos”. O Globo conclui seu editorial criticando a tentativa de se rever o
passado em busca de “vencedores” e “vencidos”, com o intuito de modificar a Lei da
Anistia: “No caso da ‘guerra suja’ brasileira, não será positivo que o relato a ser
apresentado pressuponha que houve ‘vencidos’, quando aquela transição surgiu de um

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pacto entre contrários. Se isso acontecer, e a depender da reação do Planalto, ficará


configurada a tentativa de se reescrever o passado”.

A divulgação do Relatório final da CNV, que estabelecia em suas


“Recomendações”, conforme destacado no início desta seção, a revisão da Lei da Anistia
por ser ela “incompatível com o direito brasileiro e a ordem jurídica internacional”, gerou
reações mais fortes por parte dos três órgãos da “grande imprensa”. Em editoriais
publicados no dia 11 de dezembro de 2014, os jornais O Estado de São Paulo e O Globo se
posicionaram em uma perspectiva contrária à revisão da Lei da Anistia tal qual defendido
pelo Relatório final da CNV. Em editorial, intitulado “O trabalho de uma comissão”, O
Estado de São Paulo criticou o documento divulgado pela comissão, tanto por buscar
“reescrever a história daquele período conforme uma narrativa que não só ignora os
crimes da esquerda armada, como a transforma em mártir da democracia”, quanto por
sua “versão parcial dos fatos”, que aponta não para uma “reconciliação”, mas para “um
acerto de contas”, ao defender a revisão da Lei da Anistia. Para o jornal, o “espírito que
moveu a Comissão da Verdade” se contrapõe ao “espírito daquela lei” de 1979, que
buscava não propriamente “perdoar crimes”, mas “deixá-los no passado, no âmbito da
história, para que a transição do regime militar para a democracia se desse de forma
pactuada, evitando o revanchismo que inviabilizaria a reconciliação”. Para O Estado de São
Paulo, o que se constituiu, desde o início, foi “uma comissão que se arrogou o papel de
tribunal da história para efetuar um julgamento que, segundo entendem seus
promotores, foi indevidamente protelado pela Lei de Anistia” (O Estado de São Paulo,
11/12/2014, p. A3).

No mesmo dia, o jornal O Globo publicou o editorial “Comissão extrapola ao pedir


limitação da Lei da Anistia”, no qual sustenta a ideia de que “a expectativa de que haveria
uma carga contra a Lei da Anistia, negociada na transição da ditadura militar para a
democracia, por generais e líderes políticos da oposição, foi confirmada ontem na
entrega formal do trabalho à presidente”. O jornal elogia a presidenta Dilma Rousseff
pela sua “sensata mensagem” ao receber o Relatório final, por ter se posicionado contra
a revisão do passado e a favor dos “pactos políticos que nos levaram à democracia”.
“Mesmo presa e torturada, por atuar em um grupo armado de resistência ao regime”,

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ressalta o editorial, Dilma teria dado “demonstração de extremo equilíbrio ao afirmar, na


solenidade de recebimento do relatório, que ‘a verdade não significa revanchismo [...],
nem deve ser motivo para ódio ou para acerto de contas’”. Para O Globo, contudo,
“escapou a cinco dos seis componentes da CV que a Lei da Anistia, de 1979, vai além do
perdão recíproco: ela é a expressão legal do entendimento entre militares e oposição em
torno de um projeto de redemocratização sem violência”. Após elogiar o posicionamento
do conselheiro José Paulo Cavalcanti Filho, reafirma que tratados internacionais dos quais
o país é signatário “não estão acima da Constituição” (O Globo, 11/12/2014, p. 18).

No dia seguinte, 12 de dezembro de 2014, foi a vez do jornal Folha de São Paulo
manifestar em seu editorial, com o título “Página virada”, sua posição crítica ao Relatório
final da CNV, reiterando a defesa da “anistia irrestrita” como “um dos pilares sobre os
quais se apoia a democracia brasileira”. A despeito de reconhecer que “falta às Forças
Armadas divulgar os documentos retidos e reconhecer os abusos praticados”, o editorial
segue argumento parecido àquele defendido pelo jornal O Globo, posicionando-se
ccontrariamente à tentativa de alterar a Lei da Anistia por pressão de organismos
internacionais, a exemplo da Corte Interamericana de Direitos Humanos:

Não é sensato nem desejável que compromissos internacionais


assumidos pelo Brasil, determinando que a tortura é crime imprescritível,
possam sobrepor-se à soberania jurídica nacional quando se trata das
próprias fundações do Estado de Direito entre nós. A anistia deve ser
preservada. O passado precisa ser conhecido e debatido. (Folha de São
Paulo, 12/12/2014, A2, grifos meus)

No dia 15 de dezembro de 2014, no editorial “Ampla e irrestrita”, o jornal O Globo


voltou à discussão suscitada pela divulgação do Relatório final da CNV. Embora elogiasse
os trabalhos da comissão, que “rasgou o incômodo véu que procurava manter
encobertos episódios obscuros da ditadura militar, inclusive apontando
responsabilidades no topo da hierarquia militar e também iluminando os porões, com a
identificação de agentes públicos envolvidos em torturas e outros atos condenáveis
contra opositores ao regime”, o jornal retoma a crítica ao documento final em
decorrência de sua defesa da revisão da Lei da Anistia. O editorial chama a decisão de
“lamentável”, “oportunista” e a define como uma “perigosa extrapolação”, por ir em

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sentido contrário a uma lei que “apostou na conciliação, e não no confronto, muito
menos na violência ou em radicalismos revanchistas”. O Globo reafirma mais uma vez que
os “tratados internacionais que condenam crimes como a tortura [...] não se sobrepõem
à Constituição do país” e que, se alguma punição deve ocorrer, ela também deve se
direcionar aos “militantes da esquerda envolvidos no assassinato de agentes públicos”,
não se restringindo a “apenas um lado da ‘guerra suja’” (O Globo, 15/12/2014, p. 14).

Conclusão
Desde o momento em que houve um movimento mais concreto orientado para a
criação de uma Comissão da Verdade, a partir do PNDH-3, os debates públicos em torno
da Lei da Anistia de 1979 foram reavivados com enorme força, com diferentes atores
sociais e coletivos participando das controvérsias em torno do tema. O estabelecimento
efetivo da CNV, o início dos seus trabalhos e, sobretudo, a publicação do “Relatório final”,
colocaram esses debates em outro patamar, e os conflitos de memórias sobre as
características da ditadura, inaugurada em 1964, e da transição democrática, ganharam
espaço na esfera pública do país e se converteram em assuntos atravessados por enorme
tensão. O que busquei demonstrar neste artigo, a partir da análise dos editoriais
publicados pelos jornais O Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, foi de que
maneira a “grande imprensa” se colocou como um ator fundamental nessas disputas de
“memórias conflitantes” na esfera pública, mediante a construção de determinado
“enquadramento” sobre o passado, voltado para a defesa da manutenção da Lei da
Anistia.

Não se trata de dizer que os três jornais compartilharam exatamente da mesma


visão em relação aos trabalhos da CNV e às suas conclusões, nem mesmo em relação à
ditadura inaugurada com o golpe de 1964 e ao processo de transição democrática, mas
sim de afirmar, a partir da empiria analisada, que, a despeito de eventuais divergências e
variações de posição, O Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo adotaram o
mesmo tom em relação à temática. A análise dos editoriais publicados durante o período
de trabalho da comissão permite confirmar a hipótese de que esses órgãos da “grande
imprensa” construíram um enquadramento semelhante sobre o assunto e sustentaram

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posições uniformes na crítica a qualquer movimento realizado pela CNV que buscasse
rever a Lei da Anistia.

Apesar da retórica da neutralidade e da imparcialidade, os meios de comunicação


realizam seleções e recortes não apenas em relação a temáticas do tempo presente, mas
também de assuntos referentes ao passado. Esses enquadramentos – sobretudo quando
construídos de forma uniforme pela “grande imprensa” – têm consequências diretas
sobre a forma como períodos históricos são debatidos na esfera pública, na medida em
que implicam na construção de determinadas “memórias hegemônicas”, que acabam por
silenciar outras memórias, que não possuem a mesma condição de intervir nas
controvérsias públicas sobre o passado. Em tempos conturbados como os dias de hoje,
nos quais a retórica em defesa do retorno da ditadura e de soluções autoritárias se torna
cada vez mais frequente entre diferentes setores sociais, e nos quais determinados
discursos tentam sustentar que um golpe parlamentar foi um processo democrático, o
aprofundamento da reflexão sobre as relações entre mídia, memória e usos públicos do
passado se torna uma tarefa não apenas necessária, mas urgente.

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Recebido em 22/05/2018
Aprovado em 11/02/2019

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC


Programa de Pós-Graduação em História - PPGH
Revista Tempo e Argumento
Volume 11 - Número 27 - Ano 2019
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Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 27, p. 78 - 100, maio/ago. 2019. p.100

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