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Ramana Maharshi - Um Guia para Meditação

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Um Guia Para Meditação


Ramana Maharshi
AUTOR: N. Vasudevan
(TRADUZIDO POR ARUNA CHELA)
2

Bhagavam Sri Ramana Maharishi, o sábio de ARUNACHALA, silente e auto

realizado, luz que guiou muitas pessoas incluindo a N. Vasudevan que teve a

ventura de ter permanecido com ele em seu A+shram no sul da Índia. O

grande sábio iniciou-o e a partir daí seguiu seus ensinamentos sem

interrupção. Este livro contém seus ensinamentos relativos a meditação de

acordo com seu método. Tanto quanto possível são usados suas próprias

palavras. Este livro, espera-se, será certamente útil ao sadhakas (discípulos)

em todo mundo.
3

INTRODUÇÃO

O principal ensinamento de Sri Ramana Maharishi é a auto indagação. O


objetivo da auto indagação é focalizar a mente em sua fonte. Para isso são
necessários dois requisitos: 1) Uma mente pura e introvertida. 2) Focalizar a
atenção no Coração, não no órgão físico localizado no lado esquerdo do peito,
mas no Coração espiritual, no lado direito.

Mente Pura – A mente pura é distinta da mente grosseira (ou impura)*. A


mente grosseira é exteriorizada e se aplica a um mundo de objetos, incluindo o
corpo. Ela funciona por meio da idéia: “EU-SOU-O-CORPO”. Age por
intermédio da “sua maneira de ser”, de seus hábitos e quer possuir “seres” e
“coisas”. É extremamente fraca e não pode permanecer focalizada em sua
fonte. Mente pura é aquela que você apresenta quando acorda pela manhã,
antes que se torne perdida na objetivação. Da mesma forma a mente torna-se
pura quando se afasta das idéias de “EU-SOU-O-CORPO”, ou de seu modo
de ser e hábitos. Isto pode ser conseguido pela prática. Assim focalize toda
sua mente pura em sua fonte que é o Coração.
• Na verdade não existem duas mentes e sim uma só. O que se observa é
que quando a mente se exterioriza ela se torna impura e quando se
interioriza ela se mostra pura, em seu estado original (Nota do tradutor).

Coração – O coração espiritual no lado direito do peito não é um dos chakras


(centros) do sistema yoga. É o centro e fonte do ego e morado do Eu
(Espiritual) e portanto é o local da União. Quando indagado se existia
alguma escritura ou outra autoridade que localizasse o Coração neste ponto,
Sri Bhagavan disse que descobriu isso por experiência própria e
posteriormente viu sua confirmação num livro MALAYALM do AJUR-
VEDA(Medicina Hindu). Aqueles que seguiram sua orientação também
comprovam isso. E é tão fundamental à prática da Vichara que será válido
reproduzir aqui um diálogo extraído do Evangelho de Maharishi, no qual Sri
Bhagavan dá uma explicação bem extensa.

Devoto: - Sri Bhagavan especificou um local particular para o Coração no


interior do corpo físico, isto é no peito, dois dedos à direita da linha mediana.
Bhagavan: - Sim, este é o centro da experiência espiritual de acordo com o
testemunho dos sábios. Este Centro Espiritual do Coração é muito diferente
do órgão muscular propulsor do sangue conhecido pelo mesmo nome. O
Centro Espiritual do Coração não é um órgão do corpo. Tudo o que se pode
dizer sobre o Coração é que ele é o âmago do nosso ser, aquilo que é sua
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verdadeira identidade (como é o significado literal da palavra em sânscrito),


quer você esteja desperto, dormindo ou sonhando, quer você esteja
empenhado no trabalho ou imerso em Samadhi.
Devoto: - Neste caso como pode ser localizado em qualquer parte do corpo?
Ao fixar um local para o Coração não implica em estabelecer limitações
fisiológicas a algo que está além do espaço e tempo?
Bhagavan: - É verdade, mas a pessoa que faz a pergunta sobre a posição do
Coração vê a si mesma como existindo com ou no corpo... Assim, durante a
experiência incorpórea do Coração como pura Consciência, o Sábio não está
de modo algum consciente do corpo, esta experiência absoluta é localizada por
ele nos limites do corpo físico por uma espécie de senso de memória originado
quando permanecia na consciência do corpo físico.
Devoto: - Para homens, como eu, que não tenho nem a experiência direta do
Coração, nem sua conseqüente memória, o assunto fica difícil de ser
entendido. Sobre a posição do próprio Coração (espiritual), devemos talvez
depender de uma espécie de adivinhação.
Bhagavan: - Se a localização da posição do Coração dependesse de
adivinhação, mesmo para o ignorante, a questão seria dificilmente cogitada.
Não, não é por meio de adivinhação que você deve depender, mas por uma
infalível intuição.
Devoto: - Quem tem essa intuição?
Bhagavan: - Todas as pessoas.
Devoto: - Bhagavan crê que eu possuo um conhecimento intuitivo do
Coração?
Bhagavan: Não, não do Coração, mas da posição do Coração em relação a sua
identidade.
Devoto: - Bhagavan diz que eu sei intuitivamente a posição do Coração no
corpo físico.
Bhagavan: - Porque não?
Devoto: - (apontando para si mesmo) É a mim pessoalmente que Sri Bhagavan
está se referindo?
Bhagavan: - Sim. Esta é a intuição. Como você se refere a si mesmo através
do gesto que usou? Você não apontou seu dedo para o lado direito do seu
peito? este é exatamente o local do Coração-Centro.
Devoto: - Então na falta de um conhecimento direto do Coração-Centro devo
depender desta intuição?
Bhagava: - que mal há nisso? Quando um menino de escola diz “Sou eu quem
fez esta soma corretamente”, ou quando ele lhe pergunta: “Devo correr para
apanhar o livro para você?” aponta para sua própria cabeça que fez a soma ou
para as pernas que o conduzem rapidamente para apanhar o livro? Não, em
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ambos os casos seu dedo está apontado muito naturalmente em direção ao lado
direito do peito; dando, assim, uma expressão inocente à verdade profunda de
que a Fonte do Eu nele está nesse local. É uma intuição infalível que faz com
que ele se refira a si mesmo dessa maneira, isto é, ao Coração que é o “EU”. o
ato é quase involuntário e universal, ou seja é o mesmo em cada indivíduo.
Que prova mais forte do que essa você precisa a respeito da posição do
Coração-Centro no corpo físico?

Portanto a instrução de Bhagavan é para que a pessoa se sente numa posição


confortável mantendo a mente pura e introvertida, concentrando-se no
coração, no lado direito do peito e fazendo a pergunta: “Quem sou eu”? Dou
adiante, em nove etapas, um guia para esta meditação. Recomendo que as leia
todos os dias antes da meditação e depois pratique pelo menos por meia hora
pela manhã e meia hora à noite. Enquanto trabalha, enquanto caminha, de fato
enquanto faz alguma coisa mantenha a lembrança do seu “Eu” com o mais
íntimo de sua mente. normalmente nestes casos a mente inquieta o conduz de
uma coisa para outra. Meditando pelo método de Ramana a mente se acalma
e recebe a luz do “EU”. a auto realização certamente se seguirá a uma
dedicada auto indagação.
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1 – O INÍCIO

Os ensinamento de Sri Ramana Maharishi são extremamente práticos.


Advoga a auto indagação como método inequívoco. “A auto indagação é um
meio infalível o único direto, para a realização do incondicionado, Ser
Absoluto que você realmente é. O esforço para destruir o ego ou a mente
através de outras Sadhanas que não a Auto indagação é como o ladrão que se
faz de policial e que quer prender o ladrão que é ele mesmo. Somente a auto
indagação pode perceber a verdade. Tendo realizado o ser, nada resta para ser
conhecido, porque é a perfeita Beatitude, é o Todo.

Focalizar toda a mente em sua fonte, centrando-a em si mesmo. Esta é a


meditação pelo método de Ramana.

Eu recomendo o seguinte esquema:


(1) Levante-se pela manhã em hora apropriada (Eu me levanto às 4 horas e
medito até às 6). Inicialmente, escolha seu próprio horário, digamos às 6
horas mais ou menos.
(2) Vá ao banheiro e se lave.
(3) Vista uma roupa confortável.
(4) Faça um chá ou café e tome uma xícara, de modo relaxado.
(5) Sente-se numa posição cômoda.
(6) Permaneça no estado do EU. Introverta a mente. Rastreie então, através
do puro EU, a fonte que é o Coração.
(7) “A Auto Indagação somente é possível através da introversão da mente. O
que finalmente se realiza como resultado de tal indagação na Fonte do
puro sujeito (Aham-Vritti) é verdadeiramente o Coração como a Luz
indiferenciada da pura consciência na qual a luz refletida da mente é
completamente imersa, diz Sri Bhagavan.
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2 – MUDANÇAS ESTRUTURAIS

Lembre-se que explicamos como começar a meditação à Maneira de Ramana


no Capítulo I.

Para recapitular, deve-se focalizar a mente em sua fonte, voltar para dentro de
si mesmo. No seu modo particular faça então a pergunta: “Quem sou EU?”

Quando os pensamentos surgirem durante a meditação a pessoa não deve


segui-los, mas observá-los perguntando: “Que é este pensamento?” “De onde
veio?” E a quem ocorreu? A mim – e quem sou EU? assim cada pensamento
desaparecerá quando esquadrinhado e voltará à sua base, o pensamento – EU.
Se surgirem pensamento impuros, devem ser tratados de igual forma, pois a
Sadhana faz aquilo que a psicanálise alega que faz – ela purifica toda a
imundice do subconsciente. Trazendo-a para a luz do dia e destruindo-a “Sim,
todo tipo de pensamento surge durante a meditação. Isto é correto, pois o que
está oculto em você vem à tona. E se não vier à superfície como pode ser
destruído? Indaga Sri Bhagavan ( EVANGELHO DE MAHARISHI).

“Respostas sugestivas a auto indagação tais como “Shivoham” (EU SOU


SHIVA OU DEUS) não devem ser dadas à mente durante a meditação. A
verdadeira resposta virá por si mesma. Qualquer resposta que o ego der não
pode ser correta, previne Sri Bhagavan.

Como a pessoa pode saber de seu progresso? Nos primeiros estágios isso
pode não acontecer. Tome o caso do Dr. D. D. Acharya, por exemplo. Ele se
retirou após uma longa e bem sucedida prática na Índia Central e decidiu
dedicar suas noites à indagação espiritual. Fixou-se no Ashram de Sri
Ramana como médico e praticou a auto indagação. Após algum tempo,
sentiu-se desanimado tal como outros se sentiram antes dele e poderão sentir
agora e no futuro ao não perceber qualquer progresso (espiritual) em si
mesmo. Assim lamentou-se diante do Túmulo do Mestre: “Porque você me
trouxe aqui, Bhagavan, se não está me concedendo a paz que procuro?”

Naquela mesma noite viu, em sonho, o Mestre sentado em sua almofada e


aproximando-se ajoelhou-se diante Dele. Bhagavan tomou sua cabeça
pendente em suas mãos e perguntou o que o afligia. Respondeu então ao
lamento do discípulo tal como havia feito à outros quando em vida: “Não é
verdade que você não está fazendo progressos. Sou eu quem sabe disso, não
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você.” Se o discípulo pratica a auto indagação e confia Nele como Guru a


guia virá.

Swami Ramadas, que atingiu a auto realização pela graça de Sri Bhagavan,
disse que se você bater numa pedra com um martelo e persistir em fazê-lo ela
se romperá, embora você não tenha consciência de que cada golpe produziu
mudanças estruturais..

Assim também cada simples auto indagação produz mudanças estruturais no


seu ego, dissolvendo-o finalmente na total iluminação do Coração.
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3 – CORRENTE DE CONSCIÊNCIA

A medida que a auto indagação progride, começa a despertar uma corrente de


consciência, vibrando como a real essência do ser de cada um, embora
impessoal. Pela prática constante, a auto indagação deve se tornar cada vez
mais freqüente até que se torne contínua, não somente durante a meditação,
mas subjacente à fala e aos atos. Sri Bhagavan fala sobre sua própria
realização: “A partir deste momento a absorção no Ser tornou-se contínua e
inquebrantável. Outros pensamento podiam ir e vir como várias notas de
música, mas o “EU” permaneceu como a nota fundamental (sruti) que se
mantém e se combina com todas as outras notas. Quer o corpo estivesse
ocupado em falar, ler ou exercer qualquer atividade, eu estava centrado no
“EU” ( Aqui o Eu se refere, é claro, ao EU Divino).

Mesmo quando a corrente de consciência for contínua, a auto indagação deve


prosseguir, pois o ego tentará provocar uma trégua na corrente de consciência
e se tolerarmos essa interrupção ele se tornará gradualmente mais poderoso e
lutará para recobrar sua supremacia.

Siva Prakasan Pillai, um dos primeiros devotos, perguntou a Bhagavan:


“durante quanto tempo a pessoa deve continuar praticando a auto indagação?”
Sri Bhagavan retrucou: “Deve praticar enquanto perdurar o mais leve traço de
impulsos em sua mente que levem a pensamentos. Enquanto o inimigo ocupar
a cidadela eles continuarão com suas investidas. Se você matar cada
pensamento a medida que aparece a cidadela cairá finalmente em seu poder.
Similarmente, cada vez que um pensamento apontar em sua cabeça, esmague-
o com a auto indagação... assim, a auto indagação continua necessária até que
o “EU” seja realizado. O que se requer é uma recordação contínua e
ininterrupta do EU”.

Qualquer que seja a situação, qualquer que seja o poder, qualquer que seja a
percepção ou visões que possam surgir, há sempre a auto indagação: “A quem
ocorreram?” – até que somente reste o EU.
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4 – SIDDHIS ( PODERES OCULTOS)

O grande Buda e seu discípulo Ananda estavam prestes a cruzar um rio. O


barco se achava na outra margem, o rio era largo e caudaloso. Neste momento
surgiu um Yogui e simplesmente atravessou-o sobre as águas. Ananda logo
ficou intrigado: O grande Buda permanecia esperando o barco e um Yogui
desconhecido caminhava sobre as águas. Entretanto, não ousou levantar a
questão a seu Mestre. Após um bom tempo, chegou o barco e Buda e o
discípulo embarcaram e no seu devido tempo atingiram a outra margem.
Ananda pagou duas moedas. Conforme continuaram a viagem Ananda não
pode reprimir a pergunta: “Meu Senhor, notou que um Yogui simplesmente
caminhou sobre as águas, enquanto o Grande Buda esperou pelo barco?” O
Buda sorriu e retrucou: “Ele praticou caminhar sobre as águas durante
sessenta anos. E quanto lhe custou a você? Apenas 2 moedas”.

Na verdade visões e poderes se apresentam como distrações no caminho e,


pior ainda, iludem a mente fazendo-a crer que se metamorfoseou no “EU”. E
o desejo por eles se mostra mais prejudicial que sua posse, veja o caso de
Narasimhaswami, que permaneceu na companhia de Sri Ramana, traduzindo
ao Tamil a vida e os ensinamentos de Vivekananda. Ao chegar a descrição do
incidente bem conhecido em que Sri Ramakrishna por um simples toque deu a
Vivekananda a percepção de todas as coisas como uma única substância,
ocorreu-lhe a idéia de que esta percepção seria desejável para ele caso
Bhagavan também lhe concedesse o mesmo seja pelo toque ou pelo olhar.
Como aconteceu com freqüência, a questão que o perturbava foi levantada
neste mesmo instante por uma devota, Echammal. Indagou ela se os Siddhis
(poderes ocultos) poderiam ser obtidos pelos devotos. Nesta época Sri
Bhagavan estava compondo os Quarenta Versos sobre a Realidade, obra que,
com seu suplemento, pode ser encarada como a enunciação de sua doutrina.
Compôs, então, um verso em resposta àquela questão. “Permanecer firme na
Realidade, que é eterna, é o Verdadeiro Siddhi. Outras conquistas são iguais
as que se obtém nos sonhos. Mostram-se elas reais quando a pessoa acorda?
Estarão aqueles que se estabeleceram na Realidade livres da ilusão
interessados em tais coisas?”

Certamente o poder oculto é um obstáculo ao progresso em direção a auto


realização. Os poderes e mais ainda o desejo por poderes, são obstáculos do
aspirante. Está escrito no Devikalotaram, traduzido por Sri Bhagavan do
sânscrito para o Tamil: “O indivíduo não deve aceitar os poderes
taumatúrgicos, nem mesmo quando oferecido diretamente a ele, pois são como
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cordas que atam os animais e cedo ou tarde fá-lo-ão cair. A suprema MUKTI
(libertação) não consiste nisso e não pode ser encontrada em outra condição a
não ser na Consciência Infinita.”
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5 – TRABALHO, MEDITAÇÃO E DEVOÇÃO

Existe uma noção errada quando se afirma que, a medida que a meditação
progride, o indivíduo deve renunciar cada vez mais às atividades da vida. Sri
Ramana explica que não é o trabalho executado que representa um obstáculo à
Sadhana, mas a atitude da mente com a qual o realizamos. É possível
continuarmos com os afazeres normais, porém sem nos apegarmos a eles. “O
sentimento de eu estou fazendo é o obstáculo, diz Sri Ramana, pergunte a si
mesmo quem trabalha. Lembre-se quem você é. Desse modo o trabalho não o
encadeará. Seguirá de maneira automática. Sri Ramana explicou isso
claramente num diálogo com Paul Bruton....
Bhagavan: - A vida de atividade não necessita ser abandonada. Se você
meditar uma a duas horas por dia, poderá levar a cabo seus deveres. Se você
meditar de maneira correta, a corrente mental então induzida permanecerá
fluindo mesmo durante o seu trabalho. É como se existissem duas maneiras
de se expressar a mesma idéia: a mesma linha que se observa na meditação
será expressa em suas atividades.
Paul Bruton: - Qual o resultado de se fazer isto?
Bhagavan: - Conforme você continua, verá que sua atitude a respeito dos
acontecimentos cotidianos e objetivos irão gradualmente se modificando.
Suas ações tenderão a seguir de acordo com a meditação. O homem deve
render seu egoísmo pessoal que o ata a este mundo. Livrar-se do falso eu é a
verdadeira renúncia.
Paul Bruton: - Como é possível tornar-se inegoísta em se defrontando com
uma vida de atividades mundanas?
Bhagavan: - Não há conflito entre o trabalho e a sabedoria.
Paul Bruton: - quer dizer que a pessoa pode continuar com todas as antigas
atividades, como, por exemplo, as inerentes a sua profissão e ao mesmo tempo
obter iluminação?
Bhagavan: - Porque não? Mas neste caso a pessoa não pensará que é a antiga
personalidade que está executando o Trabalho, pois a sua consciência será
gradualmente transformada naquilo que se acha além do pequeno eu ou ego.

Bhagavan serviu de exemplo disso, pois tudo o que fazia era meticulosamente
acurado, fosse corrigindo as provas, ou encadernando um livro, ou preparando
uma comida. Para os devotos, mesmo antes de dissiparem a ilusão de eu-sou-
o-fazedor, convém uma atitude de não identificação ao trabalho, o que o torna
mais eficaz e conscencioso. É a intromissão do ego que causa o atrito e a
ineficácia. Se todas as pessoas executassem o trabalho simplesmente porque
representasse o seu trabalho; sem ego ou interesse pessoal, a exploração
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cessaria, o esforço seria corretamente direcionado, a coordenação substituiria


a rivalidade e muitos dos problemas do mundo poderiam ser resolvidos.

Hoje o que se expõe como Karmamarga (caminho do trabalho desinteressado)


é uma fusão de Karma com ambos: gnana-marga (isto é, auto indagação) ou
bhakti-marga ( isto é, caminho da devoção).

Vejamos primeiro o gnana-marga. Foi defendido pelo próprio Sri Ramana.


Ele adaptou a auto indagação combinada com a ação sem visar seus frutos
(ação desinteressada) afim de se adequar às condições de nossa era. Sua
instrução consiste na prática da auto indagação, ao mesmo tempo que se
continua trabalhando no mundo, calma e harmoniosamente, sem visar seu
próprio benefício, sem a idéia “eu-estou-fazendo isso.”

Vejamos a fusão do Bhakti-marga e do Karma-marga. Aqui o devoto se


conscientiza em ver a Deus manifestado em tudo, serve a Deus ao servir a
todis, ama a Deus ao amar todos. Quem quer que ele sirva, para ele é uma
forma assumida por Deus. Assim a fusão do Karma-marga ao Gnana-marga
ou do Karma-marga e o Bhakti-marga produz um Karma-marga modificado e
iluminado por Bhagavan, afim de se adaptar às condições da nossa era. Este
caminho readaptado pode ser seguido silenciosamente no escritório ou oficina
não menos do que no Ashram ou na caverna com ou sem rituais, meditação ou
serviço devocional, enquanto atento ao trabalho sem qualquer traço de
egoidade.
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6 – COMPREENSÃO INTELECTUAL E EXPERIÊNCIA


INTRÍNSECA

Até o momento temos um entendimento intelectual de como meditar pelo


método de Ramana, à base da auto indagação que conduz a auto realização.
Entretanto uma compreensão intelectual não é suficiente para a auto
realização: a experiência interior é necessária.

A antiga técnica da VICHARA ou indagação necessitava de muitos anos de


prática sob a orientação de um Guru auto realizado. Essa prática envolvia: (1)
ADHYAROPA – superposição (2) APAVADA – sua diminuição (3)
SADHANA – os meios para o aperfeiçoamento (4) SRAVANA – ouvir, ler e
falar sobre Deus ou o EU (5) MANAVA – reflexão sobre o SRAVANA
(6) VASANAKSHAYA – aniquilamento das tendências latentes (7)
SAKSHATKARA – realização direta.

A experiência interior é atualmente realização direta. O antigo e tradicional


sistema de auto indagação requeria do Guru que explicasse ao discípulo como
a ignorância obscurece a verdadeira natureza do EU, o qual, é simplesmente
não dual: da mesma forma explicasse como através de seu aspecto velador a
ignorância encobre (o EU) originando uma dupla conseqüência: que o EU não
existe e que não brilha no interior dele ( discípulo); e de outro modo ao
assumir a forma da mente projeta os indivíduos, Ishwara e o mundo
apresentando-os como reais dando origem a ilusão. O Guru também ensinava
que somente uma pessoa plenamente qualificada é capaz de obter esse
ensinamento, e que um mero estudante das Shastras não está apto a entendê-
lo; que a auto indagação é o método mais importante para o conhecimento.
Mostrava o Mestre como essa indagação consiste em ouvir a respeito, refletir
sobre e contemplar a Verdade e o Samadhi. Assinalava igualmente como o
conhecimento indireto adquirido por ouvir (Sravana) põe um fim à idéia de
que o EU não existe e que o conhecimento direto obtido por reflexão – que
significa a indagação “quem sou Eu” no interior de cada um – destrói a falsa
noção que “Ele não brilha no interior de cada um”. Igualmente que o
conhecimento do Ser; como pela meditação (indagação sustentada através do
Quem Sou Eu) as diferentes tendências latentes que constituíam obstáculos no
caminho são eliminadas e a mente que é o complemento limitante (Upadhi) do
indivíduo é finalmente integrado no EU o qual é pura e interna Consciência e
assim a realização total e absoluta do EU ou Pura Consciência se estabelece.
Este é um processo muito longo que ocupa uma ou mais vidas.
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O que Sri Ramana fez foi tornar o EU acessível aqui e agora por o EU está
“aqui e agora”.

A busca da fonte da egoidade não é meramente a busca da base de uma das


formas do ego, mas da própria fonte da qual surge a egoidade... Tal como a
água num pode reflete o enorme sol dentro de seus estreitos limites, assim as
Vasanas ou tendências latentes da mente do indivíduo, agindo como meio
refletor, captam a onipresente e infinita luz da Consciência que surge do
Coração e apresenta, como um reflexo, o fenômeno chamado mente. vendo
apenas o reflexo o ajnani ( o ignorante) é iludido ao crer que é um ser finito, o
jiva.

Se a mente se torna introvertida por meio da indagação na fonte da


EGOIDADE as vasanas se extinguem, e, na ausência do meio refletor, o
fenômeno da reflexão, nomeadamente, a mente, também desaparece, sendo
absorvida na Luz da Realidade, o Coração”. ( o Evangelho de Maharishi,
página 87). Esta é uma experiência interior que nunca o deixará.
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7 – A EXTINÇÃO DA MENTE

Extinção da mente? Você certamente não acredita nisso, não é? Realmente é


extinção e não controle? O Yoga Vasisshta diz: “Nada há para se dizer sobre
a mente. Como o éter diz-se existir sem forma, assim a mente existe como o
vazio inanimado. Sobrevive apenas no nome; não tem forma. Não está fora,
nem está no coração. Ainda como o éter, a mente, embora sem forma
preenche tudo. Como pode ser isso? Tão logo surgem os pensamentos como
isso ou aquilo, a mente está aí. O pensamento é o indicador da mente.
Portanto a mente nada mais é que o pensamento. O pensamento é ele mesmo
a mente. Examinemos: O pensamento nada mais é que uma conscientização
de um objeto externo qualquer como isto ou aquilo, desse modo ou daquele
modo, etc.. Os pensamentos estão sempre no passado subjetivo, tal como o
sol está sempre oito minutos no passado ( o tempo gasto pelos raios do sol
para chegar ao observador), o corpo cerca de poucos milésimos de segundo e
os processos do cérebro cerca de poucos nano-segundos.

No “presente momento” não há pensamento, nem mente, apenas a pura


consciência que é a suprema bem-aventurança .

INDUÇÃO POSITIVA E NEGATIVA

Uma pessoa pode pensar sobre coisas ainda não experimentadas. Pelo
processo de indução prática e negativa, toda a imaginação mental é dita como
formas mentais.

Quer sejam existentes ou não, experimentadas ou não, o que quer que se pense
ou de que maneira se pense, é algo compreendido. O mero pensamento sobre
isto importa em compreensão. Isto é indução positiva.

Real ou irreal, experimentado ou não, o quer que não seja ou de que maneira
não seja pensado, não é compreendido. Isto é indução negativa. Segue-se que
o pensamento é compreensão. Por exemplo, os prazeres do céu, embora ainda
não gozados são vivamente pintados em nossa mente (por isso assim se
tornam no passado subjetivo). Isto se deve ao conhecimento dos satras (livros
sagrados) que os descrevem. Embora não experimentados, nos afiguram
como prazeres compreendidos.
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ATENÇÃO

Embora em contato com os sentidos, os objetos não podem ser conhecidos


sem estarmos atentos a eles. Mesmo que o colar esteja em contato com o
corpo se o seu possuidor não estiver atento a ele sua presença pode não ser
conhecida. Estando inconsciente do colar ele ou ela podem sentir sua falta e
procurar pela jóia. Não obstante estar em contato com o corpo de quem o está
usando, o colar poderá ser procurado pela pessoa devido a falta de atenção.

COGNIÇÃO

A partir das considerações acima, depreende-se que a cognição de qualquer


coisa experimentada ou não, enfim, seja do que for só pode ser obtida através
de formas de pensamento. Tal cognição pode ser com isto ou aquilo, vontade,
pensamento, maneira de ser da mente, intelecto, tendências latentes,
consciência refletida, nó do coração , o visto, a ilusão, o indivíduo, o mundo,
Deus, etc.

No YOGA VASISHTA, o Sábio Vasista diz: “Qualquer que seja a


manifestação do conhecimento objetivo como isto ou aquilo, ou não-isto ou
não-aquilo, ou sob qualquer outro modo, é apenas a mente. a mente nada mais
é do que este conhecimento manifestado.”

A MENTE E O EU

“Não há mente a ser controlada se o EU for realizado”, diz Ramana


Maharishi. “O EU brilha quando a mente desaparece. No homem realizado a
mente pode estar ativa ou inativa, pois apenas o EU existe. Porque a mente, o
corpo e o mundo não são separados do EU, e não têm existência independente
do EU. Podem eles ser outra coisa se não o próprio EU? Quando o indivíduo
é consciente do EU, porque irá se preocupar com estas sombras? Como
podem afetar o EU? “O EU é o Coração auto luminoso. A iluminação surge
do coração e alcança o cérebro que é a sede da mente. o mundo é visto com a
mente, desse modo você vê o mundo por meio da luz refletida do EU. O
mundo é percebido por um ato da mente. Quando a mente é iluminada se
torna consciente do mundo; quando não é iluminada, não é consciente do
mundo. Se a mente é voltada para o interior, em direção à Fonte da
iluminação, o conhecimento objetivo cessa e apenas o EU brilha no Coração.
A lua brilha ao refletir a luz do sol. Quando o sol se põe, a lua é útil para
mostrar os objetos. Quando o sol despontou ninguém necessita da lua, embora
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seu disco seja visível no céu. Assim acontece com a mente e o Coração. A
mente é útil pela sua luz refletida. É útil para se ver os objetos. Quando
introvertida ela submerge na Fonte da iluminação que brilha por si mesma e a
mente é, então, como se fosse a lua durante o dia. “Quando está escuro, uma
lâmpada é necessária para dar a luz. Porém quando o sol surge, não há
necessidade de lâmpada: os objetos tornam-se visíveis. E para ver o sol não é
necessária uma lâmpada, basta que você dirija os olhos para o auto luminoso
sol. Semelhantemente acontece com a mente, para se ver os objetos a luz
refletida da mente é necessária. Para ver o Coração basta que a mente se volte
em direção a ele. A mente, então, não conta e o Coração é auto efulgente”.

Portanto, persista na auto indagação até que a mente seja absorvida no


Coração. Sua mente será extinta e você permanecerá como eterna e Pura
Consciência. Reproduzo abaixo um diálogo entre Paul Brunton e Sri Ramana.

Brunton: - Que acontece então? O homem se tornará inconsciente ou um


idiota?
Sri Ramana: - Não, pelo contrário, ele atingirá aquela consciência que é
imortal e se tornará verdadeiramente um sábio ao despertar para o seu
verdadeiro EU que é a real natureza dos homens... Quando um homem
conhece seu verdadeiro EU pela primeira vez algo surge das profundezas do
seu ser e se apodera dele. Este algo está por detrás da mente, é infinito,
divino, eterno... Quando isso acontece o homem realmente não perde a si
mesmo, antes ele se encontra a si mesmo. Qual será a utilidade do
conhecimento sobre tudo o mais, se você não conhece quem você é?

Os homens evitam essa indagação em direção ao verdadeiro EU, mas, que


mais pode valer a pena se fazer?
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8 – AUTO-REALIZAÇÃO

“Você me pede que descreva este verdadeiro EU,” disse SRI RAMANA
MAHARISHI a Paul Brunton. “Que posso dizer? É aquilo de onde brota o
sentido do eu pessoal e no qual ele deve desaparecer”.
Brunton: - Desaparecer? Como uma pessoa pode perder o sentido da
personalidade?”
Sri Ramana: - O primeiro e o mais importante de todos os pensamentos, o
mais primitivo na mente de cada homem é o pensamento EU. É somente
depois do nascimento deste pensamento que podem surgir outros
pensamentos. Se você pudesse seguir mentalmente a trilha do EU até que o
leve de volta a sua fonte, descobrirá que, da mesma forma que é o primeiro
pensamento a aparecer, também é o último a desaparecer. Este é um assunto
que pode ser experimentado... É possível mergulhar no interior até que último
pensamento – Eu gradualmente desapareça. Isto leva a Aquilo Que É.

AQUILO QUE É – Aquilo que é, é paz? Tudo o que temos a fazer é nos
mantermos quietos. A paz é a nossa verdadeira natureza. Nós a destruímos.
Se removermos todo o lixo da mente, a paz se torna manifesta. Aquilo que
está obstruindo a paz deve ser removido. Nossa real natureza é Mukti
(libertação). Mas nós imaginamos que somos atados e fazemos inúmeros e
ingentes esforços para sermos livres, embora sejamos todo o tempo livres...
Nossa vontade de sermos livres é algo risível. É como o homem que está na
sombra e voluntariamente a deixa e se expõe ao sol escaldante e, sentindo a
intensidade da canícula, faz grande esforço para voltar para sombra e se
regozija: “Ó, quão doce é a sombra. Finalmente encontrei a sombra”.
Fazemos exatamente o mesmo. É falso falar em realização. O que existe para
ser realizado? O real é o que é, para todo o sempre.

SAMADHI E REALIZAÇÃO - O homem é idêntico ao EU, mas a mente cria


a ilusão de uma individualidade separada. No sono profundo a mente está
inativa e o homem é um com o EU mas de maneira inconsciente. No Samadhi
ele é uno com o EU porém de uma maneira consciente e plena, não na
escuridão, mas na luz. Se a interferência da mente é silenciada, a consciência
do EU pode, pela graça do Guru, despertar no Coração, assim preparando-o
para essa beatifica identidade, para um estado que não é de torpor ou
ignorância, mas de Conhecimento radiante, puro EU-SOU. Sri Ramana diz:
“Somente o Samadhi pode revelar a verdade. Os pensamentos lançam um
véu sobre a Realidade, e assim não realizamos em outros estados a não ser no
Samadhi... No Samadhi existe apenas o sentimento EU-SOU e não
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pensamentos. A experiência do “EU-SOU” é estar Quieto... Até que isso se


torne permanente é necessária a prática.

Discípulo: - Qual é a natureza da Consciência?


Bhagavan: - É Sat-Chit-Ananda ( Ser-Consciência-Beatitude), no qual não
existe o mais leve traço do pensamento-EU. Isto é chamado a única coisa que
é...
Discípulo: - Como podemos realizar esse REAL?
Bhagavan: - Quando as coisas vistas desaparecem, surge a verdadeira natureza
daquele que vê, ou sujeito.
Discípulo: - Não é possível realizar isso vendo os objetos externos?
Bhagavan: - Não, porque aquele que vê e o objeto visto são como a corda e a
aparência da serpente nela existente. Até que você se livre da aparência da
serpente não poderá ver que existe apenas a corda.
Discípulo: - Quando irão desaparecer os objetos externos?
Bhagavan: - Se a mente, que é a causa de todos os pensamentos e atividades,
desaparecer, os objetos externos também desaparecerão.
Discípulo: - Como a mente desaparecerá?
Bhagavan: - Somente através da indagação: “Quem sou EU”. Embora esta
indagação seja também uma operação mental, ela destrói todas as operações
mentais, incluindo a si mesma, tal com a vara com que se remexe a pira
funerária é reduzida a cinzas depois que a pira e o cadáver tenham queimado.
Só após isso surge a Realização do EU. Quando Sri Ramana diz em seu
ensinamento que a verdadeira natureza de uma pessoa somente surge quando
as coisas vistas desaparecem não deve ser entendido literalmente como se
indicasse uma inconsciência do mundo físico. Este seria um estado de Transe
informal – o Nirvikalpa Samadhi – o que se quer dizer é que os objetos
cessam de parecer reais e são vistos como meras formas assumidas pelo EU.

NATUREZA DA REALIDADE – O que acontece quando a pessoa se auto


realiza?
(a) A existência sem princípio ou fim-eterna.
(b) A existência em toda parte, ilimitada-infinita.
(c) A existência subjacente em todas as formas, todas as modificações, todas
as forças, toda a matéria, todo o espírito (o muitos muda e passa, enquanto
que o Uno sempre perdura).
(d) O Uno elimina as Tríades tais como Conhecedor, Conhecimento e
Conhecido. As trindades são apenas aparências no tempo e no espaço,
enquanto que a Realidade jaz atrás e além delas. São como miragens
sobre a Realidade. São o resultado da ilusão.
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A realização toma tempo para se estabelecer. O EU está certamente na


experiência direta de cada um, mas não na maneira que o povo imagina.
Somente pode-se dizer que é como é. A única coisa permanente é a Realidade
e que é o Ser. Você diz “Eu Sou” ou “Eu estou fazendo” ou “Eu estou
falando”, “Eu estou trabalhando” e assim por diante. Coloque um hífen no
EU-SOU de cada um deles. Logo “Eu Sou”. Esta é a presença e fundamental
Realidade. Esta Verdade foi ensinada por Deus a Moisés: Eu-Sou-o-Que-
Sou. Aquieta-te e sabe que Eu-Sou Deus, portanto Eu-Sou é Deus”, diz
Ramana Maharishi.

AUTO REALIZAÇÃO – do que ficou dito até aqui ver-se-á que a Auto
Realização é a coisa mais simples e natural, de fato a única coisa simples e
natural, simplesmente o estado de ser que é. Entre milhões há talvez um que
se esforce para ser perfeito. Entre milhares que se esforçam para atingir a
perfeição talvez apenas um me conhece como Eu-Sou (Bhagavad Guitá, VII-
3). Infelizmente é um sinal dos tempos que a realização deste supremo estado
é falsamente propalada por muitos. O aspirante necessita discriminar com
prudência.
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9 – SAMADHI OU AUTO ABSORÇÃO

Samadhi é uma palavra sânscrita que significa: “mente apaziguada”. O


dicionário védico, o Nirukti, diz: “quando a mente é apaziguada para entender
o Eu, chama-se Samadhi”. Se uma pessoa é capaz de fixar a mente no EU,
jaz num Transe imperturbável e Transcendental ou em Samadhi.

O Yoga Sutra de Patanjali fala de diferentes tipos de Samadhi no sistema


Yoga. Estes são descritos nos Samadhi Pada Sutras 42 a 51. Aqui proponho-
me a tratar de três tipos fundamentais:
(1) SAVIKALPA SAMADHI
(2) NIRVIKALPA SAMADHI
(3) SAHAJA NIRVIKALPASAMADHI

MEDITAÇÃO E SAMADHI – Meditação se inicia e é sustentada por um


esforço consciente da mente. Quando este esforço se acalma totalmente é
chamado de Samadhi. Na meditação a pessoa enfoca a mente de maneira total
em sua fonte, isto é, se volta para o interior de si mesmo. Gradualmente uma
corrente de consciência desperta, não uma consciência de alguma coisa por
alguém, pois se acha além do dualismo do sujeito e objeto mas um estado de
consciência beatífico que transcende tanto o plano físico como o mental. Este
estado de absorção no EU é o Samadhi.

Supõe-se com freqüência que o Samadhi implica em transe, mas não é


necessariamente assim. Também é possível estar no estado de Samadhi
enquanto se está de plena posse das faculdade humanas. De fato, um Sábio
auto realizado como Sri Ramana Maharishi permanece eternamente nesse
estado.

SAMADHI – Sri Ramana diz:


(1) Permanecer na Realidade é Samadhi. Samadhi significa passar além do
Dehatma Budhi (a idéia de que eu sou o corpo) e a não identificação do
corpo com o EU é a conclusão que se segue.
(2) Permanecer na Realidade com esforço é Savikalpa Samadhi.
(3) Submergir na Realidade e permanecer inconsciente do mundo é Nirvikalpa
Samadhi.
(4) Submergir na ignorância e ficar inconsciente do mundo é sono (a cabeça
pende, mas não é Samadhi).
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(5) Permanecer no estado original, puro e natural sem qualquer esforço é


Sahaja Nirvikalpa Samadhi.

A completa absorção no EU com o subsequente esquecimento do mundo


manifestado é chamado Nirvikalpa Samadhi. Este é um estado de transe
beatífico, mas não é permanente. Sri Ramana comparou-o a um balde d’água
baixado até um poço. No balde existe a água (a mente) que é submersa com
ele no poço ( o EU), mas a corda e o balde (o EGO) ainda permanecem para
traze-la de volta do poço. O mais elevado estado, completo e final é Sahaja
Samadhi. Esta é a pura e ininterrupta Consciência, que transcende os planos
físicos e mental e ainda assim mantém total consciência do mundo
manifestado e o pleno uso das faculdade mental e física, um estado de perfeito
equilíbrio, perfeita harmonia e total beatitude. Este estado Maharishi compara
com as águas de um rio que se fundem no oceano. Nesse estado o ego com
todas as suas limitações se dissolve para todo o sempre no EU. Esta é a total
liberdade, o eterno poder não mais limitado ao corpo ou a individualidade.

Devoto: - É possível desfrutar do Samadhi enquanto ocupado com o trabalho


mundano?
Ramana: - É o sentimento de “eu estou trabalhando” que representa o
obstáculo. Pergunte a si mesmo: Quem trabalha? Lembre-se quem você é \.
Assim o trabalho não o atará. Seguirá automaticamente. Desse modo a
pessoa pode permanecer em Sahaja Samadhi mesmo durante o trabalho.

SAMADHI E VASANAS – Se a pessoa se concentra no Sahasrara (chakra


Coronal, no cérebro) não há dúvida que atingirá o êxtase do Samadhi. As
vasanas, isto é, as tendências latentes entretanto, não são destruídas. O Yogui
está, portanto sujeito a despertar do Samadhi porque sua libertação dos laços
não foi ainda realizada. Ele terá ainda que erradicar as vasanas de modo que
as tendências latentes nele enraizadas não perturbem a paz do seu Samadhi.
Assim ele passa do Sahashara descendo em direção ao coração através do
chamado jivanadi, que e apenas uma continuação do Sushumma. O
Sushumma é pois uma curva. Inicia no plexo solar, sobe através da coluna
vertebral até o cérebro e dali dobra para baixo e termina no coração. Quando o
Yogui atingiu o coração, o Samadhi torna-se permanente. Assim vemos que o
coração é o centro final.

Na presença de um grande mestre, as vasanas (tendências latentes) deixam de


se tornar ativas e a mente torna-se calma resultando no Samadhi. O discípulo
então, adquire o verdadeiro conhecimento e a correta experiência na presença
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de um mestre, mas se isto for estabelecido mais tarde é necessário um esforço.


Saberá o discípulo quem é o seu verdadeiro ser e será libertado ainda durante a
existência física.

NIRVIKALPA E SAHAJA SAMADHI – quando temos tendências que


estamos tentando nos livrar quer dizer, quando ainda somos imperfeitos e
fazemos esforços conscientes para manter a mente uni direcionada ou livre de
pensamentos, o estado sem pensamento que então atingimos é Nirvikalpa
Samadhi. Quando através da prática, permanecemos nesse estado sem ir e
vir do Samadhi, este é o estado de Sahaja. No estado de Sahaja a pessoa só vê
o EU e o mundo como uma forma assumida pelo EU. Neste estado você
permanece calmo e tranqüilo durante a atividade. Você compreende que é
movido pelo EU interior profundo e Real e não é afetado pelo que você faz,
diz, ou pensa. Você não tem preocupações, ansiedades ou inquietudes,
compreende que nada lhe pertence como ego e que tudo é executado por algo
com o qual você está em união consciente.

EXPERIÊNCIAS DO SAMADHI – Uma senhora americana perguntou a


Bhagavan como eram suas experiências do Samadhi. Quando então, foi
sugerido que ela relatasse suas próprias experiências e perguntasse se eram
corretas. Ela respondeu que as experiência de Sri Bhagavan eram corretas e
deveriam ser conhecidas enquanto as dela não tinham importância. Queria
saber se Bhagavan sentia seu corpo frio ou quente no Samadhi, se havia
permanecido em oração durante os três e meio anos de sua estada em
Tiravannamalai, etc..

Sri Ramana: - O Samadhi transcende a mente e a linguagem, e não pode ser


descrito. O estado de sonho profundo não pode ser descrito, menos ainda o
de Samadhi.
Devoto: - Mas eu sei que estava inconsciente no sono profundo.
Sri Ramana: - consciência e inconsciência são estados da mente. o Samadhi
transcende a mente.
Devoto: - Qual a experiência do Samadhi?
Sri Ramana: - É como é. Para os espectadores pode parecer um desmaio.
Mesmo para um praticante ode parecer assim nas primeiras experiências.
Após umas poucas e repetidas experiências tudo correrá bem.
Devoto: - Eles acalmam ou excitam os nadis nestas experiências?
Sri Ramana: - São excitados no início. Na continuidade da experiência torna-
se comum, e o indivíduo não é mais excitado.
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Em resposta a uma pergunta de outros devotos Sri Ramana disse: Somente o


Samadhi pode revelar a verdade. Os pensamentos lançam um véu sobre a
realidade, a qual não pode se tornar clara em outros estados que não o
Samadhi.

Devoto: - Existe pensamento no Samadhi? Ou não existe?


Sri Ramana: - existirá apenas o sentimento “Eu Sou” e nenhum outro
pensamento.
Devoto: - E o “Eu Sou” não é um pensamento?
Sri Ramana: - O sem –ego “EU SOU” não é um pensamento. É realização.
O conceito ou significado do “EU” é Deus. A experiência do “Eu Sou”
consiste em “Ficar Silencioso”.

Sri Ramana disse que o pequenino orifício existente no Coração permanece


sempre fechado, mas é aberto pela auto indagação, resultando no
aparecimento da luz da consciência do “EU – EU”. É o mesmo que Samadhi.
O Samadhi deve ser continuamente praticado até que se atinja o Sahaja-
Samadhi: então nada mais resta a fazer. O Samadhi sem esforço (Sahaja-
Samadhi) é o verdadeiro e perfeito estado. É permanente. Quando a natureza
real, sem esforço, permanente e feliz é realizada ver-se-á que não é
incompatível com as atividades da vida cotidiana. Samadhi é a natureza
essencial de cada um, e cada um deve permanecer nele.

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