O Último Dragão de Valthar
Nas vastas terras de Valthar, onde as montanhas eram tão altas que pareciam tocar o céu e os
rios cortavam o solo com fúria, havia uma lenda que todos conheciam, mas ninguém ousava
acreditar. Falam de um dragão, o último de sua espécie, que ainda vagava pelas regiões mais
remotas do reino, esperando pela hora certa para acordar.
As histórias sobre o dragão de Valthar variavam de aldeia para aldeia. Em alguns lugares,
diziam que ele era um monstro, uma besta terrível com escamas douradas como o sol e olhos
vermelhos como fogo, capaz de reduzir uma cidade inteira a cinzas com um simples olhar.
Em outros, falavam dele como uma criatura sábia, guardião de segredos antigos e protetor
dos vales e florestas de Valthar. Mas uma coisa era certa: ele era a última linhagem de um
poder ancestral, e o destino de Valthar estava entrelaçado com o seu.
Kieran, um jovem órfão criado nas ruas da capital, sempre ouviu histórias sobre esse dragão.
No entanto, sua vida nunca foi fácil, e ele não se importava muito com as lendas. Sua única
preocupação era sobreviver, fugir da vigilância dos guardas da cidade e encontrar uma forma
de viver sem ser perseguido. Ele sabia que era diferente dos outros; não possuía o brilho nos
olhos dos nobres ou a força dos soldados. Sua alma estava marcada por algo que ele não
entendia – uma sensação de que havia algo mais esperando por ele, uma missão que ele não
conseguia recordar.
Certa noite, enquanto Kieran se refugiava em um beco escuro, uma figura encapuzada se
aproximou dele. O homem tinha uma presença imponente, embora sua estatura fosse
modesta. Suas vestes eram feitas de couro escuro, e ele carregava uma espada antiga com
runas misteriosas gravadas em sua lâmina. Kieran estava prestes a fugir, mas algo na
expressão do homem o fez hesitar.
“Você é Kieran, não é?” disse o homem, com uma voz grave e cheia de uma sabedoria que
Kieran nunca ouvira antes.
O jovem olhou desconfiado. “Quem é você? O que quer de mim?”
O homem sorriu levemente. “Eu sou Eryndor, um caçador de dragões. E você, Kieran, está
destinado a encontrar o último dragão de Valthar.”
Kieran engoliu em seco. “O quê? Isso é loucura. Eu sou apenas um...”
“Você não é apenas isso”, interrompeu Eryndor. “Você carrega algo dentro de si, algo que
pertence aos dragões. O sangue antigo corre em suas veias, e o dragão de Valthar o está
esperando.”
Kieran sentiu o chão balançar sob seus pés. Como ele poderia ser algo especial? Ele, um
simples ladrão? Mas havia uma verdade no olhar de Eryndor que o fez parar para pensar. Era
como se tudo o que ele sempre sentira, sem entender, estivesse agora se tornando claro.
“Mas... o dragão está morto, não está? As lendas dizem que ele morreu há séculos!”
Eryndor balançou a cabeça lentamente. “Não. O último dragão não morreu. Ele se escondeu.
Ele está adormecido, esperando que alguém de sangue verdadeiro o acorde. Mas o tempo está
se esgotando. As forças sombrias estão se aproximando, e o dragão só pode despertar quando
o escolhido chegar até ele. E esse escolhido é você.”
Kieran sentiu um calafrio percorrer sua espinha. “Mas eu sou só um... ladrão. Como posso ser
o escolhido?”
Eryndor olhou fixamente nos olhos de Kieran. “O que você é não importa. O que importa é o
que você se tornará. Você tem uma conexão com os dragões, e isso é algo que não pode ser
negado.”
Sem mais explicações, Eryndor levou Kieran até os limites do reino, onde as florestas e as
montanhas se encontravam em uma vasta região selvagem e inexplorada. Eles caminharam
por dias, enfrentando perigos e obstáculos, até que chegaram a uma antiga caverna nas
profundezas de uma montanha. Ali, Eryndor parou e se virou para Kieran.
“O dragão está lá dentro”, disse ele. “Agora, você deve ir sozinho. Apenas você pode
despertar o dragão.”
Kieran sentiu um peso enorme em seus ombros. Ele não sabia o que esperar, mas uma parte
de si sentia que ele não tinha escolha. Ele entrou na caverna, o eco de seus passos ressoando
pelas paredes rochosas. A escuridão era quase total, mas à medida que avançava, um brilho
dourado começou a preencher o ambiente.
E então ele o viu. O dragão, ainda imenso e majestoso, estava deitado em uma camada de
pedras e cristais. Suas escamas douradas estavam apagadas pelo tempo, mas ainda refletiam a
luz com uma beleza que tirava o fôlego. Seu corpo estava imóvel, mas Kieran podia sentir a
energia pulsando dentro dele, como se o dragão ainda vivesse, apenas adormecido.
Kieran se aproximou com cautela, sentindo uma força que o atraía, algo que o conectava
diretamente com o animal mitológico. Ele sentiu o calor da criatura, o poder que emana de
sua existência. Mas também havia uma sensação de tristeza, uma sensação de que algo estava
perdido, algo que o dragão guardava.
Com as mãos trêmulas, Kieran colocou uma das mãos sobre o escamoso corpo do dragão. Ele
não sabia o que fazer, mas, instintivamente, algo dentro dele despertou. Ele se lembrou das
palavras de Eryndor, das histórias sobre os dragões e como eles compartilhavam um laço com
os escolhidos.
Então, uma voz profunda e reverberante ecoou em sua mente.
"Você... é o sangue dos dragões. Eu senti sua chegada."
Kieran quase caiu de surpresa, mas manteve a calma. “Eu... eu sou você?” perguntou.
"Você carrega o sangue antigo. O sangue que une os dragões e os homens. Eu sou o último
de minha espécie, mas posso viver novamente. Você e eu... juntos, podemos restaurar o
equilíbrio de Valthar."
Kieran sentiu um calor crescente em seu peito, e a magia do dragão começou a fluir por suas
veias. Ele fechou os olhos e, de repente, as escamas douradas do dragão começaram a brilhar
intensamente, como se estivessem sendo recarregadas pela energia da terra e do céu.
O dragão despertou. Suas asas se estenderam com um rugido poderoso, e a caverna tremeu
com a força da criatura ao despertar. Mas não havia mais medo. O dragão agora estava unido
ao escolhido, e com isso, uma nova era de magia e equilíbrio começava.
Kieran não era mais apenas um órfão. Ele agora era o Guardião do Último Dragão, e juntos,
eles lutariam contra as forças das trevas que se aproximavam de Valthar.