fls.
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
COMARCA DE CUBATÃO
FORO DE CUBATÃO
2ª VARA
AV. JOAQUIM MIGUEL COUTO, 320, Cubatão-SP - CEP 11500-000
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min
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SENTENÇA
Processo Digital nº: 1502966-34.2022.8.26.0536
Classe – Assunto: Ação Penal - Procedimento Ordinário - Furto
Documento de Origem: Comunicação de Prisão em Flagrante, Comunicação de Prisão em
Flagrante, Comunicação de Prisão em Flagrante - 2234811/2022 -
DEL.POL.CUBATÃO, 27040313 - DEL.POL.CUBATÃO, 2234811 -
DEL.POL.CUBATÃO
Autor: Justiça Pública
Réu: JERRI SOUZA SANTOS
Prioridade Idoso
Tramitação prioritária
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RODRIGO PINATI DA SILVA, liberado nos autos em 16/01/2023 às 15:41 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Rodrigo Pinati da Silva
Vistos.
I RELATÓRIO
O Ministério Público do Estado de São Paulo, por meio de seu representante legal,
em exercício nesta Comarca, no uso de suas atribuições legais1, com base em incluso auto de
inquérito policial, ofereceu denúncia contra JERRI SOUZA SANTOS, tendo por incurso o art.
155 do Código Penal, imputando-lhe os seguintes fatos: em 26 de agosto de 2022, por volta das
21h45, nas dependências do estabelecimento comercial Barkana, localizado na Avenida Joaquim
Miguel Couto, nº 850, nesta cidade e comarca de Cubatão, subtraiu, para si, uma bicicleta
avaliada em R$ 500,00 (quinhentos reais), conforme auto de exibição, apreensão, avaliação e
entrega de fls. 12-15, pertencente à vítima Josefina dos Santos.
Recebida a denúncia em 10 de outubro de 2022, [fls. 99], o réu foi citado [fls. 148] e
por intermédio do Defensor, apresentou resposta à acusação. [fls. 148].
Afastada a possibilidade de absolvição sumária2 [fls. 135], foi designada audiência,
na qual foram colhidas as declarações da ofendida, o depoimento de testemunha, bem como
realizado o interrogatório do réu, com registro em mídia digital.
Em memoriais finais, o Ministério Público entendeu estar devidamente comprovada
a materialidade e a autoria do delito, bem como a responsabilidade criminal do réu, pugnando
pela sua condenação nos termos da peça acusatória, discorrendo sobre a dosimetria da pena [fls.
157/160].
Por sua vez, em seus memoriais, a Defesa do réu pleiteou sua absolvição,
sustentando inexistir prova suficiente a ensejar condenação. No mais, discorreu sobre a
inexistência de maus antecedentes, reconhecimento da atenuante da confissão espontânea,
pugnando para aplicação de regime diverso do fechado, em caso de condenação [fls. 162/164].
II - FUNDAMENTAÇÃO
Processo em ordem, com a presença das condições da ação e observância das
formalidades legais, sem nulidades a sanar.
A pretensão punitiva é procedente.
A materialidade está demonstrada pelo auto de prisão em flagrante [fls. 01], auto de
apreensão e exibição [fls. 12], auto de avaliação [fls. 13/14] e pela prova oral sob o crivo do
contraditório.
A autoria é certa e deve ser imputada ao réu, porque comprovada pelas declarações
da ofendida, depoimento de testemunha e confissão.
Josefina dos Santos, vítima, declarou trabalhar no estabelecimento Barkana, tendo
deixado sua bicicleta encostada, pois pediram dois lanches quando entrou no local. Ao terminar
1 CF, art. 129, I.
2 CPP, art. 397
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de fazer os lanches, foi abordada por policiais, quem a indagaram se não sentia falta de nada,
perguntando se possuía bicicleta, ao que respondeu positivamente. Os policiais disseram que sua
bicicleta foi subtraída, mas recuperada. Os policiais disseram que capturaram o infrator, tendo a
bicicleta sido devolvida. Narrou que não conhecia o réu e não presenciou o furto em si.
Carlos Alberto da Silva, policial militar, em juízo, disse que se encontrava em
patrulhamento pela Avenida Nove de Abril, a principal da cidade. Ao cruzar com a avenida Ana
Dias, junto de seu colega de farda, avistou um cidadão pedalando uma bicicleta, enquanto puxada
outra pelo guidão e, ao ver a viatura, passou a acelerar. Nas proximidades da policlínica, foi
abordado e indagado porque levava duas bicicletas. O réu, na ocasião, disse que a segunda
bicicleta era de sua irmã, mas posteriormente começou a apresentar contradições, tendo
confessado que a segunda bicicleta, na verdade, tratava-se de produto de furto praticado por ele na
Avenida Joaquim Miguel Couto.
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O réu, em juízo, confessou os fatos. Passava por dificuldades financeiras. Dirigiu-se
a um bar para comprar cigarro quando se deparou com uma bicicleta sem trava no bicicletário.
Acreditou que furtando o objeto poderia vendê-lo para comprar leite e fraldas para sua filha.
Quando olhou para trás, viu a viatura e decidiu acelerar, por temor. Ao ser abordado, inicialmente
mentiu e disse que a bicicleta era de sua irmã. Posteriormente, ficou nervoso e acabou
confessando os fatos ao milicianos.
Essa é a prova oral constante dos autos.
Consigne-se que os inquiridos expuseram satisfatoriamente os fatos, sendo certo que
os relatos são dignos de credibilidade, não se percebendo qualquer tentativa de falsear a verdade,
porque convincentes e provenientes de pessoas cuja idoneidade não foi posta em dúvida, sem
indícios de possuíam interesse em prejudicar o acusado, a quem não conheciam, ignorando-se nos
autos notícia de desavença ou fato pretérito que indicasse falsa incriminação.
A confissão judicial é elemento importantíssimo de prova, que somente pode ser
afastada por circunstâncias excepcionais que tornem duvidoso seu valor. Assim, se vem ao
encontro das outras provas produzidas, não há razão para afastar a confissão, pois ninguém iria
assumir a autoria de um crime sem que efetivamente o tivesse cometido. A propósito: “A
confissão judicial, sem margem para divagações doutrinárias, ou tertúlias hermenêuticas, constitui
seguríssimo elemento de convicção. Apenas incomum circunstância, aqui não vislumbrada, que
lhe evidencie a insinceridade, justifica sua recusa. Assim, se o acusado admite, sem explicações
ou justificações plausíveis, a verdade do gesto criminoso que lhe vem atribuído, não há como
fugir à proclamação da procedência da pretensão punitiva deduzida.” [Apelação Criminal n°
297.351-3/5, 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, rel. Des. Canguçu de Almeida, julgado
em 20/10/2003].
A confissão foi corroborada pelas declarações da ofendida e pelo depoimento do
policial militar, que expuseram os fatos de modo coerente e harmônico com todo o contexto
probatório.
Ressalte-se, ademais, que não se pode imputar conduta parcial genericamente aos
policiais, que, no cumprimento da missão que lhes foi confiada pelo constituinte [CF, art. 144],
apresentam transgressores da ordem jurídica ao Estado-Juiz para serem processados, segundo o
devido processo legal, que fornece instrumentos para confirmar ou rechaçar a versão dos fatos
apresentada pelos agentes estatais de segurança pública. Como assentado no E. Supremo Tribunal
Federal, “[o] depoimento testemunhal do agente policial somente não terá valor, quando se
evidenciar que esse servidor do Estado, por revelar interesse particular na investigação penal, age
facciosamente ou quando se demonstrar - tal como ocorre com as demais testemunhas - que as
suas declarações não encontram suporte e nem se harmonizam com outros elementos probatórios
idôneos. Doutrina e jurisprudência" [STF - HC n. 73518, rel. Min. Celso de Mello, j. 26.3.1996].
Destarte, o contexto probatório está a evidenciar a prática do crime, de modo que
todas as provas produzidas formam um conjunto probatório harmônico e desfavorável ao réu,
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autorizando, assim, um juízo de certeza para o decreto condenatório.
Outrossim, o E. Superior Tribunal de Justiça admite a argumentação de que a
apreensão da coisa subtraída em poder do réu gera a presunção da responsabilidade penal e
inverte o ônus da prova [cf. AgRg no AREsp 197.224, rel. Min. Marilza Maynard
(Desembargadora Convocada do TJ/SE), j. 6.11.2012].
Nesse contexto, comprovada a subtração de bem móvel pela ré, para si ou para
outrem, imperioso o reconhecimento de que estão reunidos todos os elementos da definição legal
do crime de furto, previsto no art. 155 do Código Penal [CP, art. 14].
Assim sendo, o fato é típico e antijurídico, sendo certo que a significância da lesão
ao bem jurídico tutelado impõe a incidência da norma penal, não estando o acusado amparado por
qualquer causa de exclusão da ilicitude ou que afaste sua culpabilidade.
Passa-se à individualização da pena, nos termos do art. 5º, XLVI, da Constituição
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Federal, segundo o sistema trifásico, nos termos do art. 68 do Código Penal, atentando-se às
circunstâncias legais, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
crime.
Nos termos do art. 59 do Código Penal, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes,
à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, a pena base deve ser fixada no mínimo legal.
Acerca da valoração negativa dos antecedentes criminais, o Supremo Tribunal
Federal decidiu, em recurso extraordinário com repercussão geral, que "não se aplica aos
maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição previsto para a reincidência (art. 64, I, do Código Penal)3”. Por
seu turno, como já se observou, como já se observou, “eternizar a valoração negativa dos antecedentes para
afastar a minorante em questão, sem nenhuma ponderação sobre as circunstâncias do caso concreto, não se coaduna com
o Direito Penal do fato. Nesse contexto, no RHC 2.227-MG (Sexta Turma, DJ 29/3/1993), já se afirmou que a norma
inserta no inciso I do art. 64 do CP "harmoniza-se com o sistema do Código Penal que subscreve o princípio tempus
omnia solvet", concluindo-se no sentido de que "Não há, pois, estigma permanente no Direito Penal4". Nesse
contexto, a uniformização da lei federal pelo Superior Tribunal de Justiça considera que, "quando
os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos [...], admite-se o afastamento de sua análise desfavorável,
em aplicação à teoria do direito ao esquecimento5". E "o cômputo do prazo do para aplicação do direito
ao esquecimento em relação aos antecedentes é realizado entre extinção da pena anteriormente imposta e a prática do
novo delito6". No caso em concreto, a condenação anterior do réu se deu por fato criminoso
patrimonial sem violência ou grave ameaça à pessoa [CP, art. 180], praticado, segundo consta, em
outubro de 2004, com trânsito em julgado em 2005 [fls. 41]. Outro delito, de perigo abstrato [art.
10 da Lei n. 9.434/97], é de 2003. Assim sendo, imperiosa a relativização desse único fato
longevo.
Em segunda fase, fixada a pena-base no mínimo legal, não incide a atenuante da
confissão espontânea, uma vez que, na esteira da jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de
Justiça, sedimentada na Súmula n.º 231, "a incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução
da pena abaixo do mínimo legal".
Na terceira fase, não há causa de aumento de pena.
Assim sendo, a pena definitiva é de 01 ano e 10 dias-multa.
Em vista da situação econômico-financeira do réu, fixo o valor do dia multa em 1/30
[um trinta avos] do valor do salário-mínimo vigente à época dos fatos [CP, art. 49], que será
corrigido monetariamente na ocasião oportuna.
O regime inicial para o cumprimento da pena privativa de liberdade será o aberto, na
3 RE n. 593.818, relator ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 18/8/2020, processo eletrônico, REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO, DJe-277, divulgado em 20/11/2020, publicado em 23/11/2020.
4 REsp 1.160.440-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/3/2016, DJe 31/3/2016; Ainda: STJ, AgRg no AREsp
924.174/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe 16/12/2016.
5 REsp n. 1.707.948/RJ, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 10/4/2018, DJe de 16/4/2018.
6 EDcl no AgRg no HC n. 696.253/SP, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 26/4/2022, DJe de 3/5/2022.
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forma do disposto no art. 33, caput, e seu § 2º, alínea c c/c § 3º, do Código Penal.
Tendo em vista o preenchimento dos requisitos alinhados no art. 44, do CP e seu §2º,
substituo a pena privativa de liberdade imposta por pena restritiva de direito, a saber, prestação de
serviço à comunidade [CP, art. 46], em entidade a ser designada pelo juízo das execuções penais
[LEP, art. 66, V, a].
Fica o réu advertido de que no caso de descumprimento injustificado das restrições
impostas, as penas restritivas de direitos serão convertidas em privativa de liberdade, conforme
disposto no § 4° do artigo 44 do Código Penal, com seu recolhimento à prisão.
Considerando a substituição da pena privativa de liberdade, não se há falar em sursis.
III - DISPOSITIVO
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido e, em consequência, CONDENO
JERRI SOUZA SANTOS, qualificado anteriormente, às penas de 01 [um] ano de reclusão, em
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regime inicial aberto, substituída por pena restritiva de direito [prestação de serviços à
comunidade], e pagamento de 10 [dez] dias-multa, no mínimo legal, por incurso no art. 155,
caput, do Código Penal.
Não estão presentes os pressupostos fáticos de cabimento da prisão preventiva.
Deixa-se de fixar valor mínimo para reparação de danos [CPP, art. 387, IV], porque
ausente pedido da parte e demonstração de dano, com concessão de ampla defesa ao acusado.
Nos termos do art. 201, § 2º, do Código de Processo Penal, comunique-se à ofendida.
Após o trânsito em julgado: (a) expeça-se guia de execução para encaminhamento ao
juízo das execuções criminais; (b) oficie-se ao TRE-SP, para os fins do art. 15, III, da CF e (c)
oficie-se ao IIRGD para registro de antecedentes criminais.
Fixo os honorários advocatícios ao patrono do réu, nos termos do Convênio
PGE/OAB, no máximo legal previsto na tabela, liberando-se 70% (setenta por cento) em caso de
recurso.
Condeno o réu, ainda, ao pagamento das custas, nos termos do art. 804 do Código de
Processo penal, ressaltando-se, como já se decidiu: “Ainda que os apelantes estejam assistidos
pela Defensoria Pública, impõe-se a condenação ao pagamento das custas processuais, devendo a
alegada miserabilidade jurídica ser examinada pelo Juízo da Execução, a fim e se conceder ou não
a isenção reclamada (...)” [STJ, REsp 1416725/MG, rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 29.06.2015].
P.I.C.
Cubatão, 16 de janeiro de 2022.
DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,
CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA
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