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Mensagens Do Sanctum Celestial Compress

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RAYMOND BERNARD

Grande Mestre da Ol'denn Rosacruz - AM.O.R.C., da França e Paues


ele Língua Francesa. Legado Supremo do Imperator na Europq,

Mensagens
do
Sanctum Celestial
Traduzido da 4.ª edição francesa

COORDENAÇÃO
Maria A. Moura, F.R.C.
Segunda Edição - 1980.

Biblioteca Rosacruz
Volume IX

EDITORA RENES
Rio de Janeiro

LOJA ROSACRUZ OE LISBOA

B I B LI O TE c A
AMORC

" /O 1 8 6
Publicado originariamente em francês, sob o título:
MESSAGES DU SANCTUM CÊLESTE
Copyright © 1973 by ANCIENT MYSTICAL ORDER ROSAE
CRUCIS - A.M.0.R.C., São José da Califórnia

EDIÇÃO BRASILEIRA
Diretor-Geral: l Renaldo A. Essinger
Dtretor Editorid: Armando S. Campbell
Gerência Gráfica: Miguel F. Cuifias
Tradução: Vânia M. Gelineaud
Revisão: Rubem M. Jorge e Hélio José da Silva

Todos os direitos da edição em lingua portuguesa reservados por


EDITORA RENES LTDA. - Rio de Janeiro
Av. Nilo Pe!.}anha, 50, grupo 1.001.
Tel.: 283-4112 - coe 33.880.824/000l-52

All rights reserved


Printed in Brazil

Para informação completa quanto aos benefícios e vantagens


da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., escreva para o endereço
abaixo e solicite, grátis, o livreto: O Domínio da Vida.
Escriba M.C.E.R. Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.
Bosque Rosacruz, 80.000, Curitiba, Paraná.
A minha esposa

e a meu filho . . .
tNDICE

V
Nota Explicativa 9
Aos Leitores que não são Membros da Ordem Rosa-
cruz - A.M.O.R.C. ............•............... 11
Preâmbulo 13
Introdü.ção ...... : ................................ 15
Capítulo
I - Observação, Visualização e Comunicação
Cósmica ............................. 19
iI - O Sanctum Celestial .................. 29
III - A Cerimônia ........................ à9
IV - Sobre um Princípio Fundamental ...... 45
V - A Lei do Silêncio : ................... 55
VI - Ciclos, Dia Solar e Experiências Psíquicas 71
VII - Um Serviço de Com'unhão no Sanctum
Celestial ............................ 81
VIII - Os Poderes Psíquicos ................. 93
IX - Magia Negra e Feitiçaria ............. 101
X - Contatos com os Desaparecidos ....... . 109
XI - Seitas e Famílias Religiosas .......... 119
XII - Profecias e Predições ................. 129
XIII - A Cura Espiritual .................... 141
XIV - A Alma-Personalidade e o Corpo Físico . 153
XV - Os Apetites Físicos ................... 161
XVI - A Alma dos Animais.· ................ 173
XVII - As Vidas Sucessivas ................ . 181
XVIII - A Lei da Compensação, ou Carma ...... 191
XIX - O Místico Moderno ................... 199
XX - Uma Iniciação ao Sanctum Celestial ... 209
Conclusão ....................... � ................ 219
Anexo - Liber 777, ou O Sanctum Celestial ......... 223
NOTA EXPLICATIVA

A ORDEM ROSACRUZ - A.M.O.R.C.

V
Antecipando as perguntas que poderiam ser feitas pelos
leitores deste livro, os editores julgam útil esclarecer que há
atualmente no mundo uma só Ordem Rosacruz universal,
com jurisdição em diversos países do globo e um Conselho
Supremo único, segundo o plano original dos antigos mani­
festos rosacruzes. A Ordem Rosacruz não é urna sociedade
religiosa ou sectária.

Esta organização internacional perpetua as tradições, os


ensinamentos e os princípios antigos, bem como os preceitos
de solidariedade prática da Fraternidade, como foram esta­
belecidos há séculos. É mundialmente conhecida sob a deno­
minação de "Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis", ou, mais
comumente, sob a abreviação A.M.O.R.C. A jurisdição inter­
nacional da Ordem Rosacruz - A.M.0.R.C. da América do
Norte, do Centro e do Sul, do Mercado Comum e Império
Britânico, da França, da Suíça e da Africa tem sede em São
José, na Califórnia. Aqueles que se interessarem pelos rosa­
cruzes, sua história e a ajuda que têm condições de oferecer,
podem solicitar à Ordem um exemplar gratuito do 11vro in­
titulado O Domínio da Vida, anexando os selos necessários
à sua expedição, escrevendo para o seguinte endereço:

Escriba M.C.E.R.
Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.
Bosque Rosacruz, 80.000, Curitiba, Paraná.
AOS LEITORES QUE NÃO SÃO MEMBROS DA ORDEM
ROSACRUZ - A.M.O.R.C.

V
Este livro, publicado inicialmente em forma de fascículos,
havia sido escrito apenas -para os membros da Ordem Rosa­
cruz - A.M.O.R.C. Tendo em mira dar ao trabalho uma mais
larga· difusão e não tendo o texto sofrido qualquer modifi­
cação ou adaptação, alguns esclarecimentos devem ser for­
necidos aos leitores alheios a nossa organização. Para que
eles possam obter um real proveito de sua leitura, aconse­
lhamos que leiam o Liber 777 - que vai no ANEXO incluído
no final deste livro - freqüentemente citado, e O Domínio
da Vida.
A Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. não é uma seita nem
um organismo religioso. Não prega nenhum dogma. Ela pro­
põe soluções e fornece bases -para a reflexão, mas seus mem­
bros conservam sempre, e sob todos os pontos de vista, a maior_
liberdade, particularmente a liberdade de pensar e agir se­
gundo as próprias conclusões e conceitos, sem por isso igno­
rar e, ainda menos, rejeitar as conclusões e conceitos alheios.
A, verdade é uma só, sob seus mais numerosos e diversos as­
pectos. Este livro oferece um desses aspectos, que será, para
alguns, uma etapa para atingir a verdáde oculta no interior
de cada ser. Para outros, a revelação do caminho que leva
à Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. Para todos, ele é apenas o
ensaio de um autor submetido à regra básica .da organização
de que é um dos maiores responsáveis, regra básica que é:
servir.
PREAM.BULO

V
Para os Membros da Ordem Rosacruz
A.M.O.R.C.

Esta obra tem como título �ensagens do Sanctum Ce­


lestial. O Sanctum Celestial é elemento básico de nossa vida
rosacruz. Apesar disso, as pessoas geralmente não lhe pres­
tam suficiente atenção. Este novo trabalho foi escrito com
o objetivo de ajudar ao leitor, de maneira prática, em seus
contatos. Nele foram reunidos variados assuntos, tais como
a Visualização, a Era de Aquário, os Períodos Rosacruzes etc.
Porém, revelam-se nesta obra sobretudo um método pessoal
para o contato cósmico e o trabalho que concretiza no
Sanctum Celestial.
Graças à Visualização, cada leitor pode obter seu lugar
individual no Sanctum Celestial e nele entrar facilmente para
seguir o método aqui indicado, pois através do Sanctum Ce­
lestial seus problemas espirituais e materiais encontram so­
lução efetiva; foram envidados todos os esforços para mos­
trar-lhe que este trabalho foi feito para você, leitor, não im­
portando que grau tenha alcançado - até mesmo se são
novos na Ordem - e isto se deve ao fato de que cada rosa­
cruz atribuiu ao Sanctum Celestial muita importância e efi­
cácia.
Especificamente, depois de assimilar os princípios deste
livro, o leitor participa de imediato das experiências que re­
gular e sistematicamente ocorrem no Sanctum Celestial com
os membros da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., em épocas.
especiais, anunciadas com antecedência pela revista O RO­
SACRUZ. Não há dúvida de que este trabalho será útil ao

13
leitor em todos os momentos, e que ele pode transformar
sua existência, começando, por exemplo, cóm sua· vida ante­
rior.
Que a Paz Profunda esteja para sempre em cada um dos
leitores!

RAYMOND BERNARD

14
INTRODUÇÃO

V
O Liber 777, em sua nova redação, intitula-se O Sanctum
Celestial. Parece-nos interessante reproduzir aqui sua intro­
dução:
"O texto original deste opúsculo foi escrito em 1930, por
Fráter q1_arles Dana Dean, Grande Mestre da A.M.O.R.C.,
falecido em 25 de julho de 1933. Nesta obra ele revelava uma
inspiradora criação do Dr. H. Spencer Lewis, primeiro Im­
perator da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. em seu atual ciclo
de atividades. Este texto define de maneira notável as fina­
lidades buscadas pelo Doutor H. Spencer Lewis neste par­
ticular, a tal ponto que bastou mudar sua fraseologia para
adaptá-lo aos tempos atuais e às necessidades presentes de
nossos membros e daqueles que desejam participar de suas
nobres vantagens; Ralph M. Lewis, atual Imperator da Ordem
Rosacruz - A.M.O.R.C., assume a suprema responsabilidade
dos trabalhos espirituais e cósmicos do Sanctum Celestial e
dirige suas atividades gerais."
Como se disse, apenas a fraseologia do Liber 777 foi
modificada, sem que tenham sido em nada alteradas a obra
em si e suas finalidades.
Antes de se inteirar das · mensagens aqui contidas, tor­
na-se necessário um importante esclarecimento ao leitor.
Como se poderá observar, atribuí ao Sanctum Celestia_l o
aspecto de uma catedral.
Ao leitor será lícito adotar a mesma forma de visualização
do autor ou escolher uma outra. O que importa, verdadeira­
mente, é a visualização em si, e lhe recordaremos isso com
a freqüência necessária. Fica, porém, desde logo esclarecido
que as situações, lugares e coisas aqui referidos são essen-

15
cialmente simbólicos. Estão condicionados pelo processo da
visualização; porém as mensagens mantêm justamente todo
o seu valor próprio. São elas o resultado de contatos cósmicos,
ou seja, expressam a luz que o autor recebeu no plano do
Sanctum Celestial. Os "mestres" a que o autor se refere de­
signam o estado interior alcançado no momento de um de­
terminado contato. Se o contato cósmico que se realiza con­
cerne a uma questão prática, este contato interno se chama
"O mestre da experimentação". Se o contato tem como obje­
tivo um assunto ligado à lei universal de amor, "o mestre
benevolente" descreverá o estado interno alcançado para re­
ceber a luz dispensada pelo Sanctum Celestial etc. A leitura
atenta do primeiro capítulo, intitulado Observaçã.o, visuali­
zação e comunicação cósmica, lhe permitirá compreender a
forma adotada neste trabalho para lhe mostrar o modo de
atingir facilmente o Sanctum Celestial e beneficiar-se de seus
raios de luz cósmica.
Seus contatos variarão de acordo com o motivo que os
governam e é o próprio leitor quem sempre determinará este
motivo. Desta maneira, seu estado interno será uma função
do motivo que tenha escolhido ou do assunto que o guiará
ao Sanctum Celestial. O leitor pode personalizar a intuição
que receberá, a luz que terá adquirido, atribuindo sua fonte
a um mestre, para dar-lhe forma, por assim dizer. Isto se
enquadra na estrutura da visualização original. Na verdade,
não obstante a imensa satisfação que o leitor extrairá de
seus contatos, a compreensão que eles lhe darão terá como
única fonte o Cósmico em toda a sua impersonalidade.
Para comunicar-se com a suprema sabedoria do Cósmico
e para extrair desta comunhão ímpar incomparável ilumi­
nação não existe método mais eficaz que o da visualização,
amplamente explicado nestas páginas. Se o. leitor assimilar
bem o método, poderá obter respostas do Cósmico para todas
as questões que desejar esclarecer e para todas ás necessi-
dades e anseios legítimos.
Terminada a leitura deste livro, o leitor poderá colocar
em prática aquilo que se terá transformado em parte inte-

16
grante do seu ser, pois ele saberá, sempre que necessano,
entrar em si mesmo para atingir o Sanctum Celestial, único
estado, único foco, único local onde o homem pode encontrar
a solução definitiva e verdadeira de seus problemas e a res­
posta válida a suas perguntas.

RAYMOND BERNAllD

17
Ç�ÍTULO I

OBSERVAÇÃO, VISUALIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO


CóSMICA

V
Os membros da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. já ouvi­
ram falar no Sanctum Celestial. Já leram o Liber 777, que
define a extensão, as atividades deste elevado lugar cósmico
e revela como atingi-lo. No ·entanto, poucos são aqueles que
sabem tirar todo o proveito daquilo que a terminologia rosa­
cruz denomina "comunhão com o Sarictum Celestial", sendo
que alguns jamais conseguiram atingir este sublime lügar de··
luz e paz, afirmação certamente contestável, pois as infor­
mações recebidas sobre esse assunto dão conta de que muitos
o .conseguem sem chegar à consciência plena do resultado
obtido.
Na realidade, para a maioria das pessoas o fracasso - se
fracasso existe - deve-se essencialmente ao desânimo ou a
uma· lamentável negligência. Após várias tentativas suposta­
mente infrutíferas, a tentação de renunciar a novos esforços
é grande, e na maioria das vezes, mesmo sem ignorar as van­
tagens e o enorme auxílio que derivam do contato -com o
Sanctum Celestial, muitos são levados a confiar apenas no
raciocínio, a fim de harmonizar condições adversas, buscan­
do solução humana para algum problema, em vez de pro­
curar inicialmente mais luz e força na comunhão cósmica.
A meu ver, o fracasso de qualquer tentativa para se. si­
tuar no "plano" do Sanctum Celestial deve-se, por um lado,
ao conhecimento insuficiente dos princípios constantes do
Liber 777 e, por outro lado, à ausência de verdadeira visua­
lização. O Liber 777 não deve ser "lido". t preciso estudá-lo,

19
impregnar-se dele tão completamente, que se torne uma parte
viva de todo o ser, estabelecendo-se, no momento em que o
contato é desejado, uma forma de automatismo no qual o
"gesto" se realiza sem que o mental ou o pensamento obje­
tivo intervenham em primeiro plano. Este automatismo po­
deria ser chamado "atitude interior", que assume o lugar do
eu objétivo para dirigir a experiência no momento em que
se toma a decisão de realizá-la. Ora, este resultado só será
atingido caso o mental domine totalmente a técnica a seguir,
o que só é conseguido através de cuidadoso estudo do Li­
ber 777.
A visualização, por seu lado, é um elemento fundamental
na busca do contato com o Sanctum Celestial e, mesmo, na
vida mística e rosacruz em geral. Nem sempre nos ocorre que
o homem goza do raciocínio e da palavra para se expressar
unicamente no plano físico e para se comunicar com outrem
neste mesmo plano. Não é desta maneira que se realiza a
expressão e a comunicação com outros planos e com o eu
interior. O único meio de conseguir isto, a única faculdade
dada ao homem para este fim, é a visualização, razão pela
qual, em qualquer técnica de iniciação, mística e, mesmo,
religiosa, as palavras e o gesto, o verbo e o movimento, o som
e o ritual têm como finalidade exclusiva facilitar - e até
suscitar - urna visualização interior graças à qual será esta­
belecida a comunhão. Cantos, preces, salmos, sortilégios, pro­
cissões, estátuas e imagens, e as düerentes formas ativas ado­
tadas por toda parte, não possuem outra finalidade. A vi­
sualização é, desta forma, primordial em toda a vida espiri­
tual, qualquer que seja sua forma, e o mais humilde dos fiéis
visualiza sem disto tomar conhecimento. Quanto ao iniciado
e ao adepto, eles aprendem a visualizar com método, visando
a atingir o domínio do conhecimento e atravessar com su­
cesso as etapas de sua evolução.
Visualizar significa "ver interiormente" e é claro que isto
só pode ser conseguido caso tenha sido antes desenvolvida
a faculdade de "observação objetiva". Numerosos são aqueles
que olham "sem ver". Eles seguem, como autômatos, volta-

2()
dos para si mesmos, sem observar a sua volta, a não ser em
caso de interesse imediato. Por esta razão, é extremamente
difícil para essas pessoas construir uma "imagem" mental.
A observação é "voluntária". Pelo menos no início, é preciso
"querer" observar e, para isto, querer transferir a atenção de
dentro para fora. É preciso olhar ·conscientemente em torno
de si mesmo, examinar os rostos, os seres, as coisas com a
mesma intensidade de um fotógrafo ou pi,ntor, preocupado
com o mínimo detalhe. Inicialmente, é um empreendimento
difícil, porém a perseverança dá resultados tão satisfatórios
que o automatismo, também neste caso, se estabelece, esta­
belecendo-se como conseqüência uma "observação" cada vez
mais rápida, uma memória cada vez mais fiel e uma acen­
tuada facilidade de visualização eficaz.
Na visualização, os resultados da observação se aliam à
imaginação. As bases da imagem a ser edificada são resul­
tantes da observação. Quanto a mim, sempre tive o hábito
de visualizar o Sanctum Celestial dando-lhe o aspecto de uma
catedral. Poderia ter igualmente escolhido uma mesquita,
uma sinagoga, um templo_ ou qualquer outro edifício, mesmo
profano, porém uma catedral me inspira melhor, razão pela
qual eu a escolhi como base de minha visualização pessoal.
Já estive, certamente, em várias catedrais, e em cada uma
delas "alguma coisa" me inspirou. Da observação se extrai
o conhecimento fundamental. A função determinante da ima­
ginação é tornar eficiente o quadro mental, acrescentando-lhe
aquilo que pode provocar a emoção interior e a exaltação es­
piritual. Tomando como exemplo o meu caso, isto seria obtido
reunindo na catedral imaginária todas aquelas "coisas" que
me teriam inspirado nas diferentes catedrais por mim visi­
tadas, sendo que "nenhum" detalhe é inútil. Inicialmente,
"vejo" a catedral em seu conjunto, como se a sobrevoasse,
em seguida "examino" suas particularidades exteriores, para
enfim aproximar-me do pórtico central e penetrar-lhe o inte­
rior, onde a visualização deve ser objeto do mesmo cuidado,
acrescentando-lhe, se possível, a sensação de um odor de in­
censo oi, de outros elementos que eu possa desejar. A regra

21
é "viver" a vismtlização, nela integrar-se como se ela se tor­
nasse nossa própria consciência. Esta participação é compa­
rável ao estado obtido quando se assiste à projeção de um
filme que nos interessa profundamente. Verifica-se neste ins­
tante, de nossa parte, uma "integração" com o enredo e os
cenários. Passamos a ser, com efeito, o filme, e é isso, ·exata­
mente, o que se deve produzir com a visualização.
Naturalmente a visualização tem um fim, sucedendo-lhe
a fase passiva da experiência, a mais importante. A visuali­
zação é um meio de se atingir um estado determinado. Uma
vez atingido este estado, o meio deve ser esquecido. A criação
mental está terminada e o momento de tirar proveito disto
chegou. Convém, portanto, abandonar o trabalho de criação
e entregar-se ao estado obtido, com suas próprias imagens,
seus pensamentos, suas emoções e suas impressões. Quando
chega este momento? É impossível indicar com precisão. Po­
de-se dizer que, numa certa medida, a transferência se rea­
líza por si própria: a fase ativa transforma-se lentamente em
estado de receptividade e a pessoa "sabe" que a visualização
terminou, dando lugar à comunhão. Duas perguntas podem
então ser colocadas: quanto tempo dura esta comunhão e
quais as impressões que se pode dela tirar?
A resposta à primeira pergunta é simples, pois repre­
senta um erro em si. Na vida corrente da consciência obje­
tiva, tudo é avaliado de acordo com a noção de tempo. Ora,
o tempo não existe durante o estado de comunhão cósmica.
É somente após a experiência, quando já se voltou ao estado
de consciência habitual, que se constata que a mesma durou,
no transcurso de sua fase de receptividade, um segundo, um'
minuto ou um quarto de hora. Observa-se, além disso, que o
resultado obtido é idêntico, tenha a experiência durado um
_segundo ou bem ma.is que isso, o que nos dá a resposta à
segunda pergunta.
Durante a comunhão chega-se à consciência, no seu sen-
tido mais "absoluto". o ser mergulha no .coração da onis­
ciência e da onipotência. Se a visualização foi conduzida com
uma finalidade determinada - solução de um problema,

22
questão de saúde, qualquer auxílio ou proteção - a comu­
i
nhão se opera de tal modo que a fnalidade será atingida em
seu contexto universal. Se a visualização visa apenas à co­
munhão, sem finalidade precisa, esta terá lugar em seu con­
texto total, e o ser receberá aquilo que lhe for mais benéfico
"neste momento", o que é, sem dúvida alguma, a melhor
forma de contato, pois o eu interior sabe mais do que todos
os raciocínios o que lhe pode ser útil. Deve-se ter em mente
que, em qualquer caso, a comunhão se relaciona com o uni­
versal, isto é, com o todo, e que a única diferença, no caso
de uma visualização dirigida para uma finalidade definida,
reside no fato de que a resposta se desprenderá do contexto
geral próprio a todas as formas de contato, sem exceção.
É importante lembrar que no instante da comunhão não
há percepção. O conhecimento não, é formulado. É no espaço
de tempo muito reduzido do retorno progressivo à consciência
objetiva, durante o período situado entre a comunhão pro­
priamente dita e a plena consciência ao nível físico, que a
resposta ou auxílio esperado, ou, ainda, a possível mensagem
e as impressões propriamente ditas tomam "forma perceptí­
vel ou consciente". Em outras palavras, é à medida que se
volta ao mundo exterior que a "comunhão" se torna percep­
tível, que ela chega à compreensão humana. Naturalmente,
a comunhão pode ser tão breve, do ponto de vista temporal,
e o "retorno" tão rápido, que a percepção parece simultânea
à comunhão, mas nã,o é isto o que acontece. De certa forma,
produz-se um processo inverso ao da visualização. Esta ter�
mina imediatamente antes da comunhão e, após a mesma, o
conhecimento toma "corpo" progressivamente e é afinal
"compreendido" no aspecto particular para o qual foi solici­
tado. Acontece com freqüência obter-se, no mesmo instante,
a-impressão de imagens, incenso ou outra coisa qualquer. Isto
varia em cada caso e, também, segundo o contato realizado,
pois este, ao nível do conhecimento integral, conseguiu esta­
belecer determinada harmonia com um mestre, uma assem­
bléia mística ou outros adeptos, estando eles próprios em ·es­
tado de comunhão no mesmo momento. Pode também acoil-

23
tecer a interferência de um "trabalho" particular neste plano
elevado, seja por um ser situado em esfera diferente, seja por
um iniciado que esteja ainda no plano terrestre. Essas diver­
sas impressões podem ser experimentadas durante o retorno.
Portanto, é importante não apressar a volta da cons­
ciência objetiva. Convém que as coisas aconteçam sozinhas,
por assim dizer, e que se assista de maneira passiva a esse
retorno, contemplando-o e observando as impressões que to­
mam forma pouco a pouco. Deve-se ser, desta maneira, o
espectador de si próprio. Se o pensamento parece divagar,
se as associações de idéias se formam, basta seguir atenta­
mente o seu desenrolar. A vontade não deve intervir. No ins­
tante em que isso acontece, a experiência está terminada,
pois a consciência objetiva retomou o controle do ser. É igual­
mente possível que não se experimente nenhuma impressão
particular, o que não significa que a comunhão tenha sido
um fracasso. A razão de uma aparente falta de impressão
deve-se unicamente ao fato de não ter havido uma percepção
apropriada no momento certo. A consciência objetiva retómou
suas atividades muito rapidamente, ou então o retorno se
efetuou com uma receptividade defeituosa, não se "operando"
da maneira adequada e, em ambos os casos, a compreensão
não conseguiu desempenhar sua função. Entretanto, todos
aqueles que realizaram a experiência como acabo de descre­
ver convenceram-se de que a comunhão se realizou e que foi
um sucesso completo, isto significando que, de qualquer modo,
houve um benefício. O que se obteve fica e o eu interior,
que o sente, faz que a compreensão objetiva o perceba pos­
terio.rmente, caso não o tenha feito no devido momento.
Isto pode produzir-se durante um período de repouso, antes
do sono ou, ainda, ao despertar. O fruto da comunhão está, de
qualquer maneira, percebido assim que o eu interior encon­
trar a condição necessária para que esta compreensão seja
recebida como deve, e ele aproveitará todas as ocasiões em
que a consciência objetiva esteja menos ativa, seja no mo­
mento de uma emoção, de um susto ou de uma surpresa .
. 24
A compreensão poderá verificar-se ainda depois de o pro­
blema ter sido solucionado, o auxílio concedido, a saúde res­
tabelecida, pois o resultado da comunhão está presente na­
quele que a realizou, e este resultado vem à tona mesmo
contra a sua vontade. Assim, a atitude conveniente é ado­
tada na circunstância devida, a inspiração necessária apa­
rece para solucionar o problema, os conselhos médicos pro­
duzem rápido e amplo efeito, e um pouco de reflexão levará
sem dúvida a pessoa a compreender que se ela foi "guiada"
nesse sentido, isto se deu em conseqüência da comunhão an­
teriormente realizada.
Desta maneira, cada um pode medir a importância fun­
damental da visualização e dos contatos cósmicos que ela
permite que se possa fazer. Ora, tais contatos são favorecidos
e consideravelmente facilitados, em sua compreensão poste­
rior, se forem realizados no âmbito sublime do Sanctum Ce­
lestial, cujo conhecimento foi dado ao mundo pelo Doutor
H. Spencer Lewis que, após havê-lo concebido e edificado com
o auxílio de um grupo de iniciados avançados, transferiu sua
responsabilidade à Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., que asse­
gura sua manutenção, perpetuação e controle'. O Liber 777
define e explica o que é o Sanctum Celestial'. O Irnperator
Ralph M. Lewis teve apenas que modificar sua fraseologia,
a fim de adaptá-lo aos tempos atuais e às necessidades pre­
sentes de nossos membros e daqueles que desejam partilhar
de suas nobres vantagens.
Atualmente é quase lugar-comum exaltar a força cria­
dora do pensamento e acentuar ser ela mais poderosa e efe­
tiva do que todos os esforços humanos. O Sanctum Celestial
foi estruturado com o auxílio dessa força criadora. Isto signi­
fica que ele existe realmente. Na verdade, ele é de natureza
tal, que não pode ser percebido pelos sentidos objetivos, meios
limitados que, entretanto, conseguem captar os pensamentos.
Ora, todos somos reflexo de nossos pensamentos e eles con­
dicionam nossa existência, nossa felicidade e nossas reali­
zações. O Sanctum Celestial é, por sua vez, conhecido por
seus efeitos sobre aqueles que a ele vêm regularmente e sobre

25
qualquer um que tenha sido auxiliado por seu intermédio.
Ele é tão real e vivo quanto a alma-personalidade, da qual
nosso corpo é o Sanctum. Ele é tão real quanto a casa de
pedra onde o fiel tem o hábito de ir rezar, sendo, porém,
mais acessível, pois pode ser alcançado onde quer que se es­
teja, seja na quietude do lar ou no tumulto das ruas. Basta
colocar em prática algumas instruções bem simples, ou, se
as circunstâncias estiverem adversas, realizar uma breve pu­
rificação mental. A visualização será a etapa decisiva e, se
ela parece inicialmente longa e difícil, a repetição a tornará
progressivamente tão rápida e eficaz que o Sanctum Celestial
será atingido quase simultaneamente com o desejo de atin­
gi-lo. Um membro da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. não
deve deixar de se beneficiar diariamente dessa prodigiosa
criação; isto seria imperdoável. Ela deverá ser o centro de
sua existência mística e profana. Deverá ser o local onde, por
simples reflexo, diante de uma circunstância qualquer, ele se
eleve para receber uma mensagem, uma orientação 1 uma ins­
piração ou um auxílio. Finalmente, o Sanctum Celestial deve
presidir seus estudos rosacruzes, suas pesquisas místicas e
suas experiências. Sob sua égide, na sua presença, ele deverá
construir sua vida de rosacruz. Sua existência inteira será
então envolta em harmonia e compreensão infinitas e sua
evolução interior se desenrolará num ambiente de elevadas
vibrações espirituais. As dificuldades humanas, as experiên­
cias difíceis serão iluminadas por uma compreensão perfeita
que ajudará a superá-làs, ou, mesmo, a aceitar seu peso tem­
porário. Numa palavra, ele partilhará constantemente do pri­
vilégio de ter sempre ·a seu alcance o conhecimento compa­
tível com a etapa a ser atingida, e se banhará na luz incria­
da, pronta a manifestar-se nele e através dele.
Focalizarei agora algumas de minhas experiências com re­
lação ao Sanctum Celestial. Elas foram escolhidas entre mui·
tas outras, pois aquilo que recomendo aos membros da Ordem
Rosacruz - A.M.O.R.C. aplico, naturalmente, a mim mesmo.
Essas experiências não aconteceram nos períodos recomen­
dados pelo Liber 777 para a realização de contatos particula-

26
res, tão proveitosos e eficazes para aqueles que os promovem.
Com exceção do relato de uma experiência em que dirigi a
cerimônia como requer periodicamente minha função, men­
cionarei aqui apenas experiências relacionadas com períodos
de comunhão pessoal de interesse evidente, pois se referem
a explicações místicas e a mensagens relativas aos ensina­
mentos rosacruzes.
Meu maior desejo é que este trabalho leve os que o le­
rem, rosacruzes ou não, a se beneficiarem largamente das
vantagens excepcionais oferecidas pelos contatos cósmicos.
Estas vantagens não são reservadas ao autor destas páginas
ou apenas a uns poucos. Estão à disposição de todos, e, para
partilhar delas, como eu fiz, basta, com um sincero desejo
de seguir as regras do Liber 777 e apoiando-se na grande lei
da visualização, tomar confiantemente o caminho que leva ao
encontro sublime do Sanctum Celestial.

27
CAPÍTULO II

O SANCTUM CELESTIAL

Convido agora meus leitores a acompanharem minha vi­


sualização do Sanctum Celestial. Lembro, ainda uma vez,
que em minha visualização o Sanctum Celestial tem a apa­
rência de uma catedral, pelas razões que expus, mas cada
um pode conferir-lhe o aspecto que preferir, desde que cor­
responda a sua profunda aspiração e lhe desperte a emoção
e a inspiração necessárias a uma visualização perfeita e efi­
caz, tão precisa quanto, neste capítulo, será a descrição de
"minha" catedral. Nós, meus leitores e eu, a "veremos" eri­
gida no espaço, muito acima da terra, imensa e como que
integrada na luz solar, que lhe acentua os contornos, dissimu­
lando-a, ao mesmo tempo, aos olhares humanos.
Lá está ela, cintilando com um fulgor mais puro que o
do mais puro brilhante. Vista de certa distância, ela parece
transparente, tornando-se necessário que a atenção seja fir­
me para que se possa distinguir bem a sua arquitetura. A
concepção do edifício é prodigiosa. Nele se misturam har­
moniosamente o romano e o gótico, de modo a adelgaçar os
traços deste último, destituindo-o de toda· a severidade. Sete
flechas piramidais se lançam para o infinito. Uma delas, si­
tuada na parte posterior do edifício, mais maciça, mais alta
que as outras, circundada na base por sete flechas menores,
é dominada por uma imensa cruz de ouro, no centro da qual
desabrocha o rubi de uma rosa cujo esplendor se reflete em
todas as direções do espaço e envolve a terra longínqua com
sua luz mitigante. De seu exterior, pode-se vislumbrar três
naves abobadadas em ogivas que se apóiam a graciosos arco-

29
botantes. De cada lado, marcados por duas flechas, impres­
sionantes pórticos, sobre os quais estão gravados dois triân­
gulos entrelaçados, abrigam-se sob largas aduelas cujas ar­
quivoltas são ornadas de incontáveis símbolos. Esta parte da
catedral sustenta a grande flecha central vistâ anteriormente.
Ela constitui aproximadamente a parte central do edüício,
sobre a qual se apóiam, por um lado, o corpo frontal da ca­
tedral e, por outro lado, a sua parte posterior, cuja forma
arredondada sugere uma capela de Templários. A esta visão
de conjunto acrescentem inumeráveis janelas altas, com vi­
trais furta-cores, cujos motivos e a imensa rosácea com finas
cinzelagens não podem ser distintamente percebidos do ex­
terior. Levem este monumento a proporções infinitas e terão
uma idéia de sua magnificência.
Aproximemo-nos agora da Catedral e preparemo-nos para
ingressar em seu interior. A fachada é de um esplendor ini­
gualável. Dois pórticos menores emolduram o gigantesco pór­
tico central, dominado por um triângulo cujo ·.vértice supe­
rior atinge a parte inferior da rosácea e cujas duas extremi­
dades inferiores vão unir-se aos triângulos situados acima
dos pórticos vizinhos. No topo, um outro triângulo rendado
eleva seu vértice superior à meia altura de duas flechas es­
condidas em parte por uma muralha de cento e quarenta e
quatro nichos, nos quais estão situadas outras tantas ima­
gens que se supõe serem as protetoras do edüício. O que re­
presentam elas? Reconheço apenas algumas e sou, desta for­
ma, levado a pensar que elas perpetuam a memória dos gran­
des fundadores de religiões e dos mais evoluídos adeptos de
todos os tempos. Exatamente abaixo, tendo a rosácea ao
centro, doze imagens são visíveis em nichos maiores, gravados
com incontáveis símbolos, entre os quais brilham as conste­
lações zodiacais com particular esplendor, e compreendo que
elas destacam os ciclos fundamentais da humanidade, cada
uma das imagens personificando aquele que já cumpriu sua
missão num desses ciclos. Lá estão Raro, Mitra, Abraão, Jesus,
Maomé e outros que mal distingo. Ainda mais abaixo, sete
outros nichos, e sinto-me emocionado ao reconhecer os maio-

30
res mestres da evolução iniciática de nossa terra. Finalmente,
entre os três triângulos que dominam os pórticos estão duas
imagens, uma guarnecida de negro e a outra de branco, sim­
bolizando os dois pilares do conhecimento, a dupla polaridade
de onde emana toda manifestação. De cada lado, até a meia
altura da catedral, doze nichos superpostos completam o con­
junto e as imagens neles situadas simbolizam os caminhos
fundamentais da sabedoria segundo a Cabala ti:adicional. O
conjunto é de um esplendor indescritível. A contemplação
não é empanada por nenhuma impressão de "monotonia".·
Tudo é luz, e se o olhar cai sobre um detalhe qualquer, este
se ilumina e se reveste de toda a sua significação para aquele
que o contempla. A sabedoria primordial toma forma na ca­
tedral e aparece em seus inumeráveis aspectos sob um simbo­
lismo universal que· não posso explicar, pois ele assume uma
significação particular para cada visitante, em função do
grau de compreensão que este atinge e da direção dada a
sua visualização, caso tenha escolhido uma catedral para re­
presentar o Sanctum Celestial.
Este extraordinário emaranhado de círculos e triângulos
das mais variadas cores. que cerca o pórtico central merece '
longa meditação, porém sua mensagem será diferente para
cada pessoa. Os únicos símbolos vistos por todos da mesma
maneira são os dois imensos triângulos gravados em cima dos
pórticos principais e que são cercados por um círculo per­
feito. Um deles está disposto com o ápice voltado para cima,
o do outro voltado para baixo. Não existe nenhum outro sím­
bolo sobre os pórticos. Eles simbolizam, desta forma, a última
das diligências místicas para atingir a perfeição e a unidade.
As vezes, quando começamos a elevar-nos em direção à ca­
tedral, esta aparece ao longe, mergulhada nas nuvens, e acre­
ditamos então haver compreendido onde se escondem suas
inacessíveis fundações, porém, quando nos aproximamos, as
nuvens se dissolvem e percebemos que elas nada mais eram
que a ilusão de um mental ainda acorrentado à terra, antes
que seu ser subisse às sublimes alturas que ele se propunha
atingir ...

31
Chegou o momento de entrar. Mal transpomos o grande
pórtico, somos acolhidos por estranha música cujo ritmo nos
é desconhecido e que sentimos como um·sopro em nossa alma.
Outros entram ao mesmo tempo que nós, e sentimo-nos inca­
pazes de definir exatamente sua raça ou nacionalidade. En­
tretanto, podemos distinguir as crenças que alimentam pelos
sinais que fazem. Aqui vemos um que, após a genuflexão, faz
o sinal-da-cruz, Um outro cobre a cabeça. Um terceiro presta
a homenagem de sua fé a Alá. Finalmente, outro visitante rea­
liza um gesto tradicional e muitos, como eu, prestam a sau­
dação rosacruz em direção ao leste, da entrada da catedral.
A ambiência é comovente. Enquanto que, vista do exte­
rior, a catedral parece transparente como vidro, em seu in­
terio;: tudo é penumbra. Temos a impressão de um eterno
crepúsculo de múltiplos sóis, cujo adeus se refletiria nos
inúmeros vitrais. Na realidade, o que surpreende o visitante,
tão logo este transpõe o pórtico, é o esplendor e o número
de vitrais que há na nave principal. Toda a história e toda
a sabedoria do universo estão lá, reunidas em cores que so­
mente a alma pode perceber no absoluto de sua comunhão.
Desde meu primeiro contato com a catedral, há muitos anos,
a contemplação da sabedoria assim perpetuada na visão in­
terior de quem viesse comungar neste local, emocionou meu
ser, mas o que mais me transtornou, e me transtorna ainda
hoje, foi o vitral que representa a Rosa-Cruz. Ela emerge de
uma taça de ouro, símbolo do Graal, e, mais acima, descendo
em sua direção, uma pomba de asas abertas sublinha a união
da sabedoria eterna com a Rosa-Cruz para sua manifestação
a serviço dos homens. É impossível descrever os outros vitrais,
pois eles possuem uma mensagem particular para cada um
e o visitante, qualquer que seja, sabe reconhecer a sua.
Em seguida, nossa atenção é atraída por uma imensa
jóia triangular cuja ponta está voltada para baixo, situada
no coro, acima do altar. Ela é sustentada por forças magné­
ticas invisíveis e sua cor é um violeta-pálido, nela sobressain­
do o violeta-escuro dos símbolos de luz, de vida e de amor
gravados sobre cada uma das pontas do triângulo. A luz é
32
representada por um sol, a vida é simbolizada por um homem
de braços abertos e um coração é o emblema do amor. Exa­
tamente acima do triân�ulo encontra-se o grande· altar, tam­
bém triangular, sobre o qual, em cada extremidade, queima,
sem se consumir jamais, um enorme círio. As vibrações cós­
micas iluminam o altar com uma luz igualmente violeta, de
tal forma que todo o coro parece mergulhado num ligeiro
halo, quase uma nuvem, desta cor. Chega-se ao altar por
três degraus, mas para atingir o púlpito, situado na abside,
sob um dossel de brancura irreal, o mestre ou orador deve
subir sete degraus. A abside e o coro são cercados por nume­
rosas estalas fixadas às paredes, chegando-se aí por três de­
graus que se prolongam em meio-círculo em toda esta parte
da catedral.
Deve-se também subir três degraus para atingir o coro,
sendo este separado da nave por uma grade de pequenas co­
lunas trabalhadas, situada no terceiro degrau, de um lado
a outro da catedral. Esta grade, como o púlpito magistral e
.as estalas, possui um indescritível resplendor dourado que,
em vez de perturbar a visão interior, a acalma e a retém. A
esquerda, próximo à grade, um consolo sustenta uma; bacia
vermelha, transparente, na qual brilha eternament(} uma
flama viva. A direita, outro consolo, idêntico ao primeiro,· sus­
tenta uma bacia com reflexos metálicos, da quáJ! se eleva uma
pequena nuvem de incenso que se espalha por toda a ca­
tedral.
Uma quantidade inimaginável de bancos; ·com largos es­
paldares, ocupa os lados da grande nave. Neles sentam-se
aqueles que vêm à catedral para meditar ou para participar
de cerimônias, e seu número é sempre incalculávél, qualquer
que seja a hora. Nas naves laterais não existem bancos, e
sim genuflexórios, em grandes fileiras, com exceção do local
onde se situam os pilares. Alguns dizem encontrar aí uma
maior tranqüilidade, em frente aos símbolos iluminados, que,
gravados sobre a muralha ou colocados sobre esplêndidos
altares de forma retangular, em cada nave lateral, lembram
as grandes religiões que ainda existem entre nós, incluindo os

33
diversos caminhos oferecidos pelo budismo e pelas tradições
orientais. Finalmente, encontramos nas naves laterais san­
tuários e várias pequenas capelas, muitas das quais lembram
o Sanctum que cada rosacruz conserva em sua casa, e de
onde estivermos, percebemos, a um canto de cada santuário,
uma mesa finamente cinzelada separando duas poltronas,
sendo uma mais trabalhada do que a outra. Aí se encontram
as "mesas de comunhão", nas quais o discípulo pode encon­
trar-se com um mestre e dele receber iluminação direta, ensi­
namentos, conselhos e orientação.
É isto o que até o presente retém minha atenção na ca­
tedral que visualizo, porém a cada novo contato corresponde
nova descoberta, pois para se conhecer um edifício de dimen­
são tão inconcebível, tão prodigiosa, apenas uma vida não
basta. Além disso, cada um daqueles que escolheram uma ca­
tedral para sua visualização do Sanctum Celestial pode levar
suas investigações mais longe e admirar aquilo que mais cor­
responde ao seu desejo, a sua inspiração interior. Ora, a ten­
dência geral é para ingressar no Sanctum Celestial apenas
quando existem razões humanas para fazê-lo, o que é um
erro. É preciso que nos dirijamos a este local elevado com
o intuito de aprender a conhecê-lo e, se possível, levarmos
nossas próprias pedras a fim de torná-lo ainda mais magní­
fico. Destas visitas, embora não suscitadas por nenhum inte­
resse pessoal, retiramos sempre mais conhecimentos e um
intenso sentimento de paz, de alegria, de calma e reconforto.
Encontramo-nos no santo dos santos, num local de perfeição
e de força, e a alma sente-se feliz nesta sublime ambiência
sagrada. Em minha visualização, se o triângulo situado acima
do altar de "minha" catedral se encontra particularmente
iluminado por uma luz violeta, isto quer dizer para mim que
alguma cerimônia especial está acontecendo. Neste caso, devo,
interrompendo qualquer investigação, ocupar um lugar na
nave principal ou nas laterais a fim de participar da ceri­
mônia. Assim também devo agir durante todos os períodos
diários de serviço assinalados no Liber 777, durante todos os

34
períodos especiais de contato, ou, ainda, se minha vinda ao
Sanctum Celestial coincide com momentos de música e canto,
de consolo e instrução, sendo o estado de passividade essen­
cial para que se receba o influxo magnético então dispen­
sado. Assim que se estabelece o contato, a alma sente qual
o período em curso, e age, por si própria, em conseqüência.
Caso ela não sinta nenhuma impressão desse tipo, eu posso
realizar a visita projetada para melhor conhecer a "minha"
catedral. O mesmo princípio pode ser seguido em qualquer
representação que se tenha escolhido para o Sanctum Ce­
lestial.
Sobretudo uma das naves transversais nos interessa com
relação às comunicações que destino aos leitores. Esta nave
é ladeada por pequenos santuários, onde são admitidos os
membros da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., que atingiram,
em seus estudos, os mais elevados graus, isto é, aqueles que
há muito tempo já transpuseram o nono grau. Na verdade,
são previstos santuários semelhantes em outras naves para
aqueles que ainda não atingiram esse estágio elevado e exis­
tem, por exemplo, os santuários destinados aos membros que
acabam de receber seu nome esotérico numa iniciação rosa­
cruz que existe para os membros do sétimo grau e até para
os neófitos.
Se menciono particularmente os santuários elevados é
por serem eles os que me são reservados. Lá recebi as men­
sagens e as instruções que lhes desejo participar. Meu san­
tuário está situado na extremidade da nave transversal, do
lado direito. Em frente ao mesmo, do outro lado da nave,
doze santuários semelhantes uns aos outros, seguidos de três
santuários mais luminosos, como se fizessem parte de um
outro plano. O meu contém os símbolos destes doze santuá­
rios e dos três suplementares, com algo mais que não posso
precisar aqui. Cada um desses santuários é protegido por
altas grades, sendo o meu completamente fechado, de ma­
neira que posso concentrar-me e realizar exercícios espiri­
tuais secretos sem atrair a atenção. A parede de meu san-

35
tuário é um imenso vitral, cujos símbolos são exclusivamente
rosacruzes, contendo, embaixo e à direita, uma pequena ja­
nela transparente, que posso abrir da cadeira em que me en­
contro sentado, e através da qual me é possível contemplar
um maravilhoso espetáculo sobre o qual falarei no decorrer
deste livro. Minha mesa de trabalho é de rara perfeição,
sendo ao mesmo tempo extremamente prática, e combina
muito bem com a minha poltrona e com a poltrona desti­
nada a um visitante eventual. Procuro sempre trabalhar com
organização e método. É preferível uma simples mesa a uma
coleção de arquivos mal ordenados, o que favorece o estabe­
lecimento da desordem, o esquecimento e a perda de tempo
precioso. Tenho, entretanto, sempre à mão algumas folhas
virgens e um lápis. Eu os chamo "minha memória". Existe
também, atrás de minha poltrona, um móvel onde são guar­
dados em ordem todos os meus dossiês. Sempre de acordo
com- minha terminologia pessoal, eu os chamo "minhas lem­
branças"! O local mais sagrado de meu santuário é, eviden­
temente, o altar, simples reprodução daquele que me é desti­
nado na sed,e da Ordem Rosacruz - A.M.0.R.C. para os paí­
ses de língua francesa, sendo que aqui as velas estão sempre
acesas e jamais se consomem, irradiando uma perpétua luz
que ilumina a Rosa-Cruz situada no centro do altar. Aí fica
o símbolo de uma parte de mim mesmo, para sempre no
Sanctum Celestial, pronta a acolher, a qualquer instante,
aquele que quiser comunicar-se comigó e a transmitir o auxí­
lio e a luz que este local elevado pode dispensar a quem se
puser em ressonância com ele.
Antes de transmitir-lhes algumas das mais importantes
mensagens qúe recebi em meu santuário privado, convido-os
a uma grande cerimônia. Esta cerimônia foi uma das que
mais me tocou e, entretanto, estava aberta a todos. Alguns
de meus leitores rosacruzes talvez a tenham assistido. Em
5 de fevereiro de 1962, quando o dia raiava, no Sanctum Ce­
lestial ecoava um "Hosana" que repercutia até o infinito
sob as inumeráveis abóbadas de "minha catedral". A cor-

36
rente de ouro que envolve o altar de minha visualização, em
geral apenas perceptível aos mais elevados iniciados, era vi­
sível a todos, o que acontece em ocasiões extremamente raras.
Mas a cerimônia havia começado há meia hora e o "Hosana"
era o seu coroamento ...

37
CAPÍTULO III

A CERIMONIA

V
Ainda uma vez, neste 4 de fevereiro de 1962, já noite
alta, releio o Liber 777. Na verdade já conheço cada frase,
cada palavra, após tantos anos, mas esta leitura freqüente
é uma disciplina que me impus e da qual retiro o maior pro­
veito ...
"Toda vez que desejamos entrar em contato com o Sane­
tum Celestial para nos beneficiarmos de um contato cósmico,
devemos proceder da seguinte maneira:
"Lavar inicialmente as mãos, secando-as bem, como sím­
bolo de purificação corporal, antes de ingressar no Sanctum
Celestial. Esta é uma demonstração exterior de respeito e
humildade. Em seguida, devemos beber um pouco de água
fria, como símbolo de purificação da boca, para que esteja
isenta de qualquer palavra indigna do contato procurado.
Quanto mais nossos atos e nossos pensamentos estiverem im­
buídos de respeito com relação ao Cósmico, mais nos senti­
remos harmonizados com o Sanctum Celestial. É preciso, em
suma, colocar-se na condição exigida para atingir o contato
cósmico.
"Devemos, em seguida, sentar-nos em silêncio num local
onde possamos estar sozinhos, seja iluminado, seja em semi­
obscuridade. Então, fechando os olhos, devemos fazer men­
talmente esta pequena prece:
Que a sublime essência cósmica penetre meu ser e me
purifique de toda impureza mental e física, para que eu
possa ingressar no Sanctum Celestial e nele comungar com
toda pureza e em perfeita dignidade. Que assim seja!

39
"Com esta prece, na qual não se observa qualquer co­
notação religiosa ou sectária, purificamo-nos de tudo o que
é indigno à finalidade a ser alcançada pelo contato que de­
sejamos empreender. Em seguida, ficamos sentados, olhos fe­
chados, visualizando nossa consciência interior, que se eleva
cada vez mais alto, bem além dos limites da existência ma­
terial, em direção ao mundo cósmico, para onde nossa cons­
ciência será atraída pela própria limpidez de sua natureza".
São 23.30h. Realizo o ato de purificação, para em se­
guida, sentado em meu sanctum terrestre, olhos fechados,
recitar a prece, impregnando cada palavra de seu valor pro­
fundo, e inicio minha visualização ...
A catedral, que para mim é o símbolo do Sanctum Ce­
lestial, parece, nesta noite, ainda mais luminosa no oceano
do infinito e, aproximando-me do grande pórtico, vejo uma
multidão de visitantes que me precede. Eu entro, enquanto
inúmeras outras pessoas aguardam pacientemente sua vez.
Raramente minha "catedral" recebeu tantas pessoas ao mes­
mo tempo, mas nunca falta lugar e muitos outros poderiam
entrar sem incomodar ninguém. Sei que nesta noite há uma
cerimônia especial, mas fico um pouco surpreso com o gran­
de número de pessoas que dela vêm participar. �a semi­
obscuridade, vejo, a perder de vista, os bancos da nave prin­
cipal e os assentos das naves laterais já ocupados por uma
incrível quantidade de fiéis, dos quais apenas percebo as som­
bras. Fervorosamente, realizo minha saudação e vou sen­
tar-me entre os outros, na décima fila, perto de um pilar.
Na passagem, reconheço alguns membros em comunhão com
o Sanétum Celestial e sinto por vezes a sensação de que eles
não têm consciência do que fazem. É uma impressão estra­
nha. Lembro-me então daqueles que me afirmam não terem
nunca estado em contato com o Sanctum Celestial, apesar
dos esforços perseverantes. Na realidade, a maioria havia rea­
lizado este contato sem saber, tendo, apesar de tudo, tirado
proveito disto; não é isso principalmente o que conta? ...
Subitamente, o triângulo que visualizo no santuário se
ilumina e seu brilho violeta, nesta noite, é tão forte que a

40
vista mal consegue suportá-lo. Este brilho reflete-se por toda
a catedral e parece condensar-se particularmente no coro.
Ele se reflete ainda mais forte sobre 'O altar, como se uma
coluna violeta, descendo cio .triângulo, o envolvesse de todos
os lados. A catedral fica, i ássim, ligeiramente mais iluminada
e pode-se distinguir melhor seus con�ornos, sem que esta cla­
ridade, que parece irreal e que ilumina a todos, seja incô­
moda. Ouve-se, de início imperceptivelmente quase, em se­
guida cada vez mais forte, uma música de ritmos desconhe­
cidos, que atinge vibrações tão fortes que eleva a alma a
cumes inauditos, onde se opera uma fusão absoluta com aque­
les que lá se encontram e onde se realiza a unidade de todos.
A música das esferas! É preciso tê-la ouvido para sentir sua
potência e seus sagrados efeitos sobre a alma maravilhada!
Ela é uma preparação para o fim procurado, ela o é em cada
etapa e ela é o próprio fim. Ela "enleva" até o mais refra­
tário, e quando morre progressivamente na suavidade de seus
últimos acordes, não abandona o ser. Fica nele integrada,
transmitindo-lhe força durante o tempo de uma comunhão.
Em seguida, nesta noite, o coro interpreta um hino sa­
grado, recém-composto por um mestre inspirado, e o canto
se eleva,. cresce, espalha sobre a assembléia suas bênçãos de
paz, de confiança e de reconforto. Este canto de potência faz
lembrar um canto gregoriano, e os que ainda se encontram
na Terra a ele renunciam sem saberem o que fazem; mas
aqui, ele conserva sua pureza inicial e seu poder aumenta de­
vido aos sons imperceptíveis ao ouvido humano. Enquanto o
hino prossegue, avança a procissão dos mestres, vestidos com
suas roupas imaculadas. Eles avançam, dois a dois, solenes,
concentrados em si mesmos, e em perfeita ordem tomam seus
lugares no coro. Observo que, nesta ocasião, todas as estalas
estão ocupadas. Apenas o púlpito magistral, sob o dossel res­
plendente, ainda se encontra vazio e todos os olhares estão
voltados para ele.
Subitamente, a luz violeta do triângulo e do altar vibra
de maneira estranha. Parece que vai desaparecer, para em
seguida atingir uma extraordinária intensidade. Simultanea-

41
mente, uma luz fulgurante jorra do dossel e ilumina o púl­
pito e as estalas vizinhas, e todos sentem que o mestre acaba
de ocupar seu lugar. Fato extremamente raro, sua presença
é percebida, é adivinhada através da nuvem que se formou
lentamente diante do púlpito, mas ele não é visto e isso in­
dica, segundo meus contatos pessoais, a vinda de um dos
maiores mestres, talvez o maior deles, hoje, em virtude da
sublime circunstância que será aqui celebrada. Dentre os que
aqui se encontram reunidos, alguns não poderiam suportar
sua visão, e se veriam obrigados a "retornar à terra" num
brusco despertar, caso lhes aparecesse em toda a sua potência.
Isso às vezes acontece. Como a boa nova deve ser anunciada
na presença de todos esta noite, o mestre, voluntariamente,
diminui a intensidade de sua presença. Para a assembléia,
o Sanctum Celestial não mais existe, ou se encontra "ausen­
te" com relação ao lo"!al sagrado onde se encontra o mestre.
A consciência de cada um se dirige para o dossel, o púlpito,
a Presença ... e o verbo está entre nós e a voz se eleva, doce,
distinta, dirigindo-se a todos e insinuando-se em cada um
em rara comunhão.
"Eis que para a terra os tempos chegaram! Eis que na
terra se aproxima a hora do novo ciclo! O "mensageiro" foi
enviado e o universo em alegria se reúne neste momento em
torno do berço da nova humanidade! A liber_tação será di­
fícil, os prantos e os gritos da ignorância cobrirão a boa nova,
o mundo se lamentará no desespero e na dúvida, mas a Pa­
lavra, chegando entre eles, será finalmente ouvida pelos ho­
mens! Que aqueles que podem compreender, compreendam,
pois a luz não mais se esconde ... Eles têm olhos ... verão? ...
Eles têm ouvidos ... ouvirão? Eles verão e ouvirão melhor do
que antes, pois o tempo de preparação terminou e hoje co­
meça sobre a terra o tempo da ação. Possa finalmente a
humanidade compreender que a dor e as provações que sofre,
pelas quais é a única responsável, devem ser esquecidas e
que sua única finalidade deve ser o derradeiro despertar para
a realidade transcendente, eternamente presente em seu seio.
Assim, no decorrer do plano cósmico, a terra ingressa nesta

42
noite na era de Aquário. Os "guardiães" terminaram sua
missão, o influxo foi transmitido a todos. Cabe agora aos
homens descobrir os caminhos para eles preparados e per­
corrê-los até ultrapassar a etapa. Se eles agirem rapidamente
e com clarividência, a pressão vinda do Alto será menos in­
tensa e penosos transtornos lhes serão evitados. Neste mesmo
instante, em todos os planos, ressoa a grande nova! Eis que
para a terra os tempos chegaram! Eis que neste instante na
terra nasceu o novo ciclo, na cadência de sete! O mensa­
geiro apareceu e o universo em alegria está reunido em torno
de seu berço! Paz na terra aos homens de boa-vontade! Ho­
sana! Hosana! Hosana!"
Os sinos da catedral tocam forte um hino pleno de ale�
gria, a música das esferas retoma seu ritmo profundo, emo­
cionante e o coro cósmico entoa um "Hosana" vibrante, sem
fim; o conjunto - sinos, música e canto - se alia numa
inexplicável harmonia, enquanto os mestres, dois a dois, saem
em procissão, a luz se torna menos intensa, a catedral recupe­
ra seu aspecto habitual, pouco a pouco a multidão deixa o
edifício sagrado e me encontro em meu sanctum terrestre,
o olhar deslumbrado pelo esplendor que acabo de presenciar
juntamente com tantos outros, e o ouvido cheio de sons e
de cânticos, que pouco a pouco se apagam, à medida que
minha consciência objetiva retoma o controle de meu ser ...
Consulto meu relógio: é meia-noite e trinta! Uma tão pro­
longada comunhão com o Sanctum Celestial é, mesmo para
mim, excepcional. Mas o acontecimento é importante ...
5 de fevereiro de 1962! A era de Aquário! O que signi­
fica a "cadência de sete"? Agora que o período de passivi­
dade terminou, deixo que meu raciocínio se manifeste livre­
mente e o incito mesmo a refletir, curioso em conhecer as
conclusões que ele tirará da experiência. Aliás, esta só tem
valor, como qualquer experiência dessa natureza, se for ana­
lisada posteriormente, e não no momento. As impressões psí­
quicas devem ser sem'[)Te aceitas, recolhidas com cuidado. A
dúvida é estéril quando recusa obstinadamente aquilo que
o mental, ridículo em suas limitações e sua suficiência tola,

43
não pode admitir imediatamente. Ela só é construtiva quan­
do aliada ao raciocínio, não para afastar um pretenso impos­
sível, mas para examinar suas conseqüências quanto ao co­
nhecimento e à luz assim recolhidos...
A cadência de sete! Neste instante, na cadência de sete.
Sete, em relação ao tempo, só pode designar a hora. Ora, é
meia-noite e trinta! Mas nos esquecemos que o tempo é uma
medida humana. "Lá" ele não tem valor. Então, quando a
palavra foi pronunciada, sem dúvida as condições de "sete
horas", num determinado ponto da terra, eram vistas, vivi­
das, percebidas lá no Alto ... Uma indescritível impressão de
paz me invade. Sinto que estou com a "verdade". . . Hoje,
5 de fevereiro de 1962, na manhã que se aproxima ... às sete
horas, em "algum lugar" ... a era de Aquário, a mensagem,
o mensageiro.. . Compreendo, sou tomado pela emoção, as
lágrimas me escorrem pelo rosto e eu me lanço de joelhos,
a cabeça apoiada em meu altar durante horas, sem sentir
nenhum cansaço, rezo, rezo, rezo e, quando soarem as sete
horas, com o coração batendo, murmurarei um longo "Ho­
sana" de alegria e de esperança.

44
CAPÍTULO IV

SOBRE UM PRINCfPIO FUNDAMENTAL

V
Hoje não está prevista nenhuma cerimônia particular no
Sanctum Celestial. Participei do período consagrado à prece
e realizei os serviços de que sou diariamente incumbido ao
nível do Sanctum Celestial, em benefício dos membros da
Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. Após haver terminado minhas
atividades habituais no plano objetivo, voltei ao período de
contato e, tendo-o terminado, sinto a necessidade de me re­
tirar, por alguns instantes, para o meu santuário privado.
Na passagem, observo que alguns dos doze santuários de
"minha" nave estão ocupados e que aqueles que lá se en­
contram meditam ou trabalham.
Sento-me em minha poltrona e, abandonando-me ao so­
nho, contemplo ao longe, pela pequena janela, o monte su­
premo da iluminação onde residem os maiores de todos os
mestres. Um pouco mais abaixo, na massa compacta desta
única montanha espiritual, percebo outros cumes; aqui, fica
o retiro permanente dos "irmãos de branco", lá, um pouco
mais longe, o monte Akasha e assin:i, até o infinito, meu
pensamento voa de um vale a outro, vislumbrando a verdade
e a unidade na multiplicidade dos caminhos percorridos por
uma multidão sem saber que o objetivo está próximo e que
ele será "uma" etapa, sem compreender que outros, supos­
tamente desgarrados, atingirão, por caminhos diversos, cumes
também elevados e que todos se reunirão na senda final que
conduz ao monte supremo ... E meu olhar volta para este
monte de iluminação onde os Sublimes trabalham. Meu co­
ração entoa o AUM carregado de esperança que o mestre

45
particular - aquele cujo auxílio vem responder à atual ne­
cessidade de meu coração - reconhece facilmente.
No Sanctum Celestial, para mim representado pela ca­
tedral que acabo de descrever, o apelo é sempre ouvido e
eis que, num AUM mais possante, que atravessa o espaço e
vem ressoar contra o vitral mais próximo, enquanto o exal­
tante perfume do mais puro incenso me envolve, o mestre
entra em meu santuário privado e, após me haver abençoado
com sua mão e seus olhos sombrios, senta-se diante de mim.
Devo então tomar o lápis de minha atenção e colocar diante
de mim as brancas páginas de minha memória. Vou escre­
ver, ditadas pelo mestre, as notas de minhas lembranças.
Estou pronto e ele fala:
"Compete-me hoje o dever de te esclarecer sobre um dos
grandes princípios que tiveste o privilégio de aprender pelos
ensinamentos rosacruzes. Já me referi a ele, mas devemos
voltar ao assunto, por ser o mesmo fundamental para a ques­
tão mística. É a respeito da visualização que pretendo nova­
mente falar.
"O erro geralmente cometido pelo discípulo; e que difi­
culta tragicamente seu desenvolvimento interior, consiste na
"dispersão" da pesquisa, mesmo quando conduzida com a me­
lhor das intenções. Ora, a dispersão é precisamente o con­
trário da concentração e, conseqüentemente, o oposto da vi­
sualização. Aquele que dispersa esforços seguindo múltiplos
caminhos, em leituras irrefletidas, no estudo de técnicas di­
versas, nada obterá além da ilusão de uma mente sobrecar­
regada e da decepção de repetidos fracassos na prática. Isto
não significa que se deva adotar apenas um caminho para
atingir o conhecimento, se bem que esta seja, evidentemente,
a solução ideal para se obter a eficácia e o sucesso. O conheci­
mento pode ser recolhido em diversas fontes autênticas, desde
que tais fontes não ensinem técnicas diferentes, válidas em
si, mas geradoras de conflitos interiores e de confusão estéril
quando misturadas umas às outras, pois, ao contrário do que
possam aparentar, jamais se completam e são radicalmente

46
distintas, mesmo quando, em última análise, resultado seme­
lhante "parece" ter sido atingido.
"Por conseguinte, o primeiro passo a ser dado para a
conquista da eficiência da vida iniciática - considerada aqui
exclusivamente em sua fase prática - seria a escolha atenta
e definitiva de uma determinada técnica. Desta forma, evi­
ta-se o perigo que mencionei há pouco: a dispersão. Quantos
ainda estão ligados aos hábitos do psiquismo! Eles não po­
dem desligar-se de seus sonhos. As emoções que buscam estão
impregnadas de vago sentimentalismo e se comprazem com
um pieguismo paralisante. Eles chamam de "conhecimento"
os fantasmas de uma satisfação intelectual ou emotiva na
qual todas as formas de sentimentos obscuros se misturam
contra a sua vontade e seguem, numa ilusão que acreditam
ser verdade, em busca de ilusões semelhantes, por vezes de
discípulos dos quais se supõem pontífices e cuja veneração
lhes encherá de satisfação a consciência submersa na falsa
sabedoria. Quantos discípulos, depois de haverem percorrido
importante etapa, são levados por uma nostalgia infantil a
retornar a esta etapa ilusória e quão grave é sua responsa­
bilidade quando o conhecimento adquirido e não compreendi­
do que aureola o caminho supostamente percorrido consegue
surpreender a ingenuidade de uma alma imprudente. Em tudo
isto se situam a ilusão e a ineficácia da dispersão. A visuali­
zação, pelo contrário, supõe escolha feita e técnica adotada
definitivamente.
"Se assim for, então a potência da visualização se desen­
volverá a cada passo dado no caminho escolhido e os resul­
tados serão obtidos com facilidade crescente. Se o processo
se desenvolve de maneira conveniente, desde as primeiras
tentativas o esforço desenvolvido será coroado de sucesso,
mesmo parcial, o que constituirá um grande encorajamento.
Ao nível do subconsciente, o fato de pertencer a uma orga­
nização determinada já representa uma visualização em si.
O eu interior sente-se integrado numa assembléia determi­
nada. Todos os pensamentos são condicionados por esta ade­
são, originariamente voluntária, a um determinado caminho

47
iniciático e as reações profundas do ser seguem uma direção
precisa no rumo de um objetivo inicialmente pressentido e
em seguida cada vez mais "formulado" e diferente à medida
que a progressão continua. Esta "ambiência interior" tem,
portànto, seus prolongamentos no método de visualização
adotado, e este, a partir de seus poucos elementos básicos,
principalmente observação e imaginação criativa, pode de­
senvolver-se progressivamente e chegar a uma técnica pes­
soal definida pelos dados interiores próprios a cada indivíduo.
"Faz-se necessário, portanto, progredir lentamente e uma
visualização pormenorizada será por muito tempo essencial.
Tendo-se em mente o significado da observação, não haverá
problemas quando se quiser proceder ao quadro mental. So­
bre a tela virgem, após terem sido traçadas as linhas princi­
pais, cada detalhe será colocado em seu lugar e cada cor terá
sua tonalidade exata. O pintor, aquele que visualiza, realiza
um trabalho exaltante. Ele cria para si próprio o quadro mais
magnífico, que exaltará seu entusiasmo, suas emoções supe­
riores e, finalmente, sua alma. Seu quadro é um "mandala"
que ele percorre até o centro, onde está situada a verdade
que ele busca. Ele aprecia cada etapa, mas as esquecerá assim
que chegar ao objetivo, à última comunhão, que lhe dará
força e eficiência.
"Por que insistir tanto na visualização? A resposta é sim­
ples: a visualização é a chave de todas as coisas secretas. É
o caminho do conhecimento, é a fonte de todos os poderes e
de todas as realizações espirituais, mentais e até mesmo ma­
teriais. Ela é o princípio fundamental sobre que se apóiam
os demais princípios, qualquer que seja seu domínio.
"Esta chave que abre todas as portas é, portanto, a fer­
ramenta essencial dada ao homem para que realize seus legí­
timos desejos e, acima de tudo, para sua evolução espiritual.
É evidente que uma visualização realizada de forma correta
produzirá sempre o resultado esperado, exceto quando sua fi­
nalidade for de alguma forma prejudicial a outrem ou àquele
que a realiza sem medir as conseqüências nefastas que ela
poderia acarretar. Apenas uma visualização ligada à evolução
48
espiritual será sempre eficaz, devendo-se observar que o pro­
gresso assim obtido sera função do grau atingido anterior­
mente na Senda. De qualqúer forma, obtém-se sempre uma
iluminação maior. Nenhuma visualização é inútil. Se, por
qualquer motivo, a realização esperada não pode ser conce­
dida, a explicação virá no instante mesmo da visualização
e, caso isto não aconteça, mais cedo ou mais tarde sentir-se-á,
de uma forma ou de outra, uma inspiração, que atrairá a
atenção para outro caminho ou outra solução.
"Tu agora possuis o material para úteis reflexões, estan­
do o problema da visualização inteiramente esclarecido. Se
cada um compreendeu bem sua importância, um grande pas­
so terá sido dado, mas insisto em que a prática deve ser
observada. O conhecimento dos princípios é inútil quando
puramente teórico. Que a profunda paz esteja sempre em teu
caminho!"
O mestre levantou-se. Levanto-me também, colocando a
mão esquerda sobre o coração e a mão direita sobre a es­
querda, e, após um último olhar de adeus em minha direção,
ao som do AUM que reinicia, ele me deixa só em meu san­
tuário privado 1 e o sinto em profunda meditação já sobre o
monte da iluminação, ao longe, local que vejo com fé, con­
fiança e veneração.
Já é tempo de retornar à minha habitação terrestre e,
curiosamente, sinto que isto acontece, de certo modo, por in­
termédio de uma espécie de visualização inversa. A "descida"
realiza-se, na realidade, gradativamente, e sinto que me é
possível diminuir ainda mais a "tomada de consciência obje­
tiva", a fim de analisar as etapas e que, neste caso, a "vi:
bração" da lembrança se desenvolve em imagens mais nume­
rosas, mais claras e mais precisas. Eis uma lição que se deve
ter sempre em mente: na visualização e em todas as suas
fases, a palavra "lentamente" é uma expressão-chave.
Os comentários do mestre sobre o princípios da visuali­
zação levam-me a pensar, enquanto os transcrevo, que o fruto
de uma experiência pode ser útil a muitos, e não hesito em
reproduzir aqui a minha.

49
Os ensinamentos da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. lem­
bram que tudo pode ser solicitado ao Cósmico, desde que o
pedido contenha, em partes iguais, o interesse pessoal e o
altruísmo. Ora, esta exigência tem sido uma fonte de pro­
blemas para muitos. Na realidade, onde termina o interesse
pessoal e onàe começa o altruísmo? Se alguém tem necessi­
dade de dinheiro para realizar um pagamento inadiável, como
poderia ele definir, nas reflexões que precedem a visualização,
o que, em sua solicitação, seria útil a outrem? Para esta per­
gunta há sempre uma resposta possível. No caso mencio­
nado, se o pagamento não puder ser realizado dentro do pra­
zo, alguém irá sofrer, seja aquele a quem a importância é
devida, e juntamente com ele talvez seus colaboradores e em­
pregados, seja, através do devedor, a família que dele depen­
de. Como então proceder? Como ter a certeza de que este
pedido pessoal, ou outro qualquer, poderá ser feito? Foi um
método pessoal, concebido quando ainda era um neófito, que
por muito tempo utilizei e que por vezes utilizo, que me ajudou
consideravelmente. O método consiste no seguinte:
O Cósmico, por definição, é tudo. É o universo inteiro
e tudo o que nele se contém, em particular a terra que habi­
tamos e a humanidade, tal como é em seu conjunto de ca­
racterísticas, as boas e as que, por falta de sabedoria e de
compreensão, são "julgadas" menos boas. O Cósmico é, por­
tanto, você, eu e os demais. Por conseguinte, se dirijo um
pedido ao Cósmico, estou dirigindo meu pedido ao universo
inteiro, inclusive à humanidade, a você e aos outros. Ora,
para que meu pedido seja compreendido e aceito pelo Cós­
mico, é preciso que seja transmitido através da visualização.
No capítulo introdutório, expliquei este ponto e novos es­
clarecimentos foram feitos pelo mestre sobre o assunto. Se
vou apresentar-me a vocês ou a qualquer assembléia humana
para efetuar meu pedido, e se devo formulá-lo em voz alta,
sobre um estrado, é evidente que, se não me tenha dado conta
plenamente de que meu desejo é absurdo, impossível de ser
satisfeito ou prejudicial a alguém, no momento de subme­
tê-lo a vocês terei então a certeza, ou ainda durante as pri-

50
meiras palavras de minha exposição diante de vocês. A luz
descerá sobre mim e eu me retirarei, reconhecendo a futili­
dade de meu pedido.
Tendo meditado sobre este aspecto das coisas, resolvi
agir, em todas as minhas visualizações, mesmo aquelas que
meu raciocínio acreditava bem fundadas, como se meu pe­
dido devesse ser apresentado solenemente diante de uma as­
sembléia humana e logo constatei que o meio empregado aju­
. dava-me a esquecer por completo meu desejo após havê-lo
visualizado desta maneira; nenhum rosacruz ignora ser isto
.absolutamente necessário para que o Cósmico "ouça" o pe­
dido que lhe é dirigido. Qualquer que seja o desejo que devo
expressar ou o objeto de meu pedido, tenho agido da seguinte
forma:
Visualizo um grande edifício que se torna, durante a vi­
sualização, a "residência" do Cósmico. Subo a alta escada
que conduz a uma imensa porta, a qual atravesso, e, depois
de percorrer um grande vestíbulo, aproximo-me de um ofi­
cial idoso, vestido de negro, para dizer-lhe que venho "formu­
lar" um pedido ao Cósmico. Ele me entrega um formulário
em que devo apor meu nome e endereço. Em seguida, ele
entrega o formulário a um oficial mais jovem, que se dirige
para uma porta de madeira de duas folhas, que ele abre pela
metade para estender o documento a uma mão que o recebe
e fecha a porta. Consigo, entretanto, ouvir um orador que
apresenta com voz forte uma requisição à assembléia que não
posso ver. Sento-me num banco para rever minhas idéias. A
espera não é longa. A porta de madeira abre-se e sou cha­
mado. Levanto-me. Entro numa sala de dimensões gigantes­
cas e, precedido por um oficial, atravesso o corredor central,
enquanto milhares de cabeças se voltam em minha direção,
olhando-me atentamente enquanto eu passo. Reconheço al­
guns dos que irão ouvir minha solicitação: lã estão, notada­
mente, minha família, meus amigos, meus conhecidos, meus
colaboradores, meus mortos, e todos me olham com par­
ticular indulgência. Ao fundo, sobre o estrado para o qual
me dirijo, formando meio círculo por trás do mesmo, estão

51 "\
sentados os mestres que venero, brilhando em cima deles a
nuvem da santa presença. Eis-me sobre o estrado, diante des­
ta incontável massa de "espectadores" cujos olhos e atenção
estão fixados em mim. Sinto a minha volta a presença da­
queles que estão mais pertó· de mim. Sinto atrás de mim a
santa presença ...
Então, no silêncio absoluto, tendo pronunciado meu
nome, exponho distintamente meu problema diante da assem­
bléia e escuto minha voz repercutir ao infinito sob as eleva­
das abóbadas. Tão logo termino, acrescento as seguintes pa­
lavras: "Confiante e seguro de vossa compreensão, transmi­
to-vos meu pedido. Assim seja!" Deixo o estrado, saio da sala,
atravesso o vestíbulo e desço a escada, voltando ao meu cons­
ciente objetivo.
Vários pontos devem ser observados com referência a esta
visualização:
Inicialmente, logo que apresentei meu pedido e abando­
nei o estrado, imediatamente deixo de pensar nisso, voltan­
do-se minha atenção unicamente para a assembléia, no meio
da ·qual passo, para a porta, que atravesso, para o vestíbulo
e, finalmente, para a grande escada. Uma vez de novo no
plano objetivo, volto a outras ocupações e espero confiante­
mente a resposta. Sei que ela virá, de uma forma ou de outra,
através de um sinal, de uma intuição ou de uma proposta,
por exemplo. Sei que minha solicitação está em ótimas mãos,
as do Cósmico, que jamais deixa um pedido sem resposta. Se,
uma vez sobre o estrado, não fui atingido por nenhuma dú­
vida e se assim prossegui até o fim, seguro de mim mesmo,
a resposta virá com certeza.
Diante da assembléia, meu pedido foi formulado de ma­
neira completa, precisa, detalhada. Nada ficou vago. Expus
meu problema em todas as suas fases, sem exceção e sem
dissimular nada que pudesse tomar nulo o meu pedido.
Em nenhum momento sugeri uma solução à assembléia.
Não disse como meu problema poderia ser resolvido, meu. pe­
dido satisfeito ou meu desejo realizado. Se conhecesse a so­
lução, minha visualização teria sido inútil. Apenas o meu pe-

52
dido foi transmitido ao Cósmico todo-poderoso. Confio em que
o Cósmico saberá como atendê-lo, considerando o bem de
todos, para o meu bem.
Finalmente, para ser eficaz, esta visualização deve ser vi­
vida e viva. É preciso ver a assembléia, senti-la, ouvir nossa
própria voz sem perder de vista aqueles que ouvem o pedido.
É preciso viver cada fase da visuaHzação como se ela fosse
real, e ela o é, pois o Cósmico, repito, é tudo e é a ele que nos
dirigimos através desta visualização.
Espero que adotem este método, que durante muito tem­
po o venho adotando. Não há razão para que ele, tendo sido
sempre eficaz para mim, não o seja para os outros. Além
disso, ele contribui para o desenvolvimento da concentração
e se, inicialmente, a visualização é longa, com a prática ela
se tornará fácil e rápida, sem que sua eficácia diminua. Que
ela lhes traga as imensas satisfações que me trouxe! Este
voto ardente eu formulo a cada um de vocês na presença do
Cósmico, no momento em que encerro as primeiras conside­
rações sobre a mensagem recebida no Sanctum Celestial ...

53
CAPÍTULO V

A LEI DO SILtNCIO

V
Antes de minha partida para o Sanctum Celestial, reli
esta manhã o Liber 777. Freqüentemente nos são feitas per­
guntas que demonstram como este folheto é mal compreendi­
do, lido muito rapidamente e, às vezes, de maneira incorreta.
Entretanto, ele condensa tudo o que se deve saber sobre o
Sanctum Celestial. Alguns membros da Ordem Rosacruz -
A.M.O.R.C. perguntam se podem efetuar contatos fora dos pe­
ríodos diários de serviço ou do período quotidiano de con­
tato especial. Alguns nos pedem explicações mais precisas so­
bre a purificação exigida para a realização destes contatos.
Apesar de terem sido esses assuntos tratados, implícita e ex­
plicitamente, na presente obra, julgamos útil voltar a eles,
citando uma passagem do Liber 777 que trata exatamente
deste assunto:
"Podemos manter contatos por períodos mais curtos ou
mais longos que os indicados ... Nossos membros podem en­
trar em contato com o Sanctum Celestial em períodos, do
dia ou da noite, diferentes daqueles indicados .. . pois sabe­
mos, por experiência, após anos de preparação, que na reali­
dade centenas, talvez milhares, de membros elevar-se-ão ao
Sanctum Celestial e aí ficarão em todas as horas do dia e da
noite, levando em conta as variações da hora entre os diver­
sos países. Entretanto, sempre que quiserdes entrar em con­
tato, no silêncio, com o Sanctum Celestial, devereis proce­
der como dissemos. Entrareis então em contato espiritual com
outros membros".
Não se poderia ser mais claro. A regra apresentada é
completa: purificação pela água e prece indicada no Liber 777.

55
O método é pessoal e os detalhes da visualização são, na rea­
lidade, deixados à escolha de cada um, mas, uma vez que
esses detalhes tiverem sido escolhidos e utilizados com su­
cesso, o caminho é descoberto e, em todos os casos, constata-se
que ele está em ressonância com o eu interior e com nossas
aspirações profundas. Finalmente, todos sabem que a visuali­
zação pode ser mais fácil em determinados momentos. Ela
será particularmente facilitada e seu resultado particular­
mente rápido, se o desejo do contato for sincero e "intenso".
Sabendo, portanto, que se pode representar o Sanctum
Celestial sob o aspecto que se escolher e tendo em mente que
eu escolhi para minha visualização uma catedral, a que em­
prestei a aparência externa e interna aqui descrita, torna-se
mais fácil realizar a visualização pessoal. Você poderá decidir
o que será para você a representação do Sanctum Celestial,
poderá interessar-se mais por determinados aspectos, e é nisto
que sua visualização se torna pessoal e que você aprende a
definir seu próprio caminho.
O Sanctum Celestial o espera a qualquer momento e,
como eu, você "fará dele o fundamento de sua vida mística.
Se, como eu, você lhe der a forma de urna catedral, nela en­
contrará o seu santuário, como eu encontrei o meu e no qual
estou neste instante, após haver seguido a regra definida no
Liber 777 e tomado o meu "caminho".
São quase quinze horas sobre a terra e, aqui, o sol res­
plandece por todos os lados em volta da catedral de minha
visualização. Meu santuário privado encontra-se inundado
por seus raios e estes, atravessando o grande vitral, reves­
tem-se milagrosamente de mil cores, predominando o violeta.
Aqui chegando, constatei com surpresa que um mestre me
esperava, sendo ele, sem dúvida, que originou o intenso de­
sejo que senti de me elevar, nesta tarde de sábado, e de vir
recolher-me ao ·sanctum Celestial.
O mestre, tão düerente da imagem que se faz dele sobre
a terra, é um dos mais conhecidos dentre aqueles citados
pelos místicos, porém não lhe revelarei o nome, bem como
não mencionarei o nome de outros mestres que, aqui, deparo.

56
Uma-descrição? Para que servma senão para infringir a rí­
gida lei da impersonalidade à qual os autênticos mestres são
tão vinculados, a ponto de afastarem de si todos os que se
inclinam para render-lhes culto pessoal? Apenas a mensagem
é importante e, quanto a ela, nenhuma reserva é feita, ne­
nhi...'ll limite é fixado ao que é permitido transmitir. . . Eu
ouço o mestre, sem jamais interrompê-lo:
"Eu quis te ver para falar-te sobre a lei do silêncio, a
fim de que insistas mais neste assunto tão importante para
aqueles que buscam uma iluminação maior. Estás perfeita­
mente cônscio de que a missão dos mestres - de todos os
mestres - é ajudar o homem a descobrir seu eu interior,
a divindade de sua alma, o único verdadeiro mestre: aquele
que existe dentro dele. Na realidade, não existe outra razão
para a presença humana sobre a terra. O homem deve
conscientizar-se do que é. A alma-personalidade deve tomar
consciência de si própria. Todas as circunstâncias, todas as
emoções, todas as experiências visam a este único fim e os
mestres têm como responsabilidade guiar o homem para esta
descoberta, para esta aproximação do Eu, principalmente
quando seu passo errante no deserto das provações e dos pro­
blemas insolúveis o levou para um caminho no qual, final­
mente, ele iniciou uma metódica progressão. Ora, mesmo no
caminho, os hábitos prejudiciais do passado conservam sua
força e o discípulo avança por crises, indo alternadamente do
materialismo mais derrotante às fases menos razoáveis de
um misticismo fanático, exacerbado. Existem progressos, sem
dúvida, mas como são lentos e imperfeitos!
O objetivo primordial do discípulo deve ser a busca do
equilíbrio. É preciso que se estabeleça definitivamente nele
um ponto de encontro entre o material e o misticismo, entre
o físico e o espiritual, de tal maneira que o misticismo seja
controlado pelo material, o espiritual pelo fí.sico e vice-versa.
Não existe outra solução para que o caminho seja seguido de
maneira real e eficaz; o discípulo deve situar-se sempre neste
ponto de apoio, de junção, pois este é o único meio de atingir
o fim. Um dos pontos do triângulo é o material, o outro é o

57
espiritual e o terceiro ponto é o próprio discípulo que, por
conseguinte, evolui de maneira eficaz e real, apoiando-se uni­
camente no equilíbrio entre os outros dois pontos.
"No triângulo formado pelo material, pelo espiritual e
pelo discípulo, o quarto ponto é indicado pelo encontro das
três perpendiculares traçadas de cada vértice ao lado oposto
e este quarto ponto, que confere ao processo místico suas
bases perfeitas, nas quais se encontram e se conjugam os
outros três, é a lei do silêncio. Nele se concentram a força
e a luz, nele se produz a comunhão interior, o contato com o
Eu. Este ponto central é um núcleo de potência infinita, de
equilíbrio absoluto, de conhecimento perfeito. A Bíblia lembra
o poder do silêncio numa fórmula curta, mas significativa:
"Entre no silêncio e saiba que eu sou Deus". Pois é "no si­
lêncio" que se reconhece "aquele que é": a presença divina,
o eu interior, o Eu.
"A prática do silêncio é uma constante obrigação para
o místico. Afastando-se das agitações do mental, distancian­
do-se de tudo o que é "exterior", ele entra por alguns ins­
tantes em si mesmo para "coordenar", isto é, para recolher
a direção e a luz do centro para onde converge, em harmo­
niosa combinação, a essência de todos os dados espirituais,
mentais e materiais que constituem sua existência. Eviden­
temente, a prática do silêncio é essencialmente passiva. Para
receber é preciso calar e o mental deve conservar-se mudo,
o que significa que nenhuma idéia intuitiva se deve mani­
festar e que o curso dos pensamentos não deve tomar uma
direção determinada. Produzir-se-á o contrário. Não existe o
vazio absoluto. Basta, portanto, adotar a atitude de um es­
pectador e "ver" sem participar. O mental não interrompe
Jamais seu curso, da mesma forma. que os sentidos nunca
deixam de funcionar, mas pode-se não ter consciência do
trabalho mental e não perceber as impressões sensoriais. Al­
guns dizem que não conseguem concentrar-se, que percebem
de repente que seu pensamento não parou de funcionar. Isto
evidencia um erro de compreensão. Na realidade, eles obser­
vam repentinamente que o mental prosseguiu sua obra, con-

58
cluindo que, por isso, não se concentraram. Esquecem porém
que, antes deste "repentinamente", eles estavam "longe", mais
precisamente, "no silêncio da alma". Este silêncio é rompido
no instante do "repentinamente", isto é, quando eles toma­
ram conhecimento, objetivamente, de que o mental está tra­
balhando. Ora, repito, o mental nunca deixou de funcionar,
mesmo durante o período de silêncio, mas ele o fazia sem que
disto se participasse ou se tivesse consciência.
"Portanto, entrar no silêncio é não participar mais, não
ter mais consciência objetiva dos processos mentais e físicos
cuja atividade é ininterrupta durante toda a existência hu­
mana, e é importante lembrar que, caso voltemos a ter cons­
ciência desses processos, o período de silêncio termina, mas
anteriormente estávamos de fato "no silêncio".
"O período de silêncio pode durar apenas alguns segun­
dos, sob o ponto de vista humano. A sua duração não tem
importância. Apenas um segundo de verdadeiro silêncio ao
nível do Eu basta para a manifestação de uma força e de
um conhecimento infinitos que, sem serem imediatamente
percebidos, se desenvolverão em seguida de mil maneiras na
vida consciente, sem que seja possível ou necessário atribuir
tais resultados aos períodos de silêncio. Durante estes pe­
ríodos os mestres agem, incitando, guiando, estabelecendo as
condições para urna compreensão maior. É no silêncio da
alma que trabalhamos a serviço do discípulo, para que seus
esforços resultem numa progressão mais rápida e mais eficaz.
"Tudo é útil na vida iniciática: a teoria e a prátiS!a, a
leitura e a experiência, a discussão e o recolhimento, po­
rém, quando há desequilíbrio, teoria explicativa demais e
pouca prática, leitura demais e pouca experiência, discussões
demais e pouco recolhimento, o esforço torna-se vão. Equi­
líbrio e silêncio devem caminhar juntos. Um completa o outro
dando-lhe seu valor próprio. Anota atentamente estas obser,
vações e insiste sobre sua importância. Lembra a cada um
os seus deveres ...
"Eu te falei sobre o aspecto interior do silêncio, porém
este, como qualquer lei ou noção iniciática, possui um as-

59
pecto exterior, que o equilibra. "Não dispersa teus pensamen­
tos com palavras inúteis", proclama a sabedoria egípcia. Sa­
ber calar é uma força em todos os domínios, sobretudo no
domínio da espiritualidade. A qualidade de místico não pode
ser atribuída aos tagarelas incapazes de· dominar o fluxo de
suas palavras, mesmo sua mordacidade, e que seguem seu
caminho desordenado, cheios de prazer pela contemplação de
si mesmos, voando de um a outro, e a outros ainda, falando
de tudo e de nada, sobretudo de si próprios, de suas opiniões
e julgamentos por vezes não solicitados, satisfeitos por se
suporem a par de tudo e por mostrá-lo. Que dizer então des­
ses seres estranhos, sempre à espreita do que eles acreditam
ingenuamente ser um escândalo e das imperfeições de seu
próximo, que se perdem em palavras vãs sobre uns e outros,
numa falsa atitude ofuscada, enquanto os inunda a alegria
de maldizer ou de caluniar, esquecendo o pó que os cega!
Estes não são místicos e terão que aprender - a duras penas
- que não se pode violar, sem graves conseqüências, a divina
lei do amor.
"O silêncio! Ele deve ser a lei do homem em quaisquer
circunstâncias, e naturalmente, em primeiro lugar, a lei do
iniciado. Este deve dissimular seu estado e sua qualidade
diante daquele que não pode compreender ou para quem uma
tal revelação teria apenas o efeito de suscitar a curiosidade
ou uma forma qualquer de culto pessoal. O verdadeiro inicia­
do não procura demonstrar esta qualidade, exceto diante de
quem puder reconhecê-lo e colocar-se em ressonância· com
ele. Para todos os outros, inclusive os discípulos incapazes de
evoluir acima das aparências, ele se esforçará por aparecer
sob um aspecto puramente profano, exagerando-o mesmo,
para desencorajar aqueles que não estão preparados. Ele agirá
desta forma até que, tendo percebido, através da tela erguida
diante de si, a verdadeira natureza do iniciado e tendo desta
forma estabelecido a ligação mística com o mesmo, ele esteja
pronto para a comunhão qu.e o iniciado saberá reconhecer e
cuja intensidade deverá ser então aumentada ao extremo. Tal
é a forma que deve ter, para o iniciado, a lei do silêncio e,

60
num menor grau, esta mesma lei se aplica ao estado de dis­
cípulo. O discípulo mais avançado, quando o é realmente,
nunca procura aparecer como tal diante de outro discípulo
menos evoluído. Pelo contrário, ele se coloca à altura deste.
Ele não procura ser compreendido, mas se esforça por com­
preender. Ele não quer ser admirado ou, orgulhosamente, "pa­
recer" dissimular aquilo que não pode revelar, sem prejuízo,
a quem se encontra menos avançado no caminho. Ele ajuda
os outros a compreender melhor o grau a que chegaram, e
não o nível onde se encontra. Para o discípulo, tudo isto re­
presenta a lei do silêncio.
"Sob o ponto de vista prático, atinge-se mais facilmente
o silêncio interior pelo som vocal OM. Escuta uma grande
lição sobre os mistérios de OM. Ela te é dada por um mestre
oriental nos mesmos termos por ele empregados e talvez tu já
tenhas tido acesso a sua elevada sabedoria:
"Nosso dia de consagração começa com OM. Nós o en­
cerramos igualmente com a prolongada entonação da pala-
. vra �ística OM, seguida de uma meditação. OM é descrito
como o início, o meio e o fim, não apenas das Escrituras,
mas de todas as coisas da criação. Escrituras sagradas, como
os Vedas, começam por OM e terminam todas por OM. Não
exlste um Mantra, um ritual ou um culto que não esteja, de
uma maneira ou de outra, ligado à Sílaba Sagrada OM. Ela
é a vida e a alma de todas as farmas e de todos os nomes.
Pode-se, portanto, dizer: "Repetindo a Sílaba Sagrada OM,
estamos repetindo todas as Escrituras do mundo inteiro".
Aliás é o que afirmam os Mandukya Upanishad: "OM é, em
toda a verdade, o início, o meio e o fim de tudo". Conhecen­
do-se OM desta forma, atinge-se, sem dúvida possível, a Uni­
dade com Deus. No início era o Verbo e o Verbo estava com
Deus e o Verbo era Deus, diz também a Santa Bíblia. Como
são estas palavras, referindo-se ao Verbo, impressionantes e
criadoras de alegria! E OM, a Sílaba Sagrada, não é outra
coisa senão o símbolo do Verbo.
"Pode-se dizer : "Por que não poderia ser Cristo ou
Krishna, Rama ou Zoroastro, Buda ou Maomé, X ou Y? Por

61
que é apenas a Sílaba Sagrada OM?" Eis a resposta: porque
OM é o som mais simples, o mais natural, aquele que envolve
tudo, a tal ponto que pode ser pronunciado pelo mudo e pelo
surdo. É a palavra empregada em todas as religiões, sob uma
ou outra forma, e é uma palavra expressa em todas as lín­
guas. OM, Amém, Ahmin: todas se referem ao mais Elevado
Estado de Consciência da verdade. Quando dizemos Rama,
Krishna, Buda, Cristo, Maomé ou Zoroastro, estes são nomes
santos, isto é, representam Deus sob suas diversas formas per­
sonificadas. O aspecto Universal, Cósmico, de Deus, de Deus
que não tem forma, que não muda e que não tem causa, é
indicado apenas por OM.
"Para pronunciar-se OM, nenhum esforço é necessário,
nenhum exercício se impõe. Freqüentemente ele se exprime
sozinho. Vemos a criança repeti-lo quando está feliz. Qual­
quer pessoa doente e todos aqueles que sofrem, repetem-no
inconscientemente, como se lhes trouxesse algum alívio. A
repetição pode não ser exata, pode comportar ligeira variação,
mas guardará muita semelhança com OM.
"No Canto Celestial da Bhagavad Gita, o Senhor Krishna
diz: "Aqueles que meditam sobre a Sílaba Mística OM, es­
quecendo o resto, terão em pouco tempo a percepção de Deus".
Diz ainda: "Repetindo OM, a única Sílaba Eterna, e medi­
tando em Mim, aquele que o faz, abandonando seu corpo,
atinge as Bem-Aventuradas Alturas, de onde não há retorno".
"OM não é uma simples palavra comum. É palavra mís­
tica, palavra possante, dotada de força secreta e de energia
latente. É uma palavra que dá vida e que desperta a alma.
Repetindo OM, constatamos que ele vem das profundezas do
ser e escorre de todas as células. É uma palavra que jamais
poderá ser separada da vida. O fato mais impressionante,
quer se acredite, quer não, é que a palavra mística OM se
exprime e se manifesta sempre através de nós, ou melhor,
através de todas as criaturas e de todos os sons da terra.
"Na própria respiração, o Soham opera dia e noite. "SO"
durante a inspiração e "HAM" quando se explica. Em SOHAM,
as consoantes S e H (H com A, isto é, HA para representar

1 62
o som completo) indicam o mundo grosseiro, material, e a
vogal O juntamente com o som nasal M representam o Es­
p_írito, ou Verdade. Nesta palavra, o som OM está na expi­
ração, proclamando inconscientemente e de maneira inces­
sante, a cada respiração: "Eu sou a Verdade, eu sou a Di­
vindade, eu sou o Sopro Universal, o UN primeiro e único.
Eu sou o tudo em tudo, a Presença imanente em cada co­
ração, bem como a criação inteira". Escuta, reconhece e que­
da silencioso! OM! OM! OM!
"A essência da mensagem indica que OM é o Símbolo
da Energ'ia Divina, da Presença Interpenetrante. Como tal,
não pode estar confinado num indivíduo ou numa religião.
Ele é a herança de todos os filhos de Deus, da humanidade
inteira. Consciente ou inconscientemente, ele se exprime e se
manifesta em nossos pensamentos, em nossas palavras e em
nossos atos. A Paz infinita (O Equilíbrio Eterno) e o poder
sem limites nos serão dados quando pudermos reconhecer
conscientemente toda a sua significação e o seu valor e nos
conciliarmos, nos harmonizarmos com a Palavra Sagrada em
cada instante de nossa vida, para o nosso bem e para o bem
da humanidade inteira.
"Para concluir este assunto, mencionarei a história de
Kalinga Mardana, na qual Krishna matou a serpente de mil
cabeças, tal como é narrada por Swami Rama Tistha. Krishna
pulou no lago e subiu na cabeça da serpente, dançando e to­
cando a Sílaba Sagrada com sua divina flauta. Ele não parou
de tocá-la antes de haver esmagado todas as cabeças da ser­
pente. A perigosa serpente nada mais é do que o mental, na
realidade. As suas mil cabeças são os desejos, as paixões e
as tentações sem-número, tais como a inveja, o rancor, o
ciúme, a cólera, a mágoa, a vaidade, a arrogância, o egoísmo
e outros defeitos. Este é o momento de agirmos como Krishna,
de mergulharmos no lago de nossos seres e de começarmos
a entoar a Palavra Mística OM, esmagando uma paixão após
a outra, dançando com nossos pés e to�ando a flauta com o
ritmo da vida. Quanto mais as esmagamos, mais as paixões

63
se elevam; entretanto, pela prática persistente, sairemos ven­
cedores, como Krishna.
"Esta não é uma história para ser lida frivolamente, e
sim um exercício prático destinado a superar o mal, com
o auxílio do bem e com as vibrações sagradas de OM. É tam­
bém uma fórmula inspiradora que nos leva a pensar que
nossos corpos são representados pelas flautas e que, se deles
retirarmos todas as paixões e idéias de "meu" e "teu", o
Senhor virá cantar através de nós seus Cantos Celestiais de
Paz, de Harmonia e de Bênção.
"Numerosos são aqueles que se perguntam se esta pa­
lavra deve ser grafada OM ou AUM. Na realidade, estas duas
formas são idênticas. OM é a fusão de três sons elementares:
A, Ue M, sendo que A e Use misturam quando pronunciados
juntos, de acordo com a gramática sânscrita.
"Repetindo A, U e M separadamente, veremos que estes
três sons cobrem toda a duração da emissão ou da produção
sonora. A começa na base da língua, no mais baixo limite
da origem do som; U começa no meio, na região próxima ao
palato, e M vem da extremidade, da ponta da língua. Pro­
nunciando a sílaba inteira, todos os órgãos vocais ficam per­
feitamente justapostos. OM é o som fundamental que deu
origem a todos os outros sons da linguagem. Portanto, OM
é a matriz de qualquer palavra.
"Compreender a significação da palavra OM é a coisa
mais importante. As letras, isto é, os sons A, U e M, repre­
sentam os três estágios, ou aspectos, do mundo, que são os
seguintes:

A u M
Brahma Vishnu Shiva
Pai Filho Espírito Santo
Vigília Sonho Sono
Corpo Mente Espírito
Matéria grosseira Sutil Existência causal
Passado Presente Futuro
64
"Com estes tríplices aspectos, observamos como A, U e M
c,obrem toda a nossa vida, em todos os planos. Se conhece­
mos a Palavra Mística OM, conheceremos também, da ma­
neira mais natural, o mistério de Deus, pois esta Palavra
Mística nos leva diretamente à presença do Deus Universal.
"Foi dito linhas atrás que a letra A representa o estado
de vigília, isto é, o mundo grosseiro dos fenômenos; que a
letra U representa o mundo do sonho, da imaginação e da
quimera, e que M representa o estado profundo e incons­
ciente do sono, o mundo desconhecido. Existe, porém, um
quarto estado, além destes. Como será este Estado de Super­
consciência representado por OM? Então, deve-se repetir a
palavra OM, e o resultado da repetição da Palavra Mística
conduzirá ao Quarto Estado, que é o da Consciência Cósmica.
Portanto, repetindo OM, passando por A; U, M, respectiva­
mente estado de vigília, estado de sonho e estado de sono,
no final de cada repetição sentimos em silêncio os maravi­
lhosos efeitos e atingimos, como resultado notável, o Quarto
Estágio. O som resultante da repetição de OM conduz ao mais
elevado estado de Paz, estado este que deve ser objeto de me­
ditação e ser compreendido no silêncio, por intuição.
"A título puramente de esclarecimento, assinalamos que
a repetição de uma Sílaba, uma Palavra Sagrada ou um
Mantra denomina-se, em sânscrito, Japa.
"Para os iniciantes, apenas a repetição pura e simples
de OM, OM, OM, já é útil. . . durante alguns minutos, duas
vezes por dia, especialmente no alvorecer e no crepúsculo,
ou segundo sua conveniência. Ele deve sentar-se sozinho,
numa postura cômoda, conservando a parte superior do corpo
bem reta. Pode escolher um cômodo da casa ou dirigir-se a
um lugar de beleza natural, numa colina, à beira de um
rio ou, ainda, numa praia. A medida que evolui, o místico
deve compreender que há duas maneiras de recitar a Palavra.
Inicialmente, quando se pronuncia o nome de Deus, OM, sen­
te-se um estado de êxtase e, em vez de pronunciá-lo em voz
alta, é preferível fazê-lo apenas com os lábios, silenciosa­
mente. Em seguida, com a continuação, entra-se num tal es-

65
tado de alegria, que não há mais necessidade' de mover os
lábi�. O mínimo movimento torna-se muito difícil. Então,
automaticamente, a repetição com os lábios também desapa­
rece. Em seguida vem o último estado de repetição, com a
respiração. Inala-se OM e exala-se OM, a Luz das Luzes, em
cada alento. Nem mesmo o pensamento o repete mais. Tem-se
apenas consciência de OM, da Presença, que se repete em
cada respiração. Então, quando se possui OM em cada res­
piração, sem nenhum pensamento ou onda no oceal?-o da
Existência, do Conhecimento e da Alegria Absoluta, atingi­
mos as abençoadas .alturas, onde não há mais. inspiração
nem exalação,. mas'apenas a irradiação do Esplendor de Mi­
lhões de Sóis. Nàturalmente, para os iniciantes, é difícil sen­
tir a Presença ria· respiração, mas para aqueles mais avança­
dos, para aqueles que se entregaram a Deus, nada existe além
de Deus. Mesmo eni seu sono eles sentem a Presença, o Soham,
o OM para sempre. presente. Antes de iniciar a repetição de
OM, é necessário compreender a sua significação e identi­
ficar-se com sua essência. A essência é: "Tu és Isto". Deus,
ou OM, não é separado ou distanciado de ti. Tu és uma parte,
uma parcela Disto que existe em UN e tu és Isto. E isto é
o que há de mais importante na Luz das Luzes, esta Presença
Interpenetrante que impregna ;odo o Universo.
"O segundo método é aquele indicado pela análise da
Palavra OM. Entoando-se OM, começa-se por A e o som é
prolongado ao máximo; em seguida, passa-se a U e, final­
mente, a M. Os sons A e U formam, na realidade, um único
som contínuo de O, como o bordão de um instrumento mu­
sical. O canto deve ser tão longo quanto possível, mas não
deve ser realizado com esforço. O som M final deve prolon­
gar-se no silêncio. Cobrindo assim o estado de vigília, o es­
tado de sonho e o estado de sono, o som conduz finalmente
ao Estado Transcendental, graças ao silêncio produzido pela
entonação de A, U e M. Após o som M, deve-se permanecer
o maior tempo possível neste silêncio sem ondas, recomeçan­
do em seguida com A, U, M, que conduz ao silêncio sempre
que terminamos de pronunciá-los, seguindo-se, finalmente,

66
uma profunda meditação. Quando entoamos A, U, M, ele­
vamo-nos acima do passado, do presente e do futuro, e, como
resultado, somos conduzidos ao estado de quarta dimensão,
o da Consciência Cósmica, o objetivo do nascimento humano.
Com a repetição da sílaba completa AUM, todos os órgãos
vocais são atingidos, e ela cobre toda a duração da emissão
sonora. Por isso, diz-se que repetindo OM, estamos recitando
todas as Escrituras do mundo.
"Foram assim explicados, até o presente, dois métodos
importantes e úteis: o OM, para a meditação profunda, uti­
lizando-se a boca, os lábios e a respiração, e o AUM para o
canto em voz alta, prolongando-se os sons A e U, com o M
final estendendo-se tanto quanto possível. Existe um outro
método útil para se manter o fluxo incessante de consciência
divina em meio ao trabalho, diversão ou repouso. Todos gos­
tam de música, de uma ou de outra forma. Quando nos sen­
timos felizes, começamos a cantar um trecho musical, cons­
ciente ou inconscientemente. Em todas as línguas existem
numerosos cantos populares que atraem o espírito e inspiram
a própria alma. Podemos substituir algumas de suas pala­
vras por "OM, OM", ou acrescentá-lo ao som que quisermos,
podendo isto ser feito em qualquer canto. O importante, quan­
do se canta OM ritmicamente em qualquer tom, é permitir
que os sentidos, o mental, o intelecto e o EU se fundam na
Vibração Universal, na unidade da Vida única e Indivisível.
É preciso sentir de maneira estática que nos fundimos no
Deus único, na Paz Eterna, em Sua Luz e em Seu Amor.
"Todos os métodos de repetição de OM levam à medi­
tação e ao silêncio, tendo como ponto final o Estado à.e Cons­
ciência. Na meditação elevada, porém, meditação significa
concentração do pensamento em OM, de maneira especifica,
por dentro e por fora. Deve-se observar o Esplendor Luminoso
que emana de OM e fechar os olhos, e pensar que OM não
está mais fora de nós. Ele e nós somos uma única coisa. Nós
somos OM. O próprio corpo é o aspecto físico de OM. Nós so­
mos a figura OM, a manifestação de OM da cabeça aos pés.
Ouve: existe o crescente no alto da cabeça. Aí se encontra

67
o Sol dos Sóis, brilhando em todo o seu esplendor. Nós nos
identificamos assim com a Palavra Mística OM, meditamos
sobre o grande significado da Vida, da Luz e do Amor. É pre­
ciso cantar em voz alta a palavra OM e, à medida que nela
nos absorvemos, devemos entoá-la apenas com os lábios e,
finalmente, de maneira inaudível, sentindo sua essência den­
tro de nós mesmos. É preciso sentir, durante a inalação, que
absorvemos todos os . raios de luz, expandindo-os e irradian­
do-os, perto e longe, sobre o mundo inteiro, a cada respi­
ração. Que maravilhoso pensamento! Esta meditação deve ser
praticada sobretudo ao alvorecer, diante do sol nascente, e
ao crepúsculo, diante do sol poente. Da mesma forma que os
raios se fundem no sol durante o crepúsculo, o mundo tam­
bém se funde em nós, enquanto nos absorvemos na meditação
profunda.
.
"Para uma meditação ainda mais elevada, devemos me-
ditar sobre o alto da cabeça, onde se encontra a Luz Infinita,
em si, dentro de si e em torno de si. Lá não existe repetição
ou canto de OM, nem mesmo .mentalmente. Não há inspi­
ração nem expiração. Na Luz das Luzes, no centro mais eleva­
do, sentimos inicialmente apenas uma pressão. Então nos
fundimos ainda mais, e até esta sensação desaparece. Sen­
timo.s apenas isto. Esta é a última significação, o último
valor da Palavra Mística OM, o Infinito, o Eterno, o Incom­
preensível Esplendor de Milhões de Sóis.
"Para concluir, mencionarei minha experiência pessoal e
apresentarei meu próprio método de repetição de OM. Com
apenas três repetições de OM, sinto-me elevado às Bem-Aven­
turadas Alturas da Consciência Espiritual. Com o primeiro
OM, esforço-me por harmonizar-me com o passado, o pre­
sente e o futuro, numa única vibração incessante; com o se­
gundo OM, forcejo por elevar-me acima do tempo, do Espaço,
da Causalidade. Entretanto, cada um saberá utilizar sua pró­
pria senda com experiência. Todos esses métodos de repetição
e de cantos de OM levam ao Estado Transcendental, em que a
respiração conduz ao Não-Respir, sendo que o som ou vibra­
ção OM leva ao Grande Vazio do Silêncio sem ondas, à Paz.

68
Profunda que ultrapassa qualquer compreensão, que não- é
entendida pelo espírito mortal e finito, mas apenas pela Ver­
dade Infinita, Eterna e I�ortal existente dentro de nós, pois
ela é o Um primeiro e único, o próprio Conhecimento Total,
a própria Sabedoria Total.
"Possa OM, o sopro da vida para o indivíduo e o sopro
Universal para a criação, abençoar todos os discípulos da
Visão Universal, na qual o mundo inteiro é simplesmente o
Sopro de Deus".
O mestre entoa agora o AUM e leva-me à beatitude da
suprema comunhão, onde esquecimento significa conheci­
mento e abandono, luz. Quando volto a mim, ele não se en­
contra mais lá e eu volto à terra. A medida que me aproximo
do estado de consciência objetiva, a mensagem do . �estre
adquire forma compreensível em pensamentos e palavras, que
transcreverei assim que "chegar", para que nada do que me
foi ensinado fique esquecido, mas antes, com o coração re­
pleto de reconhecimento, direi:
"Que o Cósmico santifique meu contrato com o Sancturn
Celestial."

69
CAPÍTULO VI

CICLOS, DIA SOLAR E EXPERitNCIAS PStQUICAS

'v
Nesta noite, meu santuário privado, por mim concebido
no Sanctum Celestial, encontra-se na meia obscuridade, so­
mente iluminado pelas velas de meu altar, e apenas consigo
distinguir o mestre que veio para instruir-me. Ele chegou
precedido de um AUM sagrado, que em minha catedral re­
presenta o "sinal" dos mestres. Este mestre, de acordo com
a terminologia que adoto, tem o nome de "mestre da expe­
rimentação", pois suas mensagens possuem sempre um ca­
ráter prático, e se suas instruções são seguidas com atenção,
delas tiramos o maior proveito. Portanto, presto-lhe uma aten­
ção intensa, fazendo minhas anotações para, uma vez "lá
embaixo", lembrar-me dos mínimos detalhes. Estou pronto e
o mestre o sente:
"Hoje voltarei a um assunto da maior importância e não
ignoro que, assim agindo, repetirei, às vezes com as mesmas
palavras, o que já te ensinei em outras ocasiões, porém, para
que o conhecimento seja bem assimilado, uma constante re­
petição se torna necessária. Ora, a mensagem recebida é fre­
qüent-emente seguida por alguns dias, e, afinal, esquecida. De
várias maneiras transmitiste o que te ensinei e o lembras
em diversas circunstâncias. Lembrando-te ainda uma veg
esses conselhos, sentirás a significação que têm para os mes­
tres e muitos verão nisto importantíssima informação: que
devem praticar estas instruções se quiserem progredir de ma­
neira eficaz na senda escolhida. Assim, escuta ainda uma vez
minha lição e respeita escrupulosamente minhas diretrizes.
"Muitos sentem grande dificuldade em chegar aos con­
tatos cósmicos, na maior parte das vezes devido à ausência

71

1
de uma técI).ica simples e, no entanto, muito negligenciada.
É sobre isso que te quero talar.
"Que entendemos por "contato"? Deve-se observar que
o termo inclui a idéia de acordo. Estar em contato com qual­
quer coisa significa estar em harmonia, em concordância
com esta coisa. Esta harmonia, naturalmente, pressupõe
igualmente um sentimento de unidade. Podemos, dentro de
certa medida, conservar nossa identidade, mas existe em todo
contato certa dose de qualidades ou condições comuns à coisa
com a qual se está em concordância e a si próprio. Deve haver
uma troca recíproca, senão não existirá o contato. Em física,
existe uma palavra que exprime perfeitamente o que quero
dizer: ressonância. Ela designa a harmonia vibratória, aquela
que existe, por exemplo, .entre dois diapasões de mesma fre­
qüência. Quando um deles se faz ouvir, o outro responde às
vibrações que o atingem.
"O que quero examinar aqui é o contato com o Cósmico.
Inicialmente, devemos voltar a tratar da natureza do Cós­
mico, do que significa exatamente esta palavra, com freqüên­
cia empregada sem uma perfeita compreensão. O Cósmico é.
-esta inteligência suprema em que estão incorporadas, na rea­
lidade, todas as forças, todas as realidades que se nos mani­
festam através dos diversos fenômenos que experimentamos.
Portanto, o Cósmico é a unidade de toda a realidade. t, ao
mesmo tempo, o mundo material, físico, e aquilo que os ho­
mens designam pela denominação de espiritual. A diferença
entre os dois, o material e o espiritual, reside unicamente na
extensão ou na qualidade da manifestação. O Cósmico, na
qualidade de força e inteligência universal, funciona ao mes­
mo tempo de maneira finita e infinita. As manifestações fi­
nitas do Cósmico são uma forma reduzida, limitada, dos fenô­
menos que podemos perceber apenas de maneira objetiva.
Para utilizar uma analogia simples, consideremos uma estrela
no céu. Por maior que possa ser, será sempre muito pequena,
comparada às galáxias dos céus.
"Quando se deseja entrar em contato com o Cósmico, o
que se busca é uma unidade, uma harmonia que não se rela-

12
ciona apenas com uma forma determinada de fenômeno ou
com uma categoria definida de coisas. O que se procura é
supmergir, fundir a consciência no todo, nesse todo do qual
nossa consciência é parte. Esta unidade existe, na realidade,
permanentemente, mas nossa finalid!i.de, quando buscamos
o contato cósmico, é perceber, compreender, sentir esta uni­
dade. A harmonia com o Cósmico requer o despertar da cons­
ciência universal em nós e desta forma poderemos nos elevar
até o grande "todo".
"O Il).isticismo é uma ciência, não só por seu método,
como também pela forma analítica da aplicação de suas téc­
nicas. Os objetivos não são, naturalmente, aqueles que a ciên­
cia clássica busca atingir, não deixando seu método de ser,
por isso, inteligente e sistemático no emprego de certas leis.
Por ser uma ciência, o misticismo foi levado a descobrir que
existem certas condições e certos momentos particularmente
favoráveis aos contatos cósmicos. As manchas solares têm
efeitos d�finidos sobre as emoções humanas e sobre os cen­
tros psíquicos. Ninguém ignora, e a ciência o revelou, que
as manchas solares afetam a atmosfera, retardando as ondas
eletromagnéticas, na realidade diminuindo sua freqüência.
Conseqüentemente, as manchas solares perturbam as emis­
sões de rádio e de televisão, afetando até mesmo, com alguma
intensidade, os cabos submarinos.
"Há vários séculos, os místicos, em particular os rosa­
cruzes, conhecem o efeito das manchas solares sobre o ho­
mem. O homem é um ser eletromagnético. O mundo é um
extenso campo de energias várias. O homem vive neste campo
e todo místico deve saber claramente que a maior parte desta
energia que compõe o homem, e que dele emana, vem do'
sol. Assim, alterando-se as condições do sol, nossas glândulas,
nossos centros psíquicos e nosso eu mental e emotivo são afe­
tados.
"Por outro lado, todos sabem que a lua afeta a gravi­
dade e as marés, mas o místico não pode deixar de saber que
ela tem influência, um efeito polarizante, sobre a natureza
elétrica da energia nervosa. Ela afeta o delicado equilíbrio da
73
aura psíquica. O maior efeito do sol se dá sobre a vitalidade
do ser humano. A lua, por sua vez, tem sua maior influência
sobre o eu psíquico e mental do homem. Quando a lua passa
de nova a cheia, ela reflete ao máximo, neste momento, a
luz do sol. É então que ela se torna mais visível ao homem
e que se manifesta sua maior influência sobre as coisas vivas.
Nos últimos quatorze dias de seu .ciclo, da lua cheia à lua
nova, sua l�z começa a diminuir, chegando ela ao ciclo ini­
cial, ou ascendente, e é então que seus efeitos sobre o homem
são mais positivos. O segundo ciclo, da lua cheia à lua nova,
tem efeitos mais ou menos negativos sobre a humanidade.
Durante o período positivo, são muito maiores as relações da
lua com os raios cósmicos e com as outras forças cósmicas.
"É preciso lembrar que os contatos cósmicos são bem
melhores durante este primeiro período, de lua crescente. É
o melhor período para os exercícios psíquicos e para a pro­
jeção da consciência. Por · outro lado, constata-se que du­
rante este primeiro período, cada pessoa possui um determi­
nado dia que é o melhor possível para a realização dos con­
tatos cósmicos, um dia compreendido entre a lua nova e a
cheia. Cada um deve descobrir este dia por si mesmo, desco­
bri-lo para sua própria experimentação. Neste dia, os centros
psíquicos estão em harmonia com as vibrações cósmicas que
emanam do sol e da lua. A influência da lua sobre as emo­
ções e os centros psíquicos varia de intensidade a cada mi­
nuto. A cada sete minutos há um novo grau de harmonia -
diferente - criado pelo corpo humano.
"Após haver encontrado o melhor dia do período lunar,
deve-s� em seguida aprender a determinar em qual momento
são produzidos os melhores resultados. Existe um antigo prin­
cípio místico que considera o dia do nascimento como o "dia
solar", o dia em que todo o organismo, todo o ser, está em
estreita harmonia com as forças cósmicas. A vida não é so­
mente dividida em sete ciclos de sete períodos; a relação do
homem com o Divino e com o Cósmico possui, por sua vez,
sete graus que são os sete dias da semana, mas é preciso
observar o seguinte: a semana cósmica começa para cada um
74
em seu dia de nascimento, isto é, no dia solar, seja qual for,
de segunda a domingo, e o dia solar é o melhor para revita­
lizar, regenerar as forças vitais.
"Apesar de serem todos os homens seres orgânicos idên­
ticos, existem diferenças funcionais entre eles. Cada um deve
tirar proveito dessas variações pessoais de sua própria natu­
reza e descobrir seu melhor período para realizar os contatos
cósmicos.
"Vejamos agora como proceder para efetuar estes con­
tatos e perguntemo-nos: quais as vantagens que podemos
tirar dos contatos cósmicos? Eis o que devemos fazer inicial­
mente:
"Por ocasião do dia solar, se isto for possível e se as con­
dições meteorológicas o permitirem, devemos sentar-nos ao
sol. Colocar o rosto face ao sol e assim ficar durante alguns
minutos, recebendo seus raios no rosto, no pescoço e nos
braços. Com isto nos colocamos em harmonia com as diver­
sas radiações solares. Algumas dessas radiações são conheci­
das pelo homem: ele as isolou e conhece seu lugar dentro
do espectro eletromagnético; este é um simples ponto de fí­
sica. Outras radiações ainda não foram descobertas pelo ho­
mem, e são precisamente estas que nos permitem entrar em
relação psíquica com o Cósmico. No momento em que nos
encontramos na posição indicada, devemos pedir que nos aju­
dem e nos conduzam de maneira construtiva durante os con­
tatos. É evidente que devemos ser sinceros. Não se deve ten­
tar esconder ao Cósmico o objetivo real de nossa busca. Não
se pode expressar um desejo que não corresponda ao que
intimamente se pretende. O que solicitamos deve ser digno
de nossa consciência. Deve ser algo que já tentamos conse­
guir por nós próprios anteriormente. Caso neste momento
não tenhamos nenhum problema pessoal para resolver, de­
vemos nos oferecer como intermediários para ajudar alguém
e solicitar que nos dirijam, para fazer ou dizer algo que possa
ser útil a alguém.
"Não é necessário sentar-se ao sol sempre que se quer
estabelecer o contato cósmico, apesar de ser este o melhor

75
método para as glândulas e para os centros·psiquicos. Porém,
sempre que realizamos este contato, q�e sentimos esta har­
monia, devemos observar os poucos princípios indicados a se­
guir. Devemos visualizar nossa consciência sob' a forma de
uma espiral ascendente de círculos concêntricos que se ele­
vam cada vez mais alto, representando nossa consciência que
sobe ao infinito. Esta imagem mental simbólica nos '-'.ajudará
a melhor fundir nossa consciência no "todo" cósmico. De­
ve-se evitar qualquer tensão ou posição inadequada. Por outro
lado, as roupas devem estar folgadas, de modo a que não te­
nhamos consciência de sua pressão sobre o corpo. Devemos
escolher uma cadeira ou poltrona onde possamos apoiar a
cabeça e os braços.
"É totalmente falsa a idéia de que não existe nenhuma
relação possível entre o contato cósmico e as realidades da
vida. O desabrochar espiritual deve trazer a felicidade obje­
tiva, física e material. É um erro enorme pretender ignorar
o corpo e seus desejos naturais. Tal maneira de agir destrói
as relações harmoniosas entre o ser físico e o eu espiritual.
O corpo é o veículo do ser interior, que desenvolvemos graças
às diversas experiências vividas na terra.
"A primeira e mais importante manifestação do contato,
da harmonia cósmica, é uma atitude de tolerância. O corpo
sofre uma estranha transformação. Os preconceitos são mes­
clados a uma compreensão até então desconhecida. Aquilo que
não admitíamos, conseguimos suportar com mais facilidade.
Se conseguirmos realil!ar os contatos cósmicos, constataremos
I?,aver atingido a mais rica recompensa da vida, que é a paz
profunda.
"Eis outro ponto que, creio, parecer-te-á interessante: nos
diversos exercícios mist1cos, o discípulo ut111za determinadas
"ferramel),t'as". Ora, para que possamos concluir com per­
feição um trabalho qualquer, devemos saber utilizar estas
ferramentas, devemos compreendê-las. Uma de nossas prin­
cipais ferramentas é a Visualização. Ela está ligada à visão,
se bem que não se trate sempre de algo perceptível aos olhos
físicos, mas uma visão que aparece na tela de nossa cons.
76
ciência sem o auxílio da faculdade visual. Geralmente quan­
do se realiza a visualização, busca-se nas reservas da memó­
ria uma impressão visual com que se compõe uma imagem
mental sobre a tela da consciência. O grau de visualização,
sua perfeição, depende do poder de concentração. Deve-se
conseguir retirar da consciência diversas sensações visuais,
tais como cores, formas, dimensões, bem como diversas sen­
sações ou impressões agradáveis e desagradáveis, de natureza
olfativa e auditiva, defaneira a atingir uma total realização
destas sensações. A:,.,..Yisualização perfeita não é uma imagem
vaga e sem contornos. Tudo nesta imagem deve ser preciso.
Se desejamos visualizar uma sala que conhecemos quando
crianças ou adolescentes, esta imagem deve ser completa, deve
ter a precisão, o realismo e a perspectiva do universo em
três dimensões. A observação é importante para realizar a
visualização perfeita. É necessário que se compreenda o que
se vê para q1;1e, mais tarde, possamos lembrar. Algumas pes­
soas têm uma natural aptidão para a observação, outras de­
vem cultivar essa qualidade. Todos os dias, antes de deitar,
o discípulo deve esforçar-se por lembrar o que viu durante o
dia, no trabalho, durante as compras etc. Caso não consiga
lembrar algo de forma verdadeiramente precisa, é porque não
utilizou suas faculdades de observação.
"Na escola pitagórica, há séculos, todos os estudantes
eram obrigados a rever, todas as noites, o que haviam feito
durante o dia.
"A visualização e a imaginação têm necessidade das im­
pressões recebidas, como base de trabalho. A visualização deve
ter um caráter real. A imagem visual deve estimular todas
as faculdades que têm qualquer ligação çom ela, não somente
a vista, como também as emoções e o próprio eu psíquico.
Não basta apenas ver. É preciso sentir, compreender e co­
locar-se na imagem, tornar-se totalmente subjetivo durante
um ou dois minutos, como se o ser e os personagens imagi­
nários fossem apenas um.
"Quando se visualiza uma pessoa, com o objetivo de se
projetar para ela, é preciso conhecê-la para obter os melho-
77
res resultados. O discípulo deve poder vê-la perfeitamente
em espírito, de maneira qµe a imagem adquira um caráter
real. Portanto, é preciso lembrar sua voz, suas expressões,
suas características, é preciso sentir o aperto de sua mão, e,
caso se trate de uma mulher, é preciso lembrar o odor de
seu perfume. Se, durante a visualização, o discípulo observa
todos estes detalhes, ele notará com que eficiência a sua ima­
gem se realizará. Repito, os princípios psíquicos da visuali­
zação são necessários à imaginação. Se não conseguimos vi­
sualizar antigas experiências com bastante precisão para
acordar a parte emotiva do ser, então jamais conseguiremos
uma criação mental. Nos ensinamentos rosacruzes há um
exercício muito simples destinado a auxiliar a visualização.
·Trata-se do exercício do círculo:
"Deve a pessoa visualizar um círculo de dois metros de
diâmetro e colocar-se no centro deste círculo. Para isto, co­
meça mentalmente por traçar, com os olhos do espírito, da
direita para a esquerda, um círculo em torno de si mesmo.
Esta experiência deve ser freqüentemente feita. Ela é bas­
tante útil para se chegar a uma boa visualização. De qual­
quer forma, a visualização, com a prática, toma-se extrema­
mente fácil, podendo ser assim utÍlizada de maneira criativa.
"Estes diversos pontos foram lembrados de forma muito
sucinta, porém bastante clara, para dar-te elementos sólidos
sobre os quais poderás basear teus trabalhos místicos. Saiba
tirar partido destes princípios, para tornar ainda mais eficaz
teu estudo sobre as leis cósmicas."
Não resisto em fazer a pergunta que me preocupa:
"- Venerável Mestre, nesta perspectiva, o que acontece
com os períodos diários revelados ao público pelo Dr. H. Spen­
cer Lewis, em sua obra O controle de 'si mésmo ·e o destino
com os ciclos da vida?
"- Estes períodos são verdadeiros. Mas, como disseste,
foram revelados ao público, não podendo por isso apresentar
a totalidade do conhecimento reservado aos discípulos avan­
çados das elevadas etapas rosacruzes. Citemos uma analogia
própria ao mundo em que vives. A astrologia, quando diri-

78
gida ao público, mesmo em publicações especializadas, apre­
sent.a mais ou menos bem as tendências gerais consideradas
de acordo com "o signo" em seu conjunto; entretanto, quan­
do o astrólogo se propõe fazer o horóscopo de uma pessoa,
a hora exata do seu nascimento terá que ser por ele conhe­
cid,i. O mesmo acontece com o ciclo diário. Este oferece só­
lidas bases ao homem ém geral e lhe dá todos os elementos
necessários de controle e de sucesso. O discípulo, porém, tem
o privilégio de um conhecimento muito mais preciso e tu po­
derias tê-lo percebido quando te falei sobre o dia solar. Por­
tanto, observa com atenção o que te vou agora explicar, lem­
brando-te, entretanto, de que a designação dos períodos não
muda, que o "quadro" com seus períodos A, B, C, D, E, F e G
não deve portanto sofrer nenhuma alteração.
"Compreenderás logo o que te quero explicar se obser­
vares que "domingo", em inglês, é "sunday" (sun day), que
quer dizer "dia solar". Desta forma, o "sunday", o domingo
dos períodos quotidianos, torna-se o dia solar e este dia, tu
o sabes, é o dia do nascimento. Por conseguinte, se alguém
nasceu, por exemplo, numa sexta-feira, o seu "sunday", do­
mingo dos dias quotidianos, será para ele a sexta-feira, a se­
gunda-feira destes mesmos dias quotidianos será para ele o
sábado, a terça-feira será o que se chama domingo, a quarta­
feira será segunda-feira etc. Os períodos diários tornam-se
desta forma pessoais, aplicando-se a cada um em particular
de maneira precisa, de acordo com o dia do nascimento. Es­
pero ter-me feito compreender. Aplica e faz com que sejam
aplicadas estas instruções. Aqueles que o fizerem sentirão os
notáveis resultados em sua vida espiritual e mesmo em sua
existência em geral. Tenho dito!"
O mestre da experimentação levanta-se. Ele se aproxima
do altar de meu santuário, levanta as mãos acima da cabeça
e entoa três vezes, longamente, o AUM, enquanto eu caio de
joelhos, olhar fixo na nuvem que se forma em torno dele
e que não mais o deixará até que ele se vá. Perto da porta,
ele estende para mim sua mão direita numa última bênção
e eu transponho o espaço até o sanctum de minha habitação

79
terrestre, onde volto à consciência e anoto logo em seguida
as impressões recebidas, a mensagem comunicada. Como é
longo e por vezes difícil transcrever aquilo que, "lá em cima",
é transmitido com tanta perfeição, tão imediatamente que
alguns segundos de nosso tempo bastam para receber os en­
sinamentos que precisariam de dias para se recdlher neste
mundo!
Refletirei longamente, nestes dias, sobre a lição recebida
- nestes e nos próximos dias - pois durante algum tempo
não irei ao meu santuário privado. Na realidade, nestas qua­
tro próximas semanas, a partir de amanhã, deverei dirigir,
a nível do Sanctum Celestial, numerosas cerimônias especiais
em benefício dos membros de minha jurisdição, o que é uma
obra exaltante, da q•al todo membro participa com alegria,
na luz, na paz, no amor ...

80
CAPÍTULO VII

UM SERVIÇO DE COMUNHAO NO SANCTUM


CELESTIAL

V
Quando um rosacruz se encontra em mE:ditação em seu
sanctum, estará ele, "ipso facto", no Sanctum Celestial sem
tomar conhecimento disto objetivamente? Quando mergulha­
do no estudo atento de uma monografia, quer seja no Sane­
tum Celestial ou em outra parte, estará ele neste mesmo
nível cósmico? Sinto-me inclinado a acreditár e a narração
que apresento a seguir lhes fornecerá os motivos desta crença.
Entretanto, devo fazer uma observação: constata-se sur­
preendentemente em alguns discípulos uma tendência para
ô· ceticismo quando são mencionados fatos e fenômenos que
ultrapassam o plano habitual da percepção objetiva. Entre­
tanto, é evidente que a vida mística transcende o nível da
existência limitada apenas às impressões objetivas, e espe­
ra-se que pelo menos o discípulo compreenda que o homem
se manifesta bem além disto, ainda que sua compreensão de
mortal não consiga entendê-lo. Num tempo em que todos
se sentem envolvidos por vibrações que, por serem vistas ou
percebidas, devem ser transformadas com o auxílio de apa­
relhos chamados "receptores", não seria, pelo contrário, aque­
le que pretende acreditar apenas "naquilo que vê" que de­
veria ser visto com espanto e compaixão? O próprio homem
é um receptor. Pelo menos tem, par� sê-lo, as faculdades
necessárias e se não aprende a utilizá-las, a culpa é sua. De
qualquer forma, existe um ser total, reflexo do universo vi­
sível e invisível com que está em constante ressonância, em
ligação. o infinito que ele "conhece" pode, a qualquer mo-
81
mento, ser "transformado" e recolhido por seu mental, que
o examinará, analisará, compreenderá com o auxílio de ana­
logias e de seus conhecimentos anteriores. Entretanto, na
maior parte das vezes, aquilo que ele recolheu nos estágios
mais elevados de .seu ser fica improdutivo, sob o ponto de·
vista da compreensão e da assimilação, e ele disto se apro­
veita de forma passiva, por vezes instintiva, sem compreensão.
Por definição, o discípulo coloca-se na perspectiva de uma
compreensão infinita. Como ponto de partida, ele reconhece
a integralidade de seu ser, que ele tenta descobrir e viver.
Entretanto, é normal que a relação de experiências que
ultrapassam o âmbito humano levante dúvidas. As experiên­
cias deste tipo dizem respeito àquele que a realiza. Elas não
são "transmissíveis" em forma de explicações e os outros não
conseguem captá-las de maneira idêntica. Nisto está, sem
dúvida, a razão da imposição oculta: "Calar-se!", exceto se
a experiência pode ser realizada por todos, utilizando uma
técnica que esteja ao alcance de cada um, como é o caso dos
contatos com o Sanctum Celestial, por exemplo.
De qualquer forma, o fato de que ·o homem seja um ser
total e que o discípulo tente verificá-lo e vivê-lo por si pró­
prio, implica o reconhecimento - esperando o "conhecimen­
to" - de uma existência também total, isto é, a expressão
do "ser" em seus diversos níveis, desde a manifestação física
até os planos mais sutis. A "transmissão de pensaménto"
e os "sonhos", por exemplo, que o profano tenta explicai:' de
maneira imperfeita, partindo de constatações esparsas, o dis­
cípulo aprende a situá-los no todo a que está ligado e cuja
lenta descoberta ele iniciou, colocando pouco a pouco em seu
verdadeiro lugar, dentro da visão total do universo, cada
"particularidade" do mundo visível ou do domínio que escapa
a sua percepção sensorial.
Por isso, não hesito em afirmar ser possível, numa deter­
minada fase de nosso ser integral, que este se encontre ' 1 nou­
tro lugar", sem que o corpo, e conseqüentemente o mental,
o percebam. A Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. ensina que as
possibilidades _subconscientes são infinitas e que se o sub-

82
consciente agir de maneira unicamente dedutiva, se a inten­
ção for "dirigida", "captada" numa direção precisa, este sub­
consciente levará a totalidade do ser nesta direção. Isto se
dá sobretudo no caso da meditação rosacruz e no estudo das
monografias. Sabe-se que os sentidos físicos percebem apenas
uma parcela mínill_la da escala vibratória universal, mas que,
em seu ser interior, o homem está em contato com toda a es­
cala. Desta forma, até mesmo um rápido raciocínio torna
admissível a "presença" - mesmo inconsciente - no plano
do Sanctum Celestial - de qualquer rosacruz mergulhado
em seu trabalho místico a nível humano.
A essas considerações intelectuais podemos acrescentar,
naturalmente, as constatações feitas por mim em outros ní­
veis e sobretudo em relação ao Sanctum Celestial. Este é tão
essencial ao trabalho rosacruz, alia-se tão intimamente à no­
ção de egrégoro(*), que o considero fundamental à obra e às
atividades da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. em seu conjunto
e no trabalho e na vida mística de cada membro. Em outros
termos, tudo aquilo que é empreendido individual e coletiva­
mente dentro do âmbito rosacruz, "exprime-se" através da
concepção do Sanctum Celestial, e através das noções de­
correntes desta concepção geral. Caso se admita a visuali­
zação do egrégoro sob a forma de uma pirâmide, poder-se-á
então conceber esta pirâmide totalmente inclusa no Sanctum
Celestial, e todos compreenderão a força e a potência que
podem advir desta criação mental.
Revelarei hoje, pela primeira vez, uma parte do trabalho
que devo realizar no exercício de minhas funções relativas
ao Sanctum Celestial. Segundo o Liber 777, sabe-se que devo
pessoalmente conduzir alguns períodos especiais para os mem­
bros de minha jurisdição e é justamente um desses períodos
que me proponho relatar. Entretanto, gostaria que o pensa­
mento de meus leitores fosse o mais claro possível, por isso

( •) A definição do Egrégoro, segundo Mme. Blavatski, é dada


na pág. 157 do livro As Mansões Secretas da Rosacruz, de 1Raymond
Bernard, vol. 4 da Biblioteca Rosacruz.
83
recomendo que releiam com atenção o que foi longamente·
descrito nestas páginas com referência à visualização, à cria­
ção mental e àos contatos com ·o Sanctum Celestial, se não
se lembram do que a respeito foi explanado. O aspecto "edi­
ficação mental" é essencial, e lembro, ainda uma vez, que o
pensamento cria, mas que o mais importante é a intenção
positiva e o resultado. Ora, este resultado é sempre obtido no
nível mais elevado daqueles que possuem a intenção. Numa
fileira, se o primeiro se levanta, todos os outros se levantam
no mesmo ritmo. Este é o espírito que preside os períodos
especiais colocados sob a responsabilidade de nosso Imperator
e de alguns grão-mestres da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.
Esses períodos podem tratar, entre outras coisas, de conso­
lação, de paz, de prece ou do desenvolvimento espiritual. O
período que abordarei refere-se à instrução. Trata-se do se­
guinte:
Nesta quinta-feira de setembro, elevei-me até ao Sanctum
Celestial, após uma preparação que durou mais de meia hora.
Em meu sanctum terrestre, estou investido de minha regalia
branca e das insígnias de minha função, isto com dupla fina­
lidade: por um lado, minha visualização torna-se mais ativa
e, por outro, encontro-me no Sanctum Celestial para entre­
gar uma mensagem, de maneira que tenho a obrigação de
apresentar o emblema ritual. Além disso, os que nesse mo­
mento estiverem em ressonância com o Sanctum Celestial
receberão o contato em toda a sua impessoalidade, mesmo
quando o porta-voz da sabedoria é alguém de seu conheci­
mento.
Na catedral que, para mim, representa o Sanctum Ce­
lestial, jamais me coloco sob o dossel, pois em minha opinião
este local deve ser exclusivamente destinado aos hoopedes
cósmicos. Nesta noite - são vinte e três horas na terra - eu
me coloco no centro do coro, perto das grades, de onde, aliás,
posso ver rerfeitamente a assistência. Antes de falar' visua­
lizo, sentado precisamente sob o dossel, o Dr. H. Spencer
Lewis e, na primeira estala à direita, Jeanne Guesdon, en­
quanto na estala à esquerda ou "vejo" Edith Lynn, que me

84
encaminhou pela Senda no crepúsculo de meus dezesseis anos.
Nas o.utras estalas, percebo a presença de nossos mestres do
passado e, estando todos em seus lugares, sei que devo co­
meçar. Na assistência, formada por aqueles que estão neste
instante em contato com o Sanctum Celestial, qualquer que
seja a forma que o representa, percebo muitos rostos conhe­
cidos, e como hoje é quinta-feira, lembro-me que muitos rosa­
cruzes se encontram em meditação ou estão estudando. Te­
rão eles consciência de estarem aqui? Sobre alguns, a julgar
pela atitude que assumem, concluo afirmativamente, sobre
outros, porém, nada posso afirmar. Mas eles estão aqui e é
isto o que conta. O que eles ouvirão, cedo ou tarde atingirá
suas consciências, de uma forma ou de outra. Eles ficarão
impressionados com sua maior compreensão e . . . com suas
"descobertas".
Esta noite, escolhi para abordar um assunto não oficial­
mente tratado nos ensinamentos rosacrúzes, mas que é, en­
tretanto, acoru;elhado aos membros da Ordem para a reali­
zação de um estudo pessoal. Em seu léxico, o MANUAL ROSA­
CRUZ declara, com efeito, que a palavra "Astrologia" signi­
fica: "Ciência antiga, baseada na observação rigorosa da coin­
cidência das características humanas com a data e hora do
nascimento. O tempo e a cuidadosa análise provaram que as
coincidências estão baseadas em leis fundamentais, sem se
levar em consideração se os planetas têm qualquer influência
sobre o nascimento ou natureza do homem após ter ele nas­
cido. Somente o extremista fanático afirma ou acredita que
somos governados pelos planetas; quando muito, as influên­
cias planetárias poderão inspirar, impulsionar ou tentar; as
influências podem melhorar, porém não controlar. Todo
místico deve ter conhecimento dos fundamentos desta antiga
e progressista ciência, embora não se torne necessário seu
domínio profundo". Portanto, após haver lembrado esta de­
finição rosacruz, entro no assunto que escolhi, e que é o se­
guinte:
"Fráteres e Sorores. Não é meu propósito ensinar-lhes as
bases da astrologia. Estas bases vocês poderão encontrar em

85
qualquer manual sério. Não tenho igualmente a intenção de
sequer sugerir com que espírito vocês devem empreender este
estudo, caso estejam interessados nele. Por definição, um
rosacruz não ignora os perigos da profecia, sobretudo se esta
lhe diz respeito, pois ele aprende a conhecer a força criativa
do pensamento, a força da sugestão e o poder do subcons­
ciente em sua ação dedutiva. Ele sabe que, se sua sensibili­
dade mística pessoal se presta a este tipo de influência, ele
próprio criará aquilo que lhe foi sugerido e que ele aceitou
no plano da emoção. A todo instante, lembrar-se-á de ter
escolhido tornar-se o mestre de seu destino e recusará cate­
goricamente deixar-se levar pela vontade de algum pretenso
profeta, por uma curiosidade da qual ele conhece o perigo
e o caráter maléfico. Ele não deve, portanto, rejeitar o campo
que lhe pode oferecer o conhecimento de uma antiga ciência
como a astrologia, com a condição de que este campo esteja
isento de qualquer profecia e que defina ape�as as inclina-.
ções, as tendências indicadas "pelo céu", as quais ele deve­
ria, sêm dúvida, levar em conta, mesmo que não estivesse
engajado na senda da alta sabedoria. Desta maneira, ele po­
derá compreender os erros que seu trabalho místico permitiu
evitar, os que ele deve ainda superar e as qualidades par­
ticulares que ele pode desenvolver. Finalmente, ele poderá
determinar com maior perfeição as eventuais circunstâncias
das experiências que deve enfrentar para poder compensar
atos passados ou para avançar na senda, e ele saberá, desta
forma, as qualidades que deve desenvolver para evitar ou su­
perar estas circunstâncias. Em outras palavras, o rosacruz
não aceita as tendências do céu em estado de espírito nega­
tivo. Ele admite sua possibilidade ou eventualidade, adotando
de pronto uma atitude positiva e utilizando as faculdades de
que dispõe para afastar ou dominar a difícil passagem que
é de esperar-se que se apresente. Se ele agir de outra forma,
se for tomado de medo, se não reagir corretamente, como
rosacruz, entregar-se-á totalmente à sugestão e à auto-suges­
tão, tornando-se presa fácil de circunstâncias aceitas e am­
pliadas pelo mental.

86
"Todo membro da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. deve
manter-se vigilante e lembrar-se sempre dos perigos da pro­
fecia, quando esta lhe diz respeito, qualquer que seja a forma
que- possa apresentar. Uma vez feita a necessária advertência,
é necessário conhecer qualquer ciência séria - e a astrologia
é uma delas - sem jamais se deixar dominar por ela. Exami­
nando as bases da astrologia, observa-se que o céu oferece,
ao mesmo tempo, a experiência e as qualidades necessárias
para adquiri-la. Não existe tema puramente positivo ou pu­
ramente negativo, e aquele que insiste sobre um ou outro
destes· aspectos exclusivamente, comete grave erro de inter­
pretação e, seja este erro voluntário, por algum motivo
obscuro, mas sempre capaz de ser descoberto, ou involuntá­
rio, por falta de conhecimento ou simplesmente por falta
de psicologia, deverá ser compensado por seu autor. O me­
lhor meio de se obter uma interpretação válida é estabelecer
seu tema por si próprio, o qual poderá ser em seguida compa­
rado com as conclusões de outro. Nós nos conhecemos melhor
do que qualquer outro e, por isso, o domínio das bases· da
astrologia é recomendável aos rosacruzes, ficando entendido
que isto deve ser feito sempre com muita vigilância, assu­
mindo-se a atitude que acabo de descrever longamente.
"Depois destas considerações, posso mencionar uma re­
velação. Utilizo este termo com conhecimento de causa, pois
o que me proponho dizer é ainda desconhecido, mesmo dos
maiores peritos em astrologia. Esta revelação pertence ao do­
mínio supostamente "perdido" da astrologia, pois sabe-se que
ela foi até recentemente uma ciência exata, tendo chegado
o momento de entregá-la a um grupo restrito de pesquisa­
dores. Ela interessa, aliás, unicamente àqueles que admitem
a lei da reencarnação e, para estes, ela será um apoio a mais
em seu esforço na busca de maior conhecimento. Os outros
poderão, em verdade, ajustar esta revelação a sua crença par­
ticular.
"Antes de qualquer coisa, existe um ponto sobre o qual
deve-se insistir, no que se refere à reencarnação. O que por
mim foi dito sobre a profecia e a sugestão, deve ser aplicado

87
a este domínio com a mesma ênfase. Algumas pessoas têm a
deplorável tendência para procurar sistematicamente suas
encarnações passadas. Passam nisto, por vezes, tanto tempo
que chegam a negligenciar sua encarnação presente, a única
segura e a única que conta para seu futuro, porque ela é a
resultante de todas as precedentes. De qualquer forma, para
se ter um vislumbre verdadeiro e fundamentado de nossas
encarnações passadas, basta considerar o que somos no pre­
sente, com nossas tendências, nossas qualidades e nossos de­
feitos. Nossa personalidade atual resulta de nossos esforços
e de nossas quedas passadas. Para que pode servir sabermos
se fomos reis ou pastores? Nós somos hoje o que somos, e
sobre esta base é que devemos edificar nossa evolução, e não
sobre o que fomos. Alguns chegam mesmo a depositar fé
cega nas pretensas revelações de algumas pessoas que se
arrogam a pÔSSibilidade de fazer sobre as encarnações pas­
sadas dos outros. Mesmo sem colocar em dúvida as preten­
sões incontroláveis por parte daqueles que se declaram mé­
diuns - e haveria muito a dizer sobre este assunto - é sem­
pre espantoso ver algumas pessoas darem crédito a "revela­
ções" que lhes são feitas a propósito de suas encarnações
passadas. Já ouvi muitas revelações deste tipo, mas prefiro
não comentá-las. Evito, desta forma, ser levado a utilizar pa­
lavras severas para qualificar o que simplesmente é do maior
ridículo, e espero que nenhum rosacruz jamais desça de sua
dignidade, de sua respeitabilidade de místico, e mesmo de
homem, para dar atenção a este tipo de prática, encorajando,
desta forma, os infelizes que, assim procedendo, criam para
si próprios séria compensação cármica que eu desejaria pu­
dessem pressentir a tempo de evitá-la, com a mesma clareza
com que dizem ver as antigas encarnações das outras pes­
soas.
"Felizmente, nada existe de semelhante na astrologia
bem concebida, mesmo quando examinada à luz da lei da
reencarnação. Na realidade, ela diz respeito ao homem em
seu estado presente, nesta resultante que mencionei há pouco
e que é eminentemente atua.I. A revelação em questão se
88
refere às conclusões que devem ser tiradas das noções gerais
de "signo" e de ascendente.
"Evidentemente, o "signo" de nascimento, Carneiro, Tou­
ro etc., representa o adquirido, isto é, exprime a resultante
das encarnações passadas. As. qualidades e defeitos que eie
traz representam o grau atingido no final da última encar­
naçã, >. Sobre estas bases a nova encarnação deve edificar-se
e é evidente que as "circunstâncias" propostas serão aquelas
que permitirão,-·a partir do adquirido, um desenvolvimento
real e eficaz. Todo astrólogo deve aceitar esta conclusão, mas
o conhecimento "perdido", ainda desconhecido pela astrolo­
gia atual, refere-se ao signo ascendente, determinado pela
hora do nascimento, que representa o objetivo a ser atingido,
aquilo que se deve realizar durante a existência no ciclo de
evolução que a alma-personalidade deve seguir. Em outras
palavras, o signo do nascimento é o ponto de partida de uma
existência determinada e o signo ascendente é o ponto de
chegada proposto a esta mesma existência. A análise das po­
tencialidades de cada um destes dois signos num dado tema
é, portanto, significativa para uma compreensão satisfatória
do que se espera de uma encarnação particular. É possível
definir as qualidades existentes e· as que devemos adquirir
ou reforçar; as imperfeições presentes e aquelas que deve­
mos evitar, e assim por diante. Se o signo de nascimento e
o signo ascendente são idênticos, a importância do tema é
bastante peculiar. As qualidades e as imperfeições - o per­
fectível - ampliam-se e a encarnação tem um valor muito
particular na continuação da evolução e do "grande retorno".
Compreende-se, desta forma, que o signo de nascimento
numa encarnação é o signo ascendente no final da encar­
nação precedente e que o signo ascendente tornar-se-á o sig­
no de nascimento da encarnação seguinte se a existência
foi conduzida de· forma correta. Se não foi, se esta obrigação
foi descumprida, que acontecerá? Sabendo-se que a evolução
jamais recua e que, em cada existência, ela é retomada no
ponto atingido pela precedente, teremos, na vida seguinte,
um signo de nascimento e um signo ascendente idênticos aos

89
da existência atual, pois todas as lições devem ser bem apren­
didas, para que se possa fazer progresso no futuro. Para que
o signo ascendente venha a ser o signo de nascimento na
encarnação seguinte, é preciso que se tenha vencido pelo me­
nos a metade do caminho. Se este resultado foi obtido, o signo
de nascimento estará mais ou menos "avançado" em grau
(ou, digamos, nos decanatos do signo, para empregar uma
expressão tão contestável), e observa-se que é possível, ao
examinarmos o grau de um signo de nascimento, determinar
em que medida a existência anterior foi conduzida a bom
termo.
"Tento expressar-me o mais claramente possível, para
ser compreendido mesmo por aqueles cujo conhecimento de
astrologia seja ainda pequeno. Os entendidos na matéria uti­
lizarão terminologia mais precisa para explicar o assunto, en­
quanto devo expressar-me com simplicidade, em benefício de
todos. Seria difícil aprofundar o assunto sem entrar em de­
talhes técnicos, o que me recuso a fazer. Já expliquei o que
representa para o rosacruz a astrologia, e minha função não
é insistir nos detalhes de ciência tão complexa. Todos po­
derão compreender os pontos de que tratei e utilizá-los com
proveito no exame de sua existência e daquilo que se pode
atingir. Poderão ser feitos estudos mais complexos sobre estas
bases sem que seja sob minha responsabilidade. Revelei um
princípio que, antigamente, ao t.empo em que a astrologia
era uma ciência perfeita, era tratado com muito cuidado e
creio que o conhecimento e a utilização deste princípio são
essenciais ao perfeito domínio da astrologia, obedecendo-se
aquilo sobre que tanto insisti. Meu único objetivo foi apre­
sentar para exame um assunto específico que será deixado
à apreciação de cada um. A finalidade última do místico é o
conhecimento, a aquisição da luz, pela iniciação, e tudo o
que pode contribuir para que se atinja este objetivo é útil,
mas nada deve ser considerado como o caminho exclusivo para
este fim. É preciso saber utilizar de maneira razoável o con­
junto dos conhecimentos generosamente colocados a nossa
disposição, voltando sempre à prática, à técnica de liberação,

90
segura e experimentada, que a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.
prega, à luz da qual, em última anâlise, devemos colocar-nos
para nosso próprio bem e para chegarmos, com certeza, ao
objetivo procurado em nossa busca mística.
"Frâteres e Sorores, possa o Cósmico abençoâ-los e assis­
ti-los para sempre em seus esforços e em suas esperanças!"

91
CAPÍTULO VIII

OS PODERES PSfQUICOS

V
· -iSenti, há pouco, a imperiosa necessidade de me recolher
ao meu "santuário privado" do Sanctum Celestial, onde me
encontro neste momento. Na realidade, muito me entristeceu
Uma carta recebida esta manhã de um neófito da Ordem
Rosacruz - A:M.O.R.C. Nela ! relatava-me ele uma conversa
que havia tido com membros de graus mais elevados e havia
chegado à conclusão de que a pesquisa mística deveria visar,
principalmente, à aquisição do que chamamos, de maneira
errada, poderes psíquicos.
Sou freqüentemente surpreendido ·com a leviandade com
que este tema é abordado por rosacruzes que já atingiram
desenvolvimento suficiente para entender que tal assunto
deve ser conduzido com a maior prudência. Em certo estágio
da evolução, alguns propósitos e atitudes são inadmissíveis,
razão pela qual nunca é demais insistir na afirmação de ·que
tempo de filiação ou o fato de pertencer a grau elevado em
qualquer organização não significam de forma alguma que
tenha _si�o realizada correspondente evolução interior. Exis­
tem membros, de graus elevados, que, por sua própria culpa,
por· falta de trabalho e de prática, por abrigar dúvida des­
trutiva e pela superficialidade do estudo que fizeram, são, nq
plano da evolução real, apenas um esboço incerto e rudimen-
. tar,' da mesma forma que há neófitos que chegaram, poten­
cialmente, a elevado estágio místico, do qual deverão, entre­
tanto, tomar consciência, redescobrindo o conhecimento que
. -Possuem dentro de si, graças à prática atenta dos ensina­
- mentas rosacruzes. Buscar mais luz junto a alguém supos-

93
tamente mais avançado é, portanto, um erro que pode ser
fatal, na senda que se deve atravessar com prudência e com
impessoalidade. Quedar-se em admiração e, ainda mais, con­
fiar-se inteiramente a alguém que alardeia possuir aprofun­
dado conhecimento de assuntos místicos, por pertencer há
muito a uma comunidade tradicional é um perigo que o dis­
cípulo deve evitar com vigilância. O verdadeiro "realizado"
não faz praça disso nem adota atitudes que o singularizem
na vida pública. Aõ contrário, esforça-se por passar desper­
cebido, mesmo diante daqueles que pensam conhecê-lo bem.
Ele se revelará apenas àquele que o reconheceu e que soube
superar o último obstáculo das aparências, pois a verdade
é que o mestre só aparece ao discípulo quando este está
"pronto". Qualquer outra consideração é ilusória. Um rosa­
cruz, mais que ninguém, deve constantemente dar provas de
circunspecção e tomar cuidado para não sucumbir à mira­
gem das aparências físicas, morais, intelectuais ou espiri­
tuais, mesmo quando estas se revestem de qualidades exter­
nas que as falsas concepções ou lamentáveis confusões atri­
buem ao evoluído ...
Eis-me, ainda uma vez mais, nesta ambiência espiritual
que regenera todo o ser, dando-lhe força, vigor e coragem.
Meu santuário se encontra iluminado apenas pela luz vaci­
lante das chamas eternas que queimam sobre o altar, e eu
me entrego ao repouso e à paz profunda. Os pensamentos
desta manhã reaparecem como um relâmpago em minha
consciência, levando-me a refletir mais intensamente sobre
o problema dos poderes psíquicos . . . Que necessidade de uma
formulação mais precisa para dirigi-los e situá-los em seu
verdadeiro contexto. Certamente, conheço bem esses poderes,
pela prática, pela transmissão iniciática e pelo privilégio da
função, utilizando-os secretamente, em toda a sua plenitude,
a serviço dos outros. Entretanto, como explicar, como indicar
de maneira significativa seu caráter secundário em relação
ao essencial, ao qual eles são subordinados, do qual são ape­
nas conseqüência e sem o qual não passam de apenas terrível
afastamento! O "verbo" do mestre seria, aqui, determinante

94
para uma formulação apropriada, e chamo-o com toda a mi­
nha alma . . . e meu apelo é ouvido. Abro rapidamente o re­
gistro de minhà memória e tomo o ditado do mestre, hoje
invisível, mas cuja voz repercute dentro de mim com sua
infinita potência, anotando a mensagem que transcreverei
mais tarde, uma vez de volta ao plano objetivo, em termos
compreensíveis para os outros e para mim mesmo:
"Não existem poderes psíquicos no sentido geralmente
empregado. O homem é um ser total e, como tal, dispõe de
faculdades excepcionais, das quais ele geralmente desenvolve,
devido a sua educação e a seu modo de vida, apenas uma
parte ínfima, que a própria ciência situa entre cinco e dez
por cento. Esta simples definição permite resolver o pretenso
problema dos poderes psíquicos. Eles não são um dom. Todos
os homens, sem exceção, os possuem, mas só os utilizam
aqueles que aprenderam a desenvolvê-los, da mesma maneira
que se desenvolve a memória, a concentração, com a diferença
essencial que eles se desenvolvem, harmoniosamente, apenas
pela aquisição do conhecimento pela teoria e pela prática.
Por conseguinte, somente avançando na senda do conheci­
mento é que se pode esperar colocar progressivamente em
total atividade as faculdades ou poderes que todos os homens
trazem potencialmente em si mesmos, e isto é tão verdadeiro
que o discípulo sincero percebe, em seu desenvolvimento "apa­
rentemente" tão lento, que ele não é mais o mesmo, que ele
se transforma e que novas potencialidades se desenvolvem
nele, mesmo que não compreenda imediatamente seu alcance
ou sentido. Dizer que alguém "tem poderes" é um erro fun­
damental. 1: preferível constatar que esta pessoa atingiu cer­
to grau de evolução, o que implica maior utilização das fa­
culdades latentes em qualquer ser humano, se bem que o
verdadeiro místico evoluído não dará atenção particular às
faculdades que despertou. Isto é para ele mero incidente em
sua progressão na senda e, caso delas se sirva, como é seu
dever e direito, o fará discretamente, sem jamais concordar
em fazer demonstrações para satisfazer a curiosidade de quem
quer que seja. Sua pesquisa baseia-se na verdade para sem-

95
pre contida no conselho de Jesus: "Busque inicialmente o
reino de Deus (em outros termos, progrida em direção ao
conhecimento) e todo o resto lhe será dado".
"Seguramente, alguns buscam os "poderes" para si pró­
prios. Estes não conseguirão desenvolvê-los harmoniosamen­
te. O esforço será realizado na utilização de uma ou duas
faculdades excepcionais e a busca é prejudicada de inicio.
Como não há, simultaneamente, o conhecimento, alguns fe­
nômenos serão mal interpretados, e haverá uma utilização
errada, com finalidades freqüentemente egoístas e efeitos que
podem ser perigosos, sobretudo para aqueles que brincam
desta maneira com faculdades de que não têm conhecimento.
Desta forma agem os adeptos da magia negra e da feitiça­
ria, assunto de que tratarei em outra ocasião.
"As faculdades latentes no homem correspondem a cen­
tros definidos, chamados chakras. Ora, estes são "transfor­
madores" que têm como missão levar a taxa de freqüência
das elevadas vibrações de energia universal ao mínimo que
permita um efeito construtivo na esfera humana. Desta for­
ma, o homem coopera com o plano cósmico. Ele é um sagrado
transformador, um enviado de Deus. E é isto o que busca ser
sempre o verdadeiro místico, desenvolvendo-se harmoniosa­
mente.
"Mas, prossigamos em nossa análise. No universo existe
apenas uma força, ou energia única. O universo é uma cé­
lula de proporções infinitas e, segundo a lei fundamental que
estabelece que o que está embaixo é igual ao que está em
cima, a comparação com uma célula animal é reveladora. In­
teressa-te mais pela vida celular. Todo um grau da Ordem
Rosacruz - A.M.O.R.C. é consagrado a isto. Aprofunda este
estudo. Ele contém a chave, a última solução da organização
do universo. t do núcleo da célula universal que emana a
força ou energia única sobre a qual acabo. de falar. Este
núcleo, podes considerá-lo a sede de Deus e terás razão. O
universo só existe por Ele, e sem Ele nada existiria. A energia
única dá vida a tudo o que existe e se exprime em tudo o
que existe. Desta forma, ela é ao mesmo tempo criadora e uti-
96
lizadora. Sua finalidade é o bem e a permanência do conjunto
celular .universal. Existe, portanto, constância no universo.
Nada se perde, nada se cria. Construção e destruição se equi­
libram, e qualquer teoria científica que se afaste desta ver­
dade básica está, desde o início, totalmente errada. Aplicada
ao nível do homem, a lei única pela qual ele existe serve-se
igualmente dele para atingir seu objetivo e, ainda mais, es­
tabelece nele as condições necessárias à evolução da perso­
nalidade anímica temporariamente encarnada. Em última
análise, os chakras, ou centros psíquicos, são os "transforma­
dores" da energia única orientada para um objetivo deter­
minadq que não é outro senão a expressão desta energia numa
taxa vibratória inferior, correspondente ao que se torna, para
o homem, o manifestado. Portanto, a vida humana é man­
tida sobre a terra pelos centros psíquicos, ou chakras, pois
são eles que transformam a energia única neste "meio" vj.­
bratório onde o homem se banha, se move, age, onde ele "é".
Os centros psíquicos, ou chakras, encontrani-se em. plena
atividade dentro de todos os homens, sem exceção, e aquilo
a que chamamos faculdades, ou poderes psíquicos, não está
"adormecido" em ninguém. A título de analogia, a eletrici­
dade sempre existiu, tendo sido ignorada até que o homem
aprendesse a utilizá-la e desenvolvesse progressivamente seu
controle sobre esta manifestação particular da energia única.
Da mesma forma, esta energia única, que se exprime atra­
vés de cada ser por intermédio dos chakras, ou centros psí­
quicos, faz funcionar em todos as faculdades, ou poderes
psíquicos, correspondentes, sendo que apenas são beneficia­
dos numa forma evolutiva aqueles que disto tomaram cons­
ci�ncia, não de maneira intelectual e especulativa, mas por
uma prática progressiva que conduz à participação. conscien­
te na grande obra mística, sendo para isto conduzidos lenta
mas eficazmente os membros sinceros, aplicados e perseve­
rantes de uma organização como a Ordem Rosacruz -
A.M.O.R.C. Enquanto esta atitude não for tomada para se
conseguir a realização suprema, o homem continuará sendo
um transformador útil ao conjunto e totalmente utilizado

l
· 97
para esta finalidade, realizando, porém, sua função de ma­
neira passiva, inconsciente e naturalmente sem nenhuma par­
ticipação, aparecendo de vez em quando alguns "vislumbres"
que ele reconhecerá sem compreender verdadeiramente, cha­
mando-os intuição, telepatia etc. Quando um fato psíquico
o impressionar particularmente, pode acontecer qu,e ele tente
reproduzi-lo, desenvolvendo o que ele acredita ser uma fa­
culdade especial, sem se defender contra o perigo mortal que
corre agindo desta forma, como um ignorante que, tendo des­
coberto uma propriedade da eletricidade, tentasse, sem um
controle sério, manipulá-la sem perceber que uma força po­
sitiva, mal dirigida ou mal utilizada, pode produzir resulta­
dos extremamente destruidores.
"Voltamos, uma vez mais, ao problema fundamental da
tomada de consciência, e uma experiência milenar demons­
trou que esta tomada de consciência só pode ser realizada
eficazmente e sem perigo no âmbito de urna organização vá­
lida, sendo a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. o maior exem­
plo no mundo atual. Por outro lado, a enorme força do egré­
goro de tal organização é, em si, uma proteção total contra
os efeitos desastrosos e destruidores de "manipulações" ex­
ternas, como as mencionadas anteriormente. Por outro lado,
uma técnica comprovada conduz o discípulo à tomada de
consciência progressiva e harmoniosa que constitui o ver­
dadeiro domínio da vida, e a compreensão e utilização das
faculdades, ou poderes psíquicos, apenas acompanham a pró­
pria evolução. Estas faculdades, ou poderes, são, assim, ape­
nas aquilo que devem ser: um aspecto, um incidente no con­
junto e, neste autêntico caminho místico, não apresentam de
forma alguma perigo, erro, ou mesmo superstição, existentes
nas tentativas ignorantes, incompletas, anárquicas e, em úl­
tima análise, ineficazes, daquele que, estupidamente, perde
seu tempo e sua vida em busca de pretensos poderes, os quais
lhe dariam, no máximo, a ilusão, e a outros, o que é pior,
a morte espiritual, mental e, talvez, física."
Voltando ao plano da expressão física, após três respi­
rações profundas, deixo meu sanctum para lançar-me em
98
meu escritório e dar forma à mensagem recebida. Certamente,
os esclarecimentos sobre as faculdades psíquicas, a advertên­
cia sobre a força de nosso egrégoro rosacruz e os avisos dados
sobre a pesquisa estéril e perigosa de pretensos poderes per­
mitem compreender a ilusão da feitiçaria e da magia negra,
mas o mestre prometeu dar maiores esclarecimentos sobre
este assunto durante um próximo contato. Não pretendo es­
perar para saber mais, caso ele aceite tomar este assunto
como base de sua entrevista. Portanto, nesta mesma noite
voltarei ao Sanctum Celestial visualizando particularmente
esta questão. Tenho pressa em conhecer a resposta a estes
problemas, a verdade do mestre.

99
CAPÍTULO IX
MAGIA NEGRA E FEITIÇARIA

V
É quase um lugar-comum diferenciar magia negra de
magia branca; no entanto, numerosos são aqueles que ainda
tremem de medo mal dissimulado a9 ouvir a palavra "magia",
mesmo quando pretendem "não acreditar" nela. A palavra
"magia",_ isolada, nada contém, entretanto, de destrutivo
nem de profundamente incompreensivel. A magia é, fun­
damentalmente, a ciência dos magos, isto é, dos iniciados
elevados que realizaram longas pesquisas, num estudo perse­
verante, para chegar ao conhecimento, à lei única e funda­
m.ental do universo e que aprenderam, desta forma, a domi­
nar os efeitos ou leis secundárias de q\le o homem dispõe
de maneira privilegiada, caso preencha as condições exigidas
pela evolução. O fato de que alguns tenham tentado utilizar
uma lei secundária qualquer, descoberta por acaso ou às
cegas, sem satisfazer estas condições e, sobretudo, sem adqui­
rir o conhecimento, invertendo, desta forma, o processo ou
ignorando o aspecto fundamental de que tudo depende, sem
objetivo altruísta e num · desejo de domínio pessoal, levou à
distinção das duas fases da magia, qualificando de "negra"
aquela empreendida com fins destrutivos ou simplesmente
de natureza estritamente egoísta. Esta distinção levou neces­
sariamente a designar "branca" a ciência verdadeira, o do­
mínio autêntico, ao qual a palavra "magia" deveria ser ex­
clusivamente reservada, situando-se o qualificativo "branca"
como oposto a tudo o que constitui o outro. Na realidade, de­
ver-se-ia considerar que existe somente uma magia, cujos
.efeitos podem ser "brancos" ou "negros", de acordo com a
· personalidade ou a intenção do indivíduo, o que significa, na-

101
turalmente, que existem magos brancos e magos negros para
uma só magia. Portanto, não é a magia em si que deve ser
considerada, mas seus resultados. Poder-se-ia mesmo afirmar
que os sábios de todos os tempos - particularmente do nosso
- são magos. Através de leis secundárias, suas pesquisas se
baseiam na lei universal única, isto é, seu campo e objetivo
estão relacionados com a ciência dos magos, mesmo que par­
tam de bases aparentemente diversas. De acordo com os re­
sultados obtidos - construtivos ou destrutivos - eles são
considerados magos brancos ou magos negros, e não podem
escapar a esta distinção. Tudo é magia no universo, em todos
os níveis. Para citar apenas um exemplo, o pensamento que
utiliza a energia nervosa, fase secundária da lei única, pode
ser positivo e construtivo e ser oriundo de um mago branco
que não o sabe, ou negativo e destrutivo, mesmo que apenas
para seu autor, o qual, sem o saber, será então um mago
negro.
Esta noite, revi essas diversas considerações antes de pre­
parar-me para o contato com o Sanctum Celestial. Na reali­
dade, era importante estabelecer o mais claramente possível
as bases de minha visualização. Desta maneira, a pergunta
que desejo formular refere-se à magia negra tal como geral­
mente compreendida, isto é, considerando as práticas indi­
viduais ou coletivas, tendo como objetivo prejudicar a outrem
de alguma forma. Meu exame levou-me a definir feitiçaria
como o conjunto dessas práticas. Do meu ponto de vista, a
magia negra constitui a teoria, sendo que a prática dessa
teoria representa a feitiçaria; dentro em pouco o mestre es­
clarecerá, sem dúvida, este ponto ...
Eis-me, depois de alguns instantes, em meu santuário
privado. Na catedral que visualizo, e que é minha via de con­
tato com o Sanctum Celestial, ouço ao longe o coro cósmico,
acompanhado por grandes órgãos, vibrar ao ritmo da mú­
sica das esferas, num cântico tranqüilizante de indescritível
doçura, e concluo que tem lugar um período especial. Mas
vim aqui com uma finalidade determinada e o mestre aprova
minha solidão e meu desejo de conhecimento, pois "seu" OM

102
ressoou e ele entrou, banhado de "sua" luz e, sentando-se
perto de meu altar, dirige-se a mim:
"Compreendo que tenhas desejado tão rapidamente obter
os esclarecimentos prometidos sobre a magia negra e a fei­
tiçaria. Eles completam as explicações relativas aos poderes
psíquicos sobre as quais te falei em nosso mais recente en­
contro, e é melhor, na realidade, que este assunto seja tra­
tado antes das informações que receberás, proximamente, de
um outro guia sobre os contatos com os desaparecidos, as­
sunto que será de grande interesse para ti e para muitos
outros. Tratemos apenas da missão que devo cumprir junto
a ti, e voltemos ao problema que agora nos deve preocupar.
"A magia negra é, como sabes, um desvio da magia santa
e verdadeira, e radicalmente oposta a esta. Ela é a obscuri­
dade, a noite e o mal, em contraposição à magia branca, que
é a claridade, o dia e o bem. A magia negra é a morte, como a
magia branca é a vida, e no entanto bastaria apenas um pouco
de luz aos magos negros para que transformassem seu re­
preensível e sórdido procedimento em trabalho construtivo e
benéfico, mas é evidente que eles não querem, pois seus obje­
tivos são egoístas e sua intenção, impura ...
Este preâmbulo talvez te surpreenda, por afirmar que a
magia negra existe, embora possas supor o contrário. Entre­
tanto, tranqüiliza-te, pois tratarei igualmente dos resultados
e verás que tuas concepções anteriores têm fundamento. De
qualquer forma, não se pode negar a magia negra, pois ela
não é praticada somente na Africa ou num determinado con­
tinente. Ela está em toda parte e sua prática, tens razão,
corresponde bem à feitiçaria em suas diversas formas e pro­
cessos.
"Na realidade, o mago negro, ou feiticeiro, emprega as
mesmas leis secundárias que o mago branco, ou adepto, trans­
formando-as e utilizando-as com objetivos destrutivos e pre­
judiciais. Certamente, o feiticeiro não tem nenhum conheci­
mento real das leis secundárias que emprega. Ele se encontra
na mesma situação de uma criança que aprendeu que, co­
nectando um fio de abajur a uma tomada, a luz surgirá,

'JQ3
mas ignora que, ligando o fio a uma tomada de maior vol­
tagem, ela corre o perigo de sofrer um acidente. A "tomada"
é uma só para o mago branco e o negro, mas o mago branco
conhece todas as leis secundârias e a lei única, à qual ele
se vincula para fazer o bem, numa perspectiva puramente
altruísta, enquanto o feiticeiro só visa ao resultado egoísta
e mau, não se interessando pelo conhecimento, pois este leva
ao bem e ao altruísmo. A diferença essencial entre o mago
branco e o feiticeiro reside igualmente na intenção, e nisto
os dois são antípodas. A intenção prejudicial, egoísta, destru­
tiva, invejosa, malvada etc., é o ponto comum entre todos
os feiticeiros do mundo, quaisquer que sejam suas prâticas.
Aliâs, todas essas prâticas se assemelham. O "suporte" utili­
zado, a linguagem empregada, os gestos realizados variam,
mas por toda parte são empregados para criar as condições
vibratórias internas que permitem ao feiticeiro transformar
uma energia em si boa em resultados destruidores. Se a pes­
soa para quem é realizada a operação se encontra presente,
trata-se iguahnente de colocâ-la "em condição" de receptivi­
dade, de aceitação, para que a prâtica surta efeito, e nós
voltemos à importante questão dos resultados.
"É totahnente verdadeiro afirmar que a magia negra, a
feitiçaria, não tem o menor efeito sobre aquele que não acre­
dita em seus resultados e que não admite um só momento
a possibilidade de ser por ela atingido. É, portanto, evidente
que não basta declarar superficialmente que não se crê em
feitiçaria. Uma recusa intelectual é insuficiente. t preciso
uma convicção profunda, inscrita de forma indelével no sub­
consciente, invencível, quaisquer que sejam os argumentos
apresentados. Naturalmente, · neste domínio, a educação e o
meio têm um papel fundamental. Consideremos, por exem­
plo, o caso da Africa negra. Desde a mais tenra infância,
o africano em geral estâ habituado a crer em feiticeiros e a
temê-los. Ele nasce e cresce num meio que, dia após dia,
o condiciona para aceitar essa crença, que é gravada em seu
subconsciente desde muito cedo, sempre alimentada por tudo
aquilo que ele vê ou escuta. Assim, ele admite que a feitiçaria

104
tem poderes sobre si, e mesmo que venha a receber educação
mais evoluída, a- qual faz com que reconheça mentalmente,
intelectualmente que a feitiçaria não possui eficária nem re­
sultado possível, será preciso muito tempo para que seu sub­
consciente se liberte do que foi nele gravado em termos de
crença e conquiste a verdade que o tornará invulnerável. Evi­
dentemente, a feitiçaria age também em vários pontos do
globo, inclusive na Europa, e nas cidades ditas as mais civili­
zadas, influenciando pessoas cujo subconsciente admite a pos­
sibilidade de bruxarias, de mau-olhado etc. Entretanto, a
feitiçaria jamais agirá sobre aquele cujo subconsciente foi
habituado a negar, a recusar qualquer poder proveniente da
feitiçaria e da _magia negra. A melhor prova disto consiste no
fato de que as práticas de feitiçaria realizadas por pessoas
que jamais acreditaram em seus poderes nunca surtem. efeito,
enquanto são eficazes sobre quem admite a possibilidade de
por elas ser atingido. Na Europa e nos países mais desenvol­
vidos do mundo existem tantos feiticeiros quanto na Africa
e nos países onde a feitiçaria é corrente, entretanto na Euro­
pa e nos países desenvolvidos ela é ineficaz, sem resultados,
porque a educação e o meio não lhe dão crédito e a crença
e a aceitação dessas práticas não estão gravadas no subcons­
ciente da maior parte das pessoas.
"Esta é a verdade e, certamente, entre as maiores e mais
nobres ações da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. está em pri­
meiro lugar, aquela que consiste em reeducar o subconsciente
dos que foram habituados a admitir o poder da magia negra
e da feitiçaria, particularmente os africanos, que não são,
no entanto, os únicos. A técnica da Ordem Rosacruz -
A.M.O.R.C. é notável em numerosos pontos, sobretudo neste.
Para o membro sincero, estudioso e perseverante, a verdade
apaga progressivamente a mentira e a superstição. O sub­
consciente dos que viam qualquer eficácia na feitiçaria passa
lentamente a desvencilhar-se do condicionamento que os le­
vava a acreditar em seu poder e, sendo desta forma o sub­
consciente preparado para não aceitar estas práticas, tor.
nam-se elas pouco a pouco inoperantes para, finalmente, per·

JOS
der toda e qualquer significação. O fato de pertencer à Ordem
Rosacruz - A.M.O.R.C., de estudar seus ensinamentos e, na­
turalmente, de aceitá-los e de aplicá-los, assegura por si só,
e já mencionei este fato, a propósito dos poderes psíquicos, a
mais eficaz proteção contra as sórdidas práticas da feitiça­
ria e da magia negra. Isto é conseguido pela ação do egré­
goro e, em alguns casos, o comitê de auxílio espiritual e tu
mesmo, como sabes, contribuem para amparar quem tiver ne­
cessidade, suprindo a carência de um subconsciente, diga­
mos . . . "deficiente". Mas a total libertação dos que ainda se
encontram presos, ao nível do subconsciente, à crença cega
na feitiçaria está, repito, na prática atenta e perseverante
dos ensinamentos rosacruzes. Entretanto, qualquer rosacruz
deve sempre lembrar-se de que sua filiação e sua sinceridade
no trabalho místico bastam para protegê-lo contra todas as
ações maléficas da feitiçaria ou da magia negra e que tais
ações, realizadas por quem quer que seja, são inoperantes e
sem nenhum efeito sobre ele. Para concluir este assunto, se
eu quisesse usar uma linguagem metafórica, poderia dizer
que, se porventura um feiticeiro, ou adepto da magia negra,
tivesse a intenção de prejudicar um rosacruz sincero, teria
que pagar por isto.
"Não insistirei sobre a "paga" do feiticeiro e do mago
negro. Todos podem compreender. Ele recebe na medida em
que dá. O malefício dirigido aos outros, ele o recebe, cedo ou
tarde, e tanto mais rápido quanto o destinatário, em seu
subconsciente, recusa o que lhe foi endereçado. Não é pre­
ciso dizer que a compensação, o carma do feiticeiro, será la­
mentável. De todas as maneiras, sua sorte não é invejável,
mas a culpa é sua .. .
"Desejo agora fazer uma observação sobre a Africa ne­
gra. Lá existem sociedades secretas autênticas e altamente
respeitáveis. Estas nada têm que ver com a feitiçaria, sendo,
porém, em número reduzidíssimo, devendo-se por isso agir
com a máxima prudência para não se cometer erros graves.
A Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. está solidamente implan­
tada na Africa, como organização universal e potente que é.

106
Nesse continente, como em outros, ela oferece a garantia de
sua tradição, de sua luz e de sua verdade. Ela constitui um
refúgio supremo para quem estiver pronto a receber a sabe­
doria e a informação que ela oferece. A Ordem vê com respeito
todas as autênticas
. tradições onde quer que se manifestarem,
particularmente fia Africa. Ela as recebe com veneração sem­
pre que possível, mas não seria demais lembrar a cada um
prudência e circunspecção. É infinitamente preferível que
aqueles que escolheram a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. que
a conservem como único refúgio, em lugar de se perderem
no perigo e no erro de ingressar em outra via qualquer, por
mais atraente que possa parecer no momento. Sobre este as­
sunto, cada um deve ser seu próprio guia e decidir sozinho.
A Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. representa , por excelência,
nestes tempos perturbados, a magia branca, no sentido mais
sagrado do termo, e perpetua, adaptada ao novo ciclo da hu­
manidade, a nobre ciência dos magos ... "
Volto tão bruscamente "à terra", em meu sanctum da
grande loja, e tomo tão depressa consciência objetiva, que
hesito durante alguns instantes em considerar estes últimos
comentários como emanados do próprio mestre. Em todo con­
tato cósmico, uma parte da bagagem pessoal está sempre
presente e o "adquirido" mistura-se à própria experiência.
De qualquer forma, não há dúvida que estes comentários,
mesmo tendo sofrido alguma influência minha, poderiam ter
sido feitos pelo próprio mestre e não ignoro que, certamente,
no momento em que redijo este "relatório" ele está junto a
mim, velando para que não conflita com seu pensamento e
com sua intenção. Que este livro seja uma homenagem a sua
benevolente solicitude ...
Os contatos com os desaparecidos! Na realidade, este as­
sunto é importante. Preparar-me-ei nestes próximos dias para
receber a mensagem do Sanctum Celestial sobre tema tão
emocionante ...

�----107
LOJA ROSAGRJZ DF. LISBOA
AMOBC
BIBLIOTECA..
.. /0186
CAPÍTULO X

CONTATOS- COM OS DESAPARECIDOS

V
Nestes últimos diás, recebi várias obras, de diversos paí­
ses, tratando das comunicações com o além. Numa delas,
Pétain, héros de la Somme (sic), endereçava uma pequena
mensagem à humanidade; em outra, uma família inteira,
desaparecida em circunstâncias trágicas, solicitava pela voz
do médium que a dirigissem e ajudassem no plano em que
realizava sua brutal. experiência, e assim por diante. Eram
mensagens de almas errantes que, incorporando-se num ser
receptivo, comunicavam-se por seu intermédio com uma as-
sistência mais ou menos reduzida, mas sempre impressio­
nada. Li todos estes livros, às vezes por dever, mais freqüen­
temente para informar-me, sem encontrar neles, assim como
em numerosos outros que li ao longo dos anos, nada de par­
ticular. Todos se assemelham, variando apenas as circunstân­
cias - lúgar, personalidade do médium - segundo os auto­
res e todos cometem, naturalmente, o mesmo erro quando
supõem que uma alma pode incorporar-se num ser vivo e
substituir sua personalidade para nos entregar uma mensa­
gem, dar algum conselho ou pedir auxílio. Quando obras desse
tipo emanam de pessoas que possuem apenas um conheci­
mento superficial dos elevados princípios místicos, podemos
certamente julgá-las com clemência e admitir que elas po­
derão, em último caso, ser úteis, pelo menos para dirigir al­
guns pesquisadores ao encontro de luz mais autêntica. Alguns
dos autores que li recentemente vêm percorrendo por muito
tempo caminho tradicionalmente válido, por isso que me sur­
preende vê-los ainda ater-se às teorias que defendem. A única
desculpa que lhes posso conceder é que sua formação mís-
109
tica não tenha sido tão completa e segura como seria de es­
perar, e que não tenham dado a seus guias e mestres a ade­
são sem reservas exigida de todo postulante à verdadeira
luz. Não tendo sido o "velho homem" totalmente transfor­
mado, as antigas crenças subsistem e reaparecem por ocasião
de qualquer experiência, moldando-a com seu falso esplendor,
produzindo uma narração decepcionante, partida de um dis­
cípulo talvez muito digno em outros pontos.
Os ensinamentos da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. são,
entretanto, categóricos no que se refere às comunicações com
o além: as almas-personalidades que deixaram o plano físico
só voltam no momento de sua reencarnação. Não se incor­
poram a um médium para se comunicar com os vivos. A
propósito, gostaria aqui de citar a definição apresentada pelo
MANUAL ROSACRUZ sobre o espiritismo:
"Espiritismo: Doutrina que se esforça por utilizar certas
manifestações psíquicas da alma e da personalidade para
apoiar uma exposição teórica das atividades da alma, aqui
embaixo ou no Cósmico, após a mudança denominada morte
ou "transição". Os rosacruzes sabem que a explicação espírita
dos diversos fenômenos é errada, que a maior parte do médius
sabe pouca coisa sobre as leis e princípios que tentam demons­
trar e que alguns, sem se dar conta, criam freqüent'emente si­
tuações graves e trazem infelicidade para aqueles que os to­
mam como guias. Além disso, os rosacruzes sabem que a "alma"
dos defuntos não volta à terra sob forma material, que os
"espíritos" não se materializam como entidades e que as
comunicações recebidas do Cósmico ou através do corpo físico
dos vivos não são sempre o que imaginam os espíritas".
Para melhor compreensão do texto, reproduzirei aqui a
definição da palavra "subconsciente", apresentada no mesmo
MANUAL:
"Subconsciente: Fluxo completo da consciência com
seus diversos níveis, que são subliminares, isto é, aquém de
nossa percepção do eu e do mundo exterior. A consciência
objetiva e a consciência subjetiva são apenas dois níveis do

110
fluxo da consciência. O subconsciente está ligado diretamente
ao Cósmico, i!, consciência universal".
Supõe a definição rosacruz serem impossíveis as comu­
nicações com os desaparecidos? Absolutamente. Essas comu­
nicações são possíveis, mas se realizam de maneira totalmen­
te diferente das práticas em geral empregadas, e não pre­
cisam do auxílio de médiuns e ainda menos de formação de
correntes ou de outros processos do gênero.
Em meu santuário privado do Sanctum Celestial o mes­
tre lembrará, dentro em pouco, os verdadeiros princípios que
devem ser aplicados a este assunto, mas creio ser útil for­
necer uma explicação complementar.
Na definição apresentada pelo MANUAL ROSACRUZ decla­
ra-se várias vezes: "Os rosacruzes sabem" e a pergunta que
naturalmente alguns se farão é: "Sabem como? Como podem
saber?" Este ponto deve ser esclarecido.
Inicialmente, os rosacruzes sabem pelos ensinamentos
que recebem e esses ensinamentos constituem a formulação
da sabedoria primordial, o conhecimento sagrado recolhido,
por toda a terra, nas fontes tradicionais e mais autênticas,
a síntese, adaptada ao mundo moderno, de todo o saber iniciá­
tico, reconhecido e sentido pelos mestres do conhecimento
no passado e no presente. Em seguida, os rosacruzes sabem
por experiência. Na realidade, a técnica da Ordem Rosacruz -
A.M.O.R.C., em sua progressão, lenta mas eficaz, ao mais ele­
vado grau, conduz todo membro sincero, leal, trabalhador e
zeloso a verüicar por si próprio os princípios aprendidos, isto
no momento de sua progressão, de sua realização interior,
quando o sucesso está assegurado, caso tenha dado provas
de suficiente perseverança.
Desta forma, durante suas sucessivas viagens "em torno
do triângulo", ele poderá não apenas encontrar uma expli­
cação racional e real do plano cósmico, a partir do sétimo
grau do templo, como também �·ir ver", para empregar uma
linguagem corrente, constatando, desta forma, a exatidão das
noções teóricas que lhe são ao mesmo tempo ensinadas. Com
a afirmação "os rosacruzes sabem", referimo-nos conseqüen-

111
temente ao ensinamento como tal e às provas que cada mem­
bro, individualmente, está em condições de retirar deste en­
sinamento em sua fase experimental e prática. Portanto, esta
declaração não poderia ser melhor fundamentada, por mais
peremptória que possa ·à primeira vista parecer.
Chegou o momento de receber "a palavra" do. Sanctum
Celestial e, tendo realizado o ritual e terminado a visuali­
zação, encontro-me uma vez mais neste ambiente de elevada
espiritualidade, de sublimes vibrações, sentado em meu lugar
cósmico, à espera do mestre, que logo aparece e se coloca
perto do imenso vitral, a alguns passos de mim. Ele conhece
o assunto visualizado, não havendo, portanto, necessidade de
repeti-lo. Com as mãos postas sobre a mesa, os olhos fecha­
dos, deixo minha consciência gravar a mensagem vibratória
do mestre que, mais tarde, no plano físico, será traduzida
pelas palavras:
"A vida é una; ela não se limita apenas ao domínio ma­
terial.
"A vida é vibração e podemos dizer que toda vibração é
vida.
"A própria força universal única é vida, bem como o são
as leis secundárias, as manifestações secundárias da energia
fundamental.
"A criação é um "respir'', uma contração e uma descon­
tração permanentes que o homem distingue em ciclos ainda
mal conhecidos. Esse próprio "respir" é vida. Assim, repito,
a vida é una e tudo é vida. A vida compreende a consciência
e esta é um fluxo que, sem parar, parte de sua fonte cósmica
- do "núcleo" da célula universal - atravessa tudo e volta
a essa fonte. No fluxo da consciência, e conseqüentemente
da vida, o homem ocupa o lugar que lhe foi atribuído no
plano cósmico. Ele é o intermediário utilizado pela energia
única para atingir um objetivo, que ele só compreenderá
quando o atingir, sendo também o "suporte" empregado pela
alma universal para personificar-se e tornar-se, de certa ma­
neira, consciente de si mesma pelas experiências que a en­
carnação lhe propõe. No que se refere à vida, o homem é ao

1]2
mesmo tempo uma tela e um transmissor. Nele a consciência
possui vários graus, indo das expressões mais materiais às
fases mais sutis, mais internas do ser. Entretanto, na per­
cepção humana, a expressão, ou fase, mais conhecida, e para
muitos a única, corresponde à expressão, ou fase, material,
acessível aos cinco sentidos, por mais limitativos que eles
sejam. Por isso o homem sofre com o desaparecimento de um
ente querido. Quaisquer que sejam suas crenças, ele se pren­
de ao· imediato, sendo-lhe difícil compreender que a vida é
eterna e una, e que ela prossegue após a morte, da mesma
forma que antes. A esse "mundo desconhecido" ele lança seus
terrores, suas concepções humanas, suas superstições, confe­
rindo-lhe uma forma ou estado que este não possui de ma­
neira nenhuma. Explicaste o essencial sobre a verdade do
além em tua exposição sobre a morte, e aqueles que a leram
não mais deveriam sentir medo, mesmo quando sentem uma
tristeza nobre e compreensível com a perda de um ente que­
rido. Sem dúvida, deverias ter insistido mais quanto à possi­
bilidade, para aqueles que ficam, de entrarem em contato
com os desaparecidos e poderias ter também explicado, mais
detàlhadamente, como fazê-lo.
"Na realidade, o homem é que deve "elevar-se" até aque­
les que o deixaram. Mais exatamente, ele pode encontrar-se
com eles quando quiser, "de dentro de si", partindo de seu
eu interior, apesar de ser a expressão "elevar-se" mais ade-
- quada a nossa explicação. Devemos novamente voltar ao
grande princípio da visualização, única chave de toda tomada
de consciência num outro plano. Da mesma forma que de­
vemos visualizar para entrar em contato com uma pessoa
�inda encarnada, a visualização é o único meio de nos comu­
nicarmos com os desaparecidos. É o ponto de partida de qual­
quer contato com os mesmos, e há uma grande distância
entre este processo autêntico no qual a comunicação é orien­
taqa, controlada, e a receptividade utilizada por numerosos
médiuns que certamente "se elevam" nesse instante ao nível
cósmico, mas sem objetivo, sendo o mental, sem querer, le­
vado a emprestar àquilo que vê uma forma pessoal, su'as pró-
113
prias emoções, uma compreensão particular, ou mesmo suas
inibições, cometendo os mais terríveis enganos em seu pos­
sível contato. Além disso, a comunicação com os desapare­
cidos não é privilégio de alguns, nem de médiuns, profis­
sionais ou não. "Ela está ao alcance de todos, sendo-lhes bas­
tante utilizar corretamente o princípio da visualização à fi.
nalídadê procurada"; vou lembrar-te este princípio em toda
a sua extrema simplicidade, para que partilhes com aqueles a
quem deves orientar:
"Trata-se de entrar em relação psíquica com um desapa­
recido bem definido. Este, em seu estado cósmico, não apre­
senta mais, naturalmente, as características físicas que pos­
suía quando vivo, mas tais características permanecem como
o único laço que o une à pessoa que realiza o contato. Em
outras palavras, visualizando o desaparecido em seu estado
físico, conseguimos elevar-nos até ele. Um detalhe deve ser
esclarecido: não é necessário visualizar o aspecto físico total
do desaparecido. Basta visualizar-lhe o rosto, sorridente, aco­
lhedor e vivo. Deve-se dar especial atenção aos olhos, olhan­
do-os como se fossem os de um interlocutor terrestre. 1: im­
portante que não haja nenhum sentimento de tristeza du­
rante a visualização e o contato. Pelo contrário, deve predo­
minar a sensação de profunda alegria e calma. Quando a
visualização estiver realizada da maneira mais precisa possí­
vel e quando se sente - isto sempre acontece - que o con­
tato foi estabelecido, deve-se parar a visualização e entre­
gar-se à comunhão. A visualização conduz de maneira segura
ao contato. Portanto, aquele que aplica este princípio atin­
girá o resultado. Durante a comunhão, que pode durar al­
guns segundos, alguns minutos, e às vezes - raramente -
ainda mais, estamos unidos ao desaparecido, para o qual nos
elevamos. Logo sentimos a impressão de uma grande paz, de
uma consolação imensa e de um sublime impulso de amor.
Alguns perceberão que falam psíquicamente com o desapa­
recido. Na realidade, este compreenderá os pensamentos de
seu "visitante", que fica com a impressão de lhe haver fa­
lado. Outros admitirão que ouviram o desaparecido, sendo a

114
explicação para isto a mesma do caso precedente. O que existe
é a comunhão, a fusão temporária, a unidade entre dois seres,
e isto é sobretudo o que importa. Quando cessar o contato,
aquele qne o provocou, uma vez de volta à consciência física,
poderá c:onservar uma impressão dominante e o "encontro"
poderá ser compreendido sob a forma de uma palavra, de
uma mensagem, de um conselho. Não existem "palavras" no
plano cósmico, existe troca de vibrações e somente depois o
mental, impressionado com essa troca, transformará em pa­
lavras e em compreensão objetiva aquilo que aconteceu. Fica­
rá então constatado que alguns segundos de comunhão pre­
cisam por vezes de longos desenvolvimentos para serem assi­
milados no plano físico, onde, ao contrário do outro plano,
cada um é submetido aos limites do tempo e do espaço. Pode
acontecer, finalmente, que na volta não se tenha nenhuma
impressão marcante, mas podemos estar certos que o contato
se deu, o que prova - se fosse necessário provar - que a
morte não existe.
"Para realizar esta experiência, o ambiente deve ser apro­
priado. O sanctum do rosacruz convém perfeitamente a este
fim, mas alguns preferirão manter-se deitados, e outros, uma
condição diferente que seja propícia ao contato desejado. En­
tretanto, em todos os casos, notar-se-á que por intermédio do
Sanctum Celestial maior eficácia será conseguida. Portanto,
conformando-se aos princípios relativos ao mesmo, em segui­
da realizando a visualização do desaparecido, o melhor resul­
tado será obtido. Eis o verdadeiro processo, o único a ser se­
guido para a. realização de contatos com os desaparecidos.
Resta acrescentar que este processo pode ser aplicado à von­
tade, mas deve ser empregado com discrição. O homem não
se encontra aqui embaixo para passar o dia inteiro em cons­
tante comunicação com os desaparecidos. Se assim proce­
desse, correria o risco de se desligar pouco a pouco não ape­
nas de seus objetivos místicos e de sua evolução, mas tam­
bém da existência normal, ela própria tão importante para
seus progressos espirituais e sua experiência. Feita esta re-

J JS
serva, nada impede que se realize uma vez por dia, ou mesmo
duas ou três, o contato com os desàparecidos.
"Uma pergunta poderia ser feita a propósito das almas­
personàlidades reencarnadas supostamente ainda estabeleci­
das no plano cósmico. O que aconteceria neste caso, se fosse
tentada uma comunicação? A resposta é simples. Já disse
no início desta mensagem: a vida é una. O homem, mesmo
não o sabendo, é um ser cósmico. Por intermédio de seu corpo,
ele se manifesta no plano físico, mas através da parte invi­
sível de seu corpo, ele se encontra em todos os outros planos.
No caso em questão, haveria de certa forma uma "transfe­
rência" da visualização. Aquele que tenta a comunicação
estaria, sem querer, na situação de alguém que anseie "co­
municar-se" com um ser vivo e o contato seria, assim, reali­
zado, mesmo que o aspecto físico que reveste a alma-perso­
nalidade não seja mais, naturalmente, o mesmo que antes,
pois todos os aspectos anteriores que revestiram uma perso­
nalidade anímica durante suas idades, "seguem-na" para
sempre. Cada um deles representa uma das "notas" que a
alma-personalidade reconhecerá e às quais ela reagirá. A
questão de saber se uma alma-personalidade está reencar­
nada ou não, para se realizar um contato psíquico, não é
nunca colocada. A comunhão acontecerá sempre. O tempo
e o espaço são apenas ilusões físicas".
Assim que "me reintegro em meu corpo físico", curiosa­
mente penso na observação feita por um de nossos membros
que realizou diversas vezes, de acordo com os princípios lem­
brados pelo mestre, comunicação com sua filha, falecida ha­
via muito tempo, quando ainda bebê. Ele recolhia, cada vez
que se comunicava, a impressão de estar em contato com
uma mulher de aproximadamente quarenta anos, o que evi­
dencia que essa alma-personalidade havia reencarnado logo,
sendo o ciclo de 144 anos fornecido pelos ensinamentos rosa­
cruzes, uma média calculada sobre um período de tempo
muito grande, de maneira que, em certos casos, a reencar­
nação pode ser mais rápida e por vezes imediata.

ll6
Já começo a pensar no assunto que submeterei ao Sanctum
Celestial em nosso próximo encontro. Vários me vêm à mente.
A escolha será feita mais tarde, pois as tarefas de nossa
Ordem me chamam e devo voltar rapidamente a minha mesa
de trabalho ...

117
CAPÍTULO XI

SEITAS E FAMtLIAS RELIGIOSAS

V
O novo assunto que me proponho submeter hoje ao
Sanctum Celestial foi suscitado por um artigo escrito por
alguém, que se esconde sob um pseudônimo, que pretende
erigir em afirmações sentenciosas os disparates de sua falsa
ciência. Seu desejo de prejudicar organizações sérias o con­
duz a sugerir habilmente o perigo de se organizarem, criti­
cando seus objetivos "pretensamente astrais". Entretanto,
este tipo de insinuação só poderia influenciar leitores não
advertidos sobre a qualidade mais que duvidosa desse gênero
de autores. Eles são geralmente movidos por sentimentos no
mínimo nada respeitáveis, por se basearem freqüentemente
na decepção e talvez na vingança contra uma sanção que
tenham sofrido, sanção merecida, a julgar pela maneira de
reagirem. O sentimento de orgulho é uma calamidade. Ele
conduz aos atos mais irracionais, a um injustificado temor
que origina erros lamentáveis, à mentira, à insatisfação e
a ações nocivas que cedo ou tarde se voltam contra seus auto­
res. Artigos deste tipo jamais deveriam influenciar o autên­
tico pesquisador. Se o astral existisse, no sentido que lhe
empresta esse escritor ignorante, suas enganosas teorias de­
monstrariam à evidência ser ele próprio sua iludida presa,
como em outras ocasiões ele pode ter sido iludido por mira­
gens que abalaram sua mais elementar reflexão. Entretanto,
referiremos simplesmente de passagem esta triste personali­
dade cuja audiência é, em suma, praticamente nula e cujas
veleidades de valorização fracassam lamentavelmente por não
possuírem o apoio das mais elevadas esferas, aquelas que dão
119
à Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. proteção brilhante, vivifi- ·
cante, de iniciação autêntica, santa e pura, baseada na vida,
na luz e no verdadeiro amor. Finalmente, todos atravessam,
no ciclo das encarnações, a noit� escura que atravessa o pes­
quisador desgarrado, joguete de suas próprias ilusões. O dis­
cípulo iniciado deve preservar-se da contaminação tempora­
riamente representada pelo pesquisador desgarrado, mas deve
também sentir por ele a mais intensa compaixão e pedir in­
cessantemente que ele seja afinal iluminado e cosmicamente
auxiliado.
Após o triste artigo ao qual me referi, começo· a pensar,
não sei por que associação de idéias, nas seitas e famílias
religiosas que proliferam sobre a terra. Sem dúvida devido
à intolerância de alguns, ou ainda porque a maioria não he ­
sita diante de insinuações mentirosas, do tipo daquelas en­
contradas em profusão no referido artigo. De qualquer forma,
es.te é o assunto que escolhi para meu contato desta noite
com o Sanctum Celestial, e espero que sobre ele um mestre
lá de cima nos venha trazer mais esclarecimentos.
Penso não ser necessário explicar ainda uma vez o "ri­
tual" a seguir para realizar o contato e elevar-me até o
Sanctum Celestial. Tudo, creio, já foi dito sobre o assunto,
nas primeiras páginas deste livro e por ocasião dos contatos
precedentes. No entanto voltarei a ele num dos últimos ca­
pítulos, pois é minha intenção relatar com precisão uma ini­
ciação cósmica conduzida a nível do Sanctum Celestial.
Hoje, portanto, não relatarei aqui os detalhes da "via­
gem". Cheguei em boa hora e, na meia obscuridade de meu
santuário, ouço o mestre:
"Tua questão, começa ele, foi mal formulada, embora
tenha sido suficientemente compreensível para chegar até
nosso conclave e para que eu tenha recebido o encargo de
respondê-la. Parece-me que estabeleces uma diferença entre
as seitas e aquilo a que chamas famílias religiosas. Ora, estas
são igualmente seitas. Foram elas que, curiosamente, empres­
taram intencionalmente à palavra seita uma conotação pe-

120
jorativa, esquecendo que, com isto, estavam atribuindo a si
próprias esta qualificação restritiva.
"Reflete alguns instantes: o mundo possui mais de três
bilhões de habitantes. A mais importante expressão do pen­
samento religioso - o budismo, sob suas diversas formas -
reúne cerca de um bilhão qe adeptos. Em seguida temos o
islamismo, com oitocentos milhões de muçulmanos. Em ter­
ceiro lugar vem o catolicismo, com seus seiscentos milhões
de batizados, sendo que menos da vigésima parte é regular­
mente praticante. Depois vem o protestantismo e suas múl­
tiplas ramificações, com número de fiéis próximo ao de ca­
tólicos. Mesmo tu, que pertences à religião católica e que
vives num país de maioria teoricamente ca,tólica, não escapas
a certa tendência para acreditar que tua religião é a mais
importante do mundo e que suas injunções mais ou menos
fundadas, variando ·com as épocas e com as latitudes, são de­
terminantes para toda a humanidade. Como muitos outros,
tu estiveste durante muito tempo enganado a este respeito.
Em todo o Oriente, em todos os países islâmicos, nas regiões
onde o catolicismo se encontra pouco implantado, como na
Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e em muitos outros lu­
gares, as atividades católicas e, com maior razão, suas opi­
niões, sua influência e suas diretivas ou são totalmente igno­
radas, ou são mencionadas como notícias de interesse apenas
secundário. As informações que a ela se referem jamais
ocupam as manchetes dos jornais, só raramente são mencio­
nadas nas emissões radiofônicas e ainda mais raramente na .
televisão, ao contrário do que acontece nos países latinos, de
maioria católica. Entretanto, o mesmo poder-se-ia dizer sobre
o islamismo e o budismo. Nos países latinos, os jornais nunca
tratam de suas atividades!
"Considera igualmente as cüras. Um bilhão de budistas,
oitocentos milhões de muçulmanos, seiscentos milhões de
"batizados" católicos etc.; nenhuma destas cüras representa
a totalidade da população terrestre. Cada uma delas é uma
porção, uma seção, e cada religião, de resto largamente mi­
noritária, é, por conseqüência, uma seita. Além disso, cen-

121
jorativa, esquecendo que, com isto, estavam atribuindo a si
próprias esta qualificação restritiva.
"Reflete alguns instantes: o mundo possui mais de três
bilhões de habitantes. A mais importante expressão do pen­
samento religioso - o budismo, sob suas diversas formas -
reúne cerca de um bilhão de adeptos. Em seguida temos o
islamismo, com oitocentos milhões de muçulmanos. Em ter­
ceiro lugar vem o catolicismo, com seus seiscentos milhões
de batizados, sendo que menos da vigésima parte é regular­
mente praticante. Depois vem o protestantismo e suas múl­
tiplas ramificações, com número de fiéis próximo ao de ca­
tólicos. Mesmo tu, que pertences à religião catélica e que
vives num país de maioria teoricamente ca,tólica, não escapas
a certa tendência para acreditar que tua religião é a mais
importante do mundo e que suas injunções mais ou menos
fundadas, variando ·com as épocas e com as latitudes, são de­
terminantes para toda a humanidade. Como muitos outros,
tu estiveste durante muito tempo enganado a este respeito.
Em todo o Oriente, em todos os países islâmicos, nas regiões
onde o catolicismo se encontra pouco implantado, como na
Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e em muitos outros lu­
gares, as atividades católicas e, com maior razão, suas opi­
niões, sua influência e suas diretivas ou são totalmente igno­
radas, ou são mencionadas como notícias de interesse apenas
secundário. As informações que a ela se referem jamais
ocupam as manchetes dos jornais, só raramente são mencio­
nadas nas emissões radiofônicas e ainda mais raramente na .
televisão, ao contrário do que acontece nos países latinos, de
maioria católica. Entretanto, o mesmo poder-se-ia dizer sobre
o islamismo e o budismo. Nos países latinos, os jornais nunca
tratam de suas atividades!
"Considera igualmente as cifras. Um bilhão de budistas,
oitocentos milhões de muçulmanos, seiscentos milhões de
"batizados" católicos etc.; nenhuma destas cifras representa
a totalidade da população terrestre. Cada uma delas é uma
porção, uma seção, e cada religião, de resto largamente mi­
noritária, é, por conseqüência, uma seita. Além disso, cen-

121
tenas de milhões de pessoas são chamadas atéias pelas dife­
rentes "seitas" religiosas que acabo de citar. Elas são na
realidade assim chamadas por não se vincularem aos dogmas
e à fé particular dessas seitas que, desta forma, pretendem
emprestar à palavra "ateu" conotação pejorativa, da mesma
forma que agem em relação à palavra "seitas". Ora, existem
muito poucos ateus no sentido absoluto do termo. Entre o
considerável número daqueles que não são fiéis de uma de­
terminada fé, de uma das "seitas" por mim citadas, muitos
são crentes e praticam uma forma de religião pessoal que
se manifesta em modos de vida e princípios morais altamente
válidos e desprovidos da hipocrisia que as seitas religiosas,
grandes ou pequenas, suscitam em seus fiéis, atormentados
pela opinião de sua ·igreja ou de seus vizinhos.
"Perguntarás sem dúvida, por ser este o teu interesse
primordial, o que vem a ser, nesta perspectiva, a Ordem Rosa­
cruz - A.M.O.R.C., com seus seis milhões de membros sobre
a terra. Bem, ela é também uma seita, no sentido de "seção" e
sem nenhum caráter pejorativo. Os outros grupos humanos,
como círculos, clubes etc., são igualmente seitas, sob este
ponto de vista. Existe, entretanto, uma diferença fundamen­
tal entre estes últimos e igualmente entre as poucas ordens
iniciáticas autênticas, como a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.,
e as grandes seitas religiosas. Os círculos e clubes têm obje­
tivos temporais que eles próprios definem, sendo que alguns
possuem, na verdade, intenções religiosas, constituindo seitas,
dentro do prisma por mim focalizado, mesmo que seu número
de adeptos seja insignificante. Uma seita é religiosa quando
se propõe oferecer um caminho para a salvação e a maior
parte considera, erroneamente e contrariamente a qualquer
princípio verdadeiro, que fora delas não há salvação. Por este
motivo a palavra "seita" não se adapta convenientemente às
organizações iniciáticas autênticas. Por exemplo, a Ordem
Rosacruz - A.M.0.R.C. não se declara um caminho para a
salvação e, ainda menos, que fora dela não há salvação. Ela
oferece a seus membros os instrumentos que eles próprios
utilizarão para edificar, segundo a compreensão de cada um,
122
a evolução pessoal. Ela não edita dogmas. Certos aspectos de
seus ensinamentos podem ser recusados por seus membros
sem que estes incorram em pena de excomunhão. Além disso,
em seu seio se reúnem adeptos de todas as religiões e de t.odas
as filosofia, bem como eclesiásticos de quaisquer denomina­
ções e pessoas que não pertencem a nenhuma seita religiosa,
grande ou pequena, e ainda mais: longe de afastar o fiel de
sua religião, os ensinamentos rosacruzes têm freqüentemente
como conseqüência subsidiária aproximá-lo ainda mais dela.
A formação recebida aumenta a compreensão interior, susci­
tando e desenvolvendo sem dúvida a tolerância no membro
sincero e estudioso. Não é esta tolerância que constitui por
excelência o verdadeiro ecumenismo? Destas considerações
podemos deduzir que as poucas organizações autênticas que
ainda existem no mundo - dentre as quais a Ordem Rosa­
cruz - A.M.O.R.C. é, na realidade, uma das mais importantes
- não estão situadas acima, mas no interior de todas as reli­
giões, sem serem elas próprias religiões, exceto se conside­
rarmos o termo "religião" em seu mais puro sentido de "ligar"
e, por extensão, de unir, que neste caso se aplica à unificação
do ser, à tomada de consciência do ser total.
"Uma organização iniciática autêntica inclui, certamen­
te, na formação tradicional que ela dispensa o exame de ques­
tões de ordem espiritual ou metafísica, propondo uma esco­
lha ( e não um dogma) que ela sabe ser verdadeira. Afirmar
por isto que ela é religiosa no sentido habitual deste quali­
ficativo seria tão absurdo quanto pretender que os grandes
filósofos, como Leibnitz, Kantz e Bergson, por exemplo, cria­
ram religiões porque propunham soluções aos problemas me­
tafísicos da humanidade! Quanto às iniciações e aos rituais,
conferir-lhes um caráter religioso seria um disparate difícil
de qualificar. A iniciação e o ritual são uma técnica desti­
nada a despertar, destinada à formação do ser e a fazer com
que este tome consciência da necessidade de uma evolução
cada vez maior, cuja última etapa é o grão-mestrado. Uma
religião dá aos acessórios, às vestimentas, aos materiais etc.
um valor litúrg·ico, com seus interditos e favores que atingem

123
às vezes a superstição. Para uma organização tradicional,
essas vestimentas, esses acessórios e esse material possuem
um valor exclusivamente simbólico. Não são nada em si, mas
uma fase da técnica iniciática, e só têm valor pelo que repre­
sentam e pelo efeito que devem produzir sobre o participante,
isto é, "condicionar" o mental a despertar o eu interior,
dar-lhe "vida", reunificar o ser, conferir ao homem seu caráter
cósmico total, sua natureza de "filho da luz", na palavra do
mestre. Além di.sso, numa organização tradicional, e a Ordem
Rosacruz - A.M.O.R.C. é uma delas, a razão de cada aces­
sório é plenamente explicada, pois o conhecimento não inclui
superstição, mas, pelo contrário, uma participação com­
preendida em todos os seus aspectos.
"O que para os rosacruzes é denominado "Sanctum"
explica-se da mesma maneira. O Sanctum é também uma
fase da técnica iniciática e sua função é essencial na for­
mação. Finalmente é util lembrar, para concluir este assun­
to, que o rosacruz dirige-se sempre ao seu "Deus interior",
isto é, ao Deus de sua inteligência, ao Deus que ele pode
conceber, compreender e admitir, diferente para cada um e
também diferente segundo a idade, a experiên�ia e o grau de
conhecimento? O Deus que tu concebias quando tinhas sete
ou oito anos não é mais aquele que concebes hoje e será dife­
rente mais tarde. Para alguns, mesmo rosacruzes, o Deus
concebido é a própria natureza ou alguma força �ósmica. Isto
não impede de maneira nenhuma que eles sejam excelentes
rosacruzes e que invoquem este "Deus interior". Este ponto
distingue a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. de qualquer outra
organização ou seita religiosa cujo Deus é definido, pr-ec�o
a tal ponto que a mínima concepção divergente �Q • dogma
apresentado é tachada de herética. Por isso, não deves ficar
triste quando a Ordem Rosacruz - .Â..M.O.R.C. for quali­
ficada pejorativamente de seita pelo ignorante, pelo fanático
ou por aquele que, irrefletidamente, sofre ainda as conse­
qüências de um condicionamento intelectual e moral cujos
conceitos estão impregnados de séculos de obscuro dogma­
tismo, sobretudo nos países latinos. Fiques ainda menos t�is-

124
te se esse qualüicativo emanar de algum grupo r�ligioso, im­
portante ou não. Lembra-te sempre que esse grupo é, ele pró­
prio, uma seita e que tua alma se tranqüilize ao pensar que
as organizações tradicionais, como a Ordem Rosacruz -
A.M.0.R.C. e algumas outras, são ordens de luz, cuja tole­
rância lhes dá carátei: de universalidade que não pode ser
atribuído a nenhuma seita existente. Em vista do exposto,
continues a evitar a utilização da palav:ca "seita" para re­
ferir as diversas manifestações do pensamento religioso, pois
este termo, por culpa deles, possui agora uma conotação
negativa. Como fizeste anteriormente, emprega simplesmen­
te a palavra "religião", ou a expressão "família religiosa".
Estarás desta forma sempre coerente contigo mesmo e com
a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., para 1:1. qual tudo o que é
útil à humanidade, em seus diversos graus de manifestação,
deve ser respeitado e sustentado, sem que por isso devas· abdi­
car do conhecimento e da luz pessoalmente adquiridos. É nisto
que reside a importância fundamental de saber e calar, de­
vendo um ponto ser evidenciado: não há nenhuma dúvida
que se deva advertir aqueles que dirigimos, caso as atividades
de um grupo tentem induzir ao erro ou prejudicar as almas
influenciávei�. Apenas neste caso uma intervenção enérgica
é não somente aconselhada, mas uma obrigação estrita. Com
respeito a tudo, a regra é: silêncio, tolerância e, se necessá­
rio, defesa. indulgente, mas categórica.
"É chegado o momento de nos separarmos. Antes, porém,
simplesmente confirmarei o que aprendeste em outras fontes
prestigiosas. A era de Aquário começou e o mundo assiste
ao fim das religiões. Para chegar a· esta conclusão, basta con­
siderar com atenção o que se passa sobre toda a superfície
terrestre de maneira cada vez mais perceptível e, dentro de
alguns anos, este fato será visível a todos. Na realidade, as
religiões tomarão formas diversas, mas nunca mais serão o .
que já foram, e algumas delas, apesar de importantes, desa­
parecerão para sempre. O tempo do dogmatismo e da fé cega
acabou. Começou a era do conhecimento. Graças ao missio­
nário Dr. H. Spencer Lewis e aos esforços realizados durante

125
decênios por aqueles que carregaram o archote, a Ordem Ro­
sacruz - A.M.O.R.C. (algumas outras tradições também o
fizeram) preparou-se para a nova etapa e tem sua grande
função a cumprir. Hoje e no futuro, os mestres do conheci­
mento velam com rigor jamais igualado. Quem trabalha com
impessoalidade, colocando a org·anização no seio da qual lhe
foi "proposto" servir acima de qualquer pensamento egoísta,
e particularmente acima de qualquer consideração de pres­
tígio pessoal junto a quem quer que seja, dentro ou fora dela,
receberá o apoio de cima. A regra continua: cada um em seu
lugar para o serviço único, cada qual em sua responsabili­
dade hierárquica própria para o bem comum. Dirige esta
advertência a todos: se alguém, escolhido para servir, não
consegue libertar-se de si próprio e ultrapassar as nefastas
injunções de seu ego, terá sua ação "manchada" de "perso­
nalidade" a ponto tal que "aparecer" tornar-se-á um móvel
de suas ações e reações, com tudo quanto isto implique obstru­
ção e entrave ao bem comum. Por mais hábil, por mais obsti­
nado que ele se mostre em suas motivações e na finalidade
perseguida, quaisquer que sejam as justificativas para suas
realizações, a sanção não virá de nenhuma autoridade hu­
mana, mas diretamente dos mestres do conhecimento supre­
mo, do plano onde estes operam, e ela será terrível, ultrapas­
sando, e igualmente incluindo, o afastamento de qualquer
serviço, de qualquer responsabilidade. Ao contrário, aquele
que presta seus serviços impessoalmente, com vontade - em
todos os momentos - de colaborar, afasta de si todas as
queixas. Ele é apoiado pelo Cósmico e contra ele nada preva­
lecerá.
" Medita sobre estas grandes questões. Elas são capitais
nestes novos tempos em que tantas perturbações estão em
curso ..."
O mestre se retira e eu permaneço, por alguns instantes
mais, no Sanctum Celestial antes de voltar ao plano físico,
neste imenso templo de serviço que é a nossa terra. Logo
transcrevo a mensagem recebida e, com isso, lembro-me de
uma recente observação de nossos serviços de publicações.

126
Relativamente, poucos membros lêem e meditam sobre o
Santuário do Eu, do Imperator Ralph M. Lewis. Fico ainda
mais surpreso por ser este livro um monumento da sabedoria
rosacruz. Muitos membros aí encontrariam a resposta para
inúmeras perguntas que fazem a si próprios e à grande loja!
Em particular, os capítulos sobre a iniciação, a espirituali­
dade, as superstições, as predições são de enorme interesse
para todos os rosacruzes. Este livro é recomendado com o
maior entusiasmo!
Predições ... profecias! Eis um assunto interessante para
minha próxima comunhão com o Sanctum Celestial. Começa-
rei a preparar-me amanhã. . .

127
CAPÍTULO XII

PROFECIAS E PREDIÇÕES

V
O assunto deste capítulo é um dos mais delicados e in­
teressantes com que pode deparar-se o místico. Ele pode ser
abordado a partir de múltiplos pontos de vistà, porém a so­
lução verdadeiramente satisfatória repousa naturalmente na
aplicação da lei do triângulo. Relatarei de início o resultado
de minhas meditações pessoais relativas às profecias e pre­
dições, em seguida dirigir-me-ei ao Sanctum Celestial para
solicitar maior luz, e então transmitirei o melhor que puder
aquilo que aprendi sobre o assunto.
Mencionei a lei do triângulo e todo rosacruz sabe que
esta lei é fundamental e se aplica a todos os domínios, do
mais sutil ao mais baixo, no universo visível e invisível da
criação. Por conseguinte, ela se refere ao problema das pro­
fecias e das predições na medida em que poderia explicar
qualquer outro assunto de difícil acesso ao pensamento hu­
mano. O que constatamos sobretudo é o que de positivo e
útil pode proporcionar o conhecimento satisfatório desta lei.
Apenas para lembrar, definirei novamente, de maneira su­
cinta, a lei do triângulo. Segundo essa lei, se dois pontos, ou
duas condições, forem estabelecidos, teremos necessariamente
como resultado uma manifestação que poderá ser psíquica
ou espiritual, ou, ao contrário, mental ou material, segundo
estejam os dois pontos situados no plano infinito ou no plano
finito, o que significa, de acordo com a terminologia rosacruz,
segundo esteja a ponta do triângulo voltada para baixo ou
voltada para cima, de acordo com a sua utilização.
Ê evidente que se estamos tratando das predições, vamos
focalizar o triângulo no plano infinito, sendo a manifestação
representada pela ponta inferior. Uma predição válida - e
nisto ela se assemelha à intuição pura - é, portanto, a per­
cepção dos dois pontos situados no plano cósmico. Aquele
que prediz verdadeiramente, no instante em que apresenta
um acontecimento como possível, conclui que urna manifes­
tação poderá se produzir e esta conclusão é resultante de
um mecanismo subconsciente dedutivo, o qual ele talvez não
conscientize - principalmente se não possui uma formação
iniciática - e cuja origem reside na percepção, pelo eu in­
terior, de duas condições situadas no plano invisível. O meca­
nismo dedutivo do subconsciente é extremamente rápido e se
as duas condições "cósmicas" forem solidamente estabeleci­
das, o acontecimento poderá ser declarado iminente por aque­
le que prediz, se ele for particularmente receptivo, ainda mais
se, moldado por uma iniciação e um desenvolvimento váli­
dos, como os da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., sua evolução
lhe confere uma boa compreensão da situação. Além disso,
ele reagirá como um rosacruz durante as explicações com as
quais envolverá sua predição e nos conselhos que fornecerá.
Em verdade, insisti sobre um importante qualificativo:
possível. Estejam os dois pontos ou condiçõe.s "cósmicas" sim­
plesmente em formação, em "condensação", ou estejam eles
tão formados que a manifestação se encontra iminente ou
mesmo em curso, enquanto o acontecimento não se realizar
ele será apenas virtual e, por conseguinte, poderá ser favo­
recido se positivo e benéfico, ou evitado se negativo e malé­
fico. Para isto, basta agir sobre as duas condições cósmicas,
ou até sobre apenas uma delas. De que maneira, com que
meios, como? Apenas e naturalmente pelo pensamento e, mais
precisamente, pela visualização: uma visualização que parte
do acontecimento previsto ou pressentido, visto como "pos­
sível" na ponta inferior do triângulo, que "vê" este ponto
mais marcado ou, pelo contrário, o apaga mentalmente, ele­
vando-se em seguida aos dois pontos superiores "invisíveis"
ao triângulo, reforçando-os ou dissolvendo-os conforme o caso.

130
Portanto, nenhuma predição "maléfica" é inevitável. Ao con­
trário, todas podem ser evitadas, caso o processo de visuali­
zação seja convenientemente seguido. Com respeito às "boas"
predições, é normal que se procure acelerar sua manifestação,
mas, de qualquer forma, se os dois pontos "cósmicos" foram
realmente percebidos, se eles verdadeiramente existem, a ma­
nifestação se realizará. Pode-se ser "prevenido" a respeito do
acontecimento de várias maneiras, pela intuição, pelos so­
nhos, por um ser receptivo e real, sendo porém essencial rea­
gir sempre da forma descrita, que é a apropriada. É preciso,
acima de tudo, desconfiar dos "profetas da infelicidade" que,
na maioria das vezes, não percebem absolutamente nada e
que, para abusar da credulidade alheia ou apenas para tor­
nar-se frivolamente interessantes ou, ainda, para encobrir sua
fraqueza, o vazio de sua existência ou seu fracasso com um
prestígio enganador, lançam para todos os lados predições
inventadas, estabelecendo por vezes, desta forma, nos cré­
dulos, os dois pontos antes inexistentes. Tais profetas são
seres maléficos e é preciso conservá-los a distância para evi­
tar suas nefastas sugestões. De qualquer forma, aqueles que
lêem estas linhas saberão de hoje em diante fugir às mani­
festações indesejáveis, agindo de acordo com o processo ex­
posto, simples, porém eficaz e definitivo, e assim ninguém
ficará sujeito a sentir receio diante de uma predição, venha
ela de onde vier. Acrescentarei que o trabalho do comitê de
mútuo auxílio espiritual da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.,
tal como é aplicado todos os dias na grande loja, segundo
uma técnica por mim elaborada após inúmeros e extensos
contatos cósmicos, coloca em ação, por intermédio do egré­
goro rosacruz, a lei do triângulo, com o objetivo de frater­
nidade e de amor. O resultado é, conforme o caso, reforçar
ou dissolver as condições cósmicas, favorecendo ou impedindo
uma manifestação, um acontecimento, um estado, ou ainda
para tornar este estado mais positivo, caso ele já se tenha
manifestado, e, em última análise, para permitir a solução
mais legítima e mais benéfica, do ponto de vista cósmico,
àquele que está sendo assistido.

131
As explicações precedentes referem-se sobretudo às pre­
dições individuais, àquelas relacionadas com o próprio ser ou
com pessoas bem determinadas, que qualquer rosacruz sin­
cero e o comitê de mútuo auxílio espiritual, se necessário for,
podem ajudar acrescentando seus esforços àqueles desenvol­
vidos pela pessoa a quem a predição se refere. Examinaremos
agora o que acontece na eventualidade de predições que di­
zem respeito à coletividade, à humanidade em conjunto, e
consideraremos aquilo que deve ser denominado profecia.
Uma profecia refere-se a um período mais ou menos lon­
gínquo. Ninguém ignora as profecias de Nostradamus e as
de Malaquias. As questões que se impõem são as seguintes: se
essas profecias são válidas, como puderam os dois pontos
"cósmicos" do triângulo ser estabelecidos com tanta antece­
dência? Significaria este fato que tudo está escrito anteci­
padamente? Haveria uma predestinação relacionada com a
humanidade inteira?
A estas perguntas forneci resposta em O Corcunda de
Amster<Iã e, a partir dessa resposta, elas podem ser resol­
vidas de um ponto de vista particular, que poderia ser cha­
mado unitário, devido a considerar a criação em seu conjunto
já estruturado e em sua relação com a evolução humana.
Este ponto de vista pode ser para muitos de difícil percepção;
portanto, adiantarei aqui uma explicação de menor grau,
mais facilmente perceptível ao intelecto por ter sido edifi­
cada a partir do manifesto aparente, e não a partir do todo.
Fato conhecido de todos os adeptos é que o mundo evolui
e se desdobra em ciclos, sendo os mais importantes conhe­
cidos pelo nome de eras: era de Peixes, era de Aquário etc.
Isto permite ao iniciado saber apenas o que marcou as eras
anteriores, o que marca a era presente e o que marcará as
eras futuras. Entretanto, no interior de cada era existe igual­
mente um ciclo em desenvolvimento: passagem da era pre­
cedente à atual, evolução lenta, ápice, em seguida evolução
para nova era. Cada era guarda a força de todas as prece­
dentes, sendo, em início, a síntese de todas as outras. Ora,
cada era se estende por trinta graus. Ela se divide em três
132
partes de dez graus cada uma, isto é, cada era durando
2.160 anos compreende três períodos de 720 anos cada um,
sendo que cada grau de um período possui 72 anos. Por conse­
guinte, encontramo-nos diante de uma parte de um grande
triângulo - sendo que cada um de seus lados mede 720 anos
e - no interior deste grande triângulo, diante de um pe­
queno triângulo de "24 anos" de lado. Desta forma, cada era,
síntese das precedentes, representa a volta das precedentes
num nível superior. A,conselho meus leitores rosacruzes a in­
teirarem-se dos ensinamentos contidos na monografia dos
graus do neófito, que trata deste assunto de maneira a le­
vá-los a compreender bem o que aqui vai revelado.
Quanto ao assunto que nos preocupa, deve-se saber que
os profetas aplicam este conhecimento, alguns sem o saber
e outros com conhecimento, como foi o caso de Nostradamus,
sobre o qual talvez um dia eu faça algumas revelações, pois,
contrariamente ao que se pensa, este não é o nome de um
homem, mas de um conjunto de trabalhos feitos por uma
assembléia de elevados iniciados, a qual foi por mim mencio­
nada em As Mansões Secretas da Rosacruz. As profecias
autênticas são, portanto, a percepção subconsciente, por um
sábio, dos dois pontos cósmicos do grande ou do pequeno
triângulo. A percepção destes dois pontos inclui a com­
preensão de cada um dos lados do triângulo. Ela esclarece
cada grau. Deve-se também observar que a percepção sub­
consciente do profeta sobre os dois pontos cósmicos leva à
visão dos grandes acontecimentos, mas que o profeta terá
destes uma compreensão baseada em sua época. Assim, ele
dará aos acontecimentos futuros as características da socie­
dade em que vive. Por exemplo, Nostradamus fala de "rei"
em todos os acontecimentos de suas profecias, pois em seu
tempo não existia a noção dq que poderia representar um
presidente no momento atual. Para se interpretar correta­
mente uma profecia é, portanto, necessário possuir um co­
nhecimento bastante preciso da época em que viveu o profeta.
Além disso, o verdadeiro profeta, que é sempre um sábio,
conhece os principais acontecimentos das eras passadas, em

133
particular das mais próximas, portanto da sua. Este saber
é um dos pontos cósmicos do triângulo, e este ponto pode
ser designado como sendo o do carma positivo e negativo
acumulado pela humanidade. O segundo ponto cósmico é o
das características da era ou das eras consideradas. O ter­
ceiro ponto - a manifestação - é a visão do acontecimento,
daquilo que acontecerá. Deve-se ainda observar o seguinte:
a profecia pode ser, conforme a qualidade do profeta, histó­
rica, como a de Nostradamus, religiosa em alguns de seus as­
pectos, como a de Malaquias, podendo apresentar vários
outros aspectos, sendo estes função da personalidade do pro­
feta. Ela pode referir-se ao "destino" da humanidade em con­
junto - o grande triângulo - ou a uma fase, ou período,
desse "destino" - o pequeno triângulo. Estas são as bases
do estudo das profecias; entretanto, duas questões são levan­
tadas: inicialmente, pode o cumprimento das profecias ser
anulado ou acelerado, como acontece com as predições, e como
isto poderá ser feito? Em seguida, por que existem as pro­
fecias e no que poderiam elas ser úteis?
Proponho-me submeter estas duas questões ao Sanctum
Celestial, e, por isso, encontro-me neste instante em meu san­
tuário privado, esperando o mestre que poderá esclarecer este
assunto. O OM sagrado ressoa sete vezes, em tom extrema­
mente grave, e então ele entra e aproxima-se de mim. Estive
raramente em "comunicação" com este mestre. Ele é cha­
mado no mundo cósmico o primeiro dos doze, devido ao seu
conhecimento total dos ciclos. Devido a sua sabedoria, diz-se
também ser ele o mestre das constelações, mas não creio que
aprecie esta qualificação. Antes que ele comece, junto as mãos
sobre o peito, a direita sobre a esquerda, e suplico-lhe que
grave profundamente em mim sua mensagem, para que eu
possa - voltando ao plano consciente - dar-lhe forma, sem
nada esquecer daquilo que ele concedeu a honra de ensi­
nar-me. Logo ele me tranqüiliza e começa, nestes termos:
"Lembrar-te-ás de tudo o que deves lembrar para set
comunicado imediatamente. Outros fatos só surgirão mais
tarde em tua consciência, quando chegar o momento de trans-
134
miti-los a outros. Outro mestre já te disse, aqui mesmo, que
teus escritos são controlados, e não poderia ser de outra for­
ma, pois eles se destinam a esclarecer aqueles que buscam,
a transmitir-lhes o que devem aprender e tentar compreender
neste estágio preciso da história da luz e do conhecimento.
Antes de tua vinda a estes lugares cósmicos, escreveste al­
gumas páginas sobre aquilo que sabes a respeito de profecias
e predições, mas até o instante em que começaste a falar
sobre as eras, sobre o grande e o pequeno triângulo, igno­
ravas tudo sobre este assunto, como ignoravas a verdade so­
bre Nostradamus. Transmiti a tua consciência estes conheci­
mentos e tu os redigiste livremente, salvo no que se refere
a Nostradamus, sobre o qual somente mais tarde poderás re­
velar a verdade que conheces, quando eu criar em ti o neces­
sário impulso interior.
"Tenho pouco a acrescentar àquilo que escreveste: ape­
nas que os verdadeiros profetas são raros, o que afinal todos
sabem, e que a profecia difere das previsões baseadas na as­
trologia, que indica tendências, possibilidades devidas a um
"clima planetário" determin.ado e que, às vezes, são mal in­
terpretadas. De qualquer ,,.maneira, os astros inclinam, mas
não obrigam. As profecias dos sábios baseiam-se no conheci­
mento e situam-se no nível da certeza. Elas designam o âm­
bito da evolução planetária, algumas vezes universal. Des­
crevem a cena na qual irão "representar" os homens e os
cenários que os vão envolver durante os diversos atos da his­
tória humana. Na realidade, a peça foi preparada de tal ma­
neira que permite aos homens evoluir, tomar consciência,
realizar sua volta � fonte de que emanam. Mas, atenção! A
peça não foi escrita em todos os seus detalhes, os diálogos
não foram redigidos palavra por palavra. A melhor compa­
ração é a antiga "commedia dell'arte". Neste tipo de espe­
táculo só a linha geral da peça era definida antecipadamente,
mas os detalhes, o encadeamento das situações ficavam por
conta dos atores, contanto que os elementos fundamentais
fossem observados e respeitado o desfecho previsto. Disto re­
sultava que as falas de um dependiam do que diria o outro,

135
e assim a peça se desenrolava cada vez mais exata, em vir­
tude de basear-se num encadeamento de situações "coloca­
das" pelos próprios atores. Esta simples explicação permite
compreender as profecias. Elas se referem aos elementos fun­
damentais que serão inevitavelmente observados e ao desen­
lace que também o será, de qualquer forma. Entretanto de­
ve-se olJservar o seguinte: um profeta de uma antiguidade
longínqua não poderia ser mais preciso do que um que tenha
vivido em época mais recente, como Nostradamus. O desen­
rolar da peça não estava avançado. Ele conhecia o ponto
cósmico "carma", o ponto cósmico "era", mas não podia per­
ceber a reação dos atores em cada grau do grande triângulo.
Ele conseguia situar-se melhor sobre o pequeno triângulo,
mas nos dois casos, podia apenas pressentir os elementos fun­
damentais e alguns outros detalhes. Nostradamus pertencia
a uma época precedida de um grande passado, a "peça" es­
tava muito mais avançada, os diálogos anteriores haviam es­
tabelecido situações precisas acrescentadas aos elementos fun­
damentais, o ponto "carma" estava mais "carregado" no bem
e no mal e uma luz mais intensa se refletia sobre cada um
dos graus do grande e do pequeno triângulo.
"Eis a resposta a tua primeira pergunta: o cumprimento
das profecias, no que se refere aos elementos fundamentais
e ao desenlace final, não pode ser nem acelerado nem anula­
do pela vontade dos homens. Apenas o ponto carma é in­
fluenciado pelos atos e pelo comportamento da coletividade
humana e, assim, os graus ou peripécias secundárias podem
ser diminuídos ou modificados. Não esquece que o carma, as
eras e as "circunstâncias" humanas e terrenas têm como fi­
nalidade a evolução da humanidade em seu conjunto e de
qualquer homem em particuiar. Se uma lição é suficiente­
mente aprendida pela hu�anidade, um elemento fundamen­
tal revestir-se-á de menor importância. Ele não será supri­
mido, mas a humanidade o encontrará em melhores con­
dições, com seus efeitos, conseqüentemente, diminuídos. É
preciso acrescentar que os vigilantes supremos, que são, neste
domínio, a.s maiores responsáveis, podem certamente deci-

136
dir-se pela aceleração de alguns acontecimentos, caso cons­
tatem que a medida é útil. Afinal de contas, tempo e espaço
são apenas noções humanas. Por isso poucas profecias esta­
belecem datas irrevogáveis. Nenhum profeta autêntico o fa­
ria. Ele se contenta - e isto já é muito - em revelar o enca­
deamento dos fatos.
"Uma observação essencial deve ser sublinhada. Os ini­
ciados têm uma função a desempenhar na história da huma­
nidade. Sua ação deve ser exercida sobre o ponto "carma"
do triângulo cósmico, donde a necessidade de organizações
estruturadas como a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. e sua
função cósmica. A ação em benefício da humanidade só pode
ser exercida coletivamente. O volume dos pensamentos posi­
tivos de uma ordem tradicional realiza um trabalho benéfico,
e cada rosacruz deve ter isto em mente, durante as reuniões
organizadas e, mesmo, em seu trabalho privado. Isto não é
apenas uma recomendação, mas uma obrigação de todo aque­
le que busca a luz.
"Por que existem profecias e no que elas poderiam ser
úteis? As profecias são guias, ao mesmo tempo que demons­
tram a realidade de um plano universal. Vêem-nas alguns
com um receio supersticioso, particularmente aqueles que
ainda vagueiam pelo vale, em busca da senda do conheci­
mento. Mas para aqueles que já ingressaram na Senda, elas
são por um lado o itinerário e, por outro lado, a fonte de
meditações eficazes sobre o porquê da criação e sobre o es­
paço oferecido ao homem para sua evolução. O adepto busca
o conhecimento, avança para o domínio no sentido mais sa­
grado do termo, e para isto deve examinar cada detalhe do
plano em que vive, para atingir, em última análise, uma sín­
tese tal, que a luz e a iluminação jorrarão com a tomada
de consciência final, que é a volta definitiva à fonte, ao seio da
realidade. Pressentindo, pelas profecias verdadeiras, o plano
universal, o discípulo aproxima-se assim da consciência cós­
mica, da suprema comunhão. Mais .simplesmente, ele sabe

137
aonde vai juntamente com o mundo, ele conhece as circuns­
tâncias em que se deve desenrolar sua evolução e está prepa­
rado para colher o fruto da experiência que lhe é proposta.
"Sob um outro ponto de vista, nunca pensaste, sem dú­
vida, que as profecias, referindo-se ao mundo, referem-se
igualmente a cada homem em particular, e isto em todas as
épocas. Elas apresentam simbolicamente as circunstâncias
que cada homem encontrará em cada uma de suas encar­
nações, suas lutas pessoais, suas experiências individuais etc.
Representam, portanto, a história dos homens e a história de
cada homem; são um guia da humanidade e um guia de
cada homem. Medita sobre este aspecto da questão das pro­
fecias e observa finalmente que nenhuma delas é suficiente­
mente clara para. ser compreendida sem esforço e sem um
Jaboriaso trabalho de interpretação, o que torna evidente
serem elas destinadas de início aos adeptos e aos postulantes
à luz, sem por isso estarem ocultas a todos os outros. Princi­
palmente a elas foi dirig·ida a advertência de Jesus: "Que
aquele que pode compreender, compreenda". Ora, para bem
compreender é preciso buscar e algumas vezes calar, pois o
conhecimento deve ser adquirido pelo esforço pessoal. So­
mente podem ser comunicados os instrumentos e o caminho
seguro da pesquisa transcendente, sendo esta, por exemplo,
a obra da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.
"Terminarei esta lição com uma advertência já feita, mas
que nunca é demais repetir: que o mundo se afaste dos falsos
profetas. Os verdadeiros, os puros, são raros. Eles são sábios
e calam-se na maioria das vezes, não por orgulho ou por
desinteresse, pois eles são somente amor, mas porque sabem
que tudo já foi dito, embora nem tudo tenha sido compreen­
dido ... "
O mestre dirige-se para o altar de meu santuário privado
e, voltando-se para mim, concede-me sua bênção, tão emo­
cionante que me encontro em lágrimas em meu santuário
138
terrestre, murmurando muitas e muitas vezes: "Obrigado,
obrigado", como se o mestre me ouvisse. Talvez ele ouça este
canto de minha alma reconhecida, este pequeno "obrig·ado"
no qual vibram todo o meu ser, toda a minha vida, todo o
meu amor ...

139
CAPÍTULO XIII

A CURA ESPIRITUAL

V
"Ide curar os enfermos", ordenou o mestre há dois mil
anos, e acrescentou: "O que eu fiz, vós podeis fazer, e coisas
ainda maiores". Portanto, qualquer homem tem virtualmente
o poder de curar o próximo, e se eu digo "virtualmente" é por
ser esta uma palavra-chave cujo caráter restritivo salienta
que, para se obter o resultado desejado, devem ser obriga­
toriamente preenchidas certas condições. Freqüentemente es­
quece-se que o mestre se dirigia aos seus mais próximos dis­
cípulos, àqueles que ele havia cuidadosamente preparado e
formado, àqueles a quem, dizia ele sem cessar, estavam re­
servadas as "pérolas" de sua mensagem, as, explicações com­
pletas e secretas relativas aos princípios profundos que a
multidão não poderia compreender e admitir. Nenhuma ne­
gação deste fato resiste à simples leitura dos evangelhos que
nos foram transmitidos. Não se pode aceitar os preceit(J\S
quando estes se aliam. a doutrinas ou dogmas posteriores e,
contra todo bom-senso, rejeitar ou interpretar outros por­
que eles parecem contradizer estas mesmas doutrinas ou
dogmas. Os evangelhos formam um todo, no qual cada pa­
lavra tem um valor que não se pode contestar sem alterar
todo o ensinamento. Hoje em dia é universalmente reconhe­
cido que Jesus era essênio, membro, portanto, de uma comu­
nidade secreta, e deve-se agradecer aos sábios que, após a
recente descoberta dos manuscritos do Mar Morto, souberam
resistir a tantas intrigas e pressões para revelar ao mundo
este fato capital que, seguramente, ia de encontro a dogmas
religiosos rígidos demais e declarados infalíveis, ameaçando
igualmente os fundamentos de todo um sistema estabelecido

141
pelo homem, mas que se pretendia divino. É bem verdade que
vieram com a nova era os tempos em que a verdade teria
surgido de qualquer forma, como ainda surgirá, apesar de
tudo, em outros domínios, estando de hoje em diante termi­
nado o longo período dos "mistérios" ou do que assim era
denominado para dissimular a sabedoria autêntica. A fre­
qüente leitura de obras tais como A Vida Mística de Jesus
e As Doutrinas Secretas de Jesus, do grande missionário
que foi o Dr. H. Spencer Lewis, é aconselhada a todos os dis­
cípulos que se encontram na Senda. Estas obras não são
dogmáticas. Mas até mesmo um rosacruz pode não lhes dar
crédito, sem se expor à menor repreensão e sem que seu
"status" ou sua progressão na A.M.O.R.C. sejam afetados. En­
tretanto, não se passarão um ou dois decênios sem que apa­
reçam novas "descobertas" contendo provas irrefutáveis, como
aconteceu, em data ainda recente, com relação às afirmações
contidas nestes livros e anteriormente consideradas fanta­
sistas por fanáticos ignorantes.
Mas não é esta a questão. O importante é lembrar que
a ordem de curar havia sido dada originariamente a um gru­
po restrito de discípulos devidamente preparados e, conse­
qüentemente, àqueles que receberiam uma formação interior
semelhante à que lhes havia sido dispensada e que atingiriam
o mesmo grau de evolução, o mesmo estado.
Devo ser aqui bastante explícito. Não quero de forma al­
guma dar a entender que apenas aqueles que foram em se­
guida formados e preparados pelos discípulos mais próximos
de Jesus possuíam o dom de curar, concedido pelo Mestre,
mas desejo sem equívoco possível sublinhar que ninguém
pode pretender curar pela simples aplicação dos princípios
espirituais ou místicos, sem haver atingido, por meio de uma
disciplina ou formação particular - sendo que a Ordem Ro­
sacruz - A.M.0.R.C. é uma delas -, o grau ou estado inte­
rior ao qual haviam chegado os mais próximos discípulos
de Jesus. Quero acrescentar que este grau, ou estado inte­
rior, é adquirido mais rápida e eficazmente, desde que se
realize um trabalho sério e perseverante, no seio de uma

142
organização tradicional autêntica. Citei, a título de exemplo,
a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., podendo ser também adqui­
rido - mas raramente é verdade - fora de qualquer orga­
nização, pela observação solitária, mesmo inconsciente, de
grandes princípios, o mais importante dos quais é o amor ao
pró,,imo. Voltaremos, entretanto, a este assunto. Incontesta­
velmente, a cura é um dos poderes místicos que o discípulo
sincero pode desenvolver harmoniosamente, sendo esta cons­
tatação feita no estrito sentido do capítulo consagrado, neste
livro, ao exame deste assunto particular. Entretanto, consi­
derou-se útil insistir no fato de que o grau ou estado inte­
rior necessário à prática da arte de curar, com sucesso abso­
luto, poderia ser atingido não somente pelo caminho essen­
cialmente cristão e com uma preparação dirigida, mas tam­
bém por qualquer caminho, qualquer que seja sua denomi­
nação religiosa, filosófica ou outra, e por um encaminha­
mento pessoal e isolado, tão longo e arriscado seja ele em
comparação com uma técnica comprovada conduzida num
plano ou campo determinado.
Estas poucas reflexões reduzem sensivelmente o número
daqueles que podem praticar a cura espiritual. Este número
será ainda mais reduzido à medida que avançarmos em nossa
análise, mas no momento desejado o Sanctum Celestial en­
tregará sua mensagem sobre este assunto, e talvez seja men­
cionado o milagre que pode realizar a boa-vontade e um
clarão - um simples clarão - de amor por parte dos menos
preparados. Veremos. Enquanto esperamos, devemos observar
que as definições apresentadas até o presente conduzem à
nítida conclusão de que existem verdadeiros e falsos curan­
deiros, sendo que os primeiros são raros, extremamente raros
em relação aos outros, que abundam e cujas práticas, às
vezes escandalosas ,' são sempre interesseiras, incorrendo os
que a isto se dedicam no chamado charlatanismo da des­
graça. - Darei um exemplo simples: um "curandeiro", cujo
nome não mencionarei, solicitava há alguns anos "honorá­
rios" de trezentos cruzeiros e uma fotografia àquele que por­
ventura a ele se dirigisse. Recebia, em média, urna dezena
143
de fotografias por dia. Ora, seu método, seu único trabalho,
consistia em pôr entre as mãos, durante alguns instantes por
dia, as fotografias que lhe haviam sido enviadas. Sem dúvida,
ele obtinha raros resultados que na realidade não lhe podiam
ser atribuídos, e sim aos próprios doentes, nos quais uma
confiança sem reservas havia criado uma visualização eficaz
e o retorno à harmonia interior tão necessária a seus corpos,
permitindo à natureza, ao fluxo cósmico, realizar sua obra
de regeneração. Evidentemente, a maior parte deles não se
declarava satisfeita com os "serviços" deste curandeiro, que
acabou desaparecendo no anonimato. . . São inumeráveis os
exemplos deste tipo!
Existe na Suíça um cantão onde os curandeiros operam
livremente. Seus "consultórios" são colados uns aos outros e
eles se entregam a uma desenfreada concorrência. Devido a
isto, seus ganhos são em geral modestos; por isso muitos deles
renunciam a tais atividades. Agiriam desta forma, caso seu
poder fosse real e seu objetivo desinteressado? Não é difícil
responder a esta pergunta ...
Mencionei anteriormente que alguns doentes de um certo
curandeiro, sem o perceber, haviam-se curado por si próprios
e poderíamos observar que um doente sempre consegue
curar-se, qualquer que seja aquele a quem se dirija - curan­
deiro ou médico - e qualquer que seja o remédio que even­
tualmente tome.
Falarei mais adiante sobre a medicina oficial, mas todos
já deduziram que o elemento fundamental para a cura espi­
ritual, ou outra, é a confiança do doente em seu estado men­
tal. Antes de qualquer cura, Jesus perguntava: "Tu crês em
mim?" e só em seguida operava, pois sabia, que, sem o vínculo
de confiança estabelecido entre ele e o doente, nenhum re­
sultado poderia ser obtido. O sucesso relativo e temporário
de alguns curandeiros não preparados explica-se pela con­
fiança que possuem em si próprios e pela confiança que seus
doentes neles depositam. Basta que essa confiança desapareça
de um lado ou de outro, e o fracasso é definitivo_ Ora, tal si­
tuação não se produz quando se trata de um verdadeiro

144
curandeiro, daquele que preenche as condições exigidas de
gi:au ou estado interior, sobre o que já adiantei as explica­
ções necessárias. O simples fato de se dirigir a· ele já cons­
titui a prova necessária de confiança, e o verdadeiro curan­
deiro possui em si próprio uma confiança inabalável, pois ela
é inerente ao seu estado. Ele é, portanto, o único a poder
realizar uma cura, se esta cura for possível.
Chamamos "doença" à ruptura de equilíbrio na trans­
missão da energia cósmica por seu veículo, que é o corpo hu­
mano. Desta forma, após repetidos erros, um órgão mais ou
menos importante não mais consegue desempenhar perfei-'
tamente sua função. Da mesma maneira que um elemento
defeituoso de um motor de automóvel, a carência do órgão
produzirá "falhas" que prejudicarão todo o veículo físico, po­
dendo até, num caso mais sério, levar à pane total, caso não
seja rapidamente realizada uma intervenção. Naturalmente,
no corpo físico - a ciência acaba de demonstrá-lo - o cen­
tro fundamental está situado na cabeça, ao nível do cérebro,
aparecendo o coração em segundo lugar.
Disto resultam dois fatos: inicialmente, que o pensa­
mento é o controlador do corpo, compreendendo-se deste
modo por que a cura exige a confiança, que representa uma
forma possante de pensamento positivo; em segundo lugar,
o crescimento da potência energética cósmica do corpo, pro­
vocado pelo verdadeiro curandeiro, pode "desbloquear" o
órgão deficiente e restabelecer a harmonia do circuito. Pode
mesmo acontecer que, em último 1
caso, se crie uma forma de
"substituição", seguindo o circuito um percurso diferente para
que o equilíbrio seja estabelecido sem a cooperação do órgão
imperfeito, até que este seja restabelecido pelo complemento
de energia cósmica e pelo estado mental positivo do doente.
Chegou o momento de examinarmos a utilidade da me­
dicina oficial e da cirurgia, começando por uma advertência:
um verdadeiro curandeiro, tal como foi aqui definido - o
qual, como já observei, é raro, em comparação com a volu­
mosa massa de charlatães - nunca proíbe seus doentes de
procurarem um médico, de seguirem suas recomendações e
145
até, se necessano, de recorrerem à cirurgia. A medicina tem
séculos de pesquisas atrás de si e desenvolveu - e continua
a desenvolver - seus conhecimentos para servir ao homem.
É estranho ver algumas pessoas recusarem a medicina e se
servirem de todas as outras conquistas da ciência: gás, ele­
tricidade etc. A medicina é uma ciência em que se encontram
pesquisando permanentemente especialistas cuja experiência
se desenvolve sempre, pela prática de todos os momentos.
Sem d.úvida, existem bons e maus médicos, mas condenar a
medicina por causa destes últimos equivaleria a condenar
toda uma confraria por se haver desgarrado um irmão! A
medicina considera o corpo como este se apresenta e con­
segue de maneira admirável diagnosticar, tão certo quanto
possível, o mal que o acometa. Seu método consiste em atuar
sobre o corpo com o auxílio de instrumentos e substâncias
químicas cuja eficácia já tenha sido exaustivamente compro­
vada. Com técnica própria, ela ajuda a natureza a cumprir
sua obra. <? médico não pretende curar: ele favorece as con­
dições da cura. O cirurgião, por sua vez, intervém em último
caso, para fazer os "reparos" necessários, caso todas as outras
tentativas tenham fracassado. Os clínicos e os cirurgiões
cuidam do terceiro ponto do triângulo humano, o da mani­
festação, ou seja: unicamente do corpo. Sua ciência é, por­
tanto, necessária ao gênero humano e sua missão um ato
de abnegação, de dedicação e de amor, prescrito pela cons­
ciência cósmica e por ela amparado. O médico desempenha
sua função, assim como o faz o verdadeiro curandeiro. Am­
bos, em seus domínios específicos, têm como única finalidade
amenizar o sofrimento humano. Ambos executam a ordem
do Mestre. Eles curam os doentes. Por esta razão, proibir
àquele que sofre as luzes e a eficiência da medicina oficial
representa um grave erro e às vezes um crime. Aquele que
assim procede deve ser classificado entre os falsos curandei­
ros. Por maior que seja sua sinceridade, para consigo e para
com os outros, ele se ilude e deve ser considerado perigoso.
Sinto ter que me manifestar de forma tão categórica, mas,
como todos os oficiais da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., já

146
vi tantas vezes a infelicidade abater-se sobre seres que por
confiarem demais em falsos curandeiros deixaram de recor­
rer a outros meios, que me sinto na obrigação de adverti-los
com absoluta clareza, caso contrário estaria traindo grave­
mente minha missão. Não tenho por dever tentar agradar a
uns e outros, mas defender a verdade contra tudo e contra
todos ainda mais quando isto se torna difícil. Por esta
razão, digo igualmente que a medicina erra quando se lança
à luta sem tréguas contra os curandeiros. Com isto, ela está
apenas ajudando os charlatães, por uma propaganda eficaz.
A auréola do mártir serve também aos incapazes. Os poderes
públicos jamais conseguirão impedir que o sofredor se dirija
a um curandeiro para buscar auxílio. A liberdade ampla tra­
ria como resultado final a utilização, pelo público, de seu
bom-senso, pois não se trai por muito tempo a sabedoria po­
pular, se ela não estiver pressionada por proibições que na
maioria das vezes se transformam em indicações. A liberdade
outorgada levaria o doente a compreender que existem ver­
dadeiros e falsos curandeiros, da mesma forma que existem
bons e maus médicos, e, como última conseqüência, haveria
considerável redução do número de charlatães e uma coope­
ração eficaz entre a medicina oficial e os autênticos curan­
deiros. Isto finalmente acontecerá durante a era de Aquário,
e aliás - se bem que imperceptivelmente - já começou.
Tendo sido examinadas as condições da verdadeira cura
espiritual, tendo sido lembrada a utilidade da medicina clí­
nica e cirúrgica, tendo sido dito que a eficácia da medicina
alopática e da medicina homeopática depende do estado, da
constituição e das reações de cada um - o que é bom para
um pode não servir para outro, todos os médicos deveriam,
segundo o caso, utilizar uma ou outra dessas formas de tra­
tamento - preparo-me para consultar o Sanctum Celestial
sobre este assunto, consciente de que o mestre, ainda uma
vez, impregnou meu pensamento, de maneira que minha vi­
sualização do ponto a ser considerado será rápida, pois, de
certa maneira, o "contato" já foi estabelecido.

147
Com efeito, já me encontro em meu santuário cósmico,
tendo diante de mim aquele que meu coração designou há
muitos anos pelo nome de mestre bem-aventurado, pois seu
rosto, sempre sorridente, irradia bondade e amor. Sentado
a meu lado, sua mão sobre a minha, nossas consciências se
unem e ele ensina-me nestes termos:
"Desde as primeiras palavras de tua exposição sobre a
cura espiritual, incuti em ti a severidade com que disseste
certas coisas e com que fizeste certas advertências. Foste se­
vero, contra a tua vontade, como eu próprio sou sem o que­
rer em muitas circunstâncias, mas a responsabilidade trans­
cende a personalidade e sabes que no passado já foste obri­
gado a agir, para o bem de todos, em total contradição com
a indulgência que te é inata. Se sofreste humanamente, isto
tem pouca importância! Aceitaste servir, e o serviço de todos,
o serviço por um objetivo comum, implica justiça, inabalável
manutenção das regras rígidas e fundamentais que nada têm
a ver com aquilo que os homens, individualmente, chamam
de "justo" com relação a si próprios e a seus interesses pes­
soais. Quando se trata do conjunto e de sua integridade, a
responsabilidade exige que não sejam levadas em conta as
"boas intenções" das quais o inferno está repleto. Se em al­
guns casos não tivesses sido rigoroso, por pressão nossa, nosso
rigor teria sido ainda mais terrível, pois teríamos natural­
mente te substituído na qualidade de senhores do carma.
Assim, esquece tua pena e teu tormento e não considera a
opinião provisória de outrem. Apenas tem valor a opinião dos
mestres dos quais tu és, durante o tempo que passas a ser­
viço de tua função, o instrumento, sendo por isso difícil es­
conder-te qualquer coisa, mesmo se, conforme a lei, tu deves
constantemente calar, sem no entanto deixar de agir.
"Neste assunto que nos preocupa, a severidade deve
agora dar lugar ao amor e à compreensão. Ficarás muito
.mais feliz quando, mais tarde, transcreveres minha mensa­
gem do que estavas anteriormente, quando condenavas com
severidade os abusos.
148
"Diferenciaste nitidamente o verdadeiro do falso curan­
deiro, da mesma forma que conseguiste discernir o bom e o
mau médico. Em ambos os casos, podemos distinguir uns dos
outros, se tomarmos aqueles que merecem o adjetivo "falso"
ou "mau" principalmente por: uma ausência de amor, sendo
que a indiferença é apenas um de seus aspectos. O verdadeiro
amor, que é, interiormente, um dom total de si i:nesmo e
que difere radicalmente da pieguice de muitos que. acredi­
tam erroneamente amar, este verdadeiro amor é capaz de
realizar milagres incompreensíveis ao entendimento humano.
Por exemplo, a presença de uma mãe perto de um filho doente
tem tanta importância quanto a do médico. Neste sentido
ela é um verdadeiro curandeiro, pois ama realmente. O curan­
deiro, mesmo falso, ou o médico, mesmo ruim, podem rea­
lizar ·curas espetaculares se sentirem, por uma fração de se­
gundo que seja, um enlevo de verdadeiro amor por um doen­
te. Este enlevo é sempre sentido pelo verdadeiro curandeiro
em virtude de sua preparação e �e sua formação interior. O
falso curandeiro sente-o só esporadicamente, o que explica
seus freqüentes fracassos. Proibir um doente de consultar
um médico ou de ingerir certos medicamentos caracteriza
falta de amor, como é falta de amor ridicularizar um doente
que, além da medicina, recorre a um verdadeiro curandeiro.
Servir a outrem é um ato de amor e este serviço pressupõe
o conhecimento, a to!erância e a verdade.
"Se assim é, por que verdadeiros curandeiros e bons mé­
dicos não obtêm sucesso em �odos os casos? Esta pergunta
deve ser atentamente examinada.
"Inicialmente, já escreveste em algum lugar e explicaste
longamente por que a hora da morte é fixada. De resto, o
essencial não é a duração de uma existência, mas seu con­
teúdo. Uma existência curta pode ser mais plena e mais
meritória do que uma longa existência. Na realidade, para
ser penetrado por esta verdade, necessário se. torna haver
atingido um grau definido d.e desenvolvimento interior. Até
então, somos presa deste tipo de fetichismo corporal cuja
conseqüência é um constante desejo de viver, mas nos subme-

149
tendo, para isto, a regimes supostamente salvadores, que na
realidade são freqüentemente uma agressão ao corpo. A lei
do meio termo é raramente observada, se bem que seja a
regra mais importante; já pensaste em que aqueles que se
restringem permanentemente a "regimes" inúteis são tão
errados quanto os que se entregam aos excessos? O homem,
para quem o corpo e a saúde são uma preocupação cons­
tante, colocada antes de qualquer outra, só é comparável
ao idólatra que se preocupa apenas com o aspecto material de
sua igreja ou templo, ignorando que esta igreja ou este tem­
plo têm como finalidade a prece e a meditação. A vida cor­
poral é um risco permanente, tanto no que se refere à ali­
mentação, mesmo quando supomos comer "bem", quanto em
relação aos acidentes. O corpo deve desempenhar sua função
de suporte de experiências da alma-personalidade que o ha­
bita temporariamente. Quando não mais puder cumprir sua
missão, a alma-personalidade receberá um outro "suporte"
físico e prosseguirá em sua evolução. É assim que o iniciado
considera esta questão. Para ele, a finalidade transcende o
meio e o corpo passa para segundo plano. Ele procura retirar
o máximo de uma encarnação, mesmo em detrimento de sua
duração. Por isso, o que para outros poderia ser um "erro",
do ponto de vista do comportamento humano, não o é para
ele. Além disso, cedo ou tarde, a vida humana tem fatalmente
um fim, tenha ou não sido bem utilizada. Este fim é função
do ritmo da vida. O corpo, da mesma forma que um automó­
vel, desgasta-se mais ou menos rapidamente, dependendo do
uso que dele for feito, sendo que cada um tem o direito de
escolher como irá utilizá-lo, cada um é responsável. Se o
corpo ou um de seus órgãos está desgastado, se a finalidade
não pode mais ser atingida, se tudo o que poderia ser conse­
guido numa encarnação já o foi, então as condições cármicas
da "partida" - as "circunstâncias da morte" sobre as quais
falaste em outro escrito - entram em ação e a alma-perso­
nalidade se retira de um veículo então inútil ou inutilizável,
a fim de preparar-se para tomar posse de outro, mais apro­
priado. A morte é a mais grandiosa, a mais nobre e a mais

150
esplêndida circunstância para o homem livre das supersti­
ções que envolvem, para muitos, uma magnífica "transfe­
rência". Não há maior disparate do que o medo da morte.
Ela é um elemento natural da eternidade do homem em sua
realidade absoluta. Quando chega o momento de abandonar
o plano físico, pelas razões de desgaste e de eficácia já cita­
das, é eviçiente que nenhum curandeiro e nenhum médico
poderá adiar por muito tempo este prazo. O que se deve en­
tão fazer é tentar suavizar o fim, e isto um verdadeiro curan­
deiro, um bom médico ou simplesmente os entes queridos po­
derão fazer. Nesta última circunstância, como aliás no caso
de qualquer doente, o comitê de mútuo auxílio espiritual da
Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. cumpre uma obra maravi­
lhosa, com total impessoalidade e conformando-se com os
grandes princípios lembrados por ti e precisados por mim.
"Para concluir, deixa-me expressar o que está em ti des­
de o início de nosso encontro no Sanctum Celestial. O corpo.
físico é o sanctum da alma-personalidade que nele reside.
Cada ser deve amá-lo, respeitá-lo e mesmo orná-lo e embe·
lezá-lo. Por vezes é necessário recorrer a um especialista
competente para realizar os necessários reparos ou para res­
taurá-lo, se isto ainda for possível. Porém, se ele já serviu
muito e bem, é tempo de deixá-lo com reconhecimento e sem
inúteis pesares, por uma morada mais apropriada, por um
sanctum ainda mais belo ... "
O mestre bem-aventurado deixa-me com um último sor­
riso, ao qual corresponde a intensa alegria interior que me
inunda assim que volto ao sanctum temporário de minha
alma, a este corpo físico que submeto a tantas provações,
experiências, e que se submete a tantas pressões aceitas com
amor e com gratidão a serviço dos outros. Tenha ele, nesta
noite, me permitido transmitir a mensagem tão bem quanto
a recebi. ..

151
CAPÍTULO XIV

A ALMA-PERSONALIDADE E O CORPO F1SICO

V
Estando o assunto da alma-personalidade e do corpo fí­
sico de certa forma relacionado ao precedente, e ainçla mais
ao capítulo seguinte, que trata dos "apetites físicos", teria
sido talvez conveniente reuni-los num só capítulo. Pare­
ceu-me, entretanto, que isto redundaria em certa confusão,
considerando que os três aspectos de um só problema devem
ser examinados sob pontos de vista diversos, levando, como
não podia deixar de ser, a uma argumentação de aparência
divergente, apesar de sua conclusão ser afinal idêntica. Além
disso, dirigi-me por três vezes ao Sanctum Celestial para re­
ceber esclarecimentos sobre cada um destes aspectos e a cada
vez um mestre diferente respondia à minha visualização. Po­
de-se compreender com facilidade a razão. Já se sabe, pois a
isso várias vezes aludi nestas páginas, que a visualização deve
ser clara e precisa. Uma pergunta vaga só poderá receber
resposta assim meio vaga, com contornos imprecisos. Por
outro lado, um problema bem visualizado e atentamente de­
limitado receberá esclarecimentos extremamente precisos,
mesmo sendo inevitáveis as alusões aos outros aspectos do
assunto. Portanto, antes de redigir o último capítulo, eu ha­
via colocado o problema da cura espiritual. Um novo con­
tato cósmico, suscitado pelos comentários do mestre, deve­
ria referir-se naturalmente ao corpo físico em sua relação
com a alma-personalidade. De que forma deveria ele ser con­
siderado: como um estado ou conjunto de condições preju­
diciais a ser dominado por uma incessante ascese e a ser
vencido como fonte de "pecado" e de remorsos, ou ser utili­
zado tal qual é, com suas virtudes e fraquezas?
153
Meu santuário privado, no Sanctum Celestial, está hoje
intensamente iluminado pelos raios solares, que projetam so­
bre o altar e sobre os móveis, deformando-os, os detalhes do
esplêndido vitral. "Sobre a terra" é pouco mais de meio-dia
e, apesar de preferir a noite para a realização de meus con­
tatos cósmicos, a urgência em continuar a preparação de
minha obra aqui me trouxe, e aqui me trará nos próximos
dias, em horas diversas. o mestre já "lá" estava quando che­
guei, o que demonstra que minha visualização estava cor­
reta e havia sido realizada eficazmente, tendo sido com­
preendido pelos mestres do conhecimento meu desejo de
adiantar o trabalho em curso. Uma vez no Sanctum Celestial,
nunca se deve repetir a pergunta. Deve-se ficar em estado
de absoluta receptividade e passividade, para que a consciên­
cia interior seja impregnada da resposta. Portanto, fico em
silêncio e o mestre fala:
"Sim, nada é mais verdadeiro do que considerar o corpo
um sanctum para a alma-personalidade que o habita. Este
sanctum permanece vivo enquanto seu "hóspede" nele es­
tiver presente, insuflando-lhe vida. O guardião do sanctum
é o mental. Sua missão consiste teoricamente em manter os
locais em bom estado, em reconhecer os visitantes, que são
representados pelas idéias, e em admitir apenas os bons, em
velar para que tudo esteja em ordem dentro e fora e, de ma­
neira geral, em seguir as instruções estabelecidas desde sem­
pre para a sua função. Infelizmente, na prática, este guar­
dião com freqüência se orgulha de seu mister e chega a
crer-se o mestre, com todos os erros e reações nefastas que
tão �rrada idéia de sua missão pode acarretar para si mesmo
e para o sanctum pelo qual é responsável. Acontece mesmo
que ele se torne tão preocupado em não parecer menos im­
portante do que se julga e tão cioso de seu prestígio, que
esquece o verdadeiro hóspede do sanctum e não mais dirige
a ele os pensamentos que chegam para visitar o verdadeiro
proprietário do local. Naturalmente, advertências cada vez
mais severas lhe são feitas pelo proprietário e pelos visitan­
tes. Estas advertências tomam a forma de preocupações, de

154
tormentos, de remorsos e sobretudo de inquietudes e insatis­
fações, geralmente compensados por uma crença religiosa
qualquer, que lhe proporciona um apaziguamento passageiro,
e isto durará até que as repetidas experiências negativas te­
nham destruído a enganadora segurança do mental e este
capitule progressivamente, devolvendo à alma-personalidade
seu verdadeiro lugar e toda a sua influência, coincidindo o
início desta capitulação salutar com o ingresso na senda,
com o começo da busca mística e tradicional.
"Evidentemente, a maneira pela qual o sanctum - isto
é, o corpo - é considerado, é função da amplitude tomada
pelo mental. Para quem se encontra ainda totalmente sub­
misso a ele, com suas concepções mais ou menos atéias ou
simplesmente supersticiosas, o corpo continua no primeiro
plano das preocupações, com tudo o que isto pode acarretar
em excessos de qualquer natureza e em temores diversos, sen­
do o maior deles o temor da morte. O sanctum corporal é,
assim, objeto de idolatria pura e simples.
"No campo oposto, encontramos uma concepção do men­
tal, que representa igualmente uma forma grave de ilusão,
se bem que esta possa constituir o ponto de partida de uma
evolução mais autêntica. Neste caso particular, o mental in­
terpreta mal sua missão de guardião. Ele não mais se consi­
dera guardião do sanctum, que é o corpo, deixando-o mais
ou menos abandonado; ele se considera o guardião da alma­
personalidade. Partindo de falsas premissas, sugeridas por lei­
turas ou educação erradas, ele pensa que o corpo é um en­
trave que deve ser suprimido, uma prisão da qual deve fugir,
um freio a afastar com rigor e severidade. Temos como re­
sultado o ascetismo, com seus múltiplos aspectos, com seus
excessos físicos e falsamente espirituais. O sanctum corporal
é, assim, objeto de desprezo, de repulsa, de temor e repressão.
"Ambos os casos estão naturalmente errados. Como sem­
pre, a verdade encontra-se no meio termo. Neste caminho in­
termediário que é o da verdade, o mental é um instrumento.
Ele dá forma compreensível aos impulsos da alma-persona­
lidade, interpreta-os de maneira válida e, por outro lado,
155
transmite ao hóspede do corpo, após exame e análise, as im­
pressões recebidas do exterior. Ele é verdadeiramente o guar­
dião e evolui a cada dia em sua tarefa, em sua missão.
"O sanctum da alma é então considerado como deve. A
ele é prestada atenção razoável. Nada se opõe - pelo con­
trário - a que tudo seja feito para torná-lo mais belo e agra­
dável. Ele é objeto de respeito e de reconhecimento. O sane­
tum da alma-personalidade é de uma admirável perfeição.
É uma criação que jamais será igualada por uma realização
humana. Merece os mais atentos cuidados e, se precisar de
algum reparo, este nunca lhe deve ser recusado. Isto é o que
aprendeste em teu contato com um outro mestre quando tra­
taste da cura espiritual. Na realidade, alguns sanctuns cor­
porais são mais belos que outros, de acordo com as noções
humanas de beleza. Porém, do ponto de vista cósmico, todos
são nobres e belos, pois todos são sanctuns e cada um deve
amar o seu.
"Situemo-nos agora num plano mais elevado. A alma uni­
versal é vibração e o mesmo acontece com a alma-persona­
lidade encarnada, segmento da alma universal, que "habita"
cada sanctum corporal e que transfere para este, no mo­
mento em que nele ingressa, a "personalidade" que deve ai
começar, ou então continuar, sua evolução até a tomada de
consciência total. Mas como tudo é vibração, também o é
o corpo físico. O que diferencia uma manifestação física ou
cósmica de outra é sua freqüência vibratória própria e tudo
está em tudo. A personalidade anímica é, portanto, uma vi­
bração dentro de uma outra vibração que é o corpo. As duas
freqüências de harmonizam. Pelo menos elas foram previstas
para estarem nesse estado de harmonia, de equilíbrio, e a
isto chamamos "saúde". Se isto não mais ocorre é porque o
guardião - o mental - não desempenha convenientemente
sua função, e então deve-se voltar à importância fundamen­
tal do pensamento positivo. Os bons pensamentos, de todos
os tipos, constituem verdadeiramente uma alquimia espiri­
tual cuja força regeneradora, ou simplesmente conservadora,
é milagrosa, enquanto seu oposto, os pensamentos negativos

JS6
e maléficos, possuem um incrível poder de destruição para
aquele que deles se utiliza e para mais ninguém.
"Negar o corpo físico e suas necessidades é um inquali­
ficável disparate. Prestar-lhe atenção excessiva é uma irre­
flexão. Julgá-lo prejudicial é total falta de bom-senso.
"Compreende-se que alguns sanctuns corporais sejam
novos, outros mais velhos, outros ainda quase em ruínas.
Estes "estados" correspondem a um ciclo! Dependem da ida­
de e, igualmente, da maneira pela qual o "guardião" enten­
deu sua função. Entretanto, por que alguns destes sanctuns
parecem desde o início "malogrados"? Em outras palavras,
como explicar cosmicamente as malformações de nascença e,
mesmo, as deteriorações mais ou menos graves sofridas du­
rante o ciclo. previsto para o corpo? Eis outro assunto que
mereceria ser longamente estudado. Em resumo, digamos que
cada alma-personalidade tem o corpo que merece, o-q., mais
exatamente, o corpo que lhe é necessário para continuar sua
evolução e isto resulta da aplicação da lei da compensação,
ou carma. Pode-se não compreender o horror de certas si­
tuações, pode-se recusar admitir a utilidade de· certos estados
físicos, mas esta impossibilidade mental de compreender a
razão das coisas não muda em nada aquilo que existe. A lei
cósmica é boa. A alma-personalidade que reside num corpo
imperfeito sabia, antes de nele penetrar, que assim seria e
ela o tinha aceito, compreendido e escolhido. Ela compreen­
derá, após tê-lo deixado, que ele lhe era necessário para sua
própria evolução e, voltando ao ritmo da eternidade, ela se
lembrará e poderá medir todo o valor desta imperfeição fí­
sica temporária para o seu ciclo evolutivo.
"A alma-personalidade não sofre com o estado defeituoso.
do corpo. O mental é que se sente ferido e se lamenta. É ele,
o guardião, que deve aprender a aceitar e a manter o melhor
que puder o sanctum do qual deve cuidar. Ele deve amá-lo,
qualquer que seja o seu aspecto. Se não o fizer, ele será mais
tarde, numa encarnação posterior, novamente o guardião de·
um sanctum corporal de aspecto semelhante.

157
"Para aqueles que dispõem de um corpo melhor, ver em
volta de si sanctuns imperfeitos constitui igualmente uma
lição. Eles não devem sentir apenas uma compaixão mais ou
menos artificial. Devem ter um melhor comportamento men­
tal, se quiserem evitar, mais tarde, uma experiência seme­
lhante. Devem dar graças pelo corpo que possuem e isto em
todos os gTaus. O surdo deve pensar que poderia ter nascido
cego. Aquele a quem falta um dedo deve pensar que poderia
ser maneta. Todos poderiam possuir imperfeições corporais,
e isto acontecerá se, por alguma razão, experimentarem sen­
sação de horror - por mais secreta que seja - diante do
aspecto físico do próximo.
"Todos precisam compreender que o homem deve amar
seu corpo físico como ele se apresenta. Deve-se ter orgulho
do sanctum de sua alma-personalidade. Guarda esta grande
lição e transmite-a àqueles que podem compreender...
"Sei que muitos se perguntarão sobre os apetites físicos,
sobre as necessidades inevitáveis do sanctum corporal. Outro
mestre te esclarecerá sobre este assunto. Deves voltar aqui
tão logo puderes, para que esta importante lição seja tam­
bém explanada. Meu papel consistiu em mostrar-te a gran­
deza do corpo humano em seus inúmeros aspectos. Se refle­
tires sobre a noção de harmonia e de equilíbrio, tantas vezes
mencionada durante teus dois últimos contatos, se te lem­
brares da função do mental e de seus possíveis equívocos, se
examinares os fatos em seu conjunto cósmico, considerando
o princípio da evolução e da lei cármica, tuas meditações
levar-te-ão a conclusões aceitáveis relativas ao apetite físico,
mas a noção de bem e de mal será, sem dúvida, considerada
também a este propósito pelo mestre que encontrarás dentro
em pouco. Podes agora voltar ao mundo. Minha missão junto
a ti está terminada, por hoje ..."
Devo reconhecer que hoje, mais do que habitualmente,
tne é difícil "voltar ao mundo". A ambiência do Sanctum
Celestial é sempre tão tranqüilizante, de tão rútila pureza,
que a consciência hesita em ir ao reencontro do tumulto do
tempo e do espaço. Mas é preciso, pois um outro sanctum,
158
lá embaixo, me espera e lá devo chegar para transcrever o
conhecimento cósmico recebido. Além disso, não . deverei eu
aqui voltar, ao meu santuário privado, bem depressa para re­
ceber ainda mais luz? Então voltemos à terra, vamos trans­
mitir, com a alma repleta de reconhecimento por este corpo
tão útil à comunhão com os homens, por este sanctum, o
meu, o vosso, reflexo de um sanctum maior, mais grandioso,
o Sanctum Celestial.

159
CAPÍTULO XV

OS APETITES FíSICOS

V
Voltei na mesma noite ao Sanctum Celestial. Minha vi­
sualização se encontrava facilitada pelo fato de estar ligada
a uma questão complementar às duas precedentes e princi...
paimente ao meu último contato cósmico. Além disso, o pró­
prio mestre já lhe tinha determinado uma finalidade. Eu
sabia que a lição versaria sobre os apetites físicos. De tarde,
tinha várias vezes refletido sobre o assunto. Dizer que até
então não havia chegado a certa compreensão do problema
seria inexato. Minha maneira de ver as coisas já há muito
tempo estava até mesmo beni estabelecida e meu próprio
comportamento, tanto quanto os conselhos que me era dado
prodigalizar no exercício de minhas funções, repousavam na­
quelas bases cuja solidez já tivera muitas vezes ocasião de
experimentar. Entretanto, a luz espalhada pelo Sanctum Ce­
lestial sempre esclarece detalhes imprevistos e o conjunto
surge com extraordinária unidade, fonte de uma ação e de
um comportamento mais eficazes e mais verdadeiros. Além
do mais, no Sanctum Celestial, o mestre não hesita nunca
em explicar situações ou fatos que seriam de difícil aborda­
gem, mantendo uma total objetividade, no plano humano,
baseada unicamente no raciocínio. Ora, essas ações e esses
fatos, na maior parte - mesmo em se tratando de uma mino­
ria - são um drama quotidiano. É por isto que há pouco
não escondi que· havia certa curiosidade entremeada em mi­
nha visualização, se bem que o intenso desejo de saber con­
tinuasse primordial na minha pressa em atingir o Sanctum
Celestial..

161
Caminhando ao longo da nave onde está meu santuário
particular, constatei que quase todos os outros se encontra­
vam ocupados.
Estavam todos trabalhando no Sanctum Celestial. Os
membros merecedores dos mais altos graus da Ordem Rosa­
cruz - A.M.O.R.C. estão ali, e eu me sinto profundamente
feliz com esta vizinhança.
O mestre ainda não "apareceu", mas não deverá tardar,
pois ele sabe que o espero com respeito, humildade e amor.
Efetivamente, eis que o OM ressoa, anunciando a sua che­
gada. Ele entra e a luz que o envolve é tamanha, que o meu
santuário todo se ilumina. Depois, ele sem dúvida assim quer,
seu poder vibratório suaviza-se progressiv8:mente e, tendo per­
cebido o mestre, eu recebo de joelhos sua tripla bênção. A
seu pedido sento-me à mesa, enquanto ele sobe ao meu altar,
de onde decidiu transmitir-me sua mensagem, como para
aumentar ainda mais a importância que lhe confere. Estou
pronto e ele sente o apelo de minha alma: "Fala, mestre, teu
servidor te escuta". Como é claro, vibrante, o "verbo" daquele
que, sem idade, porque é de todas as idades, revela agora à
minha consciência receptiva o seu santo conhecimento:
"O mal não existe em si próprio. Outros, antes de mim,
já o lembraram, a respeito de problemas particulares. Tu ve­
rás esta noite, uma vez mais, o quanto as concepções hu­
manas são errôneas, mas eu te explicarei também por que
esse mesmo erro é um bem para a humanidade geral, no es­
tágio de evolução coletiva em que se encontra, sobretudo em
certas latitudes. Eu não te ensinaria como vou ensinar se
dois instrutores não me tivessem precedido e se suas lições
não tivessem suscitado naturalmente as conclusões que me
proponho apresentar-te. Tu não poderias admitir tão facil­
mente o que te vou ensinar e aqueles a quem deverás trans­
mitir o ensinamento teriam ainda mais dificuldades. No en­
tanto, a verdade é verdade, mesmo que alguns, mesmo que
muitos se recusem a admiti-la. Aliás, eles não mudariam um
jota da lei. A idéia que o homem faz das coisas concerne a
ele. Ela não influi em nada no quê é realidade.

162
"Cabe-me falar-te dos apetites físicos, ou seja, daquelas
necessidades que, por sua natureza, o homem sente durante
o tempo de sua encarnação, a que apressadamente chama
instintos, bons ou maus, segundo a educação que recebeu e a
época em que vive. Ora, o termo instinto é inexato. Melhor
seria chamá-los necessidades, termo que empreguei, pois este
convém melhor sob todos os aspectos. Essas necessidades re­
sumem-se no alimento, na bebida e na sexualidade'. Ora,
nenhuma dessas necessidades é má. Todas são naturais, quais­
quer que sejam as formas que tomem. É o homem e só o ho­
mem que estabeleceu entre elas "graus" de bem ou de mal,
que variam a cada século, se bem que todas essas necessi­
dades sejam idênticas em sua natureza, num mesmo plano
de "necessidade", embora submetidas ao princípio cíclico que
rege cada coisa. Do ponto de vista natural, não há diferença
entre o desejo de se alimentar ou de beber e o impulso sexual.
Foi o homem que decretou esta diferença, foi o seu mental
que a concebeu e ele o fez sob a influência ou a sugestão de
superstições e de dogmas nascidos das circunstâncias de uma
época ou suscitados pela salvaguarda de princípios sem fun­
damentos reais, mas úteis, ou a uma época ou a um conti­
nente ou a um país, o que os justifica pelo menos tempora­
riamente. Não é menos verdade que a moralidade de ontem
não é a moralidade de hoje, e que a de hoje não será a de
amanhã. A moralidade, com efeito, é um esforço para man­
ter os princípios necessários à vida social de um determi­
nado tempo, com base na compreensão desse tempo. Durante
muito, muito tempo, a moralidade baseou-se em concepções
religiosas e, variando estas conforme o lugar, ela diferiu de
um país para outro a tal ponto que se pode falar, num mes­
mo momento, não de uma moralidade universal, mas de mo­
ralidades múltiplas e às vezes contraditórias. Mas esses tem­
pos estão acabados. Chegou a hora, para os homens, de uma
moralidade pessoal baseada na compreensão individual e,
curiosamente, esta moralidade será mais universal que todas
as que a precederam, pela simples razão de fundar-se ela num
retorno à verdade fundamental do ser, e num grau de evo-

163
lução infinitamente mais elevado em todos os planos. O ho­
mem chegou ao ponto de distinguir o que é bom para ele,
e se vai liberando cada vez mais das restrições que lhe eram
impostas. Torna-se cada vez mais livre, pois se torna ele
mes.mo e, tornando-se ele mesmo, torna-se todos os outros.
Entretanto, mais que nunca, o mental, guardião do corpo -
sanctum da alma humana - continua a ser para cada um
de nós e para todos o grande "regulador" e deve manter a
manifestação das necessidades naturais no justo termo. Há
erro no excesso, mas há erro também, de igual vulto, na re­
pressão total. O excesso, como a repressão, conduz à ruptura
da harmonia, do equilíbrio e é o próprio mental que é per­
,turbado. Produz-se o que alguns chamam "excesso de cere­
bralidade". Há a transferência das necessidades ao mental.
No caso de satisfações excessivas, o mental engendra, ele
próprio, a necessidade de mais satisfações e de mais exces­
sos ainda. No caso da repressão, o mental mantém a necessi­
dade e amplifica-a ao extremo. Por outro lado, se a necessi­
dade é razoavelmente satisfeita, o equilíbrio é mantido e o
mental conserva seu papel regulador.
"A civilização, ou o que é assim designado, sem dúvida
criou no homem novas necessidades. O álcool é uma delas,
fumar é outra, e o corpo humano, de cujos esplendores já te
falei, adaptou-se a estas novas necessidades. Mas, aí também,
o jústo meio termo é uma necessidade absoluta. Insisto mui­
to neste ponto: nada é mau se o homem se conforma à lei
do meio termo justo e bom. Se não fizer isto, ele sofrerá os
efeitos negativos do carrna corporal. A duração de sua vida
será mais, ou menos, encurtada. É, portanto, uma escolha
que ele faz, um risco que ele aceita conscientemente, se bem
que o pensamento positivo, caso ele recorra a este constan­
temente, pode diminuir bastante os efeitos deste comporta­
mento. É importante notar o seguinte: a satisfação das ne­
cessidades do corpo não prejudica sob nenhum aspecto o de­
senvolvimento interior, a evolução espiritual e a última to­
mada de consciência, que constitui a razão e o objetivo da
encarnação humana. Não é a satisfação dessas necessidades

164
que é um freio. li:. a interpretação dessa satisfação e dessas
necessidades pelo mental que entrava o desenrolar da evolu­
ção e esta mesma interpretação é função da compreensão
adquirida, do grau de evolução atingido. O místico adiantado,
sob esse aspecto, é livre.
"Naturalmente, a interpretação do mental é pessoal,
como a evolução, e cada um, segundo sua consciência e seu
grau de compreensão interior, deve conformar seus atos à
sua interpretação, sem no entanto julgar o outro a partir
dele próprio. Ninguém deve adotar um modo de vida mais
avançado, ainda que saiba que esse modo de vida mais se
aproxima da verdade, se não tiver a absoluta convicção in­
terior, a certeza nascida da compreensão, que agirá assim
de maneira perfeitamente de acordo com os princípios cós­
micos autênticos. Disse-te que a moral era daqui por diante
uma noção individual. Cada um deve agir e reagir segundo
esta noção que lhe é própria e não permitir que ninguém
que se pretenda mais avançado do que ele lhe sugira um
comportamento que ainda não pode admitir. Aliás, ninguém
que tenha realmente evoluído jamais fará uma. sugestão des­
tas. Só o faria alguém que, sem nenhum desenvolvimento
real, tivesse algum pretexto ou interesse, confessável ou não,
para agir assim. Cada um deve gravar esta advertência e dela
lembrar-se sempre. Nas minhas explicações, examino os fatos
na sua verdade última, uma verdade que é preciso alcançar
pela experiência, pois só ela engendra a compreensão e o
conhecimento que permitem viver a verdade. De outro modo,
verificar-se-á a ausência da força profunda e da potência in­
terior inabalável, e o mental, ainda não dominado, reagirá
pela dúvida e pelo remorso. É melhor, para algumas pessoas,
manter-se dentro de certos preceitos morais, por mais atra­
sados que sejam, do que chegar aos mesmos resultados se­
guindo princípios verdadeiros mas que não são nem com­
preendidos nem assimilados ao nível do Eu..
"O que te transmito neste momento ajudará muito, no
entanto, a não julgar, e isto já será um imenso progresso para
eles e uma forma de libertação. Continuarei, portanto:
16S
"O que ressaltei a propósito do excesso e da repressão
estando bem gravado, verifica-se que a alimentação e a be­
bida são uma questão pessoal. Não há um regime padrão.
Para _alguns, a alimentação vegetariana convém, para outros·
não. A uns o vinho, ou, até, uma bebida mais forte, modera­
damente usada, não molesta, a outros serão perigosos para
o equilíbrio da saúde. Cabe a cada um definir, segundo as
reações próprias do seu corpo, o que lhe convém e o que deve
evitar, e é certo que o regime adotado poderá variar com as
circunstâncias e com a idade. O mental, uma vez mais, agirá
neste campo como regulador a partir das conclusões que ti­
rará das reações corporais. Alguns princípios gerais serão,
assim, válidos para sempre, sob a mesma forma preconizada
pelas grandes religiões. O islamismo, por exemplo, proíbe o
vinho, o álcool e o porco. O clima dos países islâmicos justi­
fica esta proibição. Ela é, conseqüentemente, um conselho a
ser observado por todos os que vivem sob aquele clima. O
jejum é recomendado por todas as religiões, em épocas di­
versas. É um bem para o corpo.
"Aliás, no que se refere aos místicos, aos rosacruzes em
particular, um jejum relativo e razoável deve ser observado
antes de certas experiências. Pode ser de algumas horas ou
de alguns dias, segundo o caso. Todas as necessidades do
corpo ficam então suspensas - e não apenas algum.as. O
jejum é observado sem excessos, nunca vai além de deter­
minado limite. A vida normal é retomada em seguida. Mas
não há - e não haverá jamais - regime "místico". Tudo o
que se escreveu a este respeito é obra de fanáticos ou de
ignorantes, aindl:I, que se intitulem donos de muita sabedoria,
de falsa sabedoria, aliás. Nenhum regime favorece a espiri­
tualidade! O alimento e a bebida são coisas do corpo e não
da alma.
"Eis, agora, o último assunto que devo abordar e será o
mais delicado. Vou falar-te dos verdadeiros princípios refe­
rentes à sexualidade e o farei de maneira aberta, franca e
sincera, esforçando-me por não descurar nenhum aspecto,
se bem que minha análise evitará os detalhes inúteis.

166
"A sexualidade, da mesma forma. que os demais apetites.
é uma necessidade do corpo. Não difere deles sob nenhum
aspecto. Não há senão o ciclo natural desta necessidade, que
é especial, como são os ciclos das outras. Da mesma maneira
que a alimentação e a bebida, as necessidades sexuais variam
também conforme a constituição física de cada um. Alguns
têm necessidade, para manter o equilíbrio, de comer ou de
beber mais do que outros. Também a sexualidade deste pcxie
ser mais exigente do que a daquele. Cada um deve ser capaz
de determinar o que é melhor para si, ficando bem claro que
a lei do meio termo bom e justo aí também é o grande regu­
lador. O que eu disse a respeito da alimentação e da bebida
aplica-se também à sexualidade. Não deve haver nem repres­
são nem excesso nas bases que constituem as normas de cada
um. Se houvesse repressão ou excesso, os resultados sobre o
mental e, conseqüentemente, sobre o comportamento ulterior
seriam os mesmos que, em condições semelhantes, aplicados
às outras necessidades corporais, como a comida e a bebida.
O que é preciso sublinhar e repetir é que a sexualidade não é
um. mal. As tendências sexuais são tão respeitáveis quanto
qualquer outro apetite do corpo. O que foi ensinado por cer­
tas doutrinas dogmáticas é, portanto, fundamentalmente fal­
so e muitos tormentos e infelicidades que torturam grande
número de pessoas seriam evitados se noções mais próximas
da verdade lhes tivessem sido inculcadas. Infelizmente, é pre­
ciso que se diga, foi sobretudo entre as pessoas ligadas à fé
cristã que o erro se fez mais marcante, enquanto que nada, .
no ensinamento de Jesus, e mesmo nos comentários de São
Paulo, permitia as deduções que foram erigidas em dogmas.
São Paulo recomendava, e não obrigava. Além disso, ele se
dirigia a uma elite, e só se levantava com violência contra
os excessos. Outras filosofias e outras religiões aproximaram-se
mais da verdade. É bom que se frise, no entanto, que certas
regras, reconhecidamente erradas, foram necessárias em cer­
tas épocas e evitaram muitos excessos. Isto, entretanto, infe­
lizmente, deu origem a excessos contrários de que resultaram
conseqüências mentais às vezes trágicas. Atualmente, após

167
excessos devidos à liberdade retomada, volta-se, no mundo,
a condições mais normais, mais equilibradas. Está próximo o
tempo em que os verdadeiros princípios. serão universalmente
compreendidos e observados pela maior parte da humanidade.
Sob este aspecto, a próxima geração estará totalmente "de
acordo com as normas".
"O homem chegou assim a um grau de compreensão tal,
que sabe que satisfazendo razoavelmente seus apetites físicos,
longe de cometer qualquer erro ou "pecado", mantém-se em
harmonia e equilíbrio, evitando tornar-se ou permanecer pre­
sa de pensamentos torturantes, numa atitude mórbida para
consigo próprio, com o perigo dos complexos mais ou menos
graves e de uma introspecção negativa constante, geradora
de inúteis remorsos. Assim, bem equilibrado, seu sanctum
corporal regularmente atendido nas necessidades que lhe são
inerentes, o homem pode dirigir sua atenção e seus pensa­
mentos para objetivos mais construtivos e mais dignos.
"O erro possível não está, repito, nos apetites físicos em
si. Está nas interpretações do mental. É portanto este que
d�ve ·ser educado e que, conhecendo o corpo, deve aprender
a conformar-se com a lei do justo meio termo. Não há outra
recomendação a fazer, neste assunto,' senão libertar-se, se
ainda não o tiverem feito, da idéia falsa e paralisante do
pretenso pecado.
"As tendências sexuais são diversas, mas em que dife­
rem elas dos gostos diferentes de uns e outros no que se
refere à comida e à bebida? Alguns gostam de carne e outros
não. Alguns podem não apreciar este ou aquele prato. O ape.
tite sexual é, antes de mais nada, pessoal, e vou abordar um
assunto particularmente delicado. Devo fazê-lo,· pois, como
disse, ele está na origem de consideráveis dramas interiores
que a verdade suprim,iria para sempre. Existe o que chama­
mos "minorias sexuais". Nos países de formação cristã, elas
foram durante muito tempo castigadas, perseguidas, consi­
deradas com horror e julgadas sem a menor caridade. Ora,
tudo o que existe tem uma razão de ser e tudo está incluído
no Cósmico, que é por excelência o bem supremo. Daí, então,
168
como não admitir que a existência dessas minorias tem um
motivo válido no mundo manifestado? Como ousar conside­
rar como "pestíferos" os que têm tendências diferentes da
maioria? Essas tendências, eles não as desejaram. Eles as
têm e elas são um apetite físico tão justificável quanto os
outros, e que não é de maneira nenhuma condenável se, como
os outros, é satisfeito segundo a lei do meio termo justo e
bom, com o mental como regulador. Por que essas minorias
existem? A própria pergunta é absurda. Ninguém pergunta­
ria: "Por que algumas pessoas não gostam de queijo?" Exa­
minarei, no entanto, a dupla razão da existência dessas mi­
norias. A primeira delas decorre, de certa maneira, de uma
defesa da própria natureza. A população cresce rapidamente,
rapidamente demais. A natureza tenta de alguma forma
opor-se a isto, como pode, "esterilizando" com os meios de
que dispõe uma parte da humanidade. Mas seus esforços são
insuficientes, e o homem passou a buscar desde então a
forma de diminuir o crescimento da população mundial por
outros meios. Ele descobriu alguns e continuará a descobrir.
A segunda razão é o resultado da lei da compensação, ou
carma. As minorias sexuais têm que passar por esta expe­
riência e tirar dela uma lição positiva para sua evolução e,
em última análise, têm que dominá-la aceitando-se como são.
Em todo caso, é absolutamente errado pretender, como ousa­
ram certos autores inconscientes de suas responsabilidades,
que um homossexual, por exemplo, não possa engajar-se num
caminho místico ou tradicional. Ele pode tanto quanto qual­
quer outro e progredirá como todos os outros, se der provas
da devoção, do trabalho e da· perseverança necessários. Assim
como os que têm apetites menos especiais, ele não deve en­
tregar-se a excessos ou à repressão. É verdade que o campo
que está aberto para a manifestação de seus apetites é mais
limitado, mas existe. O erro cármico que ele poderia cometer
consistiria em entregar-se a qualquer "proselitismo", mas, se
ele for esclarecido, não o fará. Esse "proselitismo", aliás, deve
ser proibido da mesma maneira, na manifestação de todos
os apetites, quaisquer que sejam. A longo prazo, ele teria
169
poucas possibilidades de ser bem sucedido em ambos os casos.
Dificilmente se poderia transformar os apetites de alguém,
em razão de seu caráter essencialmente individual.
"É importante notar que ninguém pode estar certo de
pertencer realmente a uma minoria sexual. Se alguém supõe
ser esse o seu caso, deve procurar certificar-se disso com uma
pessoa competente, quer dizer, com um médico, que deter­
minará se não se trata de um erro de interpretação do men­
tal, de uma deficiência glandular ou de qualquer outro pro­
blema que possa ser sanado com cuidados apropriados. Ten­
tadas todas as medidas e não se tendo verificado qualquer
mudança, é preciso então aceitar-se e levar a vida conforme
as particularidades de seus apetites. Todos têm apetites fí­
sicos particulares, mesmo aqueles que se declaram normais.
Não fica então muito apropriado para estes julgar os outros
"anormais". Em última análise, os apetites físicos de uma pes­
soa dizem respeito unicamente a ela. Nada têm que ver com
isso os outros. Não admites que aquele que se preocupa com
os apetites físicos e com a sexualidade de seu próximo seja
em última análise um anormal, no sentido forte do termo?
Demonstra .que seu mental está preocupado - talvez tortu­
rado - com questões desse tipo e que ele não foi libertado
pelo comportamento que defini como do "justo meio termo" ...
"Tendo analisado com franqueza este ponto importante
- e espero que ajudará muito - voltemos a considerações
mais gerais. Para ser "livre" mentalmente na satisfação na­
tural e razoável de seus apetites humanos, o homem deve
ser forte diante da exploração comercial que se faz de seus
apetites físicos. Não digo que ele deva cobrir o rosto com as
mãos. Recomendo-lhe apenas que não seja permeável a essa
exploração e que a olhe com clarividência. Não se justifica
que se distancie do mundo em que vive. É seu laboratório e
deve conhecê-lo bem, mas deve guardar-se, não provocando
o perigo se se souber muito fraco para dominá-lo. É verdade
que estão à disposição da humanidade vários meios eficazes
e segurós. Países como a Suécia e a Dinamarca, por exemplo,
empregaram-nos, dando total liberdade às várias tendências

170
humanas, e constatou-se que a um excesso de curiosidade su­
cedeu a indiferença. Cabe, portanto, aos homens definir os
meios de uma libertação eficaz do mental nas suas· interpre­
tações erradas dos apetites físicos. Eles estão atualmente
cuidando destas questões e nos próximos anos ocorrerá me­
lhora constante neste campo, de maneira que a exploração
malsã das necessidades físicas do homem perderá cada vez
mais vigor e influência.
"A esta libertação, a esta compreensão mais verdadeira
do corpo humano, de suas tendências e de suas necessidades,
deverá acrescentar-se uma maior abertura para uma espiri­
tualidade autêntica. É preciso que o homem, livre de suas
inibições mentais, volte a atenção para o conheciment.o de
si próprio, e é por isso que, a responsabilidade de organizações
válidas e autênticas, como a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.,
é considerável. Sua missão é conduzir o homem a um grau
elevado de compreensão e desenvolvimento interior e seu de­
ver é, portanto, dirigir ao mundo um apelo mais extenso e
mais forte. A humanidade deve saber que organizações assim
existem e que podem oferecer-lhe a possibilidade de chegar
a um equilíbrio real e finalmente à tomada de consciência,
que é a finalidade. Se o homem se liberta somente de sua
ignorância sobre seu corpo, seus apetites e sua natureza ma­
terial em geral, sem fazer acompanhar essa libertação pelo
conhecimento total que perpetua a verdadeira tradição, ficará
insatisfeito e será levado ao desespero. Materialmente cheio
de ciência e de verdade sobre ele próprio, faltar-lhe-á "a cons­
ciência" e é o que explica que, por exemplo, na Suécia, onde
a liberdade sexual é completa, o número de suicídios seja
elevado. A humanidade libertou-se de concepções velhíssimas
que restringem suas possibilidades de uma mais larga evo­
lução. Mais ou menos rapidamente, cada um é levado às vias
autênticas do conhecimento. Esta nova etapa será a gran­
deza da el'.a de Aquário.
"Assim terminam as comunicações que devias receber
sobre os assuntos ligados ao corpo humano e à alma-perso­
nalidade na sua relação com aquele. O Sanctum Celestial

171
permanece aberto a ti e a todos aqueles que buscarem a luz.
Os fundamentos estão estabelecidos. Cada um pode vir aqui
buscar novos esclarecimentos sobre o que desejar e sobre os
problemas de que te falei. Todos são sempre bem-vindos ao
Sanctum Celestial: .. "
Assim que voltei à consciência deste mundo, comecei a
transmitir a mensagem do mestre tal como minha consciên­
cia a tinha gravado. Não queria omitir nada do conhecimento
recebido, tanto o julgava importante. A volumosa correspon­
dência que chega todos os dias à grande loja francesa da
Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. traz muitas e muitas vezes
perguntas angustiadas sobre os problemas que três mestres,
lá "do alto", vinham tratar comigo. Cartas que são às vezes
verdadeiros apelos de desesperados, enquanto a verdade é tão
simples e tão reconfortante. Não é senão por aqueles que so­
frem interiormente, por ignorarem a verdade, que meu co­
ração. se ergue de reconhecimento e eu rendo graças ao Sane­
tum Celestial por ter permitido que assuntos às vezes deli­
cados fossem abordados com franqueza e clareza. "A ver­
dade os libertará", diz a sabedoria. Não somente ela liberta,
mas também apressa o retorno à terra prometida, àquele pa­
raíso que os homens trazem dentro de si e que seu mental
massacrado transforma num inferno. A lei do meio termo
justo e bom, a chave de ouro de Pitágoras, como resolveria
esses problemas se os homens soub�ssem aplicá-Ia ao con­
junto das situações, das circunstâncias e das experiências
que eles encontram! O pensamento positivo e seu poder mi­
raculoso não são muitas e muitas vezes esquecidos pelo ho­
mem, que se abandona aos erros de suas ilusões mentais?
Julgar outrem é a pior falta, pois ninguém está isento de
defeito. Amar os seres como eles são, pois somos, todos, aquilo
que somos, é o caminho seguido pelo mist1co, pelo verdadeiro
rosacruz. Para ele, a finalidade se aproxima e, pouco a pouco,
tudo se esclarece. Só o bem lhe pertence, porque só o bem
existe. A paz profunda é a realidade do ser. No Sanctum Ce­
lestial, a certeza invade a consciência e o ser completo. Ele­
vai-vos até este lugar cósmico, meus amigos, meus irmãos,
pois estais sendo esperados ...
172
CAPÍTULO XVI

A ALMA DOS ANIMAIS

V
Uma pergunta que fazem muitos discípulos na senda é
a seguinte: "Os animais têm alma?" Mesmo no mundo pro­
fano, o problema é implicitamente levantado por muitos, que
dizem, a propósito de algum animal doméstico pelo qual te­
nham afeição particular: "Ele é tão inteligente que só lhe
falta falar!" No entanto, não se pode discutir a alma animal
sem incluí-la num assunto de alcance infinitamente mais
vasto: o da vida, da consciência, da alma universal e da evo­
lução no conjunto.
Tendo decidido buscar a luz que nos pode dispensar o
Sanctum Celestial, imaginei os limites precisos da minha vi­
sualização, a fim de ficar seguro do sucesso de meus contatos
cósmicos a este respeito, e cheguei à conclusão que três "en­
trevistas" seriam novamente necessárias.
A primeira versaria com precisão sobre a "alma dos ani­
mais". A segunda trataria das "vidas sucessivas". E a terceira
seria sobre a "lei da compensação, ou carma".
A primeira entrevista será objeto do presente capítulo.
Instalei-me então no meu sanctum da grande loja da Ordem
Rosacruz - A.M.O.R.C., depois de ter passado pelos ritos
simples de purificação e, depois de intensa visualização, en­
contro-me neste momento no Sanctum Celestial, diante do
mestre que me concede o privilégio de me instruir. Minha
alma se alegra ao ver que o mestre que está hoje ali - não
que eu tenha qualquer preferência por. ele, pois o adepto das
verdades eternas venera no mesmo grau todos os mestres do
conhecimento � imprime sempre na minha alma uma tal

173
vontade de compreender, que quando volto para o mundo,
cada um dos meus pensamentos e cada um dos meus atos
permanecem poderosamente influenciados. Mas o bondoso
mestre já se dirige à minha alma atenta:
"Disseram-te e repetiram aqui mesmo: a vida é uma, o
Cósmico é tudo e tudo está no tudo. Tu aprendeste, também,
que só há uma alma: a alma universal, que é, como a vida,
um atributo do Cósmico. Isto significa que o Cósmico inclui
a vida e a alma universal. Se, para compreender, o intelecto
humano não tivesse que diferenciar, poderia abranger tudo
com uma única palavra: "Cósmico", pois o Cósmico é a ma­
nifestação da lei suprema em todos os planos. Podes até con­
siderar as coisas assim: Deus é a energia e o Cósmico é esta
energia em movimento, em ação, tomando inúmeras formas,
ou, se quiseres, manifestando-se ao infinito no visível e no
invisível. O homem chama "leis" às manifestações desta ener­
gia que ele aprende a conhecer, a pressentir ou a perceber,
mas estas "leis" não são secundárias. Elas são um efeito es­
pecial da energia única em ação.
"Uma vez que o Cósmico é tudo e que tudo está nele, o
homem naturalmente está nele, mas estão também o animal,
a planta e tudo o que existe, e o resultado é que a vida e a
alma universal penetram na menor parcela da criação. A vida
e a alma universal estão conseqüentemente no homem, é
certo, mas também nos germes mais microscópicos e, claro,
no grão, na planta e no animal. O que para o homem é inani­
mado, possui também uma alma e a vida, e seria então muito
conveniente não distinguir os seres e as coisas animadas das
inanimadas, mas simplesmente os dotados de movimento dos
inertes. Mas concede-me toda a tua atenção para não come­
teres erro e não chegares a falsas conclusões. Tudo vive e
tudo tem alma, do ponto de vista cósmico; isto não significa
que tudo tem uma consciência, que cada ser ou coisa é cons­
ciente de si e tem também uma personalidade anímica. A
personalidade se desenvolve no seio da alma universal duran­
te sua manifestação nos seres e nas coisas. É evidente que
na rocha, por exemplo, não se cria propriamente uma "per-

174
sonalidade", pois a rocha não vivencia nenhuma experiência
que lhe permita conhecer-se a si própria, "ter consciência de
si". Nos vegetais, pelo contrário, começa a desenvolver-se uma
forma de consciência, em grau ínfimo, evidentemente, que
varia com a qualidade das plantas. Eis aí quanto aos inertes
e acrescentaria que este ''inerte", numa certa medida, é in­
fluenciado pelo meio e pelo homem. Existe uma forma de
aura coletiva para cada "reino" e esta aura, de natureza vi­
bratória, como sabes, sofre a influência das auras dos outros
"reinos", principalmente dos reinos superiores. Esta influên­
cia pode até ser individual. Não ignoras que certas plantas
"amam" os que se ocupam delas.
"Por outro lado, temos os seres dotados de movimento,
e o próprio micróbio é um deles. Aí também uma forma de
consciência se desenvolve, infinitesimal ou muito mais avan­
çada. Esta forma de consciência é erradamente chamada ins­
tinto, pois se houvesse razão para o emprego do termo, razão
também haveria para aplicá-lo em relação ao homem, de
quem certas "reações" são visivelmente devidas aos atributos
�e seu gênero, ou reino, e são, por isso, comuns a todos. To­
davia, da mesma maneira que alguns homens são mais de­
senvolvidos que outros, com uma cónsciência mais larga, da
mesma maneira a forma de consciência nos seres dotados
de movimento varia em grau, por um lado com as espécies
e, por outro, no interior de cada espécie. Como quer que seja,
constitui-se uma "personalidade" no seio da alma universal
incorporada nos seres dotados de movimento, e esta persona­
lidade começa um ciclo de evolução milenar, que se acabará
no homem e continuará depois no homem sua nova etapa de
evolução, pois, tendo chegado ao estágio humano, não há
mais volta para a personalidade anímica.
Esta constatação implica, como podes compreender, em
que a personalidade, que é infinitamente rudimentar na ori­
gem, desenvolve-se no seu ciclo de evolução, ou seja, de to­
mada de consciência, até atingir um grau superior, quando
se encarna num animal. Produz-se então nesse momento a
passagem de um "reino" ao reino superior e, de acordo com
175
a lei de evolução, jamais haverá retorno ao reino precedente.
A "personalidade" no reino vegetal, por exemplo, pode desen­
volver-se "reencarnando-se" em plantas diversas. Ela "evo­
lui" no mesmo reino, mas não é obrigada a revestir-se sucessi­
vamente, sem exceção, de todas as formas desse reino. Qual­
quer que seja a planta, ela pode, no momento de seu ciclo
de reencarnação, atingir o grau desejado de desenvolvimento
da consciência para "passar" ao reino superior e encarnar-se
num animal situado no mais baixo degrau da escala evolu­
tiva desse reino. A personalidade empreende então "uma nova
carreira". Depara experiências mais avançadas. Está mais
próxima do reino humano e, conseqüentemente, mais influen­
ciada pela aura coletiva e individual deste. Neste novo ciclo,
como no precedente, a personalidade anímica se reencarnará
segundo suas necessidades e uma forma do carma nas es­
pécies animais, até que seu desenvolvimento seja suficiente
para passar ao "reino superior" - o do homem - e começar
seu ciclo final de evolução na terra em encarnações sucessi­
vas como homem, nunca mais nos reinos precedentes. Em
princípio, /em cada animal, a personalidade anímica pode
atingir o grau exigido para "a admissão" ao "status" huma­
no. Entretanto, de maneira geral, é sob. a forma de um animal
doméstico que a personalidade anímica chegará ao grau. dese­
jado para sua passagem ao estado de homem. Ela precisa:rá,
sem dúvida, de várias encarnações semelhantes, em alguns
casos de grande número delas, para que as condições exigidas
de "<:onsciência" sejam preenchidas, mas esta presença re­
petida ao lado do homem é necessária. É como um aprendi­
zado, uma preparação ao seu estado futuro.
"A pergunta formulada, podes então responder positiva­
mente: os animais têm uma alma, mas lembra-te de que a
palavra "alma" sempre deve ser compreendida no sentido de
alma-personalidade, ou, o que teria a mesma significação, de
personalidade anímica, que se aplica geralmente ao homem.
Voltaremos a este assunto no nosso próximo encontro, pois
sou eu quem te ensinará tudo sobre as vidas sucessivas. Por
enquanto, não te esqueças de que a alma universal, exata-

176
mente como a energia elétrica, por exemplo, é por assim di­
zer "estática". Ela está em toda parte e é sempre igual a si
própria e permanece perfeita. No momento em que ela toma
forma é que uma "personalidade" se constitui nela e é esta
personalidade - e não a alma universal nem seu segmento
incorporado, manifestado - que evolui, desenvolvendo lenta
e progressivamente uma consciência, uma consciência de si
cada vez maior, e isto acontece desde a forma mais elementar
de vida até os mais elevados pontos da evolução e da reali­
zação espiritual do homem. Compreendes então que nada é
inútil na Criação. Pelo contrário, tudo é um hino de alegria
ao Criador, uma manifestação de sua grandeza e de seu amor.
"Uma questão subsidiária levantar-se-á diante de ti, que
é a seguinte: já que os animais têm uma personalidade aní­
mica, a carne então deveria ser abolida do regime do homem?
As respostas que recebeste sobre a cura espiritual deveriam
ser suficientes para chegares a uma conclusão válida, princi­
palmente se levares em conta também o que aprendeste a
respeito dos apetites físicos. Mas darei mais algumas expJi­
cações. Primeiramente, já te expliquei hoje: a própria planta
é viva, portanto, sofre, mesmo, como dizes, que o ouvido hu­
mano seja incapaz de ouvir suas queixas. Além disso, ela
possui uma personalidade anímica, por mais rudimentar que
esta ainda seja. A mesma questão levantada a respeito da
carne deveria sê-lo a respeito dos vegetais. Depois, como de­
claram as Sagradas Escrituras e, principalmente, a Bíblia, o
homem se alimentará daquilo que vive. Ele recebeu poder de
dominação sobre todos os reinos inferiores e deve manter a
vida nele próprio pela vida do que está sob .sua dependênçia.
Não há, portanto, nenhum erro no fato de ele consumir car­
ne, não mais do que haveria em alimentar-se de legumes ou
peixes. Não voltarei mais ao assunto dos regimes alimentares.
Já recebeste os esclarecimentos desejados a este respeito. É
uma questão individual e um problema de constituição e de
necessidades físicas.
"Mesmo que os animais tenham uma personalidade aní­
mica --:. e eles a têm, como já te disse - sabes que alguns

177
deles são próprios para serem eonsumidos, e outrós não, assim
como há plantas comestíveis e plantas venenosas. A perso­
nalidade anímica encarnada nos animais "consumíveis" é de­
signada para viver a experiência desta encarnação especial.
Isto é útil ao desenvolvimento de sua consciência até um
grau mais elevado, e por mais horrível que pareça, esta si­
tuação está na ordem das coisas. Existem circunstâncias hu­
manas bem mais cruéis ainda. O detalhe deve ser olhado em
relação ao conjunto e o conjunto é a evolução progressiva
de cada personalidade anímica até a última tornada de cons­
ciência, em algum momento no decurso do estado de homem.
"Naturalmente, à medida que a personalidade anímica
se desenvolve, adquire maior independência em relação à
aura de seu grupo, à irradiação de seu reino, se preferires
este termo, assumindo assim urna responsabilidade individual
cada vez maior, que atinge seu apogeu no estado de homem
e que engendra satisfações mais intensas, mas também um
rigor maior no encontro das experiências a serem suportadas
e das lições a receber do mundo. Nota, no entanto, que em
todos os "reinos" - e isto é mais evidente no reino dos seres
"dotados de movimento" - as características que formam a
trama fundamental das experiências que favorecem o desen­
volvimento da alma-personalidade são as mesmas. Todos estes
seres conl)ecem, por exemplo, o amor e a raiva, a coragem
e o medo, ·a alegria e a tristeza. Esta será minha última obser­
vação sobre este primeiro assunto, neste nosso encontro. Ti­
rarás dela uma nova prova da unidade cósmica, da lei única.
Nenhuma separação existe entre os seres vivos e eles pró­
prios não são distintos das coisas. Não há também separação
maior entre o que é denominado pelo homem de "visível" e
"invisível". Tudo é um e, para compreender isto, é preciso
amar. Eu te esperarei para uma próxima conversa sobre as
"vidas sucessivas", assim que te sentires pronto para nova
comunhão."
O bondoso mestre desta vez esperou que eu deixasse meu
santuário particular antes de ele próprio retirar-se, deixan­
do-me a impressão de que ele quis, com isso, permanecer em

178
estreito contato comigo enquanto eu transcrevia sua, mens,­
gem. Mas, escrevendo-a, eu sabia que, de qualquer maneira,
ele cuidaria para que ela fosse passada segundo seus desejos
esclarecidos, sem que nada fosse omitido e sem que nenhum
detalhe inútil viesse alterar-lhe a natureza. As mensagens
do Sanetum Celestial são verdadeiros instrumentos. Oferecem
material para reflexão e cada um colhe os frutos que podem
ajudá-lo no seu estágio particular de evolução.
Desde já vou preparar-me para meu próximo encontro
com o bondoso mestre, cujo tema será "As vidas sucessivas"!
Depois do que ele me ensinou hoje, sem dúvida estarei muito
melhor preparado para compreender o novo fragmento de
sua santa sabedoria ...

179
CAPÍTULO XVII

AS VIDAS SUCESSIVAS

V
Meditei durante várias horas sobre o que o bondoso mes­
tre me havia ensinado e creio ter compreendido plenamente
a unidade cósmica focalizada em suas explicações e que há
tantos anos eu tinha concebido· como a solução dos últimos
enigmas, grandes e pequenos, do universo visível e invisível,
em seus inúmeros aspectos. A origem da vida e da persona­
lidade anímica no infinitamente pequeno aparecem-me como
uma sublime realidade. Vejo esta personalidade expandir-se,
etapa por etapa, utilizando toda a criação de seus "reinos"
que adquirem um sentido imensamente mais vasto ao se tor­
narem os múltiplos "veículos" da alma-personalidade em evo­
lução. O elo está estabelecido entre o que parecia esparso e
uma meta infinita é dada a cada ser e a cada coisa. Depois,
eis a personalidade anímica que chega ao estágio de homem
e vai dar prosseguimento, daí por diante, a sua evolução sob a
aparência humana, s�m nenhuma possibilidade de retorno
às etapas ven�idas. É sob o aspecto de homem que ela che­
gará, cedo ou tarde, à tomada de consciência final, à reali­
zação acabada, à meta suprema da encarnação.
O tema das vidas sucessivas, que será explanado nesta
noite pelo mestre, foi tão bem preparado em sua última pa­
lestra cósmica, que minha visualização ficou simplificada e
minhas perguntas foram colocadas claramente. Elevo-me, as­
sim, tão rápido como sempre ao nível do Sanctum Celestial
e, em lá chegando, ao alto ·do meu santuário particular, per­
cebo, uma vez mais, que ele me espera. t evidente que con­
fere a maior importância ao que neste momento me trans­
mite e sabe que minha consciência está pronta para acolhê-lo
181
com respeito e reconhecimento. Sorrindo, propõe que me sente
à escrivaninha e grava em mim a palavra, sua vibração de
sabedoria e paz:
"A questão tratada em tua última vinda a este lugar sa­
grado facilitará esta exposição e a tua compreensão. Direi,
sem mais demora, que se estão formando, ou em vias de for­
mação, personalidades anímicas, na terra e em outros lu­
gares, no universo manifestado, que algumas destas pers0-
nalidades anímicas "inferiores" estão neste preciso momento
deixando suas moradas ou veículos físicos, enquanto que
outras tomam posse de um novo, num "reino" idêntico ou
não, segundo seu grau de desenvolvimento, mas tu já deve­
rás ter compreendido que existem também almas-personali­
dades que atingiram há um tempo mais ou menos longo -
e algumas há milênios - o estatuto de homem, que se de­
sencarnam ou se reencarnam no momento em que tu e eu
estamos em comunhão cósmica. É delas unicamente que va­
mos falar, uma vez que o assunto das personalidades aními­
cas inferiores, principalmente as dos animais, já foi tratado
no nosso último encontro ...
"Gostaria em primeiro lugar de eliminar o problema do
crescimento da população, utilizado como objeção à reen­
carnação. Não será demais repetir - e vou fazê-lo mais uma
vez - que só há uma alma no universo, que é a alma cós­
mica. Se fosse necessário, um segmento desta alma cósmica
poderia encarnar-se em milhões de homens novos. No mo­
mento em que o veículo físico fica pronto, ele toma posse. O
eletricista não faz outra coisa quando, numa casa, procede
à instalação de novas lâmpadas elétricas. Se quisesse, poderia
instalar dez, vinte, e até mais, na mesma sala. E é s'empre
a mesma eletricidade que será empregada, qualquer que seja
a forma das lâmpadas. A eletricidade é sempre igual a si
própria. Não se pode cúlpá-la pela imperfeição das lâmpadas,
que podem fornecer mais 9u menos luz. Se uma lâmpada
deve ser trocada, é sempre a mesma eletricidade que produ­
zirá a luz na nova lâmpada. A mesma coisa acontece com a
alma universal. Ela é infinita sem mancha. Encarnando-se

182
no homem, ela é nele o santo dos santos, o segmento perfeito
que dá vida e luz a seu ser. Na "forma" que constitui esse
ségmento, a personalidade se cria ou prossegue sua evolução.
É o resultado do contato da consciência com o mundo e seu
meio ambiente, bem como dos pensamentos, dos atos e das
experiências do homem no meio em que vive.
"Por que a alma universal deve encarnar-se, uma vez
que é infinita e pura? Ela o faz porque é preciso que tome
consciência de si própria. A eletricidade não faz seu papel
para o homem senão na utilização por ele e para ele. A alma
universal só atinge seu objetivo na encarnação. Na realidade,
ela contém em si, desde sempre, todas as personalidades, mas
estas, como ela própria, estavam em estado passivo, sem cons­
ciência de si, sem "conhecimento". A involução no universo
manifestado permitirá a tomada de consciência destas per­
sonalidades. Elas terão provado da árvore do conhecimento
e o resultado último será uma alma universal consciente dela
mesma, onde cada personalidade conhecerá sua própria rea­
lidade e participará conscientemente do plano cósmico. Não
é fácil compreender o que é dificilmente expressável. Lem­
bra-te apenas de que a criação é um ato permanente de amor.
Ela é o desenrolar e a realização do plano e dos objetivos
cósmicos. A origem é a não consciência, a meta final é a
consciência. A tomada de consciência se opera na encarna­
ção, e tudo, inclusive a lei da compensação, ou carma, da
qual falaremos mais tarde, visa apenas a este objetivo.
"Alguns confundem reencarnação e metempsicose. Nes­
ta última, a alma-personalidade poderia voltar no corpo de
um animal após ter conhecido a experiência humana. Esta
doutrina é falsa. Mais uma vez, na evolução não existe volta
atrás, e é por isso que a palavra reencarnação é preferível
para designar as vidas sucessivas do homem. Pode-se 01t não
admitir a doutrina da reencarnação. A recusa, certamente,
não muda em nada a lei e ela não é anulada pelas denega­
ções daqueles que não querem ou não podem admiti-la. Aliás,
o homem não é julgado pelas suas crenças. Ele o é por seus
atos. Mas é melhor não reconhecer mentalmente a reencar-

183
nação e levar uma vida boa e eficiente, do que perder tempo
e passar horas, dias e meses preocupado com suas reencarna­
ções anteriores. O que pertence ao passado é um livro lido
do qual cada capítulo foi assimilado. Aquele que no começo
de sua formação escolar aprendeu a tabuada de multiplicar
não volta mais a ela para fazer suas multiplicações. Conhecer
suas vidas passadas pode ser uma descoberta interessante,
mas isto tem apenas um interesse documental e uma desco­
berta desse tipo é incontrolável. Aquele que se dedica a isto,
tanto pode chegar a uma conclusão correta como perder-se
nos piores enganos e, para suas próprias encarnações, confiar
.nas pretensas revelações de um médium é ainda mais duvi­
doso. Este pode inventar - e o faz constantemente - e mes­
mo que seja sinceiio, pode enganar-se ou ser enganado pelas
ilusões de seu mental. No que ele declara "ver", entram sua
própria subjetividade, e eventualmente as luzes que ele pode
captar sobre seu próprio passado, projetando-as com boa-fé
sobre quem o consulta. Na realidade, as únicas e verdadeiras
informações que se pode obter sobre as vidas anteriores de
cada um só são possíveis por si próprio. As "leituras" de
outrem não apresentam nenhuma certeza, ainda que, em
casos extremos, uma pitada de verdade, num monte de falsas
impressões, pudesse ser encontrada.
"Alguns declaram não admitir a reencarnação por não
se lembrarem de suas vidas passadas, mas este argumento é
absurdo. Será que eles se lembram de tudo o que fizeram aos
cinco, seis ou dez anos, e mesmo em datas bem mais recentes,
com todos os detalhes? E porque a lembrança se apagou,
ousariam dizer que não existiam naquele momento?
"Em certas condições, é possível conhecer algumas cir­
cunstâncias, estados ou experiências do passado. Isto se pro­
duz se esta circunstância apresenta alguma utilidade para a
compreensão da vida presente, pois tudo o que é dado ao
homem tem por finalidade a sua evolução, e a lei cósmica
é justa e boa. O "realizado", naturalmente, conhece todo o
seu passado, porque este conhecimento não pode prejudicá-lo,
pois ele sabe calar-se sobre si próprio. Se a lembrança de

184
tudo ficasse -com o homem, ele só-tiraria-disso o lado nega­
tivo. Ficaria remoendo o passado sem cessar e muitas vezes
sentiria remorsos e pena. Gostando de "contar-se", aprovei­
taria qualquer ocasião para falar de si próprio. Sua curiosi­
dade, enfim, o faria "perder" as experiências que lhe oferece
sua existência atual. Ele se entregaria sem cessar a uma
análise comparativa e sua tomada de consciência, ou seja,
sua meta, :se afast,aria mais dele.
"Cada vida, para o homem, é o resultado de todas as -pre­
cedentes. É a síntese delas dirigida para uma nova etapa.
Aprendendo a conhecer-se, como faz o verdadeiro rosacruz,
trabalhando e perseverando, descobrirá progressivamente sua
aquisição, que � a conseqüência de suas vidas anteriores.
Pouco importa tenha sido ele rei ou lavrador. O que conta
é o resultado de seus atos de outrora, e esse resultado é o que
ele é atualmente. Ele deve partir destas bases, no conjunto
das experiências que atravessa, para avançar mais. Sua vida
futura será exàtamente como ele a tiver preparado. em sua
vida presente.
"Acho que estas explicações apenas repetem o que passa
a ser do conhecimento de todo rosacruz quando em certo es­
tágio de progressão. Elas enfocam também a questão das
vidas sucessivas em seus verdadeiros aspectos e dentro dos
limites razoáveis para todo místico equilibrado. Mas um pro­
blema resta ainda a ser resolvido: a personalidade anímica,
tendo chegado ao estágio humano, reencarna sempre na ter­
ra? Em outras palavras, ela terá oportunidade de viver nou­
tros lugares do universo, sob outra forma, as experiências ne­
cessárias à sua evolução?
"A resposta a esta questão é categórica: sim, mas al­
gumas explicações são necessárias. Foi-te dito e repetido que,
uma vez chegada ao estágio humano, a alma-personalidade
não retrocede mais. Na terra ou em outra parte, ela não pode,
portanto, tomar forma, reencarnar, senão num "veículo" de
condição igual ou superior ao do homem, o que implica dupla
conseqüência: se por um lado o "veículo" é de grau equiva­
lente ao do corpo humano, a personalidade anímica poderá

185
ulteriormente reencarnar de novo na terra e, por outro lado ,_
se o "veículo" é de um grau superior, é em seguida num
veículo de condição similar que ela continuará sua experiên­
cia, seja na terra, se nesse momento o corpo humano tiver
atingido grau de desenvolvimento equivalente, seja em outra
parte, onde as condições exigidas possam ser satisfeitas.
Acontece também que se o corpo humano não devesse mais
evoluir, aprimorar-se - o que em princípio não acontecerá
jamais -, ele não ofereceria mais à personalidade anímica
o meio de experiência de que ela necessita, após haver atin­
gido um grau de desenvolvimento que passe a exigir um
"veículo" superior de expressão. Neste caso, naturalmente,
será sempre em outra parte que ela tomará forma, num
"veículo" adaptado. Mencionei várias vezes a expressão "em
outra parte" e isto designa outros mundos, outras galáxias,
ad�itindo assim que a vida não existe somente na terra. Com
efeito, ela existe em outros sistemas planetários. Os veículos,
ou corpos, são diferentes, o meio també:r;n, mas nesses siste­
mas, em que alguns são mais avançados e outros menos, o
efeito das experiências vividas pela alma-personalidade é da
mesma natureza que as oferecidas na terra, se bem que de
grau mais ou menos elevado, de intensidade maior ou menor.
As experiências podem ser completamente diferentes, seu
efeito visará à mesma meta que na terra, uma maior tomada
de consciência, e este efeito nasce de reações emotivas bas­
tante parecidas com as do homem: amor e ódio, dor e ale­
gria etc. Onde quer que se venha a verificar, a encarnação da
personalidade anímica tem como único objeto sua evolução.
"Mencionei que outros sistemas planetários são menos
avançados que o teu e deduziste, com razão, que as almas­
personalidades atualmente na terra tiveram, por certo, "en­
carnação" num desses sistemas inferiores. Isto é verdade, mas
estando agora no estágio "terrestre", elas não habitarão nun­
ca mais nenhum desses sistemas, porque neste campo tam­
bém não há, nunca, volta atrás. Não é, portanto, inútil re­
petir que a "reencarnação" da alma-personalidade, do ponto
de vista "meio planetário", só se verifica num meio igual ou

186
superior àquele que precedentemente era o seu, sob a forma
humana.
"Deixa-me também esclarecer o seguinte, que é impor­
tante, e que será uma revelação para muitos. O sistema solar
é o domínio do homem. É o passado do homem, seu presente
(a terra) e seu futuro. Cada sistema planetário é a mesma
coisa, está em,evolução, com seus planetas mortos, seus pla­
netas vivos e seus planetas evoluindo para a vida, o que sig­
nifica que na descoberta dos planetas, empreendida pelo ho­
mem, este não encontrará seres vivos no seu sistema, mas
condições que permitem ou não a vida como ele a conhece,
ou à qual seu organismo lentamente poderá adaptar-se. Em
outras palavras, ele descobrirá astros mortos - são o seu
passado - e descobrirá planetas que abrigarão o seu futuro,
mas a terra por muito tempo ainda será seu domicílio. Cada
sistema planetário, no infinito do universo, comporta tam­
bém um passado, um presente e um futuro. O presente é a
maneira ativa, e este planeta é o lugar onde a alma-perso­
nalidade é chamada a recontactar as experiências necessá­
rias à sua evolução. Ora, a terra não é senão um desses lu­
gares. Tiveste assim uma visão bem mais ampla da evolução
e do desenvolvimento da personalidade anímica até a sua úl­
tima tomada de consciência total, e se acrescentares a este
conhecimento o que aprendeste num encontro anterior, quan­
do tratamos da alma dos animais, sentirás mais uma vez a
grandeza e a unidade da Criação.
"Para tuas medit�ções, sugerirei, sem dar uma resposta,
uma questão de enorme alcance. O espaço só existe para o
corpo físico, assim como a distância. Nestas condições, há uma
"separação", ou "distância", entre os planetas? O universo
não é simplesmente porque tu és? Tudo não é em ti? A essas
perguntas só tu podes responder por ti mesmo, pois tais co­
nhecimentos não podem ser racionalizados. Eles são "senti­
dos", realizados como um raio de luz total. É a iluminação,
a tomada. de consciência final que permite compreender a
antiga palavra de sabedoria: "Conhece-te a ti mesmo e co­
nhecerás o universo e os 'deuses".

187
"Para concluir, falar-te-ei do princípio dos 144 anos que
constituem, como sabes, através dos ensinamentos da Ordem
Rosacruz - A.M.O.R.C., a duração média da encarnação de
uma personalidade anímica, ficando bem entendido que se
uma existência durou apenas cinqüenta ou sessenta anos, por
exemplo, a personalidade anímica em princípio, no plano cós­
mico, permanecerá o tempo necessário para que os 144 anos
sejam completados. Estes 144 anos são uma média calculada
pelos sábios em um largo período de tempo, e isto explica
que personalidades anímicas, neste longo período, reencar­
nam às vezes mais rapidamente, às vezes menos. Estes prin­
cípios são perfeitamente explicados pela Ordem Rosacruz -
A.M.O.R.C., nos ensinamentos que ministra a seus membros
ainda quando neófitos. Gostaria, no entanto, de chamar tua
atenção para o seguinte ponto: o tempo e o espaço não exis­
tem senão como noção humana, e são reais apenas para o
homem durante sua vida consciente na encarnação. No plano
cósmico, tempo e espaço não guardam qualquer vestígio da
realidade. Assim, a lei dos 144 anos, que é verdadeira, se con­
siderada no nível humano, nos limites do tempo e do espaço,
não tem nenhum sentido, examinada do ponto de vista cós­
mico. Neste nível, efetivamente, a reencarnação é imediata.
Para usar uma comparação com a ajuda da linguagem, que
infelizmente é limitada, o "tempo" passado, no plano cósmico,
entre duas encarnações, equivale a um sono de apenas um
segundo durante o qual se desenrolasse um sonho que le­
vasse anos no plano físico. Isto é a realidade. Não é menos
verdade que, para compreender e assimilar, o cérebro hu­
mano tem. necessidade de diferenciar e medir, e é por isso
que é bom considerar os grandes pr_incípios nos limites de
tempo e de espaço próprios à existência física. Mas o mistice
deve sempre equilibrar a compreensão adquirida em termos
humanos com o conhecimento que pode apreender na reali­
dade de seu ser até que sua consciência equilibrada vibre
definitivamente no ritmo da sabedoria infinita, onde tudo é
percebido, conhecido além de toda limitação.
188
"É inútil procurar provar a reencarnação. Já fiz a este
respeito as reservas necessárias. Entretanto, se fosse preciso,
um exemplo poderia ser mostrado ao mundo cristão, na ter­
minologia que lhe é própria. Jesus é considerado por todo
cristão o salvador dos homens. Ele veio pagar os pecados dos
homens. Teria sido, portanto, possível ao poder de Deus, tal
como é ensinado pelo cristianismo, decidir que todo o pas­
sado julgado ímpio estava esquecido, perdoado e que um ciclo
novo começasse, sem necessidade de "encarnação divina". Em
vez disso, Jesus Cristo veio ao mundo, entre os homens, e os
pecados cometidos pela carne foram redimidos na carne. O
último "Tudo está consumado" indica que o carma humano
estava compensado pelo exemplo e os sofrimentos do Filho
de Deus, que se tornara, para sua missão de redenção, filho
do homem. Assim, isto também é verdade, que devem com­
preender aqueles que podem compreender. Qualquer que seja
a terminologia, quaisquer que sejam as crenças, a verdade
transparece sempre e em toda parte. : .
"Terminei o que tinha a dizer sobre as vidas sucessi­
vas, mas voltaremos indiretamente ao assunto, ao tratarmos
da lei da compensação, ou carma, que será focalizada em
nosso próximo encontro, que se dará assim que te sentires
pronto ... "
Com essas palavras, nesta última vibração de conheci­
mento com que ele impregna minha consciência, o bondoso
mestre retira-se e, antes de voltar à terra, a meu sanctum
físico e à minha escrivaninha, onde redigirei "a mensagem",
minha abna abandona-se à comunhão, enquanto ressoa um
hino sublime de louvor, cantado pelos coros cósmicos à glória
do Deus do universo ...

189
CAPÍTULO XVIII

A LEI DA COMPENSAÇÃO, OU CARMA

V
Era natural que o exame de um assunto como a lei da
compensação, ou carma, viesse em último lugar, nos encon­
tros cósmicos consagrados à alma-personalidade e a seus es­
tágios sucessivos nas moradas em que ela encontra, por toda
parte, as condições que favorecem sua última tomada de cons­
ciência. Fazia-se necessário, em primeiro lugar, compreender
a lenta formação, no seio da alma universal onipresente, da
personalidade e vê-la expandir-se progressivamente através
dos diversos reinos até o estágio humano. Era preciso, em se­
guida, olhar a personalidade anímica na sua evolução no de­
curso de sucessivas vidas, quebrando limites geralmente im­
postos por um falso raciocínio e velhos hábitos de pensar, que
restringiam unicamente à terra o "campo de experiência"
dessa personalidade. Isso exigia, certamente, muitas referên­
cias à lei da compensação, mas esta, para ser perfeitamente
compreendida, devià · ser estudada num encontro especial, e
constituir o coroamento e a conclusão dos assuntos exami­
nados precedentemente, e eu tinha achado lógico que o bon­
doso mestre procedesse assim, por etapas.
- Depois de meu �Itimo encontro, certamente não tinha
deixado de refletir de novo na formação da personalidade
anímica, levando em conta as informações recebidas sobre a
existência de vida consciente em outros sistemas planetários,
alguns dos quais menos avançados que o nosso. Aqueles que
eram mais avançados não me causavam nenhum problema:
a personalidade anímica, uma vez atingido o estágio de evo­
lução desejado, prosseguia seu desenvolvimento e não mais

191
voltaria à terra, enquanto esta não se desenvolvesse suficien­
'temente para atingir grau de equivalência àquele outro sis­
tema, ainda que, com a evolução deste último, se dele a alma­
personalidade retirasse todo o proveito possível, ·ela estaria
sempre "adiantada" em relação à experiência terrestre, e não
poderia voltar à terra. Ela poderia até mesmo prosseguir no
interior de um sistema planetário mais adiantado ainda, se
seu nível de aperfeiçoamento o justüicasse.
Por outro lado, o fato de haver sistemas menos desen­
volvidos que o nosso sugeria que personalidades podiam cons­
tituir-se aí e desenvolver-se. Uma análise rápida desta ques­
tão tinha-me levado a concluir que era assim mesmo, e que
isto em nada alterava o que me tinha sido ensinado ante­
riormente. A alma universal penetra tudo, e estão compreen­
didos nesse tudo os diversos sistemas planetários. A "forma­
ção" da personalidade "na" alma universal infundida "em
outras partes", em algum "veículo", seguia um processo si­
milar àquele explicado para a terra. Sem dúvida os reinos
podiam ser diferentes, mas a progressão e o desenvolvimento
eram idênticos, os resultados semelhantes e, de qualquer ma­
neira., a personalidade anímica, tendo atingido o grau de de­
senvolvimento absoluto, prosseguiria seus progressos na terra
ou num sistema de "status" equivalente e vice-versa, não
voltando mais ao estágio que tinha ultrapassado.
A viagem da personalidade anímica não é, portanto, li­
mitada a um único meio ambiente planetário e pode-se dizer
que o campo de experiências - o laboratório - da alma­
personalidade não é somente a terra. É o universo, um uni­
verso onde tudo é ordenado, inclusive as etapas da evolução
espiritual e, sendo a tomada de consciência total a finalidade
última, não é prodigioso saber que o cosmos inteiro está à
disposição da personalidade anímica para, mais cedo ou mais
tarde, chegar a esta sublime etapa? Como é fácil compreender
também que alguns declarem às vezes que eles não se sen­
tem deste mundo! Eles conheceram outro, mas mesmo assim
têm que aprender a conhecer este. E, novamente,· que ordem,
que método, que unidade!

192
A. lei da compensação, ou carma, nesta perspectiva, pa­
?·ece universal, e ela o é. Universais parecem também os gran­
des princípios místicos ensinados pela tradição e pela Ordem
Rosacruz - A.M.O.R.C., principalmente. Eles não teriam que
mudar uma vírgula sequer, se um outro sistema planetário
"vivo" fosse um dia descoberto e se soubesse então que um
ou vários Messias ou instrutores eram venerados e seguidos.
O mesmo se passa com o conhecimento. Ele não é de um
tempo ou de um lugar. Pertence ao universo. Só se transfor­
mam as palavras com que o revestimos, as explicações com
que o ornamos e á maneira como o propagamos. Ele é eterno
e para sempre igual a si próprio ...
Estou pronto e o momento de receber mais luz é chegado.
Do meu sanctum físico elevo-me até o Sanctum Celestial. A
hora é tardia e tudo está calmo neste local de alta espiritua­
lidade. Os que aí se encontram ao mesmo tempo que eu,
estão "no silêncio". Meu santuário está iluminado apenas
por suas tochas eternas e eu nem teria me dado conta de que
"o mestre apareceu" se minha consciência não tivesse vibra­
do por alguns instantes ao ritmo do OM anunciador da santa
visita. Realmente, o bondoso mestre está aí e, com seu sor­
riso apaziguador, me prepara para a lição que ele se propõe
transmitir-me, e todo o meu ser interior o escuta avidamente:
"Sim, diz o mestre, a lei da compensação, ou carma, é
universal e aplica-se a todos os graus do universo, do infini­
tamente pequeno ao infinitamente grande, tomando os mais
diversos "aspectos". Tu aprendeste, num encontro anterior,
consagrado à cura, que há um carma corporal e não voltarei
mais a este assunto. Há um carma mental, no sentido de
que um pensamento habitualmente bom ou mau tem efeitos
semelhantes. Há, enfim, um carma espiritual, e este se rela­
ciona diretamente com a personalidade anímica. Mas, na rea­
lidade, estes múltiplos aspectos do carma não são mais que
nuances de uma mesma lei aplicada a condições especiais, e
a personalidade anímica, em maior ou menor grau, é atin­
gida por todos eles. Com efeito, ela pode atravessar a expe­
riência de um corpo em mau ei:;tado de saúde e tirar daí uma
193
lição útil. Pode passar pela prova de pensamentos negativos
e aproveitar o ensinamento assim recolhido. Os aspectos in­
feriores do carma - o aspecto corporal ou mental - podem
provocar nela o clarão do conhecimento e iluminá-la de sa..
bedoria. Tudo na experiência, em seus diversos níveis, se
reúne para favorecer uma maior tomada de consciência. No
entanto, é principalmente no encontro da alma-personali­
dade com o meio que lhe é proporcionado pela encarnação
que se situam as condições mais favoráveis ao desenvolvi­
lllt€nto do Eu. A personalidade anímica deve, certamente,
aproveitar todas as lições que lhe propõe a existência. O
carma corporal resultante do excesso ou da repressão é regis­
trado por ela e, sem sofrer as conseqüências diretamente,
aprende a distinguir a verdade e o erro, aumentando assim
seu conhecimento das obras do mundo. Ela percepe a gran­
deza e as limitações do sanctum corporal que a abriga. Ela
acaba por situar os inelut�veis limites do tempo e do espaço
em relação à imensidão do infinito em que deve evoluir. Do
tormento mental, da cadeia incessante das associações de
idéias, ela tira a lição de que só são verdadeiros a paz e o si­
lêncio. Fundamentalmente, a expansão da personalidade aní­
mica depende das �moções engendradas pelas circunstâncias
que o homem atravessa no curso de sua existência, e a pró­
pria dor física ou mental é, em última análise, uma emoção,
pois, para que haja sofrimento, é necessário que haja cons­
ciência da dor.
"Do ponto de vista cármico, cada ato, cada pensamento,
cada palavra e cada omissão têm conseqüência positiva ou
negativa, conforme o caso.
"A cada instante da vida consciente, a lei da compen­
sação, ou carma, está, portanto, em ação. O carma pode ser
imediato ou deixado para mais tarde. Tudo depende da lição
a ser aprendida. Se alguém se queima com um fósforo, é
evidente que a lição será imediatamente gravada. Em seguida
ele agirá com mais prudência. Não será necessário queimar-se
várias vezes para aprender que deve prestar atenção: Em
troca, se um homem persegue seu semelhante, se ele o en..:

194
gana com o fim de obter alguma vantagem ou se age mal.
com alguém, pode estar tão preocupado com o fim que deseja
alcançar, e tão ignorante do que ele próprio está arriscando
carmicamente, que o pagamento da dívida assim contraída
deverá ser adiado para mais tarde e que as circunstâncias
deverão ser escolhidas para que a lição seja proveitosa. Al­
gumas vezes ela só o será após um longo tempo de provação,
que cessará assim que ela tiver sido compreendida.
"Não é justo dizer que a lei da compensação pune. Sob
este aspecto, ela também recompensa, da mesma maneira.
As alegrias de uma existência, os momentos de paz, de calma
e de relaxamento são também um efeito do carma, se bem
que o homem, infelizmente, tenha tendência para não pres­
tar atenção nestas coisas, enquanto que ao menor aborreci­
mento ele se lamenta e se queixa do que ele chama seu "mau
carma"! Na realidade, a lei da compensação não pune nem
recompensa. Ela age de maneira impessoal e é o próprio ho­
mem que a põe em ação, criando as condições positivas ou
negativas das qu'ais ele retirará a lição útil à sua evolução,
à sua tomada de consciência. A responsabilidade por uma
situação repousa, portanto, antes de mais nada, no próprio
homem. :S: ele que estabelece seu "destino" e as etapas que
este comportará. A lei da compensação, ou carma, traça a
trama de sua existência presente e futura. O que ele pensa
e realiza tomará a forma de circunstâncias que constituirão
as lições que ele decidiu aprender e das quais ele colherá o
crescimento de sua personalidade anímica.
"O místico deve lembrar-se sem cessar desta noção de
responsabilidade pessoal, nas circunstâncias que atravessa, e
deve esforçar-se por vislumbrar a lição que é preciso retirar.
Entre duas encarnações, a personalidade anímica tem cons­
ciência da meta última a ser atingida e percebe que a exis­
tência física, na sua brevidade, lhe é oferecida para lá chegar.
Aceita então as situações boas e difíceis que encontrará na
próxima encarnação, ou melhor, desejará torná-las ainda
mais proveitosas, tal é a pressa que ela tem em chegar a esta
meta grandiosa, que pressente tão fortemente quando está

195
liberta dos entraves físicos. Mas não lhe será apresentado,
na sua volta ao manifestado, senão o que pode ser suportado
por ela e pelo veículo que ocupará temporariamente, pois a
lei da evolução é justa e boa e tudo é trazido às proporções
do homem. Como quer que seja, cada ser que se encontra na
terra concordou, enquanto sua personalidade anímica se en­
contrava no interlúdio cósmico, em atravessar as experiên­
cias que aqui estão vivendo. Por mais duras que possam pa­
recer, o ensinamento que deve ser retirado delas é capital
para a evolução da alma-personalidade. O místico busca en­
tão a significação e a lição de todas as circunstâncias, boas
ou não, que constituem a trama de sua vida, sabendo que
elas cessarão assim que forem compreendidas e assimiladas,
aproximando-o do fim, de urna maior tomada de consciência.
"A lei da compensação, ou carma, não é, sob nenhum
aspecto, uma lei de provação. Não deve inspirar este medo.
Sem dúvida, ela. é rígida em sua ação impessoal. Mas não
é ela que o homem deve temer. São seus próprios pensamen­
tos e sua própria ação, aos quais, inelutavelmente, a lei da
compensação será aplicada.
"Uma última questão resta a ser examinada, que é: a
lei da compensação se aplica com o mesmo rigor ao adepto
rosacruz, por exemplo? A resposta é dupla: se, por ui:n lado,
caminhando pela senda, o conhecimento adquirido não o leva
a um comportamento �elhor, é evidente que ele será mais
culpado do que o ignorante, e a lição a ser aprendida será
mais difícil, ainda que a faculdade de reparação voluntária
lhe seja franqueada, se ele quiser fazer uso dela a tempo.
Por outro lado, se sua sinceridade é grande, se a marcha pela
senda o conduz a pensamentos e ações justos, ele natural­
mente terá menos düiculdade em compreender os efeitos fa­
voráveis ou não de seu carma passado e a lei suavizará e
abreviará as situações das quais se deve tirar lições. Em certos
casos chegam a ser anulados os efeitos cánnicos, se a evo­
lução adquirida torna inútil urna experiência que nada mais
trouxesse ao desenvolvimento interior. Principalmente, al­
guém que tivesse desenvolvido, em si, o amor verdadeiro a
'
196
ponto de impregnar dele os seus pensamentos e ações, seria
pouco, ou mesmo nem um pouco, submetido à lei cármica
em sua fase negativa. Sua vida seria harmoniosa e o último
retorno, já adquirido, ou estaria muito próximo.
"Conhecer a lei da compensação, ou carma, é granjear
maior sabedoria, sabendo que o futuro é função do presente
e nunca é tarde demais para começar uma vida mais justa
e mais verdadeira. Para o místico, esta lei é um aspecto da
sabedoria e da grandeza cósmicas. Ele tem por ela veneração,
posto que foi a origem de sua evolução passada e presente
e contribuirá, amanhã, para elevar sua consciência ao estágio
final da unidade cósmica."
Com estas palavras, nesta "vibração", o bondoso mestre
acaba sua exposição e retira-se. Novos instrumentos acabam
de me ser confiados. O que ele me comunicou servirá de base
para muitas meditações. Não basta receber. É preciso tra­
balhar, refletir, dar. Mas será isto tão difícil para quem tem
o privilégio de ascender às mais altas esferas cósmicas, a um
Sanctum Celestial onde -todos são -acolhidos quando o dese­
jam e onde a luz está à disposição de todos, de ti, meu 4'mão,
tanto quanto de mim próprio? Vai ao Sanctum Celestial. É
apenas lá que encontrarás a verdadeira paz.

197
CAPÍTULO XIX

O MtSTICO MODERNO

Hoje será meu último encontro cósmico, com o fim de


recolher mais luz sobre uma questão especial, destinada a
ser examinada nestas páginas. Minha intenção, no fundo,
foi principalmente mostrar aos meus leitores que é possível,
num Sanctum Celestial, obter todos os esclarecimentos dese­
jáveis sobre qualquer problema. O que consegui aprender,
cada um, por si próprio, poderia também ·aprender, em co­
munhão.. cósmica bem conduzida. Esta obra tem, assim, por
finalidade mostrar o caminho para se atingir uma fonte rica
de conhecimentos infinitos.
Entretanto, antes do próximo e último capítulo, que fo­
calizará uma iniciação no Sanctum Celestial, achei útil, du­
rante um contato pessoal, pedir para ser esclarecido sobre a
condição do místico no mundo moderno e transmitir-lhes o
que me tivesse sido ensinado a respeito.
Preparei-me longamente, muito longamente, para minha
comunhão desta noite. Durante alguns dias participei ape­
nas dos serviços diários do Sanctum Celestial, sem fazer per­
guntas precisas. Sentia um intenso desejo de calma, de paz
e de repouso mental, mas, intimamente, já pensava no as­
sunto da última visualização que empreenderia para este
livro.
Num mundo tumultuado, em transformação, mais exa­
tamente, em mutação, pode-se ainda admitir que haja lugar
para o misticismo? A humanidade parece tomada de uma
sede crescente de gozar a vida nos seus múltiplos aspectos
e acredita-se que ela só se sinta tocada pelas satisfações ma-

199
teriais. É pelo menos o que pensam muitos, o que registra
a imprensa e o que proclamam as emissoras de rádio e tele­
visão. Ora, isto não passa de aparência.
O homem, é verdade, move-se num meio novo, vive cir­
cunstâncias diferentes, numa civilização material infinita­
mente mais avançada do que a de data relativamente recente.
Bastaram algumas décadas para que esse resultado fosse atin­
gido e que a humanidade evoluísse nesse novo cenário. Os .
que sabem que a era àe Aquário sucedeu a de Peixes não se
assustam· com estas mudanças e com as transformações ope­
radas, nem com as que se operarão. Constatam que o ato se­
guinte começou, mas não ignoram que os personagens, eles,
permanecerão os mesmos. A peça prosseguirá em busca de
novos desenvolvimentos, sem que os papéis mudem. Segura­
mente, as reações ao cenário no qual se agita a humanidade
são necessariamente diferentes das do passado. Do ponto de
vista físico e intelectual, o homem se situa num grau consi­
deravelmente mais elevado. Progressivamente, colocou-se sob
este aspecto, no diapasão da nova era.
No entanto, o ritmo de existência ao qual se habitua a
humanidade para seu ciclo mais adiantado não é compen­
sado pela compreensão espiritual desejável para este ritmo.
Poderíamos dizer que o homem, atualmente, possui um corpo
adulto e uma alma de criança. Ele cresceu materialmente
sem se desenvolver interiormente, e o desequilíbrio persistirá
até que se desenvolva nele uma compreensão adaptada à nova
era. As concepções precedentes estão ultrapassadas e não
foram substitUÍdas por nada, para a massa. Tudo parece
também colocado em questão e não se promovem reformas
de estruturas que possam favorecer o retorno ao equilíbrio.
Este retorno só será possível com estruturas novas, inspira­
das pela nova era. Naturalmente subsistirá do passado o que
é permanente, o que constitui a nota comum a todas as eras.
Este permanente e esta nota comum ª-ã,o os princípios funda­
mentais, aspectos diversificados da lei única, que estão sem­
pre à disposição do homem, a fim de lhe permitir ascender
ao conhecimento, à verdadeira dominação da vida. l!: por isso

200
que religiões desaparecerão ou se transformarão a ponto de
ficarem irreconhecíveis: elas são exotéricas e esta mudança
é natural, pois sofrem a lei do mundo exterior. Por outro
lado, o que não mudará são as escolas autênticas de mistê­
rios, como a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., pois estas são
esotéricas, não sujeitas às influências externas, salvo na sua
maneira de transmitir, de formar, de iniciar, que evolui com
o meio em que essas escolas devem operar, a fim de melhor
cumprir sua missão. Em outras palavras, o conhecimento é
inalterável, mas sua formulação e a técnica adotada para
perpetuá-lo levam em conta as condições exteriores.
São precisamente as escolas autênticas de mistérios - e
a Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C. em particular - que podem
levar o homem a uma compreensão verdadeira e, assim, res­
tabelecer nele o eqúilíbrio rompido por sua inadaptação à
nova era, pois, como já disse, seu interesse unicamente pelas
coisas materiais é apenas aparente. Se este interesse é, ou
parece ser, tão exclusivo, é que o homem vê desaparecer com
o tempo tudo o que constituía para ele um refúgio que su­
punha indestrutível e tudo o que, a seus olhos, tinha um
valor inalterável. Em volta do que podia ajudá-lo, ou seja,
de algumas organizações tradicionais que representavam o
conhecimento permanente, tinha-se instaurado uma verdadei­
ra conspiração do silêncio, entravando seus esforços para fa­
cilitar o acesso do homem a um estágio mais elevado, forne­
cendo-lhe o ensinamento necessário a uma compreensão
adaptada a este novo ciclo, como a todos os anteriores. A_
Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., consciente de sua missão e
de suas responsabilidades, empreendeu, durante décad�s. in­
tensa propaganda com o fim de quebrar esta conspiração do
silêncio e de revelar ao homem que uma sólida organização
existia para preencher o vazio diante do qual subitamente
foi ele colocado e para dar-lne os instrumentos que o ajuda­
riam a resolver eficazmente todos os seus problemas. Nume­
rosos são os que responderam ao seu apelo e cada vez mais
numerosos são os que respondem, à medida que se instaura
a nova era. Uma permuta se vai assim operando, permuta

2.01
já prevista. Por mais espantoso que possa parecer, longe de
derrubar o que restava do passado, e que, sob uma forma dife­
rente, devia subsistir em benefício da massa, esta permuta
insufla-lhe vida. O misticismo, assim, representa o seu papel
e ajuda, por exemplo, aqueles que sentem atração religiosa a
compreender e admitir a religião da qual eles se afastavam
em razão das flutuações que esta sofria, e que não podiam
compreender.
O misticismo, mais do que nunca, tem, portanto, papel
fundamental a répresentar, ficando bem entendido que o ter­
mo "misticismo" é usado no sentido amplo que lhe empresta
a Ordem Rosacru.z - A.M.0.R.C., ou seja, de conhecimento e
experiência: conhecimento e experiência que incluem todos
os aspectos da existência e não implicam nenhuma frustração
ou renúncia ao mundo, mas, ao contrário, uma participação
total.
O problema· da condição do místico no mundo moderno
merece assim toda atenção, e foi para o Sanctum Celestial
que me voltei para ser esclarecido sobre este assunto. No meu
santuário particular esperei o mestre e ele apareceu, como
sempre, para aquele que avidamente o espera para fruir sua
sabedoria e sua verdade. O OM ressoou e ele está ali, aquele
que, juntamente com o bondoso mestre, abençoou com sua
presença a maior parte dos meus encontros e me entregou,
para vos transmitir, estas mensagens do Sanctum Celestial.
Minha consciência recebe agora a palavra e a acolhe com ve­
neração.
"Antes de vires a este lugar sagrado onde nos encon­
tramos neste momento, refletiste longamente sobre o que de­
sejavas aprofundar na tua comunhão cósmica e escreveste as
conclusões a que chegaste sozinho. É um bom método, pois
tua visualização fica facilitada e deverias recomendá-lo àque­
les que, como tu, buscam mais luz num contato com o Sane­
tum Celestial. Passando para o papel, na medida em que são
pensadas, as concepções já adquiridas nessa procura mística,
elas estabelecerão as bases de uma visualização eficaz. Esta­
rão, por assim dizer, "postos em condições" para a comunhão
202
com o Cósmico e seu ser inteiro estará preparado. Não é uma
obrigação, é uma recomendação, destinada a facilitar sua
�inda aqui e tornar mais perceptível a mensagem que rece­
berão.
"Devo falar-te do misticismo moderno. Anotaste já a per­
manência do misticismo em todas as eras e em todos os ciclos
cósmicos. Numa outra ocasião aprendeste que na era de Aquá­
rio ele ocuparia lugar de destaque e seria muito mais conhe­
cido pelos homens do que antes. Concluíste, com razão, que,
neste papel preponderante, ele inspiraria as manifestações
exteriores do pensamento e das atividades religiosas destina­
das à massa, àqueles que ainda não atingiram um estágio de
adesão total ao misticismo puro. Realmente é verdade que
as organizações tradicionais autênticas, como a Ordem Rosa­
cruz - A.M.O.R.C., serão cada vez mais conhecidas e aceitas
por todos, mas isto não significa que todos devam ser admi­
tidos em seu seio. Um número maior será admitido. Os "ini­
ciáveis" são atualmente muito numerosos, e o serão ainda
mais, em toda a face da terra. No entanto, eles serão sempre
minoria - por maior que seja - na humanidade em evo­
lução, entendendo-se por minoria, naturalmente, uma elite.
Esta elite influenc-iará poderosamente - muito mais do que
já o fez - o mundo profano. Tendo sido reconhecida, ela será
mais ouvida, e, por conseqüência, mais seguida. Sabendo da
existência das escolas de sabedoria, qualquer pessoa que se
sentir "pronta", aproximar-se-á sem medo e sem reserva de
seus portais. Sem dúvida, estas escolas, e com maior razão
se tiverem a força da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C., sempre
terão que se defender contra os insidiosos ataques da som­
bra, mas elas são o canal eleito pelo Cósmico para difundir
o conhecimento e promover a iniciação, e, assim sendo, nada
prevalecerá contra elas.
"A condição do místico moderno é função desta nova si­
tuação. Ele não está separado dos homens. Ele vive e se ex­
pressa no meio deles. O mundo continua sendo o laboratório
onde ele experimenta e aplica os grandes princípios que lhe
revelam seus estudos tradicionais. O místico esforça-se por
203
tornar-se um ser total. Nada do que diz respeito ao mundo
lhe é estranho. Ele se interessa pelo universo inteiro, tanto
pelo visível quanto pelo invisível, pela ciência e seus progres­
sos como pelas mais diversas expressões do pensamento filo­
sófico e religioso. Segue seu caminho e edifica a própria com­
preensão assim como outros edificaram, sem no entanto ser
ipfluenciado por estes e sem fazer julgamentos nem procurar
convencer quem não pode ser convencido .
"O místico moderno lembra-se a todo momento que em
todo ser há uma dupla pola�idade - uma positiva e outra
negativa - e que ele também traz esta mesma marca, pois
sem isto nenhuma existência seria possível, sendo que o ter­
ceiro ponto - a manüestação no plano material - só é pos­
sível se os dois outros existirem. A polaridade positiva são as
qualidades, os talentos, as possibilidades construtivas, e a
polaridade negativa, os defeitos, as limitações físicas e inte­
lectuais, as tendências destrutivas. Com efeito, cada um tem
os defeitos correspondentes às suas qualidades, e isto é ine­
vitável. O místico compreende também que não deve julgar.
Se a polaridade negativa do outro o atrapalha ou surpreende,
ele sabe que sua própria polaridade negativa pode também
atrapalhar ou surpreender os outros. Além disso, estando o
Cósmico em tudo e sendo tudo, esta dupla polaridade está
também compre.endida nele e o que é designado como de­
feito ou imperfeição não é, em última análise, senão dedução
de um raciocinio limitado, pois esta dupla polaridade está ao
serviço do homem para sua evolução, para sua expansão in­
terior e para sua última tomada de consciência.
"A qualidade fundamental do místico é, então, ser ele
próprio. Ele não procura dissimular hipocritamente sua pola­
ridade negativa, para só mostrar aos olho:. do mundo a po­
laridade positiva. Sabe que os grandes mestres conservam
esta dupla polaridade durante todo o tempo em que estão
encarnados e que por manter-se fiéis a si mesmos é que têm
dado aos outros a maior lição e o mais belo exemplo. Sendo
ele próprio, o místico é um ser completo. Cresce, usando todos
os meios à sua disposição durante sua encarnação. Ele apren-

204
de, no entanto, a utilizar sua polaridade positiva para os
outros e a guardar para si próprio sua polaridade negativa,
e é nisto que ele se diferencia do profano. A polaridade nega­
tiva é uma ajuda constante para ele. Incita-o a �ma perma­
nente humildade. Por mais longe que vá, na senda da evo­
lução, ele estará consciente .dos limites que lhe impõe a
polaridade negativa e será humilde porque se sabe homem.
O místico moderno, insisto, participa da vida do mundo.
Não recusa as v.antagens de uma civilização material adian­
tada. Progredindo em todos os aspectos, a expansão de sua
consciência opera-se no mundo tal qual ele é, mundo que é
seu laboratório, seu campo de manifestação e de experiência.
Mas, como aprend�ste no encontro em que tratamos dos ape­
tites físicos, o místico em qualquer ocasião conforma-se à lei
do meio termo justo e bom. Tem, portanto, por regra a tem­
perança, cujo grau vai variar de pessoa para pessoa, conforme
suas próprias características, físicas e outras, e o místico,
por princípio, conhece-se a si próprio e sabe qual é, para ele,
a via do justo meio termo. Os prazeres sadios da existência
não são proibidos ao místico, nesta condição fundamental de
temperança, tal como a defini. A vida plena inclui as ale­
grias da existência, como inclui as penas �le pode distrair-se,
rir e dançar, assim como deve trabalhar, meditar e rezar. É
verdade quando se diz que um santo triste é um triste santo.
O místico é autêntico em tudo o que faz. Pois sendo ele que
em primeiro lugar é tocado pelos grandes princípios univer­
sais, não adota atitudes estudadas. Repito, ele é ele próprio,
tanto sozinho quanto em presença de outros. Ele é o reflexo
da universalidade e a universalidade compreende tanto os
mais altos vôos místicos como as mais ínfimas expressões da
vida quotidiana.
"Assim sendo, o místico é sob todos os aspectos um exem­
plo, sempre retirando da existência, da vida em sociedade, ·a
experiência necessária para uma compreensão cada vez maior,
de onde jorrará uma tomada de consciência sempre crescente.
Certo que ele se diferencia dos outros, no sentido de que não
está unicamente preocupado com a vida material, mas com

205
todo o conjunto cósmico. Assim, não pode agir como um ma­
terialista e, na sua maneira �e viver e de distrair-se, perma­
nece um místico que concede a seu ser físico as satisfações
que este necessita, sem jamais se deixar arrastar a excessos
perigosos. Assim fazendo, mostra que o misticismo é aces­
sível a muitos, que não obriga a uma vida anormal, afastada
das exigências da sociedade e que, pelo contrário, permite
existência tão ampla quanto possível, infinitamente mais ati­
va e universal do que a do profano, em geral interessado uni­
camente no aspecto material da vida.
"Após haver analisado o comportamento do mistico no
mundo moderno, convém sublinhar que este comportamento,
feito de participação, de tolerância, de sinceridade e de ver­
dade, tem sua origem na formação recebida pelo discípulo
na senda e no crescimento da consciência que ele então adqui­
re. Seria justo afi)"mar que a vida exterior, social, do místico
� a polaridade negativa de seu estado, sendo sua vida inte­
rior, iniciática, a polaridade positiva e encontraríamos assim,
aplicada à existência mística, a grande noção de polaridade,
ao mesmo tempo que a tão importante noção de equilíbrio.
"O místico moderno, tanto quanto o do passado, tem seu
oratório, onde adquire progressivamente o conhecimento, onde
recebe sua formação iniciática, onde desperta para a luz e
se comunica com o conjunto cósmico. Aí ele estabelece as
bases de sua evolução, aprende o porquê e o como das coisas,
torna-se um ser místico. Sua consciência se expande, sua
compreensão se estende e, voltando ao laboratório que é o
mundo, experimenta o conhecimento adquirido, o grau de sa­
bedoria realizada. Na era de Aquário, a vida estritamente
monacal e contemplativa deixará de existir. Mais exatamente,
adaptar-se-á às novas condições. Para o rosacruz, por exem­
plo, ela é constituída de períodos de sanctum, de contatos
com o Sanctum Celestial, de sua presença às convocações mís­
ticas. É aí que ele aprende, mas é no mp.ndo que ele aplica
e serve. A tomada de consciência não se completa fora do
mundo, ela se realiza no mundo, no meio dos homens.

206
"Aí estão os elementos que eu queria entregar à tua me­
ditação. Os outros tu os conheces, em tudo que se refere a ti,
através dos ensinamentos da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.
Lembra-te principalmente da lei do equilíbrio, cada vez que
refletires sobre a vida mística e lembra-te também de que o
místico não deve ignorar o meio em que vive. Deve partici­
par, pois este é o quadro onde se opera sua evolução. Lem­
bra-te, enfim, de que o místico é um ser livre que não aceita
nenhuma outra influência além do próprio raciocínio, escla­
recido pelo conhecimento e pela evolução que adquiriu. Par­
�icipação no mundo, humildade, temperança, liberdade ..·.
Lembra-te!"
Recobrando a consciência objetiva, dirijo- me à minha
escrivaninha para dar forma compreensível à mensagem in­
formulada que havia impregnado meu ser no .Sanctum Ce­
lestial. As últimas palavras do mestre ressoavam em meus
ouvidos cada vez mais fortemente, enquanto um capítulo do
livro O Santuário do Eu, de Ralph M. Lewis, me vinha à me­
mória e deste capítulo gostaria de extrair a seguinte pas­
sagem, que me parece ser a melhor conclusão para este en­
contro cósmico em que focalizamos o místico moderno:
"O místico pode e deve ser capaz de realizar, no campo
dos negócios, das ciências, das artes, uma obra que lhe faça
ganhar o respeito de seus companheiros de trabalho e sócios,
tão facilmente quanto pode dirigir sua consciência para o in­
terior e gozar da majestade do Cósmico. É apenas a ignorân­
cia de alguns que os faz imaginar o místico como incapaz
de defrontar as realidades materiais de cad.a dia. É um in­
sulto aos poderes que o místico desenvolveu em si acreditá-lo.
impotente, mudo no meio terrestre e pensar, conseqüente­
mente, que ele deveria fugir para algum retiro na monta­
nha, a fim de escapar às realidades da vida. Esta falsa con­
cepção, demasiado freqüente, tende a fazer do místico um
fracassado onde outros triunfam.
"Se quiserem conhecer um místico, não limitem sua pes­
quisa aos mosteiros e aos templos, mas procurem também nas
estradas e nos caminhos, nas cidades e cabanas e no acoto-

LOJA ROSACR E LISB(>Â


AMORC
BIBLIOTECA
velamento e �gitação dos grandes centros cosmopolitas do
mundo. Quando virem um homem ativo, estudioso 1 compas­
sivo, amado por seus amigos e vizinhos, tolerante no campo
religioso e que pode mostrar-lhes a magnificência e a força
cósmicas nas coisas mais simples, terão encontrado um mís­
tico. Com estas qualidades, quer ele esteja com uma batina
sacerdotal ou um macacão de operário, é um místico."
E eu acrescentaria, com o escritor e conferencista Ar­
naud Desjardins, que nunca vi uma pessoa rir com tanta
vontade e com alegria tão intensa como os grandes mestres
das autênticas escolas orientais de sabedoria, ainda existentes.

208
CAPÍTULO XX

UMA INICIAÇÃO AO SANCTUM CELESTIAL

V
Uma imponente cerimom� terá lugar esta noite no
Sanctum Celestial. Esta noite! . . . Na realidade, a iniciação
que vou relatar desenrolou-se há onze anos, numa noite de
julho, e se neste relato passo a situá-la nos limites próprios
ao tempo da terra e dizer "esta noite", é primeiramente por­
que, no Có.smico, não há outras condições senão a perma­
nência e a eternidade e, depois, porque esta cerimônia, para
descrevê-la, é preciso dar-lhe, além de força e vigor, atuali­
dade. Esta noite vamos participar de uma convocação das
mais sublimes, ·pois ela se refere ao despertar de uma perso­
nalidade anímica para a sua realidade, para uma tomada de
consciência avançada.
Preparei-me durante três dias para este encontro excep­
cional com o Sanctum Cel�tial. Durante estes três dias,
observei estrito jejum e fiz o repouso necessário para que­
meu corpo físico não constitua um entrave e não seja um
obstáculo, nem faça nenhuma queixa no momento sublime.
Ele está, portanto, em paz e não exige nada de um mental
sempre demasiado pronto a satisfazer suas solicitações ra­
zoáveis. Quanto ao momento, ei-lo chegado!
O encontro, no relógio da minha vida, está fixado para
as onze horas. Cerca de meia hora antes, dispus meu sanctum
físico da maneira desejada. Sobre o altar, acendi o incenso
e uma fraca luz azulada ilumina a peça. Procedi ao rito de
purificação e acendi as velas, enquanto dizia, conforme há­
bito de tantos anos, desde minha iniciação ao primeiro grau
de neófito da Ordem Rosacruz - A.M.O.R.C.:

209
"Luz sagrada, simbolo da grande luz da sabedoria cós­
mica, espalha tua claridade no meio das trevas e ilumina meu
caminho!", acendendo a vela da esquerda, e para a da di­
reita:
"A luz veio juntar-se à luz para que os raios entrecruza­
dos suavizem as linhas e as sombras e simbolizem a paci­
ficação da dor e do desgosto, como o fez a vinda do homem
da grande luz da sabedoria cósmica".
Depois, sentado, rezei a prece recomendada por nosso
Imperator, Ralph M. Lewis, na sua notável obra O Santuário
do Eu, prece que ele afirma que contém, com razão, aliás,
todos os elementos místicos:
"Possa a sublime essência do Cósmico purificar-me de
toda impureza de pensamento e de ação, a fim de que eu
possa comungar com o Sanctum Celestial. Possa minha cons­
ciência mortal estar a tal ponto esclarecida, que todas as
imperfeições de meu pensamento me sejam reveladas e possa
eu receber a força de vontade que me permitirá corrigi-las.
Peço humildemente que me seja dado perceber a plenitude
da natureza e de participar dela, ficando para sempre de
acordo com o bem cósmico. Assim seja".
Em seguida, de olhos fechados, abandonei-me à medita­
ção, com meu coração cantando seu reconhecimento pelo pri­
vilégio que divido com tantos outros: o de ser rosacruz, o de
servir.
Mas a hora é chegada, e é tempo de proceder à visuali­
zação e tomar o caminho do Sanctum Celestial. Ei-lo aqui, em
sua forma, para mim habitual, de uma catedral. Ela está aqui,
majestosa, no infinito dos céus, e, aproximando-me do gran­
de portal, reconheço certos "rostos". Todos eles nesta noite
irradiam a gravidade que as circunstâncias exigem. Na ca­
tedral, urna imensa multidão se comprime e toma lugar. Sei,
entretanto, que só os que podem e devem terão consciência
da iniciação. Muitos, aliás, vieram ao Sanctum Celestial sem
saber que uma cerimônia excepcional teria lugar naquela
noite. Como sempre, estão aqui aqueles que ignoram onde
estão, ou seja, que não têm consciência de ter aí chegado,

210
ou, então, porque na terra adormeceram com um último pen­
samento para o Sanctum Celestial, ou ainda os que esperam
uma impossível impressão física feita de imagens exclusiva­
mente. sensoriais. É evidente que todos são beneficiados por
este contato cósmico operado por eles eficazmente, ainda que
sem ser por sua vontade própria, e eu sinto uma imensa ale­
gria e paz ao vê-los neste lugar celeste. Outros estão aí por
qualquer questão pessoal que estejam procurando resolver, e
não vêem nada além do motivo que justifica sua presença
no Sanctum Celestial. Este, que precisa de consolo, só perce­
berá a música dos órgãos cósmicos que daqui a pouco en­
toarão os coros celestiais. Aquele,· que está em busca de mais
luz, receberá apenas esta do mestre encarregado de instruí-lo,
e um outro estará em comunhão cqm um ente querido que
deixou o plano físico e se prepara para nova encarnação. Pois
no Sanctum Celestial existem simultaneamente tantas comu­
nhões particulares quantas consciências elevadas a este nível
cósmico. Cada um, portanto, participa unicamente daquilo
de que veio participar. Uma multidão de atividades se desen­
rolam, assim, ao mesmo tempo no Sanctum Celestial, sem
que haja nenhuma interferência, ou, para empregar uma pa­
lavra humana a um estado cósmico, "indiscrição".
Portanto, a iniciação sublime que deverá ser levada a
cabo no Sanctum Celestial só será "percebida" por aqueles
que estão habilitados a tomar parte nela ou a servir de tes­
temunhas. Ninguém mais, além deles, saberá que uma ceri­
mônia desta importância se desenrola e eu sinto certa pena,
pensando nos membros de mais alto grau .da Ordem Rosa­
cruz - A.M.O.R.C. que estão neste momento recolhidos ao
Sanctum Celestial e não podem assistir a uma iniciação desta
natureza, mas o momento virá para que eles participem, não
como simples espectadores, mas como iniciados, e este será
seu grande retorno, sua reconciliação cósmica, o sinal de uma
suprema etapa vencida, a última recompensa da consciência
despertada.
Na catedral, que representa para mim o Sanctum Ce­
lestial, todas as estalas estão ocupadas e a claridade que ema-
211

J
na dos raios entrecruzados destas consciências realizadas será
insuportável para o olho físico, mas a luz que se irradia do
trono, sob o dossel, brilha ainda muito mais e seria impos­
sível reconhecer todos os que aí estão e o que preside, se este
conhecimento não fosse instilado na alma daqueles que são
admitidos a participar da cerimônia.
O triângulo violeta subitamente se ilumina ainda mais,
em seguida se apaga, isto por três vezes, para finalmente:
manter um brilho excepcional, que inunda o altar onde três
tochas, eternas, simbolizam a presença. É o sinal. Dos gran­
d.es órgãos jorra uma música de irreal esplendor, enquanto
que os coros cósmicos entoam um canto de extrema doçura
e, vinda não se sabe de onde, uma voz grave repete infinita­
mente OM, OM, OM ...
Pela nave central, escoltado por quatro guardiões e pre­
cedido por outro, o iniciado adianta-se para o coro da cate­
dral,. onde o esperam dois mestres que se encarregam dele e
o acompanham ao pé da estala c,:mtral, protegida por um
dossel, enquanto os cinco guardiões se enfileiram diante do
coro, sem nele entrar. O iniciado parece "absorvido" pela
nuvem em que se banha. Tudo aqui e ele próprio são apenas
vibr�ção. O ambiente é indescritível. Música, canto, OM, OM,
e o iniciado percebe o que nenhum outro além dele pode per­
ceber. Ele "sabe" diante de quem se encontra. O que para
outros é apenas claridade, para ele é conhecimento. Es­
forço-me por unir-me a seu ritmo e sentir o que ele sente,
por estar em seu "diapasão" e compreendo: o filho do ho­
mem torna-se filho de Deus. A criança das sombras torna-se
filho da luz, e esta consciência elevada à iniciação cósmica
une-se para sempre à consciência universal. Mais precisa­
mente, percebe sua unidade com esta, uma unidade jamais
rompida, mas da qual muitas experiências na terra e em
outras partes permitiram-lhe, enfim, um conhecimento total.
Exatamente acima do iniciado, uma energia vibratória de fre­
qüência indefinível parece concentrar-se numa nuvem bri­
lhante e é evidente que ela ,3urgiu de todos aqueles que estão
sentados no coro, dirigindo sua força para aquele que é aco-

212
lhido entre eles. Raios luminosos, emanando das estalas, real­
mente se unem à nuvem e aquele que acaba de ser colocado
sob o dossel tem uma força infinitamente maior que todos
os outros.
Súbito, a intensidade luminosa do triângulo enfraquece
-e o brilho que irradia das estalas diminui. O iniciado aparece
então mais radiante de luz, e a nuvem toma uma cor violeta
antes de descer sobre ele, de envolvê-lo por todos os lados,
de penetrá-lo, de ser ele próprio. Ele ouve alguma coisa,
são-lhe feitas perguntas, ele responde? Tudo o que ouço, não
posso atribuir-lhe outro valor ou outra realidade senão aque­
les que correspondem à minha própria compreensão, ·e o que
se passa com relação ao iniciado é sem dúvida inteiramente
diferente, �e bem que haja sempre certa concordância entre
as diversas percepções ou impressões sentidas numa expe­
riência partilhada com outros.
Não há a menor dúvida, em todo caso, de que o iniciado
foi investido do poder cósmico. Quero dizer com isto que ele
tomou consciência de sua verdadeira natureza. Não é mais
um ser. É o Ser. Está iluminado e a nuvem do conhecimento
desceu sobre ele para sempre. Quando recobrar a consciência
na terra, nenhuma mudança ter-se-á operado em seu ser fí­
sico, talvez ele não guarde nenhuma lembrança da iniciação
cósmica, que recompensou seu mérito, mas se sentirá "dife­
rente" e perceberá que tem dentro de si acesso a uma fonte
de conhecimento infinita, que lhe permite compreender e re- ·
solver, de maneira quase que imediata, todas as questões le­
vantadas por seu mental sobre os grandes problemas do por­
quê e do como, que os homens enfrentam e sobre os quais ele
próprio, durante tanto" tempo, havia meditado, sem lhes dar
uma solução verdadeira. Em qualquer circunstância, mesmo
na agitação de seu próprio mental e no tumulto da existên­
cia, ele sentirá no seu coração uma paz inabalável. Partici­
pará da vida, jogará o "jogo do mundo", por-se-á no diapasão
dos outros, no mesmo nível que eles, compreendendo seus
problemas, ele os resolverá juntamente com eles, mas saberá
que deve calar-se e que, revelando-se como é, não poderia ser

213
compreendido nem aceito e seria, conseqüentemente, inútil.
Entre os outros, servirá assim como os outros, e seu ver­
dadeiro serviço ele o fàrá no silêncio e no desconhecimento
de todos. Será homem com os homens, e místico, iniciado,
sozinho com ele mesmo. Esta é a lei.
. A majestade de uma iniciação cósmica não reside num ri­
tual elaborado, como nas cerimônias realizadas no plano fí­
sico. Uma iniciação "terrestre" simboliza o caminho a per­
correr, com suas provas e, as lições que devem ser tiradas daí.
Ela passa para o domínio da razão a meta atingir. Guia o
iniciado até sua realidade e, numa certa medida, que é função
da receptividade do candidato, ela o desperta. Ao mesmo tem­
po, confere-lhe conhecimento e os meios para tomar cons­
ciência de si próprio. A iniciação cósmica é um resultado, é
a recompensa do esforço e do mérito. Constitui a tomada de
consciência de· um estado. Sua grandeza, portanto, está em
sua extrema simplicidade. A iniciação limita-se a um con­
tato, mas este contato resume tudo. É o conhecimento � a
luz, paz e alegria da alma, fusão com a unidade e ao mesmo
tempo consciência de si no seio desta unidade. A iniciação
cósmica é o retorno do filho pródigo e a acolhida que lhe é
feita. Ele é tudo e tudo está nele.
É o que passa a conhecer, nesta noite, o iniciado que
acompanhamos no Sanctum Celestial. "Quando o discípulo
está pronto, o mestre aparece", e a pergunta: "Qual mes­
tre?", o MANUAL ROSACRUZ responde: "Certamente não um mes­
tre terrestre, pois este não exige a preparação e a evolução
necessárias, à iluminação cósmica. O discípulo sincero, que
verdadeiramente se prepara e se torna digno da instrução
de um mestre, atinge desde logo um ponto de desenvolvi­
mento em que um mestre terrestre não lhe pode ser de ne­
nhuma ajuda, pois só um mestre cósmico pode atender às
necessidades daquele que está pronto". Ora, aquele que está
sendo iniciado, embora permaneça fiel e leal à organização
que o guiou e continue humildemente a participar de suas
atividades, não apenas está pronto há muito tempo e há mui­
to está recebendo por acréscimo a instrução dos mestres cós-

214
micos, mas, mais ainda, foi julgado digno de uma iniciação
no Sanctum Celestial.
Antes de ser conduzido à presença de seus iniciadores,
ele se recolheu longamente ao nível do Sanctum Celestial,
na companhia de um mestre cósmico encarregado de pre­
pará-lo, em seguida foi levado ao grande pórtico "da cate­
dral", e, daí, como vimos, ao coro onde se desenrola a ini­
ciação. A cerimônia, em seu despojamento extremo, na sua
,simplicidade imponent�, é .sublime.
Diante do mestre supremo, inundado de luz, o iniciado
ouviu o relato de sua evolução até o alto grau de desenvolvi­
mento atingido por ele, e reviveu cada uma das etapas ven­
cidas, conheceu a vida e a morte, o sofrimento e a alegria,
o remorso e a paz. O verbo do mestre despertava nele as fases
marcantes de seu caminho místico, com as inumeráveis ex­
periências enfrentadas. O iniciado atravessa o drama da cruci­
ficação e a felicidade da ressurreição, a dúvida da noite e a
certeza da aurora. Fora do tempo e do espaço, suas vidas
sucessivas lhe aparecem uma única e, protegido pelo clarão
de luz que o envolve, ele revive em alguns instantes a extra­
ordinária viagem de sua personalidade anímica no tempo e
no espaço. Em seguida, a nuvem que desceu sobre ele marca
o fim de sua longa volta sobre si mesmo. Tudo estava assimi­
lado. Tudo estava consumado. O discípulo ascendia à mestria.
Eis que_ ele se volta para a multidão. Vai transmitir àque­
les que podem compreendê-lo sua primeira mensagem:
"Durante muito tempo caminhei pelo vale de lágrimas
e vaguei na floresta do erro. Cometi erros de extrema gravi­
dade e muitos sofreram por minha culpa. Meu próximo, eu
o julguei e atormentei. Julguei e atormentei a mim mesmo.
Orgulhoso, mentiroso, invejoso e ávido, tudo isto fui no curso
de minhas vidas sucessivas. Seres choraram e perderam toda
esperança por �ausa de atos nefastos que perpetrei. Com meu
comportamento indigno, semeei a dúvida e o horror entre
aqueles que no decurso do tempo me eram mais caros. To­
quei o mais profundo do abismo e me acreditei para sempre
perdido, para sempre condenado. Isto eu acabo de reviver

215
aqui. Conheci o sofrimento daqueles que tinham sofrido por
minha culpa. Conheci seu julgamento e seu tormento, sua
dúvida e horror. Conheci os efeitos, os crimes de meu orgu­
lho, de minhas mentiras, de minha inveja e minha avidez.
Compreendi a causa dos terríveis sofrimentos que suportei
durante minhas 'encarnações: era a ação da justa lei do
carma, mas foram-me necessárias muitas provações e lágri­
mas para resgatar o mal que tinha feito, pois durante muito
tempo, enganado pelo meu ego e optando pelas soluções mais
fáceis, jogava sobre outros a responsabilidade das { minhas
desgraças, querendo ignorar que elas decorriam de ações por
mim cometidas no passado, e que eu devia aprender, expe­
rimentar e compreender as lições da vida para me regenerar.
Foi então que a luz veio, durante uma provação dificílima
de suportar, tão difícil que jamais acreditei poder superá-la.
No mais profundo de mim mesmo, enquanto toda a espe­
rança me abandonava, ouvi o apelo e me dirigi para a mon­
tanha que me era indicada para atingir a paz. Ah! como era
difícil a estrada, quantas vezes me perdi, embora me houves­
sem mostrado o caminho. É que a desgraça resultante de
minha conduta passada ainda me perseguia. Mas, desde o
apelo, esta desgraça eu a sabia justa e, em lugar de me la­
mentar, em vez de temer, comecei a partilhar o sofrimento
-aos outros, a ajudá-los, a ·sustentá-los, a-tomà-=Ios pelã mão
para conduzi-los ao pé da montanha da paz e da regeneração.
Não foi senão depois, após muitos retornos àqueles que
gemiam nos vales, encurvado sob o peso de minhas próprias
e justas provações, que por minha vez atravessei a porta es­
treita e entrei na senda .. Naquele momento, já tinha com­
pensado muitos dos meus erros passados. A lei que me havia
imposto era: humildade� amor em todas as circunstâncias,
em todas as situações. Minhas dificuldades, eu as aceitava.
Jamais fui resignado. Aceitava para compreender. Foi subin­
do a senda que eu soube verdadeiramente e medi os sofri­
mentos que devo ter imposto a outros, para merecer esses
que tinha que suportar então. Eu me alegrava por ter po­
dido, antes mesmo de me ser permitido entrar no conheci-

216
mento libertador, impor-me uma regi:a de vida cujo valor
agora compreendia. Mas a esta satisfação misturavam-se a
dor e o arrependimento pelos atos cometidos no passado,,
atos que levaram a muitos tanta dor e tantas penas. Assim
meus pensamentos e meus atos carregavam-se de ainda maior
amo.. e humildade. E, finalmente, conheci a paz, não apenas
progredindo em direção a um maior conhecimento, mas tam­
bém pondo este conhecimento a serviço do próximo. Esque­
cia-me de mim mesmo, diante dos outros. Nada mais podia
atingir-me. O amor que me animava transformava tudo e eu·
rendia graças a cada experiência vivida. A paz tinha descido
sobre meu coraçã.o, minhas provações tornavam-se cada vez
mais leves. Minha reconciliação comigo mesmo, com o meu
eu verdadeiro, estava começada. Devia em seguida reforçar-se
e tornar-se total.
"Depois de ter revivido o período obscuro, revivi, aqui
mesmo, diante dos mestres, e do maior dentre eles, as etapas
de minha regeneração. Aí é que me foi dado o dom mais su­
blime. A paz profunda - esta paz por mim tão "desejada"
e que eu mesmo tinha tantas vezes "desejado" aos outros -
desceu sobre mim e tomou, para sempre, posse do meu ser.
"Devo agora retornar ao mundo, para trabalhar, para
servir. Minha responsabilidade é imensa. Fui advertido para
guardar-me vigilantemente dos perigos -aos- quais- sucumbira
outrora, mas uma oportunidade me foi dada para servir mais
e melhor. Minha lei ainda é humildade e amor, e os maiores
mestres me assistirão.
"Possa minha experiência servir a todos que me ouvem,
que me compreendem. Não há circunstância, não há situação,
por mais trágica que seja, que não tenha sua razão de ser.
Não há abismo, por mais profundo, de onde não se possa
emergir para reencontrar a luz. A involução sucede a evo­
lução, e dentro de cada um de nós reside este segmento da
eternidade cósmica que está sempre pronto a responder ao
menor apelo para ajudar a quem quer que realmente queira
tomar o caminho da verdade. Avancem para o conhecimento,
apliquem este conhecimento e lembrem-se de que o discípulo

217
não deve tanto pedir para ser servido como para servir e que
o serviço é cumprido em qualquer parte, princip1;1.Jmente onde
nos encontramos, onde as circunstâncias e a existência nos
colocaram, pois é lá que devemos estar e assumir nossa fun­
ção de servidor. Humildade e amor ... Amar sem nada pedir
em troca, sem exigir nada. Amar simplesmente ... Amar!"
Com esta mensagem perturbadora, a cerimôn:ia vai ago­
ra terminar. Lentamente, o iniciado é reconduzido ao portal,
rodeado não mais dos guardiões, mas dos mestres que o as­
sistiram e dos que tiveram o privilégio de participar da ceri­
mônia. Todo o seu ser irradia uma santa alegria, uma paz
infinita. A música não cessou, os coros cósmicos não inter­
romperam seu canto, a voz grave continua a salmodiar o som
sagrado do OM, OM, OM ... e o iniciado atravessa o portal,
afasta-se e volta à terra, onde o esperam os homens, e seu
serviço ...
O Sanctum Celestial recupera subitamente seu aspecto
habitual e volta a ser silêncio. Não deixarei logo este ambien-
te harmonioso. Colocando-me entre os que ali se encontram,
tão numerosos esta noite, associo-me à sua comunhão e, na
paz, na unidade com todos, minha alma por . muito tempo
vibrará ao ritmo das suas, enquanto ressoa ainda em todo
o meu ser a súplica, a recomendação, a ordem do sábio:
"Amar sem nada pedir em troca, sem exigir nada ...
Amar simplesmente. • • Amar! "

218
CONCLUSAO

V
Para concluir, recomendo�lhes que releiam atentamente
as primeiras páginas deste livro e se impregnem delas o mais
possível. Na minha opinião, elas são as mais importantes para
todos, pois é assimilando perfeitamente a técnica que lá está
exposta para entrar em contato com o Sanctum Celestial
que vocês próprios tirarão todo o proveito de uma comunhão
pessoal com este alto cimo cósmico. Meu propósito foi sobre­
tudo lembrar a importância deste elemento sublime que para
o rosacruz é o Sanctum Celestial e incentivar cada um de
vocês a partilhar da luz que ele está sempre pronto a dis­
pensar a quem para ele apele. Terei atingido o objetivo que
me propus se, ao terminar esta leitura, vocês se sentirem
profundamente desejosos de se elevar até o Sanctum Ce­
lestial e se decidissem fazê-lo com regularidade, para rece­
berem consolo, paz, força, saúde e principalmente luz. Não
é demais repetir: é no Sanctum Celestial que vocês encon­
trarão a solução verdadeira para seus problemas, as explica­
ções de que necessitam, os esclarecimentos que desejam e a
direção espiritual que lhes é necessária na vida profana, mís­
tica ou no seu estado privilegiado de rosacruz. Não há cir­
cunstância, situação ou questão que não possa ser explicada
por este meio, que está sempre à sua disposição. O Sanctum
Celestial, vocês devem defini-lo, "situá-lo" e isto não será di­
fícil se obedecerem aos princípios da visualização, como os
descrevi. O Sanctum Celestial tornar-se-á então seu refúgio,
seu "santos dos santos". É aí que sempre que o desejarem
vocês se encontrarão· a si próprios.
Comecei este manuscrito no ambiente excepcional da
propriedade da Ordem Rosacruz, indo, antes e depois de

219
cada capítulo, de meu escritório a meu Sanctum Celestial, bem
próximo. Continuei a redação em julho, na Alta-Sabóia, em
Saint-Gervais-les-Bains, e lá meu sancttim era a natureza,
a vivificante atmosfera de encantadoras florestas. Alguns ca­
pítulos foram escritos num solar acolhedor da região parisien­
se, onde a chamada "Torre do Cardeal" era o meu santuário
de meditação. E é na propriedade da Ordem Rosacruz que
termino este livro, neste domingo, 14 de setembro de 1969,
que, segundo o calendário, é dia dedicado à "Exaltação da
Santa Cruz". Nestes diversos lugares que me acolheram, o
Sanctum Celestial estava sempre próximo do rosacruz que
me esforço por ser e cheguei até ele sempre com muita faci­
lidade, inclusive na minha comunhão com toqlos aqueles a
quem este livro era destinado, todos os que o leriam, quer
dizer, vocês, que neste momento percorrem suas últimas
..
linhas.
Pelo trabalho de alta espiritualidade a que você pode se
entregar ao nível do Sanctum Celestial, sua vida espiritual
será vivificada. Os rosacruzes sentirão ainda mais a necessi­
dade de "viver" os ensinamentos que distribuem, de serem,
entre os homens, exemplos de equilíbrio, de eficiência, de
autodomínio e, num mundo de crítica, tumultos e erros, tes­
temunhas e defensores dos mais altos valores do misticismo
autêntico, perpetuado pela Ordem Rosacruz - A.M.0.R.C.
Dentro de alguns instantes, no meu sanctum da grande
loja, solicitarei para vocês, para cada um de vocês, a bênção
do Cósmico, mas quando vier o momento de nos separarmos,
se bem que devamos nos reencontrar, pelos laços da frater­
nidade, do amor e da comunhão cósmica, no cimo a que tan­
tas vezes nestas páginas fomos juntos, que me seja permi­
tido renovar em sua intenção este voto, esta esperança, esta
prece:
"Que a paz profunda permaneça em vós para sempre e
que a luz do Sanctum Celestial vos envolva, vos proteja e vos
eleve eternamente até as alturas da mais autêntica espiritua­
lidade!"

220
E, de toda minha alma, com vocês todos, dos quais tenho
a honra e a alegria de ser irmão, direi ao terminar: "Assim
seja!"

Domaine de la Rose-Croix
Villeneuve-Saint-Georges
Domingo, 14 de setembro de 1969'
"Festa da Exaltação da Santa Cruz"

221
ANEXO

LIBER 777
ou
O SANCTUM CELESTIAL
por
CHARLES DANA DEAN, F.R.C.
(!Ieltstinl

, -.. -....
INTRODUÇÃO
O texto que se segue foi escrito, em 1930, pelo Fráter
Charles Dana Dean, Grande Mestre da A.M.0.R.C., que passou
pela transição no dia 25 de julho de 1933. Este folheto apre­
senta o Sanctum Celestial, inspiradora criação do Dr. H. Spen­
cer Lewis. O Dr. Lewis foi o primeiro Imperator da A.M.O.R.C.
no segundo ciclo de suas atividades nas Américas do Norte
e do Sul e responsável pelo seu estabelecimento e progresso.
As páginas que se seguem, tão esplendidamente definem a
finalidade do Sanctum Celestial e prestam uma justa home­
nagem ao seu criador, que não foram alteradas, a não ser
para enquadrá-las nas necessidades dos membros atuais e
daqueles que desejem aproveitar seus nobres serviços. O pre­
sente Imperator da A.M.O.R.C., da Jurisdição Internacional
das Américas do Norte, Central e do Sul, Império e Domínios
Britânicos, França, Suíça, Suécia e Africa, Ralph M. Lewis,
assumiu os trabalhos espirituais e cósmicos do Sanctum Ce­
lestial e dirige seu programa atual de atividades.

*
Estamos certos de que cada um dos membros da Ordem
Rosacruz terá imensa felicidade em saber algo mais acerca
dessa bela e inspiradora criação de nosso Imperator, H. Spen­
cer Lewis, que ele tão apropriadamente chamou de Sanctum
Celestial.
Aqueles que estiveram intimamente ligados a ele, durante
os últimos vinte anos ou mais, sabem que, desde a época de
seus primeiros contatos com os princípios dos ensinamentos
rosacruzes, manifestou um desejo absorvente - criar, na vida
de· homens e mulheres, um contato mais íntimo e mais satis­
fatório com os poderes espirituais e cósmicos e com os prin­
cípios que infundem a paz, a harmonia, a luz, a vida e o à�or,
na alma de cada Ser.
Sabemos, também, que ele encontrou um meio de alargar
a consciência do Eu, até penetrar a consciência do Có�mico e
227
ali permanecer, durante alguns momentos, para receber ins-­
piração, iluminação e contato com centenas de seres que es­
tavam sendo, lenta e convenientemente, preparados para.,
com ele, ali se encontrar.
Estava ele em comunhão com os grandes mestres, com os
grandes instrutores e com as mentes espirituais daqueles que,
no passado, aprenderam a repousar no seio da consciência
cósmica. Tivemos oportunidade de ver que ele podia fechar
os olhos, em meio às atividades comerciais, lutas, atribulações,
ansiedades e agitação mundana e, esquecendo o meio ambien­
te, permanecer em comunhão, por algum tempo, para logo
volver à atividade instantânea, inspirado com novas mensa­
gens, ndVas idéias, novas imagens, novos quadros, leis ou
princípios, lições ou concepção perfeita de conhecimento. Era
o motivo de alegria e conforto, para nós, vê-lo fazer esses con­
tatos e saber que o lado espiritual de sua natureza podia ele­
var-se a alturas tão sublimes, enquanto ainda conosco, neste
plano, como nosso chefe e instrutor.
Tinha ele sempre presente a grande aspiração de sua
vida. Era seu constante desejo que, por fim, chegasse o dia
em que pudesse sentir, nesses períodos de contato cósmico,
a companhia dos milhares de almas dignas que a ele se diri­
giam em busca de· orientação para progredir na senda que
as levaria ao Reino Cósmico.
Enquanto outros, em sua grande dedicação religiosa e es­
piritual, aspiravam construir catedrais magníficas na terra,
com formas materiais imponentes e cujas graciosas torres de
aço e concreto apontassem para o céu, embora se projetando
muito pouco no Reino Cósmico, ele planejou um Sanctum
Celestial cujos elementos pudessem ser unidos e solidificados
silenciosamente e sem a contaminação dos princípios mate­
riais de qualquer espécie. Sonhava com um Sanctum Celestial
cujas bases estivessem tão acima da maior das catedrais ter­
renas de modo que, com essa, não tivesse contato ou asso­
ciação. Pensava em um Sanctum Celestial cujos campanários
penetrassem as alturas ilimitadas de um reino espiritual infi­
nito. Em sua imaginação criadora, traçava planos para esse
Sanctum Celestial, em escala tão magnífica, que os portais
para os seus grandes vestíbulos fossem suficientemente am­
plos para que milhões de seres, de todas as partes do mundo,
pudessem nele penetrar, ao mesmo tempo, fácil e reveren­
temente.
Em seu interior, haveria câmaras e capelas, abóbadas,
altares. e santuários suficientemente amplos, suficientemente
228
majestosos e extremamente lindos para servir de morada ade­
quada às mentes espirituais que freqüentemente compare­
ceriam aos serviços de harmonização e encontrariam as coisas
que são o alimento da Alma e inspiração da Mente.
No decorrer dos anos de 1915 a 1922, selecionou os inicia­
dos evoluídos e preparados da fraternidade que o pudessem
auxiliar em sua criação. Trabalhando durante longas horas
da noite, escrevendo cartas e documentos de instrução a essas
centenas de associados, preparou-os e fortaleceu-os, no mé­
todo de com ele se harmonizarem de modo que pudessem
reunir-se no Cósmico e, ali, entrar em comunhão para lançar
as bases desse grande Sanctum Celestial. Centenas de cartas
foram escritas, milhares de contatos experimentais realizados
e muitas horas de trabalho mental e espiritual dedicados ao
desenvolvimento dos planos e características desta nova cria­
ção da mente humana. As cartas recebidas daqueles que tra­
balharam com ele neste projeto tornaram-� documentos ins­
piradores para o futuro desenvolvimento das atividades espi-
rituais da nossa fraternidade Rosacruz.
Muitos dos que já abandonaram a vida terrena senti­
ram-se felizes com os inúmeros contatos que fizeram com
nosso Iinperator durante os anos em que ele dispôs de sua
colaboração. Há centenas de outros membros que jamais
deixam de expressar a alegria e felicidade, os benefícios ins­
piradores que experimentaram graças à comunhão e con­
tatos no Cósmico, ao cooperar na criação desse Sanctum
Celestial. Uma das coisas essenciais era o silêncio com respeito
a esses planos e ao trabalho que vinha sendo realizado e
sabemos, por cartas recebidas recentemente, quão felizes se
sentem milhares de nossos membros ao tomar conhecimento
de que essa grande obra está, agora, terminada e que já é
possível anunciar a existência do SANCTUM CELESTIAL!
Em conseqüência disso, o fato foi anunciado. Em um
número do Rosicrucian Digest, o Imperator teve o prazer
de fazer a primeira declaração formal a respeito desse grande
Sanctum Celestial. Após anos de sonhos, planejamento, tra­
balho e grande esforço mental, sempre à espera do dia em
que pudesse fazer essa comunicação, era característica de sua
natureza fazê-la com simplicidade, ocultando sua alegria e
felicidade. O domínio do seu desenvolvimento e a realização
do seu crescimento espiritual transparecem em cada palavra
e em cada frase da referida comunicação. Todavia, ela se asse­
melhou a uma centelha elétrica que provocou reações espiri­
tuais em centenas de nossos membros, pois, poucos dias após

229
a sua publicação, nossos escritórios foram inundados com
cartas que exprimiam alegria e felicidade espiritual a respeito
do Sanctum Celestial, solicitando maiores esclarecimentos a
seu respeito. Na ocasião em que este anexo está sendo prepa­
rado, chegam cartas e telegramas de todas as partes do mun­
do e, no coração e mente de muitos milhões de membros, o
Sanctum Celestial é, agora, uma realidade cósmica.

SIGNIFICADO DO SANCTUM PARA OS NOSSOS MEMBROS

Tenho prazer em fornecer aos nossos membros alguns


· dos detalhes a respeito desse Sanctum Celestial e informação
de como poderão beneficiar-se com a sua criação. Em pri­
meiro lugar, qualquer tentativa para descrever o Sanctum
Celestial com linhas ou sombras, forma ou cor, de qualquer
natureza concreta, não poderá fazer justiça à concepção es­
piritual que cada qual deve criar em sua própria mente. Como
SÍMBOLO do Sanctum Celestial, adotamos o desenho ilus­
trado neste anexo, criação da pena do próprio H. Spencer
Lewis, para que possamos ter um emblema que expresse um
reflexo de nossas idéias espirituais. Esse símbolo contém mui­
tos dos elementos que ele tinha em mente como caracterís­
ticos da magnificência e da inspiradora grandeza do Sanctum
Celestial invisível e esperamos que nenhum de nossos mem­
bros permita que o símbolo material suplante, em suas
mentes, a concepção espiritual, mais grandiosa.
Nesse Sanctum Celestial foi reservado um local para um
coro cósmico, onde as vozes de membros especialmente prepa­
rados, na América e em outros países, serão ouvidas, em de­
terminadas ocasiões, entoando cânticos e hinos sagrados,
compostos por mestres inspirados que pertenceram à nossa
organização, no passado. Em outras ocasiões, os que estabe­
lecerem contato com esse Sanctum Celestial e nele perma­
necerem, ouvirão a música das esferas e as melodias cósmicas,
como se fossem executadas no maior órgão que o mundo tenha
conhecido.
No setor este desse Sanctum Celestial, nossos membros
divisarão um belo altar em uma magnífica abóbada, ilumi­
nado pela luz violeta das vibrações cósmicas. Sobre o altar,
suspenso por forças magnéticas, há um triângulo crivado de
pedras preciosas, tendo a ponta voltada para baixo. Esse é
o emblema da Trindade Cósmica. Os três símbolos em suas
pontas, cintilando com luz violeta, representam LUZ, VIDA
230
e AMOR, os nomes cósmicos do Deus trino. Do centro do dos­
sel se propagará a voz do mestre ou instrutor, visível ou invi­
sível que, em determinadas ocasiões, instruirá e inspirará
nossos membros com mensagens e lições iluminadoras. Ha­
verá alcovas, e pequenas capelas de cada lado da nave do
Sanctum Celestial, nas quais os membros poderão permanecer
em meditação e prece, buscando paz e conforto. nos momentos
de sofrimento e angústia. Haverá salas de reunião onde os
membros poderão encontrar-se com os mestres e com eles
falar, recebendo iluminação e instrução direta, conselhos e
orientação.

SERVIÇOS DE COMUNHÃO DIARIA

Em certos dias de cada semana, haverá várias convoca­


ções nesse grande Sanctum Celestial, pela reunião das mentes
de milhares de nossos membros, harmonizados, .em todas as
partes do mundo, com essa área focalizada e centralizada da
consciência cósmica. Algumas dessas convocações terão por
objetivo a adoração, outras serão para instrução e outras,
ainda, para tratamentos. Na revista bimestral O Rosacruz
publicaremos, em lugar destacado de urna das páginas, uma
seção dedicada ao Sanctum Celestial, de modo que todos os
membros, não importa em que parte do mundo residam, pos­
sam tomar conhecimento de suas várias atividades e convo­
cações especiais.
Como parte dosi altruísticos planos do Imperator, terá ele
certos períodos defnidos do mês nos quais dirigirá, pessoal­
mente, o trabalho de cura do Sanctum Celestial e todos os
que estiverem sofrendo poderão harmonizar-se com o Sanctum
Celestial, nesses períodos, quando o Imperator com eles se
harmonizará e entrará em comunhão, transmitindo-lhes o
poder das Forças Cósmicas, livrando-os, pelo uso das ONIPO­
TENTES LEIS DE DEUS, de seus males e deixando-os puros
e livres de sofrimento. Em outras horas, ele entrará em comu�
nhão com aqueles que desejem o toque inspirador da har­
-monia e convívio cósmicos e, em outras ocasiões, o Imperator
porá a Assembléia Sagrada em contato com algum dos gran­
des mestres da GRANDE LOJA BRANCA, que transmitirá
uma mensagem inspiradora. Assim, pela leitura das páginas
de O Rosacruz, cada dois meses, nossos membros, seja qual
for o grau ou parte dos estudos em que se encontrem, poderão
aproveitar os períodos especiais que ali sejam indicados e
231
harmonizar-se com o Sanctum Celestial, gozando de sua ins­
piração e bênçãos confortadoras.

COMO HARMONIZAR-SE COM O SANCTUM CELESTIAL


A qualquer hora que desejemos harmonizar-nos com o
Sanctum Celestial e desfrutar de contato e comunhão com
o mesmo, deveremos proceder da seguinte maneira:
Primeiro: - Lavar as mãos com água limpa e enxugá-las
bem, como símbolo de limpeza de nosso corpo para penetrar
no Sancturn Celestial. Em seguida, beber um pouco de água
fresca, como .símbolo da limpeza de nossa boca, para que
possa estar pura e livre de modo que não venha a pronunciar
palavras que seriam impróprias na presença do mestre e das
mentes espirituais reunidas no Sanctum Celestial. Depois,
sentar em silêncio, em algum lugar da casa onde pudermos
estar isolados, seja na. penumbra ou na luz, e fechar os olhos,
recitando esta breve oração mentalmente:
"Que a Divina Essência do Cósmico se infunda em meu
ser e me purifique de todas as impurezas da mente e do corpo,
para que eu possa penetrar no Sanctum Celestial e ali perma­
necer em comunhão, com pureza e dignidade. Assim seja!"
Com esta oração, purificaremos a mente e a libertaremos
de todos os pensamentos e idéias que pudessem ser indignos
no interior do Sagrado Sanctum Celestial. Depois, permane­
ceremos sentados e, com os olhos cerrados, visualizaremos a
nossa consciência interior elevando-se cada vez mais alto,
acima dos limites da existência material, até o Mundo Cós­
mico, para o qual a nossa consciência será atraída pela pu­
reza de sua natureza. Sentar-nos-emos, assim, com o desejo
de alcançar o Sanctum Celestial, até que sintamos uma fres­
cura na atmosfera, paz no corpo e tranqüilidade na mente
e uma sensação de alegria, o que nos indicará havermos pe­
netrado no Santuário dos Santuários, um lugar de repouso
e paz, de poder e perfeição. Quando houver cerimônias espe­
ciais realizadas .por algum dos mestres da Grande loja Bran­
ca, o Triângulo sobre o altar terá um brilho especial, em sua
luz violeta.
Quando houver um período para curas no Sanctum Ce­
lestial, permaneceremos passivos durante o período indicado
e, assim, permitiremos que o Imperator, e outros, façam con­
tato com nossa consciência, no Sanctum Celestial, e graças
a ele alcancem o nosso corpo e o purüiquem. Se houver um
232
período para música e cânticos, para consolação ou instrução,
permaneceremos quietos e passivos durante o período, até que
sintamos que se efetuam os contatos ou até que ouçamos a
mensagem que está sendo transmitida ou sintamos o contato
magnético da Fraternidade Espiritual. Saberemos, então, se
uma mente que tenha compreensão e afinidade e Poder espi­
ritual se harmonizou com a nossa consciência e, por meio
dela, com o nosso corpo e sentidos terrenos.
Podemos permanecer em tais contatos por períodos mais
longos ou mais breves do que os indicados na tabela ou po­
demos retirar-nos quando terminar o período, pronunciando,
para encerrar a convocação, as seguintes palavras:
"Que a graça de Deus e a bênção dos mestres santifiquem
minha comunhão".
Os membros poderão fazer contatos com o Sanctum Ce­
lestial em outros períodos do dia ou da noite, diferentes dos
indicados na tabela, porque sabemos, por anos de preparo,
que centenas ou, talvez, milhares de membros estarão no
Sanctum Celestial e nele penetrarão praticamente em qual­
quer hora do dia e da noite, segundo a diferença horária nos
diversos países e de acordo com os desejos dos membros de
entrar em contato com esse sagrado lugar. Seja qual for o
momento em que desejemos entrar em contato e no silêncio
do Sanctum Celestial, preparemo-nos recitando a oração men­
cionada e encontraremos outros que ali estão em pensamento
espiritual e em Sagrada Comunhão.
Não há outras regras, nem disposições, com respeito ao
processo necessário para entrar em contato com o Sanctum
Celestial, salvo os que já foram mencionados. Longo tempo
foi dispensado ao preparo destas instruções, para se ter a
certeza de que todos os pontos necessários seriam dados aos
nossos membros e que nada ficaria faltando. O método para
realizar esse contato é mais ou menos individual e tudo que
podemos fazer é indicar aos membros o método geral e deixar
que cada um estabeleça o seu próprio método, e assim mereça
aprender O Caminho para o Sanctum Celestial. Lembremo-nos
das palavras do Mestre Je.sus: "Eu sou o Caminho!" O Ca­
minho é por meio do Espírito do Cristo, do Princípio do
Cristo, da divindade da alma e de nossos desejos e anseios.
Portanto, será inútil escrever-nos pedindo instruções
mais amplas e definidas ou conselhos a respeito da maneira
de estabelecer harmonização com o Sanctum Celestial, porque
nada mais poderíamos dizer do que já foi aqui dito e cada
qual deverá descobrir, por si mesmo, as alturas que poderá
233
alcançar, os pensamentos que deve entreter, a purificação da
mente e consciência que deverá ocorrer todas as vezes que
tentar encontrar O Caminho para chegar ao Sanctum Ce­
lestial. Algumas vezes, o contato se fará com facilidade e
rapidamente; outras, com dificuldade e demora. Tudo depen­
derá de que sejamos dignos, no dia e hora escolhidos, de al­
cançar a harmonização. Quanto mais sincero e sagrado for
o desejo, ou mais intensa a necessidade do momento, mais
rápido se fará o contato.

RELATÓRIOS SOBRE SEUS CONTATOS


Apreciaríamos que nos enviassem quaisquer informações
sobre contatos extraordinái;ios com o Sanctum Celestial que
julguem interessantes para nossos arquivos e registros. Essas
informações deverão ser enviadas ao Departamento de Ins­
trução, Ordem Rosacruz-A.M.0.R.C. -Bosque Rosacruz -
Caixa Postal 307 - 80.000 - Curitiba -Paraná. Se necessá­
rio, o Departamento as relatará ao Imperator. Lembrem-se de
que os membros, de qualquer grau de trabalho ou de qualquer
ramo de nossa Organização, em todo o mundo, têm o privi­
légio e a satisfação de fazer contatos com o Sanctum Celestial
nas horas estabelecidas nas tabelas comuns ou especiais, ou
em qualquer outra ocasião, sempre que haja um desejo de
iluminação sobre qualquer problema da vida, instrução sobre
qualquer ponto de informação especial ou para cura, conso­
lação ou inspiração nas coisas mais elevadas da existência.
Que a Paz Profunda esteja sempre com todos e que a
iluminação espiritual do Sanctum Celestial a todos envolva
e proteja, elevando-os às maiores alturas!

A
PERfODOS DIRIOS DE SERVIÇO

l.º Período 2.0 Período 3.ºPeríodo 4.ºPeríodo


Rio de Janeiro
11,0.0- 14,00- 17,00- 23,00-

11,05h 14,05h 17,05h 23,05h

234
NATUREZA DOS SERVIÇOS
CONSOLAÇÃO
Para desenganos, mal-estar, sofrimentos, tristezas e dores
Segunda-feira- 2.0 Período Quarta-feira - 3.0 Período
Sexta-feira - 4. Período
0

PAZ
Para fadigas, inquietudes e lutas
Terça-feira-2.0 Período Quinta-feira- 3. 0 Período
Sábado-4. 0 Período
FORÇA
Para tribulações, provas, tentações e mal-estar
Segunda-feira- 4. 0 Período Quarta-feira- 1.º Período
Sexta-feira-2.0 Período Sábado-3.0 Per_íodo
COMPANHIA
Para solidão, tristeza e abatimento
Domingo-3.0 Período Terça-feira- 3.0 Período
Quinta-feira- 1. Período
0

SAúDE
Em qualquer caso de enfermidade, deficiência física ou mental
Segunda-feira- 3. 0 Período Quarta-feira- 4. 0 Período
Sexta-feira-3. 0 Período
ILUMINAÇÃO
Para inspiração, sabedoria ou solução de algum problema
Domingo- 4.0 Período Quinta-feira - 4.0 Período
PRECE
Para entrar em comunhão com Deus, o Espírito de Cristo
e o Cósmico
Domingo- 2.0 Período Quarta-feira- 2.0 Período
PERtODO DE CONTATO ESPECIAL
Além dos períodos mencionados acima, existe outro, es­
pecial, que começa às 17 horas e termina às 17,15 horas, todos
os dias úteis, exceto nos feriados. Durante esse período, os
Oficiais das Suprema e Grande Lojas, juntamente com outros
que auxiliam o Conselho de Solace, reúnem-se em convocação
especial no Supremo Templo.
2)5
TABELA DE CORRESPOND1i:NCIA ENTRE HORAS LEGAIS
Esta tabela é incluída no presente guia com o objetivo de auxiliar
os estudantes, quando se tornar necessário, em futuros exercícios
de harmonização, calcular a correspondência de horas entre duas
localidades, as demais Univ·ersidades da Federação Brasileira e, ainda,
São José da Califómia e o fus.o horário do Meridiano de Greenwich.

UNIDADE DA


CORRtSPONDtNCIA ENTRE AS HORAS LEGAIS

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PEDERAÇAO

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(1) Parte do Amazonas a Leste da Geodésica de Tabatinga a Porto


Acre (inclusive as duas localidades).
(2) Parte do Amazonas a Oeste da linha anterior.
(3) Parte do Pará a Leste da Linha Foz do Rio Jari - Rio Amazo-
nas - Rio Xingu.
(4) Parte do Pará a Oeste da Linha anterior.
ESCLARECIMENTOS
a - Para saber que horas serão no Acre, quando forem 20 horas no
iRl.o de Janeiro, procura-se na linha do Rio de Janeiro o núme-
236
1
LEI DE AMRA

Há um antigo costume, registrado em todos os antigos:


arquivos rosacruzes, designado como "Lei de Amra". Essa lei
chegou a ser uma doutrina sagrada entre os egípcios e, mais
tarde, entre os judeus, em suas práticas religlosas. Foi uma
lei mística e os rosacruzes ainda afirmam que é uma lei mís­
tica, embora muitas religiões modernas· tenham-na conver­
tido em lei puramente material. Esta é a Lei de Amra: Se
orarmos a Deus ou fizermos um pedido aos mestres buscando
alguma ajuda especial devido a enfermidade, preocupação,
atribulação, adversidade ou pobreza e a prece for ouvida e
o pedido concedido, será nossa obrigação fazer alguma com­
pensação, não somente por meio de uma prece de agradeci­
mento, mas, também, levando a outros uma parte do bene­
fício recebido. Se pedirmos melhora de saúde, alívio em al­
gum sofrimento ou auxílio em negócios ou posição social, en­
tão, de acordo com a Lei de Amra, deveremos pagar o dízimo,
seja separando uma pequena quantidade de dinheiro ou qual­
quer outra coisa material, que possa ser usada para fazer
feliz alguma outra pessoa ou colocá-la em paz com o mundo.
A menos que façamos isso, toda vez que recebermos uma
bênção por intermédio do Sanctum Celestial não poderemos
pedir com justiça, no futuro, qualquer outra bênção.
Foi sugerido, por alguns de nossos membros, que, como
muitos membros estão em contato constante com o Sanctum
Celestial, solicitando ajuda e bênçãos de várias espécies, ado­
tassem eles, voluntariamente, a Lei de Amra, formando um
pequeno depósito para o qual poderiam contribuir com qual-

ro 20 e na vertical, coincidindo com a linha do Acre, teremos a


resposta, 18 horas (20.ª Coluna).
b - Em caso de dúvida, ter em mente que a Hora de Greenwich
é a hora fundamental, sendo as horas das demais localidades
ATRASADAS em ,relação à mesma: Fernando de Noronha, 2 ho­
ras; Leste do Amazonas, Oeste do Pará, Mato Grosso, Rio Bran­
co e Rondônia, 4 horas; Acre e Oeste do Amazonas, 5 horas;
São José da Califórnia, 8 horas; as demais Unidades da Fe­
deração, 3 horas.
c - A Tabela acima foi organizada com base no Decreto Legislativo
n.0 2.784, de 18 de julho de 1913, e no Anuário Estatistico do
Brasil, do Conselho Nadonal de Estatística do IBGE, edição
de 1958.
d - Durante a vigência do "Horário de Verão" decretado pelo Gover­
no Brasileiro, haverá alteração, apenas, na correspondência com
as horas referentes a São José da Califórnia e Greenwich, as
quais deverão ser reduzidas de uma hora.

237
quer importância todas as vezes que recebessem resposta às
suas orações. As pequenas quantias depositadas nesse fundo
seriam conservadas como um depósito sagrado e jamais nelas
se tocaria para qualquer propósito pessoal ou egoísta. No
fim de um a dois meses, o dinheiro desse depósito seria sacado
pelo próprio membro para ajudar algum enfermo, alguma
criança ou algum movimento ou organização da cidade em
que vivesse, que estivesse realizando alguma boa obra. Nós
mesmos deveremos encontrar alguma maneira de fazer o Bem
com esse dinheiro, secreta e anonimamente.
Se encontrarem dificuldades ou inconveniências em usar
esse dinheiro para ajudar alguém, então, enviem-no, por meio
de cheque ou Vale Postal, à A.M.O.R.C. O Imperator provi­
denciará para que seja usado para ajudar a céntenas de pes­
soas necessitadas, que não são membros da Ordem, mas que
a ela se dirigem em busca de auxílio. Esses cheques ou Vales
Postais deverão ser remetidos à A.M.O.R.C., CONSELHO DE'
SOLACE, e não para propaganda da A.M.O.R.C. Os donativos
de qualquer espécie, destinados ao Sanctum Celestial, serão
empregados sempre na divulgação da obra do Sanctum Ce­
lestial ou para ajudar a quem necessite de cooperação.

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