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As Meninas Lygia Fagundes Telles

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AS MENINAS, LYGIA FAGUNDES TELLES

Confira o vídeo sobre as meninas no canal do Trama Literária:


https://youtu.be/KCE1TfKd6Ig

Lygia Fagundes Telles nasceu em 1923 na cidade de São Paulo. Frequentou


as faculdades de Direito e Educação Física, mas, já na universidade,
começou a se dedicar à literatura. Seu primeiro grande sucesso veio em
1952, com o romance “Ciranda de Pedra”.

Publicou, em 1973, “As Meninas”, romance psicológico que conta a história


de três jovens, de origens, personalidades e trajetórias diferentes, sendo uma
delas envolvida com a luta armada. O livro foi publicado pela editora José
Olympio e fez muito sucesso em sua publicação, tendo permanecido mais de
um ano na lista dos mais vendidos. Teve adaptação cinematográfica nos
anos 1990.

O romance tem 12 capítulos não nomeados: é importante que isso seja


destacado porque a cada capítulo o leitor tem que se atentar para perceber o
foco narrativo. Com uma narrativa surpreendente, o romance retrata os
sonhos e conflitos da geração jovem que vivia no auge da ditadura militar.

Há três protagonistas: Lorena, Ana Clara e Lia. Três jovens amigas


universitárias, com personalidades muito diferentes. Logo no início, Lorena
diz uma frase bastante importante para a compreensão da trama: A faculdade
ainda está em greve. Percebe-se a abordagem em relação à movimentação
política que está acontecendo mesmo que não se aprofunde ou mesmo que
esse não seja o foco do romance.

É uma obra com um foco narrativo muito específico: oscila-se entre primeira
pessoa e em terceira pessoa. Em primeira pessoa, as três narram, cada uma,
suas experiências. O foco narrativo se altera bruscamente de primeira pessoa
para terceira pessoa ou para outra primeira pessoa, mas o leitor não fica
perdido, porque cada voz tem um tom, um estilo diferente no momento da
narrativa.
Boa parte do romance acontece no Pensionato Nossa Senhora de Fátima na
cidade de São Paulo. A narrativa acontece no espaço de alguns dias, mas,
como há muito fluxo de consciência e digressões, a narrativa se prolonga.

O fluxo de consciência é um método narrativo que se vale de uma imersão na


mente da personagem. Para haver, numa obra, fluxo de consciência, é
necessário haver momentos significativos de introspecção.
Então, permite que o leitor tenha acesso ao pensamento da personagem sem
a interferência do narrador. O fluxo de consciência se caracteriza por mesclar
uma série de pensamentos, sensações, emoções e associações de modo
que seja o mais próximo possível da mente humana.
O que caracteriza “As meninas” é o fato de que há fluxo de consciência das
três personagens, assim, o leitor sai da imersão no pensamento de uma e
logo vai para a imersão no pensamento da outra. Como os capítulos não são
nomeados, o leitor precisa de um tempinho e ler, pelo menos, o início do
capítulo para entender de quem é o fluxo de consciência no momento.

Outra característica da obra são as digressões: são as suspensões do


discurso principal tratado na narrativa. Essas interrupções têm propósitos
diferentes e vai depender da obra em que estão inseridas. Em “As meninas”,
são muito usadas para explicar um determinado comportamento, um trauma,
um medo de uma das personagens.

Cada uma das personagens está vivendo seus próprios dilemas e são muitos
dilemas. É como se cada uma estivesse imersa num poço de problemas e
isso deixa o fluxo de consciência extremamente interessante, porque o leitor
vai acompanhando as tentativas das personagens de se organizarem em um
cenário caótico.

Vamos falar um pouco de cada uma:

Lorena: filha de uma família de posses que está caminhando para a falência
devido aos gastos excessivos. Estudante de Direito. Tem muitos conflitos
com sua sexualidade: é virgem e sonha com uma primeira noite perfeita com
seu amante, que é casado. É seu principal assunto: o Marcus Nemesius, o
M.N. A mãe é casada com um homem muito mais novo que sempre usa o
dinheiro da família e que assedia Lorena. A mãe, constantemente, manda
dinheiro para Lorena. Esse dinheiro Lorena usa para cuidar de suas amigas,
Lia e Ana Clara. Como a narrativa passa num curto espaço de tempo, Lorena
está sempre em seu quarto, esperando a ligação do amante.
É vista como meio infantil e superficial pelas amigas.

Lia: baiana, chamada de Lião pelas amigas, é acadêmica de Ciências


Sociais. Sua figura se contrasta muito à de Lorena. Está sempre em trânsito.
Ela, no momento da narrativa, está com o curso trancado, pois saiu para
fazer parte da luta armada contra a ditadura militar. Seu namorado, Miguel,
está preso, e ela tem um posto importante na organização da qual faz parte.
Trata-se, em alguns momentos, de seus companheiros, que vão sendo
mortos ou presos. O pai de Lia foi um Nazista que se desvinculou do
movimento ao perceber que era mais do que uma organização nacionalista.
Aparece pouco no pensionado, porque sempre está envolvida com alguma
questão da revolução. Lia tem um discurso bastante libertário: fala sempre da
liberdade sexual da mulher, está sempre investigando e pesquisando as
práticas sexuais das universitárias.

Ana Clara: estudante de Psicologia, está prometida em casamento para um


homem rico, mas, para casar, precisa ser virgem e, por isso, está com uma
vaginoplastia marcada, que será financiada por Lorena. É namorada de Max,
um traficante do qual ela está grávida. Ela é usuária de drogas. É linda, pela
descrição das amigas, mas vai se deteriorando ao longo da narrativa. Os
fluxos de consciência de Ana Clara são os mais difíceis porque vão sendo
descritos as violências sexuais que ela sofreu na infância e na adolescência.

É interessante perceber que uma critica a outra quando estão longe: “Quando
bota aqueles óculos fica um inseto de óculos”. (Ana Clara sobre Lorena).
Apesar do popô de baiana exorbitar, acho que ainda fica melhor de jeans
(Lorena sobre Lia). Você está confundindo tudo, comunista é a gorda bossa
retirante (Ana Clara sobre Lia).

Um aspecto interessante a ser observado é a descrição de Lia. Pelas


descrições físicas que se faz dela, é possível perceber que ela é negra. Em
algum momento, Lorena, penteando seus cabelos, diz, você está parecendo
a Angela Davis. Essa referência não é por acaso: além da semelhança física,
Davis, no momento, também é uma guerrilheira procurada pelo FBI.
E sua amiga, Ana Clara, é perceptivelmente, racista: “Lia fica fumegando com
a negrada. Tem paixão pela negrada. Possivelmente, Lia não tem a pele
retinta e por isso Ana Clara consegue ser sua amiga, pois, em determinado
momento, vê como extremamente negativa a possibilidade de ela se casar
com um homem negro.

“As meninas” marca um momento histórico do Brasil e revela faces da


juventude daquele momento. As três amigas são o mote para a
problematização de questões que se estendem para além do aspecto
individual de seus problemas e se relacionam com questões mais amplas,
como a crise política do Brasil, problemas de gênero, a inserção das drogas e
vários outros.

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