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Rejeitada Pelo Consigliere Da Máfia - Biakim

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AVISO

Essa é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, marcas, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com fatos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos são reservados. É expressamente proibido o
armazenamento e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios - físicos ou digitais - sem o consentimento escrito da
autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Criado com amor em Minas Gerais.
CAPÍTULOS
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
MÁFIA ROMANO III

REJEITADA PELO
CONSIGLIERE DA MÁFIA

Dedicatória
Para aqueles que acreditam que o amor sempre encontra seu caminho,
mesmo quando forçado pelas circunstâncias.
EPÍGRAFE
Há encontros que o tempo não apaga e amores que nem a vida consegue
impedir.
CAPÍTULO 1

SERENA FONSECA
Nova York, 2014
Olho para a foto de meus pais, sentindo o peso da saudade invadir meu
peito. Eles se foram há cinco anos, levados por um trágico acidente aéreo.
Naquela época, as coisas já não estavam fáceis para nossa família. Meu
irmão havia acabado de entrar na faculdade cheio de sonhos e planos, mas
de repente tudo mudou em nossas vidas. Ele precisou abandonar os estudos
para assumir a responsabilidade de cuidar de mim, mesmo tão jovem, a vida
o obrigou a ser adulto antes do tempo.
Passamos por dias sombrios, momentos em que tudo parecia perdido e a dor
da perda parecia insuportável. A falta deles era uma presença constante,
uma sombra que pairava sobre nós. Mas, apesar de todas as dificuldades,
nos recuperamos, e isso só foi possível graças à determinação de Ethan. Ele
se dedicou a aprender sobre investimentos, mergulhando em livros e cursos
na internet, buscando uma forma de nos tirar da situação em que estávamos.
Com a herança que nossos pais deixaram, um valor que não era
significativo, ele fez o que parecia impossível. Em pouco tempo, conseguiu
triplicar o valor, o que nos deu um respiro e permitiu que sobrevivêssemos.
Com o tempo, Ethan voltou à faculdade. Fez amigos verdadeiros, pessoas
que acreditaram nele, e alguns chegaram a emprestar dinheiro para que ele
pudesse continuar os estudos. Ele era brilhante, determinado e eu sempre
soube que ele faria grandes coisas. Ethan não apenas cuidou de mim; ele
nos deu uma nova chance de recomeçar, transformando o desespero em
esperança.
Olhando para a foto dos nossos pais, vejo que, de certa forma, Ethan
manteve viva a força deles em cada passo que deu e tenho certeza de que
eles estão orgulhosos observando tudo lá de cima.

Escuto um barulho e guardo a foto, corro em direção à janela e vejo o carro
do meu irmão estacionar.
Assim que ouvi a porta da frente abrir, meu coração disparou. Estava
observando da janela quando meu irmão entrou com seu amigo, Filippo. Eu
o conhecia apenas por fotos que via nas redes sociais e confesso que foi
amor à primeira foto.
Filippo tinha olhos profundos e um sorriso encantador, era a razão dos meus
suspiros.
Ele não era um homem comum, mesmo usando terno, dava para perceber
que tinha tatuagens pelo corpo, o que o deixava muito mais lindo.
Quando Ethan entrou na sala, meu coração deu um salto e me escondi. Mas
meu irmão percebeu.
— Serena, venha aqui. Ele me chamou. E agora? Estou toda descabelada.
Levanto rapidamente e, na frente do espelho, arrumo meu cabelo, como se
fosse resolver alguma coisa.
Respirei bem fundo, soltei o ar e fui até eles.
— Esta é a minha irmãzinha que tanto te falei. Disse com um sorriso
orgulhoso.
Filippo se virou para mim, com seus olhos intensos, e senti minhas
bochechas corarem.
Ele era ainda mais alto do que nas fotos e, quando ele se abaixou para ficar
à minha altura, meu coração parecia errar as batidas.
— Muito prazer, Serena. Disse com um sorriso caloroso. Seu irmão sempre
me fala da garotinha encantadora e posso dizer que ele disse a verdade.
Agora tenho uma nova irmãzinha.
— Igualmente, Filippo. Respondi com a minha voz tremendo.
Sorri, tentando esconder a decepção. Irmãzinha? Era assim que ele estava
me vendo?
Claro, tenho apenas 14 anos. Ele nunca me veria com outros olhos. Por
dentro, eu queria gritar que não era sua irmãzinha.
Sentei-me no outro lado da sala e fiquei observando conversarem sobre
negócios e investimentos. Fingia estar mexendo no meu iPhone, mas estava
atenta a ele. Filippo era tão lindo e seguro de si, sua presença enchia a sala.
Eles foram para o lado de fora e suspirei fundo, perdida em pensamentos.
Será que, quando completar dezoito anos, ele me veria de outra forma?
Enquanto os observava pela janela, percebi como Filippo parecia
confortável ao lado do meu irmão. Eles riam e falavam sobre assuntos que,
para mim, pareciam tão interessantes. Ethan sempre foi um pouco reservado
comigo sobre negócios, mas com Filippo, ele era aberto e descontraído. Era
como se tivessem uma linguagem própria, um entendimento silencioso que
eu não conseguia alcançar. Filippo era misterioso, parecia esconder algo
que estava louca para descobrir.
Por vezes, ele olhava na minha direção e sorria. Cada vez que isso
acontecia, sentia um calor estranho no peito, como se seu sorriso fosse uma
pequena chama, acendendo algo novo e desconhecido dentro de mim. Eu
tentava não ser óbvia, mas era difícil. Tudo o que eu queria era que ele me
notasse de um jeito diferente, que visse em mim algo mais do que a
“irmãzinha” de Ethan.
Quando finalmente se despediram, Filippo se aproximou para se despedir
de mim. Seus olhos encontraram os meus de novo, e por um instante, quase
esqueci de respirar.
— Foi bom te conhecer, Serena. Espero te ver mais vezes — disse ele, com
aquele sorriso que fazia meu coração disparar.
— Eu também, Filippo — consegui responder, tentando manter a minha
voz firme.
Assim que ele saiu, fiquei ali parada, olhando para a porta fechada,
imaginando quando seria a próxima vez que o veria. Mas, enquanto isso,
uma ideia tomou conta de mim: eu só precisava esperar até completar
dezoito anos. Quem sabe, até lá, ele pudesse me ver com outros olhos.
Mas e se até lá ele arrumar uma namorada? Ou até ter se casado.
Não pense isso, Serena. Pense positivo.
Voltei para o meu quarto e, deitada na cama, fiquei pensando em Filippo,
repassando cada detalhe daquele encontro. O som da sua voz, a maneira
como ele sorria, e a forma como ele se abaixou para falar comigo. Era tudo
tão vívido, tão real, que parecia um sonho bom do qual eu não queria
acordar.
Eu sabia que ainda era jovem, mas, no fundo, havia uma esperança que não
conseguia ignorar. Quem sabe, com o tempo, Filippo perceberia que eu não
era apenas uma garotinha. Quem sabe, um dia, eu possa ser mais do que a
irmãzinha do Ethan para ele. E com esse pensamento, acabei adormecendo,
sonhando com um futuro onde Filippo finalmente me notaria da maneira
que eu tanto desejava.
Nova York, 15 de maio de 2018
Finalmente, o tão esperado dia chegou. Meu aniversário de 18 anos. A festa
estava cheia de luzes e risos, todos celebrando com alegria, mas minha
mente estava em outro lugar, ou melhor, em outra pessoa: Filippo. Desde
aquele primeiro encontro, ele nunca deixou meus pensamentos. Anos se
passaram, e agora, com a maioridade finalmente alcançada, esperava que as
coisas pudessem ser diferentes.
Com a festa em pleno andamento, encontrei um momento de silêncio no
terraço. O ar da noite era fresco e as estrelas brilhavam como testemunhas
do que eu estava prestes a fazer. Meu coração batia forte quando o vi ali,
sozinho, observando a cidade abaixo.
— Filippo — chamei suavemente, aproximando-me. — Posso pedir um
presente de aniversário?
Ele se virou para mim, sorrindo daquele jeito caloroso que sempre me fazia
sentir segura e, ao mesmo tempo, vulnerável.
— Claro, Serena. O que você quiser. — respondeu, sem hesitação.
Respirei fundo, tentando reunir toda a coragem que tinha. Era o momento
pelo qual esperei tanto tempo. Mas o nervosismo era visível, minhas mãos
estavam suando.
Coragem, Serena.
Ele continuava me olhando e acho que ele notou que estava nervoso.
— Um beijo — pedi, com a voz tremendo levemente. Meu coração
disparava enquanto aguardava sua resposta. — Apenas um beijo.
Porém, em vez de um sorriso, sua expressão mudou. A leveza desapareceu,
substituída por uma seriedade que nunca havia visto antes.
— Serena… você sempre será como uma irmãzinha para mim. Eu não
posso fazer isso — suas palavras foram suaves, mas cada sílaba era como
uma lâmina, cortando meu coração em pedaços.
Tentei sorrir, fingindo que aquilo não me afetava, mas era impossível
esconder a dor. Afastei-me, sentindo as lágrimas brotarem antes mesmo de
chegar ao jardim. O ar fresco ajudou a acalmar a agitação em meu peito,
mas o alívio foi breve.
Fiquei por alguns minutos olhando para as estrelas e tentando me recuperar.
Olhei em volta, tentando encontrar um lugar para me recompor, então, algo
ainda pior aconteceu. Lá estava Filippo, no canto do jardim, beijando minha
melhor amiga. Os beijos eram intensos, apaixonados e pareciam acontecer
em uma dimensão onde eu não existia. A cena era como um soco no
estômago, tirando todo o ar dos meus pulmões.
As lágrimas começaram a escorrer antes que eu pudesse impedir. Meu
coração, que já estava ferido, se partiu em incontáveis pedaços. Filippo
levantou o olhar e me viu.
Corri antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. A festa estava lotada, mas
para mim, tudo era um borrão de cores e sons distantes. Subi as escadas e
me tranquei no quarto, o barulho da festa abafado pela porta fechada.
Ali, deixei finalmente as lágrimas caírem livremente. Anos de esperanças e
sonhos desmoronaram em questão de segundos. Ouvi Filippo bater à porta,
chamando meu nome, mas eu não conseguia responder. Não naquele
momento. Meu coração estava destroçado, e eu precisava de tempo para
juntar os pedaços.
Enquanto as batidas suaves continuavam, eu me encolhi no chão, abraçando
meus joelhos. Cada lembrança de Filippo era agora uma dor aguda, difícil
de suportar. Ele desistiu finalmente de bater, e a festa continuou sem mim.
Sentei-me ali, sozinha, tentando processar tudo. Como pude ser tão
ingênua? Anos de expectativas, destruídos em um instante.
Olhei para o espelho e a pergunta que surgiu foi inevitável: O que ela tem
que eu não tenho?
De repente, a raiva tomou conta de mim. Peguei meu celular e, num
impulso, mandei uma mensagem para Kelry que me respondeu no mesmo
instante.
>> Ele gosta de mulheres, não de meninas. Olha como você se veste. Você
realmente acha que ele te olharia de outro jeito?
A frustração foi tanta que joguei o celular contra a parede, vendo-o se
despedaçar.
— Idiota — sussurrei para mim mesma.
Depois de um tempo, ouvi uma voz familiar do outro lado da porta. Era
Ethan.
— Serena, sei que está chateada. Posso entrar? — Sua voz estava cheia de
preocupação.
Levantei-me e destranquei a porta, permitindo que ele entrasse. Ele notou
meu celular quebrado no chão, mas não disse nada sobre isso. Apenas se
sentou ao meu lado, olhando para mim com aquela expressão de carinho e
proteção que sempre me confortava.
— Vi o que aconteceu. Não fique assim — disse Ethan, suavemente. —
Filippo não queria magoar você.
Balancei a cabeça, tentando encontrar as palavras. — Eu só… esperava que
ele me visse de outra forma. Mas precisava fazer aquilo? Pergunto, sentindo
raiva.
Ethan suspirou, passando o braço ao redor dos meus ombros. — Eu
entendo, mas Filippo sempre foi assim. Ele se importa com você, mas
talvez de uma maneira diferente.
As palavras de Ethan trouxeram algum conforto, mas não aliviaram a dor.
— Eu sei. Só preciso de tempo.
Ele me abraçou e, por um momento, a dor diminuiu um pouco. — Estou
aqui para você, Serena.
— Você sempre soube que eu gostava dele? — perguntei, e ele assentiu.
— Desde o momento em que você o viu pela primeira vez, eu notei, irmã.
— E por que nunca disse nada? — perguntei, surpresa.
— Porque pensei que fosse apenas uma paixão de adolescente. Nunca
imaginei que você levaria isso tão a sério.
— Eu sempre o amei em silêncio — admiti, a voz quebrada. — E agora
meu coração está despedaçado.
Ethan me abraçou mais forte, tentando me confortar. Ele queria que eu
voltasse para a festa, mas eu simplesmente não conseguia. Ele entendeu e
saiu, deixando-me sozinha com meus pensamentos.
Depois que ele saiu, fiquei olhando pela janela, as estrelas brilhando no céu.
Precisava encontrar uma maneira de seguir em frente, de deixar os
sentimentos por Filippo para trás. A vida era cheia de reviravoltas, e,
mesmo que essa noite fosse devastadora, sabia que um dia eu superaria, e
quem sabe, encontraria alguém que realmente me visse da maneira que eu
tanto desejava.
Nos dias seguintes, a tristeza parecia não querer me abandonar. Cada canto
da casa era uma lembrança que eu queria esquecer. Então, tomei uma
decisão.
Fui até Ethan, que estava na sala.
— Preciso conversar com você. Comecei, tentando manter minha voz
firme. — Quero estudar fora. Preciso de um tempo longe daqui.
Ele me olhou surpreso, mas compreensivo. — Tem certeza? Para onde você
gostaria de ir?
— Londres. Respondi sem hesitar.
Ethan ficou em silêncio por um momento, depois sorriu levemente. —
Sempre soube que você era determinada. Vou te apoiar no que você
precisar.
Depois que nossos pais faleceram, era apenas eu e ele.
A decisão foi um alívio. A ideia de recomeçar em um lugar novo me dava
esperança.
Em poucas semanas, tudo estava organizado, e o dia da minha partida
chegou.
No aeroporto, Ethan me abraçou forte.
— Vou sentir sua falta, irmãzinha. Mas sei que você vai brilhar lá.
Sorri, segurando as lágrimas.
— Obrigada, Ethan. Eu também sentirei sua falta.
Enquanto o avião decola, olhei pela janela, vendo tudo ficar pequeno lá
embaixo. Era hora de um novo começo. Londres era minha chance de
encontrar meu próprio caminho e deixar o passado para trás.
CAPÍTULO 2

FILIPPO ROMANO
Depois do pedido de Serena, me senti mal em ter que fazer aquilo com ela.
Eu a tinha como minha irmã, e não queria que ela ficasse pensando em
segundas intenções, imaginando um romance. Ela acabou de fazer dezoito
anos e tinha uma vida toda pela frente.
Agora, ter beijado a melhor amiga dela foi o pior erro que fiz. Eu não sabia,
e acabei destruindo uma amizade. Ethan me contou tudo.
Ele sabia da paixão dela por mim e nunca me disse por achar que era uma
paixão passageira. Mas ele se culpou e hoje ela foi embora para outro país,
tudo por minha causa.
Eu sei que agora ela vai me esquecer e começará uma nova vida, quem sabe
encontrará alguém que seja da mesma idade e que a faça feliz.
Recebi uma ligação do meu irmão mais velho e disse que nosso pai queria
nos ver.
Minha vida não era normal, minha família não era tão simples como todos
pensavam. E jamais traria Serena para meu mundo, aos meus olhos ela
sempre será a menininha com tranças, a irmãzinha caçula que nunca tive.
Quando pedi ao meu pai para estudar e conhecer o mundo, ele aceitou. Mas
nunca poderia deixar de fazer os treinamentos necessários. Eu sempre tive
que estar preparado para o que der e vier. Pertencer a uma família de
mafiosos nunca foi fácil. Mas nosso pai sempre nos preparou para tudo.
Nunca conheci minha mãe, ela morreu quando eu tinha 3 meses de vida.
Já estava com meus vinte e seis anos e sabia que, mais cedo ou mais tarde,
eu precisaria voltar para casa e ajudar minha família nos negócios. Tá na
hora de ver meu velho.
Pego meu carro e dirijo rumo à mansão Romano. A estrada é familiar, cada
curva e cada paisagem trazem memórias de uma infância repleta de
disciplina e expectativas. Quando finalmente estacionei na entrada
imponente da mansão, vejo os rostos conhecidos dos meus irmãos mais
velhos se formando em sorrisos zombeteiros.
Assim que saio do carro, os risos começam.
— Olha quem resolveu aparecer! Grita Leon, meu irmão mais velho.
— Sabíamos que o favorito do papai não ficaria longe por muito tempo. Diz
Matteo, com aquele tom meio sarcástico que sempre usou comigo.
Apesar das provocações, sinto um calor no peito. É bom estar de volta.
Entro na mansão e o aroma familiar me atingiu em cheio. O cheiro de
madeira polida e algo mais, um toque de lavanda que minha mãe costumava
usar, embora eu só saiba disso pelas histórias que me contaram.
Meu pai, Don Romano, está na sala principal, sentado em sua cadeira de
couro marrom, parecendo mais envelhecido do que me lembrava, mas ainda
com aquela aura imponente. Seus olhos encontraram os meus, e por um
momento, vejo um lampejo de emoção que ele logo esconde com um
sorriso contido.
— Filippo. Ele diz, sua voz firme como sempre. — Seja bem-vindo de
volta.
Sinto um nó na garganta. — Obrigado, papai. É bom estar em casa.
A alegria nos olhos dele é evidente, mesmo que ele tente manter a
compostura. Sei que, no fundo, ele está feliz por me ver. Por mais que o
mundo lá fora tenha sido fascinante e cheio de aventuras, nada se compara
ao sentimento de pertencimento aqui, nesta família, com todas as suas
complexidades e deveres.
Enquanto Leon e Matteo continuam com suas piadas e risadas, sinto que
estou exatamente onde deveria estar. É hora de retomar meu lugar e
enfrentar o que quer que o futuro nos reserve, juntos.
Depois de um breve reencontro com meu pai, ele nos mandou para o
quintal.
— Mostrem ao Filippo o quanto ele perdeu enquanto esteve fora. Diz ele,
com um meio sorriso que esconde a dureza de suas palavras. Leon e Matteo
trocam olhares cúmplices antes de me conduzir até o campo de tiro.
O quintal da mansão Romano sempre foi um lugar de treinamento. Há alvos
alinhados no final do gramado e várias armas de fogo bem cuidadas
dispostas em uma mesa de madeira robusta. Leon pega uma pistola e a gira
habilmente nos dedos antes de entregá-la a mim.
— Vamos ver se o menino-prodígio ainda sabe atirar. Diz ele, um brilho
desafiador nos olhos.
Matteo ri e pega outra pistola. — Acho que vamos precisar de um novo
alvo depois que Filippo terminar de errar todos os tiros.
Respiro fundo, sentindo o peso da arma na minha mão. Faz tempo que não
pratico com meus irmãos, mas a memória muscular e os treinos incansáveis
de nosso pai não são esquecidos facilmente.
— Vamos lá. Digo, tentando soar mais confiante do que realmente me sinto.
Será que eles não imaginam que todo esse tempo tive treinamentos? É
melhor mostrar do que falar.
Leon se posiciona primeiro, disparando cinco tiros rápidos que acertam
precisamente o centro do alvo.
Uau… Leon sempre rápido e perspicaz.
Matteo segue, com uma precisão igual. Ambos me olharam com sorrisos
desafiadores quando entregaram a arma para mim.
Posiciono-me, sentindo o frio do metal na minha mão, e concentro-me no
alvo. Disparo os cinco tiros, cada um deles atingindo o centro. O silêncio
cai sobre nós por um momento antes de ser quebrado pelas gargalhadas dos
meus irmãos.
— Ele ainda tem a mira! Exclama Matteo, batendo palmas.
Leon assente, com um sorriso de aprovação. — Bem-vindo de volta,
Filippo. Parece que você não perdeu o toque.
Solto um suspiro de alívio, permitindo-me um pequeno sorriso. Por mais
que estejamos sempre competindo, esse momento de reconhecimento é
precioso. No fundo, sei que Leon e Matteo estão felizes por me ver de volta
em ação.
— Vocês acham que podem me derrubar tão facilmente? Provoco,
guardando a arma e pegando uma nova. — Treinei todo esse tempo longe
de vocês.
Matteo levanta as sobrancelhas. — Bem, talvez a gente devesse aumentar a
dificuldade. O que você acha, Leon? Tiro o alvo em movimento?
Leon sorri maliciosamente. — Eu gosto da ideia. Vejamos se nosso
irmãozinho consegue acompanhar.
Passamos a tarde competindo, desafiando uns aos outros em várias formas
de tiro. A tensão inicial desaparece, substituída por uma camaradagem que
só irmãos de sangue e de armas podem entender. As risadas, as provocações
e os tiros ecoam pelo quintal, lembrando-me de que, apesar de todas as
nossas diferenças e desafios, a família sempre estará em primeiro lugar.
— Sentimos muito a sua falta, irmão. Diz Leon, me abraçando.
— Eu também, irmão. Como é bom estar em casa.
Ao entrarmos em casa, fomos para o escritório de nosso pai.
— Nosso pai nos contou que pretende abrir boates pelo país. Tem certeza
disso? Pergunta Leon.
— Estive estudando alguns negócios e acho que vou me dar bem nesse
ramo.
— Tenho certeza que sim. Diz com um sorriso. Se precisar de ajuda, conte
sempre comigo.
Sorrio com seu apoio. — Obrigada irmão.
— Agora você precisa convencer o nosso pai. Boa sorte. Diz abrindo a
porta do escritório.
Entro no escritório do nosso pai, sentindo o peso das palavras de Leon
ecoando em minha mente. Convencer Don Romano de algo nunca foi uma
tarefa simples. Ele é um homem de opiniões firmes, moldado por décadas
de liderança e respeito no mundo da máfia.
Assim que atravesso a porta, ele me encara com aquele olhar penetrante que
sempre me fez sentir como se ele pudesse ler meus pensamentos. O
escritório está mergulhado em sombras, as cortinas pesadas bloqueando a
luz do sol. A única iluminação vem de um abajur em sua mesa de mogno,
destacando os traços austeros de seu rosto.
— Então, você quer expandir os negócios para o ramo das boates, Filippo?
— Ele pergunta, sem rodeios, como se estivesse me desafiando a justificar
minha ideia.
— Sim, pai. — Respondo, mantendo a voz firme. — Tenho estudado o
mercado, e acho que é uma excelente oportunidade para diversificar nossos
negócios. As boates podem ser não apenas lucrativas, mas também uma
excelente fachada para outros empreendimentos que precisem de discrição.
Ele franze a testa levemente, cruzando as mãos sobre a mesa. — Você já
tem um plano detalhado? E já considerou os riscos? Sabe que isso pode
atrair a atenção indesejada de outros grupos, certo? Principalmente dos
nossos inimigos.
Assinto
— Sei dos riscos, mas também vejo as oportunidades. Com uma boa
administração, podemos controlar a clientela e garantir que só as pessoas
certas entrem nesses lugares. Além disso, estive em contato com alguns
investidores interessados em apoiar esse projeto. Eles têm experiência no
setor e podem nos ajudar a minimizar qualquer exposição indesejada.
Ele se recosta na cadeira, ponderando minhas palavras em silêncio. O tic-
tac do relógio de parede é o único som no ambiente, cada segundo parece
durar uma eternidade. Finalmente, ele solta um suspiro, entrelaçando os
dedos.
— Filippo, sempre admirei sua determinação e a maneira como você
analisa as coisas. — Ele diz, com um tom mais suave. — Mas este é um
passo grande. Uma coisa é ter a teoria e outra é colocar em prática. Isso
pode trazer problemas que você ainda não previu.
— Estou ciente disso, pai. — Respondo, mantendo o olhar fixo no dele. —
Mas acredito que podemos fazer isso funcionar, e estou disposto a arcar
com as responsabilidades. Essa expansão pode fortalecer nossa posição e
abrir portas para novos contatos que serão úteis no futuro.
Ele me observa por mais alguns instantes antes de acenar lentamente com a
cabeça.
— Muito bem. — Diz ele, finalmente. — Vou te dar essa chance. Mas
lembre-se, Filippo, não aceito fracasso. Se isso der errado, as consequências
serão graves, e você terá que lidar com elas. Este é um teste para você, e
espero que esteja preparado para o que vier.
Sinto uma onda de alívio misturada com responsabilidade ao ouvir suas
palavras. Sei que essa é uma oportunidade que não posso desperdiçar.
— Não vou decepcioná-lo, pai. — Digo com convicção.
— Espero que não. — Ele responde, com um leve sorriso. — Agora, vá
descansar. Amanhã começaremos a discutir os detalhes e as pessoas com
quem você trabalhará nesse projeto.
Faço um leve aceno de cabeça, agradecido, e saio do escritório com uma
nova meta de vida. Sei que essa é a chance de provar meu valor e mostrar
que posso contribuir para o império da família Romano. E, acima de tudo,
sei que, independentemente dos desafios, estou preparado para o que vier.
Afinal, fui treinado para isso desde o primeiro dia.
CAPÍTULO 3

SERENA FONSECA
Finalmente, em Londres, cheguei bem e com segurança.
Desço do avião, com a cabeça ainda girando com os acontecimentos dos
últimos dias. Pode parecer besteira da minha parte sofrer por isso. Mas só
eu sei o que sentir.
Meu coração bate acelerado, misturado com empolgação e medo.
Atravesso o terminal, seguindo as placas que indicam a saída. Quando
finalmente cheguei ao saguão de desembarque, meus olhos encontraram um
casal segurando uma placa com meu nome.
Ethan… Sei que tem o dedo dele. Sabia que não me deixaria desamparada.
— Serena! A voz masculina é calorosa e acolhedora.
Dou um sorriso tímido e me aproximo. O homem que me chamou é alto,
com cabelos escuros e olhos gentis. Ao lado dele está uma mulher loira de
aparência elegante, com um sorriso que transmite segurança.
— Oi, sou Charles, e essa é minha esposa, Alexia. Ele se apresenta
enquanto estende a mão.
— Oi! Respondo, apertando a mão dele e, em seguida, a dela. — Muito
obrigada por virem me buscar. Confesso que não saberia me virar aqui.
— Não precisa agradecer, querida. Alexia diz com sua voz suave e
amigável. — Ethan nos falou tanto de você. Estamos felizes por tê-la aqui.
Eu sorrio, sentindo uma onda de alívio.
— Estou um pouco nervosa, para ser honesta.
— É normal. Charles responde enquanto pegamos minhas malas. — Mas
não se preocupe, você vai se acostumar rápido. Vamos ajudá-la a se instalar.
Ao sair do aeroporto, sinto o ar frio e úmido de Londres me envolver. E me
arrependo de não ter vestido um casaco mais quente. Tudo é tão diferente
do que estou acostumada. A cidade é vibrante, cheia de vida e, ao mesmo
tempo, me parece um pouco intimidadora, bem diferente de Nova Iorque,
que é bem barulhenta.
No carro, durante o trajeto até o centro, conversamos sobre Londres, sobre a
universidade que eu vou frequentar e sobre o tempo. Alexia fala com
entusiasmo sobre os lugares que preciso visitar e que vou amar, enquanto
Charles me dá dicas práticas para me locomover na cidade.
Eles são um casal tão adorável e atencioso.
Finalmente, chegamos a um prédio elegante no coração de Londres.
— Este é um dos apartamentos que achamos para você. Alexia diz enquanto
saímos do carro. — Achamos que você gostaria de ver alguns antes de
decidir.
Eu assinto, sentindo uma mistura de gratidão e ansiedade. Subimos até o
quinto andar e Charles abre a porta de um apartamento espaçoso, com
janelas que dão vista para a cidade.
— Uau… Digo, impressionada. — É lindo.
— Você pode imaginar vivendo aqui? pergunta Alexia com um sorriso.
Olho ao redor, absorvendo cada detalhe. — Sim, acho que sim.
Após visitar outros dois apartamentos, todos igualmente bem localizados e
acolhedores, decido pelo primeiro. Algo sobre ele parece certo, como se
fosse o lugar onde eu deveria começar essa nova fase da minha vida.
Mais tarde, no mesmo dia, Alexia e Charles me levam para jantar em um
restaurante charmoso. Eles me apresentam à filha deles, Catherine, que tem
uma aura amistosa e é alguns anos mais velha que eu, e já me dei muito
bem com ela.
— Oi, Serena! Meu pai me contou que você estudará na mesma
universidade que eu. Catherine diz animada enquanto nos sentamos.
— Sério? respondo, surpresa e aliviada. — Isso é incrível. Pelo menos vou
ter alguém conhecido lá.
— Podemos ir juntas amanhã para as primeiras aulas, se você quiser. Ela
sugere, sorrindo.
— Eu adoraria! Digo, me sentindo cada vez mais confortável.
Durante o jantar, Catherine e eu conversamos sobre nossos cursos, as
expectativas para a universidade. Eventualmente, a conversa se aprofunda,
e eu me vejo contando a Catherine a verdadeira razão pela qual decidi vir
para Londres.
— Foi difícil deixar tudo para trás. Comecei, hesitante. — Mas eu precisava
de um recomeço. Algo aconteceu com uma amiga… uma pessoa em quem
eu confiava muito, e eu fiquei muito magoada.
Não quero falar sobre Filippo, a verdade é que decidi vir para esquecê-lo.
Por que é tão difícil esquecer alguém que amamos?
Catherine me olha com empatia.
— Às vezes precisamos de distância para ver as coisas de outra perspectiva.
Londres pode ser o lugar perfeito para isso.
— Espero que sim. Murmuro, olhando pela janela do restaurante para as
luzes da cidade. — É por isso que estou aqui. Para tentar esquecer o que
aconteceu e seguir em frente.
Catherine estende a mão e segura a minha. — E você vai conseguir. Pode
contar comigo. Vamos nos divertir muito aqui e você nem lembrará das
coisas ruins.
O apoio dela me traz um conforto inesperado, e eu sinto que, talvez, as
coisas vão dar certo.
Após jantar, voltamos ao apartamento. Assim que entro, pego meu celular e
ligo para Ethan.
— Oi, maninha! Como foi a viagem? A voz de Ethan soa feliz e aliviada do
outro lado da linha.
— Oi, Ethan. Respondo, me sentindo mais calma só de ouvir a voz dele. —
A viagem foi tranquila, e cheguei bem. Charles e Alexia me ajudaram a
encontrar um apartamento incrível. Você nem imagina como são legais!
— Eu sabia que você estaria em boas mãos. Ele diz, rindo. — E aí, gostou
de Londres?
— Já estou começando a gostar. Admito. — Conheci a filha deles,
Catherine. Vamos estudar na mesma universidade. Acho que ficarei bem
aqui.
— Tenho certeza de que vai, Serena. Fico muito feliz por você.
— Obrigada, Ethan. Tentarei fazer o meu melhor.
— E você vai arrasar, como sempre.
Sorrio ao ouvir isso. Após nos despedirmos, me deito na cama e olho para o
teto, ouvindo o silêncio da cidade lá fora. Pela primeira vez em muito
tempo, sinto que estou exatamente onde deveria estar.
***
Depois de alguns dias, me estabilizando e acostumando com minha nova
rotina. Hoje é o meu primeiro dia de aula na faculdade de medicina em
Londres. Desde que me mudei para cá, tudo tem sido uma mistura de
emoções, excitação, medo e ansiedade.
Acordei cedo, mal consegui dormir direito. O frio na barriga não
desaparece, mesmo agora, enquanto caminho pelo campus. É difícil
acreditar que estou realmente aqui, vivendo um sonho que carrego por
tantos anos.
Entro na sala de aula, tentando parecer confiante, embora por dentro eu
esteja uma bagunça. A sala é grande, cheia de estudantes que parecem tão
nervosos quanto eu. Alguns já estão em grupos, conversando e rindo. Sinto
um arrepio de nervosismo, mas respiro fundo e decidi me aproximar de uma
menina que está sozinha em uma das fileiras do meio.
— Oi, essa cadeira está livre? — pergunto, tentando soar casual.
Ela levanta os olhos do celular e me dá um sorriso acolhedor.
— Está sim! — ela responde, puxando a cadeira para o lado para me dar
espaço. — Sou a Rachel. E você?
— Serena — respondo, me sentando. — Primeiro dia também?
— Sim, estou um pouco nervosa — ela admite, e eu aceno em
solidariedade.
— Também estou. Mas acho que todo mundo está, né? — Dou uma
risadinha, tentando aliviar a tensão.
Enquanto conversamos, mais alunos entram na sala e um burburinho de
vozes preenche o ar. Alguns minutos depois, um professor entra e o silêncio
cai quase instantaneamente. Ele parece severo, com uma postura firme e
olhar penetrante. Claramente, ele já passou por muitos anos de prática
médica.
— Bom dia, turma. Meu nome é Dr. Edwards. Sou cirurgião há mais de 20
anos e estarei com vocês neste semestre para a disciplina de anatomia. —
Ele dá uma olhada ao redor da sala e posso sentir que está nos avaliando. —
Sei que estão ansiosos e talvez um pouco assustados. Isso é normal. A
medicina não é uma carreira fácil, mas é incrivelmente recompensadora.
Hoje, começaremos com uma introdução à anatomia humana.
Minha cabeça já está girando com tanta informação nova. Dr. Edwards
começa a desenhar esquemas no quadro, explicando com uma clareza
impressionante. Mesmo com o nervosismo, sinto uma excitação crescer
dentro de mim. Estou finalmente onde sempre quis estar.
Ao final da aula, Dr. Edwards nos dá um sorriso leve, quase imperceptível.
— Vocês têm uma longa jornada pela frente, mas lembrem-se, tudo começa
aqui. Estudem com dedicação e paixão. Nos vemos amanhã.
Quando a aula termina, me sinto exausta, mas, ao mesmo tempo, realizada.
Saio da sala com Rachel, e nós duas estamos um pouco atordoadas com a
quantidade de informação que recebemos.
— Uau, isso foi intenso — Rachel comenta, ajeitando a mochila no ombro.
— Nem me fale. Mas foi incrível, não foi? — digo, sentindo uma pontada
de orgulho por ter conseguido passar pelo meu primeiro dia.
Rachel sorri, e eu sinto que talvez tenha encontrado uma amiga nesse novo
desafio.
Enquanto saímos do prédio, o ar fresco de Londres me faz sentir um pouco
mais leve. A conversa com Rachel é animada, mas meus pensamentos logo
começam a se desviar para Filippo. Não importa o quanto eu tente me
concentrar na minha nova vida aqui, ele sempre encontra uma maneira de
invadir minha mente.
Paro por um instante, observando o movimento das pessoas ao meu redor.
Vim para Londres para estudar, para perseguir meu sonho de me tornar
médica, mas parte de mim sabe que também vim para me afastar dele. Eu
precisava de distância, precisava de uma nova perspectiva. Ver Filippo ao
lado de outra mulher, não qualquer mulher, a pessoa que eu acreditava ser
minha amiga, foi como um golpe no peito, uma realidade que eu não queria
enfrentar.
Me viro para Rachel, que está animada, falando sobre a aula, mas minhas
respostas são automáticas, como se eu estivesse em piloto automático. Por
dentro, estou me forçando a encarar a verdade.
“Eu tenho que esquecer Filippo,” digo para mim mesma, como se fosse
um mantra. Ele nunca me viu como eu o vejo. Ele sempre me tratou como
uma irmãzinha, e é isso que sou para ele.
Sei que repetir isso para mim mesma é uma forma de tentar me convencer,
de afastar a dor. Estou aqui para estudar, para me tornar a melhor médica
que posso ser. Isso é o que importa agora.
Dou um suspiro profundo, tentando deixar essa resolução se enraizar dentro
de mim. Preciso focar no que está na minha frente, nos desafios que
enfrentarei aqui na faculdade. Este é o meu caminho, a minha carreira, e
nada nem mesmo Filippo vai me desviar disso.
Enquanto caminho ao lado de Rachel, sinto uma determinação crescer
dentro de mim. Vou me dedicar completamente aos meus estudos, à minha
futura carreira. É hora de deixar o passado para trás e seguir em frente. Vou
me manter firme, vou lutar e conquistar meu sonho.
— Serena, o que acha de irmos à biblioteca agora? — Rachel sugere,
parando por um momento enquanto ajeita a alça da mochila. — A gente
pode revisar o que vimos hoje e já dar uma olhada no material para a
próxima aula. Eu não quero ficar perdida nas próximas semanas.
Concordo com um aceno, aliviada por estar tão focada quanto eu.
— Ótima ideia, Rachel. Acho que será bom começar a estudar desde já,
assim a gente se prepara melhor.
Seguimos para a biblioteca juntas, conversando sobre as nossas
expectativas e o quanto estamos animadas com o curso. Chegando lá, o
ambiente é silencioso, com alguns alunos já mergulhados em livros e
anotações. Escolhemos uma mesa perto da janela, onde a luz natural
ilumina o espaço, tornando o ambiente acolhedor.
Passamos algum tempo revisando os esquemas de anatomia que Dr.
Edwards nos passou e discutindo os pontos que achamos mais desafiadores.
A conversa flui e percebo que estudar com Rachel é não só produtivo, mas
também prazeroso. Ela tem uma energia positiva que me contagia e, pela
primeira vez em muito tempo, sinto que posso fazer amizades verdadeiras
aqui.
Depois de algumas horas, o sol já está começando a se pôr, e decidimos que
é hora de irmos para casa. Enquanto estamos guardando nossos materiais,
Rachel se vira para mim com um sorriso.
— Foi um bom estudo. Acho que vamos conseguir mandar bem na próxima
aula — ela diz, e eu sorrio em resposta, sentindo a mesma confiança.
— Com certeza! Foi muito bom ter estudado com você, Rachel. Acho que
formaremos uma boa dupla.
Nos despedimos na saída da biblioteca e sigo em direção a saída, ainda
processando tudo o que estudamos. No caminho, meus pensamentos
começam a se alinhar em torno da minha resolução de me dedicar
completamente aos estudos.
Estou tão imersa nos meus pensamentos que quase não vejo Catherine
vindo na minha direção até que ela para bem na minha frente, com um
sorriso largo.
— Serena! Como foi o primeiro dia? — ela pergunta, claramente animada.
Catherine é estudante de moda e estuda em outro campus próximo aqui.
— Foi ótimo, mas intenso — respondo, ajustando a mochila no ombro. —
A gente já começou com anatomia, e o professor é bem exigente. Mas
consegui estudar um pouco com uma colega, o que ajudou bastante.
— Fico feliz em ouvir isso! Sabia que você ia se sair bem. — Catherine me
dá um leve empurrãozinho no ombro. — Vamos embora juntas?
Concordo com um aceno e começamos a caminhar em direção ao seu carro,
conversando sobre o dia. Catherine me conta sobre as aulas dela e como ela
também está se ajustando no novo semestre. É bom ter alguém para
conversar no caminho de volta, alguém que me entenda e com quem possa
compartilhar esses pequenos momentos.
Enquanto ela dirige pelas ruas de Londres, iluminadas pelas luzes do início
da noite, sinto um alívio tranquilo. Sei que ainda tenho muito pela frente,
mas ter pessoas como Rachel e Catherine ao meu lado faz tudo parecer mais
possível. Cada dia é um passo em direção ao meu sonho, e com elas ao meu
lado me sinto menos solitária.
Ao chegar em casa, coloco meu material em cima da mesa e me jogo na
cama, afundando no colchão macio. O cansaço começa a me dominar, mas
a satisfação de ter vivido meu primeiro dia na faculdade de medicina me
mantém acordada. A mente continua girando com os esquemas de
anatomia, as novas amizades e o ambiente acolhedor da universidade. Valeu
a pena cada segundo do dia, por mais exaustivo que tenha sido.
Fecho os olhos por um instante, mas logo sou interrompida pelo som do
celular vibrando na mesinha ao lado. Sei exatamente quem é antes mesmo
de olhar o visor. Corro para atender.
— Oi, Ethan! Estava com saudades — digo, com um sorriso nos lábios,
esperando ouvir a voz animada do meu irmão.
— Oi, irmãzinha — ele responde, mas há algo na voz dele que me chama a
atenção. Está diferente, como se estivesse tentando esconder algo.
Levanto uma sobrancelha, intrigada. Ele continua:
— Também estou sentindo muito a sua falta. Como foi o primeiro dia de
aulas?
— Foi do jeito que imaginei, mas muito bom e produtivo. E me conta,
irmão… o que está acontecendo com você? Você está estranho — pergunto,
já desconfiando.
Ouço sua risada leve do outro lado da linha, mas percebo um tom de
surpresa.
— Como você sabe que aconteceu algo, detetive? — ele pergunta de forma
brincalhona.
Mas não estou convencida. Eu conheço Ethan como a palma da minha mão,
e sei quando ele está me escondendo algo.
— Eu te conheço, Ethan. E sei que algo aconteceu. Não me diga que é
grave? Sinto um leve aperto no peito, uma pontada de preocupação
surgindo.
Ele solta um suspiro e, mesmo sem ver seu rosto, posso imaginar seu
sorriso tentando transmitir que está tudo sob controle.
— Eu me casei em Vegas — ele responde, com uma tranquilidade chocante.
Meu corpo inteiro se congela por alguns segundos.
— O quê?! — quase grito, sentando-me de repente na cama, completamente
atordoada.
— Simples assim — ele repete, como se fosse a coisa mais natural do
mundo.
— Como assim, casou? Ethan, que loucura é essa que você fez? Eu nem
sabia que você estava namorando alguém, e agora você me liga dizendo que
tem uma esposa? — Minha voz está cheia de incredulidade, mas também de
preocupação. Isso não é algo que ele faria sem pensar… ou será que é?
Ethan ri do outro lado, claramente se divertindo com a minha reação.
— Eu me apaixonei e me casei, simples assim — ele diz novamente, como
se a situação fosse completamente normal.
Eu me levanto da cama, andando de um lado para o outro, tentando
processar.
— Simples para você! Preciso entender essa loucura, irmão. Me explique
com detalhes! Acabei de receber o título de cunhada e nem sei quem é essa
mulher. Quem é ela? Como isso aconteceu? — Minha mente está a mil,
cheia de perguntas.
Ethan faz uma pausa, provavelmente organizando seus pensamentos.
— O nome dela é Ava. Conheci ela em uma viagem de negócios há alguns
meses, mas as coisas entre nós foram rápidas e intensas. Decidimos nos
casar em Vegas no fim de semana passado — ele explica, ainda soando
incrivelmente tranquilo.
— Meses? — repito, ainda sem acreditar. — Ethan, você é louco. Mas…
ela te faz feliz?
A pergunta sai mais suave, e minha preocupação lentamente se transforma
em curiosidade genuína.
— Sim, Serena. Ela me faz muito feliz — sua voz ganha um tom mais
sério, e eu consigo sentir a sinceridade em suas palavras.
Respiro fundo, tentando absorver tudo.
— Ok, preciso processar tudo isso — digo, meio rindo, meio confusa. —
Mas quero conhecer essa Ava. E você sabe que, como irmã, tenho o direito
de fazer mil perguntas quando nos encontrarmos, certo?
— Claro, claro — ele responde, rindo. — Prometo que vão se dar bem.
Sento na cama novamente, agora mais calma, mas ainda surpresa com a
grande notícia. Não era nada disso que eu esperava ouvir hoje, mas pelo
menos Ethan está feliz. Isso é o que importa.
Ainda um pouco atordoada com a revelação, respiro fundo, tentando
organizar meus pensamentos. Nunca imaginei que Ethan se casaria assim,
de forma tão impulsiva. Sempre o vi como alguém mais racional, calculista
até. Mas parece que o amor pode realmente surpreender a todos.
— Ethan… — começo, ainda processando tudo.
— Quero muito conhecer a Ava. Mas você tem certeza de que é isso
mesmo? Casamento é algo muito sério.
Ele dá uma risadinha, mas consigo perceber que há algo mais profundo em
sua resposta.
— Serena, eu sei que parece loucura para você, mas eu nunca me senti
assim por ninguém antes. Foi tudo rápido, mas a conexão foi instantânea.
Não quis esperar mais, e Vegas… foi espontâneo, sabe? — ele explica com
uma calma que só meu irmão poderia ter em uma situação como essa.
Por um momento, fico em silêncio. Sei que ele está falando sério. A
verdade é que, mesmo parecendo precipitado, se Ethan está tão convicto,
talvez haja algo especial nessa Ava. Meu coração se acalmou um pouco e
resolvi confiar no julgamento dele.
— Bom, se você está feliz, então vou te apoiar. Mesmo achando uma
loucura, vou respeitar sua decisão — digo, aceitando finalmente a novidade.
— Obrigado, Serena. Você não sabe o quanto isso significa para mim. E
você adorará a Ava, prometo. — Ele parece mais aliviado agora, talvez
porque estava esperando uma reação pior da minha parte.
— Só espero que você saiba no que está se metendo, hein! — brinco,
tentando aliviar o clima, e ele ri novamente.
— Eu sei, irmãzinha. Confie em mim. — Ele faz uma pausa, e sinto a
sinceridade em sua voz.
— E você, como está de verdade? Como está a vida nova aí em Londres?
Eu suspiro, olhando para o teto. Ele sempre tem esse jeito de voltar o foco
para mim.
— Estou bem. Foi um começo intenso, mas estou realmente focada na
faculdade. Fiz algumas novas amizades hoje, e o conteúdo já está ficando
pesado — explico, tentando soar mais animada do que talvez me sinta no
momento.
— Fico feliz em ouvir isso. E é bom te ver focada, irmãzinha. Essa é a sua
chance de brilhar — ele diz, com o tom encorajador que sempre me
conforta.
Conversamos mais um pouco antes de nos despedirmos, e quando desligo o
celular, me sinto um pouco mais leve, apesar do choque da notícia. Ethan
sempre foi imprevisível, mas casado? Essa será uma nova realidade para
mim.
Me levanto da cama e vou até a janela, olhando para a cidade iluminada de
Londres. Um sorriso suave se forma nos meus lábios. Mesmo com as
surpresas da vida, sinto que estou no caminho certo. Cada dia aqui é uma
nova descoberta, e embora algumas partes de mim ainda estejam presas ao
passado, especialmente em relação à Filippo, sei que essa é a minha
oportunidade de focar no meu futuro.
De repente, meu celular vibra novamente. Dessa vez, é uma mensagem de
Catherine:
>> Ei! Está acordada? Acabei de fazer um chá, quer vim tomar
comigo?
Sorrio ao ler a mensagem. Catherine sempre sabe quando preciso de uma
distração.
>> Estou indo!
Respondo rapidamente, pegando meu casaco antes de sair. Enquanto
caminho até o apartamento de Catherine, penso em como a vida está
mudando rápido. Ethan está casado, eu estou finalmente no caminho para
realizar meu sonho. Talvez, só talvez, essa nova fase da minha vida seja
exatamente o que eu preciso.
Chego ao apartamento de Catherine e ela já está me esperando na porta com
dois copos de chá quentinho.
— Entra! Quero ouvir tudo sobre o seu dia e, claro, o que te fez levantar da
cama agora — ela diz, me puxando para dentro com um sorriso acolhedor.
Me sento no sofá ao lado dela, tomando um gole do chá, e percebo que,
apesar de todas as surpresas, estou exatamente onde devo estar.
— Você está aqui há tanto tempo e nem conheceu Londres direito — diz,
com aquele tom de reprovação brincalhona.
Dou de ombros, sorrindo.
— Estou focada nos estudos, Cat. Não é fácil, sabe? Medicina exige
muito…
Ela balança a cabeça, como se já estivesse pronta para rebater isso.
— Serena, você também precisa desestressar. Senão, os estudos vão acabar
te engolindo. — Ela cruza os braços, assumindo aquele olhar de quem não
aceita desculpas. — Amanhã é sábado, e eu já estou planejando tudo. O que
acha de passear por Londres comigo?
Sinto a empolgação dela me contagiando, e uma parte de mim percebe que
talvez seja exatamente disso que eu preciso.
— Hm… OK, você venceu!
O rosto de Cat se ilumina e ela começa a listar empolgada os lugares que
vamos.
***
Acordei animada hoje, já sabendo que o dia seria dedicado a explorar
Londres com a Cat. Depois de tantos meses de estudos intensos, ela decidiu
me tirar da rotina e confesso que estou amando a ideia.
— Vamos, Serena! Não acredito que você esteja aqui há tanto tempo e
ainda não viu o básico de Londres! — Exclamou, me puxando pela mão
assim que saímos do metrô.
— Eu sei, eu sei… mas você sabe como é a vida de uma estudante de
medicina, né? Quase não sobra tempo para sair da biblioteca! — respondi,
rindo enquanto ela me arrastava em direção ao Big Ben.
Ela morava aqui desde sempre e conhecia cada canto da cidade.
— Primeiro, Big Ben, e depois uma passadinha no London Eye, claro!
Disse animada.
Enquanto ela tirava fotos do Big Ben, eu absorvia o ambiente. O céu estava
nublado, mas o ar de Londres tinha algo de especial, quase como se a
cidade contasse suas próprias histórias. Ela me interrompeu dos
pensamentos com uma risada, me dando um leve empurrão.
— Não adianta só olhar, Serena, você precisa tirar uma foto também. — Ela
já estava com o celular apontado para mim, e eu sorri para a câmera.
Depois de alguns cliques e várias selfies, seguimos para uma pequena loja
de souvenirs.
— Você precisa levar alguma coisa para lembrar desse passeio! — disse ela,
me entregando um globo de neve com o Palácio de Buckingham dentro.
— E você acha que vou esquecer? Mas quer saber, vou levar o globo sim.
Acho que ficaria ótimo no meu quarto — disse, rindo e colocando o globo
na cestinha.
Com as sacolas em mãos, Cat decidiu me levar para Covent Garden. As
ruas estavam cheias, e era tudo tão vibrante que eu me sentia em um filme.
Passamos por artistas de rua e paramos para assistir a um mágico que fazia
truques com cartas.
— É aqui que Londres mostra toda a sua alma — comentou, sorrindo
enquanto me observava apreciar o lugar. — Quando vejo a cidade pelos
seus olhos, Serena, percebo o quanto ela é especial.
Senti uma pontada de gratidão. Ter uma amiga como Cat aqui fazia toda a
diferença.
— E sabe, eu nunca teria conhecido Londres assim se não fosse por você.
Obrigada por me fazer sentir que pertenço a este lugar.
Ela me abraçou de lado e então seguimos para um café aconchegante no
Soho. Entre cappuccinos e risadas, ela me contou histórias de sua infância
em Londres, e eu me senti mais em casa do que nunca.
CAPÍTULO 4

FILIPPO ROMANO
Estou completamente abismado com o que acabei de escutar do meu melhor
amigo. Ethan, sempre tão ponderado, metódico e cuidadoso, fez algo que
jamais imaginei. Casar em segredo… com Ava, sem avisar ninguém. Sabia
da paixão que ele nutria por ela, claro, mas isso… isso é loucura até para
ele. Minha mente está correndo em várias direções, tentando entender como
isso pôde acontecer sem eu sequer perceber.

Fico olhando para Ethan, tentando processar as palavras dele. Meu peito se
aperta com a dimensão das consequências que isso pode trazer. Ava não é
qualquer mulher. Ela é a filha de Severo Smith, um dos homens mais
poderosos e perigosos que conhecemos. E mais, ele odeia Ethan com uma
intensidade quase palpável.

— Que loucura é essa, Ethan? — finalmente consigo dizer com minha voz
carregada de incredulidade. — Estou sem palavras. Não sei nem o que te
dizer.

Ethan dá um sorriso desafiador, típico dele quando está prestes a encarar


uma tempestade de frente.
— Casei, contra tudo e contra todos. — Ele repete com a mesma
tranquilidade de quem não tem ideia da dimensão do problema em que
acaba de se meter.

— E o que Severo Smith deve estar pensando agora? — pergunto já


imaginando o caos que isso pode causar. — O cara simplesmente te odeia,
Ethan. E você foi lá e casou com a filha dele?

Não consigo evitar o tom de reprovação. Mesmo sendo o melhor amigo


dele, sei que estou lidando com uma bomba-relógio prestes a explodir. O
olhar de Ethan, no entanto, é firme. Ele sabe o que fez e, pelo visto, não está
nem um pouco arrependido.

— Severo pode me odiar o quanto quiser. — Ele respira fundo, mantendo o


tom calmo, quase como se estivesse convencido de que tudo vai se ajeitar.
— Mas eu amo Ava, Filippo. E ela me ama. Isso é o que importa.

Minhas mãos passam pelos cabelos. Eu entendo o que ele sente, mas isso
não muda o fato de que Ethan acabou de se meter em uma briga com um
dos homens mais poderosos de Nova York. Conheço muito bem a família
Smith e minha família já fez negócios com eles. Tento pensar em algo que
possa fazer, uma maneira de ajudá-lo a sair dessa enrascada, mas a única
coisa que me vem à cabeça é a fúria de Severo quando descobri o que seu
genro secreto acabou de fazer.

— Ethan, você tem noção do que isso significa? — pergunto tentando


manter a calma — O Severo não vai aceitar isso assim, simplesmente. Ele
vai te caçar.

— Eu sei, Filippo. — Ele me olha, deixando escapar um pouco de tensão.


— Mas eu não tinha outra escolha. Severo nunca iria permitir que
ficássemos juntos. Casar foi a única maneira de garantir que ela não fosse
arrancada da minha vida.

Fico em silêncio, absorvendo suas palavras. Ele está certo em uma coisa,
Severo nunca teria deixado essa relação acontecer. Mas, ao mesmo tempo,
Ethan se precipitou. Ele sabia o risco, e mesmo assim se jogou de cabeça.

— Cara, você está apostando alto demais — murmurei, passando a mão no


cabelo — Isso vai custar caro, Ethan.

Ele se levanta, andando pela sala, como se estivesse ponderando tudo pela
milésima vez. Eu sei que ele está certo sobre seus sentimentos, mas também
sei que o que vem pela frente não será nada fácil.

Ele ainda não sabe quem sou de verdade, o que minha família faz. Mas,
como amigo, farei o possível para protegê-lo. Sei que, quando ele descobrir,
ele pode fazer mal a Ethan e não deixarei isso acontecer.

— Eu sei o que estou fazendo, Filippo. — Ele finalmente diz, olhando


diretamente para mim. — E vou lutar por isso.

Acho que não tem mais nada o que fazer, é só esperar as consequências.

***

Duas semanas se passaram desde aquela conversa que tive com Ethan. O
clima entre nós mudou por uns dias, mas eu sempre o escutava. Eu sabia
que as coisas não estavam fáceis para ele, mas não imaginava o que viria a
seguir. Desde que Ethan me contou sobre o casamento, a tensão entre ele e
Severo Smith se intensificou. Por mais que eu tentasse, nada parecia
conseguir tranquilizá-lo ou fazê-lo enxergar as consequências de seus atos.
Até hoje.

Estou em meu escritório planejando a abertura da minha boate quando


recebi a ligação. A voz de Ethan está pesada, carregada de algo que nunca
senti nele antes. Raiva. Dor. Ele me pediu para encontrá-lo em um café
discreto da cidade, e eu vou sem hesitar.

Chego ao local e o encontro já sentado, com um copo de café intocado à sua


frente. É bem estranho pra mim, mas Ethan raramente bebe e prefere
lugares assim. E respeito as suas preferências.

Quando ele me vê, suspira profundamente, como se estivesse se preparando


para uma conversa que ele mesmo não quer ter.

— Filippo… — ele começa, olhando para baixo. — O pai de Ava…


Severo… ele faleceu.

Fico em silêncio por um momento, processando o que ele acabou de dizer.


Embora Severo fosse um inimigo declarado de Ethan, isso certamente
complicaria as coisas para ele e Ava. A morte do pai muda tudo.

— Sinto muito — digo, mais por educação do que por qualquer outra coisa.
Severo não era um homem que inspirava empatia, mas sua morte
certamente criaria uma onda de consequências.

Ethan balança a cabeça, o rosto mais sombrio do que nunca.

— Ava teve que voltar para casa para cuidar das coisas da família. Mas,
Filippo… — ele faz uma pausa, o maxilar tenso, como se as próximas
palavras fossem difíceis de soltar. — Ela me deixou uma carta.

— Quando fui à casa dos pais dela, a mãe dela me entregou isso e disse que
ela não queria mais me ver.

O silêncio entre nós é quase sufocante enquanto espero ele continuar.

— Na carta, ela me disse para me afastar dela. Que… sua voz falha por um
momento. — Que ela nunca me amou de verdade. Eu era apenas um
brinquedo dela para se divertir. Disse, amassando a carta com ódio.

A revelação me chocou por uns segundos. Ethan sempre foi forte, sempre
seguro de suas decisões, mas agora vejo alguém destruído. Alguém que
entregou seu coração e foi brutalmente destruído. Tento manter minha
expressão neutra, mas por dentro estou preocupado com o que isso fará com
ele.

— O que você quer dizer com 'nunca te amou de verdade'? — pergunto,


tentando entender o que realmente aconteceu.

Ethan aperta os punhos, a raiva transparece em seu olhar.

— Ela disse que tudo foi um erro. Que nosso casamento foi um impulso
estúpido, e que eu nunca deveria ter me envolvido com ela. E agora… eu
assinei os papéis do divórcio e entreguei para o advogado da família dela.
Está acabado. — Ele solta uma risada amarga. — Simples assim.

Fico em silêncio por um momento, tentando encontrar as palavras certas.


Sempre o alertei sobre os riscos de se envolver com Ava, mas nunca
imaginei que as coisas terminariam assim, de forma tão fria. Ava sempre me
pareceu apaixonada por ele, mas agora não tenho certeza de mais nada.

— Cara, eu sinto muito — digo, genuinamente. — Eu tentei te avisar,


Ethan, mas ninguém poderia prever que terminaria assim.

Ele me olha, os olhos ardendo de fúria e dor.

— Eu a odeio, Filippo. Juro que nunca mais quero vê-la. Como ela pôde
fazer isso? — Ele diz, socando a mesa com força. — Eu estava disposto a
enfrentar tudo por ela, e ela me jogou fora como se nada disso importasse.

Respiro fundo, vendo o quanto essa situação o afetou. Ethan não é o tipo de
homem que se entrega fácil, mas quando se entrega… ele vai até o fim. E
agora, ele está quebrado.

— O que você vai fazer? — pergunto calmamente.

Ele solta um longo suspiro, passando as mãos pelo cabelo.

— Estou indo embora. Vou para Londres, ficar com Serena por um tempo.
Preciso de distância daqui, de tudo que me lembre dela — diz com firmeza.
— Serena não sabe de nada ainda. Só sabe que vou visitá-la, mas preciso de
tempo. Preciso de um recomeço.

Fico observando ele por alguns segundos, reconhecendo o peso de suas


palavras. Londres pode ser a fuga de que ele precisa, o tempo longe para se
recompor. Serena é sua irmã, e sei que ela cuidará dele.
Minha doce garotinha, faz meses que ela foi embora e confesso que sinto
falta dela. Ela era um bálsamo para minha vida, amava conversar com ela.
Ela era como uma irmã mais nova que sempre a protegia de longe.

Mas no dia daquele pedido, eu fui um grande idiota com ela. Saber pelo seu
irmão a paixão dela por mim me abalou. Eu destruí seu coração. Só espero
que ela esteja bem, eu sempre vou a ver como uma irmã e nada mais, além
disso.

— Talvez seja o melhor, Ethan — digo, assentindo. — Londres pode te dar


o espaço de que você precisa para começar de novo. Mas lembre-se: não
importa aonde você vá, o que importa é se você consegue deixar tudo isso
para trás.

Ele faz um aceno de cabeça, concordando, embora seu olhar ainda esteja
fixo em algum ponto distante, como se estivesse lutando com seus próprios
demônios.
— Eu vou deixar para trás, Filippo. Preciso deixar. — Sua voz é baixa, mas
determinada.
— E como esta serena?
— Mais focada do que nunca nos estudos. Sorrio com sua resposta.
Nos levantamos, e ele estende a mão para mim. Aperto sua mão com
firmeza, um gesto silencioso de apoio.
— Boa sorte em Londres. Espero que você encontre sua felicidade
novamente — digo sinceramente.
Ethan sorri, mas é um sorriso cansado, desprovido da energia habitual que
ele sempre teve.
— Obrigado, Filippo. Eu te devo muito, sempre me apoiou, mesmo quando
eu não queria ouvir seus conselhos. Nos falamos por lá, certo?
— Sempre. Qualquer coisa, você sabe onde me encontrar. Mande um
abraço pra Serena.
— Isso vai ser difícil de fazer. Diz com um semblante mais descontraído. —
Ela te odeia.
Sua resposta me deixou um pouco triste, mas sei que isso é melhor para ela.
— É a melhor coisa que ela pode fazer.
Eu nunca queria causar esses sentimentos nela, mas sei que isso é a melhor
coisa que poderia ter feito.
Nos despedimos e, enquanto vejo Ethan se afastar, percebo que ele está
partindo em busca de algo mais do que apenas uma nova cidade. Ele está
indo embora para reconstruir os pedaços de si que Ava quebrou.
Assim que Ethan se afasta, respiro fundo, tentando tirar da cabeça o peso
daquela despedida. Eu sabia que seria difícil, mas vê-lo destruído pela
traição de Ava me deixou com uma sensação amarga, o que fez eu lembrar
da dor de Serena. Fiz quase a mesma coisa que Ava fez, feri seus
sentimentos. A diferença é que não tínhamos nada e sei que essa dor vai
passar. Mas agora, minha atenção precisa estar em outro lugar. Tenho
responsabilidades que não consigo ignorar.
Meu celular vibra no bolso, e ao ver o nome de Leon piscando na tela, meu
foco muda completamente. Meus irmãos e eu temos negócios a resolver, e
não é o tipo de coisa que se pode esperar. Nosso pai confia em nós e
precisamos estar a serviço a todo o momento.
— Filippo, onde você está? — A voz de Leon soa urgente do outro lado da
linha.
— Saí de uma conversa com Ethan. O que está acontecendo? — pergunto,
já sentindo que algo grande está prestes a acontecer.
— Temos uma missão importante. Matteo já está no galpão. Preciso que
você vá para lá agora. — O tom de Leon é sério, direto. Não há espaço para
perguntas. Só o suficiente para saber que algo importante está prestes a
acontecer.
— Estou a caminho — respondo sem hesitar, desligando a ligação.
Acelero o carro pelas ruas da cidade, a mente já ajustada para o que está por
vir. Trabalhar com Leon e Matteo significa que cada missão exige precisão
e total concentração. Somos irmãos, mas no mundo em que vivemos, a
confiança entre nós vai além dos laços de sangue. É questão de
sobrevivência.
Ao chegar no galpão, a escuridão do local só é quebrada pelas poucas luzes
amareladas que iluminam a entrada. Matteo está encostado em um dos
pilares, os braços cruzados, enquanto Leon anda de um lado para o outro,
com seu celular na mão, claramente irritado com algo.
— Finalmente — Leon diz quando me vê. — Temos pouco tempo, então
vou direto ao ponto. Recebemos informações de que um carregamento
importante da nossa mercadoria foi interceptado. E temos certeza de quem
está por trás disso.
Me aproximo de Matteo, que apenas me dá um breve aceno com a cabeça,
já sabendo que eu compreendi a gravidade da situação. Quando Leon fala
de interceptação de mercadoria, não se trata apenas de negócios. Qualquer
movimento contra nossa organização é um ataque direto à nossa família.
— Quem ousou tocar no que é nosso? — pergunto, enquanto meus olhos
percorrem o galpão ao redor, como se já estivesse me preparando para o que
viria a seguir.
Leon fecha o punho com força, os olhos escuros, revelando uma raiva
contida.
— Demétrio Ferelli. Ele está tentando nos desafiar abertamente. — A voz
dele está cheia de desprezo. Mas não sabe com quem estão mexendo.
Demétrio Ferelli. O nome sozinho já é suficiente para fazer meu sangue
ferver. Ferelli sempre foi um problema, alguém que se acha grande o
suficiente para nos enfrentar. Mas agora, ao tocar no nosso negócio, ele
cruzou uma linha que não deveria.
— Ele está brincando com fogo — murmuro, minha mente já começando a
traçar um plano. — Qual é o plano? Como vamos responder?
Matteo se afasta do pilar e se aproxima de nós, seu semblante duro como
sempre.
— Vamos recuperar o que é nosso, Filippo. — Sua voz é baixa, mas
carregada de determinação. — O plano é simples: vamos rastrear o
carregamento e interceptá-lo antes que Demétrio tenha a chance de
distribuir qualquer coisa. E quando encontrarmos ele… bom, ele pagará
caro.
Leon sorri de lado, um sorriso que nunca prometia nada de bom para quem
está do outro lado.
— Vamos fazer isso do nosso jeito. Rápido e eficiente. Precisamos cortar o
mal pela raiz antes que Ferelli ache que pode se igualar a nós — ele diz,
pegando sua arma da cintura e a checando com precisão.
Respiro fundo, sabendo o que está por vir. Missões como essa não
costumam terminar pacificamente, e todos nós sabemos disso. Demétrio
Ferelli não é um adversário qualquer. Ele sabe como se movimentar, mas o
que ele não entende é que quando mexe com a nossa família, não há volta.
Estamos prontos para responder com o máximo de força.
— Qual o próximo passo? — pergunto, já colocando minha mente no modo
de ação.
— Temos um dos homens de Demétrio preso no porão — Matteo responde.
— Vamos interrogá-lo, descobrir onde o carregamento está e depois nos
preparar para atacar. Ele vai nos dar o que precisamos, quer ele queira ou
não.
Assenti em silêncio. Esse é o nosso mundo. Não há espaço para piedade ou
dúvidas. Ferelli cometeu um erro ao nos desafiar, e agora, é hora de mostrar
que ele mexeu com a família errada.
Enquanto seguimos para o porão, sinto a adrenalina começar a correr pelo
meu corpo. Missões como essa sempre trazem um risco alto, mas também
nos lembram de quem somos e do que estamos dispostos a fazer para
proteger o que é nosso.
Ao descer as escadas para o porão, vejo o homem amarrado em uma
cadeira, suado e visivelmente assustado. Ele sabe o que está por vir. Ele
sabe que sua vida está em nossas mãos agora.
— Vamos começar. — Leon diz, e me preparo para o que será uma longa,
mas necessária, sessão de perguntas.
Ferelli pode ter achado que sairia impune dessa, mas ele não conhece nossa
família. Não ainda.
Leon se aproxima lentamente, com o olhar fixo no homem. Ele sempre foi o
mais frio entre nós, calculista e será um ótimo chefe quando chegar a hora
certa. Seu jeito intimidador faz o interrogatório começar antes mesmo de
qualquer palavra ser dita. Matteo, por outro lado, é o mais direto. Ele
caminha até o capanga, para bem na frente dele, e agarra seu queixo com
força, levantando o rosto pálido do homem para encará-lo de frente.
— Você sabe por que está aqui, não sabe? — Matteo rosna, a voz firme e
cheia de ódio contido.
O homem tenta engolir em seco, mas mal consegue abrir a boca. Ele
balança a cabeça afirmativamente, os olhos arregalados de medo.
— Onde está o carregamento? — pergunto, aproximando-me com calma,
tentando manter a voz controlada.
— Eu… eu não sei… — o homem gagueja, mas não termina a frase. Leon
já está atrás dele, segurando sua arma com firmeza contra a cabeça do
capanga.
— Eu não tenho paciência para mentiras, amigo. Você quer sair daqui vivo?
Então, é melhor começar a falar a verdade — diz Leon, apertando o cano da
arma contra a nuca dele.
O capanga se contorce, desesperado, e finalmente solta a informação que
estamos esperando.
— Está… está num armazém… no porto… Ele… ele está esperando para
distribuir amanhã! — ele grita a resposta que queríamos.
Troco um olhar rápido com Matteo e Leon. O plano está claro. Demétrio
tentou se adiantar, mas com essa informação, estamos um passo à frente
dele. Esse armazém no porto será seu túmulo.
— Boa escolha — digo calmamente, enquanto Leon afasta a arma da
cabeça do capanga.
— Agora, só nos resta cuidar de Demétrio — Matteo conclui, a voz dura e
definitiva.
Deixamos o capanga no porão, sua utilidade chegou ao fim. Caminho em
direção ao carro com Leon e Matteo, o silêncio entre nós não é de dúvida,
mas de preparação. Sabemos o que precisa ser feito. Demétrio ousou se
meter nos nossos negócios, desafiou nossa família, e agora ele pagará o
preço. Não há outra opção.
Chegamos ao porto no final da noite. A luz fraca dos postes ilumina o
grande armazém à nossa frente. Tudo está quieto, mas sabemos que ele está
lá dentro. O cheiro de óleo e mar se mistura com a tensão no ar. Cada um de
nós sabe que, a partir daqui, não há mais volta.
Matteo me dá um sinal, e silenciosamente, nos movemos pelas sombras.
Nossos passos são leves, mas calculados, enquanto nos aproximamos da
entrada. Dois dos homens de Ferelli estão de guarda do lado de fora… Leon
se aproxima por trás de um deles e, num movimento rápido, silencia o
guarda com uma faca no pescoço. Matteo faz o mesmo com o outro, ambos
caindo no chão sem som algum.
Nos infiltramos no armazém, onde os contêineres empilhados formam
corredores estreitos. Sabemos onde ele está. A informação do capanga foi
precisa. Ele está no fundo, junto ao carregamento roubado, acreditando que
ainda tem o controle.
O tempo parece desacelerar enquanto nos movemos pelo local. O barulho
de passos à frente indica que mais homens estão de guarda, mas não nos
preocupamos. Matteo e Leon se separam de mim para neutralizá-los, e em
poucos minutos, a área está limpa.
Ele está de costas, observando o carregamento com as mãos cruzadas nas
costas, como se tivesse total controle da situação. A arrogância dele me
enoja. Ele acha que nos derrotou.
Matteo avança primeiro, o som de suas botas ecoando. Ele se vira e seu
rosto perde imediatamente a cor ao nos ver.
— Ferelli — digo friamente. — Acabou.
Ele dá um passo para trás com os olhos arregalados. Ele tenta manter a
postura, mas falha miseravelmente.
— Isso é um grande mal-entendido — ele começa, levantando as mãos. —
Podemos negociar…
Leon solta uma risada baixa e incrédula.
— Não há negociação, Demétrio. Você tocou no que é nosso. Agora pagará
o preço.
Ele tenta recuar, mas Matteo já está com a arma apontada diretamente para
ele.
— Não devia ter mexido com a nossa família — Matteo diz, antes de
apertar o gatilho.
Bang… Bang, Bang.
O som do tiro preenche o armazém, e Demétrio cai no chão duro.
É o fim. O homem que ousou nos desafiar agora está morto, e nosso ponto
foi feito. Ninguém mexe com nossa família e sai impune.
Leon e Matteo se aproximam, verificando rapidamente o local. Não há mais
perigo. Ferelli aprendeu da pior forma que desafiar os Romanos é um erro
fatal.
Meu irmão checa as armas que foram roubadas e alguns soldados carregam
para fora.
— Vamos sair daqui — digo, guardando minha arma e caminhando em
direção à saída.
Conseguimos a nossa carga sem nenhum prejuízo.
CAPÍTULO 5

SERENA FONSECA
Depois de um longo dia de estudos, finalmente estou em casa, descansando
na sala com uma xícara de chá nas mãos.
Agora que me mudei para cá, viciei nos chás e todos os dias gosto de
experimentar alguns sabores diferentes.
Meus pensamentos estão a mil, mas agora, uma coisa em especial faz meu
dia ficar ainda melhor: a chegada do meu irmão. Faz tanto tempo que não o
vejo, e a ideia de tê-lo por perto me enche de alegria. Desde que ele me
contou sobre Ava, fiquei ansiosa para conhecê-la. A irmãzinha curiosa,
como ele sempre me chama, mal pode esperar para saber tudo sobre o
casamento deles.
Estou perdida em pensamentos sobre como será essa nova fase da vida do
meu irmão quando ouço meu celular tocar. O nome dele aparece na tela, e
um sorriso involuntário surge em meus lábios e atendo rapidamente.
— Ethan! — digo, animada. — Você já chegou? Quando vai me apresentar
à sua esposa? Estou curiosa demais para conhecer a Ava!
— Serena…
A voz do Ethan não é exatamente o que eu esperava. Ele parece cansado,
abatido, o que me faz franzir a testa imediatamente.
— O que houve? — pergunto, preocupada.
— Preciso te contar algo… Não é exatamente como você está imaginando.
— Ele faz uma pausa, como se estivesse tentando encontrar as palavras
certas, mas só esse silêncio já me deixa nervosa.
— Ethan, fala de uma vez! O que aconteceu? — Insisto.
Ele suspira profundamente antes de começar a falar.
— Eu e Ava… não estamos mais juntos. — Sua voz soa pesada, carregada
de frustração e mágoa.
— Como assim? Vocês se casaram há pouco tempo! — pergunto, tentando
entender o que ele acabou de me dizer. Como é possível? Mal me acostumei
com a ideia de ter uma cunhada, e agora eles não estão mais juntos?
— Foi tudo uma loucura… Me casei com ela porque estava completamente
apaixonado, mas as coisas não são como eu pensava. — Ele faz outra
pausa, como se estivesse revivendo o que aconteceu. — Depois que o pai
dela faleceu, ela teve que voltar para casa. Me deixou uma carta, Serena…
dizendo que nunca me amou de verdade e que eu deveria me afastar.
Minha boca se abre em choque, mas as palavras não saem. Como Ava pôde
fazer isso com o Ethan? Tudo que ele me contou sobre ela, a paixão, a
intensidade… E agora isso?
— Eu… eu não acredito — finalmente digo. — Ela te deixou assim? Sem
mais nem menos?
— É pior do que isso. Ela escreveu na carta que nunca me amou. Que tudo
foi um erro. — A dor na voz dele é palpável. Mesmo à distância, consigo
sentir o quanto isso o afetou.
Meu coração aperta por ele. Vê-lo assim, tão vulnerável e magoado, me
deixa com um nó na garganta.
— E então… você assinou os papéis do divórcio? — pergunto baixinho, já
sabendo a resposta dele.
— Sim, não tinha mais o que fazer. — Ele soltou outro suspiro. — Fiquei
furioso no começo, com raiva dela… de mim mesmo, talvez. Mas agora…
quero distância. Nunca mais quero vê-la.
Sinto a dor do meu irmão através das palavras. Ele sempre foi tão decidido,
tão firme nas suas escolhas, mas dessa vez parece que foi traído pelo
próprio coração. Uma mistura de raiva e tristeza começa a crescer dentro de
mim.
— Ethan, sinto muito… — digo, me esforçando para encontrar as palavras
certas. — Sei que você a amava de verdade. Consigo imaginar o que está
passando agora.
— Não precisa se preocupar, Serena. Estou bem agora. Fiquei irritado,
mas… a raiva foi passando. Agora, só quero seguir em frente. E vir para
Londres era o melhor que eu podia fazer. Preciso estar perto de você e
longe de tudo isso.
— E eu estou feliz que você esteja aqui. Vamos superar isso juntos, Ethan.
— Tento ser forte por ele, mas uma parte de mim ainda está chocada com
toda essa história. Não consigo acreditar que alguém pode fazer isso com o
meu irmão.
— Vou te ver amanhã, irmãzinha — ele diz com sua voz mais leve. —
Preciso dormir um pouco depois dessa viagem.
— Claro. E amanhã a gente conversa mais. — Tento soar o mais animada
possível, mesmo com tudo o que acabei de ouvir.
Quando a ligação termina, fico parada por alguns segundos, olhando para o
celular em silêncio. O destino nos prega cada peça, nós dois saímos de
Nova Iorque por causa do coração ferido. Mesmo que nunca tive nada com
Filippo, doeu demais.
Mas vamos conseguir passar por tudo isso, estou aqui pra ele, e farei o
possível para ajudá-lo a esquecer Ava.
***
A ansiedade de ver meu irmão novamente depois de tanto tempo me
acompanha desde o momento em que acordei. Estou decidida a ser a irmã
forte que ele precisa agora. Sei que deve estar sendo muito difícil para ele
lidar com tudo isso, e quero que ele sinta que pode contar comigo para
qualquer coisa, como ele sempre foi para mim.
Estou na cafeteria próxima ao meu apartamento, tomando um café enquanto
espero por ele. Meus olhos ficam constantemente voltados para a porta, à
espera da sua chegada. Quando finalmente vejo a silhueta familiar do Ethan
entrando, meu coração dá um salto. Ele parece o mesmo de sempre, mas ao
olhar mais de perto, noto as sombras sob seus olhos e o cansaço que ele
tenta disfarçar com um sorriso.
Levanto imediatamente e o abracei bem apertado. É bom tê-lo aqui.
— Irmãzinha — ele diz, com um sorriso sincero, mas cansado, enquanto se
senta na cadeira à minha frente. — Não sabe como é bom estar aqui com
você.
— Também estou muito feliz que você esteja aqui, Ethan. — Respondo
com um sorriso, tentando manter o clima leve, mas meus olhos já estão
estudando seu rosto, buscando entender o que ele realmente está sentindo.
— Mas… me conta tudo. Como você está de verdade?
Ele respira fundo, como se estivesse preparando as palavras que virão a
seguir. Seus dedos tamborilam a mesa por um momento, e então ele
começa.
— Não foi fácil, Serena. — Sua voz é baixa, mas firme. — As coisas
desmoronaram e então veio a carta.
A carta. Ele havia mencionado isso rapidamente na noite anterior, mas
agora, vendo o peso que isso carrega em seu rosto, sinto o impacto real
dessa traição.
— Ela me disse… que nunca me amou. — Ele engole em seco, os olhos
fixos na xícara à sua frente. — Que eu deveria seguir em frente, que tudo
foi um erro. Eu… estava cego, Serena. Cego por ela.
Meu coração aperta ao ouvir isso. Ethan sempre foi tão forte, tão convicto
nas suas escolhas, e agora está aqui, quebrado por uma pessoa que ele
amava tanto.
— Eu não entendo — digo, balançando a cabeça. — Ela parecia tão certa…
tão apaixonada por você. Como pode simplesmente dizer que nunca te
amou?
— Eu também não entendo. Talvez tenha sido o choque da morte do pai
dela, talvez ela estivesse me usando… — Ele faz uma pausa, claramente
frustrado. — Mas, sinceramente, não quero mais tentar entender. Passei
semanas com raiva dela e com raiva de mim mesmo por ter caído no jogo
dela. Mas agora, eu só quero seguir em frente.
— E ela…? — pergunto hesitante, sem querer tocar na ferida, mas curiosa
para saber o que aconteceu depois.
— Ela desapareceu. Não sei onde está agora, nem me importo mais. Assinei
os papéis do divórcio e vim para cá. Não quero nada com ela.
Ele olha para mim, tentando demonstrar firmeza.
— Você fez a coisa certa. Se ela não soube valorizar o que você tinha para
oferecer, então… ela realmente não te merece. — Digo, tentando confortá-
lo, embora saiba que minhas palavras podem soar vazias diante da dor que
ele sente.
Ele sorri.
— Obrigado, Serena. Sério. Eu precisava ouvir isso.
Fico em silêncio por um momento, pensando em como Ava pôde fazer isso
com ele. A raiva começa a crescer em mim, mas a engulo rapidamente.
— E agora? O que você vai fazer sobre seu trabalho? — pergunto
suavemente, mudando de assunto. — Londres é um bom lugar para
recomeçar.
Ele suspira e se recosta na cadeira, parecendo um pouco mais aliviado por
falar sobre o futuro.
— Acho que vou ficar aqui por um tempo. Preciso de um tempo longe de
tudo… e perto de você. Talvez isso me auxilie a me reorganizar. Não sei
exatamente o que vou fazer, mas estar aqui já é um começo.
Eu sorrio, sentindo uma leve onda de alívio por saber que ele pretende ficar.
— Vai ser bom ter você por perto. Londres é incrível, e eu prometo que vou
te mostrar cada cantinho dessa cidade quando você estiver pronto.
— Estou contando com isso, irmãzinha.
Nosso encontro não é o que imaginei inicialmente. Não vou conhecer Ava,
nem ouvir histórias sobre a vida de recém-casados, mas sinto que esse
momento é ainda mais importante. Ethan precisa de apoio agora, e vou estar
aqui por ele em cada passo desse recomeço.
QUATRO ANOS DEPOIS…
Muita coisa mudou, sinto que cresci tanto nesses últimos anos, tanto como
pessoa quanto como futura médica.
Hoje posso dizer que valeu a pena cada desafio e sacrifício que fiz nos
últimos anos.
E hoje também é um dia festivo para mim.
Minha formatura.
Abro as janelas do meu quarto e o sol brilha forte, como se estivesse feliz
por mim.
Londres parece mais linda do que nunca. Abro meu guarda-roupa e olho
para minha beca ainda sem acreditar que estou me formando.
Esperei tanto por esse dia, que sinto minha barriga revirar, minhas mãos
tremerem ao vestir a beca.
Estou tão feliz… Ajeito meu chapéu e me olho no espelho.
Estou tão ansiosa, parece que foi ontem que tudo começou, e agora estou
prestes a me tornar oficialmente médica.
Respiro fundo… Sentindo uma onda de emoções. Sempre sonhei com esse
momento, mas saber que realizei por meus próprios méritos, enfrentando
todas as dificuldades, faz tudo ser ainda mais especial.
Meu irmão está aqui me apoiando desde o primeiro momento. Ele passou os
últimos anos reconstruindo sua vida em Londres, abriu sua própria empresa
de investimento e entrou na lista dos homens mais ricos do mundo. Ver o
quanto ele cresceu e superou tudo me dá um orgulho imenso.
Enquanto me preparo para ir ao local da cerimônia, escuto uma batida na
porta e vejo ser meu irmão.
— Pronta, doutora? Pergunta, entrando com um sorriso orgulhoso.
Sorrio de volta, sentindo uma sensação maravilhosa de gratidão.
— Prontíssima — digo, tentando segurar a emoção.
Ele me puxa para um abraço e sinto todo o amor nesse gesto.
— Eu sempre soube que você chegaria aqui. Diz com sua voz calma e
firme. — Estou tão orgulhoso de você, Serena. Nossos pais devem estar
assistindo lá de cima, orgulhosos de ver nossa princesa, como nosso pai te
chamava, se tornando uma linda mulher, forte e determinada.
Lágrimas começam a derramar pelo meu rosto e, com a palma da sua mão,
ele limpa.
— Obrigada, irmão. Você sabe que não teria conseguido sem o seu apoio.
Nossos pais devem estar orgulhosos lá em cima pelo homem que se tornou.
Você é meu herói. Mesmo diante de todas as dificuldades, você nunca me
abandonou e lutou por tudo que somos hoje.
— Ah, irmã… Te amo.
— Também te amo, irmão. Digo, abraçando-o, forte.
— Ahhhh, esqueci de dizer que Filippo te desejou parabéns.
— Ah, Ethan, pra que estragar o momento?
— Sei que você o odeia, mas ele ainda se preocupa. Reviro os olhos e um
leve sorriso surge em meus lábios.
Não é que eu odeie Filippo, mas na época coloquei expectativas demais e
saí ferida, somente hoje fui entender que as coisas nem sempre acontecem
como desejamos. Mas isso fez-me tornar alguém mais forte que antes.
Por isso, não quero me lembrar dele, é que eu ainda sinto algo…
— Ele ainda se lembra de mim? Brinco rindo. — Ou será que ainda sou a
“irmãzinha”?
Ethan riu.
— Acho que ele vai ter que se acostumar a te chamar de doutora agora.
Nós rimos, e essa leveza é o que eu precisava. Hoje não é mais sobre o
passado, sobre amores não correspondidos ou histórias antigas.
Hoje é sobre a Serena que eu me tornei, a médica que trabalhou duro para
realizar seus sonhos.
CAPÍTULO 6

FILIPPO ROMANO
Enquanto o avião descia para pousar em Londres, eu olhava pela janela,
perdido nos meus pensamentos. Nunca pensei que me sentiria tão nervoso,
talvez? Depois de tudo que vivi, era estranho pensar que um evento tão
simples como a formatura de Serena podia me tirar do eixo. Serena, com
sua personalidade forte e aquele jeito de me tratar como se eu fosse apenas
uma sombra na vida dela, mesmo quando eu só queria o bem dela. Eu
sempre a vi como uma irmã mais nova, e por mais que ela me odiasse por
razões que nem mesmo entendia, isso nunca mudou o que eu sentia.
No meu bolso, o presente que escolhi para ela — um anel simples, mas
elegante, algo que refletia sua força e sua delicadeza. Eu sabia que, no
fundo, ela se surpreenderia, mesmo que revirasse os olhos.
Faz quatro anos que não a vejo e nem sei como está, só sei o que Ethan
sempre me conta dela. E esse presente foi escolhido de coração. Era o
mínimo que eu podia fazer, um pequeno gesto de carinho, como um irmão.
Afinal, por mais distantes que estivéssemos, eu sempre me importei com
aquela garota.
E um anel de formatura era um presente perfeito.
Cheguei a Londres e fui direto para o hotel. Me arrumei com calma, ajeitei
o terno, por um momento pensei em como nosso pai sempre me apoiou nas
minhas escolhas e ver como Ethan faz com Serena é incrível. Meu pai me
deu força e autonomia para abrir meus próprios negócios, sempre
acreditando que eu seria capaz de carregar a responsabilidade. Lembrei-me
do dia em que ele me chamou para conversar sobre abrir as boates. Seu
olhar carregava confiança, aquela confiança silenciosa que só ele sabia
transmitir.
— Filippo, você tem visão, você tem o nosso sangue, mas, mais que isso,
você tem minha confiança. Vá em frente, faça o que precisa ser feito. —
Essas palavras dele ecoam na minha mente. Ele nunca hesitou em me dar
suporte, nunca duvidou de mim, mesmo quando o mundo ao nosso redor
parecia instável.
Eu podia ver claramente o rosto dele naquele dia, a mão firme no meu
ombro, como se estivesse me passando mais do que apenas uma
responsabilidade. Ele estava passando sua confiança, sua fé de que eu seria
capaz de sustentar o nome da nossa família, de honrar nossa família. .
Assim que chegar em casa, quero agradecê-lo por tudo. Agora percebi e
entendi que tudo que ele fez foi pra treinar meu psicológico, ser forte e
enfrentar o mundo sem medo.
Ele sempre me dizia essa frase: “Se quiser nadar entre os tubarões. É
melhor se tornar um deles.”
Meu celular vibrou. Eu não queria atender naquele momento, mas quando
vi que era Leon, um calafrio percorreu minha espinha. Algo estava errado.
Atendi, e a voz grave de Leon me atingiu como um soco no estômago.
— Filippo, precisamos de você… Nosso pai… ele foi assassinado. Diz
direto com sua voz embargada.
Aquelas palavras quebraram algo dentro de mim. O silêncio que se seguiu
foi ensurdecedor. Meu coração martelava no peito enquanto eu tentava
processar o que acabara de ouvir. Nosso pai, o homem que era uma rocha,
uma fortaleza inabalável, estava morto. Senti uma onda de dor e raiva subir
pela minha garganta, quase me sufocando. Ele estava morto, e eu não estava
lá. Não estava lá para protegê-lo, para defender a sua vida.
— Como assim? — Minha voz saiu mais fria do que eu imaginava. O
mundo ao meu redor começou a girar e tudo o que eu conseguia pensar era
na última vez que falei com ele. Na última vez, ele colocou a mão no meu
ombro e disse confiar em mim. Como eu podia tê-lo deixado?
— Não sabemos os detalhes ainda. Foi uma emboscada. Precisamos de
você aqui agora. — Leon parecia distante, quase tão chocado quanto eu,
mas ele sabia que não havia tempo para fraquezas.
Não… Isso não pode ter acontecido. Acorda Filippo, isso só pode ser um
pesadelo.
Fechei os olhos, lembrando-me dos momentos em que meu pai, mesmo
sendo duro, mostrava sua humanidade comigo. Quando me deixou abrir as
boates, me deu liberdade para crescer e, acima de tudo, me preparou para
assumir responsabilidades maiores. Ele sabia que o mundo que construímos
era implacável, e agora esse mesmo mundo o havia tirado de nós.
Abri os olhos e olhei para o anel na minha mão. Não havia mais tempo para
isso. Minha mente já estava longe, em casa, onde minha família precisava
de mim.
— Estou indo. — Respondi a Leon, sentindo tudo desmoronar dentro de
mim.
Desliguei o telefone e, por um momento, fiquei parado, olhando para o
nada. O peso do que havia acontecido era sufocante. Eu sempre soube que
nossa vida era perigosa, que isso poderia acontecer a qualquer momento,
mas nunca estamos prontos para perder alguém assim. Especialmente ele.
Pai… Por quê? A dor em meu peito era forte, inexplicável.
Eu deveria estar na formatura de Serena, vendo-a se formar, alcançando
seus sonhos. Mas agora, o destino me chamava para outra luta. Guardei o
anel de volta no bolso e saí do hotel prestes a declarar guerra.
Carlos se aproximou, ajustando o paletó enquanto me observava com uma
expressão de expectativa.
— Pronto para a cerimônia, chefe? — ele perguntou, com um leve sorriso
no rosto, como se estivesse tentando aliviar a tensão daquele momento.
Minha mente, no entanto, estava distante, presa na chamada que havia
acabado de receber. As palavras ainda ecoavam na minha cabeça, um peso
insuportável que parecia me esmagar a cada segundo que passava. Eu
engoli em seco, sentindo um nó se formar na garganta. Era difícil encontrar
as palavras, difícil aceitar.
— Carlos… — comecei, com minha voz mais baixa do que o normal. —
Precisamos voltar para Nova Iorque.
Ele franziu o cenho, claramente confuso com a mudança repentina. Seus
olhos me analisavam, tentando entender o que havia acontecido.
— O que houve, chefe? Algo errado?
Respirei fundo, tentando manter a compostura. Sentia o chão desabar sob os
meus pés, mas não podia demonstrar fraqueza. Não agora, não ainda.
— Meu pai… — Minha voz falhou por um segundo. — Meu pai foi
assassinado.
O silêncio que se seguiu foi esmagador. Vi o choque atravessar o rosto de
Carlos, seus olhos se arregalando em descrença, como se tentasse processar
o que eu havia acabado de dizer.
— Não… — ele balbuciou, quase sem ar. — O Dom... assassinado?
Como… como isso pode ter acontecido?
Ele estava em estado de choque, assim como eu havia ficado quando recebi
a notícia. Era inconcebível. Meu pai, o homem que controlava tudo com
mãos de ferro, o pilar da nossa família, estava morto.
Apertei o maxilar, tentando manter o controle. Precisava manter o controle.
— Não sabemos os detalhes ainda — respondi friamente, mais como uma
defesa do que qualquer outra coisa. — Precisamos voltar imediatamente.
Carlos assentiu lentamente, ainda tentando digerir a informação. Era claro
que a notícia o abalara profundamente. Meu pai não era apenas o dom, ele
era uma figura paterna para todos os homens sob o nosso comando. Era
respeitado, temido e, de certa forma, amado por aqueles que sabiam que,
apesar da dureza, ele sempre cuidava de sua família… e isso incluía seus
soldados e todos que trabalhavam para a família Romano
— Ele sempre foi como um pai para nós todos… — Carlos murmurou,
quase para si.
Eu o observei por um instante, vendo o reflexo de minha própria dor em seu
rosto. Meu pai tinha essa habilidade única de conquistar o respeito e a
lealdade absoluta de todos ao seu redor. Ele era o tipo de líder que nunca
hesitava, que sempre sabia o que fazer. E agora ele estava morto. O
pensamento me golpeou com uma força brutal, fazendo com que minha
respiração se acelerasse.
Carlos já estava pegando o telefone, organizando tudo para nossa partida.
Mas minha mente estava presa em memórias do meu pai, lembranças que
agora pareciam distantes, quase irreais. Ele sempre me deu apoio, sempre
acreditou em mim, mesmo quando o mundo parecia desmoronar. Foi ele
quem me encorajou a abrir meus próprios negócios, a seguir minha intuição
e a construir algo maior. Eu podia ouvir sua voz, firme e confiante:
— Filippo, você tem visão. Você é meu filho, e confio em você para fazer o
que precisa ser feito. Vá em frente e mostre a todos do que você é capaz.
Essas palavras, que antes me enchiam de orgulho, agora pesavam como
uma carga insuportável. Ele confiou em mim. Ele acreditou em mim. E
agora, eu não estava lá para protegê-lo. O remorso me consumia, mas havia
algo mais profundo que começava a crescer dentro de mim: raiva.
— O jato estará pronto em uma hora, senhor — Carlos informou,
quebrando o silêncio pesado.
Assenti, mas minhas mãos estavam cerradas em punhos, os músculos tensos
debaixo do terno. Não podia mostrar fraqueza agora. Precisava estar pronto
para o que viria. Alguém ousou desafiar a Família Romano. E essa pessoa
pagaria caro por isso. Não importa quem fosse.
Dois dias depois…
O funeral do meu pai. Uma cena que eu jamais imaginei que teria que
presenciar tão cedo. Diante do caixão daquele que sempre foi o pilar de
nossa família, o líder indomável, o homem que parecia invencível. Agora,
ali, imóvel. A frieza da morte apagou aquela presença imponente que
sempre dominava qualquer ambiente.
Eu deveria ser forte. Era isso que ele sempre me ensinou. “Nunca mostre
fraqueza, Filippo. Os inimigos sempre estarão à espreita, esperando uma
oportunidade para atacar. Seja a muralha que protege nossa família.” Mas
naquele momento, vendo meu pai envolto em silêncio eterno, uma parte de
mim queria desmoronar.
Os murmúrios em torno do velório não paravam. Pessoas da alta sociedade,
soldados leais da máfia, todos ali para prestar seus respeitos. Mas o que são
os respeitos? Uma convenção vazia? Ele estava morto, e nenhum desses
homens seria capaz de preencher o vazio que ele deixou. Ele era o dom. O
líder que manteve todos unidos, mesmo nos momentos mais sombrios.
Olho para Leon, meu irmão. Ele se mantém firme, como sempre, mas posso
ver o peso da perda em seus olhos. Matteo está ao lado dele, em silêncio,
sempre calculista, mas também abalado. Estamos todos perdidos, cada um
lidando com essa dor de uma maneira diferente. Mas sou eu quem sente o
maior peso agora. Eu, Filippo, seu filho mais jovem, aquele que acreditava
que poderia trilhar um novo caminho com as boates que construímos juntos.
Lembro-me das conversas que tivemos antes de tudo isso, seu olhar de
aprovação quando mencionei as minhas ideias de expandir os negócios. Ele
acreditava em mim, como ninguém mais. Eu queria fazer meu pai
orgulhoso, queria mostrar que podia carregar o nome Romano com a
mesma força que ele. Agora, essa responsabilidade pesava como uma
âncora em minhas costas. A família espera que eu assuma meu lugar ao
lado de Leon e Matteo, e eu o farei, mas isso não diminui a dor.
— Filippo — a voz de Leon corta meus pensamentos. Ele se aproxima,
colocando a mão no meu ombro. — Precisamos ser fortes agora. Você sabe
disso.
Assenti lentamente, sem dizer uma palavra. Ele tem razão. Ser forte. Mas a
força não apaga a realidade de que perdemos o homem que moldou nossas
vidas, que me moldou. E agora, estou à deriva.
O caixão começa a ser baixado, e o som da terra sendo jogada sobre ele é
insuportável. Cada punhado de terra parece um golpe direto no meu peito.
Enterrar meu pai. Jamais pensei que viveria esse momento. Sinto uma onda
de raiva crescente. Não sabemos quem foi o responsável por isso ainda, mas
posso sentir que logo saberemos. E quando soubermos, não haverá
misericórdia. Ninguém toca em um Romano sem sofrer as consequências.
E, no meio de tudo isso, há um vazio terrível. Quem somos sem ele? Eu me
pergunto. A máfia tem suas leis, sua hierarquia, mas ele era o coração de
tudo. Será que estou pronto para assumir parte desse fardo? Será que algum
de nós está?
O vento sopra frio, e eu me afasto um pouco, incapaz de continuar olhando
o caixão desaparecer sob a terra. Meu corpo está ali, presente, mas minha
mente está em outro lugar, processando lentamente essa nova realidade.
Precisamos retomar o controle, precisamos reagir. O legado de meu pai não
termina aqui.
Enquanto as últimas palavras são ditas, uma promessa silenciosa se forma
dentro de mim. Vou honrar o nome Romano.
Vamos descobrir quem fez isso. E vou garantir que o que ele construiu não
desmorone.
Porque é isso que ele esperaria de nós.
A nova realidade se formava ao nosso redor. Leon, meu irmão mais velho,
assumiria o comando. Era inevitável. Ele sempre foi o braço firme, o
homem que entendia o jogo do poder como ninguém. Matteo, com sua
sagacidade e frieza, seria seu subchefe, o braço direito. E eu… eu me
tornaria o consigliere. O conselheiro é aquele que ajuda a guiar, a manter a
família forte e unida.
Meu pai sempre disse que eu tinha um jeito para enxergar o que os outros
não viam, para prever problemas antes que eles surgissem. Ele acreditava
que eu seria a chave para manter o equilíbrio, para proteger a nossa família
dos inimigos que sempre espreita, esperando uma oportunidade.
Mas agora, com ele morto, o peso da responsabilidade se abatia sobre nós.
Eu sabia que Leon e Matteo estavam preparados para seus papéis, mas o
meu? Ser consigliere era mais do que ser apenas o estrategista. Eu teria que
manter a paz, garantir que nossos aliados continuassem fiéis e que nossos
inimigos fossem neutralizados antes de representarem uma ameaça.
— Filippo, você será meu conselheiro. Confio em você para manter nossa
família segura. Você tem o olhar para o que os outros não conseguem ver.
— Honrarei nossa família irmão.
É uma promessa que eu não poderia quebrar. Eu iria honrar o nome
Romano, ao lado de Leon e Matteo. E quem quer que tenha ousado matar
nosso pai, pagaria com a própria vida.
CAPÍTULO 7

SERENA FONSECA
Estava na sala de estar quando Ethan entrou com uma expressão séria.
— Serena, preciso te contar algo — ele disse, sentando-se ao meu lado no
sofá. Seu tom de voz já me avisava que não era uma boa notícia.
— O que houve, Ethan? — perguntei, sentindo meu coração acelerar.
Ele respirou fundo antes de responder.
— O pai do Filippo… foi assassinado.
As palavras ecoaram na minha cabeça como um soco. O pai de Filippo…
morto? Era surreal. Meu coração apertou instantaneamente, e senti uma
onda de choque atravessar meu corpo.
— Meu Deus, Ethan… — murmurei, sem conseguir esconder o espanto na
minha voz. — O Filippo deve estar devastado…
Eu nunca fui próxima de Filippo como Ethan era. Na verdade, sempre tentei
manter certa distância, especialmente devido aos sentimentos confusos que
tinha por ele desde a adolescência. Mas mesmo com essa distância, eu sabia
o quanto o pai dele significava para ele. Filippo era muito reservado, mas
nas poucas vezes em que Ethan mencionava a família Romano, era claro
que o pai dele era uma figura central, uma inspiração para ele. Perder um
pai assim… e de uma forma tão violenta? Isso me deixou completamente
abalada.
— Eu vou para Nova York — Ethan disse, quebrando o silêncio. — Preciso
estar lá para apoiar meu amigo. Ele precisa de força agora mais do que
nunca.
Assenti, ainda processando o que ele havia dito. Era claro que Filippo
precisaria de Ethan ao lado dele. Eles sempre foram mais que amigos; eram
como irmãos, sempre se apoiando, e no momento mais difícil de nossas
vidas, ele nos ajudou. E agora, mais do que nunca, Filippo precisaria de
alguém que lhe desse suporte.
— Claro, Ethan, você precisa ir — respondi com calma. — Diga a ele
que… que eu sinto muito. Que lamento pela perda dele. Isso deve estar
sendo horrível…
Minha mente começou a vagar, imaginando o que Filippo estaria sentindo
agora. Mesmo com a barreira que sempre mantive entre nós, eu sabia que
ele era um homem forte, mas também alguém com uma grande carga
emocional quando se tratava da família.
Senti uma pontada de tristeza por ele, mesmo que eu tentasse, muitas vezes,
ignorar qualquer ligação que eu pudesse ter com Filippo. No fundo, a perda
de alguém tão importante assim mexia com qualquer um. E Filippo…
Filippo, por mais que eu tenha tentado afastá-lo dos meus pensamentos ao
longo dos anos, sempre esteve presente de alguma forma.
— Serena — Ethan me chamou novamente, me tirando dos meus
pensamentos. — Você vai ficar bem aqui? Não sei quanto tempo ficarei
fora.
— Vou ficar bem — garanti, apesar de ainda estar absorvendo a notícia. —
Vá e apoie o Filippo. Ele precisa de você.
Ethan assentiu, pegando as malas que já estavam preparadas. Assim que ele
saiu, fiquei ali, sozinha, tentando processar tudo. O pai de Filippo foi morto.
Assassinado. O que aconteceu para ele ser morto?
Eu estava em silêncio, tentando processar a notícia da morte do pai de
Filippo, quando ouvi batidas frenéticas na porta. Eram rápidas e
desesperadas, como se a pessoa do outro lado estivesse à beira de um
colapso. Fui até a porta, com o coração acelerado, e quando abri, me
deparei com Catherine, com os olhos arregalados e o rosto pálido.
— Serena… Eu… — ela começou, sem conseguir respirar direito. Ela
estava claramente perturbada.
— Cat, o que aconteceu? — perguntei, puxando-a para dentro e fechando a
porta atrás dela.
Ela entrou cambaleando, respirando de forma entrecortada, e eu a guiei até
o sofá. Algo sério havia acontecido, e isso me preocupava. Nunca a vi desse
jeito.
— Serena… o chefe… o chefe do meu pai… foi assassinado! — Catherine
exclamou e senti sua voz carregada de pavor.
— O quê? Como assim? — perguntei, confusa.
Nossa… No mesmo dia, recebi duas notícias tristes.
Que coisa mais estranha…
Catherine começou a chorar, passando as mãos pelo cabelo em um gesto
desesperado. Havia algo que ela estava tentando me dizer, algo que ia muito
além de qualquer coisa que eu pudesse imaginar.
— Serena, preciso te contar uma coisa… — ela disse, ainda trêmula. —
Mas você precisa prometer que nunca vai contar isso para ninguém. Nunca.
— Seus olhos me encararam, implorando.
— O quê? Cat, o que está acontecendo? — perguntei, com o coração
batendo mais forte. Já estava começando a temer o que ela ia dizer.
Ela engoliu em seco e, com a voz baixa, como se até as paredes pudessem
escutar, revelou:
— Minha família… nós estamos… envolvidos com a máfia. Meu pai é o
contador deles. O chefe do meu pai… ele era o dom. O líder da máfia. E ele
foi assassinado…
Fiquei completamente congelada. As palavras dela ecoavam na minha
mente. Máfia? O pai dela… um contador da máfia? Aquilo era surreal
demais. Era como se o chão tivesse sumido debaixo dos meus pés.
— O quê? — perguntei chocada. — Catherine, isso… isso é sério?
Ela assentiu freneticamente, com seus olhos arregalados e cheios de medo.
— É muito sério, Serena. Por favor, você não pode contar isso a ninguém.
Ninguém pode saber que eu te contei. Minha família… se descobrirem que
eu revelei isso… — Catherine colocou as mãos no rosto, desesperada. —
Eu só… eu só precisava contar a alguém. Não consigo mais lidar com isso
sozinha.
Eu ainda estava tentando absorver tudo. Minha melhor amiga estava me
contando que sua família era envolvida com uma organização criminosa.
Não era qualquer coisa. Era a máfia. E de repente, tudo o que eu sabia sobre
o mundo parecia ter sido tirado de mim. Senti uma pontada de medo, mas
também uma necessidade de manter a calma.
— Catherine… eu não vou contar para ninguém. Eu prometo — assegurei,
tentando ser a amiga de que ela precisava naquele momento. — Mas… o
que isso significa? Como… como seu pai acabou envolvido nisso?
Ela enxugou as lágrimas e respirou fundo antes de continuar:
— Ele é o contador da família Romano, Serena. Ele cuida das finanças
deles há anos. Cresci sabendo que havia algo errado, mas meus pais sempre
me protegeram de saber a verdade. Só que agora… com o assassinato do
chefe… tudo está mudando.
O nome “Romano” ressoou em minha mente como um alarme. Família
Romano? Um frio percorreu minha espinha. E, de repente, a revelação final
veio como um choque.
— Catherine… — comecei, hesitante. — Filippo Romano… ele faz parte
disso, não é?
Ela assentiu, sem sequer hesitar. A confirmação que eu temia. Filippo, o
mesmo Filippo que eu conhecia desde sempre, era um mafioso.
— Ele é um dos filhos do dom que foi assassinado… Serena, os Romanos
são uma das famílias mais poderosas da máfia. Filippo, Leon e Matteo…
eles vão tomar o controle agora. São eles que vão comandar tudo.
Meu coração disparou. Filippo, Leon e Matteo…
— Meu Deus, Catherine… — sussurrei, sentindo uma onda de choque me
atravessar. Filippo era mafioso. Tudo isso estava muito além do que eu
poderia imaginar.
Catherine me segurou pelo braço, ainda trêmula.
— Serena, por favor… você não pode contar isso para ninguém. Ninguém
pode saber que eu te disse. Se algo acontecer… minha família pode estar
em perigo.
Assenti, ainda em estado de choque.
— Eu prometo, Catherine. Não contarei a ninguém. — Mesmo com o
turbilhão de pensamentos que cruzavam minha mente, sabia que precisava
garantir a ela que esse segredo ficaria seguro comigo.
Enquanto minha mente ainda tentava processar a revelação de Catherine,
um pensamento súbito me atingiu com força. Ethan. Ele estava a caminho
de Nova York para ver Filippo. Meu coração começou a acelerar
descontroladamente.
— Catherine… meu irmão. Ethan viajou para Nova York hoje… para dar
apoio ao Filippo pela morte do pai dele — falei rapidamente, sentindo uma
onda crescente de pânico. — Será que ele sabe sobre… tudo isso? Será que
ele sabe que Filippo e a família dele são envolvidos com isso?
Catherine me olhou com preocupação, mas balançou a cabeça lentamente,
tentando me acalmar.
— Serena, escuta… — ela começou e sinto sua voz firme, mas ainda
carregada de apreensão. — Ethan não sabe de nada, pelo que sei. Ele é
amigo do Filippo há anos, mas nunca foi envolvido nesses assuntos. A
máfia não envolve pessoas de fora, especialmente amigos íntimos que não
têm ligação com os negócios. Filippo sempre manteve Ethan longe disso,
para protegê-lo.
— Mas e se… — interrompi, sentindo minha voz trêmula. — E se algo der
errado? E se ele for pego no meio de tudo isso? Catherine, estamos falando
de mafiosos. De um assassinato. Isso é perigoso, muito perigoso.
Catherine segurou minhas mãos com força, me encarando com seriedade.
— Serena, calma. Filippo e a família dele têm regras muito claras. Eles
nunca envolveriam alguém como o Ethan em nada. Ele é apenas um amigo,
e Filippo o considera como um irmão. Ele jamais deixaria algo acontecer
com Ethan. A máfia tem seus próprios códigos, suas próprias maneiras de
lidar com as coisas. E Ethan está fora disso.
Eu sabia que Catherine estava tentando me tranquilizar, mas a preocupação
ainda queimava dentro de mim. Ethan sempre foi tão inocente sobre essas
coisas, sempre acreditando no lado bom das pessoas. E agora ele estava
entrando, mesmo que sem saber, no meio de algo perigoso e muito maior do
que ele imaginava. Filippo podia protegê-lo, mas e se tudo saísse do
controle? E se os responsáveis pelo assassinato do pai dele fossem atrás de
mais sangue?
E se acontecer algo com Filippo, viver em um mundo sem ele… Não,
não… Isso não.
— Mas, Catherine… — comecei a falar de novo, tentando argumentar, mas
ela me interrompeu.
— Serena, confia em mim — Disse — Nada vai acontecer com o Ethan.
Filippo vai mantê-lo a salvo.
E quem manterá Filippo a salvo? A pergunta vem à minha mente.
— E Filippo, amiga?
Ela sorrir.
— Ele foi treinado a vida toda e sabe como agir. Fique tranquila.
Suspirei profundamente, tentando acalmar meus nervos. Eu queria acreditar
que tudo ficaria bem. Ethan sempre foi muito próximo de Filippo, e Filippo
sempre foi um amigo leal e protetor. Mas o que Catherine acabara de me
contar mudava tudo. Era difícil não imaginar o pior.
— Eu só… — continuei com minha voz mais baixa — Eu só não quero que
nada aconteça com eles.
— Eu sei, Serena — Cat respondeu, apertando minhas mãos com um
sorriso triste. Eu queria acreditar em suas palavras. Queria confiar que
Ethan estava seguro, mas o medo ainda estava lá, apertando meu peito.
— Filippo sempre tratou o Ethan como família — Cat continuou. — E ele
vai continuar protegendo seu irmão, não importa o que aconteça.
Assenti, mesmo sem sentir total alívio. Ethan não sabia da verdade, e agora,
mais do que nunca, eu me perguntava se ele deveria saber. Mas como eu
poderia contar isso a ele sem quebrar a promessa que fiz a minha amiga?
Cumprirei minha palavra e deixarei que Filippo conte a ele um dia.
Só espero que nada aconteça com Filippo. Saber do seu mundo me deixou
tão chocada e com medo.
Alguns meses depois…
Alguns meses haviam se passado desde que Ethan foi para Nova Iorque, e
as coisas estavam estranhamente calmas. Ele havia decidido ficar por lá e
acho que tem algo que ele não quer me contar. Só espero que ele não tenha
nenhuma recaída pela ex dele.
Estava em casa, relaxando, quando recebi uma ligação inesperada do pai de
Catherine. Era estranho ele me ligar diretamente, mas sabia que se tratava
de algo importante. Ele pediu que eu passasse em sua casa para uma
conversa, e eu fui sem hesitar.
Estava sentada na poltrona do escritório dele. Mesmo com a inquietação
sobre tudo o que eu havia descoberto, tentei manter a compostura enquanto
ouvia atentamente o que ele tinha a dizer.
— Serena, sei que agora você é uma médica formada, pronta para entrar no
mercado de trabalho — começou Charles, com um olhar sério. — E
Catherine já mencionou que você está ciente da realidade da nossa família.
Eu assenti discretamente, sentindo um leve desconforto. Catherine havia me
contado sobre a ligação da sua família, e embora eu ainda estivesse
processando tudo, sabia que era uma verdade que eu teria de aceitar,
principalmente com Ethan ainda em Nova Iorque, envolvido na vida de
Filippo, mesmo sem saber de todos os detalhes.
— Confesso que fiquei surpreso quando Catherine me contou que você
soube lidar com essa informação de forma tão madura — ele continuou. —
Isso demonstra que você é uma pessoa em quem podemos confiar, e a
confiança é algo extremamente valioso para nós.
Mesmo ele dizendo confiar em mim, eu não teria coragem de dizer isso
para ninguém.
Eu tentava não demonstrar, mas a tensão crescia dentro de mim. O que ele
queria dizer com isso? Respirei fundo, me preparando para o que estava por
vir.
— Serena, tenho uma proposta para você — ele disse, inclinando-se para
frente, e seus olhos fixos nos meus. — Sabemos que você é uma excelente
profissional e estamos cientes de sua capacidade. Observamos como, nesses
últimos meses, você foi uma médica incrível no hospital aqui da capital. E
por isso, eu gostaria de oferecer a você uma oportunidade de trabalhar em
um dos hospitais mais renomados de Nova Iorque. O hospital que pertence
à família Romano, o St James.
Ao ouvir o nome, senti um frio percorrer minha espinha. Romano. A
família de Filippo. O hospital pertencia a eles?
— Mas, antes que você se preocupe, quero que saiba que esse hospital
opera como qualquer outro — ele continuou, aparentemente percebendo
minha hesitação. — Ninguém, além dos mais próximos, sabe que ele está
ligado à família Romano. E sua posição lá seria puramente como médica,
sem qualquer envolvimento com outros negócios.
Olhei para ele, tentando absorver tudo o que estava sendo dito. Trabalhar no
hospital da máfia Romano? Isso era seguro? Eu sabia que, tecnicamente,
não teria ligação direta com a máfia, mas o simples fato de estar associada a
um hospital deles já era algo que me deixava com dúvidas.
— Sei que pode parecer uma decisão difícil — ele disse, com um leve
sorriso. — Mas confio que você fará a escolha certa. O hospital precisa de
médicos competentes como você, e essa pode ser uma grande oportunidade
para sua carreira. Além disso, Ethan está em Nova Iorque, e sei que será
bom ter você perto dele.
Minha mente estava girando. Trabalhar no hospital da família Romano
significava estar mais próxima de Ethan e, consequentemente, de Filippo.
Um misto de emoções tomou conta de mim. Eu queria estar mais perto do
meu irmão. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de me envolver, mesmo que
indiretamente, com a máfia me deixava apreensiva.
— Preciso pensar — respondi, tentando soar calma. Mas estava com medo.
Ele assentiu, compreensivo.
— Claro, Serena. Entendo que essa não é uma decisão simples. Mas
lembre-se, você teria total autonomia como médica e estaria em um
ambiente respeitável. A única diferença é quem está nos bastidores, mas
isso não afetaria seu trabalho de forma alguma.
Levantei-me lentamente, sentindo o peso da escolha que teria de fazer.
Charles me acompanhou até a porta, ainda com aquele sorriso cortês.
— E mais uma coisa — ele disse antes de me deixar ir. — Conte com a
nossa total discrição. Se você aceitar, ninguém jamais saberá sobre a
verdadeira ligação do hospital. Tudo será feito com a maior
confidencialidade possível.
Eu adorava trabalhar no hospital de Londres, havia feito muitos amigos e
me sentia em casa. Mas algo dentro de mim dizia que eu precisava aceitar o
desafio.
Saí de lá com a cabeça cheia de pensamentos e, ao chegar no apartamento,
encontrei Cat me esperando na sala, como sempre animada e cheia de
energia. Seus olhos brilharam ao me ver entrar, como se já soubesse a
resposta antes mesmo de eu dizer qualquer coisa.
— E então, o que meu pai te disse? — perguntou ela, mal conseguindo
esconder a ansiedade.
Suspirei fundo, sentindo a pressão que acabava de dissipar aos poucos.
— Ele me ofereceu uma vaga no hospital da família Romano, em Nova
Iorque — comecei, ainda hesitante, sentindo que seria uma decisão certeira
para minha carreira. — E eu… eu vou aceitar. Voltar para minha casa.
Cat soltou um grito de empolgação e correu para me abraçar, me
envolvendo em seus braços com tanta força que quase perdi o fôlego.
— Isso aí, amiga! Eu sabia que você ia aceitar! — Ela me soltou e me olhou
de cima a baixo com aquele brilho malicioso no olhar. — Mas, antes de
qualquer coisa, nós precisamos fazer algo sobre esse visual.
Ergui as sobrancelhas, surpresa. Catherine sempre foi um espírito livre, mas
sua empolgação me pegou de surpresa.
— Meu visual? — perguntei, confusa. — O que tem de errado com ele?
Ela riu, balançando a cabeça.
— Ah, Serena, você está ótima, claro! Mas você está prestes a começar uma
nova fase da sua vida. Que tal uma transformação? Proponho deixarmos
você ainda mais linda e poderosa, de forma que quando chegar em Nova
Iorque, todos notem que você está por cima. Ruiva, por exemplo. Você vai
arrasar!
A ideia de mudar o visual nunca havia passado pela minha cabeça, mas ao
ver a empolgação de Catherine, comecei a me animar com a possibilidade.
Uma nova fase, um novo eu. Por que não?
Só lembro da mensagem no meu aniversário de dezoito anos. Essa mudança
seria muito necessária.
— Ruiva? — repeti, rindo. — Isso é radical, Cat!
— Exatamente! — ela exclamou. — Você vai ver, vai adorar! Uma nova
Serena, pronta para dominar Nova Iorque!
Eu não pude deixar de rir. Catherine era o tipo de amiga que sempre fazia
questão de me incentivar a sair da zona de conforto, e dessa vez, eu estava
disposta a embarcar na ideia. Um novo trabalho, uma nova aparência. Sim,
fazia sentido.
E quem sabe surpreender uma certa pessoa.
— Tudo bem, estou dentro — concordei, rindo ainda mais.
— Se prepare para amanhã, amiga. O Shopping ficará pequeno para nós.
Sorrio com sua empolgação…
No dia seguinte, Catherine me levou ao salão de beleza mais elegante de
Londres. O ambiente era moderno, cheio de pessoas estilosas e
profissionais atentos a cada detalhe. Sentei-me na cadeira e logo estava
cercada por especialistas discutindo qual seria o tom perfeito de ruivo para
mim. Enquanto eles trabalhavam, olhei meu reflexo no espelho e comecei a
sentir a transformação, não só externa, mas também interna.
Quando o processo finalmente terminou e me olhei no espelho, mal me
reconheci. Meus cabelos agora eram de um ruivo vibrante, brilhando sob a
luz do salão. Catherine deu um pequeno salto de alegria ao me ver.
— Amiga, você está maravilhosa! — ela exclamou, girando ao meu redor
para me admirar de todos os ângulos. — Nova Iorque não vai saber o que a
atingiu!
Senti um sorriso tímido surgir em meu rosto. Essa era eu? Parecia que, de
repente, eu estava vendo uma versão mais confiante de mim mesma,
alguém que estava pronta para enfrentar qualquer desafio.
— Eu adorei, Cat — admiti, olhando meu reflexo mais uma vez. —
Obrigada.
Ela sorriu e me puxou para mais perto, falando de forma conspiratória:
— E agora, com esse novo visual, você vai voltar para Nova Iorque e
mostrar para todos que você é uma mulher forte, incrível e completamente
irresistível. E quem sabe, com um visual desses, Filippo finalmente vai te
notar de uma maneira diferente, hein?
Revirei os olhos, mas não pude evitar o riso.
— Ah, Cat, para com isso! — protestei, brincalhona. — Ele sempre me
tratou como uma irmã, e além do mais, eu não estou indo para Nova Iorque
por causa dele. Quero focar na minha carreira, você sabe disso.
— Eu sei, eu sei — ela disse, piscando para mim. — Mas não custa nada
sonhar, né?
Saímos do salão de beleza e, enquanto caminhávamos pelas ruas de
Londres, senti uma sensação de renovação, como se algo tivesse sido
deixado para trás e eu estivesse pronta para abraçar o novo. Eu estava de
volta ao controle da minha vida, e a próxima parada seria Nova Iorque.
Novamente.
Eu gostava demais do meu trabalho no hospital de Londres, mas a
oportunidade de trabalhar no hospital St James era única. E, com Ethan por
perto, sabia que estar em Nova Iorque me traria mais segurança e talvez
novas aventuras — profissionais e pessoais.
— Cat, diga ao seu pai que aceito — falei, olhando para ela com um sorriso
confiante. — Estou pronta para voltar para casa.
— Isso aí, amiga! — respondeu Catherine, radiante. — Nova Iorque, que se
prepare, porque a nova Serena está chegando, e você vai arrasar!
***
O voo para Nova Iorque foi tranquilo, mas o frio na barriga não me deixou
em paz durante todo o trajeto. Após semanas de preparação e uma
transformação completa, eu estava prestes a começar uma nova fase da
minha vida. Eu me despedi de Londres e, agora, retorno para a cidade em
que cresci.
Ao desembarcar no aeroporto de Nova Iorque, o ambiente estava cheio de
movimento e energia. A cidade parecia pulsar com uma vitalidade que eu
ainda estava tentando absorver. Minha mente estava dividida entre a
excitação e a ansiedade, especialmente porque meu irmão estava vindo me
buscar. Ethan havia sido meu pilar durante tudo isso, e ter sua presença
significava muito para mim.
Enquanto me dirigia para a área de desembarque, eu me sentia um pouco
como uma estranha no meio de toda a agitação, mesmo vivendo por 18 anos
aqui, parece que tudo ficou estranho. Meu visual novo certamente estava
chamando atenção, e a transformação completa que eu havia feito me
deixava ansiosa para ver a reação de pessoas próximas.
Quando saí do portão de desembarque, avistei Ethan de longe, esperando
por mim com um sorriso largo. Ele parecia tão animado quanto eu, o que
me trouxe um pouco de conforto. No entanto, ao me aproximar, notei um
olhar de surpresa em seu rosto que não consegui decifrar imediatamente.
— Serena! — ele exclamou, estendendo os braços para me abraçar.
Mas, ao me abraçar, ele parecia hesitar por um momento, um olhar de
confusão e espanto no rosto.
— Você está diferente — ele disse, afastando-se ligeiramente para me
observar. — Muito diferente.
Senti uma mistura de nervosismo e orgulho. Eu sabia que a transformação
era significativa, mas não esperava que Ethan tivesse uma reação tão forte.
— É, eu decidi fazer uma mudança — respondi, sorrindo nervosamente. —
Catherine achou que eu precisava de uma nova aparência para começar uma
nova fase da minha vida.
Ele sorriu, ainda um pouco atônito, e então seu olhar se suavizou.
— Você está linda, Serena — ele disse, finalmente conseguindo conter o
espanto. — Esse tom de ruivo é incrível em você. Eu só… não te reconheci
à primeira vista.
Ele riu, a expressão de surpresa agora substituída por um sorriso genuíno e
acolhedor. Seu olhar estava cheio de alegria e carinho, o que me fez sentir
um calor no coração.
— Obrigada, Ethan — respondi, sentindo uma onda de alívio. — Eu
realmente queria começar de novo com uma energia renovada.
— Vamos, eu trouxe o carro. — Ele me guiou em direção ao
estacionamento, e enquanto caminhávamos, ele não parava de olhar para
mim com um sorriso satisfeito.
Entramos no carro e, enquanto ele dirigia pelas ruas movimentadas da
cidade, comecei a sentir uma mistura de excitação e nervosismo. Nova
Iorque continuava como sempre. O ritmo frenético da cidade, as luzes
brilhantes.
— Ethan — falei, olhando para ele com um sorriso. — Estou pronta para
essa nova fase. Pronta para tudo o que Nova Iorque e o trabalho têm a
oferecer.
Ele olhou para mim, com um brilho de orgulho nos olhos.
— Sei que você vai se sair bem — respondeu ele. — E lembre-se,
independentemente do que aconteça, estou aqui para você. O carro
percorreu as ruas de Nova Iorque e eu olhei pela janela, observando,
confesso que sentia falta dessa agitação.
***
No dia seguinte eu precisava me apresentar no hospital e meu irmão me
trouxe até o local.
— Boa sorte irmã, tenha um bom trabalho.
— Obrigada, irmão, te desejo o mesmo.
O prédio enorme do St. James me fez parar por um momento, admirando
sua grandeza. Eu estava oficialmente de volta à cidade onde nasci, pronta
para iniciar minha carreira como médica após anos estudando em Londres.
Ajustei o jaleco e entrei, o som das portas automáticas se abrindo,
sinalizando o começo de uma nova fase da minha vida.
No hospital, a movimentação era intensa. Médicos, enfermeiros e pacientes
andando pelos corredores, em uma rotina que logo faria parte. Caminhei em
direção ao auditório, onde a reunião de boas-vindas e apresentação dos
novos médicos aconteceria. Era emocionante, e eu sabia que seria a única
novata a se apresentar hoje, já que todos os outros já trabalhavam no
hospital.
Ao entrar no auditório, o diretor do hospital, um homem sério e de postura
rígida, já estava em pé ao lado do palco. Ele aguardava que todos tomassem
seus assentos para iniciar a reunião. Assim que as portas se fecharam e o
silêncio dominou o ambiente, ele começou a falar.
— Sejam bem-vindos a mais um ano no St. James. Aqui, nos orgulhamos
de ter uma equipe comprometida com a excelência, e todos vocês fazem
parte disso. Mas hoje, temos uma nova médica para integrar nossa equipe.
Eu me ajeitei na cadeira, sabendo que era minha vez de me apresentar.
Levantei-me e, com o coração acelerado, subi ao palco. Todos os olhares
estavam sobre mim.
— Bom dia, meu nome é Serena Fonseca. Sou recém-formada em Medicina
pela Universidade de Londres e estou muito feliz em voltar para Nova
Iorque para fazer parte desta equipe. — Minha voz saiu firme, apesar do
nervosismo. Respirei fundo e sorri.
O diretor assentiu com aprovação, e eu voltei ao meu lugar enquanto ele
continuava com os demais avisos da rotina hospitalar. Assim que a reunião
acabou, o auditório começou a esvaziar, e eu aproveitei para explorar um
pouco mais do hospital.
Enquanto caminhava pelos corredores, admirando a estrutura e as
instalações modernas, fui abordada por um dos médicos da equipe de
cirurgia. Ele parecia experiente e confiante, mas seu olhar me incomodou
de imediato.
— Então, você é a nova médica vinda de Londres? — Ele perguntou com
um sorriso um tanto ousado.
— Sim, sou Serena. — Respondi educadamente, embora já sentisse uma
ponta de desconforto.
— Londres, hein? Grande cidade. Aposto que você trouxe bastante
experiência de lá, além de um charme europeu, claro. — Ele piscou, e o
sorriso se alargou de maneira ainda mais indiscreta.
Forcei um sorriso, tentando manter a compostura.
— Sim, foi uma experiência incrível. Agora estou animada para começar
aqui.
— Tenho certeza de que vai se sair muito bem. Se precisar de qualquer
coisa, sabe onde me encontrar. — Ele finalizou, com um olhar insistente,
antes de se afastar.
E o estranho nem se apresentou.
Revirei os olhos internamente. Sabia que enfrentaria desafios e,
aparentemente, também teria que lidar com certas personalidades. Enquanto
continuava meu caminho, uma enfermeira se aproximou de mim com os
prontuários na mão.
Entrei na sala de consultas do hospital com uma mistura de ansiedade e
excitação. Era minha primeira consulta oficial no hospital. Respirei fundo,
ajeitei o jaleco e olhei o prontuário à minha frente.
— Pode entrar, Sr. Martinez — disse, tentando manter a voz firme e
acolhedora.
Um homem de meia-idade entrou na sala com passos lentos, o rosto
demonstrando sinais de desconforto. Ele parecia nervoso, mas ofereci um
sorriso amigável, esperando que isso o tranquilizasse.
— Bom dia, Sr. Martinez, sou a Dr.ᵃ Serena Fonseca. Como está se sentindo
hoje?
Ele se sentou na cadeira em frente à mesa e suspirou.
— Para ser honesto, doutora, tenho sentido uma dor forte no peito nos
últimos dias. Não sei se é algo sério, mas minha esposa insistiu para que eu
viesse.
Assenti, compreendendo a preocupação dele.
— Fez bem em vir. Vamos verificar isso com calma. Vou te fazer algumas
perguntas e, em seguida, faremos alguns exames, tudo bem?
Enquanto fazia as perguntas iniciais, avaliando os sintomas e o histórico
médico, percebi que, embora estivesse um pouco nervosa, tudo fluía
naturalmente. Estava ali para ajudar, e isso era o que mais importava.
Depois de alguns minutos, pedi para que o Sr. Martinez se deitasse na maca
para fazer um exame físico. Conforme ouvia seu coração e respirava
profundamente, as lembranças de meus anos de estudo me guiaram. Me
sentia confiante, pronta para diagnosticar e ajudar aquele homem.
— Vamos fazer um eletrocardiograma agora, apenas para garantir que está
tudo bem com o seu coração — disse, com a voz firme e segura.
Ele concordou, um pouco mais relaxado. O processo estava indo bem, e eu
sabia que estava no caminho certo…
— Dr.ᵃ Fonseca, o diretor pediu que eu entregasse isso para você. — Ela
disse, com um sorriso simpático.
— Obrigada. — Peguei o envelope, intrigada.
Ao abri-lo, encontrei um convite elegantemente decorado. Era para o baile
beneficente anual do hospital. O tema deste ano seria “Baile de máscaras”,
e o próprio diretor estava organizando o evento. O convite me surpreendeu,
mas, ao mesmo tempo, senti um toque de excitação. Seria um evento
grandioso, e eu mal podia esperar para ir.
Assim que terminei de ler o convite, Catherine, minha amiga, me ligou.
— E aí, como foi o primeiro dia no hospital? — Ela perguntou, sua voz
sempre animada.
— Foi intenso, Cat. Acabei de receber um convite para um baile de
máscaras que o hospital organiza. Acho que será interessante.
— Você tem que ir, Serena! Fique linda e arrase.
— Com certeza, amiga. Respondo empolgada.
CAPÍTULO 8

FILIPPO ROMANO
Após meses do falecimento do meu pai, a rotina na família Romano havia
mudado completamente. Leon assumiu o comando como o novo chefe da
máfia, enquanto Matteo se tornava o subchefe. Eu, como consigliere, estava
cada vez mais focado em nossas operações, mas essa vida, com toda a sua
intensidade, parecia mais pesada desde a morte do nosso pai. Ele era o pilar
de tudo, e lidar com a ausência dele me tirava qualquer ânimo para eventos
sociais ou reuniões fora do necessário. Então, quando Leon me pediu para
representar a família no baile beneficente do nosso hospital, minha primeira
reação foi recusar.
Mas, afinal, era um evento importante. O hospital fazia parte dos nossos
negócios e, para manter as aparências, alguém precisava estar lá. Leon foi
direto:
— Filippo, é só um baile de máscaras. Vai, representa a família. Mostre que
ainda estamos no controle, que as coisas não vão mudar.
Relutante, aceitei. Embora não quisesse estar em um salão cheio de pessoas
tentando se destacar em suas vestes elaboradas, eu sabia que era necessário.
Quando cheguei ao evento, as luzes estavam baixas e a música clássica
tocava suavemente ao fundo. O salão estava lotado, todos disfarçados em
suas máscaras elegantes. Conversei com alguns dos diretores do hospital,
perguntei sobre os projetos em andamento e o progresso financeiro. Tudo
parecia estar indo bem, o que era um alívio. Mas, para ser sincero, nada
daquilo me interessava naquele momento. A noite arrastava-se, e meu tédio
aumentava a cada segundo.
As mulheres que participavam do evento eram insistentes, algumas se
aproximavam tentando algo, mas logo percebiam que não havia abertura.
Eu estava impassível, alheio ao que quer que estivessem planejando.
Não posso negar que amo as mulheres e dar prazer a elas. Mas, nesse
momento, queria apenas honrar meu compromisso.
Queria sair o mais rápido possível. Já havia cumprido minha obrigação,
então pensei em ir embora antes que aquilo se tornasse insuportável.
Enquanto me dirigia à saída, algo prendeu minha atenção. Uma mulher
belíssima entrou no salão, andando suavemente. Ela vestia um longo
vestido preto que abraçava sua silhueta de maneira impecável, e uma
máscara delicada cobria parte de seu rosto. Mas o que realmente me deixou
atordoado foi o cabelo. Ruivo, brilhante, quase como se queimasse sob a luz
suave do salão. Ela exalava uma elegância natural, e, sem querer, me vi
parando no meio do caminho.
Por um momento, o salão pareceu se silenciar. Era como se todos tivessem
voltado seus olhares para ela, inclusive eu. Minha mente começou a girar.
Quem era essa mulher? Ela me parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, tão
misteriosa e envolta em um ar de mistério que não consegui desvendar de
imediato.
Observei enquanto um dos médicos, que eu havia notado antes, começava a
se aproximar dela, claramente interessado em iniciar uma conversa. Uma
sensação estranha tomou conta de mim. Não queria que ele chegasse até
ela. Quase por instinto, fui mais rápido e me aproximei, sentindo meu
coração acelerar de uma maneira incomum.
Quando parei diante dela, fiquei sem palavras por um segundo. Era raro eu
perder a compostura, mas ali, em frente àquela mulher, foi como se o chão
tivesse saído debaixo dos meus pés. Havia algo nos seus olhos, mesmo por
trás da máscara, que me fez hesitar. Eu a conhecia? A sensação era
inegável, como se tivesse visto aquele olhar antes, mas não conseguia
identificar de onde.
— Posso lhe oferecer uma bebida? — perguntei e minha voz saiu mais
rouca do que o normal.
Ela me olhou de maneira intrigada, os lábios se curvando em um sorriso
que me desarmou.
— Parece uma boa ideia, — respondeu e sua voz era suave como seda.
Conduzi a mulher até o bar, tentando manter a aparência tranquila, mas a
sensação de familiaridade continuava a me incomodar. Quem era ela? E por
que parecia que eu a conhecia, mesmo com sua identidade oculta pela
máscara?
Enquanto ela se apoiava levemente no balcão, pedindo uma taça de vinho,
eu a observava de soslaio. Sua presença dominava o ambiente de uma
maneira quase hipnótica. Eu nunca fui do tipo que se deixava afetar
facilmente, mas ali estava eu, fascinado por essa mulher misteriosa.
Ela me lançou um olhar de lado, curioso.
— Não é todo dia que alguém do seu porte aparece em eventos como esse
— comentou com uma pitada de provocação.
Sorri de canto, sem demonstrar muito, mas internamente, minha mente já
trabalhava em mil direções.
— Também não é todo dia que alguém como você aparece, chamando tanta
atenção, — respondi, mantendo o tom leve, embora a curiosidade
queimasse dentro de mim.
Ela riu suavemente e o som parecia ecoar na minha mente. A familiaridade
aumentava a cada segundo. Enquanto observava seus movimentos, a
maneira como seu cabelo ruivo caía por seus ombros, o brilho em seus
olhos, algo clicou na minha mente. Não podia ser… Serena? A ideia me
atingiu como um soco no estômago, e minha respiração falhou por um
segundo.
Ela voltou?
— Serena? — A palavra escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me
controlar.
Ela parou por um segundo, o sorriso brincando em seus lábios.
— Quem sabe? — respondeu, dando um pequeno gole no vinho. Sua
resposta era ambígua, mas o olhar nos seus olhos era a confirmação de que
eu precisava.
Mesmo com toda a mudança, seu olhar era o mesmo.
Caraio! Como ela ficou linda.
Eu mal podia acreditar. A Serena, que eu conhecia, a irmã do meu melhor
amigo, tinha se transformado nessa mulher. Essa mulher encantadora,
confiante e completamente diferente da menina que eu havia conhecido
anos atrás. Minha mente voltou no tempo, lembrando do irmão dela, Ethan,
sempre preocupado com a proteção de Serena, e como, para mim, ela
sempre foi a “irmãzinha” intocável. A menina que decepcionei e que foi
embora por minha causa.
Mas agora, nada sobre ela parecia intocável. Pelo contrário, Serena havia se
transformado em uma mulher lindíssima, a mulher mais linda que já vi na
minha vida, e aquilo mexia comigo de uma maneira que eu não estava
preparado.
— Então, o que faz uma médica brilhante em um baile como esse? —
perguntei, tentando manter a conversa casual.
Que pergunta idiota, o evento foi organizado pelo hospital, um lugar cheio
de médicos. Serena, o que ela fez comigo para ficar como um bobo perto
dela?
Ela sorriu novamente, dessa vez mais franca.
— Fui convidada pelo diretor e não podia perder a chance. E você, Filippo?
— sua voz soou levemente provocadora. — O que traz um Romano a um
evento beneficente?
O fato de ela me chamar pelo nome, sem rodeios, sem surpresas, me fez
entender que ela já sabia quem eu era o tempo todo. Serena havia mudado,
mas ainda carregava aquela astúcia que eu lembrava. Só que agora, era
evidente que ela sabia muito mais.
— Dever de família. Respondi, de maneira direta, mas ainda intrigado pela
mudança drástica nela. — Mas, para ser honesto, eu não esperava
encontrar… uma conhecida.
— Não sou mais aquela que você conheceu, Filippo, já faz tanto tempo —
disse com seu tom sugerindo muito mais do que as palavras permitiam. —
Mas e você? Ainda é o mesmo?
Sua pergunta me atingiu mais do que eu esperava. Era impossível responder
com simplicidade, porque desde a morte do meu pai, eu também sentia que
não era mais o mesmo. Havia uma escuridão crescente dentro de mim, uma
responsabilidade esmagadora que me puxava cada vez mais para o centro
do que significava ser um Romano.
Antes que eu pudesse responder, outro homem se aproximou de Serena,
com um sorriso presunçoso.
— Desculpe interromper, mas posso roubar essa dança? — perguntou,
claramente interessado nela.
Meu instinto foi imediato. Me aproximei mais, colocando minha mão no
encosto da cadeira dela, em um gesto de proteção.
Mostrando quem manda aqui.
— Acho que ela já está ocupada, — Respondo, encarando o homem com
um olhar mortal.
Quem ele pensa que é, para interromper a minha conversa com ela?
Serena me olhou de lado, mas dessa vez, o sorriso dela era diferente, como
se ela estivesse se divertindo com a situação. Ela não disse nada, deixando
claro que a escolha era minha.
Enquanto eu observava o homem recuar, sentindo que havia vencido a
situação, Serena se levantou com um sorriso no rosto. Ela olhou para mim
por um segundo com um olhar sarcástico.
— Na verdade, aceito a dança — disse decidida.
Fiquei parado, surpreso por um momento, incapaz de acreditar no que ela
havia acabado de fazer. Ela estendeu a mão graciosamente para o sujeito,
que, com um sorriso de triunfo no rosto, prontamente aceitou e a levou para
a pista de dança.
A forma como ela se movia, com leveza e confiança, atraía todos os olhares
da sala. Mas nada me irritava mais do que o sorriso satisfeito daquele idiota
enquanto colocava as mãos ao redor da cintura dela. Automaticamente,
meus punhos se fecharam de raiva. Cada giro, a cada toque, algo dentro de
mim se agitava. Serena olhou para mim brevemente, um olhar rápido, mas
cheio de significado, como se soubesse exatamente o que estava fazendo.
Ela estava em controle, jogando com a situação. E eu? Eu estava ali,
assistindo, incapaz de desviar os olhos.
Quando a música finalmente terminou, Serena agradeceu ao médico e se
afastou, retornando ao bar como se nada tivesse acontecido. Eu não podia
mais ignorar. Cruzei o salão, meus passos firmes, decidido.
— Preciso falar com você — disse mais próximo do que planejava, minha
voz baixa, carregada de algo que nem eu sabia nomear.
Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa, mas não recuou.
— O que foi, Filippo? — perguntou, mantendo o tom casual, como se tudo
estivesse normal.
— Vem comigo, — falei, não deixando espaço para discussão.
Ela hesitou por um segundo, mas assentiu, deixando-me guiá-la para fora
do salão, em direção ao jardim. O ar lá fora estava mais fresco, uma pausa
bem-vinda depois da tensão do salão. Quando finalmente parei, virei-me
para ela, incapaz de segurar mais a frustração.
— O que foi aquilo? — perguntei, cruzando os braços, tentando manter a
compostura.
— Alguma vingança?
Ela inclinou a cabeça, confusa.
— O que você quer dizer? Eu só estava dançando, Filippo.
Balancei a cabeça, irritado com a resposta.
— Você sabe que não foi só isso. Desde quando você joga esses jogos?
Você mudou, nem parece que está no evento por causa do trabalho.
Ela me interrompeu, cruzando os braços também.
— Exatamente, Filippo. Eu mudei, não sou aquela menina besta de antes. E
sim, estou aqui a convite do hospital e nada me impede de me divertir. Essa
dança não muda nada. Além do mais… você sempre me tratou como uma
irmã, então o que tem de errado eu aproveitar minha noite?
Aquilo me atingiu como um soco e já estava perdendo o controle da
situação. Sempre a tratei como irmã? Talvez tenha sido esse o problema
todo. Havia algo entre nós, eu sentia isso. Ela me olhou com firmeza, como
se esperasse uma resposta, mas antes que pudesse pensar, agi por impulso.
Sem pensar duas vezes, puxei Serena pela cintura, aproximando nossos
corpos. Seus olhos se arregalaram de surpresa, e antes que ela pudesse
protestar, meus lábios estavam nos dela. O beijo foi intenso, cheio de tudo o
que estava preso dentro de mim. Mas então, num rompante, ela me
empurrou. Ofegante, seus olhos estavam arregalados, uma mistura de
confusão e raiva estampada em seu rosto.
— O que… o que você está fazendo, Filippo? — perguntou, respirando com
dificuldade, os olhos brilhando com uma confusão que espelhava a minha.
Eu tentei respirar fundo, buscando algum tipo de controle sobre o que
acabara de acontecer. Mas como eu poderia explicar algo que nem eu
mesmo entendia completamente? Eu não sabia o que responder. Só sabia
que tinha feito algo que não podia ser feito.
— Eu… comecei, mas as palavras não saíam.
Acabei de perder a consciência de tudo ao meu redor, movido por algo que
não conseguia controlar.
Caraio!
— Eu não deveria ter feito isso, — murmurei, sentindo o arrependimento
corroer meu interior. — Você é a irmã do meu melhor amigo…
Ela fechou os olhos, respirando fundo, e quando os abriu novamente, sua
expressão estava cheia de raiva.
— Vai se lascar, Filippo! — disparou indignada. — O que o meu irmão tem
a ver com isso? Você me beijou e agora está arrependido? Como se eu fosse
um erro? — Sua voz subiu um tom e cada palavra me atingia, causando
uma sensação estranha.
Sem esperar minha resposta, ela girou nos calcanhares e saiu, passos
rápidos e determinados. Ela nem olhou para trás. Fiquei ali, completamente
atordoado, assistindo-a desaparecer pelo jardim, sem saber o que dizer ou
fazer.
Você está enganada, Serena. O erro sou eu, nunca você…
Levei as mãos à cabeça, tentando processar tudo. O que eu havia feito?
Como as coisas chegaram a esse ponto? Mas naquele momento, eu não
consegui. E agora… agora parecia que eu tinha destruído tudo.
— O que eu fiz? — murmurei, sozinho, com o peso das minhas próprias
ações me esmagando.
Ela retorna e eu faço isso.
Eu havia beijado a menina que sempre tratei como irmã, a mesma menina
que, por anos, esteve presente nas minhas lembranças mais doces. E agora,
por um impulso idiota, talvez eu tivesse perdido qualquer chance de manter
isso intacto.
Eu preciso mudar isso e recuperar a confiança dela.
CAPÍTULO 9

SERENA FONSECA
Quando aceitei o convite para o evento, imaginei que seria uma noite leve,
uma oportunidade para me divertir e me aproximar mais da equipe do
hospital. Eu realmente acreditava que seria uma chance de descontrair, mas,
por ironia do destino, acabou sendo o oposto completo.
Agora, tudo o que sinto é uma raiva crescente, uma fúria dirigida
diretamente a Filippo Romano. Ele conseguiu fazer o impossível: estragar
um dia que deveria ter sido bom. Eu sabia que, eventualmente, iria
encontrá-lo. Vivemos no mesmo círculo. Mas por que hoje? Por que justo
nesse evento? Ele conseguiu transformar minha noite em um desastre
completo.
E o pior de tudo é que, mesmo odiando o que ele fez, eu não consigo
ignorar que Filippo continua… Lindo. Mais lindo do que eu me lembrava,
mas ainda assim o mesmo idiota de sempre, especialista em destruir
momentos importantes. Ele arruinou meu baile, minha diversão… e minha
paz.
Parte de mim, no entanto, sabe que também tenho culpa. Por que fui
provocar? Por que fazer aquela implicância com ele? Como se eu já não
soubesse que ele consegue me deixar totalmente desorientada.
Ele me beijou, como se fosse um impulso que não pôde controlar. E logo
em seguida, começou a se corroer por dentro. Tudo por uma única razão:
“sou a irmãzinha do melhor amigo”. Que desculpa mais patética.
— Filippo é um idiota, mestre em me deixar desnorteada — murmuro para
mim mesma, ainda sentindo o gosto daquele beijo nos meus lábios.
A verdade é que ele mexe comigo, e aquele beijo… aquele maldito beijo.
Nunca imaginei que o meu primeiro beijo com Filippo poderia ser tão
confuso e dramático. Eu o empurrei, é claro. Estava completamente perdida
entre o que sentia e o que acontecia ao meu redor. Filippo me rejeitou anos
atrás, não entendo o motivo daquela reação. Mas agora… agora eu queria
respostas. Por que ele fez aquilo? O que mudou?
No fundo, eu tinha uma esperança ridícula. Esperança de que, talvez, de
alguma forma, eu mexia com ele, que ele sentia algo por mim. Fiz toda
aquela cena no baile só para testar suas reações, e quando vi seu
desconforto, pensei que tinha conseguido algo. Mas, no final, foi
decepcionante. A forma como ele lidou com tudo…
— “Eu não deveria ter feito isso, você é a irmã do meu melhor amigo…” —
Aquelas palavras ecoam na minha cabeça, e a raiva só aumenta.
O que tem eu ser a irmã do seu melhor amigo? Isso realmente é uma
desculpa aceitável para me afastar? Você me beijou e agora se arrepende
como se eu fosse um erro? Idiota.
Quando cheguei em casa, meu irmão estava na sala, concentrado em seu
trabalho com o notebook. Ele me olhou curioso quando entrei.
— Chegou cedo. Aconteceu alguma coisa? — perguntou, sem tirar os olhos
da tela.
— Sim, um idiota estragou minha noite — respondi secamente, começando
a subir as escadas. — Vou tirar essa roupa.
Não esperei por mais perguntas. O que mais eu poderia dizer? Que Filippo
tinha me beijado e depois me tratado como se aquilo fosse um erro? Não,
isso eu não podia explicar para Ethan…
No dia seguinte, no hospital, o ambiente estava como de costume:
corredores movimentados, enfermeiras apressadas, médicos em constante
comunicação. Eu ainda estava tentando me concentrar no trabalho depois da
confusão emocional da noite anterior. Precisava esquecer Filippo e focar no
que realmente importava — minha carreira.
Logo pela manhã, fui apresentada ao Dr. Alexander Martins, um dos
principais cirurgiões do hospital. Ele estava de férias e acabara de retornar.
Alto, cabelos castanhos com algumas mechas grisalhas que lhe davam um
ar de experiência, ele tinha um sorriso confiante, mas amigável.
— Você deve ser a Dr.ᵃ Fonseca, certo? — disse ele, estendendo a mão com
um sorriso acolhedor. — Ouvi muitos elogios a seu respeito.
— Sim, sou eu. — Apertei sua mão, tentando parecer tranquila. —
Obrigada, doutor. Estou feliz em fazer parte da equipe.
— Por favor, me chame de Alex. E parece que vamos trabalhar juntos hoje.
Temos uma cirurgia programada daqui a pouco. Está pronta?
— Claro, Alex — sorri, já me sentindo um pouco mais à vontade com ele.
— Estou pronta.
A cirurgia foi desafiadora, mas extremamente gratificante. Trabalhar ao
lado de Alex foi uma experiência única. Ele era calmo, meticuloso e fazia
questão de me explicar cada detalhe enquanto operávamos. Em
determinados momentos, me senti completamente absorta, com foco total
no paciente e nas técnicas que ele utilizava. Alex tinha o tipo de experiência
que vinha com anos de prática, e eu pude aprender muito com ele.
Quando a cirurgia terminou, removemos as luvas e as máscaras, ambos
visivelmente satisfeitos com o resultado.
— Excelente trabalho, doutora — Alex comentou e percebi seus olhos
brilhando e acho que é de aprovação. — Você realmente tem uma mão
firme. Foi um prazer trabalhar ao seu lado.
— Obrigada, Alex. A experiência foi incrível e aprendi muito com você
hoje — respondi, sentindo um pouco do peso da noite anterior se dissipar
pela satisfação profissional.
— Sabe… depois de um dia cheio como esse, acho que merecemos uma
boa refeição, o que acha? — disse ele de repente, de maneira casual,
enquanto dobrava seu jaleco. — Que tal um jantar hoje à noite? Só nós dois
conversamos sobre o hospital e, quem sabe, sobre a vida.
Aquele convite me pegou de surpresa. Hesitei por um segundo, mas me
lembrei de que talvez fosse o que eu precisava. Uma distração. Algo para
tirar minha mente de Filippo e da confusão que ele trouxe à minha vida.
— Jantar soa ótimo — respondi, sorrindo. — Acho que preciso mesmo de
uma noite descontraída.
— Ótimo! — Ele sorriu, aparentemente satisfeito com minha resposta. —
Te pego às oito, então? Conheço um restaurante incrível que tenho certeza
de que você vai adorar.
Assenti, sentindo uma mistura de alívio e animação. Talvez isso fosse o
começo de algo diferente. Mesmo que fosse apenas um jantar entre colegas,
era a oportunidade perfeita para deixar o passado onde ele deveria estar.
Cheguei em casa empolgada, era impossível esconder o sorriso no meu
rosto. O dia no hospital havia sido exaustivo, mas o convite do Alex havia
mudado completamente o meu humor. Assim que abri a porta, vi Ethan
sentado no sofá, concentrado no notebook, a rotina a que sempre estava
acostumada. Ele levantou o olhar quando me viu entrar.
— Você está com uma cara ótima — ele disse, sorrindo de canto. — O que
aconteceu de tão bom hoje?
— Na verdade… — comecei, com um toque de animação na voz. — Um
colega de trabalho me chamou para jantar.
— Ah, é? — Ethan arqueou uma sobrancelha, claramente curioso. — Quem
é o cara?
— O Alex, um dos cirurgiões do hospital. Ele estava de férias, voltou hoje,
fizemos uma cirurgia juntos e... no final, ele me convidou para jantar. —
Dei de ombros, tentando parecer casual, mas o brilho nos meus olhos
entregava minha empolgação.
Ethan se encostou no sofá, parecendo um pouco surpreso.
— E você aceitou? — perguntou, analisando a situação.
— Aceitei! — respondi, sorrindo mais ainda. — E agora preciso me
arrumar!
Subi as escadas rapidamente, deixando meu irmão com suas dúvidas. Tomei
uma ducha rápida e comecei a vasculhar o guarda-roupa. Escolhi um
vestido simples, mas elegante, nada exagerado, afinal, era só um jantar.
Quando desci as escadas, pronta para sair, encontrei Ethan ainda no mesmo
lugar, mas algo havia mudado no ambiente. Foi então que percebi Filippo,
parado na sala, conversando com meu irmão. O ar ao redor dele parecia
mais pesado, e ele me olhou de cima a baixo de um jeito que fez meu
coração disparar, mas eu me obriguei a ignorá-lo. Não ia deixar Filippo
estragar minha noite de novo.
— Vou indo — disse para Ethan, desviando o olhar de Filippo. — Alex já
está me esperando.
Sem dar espaço para mais perguntas, me despedi e fui embora, deixando
para trás a tensão sufocante que Filippo sempre trazia.
CAPÍTULO 10

FILIPPO ROMANO
Ao acordar, o sol filtrava pelas cortinas. O celular vibrou na mesinha de
cabeceira, interrompendo meus pensamentos dispersos. Ao conferir a
mensagem, vi que era de Leon:
Reunião na sede da máfia. 10h.
O dia começava antes do que eu esperava.
Depois de um café rápido e uma dor de cabeça persistente devido à noite
mal dormida, saí de casa. As ruas ainda estavam tranquilas, com poucas
pessoas circulando. O ar fresco da manhã não conseguia dissipar a
inquietação que me dominava. Meus pensamentos se fixavam nela, em
Serena, e na bagunça que fiz. Precisava encontrar um jeito de me desculpar,
mas não sabia por onde começar.
Chegando à sede, abri a porta e me deparei de cara com Matteo, encostado
na parede, os braços cruzados. Seus olhos me analisaram e eu sabia que ele
notaria qualquer coisa diferente.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Não, por quê? — respondi, tentando manter o tom firme, mas a tensão
na minha voz era quase palpável.
— Sua cara está estranha, e você nem fez suas piadinhas hoje. — Ele se
aproximou, parecendo preocupado.
— Não aconteceu nada. — Tentei ser convincente, mas nem eu acreditava
nas minhas próprias palavras.
— Não parece. — Matteo estreitou os olhos, como se tentasse ler meus
pensamentos.
— Cuida da sua vida, Matteo. — Minha resposta saiu mais ríspida do que
eu pretendia, mas eu não estava no clima para explicações.
— Que isso, Filippo? Você não é assim. — Ele insistiu, claramente notando
que algo estava errado.
Naquele momento, a porta se abriu e Leon entrou, sua presença dominando
o ambiente, como sempre.
— Bom dia, rapazes. — Sua voz firme cortou o clima tenso, e eu agradeci
mentalmente pela interrupção.
Enquanto Leon começava a reunião, discutindo os detalhes do nosso
próximo movimento, minha mente vagava. A pressão de abrir minha nova
boate se misturava com o peso do que havia acontecido com Serena. O que
eu tinha feito na noite anterior não saía da minha cabeça. Eu não conseguia
esquecer a sensação de tê-la nos meus braços e, ao mesmo tempo, a culpa
de ter agido por impulso. Isso não fazia sentido, e me consumia.
— Filippo? — A voz de Leon me tirou dos meus devaneios. — O que você
acha disso?
— Hã, o quê? — Perguntei, tentando disfarçar a distração.
— Precisamos da sua opinião sobre o novo negócio. Está preparado?
Eu fingi um sorriso, tentando demonstrar confiança, mas por dentro, o caos
continuava. Sabia que precisava focar, não só devido aos negócios.
— Claro, estou dentro. — Respondi, tentando soar firme, enquanto minha
mente ainda vagava entre a reunião e o beijo da noite anterior.
A reunião continuou, mas eu sabia que as sombras da dúvida e dos meus
sentimentos por Serena ainda pairavam sobre mim.
Quando terminou, Leon se aproximou de mim, com uma expressão séria,
mas fraternal.
— Aconteceu alguma coisa, irmão? Você parece que está em outro lugar.
Eu suspirei, tentando inventar uma desculpa.
— Ando preocupado com a nova boate que quero abrir.
Leon me olhou por um momento, como se estivesse pesando minhas
palavras, mas decidiu não pressionar.
— Fique tranquilo, você está no caminho certo. Ele sorriu de leve, tentando
me tranquilizar.
— Você vai à inauguração, certo? — Perguntei, mudando de assunto. — Na
última, você não foi.
Eu sabia que ele estava atolado, liderando a máfia e lidando com os
preparativos para nossa vingança pela morte do nosso pai.
— Com certeza, dessa vez estarei lá.
— Conto com você. — Respondi, aliviado por não precisar falar mais sobre
o que realmente estava me atormentando.
Mas, enquanto nos despedimos, uma única coisa continuava martelando na
minha cabeça: Serena.
Após ir ao meu escritório, recebo uma mensagem de Ethan.
>> Preciso da sua ajuda será que poderá vim em minha casa. 19 hrs.
Ethan não é de me procurar à toa e respondi que sim. Será que aconteceu
algo com Serena? Espero que não. Ele nem deve saber que nos
encontramos.
Cheguei à casa de Ethan um pouco antes das 19h. O portão rangeu
enquanto eu o empurrava e caminhei até a entrada. O silêncio ao redor
parecia aumentar a tensão no ar, ou talvez fosse só a minha cabeça tentando
se preparar para o que estava por vir.
Bati na porta e esperei. Logo, Ethan apareceu, com a expressão fechada. Ele
me cumprimentou com um aceno de cabeça e me fez sinal para entrar.
Caminhei até a sala de estar, sentindo a atmosfera pesada. Ethan não era de
rodeios, então imaginei que ele iria direto ao ponto, mas quando ele se
sentou à minha frente e ficou em silêncio por alguns segundos, a tensão só
cresceu.
Finalmente, ele quebrou o silêncio, olhando diretamente nos meus olhos.
— Descobri que você encontrou com minha irmã no evento — disse, com a
voz baixa, mas carregada de algo que eu não conseguia identificar
completamente.
Meu corpo ficou rígido na cadeira. As palavras dele caíram como uma
pedra. Será que Serena havia contado sobre o que aconteceu entre nós? Meu
coração acelerou e eu me preparei para o pior.
— Ela te contou? — perguntei, tentando parecer mais tranquilo do que
estava.
Ethan balançou a cabeça, um sorriso sem humor se formando em seus
lábios.
— Não precisou. Só pela cara de desgosto que ela chegou, só podia ser
você.
Senti o impacto das palavras dele como um soco no estômago. Claro que
Serena não falaria diretamente sobre o que aconteceu. Ela tinha o direito de
estar chateada, confusa… e provavelmente magoada. E Ethan, sendo o
irmão superprotetor que era, havia percebido isso imediatamente.
— O que aconteceu, Filippo? — Ethan perguntou, com a voz agora
carregada de preocupação, mas também de um leve tom de acusação. — O
que você fez para ela?
Engoli em seco, lutando para encontrar as palavras certas. Eu sabia que não
podia contar a verdade, não do jeito que as coisas aconteceram. Não queria
que Ethan soubesse que beijei a irmã dele sem pensar nas consequências,
movido por impulsos que eu mesmo não compreendia completamente.
— A gente só… discutiu — respondi, evitando o olhar direto dele. — Foi
uma conversa que saiu do controle.
Ethan estreitou os olhos, claramente desconfiado.
— Discutiu? — repetiu, como se estivesse esperando que eu desse mais
detalhes.
Respirei fundo, tentando parecer mais convincente.
— Olha, eu sei que errei, Ethan. Mas não foi nada sério. Só… tivemos uma
troca de palavras. Ela ficou chateada, mas não foi nada, além disso.
A verdade era muito mais complicada, mas não podia contar. Ethan
continuava me encarando, como se tentasse ler além das minhas palavras,
buscando algum sinal de que havia algo a mais.
— Se você magoar minha irmã, Filippo… — ele começou, e o tom de aviso
em sua voz era claro.
— Eu sei, cara — interrompi, tentando cortar o assunto antes que ele
mergulhasse mais fundo. — Eu nunca quis magoá-la. Nunca.
Ele pareceu aceitar minha resposta, mesmo que não estivesse
completamente convencido.
— Só cuida pra não estragar tudo — disse ele — Porque se tem alguém que
pode machucá-la de verdade, esse alguém é você.
— Eu jamais a machucaria, Ethan.
— Espero que não.
Eu estava na sala junto com Ethan, esperando ele terminar de revisar alguns
documentos, para conversarmos, quando ouvi o som dos passos descendo
as escadas. Não dei muita atenção no início, até que, pelo canto do olho, vi
algo que fez meu coração parar por um segundo.
Serena.
Ela estava descendo as escadas, e tudo ao redor pareceu ficar em câmera
lenta. Meu olhar foi automaticamente atraído para ela, como se eu não
tivesse escolha. O vestido que ela usava, elegante e justo nas medidas
certas, a fazia parecer… diferente. Mais madura, mais confiante. Seu cabelo
estava impecavelmente arrumado e havia algo em sua postura que me fez
perder o fôlego por um momento. Ela não era mais a garotinha que eu
sempre vi. Ela era uma mulher, e uma mulher deslumbrante.
Eu senti meu corpo tensionar involuntariamente. Um calor subiu pelo meu
peito, uma mistura de admiração e algo que eu não queria admitir. Mas
antes que eu pudesse formular qualquer pensamento racional, ela chegou ao
final da escada e, para meu desgosto, me ignorou completamente.
Serena caminhou direto até Ethan, como se eu fosse um fantasma.
— O Alex está me esperando — ela disse casualmente, arrumando os
cabelos com uma confiança quase fria.
“Alex?” Meu estômago revirou ao ouvir esse nome. Ela estava indo jantar
com ele? Meu peito apertou e, de repente, a sala pareceu menor. A ideia de
vê-la com outro cara, especialmente um colega de trabalho, não me caía
nada bem.
— Volto mais tarde — ela disse a Ethan, sem sequer lançar um olhar na
minha direção. Era como se eu não estivesse ali. E isso me incomodou mais
do que eu estava disposto a admitir.
Ethan, despreocupado, apenas sorriu e deu de ombros.
— Se divirta, Serena — disse ele, sem nem imaginar o efeito que essa
simples interação estava tendo em mim.
Enquanto ela se dirigia para a porta, tudo em mim gritava para fazer algo.
Para impedi-la. Dizer que ela não deveria ir. Mas o que eu podia fazer?
Nada. E isso me irritava.
Meus olhos a seguiram até a saída, e antes de ela sumir de vista, algo dentro
de mim quase me fez levantar e dizer alguma coisa. Mas as palavras
ficaram presas na garganta, como sempre.
— Até mais — foi tudo o que consegui dizer, quase inaudível, quando ela
desapareceu pela porta.
Assim que ela saiu, o silêncio que ficou na sala parecia ensurdecedor. Ethan
me observou por um momento, e foi impossível não perceber o pequeno
sorriso de satisfação no canto de seus lábios. Ele sabia o que aquilo me
causava, mas, como sempre, preferiu não comentar.
Fiquei ali, perdido em meus próprios pensamentos, tentando entender por
que aquele jantar mexeu tanto comigo. Sabia que a noite estava apenas
começando, mas algo dentro de mim já estava agitado, e, de alguma forma,
a ideia de Serena com outro homem fazia tudo parecer… errado.
Era um sentimento que eu não deveria ter, mas que estava ali, queimando
sob a superfície.
Merda!
— Você vai deixar ela sair com esse cara? — perguntei, não conseguindo
mais segurar a irritação que crescia dentro de mim. Minhas palavras saíram
mais duras do que eu pretendia.
Ethan me olhou com uma expressão confusa, quase cômica, como se
estivesse tentando entender de onde aquilo tinha vindo. Ele inclinou a
cabeça de leve, os olhos estreitos, analisando cada traço do meu rosto como
se buscasse uma explicação. Por um segundo, achei que ele fosse rir.
— Ela já é maior, Filippo — ele respondeu, dando de ombros. — Por que
não?
Eu senti meus punhos fecharem automaticamente, a tensão no meu corpo
aumentando. O nome “Alex” ecoava na minha cabeça como um sino
irritante. Por que diabos isso estava me incomodando tanto? Eu mal o
conhecia, mas sabia o suficiente. O jeito com que ele olhava para Serena no
baile, como se já tivesse tudo planejado. Eu já tinha visto caras como ele
antes, e sabia o que queriam. Porque também ajo assim.
— Eu não confio nesse cara — soltei, com a mandíbula tensa. Meus punhos
já estavam cerrados, e a raiva subia como uma onda. Só de imaginar Serena
com ele, rindo, se divertindo… algo dentro de mim queimava.
Ethan deu uma risada curta, completamente despreocupado. A confiança
dele na situação me irritava ainda mais. Ele cruzou os braços, se recostando
na cadeira como se não houvesse absolutamente nada para se preocupar.
— Fique tranquilo, Filippo. — Ele me lançou um olhar sério, como se
estivesse tentando acalmar uma criança que tinha medo do escuro. —
Minha irmã sabe se defender. Ela não é mais uma garotinha.
Essas palavras me atingiram como um soco no estômago. “Não é mais uma
garotinha.” Claro que não era. Isso ficou muito claro para mim na noite
anterior, quando ela me desarmou com aquele olhar, quando eu a beijei e
senti uma Serena completamente diferente nos meus braços. Mas ouvir
Ethan falar isso em voz alta, como se fosse uma verdade absoluta, me fez
encarar algo que eu estava tentando negar.
Eu não queria admitir, nem para mim mesmo, mas ver Serena indo para
aquele encontro estava me destruindo por dentro. Não era apenas
preocupação com quem ela sairia, era algo mais profundo, mais
complicado. E isso me deixava com ainda mais raiva.
— Você não entende… — comecei, tentando achar as palavras certas. Mas
como eu poderia explicar para Ethan o que nem eu mesmo compreendia?
Ethan estreitou os olhos, agora mais atento. Ele inclinou a cabeça de lado,
estudando minha expressão, e de repente pareceu juntar as peças.
— Espera aí… — ele começou, com uma expressão de surpresa. — O que
tá rolando, Filippo? Por que você está tão preocupado com isso?
— Nada tá rolando — menti, rápido demais. Desviei o olhar, tentando
esconder o tumulto interno, mas Ethan já tinha captado algo.
Ele soltou uma risada, incrédulo.
— Cara, você… — Ele balançou a cabeça, divertido. — Você tá com
ciúmes?
As palavras dele me acertaram como um tiro. Eu sabia que não tinha como
negar sem parecer ridículo. Mas também sabia que não podia deixar essa
conversa continuar. Não agora.
— Isso é ridículo — murmurei, tentando fugir do assunto. — Eu só acho
que ela merece alguém melhor.
Ethan me encarou por um longo momento, como se tentasse decidir se
deveria continuar com as provocações ou simplesmente deixar pra lá.
Finalmente, ele deu de ombros, voltando a focar nos papéis à sua frente.
— Relaxa, Filippo — disse, mais calmo. — Serena sabe o que faz. Ela não
é mais a mesma garota que você conheceu anos atrás.
Isso, eu já sabia.
— Qual o motivo de você me chamar aqui? — perguntei, tentando disfarçar
a falta de paciência. Eu sabia que Ethan não me chamaria para algo simples,
mas estava inquieto demais para rodeios.
Ele fechou o notebook calmamente e me olhou, com uma expressão séria, o
que me fez perceber que o assunto era mais delicado do que eu imaginava.
— Esses dias eu descobri o que aconteceu com Ava — disse ele, com uma
voz contida, como se as palavras pesassem na garganta.
— O quê? Não me diga que, depois de tudo, você foi atrás dela —
retruquei, tentando esconder minha irritação.
O rosto de Ethan endureceu, claramente ofendido pela minha suposição.
— Eu não fui atrás dela, Filippo. Foi o irmão dela quem veio até mim
pedindo ajuda. A mãe deles destruiu tudo, e agora eles estão falidos. — O
tom dele era amargo, uma mistura de raiva e preocupação.
Revirei os olhos, tentando não deixar minha frustração transparecer
completamente. Aquela família sempre parecia trazer caos para a vida dele.
— E agora querem ajuda? Manda eles se fuderem. — Minha voz saiu fria,
sem espaço para compaixão.
Ethan balançou a cabeça, desaprovando minha resposta imediata.
— Eu descobri muitas coisas, Filippo — ele continuou, mais sério ainda. —
E uma delas é que foi a mãe deles quem nos separou.
As palavras dele ecoaram na minha mente por alguns segundos, mas eu não
queria acreditar.
— E o que você quer que eu faça? — perguntei, agora com mais atenção.
Não estava entendendo exatamente o que ele esperava de mim.
Ethan respirou fundo, como se estivesse tentando reunir forças para
continuar. Ele parecia estar revivendo uma dor antiga, algo que nunca tinha
superado.
— A mãe delas pegou muito dinheiro com agiotas e sumiu no mundo,
deixando os filhos desesperados e sem saída. Ava está sendo ameaçada
constantemente. Eu até a encontrei desmaiada na rua esses dias, Filippo. —
Ele fechou os olhos por um momento e notei a dor evidente em seu rosto.
— Não consigo vê-la daquele jeito. Por mais que tenha sofrido naquela
época, eu ainda a amo.
Eu o observei por um momento, tentando entender até onde ele estava
disposto a ir. Será que Ethan sabia o que realmente faço, no que estou
envolvido?
— E como exatamente quer que eu ajude? — perguntei, curioso para saber
o quanto ele sabia sobre meus negócios.
Ethan deu um sorriso fraco, como se já esperasse aquela pergunta.
— Me ajude a descobrir quem são esses agiotas. Quero pagar a dívida e
livrá-los desses criminosos.
Eu o encarei, tentando entender o que ele sabia sobre minha vida e minhas
conexões.
Ele soltou uma risada curta, mas não era de diversão.
— Sei que sua família tem negócios no submundo, Filippo. Ou melhor,
vocês comandam o submundo. Não precisa esconder isso de mim.
Minhas sobrancelhas se ergueram com a surpresa, mas me recompus
rapidamente.
— Então, esse tempo todo, você sabia que minha família pertence à máfia?
— perguntei, cruzando os braços, querendo entender o que se passava na
cabeça dele.
Ethan assentiu calmamente.
— Sabia, sim.
— E nunca teve medo de que algo acontecesse com você? — perguntei,
curioso pela tranquilidade dele ao tratar disso.
— Claro que não. Confio a minha vida a você, Filippo — respondeu com
naturalidade, como se estivesse falando do clima.
Aquela confiança quase me desconcertou. Eu não era o tipo de pessoa que
merecia uma fé cega assim.
— Não fale isso, Ethan. Se eu precisasse te matar para proteger a minha
família, eu faria isso — retruquei, com um tom firme. Ele precisava
entender que o mundo em que eu vivia não era tão simples.
Ele me olhou sem medo algum, o que só reforçou o respeito que eu tinha
por ele.
— Eu sei, Filippo. Mas confie em mim. Eu jamais faria nada que
prejudicasse você ou sua família.
Soltei um suspiro, aliviado em parte por não precisar continuar escondendo
a verdade.
— Tudo bem, então. Pelo menos não preciso mais esconder quem eu sou.
Ele sorriu, satisfeito.
— Então, você pode me ajudar? — perguntou, esperançoso.
Dei uma leve risada. Ele era persistente.
— Posso tentar. Não sei quem são esses agiotas, e não sei se estão aliados à
minha família ou a uma gangue rival. Mas investigarei. Em alguns dias, te
dou uma resposta.
Os olhos de Ethan brilharam de gratidão.
— Obrigado, Filippo. Eu sabia que podia contar com você.
Eu o olhei com seriedade, sabendo que o caminho que ele estava prestes a
seguir era perigoso.
— Só te aviso uma coisa — digo em um tom mais sério. — Nosso mundo é
perigoso demais, Ethan. Você está disposto a entrar nisso sem saber o que
pode acontecer? Nós corremos riscos o tempo todo!
Ethan não hesitou. Ele estava decidido.
— Estou disposto, Filippo.
Olhei para o meu amigo e vi o sacrifício que ele estava fazendo por Ava.
Era impossível não perceber o quanto ele a amava mesmo depois de tanto
tempo. Se fosse mesmo verdade que a mãe dela os separou, ela teria que
pagar caro por isso.
E espero que Ava não esteja o usando novamente.
— Muito bem.
CAPÍTULO 11

SERENA FONSECA
Após sair de casa, entrei no carro de Alex, tentando me concentrar no que
estava por vir. A noite estava fria, mas eu me sentia animada. Alex era um
médico competente e divertido, e o convite para o jantar parecia ser
exatamente o que eu precisava para esquecer os últimos dias complicados.
Ele sorriu quando me viu entrando no carro.
— Você está linda, Serena — disse com um brilho nos olhos.
Senti minhas bochechas corarem um pouco, mas tentei manter a calma.
— Obrigada, Alex. Você também está ótimo — respondi, retribuindo o
sorriso.
O caminho até o restaurante foi tranquilo, e a conversa fluiu com facilidade.
Falamos sobre casos no hospital, sobre viagens que gostaríamos de fazer e,
claro, sobre nossa paixão pela medicina. Era fácil falar com ele. Diferente
da intensidade que Filippo sempre trazia, Alex tinha uma energia leve,
descontraída e isso me fazia bem.
Quando chegamos ao restaurante, um lugar aconchegante e elegante, ele me
conduziu até a mesa com naturalidade, mostrando que havia planejado tudo
com cuidado. O ambiente era calmo, com uma música suave tocando ao
fundo, e o aroma de comida italiana preenchia o ar. Sentei-me à mesa,
apreciando o lugar e a companhia.
— Espero que goste daqui. É um dos meus restaurantes favoritos — disse
ele, pegando o cardápio.
— Parece ótimo. Já amei o ambiente — respondi, enquanto olhava ao redor.
Depois de fazermos nossos pedidos, ele se inclinou levemente para mim,
seus olhos brilhando com curiosidade.
— Então, Serena… o que te levou à medicina? — ele perguntou,
claramente interessado.
Eu sorri, lembrando-me de quando decidi seguir essa carreira.
— Acho que foi o desejo de ajudar as pessoas, sabe? Sempre admirei os
médicos por fazerem a diferença na vida de alguém. Além disso, sempre fui
fascinada pelo corpo humano, como tudo funciona. A medicina sempre me
pareceu uma forma de transformar esse fascínio em algo prático e útil.
Ele assentiu, me ouvindo com atenção.
— Faz todo o sentido. E você é uma ótima médica. A equipe fala muito
bem de você — ele comentou, o que me fez sorrir de leve.
— Você também tem uma ótima reputação, Alex — disse, sincera. — Aliás,
vi isso hoje na cirurgia. Sua precisão é impressionante.
Ele deu uma risada modesta.
— Obrigado. Mas o sucesso da cirurgia foi trabalho em equipe, e você foi
essencial — ele retribuiu o elogio, fazendo-me sentir ainda mais
confortável.
Conforme a noite avançava, me senti cada vez mais relaxada. Alex sabia
como manter a conversa interessante e divertida, e isso me ajudava a
esquecer os pensamentos complicados sobre Filippo. Por mais que ele
estivesse em algum lugar da minha mente, tentei não deixar que sua
imagem invadisse minha noite.
Após o jantar, enquanto tomávamos a sobremesa, ele me olhou com um
sorriso suave.
— Serena, eu realmente estou gostando de passar esse tempo com você. É
diferente, sabe? Parece natural, fácil…
Eu sorri, me sentindo lisonjeada.
— Eu também estou gostando, Alex. Você é uma ótima companhia.
Ele então pegou minha mão, segurando-a gentilmente.
— Eu gostaria de fazer isso mais vezes. Que tal planejarmos para outro
jantar? — Ele perguntou e seus olhos encontraram os meus com uma
intensidade suave.
Senti meu coração acelerar um pouco, mas de forma positiva. Alex era
alguém que eu estava começando a gostar. Talvez fosse exatamente o que
eu precisava para seguir em frente, longe das confusões e incertezas.
— Eu adoraria — respondi, sem hesitar.
A noite continuou em um clima leve, e quando ele me levou de volta para
casa, me despedi com um beijo no rosto, sentindo que estava dando um
passo em uma nova direção.
Porém, enquanto subia as escadas, não pude deixar de sentir uma leve
pontada de dúvida. Será que eu realmente estava pronta para um
relacionamento?
Quando abri a porta de casa, fui recebida pelo silêncio do lugar. Meus
passos ecoavam levemente no corredor enquanto eu caminhava em direção
às escadas, ainda pensando na noite agradável que acabei de ter com Alex.
Mas assim que virei o corredor, dei de cara com Filippo. Ele estava parado
perto da sala de estar, os braços cruzados, com aquele olhar intenso que
sempre me fazia sentir algo dentro de mim, algo que eu tentava ignorar.
Meu coração disparou no mesmo instante, o ritmo acelerado, lembrando-me
de todas as emoções complicadas que ele sempre revisitava. Por mais que
eu quisesse ignorá-lo, era impossível. Ele tinha um jeito de invadir minha
mente sem pedir permissão.
Por que ele não foi embora? Já deve ser mais de 10 horas da noite.
— E aí, como foi o jantar? — ele perguntou com sua voz grossa, mas
carregada de algo que eu não conseguia identificar de imediato. Ciúmes?
Interesse? Talvez ambos.
Engoli em seco, tentando não deixar transparecer o impacto que sua
presença causava. Mantive meu tom casual, mesmo que minhas emoções
estivessem um caos interno.
— Foi ótimo, obrigada por perguntar — respondi, tentando passar por ele,
mas Filippo não se moveu. Ele bloqueia parte do caminho.
— “Ótimo”, é? — Ele repetiu, com uma sobrancelha levantada, como se
estivesse duvidando. — O cara parece ser um bom partido.
Não gostei do tom irônico, e meu corpo reagiu antes que minha mente
pudesse processar. Respirei fundo, tentando manter o controle.
— Sim, ele é — respondi seca, sem querer prolongar aquela conversa.
Filippo não tinha o direito de fazer comentários sobre minha vida,
especialmente depois do que aconteceu entre nós.
— Você está realmente interessada nele? — A pergunta veio quase como
um desafio, como se ele estivesse testando algo, e não pude deixar de notar
a tensão que crescia entre nós.
Eu o encarei, meu coração acelerado, mas tentando manter a calma.
— Filippo, o que isso importa para você? — perguntei, sentindo minha
paciência se esgotar. — Nós dois sabemos que você deixou claro o que
pensa de mim e da nossa situação. Eu não sou mais uma garotinha, e você
não tem o direito de ficar me questionando sobre com quem eu saio.
Ele ficou em silêncio por um momento, mas seus olhos continuavam fixos
nos meus. A intensidade deles me desconcertou, me fazia querer entender o
que ele realmente estava pensando.
— Eu só… quero ter certeza de que você sabe o que está fazendo.
— Sei muito bem o que estou fazendo — rebati, firme. — E, de novo, isso
não é da sua conta.
Filippo descruzou os braços e deu um passo em minha direção. Por reflexo,
eu recuei um pouco, mas não deixei de encará-lo. A proximidade dele
sempre me deixava nervosa, mas eu não queria demonstrar fraqueza.
— Serena… — ele se aproximou e, com sua voz quase como um sussurro,
fez meu corpo se arrepiar. — Não pense que eu não me importo.
Meu coração deu um salto com aquelas palavras, mas me forcei a manter a
postura firme. Já era confuso demais lidar com os sentimentos que ele
sempre trazia. Eu não podia deixar que Filippo continuasse bagunçando
minha cabeça e meu coração.
— Se importa tanto, Filippo? — perguntei, minha voz carregada de
frustração. — Por que sempre me mantém a distância? E agora, quando eu
tento seguir em frente, você aparece com essas perguntas e olhares? Não faz
sentido!
Ele ficou em silêncio novamente. Filippo sempre foi complicado, e lidar
com ele era como andar em um campo minado.
— Eu só quero que você fique bem.
— Eu estou bem — respondi, mais para mim mesma do que para ele.
Sem dizer mais nada, virei-me e subi as escadas, sentindo seu olhar nas
minhas costas o tempo todo. Meu coração ainda estava disparado, e as
dúvidas que pensei ter deixado para trás com Alex agora voltaram com
força. Filippo sempre mexia comigo de um jeito que ninguém mais
conseguia, e eu odiava isso.
Assim que cheguei ao meu quarto, fechei a porta e respirei fundo. Precisava
entender o que realmente queria. Mas, acima de tudo, precisava encontrar
uma forma de proteger meu coração dele…
Na manhã seguinte, acordei cedo, ainda com os pensamentos bagunçados
depois da noite anterior. Filippo conseguia fazer isso comigo como
ninguém. Passei a mão pelos cabelos, suspirei fundo e decidi que precisava
começar o dia com clareza.
Agora é meu momento mágico. Fiz minha Skin Care e escovei meus
cabelos, os deixando mais brilhantes.
Como amo cuidar da minha pele, me sinto outra. Já são 8 horas. Já estou
atrasada, meu plantão começa às 9 horas.
Vesti-me rapidamente e desci para a cozinha, onde encontrei Ethan já
sentado, tomando café e trabalhando em seu notebook como de costume.
— Bom dia, irmã.
— Bom dia — respondi, pegando uma xícara de café e me sentando à mesa.
O silêncio entre nós era confortável, mas eu sabia que ele me observava de
canto de olho.
— E então, como foi o jantar com o tal do Alex? — Ethan perguntou
casualmente, mas eu sabia que ele estava testando o terreno.
Suspirei, tentando esconder a leve confusão que ainda sentia.
— Foi legal. Ele é... simpático, e a conversa fluiu bem.
— Só isso? — Ele me olhou por cima do notebook, arqueando uma
sobrancelha. — Quer dizer, você parecia empolgada ontem.
Revirei os olhos, mas sorri de leve.
— Sim, Ethan, só isso. Foi um jantar tranquilo, nada de mais.
Ele fechou o notebook e me encarou com aquele olhar investigativo de
irmão mais velho, o que sempre me fazia sentir como se estivesse sendo
analisada.
— Só quero ter certeza de que você está bem, Serena. Ontem, você estava
toda empolgada para sair, e agora parece que algo te incomoda.
Mordi o lábio, tentando decidir se deveria contar a ele sobre o que havia
acontecido com Filippo quando voltei. Parte de mim sabia que Ethan
entenderia, mas outra parte ainda tentava proteger essa história toda, por
medo de que ele se envolvesse mais do que deveria.
— Está tudo bem, de verdade — respondi, desviando o olhar para a minha
xícara de café. — Só… tenho muita coisa na cabeça, sabe? O trabalho no
hospital, por exemplo.
Pego uma fatia de pão, espalho manteiga e coloco ovos mexidos com bacon
por cima, montando um sanduíche improvisado. Enquanto mastigava a
primeira mordida, olhei para ele.
— Te entendo, irmã. Só quero o seu bem — ele disse de repente, ainda
olhando para a tela.
Senti um calor no peito e sorri, sabendo o quanto ele se preocupava comigo.
— Eu sei, irmão, por isso que te amo — respondi com um sorriso afetuoso.
— Também te amo, Serena — disse ele, com um brilho carinhoso no olhar.
Enquanto terminava meu café e o sanduíche, olhei o relógio e me dei conta
de que estava ficando tarde. Suspirei, já pegando minhas coisas
apressadamente.
— Preciso ir. Já estou atrasada — falei, colocando minha bolsa no ombro.
— Espere, estou saindo agora também. Posso te deixar no hospital?
— Tudo bem — respondi, um pouco aliviada por não precisar pegar um
táxi ou esperar pelo transporte público. Ainda não tenho coragem de pegar
um carro e dirigir, meu irmão até me ofereceu para contratar um motorista,
mas neguei, tranquilizando dizendo que posso ir de táxi quando ele não
puder me levar.
Ele arrumou rapidamente seus pertences, guardando o notebook na pasta
com eficiência. Em poucos minutos, estávamos prontos para sair.
Caminhamos lado a lado em direção ao carro, e o sol da manhã nos
envolvia com um calor suave. Enquanto ele destrancava o carro, entrei no
banco do passageiro e soltei um suspiro, já me preparando mentalmente
para o longo dia de trabalho que me aguardava no hospital.
CAPÍTULO 12

FILIPPO ROMANO
O que deu na minha cabeça de ficar na casa de Ethan até Serena voltar do
seu “encontrinho”? Ficar lá, me remoendo, esperando… só piorou a
situação. Cada minuto que passava, eu me sentia mais impaciente, mais
irritado.
Quando finalmente a vi entrar, sorrindo como se o mundo estivesse perfeito,
algo dentro de mim revirou.
Saí de lá com um peso no peito que eu nem conseguia explicar. Por que
diabos isso me incomoda tanto? Ela tem todo o direito de sair, de se divertir.
Mas ver aquele sorriso estampado no rosto dela depois de estar com outro
cara, me fez querer socar alguma coisa ou matar alguém.
Preciso ocupar minha mente com algo, depois da conversa com Ethan,
decidi ajudá-lo. O pedido dele era algo delicado e envolvia riscos que nem
ele conseguia imaginar completamente. Eu sabia que, para ajudá-lo, teria
que mergulhar ainda mais no submundo da máfia e talvez entrar em conflito
com aliados ou inimigos perigosos. Isso significava caminhar em território
instável, mas eu não podia negar o pedido do meu melhor amigo.
O primeiro lugar em que poderia obter alguma informação sobre esses
agiotas seria o bar que nossa família controlava. Era um dos muitos
negócios de fachada, mas que funcionava como ponto de encontro para
várias pessoas importantes do submundo, e onde James, que sempre foi leal
à família, mantinha as coisas sob controle.
Quando cheguei, o ambiente estava como sempre: música baixa, um cheiro
forte de álcool e fumaça de cigarro no ar. Aquele lugar sempre me fez
lembrar o quão profunda era a conexão da nossa família com esse mundo.
James, como de costume, estava atrás do balcão, limpando um copo com
aquele olhar atento que parecia registrar cada movimento ao redor.
— Filippo — ele me cumprimentou com um leve aceno de cabeça, sem se
surpreender com a minha presença. — O que te traz aqui?
— Preciso de algumas informações, James. E você é a pessoa certa para me
ajudar — respondi, me aproximando do balcão e me sentando em um dos
bancos.
James parou o que estava fazendo e se inclinou levemente na minha
direção, como sempre fazia quando sabia que a conversa seria confidencial.
— Diga o que precisa.
— Preciso saber se você ouviu algo sobre uma mulher que deve muito
dinheiro a agiotas. A mãe de Ava Smith, você sabe da família que estou
falando… Ela fez dívidas com gente perigosa e sumiu, deixando os filhos
na merda. Preciso saber quem são esses agiotas — expliquei, direto ao
ponto.
James franziu o cenho, pensativo por um momento, e depois fez sinal para
que eu o seguisse até a parte mais isolada do bar, longe de ouvidos curiosos.
O bar era grande o suficiente para termos conversas sem interrupções.
Sentamos em uma mesa no canto e ele começou a falar.
— Ouvi alguns rumores, mas nada certo. Esses agiotas com quem essa
mulher se meteu são novos no circuito. Estão tentando ganhar território,
talvez até enfrentando a nossa família. Se é isso que você quer saber, tem
chances de que eles não sejam aliados — disse, coçando a barba rala
enquanto refletia sobre as informações.
— Tem algum nome? — perguntei.
— Não diretamente. Mas ouvi falarem sobre um cara chamado Santoro.
Não sei muito sobre ele, mas parece que está se metendo com pequenos
empresários e gente desesperada. Pode ser o cara que está por trás disso.
Santoro… O nome não me era familiar, mas eu teria que investigar mais a
fundo.
— Se ele está tentando se expandir, pode ser que esteja tentando provocar a
nossa família também — continuei, pensando alto. — Isso pode complicar
as coisas.
James assentiu.
— Exato. E se ele tiver dívidas a cobrar de gente como essa mulher… ele
vai querer fazer um exemplo. Isso é tudo sobre controle e medo.
Apertei os punhos, sentindo a tensão subir em meu corpo. Ethan não fazia
ideia do que estava pedindo. Esse Santoro parecia ser mais do que apenas
um agiota qualquer. Se ele estava tentando expandir seu poder, ajudar Ava e
a família dela poderia ser visto como um desafio direto.
— Preciso de mais informações sobre Santoro — Falo com firmeza. —
Quero saber onde ele opera, quem trabalha com ele, e se ele já se cruzou
com algum dos nossos.
James me olhou cuidadosamente.
— Vou investigar e ver o que consigo. Mas, Filippo, cuidado com isso.
Santoro pode estar jogando um jogo mais perigoso do que parece.
Levantei-me, pronto para seguir adiante, mas as palavras de James ficaram
ecoando na minha mente. Esse era um território perigoso, e ao pisar nele,
não haveria volta. Sabia que, ao envolver a máfia, eu estava aumentando os
riscos.
Melhor eu não envolver minha família e fazer as coisas por conta própria.
Sei que meu irmão resolveria isso em um estalar de dedos, mas prefiro fazer
isso sozinho. Ele já tem problemas demais para resolver.
— Me avisa assim que souber de algo. Não importa a hora — digo, antes de
sair do bar e voltar para a rua.
***
No dia seguinte, fui direto para o meu escritório, que ficava na boate que,
logo, logo seria aberta. Era a minha primeira grande empreitada sem tanto
envolvimento direto de Leon e Matteo, então queria garantir que tudo saísse
como o planejado. Enquanto analisava os últimos detalhes da obra e
discutia o cronograma com alguns dos gerentes, minha mente ainda vagava,
retornando para a noite anterior.
Ethan não havia me ligado desde então, e eu sabia que, se precisasse de
algo, ele me procuraria. Ele era prático e direto, e se ainda não havia feito
contato, era porque as coisas estavam sob controle — pelo menos, por
enquanto.
Meus soldados estavam espalhados por toda a área, sempre atentos. Carlos,
meu melhor soldado e homem de confiança, mantinha os olhos e ouvidos
em tudo o que acontecia ao redor. Ele sempre foi eficiente, nunca me
deixava na mão.
Enquanto revisava alguns contratos e ajustava os últimos detalhes do evento
de inauguração, ouvi uma batida firme na porta. Levantei o olhar, surpreso,
e vi meu irmão Matteo entrar com seu jeito tranquilo, mas sempre atento.
— Matteo? O que faz aqui? — perguntei, levantando-me da cadeira,
tentando esconder a leve tensão que ainda sentia.
Ele entrou, cruzando os braços e me observando com aquele olhar que só
um irmão mais velho consegue ter — uma mistura de preocupação e
autoridade.
— Fiquei preocupado e vim saber como você está. James me contou sobre
o seu pedido a ele — disse ele, sem rodeios.
— Não sabia que ele era tão fofoqueiro — respondi, tentando soar
despreocupado, mas sabendo que Matteo me conhecia bem demais para cair
nessa.
— Ele é de confiança, Filippo. Não precisa se preocupar com isso. Somos
família, e se você está com algum problema, nós podemos ajudar.
Suspirei, sabendo que não adiantava fugir da conversa. Matteo sempre teve
essa habilidade de me ler, de perceber quando algo estava errado. E naquele
momento, ele estava certo.
— Eu sei, irmão. Mas eu consigo lidar com isso. — Olhei para ele,
decidindo ser honesto. — Ethan veio até mim e contou tudo sobre Ava,
sobre a situação com a mãe dela. Ele quer minha ajuda para lidar com os
agiotas que estão atrás delas.
Matteo assentiu, seu rosto ficando mais sério, mas sem surpresa. Ele sabia
do nosso envolvimento no submundo e entendia o quão perigoso aquilo
podia ser. Depois de alguns segundos de silêncio, ele sorriu de leve.
— Você cresceu, Filippo. Tenho orgulho de você, irmão. — Ele colocou a
mão no meu ombro, um gesto raro vindo dele. — Mas se tiver algum
problema, pode nos chamar. Você sabe que eu e Leon estamos sempre com
você.
— Obrigado, irmão. Não vou hesitar em pedir ajuda, se precisar.
Matteo ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando
algo. O olhar dele mudou, e eu senti que ele estava prestes a tocar em um
assunto que eu preferia evitar. Finalmente, ele falou.
— Agora me conta. O que está acontecendo com você e a irmã de Ethan?
Meu corpo ficou tenso imediatamente. Como ele sabia disso? Eu nunca
mencionei Serena para ninguém da família, e especialmente não para
Matteo.
— Como você sabe disso? — perguntei, tentando não soar defensivo, mas
falhando miseravelmente.
Ele riu, dando de ombros.
— Um amigo que estava no evento me disse.
Era claro que, no mundo em que vivíamos, notícias se espalhavam rápido.
Sabia que Matteo não ia deixar esse assunto passar, e mentir para ele não
era uma opção. Além disso, ele era o tipo de irmão que, uma vez que
colocava a atenção em algo, não parava até entender completamente.
Suspirei profundamente, percebendo que não adiantava tentar esconder a
verdade de Matteo. Ele sempre conseguia arrancar as coisas de mim,
mesmo que eu quisesse manter tudo trancado dentro da minha mente. A
verdade era que, desde aquela noite, minha cabeça estava uma bagunça
completa. Aquele beijo com Serena, o jeito como ela me olhava, aquela
mistura de sentimentos que eu não conseguia entender, muito menos
controlar.
Eu estava hesitante, mas decidi contar tudo. Desde o início, desde o
momento em que a vi como a irmãzinha do meu melhor amigo, até o dia em
que tudo mudou.
Matteo me olhou por um segundo, absorvendo tudo o que eu disse. Mas não
demorou muito para sua reação vir à tona.
— Caraio, irmão — ele soltou com um suspiro de descrença. — Você
rejeitou a menina e por isso ela foi embora?
Assenti, sentindo o peso daquilo tudo mais uma vez. Era óbvio, agora que
ele disse em voz alta. Eu tinha sido o motivo pelo qual ela fugiu, deixou
tudo para trás.
— Sim, Matteo — respondi, com a voz tensa. — E desde então, parece que
ela carrega um ódio por mim. Não sei como lidar com isso.
Matteo balançou a cabeça, claramente tentando processar o que eu havia
contado. Ele me olhou de cima a baixo, como se estivesse avaliando a
situação de todas as formas possíveis.
— Até entendo ela, Filippo — Ele finalmente saiu do silêncio. — Você foi
o primeiro amor dela. Isso não é pouca coisa. E você destruiu tudo com um
simples estalar de dedos.
As palavras dele bateram em cheio. Eu sabia que tinha errado, mas ouvir
isso de Matteo, que sempre foi o mais direto e sincero comigo, fazia o erro
parecer ainda maior. E o estranho é que ele é sempre avesso a
relacionamentos. Mas tem os melhores conselhos.
— E agora? — Ele me observou, esperando a resposta. — Está
arrependido? Está querendo consertar as coisas?
Olhei para ele, sem saber o que dizer. Era isso que eu queria? Consertar as
coisas? Uma parte de mim sabia que sim. Mas a outra parte, a parte que
tinha medo de estragar tudo de novo, me mantinha preso.
— Não sei se é arrependimento — admiti, olhando para o chão. — Mas,
sim, talvez eu queira uma segunda chance. Não sei, Matteo. Tudo parece
tão confuso agora.
Ele ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre o que eu disse.
— Olha, irmão — ele começou com seu semblante mais sério. — Se você
quer mesmo consertar as coisas, vai precisar ser honesto com ela. Não
adianta fugir ou se esconder atrás do passado. Serena não é mais aquela
menina de antes, pelo que me contou. Se você quer mesmo algo com ela,
terá que lutar por isso ou vai perdê-la pro Alex.
Eu sabia que ele estava certo. E ao falar do médico com quem ela saiu, me
deixou ainda mais irritado.
— Pense bem, irmão. E faça o melhor pra você.
— Obrigado irmão.
— Agora, vamos falar da boate. Estou ansioso para essa inauguração.
— Já está tudo pronto e conto com a sua presença.
— Com certeza não perderei. Disse como se fosse aprontar e muito. Matteo
sendo Matteo.
CAPÍTULO 13

SERENA FONSECA
Eu fiz de tudo para manter distância de Filippo. Depois do que aconteceu
entre nós, decidi que não queria mais sentir nada por ele. Tentei seguir em
frente, me convencendo de que ele não fazia parte do meu futuro.
Foi então que Alex começou a se aproximar, e ele parecia a escolha certa
para mim. Simpático, confiável, e sempre presente. Ele me tratava bem, e o
mais importante, era alguém que não tinha ligação com Filippo. Quando
Alex me convidou para ir à inauguração de uma nova boate, aceitei sem
pensar duas vezes.
Assim que entrei no local, meus olhos rapidamente examinaram o
ambiente. As luzes piscavam, a música estava alta e o lugar estava cheio de
gente. O ar carregado de diversão não conseguiu distrair meu nervosismo
crescente. Alex estava ao meu lado, conversando com conhecidos, mas algo
dentro de mim me deixava inquieta.
Enquanto ele falava, eu notei a presença de Filippo. Ele estava lá, no meio
de uma roda de homens de terno, provavelmente conversando sobre
negócios. Assim que nossos olhares se cruzaram, meu coração disparou e
eu soube que minha noite tranquila estava oficialmente arruinada.
— Serena? Alex me chamou, colocando a mão no meu braço. — Quer
beber alguma coisa?
— Claro… — tentei sorrir, mas já não conseguia disfarçar a tensão.
Alex me levou até o bar e, enquanto ele fazia o pedido, senti alguém se
aproximando. O perfume era inconfundível. Era Filippo.
— Podemos conversar? — A voz dele estava baixa, mas firme.
Olhei para Alex, que estava distraído com o barman. Filippo não esperou
minha resposta, apenas segurou meu braço com firmeza e me puxou para
um canto mais reservado. Meu corpo inteiro reagiu ao toque dele, o que só
me deixou ainda mais irritada.
— O que você está fazendo? — Sussurrei, tentando me desvencilhar.
— Eu que deveria perguntar isso, Serena. O que está fazendo com Alex? —
ele retrucou, o rosto a centímetros do meu. Seus olhos escuros estavam
cheios de algo que eu não conseguia decifrar.
— Não é da sua conta! — rebati, tentando soar confiante, embora minha
voz estivesse tremendo.
Ele me olhou por um longo segundo e, antes que eu pudesse entender o que
estava acontecendo, Filippo me puxou para mais perto e me beijou. Foi um
beijo urgente, possessivo.
Eu deveria ter empurrado, deveria ter gritado. Mas, em vez disso, meu
corpo cedeu por alguns segundos, o desejo latente que eu tentava negar se
manifestando. No entanto, a raiva logo assumiu o controle.
Afastei-me dele com um empurrão.
— Você acha que pode simplesmente me beijar? — falei frustrada.
— Não quero que você esteja com ele — Filippo disse, as palavras saindo
entre dentes.
— E por que você se importa, Filippo? — Meus olhos se encheram de
lágrimas, mas eu segurei. — Você me rejeitou. Você me deixou ir embora.
Agora quer bancar o protetor?
Antes que ele pudesse responder, me afastei e voltei para onde Alex estava.
E, numa atitude impulsiva, o beijei, sabendo muito bem que Filippo estava
assistindo. Mas o beijo com Alex não teve o mesmo impacto. Era forçado,
vazio. Quando me afastei, o sorriso de Alex era sincero, mas eu não sentia
nada além de culpa.
Ao olhar por cima do ombro, vi Filippo observando a cena, com os punhos
cerrados…
Após aquela noite conturbada na boate, Alex se aproximou ainda mais de
mim. Eu sentia que ele estava tentando preencher um espaço que, para ele,
parecia estar vazio, mas que para mim estava confuso e dolorido. Cada vez
que Filippo invadia meus pensamentos, eu tentava afastar a lembrança, mas
era inútil.
Mas Alex, sempre tão compreensivo e gentil, fez questão de me mostrar
que ele estava ali para mim. Algumas semanas depois, ele me convidou
para jantar em um restaurante elegante. Ele estava mais quieto que o
normal, o que me deixou desconfortável, mas tentei manter o clima leve.
Quando a sobremesa chegou, ele segurou minha mão por cima da mesa,
seus olhos fixos nos meus. Meu coração disparou, mas dessa vez não foi
pela razão certa.
— Serena… — Alex começou, com um sorriso nervoso. — A gente já se
conhece há algum tempo, e eu realmente gosto muito de você. Sinto que
temos algo especial, algo que pode crescer com o tempo.
Eu já sabia para onde isso estava indo, e meu estômago se revirou. Antes
que pudesse processar o que estava acontecendo, Alex continuou.
— Eu quero que a gente leve isso adiante. Serena, você aceita namorar
comigo?
Fiquei paralisada por um momento, com o sorriso de Alex diante de mim.
Eu sabia que ele era um bom homem, e eu não queria machucá-lo. Ao
mesmo tempo, a memória de Filippo e seu beijo surgia em minha mente
como um fantasma que eu não conseguia exorcizar. E isso me torturava.
Respirei fundo, tentando afastar meus próprios sentimentos.
— Alex, eu… — comecei, tentando ser honesta. — Eu gosto realmente de
você, mas…
— Você continua pensando no Filippo, não é? — Ele interrompeu, sua
expressão ficando mais séria, mas ainda assim calma.
Como ele sabe disso?
Minha boca secou. Eu não queria confirmar aquilo, mas também não podia
mentir. A verdade era dolorosa demais para ser ignorada.
— É complicado — admiti. — Eu não quero te machucar, Alex. Não acho
justo você estar comigo enquanto continuo tentando esquecer algo que…
que me marcou muito.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, parecendo refletir sobre minhas
palavras. Depois de um tempo, ele apertou minha mão mais uma vez, seu
sorriso retornando, mas de forma mais tranquila.
— Eu entendo, Serena. Mas… eu acredito que o tempo pode mudar isso. Eu
não estou pedindo para você se apaixonar por mim agora, apenas para me
dar uma chance. Vamos com calma. Quem sabe, com o tempo, as coisas
entre nós possam florescer?
A proposta dele parecia razoável. Eu queria acreditar que era possível.
Queria acreditar que, se Filippo se afastasse e Alex continuasse presente,
talvez meu coração finalmente encontraria paz. Eu não queria enganar
Alex, mas, ao mesmo tempo, havia uma parte de mim que esperava que,
eventualmente, eu pudesse amar aquele homem tão gentil que me oferecia
tudo sem pedir nada em troca.
Suspirei e, finalmente, assenti.
— Tudo bem, Alex. Eu aceito.
Seus olhos brilharam de alívio, e ele se inclinou para me beijar. Senti seus
lábios nos meus, suaves, sem a intensidade destruidora que eu tinha
experimentado com Filippo. Era um beijo doce, gentil… mas vazio.
No fundo, eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Que não
importava o quanto eu tentasse, Filippo ainda estava em algum lugar do
meu coração. Mas Alex era a escolha lógica, a escolha que me oferecia um
caminho sem dor.
CAPÍTULO 14

FILIPPO ROMANO
Um ano depois
Eu e Serena nos afastamos depois que ela começou a namorar aquele cara.
Ela estava determinada a manter distância, e a dor de sua rejeição se
transformou em um peso constante em meu peito.
Matteo finalmente se casou, e para minha surpresa, ele, que sempre foi
avesso a qualquer compromisso, encontrou a felicidade ao lado de Lucy.
Eles formaram um casal improvável, mas a conexão que desenvolveram era
inegável e, de certa forma, reconfortante. Ver meus irmãos tão felizes em
seus casamentos me deu esperança, mas também aumentou minha
frustração.
O que realmente me deixava mais louco era saber pelo meu amigo que
Serena aceitou se casar com Alex. O cara que sempre achei superficial e
que não merecia a mulher que eu amava.
A notícia me atingiu como um soco no estômago. Eu não podia
simplesmente ficar de braços cruzados enquanto isso acontecia. A cada dia
que passava, percebia o quanto a amava e o quanto não estava disposto a
deixá-la ir.
Foi aí que tomei uma decisão desesperada. Em uma conversa com Matteo,
pedi ajuda a ele.
— Eu não vou deixar que ela se case — declarei determinado.
Matteo me olhou surpreso, a expressão variando entre a incredulidade e a
preocupação. Meses atrás, eu pedi sua ajuda para sequestrá-la e ele aceitou.
Não sei por que, agora, ele fica me questionando.
— Filippo, você está falando sério? — ele perguntou novamente, como se
estivesse me estudando. — Isso é uma loucura!
— Pode chamar do que quiser, mas é a única forma que vejo para fazê-la
entender o que sinto.
Ele suspirou, pesando as palavras. Eu sabia que essa não era a solução
ideal, mas o amor pode nos levar a lugares obscuros e irracionais.
— E se ela não reagir bem? — ele ponderou. — E se isso acabar piorando
tudo?
— Eu sei o que estou fazendo, Matteo. Eu só preciso de uma chance. E se
ela não quiser ficar comigo depois disso, então eu aceito. Mas, pelo menos,
preciso tentar.
O pior de tudo é que meu irmão será padrinho de casamento dela, que por
ironia do destino, Lucy e Serena se conheceram em um evento e viraram
grandes amigas.
A tensão estava no ar, e, embora Matteo hesitasse, a preocupação pela
minha felicidade e pela de Serena estava evidente em seus olhos. No fundo,
eu sabia que ele queria ajudar. Ele sempre quis.
No dia em que ele me contou sobre ser padrinho, fiquei puto de raiva. Mas
depois ele me acalmou dizendo que as coisas seriam mais fáceis se ele
estivesse lá e ele tinha razão.
Ethan pode fingir que não sabe de nada, mas sei que ele sabe e se mantém
na dele. Ele não se intromete na vida dela.
— Você precisa ser cuidadoso, Filippo. A última coisa que quero é que você
se machuque ainda mais.
Concordei, embora a determinação ainda fervesse dentro de mim.
Se eu tivesse que ser o vilão para ganhar seu coração de volta, então era
isso que eu faria.
A vida era curta demais para me permitir ficar parado, assistindo à mulher
que amo se entregar a outro. Não deixaria isso acontecer…
Ao entrar na sede da máfia, o clima já estava tenso, como sempre. Foi então
que avistei minha prima Crystal, encostada em uma das mesas, e me olhava
curiosa.
— Oi, Filippo. — Disse levantando uma sobrancelha. — Sério que você vai
fazer isso? Escutei sua conversa com Matteo — perguntou, inclinando a
cabeça e seus olhos brilhavam em busca de informações.
Suspirei, sabendo que não poderia esconder nada dela. Crystal sempre teve
um jeito de cutucar onde doía.
— Você não entende — disse baixo. — Serena vai se casar com aquele
idiota. Eu não posso deixar isso acontecer.
Ela me observou com um olhar sério, como se estivesse pesando minhas
palavras.
— E sequestrá-la é a solução? — perguntou, sem rodeios. — Você
realmente acha que isso vai resolver?
— Eu só quero que ela entenda o que sinto por ela — respondi frustrado —
Se não fizer nada agora, será tarde demais.
— Ou ela pode te odiar ainda mais — Crystal rebateu, cruzando os braços.
— Filippo, você sabe que isso não é como em um filme. A realidade tem
consequências.
— Eu sei, — disse, passando a mão pelos cabelos. — Mas se não tentar,
vou me arrepender para sempre.
Ela respirou fundo, avaliando minha expressão.
— Olha, eu não sou a pessoa mais sensata do mundo, mas posso te ajudar.
Só precisa prometer que pensará duas vezes antes de agir.
Eu a encarei, surpreso com a oferta. Crystal sempre foi leal à família e tinha
uma cabeça boa.
— Você realmente faria isso por mim? Perguntei.
— Claro, — Disse, esboçando um sorriso. — Só porque sou sua prima e
você parece estar precisando de alguém que te coloque nos eixos.
— Então vamos fazer isso.
— Será ótimo, ter mais uma membra para o nosso clube. Disse empolgada e
sorrio com suas palavras.
Crystal era incrível e determinada. Eu admirava o jeito dela de resolver as
coisas sozinha, sem precisar de ninguém.
Ela era alguns anos mais nova que eu, e sempre tivemos uma boa conexão.
Já ajudei bastante ela a escapar dos pais, e graças à minha ajuda, nossos tios
permitiram que ela ficasse aqui em Nova Iorque. Mas agora, sei que eles
estão planejando um casamento para ela, e isso pode causar um grande
problema.
Se for para escolher um lado, estarei sempre ao lado dela, assim como ela
sempre esteve ao meu lado.
Espero apenas que as coisas não terminem de forma tão trágica. Meu tio
comanda a máfia Vitale na Itália e, seguindo as tradições da família, eles
costumam arranjar casamentos vantajosos para as filhas.
***
Naquela manhã, recebi uma mensagem de Leon me pedindo para ir ao
escritório dele. O tom direto e seco indicava que era algo sério. Caminhei
até a sede da nossa organização, o coração da nossa operação. Os homens
me cumprimentavam com acenos respeitosos.
Ao entrar no escritório, encontrei meu irmão de pé, de costas para mim,
olhando pela janela. Ele estava tenso. Eu conseguia perceber, pela forma
como seus ombros estavam rígidos, como ele não havia sequer se virado
quando eu entrei.
— Filippo — ele disse sem se virar, ainda olhando para o horizonte. —
Preciso da sua opinião sobre um negócio.
Sentei-me na poltrona em frente à sua mesa, cruzando os braços e
esperando que ele continuasse. Leon não era do tipo que enrolava para falar,
então isso devia ser grande.
Ele finalmente se virou, caminhando até a cadeira atrás da mesa e sentando-
se com um suspiro pesado. Jogou um dossiê na minha frente. O envelope
estava repleto de papéis, contratos e números que eu precisaria analisar.
— É uma parceria — ele começou a explicar, mas havia um leve tom de
incerteza. — Os Salvatores estão nos oferecendo uma grande oportunidade.
Expansão para o sul da Itália, mais influência no tráfico de armas. Mas algo
não me cheira bem.
Os Salvatores… aquele nome não me era estranho. Eles já haviam tentado
se aproximar de nós antes, e Leon sabia que eu sempre fui cauteloso com
eles. Não por medo, mas porque eles eram instáveis, volúveis demais para o
meu gosto. O tipo de gente que muda de lado conforme o vento sopra.
Folheei os documentos, lendo rapidamente as principais propostas. Em
teoria, o negócio parecia bom. Ofereciam-nos um aumento significativo nos
lucros, além de acesso a uma rede de contatos que poderíamos usar para
expandir nossas operações. No entanto, conhecendo os Salvatores como
conhecia, algo me fazia hesitar.
— Você acha que eles estão escondendo algo? — Perguntei, levantando os
olhos para encarar meu irmão.
Leon passou a mão pelo rosto. — Sim. Eles estão sendo generosos demais,
Filippo. Não confio em pessoas que oferecem tanto sem pedir quase nada
em troca.
Suspirei, concordando com ele.
— Concordo com você. Salvatores nunca foram de fazer favores a ninguém
sem ter nada a ganhar. E se eles estão oferecendo tanto, é porque esperam
algo que não está explícito nesses contratos.
Peguei uma caneta na mesa e comecei a anotar alguns pontos críticos no
contrato, destacando as áreas que precisariam de mais investigação.
— Eles estão propondo que assumamos 70% dos lucros, mas isso também
significa que seremos responsáveis por 100% dos riscos. Se algo der errado,
adivinha quem estará na linha de frente? Nós. E tenho certeza de que os
Salvatores desapareceriam assim que os problemas começassem a aparecer.
Leon assentiu.
— É exatamente isso que me preocupa. Se fosse um acordo mais
equilibrado, eu até consideraria. Mas eles estão sendo fáceis demais.
Me recostei na cadeira, cruzando os braços novamente.
— E fácil demais nunca é um bom sinal. Eles sabem que precisamos
expandir nossas operações, mas podemos fazer isso sem a ajuda deles. Por
que se envolver com gente que vai complicar tudo mais tarde?
Leon olhou para mim. Ele sabia que eu sempre fui o mais cuidadoso, o mais
ponderado nas nossas decisões. Eu não estava ali apenas para concordar
com ele, mas para protegê-lo e à nossa família de erros que poderiam custar
caro.
— Então, o que você sugere? — Perguntou.
— Corte isso pela raiz — respondi sem rodeios. — Se eles estão
desesperados para nos atrair para esse negócio, é porque eles estão em
apuros. Vamos continuar do nosso jeito, sem depender de gente que vai nos
virar as costas no primeiro sinal de perigo.
— Você está certo — disse, levantando-se e indo até a janela novamente. —
Vamos recusar. Não precisamos deles para crescer. Prefiro ir mais devagar e
com segurança do que me enfiar numa cilada.
Levantei-me, satisfeito com a decisão. Coloquei a mão no ombro dele, num
gesto de apoio.
— Você está fazendo a coisa certa, irmão. Nunca deixe que a ganância dos
outros te empurre para um caminho que pode ser uma enrascada.
— Obrigado, irmão. Não sei o que faria sem você.
Eu me preparava para me despedir, pensando que aquela conversa estava
terminada, mas Leon me encarou novamente, agora com um brilho curioso
nos olhos.
— Agora me fale sobre esse plano de sequestrar a noiva no dia do
casamento, Filippo. Não acha que está se precipitando? — Ele perguntou,
cruzando os braços.
Eu sabia que esse assunto viria à tona em algum momento. Leon sempre foi
mais cauteloso em questões pessoais, e sequestrar Serena no dia do
casamento era uma jogada arriscada.
Ele me questionava, mas conheceu sua esposa a sequestrando.
Suspirei profundamente, esfregando a nuca enquanto caminhava de um lado
para o outro pelo escritório. Minha mente estava um turbilhão desde que
soube do noivado. Alex, aquele desgraçado, estava prestes a casar com
Serena, e eu não podia simplesmente assistir de braços cruzados enquanto a
mulher que eu amava dizia “sim” para outro.
— Precipitado? Talvez — admiti, parando em frente à janela — Mas não
vejo outra opção, Leon. Não vou deixar que ela se case com aquele cara.
Não posso. — Virei-me para encará-lo, sentindo a tensão crescer.
— Você a ama — Leon afirmou, apenas constatando o óbvio.
— Sim, eu a amo. — As palavras saíram com mais força do que eu
esperava, como se finalmente admiti-las me trouxesse um alívio, mas
também um peso maior. — E eu não percebi isso até ser tarde demais.
Quando ela se afastou, eu pensei que seria fácil deixar pra lá, que seria
melhor assim. Mas a verdade é que estou destruído por dentro.
— Eu te entendo, irmão, quando Alice desapareceu e você escondeu isso de
mim, eu fiquei louco, com medo de algo mais grave ter acontecido. E ficar
sem minha mulher e minha filha, minha vida estaria acabada. Mas estou
preocupado com você.
Eu sabia que ele compreendia a profundidade da minha dor, mas também
que estava preocupado com as consequências do meu plano.
— E você acha que a sequestrar vai resolver isso? — Ele perguntou
calmamente, mas com um olhar afiado, sempre analisando tudo de forma
lógica. — Filippo, isso pode acabar muito mal, e você sabe disso. Se ela te
odiava antes, imagine depois de você arruinar o casamento dela.
Passei a mão pelos cabelos, frustrado. Ele estava certo. Eu sabia que Leon
estava apenas tentando me proteger, mas eu também sabia que não
conseguiria conviver com a ideia de perder Serena para sempre.
— Eu não sei se vai resolver, Leon. Sentei-me de volta na cadeira, a
exaustão emocional começando a pesar sobre mim. — Mas eu não consigo
suportar a ideia de vê-la casada com outro. Preciso de mais tempo. Preciso
fazê-la entender que ainda podemos ficar juntos, consertar o erro de anos
atrás. E, sinceramente, prefiro que ela me odeie por um tempo do que
perdê-la para sempre.
Leon cruzou os braços, ponderando, seus olhos fixos em mim. Ele ficou em
silêncio por alguns segundos, refletindo sobre o que eu tinha dito. Então,
soltou um suspiro pesado, inclinando-se para frente.
— Você sabe que sempre estarei ao seu lado, Filippo, mas se fizer isso, não
tem volta. Sequestrar uma mulher no dia do casamento… isso não é só uma
jogada arriscada, é uma aposta com todas as suas fichas. Você tem certeza
de que isso é o que você quer?
Eu já havia pensado nisso inúmeras vezes, e toda vez a resposta era a
mesma. Sim. Eu não podia mais ficar à margem, observando Serena se
afastar cada vez mais de mim. Mesmo que fosse um erro, era um erro que
eu estava disposto a cometer.
— Tenho certeza, Leon — respondi com convicção. — Não posso deixá-la
ir. Só imagina se fosse com Alice, você ficaria parado, deixando ela se casar
com outro?
Leon suspirou novamente, dessa vez compreendendo minha situação. Ele
sabia como era amar alguém a ponto de fazer loucuras. Eu sabia que ele
entendia, mesmo que não concordasse.
— Então vamos fazer isso do jeito certo — disse com um sorriso — Se
você vai arriscar tudo, pelo menos vamos garantir que tenhamos o controle
da situação.
Ter Leon ao meu lado era tudo o que eu precisava. Se havia uma chance de
reconquistar Serena, eu estava disposto a fazer o que fosse necessário.
CAPÍTULO 15

SERENA FONSECA
— Nossa, amiga, ainda não estou acreditando que você vai casar — disse
Cat com empolgação.
Sorrio, mesmo sabendo, no fundo, que não amava Alex da forma como
desejava. Eu nutria um carinho enorme por ele e me convencia de que, com
o tempo, aquele sentimento poderia se transformar em algo maior. Assim,
pelo menos, eu esperava.
— Foi a decisão certa que tomei — respondi.
Ela franziu o cenho, não completamente convencida, mas tentando apoiar
minha escolha.
— Ainda acho que você foi um pouco precipitada em aceitar, mas torço
muito pela sua felicidade, amiga — disse sincera, colocando a mão no meu
braço em um gesto de apoio.
— Obrigada, Cat.
Ela me deu um sorriso animado, mudando de assunto para algo que ela
sabia que poderia levantar meu ânimo.
— Pronta para experimentar seu vestido de noiva? — perguntou, com os
olhos brilhando.
— Com certeza! Vamos logo, Lucy já está nos esperando no ateliê —
respondi, tentando acompanhar sua animação, enquanto pegava minha
bolsa.
Cat me lançou um olhar divertido, os olhos cintilando com malícia.
— Ainda não acredito que o irmão do Filippo vai ser seu padrinho de
casamento. Nossa, ele é o subchefe da máfia! Meu pai morre de medo dele,
e ele vai ser seu padrinho. Isso é insano!
Eu ri suavemente, tentando não pensar muito no fato de que Matteo, o
temido subchefe da máfia, estaria ao meu lado no altar.
— Ele não parece ser tão ruim assim. Na verdade, gostei bastante dele e
principalmente de Lucy.
Cat arqueou uma sobrancelha, incrédula.
— É porque você não conhece o lado ruim dele, Serena. Ouvi dizer que
Matteo é implacável quando precisa ser. Por isso, todos os respeitam. Mas
mesmo assim!
Sorrimos, meio nervosas, enquanto a ideia se assentava em nossas mentes.
— Não te incomoda por ele ser irmão de Filippo?
Respiro fundo.
— No início, confesso que achei loucura, mas gostei demais de Lucy e
viramos amigas. Depois percebi que acertei em chamar eles.
— Também amei Lucy.
Cat e eu saímos da cafeteria e caminhamos em direção ao ateliê, o ar fresco
da manhã tocando nossos rostos. Eu tentava me distrair com as conversas
sobre flores, vestidos e música para o casamento, mas, no fundo, minha
mente estava distante. Era estranho pensar que em poucos meses estaria
casada com Alex, mesmo sabendo que meus sentimentos por ele não eram
tão fortes quanto deveriam ser. Mas estava convencida de que era a decisão
certa. Ele era um homem bom, alguém com quem eu poderia construir uma
vida tranquila.
Chegamos ao ateliê e lá estava Lucy, já nos esperando com seu habitual
sorriso caloroso. Ela era uma mulher forte, e o fato de ter se casado com
Matteo, um dos homens mais temidos que conheci, apenas aumentava
minha admiração por ela.
— Até que enfim! Achei que vocês tinham desistido de vir — brincou
Lucy, levantando-se de uma das cadeiras do provador.
Eu sorri, tentando afastar qualquer pensamento de dúvida. Esse era o
momento pelo qual tantas mulheres sonham, e eu precisava aproveitá-lo.
— E então, está nervosa? — perguntou Lucy, enquanto a estilista trazia o
vestido para o provador.
— Um pouco — confessei. — Acho que só a ficha ainda não caiu.
— Isso é normal — Lucy disse, colocando uma mão suave no meu ombro.
— Quando me casei com Matteo, foi tudo tão rápido que nem tive tempo de
ficar nervosa. Mas, olha, agora estamos casados e estamos felizes.
Olhei para ela, admirada. Havia uma firmeza nas palavras de Lucy, uma
segurança que eu ainda não havia encontrado em mim. Ela havia
conseguido fazer seu casamento com Matteo funcionar, mesmo com toda a
diferença do mundo em que ele vivia. Seria possível que, com o tempo, eu
também encontrasse essa segurança com Alex?
— Acho que você fez uma boa escolha, Serena. Alex é um homem bom, e,
pelo que vi, ele te trata com muito respeito — disse Lucy, como se estivesse
lendo meus pensamentos.
— Ele trata sim — concordei, enquanto a estilista me ajudava a vestir o
longo vestido de noiva. O tecido branco parecia suave contra minha pele,
mas o peso da decisão que eu havia tomado parecia maior a cada minuto.
Quando me olhei no espelho, vi uma mulher pronta para casar. O vestido
era perfeito, o véu delicado caía sobre os meus ombros de forma impecável.
Cat e Lucy sorriam ao meu lado, emocionadas com a cena. Mas por dentro,
um turbilhão de sentimentos tomava conta de mim.
— Você está linda — sussurrou Cat, emocionada.
— Sim, parece uma princesa — completou Lucy.
Eu sorri, mas minha mente voltou às lembranças do baile, da boate. Tentei
bloquear esses pensamentos. Filippo não era parte da minha vida, não mais.
Eu estava me casando com Alex. Ele era o homem certo. Eu repetia isso
como um mantra, esperando que, a qualquer momento, esses sentimentos
confusos desaparecessem.
— Está pronta para dar o próximo passo? — perguntou Lucy, enquanto eu
me virava para encará-la no espelho.
— Sim, estou — menti, com o melhor sorriso que consegui dar naquele
momento.
O casamento estava próximo. E, de alguma forma, eu precisaria estar
pronta.
Ao sair do ateliê, tentei me concentrar na conversa com as meninas. Cat e
Lucy estavam animadas, comentando sobre os detalhes do casamento, mas
minha mente parecia distante, presa em um labirinto de pensamentos que
me perturbavam a cada passo. Não importava o quanto eu tentasse afastá-lo,
Filippo continuava invadindo minha mente, como um fantasma do qual eu
não conseguia me livrar.
Respirei fundo, tentando ignorar a sensação incômoda de ter o nome dele
ecoando em meus pensamentos, mas era como uma sombra que não
desaparecia.
— Amiga, está me ouvindo? — A voz de Cat me trouxe de volta para a
realidade. Ela me olhava com uma expressão curiosa, esperando uma
resposta.
— Desculpe, o que você disse? — perguntei, um pouco atordoada.
— Perguntei se você já escolheu as flores para o buquê. — Ela repetiu
devagar, como se estivesse falando com uma criança distraída.
— Ah, sim, acho que vou ficar com lírios e rosas-brancas — respondi
rapidamente, tentando soar natural, mas minha voz soou distante, quase
como se eu estivesse em outro lugar.
Lucy, que até então estava em silêncio, olhou para mim com atenção. O
olhar dela era afiado, como se percebesse que algo estava errado, mas não
quisesse me pressionar a falar sobre isso. Ela sempre foi intuitiva, e essa
percepção aguçada agora me deixava inquieta. Será que ela sabia de alguma
coisa? Filippo e ela eram próximos, e isso me fazia questionar se ela tinha
alguma ideia do turbilhão de emoções que ele ainda despertava em mim.
O pensamento me deixou ainda mais nervosa. E se Lucy soubesse de algo?
E se Filippo tivesse comentado com ela sobre o beijo na boate ou sobre o
nosso passado? Senti o estômago revirar. Não queria que ela, ou qualquer
outra pessoa, soubesse o que eu sentia. Eu decidi seguir em frente, aceitar o
pedido de casamento de Alex e deixar Filippo para trás. Mas era como se
ele sempre estivesse presente, mesmo sem estar ali fisicamente, como uma
corrente invisível que me prendia ao passado.
Por que não consigo parar de pensar nele?
Por que acontece isso comigo?
Por que não consigo seguir a minha vida e ser feliz com Alex?
Eu não entendo o que acontece comigo, conheço tanta gente que conseguiu
esquecer seu primeiro amor e seguiu em frente e hoje são felizes. Por que
na minha vez não é assim?
Tentei sorrir e me envolver na conversa sobre decoração e escolhas de bufê,
mas a sensação de inquietação persiste, corroendo lentamente minha
determinação.
Enquanto caminhávamos pelas ruas, notei Lucy colocar a mão na testa,
franzindo o cenho. Ela parou por um momento, respirando fundo.
Imediatamente, a preocupação tomou conta de mim.
— Lucy, você está bem? — perguntei, me aproximando. Seus lábios
estavam pálidos e havia algo em seu olhar que me deixava inquieta.
— Acho que estou… só um pouco tonta — ela respondeu, tentando sorrir,
mas era evidente que não estava se sentindo bem. O sorriso parecia forçado,
como se estivesse tentando minimizar a situação.
Meu instinto médico imediatamente entrou em alerta. Desde que nos
conhecemos, Lucy sempre foi uma mulher forte e reclamava raramente de
alguma coisa. Para ela admitir que estava se sentindo mal, significava que
havia algo mais acontecendo.
— Isso tem acontecido com frequência? — questionei, tentando disfarçar
minha preocupação. — Essas tonturas?
— Nos últimos dias… — ela começou, hesitante. — Também tenho sentido
alguns enjoos, mas achei que fosse apenas o estresse.
Cat, que andava à nossa frente, parou e se virou para olhar para Lucy, com
os olhos arregalados de surpresa.
— Enjoos? Amiga, você acha que pode estar grávida? — Ela perguntou. A
reação de Lucy foi imediata; seus olhos se arregalaram e ela balançou a
cabeça, como se a ideia fosse absurda.
— Grávida? Não, eu… — Ela parou no meio da frase, sua expressão
mudando de ceticismo para confusão. — Quero dizer, eu não sei. Não
pensei nisso…
Mas algo dentro de mim já estava se formando. Os sintomas se encaixam, e
mesmo que fosse cedo para ter certeza, eu não podia ignorar o que parecia
estar bem na nossa frente.
— Lucy, faz quanto tempo que você está se sentindo assim? — Perguntei,
tentando manter a calma. Ela precisava de apoio, não de um diagnóstico
apressado.
— Acho que começou há umas duas semanas — respondeu, com o olhar
perdido, como se estivesse tentando se lembrar de todos os detalhes. —
Achei que fosse apenas cansaço e estresse pelo que me aconteceu. Esses
últimos dias, estou gravando bastante no estúdio.
Lucy foi sequestrada há algumas semanas e passou por muita coisa, perdeu
a memória. E por isso ela acha que pode ser alguma sequela do que
aconteceu. Não podemos descartar isso também.
— Ok, vamos com calma — digo, tentando organizar meus pensamentos.
Como médica, já havia lidado com muitas suspeitas de gravidez, mas isso
era diferente. Lucy era minha amiga, e vê-la confusa e talvez um pouco
assustada mexia comigo.
— Eu acho que você deveria fazer um teste de farmácia primeiro — sugeriu
Cat, com um sorriso encorajador. — Só para tirar a dúvida, sabe?
Lucy olhou para nós duas, como se esperasse que déssemos alguma certeza
para ela. Eu sabia que um teste de farmácia poderia dar um indicativo, mas
não era o suficiente para ter certeza.
— O teste de farmácia pode dar uma ideia, mas não é totalmente confiável
— falei, tentando soar o mais objetiva possível. — O ideal seria fazer um
exame de sangue. É mais preciso e vai te dar a resposta certa.
— Um exame de sangue? — Lucy parecia ainda mais surpresa agora, como
se a possibilidade de estar grávida fosse algo que ela não tinha sequer
cogitado.
— Sim, é simples e rápido — respondi, com um tom mais calmo. — Se
você estiver mesmo grávida, o exame de sangue vai detectar o hormônio
HCG com mais precisão do que um teste de farmácia.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, processando o que eu havia dito.
Seus olhos encontraram os meus, e eu pude ver um misto de medo e
ansiedade.
— Eu vou com você, se quiser — ofereci, estendendo a mão para ela. —
Vamos juntas para o hospital e fazemos o exame. Assim, você fica mais
tranquila.
Cat assentiu, dando um passo à frente e segurando a outra mão de Lucy.
— Estamos com você, Lucy. Não precisa ter medo.
Lucy respirou fundo e assentiu, apertando nossas mãos. O medo ainda
estava ali, mas agora havia um brilho nos olhos dela. Era como se, ao nosso
lado, ela se sentisse mais forte.
Enquanto saímos do estacionamento, nos dirigimos ao hospital, eu não
conseguia evitar pensar no que isso significaria para Lucy e Matteo. Um
filho mudaria tudo. E embora eu estivesse preocupada com minha amiga,
não pude deixar de sentir uma leve excitação. A possibilidade de um bebê
no meio de tudo isso… Era maravilhoso. Uma benção para o casal.
Chegamos ao hospital e, como médica, pude agilizar o processo. Levei
Lucy diretamente para o laboratório e expliquei a situação para a equipe,
que prontamente nos atendeu.
Enquanto esperávamos os resultados, nos sentamos na sala de espera e o
silêncio voltou a nos envolver.
Eu não conseguia parar de observar Lucy. Ela parecia mais calma agora,
talvez conformada com a possibilidade. No entanto, a tensão era palpável.
Estávamos todas à espera de um resultado que poderia mudar tudo.
— E se eu estiver grávida? — Lucy murmurou de repente — Não sei como
o Matteo vai reagir…
Cat se inclinou para a frente, pegando a mão dela.
— Ei, independentemente de qualquer coisa, ele vai te apoiar. O Matteo
ama você, Lucy. Isso é evidente.
Antes que Lucy pudesse responder, a porta do laboratório se abriu e a
enfermeira apareceu com um envelope na mão. Lucy levantou lentamente,
suas mãos tremendo levemente enquanto pegava o envelope.
Ela hesitou por um segundo, olhando para nós duas. Eu me levantei e
coloquei uma mão no ombro dela, um gesto de apoio silencioso. Seja qual
fosse o resultado, estávamos ali com ela.
Lucy abriu o envelope com cuidado, retirando o papel de dentro. Seus olhos
correram rapidamente pelo conteúdo e eu vi a expressão dela mudar. Não
era mais apenas preocupação. Era algo mais profundo, mais intenso. Uma
mistura de surpresa, medo e, talvez, uma pequena centelha de felicidade.
— E então? — Cat perguntou, cheia de expectativas.
Lucy nos olhou, segurando o papel com força.
— Estou grávida — ela sussurrou, quase como se não acreditasse nas
próprias palavras.
Eu senti uma onda de emoções passar por mim. Era um momento que
mudaria tudo, e sabia que Lucy estava absorvendo a magnitude do que
acabara de descobrir. Cat soltou um pequeno grito de alegria e abraçou
Lucy, que parecia estar em choque.
— Meu Deus, Lucy, você vai ser mãe! — Cat disse, sorrindo de orelha a
orelha.
— Eu… eu vou ser mãe… — Lucy repetiu, como se estivesse processando.
Os olhos dela brilharam por um momento, antes de se encherem de
lágrimas. — Como eu vou contar para o Matteo?
Eu sabia que essa era a grande questão agora. Matteo amava Lucy, mas um
filho traria uma nova dinâmica para o relacionamento deles. E eu, como
amiga e médica, queria fazer tudo ao meu alcance para ajudar.
— Você vai contar quando se sentir pronta — disse suavemente. — Ele vai
entender. E eu estarei aqui com você, para o que precisar.
Lucy assentiu, enxugando as lágrimas. Ela estava prestes a entrar em uma
nova fase da vida, e nada seria fácil daqui para frente. Mas eu sabia que,
com nosso apoio, ela enfrentaria o que viesse com a força e determinação
que sempre demonstrou.
CAPÍTULO 16

FILIPPO ROMANO
A música alta e o burburinho das conversas enchiam o ambiente. Observei
o movimento na boate, satisfeito com o sucesso. Queria meu pai aqui para
ver que nosso projeto deu certo.
Havia sido meses de trabalho árduo, mas finalmente tudo estava como eu
planejei.
Viktor, meu amigo e chefe da máfia russa, estava ao meu lado, bebendo e
observando a multidão com um sorriso satisfeito. Nossa amizade cresceu
muito nos últimos anos e viramos grandes parceiros, principalmente nos
negócios.
— Isso aqui está incrível, Filippo — Disse em um inglês impecável,
levantando o copo para brindar. — Você conseguiu transformar esse lugar
em um dos mais badalados da cidade em pouco tempo.
— Obrigado, Viktor — respondi, aceitando o brinde. — Mas você sabe que
sempre fui bom nos negócios.
Ele riu, um som grave e poderoso que combinava com sua presença
imponente. Viktor não era um homem que se impressionava facilmente,
então ouvir aquele elogio significava muito. Mas, embora eu estivesse grato
pela aprovação dele, a minha mente estava focada em outra coisa. Ou
melhor, em outra pessoa.
Serena.
Eu estava disposto a fazer qualquer coisa para impedir aquele casamento.
Desde o momento em que a vi aceitar o pedido de Alex, algo dentro de mim
havia mudado. Uma obsessão, uma necessidade incontrolável de tê-la. E se
havia alguém que poderia me ajudar nesse plano insano, era Viktor. Não
quero envolver tanto os meus irmãos, Leon e Matteo já estão fazendo muito
por mim.
— Estou feliz que tenha gostado da boate, mas preciso conversar com você
sobre algo. — comecei, tentando manter o tom casual, embora o assunto
estivesse longe disso.
— Eu sabia que não me chamaria aqui apenas para falar de negócios e
bebidas, velho amigo — disse Viktor, com um sorriso astuto. — O que está
acontecendo?
Ele se virou para mim, apoiando-se na grade que cercava o segundo andar
da boate, de onde tínhamos uma visão privilegiada de todo o local. Os olhos
dele estavam fixos nos meus, atentos. Viktor era um homem perspicaz.
Sabia que eu não procuraria sua ajuda sem um bom motivo. Minha prima
me deu uma ótima ideia e não poderia perder essa oportunidade.
— Estou prestes a fazer algo que pode parecer loucura, até mesmo para
você — comecei, tomando um gole do meu uísque. — E preciso de sua
ajuda.
Viktor arqueou uma sobrancelha, intrigado. Ele sempre gostou de situações
desafiadoras e, se eu conhecia bem meu amigo, sabia que já estava
interessado apenas pelo meu tom. Lembro quando ele ajudou a minha
cunhada a levando para a Rússia para protegê-la do próprio pai. Meu irmão
ficou louco, mas eu era cúmplice e acabei contando tudo para Leon. Mas,
no final, ele entendeu e agradeceu a Viktor.
Nossas famílias eram uma poderosa aliança.
— Se você está dizendo isso, então deve ser algo realmente sério. Fale logo,
Filippo. O que está acontecendo?
Não era fácil admitir que eu estava disposto a sequestrar a mulher que
amava. Parecia extremo, até mesmo para mim, mas eu não via outra saída.
Ela estava prestes a se casar com outro homem, e isso estava me deixando
louco.
Eu vacilei muito com Serena. Não tem como negar isso. Fui estúpido,
rejeitei o que estava bem diante de mim e agora estou pagando o preço.
Mas, mesmo assim, sinto que ela ainda me ama. Toda essa decisão
repentina de se casar parece mais uma forma de me punir, de me fazer
sofrer do que de seguir em frente de verdade. Cada vez que penso nisso, a
ideia me atormenta.
Às vezes, me pego pensando que talvez eu esteja colocando expectativas
demais nisso. Talvez ela tenha realmente seguido em frente e eu seja só uma
sombra do passado que ela quer esquecer. Mas é difícil aceitar isso. Sou um
mafioso, um homem acostumado a controlar cada aspecto da minha vida, a
tomar decisões frias e calculadas. Já fiz coisas que ninguém sequer imagina,
coisas que me definem nesse mundo implacável.
Mas quando se trata do coração, de sentimentos… parece que perco
completamente o controle. E isso me assusta mais do que qualquer arma ou
inimigo.
— Estou falando de Serena — confessei, observando a expressão de Viktor
mudar para uma de surpresa. — Ela vai se casar com outro. E eu… eu não
posso deixar isso acontecer.
Por um momento, Viktor ficou em silêncio, apenas me observando. Então,
ele soltou uma gargalhada alta, atraindo olhares curiosos dos soldados que
estavam próximos. Eu sabia que ele estava se divertindo com a situação,
mas para mim, aquilo era sério.
— Você está me dizendo que quer sequestrar a noiva antes do casamento?
— perguntou, ainda rindo. — Isso é um pouco drástico, não acha?
— Eu sei que parece loucura, Viktor — falei, tentando não perder a
paciência. — Mas eu a amo. Não posso deixá-la se casar com outro homem.
Preciso fazer algo, e rápido.
O sorriso de Viktor diminuiu, mas ainda havia um brilho de diversão em
seus olhos. Ele balançou a cabeça, como se estivesse processando a ideia.
— Não acho que seja loucura, Filippo. Já fizemos coisas bem piores que
isso. — Mas é algo que se precisa pensar com cautela. Mas se você está
disposto a ir tão longe, então deve estar realmente apaixonado. — Ele me
olhou com seriedade. — O que exatamente você espera que eu faça?
— Preciso de apoio logístico — disse rapidamente, aproveitando a abertura.
— Preciso de homens, carros, um lugar seguro para levá-la depois. Não
posso arriscar fazer isso sozinho. Meus irmãos estão dispostos a me ajudar,
mas pensei muito nas consequências que isso pode causar a eles.
Viktor inclinou a cabeça, pensativo. Ele estava ponderando a situação,
pesando os prós e contras. Eu sabia que ele não se arriscaria sem garantias,
mas eu estava preparado para oferecer o que fosse necessário.
— Você está mesmo disposto a arriscar por essa mulher? — perguntou.
Mesmo sabendo que ela pode não aceitar você.
— Mais do que você imagina — respondi, olhando diretamente em seus
olhos. — Serena é tudo para mim. E eu não posso perdê-la.
Houve um momento de silêncio entre nós, enquanto Viktor analisava
minhas palavras. Finalmente, ele assentiu, um sorriso leve nos lábios.
— Certo. Eu vou te ajudar, Filippo. Tenho um lugar que seria o refúgio
perfeito. E espero que essa sua loucura de amor dê certo.
Senti uma onda de alívio passar por mim. Viktor era um aliado poderoso, e
com ele ao meu lado as coisas dariam certo.
— Obrigado, Viktor.
Ele tomou um gole do uísque e me lançou um olhar mais humorado.
— Vamos planejar isso e raptar a mulher que ama — disse, erguendo seu
copo para um brinde.
Viktor riu novamente e brindamos, o som dos copos se chocando ecoando
no barulho da boate. Aquela seria a jogada mais arriscada da minha vida.
Serena não se casaria com outro homem, não enquanto eu pudesse fazer
algo para impedir.
Eu e Viktor estávamos discutindo os detalhes do plano quando, de repente,
ele parou de falar e olhou fixamente para algo na pista de dança. Sua
expressão se transformou de um ar sério e calculista para uma surpresa
contida. Eu segui seu olhar, tentando entender o que tinha chamado tanto a
atenção dele.
No meio da multidão, avistei Crystal. Ela estava dançando com um cara
alto e musculoso, que parecia mais interessado em tocá-la do que qualquer
outra coisa. Ela sorria, como se não estivesse nem aí para as mãos dele em
sua cintura, e eu sabia que aquele era apenas mais um jogo para ela. Crystal
gostava de provocar, de testar os limites. Mas, vendo a maneira como
Viktor a observava, percebi que ele não gostava nada daquilo.
— Com licença, Filippo — ele disse, com um tom firme e controlado.
Levantou-se de onde estávamos e começou a caminhar em direção à pista
de dança sem esperar uma resposta.
Fiquei onde estava, observando a cena. Viktor era um homem perigoso,
mas, acima de tudo, extremamente protetor com aqueles de quem gostava.
E, pelo jeito como ele olhava para Crystal.
Depois que a esposa faleceu, ele não teve nenhum outro relacionamento. E
Crystal parecia testar seus limites.
Minha prima não era do tipo que gostava de ser controlada, e Viktor… bem,
ele não era do tipo que aceitava um “não” como resposta.
Se for o que estou pensando, ele a segura pelo braço e sai da pista de dança.
Suspirei, tomando outro gole do meu uísque. Eu só esperava que Viktor
soubesse o que estava fazendo, porque lidar com Crystal não era uma tarefa
fácil. E, pelo jeito como ela olhava para ele, aquilo podia ser ainda mais
complicado do que parecia.
Eu sempre observei esses dois, e sentia que algo estava acontecendo. Se ele
souber o que meus tios planejam para a vida da minha prima, não sei o que
ele seria capaz de fazer.
Ansioso para os próximos capítulos dessa história.
***
No dia seguinte, me encontro na sede da máfia, como de costume. Visto
minhas luvas e me preparo para o treinamento. Carlos, já está esperando por
mim no ringue improvisado.
— Pronto para mais uma sessão, chefe? — ele pergunta com um leve
sorriso, sempre à vontade, mas atento.
Faço um leve aceno, sem perder tempo com palavras. Treinar é uma das
poucas coisas que me ajuda a clarear a mente e me concentrar,
especialmente com tudo o que está acontecendo. É uma forma de aliviar a
tensão e, ao mesmo tempo, manter o foco.
Enquanto trocamos golpes, minha mente vai longe. Cada soco é um
lembrete do que está por vir. Desferi um gancho de esquerda com mais
força do que o necessário, e Carlos apenas se esquiva, sem perder o ritmo.
— Tá com a cabeça cheia, hein? — ele comenta, percebendo meu desvio de
foco.
— Só focado no que vem por aí — respondo, sem entregar muito.
Ele sabe o suficiente para entender que, quando não quero falar, é melhor
deixar o silêncio reinar. Terminamos a sessão suados, mas meu corpo está
mais leve. A mente, no entanto, ainda está pesada.
— Ótimo treino — digo, puxando as luvas e jogando-as no chão.
Carlos apenas sorri, acenando em aprovação, e me deixa sozinho com meus
pensamentos enquanto encaro o horizonte da sede. As lutas que travo aqui
são simples, físicas. Mas a verdadeira batalha está acontecendo dentro de
mim, e dessa eu ainda não sei se sairei vitorioso…
Estou em meu carro, observando todo o local onde acontecerá o casamento.
Ainda não tem ninguém. E isso já é bom para planejar tudo que vai
acontecer. Meu irmão já desconectou todas as câmeras do local para não
deixar rastros.
Conforme o tempo passa, os convidados estão chegando.
A fachada da igreja estava adornada com flores brancas. Tudo parecia
perfeito, como um casamento deveria ser. Observei a movimentação à
distância, escondido nas sombras, calculando cada movimento.
Quando Serena apareceu, meu coração acelerou.
Ela está linda, como se tivesse acabado de sair de um conto de fadas.
Olhei para meus soldados e sabia que a hora já estava próxima. Viktor
estava próximo me dando cobertura e meu irmão Matteo estava dentro da
igreja. Ele programou um aplicativo e, na hora certa, avisaria o momento
em que eu poderia agir.
Sentir o alarme apitando e a bomba de fumaça que eu havia preparado
explodiu em frente à igreja, envolvendo o local em uma névoa densa. As
pessoas começaram a gritar e a correr, o caos espalhado como um rastilho
de pólvora. Aproveitei a confusão para me aproximar de Serena, que estava
paralisada, surpresa e assustada com o que estava acontecendo.
Ela não me viu chegando. Peguei-a pelo braço e a puxei para perto de mim.
Antes que ela pudesse reagir ou gritar, a ergui e a carreguei para o carro
estrategicamente estacionado do outro lado da rua. Tudo foi feito em
questão de segundos.
— Filippo! — Ela finalmente percebeu quem a estava levando e tentou se
soltar. — O que você pensa que está fazendo?
— O que preciso, Serena — murmurei, sem me deixar abalar pelas
tentativas dela de se libertar.
Joguei-a no banco de trás e entrei no carro, arrancando rapidamente
enquanto a fumaça continuava a se espalhar, obscurecendo nossa partida.
Serena ainda estava em choque, tentando entender o que acabara de
acontecer. Seus olhos me fitaram com raiva, mas eu sabia que, por trás
daquela fachada de indignação, havia confusão.
— Você está louco! — Ela finalmente gritou, se debatendo no banco de
trás. — Isso é sequestro, Filippo! Você perdeu completamente o juízo!
Eu a encarei pelo espelho retrovisor, frio e sem remorso.
— Sim, é — disse calmamente, acelerando o carro e deixando a igreja para
trás. — E é exatamente isso que você precisa entender. Não sou o tipo de
homem que desiste, Serena e hoje, ninguém vai me impedir de te levar.
Ela ficou em silêncio, mas eu sabia que a batalha estava apenas começando.
Eu não esperava que ela entendesse de imediato, mas estava disposto a
fazer o que fosse necessário para conquistá-la.
Mantive o olhar fixo na estrada, enquanto Serena ainda se debatia no banco
de trás, a respiração pesada de raiva e medo.
— Você acha que vai resolver alguma coisa assim? — ela gritou, as
palavras cuspidas com desprezo. — Sequestro, Filippo? Isso é um crime,
você está fora de si!
— Sequestro? — dei uma risada fria, sem desviar o olhar da estrada. —
Serena, você sabe muito bem quem eu sou. Sequestro não é nada, é só um
detalhe. Fiz coisas piores e saí ileso. Se acha que isso é o limite, está muito
enganada.
Ela se calou, mas não recuou. Seus olhos queimavam de fúria e eu sabia
que estava travando uma batalha interna, tentando entender até onde eu iria.
— Você está me dizendo que vai me prender aqui até que eu… até que eu
faça o que você quer? — ela desafiou, cruzando os braços e me lançando
um olhar de desafio.
— Não estou pedindo sua permissão, Serena. Estou te dando a chance de
enxergar as coisas como são. — Eu a encarei pelo espelho retrovisor. — E
se for preciso, sim, vou te manter aqui até você entender.
Ela desviou o olhar para a janela, o rosto rígido, mas eu percebia os
pequenos sinais de hesitação. Sabia que ela estava furiosa, mas também
sabia que havia algo além dessa raiva, algo que ela se recusava a admitir.
— Você acha que pode simplesmente me sequestrar e esperar que eu mude
de ideia? — ela disparou, com um tom de desprezo. — Isso só prova que
você nunca me entendeu.
— Eu te entendo melhor do que imagina. — Minha voz saiu baixa, mas
firme. — E sei que você não ama Alex. Pode fingir o quanto quiser, mas eu
enxergo através de você. Eu sei que ainda sente algo por mim, mesmo que
lute contra isso.
Ela bufou, indignada, mas o silêncio dela confirmou o que eu já sabia.
Podia sentir que sua resistência estava longe de se romper, mas isso não me
desanimou. Eu estava disposto a ir até o fim.
— Você pode me odiar agora, Serena, mas no final, você vai entender. —
Afirmei, acelerando o carro e cortando a estrada deserta. — Não vou abrir
mão de você, e farei o que for preciso para te manter comigo.
De repente, o telefone começou a vibrar no painel. Era Viktor.
— Está tudo pronto — ele disse sem rodeios quando atendi. — O
helicóptero está no local combinado, só esperando por você.
— Perfeito. Chego lá em vinte minutos, no máximo — respondi, mantendo
a voz fria.
— Certo. Se precisar de mais alguma coisa, me avise.
Desliguei o telefone e joguei um rápido olhar para Serena. Ela estava
pálida, os olhos arregalados, mas se mantinha em silêncio, observando tudo
à sua volta.
CAPÍTULO 17

SERENA FONSECA
Olhei para o reflexo no espelho enquanto ajustavam os últimos detalhes do
meu vestido. Era tudo tão surreal, como se eu estivesse vivendo um conto
de fadas. Por fora, tudo parecia perfeito: o vestido impecável, o véu
delicado, a alegria contagiante de todos ao meu redor. Mas, por dentro, meu
coração estava um caos.
Fixei o olhar no espelho, questionando-me: será que estou fazendo a coisa
certa?
Alex era um homem bom, carinhoso e sempre esteve ao meu lado desde
que começamos a namorar. Ainda assim, havia algo que me sufocava, uma
inquietação que eu não conseguia ignorar.
— Ah, amiga… você está maravilhosa — disse Cat, segurando as lágrimas.
— Obrigada, amiga — respondi, tentando sorrir enquanto meu coração
disparava. Era hora de ir para a igreja.
Com a ajuda de Cat, entrei no carro. Durante o curto trajeto, meus
pensamentos se misturavam com o som distante das vozes que ecoavam na
minha mente. Ao chegarmos, ouvi o burburinho dos convidados ao longe, o
que só aumentou minha ansiedade.
Hoje, decidi entrar sozinha. Meu irmão se ofereceu para me acompanhar,
mas eu quis assim e ele me entendeu.
Respirei fundo e a cerimonialista ajustou meu vestido uma última vez.
“Alex é a escolha certa,” sussurrei para mim mesma.
Quando a marcha nupcial começou a tocar, as portas se abriram. Mas, antes
que eu pudesse dar um passo, um estrondo encheu o ar, seguido por uma
densa nuvem de fumaça que invadiu a igreja.
Meu Deus, o que está acontecendo?
Fiquei paralisada, o grito preso na garganta enquanto a fumaça tomava
conta de tudo, turvando minha visão. Ouvi murmúrios e gritos ao meu
redor, mas minha mente estava em choque.
De repente, mãos firmes seguraram minha cintura e me puxaram com força.
O pânico tomou conta de mim, isso só pode ser um sequestro.
Mas algo estranho me incomodava, como se eu conhecesse a pessoa.
Quando nos afastamos da fumaça, consigo ver o rosto do homem.
Isso só pode ser uma brincadeira. Não acredito.
— Filippo! — Olhei para ele, a fúria tomando o lugar do susto, mas ele não
me deu chance de reagir. Erguendo-me, ele me carregou em direção ao
carro.
Tentei me desvencilhar, mas ele me mantinha firme. Seu rosto estava
impassível, frio, como se tudo estivesse sob controle. Ele abriu a porta do
carro, me colocou para dentro e travou a porta para eu não conseguir abrir,
em seguida, tomou o volante, arrancando em alta velocidade.
A igreja, os convidados, tudo foi ficando para trás rapidamente enquanto eu
tentava entender o que estava acontecendo.
Por que ele está fazendo isso?
O carro percorre as ruas com uma rapidez impiedosa, Filippo totalmente
concentrado, enquanto eu tentava acalmar minha respiração. O silêncio era
ensurdecedor, e o medo, crescente. Não fazia ideia do que ele pretendia,
mas o conhecia o suficiente para saber que ele havia planejado tudo, mas
por quê?
Depois de um tempo, chegamos a um local isolado, onde um helicóptero já
aguardava, as hélices girando. Filippo estacionou, abriu minha porta e, sem
cerimônia, me puxou para fora. Seus olhos encontraram os meus, e eu pude
ver a determinação inabalável neles, uma frieza que me arrepiava. Ele me
segurou com firmeza pelo braço, guiando-me em direção à aeronave.
— Sobe — ordenou, a voz grave e firme.
— O que você está fazendo, Filippo? — perguntei, tentando controlar o
tremor na minha voz.
Ele não respondeu. Em vez disso, me ajudou a entrar na aeronave, e logo
depois se juntou a mim, sentando-se ao meu lado enquanto o helicóptero
decolava. A cidade foi ficando menor à medida que subíamos, e um silêncio
denso se estabeleceu entre nós. Enquanto o helicóptero ganhava altitude,
percebi que Filippo se mantinha impassível. Eu não conseguia desviar o
olhar dele, tentando entender o que se passava na cabeça do homem que,
em questão de minutos, havia transformado meu casamento em um cenário
de caos e agora me levava sabe-se lá para onde.
Após um longo silêncio, respirei fundo e decidi confrontá-lo.
— Filippo, onde você está me levando? — perguntei, tentando esconder o
medo na minha voz.
Ele desviou o olhar da janela e me encarou com uma intensidade que fez
meu coração acelerar. Houve um instante em que seus olhos pareceram
suavizar, mas logo ele assumiu novamente o tom frio e controlado.
— Para longe, Serena — respondeu como se tudo estivesse tranquilo. —
Para um lugar onde você não terá que se casar com o homem errado.
— O homem errado? — repliquei, sem acreditar no que ouvia. — E você
acha que é o certo?
Ele soltou um sorriso irônico, mas não respondeu. Em vez disso,
aproximou-se de mim, segurando meu queixo entre seus dedos, obrigando-
me a encará-lo. Seus olhos estavam mais próximos agora, e o silêncio que
se seguiu era sufocante.
— Eu já deixei você ir uma vez — ele sussurrou, me fazendo arrepiar. —
Não vou cometer esse erro de novo.
O que ele estava dizendo? A confusão e a raiva se misturavam dentro de
mim, e as palavras dele pairavam no ar como uma promessa. Quis
responder, gritar, dizer a ele o quanto me magoou. Mas antes que eu
pudesse reagir, ele soltou meu queixo e desviou o olhar.
O helicóptero começou a descer e percebi estarmos nos aproximando de
uma propriedade isolada.
Quando o helicóptero pousou, Filippo não hesitou. Desceu rapidamente e
estendeu a mão para mim, o olhar impaciente. Recuei um passo, mas ele
deu um passo à frente, fechando a distância entre nós.
— Vai ficar mais fácil se você vier sem resistência, Serena. — A voz dele
era firme, quase como uma ordem, mas havia uma nota sutil de
vulnerabilidade que me desarmou por um momento.
Respirei fundo, tentando manter a calma, e aceitei a mão que ele me
oferecia. Seus dedos firmes envolveram os meus, e, mesmo contra minha
vontade, senti um estranho conforto naquele toque familiar. Ele me guiou
para fora do helicóptero e logo estávamos caminhando em direção a uma
casa imponente, cercada por altas árvores que pareciam formar uma barreira
natural.
Assim que entramos na casa, Filippo fechou a porta atrás de nós, e o
silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Ele finalmente soltou minha
mão, mas manteve-se próximo, observando-me com uma expressão que eu
não conseguia decifrar.
— Por que você está fazendo isso, Filippo? — perguntei, cruzando os
braços. — Por que me sequestrar no meu próprio casamento?
Ele deu um longo suspiro, como se ponderasse sobre como responder.
Depois de um momento, ele se virou, caminhando alguns passos até uma
grande janela que oferecia uma vista panorâmica da floresta ao redor.
— Porque eu não posso perder você, Serena. — Ele virou-se para mim, e
desta vez seu olhar estava desprovido daquela frieza habitual. — Eu tentei
seguir em frente, tentei aceitar que você tinha escolhido outro, mas… —
Ele parou, respirando fundo, como se as palavras estivessem pesando mais
do que ele imaginava. — Não consigo. Você é minha.
As palavras dele atingiram como um golpe, e senti minha resistência
vacilar. Filippo sempre fora tão inacessível, tão distante, e agora, de
repente, estava me revelando sentimentos que eu jamais imaginaria que ele
pudesse ter.
— E você acha que pode me manter aqui contra minha vontade? —
desafiei, tentando ignorar o turbilhão de emoções que ele despertava em
mim.
— Se é isso que preciso fazer para você entender… sim. — Sua expressão
endureceu novamente, mas desta vez, vi algo mais ali, algo que me
lembrava de que, apesar de tudo, ele não era um homem fácil de se ler, nem
de se esquecer.
Ele deu alguns passos na minha direção, e meu coração disparou. Filippo
parou a poucos centímetros de mim, o calor da sua presença me envolvendo
por completo.
— Não importa quanto tempo leve — ele murmurou com seus olhos fixos
nos meus —, eu vou te mostrar que ninguém mais pode ocupar esse lugar a
não ser eu.
Fiquei sem palavras pelo que acabou de dizer.
Parte de mim queria gritar, fugir e lutar contra tudo, mas, no fundo, eu não
conseguia.
Enquanto eu ainda tentava processar tudo o que Filippo havia dito, senti o
cansaço se apoderando de mim. O vestido de noiva pesava.
— Onde é o quarto? — perguntei, tentando manter minha voz firme e
controlada. — Esse vestido pesa, e nem roupas tenho. Digo, irritada.
Ele pegou uma mala e me entregou.
— Aqui tem tudo que precisa. E o quarto fica naquele lado. Ele apontou
com o dedo em direção a um corredor ao lado da sala.
Segui na direção indicada, ciente de que ele estava logo atrás de mim, como
uma sombra constante que eu não conseguia evitar.
Quando entrei no quarto, parei imediatamente. Havia apenas uma cama
grande e, de resto, o cômodo era vazio, não tinha mais nada. Virei-me para
encará-lo, incrédula.
— Só tem um quarto aqui ? — perguntei, cruzando os braços irritada com
toda essa situação.
Filippo apenas sorriu, aquele sorriso sarcástico que tanto me irritava e, ao
mesmo tempo, me intrigava.
— Vai ser um pouco apertado, mas acho que podemos dar um jeito —
respondeu com um brilho divertido nos olhos.
— Você só pode estar brincando — rebati, sem conseguir disfarçar a
indignação. — Eu não vou dividir uma cama com você, Filippo. Você vai
dormir na sala.
Ele deu de ombros, sem parecer minimamente incomodado pela minha
reação.
— Tem certeza? — Sua voz era provocativa. — Vai ser o único jeito,
Serena. Não tem outro quarto e aqui é o único lugar da casa que tem
aquecedor. Querendo ou não, vamos dividir a cama.
Revirei os olhos, frustrada com a situação. Eu queria protestar, mas sabia
que não adiantaria. Filippo havia planejado tudo cuidadosamente, e eu
estava completamente à mercê dele.
A ideia de dividir uma cama com ele me deixava em alerta. Afinal, eu sabia
muito bem o efeito que ele tinha sobre mim, e a proximidade não ajudaria
em nada.
Respirei fundo, tentando encontrar alguma solução que não envolvesse
dividir aquela cama com ele.
— Se você acha que vou dormir tranquilamente ao seu lado, está enganado.
— Olhei diretamente nos olhos dele.
— Quem sabe, Serena? — Ele me lançou um olhar intenso, avançando um
passo em minha direção. — Às vezes nem dormir vamos.
— Idiota. Eu me afastei dele, tentando manter a calma.
Virei-me e fui até a cama, passando a mão pelo cobertor macio, fingindo
não dar importância ao que ele disse. Mas cada movimento meu era
observado por aqueles olhos atentos, e eu sabia que ele estava testando
meus limites, esperando para ver como eu reagiria.
— Só para deixar claro, vou dormir de um lado e você fica do outro —
declarei, com firmeza.
Filippo apenas riu, aquele riso baixo e provocante que eu conhecia bem. Ele
caminhou até a cama e sentou-se na borda, esticando os braços para trás
como se estivesse completamente à vontade.
— Como quiser, Serena. Eu não sou exatamente uma ameaça, sabe? — Ele
sorriu, mas seu olhar dizia o contrário. — Se eu quisesse fazer algo, já teria
feito.
Revirei os olhos, tentando não mostrar o quanto aquelas palavras me
afetavam. Ele estava testando meus limites, e eu precisava mostrar que não
cederia tão facilmente.
Ele simplesmente tá mostrando um lado que nunca conheci.
— Ótimo. Se você quer que isso funcione, então respeite meu espaço,
Filippo. — Cruzei os braços, encarando-o de volta.
— Não se preocupe, minha intenção não é te desrespeitar. — Ele se
levantou e deu um passo para trás, mantendo a distância. — Mas, se vai ser
minha “hóspede” forçada, também terá que aprender a conviver comigo.
Finalmente, ele se levantou e caminhou em direção ao banheiro, como se
me desse um pouco de espaço. Aproveitei aquele momento sozinha para
respirar fundo e tentar me recompor. Ele era uma tempestade que eu não
sabia como controlar.
Tentei tirar o vestido, mas os botões nas costas eram inacessíveis. Frustrada,
ainda lutando com a roupa, ouvi o som de passos voltando. Filippo saiu do
banheiro. Ele estava vindo em minha direção… vestindo apenas uma cueca.
Meu coração disparou. Filippo parecia completamente confortável, como se
fosse a coisa mais natural do mundo. Já eu, não sabia onde enfiar a cara.
Nossa…
Ele parou ao lado da cama e me lançou um sorriso ligeiramente divertido,
com aquele ar de quem sabe exatamente o que está fazendo.
— Tudo bem, Serena? Parece surpresa. — O tom de provocação era
evidente. — Precisa de ajuda para tirar o vestido?
Tentei controlar minha expressão, mas sabia que estava falhando
miseravelmente. O fato de ele estar tão à vontade, tão perto, sem um pingo
de constrangimento, me deixava desconcertada. Tentei focar em qualquer
outra coisa, mas minha mente estava em completo caos.
Nossa… Nossa… Nossa… Como ele pode ser tão gostoso assim.
Ahhhh. Afasta esses pensamentos Serena.
— Você não achou melhor… colocar uma roupa? — Tentei soar firme, mas
a voz saiu mais baixa do que eu esperava.
Ele deu de ombros, ainda sorrindo, e se sentou na borda da cama.
— Achei que tínhamos feito um acordo sobre dividir o espaço. Isso inclui,
afinal, ser eu mesmo. — Ele inclinou a cabeça.
— Vou te ajudar, mesmo sendo teimosa.
Ele se aproximou mais, e meu coração começou a bater ainda mais forte. A
distância entre nós era mínima. Quando sua mão tocou minha pele, senti um
arrepio percorrer meu corpo, e então, calmamente, ele começou a abrir os
botões do meu vestido.
Fiquei em silêncio, lutando para disfarçar o quanto sua presença me
desestabilizava. Filippo parecia achar graça na minha confusão, se
divertindo com cada reação minha, enquanto eu tentava, desesperadamente,
manter algum controle. Era como se cada gesto, cada palavra dele, fossem
provocações.
Assim que ele abre todos os botões, corro para o banheiro sem olhar para
trás, com o coração ainda acelerado e a mente um completo caos. Fecho a
porta com rapidez, encostando as costas contra ela, respirando fundo para
tentar me acalmar. O ar no banheiro parece mais fresco, mas mesmo assim é
difícil afastar a sensação de que Filippo continua me observando, mesmo do
outro lado da porta.
Eu me encaro no espelho, o rosto completamente vermelho.
Que loucura é essa? Por que ele me desestabiliza tanto? Tento reunir meus
pensamentos, organizar o turbilhão que ele provocou. Estou apenas me
complicando, criando cenários na minha cabeça… ele deve estar se
divertindo com isso, com a minha confusão.
“Concentre-se, Serena,” sussurro para mim mesma. Tomo um pouco de
água com as mãos e molho o rosto, esperando que o frescor me traga de
volta à razão.
Visto uma roupa confortável e saí do banheiro e ele não parava de me olhar.
— Vou… vou dormir. Boa noite… — Virei-me de costas, puxando o
cobertor e tentando me concentrar no som da minha própria respiração.
Filippo riu baixinho, ajeitando-se ao meu lado. Eu podia sentir o calor dele,
mesmo sem o olhar, e isso só deixava o ambiente mais intenso. Fechei os
olhos, esperando que o sono chegasse logo, mas nada de vir.
Ah, meu Deus, essa noite será longa. Já estou pressentindo.
— Não vai jantar? — A voz de Filippo cortou o silêncio entre nós.
Fiz uma pausa antes de responder, com os olhos ainda fechados, tentando
não deixar transparecer o quanto aquela proximidade estava me afetando.
— Eu não estou com fome. — Respondi baixinho.
Ele ficou em silêncio por um momento, mas eu podia sentir o olhar dele
sobre mim. E então, com um toque de provocação na voz, ele falou
novamente:
— Está nervosa, Serena?
Meu coração disparou com a pergunta, e eu tentei me manter firme, mas era
impossível não reagir. Abri os olhos, virando a cabeça levemente para olhar
para ele, que agora estava deitado, apoiado em um dos braços, me
observando com um sorriso tranquilo, como se estivesse se divertindo com
o meu desconforto.
— Não estou nervosa — menti, tentando soar convincente, mas sabia que
ele não acreditava nem por um segundo.
— Se você diz… — Ele murmurou com meio sorriso, sabendo que eu
estava mentindo.
Me virei rapidamente de volta, afundando a cabeça no travesseiro, tentando
ignorar a pressão no meu peito e o desejo de olhar para ele mais uma vez.
Eu só preciso dormir…
No dia seguinte, acordei sentindo algo quente e firme sob meus dedos. Meu
corpo estava confortável, embalado de uma forma estranha. Aos poucos, a
realidade foi se revelando: eu estava aninhada no peito de Filippo, a cabeça
encostada em seu ombro e a perna jogada por cima dele. Meu coração
disparou e ergui o rosto devagar, para encará-lo. Filippo estava acordado,
me observando com um olhar divertido, uma expressão maliciosa nos
lábios.
— Bom dia, dorminhoca. Ele disse, com a voz baixa e rouca, como se
estivesse gostando da situação.
Eu levantei num pulo, sentando-me na cama enquanto me afastava dele.
Fiquei ali, tentando disfarçar a vergonha, mas sabia que não adiantava. Ele
estava se divertindo com a minha reação.
— Como… como isso foi acontecer? Murmurei, sem olhar diretamente para
ele.
Ele deu de ombros, ainda recostado no travesseiro, com aquele sorriso de
quem tinha tudo sob controle.
— A cama é grande, mas você parece preferir dormir grudada. Filippo
provocou, cruzando os braços atrás da cabeça e me olhando como se fosse a
coisa mais natural do mundo.
— Isso não significa nada! Rebati, tentando soar firme, mas minha voz
ainda estava trêmula.
Ele ergueu uma sobrancelha, os olhos cintilando de diversão.
— Claro que não. Só estou dizendo que, se preferir, pode continuar
dormindo assim. Não me importo. Seu tom provocativo me fez revirar os
olhos.
Levantei-me de uma vez, tentando recuperar a dignidade.
— Não precisa se preocupar, isso não vai acontecer de novo. Caminhei em
direção à porta, decidida a colocar alguma distância entre nós.
Filippo continuou deitado, mas senti seu olhar me acompanhando, como se
estivesse apreciando cada segundo da cena. A cada passo, eu tentava me
convencer de que poderia lidar com a presença dele, mas sabia que sua
única habilidade é derrubar minhas barreiras, mesmo quando eu tentava me
afastar.
Respiro fundo, tentando manter a calma enquanto encaro a cozinha
improvisada à minha frente. Era para eu estar casada, a essa altura já
sobrevoando o oceano rumo a uma lua de mel perfeita na Ásia. Mas, em
vez disso, estou aqui, trancada nesse lugar que nem sei onde fica, obrigada
a preparar o almoço para um homem que, ironicamente, foi o responsável
por virar minha vida de cabeça para baixo. Tudo culpa dele.
Quando me viro, me deparo com ele encostado no balcão, me observando
com aquele olhar que mistura divertimento e desafio, como se tivesse todo
o prazer do mundo em me ver furiosa. Corto os legumes com precisão,
tentando focar em qualquer coisa que não seja o olhar dele sobre mim. Mas
cada palavra que ele deixa escapar, cada comentário despreocupado só joga
lenha na fogueira da minha irritação.
— Se eu soubesse que você cozinhava assim, teria te sequestrado antes —
ele comenta, com um sorriso que só aumenta minha frustração.
Engulo em seco, sem olhar para ele, mas sinto meu rosto esquentar. Minha
paciência está por um fio, e ele parece perceber isso, porque se aproxima
ainda mais, como se quisesse testar até onde posso ir.
— Você realmente se acha esperto, não é? — digo, tentando manter a voz
firme, mas ele não imagina a raiva que estou sentindo.
Ele apenas ri, um riso baixo e provocador que ecoa pela cozinha, e sinto
minha mão apertar o cabo da faca com força. Anos atrás, eu teria dado tudo
para ter a atenção dele desse jeito, para que ele me olhasse com essa
intensidade. Mas agora… tudo é diferente.
— Me acha engraçada, é? — provoco, virando-me para ele com um olhar
furioso.
— Um pouco. Principalmente quando está brava — ele responde com um
sorriso largo.
Essa é a gota d'água. Num impulso, lanço a faca em sua direção, a lâmina
cortando o ar entre nós. Em questão de segundos, ele estende a mão e a
agarra pelo cabo com uma precisão impressionante. Como se estivesse
preparado para tal ação.
Seu olhar, que antes era divertido, agora está fixo em mim com intensidade.
— Cuidado, Serena — Diz em um tom baixo, ainda segurando a faca. —
Não sabia que gostava tanto de arriscar.
Sinto meu coração disparar, não de medo, mas de raiva. Ele continua com
aquele sorriso arrogante, como se minha revolta fosse apenas mais um
capítulo do jogo dele. Fecho as mãos em punho, sentindo a frustração me
consumir.
— Se está esperando que eu peça desculpas, esqueça — rebato, mantendo
meu olhar fixo no dele.
— Oh, não preciso disso — ele retruca, devolvendo a faca à bancada com
um gesto casual. — Só de você…
— Você é inacreditável — murmuro com fúria. — Quer que eu esteja aqui
contra a minha vontade, acha divertido me irritar… Me diga, o que
exatamente você ganha com isso?
Ele cruza os braços, inclinando levemente a cabeça enquanto me observa,
como se estivesse avaliando cada palavra que eu digo.
— O que eu ganho? — Ele faz uma pausa, como se estivesse saboreando a
resposta. — Simples. Eu ganhei você de volta.
Aquelas palavras, ditas com uma frieza, me atingem como um soco. Por um
instante, fiquei sem fala. Ele realmente acredita que me “ganhou”, como se
eu fosse uma peça de algum jogo doentio que ele controla. Anos atrás, essa
ideia poderia ter me encantado, mas agora ela só me dá repulsa.
— Você acha que pode simplesmente me ter de volta? Depois de tudo? —
Minha voz sai afiada.
Ele levanta uma sobrancelha, como se minha raiva fosse um desafio ainda
maior, e dá um passo à frente, reduzindo a distância entre nós. Meu corpo
fica tenso com a aproximação, mas me recuso a recuar, mesmo quando ele
está tão próximo e posso sentir o cheiro amadeirado do perfume dele.
— Diga-me uma coisa, Serena — Diz me prendendo ao balcão e sinto seu
hálito fresco que parece me embebedar — Se realmente odeia estar aqui,
por que não tentou escapar?
A pergunta paira entre nós, como um desafio. Tento encontrar uma resposta
rápida, algo que prove que ele está errado, mas a verdade é que continuo
aqui. Não tentei fugir. Não tentei gritar. Não fiz nada além de me revoltar e
jogar uma faca. A constatação me deixa desconcertada, mas me recuso a
deixar que ele perceba.
— Talvez porque sei que, se tentar, você vai me achar de qualquer forma —
retruco, tentando manter o tom firme. E também que estamos em um lugar
completamente deserto.
Ele sorri, um sorriso de canto que não é nem um pouco reconfortante.
— Talvez. Mas acho que tem algo a mais nisso, algo que você não quer
admitir — diz ele, mantendo o olhar firme. — No fundo, você sabe que
uma parte sua ainda pertence a mim.
Minhas mãos se fecham em punho novamente, e uma mistura de raiva e
confusão toma conta de mim. Eu me recuso a acreditar que ele ainda tem
esse poder sobre mim, mas a intensidade das emoções que ele provoca em
mim é inegável.
Empurro ele e apontei a faca para ele.
— A única coisa que você tem de mim agora é ódio. Digo irritada.
Ele apenas dá um sorriso de canto, como se estivesse satisfeito com minha
resposta, como se o ódio fosse suficiente para ele. Ele se afasta, sem dizer
mais nada, deixando-me sozinha com meus pensamentos e com o turbilhão
de emoções que ele, sem esforço algum, consegue causar em mim.
Sei que lançar aquela faca foi um impulso insensato, mas a raiva que me
consumia naquele instante nublou meu julgamento. Costumo ser alguém de
aparência calma, de palavras calculadas, mas há momentos em que até a
mais tranquila das mulheres chega ao seu limite. E ele parecia saber
exatamente como empurrar todos os meus botões até esse ponto. Eu achava
que ele apenas desviaria da faca, com aquela habilidade que ele demonstra
sem esforço, mas ele a pegou com uma facilidade que me fez prender a
respiração. Aquela precisão não era natural. Filippo tinha um controle sobre
tudo ao seu redor que beirava o sobre-humano. Era óbvio que ele não era
um homem comum, ele era moldado pelo mundo da máfia, treinado para
enfrentar qualquer situação, sempre um passo à frente, sempre no controle.
Enquanto cortava os legumes na cozinha, senti a adrenalina que Filippo
deixara em mim ainda correndo nas veias. Ele achava que podia me
provocar e sair ileso, mas estava muito enganado. Se ele acreditava que
conseguia me controlar, estava prestes a descobrir o quanto eu podia ser
imprevisível.
Abri a geladeira e peguei uma garrafa de molho picante, o mais forte que
encontrei. Um pequeno sorriso curvou em meus lábios ao pensar na reação
dele ao provar o tempero no almoço. Sabia que Filippo tinha o paladar
refinado, e algo tão intenso não era do seu gosto. Imaginei-o disfarçando a
surpresa, tentando manter a compostura e o controle que tanto prezava,
mesmo com a ardência tomando conta.
Com cuidado, acrescentei o molho à carne, mexendo para que ele se
misturasse bem, camuflado entre os outros temperos. Podia ouvir a voz dele
na minha mente, firme e controlada, criticando meu atrevimento. Mal podia
esperar para vê-lo provar o primeiro pedaço.
Sentir a presença dele atrás de mim.
— O almoço já está quase pronto — anunciei, lançando-lhe um breve olhar
despretensioso, enquanto escondia a satisfação que tentava transbordar.
Ele assentiu, sem dizer uma palavra, mas pude ver um leve levantar de
sobrancelha, como se estivesse tentando decifrar minha intenção. Sentei-me
à mesa com ele logo em seguida, fingindo a mesma calma enquanto
observava sua mão erguer o garfo e levar o primeiro pedaço à boca e eu mal
conseguia disfarçar a expectativa de ver sua reação. Esperava ao menos um
pequeno indício de desconforto, uma piscada, um leve estremecer, mas, em
vez disso, ele mastigou com tranquilidade, um sorriso quase imperceptível
surgindo no canto dos lábios.
— Interessante escolha de tempero, Serena — comentou, levantando o
olhar para mim com uma expressão satisfeita. — Gosto bastante de
pimenta, aliás.
Franzi o cenho, surpresa e um tanto desapontada. Ele continuou comendo,
agora visivelmente apreciando o prato. Eu havia colocado molho picante o
suficiente para queimar a boca de qualquer um… mas ele parecia não
apenas suportar, como também realmente saborear cada garfada.
— Jura? — perguntei, tentando esconder a irritação crescente em minha
voz. Filippo deu um meio sorriso.
— Passei um tempo no México alguns anos atrás. Adoro a culinária de lá, e
a comida picante é quase como um ritual para mim agora.
Meus dedos apertaram o garfo com força. Claro, ele tinha que saber
exatamente como estragar o meu plano. Por dentro, eu estava fervendo, mas
por fora mantive uma expressão neutra. Ele sabia que eu tinha feito aquilo
de propósito, e, ao invés de se deixar abalar, estava se divertindo às minhas
custas.
— Que sorte a sua, então — murmurei, tentando soar casual. — A maioria
das pessoas não conseguiria suportar tanto tempero.
Ele inclinou a cabeça, observando-me com aquele brilho provocador nos
olhos.
— Verdade. Mas eu já passei por coisas piores. Além disso, prefiro quando
a comida tem um pouco de intensidade. Dá vida ao prato, não acha?
Mordi o lábio, tentando segurar a frustração. Eu estava prestes a responder,
mas ele não parou por aí. Filippo pousou o garfo sobre o prato, me
encarando com aquele sorriso de satisfação que me deixava louca.
— Obrigado pelo almoço, Serena — Agradeceu com aquele sorriso idiota
na cara, o deixando ainda mais lindo. — Fico feliz em saber que pensou em
algo que eu realmente gosto.
A raiva subiu ao meu rosto, e ele sabia exatamente o que estava fazendo.
Meu plano de irritá-lo saíra pela culatra, e, pior ainda, ele parecia se divertir
com isso. Enquanto ele terminava a refeição, eu mal podia conter a
irritação.
Uma semana depois…
Viver na mesma casa que Filippo estava me deixando louca, mas estava me
mantendo firme e forte.
Observo o lugar pela sacada da casa e o sol já estava começando a se pôr
quando decidi que não podia mais ficar parada ali. Não havia como fugir de
Filippo dentro daquela casa, e mesmo sabendo que eu estava no meio do
nada, não podia simplesmente me conformar. Precisava pelo menos tentar.
Ele mesmo me provocou perguntando por que não tentei fugir. Agora ele
vai ver.
Saí pela porta da frente, o ar fresco batendo no meu rosto, e encarei o
cenário ao meu redor. Tudo era mato, montes e mais montes de vegetação
densa, se estendendo por todos os lados. Olhei para longe, tentando
identificar algum ponto de referência, algo que pudesse me guiar. Mas era
inútil. O lugar parecia intocado, como se ninguém tivesse passado por ali há
anos.
Respirei fundo, tentando afastar o medo crescente. Vai dar certo, repeti para
mim mesma. Eu só precisava caminhar, manter o foco, e em algum
momento, encontraria alguém ou uma estrada. Algo.
Comecei a andar, sentindo a grama alta roçando nas minhas pernas, e a
sensação de estar completamente sozinha se instalando mais fundo dentro
de mim. O silêncio ao redor era quase perturbador. Por que Filippo me
trouxe para um lugar tão isolado? Ele sabia exatamente o que estava
fazendo, sabia que não havia como eu escapar sozinha.
O tempo parecia passar lentamente, e quanto mais eu caminhava, mais me
dava conta de que estava perdida. Não havia sinal de uma casa, estrada ou
qualquer pessoa. Tudo o que eu via era o mesmo cenário, como se estivesse
presa em um ciclo interminável de mato e árvores.
Ai meu Deus! E agora o que eu faço?
O pânico começou a crescer, minha respiração ficando mais curta, o
coração acelerado.
Olhei para trás, tentando lembrar de como voltar para a casa, mas tudo
parecia igual. Não havia um caminho claro, e a vegetação densa cobria
qualquer sinal que eu pudesse ter deixado.
Me perdi. Droga, me perdi completamente.
Comecei a correr, o medo me empurrando para frente, mas meus pés
afundavam no terreno irregular. As nuvens no céu, que antes pareciam
distantes, agora estavam mais escuras e pesadas.
Só faltava isso pra tudo ficar pior.
Uma tempestade estava vindo, e eu estava no meio do nada, sem saber para
onde ir.
Por que eu fiz isso? Por que não fiquei na casa, onde pelo menos tinha
abrigo e proteção?
O primeiro trovão ecoou ao longe, e meu corpo inteiro tremeu. As gotas de
chuva começaram a cair, pesadas e geladas, encharcando minha roupa em
segundos. O vento começou a soprar mais forte, chicoteando meu cabelo
contra o rosto enquanto eu lutava para manter a calma.
Preciso encontrar um abrigo. Agora.
Minha mente corria tão rápido quanto meus pés, tentando
desesperadamente pensar em uma solução. E então, como um presente do
destino, avistei algo no meio da tempestade. Uma caverna. Não era grande,
mas o suficiente para me proteger da chuva. Corri em direção a ela, quase
escorregando no barro que se formava rapidamente no chão.
Entrei na caverna ofegante, o corpo encharcado e tremendo de frio. A
tempestade rugia lá fora, o vento uivava como se estivesse tentando me
alcançar, mas pelo menos ali dentro eu estava segura.
Me encolhi contra uma das paredes da caverna, abraçando meus joelhos e
tentando controlar minha respiração. O coração ainda batia acelerado, e as
lágrimas começaram a brotar nos meus olhos, mesmo que eu tentasse
desesperadamente segurá-las.
O que faço agora? Estou perdida. E sozinha.
A única pessoa que sabia onde eu estava era Filippo, e não havia chance de
ele me ajudar. Não depois do que eu fiz, tentando fugir. Eu estava presa ali,
completamente à mercê do tempo e das minhas próprias decisões
impensadas. E o pior de tudo era que, por mais que eu quisesse odiá-lo, por
mais que eu tentasse me distanciar, uma parte de mim queria que Filippo
viesse me buscar.
CAPÍTULO 18

FILIPPO ROMANO
A tempestade estava se formando rapidamente no horizonte, as nuvens
escuras se movendo como sombras pesadas que engoliam o céu. Eu estava
de pé na varanda, observando o vento começar a uivar, mas algo me
incomodava. Olhei para dentro da casa. Serena não estava à vista.
Onde ela está?
Meu instinto sabe que ela estava tentando me evitar, o que não seria
novidade, mas a sensação de que algo estava errado foi crescendo rápido.
Fui até o quarto, depois a cozinha. Nada. Nem sinal dela.
Sinto algo incomodando dentro do meu peito.
Saí para fora, observando o terreno ao redor da casa.
— Serena. Chamei e nenhuma resposta.
Droga! A tempestade estava quase em cima de nós, e Serena decidiu sair
por conta própria? O que ela estava pensando? Ou pior, será que tentou
fugir?
Meu coração deu um salto e o medo se instalou em mim de forma
sufocante. Ela só pode ter ido pelo mato adentro.
O que deu na cabeça dela sair desse jeito?
Ela nunca sobreviveria a essa tempestade sozinha.
Peguei um guarda-chuva, uma lanterna e minha arma, por garantia. Não
podia arriscar. O vento já estava mais forte, e as primeiras gotas de chuva
caíam pesadas, aumentando a tensão dentro de mim. Comecei a caminhar,
com os olhos atentos, a lanterna iluminando a escuridão que se fechava
rapidamente ao meu redor.
— Serena! — Gritei e nada.
A chuva começou a desabar com força total, o barulho ensurdecedor, mas
eu precisava continuar. A cada passo, meu desespero aumentava. E se algo
tivesse acontecido com ela? Ela não conhecia o lugar e a área ao redor da
casa era traiçoeira, com terrenos irregulares e buracos escondidos pela
vegetação.
Caminhei mais rápido, a lanterna cortando a escuridão densa à minha
frente, mas só via o vazio. O som da tempestade me cercava e minha mente
começou a imaginar o pior. E se ela escorregou e caiu? E se está machucada
e eu não conseguir chegar a tempo? Um nó se formou no meu estômago, e a
adrenalina me impulsionava a continuar.
Eu odiava sentir isso. Esse medo de perdê-la me deixava fora de controle.
Não pode ser assim! Serena não podia simplesmente desaparecer da minha
vida. Não depois de tudo o que passamos. Não agora.
— Serena! — Gritei de novo, já estava sentindo minha voz ficando rouca.
Mas ainda nada. A cada minuto que passava, o desespero crescia dentro de
mim, como se uma mão invisível estivesse apertando meu peito. Se algo
acontecesse com ela... eu não saberia o que fazer. Minha vida estaria
arruinada.
A chuva escorria pelo meu rosto, minhas roupas encharcadas e pesadas,
mas continuei. Não tinha outra escolha. Cada passo na lama parecia mais
difícil, mas eu não ia parar. Não até encontrá-la.
— Droga, Serena! Responde!
Uma ideia me atingiu. Havia uma caverna não muito longe dali. Um lugar
que poucos conheciam, mas que poderia servir de abrigo. Se ela tivesse
conseguido se esconder lá, teria uma chance.
Tomara que ela esteja lá.
Mudei de direção, a lanterna tremendo na minha mão enquanto eu
caminhava rápido, o som do meu coração quase tão alto quanto o da
tempestade. Por favor, esteja lá. Por favor, esteja bem.
Cada segundo que passava parecia uma eternidade, o medo de não
encontrá-la só crescia, consumindo qualquer traço de controle que eu ainda
tinha. Eu não podia perder Serena. Não desse jeito.
Finalmente, avistei a entrada da caverna à distância. Corri, escorregando na
lama e lutando contra o vento, com a lanterna mal funcionando. E então, vi
um vulto no fundo. Meu coração deu um salto.
— Serena? — Gritei.
Ela estava lá, encolhida contra a parede, os olhos arregalados de pavor, mas
viva. Senti uma onda de alívio tão forte que quase me derrubou. Me
aproximei dela, abaixando-me ao seu lado, o corpo ainda tremendo com a
adrenalina e o frio.
— Você está bem? — Perguntei, segurando seu rosto com cuidado.
Ela assentiu, mas estava claramente em choque.
Seus olhos mostravam o quanto estava assustada e seu corpo tremia de frio
e medo. A chuva pesada lá fora continuava a cair sem parar, e eu sabia que
precisávamos sair dali rápido, antes que a tempestade piorasse.
— Serena… — murmurei, me ajoelhando ao lado dela.
Ela estava pálida, os lábios quase azuis de tão gelada. Seu corpo tremia
incontrolavelmente. Tirei meu casaco e envolvi seus ombros com ele. O
tecido estava encharcado da chuva, mas era melhor do que nada. Eu
precisava aquecê-la de alguma forma.
— Você vai ficar bem, estou aqui agora. — Tentei tranquilizá-la, mas a
verdade é que o medo ainda apertava meu peito. Ela não respondeu, apenas
assentiu levemente. Peguei a capa de chuva e coloquei sobre ela.
Sem perder mais tempo, passei um braço por trás de suas costas e o outro
sob seus joelhos, levantando-a do chão. Ela era leve como uma pena, seu
corpo mole de cansaço, e isso só aumentou a urgência dentro de mim.
— Vamos sair daqui. — Disse, com firmeza, começando a caminhar para
fora da caverna, com Serena em meus braços.
A chuva estava pior do que antes. O vento cortante e a água gelada batiam
no meu rosto, mas continuei andando. Eu a segurava com força, mantendo-
a o mais próximo possível do meu corpo para tentar aquecê-la com o pouco
calor que me restava. Droga, ela estava congelando.
Talvez seja burrice minha não ter continuado na caverna, mas seria bem
pior por conta das inundações que ocorrem.
A lanterna iluminava o caminho de volta para a casa. Estava com
dificuldade para andar no terreno molhado e irregular, mas não parei. Cada
segundo que se passava me fazia odiar que ela havia saído sozinha, mas, ao
mesmo tempo, a culpa me corroía. Eu devia ter sido mais cuidadoso, devia
ter impedido isso. Mas irritei tanto ela esses dias que até eu fugiria de mim.
Serena se aninhou mais perto de mim, e seu rosto foi pressionado contra
meu peito. Eu podia sentir sua respiração fraca, o que me fez apertar o
passo, com o pânico subindo em mim de novo.
— Aguenta firme, meu amor, estamos quase lá. — Murmurei, tentando
acalmá-la.
A cada passo, eu sentia o corpo dela começando a esquentar levemente
dentro do casaco, mas ainda não era o suficiente. Quando chegarmos,
preciso cuidar dela imediatamente.
Finalmente, a casa apareceu à distância. Minhas roupas estavam ensopadas
e pesadas, mas nada importava além de chegar rápido. Quando
atravessamos a porta, o calor da lareira me atingiu como uma onda, e
rapidamente a levei até o sofá. Deitei Serena com cuidado, tirando o casaco
molhado de seus ombros e ajeitando os cobertores sobre ela.
Ela estava acordada, mas visivelmente exausta, o olhar perdido entre o
medo e o alívio.
— Você está segura agora. Eu prometo. — Disse, ficando de joelhos ao lado
dela, meus olhos fixos nos dela, esperando por algum sinal de que ela
estava bem.
Minha mente estava a mil enquanto me ajoelhava ao lado dela. Serena
estava visivelmente exausta, os olhos meio fechados e o corpo ainda tremia
de frio. Droga, ela estava tão gelada. Sem pensar duas vezes, comecei a
arrancar suas roupas molhadas, uma peça de cada vez.
— Filippo… — Ela tentou murmurar algo, mas eu não ia parar. Isso não era
o momento para constrangimento. Eu precisava aquecê-la, e rápido.
— Psiu, fique tranquila, precisamos tirar essas roupas molhadas. Preciso te
esquentar.
Ela assentiu.
Assim que terminei de tirar suas roupas, vesti-a com um moletom e peguei
o cobertor mais grosso que encontrei e a enrolei cuidadosamente nele,
apertando-o ao redor do corpo dela. Sua pele ainda estava gelada ao toque,
e isso só aumentava meu desespero.
Eu a peguei no colo de novo, dessa vez com mais cuidado, e a levei
diretamente para a cama. A deitei ali, ajeitando os cobertores sobre ela,
tentando criar uma camada quente ao seu redor.
— Vai ficar tudo bem. — Murmurei, enquanto corria até o outro lado do
quarto e ligava o aquecedor com toda a força. O calor começou a encher o
quarto lentamente, mas não rápido o suficiente para aliviar a tensão que
apertava meu peito.
Voltei para o lado dela, sentando-me na beira da cama, observando cada
movimento, cada respiração. O rosto dela estava um pouco menos pálido,
mas ela ainda tremia, se encolhendo embaixo dos cobertores.
— Você… vai ficar bem, Serena. — Repeti, mantendo minha voz firme,
mas por dentro, eu estava quebrado. Eu sabia que ela tinha saído de casa
por minha causa, que ela estava lutando contra mim, e isso só fazia meu
medo crescer. Eu quase a perdi hoje… e essa sensação era insuportável.
— Você não devia ter feito isso. — Sussurrei baixinho, enquanto eu
deslizava uma mão pelo cabelo dela. Ela não fazia ideia do quanto aquilo
me assustou.
Serena ainda tremia levemente, mas seus olhos finalmente se abriram por
completo. Ela olhou para mim por um momento, como se estivesse
tentando processar tudo o que havia acontecido. A expressão dela mudou de
cansaço para algo mais suave. E, antes que eu pudesse me afastar, senti os
braços dela se erguerem e, devagar, ela me puxou para mais perto.
E me abraçou.
Foi um gesto simples, mas me pegou de surpresa. Eu estava sentado na
beira da cama, pronto para continuar garantindo que ela estivesse bem, mas,
de repente, senti o calor do corpo dela se aproximando. Os braços dela ao
redor de mim eram fracos, mas havia uma força emocional ali que eu não
esperava.
— Obrigada por não desistir de mim. Disse baixinho.
— Eu nunca desistirei de você, Serena.
Por um instante, fiquei congelado. Eu, que sempre fui um homem frio e
calculista, não estava acostumado com esse tipo de gesto. Mas a forma
como ela se agarrou a mim, como se eu fosse sua âncora, me desarmou
completamente.
Senti o corpo dela relaxar levemente contra o meu, o tremor começando a
diminuir. Meu instinto era de proteger, mas agora, mais do que nunca, eu
sentia que era mais do que isso. Era algo mais profundo.
Apertei meus braços ao redor dela em resposta, a abraçando de volta,
sentindo o calor aumentar entre nós. O cobertor que a envolvia e o
aquecedor no quarto ajudavam, mas nada disso se comparava à sensação de
tê-la tão perto, viva e respirando ao meu lado.
Ela suspirou contra o meu peito, o som quase silencioso, mas carregado de
algo que me atingiu de um jeito que eu não esperava. Por mais que ela
estivesse zangada comigo, por mais que tudo entre nós fosse complicado,
naquele momento, ela me abraçava como se eu fosse a única coisa no
mundo em que ela podia confiar.
E eu não ia deixar que nada a machucasse. Não mais.
Ela se afastou um pouco, nossos olhares se encontrando no meio do
silêncio. Vi a confusão em seus olhos, o medo misturado com algo mais que
eu não conseguia decifrar. Serena ergueu a mão, seus dedos trêmulos
roçando meu rosto.
— Filippo… — ela murmurou, em um sussurro.
Eu abri a boca para responder, mas não consegui dizer nada. Antes que
pudesse entender o que estava acontecendo, seus lábios tocaram os meus.
Foi um beijo leve, quente, como se ela estivesse experimentando, testando o
que viria a seguir.
Meu primeiro instinto foi me afastar. Ela estava vulnerável, frágil por tudo
o que aconteceu. Mas o calor daquele beijo, por mais delicado que fosse,
me puxou para ela de uma maneira que eu não podia resistir. Minhas mãos
subiram até sua cintura, segurando-a com firmeza, mas com cuidado. Eu
não podia mais lutar contra o que sentia.
— Serena… — sussurrei contra seus lábios, tentando me controlar.
— Não me afaste… — ela pediu baixinho, interrompendo o beijo por um
segundo, os olhos dela brilhando de uma forma que eu nunca vi antes. —
Por favor.
Ela me puxou para mais perto, seus lábios pressionando os meus com mais
urgência dessa vez. E então, eu cedi completamente. Meu autocontrole se
desfez enquanto eu a segurava mais forte, colocando todo o meu desejo e
tudo o que eu não conseguia expressar naquele beijo. Cada movimento dos
meus lábios nos dela era uma promessa. De que eu nunca a deixaria, de que
ela nunca precisaria ir embora.
Ela suspirou suavemente, seu corpo relaxando em meus braços, e eu sabia
que ela também estava se entregando a esse momento. Não havia dúvidas
entre nós agora. Eu precisava que ela entendesse que, de hoje em diante, era
assim que seria.
Quando nos afastamos, ambos sem fôlego, eu a encarei profundamente,
segurando seu rosto entre as mãos.
— Eu nunca vou fugir de você, Serena. Nunca. — Minha voz saiu rouca,
carregada de emoção. — Estou aqui. Para sempre. Não importa o que
aconteça.
Ela piscou algumas vezes, absorvendo minhas palavras, e balançou a
cabeça, sem conseguir esconder a emoção em seus olhos.
— Eu sei… — ela disse baixinho. — Só… só não me deixe mais.
Eu a puxei para mais perto, encostando a testa na dela.
— Nunca. Você é minha. E eu sou seu.
Serena fechou os olhos por um momento, respirando fundo, antes de abrir
novamente e me encarar com uma coragem que me surpreendeu.
— Então, prove. — Disse, com um sorriso suave aparecendo em seus
lábios.
Aquelas palavras foram suficientes para acabar com qualquer incerteza que
restava. Mas eu precisava ter controle. Ela estava vulnerável e eu sabia que,
amanhã, ela poderia se arrepender, então me afastei, beijando sua testa com
ternura.
— Teremos todo o tempo do mundo. Agora quero que descanse e se
alimente bem.
Ela assentiu lentamente, como se minhas palavras tivessem sido um
bálsamo. A tensão no ar diminuía, e um silêncio confortável se estabelecia
entre nós.
— Vou preparar algo para você comer — disse, levantando-me da cama. O
desejo de cuidar dela era mais forte do que qualquer coisa. A ideia de vê-la
saudável e feliz me impulsionava a agir.
— Posso ajudar! — Ela se levantou também, mas eu a segurei gentilmente
pelo braço.
— Você precisa se aquecer e relaxar. Eu cuido disso — afirmei, sem abrir
mão da minha decisão.
Ela hesitou, mas a determinação nos meus olhos parecia convencê-la.
Serena sentou-se de volta na cama, puxando o cobertor para cima, e me
observou enquanto eu saía do quarto.
Na cozinha, preparei uma sopa quente, os aromas preenchendo o ar e
trazendo um senso de normalidade àquele momento caótico. Enquanto
mexia a panela, minha mente não conseguia parar de pensar nela. Como ela
havia entrado na minha vida e se tornado a única razão pela qual eu lutava
tão intensamente?
Abro a geladeira para beber um copo de água e vejo o vidro de pimenta, o
que me fez sorrir como um bobo, lembrando que na semana passada ela
apimentou a comida, achando que iria me irritar.
Minha intenção nunca era irritá-la, mas, no fundo, eu estava me divertindo.
Depois de alguns minutos, voltei para o quarto com uma tigela de sopa bem
quente.
— Aqui está. — Coloquei a sopa na mesa de cabeceira, observando-a
enquanto começava a se servir.
— Obrigada, Filippo. O brilho em seus olhos ainda era tímido, mas havia
um novo calor ali, algo diferente.
— Como você está se sentindo? — perguntei, sentando-me ao seu lado. A
proximidade era calorosa e a tensão que tinha entre nós, agora, parecia mais
como uma promessa do que um fardo.
— Melhor, graças a você.
Enquanto ela tomava a sopa, observei cada movimento, como se estivesse
aprendendo todos os detalhes dela. O modo como ela inclinava a cabeça, os
pequenos sorrisos que surgiam após cada colherada… tudo era fascinante.
Será isso, amor?
— A sopa está deliciosa, não sabia que cozinhava tão bem.
Sorrio com seu elogio.
— Morei sozinho enquanto estudava e tive que aprender.
— Aprendeu super bem. Disse, tomando a última colher.
Depois que ela terminou, coloquei a tigela de volta na mesa e, em um
impulso, peguei sua mão, entrelaçando nossos dedos.
— Prometo que, aconteça o que acontecer, não vou deixar você ir embora.
— Filippo, você… — começou a falar, mas eu a interrompi, inclinando-me
para mais perto e capturando seus lábios com os meus novamente.
Serena se acomodou em meus braços, a cabeça repousando em meu peito.
O calor do seu corpo se misturava ao meu, e por um momento, tudo parecia
perfeito.
— Valeu a pena não ter deixado você se casar — murmurei, acariciando seu
cabelo suavemente. As palavras saíram como uma constatação, e eu
realmente acreditava nelas.
Ela ergueu a cabeça, observando.
— Você ficou louco, Filippo. O que fez. Isso é… isso é uma loucura!
Sorri, não apenas por sua reação, mas por tudo que isso significava para
nós.
— Loucura ou não, eu não podia deixar você casar — respondi, mantendo
meu olhar fixo no dela. — Meu irmão deve ter contado para o Ethan o que
aconteceu.
Ela franziu a testa, como se estivesse descobrindo que tudo já estava
planejado.
— Seu irmão sabia da sua loucura?
— Sim, toda minha família sabe.
— Não acredito que todos te apoiaram. Ethan… Não consigo imaginar o
que ele deve estar pensando. Alex deve estar completamente louco com
tudo isso.
— E eu estou pouco me importando com ele.
Ela se aninhou mais perto de mim, seu corpo relaxando à medida que as
palavras flutuavam entre nós. Podia sentir o coração dela acelerando, assim
como o meu.
— Você realmente acha que fez a escolha certa? — sua voz estava
carregada de incerteza.
— Com certeza — respondi, olhando nos olhos dela. — E vou fazer tudo o
que for necessário para mostrar isso.
Ela sorriu e sinto a confiança começando a brotar dentro dela. Era tudo que
eu queria, que ela soubesse que estava segura comigo.
— Então, o que fazemos agora? — perguntou com um brilho de curiosidade
refletindo em seu olhar.
— Agora, nós vivemos. — Eu a puxei para mais perto, envolvendo-a em
meus braços com firmeza. — E, se precisar, enfrentamos o que vier. Juntos.
Serena respirou fundo e eu sabia que, apesar de tudo, havia uma luz de
esperança brilhando entre nós.
— Eu não acredito no que estou fazendo — disse ela. — Só espero que não
me faça sofrer.
Minhas mãos deslizaram suavemente por seus braços, tentando transmitir a
confiança que eu queria que ela sentisse.
— Serena, eu prometo que farei o possível para que você nunca se sinta
assim novamente. — Disse, sentindo o peso das minhas palavras. Queria
que ela visse a sinceridade em meu olhar, que sentisse a determinação em
cada palavra.
Ela mordeu o lábio inferior, e a insegurança nos olhos dela foi substituída
por uma confiança crescente.
— Tomara Filippo. Ontem eu te odiava, e hoje estamos assim.
— E assim continuaremos. — Respondi, firme, com a intenção de
fortalecer o que já começava a se formar entre nós. Não importava o que o
passado trouxesse, nós estávamos juntos agora, e isso era o que mais
importava.
Eu poderia ver que Serena estava começando a aceitar a realidade do que
estávamos vivendo. Aquele tumulto de emoções parecia dar lugar a um
entendimento mais profundo, uma aceitação que poderia nos unir ainda
mais.
— É estranho, não? — ela disse, quebrando o silêncio. — Como as coisas
podem mudar tão rapidamente?
— É a vida. — Respondi, acariciando suavemente seu rosto, buscando
eliminar qualquer vestígio de dúvida. — Às vezes, é preciso passar por
tempestades para encontrar a luz.
Serena sorriu e o brilho nos olhos dela era tudo o que eu precisava para
sentir que estávamos no caminho certo. A confiança que antes era apenas
uma semente agora estava florescendo diante de nós.
— Eu não sei o que esperar do futuro, Filippo, mas… — ela hesitou por um
momento. — Eu quero tentar. Quero explorar isso que temos, mesmo que
eu tenha medo.
— O medo é natural. — Eu disse, puxando-a para mais perto novamente.
— Mas não deixe que ele te impeça de viver. Eu estarei aqui, não importa o
que aconteça.
— Você promete que não vai me deixar? — perguntou, com uma
vulnerabilidade que me tocou profundamente.
— Eu prometo. — As palavras saíram com sinceridade. — Nunca mais vou
te deixar. Lutarei por nós, sempre.
— Agora precisamos planejar um jeito de voltar e contar a todos. Preciso
conversar com Alex.
— Para quê? Você não precisa conversar com ele. — Respondi irritado. A
ideia de Alex no meio disso tudo me incomodava.
— Claro que preciso, tivemos uma história. — Ela insistiu, determinada,
me fazendo suspirar.
— Que acabou. — Disse tentando manter a calma. A última coisa que
queria era que ela se sentisse pressionada, mas a possibilidade de Alex
interferir em nosso novo começo me deixava inquieto.
Serena parecia confusa. Eu sabia que ela precisava de tempo para processar
tudo, mas não podia deixar que dúvidas a afastassem de mim.
— Filippo, você não entende. Ele foi uma parte importante da minha vida.
Preciso que ele saiba que tomei uma decisão, que não estou mais presa a
isso. — Sua voz estava cheia de emoção, e eu percebi que essa conversa ia
muito além do que eu havia imaginado.
— E se ele não aceitar? E se ele tentar te convencer a voltar? — A raiva
subiu em mim só de pensar na possibilidade. Eu não queria que ela fosse
manipulada por alguém que ainda tinha sentimentos por ela.
— Eu sou capaz de tomar minhas próprias decisões. — Ela respondeu
decidida. — Não estou dizendo que quero voltar para ele, mas preciso
encerrar isso de uma vez por todas. Para eu poder seguir em frente.
A realidade do que ela estava dizendo começou a se instalar em mim. Havia
um peso em sua vida que eu não podia ignorar, e talvez essa conversa fosse
a única forma dela se libertar de vez.
— Ok. — Disse, finalmente. — Mas eu quero estar com você quando fizer
isso. Não quero que você enfrente Alex sozinha.
— Prefiro conversar com ele sozinha.
— Não. Eu afirmei, cruzando os braços. A ideia de deixá-la enfrentar Alex
sem mim me deixava inquieto.
— Já vamos voltar a brigar? — Serena perguntou com uma expressão séria.
— O que isso vai te custar?
— Não é uma questão de custo, Serena. É uma questão de proteger você.
Eu não confio nele, e você não deveria também. — Minha voz saiu mais
intensa do que pretendia, mas a preocupação falava mais alto que qualquer
tentativa de suavizar. Eu não confiava naquele cara.
O que eu sentia por ela não era só paixão; era uma conexão que ia além de
tudo que já havia experimentado.
— Por favor, Filippo, Alex nunca me faria mal. — O desafio em seu olhar
era claro, como se estivesse disposta a me confrontar. — Era mais fácil eu
não confiar em você.
— Por quê? — Perguntei frustrado. Eu queria entender o que a levava a
pensar assim.
— Você é um mafioso, e se você me matar… — As palavras dela caíram
como pedras sobre mim, e fiquei chocado. Era difícil ouvir aquilo, sabendo
que ela tinha conhecimento sobre o que eu era, sobre o mundo que eu
carregava.
Mas saber que ela confiava mais em Alex do que em mim, doeu de uma
maneira que eu não esperava.
— Nunca faria mal a você, Serena. — As palavras saíram como um
sussurro profundo. O olhar dela brilhava, e eu podia ver a batalha interna
que se desenrolava em sua mente.
Ela respirou fundo. — Eu só quero acreditar que você é diferente.
— E eu sou. — Afirmei, com toda a convicção que tinha — Não sou como
os outros, e nunca farei nada para te machucar. Você significa mais para
mim do que pode imaginar.
— Como funciona a máfia? Quero entender seu mundo.
— A máfia é como uma grande família. Comecei a pensar nas palavras que
escolhia. — Temos regras e um código de honra. Leon é o chefe, ele toma
as decisões mais importantes. Ele sempre foi o mais forte entre nós e, agora,
a responsabilidade recai sobre ele. Sou o consigliere, ou conselheiro. Ajudo
nas estratégias, mas a palavra final é dele.
Serena me observava com os olhos arregalados, como se tentasse absorver
cada detalhe. A vulnerabilidade que havia em nosso último momento juntos
parecia ter desaparecido, dando lugar a uma nova curiosidade.
— E o que você faz exatamente? — ela perguntou, inclinando-se um pouco
mais perto.
— Sou responsável por manter as operações em ordem, garantir que os
negócios corram bem. Isso pode incluir desde acordos até, em algumas
situações, … — hesitei, mas decidi ser honesto. — Enfrentar problemas. Às
vezes, isso significa que temos que eliminar ameaças.
— E você já fez isso? — A voz dela era mais suave agora, mas ainda havia
um toque de tensão nas palavras.
— Já. — Respirei fundo, lembrando de momentos que eu preferia esquecer.
— A vida que tenho não é limpa, e eu não sou um homem que tem medo de
sujar as mãos.
Serena ficou em silêncio, e eu podia ver que ela lutava contra seus próprios
pensamentos. A confiança estava ali, mas as dúvidas também.
— Então, é isso que você é? Um assassino? — Ela perguntou, com um
misto de preocupação e incredulidade em seu olhar.
— Não me reduza a isso. Não sou só um assassino. Eu protejo os que amo e
faço o que é necessário para manter nossa família segura. Você é parte dessa
família agora.
— Mas eu não sou parte disso. Eu só… só sou a mulher que você
sequestrou.
— Não é assim que vejo — respondi, com firmeza. — Você é muito mais
do que isso. Eu não só a quero ao meu lado; eu preciso de você.
Ela respirou fundo, tentando processar tudo. Eu sabia que a vida na máfia
não era algo fácil de aceitar, e muito menos quando você estava apaixonado
por alguém que estava profundamente enraizado nesse mundo.
— E se isso nos separar? — perguntou em um sussurro.
— Não vai. — A certeza em minha voz ecoou entre nós. — Não importa o
que aconteça, eu não vou deixar você ir.
— E se eu não souber lidar com tudo isso? E se eu não for forte o suficiente
e ir embora? — suas palavras saíram em um suspiro.
— Você é mais forte do que pensa, Serena. E eu estarei ao seu lado para
enfrentar tudo isso. Não importa o que aconteça, nós dois temos um ao
outro.
Ela fechou os olhos por um instante, como se estivesse processando minhas
palavras. Quando os abriu novamente, a determinação começou a se
infiltrar em sua expressão.
— E se eu decidir ficar com você? O que isso significa para mim, para nós?
Eu a observei atentamente.
— Significa que você terá que aceitar meu mundo — minha voz saiu firme,
mas baixa, com o peso da realidade que eu estava prestes a revelar. — Isso
inclui os riscos, as responsabilidades e tudo o que vem com o meu nome e o
que eu faço. Você terá que estar disposta a lidar com o perigo, porque ele
estará sempre presente.
Ela continuou me encarando, absorvendo cada palavra, avaliando cada
implicação.
— Mas significa também que você não estará sozinha — acrescentei — Eu
estarei ao seu lado, protegendo você, lutando com você. Seremos um time,
contra o mundo, se for preciso. Eu nunca deixarei ninguém te machucar.
Fiquei em silêncio por um momento, dando a ela a oportunidade de
entender o que eu estava propondo. Finalmente, continuei:
— Se você decidir ficar, não haverá volta. Eu não sou um homem comum, e
minha vida não é uma vida comum. Isso significa lealdade, sacrifício… e o
mais importante, significa confiar em mim, mesmo nos momentos mais
sombrios.
Ela mordeu o lábio inferior e seus olhos me avaliando profundamente.
CAPÍTULO 19

SERENA FONSECA
Se eu decidir ficar com ele, terei que mudar?
A pergunta ecoava na minha mente enquanto eu olhava para Filippo.
Eu sabia exatamente o que ele estava dizendo e o que ele não estava. Ao
ficar ao lado dele, eu teria que aceitar muito mais do que um simples
relacionamento. Isso era entrar em um mundo de sombras, onde o perigo
era constante, onde o certo e o errado se mesclavam de maneiras que eu mal
conseguia compreender. Mas também havia uma promessa que eu
conseguia ver em seus olhos. Não de segurança, mas de lealdade, de estar
juntos, não importa o que acontecesse.
— Filippo, isso… — minha voz falhou por um segundo. Respirei fundo,
tentando organizar meus pensamentos. — Você está me pedindo para
aceitar tudo, e eu sei o que isso significa, sei o que vem junto. Mas… e eu?
Quem eu serei nesse cenário todo? Terei que me tornar alguém diferente?
Ele se aproximou com seus olhos cravados nos meus.
— Não estou pedindo para você mudar quem você é, Serena — sua voz
saiu baixa, quase um sussurro. — Estou pedindo para você ser forte, ser
quem você já é. Não vou mentir para você, o que eu faço… O que sou, isso
vem com sacrifícios. Mas não vou te transformar em outra pessoa. Só
preciso que você confie em mim.
Confiança.
Ele sempre voltava para essa palavra. E, no fundo, era isso o que mais me
apavorava. Porque confiar em Filippo não era só acreditar que ele cuidaria
de mim; era aceitar que ele poderia me arrastar para um mundo do qual eu
nunca esperei fazer parte. Eu já não era a adolescente que sonhava com ele.
Agora, sou uma mulher. Eu tinha meus próprios planos, meus sonhos. E, de
alguma forma, tudo isso parecia tão distante agora.
— Eu confio em você, Filippo, você sabe disso. — Minhas palavras saíram
mais certas do que eu esperava, mas a verdade é que eu confiava. Eu
confiava tanto que isso me assustava.
— Só que… eu não quero perder quem eu sou. Não quero me perder no seu
mundo.
Ele inclinou a cabeça, me olhando de um jeito mais suave.
— E você não vai — ele disse, e algo no tom dele fez meu coração bater
mais rápido. — Não quero que você deixe de ser quem é. Quero você,
Serena, exatamente como você é. Forte, independente… e comigo. Do meu
lado.
Meu estômago revirou ao ouvir isso, parecia borboletas batendo forte.
Era o que eu sempre quis, não era? Estar com ele. Ser a mulher que ele via.
Mas agora que essa realidade estava na minha frente, o que eu deveria
fazer?
Filippo deu um passo mais perto, sua mão roçando de leve o meu rosto.
Havia algo nos olhos dele, uma sensação de que tudo ficaria bem.
— Olha, Serena… você já conhece Lucy e acho que deve conhecer Alice.
Elas são tão parte desse mundo quanto eu. E você vê como elas são — ele
fez uma pausa. — Alice nunca mudou quem ela era. Mas se adaptou ao
mundo do meu irmão. Ela é forte, teimosa e continua sendo a mulher que
sempre foi. E Lucy, bem, você sabe o quanto ela é determinada. Ela faz as
coisas do jeito dela, e isso nunca a impediu de estar ao lado de Matteo.
Nenhuma delas deixou de ser quem é.
Eu pensei em Lucy. Ela sempre me pareceu alguém que não aceitava menos
do que aquilo que merecia, alguém que lutava para manter sua identidade
intacta, mesmo em meio ao caos da vida ao lado de Matteo. E Alice, com
sua força silenciosa, sempre impondo respeito de uma forma que eu
admirava. Elas estavam ao lado de homens poderosos, mas nunca foram
subjugadas. Elas encontraram um equilíbrio, uma forma de fazer isso
funcionar.
— E a Crystal, minha prima. A única mulher da nossa geração, sempre quis
fazer as mesmas coisas que nós. Sempre foi independente, com a cabeça no
lugar. Ela cresceu nesse mundo, e mesmo assim, sempre manteve quem ela
é, mesmo que meus tios odiassem. — Ele sorriu levemente, como se
lembrasse de alguma história sobre ela. — Você não precisa mudar, Serena.
Eu não quero que você mude.
Suas palavras começaram a fazer sentido, deixando meu coração aliviado.
Eu não precisava ser outra pessoa para estar com ele. Filippo não estava
pedindo que eu me anulasse ou que deixasse para trás tudo o que eu era. E,
de repente, comecei a enxergar algo que talvez eu tivesse ignorado até
agora. Alice, Lucy, Crystal… Todas essas mulheres estavam no centro
desse mundo, mas continuavam a ser elas mesmas.
— Estou começando a entender.
Filippo assentiu, com um leve sorriso, depositando um beijo em minha
testa.
— E você, meu anjo… você já é incrível como é. Uma médica, alguém que
dedica a vida a salvar pessoas. Isso não vai mudar. O que você faz, o que
você é, é importante. Eu nunca pediria para você abandonar sua carreira,
seus sonhos. Pelo contrário, é uma das coisas que mais admiro em você.
Essas palavras mexeram comigo. Era como se ele reconhecesse o que eu
havia lutado tanto para construir, a dedicação à medicina, algo que sempre
foi minha paixão. Ser médica fazia parte de quem eu era, e ouvi-lo
reconhecer isso trouxe um certo alívio.
— O fato de você ser médica, Serena, te torna ainda mais forte nesse
mundo. E, se você decidir ficar comigo, você trará essa força com você.
Ninguém pode tirar isso de você. — Ele se aproximou mais, seus olhos
presos aos meus, como se quisesse que eu entendesse a profundidade do
que ele dizia. — Você será parte do meu mundo, sim, mas nunca terá que
deixar de ser quem é.
Ele toca meu rosto, me fazendo sentir arrepios por todo o corpo.
Respirei fundo, absorvendo suas palavras. Ele estava certo. Eu tinha meu
próprio caminho, e nada no que ele me oferecia pedia para que eu desistisse
disso. Estar com Filippo significava aceitar um novo desafio, sim, mas não
significava abrir mão de mim mesma.
— Vem cá. Ele me abraça e toca seus lábios nos meus.
Está em seus braços era diferente, como se eu estivesse completa com ele.
Seu beijo era lento e delicioso, me deixando completamente excitada.
Meu corpo clamava por ele. Era uma sensação que não conseguia explicar.
— Filippo… sussurrei contra seus lábios, sem conseguir controlar o desejo
que se espalhava pelo meu corpo como uma onda quente.
Ele aprofundou o beijo, puxando ainda mais para perto, como se quisesse
apagar qualquer espaço entre nós. Seu toque era firme e cheio de ternura,
que me deixava sem fôlego. Era como se, nos braços dele, tudo fizesse
sentido. O mundo parecia desaparecer, e eu me sentia segura, desejada…
completa.
Eu mal conseguia pensar direito, meus pensamentos estavam nublados pelo
calor do momento. O modo como seus lábios se moviam nos meus, a forma
como suas mãos deslizavam por minhas costas, segurando-me firme, como
se ele quisesse que eu soubesse que não havia mais volta. Eu estava onde
devia estar.
— Serena… Ele sussurrou com sua voz rouca que fez meu coração disparar
ainda mais. — Eu te quero… Tanto, mas tanto que não sei se vou aguentar
esperar.
Meu corpo respondeu antes que minha mente pudesse processar. Eu estava
entregue.
— Eu também te quero, Filippo, faça amor comigo?
As palavras saíram sem esforço, carregadas de desejo, de uma necessidade
que eu mal conseguia controlar. Filippo me olhou por um momento, seus
olhos ardendo de desejo, mas também havia algo mais, uma intensidade,
como se ele estivesse segurando cada centímetro de controle para não
perder a cabeça ali mesmo.
Ele deslizou uma das mãos pela lateral do meu corpo, seus dedos quentes
contra a minha pele através do tecido fino da minha blusa. O toque dele me
fazia arder por dentro. Sua outra mão envolveu meu rosto, puxando-me
delicadamente para um beijo. Um beijo que começou lento, como se ele
quisesse saborear cada segundo.
Gemi baixinho contra os lábios dele, sentindo meu corpo se derreter em
seus braços, respondendo a cada toque. Ele me pegou pela cintura, me
puxando ainda mais para si, e senti seu corpo firme contra o meu.
— Serena… Ele murmurou contra o meu pescoço, seus lábios quentes
percorrendo minha pele, enviando ondas de prazer por todo meu corpo. —
Esperei tanto por isso.
O jeito como ele me segurava, como se estivesse com medo de me deixar
escapar, me fazia sentir desejada de uma forma que eu nunca havia sentido
antes. Filippo me deitou suavemente na cama e começou a me despir,
deixando-me completamente nua diante dos seus olhos. Suas mãos
exploravam cada centímetro do meu corpo com uma reverência quase
devota. Era como se ele quisesse conhecer cada parte de mim, como se cada
toque fosse uma promessa de que ele me daria tudo.
— Tão linda. Quero apreciar cada parte do seu corpo — Sussurrou
baixinho.
Os lábios dele começaram a descer pelo meu corpo, minha pele arrepiava
ao sentir o toque quente da sua língua. Fechei os olhos, deixando-me levar
por aquela onda de prazer que me invadia. Ele era meticuloso, como se
estivesse estudando cada reação minha, descobrindo o que me fazia suspirar
mais alto, o que fazia meu corpo responder ainda mais ao seu toque.
Seus lábios seguiram seu caminho, descendo lentamente, explorando,
apreciando cada parte. Era uma tortura deliciosa, cada segundo parecia se
alongar, e meu corpo clamava por mais. Cada toque, cada beijo, era um
misto de carinho e desejo, como se ele estivesse criando um ritmo que só
nós dois podíamos entender.
Eu gemia baixinho, incapaz de controlar as sensações que ele me
provocava. Suas mãos me seguravam com força, como se quisesse me
manter ancorada naquele momento.
— Filippo… — Sussurrei, eu preciso de mais dele.
Ele ergueu os olhos para mim, seus dedos desenhando linhas suaves ao
longo da minha pele, como se estivesse saboreando o efeito que tinha sobre
mim.
— Quero que você sinta tudo. Murmurou, com sua voz rouca, fazendo meu
coração acelerar ainda mais. — Cada toque, cada beijo… são só para você.
Ele abriu minhas pernas, tendo total acesso a minha boceta.
E lentamente ele brincava com meu clitóris, me deixando louca de tesão.
— Ah, Filippo. Por favoorrr…
Seus olhos encontraram os meus e, com um sorriso safado, ele abocanha
minhas partes íntimas, me fazendo gritar de prazer.
Ele me provoca de uma forma, movendo a língua devagar, cada movimento
me deixa ainda mais excitada. Suas mãos seguravam firmemente minhas
coxas, mantendo-me no lugar enquanto ele explorava cada centímetro da
minha intimidade, como se tivesse todo o tempo do mundo.
— Filippo… murmurei, sentindo meu corpo tremer.
Seus olhos nunca deixavam os meus, refletindo o mesmo desejo e
intensidade que eu sentia. Ele sorria contra minha pele, saboreando minhas
reações.
Com um movimento lento e provocante, Filippo intensificou o ritmo, e a
onda de prazer percorreu meu corpo. Sua língua me levava a um estado de
puro êxtase, e eu mal conseguia me conter.
Minhas mãos deslizaram pelos lençóis, buscando algo para me ancorar
enquanto ele me fazia sentir como se flutuasse. Sentindo meu corpo
estremecer sob seu toque, ele subiu levemente o olhar.
— Eu adoro te ver assim. Agora quero me enterrar nessa bucetinha gostosa.
Ele arrancou suas roupas, e meus olhos não conseguiam parar de olhar para
o tamanho da sua ereção.
Nossa…
Com um sorriso, ele se ergueu, alinhando seu corpo ao meu, os olhos fixos
nos meus enquanto se posicionava. O toque firme e decidido de suas mãos
em meus quadris enviava um arrepio pela minha espinha. Filippo inclinou-
se mais perto, seus lábios roçando minha orelha.
— Você é toda minha.
Ele entrou devagar, preenchendo-me, e um gemido alto escapou dos meus
lábios, e vejo que ele percebeu que eu era virgem. Meus olhos se encheram
de lágrimas.
Filippo parou ao perceber a tensão em meu corpo e entendeu
imediatamente. Seus olhos, antes intensos de desejo, suavizaram. Ele
segurou meu rosto com delicadeza, os polegares acariciando minhas
bochechas, e um sorriso terno surgiu em seus lábios.
— Eu não quero te machucar — sussurrou. — Vou ser gentil, prometo.
— Por favor, Filippo, continue. Imploro, mesmo sentindo dor, eu queria
mais.
Com cuidado, ele começou a mover-se devagar, cada toque suave, dando
tempo para que eu me ajustasse. Seus olhos nunca se desviaram dos meus,
observando cada reação minha com atenção. Ele tratava cada movimento
como um ato de adoração, cuidando para que eu me sentisse segura em seus
braços.
— Que buceta deliciosa, apertadinha. Nunca mais quero sair daqui.
Suas mãos deslizaram pelo meu corpo, segurando-me firme enquanto ele
começava a se mover, cada vez mais fundo.
— Isso, Filippo, está tão gostoso.
Senti o calor aumentar entre nós, o ritmo ficando mais intenso, e nossos
corpos se movendo em perfeita sintonia. Cada movimento me fazia perder o
fôlego, ele me levava a um ponto que nunca pensei que existisse. Era
delicioso demais.
A cada movimento, o prazer aumentava, senti seu corpo estremecer
levemente contra o meu. Filippo deixou escapar um gemido rouco, e então,
com um último impulso profundo, ele chegou ao ápice, apertando meu
corpo contra o dele.
— Você me deixa louco, Serena. Murmurou, com a respiração ofegante.
Ele me puxou para perto, mantendo-me em seus braços enquanto
recuperamos o fôlego juntos. Filippo acariciou meus cabelos, deslizando a
mão gentilmente pelo meu rosto, e, com um sorriso terno, deixou um beijo
suave em minha testa.
— Você foi maravilhosa, Serena — sussurrou cheio de carinho.
Ele se levanta, e vai em direção ao banheiro e volta com lenços úmidos.
— O que você vai fazer? Pergunto.
Ele apenas sorri e abre minhas pernas, e nesse momento fiquei com
vergonha pelo ato dele.
— Não precisa ficar com vergonha, meu anjo.
Ele limpa devagarinho minhas entradas e depois joga fora os lenços, e
voltou a deitar ao meu lado.
Eu me aconcheguei mais em seu peito, sentindo a batida acelerada de seu
coração ainda desacelerando. Suas mãos não paravam de me acariciar,
explorando cada parte de mim com uma ternura inesperada para alguém tão
intenso e determinado como ele.
Ali, entre seus braços, senti uma segurança que nunca havia experimentado
antes. Filippo se inclinou, me olhando com um misto de paixão e devoção.
— Nunca vou esquecer essa noite — murmurei acariciando seu rosto.
Filippo sorriu, segurando meu rosto entre as mãos, seus olhos me
observando com uma intensidade que fez meu coração disparar. Ele passou
o polegar suavemente sobre minha pele, como se quisesse memorizar cada
detalhe.
— Serena, você não faz ideia do quanto significa para mim — disse sincero
— Eu já sabia que você era minha, mas hoje… hoje você me mostrou o que
é sentir algo real, algo que eu nem sabia que podia existir.
Ele aproximou-se ainda mais, os lábios roçando os meus, mas sem pressa.
— Eu quero estar ao seu lado, quero te proteger, te fazer feliz, ser tudo o
que você precisar, sempre.
Uma onda de emoção me invadiu, e senti meus olhos marejarem. Filippo
me envolveu em um abraço apertado, como se nunca quisesse me soltar.
***
Acordei de repente, sentindo algo estranho ao meu lado. Olhei para Filippo
e percebi que ele estava gemendo baixinho, seu corpo tremendo de frio. Seu
rosto, que geralmente transmitia força, estava pálido e uma camada de suor
cobria sua testa. Toquei sua pele e senti o calor intenso — ele estava com
febre alta.
Meu coração apertou ao vê-lo assim. Lembrei-me de como ele cuidou de
mim com tanta dedicação depois daquela tempestade, sem pensar em si
mesmo. E agora, claramente, ele havia se esquecido de cuidar de sua
própria saúde.
Levantei-me rapidamente, tentando não fazer barulho. Corri para o banheiro
e molhei uma toalha com água fria, torcendo-a apenas o suficiente para
ficar úmida. Como médica, eu sabia exatamente o que fazer para tentar
reduzir sua febre. Voltei para o quarto, me ajoelhando ao lado da cama e
colocando delicadamente a toalha em sua testa.
— Filippo… — murmurei, com a voz suave, na esperança de que ele
conseguisse ouvir e sentir minha presença. Ele abriu os olhos por um
momento, mas seu olhar estava distante, como se estivesse em outro lugar.
Ainda assim, ele tentou me dar um leve sorriso, mesmo debilitado.
— Shh, não fale — disse, passando a mão por seu cabelo úmido. — Agora
é a minha vez de cuidar de você.
Coloquei outra toalha em seu pescoço e comecei a trocar as compressas
conforme elas aqueciam, tentando reduzir o calor que consumia seu corpo.
Em minha mente, eu só conseguia pensar no quanto ele havia se esforçado
para cuidar de mim e como aquilo havia provavelmente cobrado seu preço.
Filippo tentou dizer algo, mas eu apenas levei um dedo aos seus lábios,
pedindo que descansasse. Enquanto eu cuidava dele, senti uma onda de
carinho e preocupação crescer ainda mais dentro de mim.
Continuei trocando as compressas, observando-o com atenção. A febre
ainda estava alta, mas aos poucos ele parecia relaxar sob o toque fresco da
toalha. Cada gemido abafado dele me cortava por dentro, e eu só conseguia
pensar em como era difícil vê-lo assim, tão vulnerável.
— Vai ficar tudo bem, eu estou aqui — sussurrei, acariciando seu rosto
suavemente.
Depois de alguns minutos, percebi que a febre não cederia facilmente. Corri
novamente para o banheiro e preparei uma bacia com água morna e uma
toalha nova. Lembrava-me do quanto Filippo era teimoso, sempre
colocando os outros antes de si mesmo. Agora era minha vez de ser
insistente e garantir que ele descansasse e se recuperasse.
Voltei e molhei a toalha, passando-a por seus braços e peito para tentar
aliviar seu corpo quente. Ele entreabriu os olhos e dessa vez sua expressão
parecia um pouco mais clara, embora ainda fraca.
— Serena… — murmurou, com a voz rouca. — Você não precisa…
— Preciso sim. Você cuidou de mim, agora é minha vez de cuidar de você,
Filippo — respondi com firmeza, levando a toalha ao seu rosto e secando o
suor que continuava a escorrer.
Ele tentou erguer a mão para segurar a minha, e eu permiti que ele
entrelaçasse nossos dedos, mesmo que seu toque estivesse trêmulo e fraco.
Preciso encontrar algum remédio que possa ajudar. Saio do quarto e vou
para a cozinha com a esperança de achar algo.
Cheguei ao armário de remédios e comecei a procurar algo que pudesse
ajudá-lo. Meus dedos passaram por várias embalagens até encontrar o
analgésico que buscava, algo que ajudaria a baixar a febre e aliviar qualquer
dor que ele pudesse estar sentindo. Peguei também um copo de água,
sabendo que ele precisaria se manter hidratado.
Corro novamente para o quarto e levemente toco seu braço.
— Filippo, preciso que tome isso — sussurrei, tentando despertá-lo o
mínimo possível.
Ele abriu os olhos devagar, a expressão ainda confusa, mas se esforçou para
me ouvir. Coloquei o copo em suas mãos e a medicação em seus lábios. Ele
tomou o remédio em silêncio, ainda com um leve tremor nas mãos.
— Você não precisa fazer isso — murmurou, com a voz rouca.
— Preciso sim, e quero. Não se esqueça de que fiz um juramento para
cuidar de todos, não importa quem seja. — respondi, com um sorriso
brincalhão, colocando o copo de lado e ajeitando as cobertas ao seu redor.
— Agora, tente dormir mais um pouco. Eu vou ficar aqui com você.
Ele fechou os olhos novamente com um leve sorriso e eu me sentei ao seu
lado.
Quando senti que sua temperatura havia abaixado um pouco, soltei um
suspiro de alívio, mas sabia que ele precisava de mais do que apenas
repouso. Levantei-me silenciosamente e fui até a cozinha, procurando algo
que pudesse preparar para ele. Algo leve, que ajudasse a reidratar seu corpo
e o fortalecesse.
Encontrei alguns ingredientes e decidi fazer uma sopa simples, com
vegetais frescos e caldo. Enquanto picava os legumes, minha mente vagava
para todas as vezes que Filippo cuidou de mim, sempre atento e protetor, e
agora, vê-lo assim, vulnerável, só reforçava o quanto ele significava para
mim.
A sopa começou a ferver, liberando um aroma reconfortante pela cozinha.
Quando estava pronta, coloquei-a em uma tigela e a levei até o quarto.
Filippo estava com os olhos entreabertos, a expressão ainda exausta, mas
parecia um pouco mais lúcido.
— Fiz algo leve para você — falei suavemente, sentando-me ao lado dele.
— Vai ajudar a recuperar suas forças.
Ele me olhou com um misto de surpresa e gratidão, e, com esforço, ergueu-
se um pouco, apoiando-se nos travesseiros. Ajudei-o a se acomodar,
certificando-me de que estava confortável. Então, peguei uma colher e
soprei levemente para esfriar o caldo antes de aproximá-la dos seus lábios.
— Eu posso… — ele começou, mas sua voz era fraca demais para
convencer alguém, especialmente a mim.
— Hoje, você só precisa descansar. Me deixe cuidar de você.
Ele aceitou a colherada e um leve sorriso surgiu em seus lábios enquanto
engolia o caldo. A cada colherada, eu observava atentamente, certificando-
me de que ele estivesse bem. Aos poucos, sua expressão parecia menos
tensa, e a cor começava a retornar ao seu rosto.
Quando ele terminou, coloquei a tigela de lado e, sem hesitar, puxei-o para
meus braços, permitindo que ele se aninhasse contra mim.
— Obrigado, Serena.
Eu o segurei firme, sentindo o peso de seu corpo relaxado contra o meu. O
calor dele ainda era perceptível, mas sua respiração parecia mais tranquila.
Passei a mão pelos seus cabelos, fazendo um carinho leve, enquanto ele
permanecia aninhado em meus braços. Era um momento tão íntimo e
reconfortante, quase como se nada mais importasse além de nós dois ali.
Filippo ficou em silêncio por alguns minutos, respirando pausadamente. Em
certo momento, ele ergueu o rosto e me olhou, com aquele brilho nos olhos
que sempre me deixava sem fôlego.
— Eu nunca imaginei que alguém fosse cuidar de mim assim — sussurrou e
sua voz estava meio embargada. — Sempre estive tão acostumado a ser
forte… a proteger os outros… mas você me fez perceber que não preciso
fazer isso sozinho.
Senti meu coração se apertar. Ver Filippo deixar suas barreiras baixarem,
permitindo-se ser vulnerável, era algo que eu não esperava. Eu sabia o
quanto ele carregava, quantas responsabilidades ele tinha, e ver que, por um
momento, ele podia simplesmente relaxar e confiar em mim me fez
perceber o quanto eu também queria ser parte da sua vida.
— E eu vou estar aqui, sempre que precisar — respondi, com um sorriso
suave, acariciando seu rosto. — Hoje, é a minha vez de cuidar de você.
Ele sorriu de volta e então fechou os olhos, encostando a cabeça no meu
ombro enquanto eu o envolvia com carinho.
— Desculpa por estragar seu aniversário de 18 anos, Serena — ele
murmurou, com um arrependimento que quase dava para tocar. — Se eu
tivesse aceitado seu pedido, se tivesse dado aquele beijo… talvez tudo fosse
diferente.
— Nem sempre as coisas acontecem como queremos — respondi, com uma
tranquilidade que demorou anos para construir. — Hoje eu entendi que
aquele momento não era pra ser, Filippo. Eu não teria sido capaz de seguir
meu próprio caminho, de descobrir quem realmente sou.
— Tenho muito orgulho da mulher incrível que você se tornou, Serena —
disse.
— Tudo isso por causa de uma rejeição — respondi com um sorriso leve,
tentando aliviar a intensidade do momento.
— Quero que possamos construir algo novo, Serena. Deixemos o passado
para trás e foquemos no que realmente importa agora.
Entrelacei meus dedos nos dele e sorri.
— Então vamos fazer isso — concordei, sentindo uma sensação boa, como
se finalmente estivéssemos prontos para escrever um novo capítulo de
nossas vidas.
CAPÍTULO 20

FILIPPO ROMANO
Estávamos tranquilos quando Serena olhou para mim de uma forma
estranha.
— Preciso conversar com Alex.
Já é a segunda vez que ela menciona isso e algo dentro de mim se contraiu.
A ideia de vê-la com ele me fez ficar com raiva, despertava em mim um
instinto possessivo.
— Não — respondi, direto e firme.
Ela se afastou um pouco com os braços cruzados, me encarando com
indignação.
— Como assim, não? Você até concordou antes. — O tom na voz dela
revelava uma mistura de dúvida e frustração, o que fez aumentar a tensão
entre nós.
Concordei, caso eu estivesse junto, mas ela não aceitou, então na real não
concordei.
Mantive o olhar firme. Para mim, era claro: aquele cara não precisava de
explicações. Ela não devia nada a ele.
— Você não precisa entrar em contato com ele, Serena — insisti,
controlando minha voz. — Isso acabou. Eu não permitirei que você volte a
conversar com ele.
Vi seus olhos se estreitarem e a expressão dela mudou completamente.
Serena era teimosa, sempre foi, mas isso não era algo negociável para mim.
Eu sabia o que era melhor.
— Filippo, você pode achar que está me protegendo, mas você me tirou da
vida dele. Você me sequestrou, me afastou de todos à minha volta. — Ela
respirou fundo com um olhar determinado a me desobedecer. — Desapareci
da vida dele, da noite para o dia. Ele merece saber o que aconteceu.
As palavras dela aumentaram minha frustração, fazendo-me fechar meus
punhos.
Maldito Alex!
Ela não entendia que fiz o que era necessário, o que qualquer homem faria
pela mulher que ama.
— Eu te tirei de lá para te proteger de ser infeliz, Serena. Fiz tudo pensando
no que era melhor para você. Não faz sentido abrir essa porta agora. Ele não
significa mais nada na sua vida. Ou ainda significa?
Ela deu um passo à frente, me encarando de uma forma emotiva, parecia
estar segurando lágrimas e isso doeu em mim.
— Não é sobre significar algo para ele, Filippo. Preciso consertar as coisas
com ele, sobre ter o controle da minha própria história. Eu não estou
pedindo sua permissão — disse ela, com uma firmeza que me pegou
desprevenido.
— Estávamos tão bem, e agora você vem com isso.
— Parece que nada entra na sua cabeça, Filippo, eu preciso disso. Nem sei
como está meu irmão. Já faz mais de uma semana.
Quando Serena terminou de falar, um som abafado chamou nossa atenção.
Meu celular tocava, e eu lembrei que o havia guardado no guarda-roupa
para evitar contato com o mundo lá fora. Antes que eu pudesse reagir,
Serena, esperta como sempre, correu até o armário e pegou o aparelho.
— Matteo está ligando por vídeo — avisou ela.
Será que aconteceu alguma coisa?
Peguei o celular de suas mãos, trocando um olhar com ela antes de me
afastar um pouco para atender a ligação no canto do quarto.
— Oi, irmão — disse, tentando manter a calma em minha voz.
Matteo parecia um pouco agitado, mas aliviado ao ver que eu atendia.
— Vocês estão bem? — perguntou ele, direto ao ponto.
— Sim. Qual o motivo da ligação? — retruquei, tentando entender a
urgência.
Ele suspirou, passando a mão pelo rosto.
— As coisas não estão bem do meu lado como eu imaginava. Minha esposa
está furiosa, Filippo, e eu simplesmente não posso deixá-la nervosa desse
jeito.
Fiquei em silêncio por um segundo, processando suas palavras.
— O que aconteceu?
Matteo me lançou um sorriso tenso.
— Ela descobriu que você… raptou a amiga dela, e agora quer te matar. —
Sua expressão era de quem tentava transformar o caos em uma piada.
Revirei os olhos.
— Você explicou a situação pra ela?
— Eu tentei! Mas você conhece a Lucy… Não posso deixá-la ainda mais
nervosa. — Ele deu uma risadinha, o olhar meio distante como se estivesse
prestes a soltar uma notícia.
Notei o sorriso crescendo em seu rosto.
— Que sorriso é esse, Matteo?
Ele respirou fundo, com os olhos brilhando.
— Eu vou ser pai, irmão. — Sua voz estava cheia de uma felicidade que eu
não via há muito tempo.
Uma onda de alegria genuína me atingiu e meu sorriso se alargou.
— Parabéns, irmão! — respondi, sincero.
Matteo assentiu, agradecido, mas logo recuperou o tom mais sério.
— Agora, por favor, resolva as coisas com a Serena o mais rápido possível.
— Ele olhou para a tela como se quisesse garantir que tudo estivesse sob
controle.
Virei-me e encontrei Serena sorrindo para mim, seu olhar cheio de algo que
eu não conseguia decifrar, mas que aquecia cada canto do meu peito.
— Acho que estamos bem por aqui — respondi, lançando a Matteo um
olhar confiante.
Ele deu uma risada ao me observar.
— Depois de ver esse seu sorriso, tenho certeza disso.
De repente, ouvi uma voz familiar ao fundo, com um tom que eu sabia que
indicava problemas.
— Matteo, você está falando com o Filippo? — A voz de Lucy estava
carregada de suspeita.
Matteo hesitou, mas sua pausa já era uma resposta. Lucy pegou o celular
dele, e sua expressão apareceu na tela. Com um olhar que dava medo, como
um vulcão prestes a explodir.
— Que loucura você fez, Filippo? Sequestrar a Serena no que deveria ser o
dia mais feliz da vida dela? — disparou Lucy, sem rodeios.
Mantive meu tom calmo, mas firme.
— Dia mais feliz, não. Ela não ama aquele cara, Lucy. Eu não podia deixar
isso acontecer.
Lucy estreitou os olhos, como se tentasse entender minha perspectiva.
— Como você pode ter tanta certeza? Ela e Alex pareciam bem, e você
simplesmente chega e estraga tudo.
Antes que eu pudesse responder, ouvi Serena soltando uma risada ao meu
lado, claramente se divertindo com a situação.
— Não acho que estraguei nada. Na verdade, ela está até gostando disso —
retruquei com um sorriso provocador.
— Idiota! Disse, me dando um leve empurrão.
— Serena, está aí? Passa o celular para ela, agora.
Olhei para Serena, que parecia um pouco surpresa, mas aceitou o telefone,
pronta para enfrentar o furacão Lucy.
Serena olhou para a tela, sorrindo calmamente para Lucy.
— Oi, Lucy.
Do outro lado, Lucy suspirou com um misto de alívio.
— Serena! Como você está? Fiquei tão preocupada quando descobri o que
esse idiota fez! — disse ela, lançando um olhar de reprovação para mim.
Serena riu levemente e deu de ombros.
— Estou bem, Lucy. Foi… inesperado, claro, mas eu entendo o porquê.
Não foi exatamente o sequestro de filme que você deve estar imaginando —
respondeu, tentando tranquilizá-la.
Lucy pareceu relaxar um pouco, mas o olhar ainda estava sério.
— Só sei que você sumiu e o Alex também não deu mais notícias… tudo
isso me deixou muito preocupada.
Serena trocou um olhar comigo, e eu sorri, satisfeito. Ela se virou de volta
para Lucy com um toque de ironia.
— Eu estou bem.
Lucy observou nossos olhares e, pela primeira vez, um sorriso apareceu em
seu rosto.
— Acho que estou entendendo… Mesmo assim, Filippo, você poderia ter
lidado de outra forma, sabia?
Eu ri e dei de ombros.
— Mas, no fundo, sabia que isso era o certo.
Matteo surgiu ao lado de Lucy, sorrindo e colocando a mão em seu ombro.
— Tudo parece estar bem agora, amor — disse ele, tentando tranquilizá-la
ainda mais.
Serena sorriu para mim, com um olhar que mostrava que, apesar de tudo,
ela estava em paz.
— Estamos bem, Lucy. De verdade — afirmou ela e Lucy finalmente
assentiu, visivelmente aliviada.
— Então vou deixar vocês resolverem as coisas. Mas, Filippo… — ela
disse, me lançando um último olhar sério — cuide bem dela, ou teremos
problemas.
— Pode deixar — respondi, com um sorriso genuíno.
— Pergunta a Matteo como está meu irmão?
— Ele está bem, cunhada, seu irmão parece saber de tudo que aconteceu.
Ele estava até tranquilo demais no dia.
Serena me olha com um olhar de dúvida.
— Não contei nada para seu irmão. Digo em modo de defesa.
Sinto a risada de Matteo e me despedi deles.
Lucy deu um último sorriso para Serena antes da ligação terminar, baixei o
celular e me aproximei de Serena, observando-a por um momento. Ela
ainda estava tentando entender o que acabou de saber.
— Meu irmão, sabe o que você faz de verdade? Pergunta, mas não queria
responder, meus pensamentos eram outros.
Toquei seu rosto com delicadeza, passando o polegar pela sua bochecha e,
em um movimento lento, guiei-a em direção à cama. Seus olhos me
acompanharam e ela se deitou, sem hesitar, deixando que eu me
aproximasse mais. Inclinei-me sobre ela, segurando seu olhar.
Abaixei-me e toquei seus lábios com os meus. Ela correspondeu e o beijo
começou a se aprofundar, como se todo o tempo e as dúvidas entre nós se
dissolvessem naquele momento. Meu corpo relaxou enquanto eu a sentia
mais perto. Minhas mãos foram para o seu rosto, acariciando-o com ternura,
e depois deslizei os dedos pelo seu corpo, absorvendo cada detalhe.
— Tão perfeita… e minha.
Com cuidado, levantei sua blusa, revelando sua pele aos poucos até que
seus seios ficaram expostos. Eles eram perfeitos, com uma curva que me
chamava. Meus olhos capturaram cada detalhe antes que minhas mãos os
envolvessem, explorando cada centímetro. Passei a língua ao redor deles,
provocando-a lentamente entre carícias suaves e leves mordidas que a
fizeram arfar.
— Ah, Filippo… Ela suspirou de prazer, e seus gemidos me incendiavam
por dentro. Seu corpo movia-se, instintivamente, sob meu toque.
— Você me deixa louco. — Vem, meu anjo, cavalga para mim.
Com uma respiração entrecortada e um brilho tímido no olhar, ela subiu
devagar sobre mim, com movimentos inexperientes que me deixavam ainda
mais excitado. Suas mãos tremiam levemente ao tocar meu peito, e seus
lábios se entreabriram ao sentir o calor que emanava de nossos corpos
juntos. A umidade dela me envolvia, me excitando ainda mais.
— Que delícia, meu anjo. Sussurrei, segurando firmemente sua cintura,
guiando seus movimentos lentos e deliciosos.
Ela rebolava com um misto de hesitação e entrega, e seu corpo parecia
buscar um ritmo próprio.
— Ahhh, Serena.
Eu sentia o corpo dela tremendo cada vez mais contra o meu, seus gemidos
se tornavam mais profundos, preenchendo o quarto com o som puro de seu
prazer. Seus movimentos eram mais rápidos e intensos, uma entrega
completamente deliciosa. Minhas mãos seguravam sua cintura com firmeza,
guiando seus últimos impulsos enquanto nossos corpos se aproximavam do
ápice.
— Serena… murmurei entre suspiros, sentindo o calor dela me envolver de
forma quase insuportável. — Não para, meu anjo.
Ela rebolou mais rápido, seus dedos pressionaram os meus ombros
enquanto sua respiração tornava-se mais curta. E então, num suspiro longo
e profundo, seu corpo inteiro se enrijeceu, entregando-se ao êxtase. Eu a
segurei ainda mais perto, sentindo cada espasmo enquanto ela se desfazia
em meus braços.
Ver Serena entregue dessa forma me levou ao meu limite. Em um último
impulso, gemi seu nome, sentindo-me perder completamente o controle.
— Te amo, Serena. — As palavras escaparam em um sussurro enquanto
meus dedos deslizavam pelo seu rosto, afastando uma mecha de cabelo que
caíra sobre sua testa. Seus olhos se abriram devagar, ainda brilhando com os
resquícios do prazer que compartilhamos, e ela me olhou com uma
expressão de surpresa e emoção.
Um sorriso suave e tímido surgiu em seus lábios, e seus olhos ganharam um
brilho que eu nunca tinha visto antes.
— Filippo… — ela murmurou, tremendo de emoção. Ela se inclinou para
perto, os dedos finos deslizando pela lateral do meu rosto enquanto nos
perdíamos no olhar um do outro. — Eu também te amo.
Aquelas palavras, vindas dela, ecoaram profundamente dentro de mim,
preenchendo um espaço que eu nem sabia estar vazio. Eu a puxei para
perto, nossos lábios se encontrando em um beijo quente.
Ela era minha, e eu era dela, completamente.
Deitados lado a lado, nossos corações ainda aceleravam, eu a observava
enquanto seus olhos fechavam lentamente, entregando-se ao sono.
— Sempre vou estar aqui, Serena, — sussurrei, meu rosto próximo ao dela,
fazendo um carinho leve em seu cabelo.
Fechei os olhos e a abracei, sentindo seu calor.
CAPÍTULO 21

SERENA FONSECA
Após tudo o que vivemos, com nossos sentimentos finalmente à mostra e
cada ferida transformada em cicatriz, Filippo decidiu ser o momento
perfeito para me apresentar oficialmente à sua família.
Mesmo já conhecendo Matteo e Lucy, meu coração batia acelerado
enquanto nos aproximávamos da imponente mansão Romano. Filippo,
percebendo minha tensão, entrelaçou firmemente seus dedos nos meus,
transmitindo um conforto silencioso que me deu forças para seguir adiante.
O lugar era protegido por muitos homens, reforçando a atmosfera austera
que cercava o clã.
Ao cruzarmos a porta da sala principal, senti todos os olhares se voltarem
para nós. Alice, esposa de Leon, foi a primeira a se aproximar. Com um
sorriso caloroso que desarmava qualquer receio, ela me envolveu em um
abraço terno e acolhedor, como se já nos conhecêssemos de longa data.
— Filippo nunca esteve tão feliz, Serena — disse ela, com o brilho sincero
no olhar. — É um prazer enorme finalmente conhecer quem o conquistou.
Logo em seguida, Lucy, minha querida amiga, abriu os braços para me
acolher com seu abraço familiar e aconchegante, o sorriso no rosto
demonstrando total aprovação.
— Seja bem-vinda, Serena. Eu espero que Filippo te faça muito feliz —
disse ela, lançando um olhar sério em direção a Filippo, que sorriu, cheio de
orgulho.
— Pode apostar, cunhada.
Então, Crystal, prima de Filippo, se apressou para me abraçar de maneira
calorosa e espontânea, com um riso leve que imediatamente me fez relaxar.
— Então, você é a famosa Serena! Filippo não falava de outra coisa, nos
últimos meses. Conquistar o coração dele é uma façanha e tanto, viu? —
comentou, em tom brincalhão, como se estivesse me revelando um segredo.
Entre sorrisos e abraços, cada gesto de carinho daquela família me fazia
sentir parte deles.
O comentário fez todos rirem, e o clima descontraído dissipou qualquer
nervosismo que eu ainda sentisse. Leon, o chefe da família e marido de
Alice, nos observava com atenção, mas com uma expressão respeitosa. Ele
se aproximou, estendendo a mão para mim com um gesto sério, porém
acolhedor.
— Filippo escolheu bem, — disse Leon, lançando um olhar de aprovação.
— Seja bem-vinda, Serena.
Fomos todos para a sala de jantar, onde pratos tradicionais cobriam a mesa,
e Filippo, sempre ao meu lado, entrelaçou nossos dedos com naturalidade.
Durante o jantar, eles compartilharam histórias da infância de Filippo,
arrancando risadas de todos, enquanto Matteo fazia observações divertidas
sobre as aventuras dos dois. Crystal, ao meu lado, trocava olhares
cúmplices comigo, rindo de cada história contada.
Quando o jantar terminou, Leon se aproximou novamente de Filippo e, com
um sorriso sutil, disse:
— Serena será um pilar ao seu lado, Filippo. Sei que escolheu bem.
Ao sairmos, Filippo me puxou para um abraço apertado, encostando seu
rosto no meu e sussurrando:
— Agora, meu amor, você faz oficialmente parte da nossa família. Eu
nunca fui tão feliz.
Ele me abraça e me beija antes de entrarmos no carro.
No dia seguinte, voltei ao hospital para retomar meu trabalho. Depois de
tudo o que vivi ao lado de Filippo e de ser finalmente acolhida pela família
dele, sentia-me renovada, mais forte e segura. O hospital sempre foi uma
parte importante da minha vida, um lugar onde eu podia dedicar minhas
habilidades para ajudar os outros. Mas, naquela manhã, tudo parecia
diferente. Era como se, agora, eu estivesse completa, como se cada peça do
meu coração estivesse no lugar.
Voltar ao hospital trazia um misto de emoções. Parte de mim queria ter a
chance de conversar com Alex, de explicar os acontecimentos e tentar
encerrar o que um dia tivemos de uma forma pacífica.
Ao chegar, fui recebida pelos colegas que sentiam minha falta. Entre
conversas rápidas e sorrisos de boas-vindas, eu percebia que as coisas
estavam um pouco diferentes. A energia parecia mais leve, menos tensa, o
que despertou minha curiosidade. Ao caminhar até meu setor, uma das
enfermeiras se aproximou, com um sorriso discreto.
— Serena! — disse ela, em tom animado. — Que bom tê-la de volta! Ah, e
você soube da novidade?
— Novidade? — perguntei, surpresa. — Não… o que aconteceu?
Ela olhou ao redor, como se quisesse garantir que não estava sendo ouvida
por ninguém indesejado, e então sussurrou:
— Alex não trabalha mais aqui desde… bom, desde o dia em que você
sumiu no casamento. Que bom que está bem!
Fiquei imóvel por um segundo, tentando processar a notícia. Embora
tivesse feito as pazes com o passado e encontrado uma nova felicidade ao
lado de Filippo, algo dentro de mim ainda precisava daquele tipo de
encerramento. Saber que Alex havia deixado o hospital parecia um alívio.
Mas sentia que devia um pedido de desculpas a ele.
— Ele simplesmente pediu demissão? — perguntei, tentando esconder o
alívio em minha voz.
— Sim, foi repentino — disse a enfermeira, franzindo as sobrancelhas. —
Ninguém sabe ao certo o motivo. Alguns dizem que ele saiu do país, outros
que mudaram para outra cidade. Mas, desde aquele dia, ninguém mais
ouviu falar dele.
Agradeci pela informação, tentando não demonstrar muito interesse.
O que me surpreende é que todos aqui não falaram nada do acontecimento
de semanas atrás.
E sinto que tem o dedo da família Romano, não tem outra explicação.
À medida que o dia avançava, consegui manter o foco no trabalho, sem
maiores dificuldades. Ainda assim, minha mente permanecia inquieta, cheia
de perguntas sem resposta. Sabia que a única pessoa capaz de esclarecer
tudo aquilo era Filippo.
Uma das enfermeiras da minha ala me trouxe um café, e fiquei
imensamente grata. A manhã tinha sido uma correria e eu não conseguia
parar para um momento de pausa. Ao levar a xícara aos lábios, o toque do
meu celular interrompeu a tranquilidade momentânea, e um sorriso escapou
ao ver o nome na tela.
— Oi, amiga — disse, assim que o rosto dela apareceu na videoligação. Só
de imaginar o quanto essa doidinha deve ter se preocupado com o meu
sumiço, já me senti acolhida.
— Que loucura foi essa, Serena Fonseca? Nem pra ligar e avisar que estava
bem! — reclamou com aquele olhar afiado que só Catherine conseguia.
— Me desculpa, Cat. Fiquei sem celular… fui sequestrada — falei,
tentando amenizar com um sorriso.
Ela me encarou, surpresa, mas com um sorrisinho de quem já sabia de tudo.
— Sequestrada e muito bem sequestrada, pelo visto. A Lucy me contou
tudo! Nunca pensei que veria uma cena de cinema acontecendo na vida real.
Que loucura!
— Confesso que fiquei assustada, totalmente em choque — admiti,
lembrando do turbilhão de emoções daquele momento.
Ela estreitou os olhos e então sorriu com malícia.
— Agora, uma coisa precisa ser dita, amiga… você está com um brilho
diferente. Só pode estar sendo muito bem comida — comentou, abanando-
se como se estivesse com calor.
— Catherine! Olha o que você está falando!
— Vai dizer que é mentira? Aquele homem é um pedaço de mal caminho…
Só de pensar em Filippo, senti um calor se espalhar pelo meu corpo, me
pegando desprevenida. Não tinha como negar: ele despertava algo em mim
que só ele é capaz de fazer.
— Não tem como negar. Hoje percebi o quanto estava sendo louca ao
aceitar casar com outro, se meu coração sempre pertenceu ao Filippo.
— Eu te avisei que estava sendo precipitada. Mas somos humanos, Serena,
cometemos erros. Se não fosse Filippo, você ainda estaria presa a um
casamento sem futuro — disse ela, com um tom firme e certeiro.
Ela tinha razão, e isso me incomodava um pouco. Mas algo ainda pairava
na minha mente.
— Agora, me conta, como foi a reação dos convidados? — perguntei,
curiosa para saber o ponto de vista dela sobre o que aconteceu.
— Ah, foi uma confusão! As pessoas pensaram ser um ataque terrorista,
começaram a correr desesperadas! Fiquei em choque, achando que algo
grave pudesse ter acontecido com você — disse, com os olhos marejados.
— Calma, amiga, estou bem aqui.
Ela respirou fundo e limpou uma lágrima antes de continuar.
— Desculpa, fiquei emotiva. Mas o mais estranho foi o Alex… ele saiu do
local como se nada tivesse acontecido. Foi muito esquisito.
— Como assim?
— Não sei explicar, Serena. Era como se ele já esperasse que aquilo fosse
acontecer. Seu irmão estava desesperado e tentou correr até você, mas
Matteo o impediu e disse algo que o acalmou. Agora faz sentido…
Aquilo foi como uma lâmpada se acendendo. Alex nunca se importou
comigo de verdade? Eu sempre fui honesta sobre meus sentimentos por
Filippo, sobre o que poderia acontecer no futuro. Então, qual o propósito
dele ao insistir nesse casamento?
Cat se despediu enviando um beijo na tela, e a ligação se encerrou.
Assim que meu plantão terminou, arrumei minhas coisas, respirei fundo e
saí do hospital. Estava exausta, mas a sensação de liberdade me revigorou.
Quando olho para frente, vejo Ethan, meu irmão, encostado em seu carro,
com os braços cruzados e um sorriso irônico no rosto. Não consegui conter
a alegria e corri em sua direção.
— Ethan! — gritei, lançando-me nos braços dele.
Ele retribuiu o abraço, mas logo me deu um leve tapa na cabeça, me
encarando com um olhar misto de irritação e alívio.
— O que deu na sua cabeça de voltar para cá sem dar nenhuma notícia? —
perguntou meio sério, mas um sorriso despontava no canto dos lábios.
— Me desculpe, irmão… foi tudo tão rápido.
Ele balançou a cabeça, fingindo repreensão.
— Se não fosse pelo Filippo… — começou ele, deixando a frase no ar.
— Filippo te contou? — perguntei, surpresa.
— Ele apareceu no meu escritório e me contou tudo. Desde aquela noite,
dois anos atrás, que ele não aceitava você sair com o Alex… — Ele fez uma
pausa, parecendo escolher bem as palavras antes de continuar. — Sempre
achei que Filippo sentia algo por você. E, sinceramente, foi nessa época que
percebi o quanto ele gostava de você.
Um calor subiu pelo meu rosto. Ouvir aquilo, ainda mais da boca do meu
irmão, me fazia entender que Filippo realmente estava ali, desde o começo.
— Sério, irmão?
— Com certeza! — Ele riu, lembrando-se de algo. — Você devia ver o
ciúme dele. Era engraçado, sabe? Aquele jeito sério do Filippo, mas se
controlando ao máximo pra não mostrar o quanto estava incomodado.
Ri junto, ainda surpresa com essa revelação.
— Mas… por que você nunca me contou isso?
— Queria que você vivesse sua vida, Serena. Que fizesse suas próprias
escolhas sem a influência de ninguém. — Ele deu de ombros, mas seus
olhos estavam brilhando. — Mas olha, vou admitir que Filippo me
surpreendeu te sequestrando.
O sorriso dele era um misto de aprovação e alívio, e senti que, finalmente,
tinha o apoio do meu irmão.
Ethan me levou até um pequeno restaurante italiano próximo ao hospital,
um lugar charmoso e acolhedor, com uma luz suave que realçava as paredes
de tijolos à vista e as mesas de madeira escura. O aroma de massa fresca e
temperos pairava no ar, e era o cenário perfeito para conversarmos sem
pressa, longe de toda a agitação. Nem me lembrava da última vez que
saímos só nós dois; parecia um reencontro necessário, cheio de afeto e
familiaridade.
Assim que nos sentamos, o garçom apareceu com os cardápios, mas Ethan
os dispensou com um aceno rápido e decidido.
— Lasanha à bolonhesa pra nós dois, como sempre — disse ele, olhando
para o garçom com aquele sorriso de quem já é velho conhecido da casa.
— Sempre direto ao ponto, hein? — brinquei, rindo.
— Você sabe que é o melhor prato daqui. E hoje é uma noite especial. —
Ele sorriu, relaxado, parecendo mais leve do que eu estava acostumada a
vê-lo ultimamente.
Olhei para ele, notando como parecia verdadeiramente feliz e não acho que
seja por minha causa. Havia algo no seu semblante que mostrava que ele
estava em paz — uma paz que, por algum motivo, parecia envolvê-lo e
tranquilizar até a mim. Quando o vinho chegou, ele serviu as taças e ergueu
a sua para um brinde silencioso.
— Então… Filippo te contou tudo? — perguntei, quebrando o silêncio.
Ainda era difícil acreditar que Filippo tinha ido até ele.
— Sim, tudo — respondeu ele, assentindo devagar, com um sorriso que
demonstrava tanto aprovação quanto um toque de surpresa. — E, pra ser
honesto, depois de ouvir o que ele me contou, percebi o quanto ele se
importa com você. Filippo foi direto e sincero. Admitiu que sempre ficou
incomodado com o Alex… Nunca gostou de ver você ao lado dele.
Eu ri, surpresa, lembrando das vezes em que senti o olhar de Filippo fixo
em mim quando eu estava com Alex. Mas, ouvindo aquilo da boca do meu
irmão, tudo parecia fazer ainda mais sentido.
— Bem, você sabe… era só questão de tempo até ele tomar uma atitude,
né? — comentou Ethan, com um sorriso cúmplice. — Filippo só esperava o
momento certo.
Suspirei, lembrando-me daquele dia do casamento.
— E que momento certo foi aquele… — murmurei, revivendo a mistura de
choque e alívio. Agora, com Ethan do meu lado e Filippo em minha vida,
eu finalmente sentia que tudo estava no lugar.
Ethan me observou por um instante, e seus olhos se suavizaram, cheios de
carinho.
— Ele é louco por você, Serena. E, como seu irmão, eu só quero que você
esteja com alguém que te faça feliz. Alguém que te valorize — disse com
sinceridade.
Senti uma onda de gratidão e emoção. Ethan sempre foi meu porto seguro,
mas ouvir essas palavras dele, sabendo que apoiava meu relacionamento
com Filippo, era mais do que eu poderia pedir.
— Obrigada, Ethan. — Minha voz saiu embargada. — Obrigada por
entender e por me apoiar. Isso significa o mundo pra mim.
Ele sorriu, pegou minha mão sobre a mesa e a apertou com firmeza.
— Sempre estarei aqui por você, Serena.
O jantar com meu irmão foi perfeito. Ele me deixou na porta do meu
apartamento, deu um sorriso de despedida e foi embora. Suspirei satisfeita e
me virei para entrar em casa. Mas antes mesmo de entrar em casa, senti
mãos firmes segurando minha cintura.
Virei-me rapidamente e vi Filippo com um sorriso travesso nos lábios e
aquele olhar que me deixava sem fôlego. Não deu nem tempo de reagir, ele
me puxou para dentro do apartamento, fechando a porta atrás de nós com
um movimento rápido.
— Estava com tanta saudade. Disse baixinho, fazendo minha pele arrepiar
enquanto me pressionava contra o sofá. Ele colou seus lábios nos meus em
um beijo delicioso que deixava minhas pernas bambas.
Ele me puxou para mais perto; e o beijo se intensificou. Senti suas mãos
deslizando pelo meu corpo, explorando cada curva com um toque que me
deixava em chamas. A pressa de antes deu lugar a uma lentidão, como se
ele estivesse aproveitando cada segundo.
Ele se afastou levemente, olhando em meus olhos, como se estivesse
buscando permissão para ir além. Estava em chamas e puxei ele, mostrando
que eu precisava dele.
— Deixe-me mostrar como sinto sua falta. Sussurrou com sua voz rouca.
Antes que eu pudesse dizer algo, ele começou a me beijar novamente, agora
com mais urgência. Suas mãos prenderam minha cintura, enquanto suas
costas se apoiavam contra o sofá.
Cada toque dele era como fogo, despertando um desejo avassalador que me
consumia. Ele me levantou, segurando meu corpo com facilidade, e me
acomodou em seu colo.
Sua boca explorava minha pele, descendo lentamente pelo meu pescoço,
deixando um rastro de beijos quentes que faziam minha respiração ficar
irregular. Eu não conseguia evitar gemer de prazer.
— Você é tão perfeita. Disse com sua voz vibrando em minha pele. Suas
mãos deslizavam debaixo da minha blusa, e ele a ergueu, revelando minha
pele. O ar frio fez meu corpo arrepiar, aumentando minha excitação. Ele
levou a boca até meus seios, seus lábios quentes cercando a pele sensível,
fazendo meu corpo arquear como resposta.
— Filippo… Consegui murmurar enquanto sua boca fazia loucuras.
Ele me olhou e conseguia ver o desejo queimando em seus olhos. —
Apenas sinta tudo que eu sinto por você.
Com um movimento ágil, ele me virou, fazendo com que eu ficasse de
quatro. Senti seu corpo contra as minhas costas, ele enfiou seu dedo em
minha boceta, revelando o tanto que ela estava molhada.
— Tão molhadinha e minha. Senti ele se abaixar e colocar sua boca na
minha boceta e chupava com força, me deixando louca de tesão.
— Ahhhh, Filippo. Ele me penetrava com os dedos e chupava com mais
velocidade, meu corpo estava prestes a explodir, segurei firme no sofá até
que meu corpo se entregou, me fazendo gozar na sua boca.
— Delicia, agora vou comer essa bucetinha e mostrar que sou o único dono.
Ele me puxou para mais perto e senti seu pau pressionando contra mim e,
com um impulso, entrou todo, me fazendo arfar de prazer.
— Deixe-se levar, meu anjo. Sussurrou, fazendo meu coração acelerar
enquanto se movimentava dentro de mim deliciosamente em um ritmo
rápido e duro.
— Ahhhhh.
Ele deu um tapa na minha bunda e fiquei ainda mais excitada. —
GOSTOSAAAAAA, Você me deixa louco, mulher. Ele me segura firme e
levanta meu corpo, me colocando pressionada na parede, enfiou seu pau
com força e gritei.
— Cachorro…
— Seu cachorrão. Ele toma meus lábios e segurei firmemente em seus
ombros.
— Caraio de buceta gostosa.
Sentir seu corpo contrair contra o meu e sentir seu esperma escorrer pelas
minhas pernas. Ele me segura firme e senta-me em seu colo, me puxando
para mais perto e nossas bocas se encontravam novamente em um beijo
mais lento.
Deitei a cabeça em seu ombro e ele começou a deslizar os dedos
gentilmente pelos meus cabelos, criando uma calma que contrastava com a
intensidade de momentos antes. Ficamos ali, abraçados, aproveitando o
silêncio.
— Então… como foi o seu retorno ao hospital? — ele perguntou com um
sorriso.
Levantei a cabeça para olhá-lo, sorrindo com a leveza da pergunta depois de
tudo o que aconteceu.
— Agora você resolve me perguntar isso? — brinquei, apertando de leve
seu ombro.
Ele riu, puxando-me ainda mais perto. — Estava louco de saudades e
lembrei agora. — Disse em tom de brincadeira, mesclado com sinceridade.
— Foi bom. — Respondi e comecei a contar a Filippo tudo o que aconteceu
no hospital.
Quando terminei, ele passou os dedos por minha pele com delicadeza, mas
o brilho em seus olhos mostrava algo mais feroz. — Tomara que aquele
cara fique bem longe de você — disse de uma forma fria.
— Você não precisa se preocupar, Filippo. — Acalmei-o, segurando seu
rosto e deixando meu toque deslizar suavemente. — Alex não tem mais
lugar na minha vida. Agora tenho você… E é só com você que quero estar.
Filippo relaxou um pouco, e um sorriso apareceu em seus lábios. — Gosto
de ouvir isso. Porque, acredite, eu vou fazer tudo para te fazer feliz.
— Eu sei — murmurei, sentindo uma segurança renovada enquanto ele
acariciava minha mão.
Ele me puxou para mais perto, os lábios roçando levemente em minha testa.
— Eu também quero você em todos os momentos da minha vida, Serena.
Não vou te deixar ir.
Sorrio e deito em seu peito, sentindo o calor e a segurança que ele me
transmite. O silêncio entre nós é confortável, mas um pensamento me faz rir
baixinho.
— Preciso de um banho urgente — digo, divertida.
Filippo levanta-se com um sorriso travesso nos lábios.
— Por que não disse antes? Ele pega minha mão e me puxa para o
banheiro, ambos completamente nus.
— Filippo, acho que prefiro fazer isso sozinha. Tento protestar, meio rindo,
mas ele apenas sorri com aquele jeito irresistível.
— Ah, meu anjo, pode ter certeza de que você vai apreciar muito mais esse
banho comigo.
Antes que eu pudesse retrucar, Filippo já está ajustando a temperatura da
água, e em poucos segundos o chuveiro começa a jorrar uma água morna e
reconfortante. Ele me puxa para debaixo da ducha, e o calor da água cai
sobre nós, relaxando cada músculo do meu corpo. Filippo me envolve em
seus braços, os dedos passeando pela minha pele, enquanto o vapor envolve
o banheiro, criando uma atmosfera íntima e aconchegante.
— Está vendo? Muito melhor assim. Sussurra com seus lábios roçando
suavemente em meu pescoço. A sensação da água quente, misturada ao
toque dele, me deixa rendida. Filippo passa uma das mãos pela minha
cintura, me mantendo próxima, enquanto a outra desliza gentilmente pelo
meu rosto, afastando mechas úmidas.
— Eu nunca imaginaria que um simples banho pudesse ser tão bom.
Confesso, quase em um sussurro.
Filippo sorri, com aquele olhar que diz tudo o que ele sente sem precisar de
palavras. Ele pega um pouco de sabonete e começa a ensaboar minhas
costas com uma delicadeza que me deixa arrepiada. O toque dele é, ao
mesmo tempo, gentil e possessivo, como se quisesse marcar cada pedacinho
de mim. Ele lava cada parte do meu corpo com atenção, fazendo questão de
massagear meus ombros, minhas costas e até as minhas mãos, como se
quisesse me mimar.
Quando ele termina, sinto-me renovada e completamente relaxada. Envolta
pelo toque e pelo carinho de Filippo, esqueço qualquer preocupação.
Ele me abraça de novo, encostando a testa na minha, e ficamos assim,
sentindo o silêncio e a água caindo ao nosso redor.
— Tem algo que queira me dizer? pergunta com um olhar intenso e cheio
de desejo.
— Acho que sim… só não sei como colocar em palavras. Confesso,
sorrindo.
— Então me mostra. Sussurra antes de me puxar para mais um beijo.
CAPÍTULO 22

FILIPPO ROMANO
Observo Serena dormindo ao meu lado, tranquila e delicada, seus traços
relaxados num sono profundo. Ela está tão linda que parece um sonho. Só
de vê-la assim, sinto uma paz genuína, uma sensação de que, naquele
momento, o mundo lá fora não importa. Seu perfume ainda paira no ar,
misturado ao calor que restou do banho que compartilhamos.
Meu telefone vibra na mesa ao lado. Vejo o nome de um dos meus homens
de confiança piscando na tela, e a paz do momento começa a se esvair. Pego
o aparelho e, tentando não acordá-la, atendo a chamada.
— Chefe, temos um problema na boate. Diz de imediato, sem rodeios. —
Os traficantes que você conhece… eles não querem pagar as garotas e estão
fazendo um inferno aqui.
Fecho os olhos por um instante, sentindo a irritação se acumular. Mal
consigo aproveitar uma noite tranquila, e já sou chamado para resolver
problemas. Termino a ligação, pronto para sair, mas quando me viro, Serena
está acordando, seus olhos pesados de sono.
— Precisa ir? Pergunta com a voz baixa e suave.
Sorrio, apesar do incômodo, me inclinei para beijar sua testa, acariciando
seu rosto.
— Sim, meu anjo. Preciso resolver uma coisa, mas volto logo. Prometo.
Ela sorri, sonolenta, murmurando. — Tudo bem… volta logo. Fico
observando-a por um momento, desejando ficar mais tempo, mas não posso
ignorar meus deveres. Sussurro um “te amo” e dou um último beijo nela,
antes de me vestir e sair em silêncio.
Quando chego à boate, o ambiente já está carregado. Meu soldado de
confiança me espera na entrada e me conduz ao fundo, onde estão os
homens. Assim que os vejo, meus olhos percorrem a cena. Alguns
traficantes estão cercados pelas garotas, que têm expressões visivelmente
desconfortáveis. São caras conhecidos, problemáticos, que gostam de testar
limites.
— Senhor, esses idiotas se recusam a pagar pelo serviço. Já tentamos
resolver pacificamente, mas continuam provocando. Disse uma das moças,
com a voz baixa e tremendo de medo. Achando que algo poderia acontecer
com elas.
Faço um breve aceno e caminho até os homens. Com meu olhar fixo a eles.
Eles me observam, e um deles sorri afrontosamente, recostando-se na
cadeira, como se minha presença não os intimidasse.
Será que esqueceram quem eu sou?
— Então, vocês acham que aqui é um lugar para brincadeiras? Minha voz
sai controlada friamente. — As garotas aqui trabalham duro. Se usam o
serviço delas, vocês pagam. Simples assim.
O cara mais ousado dá uma risada seca, ignorando completamente o que
falei. E a tensão se espalha entre nós. Desde que inaugurei a boate, não tive
nenhum problema e agora esses filhos da puta querem aparecer.
— Quem você pensa que é pra me dizer o que fazer? Retruca, cheio de
desprezo. Noto que um dos caras começa a balançar a cabeça
negativamente. — Essas garotas não valem a metade do que cobram.
Minhas mãos formigam de raiva, mas mantenho o controle. Dou mais um
passo, ficando poucos centímetros dele.
— Você não entendeu. Seguro o pescoço dele. — Aqui, você paga o que
deve. Não é uma escolha. Você quer manter sua posição, ou resolveremos
isso de outro jeito?
Ele se levanta, tentando se impor.
— Não preciso seguir suas regras. Responde me desafiando. Quero
conversar com o dono disso aqui. Você não manda em mim. Rio de forma
sarcástica.
— Prazer, Filippo Romano. Noto seus olhos se arregalaram e, antes dele
responder alguma coisa, em um movimento rápido, puxo minha arma e
disparo.
Bang… Bang… Bang.
O som ecoa pela boate e o homem cai na minha frente. Os outros traficantes
congelam, sumindo todo o ar de arrogância, substituindo-o por medo.
— Algum de vocês quer seguir o exemplo dele? Pergunto apontando a arma
para eles.
Os homens ficam pálidos e um deles rapidamente coloca uma pilha de notas
sobre a mesa, tentando acalmar a situação.
— N-não… vamos pagar.
Guardo a arma com meus olhos encarando cada um deles e me aproximo
mais uma vez.
— Da próxima vez que pisarem aqui, pensem bem no que vão fazer. E
lembrem-se: respeito é essencial. Caso contrário, o fim será o mesmo.
Declaro friamente.
Saio do local sem olhar para trás, sabendo que minha mensagem foi dada
com clareza, e mando meus soldados limparem a sujeira sem deixar
vestígios.
No dia seguinte, me encontro na sede da família Romano, um lugar que
sempre exala poder e seriedade. Assim que entro na sala de reuniões, vejo
Leon e Matteo, meus irmãos, já esperando. Leon, como sempre, está
impecável, a expressão séria, enquanto Matteo exibe aquele olhar atento
que raramente perde.
— Então, Filippo, soubemos que teve uma confusão na boate ontem —
começa Leon, sem rodeios, enquanto me acomodo numa cadeira próxima.
Dou uma risada seca, lembrando da cena e da falta de respeito daqueles
traficantes.
— Alguns caras estavam querendo brincar com o respeito que
estabelecemos ali. Disseram que não pagariam as garotas… e fizeram
questão de me desafiar na frente de todo mundo — explico com o tom de
voz carregado de frustração. — Dei a eles uma última chance, mas quando
vi que estavam passando dos limites, um deles pagou o preço. Se não
dermos um basta, outros vão querer seguir o mesmo exemplo.
Leon assente, com um olhar satisfeito.
— Fez o que tinha que ser feito, irmão. Eles precisam lembrar quem é que
manda em cada centímetro daquela boate. E os outros? Como reagiram?
— No segundo que entenderam que eu estava falando sério, abriram a
carteira bem rápido — respondo, com um meio sorriso. — Alguns ainda
tentaram agir com indiferença, mas um tiro rápido fez a mensagem chegar
direto.
Matteo solta um leve riso e balança a cabeça, aprovando a situação.
— Esses idiotas acham que podem nos desafiar como se fossemos só uma
lenda de histórias. Mas você fez bem, Filippo. Sabe que precisa manter o
controle desses lugares.
Antes de eu responder, a porta se abre e Marco e Giovanni entram. Eles são
nossos capos mais experientes e respeitados, sempre prontos para o que a
família precisar, além de serem nossos primos. Marco traz consigo aquela
aura de cautela e planejamento, enquanto Giovanni é sempre direto e
impaciente. Eles se acomodam e a reunião começa oficialmente.
Leon inicia o assunto.
— Agora que estamos todos aqui, vou ser breve. Precisamos intensificar a
segurança e o controle em nossas operações. O que aconteceu na boate
ontem foi um exemplo claro de que precisamos enviar uma mensagem mais
forte, não só para traficantes, mas para qualquer um que ache que pode
desafiar a família Romano.
Marco olha para mim com curiosidade.
— Filippo, conte-nos mais sobre ontem. Quero saber como reagiram ao fim
da conversa.
— Eles entenderam o recado na hora. Um deles, especialmente, precisou de
um “aviso físico” para entender que não toleramos desrespeito — digo, com
uma calma calculada. — E os outros logo perceberam que não sairia barato
se tentassem brincar com nossa autoridade.
Giovanni dá uma risada seca, seus olhos brilhando em aprovação.
— É assim que se faz. Eles não têm noção do que a gente é capaz de fazer
para manter nossa reputação intacta.
Matteo cruza os braços e inclina-se na cadeira, olhando para todos nós.
— Mas precisamos deixar algo claro para esses caras. Não vamos mais
tolerar qualquer tipo de desrespeito em nossos negócios. Isso vale para
todos os territórios. Se alguém fizer o mínimo sinal de insubordinação,
quero que cortem o problema pela raiz.
Marco faz um leve aceno, concordando.
— Temos que ser mais estratégicos. Essa mensagem não deve ser entregue
apenas às boates de Filippo. Precisamos garantir que todos os nossos
contatos e subordinados em qualquer lugar entendam isso.
— Concordo — afirmo. — E não só isso: precisamos que eles saibam que
qualquer um que pense em cruzar a linha vai acabar exatamente como o
sujeito de ontem.
Leon acena, com a expressão satisfeita.
— Esse é o espírito, Filippo. A liderança exige decisões difíceis, e você
mostrou isso. Vamos reforçar essa mensagem e garantir que a nossa
presença seja respeitada em todos os cantos.
A reunião segue em um ritmo intenso, discutimos cada detalhe para reforçar
nossa presença e garantir que incidentes como o de ontem nunca mais se
repitam. Cada passo, cada ação é pensada com precisão, para que nossa
autoridade continue inquestionável. Quando finalmente concluímos os
planos, a tensão na sala diminui, e eu sinto um alívio discreto ao ver que
tudo está caminhando na direção certa.
Assim que todos começam a sair, Leon se aproxima, lançando aquele olhar
de irmão mais velho.
— Como você está, meu irmão? — pergunta ele, com um leve sorriso no
rosto.
— Estou ótimo, Leon — respondo, retribuindo o sorriso.
— Dá para perceber… soube que você passa mais tempo na casa de Serena
do que na sua própria. Quando é que vai sair esse casamento? — provoca,
com uma leve risada.
Solto uma risada, sabendo bem que em nossa equipe o que não falta são
fofoqueiros atentos.
— Não quero apressá-la — digo, com um sorriso de cumplicidade. — Mas
ela sabe que não vai escapar de mim tão facilmente.
Leon sorri, satisfeito, apoiando uma das mãos no meu ombro.
— Alice quer convidá-la para um café, espero que não se importe.
— Claro que não. Aliás, já até imagino onde vai ser esse encontro —
respondo, antecipando que a ideia já está mais do que decidida pelas
mulheres da minha família.
Leon solta uma risada curta e revira os olhos, mas vejo o quanto se sente
dividido.
— Você não imagina o quanto isso já me deu dor de cabeça, mas eu não
posso impedi-las… e, no fundo, sei que seria inútil tentar — ele admite,
suspirando.
Eu lhe dou um tapinha nas costas, querendo tranquilizá-lo.
— Fica tranquilo, irmão. Crystal sabe o que faz, especialmente quando o
assunto é autodefesa. E Alice… bem, ela entende mais do que ninguém a
importância de estar preparada. Não fazem isso por mal — digo, com
firmeza.
Leon assente, mas vejo a sombra de um receio em seus olhos.
— Concordo. Mas confesso que foi difícil para mim aceitar isso. Eu tinha
medo… medo de que algo pudesse acontecer com Alice, assim como
aconteceu com nossa mãe.
O tom dele se torna grave, e sei o peso que essas palavras carregam. Nosso
passado tem cicatrizes profundas, mas ele precisa entender que as
circunstâncias mudaram.
— Nossa mãe fez as escolhas dela, Leon — digo, com a mesma seriedade.
— E nós estamos aqui, mais fortes, mais preparados. Alice, Crystal e
Lucy… Todas sabem o que fazem. Elas estão mais seguras do que nunca, e
nós vamos garantir que isso continue assim.
Leon me encara e finalmente vejo a compreensão em seu olhar. Ele respira
fundo, relaxando um pouco mais. Ao perceber que estamos unidos nessa
promessa de proteção, sinto que, pela primeira vez em muito tempo, ele
consegue soltar o peso que sempre carregou sozinho.
CAPÍTULO 23

SERENA FONSECA
Assim que acordei, vi uma mensagem de Lucy piscando na tela do celular:
>> Quer tomar um café com as meninas hoje?
Achei o convite inesperado, já que nunca havíamos saído juntas. A ideia me
deixou curiosa, então respondi aceitando, já que meu plantão é na parte da
tarde. Quase imediatamente veio a resposta dela:
>> Ótimo! Passo aí em 15 minutos.
Me aprontei rapidamente e, em poucos minutos, desci para encontrá-la.
Assim que entrei no carro, ela me recebeu com um sorriso animado e logo
seguimos para o café, onde Alice e Crystal já nos esperavam. Alice me
puxou para um abraço caloroso, enquanto Crystal me observava com aquele
sorriso enigmático.
— Finalmente temos você só para gente, Serena — disse Alice, com um
brilho divertido nos olhos.
Eu ri, ainda meio sem graça.
— Pois é, primeira vez que saímos assim, só nós. O que vocês estão
aprontando?
Lucy trocou olhares com as outras, como se compartilhassem um segredo.
— Só vem com a gente. Prometo que você vai gostar.
Terminamos o café e seguimos em direção a um shopping mais reservado.
Entramos em uma loja e Crystal nos guiou até um elevador privativo. Meu
coração deu um salto quando notei o olhar sério dela. Ela apertou o botão e
as portas se fecharam, nos levando para um andar subterrâneo que eu nem
sabia que existia ali.
Quando as portas se abriram, me deparei com um clube de tiro —
exclusivo, luxuoso e, ao mesmo tempo, um tanto intimidador. Olhei ao
redor, absorvendo o cenário, enquanto a realidade do que estava prestes a
acontecer se desenrolava na minha mente.
— Crystal… — Comecei, hesitante, mas ela colocou a mão no meu ombro,
me olhando com calma.
— Serena, sei que isso pode parecer estranho pra você, mas é importante
que esteja preparada. Estamos em um mundo onde tudo pode acontecer, e
queremos que você esteja segura. Isso é só pra autodefesa, nada mais.
— Mas… eu sou médica. Minha vida é salvar pessoas, não tirar vidas —
respondi, sentindo o peso da situação.
Ela assentiu, compreensiva. — Te entendo amiga. Mas lembre-se, saber se
defender não significa que você vai machucar alguém sem motivo. É
apenas uma forma de garantir que você possa se proteger se precisar. E,
neste mundo, Serena, nunca é demais estar preparada.
Lucy e Alice me deram olhares encorajadores, como se dissessem que eu
podia confiar nelas. Respirei fundo, concordando com um aceno de cabeça.
— Certo… só não sei se vou ser boa nisso.
Alice sorriu e me passou uma arma pequena e leve. — Vamos com calma.
Crystal vai te ensinar o básico.
Com paciência, Crystal me mostrou cada passo — como segurar a arma,
manter os braços firmes e o corpo na postura certa. No início, o desconforto
era evidente; a ideia de segurar uma arma ainda parecia surreal. Mas eu me
esforcei, focando nas instruções dela.
Quando chegou o momento de puxar o gatilho, meu coração batia rápido.
Respirei fundo e apertei o gatilho, o disparo ecoando pela sala. Senti o
impacto nos braços, mas também uma inesperada sensação de controle,
uma força que nunca imaginei ter.
Lucy observava, com um sorriso encorajador. — Viu? Não é tão assustador
assim, né?
— Não… não é — admiti, um pouco surpresa. — Mas confesso que nunca
pensei que estaria aqui, fazendo isso.
Crystal assentiu, satisfeita. — Não estamos aqui para transformar isso em
um hábito. Mas é pra que você tenha confiança e nunca se sinta vulnerável.
Em caso de necessidade, saberá se proteger.
Peguei a arma novamente, agora com mais segurança. Conforme praticava,
o nervosismo inicial começou a se dissipar e percebi que aquilo era mais do
que uma habilidade; era uma maneira de me sentir mais forte, mais
preparada.
Assim que terminamos, Alice me puxou para um abraço orgulhosa.
— Você foi incrível, Serena. E estamos muito felizes por aceitar o desafio
de vir conosco.
Senti o calor do apoio delas, e um sorriso sincero se formou no meu rosto.
— Obrigada, meninas. Nunca pensei que estaria aqui, mas agora entendo…
e agradeço de verdade.
Depois da nossa sessão no clube de tiro, decidimos dar uma volta pelo
shopping. Crystal, com aquele sorriso maroto, puxou todas nós para uma
loja de vestidos elegantes, cheia de peças sofisticadas e atemporais. Lucy e
Alice logo começaram a experimentar algumas peças, e acabamos todas
rindo e trocando sugestões de roupas umas para as outras.
Enquanto experimentava um vestido, Alice me olhou pelo espelho, os olhos
cintilando de curiosidade.
— Então, Serena… — ela começou, disfarçando o tom casual. — Quando
vai ser o casamento, hein?
Minha surpresa logo virou uma risada, e ela me acompanhou, ainda
sorrindo. Me virei para ajeitar o vestido e respondi com um sorriso no rosto.
— Bom, só estou aguardando o pedido de Filippo — falei, meio brincando,
mas com uma pontinha de verdade.
Lucy soltou um riso alegre e passou um braço pelo meu ombro.
— Ele está esperando o momento perfeito, com certeza. Filippo não é capaz
de fazer as coisas pela metade.
— Verdade, Serena — disse Crystal, segurando um vestido preto elegante
contra o corpo. — E, quando ele finalmente pedir, você terá o casamento
dos seus sonhos. Ele faria tudo por você, tenho certeza.
Me senti corar, mas o carinho e a animação delas eram contagiantes. Peguei
um vestido de renda azul que Alice sugeriu e experimentei, girando para ver
como caía. Foi impossível não imaginar como seria aquele momento com
Filippo, aquele que todas estavam sugerindo — um dia que realmente
representasse nossa história e o amor que crescemos juntos.
— Só espero que ele não demore muito — murmurei, rindo, e as três
caíram na gargalhada, fazendo com que a vendedora nos olhasse com um
sorriso cúmplice.
Continuamos experimentando vestidos, brincando e fazendo planos, cada
uma compartilhando pequenos sonhos e momentos que guardavam.
Naquele instante, percebi como era bom estar ao lado delas, como uma
verdadeira família.
***
Depois de um longo plantão no hospital, cheguei em casa exausta, já
preparada para simplesmente me jogar na cama e apagar. Mas, ao abrir a
porta, fui surpreendida pela figura de Filippo, relaxado no meu sofá, como
se fosse a coisa mais natural do mundo ele estar ali.
Por um momento, fiquei paralisada, tentando entender como ele havia
entrado. Eu não me lembrava de ter lhe dado uma chave. Logo, percebi que
ele deve ter pegado uma das chaves reserva que eu guardava na gaveta do
corredor quando saiu no meio da noite.
Quando me viu parada na porta, com uma expressão de surpresa, ele se
levantou com um sorriso tranquilo e veio em minha direção. Antes que eu
conseguisse dizer qualquer coisa, Filippo me puxou para seus braços,
envolvendo-me em seu abraço firme e quente. Ele aproximou o rosto do
meu, e nossos olhares se encontraram por um breve instante antes de me
beijar.
— Eu estava esperando você — ele murmurou com seu rosto ainda
próximo ao meu. Respirei fundo, absorvendo o perfume dele.
— Esperando… aqui? E como entrou? — perguntei, tentando soar séria,
mas já sabia a resposta.
Ele ergueu uma sobrancelha, divertido. — Posso ter usado uma das suas
chaves reservas. — Sua expressão era levemente provocativa, como se
esperasse minha reação. Suspirei, revirando os olhos.
— Claro que usou. Só você mesmo, Filippo. Mas a verdade é que a ideia
dele estar ali me encheu de uma sensação de segurança e conforto de que eu
não sabia que precisava até aquele momento.
Ele ainda mantinha o braço ao redor da minha cintura, me observando com
um ar satisfeito.
— E então, como foi o dia com as meninas? — perguntou, com um leve
sorriso no canto dos lábios. Ri, lembrando de tudo o que havia acontecido.
— Foi… bem diferente do que eu esperava, digamos assim. Elas me
levaram ao clube secreto de tiro da Crystal, embaixo daquele shopping.
Filippo sorriu com um olhar divertido. — E então? Gostou?
Balancei a cabeça, ainda absorvendo o que vivi mais cedo. — No começo,
fiquei tensa. Quero dizer, sou médica, e sempre fui treinada para salvar
vidas, não para… você sabe. Atirar.
Ele assentiu, ouvindo com atenção, o rosto iluminado por um orgulho que
me fez sentir especial. — Isso é compreensível. Mas acredito que elas
mostraram que, às vezes, precisamos saber nos proteger.
— Sim, foi exatamente o que Crystal e Alice disseram. Elas foram bem
pacientes e me fizeram ver que estar preparada é uma questão de segurança.
Olhei para ele, sorrindo de leve. — E, sabe… até que gostei. Nunca achei
que fosse capaz de manusear uma arma, mas depois de hoje, vejo que posso
me surpreender comigo mesma.
Filippo riu, acariciando meu rosto com a mão, e seus dedos passando
levemente pelo meu cabelo. — Eu sabia que você ia entender. Não é fácil
aceitar esse lado da minha vida, mas fico em paz sabendo que você está
aceitando.
Acariciei sua mão sobre a minha, sentindo o calor da presença dele tão
próximo. — E não pense que as meninas deixaram de tocar no assunto do
casamento, Filippo. Parece que estão apostando para ver quando vai
acontecer.
Ele sorriu, aquele sorriso confiante que eu conhecia bem, e inclinou-se para
me beijar novamente, murmurando contra meus lábios. — Pode dizer a elas
que tenho tudo planejado. Quero que seja perfeito, meu anjo. Como você
merece.
Enquanto ele me abraçava novamente, senti-me totalmente em casa nos
braços dele.
Uma semana depois…
Ao terminar meu plantão, senti um alívio. Quando saí da minha sala, não
esperava encontrar Alex parado no corredor. Ele estava ali, tão casual, mas
com um olhar que revela algo diferente. O rosto dos colegas ao redor
mostrava surpresa.
Ele se aproximou com um sorriso, como se tudo estivesse normal entre nós.
— Serena, podemos conversar? — ele pediu suavemente — Tem uma
cafeteria aqui perto… seria rápido.
Tentei disfarçar o desconforto que surgia em meu peito. Minha mente
imediatamente pensou em Filippo, mas, ao mesmo tempo, havia uma
sensação de pendência entre nós. Talvez eu devesse isso a ele, uma última
conversa para encerrar tudo. E, então, com um breve suspiro, acenei
afirmativamente, mesmo que minha intuição gritasse para recuar.
Assim que saímos do hospital e começamos a caminhar, repassava
mentalmente o que diria a ele. Um pedido de desculpas rápido, um adeus
definitivo. Mas, de repente, percebi dois homens se aproximando de nós
com passos decididos. Antes que pudesse reagir, senti uma mão firme em
meu braço e algo frio pressionado contra meu rosto. O cheiro forte de
algum produto químico invadiu meu nariz e a visão ao meu redor começou
a embaçar. A última coisa que vi antes de tudo escurecer foi o sorriso
perturbador de Alex, parado, observando sem esboçar reação.
Quando acordei, estava em um quarto mal iluminado, com paredes de
madeira que tinham o cheiro mofado de uma casa velha. Minha cabeça
latejava e senti o medo pulsar em minhas veias quando percebi onde estava.
Meus olhos se ajustaram à luz fraca e, ao erguer o olhar, vi Alex parado
perto da porta, com os braços cruzados e um sorriso satisfeito no rosto.
A ansiedade cresceu em mim como um incêndio descontrolado.
— Alex… o que é isso? Por que você fez isso comigo? — perguntei
tremendo enquanto tentava entender o que estava acontecendo. A visão dele
ali, tão frio e distante, fazia meu estômago revirar.
Ele soltou uma risada sarcástica, balançando a cabeça.
— Filippo destruiu a única coisa que importava para mim. Destruiu o
negócio do meu pai, a nossa vida.
Minha mente tentava assimilar suas palavras enquanto ele continuava cheio
de rancor.
— Eu me aproximei de você, Serena, porque sabia que seria o caminho para
alcançar Filippo. O caçula dos Romano… quem diria que seria tão útil? —
Ele me olhou de cima a baixo, o desprezo em seu rosto cortando mais fundo
do que qualquer faca. — Achei que, usando você, conseguiria o que queria.
E estava funcionando… até Filippo aparecer e estragar tudo.
Senti uma mistura de horror e traição percorrer meu corpo.
— Fui bonzinho durante dois anos, fiz de tudo para passar a vibe do homem
perfeito e você caiu. Você não sabe como foi bom torturar Filippo sem fazer
nada, apenas estando com você.
— Você estava comigo… para se vingar dele? — Minha voz saiu baixa,
enquanto tentava processar a dimensão da crueldade.
Ele deu de ombros, como se fosse algo insignificante.
— Tudo tem um preço, Serena. E eu estava disposto a pagar o que fosse
para destruir os Romano. Quando vi o fascínio dele por você naquele baile,
eu sabia que a minha vingança começaria ali. Só não esperava que Filippo
fosse reagir tão rápido antes da bomba explodir e ver a morte da mulher que
amava.
O pânico se instalou de vez, e senti meu corpo enrijecer com a consciência
de que estava sozinha, sem ninguém para me ajudar. Tentava controlar a
respiração, sem sucesso, enquanto o olhar cruel de Alex me prendia, como
um predador satisfeito com sua presa. Se eu tivesse entrado naquela igreja,
eu poderia estar morta.
— Não precisa ficar tão assustada, você vai sofrer bem pouco — ele disse
com uma calma assustadora, como se estivesse me consolando, mas seus
olhos estavam frios, distantes de qualquer empatia.
Eu fechei os olhos, tentando controlar o turbilhão de emoções que se
formavam dentro de mim. Meu coração batia rápido, a sensação de medo
invadindo cada poro da minha pele.
Como pude ser tão ingênua? Como não vi que Alex estava me usando desde
o início?
— Por que está fazendo isso, Alex? — Minha voz falhou ao tentar sair, mas
as palavras vieram, sufocadas pelo pânico que me consumia. Eu precisava
entender. Ele não poderia ser o monstro que estava me mostrando, não
poderia.
Alex deu um passo em minha direção, seu olhar se tornando ainda mais
gélido. Ele me estudava com precisão, como se cada palavra que saísse de
sua boca fosse parte de um plano minucioso.
— Para destruir Filippo e seus irmãos. Imagina quando ele souber que a
mulher que ele ama desapareceu. Aposto que ele fará de tudo para salvá-la.
E é aí que eu venço. Acabo com vocês dois.
Eu senti um arrepio percorrer minha espinha, o estômago se revirando com
a possibilidade de que ele estava realmente disposto a fazer tudo isso. Meu
cérebro não conseguia processar. Isso não podia estar acontecendo. Não era
possível que a pessoa em quem confiei tivesse me traído de tal forma.
Aqueles olhos, que um dia me pareceram tão familiares, agora estavam
cheios de algo que eu não reconhecia — raiva, vingança, uma fome
insaciável de destruição.
Entrei em desespero.
— Por favor, não faça nada com ele. Pensa em você! Você destruirá sua
própria vida, Alex!
Ele sorriu, mas não era um sorriso gentil. Era cruel. E, de repente, a
máscara de civilidade que ele tentava manter se despedaçou. Ele gritou, a
voz se elevando com um ódio tão intenso que fez meus ossos tremerem.
— MINHA VIDA JÁ ESTÁ DESTRUÍDA, SERENA! — ele explodiu, e a
força com que aquelas palavras saíram de sua boca quase me fez recuar.
Seus punhos estavam cerrados, e o olhar que ele me lançou era tão
carregado de dor e raiva que me senti impotente diante dele. — Aquela
maldita família destruiu tudo o que eu tinha! Jurei para o meu pai que me
vingaria de todos eles! E você… você é só uma peça do meu jogo.
Minhas pernas vacilaram sob o peso daquelas palavras. Eu não sabia o que
fazer, o que dizer. Ele estava disposto a destruir Filippo e a mim, apenas
para alcançar um objetivo que eu mal conseguia entender. Como eu não
percebi antes? Como ele foi capaz de me manipular de maneira tão fria?
— Não, Alex… não precisa disso. — Implorei desesperada. Eu não sabia
mais em quem confiar. Eu tinha sido uma idiota, pensando que ele queria o
meu bem, que talvez tivesse um sentimento verdadeiro por mim.
Ele não me respondeu, apenas me olhou com aqueles olhos vazios de
compaixão. O tempo parecia ter parado naquele instante. Eu sabia que
estava em perigo, mas a pior sensação era o vazio que se formava dentro de
mim, a sensação de que eu havia perdido tudo.
CAPÍTULO 24

FILIPPO ROMANO
Eu cheguei ao hospital com um sorriso no rosto, pronto para surpreender
Serena. Estava ansioso para vê-la depois de um dia cheio de reuniões e
planejamentos. Ela sempre trazia uma paz que era difícil de encontrar no
meu mundo. Caminhei direto para a recepção, buscando informações sobre
onde ela poderia estar.
— Boa noite. Serena Fonseca ainda está por aqui? — perguntei à
enfermeira na recepção.
Ela me olhou por um segundo, como se estivesse escolhendo as palavras, e
então respondeu: — Ah, ela saiu há pouco tempo. O doutor Alex apareceu e
chamou-a para uma conversa em uma cafeteria aqui perto.
Minha expressão fechou na hora. Alex. O nome ressoou na minha cabeça e
um incômodo se instalou no meu peito. Eu sabia que, mais cedo ou mais
tarde, eles se encontrariam, mas alguma coisa naquela situação parecia
errada. Olhei ao redor e agradeci com um aceno, saindo dali o mais rápido
possível. Fui direto para a cafeteria.
Quando cheguei lá, percorri o lugar com o olhar, mas não havia sinal dela.
Tentei manter a calma, mas algo me dizia que as coisas não estavam certas.
Puxei o telefone do bolso e disquei o número dela, só para ser recebido pelo
som irritante de caixa postal. Reprimi uma praga entre os dentes e disquei
novamente, mas a mesma resposta.
— Droga, Serena, onde você está? — Gritei, sentindo o primeiro sinal de
desespero tomando conta de mim.
Parei por um segundo e liguei para Matteo. Ele atendeu quase que de
imediato. Ele era o único no momento que poderia me ajudar.
— Matteo, preciso de você agora. Serena não está respondendo o celular e a
última informação é que saiu do hospital com o Alex. Verifica as câmeras,
tanto do hospital quanto da redondeza. Preciso saber para onde eles foram.
Do outro lado, ele captou a urgência na minha voz.
— Tô a caminho do escritório agora, Filippo. Pedirei para os homens
pegarem as imagens. Vou te avisar assim que tiver algo.
Desliguei e tentei ligar para Serena mais uma vez, mas a ligação foi direto
para a caixa postal. O silêncio do outro lado me atingiu como um soco, e
meu estômago começou a se contorcer com o medo. A essa altura, meu
coração batia forte, a preocupação crescia a cada minuto que passava. Ela
nunca ficaria incomunicável assim, a menos que algo estivesse muito
errado.
Voltei para o carro, tentando controlar a mente que insistia em pensar no
pior. Apertei o volante com força, respirando fundo para manter a calma,
mas a verdade é que tudo em mim estava em pânico.
Alguns minutos depois, Matteo me ligou.
— Filippo, conseguimos pegar as imagens do hospital. Eles saíram juntos e
pegaram a rua principal, mas depois disso ela sumiu do radar.
Fechei os olhos, depois da resposta de Matteo. “Sumiu do radar.” Eram três
palavras que eu nunca queria ouvir quando se tratava dela.
— Manda todos os homens que temos disponíveis para vasculhar cada
canto dessa cidade. Eu não quero uma esquina, um beco, um bairro que eles
não cubram. Entendeu? — Minha voz saiu carregada, o desespero
misturado com uma fúria que eu mal conseguia conter.
— Já estamos fazendo isso, irmão. E eu estou com você nessa — respondeu
Matteo, deixando claro que ele também sabia o quanto isso era importante.
Desliguei a ligação e fiquei em silêncio, com o peito apertado. A angústia
era uma coisa com a qual eu estava acostumado na minha linha de trabalho,
mas nunca me atingia assim. Fechei os olhos e pressionei a cabeça contra o
volante. Serena estava desaparecida, e a ideia de não a ter ao meu lado, de
não saber onde estava, me fazia perder o chão.
Enquanto aguardava notícias, meu telefone estava sempre em mãos, pronto
para qualquer ligação, qualquer mensagem que pudesse me dizer onde ela
estava. Eu não descansarei até a ter de volta.
Cada minuto que passava sem notícias parecia uma eternidade. A escuridão
da noite lá fora fazia meu desespero crescer ainda mais. A ideia de Serena
estar sozinha, vulnerável, talvez até em perigo… Isso me corroía por
dentro.
Tentei me distrair, mas minha mente sempre voltava para ela. Imagens dela
sorrindo, da forma como se encolhe ao meu lado para dormir, do jeito que
entrelaça os dedos nos meus, da voz suave que sempre me acalma. Agora,
tudo parecia um eco distante, e o medo de que pudesse perdê-la me
paralisava.
O telefone finalmente vibrou. Matteo. Atendi no primeiro toque.
— Matteo, por favor, me diz que encontrou alguma coisa.
— Filippo, estamos trabalhando nisso. Conseguimos rastrear um carro
saindo da área do hospital por volta do horário em que ela desapareceu.
Estamos investigando as placas agora. Esse carro fez algumas voltas pela
cidade, parece que quem estava dirigindo queria despistar qualquer
perseguidor.
— E o motorista?
— As imagens não são muito claras. Mas há uma chance de que seja o
Alex. Estou mandando os homens atrás do paradeiro dele também. Se ele
tiver algo a ver com isso, vamos descobrir logo.
Senti meu corpo inteiro tensionar ao ouvir o nome de Alex novamente. Eu
devia ter desconfiado antes, devia ter percebido qualquer sinal. Só de pensar
que ele tinha tocado Serena, que talvez tivesse armado algo contra ela.
Alguma vingança pelo acontecido.
— Matteo, se esse desgraçado estiver com ela, não vai sair disso vivo —
murmurei, cada palavra saindo como uma promessa mortal.
— Eu sei, Filippo. E vamos encontrá-la. Não importa onde ele a tenha
escondido, nós vamos achar.
Desliguei o telefone e encarei a tela à minha frente. Eu estava à beira do
abismo, cada célula do meu corpo gritando para agir, para fazer algo. Saber
que Serena estava sob algum tipo de ameaça, que alguém poderia machucá-
la, me fazia querer arrancar tudo e todos do caminho até encontrá-la.
Puxei o telefone e liguei para os meus outros homens. Eu queria todos os
recursos, cada homem que eu pudesse encontrar, vasculhando a cidade.
A cada segundo, eu sentia a raiva crescendo, o ódio queimando meu
sangue. Eu faria o que fosse preciso.
Eu sabia que precisava de mais ajuda, e alguém que se importava tanto
quanto eu. Peguei o telefone e liguei para Ethan.
— Ethan, é o Filippo. Serena… desapareceu. A última vez que alguém a
viu, ela estava saindo do hospital com Alex. Mas ninguém mais sabe onde
ela está agora.
Do outro lado da linha, o silêncio durou apenas um segundo antes que
Ethan começasse a falar, a voz dele oscilando entre a incredulidade e o
pânico.
— O quê? Como assim, desapareceu? Você tem certeza? Filippo, ela estava
segura no hospital! Como ele conseguiu levá-la?
— Eu não sei, Ethan. Tô tentando entender tudo ainda. Mas… — A dor e a
raiva estavam misturadas na minha voz. — Esse desgraçado tinha tudo
planejado. Matteo tá tentando rastrear câmeras, e temos homens procurando
por todo canto, mas nada ainda.
Por um momento, só ouvi a respiração pesada dele.
— Espera, Filippo. Talvez a gente tenha uma chance. Serena… ela carrega
o telefone dela sempre, certo?
— Sim. Mas já tentei ligar, e só cai na caixa postal.
— Não importa. Escuta, o celular dela tem um chip rastreador. Coloquei lá
por precaução, logo que ela começou a trabalhar no hospital. É controlado
por um sistema que eu gerencio.
Minhas mãos apertaram o telefone com força, a esperança surgindo em
meio ao desespero.
— Você consegue rastrear agora? Consegue ver onde ela está?
— Sim, só preciso acessar o sistema. Dá-me alguns minutos. — A voz de
Ethan estava determinada.
Aguardei enquanto ele se conectava, o som das teclas ao fundo. Cada
segundo parecia uma eternidade. Eu andava de um lado para o outro,
controlando a respiração, a mente dividida entre o alívio e a ira.
Finalmente, ouvi a voz dele novamente.
— Filippo… Achei o sinal dela! Está a alguns quilômetros do hospital, em
uma área industrial. Vou te mandar a localização exata agora.
O alívio que senti foi imediato, mas a raiva voltou com força. Alex estava
com ela, e agora eu sabia onde.
— Obrigado, Ethan. Vamos tirar ela de lá. Fica em contato e manda ajuda
para o endereço também.
— Filippo… — A voz de Ethan falhou por um instante. — Só traz ela de
volta em segurança, por favor. Eu confio em você.
— Eu vou, Ethan. Ele pagará por isso.
Desliguei o telefone com Ethan e olhei para a entrada do escritório. Matteo
apareceu ali, com uma expressão séria.
— Eu ouvi, Filippo — Matteo disse, aproximando-se. — Você não vai atrás
de Serena sozinho. Sabe que Leon está fora, e, nesse caso, eu sou a sua
primeira linha de apoio.
Respirei fundo, reconhecendo a lealdade no olhar de Matteo, mas a
urgência de sair correndo para buscar Serena ainda pulsava em mim como
uma onda incessante.
— Matteo, ele tá com ela. Alex a levou! Ele sabe que machucá-la é a única
forma de me atingir — Minhas palavras saíam atropeladas, a mistura de
raiva e medo dificultando minha fala.
Matteo assentiu, mantendo a calma que eu estava perdendo. — Justamente
por isso tô aqui. Você não tá pensando direito, irmão. Não se esqueça de
quem somos e o que precisamos fazer para resolver isso. Você sempre foi o
mais sensato de nós, não age por impulso. E eu vou junto, quer você queira
ou não.
Cerrei os punhos, a vontade de agir impulsivamente ainda era forte, mas
sabia que Matteo estava certo. Me obriguei a respirar fundo e deixei a
lógica tomar o lugar do instinto.
— Certo… — Concordei, com um breve aceno de cabeça. — Ele escolheu
o lugar para se esconder numa área industrial. Já temos a localização, Ethan
rastreou o celular dela.
— Ótimo, então vamos montar nossa entrada. — Matteo já estava pegando
o telefone para chamar mais dois dos nossos melhores homens para o ponto
de encontro. — A gente chega silencioso, pega o desgraçado desprevenido
e tira Serena de lá.
Cada minuto era um risco.
Matteo colocou uma mão firme no meu ombro. — Não vamos dar a ele
nenhuma chance, Filippo. Estamos juntos nisso, agora e até o fim.
— Ele vai pagar caro, Matteo — sussurrei, carregado de fúria. — Pela dor
que causou a ela… e pela audácia de tentar nos atingir dessa forma.
Matteo assentiu, e, com uma última troca de olhares, saímos juntos. No
carro, a tensão era quase palpável, cada segundo de silêncio preenchido pela
minha determinação de acabar com isso e trazer Serena de volta, ilesa.
Assim que entramos no local, o riso insano de Alex ecoa pelo ambiente. Ele
está lá, de pé, com uma arma em mãos e um olhar completamente
perturbado. Ele nos observa com um sorriso cruel e, ao ver meu rosto, seu
riso se torna ainda mais sinistro.
— Olha só quem decidiu aparecer para completar o show! Alex diz, com
uma satisfação perversa. — Ah, agora, sim, vai ficar interessante. Agora,
finalmente, posso atirar nela e ver o desespero nos seus olhos, Filippo. O
mesmo desespero que você causou ao meu pai.
Confuso, tento entender o que ele está dizendo.
— Seu pai? Do que você está falando, Alex?
Ele ri alto, o som reverberando pelas paredes. — Esqueceu rápido, não foi?
Ele levanta a arma, apontando-a para mim e para Matteo alternadamente.
Vocês mataram meu pai, Demétrio Ferelli!
Minha mente conecta os pontos, e o choque se mistura à tensão crescente
no ar. Demetrio Ferelli… claro que eu me lembro dele. O homem foi um
traidor. Mas, no momento, Alex não parece interessado em ouvir
explicações.
— Vocês o esqueceram! Alex grita, cheio de ódio e loucura. — Vocês o
mataram, e agora é minha vez de tirar algo de você, Filippo! E ver a dor
invadir seu peito.
De repente, ele vira a arma em direção à Serena, e meus instintos reagem
antes que eu tenha tempo de pensar. Vejo seu dedo apertando o gatilho e,
num impulso, corro em direção a ela, lançando-me na frente da bala. O
impacto me atinge como uma onda de choque, espalhando uma dor
lancinante pelo meu corpo. Ouço o disparo da arma de Matteo em resposta,
o som abafado pelo grito desesperado de Serena, que ecoa nos meus
ouvidos.
— FILIPPOOO. NÃOOOO.
Sua voz é a última coisa que ouço antes de uma escuridão profunda me
envolver por completo, e tudo ao meu redor silenciar.
CAPÍTULO 25

SERENA FONSECA
O som do tiro ainda ressoava na minha mente, uma mistura de choque e
horror congelando tudo dentro de mim. Vi Filippo cair, o corpo dele
colapsando enquanto Matteo atira em Alex. O grito que saiu da minha
garganta parecia ter vindo de outro lugar, como se eu estivesse presa em um
pesadelo do qual não conseguia acordar.
Os homens me soltaram e corri até Filippo, minha visão embaçada pelas
lágrimas. Ele estava ali, estirado no chão, o rosto pálido e os olhos
fechados. O sangue manchava sua camisa, um vermelho-escuro que me
assustava mais do que qualquer ferida que eu já havia tratado. Eu o toquei
com as mãos trêmulas, pressionando contra a ferida, desesperada para
conter o sangue que parecia escapar rápido demais.
— Filippo, por favor… Minha voz saiu em um sussurro entrecortado, como
se cada palavra estivesse arrancando uma parte de mim. — Não faz isso
comigo, não me deixa…
O homem que havia feito meu mundo mudar completamente, que havia
mostrado o amor de uma forma que eu jamais imaginava. E agora ele estava
aqui, imóvel, enquanto o mundo parecia desmoronar ao meu redor.
Matteo se ajoelhou completamente assustado.
Ele grita com seus homens para chamar uma ambulância.
Meu coração batendo freneticamente enquanto uma onda de desespero
tomava conta de mim. Como médica, minha mente tentava seguir o
protocolo, encontrar uma solução, mas o pânico e a dor pessoal tornavam
tudo confuso. Era Filippo ali, não apenas um paciente; é o homem que amo,
e vê-lo assim, entre a vida e a morte, fazia tudo parecer fora do meu
controle.
Pressionei a ferida com minhas mãos trêmulas, tentando conter o
sangramento. Sentia as lágrimas rolarem pelo meu rosto, e eu me obrigava a
focar, a ser profissional, a lembrar dos passos básicos para estabilizá-lo.
— Aguenta firme, Filippo, por favor… você precisa lutar! — murmurei
com a voz embargada.
Matteo estava ao meu lado, o rosto dele pálido, mas seus olhos focados em
mim. Ele tentava ajudar, mantendo a calma para não me desestabilizar mais.
— Serena, ele vai conseguir. Ele é forte. Vamos tirá-lo daqui agora — disse
Matteo tentando me dar forças, mas eu percebia a tensão nas palavras dele.
Eu queria acreditar, mas as chances passavam na minha mente como um
cálculo automático, e eu sabia que o tempo era crucial. Filippo precisava de
atendimento hospitalar imediatamente. Enquanto isso, ele estava ali,
vulnerável, e era minha responsabilidade mantê-lo seguro até conseguirmos
ajuda.
Filippo abriu os olhos por um segundo, o olhar dele caindo sobre mim.
— Serena… — ele sussurrou com a voz fraca.
— Estou aqui, meu amor. Fica comigo, por favor, fica comigo… — minha
voz quase se quebrava enquanto falava, sentindo o medo aumentar.
Ele tentou erguer a mão para tocar o meu rosto, e me aproximei, segurando
seus dedos frios com força, como se eu pudesse, de alguma forma, impedir
que ele se afastasse.
— Matteo, cadê a ambulância? — gritei, percebendo que qualquer segundo
perdido poderia ser fatal.
O desespero nos dominava e Matteo estava xingando todos do hospital pelo
telefone, caso o irmão morresse iria destruir todos.
Tentei ignorar o desespero que ameaçava me dominar, lutando para focar
naquilo que eu sabia fazer melhor: salvar vidas.
Assim que a ambulância chegou, avistei Matteo que ajudava a empurrar a
maca.
— Eu vou ir com ele. Ele assentiu, enquanto eu deixava os paramédicos
fazer o serviço deles.
Durante todo o caminho, murmurei palavras que nem eu entendia, como se
a simples força da minha vontade pudesse mantê-lo aqui comigo. Eu sabia o
quanto ele havia arriscado, o que significava ter se colocado na linha de
fogo por mim. E naquele instante, uma certeza cravava-se em mim como
nunca: eu o amava com tudo que eu tinha, e eu não estava pronta para
perdê-lo.
Assim que chegamos ao hospital, minha mente voltou à rotina. Médicos e
enfermeiros correram para atender Filippo, mas o medo continuava me
apertando por dentro. Senti Matteo ao meu lado, segurando meu ombro
como um ponto de ancoragem, e fechei os olhos por um momento, tentando
me acalmar.
Mas, por dentro, a única coisa que eu conseguia fazer era rezar. Rezava para
que ele aguentasse, para que tivesse força de voltar para mim, para que esse
amor que tínhamos, ainda tão novo, não fosse destruído assim, de maneira
tão brutal.
A espera era angustiante, e o hospital estava tomado por uma tensão que só
aumentava. Os passos apressados dos enfermeiros, o som dos aparelhos ao
fundo, tudo parecia conspirar para tornar a atmosfera ainda mais sufocante.
Eu estava encostada na parede, respirando fundo, tentando manter a calma.
De repente, a porta se abriu e Leon entrou, parecendo mais agitado do que
eu jamais havia visto. Seus olhos estavam vermelhos e ele atravessou a
recepção em passos largos, indo direto até o balcão e falando com os
enfermeiros desesperado.
— Onde ele está? — ele exigiu com a voz ríspida. — Quero informações
agora!
Os enfermeiros tentavam acalmá-lo, mas ele não parecia disposto a esperar.
O desespero e a raiva estavam claros em cada gesto seu, e o controle que
ele geralmente exibia agora parecia distante. Alice, Lucy e Crystal logo
chegaram, se juntando a nós, e cada uma delas olhava para mim com
solidariedade e medo…
— Ele está na sala de cirurgia. A situação é delicada — disse ele com
cautela.
Aquelas palavras caíram como um peso sobre meu peito, e senti as lágrimas
brotarem nos olhos, a visão se embaçando. Todo o meu treinamento, toda a
minha experiência como médica parecia insignificante agora que Filippo
estava ali, lutando pela vida. Sabia o que aquela situação significava. Cada
segundo era crucial, e meu coração disparava a cada batida.
Leon perdeu completamente a compostura. Ele se aproximou do
enfermeiro, a expressão no rosto era de uma fúria contida prestes a explodir.
— Se algo acontecer com o meu irmão, você pode ter certeza de que eu
acabo com esse hospital. Explodo tudo com todos aqui dentro, entendeu? —
ameaçou, carregado de uma raiva que fez o enfermeiro empalidecer.
Matteo, tentando manter o controle da situação, colocou a mão no ombro de
Leon e puxou-o para trás com firmeza, tentando acalmá-lo.
— Leon, calma, irmão — disse Matteo, segurando-o de modo a fazê-lo se
afastar. — Eles estão fazendo tudo que podem. Precisamos acreditar nisso.
Leon olhou para Matteo, o peito subindo e descendo rapidamente, tentando
controlar a respiração. Era como se a força dele estivesse a um fio de se
romper. Sabia que ele não aguentaria perder Filippo, e aquilo me cortava.
Leon se virou para mim, ainda com a expressão tensa, mas um pouco mais
controlado. Ele respirou fundo e tentou se recompor encostando na parede e
percebi que, por trás de toda aquela raiva e desespero, havia um medo
imenso, o mesmo que eu estava sentindo.
Alice foi a primeira a me puxar para um abraço apertado, seguida por Lucy
e Crystal. Elas tentavam me passar força, e apesar do pânico que sentia,
aquela proximidade me trouxe algum conforto.
— Ele vai sair dessa, Serena. Vai sim — sussurrou Alice com a voz
embargada e sentia que ela estava segurando o choro.
Lucy apertou minha mão, me olhando com aquele brilho determinado nos
olhos.
— Filippo é mais forte do que parece. Ele vai aguentar — ela acrescentou,
tentando me tranquilizar.
Leon, finalmente afastando-se do balcão, veio até mim, respirando fundo.
— Vamos esperar. Ele é um Romano. — As palavras dele tentavam ser
reconfortantes, mas a dor era evidente em seu rosto. — Ele vai sair dessa.
Disse com seus olhos cheios de lágrimas. Alice corre até ele e o abraça
forte.
— Eu não sei o que fazer se eu perder meu irmão. Desabafou.
— Ele é forte meu amor, ele vai conseguir sair dessa.
Os minutos pareciam eternos, e tudo o que eu podia fazer era segurar nas
mãos das meninas e rezar. Sabia que Filippo era forte, mas o medo de
perdê-lo fazia minha fé vacilar a cada segundo.
Alguns minutos depois, pareciam horas, as portas da sala de cirurgia se
abriram, e o médico finalmente saiu, retirando a máscara e se aproximando
de nós. Todos nos viramos imediatamente, ansiosos, prendendo a
respiração, cada detalhe do rosto dele parecia nos dar uma pista do que ele
diria.
— A cirurgia foi um sucesso — disse ele, em um tom calmo, mas
cauteloso, e um alívio percorreu meu corpo, ainda que a tensão não
desaparecesse completamente. — Conseguimos tirar a bala e estabilizar os
ferimentos, mas ele precisará de vigilância constante. Não posso garantir
quando ele acordará. Filippo está na UTI, e vamos monitorá-lo de perto.
O alívio inicial foi rapidamente substituído pela preocupação. O “não posso
garantir quando ele acordará” pesava no ar como uma sombra. Senti as
lágrimas finalmente escaparem, mas agora misturavam-se à gratidão e à
esperança.
Leon deu um passo à frente, o olhar intenso e carregado de emoção. — Isso
significa que ele tem chances, não é?
O médico assentiu. — Sim, ele é jovem e forte. Filippo resistiu bem à
cirurgia, mas vamos precisar de paciência agora. Cada hora será crucial
para acompanharmos a evolução.
Alice e Lucy se aproximaram, me abraçando. Senti o calor e o conforto dos
braços delas ao meu redor, e isso me deu uma força extra, mesmo que
minha mente ainda estivesse com Filippo, imaginando-o sozinho na UTI,
lutando para voltar para nós.
Alice, com o olhar esperançoso, apertou minha mão. — Ele vai sair dessa,
Serena. Filippo é teimoso demais para desistir.
Eu sorri, embora uma lágrima ainda escorresse pelo rosto. — Sim, ele vai.
Ele precisa.
O médico, percebendo nossa ansiedade, continuou, em um tom mais
tranquilo:
— Em algumas horas, vamos liberar para que vocês possam vê-lo, mas
apenas uma pessoa por vez. Queremos garantir que ele tenha o máximo de
calma possível para se recuperar. Ele precisará de todo o descanso e força
para passar por essa fase inicial.
Todos assentimos, mesmo que o tempo de espera parecesse uma eternidade.
Cada um de nós estava ansioso para estar ao lado dele, para segurar sua
mão, dizer que estávamos ali, e que ele não estava sozinho nessa luta. Eu
precisava ver Filippo, precisava ver com meus próprios olhos que ele estava
bem.
Leon olhou para o médico, a expressão ainda dura, mas agora mais contida.
— Vamos esperar, mas só quero que fique claro… faça o melhor que puder.
Todos contamos com isso.
O médico, compreendendo a gravidade da situação para a família, assentiu
com firmeza. — Podem ter certeza de que faremos tudo que estiver ao
nosso alcance.
Quando ele se afastou, Matteo se aproximou de mim, colocando uma mão
leve no meu ombro, sua expressão mais calma que antes, mas ainda séria.
Serena, você será a primeira a entrar, tenho certeza de que é disso que ele
precisa.
Alice e Lucy sorriram suavemente para mim, e senti que cada uma estava
me apoiando, tentando me passar força.
Lucy falou, com a voz suave e reconfortante: — Assim que ele sentir sua
presença, Serena, vai saber que está seguro. Ele lutará ainda mais forte para
voltar para você.
Assenti, enxugando as lágrimas e tentando manter a calma. Filippo ia sair
dessa, ele tinha que sair. Eu precisava acreditar nisso, precisava ser forte.
Algumas horas se passaram, mas cada minuto parecia uma eternidade.
Finalmente, uma enfermeira me chamou e informou que eu podia entrar.
Respirei fundo e caminhei até a UTI, sentindo meu coração pesado e
acelerado. Quando entrei no quarto e vi Filippo, deitado, rodeado de fios e
monitores, meu peito apertou ainda mais. Aquilo não parecia real.
Me aproximei da cama devagar e peguei sua mão, sentindo o calor leve de
sua pele. Passei o polegar suavemente sobre seus dedos, tentando conter as
lágrimas.
— Filippo… — sussurrei falhando um pouco. — Eu estou aqui.
Olhei para seu rosto, tão tranquilo, quase como se estivesse dormindo
profundamente. Era difícil vê-lo assim, tão vulnerável, quando
normalmente ele era a força que guiava tudo. Me abaixei um pouco,
aproximando meu rosto do dele.
— Você foi tão corajoso, Filippo… salvou minha vida. — Minha voz tremia
ao lembrar do momento em que ele se jogou na frente da bala. — Mas
agora você precisa ser corajoso de novo e voltar para mim, está bem?
Engoli em seco, as lágrimas rolando pelo meu rosto. Apertei um pouco
mais a mão dele, tentando transmitir tudo o que sentia, mesmo que ele
estivesse inconsciente.
— Eu preciso de você… — sussurrei. — Preciso do seu sorriso, das suas
provocações, de tudo que só você sabe me dar. Não sei o que faria sem
você, então, por favor… volte.
Me inclinei e dei um beijo leve na testa dele, deixando meus lábios
repousarem por um momento ali, como se pudesse de alguma forma passar
minha força para ele. Quando me afastei, continuei segurando sua mão e
apenas sentei ao seu lado, em silêncio, disposta a esperar o tempo que fosse
preciso até que ele acordasse.
— Eu te amo, Filippo… — murmurei, deixando que aquelas palavras
preenchessem o silêncio do quarto.
CAPÍTULO 26

FILIPPO ROMANO
Aos poucos, comecei a sentir um leve murmúrio ao meu redor, como se
estivesse emergindo de uma escuridão profunda e espessa. A voz era
familiar, suave, cheia de carinho… e então, outras vozes começaram a se
misturar, vozes conhecidas, fragmentos de frases, algumas suplicantes,
outras desesperadas. Mas, por mais que eu quisesse abrir os olhos, algo me
impedia, uma sensação pesada que parecia me puxar de volta para o
silêncio.
Entre esses sons, eu ouvia a voz dela, Serena. Sua presença era um ponto de
luz, algo que me prendia ali, lutando para não me perder de novo.
— Filippo, por favor… volta pra mim. — A voz dela soava tão próxima,
cheia de emoção, cada palavra um pedido que me fazia querer reagir. — Eu
estou aqui, te esperando. Preciso de você.
Queria segurar a mão dela, apertar, fazer qualquer coisa que mostrasse que
eu estava tentando. Mas tudo o que conseguia era uma luta constante para
escapar daquele vazio. Parecia que meu corpo não obedecia, que eu estava
preso entre a consciência e o nada.
Outras vozes se somaram, e eu conseguia identificar o tom sério e tenso de
Leon, as palavras controladas de Matteo, e as zoações de Ethan.
Fragmentos de frases flutuavam até mim.
— Ele é forte, vai sair dessa… — dizia Leon, a voz carregada de uma força
quase desesperada.
— Preciso que esteja aqui, irmão, que se recupere… — Matteo murmurava,
com uma intensidade que eu raramente ouvia.
Era surreal escutá-los todos ali, como se eu estivesse na mesma sala, mas,
ao mesmo tempo, muito distante. Cada palavra me puxava um pouco mais
para fora daquela escuridão, mas a barreira ainda parecia intransponível. Eu
sabia que precisava lutar, que eles estavam me esperando, que ela estava me
esperando.
Então, com todas as forças que eu tinha, tentei mover meus dedos, abrir os
olhos, dar um sinal.
Foi um esforço quase impossível, como se as minhas forças estivessem
diluídas em algum lugar distante. Mas, finalmente, algo se moveu. Minha
mão, que parecia pesada como chumbo, começou a se mexer lentamente. A
sensação de minhas articulações rangendo enquanto eu tentava controlar o
movimento me fez sentir um alívio estranho, mas também uma dor fina,
como se meu corpo tivesse que se reconectar peça por peça.
Concentrei-me na sensação do calor da minha pele, nas palavras de Serena.
Eu precisava ouvir mais dela, precisava saber que ela ainda estava ali. O
esforço foi colossal, mas com um suspiro rasgado, consegui finalmente
abrir meus olhos.
A luz do hospital parecia cruel, intensa demais, mas, ao focar a visão, vi seu
rosto. Serena estava ali, sua expressão misturada com alívio e preocupação,
e seus olhos estavam brilhando com lágrimas que ela claramente tentava
controlar. Ela estava segurando minha mão com força, como se fosse a
única coisa que a mantinha em pé.
— Filippo… — a voz dela, suave, parecia carregada de um alívio que eu
não conseguia entender completamente. — Você está acordando, meu
Deus… você finalmente acordou.
Eu tentei falar, mas a minha garganta estava seca e áspera, como se
estivesse presa. Ela percebeu e rapidamente pegou um copo de água,
segurando-o com cuidado, inclinando-o para eu beber um pouco. O gosto
da água era estranho, mas reconfortante.
— Não fala ainda. Fica comigo, por favor. — Ela disse com a voz
tremendo. — Fica aqui, nós vamos passar por isso, eu prometo.
A dor que eu sentia em cada centímetro do meu corpo me lembrava que eu
ainda não estava completamente fora de perigo, mas ouvir aquelas palavras
me dava a força de que eu precisava. Não sei se foi a adrenalina, o desejo
de não a deixar, ou apenas o instinto de sobrevivência, mas, ao olhar para
ela, soube que iria lutar para sair daquela cama.
— Serena… — Foi tudo o que consegui sussurrar, minha voz falha e rouca,
mas ainda assim, era o suficiente para ver um sorriso se formar nos lábios
dela.
— Eu estou aqui, Filippo. Eu sempre estarei. — Ela se inclinou mais perto,
tocando minha mão com a dela, como se estivesse tentando se garantir de
que eu estava realmente ali, respirando.
Eu queria dizer mais, mas meu corpo não me deixava. Só podia ouvir os
sons ao redor, os murmúrios da sala, as palavras de conforto que chegavam
de longe. Sabia que estava cercado por todos que me importavam, mas era a
presença de Serena, a intensidade do seu olhar e a força em seu toque que
me ancorava. Ela era a razão pela qual eu estava lutando para sair da
escuridão.
— Vou chamar o médico responsável. Disse correndo para fora do quarto.
Leon estava ali, sua expressão de raiva e desespero era tão visível quanto a
preocupação estampada no rosto de todos ao seu redor. Ele se aproximou
rapidamente, seus olhos fixos em mim como se tentasse se convencer de
que eu estava realmente ali, vivo.
— Você assustou muito, mas muito a gente, Filippo! — Leon disse com voz
abafada pela tensão. Ele tinha os punhos cerrados, como se tentasse
controlar a raiva e o medo misturados que estavam transbordando nele.
Eu tentei levantar a cabeça um pouco, mas a dor era intensa. Minha visão
estava nublada e a sensação de estar tão fraco me fez querer desistir, mas as
palavras de Leon me impulsionam a lutar mais.
— Eu sei, irmão… — murmurei com dificuldade, as palavras saindo de
maneira trêmula, como se o esforço fosse demais para o meu corpo exausto.
— Me desculpe.
Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, se aproximou da cama, sua
expressão completamente fechada, mas com algo mais suave por trás dela.
Um alívio disfarçado, talvez, mas a raiva ainda estava ali, latente. Ele se
inclinou levemente, seus olhos fixos em mim, a tensão em seu rosto
evidenciando o quão profundamente abalado estava.
— Você não tem ideia do que nos fez passar, irmão — sua voz saiu baixa,
mas carregada com um peso de frustração e preocupação. Ele respirou
fundo, como se tentasse controlar a onda de emoções que ameaçava
transbordar. — Na próxima vez, não deixe de chamar quando algo
acontecer. Não faça isso com a gente de novo. A gente fica perdido, sem
saber o que fazer, e ninguém aqui consegue pensar direito quando vê você
nessa situação.
Sorrio. Eu sabia que, apesar de tudo, ele estaria ao meu lado, como sempre
esteve.
Serena entrou no quarto acompanhada pelo médico e, assim que Leon a viu,
deu um passo para trás, se afastando da cama com um suspiro. Seus olhos
estavam ainda carregados de preocupação, mas ele sabia que era hora de dar
espaço.
— Vou deixar vocês fazerem o trabalho de vocês — disse Leon, sua voz
grave, mas com uma pitada de alívio. Ele se virou e caminhou para fora do
quarto, nos deixando sozinhos. Eu o ouvi sair e o som da porta se fechando
atrás dele, deixando-me com Serena e o médico.
O médico se aproximou da minha cama, fazendo uma rápida checagem nos
monitores que acompanhavam meus sinais vitais. Eu mal conseguia manter
os olhos abertos, mas o som de sua voz chegou até mim, suave, mas cheio
de autoridade. Ele olhou para os gráficos, conferiu os números e então se
voltou para nós com uma expressão tranquila, mas satisfeita.
— Está se recuperando bem, Filippo — ele disse com um sorriso, olhando
para os monitores e depois para mim. Seus olhos se fixaram brevemente em
Serena, que ainda estava ao meu lado, seus dedos entrelaçados aos meus. —
Com Serena do seu lado, pode ter certeza de que estará em breve de volta
ao seu melhor.
Assentir.
Eu sabia que, com Serena perto de mim, eu teria todo o apoio necessário
para me recuperar. Ela sempre teve esse poder sobre mim. E eu, no fundo,
sabia que estava em boas mãos.
O médico sorriu para Serena e fez um leve gesto com a cabeça, como se
dissesse que tudo estava sob controle. Senti a mão de Serena apertar a
minha.
O médico deu uma última olhada nos monitores e falou mais uma vez:
— Precisamos de um pouco mais de repouso, mas o pior já passou. Ele está
em boas mãos.
Serena sorriu para ele, uma expressão leve de alívio tomando conta do seu
rosto. O médico então se afastou, indicando que ele daria espaço para eu
descansar. Serena, sem hesitar, permaneceu ao meu lado, seus olhos fixos
em mim, como se estivesse me vigiando, mas também me oferecendo a paz
de sua presença. E, no fundo, eu sabia que, com ela ali, eu teria a força para
seguir em frente.
***
Uma semana se passou e, finalmente, o momento de sair do hospital havia
chegado. A sensação de estar em casa, de voltar para a minha rotina, era
reconfortante. A dor estava diminuindo, mas ainda sentia a fragilidade do
meu corpo. Mas com Serena ao meu lado, a recuperação parecia mais fácil.
O médico entrou na sala, fazendo uma checagem nos monitores e nos
aparelhos ao meu redor. Ele parecia satisfeito com os resultados.
— Seus sinais vitais estão estáveis, Filippo. Você está se recuperando bem.
Já está na hora de ir para casa. — Ele sorriu, aparentemente feliz com o
progresso.
Olhei para Serena, que estava ao meu lado, com um sorriso suave no rosto.
Ela tinha estado lá o tempo todo, ajudando-me a enfrentar cada momento
difícil.
— Então é isso, posso ir embora? — Perguntei, tentando esconder o alívio
que senti.
— Sim. — O médico assentiu. — Só não se esqueça de repousar e seguir as
orientações. O pior já passou, mas você precisará de tempo para se
recuperar completamente.
Serena olhou para mim, com os olhos cheios de cuidado.
— Você ouviu o médico, não é? Vai descansar, sem ficar esforçando. — Ela
disse e sorriu suavemente. — E nada de sair correndo para o trabalho, hein?
Eu ri fraco, mas foi o suficiente para me sentir mais aliviado. Serena sempre
sabia como me acalmar.
— Eu só pensei em dar uma olhada nos meus negócios. — Disse, tentando
soar casual, mas sabia que ela não ia deixar isso passar tão facilmente.
Ela revirou os olhos, mas não disse mais nada. Sabia que eu não ficaria
parado por muito tempo, mas queria que eu me cuidasse.
— Vamos. — Ela pegou minha mão e me ajudou a levantar da cama. O
movimento foi mais lento do que eu queria, mas consegui me manter de pé,
com a ajuda dela.
Enquanto nos dirigimos para a saída do hospital, a luz do dia tocava em
minha pele e a sensação de estar de volta à realidade era mais forte do que
nunca. Eu estava indo para casa, e isso significava que as coisas estavam
melhorando.
Quando chegamos ao carro, ela me ajudou a entrar e, logo, já estávamos a
caminho da minha casa. Eu a observei ao meu lado, os olhos atentos no
trânsito, mas com um leve sorriso no rosto.
— Eu não sei o que faria sem você, Serena. — Eu disse, com sinceridade.
Sentia como se ela fosse a única coisa que me mantinha firme.
Ela olhou para mim e, por um momento, os olhos dela brilharam de uma
forma que só ela sabia fazer.
— Você vai ficar bem, Filippo. Cuidarei de você até você se recuperar
completamente. — Ela respondeu, cheia de certeza. — E você, por favor,
me ouça e descanse. A saúde é o mais importante agora.
Respirei fundo, me apoiando nela, mas a sensação de estar em casa, em paz,
começou a se firmar em mim.
— Vou seguir suas instruções doutora, prometo. — Respondi, com um
sorriso. Eu sabia que estava em boas mãos.
Quando entrei no quarto, a primeira coisa que notei foi o silêncio. As luzes
estavam baixas, mas o ambiente estava iluminado por velas, e o cheiro de
flores no ar era suave. De repente, o silêncio foi quebrado por gritos.
— Surpresa!
Eu parei no lugar, confuso por um momento. Meu olhar se moveu
rapidamente para todos os cantos, tentando processar o que estava
acontecendo. Leon, Matteo, Ethan, Alice, Crystal, Lucy e meus primos.
Todos estavam ali, sorrindo. Serena estava ao meu lado, com aquele sorriso
enorme, como se já soubesse de tudo.
— Vocês… — Comecei, tentando entender. — Estavam planejando isso,
não estavam?
Leon se aproximou e, com um sorriso, colocou a mão no meu ombro.
— Claro, irmão. Não íamos deixar você sair do hospital sem uma recepção
dessas, não é? — Ele disse, rindo.
A surpresa se transformou em um sorriso cansado. Já estava em casa, mas
não esperava algo assim. Olhei para Serena, que ainda estava ao meu lado,
e a puxei para perto, sentindo aquela sensação de alívio por tê-la ali, ao meu
lado.
— Eu já estou em casa, mas não esperava uma recepção dessas. — Ri,
deixando escapar uma felicidade inexplicável ao ver todos ali, ao meu
redor. — Obrigado a todos vocês. Em breve estarei pronto para a próxima.
Serena, que estava ao meu lado, balançou a cabeça, rindo suavemente. Eu já
sabia o que ela ia dizer, mas não pude deixar de sorrir com o tom de
preocupação em sua voz.
— Próxima, Filippo — ela disse, me olhando com aquele olhar de quem
sabia o que estava por trás das minhas palavras. — Você vai ficar longe do
risco agora, entendeu? Não quero mais ver você se colocando em perigo.
Respirei fundo, sabendo que ela estava certa. Eu sempre soube que, como
mafioso, correria riscos, mas aquilo tinha sido um alerta. Não só para mim,
mas para todos ao meu redor. E Serena tinha razão, eu não podia continuar
me arriscando da mesma forma. Mas eu faria tudo de novo para salvar ela.
— Isso mesmo, Serena. Coloque regras nele! — disse Lucy, rindo, mas com
um tom brincalhão que fazia a tensão diminuir um pouco.
— Ela tem razão — continuou Leon, com um sorriso no rosto, mas também
sério, como sempre. — A partir de hoje, vamos nos cuidar em dobro. Não
quero mais te ver em uma situação dessas, Filippo. Ou a qualquer um de
vocês.
— Como se fosse fácil — disse Matteo, com seu tom de sarcasmo habitual.
— A gente corre risco o tempo inteiro, não tem como evitar isso.
— A única coisa que podemos fazer — acrescentou Marco, com um olhar
sério — é sermos mais espertos que nossos inimigos. Antecipar o próximo
movimento deles.
— Que bom ter você de volta, primo — disse Giovanni, dando um tapinha
em meu ombro, com um sorriso genuíno. Senti o calor da presença da
minha família, a lealdade que nos mantinha unidos mesmo diante dos
maiores perigos.
Olhei para todos eles, sentindo uma gratidão indescritível por estar ali, vivo,
cercado por pessoas que estavam ao meu lado em cada batalha. Aquele
momento, de risos, de reencontros e olhares sinceros, era raro no nosso
mundo, e eu absorvia cada segundo, sabendo o quanto isso significava para
mim.
A noite foi passando em meio a conversas leves e sorrisos, e finalmente, um
a um, todos foram se despedindo, deixando o ambiente mais tranquilo.
Fiquei apenas com Serena, que permaneceu ao meu lado, suas mãos
entrelaçadas nas minhas, e o olhar dela fixo em mim, como se quisesse
certificar-se de que eu estava realmente bem.
Quando ficamos a sós, respirei fundo, sentindo uma serenidade que não era
comum para mim. Olhei para Serena e, mesmo sem poder fazer muito
devido à minha condição, apertei suas mãos com firmeza.
— Serena… — chamei a atenção — Eu não tenho uma aliança aqui
comigo. Na verdade, não tenho nada além do que está aqui — coloquei uma
das mãos sobre meu coração, sentindo a batida forte, lembrando-me de que
ainda estava vivo, ainda podia fazer essa promessa a ela. — Mas… esse
coração é todo seu. Ele pertence a você. Quero que fique comigo para
sempre. Você… aceita casar comigo?
Os olhos dela brilharam e eu percebi um brilho úmido neles, que logo se
transformou em lágrimas que caíam suavemente por suas bochechas.
Serena não precisou de palavras; seu sorriso radiante e a intensidade do
olhar diziam tudo.
— Sim — respondeu ela, com a voz embargada e cheia de emoção. — Sim,
Filippo. Mil vezes sim.
Ela inclinou-se para me abraçar, com cuidado, e ficamos ali, em silêncio,
deixando aquele momento falar por nós. Estávamos unidos de uma forma
que ia além de qualquer promessa dita. A partir daquele instante, eu sabia
que, acontecesse o que acontecesse, Serena era meu lar, e a promessa que
fiz a ela seria a que eu levaria comigo, para sempre.
EPÍLOGO

SERENA FONSECA
Enquanto estava ali, parada no altar, o mundo parecia diminuir, como se
tudo o que importasse estivesse ao alcance do meu olhar. A igreja estava
repleta, mas todos os rostos desapareciam em meio à emoção que preenchia
meu coração, e meus olhos se fixaram apenas em Filippo.
Com um terno perfeitamente ajustado, parecia mais lindo do que nunca.
Quando nossas mãos se tocaram, senti a calma misturada com excitação, e
percebi que tudo o que vivemos, cada desafio, cada segundo de angústia,
nos trouxe até aqui.
O padre começou a cerimônia e senti que o momento que esperávamos
tinha finalmente chegado. Filippo apertou levemente minha mão e começou
a falar, com uma sinceridade que fez meus olhos se encherem de lágrimas.
— Serena, você me trouxe uma paz que eu nunca achei que existia para
alguém como eu. E, diante de todos, eu prometo te proteger e fazer de você
minha prioridade… todos os dias, para o resto da minha vida.
Sua voz tremeu levemente, e percebi o esforço para controlar a emoção.
Aquelas palavras, vindas de Filippo, significavam mais do que qualquer
coisa. Respirei fundo, sentindo a força daquele momento, e quando chegou
minha vez, busquei cada pedacinho de coragem e amor que ele me deu.
— Filippo… — comecei, sentindo minha voz embargar. — Em você,
encontrei minha razão, meu lar. Prometo estar ao seu lado em cada vitória e
cada tempestade, e fazer de você o amor e a coragem que me guiam.
Quando ele deslizou a aliança no meu dedo, senti como se tudo se
encaixasse, como se cada passo que demos nos trouxesse para este
momento perfeito. Com um sorriso, ele segurou meu rosto com uma ternura
que só ele tinha.
— Agora você é minha esposa, Serena. Minha e de mais ninguém — disse
com os olhos brilhando de felicidade.
— E você é meu, Filippo, para sempre.
O padre nos declarou marido e mulher e, sob aplausos, Filippo me puxou
para um beijo, um beijo que dizia mais do que qualquer palavra poderia. A
igreja explodiu em alegria, mas para nós, o mundo havia parado, como se
estivéssemos numa bolha de amor e emoção.
Quando finalmente saímos juntos, mãos entrelaçadas, senti que nada mais
importava, apenas nós dois e o futuro que estávamos prontos para enfrentar
lado a lado.
EPÍLOGO 2

FILIPPO ROMANO
A sala estava iluminada por luzes brancas e douradas, que cintilavam sobre
a gigantesca árvore de Natal no centro da mansão Romano.
O som das risadas ecoava pelo salão, misturando-se ao crepitar da lareira e
ao suave toque de uma música natalina ao fundo. Estava tudo exatamente
como eu imaginava que seria. Não, estava melhor.
Da janela do escritório, eu podia ver a neve cobrindo os jardins da mansão,
mas meu olhar não estava lá fora. Estava nela. Serena.
Ela estava no centro da sala principal, ajudando Lucy com os presentes.
Seus cabelos caíam em ondas soltas, e o vestido vermelho que usava a fazia
parecer uma visão. Eu ainda não entendia como alguém como eu, marcado
pelo sangue e pelas sombras, tinha conquistado algo tão puro.
Minha esposa. Minha Serena.
Ao observá-la, senti aquela familiar pontada no peito, um misto de orgulho,
amor e medo. Me orgulho por ela ser minha. Amor por tudo o que ela era e
fazia. E medo… medo de um dia não ser bom o suficiente para merecê-la.
— Vai ficar aí a noite toda, admirando sua mulher? — a voz de Matteo
ecoou atrás de mim, carregada de um tom provocador. Virei-me, lançando-
lhe um olhar de advertência.
— Talvez você devesse fazer o mesmo com a sua, — retruquei, apontando
discretamente para Lucy, que ria com Crystal e Alice do outro lado da sala.
Matteo apenas riu e me deixou sozinho, mas não antes de dar um tapinha no
meu ombro, como quem dizia: Você venceu, irmão.
Desci as escadas e fui até Serena. Assim que me viu, um sorriso suave
iluminou seu rosto, e eu soube que aquele era meu lar, meu refúgio.
— O que está fazendo aí sozinho? — ela perguntou quando me aproximei,
com um tom suave, mas repleto de provocação.
— Observando a mulher mais linda dessa sala, — respondi, sem hesitar. Vi
suas bochechas corarem levemente, um detalhe que ela sempre tentava
disfarçar.
Puxei-a para perto, ignorando os olhares curiosos ao nosso redor. Minha
família podia observar, fazer comentários, mas eu não me importava. Nada
mais importava quando eu estava com ela.
— Filippo, estão olhando, — sussurrou, mas sem se afastar.
— Deixe olhar. Eu não me importo. Eles precisam entender que você é
minha razão de existir.
Como posso mostrar isso a ela? Será que ela vai achar estranho esse
presente.
— Você parece pensativo, disse ela, inclinando a cabeça curiosamente.
— Estou, — respondi, puxando-a levemente para fora da confusão de
pessoas. — Preciso te mostrar algo.
Ela me seguiu até o canto mais tranquilo da sala, perto da lareira. Tirei a
pequena caixa do bolso e a segurei diante dela.
— O que é isso? — perguntou, surpresa.com seus olhos fixos em mim.
— Um presente atrasado, muito atrasado — admiti, com um sorriso sem
graça. — Comprei isso para você quando formou na faculdade. Eu queria te
parabenizar pelo que estava conquistando, mas… — Suspirei, sentindo o
peso das lembranças. — Meu pai morreu e as coisas ficaram fora de
controle. Acabei esquecendo, mas isso não significa que você não era
importante para mim. Sempre foi, Serena.
Ela pegou a caixa com cuidado, seus dedos tremendo levemente. Quando
abriu, viu o anel. Era simples, mas carregava um detalhe especial: as
iniciais dela estavam gravadas na parte interna, junto com a palavra
orgulho.
Os olhos de Serena se encheram de lágrimas enquanto ela olhava para mim.
— Filippo… — começou, mas sua voz falhou.
— Eu sei que já passou muito tempo, e talvez isso não signifique tanto
agora quanto significaria naquela época. Mas eu queria que você soubesse
que, mesmo quando parecia que eu estava distante, você sempre esteve
comigo. Sempre.
Ela não disse nada por um momento. Apenas fechou a pequena caixa e,
com um sorriso emocionado, envolveu-me em um abraço apertado.
— Significa tudo para mim, — sussurrou, encostando a cabeça no meu
ombro.
Segurei-a com força, sentindo o calor do seu corpo contra o meu. Naquele
instante, tudo parecia no lugar. O passado não importava mais. O presente e
o futuro estavam ali, nos braços dela.
Antes que eu pudesse beijá-la, fomos interrompidos por Esther, a pequena
filha de Leon, que corria pela sala aos risos, arrancando aplausos de todos
ao dar seus primeiros passos. O som das palmas preencheu o ambiente, e eu
não pude evitar sorrir.
Minha família estava toda ali. Todos juntos, unidos, como deveria ser. E,
pela primeira vez, percebi que o futuro não me assustava mais.
Eu tinha tudo o que precisava.
Serena olhou para mim novamente, e vi no brilho dos seus olhos o mesmo
sentimento que eu carregava. Não precisávamos de palavras. Bastava
aquele momento.
Com um leve toque em sua cintura, puxei-a para mim e murmurei:
— Feliz Natal, amore mio.
Toquei seus lábios, com um beijo cheio de amor.
— Feliz natal, meu amor.
E, naquele instante, enquanto ela sorria, soube que este seria apenas o
primeiro de muitos natais perfeitos ao lado dela.
Fim!
AGRADECIMENTOS
Querido leitor(a),
Se você chegou até aqui, quero agradecer do fundo do meu coração por
embarcar comigo na história de Filippo e Serena. Cada página foi escrita
com dedicação, pensando em oferecer a você momentos de suspense,
paixão e conexão com nossos personagens. Sei que não foi uma viagem
simples; o caminho deles foi intenso, mas cheio de aprendizado e, acima de
tudo, de amor verdadeiro.
Escrever este livro foi um processo de entrega, e nada disso faria sentido
sem você. Espero que cada capítulo tenha trazido algo especial para você,
seja emoção, inspiração ou momentos de reflexão. Sua presença como leitor
é o que dá vida a essas páginas e transforma cada palavra em uma
experiência única.
Muito obrigada por cada minuto dedicado à leitura, por cada página virada
e por acreditar nessa história. Espero que ela tenha deixado uma marca
especial em você, como certamente deixou em mim.

Aos meus amigos e familiares,


Este livro jamais teria sido concluído sem o apoio e o carinho de cada um
de vocês. Agradeço por estarem sempre ao meu lado, acreditando em mim
mesmo nos momentos de incerteza. Vocês foram meu alicerce, minha
motivação e muitas vezes minha inspiração.
Este livro é nosso, e sem cada um de vocês ele não existiria. Com todo o
meu coração, obrigada.

Autora Biakim
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