EXMª. SRª. DRª.
JUÍZA DE DIREITO DA VARA DO JÚRI E EXECUÇÕES PENAIS
DA COMARCA DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BAHIA
Ref. Processo nº 8016554-07.2023.8.05.0274
DISTRIBUIR POR DEPENDÊNCIA
SALMO CAMPOS SILVA, brasileiro, solteiro, motoboy, portador
da carteira de identidade RG nº 9505323-SSP/PE, inscrito no CPF do MF sob o nº
035.863.305-29, residente e domiciliado à Rua 07, nº 22, Bairro Vila Serrana II, CEP
45078-136, Vitória da Conquista/BA, por intermédio de seus Advogados
infrafirmados, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, reiterar o pedido de
liberdade provisória já formulado, considerando as circunstâncias que ora passamos
a delinear:
1. O Requerente se encontra preso há um ano, período excessivo para uma
prisão cautelar.
2. O Requerente se encontra com um projétil de arma de fogo alojado na
cabeça, necessitando de cuidados médicos indisponíveis na unidade do Conjunto
Penal onde se encontra.
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3. A instrução processual foi concluída e o Requerente foi pronunciado.
4. Todas as evidências processuais apontam para a ocorrência da
excludente de ilicitude da legítima defesa, que é o que o Requerente irá provar na
sessão de julgamento no Plenário do Júri.
5. A sessão plenária do Tribunal do Júri seria designada para a única data
disponível neste ano de 2024, a saber, 01 de outubro de 2024, todavia, o Ministério
Público requereu que o Nobre Juízo oficiasse ao Departamento de Polícia Técnica
para que enviasse três laudos periciais necessários para a discussão da causa
perante o Conselho de Sentença.
6. Infelizmente, o Departamento de Polícia Técnica, mesmo provocado, não
se desincumbiu de suas obrigações e não enviou os laudos requisitados pelo
Ministério Público, deixando de responder à determinação desse respeitável Juízo.
Dos três laudos que deveria encaminhar, encaminhou apenas um.
7. Desse modo, restou inviabilizada a realização da sessão do Tribunal do
Júri na data prevista, em evidente e indiscutível prejuízo aos direitos do Requerente.
8. O art. 312 do CPP aponta que:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime
e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado.
9. Ora, é cediço que a prisão cautelar deveria ser, na prática, medida
excepcional, pois o é na teoria, visto que viola o direito fundamental à liberdade
individual sem a observância do devido processo legal. Por outro lado, analisando o
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dispositivo legal acima, observamos que não subsistem as razões para a
manutenção da prisão preventiva, como já pontuado em petição anterior.
Vejamos: 1 – não se pode falar em risco à ordem pública, pois, tanto quanto se
depreende dos autos, o ora Requerente, réu primário, agiu em legítima defesa; 2 –
não há risco algum à ordem econômica (aliás, Excelência, os que ferem a ordem
econômica estão, neste exato momento, livres e soltos, gozando do produto de seus
crimes, sem que o sistema penal se importe nem um pouco com eles); 3 – a
instrução criminal não corre qualquer risco, pois, já encerrada, além do fato de que o
Requerente tem endereço residencial fixo, informado nos autos, onde poderá ser
encontrado a qualquer momento; 4 – não há risco à aplicação da lei penal, pois o
ora requerente reside no distrito da culpa e se compromete a permanecer à
disposição do r. Juízo e comparecer à sessão do Tribunal do Júri, quando
demonstrará sua inocência; 5 – vê-se, também, que o indício de autoria é
insuficiente para ensejar a manutenção da medida constritiva, considerando que o
Requerente sempre alegou legítima defesa e está com um projétil de arma de fogo
alojado na cabeça, para comprovar o que alega; e 6 – por fim, o “estado de
liberdade do imputado” não gerará qualquer tipo de perigo à sociedade, haja vista
tratar-se de pessoa que não possui antecedentes criminais e a favor de quem milita
a presunção de inocência, corolário do Direito dos Povos e baliza das garantias
fundamentais expressas na Constituição da República, consolidado no art. 5º, inc.
LVII, in verbis:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;
10. A manutenção da prisão preventiva ora combatida, por culpa única e
exclusiva do Estado, sem que o ora Requerente tenha dado causa a qualquer óbice
ao prosseguimento do processo e/ou à realização da sessão de julgamento em
Plenário, é ilegal, além de ser, fundamentalmente, INJUSTA.
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11. Sobre o assunto, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que:
"A prisão, antes da sentença condenatória com trânsito em julgado, deve ser
reservada para situações de absoluta necessidade. Não se fazendo presentes
os motivos da tutela preventiva (art. 312 CPP), ainda que tenha havido
flagrante e o crime seja inafiançável, pode o acusado obter liberdade
provisória, a teor do disposto no parágrafo único do art. 310 do Código de
Processo Penal." (Grifo nosso).
TACRSP: “Se a ordem pública, a instrução criminal e a aplicação da lei
penal não correm perigo, deve a liberdade provisória ser concedida a
acusado preso em flagrante, nos termos do artigo 310, parágrafo único do
CPP. A gravidade do crime que lhe é imputado, desvinculada de razões sérias e
fundadas, devidamente especificadas, não justifica sua custódia provisória”. (RT
562/329).
12. Por fim, Excelência, ressaltamos que outras medidas cautelares diversas
da prisão são suficientes e adequadas para aplicação ao caso sub judice, conforme
previsão do art. 310, inc. II, e artigo 282, § 6º, ambos do Código de Processo Penal.
13. Vê-se, com inegável clareza, que o Código de Processo Penal,
disciplinando a prisão antes do julgamento, ou seja, a prisão cautelar (gênero que
abriga a espécie “prisão preventiva”), constrição da liberdade sem condenação,
define critérios para aplicação da medida extrema da prisão cautelar, de modo a
autorizar a libertação do Requerente. Vejamos:
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas
observando-se a:
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações
penais;
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e
condições pessoais do indiciado ou acusado.
14. Conforme já exaustivamente demonstrado, o ora requerente é
tecnicamente primário, além de preencher os demais requisitos para a concessão da
liberdade provisória, na forma da lei processual penal, além do fato de já haver sido
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encerrada a instrução processual, não havendo, portanto, óbice algum à colocação
do Requerente em liberdade.
15. Diante do exposto, requer a Vossa Excelência a CONCESSÃO DA
LIBERDADE PROVISÓRIA ao requerente SALMO CAMPOS SILVA, conforme
previsão do artigo 310, inciso III, do CPP, com a expedição do respectivo ALVARÁ
DE SOLTURA, a fim de que, em obediência à Constituição e às leis, possa o
paciente responder ao processo em liberdade, comprometendo-se, desde já, a
comparecer a todos os atos processuais para os quais for intimado.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Vitória da Conquista, 20 de setembro de 2024.
NATANAEL OLIVEIRA DO CARMO
OAB-BA nº 23.871
ÁLVISSON SANTOS PACHECO
OAB-BA nº 78.406
JÔNATAS VALVERDE BOTELHO
Estagiário de Direito
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