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Consenso Do ILSI Brasil Sobre Vegetarianismo Final

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ILSI BRASIL

INTERNATIONAL LIFE SCIENCES INSTITUTE DO BRASIL

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01449-070 — São Paulo — SP — Brasil

Tel./Fax: 55 (11) 5555-2424 e-mail: [email protected]

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos


primeiros cinco anos de vida [livro eletrônico]
: repercussões na saúde, manejo e
recomendações. -- 3. ed. -- São Paulo :
International Life Sciences Institute do Brasil
- ILSI Brasil, 2024.
PDF

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-86937-44-2

1. Alimentação infantil 2. Crianças - Nutrição


3. Crianças - Saúde 4. Suplementos alimentares
5. Vegetarianismo.

24-222768 CDD-613.262
Índices para catálogo sistemático:

1. Vegetarianismo : Promoção da saúde : Ciências


médicas 613.262

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415


As afirmações e opiniões expressas nesta publicação são
de responsabilidade dos autores, não refletindo as do ILSI Brasil.
Além disso, a eventual menção de determinadas sociedades co-
merciais, marcas ou nomes comerciais de produtos não implica
endosso pelo ILSI Brasil.

O ILSI Brasil – International Life Sciences Institute do Brasil – é uma


organização mundial sem fins lucrativos e de integração entre aca-
demia, indústria e governo. Sua missão e estimular a discussão e
aplicação da ciência em temas que visam a melhora da saúde e do
bem estar público e preservação do meio ambiente.
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

AUTORES

Tulio Konstantyner. ORCID: 0000-0002-7931-9692


Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo

Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida. ORCID: 0000-0003-1272-4404


Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos

Elza Daniel de Mello. ORCID 0000-0002-8725-3363


Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mário Cícero Falcão. ORCID: 0000-0002-5658-3992


Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira. ORCID: 0000-0001-8272-2936


Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo

Ana Paula Black Dreux. ORCID: 0000-0002-3782-3735


Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo

Ana Carolina Leme. ORCID: 0000-0003-2782-4301


Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares- CENDA do Instituto
PENSI

Mauro Fisberg. ORCID: 0000-0003-2992-3215


Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares- CENDA do Instituto
PENSI Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo

Hélcio de Sousa Maranhão. ORCID: 0000-0002-8927-0343


Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Virgínia Resende Silva Weffort ORCID: 0000-0002-2890-4744


Universidade Federal do Triângulo Mineiro

4
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 6

2. DEFINIÇÃO DE VEGETARIANISMO 8

3. HISTÓRIA DO VEGETARIANISMO 11

4. VEGETARIANISMO: COMPREENDENDO AS MOTIVAÇÕES ATUAIS 14

5. POTENCIAIS DEFICIÊNCIAS/EXCESSOS E REPERCURSSÕES NO


CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL 15

6. GUIDELINES E RECOMENDAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS 32

7. DIETA VEGETARIANA BALANCEADA – ESCOLHAS DOS ALIMENTOS E


SUGESTÕES DE CONSUMO 36

8. SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR/MEDICAMENTOSA – QUAL NUTRIENTE,


QUANDO, COMO E DOSES RECOMENDADAS 41

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE AS RECOMENDAÇÕES PARA


ALIMENTAÇÃO VEGETARIANAS/VEGANA NOS PRIMEIROS CINCO
ANOS DE VIDA. 48

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 50

11. DIRETORIA E CCA 2024 62

12. EMPRESAS MANTENEDORAS DO ILSI BRASIL 63

5
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

1. INTRODUÇÃO

Vegetarianismo, veganismo e a adoção de dietas à base de plantas (DBP) (ou,


no inglês, plant-based diets) são tendências crescentes em países ocidentais. Apesar
das DBP serem frequentemente utilizadas como sinônimos de dietas vegetarianas, elas
apresentam diferentes padrões alimentares, pois abrangem o consumo de alimentos
primariamente a partir das plantas (frutas, vegetais, nozes, óleos, grãos integrais e
leguminosas), mas pode incluir pequenas quantidades de alimentos de origem animal
como leites, ovos, carnes e peixes.1 Aqueles que aderem as DBP podem escolher por
substituir produtos animais por opções vegetais. Alguns autores discutem se a dieta
mediterrânea seja um tipo de DBP.2
Desta forma, o termo “DBP” não se restringe apenas a dietas vegetarianas, mas a um
amplo espectro de dietas com elevado consumo de frutas, legumes e verduras (Figura 1).

Figura 1. Distribuição das dietas à base de plantas (consumo de frutas, legumes e ver-
duras) de acordo com o consumo de carne.

FLV: Frutas, Legumes e Verduras


Fonte: Sociedade Vegetariana Brasileira (2018), Amit M (20210), Melina V et al. (2016), Rudloff S et al. (2019).8,11,13,14

As razões frequentemente relatadas para a adesão de DBP incluem preocupa-


ções com a saúde, ambiente, cuidados animais, rejeição à carne e crenças religiosas.3

6
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Diferentes relatos indicam um impacto ambiental negativo (aquecimento global) do


consumo de carne de ruminantes comparados a grãos, frutas e verduras.=
Mulheres e adultos jovens tendem a apresentar mais essas preocupações, quan-
do comparados aos demais grupos,5,6 e, frequentemente, encontram-se em fase re-
produtiva e/ou tem filhos até os cincos anos de idade, o que torna a dieta das crianças
amplamente influenciada pelos padrões dos pais.7
A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) estima que cerca de 14% da população
adulta brasileira adere algum tipo de padrão vegetariano.8 Estudos que estimam a pre-
valência de crianças brasileiras vegetarianas são escassos, mas pesquisas internacio-
nais apontam uma prevalência que varia entre 0,3 e 7,0%, dependendo da população
e do país de origem.9,10
Dietas vegetarianas e veganas bem administradas promovem diversos benefí-
cios à saúde, como redução do peso corporal, menor incidência de síndrome meta-
bólica ou diabetes, melhora da pressão arterial e dislipidemia, redução da incidência
de câncer e menor incidência e/ou mortalidade relacionada à doença isquêmica do
coração (indicando benefícios particulares para desfechos cardiovasculares).3
No entanto, uma dieta vegetariana, especialmente a vegana, também pode es-
tar relacionada a riscos à saúde, incluindo deficiências nutricionais, como a de vitamina
B12, zinco e ferro.3 Especialmente em crianças, que consomem dietas vegetarianas, tem
sido evidenciado riscos para deficiências nutricionais, o que tem sido um incentivo
para o estabelecimento de guias, posições e diretrizes nutricionais.11-14 Caso a dieta
vegetariana não esteja adequadamente equilibrada por diversidade, combinando ce-
reais com leguminosas, leite, ovos e alimentos enriquecidos, pode levar a deficiências
nutricionais específicas. Isto pode ocorrer principalmente nos primeiros 5 anos de vida
pelos requerimentos nutricionais relacionados à demanda metabólica inerente a esta
faixa etária (maior velocidade de crescimento físico e desenvolvimento neuropsicomo-
tor), que devem ser fornecidos pela alimentação.10

7
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

2. DEFINIÇÃO DE VEGETARIANISMO

A variação e/ou mesmo a dificuldade de estimar a prevalência de adultos e


crianças que aderem a uma dieta vegetariana pode ser devido a sobreposição das ver-
tentes deste tipo de dieta e da falta de padronização da terminologia. As orientações
e diretrizes definem estas dietas de acordo com o grau de restrição de produtos de
origem animal (carnes, peixes/frutos do mar, leites e derivados, ovos e mel). 8,11,13,14
A
Tabela 1 mostra as vertentes de vegetarianismo de acordo com os grupos de alimentos
excluídos e a possível redução de ingestão de nutrientes específicos.

Tabela 1. Vertentes do vegetarianismo de acordo com os grupos de alimentos excluí-


dos e a possível redução de nutrientes.

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*Carnes, peixes/frutos do mar, leites, ovos e mel.

a. Alguns pesco-vegetarianos não incluem ovos e produtos lácteos em sua alimentação.

b. O risco para ingestão insuficiente aumenta com o grau de restrição dietética e se certos alimentos à base

de plantas são evitados.

8
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

CARACTERÍSTICAS DAS DBP


Nas últimas décadas, as DBP têm recebido notório interesse por seu potencial
benefício à saúde humana e ambiente15. Alguns guias alimentares, como o Canadene16,
têm incluído em suas recomendações o incentivo à alimentos à base de plantas sem a
exclusão total de carnes e leite, mas incentivando o maior consumo de frutas, verduras e
legumes. Uma revisão sistemática sobre as definições e características de DBP15 verificou
que 50% dos estudos encontrados com a terminologia de DBP tendem a vetar o consu-
mo de produtos de origem animal e usam o termo de modo intercambiável com a dieta
vegana. Alternativamente, 33% dos estudos incluem produtos lácteos e 20% enfatizam
um padrão semi-vegetariano (ou flexitariano). Assim, frequentemente são encontradas
descrições incompletas dos estudos com DBP, o que faz com que haja dificuldade na
comparação e reprodutibilidade das pesquisas. Como consequência, é importante que
o termo “DBP” seja utilizado apenas em conjunto com uma descrição dietética detalha-
da. O Quadro 1 fornece um modelo padronizado sobre DBP, que poderá ser utilizado
para facilitar o processo de compreensão para profissionais, pesquisadores e outras par-
tes envolvidas. O modelo é adaptado da revisão sistemática de Storz (2021).15

9
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Quadro 1. Checklist para caracterização de dietas à base de plantas, quanto ao consu-


mo alimentar e risco de deficiência nutricional.
/ƚĞŵ ĂĚŽƐĚĂĚŝĞƚĂ
dieta ase plantas ŝŶĐůƵŝ:

□ Carne □ Frango □ Peixe/frutos do mar □ Ovos □ Mel

Se produtos animais foram inclu dos, com ual fre u ncia? specifi ue:

Descreva o potencial dos “aspectos dos alimentos integrais”.

□ ĨĂǀŽƌĞĐĞconsumo de produtos integrais/não processados

ZĞƐƚƌŝŶŐĞ: □ alimentos processados □ açúcar de adição □ óleos de adição

Restringe calorias ou tamanho das porções? □ Não □ Sim

Restringe ingestão de sódio □ Não □ Sim

em um o etivo na distri uição de macronutrientes

□ Não □ Sim - Qual:

tili a algum suplemento nutricional:

□ Não □ Sim- □ vitamina B □ vitamina D, □ cálcio □ iodina □ outros:

Rece e algum suporte ou supervisão durante a modificação diet tica:

□ Não □ Sim, □ instruções escritas □ sessões em grupos □ demonstrações


culinárias □ outros:

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

3. HISTÓRIA DO VEGETARIANISMO

A história do vegetarianismo tem sido preservada na maioria das culturas desde


os primórdios. Durante a antiguidade, o vegetarianismo é relatado por algumas im-
portantes personagens do mundo clássico, sendo a mais notável delas Pitágoras (580
AC). Os ensinamentos de que todos os animais devem ser tratados como parentes,
determina uma filosofia que entre outros hábitos, incluiria a abstinência da carne. As
ideias de Pitágoras espelham-se, em parte, pelas tradições das civilizações anteriores,
que incluem a Babilônia e o antigo Egito. A ideologia vegetariana havia sido praticada
entre grupos religiosos no Egito por volta de 3.200 AC com ausência de carnes e uso
de roupas derivadas de animais, baseado nas crenças cármicas de reencarnação.
Na tradição Grega de Pitágoras, não é somente o fato de evitar a crueldade
animal que estabeleceu o vegetarianismo como modo de vida. Pitágoras também ve-
rificou vantagens em uma dieta sem carne, pois identificava no vegetarianismo um
fator chave na coexistência humana pacífica, levando adiante a visão de que o abate
brutaliza a alma humana.
Os ideais pitagóricos são bastante limitados na simpatia dentro da brutalidade
da Roma Antiga, em que muitos animais selvagens foram assassinados nas mãos dos
gladiadores em nome do esporte e do espetáculo. Os pitagóricos eram desprezados
como subversivos, com muitos mantendo o vegetarianismo oculto por medo da per-
seguição. No entanto, o termo “pitagórico” se tornou sinônimo de “vegetariano” e
o vegetarianismo espalhou-se ao mundo por meio da expansão do Império Romano
entre os séculos III e VI com influência da filosofia neoplatônica.
Na Ásia, a abstinência da carne é central para certas filosofias religiosas como o Hin-
duísmo. O ponto principal é a doutrina da não-violência e respeito por todas as formas de
vida. Vegetarianismo tem sido central no Budismo, que consagra compaixão para todas as
criaturas vivas. O rei da Índia converteu-se ao Budismo, chocado por horrores da batalha e
o sacrifício animal foi finalizado quando o reinado se tornou vegetariano.
O início do Cristianismo trouxe ideias de supremacia humana sobre todas as
coisas vivas, porém grupos não ortodoxos romperam tais ideais. Praticado entre os
séculos III e X, o maniqueísmo foi outra filosofia contra a crueldade animal. Esses gru-
pos vegetarianos não-violentos foram atribuídos a práticas fanáticas, temidas, odiadas
e, frequentemente, perseguidos pela igreja. No entanto, dois notáveis vegetarianos
foram resgatados de um período de turbulência entre a igreja e esse movimento: São

11
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

David, o Santo Padroeiro de Gales, e São Francisco de Assis.


Durante o início do renascimento, a ideologia vegetariana foi um fenômeno
raro. A fome e a doença aumentaram conforme as colheitas falhavam e o alimento
era escasso. A carne era artigo de luxo, exclusivo para os mais ricos. Pensamentos
pitagóricos e neoplatônicos se tornaram novamente influentes na Europa. A redes-
coberta dos escritores clássicos incluiu a noção de que animais eram sensíveis a dor,
merecendo consideração moral. Com a conquista das novas terras, novos vegetais fo-
ram introduzidos na Europa, como as batatas, couve-flor e milho. Esses apresentavam
efeitos benéficos à saúde, ajudando prevenir, por exemplo, problemas de pele, e tais
crenças se espalharam rapidamente. Num cenário de gula e riqueza da Itália renascen-
tista, personagens como o nutricionista Cornaro (1465-1566) emergiu, bradando com
veemência críticas aos excessos prevalentes da cultura da época, e adotou a dieta
vegetariana. Outras personalidades importantes, como Leonardo Da Vinci (1452-1519),
também adotaram ideologias semelhantes em prol dos animais.
No século XVIII, durante o Iluminismo emergiu uma nova avaliação do lugar do
homem sobre a ordem da criação e com novo domínio científico da investigação sobre
o reino animal. As tentativas de René Descartes para desaprovar a existência da alma
dos animais trouxeram a vivissecção e o conceito do animal como máquina. Em contra-
partida, o filósofo Britânico John Locke deu voz a argumentos que animais eram cria-
turas inteligentes e valores morais foram traçados. Dentre as religiões houve um res-
surgimento da visão que o consumo de carne era uma aberração do desejo de Deus,
da natureza e humanidade. Diversos pensadores importantes ao Iluminismo adotaram
ideologias vegetarianas, como Voltaire e Rousseau, que se questionavam quanto aos
maus tratos de animais.
O século XIX foi caracterizado por uma diversidade cultural e de expressão. Hou-
ve a perspectiva humanista, a reforma religiosa, zelo social e médico e o espiritualismo
romântico. O nutricionista e físico da época, Dr. William Lambe (1765-1847) foi a figura
central com posição em ambos os mundos, médico e literário, que ajudou na fundação
da Sociedade Vegetariana.
A influência de clérigos politicamente ativos e reformistas contribuiu com a his-
tória da Sociedade Vegetariana. O ano 1809 marcou o início do movimento dentro
da igreja inglesa por meio do vegetarianismo como expressão de fé cristã, quando o
reverendo William Cowherd apontou referências bíblicas contra a ingestão de carne.
Nos Estados Unidos da América (EUA), este movimento foi iniciado por um político,

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Jonathan Wright, quando deixou a Inglaterra sob a ameaça do reinado para se juntar
ao seu cunhado Willian Metcalfe na Filadélfia. Em 1850, estabeleceu-se a Sociedade
Americana de Vegetarianismo.
A influência do cristianismo radical no século XIX originou o vegetarianismo na Grã-
-Bretanha e EUA, e, posteriormente em outros países. Representantes que se aventuraram
longe da Grã-Bretanha e comunidades vegetarianas eram evidentes, como por exemplo,
os Adventistas do 7º dia. Notável praticante dessa religião foi o Dr. John Harvey Kellogg,
pregador e fundador do processo industrial dos cereais matinais. Na década de 1880, res-
taurantes vegetarianos se tornaram populares, oferecendo refeições acessíveis e nutritivas.
A história do vegetarianismo seria incompleta sem mencionar a contribuição de
Mahatma Gandhi, que escreveu extensamente sobre esse tópico no século XX. Vege-
tarianismo foi o ponto central da sua vida, sendo plasmado pela vida ascética da sua
mãe, ideologia política e hinduísmo.
Devido a generalização da falta de alimentos durante a 2ª Guerra Mundial, os
britânicos eram encorajados a “cavar a vitória” e colher suas próprias frutas e verduras.
A dieta semi-vegetariana sustentou a população e a saúde dos britânicos melhorou
durante os anos de guerra. Em 1945, estimava-se a existência de 100.000 vegetarianos
no Reino Unido. Esse cenário atualmente é de cerca de dois milhões de pessoas. Em
seguida, na década de 50 e 60, o público geral se tornou amplamente preocupado
com a agricultura, que fora introduzida ao Reino Unido nos anos precedentes. O ve-
getarianismo também atraiu a contra-cultura em meados de 1960, à medida que as
influências orientais permearam a cultura popular ocidental. A década de 70 passou
sob uma atenção acadêmica em volta da ética do bem-estar animal, com o livro “Li-
bertação Animal” de Peter Singer em 1975, que debateu sobre o movimento contra a
experimentação em animais e agricultura.
Durante os anos 80 e 90, maior influência do vegetarianismo se deu por conta
do tema do impacto ambiental do homem na Terra. Problemas ambientais dominaram
as manchetes e estiveram em primeiro plano na política. Vegetarianismo foi visto como
parte do processo de mudança e conservação de recursos. Em meados de 1990, preo-
cupações reais com a saúde foram levantadas quando se percebeu que certos produtos
cárneos estavam infectados e causavam doenças como a doença da vaca louca, listeriose
e salmonelose. Desde os anos 1980, a consciência popular se tornou focada no “viver
saudável”. Consequentemente, o consumo de carne reduziu, e assim milhões de pes-
soas se tornaram vegetarianas no mundo ocidental, como alternativa promover saúde.

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

4. VEGETARIANISMO: COMPREENDENDO AS MOTIVA-


ÇÕES ATUAIS

Não são todos os vegetarianos ou àqueles que aderem DBP que são motivados
para evitar produtos animais, alguns podem apresentar certas aversões e limitações
ao consumo desses produtos. Os vegetarianos apresentam diferentes razões para a
sua adoção. Dentre elas, são frequentemente relatadas aversão a carne, crenças reli-
gio- sas, ações de sustentabilidade e preocupações com animais, saúde e ambiente.17
Outras razões também incluem o desejo para perder peso, preferencias ao sabor, eco-
nomizar dinheiro e interesses políticos.
Diferentes razões para a adoção das dietas abrangem o espectro das motiva-
ções, aversões e limitações, sendo cada uma definida por características distintas.18
As motivações vegetarianas dependem do grau de percepção das escolhas ali-
mentares individuais.18 A maioria dos vegetarianos enxergam suas escolhas alimenta-
res como benefício às vidas dos animais, melhoria para a sua própria saúde, combate
a degradação ambiental, ou por princípios religiosos. Esses exemplos representam
metas que estimulam os comportamentos alimentares.
Por outro lado, alguns vegetarianos relatam não gostar ou não aceitar o sabor
da carne considerando as razões para suas escolhas alimentares. Evidências têm mos-
trado que vegetarianos moralmente motivados apresentam elevado sentimentos de
desgostos à carne.18,19 A não aceitação e as preferências pelo sabor relacionadas aos
processos sensoriais constituem aversões ao estímulo ao invés de motivações. Essas
aversões não fornecem aos indivíduos senso de aspiração em suas escolhas alimenta-
res, e tão pouco significado de significância da vida além da dieta - duas características
concebidas de modo integral para as características de motivação vegetariana.
Por sua vez, limitações constituem um terceiro tipo de razão. Definido como bar-
reiras ambientais que inibem a habilidade individual para realizar livremente as esco-
lhas alimentares.18 Limitações se caracterizam pelas circunstâncias nas quais as pesso-
as realizam escolhas de alimentos vegetais, sem rejeitar uma oportunidade clara para
fazer o contrário. Neste cenário, os indivíduos são incapazes de delinear seus desejos
intrínsecos e metas futuras ao decidirem o que comer. Algumas pessoas adotam dietas
vegetarianas devido às limitações financeiras ou influência de amigos e familiares.

14
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

5. POTENCIAIS DEFICIÊNCIAS/EXCESSOS E REPERCURS-


SÕES NO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Macronutrientes e Energia
O tipo de vegetarianismo escolhido implica diretamente na quantidade e na
qualidade da oferta de macronutrientes. Quanto mais restrita a dieta, principalmente
com restrição total de alimentos de origem animal, maior risco de inadequação nutri-
cional. Na faixa etária pediátrica, a restrição de macronutrientes específicos pode com-
prometer o crescimento físico e o desenvolvimento neuropsicomotor. O risco de danos
irreversíveis tem levado sociedades de nutrição a não recomendar dietas veganas para
lactentes, crianças e adolescentes.20
Estudo alemão (VeChi Diet Study)21 comparou o padrão alimentar de energia
e proporção de macronutrientes entre três grupos de crianças com idade entre 1 e 3
anos (vegetarianas, veganas e onívoras). O consumo de carboidratos e fibras foi maior
no grupo vegetariano e vegano. Em relação à gordura, os veganos apresentam valor
energético total menor (30%), os vegetarianos e onívoros apresentaram valores signifi-
cantemente maiores (32,3% e 36,4%, respectivamente). O consumo de gordura satura-
da foi maior no onívoro comparado com os demais grupos e os veganos apresentaram
maior consumo de gorduras poliinsaturadas. Apesar do achado de algumas diferenças
estatísticas, não foi possível avaliar o impacto destas diferenças a médio e longo prazo.

Lipídios
Qualquer tipo de dieta vegetariana atinge a necessidade dietética diária de áci-
do graxos essencial ômega-6–ácido linoleico (LA - C18:2n6), pois há elevada variedade
de alimentos fontes como nozes, sementes, vegetais e óleos (soja, girassol e milho). No
entanto, o ácido graxo essencial ômega-3 – ácido linolênico (ALA - C18:3n3) não possui
muitas opções de alimentos fonte e óleos vegetais (soja, canola, linhaça, noz inglesa,
semente de cânhamo e chia).
O ácido graxo ômega-6 – ácido araquidônico (ARA - C20:6n6) pode ser consu-
mido via tecido muscular de animais, enquanto os ácidos graxos ômega-3 - ácido eico-
sapentaenoico (EPA- C21:5n3) e ácido docosahexaenóico (DHA - C22:6n3) são encon-
trados em peixes marinhos, como salmão, atum, cavala, bacalhau, sardinha e arenque.
Os dois ácidos graxos essenciais (ômega-6 e ômega-3) são dependentes das mesmas
enzimas (desaturases e enlongases) para produzir seus componentes bioativos ARA

15
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

(ômega-6) e EPA e DHA (ômega-3). Desta forma, ocorre competição substrato depen-
dente e risco de deficiência de ácidos graxos ômega-3, pois a maioria das dietas ve-
getarianas e veganas apresenta maior quantidade de ácidos graxos ômega-6, portan-
to a relação ômega-6/ômega-3 apresenta-se desequilibrada com maior produção de
ARA. Consequentemente, a baixa ingestão DHA e EPA acarreta baixas concentrações
teciduais, que podem estar relacionadas com fatores de risco de doenças crônicas
não transmissíveis.22 Mesmo com a adequada a ingestão de alimentos ricos em ácidos
graxos ALA, a conversão de ALA em EPA e DHA pode ser reduzida por características
genéticas e fatores epigenéticos além da competição enzimática por excesso de áci-
dos graxos da família ômega-6 (LA).23,24 Além disso, a ingestão de gordura trans inibe
síntese de ácido graxo longo ômega-3 (DHA) proveniente de ALA.25
Para manter a relação ômega-6/ômega-3 e favorecer a conversão de ALA em
DHA e EPA, deve-se restringir a ingestão de óleos ricos em ômega-6, gordura trans
(margarinas) e óleos de coco e palma (maior quantidade de gordura saturada).26 O
consumo de óleo de oliva parece não afetar a relação ômega-6/ômega-3, se utilizado
concomitantemente óleo fonte de ALA, como óleo linhaça, pois possui apenas ácido
graxo essencial ômega-6-LA (Quadro 2).27
Nas fases de crescimento acelerado, principalmente durante os primeiros mil
dias, sabe-se da importância dos ácidos graxos ômega-3 - DHA no desenvolvimento
estrutural neurológico, cognitivo e visual.28 Estudo indica elevada ingestão de LA e ALA
na dieta vegana de lactantes, mas baixo consumo de DHA e EPA.29 Comparando-se o
leite materno de mães vegetarianas e onívoras, observou-se maior quantidade de LA
e ALA, mas sem diferença na quantidade de ARA, EPA e DHA.30,31 Durante a gestação
e a lactação, recomenda-se suplementação de DHA, caso não ocorra o consumo de
quantidade de DHA por fonte alimentar. Recomenda-se que a lactante e gestante ve-
gana consuma microalgas como fonte DHA, mas a possibilidade de contaminação por
mercúrio e outros metais pesados deve ser verificada.32-34 Nos lactentes, não se deve
restringir o valor energético de gordura, que deve ser pelo menos 40% da ingestão
de macronutrientes, pois influencia o crescimento, mas se deve atentar quanto a re-
lação ômega-6/ômega-3.35 Durante a amamentação, com orientação nutricional ma-
terna adequada ou uso de fórmula infantil, o lactente está seguro quanto ao consumo
suficiente de gorduras ômega-3 no primeiro semestre de vida. Ao introduzir alimenta-
ção complementar, em vigência de aleitamento materno ou fórmula infantil, o lactente
deve receber duas porções por dia de alimentos ricos em ômega-3, com conteúdo res-

16
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

trito de fibra. Recomenda-se consumo de óleos ricos em ALA, como linhaça, canola e
soja (Quadro 2). Os grãos possuem quantidade de fibras elevadas, o que pode reduzir
a biodisponibilidade da gordura ômega-3.
Estudo com crianças finlandesas, com idade média de três anos e meio, identifi-
cou alta ingestão de ácido graxo ômega-3 - ALA e baixa concentração sérica de EPA e
DHA nas crianças veganas. Por outro lado, observou-se maior quantidade de colesterol
total, LDLc e HDLc em crianças onívoras e vegetarianas comparadas com as veganas.36

Quadro 2. Composição de ácidos graxos (%) em diversos tipos de óleos comestíveis.


MůĞŽƐ
il o
ĐŝĚŽƐ'ƌĂdžŽƐ
Oli il o Gi ol C o So So o e c i Go ell Li

l ico C16: 13 11 e e 13 11 1 11 4 9

e ico C18: 3 2 2 2- 2- 49 3 83 9

Oleico C18:1ω-9 1 28 19 13 19-3 o 2 19 1 9 2 1 18

LA C18:2ω-6 1 8 68 8 48-6 1 -3 4 3 18 8 46 16

ALA C18:3ω-3 1 1 1 1 o 9 e 1 28 4 3

GLA C18:3ω-6 A A A A A o 22 1 11 A A

SDA C18:4ω-3 A A A A A 1 -3 1 12 A A

NA: sem referência (valores muito baixos para mensurar); T: Transgênico; ω-3: ômega-3; ω-6: ômega-6; ω-9: ômega-9.

LA: ácido linoleico; ALA: ácido linolênico; GLA: ácido gama linoleico; SDA: ácido estearônico.

Fonte: Baker EJ et al. (2016).24

Proteinas
A quantidade de aminoácidos essenciais em única fonte proteica animal é maior
do que a encontrada em fontes vegetais, como os cereais que não possuem lisina na
sua composição proteica (Quadro 3).
Nas dietas veganas, as principais fontes vegetais proteicas são feijão, grãos, no-
zes, sementes e vegetais de folhas verdes. Elas possuem 20 aminoácidos, inclusive os
9 essenciais.37 Por isso, alguns autores defendem que soja e seus derivados, pseudoce-
reais (trigo sarraceno, quinoa e amaranto), tremoço, espinafre e sementes de cânhamo
possuem a proporção de aminoácidos essenciais semelhantes as fontes animais.38,39
O aminoácido essencial lisina não está presente em quantidade suficiente em fon-

17
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

te alimentar de grãos (arroz), assim como os aminoácidos sulfurados (metionina e ciste-


ína) também não atingem a necessidade diária nas leguminosas (feijão). A dificuldade
de atingir a necessidade de lisina ocorre principalmente nas dietas veganas, pois a fonte
proteica consumida é originaria apenas de cereais. Tais características dificultam o alcan-
ce das recomendações de ingestão diária de aminoácidos essenciais.
Além disso, a proteína de origem vegetal possui 10 a 30% menor digestibilidade
do que a proteína animal (Quadro 3).40,41 Baseando-se no método de escore de ami-
noácido corrigido pela digestibilidade proteica (PDCAAS),42 a quantidade de ingestão
proteica diária na dieta vegetariana acrescentaria 12 a 15 g por dia para ficar idêntico a
dieta do adulto onívoro, 1,0 g/Kg de peso corporal.43 A quantidade proteica deve ser
por volta de 12,5% do valor energético total.44

Quadro 3. Percentual de escore de aminoácido corrigido pela digestibilidade proteica


(PDCAAS) em diferentes fontes proteicas.
&ŽŶƚĞƉƌŽƚĞŝĐĂ W^;йͿ ŵŝŶŽĄĐŝĚŽƐ>ŝŵŝƚĂŶƚĞƐ

KǀŽ ϭϭϴ
>ĞŝƚĞĞƋƵĞŝũŽƐ ϭϮϭ
ĂƌŶĞĞƉĞŝdžĞ ϵϮ ŵŝŶŽĄĐŝĚŽƌĂŵŝĨŝĐĂĚŽ
^ŽũĂ ϵϭ DĞƚŝŽŶŝŶĂĞĐŝƐƚĞşŶĂ
DŝůŚŽ ϱϮ >ŝƐŝŶĂ
ƌƌŽnj ϰϰ >ŝƐŝŶĂ
dƌŝŐŽ ϰϮ >ŝƐŝŶĂ

Fonte: Van Winckel, M et al. (2011).42

As necessidades proteicas durante os primeiros anos de vida variam entre 1,2 e


2,2 g/kg/dia, sendo maiores nos lactentes mais jovens. Segundo as Recomendações
de Ingestão Dietética (RDA), a oferta proteica deve ser 20% maior em crianças abaixo
de dois anos e 10 a 15% em crianças 2 a 6 anos para ajuste da qualidade de aminoá-
cidos em dieta vegana com múltiplas fontes vegetais proteicas. Em crianças maiores,
a necessidade proteica diária é menor, necessitando apenas pequenos ajustes. Se o
consumo proteico for proveniente de fontes vegetais com 85% de digestibilidade, a
quantidade proteica deve ser acrescida de 10 a 15%. Nesta situação em crianças me-
nores de dois anos e entre dois e 6 anos, o acréscimo deverá ser de 30 a 35% e de 20 a

18
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

30%, respectivamente (Quadro 4).45


Os leites derivados de fonte vegetal não têm a mesma qualidade nutricional que
os derivados lácteos, acarretando risco de desnutrição e deficiência de micronutrientes
em crianças, principalmente lactentes. Estes produtos devem ser denominados bebi-
das de fonte vegetal. As fórmulas infantis de fonte vegetal, protegidos pela legislação
do CODEX, obrigatoriamente são enriquecidos com metionina e outros micronutrientes.
A utilização de proteínas de fonte vegetal como tofu (soja prensada), tempeh (grão de
soja fermentado) e seitan (extrato de gluten/ trigo processado) não substituem a quali-
dade proteica da fonte animal, nem sua capacidade de ofertar certos micronutrientes.
Em um estudo com 40 crianças finlandesas em creches com idade média de 3
anos e meio em dieta vegetariana, vegana ou onívora supervisionada por nutricionis-
tas, observou-se que o percentual do valor energético total (VET) proteico em crianças
veganas e vegetarianas variavam em 10 a 16%, que atende às recomendações nutricio-
nais finlandesas.46 Estudo metabolômico avaliou os aminoácidos essenciais circulantes
e verificou que a quantidade destes aminoácidos era mais baixa nas crianças veganas
comparadas àquelas onívoras, principalmente os aminoácidos de cadeia ramificada.35

Quadro 4. Recomendação de ingestão proteica em crianças veganas e não veganas.

WƌŽƚĞşŶĂƉĂƌĂ WƌŽƚĞşŶĂƉĂƌĂŶĆŽ
/ĚĂĚĞ;ĂŶŽƐͿ WĞƐŽ;<ŐͿ WƌŽƚĞşŶĂ;Őͬ<ŐͿ
ǀĞŐĂŶŽƐ;ŐͿ ǀĞŐĂŶŽƐ;ŐͿ

ϬϭͬĨĞǀ ϭϭ ϭ͕ϲͲϭ͕ϳ ϭϴͲϭϵ ϭϯ


ϬϮͬŵĂƌ ϭϯ ϭ͕ϰͲϭ͕ϲ ϭϴͲϮϭ ϭϲ
ϬϰͬũƵŶ ϮϬ ϭ͕ϯͲϭ͕ϰ ϮϲͲϮϴ Ϯϰ
ϬϳͬŽƵƚ Ϯϴ ϭ͕ϭͲϭ͕Ϯ ϯϭͲϯϰ Ϯϴ
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DĞŶŝŶŽƐ ϰϱ ϭ͕ϭͲϭ͕Ϯ ϱϬͲϱϰ ϰϱ
DĞŶŝŶĂƐ ϰϲ ϭ͕ϭͲϭ͕Ϯ ϱϭͲϱϱ ϰϲ
ϭϱͲϭϴ
DĞŶŝŶŽƐ ϲϲ ϭ͕ϬͲϭ͕ϭ ϲϲͲϳϯ ϱϵ
DĞŶŝŶĂƐ ϱϱ Ϭ͕ϵͲϭ͕Ϭ ϱϬͲϱϱ ϰϰ

Fonte: Messina V, Mangels AR (2001).46

19
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Fibras
Os alimentos vegetais são ricos em fibras. As fibras solúveis são fermentadas
pelas bactérias acarretando efeitos benéficos à saúde, mas fibras insolúveis são com-
ponentes não digeríveis pelas enzimas do sistema digestivo e, consequentemente au-
mentam volume do bolo alimentar.39
Em fases de crescimento acelerado, como nos primeiros anos de vida, crianças
veganas podem consumir até três vezes mais fibras do que o recomendado. No estô-
mago, as fibras insolúveis interferem na absorção de proteína e gordura, acarretando
redução da densidade energética das refeições e aumento da saciedade.47-49 Além dis-
so, a maior quantidade de fibras na alimentação pode reduzir a biodisponibilidade de
alguns micronutrientes e, consequentemente, comprometer o adequado crescimento
físico e desenvolvimento neuropsoicomotor.39
As refeições de crianças veganas, principalmente do lactente, devem ser con-
troladas na quantidade de fibras. Alimentos sem fibras, como tofu, iogurte de soja,
algumas frutas e legumes devem ser preferidos.39 Recomenda-se a ingestão diária de
0,5 g/kg de fibra alimentar ou segundo a fórmula: idade em anos + 5 = quantidade de
fibras em gramas (máximo de 25 gramas).12

Micronutrientes: minerais (ferro, zinco, cálcio e iodo) e vitaminas (A, B2, B9, B12 E D)
As vitaminas e os minerais são os principais representantes dos micronutrientes,
que são definidos como elementos essenciais ao bom funcionamento do organismo,
requeridos em pequenas quantidades e ingeridos na alimentação diária.
Os minerais são amplamente encontrados na natureza e participam de impor-
tantes processos orgânicos. Aqueles com concentrações superiores a 0,01% do peso
corpóreo são denominados macrominerais (p.ex., cálcio, magnésio e fósforo) e aque-
les com concentração corpórea igual ou abaixo deste valor são denominados ele-
mentos-traço ou oligoelementos (p.ex., ferro, sódio, cloro, cobre, selênio, potássio,
cromo, manganês, zinco, flúor e iodo). Por sua vez, as vitaminas têm grande atividade
biológica e atuam como coenzimas e antioxidantes. Elas são classificadas quanto a sua
solubilidade em lipossolúveis (A, D, E, K) e hidrossolúveis (Complexo B e C). Embora al-
gumas de suas ações não sejam muito bem reconhecidas, estes micronutrientes estão
relacionados a inúmeras atividades metabólicas corporais.50-52
São muitos os fatores que influenciam as necessidades dietéticas de micronu-
trientes e podem determinar estados de carência ou excesso: a biodisponibilidade, a

20
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

capacidade de armazenamento, as fases da vida (infância, adolescência, gravidez), os


hábitos e os estilos de vida, a ocorrência de doenças (ex. erros inatos do metabolismo
e síndromes de má absorção) e a interação com medicamentos. Dentre os hábitos ali-
mentares, a opção pelo vegetarianismo em suas diversas formas resultará em maior ou
menor ocorrência de determinadas deficiências de nutrientes, sobretudo, a depender
da variabilidade dos grupos alimentares consumidos.12,53
Dados sobre as consequências da dieta vegetariana em crianças são escassos e
heterogêneos, com pequenos tamanhos amostrais. Os micronutrientes (minerais e vi-
taminas) que geram maior preocupação pela possibilidade de deficiência em crianças
vegetarianas são o ferro, zinco, cálcio, iodo e vitaminas A, B2, B9, B12 e D.10,53,54

Ferro
A deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia na infância, proporciona-
da principalmente pela sua ingestão insuficiente para suprir a demanda requerida pela
síntese da hemoglobina e eritrócitos.55,56 O ferro é um nutriente essencial para vários
processos metabólicos no organismo, como a transferência de elétrons, metabolismo
oxidativo, produção de energia, função mitocondrial, replicação e reparo de ácidos
nucléicos e produção de neurotransmissores.57,58
Este mineral existe em dois estados oxidativos estáveis: a forma ferrosa (Fe++) ou
heme e a forma férrica (Fe+++) ou não heme, que são absorvidos por mecanismos dife-
rentes e apresentam biodisponibilidades distintas. A forma férrica deve ser convertida
na luz intestinal para sal ferroso, a fim de ser absorvida. Essa conversão é facilitada por
fatores endógenos, como a presença do ácido clorídrico, ou por constituintes da dieta
considerados fatores facilitadores como ácido ascórbico, frutose, citrato, carotenoides,
alguns aminoácidos (cisteína, lisina e histidina) e vitamina A.
A absorção do ferro não heme pode ser prejudicada pela presença de fatores
inibidores, como fitatos (ou ácido fítico), presentes nos cereais (aveia, farelos de trigo e
arroz) e sementes de leguminosas, sais de cálcio e fósforo, presentes nos hidrolisados
proteicos da soja e nas proteínas do leite e do ovo (fosfoproteína), compostos fenólicos
(flavonóides, ácidos fenólicos e tanino) presentes nos vegetais, na cebola e nas bebidas
como achocolatados, chás, cafés e refrigerantes.
Em resumo, o ferro heme deriva da hemoglobina, mioglobina e outras hemepro-
teínas presentes em alimentos de origem animal, especialmente nas carnes, vísceras,
aves e peixes. Esta forma tem elevada biodisponibilidade (10 a 30% de absorção) e não

21
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

é influenciada por fatores inibidores. O ferro não heme, de baixa biodisponibilidade (1


a 7% de absorção), está presente principalmente em alimentos de origem vegetal e sua
absorção sofre influência de fatores facilitadores e inibidores.50 Desta forma, as crianças
em dietas vegetarianas são consideradas de risco para deficiência de ferro.59
A carência nutricional de ferro é a mais prevalente no mundo e mais comum na
criança vegetariana, mas a anemia por deficiência de ferro não é maior em crianças
vegetarianas do que em onívoros, embora os estoques de ferro tendam a ser mais
baixos.60 Os valores de hemoglobina nos vegetarianos têm sido encontrados similares
aos não vegetarianos, em particular nos lacto-vegetarianos. Os dados hematológicos
sobre a saturação de transferrina, ferritina sérica e ferro sérico e hemoglobina nas crian-
ças que seguem dieta vegana não são significantemente distintos dos lacto-vegeta-
rianos.61 No entanto, estudo de 2021 mostrou maior prevalência de ferritina baixa e
anemia por deficiência de ferro em crianças veganas de 5 a 10 anos de idade, quando
comparadas às vegetarianas e onívoras.62 Da mesma forma, o VeChi Youth Study (2021)
encontrou concentrações significantemente mais altas de ferritina em crianças e ado-
lescentes alemães onívoras do que em vegetarianas e veganas.21
Embora as dietas vegetarianas potencialmente apresentem risco de deficiência de
ferro, há dificuldades em se comparar as publicações a respeito do estado de ferro da
população que as consome, em virtude das diferentes definições das dietas, dos diversos
pontos de corte para estimar a deficiência e do uso de distintos marcadores de avaliação.54
Revisão de literatura, em 2017, sobre o status de ferro em crianças vegetarianas
evidenciou ampla variação da prevalência de deficiência de ferro, de 4,3% em um estudo
a 73% com ferritina <10 mcg/L em outro. Da mesma forma, os dados de hemoglobina
demonstraram ampla variação, de 0% de crianças com hemoglobina <11g/dL a 47,5%
com hemoglobina abaixo do percentil 3. Estas variações foram consistentes tanto em
estudos realizados em países industrializados quanto em países em desenvolvimento.63
Uma vez que as fontes vegetais de ferro são menos biodisponíveis, é recomendá-
vel que a ingestão de ferro por estas crianças seja 1,8 a 2 vezes maiores do que a das oní-
voras.12,64 Fitatos, proteínas da soja/taninos podem inibir a absorção de ferro, enquanto
vários nutrientes, incluindo vitamina C, retinol e carotenos, podem aumentar a absorção
de ferro não-heme. Métodos de preparo, como o feijão de molho antes de cozinhar e
fermentar a proteína da soja (exemplos, missô e tempeh) podem reduzir o teor de fitato
destes alimentos e melhorar a biodisponibilidade do ferro.12,64,65 Podem ser consideradas
boas fontes alternativas para crianças vegetarianas: soja cozida, tofu, legumes cozidos,

22
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

lentilhas, grão de bico, abóboras secas, sementes de abóbora, castanha de caju, semen-
tes de girassol, tahine, cereais fortificados, batatas assadas (incluindo pele).66
Em conjunto, tais medidas podem fornecer quantidade suficiente de ferro bio-
disponível na dieta. Porém, parte dos vegetarianos é contrário ao uso de alimentos
processados e preferem o consumo de alimentos crus e não refinados, o que pode le-
var a deficiência de ferro, pois, embora em maior quantidade, o ferro desses alimentos
tem menor biodisponibilidade.54,61
Crianças vegetarianas devem ser avaliadas de forma habitual sobre o seu estado
de ferro que, na prática, se faz pela determinação da hemoglobina, ferritina sérica,
ferro sérico, transferrina e saturação da transferrina.54 Marcadores mais recentemente
utilizados incluem a determinação do receptor solúvel da transferrina (sTfR), que não se
modifica diante processos inflamatórios, e a determinação da hepcidina.54,67
Em 2017, estudo na Polônia com crianças pré-púberes de 5 a 9 anos de idade,
onívoras e vegetarianas, observou ingestão de ferro semelhante entre os grupos, assim
como os parâmetros hematológicos, níveis de transferrina e as concentrações de ferro
sérico estiveram dentro da faixa de referência em ambos. No entanto, as concentra-
ções de ferritina foram significantemente menores nos vegetarianos.67

Zinco
O zinco participa de diversos processos enzimáticos, sendo componente essen-
cial de enzimas responsáveis pelo equilíbrio metabólico. Por promover rápido turnover
celular, é essencial ao crescimento, particularmente em tecidos como ossos, pele e
cabelo.50-52 Sua ação biológica no crescimento, no desenvolvimento cognitivo, na repa-
ração tissular e na replicação celular torna o elemento de grande importância para o
organismo, particularmente para o sistema imunológico.50,68
O zinco tem função estrutural, enzimática e reguladora, sendo necessário para
síntese proteica, replicação de ácidos nucleicos, divisão celular, metabolismo da so-
matomedina, modulação da prolactina, ação da insulina e hormônios do timo, tireoide,
suprarrenal e testículos. É essencial para o funcionamento de linfócitos e fibroblastos,
tornando-o importante na imunidade e cicatrização.50,54,68
A deficiência adquirida habitualmente se associa a níveis baixos de zinco ao nasci-
mento, perdas durante episódios de doença diarreica, fases do crescimento com elevada
demanda, práticas inadequadas da alimentação complementar e uso de dietas vegetaria-
nas com baixa biodisponibilidade.68 Os sinais de deficiência incluem retardo de crescimento,

23
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

susceptibilidade a infecções, alopecia, diarreia, lesão ocular e de pele e perda do apetite.65


O aleitamento materno exclusivo proporciona quantidades adequadas de zinco
até o 6° mês de vida do lactente e a partir daí deve ser consumido na alimentação com-
plementar.65 As principais fontes alimentares de zinco são carnes, ovos, leite e crustáce-
os.50-52 As principais fontes vegetais (cereais e grãos), apresentam quantidades menores
deste mineral e são ricos em fitatos, que prejudicam sua biodisponibilidade.64 Os grãos
germinados (menor teor de fitato) e cereais fortificados são fontes com maior biodispo-
nibilidade.54,65 A proteína animal aumenta a biodisponibilidade do zinco.68
Boas fontes vegetais de zinco alternativas para as crianças vegetarianas são: soja
(cozida ou torrada), tofu, carnes vegetarianas fortificadas, feijões cozidos, lentilhas, fei-
jão marinho, sementes de abóbora, castanha de caju, sementes de girassol torradas,
cereais fortificados, ervilhas cozidas.66 No Quadro 5, encontra-se o teor de zinco em
alguns alimentos vegetais crus ou torrados.
Quanto a quantidade, a ingestão de zinco dos lactentes e crianças pré-escolares
vegetarianas é semelhante às crianças onívoras da idade similar.54 Diferenças na inges-
tão de zinco entre crianças vegetarianos e onívoras são consideradas insignificantes,69
embora haja alguma evidência de concentrações séricas de zinco mais baixas em ado-
lescentes.70 Devido a menor biodisponibilidade, os requerimentos de zinco podem ser
50% maiores em vegetarianos estritos.71
Em revisão de literatura (2015), Foster & Samman observaram que vegetaria-
nos adultos têm menor ingestão alimentar e menores concentrações séricas de zinco,
quando comparados com grupos controle não vegetarianos. No entanto, em idosos,
crianças e em mulheres durante a gravidez e lactação, não há evidências suficientes
para determinar se a ingestão e o status do zinco são menores em vegetarianos do que
em onívoros. Inconsistências nos resultados do estudo refletem variações inerentes à
definição de dietas vegetarianas e aos pequenos tamanhos da amostras.72

24
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Quadro 5. Teor de zinco em alguns alimentos vegetais.

ůŝŵĞŶƚŽ dĞŽƌĚĞnjŝŶĐŽĞŵŵŐ;ĞŵϭϬϬŐĚĞĂůŝŵĞŶƚŽͿ

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ŵġŶĚŽĂƚŽƌƌĂĚĂ Ϯ͕ϲ

Fonte: SBP (2018).65

Cálcio
O cálcio constitui aproximadamente metade do conteúdo mineral do corpo. Os
ossos e dentes, principais reservatórios corporais, são formados na sua quase totalidade
por sua forma orgânica. Este mineral tem várias funções fisiológicas essenciais, sobretu-
do ligadas ao crescimento, assim como a muitos processos incluindo coagulação san-
guínea, comunicação celular, exocitose, endocitose, contração muscular e transmissão
neuromuscular. Sua ingestão adequada é essencial para o aumento da massa óssea e
diminuição do risco de fraturas na adolescência e de osteoporose na senilidade.12,50,51,73
Dietas com teores inadequados de cálcio ou o comprometimento da capacidade
de absorção por tempo prolongado podem levar a alterações do crescimento e sintomas
de raquitismo semelhantes àqueles associados à deficiência de vitamina D em crianças.50,74|
O leite e os derivados são a principal fonte de cálcio. Vegetais folhosos verde es-
curos, algumas frutas e oleaginosas também são fontes do mineral, no entanto, pela bai-
xa biodisponibilidade, não são considerados como substitutos adequados dos alimentos
lácteos.50,51 A presença de oxalatos (encontrados em frutas, vegetais, legumes e grãos)
e fitatos (encontrados em cereais com alto teor de fibra, legumes e sementes) na dieta
reduz a biodisponibilidade do cálcio.64,66. Apesar disso, há boas fontes vegetais de cálcio:
brócolis, repolho, couve, nabo, quiabo, produtos fortificados de soja (bebidas à base de
soja, iogurtes, tofu, tempeh), cereais fortificados, figo seco, amêndoas, tahine com ger-

25
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

gelim.65,66. Neste caso, a orientação específica por profissionais de nutrição é importante,


especialmente em grupos com hábitos vegetarianos mais estritos.
Não existem estudos suficientes que avaliem a massa óssea em crianças com
dietas vegetarianas.53 No entanto, estudo publicado em 2019 demonstrou que crianças
polonesas pré-púberes vegetarianas tiveram escores Z de densidade mineral óssea
total e de coluna lombar significantemente menores do que crianças onívoras.75 Nos
Estados Unidos, os dados do National Health and Nutrition Examination Survey (2001-
2008) mostraram que a ingestão de cálcio e vitamina D de alimentos e suplementos
dietéticos não estavam relacionados ao status vegetariano.76 No entanto, a ingestão de
cálcio pelos vegetarianos estritos tende a ser mais baixa do que nos lacto-vegetarianos
e não vegetarianos, já que não consomem leite e derivados como queijos e iogurtes,
que são boas fontes deste mineral.66
Em resumo, devido às diferenças mencionadas na quantidade de cálcio ingerido
e na biodisponibilidade, os vegetarianos devem consumir em torno de 20% a mais dos
requerimentos de cálcio e incluir alimentos fortificados na dieta.54 A criança vegana que
não consome alimentos com boa fonte e em quantidades adequadas para suprir as ne-
cessidades diárias deve receber suplementação, preferencialmente entre as refeições,
para melhor absorção, pois dificilmente os requerimentos diários são cobertos sem a
ingestão de leite e derivados.12,54,65
Revisão sistemática de 2020 demonstrou que mães bem nutridas não vegetaria-
nas, vegetarianas e veganas produzem leite materno de valor nutricional comparável.
Independentemente das escolhas dietéticas, a nutrição adequada tem impacto signifi-
cativo na composição do leite humano e mães vegetarianas e veganas que recebem
suplementação apropriada para suas necessidades de lactante são capazes de produ-
zir leite nutricionalmente valioso para seus filhos, sem diferenças significantes quanto a
composição de cálcio, quando comparadas às onívoras.77
Na impossibilidade do aleitamento materno, fórmulas infantis à base de proteí-
na isolada de soja (para lactentes maiores de 6 meses) ou proteína hidrolisada de arroz
enriquecidas com cálcio são alternativas. Nas fórmulas encontradas no Brasil, o teor
de cálcio varia de 54 a 93 mg/100 ml. Bebidas à base de extrato de soja ou de arroz ou
de amêndoas não são recomendadas devido ao perfil inadequado de nutrientes.12,65.
O Quadro 6 apresenta o teor de cálcio e sua biodisponibilidade em alguns alimentos
vegetais, comparado ao leite.12

26
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Quadro 6. Teor e biodisponibilidade de cálcio em alguns alimentos vegetais.

dĞŽƌĚĞĐĄůĐŝŽĞŵŵŐ;ϭϬϬŐĚĞ
ůŝŵĞŶƚŽ ŝŽĚŝƐƉŽŶŝďŝůŝĚĂĚĞ;йͿ
ĂůŝŵĞŶƚŽͿ

&ĞŝũĆŽďƌĂŶĐŽ ϮϰϬ Ϯϭ͕ϴ

ŽƵǀĞ ϭϳϳ ϰϵ͕ϯ

dŽĨƵ ϴϭ ϯϭ

ƌſĐŽůŝƐĐŽnjŝĚŽ ϱϭ ϲϭ͕ϯ

>ĞŝƚĞ ϭϯϬ ϭϬϬ

Fonte: SBP (2017).12

Iodo
O iodo é componente essencial na formação dos hormônios tireoidianos tiro-
xina (T4) e tri-iodotiroxina (T3). Peixes e outros animais marinhos são boas fontes do
mineral. O teor de iodo nos alimentos é variável e dependente das características do
solo. A principal fonte de iodo na nutrição é o sal de cozinha enriquecido, iniciativa
isolada de maior eficácia na prevenção da sua carência.51,52,78
Sal iodado, vegetais marinhos e alguns alimentos à base de cereais são a melhor
fonte de iodo para os veganos. Laticínios e gemas de ovo são opções nas demais die-
tas vegetarianas. As algas marinhas comestíveis podem ser uma importante fonte de
iodo. No entanto, como seu conteúdo é altamente variável, assim como o de arsênico,
devem ser usados com cautela em lactentes e crianças pequenas.53
Lightowler et al. (1996) afirmaram que um número limitado de estudos foi realiza-
do com iodo e dieta vegetariana. Os resultados desses estudos indicam que os vega-
nos não estão apenas em risco de baixa ingestão de iodo, mas também de consumos
excessivos, especialmente se assumem alguma forma de suplemento dietético. Investi-
gações sobre o conteúdo de iodo de dietas veganas e as consequências em curto, mé-
dio e longo prazo da deficiência e toxicidade ainda são escassas.78 Mais recentemente,
estudo realizado na Noruega e publicado em 2018, avaliando crianças, adolescentes,
grávidas, idosos, lacto-ovo-vegetarianos e veganos, demonstrou ingestão inadequada
de iodo em idosos, grávidas, mulheres em idade fértil e veganos. Crianças em geral
tiveram a maior probabilidade de ingestão adequada de iodo (82%) enquanto as vega-
nas apresentaram o menor percentual (14%).79

27
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Vitamina A
A vitamina A atua na formação e crescimento dos tecidos, na construção óssea, no
desenvolvimento embrionário, na diferenciação das células do sistema imune, na forma-
ção de glicoproteínas e como componente do ciclo visual. Sua deficiência causa proble-
mas na visão, hiperqueratose folicular, prejuízo na imunidade e no crescimento físico.80
Nos alimentos de origem animal, a vitamina A está presente na forma de retinol,
um composto de alta biodisponibilidade. Já em alimentos de origem vegetal, podem-se
encontrar os carotenoides, que são precursores da vitamina A que devem ser hidrolisa-
dos a retinal e convertidos em retinol para serem utilizados pelo organismo. Estes com-
postos, presentes em vegetais e frutas alaranjados e vegetais verde-escuros, podem ser
convertidos em vitamina A em pequenas quantidades e, por serem compostos lipossolú-
veis, dependem da ingestão concomitante de lipídios para serem absorvidos.80
Apesar do risco de deficiência, uma dieta vegana bem balanceada e com boa
ingestão de vegetais e frutas alaranjadas potencialmente atinge as recomendações de
ingestão necessárias para atender a demanda metabólica.

Vitamina B2
A riboflavina ou vitamina B2 é uma vitamina hidrossolúvel e estável ao calor, que
auxilia na metabolização dos lipídeos, proteínas e carboidratos em glicose para fonte
de energia. Atua como um antioxidante para o funcionamento adequado dos sistemas
imunológico e nervoso, na manutenção da integridade de mucosas, pele e olhos, e
auxilia no desenvolvimento físico e na reprodução.80
São excelentes fontes de riboflavina: leite, produtos lácteos, ovos, carnes (especial-
mente miúdos) e peixes gordurosos. Os cereais integrais, feijões e certas frutas e vegetais
verde-escuros também contêm concentrações relativamente altas, embora tenham menor
quantidade de riboflavina livre, forma que é absorvida no intestino delgado.80
A microbiota do intestino grosso produz vitamina B2, que pode ser aproveitada
pelo organismo humano. No entanto, mudanças na sua composição podem afetar se-
veramente nossas necessidades dietéticas, uma vez que grande parte desta vitamina
produzida na luz intestinal pode ser absorvida pelos microrganismos intestinais não
produtores, que competem com o hospedeiro.81
Dessa forma, mesmo uma criança em dieta vegana potencialmente não apresentará defici-
ência de riboflavina se receber uma dieta que contenha alimentos com esta vitamina na sua compo-
sição, que seja equilibrada e que efetivamente promova uma microbiota intestinal saudável.

28
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Vitamina B9 (ÁCIDO FÓLICO)


A deficiência de folato afeta os parâmetros sanguíneos: anemia megaloblástica,
contagem de leucócitos diminuída, ferro sérico aumentado, haptoglobina (alfa 2-gli-
coproteína) sérica diminuída, lactato desidrogenase elevada e bilirrubina não conjuga-
da ligeiramente elevada. No entanto, não há déficits neurológicos conhecidos, como
ocorrem na deficiência de cobalamina. Por outro lado, os estoques de folato são sig-
nificativamente vmenores (5 a 10 mcg) do que os estoques de cobalamina e, portanto,
uma dieta deficiente em folato pode levar à anemia megaloblástica em apenas 4 a 5
meses, ao contrário de vários anos no caso da cobalamina.82
Apesar de que miúdos, fígado e peixes sejam alimentos que fornecem ácido
fólico, esta vitamina está presente em diversos outros alimentos de origem vegetal,
como espinafre, feijão branco, aspargos, verduras de folhas escuras, couve de bruxe-
las, soja e derivados, laranja, melão, maçã, brócolis, gérmen de trigo, salsinha, beter-
raba crua e amendoim. Tal característica minimiza o risco de deficiência de vitamina B9
nas dietas vegetarianas/veganas.
Contrariamente a esta possibilidade, um estudo, realizado em 2006, mostrou esta-
do de folato significativamente mais favorável em crianças veganas, entre dois e 10 anos
de idade, em comparação com crianças vegetarianas e onívoras.83 Assim, não é consenso
na literatura que indivíduos veganos apresentem deficiência de ácido fólico.14,82,84

Vitamina B12
A vitamina B12 é um nutriente crítico em potencial, porque fontes naturais dessa
vitamina são alimentos de origem animal. Apesar de poder ser encontrada em algumas
algas ou fungos, tem biodisponibilidade limitada. Cerca de 2.000 mcg podem ser ar-
mazenados no fígado, porém essa reserva dura apenas alguns anos, sendo insuficiente
para suprir as necessidades por um longo período de vida. A biodisponibilidade de
absorção no intestino delgado varia entre 10 e 60%, sendo maior quando essa vitamina
é ingerida em pequenas quantidades e de forma fracionada.9,80,85
Na deficiência de vitamina B12, pode ocorrer anemia megaloblástica, elevação
dos níveis de homocisteína (fator de risco à saúde cardiovascular), fraqueza, prejuízo
de raciocínio, irritabilidade e desmielinização. Sabe-se também, que a alta ingestão
de ácido fólico pode mascarar os sintomas da deficiência de vitamina B12. Assim, a
investigação pode ser feita por meio dos níveis de homocisteína, ácido metilmalônico
e holotranscobalamina II.85

29
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

A American Dietetic Association e a Dietitians of Canada recomendam suple-


mentação ou uso de alimentos fortificados com vitamina B12 para todos os vegetaria-
nos.64 Recomenda-se, em geral, que todos os vegetarianos, independentemente do
tipo de dieta vegetariana, devem ser rastreados para deficiência de vitamina B12.9
Se a população for desfavorecida economicamente, é maior a possibilidade da
deficiência de vitamina B12, como no ensaio clínico randomizado de Sheng X et al.
que avaliou o estado da vitamina B12 e o nível cognitivo em lactentes com 18 meses.
Eles evidenciaram que lactentes que tinham recebido cereal fortificado tinham me-
nos deficiência e que a concentração de vitamina B12 foi correlacionada positivamente
com escores cognitivos.86 Umasanker S et al., avaliando crianças indianas, salientaram
a necessidade de se investigar deficiência de vitamina B12 em crianças com atraso no
desenvolvimento, especialmente naquelas em condições socio-econômicas desfavore-
cidas e/ou em dietas vegetarianas.87
A maioria dos lactentes em aleitamento materno tem suprimento suficiente, des-
de que a mãe não seja deficiente, como pode acontecer com mães vegetarianas. Nes-
tes casos, os sintomas e sinais de deficiência de vitamina B12 aparecem entre as idades
de 2 a 12 meses e incluem vômitos, letargia, deficiência de crescimento, irritabilidade,
hipotonia e parada ou regressão das habilidades de desenvolvimento. Outros achados
comuns incluem palidez, glossite, diarreia e icterícia.9,88 Como os sintomas neurológicos
são inespecíficos, geralmente é realizado um exame de ressonância magnética do cére-
bro para descartar causas primárias de atraso no desenvolvimento neurológico. Achados
relacionados à atrofia cerebral são geralmente observados na deficiência de vitamina B12.
Uma resposta favorável é alcançada com a reposição de vitamina B12, e os sintomas neu-
rológicos melhoram significativamente após alguns dias do tratamento.89-93
Uma das manifestações neurológicas pode ser a síndrome do tremor infantil,
que é definida como a presença de palidez, atraso/regressão no desenvolvimento,
pigmentação da pele e cabelos castanhos escassos no couro cabeludo. Os tremores
tendem a ser espasmódicos, envolvendo músculos faciais, e os lactentes também po-
dem apresentar “vocalização trêmula do choro”.94
Há necessidade de considerar também a deficiência de vitamina B12 em lactentes com
anemia grave, mesmo que seus parâmetros hematológicos não indiquem anemia perniciosa
(anemia megaloblástica com alto volume corpuscular médio e características morfológicas tí-
picas, como hiperlobulação dos núcleos dos granulócitos), por que a presença concomitante
de deficiência substancial de ferro pode modificar os índices hematimétricos.9,14,82

30
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

As necessidades de vitamina B12 variam entre 0,4 e 2,4 mcg/dia na faixa etária
pediátrica. Como os alimentos fonte são de origem animal, ela deve ser suplementada
em pessoas de todas as faixas etárias que seguem uma dieta vegana estrita sem con-
sumir produtos de origem animal.14,35,95

Vitamina D
A vitamina D desempenha importantes papéis na modulação do sistema imune,
expressão gênica e no metabolismo do cálcio e fósforo. Além disso, atua na regulação
da pressão arterial, da secreção de insulina e de hormônios tireoidianos, do transporte
de cálcio através da placenta e da concentração de cálcio no leite materno. A deficiên-
cia deste nutriente causa raquitismo em crianças, problemas de mineralização óssea e
suscetibilidade a fraturas e hipocalcemia.80
A vitamina D está diretamente relacionada com a exposição solar. No entanto,
o estilo de vida moderno (falta de tempo e indisponibilidade de espaços abertos) e a
necessidade de prevenção das doenças de pele associadas aos raios ultravioleta têm
prejudicado essa exposição. Especificamente em dietas veganas, a ingestão de vitami-
na D pode ser consideravelmente menor, uma vez que esse nutriente está presente em
alimentos de origem animal, principalmente leite e derivados, mas também na gema
de ovos e em peixes gordurosos. Em casos de baixa exposição solar e baixa ingestão
de vitamina D em alimentos, a suplementação é recomendada.9,96

31
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

6. GUIDELINES E RECOMENDAÇÕES NACIONAIS E IN-


TERNACIONAIS

Posicionamento canadense (2003)64 refere que quando os lactentes vegetarianos


recebem quantidades adequadas de leite materno ou fórmula infantil e suas dietas
contêm boas fontes de energia e nutrientes como ferro, vitamina B12 e vitamina D, o
crescimento durante toda a infância é normal. No entanto, dietas extremamente res-
tritivas, como dietas de frutas ou restritas a alimentos crus, têm sido associadas ao
crescimento inadequado e, portanto, não devem ser recomendadas para lactentes e
crianças. As regras para a introdução da alimentação complementar são as mesmas
para crianças vegetarianas e não vegetarianas. Alimentos ricos em energia e nutrientes,
como leguminosas, tofu e abacate são opções para o período de desmame e não se
deve restringir gorduras nos primeiros 2 anos de vida. Lactentes amamentados cujas
mães não tomam leite, nem ingerem alimentos fortificados ou suplementos de vitamina B12
regularmente devem receber suplementação dessa vitamina. Segundo esse documento,
suplementação de ferro e vitamina D em lactentes vegetarianos não diferem das diretrizes
para os não vegetarianos. A suplementação de zinco não é rotineiramente recomendada
para lactentes vegetarianos, pois a deficiência de zinco raramente foi documentada.
Em 2009, a Associação Americana de Dietética97 recomendava que dietas vege-
tarianas adequadamente planejadas, incluindo dietas vegetarianas ou veganas, eram
saudáveis, nutricionalmente adequadas e podiam fornecer benefícios à saúde na pre-
venção e tratamento de doenças crônicas. Segundo esse posicionamento, dietas ve-
getarianas bem planejadas são apropriadas para indivíduos durante todas as etapas
do ciclo de vida, incluindo gravidez, lactação, infância e adolescência. O documento
ressalta que a retirada da carne não interfere na ingestão de proteínas, ácidos graxos
ômega-3, ferro, zinco, iodo, cálcio e vitaminas D e B12 e que suplementos ou alimentos
fortificados podem ajudar a garantir a ingestão de nutrientes. Sugere-se como cuidado
que, devido à variabilidade das práticas alimentares entre os vegetarianos, é essencial
a avaliação individual da adequação alimentar e a garantia de que os pacientes sejam
orientados sobre fontes de nutrientes específicos, compra e preparação de alimentos
e modificações alimentares para atender às suas necessidades.
Na Itália, Baroni et al. (2018)98 propuseram uma forma de planejamento de dieta
vegetariana chamada “The VegPlate Junior”. Trata-se, em linhas gerais, do número de
porções recomendadas para cada faixa etária, de acordo com o total energético defi-

32
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

nido para cada paciente, dos seguintes grupos: grãos, alimentos ricos em proteínas,
vegetais, frutas, oleaginosas, lipídeos, alimentos ricos em cálcio e alimentos ricos em
ômega-3. Nesse guia, recomenda-se a manutenção do aleitamento materno, uma vez
que ele é considerado de boa qualidade mesmo em mães vegetarianas, mas com es-
pecial cuidado durante a introdução da alimentação complementar.
Sugere-se que se evite o excesso de fibras para evitar saciedade precoce e pro-
blemas de absorção, o que pode ser obtido com a escolha de vegetais refinados e sem
pele. Deve-se atentar para a adequada oferta de lipídeos e calorias. Para as crianças não
amamentadas, devem-se usar fórmulas infantis à base de proteínas vegetais. Após um
ano de idade, todas as crianças poderiam, segundo esse documento, seguir as regras
gerais do “The VegPlate Junior”, mantendo-se cuidado com deficiência de cálcio, vita-
mina D, ácidos graxos ômega-3 e vitamina B12, ferro, proteínas e com o excesso de fibras.
No ano anterior, em 2017, a Sociedade Italiana de Nutrição Humana havia publicado um
posicionamento,84 em que reconhecia que, de uma forma geral, crianças pré-escolares
vegetarianas apresentavam crescimento adequado, sugerindo-se monitoramento mais
rígido daquelas em dietas macrobióticas por terem sido relatados estudos com cresci-
mento inferior. O documento sugeria cuidado com a vitamina B12, cálcio e ômega-3.
A Academia de Nutrição e Dietética (AND) dos EUA publicou um posicionamen-
to em 2016 que recomenda aleitamento materno exclusivo até os 6 meses ou fórmulas
adequadas quando ele não for possível.1. A alimentação complementar deve ser rica
em energia, proteínas, ferro, zinco e pode incluir homus, tofu, legumes bem cozidos e
abacate. Bebidas vegetais fortificadas podem ser iniciadas após 1 ano de idade, mas
com cuidado, pois podem conter açucares e aditivos. A AND ressalta que as dietas
vegetarianas têm efeito protetor para o desenvolvimento da obesidade, entretanto
atenção deve ser dada ao ferro, zinco e vitamina B12. Para alguns casos, a depender do
substituto lácteo escolhido, também deve haver preocupação com cálcio e vitamina D.
O estado nutricional de vitamina B12 deve ser monitorado e sugere-se o uso de alimen-
tos fortificados com essa vitamina.
Em 2017, o Departamento de Nutrologia da SBP destacou como pontos principais:12
• Mães vegetarianas devem ser estimuladas a amamentarem ao seio até 2 anos
de idade ou mais, sendo de forma exclusiva até os 6 meses; naqueles casos em que o
aleitamento ao seio não for possível, a opção deve ser feita por fórmulas à base de pro-
teínas vegetais, como arroz (em qualquer idade) ou soja (apenas a partir dos 6 meses);
• Mães vegetarianas devem dar especial atenção à ingestão adequada de ácidos

33
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

graxos essenciais, folato, ferro, zinco e vitamina B12 durante a gestação e a lactação;
• A alimentação complementar deve seguir as regras gerais já bem estabeleci-
das para essa prática, mas levando-se em conta que o período de desmame se confi-
gura em momento particularmente sensível, em que os cuidados com calorias e micro-
nutrientes devem ser redobrados;
• Como regra geral, o documento ressalta que na maioria dos casos apenas a
orientação nutricional não é suficiente, devendo-se suplementar os nutrientes em risco
de deficiência como: cálcio, ferro, zinco, vitaminas D, B1, B2, B6 e B12.
Em 2016, a Sociedade Alemã de Nutrição20 reconheceu que, em uma dieta pu-
ramente vegetal, a oferta suficiente é difícil ou impossível para alguns nutrientes, sendo
a vitamina B12 o nutriente mais crítico. Outros nutrientes potencialmente críticos em
uma dieta vegana incluem proteínas e aminoácidos essenciais, ácidos graxos ômega-3
e outras vitaminas (riboflavina, vitamina D) e minerais (cálcio, ferro, iodo, zinco, selênio).
Para lactentes, crianças e adolescentes, uma dieta vegana não é recomendada, mas
aqueles que desejam seguir dieta vegana devem tomar permanentemente suplemen-
to de vitamina B12, alimentos fortificados e suplementos nutricionais.
Em documento de 2017, que trata da alimentação complementar, a Sociedade
Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição (ESPGHAN) incluiu uma parte
especial para falar de dietas veganas e vegetarianas, enfatizando a necessidade de
cuidado particular durante a alimentação complementar, incluindo supervisão dietética
médica regular e especializada. Sugere-se especial cuidado com vitamina B2, vitamina
B12, vitamina D, ferro, zinco, folato, ômega-3, proteínas e cálcio.99
Na França, em 2019, o Grupo de Hepatologia Gastroenterologia e Nutrição afir-
mou que uma dieta vegana "não é recomendada para lactentes, crianças e adolescen-
tes devido ao risco de múltiplas deficiências nutricionais que são inevitáveis na ausên-
cia de suplementos".100 A suplementação sistemática de B12, vitamina D, cálcio e DHA
alga foi recomendada juntamente com o consumo de sal iodado e monitoramento
contínuo de concentrações de ferritina e zinco.
O Guia Alimentar Americano 2020-2025,101 sugere, para crianças acima de 1
ano, uma dieta lacto-ovo-vegetariana que inclui o consumo regular de ovos, laticínios,
produtos de soja, nozes ou sementes e vegetais, incluindo feijão, ervilha e lentilha, fru-
tas, grãos e óleos. O ferro pode ser de particular preocupação, porque os alimentos de
origem vegetal contêm apenas ferro não heme, que é menos biodisponível do que o
ferro heme. A vitamina B12 também merece atenção, porque está presente apenas em

34
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

alimentos de origem animal. Ao alimentar lactentes e crianças com uma dieta ovo-lác-
teo-vegetariana os responsáveis devem consultar um profissional de saúde para de-
terminar se a suplementação de ferro, vitamina B12 e/ou outros nutrientes é necessária.
Em 2020, o Comitê de Nutrição e Aleitamento Materno da Associação Espanho-
la de Pediatria publicou um posicionamento sobre o tema.95 Um dos aspectos que o
documento chama a atenção refere-se à necessidade de que dietas vegetarianas para
crianças devem ser bem planejadas e, apesar de se considerar que elas podem ser
seguras, o comitê recomenda que crianças sigam dietas onívoras ou, pelo menos, lac-
to-ovo-vegetarianas. A Tabela 2, reproduzida desse documento, é usada pelos autores
para justificar essa recomendação.

Tabela 2. Nutrientes que dietas vegetarianas e veganas podem ser deficientes.


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DHA: Ácido docosahexaenóico.

Fonte: Redecillas-Ferreiro et al. (2020).94

O documento ainda reforça a importância do leite materno e ressalta que, para


garantir sua qualidade, as mães devem ser suplementadas com vitamina B12 e, em
alguns casos, também com iodo e ômega-3. Quando a amamentação não for possí-
vel, fórmulas à base de proteínas vegetais devem ser a opção. Na alimentação com-
plementar devem ser garantidas fontes adequadas de cálcio, lipídeos e vitamina C
para facilitar a absorção do ferro de origem vegetal. Oleaginosas devem ser usadas
e, segundo esse documento, vegetais integrais são preferíveis aos refinados. Bebidas
vegetais fortificadas podem ser usadas no preparo de alimentos e, a partir dos 2 anos,
a dieta pode seguir o padrão da família, mantendo-se os cuidados gerais.95

35
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

7. DIETA VEGETARIANA BALANCEADA – ESCOLHAS DOS


ALIMENTOS E SUGESTÕES DE CONSUMO

Com o aumento de famílias adeptas a dieta vegetariana ou vegana em todo o


mundo,54 pediatras e nutricionistas precisam ter conhecimento suficiente para planejar,
executar e acompanhar o plano alimentar de crianças e adolescentes, a fim de evitar
carências nutricionais e garantir o crescimento físico e o desenvolvimento neuropsico-
motor adequados.12,13,102,103 A Tabela 3 mostra os nutrientes que podem estar deficien-
tes na alimentação vegetariana/vegana e seu principais alimentos fontes, que podem
ser utilizados no planejamento das dietas vegetarianas.

Tabela 3. Fontes alimentares dos principais nutrientes que podem apresentar baixa
ingestão nas dietas vegetarianas/veganas.

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dĞŵƉĞŚ ΎƉŽĚĞĂƵŵĞŶƚĂƌŽƐŶşǀĞŝƐĚĞϭϮ͕ŵĂƐŶĆŽĠƐƵĨŝĐŝĞŶƚĞƉĂƌĂǀĞŐĂŶŽƐ

*Alimento milenar, típico da Indonésia, produzido pela junção de dois ingredientes - grãos cozidos e o fungo

Rhizopus Oligosporus.

No início da vida, o aleitamento materno exclusivo é recomendado durante os


primeiros 6 meses, sendo complementado até os dois anos ou mais.104-105 Mães ve-
getarianas que amamentam e/ou seus filhos podem necessitar de suplementação de

36
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

vitamina B12 e ômega-3.106 A suplementação de lactentes com ferro e vitaminas A e D


deve seguir as mesmas diretrizes de lactentes onívoros.105 Na impossibilidade da ama-
mentação, a fórmula infantil de partida e de seguimento deverá ser indicada até os 12
meses de vida.13,104-106 Caso os pais não queiram incluir fórmula infantil à base de leite
de vaca, pode-se optar por fórmulas à base de arroz (em qualquer idade) ou soja (ape-
nas a partir dos 6 meses).12,100,103,106 No entanto, essas fórmulas podem conter maiores
concentrações de fitatos, alumínio e fitoestrogênios (isoflavonas) ou arsênio.98,107
Aos seis meses de vida, a alimentação com- plementar deverá ser iniciada com
enfoque na qualidade da dieta vegetariana.104-106 O cardápio deverá conter alimentos
in natura ou minimamente processados, respeitando-se a consistência, a variedade e a
quantidade por faixa etária.104-106
De seis meses a 1 ano de vida, a dieta vegetariana deve estar composta por
refeições principais, frutas e leite materno ou fórmula infantil.104-106 A partir de 1 ano de
idade, bebidas vegetais caseiras podem ser introduzidas na alimentação na forma de
preparações, sendo mantido o leite materno/fórmula infantil como bebida principal.106
O café da manhã e lanche da tarde poderá conter também tubérculos, pães, panque-
cas ou cereais matinais.104-106 Nossa opinião é que bebidas vegetais industrializadas for-
tificadas sem adição de açúcar podem ser introduzidas após os dois anos de idade.106
Para os adeptos da dieta lacto-ovo-vegetarna, aos seis meses de vida podem ser
oferecidos derivados do leite de vaca (queijos e iogurtes) em pequenas quantidades
nas preparações.104-106 Após o primeiro ano, se a alimentação complementar estiver bem
estabelecida, o leite de vaca poderá ser ofertado como bebida.101,105 O mel só é indicado
a partir dos 2 anos devido a sua alta concentração de açúcar e risco de botulismo.104,105
As refeições principais (almoço e jantar) devem fornecer principalmente energia,
proteína, ferro e zinco, sendo composta por cereais, hortifrutis e leguminosas.104,106 Na
dieta lacto-ovo-vegetariana, ovos podem contribuir como fonte proteica de alta quali-
dade desde o início da introdução da alimentação complementar.106,108 Quanto à inges-
tão de lipídeos, sabe-se que a taxa de conversão de ômega-3 (ácido α-linolênico) em
DHA e EPA é modesto em crianças.29 Desta forma, é sugerida a suplementação diária
de DHA a partir de 6 meses até 3 anos de idade. No entanto, é importante que faça
parte da alimentação diária fontes de ômega-3 como nozes, azeite, óleo de linhaça ou
de chia, mesmo com a suplementação. As sementes devem ser oferecidas trituradas
para facilitar a absorção do ômega-3 e evitar engasgos.106,108 Particularmente, como as
sementes são ricas em fibras, seus óleos são melhor indicados na primeira infância.100,106

37
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

A sobremesa pode ser composta por fruta fonte de vitamina C ou outros ácidos orgâni-
cos para auxiliar na absorção do ferro não-heme.13,106 A Tabela 4 apresenta um exemplo
de como elaborar um cardápio para lactentes a partir dos 6 meses de idade.

Tabela 4. Sugestão de cardápio para crianças de 6 meses até 5 anos de idade que
seguem dieta vegetariana/vegana.

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ŽƵŵŝŶŐĂƵĐŽŵĨƌƵƚĂĞŵƉĞĚĂĕŽƐ

*Leite materno até 2 anos ou mais.


**A fruta pode ser deixada para o lanche da manhã.
***A partir de 1 ano, bebidas vegetais podem ser oferecidas na forma de preparações e após 2 anos, pode
ser utilizado como bebida principal.
****Recomendação para lactentes até 1 ano: 1 colher de café de azeite (2,5 ml) +1 colher de café de óleo
de linhaça ou chia (2,5 ml). Após 1 ano: 1 colher de chá (5 ml) de óleo de linhaça ou chia no almoço e jantar.
Em indivíduo lacto-ovo-vegetariano a partir de 6 meses pode ser oferecido ovo nas grandes refeições e
laticínios em preparações nas pequenas refeições. Após 1 ano de idade, os laticínios podem fazer parte da
alimentação diária. Oferecer água própria para consumo nos intervalos das refeições.
Nas refeições principais distribuir leguminosas, cereais e legumes/verduras na proporção de 1/3 cada um.
Para menores de 1 ano: em uso de fórmulas infantis ou aleitamento materno não é necessário usar sal ioda-
do. Para crianças acima de 1 ano de idade: 2 a 5g/dia, dependendo do conteúdo de iodo no sal.
Fonte: Vieira A & Navolar TS (2018).105

38
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Dicas culinárias
• Proteína texturizada de soja (PTS) e glúten (seitan) possuem digestibilidade seme-
lhante àquelas de origem animal sendo boa opção para adeptos à dieta vegetariana.100
Porém, PTS, shoyu e missô não devem ser incluídos na alimentação de menores de dois
anos de idade por serem industrializados, além de conter corante e excesso de sódio.106 O
tofu coagulado com cálcio pode ser introduzido na alimentação eventualmente.106
• As carnes devem ser substituídas por alimentos ricos em proteínas, como legu-
minosas, legumes, soja e seus derivados (leite, iogurte, tofu). Frutas secas ou sementes
oleosas esmagadas e adicionadas à comida aumentam a variedade de proteínas com
uma ingestão calórica correta.
• Para lactentes e crianças é importante combinar na mesma refeição cereais e
leguminosas, variando os tipos ao longo da semana.84,109 A técnica de deixar de molho
(imersão dos grãos em água) por pelo menos 12 horas, com troca de água (remolho)
e cozimento em panela de pressão, reduz os fatores antinutricionais (polifenóis, fitatos
e taninos), melhora a digestibilidade proteica e absorção de ferro e zinco.84,100 Outra
técnica que pode ser realizada após o remolho é a germinação. Basta deixar os grãos
descansando em um tecido perfurado e lavá-los pelo menos 2 vezes ao dia até que se
inicie o processo de germinação (exceto do feijão preto e mulatinho).84,100 A fermenta-
ção de produtos vegetais, que melhora a digestibilidade do alimento, pode ser realiza-
da em casa, mas exige um pouco mais de disponibilidade para o seu preparo.100
• Os cogumelos podem ser utilizados bem cozidos, desde que se conheça sua
procedência.106
• Alguns autores recomendam evitar a ingestão de alimentos fontes de cálcio
nas refeições principais (almoço e jantar), assim como incentivam o consumo de ali-
mentos fontes de vitamina C, ácido cítrico, ácidos orgânicos e betacaroteno, para au-
mentar a absorção de ferro e zinco.13,39,108, 109
• As oleaginosas podem ser oferecidas no início da alimentação complementar
na forma de pastas ou trituradas (1 colher de chá) para evitar riscos de engasgo.103,106
• Na primeira infância, a ingestão de gorduras não deve ser limitada e deve pos-
suir adequada proporção de ômega-6/ômega-3.39 Preferir óleos de linhaça, chia, nozes,
canola e soja para compor as grandes refeições (1 a 2 porções ao dia).100,106 Deve-se
evitar ou limitar a ingestão de óleos de sementes ricas em ômega-6 (girassol, milho e
amendoim), gorduras trans (margarina), óleos tropicais (óleos de coco, palma) ricos em
gorduras saturadas.

39
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

• Nos primeiros dois anos de vida, a criança não tolera grandes volumes de refei-
ções e o excesso de fibras pode causar saciedade precoce, além de interferir na absor-
ção de minerais (como ferro, cálcio, zinco e magnésio), proteínas e gorduras, incluindo
os ácidos graxos essenciais.29,39,107 Desta forma, seu consumo deve ser limitado, optando
por escolhas como grãos refinados, remolho e/ou retirada da casca de leguminosas.12,39
• Após os seis meses de idade, podem ser utilizados cereais enriquecidos com
ferro e zinco e sem fibras para aumentar a absorção, além de utilizar farinhas com ferro
e cálcio para reduzir o risco de anemia e alterações ósseas.
• Dieta vegana apresenta maior dificuldade para atingir a adequação de cálcio,
já que a criança necessitará ingerir de 3 a 5 porções de alimentos fontes ou fortificados
por dia, podendo ser necessário suplementá-lo.39,54,109
• Famílias vegetarianas/veganas preferem preparar quase todos os alimentos de
seus filhos, mas isso pode expor a criança a dietas não balanceadas. Refeições contendo
soja, feijão, gérmen de trigo, abacate, amendoim e manteiga de amendoim são boas
fontes de energia, proteína, gordura, ferro e zinco e seu consumo deve ser enfatizado.
• Excesso de sódio, cafeína (café, alguns chás, cacau), refrigerantes fosfatados e
ácido oxálico ou oxalato (espinafre, folha de beterraba, acelga e cacau em pó) devem
ser desencorajados junto com refeições contendo cálcio.108 Já agrião, brócolis e couve
podem ser consumidos 4 vezes por semana por ser rico em cálcio.106
• A leitura de rótulos de alimentos processados ou ultraprocessados deve ser estimu-
lada para que não haja consumo de alimentos que não façam parte da dieta vegetariana.109

40
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

8. SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR/MEDICAMENTOSA
– QUAL NUTRIENTE, QUANDO, COMO E DOSES RECO-
MENDADAS

A prevalência de dietas restritivas em crianças, principalmente as vegetarianas


e veganas, está aumentando sobremaneira em praticamente todos os países ociden-
tais.110 Principalmente em lactentes e pré-escolares, não apenas peso e altura, mas
também desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo são fortemente influenciados
pela fonte, quantidade e qualidade de sua nutrição.111
Apesar de que, em populações adultas, uma dieta baseada em vegetais mos-
trou benefícios na redução do risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes
tipo 2, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer,112 não há evidências claras
de que uma dieta vegana iniciada na primeira infância confira um benefício duradou-
ro à saúde. Pelo contrário, uma dieta vegana pode ser potencialmente crítica para
crianças com riscos de fornecimento inadequado em termos de qualidade de prote-
ína e energia, bem como ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, ferro, zinco,
vitamina D, iodo, cálcio e, particularmente, vitamina B12. Além disso, potencialmente
há diminuição da biodisponibilidade destes micronutrientes pela maior frequência de
fatores inibidores da absorção na dieta.107
As deficiências desses nutrientes podem levar a distúrbios de desenvolvimento
graves e, às vezes, irreversíveis. O risco é absolutamente real. Déficit neuropsicomo-
tor, fraturas ósseas devido à deficiência de vitamina D, hospitalizações por deficiência
grave de vitamina B12, hipocalcemia grave seguida de convulsões, anemia grave, difi-
culdade respiratória com alcalose metabólica, retardo de crescimento e morte já foram
notificados em regimes alimentares alternativos e/ou restritivos durante os primeiros
dois anos de vida.113,114
Desta forma, na faixa etária pediátrica, mesmo uma dieta diversificada e bem pla-
nejada, deve ser associada a suplementação medicamentosa ou alimentar, principalmente
nas fases de maior velocidade de crescimento físico e desenvolvimento neuropsicomotor.
A seguir, apresentamos nossas recomendações quanto a forma e dose de su-
plementação de nutrientes nos primeiros 5 anos de vida, de acordo com o tipo de
alimentação vegetariana, resumindo seu conteúdo na Tabela 5.

41
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Proteína
A quantidade proteica deve ser por volta de 12,5% do valor energético total (%
de distribuição dos macronutrientes). A oferta proteica deve ser maior nas dietas de
lactentes e crianças veganas, de acordo com a faixa etária e a digestibilidade da fonte
vegetal (Quadro 7).

Quadro 7. Porcentagem a ser acrescida na oferta de proteínas na dieta de lactentes e


crianças veganas nos primeiros 5 anos de vida, de acordo com a faixa etária e a diges-
tibilidade da fonte vegetal.

e tage a se a es ida a e ta de te as
ai a et ia a s
Digestibilidade alta Digestibilidade ≤ 85%
фϮ ϮϬй ϯϬĂϯϱй
ϮĂϱ ϭϬĂϭϱй ϮϬĂϯϬй

Atenção: Bebidas à base de soja ou outros grãos podem causar graves deficiências energética/proteica e

são contraindicadas nos primeiros anos de vida.114

Vitamina B12
A suplementação de cobalamina é imprescindível para crianças ovo-vegetarianas
e veganas de qualquer idade. Tem-se que a absorção de vitamina B12 é muitas vezes infe-
rior a 50%, então sugere-se que a dose a ser suplementada deve ser 40% a mais da quan-
tidade recomendada para faixa etária. A suplementação profilática deve ser de 5 mcg/
dia em crianças de 6 meses a 3 anos e de 25 mcg/dia em crianças de 3 a 5 anos.84,102,116
Lactantes veganas, com pouca ou nenhuma suplementação, expõem seus filhos
em aleitamento materno à deficiência de vitamina B12, de modo que a suplementação
para a lactante também é obrigatória. Lactentes em uso de fórmulas infantis à base de
arroz ou soja, que têm um teor adequado de vitamina B12 podem não necessitar de
suplementação medicamentosa, porém é prudente considerar a menor biodisponibili-
dade dos micronutrientes das fórmulas infantis.117

Cálcio e Vitamina D
A ingestão adequada de cálcio e vitamina D é crítica na infância para garantir a minerali-
zação óssea. Os níveis de cálcio e vitamina D diminuem significativamente em crianças ovo-ve-
getarianas/veganas, especialmente entre 10 e 20 meses de idade, com maior risco de fraturas.118

42
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Lactentes amamentados por mães veganas recebem cálcio suficiente, pois a ab-
sorção materna de cálcio é aumentada em resposta a concentrações sanguíneas de
calcitriol e o cálcio é mobilizado dos ossos da mãe. Lactentes alimentados com bebi-
das à base de grãos podem adquirir deficiência de cálcio, inclusive com consequências
clínicas, como convulsões. Fórmulas infantis à base de arroz ou soja suplementadas
com cálcio e vitamina D são uma alternativa segura.99 Estes alimentos fortificados po-
dem ser uma alternativa para crianças não expostas rotineiramente à luz solar, usuários
de protetor solar e aqueles de pele escura.119
A SBP recomenda que toda criança, da primeira semana de vida até 1 ano de
idade, receba suplementação de 400 UI/dia de vitamina D, e de 1 a 2 anos de idade,
600 UI/dia.96 A suplementação é recomendada não apenas para lactentes, mas tam-
bém para grupos de risco de crianças que não ingerem pelo menos 600 UI de vitamina
D na dieta e não se expõe ao sol regularmente, no Brasil e em alguns países europeus,
independentemente de serem vegetarianos ou onívoros.9,14,82,84
As apresentações comerciais de vitamina D para crianças normalmente são sob
a forma de vitamina D3 (colecalciferol), que podem ser extraídas da lanolina da lã de
ovelha (geralmente não aceita por veganos) ou na forma sintética. As cápsulas de vita-
mina D3 podem ser recobertas com material também de origem animal, o que também
pode ser um impeditivo de aceite. Em caso de recusa por pais veganos, uma alter-
nativa é a suplementação da lactante e/ou lactente com vitamina D2 (ergocalciferol)
derivada de fungos.120,121

Ferro
Se a suplementação profilática de ferro é importante para lactentes onívoros,
de acordo com a recomendação atual da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)59,
muito mais será para aquelas em vegetarianismo, devido às limitações impostas ao
consumo de ferro heme presente em produtos de origem animal. Mesmo as crianças
amamentadas exclusivamente devem iniciar a suplementação aos três meses, em vir-
tude do risco da menor concentração de ferro no leite materno de mães vegetarianas
e sem suplementação medicamentosa. A suplementação é recomendada mesmo que
lactentes consumam quantidade suficiente de fórmula infantil vegetal de boa qualida-
de (enriquecidas com ferro), que poderia ser a base de proteína isolada da soja (para
maiores de seis meses) ou hidrolisado do arroz.59
As necessidades de ferro nos primeiros 5 anos de vida variam de 0,27 mg/dia,

43
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

nos primeiros seis meses, até 10 mg/dia, nas crianças de 5 anos116. As dietas vegetaria-
nas e veganas contêm boas quantidades de ferro, mas sua biodisponibilidade é menor
em comparação com as fontes animais (2-5% vs 20-30%). No entanto, pode-se me-
lhorar essa absorção administrando-se concomitante com frutas e vegetais contendo
carotenos, retinol e ácidos ascórbico, cítrico, láctico, málico e tartárico. Os grãos ativam
as fitases, aumentando a absorção de ferro. Na alimentação complementar, devem-se
utilizar alimentos ricos ou enriquecidos com ferro, por exemplo, cereais.97,121,122
As doses e a idade de início da suplementação de ferro segundo a SBP para
recém-nascidos e lactentes com fator de risco, como filhos de mães vegetarianas sem
orientação alimentar ou suplementação medicamentosa são apresentadas no quadro
8.59 Para crianças maiores de 2 anos, a suplementação de 10 a 30 mg/dia fica condicio-
nada a presença ou não de consumo alimentar adequado. A ingestão de ferro deve ser
1,8 a 2 vezes maiores do que o recomendado para as crianças onívoras, uma vez que as
fontes vegetais de ferro são menos biodisponíveis.12,64

Quadro 8. Recomendação de suplementação de ferro em recém-nascidos e lactentes


com fator de risco, como filhos de mães vegetarianas sem orientação alimentar ou
suplementação medicamentosa.
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ƌĞĐŽŵĞŶĚĂĚŽƉĂƌĂŵĞƐŵĂĨĂŝdžĂĞƚĄƌŝĂĞƐĞdžŽ

RNT, recém-nascido a termo; RNPT, recém-nascido pré-termo; PAIG, peso adequado para a idade gestacional.
Fonte: adaptado de SBP (2021).59

44
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Zinco
Mesmo que a presença de algumas substâncias em frutas (ácidos orgânicos,
aminoácidos contendo enxofre, peptídeos contendo cisteína ou hidroxiácidos) e que
a realização de procedimentos diferentes (fermentação, embebição, moagem ou fer-
mentação) aumentem a absorção de zinco,123,124 os lactentes amamentados de mães
veganas requerem alimentos fortificados depois dos seis meses de idade ou suple-
mento medicamentoso, devido a menor biodisponibilidade e o risco do comprometi-
mento das funções metabólicas do zinco.125,126
Uma ingestão regular e habitual de zinco é necessária, pois não existem esto-
ques no organismo. As necessidades de zinco nos primeiros 5 anos de vida variam de
2 mg/dia, nos primeiros seis meses de vida, até 5 mg/dia, nas crianças de 5 anos.13,116,125
A absorção de zinco é cerca de 15-26% nas dietas vegetarianas/veganas e de 33-35%
nas dietas onívoras.123,124
Assim, recomendamos a suplementação de 3 mg/dia de zinco medicamentoso
para lactentes vegetarianos/veganos (6 meses a 2 anos) que não ingerem pelo menos
1,5 vezes a recomendação diária seja por alimentos vegetais naturais, fórmulas infantis
ou alimentos fortificados. Uma exceção, que deve ser ponderada, são os lactentes em
aleitamento materno, desde que a alimentação materna seja rica em zinco e a mãe
esteja recebendo suplementação medicamentosa.

Iodo
A ingestão diária recomendada de iodo nos primeiros anos de vida varia entre
50 e 80 mcg/dia.13 Em geral, a deficiência de iodo não é comum em vegetarianos que
consomem sal iodado. Se o sal utilizado não for iodado e/ou não houver consumo
substancial de alimentos vegetais que contenham iodo (ex. laticínios, ovo, banana,
ameixa e ervilha), os alimentos fortificados ou um suplemento de algas são indicados.12
Em lactentes, o sal iodado não é recomendado antes dos 12 meses de idade e 400
ml de leite materno ou 900 ml de fórmula infantil fornecem uma quantidade suficiente
de iodo. Após 12 meses, a ingestão recomendada de sal varia entre 2 e 5 g/dia, depen-
dendo do teor de iodo no sal. Este consumo fornece 90 a 155 mcg de iodo, quantidade
suficiente para atender as necessidades nutricionais desse micronutriente.102,127

Ácidos Graxos Poliinsaturados de Cadeira Longa (LCPUFA)


Para todas as crianças veganas e vegetarianas, que não estiverem recebendo

45
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

leite materno de mãe suplementada ou fórmula infantil com DHA, recomenda-se a sua
suplementação, pois crianças, especialmente as mais jovens, não conseguem pela die-
ta atingir as necessidades diárias e, devido à imaturidade enzimática, não conseguem
converter o ALA ingerido na quantidade de DHA necessário para garantir o adequado
desenvolvimento cognitivo e visual.128,129
Além disso, recomenda-se também a suplementação durante a gravidez e lacta-
ção, pois foram encontrados menores níveis de DHA no leite materno de mães vege-
tarianas/veganas em comparação com onívoras.102
O quadro 9 mostra a recomendação de ingestão diária de DHA segundo a Orga-
nização Mundial da Saúde e o Consenso da Associação Brasileira de Nutrologia sobre
recomendações de DHA durante gestação, lactação e infância.130,131

Quadro 9. Recomendações de ingestão diária de DHA.129,130


'ƌƵƉŽ ZĞĐŽŵĞŶĚĂĕĆŽĚĞŝŶŐĞƐƚĆŽĚŝĄƌŝĂ

'ĞƐƚĂŶƚĞ DşŶŝŵŽĚĞϮϬϬŵŐͬĚŝĂ

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ϬĂϲŵĞƐĞƐ Ϭ͕ϮĂϬ͕ϯϲйĚŽƚŽƚĂůĚĞůŝƉşĚĞŽƐ

ϲĂϮϰŵĞƐĞƐ ϭϬĂϭϮŵŐͬŬŐͬĚŝĂ
ƌŝĂŶĕĂƐ
ϮĂϰĂŶŽƐ ϭϬϬĂϭϱϬŵŐͬĚŝĂ

ϰĂϲĂŶŽƐ ϭϱϬĂϮϬϬŵŐ

46
Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Tabela 5. Recomendações de suplementação profilática de nutrientes nos primeiros 5


anos de vida, de acordo com o tipo de alimentação vegetariana.
sŝƚĂŵŝŶĂƐ DŝŶĞƌĂŝƐ DĂĐƌŽŶƵƚƌŝĞŶƚĞƐ
ŝĞƚĂ
 Ϯ ϭϮ  ĂůĐŝŽ &ĞƌƌŽ ŝŶĐŽ /ŽĚŽ , WƌŽƚĞşŶĂƐ

>ĂĐƚŽͲŽǀŽͲ
o o e re e re o e re
ǀĞŐĞƚĂƌŝĂŶĂ

>ĂĐƚŽͲ
o e re e re o e re
ǀĞŐĞƚĂƌŝĂŶĂ

KǀŽͲ
o e re e re e re o e re
ǀĞŐĞƚĂƌŝĂŶĂ

WĞƐĐŽͲ
o o e re e re o
ǀĞŐĞƚĂƌŝĂŶĂ

&ůĞdžŝƚĂƌŝĂŶĂ o o e re e re o

sĞŐĂŶĂ e re e re e re e re ↑ oferta

SC: Suplementação Condicionada à disponibilidade e ao consumo de alimentos fonte, a forma de preparo


da alimentação e ao uso ou não de suplementos alimentares, como fórmulas infantis e alimentos fortificados.
DHA: Ácido docosahexaenóico.
- Vitamina A: indicada nas regiões endêmicas brasileiras independente da alimentação (100.00 UI 1x entre 6-12
meses & 200.000 UI 1x a cada 6 meses entre 12-59 meses).131
- Vitamina B12: 5 mcg/dia (6 meses a 3 anos) e 25 mcg/dia (3 a 5 anos). *Exceto <s 1 ano em aleitamento ma-
terno de mãe suplementada e não deficiente;
- Vitamina D: 400 UI/dia (1 semana a 1 ano) e 600 UI/dia (1 a 5 anos). *Exceto >s 2 anos com exposição solar
regular ou uso de alimentos fortificados;
- Cálcio: quantidade suficiente para atingir pelo menos 20% a mais da recomendação diária de ingestão. *Ex-
ceto <s 2 anos em aleitamento materno ou uso de alimentos fortificados;
- Ferro: dose e idade de início (Quadro 8). *Exceto >s 2 anos com ingestão de ferro 1,8 a 2 vezes maiores do
recomendado para mesma faixa etária e sexo;
- Zinco: 3 mg/dia (6 meses a 2 anos). *Exceto se ingestão de zinco for 1,5 vez maior do recomendado para
mesma faixa etária e sexo;
- Iodo: a suplementação não é recomendada, porém atenção em lactentes amamentados, filhos de mães ve-
ganas e que não consomem sal iodado.
- DHA: dose de acordo com a faixa etária (Quadro 9). *Exceto <s 2 anos em aleitamento materno de mãe su-
plementada ou em uso de fórmula infantil.
- Proteínas: aumentar a oferta de acordo com a faixa etária e a digestibilidade da fonte vegetal.
Atenção: (1) O risco para ingestão insuficiente aumenta com o grau de restrição dietética e as características de
biodisponibilidade do nutriente no alimento e na alimentação; (2) Pesco-vegetarianos podem não incluir ovos
e produtos lácteos em sua alimentação; (3) Veganos crus podem reduzir o consumo de calorias de gordura. (4)
Na impossibilidade de quantificar a ingestão do nutriente, a suplementação é recomendada até a efetividade
da orientação alimentar.

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE AS RECOMENDA-


ÇÕES PARA ALIMENTAÇÃO VEGETARIANAS/VEGANA
NOS PRIMEIROS CINCO ANOS DE VIDA.

A recomendações se apoiam nas seguintes evidências...


• ...a dieta vegetariana/vegana pode não atender a todas as necessidades de
nutrientes, levando ao risco de deficiências nutricionais: quanto mais rigorosa a dieta,
maior o risco à saúde das crianças;
• ...dez nutrientes podem se tornar deficientes em diferentes dietas vegetaria-
nas/veganas: vitaminas A, B2, B12 e D, cálcio, ferro, zinco, iodo, DHA e proteínas;
• ...as consequências podem ser graves, princ palmente quando a dieta é intro-
duzida em uma idade precoce, período de alta demanda nutricional requerida pelo
crescimento físico e desenvolvimento neuropsicomotor;
• ...a suplementação de ferro, vitamina B12, vitamina D e DHA é sempre necessá-
ria nos primeiros dois anos de vida, enquanto cálcio, zinco e outros nutrientes devem
ser suplementados de forma condicional;
• ...crianças com dieta vegana pura precisam de estratégias dietéticas elabora-
das e suplementação contínua em qualquer idade, semelhante ao manejo nutricional
em crianças com distúrbios metabólicos. A dieta vegana é desaconselhada nos perío-
dos de intenso crescimento/desenvolvimento. Os veganos precisam de fontes confiá-
veis de vitamina B12, como alimentos fortificados ou suplementos medicamentosos.

Apesar dos riscos...


• ...uma dieta lacto-ovo-vegetariana equilibrada como parte de um estilo de
vida saudável durante a infância pode atender às necessidades nutricionais, apoiar
o crescimento normal e o desenvolvimento adequado à idade, mas geralmente re-
querem recursos socioeconômicos e operacionais que podem não estar acessíveis as
famílias e, consequentemente prejudicar a efetividade da dieta.
• ...dietas veganas apropriadamente planejadas são saudáveis, nutricionalmen-
te adequadas e podem fornecer benefícios à saúde na prevenção e tratamento de
doenças crônicas não-transmissíveis. No entanto, uma dieta sem alimentos de origem
animal pode levar a deficiências, principalmente de vitamina B12, se não for adequada-
mente suplementada.

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

Por isso que profissionais de saúde, principalmente pediatras e nutricionistas...


• ...precisam dedicar tempo para se comunicar e explicar as possíveis consequ-
ências à saúde de uma dieta vegetariana/vegana.
• ...precisam monitorar atentamente se as recomendações de ingestão diária de
nutrientes são atendidas, pois o aparecimento de sinais e sintomas de deficiências de
micronutrientes é tardio e precedido de alterações físico-químicas e metabólicas que
comprometem a saúde das crianças (fome oculta).
• ...devem ser capazes de orientar pais ou cuidadores adeptos à dieta vegetaria-
na que desejam manter essa escolha para seus filhos. Orientações quanto aos grupos
alimentares adequados e a prescrição de suplementos quando necessário devem fazer
parte do acompanhamento nutricional, a fim de evitar carências e promover crescimen-
to e desenvolvimento adequados.
• ...devem utilizar ferramentas de abordagem prática para o planejamento de
refeições, que sejam precisas, confiáveis e fáceis de usar, para garantir um suprimento
adequado dos nutrientes essenciais. Estas ferramentas podem estar baseadas na troca
alimentos, que garantam não apenas a ingestão, mas também a biodisponibilidade
dos nutrientes.
• ...devem atuar com prática assistencial isenta de pré-julgamentos, cientificamen-
te embasada e equilibrada quanto as possibilidades alimentares e recursos disponíveis.

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

11. DIRETORIA E CCA 2024


Diretoria e Conselho Científico e de Administração do ILSI Brasil

Board of Directors and Board of Trustees - ILSI Brasil

Presidente do Conselho Científico e de Conselho Científico e de Administração


Administração (Chair) (CCA)
Franco Lajolo – USP Board of Trustees

Vice-Presidente do Conselho Científico Adriana Bragotto – UNICAMP


e de Administração (Vice-Chair) Aila Azevedo - Haleon
Paulo Stringheta – UFV Bárbara Emo Peters – IFF
Carlos Nogueira-de-Almeida – UFSCAR
Presidente Executivo / Executive President Fernanda de Oliveira Martins – Unilever
Bárbara Emo Peters – IFF Franco Lajolo – USP
João Paulo Fabi – USP
Diretoria Financeira / Executive Finance Luiz Henrique Fernandes – Viatris
Bárbara Emo Peters – IFF Marcelo Cristianini - UNICAMP
Marcelo Rogero – USP
Diretoria / Board of Directors Maria Aparecida Marciano – Instituto Adol-
Adriana Bragotto – UNICAMP fo Lutz
Aila Azevedo - Haleon Maria Cecília Toledo – CCFA Brazilian dele-
Fernanda Martins – Unilever gation / UNICAMP
João Paulo Fabi – USP Neuza Hassimotto – USP
Luiz Henrique Fernandes - Viatris Patricia Fernandes - UFES
Neuza Hassimotto – USP Paulo Stringheta – UFV
Taiana Trovão – Mondelēz Taiana Trovão – Mondelēz
Tiago Moreno - Cargill Tatiana Tucunduva – USP
Tulio Konstantyner – UNIFESP Tiago Moreno - Cargill
Tulio Konstantyner – UNIFESP
Uelinton Pinto – USP
Diretoria Executiva / Executive Director
Flavia Franciscato Cozzolino Goldfinger

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

12. EMPRESAS MANTENEDORAS DO ILSI BRASIL

Abbott Laboratórios do Brasil


Amway
Cargill Agrícola S.A.
CTC Centro de Tecnologia Canavieira
IFF
Mondelez Brasil Ltda.
Viatris
Piracanjuba
Suzano S.A
Sanofi
Haleon

Conheça também como o ILSI Brasil regulamenta as relações através de Políticas:

Políticas Obrigatórias do ILSI Brasil

Política de Integridade Científica

Código de Ética - ILSI Global

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Consenso do ILSI Brasil sobre vegetarianismo nos primeiros cinco anos de vida

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