Comparative Cultural Studies: European and Latin American Perspectives 17: 103-118, 2023
DOI: 10.46661/ccselap-14303 | ISSN 2531-9884
Short notes
Umbanda no Rio de Janeiro
Umbanda in Rio de Janeiro
GIOVANNA CAMPANI, CLAUDIA HERZFELD & DEIZE IZABEL M. DA SILVA
“A fé pela qual me ajoelho, me coloca de pé todos os dias”
(Deize Izabel Maria da Silva)
1. Introdução
Este artigo é uma primeira abordagem de um estudo mais amplo sobre a riqueza das
várias crenças e manifestações religiosas no Brasil fora das religiões consideradas
tradicionais, tais como Catolicismo e Evangelismo, concentrando o trabalho de campo
no Rio de Janeiro. Nesta primeira parte, tratamos de religiões caracterizadas pelo fato
de os rituais serem marcados por práticas da Mediunidade e formas de Esoterismo: o
Espiritismo e a Umbanda. No artigo nos deteremos sobretudo na Umbanda - religião
tipicamente brasileira que tem pouco mais de cem anos. Para a compreensão da própria
Umbanda, que representa a síntese de mediunidade, práticas esotéricas, mágicas e
sincretismo religioso, vamos a dar algumas pistas do espiritismo kardecista.
Por que a mediunidade, no Brasil, é mais manifestada do que no resto do mundo? E
como definir a mediunidade? Explorando diferentes sites relacionados à religião
espírita, encontramos diferentes definições. A mais simples é “Mediunidade é o nome
atribuído à capacidade humana que permite a comunicação entre encarnados e
desencarnados”.1
Uma definição mais complexa é: “um sentido psíquico, de ordem paranormal, capaz
de ampliar o alcance perceptivo do ser, conferindo-lhe uma aptidão para servir de
instrumento para a comunicação dos Espíritos com os homens, estabelecendo uma
ponte entre realidades vibratórias diferentes.”2
A importância da prática da mediunidade no Brasil está ligada ao fato de que não foi
na França, mas no Brasil que as ideias de Allan Kardec, que se propôs a equilibrar religião
e ciência, tiveram sua melhor acolhida. O primeiro centro espírita do país surgiu em
1865. A doutrina espírita foi apoiada pela elite da sociedade brasileira da época
(médicos, advogados, juízes, políticos) e, depois, popularizou-se numa prática acessível
a todos também, graças ao médium Chico Xavier (1910-2002). O Brasil se tornou a maior
país espírita do mundo3.
1
https://legiaopublicacoes.com.br/o-que-e-mediunidade-20.
2
https://espirito.org.br/artigos/mediunidade-conceitos-e-caracteristicas-3/.
3
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/espiritismo-por-que-o-
brasil.phtml?utm_source=site&utm_medium=txt&utm_campaign.
© 2023 The Author(s). Open Access. This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0
International License.
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A difusão no Brasil do Kardecismo é um fenômeno histórico único no continente
latino-americano e demanda maiores estudos para esclarecer por que uma doutrina que
quase desapareceu na Europa e nos Estados Unidos conseguiu tanta importância no
Brasil. Atualmente, o trabalho iniciado por Kardec é a terceira religião por número de
seguidores depois do Catolicismo e Evangelismo (4 milhões de seguidores)4. Os espíritas
têm os melhores indicadores socioeducacionais dentre os fiéis de todas as religiões
praticadas no país.5
Na difusão do Kardecismo, o papel de figuras como Bezerra de Menezes, chamado
de “o Kardec brasileiro”, foi importante: médico e estudioso, ele publicou traduções,
escreveu inúmeros textos e livros, e definiu que o espiritismo seria uma doutrina
religiosa e dedicada a causas sociais, orientação válida até hoje6. Alguns estudos
explicam o sucesso do Kardecismo no Brasil com a presença de religiões africanas e
indígenas, que sempre figuraram em meio ao catolicismo oficial e dominante e, para
quais, a ideia de que é possível falar com os mortos era comum.
Fig. 1: Bezerra de Menezes. Imagem fornecida por Giovanna Campani.
Na opinião de John Monroe, historiador e professor da Universidade de Iowa: “O
Brasil tem uma tradição de religiosidade popular muito aberta ao contato com a vida
após a morte e a comunicação com espíritos. As classes média e alta não podiam contar
com as religiões de origem africana ou indígena como expressões formais de sua fé. O
kardecismo, com seu berço francês, satisfez essa necessidade”7.
A mesma ideia é desenvolvida por David Hess, autor do livro: “Brazilian Spiritism
(espiritismo, kardecismo) is an important middle-class religious movement whose
followers believe in communication with the dead via spirit mediums and in healing
4
https://ancestrals.com.ng/2022/12/08/spiritism-in-brazil-120-yrs-of-science-religion-and-
intellectualism/.
5
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/espiritismo-por-que-o-
brasil.phtml?utm_source=site&utm_medium=txt&utm_campaign.
6
https://super.abril.com.br/cultura/por-que-o-espiritismo-pegou-tanto-no-brasil.
7
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/espiritismo-por-que-o-
brasil.phtml?utm_source=site&utm_medium=txt&utm_campaign.
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illnesses by means of spiritual therapies. Unlike Anglo-Saxon Spiritualists, Brazilian
Spiritists count among their number a well-developed and institutionalized intellectual
elite that has reinterpreted northern hemisphere parapsychology and developed its own
alternative medicine and sociology of religion. As a result, the mediation between
popular religion (especially Afro-Brazilian religious practices) and the orthodoxies of the
universities, the state, and the medical profession.” (Hess, 1991)8
A relação entre Kardecismo e religiões africanas e indígenas manifesta-se claramente
na Umbanda. Segundo Norberto Peixoto (2018), autor do livro Encantos da Umbanda, o
Brasil era uma terra fértil para o nascimento de um tipo de nova religião como a
Umbanda, que liga culturas aparentemente antagônicas sob a égide de um
universalismo crístico, elaborando um ritual que sincretiza a mediunidade de inspiração
kardecista com práticas de origem africana e ameríndia. “Por isso na Umbanda há os
Santos Católicos, os Orixás Africanos, os Índios, Caboclos, o Povo do Oriente em prol do
desenvolvimento espiritual da humanidade. O Brasil é um país altamente miscigenado
com as suas tradições e diversas culturas: católica, cristã, ameríndia, africana (Nígero-
congolesa) e mais recentemente devemos acrescentar a cultura espírita kardescista.”
(Peixoto, 2018) As culturas católicas, ameríndias e africanas são os produtos de
encontros de populações no momento da colonização e são parte das tradições do
povo brasileiro: europeu, ameríndio e africano.
No próximo item, vamos abordar o tema do Kardescismo, oferecendo algumas
informações para explicar ao leitor que não conhece a realidade brasileira de forma que
possa entender as relações entre Kardescismo e Umbanda.
2. O Kardecismo no Brasil
O Kardecismo, também conhecido como Espiritismo ou Espiritismo Kardecista, é uma
doutrina espírita formulada por Allan Kardec (pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard
Rivail) escritor francês (1804-1869) do século XIX. Alguns dos livros escritos por Allan
Kardec são: O livro Dos Espíritos (1857), O Evangelho segundo o Espiritismo (1864), O
Livro dos Médiuns (1861), O Céu e o Inferno (1865), A Gênese (1868) e O que é o
Espiritismo.
O movimento nasceu na França, onde é pouco divulgado, ao contrário do Brasil, onde
se tornou muito popular e, em cada bairro das principais cidades do Brasil, há um centro
Kardecista frequentado por inúmeras pessoas que, mesmo sendo batizadas na Igreja
Católica, casadas na Igreja Católica, frequentam simultaneamente ou não os dois.
O Kardecismo é fundamentado sobre a prática da mediunidade, que permite a
comunicação com os espíritos desencarnados. Há diferentes tipos de mediunidade:
médiuns de efeitos físicos; médiuns sensitivos; médiuns clariaudientes; médiuns
clarividentes; médiuns sonâmbulos; médiuns curadores; médiuns de psicografia. Todos
nós possuímos as capacidades de mediunidade: é uma questão de estudo e
desenvolvimento. Às vezes, temos duas ou três capacidades acima descritas, às vezes jà
nascemos com estas capacidades e a consciência de como utilizá-las. Somos muito mais
que apenas os nossos cinco sentidos.
A principal crença é da constante evolução espiritual do ser humano por meio da
reencarnação, da lei da causa e efeito/carma. Nosso espírito é imortal, nossa alma é
8
https://www.psupress.org/books/titles/0-271-00724-9.html.
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transitória.
No Kardecismo não se acredita em inferno nem em paraíso, mas sim em encontro
com outras almas que já desencarnaram e que vêm auxiliar para um novo entendimento
e evolução do espírito desencarnado. Acreditam-se em cidades no astral, reproduzindo
escolas, jardins floridos, prédios magníficos com bela arquitetura, hospitais por onde as
almas que desencarnaram de forma abrupta e que não sabem que fizeram a passagem
são tratadas por meio de fluidificação, passes e bons conselhos dos amigos espíritas.
Nessas cidades do astral, existem escolas onde os espíritos aprendem a se lembrar de
suas vidas passadas e as lições aprendidas e são preparados para sua missão futura na
terra. Uma destas cidades astrais se encontra acima do Rio De Janeiro e é conhecida
como Nosso Lar (produziu-se um filme a respeito). Acredita-se que a localização de
Nosso Lar esteja acima do Lar de Frei Luiz, centro kardecista em Jacarepaguá, Rio de
Janeiro.
3. Os Conceitos do Kardecismo
Todos os ensinamentos de Allan Kardec foram transmitidos por espíritos
desencarnados. Os fundamentos são praticar o bem, ser um exemplo de caridade,
procurar a paz diante dos desafios da vida. As principais crenças são a existência de
apenas um Deus, a imortalidade do espírito, a reencarnação como um meio para a nossa
evolução. Não existe céu nem inferno, nem julgamento. Antes de encarnar aqui na
Terra, escolhemos os nossos pais e família para saldar carmas de vidas passadas, por
serem os melhores para nos conduzir no caminho da evolução e da compreensão.
Um dos maiores representante do Kardecismo foi Chico Xavier (1910- 2002) que,
através psicografia e de sua mediunidade enviava cartas dos filhos desencarnados para
as mães aflitas que o procuravam em busca de consolo, comprovando, assim, a
reencarnação e a vida eterna. Chico psicografou 451 livros, que reproduziam o que os
espíritos lhe transmitiam. Seus livros foram traduzidos para vários países. Os lucros
voltando sempre às obras de caridade.
As principais atividades dos centros espíritas kardecistas são palestras que têm
geralmente como tema a Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus; atendimento
fraterno; trabalhos de caridade em favelas. As palestras consistem na leitura de um
capítulo do livro dos espíritos, ou obra psicografada, e a interpretação e comentários do
palestrante sobre o texto lido. Depois da palestra, os médiuns da casa se posicionam de
frente, individualmente, aos assistentes e dão um passe (limpeza do campo áurico).
Após o passe, os atendidos se levantem e, antes de regressarem a suas casas vão beber
a água fluidificada.
No atendimento fraterno, as pessoas são atendidas individualmente por um irmão
da casa que, de acordo com cada caso, irá encaminhá-los ou para trabalho de estudo,
ou para trabalho de obsessão. Nos trabalhos de caridade, os irmãos atendem as
comunidades de baixa renda em favelas, dando apoio às mães grávidas, abrindo
creches, atendendo as crianças em idade escolar ou mantendo lar de idosos. As casas
kardecistas fazem muitas campanhas, por exemplo, da cesta básica e, no inverno, de
doação de cobertores.
Para obterem recursos, as casas kardecista dependem de doações, da venda do
bazar, da lanchonete (bolos, refrigerantes, café) e de suas livrarias espíritas onde são
vendidos os livros psicografados de vários autores espíritas.
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4. A Umbanda
A Umbanda é uma religião brasileira que cultua Deus, os Orixás e os Guias Espirituais.
A Umbanda herdou o culto dos Orixás do Candomblé, mas Candomblé e Umbanda são
religiões distintas. Sobre suas origens, existem diversas narrativas. Segundo uma versão,
a Umbanda nasceu no bairro de São Gonçalo, um subúrbio do Rio de Janeiro em 15 de
novembro de 1908, dia do aniversário da Proclamação da República. O médium Zélio
Fernandino de Moraes incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas numa mesa
kardecista, ocasião em que se perguntou o que o espírito queria ao que ele respondeu
que viera fundar uma nova religião, a Umbanda. As pessoas que estavam na mesa
pediram ao médium e ao espírito para se retirarem, porque não estavam interessadas
na mensagem de um Caboclo9. Na semana seguinte, muita gente se apresentou na casa
de Zélio Fernandino de Moraes, onde o espírito do Caboclo atendia às pessoas que
pediam ajuda espiritual: assim nasceu a Umbanda! A nova religião não parou de crescer,
dando voz e passagem a guias espirituais representados por Caboclos, Índios, Pretos
Velhos, Pretas Velhas (o negro ou a negra que foram escravos no Brasil), Crianças, Exu
(orixá e entidade), Pombagiras, Ciganos e Ciganas, entidades que antes não tinham lugar
e espaço para desenvolver os seus trabalhos de caridade.
Essa versão da fundação da Umbanda vem sendo questionada por pesquisadores. O
sociólogo Lucas de Lucena Fiorotti, autor da página Abrindo a Gira, no Instagram,10
relata que: "Há indícios de que já havia práticas de umbanda muito semelhantes tanto
em ritualística quanto em estética ao que acontece hoje muito antes de 1908"(…) Essa
umbanda que tem Zélio como fundador é uma umbanda muito associada ao espiritismo
em si. Mas há diversos autores que se sentem contemplados por essa narrativa e eles
são pessoas fortemente associadas ao espiritismo e a algumas ideias esotéricas,
místicas. Fogem da vivência do terreiro de fato. A estrutura umbandista já existia no
século XIX."11 O que o Zélio fez foi dar uma estrutura ao ritual e, a partir daí, teve uma
maior divulgação na sociedade. Hoje A Umbanda tem 400.000 seguidores (2014).
Existem várias vertentes da Umbanda e, cada uma, é cultuada de uma forma
diferente: Umbanda tradicional; Umbanda Carioca (quase não existe, mas existem
alguns terreiros descendente desta origem); Umbanda espírita; Umbanda esotérica;
Umbanda Afrocentrada (prática sem sincretismo religioso, sem imagens); Umbanda
Omuloko; Umbanda das Almas de Angola; Umbanda Branca; Umbanda Daime. Cada
casa de Umbanda é um universo em si, com as suas histórias e práticas, sua função
social, atendendo públicos diversos em contextos particulares e uma variedade de
rituais.
Os médiuns da casa, depois que passam um ano de desenvolvimento e após a
9
Segundo o kardecismo daquela época, representavam uma classe de seres não esclarecidos e de pouca
evolução.
10
https://www.bbc.com/portuguese/geral-59677047.
11
https://www.bbc.com/portuguese/geral-59677047
Watanabe lembra que a própria palavra umbanda vem das línguas quimbundo e umbundu da África
Central e "significa algo como arte ou maneira de curar".
"É uma palavra que existe há muito tempo e, como sendo arte ou maneira de curar, se trata de uma
prática medicinal e espiritual feita por um médico feiticeiro", contextualiza.
"Algo que já era praticado por centro-africanos desde muito tempo atrás e, a partir da diáspora, do tráfico
de escravizados, acaba sendo trazido ao Brasil. Por isso, no Rio de Janeiro do século 19 já havia diversas
casas de feiticeiros africanos."
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manifestação dos espíritos guias recebem o nome da sua entidade, sendo indicados pelo
dirigente da sessão os colares de proteção que simbolizam as entidades e os orixás pelas
cores.
5. Os rituais da Umbanda
A Umbanda é o sincretismo de Santos da Igreja Católica e os Orixás do Candomblé.
No sincretismo temos Oxalá na linha da fé que representa Jesus Cristo, Ogum na linha
da lei e ordenação com sincretismo em São Jorge, Oxum na linha do amor sincretiza com
Nossa Senhora da Conceição, Iemanjá que tem o sentido da geração em toda criação
divina sincretiza com Nossa Senhora dos Navegantes, Obaluayê na linha da evolução
com São Lazaro, Oxóssi na linha do conhecimento sincretizado com São Sebastião,
Xangô na linha do equilíbrio e justiça sincretiza com São Jerônimo. Cada um desses
Orixás tem o seu pai cósmico. A Umbanda cultua quatorze Orixás dos quais são sete
universais e sete cósmicos. Nas diversas linhas de Umbanda há uma diversidade grande
de entendimento, mas são como raios de um grande arco-íris e todas são aceitas de
acordo com a sua posição geográfica nesta imensidão que é o Brasil. Exu, mensageiro
dos Orixás, é o guardião que nos protege de tudo que vem de fora, o sentido é proteger
o indivíduo de si mesmo. A função dos Exus é fazer a pessoa olhar para sua própria
sombra.
A Umbanda tem a sua liturgia, tem os seus fundamentos, tem a prática da caridade
e do amor, cuida do coletivo. Um médium desenvolve a sua mediunidade para fazer o
bem ao seu próximo, para acolher os necessitados.
A Gira é o ritual principal, um culto, e consiste em uma reunião, um agrupamento de
vários espíritos, uma determinada categoria de espíritos que se manifestam através da
incorporação nos médiuns (ex.: Gira de Caboclo, Preto Velho). A Gira pode ser festiva,
de trabalho ou de desenvolvimento dos médiuns. Cada linha de Umbanda costuma ter
uma Gira. Todo Preto Velho representa o negro ou a negra que foi escravo aqui no Brasil.
Temos Caboclos e Caboclas (Índios, Índias do Brasil). Temos Boiadeiros, que
representam a cultura do Nordeste e do Sul, temos os Marinheiros: Piratas, Caçarias. A
linha das Crianças: os Erês e as linhas das Ciganas e Ciganos. Cada entidade corresponde
a um Orixá.
A gira começa e se termina com uma defumação. As mesmas ervas utilizadas no
terreiro são as mesmas que a Igreja Católica utiliza na defumação – é a limpeza do plano
etérico. As ervas vão anular tudo que é negativo, tudo o que está impregnado, tanto na
matéria, como no plano etérico de pessoas, objetos e espaço físico. É limpeza, as ervas
têm o poder de desmanchar, limpar, fluidificar, de purificar e manter o equilíbrio entre
o plano físico e o espiritual. Algumas ervas utilizadas: arruda, alfazema, benjoim,
alecrim, comigo-ninguém- pode, espada de São Jorge, manjericão, pimenteira.
No caso de uma Gira de Umbanda ou Candomblé, o elemento mediúnico deve cantar,
ouvir e sentir no coração, auxiliando, assim, sintonizar-se com as energias sublimadas.
Os cantos, chamados pontos cantados, são para chamar as forças espirituais das
entidades. O ponto cantado é uma ponte entre os Orixás e os homens, existem muitos
pontos cantados: pontos para entidades espirituais, pontos para cura. Dá-se o nome de
Curimba quando o ponto é cantado por uma entidade incorporada num médium
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(Santos, 1992)12.
Outro elemento do ritual são os Atabaques, instrumentos de percussão de origem
afro-brasileira. O Atabaque pode ser coberto de couro de boi, veado ou bode, os
Atabaques são geralmente feitos em madeira de lei como Jacarandá, cedro ou mogno.
Eles são tocados com as duas mãos com intervalos/ repiques que marcam o ritmo e a
frequência de acordo com as chamadas dos Orixás e das entidades. Os Atabaques são
instrumentos sagrados firmados por Orixás e Guias e têm uma força poderosa. O
Atabaque passa pelo ritual de consagração. No terreiro, são três Atabaques: O maior é
o Rum (tem registro grave), o médio é o Rumpi (tem registro médio) e o menor é
chamado de Lê (tem registro agudo). O Rumpi responde ao Rum tocado por Ogãs
iniciados. Os Ogãs são a grande maioria do sexo masculino e responsáveis por tocar os
Atabaques. O Lê acompanha o Rumpi e é tocado por um Ogã aprendiz. Estes
instrumentos dão ritmo e Axé às Giras13.
A seguir, apresentamos a Casa Caminheiro da Verdade, situada na Rua Comendador
João de Almeida 133, Engenho de dentro, Rio de Janeiro, com a qual começamos a nossa
pesquisa de terreno. A apresentação da Casa Caminheiros da Verdade foi escrita pela
Presidenta Deize Isabel M. Da Silva.
Fig. 2: Centro Espírita Caminheiros da Verdade. Imagem fornecida por Deize Isabel M. da Silva.
Para falar do C.E.C.V. (Centro Espírita Caminheiros da Verdade) é imprescindível
começar por Hippolyte Léon Denizard Riavail – Allan Kardec. Seu pseudônimo Allan
Kardec foi escolhido por seu Mentor espiritual. Pois todos os trabalhos Espirituais,
Religiosos e Mediúnicos da Instituição têm como base o “espiritismo”.
Em 18 de abril de 1857, Allan Kardec traz a luz para o mundo com “O Livro dos
Espíritos” considerado o marco do espiritismo – pois é deste livro que vem o termo
usado até hoje “ESPIRITISMO” - A evolução do espírito através da reencarnação, a vida
do espírito em outro plano e a prática mediúnica entre o encarnado (ser humano) e o
desencarnado (espírito) ou seja, entre os VIVOS e os MORTOS.
Vivemos em um mundo de expiação, onde o encarnado busca a evolução do espírito.
“O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes”
- Allan Kardec.
O C.E.C.V. é uma Instituição com 91 anos de existência, voltada para a difusão e
propagação da Doutrina Espírita com a prática da caridade gratuitamente desde sua
12
Santos, Gilson S. (1992). Os mistérios dos Orixás, Eguns e outras Energias. Editora: Tríade Editorial, Sao
Paulo.
13
www.casadecaridadegauisa.com.br.
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fundação a todos, indiferentemente de sua condição social, cultural e econômico.
Fundada em 4 de março de 1932 pelo médium Guilherme de Oliveira a pedido de seu
Mentor Espiritual, o Caboclo Guaraná, que psicografou o nome da Instituição e
determinou Santo Antônio de Pádua como Padroeiro, em uma alusão às 13 pessoas que
completavam o quadro mediúnico na época. Fica determinado que a data 13 de junho
dia de Santo Antônio a Solenidade com a distribuição dos pãezinhos - uma referência de
Santo Antônio. E o dia 4 de março a Solenidade ao aniversário do C.E.C.V.
Em 1936 o Comendador João Carneiro de Almeida, chega ao C.E.C.V. para conhecer
os trabalhos Kardecistas, momento em que se apaixonou de imediato. E, a convite de
Guilherme de Oliveira, aceita ser o Presidente da Instituição. Começa então o processo
de crescimento material e religioso, que passa a ser considerada a maior Instituição de
caráter espiritualista.
O C.E.C.V. teve sua primeira sede na Rua Álvaro Miranda em Pilares, uma casa
residencial adaptada para os trabalhos Espirituais, Religiosos e Mediúnicos, funcionando
neste endereço até 1940. Quando o Comendador João Carneiro de Almeida compra
duas (2) casas geminadas na Rua Henrique Scheid e adaptou a primeira sede própria da
Instituição.
Ao longo de 40 anos, o Comendador João Carneiro de Almeida adquiriu dois (2) lotes
na antiga Rua Atalaia, que hoje tem o nome de Rua Comendador João Carneiro de
Almeida, uma homenagem prestada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro – RJ da
época do Governador Antônio de Pádua Chagas Freitas.
Inicia-se a construção do Edifício sede da Instituição e simultaneamente todos os
trabalhos idealizados pelo Comendador João Carneiro de Almeida que funcionam
permanentemente até os dias de hoje. O edifício leva seu nome em uma forma de
gratidão por tudo o que ele fez pela Instituição.
Em 1949, inauguram-se o térreo e as galerias e, em 1953, os últimos pavimentos onde
funcionava o Lar Antônio de Pádua que era a Obra social da Instituição. O edifício tem
quatro (4) pavimentos.
Entrando agora nos segmentos de trabalhos Religiosos, Espirituais e Mediúnicos da
Instituição. Começo a falar da Umbanda, a conhecida Umbanda de Carneiro. Uma
Umbanda branca, sem sacrifícios e oferendas.
Apesar de já existirem os trabalhos de Umbanda em outras Casas, o C.E.C.V. ainda
não oferecia este tipo de trabalho na Instituição. Certa vez, chega no C.E.C.V. a irmã
Maria Lina Gonçalves para conhecer e trabalhar, pois naquela época João Carneiro já
era conhecido em identificar e ajudar pessoas que apresentavam algum tipo de
problemas desconhecido e aparentemente sem solução, pois se tratava de um
irmãozinho espiritual se apresentando e precisando de ajuda, e assim os trabalhos
seguiam e as pessoas que ali chegavam, ficavam a trabalhar. E assim foi com Maria Lina
que, seguindo trabalhando, recebe um espírito que se identifica como Caboclo Tira
Teima e mentor da irmã Maria Lina. E pede a João Carneiro para criar os trabalhos de
Umbanda na Casa, pois ele era um caboclo (índio) e seu trabalho era na Umbanda.
Diante da insistência do pedido do Caboclo Tira Teima, o Comendador João Carneiro
decide criar os trabalhos de Umbanda na Instituição e faz uma exigência: “não aceitaria,
em hipótese nenhuma, qualquer tipo de sacrifício animal ou oferendas. Que seria uma
Umbanda branca”. E assim ficou conhecida a Umbanda de Carneiro um trabalho que se
destacava dos trabalhos das coirmãs.
Sendo assim, em 6 de julho de 1940, o Comendador João Carneiro de Almeida institui
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Umbanda no Rio de Janeiro 111
os trabalhos Espirituais, Religiosos e Mediúnico da Umbanda na Instituição e nomeia o
Caboclo Tira Teima como Guia Chefe dos trabalhos de Umbanda. Na Instituição, os
trabalhos de Umbanda são determinados com consultas com caboclos (índios) e pretos
velhos. Exus, em geral, não dão consultas, mas são eles que fazem toda a limpeza
(descarrego) dos consulentes e os caboclos e pretos velhos fazem o equilíbrio com
passes, rezas e banhos de ervas quando necessário. A Casa não permite trabalhos com
nenhum tipo de bebidas alcoólicas, é permitido apenas o uso de charutos, fumos,
cigarros, cigarrilhas. Na Umbanda, é permitido o uso de colares (guias ou fios de conta)
confeccionados com nylon e contas de louça ou cristal número 8 e firmas (uma conta
maior que é a firmeza da guia)
Colares (guias ou fios de contas) - Oxalá (contas brancas com 121 contas com crucifixo
sem firma); Tira Teima (120 contas, sendo 60 brancas e 60 vermelhas intercaladas de
louça, com crucifixo sem firma), as demais guias serão de acordo com o que cada mentor
espiritual de cada irmão pedir, com uso de firma ou não dentro dos parâmetros da
Instituição. Ogum (contas vermelhas de louca ou cristal), Xangô (conta marrom de louca
ou cristal), Iansã (conta amarelo ouro), Oxum (contas azul turquesa de cristal ou louça),
Iemanjá (contas de cristal transparente), Nanã (contas lilás ou roxo de cristal ou louça),
Oxóssi (contas verdes de louça ou cristal), Criança (conta rosa, salmão, azul turquesa de
cristal ou louça), Exu (conta vermelha, branca ou preta de cristal ou louça).
A Umbanda é uma religião brasileira eminentemente espiritista, espiritualista e
católica, pois os Santos (os Orixás têm como base o sincretismo nos Santos Católicos.
Exemplo: São Jorge– Ogum; Santa Bárbara – Iansã; Nossa Senhora da Conceição – Oxum;
São Sebastião - Oxóssi, São Gerônimo – Xangô; Nossa Senhora de Santana – Nanã;
Cosme e Damião - Criança... A fé professada pelos praticantes médiuns é, em sua
maioria, calcada em uma crença forte em Deus e na existência do mundo espiritual que
interage o tempo todo com o plano dos encarnados. Atendimentos: segundas-feiras,
quintas-feiras e sábados, com distribuição de senhas das 14h até 20h – atendimento a
partir das 17h.
O Caboclo Tira Teima fica por 51 anos como Guia Chefe até que a médium Maria Lina
Gonçalves falece em 1982 – dois anos antes, o Caboclo Tira Teima em uma cerimônia
solene comunica a família Caminheira que seu sucessor já havia sido escolhido e
decidido no Plano Espiritual, e apresenta o irmão Tarcizo Antônio Carneiro de Almeida.
Sendo um encarnado, ele seria o Comandante em Chefe Espiritual da Instituição, desta
forma comandaria todos os segmentos de trabalhos espirituais religiosos e mediúnicos
e assim definir, estabelecer as normas do princípio filosófico, litúrgico e os ritos dos
trabalhos de Umbanda, Sessão das Rosas Brancas (Mesa Kardecista), Fonte de Siloé
(Cirurgia Espiritual Invisível) e a Ordem Espiritualista da Estrela (trabalhos de natureza
esotérica).
Tarcizo Antônio Carneiro de Almeida – filho amado do Comendador João Carneiro de
Almeida, criança deixada no Lar Antônio de Pádua por sua mãe biológica e adotado e
registrado como filho legítimo pelo Comendador João Carneiro de Almeida e por Júlia
Coelho Kuaik que, procurada por João Carneiro, aceitou de imediato adotar e registrar
como seu filho legitimo o filho de Santo Antônio de Pádua assim reconhecido, e desta
forma realizar o sonho de ser mãe.
Tarcizo Antônio Carneiro de Almeida torna-se Presidente em 1984, no meado dos
anos 2000, alcança a vitaliciedade e assim passa a ser Presidente Vitalício permanecendo
nesta função por 40 anos. Vale salientar que Tarcizo Antônio Carneiro de Almeida foi um
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exímio Presidente e Comandante em Chefe Espiritual, com uma conduta e valores
agregados a esta magnífica Obra e ao movimento Umbandista como um todo e,
também, reconhecido como o reconstrutor da Obra.
Continuando, em 4 de julho de 1953, o Comendador João Carneiro de Almeida cria e
institui a Ordem Espiritualista da Estrela, um trabalho que visa harmonizar os chakras, o
reequilíbrio energético e emocional através de estudos, limpeza psíquica e passes de
cura prânica.
Ao começar os trabalhos, os consulentes ficam em uma sala em silêncio, ouvindo ao
fundo um leve som para relaxar, nesta mesma sala passam por uma pequena palestra
(ensinamentos), um a um é levado a outra sala, onde passa pelas energias da natureza,
terra, ar, fogo e água (limpeza psíquica), em seguida são levados para a sala da Estrela,
onde cada um recebe os passes energéticos.
Atendimento: toda segunda-feira - distribuição de senhas das 14h até 20h,
atendimento das 18h até 21h
Em 31 de julho de 1964, o Comendador João Carneiro de Almeida cria e institui a
Fonte de Siloé - Cirurgia Espiritual Invisível, um trabalho que visa tratar da saúde física,
mental e espiritual, por meio da Cirurgia Espiritual Invisível, com emanações fluídicas
das Entidades e da Cromoterapia (tratamento através das cores).
Os trabalhos acontecem todas as quintas-feiras, sendo a primeira quinta-feira de
cada mês para a cirurgia e as demais quintas-feiras para os curativos. Enquanto o
consulente estiver nos trabalhos da Fonte de Siloé, não pode participar de outros
trabalhos até a alta. Marcação da cirurgia todas as quintas-feiras das 15h até 17h. As
cirurgias acontecem sempre nas primeiras quintas-feiras de cada mês através da
marcação. Os trabalhos acontecem das 18h até 20h. Os trabalhos da Fonte de Siloé
podem ser feitos a distância, é só vir à Instituição para marcar ou ligar.
Em 1º de maio de 1968, o Comendador João Carneiro de Almeida cria e institui a
Sessão das Rosas Brancas (Mesa Kardecista), Espiritismo, Kardecismo ou Espiritismo
Kardecista. É uma doutrina religiosa de cunho filosófico e científico, cuja principal
crença gira em torno da constante evolução do ser humano ao longo das sucessivas
reencarnações, crendo--se em Deus e na imortalidade da alma e no amor.
Os trabalhos acontecem todas as terças-feiras, das 18h até às 20h. Os trabalhos
iniciam com palestra e estudo de livros kardecistas e orações. O atendimento é por
ordem de fileira (bancos do salão nobre), os consulentes podem trazer uma (1) rosa
branca e uma garrafa com água potável para serem energizadas e, dessa forma, levam
de volta consigo para usar de acordo a indicação recebida. Cada consulente é chamado
à Mesa dos trabalhos, onde é colocado diante do irmão que está sentado à mesa e, ali,
acontecem os trabalhos de limpeza. Em seguida, o consulente retorna ao seu assento e
aguarda o momento dos passes magnéticos das Entidades, finalizando-se os trabalhos
do dia.
Para ingressar na Instituição como médium é preciso frequentar pelo menos a um (1)
ano o CECV, depois, passar pelo curso de médium que tem o tempo de 3 meses e se
associar à Instituição. O ingresso de novos médiuns são duas (2) vezes ao ano. O curso
é para candidatos a médium e, também, para aqueles que queiram apenas aprender um
pouco mais sobre a cultura. Os candidatos a médium, quando ingressam, tem de
mandar fazer as fardas, uniformes, roupas. Homens, calça comprida, jaleco com
comprimento abaixo do quadril, com bolsos e mangas curtas e, do lado esquerdo, na
altura do coração, uma cruz pertencente ao ponto do Caboclo Guaraná, simbolizando a
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Umbanda no Rio de Janeiro 113
caridade e Oxalá e, na manga esquerda, um número para identificação no Terreiro.
Mulheres usam baianas (2 saias com 4 metros de roda cada, 1 saia com 2 metros de
roda, calça comprida até o joelho, camiseta de alça e uma bata de mangas curtas e fofa;
na bata lado esquerdo, na altura do coração, a cruz; e, na manga, um número), ambos
usam uma sacola feita do mesmo tecido para guardar suas guias (colares, fio de contas).
Classificação dos médiuns: 1 – Cambono (a); 2 - Médium apto aos trabalhos de
correntes (limpeza, desobsessão); 3 - Médium apto para as consultas; 4 - Médium que
recebe por merecimento, podendo chegar a Dirigente; 5 - Médium Dirigente
(responsável pelos trabalhos do dia).
Todos os cargos da Instituição são cargos de confiança do Presidente e Comandante
em Chefe Espiritual, podendo exonerar a qualquer momento.
Com o falecimento do Presidente Vitalício e Comandante em Chefe Espiritual Tarcizo
Antônio Carneiro de Almeida, em 17 de dezembro de 2021, assume interinamente por
três (3) meses a irmã Deize Izabel Maria da Silva - Secretária Geral, até que fosse
formada a AGE em 12 de fevereiro de 2022 para a eleição do novo Presidente, o qual,
legitimamente, torna-se Presidente por tempo indeterminado, de acordo com o
Estatuto em vigor da Instituição. Quatro (4) anos antes, o Comandante em Chefe
espiritual Tarcizo Antônio Carneiro de Almeida recebe uma mensagem do Caboclo
Guaraná por intermédio da irmã Dirce da Trindade Reis de quem iria lhe suceder após
sua passagem para o plano espiritual. Deixando determinada a decisão da escolha da
Espiritualidade a Cabocla Jurema Flecheira da Praia, mentora espiritual da irmã Deize
Izabel Maria da Silva, para assumir e se tornar a Guia Chefe do Centro Espírita
Caminheiros da Verdade. Dessa forma, fica determinado à irmã Deize Izabel Maria da
Silva a Presidência e o Comando dos segmentos de todos os trabalhos Espirituais,
Religiosos e Mediúnicos da Instituição e, assim, definir, estabelecer as normas do
princípio filosófico, litúrgico e os ritos dos trabalhos de Umbanda, Sessão das Rosas
Brancas (Mesa Kardecista), Fonte de Siloé (Cirurgia Espiritual Invisível) e a Ordem
Espiritualista da Estrela (trabalhos de natureza esotérica).
Fig. 3: Centro Espírita Caminheiros da Verdade. Imagens fornecidas por Deize
Isabel M. da Silva.
Em 13 de abril de 2023, o Centro Espírita Caminheiros da Verdade foi homenageado
com duas (2) Moções de Louvores, Congratulações e Aplausos na Câmara Municipal do
Rio de Janeiro, entregue por Sua Senhoria Vereador Átila Alexandre Nunes, através de
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seus Dirigentes Tarcizo Antônio Carneiro de Almeida (In Memorian) e de Deize Izabel
Maria da Silva.
“Através de suas atuações e engajamentos na propagação das tradições religiosas
Umbandistas conquistaram o respeito das demais lideranças religiosas. Motivo de
orgulho de nossa crença, esta importante entidade de representação, promove o
engrandecimento da Umbanda, unindo seus seguidores, enaltecendo a fé e a Caridade,
buscando ajudar aos irmãos.
Reconhecemos, assim como grande parte da população do Rio de Janeiro, seu
comprometimento com os mais elevados valores morais e espirituais, sendo inegável
que é merecedora desta honraria que ora prestamos".
Plenário Teotônio Villela, 13 de abril de 2023.
Vereador Átila Alexandre Nunes.
6. Conclusões
Religião sincretiza por excelência, a UMBANDA incorpora conhecimentos milenares
das culturas Ameríndias e Africanas, realizando, ao mesmo tempo, a essência do
evangelho do Cristo Consolador, Misericordioso e de Compaixão. Então, a Umbanda alça
tais conhecimentos ao patamar de teoria e de filosofia sobre as coisas e seres do/no
mundo. As atividades da Umbanda, de fato, coadunam física, biologia, magia, história e
psicologia, articulando conceitos espíritas, católicos e afro-indígenas a princípios
filosóficos do hermetismo, da alquimia, além das práticas energéticas de cunho
espiritualista, como a magnetização enquanto técnica de cura (Peixoto, 2017).
A Umbanda pode parecer bizarra ao leitor Europeu, mas participando nas atividades
podem-se ver as extensões de suas raízes na sociedade brasileira, incluindo várias
classes de grupos sociais e étnicos. A Umbanda responde às necessidades ao mesmo
tempo espirituais e práticas das curas. Não se pode negligenciar a proximidade do
Sagrado e a participação coletiva e individual nas experiências místicas que ao longo do
tempo sempre existiram, mas com a civilização moderna foram diluídas, podendo-se
dizer que foram ridiculizadas. Em comparação com Estados Unidos e Europa, no Brasil,
a espiritualidade é muito forte. Segundo mensagens espirituais psicografadas por Chico
Xavier, o Brasil foi a terra escolhida para ser o celeiro do mundo – o Brasil foi a terra
escolhida por Cristo para liderar a transição planetária.
Em nossa conclusão, citamos os comentários do Irmão Ernest conhecido como Pai
José (Luiz Antônio, médium) que sintetiza o espírito da Umbanda: “Sem Amor, nada é
possível; sem Caridade, nada é possível; sem Simplicidade, nada é possível; sem
Sentimento Nobre, sem Pureza, nada é possível.” 14
Referências
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Pennsylvania State University Press, University Park.
Kardec, A. (1857). O livro Dos Espíritos. Traduçao portoguesa, FEB, Rio de Janeiro, 1944.
14
Umbanda O Arco-íris de Amor. Editora Ideia Jurídica. 2016.
Comparative Cultural Studies: European and Latin American Perspectives 17: 103-118, 2023
Umbanda no Rio de Janeiro 115
Kardec, A. (1861). O Livro dos Médiuns. Traduçao portoguesa, FEB, Rio de Janeiro, 1944.
Kardec, A. (1864). O Evangelho segundo o Espiritismo. Traduçao portoguesa, FEB, Rio de
Janeiro, 1944.
Peixoto, R. (2017). Os encantos da Umbanda, EDICOES Besouro Box, Porto Alegre.
Queiroz R. (2022). Mediunidade na Umbanda. Citadel, Porto Alegre.
Santos, G.S. (1992). Os mistérios dos Orixás, Eguns e outras Energias. Editora: Tríade
Editorial, Sao Paulo.
Xavier, C. (1943). Nosso Lar. Editora Dufaux, São Paulo.
AA.VV. (2016). Umbanda: O Arco-íris de Amor. Editora Ideia Jurídica, Rio de Janeiro.
Webgrafia
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https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/espiritismo-por-que-o-
brasil.phtml?utm_source=site&utm_medium=txt&utm_campaign
https://ancestrals.com.ng/2022/12/08/spiritism-in-brazil-120-yrs-of-science-
religion-and-intellectualism/
https://super.abril.com.br/cultura/por-que-o-espiritismo-pegou-tanto-no-brasil
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https://www.bbc.com/portuguese/geral-59677047
www.casadecaridadegauisa.com.br
https://www.wemystic.com.br/gira-de-umbanda-descubra-o-processo-de-todo-o-
ritual/
https://www.astrocentro.com.br/blog/umbanda/o-canto-da-umbanda/
wemystic.com.br
Youtube
https://youtu.be/fo-cM3-1PuI
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116 Giovanna Campani, Claudia Herzfeld & Deize Izabel M. Da Silva
https://youtu.be/mDiDdzysagA
https://youtu.be/zfhlORUec-M
Glossário
Água fluidificada: A água fluidificada é a água em que fluidos medicamentosos
através dos espíritos presentes nas sessões e as orações trazem grandes benefício a
quem a bebe. É sempre ingerida no final das palestras, e preces em sessões e reuniões
espíritas.
Atendimento Fraterno: Em toda casa Kardecista tem atendimento fraterno, que
representa a porta de entrada da maioria dos que chegam à casa espírita: são
oferecidas as primeiras orientações, bem como são encaminhados os assistidos de
acordo com as necessidades de cada um. O atendimento é individual.
Caboclos /Caboclas : São uma linha de entidades consideradas muito sábias e são
procurados pelos seus conselhos e passes poderosos. Eles são identificados com
indígenas e possuem um vasto conhecimento de plantas, ervas e banhos. Embora sejam
regidos pelo Orixá Oxóssi (Rei das Matas), há caboclos de todas as linhas dos Orixás:
Ogum, Oxum, Iemanjá, Xangô, Oxóssi, Obaluaiê, Nanã, Iansã e Oxalá. Há uma linha
Oriental de caboclo, como o Sultão da Mata.
Cambono/a: É o ajudante do pai de Santo ou mãe de Santo, e de médiuns
incorporados. As suas funções: busca itens solicitados, tais como velas e ervas; transmite
recados; faz anotações; e o que mais for pedido.
Defumação: Na Umbanda a defumação é utilizada em contextos rituais e consiste na
queima de Ervas (Arruda, Benjoim, Alecrim) cuja finalidade é a limpeza do terreiro e dos
consulentes.
Descarrego: O descarrego é uma limpeza para eliminar energias nocivas e prejudiciais
ao consulente (ex.: inveja, mau olhado). O Descarrego pode ser feito por meio do passe
e, principalmente, através do uso de banho de plantas prescritas a serem tomados em
certos dias da semana, de acordo com o consulente.
Desenvolvimento: O desenvolvimento mediúnico é uma prática necessária para que
os médiuns aprenderem a se conectar com os seus guias. As casas de Umbanda
denominam essa prática, que pode levar de 1 ano a 2 anos, de Gira de desenvolvimento.
Desobsessão: Segundo a Doutrina Espírita, é um tratamento de longa duração, no
qual se identifica um espírito sofredor ou vingativo, podendo causar grande desarmonia,
pensamentos suicidas e depressão no consulente. Esses obsessores ou obsessor são
espíritos desencarnados ou encarnados. Mas como todos possuímos capacidade de
regeneração, o tratamento pela desobsessão trata a vítima e o obsessor.
Comparative Cultural Studies: European and Latin American Perspectives 17: 103-118, 2023
Umbanda no Rio de Janeiro 117
Erês: Na Umbanda são espíritos de crianças evoluídas e que estão próximos aos
Orixás. No Candomblé, são entidades intermediárias entre os Orixás e os seus filhos. Os
médiuns adotam postura de crianças, brincando de roda, pedindo doces, correndo no
terreiro. Trazem muita leveza, inocência e alegria nas suas manifestações.
Espíritos desencarnados: Segundo Allan Kardec, os espíritos são seres inteligentes da
criação. Constituem o mundo dos espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo. Os
espíritos vivem na vida espiritual, embora já tivessem vidas aqui na terra. Somos todos
espíritos encarnados ou desencarnados. Cada alma reencarna várias vezes, no nosso
DNA estão registradas todas as nossas encarnações.
Exu: Na Umbanda é a entidade que guarda os caminhos, manipula energias e
movimenta as forças sobrenaturais, cortando e desfazendo o mal. Ele é considerado o
Guardião de Orum (Céu).
Gira: É o nome do ritual da Umbanda.
Guias: Podem ser Guias Espirituais que acompanham a pessoa ao longo da vida,
protegendo-a, ou podem ser Colares Sagrados com as cores de acordo com cada Orixá,
entidade do médium e servem de proteção. Na Umbanda, os colares ritualísticos têm o
nome de Guia, por representarem o guia espiritual de cada religioso.
Guias Espirituais: Eles são seres de luz designados antes do nosso nascimento e nos
acompanham, guiam-nos, protegem-nos ao longo de nossa vida.
Incorporação: A incorporação é também conhecida como psicofonia, termo utilizado
pelo Kardecismo. Acontece quando o Guia se aproxima do corpo do médium: o médium
autoriza a entidade e o acoplamento áurico ocorre. Aí, o médium assume as posturas
da entidade incorporada, ex.: quando a entidade é um Preto Velho, o médium irá se
curvar; quando é uma criança; irá pular. Normalmente, toda incorporação é um ato
consciente; mas em raros casos, o médium fica inconsciente e não se lembrando de
nada.
Kardecismo: É uma doutrina espírita formulada por Allan Kardec, pseudônimo de
Hippolyte Léon Denizard Rivail ( 1804-1869), na França.
Linha do Oriente: A linha do Oriente é muito ampla e traz o povo do Oriente, tais
como monges tibetanos, chineses, turcos, hindus, muçulmanos, japoneses, integrando-
se, também, à Umbanda.
Médium: Ser médium é possuir uma faculdade que permite o intercâmbio com os
espíritos. O médium nasce com a conexão com o astral e desenvolve esta capacidade
com os anos.
Mediunidade: Segundo O Livro dos Médiuns de Allan Kardec, a mediunidade é
inerente à capacidade orgânica de que todos podem ser dotados, variando de pessoa a
pessoa. Existem médiuns conscientes, que são a maioria, e médiuns inconscientes, que
são a minoria. Médiuns de suma importância são aqueles que, através de suas
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sensibilidades mediúnicas, conseguem visualizar o mundo dos espíritos, até manter-se
em contato permanente com as entidades espirituais.
Obras de Caridade: A Caridade corporifica-se em obras que são manifestações de
Deus; é a atitude de agir em benefício ao próximo sem esperar retorno. As Obras de
Caridade podem se manifestar por campanhas de agasalhos, cesta básica, creches e lar
de idosos para os menos favorecidos. O ato de aconselhar e estar à escuta do próximo
também é considerado Caridade. Ter paciência, compaixão com o próximo, começando
dentro da própria família também o são.
Orixás: São Divindades da crença africana Iorubá: eles são elementos/mestres da
natureza. Na Umbanda, a incorporação dos Orixás não é direita, mas através das
entidades espirituais.
Passe: A palavra “passe” tem origem no Espiritismo kardecista, e traz a ideia de
“passar” ou “transmitir” algo a alguém. A função do passe é retirar as cargas negativas
do consulente.
Pomba Gira: Entidade feminina que pode ser a dama da noite ou feiticeira,
geralmente ligada aos prazeres carnais.
Preto Velho, Preta Velha: São entidades que, em vidas passadas, foram escravos com
grandes sofrimentos, eles são dotados de grande sabedoria e amor, sempre
aconselhando e escutando os consulentes. Eles trazem também grandes
conhecimentos das ervas e plantas curativas. Devido à idade, são facilmente
identificados, pois o corpo do médium se encontra curvado.
Reencarnação: Segundo a Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas, a reencarnação
é o processo pelo qual o espírito retorna periodicamente ao mundo material. Este
processo tem como objetivo auxiliar o espírito reencarnante a evoluir.
Vibração: O substrato ontológico das coisas e dos seres é a energia. A vibração é o
movimento ondulatório de uma energia; a oscilação da onda emitida por uma coisa ou
um ser.
Comparative Cultural Studies: European and Latin American Perspectives 17: 103-118, 2023