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Revista Obreiro Aprovado - 108

O documento aborda a eclesiologia, discutindo a Igreja como um organismo vivo e uma organização social, enfatizando a necessidade de equilibrar essas duas facetas. Diversos autores contribuem com artigos que exploram temas como a importância da apologética, liderança e ministérios paraeclesiásticos. A edição busca fortalecer a compreensão sobre a Igreja e suas demandas contemporâneas, promovendo uma reflexão sobre seu papel na sociedade.

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Mateus
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Revista Obreiro Aprovado - 108

O documento aborda a eclesiologia, discutindo a Igreja como um organismo vivo e uma organização social, enfatizando a necessidade de equilibrar essas duas facetas. Diversos autores contribuem com artigos que exploram temas como a importância da apologética, liderança e ministérios paraeclesiásticos. A edição busca fortalecer a compreensão sobre a Igreja e suas demandas contemporâneas, promovendo uma reflexão sobre seu papel na sociedade.

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A N O 4 8 - N° 1 0 8 - R $ 1 5 ,9 5 APROVADO w w w . c p a d . c o m .

b r

CBO

A IGREJA:
UM ORGANISMO VIVO
Eduardo Leandro Alves

A IGREJA E SUAS NECESSIDADES


) TERRENAS DE ORGANIZAÇAO
Silas Queiroz
E N T R E V IS T A EQUILIBRANDO-SE
Pastor Esequias SOB A TENSÃO ENTRE
Soares, presidente da ORGANISMO E ORGANIZAÇÃO
Sociedade Bíblica do Rayfran Batista da Silva
Brasil e da Comissão
de Apologética ÉRIOS PARAEC LESIÁSTI COS:
da CCADB, fala SUA IMPORTÂNCIA
de apologética e
E SEUS LIMITES
da Igreja como ém m Jesiel Paulino da Silva
organismo vivo e
organização social O LÍDER COMO PASTOR
E ADMINISTRADOR
Carlos Roberto Silva

A IGREJA
COMO ORGANISMO
E ORGANIZAÇÃO
Por n e c e ssid a d e , a ig re ja se m a n ife sta neste m u n d o
m u ita s v e ze s e m fo rm a d e o rg a n iza ç ã o social,
m a s ela é, e m e ssê n cia , u m o rg a n ism o vivo
PREPA RE-SE PARA A PLIC A R
EM SUA VIDA TODA A SABED ORIA
DA PALAVRA D E DEUS Íl

BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL


NOVA VERSÃO TRANSFORMADORA (NVT)
Esta edição inclui uma atualização completa dos recursos históricos e traz conteúdo
novo e expandido, a fim de tornar o material ainda mais relevante para sua vida diária.
Novo também é o design das páginas em duas cores, com uma disposição que facilita
o uso dos recursos. Agora com o texto bíblico na N VT para atender a diversos perfis
de leitores: o especialista em exegese bíblica, o pastor que busca um texto confiável
para seus sermões, o leigo que procura uma palavra de inspiração que fale diretamente
à alma e o jovem que espera compreender o que está lendo.

Esta edição contém:


© Notas de Aplicação Pessoal © Notas Textuais e títulos de seções
e Notas explicativas da versão NVT
© Introdução aos livros bíblicos © Quadros, Mapas, Linhas do
© Esboços e Temas centrais Tempo e Diagramas - Dicionário/
© Perfis dos personagens bíblicos Concordância
CARTA DA CPAD

Organismo e
organização: duas
facetas da igreja
esta primeira edição do ano de 2025 da revista

N Obreiro Aprovado, o nosso tema é Eclesiologia. No


caso, estamos tratando mais especificamente sobre a
Igreja como organismo vivo e como organização so­
cial. Tratam-se de duas facetas importantes da igreja: ela é, em es­
sência, um organismo vivo; porém, diante das demandas legais
deste mundo e de sua necessidade de organização, ela também
se comporta muitas vezes como uma organização social. Trata-
-se de uma tensão que precisa ser vivida de forma equilibrada.
R O N A LD O R. D E SO U Z A
Logo, objetivando fortalecer esse equilíbrio na vida das igrejas,
Diretor-executivo
nesta edição, trazemos artigos que auxiliam na compreensão e na
da CPAD
abordagem do assunto.
Os articulistas e seus respectivos subtemas são os pastores
Eduardo Leandro Alves (PB), que fala sobre a Igreja como orga­
nismo vivo; Silas Queiroz (RO), que discorre sobre a Igreja como
organização social; Rayfran Batista (MA), que trata sobre o equilí­
brio que deve haver na igreja ao lidar com essa tensão de ser tanto
um organismo vivo como uma organização social; Jesiel Paulino
Trata-se de uma (Espanha), que fala sobre ministérios paraeclesiásticos; e Carlos
tensão que deve Roberto, presidente da Convenção de Ministros das Assembléias
de Deus em São Paulo e Outros (Comadesp), que fala do líder de
ser vivida de igreja como pastor e administrador.
forma equilibrada. Nosso entrevistado, falando também sobre esse tema, é o pas­
tor Esequias Soares, líder da Assembléia de Deus em Jundiaí (SP)
Logo, objetivando e presidente do Conselho Administrativo da Sociedade Bíblica
fortalecer esse do Brasil e da Comissão de Apologética da Convenção Geral dos
Ministros das Igrejas Evangélicas Assembléia de Deus do Brasil
equilíbrio na (CGADB).
vida das igrejas, Certo de que esta edição da revista Obreiro Aprovado será
bênção para a sua vida e ministério, concluímos desejando uma
trazemos o tema excelente leitura. Até a próxima edição!

3
OB REIRO
SU M Á R IO

06. CARTA À LIDERANÇA PENTECOSTAL


NÃO TEMAS, DEUS ESTÁ COM VO CÊ NESSE PRO CESSO DE
AN O 4 8 - N° 108 - Io T R IM E S T R E 2025 APERFEIÇOAM ENTO
O pastor José Wellington Costa Junior, presidente da Convenção Geral dos Ministros
Presidente da Convenção Geral
José Wellington Costa Junior das Igrejas Evangélicas Assembléia de Deus no Brasil (CGADB), fala do processo pelo
Presidente do Conselho Administrativo qual Deus fez Jacó passar como analogia do aperfeiçoamento que Ele opera em nós.
José Wellington Bezerra da Costa
Diretor-executivo
Ronaldo Rodrigues de Souza
Editor-Chefe É
</) O pastor Esequias Soares da Silva, líder da Assembléia de Deus
Silas Daniel
Editor
>
ui em Jundiaí (SP) e presidente da Sociedade Bíblica do Brasil e da
Eduardo Araújo ce Comissão de Apologética da CGADB, fala da igreja como organismo
t- vivo e como organização social.
Gerente Financeiro z
Josafá Franklin Santos Bomfiin UI
Gerente de Produção e Arte
Jarbas Ramires Silva
Gerente de Publicações 12. ARTIGO
Alexandre Claudino Coelho A IGREJA: UM ORGANISMO VIVO
Gerente Comercial O pastor Eduardo Leandro Alves, teólogo e líder da Assembléia de Deus em Rio
Cícero da Silva
Tinto (PB), disserta sobre Igreja como organismo vivo, instituído por Deus para for­
Chefe do Setor de Arte e Design
Wagner de Almeida mar indivíduos regenerados e unidos pela fé em Jesus, cabeça desse corpo místico.
Projeto Gráfico
Fábio Longo
Diagramação e Capa
Bruno Duarte
20. ARTIGO
Projeto Digital
A IGREJA E SUAS N ECESSID AD ES TERREN AS DE ORGANIZAÇÃO
Alan Valle O assessor jurídico da Convenção Estadual dos Ministros e das Igrejas Assem­
Ilustrações bléias de Deus no Estado de Rondônia (CEMADERON) e pastor-auxiliar na AD
Banco de Imagens Shutterstock
em Ji-Paraná (RO), Silas Rosalino de Queiroz, fala dos reclames sociais e jurídicos
Fotografia
Arquivo (CPAD) que a igreja, vivência por ser ela também uma organização socai.
TELEMARKETING
0800 021 7373
2" a 6a das 8h as 17:30min 27. RESENHA
Opção 1 - Igrejas, cotas e assinaturas
Opção 2 - Colportores e Lojistas Cristologia Paulina - Gordon D. Fee
Opção 3 - Pastores e demais clientes Os Escolhidos - Dallas Jenkins, Amanda Jenkins e Kristen Hendricks
WhatsApp - (21) 2406-7373
ASSINATURA IMPRESSA
R$ 120,00 - (2 anos)
28. ARTIGO
ASSINATURA DIGITAL
R$ 29,00 (1 ano) EQUILIBRANDO-SE SOB A TENSÃO ENTRE ORGANISMO
www.cpaddigital.com.br E ORGANIZAÇÃO
ATENDIMENTO ASSINATURA O tema é discorrido pelo líder da Assembléia de Deus em Santa Inês (MA), pastor
IMPRESSA
(21) 2406-7432 Rayfran Batista, que apresenta a Igreja como organismo que deve ser dirigido pelo
E-mail: [email protected] Espírito Santo e como uma organização que precisa seguir os parâmetros legais.
SUPORTE ASSINATURA DIGITAL
(21) 2406-7315
E-mail: [email protected]
PAGAMENTO - A CPAD n ão m an tém nenhum 36. ARTIGO
tip o d e p e s s o a , r e p r e s e n ta n t e ou v e n d e d o r d e
assin atu ras a u to riz ad o a receb er d iretam en te do
cliente , O pag a m en to de assin atu ras d ev e se r fe it o
MINISTÉRIOS PARAECLESIÁSTICO S: SUA IMPORTÂNCIA
p or m eio d e boletos em agências bancárias ou através
de cartã o d e crédito.
E SEU S LIMITES
O BREIR O - R evista evan gélica trim estral, criada O tema é desfiado pelo pastor Jesiel Paulino, da Assembléia de Deus na
em ou tu bro d e 1977, editaaa pela C asa Publicadora
das A ssem bléias d e D eus, é destin ada à liderança Espanha, que fala sobre a importância desses ministérios e o cuidado que se
p e n te c o s ta l d e m o d o g e r a l. R e g is tr a d a sob n."
007.022.328, con form e Lei d e Im prensa. deve ter quanto aos limites de suas atividades.
A correspondência para publicação deve ser endereçada ao
Departamento de Jornalismo e as remessas d e valor (pa­
gam ento de assinatura, publicidade etc.) exclusivamente
à CPAD. A direção é responsável perante a Lei por toda
matéria publicada. Perante a Igreja, os artigos assinados
44. ARTIGO
são de responsabilidade de seus autores, não representan­
do necessariamente a opinião da revista. Assegura-se a
O LÍDER COMO PASTOR E ADMINISTRADOR
publicação, apenas, das colaborações solicitadas. O pastor e suas atribuições eclesiásticas e administrativa são abordados pelo
Casa Publicadora das Assembléias de Deus pastor Carlos Roberto da Silva, líder da Assembléia de Deus em Cubatão (SP) e
Av. Brasil 34.401, Bangu
C ep 21852-002, R io d e Janeiro, R J presidente da Convenção dos Ministros das Assembléias de Deus no Estado de
Tels.: (21) 2406-7373 / 2406-7413
F ax: 2406.7370
São Paulo e Outros (COMADESPE).
M EN SA G EN S

C o n te ú d o d e a lta
q u a lid a d e c o n d e n ­
sa d o e m 50 p á g in a s A u x ilia n d o no co rre to
m a n u se io d a s E s c ritu r a s
Mesmo em se tratando de um apanhado re­
sumido dentro de um parco espaço, a revis­ A revista Obreiro Aprovado, em sua his­
ta Obreiro Aprovado em nada perde para o tórica trajetória, tornou-se um instrumento
avanço o derrame de informações em tempo de auxílio aos que militam na obra do Mes­
real que somos bombardeados neste tempo tre Jesus, ajudando-nos, como recomendou
presente de verdadeiras mudanças. Paulo ao jovem obreiro Timóteo, a manuse­
ar bem a Palavra da Verdade.
Pr. O távio Sobrinho (RJ)

Pr. A delziro C asado Lim a Júnior,


F ortaleza (CE)

M a n te n e d o ra da C o n te ú d o para s e r
sã d o u trin a um O b re iro A provad o
Se alguém deseja trabalhar na obra de Deus, an­
Em tempos de relativização das Santas
tes de qualquer atitude, deve se apresentar a Ele
Escrituras, a revista Obreiro Aprovado
e em seguida procurar aperfeiçoamento. A leitu­
insurge, em bom e alto tom, em apreço à
ra da revista Obreiro Aprovado é uma excelente
sã doutrina da verdadeira Palavra do nos­
forma de estar aprovado e manejar bem a Pala­
so Deus, e isto com conteúdo produzido
vra da Verdade, pois o seu conteúdo doutrinário
por homens valorosos de Deus que muito
nos capacita para a nossa missão.
contribuem para edificação dos trabalha­
dores da vinha do Senhor. Portanto, indico
Pr. A ntônio C arlos Lorenzetti de M ello,
esta revista a todos os irmãos que querem
N atal (RN).
acrescentar mais ao seu chamado.

Pr. R inaldo Alves, B rasília (DF)

Q uer tam bém


m andar sua m en sag em ?
Então escreva para a revista Obreiro Aprovado. Pode
enviar sua mensagem para o email [email protected]
ou, se preferir, enviar sua carta para o endereço
Avenida Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro (RJ)
CEP 21852-002.
Esperamos o seu contato!

OB01RO
C A P T A À L ID E R A N Ç A P E N T E C O S T A L

Não desista, Deus está


contigo nesse processo
de aperfeiçoamento
odos nós conhecemos a história do patriarca Jacó. Ele

T precisou fugir da fúria de seu irmão gêmeo Esaú após


tê-lo enganado e usurpado a bênção que deveria ter sido
dele (Gn 27). Após a despedida, ele parte rumo a Padã-
-Arã, precisamente à casa de Labão, irmão de sua mãe Rebeca,
em busca de guarida e segurança contra qualquer investida de
seu irmão mais velho. Já estabelecido na terra, ele se casa, torna-
-se pai de 12 filhos e enriquece com seu trabalho naquele país
oriental. Mesmo com toda a sua prosperidade, Jacó precisava do
tratamento divino em sua vida para que pudesse voltar à sua ter­
ra natal. Urgia a necessidade de Jacó passar pelo tratamento de
Deus para uma real transformação de vida.
PR. JO SÉ WELLINCTON O Senhor se revela ao patriarca e ordena que volte para onde
COSTA JUNIOR veio (Gn 31.1-55). O peregrino demonstra preocupação e medo;
Presidente da entretanto, o Altíssimo garante a proteção de anjos a fim de cum­
Convenção Geral dos prir a Sua promessa ao filho de Isaque. O refugiado sabia que
Ministros das Igrejas havia contas a acertar com o passado e envia um mensageiro a
Evangélicas Assembléias fim de avisar a Esaú que estava voltando para Canaã, isto é, para
de Deus no Brasil a terra que Deus já havia prometido anteriormente. Creio eu que
Jacó deveria pensar: "O meu irmão já esqueceu o incidente entre
nós dois". Na verdade, o mensageiro serviu como um termômetro
para medir o estado de ânimo de Esaú. Jacó ouve do mensageiro:
"Fomos até seu irmão Esaú e ele está vindo ao seu encontro, com
quatrocentos homens" (Gn 32.6) Jacó temeu por sua segurança e a
de todos que o seguiam. Mas ele precisava do tratamento de Jeová.
A reconciliação Prezado leitor, observemos como se deu o final desse proces­
entre Jacó e Esaú so. A narrativa de Gênesis 33.4 fala da reconciliação entre os dois
irmãos. Esse panorama parece não ter tanta importância assim
foi resultado do quando lemos essa passagem bíblica. A reconciliação entre Jacó e
agir de Deus na Esaú foi resultado do agir de Deus na vida do patriarca, que mudou
a sua conduta ao longo do processo regenerador conduzido pelo
vida do patriar­ Altíssimo. Você almeja mudanças na vida de alguém próximo?
ca, mudando sua Comece com você esse aperfeiçoamento! Coloque de lado toda a
"razão" que até o momento tem sustentado e se coloque no lugar
conduta ao lon­ que precisa de perdão e quebrantamento. Prezado leitor, cumpriu-
go do processo -se assim a promessa do retorno de Jacó a Canaã (Gn 33.18-20).
regenerador Esteja certo de que o processo vai passar, por isso mantenha-se
firme e não desista no desenrolar deste processo. Trata-se de uma
etapa em sua vida e o nome do Senhor será glorificado. Ele não
"abortou" o projeto em sua vida mas continuará contigo até o fim!

6
OB r e í RO
EN T R EV IS T A

Pastor As principais
preocupações
Esequias doutrinárias
que a igreja
Soares precisa ter
hoje em dia
entrevistado desta

O edição da Obreiro
Aprovado é o pastor
Esequias Soares da
Silva, que é conhecido por sua
liderança eficaz na Assembléia
de Deus em Jundiaí (SP). Gradu­
ado em Letras, com habilitação
em Hebraico pela Universidade
de São Paulo, e Mestre em Ciên­
cias da Religião pela Universida­
de Presbiteriana Mackenzie em
São Paulo (SP), professor de He­
braico, Grego e Apologia Cristã,
presidente da Comissão de Apo-
logética Cristã da Convenção
Geral dos Ministros das Igrejas
Evangélicas Assembléia de Deus
do Brasil (CGADB), presidente do
Conselho Deliberativo da Socie­
dade Bíblica do Brasil (SBB), co­
mentarista de Lições Bíblicas da
Escola Dominical da Casa Publi-
cadora das Assembléias de Deus
(CPAD), articulista e autor de di­
versos livros da CPAD, entre elas
o Manual de Apologética Cristã, O
Pentecostalismo Brasileiro e Apren­
dendo o Grego no Novo Testamento.
O pastor Esequias Soares as­
sumiu a liderança da Assembléia
de Deus em Jundiaí (SP) em 1996,
quando substituiu o então pastor-
-presidente Elyseu Queiroz de
Souza. Considerado como um A
dos mais respeitados teólogos amplo. Entre seus objetivos, visa-
brasileiros, além dos seus livros -se manter a unidade doutrinária
editados pela CPAD, o líder as- e teológica, defender o pensamen­
sembleiano escreve artigos para to pentecostal das Assembléias de
os periódicos da editora pentecos- Deus, reafirmar os pressupostos
tal sobre os mais variados temas que regem o movimento pentecos­ O a p o lo g is t a
teológicos. Desde 1994, é um dos tal e proporcionar a todos a opor­
comentaristas de Lições Bíblicas da tunidade de interagir com suas p r e c is a
editora. Sob a sua condução, a perguntas e questionamentos. A co n h e ce r bem
igreja jundiaiense tem tido aper­ im portância dos quatro temas
feiçoamento nos trabalhos conce­ selecionados para o encontro - os o s fu n d a m e n to s
bidos pelo pastor Elyseu Queiroz, fundamentos bíblicos e históricos b íb lic o s d a s
experimentando desenvolvimento da teologia pentecostal, a Doutri­
e crescimento. na da Salvação, a volta de Jesus e c r e n ç a s e p r á t ic a s
N esta en trev ista, o pastor a liturgia pentecostal - não deixa d e s u a ig re ja o u
Esequias discorre sobre a im ­ de ser uma forma expandida do
p o rtân cia dos fóru ns de teo ­ slogan do m issionário Daniel d e n o m in a ç ã o e ,
logia realizad os pelo te rritó ­ Berg: "Jesus salva, cura, batiza no
do m esm o m odo,
rio b r a s ile ir o p ela CGADB, Espírito Santo e breve voltará".
faz uma avaliação em torno da A ideia do pastor José Welling- a s h e r e s ia s e
qualidade da apologética cristã ton Costa Junior, presidente da
o s a rg u m e n to s
na atualidade, avalia também o CGADB, na criação do Fórum,
trabalho de tradução da Bíblia veio numa boa hora, numa época u s a d o s p e lo s s e u s
para línguas ainda não alcan­ de tantas heresias e aberrações
s e g u id o r e s
çadas e traz o seu comentário doutrinárias. As considerações
acerca do tema da atual edição dos membros da mesa de debates
da Obreiro Aprovado, que alude após cada palestra e as perguntas
à Igreja como organismo vivo e vindas do plenário para o orador
como organização social e quais e também para a mesa trouxeram
as principais preocupações dou­ aos presentes uma reflexão mais
trin árias que a igreja precisa profunda sobre os temas. Foi um
ter hoje em dia. debate à altura do nosso tempo tempos mudaram, outros ventos
e numa linguagem da igreja, de estão soprando para amordaçar
Pastor Esequias, qual a im­ fácil compreensão. Outro ponto as igrejas com o pretexto do "po­
portância da série de fóruns importante é que as perguntas liticamente correto", trazendo em
de teologia realizados Brasil provenientes do plenário servem seu bojo as ameaças constantes
afora pela CGADB? como uma amostragem das dúvi­ dos líderes religiosos de grupos
das da igreja. heterodoxos em levar o apologista
O fórum foi algo interessante
que aconteceu em nossa denomi­ ao banco dos réus ou, no mínimo,
nação, exatamente o que é defini­ Com o o senhor avalia a exigir direito de resposta pelos
do como fórum segundo os sites q u alid a d e da ap o lo g ética expoentes dos pensamentos filo­
de eventos: "Fóruns costumam ser cristã em nossos dias? sóficos contrários à fé cristã, cuja
encontros menos técnicos e com A década de 1990 e os pri­ intenção, na verdade, é usar o es­
a intenção de engajar um público meiros anos do século 21 foram, paço para divulgar sua doutrina.
sobre algum problema... A prin­ na minha opinião, a geração da O contexto de nossa geração não
cipal característica do fórum é a apologética, assim como as déca­ tem encorajado a muitos nessa
participação da platéia. Por isso, das anteriores foram a geração da tarefa apologética. Se na era da
tem como objetivo debater livre­ evangelização. Eu vejo com preo­ apologética havia um número
mente uma ideia". O propósito do cupação o desinteresse por essa considerável de líderes que não
Fórum de Teologia Pentecostal é área da teologia na atualidade. Os apoiava esse trabalho na defesa da

8
OB REIRO
fé, pois eu mesmo já recebi orien­ forma o grande e indestrutível Como presidente da SBB,
tação de pastor de igreja antes de arsenal de combate às heresias. o senhor poderia nos falar
pegar o microfone para "não falar O apologista precisa conhecer um pouco sobre como vai o
de seitas", e já ouvi de outros co­ bem os fundamentos bíblicos das trabalho de tradução da Bí­
legas que passaram pela mesma crenças e práticas de sua igreja ou blia para línguas ainda não
experiência, então, o que se pode denominação e, do mesmo modo, alcançadas?
esperar hoje? Ser apologista não é as heresias e os argumentos usa­
Existem no planeta 7.394 idio­
tarefa fácil, os apologistas não são dos pelos seus seguidores, para
mas e a Bíblia está traduzida para
vistos com muita simpatia mesmo oferecer uma resposta respeitosa.
3.658 línguas em parte e no todo,
entre nós. Mas, é um trabalho que Essa tarefa precisa ser retomada
sendo a Bíblia completa em 736
temos que fazer. Jesus é o nosso com entusiasmo, mas de manei­
idiomas. Isso significa que 5,96
exemplo. Ele não se deixou intimi­ ra educada e com criatividade,
mostrando mais interesse nessas bilhões de pessoas no mundo
dar pelas ameaças. Os apóstolos
pessoas do que mesmo em vencer dispõem da Bíblia inteira em sua
são outro exemplo que nos ins­
os debates. Nada vai adiantar ga­ língua materna. Mas, a metade
pira e nos encoraja. O combate às
nhar a batalha e perder a guerra. dessa população ainda não possui
heresias ocupa um terço do Novo
Testamento. Tanto o Senhor Jesus Esse diálogo será proveitoso se a uma Bíblia, sendo esse um grande
Cristo como seus apóstolos traba­ amizade for mantida, deixando desafio para a Igreja de Cristo. O
lharam incansavelmente contra as claro que você discorda do posi­ Novo Testamento está em 1.658
heresias de seu tempo. Cada livro cionamento teológico ou doutri­ línguas e as porções, em 1.264. To­
do Novo Testamento é um equipa­ nário da pessoa a quem você está dos esses dados foram fornecidos
mento firme que no seu conjunto evangelizando. pelas UBS, divulgados em outu- A
bro de 2023 em sua Assembléia significado. É possível lermos compreendidos de maneira cor­
Geral Mundial, na Holanda, que já p assag en s com o sen tid o de reta, visto que ambos os aspectos
devem estar desatualizados, pois "assembléia", mas traz pela pri­ estão na Bíblia.
há diversas equipes de traduções meira vez a ideia essencialmente
em ação. O outro grande desafio cristã de um corpo, grupo de
Na sua visão, quais as prin­
diz respeito a 3.736 línguas, de crentes reunidos ou não: o Cor­
cipais preocupações doutri­
povos minoritários, sem nenhuma po de Cristo. Em, suma, ekklesia
nárias que a igreja precisa
porção das Escrituras. serve tanto para tratar de um
ter hoje em dia?
Desde 2018, as Sociedades grupo qualquer reunido quanto
Bíblicas Unidas (UBS), que con­ A principal preocupação da
também de uma assembléia po­
gregam 146 sociedades bíblicas igreja deve ser com o incentivo ao
lítica e também dos seguidores
no mundo, com sede em Londres, de Cristo. O termo ekklesia não povo na leitura diária das Escritu­
têm colocado em prática um pro­ é invenção dos discípulos, do ras Sagradas e com os ensinos mais
jeto audacioso em completar mais movimento de Jesus ou de Pau­ recorrentes da doutrina. Estamos
1.200 traduções da Bíblia até 2038. lo; é uma palavra amplamente vivendo um tempo de analfabe­
Sendo que 880 como primeiras usada pelos gregos e romanos. O tismo bíblico sem precedentes,
traduções e as outras 320 novas termo aparentemente se tornou numa época em que a Bíblia está
ou revisadas. Em cinco anos, popular entre os cristãos de fala disponível para o povo, e principal­
foram realizadas 144 traduções grega por duas razões. Primei­ mente aos crentes, de uma maneira
e até 2023 estavam em curso 442 ro, porque eliminava qualquer tal como nunca na história. Essas
traduções e as outras 614 ainda suspeita de que os cristãos eram duas práticas acompanhadas da
não haviam começado. grupo desordeiro, principalmen­ oração levam os crentes a nunca
te em círculos políticos. Segun­ se esquecerem dos conselhos da
do, porque, seguindo a tradição Palavra de Deus. O descuido des­
O tem a desta edição de da S ep tu ag in ta, m antendo o sas orientações tem levado o povo
Obreiro é a igreja como orga­ uso do termo, se afirmava uma de Deus a resultados desastrosos.
nismo vivo e como organiza­ continuidade com Israel, o que Uma pesquisa feita em 2022 por
ção. Como pastor e teólogo, vemos em Paulo, quando usa a uma organização independente,
qual a melhor forma de equi­ expressão SKKkqoía Geob - ekklesia Ligonier Ministries, chamada The
librar essa tensão entre aten­ theou - para evocar a continuida­ State of Theology Poli, buscou com­
der às dem andas de organi­ de entre o povo de Deus ao longo preender o que os cidadãos dos
zação sem perder de vista a da história salvadora de Deus. Estados Unidos acreditam sobre
essência de organismo vivo Geralmente, nas cartas paulinas, Deus, a salvação, a ética e a Bíblia.
da igreja? ekklesia refere-se a uma reunião O resultado entre os crentes diz
A palavra grega para igre­ local de crentes em um cenário que 56% acreditam que Deus acei­
ja é SKK>.r|GÍa - ekklesia, que é geográfico específico (Rm 16.1; ta adoração de todas as religiões;
formada por duas outras: èk + 11.18). Paulo se dirigia a diversas sobre Jesus, 43% afirmam que Ele
KotLécú - ek + kaleo", que signi­ igrejas locais, mas seu tom soa foi um grande mestre, mas não era
ficam "para fora" e "cham ar". como cada uma sendo a única Deus; 26% concordam que a Bíblia
Originalmente, 8K-Kkr|aía era um ig reja, u niv ersal e apostólica contém registro de mitos antigos,
chamado para as pessoas saírem (At 8.3; ICo 1.2). Em suma, para mas que não é literalmente verda­
de suas casas. No entanto, esse Paulo, ekklesia serve tanto para de; e 28% creem que a condenação
uso logo passou, dando lugar tratar do grupo de cristãos local bíblica da prática homossexual não
ao sentido de assembléia consti­ ou geral, é uma realidade univer­ se aplica hoje, sendo que em 2020
tucional de Atenas e reunião de sal. Com isso, podemos observar eram 11%. Ninguém é suficien­
modo geral. A Septuaginta usa como Paulo interpreta e ensina temente forte para brincar com o
ekkle”sia como equivalente para as ações e os impactos de ekklesia. pecado e sair ileso de tudo isso; e,
pn? - qãhãl, que era a assembléia Os dois aspectos ou naturezas assim, aprendemos com os erros
dos israelitas como um todo. O da igreja como organismo vivo dos outros para que não incorra­
Novo Testamento am plia esse e como organização devem ser mos no mesmo caminho. 8

A
BRASILEIRO mm

E PENTECOSTAL lisa- ié
mm.è
::

COMO ESSAS DUAS IDENTIDADES


SE RELACIONAM E SE INTEGRAM? ~~~..' “I B É P ^ f y$á* ■i
s *

O autor, por meio de um estudo sociológico, desenvolve


uma verdadeira busca a esta explicação a partir do
contexto, da cultura e da identidade do povo brasileiro.
Através das páginas deste livro o leitor verá como a
teologia pentecostal clássica encaixou-se na alma
religiosa b ra sile ira , ressig n ifican d o elem en to s
preexistentes na sociedade e trazendo a realidade
espiritual p ara o seu contexto de vida diária.

PENTECOSTALISMO Código: 3 5 2 9 8 0 / Form ato: 14,5 x 2 2 ,5 cm / 160 páginas

CLÁSSICO ► Doutor e Mestre em Teologia pela Faculdades


EST; form ado em Preparo Missionário pelo
Ministério JU V E P . S ecretário Executivo de
Missões da SEM AD-PB (desde 20 04), Diretor
Executivo do CAD ESC (Centro da Assembléia
de Deus de Educação Sociocultural). Pastor
na AD em Jo ã o Pessoa, PB, onde coopera no
pastoreio de igrejas desde 2005. Casado com
Ângela e pai de Eduardo J r e Maria Luíza.

TAMBÉM
DISPONÍVEL
NA VERSÃO
E-BOOK

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0 Ü ÍÍ,® ^ 0800-021-7373 fff'^ Livrarias CPAD


g ) (21)2406-7373 O © © O
S i* ® CB4D A CASA DO CONHECIMENTO
E d u a rd o L e a n d ro A lves

A Igreja: urr
Eduardo Leandro Alves é pastor da palavra "Igreja" sur­ Além de transcender as limita­
A ssem bléia de Deus em Rio Tinto
(PB), doutor e m estre em Teologia
pela Faculdades EST, graduado
em Teologia e licenciado
em Sociologia.
A ge no texto do Novo
Testamento a partir
da palavra grega ekk-
lesia, que literalmente significa
uma reunião por convocação,
ções humanas e organizacionais,
a Igreja como organism o vivo
desempenha um papel vital na
execução dos propósitos de Deus
na Terra: ela é uma agência do
uma assembléia. O termo passou Reino. O conceito de Igreja como
a ser utilizado pelos escritores organism o enfatiza a interde­
cristãos como a reunião daqueles pendência e a unidade entre os
O conceito de que adoram a Cristo, tanto lo­ membros do Corpo de Cristo, cada
Igreja com o calmente (Mt 18.17; At 15.41; Rm um contribuindo com seus dons
16.16; ICo 4.17; 7.17; 14.33; Cl 4.15) e habilidades para o crescimento
organism o enfatiza quanto universalmente (Mt 16.18; mútuo e a edificação. Este enten­
dimento nos leva a valorizar cada
a interdependência At 20.28; ICo 12.28; 15.9; Ef 1.22).
A Igreja de Cristo é, antes de parte do Corpo, reconhecendo que
e a unidade entre os tudo, um organismo vivo, e essa
a vitalidade da Igreja não reside
em suas estruturas formais, mas
m em bros do perspectiva é necessária para
em sua natureza espiritual, que
compreender seu verdadeiro pro­
Corpo de Cristo pósito e papel no mundo. Diferen­
é alimentada pela relação íntima
com Cristo. Como Corpo de Cris­
te de uma simples instituição, a
to, a Igreja é chamada a refletir
Igreja é composta por pessoas que
os valores do Reino de Deus em
creram em Jesus como seu salva­
todas as suas ações e a cumprir a
dor, são unidas pelo Espírito Santo
missão de ser sal e luz no mundo.
e vivem e atuam como Corpo de
A metáfora do Corpo de Cris­
Cristo, movidos por uma missão
to utilizada por Paulo em suas
celestial. epístolas (ICo 12.27) ilustra clara­
A compreensão da Igreja como mente que a igreja não pode ser
um organismo vivo desafia as limitada a uma simples organiza­
noções daqueles que a veem me­ ção humana. Enquanto as organi­
ramente como uma organização zações humanas buscam objetivos
estruturada e hierárquica, mos­ temporais e concretos, a Igreja
trando que sua vitalidade está tem uma missão que transcende o
diretamente ligada à sua conexão tempo e o espaço, sendo orientada
com Cristo e à liderança do Espí­ por propósitos divinos. A verda­
rito. Ao longo dos séculos, essa deira essência da Igreja está em
visão tem sido fundamental para sua natureza espiritual e em sua
a sobrevivência e o crescimento da ligação com Cristo, a Cabeça do
Igreja, especialmente em tempos Corpo, que o guia e o sustenta em
de perseguição e adversidade. todas as circunstâncias. Quando

12
OB REIRO
i organismo vivo
a Igreja compreende e vive essa
realidade, ela se torna um agente
transformador no mundo, capaz
de enfrentar qualquer desafio e de
cumprir sua missão eficazmente.
Portanto, ao abordar a nature­
za da Igreja como um organismo
vivo, é importantíssimo reconhe­
cer que essa visão nos chama a
uma compreensão mais profunda
de nossa identidade como cristãos
e de nosso papel como parte do
Corpo de Cristo. A organização,
embora necessária, deve sempre
estar subordinada ao propósito
espiritual da Igreja, que é refletir
a glória de Deus no mundo e avan­
çar Seu Reino. Este texto visa a ex­
plorar as diferenças entre a Igreja
como organização e como orga­
nismo, destacando a importância
de manter a essência espiritual da
Igreja em meio à sua necessária
estrutura organizacional.

Diferenças da Igreja
como organização
A visão da Igreja como organi­
zação está centrada nos aspectos
estruturais e adm inistrativos,
que são necessários para a ma­
nutenção da ordem e eficiência no
funcionamento de suas ativida­
des. Como uma organização, ela
deve estar de acordo com as leis
que regem as organizações. No
entanto, um foco excessivo nessa
perspectiva tende a enfatizar a
institucionalização da Igreja, fo-

o bS I ro
cando em posições hierárquicas, Como observa Gregg Allison, a deve ser entendida como o corpo
normas e regulamentos que deli­ igreja é "uma instituição com pro­ vivo de Cristo, que é chamado
mitam como as atividades devem pósitos divinos e uma missão ce­ para viver e manifestar a vontade
ser conduzidas. Embora esses ele­ leste que a distingue de qualquer de Deus no mundo" (Cabral, 2013,
mentos sejam importantes para outra organização" (Allison, 2010, p. 87). Para Cabral, a organização
o funcionam ento saudável da p. 56). Isso significa que, embora é necessária, mas deve ser serva
comunidade, há o risco de se per­ a organização seja necessária, ela da missão espiritual da Igreja, e
der a essência espiritual da Igreja deve sempre estar subordinada à não o contrário. A centralidade de
quando ela é vista meramente natureza espiritual e ao propósito Cristo como Cabeça do Corpo (Ef
como uma entidade burocrática. divino que definem a verdadeira 1.22-23) é o que confere à Igreja a
De fato, organizações huma­ essência da Igreja. sua verdadeira identidade, que
nas são construídas e mantidas O pastor Elienai Cabral, teólo­ transcende qualquer estrutura
por pessoas com um propósito go pentecostal, também destaca humana.
específico, visando a atingir ob­ a importância de se entender a Além disso, a ênfase excessiva
jetivos temporais e concretos. Po­ distinção entre a Igreja como or­ na organização pode levar à insti­
rém, a Igreja, embora possua ca­ ganização e como organismo. Ele tucionalização da fé, onde a vida
racterísticas organizacionais, não argumenta que "a igreja não pode espiritual e a experiência comu­
pode ser reduzida a uma simples ser vista apenas como um con­ nitária são relegadas a segundo
instituição como qualquer outra. junto de regras e estruturas, mas plano. "A Igreja não é uma mera
organização, mas uma comunida­ rança do Espírito Santo na vida que ela não é um ed ifício ou
de de fé que vive sob a liderança da Igreja. Assim, a Igreja precisa uma instituição, mas, sim, um
de Cristo e a direção do Espírito sempre buscar ser um organismo conjunto de pessoas regeneradas
Santo" (Allison, 2010, p. 60). Isso vivo e vibrante, que está enraiza­ que vivem e atuam sob a direção
ressalta a necessidade de equilí­ do em Cristo e é movido pelo Es­ de Cristo, a Cabeça do Corpo (Ef
brio: a organização deve servir ao pírito para cumprir a sua missão 4.15-16). A dinâm ica da Igreja
propósito espiritual, facilitando a no mundo. como organismo vivo implica em
adoração, o discipulado e a mis­ crescimento, adaptação e multi­
são, sem sufocar a vida espiritual A Igreja como organismo plicação, características que não
dos membros. se limitam às estruturas formais
A Igreja como organismo é
Outros teólogos, como o clás­ uma realidade viva e dinâmica, de uma organização.
sico Donald Gee, também aborda­ composta por crentes unidos em Gregg Allison nos leva a com­
ram essa questão, argumentando Cristo e movidos pelo Espírito preender que a Igreja como or­
que "o perigo de ver a igreja Santo. O apóstolo Paulo descre­ ganismo está fundamentada em
apenas como uma organização veu a Igreja como o "corpo de uma conexão vital com Cristo e
é que isso pode resultar em uma Cristo" (ICo 12.27), uma metáfora em uma profunda dependência
estrutura morta, onde o Espírito que ilustra a interdependência e do Espírito Santo. Isso significa
Santo é substituído por sistemas a unidade entre seus membros. que a Igreja não apenas sobrevi­
humanos de controle" (Gee, 1955, Cada crente, como parte desse ve, mas prospera e cresce, mes­
p. 34). Gee, ainda no século pas­ Corpo, tem uma função especí­ mo em meio a adversidades. Essa
sado, na década de 1950, enfatiza fica, contribuindo para o cresci­ vitalidade não está vinculada à
que, embora a organização seja mento e a edificação mútua. eficiência de suas estruturas or­
necessária para manter a ordem, Esse entendimento de Igreja ganizacionais, mas à sua natureza
ela nunca deve substituir a lide­ como organismo vivo enfatiza espiritual, que é alimentada pela A

15
O BS1RO
relação íntima com Cristo (Cl 1.18). Cristo e pela obra contínua do das limitações organizacionais
A metáfora do Corpo de Cristo Espírito (Allison, 2010, p. 73). ou da perseguição, a Igreja flo­
utilizada por Paulo em suas epís­ “A igreja verdadeira é aquela resceu. Isso ocorre porque, como
tolas destaca que cada membro que se mantém firmemente ligada organismo vivo, sua vitalidade
da Igreja possui uma função es­ à videira, que é Cristo, e dela extrai não depende das circunstâncias
sencial, e o crescimento saudável a seiva espiritual que a faz crescer e externas, mas da presença cons­
do Corpo depende da atuação frutificar" (Cabral, 2013, p. 45). Essa tante de Cristo em seu meio (Mt
harmoniosa e interdependente de seiva espiritual, ou seja, o poder 28.20). Quando a Igreja mantém
todos os seus membros. vivificante do Espírito Santo, é o essa conexão, ela é capaz de ser
Quando a Igreja permanece que capacita a Igreja a não apenas uma testem unha poderosa da
enraizada em C risto, ela está sobreviver em meio às tribulações, graça de Deus no mundo, in ­
capacitada a en fren tar as d i­ mas a florescer, expandir e cumprir dependentemente dos desafios
ficuldades, pois sua força não a sua missão dada por Deus. Quan­ que enfrenta. Esse crescimento,
vem das estratégias humanas, do a Igreja depende do Espírito e alimentado pela vida em Cristo,
mas da presença e da ação do não apenas de suas capacidades reflete o caráter sobrenatural da
Espírito Santo. Allison coloca a organizacionais, ela experimenta Igreja como um organismo que
prosperidade da Igreja em tem­ um crescimento genuíno, que é transcende as fronteiras do tem­
pos difíceis como uma evidência tanto numérico quanto espiritual. po e do espaço.
de sua vitalidade espiritual, que A história da Igreja está reple­ Além disso, Donald Gee argu­
é sustentada pela comunhão com ta de exemplos nos quais, apesar menta que a verdadeira vitalidade
da Igreja se manifesta quando ela luz no m undo, cu m p rin d o a igreja é a manifestação visível do
é movida pelo Espírito Santo, que missão dada por Cristo de fazer Reino de Deus na terra e, como
a guia, a capacita e a enche de discípulos de todas as nações tal, deve refletir os valores do
poder para cumprir a sua missão (Mt 28.19-20). No entanto, essa Reino em suas ações e palavras"
(Gee, 1955, p. 47). Gee sugere que a missão vai além de uma simples (Lidório, 2014, p. 92). Portanto, a
dependência do Espírito não ape­ proclamação do evangelho. Ela Igreja deve estar profundamente
nas sustenta a Igreja em tempos envolve também o discipulado, engajada no mundo, mas sempre
difíceis, mas também a torna uma o ensino e o serviço, todos en­ com uma perspectiva que reflete
força transformadora no mundo. raizados no modelo de vida de os valores do Reino, como justiça,
Cristo. Ronaldo Lidório, em sua amor e compaixão.
Quando a Igreja reconhece que
abordagem missiológica, enfatiza Essa perspectiva de missão
sua força reside em sua conexão
que "a missão da igreja é integral, não se limita apenas à evangeli-
com Cristo e em sua submissão ao
envolvendo tanto a proclamação zação, mas abrange o discipulado
Espírito, ela se torna um farol de es­
do evangelho quanto a transfor­ integral, onde os novos crentes são
perança e uma fonte de renovação
mação da sociedade por meio ensinados a observar tudo o que
espiritual para todos ao seu redor.
do serviço e da justiça" (Lidório, Cristo ordenou (Mt 28.20). John
2014, p. 89). Isso reforça a ideia de Stott, renomado teólogo do século
A Igreja e a sua que a missão da Igreja é abran­ passado, também argumenta que
m issão no mundo gente, tocando todas as esferas “a missão da igreja não é completa
A missão da Igreja no mundo da vida humana. sem o discipulado, pois a evange-
é ser sal e luz (Mt 5.13-14), refle­ A Igreja é enviada ao mundo, lização sem discipulado resulta
tindo o caráter de Cristo e procla­ mas, como Jesus afirmou, não em conversões superficiais que
mando o evangelho da salvação. pertence a este mundo (Jo 17.16- não transformam vidas" (Stott,
A Igreja, como organismo vivo, 18). Isso significa que, embora a 1975, p. 125). Assim, o discipulado
é chamada de participante ativa Igreja esteja inserida em contex­ é essencial para que a Igreja possa
da obra redentora de Deus, sendo tos culturais e sociais específicos, cumprir a sua missão de forma
um agente de transformação em sua missão é transcender essas plena, conduzindo os crentes a
um mundo caído. barreiras e operar como uma uma maturidade em Cristo.
A Igreja, como organism o embaixadora do Reino de Deus. O serviço, como parte inte­
vivo, é chamada para ser uma Lidório também destaca que "a grante da missão da Igreja, reflete Á

17
OB REIRO
o próprio m inistério de Cristo, 2013, p. 57). Portanto, a missão da ensino e o serviço, todos realiza­
que "não veio para ser servido, Igreja como organismo vivo en­ dos com a capacitação do Espírito
mas para servir e dar a sua vida volve uma combinação equilibra­ Santo. Como organismo vivo, a
em resgate por m u ito s" (Mc da de evangelização, discipulado, Igreja é uma comunidade de fé
10.45). "A missão da igreja inclui ensino e serviço, todos realizados dinâm ica, onde cada membro
o serviço sacrificial em favor dos sob a liderança do Espírito Santo. desempenha um papel essencial
necessitados, que é uma expres­ no cumprimento dessa missão.
são concreta do amor de Deus em Conclusão A dependência contínua do Es­
um mundo quebrado" (Lidório, pírito e a centralidade de Cristo
A compreensão da Igreja como
2014, p. 98). Quando a Igreja serve em todas as suas atividades são
organismo vivo nos convida a
aos outros, ela manifesta o cará­ o que mantêm a Igreja vibrante e
uma reflexão mais rica e profun­
ter de Cristo e avança o Reino de capaz de ser um farol de esperan­
da de sua missão no mundo. Não
Deus na terra. ça em um mundo em constante
se trata apenas de administrar
Stanley Horton destaca que transformação.
a missão da Igreja está intima­ eficientemente uma instituição,
Por fim, a Igreja, como orga­
mente ligada à capacitação do mas de viver e manifestar a vida
nismo vivo, deve sempre lembrar
Espírito Santo, que concede poder de Cristo em todas as esferas de que sua verdadeira força reside
para testemunhar e operar mila­ nossa existência. A Igreja, como em sua conexão com Cristo e em
gres (At 1.8). Segundo Horton, Corpo de Cristo, é chamada a re­ sua submissão ao Espírito Santo.
"o Espírito Santo é o motor que fletir os valores do Reino de Deus, Quando a Igreja compreende e
impulsiona a missão da igreja, operando sob a direção do Espíri­ vive essa realidade, ela não só
capacitando-a a alcançar os con­ to Santo e cumprindo a missão de cresce em número, mas também
fins da terra com o evangelho" ser sal e luz no mundo. Quando em p ro fu n d id ad e e sp iritu a l,
(Horton, 1994, p. 112). a Igreja permanece conectada a cumprindo fielmente a missão
Finalmente, o ensino é outro Cristo, ela não apenas sobrevive, que Deus lhe confiou. Ao manter
aspecto cru cial da m issão da mas prospera, mesmo em meio às essa visão, a Igreja estará prepa­
Igreja, pois ela é chamada a ser maiores adversidades, pois sua rada para enfrentar os desafios
uma comunidade de aprendiza­ força e vitalidade vêm diretamen­ do presente e do futuro, conti­
do, onde a Palavra de Deus é en­ te de sua relação com a Cabeça, nuando a ser uma poderosa tes­
sinada, compreendida e aplicada que é Cristo. temunha da graça e do poder de
à vida diária dos crentes. Como A verdadeira vitalidade da Deus no mundo. A Igreja, em sua
observa Elienai Cabral, "o ensino Igreja não pode ser medida ape­ essência como organismo vivo, é
bíblico é o alicerce sobre o qual a nas pela eficácia de suas estru­ chamada a ser uma comunidade
igreja é edificada, capacitando os turas organizacionais, mas pelo de transform ação, refletindo a
crentes a viverem de acordo com seu compromisso com a missão glória de Deus e promovendo
a vontade de Deus e a cumprirem dada por Deus. Isso in clu i a o avanço dos princípios do Seu
sua missão no mundo" (Cabral, evangelização, o discipulado, o Reino na terra. ®

Referências
ALLISON, Gregg. Eclesiologia: Uma teologia para peregrinos e estrangeiros. São Paulo: Vida Nova, 2021.
CABRAL, Elienai. Manual da Igreja: Orientações bíblicas e práticas para o cotidiano da Igreja. Rio de Janeiro:
CPAD, 2013.
GEE, Donald. O Caráter do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1955.
HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1994.
LIDÓRIO, Ronaldo. Missão Integral: A Igreja e seu propósito no mundo. São Paulo: Mundo Cristão, 2014.
STOTT, John. Cristianismo equilibrado. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

18
OB01RO
Em quatorze capítulos, o autor mostra que
apenas líderes espiritualmente maduros
CBO são capazes de conviver com hostilidades e
rejeições, de suportar as provas de Deus, de

maturidade valorizar o companheirismo, de discernir o


MKIUTOOkDE ESP\n\TURL DO LÍDER

princípio de autoridade e de adquirir uma


vida disciplinada. Ricamente embasado nas

ESPIRITUAL Escrituras e contextualizado com a realidade


da igreja atual, Silas Queiroz apresenta alguns
níveis de maturidade que o líder precisa

DO LIDER
alcançar em sua difícil, mas gloriosa
jornada de serviço a Deus.
Formato: 14 x 21 cm / 216 páginas

Orientações Bíblicas para Silas Queiroz


É pastor na Assembléia de Deus
um Ministério Eficaz em Ji-Paraná (RO) e, também, atua
como Procurador Geral neste mesmo
município. Formado em direito pela
Universidade Luterana do Brasil e
bacharel em teologia pela Faculdade de
Teologia Logos (FAETEL).
S IL A S O U E IF tO Z

^ 0800-021-7373 fT T l Livrarias CPAD


(9 (2 1 )2 4 0 6 -7 3 7 3 O (D © O
CPAD
Silas Rosa hino de Q ueiroz

A Igreja e sua
terrenas de oi
esus percorria cidades da Enquanto cumpre seu papel
Silas Rosalino de Q ueiroz é pastor Galileia, Samaria e Judeia espiritual na terra - de comunhão,
na A sse m b lé ia de D eus em Ji- junto com Seus discípu­ adoração, proclamação e ensino
Paraná (RO) e asse sso r ju ríd ico da los e uma multidão que -, a Igreja precisa organizar-se e
C o nvenção Estad u al dos M inistros os acompanhava. Era sua igreja funcionar de acordo com as leis
e d as Igrejas A sse m b lé ia s de em um sentido prático e imedia­ terrenas, as quais, aliás, mudam
D eus no Estad o de Rondônia conforme o lugar. Países e Esta­
to - e um embrião da Igreja que
(CEM AD ERO N ).
seria por Ele edificada (Mt 16.18). dos - e até Municípios, em alguns
Aquele ajuntamento de pessoas casos - possuem regras distintas
não estava isento do cumprimen­ para as organizações religiosas,
to das leis da época, o Direito Ro­ as quais devem ser seguidas (Rm
A igreja, como mano, vigente nas terras de Israel. 13.1), se não ultrapassarem o limi­
te identificado e observado desde
organização, é Diante das ardentes divergências
políticas na questão dos impostos, os tempos apostólicos: a vontade
pessoa jurídica os fariseus planejaram criar uma Deus, pois "mais importa obede­
cer a Deus do que aos homens"
crise entre Jesus e o poder gover­
de feição própria nante - ou um conflito entre Ele e (At 5.29).

e específica, que o povo. Para tanto, enviaram seus


discípulos para lhe perguntar: "E Pessoa jurídica
deve desfrutar lícito pagar o tributo a César ou Personalidade ju ríd ica é a
não?" (Mt 22.17). capacidade de ser titular de di­
de liberdade O texto nos mostra que Jesus, reitos e deveres. São sujeitos com
de criação, conhecendo a malícia dos seus
inquiridores, pediu a eles que lhe
tal aptidão as pessoas físicas e as
pessoas jurídicas. As pessoas físi­
organização, mostrassem uma moeda e lhes res­ cas ou naturais são todos os seres
pondeu, perguntando: "De quem humanos, desde o nascimento
estruturação é esta efígie e sua inscrição?". A com vida - embora a lei assegure
interna e resposta continha a solução da con­
trovérsia: "De César". Jesus profe­
direitos também ao nascituro (feto
ou embrião), desde a concepção (o
funcionamento re, então, a célebre sentença: "Dai, início do processo de gestação). Já
pois, a César o que é de César e a as pessoas jurídicas se dividem
Deus, o que é de Deus" (Mt 22.21). em (1) pessoas jurídicas de direito
Esta passagem bíblica continua público e (2) pessoas jurídicas de
sendo um verdadeiro texto áureo direito privado. Sem descer a deta­
para o estudo do relacionamento lhes, consideremos, apenas, que as
entre os seguidores de Jesus e o primeiras são entes públicos, tais
Estado, seja na vida individual como a União, os Estados e os Mu­
(pessoa física), seja no coletivo cris­ nicípios, enquanto as segundas
tão local (a igreja organizada como são entes privados: associações,
pessoa jurídica). sociedades (empresas), fundações,
necessidades
‘ganização
organizações religiosas e partidos
políticos. O Código Civil Brasilei­
ro trata desse tema no Livro I de
sua Parte Geral, especialmente
nos artigos 1° 2o, 40,41 e 44.
As igrejas são pessoas jurídi­
cas de direito privado, enquadra­
das no Código Civil vigente (de
2002) como "organizações religio­
sas". Por um equívoco legislativo,
foram inicialmente tratadas como
"associações". Mas a alteração
promovida pela Lei n° 10.825/2003
devolveu-lhes o conceito correto,
mantendo a liberdade de criação,
organização, estruturação interna
e funcionamento, como dispõe o
§ Io do art. 44 do código já cita­
do. Antes dessa correção, houve
grande e polvorosa preocupação,
inclusive com a alteração de esta­
tutos de centenas (talvez milha­
res) de igrejas. A modificação da
Lei Civil atendeu ao que deter­
mina a Constituição Federal: que
o Estado não embarace o funcio­
namento dos cultos religiosos e
igrejas (artigo 19, inciso I).
Conclui-se, portanto, que a
igreja é uma pessoa jurídica de fei­
ção própria e específica, que deve
desfrutar de liberdade de criação,
organização, estruturação interna
e funcionamento, princípios que
devem estar contemplados em
todo o ordenamento jurídico que
lhe atinge. Malgrado a existência
de regras que nem sempre obser­
vam a rigor o postulado constitu­
cional, este artigo visa apresentar,
A
21
OB REI RO
de forma sintética e simples, as Federal do Brasil, responsável mento Interno (RI), detalhando
necessidades terrenas de organi­ pelo Cadastro Nacional de Pes­ o funcionamento da instituição.
zação da igreja, que começa por soas Jurídicas (CNPJ). Como o próprio nome diz, seu ca­
sua constituição e registro como Ainda sobre o aspecto cons­ ráter é interno. E um instrumento
pessoa jurídica. titutivo, é preciso considerar a complementar ao estatuto, com o
necessidade que a igreja tem de, objetivo de tratar, com mais deta­
como organização, estabelecer suas lhes, de atribuições, funções, pro­
Atos constitutivos e próprias regras de funcionamento. cedimentos, atividades e regras
Regim ento Interno Algumas igrejas se recusam a essa gerais de cumprimento interna
Como toda a pessoa que nasce formalização, embora isso seja ne­ corporis. Algumas igrejas usam o
e precisa ser registrada, as igre­ cessário até mesmo para garantir RI para prever um grande feixe de
jas locais necessitam passar pelo a sua autonomia organizacional, normas, muitas delas relativas a
mesmo processo. Isso é feito a como prevê o texto constitucio­ usos e costumes. E preciso refletir
partir da lavratura de uma ata, nal. É salutar, contudo, que não se acerca disso, especialmente diante
na qual os constituintes da igreja exagere na criação de regras, pois, de características regionais e tem­
declaram sua união de vontade como corpo espiritual, a Igreja porais de muitas dessas práticas.
e propósito, dando um nome à possui a Bíblia como sua regra Ademais, se o poder transforma­
organização religiosa nascente e de fé e prática. O Estatuto Social dor do Evangelho não houver al­
indicando seus dirigentes, além deve ser econômico, identificando cançado o coração dos conversos,
de informar sua sede, sua loca­ a natureza da organização, suas não será um Regimento Interno
lização física. Esses documentos finalidades, seus membros e res­ que o fará.
originários são levados ao Car­ pectivas obrigações, seu governo Há certos temas a respeito dos
tório de Registro das Pessoas e o funcionamento de seus órgãos. quais não pode haver lacunas ou
Jurídicas para a devida anotação Além do Estatuto Social, que dubiedades nos documentos de
registrai. Feito isso, poderá a igre­ é obrigatório (§1° do artigo 44 organização da igreja, como é o
ja solicitar seu cadastro em outros do Código Civil), a igreja tem a caso da tão falada identidade de
órgãos estatais, como a Receita faculdade de instituir um Regi­ gênero. Em uma "era de tantos

22
OB RO
direitos", como diria Norberto Bo- regras endógenas (Estatuto e RI), cidade e à inviolabilidade da in­
bbio, é prudente que a igreja deixe a Igreja, como organização, está timidade, da honra e da imagem.
bem claro os limites de tolerância, sujeita a normas públicas relati­ Em suma, a liberdade religiosa
prevenindo-se quanto a eventuais vas a questões tangíveis, como a prevista na Constituição Federal é
extrapolações e judicializações em tributária, resolvida por Jesus - assegurada "na forma da lei", con­
torno de pautas tão controvertidas dar a César o que é de César -, as forme prevê o inciso VI do artigo
atualmente. Contudo, mais uma quais não podem ser desprezadas. 5o do Texto Magno. E preciso ter
vez, é importante apontar para o Também tangível é a existência equilíbrio e não confundir nosso
cuidado com o excesso de regras. de um templo, que deve ser cons­ dever de ter uma conduta correta
É mais razoável que haja, no esta­ truído seguindo normas técnicas perante o mundo (Mt 5.20) com
tuto, tudo o que for fundamental de engenharia e urbanismo, e ob­ perseguições movidas por ódio
servar outras posturas comuns à religioso ou represálias políticas,
quanto a direitos e deveres. Dar
localidade, como o zoneamento.
à igreja ares de muito legalismo as quais também ocorrem e, quan­
Ainda nesse ponto podem ser
e complexidade jurídica não é do ocorrerem, devem ser tratadas
acrescentadas questões ligadas à
razoável. com sabedoria, sob a direção de
acústica e normas de segurança,
Deus.
que são fiscalizadas pelo Corpo
Normas públicas de de Bombeiros. Há que se obser­
funcionam ento var também as regras relativas ao Corpo dirigente, previdência
Mesmo tendo as Escrituras Sa­ direito da personalidade, contidas e imposto de renda
gradas como regra de fé e prática, na Lei n° 13.709/2018, a LGPD, que Para muito além do prédio, a
e desfrutando, perante o Estado, dispõe sobre o tratamento de da­ igreja é, acima de tudo, um gru­
de autonomia para deliberar sobre dos pessoais, e tem, dentre outros po de pessoas que comungam a
o seu funcionamento, por meio de fundamentos, o respeito à priva­ mesma fé. A parte física é apenas A
■ 1
mê •' ■■ 'JÊrnm lcÍ

1
mr j

mm §m lJJ

a estrutura necessária para as reu­ que exista e exerça a representação didos pelas entidades religiosas
niões, cultos e outros serviços da da organização religiosa perante [...] com ministros de confissão
comunidade local. Em sua orga­ o Estado e suas instituições. Todo religiosa [...] em face do seu mister
nização, essa igreja precisa de um corpo precisa de uma cabeça. religioso ou para sua subsistência
corpo dirigente. Os sistemas de Os dirigentes não são remu­ desde que fornecidos em condi­
governos eclesiásticos variam de nerados pelo exercício de suas ções que independam da natu­
acordo com a tradição da denomi­ funções estatutárias. Contudo, reza e da quantidade do trabalho
nação. Os principais são: congre- se ministros do Evangelho (ofi­ executado" (§ 13 do inciso III do
gacional, presbiteriano, episcopal ciais do culto), poderão receber a art. 22 da Lei n° Lei n° 8.212/1991,
e representativo. As Assembléias remuneração que lhes é própria, a Lei do Plano de Custeio da Pre­
de Deus instituíram um modelo denominada côngrua ou preben- vidência Social).
organizacional misto (episcopal da pastoral. Assim, o ministro de O ministro de confissão reli­
e congregacional). Em termos confissão religiosa se torna um giosa não mantém vínculo em-
de estruturação diretiva, o mais segurado obrigatório da Previ­ pregatício com a igreja. Exerce
comum é que haja um corpo go­ dência Social, como contribuinte seu ofício por vocação divina,
vernante formado por presidente, individual, como prevê o inciso não preenchendo os requisitos
vice-presidente, Io e 2° secretários V, alínea "c", do artigo 11 da Lei n° que configuram a relação em-
e Io e 2o tesoureiros, e que funcio­ 8.213/1991, ressalvada a hipótese pregatícia, estatuídos pelo artigo
ne fiscalizado por um Conselho de já ter filiação previdenciária em 3o da Consolidação das Leis do
Fiscal. Tanto a Diretoria quanto o decorrência de outro vínculo. A Trabalho (CLT): pessoalidade,
Órgão de Fiscalização são eleitos igreja, contudo, não será obrigada não eventualidade, subordinação
pela Assembléia Geral, que é o a reter ou recolher a contribuição e onerosidade. Mas quanto ao
conjunto de obreiros e membros previdenciária correspondente, Imposto de Renda Pessoa Física
locais. Não há, no âmbito público posto que “não se considera como (IRPF), segue-se a regra geral, que
- e nem pode haver -, uma lei que remuneração direta ou indireta, é o dever de retenção na fonte e
estabeleça como deve ser formada para os efeitos [da lei de custeio recolhimento à Receita Federal do
essa estrutura. O que se exige é da Previdência] os valores despen­ Brasil, pela igreja, do percentual

24
OB REIRO
correspondente ao valor sujeito à Geralmente, são agentes ou auxi­ mente qualificada. Isso diz respeito
tributação, pena de incursão no liares administrativos, agentes de a patrimônio, renda, serviços e
crime de sonegação fiscal, previsto limpeza e de segurança, operários entidades sobre os quais a Cons­
na Lei n° 4.729/1965. Para tanto, é da construção civil, motoristas etc. tituição Federal veda a instituição
preciso observar a tabela de tribu­ O vínculo empregatício se dá de impostos. Aliás, é importante
tação vigente, que prevê as faixas quando preenchidos os requisitos destacar que a imunidade alcan­
remuneratórias e suas respectivas previstos no já mencionado artigo ça somente impostos, conforme
alíquotas. Os que recebem valores 3o da CLT. O serviço voluntário consta na alínea "b " do inciso VI
superiores à faixa de isenção ficam não está sujeito a registro, prin­ do artigo 150 da Carta Magna, e
sujeitos a alíquotas que vão de cipalmente por não haver contra- não tributos no sentido amplo.
7,5% a 27,5%. Esse leão não perdoa. prestação. O trabalhador eventual O artigo 145 lista como tributos:
e o autônomo também não são impostos, taxas e contribuintes
abarcados pelas regras celetistas, de melhoria. Outros dispositivos
Obrigações trabalhistas
seja o registro, sejam os direitos constitucionais tratam das con­
e previdenciárias
incidentes sobre a contrapresta- tribuições especiais (sociais, de
Quanto aos empregados em ção, ante a ausência de habituali-
intervenção no domínio econô­
geral - todos aqueles que prestam, dade e subordinação.
para a igreja, serviços distintos do mico e de interesse de categorias
culto, mediante vínculo emprega- profissionais ou econômicas) e do
Imunidade e outras empréstimo compulsório. Tributo
tício -, é preciso que haja o devido
questões tributárias é gênero. Imposto é espécie.
registro em Carteira de Trabalho
e Previdência Social (CTPS), que É importante examinar, ain­ Não há incidência de impostos
agora é digital. A estes são asse­ da que suscintam ente, no que sobre atividades ou patrimônios
gurados os direitos comuns a todo consiste a imunidade tributária das entidades religiosas e dos tem­
e qualquer trabalhador celetista: das igrejas. Um conceito corrente plos de qualquer culto. Portanto,
regularidade de salário, FGTS, de imunidade é hipótese de não a igreja não paga IPVA (Imposto
INSS, férias, décimo-terceiro etc. incidência tributária constitucional­ Sobre a Propriedade de Veículos

Á
Automotores), ISSQN (Imposto tre as quais está a escrituração beis correntes - digitais, em sua
Sobre Serviços de Qualquer Natu­ contábil. Isso está dito no artigo maioria. Assim, para dar conta
reza), IPTU (Imposto Sobre a Pro­ 178 do decreto n° 9.580/2018, que de tantas tarefas burocráticas
priedade Territorial Urbana) ou regulamenta a tributação, a fis­ (apresentadas de forma singela
ITBI (Imposto Sobre a Transmis­ calização e a administração do e resumida neste artigo), é indis­
são de Bens Inter-Vivos). Quanto Imposto de Renda. Contudo, é pensável que a igreja conte com
ao IPTU, a imunidade alcança preciso dizer que, em um exame profissionais da área contábil que
não apenas o templo, mas todas geral do ordenamento jurídico conheçam as especificidades das
as suas dependências, inclusive a pátrio, há um certo vácuo legisla­ organizações religiosas. É bom
casa pastoral (se de propriedade tivo quanto a tratar, de forma es­ que esse conhecimento seja não
da igreja). Julgando casos concre­ pecífica, as obrigações acessórias apenas teórico, mas também prá­
tos, o Supremo Tribunal Federal ligadas aos templos de qualquer tico. Isso é importante tanto para
já decidiu que a imunidade atinge culto. Costuma-se, por vezes, in­ evitar prejuízos, pela omissão no
até mesmo imóveis locados ou va­ vocar dispositivos genéricos ou, cumprimento de normas, quanto
gos. O que não pode haver é des­ no máximo, que façam referência para não engessar a igreja, com
vio das finalidades essenciais da a instituições de educação ou de rigorism o excessivo e rotinas
igreja, o que, se provado pelo fisco, assistência social sem fins lucrati­ incompatíveis com o seu caráter
afasta a imunidade. Quanto ao vos, como se observa no artigo 12, espiritual, que deve permear e
ICMS (Imposto Sobre Circulação § 2o, alínea "c" da Lei n° 9.532/1997. orientar toda a sua existência.
de Mercadorias e Serviços), além De qualquer sorte, pode-se di­ É preciso haver sabedoria,
da imunidade, sua incidência é zer que o simples fato de a igreja muita sensibilidade e cautela,
alheia às atividades da igreja. possuir obrigações fiscais ligadas para não tratar a igreja apenas
às questões trabalhistas e previ- como uma organização humana,
Obrigações contábeis denciárias às quais está vinculada, pois ela é, acima de tudo, uma
É entendimento consolidado como já explicitado, faz com que instituição divina. Nesse sentido,
que, embora desfrutem de imu­ tenha de se preocupar com uma o papel da liderança espiritual
nidade tributária, as igrejas são série de providências adm inis­ é fundamental para que a igreja
obrigadas a cumprir obrigações trativas que não dispensam, de permaneça funcionando como um
acessórias de índole fiscal, den­ forma alguma, as práticas contá­ organismo vivo. H
OBRAS PARA O
ENRIQUECIMENTO DA
SUA VIDA MINISTERIAL

Cristologia Paulina
@ GORDON D. FEE G ordon D. Fee
Única em sua abordagem e temática, a obra Cristologia Paulina
oferece um estudo exaustivo sobre o tema elaborado pelo aca­
dêmico pentecostal Gordon Fee. O autor oferece uma análise
individual e detalhada das Cartas de Paulo, explorando a
cristologia de cada uma delas e faz uma síntese exegética da
cristologia bíblica de Paulo, destacando os seguintes temas:
- O papel de Cristo como o Salvador divino preexistente e
Salvador encarnado;
- Jesus como o Segundo Adão;
- O Messias judeu e Filho de Deus;

CRISTOLOGIA - Jesus como o Messias e Senhor exaltado.


Entre outros assuntos, Fee também explora o relacionamento

PAU LI NA
Um e s tu d o e x e g é t ic o - t e o ló g ic o
entre Cristo e o Espírito Santo, inclusive tratando da pessoa
e do papel do Espírito no pensamento de Paulo. Uma leitura
obrigatória para todos os que se interessam em estudar tanto
a pessoa de Jesus quanto a teologia de Paulo.

Os Escolhidos
D a lla s Jen k in s, A m an d a Jen k in s e K risten H en d rick s
Através do devocional Os Escolhidos, o roteirista e diretor da
série The Chosen, Dallas Jenkins, junto com Amanda Jenkins e
Kristen Hendricks, conduz os leitores a uma jornada com Jesus
através dos olhos das pessoas cujas vidas Ele absolutamente
transformou com Suas palavras, Seu amor e Suas obras: Seus
discípulos. Este é o segundo livro devocional da série, onde
eles aprofundam o relacionamento com o Mestre tendo como
referência as experiências de outras pessoas citadas nos Evan­
gelhos, procurando responder a uma pergunta penetrante:
"O que significa seguir Jesus de verdade?". Por meio desses
devocionais, o leitor não vai se esquecer que aquEle que nos
ama tanto e que deu a Sua própria vida por nós quer um re­
lacionamento crescente conosco. Jesus quer andar conosco,
manifestar o Seu amor diariamente e mostrar-nos cada vez
mais quem Ele é. O Senhor espera pacientemente que cada
um responda a seu convite e tenha uma vida plena de amor
e felicidade verdadeira segundo a Palavra de Deus.
R a yfra n B a tis ta d a Silva

Equilibrando se
Organismo e Or
iariam ente, a ig re­ qual Cristo é a Cabeça. "A Igreja

D
Rayfran Batista da Silva é pastor
titular da AD em Santa Inês (MA); ja, como o corpo es­ é um ajuntamento de discípulos
I o vice-presidente da Convenção piritual de Cristo na de Cristo que representa o Reino
Estadual das A ssem b ieias de Deus terra, está exposta às de Deus na terra e cumpre as or­
no Maranhão (CEADEM A); pós- pressões do materialismo, do se- denanças de seu Senhor Jesus à
graduado em Teologia; graduado cularismo, do liberalismo teoló­ luz das Escrituras. Ao entrarem
em Filosofia, Letras e História gico e do mundanismo. Em suas e perseverarem na nova aliança
múltiplas vertentes, essas quatro pela graça divina, esses discípu­
correntes se opõem frontalmente à los desfrutam do Evangelho e
natureza e aos propósitos da igre­ obedecem a ele por meio de seu
Pode-se ja como uma agência do Reino de compromisso mútuo e do Espíri­
Deus. Quanto mais se aproxima to Santo que os regenerou. Tudo
afirmar que, no o retorno do Senhor Jesus Cristo, isso acontece para a edificação
pensamento do mais se intensifica a tendência da desta igreja e de outras igrejas, o
Cristandade em ceder às pressões cumprimento de sua missão, o be­
apóstolo Paulo, a da contemporaneidade com suas nefício de todos e para a glória de
Igreja não é uma muitas ideologias e filosofias em
detrimento dos princípios eternos
Deus, que a redimiu" (BLEDSOE,
2022, p.257). Conforme o conceito
sociedade, mas, tão bem expressos nas Sagradas acima, a Igreja existe especifica­
Escrituras. Basta que se leia com
sim, um corpo a devida atenção as sete cartas en­
mente na nova aliança, e é consti­
tuída de discípulos de Cristo com
viadas por Jesus às igrejas da Ásia um propósito específico na terra.
Menor por intermédio do apósto­ Assim, pode-se afirmar que ela é
lo João (Ap 2 e 3) para se perceber tanto um organismo quanto uma
que não é de hoje essa tensão. organização.
A igreja é, na realidade, um Percebe-se também, em nossos
grupo de pessoas chamadas para dias, algumas atitudes e movi­
fora do mundo, do pecado e das mentos entre a Cristandade con­
religiões. Ela é um agente de temporânea que estão causando
transformação do mundo pelo po­ enorm es preocupações para a
der do Evangelho de Jesus Cristo. liderança conservadora da igreja,
Todos os verdadeiros crentes em ao ponto de se tornar motivo de
Jesus, espalhados pelo mundo, estudo, oração e diversas análises
formam a Igreja. Ela não está res­ por parte daqueles que se debru­
trita a uma área geográfica e nem çam sobre o tema. Assuntos como:
a um único povo na terra. Este é o igrejas que se declaram progres­
seu aspecto invisível e universal. sistas, o aumento daqueles que se
Neste sentido, refere-se à Cristan­ autodenominam desigrejados e a
dade em geral, designa o Corpo desvalorização do ministério pas­
de Cristo, a Igreja invisível, da toral. Diante de atitudes e movi-
Sob a Tensão Entre
ganização
mentos como estes aqui citados, a
atual liderança da igreja tem sobre
si a responsabilidade de lutar para
que a mesma não venha a cair em
tais ciladas.

A necessidade do
equilíbrio entre organismo
e organização
A maioria dos teólogos evan­
gélicos está de acordo em afirmar
que a Igreja de Cristo na terra é
tanto um organismo como uma
organização. O Novo Testamento
ensina que a igreja é um organis­
mo vivo, porém organizado. O
Senhor Jesus, depois de ter feito a
profética declaração sobre a edifi­
cação da Igreja como indestrutível
propriedade Sua (Mt 16.18), fez
também menção clara da neces­
sidade de organização da mesma,
ao ensinar sobre a aplicação da
disciplina na vida dos membros
da igreja (Mt 18.15-18). O pastor
e teólogo pentecostal José Gon­
çalves definiu objetivamente este
aspecto da natureza da igreja:
"U m o rg a n is m o é v is to
como um conjunto de órgãos
que constitu em um ser vivo.
Nesse aspecto, um corpo com as
diferentes funções de seus órgãos
e membros é entendido como es­
trutura física de um organismo
vivo. Metaforicamente, a Igreja é
definida como 'o corpo de Cristo’
(ICo 12.27), um organismo vivo,
cuja cabeça é Cristo (Ef 5.23). As-
Â
sim como um corpo funciona pela do dentre os gentios. Cristo é o seu membros. E todos os membros
harmonia de seus membros, da Fundador no sentido de ter sido estão no mesmo nível" (Bancroft,
mesma forma também a Igreja seu Mestre, Construtor e Enviador 2001, p. 281).
(ICo 12.12). Os membros não exis­ do Espírito, que deu forma real Pergunta-se então: o que é ne­
tem independentemente um dos ao Corpo de Cristo. Um grande cessário para o devido equilíbrio
outros (ICo 12.21. Portanto, como número de estudiosos concorda entre o organismo e a organiza­
corpo místico de Cristo, a igreja que o Pentecostes foi o começo ção? O que a igreja pode e deve
existe organicamente" (Gonçalves, histórico da Igreja, já que o Corpo fazer para suportar a pressão do
2024, p.42). de Cristo é formado através da materialismo, do secularismo, do
A Igreja é o corpo místico de atividade do Espírito (ICo 12.13), e liberalismo teológico e do munda-
Cristo, do qual Ele é a Cabeça viva esta começou suas atividades pú­
nismo? Apresento aqui algumas
e do qual os crentes regenerados blicas no dia de Pentecostes (At 1.5
poucas e modestas sugestões que,
são membros (Ef 1.22,23; Ef 3.4-6). e capítulo 2). Bancroft, em sua Teo­
se colocadas em prática correta­
"Porque, assim como o corpo é um logia Elementar, comenta que "uma
mente, poderão, de alguma forma,
e tem muitos membros, e todos os igreja local é um grupo de crentes
contribuir para o equilíbrio neces­
membros, sendo muitos, consti­ batizados, reunidos pelo Espírito
sário no dia a dia da igreja.
tuem um só corpo, assim também Santo com o propósito de obede­
com respeito a Cristo. Pois, em um cer aos princípios e preceitos da
só Espírito, todos nós somos bati­ Palavra de Deus. At 2.41,42; At Em primeiro lugar, é
zados em um corpo, quer judeus, 16.5. No Novo Testamento, a Igreja necessário valorizar
quer gregos, quer escravos, quer é uma organização extremamente o conceito de igreja
livres". (ICo 12.12,13). A Igreja, simples. Todos quantos sejam ca­ conforme seu emprego
assim considerada na qualidade pazes de se render a Jesus Cristo no Novo Testamento
de organismo, é, segundo Atos e realmente o fazem, aceitando-o A Declaração de Fé das Assem­
15.14, "um povo para o seu nome", como o Salvador e obedecendo-lhe bléias de Deus no Brasil faz a se­
o qual Deus está atualmente tiran­ como Senhor, têm o direito de ser guinte declaraçao sobre a verda-
deira natureza bíblica da igreja: meza da verdade. É a comunidade O pastor e professor Antonio
"CREMOS, professamos e ensi­ do Senhor. Além de assembléia Gilberto faz a seguinte distinção:
namos que a Igreja é a assembléia universal dos crentes em Jesus, "Vejamos as duas principais dife­
universal dos santos de todos os o vocábulo 'igreja' refere-se a um renças entre estes dois: (1) Um or­
lugares e de todas as épocas, cujos grupo de crentes em cada locali­ ganismo tem vida; uma organiza­
dade geográfica. Ensinamos que ção, não. A Igreja Universal, como
nomes estão escritos nos céus: 'A
a igreja é una e indivisível: um só o Corpo de Cristo, como um orga­
universal assembléia e igreja dos
nismo, não depende de cerimônias,
primogênitos, que estão inscritos corpo, um só Espírito, uma só fé
de reconhecimento, de templos, de
nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e um só batismo. A Igreja envolve
estatutos civis, de livro de atas, de
e aos espíritos dos justos aperfei­ um mistério que não foi revelado
livros de rol de membros e coisas
çoados' (Hb 12.23). A Igreja foi no Antigo Testamento, mas que
semelhantes, mas ela, como or­
fundada por nosso Senhor Jesus foi manifesto aos santos na nova
ganização, necessita de tudo isso
Cristo, pois Ele mesmo disse: 'so­ aliança" (Silva, 2017, pp. 119,120).
e muito mais, como veremos no
bre esta pedra edificarei a minha A palavra igreja, originada
desenrolar deste estudo. A Igreja
igreja, e as portas do inferno não do termo eklesia, significa literal­ Universal permanecerá inabalável
prevalecerão contra ela' (Mt 16.18). mente "chamados para fora" e era quando tudo isso terminar. (2) Um
Essa pedra é o próprio Cristo: 'Ele usada para designar "assembléia" organismo tem apenas uma cabe­
é a pedra que foi rejeitada por vós, ou "ajuntamento" dos cidadãos de ça; uma organização pode termais.
os edificadores, a qual foi posta uma localidade na antiguidade Como Corpo de Cristo, a Igreja tem
por cabeça de esquina' (At 4.11), grega. Temos uma amostra desse uma só cabeça, que é Ele mesmo.
tendo a doutrina dos apóstolos conceito no Novo Testamento. Ela é chamada de corpo porque
por fundamento e Jesus a princi­ A Igreja é um grupo de pessoas não só é a expressão visível dEle
pal pedra de esquina: 'edificados chamadas por Cristo para fora do aqui, bem como executa a Sua obra
sobre o fundamento dos apóstolos mundo a fim de serem discípulas e faz o Seu querer. Paulo, antes da
e dos profetas, de que jesus Cristo de Jesus e pertencer a Ele, ter co­ sua conversão, estava perseguin­
é a principal pedra da esquina' (Ef munhão com Ele e fazer parte da do a Igreja aqui na terra, quando
2.20). Ela, a Igreja, é a coluna e fir­ família espiritual de Deus. do céu Jesus entrou em ação a A
favor dela, perguntando: 'Saulo, leta de Paulo foi a Igreja como o Ainda que os verdadeiros discípu­
Saulo, por que me persegues?'. Corpo de Cristo. Pode-se afirmar los de Cristo devem também estar
Perseguindo os membros da Igreja, que, no pensam ento de Paulo, comprometidos com a prática das
Saulo estava perseguindo a Cristo! a Igreja não é uma sociedade, é boas obras de ajuda ao próximo,
Ao passo que ela, como organiza­ um corpo. O esboço seguinte nos socorro e suprimento das necessi­
ção, tem os seus líderes e dirigen­ faz ver que a ideia de organismo dades humanas imediatas, a prio­
tes locais, regionais e nacionais. deve ser priorizada no exercício ridade da igreja, enquanto agente
É bem patente em Efésios 4.12-16 da espiritualidade da igreja sem
missionário de Deus ao mundo,
que a Igreja é primeiramente um contudo se negligenciar o seu as­
é a proclamação do Evangelho
organismo, mas tanto no livro de pecto organizacional: a) O corpo é
de Jesus Cristo, as Boas Novas de
Atos como nas Epístolas vemos um (Ef 4.4); b) o corpo tem muitos
salvação aos perdidos. Henry C.
também a Igreja como uma orga­ membros (ICo 12.12); c) o corpo é
Thiessen descreveu a missão da
nização local, regional e nacional. de Cristo (Cl 2.16); d) Cristo é a ca­
Alguns espiritualizam de tal for­ beça do corpo (Ef 4.12; Cl 1.18-22); igreja em sete itens. Ele diz que
ma a Igreja que o assunto chega e) o corpo vai crescendo (Cl 2.19); o propósito da igreja é "glorificar
ao ridículo; outros a organizam f) o corpo é complemento dEle (Ef a Deus, edificar-se, purificar-se,
tanto com esquemas, planos, roti­ 1.23); g) o corpo está sendo edifica- educar seu círculo, evangelizar o
na e programas que ela passa a ser do (Ef 4.12); e h) o corpo deve ser mundo, agir como uma força que
apenas um corpo social como uma bem ajustado (Ef 4.16). impõe limites e ilumina o mun­
associação qualquer, um clube a do, promover tudo o que é bom".
mais" (GILBERTO, 2021). Em terceiro lugar, é George Peters ensina de forma
necessário cumprir objetiva como pode ser compreen­
Em segundo lugar, deve-se cabalm ente a sua dida a missão da igreja: "A igreja
priorizar sem pre a Igreja m issão prioritária cristã tem a solene obrigação de
como Corpo de Cristo A missão prioritária da igreja fazer o seguinte: a) Apresentar a
(Ef 1.21,23) na terra jamais deve ser confun­ Cristo de forma viva, clara, eficaz
Entre as descrições da Igreja dida com influência política ou e persuasiva ao mundo e ao indi­
em o Novo Testamento, a predi­ com outras ações de beneficência. víduo como o Salvador enviado

OB RO
por Deus, o Senhor soberano do
Universo e futuro Juiz da huma­
nidade. b) Guiar os povos a uma
relação de fé com Jesus Cristo a
fim de que possam experimentar
o perdão dos pecados e a renova­
ção de vida. O homem deve nascer
novamente, se quiser herdar vida
eterna e amizade eterna com Deus.
c) Separar e congregar os crentes
através da realização do batismo,
estabelecendo-os em igrejas atu­
antes. O companheirismo consti­
tui uma parte vital da vida cristã.
d) Firmar os cristãos na doutrina,
nos princípios e nas práticas da
vida, amizade e serviço cristão,
ensinando-os a observar todas as
coisas. Isso é instrução, a criação
de discípulos cristãos, a cristiani-
zação do indivíduo, e) Treiná-los
a viver no Espírito Santo. Já que a
vida cristã contém exigências e ide­ d) Adoração genuína (Et 5.18-20; seguintes bênçãos dentro e fora
ais sobrenaturais, ela só pode ser Cl 3.15,17); da igreja: "a) Favorece, entre os
vivida através de uma confiança e) Oração eficaz (At 4.31-35; At membros, o crescimento cristão
plena no Espírito Santo. Se as lições 12.5); e a obediência ao evangelho,
não forem aprendidas cedo, a vida f) Testemunho eficaz (Mt 28.19,20; b) Viabiliza, na congregação, o
crista ficã cercada de frustração e Jo 13.34,35); exercício da autoridade dada
torpor; a apatia instala-se ou as g) Comunhão eficaz (At 2.44-47); por Cristo com mais responsa­
pessoas acomodam-se a uma vida h) Governo eclesiástico bíblico bilidade. c) Assegura a pureza
cristã anormal. Essa é a tragédia (lTm 3.1-3); e a unidade da igreja com mais
de inumeráveis cristãos que nem i) Poder espiritual no ministério eficácia, d) Ajuda a distinguir a
mesmo esperam concretizar os ide­ (At 1.8; Rm 1.16; 1 Co 4.20; 2 Co igreja do mundo, protegendo a
ais bíblicos" (PETERS, 2000, p.260). 10.3,4); sua integridade e credibilidade,
j) Santidade de vida entre os e) Garante o alicerce necessário
Em quarto lugar, é membros (lTs 4.3; Hb 12.14); para a igreja cumprir sua missão
necessário buscar e k) Cuidado pelos pobres (At 4.32- em tudo o que Deus espera que
preservar os sinais de uma 35; Rm 15.26; G1 2.20); ela seja, creia e faça. f) Ilustra,
igreja pura conforme as l) Amor por Cristo (lPe 1.8; Ap 2.4). com mais precisão, as imagens
Sagradas Escrituras bíblicas da igreja, a qual fornece
Aqui estão de forma simplifi­ Em quinto lugar, a amor e apoio aos membros nesta
cada alguns dos sinais que devem igreja, bem como sua vida. g) Abençoa o m inistério
identificar a igreja comunidade liderança, precisa lutar dos pastores e perm ite que os
dos santos de Deus na terra: pela preservação da membros usufruam mais de seus
a) Doutrina bíblica (ou pregação membresia regenerada esforços, h) Protege as pessoas
correta da Palavra); Uma membresia regenerada, de se iludirem quanto ao seu
b) Uso adequado das ordenanças com posta tanto quanto possí­ real estado espiritual, i) Serve,
bíblicas (Batismo e Ceia); vel de crentes verdadeiros em amorosa e honestamente, a mem­
c) Aplicação correta da disciplina seu com prom isso e sua vida, bros desobedientes, j) Ampara
eclesiástica; proporcionaria, pelo menos, as as novas gerações ao preservar o

A
legado do Evangelho, k) Exibe a Em sexto lugar, é necessário Deus deseja devem ser qualificados
beleza do Evangelho e da igreja manter o padrão elevado na (lTm 3.1-15) e separados para cuidar
universal. 1) Proporciona uma doutrina, na oração e da casa de Deus (v. 15).
maior compreensão e valoriza­ na liderança da igreja
ção do que significa ser membro, Em sétim o lugar, é preciso
Em Atos dos apóstolos 2.42-47,
por exigir e manter expectativas
4.31 e 6.1-7, está a verdade central da­ ouvir o Espírito Santo
em relação ao discipulado. m)
quilo que se pode afirmar que pode É imperiosa a necessidade de se
Oferece a base necessária para
ser o segredo do equilíbrio de uma ouvir a voz do Espírito de Deus en­
espalhar os desdobramentos do
igreja vibrante, equilibrada e cheia quanto se conduz a igreja de Cristo,
Evangelho na sociedade na qual
a igreja está inserida, n) Permite do Espírito Santo. A doutrina bíbli­ porque ela não é uma empresa, não
que o Evangelho vá mais longe ca é o farol de Deus em meio à escu­ é uma sociedade limitada, não é um
e se espalhe entre as nações, o) ridão do mundo sem Deus; a oração império construído por homens,
Glorifica e honra a Deus por reve­ é arma de ataque e de defesa que mas o Corpo de Cristo na terra com
lar Sua sabedoria entre o povo a Deus colocou à nossa disposição a missão de glorificar a Deus e ex­
quem redimiu" (BLEDSOE, 2022, em todo o tempo da peregrinação pandir o Seu santo Reino (At 13.1-4;
pp. 315 e 316). terrena da igreja; e os líderes que 16.7; Ap 2.7,11,17,29; 3.6; 13,22). ■

REFERÊNCIAS

BLEDSOE, David Allen. Igreja Regenerada. Um a edesiologia bíblica, histórica e contem porânea. São José dos Campos, SP: Fiel, 2022
BANCROFT, D.D. Teologia Elem entar, Doutrinária e Conservadora. São Paulo: Editora Batista Regular, 2011.
ERICSON, Millard. Teologia Sistem ática. São Paulo: Vida Nova, 2015
GONÇALVES, José. 0 corpo de Cristo. Origem, natureza e vocação da igreja no mundo. Rio de Janeiro: CPAD, 2024
GILBERTO, Antônio. Bíblia de Estudo Antônio Gilberto. Rio de Janeiro: CPAD, 2021
PETERS, George W. Teologia Biblica de Missões. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p.260
SILVA, Ezequias Soares da. Declaração de Fé das Assem bléias de Deus. I a edição. Rio de Janeiro; CPAD, 2017
âÊm

Conheça a identidade e as
principais características
dos primeiros cristãos %

om ROBERT e.

Através desta introdução ao estudo do

Cristianismo w •
Cristianism o antes de Constantino,
você conhecerá as principais figuras,
crenças e práticas da Igreja Prim itiva
de 100 a 3 0 0 d.C. E ainda como os
M A cristãos reagiram a perseguição romana e
1111
aprofundaram sua fé em um am biente hostil.
u» ~ Ideal para leitura e discussão em uma
classe de escola dom inical,
um grupo pequeno ou grupo de leitura.
Crenças e Práticas
Principais Figuras,
da i g r e j a Primitiva

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ES l
Jesiel P a u lin o d a Silva

Ministérios pa
sua importam
s m in is té r io s ou incidem sobre os m in istérios

O
Jesiel Paulino é pastor, filiado à
A ssem bléia de Deus no Brasil organizações parae- paraeclesiásticos.
(CGADB) e à A ssem b léia de Deus clesiásticas, embora
na Europa, e teólogo especialista não sejam apresen­ Conceituações
em Teologia Bíblica há m ais de uma
tados ou recomendados nos es­ Principiamos este escrito com
década atuando no pastorado e
critos bíblicos, em especial nos a definição de dois conceitos teo­
plantação de igrejas no continente
textos norm ativos da vida da lógicos de relevante compreensão
europeu.
igreja cristã, são uma realidade no papel da missão da Igreja, que
presente no transcurso da histó­ são Missio Dei e Missio Eclesiae.
ria da Igreja. Desde os primeiros Reservamo-nos aqui a ocuparmo-
Na busca de séculos da igreja, os ministérios
p a ra e c le siá stico s podem ser
-nos com essas definições sem
a pretensão e a preocupação de
abordar com constatados como parte de ações se aprofundar em suas concei­
propriedade a extra-eclesiais que respondiam a
necessidades sociais e educacio­
tuações, uma vez que elas aqui
estão apenas para sinalizar um
importância e nais da comunidade cristã. Em­ norteamento de pensamento deste
os limites que bora se possa também ver ações
alhures desses m inistérios na
texto sobre os ministérios parae-
celesiásticos.
incidem sobre fase medieval da igreja, é mesmo
os ministérios a partir da Reforma Protestante Missio Dei
que passamos a ver uma maior A expressão latina Missio Dei,
paraeclesiásticos, presença nos serviços prestados que significa "Missão de Deus",
se faz necessário à comunidade. se trata de um conceito teológico
De forma especial, a partir do que surge nas primeiras décadas
que avancemos movimento das missões e da ex­ do século 20 e que passa a ser in­
no processo de pansão da igreja missional, bem serido sistematicamente no voca­
como com o surgimento de ações bulário da Teologia Missional na
compreensão mais específicas no contexto do segunda metade do século 20. A
C ristianism o contem porâneo, Missio Dei expressa que a missão
da identidade pode-se claramente ver o cres­ se deriva da natureza de um Deus
desses grupos cimento dos movimentos parae­ Trino e que, por conseguinte, tem
clesiásticos na história da Igreja. na pessoa de Deus o agente desta
Uma vez que a presença desses missão, cujo objetivo é salvar e
ministérios é uma realidade ao restaurar a criação divina da sua
longo da história, bem como sua corrupção advinda da queda do
relação com a comunidade cristã homem edênico. Segundo o te­
e secular é inquestionável, cabe­ ólogo sul-africano David Bosch
mos então aqui analisar qual é [2011], a missão é um atributo de
a importância e os limites que Deus, de modo que Deus é um
raeclesiásticos:
ia e seus limites
Deus Missionário. A partir des­
te núcleo-duro da Missio Dei se
compreende que Deus envia o
Seu povo ao mundo como parte de
Sua missão redentora. Neste con­
texto, deve-se pensar na Qahal Is­
rael (Congregação de Israel), mais
especificamente do período do
Segundo Templo e, em especial,
na comunidade cristã nascente na
Jerusalém do século 1.

Missio Eclesiae
A essa comunidade cristã, isto
é, a Igreja de Cristo, é conferida
o que denominamos por Missio
Eclesiae. Esta expressão latina, por
sua vez, é emprega em referência
ao papel que confere à igreja na
Missão de Deus. De evidente re­
levância está o ato de compreen­
dermos que a missão da igreja não
tem origem em si mesma, antes
ela provém da Missio Dei. A igreja
desenvolve o seu papel missional
através de sua ação como agente
do Reino de Deus - por meio de
sua ação de testemunha e propa­
gadora do Evangelho de nosso
Senhor e Deus Jesus Cristo.
A com unidade cristãm no
processo de avanço de sua Missio
Eclesiae, nem sempre pode ocupar-
-se em plenitude das ações que são
inerentes à sua missão integral e,
portanto, este é o momento em
que as igrejas locais necessitam
da cooperação dos denominados
ministérios paraeclesiásticos.
Á
Conceituando ministérios em ação de movimento, pode ser ja local, a fim de que esta possa
paraeclesiásticos traduzida como: "ao lado de, jun­ levar a cabo aquilo que lhe confere
Os ministérios paraeclesiásti­ to a"; já o substantivo èxxXqoía, no campo da Missio Eclesiae. Ao
cos, que, a meu ver, podem em sig­ por se o rig in ar da ju nção da ampliarmos nossa compreensão
nificativa escala ser conectados ao preposição èx - que significa "de sobre o que são os m inistérios
que tecnicamente denominamos dentro para fora" com o verbo paraeclesiásticos, nós somos nor­
por Missio Hominum, tratam-se xodéco - que, por sua vez, signifi­ teados a compreender que estes
de grupos que atuam em forma ca "chamar, convocar" - pode ser grupos, apesar de atuarem em
de ministérios ou organizações exemplificado em "um grupo de apoio à igreja local, possuem au­
que servem como apoio em áreas pessoas chamados para fora de tonomia, sendo os próprios res­
específicas para as igrejas locais. O suas casas para se reunirem em ponsáveis por sua administração,
adjetivo paraeclesiástico origina- assembléia pública ou privada". organização e desenvolvimento.
-se da junção de duas palavras A partir desta consideração eti- Todavia, essa autonomia não abre
gregas, que são: Jiapá + èxzÁqoía, mológica, pode-se chegar à com­ a possibilidade para que se esses
sendo que ekklesia é o termo que preensão de que os movimentos ministérios atuem afastados da
traduzimos por "Igreja" nos escri­ paraeclesiásticos são ministérios igreja ou na tentativa de substitui-
tos neotestamentários. A prepo­ ou organizações constituídos para -la em sua Missio Eclesiae, mesmo
sição grega napá, quando usada atuarem junto à igreja local, como porque eles estão para atuar ao
junto a elementos que implicam um instrumento de suporte à igre­ lado, em apoio às igrejas locais.
cristão, sejam eles de caráter infra que atuam com missão autócto­
Um olhar mais acurado
para os ministérios eclesiam ou daqueles de caráter ne e transcultural - de apoio a
paraeclesiásticos extra eclesiam . Quanto ao am ­ igrejas ou de plantação de novas
Na bu sca de abordar com biente interno da igreja, existem comunidades de fé; e 2. Os de
propried ad e a im p o rtân cia e aqueles m inistérios que atuam ações apologéticas. Neste contex­
os limites que incidem sobre os apoiando as estruturas internas to, há também m inistérios que
ministérios paraeclesiásticos, se que estão presentes em muitas apoiam as igrejas locais em ações
faz necessário que avancemos comunidades de fé, como, por relacionadas com a obra social e
no processo de com preensão exemplo: 1. Os segmentos etá­ cultural, exercendo atividades de
da identidade desses grupos. rios: ministérios que atuam com ação e assistência social - per­
Essa compreensão se torna mais crianças; adolescentes; jovens; manentes ou emergentes, como:
ampla e precisa quando investi­ adultos; família; 2. Segmentos de ajudas sociais, campanhas espe­
gamos o caráter, ou seja, os ele­ ensino: discipulado, formação e cíficas, construção e manutenção
mentos que caracterizam essas treinamento; 3. Segmentos logís­ de hospitais, lares de crianças e
organ izações. D entre outras, ticos: mídia, som; 4. E, também, idosos; bem como também há
os ministérios paraeclesiásticos há m inistérios que assistem às aqueles m inistérios paraeclesi­
têm relevantes características, as igrejas locais nas próprias ativi­ ásticos que atuam na criação e
quais são: dades de culto que realizam. Por manutenção de centros de for­
sua vez, no ambiente de atuação mação educacional, como semi­
Atuação em cam po externa da igreja, existem aque­ nários, escolas e universidades.
específico les m inistérios que apoiam as Desse modo, esses m inistérios
Os ministérios paraeclesiás­ atividades a serem realizadas paraeclesiásticos, por possuírem
ticos enfocam e atuam em seg­ que estão relacionadas com a um enfoque específico de recur­
mentos específicos do serviço pregação cristã: 1. M inistérios sos e ações, conseguem realizar A

39
atividades que as igrejas locais, evolui em um círculo virtuoso, se nistérios, podem proporcionar às
m uitas vezes, não conseguem avança de forma intencional e não igrejas locais uma aproximação
atender de modo eficaz. de forma acidental; logo, se pode m ais contextu alizad a da rea­
atuar sabendo de quem se necessi­ lidade vivenciada em um con­
Conhecim ento e diálogo ta para a realização de cada tarefa, texto específico. Nesse processo
efetivo com o contexto bem como os devidos métodos a de contextualização, a ação dos
de atuação serem empregados e quais as fer­ grupos paraeclesiásticos é muito
Os m in istério s p araeclesi- ramentas a serem usadas. contributiva para que a igreja lo­
ásticos, por concentrarem suas A ação social ou cultural devi­ cal possa reavaliar e reposicionar
ações em um segmento cultural damente elaborada de um minis­ suas ações missionais, pois a dinâ­
ou social específico, conseguem tério paraeclesiástico estabelece- mica da sociedade contemporânea
delimitar com maior precisão seu -se como uma ponte entre a igreja exige uma contextualização con­
campo de ação e o seu objetivo a local e a cultura, de modo que se tínua, não de conteúdo, mas, sim,
ser alcançado. Dessa forma, con­ pode chegar, por meio da Missio da forma. Todavia, sabe-se que o
seguem evitar o círculo vicioso Eclesiae, à revalorização da cultu­ processo de relação com as mu­
- onde se está girando ineficaz­ ra, o que particularmente prefiro danças ocorre de forma diferente
mente e realizando sempre mais denominar como "Santificação nos segmentos paraeclesiásticos e
do mesmo - e, assim, conseguem da Cultura", onde ocorre o resga­ nas igrejas locais.
desenvolver a execução de um te da Cultura Sagrada, proposta
círculo virtuoso, onde se gira em por Deus ao homem edênico. O Expansão do estado de “ser
forma espiral, ou seja, girando e conhecimento e relacionamento e estar” da igreja local
expandindo continuamente com com partes específicas de uma Uma das grandes ações dos
seus m ovim entos. Quando se cultura, realizados por esses mi­ m inistérios paraeclesiásticos é

40
O B REI RO
que, através de suas atividades, muito ganha ao envolver-se com eles mais curto o caminho en­
eles podem contribuir para que as atividades realizadas pelos tre intenção e ação, e isso é algo
a igreja local reavive sempre a ministérios paraeclesiásticos, pois extremamente relevante em um
compreensão de que ela é parte ela pode assim oferecer aos seus contexto como o da modernidade
do Corpo Místico de Cristo e não membros um serviço cristão es­ tardia, onde o tempo é um dos
que ela seja o próprio Corpo de pecializado, o qual nem sempre patrimônios mais valiosos que
Cristo. Os membros de uma igreja - em verdade, poucas vezes - está uma pessoa pode ter. Essa capa­
local, ao envolverem-se nas ações preparada para oferecer. Cabe-nos cidade que têm os m inistérios
realizadas pelas organizações pa- refletir que a razão de ser da igreja paraeclesiásticos de flexibilidade
raeclesiásticas, têm a oportunida­ é levar a cabo a Missio Dei e que e de rapidez em responder aos
de de desenvolverem a comunhão ela deve estar plenamente focada desafios que lhes são impostos
e unidade com irmãos de outras em realizar essa missão por meio ocorre, entre outras, por algumas
congregações e denominações, de suas ações de práticas diárias. razões básicas:
em prol de levar a cabo a Missio Por isso, ela deve, sim, contar com O sistema de liderança dessas
Eclesiae, ou seja, a missão de ser o apoio dos ministérios paraecle­ organizações - Por serem menos
agente do Reino de Deus no con­ siásticos, que podem otimizá-la burocráticos, eles possuem uma
texto onde se está inserido. Ao nessa execução missional. maior horizontalidade de gestão
envolverem-se nestas ações, os e uma efetiva descentralização de
membros de uma igreja local tam­ Um recorte de reflexão: poderes que resultam em ações
bém podem ser potencializados capacidade de flexibilidade menos letárgicas e ineficazes.
em seu processo de crescimento e resposta rápida Especialização - Uma outra
no exercício do seus dons, talentos Esses m inistérios possuem razão fundamental para que as
e ministérios. Quanto ao aspecto uma rápida e eficaz capacidade organizações paraeclesiásticas
intraeclesial, uma igreja local em de resposta, o que torna para consigam um significativo índi- A

41
OB REI RO
ce de agilidade e produtividade discutidos e analisados, e desde de sua relação com a igreja local.
eficaz se deve ao fato de que eles aí propostos mecanismos de ação, Agora, todavia, nos cabe pensar
atuam de forma especializada e nunca ocorrem de maneira real e quais são os limites que devem ser
em campos específicos da socie­ satisfatória enquanto não se está estabelecidos para esses ministé­
dade. Está cada dia mais eviden­ intrinsicamente envolvido com a rios e o porquê dessa limitação.
ciado que os que atuam em muitas sociedade e a cultura - não como E inquestionável que não pou­
frentes, de forma genérica e não uma ação de quem vai a elas, mas cas instituições paraeclesiásticas
especializada, desperdiçam po­ antes, sim, de quem está profun­ atuam de uma maneira ética e
tencial produtivo, vivem correndo dam ente inserido como parte relevante, reconhecendo os limi­
contrarrelógio e se tornam pro­ delas. Por essas razões, os minis­ tes do seu campo de ação e ser­
gressivamente menos relevantes térios paraeclesiásticos podem vindo como um instrumento de
a cada nova ação. adaptar-se mais facilmente que bênção para a vida da igreja local.
Conhecimento e contextualiza- as igrejas locais para atenderem às Todavia, é também incontestável
ção - Esses ministérios têm uma necessidades específicas de uma que existem muitos ministérios
importante capacidade de conhe­ comunidade. que possuem um procedimento
cimento do contexto social ao qual equivocado e, muitas vezes, mal-
se propõem atender, bem como Uma m esa de diálogo-ético -intencionado, tornando-se um
possuem também uma relevan­ Ao longo do desenvolvimento problema para algumas igrejas
te visão de sua necessidade de deste escrito, nós podemos apre­ que os apoiam. Ao longo de mi­
contextualização contínua com sentar uma compreensão do que nha jornada ministerial, já pude
a cultura com a qual dialogam. são os ministérios paraeclesiásti­ presenciar ministérios paraecle­
Esses elementos, que parecem cos e qual a importância que eles siásticos que não compreenderam
ser tão simples e fáceis de serem possuem, em especial no contexto que foram instituídos para atuar
em apoio à igreja local e não como saber com quem nos associamos e 2) Que haja um relacionamen­
uma igreja paralela. Eles atuavam estabelecer uma mesa de diálogo- to pautado por uma autêntica
afastando seus participantes da -ético. Quando é estabelecida ética cristã, onde os ministérios
vida comunitária de suas igrejas uma mesa de diálogo-ético entre paraeclesiásticos e igrejas locais
locais. Algumas vezes já pude igrejas locais e ministérios para- alcancem a excelência em comu­
presenciar ministérios que atu­ eclesiásticos, o avanço da Missão nhão.
aram se tornando receptores de da Igreja é relevante e resulta em 3) Relevante é que igreja local
investim entos financeiros que glória ao Senhor, edificação dos e os ministérios paraeclesiásticos
deveriam ser entregues à igreja e cristãos e expansão do Reino de desenvolvam o princípio bíblico
não para instituições. E até mes­ Deus. Algumas coisas precisam do companheirismo, em especial
mo vi pessoas que conduziam ser conversadas e oficializadas que possam se deixar orientar
organizações paraeclesiásticas se em uma mesa que orienta essa pela abordagem de Paulo sobre o
vestirem de uma falsa aparência ação conjunta. E sinto-me bastante companheirismo ministerial.
de piedade e, posteriormente, se­ confortável com essa apreciação
duzirem crentes débeis e cristãos por presidir um ministério pa- Considerações conclusivas
não nascidos de novo e com esses raeclèsiástico e simultaneamente Os ministérios paraeclesiásti­
constituírem um igreja local. servir como pastor sênior em uma cos revelam-se como uma ferra­
Não podemos mesclar os bons igreja missionária no continente menta que seguirá em expansão
e os maus ministérios paraeclesi- europeu. Portanto, entendo que no desenvolvimento da história
ásticos, pois, como em todo seg­ algumas considerações devem ser da Igreja. Uma constatação lógica
mento cristão, haverá os que atu­ ressaltadas, que são: é que o futuro da Missio Eclesiae,
am com um bom caráter cristão e 1) É imprescindível que amboscom o propósito de levar a cabo a
os que assim não fazem; haverá os os segmentos tenham claros as Missio Dei, passa pela ação resul­
que dedicam-se à santificação do suas ações e os seus limites que tante do trabalho conjunto reali­
seus ministérios e os que não pro­ lhes cabem na tarefa que realiza­ zado por igreja local e ministérios
cedem assim. Logo, devemos bem rão em cooperação; paraeclesiásticos. H
M AIOR E M AIS
COMENTÁRIO DE
O altam ente respeitado estudioso do
Novo Testam ento Craig K.eener é conhecido
■ il i
por sua pesquisa meticulosa e abrangente. l^ slfíxa**
Esta coleção magistral será um recurso VOLUME 4
inestimável para professores e estudantes Plf;
do Novo Testamento, pastores, estudiosos
VOLUME 4
de Atos dos Apóstolos e bibliotecas.
W >
E n te n d a o livro d e A to s 1/jn.r

c a p ítu lo p o r c a p ítu lo ,
capítulos
v ersícu lo p o r v ersícu lo ! M.1 a 28,31
ca pítu lo s
24.1 a 28.31
Em cad a volume, ICeener apresenta
o livro de Atos, particularm ente questões
históricas relacionadas a ele, e fornece
exegese d etalhada de seus capítulos. CRAIG S. KEEI

24.1 o 28.51
>4: copíW°s

A OBRA-PRIMA DE CRAIG S
cpad.com.br

j jr a { . 0800-021-7373 jfP jf livrarias CPAD


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DOCUMENTADO
ATOS JÁ ESCRITO
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IP 1
VOLUME 2

VOLUME 3 -«* = VOLUME 1


VOLUME 2
COMENTAR C ® COMENTÁF C O M E N T Á R IO
EXEG ETIC WÍ! EXEGÉTICO
ATO. a v ATO WMOtiCÃO
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CAPÍ*-JlOS a CAPÍTULOS C INTRODUÇÃO
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Volume2-
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KEENER AGORA NO BRASIL


Carlos Roberto Silva

O líder como p
uando se fala em duas a palavra de Deus para servir às
Carlos Roberto Silva é pastor, líder
|atividades distintas mesas. Por isso, irmãos, escolham
da A ssem bléia de Deus em Cubatão
'para uma só pessoa, entre vocês sete homens de boa
(SP), presidente da Convenção
a primeira impressão reputação, cheios do Espírito e
dos M inistros das A ssem b léias de
que se “ tem é a de "acúmulo de sabedoria, para os encarregar­
Deus no Estado de São Paulo e
Outros (CO M AD ESPE), e relator do
de funções", o que no caso das leis mos desse serviço. Quanto a nós,
Conselho de Doutrina da CG ADB trabalhistas compreende algumas nos consagraremos à oração e ao
implicações, entre elas - além da ministério da palavra. O parecer
capacitação exigida - o pagamen­ agradou a todos. Então elegeram
to da devida remuneração. Em Estêvão, homem cheio de fé e do
algumas profissões, há, inclusive, Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Ni-
A função pastoral discussões sindicais com corren­ canor, Timão, Pármenas e Nicolau,
inclui a direção tes de pensamentos divergentes prosélito de Antioquia. Apresenta­
sobre a viabilidade ou não dessa ram estes homens aos apóstolos,
dos cultos, modalidade. que, orando, lhes impuseram as
a pregação Não é diferente no caso do lí­
der como pastor e administrador.
mãos" (At 6.1-6, NAA).
O crescimento da Igreja era de
e ensino da A isso o mundo acadêmico ecle­ tamanha proporção que os apósto­
siástico denomina de bivocação. los realmente admitiram ter senti­
Palavra, além do Aliás, a primeira murmuração do a murmuração em tese, sendo
cuidado com a registrada na Igreja Primitiva foi necessário resolver o problema.
por conta desse tema. A Igreja es­ Considerando que não lhes era
membresia tava em seu início, quando surge a possível acumular tais funções,
murmuração dos helenistas contra manifestaram então as qualifica­
os hebreus, sob a alegação de que ções exigidas e a Igreja, portanto,
suas viúvas não estavam sendo fez a escolha e eles, impondo-lhes
bem atendidas na distribuição di­ as mãos, delegaram aos diáconos o
ária dos suprimentos, uma espécie trabalho da administração social.
de discriminação não proposital, Diante de tal iniciativa, tiveram
mas motivada pelo acúmulo de tempo suficiente para se dedicarem
funções dos apóstolos. Se não, exclusivamente ao trabalho espi­
vejamos o texto. ritual de se consagrarem à oração
"Naqueles dias, aumentando e à Palavra. Naquele momento, o
o número dos discípulos, houve problema foi totalmente resolvido
murmuração dos helenistas con­ com resultados positivos à Igreja,
tra os hebreus, porque as viúvas tanto que o crescimento doravante
deles estavam sendo esquecidas atesta o sucesso da resolução.
na distribuição diária. Então, os Até hoje, algumas igrejas his­
doze convocaram a comunidade tóricas, principalmente as de go­
dos discípulos e disseram: Não verno congregacional, mantêm
é correto que nós abandonemos esse sistema, onde há conselhos

OB01RO
astor e administrador
form ad os por d iáconos e/ou
presbíteros que se encarregam
da administração material e fi­
nanceira, enquanto seus pasto­
res se dedicam exclusivamente
às coisas espirituais. Em alguns
casos, os pastores presidem esses
conselhos; e em outros, nem deles
participam.
Inicialmente, parece ser uma
combinação com o custo-benef ício
perfeito, porém, sem fazer qual­
quer juízo de valor dos sistemas
eclesiásticos, não é o caso da maio­
ria das Igrejas Pentecostais, sejam
elas clássicas ou não, onde os pas­
tores lideram, auxiliados por um
corpo diretivo que coopera com
ele nessa administração.
No primeiro momento, temos
a impressão de que o modelo im­
plantado pelos apóstolos perdurou
durante toda a existência da Igreja
Primitiva, mas não foi o que aconte­
ceu. Se analisarmos os conselhos de
Paulo a Timóteo, em sua primeira
carta, provavelmente entre 10 e 15
anos após a eleição dos primeiros
sete diáconos, já existiam presbí­
teros que presidiam, além de se
dedicarem também na pregação e
no ensino da Palavra: "Devem ser
considerados merecedores de pa­
gamento em dobro os presbíteros
que presidem bem, especialmente
os que se esforçam na pregação da
Palavra e no ensino. Pois a Escri­
tura declara: 'Não amordace o boi
quando ele pisa o trigo'. E, ainda: "O
trabalhador é digno do seu salário"
(ffin 5.17-18, NAA).
Á
47
OB REI RO
Paulo chega a orientar que tirania. Assim, elas se espalharam, outros para evangelistas e outros
eles sejam dignos de duplicada por não haver pastor, e se tornaram para pastores e mestres, com vistas
honra e/ou pagamento em dobro, pasto para todos os animais selva­ ao aperfeiçoamento dos santos para
pois tinham a incumbência de gens. As minhas ovelhas andam o desempenho do seu serviço, para
administrar, pregar o evangelho desgarradas por todos os montes a edificação do corpo de Cristo" (Ef
e ensinar o rebanho. Não se sabe e por todas as colinas. As minhas 4.11-12, NAA); no entanto, vemos
exatamente como e nem quando ovelhas andam espalhadas por toda no livro do Apocalipse, quando o
aconteceu essa mudança, ou se foi a terra, sem haver quem as procure Senhor Jesus se revelou ao apósto­
acontecendo paulatinamente com ou quem as busque" (Ez 34.4, NAA). lo João escrevendo a sete igrejas da
o crescimento da Igreja. O certo é Mesmo delegando tais respon­ Ásia, endereçando-as ao pastor de
que houve a contextualização do sabilidades a líderes auxiliares e cada uma em particular. Ao final,
sistema, por necessidade, senão de departamentos específicos, é na­ a palavra era sempre a mesma:
todas, mas de algumas congrega­ tural que em muitas situações a "Quem tem ouvidos ouça o que o
ções. Possivelmente havia igrejas presença e fala do pastor da igreja Espírito diz às igrejas", mas o en-
que mantiveram o sistema original sejam necessárias. dereçamento e responsabilidade
e outras que se adequaram à nova Naturalmente, em uma igreja recaía sobre o "anjo da igreja" ou
realidade por conta da sua neces­ madura, com mais tempo de funda­ seja, ao "pastor da igreja".
sidade. Paulo diz: "Os presbíteros ção e uma membresia maior, há uma Espiritualmente, como vimos no
que presidem bem...". Eram casos melhor compreensão, o que facilita texto acima, a igreja como organis­
específicos, mas é certo que já havia uma melhor administração de tais mo é assim que funciona e, do ponto
alguns nessa condição de presidir, situações, onde se pode filtrar os de vista administrativo, como orga­
pregar e ensinar. casos de menor importância através nização, também assim o é. Como
E lógico que é extraordinário de auxiliares devidamente prepara­ organização, na constituição civil,
que, em sendo possível, o pastor dos, conforme o conselho de Jetro, através do estatuto, CNPJ e outros
se mantenha nas atividades do o sogro de Moisés: "Procure entre instrumentos dos órgãos públicos,
ministério pastoral, como orar, se o povo homens capazes, tementes a a igreja sempre está atrelada ao CPF
preparar exclusivamente para a pre­ Deus, homens que amam a verdade do seu principal líder - no caso, o
gação e o ensino. Porém, se na Igreja e odeiam a corrupção. Coloque-os pastor da igreja.
Primitiva já se tinha tal problema, como chefes do povo: chefes de mil, A Igreja como Corpo de Cristo
imaginemos o grau de complexida­ chefes de cem, chefes de cinquenta e não é propriedade do pastor, mas
de do tema nos tempos modernos. chefes de dez, para que julguem este a responsabilidade da condução
E necessário lembrar que, quan­ povo em todo tempo. Toda causa espiritual, segundo a Palavra de
do falamos na função pastoral, ela grave trarão a você, mas toda causa Deus, é dele: "Obedeçam aos seus
não se restringe apenas à direção pequena eles mesmos julgarão; as­ líderes e sejam submissos a eles,
de cultos, pregação e ensino da Pa­ sim será mais fácil para você, e eles pois zelam pela alma de vocês,
lavra, mas há de se levar em conta o ajudarão a levar essa carga. Se você como quem deve prestar contas [o
também o atendimento pastoral à fizer isto, e se essa for a ordem de grifo é meu]. Que eles possam fazer
membresia, como visitas, aconse­ Deus, então você poderá suportar e isto com alegria e não gemendo; do
lhamentos a jovens, casais e famí­ também todo este povo voltará em contrário, isso não trará proveito
lias, e outras moderações entre os paz ao seu lugar. Moisés atendeu às nenhum para vocês" (Hb 13.17,
membros que requerem a presença palavras de seu sogro e fez tudo o NAA). Do mesmo modo, muito
do pastor da igreja, e isso não pode que este lhe tinha dito" (Êx 18.21-24, embora a personalidade jurídica
ser descuidado. NAA). da igreja não seja de sua proprie­
Usando o profeta Ezequiel, Outro ponto a se considerar é dade, a responsabilidade da con­
Deus falou aos pastores infiéis de que, independente do tamanho da dução desta, de acordo com as leis
Israel: "Vocês não fortaleceram as igreja, da possibilidade de muitos do país, e em um sistema episcopal
fracas, não curaram as doentes, presbíteros e pastores, o pastor da de governo, também é sua.
não enfaixaram as quebradas, não igreja será sempre um. Paulo, escre­ Em que pese muitos interpreta­
trouxeram de volta as desgarradas vendo à igreja de Éfeso, declarou: rem de forma adulterada princípios
e não buscaram as perdidas, mas "E ele mesmo concedeu uns para elementares, a Bíblia não mudou, de
dominam sobre elas com força e apóstolos, outros para profetas, maneira que o líder como pastor ou
administrador, ou ambas as coisas, pára por aí: é preciso cuidar também Todos os cuidados acima são
não passa de mordomo daquilo - e ter o domínio - da sua família: inerentes àqueles a quem Deus cha­
que é de Deus, ou seja, do verda­ "Fiel é a palavra: se alguém deseja o mou para a função pastoral. Agindo
deiro Dono da Igreja: "Cuidem de episcopado, excelente obra almeja. E assim, terão o respeito tanto dos que
vocês mesmos e de todo o rebanho necessário, pois, que o bispo seja ir­ estão de dentro como dos que estão
repreensível, esposo de uma só mu­ de fora, e isso em todos os âmbitos.
no qual o Espírito Santo os colocou
Ou seja, o líder, tanto como pastor
como bispos, para pastorearem a lher, moderado, sensato, modesto,
e quanto como administrador, deve
igreja de Deus [o grifo é meu], a hospitaleiro, apto para ensinar; não
ser considerado. Seu currículo espi­
qual Ele comprou com o seu próprio dado ao vinho, nem violento, po­
ritual, teológico, conjugal, familiar,
sangue" (At 20.28, NAA). rém cordial, inimigo de conflitos,
comercial, financeiro e administra­
Vimos até aqui muito claramente não avarento; e que governe bem a
tivo deve ter boa aprovação diante
que não se trata de uma tarefa fácil própria casa, criando os filhos sob de todos. Segundo a Palavra de
administrar tais responsabilidades. disciplina, com todo o respeito. Pois, Deus, deve ser "O exemplo dos fi­
É necessário ter capacitação espiri­ se alguém não sabe governar a pró­ éis": "Ninguém o despreze por você
tual e de vida. No mundo secular, pria casa, como cuidará da igreja ser jovem; pelo contrário, seja um
qualquer profissional precisa provar, de Deus?" (lTm 3.1-5). E ainda: "Se exemplo para os fiéis, na palavra, na
normalmente, apenas a sua capaci­ alguém não tem cuidado dos seus e, conduta, no amor, na fé, na pureza"
tação técnica, mas, no caso daqueles especialmente, dos da própria casa, (Um 4.12, NAA).
que são chamados por Deus, essa esse negou a fé e é pior do que o O jovem pastor Timóteo não
capacitação vai muito além; e não descrente" (lTm 5.8, NAA). deveria ser rejeitado, muito me- A
nos desrespeitado, pela sua tenra ministrado pelo apóstolo Paulo quais marcam agendas que o líder
idade; em contrapartida, o preço a Timóteo é que, antes de cuidar finda atendendo por educação,
a ser pago por ele seria o de ser o da doutrina e dos outros - e aqui mas praticamente sem qualquer
exemplo dos fiéis em todas as coi­ acrescento: da administração -, resultado concreto. Se não houver
sas: "...na palavra, na conduta, no tenha cuidado de si mesmo. atenção e equilíbrio, tais compro­
amor, na fé, na pureza". Qualquer Se o líder não estiver bem com missos afastam o líder de bons
deslize em um desses quesitos o sua saúde física, mental e espi­ momentos de oração, meditação
inviabilizaria como líder e pastor. ritual, não tem como cuidar das na Palavra de Deus, devocionais,
O líder da igreja, quer como demais coisas do Reino de Deus. O descanso e momentos com a famí­
pastor ou como administrador, acúmulo de tarefas, sem o devido lia. Relembrando Paulo: "Cuide de
normalmente é escolhido dentro equilíbrio, poderá acarretar preju­ você mesmo".
do rebanho do Senhor; portanto, ízos fatais à vida pessoal, à família Há líderes que, além de pasto­
trata-se de um dos Seus servos. e ao ministério. Existem cuidados rear e administrar a igreja, também
Não é comum, muito menos bí­ que o líder precisa tomar e, para têm a tarefa de ensinar, atuando
blico, pessoas estranhas ao or­ isso, é necessário muito equilíbrio, como escritores de livros, artigos,
ganismo para tais serviços, mas no sentido de que a Obra de Deus comentaristas de revistas para esco­
deve ser um entre os ministros não se torne mais importante do las bíblicas, palestrantes em Escolas
de Cristo e, para tanto, existem que o Deus da Obra. de Obreiros e Escolas Teológicas,
as qualificações pertinentes e, O acúmulo de tarefas pastorais enfim, atividades que requerem
entre elas, a fidelidade também e administrativas, como direção tempo para estudos, pesquisas e
é de vital importância: "Assim, de cultos, atendimentos pastorais, meditação, um verdadeiro esforço
pois, importa que todos nos con­ reuniões, viagens, convenções, hercúleo para se administrar. E
siderem como ministros de Cris­ simpósios e eventos diversos, já necessário muito equilíbrio. Pode­
to e encarregados dos mistérios são normalmente acima do natu­ riamos dizer que, do ponto de vista
de Deus. Ora, além disso, o que ral, mas acrescentando-se ainda humano, numa linguagem contábil,
se requer destes encarregados é que, em a igreja crescendo, pode "a contabilidade não zera" ou "o ba­
que cada um deles seja encontra­ ganhar relevância e protagonis- lancete não fecha". É preciso algo a
do fiel" (ICo 4.1-2, NAA). mo, fazendo com que o líder seja mais, é preciso fazer a nossa parte
O líder que se encontra encar­ muito mais procurado e absorvi­ e ainda acreditar no sobrenatural
regado de tais responsabilidades do por aquilo que naturalmente de Deus. Enfim, ser um líder como
não deve ser um impostor que representa. A Igreja Primitiva se pastor e administrador não é para
vive dando "carteirada" nos ou­ tornou relevante na sociedade de quem quer, mas, sim, para quem é
tros, mas deve ser considerado sua época por conta da obra que chamado por Deus, valendo o con­
e respeitado naturalmente pela realizava: "Diariamente perseve- selho do escritor aos Hebreus: "E
sua fid elid ad e ao Senhor e à ravam unânimes no templo, par­ ninguém toma esta honra para si
igreja. Deve ser dotado de auto­ tiam pão de casa em casa e toma­ mesmo, a não ser quando chama­
ridade espiritual: "ser apegado à vam as suas refeições com alegria do por Deus, como aconteceu com
palavra fiel, que está de acordo e singeleza de coração, louvando a Arão" (Hb 5.4, NAA).
com a doutrina, para que possa Deus e contando com a simpatia Se fazendo tudo conforme a Pa­
exortar pelo reto ensino e con­ de todo o povo. Enquanto isso, o lavra, com toda a sabedoria, discer­
vencer os que contradizem este Senhor lhes acrescentava, dia a nimento e equilíbrio, sobrar algum
ensino" (Tt 1.9, NAA). dia, os que iam sendo salvos (o espinho na carne que venha nos
O líder como pastor e admi­ grifo é meu)" (At 2.46-47). esbofetear e tenhamos que suportá-
nistrador deve ter cuidado de si Nos dias de hoje, quando isso -lo, o Mestre tem o mesmo consolo
mesmo: "Cuide de você mesmo acontece, o assédio social é muito dado ao apóstolo Paulo: "A minha
e da doutrina. Continue nestes grande, seja pelas instituições e/ graça é o que basta para você, por­
deveres, porque, fazendo assim, ou autoridades civis, pelos com­ que o poder se aperfeiçoa na fra­
você salvará tanto a si mesmo promissos ministeriais e denomi- queza. De boa vontade, pois, mais
como aos que o ouvem" (lTm nacionais e até mesmo por aque­ me gloriarei nas fraquezas, para
4.16, NAA). Um detalhe muito les que veem a igreja meramente que sobre mim repouse o poder de
importante no conselho acima como um público consumidor, os Cristo" (2Co 12.9, NAA). ■

o b Hí r o
UMA TEOLOGIA BASEADA
NA DEPENDÊNCIA DO
ESPÍRITO SANTO

CB€>

Sem perder o equilíbrio entre devoção


e racionalidade, precisamos fazer
teologia pentecostal utilizando a
:
razão, como a teologia histórica faz,
mas também com devoção, experi­
ência e dependência da iluminação
do Espírito Santo. Essa é a proposta
de Pommerening que além de trazer
os fundamentos da doutrina pente­
costal dos dons espirituais também
C L A IT O N IVAN POMMERENING
apresenta questões interpretativas
acerca do tema.

TEOLOGIA Formato: 14,5 22,5 cm / Páginas: 224

da EXPERIÊNCIA

" » '"^ sa g ra d a s Escrituras


_ pp e se q u ia s so a r ss
PREFÁCIO

S jíT ® ^ 0800-021-7373 ffiP f livrarias CPAD

Q (21)2406-7373 O # © O
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CONGRESSO
NACIONAL
DE ESCOLA
DOMINICAL
Até que cheguemos à medida da
estatura completa de Cristo. Efésios 4:13

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DIREÇÃO CONVIDADOS
INTERNACIONAIS

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SAMUEL
PAGAN

ESEQUIAS ELIENAI
SOARES CABRAL

PRÊMIO
PROFESSOR
i DO ANO
\ 2025 /

13 DE MARÇO/CELEBRAÇÂO

LOCAL:
ASSEMBLÉIA DE DEUS EM SÃO PAULO
IN F O R M A Ç Õ E S E IN S C R IÇ Õ E S :
MINISTÉRIO DO BELÉM
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Belenzinho/SP
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