História A
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AS TRANSFORMAÇÕES DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX
Um novo equilíbrio global
De que forma se distingue a 1.ª Guerra Mundial?
A Primeira Guerra Mundial, que surgiu principalmente devido à disputa de países europeus por
territórios colonizados na Ásia e África, ocorreu entre 1914 e 1918. Neste conflito participaram
beligerantes de todos os continentes, agrupados em duas coligações:
- Aliados: Sérvia, França, Grã-Bretanha, Rússia, Japão, Itália, Grécia, Portugal, Roménia, Estados Unidos;
- Potências Centrais: Império Austro-Húngaro, Império Alemão, Império Otomano, Bélgica.
Tal guerra distinguiu-se de outros conflitos anteriores pela sua elevada duração, extensão geográfica e
por ter sido uma verdadeira guerra total.
De que forma teve fim a 1.ª Guerra Mundial?
Tal teve fim dia 11 de novembro de 1918, após 4 anos de morte e destruição, com a capitulação da
Alemanha (vê-se como vencida, maior desrespeitadora de fronteiras, terá de pagar pesadas
indemnizações e sofre elevadas consequências). É então em 1918 que o generais aliados e alemães
assinam o armistício, ou seja, uma convenção militar e diplomática que interrompe as hostilidades,
criando condições para a realização de acordos de paz.
Soldados saem de cena – Políticos iniciam negociações
O presidente americano Wilson, em janeiro de 1918, numa mensagem em 14 pontos endereçada ao
Congresso, apresenta os princípios que deveriam nortear uma convivência internacional pacífica: prática
de uma diplomacia transparente; liberdade de navegação e de trocas; redução dos armamentos; respeito
para com as nacionalidades; criação de uma liga das nações; países perdedores devem também ser
reintegrados e não humilhados. Estes seriam a base dos trabalhos da Conferência de Paz, mas os atores
políticos europeus também tinham o seu guião para o pós-guerra.
Como se caracteriza a nova ordem europeia após-guerra?
A Conferência de Paz teve início em janeiro de 1919, em Paris. Nesta, ao contrário das anteriores, apenas
estiveram presentes as delegações das potências vencedoras, das quais apenas 4 assumiram a liderança: a
França, com Clemenceau; a Grã-Bretanha, através de Lloyd George; os Estados Unidos, com Wilson; a
Itália, representada por Vittorio Orlando.
Os acordos de paz surgiram a partir de julho de 1919 (dificuldades de consensos), concretizando-se em
vários tratados: Versalhes (ass. com Alemanha), Saint-Germain-en-Laye (ass. com Aústria), Neuilly (ass.
com Bulgária), Trianon (ass. com Hungria), Sèvre (ass. com Império Otomano). Devido ao mesmos surgiu
uma nova ordem internacional e uma nova geografia política, com implicações no mapa da Europa e
Médio Oriente:
- colapso dos impérios Alemão (nasce: Alemanha, Polónia, Checoslováquia e Áustria); Austro-Húngaro
(Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia, Áustria, Hungria, parte da Roménia); Otomano (Turquia) e Russo
(1917- revolução soviética) (Rússia Soviética, Finlândia, Estônia; Lituánia , Letónia e Polónia);
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- nascimentos de novos Estados: na Europa - Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia,
Checoslováquia, Jugoslávia e Hungria; na Ásia - Arábia Saudita, Síria e Líbano (mandatos da França); Iraque
e Palestina (mandatos da Grã-Bretanha);
- ampliação de fronteiras: a França recuperou a Alsácia-Lorena; a Bélgica ganhou os cantões de Eupen e
Malmédy; a Itália obteve o Tirol e a Ístria; a Dinamarca viu regressar a parte norte de Schleswig; a
Roménia recebeu a Transilvânia e a Bessarábia; e a Grécia tomou posse da Trácia;
- perdas territoriais dos Estados derrotados: fronteiras da Alemanha diminuem; Áustria ficou reduzida
aos Alpes Orientais e a uma pequena parte da planície danubiana; Bulgária viu-se privada do acesso ao
Mediterrâneo; Turquia reduziu-se a Constantinopla e à Ásia Menor – os países vencidos não aceitarem
bem as duras condições impostas
- Inglaterra e França disputavam a hegemonia da Europa e a Europa sentia-se ameaçada pelo regime
soviético.
Diminuição do número de ditaduras e monarquias (impérios autocráticos abatidos)
Aumento do número de democracias parlamentares e repúblicas (justiça e equidade triunfam)
Sendo a Alemanha a grande perdedora, quais foram as consequências do tratado?
A Alemanha foi considerada pelas cláusulas do Tratado de Versalhes como a responsável pela guerra:
- perdeu 1/10 da sua população;
- perdeu 1/7 do seu solo;
- perdeu todas as suas colónias (incluindo africanas);
- perdeu parte da sua frota mercante;
- perdeu a sua frota de guerra e aniquilou-se a capacidade militar alemã: redução das forças a 100.000
homens sem artilharia pesada e carros de assalto, aviação e marinha;
- o serviço militar deixou de ser obrigatório;
- Estado-Maior alemão foi extinto;
- a margem esquerda do Reno (Renânia) sofreu a ocupação aliada e desmilitarização;
- entrega dos territórios prussianos à Polónia (corredor de Danzig);
- restituição de Alsácia e Lorena à França;
- perdeu as minas de carvão do Sarre (para França, durante 15 anos);
- pagamento de pesadas indemnizações aos aliados como compensação pelos prejuízos causados.
- o seu isolamento levou mesmo à vedação da sua entrada na Sociedade das Nações.
A Alemanha é totalmente humilhada e é-lhe tirada a hipótese de se reorganizar e desenvolver, tal como
previsto nas propostas de paz (para se vingar, dá início à 2.ª Guerra Mundial
Qual a importância do papel da Sociedade das Nações (SDN)?
É no Pacto da Sociedade das Nações, integrado na 1.ª parte do Tratado de Versalhes, que se concretiza o
projeto de uma liga de nações (prop. Wilson) que, por sua vez, foi um instrumento de esperança:
esperança
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de povos e antigos combatentes que desejam que esta Grande Guerra fosse a última.
Torna-se, importante referir que a SDN (sede: Genebra) se empenhou e foi criada com o objetivo de
garantir: a integridade territorial e independência das nações; a cooperação económica, financeira, social
e cultural entre as nações; a promoção do desarmamento; a solução dos litígios pela via da arbitragem
pacífica; a organização de uma força militar de paz; a proteção das minorias étnicas; o controlo (durante
15 anos) do território do Sarre; a tutelar as colónias perdidas pela Alemanha no Tratado de Versalhes; a
impor sanções económicas e financeiras aos Estados que violassem o Pacto da SDN.
Na cidade suíça, os estados-membros reuniram-se regularmente em Assembleia Geral. Dos quais apenas
9 formavam o Conselho, encarregado de gerir os conflitos que ameaçassem a paz. Ao Secretariado
competia a preparação dos trabalhos.
Quais o motivos do fracasso da Sociedade das Nações?
A esperança referida anteriormente não se concretizou, quer pela nova ordem internacional (ameaçada
desde a própria Conferência de Paz), quer por incapacidade da SDN: a não entrada dos EUA tornou a SDN
uma organização de Estados Europeus (sem apoio americano, a SDN via-se impossibilitada de
desempenhar o seu papel de organizadora da paz, mostrando-se a incapacidade da organização na
prevenção de novos conflitos); as Conferências de Paz sobre desarmamento foram um fracasso; em 1939,
a SDN aceitou a invasão da Polónia pela Alemanha; não conseguiu garantir a paz e a segurança dos
Estados (invasão de Manchúria pelo Japão e da Abissínia pela Itália; a intervenção alemã na guerra civil
espanhola; o desmembramento da Checoslováquia pelo Tratado de Munique).
Por que razão vivíamos tempos de paz frágil? Quais os obstáculos à paz duradoura?
- Os povos vencidos: humilhados, rejeitaram os tratados em cuja elaboração não participaram,
principalmente a Alemanha (humilhada pelo tratado de Versalhes) que, com o orgulho do seu povo ferido,
acabou por permitir a ascensão do nazismo e, com ele, o segundo conflito mundial.
- Insatisfação entre os vencedores: a Itália (elemento da Entente) falava na "vitória mutilada" por não ter
recebido a Dalmácia e a cidade de Fiúme (na Ístria) que franceses e ingleses lhe haviam prometido.
Outros, como Portugal, protestaram contra o esquecimento dos " grandes", por não os incluírem nas
reparações devidas aos Estados aliados (a situação financeira de Portugal agravar-se-ia sem as mesmas);
- Regulamentação das fronteiras e a não resolução, de forma satisfatória, da questão das "minorias
nacionais" inquinaram, as relações internacionais. As várias nacionalidades antes subjugadas pelos
impérios autocráticos sonhavam agora com a autodeterminação (em muitos casos não aconteceu);
- Reparações de guerra: a França defendia que a Alemanha deveria pagar; os EUA contrariaram estas
pretensões hegemónicas dos aliados, não aceitando a reconstrução dos vencedores à custa da asfixia
económica dos vencidos. Por isso, o Congresso americano, dominado por uma maioria de republicanos
isolacionistas desde 1919, não ratificou o Tratado de Versalhes e os EUA desistiram de participar na SDN.
Quais as transformações económicas do após-guerra no Mundo Ocidental?
A 1.ª Guerra Mundial provocou o declínio da Europa (após ter sido palco da mesma, encontra-se com um
cenário devastador), ou seja, encontrava-se destruída no plano material e humano: a população ativa e
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natalidade diminuíram drasticamente (- mão de obra); os campos inférteis/não produziam; as minas,
frotas
fábricas e as vias de comunicação também se encontravam destruídas. Assim sendo, as economias
europeias, vocacionadas que estavam para as produções de material bélico, registaram grandes e naturais
dificuldades de reconversão. Não esquecendo que a Europa, que se tornou excessivamente dependente
dos EUA, continuou a importar bens e serviços americanos – endividamento/crescimento da dívida
pública. Com o objetivo de fazer face à dívida e multiplicar meios de pagamento, os dirigentes europeus
recorreram à emissão massiva de notas, porém, não sendo acompanhada por um aumento
correspondente de produção, provocou uma desvalorização monetária e inflação (subida de preços).
Para os países vencidos, obrigados a pesadas indemnizações, a situação agravou-se. Ex: Na Alemanha, a
desvalorização do marco era tanta que as notas se utilizavam como combustível, para forrar paredes ou
para as crianças brincarem.
De que forma se deu a ascensão dos EUA?
- O declínio da Europa beneficiou os países extraeuropeus, tal como os EUA, que se elevaram à categoria
de 1.ª potência mundial. Os Estados Unidos, fornecedores dos países beligerantes e dos mercados
mundiais, durante e depois da guerra (na qual só entraram em 1917), e, possuidores de uma elevada
parcela do ouro mundial, apresentavam, em 1919, uma imagem de sucesso, devido à prodigiosa
capacidade de produção e na prosperidade da sua balança de pagamentos.
- Efetivamente, o país passou de devedor em 1914, a credor em 1919, pelo seguintes motivos:
A indústria de guerra provocou: aumento da produção; desenvolvimento da extração mineira,
desenvolvimento da construção naval; aumento da produção de ouro e desenvolvimento das
indústrias química, metalúrgica e automóvel;
A guerra não se estendeu ao território americano;
A produção industrial europeia baixou devido à guerra.
- Empréstimos em grandes quantidades seguiram para a Europa (desde 1924), nomeadamente para a
Alemanha, o que lhe permitiu pagar as reparações devidas à França e Inglaterra. Por sua vez, estes países
viram-se em condições de reembolsar os EUA das dívidas de guerra e empréstimos feitos recentemente.
A dependência da Europa face os EUA estava consagrada- estes entram, nos anos 20, “era de
prosperidade” devido à moeda forte, economia pujante e elevada propensão ao consumo.
Quais as características da era de prosperidade americana?
- Novos métodos de trabalho e novas formas de organização de trabalho baseadas no fordismo-
desumano/operário=peça de máquina de produção em massa (especialização do operário numa única
tarefa-taylorismo; fabrico em série-estandardização; produção em massa; aumento dos
salários=estímulo);
- Concentração das empresas para o controlo da produção, fixação de preços e domínio dos mercados
(horizontal: várias empresas do mesmo ramo se juntam e controlam o mercado / vertical: quando um
empresa grande, com elevado poder, compra outras + pequenas para controlo dos mercados);
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-Alargamento dos mercados interno e externo;
- Estímulo do consumo através do aumento dos salários, da concessão de maiores facilidades de crédito e
dos investimentos na bolsa de valores.
A implementação do marxismo-leninismo na Rússia (construção do modelo soviético)
Quais os antecedentes da Revolução Russa?
No início do século XX, a Rússia é um império governado de forma autocrática pelo czar Nicolau II.
Durante este regime, as ideias liberais e marxistas, penetraram na Rússia, dando origem a partidos
políticos: KD (Partido Constitucional Democrata); SR (Partido Socialista Revolucionário); SK (Partido
Socialista Democrata Russo, 1903- divide-se em menchevique- fação minoritária, adeptos do reformismo;
bolchevique- fação maioritária, defensores intransigentes da luta de classes).
- Entre 1904/1905, a Rússia, ao pretender expandir no Extremo Oriente, entrou em guerra com o Japão
pelo que sofreu sucessivas derrotas e a vida da população degradou-se mais. Após esta derrota, a Rússia
iniciou um movimento de contestação à autocracia do czar. Neste ano, assistiu-se a grandes sublevações,
tal como a Revolução de 09 de janeiro de 1905, S. Petersburgo: uma multidão de manifestantes dirigiu- se
ao Palácio de Inverno do Czar para reclamar + de salários, + condições de trabalho e + liberdade política.
No conhecido Domingo Sangrento, os manifestantes foram recebidos a tiro. Em muitas cidades,
estabeleceram-se sovietes (assembleias populares de camponeses, operários, soldados e marinheiros da Rússia). Esta
Revolução fracassou, mas o czar (evitar uma guerra civil) foi obrigado a fazer concessões: criou o Parlamento
(Duma) embora dominado pelo próprio czar e prometeu ao povo o direito de voto e de criar sindicatos.
- Tal liberalização não foi suficiente para acalmar os ânimos (entre os mais intervenientes estavam os
membros do partido SK- Partido Operário Social-Democrata russo, de influência marxista). Juntou-se a
este ambiente político explosivo, as tensões devidas aos contrastes da sociedade russa: camponeses,
85% da população, clamavam por terras (concentradas nas mãos dos grandes senhores e latifundiários);
operariado, escasso, exigia + condições de vida e de trabalho; nobreza liberal/burguesia, desejam a
abertura política e modernização do país.
- A participação russa na 1.ª Guerra agravou + a fraqueza do regime: milhares de mortos/feridos, falta de
alimentos e aumento dos preços/impostos. As derrotas face à Alemanha estimulavam o anticzarismo.
REVOLUÇÃO BURGUESA DE FEVEREIRO de 1917
- O descontentamento popular provocado pela 1.ª Guerra, desemprego e fome provocaram um ambiente
de descontentamento e oposição ao czarismo. Tais elementos levaram a manifestações populares contra
o regime czarista, levando czar Nicolau a mandar fechar a Duma e a mandar esmagar qualquer
manifestação. Inicia-se assim esta Revolução de Fevereiro em que, as mulheres fazem manifestações; os
operários fazem greves/manifestações; na Soviete, os operários incitavam ao derrube do czar, com o
apoio de milhões de militares. Eventualmente, Nicolau abdicou a 2/03 a favor do irmão, grão-duque
Miguel, que recusa a regência. Deste modo, o czarismo chegou ao fim e a Rússia tornou-se uma
república.
- Seguem-se 3 Governos Provisórios entre fevereiro e outubro, liderados pela burguesia liberal. Dirigidos
por Lvov (KD) e, depois, por Kerensky (SR). Este governo empenhou-se na instituição de um regime
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constitucional, liberal, democrático e burguês, tendo como medidas: abolição da pena de morte;
amnistia para os presos políticos e exilados; abolição das diferenças relacionadas com a etnia/religião;
liberdade de palavra/reunião/imprensa; direito de sindicalizar e de greve; eleições para os órgãos locais
através do ²sufrágio universal/direto/igual/secreto; substituição da polícia por uma milícia militar;
preparação da convocação de Assembleia Constituinte, baseada ², que determinará a forma de governo e
a Constituição.
IMPORTANTE: Os sovietes operários/camponeses/soldados/marinheiros, controlados pelos bolcheviques,
sobretudo após o regresso de Lenine à Rússia em abril, proliferaram por todo o território. Lenine divulgou
as “Teses de abril”, documento que incluía as seguintes reivindicações dos sovietes: retirada imediata da
guerra; derrube do governo provisório; entrega do poder aos sovietes; confiscação da grande
propriedade.
Esta tensão entre os sovietes e o governo provisório mergulhou a rússia numa dualidade de poderes.
REVOLUÇÃO BURGUESA DE OUTUBRO de 1917
- Deu-se uma revolta contra a governação de Lvov e Kerensky (governo provisório) porque: era uma
governo burguês; a guerra contra a Alemanha continuava a gerar fome e mortes e não resolvia a crise
económica. Assim sendo, a criação das Sovietes nas vilas e cidades russas propõem o fim da guerra para
a Rússia, o regresso dos soldados a casa, a nacionalização e coletivização da economia (tudo o que é
privado passa para as mãos do Estado) e a instauração de Ditadura do Proletariado.
- Rebenta a Revolução de Outubro, gizado por Lenine que implanta no país o marxismo-leninismo. Em
24/25 de outubro, S. Petersburgo assistiu a nova revolução: Guardas Vermelhos (Milícias bolcheviques),
controlam pontos estratégicos da cidade (pontes, correios, gares ferroviárias), assaltaram o Palácio de
Inverno e derrubaram o Governo Provisório nele sediado. Kerensky foge e II Congresso dos Sovietes e
entregou o poder ao Conselho dos Comissários do Povo (composto apenas por bolcheviques): Lenine
ocupa a presidência, Trotsky comissário de guerra e Estaline comissário das nacionalidades.
Nasce a Rússia Soviética assente na liderança do partido Bolchevista
- Os representantes do proletariado conquistavam o poder político, tal como Marx preconizava: através
da luta de classes e revolução. As medidas tomadas pelo conselho (Decretos Revolucionários sobre a paz)
foram: abolição, sem indemnização da propriedade privada (decreto sobre a terra); distribuição da terra
pelos sovietes camponeses (decreto sobre a terra); controlo das fábricas (superintendência e produção da
produção) pelos operários; todos os povos da Rússia passaram a ter direito à soberania e independência
(decreto sobre as nacionalidades); assinatura do Tratado Brest-Litovsk (decreto sobre a paz-paz separada
com a Alemanha), a Rússia paga à Alemanha uma pesada indemnização para sair da guerra e perde 1/3
dos seus territórios, que se tornam independente: Ucrânia, Estados Bálticos (Letónia, Lituânia e Estónia),
Polónia e Finlândia. Para a Rússia este acordo provocou também a perda de ¼ da sua população e terras
cultiváveis e de ¾ das minas de ferro e carvão.
Sovietes converteram-se nos protagonistas da revolução: 1.º tempos foram vistos “democracia dos
Sovietes”
Como se deu a Guerra Civil?
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A ditadura do proletariado, presente nas medidas do comunismo de guerra, levou a uma guerra civil.
Mostrou-se uma grande resistência aos bolcheviques (aplicação dos decretos de terra e controlo
operário): o seu projeto colidiu com a inevitável oposição de proprietários (kulaks) e empresários e devido
ao facto da população russa se encontrar afetada pela persistência da carestia e inflação. Nas eleições
para a Assembleia Constituinte de novembro de 1917, estes apenas obtiveram 25% dos votos. Tal
resistência resultou numa guerra civil (inicou-se 03/1918 a 1920), opondo as fações:
(Russos) Brancos: opositores do bolchevismo (da revolução), defensores da democracia, adeptos
do czarismo e apoiados por países estrangeiros (Inglaterra, França, EUA e Japão)
(Russos) Vermelhos: defensores do governo bolchevique (da revolução), dispuseram de um
Exército Vermelho (organizado por Trotsky desde 01/1918).
No que consistiu a ditadura do proletariado e o comunismo de guerra?
- A ditadura do proletariado é, segundo Marx, a etapa pela qual a revolução socialista deve passar antes
da edificação do comunismo, no qual o poder político é exercido pelo proletariado. Assim sendo, por meio
da supremacia política, o proletariado retiraria todo o capital à burguesia e centralizaria todos os
instrumentos de produção nas mãos do Estado (representante exclusivo e legítimo do proletariado). Tal
tinha o objetivo de, eventualmente, alcançar uma altura em que as diferenças sociais se apagavam e o
Estado (instrumento de domínio de um classe sobre outra) deixaria de fazer sentido- alcançando-se o
comunismo (forma mais alta de organização da sociedade, através da qual o ser humano atinge o
verdadeiro bem-estar e liberdade).
- Lenine, muito fiel ao marxismo, nunca escondeu os seus propósitos de implementação imediata da
ditadura do proletariado, porém, na Rússia Bolchevista, possuiu aspetos muito específicos: COMPOSIÇÃO
DO PROLETARIADO- operários, vítimas de exploração capitalista (Marx) e Operários + camponeses (tendo
em consideração o atraso industrial da Rússia e as estruturas arcaicas e rurais (Lenine)
- Outra especificidade desta ditadura é as condições em que se concretizou. A resistência aos decretos
revolucionários e o clima de guerra civil conduziram ao comunismo de guerra (conferindo à ditadura um
carácter violento). Algumas das medidas tomadas durante o Comunismo de Guerra foram:
- a banca, o comércio e a indústria com mais de 5/10 operários foram nacionalizados; os camponeses
eram obrigados a vender os excedentes ao Estado a preços fixos; comércio por troca direta; o trabalho era
obrigatório (entre os 16 e os 50 anos), aumento das horas de trabalho, representação da indisciplina e
pago em géneros; instituição do partido único e proibição dos partidos políticos; criação do Exército
Vermelho, Polícia Política, a Tcheka (utilizada pelos bolcheviques para provocar o “Terror Vermelho”) e
censura; prisão e julgamentos rápidos dos suspeitos; campos de concentração e execuções sumárias;
criação do Komintern (Internacional Comunista); sovietes viram-se depurados dos seus membros
mencheviques e socialistas revolucionários. Ditadura do proletariado foi mais a ditadura do Partido
Comunista
Quais foram os objetivos e consequências do Comunismo de Guerra?
OBJETIVOS
CONSEQUÊNCIAS
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Instaurar a ditadura do proletariado; Camponeses produzem só para autoconsumo;
Organizar a economia (nacionalização e coletivização); Proprietários rurais destroem os equipamentos/colheitas;
Garantir o abastecimento público; Produção industrial baixa 13%;
Combater a contrarrevolução dos russos brancos; Fábricas são abandonadas;
Camponeses/marinheiros revoltam-se contra o novo regime.
IMPORTANTE: Lenine acreditava que tais aspetos não diminuíam o carácter democrático do Estado
Soviético, pois o Partido Comunista era o único partido proletário. E a democracia, segundo Lenine, existiu
unicamente enquanto expressão exclusiva dos interesses proletários, justificando, assim, as restrições à
liberdade dos opositores.
No que consistiu a Nova Política Económica?
- Em 1921, a Rússia bolchevista, vencedora da guerra civil, viu-se devastada com a perda de cerca de 10
milhões de seres humanos (divido a epidemias, fome e frio). Para além disso, nos inícios do 1921, a
economia do país estava na ruína: produção de cereais desce para metade (desde 1913); sujeitos à
requisição de géneros, os camponeses não produziam e até escondiam/destruíam as suas colheitas; a
produção industrial diminui ¾ relativamente a 1913; as minhas de carvão estavas inutilizadas e os
caminhos de ferro paralisados.
- Efetivamente, operários e marinheiros revoltaram-se contra o rumo da revolução socialista e
reivindicam: a liberdade de expressão e de imprensa; eleições democráticas e libertação dos prisioneiros
políticos. O Exército Vermelho procura esmagar a revolta mas, Lenine, sabendo que o país devastado a
nível económico,
procede a um recuo estratégico no rumo da revolução, empreendendo um regresso parcial ao
capitalismo. O comunismo de guerra cede então lugar à NEP (Nova Política Económica), tendo como
medidas:
na agricultura: aceita-se a exploração privada da terra (suspende-se a coletivização); a requisição
de géneros pelo Estado foi substituída pelo Estado por um imposto;
na indústria: a indústria pesada continua nacionalizada; a indústria com menos de 20 operários é
privatizada; sociedades constituídas com capitais mistos; abolição do trabalho obrigatório e
atribuição de prémios como incentivo à produtividade; modernização da Rússia (centrais
hidroelétricas); aumento de produção de hulha, petróleo e aço.
no comércio: o comércio externo, os transportes e a banca continuam nacionalizados; a economia
monetária é reativada; permite-se a entrada de capitais e de investimentos estrangeiros
(permitindo-se a entrada de máquinas, técnicos e matérias-primas); os camponeses podem vender
livremente os excedentes;
Quais as consequências da Nova Política Económica?
Recuperação económica da Rússia; os camponeses aumentam a produção agrícola e industrial,
estimulados pela possibilidade de venda no mercado interno; a percentagem de terras incultas desceu e a
produção de trigo aumentou; enriquecimento dos kulaks (burguesia rural abastada) e dos nepmen
(pequenos comerciantes e industriais), pondo em causa o ideal comunista de uma sociedade sem classes
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– suscitou os ódios de muitos bolcheviques e do Partido Comunista, que não tardaram a repor a doutrina
marxista.
Qual o impacto do socialismo revolucionário?
Com a fundação da III Internacional ou Internacional Comunista ou Komintern, sentiu-se o estímulo
fornecido pela Rússia Soviética à causa do socialismo revolucionário. O Komintern (em nome do princípio
marxista do internacional proletário), propunha-se coordenar a luta dos partidos operários a nível
mundial, para que o marxismo-leninismo triunfasse. Segundo Lenine e Trotsky (mentores do Komintern),
a revolução socialista europeia deveria ser conduzida por partidos comunistas decalcados do modelo
russo e fiéis ao marxismo-leninismo. No 2.º Congresso do Komintern, os partidos socialistas viram-se
obrigados a: defenderem a Rússia bolchevique e a libertarem-se das tendências reformistas-revisionistas,
anarquistas e pequeno-burguesas. Ao fazê-lo passavam a ser designados por partidos comunistas, e os
partidos socialistas e sociais-democratas ficaram identificados com o reformismo.
A onda vermelha chegou à Europa: na Alemanha, após a capitulação perante os Aliados, constituíram-se
conselhos de operários, soldados e marinheiros (insp. nos sovietes), surgiram os espartaquistas (fação
radical do Partido Social-Democrata Alemão), proclamavam uma república socialista. Os seus líderes são
executados/dominados pela forças leais ao governo; na Hungria, a movimentação operária levou ao
desenvolvimento da repressão e à desistência dos líderes; na Itália(Turim), deu-se a invasão de
propriedades pelos camponeses e de fábricas pelos operários, a falta de crédito bancário levou ao
fracasso; França, Reino Unido, Portugal, Espanha e restante Europa deram-se movimentos de
descontentamento da população.
Desenvolveu-se o autoritarismo pelos regimes de direita para controlar o avanço do
comunismo/bolchevismo (fascismo, Itália) – diminuição dos regimes democráticos e liberais
PORTUGAL NO PRIMEIRO PÓS GUERRA
A 5 de outubro de 1910, em Portugal, uma revolução pôs fim a quase oito séculos de
monarquia e colocou os republicanos no poder. O partido republicano procurou unir a
população portuguesa em torno de um programa reformista que pusesse fim aos problemas
nas áreas da economia, justiça e ensino. Porém, os seguintes problemas internos e externos
conduziram ao seu fim:
Dificuldades económico-financeiras:
A participação de Portugal na Grande Guerra, – proteção e defesa de colónias e confiscação dos
navios mercantes alemães estacionados em águas portuguesas – com o envio do Corpo
Expedicionário Português (CEP) para Flandres, em 1917, integrando a causa dos aliados,
acentuou os desequilíbrios económicos e o descontentamento social.
- Consequências desta participação: a falta de bens de consumos e racionamentos (produtos
não eram suficientes); queda da produção industrial e + do défice da balança comercial; a
dívida pública, problema estrutural das nossas finanças, disparou; especulação e nível
económico; para dar resposta à diminuição das receitas orçamentais e ao + das despesas, os
governos multiplicaram a massa monetária em circulação – desvalorização da moeda e inflação
galopante; os preços continuaram a + depois da guerra - + de custo de vida - afetando os que
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viviam de rendimentos fixos/poupanças (classe média, operários, desempregados); descrença
do operariado na República.
Instabilidade política:
- A Constituição de 1911 atribui ao Congresso da república/Parlamento elevados poderes e
presidentes, contribuindo para a instabilidade governativa: 16 anos de regime = 7 eleições
gerais para o Congresso = 8 Presidentes da República = 45 governos. As lutas político-partidárias
acentuaram-se ainda mais com a fragmentação do Poder Republicano.
- A Grande Guerra agravou esta instabilidade: em 1915, Portugal ainda não entrara na guerra e
o General Pimenta de Castro dissolvia o Parlamento e instalava uma ditadura militar. Em 1917,
um novo ditador, Sidónio Pais, considerando-se o fundador da “REPÚBLICA NOVA” destitui o
Presidente da República, Bernardino Machado, dissolveu o Congresso e fez-se eleger presidente
por eleições diretas1, em 1918, através de um golpe de estado – sidonismo pretendia combater
a hegemonia do Partido Democrático na vida nacional, apoiando-se nas forças mais
conservadoras, como os monárquicos. O assassínio de Sidónio Pais, 1918, precipitou o país para
uma guerra civil entre os monárquicos (que criam a “Monarquia Velha”) e os republicanos. Em
1919, dá-se o regresso ao funcionamento democrático das instituições, mas a República Velha
não desfrutou da conciliação desejada: divisão dos republicanos agravou-se.
Agitação social:
- Para além da oposição dos monárquicos, a República suscitou protestos dos católicos, das
classes médias e operariado. Ao laicismo da República, assente na separação entre o Estado e
a Igreja, se deve o seu violento anticlericalismo: a proibição das congregações religiosas, as
humilhações impostas a sacerdotes e a excessiva regulamentação do culto, entre outras,
trouxeram à República a hostilidade da igreja e do país conservador e católico. Revolta com o
anticlericalismo e com o ateísmo republicano, cerrou fileiras em torno do Centro Católico
Português tendo como apoio o país agrário, conservador e católico. A aparição de Fátima, 1917,
levou ao declínio do anticlericalismo.
- As bases de apoio dos republicanos também se sentiam traídas por um regime que não
conseguia melhorar as suas condições de vida. Nos anos 20, as classes médias viram o seu
poder de compra reduzido a metade. A mesma descrença grassou entre o operariado, que
recorria à greve como forma de lutar contra a miséria a que estavam sujeitos.
- A agitação social chegou tornou-se violenta nas grandes cidades (assaltos e os atentados
bombistas), que manchavam o regime e envergonhavam-nos além-fronteiras. Tal como a "Noite
Sangrenta" (19/10/1921), em que ocorreram os assassínios do chefe do Governo, António
Granjo, e de heróis do 5 de Outubro, como Carlos da Maia e o almirante Machado dos Santos.
Como se deu o fim da Primeira República?
As fraquezas da Primeira República abriam caminho às ações da oposição:
- O movimento operário, dividido entre revolucionários e reformistas, intensificou a sua
ofensiva contra o poder instituído. As notícias da revolução russa contribuíam para a difusão do
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História A
2024/2025
marxismo-leninismo entre as classes trabalhadoras, cuja união se fortaleceu, em 1919, com a
criação da Confederação Geral do Trabalho;
- Os grandes proprietários e capitalistas, ameaçados pelo aumento de impostos e pelo surto
grevista e terrorista, exploraram o tema da ameaça bolchevista. Em 1922, criaram a
Confederação Patronal, transformada pouco depois em União dos Interesses Económicos.
- As classes médias, cansadas das arruaças constantes e receosa do bolchevismo, apoia um
governo forte que restaurasse a ordem e tranquilidade, e lhes devolvesse o desafogo
económico.
- Portugal fica suscetível às soluções autoritárias: a 28 de maio de 1926, às mãos de um golpe
militar, Gomes da Costa derruba a Primeira República (com apoio do Exército) e instala uma
ditadura militar de 1926/33. Tendo em conta que, o governo do democrático António Maria da
Silva pediu a demissão e verificou-se o encerramento do Parlamento e a resignação do
Presidente da República, Bernardino Machado- que transmitiu o poder executivo a Mendes
Cabeçadas, porém o autoritarismo de Gomes não lhe permite tal. Em inícios de julho, Gomes da
Costa seria deposto pelo general Óscar Carmona, que passou a governar o país em ditadura.
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