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12, nº 28, 2025
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Religião Tradicional Yoruba/Isese/Orixás e as atribuições de Obàtálá, Èsù e Ògún, entre os 16
Irúnmolè na criação do nosso mundo
Maria da Glória Feitosa Freitas ou Yeye Obáluru[1]
Faseyi Awogbemi Dada ou Obàluru Obàtálá Ilé Ifé[2]
Os conceitos e práticas da Religião Tradicional Yoruba são abordados neste texto.
A Religião Tradicional Yorùbá/ ISESE compreende:
1) Conceitos Espirituais da Religião Tradicional Yorùbá;
2) Práticas Religiosas do Povo Yoruba, vindas de Terra Yorùbá e formada por tradição diversificada
e não tem um único fundador.
Povo Yorùbá acredita em ayan mo que significa que o povo Yorùbá é destinado a ser um coletivo
(um só e único povo) e deve agir de forma semelhante e sem julgar os demais. O povo Yorùbá
considera Olódùmarè como agente principal da criação. Olódùmarè designou Obàtálá (Orixá da
criação e da criatividade) para trazer possibilidade de vida à Terra onde só havia água, a partir da
África, e do lugar em que hoje está a cidade de Ilé Ifè, no estado de Òsun, na Nigéria. Isso justifica
o fato dos sacerdotes mais importantes de Ilé Ifé usarem a palavra AGBAYE (para o mundo) no fim
de seus nomes.
Na Religião Tradicional Yorùbá, conhecida na Língua Yorùbá como Isese, as divindades do povo
Yorùbá, ou sejam os e as Òrìsà, não significam algo negativo ou uma negação. Colonizações e suas
religiões operaram para demonizar os cultos aos Orixás na África e na Diáspora Africana.
Èsù (Exú) foi um dos Orixás que teve o seu papel de divindade da comunicação mais confundido e
incompreensível ao ser indevidamente confundido com as escrituras cristãs. Isso foi usado para
realizar as traduções da Bíblia Sagrada dos Cristãos para a Língua Yorùbá.
Até mesmo o Tradutor do Google afirmava que a palavra Èsù (Exú), em língua Yorùbá, era cabível
de ser traduzidas como Satanás ou demônio. Isso é um completo absurdo já que inexiste na Língua
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Yorùbá uma única palavra que seja capaz de traduzir a palavra ‘Satanás’. Jovens sacerdotes
realizam anualmente e em dezembro uma marcha: Exú não é Satanás! E condenam a demonização
de Exú.
Exú começou a ter um papel muito consolidado e de enviado de Deus já quando pediu material da
Orixá Ilé (Terra) para auxiliar Obàtálá na criação dos humanos e na modelação dos corpos
humanos. O mais importante sacerdote de Obátálá no mundo, o Obalesun de Obátálá Agbaye
narrou a participação de Exú:
O segundo trabalho que Olódùmarè deu para Obàtálá foi a criação dos
humanos, esse trabalho é conjunto entre ele, Obàtálá e Èșù. Obàtálá
perguntou para Èșù onde é que eles vão arrumar iyepe tutu (terra
molhada). Èșù diz para Obàtálá ficar tranquilo que vão encontrar terra
molhada. Èșù diz que iria pegar emprestada a terra com Ilé (mãe da terra).
Foi Èșù que buscou essa terra molhada, essa argila. Foi Obàtálá que
moldou essa argila, mas as pessoas ainda estavam surdas. Nossos
ancestrais e que iriam ser os primeiros habitantes da Terra, ainda não
falavam (OLAOLU, 2019, p. 01).
Entre os orixás que desceram do céu até a Terra, Exú (Èsù) segue como o designado para a
Comunicação ligeira e eficaz com o Òrun, Olódùmarè/Deus e os demais Orixás. Satanás segue
como relacionado com as religiões abraâmicas (Judaísmo, Islamismo e cristianismo).
Èsù (Exú), é o nosso Divino Mensageiro de Transformação, é o Mensageiro Divino para falar com o
poder, o homem das encruzilhadas e que dança ao som do tambor. Ultrapassa o conflito. Vai além,
é o espírito do céu. Luta para unir os pés instáveis do desmame de crianças. Exú está firme com as
responsabilidades de relatar as atividades do homem e divindades ao Olòdumarè.
Exerce o cargo semelhante a um diretor de relações especiais para Olòdumarè. Exú ocupa um lugar
especial de destaque entre Olòdumarè e entre seus pares, os demais Orixás. Olòdumarè confia
nele o suficiente para agir de acordo com seu julgamento. Aqueles que são favorecidos por Èsù
encontram graça diante de Deus.
Èṣù é o seu muro de proteção.
Se você tem fé em Èṣù,
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Você não precisa se preocupar com nada!
Se você quiser algo, pergunte à Èṣù.
Se ainda não aconteceu,
Procure fazer a paz com Èṣù,
Èṣù quer o melhor para você.
Eni tó bá rúbọ l’Èṣù n gbè. Aquele que faz oferenda para Exú será beneficiado.
Èṣù é, sempre, excelente em lhe apoiar, é uma personificação do bem.
É um reconhecimento da presença de positividade sagrada.
Èṣù é excelente administrador da justiça.
Èṣù é quem protege as cidades em que vivem o Povo Yoruba.
Èṣù é, sempre, uma personificação do bem.
É um reconhecimento da presença de positividade sagrada.
Èṣù é excelente administrador da justiça.
Èṣù é quem protege as cidades, do Povo Yoruba.
A palavra Exú traduzida como Satanás foi feita pelo Bispo Crowther, nascido entre o povo Yorúbá e
com um apelido yorùbá Ajayi (significa telhado) é muito combatida na Nigéria e em outros países
em que vivem iniciados na Religião Tradicional Yorùbá. É inadequada sob uma perspectiva
decolonial e antirracista por ser muito preconceituosa e utilizar uma divindade tão importante e
com papel tão significativo como é Exú, na Religião Tradicional Yorùbá, comparando-o com aquilo
que nunca foi e nunca teve sentido na tradição religiosa do Povo Yorùbá. Inexiste satanás em
nenhum dos 256 odus de Ifá ou outras narrativas orais sobre Orixás.
O racismo epistêmico invalida consciente ou inconscientemente qualquer
perspectiva de conhecimento que não seja ocidental e branca, tendo
como base o pressuposto que considera a si mesmo como universal,
isento e neutro, não compreendendo a sua própria
especificidade/particularidade. Define o branco, o ocidental,
especialmente o homem, como sinônimo da humanidade completa,
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assim sendo, o que não é branco é visto como incompleto e/ ou não
humano (Barreto, 2018, p. 27).
Todo este prejuízo ao papel imenso de Exú surgiu com a intensão e tradução da Sagrada Bíblia para
a Língua Yorùbá e feita pelo bispo da Igreja Anglicana, Samuel Ajayi Crowter, nascido em Osogun
em 1809, morreu em Lagos em 1891, na Nigéria, um homem yorùbá que foi escravizado e
posteriormente libertado por missionários.
Em 1821, a cidade iorubá em que vivia foi invadida, o pai dele foi morto, Crowter foi escravizado, o
navio negreiro foi interceptado e retornou a condição de liberdade, recebeu a educação cristã de
missionários ingleses até ser o primeiro sacerdote africano, em 1864 já tinha se tornado Bispo.
Assim tomou o compromisso de ser um missionário entre o seu próprio Povo Yorùbá, aceitando e
até justificando a colonização europeia:
como um mal necessário à libertação dos colonizados, cujos corpos seriam
alforriados, pondo-se fim à escravidão, cujas mentes seriam adestradas,
afastando-se de costumes tribais sub-humanos, e cujos espíritos
expurgariam crenças negras bárbaras, dando lugar à mais importante
libertação: aceitação da palavra sagrada (FRIAS, 2019, p. 11).
Nossas práticas religiosas constantes, diárias, nos Templos e em casa envolvem:
1) oração e recitações de Oriki, oferendas aos Òrìsà;
2) consultas oraculares;
3) festivais de diversos orixás;
4) crença que não se pode abater pelo desânimo, não aconteceu e ainda irá acontecer uma
benção, Òrìsà com certeza fará com que aconteça na hora certa e de modo coerente com o seu
destino;
5) Paciência é essencial. Confiança no Orí (Cabeça e espiritualidade individual) e nos Òrìsà! E
quando temos dúvidas, fazemos consulta oracular. Òrìsà responde suas dúvidas com as diversas
formas de realizar consultas e ter conhecimentos através dos odus, através de consultas oraculares
realizadas com búzios e sementes, Merindinlogun (16 búzios), ikins (compõem o assentamento de
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Ifá), Opele (corrente feita com contas e outros elementos e usada para chegar a um odú ao ser
lançada ao chão, após orações), Obi(semente com 4 gumos), Orogbo (semente), entre outros.
Os 16 iniciais irúnmolè vieram para o Ayé e muitos outros Irúnmolè que surgiram no Ayé e após o
estabelecimento da vida no Ayé (Terra). Somam no total 401 Òrìsà. São cultuados através de
orações, oriki, oferendas apropriadas e ensinadas para as pessoas iniciadas em um ou até vários
Irúnmolè.
A iniciação em Irúnmolè acontece em qualquer momento da vida. Pais do povo Yorùbá buscam
iniciar o(a)s filhos(a)s ainda bem pequenos. Na iniciação em Òrúnmìlà a pessoa recebe ODU IFA
para toda a existência, recebem informações essenciais para toda a existência como quais são
Òrìsà devem iniciar e/ou como cultuar na vida, saberá sobre destino sacerdotal e dos Ewos
(interdições, tabus). É um primeiro contato com o destino do Orí (cabeça) e pelo resto da vida será
possível saber sobre ao que será que a vida lhe destina através de consultas oraculares.
O orí-inú é ao mesmo tempo o destino, o anjo da guarda, a divindade
pessoal e a fonte. É o mesmo, mais do que qualquer outra coisa, que
determina o resultado de uma pessoa na vida. Como os mitos do corpus de
Ifa nos dizem, cada pessoa escolhe um orí no céu. Alguns são bons e levam
a uma longa vida e prosperidade, enquanto outros acabam em ruínas. Em
uma variante do mito, ao sair do céu, cada pessoa se destaca a Árvore do
Esquecimento, Igi Igbàgbé, e declara o destino que ela escolheu para si
mesma. Mas depois de passar por seus ramos, e descendo para o mundo,
toda lembrança deste destino está perdida/esquecida. Em todas as versões
do mito, Ọrunmila testemunha sozinho a escolha de Orí e é assim chamado
ẹlẹrìí ìpín, ‘a testemunha da escolha (do destino) ’. Por esta razão,
Ọrunmila pode ser consultado através da adivinhação para determinar o
conteúdo ou os desejos do Orí. (Ogunnaike, 2015, p.260)
IDE E ILEKE são usados ininterruptamente. Ileke são feitos com contas de cores diferentes e cada
cor é representativa de um Orixá. Ide é de metal. Ide e Ileke devem ser usados no pulso do lado
esquerdo. Usamos ILEKE no pescoço também. Na diáspora africana é mais comum esse uso e são
chamados de guias ou fios de contas. Essa confecção de Ileke remete a mulher de Oduduwa, a
hábil artesã e Orixá Olokun.
Otun lowo aba Osi nibiti aṣẹóó Dáfá fun Iba tii nṣe olórí Orò gbogbo.
A mão direita é para Aba/sugestões/fazer perguntas
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À esquerda é a mão de Àṣẹ/Autoridade, aprovação ou manifestação do sugerido.
Foram os sacerdotes de Ifá que lançaram IFA para Ibà/homenagem, saudações ou reverência
Outra versão:
Ọtun awọ ode aba díá fun wọn lóde aba,
Osi awo ode Abọsẹ, díá fun wọn lóde Abọsẹ
À direita está o sacerdote da cidade de Aba (cidade da sugestão)
À esquerda está o sacerdote da cidade de aceitação
Quando iniciamos, o lado esquerdo é dominante em muitos dos ritos. A mão direita está associada
a fazer sugestões, ofertas. A mão esquerda é a mão de àse, autoridade ou aceitação. A mão
esquerda é considerada mais poderosa e traz as coisas à manifestação.
A mão esquerda é owo alafia, a mão da paz e da receptividade. É também o lado de Iyami Onile
(Òrìsà da Terra) com o qual Orunmila também tem pacto. No sacerdócio Onile, a esquerda supera
a direita como posição de domínio. A mão esquerda é também o lado através do qual se diz que a
morte (Iku) entra no corpo. Quando Orunmila estabeleceu um pacto com a morte, foi o ide usado
à esquerda que iria proteger os akapo (mensageiros) de Orunmila da morte que vinha até eles. Ide
veria e iria embora. É por isso que o ide está desgastado. Até hoje os iniciados usam Ileke no braço
esquerdo e com cores da conta representativos daquele orixá em que a pessoa é iniciada ou
cultua.
As idas aos Templos são constantes na Religião Tradicional Yorùbá. Os rituais regulares nos Templos
dos Òrìsàs e o ciclo de cultos de Òrìsà são baseados em uma semana de quatro dias: é a Semana
Yorùbá (com os dias de cultos aos orixás Obàtálá, Orunmila, Ògún e Sàngó). No decorrer do ano
yorùbá que começa em junho seguirão várias semanas com a quantidade de quatro dias e
seguindo a mesma ordem: Obàtálá, Orunmila, Ògún e Sàngó. Os quatro Orixás, Obàtálá, Orunmila,
Ògún e Sàngó, chefiam cada dia e muitos outros e outras Òrìsà estão associados e são cultuados
nos mesmos dias.
Acontecem os festivais anuais, muitas comemorações e rituais mais elaborados que envolvem uma
grande proporção da população das cidades, bem como os iniciados em Isese/Religião Tradicional
Yorùbá:
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FESTIVAIS em Ilé Ifè, cidade em que os Orixás viveram no começo da jornada terrena da
humanidade:
Obàtálá- Segunda quinzena de janeiro;
Òsóòsì: 17 de janeiro, no Festival de Obátálá
Àyàn: Julho; Egùngùn: Julho
Òsun: Agosto Orunmila: fim de maio e começo de junho –Solstício de verão no Hemisfério Norte;
Ògún/Olojo: Segunda quinzena de setembro.
ORIKI OBÀTÁLÁ (ÒRÌSÀNLÁ)
ORIKI: Saudação
OBÀTÁLÁ: Rei do Pano Branco
ÒRÌSÀNLÁ: Grande Orixá
1)igbin ogbomo la
Tradução: O tambor chamado Igbin salvou uma criança
2)Osun-Sile-foje tiku
Tradução: aquele que dorme em casa e usou Oje (esposa de Obàtálá) como proteção
3) Onile-ji, Oje-o-ji:
Tradução: O dono da casa acordou, Oje não acordou (Oje é uma das mulheres de Obàtálá e que se
transformou em metal e Obàtálá usar como apoio pra descer até a Terra, é este mesmo metal
usado para fazer o IDE usado braço).
Obàtálá desceu do Òrun/plano espiritual em uma corrente longa para fazer o duro trabalho pedido
por Olódùmarè. A corrente feita por Ògún para descida foi eficaz e todos os anos na cidade de Ilé
Ifé é rememorado o papel desempenhado por Ògún, é o Festival de Olójó, rememorando o
primeiro dia do pequeno grupo de 16 Orixás na Terra. Obàtálá não conseguiu terminar este
trabalho. Foi impedido logo após criar todos os corpos humanos, um a um, feitos à barro.
Odùduwà tomou seus materiais e concluiu o trabalho na etapa determinada por Deus.
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Obàtálá é o pai da humanidade, é a divindade da luz, pureza espiritual e retidão moral. Seu irmão
mais novo Odùduwà assumiu o controle e fez os trabalhos que faltavam para vida terrena ser
possível. Odùduwà distribuiu a terra que levou sob as águas, ajudado por uma galinha de cinco
dedos em cada um dos pés. Olódùmarè ficou chateado com Obàtálá.
Olódùmarè deu para Obàtálá èwòn/chain (uma corrente), ewe koko
(folhas), igbin/snail (caracóis), iyepe iwarun (terra) e akuko adiye elese
marun (uma galinha de cinco dedos). Ele colocou esses materiais numa
mala que se chama àpò láwonrínwon-jìwon-ràn, ele colocou essa mala de
àpò láwonrínwon jìwon ràn na grande mala que se chama àpò
amònnà-jékùn. Depois ele colocou essa mala de àpò amònnà-jékùn em
outra grande mala, em que podiam caber esses matérias. Essa mala se
chama àpò-àjàpà ou àpò nlá (grande mala). Obàtálá pegou essas matérias
todas e seguiu o caminho. Quando Obàtálá chegou no lugar que se chama
orita meta ete – um lugar localizado entre céu e a atual Terra que agora
habitamos, este lugar que era somente de cheio de água, como o atual
Oceano – ele estava cansado. Ele viu emu (vinho de palma típico da
Nigéria) e começou a beber esse emu.
Depois que ele bebeu muito desse emu ele ficou cansado e dormiu.
Odùduwà, seu irmão, era uma pessoa que gostava de confusão e ele estava
atrás de Obàtálá, seguindo ele. Quando Odùduwà viu que Obàtálá estava
dormindo ele viu essa mala no braço direito de Obàtálá. Então, Odùduwà
pegou esta mala e Obátálá continuou dormindo. Odùduwà caminhou até o
lugar que Olódùmarè disse para Obàtálá colocar esse ewon/chain
(corrente) para cima, depois Odùduwà viu que esse ewon ficou preso em
cima, ele pegou a mala no braço dele e foi esse ewon (corrente) que
Odùduwà usou para chegar onde só tinha muita água (agbalagbalubu omi).
Olódùmarè disse para Odùduwà colocar folhas em cima da água, e
Odùduwà fez isso, colocou iyepe iwarun (terra) em cima da folha, depois
colocou akuko elese marun (galinha de cinco dedos), depois colocou
igbin/snail (caracol) e começou a espalhar a terra em cima dessas águas.
(Dada, 2019).
Olódùmarè enviou um camaleão para ir para a terra e verificar o trabalho de Obàtálá. E o
camaleão ‘fotografou’ todo o trabalho realizado por Obàtálá. Odùduwà voltou para o Òrun
(morada de Olódùmarè) depois que este mundo aqui cheio de água recebeu a terra aplainada com
os dois pés da galinha de cinco dedos em cada pé. Obàtálá fez seu trabalho de criação dos corpos e
consciências humanas e voltou para conversar com Olódùmarè.
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Com a conclusão de tudo antevisto por Deus, ainda que imprevistos tenham ocorrido,
Deus/Olódùmarè tomou a decisão de enviar 16 irúnmolè iniciais, os mensageiros de Olódùmarè.
Entre eles estavam: Obàtálá, Ògún, Orunmila, Sàngó, Egùngùn, Obaluaiê, Èsù, Òsun, Egbé, Ibeji e
outros). Eles foram enviados para ir para ao mundo e começar a fazer muitas coisas importantes
por lá. Uma só mulher, Òsun, fazia parte deste grupo que Olódùmarè enviou para organizar a vida
aqui no Ayé (Terra). Irunmole eram 16 inicialmente e chegaram até o número de 401 no total.
Um papel muito importante neste momento de chegada dos 16 primeiros Orixás na Terra foi
desempenhado por Ogum. É um Orixá muito conhecido na Diáspora Africana. No Brasil é muito
festejado e cultuado. Dominando sobre um importante metal, o ferro, abriu um caminho seguro
entre o céu e a terra. Hoje está associado aos muitos progressos tecnológicos da humanidade, é o
Orixá do ferro e dos objetos que vão do celular, computador, aos meios de transportes e alta
tecnologia do mundo contemporâneo.
O Festival de Olójó acontece em setembro, é o Ojó Ìlàgún- o dia em que Ògún (Ogum) abriu o
caminho para os 16 irúnmolè (Orisa) desembarcarem em Ilé Ifè. Assim, eles iniciavam a jornada
terrestre determinada por Olòdumarè, começando tudo em Ilé Ifè. O festival de Olójó é
comemorado para rememorar a importância de Ògún, demonstrando a intensa crença do povo
yorùbá de Ilé Ifè na divindade do ferro, o grande Orisa Ògún.
Olójó Festival é uma tradição muito antiga em Ilé Ifè, rememorando, comemorando e fazendo suas
preces ao Orisa Ògún e aos demais primeiros Òrìsà que pisaram neste planeta, em que vivemos
hoje, graças às ordens de Olòdumarè e as providências destes Òrìsà, para tornar possível as
missões deles na Terra. São considerados ancestrais do Povo Yorùbá. O Ooni de Ilé Ifè (Rei de Ilé
Ifè) fica em reclusão espiritual, saindo do lugar de retiro, próximo do Palácio, no sétimo dia e leva
uma pesada coroa (ADE) na cabeça.
Considerado como um dos irmãos de Ogum, Oxóssi é muito cultuado no Brasil. Existia uma
sensação entre os brasileiros que Oxóssi já não era cultuado na Nigéria. Respondemos sobre isso
desde 2014. Com publicações nas redes sociais ficou evidente que isso era um equívoco.
Dia 17 de janeiro, durante o Festival anual de Obàtálá, acontece o dia dedicado ao grande guardião
de Obàtálá: Òsóòsì/Oxóssi. A programação começa com caminhada do Templo de Obàtálá até o
Palácio do Ooni de Ilé Ifè. O Ooni acompanha o grupo de volta ao Templo de Obàtálá, levando
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junto o Orí do Orixá Oxóssi (escultura relíquia mantida pelo Ooni), vão até o Iba/Assentamento de
Oxóssi no Templo de Obàtálá.
É rememorado a presença protetora de Òsóòsì junto ao Òrìsà Obàtálá. Òsóòsì, o protetor de
Obàtálá! Òsóòsì, teve a capacidade de proteção e vigilância, era um hábil caçador e guardião de
Obàtálá, ordenava que pintassem a sua 'casa branca' (efun) para representar a pureza de Deus,
entretinha toda a gente com cânticos e louvores, dedicados ao Olódùmarè (Deus).
FIG. 01 - Assentamento de Oxóssi e lugar dos rituais do dia 17 de janeiro
Foto de ObáLuru Obàtálá Ilé Ifé.
A casa de Òsóòsì tornou-se ponto de encontro e de socorro para os oprimidos e os necessitados,
onde frutas e outros itens alimentares eram distribuídos gratuito e diariamente em Ilé Ifè. Sempre
que Obàtálá era convidado, para algum evento fora de casa, era quem visitava, previamente, o
lugar para saber se seria favorável para Obàtálá ir até lá.
Òsóòsì ia também junto com Obàtálá para fazer muito bem a vigilância do lugar. Mais tarde
relatava tudo que tinha visto, na ocasião da excursão com Obàtálá. A casa está localizada próximo
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do atual local do Templo de Obàtálá de Ilé Ifè, sempre hospedava as multidões, como uma morada
eterna e aberta, para oferecer ajuda e descanso aos que o procuravam.
Bibliografia
BARRETO, Raquel. Lélia Gonzalez, Gonzalez, uma intérprete do Brasil. In: Primavera para rosas
negras: Lélia em primeira pessoa. Diáspora Africana: Editora Filhos da África,2018.
DADA, Olaolu O.O. A narração de uma ideia: a criação do mundo, antes do 1º dia em Ilé Ifé. Trad.
Rei Ojele Obàtálá Agbaye e Yeye Meso Obàtálá Agbaye. ClimaCom – Povos Ouvir – A coragem da
vergonha [Online], Campinas, ano 6, n. 16, dez. 2019. Available from:
https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/olaolu-o-o-dada-a-narracao-de-uma-ideia-a-criacao-
do-mundo-antes-do-1-o-dia-em-ile-ife. Acesso em: 02 de dezembro de 2024.
FRIAS, Rodrigo Ribeiro. Metamorfoses Identitárias de Lideranças Religiosas não iorubás
inspiradas no convívio com lideranças religiosas iorubás. Tese de Doutorado, IPUSP, 2019.
Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-19072019-153237/publico/frias_corrigi
da.pdf. Acesso em: 02 de dezembro de 2024.
OGUNNAIKE, Oludamini. Sufism and Ifa: Ways of Knowing in Two West African Intellectual
Traditions. Doctoral dissertation, Harvard University, Graduate School of Arts & Sciences, 2015,
p.260. Disponível em: http://nrs.harvard.edu/urn-3:HUL.InstRepos:23845406. Acesso em: 02 de
dezembro de 2024.
______________________________________________________
[1] Maria da Glória Feitosa Freitas ou Yeye Obáluru.
[2] Faseyi Awogbemi Dada ou Obàluru Obàtálá Ilé Ifé.
[3] Tradução nossa.