1
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
INSTITUTO DA SAÚDE E PRODUÇÃO ANIMAL
HUGO AUGUSTO MENDONÇA CANELAS
GASTROTOMIA EM CADELA: RELATO DE CASO
BELÉM
2021
2
HUGO AUGUSTO MENDONÇA CANELAS
GASTROTOMIA EM CADELA: RELATO DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Federal Rural da Amazônia
como requisito básico para obtenção do título
de bacharel em Medicina Veterinária.
Orientador: Prof. Dr. Leony Soares Marinho
BELÉM
2021
3
HUGO AUGUSTO MENDONÇA CANELAS
GASTROTOMIA EM CADELA: RELATO DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Federal Rural da Amazônia como requisito básico para obtenção do título de
bacharel em Medicina Veterinária.
.
Aprovado em: 12 de agosto de 2021
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Leony Soares Marinho - Orientador
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
Prof. Dr. Hamilton da Silva Pinto Junior - Membro Titular 1
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
Profa. Dra. Ruth Helena Falesi Palha de Moraes Bittencourt - Membro Titular 2
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
4
C221g
Canelas, Hugo Augusto Mendonça Canelas
Gastrotomia em cadela: Relato de caso / Hugo Augusto Mendonça Canelas Canelas. -
2019.
24 f.: il. color.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Curso de Medicina Veterinária, Campus
Universitário de Belém, Universidade Federal Rural Da Amazônia, Belém, 2019.
Orientador: Prof. Dr. Leony Soares Marinho Marinho
1. Gastronomia . I. Marinho, Leony Soares Marinho, orient. II. Título
5
"O trabalho duro vence o dom natural"
6
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por ter me dado forças para
perseverar durante 5 anos;
Agradeço imensamente à minha família, principalmente minha tia Dinorah e meu
Avô Climério que estão me observando lá de cima, e meu pai José Augusto Salomon Canelas,
minha mãe Luciana Almeida Mendonça Canelas, minha avó Maria Lúcia Almeida Mendonça,
por ter me proporcionado todo o suporte nos momentos bons e ruins na minha trajetória;
Agradeço de coração à Médica Veterinária Alessandra Souza Negrão que além de
ter sido uma excelente namorada durante quase 5 anos, foi uma ótima amiga, companheira e
confidente, que apesar de nossos caminhos terem se separado, eu ainda nutro um grande
amor, carinho e admiração por ela;
Agradeço também aos meus ``pais`` da Medicina Veterinária o Professor Leony
Soares Marinho e Professor Hamilton da Silva Pinto Junior, que me introduziram ao
maravilhoso mundo da Cirurgia Veterinária e me deram oportunidade de operar com eles e
ensinaram basicamente tudo que eu sei;
Agradeço ao melhor grupo de estudo que um estudante poderia desejar os π´vets,
composto por Amanda Melo Hamoy, Carlos Junior Lopes Santana, Danilo Couvre, Paulo
Sergio Campos Cruz, todos vocês me ajudaram muito por meio de nossos estudos, todos
ajudando todos, desejo que nossa amizade e parceria não tenha fim;
Agradeço imensamente aos meus filhos de 4 patas Duque, Zara e Zelda por me
darem todo o amor e carinho que só eles conseguem dar;
Agradeço à todos os animais que serviram para meu aprendizado e crescimento na
Medicina Veterinária;
7
Agradeço também aos meus amigos que fazem ESO comigo, juntamente com os
residentes e meu Supervisor Médico Veterinário Luiz Fernando Moraes Moreira.
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RESUMO
A Gastrotomia consiste no acesso cirúrgico ao estômago pela incisão na parede do
órgão, sendo o procedimento mais indicado para remoção de corpos estranhos. Esse
procedimento é realizado com mais frequência em cães e gatos jovens, pois os mesmos
ingerem corpos estranhos de maneira indiscriminada e frequente. Os sintomas de um animal
que ingeriu corpos estranhos, comumente, inclui disfagia e vômito como sinal agudo,
entretanto pode manifestar outros sintomas. O método mais confiável de se chegar a um
diagnóstico correto é por meio de exames como endoscopia, radiografia e ultrassonografia
abdominal, sendo a endoscopia o método mais utilizado atualmente. Dessa forma, foi
atendido em uma clínica veterinária particular, localizada em Belém-Pa, um canino, fêmea, 6
anos da raça Yorkshire apresentando vômitos frequentes, depressão e anorexia. Exames
laboratoriais e de imagem foram requeridos. Ao exame radiográfico foi constatada presença
de corpo estranho e, sugestivo a intussuscepção intestinal. Ato contínuo foi realizada
gastrotomia para retirada de corpo estranho (CE) arredondado com 10 cm de diâmetro e 50
cm de espessura, constituído por fios de cabelo, pêlos, fio dental, pedaço de canudinho
plástico e goma de mascar, de consistência firme com prolongamento filamentar que se
estendia ao intestino, provocando espessamento da porção inicial do mesmo. Durante a
laparotomia, o intestino foi explorado para verificar a presença de mais corpos estranhos,
tendo sido observado ausência destes. O procedimento cirúrgico foi realizado sem
intercorrências. Para o pós- operatório recomendou-se antibioticoterapia, controle da dor e
anti-inflamatório, além de dieta pastosa e posteriormente sólida.
Palavras chave: Gastrotomia, canino, corpo estranho
9
ABSTRACT
Gastrotomy consists of surgical access to the stomach through an incision in the organ wall,
and is the most indicated procedure for removing foreign bodies. This procedure is performed
more frequently in young dogs and cats, as they ingest foreign bodies indiscriminately and
frequently. The symptoms of an animal that ingested foreign bodies commonly include
dysphagia and vomiting as an acute sign, however, it may manifest other symptoms. The most
reliable method of arriving at a correct diagnosis is through tests such as endoscopy,
radiography and abdominal ultrasound, with endoscopy being the most used method today.
Thus, a 6-year-old Yorkshire female canine was treated at a private veterinary clinic, located
in Belém-Pa, presenting frequent vomiting, depression and anorexia. Laboratory and imaging
tests were required. The radiographic examination revealed the presence of a foreign body
suggestive of intestinal intussusception. Continuously, gastrostomy was performed to remove
a rounded foreign body (FB) with 10cm in diameter and 50 cm thick, consisting of hair, hair,
dental floss, piece of plastic straw and chewing gum, of firm consistency with a filament
extension that extended to the intestine, causing thickening of the initial portion of it. During
laparotomy, the intestine was explored to verify the presence of more foreign bodies, with an
absence of these being observed. The surgical procedure was performed uneventfully. For the
postoperative period, antibiotic therapy, pain control and anti-inflammatory drugs were
recommended, in addition to a pasty and subsequently solid diet.Key words: Gastrotomy,
canine, foregn body
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO---------------------------------------------------------------------11
2. REVISÃO DE LITERATURA---------------------------------------------------12
2.1 Anatomofisiologia-----------------------------------------------------------------12
2.2 Etiologia----------------------------------------------------------------------------14
2.3 Apresentação clínica-------------------------------------------------------------15
2.4 Exames de imagem---------------------------------------------------------------16
2.5 Pré-operatório-------------------------------------------------------------------17
2.6 Trans-operatório----------------------------------------------------------------18
2.7 Pós-operatório---------------------------------------------------------------------19
3. RELATO DE CASO---------------------------------------------------------------22
4. DISCUSSÃO-------------------------------------------------------------------------22
5. CONCLUSÃO-----------------------------------------------------------------------23
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS--------------------------------------------23
11
1 INTRODUÇÃO
A Gastrotomia é uma técnica que consiste no acesso cirúrgico ao estômago por meio
de uma incisão na parede do mesmo, sendo o procedimento mais indicado para remoção de
corpos estranhos, podendo ser indicado, com menor frequência, em casos de úlceras ou
erosões gástricas e neoplasias (FOSSUM, 2014).
Nos cães e gatos jovens, a gastrotomia é um procedimento cirúrgico rotineiro, devido
ao fato desses animais, quando jovens terem o costume de ingerir corpos estranhos com maior
frequência que os animais adultos. A ingestão de CE, dependendo da natureza deste, pode
evoluir para cenários mais graves, causando perfuração da parede gástrica ou intoxicação
(PARRA et al., 2012), bem como obstrução gastroentérica.
Os sinais clínicos mais comumente observados em um animal que ingeriu CE, são
disfagia e regurgitação, podendo ainda se encontrar presente apatia. Ademais, nos exames
laboratoriais, quadro de hipocloremia e hipocalcemia encontram-se presentes sem
manifestação clínica. (PARRA et al., 2012), dependendo do tempo de duração e da gravidade
da obstrução (FOSSUM, 2014).
O método mais confiável de obter um diagnóstico é, por meio de anamnese adequada
associado ao exame físico aliado a exames de imagem como a endoscopia e radiografia e,
ultrassonografia abdominal, (PARRA et al., 2012), sendo que a maioria dos corpos estranhos
se apresentam de forma radiolucente (FOSSUM, 2014).
Quando diagnosticado o corpo estranho, deve-se analisar fatores para definir o
tratamento ideal para a remoção deste (VENTER et al., 2005), dentre os quais inclui-se o
tamanho e formato do mesmo. No caso de um objeto apresentar-se liso e pequeno, pode-se
optar por vômito induzido por xilazina (gatos) e apomorfina (cães), considerando o esôfago
apto a receber o conteúdo advindo do vômito e, se o objeto vai se alojar na cavidade esofágica
(FOSSUM, 2014; SLATTER, 2003).
O processo de endoscopia pode ser levado em consideração para remoção de corpos
de tamanho reduzido e lisos. Em casos de corpos grandes e ásperos ou que possuem riscos de
perfurar o estômago, deve-se recorrer ao processo de gastrotomia (PARRA et al., 2012).
Devido a esse problema na clínica cirúrgica de pequenos animais, o trabalho tem
como objetivo, analisar de maneira detalhada e abrangente sobre a técnica de gastrotomia,
levando em consideração importantes detalhes encontrados na revisão de literatura e, relatar o
caso ocorrido em um canino.
12
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Anatomofisiologia
O estômago é um órgão responsável pela maioria da realização da digestão química
do organismo e, no canino o estomago é do tipo simples (DYCE, 2010). Estudo realizado por
Silva et al. (2015) apontou a capacidade de 100 a 250 mL/Kg de peso do animal, ainda,
podendo estimar-se, aproximadamente, 1 litro para um canino de peso médio
(aproximadamente 10 Kg). O órgão possui formato sacular e está situado na região
abdominal, sua localização está à esquerda do plano mediano e sua estabilidade é mantida por
meio do esfíncter cardia, ligamento hepatogástrico, hepatoduodenal do omento menor, o qual
se prende ao piloro (BRENTANO, 2010).
Anatomicamente o estômago é subdividido em regiões intituladas: cárdia, fundo,
corpo, antro e piloro (Figura 1). O cárdia é uma região de transição entre o esôfago e o
estômago, sua principal função é, por meio de seu esfíncter, permitir a passagem de alimentos
do esôfago para o estômago e impedir o seu refluxo. Ambos, corpo e o fundo gástrico, podem
realizar a digestão e o armazenamento de conteúdo, sendo o corpo responsável pela secreção
de ácido clorídrico (HCl) e enzimas digestivas (BRENTANO, 2010). Enquanto o antro é
responsável pelo fracionamento da porção sólida, o piloro cuida da passagem dessa parte
sólida para o duodeno evitando refluxos (STURGES, 2001).
Na margem do estômago, estão presentes as curvaturas maior e menor. A curvatura
maior é convexa e está fixada ao omento maior, do qual se insere o ligamento gastroesplênico
que conecta o baço ao estômago. A curvatura menor, mais curta e côncava, é conectada ao
fígado pelo omento menor. Essa curvatura é marcada por uma alteração evidente na direção
conhecida como incisura angular (Figura 1) (DYCE, 2010).
13
Figura 1: Imagem demonstrando anatomia da região do estômago.
Fonte: https://aprenda.bio.br/anatomia/anatomia-e-estruturas-do-estomago/
O suprimento vascular do estômago, dá-se pelas ramificações do tronco celíaco, do
qual partem as artérias esplênica e hepática e, a gástrica esquerda que originam as artérias
gastroesplênicas esquerda e direita e a gástrica direita e, nota-se bastante irrigação ao longo
das curvaturas menor e maior (Figura 2) (DYCE, 2010). A grande parte das artérias, penetra a
parede para a submucosa, antes de se ramificar para formar um plexo elaborado, do qual tanto
a camada muscular quanto a mucosa são as que mais são nutridas. Os ramos da mucosa
emitem capilares inusitadamente grandes sob o epitélio e ao redor das glândulas (SLATTER,
2003).
Figura 2: Imagem esquematizando ramos da irrigação do estomago
Fonte: https://dev.blog.jaleko.com.br/anatomia-e-vascularizacao-do-estomago/
O estômago é constituído de 4 camadas sendo elas: serosa, muscular, submucosa e
mucosa. A camada serosa é a mais externa do órgão constituída de um mesotélio suprajacente
a uma camada de tecido conjuntivo frouxo (EURELL; FRAPPIER, 2012). A camada serosa,
14
ao longo das curvaturas, deixa o órgão para formar os omentos maior e menor (BRETANO,
2010).
A camada muscular possui três grupos musculares lisos: a oblíqua interna, circular
intermediária e longitudinal externa e, conforme chega na região pilórica, a espessura
muscular aumenta, o plexo mioentérico localiza-se entre a circular intermediária e a
longitudinal externa (TAMS, 2005; EURELL; FRAPPIER, 2012).
A camada submucosa é composta por fibras de colágeno, tecido adiposo branco, vasos
sanguíneos e plexo nervoso submucoso (EURELL; FRAPPIER, 2012). A camada mucosa é a
mais interna do órgão e é constituída de um epitélio próprio, uma lâmina própria de tecido
conjuntivo frouxo e uma lâmina muscular, além disso a mucosa possui várias glândulas em
que ocorre a secreção de substancias que realizam a digestão (CUNNINGHAM, 2014).
2.2 Etiologia
A indicação principal para a realização da gastrotomia é para a remoção de corpos
estranhos (FOSSUM, 2014). Um corpo estranho é definido como qualquer objeto que o
animal ingeriu que é impossibilitado de ser digerido, o corpo estranho costuma ser encontrado
em cães, devido ao seu hábito alimentar indiscriminado, principalmente, quando filhote
(Figura 3) (FOSSUM, 2014).
Figura 3: Imagem demonstra exemplo de corpo estranho ingerido
Fonte: MONTANHIM et al., 2016.
Quando há obstrução da passagem gástrica por corpo estranho, o vômito é o sinal
clínico mais frequente por causa tanto da obstrução da passagem do conteúdo, quanto pela
irritação que o objeto causa na mucosa gástrica, na maioria das vezes, essa irritação se
apresenta de maneira moderada, todavia, dependendo do aspecto e tamanho do corpo
estranho, o mesmo pode causar lesões mais graves ao estômago, desde lesões ulcerativas até
15
ruptura do órgão (FOSSUM, 2014; SLATTER, 2003).
Corpos estranhos lineares como fio de costuras, barbantes, costumam ocorrer com
maior frequência em felinos, devido ao seu comportamento, porém tem relatos desse tipo de
corpo estranho em caninos como demonstra trabalho feito por Xavier, 2013. No estômago, os
corpos estranhos lineares, costumam se alojar em parte no piloro enquanto a outra parte vai
para o intestino, podendo gerar o plissamento das alças, sendo necessárias combinações de
enterotomias e gastrotomia para a remoção desse corpo (FOSSUM, 2014; BRETANO, 2010).
Como tentativa de remoção do corpo estranho linear, realiza-se primeiro a gastrotomia,
localiza-se parte do corpo estranho na região do piloro e traciona-se o mesmo de forma a
retirar a outra parte alojada no intestino. Todavia, essa tração deve ser feita de maneira
moderada afim de não danificar o intestino e, caso for sentido resistência ao tracionar, deve-se
retirar o corpo estranho em partes, retirando primeiro a parte do estomago e, posteriormente,
realizando enterotomias para a retirada da outra parte do corpo estranho (Figura 4)
(FOSSUM, 2014; SLATTER 2003).
Figura 4: Imagem de corpo estranho linear
Fonte: XAVIER et. al., 2013.
2.3 Apresentação Clínica
Vômito é o sinal clínico mais encontrado nos casos de obstrução por corpos
estranhos, podendo se manifestar de forma intermitente, pois o reflexo do vômito é
desencadeado quando o corpo estranho localiza-se na região do antro-piloro (SLATTER;
2003). Nem todos os corpos estranhos causam sinais clínicos, como os localizados no fundo
do estômago, por exemplo (ETTINGER; FELDMAN, 1997).
A ingestão de corpos estranhos torna-se um problema significativo quando ocorre
perfuração ou obstrução gastrointestinal ou quando ocorre toxicidade por ocasião da ingestão
de objetos que contenham chumbo na sua composição, como é no caso de pesos de varas de
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pesca ou cortinas, assim como a toxicidade do zinco presente em moedas, entre outros
(HARARI, 1999).
Os achados clínicos mais comuns incluem tentativas de vomitar, engasgo, letargia,
anorexia, ptialismo, regurgitação, inquietação, disfagia e tentativa persistente de deglutição
(TILLEY; SMITH JR., 2008).
2.4 Exames de Imagem
A utilização de radiografias simples é apropriada para diagnóstico de corpos estranhos
radiopacos (Figura 5), todavia, segundo relato de Fossum (2014) muitos dos corpos estranhos
encontrados, possuem radiolucência, nesse caso, pode-se inferir sua presença por meio da
identificação de uma parte localizada no estômago que possa estar dilatada. Além disso, o uso
de contraste negativo para exames de imagem tem se demonstrado eficaz para a detecção de
corpos estranhos pelo raio-X (SLATTER, 2003).
Figura 5: Imagem retratando corpo estranho gástrico radiopaco
Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/5819282/
De acordo com Fossum (2014), corpos estranhos radiolucentes podem ser detectados
por ultrassonografia (Figura 6), caso o estomago esteja repleto por líquido e obtenha uma
janela acústica adequada. Outra alternativa de exame de imagem que vem sendo usada com
grande frequência é o uso da endoscopia (Figura 7) (FOSSUM, 2014).
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Figura 6: Imagem retratando ultrassonografia de corpo estranho gástrico
Fonte: https://www.carolinacordeiro.com.br/post/corpo-estranho-g%C3%A1strico-no-ultrassom
Figura 7: Endoscopia na região gástrica demonstrando corpo estranho
Fonte:https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/bezoares-e-corpos-
estranhos/corpos-estranhos-intestinais-e-g%C3%A1stricos
2.5 Pré-operatório
Preferencialmente, todas as alterações metabólicas que o animal possua, devem ser
corrigidas antes da cirurgia e, estipula-se um jejum de aproximadamente 12 horas, apesar de
que muitas das vezes os animais submetidos a gastrotomia já apresentam anorexia devido a
obstrução gástrica (FOSSUM, 2014).
Deve-se realizar exame de radiografia imediatamente antes do começo da cirurgia
com o objetivo de verificar se houve ou não deslocamento do corpo estranho para o intestino.
Os antibióticos perioperatórios podem ser ministrados durante a indução e, ser continuados
por um intervalo de 12 em 12 horas (FOSSUM, 2014).
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2.6 Trans-operatório
Com o animal posicionado em decúbito dorsal e, com toda a região abdominal desde
o processo xifóide até o púbis depilada, realizar a antissepsia da área de maneira rotineira e
com produtos adequados, colocar pano de campo e fixá-lo ao animal por meio das pinças
Backhaus (Figura 8) (FOSSUM, 2014).
Figura 8: Imagem retratando animal devidamente posicionado com colocação de pano de campo e pinça de Backhaus e feita
antissepsia
Fonte: https://cirurgiavet.wordpress.com/tag/enterotomia/
Após o preparo da área a ser operada, utilizando-se de um bisturi, realizar incisão
vertical na linha média de maneira pré-umbilical, podendo ser necessário ampliar a incisão
caso haja a distensão do órgão. Após incisar pele e subcutâneo, divulsionar gordura
subcutânea e localizar a linha alba, elevá-la utilizando as pinças de Allis dispostas uma de
cada lado do abdome, fazendo uma pequena incisão com o bisturi na linha alba e peritônio e,
prolongá-la com uma tesoura Mayo, tendo acesso dessa forma à cavidade abdominal
(SLATTER, 2003).
Com a laparotomia feita, inspecionar todos os órgãos da cavidade abdominal, em
especial as alças intestinais, para verificar se houve deslocamento do corpo estranho. Expor e
isolar o estômago por meio de compressas cirúrgicas, para evitar contaminação da cavidade
pelo conteúdo estomacal. Posteriormente, utilizar suturas de apoio para auxiliar a
manipulação do órgão e evitar extravasamento (FOSSUM, 2014).
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Realizar uma incisão em área hipovascular na região ventral do estômago,
normalmente, entre as curvaturas maior e menor, com o cuidado de incisar longe da região do
piloro para evitar uma obstrução iatrogênica. Feita a incisão inicial com bisturi, a mesma deve
ser ampliada com tesoura Metzembaum, preferencialmente (Figura 9) (MONNET, 2020).
Com a realização da gastrotomia propriamente dita, utilizar um aspirador cirúrgico
para retirar o conteúdo estomacal com o objetivo de prevenir o extravasamento do mesmo
para o interior da cavidade. Feito isso, realiza-se a retirada do corpo estranho em sua
totalidade e segue-se com a gastrorrafia, com fio de sutura monofilamentar absorvível, do tipo
seromuscular, em dois planos, utilizando sutura de Cushing, que é um padrão de sutura
invaginante (Figura 9) (FOSSUM, 2014; SLATTER, 2003). Ato contínuo, posicionar o órgão
na cavidade e, prosseguir com a laparorrafia fazendo-se uso de fio inabsorvível,
monofilamentar sintético Nylon, de calibre proporcional ao porte do animal, com padrão de
sutura isolada ou contínua. A redução do espaço morto é feita por meio de fio de sutura
absorvível sintético seguindo padrão simples ou separado e, por fim, a dermorrafia, com
nylon, de calibre proporcional ao tamanho do animal, em pontos separados (FOSSUM, 2014).
Figura 9: Imagem retratando a realização da incisão gástrica (A), sua extensão com tesoura(C), e a realização da
gastrorrafia(C); (D).
Fonte: FOSSUM, 2014.
20
2.7 Pós-operatório
No pós operatório, o paciente, além de receber a antibioticoterapia, antinflamatório e
controle da dor, deve ser monitorado e receber hidratação por fluidoterapia, até que o memo
seja capaz de ingerir líquido. A correção eletrolítica deve ser feita, pois a hipocalemia costuma
estar presente em animais que apresentam vômito e anorexia (FOSSUM, 2104).
Iniciar com uma dieta leve 24 horas após a cirurgia, caso o animal não apresente
vômito, todavia, caso a êmese persista, torna-se válida a administração de antieméticos de
ação central, contudo, a alimentação sólida e líquida deve ser suspensa (SLATTER, 2003;
MONNET, 2020).
O prognóstico da cirurgia é favorável quando o órgão apresenta- se sem perfurações, caso
contrário o prognóstico é reservado (FOSSUM, 2014).
3. RELATO DE CASO
Foi atendido em uma clínica veterinária particular, localizada em Belém-PA um
canino, fêmea, 6 anos, raça Yorkshire Terrier, denominada de Cleo. O animal estava
apresentando vômitos frequentes, depressão e anorexia. Foi feita coleta de material
para exame de Hemograma, Bioquímica Sérica e solicitação de exames de imagem.
Após a realização dos exames de Ultrassonografia Abdominal e Raio-X, foi constatada
a presença de corpo estranho e possível intussuscepção intestinal (Figura 10).
Figura 10: Radiografia indicando corpo estranho radiolucente no lúmen gástrico no posicionamento ventro-
dorsal (A) e presença de estrutura filiforme e radiopaca no posicionamento látero-lateral (B).
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
A princípio, optou-se por um tratamento não invasivo com endoscopia (Figura
21
11), mostrando-se ineficaz para o caso, sendo então, indicada a realização da
gastrotomia, como protocolo de tratamento.
Figura 11: Imagem do procedimento de endoscopia, notando a presença do corpo estranho no lúmen gástrico, indicado pela
seta azul.
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
O procedimento foi realizado com o paciente sob fluidoterapia e pré-anestesia.
A indução com Propofol, a anestesia inalatória com Isoflurano e, anestesia epidural
com associação de Lidocaína e Cloridrato de Tramadol, com bolus de Fentanil ao
longo do procedimento. Foi feita uma incisão com bisturi na pele e tecido celular
subcutâneo, do tipo mediana, longitudinal, pré-retro-umbilical, até a visualização da
linha alba. Utilizou-se duas pinças de Allis, fixadas de cada lado da parede abdominal,
com o objetivo de levantá-la e realizar a laparotomia propriamente dita, através da
incisão com bisturi na linha branca e peritônio e, promover a visualização e exposição
adequada do órgão em questão. O estômago foi isolado dos demais componentes
abdominais para evitar a contaminação, utilizando-se compressas cirúrgicas
umedecidas em solução Fisiológica de Cloreto de Sódio (NaCl) com temperatura
semelhante a temperatura da paciente. Com duas pinças de Duval e compressas de
gaze para proteção tecidual, pinçou-se o estômago para auxiliar na manipulação e
ajudar a evitar o derramamento do conteúdo gástrico para a cavidade abdominal. Em
seguida, com bisturi, foi feita uma pequena incisão no lúmen gástrico, do tipo
22
longitudinal em uma área de baixa vascularização, entre as curvaturas maior e menor,
sendo ampliada com tesoura Metzenbaum, expondo o interior do estômago.
Posteriormente, inspecionou-se o órgão, removeu-se o corpo estranho, realizou-se a
exploração do intestino para a verificação da presença ou não de outros corpos
estranhos e certificou-se que o orgão apresentava-se livre e ausente de outras
estruturas estranhas. A gastrorrafia foi realizada com fio sintético de material
absorvível Poliglactina 3-0 em um padrão seromuscular de duas camadas invertidas,
incluindo a serosa, muscular e submucosa na primeira camada, padrão de Cushing e
em seguida, padrão Lambert, incorporando as camadas serosa e muscular. Antes do
fechamento da incisão abdominal, substituiu-se os instrumentos contaminados pelo
conteúdo gástrico, por instrumentais e luvas cirúrgicas estéreis. Ato contínuo, limpeza
do estômago com Solução Fisiológica de Cloreto de Sódio 0,9%, na temperatura
próxima a temperatura da paciente e retorno do órgão para sua posição anatômica. A
laparorrafia foi realizada com fio de Nylon 2-0, padrão Reverdin, redução de espaço
morto com fio de cat-gut cromado 2-0, padrão zigue-zague e, finalmente, dermorrafia
com fio de Nylon 2-0, padrão simples interrompido.
O corpo estranho removido tinha formato anatômico do órgão, com 10 cm de
diâmetro e, ao desfazê-lo, 50 cm de comprimento. O aglomerado era constituído por
fios de cabelo, pêlos, fio dental, pedaço de canudinho de plástico e goma de mascar
(Figura 12), possuía consistência firme com prolongamento filamentar passando para
o intestino, provocando espessamento da porção inicial do mesmo.
Figura 4: Conteúdo gástrico (corpo estranho), composto por mistura de cabelos, pêlos, fio dental, pedaço de canudinho de
plástico e chiclete.
Fonte: Arquivo pessoal do autor
23
A cirurgia transcorreu dentro dos parâmetros normais, sem imprevistos e, o
animal teve um pós-cirúrgico estável, o qual consistiu de antibioticoterapia a base de
Amoxicilina (10 mg/kg, de 12 x 12 horas/ 12 dias), Maxicam (0,1 mg/kg, de 24 x 24
horas/ 8 dias), Cloridrato de Tramadol (1mg/kg, de 8 x 8 horas/ 3 dias; depois, de 12 x
12 horas/ 3dias), dieta líquida por três dias, dieta pastosa durante cinco dias, seguida
de uma dieta seca e retirada dos pontos 12 dias após a cirurgia.
4. DISCUSSÃO
Os sinais clínicos apresentados pelo animal corroboraram com os mais
encontrados na literatura para a presença de corpo estranho gastroentérico (SOARES;
ANDRADE; PEREIRA, 2009; MUDADO et al., 2012). Raças de pequeno porte são
as que apresentaram maior casuística de obstrução gástrica por ingestão de corpo
estranho (GIANELLA; PFAMMATER; BURGENER, 2009; MUDADO et al., 2012)
e, Macambira et al. (2016), ainda relataram que raças Terrier tem maior incidência,
coincidindo com a paciente atendida, por se tratar de um canino da raça Yorkshire.
Animais jovens, com idade inferior a 5 anos também possuem alta casuística
de obstrução gástrica (MACAMBIRA et al., 2016), diferindo do caso relatado, que
possui 6 anos.
Nath et al. (2015) relataram ainda, que a presença de corpos estranhos pode
estar ligada ao hábito de alimentação indiscriminada, podendo estar relacionado a um
distúrbio de natureza etológica, causado pela necessidade de atrair a atenção do
proprietário pelo animal, levando assim, a um quadro de apetite depravado conforme
relatos de Dias et al. (2016). Situação que é comprovada neste relato pela tutora,
confirmando tal atitude da paciente em consumir os fios de cabelo que por ventura
encontravam-se pelo chão da residência. Após a retirada do corpo estranho do lúmen
gástrico, observou-se que o aglomerado consistia em uma mistura de cabelos, pêlos,
fio dental, pedaços de canudinho de plástico e chiclete, objetos predominantemente
lineares, também descrito por Fossum (2014) e, observado no estudo de Mudado et al.
(2012), que relataram serem os responsáveis por 70% dos casos de obstrução gástrica
e intestinal.
5. CONCLUSÃO
A obstrução gástrica é uma das principais problemáticas na clínica cirúrgica de
24
pequenos animais, em especial, acometendo em sua maioria, cães e gatos jovens,
podendo acometer animais mais velhos, causando, além da obstrução do órgão,
ruptura do estômago, irritação da mucosa gástrica, prejuízos intestinais com risco de
comprometer secundariamente outras funções do organismo.
É de suma importância, que o médico veterinário identifique a manifestação
clínica apresentada pelo paciente com obstrução gástrica por corpo estranho, bem
como, conhecimento da anatomia, fisiologia e da técnica cirúrgica para adquirir
aptidão a realizar tal procedimento, solucionando o problema mais rápido possível,
restabelecendo com eficiência a função normal do órgão e recuperando o bem-estar do
animal.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
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