Fundação Allan Kardec
Av. Mário Ypiranga Monteiro, nº 1507 - Adrianópolis
Manaus-Amazonas
CEP.69.057.002 – Fone: 92-3642-6638
Versão Preliminar
2
Dirigentes da Fundação Allan Kardec
Conselho Diretor
Área do Correio do Amor: Orlens da Silva Melo (Presidente)
Área de Estudos e Prática do Bem: Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre
(Presidente Substituto)
Área de Mediunidade e da Arte: Marcellus José Barroso Campelo
Área de Acolhimento e Assistência Espiritual: Martim Afonso de Souza
Área de Trabalhador e Família: Terezinha de Jesus Vieira Lima
Área de Administração e Comunicação: Francisco Venâncio de Vasconcelos
Área de Acolhimento e Assistência Espiritual
Diretoria de Acolhimento (DA): Santa Maria Oliveira de Melo (Diretora) e Lucia Alves
da Rocha (Vice-Diretora)
Diretoria de Atendimentos Urgentes (DAU): Mirleide Nóbrega dos Santos (Diretora) e
Maria Izabel do Nascimento de Moura (Vice-Diretora)
Diretoria de Assistência Espiritual Infantil (DAEI): Sonia Maria Mendes Cancela
(Diretora) e Rair Silva de Souza Moura (Vice-Diretora)
Diretoria de Apoio a Melhoria Interior (DAMI): Mônica Barroso Martins (Diretora) e Ivo
Célio da Silva Lobato (Vice-Diretor)
Diretoria de Apoio Mediúnico aos Assistidos (DAMA): Tânia Socorro da Silva e Silva
(Diretora) e Natália Menezes Vieira (Vice-Diretora)
Área de Estudos e Prática do Bem
Diretoria de Estudos Doutrinários (DED): Fátima Maria da Costa Castro (Diretor) e
Bartolomeu Pereira da Silva Júnior (Vice-Diretor)
Diretoria de Evangelização Infanto-Juvenil (DEIJ): Célia Regina Carrara da Cunha
(Diretora) e Janara de Jesus Machado (Vice-Diretora)
Diretoria de Apoio ao Exercício do Amor (DAEA): Ana Maria dos Santos Andrade
(Diretora) e Nilza Souza Reis (Vice-Diretora)
Área de Trabalhador e Família
Diretoria de Apoio ao Trabalhador (DAT): Maria Eloisa da Silva Vieira (Diretora) e
Damiana Paixão da Silva (Vice-Diretora)
Diretoria de Apoio a Família (DAF): Márcia Maria Nunes Montenegro (Diretora) e
Márcia Suely Antunes D‘Assumpção (Vice-Diretora)
Área de Mediunidade e da Arte
3
Diretoria de Arte (DART): Tânia dos Santos Melo (Diretora)
Diretoria de Provisão de Recursos Mediúnicos (DPRM): Maurisérgio Ferreira de
Aquino (Diretor)
Área de Administração e Comunicação
Diretoria de Administração e Patrimônio (DAP): Edson Cesar Cunha de Oliveira
(Diretor) e Tulio Condé Duarte da Silva (Vice-diretor)
Coordenação da Livraria: Keila dos Reis Barreto Gonçalves
Núcleo de Comunicação Interna (NCI): Naíra Gonzaga Araújo de Andrade
Conselho de Representantes
Presidente: Orlens da Silva Melo
Vice-Presidente: Gustavo Rebouças de Lima
Membros: Francisco Oliveira Pinheiro, Francisco Venâncio de Vasconcelos, Gean
Peixoto da Silva, Gustavo Rebouças de Lima, Henrique de Araújo Martins, Isis de
Araújo Martins, Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre, Marcellus José Barroso
Campêlo, Maria Fabrício da Silva, Martim Afonso de Souza, Orlens da Silva Melo,
Raimundo Martins Ferreira, Rodrigo de Oliveira Junqueira, Sheyla Maria Soares
Sobreira, Silvio Romano Benjamim, Terezinha de Jesus Vieira Lima, Valdemir de
Carvalho Barros e Valmir Cesar Pozzetti.
APRESENTAÇÃO
O Simpósio FAK, iniciado em 2009, consolidou-se como um evento ordinário
bianual da Fundação Allan Kardec, o qual visa a abrir um espaço de compartilhamento
de conhecimentos obtidos por meio da realização de pesquisas sistematicamente
aprofundadas a cada edição1.
Embora mantendo a essência do propósito original, à cada edição o evento
incorporou ajustes quanto a vários aspectos, indicados a seguir:
a. Quanto à sua inserção à dinâmica institucional regular - nas duas primeiras
edições (2009 e 2011) o evento situou-se como item da área organizacional dedicada
ao apoio aos trabalhadores; em 2013 tornou-se um item da agenda da direção geral
da instituição; em 2015, em razão de mudança estatutária ocorrida em 2014, o
evento passou a ser uma atribuição da área de gestão específica da estrutura
institucional denominada “Correio do Amor”, cuja finalidade geral é “a ampliação
da comunhão com os propósitos espirituais da instituição, tal como devem ter sido
formulados pelos seus responsáveis espirituais”; em 2017, o evento consolidou-se
como compromisso de toda a instituição, mobilizando, sob a coordenação direta do
Presidente do Conselho Diretor - que é também responsável pelo Correio do Amor -
todas as unidades da estrutura organizacional e ensejando o advento de várias
comissões e equipes responsáveis pelos diversos aspectos de sua realização;
b. Quanto às atividades agregadas à agenda do simpósio – em todas as edições
foram realizadas, aproveitando-se o ensejo do simpósio, atividades especiais,
variadas a cada ano, como pré-eventos (encontro ecumênicos, conferências,
lançamento de livros, etc.), como paralelas ao evento (exposição de fotografias, de
pôsteres, etc.) e como pós-evento (edição de anais, produção de material
audiovisual relativo ao evento, etc.). Como agenda adicional às apresentações dos
artigos, em 2011 e 2013 foram agregadas exposições sobre “relatos de vivências” e
em 2015, esses relatos foram apresentados apenas em exposição paralela de
audiovisuais; em 2017, em razão de mudança em experimentação para possibilitar
aos autores incluir o aprendizado sobre si próprio no artigo produzido, não
houve agregação adicional na agenda de apresentação dos artigos;
c. Quanto as motivações associadas à produção dos artigos – em 2009, o
propósito precípuo da produção dos artigos era avaliar se os trabalhadores da
instituição eram capazes de produzir trabalhos escritos sob metodologia de pesquisa
e redação tecnicamente embasadas; em 2011 e 2013, a motivação para os trabalhos
de pesquisa foram mantidas, mas buscou-se agregar, com os relatos de vivência,
um espaço para possibilitar o compartilhamento das realizações do coração e
experiências do sentimento, em face da constatação que era necessário evitar a
sedimentação de pretensões meramente intelectuais; em 2015, foram feitas
avaliações sobre os artigos produzidos até a data e percebeu-se que o viés apenas
acadêmico parecia ganhar curso e, por isso, em 2017, buscou-se reorientar as
motivações para possibilitar ao articulista utilizar a produção do artigo como
oportunidade para, ao tempo em que produz conhecimento sistematizado, refletir
sobre si mesmo, agregando-se como imprescindível no conteúdo a feitura do artigo
uma seção denominada “o que aprendi sobre mim mesmo”, a ser mais adiante
referida;
d. Quanto à maturidade da agenda de temas para orientar a produção de
artigos – em 2009 a estruturação da agenda indicou apenas o tema central e
subtemas - primórdios das ações espiritistas nas terras amazônicas, Espiritismo nas
terras amazônicas na atualidade e compromissos iluminativos - com as ideias gerais
do que se esperava de cada um; em 2011, a estruturação da agenda manteve a
5
essência, mas detalhou os subtemas com extenso rol de assuntos indicados como
relevantes para serem pesquisados, incluindo-se um item específico sobre o papel da
FAK em relação ao movimento espírita regional; em 2013, a estruturação adotada
consolidou-se sobre as ações espiritistas dos primórdios desse movimento, sobre
as práticas espiritistas do presente e sobre as perspectivas futuras; em 2015, a
agenda de tema manteve-se mas, em razão da necessidade de viabilizar a inserção,
de forma natural, de participantes oriundos de qualquer instituição, de qualquer
estado da região, constatou-se ser relevante ajustar a estruturação geral dos temas,
subtemas e assuntos, pois embora se pretendesse ter por referência a Amazônia, boa
parte destes referiam-se sobre o Estado do Amazonas; em 2017, embora mantida a
essência, a agenda de temas tornou-se efetivamente abrangente para qualquer
instituição, de qualquer estado da Amazônia e focando qualquer tema relacionado,
não apenas com o movimento em si, mas sobretudo com a atuação dos espíritas na
região, isto é, suas buscas do ontem e do hoje, e suas intenções em relação ao futuro
e, neste aspecto, as percepções dos espíritas em relação aos vínculos do Espiritismo
com o Cristianismo .
Assim, a partir do tema central “Espíritas na Amazônia” são desenvolvidas
pesquisas visando trazer à tona “suas buscas”, tanto “nas realizações do passado e do
presente” como “nas motivações para o futuro”. Essa abordagem é uma atualização do
que antes era tratado como “origens”, “realizações” e “compromissos” do movimento
espírita amazônida, pois o foco deixou de ser o movimento em si, passando a ser os
espíritas e o móvel de suas buscas no ontem, hoje e suas intenções em relação ao futuro.
Sob o eixo “origens”, busca-se revelar a identidade dos trabalhadores pioneiros e as
características de suas atuações em um movimento espírita iniciante no seio da
Amazônia; sob o eixo “atualidades”, busca-se refletir acerca das atividades realizadas
em passado recente e na atualidade, visando a ensejar a troca de experiências e
aprendizados; sob o eixo “desafios futuros” busca-se investigar percepções sobre como
efetivar o conhecimento espírita em prol da transformação moral dos indivíduos e das
coletividades, incluindo o realce das propostas originais do Cristianismo.
Sendo um evento da agenda interna institucional, o simpósio tem como
destinatários fundamentais os próprios trabalhadores e estudantes da casa. Porém, pela
natureza e propósitos do mesmo, sua realização constitui-se em oportuna ocasião para
participação de outros interessados. Nesse sentido, a agenda de temas passa a
comportar, de forma natural, a participação de qualquer integrante de instituição
espírita, de qualquer estado amazônico, sendo todos bem-vindos, sem restrições, como
ocorre com todos os eventos da instituição, pois entende-se que a troca de
conhecimentos e experiências fortalece a ação conjunta no bem e fortalece a união em
torno do ideal espírita.
Para a instituição em si, o simpósio tem sido um instrumento viabilizador do
acesso às matrizes espirituais do planejamento institucional, por meio da pesquisa séria
e sistematizada focada nas necessidades de adequação da instituição, frente aos
compromissos de seus trabalhadores. Os artigos elaborados passaram a ser entendidos
como notícias do planejamento espiritual, produzidas pelos próprios trabalhadores,
passíveis de serem utilizadas como fonte de informação para avaliar a harmonia entre o
planejado (projeto espiritual) e o realizado (ações no plano físico). Os resultados
concretos das pesquisas e análise geram subsídios para aperfeiçoar a realização de suas
atividades e para descortinar melhor os compromissos da instituição perante o
Movimento Espírita e a sociedade em geral nas terras amazônicas.
Em decorrência dessa percepção, entendeu-se oportuno estabelecer como um dos
frutos do simpósio identificar, por meio da investigação de toda a produção já realizada,
6
os efeitos virtuosos na comunidade interna, no sentido de ampliar a vivência da
solidariedade fraternal orientada pelo Cristo no “amemo-nos uns aos outros”, que
obviamente, sendo a mensagem essencial, haverá de ser o maior objetivo no
planejamento espiritual de qualquer instituição cristã na Terra.
Para melhor registrar a produção obtida nos diversos aspectos de realização do
simpósio, estes anais estão estruturados da seguinte forma: a reprodução dos trabalhos
apresentados no evento; o Termo de Referência e o texto “Tópicos para orientação dos
articulistas” que orientou a participação de todos na realização do Simpósio. Estão
reproduzidos também a identidade visual do evento, o Boletim Informativo N.º 1, o
Slide mestre do VI Simpósio FAK, a Programação Geral das Apresentações e os textos
artísticos usados nas sessões de abertura e de encerramento do evento. Estes Anais,
portanto, buscam lembrar o que foi o VI Simpósio FAK e renovar o convite à
participação efetiva na construção de um mundo melhor.
Orlens da Silva Melo
Coordenador Geral
ÍNDICE
Apresentação 04
1. Primórdios da ação espiritista nas terras amazônicas 09
1.1 Vultos históricos da ação espiritista amazônica 11
1 As Pioneiras: A Atuação Feminina nos Primórdios do Espiritismo 11
no Amazonas (Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre e Lenara
Barros Muniz de Paula Nunes )
2 Antonio José Barbosa: O Nobre Militar que se tornou pioneiro do 32
Espiritismo no Amazonas (Lenara Barros Muniz de Paula Nunes)
3 Marcellino Queiroz: Dinamizador do Projeto do Hospital Espírita 48
―Allan Kardec‖ (Santa Maria de Melo)
4 Luiz Facundo do Valle: Um Bom Companheiro na Vida e na Fé 59
(Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre)
5 João Facundo do Valle: Notícias de sua atuação no Movimento 93
Espírita Pioneiro (Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre)
6 Emília Freitas e Arthunio Vieira: A Missão emcomum na Amazônia 107
(Roberio dos Santos Pereira Braga)
7 Felix Luiz de Paula: Propagandista dos primórdios do espiritismo 144
no Amazonas (Isis de Araujo Martins)
2 O Espiritismo nas terras amazônicas na atualidade 161
2.1 A FAK, suas circunstâncias e seu papel junto ao Movimento 162
Espírita.
O Passe como Tratamento Espiritual do Trabalhador: Equilibrando 162
as energias dos chackras, através do desenvolvimento da virtude
8 do amor (France Luce Gonçalves de Souza)
Perfil de busca dos adultos e idosos assistidos na Fundação Allan 173
Kardec, no período de fevereiro a junho de 2017 (Lúcia Alves da
9 Rocha)
A Arte Espírita como Instrumento de Evangelização do Ser: Das 187
10 nuvens brancas à DART (Samantha Oliveira Gomes da Silva)
Um Conjunto de Benefícios para um Conjunto de Beneficiados 209
(Nilza Souza Reis e Odécio Dandaro Junior)
11
Liderança com Confiança: a Obra é do Cristo (Tânia Santos de 217
12 Melo)
Prática do Evangelho no Lar á Luz da Doutrina espírita: um 222
recurso iluminativo para as famílias e aos trabalhadores da FAK
13 (Andréa Maciel Schussler e Jocelyn Nascimento das Chagas )
Apoio Mediunico a Melhoria Interior: Reflexões sobre as Diretrizes 237
de Funcionamento na FAK (Francis Eduardo Sgarbi e José
14 Laurindo Campos dos Santos)
A FAK como Instrumento deTransformação do Homem no Mundo 246
15 de Regeneração ( José Luiz Camacho)
3 Compromissos iluminativos 257
3.1 Consequências do conhecimento espírita 258
8
Desafios do Jovem Espirita na Atualidade (Maria Eduarda 258
Machado Parente)
16
Apresentando um Caminho que Conduz a Felicidade Suprema 264
(Raimundo Martins Ferreira)
17
Interrelações entre o Aurodescobrimento possibilitado pela 272
Meditaçaõ e o Exercício da Mediunidade (Jefferson Rebello
Pimentel e João Carlos dos Santos Júnior)
18
Meditação (Re)Conhecendo sua Potência para os propósitos do 282
Ser Imortal (Ana Kalina Moura de Paula e Jefferson Rebello
Pimentel)
19
Porque ainda receio deixar o Mundo? A visão Espirita das causas 295
20 do temor da Morte (Morgana Pereira Filgueiras)
O Evangelho Segundo o Espiritismo e a revista espírita: Há 305
21 muitas moradas na Casa do meu Pai (Maria Luiza da Cunha Reis)
Overview de Artigos: Síntese das reflexões sobre os Aspectos 315
Gnosiológicos e Epistemológicos do Espiritismo (Alessandra dos
Santos Pereira)
22
Intolerância, seu significado e libertação (João Carlos dos Santos 321
Júnior)
23
Viajores do Grande Rio (Bartolomeu Pereira da Silva Júnior) 330
24
O que Aprendi escrevendo o artigo ―A importância da autonomia 334
na emancipação do ser‖ (Iolete Ribeiro da Silva)
25
3.2 Reforma íntima e regeneração social 341
A Atuação do espírita na Sociedade: Uma Reflexão à Luz da 341
26 Doutrina Espírita e da Realidade (Anna Beatriz de Araújo Nobre)
A Contribuição das Quatro Edições do Simpósio FAK para o 359
Autoconhecimento e Percepção da Missão Individual (Martim
27 Afonso de Souza)
Atando laços sobre os ombros alheios: reflexões de um pretenso 365
28 orientador (José Alberto da Costa Machado)
O que Aprendi escrevendo o artigo ―A educação das emoções e o 373
autoconhecimento: caminhos do aprimoramento espiritual‖
29 (Claudia Aparecida Pinheiro Soligo)
Reflexões sobre o pensamento como agente fundamental na 381
qualidade da psicosfera física e espiritual (Andréa Maciel
30 Schussler e José Laurindo Campos dos Santos)
3.3 Transição planetária e compromissos iluminativos 397
Transição Planetária, Pensamentos e Percepções, Conduta e 397
Mediunidade (João Carlos dos Santos Jr.)
31
4. Anexos 406
9
Anexo 01 Termo de Referência do 5º. Simpósio FAK 407
421
Anexo 02 Boletim Informativo No. 1
Anexo 03 Tópicos para orientação dos articulistas 424
Anexo 04 Slide mestre V Simpósio FAK 428
Anexo 05 Programação Geral das Apresentações 430
Anexo 06 Texto de Abertura do V Simpósio FAK “O Grande Estudo” 435
Texto de Encerramento do V Simpósio FAK “Motivações para 447
Anexo 07
o Futuro”
10
1. Primórdios da ação espiritista
nas terras amazônicas
11
1.1 Vultos históricos da ação espiritista amazônica
AS PIONEIRAS: A ATUAÇÃO FEMININA NOS PRIMÓRDIOS DO
ESPIRITISMO DO AMAZONAS
Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre1
Lenara Barros Muniz de Paula Nunes 2
INTRODUÇÃO
Os primórdios do Espiritismo no Amazonas, que remonta sobretudo
a data de criação do Centro de Propaganda Spirita, em 1884, traz em seu bojo
diversos trabalhadores abnegados, espíritos cujos nomes vêm tornando-se
conhecidos ao longo dos anos, sobretudo a partir das pesquisas iniciadas por
Samuel Magalhães, no ano de 2003.
Com exceção de Anna Prado e Emília Freitas – já conhecidas pelos
espíritas brasileiros, a partir dos trabalhos realizados por Samuel Magalhães e
Luciano Klein – não temos, até então, uma análise descritiva e analítica da
atuação das ―mulheres pioneiras‖ no Amazonas.
Assim como os pioneiros já trazidos a lume em outros Simpósios da
Fundação Allan Kardec, constata-se que elas também deram seu óbolo de
amor e dedicação para o estabelecimento e manutenção da Doutrina Espírita
nestas plagas.
Sendo assim, o presente trabalho se propõe a apresentar uma
extensa lista das mulheres que atuaram no início tão pujante deste Movimento
Espírita, ao qual hoje estamos enfileirados; bem como se propõe a apresentar
também uma breve análise dessa ação. Para tanto, enveredamos em pesquisa
documental e bibliográfica, delimitando como espaço de tempo a ser
pesquisado os anos entre 1884 a 1919, por ser um período de tempo cujos
registros históricos já são conhecidos.
Servem-nos como principal fonte de consulta na pesquisa histórica
do Espiritismo do Amazonas: O Estatuto da Sociedade de Propaganda Spirita;
os Jornais ―Mensageiro‖ (Ano 1 e 2), ―O Guia‖, ―O Semeador‖; o 1.º Livro de
Atas da Federação Espírita Amazonense - FEA (de 1904 à 1919); o 1.º
Estatuto da Federação Espírita Amazonense, de 1904; o Estatuto da
Federação Espírita Amazonense, do ano de 1919; o Estatuto do Grupo Spirita
Jesus Christo, de 1901, e o Opúsculo sobre a História do Espiritismo do
Amazonas escrito por José Cunha Campos. Também foram utilizados jornais
históricos disponíveis na Hemeroteca Digital Brasileira.
1
Trabalhadora da Fundação Allan Kardec, atualmente na condição de Vice-presidente da Área
de Estudos e Exercício do Bem.
2
Trabalhadora da Fundação Allan Kardec, atualmente na condição de Evangelizadora da
Diretoria de Infância e Juventude – DEIJ.
12
1. DESENVOLVIMENTO
Como já comentado anteriormente, duas mulheres pioneiras com
atuação conhecida no Amazonas já despontaram em cenário nacional: Anna
Prado e Emília Freitas. As duas, ainda que com atuação em outros estados
brasileiros, deram sua contribuição ao Movimento Espírita do Amazonas.
Anna Prado (1883 - 1923), que até o trabalho de Samuel Magalhães
(2012) era tida como paraense (FARIA, 1921 apud MAGALHÃES, 2012), era
natural da cidade de Parintins (AM) e foi uma devotada trabalhadora da
mediunidade:
Anna Rebello Prado, médium de excepcionais dons e assombrosos efeitos,
foi a grande pioneira dos fenômenos de efeitos físicos no Brasil. Suas
extraordinárias manifestações mediúnicas, atingindo larga repercussão
internacional, consagraram-na como ícone mundial da mediunidade. A
simples leitura dos relatos de suas atividades nessa área revela o porquê da
notoriedade que alcançou. O intenso esplendor de suas manifestações
mediúnicas, raramente igualado na história do moderno espiritualismo,
indica a grande importância que estas tiveram e têm para o entendimento
do processo de comunicabilidade dos Espíritos‖ (MAGALHÃES, 2012
p.300).
Sua biografia ampla e completa está no livro do autor supracitado,
publicado pela Federação Espírita Brasileira, no ano de 2012, intitulado ―Anna
Prado, a mulher que falava com os mortos‖, razão pela qual não nos
alongaremos em reapresentá-la neste trabalho.
Também citamos Emília Freitas, natural do Ceará e atuante no
Amazonas e Pará, com importante representatividade espírita nos três estados,
mais reconhecidamente neste último, ao lado de seu esposo Arthunio Vieira.
Sua presença no espiritismo, já pesquisada pelo historiador espírita Luciano
Klein, terá importantes dados acrescentados neste V Simpósio em artigo
escrito por Robério dos Santos Pereira Braga. Basta registrar que ela era
professora, escritora, jornalista e poetisa; e sendo objeto de pesquisa no
campo da literatura (OLIVEIRA, 2007) foi descrita como ―escritora abolicionista,
republicana e espírita‖. Sua partida para a pátria espiritual, ocorrida em
Manaus, foi registrada em ata da FEA, demonstrando a sua importância para o
Movimento Espírita, apesar da estranheza causada pelo fato do seu nome não
ser citado e ainda pelo reconhecimento do seu trabalho apenas no Pará.
[...] O irmão presidente communicou ter falecido nesta cidade uma irmã que
muitos serviços prestou a doutrina, no Estado do Pará, colaborante até em
um pequeno jornal de propaganda Espírita, fundado por seu marido
Arthunio Vieira, e propôs que fosse inserido na acta um voto de saudade
pelo desaparecimento dessa irmã do nosso meio material, sendo aprovada
essa resolução foi lavrado o seguinte voto de saudade: Esta Federação
cheia de saudades pela desencarnação daquella que foi esposa do nosso
irmão Artunio Vieira deixa neste sincero voto, a expressão de seu sentir, ao
mesmo tempo alegre por saber, que mesmo no espaço ella será mais uma
auxiliar dedicada e activa para os nossos trabalhos (FEDERAÇÃO,1908, p
108).
Outras mulheres que já foram apresentadas no resumo histórico
elaborado pelo confrade José Cunha Campos, no opúsculo ―História do
Espiritismo no Amazonas‖, são as que aparecem num registro no dia 25 de
13
outubro de 1989, no primeiro livro de atas do Grupo Espírita ―Filhos da Fé‖, de
uma sessão inaugural para o desenvolvimento de médiuns. Tal ata não foi
acessada pelas autoras e apenas registramos aqui, reproduzindo a informação
de Campos. Na ocasião, destacam-se o nome de Leonarda Amélia Malcher e
Dyonisia Monteiro.
O ―Filhos da Fé‖ funcionava na residência de Leonardo Malcher,
localizada na Rua 24 de Maio, onde hoje encontra-se o Edifício Cidade de
Manaus (CAMPOS, 1984). Leonarda Amélia era filha adotiva de Malcher, e
desencarnou em 1894 (PEIXOTO, 2015). Casou-se no ano 1890, com o
coronel José Cardoso Ramalho Junior, que foi governador do Amazonas e de
cuja união nasceu Judith Margarida Ramalho Malcher. Já sobre Dyonisia
Monteiro, não foi encontrado nenhum outro dado que pudesse ser
acrescentado.
Apresentaremos agora, os nomes das pioneiras que se destacaram em
suas atuações e de outras que apenas tiveram os seus nomes registrados,
mas que indicam ter sido um fato concreto a participação feminina no alvorecer
no Movimento Espírita nestas terras amazônicas.
1.1 Mulheres que atuaram na Federação Espírita Amazonense
a) Firmina Josephina Fontenelle da Silva
Filha de Ernestina Laudelina Fontenele e Bento Ferreira de Souza; teve
como irmãos Zeferino, Bento, Amaro e Carolina (CARVALHO, 2009). Nasceu
no estado do Piauí (MAGALHÃES, 2004), no dia 20 de março do ano de 1854,
uma vez que na coluna Profalças, do periódico Quo Vadis?, temos a alusão ao
seu natalício de meio século:
Meio século de existência consagrada ao bem, completa hoje a exma. sra.
d. Firmina Fontenelle da Silva, esposa do estimado sr. Joao Antonio da
Silva, um dos ornamentos da sociedade amazonense (MEIO SÉCULO,
1904, p 2).
Casou-se com João Antonio da Silva, provavelmente no ano de 1868 [?],
aos 14 anos de idade, com quem conviveu por 62 anos (MAGALHÃES, 2004).
Tiveram 10 filhos: Arya Firmina, Jonas, João, Joel, Rosa Firmina (morreu
criança), Raymundo Nonato, Isabel Firmina, Nahim [Nahum3], Rosa Firmina
Fontenele da Silva e Maria Firmina (CARVALHO, 2009). De acordo com Nobre
(2015), foi encontrado ―em 17 de maio de 1906, [...] a convocação para a
perpetuação das sepulturas; e, com o registro de óbito n.º 11.154, do ano de
1900 [...]‖, de Edwiges Amélia da Silva, filha de José Antonio da Silva. Esta
informação, não aparece registrada no ―Grande livro da Família Fontenelle‖
(CARVALHO, 2009).
Ao lado do esposo, que foi o primeiro presidente da FEA (NOBRE,
2015), teve uma profícua presença no Movimento Espírita, estando presente
desde as sessões preparatórias para a inauguração da Federação. Na
3
O Mensageiro n.º 7, fez um belo relato sobre a desencarnação de um filho de João Antonio, como
o nome de Nahum da Silva, aos 14 anos, vítima de doloroso padecimento (Mensageiro, 1 Abr
1901, ed 7, anno I, p 3).
14
Federativa, teve uma intensa atuação, iniciada no ano de 1906, como membro
da Comissão de ―Assistência aos Necessitados‖. No mesmo ano, em
substituição, assumiu a função de 2.ª tesoureira da FEA, responsável pela
referida comissão, cargo para o qual foi reeleita até o ano de 1914
(FEDERAÇÃO, 1906a; 1907a; 1908; 1909; 1910; 1911; 1912; 1913; 1914).
Imbuída de prestar apoio às pessoas carentes, além das atividades na
referida Comissão, ela também fazia doações de cunho pessoal. Em uma
reunião da diretoria da FEA, Firmina ―pediu autorização para no dia 8 de
dezembro de 1906, distribuir no Templo da Verdade, alguns óbolos de cem mil
reis cada um, [...] em benefício de sua filha já desencarnada, Isabel da Silva
[...]‖ (FEDERAÇÃO, 1906b).
De acordo com Magalhães (2004), Firmina desencarnou em 22 de
agosto de 1931. Esta data é confirmada pelo registro no Cemitério São João
Batista, na cidade de Manaus, Amazonas, no qual registra como causa mortis
―arteriosclerose‖ estando enterrada na sepultura de número 28.155, na quadra
11.
b) Arya Firmina da Silva Paula
Filha primogênita de João Antonio da Silva e Firmina Josephina
Fontenelle da Silva, casou-se com Felix Luiz de Paula [irmão de Carlos
Theodoro Gonçalves, segundo presidente da FEA], com quem teve 12 filhos.
Ficou viúva no dia 06 de novembro de 1917, com 10 filhos vivos, de idade entre
16 anos e 6 meses de vida: Samuel, Joaquim, Nahura, Judith, Hilda, Bebê,
Jeronymo, Felix, João e Daisy [a segunda] (AS QUATRO, 1917; ESPARSAS,
1917). Ticiano e Daisy [a primeira, nascida em 12 de fevereiro de 1914] já
tinham falecido por ocasião da morte do pai (NECROLOGIA, 1910; MANÁOS,
1914a).
Na vida profissional atuou como educadora, sendo diretora da Escola
Publica Mixta da Estrada Silvério Nery (QUADRO, 1903) e do Grupo Escolar
Francisco Antônio Monteiro, localizado na Vila Municipal (PELA DIRECTORIA,
1904), onde trabalhou, ao lado de Emília Freire, como Diretora.
No Movimento Espírita, foi membro do corpo docente do ―Curso Nocturno‖,
como professora de português primário. Como a mãe, Arya também atuou como
2.ª Tesoureira da FEA, coordenando a Comissão de ―Assistência aos
Necessitados‖, na gestão do seu cunhado Theodoro, entre abril de 1915 a março
de 1916 (FEDERAÇÃO, 1915). Também atuou como médium no ―Gabinete de
Receituários Mediúnicos‖.
c) Dorvalina Baptista Granjeiro
Nasceu no dia 07 de Agosto e supõe-se ser natural do Amazonas
(CHRONICA, 1917). Os registros sobre o seu esposo e sobre o seu genitor
encontram-se na seguinte notícia:
Realizou-se hontem as dezessete horas nesta capital, o enlace matrimonial
do sr. Francisco de Matos Granjeiro com a professora normalista da capital,
senhorita Dorvalina Baptista, filha do falecido coronel Luiz Anselmo
Baptista. O acto civil como reliogioso foi paranymphado, por parte do noivo,
pelo commandante Raymundo Felix de Miranda e sua esposa d. Amelia
Silveira Bonates de Miranda e, por parte da noiva, pelo desembargador
15
Bonifácio de Almeida e pela sua esposa, d.Izabel Granjeiro de Almeida‖
(MANAOS SOCIAL, 1920).
Filha de Luis Anselmo Baptista e de dona Virginia Barroso Baptista; tinha
quatro irmãos: Nilo do Amazonas Barroso Baptista, Sebastião Norberto
Baptista, Mileto Anselmo Baptista e D. Julia Baptista. No ano de 1922, tornou-
se mãe de uma menina chamada Virgínia (O SR. 1922; OS MORTOS,1918).
Na sua formação, estudou música, sendo aprovada com distinção nos
exames de teoria musical e solfejo (ACADEMIA,1900; DORVALINA,1942). Em
contraponto a delicadeza do canto, Dorvalina foi citada como participante do
torneio de tiro ao alvo com carabina Winchester, sendo a segunda colocada
(DERBY CLUB,1910). Concluiu seus estudos no ano de 1909 (MENSAGENS,
1910), tendo para isso cumprido estágio obrigatório no Grupo Escolar José
Paranaguá (O SR. DR. DIRECTOR, 1909), para onde foi apresentada nos
seguintes termos:
A 19 de janeiro d‘este anno foi por esta directoria, mandada fazer o estagio
n‘este grupo escolar a quarta annista da Escola Normal, d. Dorvalina
Baptista que tem se conservado ate hoje e tem mostrado assiduidade
verdadeira e muito amor a causa do ensino. (Relatorio do Grupo escolar
Jose Paranagua, apresentado ao Director Geral da Instucção Publica, em
23/05/1910, assinado por Ursula Monteiro Machado – Diretora em
Comissão)
Como professora normalista, foi diretora do Grupo Saldanha Marinho em
1911 (ASSUMIU, 1911) e atuou no Grupo Gonçalves Dias onde também foi
diretora (O SR. DR.,1918).
No anexo número 09, do documento ―Relatórios dos Presidentes dos
Estados Brasileiros (AM)‖ do ano 1913, encontra-se o quadro de matrículas,
frequência e resultados dos exames dos alunos das escolas públicas primárias
da cidade de Manaus, relativo ao ano de 1913.
Compôs banca examinadora do grupo escolar Antonio Bittencourt no
ano de 1912 e no ano de 1917 no conceituado colégio N. Sra. do Carmo
(EXAMES, 1912; 1917), ano no qual também aparece solicitando da Instrucção
Publica informação sobre o seu tempo de serviço no magistério público
(DORVALINA, 1917) e participando de manifestação do magistério público ao
Governador Pedro de Alcântara Bacellar, em agradecimento a nomeação do
Dr. Araújo Lima para dirigir a Instrução Publica, promovendo o seu progresso
de acordo com as modernas técnicas pedagógicas (MANIFESTO, 1917), o
que sugere seu forte vínculo com a causa educacional.
A partir do ano de 1925, são publicadas notícias de pedidos de licenças
médicas (VARIAS, 1925; 1926; 1928). Da seguinte notícia: ―Dona Dorvalina
Baptista de Mattos Granjeiro, professora do Grupo Escolar Jose Paranaguá,
solicitou sua aposentadoria no referido cargo, em vista do ―seu precário estado
de saúde‖, publicada no Jornal do Comércio de 1938, pelas precárias
informações não é possível estabelecer uma hipótese para a data de sua
desencarnação.
Sua atuação no Movimento Espírita parece ter iniciado em 1913 quando
foi membro da ―Comissão de Assistência aos Necessitados‖ (FEDERAÇÃO;
1913; VARIAS, 1913). Em 1915, foi primeira secretária da FEA
16
(DIRECTORIA,1915) e no ano seguinte, 1916, foi 2.º tesoureira (FEDERAÇÃO,
1916; 1917; DIRETORIA, 1916). Em 1918 foi novamente membro da Comissão
de Assistência aos Necessitados (FEDERAÇÃO, 1918a; VARIAS NOTAS,
1918). Sua mãe Virgínia e o seu irmão Nilo Baptista também atuaram na FEA.
d) Aurora dos Santos Castro
Filha de Manoel dos Santos Castro, terceiro presidente da FEA, e da
sra. Joanna Martins de Castro. Fazia aniversário no dia 19 de outubro
(PROFALÇAS, 1903). Aparentemente tinha dois irmãos: Kardec e Ernesto.
A jovem Aurora tinha uma vida social ativa, pois ao lado de outras
senhoritas, fazia parte da comissão de recepção em eventos promovidos pelo
Grêmio Familiar Amazonense, como a festa em homenagem aos ilustres
amazonenses dr. Jorge de Moraes e Heliodoro Balbi, nos salões do Club
Internacional (GREMIO FAMILIAR, 1911); e um baile realizado nos salões do
Palácio do Governo em homenagem a esposa do Coronel Rego Barros
(GREMIO FAMILIAR, 1912).
Junto com a sua genitora foi inscrita como sócia da Sociedade
Cosmopolita de Benefícios Mútuos Previdente Amazonense, criada pelo Centro
Espírita Vicente de Paula (CENTRO, 1906; SOCIEDADE, 1906a).
Foi membro da Comissão de Assistência aos Necessitados da FEA de
1906 a 1910 (FEDERAÇÃO, 1906a; 1907a; 1908; 1909; 1910) e é possível
constatar sua atuação como trabalhadora na mediunidade já em 1905.
e) Adelaide do Nascimento
Era filha de Perciliana Maria do Nascimento. Sua presença no
Movimento Espírita é constatada desde a segunda e a terceira sessão
preparatória para criação da Federação Espírita do Amazonas, em 10 de
Janeiro de 1904 (FEDERAÇÃO, 1904b) e esteve na FEA desde a Inauguração
da sede histórica da FEA, o ―Templo da Verdade‖, em outubro 1904. Também
foi encontrada como membro da Comissão de Assistência aos Necessitados,
na qual atuou por dez anos, no período de 1907 a 1917 (FEDERAÇÃO, 1907a;
1908; 1909; 1910; 1911; 1912; 1913; 1914; 1916; 1917; DIRETORIA, 1906;
VARIAS, 1913; DIRETORIA, 1916).
Pela notícia a seguir: ―Passageiros chegaram no paquete Bahia,
procedente do sul, [...] Paulina da Cunha, Adelaide do Nascimento e filho [...]‖
conclui-se que a mesma tinha um filho (PASSAGEIROS, 1906). E da notícia
abaixo, em 1916, confirma-se a sua desencarnação:
Communicou o delegado fiscal ao juiz de direito do cível haver resolvido
autorizar a liquidação da caderneta de poupança da caixa economica que
pertenceu a dona Adelaide do Nascimento já falecida sendo entregue a sua
genitora, dona Perciliana Maria do Nascimento, a quantia de cento setenta e
dois mil reis, acrescida de juros capitalizados (COMMUNICOU, 1924 p.1).
Assim, pelas informações acima que atestam o sobrenome Nascimento e
a viagens juntas, é possível supor que Perciliana Do Nascimento, além de mãe
de Adelaide do Nascimento, também era da Alexandrina do Nascimento e da
Paulina Elvira.
17
f) Paulina Elvira da Cunha
Sabe-se que a mesma nasceu no dia 26 de junho, sem a precisão do
ano (ANNIVERSARIO, 1918) e que era casada com Raymundo Nonato da
Cunha (SALAS E SALÕES, 1907), que também foi pioneiro do Espiritismo no
Amazonas e no ano de 1906 foi 2º secretário da FEA (FEDERAÇÃO,1906a);
de quem ficou viúva no ano de 1914 (NA QUALIDADE, 1914). Encontrou-se
registro do seu falecimento no estado do Pará, em 28 de agosto de 1915, numa
publicação de agradecimento publicado no Jornal do Commercio, pelo seu
irmão João Clímaco do Nascimento, podendo ser corroborada pelo cessar de
sua participação nas atividades benemerentes da FEA. (AGRADECIMENTO,
1915)
Era sócia da Sociedade Cosmopolita de Benefícios Mútuos Previdente
Amazonense (SOCIEDADE, 1906) e no Movimento Espírita foi trabalhadora da
mediunidade na FEA (FEDERAÇÃO, 1905); além de ter atuado como membro
da Comissão de Assistência aos Necessitados em 1906 e 1915 (FEDERAÇÃO,
1906a; 1907a; 1908; 1909; 1910; 1911; 1912; 1913; 1914; 1915; DIRECTORIA,
1912; VARIAS, 1913).
g) Virginia Barroso Baptista
Nasceu no dia 05 de março de 1845 [?], e como dama da sociedade,
seu natalício era divulgado nas colunas dos jornais da época (SALAS E
SALÕES, 1908; 1909; 1910; 1911; 1912; 1914; 1915; 1917; MANAOS SOCIAL,
1913; CHRONICA ELEGANTE, 1918). Era oriunda de família influente no
Estado. Seu pai foi o coronel José Antonio de Barros, um dos instaladores da
província do Amazonas. Encontrou-se registro de cinco filhos: Nilo, Sebastião,
Mileto, Julia e Dorvalina.
Até 1882, parecia ser católica e atuante em sociedades beneficentes.
Tal inferência é depreendida de uma notícia que a legitima na lista de
Mordomas, no Programa da Festividade de Nossa Senhora dos Remédios
(PROGRAMA, 1882).
No Movimento Espírita, foi membro da Comissão de Assistência aos
Necessitados por 11 anos, no período de 1906 a 1917 (FEDERAÇÃO, 1906a;
1907a; 1910; 1911; 1912, 1913; 1914; 1915; 1916; 1917; VARIAS, 1913).
Em 1915 encontrou-se notícia de que a mesma estava enferma
(MANÁOS SOCIAL, 1915) e três anos depois, em 1918, anunciou-se a sua
desencarnação no dia 01 de junho daquele ano:
Falleceu, hontem, nesta cidade, onde era bastante estimada, a veneranda
sra. D. Virginia Barroso Baptista, filha do coronel José Antonio de Barros,
que foi um dos installadores da provincia do Amazonas e viuva do capitão
Luiz Anselmo Baptista, membro da antiga assemblea provincial.
A extinta contava com sessenta e trez annos, era amazonense e deixa
cinco filhos, que são os senhores Nilo Baptista, Sebastião Norberto Baptista
e Mileto Anselmo Baptista, d. Julia Baptista e d. Dorvalina Baptista,
professoras normalistas.
O sahimento fúnebre realisa-se hoje, as nove horas, a rua Barroso‖ (OS
MORTOS, 1918, p1).
18
h) Alexandrina do Nascimento Costa
Não se encontrou muitos dados sobre a mesma, apenas registros nos
dias de seu aniversário, 12 de junho, por vários anos (MANAOS, 1912) e como
participante do concurso ―Qual a senhorita mais elegante?‖ ao lado de muitas
meninas, dentre as quais também estavam Closete Barbosa e Eglantina
Barbosa, ambas filhas do também pioneiro Antonio José Barbosa, biografado
neste V Simpósio FAK (QUAL,1912). Casou-se em 02 de dezembro de 1914
com o sr. Juvenal Hermida da Costa (MANAOS, 1914b), de cuja união nasceu
a filha Raymunda em 10 de junho de 1916, e há registro de outros filhos Hilse
Costa Moreira e Wilson Hermida Costa (MANAOS, 1916, MISSA, 1977).
Foi membro da Comissão de Assistência aos Necessitados de 1910 a
1913. Como o seu casamento aconteceu em 1914, supõe-se que à partir dessa
data passou a dedicar-se mais diretamente as atividades do lar (FEDERAÇÃO,
1910; 1911; 1912; 1913; DIRECTORIA, 1912).
i) Jesuína de Souza Cardoso
Era professora normalista, tendo se formado em 1919, na mesma turma
da famosa professora amazonense, Eunice Serrano (PELA, 1919). Foi membro
da Comissão de Assistência aos Necessitados por sete anos, no período de
1910 a 1917 (FEDERAÇÃO; 1910; 1911; 1912; 1913; 1914; 1916; 1917;
DIRECTORIA, 1912).
j) Maria Amélia Rodrigues (Roiz)
Também era professora (DONA, 1919) e sócia da Sociedade
Cosmopolita de Benefícios Mútuos Previdente Amazonense (SOCIEDADE,
1906). No Movimento Espírita, foi apresentada pelo confrade José Gerson
Brandão em Sessão de Diretoria da FEA, no dia 07 de Julho de 1907, data que
tornou-se sócia (FEDERAÇÃO, 1907b). A partir de então, a encontramos como
membro da Comissão de Assistência aos Necessitados no período de 1910 a
1917 (FEDERAÇÃO, 1910; 1911; 1912; 1913; 1914; 1915; 1916; 1917;
DIRECTORIA, 1912; VARIAS, 1913; 1916).
l) Joanna Martins de Castro
Joanna foi esposa de Manoel dos Santos Castro, o terceiro presidente
da FEA. Do matrimônio tiveram quatro filhos: Ernestina, Aurora, Ernesto e
Kardec. Os três últimos atuaram na Federativa.
Não foram encontrados muitos dados sobre a mesma, ela aparece
tornando- se sócia da Sociedade Cosmopolita de Benefícios Mútuos Previdente
Amazonense ao lado da filha Aurora (SOCIEDADE, 1906) e ao lado do esposo
Manoel, sendo admitidos sócios da Santa Casa (VARIAS, 1921). Foi membro
da Comissão de Assistência aos Necessitados no ano de 1916. (FEDERAÇÃO,
1916; 1917; VARIAS, 1916).
m) Raymunda Facundo do Valle
Natural do Ceará, fazia aniversário no dia 13 de maio (SALAS E
SALOES, 1911). Foi casada com Rufino Facundo do Valle (PRIMEIROS, 1904)
e teve oito [?] filhos [Antonio?], Matilde, Amélia, Maria, Joanna, João e Lydia
19
Facundo do Valle. Maiores detalhes sobre sua família podem ser encontrados
nos artigos sobre os seus filhos Luiz e João Facundo do Valle, apresentados
por Joselita Nobre, umas das autoras, neste V Simpósio FAK.
Fundou o Grupo Espírita ―Regeneração dos Discípulos de Jesus‖,
situado a Praça da Saudade, n.º 12, em Manaus, estado do Amazonas, sendo
uma das casas pioneiras do Espiritismo em Manaus (SEARA ESPÍRITA, 1977).
E, foi membro da Comissão de Assistência aos Necessitados de 1916 a 1918,
no último ano atuando como segunda tesoureira, na presidência do seu filho
Luiz Facundo do Valle (FEDERAÇÃO, 1916; 1917; VARIAS, 1916).
n) Maria José de Barros
Foi aluna do Collegio Nossa Senhora de Nazareth (INSTRUCÇÃO,
1913). Pelas Atas da FEA e alguns Jornais, temos notícia que ela atuou como
membro da Comissão de Assistência aos Necessitados no período de 1913 a
1917. (FEDERAÇÃO, 1913; 1914; 1916; 1917; VARIAS,1913; 1916). Não
conseguimos identificar se existia grau de parentesco entre ela e um outro
membro da referida Comissão, identificado como José dos Santos Barros.
o) Francisca Ritta Raposo Fernandes
Fazia aniversário no dia 25 de outubro (CHRONICA, 1917). Também era
professora, normalista formada no Amazonas (MENSAGENS, 1902). No ano
de 1894 atuou como diretora da Escola de Ensino Misto, no 13º Distrito da
Capital (RESULTADO, 1894). Foi presidente do Grupo Escolar Silvério Nery,
no ano de 1909 (FRANCISCA, 1909) e no ano de 1912 foi diretora da Escola
Complementar Mixta (DIRETORA,1912). Exerceu importante papel na
Educação do Estado, tendo participado de muitas bancas examinadoras dentre
as quais destacamos na Escola Complementar Mixta e no Colégio Santa
Dorothéia, nos anos de 1910 e de 1911, respectivamente (EXAMES, 1910;
1911). Também foi membro do Conselho de Instrução Pública do Estado, no
ano de 1909, que na época era presidido por Paes de Andrade, ao lado de
Agnello Bittencourt, Plácido Serrano, Marciano Armond, Arthur Araújo, Júlia
Bittencourt, Benedicto Sidou e Torquato Ribeiro (CONSELHO, 1909).
No Movimento Espírita aparece como membro da Comissão de
Assistência aos Necessitados em 1906 (FEDERAÇÃO, 1906a).
p) Izaura Costa
Casou-se em 1938 com Odalício Figueira de Souza (PROCLAMAS,
1938) e no ano de 1913 foi presidente da Liga Protetora da Pobreza (LIGA,
1913). Na FEA aparece como Membro da Comissão de Assistência aos
Necessitados, em 1918 (FEDERAÇÃO, 1918a; VARIAS, 1918).
q) Rosa [Firmina Fontenelle] da Silva Cruz
Nasceu no dia 30 de junho em ano ignorado. Filha de João Antonio da
Silva, primeiro presidente da FEA, e de dona Firmina Josephina Fontenelle da
Silva. Sendo a penúltima filha na constelação familiar, teve como irmãos: Arya
Firmina, Jonas, João, Rosa Firmina (primeira), Raymundo Nonato, Izabel Firmina,
Nahim [Nahum] e Maria Firmina (CARVALHO, 2009). Maiores detalhes sobre sua
20
família podem ser encontrados no artigo sobre seu pai, apresentado por Joselita
Nobre, umas das autoras, no IV Simpósio FAK.
Casou no dia 20 de abril de 1907, com major da Guarda Nacional,
Raymundo Rodrigues Cruz, bibliotecário da Biblioteca Pública do Estado. Os
paraninfos dos noivos foram autoridades da época, com destaque para o Dr.
Constantino Nery, governador do Estado. Como descendente, teve dois filhos:
Miguel Emanuel, que faleceu ainda criança e a famosa pianista amazonense
Lindalva Fontenelle Cruz (RECEBERAM-SE, 1907; ANNIVERSARIOS, 1907).
Em 1896, encontramos Rosa e sua irmã Isabel Firmina sendo aprovadas no
exame de admissão para a Escola Modelo Eduardo Ribeiro, e em 1989
matriculada no 1.º ano da Escola Normal (GYMNASIO, 1896; 1898). Suas
primeiras atuações como normalista, forma registradas no ano de 1904, sendo
nomeada como professora primária (RELATORIOS, 1904; 1905). Atuou no Grupo
Escolar José Paranaguá e fez parte de várias bancas examinadoras
(RELATÓRIOS, 1910; EXPEDIENTE, 1917; COLLEGIO, 1917).
Também foi inscrita como sócia da Sociedade Cosmopolita de Benefícios
Mútuos Previdente Amazonense, criada pelo Centro Espírita Vicente de Paula
(CENTRO, 1906; SOCIEDADE, 1906b). Na FEA, atuou como membro da
Comissão de Assistência aos Necessitados, como a maioria das pioneiras
(FEDERAÇÃO, 1918a; VARIAS, 1918).
r) Amélia Facundo do Valle:
Filha de Raymunda Facundo do Valle e Rufino Facundo do Valle. Foi casada
com Agostinho Cezar de Oliveira, sócio proprietário da empresa Cesar & Cia. Ltda.,
com quem teve um filho chamado Agostinho Filho. Atuou com como membro da
Comissão de Assistência aos Necessitados na gestão de Carlos Theodoro
Goncalves (FEDERAÇÃO, 1915). Maiores detalhes sobre sua família podem
ser encontrados nos artigos sobre os seus irmãos Luiz e João Facundo do
Valle, apresentados por Joselita Nobre, umas das autoras, neste V Simpósio
FAK.
1.2 Mulheres sócias da Sociedade de Propaganda Spirita
a) Hévila Coelho de Souza Gonçalves
Nasceu no dia 11 de novembro de 1884, na cidade de Viana, no estado
do Maranhão e era filha de Carlos Theodoro Gonçalves [o segundo presidente
da FEA] e Ignez Coelho de Souza (QUATRO FAMÍLIAS, 1970). Desencarnou
na cidade de Colatina, no estado do Espírito Santo, no dia 4 de novembro de
1927 (ACTOS FUNEBRES,1927b), e da notícia de sua desencarnação
apreendemos mais dados sobre sua família:
Agradecimento – Missa
HEVILA GONÇALVES BOTELHO
Jacintho César Botelho, Amália Gonçalves Botelho Fernandes, Zenaide
Gonçalves Botelho Calmon, Hevila, Carlos, Pedro Américo e Rubens
Gonçalves Botelho; Carlos Gonçalves Filho, Ignezia Gonçalves Botelho, Dadan
e Ascenez Gonçalves, dr. Mirabeau Fernandes, Carlos Calmon, Aura
Henriques Gonçalves, Alfredo Botelho, Estevam Botelho e Lili Botelho Valle,
esposo, filhos, irmãos, genro e os demais parentes da saudosa HEVILA
GONÇALVES BOTELHO, fallecida a 4 desse mez na cidade de Colatina no
estado do Espirito Santo, agradecem, sinceramente penhorados, a todos que
21
lhes têm trazido o seu conforto moral, e aproveitando o ensejo para convida-los
e a todas as demais pessoas amigas da pranteada morta, para assistirem a
missa que, em sua memoria, será rezada as sete (7) horas, no próximo dia 15
(terça-feira),na igreja de São Sebastião – Manáos, 11 de novembro de 1927
(ACTOS FUNEBRES,1927a).
Seu esposo, Jacintho Cesar Botelho, foi despachante da Alfândega e
casaram-se em ato civil, no Palácio da Justiça, tendo como paraninfos o Dr.
Álvaro da Costa Gonçalves, o coronel Joaquim Francisco de Paula [seu tio] e
esposa; e, no ato religioso, na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, tendo
como testemunhas a Sra. Maria Theodora Gonçalves da Silva [sua tia], os srs.
Candido Costa e Coronel Raymundo da Costa Fernandes (SALAS E SALÕES,
1904).
O casal teve seis filhos: Amália Gonçalves Botelho, que nasceu em 3
de novembro de 1905, à bordo, em águas do Pará, durante viagem dos pais;
Zenaide Gonçalves Botelho, nasceu em 18 de fevereiro de 1907, em Manaus
(AM); Carlos Gonçalves Botelho (Carlito) nasceu em 8 de agosto de 1913, em
Manaus (AM), foi fotógrafo e faleceu no dia 22 de junho de 1969, na cidade do
Rio de Janeiro(RJ); Hévila Gonçalves Botelho nasceu a 9 de julho de 1912,
na cidade de Santos Dumont, antiga Palmira (MG), faleceu no Rio de Janeiro
(RJ) em 13 de novembro de 1954; Pedro Américo Gonçalves Botelho nasceu
a 25 de novembro de 1914, em Niterói, (RJ), faleceu solteiro. Rubens
Gonçalves Botelho nasceu a 25 de outubro de 1925, em Vitória (ES), faleceu
solteiro (QUATRO FAMÍLIAS [1970?].
Em atuações sociais beneficentes a encontramos participando de
movimento em prol da população carente do Maranhão que vivia, à época, um
surto da peste bubônica, como segue:
Realizou-se ante-hontem, de uma para as duas horas da tarde, a reunião
para qual a imprensa daqui, dirigiu convite, afim de se curar dos meios de
suavizar os males da população indigente do Maranhão, victima da peste
bubônica, que actualmente, assola esse infeliz estado.
[...]
Foram nomeadas varias commissões, afim de obterem os donativos
necessários.
D`estas, por ora, só nos é dado publicar a do bando precatório.
Quarta-feira, às duas horas da tarde, o bando precatório percorrerá as ruas
d`esta capital, esmolando para os enfermos do Maranhão.
A população do Amazonas, tão generosa de sentimentos, decerto não
negará o seu obulo aos infelizes, a terra do grande rio verá correr toda
caridade inexgotavel.
BANDO DA CARIDADE
Senhoritas: Amalia e Ana Rosa Valle, Rita Diniz, Sara Coqueiro, Hevila e
Ignezia Gonçalves [...]‖ (PELO MARANHÃO, 1904).
Também há registros de sua participação em atividades sociais e notas
da imprensa nos dias do seu aniversário, o que sugere que tinham grande
representatividade social e possível grande poder aquisitivo (IDEAL CLUB,
1904). Após o seu casamento, até a sua mudança para o sudeste, residiu na
rua Henrique Martins n.º 92, na cidade de Manaus, Amazonas
(INEDITORIAES, 1915).
No movimento espirita foi sócia Fundadora da Sociedade de
Propaganda Spirita (MARTINS, 2011).
22
b) Marcolina Cândida Ferraz Fernandes
Fazia aniversário no dia 24 de janeiro, foi casada com o major Antonio
José Fernandes, com quem teve os filhos: Maria do Carmo Fernandes, José
Feliciano Fernandes e Raymundo S. Fernandes.
Mulher de posses, dentre outros bens, era dona do Trapiche Fernandes.
Foi Sócia Fundadora da Sociedade de Propaganda Spirita (MARTINS, 2011).
Participou da Inauguração da Sede da FEA, o ―Templo da Verdade‖, em 02 de
outubro de 1904 (FEDERAÇÃO, 1904c), e também era atuante no Centro
Espirita ―Caridade e Resignação‖ presidido por Bento José de Lima (MELO,
2017). Também atuou com membro da Comissão de Assistência aos
Necessitados (FEDERAÇÃO, 1907a; 1908; 1909; 1915).
1.3 Mulheres apenas citadas nas Atas da FEA:
Na 1.ª reunião preparatória da Federação Espírita do Amazonas,
ocorrida no dia 1.º de janeiro de 1904, estiveram presentes Amélia Augusta
Taveira, Maria Amélia Taveira, Maria Elysia Pereira Tavares; e na segunda
reunião preparatória, realizada no dia 10 do mesmo mês, apareceram as
assinaturas de Thereza e Maria Miranda (FEDERAÇÃO, 1904a; 1904b).
No dia 02 de outubro de 1904, muitas mulheres, além das já descritas
como trabalhadoras, compareceram à sessão de inauguração da Sede da
Federativa, denominada como o ―Templo da Verdade‖, e algumas assinaram o
livro de atas: Corina Pinto Ribeiro, Custodia M. Conceição, Enedina de
Oliveira Mello, Izabel Xavier Salerno Correa, Maria Ada Rocha Freire,
Maria Mendonça da Conceição, Perciliana do Nascimento [mãe de Adelaide
do Nascimento] (FEDERAÇÃO, 1904c).
Na ata da sessão comemorativa da desencarnação de Bernardo
Rodrigues D‘Almeida, no ano de 1905, existe o registro da atuação das
médiuns Vicência, irmã Paulina [Elvira Cunha?] e Maria Miranda
(FEDERAÇÃO, 1905). E participaram da reunião da Assembleia Geral, de 21
de fevereiro de 1919: Rita Maria Eugenia, Diva Franco Neves, Francisca
Vieira, Rosa Maria da Conceição e Francisca Amorim e Rosa Nogueira
Perez. Segundo esta última, está registrado em ata que era solteira, espanhola
e residia na Rua Tapajós n.9; tornou-se sócia da FEA no ano de 1918 após ser
apresentada pelo sócio José Gonçalves Lima (FEDERAÇÃO, 1918b).
1.4 Sócias Fundadoras do Grupo Spirita Jesus Christo (1901)
Segundo seu Estatuto, o grupo Spirita Jesus Christo foi fundado em 18
de Março de 1901, e na data da promulgação do referido documento, 22 de
Julho de 1901, era presidido por Emiliano Olympio de Carvalho Rebello.
No documento aparecem os nomes de Maria Lima; Camilla da Silva
Rebello e Juventina Maria Rebello. Não se tem notícias sobre as mesmas,
porém por associação de sobrenomes e pelo fato do Grupo ser dirigido por
Emiliano Olympio de Carvalho Rebello, que era tio materno de Anna Prado,
existe a possibilidade de Camila e Juventina serem primas da médium.
23
1.5 Mulheres espíritas cujas atividades não foram identificadas
Rachel Amelia Costa, recebe uma nota no Jornal Mensageiro como
―Dedicada irmã e consocia‖ mas sua atuação não foi compreendida
(DEDICADA, 1901 p.2).
CONCLUSÃO
Ao concluirmos o presente trabalho, identificamos que muitas lacunas
ainda precisam ser fechadas, sobretudo na descrição das atividades destas
pioneiras, fator que aumenta a motivação para o aprofundamento da pesquisa
sobre a atuação feminina naquele período, e enseja convite a novos corações
que queiram se unir no longo e gratificante labor na seara da pesquisa histórica
espírita.
Como vemos, são muitas ―pioneiras‖ trazidas ao nosso palco de hoje,
mulheres que por certo continuam o seu aprimoramento espiritual e trabalho
abnegado em algum lugar do orbe divino, compatível com sua evolução
espiritual, dentro da maravilhosa e perfeita Lei de Causa e Efeito.
Algumas perguntas ressoam insistentemente ainda sem respostas; será
que todas as aqui listadas de fato vivenciavam os postulados espíritas ou
algumas apenas se engajaram circunstancialmente nas fileiras da caridade
através do consolador prometido? Teriam sido propagandistas da Doutrina ou
se aproximaram aproveitando a estrutura que a FEA concedia para o ―exercício
do amor‖? E será que aquelas que apenas ―compareceram‖ na FEA tinham
atuações em outros centros espíritas?
Dado relevante é que algumas se destacaram mais do que outras, e isso
indica que estas últimas possivelmente mantiveram constância nas suas ações
e estudos doutrinários.
Muitas delas atuaram na Comissão de Assistência aos Necessitados,
que de acordo com os Estatutos da Federativa Amazonense era:
Art. 3.º Para a pratica da Caridade manterá a Federação: Alem dos
meios empregados para diffundir a moral e os bons costumes: § 1.º a
assistencia aos necessitados para distribuição gratuita de socorros
materiais por intermedio do (2.º) segundo tesoureiro, auxiliado pela
Commissao de ―Assistencia aos necessitados‖ para esse fim eleita; §
2.º o custeio sera feito: a) com o producto das mensalidades das
pessoas sem distincção de crenças que queirão se inscrever como
socias da ―Assistencia aos necessitados‖ e concorrer para a sua
manutenção; b) com os donativos recebidos especificamente para esse
fim; § 3.º Quando as condicções permitirem adquirar-se-há: - a) um
posto receitista e curador constituído de pessoal idoneo e
desinteressado a juiso da Directoria; b) Uma pharmacia homeopathica,
em que serão aviadas gratuitamente as receitas ali obtidas; c) Um
hospital para tratamento de obsedados; d) Uma aula nocturna no salão
―Templo da Verdade‖, a qual será franqueada aos [que] quiserem
frequental-a. [...]
Tal definição sugere que a prática da caridade era o ponto nodal das
atividades da referida Comissão, mas registra que também acolhia aquelas
pessoas sem distinção de crença que quisessem se inscrever como sócias, o
que corrobora com uma das hipóteses citadas acima. Teriam todas sido
24
pioneiras da Doutrina Espírita de fato? Ou apenas praticaram o bem a partir da
Doutrina Espírita?
Observou-se que muitas dessas pioneiras, certamente chegaram as
hostes do Consolador, como acompanhantes de parentes do gênero
masculino, que participavam dos cargos diretivos na Federação e outras
instituições. Senão vejamos, como exemplo:
a) Firmina Fontenelle da Silva, Arya da Silva Paula e Rosa da Sila Cruz:
A primeira foi esposa do primeiro presidente da FEA, que exerceu
mandatos consecutivos de 1904 a 1914. Rosa e Arya eram filhas de
ambos, sendo esta última esposa de Félix de Paula propagandista da
doutrina, membro da Sociedade de Propaganda Spirita e irmão de
Carlos Theodoro Gonçalves, outro pioneiro de destaque.
b) Virginia Barroso Baptista e Dorvalina Baptista Granjeiro: mãe e irmã
de Nilo do Amazonas Barroso Baptista, que foi membro da diretoria
da FEA em diversas ocasiões.
c) Joanna Martins Castro e Aurora dos Santos Castro: esposa e filha de
Manoel dos Santos Castro, pioneiro das primeiras horas que exerceu
diversos cargos na Federativa, inclusive o de presidente.
d) Raymunda Facundo do Valle e Amélia Facundo do Valle: mãe de
Luiz Facundo do Valle e João Facundo do valle, que também
exerceram diversos cargos na FEA, sendo o último o seu quarto
presidente.
e) Paulina Elvira da Cunha, Adelaide do Nascimento e Alexandrina do
Nascimento: tudo indica que eram irmãs, sendo a primeira esposa de
Raymundo Nonato da Cunha, que foi 2.º secretário da FEA.
Fato digno de nota é que muitas atuavam como médiuns, e na vida
social eram professoras, o que de certa forma reflete a condição feminina do
início do século XIX, onde as mulheres geralmente detinham espaços que
garantissem que suas qualidades ditas puramente femininas como
passividade, fragilidade e docilidade, pudessem ser valorizadas.
Além disso, no período destacado para a pesquisa deste artigo, só era
comum que as mulheres tivessem aparições em jornais quando tinham
matrimônios com homens de certo destaque e prestígio social, nos seus
natalícios, ou quando atuavam como professoras.
Nesse aspecto, ressaltamos que esta vinculação de
professoras/educadoras com a Doutrina Espírita é algo que se repete no
Movimento Espírita da atualidade, onde é possível perceber que muitas delas
se dedicaram e ou se dedicam na Evangelização Espírita de jovens e crianças.
Tal constatação oportuniza mais uma pergunta: poderiam ter sido elas também
verdadeiras pioneiras na evangelização infantil do Amazonas? Teriam tido
alguma oportunidade para semear Jesus e a imortalidade da alma no coração
de tantos pequeninos e jovens?
Inobstante serem estas associações feitas apenas a partir de
inferências, percepções e sentimentos, destacamos um dado singular. Anália
Franco, tão conhecida no Movimento Espírita nacional, enviou cartas a uma de
nossas pioneiras Raymunda Facundo do Valle, pedindo auxilio a sua enorme
obra. Tais correspondências foram apresentadas a FEA em 1907 e isso
motivou a criação de uma Comissão com o intuito de ajudar a Anália Franco.
Bem sabemos o quanto Anália foi engajada nas obras educacionais
assistenciais, sendo uma verdadeira divulgadora da Doutrina Espírita e, como
missionária iluminada não media esforços visando encontrar parceiros para sua
25
obra. Nesse aspecto, levantam-se mais perguntas: Teriam nossas pioneiras
tido contato com Anália? Poderiam elas ter feito algum tipo de exercício na
seara da nobre educadora que tinha a ―formação‖ como pauta de sua agenda?
Como Anália mandaria uma carta sem que soubesse da existência do grupo
espírita da capital Amazonense?
Não sabemos... são ilações cobertas de sincero desejo de uma
aproximação mental e histórica do que verdadeiramente ocorria em Manaus
naquela época. Assim sendo, diante das inúmeras reflexões e perguntas feitas,
só nos cabe agradecer ao trabalho por elas empreendido, e seguir caminhando
firme nos nossos propósitos de elevação e melhoria interior, sabedores que
somos de que a vida entre os dois mundos vai se complementando e o muito
que ainda precisa ser realizado seguirá esperando nosso concurso e vontade
para ir se realizando no curso natural das Leis Divinas, conforme a vontade de
Deus nosso pai.
O QUE EU APRENDI SOBRE MIM MESMO
Lenara:
Que ser mulher nesta reencarnação representa um conjunto de oportunidades
sublimes que preciso reconhecer como dádiva do mais alto, para me tornar
senhora dos meus sentimentos e atitudes e assim me firmar como alguém que
deseja sinceramente ser servidora do Cristo.
Josie
O sincero desejo de trazer a luz o trabalho dessas mulheres, trouxe à baila
sentimentos represados, como se em outras oportunidades tivesse agido de
forma inversa, impedindo o brilho de companheiras de caminhada. Nesse
sentido, entregar esse trabalho à comunidade, me proporcionou sentimentos
de alegria e paz.
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30
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31
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32
ANTONIO JOSÉ BARBOSA: o nobre militar que se tornou pioneiro do
Espiritismo nas Terras Amazônicas
Lenara Barros Muniz de Paula Nunes4
―Mas ficai certos de que os vossos antepassados não se honram com o culto
que lhes tributais por orgulho. Em vós não se refletem os méritos de que eles
gozem, senão na medida dos esforços que empregais por seguir os bons
exemplos que vos deram. Somente nestas condições lhes é grata e até
mesmo útil a lembrança que deles guardais‖ (L.E. Q. 206)
1- INTRODUÇÃO
Quando se entra em contato com a história do Movimento Espírita
Amazonense, constata-se com muita frequência referências ao Major Antonio
José Barbosa. O mesmo foi sócio fundador da Sociedade de Propaganda
Spirita, fundada em 24 de Dezembro de 1901 (SOCIEDADE, 1901); esteve
presente coordenando a primeira reunião intitulada ―reunião preparatória‖ para
a criação da Federação Espírita Amazonense (FEA) (FEDERAÇÃO, 1904); e é
quem está envolvido no relato mais antigo que se tem notícias sobre
fenômenos espíritas no Amazonas, um episódio sobre fenômenos de efeitos
físicos ocorridos na sua casa, no ano de 1882, na então freguesia de Moura,
atual cidade de Barcelos/AM (REFORMADOR,1882).
Sendo assim, buscar conhecer a vida deste nobre pioneiro, bem como a
sua atuação no Movimento Espírita, torna-se relevante para caminhar na
reconstrução da história do espiritismo amazonense, e ainda é um gratificante
impulso motivador para a manutenção de condutas pautadas no bem, junto à
busca pelo aprimoramento moral e ao Movimento Espírita nestas abençoadas
Terras.
O método utilizado foi o da pesquisa documental e bibliográfica
efetivadas em fontes primárias de informação. Para tanto, foram pesquisados
jornais disponíveis na Hemeroteca Digital Brasileira, consultas em Bibliotecas
Públicas do Estado; análise do primeiro Livro de Atas da Federação Espírita
Amazonense e dos Jornais espíritas ―Mensageiro‖ e ―O Guia‖. Ao longo da
pesquisa, houve a feliz localização de uma trineta do pesquisado, chamada
Wania de Castro Baena, residente no Estado do Rio de Janeiro, com quem
foram realizadas inúmeras entrevistas e consultas informativas, posto que a
mesma já havia reunido algum material biográfico em função de estar há
alguns anos trabalhando na construção da árvore genealógica da sua família.
2-DESENVOLVIMENTO
Antonio José Barbosa nasceu em 13 de junho 1843, na Província que
hoje é o Estado de Alagoas. Foi registrado como Antonio José Barbosa de
Araújo Pereira e batizado em 14 de junho, na Catedral Nossa Senhora dos
Prazeres (BAENA, 2017), crescendo em ambiente católico (ANAES, 1983).
Seus pais eram José Barboza de Araújo Pereira e Joana Rita Barboza de
Araújo. (BAENA,2017).
4
Trabalhadora da Diretoria de Infância e Juventude da Fundação Allan Kardec
33
Chegou ao Amazonas no ano de 1879, quando transferido pelo exército,
e recolheu-se ao destacamento de Moura como 2º tenente (PASTA).
Desencarnou em Manaus, em Maio de 1916, tendo sido sepultado no
Cemitério de São João Batista (NO CEMITÉRIO, 1916).
2.1 SUA FAMÍLIA
Seu pai era um respeitado Major da Guarda Nacional em Maceió, mestre
capela, professor de piano e compositor. Figurou junto a oito participantes do
concurso de músicas para a letra do Hino de Alagoas, em 1.º de abril de 1894.
Foi membro da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Martírios, onde ocupou o
cargo de ―Mordomo‖ (BAENA, 2017).
Antônio José Barbosa era casado com Gervásia Dias Barbosa, que fazia
aniversário no dia 10 de julho (BAENA, 2017; O SR. MAJOR, 1904) e pai de:
Pedro de Alcântara Dias Barbosa (BAENA, 2017), Professor e militar,
casou-se com Victoria Barbosa de Oliveira, tendo como filhos: Nila de
Oliveira Barbosa, nascida em 1892 (BAENA, 2017; RELATORIO, 1901);
Theonila de Oliveira Barbosa, nascida em 1894 (BAENA, 2017;
RELATORIO, 1901); Hilda de Oliveira Barbosa, nascida em 1896
(RELATORIO, 1901; A MANAOS, 1912); Eglantina de Oliveira Barbosa
(DO VAPOR 1902); Demosthenes de Oliveira Barbosa (DO VAPOR,
1902) e Closette de Oliveira Barbosa.(A MANAOS, 1912). Desencarnou
em 18 de novembro de 1902, vítima de beribéri, na povoação de
Carvoeiro, onde exercia o magistério (PELOS, 1902). Em 1912 quando o
primogênito de Antonio José Barbosa já estava desencarnado, sua viúva
residia na então ―Av. Ayrão, n.º 21, Bairro do Mocó‖, atualmente Av.
Waldemar Pedrosa (A MANAOS, 1912). Theonila de Oliveira Barbosa
tornou-se pianista (ESPONSAES,1911) e fez apresentações em festas
da sociedade (BAENA, 2017). Contraiu matrimônio, no palácio da
justiça, com o oficial da marinha mercante, o Sr. Cyrillo Mendes da Silva,
em 11 de maio de 1912 (ESPONSAES, 1912). Tiveram uma filha:
Zoraide Barbosa da Silva (BAENA,2017).
Laura Dias Barbosa (BAENA, 2017) Casou-se em Manaus com o
funcionário público maranhense, Antônio Pires de Oliveira, passando a
se chamar Laura Barbosa de Oliveira. Tornaram-se pais de: Erotides
Barbosa de Oliveira (CASAMENTO,1912); Otaviano Barbosa de
Oliveira; Tábita Barbosa de Oliveira e Doralice Barbosa de Oliveira
(BAENA, 2017).
Dois anos após o nascimento da caçula Doralice, Antônio Pires de
Oliveira veio a óbito, vítima de impaludismo. Foi sepultado no Cemitério
São João Baptista, em 10 de abril de 1910 (BAENA, 2017). Mais tarde,
Laura conheceu o alferes reformado da Guarda Nacional, Aureliano
Costa e se uniu a ele. Vivenciando dificuldades existentes em Manaus,
migraram para o Rio de Janeiro, no bairro de Jacarepaguá. Laura levou
três de seus filhos, deixando Doralice, a caçula, aos cuidados da tia
Angelina e de Octaviano Barbosa de Araújo Pereira (irmão do Major que
trabalhava na alfândega e que passou a cuidar das sobrinhas) (BAENA,
2017), e que também aparece como Sócio da Assistência aos
34
Necessitados da FEA em 1915 (FEDERAÇÃO,1915a). Doralice teve a
mesma educação que a tia e a mãe tiveram: aulas de piano, idas ao
Teatro Amazonas, escola, gosto pela leitura, costura, bordados, etc.
(BAENA, 2017). Já adulta, sabendo das dificuldades financeiras da mãe
e das irmãs no Rio de Janeiro, decidiu migrar também e se juntar à
família. Casou-se com Orlando da Rocha Castro, funcionário público e
teve seis filhos: Waldemar da Rocha Castro; Therezinha Barbosa de
Castro (desencarnados); Carlese Barbosa de Castro (mãe de Wania
Castro Baena, colaboradora deste Artigo); Orlando da Rocha Castro;
Luiz Barbosa de Castro e Iára Barbosa de Castro (BAENA, 2017).
Angelina Dias Barbosa Fazia aniversário no dia 10 de junho (BAENA,
2017; A RESIDENCIA, 1906, FAZEM, 1906a). Foi secretária da Liga
Protetora da Pobreza, na administração do ano de 1911 (CONVITE,
1911)
Antônio José Barbosa Filho (BAENA, 2017) Nascido em 1890
(RELATÓRIO, 1901), estudou na Escola Mixta, localizada à Praça
General Osório (MATRICULA, 1902), foi Militar da Marinha Mercante
Nacional (BAENA, 2017), e desencarnou aos 21 anos por suicídio.
(DESVAIRADO, 1911).
Galante Barbosa (A MENINA, 1907). Aniversariava no dia 10 de
novembro após o casamento passou a chamar-se Galante Barbosa
Salles de Aguiar (ANNIVERSARIOS, 1917; 1924).
Amante da música e das artes, herdados de seu pai, exigia que as suas
filhas estudassem piano e era comum frequentarem o Teatro Amazonas
(BAENA, 2017). As filhas eram atuantes com o assistencialismo promovido
pela ―Liga Protetora da Pobreza‖, tendo sido Angelina 2ª secretária desta Liga.
Lá arrecadavam donativos e distribuíam em datas de feriados santos. Nas
manhãs de 25 de dezembro, às 7 horas, no Conservatório de Música, situado à
Praça dos Remédios, eram feitas as distribuições (BAENA, 2017; LIGA, 1913).
No ano letivo de 1901, seus filhos menores e as filhas de seu primogênito
Pedro de Alcântara Dias Barbosa eram alunos da ―Escola Pública Mixta‖,
situada à Praça General Osório (RELATÓRIO, 1901).
Pelas pesquisas realizadas, descobriu-se que a família possuiu três
endereços residenciais em Manaus, sendo o primeiro a Rua São Vicente
(ANTONIO,1881); e o segundo na Estrada Dr. Moreira, nº 210 (DESVAIRADO,
1911) e posteriormente na Avenida Ayrão, n. 210, no então Bairro do Mocó,
atualmente Av. Waldemar Pedrosa (A MANAOS, 1912).
2.2- SUA HISTÓRIA NO EXÉRCITO BRASILEIRO
Em 22 de fevereiro de 1864, foi assentado praça e jurou bandeira. Ficou
agregado no ensino de recruta. Passou a recruta no dia 20 de junho do mesmo
ano e no ano seguinte, 1865, no dia 14 de junho, passou a pertencer à
companhia de alunos, por ter sido matriculado na escola preparatória, por
ocasião do embarque em ―Castanhão‖, em 4 de junho, quando ficou em
diligência no Ceará. Foi declarado aprovado no exame prático da arma de
35
infantaria, em 17 de setembro de 1867, nos termos do decreto aprovado a 31
de março de 1851 (PASTA).
Em 1868, participou da Guerra do Paraguai e tornou-se ajudante do
general nº 858. Marchou como o guia, com o Batalhão Humaitá, no dia 6 de
julho do mesmo ano, e em janeiro de 1869, já com a patente de 1º sargento,
marchou três dias e acampou em São Lourenço, no Paraguai. No 4º dia,
acampou na Capital Assunção, até o 5º dia. Passou para o 8º batalhão de
infantaria no dia 6 de janeiro, do mesmo ano, onde efetivou-se em 25 de
fevereiro. Em 04 de Agosto, do mesmo ano, destacou-se para a Fortaleza de
Santa Cruz, já em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro (PASTA), o que sugere
o encerramento da sua participação na Guerra.
No ano de 1870 foi transferido para o 2º Regimento Provisório de
Artilharia a Cavalo, como 2º tenente em comissão do 1º Batalhão de Artilharia a
Pé. Já no ano de 1871, serviu em Fortaleza de Santa Cruz, passando ao posto
de Tenente, por meio do decreto de 27 de setembro daquele ano, nos termos
do artigo 3º. da Lei 1843, de 6 de junho de 1870 (PASTA).
Em 1878, passou a se chamar ANTÔNIO JOSÉ BARBOZA, e em 1879
recolheu-se ao destacamento do Moura, como 2º Tenente (PASTA).
No dia 12 de setembro de 1895, foi-lhe passada a patente de capitão
honorário do exército, pelo Decreto de seis de novembro de 1894, em
decorrência dos serviços prestados à nação brasileira, por ocasião da Guerra
do Paraguai; e em 12 de dezembro do mesmo ano, foi-lhe concedido o posto
de MAJOR HONORÁRIO, pelo mesmo serviço.
2.3 ATUAÇÃO NO AMAZONAS E EM MANAUS
2.3.1 Vida Social
Constatou-se que no ano de 1879, já exercia o direito do voto
(EDITAES, 1879) e que em 1891 era eleitor regularizado pelo município de
Tabatinga (AM) (ELEIÇÃO,1891), o que sugere uma posição de certo destaque
social, já que nesse período só votavam pessoas de posses. Tal análise,
também é reforçada pela sua participação em Tribunal do Jury (TRIBUNAL,
1913). Ademais, também é corriqueiro verificar manifestações em diferentes
jornais nos dias do seu aniversário, ao longo de diversos anos e nos dias
natalícios de seus filhos e esposa, bem como registros de outros eventos,
envolvendo sua família (SALAS, 1910; O Sr. MAJOR, 1904;
CASAMENTO,1916).
Também foi encontrada uma nota onde o mesmo houvera lecionado
como professor em uma Escola Masculina, cuja sede ficava em São Joaquim,
no ano de 1902, ano em que também foi exonerado (RELATÓRIO, 1902).
No ano de 1912 o mesmo participou de reunião da Associação
Theosophica Amazonense ―Centro de Estudos Psychicos‖, onde se inscreveu
como sócio fundador, ao lado de Claudio de Resende do Rego Monteiro,
pessoa próxima de muitos pioneiros espíritas; Manuel dos Santos Castro,
(pioneiro do Espiritismo amazonense) e Joaquim Francelino de Araújo, outro
pioneiro já biografado, no IV Simpósio FAK, por Isis Martins (O
THEOSOPHISMO, 1912). Vale ressaltar que foi localizado um registro de 1918,
nas Atas da FEA, onde o presidente do referido Centro pedia que este
funcionasse na sede da federativa, o que foi negado. Posteriormente, aparece
nota onde o mesmo Presidente, que não foi identificado, pede autorização para
36
retirar uma estante de livros pertencentes ao Centro, tendo em vista que
haviam mudado a sede para a Rua Luiz Antony, n. 63 (FEDERAÇÃO, 1918).
Em 1913 foi encontrado um registro do mesmo, participando da ―Liga
Protectora da Pobreza‖, fazendo doações, o que indica o seu envolvimento
com ações caridosas (LIGA, 1913).
2.3.2- Atuação Militar no Amazonas
Como já descrito, veio transferido para o Amazonas em 1879, passando
a residir em Moura, provavelmente em janeiro deste mesmo ano, quando já
estava casado com D. Gervásia Barbosa e tinha os filhos Pedro e Laura (O
RIO BRANCO, 1879). Já em Moura, no mês de fevereiro, foi nomeado pelo
Barão de Maracajú, então Presidente da Província, como ―membro da
commissão de colonisaçao de Moura‖ (PORTARIA, 1879), onde fazia parte de
um ―destacamento militar para garantir a villa das aggressões dos índios
Jauaperys, que têm trasido sempre em sobressalto os habitantes desse
povoado‖ (RELATORIO, 1878, p. 30). O Barão de Maracajú ressaltou as suas
qualidades de militar, descrevendo que tal destacamento era ―comandando
pelo prestimoso e inteligente 2º tenente do 3º Batalhão de artilharia a pé,
composto de praças da ala esquerda do 11.º Batalhão de infantaria‖
(RELATORIO, 1878, p. 30).
Nos idos de 1880 foi nomeado para Villa Bella da Imperatriz nos
seguintes termos:
―2º Tenente de artilharia Antonio José Barbosa que achei conveniente
mandar para aquella localidade, onde a policia está acephala e o
serviço publico reclamava a presença de uma autoridade policial que
reunisse a actividade a intelligencia e a probidade‖ (EXPOSIÇÃO,
1880).
Também atuou como 2º tenente do 3º Batalhão de Artilharia a pé no
comando da fronteira do Cucuhy (AO COMANDANTE, 1886) e em Manaus, foi
tenente adjunto do Estado Maior, no ano de 1908 (OS 2º TENENTES,1908);
Major Honorário na Intendência Militar do 1º Distrito, no mesmo ano (AS
PROPOSTAS, 1908); 2º tenente na Intendência da 1º Região de Inspeção
Permanente em Manaus em 1909 (ACEITOS, 1909); 2º tenente no Quartel
General em Manaus, ainda em 1909 (QUARTEL,1909) e Major Honorário do
Exército do Quartel General e Intendência da Região também no mesmo ano
(O MAJOR, 1909).
2.3.3- Atuação na Polícia
Foi delegado em Itacoatiara no ano de 1880 (PARTE OFICIAL, 1880);
subprefeito e chefe da segurança na cidade de Manaus pelo menos no período
de 1899 a 1904, no 3º, no 5º e no 10º Distrito da Capital (CIDADÃO, 1899; O
DIA, 1900; O SR MAJOR, 1904; RELATÓRIOS, 1904).
Fato digno de nota foi um caso ocorrido em 1898, onde o mesmo ―era
sub-prefeito de serviço‖ na ―chefatura da segurança da capital‖, e o caso que
foi levado para sua resolução foi desvendado, sem sua intervenção, em função
das manifestações mediúnicas ostensivas de uma criança (CRIANÇA, 1898).
37
2.3.4 Como Político:
No ano de 1890, o Partido Republicano Democrático ofereceu-lhe um
baile na cidade de São Paulo de Olivença (AM), mas não se encontrou demais
indicativos para afirmar que o mesmo fora membro de tal entidade política
(BAILE, 1890). Por outro lado, verificou-se que o mesmo foi membro do Partido
Liberal, o partido dos maniveiros, em 1882 (DEPUTADOS,1882), onde também
atuou como 2º secretário em 1885, época em que o Partido Liberal tinha como
presidente Guilherme José Moreira, Joaquim José Paes da Silva Sarmento,
como vice-presidente, e Francisco Ferreira de Lima Bacury como diretor
(EDITAES, 1885).
Eleito para a Assembleia Provincial do Amazonas, na legislatura de
1882-1883, assumindo o cargo de deputado provincial, como representante do
eleitorado liberal de Itacoatiara. Exerceu seu cargo inicialmente sob a
presidência de João Cunha Correa, sendo Bento Aranha o vice-presidente e
Severo José de Moraes e Herculano Ferreira Penna de Azevedo, os
secretários, e depois sob a presidência de Aprígio Martins de Menezes.
Integrou as Comissões de Poderes e Infrações Constitucionais e das
Leis, uma das mais importantes daquela Casa Legislativa, e a de Força Policial
(SESSAO, 1882). Também apresentou importantes projetos como o da criação
da primeira empresa funerária na cidade de Manaus (SESSAO,1882a).
Uma curiosidade é que no primeiro ano de seu mandato como deputado,
o mesmo dividia a tribuna com o também deputado padre José Henriques Felix
da Cruz Dacia que, anos antes, havia sido preso por Barbosa, quando no
exercício da sua função de delegado em Itacoatiara. Segundo a notícia
publicada no jornal ―Comercio do Amazonas‖, do dia 04 de Setembro de 1880,
a prisão foi efetuada em função do referido padre ―estar um pouco alcoolizado
e nesse estado desrespeitar as autoridades com palavras insultuosas e até
ofensivas a moral e aos bons costumes‖. O fato é que analisando
cuidadosamente as sessões da Assembleia Provincial, percebe-se claramente
a mágoa e a relação pouco fraterna do deputado Padre Dacia para com o
biografado deste artigo. Todavia, nessas manifestações verbais, pode ser
constatado, entre outros aspectos, indicativos seguros que denotam a nobreza
de caráter de Barbosa, bem como a constância nos seus atos em fazer aquilo
que considerava ser o adequado no seu cargo. ―O meu fim não é aqui
satisfazer odiosidades pessoaes, mas prestar alguns serviços à causa pública
na altura dos meus fracos recursos intellectuais‖ (SESSAO, 1882b, p 34).
Durante sessão na Assembleia, no dia 13 de abril de 1882, ele se
apresenta ―abolicionista decidido‖ (SESSAO, 1882e), o que sugere de forma
explícita que a valorização da fraternidade fazia parte da sua conduta.
No seu mandato, apresentou diversas propostas como, por exemplo:
projeto para a reforma das igrejas nas povoações de Moureira e Castanheira
(SESSAO, 1882c) e projeto visando favorecer meios para a iluminação pública
de Itacoatiara (SESSÃO, 1882d). No ano de 1883, apresentou um projeto
concedendo auxílio à construção da Igreja de São Sebastião, que a época já
estava avançada e ficava sob a responsabilidade do Frei Jesusaldo Macheti
(SESSAO, 1883a), bem como um projeto votando ―60 contos de reis‖ para
38
favorecer a construção da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
(SESSAO, 1883b).
No período legislativo seguinte, 1884-1885, foi eleito 2º secretário da
Mesa Diretora da Assembleia, sob a presidência de Emílio José Moreira.
Em janeiro de 1909, Barbosa participa como fiscal em eleição do Partido
Revisionista, ao lado do famoso médico Adriano Jorge e de dois pioneiros do
Espiritismo: José Estevam de Araújo e de Felix Luiz de Paula, este último terá
a sua biografia apresentada por Isis Martins, neste V Simpósio FAK. Nesta
época, estavam à frente do Diretório da referida entidade política: Joaquim
Sarmento e Heliodoro Balbi (COLUMNA, 1909). Aqui, vale ressaltar que três
anos antes, o partido tinha seu diretório composto por Balbi, ao lado de outros
confrades, dentre eles Carlos Theodoro Gonçalves, o segundo presidente da
Federação Espírita Amazonense, biografado por Joselita Nobre, no IV
Simpósio FAK (PARTIDO, 1906).
2.4 ATUAÇÃO NO MOVIMENTO ESPÍRITA
O nobre pioneiro do Espiritismo nestas terras foi quem coordenou a
primeira Reunião Preparatória para a fundação da Federação Espírita do
Amazonas (FEA), no dia 1º de janeiro de 1904, o que sugere que seu
envolvimento com a Doutrina Espírita era bem anterior a este momento, visto
tratar-se de ―reunião de todos os crentes espíritas existentes nesta capital‖
(FEDERAÇÃO, 1904a).
Além disso, Barbosa foi sócio fundador da Sociedade de Propaganda
Spirita (ESTATUTOS, 1901) e eleito para suplente na diretoria desta
Sociedade, no ano de 1901 (NO DIA, 1901). O que corrobora com a inferência
de que o mesmo já despontava com atuação destacada e certa liderança nas
lides espíritas.
O ano exato para seu envolvimento com a Doutrina parece ter sido o de
1884, quando do seu relato publicado na Revista Espírita ―Reformador‖, do
mesmo ano, no Rio de Janeiro, que trazida na íntegra como anexo deste artigo
(ANEXO 1), descreve fenômenos de efeitos físicos ocorridos nos anos de 1882
e 1884 com ele e sua família, composta, à época, de esposa e quatro filhos
menores, na sua casa, na então Freguesia de Moura, província do Amazonas,
que atualmente é a cidade de Barcelos (AM).
Até o ano de 1882, Barbosa se declarava católico (SESSAO, 1882),
tanto que no seu relato pode ser observado que rezava missas e pedia auxílio
aos Bispos para tentar resolver o ―facto extraordinário e mysterioso‖
(REFORMADOR, 1884, p 4) que ocorria em sua casa. Ademais, descreve que
―nunca fui spirita e nem sequer li tratado algum sobre tão trancendente
assumpto‖ (REFORMADOR,1884 p.4) e
[...] incrédulo como muita gente, afinal, depois de muito investigar, de
ter esgotado todos os meios possiveis para descortinar a verdade, fui
obrigado á curvar respeitosamente a cabeça e entregar-me á crença
do que quer que fosse de superior á matéria, que em plena luz
meridiana, dava provas inconcussas de sua existência
(REFORMADOR,1884 p 4).
39
No mesmo relato, o mesmo descreve o acontecimento que determinou
sua crença num ser invisível:
[...] Um dia que se jogava um objecto de um filho meu, apanhei-o, me
dirigi a um quartinho, o depositei sobre um banco e disse: leve isto,
porém, atire-o; e fiquei alli de sentinella. A um relancear de olhos,
desappareceu: e assim por três vezes, sendo os objetos differentes e
jogados em presença de todos de casa e alguns curiosos. E não
pude chegar á um resultado, devido aos meus, que me pediam, que
não continuasse, porque poderia enlouquecer. Desse dia em diante,
foi que principiei a crer firmemente na existência de um ser invisivel e
superior (REFORMADOR,1884 p 4).
Não tendo conhecimento das decisões tomadas pelo mesmo após essa
declaração, não se pode afirmar como, onde e com quem teriam sido seus
primeiros contatos com a Doutrina Espírita, bem como quais foram as suas
primeiras atividades espíritas. Todavia, existe uma forte impressão de que o
fato se deu ao lado de Bernardo Rodrigues D‘Almeida, outro pioneiro já
biografado nos Simpósios FAK, haja vista que Barbosa em diversas ―Reuniões
Comemorativas‖ alusivas à desencarnação de Almeida, realizadas na
Federação Amazonense, discursava como se tivesse o conhecido de perto.
Outra inferência também realizada, é que possivelmente uma das suas
primeiras atuações tenha sido no Grupo Caridade e Indulgência, que o mesmo
presidia na data da fundação da FEA, em 21 de fevereiro de 1904
(FEDERAÇÃO,1904c) e do qual infelizmente não foram localizados outros
registros.
Fato comprovado pelas atas históricas da FEA é que Barbosa presidiu
as Reuniões Preparatórias para a fundação da Federativa Amazonense,
fazendo parte da primeira comissão responsável pela criação dos seus
Estatutos, ao lado de Emiliano Olympio de Carvalho Rebello, Joaquim
Francelino de Araújo, Antonio Ulysses de Lucena Cascaes e Antonio Lucullo de
Sousa e Silva. Todavia, ―em vista de grande numero de emmendas
appresentadas‖ em reunião seguinte, outra comissão foi escolhida para
finalizá-lo, sendo então votados e eleitos para a referida tarefa Leonardo
Malcher; João Antonio da Silva e Antonio Lucullo de Sousa e Silva
(FEDERAÇÃO,1904b).
Pela leitura da supracitada Ata, constatam-se outros detalhes que
patenteiam que a sua presença e atuação na FEA foi profícua e constante,
como pode se ver ao longo dos anos.
No ano de 1904, Barbosa fez parte da comissão encarregada para a
construção da sede da Federação, no terreno doado por Leonardo Malcher,
ocasião em que foi apresentado por Malcher o orçamento feito pelo empreiteiro
Manoel Gomes Ramos para construção do edifício ―Templo da Verdade‖
(FEDERAÇÃO, 1904d). Também integrou a primeira ―Comissão Consultiva‖ da
FEA, ao lado de Antonio Lucullo de Sousa e Silva e Manoel dos Santos Castro,
sendo os suplentes Antonio Ulysses de Lucena Cascaes e Pedro Paulo das
Neves Vieira (FEDERAÇÃO, 1904e). Esta comissão, de acordo com o 1º
Estatuto da Federativa, tinha como objetivo:
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1- estudar a as obras fundamentaes do espiritismo para, de acordo
com as mesmas, resolver qualquer duvida suscitada entre os
presidentes de grupo de qualquer crente. 2- Visitar trimestralmente,
ou quando julgar conveniente os trabalhos de cada grupo federado;
3-Visitar os grupos que pretenderem se federar e dar parecer a
respeito (FEDERAÇÃO, 1904c).
Tal comissão deveria ser eleita anualmente, cabendo a reeleição. Uma
de suas atuações registrada em ata foi um parecer acerca de irregularidades
encontradas em dois grupos espíritas, sendo uma delas ―a falta de investigação
quanto à identidade dos espíritos e exame nas suas comunicaçoes‖
(FEDERAÇÃO 1904g).
Ainda no mesmo ano, palestrou no dia da inauguração do Templo da
Verdade, e realizou diversas conferências, sendo orador oficial nas ―Reuniões
Comemorativas‖ da FEA (FEDERAÇÃO, 1904f).
No ano de 1905, também foi o orador oficial nas ―Reuniões
Comemorativas‖ e propôs que a reuniões de propaganda que, até então
aconteciam pela manhã, passassem a ser realizadas às 19h00 (FEDERAÇAO,
1905a). No mês de março do mesmo ano, foi indicado pelo então presidente da
FEA, João Antonio da Silva, para presidir as Sessões de Propaganda. Também
fez parte da comissão que criou um Regimento Interno para a Federação,
atuando ao lado de Marcolino Rodrigues e Antonio Lucullo (FEDERAÇÃO,
1905b).
Nos anos de 1906 e 1907, fez parte da ―Comissão de Contas‖ da FEA,
ao lado de Gonçalo Rodrigues Souto e Jovita Olympio de Carvalho Rebello;
(FEDERAÇÃO, 1906; 1907), ano em que também fez conferências nas
―Reuniões Comemorativas‖.
Em 1908 permaneceu na ―Comissão de Contas‖, ao lado dos mesmos
confrades do ano anterior, e em 06 de setembro de 1908 solicita o Templo da
Verdade para realizar reuniões mediúnicas (FEDERAÇÃO, 1908a; 1908b).
No ano seguinte, 1909, não exerceu nenhum cargo, mas permaneceu
participativo nas reuniões, sempre se posicionando adequadamente e
versadamente sobre a Doutrina Espírita.
Foi eleito vice-presidente da FEA, em 1910, ao lado de João Antonio da
Silva como Presidente, quando assumiu interinamente a presidência em função
de viagem de João Antonio da Silva, no período de 31 de março até 02 de
outubro (FEDERAÇÃO, 1910a; 1910b; 1910c).
Assumiu novamente a ―Comissão de Contas‖, no ano de 1911, ao lado
de Jovita Rebello e Rogério Teixeira (FEDERAÇÃO, 1911), onde permaneceu
em 1912, mas desta vez ao lado de José Ferreira da Silva e Manoel dos
Santos Castro (PARA, 1912; FEDERAÇÃO, 1912), ano que se destacou
novamente fazendo conferências sobre a Doutrina Espírita.
No ano de 1913, deu continuidade na mesma comissão, ao lado de
Bento José de Lima e Joaquim Ferreira da Silva (FEDERAÇÃO, 1913).
O último registro de sua profícua atuação na FEA foi localizado no ano
de 1914, quando foi eleito Orador Oficial (FEDERAÇÃO, 1914). Em 1915,
estava doente e parece não ter participado das reuniões. O então presidente
41
Carlos Theodoro Gonçalves nomeia uma comissão composta por José Gerson
Brandão e Nilo do Amazonas Barroso Baptista para irem visitá-lo em nome da
Federação, após a visita, relataram ―encontrando o referido irmão com allivio
em seus sofrimentos‖ (FEDERAÇÃO, 1915b; 1915c).
Em 1916, ano da sua desencarnação, não foi encontrado nenhum
registro do seu nome nas poucas Atas existentes no Livro 1 de atas da FEA.
Foi localizado um registro do seu sobrinho, pedindo à Delegacia Fiscal o
pagamento do funeral do tio (OCTAVIANO, 1916).
Além dos registros de sua atuação na FEA, também foram encontrados
dois artigos de cunho espírita escritos nos jornais de circulação da capital; um
no Jornal do Commercio, do dia 21 maio 1907, que descreve o caso de uma
paraibana que foi queimada na época da inquisição. Barbosa faz o relato para
ser um registro homenageando essa anônima, que foi exemplo vivo de
coragem e abnegação. E outro, intitulado ―Fenomeno Celeste‖, no Correio do
Norte, no ano de 1911, onde o mesmo avista a superposição de duas grandes
estrellas de duplo brilho, que passam pelo meridiano do Amazonas‖ (DO
ALEM, 1911 p 2).
Outro registro importante do seu envolvimento com a Doutrina Espírita foi o
da sua atuação em um grupo chamado ―Fé e Resignação‖. Esse grupo parece
ter sido fundado por Barbosa, pois no ano de 1907 ele apresenta à FEA o
pedido de que o seu Grupo passe a ser federado (FEDERAÇAO 1907b).
2.5 DESENCARNAÇÃO
Os únicos registros da sua desencarnação foram encontrados em
Jornais da sua época. No Jornal do Comercio, de 8 de Maio de 1916, lê-se
notícia informando que seu sepultamento ocorreu no dia anterior, no Cemitério
São João Batista. Em novembro do mesmo ano, encontra-se a descrição dos
enfeites da sepultura de Antonio José Barbosa no dia dos finados
(ABUNDANCIA, 1916). No ano de 1917, foi achada uma nota no jornal A
Capital, onde Angelina e Laura pedem ao Ministério da Guerra, na qualidade
de filhas e únicas herdeiras sobreviventes, uma certa quantia que este havia
deixado de receber quando em exercício de sua função (PELA, 1917).
CONCLUSÃO
O Major Antonio José Barbosa ou Barboza, como em alguns registros
encontrados, até então desconhecido para muitos de nós do Movimento
Espírita, passa agora a ser reconhecido nesta sua encarnação nas plagas
amazônicas descrita neste artigo.
Militar, atuante na polícia, político, por certo representou figura
importante de autoridade. Pareceu exercer com empenho e dedicação o papel
que lhe coube nestes cargos, demonstrando que o seu objetivo era cumprir o
esperado e o correto para aquela posição, até que ―chamado‖ pelos espíritos
que agitaram sua casa, foi obrigado a curvar-se a um novo modelo de
42
proceder, pautado, sobretudo na aquisição de conhecimentos sublimes e
edificantes.
Analisando sua atuação no Movimento Espírita, fica notório seu amplo
conhecimento doutrinário e a honestidade com que os colocava em prática.
Suas conferências, ainda que analisadas através de descrições muito sucintas
nas Atas da FEA, indicam que o estudo era um companheiro constante do
nobre confrade. Enquanto tantos outros utilizavam o recurso da escrita para o
discurso, o mesmo doutrinava apenas com a sua memória e por certo muito se
preparava para as referidas ocasiões, sempre falando da Doutrina com
linguagem clara, precisa e aprofundada.
Por certo, viveu as provações inerentes às reencarnações na Terra, mas
seu contato com a Doutrina Consoladora deve ter sido refrigério para sua alma,
caso contrário não seria a constância uma das suas marcas impressas na sua
contribuição ao Movimento Espírita do Amazonas. Portanto, a ti, Antonio José
Barbosa, ficam registradas à gratidão da autora pelo muito que fizestes.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
Na construção do artigo, um dos aprendizados mais gratificantes que
tive, foi a certeza de que quando manifesto verdadeiramente minha vontade
para um objetivo, consigo dedicação e disciplina necessárias para concluí-lo
com êxito. Historiar pioneiros do Espiritismo do Amazonas não é tarefa simples
e requer muitas horas de dedicação.
Outra lição, é que de nada adianta analisar os outros e suas
contribuições e feitos no mundo, se isso não me tornar uma pessoa melhor.
Também reflito que se assumi perante os Simpósios FAK o
compromisso de biografar pioneiros do espiritismo do Amazonas e a história
desse Movimento, é porque tenho compromissos e comprometimentos com a
divulgação e propaganda da Doutrina Espírita, que devo resgatar através da
minha constância nas atividades do bem e no trabalho na Evangelização
Infantil dentro da tão amada Fundação Allan Kardec. Aprendi que devo seguir
caminhando apoiada fortemente pelos estudos e pela convivência com meus
amigos e companheiros amados, para que eu possa, fora da FAK,
consubstanciar o aprendizado e evangelização de mim mesmo, na minha vida
social, no trabalho e, sobretudo, na minha família.
REFERÊNCIAS
ABUNDANCIA. Jornal do Comércio. 03 Nov 1916, ed 4499, anno XII.
ANNAES DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA PROVINCIAL DO AMAZONAS DO
BIENNIO DE1882- 1883. Impresso na Typografia do Amazonas. Manaós.
Sessão de 31 de Março de 1882a, p.32.
____________. Manaós. Sessao de 30 de Março de 1882b, p 31.
____________. Manaós. Sessao de 11 de Abril de 1882c.
43
____________. Manaós. Sessao de 13 de Abril de 1882d.
____________. Manaós. Sessao de 04 de Abril de 1883a.
____________. Manaós. Sessao de 13 de Abril de 1883b.
____________. Manaós. Sessao de 13 de Abril de 1882e.
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ano 4, p 2.
ARTIGO Espirita. Jornal do Commercio. 21 Mai 1907, ed 1040, anno 4, p 2-3.
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1.
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AS PROPOSTAS. Jornal do Commercio. 2 Nov 1908, ed 1657, anno 5, p 3.
AO COMANDATE. Jornal do Amazonas. 06 Jul 1886, ed 242, anno XII.
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CASAMENTO. Jornal do Commercio. 04 Mai 1912, ed 2887,anno IX.
CASAMENTO. Jornal do Commercio. 03 Nov 1916, ed 4499, anno XII.
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CRIANÇA médium desvenda caso na Capital do Amazonas. Jornal de
Notícias. Bahia, 15 Fev 1898, p 2. Disponível in: <www.arquivoespirita.org>.
CIDADÃO prefeito da capital. Commercio do Amazonnas. 18 Abr 1899, ed
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anno IX.
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EDITAES. Liberal do Pará. Belem (PA) 06 Mai 1885, ed 10, anno XV.
44
EDITAES. Diario Oficial. 5 Jun 1879, ed 1879, anno 8, p 18626.
ELEIÇÃO de 1 de Maio. Diario de Manaos. 8 Abr 1891, ed 272, anno 1, p 1-2.
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FEDERAÇÃO Espirita do Amazonas. Correio do Norte. 1906 p.4.
FEDERAÇAO ESPÍRITA AMAZONENSE. Manaus. Acta da Sessão de 1.º de
janeiro de 1904a, p 1.
_____. Acta da Sessão de 17 de janeiro de 1904b, p 4.
_____. Acta da Sessão de 21 de fevereiro de 1904c, p 4v.
_____. Acta da Sessão de 07 de marco 1904d, p 10v.
_____. Acta da Sessão de 17 de abril de 1904e, p 12v.
_____. Acta da Sessão de 02 de outubro de 1904f, p 18.
_____. Acta da Sessão de 04 de dezembro de 1904g, p 24.
_____. Acta da Sessão de 07 de maio de 1905a, p 37v.
_____. Acta da Sessão de 04 de junho de 1905b, p 39.
_____. Acta da Sessão de 13 de maio de 1906, p 74.
_____. Acta da Sessão de 03 de marco de 1907, p 88.
_____. Acta da Sessão de 21 de fevereiro de 1908a, p 101.
_____. Acta da Sessão de 06 de setembro de 1908b, p 108.
_____. Acta da Sessão de 21 de fevereiro de 1910a, p 119.
_____. Acta da Sessão de 06 de marco de 1910b, p 120.
_____. Acta da Sessão de 31 de marco de 1910c, p 121.
_____. Acta da Sessão de 31 de marco de 1911, p.127.
_____. Acta da Sessão de 21 de fevereiro de 1912, p.131v.
_____. Acta da Sessão de 31 de marco de 1913, p 133.
_____. Acta da Sessão de 22 de Marco de 1914, p136.
_____. Acta da Sessão de 02 de Maio de 1915a, p 146 .
_____. Acta da Sessão de 01 de Agosto de 1915b, p 147v.
_____. Acta da Sessão de 05 de Setembro de 1915c, p 148v.
_____. Acta da Sessão de 03 de novembro de 1918, p 167v.
45
LIGA Protectora da Pobreza. Jornal do Commercio. 05 Jul 1913, ed 3300,
anno X, p 2.
LIGA Protectora da Pobreza. Jornal do Commercio. 04 Jul 1913, ed 3299,
anno X, p 2.
NO DIA 1 do corrente. Mensageiro. 15 Jan 1901, ed 2, anno 1, p 4.
MATRICULA. Mensagens do Governador do Amazonas para a Assemblea.
1902, p 143
NO CEMITÉRIO. Jornal do Comércio. 08 Mai 1916, ed 4323, anno XIII, p 1.
OCTAVIANO. Jornal do Comércio. 11 Mai 1916, ed 4326, anno XIII, p 1.
O DIA policial. A Federacao. 2 Nov 1900, ed 788, anno 7, p 1.
O MAJOR honorário do Exército. Jornal do Comércio. 3 Set 1909, ed 1949,
anno 6, p 1.
O RIO BRANCO condusio. Amazonas. 12 Jan 1879, ed 226, anno XII, p 2.
OS 2º TENENTES. Jornal do Commercio, 2 Abr 1908, ed 1445, anno V, p 1.
O SR MAJOR. Jornal do Commercio. 10 Jul 1904, ed 164, anno I, p 2.
O THEOSOPHISMO. Jornal do Commercio. 3 Jun 1912, ed 2917, anno IX, p
2.
PARA dirigir a Federação. Jornal do Commercio 10 Mar 1912, ed 2834, anno
IX, p 1.
PARTE OFICIAL. Commercio do Amasonas. 04 Set 1880, ed 10, anno XII, p
1.
PASTA DE ALTERAÇÕES MILITARES, localização I-18-26, seção acervo
pessoal, Acervo Histórico do Exército, RJ.
PASSOU ontem a data. Jornal do Commercio, 20 Ago 1906, ed 771, anno 3,
p 2.
PARTIDO Revisionista. Correio do Norte. 26 Jan 1906, ed 05, anno 1.
PELA Delegacia. A Capital. 13 Nov 1917, ed 119, anno 1.
PELOS mortos. Quo Vadis. 25 Nov 1902, ed 6, anno I, p 2.
PORTARIA. Amazonas, 16 Fev 1879, ed 241, anno XII, p 1.
QUARTEL. Jornal do Comércio. 5 Set 1909, ed 1951, anno 6, p 1.
RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS (AM)-1891
a 1930.
RELATÓRIOS DE EXPOSIÇÃO DO PRESIDENTE DA PROVÍNCIA. Barão de
Maracajú de 25 de Agosto de 1878.
46
RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS 1902.
RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS (AM). Maio
de 1904.
SALAS e salões. Jornal do Comercio. 13 Jun 1910, ed 2225, anno 7, p 2.
SOCIEDADE DE PROPAGANDA SPIRITA. Estatutos da Sociedade de
Propaganda Spirita do Amazonas. Manaus: Typographia do Mensageiro,
1901, in trabalho da D Isis III simpósio.
TRIBUNAES. Jornal do Commercio. 09 Fev 1913, ed 3156, anno X, p 2.
47
ANEXO
48
49
MARCELLINO QUEIROZ: DINAMIZADOR DO PROJETO DO HOSPITAL
ESPÍRITA ALLAN KARDEC
Santa Maria Oliveira de Melo 5
INTRODUÇÃO
Ao escrever o artigo intitulado ―Do Hospital Espírita Allan Kardec à
Fundação Allan Kardec‖ para o II Simpósio-FAK 2011, percebi haver uma
lacuna no que diz respeito ao dinamizador do projeto do referido hospital, mas
que não foi possível esclarecer naquele momento. Ano passado, uma
companheira de ideal espirita, me trouxe a informação da existência de uma
neta de um ex-presidente da Federação Espírita Amazonense. Isso me aguçou
a curiosidade. Então, parti em busca da veracidade do fato e assim concluí
tratar-se da neta de Marcellino Ferreira da Silva Queiroz.
Conforme os registros nos livros de atas da Federação Espírita
Amazonense - FEA, é possível observar que no início do século XX havia um
forte interesse dos pioneiros do Espiritismo no Amazonas em construir um
hospital na cidade de Manaus, posto que, já existia um projeto nesse sentido
(FEDERAÇÃO, 1907). A ideia foi desenvolvida por mais ou menos 46
(quarenta e seis) anos, até a aquisição do terreno, no início de 1951, o qual foi
doado pela Prefeitura Municipal de Manaus à Federação Espírita Amazonense,
na gestão do presidente Marcellino Queiroz, que se transformaria no
dinamizador desse projeto (TABELIÃO,1951).
A Pedra Fundamental foi lançada no ano de 1953, após o que foi
iniciada a construção do prédio que recebeu o nome de Hospital Espírita Allan
Kardec, com a finalidade de suprir a deficiência hospitalar existente na cidade
(FEDERAÇÃO,1953). Desde o início das obras até a conclusão desse hospital,
decorreram-se longos 27(vinte e sete) anos, período em que esteve sob a
direção da FEA, realizando atendimento ambulatorial.
Após entendimentos com a Federativa, em 21 de outubro de 1979, este
hospital, deixou de ser um de seus departamentos, passando a constituir
entidade autônoma, como pessoa jurídica própria e sob a denominação de
Fundação Allan Kardec (FUNDAÇÃO, 2014).
Este estudo procura apresentar a trajetória de Marcellino Queiroz e a
sua relação de trabalho e abnegação com a FAK, além do seu empenho na
prática espiritista. Também tem a pretensão de estimular novas pesquisas
sobre o tema, bem como contribuir para a recomposição do trabalho dos
espíritas na Amazônia e a melhor compreensão do papel por eles
desempenhado em determinado momento histórico.
METODOLOGIA
O método utilizado foi o da pesquisa bibliográfica, efetivada em fontes
primárias e secundárias de informação. Dentre estes, encontrou-se periódicos
5
Trabalhadora da Diretoria de Acolhimento da FAK
50
da época e material disponível nos arquivos históricos como os livros de atas
da Federação Espírita Amazonense, do período de 1904 a 1956, na
Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional, e em obras de diversos
autores dedicados a temas amazônicos.
Esta pesquisa foi realizada da seguinte maneira:
a) Elaboração de formulários específicos para registrar os dados que
seriam coletados;
b) Localização, leitura e análise de duzentas e noventa e seis atas da
Federação Espírita Amazonense. Dessas, foram selecionadas cinco,
nas quais em quatro identificou-se a participação efetiva de Marcellino
Queiroz, e as suas ações espiritistas;
c) Entrevistas com familiares de Marcellino Queiroz, os quais cederam o
rascunho de sua autobiografia e várias fotos (QUEIROZ, 2017);
d) Análise do rascunho da autobiografia e seleção das 74 fotos.
Após a leitura e análise de todo material coletado, foram selecionados os
seguintes dados relevantes para a elaboração deste artigo:
Registro das ações espiritistas da Família Silva Queiroz;
Registro das ações espiritistas realizadas na gestão de Marcellino
Queiroz;
Registro do lançamento da Pedra Fundamental do Hospital Espírita
Allan Kardec;
Registro do início da construção do Hospital Espírita Allan Kardec,
por meio de oito fotografias, utilizadas no presente trabalho;
Registro das manifestações de reconhecimento ao trabalho
desenvolvido pelo Marcellino Queiroz.
DADOS BIOGRÁFICOS
a) Contexto Familiar
Marcellino Queiroz nasceu em 6 de abril de 1886 em Manaus-AM, à
Av. Joaquim Nabuco, no 257 (número atual 1707) e desencarnou no dia 25 de
novembro de 1964, aos 78 anos de idade. Seus pais foram Vicente Ferreira da
Silva Queiroz e Veneranda Carolina de Queiroz, ambos trabalhadores do
Movimento Espírita Amazonense o que, por certo, contribuiu para que
Marcellino Queiroz, alma afeita ao bem, desde cedo abraçasse a Doutrina
Espírita (QUEIROZ, 2017).
Informações da família permitem referir que foram seus irmãos: José
Ferreira da Silva Queiroz, Raimunda Ferreira da Silva Queiroz e Veneranda
Ferreira da Silva Queiroz.
Marcelino Queiroz contraiu núpcias por duas vezes: primeiramente com
Adelaide Cavalcante, em 11 de fevereiro de 1911, filha de José Pereira
Cavalcante, no seringal ―Fortaleza‖, no Rio Juruá/AM, e de cuja união
nasceram sete filhos: Olenka, Oneida, Ivan, Ilka, Ivanovitch, Hetzendorf e
Zeneida, desquitando-se em 1922. O segundo matrimônio, com Eulália Nery
dos Reis, ocorreu em junho de 1935, de cuja união tiveram outros seis filhos:
Canagé, Vicente, Ana, Kardec, Veneranda e Marcellino Queiroz Filho, este
último foi adotivo, especial e desencarnou ainda criança (QUEIROZ, 2017).
51
Uma de suas netas, chamada Olean Menezes de Queiroz é
trabalhadora do Centro Espírita ―Fonte de Luz‖, situado no município de
Presidente Figueiredo. E uma bisneta chamada Rebeka Queiroz Gurgel do
Amaral (filha de Olean), economista, bancária, trabalhadora atuante do Centro
Espírita ―Educandário de Luz‖, localizado na cidade de Manaus, no conjunto
―Galiléia‖, Bairro Cidade Nova. Esta última foi importante colaboradora para
a elaboração deste artigo, e nesses últimos tempos retornou à FAK e se
encontra participando em um dos grupos de estudos da Diretoria de Estudos
Doutrinários – DED (QUEIROZ, 2017).
b) Atuação Profissional
Marcellino Queiroz trabalhou por vários anos como técnico de
administração em transporte marítimo, na empresa denominada Serviço de
Navegação da Amazônia e Administração do Porto do Pará- SNAPP, em cuja
atividade foi aposentado (QUEIROZ, 2017).
c) Participação no Movimento Espírita
i. Membro fundador do Grupo Espírita Caridade e Resignação
Marcellino Queiroz e seus pais figuram como membros fundadores do
Grupo Espírita ―Caridade e Resignação‖. Instituição fundada, no dia 16 de maio
de 1902. Ao seu lado, estiveram outros conhecidos pioneiros do movimento
espírita no Amazonas, como Bento José de Lima, Gaspar Melita, Eufrásio
Mota, Ana de Jesus, Elísio Sá, Marcolino Rodrigues, Francisca Mota, José
Jeferson Brandão, Marcolina Fernandes (que pode ter feito parte da
―Sociedade de Propaganda Spírita‖, visto haver a referência a Marcolina C.
Ferraz Fernandes), Maria Brandão, Francisca Romana, Francisca Gouveia,
Jerônymo de Paula Lima, Franklin Mendonça e Joaquim Cavalcante
(QUEIROZ, 2017).
Segundo uma notícia na imprensa, ficou esclarecido que Marcellino
presidiu o Grupo Espírita Caridade e Resignação, com sede à Rua José
Clemente, n.º410, na cidade de Manaus-AM, entidade que o teve como sócio
fundador e também dirigente maior por muitos anos (JORNAL DO COMERCIO,
1966).
ii. Membro fundador da Federação Espírita Amazonense
Marcellino Queiroz participou ativamente da fundação da Federação
Espírita Amazonense, no dia 1.º de janeiro de 1904, como membro efetivo do
Grupo Espírita Caridade e Resignação (JORNAL DO COMÉRCIO,1966).
Sendo esta, a única instituição daquela época, que nos dias presentes,
mantém as atividades regulares.
Na forma do que assegura Campos, no período de 1946 - 1961,
Marcellino Queiroz, esteve à frente da Federação Espírita Amazonense – FEA
(CAMPOS, 1984).
No início de sua gestão, o Movimento Espírita local já não apresentava
a mesma pujança que o caracterizou por ocasião do seu aparecimento no
52
Amazonas, pois encontrava-se disperso, muitos trabalhadores e grupos haviam
desgarrados (MACHADO, 2009).
Esse aspecto já havia sido identificado em 1934, conforme pode ser
constatado na Ata da Assembleia Geral da FEA, em dezembro daquele ano, e
destacado por Nilo do Amazonas Barroso Baptista, um dos que fazia parte do
grupo de pioneiros do Espiritismo no Amazonas, presente à reunião
comemorativa a fundação da Federação Espírita Amazonense. Na
oportunidade Nilo Baptista destacou a atuação de outros pioneiros como
Bernardo Rodrigues d‘Almeida, Leonardo Malcher, João Antônio da Silva e
Antônio Cascaes, concluindo por afirmar ―que cooperaria da melhor boa
vontade para que a Federação conquistasse o lugar que dantes gozava nos
tempos em que esses denotados fundadores faziam parte da sua direção‖
(FEDERAÇÃO, 1934).
Nestas simples e sinceras observações é possível perceber a grande
preocupação desse valoroso trabalhador da primeira hora, que parece
vislumbrar a possível morosidade na propagação e divulgação do Espiritismo
nas terras de Ajuricaba.
iii. Presidente da Federação Espírita Amazonense
Diante do quadro de decadência, no qual se encontrava o Movimento
Espírita local, em 1946, Marcellino Queiroz, ao assumir a presidência da
Federação Espírita Amazonense deve ter sido, além de qualquer descrição, o
gestor que no primeiro momento procura preservar e fortalecer algumas das
atividades então existentes, além da implantação de outras ações. Nesse
sentido, manteve em funcionamento várias atividades como: a Escola Primária
Leonardo Malcher; a distribuição de Rancho Natalino, que se desenrolou por
várias décadas; a distribuição gratuita de homeopatia; a visita à Penitenciária
Central do Estado, também realizada por longos anos; as visitas domingueiras
ao Asilo Dr. Thomas (atual Fundação Dr. Thomas); o receituário mediúnico
semanal, realizado sob a responsabilidade do Espírito Dr. Benedito de
Carvalho, por meio do médium Raimundo Coqueiro Mendes, conforme salienta
Campos (1984, item 10, p.16).
iv. Dinamizador do Hospital Espírita Allan Kardec (hoje, Fundação Allan
Kardec).
Na manhã de domingo, dia 04 de outubro de 1953, no terreno doado
pela Prefeitura Municipal de Manaus, na estrada que levava ao balneário
Parque 10 de Novembro, endereço atual Av. Mário Ypiranga Monteiro, no 1507,
Adrianópolis, ocorreu com grande êxito o lançamento da pedra fundamental do
Hospital Espírita Allan Kardec, patrocinado pela FEA. Estavam presentes à
solenidade a diretoria da Federação Espírita Amazonense na gestão de
Marcellino Queiroz, autoridades civis e militares e grande número de pessoas
de todas as classes sociais e crenças religiosas, especialmente convidados
para o ato. Na oportunidade, o presidente Marcellino Queiroz, durante a
solenidade, disse em ligeiras palavras os fins a que se destinava o
empreendimento e, achando-se presente, o representante do Governador do
Estado do Amazonas, espírita Joaquim José de Carvalho Cascaes1, sendo
convidado a colocar a urna com acervos especiais na pedra fundamental.
53
Após o lançamento da pedra fundamental, deu-se o início da
construção do Hospital Espírita Allan Kardec, idealizado pelos pioneiros do
Espiritismo no Amazonas, no início do século XX. Essa afirmativa decorre do
registro em ata, ainda no ano de 1907, na gestão de João Antônio da Silva, na
FEA, constando na apresentação do Balanço com demonstração de Contas, o
percentual de 2%, equivalente a 215.000 (duzentos e quinze mil réis),
depositado na Caixa Econômica Federal, destinado ao hospital em projeto
(FEDERAÇÃO, 1907).
A busca pelos recursos em prol da construção deste hospital foi longa
e desafiadora, tendo a sociedade manauara contribuído intensamente,
prestigiando e apoiando os eventos de iniciativa da Federação Espírita
Amazonense, como tem feito até os dias presentes.
As obras de construção do referido hospital, foram acompanhadas por
Marcellino Queiroz de 1953 a 1961, quando do término da sua gestão.
A luta foi árdua, e embora todos os esforços dos irmãos bem-
intencionados que estiveram focados na construção desse Hospital, o qual
atenderia às pessoas na forma convencional de um hospital público, esse tão
sonhado projeto fazia parte do planejamento espiritual, mas com outras formas
de atendimento, como consta na obra Luzes sobre a Amazônia, conforme
demonstrado:
Não sendo estas as intenções de nosso plano – que engendrava o
estabelecimento de um hospital sim, mas um hospital-escola para o
tratamento, fundamentalmente, da alma, no aprimoramento intelecto-
moral, no estímulo ao conhecimento de si mesmo, no fortalecimento
do sentimento do autoamor, do amor pelo próximo e da vivência do
bem, por meio do Evangelho do Cristo e dos princípios espíritas - a
rota das intenções mais imediatistas dos irmãos encarnados foi
carinhosamente desviada por nós. Isto, num primeiro momento,
parecia um retrocesso, mas, em verdade, era o passo atrás em
preparação para a forte caminhada que se seguiria (CAMPELO,
2015, p 145).
Pelas informações prestadas pelos Espíritos, constata-se a intervenção
dos mentores espirituais da instituição, no intuito de alinhar o entendimento dos
envolvidos nesse projeto de acolhimento de assistidos frequentadores e
trabalhadores, idealizado pelos benfeitores espirituais.
c) Recomendações aos familiares sobre seu funeral
Percebendo a aproximação de seu retorno ao plano espiritual,
Marcellino registrou no rascunho da autobiografia os procedimentos a serem
adotados no decorrer do seu velório, deixando por escrito todo processo a ser
executado. Primeiramente enfatizou que seus escritos deveriam ser cumpridos
fielmente, em seguida manifestou sua preferência pelo funeral de terceira
classe, advertindo a seus familiares para não utilizarem qualquer sacramento
da Igreja Católica e que evitassem o uso de traje em luto, sempre comum entre
os católicos.
Essas recomendações demonstram não só o seu preparo para a
desencarnação, conforme a sua formação na Doutrina Espírita, como também
a simplicidade e despojamento com que desenrolou sua passagem,
naturalmente levando sua família a cumprir as observações por ele definidas.
54
Cenário do movimento espírita na época de Marcellino Queiroz
Analisando o período compreendido entre os anos 1946-1950, é
possível identificar a existência de dois grupos distintos, em Manaus. O
primeiro, com características espiritualistas, adotando condutas que divergiam
dos postulados espíritas, mas que pregavam a prática do bem, entre os quais,
segundo Campos (1984, item 13, p.18-21), podem ser destacados Albertina
Sanches, conhecida por irmã Bebe (na Av. Constantino Nery, antiga João
Coelho, nas proximidades do Hospital São José, atual Hospital da Unimed);
Romélia Larréia de Queiroz, que atendia no Beco da Indústria, Bairro dos
Tocos (atualmente Bairro de Aparecida); Leonildes Brasil Cantanhede, que
atuava na própria residência na Av. Epaminondas, nas proximidades da Rua
Leonardo Malcher; Elpídio A. Nunes, na Rua Humaitá – Bairro da
Cachoeirinha; Francisca, no Bairro Santa Luzia; Grupo Estrela do Bem, que
manteve um pequeno jornal com o mesmo nome, teve uma passagem discreta
pelo cenário espírita de nossa capital e do qual faziam parte os confrades
Antônio Alexandre Pereira Trindade e Raimundo Campos, e, ainda, o Grupo
União Amazonense.
Conforme Campos (1984, item 13, p.18-21), os Grupos Familiares,
assim denominados por funcionarem em casa de família, existiam há vários
anos no Estado, os quais foram sendo identificados ao longo da sua pesquisa,
inclusive no período de gestão de Marcelino Queiroz na Federação Espírita
Amazonense. Dentre tantos podem ser referidos: o Grupo Espírita Antônio de
Pádua III, na antiga Rua Cláudio Mesquita, n.º 86 (atual Av. Djalma Batista),
frente ao Seringal Miri (extinto e em cujo local foi edificada uma das bases de
distribuição da Manaus Energia) sob a presidência de Clotilde Serpa do
Amaral; Grupo Espírita Os Humildes, Rua Leonardo Malcher presidido por
Manoel Dorotheu de Souza Brito; e nas suas imediações funcionou outro grupo
sob a presidência de Abel Abdias de Araújo; Grupo Espírita Ismael, Rua
Comendador Clementino, n.º 655, presidido por Antônio Inácio da Silva, que foi
sucedido em 1944 por José Campos no período de 1949-1962, passando o
grupo a funcionar em sua residência; outro Grupo funcionou no mesmo
quarteirão, quase na esquina do Boulevard Álvaro Maia (antigo Boulevard
Amazonas), e era dirigido pelo Sr. Pereira; Grupo Espírita Ismael, na Av.
Japurá (antigo Campo Grande), no cruzamento dessa artéria com a Rua
Comendador Clementino; Grupo Espírita Antônio de Pádua I, na Rua Ramos
Ferreira, depois transferido para o Bairro de São Jorge, em frente ao Quartel do
1.º Batalhão de Infantaria de Selva – BIS, sob a presidência de Joaquim
Doriano de Castro; Grupo Espírita Santo Antônio de Lisboa, na Rua Ramos
Ferreira, n.º 1256 presidido por Maria de Lourdes Dias; Grupo que funcionava
na Rua Jonathas Pedrosa com Rua Leonardo Malcher, presidido por Vitor
Veloso; Grupo que funcionava na Rua Djalma Dutra, quase em frente a
subunidade educacional Herbert Palhano, presidido por Honorino Costa; e,
Grupo Espírita Caridade e Resignação.
A mecânica de funcionamento desses grupos familiares era simples.
Dava-se início pela prece do Pai Nosso, repetida quantos fossem as rogativas
ou oferecimentos, e em seguida era feita a abertura do Evangelho ao ―acaso‖,
após o que era tecido breve comentário, passando-se à reunião mediúnica com
55
acolhimento aos Espíritos comunicantes, e, quando solicitado, o médium
vidente que estava presente tinha papel importante no conjunto do trabalho,
pois detalhava o que se passava no plano espiritual. Como cortesia da casa, ao
final da atividade mediúnica era servido o cafezinho, conforme explica Campos
(1984, p.18-21).
Muitos desses grupos mantiveram o seu funcionamento durante a
presidência de Marcelino Queiroz na FEA, e, possivelmente, com a sua
contribuição e assistência, o que não o impediu de atuar na criação do grupo
de Os Caminheiros da Fé, no ano de 1953, por sugestão de Hemetério José
dos Santos, poeta espírita, eloquente orador, conhecido pelo pseudônimo de
Hemetério Cabrinha, com o objetivo de angariar donativos, a fim de amenizar o
sofrimento dos conterrâneos nordestinos de Hemetério Cabrinha, que sentiam
as consequências da grave seca daqueles anos, além de auxiliar os que
sofriam com os danos causados por uma das maiores enchentes que então
ocorria em nosso Estado (CAMPOS, 1984, item 10, p.16).
Manifestações de reconhecimento a Marcellino Queiroz
Ao longo dos anos dedicados à causa e à Federação Espírita
Amazonense, Marcellino Queiroz, homem de caráter, conciliador, dedicado e
dinâmico, cujas qualidades lhe caracterizam o espírito, recebeu várias
manifestações de apreço, tais como:
1. Pelo confrade José Sales Cavalcante (FEA) - após enaltecer os
trabalhos por ele realizados, realçou seus esforços na administração da
entidade, qualificando-o de estoico, portanto, fiel a seus princípios. Na
ocasião, com extrema simplicidade, esse valoroso trabalhador do bem,
agradeceu a todos os presentes a prova de confiança que lhe havia sido
demonstrada ao longo do período de gestão, e se comprometeu a
trabalhar o mais eficazmente possível em benefício da Federação
Espírita Amazonense (1951).
2. Manuel Izidro da Silva (FEA) - dedicado companheiro de ideal espírita
também manifestou o seu reconhecimento destacando a dedicação ao
trabalho realizado por Marcellino Queiroz junto a FEA. Este, admitindo
enfrentar grandes desafios, agradeceu a lembrança e afirmou não
receber como elogio, mas como o reconhecimento do muito que fez, não
como presidente da diretoria e sim a todos os seus companheiros de
jornada que procuraram elevar o bom nome da Federação
(1956). Naquele ano de 1956 Marcellino Queiroz foi reeleito e declarado
presidente da Federação para o biênio 1956-1957, entre representantes
de Centros Espíritas presentes à reunião, destacando-se Hemetério
Cabrinha, Presidente do Centro Espírita Tenda de Jesus, e outros
ilustres confrades.
3. Jornal do Comércio de 20 de novembro de 1977 - uma nota que merece
destaque, especialmente por representar esclarecimento histórico e
confirmação do empenho de Marcellino em relação ao Hospital Allan
Kardec:
―Completará 13 anos de desencarnação, no dia 25 do corrente, o
dedicado espírita Marcellino Queiroz, que durante longos anos
56
presidiu com muita abnegação, a Federação Espírita Amazonense.
Foi ele o grande iniciador do Hospital Allan Kardec, e, quando do
lançamento de sua pedra fundamental, suas palavras, de espírita
verdadeiro e compreensivo idealista, foram encerradas com esta
assertiva: ―Neste Hospital, que será uma legítima Casa de Caridade,
os necessitados terão direitos e os espíritas deveres‖.
4. Jornal do Comércio de 4 de abril de 1978 – alusão ao nascimento de
Marcellino Queiroz:
Assinala o dia 6 de abril, uma data expressiva para os espíritas do
Amazonas, pois reencarnava o notável confrade Marcellino Queiroz,
grande idealista e conhecedor profundo da Terceira Revelação. Foi
de sua atuação à frente dos destinos da Federação Espírita
Amazonense, que a doutrina se consolidou entre nós, mormente pela
sua admiração e respeito aos princípios kardecistas. Teve a
satisfação de lançar a pedra fundamental do Hospital ―Allan Kardec‖,
obra que vem sendo erguida na estrada do Parque Dez de
Novembro, empreendimento que bastaria para credenciá-lo como
verdadeiro idealista das causas nobres abraçadas pelo Espiritismo
[...]
5. Jornal do Comércio 26 de novembro de 1978 - rememora 11 anos da
desencarnação de Marcellino Queiroz:
[...] Foi ele o lançador da pedra fundamental do Hospital Allan Kardec,
obra a qual se dedicou com grande amor e carinho. Leme seguro no
barco da Federação Espírita Amazonense, foi reeleito várias vezes
presidente da entidade Máter do Kardecismo no Amazonas [...]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse contexto, e por registros confiáveis, é possível identificar
Marcellino Queiroz e seus genitores fazendo parte do grupo de pioneiros do
Espiritismo no Amazonas, considerando as suas presenças no quadro de
fundadores do Grupo Espírita Caridade e Resignação. Essa linha de pesquisa
permite, com clareza e segurança, referir Marcellino Queiroz também como um
dos pioneiros do Espiritismo no Amazonas, o que pode ser asseverado em
razão de pelo menos duas fontes diversas: cópia do rascunho de sua
autobiografia e notícia do Jornal do Comércio edição 19179, de 24 de
novembro de 1966 a esclarecer o fato, o que vem a se constituir em
contribuição especial para a história do Espiritismo e dos espíritas na
Amazônia, fato aqui referenciado de forma inaugural.
Marcellino Queiroz, Espírito idealista, dedicado e esforçado trabalhador
do bem, respeitado por muitos pelo seu cabedal de conhecimentos doutrinários
vivenciados ao lado daqueles que com ele ombrearam no seu dia a dia, deve,
então, ser reconhecido como um dos pioneiros do Espiritismo no Amazonas
porque, como demonstrado, ainda muito jovem participou ativamente da
fundação do Centro Espírita Caridade e Resignação tendo posteriormente
presidido por muitos anos essa renomada instituição, e, como membro efetivo
do referido Centro, participou da fundação da Federação Espírita Amazonense,
vindo a presidi-la por quinze anos consecutivos, tempos depois.
57
Em sua gestão frente a FEA, transformou-se no dinamizador da obra
de construção desta casa que hoje conhecemos como Fundação Allan Kardec,
com trabalho silencioso e honrado, deixou registrado em documentos e através
de fotografias os primeiros movimentos do processo da construção do Hospital
Espírita Allan Kardec, permitindo o resgate de parte da sua história.
E, nos dias de hoje, mais que isso, o início da aproximação das suas
duas famílias consanguíneas envolvidas na trajetória de vida desse valoroso
irmão que, guiado pelas luzes do evangelho do Cristo, administra as
adversidades familiares.
Com a valorosa contribuição dos seus familiares e de irmãos espíritas
trabalhadores atuantes em nosso Movimento Espírita Amazonense, torna-se
possível proporcionar a família espírita no Amazonas, um novo olhar para
aqueles que, como Marcellino Queiroz, doaram-se no trabalho de implantação
do Espiritismo em nossas terras.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMA
Comprometimentos
Pelo fascínio que sinto pelo tema abordado, como se eu tivesse
deixado algo para trás, talvez uma situação não muito bem resolvida em
relação ao ideal de construção de ideias direcionadas ao Hospital em projeto
ou talvez em outros projetos religiosos da mesma envergadura, me leva a
pensar que tal suposição tenha ocorrido em relação aos empecilhos que
coloquei na obra do bem, dificultando a materialização de ideias edificantes no
plano físico.
Realizações
Hoje me esforço na tentativa de reparar os supostos equívocos de
entendimentos de ideias. Reflito um pouco mais antes de emitir sugestões, no
intuito de contribuir harmoniosamente, apoiando principalmente as mudanças
necessárias em nossa instituição. Ciente das incontáveis oportunidades de
aprendizado de grande valia para o meu aperfeiçoamento moral e intelectual
adquiridos nesta abençoada casa ao lado dos companheiros espíritas ou não,
procuro compartilhar com os irmãos de jornada as bênçãos aqui adquiridas,
admitindo o quanto tenho a fazer por eu mesma.
Compromisso de longo prazo
Espero que todas essas informações adquiridas ao longo do processo
de elaboração deste artigo, possam contribuir na minha firme decisão de
manter a determinação de avançar moralmente e intelectualmente, visando o
meu caminhar focado na construção de pensamentos elevados, procurando
vivenciá-los ao longo de minha existência.
Com esse propósito, apresento este singelo trabalho com imensa
alegria e eterna gratidão pelos bons momentos de profundo aprendizado
vivenciados ao lado de companheiros que como eu buscam a promoção do
Espírito imortal.
58
Agradecimentos
Aos companheiros e irmãos de ideal espírita: Robério Braga, José Jorge
de Melo, Lúcia Alves da Rocha, Monique Linhares Figliuolo, Hilo Bastos,
João Vicente Ferreira Fonseca, Pedro Hugo Bindá, Rebeka Queiroz
Gurgel do Amaral, Maria Auxiliadora Melo, Isis de Araújo Martins,
Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre e Lenara Barros Muniz de Paula
Nunes, pelo companheirismo e compartilhamento das experiências
vivenciadas no decorrer da elaboração deste artigo, a todos a nossa
eterna gratidão.
À família de Marcellino Queiroz: Sensibilizada com a pesquisa que foi
realizada, a família cedeu para consulta não só o manuscrito de que se
fala, mas também setenta e quatro fotos inéditas relacionadas ao início
da construção do prédio do Hospital Espírita Allan Kardec. Isso
demonstra o interesse e o respeito pela instituição FAK, não só por ter
mantido guardado tão precioso acervo, como por disponibilizá-lo para
conhecimento amplo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS, José Cunha. História do Espiritismo no Amazonas. 1.º edição.
Manaus/FEA, 1984. Item 10 p.16; Item 26 p.30; Item 13 p.18-21.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA AMAZONENSE- FEA. Ata de Assembleia Geral
para apresentação de Contas e Eleição da diretoria da Federação Espírita
Amazonense. Manáos, 03/03/1907.
______. Ata da Assembleia Geral, em Comemoração à fundação da
“Federação Espírita Amazonense” e Posse dos Corpos Dirigentes para o
Biênio de 1935-1936. Manáos, 30/12/1934.
______. Ata da Sessão de Assembleia Geral Ordinária. Manaus, 09 de
dezembro de 1951.
______. Ata da Sessão Ordinária da Assembleia Geral da Federação
Espírita Amazonense, para Prestação de Contas e Posse da Nova
Diretoria. Manaus, 01/01/1956.
______. Ata de Lançamento da Pedra Fundamental do Hospital Espírita
“Allan Kardec”, Manaus, 04/10/1953.
FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC. Estatuto. Manaus/AM, 30/12/2014.
JOEL (Espírito). Luzes sobre a Amazônia. Psicografado por Marcellus
Campêlo). 1º. ed. -1.ª reimpressão. Manaus: Casa Bendita, 2015.
59
JORNAL DO COMÉRCIO. Seara Espírita. Edição 19179. Manaus,
24/11/1966. Disponível em: http:// www.memoria.bn.br/hdb/uf.aspx Acesso em:
18/09/2016.
______. Seara Espírita. Edição 22577. Manaus, 20/11/1977. Disponível em:
http:// www.memoria.bn.br/hdb/uf.aspx Acesso em: 18/09/2016.
______. Seara Espírita. Edição 22689. Manaus, 04/04/1978. Disponível em:
http:// www.memoria.bn.br/hdb/uf.aspx Acesso em: 18/09/2016.
______. Seara Espírita. Edição 22579. Manaus, 26/11/1978. Disponível em:
http:// www.memoria.bn.br/hdb/uf.aspx Acesso em: 18/09/2016.
MACHADO, José Alberto da Costa. Uma possível periodização da história
do movimento espírita no Amazonas. Anais do 1.º Simpósio FAK - O
espiritismo em terras amazônicas: origens, realizações e compromissos.
Manaus/AM, 2009.
QUEIROZ, Veneranda Reis. Entrevistas com entrega de fotos e rascunho
da autobiografia de Marcellino Queiroz. Manaus, junho de 2017.
TABELIÃO MARROCOS, Terceiro Ofício. Escritura de Doação Pura Simples.
Outorgante Doadora - Prefeitura Municipal de Manaus. Outorgada Donatária -
Federação Espírita Amazonense. Manaus, 29/03/1951.
60
LUIZ FACUNDO DO VALLE: notícias de sua atuação no movimento
espírita pioneiro.
Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre6
INTRODUÇÃO
Ao término de cada Simpósio FAK, o espírito de pesquisa incita-nos na busca
de notícias sobre os pioneiros do Espiritismo nessas plagas amazonenses. Quem
foram esses personagens que se dedicaram à divulgação da novel doutrina, recebida
diretamente do solo francês? Qual a atuação dessas pessoas na sociedade de
então? Como era o contexto das suas vidas profissional e familiar? Quais as suas
contribuições para a consolidação do Consolador Prometido no Amazonas? E nesse
movimento investigatório, nas três últimas edições, dedicamo-nos a trazer à baila
notícias sobre alguns ex-presidentes da Federação Espírita Amazonense (FEA).
Este artigo tem o objetivo de apresentar a biografia do amazonense Luiz
Facundo do Valle, o quarto presidente da Federação Espírita Amazonense, dando
notícias da sua atuação no Movimento Espírita pioneiro. Valle foi um daqueles
trabalhadores da primeira hora, que desenvolvia atividades em diversos grupos
espíritas e esteve presente desde o nascedouro da casa máter, participando das
reuniões preparatórias em janeiro de 1904, até tornar-se o seu quarto presidente,
entre os anos de 1918 e 1920.
1 METODOLOGIA
Para ter acesso às informações sobre a sua vida pública, realizou-se pesquisa
documental em jornais da época na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e
buscou-se a leitura de documentos oficiais. As notícias sobre a sua atuação no
Movimento Espírita amazonense foram encontradas as atas da FEA e em periódicos
espíritas de antanho; e, para complementar as informações pessoais e familiares,
rastreou-se os seus descendentes, procurando pessoas com sobrenome similar,
contando com a intermediação da amiga Rita Facundo Magalhães, do historiador
Antônio Souto Loureiro, além de serem efetuadas pesquisas nas mídias sociais e na
Plataforma Lattes. Optou-se, nas transcrições das citações da época, pela
manutenção das regras ortográficas então vigentes.
O historiador Loureiro colocou-nos em contato com Marcello Facundo do Valle,
filho de João Facundo do Valle (irmão do biografado); Rita Facundo passou-nos o
contato de Rogério do Valle, neto do João Facundo; e as pesquisas no Google,
trouxeram-nos o nome de Luiz Facundo do Valle Netto – isso mesmo, um neto! Com
as informações do Curriculum Lattes fez-se contato por email e Facebook com Valle
Netto, sendo ele o intermediário entre a articulista e a sua irmã caçula Vera Lúcia
Botelho do Valle Faleiro. Abriu-se uma conta no Instagram apenas para adicioná-la,
fez-se o contato inicial, sem o retorno almejado. Em poucos dias, mais de 200
pessoas seguindo, menos a Vera... Novo pedido de ajuda ao Luiz Netto, e alguma
tempo depois obteve-se um tímido primeiro contato!
6
Trabalhadora da Fundação Allan Kardec, atualmente na condição de Vice-presidente da Área
de Estudos e Exercício do Bem.
61
Foram meses intermeados de pesquisas frenéticas, entrevistas, respostas
rápidas, outras nem tanto... Enfim, o que vai ser apresentado é o resultado de
esforço, paciência e paixão.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Dados Biográficos
Filho dos cearenses Rufino e Raymunda Facundo do Valle, Luiz nasceu na
cidade de Manaus, estado do Amazonas, no dia 24 de junho de 1884 [?]. Teve como
irmãos: [Antonio?], Matilde, Amélia, Maria, Joanna, João e Lydia Facundo do Valle
(FALEIRO, 2017). Retornou à pátria espiritual, na sua cidade natal, aos 72 anos de
idade, após sofrer um edema agudo de pulmão, em sua residência na Rua Recife,
807 [local onde atualmente fuciona a Faculdade Martha Falcão] (VALLE, 2017), no
dia 29 de outubro de 1956, sendo sepultado no Cemitério São João Batista. O seu
atestado de óbito foi lavrado pelo Cartório do 1.º Ofício, em 13 de novembro de
1956, pela oficial Maria Antonia de Sena Costa (CERTIDÃO, 1956).
Segundo a sua neta, Vera Faleiro (2017), filha de Alice Botelho do Valle,
Ele [veio] a Manaus para vender suas coisas, pois havia decidido morar
no Rio com a família denitivamente, com a filha Gilda... - minha mãe me
contou isso -, mas passou mal e veio a falecer.
Eu tinha quatro anos. Nossa! muito novinha. E lembro muito dele e das
nossas conversas... Coisas que não dá para entender [...]
Eu o chamava de pai, pois eu não conheço meu pai, [que] faleceu
[quando] eu era bebê.
Minha mãe e [minhas] tias me contavam que foi [a] minha avó que
pediu, para morar aqui no Rio, pois se encantou pela cidade...
Vinham muito ao Rio, nas férias […].
Realmente há registros de suas partidas para o Rio de Janeiro e de seu
retorno a Manaus, tanto nos jornais amazonenses, como nos cariocas,
demonstrando o seu apreço pela cidade maravilhosa – capital federal à época:
Chegou ao Rio hontem, vindo do norte, o paquete nacional ―Olinda‖,
trazendo para o RIO: [...] major Luiz Facundo do Valle e família,
Raymunda Valle (VIAJANTES, 1915, p 3).
Sahiram hontem deste porto, no Paquete ´Prudente de Moraes´ para o
Rio de Janeiro [...] Luiz Facundo do Valle, D. Maria da Conceição C. do
Valle e menor (PARTIDAS, 1927, p 2).
No ano de 1893, Facundo estudava no Externato 15 de Novembro,
cursando a 2ª Classe / 2ª Turma, sendo ―aprovado plennamente7 em Leitura,
Taboada e Calligraphia‖ (NOTICIARIO, 1893, p 212). No ano seguinte, cursando
a 3.ª classe, foi aprovado com o grau 9, nos exames gerais preparatórios para o
Gymnasio Amazonense (NOTICIARIO, 1894, p 2446). E, finalmente, no ano 1898,
o Diário Oficial registrou a sua aprovação nos exames finais do Gymnasio:
Gymnasio Amazonense
7
A avaliação do rendimento escolar naquela época se subdividia em três categorias:
simplesmente (1 a 5), plenamente (6 a 9) e distinção (10). In: Relatórios dos Presidentes dos
Estados Brasileiros, ed 001, ano 1909, p 153.
62
De ordem do sr. dr. Director, convido os candidatos abaixo declarados,
para comparecerem no dia 24 do corrente as 10 horas da manhã a fim
de serem submetidos ao exame de admissão [...] Luiz Facundo do Valle
(EDITAES, 1898, p 13143).
[…]
Exames finaes [..] aprovados [..] Luiz Facundo do Valle (INSTRUCÇÃO
PUBLICA, 1898a, p 14470; 1898a, p 1).
No início do século XX, a Sociedade de Propaganda Spirita, instalou o
Curso Nocturno, e segundo Martins (2011) ―[…] com esta iniciativa, a Sociedade
visava à prática da caridade, espalhando a instrução gratuitamente entre seus
irmãos necessitados.‖ Apesar de visar atender a população em geral, observou-se
que alguns profitentes do Espiritismo, se inscreveram ou inscreveram seus filhos,
em uma ou mais matérias oferecidas no referido curso. Facundo, aos 16 anos [?],
foi inscrito na classe de Português primário e secundário (A SOCIEDADE, 1901).
2.2 Familiares: Pais e Irmãos
Segundo o historiador Antônio Loureiro (2017), os Facundo do Valle vieram do
Ceará, para o Amazonas, na segunda metade do século XIX.
O seu genitor, Rufino Facundo do Valle, apareceu numa relação de eleitores
de Pacatuba (CE), publicada em 25 de agosto de 1872 (SUPPLENTES, 1872); como
também numa lista divulgada em algumas edições do jornal ―O Cearense‖, contendo
uma intimação datada de 20 de fevereiro de 1880, que convocava os condutores de
gêneros, a prestarem contas a Thesouraria da Fazenda Nacional (THEZOURARIA,
1880).
Em 1881, Rufino seguiu em viagem para o norte, embarcando ―No vapor
Espirito Santo com destino ao Maranhão e Pará‖ (PASSAGEIROS, 1881). Supõe-se
então, que nessa época mudou-se para Manaus, pois em 1882, foi nomeado sub-
delegado do distrito de Lábrea, fixando residência no estado do Amazonas
(NOTICIARIO, 1882).
Anos depois, juntamente com outros eleitores, teve o ―[…] cancelamento do
direito de votar, porque não provaram que tem casa de commercio desde dois annos,
pelo menos antes de setembro deste anno, nem que costumam commerciar no
corrente exercicio‖ (CANCELAMENTO, 1886, p 4). A suspensão da prerrogativa do
voto ocorreu, porque na primeira constituição brasileira, de 1824, havia a proibição do
voto de mulheres, escravos, criados e qualquer pessoa que possuísse renda
anual inferior a 100 mil-réis.
Rufino faleceu no dia 08 de março de 1893, conforme pode ser visto no convite
da missa de sétimo dia, que trazia uma mensagem de agradecimento, publicada em
quatro edições do jornal ―Amasonas‖, na qual a família se dirigia a todos os que
acompanharam o seu funeral:
Missa
Rufino Facundo do Valle
Raymunda Facundo do Valle e seus filhos agradecem do intimo
d‘alma a todas as pessoas que acompanharam a ultima morada o
seu idolatrado esposo e pae [...], fallecido 8 do corrente, e convidam
aos parentes e amigos para assistirem a missa que mandam celebrar
as sete horas da manhã, na igreja dos Remédios, no dia 14 do
corrente, sétimo dia do seu passamento (MISSA, 1893, p 2).
63
Um ano após o seu passamento, foi publicada no Diário Oficial a notícia
sobre o ―Inventario dos bens que ficaram por falecimento de Rufino Facundo do
Valle. Inventariante: Raymunda Acioly do Valle‖ (FORUM, 1894, p 2550).
Desconhece-se as condições econômicas da família, àquela época, mas
supõe-se que o falecido tenha deixado propriedades para os seus herdeiros,
pois além da moradia na rua Saldanha Marinho - n.º 641, tem-se a informação
de um imóvel situado na Praça da Saudade, n.º 12 e de um terreno no bairro
da Cachoeirinha, pertencente a Raymunda, herdado do marido (EDITAES,
1894, p 2111). O comprador de um lote vizinho, chamado de Antonio Facundo
do Valle, tem o mesmo sobrenome de Rufino, podendo ser um parente próximo
[filho?], por isso o interesse de estar na proximidade da família? (VENDA,
1893).
Esse terreno, localizado no bairro da Cachoerinha, foi vendido anos mais
tarde, pelos herdeiros de Rufino e Raymunda, como pode ser comprovado na
publicação abaixo:
No Thesouro do Estado, o Dr. Antonio Crespo de Castro, pagou
transmissão sobre a importancia de dois contos de reis por quanto
comprou a Joanna Facundo do Valle, Luiz Cavalcanti e sua esposa,
Lydia Facundo do Valle e Joao Facundo do Valle um terreno situado
no bairro da Cachoeirinha nesta cidade (NO THESOURO, 1915, p1).
A matriarca da família, dona Raymunda Facundo do Valle, nascida Acioly,
também era natural do Ceará. Desconhece-se o ano do seu nascimento, contudo o
seu natalício era comemorado no dia 13 de maio, sendo parabenizada em
publicações que antecederam as colunas sociais contemporâneas:
Aniversário de Raymunda Facundo do Valle (ANNIVERSA-
RIOS,1911a, p1).
Faz anos hoje:
[..]
A veneranda sra. d. Raymunda Facundo do Valle, genitora do Sr. Luiz
Facundo do Valle e sogra dos srs. Moyses Jose Vieira, Agostinho
Cezar de Oliveira e Luiz Cavalvanti, comerciantes desta praça
(ANNIVERSARIOS, 1911b, p 2).
.
Pouco sabemos sobre a sua mãe, mas certamente deve ter sido aquela
que conduziu a família à seara espírita, pois no dia 07 de agosto de 1902
[1904?] a veneranda senhora fundou o Grupo Espírita ―Regeneração dos
Discípulos de Jesus‖, situado a Rua Lima Bacury, 33 (NOTICIARIO, 1902), e
posteriormente a Praca da Saudade, n.º 12, Manaus, Amazonas, sendo uma das
Casas pioneiras do Espiritismo em Manaus (SEARA ESPÍRITA, 1977a; 1977b).
A Doutrina Espírita parece ter sido um agente agregador da família, pois
Raymunda foi membro da Comissão de Assistência aos Necessitados, que
desenvolvia as atividades caritativas da Federação Espírita Amazonense,
conforme registro em ata: ―A eleição procedida na Federação para seus corpos
dirigentes […] assistência aos necessitados, Luiz Cavalcante [genro] […] dona
Raymunda Facundo do Valle‖. (ELEIÇÃO. 1916, p1). Na federativa, também
atuavam mais dois dos seus filhos: João e Lydia.
As viagens de longa distância daquela época, em navios denominados
paquetes, tinham as suas partidas e desembarques noticiados nos jornais, bem
como a relação com os nomes dos passageiros. A Sra. Facundo do Valle,
64
também desfrutava de viagens com a família: ―desembarcaram do paquete
Olinda, vindo de Belem do Pará Raymunda Valle, sua filha Amélia Oliveira e 1
menor‖ (OS PASSAGEIROS, 1918, p2).
A prole de Rufino e Raymunda Facundo do Valle era composta de sete
[oito?] filhos, sendo dois [três?] homens e cinco mulheres. Apesar da informação
de Loureiro (2017), que o casal teve um primeiro filho de nome Antonio, a dúvida
decorre da ausência de registros do seu nome em publicações nos periódicos da
época, em eventos nos quais apareciam os nomes dos demais irmãos.
O historiador Antonio Loureiro, diz na página 35, do seu livro inédito de
título ―Os quatro costados‖ – história de seus antepassados –, que o primeiro
filho de Raimunda Acioly chamou-se Antonio Facundo do Valle, tendo nascido
no Ceará. O primeiro registro de sua presença em Manaus foi localizada no
Jornal ―Amasonas‖, tratando da compra de um terreno no bairro da
Cachoeirinha, em outubro de 1893, meses após a morte de Rufino (VENDA,
1893). Esse terreno era limítrofe com o pertencente à dona Raymunda. Será
coincidência, ou a escolha decorria dos laços de parentesco?
Nas publicações sobre concursos públicos, no ano de 1894, diz que
Antônio, ―se inscreveu para o cargo de practico na cadeia publica de Itacoatiara‖,
mas ―não compareceu ao concurso para o cargo‖ (OFFICIOS,1894a, p 1846;
1894b, p 1981). Em 1985, o jornal cearense ―A República‖, deu a notícia da sua
presença numa ―subscrição organizada no Amazonas que angariou recursos
para o Sr. José Lino de Souza Barros‖ (TRIBUNA, 1895, p2). A última referência
àquele que pode ter sido o primogênito de Raymunda, foi no ano de 1899,
quando desempenhava a função de ―comandante do vapor <Teffé>, da
Companhia do Amazonas‖ (SNR. ANTONIO, 1899, p 2).
O noivado da sua irmã Matilde Facundo do Valle com o Sr. Luiz
Cavalcante, sócio da livraria ―Palais Royal‖ foi divulgado em 28 de junho de 1904
(SALAS, 1904). Nos proclamas do seu casamento, publicado em várias edições
do Jornal do Commercio, em novembro de 1904, diz que ela nasceu em
Manaus, e tinha 15 anos de idade, podendo ser deduzido que o seu nascimento
ocorreu no ano de 1889,
Primeiros proclamas
Faço saber que pretendem casar-se Luiz Cavalcante e Mathilde
Facundo do Valle.
Elle filho legitimo de Benvindo Cavalcante de Albuquerque e de d.
Izabel Torres de Albuquerque, com 25 anos de idade dizendo ser
natural do Ceará e residente em Manáos. Ella filha legítima de Rufino
Facundo do Valle e de d. Raymunda Facundo do Valle, com 15 annos
de idade dizendo ser natural deste Estado (PRIMEIROS, 1904c, p 4;
1904d, p 4; 1904e, p 4).
Outro detalhe observado é que em uma das publicações desses anúncios, o
sobrenome da sua mãe aparece grafado como Raymunda Acioly do Valle,
corroborando a informação do seu nome de solteira, informado por Loureiro (2017).
Cinco anos depois, o casal divulga o nascimento de um filho: ―Recebemos
ainda a communicação do nascimento da gentil creança, por intermedio dos seus
genitores sr. Luiz Cavalcante e d. Mathilde Facundo Cavalcante a quem felicitamos‖
(RECEBEMOS, 1909, p 2).
Em anúncio de um acidente ocorrido em 1926, envolvendo sua irmã Joana,
aparece um outro filho do casal, identificado como ―o menino Paulo Cavalcante‖
(AUTO INFERNAL, 1926, p 1). Outra criança é anunciada muitos anos depois:
65
―Recebemos a communicação do nascimento da gentil creança Jandyra, por
intermedio de seus genitores sr. Luiz Cavalcante e d. Mathilde Facundo Cavalcante‖
(RECEBEMOS, 1949, p 6).
Maria Facundo do Valle, nascida em Manaus, no dia 13 de março de 1887[?].
Formou-se como normalista, profissão escolhida pela maioria das mulheres do seu
tempo. Tais inferências decorrem de publicações dos proclamas do seu casamento e
de felicitações pelo seu natalício publicadas em diversos periódicos:
Primeiros proclamas
Faço saber que pretendem casar-se o dr. Moyses José Vieira e d.
Maria Facundo do Valle.
Elle filho legitimo de Jesuino José Vieira e de d. Maria Amelia Vieira,
com 30 anos de idade dizendo ser natural do Ceará e residente em
Manáos. Ella filha legítima de Rufino Facundo do Valle e de d.
Raymunda Facundo do Valle, com 17 annos de idade dizendo ser
natural deste Estado (PRIMEIROS, 1904a, p 6; 1904b, p 4).
Aniversário de Maria Facundo do Valle, aluna da escola normal
(CHRONICA, 1913, p2; ANNIVERSARIOS, 1910a, p 1; 1912, p1;
1913, p1; FAZEM annos,1912, p 1).
O seu companheiro, Dr. Moyses José Vieira, faleceu em abril de 1935,
após 31 anos de convivência, deixando-lhe como companhia as duas filhas:
Célia e Alda Vieira. Em 1939, a família recebeu da Fazenda Estadual a
importância que lhes coube pelo falecimento do esposo e pai Moyses Oliveira
Vieira (AS ALTERAÇÕES, 1939).
Sua irmã, Amelia Facundo do Valle, foi casada com Agostinho Cezar
de Oliveira, sócio proprietário da empresa Cesar & Cia. Ltda., com quem teve
um filho. Com a sua morte, a tradicional empresa fez alteração do seu contrato
social e retirou da sociedade o nome da mãe e do filho:
Em sessão de sexta feira 17 de junho do corrente ano, foram
despachados os requerimentos seguintes: de Cesar & Cia. Ltda,
desta praça, requerendo o arquivamento da alteração feita no seu
contrato social pelo desligamento da sócia dona Amelia Facundo
Cesar de Oliveira por motivo do seu falecimento e retirada do sócio
Agostinho Cesar de Oliveira Filho embolsado dos seus haveres
(JUNTA COMERCIAL, 1946, p 7).
Nascida no Ceará, Joanna Facundo do Valle fazia aniversário no dia
27 de julho, recebendo felicitações pelo seu natalício, por meio de publicações
nos jornais. (FAZEM ANNOS, 1906; ANNIVERSARIOS, 1909; 1910c).
Foi casada com o viúvo Dr. Jonas da Silva, odontólogo, formado pela
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; poeta de destaque, representante do
movimento simbolista. Ele era filho de João Antonio da Silva e Firmina
Fontenelle, casal de pioneiros do Espiritismo, sendo o seu pai o primeiro
presidente da Federação Espírita Amazonense (NOBRE, 2015; BRAGA, 2017).
66
Figura 01: Joana do Valle Silva e Jonas da Silva
Fonte: BRAGA, Robério dos S. P. In: Jonas da Silva, vida e poesia.
Joanna não teve filhos, mas convivia com os enteados Alberto Carreira e
Sulamita da Silva. Num passeio em um domingo, a família foi vítima de um
grave acidente automobilístico na Rua João Coelho [atual Constantino Nery],
que diante das circunstâncias e do envolvimento de pessoas da sociedade, foi
minuncosamente detalhado numa reportagem:
Registra um desastre envolvendo dr. Jonas da Silva e sua filha
Jandyra (ilesos), feridos a Joanna Facundo e Sulamita (filha dele com
uma tutelada) e o menino Paulo Cavalcante [um sobrinho] filho de
Luiz Cavalcante e Mathilde Facundo (AUTO INFERNAL, 1926, p 1).
Desencarnou em 17 de agosto de 1940, na sua residência:
As dezesseis horas e cincoenta minutos de hontem, falleceu, em sua
residencia, a avenida Joaquim Nabuco, setecentos e onze, a sra
Joanna Facundo da Silva, esposa do dr. Jonas da Silva, chefe da
empresa Fontenelle. A extincta era cearense, e muito estimada em
nossa sociedade. São seus enteados o dr. Alberto Carreira e dona
Sulamita da Silva Leal, esposa do dr. Deoclydes Carvalho Leal. Era
irmã dos srs. Luiz Facundo do Valle, João Facundo do Valle e de
donas Lydia Facundo do Valle, Maria Facundo Vieira, Mathilde
Facundo Cavalcante e Amélia Facundo de Oliveira (OS MORTOS,
1940, p 1).
Como a maioria das mulheres da sua época, Lydia Facundo do Valle
formou-se normalista (A CONGREGAÇÃO, 1913; AS NORMALISTAS, 1940),
sendo nomeada para reger a cadeira mista do bairro dos Remédios (NA
DIRETORIA, 1912). Por alguns anos (1917 a 1921), atuou como diretora do
Collegio Infantil (OS EXAMES, 1917; 1919; 1921). E em 1929, foi nomeada
como professora substituta do grupo Escolar José Paranaguá (NOMEADA,
1929).
67
Fazia aniversário no mesmo dia da mãe, 13 de maio (FAZEM ANNOS,
1909; ANNIVERSARIOS, 1910b; 1928) Tudo indica que não constituiu família,
pois em 1928, no anúncio do seu natalício, ainda era tratada como senhorita:
―Faz anos hoje: a senhorita Lydia Facundo do Valle, irmã do Sr. Luiz Facundo
do Valle, despachante geral de nossa Alfandega‖ (ANNIVERSARIOS, 1911a, p
2).
No ano de 1939, publicou-se um requerimento para reforma de um
prédio de sua propriedade, no centro da cidade: ―Lydia Facundo do Valle
requereu licença a prefeitura para proceder concerto no predio numero dois mil
cento e oitenta e um, à avenida Sete de Setembro‖ (OMNIBUS, 1939, p 1).
O dileto João Facundo do Valle8 pode ser considerado um irmão na
vida e na fé. Foi parceiro do Luiz na área profissional, chegando a ser o
procurador para gerenciar os seus negócios (AO COMMERCIO, 1919a;
1919b); e, também o acompanhou na Federativa por muitos anos. Nasceu em
Manaus, no dia 17 de junho [1889], casou com Maria da Conceição Chaves do
Valle [Mariúna], com quem conviveu mais de 50 anos (BODAS DE OURO,
1973). Tiveram sete filhos: Valéria, Samuel, Sonia, Vanda, Maurílio, Marcello e
Maria Júlia. Desencarnou em sua residência, no dia 23 de agosto de 1973, aos
84 anos, vítima de um mal súbito (NOTA DE FALECIMENTO, 1973).
2.3 Casamento e descendência
Segundo Faleiro (2017), sua esposa chamava-se Maria Liliosa Botelho
do Valle e tiveram oito filhas, seus nomes:
Helena, Hévila, Alice [primeira], Nilce, Alice [segunda], Iris, Gilda e
Amélia. Não estão em ordem de nascimento. Minha mãe era Amélia,
a filha caçula. Meu irmão tem o nome dele...Luiz Facundo do Valle
Netto (FALEIRO, 2017).
Nos jornais da época, a maioria dessas informações foram confirmadas.
Aos 29 anos, Luiz casou com Maria Liliosa Botelho, no dia 15 de março de
1913, e tiveram as núpcias anunciadas no jornal:
Realizou-se hontem o casamento do sr. Luiz Facundo do Valle
despachante geral da Alfandega e da Recebedoria com a gracil
senhorita Maria Liliosa Botelho dilecta irmã do sr. Jacinto Botelho
(CASAMENTO, 1913, p 1).
Formavam um belo e elegante casal, como pode ser visto na foto a
seguir, que registra a preparação para viagem de lua de mel, em março de
1913, gentlmente cedida pela neta Vera Lúcia Botelho do Valle Faleiro,
residente na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
8
Para maiores informações, buscar o artigo da mesma autora, de nome “JOÃO FACUNDO DO
VALLE: UM BOM COMPANHEIRO NA VIDA E NA FÉ”, que será apresentado neste V Simpósio
FAK.
68
Figura 2: Foto do casal Luiz Facundo do Valle e Maria
Liliosa Botelho do Valle, em março de 1913.
Lili, como era chamada carinhosamente, tinha como irmãos os senhores
Jacintho Cézar Botelho e Alfredo Cézar Botelho, casados com Hévila e Ignézia
Gonçalves respectivamente; sendo ambas, filhas de outro pioneiro do
Espiritismo, o Coronel Carlos Theodoro Gonçalves, que também presidiu a
FEA e foi figura proeminente da sociedade amazonense (NOBRE, 2015b).
Sua neta descreveu a residência do avô em Manaus: ―Era uma casa de
esquina, tipo quase um quarteirão, cheia de janelas. Tenho uma foto da casa,
mas encontrar é que é o problema‖ (FALEIRO, 2017). O sobrinho neto, Marcelo
do Valle (2017), corrobora essa informação dizendo que ―ele morou em uma
casa de esquina, do lado direito do Rio Negro Clube, uma quadra antes de
chegar na praça‖. Nos registros localizados [atestado de óbito e notícia em
jornal], dois endereços aparecem como domicílio, o da Av. Recife, onde
desencarnou e outro na Epaminondas. Esse segundo endereço é confirmado
por notícia divulgada no Jornal do Commercio: ―Luiz Facundo do Valle,
comprou a Benjamin Constant da Costa Ferreira e sua mulher, o prédio situado
a estrada Epaminondas n. 563, por 50.000,00‖ (ADQUIRIRAM, 1944, p 2).
Figura 3: Residência de Luiz Facundo do Valle, na Rua Epaminondas, próximo
ao Rio Negro Clube.
69
O casal gozava de destaque na sociedade local, pois muitas notícias
sobre a família eram publicadas em jornais de grande circulação. Assuntos
festivos como nascimentos, aniversários e casamentos; ou tristes, como
falecimentos; conforme podemos demonstrar a seguir na apresentação da sua
prole feminina.
A filha primogênita chamava-se Iris Botelho do Valle, nascida no dia 22
de abril de 1916, teve o seu primeiro aniversário publicado na coluna Manaos
Social, em 22 de abril do ano seguinte, com direito a uma mimosa fotografia
(IRIS, 1917). Importante destacar que a publicação de fotos dos
aniversariantes era algo incomum à epoca. Normalmente limitava-se a relação
dos nomes dos homenageados, separando-os por gênero e idade: crianças,
senhorinhas e adultos. Contraiu matrimônio com Adolfo de Souza Filho, seu
primo, com quem teve três filhos: Maria Luiza, José Luiz e Helena, todos já
falecidos (FALEIRO, 2017).
Figura 4: Foto de Iris Botelho do Valle.
In: Jornal do Commercio, 22 Abr. 1917.
Ainda bebê, a pequena Alice Botelho do Valle desencarnou, em
consequência de uma diarreia (FALEIRO, 2017). Se nos dias atuais, muitas
crianças ainda sucumbem a doença diarréica, quando não tratadas
rapidamente, naquela época era comum esse tipo de ocorrência. Em novembro
de 1917, por ocasião do dia de finados, um jornalista registrou a sua visita ao
cemitério São João Batista e relatou o cenário de consternação comum nessas
datas, descrevendo a ornamentação dos túmulos, costume mantido até hoje:
―Romaria de hontem ao Campo Santo, […] encontrou o tumulo ornamentado da
menina Alice, filha de Luiz do Valle‖ (ROMARIA, 1917, p 1).
Nascida em maio de 1918, Nylse Botelho do Valle teve o anúncio do
seu nascimento com pompa: ―O sr. Luiz Facundo do Valle e sua esposa,
participaram-nos, em fino cartão, o nascimento de sua filhinha Nylse ocorrido
nesta capital‖ (NASCIMENTO, 1918, p 1).
O seu noivado, aos 14 anos de idade, com Luiz Augusto Bacellar, foi
motivo de alegria para a família:
Pelo dr. Emiliano Stanislau Affonso, chefe de polícia, foi solicitada em
casamento, para o sr. Luiz Augusto Bacellar, a senhorinha Nilce
Botelho do Valle, filha do sr. Luiz Facundo do Valle, despachante
70
aduaneiro, tendo sido o pedido bem acolhido pela família da noiva
(PEDIDO, 1932, p 2).
Luiz Augusto era filho do médico e ex-governador do Amazonas, Pedro
de Alcântara Bacelar, que governou durante forte crise econômica [1917-1921],
e dentre as ações que desenvolveu no seu governo, destacou-se a notícia da
compra do palacete, construído em 1903, pelo alemão Karl Waldemar Scholz,
e que passou a ser o Palácio do Governo, atual Palácio Rio Negro (PEDRO,
2017).
O casal teve sete filhos: Pedro Augusto, Maria Augusta, Luiz Augusto,
Raimundo, Alfredo, Hévila e Celso Augusto. O casamento de Luiz Augusto
Bacellar Filho com Agostinha Lúcia Bacelar de Souza, ocorrido no dia 30 de
novembro de 1963, na catedral de N. Senhora da Conceição, foi divulgado
alguns dias depois, com a informação de que o novo casal iria residir no Rio de
Janeiro (CASAMENTO, 1963).
Não se localizaram notícias sobre as suas filhas Helena e Hévila
Botelho do Valle. Segundo Faleiro (2017), ela tomou conhecimento por
comentários da família, que durante umas férias no estado do Ceará, as duas
desencarnaram ainda adolescentes, aos 15 e 17 anos, respectivamente; foram
vitimadas pela febre amarela durante um surto da doença. Os enterros foram
realizados naquele Estado, mas não sabe precisar o ano.
Em relação a Gilda e Alice Botelho do Valle, segundo Faleiro (2017) a
primeira desenvolvia atividades do lar e a segunda foi corretora de imóveis;
ambas solteiras e sem filhos, já falecidas. Não se encontraram informações
que demonstrassem as suas posições na constelação familiar.
A sua filha caçula chama-se Amélia Botelho do Valle, ela nasceu em
Manaus, no dia 14 de julho de 1930. Alguns registros de aniversários da
Amélia, foram publicados no Jornal do Commercio nos anos de 1940 e 1950
(ANIVERSARIO, 1954; 1955), como pode ser visto no texto abaixo:
Num ambiente festivo de alegria, vê, decorrer hoje, sua data natalícia,
a prendada senhorinha Amélia Botelho do Valle, filha dileta do sr.
Luiz Facundo do Valle e de sua esposa exma. Sra. d. Maria Liliosa
Botelho do Vale, e fino ornamento da nossa melhor sociedade.
A distinta aniversariante, pelas distintas qualidades que exornam sua
personalidade, na passagem do grato evento, como sempre, será
muito felicitada pelas suas amiguinhas, recepcionando-as na
residencia dos seus queridos genitores, a avenida Epaminondas
(AMELIA, 1946, p 7).
Amélia foi enfermeira e instrumentadora cirúrgica. Partiu para o mundo
espiritual no dia 29 de novembro de 2014, aos 84 anos, na cidade do Rio de
Janeiro, onde residia. Teve dois filhos: Vera Lúcia Botelho do Valle Faleiro e
Luiz Facundo do Valle Netto (FALEIRO, 2017).
2.4 Atividades na Sociedade
De acordo com Braga (2015), a Sociedade de Tiro Amazonense
[Sociedade de Tiro n.º 10] foi fundada em 9 de fevereiro de 1908, e no ano
seguinte já possuía 811 sócios. Valle aparece inscrito no Batalhão, em
publicação de 06 de agosto (GAZETILHA, 1909) e no dia 22 de outubro de
1909, confirma-se a sua presença:
71
Attingiu hontem a 67 o numero de sócios da Sociedade de Tiro
Brasileiro no Amazonas, inscriptos nos cursos de evoluções de
infantaria e tiro de guerra, sob direção do tenente Oliveira Pantoja.
[...] São esses os sócios matriculados [...]: Luiz Facundo do Valle
(SOCIEDADE, 1908, p 1).
O mesmo autor informou que a Sociedade de Tiro n.º 10 ―era
considerada uma escola de civismo, chegando a ter sede própria, localizada na
Rua Guilherme Moreira; e que em 1909 passou a ser designada Tiro de Guerra
n.º 10, sendo reconhecida pelo Departamento de Guerra do Governo Federal‖
(BRAGA, 2015).
Como escola de civismo, pode-se ver a seguir o relato de um desfile
promovido em novembro de 1908, do qual Luiz do Valle participou como chefe
de fila:
Sociedade de Tiro Brasileiro no Amazonas
Depois de algumas evoluções no pateo interno do quartel do 36.º
batalhao de infantaria, sahio a companhia formada a allemã, em tres
pelotões em passeio pela Rua José Clemente, contornando a praça
de S. Sebastião, acompanhado de populares que, enthusiamados,
notavam o grande aproveitamento dos patrioticos rapazes.
[...] Será a seguinte formação das filas e serra-filas amanhã:
3.º Pelotão: Commandante Bruno Baptista
Chefes de filas: [...] Luiz Valle (GAZETILHA, 1908, p 1).
Sua presença na Guarda Nacional foi registrada em várias ocasiões.
Primeiro com a patente de capitão e depois como major. Em 1908, o capitão
Luiz F. do Valle foi encontrado de plantão pela Guarda Nacional (GUARDA,
1908), depois num edital de ―Convocação de alistamento militar‖
(CONVOCAÇÃO, 1908), outra vez de guarda como capitão, no quartel
localizado à Rua Quintino de Bocayuva, n.º 32. Em 1915, já apareceu com a
patente de major, numa viagem ao Rio de Janeiro com a genitora: ―Chegou ao
Rio hontem, vindo do norte, o paquete nacional ‗Olinda‘, trazendo para o RIO:
[...] major Luiz Facundo do Valle e família, Raymunda Valle‖ (CHEGADAS,
1915, p 3).
Como cidadão atuou em muitas frentes. Foi vice-presidente do Tennis
Club, em cuja diretoria encontrou-se outro pioneiro do Espiritismo, o Sr. Manoel
Bluhm:
Da directoria do Tennis-Club, recebemos hontem uma circular
communicando a eleição de seu novo corpo dirigente, que ficou assim
constituído: Ignacio Lages, presidente; Luiz F. do Valle, vice-dito; Carlos
Nobre e Manoel Bluhm, secretários; Manoel Aguiar, tesoureiro (TENNIS,
1909, p 1).
Em vários pleitos eleitorais, desempenhou diversas funções. No ano
1912, tendo como companheiro Agnello Bittencourt, foi convocado para
suplente na sétima seção (ELEIÇÕES, 1912). O Tribunal Regional Eleitoral, no
ano de 1933, convocou vários cidadãos, entre eles o Facundo do Valle, para
comparecerem a chefatura de polícia, a fim de serem identificados (TRIBUNAL,
1933). E finalmente, no ano de 1954, foi indicado para atuar como 1.º mesário,
na 10.ª Seção, que funcionaria no edifício da Procuradoria Geral do Estado
(ONDE VOTARÃO, 1954).
72
As pessoas de projeção social, com as suas presenças, davam
credibilidade às ocorrências que participavam. Luiz do Valle, num desses
momentos, foi testemunha do pagamento de um prêmio de 20.000 réis à menor
Helena Heloisa Ribeiro, filha de Jeronymo Ribeiro, realizado pela ―União
Mútua‖, Companhia Constructora e de Crédito Popular (UNIÃO MÚTUA, 1916).
Naquele tempo, como hoje, os cumprimentos aos aniversariantes eram
registrados nos jornais. A presença do seu nome cumprimentando a Sra. Emilia
Ferreria Reis, pelo seu natalício, sendo ela a esposa do Dr. Vicente Reis,
director do Jornal do Commercio, demonstra que pertencia à elite social da
época (CUMPRIMENTOS, 1919).
A participação de um cidadão, como jurado em um Tribunal de Juri era
prerrogativa de pessoas de relevo na sociedade, e o biografado apareceu
sorteado:
Sob a presidência do dr. Manoel Miranda Simões, juiz de direito da
primeira vara, reuniu hontem no Palácio da Justiça, a junta de sorteio
de jurados do Tribunal de Jury, a instalar-se no dia dois de fevereiro,
em sua primeira reunião do corrente anno.
Estiverem presentes o dr. Gentil Bittencourt, superintendente
municipal interino, e os drs. Ary Tapajos Cahn e Edgard de Castro,
promotores públicos do primeiro e segundo districto, foram sorteados
respectivamente: [...] Luiz Facundo do Valle (O QUE HOUVE, 1925, p
1).
Uma faceta de Luiz, que não se teve a oportunidade de maior
investigação, foi a sua verve de poeta e cronista. Faleiro (2017) revelou que
possuia um livro cheio de recortes dos seus escritos nos jornais, que lhe foi
presenteado pela tia Gilda. Infelizmente, o material foi encaixotado para uma
reforma na sua residência e não mais localizado. Mas, o ―fac símile‖ de um
soneto, presenteado pelo confrade Robério Braga, publicado no Almanach do
Amazonas (1895), pode ser uma evidência de tal informação. Uma ressalva
deve ser registrada, caso a sua data de nascimento seja confirmada, ele teria
nessa época apenas 11 anos de idade.
Figura 4: Fac simile de um soneto de Facundo
do Valle. In: Almanach do Amazonas (1895).
Nas reminiscências da sua neta, vibra a presença de um homem ―muito
calmo, sensato e que gostava muito de ajudar as pessoas [...] minha avó era
73
mais agitada, e muito mandona‖. Sendo a caçula, Vera Faleiro (2017) relatou
que teve uma curta convivência com o avô, porém muito marcante, pois esse
homem representou para ela o pai ausente, e era como pai que ela o tratava.
Suas lembranças são intensas, sem ―uma explicação plausível‖ para uma
ligação tão forte. Faleiro é evangélica, por isso desconhece a teoria de que as
ligações espirituais entre os espíritos afins não se esvanecem com a morte
física, mas certamente reviveu muitas emoções neste período, durante o qual
passou as informações para a pesquisa.
2.5 Atividades profissionais
Duas atividades laborais aparecem com destaque no levantamento
realizado pela autora: a primeira como despachante da Alfândega e a outra
como comerciante. Observou-se que elas foram desenvolvidas de forma
paralela.
Na sua atuação como comerciante na praça de Manaus, apareceu
muitas vezes em parceria com algum familiar. Em 1912, solicitou da Junta
Comercial o arquivamento do contrato social de uma firma que tinha em
sociedade com a irmã Maria:
Na sessão de 19 do corrente da Junta Commercial foram lidos e
despachados os seguintes requerimentos:
[...] L. Valle & C.ª. Firma composta dos sócios Luiz Facundo do Valle
e Maria Facundo Vieira, pedindo archivamento de seu contracto
social. Archive-se [...] (JUNTA COMMERCIAL, 1912, p 6).
Foi proprietário de dois armazéns de móveis, um situado na Rua
Henrique Martins, n.º 45 e outro na Av. Eduardo Ribeiro, n.º 15. No início do
ano de 1919, passou uma procuração para o seu irmão João gerir os negócios,
por necessidade de ausentar-se da cidade (AO COMMERCIO, 1919a; 1919b).
Atuante como membro da Associação dos Empregados do Commercio,
exerceu o cargo de director, em alguns períodos (ASSOCIAÇÃO, 1911a;
1911b; 1911c; 1911d):
[…] Foi lido o Relatorio referente ao mez de março pp apresentado
pelo director sr. Luiz Facundo do Valle, a cargo de quem ficou gestão
daquele mez, tendo sido unanimemente approvado, merecendo
aquelle director elogios de todos, devido a sua bem orientada
direcção [...] (GAZETILHA, 1911, p 1).
Associação dos Empregados do Commercio
O sr. Burgos Filho disse que tendo sido nomeado pelo sr. Presidente
para em nome da Associação despedir-se do sr. Intendente municipal
Anselmo Mendes da Silva, o fez em companhia dos directores
Claudino Coelho e Luiz F. do Valle [...] (ASSOCIAÇÃO, 1911e, p 2).
Merece destaque a publicação no Jornal do Commercio, do dia 21 de
maio de 1911, de um Memorial assinado pela diretoria da Associação
Comercial - entre eles o Luiz do Valle - que tratava de um habeas corpus
impetrado contra a lei municipal para o encerramento da jornada de seis horas
para o trabalhador do comercio. Eis um trecho:
74
A Associação Commercial dos Retalhistas da Praça, embalada pelo
sonho de liberdade absoluta, que constituia o ideal da exploração
capitalista do principio do seculo 19, impreta hoje deste Colendo
Tribunal, uma ordem de habeas corpus, para o fim principal de
exahurir as forças dos empregados do mesmo commercio, no
continuo e irracional labor nocturno, contra o qual se levanctara a
piedade do município por uma sabia lei de regulamentação do
trabalho. A Associação dos Empregados no Commercio, na carencia
de outros meios judiciários de que possa lançar mão, vem por meio
desse memorial, offerecer a serena meditação deste Tribunal as
razões de ordem social, juridica e humana que militam em seu favor
contra a extravagante medida solicitada.
As leis municipaes 639 de 13 de setembro de 1910 e 665 de 14 de
março de 1911, bem longe de serem atentados a liberdade do
commercio e uma prova deploravel da nossa cultura jurídica, como
afirma a impretante pelo orgão de seu illustre advogado, são ao
contrario disso, um attestado grandioso do gráu de nossa civilização
e do nosso desenvolvimento intellectual […] (MEMORIAL, 1911, p 2).
.
E continua o discurso, apresentando argumentos embasados na
legislação francesa, inglesa, alemã, austríaca, demonstrando que quase todos
os países da Europa tinham legislado a respeito da regulamentação do
trabalho, e finaliza:
Nesse sentido o protocolo da Conferencia de Berlim marca uma
data memoravel. Entre os seus desiderata figuram o repouso
hebedomadario [semanal], a interdicção do trabalho nocturno para
os adolescentes e as mulheres e a faculdade deste trabalho para
certos ramos de negócios (MEMORIAL, 1911, p 2).
Em novembro do mesmo ano, a Associação promoveu um festival para
comemorar a ―passagem do quinto anniversario de sua fundação, a 11 do
corrente mez‖ (EMPREGADOS, 1911, p 1), para o qual foi constituída uma
comissão central dos festejos, da qual o Facundo era componente, e que teve
uma bela ―programação dos festejos, com bandas de musica, iluminação
especial‖ (FESTEJOS, 1911, p 1).
O despachante aduaneiro é um profissional que atua no Brasil desde o
século XIX, sendo a categoria regulamentada pela publicação do Decreto n.º
2647, de 19 de setembro de 1860, trazendo em seu Capítulo 7 a figura do
Despachante Aduaneiro e do Ajudante de Despachante Aduaneiro e as
condições necessárias para que se tenha este título (DESPACHANTE, 2017).
Valle desempenhou a profissão de despachante da Alfandega durante
muitos anos. Os registros encontrados no Almanak Lamert registram diversos
períodos como o de 1909 a 1918 e de 1929 a 1931(ALFANDEGA, 1913a;
1918; 1929). Estando a princípio o seu escritório localizado à Rua Marquês de
Santa Cruz, n.º 6 (ESCRITORIO, 1912), depois à Rua Tenreiro Aranha, n.º 1
(ALFANDEGA, 1913b); e, por fim à Rua Tamandaré, 204 (CASA, 1950), todos
na cidade de Manaus (AM).
Em diversas notícias, foram registradas as suas atividades pertinentes
ao referido cargo: quer seja pagando à Recebedoria a quantia de 9800 réis
pelo selo de verba de registro de um livro para registro de despachos
(RECEBEDORIA, 1909); quer seja apresentando requerimentos à Alfandega
(ALFANDEGA, 1909; 1911a; 1911b; 1912); e mesmo recebendo a concessão
de um ano de licença como despachante geral da Alfandega (ALFANDEGA,
75
1915). Mais adiante, o delegado fiscal solicitou da Alfândega, que fosse
notificado o cidadão Luiz Facundo do Valle sobre a sua nomeação como
despachante aduaneiro, devendo prestar fiança dentro de trinta dias (OS
EXAMES, 1920).
A atuação de um despachante aduaneiro exigia muitas ações
protocolares, desde o pagamento de taxas para garantir a gestão, como de
processos para autorização das nomeações, demonstrando ser um cargo de
muita responsabilidade:
O Ministro da Fazenda tornou sem efeito as nomeações de
despachantes aduaneiros, por não terem prestado fiança no prazo
legal para a Alfandega de Manaos [...] Luiz Facundo do Valle
(VAGAS, 1925, p 1).
O delegado fiscal remetteu ao diretor geral do Thesouro Nacional o
processo em que a alfandega de Manáos propõe ao ministro da
fazenda a nomeação do sr. Luiz Facundo do Valle para o logar de
despachante aduaneiro da mesma alfandega (DELEGADO, 1926, p
2).
O delegado fiscal remetteu ao diretor do Thesouro Nacional o
requerimento de Cesar, Cavalcante e companhia, relativo à certidão
de seis apolices de um conto de reis cada uma, para garantia da
gestão do despachante aduaneiro Luiz Facundo do Valle
(ALFANDEGA, 1927, p 1).
A inspectoria da alfandega de Manáos declarou o delegado fiscal que
o snr. Luiz Facundo do Valle, nomeado para o logar de despachante
aduaneiro, em maio de 1927, tomou posse em vinte e oito do
corrente, devendo assumir o exercício na dita alfandega
(NOMEAÇÃO, 1928, p 1).
Sua atuação nesta área foi longeva, pois na década de 1950 ainda
exercia a atividade. No início dos anos de 1950, ainda mantinha um escritório
de despachante, como pode ser visto no anúncio a seguir: ―Vende-se
esplendida casa construída em alvenaria e em ótimo local no perímetro urbano,
tendo bonde e omnibus a porta. A tratar no escritório do despachante Luiz
Valle, à rua Tamandaré, 204‖ (CASA, 1950, p 7). O último registro dessa
atividade aparece no ano de 1955, quando já com a saúde combalida,
requereu ao governador do Amazonas, que o concedeu, a prorrogação de uma
licença médica, sem ônus para os cofres públicos, conforme textos a seguir:
O Governador do Estado atendendo ao que requereu o sr. Luiz
Facundo do Valle, Despachante geral junto a Secretaria de Estado de
Economia e Finanças, e em vista do atestado medico apresentado,
concedeu-lhe 6 meses de licença, em prorrogação, para tratamento
de saúde sem ônus para o Estado (LICENÇA, 1955, p 3).
Ainda o encontramos sendo nomeado para atuar como fiscal de terras
devolutas, sendo designado para atuar na região do Rio Purus:
Os srns. Luiz Facundo do Valle e Simplicio de Rezende Rubim foram
nomeados fiscais de terras devollutas (FISCAL, 1925a, p 1).
Foram determinadas as seguintes zonas para nelas terem exercício
os fiscais de terras devollutas: [...] Luiz Facundo do Valle, na quinta
zona, que comprehende o Rio Purus [...] (FISCAL, 1925b, p 1).
76
2.6 Atividades Espíritas
Supõe-se que a sua adesão ao Espiritismo tenha sido influenciada pela
sua mãe, uma vez que a Sra. Raymunda do Valle fundou o Grupo Espírita
―Regeneração dos Discípulos de Jesus‖, um dos grupos familiares registrados
no inicio do século XX (SEARA, 1977a e 1977b).
Participou, juntamente com outros pioneiros do Espiritismo no
Amazonas, das cinco sessões preparatórias para a fundação da Federação
Espírita Amazonense (FEA), realizadas entre os dias 1.º de janeiro a 21 de
fevereiro de 1904. Na quinta sessão, foi aprovado o primeiro Estatuto e eleita a
primeira diretoria da Federativa, sendo Facundo apontado como 2.º secretário.
Por ocasião da posse, os presentes anotavam, ao lado da sua assinatura, qual
a Casa Espírita a que pertenciam, ficando registrado na ata, que era o
secretário dos grupos "Fé, [Amor, Perdão e Caridade]"; "São Vicente de Paula"
e "Regeneração dos Discípulos de Jesus". Esteve presente, também, no
momento histórico da inauguração do Templo da Verdade (FEDERAÇÃO,
1904a; 1904b; 1904c; 1904d; 1904e e 1904h).
Sua presença como membro da diretoria da casa máter do Espiritismo,
se estendeu por muitos anos. Exerceu a função de 2.º secretário nos anos de
1904, 1905 e 1911 (FEDERAÇÃO, 1904e; 1905a e 1911). Entre 1912 e 1913
atuou como primeiro tesoureiro (FEDERAÇÃO, 1912; 1913). Nas diretorias que
comandaram a FEA entre 1914 e 1917, foi membro da Comissão de Contas
(FEDERAÇÃO, 1914; 1917a); e, culminou a sua presença com a sua eleição
para presidente da FEA, no ano de 1918 (FEDERAÇÃO, 1918a), sendo reeleito
para o biênio seguinte 1919-1920 (FEDERAÇÃO, 1919d).
O ano de 1904, destacou-se pela troca de correspondência entre os
espíritas amazonenses e confrades de outros estados da Federação. No caso
a seguir, a missiva foi endereçada ao grupo espírita conduzido pela Família
Valle:
[...] Foi apresentado pelo irmão Luiz do Valle, uma carta de d. Analia
Franco9, dirigida ao grupo "Regeneração dos Discipulos de Jesus",
solicitando um obolo para o Azilo e Creche [...] das quaes ella é
presidente. Foi resolvido que os irmaos presidentes de grupos abram
uma subscripção entre os seus frequentadores a fim de remetter-se
qualquer quantia appurada (FEDERAÇÃO, 1904f, p 14v).
Valle também teve participação na contribuição para a divulgação
doutrinária. No ano de 1906, era o agente em Manaus, do Jornal Espírita ―A
Doutrina‖, órgão da Federação Espírita do Paraná, cuja assinatura anual era de
3.000 réis, com a exigência do pagamento adiantado (CORRESPONDÊNCIA,
9
Anália Franco foi professora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira. Nasceu no dia 1º de
Fevereiro de 1853 em Resende, Rio de Janeiro [...] e retornou à Pátria Espiritual no dia 20 de
Janeiro de 1919. [...] A educadora era reconhecida no cenário nacional e elogiada na política
pelos seus serviços sociais. Sua crença no Espiritismo era sutil e nunca exprimiu em suas
obras sociais a doutrina na qual acreditava. Mostrou-se íntegra e imparcial acolhendo as
diferentes crenças e construindo suas obras sociais pela caridade e instrução. Disponivel em:
<https://radioboanova.com.br/estudo_espirita/quem-foi-analia-franco/>. Acesso em: 12 Abr
2019.
77
1906a; 1906b). No jornal espírita ―O Guia‖ 10, da lavra de Raymundo Palhano e
Jovita Olympio de Carvalho Rebello, foi registrada a sua contribuição
pecuniária para auxiliar a manutenção daquele periódico (CONTRIBUI-
ÇÃO,1906). Segundo Neves e Freitas (2013), a publicação dos nomes dos
doadores, apresentavam as pessoas que tinha interesse no espraiamento da
Doutrina Espirita:
A coluna ―Relação de pessoas que enviam auxilio pecuniário‖ visava
prestar contas sobre as doações recebidas para a manutenção do
periódico. Tratava-se de um espaço para relacionar os nomes de
todas as pessoas que doaram valores para auxiliar na manutenção
do jornal, com seus respectivos valores. Esses registros demonstram
a preocupação com a prestação de contas daquilo que era recebido
e, o mais importante historicamente, fornece uma relação de nomes
de pessoas interessadas na divulgação da doutrina espírita [grifo
nosso]. Dessa forma, torna-se importante fonte para pesquisas sobre
a história do Espiritismo no Amazonas, proporcionando levantamento
de dados e cruzamento de informações que possibilitem entender a
dinâmica dos primeiros momentos do espiritismo em Manaus (NEVES
& FREITAS, 2013).
Além do envolvimento com as atividades da FEA, era presidente de um
Grupo Familiar, com sede à rua Lima Bacuri, n.º 31, que realisava sessões
familiares, às quintas-feiras (ESPIRITISMO, 1906). E, como a maioria dos ex-
sócios do Centro Espírita ―São Vicente de Paula‖, Valle foi eleito membro da
Assembleia da Sociedade Cosmopolita de Beneficios Mútuos Previdente
Amazonense (SOCIEDADE, 1907).
Logo após a fundação da casa máter do Espiritismo no Amazonas, as
instituições espíritas buscavam filiar-se. Facundo do Valle, como representante
do Grupo ―Resignação‖, deu entrada em um pedido oficial de adesão:
[...] O presidente apresentou um officio a ele dirigido [...] pelo Irmão
Luiz do Valle, presidente do grupo Resignação dos Discipulos de
Jesus" e bem assim os pareceres dados pela commissão consultiva
relativos ao mesmo grupo e ao grupo "São Vicente de Paula" aos
quaes pedem para ser federados. O parecer da commissão diz ter
encontrado algumas irregularidades nos trabalhos desses grupos, as
quaes sao: a falta de um livro de actas no grupo "Regeneração dos
Discipulos de Jesus" e a falta de investigação quanto à identidade
dos espíritos, esta segunda falta é estensiva a ambos os grupos,
mas, não que obstante essas irregularidades, é de parecer que sejam
Federados, pois sao irregularidades, que o concelho e a boa vontade,
fará desaparecer (FEDERAÇÃO, 1904h, p 24).
Independente do cargo exercido, sempre apresentou-se colaborativo e
fazia as suas contribuições, como pode ser observado a seguir: ―[...] O
Presidente expoz a necessidade de um livro para nelle ser archivado o nome
de todos os sócios da Federação. O irmão Luiz do Valle offereceu o livro [...]‖
(FEDERAÇÃO, 1905b, p 27v).
Durante a sua passagem pela Federativa, também estiveram presentes
naquela instituição alguns dos seus familiares. Em 1909, na sessão
10
O Guia foi um jornal de propaganda espírita publicado sob a responsabilidade do Centro
Espírita São Vicente de Paula e circulou entre 1905 e 1910 em Manaus (AM) e tinha sua
redação localizada na rua Dr. Moreira, 45, Centro (NEVES & FREITAS, 2013).
78
comemorativa ao aniversário da desencarnação de Bernardo Rodrigues de
Almeida e da eleição do corpo administrativo para o ano de 1910, estiveram
presentes os seus irmãos João e Lydia Facundo do Valle (FEDERAÇÃO,
1909). Em 1915, a sua irmã Amélia Facundo do Valle, foi eleita como membro
da Comissão de Assistência aos Necessitados (FEDERAÇÃO, 1915); e entre
1916 e 1917 atuou na mesma comissão, a sua genitora Raymunda Facundo
do Valle (FEDERAÇÃO, 1916a; 1917a). Por ocasião da sessão de
comemoração da paixão do Divino Mestre (5.ª e 6.ª feira santa), esteve
presente na reunião uma senhora com o nome de Anna Facundo do Valle,
porém não identificou-se qual a relação de parentesco (FEDERAÇÃO, 1916b).
Durante o mandato do presidente Manoel dos Santos Castro [1917-
1918], encontrou-se uma importante manifestação de Luiz do Valle, na qual
opinou sobre: a criação de um jornal, sabidamente um instrumento de
divulgação doutrinária; a criação de uma escola para alfabetização, que era
um meio de efetivar a caridade levando a luz do saber; e, por fim, a
catalogação dos livros da biblioteca, uma ferramenta de organização que
facilitaria os empréstimos para leitura das obras.
[...] A respeito dos dois primeiros ficou o dito irmão encarregado de
procurar os meios necessarios, estudando ao mesmo tempo, a
melhor forma de se levar a effeito aquelles emprehendimentos;
quanto ao terceiro, foi o mesmo irmão designado para juntamente ao
irmão bibliothecario providenciar a catalogação dos livros da
Federação (FEDERAÇÃO, 1917b, p 158).
Em 1918, Valle foi eleito para o seu primeiro mandato como presidente
da FEA, em cuja diretoria, estavam presentes mais dois membros da familia: a
sua mãe e o seu irmão João:
[…] Foi realizada a eleição com 22 sócios votantes, […] finda a
eleição o irmão Marcolino leu o resultado seguinte: - Presidente: Luiz
Facundo do Valle, dezenove votos; Vice-Presidente: Pedro Paulo
Vieira das Neves, vinte votos; 1.º Secretario: Elesbão Filgueiras, vinte
e um votos; 2.º Secretario: José Bezerra Melo; 3.º Secretario: José
Santanna Barros; [...]; 1.º Thesoureiro: Marcolino Rodrigues; [...] 2.º
Thesoureiro: Senhora Facundo do Valle [...]; Bibliothecario: João
Facundo do Valle [...] (FEDERAÇÃO, 1918a, p 160).
A notícia da posse da nova diretoria, ocorrida no dia 21 de março de
1918, foi publicada no Jornal ―A Capital‖ (O SR. ELESBÃO, 1918). Durante os
seus dois mandatos como presidente, manteve boas relações com a imprensa,
enviando saudações em ocasiões festivas,
Por meio de cartas e cartões nos enviaram cumprimentos de bôas
festas e feliz entrada de anno novo as seguintes pessoas: [...] Luiz do
Valle, em nome da Federação Espírita Amazonense de que é
presidente [...] (BOAS FESTAS, 1919, p 1).
Recebemos ainda cumprimentos de bôas festas e feliz anno novo das
seguintes pessoas: [...] Luiz do Valle, em nome da Federação Espírita
Amazonense [...] (BOAS FESTAS, 1920, p 1).
Por ocasião da primeira reunião da diretoria da FEA, após a sua eleição
para a presidência, Valle apresentou o programa que iria nortear a sua
79
administração, e deliberou-se sobre várias medidas imediatas para melhorar as
condições da sede e para a captação de recursos financeiros:
Sr. Presidente declarou que começara a reuniao para tratar de varios
interesses sociaes, indo apresentar a pedido de alguns dos socios o
seu programma de administração, começou dizendo que a sua maior
aspiração era a expansão do predio da Federação pois já tornara-se
[...] acanhado o espaço actual, para cujo desideratum torna-se
necessário muitas medidas como sejam: dirigir-se circulares aos
nossos irmãos de crença residentes no interior, solicitando o seu
concurso ao emprenhendimento; angariar fundos entre os espiritas da
capital; proceder a arrecadação de todos os debitos dos socios que
se acham em atrazo, e finalmente conseguindo com o proprietario do
Theatro Polytheama [Raymundo Nonato Fontenelle da Silva, que era
filho de João Antônio da Silva, o primeiro presidente da FEA] a
realização de um espetaculo cujo producto revertesse em favor da
idea. Terminou pondo em discussao essas medidas. [...] Aceita como
socia da Federação a senhorita Lydia Facundo do Valle [...]. O Sr.
Presidente pediu e obteve permissão para mandar vender em leilão,
um gasometro de propriedade da Federação o qual não há mais
necessidade de sua utilidade. Outrossim, foi concedida autorização
para uma das mesas existentes ser feito banco, visto não haver
necessidade de duas mesas. Ainda foi autorizado [...] a comprar duas
duzias de cadeiras destinadas a occupar o espaço deixado pela
referida mesa [...]. Submettida a apreciação foi approvada a idea do
irmão Presidente para que fosse nomeado um director de mez, a fim
de permanecendo de sete as nove horas da noite, attender as
pessoas que viessem a Federação; assim como o cancellamento das
dividas do socios anteriores a 1919, devendo as deste anno em
diante serem arrecadadas por um cobrador particular para o que
ainda foi concedida a autorização (FEDERAÇÃO, 1918b, p 161v e
162).
Analisando as deliberações acima, observa-se a presença de um
presidente dinâmico, com boa capacidade administrativa, visando a captação
de recursos para garantir a subsistência da instituição, e no reaproveitamento
dos bens disponíveis.
Essa ata da primeira reunião de diretoria foi composta de três etapas: a
primeira denominada ―Expediente‖, que tratou de informar sobre as
correspondências recebidas; a segunda foi a leitura e aprovação das atas
anteriores; e na ―ordem do dia‖ foram apresentados pela tesoureira Dorvalina
Baptista os balancetes e registros financeiros, e informado sobre a contratação
de um funcionário para distribuir os medicamentos homeopáticos, além do
registro sobre as doações de vários livros espíritas e não espíritas à Biblioteca
da Federação pelo confrades: Luiz Facundo do Valle, João Facundo do Valle e
Pedro Paulo das Neves Vieira (FEDERAÇÃO, 1918c).
A contratação de um responsável pela distribuição das homeopatias
pareceu ser uma medida importante, pois encontrou-se registros que
demonstram o relevo do tratamento homeopático naquela época, tanto pelas
frequentes aquisições dos produtos, como pela consulta à espiritualidade sobre
o tratamento adequado para a gripe espanhola, cuja epidemia dizimava a
população mundial:
[...] reassumiu a presidência o confrade Luiz Valle que communicou a
mesa haver feito a aquisição de vinte e dois vidros de remédios pelo
preço de quarenta mil reis, os quaes foram encomendados à "União
80
Espírita Paraense", por intermedio do confrade A. Lucullo [...]
(FEDERAÇÃO, 1918d, p 164v e 165).
[…] o presidente solicitou a permissão e liberação de setecentos e
vinte e cinco mil reis, para adquirir na Farmácia Cantuária material
para os medicamentos homeopáticos que estavam em falta
(FEDERAÇÃO, 1918e, p 165v).
[...] foi aberta a sessão pelo irmão Luiz Valle, o qual declarou que o
fim da mesma sessão consistia em se procurar obter dos irmãos do
Espaço algmas instrucções sobre o tractamento da moléstia
denominada influensa hespanhola, cuja propagação era esperada e
temida em Manaos. Formuladas, previamente, as peguntas, deu-se
inicio aos trabalhos com a leitura do Evangelho e preces. Após alguns
minutos foi o irmão Sant'Anna actuado ditando a seguinte
communicação: "Meus bons amigos e bons irmãos. Que os vossos
corações vivam na paz de Deus. Tendes fé que a fé é o remédio da
alma, como do corpo. Como podeis restabelecer o corpo sem trazer
restabelecida a alma? E o remédio da alma é tão somente a fé.
Deixai bebel-as para que fique limpas na fonte limpida dos
ensinamentos que vos prestou o Divino Mestre. A peste que hoje
assola a Humanidade é o refluxo da guerra, é o flagelo apregoado a
tanto mil annos, como o recanto onde só existiam prantos e ranger de
dentes. Entretanto, vou fallar-vos, de accordo com as vossas
pergutas. Perguntas. (Pergunta: -) Quais os symptomas reveladores
da moléstia? -Resposta: É tão variável, que em cada systhema de
temperamento se reflecte: nos arthriticos, como o reumatismo, além
de gastro, além de derramamento cerebral, além de intoxicação, que
traz como base a influenza typhoide. Para este caso: arsenico,
belladona e bryonia juntos. Nos caso de reflexão de crupe e pouca
tosse: phosphosus, lycopodium. Atacando mais a laringe e muita
tosse: sticta. Com symptomas de pneumonia que é o mais vulgar, de-
se: aconitum, bryonia e belladona juntos. [...] Devo dizer:
dynamizações baixas! (pergunta:) As dynamizações baixas são
apliccaveis em todos os casos? Resposta: Somente nos casos
afflictivos. Nos casos typhoide, de inteira prostação: - arsenico,
baptisia, até ceder o grandioso desmebramento, e nos casos
cerebraes: camphora, como deve ser preservativo: camphora,
arsenico e antes de tudo, fé, pois que a moléstia já vos disse é o
refluxo... (Pergunta:-) Devemos seguir o horário indicado nos livros?
Resposta: - Sem nunca se afastar delle, devo dizer-vos que o
primeiro médico será aquele que tiver fé [...] (FEDERAÇÃO, 1918h,
p167).
A inserção da homeopatia no Brasil ocorreu na primeira metade do
século XIX, e segundo MIKOLA (2017), seus adeptos buscavam apoio nas
religiões como estratégia de legitimação. A autora deduziu que: ―a ‗conversão‘
dos homeopatas ao Espiritismo pode estar atrelada às semelhanças do
conceito entre força vital sugerido por Hahnemann e de fluido vital sugerido por
Allan Kardec, codificador da doutrina espírita‖. No livro ―Homeopatia e
Espiritismo‖, o seu autor busca explicar porque as ideias de Hahnemann são
partilhadas pelos adeptos da Doutrina Espírita:
[...] Mas as afinidades da Homeopatia com o Espiritismo não param
aí. Para bem apreciá-las, basta reler os parágrafos do ―Organon‖ […].
Quando Hahnemann diz, por exemplo, que o corpo material deve ao
ser imaterial que o anima, tanto no estado de saúde como de doença,
todas as suas sensações (como o cumprimento de todas as suas
funções vitais) ele entreviu, evidentemente, a existência do perispírito,
com o papel que desempenha em fisiologia como em psicologia
humanas, na qualidade de elemento intermediário entre o Espírito e o
81
corpo, conforme está sobejamente estudado nas obras fundamentais
de Allan Kardec, Leon Denis, Gabriel Delanne, e através dos
trabalhos de Durville, de De Rochas e tantos outros, especialmente
os modernos, de procedência mediúnica. Aí estão, portanto, as idéias
de Hahnemann, nitidamente espiritualistas, senão espíritas, e dignas
de serem partilhadas pelos adeptos do Espiritismo (THIAGO, 1991,
p.37-38).
Por estas afinidades, justifica-se a utilização dos produtos homeopáticos
pelos profitentes da nova doutrina, como coadjuvantes do tratamento espiritual,
e garantindo o tratamento de problemas de saúde da população, que naquela
época não dispunha de tantas opções de assistência médica.
Em junho de 1918, apareceu um novo requerimento de Luiz do Valle,
solicitando a adesão à FEA, do Grupo Espírita ―Regeneração‖. Tal pleito, se
contrapõe a solicitação anterior que foi aprovada na 31.ª Sessão, realizada no
dia 04 de dezembro de 1904, ano da fundação da Federativa (FEDERAÇÃO,
1904i):
[...] um requerimento do Sr. Luiz Facundo do Valle presidente do
grupo espírita "Regeneração", fundado nesta cidade a sete de agosto
de 1904, sob a proteção espiritual de Ismael, solicitando a necessária
federação para o mesmo grupo, cujas sessões se realisam
semanalmente, às quintas-feiras, à praca da saudade n.º 12, tendo
por objectivo a prática da caridade quer para com os espíritos
desencarnados, quer para com os encarnados enfermos, por meio de
tratamento homeopático [...]. O presidente passou a condução da
reunião para o confrade Pedro Vieira das Neves para deliberar sobre
a filiação do grupo Regeneração que foi aprovada por unanimidade
(FEDERAÇÃO, 1918d, p 164v e 165).
Em 1919, Leonardo Malcher, o benemérito doador do terrreno e do
prédio do Templo da Verdade, já havia desencarnado. Entre os membros da
Federação, surgiu uma inquietude sobre a legalidade da doação do patrimônio.
Para melhor esclarecimento, deliberou-se conversar com o primeiro presidente
da insituição:
Por proposta do irmão Sant'nna Barros foi designado o irmão Pedro
Vieira para se entender com o confrade Joâo Antonio da Silva
relativamente a uma parte do archivo da Federação, que se suppõe
estar em poder daquele confrade (FEDERAÇÃO, 1919a, p 169v).
O irmão Luiz Valle disse que tendo de ausentar-se temporariamente
de Manaos, passava o exercício ao seu substituto legal, o irmão
Pedro Vieira. Em seguida, o irmão Pedro Vieira tomou a palavra e
disse que se entendera com o confrade João Antonio da Silva sobre a
incumbencia que lhe fora designada na sessão antecedente, havendo
o referido confrade declarado que ignorava se houve inventário dos
bens do irmão Leonardo Malcher, podendo entretanto, affirmar que
do testamento feito pelo citado irmão Malcher constou a doação do
prédio do "Templo da Verdade" à Federação, cujos termos constam
no capítulo VIII dos Estatutos da Federação [...] (FEDERAÇÃO,
1919c, p 170v).
Durante o seu mandato como presidente, Valle demonstrou ser um
guardião do cumprimento do Estatuto, tomando as medidas necessárias,
quando observava o distaciamento das regras. O caso a seguir, em relação ao
Centro de Estudos Psychicos, pode ser um exemplo:
82
[...] O irmão presidente scientificou à mesa de que, tido ele tomando
sciencia que o "Centro de Estudos Psychicos" tencionava fundar na
sede da "Federação" uma loja theosophica, dirigiu-se nesse sentido,
em data de dez do mez corrente, ao presidente do mencionado
"Centro", solicitamos informações a respeito, visto como, pelos
estatutos respectivos não é permitido que o edificio do "Templo da
Verdade" tenha outro fim, além do disposto no art. 44 § 1.º e que,
porém até aqueladata ainda não havia obtido resposta (FEDERA-
ÇÃO, 1918f, p 166v).
Na reunião seguinte, foi registado em ata que o Centro de Estudos
Psichicos solicitou a retirada da estante com os livros, pelo fato de a sua sede
ter mudado para a Rua Luiz Antony, n.º 63. Também verificou-se uma
solicitação do Grupo Espirita União Amazonense para colocar uma estante
com os seus postais (FEDERAÇÃO, 1918g).
Outrossim, quando foi necessário, se posicionou sobre a necessidade de
atualização do Estatuto, ―que pela prática demonstravam impedir a boa marcha
dos serviços. Sendo eleito, para elaborar a proposta de reformulação, Pedro
Vieira das Neves‖ (FEDERAÇÃO, 1918i, p 168). Após um mês, Neves
―apresentou o projeto de reforma do estatuto e foram designados os confrades
João Facundo do Valle e Elesbão Figueira para a redação do novo Estatuto‖
(FEDERAÇÃO, 1918j, p 168v). A comissão elaborou um novo projeto do
documento, mas houve dificudade de deliberação e aprovação do mesmo,
devido à falta de quorum nas reuniões seguintes, o que gerou inquietudes e
postergação:
[...] o irmão presidente consultou a mesa se achava conveniente
proceder-se a leitura do projecto dos Estatutos dado o baixo número
de sócios. O consócio André Santos, usando da palavra, disse que
apesar de ser novato na "Federação", todavia achava que o número
de sócios presente não bastava para resolver um assumpto de [...]
tão alta relevância, não sabendo o que attribuir a ausência dos
confrades, se a falta de cumprimento de seus deveres ou si
prevenção contra a Directoria. Em seguida, o irmão Pedro Vieira
tomando a palavra disse que attribui o facto da ausência dos sócios,
não a prevenção, o que felizmente não há, mas sim a falta de
cumprimento dos deveres. Por unanimidade foi decidido ser
convocada uma nova reunião (terceira e última) [uma reunião
anterior, realizada no dia 20/01/1919, também não obteve quorum],
para o dia dezesseis de fevereiro, as oito horas da manhã
(FEDERAÇÃO, 1919b, p 169).
Em 21 de fevereiro, foi realizada uma sessão extraordinária de
Assembleia Geral para eleição da nova diretoria, promulgação do novo
Estatuto e comemoração do aniverásio de desencarnação de Bernardo
Rodrigues de Almeida. Nesta ata, a última registrada no histórico Livro de Atas
n.º 01 [apesar da existência de muitas folhas em branco], a diretoria aparece
com uma nova composição dos seus membros, sendo Luiz Valle reeleito para
o seu segundo mandato de presidente:
Assembleia: - Presidente: Dr. João Antonio da Silva; vice-presidente,
Manoel dos Santos Castro; 1.º secretário, Dr. Jonathas Fernandes; segundo
ditto, Feliciano de Souza Lima. Directoria: - Presidente, Luiz Facundo do
Valle; vice-presidente, Pedro Paulo das Neves Vieira; primeiro secretario,
83
Elesbão Assumpção Filgueira; segundo secretário, João Severiano de
Souza; terceiro secretário João Facundo do Valle; thezoureiro Marcolino
Rodrigues; adjunto de thezouraria José Sant'Anna Barros; supplentes: José
Gonçalves de Lima; Autriclinio Pinto de Queiroz; André Raymundo dos
Santos; Arthur Scalera; Manoel Felix do Nascimento; José Gerson Brandão;
Vicente Corrêa Martins; João Climaco do Nascimento. Comissão Fiscal: -
Dr. Gentil Bittencourt; Joaquim Augusto Esteves; Antono H. de Paiva
(FEDERAÇÃO, 1919d, p 172).
O novo Estatuto Social da federativa – a terceira versão desde a sua
fundação - foi registrado no Cartório de Títulos de Documentos Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, em 26 de fevereiro de 1920. Nessa versão, ocorre uma
alteração na composição do seu corpo diretivo, como pode ser observado acima,
com uma significativa ampliação no número de participantes: a diretoria passou a
ser eleita por um período de dois anos, tendo como membros um presidente e
seu vice; primeiro, segundo e terceiros secretários; tesoureiro e adjunto e oito
suplentes; uma comissão fiscal composta de três membros; e, uma Assembleia
Geral composta de presidente, vice-presidente, primeiro e segundo secretarios
(CERTIDÃO, 1920). Nesse novo estatuto, foi extinta a Comissão de Assistência
aos Necessitados, ficando as suas ações vinculadas a própria diretoria.
Foi durante o seu primeiro mandato como presidente, que a propriedade
literária do jornal espírita ―Mensageiro‖ foi passada para a FEA, pelo seu
proprietário Carlos Theodoro Gonçalves. No documento particular de doação,
com data de 16 de junho de 1919, tendo como testemunhas Feliciano Lima e
José Santos Amaral Barros, Facundo se comprometeu a cumprir as condições
imputadas pelo doador, que eram: editar o periódico como orgão oficial do
Espiritismo em Manaus, sendo vedada a transferência dos direitos à terceiros,
devendo retornar ao doador ou seus herdeiros (DOAÇÃO, 1916).
O período entre fevereiro de 1919 a dezembro de 1932 é uma incógnita
a ser desvendada, pois não foram localizados os livros de atas com os registros
das reuniões e assembleias realizadas. No Livro das atas das sessões da
Assembléia Geral da Federação Espírita Amazonense, com registros à partir da
Assembleia realizada em 18 de dezembro de 1932, para a eleição dos corpos
dirigentes do biênio 1933-1934, não foram encontrados registros da sua
presença.
As últimas notícias de sua participação no Movimento Espírita aparecem
no opúsculo publicado pela FEA, no ano de 1984, quando foi dito que ele,
Em 12.11.1920, renunciou ao cargo, por retirar-se por motivos
imperiosos [o mandato iria até 21 de fevereiro de 1921], para o Rio de
Janeiro, tendo assumido, o então Vice-Presidente, Pedro Paulo das
Neves Vieira, que concluiu o mandato […] (FEDERAÇÃO, 1984, p
24).
CONCLUSÃO
Luiz Facundo do Valle pertenceu a uma família na qual a Doutrina Espírita
estava presente, tanto que a sua mãe fundou o Grupo Espírita ―Regeneração dos
Discípulos de Jesus‖, no alvorecer do século XX. Sua mãe e alguns dos seus irmãos
estiveram presentes na FEA enquanto ele esteve por lá.
Ele tinha 20 anos quando a Federação Espírita Amazonense foi fundada
em 1904, e nessa ocasião já era o secretário do ―Regeneração‖ e de mais dois
84
grupos espíritas: "Fé, Amor, Perdão e Caridade" e "São Vicente de Paula"; e em
1906, presidiu também um ―Grupo Familiar‖, com sede à rua Lima Bacuri.
Atuou na divulgação da Doutrina Espírita: como representante local do
jornal da Federativa paranaense; contribuindo financeiramente para a publicação de
―O Guia‖; opinando sobre a criação de um jornal da federativa ou recebendo, por
meio de doação, o ―Mensageiro‖ para ser o órgão de divulgação da FEA; e, por fim,
sugerindo também a catalogação dos livros da biblioteca da FEA.
Na Federativa exerceu diversas funções: iniciou como 2.º secretário, depois
atuou como 1.º tesoureiro, foi membro da Comissão de Contas e por fim exerceu dois
mandatos como presidente. Os registros das atas demontram sensatez nas
manifestações, organização das suas ações e respeito aos Estatutos, que teve
aprovada a sua terceira versão. Foi um presidente dinâmico, com boa capacidade
administrativa, visando à captação de recursos para garantir a subsistência da
instituição,
A ausência do segundo livro de atas da FEA entre 1920 e 1932
impossibilitou a observação de sua permanência na instituição, da mesma forma que
a ausência de notícias nos periódicos sobre sua atuação no Movimento Espirita.
Informação contida no opúsculo da Federativa, Campos confirmava a sua mudança
para acidade do Rio de Janeiro. Entretanto o ―Regeneração‖ funcionou até os anos
de 1970, quando era presidido pelo seu irmão e depois pela cunhada Mariúna do
Valle. Isso nos leva a inferir que provavelmente deve ter continuado no labor espírita.
Consituiu uma bela família com Liliosa Botelho, e seu amor por ela o levou
a viver entre duas cidades: Manaus e Rio de Janeiro, tendo inclusive decidido a fixar
residência na cidade maravilhosa, não concretizando a mudança definitiva, por ter
desencarnado.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
Vi-me refletindo sobre o que me moveu nessa minha jornada como espírito
imortal na direção dos pioneiros do Espiritismo. Seria o simples desejo de trazer luz à
história de personagens que em minha opinião deveriam ficar registradas, para nos
servir de inspiração? Ou a aproximação com esse passado recente seria um caminho
para o reencontro com os meus comprometimentos?
Neste processo de idas e vindas, percebi que no afã de modernizar as
atividades as quais estive a frente, algumas vezes deixei de dar a devida
consideração a história pregressa do lugar onde me encontrava, e das pessoas que
por ali passaram. Certamente essa minha impetuosidade devo ter causado dores aos
que lá estiveram. Enqunto isso, na Casa Espírita, tinha uma atitude inversa, pois no
receio de causar dores, relutava muitas vezes em me manifestar com receio de
contrariar o status quo.
Hoje percebo que aos poucos, amadureci e aprendi a respeitar a história e
o tempo das pessoas e das instituições onde convivo, e essa percepção me
asserenou o coração.
Dar notícias desse pioneiro me oportunizou apresentar as realizações de
um abenegado trabalhador, reconhecendo a importância da sua atuação na
implantação da Doutrina Consoladora nestas plagas; e percebendo que nas
intrincadas teias do tempo, passado e presente são solidários na construção do
futuro, hoje me debruço nas pesquisas históricas, provavelmente com o compromisso
de redimir um passado no qual tenha agido equivocadamente, reconstruindo um
futuro de paz.
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VIAJANTES, A Epoca (RJ), 06 Jun 1915, ed 106, anno IV, p 3.
94
JOÃO FACUNDO DO VALLE: um bom companheiro na vida e na fé.
Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre11
INTRODUÇÃO
Durante a busca de informações para a elaboração do artigo sobre Luiz
Facundo do Valle, o quarto presidente da Federação Espírita Amazonense (FEA),
dentre os seus familiares, um dos seus irmãos mostrou-se um bom companheiro
na vida e na fé. Sua história rica estimulou a autora a dedicar-lhe um registro
especial, no sentido de demonstrar que o trabalho no bem independe de cargos
diretivos.
Este artigo tem o objetivo de apresentar João Facundo do Valle, um discreto
trabalhador do Movimento Espírita pioneiro, que manteve a sua atuação no
Espiritismo até o dia da sua partida para a Pátria Espiritual.
1 METODOLOGIA
Realizou-se pesquisa documental, utilizando-se fontes primárias, notícias em
jornais da época na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e leitura de
documentos oficiais. As notícias sobre a sua atuação no Movimento Espírita
Amazonense foram encontradas as atas da FEA; e, para complementar as
informações pessoais, rastreou-se os seus descendentes, procurando pessoas
com sobrenome similar, contando com a intermediação da amiga Rita Facundo
Magalhães, do historiador Antônio Souto Loureiro. Optou-se, nas transcrições das
citações da época, pela manutenção das regras ortográficas então vigentes.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Biografia
Nasceu em Manaus, no dia 17 de junho de 1889, e desencarnou na sua
residência, no dia 23 de agosto de 1973, aos 84 anos, vítima de um mal
súbito12. Seus pais, Rufino e Raymunda Facundo do Valle eram cearenses.
Teve como irmãos [Antonio?], Matilde, Amélia, Maria, Joanna, João e Lydia
Facundo do Valle. Maiores detalhes sobre seus parentes podem ser
conhecidos no artigo apresentado pela mesma autora, neste V Simpósio FAK,
que trata da biografia do seu irmão Luiz Facundo do Valle.
11
Trabalhadora da Fundação Allan Kardec, atualmente na condição de Vice-presidente da Área de
Estudos e Exercício do Bem.
12
Nota de Falecimento. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 21361, p 2, ano LXIX, 24 Ago 1973.
95
Figura 1: João Facundo do Valle, fotografia do acervo familiar
Seu passamento para a Pátria Espiritual marcou muito a sua família e
aos seus amigos, e também teve repercussão na sociedade manauara, como
pode ser constatado em notícias publicadas na época, como as apresentadas a
seguir.
Dois dias após o seu sepultamento, conforme publicado no Jornal do
Commercio, foi respeitado um minuto de silêncio, antes de uma partida de
futebol entre o seu clube dileto, o Nacional, e o visitante Guarany 13. A
homenagem foi merecida, uma vez que João Facundo recebeu o título de sócio
n.º 01 do conceituado clube, sendo um participante ativo desde o início do
século passado:
Era nacionalino doente. Orgulhava-se da carteira de sócio benemérito
número um do Nacional Futebol Clube, cuja sede ficava a menos de uma
quadra de nossa residência na rua Saldanha Marinho, 641 (Valle, 2017a).
No meio político, foram propostos votos de pesar à família, tanto no
âmbito estadual, como no municipal: na Assembleia Legislativa do Estado, a
manifestação de solidariedade partiu do Deputado Nathanael Bentes
Rodrigues; e na Câmara Municipal, a proposição foi do vereador Vinícius
Monteconrado Gomes. A família fez os seus agradecimentos aos proponentes
por meio de uma publicação em um jornal de circulação, sendo os mesmos
extensivos à Maçonaria, em nome da Grande e Benemérita Loja Rio Negro 14.
As missas de sétimo dia e de um ano do seu falecimento foram celebradas na
igreja de São Sebastião15.
2.2 Família
13
Minuto de silêncio. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 21362, p 8, ano LXIX, 25 Ago 1973.
14
Agradecimento. Jornal do Commercio, Manaus, ed. 21367, p 4, ano LXIX, 31 Ago 1973.
15
Missa sétimo dia. Jornal do Commercio, Manaus, ed. 21363, p 6, ano LXIX, 26 Ago 1973.; Missa sétimo
dia. Jornal do Commercio, Manaus, ed 21656, p 11, ano LXIX, 31 Jun 1974.
96
Casou-se com Maria da Conceição Chaves do Valle, ela contava 17
anos de idade, no dia 07 de abril de 1923, com quem conviveu mais de 50
anos. O casamento foi realizado num dia de sábado, às 17:30h, na casa da sua
cunhada Amélia, localizada na Rua Henrique Martins, n.º 63 – Centro. Como
pessoas bem quistas na sociedade manauara, a celebração das bodas de ouro
do casamento, no ano de 1973, foi motivo de manifestações de apreço e
carinho. A comemoração realizou-se na Av. Airão, n.º 1075, bairro da Praça 14
de Janeiro, em Manaus (AM), na residência do seu filho Maurílio, reunindo
familiares e amigos16. Sua esposa o acompanhou nas ações espiritistas,
atuando como médium no Grupo Espírita da família até desencarnar no dia 14
de maio de 199417.
Mariúna, como era conhecida, nasceu em Manaus, no dia 05 de abril de
1906 e possuía uma beleza ímpar. Seu filho Marcello Facundo do Valle (2017a)
relatou:
Era lindíssima, com descendência de holandeses. Foi candidata a miss
Amazonas, com fotos nos principais jornais de Manaus, e em primeiro lugar
nas pesquisas, desistiu do concurso a pedido do meu avô. Os votos eram
contados pelos leitores.
Figura 2: Mariúna do Valle, fotografia do acervo familiar.
O casal teve sete filhos, na seguinte ordem: Valéria, Samuel, Sonia,
Vanda, Maurílio, Marcelo e Maria Júlia. Destes, ainda estão encarnados o
Marcello [nosso informante] e a Sonia.
16
Bodas de Ouro João e Mariúna. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 21248, p 4, ano LXIX, , 07 Abr
1973.
17
MANAUS. Secretaria Municipal de Limpeza Pública. Certidão de Sepultura, 22 Set 2015.
97
a) Valéria Facundo do Valle nasceu na cidade de Manaus (AM), no dia
17 de abril de 1924, às 6:30h de uma quinta-feira santa (VALLE,
2017b). Os seus aniversários de um e de três anos, foram noticiados
nos jornais, acompanhados com mimosas fotografias 18. Solteira19, foi
professora da rede estadual de ensino. O seu nome está registrado
em um edital de convocação para o Censo Escolar do Brasil,
publicado em 19 de novembro de 1964, atendendo aos ditames do
Decreto n.º 100, de outubro de 1964 20.
Figura 3: Fac símile de publicações em comemoração ao aniversário de Valéria
b) Samuel Facundo do Valle Nasceu no dia 14 de janeiro de 192621.
Parece ter sido uma criança precoce nas relações sociais, pois em
1928 apareceu no Jornal do Commercio o seu agradecimento a uma
publicação do natalício da sua irmãzinha Wanda22, Na sua vida
profissional exerceu a função de Secretário da Capitania dos Portos,
no início da década de 1960, tendo o seu nome aparecido em
diversas publicações de editais23. No ano de 1968, concorreu com 22
candidatos, entre eles a desembargadora Marinildes Costeira
Mendonça, a uma vaga para juiz substituto24, sendo aprovado. Ao
longo da sua carreira como magistrado, atuou na cidade de Manaus,
como juiz substituto da 11.ª vara da cidade de Manaus 25 e juiz titular
da 7.ª e 9.ª vara criminal26. No ano de 1976, foram escolhidos os
melhores do ano do Tribunal de Justiça do Amazonas, sendo ele o
juiz que mais de se destacou27. Herdou do pai o gosto pelo futebol,
18
Jornal do Commercio. 17 Abr 1925, ed 07540, anno 22, p 1; Jornal do Commercio, 17 Abr 1927, ed
8164, anno 24, p 1.
19
Nota de Falecimento. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 21362, p 8, ano LXIX, 25 Ago 1973.
20
Censo Escolar do Brasil. Jornal do Commercio. Manaus, ed 18554A, p 319, anno LXIII, 19 Nov
1964.
21
Conta Gotas. Jornal do Commercio. Manaus, ed 34147, p 22, ano LXXXIV, 14 Jan 1987.
22
Manaos Social. Jornal do Commercio. Manaus, ed 8572, p 1, anno XXV, 15 Dez 1928.
23
Termo de Vistoria. Jornal do Commercio. Manaus, ed 18081, ano LVIII, p 15, 2 Jan 1963.
24
Concurso para Juiz. Jornal do Commercio. Manaus, ed 19882, p 5, ano LXIV, 18 Ago 1968.
25
Edital de Citação. Jornal do Commercio. Manaus, ed 20712, p 11, ano LXVI, 01 Jun 1971.
26
Sexteto do Banditismo. Jornal do Commercio. Manaus, ed 22196, p 1, ano LXXII, 6 Jun 1976.
27
O Melhores do Tribunal. Jornal do Commercio. Manaus, ed 22336, p 6, ano LXXII, 11 Dez 1976.
98
pois desempenhou a função de diretor do Nacional Futebol Clube28 e
de representante do Clube de Regatas Flamengo, em Manaus. 29
c) Sonia Facundo do Valle, nasceu no dia 18 de abril de 1928, solteira,
funcionária da receita federal (VALLE, 2017a; 2017b).
d) Wanda do Vale Rivera, foi aluna do Instituto de Educação do
Amazonas e casou-se com o contador Avelino Fernandes Rivera.
Morava no Rio de Janeiro. Fonoaudióloga renomada, especialista em
foniatria, ―mundialmente conhecida pelo seu ‗método do gelo‘,
sistema de tratamento de sua própria criação [...] contra a salivação
excessiva [...]. Como contribuição desenvolveu ainda [...] a utilização
de aparelho audiovisual para coordenação, palavra, imagem e som,
para menores excepcionais [...] conseguindo em três meses o
trabalho que é feito, às vezes, em anos‖30.
e) Maurílio Facundo do Valle, amazonense, nasceu no dia 13 de
setembro de 1934 e desencarnou no dia 26 de agosto de 2016.
Casou-se com Nilze Cidade de Oliveira do Valle, com quem teve
quatro filhos: Charles (04/07/1964), Filipe (26/09/1965), Rogério
(15/05/1969) e Geisa (29/12/1974) (VALLE, 2017b). Como bancário,
foi aposentado em 1982, depois de 27 anos de trabalho frente ao
BASA, onde passou por todas as funções até chegar a gerência. Em
1984, foi nomeado Secretário Geral das Indústrias do Estado do
Amazonas - FIEAM31.
f) Marcello Facundo do Valle nasceu em 29 de julho de 1940 e
formou-se como químico e economista (VALLE, 2017a). Foi
presidente do frigorífico Frigomasa, nos anos de 1980, participando
do debate sobre as condições sanitárias do abate de carne bovina
em Manaus32. Casou-se com Coraly do Valle33, e da união nasceram:
Ricardo Facundo do Valle (03/06/1968), economista; Carla Virgínia
Faria do Valle (09/03/1973), administradora de empresas; Rodrigo
Silva Valle (29/08/1986), advogado; e, Marcello Facundo do Valle
Filho (11/06/1994), administrador de empresas (VALLE, 2017a).
g) Maria Júlia do Valle Volga nasceu em 15 de fevereiro de 1948
(VALLE, 2017b), foi casada com Devaldo Volga 34.
28
Naça quer mais sócios. Jornal do Commercio. Manaus, ed 20379, p 8, ano LXIX, 22 Fev 1973.
29
Samuel representa FLA. Jornal do Commercio. Manaus, ed 22686, p 6, ano LXXV, 30 Mar 1978.
30
Professora Amazonense destaca-se. Jornal do Commercio. Manaus, ed 20890B, p 219, ano LXVIII, Jan
1972.
31
Federação das Industrias tem novo Secretário. Jornal do Commercio. Manaus, ed 33269, p2, ano LXXX,
23 Mai 1984.
32
Fim do Abate Ilegal de Gado. Jornal do Commercio, Manaus, ed. 33655, p 3, ano LXXXI, 26 Jul 1985.
33
Bodas de Ouro. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 21248, p 4, LXIX, 07 Abr 1973.
34
Bodas de Ouro. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 21248, p 4, LXIX, 07 Abr 1973.
99
As lembranças retratadas pelo seu filho (VALLE, 2017a) o descrevem
como uma pessoa vaidosa, que cuidava da sua aparência; mas o destaque
maior foi dado para as características que o apresentaram como uma pessoa
de fino trato, simpático com os amigos, amoroso com a esposa e afetuoso e
delicado com os filhos:
João Facundo do Valle vivia cheiroso, penteado e vaidoso com sua
aparência. Trajava paletó e gravata quando saia para passear no centro da
cidade, com sapatos sempre brilhando.
Jamais assisti qualquer tipo de discórdia dele com minha mãe. Os dois
conversavam muito e quando saiam para passear, andavam sempre de
mãos dadas e cheios de sorrisos.
Tinha hábito de, na janela, ficar observando o movimento da rua. Era muito
cumprimentado e mantinha conversas com amigos que transitavam pela
calçada.
Era respeitador com os filhos, sem jamais eu ter assistido discussões com
qualquer um de nós. Quando fazia certas reservas com qualquer dos filhos,
apenas mostrava suas preocupações em voz baixa e pausada (VALLE,
2016).
2.3 Atuação na sociedade
Estudou no Gymnasio Amazonense, constando o seu nome numa
relação de alunos do 2.º ano, publicada pela Secretaria da instituição, que
apresentava o resultado geral dos exames do curso, na primeira época do ano
letivo de 1909; como colegas de turma, estavam Otaviano Augusto Soriano de
Melo e Ranulpho Lima Bacury. Quem assinou o documento como secretário do
colégio foi Feliciano de Souza Lima35. Este último, também foi pioneiro do
Espiritismo, aparecendo como membro da Comissão de Contas da diretoria da
FEA, eleita no ano de 191836.
Teve o seu nome aprovado como sócio do Batalhão de Caçadores37, em
15 de dezembro de 1908. Esse batalhão tinha um efetivo de 324 combatentes
em tempo de paz, composto por oficiais inferiores e praças das três
companhias de Manaus. Os seus conhecidos uniformes, de cor caqui, eram
encomendados à Alfaiataria Poli & Malaguti38. A seguir, apresenta-se uma
fotografia de um treinamento militar do referido batalhão, localizado na Praça
General Osório [atual Colégio Militar]39, fac símile de um cartão postal da
década 1910.
35
Gymnasio Amazonense. Relatórios dos Presidentes dos Estados Brasileiros, ed 001, ano 1909, p 153,
154 e 158.
36
Varias Notas. A Capital. Manaus, ed 257, ano II, p 2, 04 Abr 1918.
37
Em 7 de janeiro de 1890 foi criado o 36° Batalhão de Infantaria na cidade de Manaus-AM. Em 1908
transformou-se no 46° Batalhão de Caçadores aqui funcionando até o ano de 1915, sendo transferido para
a cidade de Fortaleza (CE), e retornando à esta cidade em 1919. No ano de 1923, passou a ser chamado de
27.º Batalhão de Caçadores, e em 1969 foi denominado 1.º Batalhão de Infantaria de Selva. Disponível
em: <http://idd.org.br/acervo/46o-batalhao-de-cacadores/>. Acesso em: 07 Set 2017.
38
Batalhão de caçadores. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 1701, p 2, anno V, 16 Dez 1908.
39
Disponível em: <http://www.40bi.eb.mil.br/index.php/historico>. Acesso em 07 Set 2017.
100
Ainda em relação à sua participação na vida militar, seu nome apareceu numa
convocação de comparecimento ao Tiro Naval, ―no intuito de tratar de interesses
[daquela] corporação patriótica40. De acordo com a fotografia a seguir, localizada no
acervo do publicitário e historiador Durango Duarte, a referida sociedade era
composta pelos membros da reserva de pessoal da Marinha de Guerra do Brasil.
Fonte: O Malho, Ed. 557 ano XII – 17 de maio de 1913.
João Facundo foi um entusiasmado desportista, compondo o grupo que
fundou a revista ―Correio Sportivo‖, no dia 12 de março de 1911, a qual tinha a
finalidade de tratar dos assuntos referentes aos interesses esportivos da cidade. A
direção da mesma estava sob o comando do patrício Deodoro de Alcântara e o corpo
redacional era formado por Facundo e Adail Valente do Couto 41. Este periódico
reapareceu publicado, numa segunda fase, em junho de 1916, sendo elogiado pelo
redator do Jornal do Commercio:
O apreciado orgao de divulgação sportiva que já tem um logar de destaque
na imprensa do Estado, como excrinio de bons trabalhos litterarios e
propugnadores pela educação physica ao lado do cultivo intellectual,
40
Tiro Naval. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 6093, anno XVIII, p 1, 05 Abr 1921.
41
Notas Sportivas. Correio do Norte. Manaus, edição 635, p 1, anno III, 09 Mar 1911; Livros e Revistas.
Correio do Norte. Manaus, edição 638, p 2, anno III, 12 Mar 1911.
101
appresenta nesse seu primeiro numero de segunda serie, um summario
cuidadoso e selecto, colaborado por uma pleiade de rapazes intelligentes e
esforçados.42
A sua ligação com a área esportiva, o acompanhou ao longo dos anos. Em
1917, esteve envolvido na organização de uma excursão à cidade de Itacoatiara
(AM), promovida pelo ―pujante Nacional Foot Ball Club‖. A excursão custava dois mil
réis por pessoa, com todas as despesas incluídas, e as vendas estavam sob a
responsabilidade dos senhores: […] ―coronel João Hermes de Araújo, corrector
Manoel Dias d`Oliveira, professor Coriolano Durand, Aureliano Oliveira, João Facundo
do Valle, Gregório Gadelha e outros illustres membros do ‗Nacional‘ [...]. A viagem
ocorreu no dia 08 de dezembro, a bordo do vapor ―Goyaz‖, da flotilha da Amazon
River, com a participação de muitas famílias da sociedade amazonense 43.
Em 1916, exerceu a função de guarda-livros do ―Palais Royale‖44, Tipografia
e Livraria de Lino Aguiar e Cia, localizado à Rua Municipal, n.º 8245. No ano seguinte,
já era membro da associação de classe: ―Em sessão de hontem da Associação dos
Empregados do Commercio foram aceitos os seguintes senhores: [...] João Facundo
do Valle […]46. Desde essa época encontraram-se diversos registros de seu
aniversário sendo noticiado nos jornais, demostrando ser pessoa destacada na
sociedade da época47.
Consoante Marcello do Valle (2017), dentre outras atividades profissionais, seu
pai ―foi contador da Livraria César & Cia Ltda. que ficava na Avenida Sete de
Setembro, perto da esquina da Avenida Eduardo Ribeiro‖, como também
desempenhou a função de:
gerente financeiro da Delegacia Fiscal do Amazonas, hoje Receita Federal, e no
ambiente de trabalho era muito bem quisto pelo seu aspecto alegre e teve como
funcionário menos graduado que ele Gilberto Mestrinho que, mais tarde,
governou o Estado do Amazonas (VALLE, 2017).
Em muitas atividades, o encontramos junto com o seu irmão Luiz Facundo,
deduzindo-se proximidade e parceria. Essa relação de confiança entre os dois pode
ser inferida quando João, no ano de 1919, assumiu a gerência de dois armazéns de
móveis, de propriedade do irmão, por ocasião do seu afastamento temporário da
capital amazonense:
Ao commercio e ao publico
42
Manaos Social. Jornal do Commercio. Manaus. ed. 4362, p 1, anno XIII, 17 Jun 1916.
43
Viagem de recreio a Itacoatiara. A Capital. Manaus, ed 139, anno I, p 2, 04 Dez 1917.
44
Manaos Social. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 4362, p 1, anno XIII, 17 Jun 1916.
45
Disponível em: <http://idd.org.br/acervo/palais-royal/>. Acesso em: 07 Set 2017.
46
Varias. Jornal do Commercio. Manaus. ed. 4584, p 1, anno XIV, 28 Jan 1917.
47
Manaos Social. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 4362, p 1, anno XIII, 17 Jun 1916; Manaos Social.
Jornal do Commercio. Manaus, ed. 4722A, p 1, anno XIV, 17 Jun 1917; Manaos Social. Jornal do
Commercio. Manaus, ed. 5794, p 1, anno XVII, 17 Jun 1920; Manaos Social. Jornal do Commercio.
Manaus, ed. 6093, p1, anno XVIII, 17 Jun 1921; Manaos Social. Jornal do Commercio. Manaus, ed.
6507, p 1, anno XIX, 17 Jun 1922; Manaos Social. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 6855, p 1, anno
XX, 17 Jun 1923; Manaos Social. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 7900, p 1, anno XXIII, 17 Jun
1926; Manaos Social. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 8116B, p 1, anno XXIV, 17 Jun 1927.
102
L. Valle estabelecido com armazens de móveis á avenida Eduardo Ribeiro, n. 15
e rua Henrique Martins, n. 45, declara que tendo de retirar-se temporariamente
desta cidade, constituio seu procurador o sr. João Facundo do Valle, com
escriptura publica para gerir os seus negócios48.
Como os demais membros da família Facundo do Valle, fez muitas viagens,
principalmente para a cidade do Rio de Janeiro, como podemos confirmar a seguir:
Sahidas - Para o Rio de Janeiro e escalas o paquete <Brazil>, levando os
seguintes passageiros: […] dr. Jonathas Pedrosa, […] João Facundo do Valle‖ 49
OS PASSAGEIROS
Entraram hontem nesse porto no Paquete Pará, vindo do Pará: […] João
Facundo do Valle50.
Mantinha uma vida social ativa e era bem relacionado. Foi encontrado como
membro de uma comissão de recepção, criada para organizar um bal masqué, que
ocorreu no ano de 1919, na sede do Lilás Club, localizado na Rua São Vicente, n.º 18
[atual Rua Bernardo Ramos], presidido pela senhorinha Lilazia de Alcantara Freire 51.
Em outro momento, esteve atuando como procurador de José Joaquim Corrêa, numa
questão judicial, na qual era solicitado o pagamento dos vencimentos atrasados,
desse último, junto à Delegacia Fiscal52.
Fez parte da primeira diretoria do Círculo de Pais e Professores do Grupo
Escolar Saldanha Marinho, eleita no mês de maio de 1932, na função de vogal do
conselho administrativo53. Certamente estava acompanhando a vida escolar dos
filhos, uma vez que residia nas proximidades daquela escola, localizada na rua com o
mesmo nome.
2.4 Atuação no Movimento Espírita
A família Facundo do Valle, tudo indica, professava o Espiritismo, pois a
sua matriarca Raymunda, fundou o Grupo Espírita ―Regeneração dos
Discípulos de Jesus‖ no início do século XX. A data da inauguração é indicada,
numa notícia publicado no Jornal Mensageiro, como 07 de agosto de 190254,
sendo localizado na Rua Lima Bacuri, 33 – Manaus, Amazonas; entretanto o
ano é controverso. Encontrou-se uma primeira solicitação da adesão do grupo
à FEA, em dezembro de 190455, sendo aprovada com recomendações sobre a
necessidade da implantação de um livro de atas e da investigação da
identidade dos espíritos.
48
Ao Commercio e ao publico. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 5291, p 2, anno XVI, 22 Jan 1919; Ao
Commercio e ao publico. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 5293, p 2, anno XVI, 24 Jan 1919.
49
Sahidas. A Capital. Manaus, ed 17, p 3, anno I, 01 Jan 1917.
50
Os Passageiros. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 5042, p 2, anno XV, 09 Mai 1918.
51
Carnaval. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 5315, p 1, anno XVI, 17 Fev 1919.
52
Varias. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 6238, p 2, anno XVIII, 07 Set 1921.
53
Varias. Jornal do Commercio. Manaus, ed. 9651, p 2, anno XXIX, 29 Mai 1932.
54
Noticiario. Mensageiro. Manaus, n 40, p 3, anno II, 18 Ago 1902.
55
Ata da 31.ª Sessão da FEA, em 04 de dezembro de 1904, p 24.
103
No primeiro mandato do seu irmão Luiz Facundo do Valle, como
presidente da federação, no ano de 1918, o pedido de adesão é repetido e
aprovado56. Nesta ata consta como a data de inauguração o dia 07 de agosto
de 1904, e a sua localização registrada na Praça da Saudade, n.º 12. Enquanto
numa publicação do Jornal do Commercio, no ano de 1977, por ocasião do
aniversário do Grupo Espírita, registrou a informação de que o ano de 1902, foi
o da sua inauguração:
Completará amanhã dia 7, mais um ano de fundação, o centro espírita
―Regeneração dos Discípulos de Jesus‖, um dos pioneiros do Espiritismo e
Manaus, pois sua primeira reunião foi realizada em 1902, pela irmã
Raimunda Facundo do Vale. Trabalhando desde então com muita
dedicação e humildade, observando sempre os princípios da Codiunico aos
mais necessitados. Sua presidência por longos anos vinha sendo observada
pelo irmão João Facundo do Vale, desencarnado recentemente 57.
No Espiritismo nascente, nestas terras amazônicas, verifica-se que a
sua expansão ocorreu por meio desses grupos espíritas familiares. No
opúsculo que relata a História do Espiritismo no Amazonas, Campos explica:
A mecânica de funcionamento desses grupos familiares era simples. Dava-
se início pela prece do Pai Nosso, repetida quantos fossem as rogativas ou
oferecimentos, e em seguida era feita a abertura do Evangelho ao ―acaso‖,
após o que era tecido breve comentário, passando-se à reunião mediúnica
com acolhimento aos Espíritos comunicantes, e, quando solicitado, o
médium vidente que estava presente tinha papel importante no conjunto do
trabalho, pois detalhava o que se passava no plano espiritual. Como
cortesia da casa, ao final da atividade mediúnica era servido o cafezinho
(CAMPOS, 1984, p.18-19).
João atuou ao lado do irmão, no movimento espírita nascente. No ano de 1911,
foi eleito para o cargo de 2.º secretário da Federação Espirita Amazonense 58.
Posteriormente, enquanto o seu irmão assumia o primeiro mandato no cargo de
presidente, no ano de 1918, ele assumia a função de bibliotecário da federativa 59.
Encontrou-se o registro sobre sua doação de alguns livros espíritas, à Biblioteca
da Federação: Pluralidade dos Mundos Habitados, Narrações do Infinito, Os Mundos
Imaginários e O Espiritismo (FEDERAÇÃO, 1918c, p 164v). As três primeiras obras
de autoria do astrônomo espírita francês Camille Flamarion, demonstrando que
possuía um gosto apurado para a leitura.
56
Ata da 3.ª reunião de diretoria, em 02 de Junho de 1918, p 164v e 165.
57
Seara Espírita. Jornal do Commercio. Manaus, ed 24473, p 22, anno LXXIII, 07 Ago 1977.
58
Acta da sessão commemorativa a desincarnação de Allan Kardec e de eleições dos novos corpos
dirigentes. 30/03/1911, p 127v.
59
Posse da Diretoria da FEA. A Capital. Manaus, ed 257, p 2, anno, II, 04 Abr 1918.
104
Residência de João Facundo do Valle,
situada à Rua Saldanha Marinho, 641- Manaus AM.
Foto da autora.
De acordo com informação do seu filho Marcello do Valle (2017), o Centro
Espirita fundado por sua avó permaneceu funcionando por muitas décadas, na casa
de n.º 641, da Rua Saldanha Marinho, localizada em frente ao Senac e ao lado da
casa dos dois leões. As sessões eram dirigidas por João Facundo e a sua mãe
atuava como médium, e contavam com a participação de pessoas importantes da
sociedade amazonense:
Quase toda semana se reunia com os filhos e amigos para sessões
espíritas, sempre com minha mãe que era médium e anotava as mesmas,
para depois datilografá-las. Nunca [...] obrigou os filhos para qualquer
religiosidade.
Convidados [...] em assistir as sessões, lembro de Gilberto Mestrinho e
Álvaro Maia, ambos governadores; comerciantes importantes da cidade
como Abrahão Benarrós, Isaias Bento, e o radialista Josué Cláudio de
Souza e outros que vinham de outros estados com recomendações.
Durante a sua existência terrena, Facundo praticava as suas ações de
caridade aos necessitados. Manteve a prática das atividades espíritas durante
toda a sua vida, garantindo a longevidade do Grupo Espírita fundado pela
genitora, embora realizando apenas reuniões familiares 60. Após o seu
desencarne, as reuniões continuaram sendo desenvolvidas pela sua esposa
Mariúna, até a partida desta para a vida espiritual.
CONCLUSÃO
Nesse singelo trabalho, apresentou-se a vida de João Facundo do Valle,
nascido em Manaus, no dia 17 de junho de 1889 e desencarnado no dia 23 de
60
Seara Espírita. Jornal do Commercio. Manaus, ed 24473, p 22, anno LXXIII, 07 Ago 1977.
105
agosto de 1973. Casou com Maria da Conceição [Mariúna] do Valle, com quem
teve sete filhos.
Foi um homem bem relacionado com autoridades políticas e
empresários; mas nas recordações dos seus familiares as facetas marcantes
foram as da pessoa alegre, amorosa e respeitadora.
Destacou-se como um bom companheiro para o irmão Luiz Facundo,
tanto na vida profissional, como na fé espírita: na primeira, compartilhando das
atividades comerciais, chegando a assumir a gerência das empresas daquele,
por ocasião de viagens; e na segunda, sendo um dedicado parceiro nas
atividades espiritistas, acompanhando-o na FEA, por muitos anos [1904-1920],
tendo exercido a função de secretário e bibliotecário. Foi um discreto
trabalhador do Movimento Espírita pioneiro e manteve o seu labor na seara
espírita até o dia do seu retorno a pátria espiritual.
O QUE EU APRENDI SOBRE MIM MESMO
Dar destaque a biografia de João Facundo do Valle foi uma ideia que
veio surgindo devagar e de repente não deu mais para segurar. A afetuosidade
que ele transpareceu nas relações e a serenidade no agir são virtudes que
admiro nas outras pessoas e que preciso desenvolver, pois ao contrário dele,
sou muito impetuosa e irrequieta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VALLE, Marcello Facundo do. Biografia de Luiz Facundo do Valle, 17 Set.
2017. Pesquisa histórica para elaboração de artigo a ser apresentado no V
Simpósio FAK. Entrevista concedida a Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre.
VALLE, Rogerio do. Biografia de João Facundo do Valle, 08 Out. 2017.
Pesquisa histórica para elaboração de artigo a ser apresentado no V Simpósio
FAK. Entrevista concedida a Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre.
CAMPOS, José Cunha. História do Espiritismo no Amazonas. 1.º edição.
Manaus/FEA, 1984.
106
ANEXOS
Anexo 01: Bodas de Ouro João e Mariúna.
Figura 4: Fac símile Jornal do COMMERCIO, ed. 21248, p 4, 07/04/1973.
107
Anexo 02: Nota de falecimento de João Facundo do Valle.
Figura 5: Fac símile do Jornal do COMMERCIO, ed. 21361, p 2, de 24/08/1973
Anexo 03: Minuto de silêncio
Figura 6: Fac símile do Jornal do Commercio, ed. 21362, p 8, de 25/08/1973
108
109
EMÍLIA FREITAS E ARTHUNIO VIEIRA: A MISSÃO EM COMUM NA
AMAZÔNIA
Robério dos Santos Pereira Braga61
―É nosso dever auxiliar os heróis na árdua empresa de remissão dos
cativos‖ (Emília Freitas, na inauguração da Sociedade Cearense
Libertadora, no Clube Cearense, 1883).
RESUMO
O presente trabalho pretende reconstruir aspectos da trajetória pessoal e
profissional de Emília Freitas em Aracati, Fortaleza e em Manaus, e de
Arthunio Vieira nas cidades do Recife, Belém e Manaus, que, separadamente,
sem que se conhecessem, desenvolveram as mesmas atividades como
jornalismo, fundação e direção de jornais, magistério, artes, literatura,
abolicionismo da população negra e propaganda republicana. Posteriormente,
quando reunidos pelo matrimônio, efetivaram a conjugação de esforços em
comum em Manaus, Maranguape e Belém, dessa feita sob ângulo muito
especial que foi a prática e propaganda do Espiritismo. Trata-se de estudo
submetido ao tema central ―Espíritas na Amazônia: suas buscas nas
realizações do passado e do presente, e nas motivações para o futuro‖, fixado
no eixo ―Primórdios das ações espíritas nas terras amazônicas – vultos
históricos da ação espírita amazonense‖, programados para o V Simpósio FAK.
O trabalho, dividido em três blocos de pesquisa conclui por demonstrar que
Emília e Arthunio, após formação católica rigorosa começaram as práticas
espíritas em Manaus, cabendo a ela iniciá-lo na Doutrina, e a Arthunio, após o
desencarne de Emília, dar continuidade à difusão jornalística do Espiritismo e
do Movimento Espírita. O estudo foi realizado com base em documentos
primários e pesquisa bibliográfica, utilizando o método histórico e dedutivo.
INTRODUÇÃO
O maior número de nordestinos que se transferiu para a Amazônia no
período da belle époque (1880-1913), especialmente para Manaus, foi de
cearenses, junto aos quais e em menor contingente, porém com mesma
importância para o desenvolvimento regional, chegaram os pernambucanos,
advindos de vários municípios e distritos, mas especialmente do Recife. Muitos
se embrenharam nas matas das estradas de seringais; outros puderam optar
pela permanência nas capitais, ou pelo menos nas sedes dos municípios como
Humaitá, Lábrea e Borba, considerados importantes polos regionais da época.
Foram vários os que chegaram para desenvolver atividades no magistério, na
magistratura, na medicina e na imprensa, graduados ou não, atraídos pelo
surto de crescimento que a capital amazonense ostentava a olhos vistos e era
anunciado em trombeteadas para muitas léguas de distância.
Alguns viveram experiências quase concomitantes nas duas principais
cidades da Região: Belém e Manaus. Entre eles Emília Freitas e Arthunio
61
Pesquisador convidado da Fundação “Allan Kardec”.
110
Vieira. Raramente uma mulher se destacava na sociedade da época como
sucedeu com Emília Freitas que foi professora, jornalista, diretora de jornais,
escritora, poeta, abolicionista, republicana, espiritista, uma revolucionária para
os padrões então vigentes, precisamente de 1855 quando reencarnou,
passando por 1873, ano em despontou para o jornalismo e até 1908, quando
veio a desencarnar. Arthunio foi professor, jornalista, diretor de jornais,
escritor, dramaturgo, abolicionista, republicano, conferencista, espiritista, um
revolucionário em tudo que realizou.
Uma extensa pesquisa histórica dificilmente identificará muitas outras
mulheres que, naqueles anos, tenham obtido a projeção que Emília alcançou,
muito mais por determinação pessoal do que por qualquer outra razão,
inclusive de família ou matrimônio. Esse desempenho no campo das causas
sociais e das letras tem motivado pesquisadores contemporâneos a dedicarem
estudos acadêmicos que procuram examinar sua trajetória, contextualizando
sua contribuição à libertação dos escravos negros no Ceará, a experiência
amazônica, as experimentações na literatura, e, mais recentemente, sua
dedicação ao Espiritismo.
Depois de desenvolverem diversas atividades em cidades distintas,
Emília em Aracati, Fortaleza e Manaus e Arthunio no Recife, Belém e Manaus,
os dois foram reunidos em laço matrimonial após construírem, à distância,
entrelaços muito particulares que devem ter fortalecido essa união, e, mais que
isso, os levaram a atuar de forma conjunta e harmônica na propagação da
Doutrina Espírita, aspectos que constituem objeto desse estudo que visa
demonstrar as identidades que devem tê-los aproximado.
EMÍLIA FREITAS: A ORIGEM DISTANTE
Em acurada perquirição histórica, o sempre notável Guilherme Studart
(barão de Studart), cearense de quatro costados, ao se dedicar ao desenho do
perfil biográfico de Emília Freitas identificou com precisão seus ancestrais, a
partir de bisavós. Damião Pereira de Oliveira e Maria Magdalena Ferreira de
Mello. Magdalena era filha de Antônio Ferreira de Mello, natural de Goiana, e
de Isabel da Rocha Maciel. Studart desvendou, ainda, que Damião era irmão
de Cláudio, Vicente, Jacintho, Manoel, José Francisco e João Marques de
Oliveira, compondo família que deu ao Ceará os monsenhores Bruno de
Figueiredo, Liberato Dyonisio da Costa e Luiz Gonzaga, além de negociantes e
professores.62 Salienta também que Emília foi neta paterna de Raphael Ferreira
de Mello e Maria Maciel, e neta materna de Manoel Duarte da Cruz e Isabel da
Rocha Maciel, portugueses de nascimento.
A região em que reencarnou e de maior referência para a família é a dos
índios ―Potiguara‖, que foram alcançados pelos europeus em 1500, e pelos
anos 1600 tornou-se área de interesse militar por causa das fortificações de
Bateria do Retiro Grande, Presídio da Ponta Grossa, Presídio de Coroa
Quebrada, Presídio do Morro de Massaió, dentre outras. Sua ocupação
definitiva pelo homem europeu, entretanto, decorreu das oficinas ou
charqueadas do Ceará, que imprimiram condições de competitividade com a
pecuária local e com a zona canavieira de Pernambuco, passando a ser região
produtora de carne seca e porto de exportação para cana-de-açúcar, além de
62
STUDART, Guilherme. Dicionário bio-bibliographico cearense, vol. 1. Fortaleza: Typo-
Lithographia a vapor, 1910, p. 243.
111
base de apoio militar para proteger a região portuária, as transações
comerciais e os habitantes contra os ataques de índios. Mereceu capela
(1714), juízo e tabelião (1743) e conseguiu forte crescimento nos anos
seguintes até ser elevada à Vila (1748), ocasião em que foi erguido o
pelourinho e empossada a Câmara de Vereadores, e foi erigida em cidade
(1842) mais de vinte anos após haver sido palco de combates ao tempo da
Confederação do Equador (1824), quando Tristão Gonçalves de Alencar
Araripe chefiou tropas que atacaram e arruinaram a localidade, em apenas
uma semana.
Esse lugarejo cresceu em razão de atividade econômica próspera e de
relações com localidades vizinhas e foi o seio da família de Emília e no qual
firmou raízes e tradição, o que não impediu que ela partisse no rumo da capital,
a próspera cidade de Fortaleza, e, mais tarde, para o desejado Norte do País,
onde se dera e estava em curso uma verdadeira explosão econômica a atrair
brasileiros de todos os quadrantes e especialmente do Ceará, sofridos com a
seca ou em busca de riqueza e aventura.
Conterrâneos da mesma região de Emília foram Francisco José do
Nascimento (1839-1914) o ―Dragão do Mar‖ que esteve à frente do movimento
abolicionista do Ceará; Júlio César (1850-1931) um dos principais dirigentes do
Clube Republicano de Aracati, o primeiro do Ceará; Adolfo Caminha (1867-
1897), escritor de ―A Normalista‖, ―Bom Crioulo‖, e outros; Pedro José da Costa
Barros (1779...) militar, primeiro presidente da província do Ceará, ministro de
Estado e senador; Pedro Pereira (1814...) primeiro autor de projeto à Câmara
Federal em favor da extinção da escravatura; Paula Nei (1858-1897), poeta e
jornalista; Major Facundo (1787-1841), comerciante e político, 63 o que serve
para demonstrar ter importância da região na história do Ceará, e a tradição
nas letras, artes e na política.
A trajetória dos pais
Filha do tenente-coronel da Guarda Nacional Antônio José de Freitas e
de Maria de Jesus Freitas. Pelos dados conhecidos é possível considerar que
tenham sido muitos os seus irmãos, havendo referência a mais de dez, um dos
quais a acompanhou na viagem para o Amazonas em 1892. As poucas
informações disponíveis permitem reconstruir, ainda que de forma parcial, a
trajetória do pai, diverso do que sucede com sua mãe, em relação a qual são
ainda mais raras as notícias.
Antônio José foi empregado público ao tempo do Partido Conservador
(1852), subdelegado do distrito de sua residência (1864), além de ter servido
desde 1839 à causa pública independente de partido político, mesmo sendo
liberal convicto, ou como ele afirmava ―de véspera, do dia e do futuro‖, ou
―desde que tomei juízo de razão fui acompanhando as tendências do meu
século e aceitando as teorias do raciocínio e do direito.‖ 64
63
BARBOSA, Maria Edivani Silva. Aracati (CE) no período colonial: espaço e memória.
Fortaleza, 2004. Disponível em: http://www.uece.br/mag/dmdocuments/maria_edivani_
dissertacao.pdf. Acesso em: 17 set. 2017. (Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Acadêmico em Geografia, do Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Geografia).
64
JORNAL DO CEARÁ, Fortaleza, 13 mai. 1868, p.3.
112
Além disso, atuou na imprensa, inclusive defendendo a criação dos
batalhões da Guarda Nacional na sua região (1867), razão pela qual foi
bastante acossado com afirmações de que teria obtido a patente da Guarda de
maneira escusa, porque foi nomeado comandante para a União (Aracati).
Refutou a acusação valendo-se das colunas do jornal Pedro II. Tudo porque
Freitas defendeu a criação desses batalhões valendo-se de vários amigos, mas
sem postular a designação para comandante. Segundo ele, sua atuação nesse
episódio visou
satisfazer mais uma necessidade da localidade, cujo progresso e
interesses tenho advogado com a mais firme e sincera dedicação,
sacrificando mesmo os meus interesses e cômodos pessoais. [...] Se
a minha nomeação não foi obtida por meio de baixezas, traficâncias
ou transações indígenas, não pode ela desonrar o governo que a fez,
e nem tão pouco aqueles dos seus amigos que voluntariamente a
procurarão obter.65
Enfrentando todo o tipo de acusações, Freitas foi nomeado para o posto
de tenente-coronel do Batalhão de Infantaria66 da Vila da União, por decreto de
27 de dezembro de 1867, subordinado ao comando de Aracati. 67 Padeceu nos
embates políticos também pelas posições assumidas na condição de Liberal,
em confronto com os membros do Partido Conservador. Embates entre liberais
e conservadores eram comuns em todos os quadrantes do País, sendo
corriqueira a afirmação de que não havia nenhum liberal mais exacerbado do
que um conservador no poder, a demonstrar o desempenho político dos
liberais que chegava a impregnar os mais ferrenhos opositores.
A respeito de dona Maria de Jesus Freitas, mãe de Emília, além dos
afazeres domésticos e de educação dos filhos, como era exigência da
sociedade daquela época, o que se conhece é ter ficado viúva em 1869 e
desencarnado em 1892.
A trajetória de Emília Freitas
Emília Freitas nasceu na antiga União, depois Jaguaruana, na época
distrito de Aracati, no Ceará, em 15 (11) de janeiro de 1855, onde estudou as
primeiras letras. Deslocou-se para Fortaleza após a morte do pai em 1869,
dedicando-se aos estudos das línguas inglesa e francesa e de geografia. Após
as primeiras experiências na imprensa no ano de 1873, sofreu a perda de
quatro irmãos no período de outubro de 1876 a abril de 1878.
Sua trajetória é rica de vivências desafiadoras para a realidade da
época, seja como professora, jornalista, diretora de jornal, abolicionista,
republicana, poeta, romancista, oradora, assim como espírita e uma das
precursoras do movimento em defesa dos direitos da mulher no Brasil,
conforme salienta o presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará. 68
65
JORNAL DO CEARÁ, Fortaleza, 9 jan.1868, p.4.
66
JORNAL DO CEARÁ, Fortaleza, 28 jan. 1868, p.1.
67
JORNAL DO CEARÁ, Fortaleza, 31 jan. 1868, p.1.
68
............ professor, historiador e presidente da Federação Espírita do Ceará - FEEC.
http://www.canteiroideias.com.br/2013/01/emilia-freitas-uma-mulher-frente-de-seu.html EMÍLIA
FREITAS "Uma mulher à frente de seu tempo", em 20 jan. 2013. Acesso em: 20 set. 2017.
113
Em 1881 já declamava suas poesias em eventos realizados no Colégio
Santa Cecília, na capital cearense, sendo muito aplaudida 69, o que aconteceu
durante muitos anos, sempre nos festejos da Santa. 70 No ano seguinte (1882),
já era professora em Fortaleza71, e em 1883 lecionava na escola noturna da
Rua do Senador Pompeu72, n.º 31.73 Ao que se verifica, o exercício do
magistério, até então, era feito sem exigência de formação especial,
possivelmente nas chamadas aulas livres, mas em 1885 ela cursava a Escola
Normal do Ceará.
A Escola estava recém-criada, com funcionamento recente, apesar de
que, desde 1834, Ato Adicional do governo central havia delegado às
províncias a responsabilidade pelo ensino primário e de formação de
professores. A ideia de criação da Escola vinha desde a presidência de José
Martiniano Alencar em 1837, mas só se efetivou em lei de 1878-79, em plena
seca catastrófica, sendo consolidada em 22 de março de 1884 tendo como
base ―princípios filosóficos e educacionais defendidos por intelectuais da época
como Thomaz Pompeu de Souza Brasil, os professores José de Barcellos e
Amaro Cavalcante, dentre outros.‖ 74
O ingresso de Emília na Escola Normal não pode ser tomado como
resultante de formação preparatória nos moldes atuais (2017), visto que,
naquela época, para fazer o curso de formação para o magistério era exigida
apenas a preparação primária. Entretanto, a Escola tinha ―uma organização
curricular de cunho universal e intelectualista, enfatizava o conteúdo das
disciplinas restringindo a formação docente à cadeira de Pedagogia‖. 75 Além do
aspecto natural de formação Emília pode ter considerado a oportunidade
valiosa de admissão em emprego público, visto que a conclusão da Escola
Normal do Ceará dava direito à nomeação direta para professor da Província,
sem concurso.76
Na Escola Normal ela estudou francês, geografia, história, ciências
naturais, matemática, português e pedagogia, sob a direção do professor José
de Barcelos, não sendo alcançada pelas reformas educacionais que, a partir de
1889, incluíram outras disciplinas como educação moral e cívica, trabalhos
manuais, música, desenho, ginástica, psicologia e noções de literatura. 77
Como professora no Ceará, mesmo antes de concluir o curso na Escola
Normal, ela atuou no sentido de banir o que era considerado como ―as trevas
da ignorância‖, postura que pode ser constatada em uma de suas poesias
lançada no jornal Pedro II, em 1881:
É dever nesta hora excelsa/Mostrar um sincero pasmo/Saudar com
entusiasmo/O sublime pavilhão/Onde trabalha ufanosa/Como esta
cruzada/Que se arroja denodada/Em busca da perfeição!!! [...] Oh!
Quando as priscas eras/Atuava a tirania/Todo o povo então jazia/Do
69
CEARENSE, Fortaleza, 26 nov.1881, p.1.
70
CONSTITUIÇÃO, Fortaleza, 24 nov.1882, p.2.
71
GAZETA DO NORTE, Fortaleza,
72
LIBERTADOR, Fortaleza, 22 set. 1883, p.2.
73
LIBERTADOR, Fortaleza, 1.º out. 1883, p.3.
74
SILVA, Maria Goretti Lopes Pereira e. Escola Normal do Ceará: impasses de criação e a
tônica reformista, p.2. Disponível em: https://pt.slideshare.net/RValdemir/escola-normal-do-
cear-18841922 Acesso em: 17.set.2017.
75
Idem, idem, p.3.
76
Idem, idem, idem.
77
Idem, idem, p.6.
114
saber inda na infância:/Hoje no século das luzes/Em toda parte se
ensina/A rasgar negra cortina/Da noite da ignorância./E a oferenda
preciosa/Dessa seiva imorredoura/Que ora a nação entesoura/Nos
crânios diletos seus:/Com justiça, por direito/Igual ao filho do
nobre/Recebe o aluno pobre/ Francamente nos liceus/Educar na
mocidade/A esperança coorte/É assegurar a sorte/Da futura
geração!/É acender uma lâmpada/Nas trevas que envolvem a lama!/É
tecer vívidas palmas/Com as flores da instrução...78.
Alguns aspectos destacados de sua trajetória podem ser apreciados,
como o relativo à libertação dos escravos cearenses, atuação na imprensa, na
literatura e no Movimento Espírita.
Libertação de escravos no Ceará
A Província do Ceará ostenta a tradição de ter sido a primeira do Império
brasileiro a abolir a escravatura negra em seu território, feito consagrado em
março de 1884, graças à atitude determinada e corajosa de muitas
personalidades, inclusive anônimos homens do mar, em meio a diversos
movimentos libertários que incluíam estudantes, senhoras e respeitáveis
senhores, mas para cujo êxito foi determinante a postura dos jangadeiros
cearenses.
Nesse movimento Emília se destacou com suas poesias e discursos
libertários, além do papel desempenhado na imprensa dedicada à causa da
abolição a ponto de aos 28 anos de idade ser escolhida como oradora da
solenidade de inauguração da Sociedade Cearense Libertadora, realizada em
Fortaleza, em 6 de janeiro de 1883. Seu pronunciamento mereceu destaque
não só pela peculiaridade de ser mulher, mas pela determinação com que se
apresentou, disposta a contribuir decisivamente para a causa que a sociedade
abraçara, destacando que a vila de onde era originária já alcançara a abolição:
Antes de manifestar as minhas ideias, peço desculpas à ilustre
SOCIEDADE CEARENSE LIBERTADORA para aquela que sem
títulos ou conhecimentos que a recomendem, vem felicitá-la pela
primeira vitória alcançada na ditosa vila do Acarape. Depois imploro
ainda permissão para à sombra de sua bandeira, aliar os meus
esforços aos destas distintas e humanitárias senhoras, oferecendo-
lhes com sinceridade os únicos meios de que disponho: meus
serviços e minha pena que, sem ser hábil, é em compensação guiada
pelo poder da vontade. [...] Neste momento é com verdadeiro prazer
que pronuncio o nome da Exma. Sra. Maria Tomásia Figueira Lima e
de suas dignas consocias. Como na França a admirável Roland ia às
grades d‘um cárcere animar os desventurados republicanos, elas hoje
nos animam a trabalhar na grande obra que edifica a humanidade.
Com razão a ninguém mais que a mulher assiste o direito de enxugar
lágrimas. Socorrer a miséria, mitigar dores é a sublime missão que
nos contou a Providência.79
Essa visão sobre a mulher pronta para cuidar das dores alheias seria
retomada em seu romance ―A Rainha do Ignoto‖, e ressaltada na missão da
Rainha e suas companheiras na prática da caridade pelo país, libertando os
escravos que viviam sob o controle de um senhor verdugo.
78
PEDRO II, Fortaleza, 1882, FREITAS, Emília. Poesia.
79
O LIBERTADOR, Fortaleza, 10 jan. 1883.
115
Depois de ter tido presença ativa na libertação dos escravos, no
desfecho desse movimento Emília foi um dos Anjos do Quadro de Luz
apresentado na sessão solene de libertação da Província cearense,
―encarnação brilhante do nosso patriotismo‖ 80 representando a região de União,
terra de seu nascimento, como salientou o jornal O Libertador.81 Naquela
campanha, considerada humanitária para os padrões da época, grande
projeção também coube a Maria Thomazia, Clotildes Barbosa, Izabel de
Oliveira Paiva, Emília Nepomuceno, João Cordeiro, 82 Frederico Augusto
Borges, Catão Mamede, Antônio Bezerra, Justiniano de Serpa, Augusto Xavier,
Oliveira Paiva, B. Forte e Juvenal Galeno.
O empenho de Emília na propagação da campanha, especialmente por
meio de poesias escritas para este fim, publicadas na imprensa e declamadas
em público, terminou por render que fosse cognominada ―Poetisa dos
Escravos‖. Por toda a sua dedicação a essa causa é possível afirmar que
Emília se destacou como poucas do seu tempo, visto que a maioria delas não
percebia outros papeis que poderia desempenhar no seio da sociedade,
restringindo-se aos afazeres familiares e domésticos, ou, quando mais, ao
exercício do magistério.
A Revista do Instituto do Ceará registra, anos mais tarde: ―percebe-se os
pródromos do movimento abolicionista, que despertam os estros de Emília
Freitas e Francisca Clotilde. Elas estrelam as colunas dos jornais com a
comovente música humanitária das suas estrofes‖, 83 síntese que bem
caracteriza e reafirma o tom caridoso e humanitário das ações abolicionistas
levadas a efeito naquela ocasião, aspecto que não deve servir para
desmerecer ou desqualificar o movimento, além de destacar o importante papel
de Emília no abolicionismo.
Na Imprensa
Rompendo com a primazia dos homens-jornalistas, a partir de 1873,
portanto, com 18 anos de idade, Emília colaborou nos jornais O Libertador,
Cearense, O Lírio e A Brisa, editados no Ceará, sendo que os dois últimos
eram exclusivamente literários. Por toda essa contribuição foi cognominada
pela crítica de seu tempo de ―talentosa jovem e mimosa poetisa‖. Da primeira
temporada na imprensa (1873-1890) ela reuniu grande parte dos artigos dados
a público nos jornais e lançou o livro Canções do Lar, em 1891.84
Tendo se deslocado para o Norte do País, mais precisamente Manaus, a
partir de 1892, teve oportunidade de ser colaboradora de diversos jornais como
Amazonas Comercial, do qual seu esposo foi redator na capital amazonense.
Curioso registrar que publicou uma série de artigos sob o título ―De mulher para
80
O LIBERTADOR, Fortaleza, 14 mar. 1884.
81
O LIBERTADOR, Fortaleza, 14 mar. 1884.
82
Presidente da Sociedade Libertadora Cearense, membro do Partido Liberal, foi republicano.
Governou o Estado do Ceará nos primórdios da República. Foi deputado federal e senador da
República e mais tarde, tendo sido nomeado pelo presidente Nilo Peçanha para governador do
Acre, não chegou a assumir dado a resistências locais.
83
REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ, Fortaleza, 1937, p. 429, Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=166774&pesq=emilia%20freitas. Acesso
em: 21 jun. 2017.
84
Obra editada pela Typographia Universal, de Fortaleza, situada a Rua Formosa, n.º 33, de
Cunha & Ferro e Cia., com 310 p., e uma introdução especial, titulada: Aos censores.
116
mulher‖, no jornal Revelação, do Estado do Pará, os quais servem para
confirmar seu interesse pelos direitos da mulher, ou pelo menos por tratar de
temas específicos relativos ao sexo feminino de forma esclarecedora.
Retornando ao Ceará, em 1900, período no qual fixou residência em
Maranguape, com o apoio do marido, jornalista Arthunio Vieira, redator do
jornal Maranguapense, voltou a contribuir com seus artigos pela imprensa. Da
mesma forma que na fase anterior, nesses artigos quase sempre cuidava de
expor suas ideias sobre abolição da escravatura, o progresso da sociedade e a
educação, demonstrando pensamento avançado para a realidade da época, o
que pode ser considerado como busca de quebra de paradigmas.
Na atividade de imprensa no Ceará esteve ao lado de destacadas
mulheres de seu tempo como Francisca Clotilde, jornalista de escol, que
atuava em veículos de cunho operário, literário, abolicionista, republicano ou
feminino, mas com textos abertos a todos os públicos e escreveu nos seguintes
jornais e revistas: Cearense (1877-1884); Libertador (1881-1891); Revista
Contemporânea (1884); A Quinzena (1887-1888); A Evolução (1888-1889);
Gazeta do Sertão (1893); Ceará Ilustrado (1894); Iracema (1895-1900); O
Combate (1896); A República (1896-1901); A Fortaleza (1906); Folha do
Commercio (1911); O Domingo; A Cidade; A Ordem; Almanach do Ceará
(1897-1919); Almanach das Senhoras Brazil/Lisboa (1911); O Lyrio, de Recife
(1902-1904); O Bathel, da Paraíba; Paladino, do Acre; A Família, de São Paulo
(1881-1883) e do Rio de Janeiro (1883-1897); e A Mensageira (1897-1900),
também paulista. Clotilde, também rompeu com os padrões daqueles anos
escrevendo prosa, poesia, contos, crônicas, crítica literária, teatro, traduções,
charadas e anúncios.
Ao que se vê não era somente Emília que atuava nos jornais, mais um
grupo ainda que reduzido de senhoras, principalmente após 1875, como
explica Luciana de Almeida em importante estudo:
Oscilando entre tradição e modernidade em relação à condição
feminina, algumas conseguiam romper com as normas sociais que
lhes eram impostas. Em sinal de redefinição de papéis, elas passam
a ocupar novas funções e lugares. A campanha abolicionista do
último quartel do século XIX foi, no Ceará, a valiosa oportunidade que
elas encontraram para ingressarem no cenário das decisões, ao lado
dos homens.85
O jornal, para aquelas abnegadas, era considerado a ―escola de
patriotismo e instrução‖ compreensão que foi fortalecida com a criação da
Sociedade Cearense Libertadora em 1880, e mesmo em um cenário
grandemente adverso para as mulheres exercerem posição de destaque na
sociedade além da família, algumas se expuseram e venceram tais barreiras
como Alba Valdez, Ana Nogueira Batista, Emília Freitas e Francisca Clotilde,
sendo que Clotilde e Emília se encontram entre as mais destacadas por
estudiosos do tema, e que foram ―na passada geração, os dois únicos nomes
de escritoras que se tornaram conhecidas em nosso meio‖. 86
85
ALMEIDA, Luciana Andrade de. Francisca Clotilde e a palavra em ação: (1884-1921).
Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp125468.pdf. Acesso em: 20 abr. 2017.
86
ALMEIDA, Luciana Andrade de. Francisca Clotilde e a palavra em ação: (1884-1921).
Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp125468.pdf. Acesso em: 20 abr. 2017.
117
Cabe a Emília a primazia de organização e circulação do primeiro jornal
de propagação do Espiritismo no Ceará, na fase em que residiu em
Maranguape, pelos meados do ano de 1900 a 1901.
Na Literatura
Consequência natural de sua dedicação ao jornalismo e às letras foi
enveredar pela literatura, publicando livros. O primeiro deles foi editado sob o
título de Canções do Lar (1891), depois o romance psicológico A Rainha do
Ignoto (1899) e mais tarde outro romance sob o título de O Renegado, que
produziu em conjunto com o esposo, o jornalista Arthunio Vieira. 87
Sobre Canções do Lar, Cunha Mendes, em crônica de jornal ao tempo
do lançamento do livro, foi enfático, frio e duro com a seguinte afirmação: ―o
livro da poetisa aracatyense não se destaca nem pela nitidez do pensamento,
nem pela arte,‖88 aliviando os leitores com os comentários que se seguiram:
―vemo-lo cheio de sensibilidades, nele vemos o coração de uma mulher, d‘uma
poetisa, que canta muito tímida das lufadas tempestuosas, muito ao recata da
lama que forma a sociedade.‖ 89
O único destaque favorável encontrado por Cunha Mendes que pode
reduzir um pouco a acidez de seus comentários diz respeito à sensibilidade e à
ingenuidade demonstradas pela autora: ―E assim é que nas Canções do Lar
encontramos muita sensibilidade e nada de arte‖. [...] ―Os quadros [...] tem a
sensibilidade de quem olha o mundo, somente, tão somente, pelo prisma da
ingenuidade‖. 90
Observando o livro com lupa, Cunha ressaltou os possíveis cochilos da
revisão, identificando erros gramaticais e de metrificação nos versos, dizendo
encobri-los, mas sem perdoá-los: ―Sobre esses erros gramaticais tão
grosseiros, desço um véu espesso que os encubra, como também os de
metrificação que ocorrem o páreo não menos com outros fatais ao talento da
poetisa.‖91
Foram poucos os versos constantes de Canções do Lar que mereceram
elogio de Cunha, mesmo considerando que se tratava de uma página frágil,
mais sensível, quando definiu que ―seus cantos são suspiros de um coração e
o seu coração é um cofre de santos sentimentos, de vagas melodias‖. 92
Não custa indagar se tão violento comentário se revestia também de
discriminação, afinal, se tratava de mulher, audaciosa mulher que vinha
rompendo os limites impostos naqueles anos, entretanto essa crítica isolada e
ácida, não pode deixar de ser registrada, mas, ao mesmo tempo, não deve
servir de parâmetro que desqualifique os versos de Emília Freitas.
87
Há registros de que teria publicado Canções do Lar. Poesia. Fortaleza: Typographia Rio
Branco, 1891.
O Renegado. Romance. Fortaleza: [s.n.] [ca.1890]. Deste último não há maiores informações
nem mesmo de pessoas mais próximas a ela.
88
MENDES, Cunha A. (Almando de Castro). ESTADO DO CEARÁ, Fortaleza, 17 jun. 1891,
p.2.
89
Idem, idem, idem.
90
Idem, idem, idem.
91
Idem, idem, idem.
92
Idem, idem, idem.
118
Outra estudiosa da vida e obra de Emília, Alcilene de Oliveira, detalha
melhor o seu livro de poemas, explicando como ele está composto, inclusive
em relação aos temas abordados:
Canções do Lar é uma coletânea de poemas que a escritora
escreveu entre 1875 e 1888, sendo que alguns deles foram
publicados em periódicos locais, e outros, declamados em eventos
comemorativos de associações, de clubes e de escolas de Fortaleza.
Em tal coletânea, constam vários poemas em memória de familiares
da escritora e de amigos dela como, por exemplo, o que ela dedica à
também escritora Francisca Clotilde (Freitas, 1891, p. 154). Além
desse tipo de poema, Emília Freitas fez, entre outros, alguns
evocando a sensibilidade para com o sofrimento de negros escravos,
bem como referentes a questões políticas, revelando tanto seu
envolvimento com o abolicionismo cearense, em função, inclusive, de
sua religiosidade, quanto uma certa herança do liberalismo paterno
(Freitas, 1891, p. 17-53). É interessante notar que muitos desses
poemas, que eram recitados pela cidade, trazem aspectos da
sociedade da época como, por exemplo, o poema Libertação da
Província do Ceará, que é uma homenagem ao Ceará por ter sido a
primeira província do Brasil a abolir a escravidão.93
Sua obra literária, ainda não está plenamente reconhecida na literatura
brasileira. O livro que tem merecido vários estudos acadêmicos é o romance A
Rainha do Ignoto, considerado distante do predomínio do realismo-naturalismo
que havia em 1899. Esse livro, em razão da temática e por ser mulher não teve
repercussão, vindo a merecer, muitos anos depois (1953), uma primeira análise
crítica da lavra de Abelardo Montenegro que o desqualifica. Havia sido,
segundo Montenegro, uma tentativa de romance delirante, romance
psicológico, assemelhando-se ao que poderia ser uma obra psicografada, em
que ela procura estudar a alma da mulher. 94
Régia da Silva, em estudo recente procura conhecer amiúde a narrativa
exposta e descobrir a intenção da autora em busca de compreender a mulher,
a abolicionista, a escritora, a professora e como ela trabalhava com os ―jogos
do feminino‖ e a ―alma feminina‖, a partir de personagens como ―Rainha, Diana
e Funesta‖. E conclui:
Por isso entendemos que não existe por parte de Emília Freitas um
desconhecimento do que estava em voga no mundo literário de sua
época, mas que, antes de tudo, a autora fez uma escolha, ou seja, ao
invés de procurar ―padrinhos‖, ―moldes‖ ou ―pedantismos charlatões‖,
a autora preferiu, através da observação e da concentração
(características ironicamente naturalistas!), estudar a alma feminina.
Acreditamos que essa opção não a afasta de uma visão crítica da
sociedade. Emília foi uma mulher combativa e sua obra ―A Rainha do
Ignoto‖ é merecedora de uma leitura atenciosa e crítica por parte dos
historiadores.95
93
OLIVEIRA, Alcilene Cavalcante de. Entre a palavra e a música: o horizonte de leitura de
Emília Freitas – escritora cearense do século XIX, p.13. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/viewFile/1123/765
94
MONTENEGRO, Abelardo. Fortaleza, 1953, p.77.
95
SILVA, Regia Agostinho da. Emília Freitas e a escrita de autoria feminina no século XIX.
Disponível em: http://www.outrostempos.uema.br/revista_vol7_9_pdf/regia_agostinho.pdf.
Acesso em: 21 jun.2017.
119
Analisando a obra, Alcilene Oliveira define bem os temas e a
profundidade de assuntos que Emília tratou:
Em meio à trama, que faz incursão pelo gênero fantástico e pelo
gênero maravilhoso, a autora se refere ao Espiritismo, à Psicologia, à
Hipnose, ao Estoicismo, ao Positivismo, às Ciências Naturais, à
Maçonaria, ao Abolicionismo, ao Republicanismo, ao feminismo, ao
amor, à solidão, à angústia, enfim a uma série de assuntos próprios
de sua época, que revelam tanto a circulação de ideias na sociedade
cearense oitocentista, como demonstram o quão concatenada Emília
Freitas estava com tais ideias, apesar da cultura patriarcal e de residir
na ―periferia do império.96
Anos mais tarde A Rainha do Ignoto teve uma segunda edição, com
pesquisa, organização, atualização ortográfica, apresentação crítica e notas
feitas por Otacílio Colares, publicada em Fortaleza pelo Governo do Estado, e
uma terceira edição, em 2003, com atualização do texto, introdução e notas de
Constância Lima Duarte, dessa feita em Florianópolis, o que deveria facilitar o
acesso dos interessados, mas a precária circulação de obras literárias no País
termina por prejudicar o autor e os estudos de crítica literária. Mesmo assim
são diversos os trabalhos acadêmicos que, nos últimos anos, têm apreciado
esse romance sob vários aspectos, recolocando a obra e a autora conforme o
cenário da época.
Ainda que possa representar ufanismo, vale assentar a opinião sobre a
romance de Emília, quase que ao modo de sua coluna por ela escrita nos
jornais, ―de mulher para mulher‖,
A Rainha do Ignoto é um livro desconcertante, não só pelo
pioneirismo dos temas que aborda, como também pela maneira pela
qual trata deles. Assim, podemos considerá-lo nossa primeira obra de
esoterismo, o primeiro livro fantástico, a primeira ficção científica, a
primeira utopia social e o primeiro livro feminista do Brasil. Sendo
tanto, é de se espantar a demora em reabilitá-lo no âmbito da
literatura brasileira, já que é documento necessário a compreensão
97
dos seus caminhos e das questões que levanta.
A esse respeito salienta Batista de Lima em curto artigo sobre a mulher
na literatura cearense,
Emília Freitas, Francisca Clotilde e Rachel de Queiroz são casos de
mulheres marcantes na literatura cearense. A primeira lançou ainda
no século XIX seu livro A rainha do ignoto, que já está na terceira
edição, numa narrativa fantástica, é um livro que apresenta uma
feição feminista da mulher numa sociedade matriarca!.98
Quanto ao romance O Renegado os registros conhecidos dão conta de
haver sido obra elaborada em conjunto com seu esposo, o também jornalista
96
OLIVEIRA, Alcilene Cavalcante de. Entre a palavra e a música: o horizonte de leitura de
Emília Freitas – escritora cearense do século XIX, p. 14. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/viewFile/1123/765
97
Lucio, Eduardo. CLÁSSICOS DA LITERATURA BRASILEIRA.
http://classicosdaliteraturabrasileira.blogspot.com.br/2013/03/critica-emilia-freitas.html?m=1
98
LIMA, Batista. A MULHER NA LITERATURA CEARENSE. Disponível em:
http://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/Colecao_Diversos/Mulher_Literatura/ACL_
A_Mulher_na_Literatura_04_A_mulher_na_Literatura_Cearense_BATISTA_DE_LIMA.pdf
120
Arthunio Vieira, mas são desconhecidos a data da edição e o texto, assim
como qualquer estudo acadêmico ou literário, o que impede maior apreciação a
respeito.
Experiência em terras amazônicas
A passagem de Emília Freitas pelo Amazonas deu-se em duas
oportunidades. A primeira de 1892 até meados de 1900, e a segunda depois de
uma breve temporada no Ceará em 1900, a partir de data ainda não
esclarecida, possivelmente de 1902 até 1908, quando de seu desencarne.
Esses momentos parecem ter servido não só para reescrever o caminho
trilhado por dois de seus ancestrais, personalidades importantes para a igreja
católica e que estiveram, pelo menos, em Belém, Manaus e Manicoré,
oferecendo importante contribuição ao ensino e ao fortalecimento da
religiosidade do povo. Vale considerar, de pronto, por essa observação, que
não se trata somente de destacar o trajeto de muitos cearenses anônimos e de
fundamental importância para o desenvolvimento da Região, conterrâneos de
Emília, mas, também, a trajetória de monsenhor Bruno Figueiredo e de
monsenhor Luiz Gonzaga, seus ancestrais, conforme registro do barão de
Studart.
Monsenhor Bruno Rodrigues da Silva Figueiredo 99 nasceu em 1852,
deslocando-se para Manaus depois de formado pelo Seminário do Ceará.
Lecionou em sua terra natal, foi professor de latim do Liceu Amazonense, do
Seminário local, do Externato São José e do Colégio Santa Tereza. Como
jornalista escreveu para o Libertador, Commercio do Amazonas e Verdade,
contribuindo para a causa abolicionista. Na hierarquia da Igreja Católica teve
importante ascensão, chegando a recusar a mitra de bispo do Amazonas, mas
depois foi cônego honorário da Sé do Pará e bispo do Ceará. 100
Luís Gonzaga de Oliveira, nascido em 1852, depois de estudar no
Seminário do Ceará desde 1873, em 1878 seguiu para a Província do Pará na
qual concluiu os estudos (1880) e foi ordenado por dom Antônio Macedo Costa,
sendo logo em seguida designado para coadjutor da Sé de Belém e professor
do Seminário Menor do Pará. Anos mais tarde foi vigário de Manicoré no
Amazonas (1881), e pouco tempo depois professor do Seminário de Manaus,
do qual também foi vice-reitor e reitor (1884-85), sendo designado cônego no
Pará e, tempos adiante, capelão do Hospital da Sociedade Beneficente
Portuguesa do Amazonas. 101
Talvez sem conhecer essa experiência de seus familiares mais
distantes, Emília se deslocou para Manaus em 1892 na companhia de Alfredo
Freitas, seu irmão, transferindo residência do Ceará. Na capital amazonense foi
professora e examinadora escolar, lecionando no Instituto Benjamin Constant e
no quinto Grupo Escolar da capital, tendo atuado ao lado da professora Tereza
Mayorca em banca de exames finais que esteve sob a presidência do Inspetor
Escolar e professor Ovídio da Gama Lobo, na escola da Estrada de Nazareth,
à época sob a responsabilidade da professora Arya Firmina da Silva (1900). 102
Cerca de trinta dias depois desse exame escolar Emília entrou em gozo de
99
Trata-se do bisneto do tio-bisavô de Emília Freitas.
100
Idem, idem, p. 182-183.
101
Idem, idem, p.288-289.
102
JORNAL DO COMMERCIO, Manáos, 3 jul. 1900.
121
férias, mas visando tratamento de saúde com gozo na sua terra natal. 103 Esta
viagem foi a de retorno ao Nordeste, ainda que por pouco tempo porque
voltaria a residir em Manaus na companhia do esposo.
Sua passagem inaugural no Amazonas (1892-1900) marcou o período
em que escreveu seu primeiro romance, traduziu contos e exerceu o
magistério, e na segunda fase, tendo trazido do Ceará uma tipografia, se
dedicou a editar os jornais O Progresso e Luz e Fé, utilizados para promoção e
divulgação de ideais espíritas, a tratar sobre republicanismo, críticas político-
sociais, cultura e artes.
Exerceu o magistério em Manaus de 1893 a 1900, primeiro em
substituição, em escolas isoladas como era comum naqueles anos da
República, e logo em 1893, portanto, um ano após sua chegada a capital
amazonense era examinadora escolar porque conforme o Regulamento do
Ensino as turmas eram examinadas por professores ou banca de professores
diferentes daqueles que lecionavam durante o período regular de aulas.
Estando lotada e em exercício nas aulas do ensino primário do Instituto
Benjamin Constant, em 1895 foi removida para a vaga da professora Maria
Carneiro Santiago, na escola do 3.º distrito de Manaus, 104 onde desempenhou
a função até novembro quando foi deslocada para a escola da Cachoeira
Grande, em lugar da professora Eulália Lopes Barroso da Silva Ramos,
oportunidade em que trabalhou com Elvira Pereira e Antônio Alves Muniz,
condição em que permaneceu ainda em 1896. 105
Em 1898 foi designada como professora auxiliar lotada no Grupo
Escolar José Paranaguá,106 e, em seguida, deslocada para a escola da Estrada
Dr. Moreira107 tendo sido examinadora na cadeira mista de ensino primário do
bairro de Campina, a qual era regida pela professora Palmira Maia, 108 até que
no ano seguinte participou de concurso para o exercício do magistério na
escola do Giráo, disputando vaga com Adelaide Correa e Guilhermina
Cabral.109 É possível concluir que tenha sido aprovada nesse concurso porque
não mais foram localizadas designações em substituição e em 6 de julho de
1900 ainda estava como professora em Manaus, inclusive como examinadora
escolar.110
Os registros de imprensa indicam ter requerido afastamento do serviço,
com licença para tratamento de saúde, em 29 de agosto de 1900, cumprindo
em viagem ao Estado do Ceará111, dando-se seu retorno à terra de nascimento
já acompanhada do esposo, Arthunio Vieira, visto que seu casamento foi
realizado na capital amazonense em maio de 1900.112 Foi exatamente a
viagem feita a Maranguape, região interiorana do Ceará, próxima a capital, na
qual desempenhou papel importante na propagação da Doutrina e no
jornalismo, ainda que em breve temporada.
103
DIARIO OFFICIAL, Manáos, 29 ago. 1900.
104
DIARIO OFFICIAL, Manáos, 9 jan. 1895, p.1.
105
DIARIO OFFICIAL, Manáos, 27 fev.1896, p.1.
106
A FEDERAÇÃO, Manáos, 11 nov. 1898, P.2.
107
DIARIO OFFICIAL, Manáos, 1 jul. 1898, p.1.
108
DIARIO OFFICIAL, Manáos, 3 jul. 1898, p.14.246.
109
A FEDERAÇÃO, Manáos, 11 jan. 1899, p.1.
110
DIÁRIO OFFICIAL, Manáos, 6 jul. 1900, p.18835.
111
DIÁRIO OFFICIAL, Manáos, 29 ago. 1900, p.1.
112
REPÚBLICA, Belém, 31 mai. 1900, p.2.
122
Pelas informações conhecidas, especialmente em Carlos Bernardo
Loureiro, nessa época o casal poderia estar atuando em Belém do Pará, onde
a propaganda na capital segue lentamente o seu curso. A tentativa,
porém, feita por um moço de boa vontade, o Sr. Arthunio Vieira, no
sentido de a encaminhar na imprensa doutrinária, fundando
sucessivamente, no ano passado, o Sophia e a Luz e Fé, não parece
ter sido bem sucedida, por isso que a sua publicação se acha há
algum tempo suspensa, embora com promessa de ser
recomeçada.113
No retorno a capital amazonense prosseguiram com o mesmo empenho
na divulgação da Doutrina de Kardec. O movimento espírita, entretanto, ainda
podia ser considerado pouco difundido, especialmente pelo grande território
interiorano, mas em Manaus havia vários grupos e casas espíritas e um jornal
com circulação regular sob o título de Mensageiro dando-se logo em seguida
fundação da Federação Espírita Amazonense.
A TRAJETÓRIA DE ARTHUNIO VIEIRA
Nascido em 1.º de abril de 1865, em Pernambuco 114, Arthunio Vieira era
filho de José Antônio dos Santos Vieira e dona Senhorinha Vieira. Os registros
conhecidos indicam que o casal teve dois filhos: Arthunio e Argemira. Argemira
Vieira casou-se com Manoel Moreira Reis e desencarnou na Freguesia de
Santo Antônio, no Recife, em abril de 1893, 115 aos 28 anos de idade, por
meningite aguda,116 com missa na Matriz de São José, 117 tendo mantido
intensa vinculação à Igreja Católica, inclusive integrando a Irmandade do
Espírito Santo (1891-92), 118 tal como sucedeu com Arthunio.
Manoel Reis foi aluno do Ginásio Pernambucano (1880), 119 integrou
irmandades da Igreja Católica como a da Virgem Nossa Senhora do Terço
(1888)120 em cuja convivência pode ter-se dado a relação pessoal com
Argemira. Era filho do abastado comerciante Antônio Moreira Reis (Antônio
Mocotó), proprietário do engenho ―Ypiranga‖, e irmão de Carlos e Joaquim
Moreira Reis, que terminaram por se envolver em disputa por herança,
resultando no fratricídio de Joaquim. 121
113
Carlos Bernardo Loureiro (org.) Bicentenário de Allan Kardec. Disponível em:
http://bvespirita.com/Bicentenario%20de%20Allan%20Kardec%20(Carlos%20Bernardo%20Lou
reiro).pdf. Acesso em: 20 set. 2017.
114
Referência em contrário pode ser encontrada em Catálogo de Obras Raras ou Valiosas.
Disponível em: http://www.fcp.pa.gov.br/images/dli/gbpav/espacos/obrasraras/pdf/cov.pdf,
Acesso em: 20 set.2017, que assinala ter ele nascido na mesma data, porém em Belém do
Pará.
115
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 9 abr. 1893, p.6.
116
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 8 abri. 1893, p.2.
117
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 11 abr.1893, p.3.
118
JORNAL DO RECIFE, Recife, 23 mai. 1891, p.3.
119
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 21 out. 1880, p.4.
120
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 8 ago. 1888, p.3
121
JORNAL PEQUENO, Recife, 17 set. 1902, p. 1.
123
Como é sabido, os registros de imprensa são sempre escassos, muito
mais em relação às mulheres, salvo em casos de natalício, estudos na Escola
Normal, viagem em paquetes nacionais ou notas de falecimento, o que dificulta
grandemente qualquer pesquisa a respeito de Senhorinha Vieira. Mesmo assim
é possível considerar que tenha nascido e tido formação pessoal e familiar em
Pernambuco, talvez no Recife, em cuja cidade há registros de imprensa dando
conta da vida profissional de seu esposo, e de onde teria viajado em 10 de
maio de 1898 para o Pará, no vapor São Salvador, 122 naturalmente para residir
com seu filho Arthunio que ali se encontrava e com o qual depois se deslocou
para Manaus.
Sobre o pai, José Antônio, há notícias que destacam ter sido um dos
procuradores da festa religiosa da Gloriosa Virgem da Conceição, na capela de
Coqueiro, em Pernambuco (janeiro de 1864), ao tempo em que o vigário era o
padre Manoel Joaquim Xavier Sobreira. 123 Tratava-se de comerciante de
taberna, instalado na Rua Rangel, n.º 49, no Recife, que foi levado a vender
seu estabelecimento em 1866, 124 sendo possível deduzir que tenha sido por
dificuldade financeira, visto haver aviso de que a venda se processava ―com
consentimento de seus credores‖. 125
Em 1889 foi integrado à Irmandade do Espírito Santo do Recife, 126 o que
representava algum status não só devocional católico, mas também de alguma
posse material, a seguir comprovada quando se verifica que era pequeno
comerciante. Pouco depois integrou o Tribunal do Júri Popular da capital de
Pernambuco como residente na Freguesia do Recife (1892), quando outras
freguesias como as de Santo Antônio, São José, Boa Vista, Graça, Afogados,
Poço e Várzea também tinham cidadãos escolhidos para essa importante
função,127 sendo juiz o Dr. Marco Túlio dos Reis e Lima. 128 Em 1898 integrava
o grupo de membros do Júri sob a presidência do Dr. João Joaquim de Freitas
Henriques,129 mas já representando a Freguesia de Santo Antônio, o que
sugere que tenha mudado seu local de residência. Vale ressaltar que integrar o
Júri encarregado de apreciar os processos de crimes contra a vida, conforme o
Código Penal, postos sob a apreciação da sociedade, representava certa
importância e reconhecimento social.
José Antônio desencarnou em 21 de agosto de 1893, e a missa de
sétimo dia anunciada para a igreja do Espírito Santo, no Recife, mas,
inusitadamente, não foi realizada ―por falta de padre‖. 130 O que torna o fato
ainda mais curioso é que quando José Antônio desencarnou, era procurador do
patrimônio da Irmandade do Divino Espírito Santo, do Recife, 131 portanto,
pessoa com considerável influência e reconhecimento na Irmandade. A missa
de trinta dias foi rezada na igreja do Divino, em 21 de setembro de 1893,
atendendo encomenda feita por sua esposa, Senhorinha Vieira, seu filho
Arthunio Vieira e seu genro, Manoel Moreira Reis, possivelmente os familiares
122
JORNAL DO RECIFE, Recife, 12 mai. 1898, p.2.
123
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 9 jan. 1864, p.2.
124
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 29 set. 1866, p.4.
125
Idem, idem, idem.
126
JORNAL DO RECIFE, Recife, 14 jun. 1889, p.2.
127
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 29 jan. 1892, p.3.
128
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 29 mar. 1892, p.3.
129
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 21 jan. 1898, p.5.
130
JORNAL DO RECIFE, Recife, 30 ago. 1893, p.4.
131
JORNAL DO RECIFE, Recife, 7 set. 1893, p.4.
124
mais próximos, a considerar a tradição da época no caso de convites para
missas pelo falecimento. 132
A trajetória de Arthunio Vieira
Arthunio nasceu e desenvolveu seus estudos no Recife, inclusive na
Escola Normal. Foi jornalista, artista, professor e dramaturgo em sua terra
natal, atuando depois em Belém e Manaus nessas mesmas áreas além e como
conferencista e orador espírita.
O jornalista
Mesmo tendo desempenhado várias funções e atividades, Arthunio
Vieira foi principalmente jornalista, com atuação em Pernambuco e nas duas
grandes cidades do Norte do País (Belém e Manaus). Quando era ainda muito
jovem já há notícia de seu desempenho na imprensa pernambucana. De 1893
a 1899 atuou na capital paraense em diversos jornais, seja como redator ou
publicando artigos assinados, dentre os quais se destacam: ―A Olivia‖, 133
―Contra factos‖, 134 e a coluna ―Casos e Coisas‖ 135 publicada por algum tempo,
além de ―Sonambulismo‖, 136 ―Rio Grande‖, 137 ―O que é o Kindergarten‖. 138
Trabalhando desde os doze anos de idade, segundo suas próprias
declarações, Arthunio esteve durante muito tempo sob as ordens de Antônio
Lemos no jornal A Província de Belém e convivendo em amizade próxima com
Fran Pacheco,139 o que sinaliza ter tido uma atuação em grupo de jornalistas
polêmicos, mas de grande influência na política paraense, por muitos anos.
Ainda na capital paraense escreveu no jornal Euterpe, da associação do
mesmo nome, publicando artigo especial em homenagem ao maestro Carlos
Gomes, na edição de n.º 3,140 e dirigiu o jornal mensário O Anjo do Lar, da
entidade Asilos Internacionais Protetores da Infância. 141
Ao se transferir para Manaus em fins de 1899 foi anunciado como novo
diretor econômico do jornal Amazonas Comercial, mas, segundo notícia de
imprensa, seria o redator desse veículo em lugar de Leônidas e Sá, até então
considerado intocável na função. Se isso representava intriga ou verdade,
naquela ocasião não era possível saber ao certo, mas a comprovação do
verdadeiro papel que lhe cumpria a desempenhar veio depois em nota de outro
jornal:
Esta notícia adrede forgicada para de alguma forma atenuar o choque
sofrido pelo Dr. Leônidas e Sá, é completamente destituída de
fundamento, pois não há ninguém em Manaus que não saiba que o
Sr. Arthunio Vieira, veio expressa e exclusivamente para tomar conta
da redação do dito jornal, na qualidade de seu redator principal,
132
JORNAL DO RECIFE, Recife, 21 set 1893, p.1.
133
CORREIO PARAENSE, Belém, 23 fev. 1893, p.2.
134
A PALAVRA, Belém, 17 dez. 1895, p.6.
135
PARÁ, Belém, 25 dez 1898, p.1.
136
A TRIBUNA, n. 16, p.2.
137
PARÁ, Belém, 29 dez, 1898, p.2.
138
PARÁ, Belém, 7 jan. 1899, p.1.
139
PARÁ, Belém, 17 jun. 1898, p.1
140
PARÁ, Belém, 17 dez. 1898, p.2.
141
PARÁ, Belém 12 nov. 1898, p.2.
125
sendo, portanto, todos os artigos que forem ali publicados sujeitos a
sua censura.142
Poucos dias depois essa nota seria confirmada pelos fatos visto que
Arthunio assumiu o comando geral do jornal, 143 não sem antes visitar as
redações de vários jornais apresentando cumprimentos, naturalmente em
busca de boas relações profissionais. 144 Em sua companhia se transferia para
Manaus dona Senhorinha Vieira, sua mãe, e Elizia Vieira. 145
Seu embarque de Belém para Manaus deu-se em maio de 1899, mesma
época em que se afastou da redação do jornal Pará, zarpando da capital
paraense em 15 daquele mês, oportunidade em que ―muitos amigos correram a
bordo para saudá-lo‖146 em despedida, como João Malcher, Mariano de Aguiar,
Antônio Miguel Pinto, Eduardo Ferreira, além de uma comissão da Sociedade
União e Perseverança.147
Atividade Artística: o dramaturgo
Os registros disponíveis demonstram que Arthunio tinha grande
afinidade com as artes, especialmente as cênicas, para a qual produziu e
dirigiu algumas peças e operetas, seja em Belém como em Manaus.
O movimento artístico desde há muito tinha vida e animação especial na
capital amazonense, mas a partir de 1895, com a proximidade da inauguração
do Teatro Amazonas ainda se desenvolveu mais, o que veio a ser coroado por
temporadas líricas e de grupos de amadores que foram sendo organizados por
dedicação às artes cênicas. Um desses grupos e que alcançou destaque foi o
―Arcádia Dramática‖ criado naquela época e que escolheu Arthunio para seu
diretor geral. Por outros afazeres, possivelmente, ele não aceitou os encargos
de direção, mas não deixou de atuar como artista quando das apresentações
do grupo. Tratava-se de um movimento importante na cidade, iniciado em 8 de
novembro de 1895 e que reuniu expressivo grupo de apaixonados pelo teatro
como Evaristo Wanderley, João Braga, Costa Júnior, S. Monteiro, V. Lajes,
dentre outros.148
Dentre as várias montagens de que participou destaca-se a de ―Gaspar
– o serralheiro‖ levada ao palco do Eden-Theatro e na qual ele fez o papel de
Leônidas, o vagabundo. Sua atuação foi elogiada pela imprensa salientando
que seu ―desempenho foi encarregado ao talentoso amador Arthunio Vieira e
não podia ter melhor interpretação. O Arthunio, na última cena do segundo ato,
foi o que devia ser.‖ 149
Além de artista, com atuação efetiva em cena, ele foi dramaturgo e
produtor de teatro. Seus trabalhos foram apresentados no Recife, Belém e
Manaus, em épocas distintas. Foi ainda compositor musical, e pelo menos uma
142
COMMERCIO DO AMAZONAS, Manáos, 25 mai. 1899, p.1.
143
COMMERCIO DO AMAZONAS, Manáos, 30 mai. 1899, p.1.
144
A FEDERAÇÃO, Manáos, 23 mai. 1899.
145
A FEDERAÇÃO, Manáos, 23 mai. 1899. Não foi possível ainda, identificar o parentesco de
Elizia com Arthunio.
146
147
PARÁ, Belém, 16 mai. 1899, p.2.
148
DIÁRIO OFFICIAL, Manáos, 10 nov. 1895, p. 4581.
149
DIÁRIO OFFICIAL, Manáos, 10 nov. 1895, p. 4581-4582.
126
das suas composições pode ser registrada, uma polca com letra e música
apresentada no Recife em 1890. 150
Integrou a Sociedade ―Gonçalves Dias‖ (1893), no Recife, entidade que
realizava atividades literárias e júris históricos, da qual logo depois eleito
presidente.151 Seu ingresso na entidade deu-se em solenidade especial sob a
presidência de Souza Santos.152
É autor do drama histórico ―89 ou a queda da bastilha‖ levado à cena em
11 de agosto de 1892 no Teatro ―Santa Isabel‖ no Recife, dividido em 5 atos e
5 quadros e apresentado pela Companhia Dramática, sob a direção de Antônio
Coimbra, o qual foi ressaltado pela imprensa pelo ―desempenho foi correto por
parte dos artistas...‖.153 Tratava-se do ponto alto dos eventos comemorativos
dos cursos jurídicos em Pernambuco,154 ocasião em que o autor foi
homenageado tanto em cena aberta como em discurso pelo acadêmico Gaspar
Guimarães.
Seja pelo tema tratado como possivelmente pelo desempenho dos
artistas, esse drama histórico voltou ao palco do mesmo teatro quando das
comemorações da independência do Brasil, sendo mais uma vez, bem acolhido
pelo público.
Durante sua permanência de Belém, Arthunio atuou bastante no teatro.
Escreveu e apresentou a revista O Círio, no Teatro ―Chalet‖, em Nazareth.
Tratava-se de uma ―revista ligeira, escrita em cima da perna, para ser posta em
cena num teatro de arraial, ainda assim ela tem o seu enredo, e no qual
transparece uma cor perfeitamente local [...]155 ―O final [...] é significativamente
belo‖;156 escreveu e apresentou o drama sacro ―Hossana‖, com o grupo Pastoril
―Moreninhas dos Parques‖, 157 assim como o drama ―A estrangeira e a burla‖
levado a cena no Teatro ―Éden‖, localizado na Praça Floriano Peixoto ―com
música leve e encantadora‖158 e que teria causado ―excelente impressão.‖159 É
de sua autoria a opereta ―Zuleilla‖, em três atos e sete quadros, apresentada no
Teatro ―Moderno‖,160 e também a opereta ―Os 30 da 1ª. Companhia‖, sob a
direção de Virgílio Cordova,161 levada no Teatro ―Moderno‖. No bar ―Paraense‖
ele fez apresentação artística especial juntamente com intelectuais como
Vespasiano Ramos, Dejard Mendonça, Albano Vieira, e outros. 162
Em 1908, já em Manaus, apresentou ―interessante trabalho teatral para
ser lido perante os amadores do Grupo Dramático ‗Gil Vicente‘‖, 163 outra
agremiação artística que se destacou naqueles anos.
Além disso, em 1923 atuou no Teatro do Luso Sporting Club em evento
de homenagem à colônia portuguesa com a apresentação do drama histórico
―A senhorinha de Belle Isle‖, extraído do romance de Alexandre Dumas, na
150
DIARIO DE PERNAMBUCO, Recife, 24 ago. 1892, p.2.
151
DIARIO DE PERNAMBUCO, Recife, 29 ago. 1893, p.2.
152
DIARIO DE PERNAMBUCO, Recife, 21 fev. 1893, p.2.
153
Idem, idem, idem.
154
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 9 ago. 1892, p.5.
155
O PARÁ, Belém, 18 out. 1898, p.2.
156
Idem, idem, idem.
157
ESTADO DO PARÁ, Belém, 30 dez. 1917, p.2.
158
ESTADO DO PARÁ, Belém, 25 jan. 1913, p.2.
159
ESTADO DO PARÁ, Belém, 27 jan. 1913, p.2.
160
ESTADO DO PARÁ, Belém, 20 mar. 1915, p.2.
161
ESTADO DO PARÁ, Belém, 11 mar 1917, p.4.
162
ESTADO DO PARÁ, Belém, 26 mar 1915, p.2.
163
JORNAL DO COMMERCIO, Manáos, 16 ago. 1908.
127
companhia de Margarida Hyde. Na segunda parte desse espetáculo foi
apresentada uma revista intitulada ―Pela Fraternidade‖, em um ato com três
quadros (incluindo o eterno tema e recém-chegados) e uma gran finale, com os
festejados artistas amadores J. Aguiar, A. Vieira, José Bernardes, A. Ferreira,
Albertina Fonseca, Dolores Paes e Maria Reis. Foi um grande evento levado a
efeito no Teatro ―Alcazar‖, na noite do dia 15 de setembro de 1923, com venda
de ingressos em frisas, camarotes, cadeiras de plateia e na geral,164 o que
serve para demonstrar não só o interesse do público em espetáculos dessa
natureza, como a organização do teatro amazonense naqueles anos de
reduzidas possibilidades econômico-financeiras da população.
Esses dados, além de demonstrarem o longo interesse de Arthunio pelo
teatro e a montagem de espetáculos variados, corrigem outro pesquisador que
assinala que Emília teria retornado ao Ceará, em 1900, após enviuvar.
Atividade Literária
São várias as entidades e associações literárias que Arthunio integrou,
seja no Recife e em Belém, não havendo informações de que tenha atuado
nessa área em Manaus. Ao que se conhece, em 1890, no Recife, aderiu ao
movimento para a criação da Sociedade de Homens de Letras, do qual
participavam dentre outros Arthur Orlando, Vicente Ferrer, Adelino Freyre
Júnior, Ayres da Gama e Clovis Bevilaqua, 165 apesar de não haver estado
presente à reunião preparatória de fundação, realizada no Gabinete Português
de Leitura.
Ainda como estudante da Escola Normal de Pernambuco Arthunio teve
atuação destacada como orador e presidente do Clube Literário ―Ayres Gama‖,
e na Sociedade Pedagógica Pernambucana em que se transformou o Clube,
ambos dedicados à literatura, conferências e debates.
Em Belém ele integrou a Mina Literária, de cujo entidade foi secretário
na companhia de Licínio Silva, sob a presidência de Bertholdo Nunes, 166 e da
qual também participaram Álvares da Costa, Guilherme de Miranda, Maria
Valmont, Theodoro Rodrigues, João Baena e João de Deus do Rego, dentre
outros,167 depois de haver participado da Associação Dramática e Recreativa e
Beneficente (1895).168
Um dos mais importantes destaques de sua atuação em Belém, foi
constar da lista de intelectuais convidados para compor o grupo de fundação
da Academia Paraense de Letras o qual tinha a liderança do barão de Marajó,
e se compunha ainda por Enéas Martins, Serzedelo Correa, Paulino de Brito,
Heliodoro de Brito, Barbosa Rodrigues, Arthur Lemos e Theodoro Rodrigues. O
convite foi feito em nota pela imprensa, aliás, a mesma fórmula que foi utilizada
em Manaus quando da organização da Academia Amazonense de Letras em
1917-1918. A iniciativa, ao que se sabe, não redundou na fundação da
entidade.169
164
JORNAL DO COMMERCIO, Manáos, 15 set, 1923.
165
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 8 jul. 1890, p.2.
166
FOLHA DO NORTE, Belém, 24 mar. 1896, p.2.
167
FOLHA DO NORTE, Belém, 26 ago. 1896, p.2.
168
FOLHA DO NORTE, Belém, 24 dez. 1896, p.2.
169
FOLHA DO NORTE, Belém, 14 mar. 1897, p.2.
128
Foi nessa condição de literato que Arthunio, anos mais tarde, participou
da comissão julgadora dos prêmios a serem conferidos a trabalhos de diversos
escritores, por ocasião dos festejos do Tricentenário da cidade de Belém. 170
Trabalhos publicados
Integrando a Mina Literária, do Pará, ou antes disso, ele publicou vários
trabalhos literários, seja romance e dramaturgia, dentre os quais os romances
Os Internatos, editado no Recife; 171 o romance íntimo denominado A Bordo,
editado na revista Tribuna do Rio Grande do Norte no qual tratava da
―psicopatia de uma mulher‖ em uma viagem do Pará ao Amazonas, mais
precisamente para Manaus, obra considerada de ―estilo fácil e corrente, sem
ginástica de frases, nem colorido, nem rebuscado: simples, de uma
simplicidade sugestiva, que agradam que encanta que prende [...], páginas
suaves, ligeiras‖, no entendimento de Teotônio Freire. 172
Também foram publicados os textos para teatro e opereta: ―89 ou a
queda da bastilha‖ (drama histórico); a revista O Círio; o drama sacro
―Hossana‖; a opereta ―Zuleilla‖; e a opereta ―Os 30 da 1ª. Companhia‖ assim
como foi publicado ―Dona Flor: psychologia duma mulherzinha da pá-virada‖,
romances em forma de folhetim ―Sulita‖ e ―Dois Amigos‖ (1910), especialmente
lançados nas páginas do jornal O Commércio, de Abaetetuba, Pará.
Escreveu, ainda: a novela ―Lucilla‖; os romances ―Tempestade num lar;
―Sua majestade: o vício‖; e, ―Sulita‖; e o livro espírita ―O Espiritismo - ideias
pervertidas‖, além de ter contribuído para o livro didático ―Gramática Infantil‖.
Com sua experiência no jornalismo foi fundador e proprietário dos jornais:
Belém, de cunho informativo e circulação diária; Luz e Fé, jornal espírita de
circulação quinzenal; e da revista Sophia, também espírita, de circulação
mensal, valendo-se de sua própria e pequena tipografia, adquirida no Ceará,
em 1900-1901.
Comentário crítico revelado na imprensa dá conta de que seus
romances ―foram escritos bem à gosto da época, cheios de intrigas, de
cansativos diálogos, de situações difíceis; romances calcados em Eugène Sue,
Georges Onhet, etc.‖173
Conforme o costume do seu tempo, especialmente em razão de
pertencer à Mina Literária, Arthunio adotou, em muitas de suas produções
literárias, o pseudônimo de ―Silex‖, com o qual escreveu vários artigos no jornal
O Pará, inclusive tratando da literatura em Pernambuco 174 e do jornalista
Natividade Lima.175
Opinião de imprensa
170
ESTADO DO PARÁ, Belém, 13 fev. 1917, p.3.
171
GAZETA POSTAL, Belém, 6 jan. 1894, p.3.
172
PARÁ, Belém, 24 dez. 1898, p.2.
173
Eugène Sue (1804-1857). Trata-se de escritor francês, homem rico que acabou a fortuna do
pai em noitadas parisienses e passou a escrever livros para sobreviver, ingressou na política e
foi exilado ao tempo de Napoleão III.
Georges Onhet (1848-1918), novelista francês mais vendido em seu tempo.
174
O PARÁ, Belém, 10 jul. 1998, p.2.
175
O PARA, Belém, 22 abr. 1899, p.2.
129
Em meados de 1896, notícia de jornal dando conta de que Arthunio
preparava um livro de contos, possivelmente com os artigos publicados no
jornal A Província, assentou uma descrição que merece registro pelas suas
particularidades:
distinto moço de letras, já vantajosamente, conhecido do mundo
literário [...] Esse escrínio de boas joias a julgar pelas que nos tem
dado pelas colunas d‘A Província, e que sairá da biblioteca da Mina
Literária, d‘qual é digno sócio o seu autor, será galante e acomodo
dos que apreciam as coisas da literatura.176
Verdade que tais comentários foram publicados no jornal em que
Arthunio exercia as suas atividades, tal como sucedeu anos depois (1899), no
jornal Pará, na passagem de seu aniversário que, ao registrar a efeméride, não
poupou elogios, afirmando:
moço inteligente, como o atestam seus belos escritos em jornais
dessa capital e de Pernambuco, trabalhador infatigável e dedicado.
[...] As suas qualidades nós as resumimos em poucas palavras: é um
moço trabalhador, de uma atividade extraordinária, e, acima de tudo,
177
é na amizade um belo exemplo, é, no coleguismo, um sincero.
Esses dois registros demonstram não só a sua qualidade como redator,
jornalista e escritor, mas a forma como ele era visto pelos seus companheiros
de imprensa, a desenhar a sua personalidade como profissional voltado para o
trabalho, atencioso com os amigos, pessoa sincera e que se tornou
amplamente conhecido e bem reputado na cidade de Belém para a qual havia
se transferido de Pernambuco e na qual viveu e atuou por longos anos.
O Professor
Sua formação para o magistério foi realizada na Escola Normal de
Pernambuco, na qual, em 1885, integrou o Clube Literário ―Ayres Gama‖ do
qual foi orador e presidente, a ele se dedicando por muitos anos. 178 O que se
constata é que desde estudante Arthunio demonstrava interesse efetivo na
carreira do magistério e que se envolveu em atividades literárias e artísticas na
escola.
Em 1886 era aluno mestre da Escola,179 cursando o 2.º ano, 180 quando
foi reeleito orador do clube, tendo como colegas Vicente de Araújo Lima, Jose
Cândido Medeiros, Eduardo Ferreira Penna e Hemetério da Cruz, dentre
outros.181 Em 1887 foi eleito presidente do Clube Literário 182 e participou
ativamente de campanha em favor dos náufragos de grande embarcação.
Desde a Escola proferia conferências para os demais colegas em
atividades organizadas pelo clube literário. Em 1886 falou sobre ―Educação e
176
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Belém, 19 jul. 1896, p.1.
177
PARÁ, Belém, 1.º abr. 1899, p.2.
178
DIÄRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 8 set. 1885, p.2.
179
DIÁRIO DE PRNAMBUCO, Recife, 22 jan. 1886, p.3.
180
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 3 nov. 1886, p.4.
181
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 17 fev. 1886, p.3.
182
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 7 fev. 1887, p.2.
130
Instrução: semelhança e diferença‖,183 e ―Vantagens das lições de cousas,‖ 184 e
em 1888 sobre temas como ―uma lição de cousas sobre a terra‖ 185 e ―uma
lição de cousas sobre o ar‖, 186 oportunidade em que concluía o terceiro ano da
Escola sendo aprovado com distinção.187
Ao mesmo tempo ampliava a sua participação na Igreja Católica,
tradição de família e na qual desde bem jovem atuava com certo destaque,
passando a exercer a função de secretário da Veneranda Irmandade Nossa
Senhora da Luz, no Recife (1888).
Concluída a formação no magistério ele participou de concurso público
para provimento da escola primária de Pesqueira, sendo aprovado em primeiro
lugar.188 Em seguida concorreu para a cadeira de ensino primário de Poço da
Panella,189 logrando ser o único candidato aprovado, 190 razão pela qual foi
nomeado pela Secretaria da Instrução Pública para a referida função em 10 de
abril de 1889.191
Na condição de professor e jornalista criou e dirigiu no Recife um jornal
voltado para expor e discutir assuntos relativos à instrução pública, sob o título
de Estímulo, na companhia de Theotônio Freyre e Elísio de Melo, 192 ao mesmo
tempo em que foi redator do jornal Verdade (1888), na capital
pernambucana.193 No ano seguinte (1889) integrava a Sociedade Recreativa
Comercial, a qual representava em algumas solenidades, 194 mesma época em
que retornou ao cargo de orador do Clube Literário ―Ayres Gama‖, 195 função
que havia exercido nos primeiros anos de Escola Normal.
Seu empenho em favor da modernização da educação não cessava,
tanto assim que passou a defender o tema pela imprensa e em conferências no
Clube ―Ayres da Gama‖, pugnando pela completa reformulação da escola
primária,196 especialmente em artigos sob o título ―A Escola na república‖, 197
nos quais discutiu o regulamento do ensino de 1888, inclusive denunciando a
farsa dos concursos públicos para professor. 198 Dentre as conferências que
proferiu abordando temas dessa natureza merece destaque a que teve o título
de ―Reformas urgentes da Instrução Pública‖,199 proferida dias antes de sua
participação no Congresso Instrutivo Pernambucano, realizado no Recife, em
1890.200
Em 1890 o Clube Literário ―Ayres da Gama‖ foi dissolvido surgindo em
seu lugar a Sociedade Pedagógica Pernambucana, de cuja organização
183
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 21 mai. 1887, p.3.
184
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 10 set. 1887, p.3.
185
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 17 jun. 1888, p.3.
186
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 10 ago. 1888, p.3.
187
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 19 nov. 1887, p.2.
188
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 21 fev. 1889, p.4.
189
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 31 mar. 1889, p.5.
190
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 15 abr. 1889, p.5.
191
DIÁRIO DE PERNAMNUCO, Recife, 25 abr. 1889, p.3.
192
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 7 out. 1888, p.3.
193
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 9 out. 1888, p.3.
194
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 15 jan. 1889, p.4.
195
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 26 fev. 1889, p.2.
196
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 29 set. 1889, p.2.
197
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 5 jan. 1890, p.3.
198
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 9 jan. 1890, p.3.
199
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 10 jan. 1890, P.3.
200
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 26 jan. 1890, p.2.
131
Arthunio foi um dos líderes e presidente da direção provisória, 201 mesma época
em que também foi examinador de várias escolas de ensino primário no Recife.
Nessa condição de professor, anos mais tarde, e já residindo em Belém,
criou o Colégio ―Casa do ABC‖, dedicado à instrução primária e secundária,
especialmente para o sexo masculino, destinado a funcionar como internato e
externato, iniciado em 1898, 202 com sede na Avenida 16 de Novembro, n.º 121,
Estrada São José, parte mais antiga da cidade. Era um colégio inovador.
Oferecia atividades e aulas de educação física, trabalhos especiais, júri
histórico, ideia da liberdade, ideia de justiça, educação estética, música,
pintura, modelagem, escultura, arquitetura, educação cívica, direito eleitoral,
poderes públicos, economia doméstica, política, natação, equitação, luta
romana e dança.203 Portanto, um colégio modelar e estruturado conforme as
teses que ele próprio defendia em conferências e artigos de imprensa, visando
uma educação revigorada pela formação humanística.
No Clube Pernambucano
Da mesma forma que sucedeu em Manaus e em várias outras cidades
que continham grande contingente de pernambucanos-residentes, Belém
também teve seu clube pernambucano. Essa organização visava agregar os
naturais de Pernambuco, estimular e promover o lazer e o entretenimento, mas
também promover a ajuda mútua. Na capital paraense foi organizada a
Associação Beneficente Pernambucana, 204 da qual Arthunio foi segundo
secretário, atuando ao lado de Ovídio Filho e Napoleão Silva, logo na primeira
diretoria da entidade (1989).
Na política: abolicionista e republicano
Os movimentos abolicionistas e republicanos tomaram conta de várias
cidades brasileiras, de forma crescente, animando, especialmente, a juventude
e, em certa fase, as mulheres, os maçons, os jornalistas até alcançarem alguns
políticos. No Recife não foi diferente, formando-se clubes e associações em
favor da abolição da escravatura negra, de cujas atividades Arthunio
participava em 1884, inclusive presidindo o Clube Abolicionista ―Martins Júnior‖,
fundado em 18 de maio de 1884, na Paróquia da Boa Vista. Com ele estavam
Rutilio de Oliveira, Manoel Chaves, Augusto Flavio Teixeira, Manoel Miranda e
José Pimentel, mas coube a Arthunio a posição de liderança desse grupo de
jovens e presidência da comissão de organização do estatuto da entidade. 205
O interesse pela causa abolicionista também o aproximou do movimento
republicano, levando-o a integrar o Cube Republicano de Poço de Panella, à
época sob a presidência honorária do Dr. Martins Júnior (1892), período no
qual Arthunio foi escolhido orador da entidade, 206 e, movido pelo desejo de
201
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 26 fev. 1890, p.2.
202
O PARÁ, Belém, 24 jan. 1898, p.2.
203
O PARÁ, Belém, 17 fev. 1898, p.4.
204
O PARÁ, Belém, 26 abr. 1898, p.2.
205
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 10 mai. 1884, p.3.
206
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 5 jan. 1892, p.3.
132
contribuir para a renovação do cenário político e social do País, resolveu ser
candidato a deputado estadual naquelas eleições. 207
Poço de Panella era uma pequena comunidade do interior de
Pernambuco, em cuja localidade era professor e artista, e, por isso, coube a
Arthunio sediar o Clube Republicano em sua própria casa de residência desde
a instalação ocorrida em 14 de fevereiro de 1892, sob a presidência de J.J. do
Rego Barros,208 na época não mais tratando de defender a mudança de regime
da monarquia, mas em busca de melhor definir a forma de república que mais
de ajustasse ao Brasil, e atuando na propaganda republicana que foi sendo
alargada pela região, como forma de consolidar o regime de 1889, missão que
o levou a participar, também, da direção provisória do Clube Republicano de
Afogados, na cidade do Recife. 209
Outras atividades
Demonstrando versatilidade profissional, e, quem sabe, por necessidade
de acomodação no mercado de trabalho, como eleitor registrado em Belém em
1898, residindo na Estrada São Brás,210 no mesmo ano Arthunio foi secretário
da diretoria do 3.º Distrito Sanitário Marítimo, 211 sendo este o único registro
identificado em sua carreira como servidor público estadual.
Destacado orador, coube a ele falar na solenidade de entrega de
prêmios aos alunos do Liceu ―Benjamin Constant‖, ao lado de Raul de Azevedo
e Santa Rosa,212 no Teatro da Paz, em evento que teve a presidência do Dr.
Lauro Sodré.213 A solenidade se revestiu de toda a pompa com presença de
autoridades e políticos, à vista de Sodré encarnar poder de mando e ser a
maior liderança político-partidária em todo o Estado, e com alguma relevância
nacional.
Tempos depois, participou da Exposição Nacional do Rio de Janeiro
(1908), como expositor pela representação do Estado do Pará, tendo sido um
dos premiados.214
Curioso observar que em dezembro de 1917, pode ser encontrado como
solicitador com exercício junto à justiça em Belém, circunstância que induz à
conclusão de que tenha tido alguma experiência no campo das ciências
jurídicas, ou realizado o curso de formação em Direito. 215
O casamento
Pelos registros comuns na imprensa do Recife, de Belém e Manaus,
Arthunio teve três casamentos. O primeiro, na capital pernambucana, realizado
em 1890 com Lucinda Leopoldina Lalonette.216 Tendo enviuvado casou-se em
Belém, em 1898, conforme noticiam os proclamas que esclarecem que
207
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 2 fev. 1892, p.4.
208
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 13 fev. 1892, p.3.
209
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 15 mar. 1892, p.2
210
O PARÁ, Belém, 21 jul. 1898, p.2.
211
O PARÁ, Belém, 19 nov. 1898, p.1.
212
DÍARIO DE NOTÍCIAS, Belém, 24 jan. 1896, p.2
213
FOLHA DO NORTE, Belém, 23 jan. 1896, p.2.
214
GAZETA DE ALENQUER, Alenquer, 2 dez 1908, p.2.
215
ESTADO DO PARÁ, Belém, 28 dez 1917, p.2.
216
DIARIO DE PERNAMBUCO, Recife, 10 jun. 1890, p.2.
133
Arthunio era viúvo, 33 anos, jornalista, pernambucano de nascimento, filho de
José Antônio dos Santos Vieira e dona Senhorinha Vieira, ele já falecido. Seu
matrimônio foi com Deolinda Rodrigues Dias, que contava 18 anos de idade,
era paraense, filha de Manuel Lourenço Dias e Maria Estefânia de Morais Dias,
já falecida, conforme pode ser constatado no edital de 4 de julho de 1898. 217
Em maio de 1900, sem que sejam conhecidas referências de que tenha
enviuvado, portanto, dois anos depois, casou-se em Manaus com Emília
Freitas.
Ao que se tem conhecimento Arthunio teria tido pelo menos três filhos:
Lucillo;218 Ernani, nascido em 1896 219 e Áurea, que seria a primogênita, com
aniversário em 20 de julho,220 e em 1898 ainda era criança pequena.
Os dados publicados há tempos por Alcilene Cavalcante referem que
Emília estava solteira até aos 37 anos, situação que, no seu entendimento
representaria ―certa ruptura com os padrões da época, uma vez que a faixa
etária para a realização dos ―consócios‖ era, em geral, de 14 anos para
mulheres e 16 para homens‖. 221 Está parcialmente certa a autora, porque o
casamento de Emília e Arthunio foi realizado em Manaus em 14 de maio de
1900, portanto, quando ela já contava 45 anos de idade, e não os 37 anos
referidos por Alcilene. O casamento foi realizado na Rua Sete de Dezembro, as
16h.
Ao que pode ser constatado, também nesse particular Emília teria
rompido com os padrões e costumes da época, fato que não teria prejudicado
sua relação conjugal com Arthunio Vieira, a qual, a partir das referências
conhecidas, é possível concluir ter sido de convivência harmônica e de
companheirismo na trajetória intelectual e pela imprensa, parecendo ter havido
boa sintonia pessoal e profissional entre eles. Espíritos sensíveis para as artes
e para o desenvolvimento harmônico e bem estar da humanidade, estiveram
juntos em várias atividades, sejam públicas ou não, inclusive na literatura.
VIVÊNCIA NO MOVIMENTO ESPÍRITA: MISSÃO EM COMUM NA
AMAZÔNIA
Emília Freitas (1855) e Arthunio Vieira (1865) reencarnaram em anos
próximos, ainda que em províncias distintas, porém não muito distantes, Ceará
e Pernambuco, e tiveram formação escolar idêntica e em família como era
comum naqueles anos, e na Escola Normal visando a preparação para o
exercício do magistério; sofreram com a perda dos pais de forma prematura;
seguiram caminhos revolucionários idênticos, cada um em uma trajetória
própria, seja na imprensa, nas lides literárias, nos movimentos abolicionistas e
republicanos, pugnando por reforma do ensino e avanços sociais
transformadores na sociedade.
A apreciação do desempenho pessoal de Emília e de Arthunio, tomado
separadamente, ao longo de muitos anos, permite constatar uma sequência
217
PARÁ, Belém, 13 jul. 1898, p.2.
218
ESTADO DO PARÁ, Belém, 25 set. 1921, p.2.
219
PARÁ, Belém, 3 fev. 1898, p.2.
220
PARÁ, Belém, 20 jul. 1898, p.2.
221
CAVALCANTE, Alcilene. A representação feminina em A Rainha do Ignoto, de Emília
Freitas. (UFMG). Disponível em:
http://www.uesc.br/seminariomulher/anais/PDF/Mesas/ALCILENE%20CAVALCANTE.pdf
Acesso em: 21 jun. 2017. Acesso em: 21 set. 2017.
134
considerável de fatos e circunstâncias que os aproximam, até o encontro em
Manaus, onde se conheceram, casaram, atuaram em harmonia em várias
atividades como o jornalismo e no Movimento Espírita, e tiveram a convivência
interrompida pelo desencarne de Emília.
Emília Freitas, chegada à capital amazonense depois de atravessar
dores profundas com a perda do pai e ao constatar graves dificuldades para a
família no interior do Ceará, com a falta de apoio de correligionários e da
comunidade de União onde o pai teria tido certo destaque, mas constituído
desafetos políticos, dores com a perda de muitos irmãos e da mãe, em poucos
anos, depois desses transes ela decidiu se embrenhar na floresta amazônica
escolhendo Manaus para se recolher e viver com um dos irmãos, Alfredo
Freitas, em 1892.
Arthunio, deslocado do Recife para Belém e de lá para Manaus a serviço
de atividades na imprensa, depois da perda do pai e da única irmã; de viuvez;
em busca de melhores condições para o exercício da sua principal atividade
que era o jornalismo; afastado de Belém possivelmente por razões políticas à
vista de ter integrado grupo bastante polêmico de Antônio Lemos; chegado à
capital amazonense acompanhado da mãe, para reiniciar a caminhada de
trabalho e proclamado como profissional de grande qualidade e prestígio.
Além de reconhecer que em suas trajetórias há um conjunto de
identidades que os aproximam, como pode ser constatado na simples leitura do
histórico de cada um deles seja no magistério, nas artes, nas letras, na
imprensa, no abolicionismo, nas campanhas republicanas... dois elos
grandemente significativos parecem tê-los reunido em Manaus: o Movimento
Espírita e a missão de difundir a Doutrina Espírita. Ela, chegada a Manaus em
1892. Ele, aportado na mesma cidade em fins de 1899. Casam-se em maio de
1900.
Quando conheceu Arthunio, Emília já havia iniciado sua atuação no
Espiritismo na capital amazonense, e foi ela quem o convidou e conduziu para
essa prática, despertando nele o estudo do Evangelho e o transformando em
conferencista e orador espiritista, para juntos se transformem em propulsores
da Doutrina, especialmente na Amazônia, não só organizando grupos de
estudo e práticas espíritas, mas também promovendo a criação de jornais
especialmente dedicados à informação e difusão da Doutrina.
E como cada um deles despertou para o Espiritismo? O que
conseguiram realizar juntos, a justificar essa constatação histórica? São essas
algumas das indagações que esse estudo pretende oferecer como contribuição
ao esclarecimento.
Questão que tem inquietado alguns pesquisadores que se dedicam ao
estudo da vida e da obra de Emília Freitas é saber desde quando ela teria se
voltado para as práticas do espiritismo, considerando que tendo reencarnado
na terra de Bezerra de Menezes, um dos mais considerados impulsionadores
do Espiritismo no País, era também terra de grande influência e quase domínio
integral da Igreja Católica, à época em franca e frontal oposição a Doutrina
Espírita e suas práticas.
Emília esclarece o assunto com precisão em pequeno artigo lançado no
jornal que, sob sua direção e de Arthunio, circulou em Maranguape, no Ceará,
em 1901, ao tratar da reencarnação, e o faz declarando quando teria tomado o
primeiro contato com o espiritismo, embora, à época, não tivesse percebido
com clareza.
135
Não tinha eu mais do que sete anos quando sem o mínimo
conhecimento das verdades espiritas, tive a ideia da reencarnação.
Era uma bela manhã, das sete para as oito horas, no pátio entre
flores, admirava curiosamente umas nuvens alvíssimas esclarecidas
pelo sol em céu muito azul, de súbito exclamei mentalmente:
Morrerei, mas virei de novo nascer... me reconhecerei nesta outra
existência, sentir em mim o mesmo eu? O cogitar era profundo para
uma criança daquela idade, ficou sem explicação. 222
Essa percepção teria se dado em sua casa de residência, na pequena
comunidade interiorana de União, ainda fortemente envolvida pela Igreja
Católica a qual, desde o ―início da conquista da terra juntamente com o Estado
e os colonos, exerciam o papel de dominadores dos indígenas da região,
impondo sua religião, pacificando-os, a fim de transformá-los em vaqueiros e
mão-de-obra para as fazendas de criação de gado,‖ 223 e na qual as
irmandades católicas tinham poder especial, inclusive formando grupos de
pessoas conforme a cor da pele, construindo templos, prestando assistência
aos irmãos, sustentando o funcionamento das igrejas, contando com maior
influência nas vilas e distritos que integravam a localidade como a da União. 224
O que está assinalado por ela própria sugere um despertar para a
Doutrina, mas o desenvolvimento de atividades no espiritismo consta ter
sucedido quando de sua primeira passagem por Manaus, portanto, entre os
anos 1892 e 1900, conforme assinala o presidente da Federação Espírita do
Estado do Ceará, período do princípio do ordenamento institucional do
Movimento Espírita no Amazonas e que redundou na criação da Federação
Espírita Amazonense em 1904.
Quanto a Arthunio, ele mesmo prestou seu testemunho a respeito
afirmando:
Em 1899 eu era viúvo e residia em Manaus.
A minha boa estrela fez-me conhecer pessoalmente, Emília Freitas,
que depois foi minha segunda esposa, e a quem muito conhecia de
nome.
Emília, espírita convicta, convidou-me a acompanhá-la ao Centro
Espírita Amazonense, hoje Federação, presidida, então, por Bernardo
de Almeida [...]
Foi aí, e, então, que conheci a doutrina, que a comecei a estudar
graças ao espírito esclarecido de Emília, e aos conselhos
profissionais de Bernardo de Almeida. 225
Ele acrescentou ainda maiores informações a respeito desse importante
fato, especialmente para o estabelecimento do liame que se cogita nesse
estudo, de demonstrar a missão que lhes incumbiu na Amazônia, a da
propagação do Espiritismo. Disse ele ainda em depoimento sobre sua
aproximação da Doutrina Espírita:
Porque professo o Espiritismo [concluindo]
222
FREITAS, Emília. Reencarnação. Maranguape, Ceará, 2 nov. 1901, p.4.
223
FALTA A REFERÊNCIA???
224
Idem, idem, idem.
225
VIEIRA, Arthunio. Inquérito Espírita. In: Alma e Coração – órgão de propaganda espírita, ano XIV,
n.º 5, Belém, 1931., In.: OLIVEIRA, Alcilene Cavalcante de. Uma escritora na periferia do Império:
vida e obra de Emília Freitas (1855-1908), Belo Horizonte, 2007, p.
136
Como todo brasileiro de meu tempo, nasci e cresci-me até certa
idade, na religião católica romana. Meu padrinho teve até a veleidade
de fazer de mim padre, infelicidade de que me libertou o falecimento
dele; e dizem que quando pequeno, eu quedava contemplativo por
horas, em frente a um santuário, o que fazia crer em mim uma grande
vocação para a vida sacerdotal. Muito pequeno ainda meteram-me no
colégio dos jesuítas. Era no tempo da questão religiosa. Veio a
expulsão dos [?] a cacete, no celebre 18 de maio, e fiquei livre deles.
Foi um padre quem despertou em minha inocência de criança as
primeiras imoralidades, por meio de certas perguntas que me fez na
única vez em que, obrigado pelo meu professor, me confessei. Eu
tinha, então, oito anos. Mais tarde, à proporção que me fui
desenvolvendo, fui descobrindo as falhas da igreja.
A leitura do romance histórico de Eugênio Sue, ―Mistérios do povo‖
tornou-me [?] convicto e declarado inimigo da mentirosa igreja
romana. Cai de chofre no materialismo. Indagador, porém, entrei a
analisar. Tudo em a natureza é matéria e força. O químico, no seu
gabinete, obtém o raio e o decompõe e produz mil fenômenos
admiráveis; sabe de que matérias organizam nosso corpo e precisa
lhes as quantidades.
Sendo assim, nada mais simples que construir um homem no
gabinete. Se o químico, porém, tentar o conjunto dessas matérias
dará, quando muito, certas massas plásticas da qual poderá modelar
uma estátua.
E a vida? [?] e opus, hic labor est [?] 160 Assim, pois, ao concluir toda
uma elaboração de raciocínios, o materialista encontra, como eu
encontrei, muda como uma esfinge, uma interrogação. E a essa
interrogação só a doutrina espírita me respondeu quando procurei
estuda-la, após aquela noite em que o espírito de uma extinta veio
avisar-me do perigo que estava correndo minha vida.226
Eis, portanto, por depoimento próprio, esclarecido o momento no qual
cada um deles despertou para a prática do espiritismo, e quando se reuniram
para desenvolver em conjunto as ações voltadas para a difusão dos estudos de
Kardec, que, iniciados em Manaus, por razões de saúde de Emília, também se
estenderam temporariamente a Maranguape (1900-1901), passando em
seguida por Belém (1902...) e culminando novamente em Manaus, numa
segunda fase que deve ter se efetivado após 1902 até 1908 quando do
desencarne de Emília, depois do qual Arthunio prosseguiu com a missão,
retornando a Belém do Pará e desenvolvendo uma atividade intensa nesse
mesmo sentido. Ele que poderia ter sido padre, e um jesuíta, e que encontrou
em um respeitável escritor de França, razões para se indagar sobre a forma
como a igreja católica da época se conduzia, oportunidade em que foi
conduzido ao materialismo e a uma reflexão mais profunda sobre essas
questões que, naturalmente, pareciam tabus. E teria sido a interrogação que
anuncia estar diante de todo o materialista, que despertou para outras faces da
formação religiosa que tivera na infância, voltando-se mais tarde para o
espiritismo.
Essa prática desenvolvida na capital amazonense, já agora harmonizada
com Arthunio Vieira, o casal levou para o Ceará quando de breve retorno em
meados de 1900, e novamente exercida na nova fase de residência em
Manaus. Essa dedução pode ser feita pelo fato de que ao retornar ao Ceará e
226
VIEIRA, Arthunio, In.: OLIVEIRA, Alcilene Cavalcante de. Uma escritora na periferia do
Império: vida e obra de Emília Freitas (1855-1908). Belo Horizonte, 2007, p. 160.
137
se estabelecer na região de Maranguape, dedicou-se à fundação de grupo
espírita e de imprensa especialmente dedicada à difusão da Doutrina.
Tendo chegado ao Ceará no segundo semestre de 1900, no ano
seguinte passaram a organizar o Grupo Espírita Verdade e Luz, no qual
mantiveram um jornal dedicado especialmente aos temas relativos ao
Espiritismo, sob o título de Luz e Fé, com circulação a partir de novembro
daquele ano e distribuição gratuita, considerado como o primeiro periódico
espiritista do Ceará.
Retorno ao Ceará: por que Maranguape?
Viajando de Manaus a tratamento de saúde é possível cogitar que tenha
procurado região pelo clima mais favorável, na proximidade de serras, e, ao
mesmo tempo, nas vizinhanças de uma cidade de porte, premissas a que
Maranguape atendia de forma satisfatória, considerando o sopé da serra e a
vizinhança com Fortaleza. Parece oportuno registrar que a essas
circunstâncias podem se reunir outras, de ordem histórica e relativas a suas
lutas antigas, especialmente em defesa da abolição da escravatura negra por
que Maranguape foi sede do primeiro Congresso Abolicionista do Brasil (1881),
no qual, dentre os 126 participantes estava Francisco José do Nascimento
(Dragão do Mar), assim como foi território das lutas em defesa da mulher nos
movimentos a favor do divórcio no Brasil (1898), e terra de nascimento de
Elvira Pinho, fervorosa abolicionista, tudo isso mesmo sendo região de grande
poder de influência da Igreja Católica, seja social como político e cultural.
Trata-se de hipóteses, mas nenhuma delas se confirma por qualquer vestígio
documental, mas valem ser consideradas, especialmente quando examinado o
desempenho do casal Emília e Arthunio na temporada em que residiram em
terras cearenses.
Instalados na cidade, enfrentaram os padrões dominantes e impostos
pelo catolicismo mais ferrenho, mas eles foram decisivos para as atividades
espíritas, para a divulgação da doutrina e a prática de jornalismo independente.
A sociedade da região era avessa a essas práticas e a resistência do
catolicismo perdurou ainda por muitos anos, com maior visibilidade a partir de
1910, como assegura Marcos Diniz Silva, para quem
A chegada das ideias espíritas ao Ceará remonta às décadas finais
do século XIX, com a implantação dos grupos familiares de
Espiritismo e o aparecimento dos primeiros centros espíritas, entre o
final do século XIX e início do século XX. Em 1897 surgiu em
Fortaleza, o Grupo Espírita ―Fé e Caridade‖, pela iniciativa do carioca
Luiz de França de Almeida e Sá. Ao iniciar-se o novo século,
surgiriam no município de Maranguape mais dois grupos: o Grupo
Espírita ―Verdade e Luz‖ (1901), sob a direção de Arthunio Vieira e
sua esposa, a escritora, abolicionista e precursora do movimento
feminista no Ceará, Emília de Freitas.227
O Grupo se reunia para sessões todas as sextas-feiras e logo despertou
curiosidade e interesse sério em muitas pessoas que acorriam à casa de Emília
227
SILVA, Marcos José Diniz e. Catolicismo e espiritismo: dimensão conflituosa no campo
religioso cearense na Primeira República. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH,
Ano II, n. 4, mai. 2009 - ISSN 1983-2850 http://www.dhi.uem.br/gtreligiao – Artigos Disponível
em: _ww.dhi.uem.br/religião/pdf3/texto6.pdf.
138
e Arthunio, provocando algumas cenas curiosas, tentativas de farsa por parte
de alguns que se faziam de médiuns, e em relação aos quais eles deram
tratamento caridoso e compreensivo, os afastando gradualmente, mas
reconheceram que Maranguape era local em que ativam muitos médiuns,
chegando a afirmar ―essa cidade está fadada para teatro de grandes coisas em
relação à propagação da luz, da religião, mas impulsiona a ciência, da religião
que substitui o crê ou morte, acredita e não discute porque é dogma pelo
analisai com calma para crer com firmeza.‖
E assim se comportavam como o próprio Arthunio afirmou em texto de
jornal, ―porque estamos compenetrados de que cumprimos o nosso mandato
sobre a terra é que com dificuldade, embora, pregamos aos que nos quiserem
atender, a pura Doutrina Espírita.‖ 228
É verdadeiro afirmar que, no Ceará, desde 1853, o jornal O Cearense
noticiava ―experiências‖ com ―mesas girantes‖, levadas a efeito na casa de
residência do comerciante José Smith de Vasconcelos (barão de Vasconcelos),
e também, que houve difusão do Espiritismo na Escola Militar do Ceará, pelos
anos 1890, em muito estimulada pelo movimento positivista, levando a que
surgissem os primeiros grupos espíritas, em Fortaleza (1890), e em
Maranguape (1901 e 1902). 229
Foi em Maranguape que editaram o jornal Luz e Fé,230 identificado
frontalmente como órgão do Grupo Spirita Religioso ―Verdade e Luz‖, logo
seguida da expressão ―A verdade deve ser dita!‖, tendo também como
mensagem bem destacada a seguinte expressão: ―Fere-me, mas ouve-me‖.
Seu primeiro número é de 2 de novembro de 1901 - data escolhida
propositalmente – tinha distribuição gratuita e seu redator principal era Arthunio
Vieira, vindo a se constituir no ―primeiro jornal espírita vindo a lume no Ceará.‖
De pequeno tamanho, papel simples, impressão sem ilustrações,
conforme exemplar cadastrado e existente na Fundação Biblioteca Nacional, a
edição inaugural apresenta mensagem de Victor Maria Hugo, recebida em 29
de setembro, lançada na primeira página.
228
VIEIRA, Arthunio.
229
SILVA, Marcos José Diniz e. Maçons, espíritas e católicos nos embates religiosos da
Primeira República no Ceará. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA –
Fortaleza, 2009. Disponível em: http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ ANPUH.
S25.0279.pdf. Acesso em: 22 set.2017.
230
Podem ser referidos vários órgãos de imprensa voltados para o Espiritismo, tais como: em
1885, a revista Século XX, em Campos, Rio; em 1886, em São Paulo, o Espiritualismo
Experimental; em 1890, A Nova Era e O Regenerador, nesta cidade; Regenerador, no Pará;
Verdade e Luz, em São Paulo; Revista Espírita e A Luz, em Curitiba, Paraná; em 1892, A
Evolução, no Rio Grande do Bicentenário de Allan Kardec Organizado por Carlos Bernardo
Loureiro 83 Sul; em 1893, O Farol, em Paranaguá, estado do Paraná; em 1894, A Voz Espírita,
em Porto Alegre; A Verdade, em Mato Grosso; Perdão, Amor e Caridade, na Franca, São
Paulo e A Fé Espírita em Paranaguá; em 1895, a Revista Espírita, na Bahia; Eco da Verdade,
em Porto Alegre, e A União, em Maceió, em 1896; A Religião Espírita, nesta capital, e Voz da
Verdade, em Paranaguá; em 1898, a Revista Espírita, em Porto Alegre; em 1899, O Guia, no
Recife; em 1900, A Regeneração, no Rio Grande; O Espírita Alagoano, em Maceió e A
Doutrina, em Curitiba. Até 1900 tinham, pois, sido fundados no Brasil 31 jornais espíritas. Em
1901, o Mensageiro, fundado em Manaus, e A Ciência, em Maceió; em 1902, a Fraternização,
nesta capital; A Cruz, na cidade de Amarante, Estado do Piauí, e Doutrina de Jesus, em
Maranguape, Ceará; em 1903, Luz e Fé e Sofia, no Pará; A Nova Revelação, em São Paulo, e
O Allan Kardec, em Cataguazes, Minas Gerais; e finalmente, em 1904, A Verdade, em
Palmares, Pernambuco, A Semana, no Recife, e O Alvião, em São Paulo.
139
Na pequena justificativa, em forma de editorial, dizem os editores
encimando a página de abertura, a justificar a escolha do dia 2 de novembro
para circulação do jornal, sabidamente consagrada aos ―mortos‖:
Este dia, por nós escolhido para o surgimento do nosso jornalzinho,
é, em todo mundo civilizado, um dia de pranto; é um dia de
recolhimento; chora-se nele a ausência dos que se foram da terra; o
povo chora-a como se ela fora eterna, o que agora não pretendemos
discutir.
Por isso mesmo é que a escolhemos.
A essa abertura seguem-se considerações sobre o espiritismo aliadas a
uma crítica à Igreja Católica, uma espécie de resposta natural às muitas
contraposições ácidas da Igreja de Roma contra o Espiritismo, posição que se
arrastou por longos anos, com maior repercussão em regiões interioranas
como Maranguape. Diziam os editores:
Cultores convictos da profundíssima ciência espírita, não podíamos
achar melhor, porque, enquanto nos templos de pedra há o funéreo
dobre dos sinos e o crepitar das luzes ... murmuram-se ou cantam-se
preces cabalísticas, feitas em uma língua que o povo não entende, na
simplicidade e modéstia dos nossos grupos, oramos
espontaneamente; por mortos e vivos, amigos ou não,
consonantemente à palavra de Jesus, nosso mestre.
Explicando o surgimento do jornal como veículo apropriado para a
difusão do espiritismo, e tratando do ―Programa‖ do jornal como era comum a
todos os veículos de imprensa da época assinalaram o seu desideratum, eles
explicaram:
Quanto ao nosso fim na imprensa, diremos: procuramos pregar a
doutrina espírita em toda a sua simplicidade e inteireza. Programa,
recebemo-lo, louvado deus, do alto, deu-no-lo o espírito daquele que,
com o genial talento que Deus lhe deu, encheu um século.
Após transcrever a mensagem recebida em sessão espírita, sem
maiores explicações, os editores assinalaram as razões de ser um jornal de
circulação gratuita, indicando também que se tratava de veículo cigano, por
assim dizer, porque seria editado em qualquer cidade onde eles estivessem:
―Essa publicação inteira é completamente gratuita porque a palavra sagrada
não é coisa que se venda e aparece em qualquer ponto do país a que o destino
leve o grupo ―Verdade e Luz‖, pois que o grupo de propaganda não tem estadia
certa‖231.
Na página dois está publicada uma poesia de Emília, sob o título ―A
Nova Luz‖, preparada para uma recitação pública que não pode ser realizada
por motivo de abalo em sua saúde, em par com manifestação do poeta Castro
Alves.
A afirmação de que o jornal poderia aparecer em outra localidade porque
o grupo espírita poderia tomar sede em outro lugar, já indicava o caráter
transitório deles em Maranguape, 232 como de fato sucedeu, visto que
231
232
Residindo temporariamente em Maranguape, mesmo assim procuraram contribuir também
com a imprensa comum da cidade, com a melhor formação do povo, fazendo editar o jornal
140
retornaram à Manaus pouco tempo depois, mas também a determinação de
utilizarem a imprensa como meio de informação e propagação da Doutrina, o
que de fato conseguiram dar seguimento em Belém e na capital amazonense,
anos depois, com a publicação de vários jornais dedicados ao assunto.
A iniciativa do casal redundou, logo no ano seguinte (1902), na fundação
de outro grupo espirita sob a denominação de ―Caridade e Luz‖, que também
passou a publicar um jornal sob o título de Doutrina de Luz e manteve uma
escola denominada Escola Cristã,233 a indicar uma espécie de continuidade
das ações iniciadas por Emília e Arthunio.
Retornando ao Norte do País, o casal passou outra temporada em
Belém do Pará, a partir de 1902, não sendo possível definir até quando ali
permaneceram, mas, em verdade, logo após 1902 atuaram na capital paraense
nos jornais Revelação, Verdade e Luz e na revista Spehia, cujos títulos
sugerem terem sido igualmente de propagação da Doutrina de Kardec,
editados a partir de 1902. No mesmo ano Arthunio fundou o Centro Espírita
Paraense ―o qual tornou-se o maior centro de divulgação da Doutrina em
Belém‖, exatamente conforme o casal havia se comprometido no editorial do
jornal de Maranguape, em 1901.
Em seguida, sem que seja possível precisar a que período corresponde
inteiramente essa temporada paraense, o casal retornou a Manaus, onde deve
ter dado continuidade às atividades no espiritismo, assim permanecendo até
agosto de 1908 quando se deu o desencarne de Emília Freitas, cuja dedicação
à Doutrina Espírita teria sido exemplar, despertando interesse em vários
pesquisadores de conhecerem a sua obra, o que está confirmado no registro
de seu desencarne feito pelo Jornal do Commercio, de Manaus, em 1908,
notícia que, ao mesmo tempo, serve para reafirmação de sua experiência
jornalística na capital paraense: ―Fervente espírita, muito escreveu nos
periódicos da doutrina, do Ceará e Pará, sendo secretaria das redações dos
jornais Verdade e Luz e Spehia, em Belém do Pará.‖ 234
Em síntese, são conhecidos registros que a consideram ―Bandeirante do
Espiritismo na Terra da Luz‖, assim proclamada após seu desencarne em
Manaus, aos 53 anos de idade, no dia 18 de agosto 1908.
O desencarne de Emília
O registro de óbito da Comarca de Manaus, no termo 1213 do livro C-45,
as fls. 194, sob tutela do 1.º Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais,
assinala o desencarne de Emília Freitas Vieira na capital amazonense, aos 18
dias do mês de agosto do ano de 1908, as 20.35h., cuja comunicação foi feita
por Raymundo José de Oliveira, com atestado passado pelo Dr. Astrolábio
Passos, sendo ela cearense de nascimento, casada com Arthunio Vieira, aos
47 anos de idade, vítima de ―diarreia infecciosa e paludismo‖, com
sepultamento do corpo no Cemitério São João Baptista. 235
―Maranguape‖, de 14 de setembro de 1901, embora assinale 1891, com publicação semanal,
redação de Arthunio tendo como lema: ―Labor Omnia Vincit.‖
233
USEECE. União das Sociedades Espiritas do Ceará. https://useece.blogspot.com.br
/2013/01/as-primeiras-decadas-do-Espiritismo.html?m=1
234
JORNAL DO COMMERCIO, Manáos, 20 ago. 1908, p.1.
235
Certidão passada por Rozane Bandeira da Silva, Escrevente autorizada do referido Cartório, no
arquivo do autor.
141
Sua dedicação à Doutrina Espírita teria sido exemplar, despertando
interesse em vários pesquisadores de conhecerem sua obra, o que está
confirmado no registro jornalístico feito pelo Jornal do Commercio, em agosto
daquele ano, o qual, ao mesmo tempo serve para a reafirmação de sua
experiência jornalística na capital paraense: ―Fervente espírita, muito escreveu
nos periódicos da doutrina, do Ceará e Pará, sendo secretaria das redações
dos jornais Verdade e Luz e Spehia, em Belém do Pará‖.236
Continuando a missão
Apartado do corpo físico de sua esposa e companheira Emília Freitas,
mas fortalecido em sua fé e encaminhado nas sendas dos estudos espíritas,
Arthunio prosseguiu sua missão na propagação da Doutrina após 1908,
retornando a Belém e dedicando-se ao jornalismo, ao magistério e também à
imprensa espírita e à organização de entidades do movimento espírita
paraense. Pouco tempo depois foi diretor da primeira escola de médiuns da
União Espírita Paraense (1915), integrando a diretoria da entidade em vários
mandatos e em diversos cargos, inclusive os de secretário (1918), secretário
adjunto (1926) e orador, e também participando de congressos, seminários e
debates, como no caso da Confederação Espírita Caminheiros do Bem (1940).
Ao longo dos anos, verifica-se que ele se dedicou ao Movimento
Espírita, seja editando e dirigindo jornais especializados na divulgação da
Doutrina, seja como conferencista, em várias oportunidades. Na imprensa
especializada dirigiu o jornal Verdade, editado em Belém, que era órgão
espírita e no qual atuou juntamente com Carlos Barros de Souza, 237 veículo de
responsabilidade da União Espírita Paraense que em junho de 1918 estava em
sua 16.ª edição, sendo distribuído gratuitamente após a sessão doutrinária
realizada na sede da União.238
Como conferencista voltado para temas de interesse da elevação moral
e espiritual do ser humano, atuou especialmente em Belém do Pará, na sede
da União Espírita Paraense, localizada na Rua Aristides Lobo, n.º 27. Das
muitas palestras que foram divulgadas pela imprensa comum podem ser
destacadas as seguintes: ―O coração, o cérebro, a lei‖; 239 ―A Missão da
Mulher‖;240 O Problema do Homem; 241 e, ―Confraternizemo-nos‖. 242
Destacado orador e conhecedor dos temas tratados pela Doutrina coube
a ele ser o orador oficial dos eventos destinados a consagrar a instalação da
Escola de Médiuns, nas comemorações kardecianas de 1917 realizadas em
Belém, ao tempo em que a entidade principal do espiritismo no Pará estava
sob a presidência de Carlos B. de Souza,243 seu antigo companheiro do jornal
Verdade.
236
JORNAL DO COMMERCIO, Manáos, 20 ago. 1908, p.1.
237
ESTADO DO PARÁ, Belém, 2 jan. 1918, p.2.
238
ESTADO DO PARÁ, Belém, 1 jun. 1918, p.2.
239
ESTADO DO PARÁ, Belém, 12 ago. 1917, p. 2.
240
ESTADO DO PARÁ, Belém, 1 set. 1917, p.2.
241
ESTADO DO PARÁ, Belém, 20 dez. 1917, p.2.
242
ESTADO DO PARÁ, Belém, 23 abr. 1921, p.2.
243
ESTADO DO PARÁ, Belém, 5 out 1917, p.2.
142
Em 1935 ainda integrava a diretoria da União Espirita Paraense, fundada
em 1906, como suplente, época em que Rafael Moreno estava na
presidência.244
CONCLUSÃO
Observada a trajetória individual dos biografados é possível constatar
que, separados fisicamente e com diferença de idade de cerca de dez anos, se
interessaram pelas mesmas áreas do conhecimento e da atuação profissional,
assim como por temas que, naquele momento histórico, agitavam parcela da
população, notadamente a mais jovem, de caráter revolucionário e
transformador como a abolição da escravatura negra e o regime republicano,
além do positivismo, vindo a se interessarem, mais tarde, pelo espiritismo,
também codificado em França e na mesma esteira dos movimentos libertários
da população afro-residente no Brasil e submetida à escravidão, e dos ideais
republicanos, os quais se expandiram pelo território nacional, e, anos mais
tarde, levaram à consumação da alforria geral dos escravos, para o que ambos
contribuíram.
Deslocados de suas terras de encarnação para o Norte do País, se
encontraram em Manaus e efetivaram casamento, passando a atuar em
conjunto, na capital amazonense, em breve temporada em Maranguape no
Ceará e em Belém, em práticas espíritas e na divulgação da Doutrina,
especialmente por meios de comunicação social que tinham amplo alcance
naqueles anos. Diante dos fatos narrados e que constituem resultado da
pesquisa desenvolvida e demonstrada em considerável resumo, é possível
avaliar que possa estar caracterizada a lição do Evangelho segundo a qual os
laços de família são espirituais e os espíritos, em comunhão, quando
encarnados, desenvolvem missão previamente por eles programada, apesar de
em certa fase desenvolverem trajetórias separadas, assemelhadas ou não, tal
como sucedeu com Emília e Arthunio.
Adequado considerar que a formação religiosa convencional, rigorosa e
opressora da época estava centrada na Igreja Católica, inclusive em razão de
ser esta a religião oficial do Império do Brasil, antes mesmo desse fato ser
constitucionalizado em 1824, exatamente a fase em que os dois, ainda jovens,
integravam uma sociedade submetida a essas regras, considerando que
reencarnaram em 1855 (Emília) e em 1865 (Arthunio).
A divulgação e a prática espírita tanto foram tomadas por eles como
missão que eles asseguraram, e cumpriram, levar a mensagem da Doutrina em
jornais por onde estivessem e cumpriram, seja em Maranguape, em Manaus e
em Belém, e mais, Arthunio persistiu nesse caminho inclusive como
conferencista, mesmo após o desencarne de Emília (1908), sendo possível
identificar suas ações nesse sentido ainda em 1935, na capital paraense,
inclusive na melhor organização do movimento por meio de entidades como a
União Espírita Paraense, e nas práticas com os grupos familiares e casas
espíritas.
244
A REINCARNAÇÃO, Porto Alegre, abr. 1935, p.5.(órgão da Federação Espírita do Rio
Grande Sul).
143
REFERÊNCIAS
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(1884-1921). Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp125468.pdf.
Acesso em: 20 abr. 2017.
BARBOSA, Maria Edivani Silva. Aracati (CE) no período colonial: espaço e
memória. Fortaleza, 2004. Disponível em: http://www.uece.br/mag/
dmdocuments/ maria_edivani_dissertacao.pdf. Acesso em: 17 set.2017.
(Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Geografia, do
Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Geografia).
Federação Espírita do Ceará - FEEC.
http://www.canteiroideias.com.br/2013/01/ emilia-freitas-uma-mulher-frente-de-
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2013. Acesso em: 20 set. 2017.
FREITAS, Emília. Reencarnação. Maranguape, Ceará, 2 nov. 1901.
LOUREIRO, Carlos Bernardo. (org.) Bicentenário de Allan Kardec. Disponível
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jun. 1891.
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no campo religioso cearense na Primeira República. Revista Brasileira de
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religiosos da Primeira República no Ceará. ANPUH – XXV SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Disponível em:
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STUDART, Guilherme. Dicionário bio-bibliographico cearense, vol. 1.
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propaganda espírita, ano XIV, n.º 5, Belém, 1931., In.: OLIVEIRA, Alcilene
144
Cavalcante de. Uma escritora na periferia do Império: vida e obra de Emília
Freitas (1855-1908), Belo Horizonte, 2007.
VIEIRA, Arthunio, In.: OLIVEIRA, Alcilene Cavalcante de. Uma escritora na
periferia do Império: vida e obra de Emília Freitas (1855-1908). Belo
Horizonte, 2007.
Periódicos
A FEDERAÇÃO, Manáos, 11 nov. 1898.
A FEDERAÇÃO, Manáos, 11 jan. 1899.
A PALAVRA, Belém, 17 dez. 1895.
CEARENSE, Fortaleza, 26 nov.1881.
CONSTITUIÇÃO, Fortaleza, 24 nov.1882.
CORREIO PARAENSE, Belém, 23 fev. 1893.
DIARIO OFFICIAL DO ESTADO, Manáos, 9 jan. 1895.
DIARIO OFFICIAL DO ESTADO, Manáos, 27 fev.1896.
DIARIO OFFICIAL DO ESTADO, Manáos, 1 jul. 1898.
DIARIO OFFICIAL DO ESTADO, Manáos, 3 jul. 1898.
DIÁRIO OFFICIAL DO ESTADO, Manáos, 6 jul. 1900.
DIARIO OFFICIAL DO ESTADO, Manáos, 29 ago. 1900.
DIÁRIO OFFICIAL DO ESTADO, Manáos, 29 ago. 1900.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 9 jan. 1864.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 29 set. 1866.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 21 out. 1880.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 8 ago. 1888.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 5 jan. 1892.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 29 jan. 1892.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 2 fev. 1892.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 13 fev. 1892.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 15 mar. 1892.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 29 mar. 1892.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 8 abri. 1893.
145
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 9 abr. 1893.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 11 abr.1893.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 21 jan. 1898.
DÍARIO DE NOTÍCIAS, Belém, 24 jan. 1896.
ESTADO DO PARÁ, Belém, 12 ago. 1917.
ESTADO DO PARÁ, Belém, 1 set. 1917.
ESTADO DO PARÁ, Belém, 5 out 1917.
ESTADO DO PARÁ, Belém, 20 dez. 1917.
ESTADO DO PARÁ, Belém, 28 dez 1917.
ESTADO DO PARÁ, Belém, 2 jan. 1918.
ESTADO DO PARÁ, Belém, 1 jun. 1918.
ESTADO DO PARÁ, Belém, 23 abr. 1921.
FOLHA DO NORTE, Belém, 23 jan. 1896.
GAZETA DE ALENQUER, Alenquer, 2 dez 1908.
GAZETA POSTAL, Belém, 6 jan. 1894.
JORNAL DO CEARÁ, Fortaleza, 9 jan.1868.
JORNAL DO CEARÁ, Fortaleza, 28 jan. 1868.
JORNAL DO CEARÁ, Fortaleza, 31 jan. 1868.
JORNAL DO CEARÁ, Fortaleza, 13 mai. 1868.
JORNAL DO COMMERCIO, Manáos, 3 jul. 1900.
JORNAL DO COMMERCIO, Manáos, 20 ago. 1908.
JORNAL PEQUENO, Recife, 17 set. 1902.
JORNAL DO RECIFE, Recife, 14 jun. 1889.
JORNAL DO RECIFE, Recife, 23 mai. 1891.
JORNAL DO RECIFE, Recife, 30 ago. 1893.
JORNAL DO RECIFE, Recife, 7 set. 1893.
JORNAL DO RECIFE, Recife, 21 set 1893.
JORNAL DO RECIFE, Recife, 12 mai. 1898.
O LIBERTADOR, Fortaleza, 10 jan. 1883.
146
O LIBERTADOR, Fortaleza, 22 set. 1883.
O LIBERTADOR, Fortaleza, 14 mar. 1884.
O PARÁ, Belém, 21 jul. 1898.
O PARÁ, Belém, 19 nov. 1898.
O PARÁ, Belém, 24 dez. 1898.
O PARÁ, Belém, 25 dez 1898.
O PARÁ, Belém, 29 dez, 1898.
REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ, Fortaleza, 1937. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=166774&pesq=emilia%2
0freitas. Acesso em: 21 jun. 2017.
REPÚBLICA, Belém, 31 mai. 1900.
147
FELIX LUIZ DE PAULA: PROPAGANDISTA DOS PRIMÓRDIOS DO
ESPIRITISMO NO AMAZONAS
Isis de Araújo Martins*
Este trabalho tem como objetivo traçar um perfil biográfico de Felix Luiz
de Paula, membro da primeira diretoria da Sociedade de Propaganda Spirita do
Amazonas. Esta entidade, criada em Manaus em 1901, teve considerável
influência no movimento espírita nascente em nosso Estado. Tinha por fim o
estudo e a difusão da ciência espírita, bem como a prática da caridade. Felix é
um dos fundadores desta Sociedade. A finalidade do presente trabalho é
ampliar o conhecimento sobre personalidades que atuaram nos primórdios do
Espiritismo no Amazonas.
Para traçar o perfil proposto foram compulsados periódicos do final do
século XIX e início do século XX no acervo da Hemeroteca Digital Brasileira da
Fundação Biblioteca Nacional, bem como periódicos e livros pertencentes aos
acervos de bibliotecas locais e do Memorial da Federação Espírita
Amazonense. Informações também foram buscadas em entrevistas informais
com a Sra. Arya Monassa de Paula, neta do biografado, residente em Manaus.
Nossa investigação foi norteada pelas seguintes perguntas: Quando e onde
nasceu Felix Luiz de Paula? Quem foram seus familiares? Qual a sua formação
acadêmica? Qual a sua atuação no Amazonas? Qual a sua participação no
Espiritismo em nosso Estado? Que registros existem sobre sua
desencarnação? Que lição de vida ele nos legou?
O resultado de nossa perquirição é apresentado abaixo, com
informações agrupadas em três seções. Na primeira estão os dados biográficos
gerais de Felix Luiz de Paula; na segunda, informações sobre sua atuação no
Amazonas; e na terceira, comentários sobre a lição de vida que ele nos legou.
Em consonância com as orientações para a apresentação de trabalhos
no V Simpósio FAK, ao final deste trabalho acha-se incluída uma seção
intitulada ―O que aprendi sobre mim mesma‖, na qual estão expressadas
reflexões da autora na produção do artigo. Tais reflexões objetivam o
compartilhamento de experiências com outros sobre os quais o tema venha a
reverberar. A pergunta norteadora para a aludida seção é a seguinte: O que
suponho, em minha jornada de Espírito imortal, tenha me levado a escolher o
tema abordado no presente trabalho?
1 Dados biográficos gerais
O coronel Felix Luiz de Paula nasceu na cidade de São Bento, no
Estado do Maranhão, no dia 14 de janeiro de 1870. Era filho de Joaquim
Francisco de Paula e Francisca Xavier de Paula. Eram seus irmãos o coronel
_____________
* Trabalhadora da Fundação Allan Kardec, Manaus, Amazonas.
148
Carlos Theodoro Gonçalves, destacado seareiro do movimento espírita
amazonense1 e cidadão deveras atuante neste Estado, e o coronel Joaquim
Francisco de Paula, deputado estadual no Amazonas em várias legislaturas.
Os irmãos de Felix eram igualmente sócios fundadores da Sociedade de
Propaganda Spirita do Amazonas.
Eram irmãs de Felix as senhoras Maria Theodora Gonçalves Angarita,
professora, dirigente do Collegio Nossa Senhora de Nazareth, em Manaus;
Elvira de Paula Gonçalves, parteira diplomada pela Universidade de Manáos;
Marciana de Paula Vidal de Negreiros e Francisca Xavier de Paula.
Felix casou-se em Manaus, em 18 de agosto de 1900, com a professora
normalista Arya Firmina da Silva Paula, filha de João Antonio da Silva e Firmina
Fontenelle da Silva. Arya foi atuante na Sociedade de Propaganda Spirita e na
Federação Espírita Amazonense (FEA). Seus pais também participaram
ativamente do movimento espírita nascente. João Antonio era um dos sócios
fundadores da Sociedade de Propaganda Spirita e, em 1904, tornou-se o
primeiro presidente eleito da FEA. Firmina, por sua vez, também ocupou
posições administrativas na FEA.
Felix desencarnou em Manaus, no dia 6 de novembro de 1917, com
quarenta e sete anos de idade. Deixou na orfandade dez filhos menores:
Samuel com dezesseis anos, Joaquim com quinze, Nahum com quatorze,
Judith com treze, Hilda com doze, Bebê com dez, Jeronymo com oito, Felix
com sete, João com cinco e Daisy com quatro meses de idade2.
Além dos acima mencionados, a prole de Felix incluía dois filhos então
desencarnados: Ticiano, falecido em 12 de março de 1910, com quatro meses
de idade, e Daisy, falecida em 27 de abril de 1915, com um ano3.
Pouca informação foi encontrada a respeito do nosso biografado no
período anterior à sua mudança para Manaus. Nada encontramos sobre a sua
formação acadêmica. Desse período, no entanto, ressaltamos a informação
publicada nos jornais maranhenses Pacotilha e Diario do Maranhão, de 29 de
dezembro de 1890, sobre o resultado da eleição recém-realizada para a
diretoria do Partido Republicano local. Segundo os jornais, Felix é membro do
Diretório, e Domingos Theophilo de Carvalho Leal4 é o presidente efetivo do
Partido. Tal informação contribui para delinear um perfil de Felix como militante
que esposava ideais republicanos desde a sua juventude.
______________
1
Carlos Theodoro Gonçalves foi presidente da Sociedade de Propaganda Spirita em dois
mandatos ―1901 e 1902. Foi também redator do jornal Mensageiro. Foi ainda presidente da
Federação Espírita Amazonense, eleito em 1915.
2
Na relação dos filhos de Felix publicada no Jornal do Commercio, de 7 de novembro de 1917,
consta o nome ―Nahura‖. No presente trabalho, esse nome foi substituído por ―Nahum‖, por
correção da Sra. Arya Monassa de Paula. O nome ―Bebê‖ foi aqui mantido, apesar de não ter
parecido familiar à referida senhora.
3
Felix teve duas filhas chamadas Daisy. Fato confirmado pela Sra. Arya Monassa de Paula.
4
Domingos Theophilo de Carvalho Leal era o presidente do Club Republicano do Amazonas
por ocasião da proclamação da República em 1889. Foi membro da junta governativa
provisória que governou o Amazonas, após a proclamação da República, até janeiro de 1890.
149
2 Atuação no Amazonas
Há registro da presença de Felix Luiz de Paula em Manaus em 1892. O
jornal Diario de Manáos, de 9 de agosto de 1892, na seção ―Hospedes e
viajantes‖ assim noticia:
Foram passageiros do vapor «Olinda» chegado ante-hontem o
sr. Felix Luiz de Paula, irmão do sr. Joaquim Francisco de Paula,
digno reporter e agente desta folha.
Ao sympathico moço desejamos as melhores felicidades (Diario
de Manáos, ano III, n. 30, p.1, 9 ago. 1892).
A partir desse ano, há registros que nos permitem classificar a atuação
de nosso biografado no Amazonas em atividades profissionais, atividades de
cunho político, atividades filantrópicas e atividades na seara espírita.
2.1 Atividades profissionais
No final de 1892 e início de 1893, há indícios do envolvimento de Felix
em atividades comerciais na área de calçados. A sapataria Paula & Irmão tem
anúncio publicado em várias edições do Diario de Manáos. Ela comercializa
calçados nacionais e os coloca em franca concorrência com produtos
estrangeiros similares (veja-se o Anexo A). Em fevereiro de 1893, a
participação de Felix no referido negócio é tornada explícita com a declaração
ao comércio de Manaus transcrita abaixo:
Ao Commercio
Os abaixo assignados declaram ao corpo commercial desta
praça que contrahiram uma sociedade commercial, sob a firma social
de Paula & Irmão, para o negocio especial de fabricação de calçados.
Manáos, 17 de Fevereiro de 1893.
Joaquim Francisco de Paula.
Felix Luiz de Paula
(Diario de Manáos, ano III, n. 112, p.3, 23 fev. 1893) [grifo do autor].
A firma Paula & Irmão não só fabrica calçados como também vende
materiais para sapateiros, como couro e pele de animais. A atuação de Felix
nesse ramo de negócios pode ademais ser comprovada em um edital da
Alfandega de Manáos, de 23 de fevereiro de 1904, publicado à página 3 do
Jornal do Commercio, de 23 de março de 1904. No citado edital estão listados
os que servirão de árbitros nas questões de qualificação e classificação de
mercadorias naquele ano. Felix está classificado como ―industrial‖, na categoria
dos que irão arbitrar em questões envolvendo ―animais vivos e dissecados;
cabelos, pelos e penas; peles e couros‖.
Outra atividade profissional exercida por nosso biografado foi a de
trapicheiro. O despacho da Junta Commercial que assinala o início das
atividades de Felix neste ramo de ação foi publicado no Diario Official, de 7 de
outubro de 1898. Os irmãos Felix e Carlos Theodoro Gonçalves arrendaram o
150
trapiche Fernandes, que era de propriedade dos herdeiros de Antonio José
Fernandes, maranhense falecido em 1898. Localizava-se à Rua Marquês de
Santa Cruz, canto com a Rua Marechal Deodoro. O trapiche havia se tornado
alfandegado em 1897 e nele circulavam principalmente gêneros de estiva. Felix
foi também concessionário do pontão Neptis, por onde circulava borracha com
destino ao exterior. Do jornal Quo Vadis?, extraímos o seguinte excerto para
ilustrar a atividade de Felix nesse ambiente.
O sr. inspector da alfandega, satisfazendo uma requisição do
sr. delegado fiscal, a este prestou informações circunstanciadas dos
motivos que obrigaram o sr. Felix Luiz de Paula, concessionario do
pontão «Neptis», a recusar-se entregar uma partida de borracha de
transito, requisitada pelo juizo do commercio, caso este que levou o
referido sr. Felix de Paula a requerer ao juizo Federal habeas-corpus
preventivo.
Segundo as alludidas informações, a recusa se fundou em
ordem daquella inspectoria que, por sua vez, se baseou no facto da
preterição de formalidades recommendadas pela consolidação das
leis das alfandegas e mezas de rendas, art. 195 §5º (Quo Vadis?,
Manaus, ano II, n. 47, p.1, 15 jan. 1903).
Em 1904, Felix passou a administrar armazéns da Manáos Harbour,
empresa inglesa concessionária do porto de Manaus à época. O Jornal do
Commercio registra esse momento inicial:
A Manaus Harbour acaba de fazer acquisição do sr. Felix Paula
para administrar o serviço de importação extrangeira nos armazens
de desembarque e sahida de mercadorias […]
Agora, amplos armazens estão em frente do moço
administrador.
A companhia que lhe confia tão importantes serviços, espera
que o merecimento real do honrado trabalhador seja convertido em
realidade; o commercio deseja não ter occasião de reclamar contra
os máos serviços da companhia monopolisadora; não faz questão de
pagar as contribuições, quando são justas; porém é intolerante nas
exigencias mal entendidas e absurdas (Jornal do Commercio,
Manáos, ano I, n. 227, p.1, 20 set. 1904).
Não pudemos precisar por quanto tempo Felix exerceu essa função,
porém há indícios de vínculos duradouros com a citada empresa. O Jornal do
Commercio, de 2 de janeiro de 1915, por exemplo, cita o nome de Felix como
sendo o vice-presidente eleito da Associação dos Empregados da Manáos
Harbour. Quando do falecimento de Felix, o mesmo jornal, na edição de 7 de
novembro de 1917, registra o gesto de pesar da empresa pelo ocorrido.
Outra atividade profissional exercida por Felix foi a de despachante geral
da Alfândega. Nomeado em 1910, permaneceu como tal até a sua
desencarnação. Seu escritório, em 1917, localizava-se à Rua Marechal
Deodoro, nº 5, em Manaus.
151
2.2 Atividades de cunho político
Do envolvimento de Felix com o jornal Quo Vadis? há poucos porém
significativos registros. Periódico de publicação diária, o Quo Vadis? veio a
lume em 19 de novembro de 1902, em Manaus. Na edição de 20 de novembro
desse ano, o Quo Vadis? descreve-se como sendo um jornal político, sem
liames partidários, que se propõe a analisar e discutir problemas político-
sociais, bem como o desempenho das instituições criadas para manter e dirigir
a harmonia social. Propõe-se ainda a defender os interesses legítimos das
classes populares. Por sua postura crítica aos governantes da época, o Quo
Vadis? sofreu perseguições ao longo de sua trajetória. Teve suas oficinas
reduzidas a cinzas, em 7 de junho de 1903, num incêndio que o jornal atribuiu
a agentes do governo. Ressurgiu em 26 de setembro de 1903 e registrou
ameaças de empastelamento e outras tentativas de fazê-lo calar-se. O Quo
Vadis? suspendeu sua publicação em 20 de março de 1904, ocasião em que o
prédio onde estava instalado passou por uma ação de despejo. Relevante
notar que um dos proprietários da tipografia do jornal, e também um dos seus
redatores, é Carlos Theodoro Gonçalves, irmão do nosso biografado. Felix, por
outro lado, é o locatário do prédio que abriga as oficinas tipográficas do jornal
em sua segunda fase.
No Quo Vadis?, Felix exerceu as funções de editor e gerente, como se
vê nas citações abaixo:
Amanhã, ás 9 horas do dia, perante o sr. dr. juiz municipal do
2.º districto criminal, terá logar a iniciação do processo, crime de
calumnia impressa, contra o sr. Felix Luiz de Paula, editor
responsavel do jornal Quo Vadis?, em virtude de queixa dada pelo sr.
coronel Adolpho Lisbôa (Quo Vadis?, Manaus, ano II, n. 210, p.2, 15
nov. 1903).
Deixou hontem a gerencia do Quo Vadis?, por conveniencias
proprias, o sr. Felix Luiz de Paula, a quem agradecemos os serviços
com actividade prestados durante os dous e meio mezes da sua
gerencia (Quo Vadis?, Manaus, ano II, n. 231, p.2, 10 dez. 1903).
Há também registros da participação de Felix em outra organização
política ― o Partido Revisionista do Estado do Amazonas. Criado em 1905, em
Manaus, este partido empunhava a bandeira da reforma da Constituição de
1891, em defesa da democracia. O seu órgão na imprensa, o Correio do Norte,
veio a lume em 21 de janeiro de 1906 e teve uma trajetória de oposição aos
governantes do nosso Estado. Sua publicação foi interrompida em 3 de julho
de 1906, após incidentes envolvendo uma diligência policial na redação e
oficinas do jornal. Ressurgiu em 2 de junho de 1909 e deixou de ser órgão do
Partido Revisionista quando este se dissolveu, em 3 de setembro de 1910. A
seguinte transcrição do Correio do Norte, de 26 de setembro de 1909,
evidencia o vínculo de Felix com o Partido:
152
Do vapor Lanfranc, esperado hoje da Europa, é passageiro o
sr. Felix Luiz de Paula, administrador dos alfandegados da Manáos
Harbour Limited, e nosso correligionario politico.
Ao que nos consta, vem o illustre viajante restabelecido de
seus incommodos de saude, motivo porque os seus dignos
companheiros de trabalho preparam-lhe jubilosa recepção (Correio do
Norte, Manáos, ano I, n. 240, p.2, 26 set. 1909).
Esse vínculo, no ano de 1909, é mais explicitamente evidenciado em
uma mensagem ao eleitorado publicada nas edições de números 237 a 279 e
ainda na de número 282 do Correio do Norte. Nessa mensagem, datada de 17
de setembro de 1909, o nome de Felix figura entre os membros do Diretório.
Da participação direta de Felix na diretoria do Partido, esses são os únicos
registros que encontramos. Não pudemos averiguar, portanto, por quanto
tempo ele ocupou tal posição. Por outro lado, para os fins do nosso trabalho, é
relevante registrar que os irmãos do nosso biografado, Carlos Theodoro
Gonçalves e Joaquim Francisco de Paula, também foram membros da diretoria
do Partido Revisionista do Estado do Amazonas, e que ambos se achavam no
exercício dessa função quando o Diretório, por unanimidade, deliberou pela
dissolução imediata do Partido.
2.3 Atividades filantrópicas
Há registros da participação de Felix em ações humanitárias,
promovidas em Manaus, em favor de vítimas residentes fora de nosso Estado.
Um exemplo disto é a relação de contribuintes da subscrição promovida pelos
senhores José Claudio Mesquita e Joaquim Gonçalves de Araujo em favor das
vítimas da peste bubônica em Portugal, no ano de 1899, publicada no jornal
Commercio do Amazonas, de 24 de setembro daquele ano. Outro exemplo é o
do socorro às vítimas das enchentes dos rios Mearim e Itapecurú, no
Maranhão, em 1917. O jornal maranhense Pacotilha, de 5 de maio de 1917,
transcrevendo notícias de Manaus informa que, nesta cidade, havia sido
constituído um comitê para angariar donativos e auxílios para as vítimas da
calamidade no Maranhão. Felix faz parte desse comitê. Segundo notícia
transcrita no periódico maranhense O Jornal, de 25 de junho 1917, o mesmo
comitê remeteu à Pacotilha a quantia de 3:774$300, fruto de suas campanhas
em Manaus.
Felix também participou de ações comunitárias em benefício da Vila
Municipal, bairro onde residia em Manaus. Este bairro (hoje Adrianópolis) é
descrito pelo Jornal do Commercio, de 26 de julho de 1914, à página 1, como
sendo um ―futuroso arrabalde, um dos mais saudaveis e, quiça, o mais bello da
cidade‖. Na mesma nota, o jornal relaciona os membros da ―comissão
propagadora da sociedade Progresso da Villa Municipal‖. Felix é vice-
presidente da mencionada comissão. Essa Sociedade visava construir, na
praça Silverio Nery, na Vila Municipal, uma igreja em homenagem a São João
Batista e se propunha a criar e custear uma escola que funcionaria em um
153
compartimento preparado para este fim. A Sociedade Progresso da Villa
Municipal teve seu primeiro ano social iniciado em janeiro de 1915. Felix é um
dos seus sócios fundadores e exerceu, na primeira diretoria, a função de vogal
na Mesa Administrativa daquela entidade (ESTADO DO AMAZONAS, 1919).
A agricultura no Estado do Amazonas foi outro campo de interesse de
Felix. Ele fez parte da primeira diretoria da Sociedade Amazonense de
Agricultura, eleita e empossada em 21 de março de 1909. Esta instituição,
sediada em Manaus, teve seus Estatutos aprovados pelo governador do
Estado do Amazonas, Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt, por decreto nº 897
de 3 de abril de 1909. Segundo os referidos Estatutos, a Sociedade
Amazonense de Agricultura é uma agremiação de agricultores e amigos da
lavoura, que se congregam com o fim de trabalhar pelo progresso agrícola do
nosso Estado. A instituição visa promover a criação do crédito agrícola, do
ensino experimental agrícola e sua difusão, bem como a criação da
propaganda em favor da agricultura. A administração da Sociedade está a
cargo de uma diretoria composta de 10 membros, eleitos trienalmente.
(ESTADO DO AMAZONAS, 1910, p. 177-186). Na primeira diretoria da
mencionada Sociedade, Felix ocupa a posição de 2º tesoureiro.
Não foram encontrados mais registros da atuação de Felix na Sociedade
Amazonense de Agricultura. Contudo, do Jornal do Commercio, extraímos o
seguinte excerto que registra os cuidados de Felix com o cultivo da terra.
Dia a dia os factos vêm demonstrando a excellencia das
nossas terras para a polycultura.
O cliché acima mostra uma laranja bellissima colhida pelo
coronel Felix Luiz de Paula, despachante da Alfandega, em seu
importante sitio à rua de Fortaleza, na Villa Municipal.
Esse fructo fenomenal, que ficará durante o dia em exposição
em nossa gerencia, mede quarenta e quatro centimetros de
circumferencia e pesa um kilo e cento e vinte grammas.
Só um Estado do Brasil, a Bahia, produz laranjas desse
tamanho, cujas mudas levadas para a California foram alli plantadas
constituindo hoje a grande fonte de receita desse territorio dos
Estados Unidos da America do Norte.
O exemplo deve ser imitado pelos nossos agricultores que
poderão dentro de poucos annos contribuir para que a laranja passe
a ser um dos nossos productos de exportação (Jornal do Commercio,
Manáos, ano XIV, n. 4824, p.1, 1 out. 1917).
2.4 Atividades na seara espírita
São poucos, porém relevantes os registros da atuação de Felix na seara
espírita no Amazonas. Esses registros, em grande parte, dizem respeito à sua
atuação na Sociedade de Propaganda Spirita do Amazonas e se acham
publicados no jornal Mensageiro, órgão da referida Sociedade. Periódico de
publicação quinzenal, o Mensageiro veio a lume em 1º de janeiro de 1901. A
coleção mais completa desse jornal, de que se tem notícia, contém edições
publicadas até 15 de novembro de 1902. Nosso estudo sobre a atuação de
Felix na Sociedade de Propaganda Spirita, por conseguinte, limita-se a esse
154
período de publicação. Os Estatutos dessa Sociedade, promulgados em 24 de
dezembro de 1901, são outra fonte de informação que oferece suporte à nossa
análise sobre a atuação de Felix nessa entidade.
Em 1901, Felix faz parte do quadro de Diretores da Sociedade de
Propaganda Spirita, ao lado de Carlos Theodoro Gonçalves, Izidoro F. das
Neves Vieira, Joaquim Francelino de Araujo e Emiliano O. de Carvalho Rebello.
Sob a administração dessa diretoria, a Sociedade atingiu metas significantes: a
divulgação exitosa da Doutrina Espírita e a prática da caridade, com o
estabelecimento de um curso noturno gratuito. Do Mensageiro, de 1 de janeiro
de 1902, extraímos o seguinte excerto sobre as realizações da Sociedade no
seu primeiro ano de existência:
Nesse espaço de experiencias a que se consagrou a
«Sociedade de Propaganda Spirita», não foram, mercê de Deus,
pouco relevantes os serviços de ordem moral prestados.
Instrumento prestante de sua acção bem-faseja, o periodico
Mensageiro, por ella creado, dentro dos limites de seu programma,
divulgou lucidamente não só os factos interessantes á vulgarisação
da doutrina, como contribuio grandemente para o esclarecimento do
verdadeiro fim do homem neste mundo, ensinando-lhe que não está
na terra a felicidade e sim, somente, os meios accessiveis á sua
razão e ao seu livre arbitrio para, aperfeiçoado, alcançal-a em outra
existência, — Alem.
A creação de um Curso Nocturno, com aulas elementares e
medias, foi outro serviço de incontestavel e real valia.
Não sabemos que applicação mais directa possamos dar ao
exercicio da caridade, que ministrando luzes ao espirito humano para
tornal-o apto a comprehender seus deveres e conduzir-se
serenamente na senda da virtude, admirando as maravilhas da
Creação e compenetrando-se das imperfeições que, neste planeta,
inquinam o espirito encarnado (Mensageiro, Manáus, ano II, n. 25,
p.1, 1 jan. 1902).
Em 1902, Felix ocupa a posição de membro da Comissão de
Sindicância, ao lado de Leonardo Antonio Malcher e Izidoro F. das Neves
Vieira. Segundo os Estatutos da Sociedade, as atribuições dessa Comissão
dizem respeito à admissão de sócios, ao zelo pelas sessões de estudos, e às
visitas aos grupos filiados à Sociedade. À Comissão é dado o direito de
participar das sessões da Diretoria, com voz, mas sem voto nas suas
deliberações (SOCIEDADE DE PROPAGANDA SPIRITA,1901, p. 9-10). Dessa
atuação de Felix, não encontramos outros registros.
Outro ponto relevante da participação de Felix na Sociedade de
Propaganda Spirita, a nosso ver, é o da constituição do fundo social da
entidade. Para esse fundo, foram estabelecidas cem ações, no valor de cem
mil réis cada uma. Quarenta sócios subscreveram-se como acionistas. Felix
destaca-se pela quantidade maior de ações subscritas, em número de 15,
contribuição essa somente igualada por seu irmão Carlos Theodoro Gonçalves
(Veja-se o Anexo B para a relação de acionistas). Esse dado contribui para
155
realçar o devotamento de Felix à causa da divulgação do Espiritismo em nosso
Estado.
Concluímos a análise sobre Felix na Sociedade de Propaganda Spirita
com a transcrição da única matéria assinada por Felix no Mensageiro ― a
homenagem ao companheiro Bernardo Rodrigues de Almeida, recém-
desencarnado. Bernardo é o fundador do Centro de Propaganda Spirita e
também sócio fundador da Sociedade de Propaganda Spirita.
Meu irmão
Tua passagem sobre este planeta trouxe um grande beneficio
á humanidade.
Graças a ti, eu sei hoje distinguir, que a vida é um sonho
enganoso, cuja realidade é a dôr; que a morte é uma vida repleta de
encantos que nos conduz ao Creador e que o soffrimento é um ligeiro
momento para a purificação do espirito.
Que encontres a recompensa pelo bem que me fizeste.
FELIX DE PAULA
(Mensageiro, Manáos, ano I, n. 5, p.2, 1 mar. 1901) [grifo do
autor].
Registros adicionais da atuação de Felix na seara espírita no Amazonas
são encontrados em O Guia. Periódico de publicação mensal, O Guia veio a
lume em 15 de dezembro de 1905, em Manaus. Com uma tiragem de 1500
exemplares, este órgão de propaganda espírita era de distribuição gratuita,
mas aceitava auxílios pecuniários para a sua manutenção. Na edição de 15 de
dezembro de 1906, O Guia publica a lista dos seus contribuintes mensais
referente àquele ano. O nome de Felix consta na mencionada relação. Consta
também na lista de contribuintes do ano seguinte, 1907, como se vê na
transcrição abaixo:
Lista dos contribuintes mensaes d’ “O Guia”, em 1907
João B. Cordeiro de Mello, João Antonio da Silva, Joaquim F.
de Paula, Emiliano Rebello, Raymundo da Costa Fernandes, Felix
Luiz de Paula, Flavio S. Ribeiro, Torquato Farias e Souza, D.
Francisca Raposo, Pedro Paulo das Neves Vieira e José Avelino da
Silva (O Guia. Manaos, ano III, n. 32, p. 4, 15 jan. 1908) [grifo do
autor].
Os dados coletados no jornal O Guia corroboram o perfil do nosso
biografado como alguém ativamente interessado na divulgação do Espiritismo
no Amazonas.
3 Lição de vida
O exame dos registros sobre a desencarnação de Felix completa o perfil
que objetivamos traçar no presente trabalho. O mais abrangente desses
registros encontra-se no Jornal do Commercio, de 7 de novembro de 1917.
Nele vê-se o apreço em que Felix era tido por seus contemporâneos, a razão
desse apreço, as personalidades presentes ao enterro, o sentimento expresso
156
nos dizeres das coroas que cobriam o ataúde e a manifestação de pesar de
casas comerciais e da Manáos Harbour pelo seu falecimento. Da referida
edição, extraímos o seguinte excerto:
A‘s quatro horas de hontem, faleceu repentinamente em sua
residencia, á rua Fortaleza, na Villa Municipal, o coronel Felix Luiz de
Paula, despachante geral da nossa Alfandega e cavalheiro bastante
estimado nesta capital, pelos seus bellissimos predicados de
espirito e coração.
[...]
A morte do coronel Felix de Paula foi sentida por toda Manáos,
pois era um homem de bem a toda prova e um exemplar pae de
familia.
Ao seu enterramento que teve logar ás deseseis horas,
compareceu grande numero de pessoas [...]
As casas Adrião, Barroco e companhia e Charbel e Mocdosi
cerraram as suas portas em signal de pezar. A Manáos Harbour
Limited suspendeu o seu expediente e hasteou a sua bandeira em
funeral (Jornal do Commercio, Manáos, ano XIV, n. 4861, p.1, 7 nov.
1917) [grifo nosso].
Do nosso exame da vida de Felix, resulta um perfil biográfico de um
cidadão atuante e estimado no meio em que vivia. Vimo-lo militar por ideais
democráticos desde a sua juventude, ombrear com outros na busca de
melhores condições de vida para os menos favorecidos, engajar-se em
atividades voluntárias em prol do melhoramento do bairro onde residia e em
prol de um melhor cultivo do solo. Vimo-lo também trabalhar com seus
familiares, em várias frentes, e abraçar, com devotamento, a causa da
divulgação do Espiritismo no Amazonas. Vimo-lo ainda ser qualificado por seus
contemporâneos como um homem de bem. Este exemplo de vida é o legado
que Felix nos deixou.
Considerações finais
Felix Luiz de Paula viveu em Manaus por mais de vinte anos. Nesta
cidade era estimado ―por seus belíssimos predicados de espírito e coração‖,
segundo o necrológio transcrito acima. O que nos leva a concluir que Felix foi
um propagandista exitoso, pois que conseguiu realizar a propaganda
genuinamente cristã, definida por Emmanuel nos seguintes termos: ―Na
propaganda genuinamente cristã não basta dizer onde está o Senhor.
Indispensável é mostrá-lo na própria exemplificação‖ (XAVIER, 2005, p. 53). Ao
Felix, a nossa homenagem e a nossa gratidão.
O que aprendi sobre mim mesma
O presente estudo integra uma sequência de trabalhos sobre a
Sociedade de Propaganda Spirita do Amazonas, apresentados por mim em
simpósios anteriores. A motivação para os ditos estudos tem sido a mesma:
trazer à luz hodierna entidades e personalidades dos primórdios do Espiritismo
no Amazonas.
157
Senti-me motivada a assim proceder após ouvir a manifestação de um
benfeitor espiritual da Fundação Allan Kardec (FAK), em uma reunião de apoio
a um Encontro de Trabalhadores da instituição, em 2008. Transcrevo a seguir o
trecho para mim mais relevante dessa manifestação :
Estamos juntos e é de grande emoção este momento. Estamos
juntos e é a transformação individual que propôs isso, pois a nossa
busca e a nossa melhora íntima nos uniu, propondo atitudes
diferentes, ações renovadoras, pensamentos construtivos, nos
colocando na equipe de Jesus, nos proporcionando momentos de
alegria e experiências de sentimentos nunca vividos. E certamente
isso só renova a vontade de prosseguirmos.
[...] Alguns, como eu, viemos na frente para darmos o nosso
testemunho. Outros, como vocês, vieram após para dar
prosseguimento. E assim nos mantemos unidos, nos revezando no
trabalho, ora na espiritualidade, ora no plano material (Mensagem
psicofônica de um benfeitor espiritual recebida na FAK, em 2/2/2008)
[grifo nosso].
A ideia do revezamento no trabalho despertou em mim a necessidade de
maior conhecimento sobre os primórdios do Espiritismo em nosso Estado.
Assim teve início o meu interesse pela Sociedade de Propaganda Spirita do
Amazonas, por ser uma instituição pioneira na divulgação do Espiritismo em
nossas plagas. Escrevendo sobre a Sociedade, aproximo-me dos que
arrotearam o terreno para que o Espiritismo pudesse aqui florescer e me inteiro
do caminho por eles percorrido na divulgação da Doutrina Espírita em nosso
Estado. E, sinto estreitar os laços que nos unem. Pesquisando sobre Felix, por
exemplo, emocionei-me com suas vitórias e, nos seus momentos de provação,
busquei sentir a sua luta pela conquista de valores morais. Com tal experiência,
tornou-se, em mim, mais vívido o sentimento de solidariedade e de respeito
pelo companheiro de ideal.
Refletindo sobre o que aprendi sobre mim mesma enquanto ser imortal,
neste ínterim, concluo que na elaboração desses trabalhos tenho um poderoso
exercício de amor. Apreciando o contributo de amor dos que me precederam
na seara do Senhor, exercito-me no amor ao semelhante. Trabalhando em mim
a disciplina, a perseverança e a fé para levar a bom termo os trabalhos,
exercito-me também no amor a mim mesma. Assim, renovo as forças e busco
desenvolver em mim qualidades que hão de me tornar uma pessoa melhor.
Referências bibliográficas
ESTADO DO AMAZONAS. Leis, Decretos e Regulamentos: Tomo IX (Janeiro
a Junho de 1909). Manáos: Secção de Obras da Imprensa Official, 1910.
ESTADO DO AMAZONAS. Estatutos da Sociedade Progresso da Villa
Municipal: a que se refere o Decreto n. 1332 – de 1 de Agosto de 1919.
Manáos: Secção de Obras da Imprensa Publica, 1919.
158
SOCIEDADE DE PROPAGANDA SPIRITA. Estatutos da Sociedade de
Propaganda Spirita do Amazonas. Manaus: Typographia do Mensageiro,
1901.
XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito
Emmanuel. 1 ed. especial. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2005.
159
ANEXO A – Anúncio da firma Paula & Irmão
Figura 1: Fac-símile do jornal Diario de Manáos, ano
III, n.102, p. 3, 9 fev. 1893.
160
ANEXO B – Relação dos acionistas da Sociedade de Propaganda Spirita
Nome Ações
1 Bernardo R. d‘Almeida 2
2 Carlos Theodoro Gonçalves 15
3 Felix Luiz de Paula 15
4 Adelino da Silva Bastos 5
5 Leonardo Antonio Malcher 5
6 João Vianna Junior 5
7 Joaquim Francisco de Paula 5
8 Raymundo da Costa Fernandes 3
9 João Antonio da Silva 3
10 Jorge Ayres de Miranda 3
11 Marcolina C. Ferraz Fernandes 2
12 Joaquim Francelino de Araujo 2
13 Hevila Gonçalves 2
14 Antonio de Freitas Velloso 2
15 João Furtado da Costa Fernandes 2
16 Izidoro F. das Neves Vieira 2
17 Pontius Skars 2
18 Nagib Saide Lassmar 2
19 João Baptista Cordeiro de Mello 2
20 Raymundo Antonio de Menezes 1
21 Bernardo Caldas 1
22 João Nunes de Mello 1
23 Antonio N. de Mattos 1
24 Francisco C. da Costa Nogueira 1
25 Antonio U. de Lucena Cascaes 1
26 Arthur Benigno C. Lima 1
27 Francisco Nogueira de Souza 1
28 Emiliano O. de Carvalho Rebello 1
29 Olympio Ferreira da Motta 1
30 Antonio C. de Lacerda 1
31 Gonçalo Rodrigues Souto 1
32 Jeronymo Nunes de Assis 1
33 João Raymundo da Silva Braga 1
34 Abel A. C. d‘Araujo (Belem) 1
35 Manoel Pedro Cantanhede 1
36 J. Luduvices Fontes 1
37 José Estevam d‘Araujo Silva 1
38 Antonio José Barbosa 1
39 Fabio Gonçalves Teixeira 1
40 Tranquilino de Mendonça 1
Total 100
Fonte: SOCIEDADE DE PROPAGANDA SPIRITA. Estatutos da Sociedade
de Propaganda Spirita do Amazonas. Manaus: Typographia do Mensageiro,
1901.
161
2. O Espiritismo nas terras
amazônicas na atualidade
162
2.1 A FAK, suas circunstâncias e seu papel junto ao
Movimento Espírita.
O PASSE COMO TRATAMENTO ESPIRITUAL DO TRABALHADOR:
EQUILIBRANDO A ENERGIA DOS CHAKRAS ATRAVÉS DO
DESENVOLVIMENTO DA VIRTUDE DO AMOR
France Luce Gonçalves de Souza*
[...] o nosso veículo sutil, tanto quanto o corpo de carne, é criação mental
no caminho evolutivo, tecido com recursos tomados transitoriamente por
nós mesmos aos celeiros do Universo, vaso de que nos utilizamos para
ambientar em nossa individualidade eterna a divina luz da sublimação,
com que nos cabe demandar as esferas do Espírito Puro (XAVIER, cap.
20, p. 126).
INTRODUÇÃO
O presente artigo surge de uma observação particular da autora sobre o
trabalhador do passe e os mecanismos que envolvem a fluidoterapia como
ferramenta de autoassistência espiritual. Busca-se entender e perceber os centros de
força do corpo espiritual, os dispositivos de equilíbrio desses fulcros de energia e as
transformações necessárias para o desenvolvimento da virtude do AMOR,
considerando o trabalhador da tarefa como um espírito imortal, vivendo
transitoriamente na matéria.
A abordagem a ser desenvolvida será construída sobre a ideia fundamental de
que tanto o aplicador do passe como quem recebe o passe são assistidos. A partir
desse enfoque, serão abordados os aspectos que conduzem ao entendimento da
atividade do passe como uma ferramenta terapêutica no tratamento espiritual do
assistido trabalhador, auxiliando-o no cumprimento da sua programação existencial
com uma percepção maior de que o serviço de auxílio atua em si próprio, em um
grande laboratório de desenvolvimento da virtude do amor, com o suporte do
autoconhecimento e da autotransformação, que são caminhos e escolhas
intransferíveis.
Com este trabalho pretende-se oportunizar reflexões ao trabalhador para o
despertar de percepções mais conscientes sobre a importância da atividade do passe
como um meio de desenvolver sentimentos virtuosos, os quais serão impulsionadores
na evolução espiritual de cada um.
______________
* Estudante do ESME, na Fundação Allan Kardec.
Trabalhadora da Diretoria de Apoio Mediúnico aos Assistidos, da Fundação Allan Kardec
163
DESENVOLVIMENTO
1 Caracterização do assistido trabalhador
A FAK considera todos os participantes de suas atividades como
assistidos, isto é, necessitados espirituais em busca de tratamento,
estejam eles apenas buscando assistência, permaneçam apenas como
estudantes da doutrina ou prossigam como trabalhadores, o que implica
na existência, em sua comunidade interna, dos seguintes grupos de
participantes: Apenas Assistidos, Assistidos Estudantes e Assistidos
Trabalhadores (ESTATUTO, 2014, p 2, grifo nosso).
Considerando que todos os frequentadores da Casa são assistidos, busca-se,
a partir dessa conceituação, direcionar o olhar para o trabalhador da atividade do
passe, percebendo-o como espírito imortal que vivencia uma experiência transitória
num corpo carnal, em processo de marcha evolutiva. Através de um entendimento do
processo que envolve a atividade da fluidoterapia, pode este trabalhador amealhar
recursos terapêuticos para manutenção de seu equilíbrio físico-espiritual,
desvencilhando-se da ideia única de que sua atuação é apenas como ferramenta da
espiritualidade, no auxílio ao próximo.
2 A indumentária energética de cada um
Nossos impulsos, emoções, paixões e virtudes nele [no períspirito] se
expressam fielmente. Por isso mesmo, durante séculos e séculos, nos
demoraremos nas esferas da luta carnal ou nas regiões que lhes são
fronteiriças, purificando a nossa indumentária e embelezando-a, a fim de
preparar, segundo o ensinamento de Jesus, a nossa veste nupcial para o
banquete do serviço divino (XAVIER, 2014, p 33).
Como um ser imortal que se é e que existe além de um corpo de carne,
percebe-se um corpo energético que é parte de cada um, seja encarnado ou
desencarnado.
A tarefa de aplicação de passe acontece através desse corpo mais sutil, que
se mostra como uma indumentária, como Emmanuel descreve acima; deve-se
portanto lançar uma luz para melhor entendê-lo e assim poder perceber a sua
importância no tratamento do trabalhador, através da consciência de que se tem um
corpo energético, que responde à vontade, ao pensamento e ao sentimento.
O nosso corpo espiritual, segundo Zimmerman (2015, p 3), ―[...] vibra numa
frequência mais elevada do que a do corpo denso, apresentando não obstante,
células tecidos e órgãos [...] em outra dimensão ‗vibratória‘[...]‖.
Por ser um corpo sutil, que vibra em outra frequência, diferente do nosso corpo
palpável, muitas vezes é relegado a um nível menor de compreensão e percepção.
Assim, há de se conhecer e entender esse corpo como uma oficina energética,
detentora de células e órgãos que obedecem a um influxo energético, definidora dos
desajustes e ajustes que se manifestam no ser.
Com essa visão entende-se que na atividade do passe o assistido trabalhador
pode fazer-se receptor do grandioso benefício consistente na purificação da sua
indumentária energética; compreendendo a dinâmica da tarefa, estará mais
conectado a ela, podendo observar seus sentimentos e se perceber de forma integral
como um ser trino, espírito, períspirito e matéria.
164
Importa destacar que todas essas considerações e reflexões em torno de um
maior entendimento sobre o corpo espiritual e as energias que movimenta em sua
fisiologia são válidas e aplicáveis a todo assistido trabalhador, em qualquer área de
atuação na tarefa do bem.
2.1 Os centros de força (chakras) do corpo espiritual
Os centros de força (chakras), de acordo com Cerqueira Filho (2013, p 17),
―[...] têm a função de captar as energias provenientes de Deus, e disponíveis para
todas as suas criaturas, para vitalizar o corpo fluídico e, posteriormente, transmiti-las
às células do corpo físico gerando-lhes energia vital‖.
É nessa usina de energia, o períspirito, que se situam os centros de força,
cada qual com características e funções específicas e que, quando compreendidas e
percebidas em um exercício de autotransformação, possibilitam o reequilíbrio do fluxo
energético definidor da saúde psíquico-física do indivíduo.
Para maior compreensão apresentam-se as principais características dos
centros de força integrantes da fisiologia do perispírito:
a. Centro de força coronário
• Localiza-se no topo da cabeça, possui alto potencial de radiações;
• Detém o controle sobre os demais centros de força;
• No aspecto psíquico é o responsável pela TRANSCENDÊNCIA, pela
busca espiritual;
• Tem importância fundamental na sustentação do equilíbrio perispirítico;
• Dele emanam energias de sustentação do sistema nervoso;
• É o sintonizador das intuições provenientes do mundo espiritual; e
• Tem como plexo nervoso o córtex cerebral e como glândula endócrina, a
pineal (epífise).
b. Centro de força cerebral ou frontal
• Localiza-se entre as sobrancelhas;
• Situa-se adjacente ao centro de força coronário;
• Ordena as percepções, como visão, audição, tato e processos da
inteligência e clareza de raciocínio;
• Administra os poderes psíquicos;
• Comanda as glândulas endócrinas;
• No aspecto psíquico é o responsável pela INTUIÇÃO, pela vidência do
plano astral e dos quadros fluídicos criados pela mente e pelos
fenômenos da audiência; e
• Tem como plexo nervoso o hipotálamo e como glândula endócrina, a
hipófise.
c. Centro de força laríngeo
• Centro de força localizado na garganta;
• É o responsável pela emissão da voz e pelo controle das glândulas timo,
tireoide e paratireoide;
• No aspecto psíquico é o responsável pelo CONHECIMENTO; e
• Tem como plexo nervoso os gânglios cervicais e como glândula
endócrina, a tireoide.
165
d. Centro de força cardíaco
• Centro de força localizado na região média do peito, na altura do
coração;
• Sua principal função é governar o sistema circulatório, presidindo a
purificação do sangue nos pulmões e o envio de oxigênio a todas as
células;
• É através dele que os Espíritos denominados guias ou mentores,
conectam-se com os médiuns, principalmente no trabalho de passes e
cura;
• No aspecto psíquico é o responsável pelo AMOR, sustentando os
serviços da emoção e o equilíbrio geral; e
• Possui como plexo nervoso o cardíaco e como glândula endócrina, o
timo.
e. Centro de força esplênico
• Centro de força localizado à altura do baço, na metade superior do
abdômen;
• É o responsável pela VITALIDADE e pela circulação e adequação dos
recursos vitais em todos os escaninhos do veículo físico;
• Tem a função de extrair o prana (energia solar), para vitalizar o
organismo;
• Por ele se operam os Espíritos vampirizadores, que em simbiose
absorvem a vitalidade do encarnado; e
• Possui como plexo nervoso o mesentérico;
• Não está associado a nenhuma glândula.
f. Centro de força gástrico ou solar
• Centro de força localizado à altura do umbigo, na metade superior do
abdômen;
• É o responsável pelo metabolismo dos alimentos, pela absorção de
elementos extraídos da atmosfera, os quais vitalizam o sistema
digestivo;
• Controla o funcionamento do sistema vago simpático;
• É através dele que operam as ligações de Espíritos sofredores e
obsessores, nas reuniões mediúnicas;
• No aspecto psíquico é o responsável pelo PODER; e
• Possui como plexo nervoso o solar e como glândula endócrina, o
pâncreas.
g. Centro de força genésico
• Centro de força localizado no períneo, abaixo dos órgãos genitais;
• É o santuário do sexo, onde se modelam formas e estímulo;
• Quando há sublimação de sua energia em vigor mental, estimula-se a
criatividade;
• Estando desequilibrado, fica suscetível à influência de Espíritos
obsessores, que nele identificam oportunidade para domínio de suas
vítimas, vampirizando suas energias;
• No aspecto psíquico é o responsável pelo PRAZER; e
• Possui como plexo nervoso o sacrococcígeo e como glândulas
endócrinas, as suprarrenais e gônadas.
166
Na figura a seguir, apresenta-se o mapa de situação desses centros de
força, no corpo espiritual:
Fonte: http://ceamariadenazaretaubate-sp.blogspot.com
―Esses centros de força [...] agem como condutos intermediários entre o corpo
astral e o físico [...] e também [...] são centros que reagem às informações
vibracionais que podem ser recebidas de todas as direções‖ (MOTOYAMA, 2016, p.
193 e 198).
A conjugação do trabalho na atividade do passe a um estudo criterioso sobre
esse complexo energético permite ao trabalhador uma ferramenta de auxílio próprio;
ele passa a perceber que as energias que fluem da espiritualidade através de si
somam-se à sua energia vital, permeando todos os centros de força do seu
períspirito, movimentando benefícios orgânicos e espirituais.
3 Mobilização do chakra do sentimento no tratamento do assistido trabalhador
durante a aplicação do passe
Ao atuar na tarefa do passe em auxílio ao próximo, o trabalhador deve
necessariamente mobilizar a vontade, o pensamento e o sentimento; tendo o foco no
seu próprio tratamento enquanto assistido trabalhador, é relevante ampliar o
entendimento sobre um chakra específico, aquele que é o centro dos sentimentos, o
chakra cardíaco.
É importante estar atento a todos os aspectos ligados ao chakra do
sentimento: os recursos que podem ser mobilizados para, em esforços de
transformação, alcançar a virtude do amor e da compaixão, que irá manter a energia
que circula nesse chakra em um equilíbrio harmonioso, não somente durante a
aplicação do passe, e, ainda, aos desequilíbrios que acontecem nesse vórtice
energético e os reflexos que surgem, inevitavelmente, no corpo físico.
O chakra cardíaco é aquele que, conforme diz o Espírito André Luiz na obra
Entre a terra e o Céu [...] ―sustenta os serviços da emoção e do equilíbrio geral [...]‖
167
(XAVIER, p 126) e que se encontra posicionado em nosso períspirito próximo ao
nosso coração, fazendo uma referência à parte correspondente em nosso corpo
físico. Situa-se entre os chakras fisiológicos (genésico, gástrico e esplênico) e os
chakras espirituais (laríngeo, cerebral e coronário).
Essa posição estratégica entre os centros de força que estão mais voltados ao
mundo físico e os que se conectam à ascensão da espiritualidade evidencia que
somente pelo amor poder-se-á ocorrer a transmutação das energias, que nas
criaturas deste mundo, em sua maioria, ainda se mantém concentradas nos chakras
fisiológicos.
Ao mobilizar esse chakra, potencializando o sentimento do amor e compaixão
ao próximo, haverá o equilíbrio energético nesse centro de força, que se propagará
pelo corpo sutil, beneficiando os demais chakras, o que propiciará ao trabalhador
bem estar físico, com consequente alívio de incômodos orgânicos de diversas ordens
e também equilíbrio emocional, com a sensação de paz e serenidade a qual
perdurará além da atividade.
Para isso é de grande valia que o trabalhador perceba-se nos seguintes
momentos:
• antes da atividade: fazendo uma leitura minuciosa do seu estado físico
e emocional;
• durante a atividade: mobilizando os recursos que dispõe para se sentir
parte dos benefícios e condutor amoroso das energias da
espiritualidade, num processo de recepção e percepção consciente; e
• após a atividade: reservando um momento de autoanálise com o
intuito de perceber como se sente fisicamente e como as emoções e
sentimentos se mostram naquele momento, confrontando com o
observado antes da atividade.
Com essa postura consciente, de atenção a si mesmo, poderá apreender e
sentir os benefícios grandiosos que movimentou a seu favor, em um processo
contínuo de melhoria interior e equilíbrio orgânico.
3.1 Equilíbrio do chakra do sentimento e a autoassistência do trabalhador do
passe
O quarto chakra, quando equilibrado, tem como função o amor. Esse
equilíbrio é formado pelos sentimentos de autoamor e compaixão que
irão catalisar as energias provenientes do Criador da Vida, captadas pelo
chakra coronário, para todo o organismo (CERQUEIRA FILHO, 2016, p.
86, grifo do autor).
Quando o assistido trabalhador percebe-se como espírito imortal, dotado
assim de uma tarefa maior; quando observa seus sentimentos auxiliado pelo
autoconhecimento, aceitando-os, identificando quais são determinados pelo ego e
empenhando esforços de transformação; naturalmente deixa de se posicionar
passivamente e abre espaço para a compaixão, o perdão e o amor, que num
primeiro momento será em relação a si próprio, para seguir em relação ao outro,
cumprindo ao que o Cristo deixou como orientação: amar ao próximo como a si
mesmo.
168
Esse aprofundamento em si mesmo, buscando ativar o amor latente que traz
em si, como espírito imortal, faz com que a expansão desse chakra se potencialize
através do exercício de amar a si próprio e ao próximo, como bem descrito abaixo:
[...] vivenciar os conhecimentos adquiridos, servir ao próximo da melhor
forma possível e sentir o autoamor. Ofertar o melhor de cada homem no
que ele já faz no seu dia a dia, seguindo os ensinos e exemplos do
Mestre Jesus. Isso se torna mais fácil quando o homem adquire um
conhecimento maior sobre si mesmo que faculta o seu caminhar.
(SOLIGO, 2015, p. 323)
Cabe destacar que ambos os exercícios de amor não podem ser dissociados,
porque eles se imiscuem, agem simultaneamente, mantendo assim o equilíbrio dessa
energia.
Para entender os efeitos psíquicos de hipoatividade e hiperatividade no centro
de força do sentimento e os seus reflexos para o indivíduo, tem-se segundo
Cerqueira Filho (2013, p 35, grifo do autor):
―Quando inibido na hipoatividade, temos a indiferença, em que o
indivíduo tem uma atitude egoística de somente ligar para si, buscando o
seu bem-estar, em detrimento dos outros [...]‖
―Quando congestionado na hiperatividade, temos o apego, em que o
indivíduo ama com um amor possessivo que sufoca e aprisiona o ser
amado, tornando-se dependente dele [...]‖
Analisando a hipoatividade desse chakra, identifica-se a ausência do amor
com relação ao outro, manifestada através da indiferença. O indivíduo, nessa
circunstância, não pode oferecer aquilo que não conhece e nem dispõe para dar.
Infere-se daí que o amor deverá nascer primeiro para si mesmo, porque assim
se estabelecerá o autoamor, fazendo a criatura se sentir plena, em unidade com o
amor de Deus. Por consequência natural, o ser que estabelece o autoamor em sua
existência, ao atingir esse estágio de plenitude amorosa, deixará de ser indiferente
ao outro e também não terá comportamentos de carência, exigindo um amor que
vem do outro, porque o amor que nutre por si mesmo é grandioso e vai além de si,
expandindo-se até o próximo.
No outro extremo, desenvolve-se um amor possessivo, que na verdade é um
pseudoamor, o qual causa sofrimento tanto ao ser que é foco desse amor como ao
indivíduo que crê que esse sentimento é o amor verdadeiro. É um amor doente que
nasce no coração da pessoa insegura, que ainda não se aprofundou no despertar do
amor que há em si.
Para que haja o equilíbrio desse chakra, o assistido trabalhador deverá ser um
observador perspicaz de si mesmo, para iniciar o processo de transmutação dos
sentimentos egoístas, que são superficiais e de manifestação instantânea, por
sentimentos altruístas, que são mais profundos e se desenvolvem voltados para o
todo.
Nesse momento o Espírito liberta-se da superficialidade dos sentimentos
egocêntricos, percebe-se como o trabalhador do bem que atua além do serviço
circunstancial, desperta para o sentimento aprofundado de amor a Deus, a si mesmo
e ao próximo e se posiciona ante os desafios com conhecimento, sentimento e
consciência do seu propósito como espírito imortal.
A seguir apresenta-se um quadro no qual tem-se para cada centro de força as
situações de hiperatividade e hipoatividade, com seus efeitos psíquicos e orgânicos:
169
ASPECTOS PSÍQUICOS
CHAKRAS/ DESEQUILÍBRIO/ REFLEXOS
FUNÇÃO HIPOATIVIDADE HIPERATIVIDADE NO CORPO FÍSICO
PRESSÃO NA CABEÇA,
CEFALÉIAS, DERRAME
CORONÁRIO/ DESPREZO ÀS ABUSO DAS
CEREBRAL,TRANSTORNOS
BUSCA FUNÇÕES FUNÇÕES
NEURÓTICOS, DEPRESSÃO,
ESPIRITUAL PSIQUICAS PSIQUÍCAS
FOBIA, PÂNICO, ANSIEDADE,
ESQUIZOFRENIA.
SINUSITES, CATARATAS,
DOENÇAS ENDÓCRINAS,
CEREBRAL/ CEGUEIRA, SURDEZ,
CETICISMO MISTICISMO
INTUIÇÃO LABIRINTITE, MAL DE
ALZHEIMER, PÂNICO,
DEPRESSÃO.
HIPERTIREOIDISMO,
HIPOTIREOIDISMO, OTITES,
LARÍNGEO/ DESPREZO AO ABUSO DO FARINGITES, AMIGDALITES,
CONHECIMENTO CONHECIMENTO CONHECIMENTO LARINGITES, RESFRIADOS,
GRIPES, HERPES LABIAL,
DISTÚRBIOS DA VOZ
DOENÇAS CORONÁRIAS,
DEFICIÊNCIAS
IMUNOLÓGICAS, CÂNCER,
HIPERTENSÃO ARTERIAL,
CARDÍACO/AMOR INDIFERENÇA APEGO
ASMA, DOENÇAS
AUTOIMUNES (DIABETES,
LUPUS, ARTRITE
REUMATÓIDE)
ESPLÊNICO FILTRO E DISTRIBUIDOR DE ENERGIA VITAL
PROBLEMAS DIGESTIVOS
(GASTRITES, REFLUXOS,
ONIPOTÊNCIA/
SOLAR/PODER IMPOTÊNCIA HEPATITES, ÚLCERAS,
PREPOTÊNCIA
DIABETES, HIPOGLICEMIA,
CÁLCULOS BILIARES)
COLITE, SÍNDROME DE
IRRITABILIDADE NOS
INTESTINOS, TUMORES NA
GENÉSICO/ BEXIGA, DISFUNÇÕES
PURITANISMO SENSUALISMO
PRAZER SEXUAIS, PROBLEMAS
GENITO-URINÁRIOS,
PROSTATITE, DORES
LOMBARES
Quadro1: Baseado nos livros de Carlos Alberto Tinoco (2015) e Alírio Cerqueira Filho (2013).
Destaca-se a importância de apresentar esses aspectos psíquicos e
orgânicos, para os principais chakras, porque o equilíbrio ou o desequilíbrio de cada
um deles interfere inevitavelmente nos demais, posto que as movimentações
energéticas ocorrem de um para o outro.
Em um momento posterior pretende-se desenvolver, para os demais chakras,
uma análise com direcionamento ao tratamento do assistido trabalhador, similar a
que está sendo realizada neste trabalho, no qual a atenção volta-se para o chakra
cardíaco.
170
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ele lhe disse: Amarás [o] Senhor teu Deus com todo o teu coração, com
toda a tua alma, e com toda a tua mente. Este é o primeiro e grande
mandamento. O segundo, semelhante a este: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Mateus 22.37-39 (DIAS, 2013, p. 128).
Ao observar a palavra do Cristo, que traça o caminho para o exercício do
sentimento maior - o qual nasce no amor a Deus e se desenvolve na direção do
outro, num reflexo exato e na mesma medida do amor a si mesmo - entende-se que
Ele nos convida ao exercício de se conhecer, despertando o gérmen do amor
verdadeiro.
Pensando na atividade do passe como tratamento espiritual do trabalhador,
vislumbra-se que o amor é o tratamento terapêutico, que se dá na tarefa de auxílio ao
outro, através do saber, sentir e vivenciar, agindo simultaneamente em benefício dos
dois assistidos.
Quando volta-se o olhar para perceber o indivíduo que hoje está como um
trabalhador do passe, mas que de fato é um espírito imortal, que tem um propósito
maior, que vai além dessa existência, amplia-se o entendimento do amar a Deus,
através do reconhecimento e cumprimento de suas leis, que estão gravadas no
espírito de cada um e que, quando exercitadas com amor, sem rebeldia, se
caracterizam como o autoamor.
Será a partir desse momento que o desenvolvimento de sentimentos virtuosos
mantê-lo-á em unidade com Deus, com o próximo e com tudo que faz parte da
criação.
Dessa forma tem-se um equilíbrio das energias que se movimentam no
períspirito do assistido trabalhador, com reflexos salutares que se propagarão para o
seu corpo físico, expandindo e irradiando além dele.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
Ao decidir escrever esse artigo, não imaginava os caminhos por onde eu seria
conduzida e nem as reflexões suscitadas sobre mim e a minha trajetória nesta
existência.
Inicialmente surgiu o medo e a insegurança, que me instigaram a desistir
colocando em evidência um desajuste que precisava ser observado e transformado
em coragem e confiança.
Mas, por outro lado, fui sensível à intuição que me falava constantemente que
eu não estava só e que poderia sim falar sobre esse assunto que tanto me convidava
ao estudo e a uma percepção maior. Certamente é um trabalho singelo, que de forma
alguma se apresenta como uma completa vivência minha. Mas pressinto que abre
uma janela nesta minha existência para um aprendizado que seguirá adiante.
Outro ponto que em minhas reflexões mereceu atenção e análise foi o
desencadear de oportunidades amorosas que foram me sendo apresentadas, para
neste momento assumir o compromisso de escrever sobre esse assunto.
Fazendo um breve apanhado desses momentos me ocorre o meu retorno à
FAK, há 13 meses, atraída pelo Estudo da Mediunidade, um convite íntimo que
aceitei mesmo sem saber naquele momento qual era o propósito.
Em seguida, outro convite amigo para conhecer a atividade do passe, que se
desdobrou na sequência, para um chamamento fraterno, no estudo da mediunidade,
171
onde me dedicaria ao estudo do passe e os centros de força do períspirito para uma
apresentação em grupo.
Depois uma sugestão de um companheiro de caminhada, como um discreto
empurrão, até chegar aqui onde recebi o apoio do orientador que amigavelmente
soube direcionar o que meu coração desejava.
E agora ao olhar para o item que conduz esse texto, me pergunto: Diante
disso, o que aprendi sobre mim mesmo?
Nessa incursão íntima, percebo que:
aquietar-me para um encontro comigo mesmo, através da meditação,
tem sido muito bom e tem me proporcionado saber quem sou de
verdade e o que venho aprendendo;
nesses encontros descubro sentimentos, filhos do ego, ainda muito
soberanos em mim, mas que tenho meios de transformá-los em virtudes;
além do que estou agora, sou um espírito imortal e que devo possuir
alguns compromissos, para os quais não cabe mais hesitar;
não estou sozinha nessa caminhada. E que além dos amigos
encarnados tenho um amigo espiritual amoroso e muito paciente;
se ficar atenta, mais conectada com meus propósitos, perceberei com
facilidade os inúmeros benefícios que me são concedidos pela
espiritualidade;
que todo esse processo movimentou muitos sentimentos no meu
coração, o que vejo como um início de transformações; e
me sinto feliz em perceber que houve a retomada de uma caminhada,
com passos pequenos, porém firmes.
Por fim chego aqui, certa de que houve um grande aprendizado nesse projeto e
que estou consciente que aqui não se encerram as minhas buscas, descobertas e
aprendizados, como espírito imortal.
172
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CERQUEIRA FILHO, Alírio de. Fluidoterapia espírita: passes e água
fluidificada. Espiritizar, Cuiabá, 5. ed., 2012.
______. Energia dos Chakras: saúde e autotransformação. Espiritizar, Cuiabá,
2.ed., 2013.
______. Consciência Espírita: Vivendo e trabalhando no bem como espírito
imortal. Espiritizar, Cuiabá, 2.ed., 2015.
DIAS, Haroldo Dutra. O novo testamento. FEB, Brasília, 2013.
ESTATUTO da Fundação Allan Kardec, Seção II: Das orientações e definições
prévias, Manaus, AM, Dez, 2014.
MOTOYAMA, Hiroshi. Teoria dos chakras: ponte para a consciência superior.
Editora Pensamento, São Paulo, 12.ed., 2016.
SOLIGO, Claudia A. Pinheiro. A educação das emoções e o
autoconhecimento: caminhos do aprimoramento espiritual. In: Anais do 4º
Simpósio FAK, Manaus, AM, 2015.
TINOCO, Carlos Alberto. O modelo organizador biológico: um ensaio sobre o
corpo espiritual. Editora do Conhecimento, Limeira, 3.ed., 2015.
XAVIER, Francisco C. Roteiro. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 14. ed. Brasília:
FEB, 2014.
______. Entre a terra e o céu. Ditado pelo Espírito André Luiz. Disponível em: <
http://www.ebookespirita.org/ChicoXavier/entreaterraeoceu.pdf>. Acesso em: 02
Out. 2017.
ZIMMERMANN, Zalmino. Perispírito. Editora Allan Kardec, Campinas, 4.ed.,
2015.
173
PERFIL DE BUSCA DOS ADULTOS E IDOSOS ASSISTIDOS NA
FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC, NO PERÍODO DE FEVEREIRO A JUNHO DE
2017.
Lúcia Alves da Rocha245
1. Introdução
A Fundação Allan Kardec (FAK), fundada em 21 de outubro de 1979, é
uma organização religiosa, de fundamentação espírita, que tem caráter
filosófico, científico, beneficente, educacional e cultural, sem fins lucrativos
(FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC, 2014). Dentre suas várias áreas de atuação
encontra-se o Acolhimento de crianças, jovens, adultos e idosos.
O Acolhimento de uma casa espírita visa a atender necessidades
diversas, desde a recepção, passando pelo Diálogo Fraterno até a equipe que
ensina e dá apoio a implantação do Evangelho no Lar daquele que está
necessitado.
Receber bem os que buscam o atendimento é condição essencial para a
concretização dos ideais do Espiritismo na Humanidade, isto porque dependerá
da impressão que esse acolhimento cause nas pessoas, seu retorno a
instituição, seu interesse em conhecer a Doutrina Espírita e, principalmente,
sua credibilidade nos propósitos espíritas.
Na Fundação Allan Kardec, essas atividades são conduzidas por
diretrizes com fundamentação doutrinária e possuem os seguintes
componentes (FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC, 2011):
a) Recepção e encaminhamento: envolve o acolhimento dos que chegam, a
prestação de informações iniciais e a condução deles para efetivação do
atendimento;
b) Diálogo Fraterno (Entrevista): envolve as iniciativas para possibilitar aos
que chegam, o relato de suas dificuldades e aos que os atendem, a oferta
de esclarecimentos e estímulos em prol da melhoria daqueles.
c) Orientação Inicial: envolve providências para orientar os que chegam em
relação à instituição, seus fundamentos básicos para o trato com as
dificuldades existenciais e sobre o que é esperado dos participantes para
êxito da assistência.
O principal objetivo deste trabalho é traçar o perfil dos adultos e idosos
acolhidos na FAK, sob os aspectos - características pessoais, transtornos,
razão da busca e atendimento, visando a identificar e comparar a presença
desses aspectos nesses dois grupos separadamente. Assim, o questionamento
a ser respondido pelo presente artigo é: Como se expressam as dores dos
adultos e dos idosos? A razão de busca responde as suas necessidades? As
bases doutrinárias contemplam suas necessidades?
Para responder a esses questionamentos, analisou-se as fichas de
diálogo fraterno (Anexo) dos assistidos que buscaram atendimento de fevereiro
a junho de 2017, nos dias de segunda a quinta-feira, totalizando 507 fichas.
245
*Trabalhadora da Diretoria de Acolhimento da Fundação Allan Kardec
174
Nas fichas constam a identificação do assistido e informações, como problema
de saúde, problema emocional, problema familiar ou de afetividade, hábitos
nocivos à saúde, ocorrência de fenômenos mediúnicos, motivos que o
trouxeram a FAK, razão da busca e encaminhamentos. Estas fichas analisadas
foram apenas de assistidos que passaram pelo Diálogo Fraterno, os assistidos
que chegaram em situação de urgência espiritual, foram direto para o
atendimento de urgência. Foi escolhido esse grupo populacional pelo fato de
ser uma atividade de grande demanda na casa e ser a atividade de maior
envolvimento da autora deste trabalho.
Para a análise estatística, foi elaborado um banco de dados com as
informações contidas nas fichas de diálogo fraterno no programa Epi Info
(CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2010). Foi realizada
uma análise descritiva, avaliando-se a distribuição de cada variável (questões
contidas na ficha) e fazendo comparação entre os dois grupos (adultos e
idosos) com os resultados apresentados em tabelas e figuras.
2. Fundamentação Doutrinária
A Fundação Allan Kardec cresceu e foi adequando as suas atividades,
respeitando a simplicidade gerencial e a fidelidade doutrinária. Assim, foram
surgindo novas demandas de atendimento, mostrando a necessidade de
implantação de novas atividades e organização delas com fundamentos
exclusivamente espíritas. Com essas reflexões, foi elaborado a primeira versão
das ―Bases doutrinárias da organização das atividades da Fundação Allan
Kardec, de Manaus, Amazonas‖, em outubro de 2002. Outras versões se
fizeram necessárias, em 2004 com pequenos ajustes no texto da versão
anterior, a de 2011 manteve os pilares da anterior com aperfeiçoamento e
complementos necessários ao amadurecimento da instituição e a de 2015,
última versão, com adequações das mudanças estatutárias ocorridas em 2014
(FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC, 2015).
Para essa organização foram adotados três critérios:
1o - A razão da busca, associado à situação de sofrimento que experimenta;
2o - O grupo etário em que o espírito se encontra; e
3o - A natureza do vínculo que o assistido mantém com a instituição.
Todos 3 critérios estão contidos na ficha de diálogo fraterno.
Na Razão de busca é possível identificar quatro grandes grupos. Cada
um possui suas características próprias, que se expressam por situações
típicas e direciona para a necessidade específicas em seu atendimento.
a) Situações incapacitantes: (KARDEC, 2017, Cap. X, item 6; Cap. XII,
item 6) - Diretoria de Atendimentos Urgentes (DAU)
Decorrentes de ação malfazeja renitente de adversários desencarnados
que "manifestam sua malevolência pelas obsessões e subjugações com que
tanta gente se vê a braços e que representam um gênero de provações‖.
Como se expressam:
Incômodos incontroláveis agudos;
Fragilizações intensas;
Estados alheados crônicos, que retiram lucidez para o trato das causas
reais e minimizam esforços próprios na busca da melhoria.
Situações típicas:
175
Ação espiritual nociva, renitente e dominadora, incorporações
descontroladas e perda do domínio da consciência, comprometimento
do raciocínio e outras;
Medo exacerbado, fobias descontroladas, insegurança paralisante,
nervosismo compulsivo, fragilização emocional ou orgânica aguda e
outros;
Doenças cármicas agudizadas, morbidades crônicas recorrentes e
outras.
Tipo de tratamento:
Atendimento a Urgência Espiritual (ATUE) - perda recente da lucidez.
Enfermaria de Fragilizados Agudos e Convalescentes (EFAC) - Atende
os estados agudos de fragilização e convalescência de pessoas que
foram atendidas na Urgência.
Apoio Externo aos Atendimentos Urgentes (APEAU) - Apoiar o lar do
participante que esteja sob atendimentos de urgência.
Atendimento Direcionado a Casos Graves (ADCG) - situações similares
às da Urgência Espiritual, mas já estabelecidas como crônicas.
Pronto Socorro para Assistidos (PSA) – atender em forma de plantão
durante ou fora das atividades regulares, problemas tidos como de
origem espiritual.
b) Inquietudes comportamentais: (KARDEC, 2017, Cap. V, item 4) -
Diretoria de Apoio a Melhoria Interior (DAMI).
Geram vicissitudes cujas causas ―remontando-se à origem dos males
terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e
do proceder dos que o suportam‖.
Como se expressam:
Atitudes, condutas, comportamentos e sentimentos equivocados que
geram, como efeitos, desconforto íntimo, remorsos, sofrimentos em
outros e comprometimentos perante as leis naturais.
Situações típicas:
Egoísmo, orgulho, ódio, desejo de vingança, mágoa, intolerância e
outros;
Inimizades, antipatias, malquerenças, propensão a reclusão, sentimento
de perseguição;
Vícios cristalizados ou tendências compulsivas para o álcool, droga,
jogo, sexo e outros.
Tipo de tratamento: Apoio para melhorar-se moralmente e/ou obter
harmonia interior:
Estudo em Grupo para Melhoria Interior-Adulto (EGMI-Adulto):
Habilitar os participantes à reforma íntima necessária a partir de
reflexões sobre a vida e suas dificuldades por meio da análise de temas
morais extraídos dos ensinos espírita-cristãos, em clima de participação
e fraternidade.
Esse grupo se subdivide em outros três subgrupos seguintes,
dependendo do quadro apresentado pelo assistido (FUNDAÇÃO ALLAN
KARDEC, 2014):
Consolo e Alívio - Este bloco de temas é composto por estudos que
apresentam o caráter Consolador do Evangelho de Jesus à luz da
176
Doutrina Espírita, a fim de que o assistido melhor possa perceber o
amparo para o alívio de suas dores, trazendo-lhe novo vigor, alento e
disposição para prosseguir em sua caminhada, permitindo que a criatura
busque relembrar, para melhor entender a proposta de Jesus quando
nos convida.
Reforma Íntima - Este bloco é composto por temas que tratam
diretamente das questões que envolvem a reforma íntima, convidando
os participantes a pensarem sobre o que há de errado consigo, o que
pode ser reformado em si próprio para que possam se sentir cada vez
melhor.
Prática do Bem - Neste bloco, os temas estudados têm como objetivo
enfatizar a necessidade de se pôr em prática a reforma íntima iniciada,
através da participação, por meio de pequenas incursões, nas diversas
atividades de Apoio ao Exercício do Amor, nas visitas as instituições de
caridade (abrigo para idosos, Abrigo Moacir Alves, entre outros), sendo
apresentadas ainda as possibilidades de Estudo Sistematizado da
Doutrina Espírita, e o envolvimento com atividades de trabalho voluntário
na Casa, como colaborador.
Estudo em Grupo para Melhoria Interior do Idoso - EGMI-Idoso
FUNDAÇÃO ALLAN KARDE, 2014:
Proporcionar consolo e confiança aos participantes a partir de reflexões
sobre a vida e suas dificuldades tendo como base a análise de temas morais
extraídos dos ensinos espírita-cristãos com destaque à continuidade da vida e
a esperança.
c) Provas existenciais: (KARDEC, 2017, Cap. V, item 6) - Diretoria de Apoio
ao Exercício do Amor (DAEA)
Situações em relação às quais o ser, ―pelo menos na aparência, ele é
completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade‖ como
acidentes imprevisíveis, reveses da fortuna, flagelos naturais e outros, cuja
causa, se ―não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida.
Como se expressam:
Dificuldades intensas e recorrentes sem razões explícitas na vida atual,
as quais fragilizam e desanimam o ser nas lutas da existência.
Situações típicas:
Carências materiais crônicas, frustrações na busca por vida material
idealizada, dificuldades na obtenção ou manutenção de ocupação
remunerada e outros;
Frustrações por destaque social inalcançável, óbices na busca de
anseios e realizações pessoais e outros;
Experiências dolorosas no âmbito do lar com familiares problemáticos,
perdas não superadas de pessoas amadas, ingratidões, solidão afetiva e
outros.
Tipo de tratamento: Apoio para fortalecer-se baseado na prática do amor.
Sopa Fraterna;
Visitação a Doentes;
Apoio a Carentes em Situação de Rua;
Bazar Beneficente;
Assistência a Gestação;
Clube de Mãos Solidárias;
177
Urgências Sociais;
Incubadora de Atividades de Amor.
d) Ânsia por esclarecimentos: (KARDEC, 2017, Cap. V, item 9) - Diretoria
de Estudos Doutrinários (DED).
Por desconfortos e inquietudes íntimas em relação à finalidade da vida,
à razão das dores e ao temor da morte; não possuem uma causa específica,
nesta ou noutra vida.
Como se expressam:
Insatisfação com explicações disponíveis sobre sentido da vida;
Desassossego da consciência;
Incômodos acerca da morte e da razão dos sofrimentos e similares.
Situações típicas:
Falta de fé no futuro, insensibilidade ante razões morais, descrença
religiosa, dúvidas sobre a morte e outros;
Insaciedade, inquietudes imotivadas, desesperança, tédio, vazio
existencial e outros;
Revolta com injustiças, indiferença espiritual, dificuldade em aceitar a
existência de Deus e outros.
Tipo de tratamento:
Apoio ao aprendizado das leis de Deus:
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE) - Possibilitar o estudo
sistematizado da Doutrina Espírita tendo como foco a revisão e o
aprofundamento do conhecimento, com vistas a ascensão dos
sentimentos.
Estudo Sistematizado do Evangelho de Jesus (ESEJ) - Possibilitar o
estudo aprofundado sobre a vida e os fatos da vida de Jesus, bem
como, sobre seus ensinos e a relação destes com o Espiritismo.
Estudo Sistematizado da Mediunidade (ESME) - Possibilitar o estudo
aprofundado de temas relativos à mediunidade; o conhecimento
experimental do fenômeno mediúnico; e a percepção de predisposições
mediúnicas nos participantes.
Estudo Doutrinário Provisório (EDP) - Possibilitar o estudo de temas
doutrinários para pessoas egressas da assistência espiritual até que
novas turmas de ESDE sejam abertas, bem como, para aqueles que,
embora interessados em estudar, não desejam ou não podem participar
das outras atividades de estudo da casa.
Estudo Doutrinário para Idosos (EDI) - Possibilitar o estudo do
Espiritismo por meio de reflexões que propiciem elevação do sentimento
e serenidade diante da vida espiritual, em idade em que o Espírito já
cristalizou tendências e vivencia dificuldades de mudança.
Outros: Estudo Sistematizado do Esperanto, Estudo de Obras
Selecionadas, Apoio Mediúnico aos Estudos Doutrinários (AMED),
Acompanhamento Individualizado do Participante, Biblioteca, Apoio
Administrativo (APAD), Abertura Conjunta dos Estudos Doutrinários
(ACED).
178
3. Resultados
Foram estudadas 507 fichas de acolhidos na FAK no período de
fevereiro a junho de 2017. Dessas foram excluídas 8 fichas de assistidos com
idade de 16 a 18 anos, pois com essa idade a ficha a ser utilizada é especifica
para jovem e a pesquisa foi para avaliar as situações dos adultos e idosos
acolhidos na FAK que passaram pelo Diálogo Fraterno, ficando 499 fichas para
o estudo.
3.1 Características pessoais
Das 499 fichas analisadas, 91,5% foram de adultos, 7,1% de idosos e1,4
% não apresentavam registro de sua idade na ficha. O gênero feminino foi a
maioria com 72,1%. A procedência mais presente foi da Zona Centro Sul
(27,5%), seguido da Zona Sul e Zona Norte (Tabela1).
Tabela 1 - Características pessoais dos 499 adultos e idosos atendidos na FAK,
no período de fevereiro a junho de 2017.
Características N %
Gênero
Feminino 360 72,1
Masculino 139 27,9
Grupo Etário (anos)
19 a 30 182 36,5
31 a 40 120 24,0
41 a 50 105 21,0
51 a 59 50 10,0
60 e mais 35 7,1
Não registrado 7 1,4
Procedência (zona
geográfica)
Centro Sul 137 27,5
Norte 93 18,6
Sul 92 18,4
Oeste 73 14,6
Leste 41 8,2
Centro oeste 37 7,4
Rural 2 0,5
Não registrado 24 4,8
3.2 Transtornos (problemas) identificados
No grupo de adultos, os transtornos mais encontrados foram do tipo
emocional (33%), seguido de mediúnicos (20%), saúde e familiar (16% cada) e
hábitos nocivos (15%). Quanto aos idosos apresentaram mais transtornos
emocionais (36%) e de saúde (31%), seguido do familiar (15%), mediúnicos
(13%) e hábitos nocivos à saúde (5%). Ao comparar os dois grupos observa-se
que os transtornos familiares e emocionais são uma constante nos dois grupos.
Quanto aos problemas de saúde é bem nítida sua prevalência no grupo de
idosos, aos fenômenos mediúnicos mais frequentes nos adultos e os hábitos
nocivos à saúde sendo 3 vezes mais nos adultos que nos idosos (Figura 1 e 2).
179
[NOME Hábitos
[NOME Saúde Mediúni
DA nocivos
DA 16% cos
CATEG à saúde
CATEG 13% Saúde
ORIA] 5%
ORIA] 31%
[PORCE Familiar
[PORCE
NTAG… ou de
NTAG…
[NOME afetivida
DA de
CATEG 15%
ORIA] Emocio Emocion
[PORCE nal al
NTAG… 33% 36%
Figura 1. Transtornos (problemas) identificados Figura 2. Transtornos (problemas) identificados
nos 464 adultos assistidos na FAK, no período nos 35 idosos assistidos na FAK, no período de
de fevereiro a junho de 2017. fevereiro a junho de 2017.
3.3 Razão da Busca (impressão do dialogador)
Na análise das razões que levaram as pessoas a procurarem a FAK
nesse período estudado, foi possível identificar que no grupo dos adultos 61%
apresentavam inquietudes comportamentais, ficando as outras razões em bem
menor proporção, sendo 13% de outras impressões, 10% ânsia de
esclarecimento, 8% não houve registro, 6% provas existenciais e 2 % situações
incapacitantes. Nos idosos, foram 69% de inquietudes comportamentais e em
menores proporções as outras razões como, outras impressões e não
registrado (11% cada), seguida de ânsia de esclarecimento, provas existenciais
e situações incapacitantes (3% cada) (Figura 3 e 4).
Como podemos observar, as situações incapacitantes ocorreram em
menor frequência, pelo fato de que a maioria desses casos são direcionados
imediatamente ao tratamento de urgência. Esses são os que chegaram
aparentemente bem e durante o diálogo, apresentaram piora do seu transtorno,
sendo encaminhados imediatamente ao tratamento de urgência.
[NOME Outras Outras
DA impres [NOME Situaçõ impres Não
CATEG sões DA es sões registra
ORIA] 13% CATEG Incapac 11% do
[PORC ORIA] itantes 11%
ENTAG [PORC 3%
EM] ENTA…
Provas Provas
Existen Existen
ciais ciais [NOME
6%Ânsia Inquiet 3% Ânsia DA
de udes de CATEG
Esclare Compo Esclare ORIA]
ciment rtament ciment [PORC
o ais o ENTAG
10% 61% 3% EM]
Figura 3. Razão de Busca Identificados nos 464 Figura 4. Razão de Busca identificadas nos 35
adultos assistidos na FAK, no período de idosos assistidos na FAK, no período de
fevereiro a junho de 2017. fevereiro a junho de 2017.
180
3.4 Tipos de encaminhamentos
Após a identificação das razões da busca, os assistidos foram
encaminhados para atividades de acordo com suas necessidades. No grupo
dos adultos, 83% foram encaminhados para Estudo em Grupo para Melhoria
Interior de adultos-EGMI de Adultos. Desses, 52% foram para o Consolo e
Alívio, 26% para Reforma Íntima, 2% para a Prática do Bem e 3% não constava
registro de qual EGMI foi encaminhado. Quanto aos outros encaminhamentos,
foram 13% Enfermaria para Fragilizados Agudos-EFAC, 2% Urgência Social-
US, 1% para Diretoria de Estudos Doutrinários-DED e 2% não houve registro-
NR (Figura 5). A maioria dos encaminhamentos dos idosos foram para EGMI
de adultos (66%), assim como ocorreu com os adultos. Desses, 52% foram
para o Consolo e Alívio e 14% para Reforma Íntima. Os outros
encaminhamentos dos idosos, foram 20% EFAC e apenas11% EGMI de idosos
(Figura 6).
NR
2%
US
2% EGMI_RI
EGMI_ADEGMI_NR 26%
EFAC [PORCENTAGE
[PORCENTAGE
13% M] M] EGMI_CA
52%
EGMI_PB
2%
Figura 5. Tipo de encaminhamentos identificados nos 464 adultos assistidos na FAK, no
período de fevereiro a junho de 2017.
US
3%
EFAC
20% EGMI_CA
EGMI_AD
[PORCENTAGE 52%
M]
EGMI_RI
14%
EGMI_ID
11%
Figura 6. Tipo de encaminhamentos identificados nos 35 idosos assistidos na FAK, no período
de fevereiro a junho de 2017.
181
4. Considerações Finais
O presente estudo procurou de forma detalhada apresentar o perfil dos
adultos e idosos assistidos na FAK, tomando como base os aspectos
relacionados a transtornos emocionais, a saúde, conflitos familiares ou de
afetividades, a fenômenos mediúnicos e aos hábitos nocivos à saúde, sendo
identificadas as seguintes características:
Os adultos: Apresentam principalmente transtornos emocionais que se
expressam com os sinais de depressão. A Saúde está afetada em menor
proporção, mas há um grande uso de medicamento controlado. No quadro
familiar e/ou de afetividade, estão presentes os conflitos conjugais e com
parentes. Os fenômenos mediúnicos se expressam por sonhos perturbadores e
sonhos reveladores. Quanto aos hábitos nocivos à saúde, a grande maioria usa
bebida alcoólica e tem algo que chama muito atenção, é que 07 pessoas
apresentavam ideias suicida. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(2017), o suicídio é responsável por uma morte a cada 40 segundos no mundo,
sendo considerado um grave problema de saúde pública. É evidente a
necessidade de estarmos preparados para identificar nos assistidos, algum
sinal que manifeste o comportamento suicida e assim poder ajudá-los.
Os idosos: Apresentam estado emocional mais do que os adultos,
também se expressando com os sinais de depressão. A saúde está bem mais
comprometida à custa de doenças crônicas, mas o uso de remédio controlado
é bem menor que nos adultos. O transtorno familiar existe, quase na mesma
proporção do adulto, mas tendo como causa os conflitos conjugais e com os
filhos, fazendo aqui a diferença com os adultos, que foram os conflitos
conjugais e com os parentes. Os hábitos nocivos são quase inexistentes nesse
grupo, mas um idoso foi identificado com ideias suicida.
Todos esses transtornos estão ligados entre si e têm como desfecho o
corpo físico. O corpo nada mais é que um instrumento passivo e é de sua
condição perfeita que depende a perfeita exteriorização das faculdades do
Espírito. Assim...
―Todas as nossas ações são submetidas às leis de Deus; não há
nenhuma delas, por mais insignificante que nos pareçam, que não
possa ser uma violação dessas leis. Se sofremos as consequências
dessa violação, não nos devemos queixar senão de nós mesmos,
que nos fazemos assim os artífices de nossa felicidade ou de nossa
infelicidade futura‖ (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Quarto,
Capítulo II, item 964).
A doença do corpo não é uma causa e sim, uma consequência de
nossos devaneios morais, emocionais e outros sentimentos produzindo
energias negativas que circulam por nossos organismos espiritual e material.
Dessa maneira, possuímos energias que nos causam doenças porque somos
indisciplinados mentalmente e emocionalmente.
―Assim como o corpo físico pode ingerir alimentos venenosos que lhe
intoxicam os tecidos, também o organismo perispiritual absorve
elementos que lhe degradam, com reflexos sobre as células
materiais‖ (André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade).
182
Mas sabemos, que a dor e o sofrimento são temporários, e que podem
ser curados pela mudança de hábitos, ações e atitudes com a moral elevada,
para sua própria evolução física, perispiritual e espiritual.
Portanto, atender as pessoas que buscam o conforto moral e espiritual,
desnorteadas pela situação em que vivem, quando chegam na casa espírita,
seja porque estão sofrendo alguma enfermidade física ou porque apresentam
dores morais ou que não sabem que rumo dá a vida, é imprescindível que
estejamos preparados para acolher essas almas absolutamente necessitadas
(REIKDAL, 2016). Enfim, fazer ao próximo como gostaria que o mesmo lhe
fizesse.
Respondendo o questionamento que deu origem a esse trabalho:
Como se expressam as dores dos adultos e dos idosos?
Se expressam pela depressão, uso frequente de bebidas alcoólicas,
ideias suicida, conflitos conjugais e com alteração da saúde
representada por doenças crônicas e uso de medicamento controlado.
A razão de busca e o tipo de encaminhamento respondem as suas
necessidades?
A maioria sim, ficando mais evidente as inquietudes comportamentais;
Quanto ao tipo encaminhamento, o dialogador faz uma sugestão do tipo
de encaminhamento (tratamento) no término do diálogo fraterno.
Entretanto, essas sugestões devem ser avaliadas pela Diretoria de
Apoio à Melhoria Interior para realizar os ajustes.
As bases doutrinárias contemplam as necessidades dos adultos e idosos?
Sim. Pois todo processo de atendimento é fundamentado nos
documentos que norteiam as atividades da casa, principalmente as
bases doutrinárias de suas organizações com a finalidade de levar o
assistido a viver conforme as Leis de Deus.
5. O que aprendi sobre mim mesma?
O acolhimento dos adultos e idosos é a atividade que mais estou
envolvida, e ao desempenhá-la, surgiram as seguintes inquietudes:
Como posso acolher melhor os assistidos que buscam atendimento na
FAK?
O que posso fazer para alcançar a verdadeira necessidade do assistido?
Será que essa ferramenta (ficha de Diálogo Fraterno) dá condições
suficiente para alcançar a verdadeira necessidade do assistido?
Com essas inquietudes comecei a elaborar esse trabalho, que no
decorrer de sua elaboração, foi necessário o estudo minucioso da ficha, a
leitura de várias obras espíritas e dos documentos que norteiam as atividades
da casa como, Diretrizes de Funcionamento da Diretoria de Acolhimento-DA
(janeiro/2011), Diretrizes de funcionamento do Estudo em Grupo para Melhoria
Interior dos idosos (setembro/2011) e dos adultos (agosto/2014) da Diretoria de
Apoio à Melhoria Interior-DAMI, Bases Doutrinárias da organização das
183
atividades da FAK (agosto/2015), Estatuto da Fundação Allan Kardec (versão
de 30/12/2014).
Durante a leitura, as reflexões foram brotando espontaneamente e
fizeram eu voltar aos anos 80, quando aqui iniciei meu trabalho como médica e
espírita. Aqui, recebi uma formação que me fortaleceu durante todo o meu
caminhar na vida, tanto dentro como fora da FAK.
As lembranças continuaram e me bateu uma grande emoção ao
lembrar das atividades que nesta casa desempenhei e que subitamente, no
auge de maior necessidade do trabalho na época, tive de fazer uma escolha
para sair da fundação, em benefício da família. Hoje ao voltar, com muita
vontade de ser útil e realizar aquilo que deixei para trás, vejo que minhas
inquietudes, eram essa lacuna que ficou e que agora tento preencher da
melhor forma possível.
―Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar e fazer um novo fim‖.
Chico Xavier
6. Agradecimentos
A Deus que iluminou o meu caminho nessa jornada.
Ao Orlens da Silva Melo pela sua orientação e apoio.
A minha amiga e irmã espiritual Santa Maria Oliveira de Melo pelo
entusiasmo e exemplo de dedicação à sua missão.
Aos incansáveis amigos e colaboradores Marcia Monte e Pedro Bindá
por fotografar e enviar as fichas do Diálogo Fraterno.
Aos trabalhadores da Diretoria de Acolhimento da Fundação Allan
Kardec, pois esse trabalho pertence a todos.
7. Referência Bibliográficas
CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION – CDC – USA E
WORLD ORGANIZATION. Epi Info. Versão 3.5.2, Geneva, dezembro/2010.
FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC. Diretrizes de Funcionamento da Diretoria
de Acolhimento-DA. Manaus/AM, janeiro/2011.
______. Diretrizes de funcionamento do Estudo em Grupo para
Melhoria Interior dos idosos da Diretoria de Apoio à Melhoria Interior-
DAMI. Manaus/AM, setembro/2011.
______. Diretrizes de funcionamento do Estudo em Grupo para
Melhoria Interior dos adultos da Diretoria de Apoio à Melhoria Interior
da Diretoria de Apoio à Melhoria Interior-DAMI. Manaus, agosto/2014).
184
______. Estatuto. Manaus/AM, 30/12/2014.
______. Bases Doutrinárias da organização das atividades. Manaus/AM,
agosto/2015.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo X, ítem 6.
Edição Histórica. Brasília: FEB, 2017.
______. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XII, item 6. Edição
Histórica. Brasília: FEB, 2017.
______. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo V, item 4, 6 e 9.
Edição Histórica. Brasília: FEB, 2017.
XAVIER. Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito
André Luiz. 36 ed. Brasília: FEB, 2017.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE-OMS. Suicídio. Disponível em:
http://www.paho.org/bra/index.php Acesso em: 25.09.2017.
REIKDAL, Marlon. Diálogo fraterno: Ética e técnica. 1o edição, Goiânia:
FEEGO, 2016, p.101.
185
ANEXO: Ficha de Diálogo Fraterno - adulto e idoso
186
187
A ARTE ESPÍRITA COMO INSTRUMENTO DE EVANGELIZAÇÃO DO SER:
DAS NUVENS BRANCAS À DART
Samantha Oliveira Gomes da Silva246
INTRODUÇÃO
A Diretoria de Atividades Artísticas da Fundação Allan Kardec um dia foi
o Núcleo de Atividades Artísticas e também foi o Grupo de Teatro e Dança
Pyatã, ou simplesmente Grupo Pyatã, como vamos tratá-lo a partir daqui.
Três nomes e três fases distintas de trabalho de um grupo de artistas do Cristo
– ou seria de cristãos da Arte? – que se reencontraram para levar adiante a
missão de tocar o coração das pessoas, apresentado a Doutrina Espírita
através da arte.
Ao ouvir a história pessoal dos integrantes mais antigos deste grupo,
consegue-se ver claramente que todos foram se envolvendo aos poucos,
integrando-se ao Grupo devagar e imprimindo sua essência, espalhando seu
perfume. Todos contribuíram muito. E assim a atividade cresceu.
Olhando agora para trás e vendo esta estrada trilhada há vinte e nove
anos, contados a partir de documentos formais analisados, tomamos a
consciência de que esta nunca foi apenas uma atividade de jovens que
amavam estar juntos, mas a consolidação de um sério compromisso com a
arte, traçado no Plano Espiritual.
E como todo começo tem uma história, o início do Grupo Pyatã, quando
ainda nem era um grupo, confunde-se com a realização das primeiras
COMEANs, as Confraternizações das Mocidades Espíritas, quando não havia a
figura do ator ou do artista, mas sim a dos trabalhadores da COMEAM que, de
acordo com a necessidade, faziam um pouco de tudo, inclusive arte.
Também não havia um trabalho específico de artes, de forma sequencial, nos
Centros Espíritas. Na própria Fundação Allan Kardec, o que havia era a
evangelização usando a arte, sem grandes compromissos com aspectos
técnicos ou artísticos. Neste período, a arte era utilizada apenas como recurso
pedagógico. Naturalmente, isso fez com que os evangelizadores e os
evangelizandos fossem os primeiros artistas.
Assim, o evangelizador ministrava suas aulas, escrevia roteiros, atuava e
dirigia. Tudo era feito com bastante alegria, visando apenas apresentar aulas
divertidas, onde fixar o conhecimento espírita era o grande objetivo.
O presente artigo visa apresentar a arte como instrumento de evangelização do
ser, a partir da experiência de vários trabalhadores desta área, bem como das
etapas pelas quais este grupo passou em sua trajetória enquanto Grupo Pyatã,
Núcleo de Atividades Artísticas até chegar a se tornar a Diretoria de Atividades
Artísticas da Fundação Allan Kardec. Também é objetivo desse artigo buscar
construir uma linha do tempo, apresentado as produções internas e externas
do Grupo.
A metodologia escolhida foi a entrevista com os trabalhadores mais antigos da
atividade, bem como análise dos recortes de jornais e material gráfico
pertencentes ao acervo de Pedro Cavalcante e documentos históricos da
Fundação Allan Kardec, desde o ano de 1988.
246
Trabalhadora da Diretoria de Atividades Artísticas da Fundação Allan Kardec.
188
Após a apresentação de cada etapa segue uma reflexão relativa a este
período, a partir da ótica da autora, que é uma das participantes mais antigas
da referida equipe.
1. Pyatã: as nuvens brancas
Em um dos recortes carinhosamente guardados por Pedro 247 (Anexo
01), observa-se como o marco inicial das atividades do Grupo Pyatã o ano de
1988. Entretanto, o primeiro cartaz do Grupo, divulgando a peça ―Sonhos de
Criança‖, data de 1989 (Anexo 02).
É importante ressaltar que o Grupo, apesar de ter se unido pelas
necessidades oriundas da Evangelização, especificamente das COMEANs,
sentia a necessidade de fazer arte o ano todo, daí sua natural criação.
A primeira COMEAM foi no ano de 1982 e até o ano de 1989,
aproximadamente, não havia uma equipe específica de arte. Grande parte dos
jovens que atuavam nas COMEAMs eram evangelizandos da FAK, o que
permitiu que os evangelizadores desta Casa utilizassem o recurso da arte de
forma regular na própria evangelização FAK.
Em função disso, no ano de 1990, o grupo do primeiro ciclo de juventude
da Evangelização da FAK, dirigido por Roberto Camurça, realizou uma série de
atividades, que culminou com duas peças. Na primeira, cujo roteiro e direção
foram de responsabilidade do próprio evangelizador, Roberto, atuavam alguns
jovens que já participavam das COMEAMs, entre eles: Nívea Melo e Palmira
Miranda. Esta peça foi assistida por Leonardo Novellino, em sua primeira visita
à FAK. Á partir daí, ele passou a integrar o Grupo.
Já na segunda peça, devido à excelente apresentação do primeiro
trabalho, Roberto teve o cuidado de convidar, para dirigir o projeto, o também
trabalhador do Departamento de Infância e Juventude - DIJ, Pedro Cavalcante,
que já tinha certa experiência artística, tendo feito curso de teatro com a atriz e
diretora local Socorro Lambeck, artista de relevada importância para Manaus.
Roberto continuou ajudando, técnica e financeiramente, o projeto, mas,
ao chamar alguém com mais atenção para a área artística, já estava auxiliando
os novos passos dessa atividade.
Assim, esta foi a primeira configuração do Grupo, com a participação
dos evangelizandos e atores Nívea e Tânia Melo (irmãs), Leonardo Novellino,
Palmira, Janaina e Ioná Miranda (irmãs), Lizandra e Junior (irmãos, filhos da
trabalhadora da FAK, d. Marizeth), Luciana Coelho, Alessandra Pereira, Elvis
Neves, Marisa Mendes, Márlio Dutra, Elizabeth Cavalcante, Graco Fregapani,
Lien Sander Carneiro, Deborah Farias e sua mãe, Fátima Farias, Fábio Muniz,
Antonio Ceará, entre outros.
Registre-se que, até então, as produções externas do grupo foram: ―A
Floresta Encantada‖, ―ZásTrás‖, que depois virou ―LeVanVun‖, ―De um sonho...
uma canção‖, assim como ―E o Belo criando o Bom‖.
Nesta primeira etapa, também destacamos a Salinha de Artes, que
atendia aos filhos dos trabalhadores da FAK. Estes vinham para a Casa e, não
tendo com quem deixar seus filhos, passaram a deixá-los nesta atividade. Os
247
Pedro Cavalcante, primeiro dirigente do Grupo Pyatã
189
responsáveis pela mesma eram Leonardo Novellino, Pedro Cavalcante e
Lenise Negrão.
Além de ser uma espécie de sala onde se evangelizava as crianças,
usando a arte como ferramenta, era também onde se elaboravam alguns
elementos artísticos utilizados pelo Grupo Pyatã, como as máscaras feitas de
esponja, utilizadas na peça O Peixinho Vermelho, para uma das COMEANs.
A atividade na Salinha de Artes durou de 1991 a 1992, durante a
semana, quando Leonardo e Lenise já não puderam realizá-la, mas continuou
aos sábados, com a configuração de uma sala para a equipe de artes, onde
esta podia realizar suas atividades, encontros e planejamento em geral. Há
uma referência expressa à criação das Salas de Arte no relatório da Casa de
1991 (Anexo 03).
De 1992 a 1995 passaram a fazer parte do grupo os seguintes
trabalhadores: Samantha Gomes, Janara Machado, Anderson Mattos, Andrea
Siqueira, Aleksandro Machado, Paulo Neri, Wanderlan Dimas. Importante citar
a participação destas pessoas no grupo, em função da produção de ―Marcas...‖
(Anexo 04), a primeira peça voltada para o público adulto, apresentada pelo
grupo.
O texto ―Marcas...‖, escrito por Samantha Gomes e Nívea Melo, foi um
divisor de águas, por sua grande importância para o grupo, sendo a primeira
produção independente da área de evangelização.
Foi a partir desta peça que vários integrantes do grupo passaram a ter
mais consciência do quanto a arte era importante para cada um. Talvez tenha
sido o despertar da consciência do quanto o trabalho na arte seria importante
para cada um. Mas todos eram jovens na época, e a lição somente seria
entendida mais tarde. Naquele momento, eles estavam começando a se
apropriar da tarefa artística.
Tecnicamente, foi uma importante produção. O cuidado técnico por parte
do Pedro, enquanto diretor, foi muito mais acurado; mesmo o material gráfico
da peça, foi bem mais elaborado do que até então o Grupo costumava fazer.
Pode-se dizer que ―Marcas...‖ apresentava os cuidados técnicos e
artísticos que seriam a marca do grupo, a partir de então.
Também foi nesta produção que aconteceu o primeiro contato de Silvio
Romano com o grupo; naquele momento, ele, que foi o primeiro diretor da
DART, atuou auxiliando na produção.
O resultado da peça também pode ser medido financeiramente, uma vez
que neste ano teve participação na receita da Casa, aparecendo no relatório de
1996 (Anexo 05).
Com o espetáculo, o Grupo se apresentou várias vezes em Manaus, nos
teatros Cecomiz e Amazonas, além de ter viajado para Belém, no Pará. Neste
período, também houve uma nova produção para ―De um sonho... Uma
canção‖ e desta forma, ao viajar para Belém, o grupo levou estas duas
produções (Anexo 06).
O grupo pode ir a Belém a convite do irmão José Alberto da Costa
Machado, que neste período estava morando naquela cidade, por conta de
atividades pessoais. Parte do grupo hospedou-se num hotel e parte na casa do
―Zé‖, que sempre cuidou com carinho destes trabalhadores.
190
Foi uma viagem de muito aprendizado e união para estes jovens. Alguns
se dividiram atuando nas duas produções. Até então, Pedro era responsável
por vários aspectos de uma produção teatral, inclusive a maquiagem dos
atores. Para realização desta viagem, o Grupo preocupou-se inclusive com a
realização de uma oficina para que todos aprendessem a fazer as maquiagens
de seus personagens.
Além do aprendizado artístico, foi uma grande confraternização para
estes jovens e para o Movimento Espírita local.
Nesta primeira etapa do Grupo, Pedro Cavalcante foi diretor artístico das
peças e praticamente um tutor da equipe, formada na maior parte por jovens
que começaram na atividade com cerca de quinze a dezesseis anos. Além de
dirigir todas as peças, Pedro também era responsável pelos Laboratórios que
aconteciam aos domingos, das 16h as 18h. Durante muitos anos, este era o
ponto de encontro semanal do Grupo, que aproveitava este momento para
realizar uma série de exercícios próprios para as atividades artísticas e também
para os devidos ensaios.
Assim, a amizade desta equipe foi fortalecida por estes momentos
vividos aos domingos, e também pelos ensaios que lhes consumiam várias
horas, fins de semana e horários bem alternativos. Não foram poucas as vezes
que o elenco saía de madrugada da FAK, após extenuantes horas de ensaio.
Também nesta época, o Grupo realizou uma série de confraternizações,
sempre tendo a arte como pano de fundo. Assim realizaram ―Uma Noite a
Fantasia‖, ―Festa Anos 50‖ e a ―Festa Mística‖, entre outras.
Hoje conseguimos perceber que nada foi ao acaso, mas sim uma possibilidade
de se firmar laços do passado para uma excelente concretização dos planos
presentes. Em se tratando de arte, confiar faz-se essencial; esta confiança foi
sendo construída ao longo destes anos de trabalho e amizade.
É importante relembrar estes momentos e rever o passado com os olhos
já amadurecidos pelas experiências da vida. Todos queriam apenas fazer
teatro, estar juntos, brincar e viver. Era o começo do caminhar nesta
encarnação. Eram todos como crianças!
Já havia ali todos os indícios da responsabilidade que estes
trabalhadores iriam assumir mais adiante. Da mesma forma que há, na criança,
o germe das várias virtudes que deverão ser buriladas ao longo da vida.
Em recente entrevista com José Alberto Machado, trabalhador da Casa,
que sempre esteve por perto dos trabalhadores da arte, sendo também uma
espécie de orientador desta equipe, este relatou que via a equipe da arte com
uma grande responsabilidade; percebia seu grande valor como um instrumento
a ativar sentimentos nas pessoas para que elas pudessem se reconhecer como
filhos de Deus.
É bastante claro que neste momento inicial todos os trabalhadores
ligados a esta atividade estavam fazendo o seu reencontro, buscando se
reconhecer e deste reencontro firmar esta responsabilidade.
Já estavam claramente definidas as quatro dimensões onde a arte
trabalharia: inicialmente junto às COMEAMs, em seguida através de peças
externas, depois nas atividades internas e nas diversas atividades
pedagógicas.
191
Basta ver as fotos e os sorrisos que se entenderá como essa construção
foi feita aos poucos, numa clara demonstração de que a evangelização do ser
é paulatina, constante e eficaz. Neste sentido, fazer esta viagem ao passado,
rever as fotos e contar com o depoimento de alguns participantes do Grupo,
auxilia a entender esse processo contínuo.
2. Criação do Núcleo de Atividades Artísticas
Pelos documentos relacionados nos Anexos 7 e 8, verifica-se que
durante algum tempo o Grupo Pyatã conviveu com o Núcleo de Atividades
Artísticas, pois em um documento do ano de 1993 tem-se a referência
expressa ao ―Núcleo Artístico‖ (Anexo 8), sendo que em 1990 foi criado o ―setor
de artes‖ (Anexo 7).
Ora, daí segue-se o raciocínio lógico que o Núcleo efetivamente foi
criado entre os anos de 1990 a 1993. Registre-se que no ano de 1994 temos
referência expressa, no Relatório de atividade da FAK, no item 3.5 (Anexo 9),
bem como no ano de 1995. No ano de 1996, o Núcleo já aparece registrado
enquanto Atividade, mas seguem informações financeiras oriundas das vendas
dos ingressos de ―Marcas...‖, conforme relatado anteriormente.
Entretanto, existem cartazes e publicações em jornais locais (Anexo 10),
referindo-se ainda ao Grupo Pyatã, até o ano 2008. Assim, conclui-se que
houve uma coexistência do grupo com o Núcleo e não uma substituição
daquele por esse.
Pelas várias entrevistas realizadas, chega-se à conclusão de que o
Grupo Pyatã, já neste momento, tratava-se de uma configuração para ―fora‖ da
Casa Espírita, enquanto o Núcleo de Atividades Artísticas atendia às atividades
internas da FAK, quando os trabalhadores desta área passaram a sentir-se
comprometidos com as atividades a serem desenvolvidas para os
frequentadores e trabalhadores da Fundação Allan Kardec.
Aqui, pode se observar, de fato, o início da evangelização através da
arte, começando a fazer sentido a necessária consolidação dos laços de
amizade. Através dessa união, pode o trabalho se embasar para usar estes
alicerces e seguir em frente.
O Núcleo sempre esteve ligado direto à Presidência da Casa, demonstrando o
cuidado e a atenção especiais da FAK para com esses trabalhadores. Esta
época foi marcada principalmente pelo início da construção das Diretrizes
desta atividade, de sua aproximação para com todas as atividades da Casa,
como que num ensaio da sua situação de atividade transversal que hoje ocupa.
Já não havia a tutela quase que exclusiva do Pedro Cavalcante e os antigos
participantes do grupo foram se revelando, pouco a pouco, como trabalhadores
desta atividade tão cara a todos eles.
Neste intervalo de tempo, revezaram-se nos cargos de direção e
coordenação do Grupo/Núcleo Pedro Cavalcante, Leonardo Novellino, Nívea
Melo, Tânia Melo, Alecsander Carneiro, Lien Sander Carneiro, Silvio Romano,
Ronaldo Marques, Samantha Gomes, Anderson Mattos. A equipe sempre
optou por uma metodologia de trabalho bem democrática e participativa onde,
apesar de ter um diretor específico para a atividade, os trabalhadores decidiam
a maioria de suas ações através de um colegiado.
192
Também foi neste período que alguns participantes do grupo passaram
a fazer cursos técnicos nas diversas áreas de interpretação, produção de
espetáculos, teatro, música e dança, fora do eixo da Casa Espírita. Tratava-se
de um grande momento de incentivo à cultura por parte da Prefeitura de
Manaus e do Governo do Estado do Amazonas. A consequência natural foi o
despertar de um forte interesse destes trabalhadores em melhorar suas
técnicas artísticas.
Assim, foram vários os cursos realizados de forma individual junto à SEC
e à Prefeitura de Manaus, que contribuíram para o desenvolvimento artístico
destes trabalhadores. O trabalho artístico desta equipe passou a ter mais
cuidado técnico.
Da mesma forma, vários talentos foram surgindo. Descobriram-se como
dramaturgos Samantha Gomes, Nívea Melo, Tânia Melo, Anderson Mattos,
Silvio Romano e Rodrigo Junqueira. Já havia no grupo um talento natural para
a dança, com destaque para as participações de Débora Farias, Antonio Ceará,
Anie Kelen e Adriana Barbosa e para a música, com varias inserções na
tentativa de se criar uma atividade específica para a área, com destaque para a
família Carneiro, com Waldeir, Lien Sander e Alecsander, além de outros
músicos que sempre estiveram com o grupo, como Gustav Cervinka, Leonardo
Novellino, Marcellus Campelo entre outros.
Interessante que vários trabalhadores do grupo possuíam mais de um talento e
isso eclodiu de maneira muito natural, pois nas atividades realizadas nunca
houve uma determinação expressamente fechada sobre quem ia fazer o que.
Assim, mesmo sem ter a formação específica na área de dança, não foram
poucas as vezes que Nívea, Tânia e Samantha fizeram várias coreografias;
Débora, mesmo sendo bailarina, atuou várias vezes; Lien e Alec sendo
cantores natos se dividiam em dirigir e atuar.
Os talentos eclodiam e se firmavam da mesma forma que aumentava o
interesse destes trabalhadores em direção às várias atividades da Casa.
O que se percebe é que houve um amadurecimento individual destes
trabalhadores e, como consequência natural, as atividades por eles
desenvolvidas na esfera do Núcleo de Atividades Artísticas também
amadureceram. Talvez possamos comparar esta época vivenciada como a
adolescência do Grupo enquanto atividade na Casa.
E como jovem, o grupo necessitava de referências para o seu
amadurecimento. Tais referências surgiriam mais explicitamente na fase
seguinte, quando os exemplos do Cristo relatados no Evangelho, objeto do
interesse de estudos do grupo, norteariam a dinâmica das atividades artísticas.
Ainda havia uma demasiada preocupação com aspectos técnicos, mesmo que
em detrimento de aspectos hoje já percebidos como mais importantes, como o
bem estar dos vários participantes da atividade. Mas aumentou de forma bem
perceptível a preocupação para com o trabalho espírita a ser realizado e em
especial para com as atividades internas realizadas na Fundação.
3. Finalmente... Dart! Diretoria de Atividades Artísticas
O ano de 2008 marca a criação da Diretoria de Atividades Artísticas,
tendo sido o seu primeiro diretor, o trabalhador da área, Silvio Romano. A
193
Diretoria já surgiu num contexto bem diferente daquele que originou o Grupo
Pyatã.
"Quando o servidor está pronto, o serviço aparece". Esta é a famosa
frase dita por Genésio a André Luiz, em Nosso Lar. Aqui, estendemos esta
máxima para os vários trabalhadores que compunham esta tarefa. Se todos
ainda não estavam prontos, estavam dispostos ao trabalho.
Já nessa configuração de Diretoria, o primeiro trabalho foi a construção
das diretrizes e este foi levado com afinco.
O grupo já não era simplesmente composto por uma turma de amigos
que participava da evangelização. Agora eram trabalhadores da Casa, mais
conscientes de suas responsabilidades, que assumiam a tarefa de levar
adiante a mensagem do Cristo através da arte.
Queriam evangelizar com a arte, e através desta foram evangelizados.
Os trabalhos já estavam bem consolidados. A arte já permeava várias
atividades na casa, através de participação em encontros de trabalhadores,
confraternativos ou avaliativos, além de várias outras atividades.
Entretanto, esta primeira tentativa não pode ter continuidade por uma
série de contratempos, inclusive a ida do irmão Silvio Romano para trabalhar
no Maranhão. Ele não se desligou da atividade, uma vez que conseguia estar
em Manaus em praticamente todos os fins de semana, mas preferiu deixar a
direção do Grupo com o trabalhador Marcellus Campelo.
Este, juntamente com a trabalhadora Lien Sander Carneiro, assumiu a
direção da atividade, a convite de José Alberto Machado, que os orientou a
trabalhar como Núcleo até que a atividade se consolidasse. Após
aproximadamente oito meses, já no final de 2009, a DART voltou a existir na
estrutura da Fundação Allan Kardec, como continua até os dias atuais.
Já atuaram como diretores desta tarefa os irmãos Silvio Romano, tendo
como vice Ronaldo Marques; Marcellus Campelo, vice Lien Sander Carneiro;
Alecsander Carneiro, sendo a vice Samantha Gomes; e Tânia Melo, com o
trabalhador Maurisérgio Aquino sendo seu vice, inicialmente, mas hoje atuando
sozinha, uma vez que nosso amigo Maurisérgio assumiu outra atividade na
Casa.
Interessante é que alguns trabalhadores desta área podem até se
afastar das atividades de coordenação ou direção, mas por estarem fortemente
vinculados à arte, não deixam de desempenhar alguma tarefa nesta diretoria.
Isto demonstra o carinho que nutrem pela mesma.
Hoje a DART está com suas diretrizes atualizadas, já tendo feito o seu
primeiro Curso de Formação de Trabalhadores da Arte, nos dias 04 e 11 de
junho deste ano (Anexo 11).
Assim como não visualizamos uma marca exata da transição de uma
criança para o mundo dos jovens e destes para o mundo adulto, também não
conseguimos precisar de uma forma correta o período em que os trabalhadores
da DART tomaram para si a responsabilidade sobre essa atividade que lhes é
tão importante.
O que conseguimos ver, claramente, nesta fase atual, é que os
trabalhadores da área amadureceram. A atividade amadureceu.
194
A criança de ontem, Grupo Pyatã, tornou-se o adolescente, Núcleo de
Atividade Artísticas. E hoje entra no processo de amadurecimento como
Diretoria de Atividades Artísticas, nossa querida DART.
Com esta configuração de diretoria, o Grupo já não se mantinha isolado
numa atividade, nas tardes de domingo, como ocorreu durante anos com o
Laboratório. Passou a tomar parte da rotina da Casa em quase todos os dias
de atividade.
Participa de cursos de formação; auxilia como base em várias atividades
de estudo; atua permitindo que se aflorem elevadas emoções nos nossos
irmãos em situação de rua, através da célula que hoje reside junto à Diretoria
de Apoio ao Exercício do Amor. Juntamente com a Diretoria de Estudos
Doutrinários, mantém um grupo que estuda especificamente a Mediunidade,
uma vez que é entendimento da Casa que o ator é médium das belezas
eternas.
Hoje o grupo continua atuando junto às COMEAMs, além de ter
trabalhadores fazendo parte de outros encontros para jovens espíritas, como a
CONJOVEM e o Encontro Auta de Souza, além de auxiliar em várias atividades
da FEA.
O grupo é uma diretoria. Atuando com o teatro e com a música. E
embrionariamente conta com outros sistemas de arte, tais como literatura,
dança, artes plásticas e muito mais.
E o trabalho não terminou. Ao contrário!
Acredita-se que agora que estes trabalhadores estão prontos, a tarefa
pode começar. Hoje a arte está na Casa, como uma eclosão natural.
Olhando esta trajetória que retrata a vida de uns, a desta autora em
particular, podemos dizer que a jovem DART está pronta e aguardando
ansiosamente o trabalho que virá.
4. Linha do Tempo
-1989: Sonhos de Criança, Teatro dos Estudantes.
-1991: De um sonho...Uma canção.
-1992: Floresta Encantada (Premiado no Sesc).
-1992: O Belo criando o Bom.
-1995: Eterna Aprendiz.
-1995 The Flower.
-1996: Marcas..., Teatro Cecomiz.
-1997: Marcas..., Teatro Margarida Schiwazzapa (Belém).
-1997: De um sonho...Uma canção, Teatro Margarida Schiwazzapa
(Belém).
-1997: Marcas..., Teatro Amazonas.
-1997: A história de Lagarta.
-1998: O anjo da misericórdia.
-1998: Circo da Alegria.
195
-1998: LeVanVum, Parque do Mindu, Teatro Amazonas, Teatro Jorge
Bonates.
- 1999: O Peixinho Vermelho.
- 2001: Aprendizes da Vida: Teatro La Salle.
- 2004: D‘Arc, Teatro La Salle e Teatro Amazonas.
- 2005: Asas da Emoção: Teatro Cecomiz.
- 2007: Simplesmente Mãe.
- 2008: Sarau Poético de Natal.
- 2009: Espiritismo em terras amazônicas.
- 2009: Francisco: Templo do Coração.
- 2015: Dia de festa no céu da floresta.
- 2016: O mundo encantado de Clarinha.
Sem data determinada:
- A história de uma Folha.
- Paulo e Estevão.
- Coração de Saltimbanco.
CONCLUSÃO
O trabalho não acabou! Nem o trabalho da DART, nem o trabalho para a
construção deste artigo. Como temos perda de informações... Existem
apresentações que estão na memória e no coração de alguns. Precisamos de
mais tempo, mais trabalho e mais artigos.
Mas a semente foi plantada e uma parte já pode germinar
imediatamente.
Ter tido contato com nossa recente história me fez ver que ainda há
muito a contar, a pesquisar e a entender. Talvez tenhamos tido a primeira
oportunidade de perceber que temos muito a contar. Nós que adoramos contar
histórias, precisamos entender a nossa.
É com grata surpresa que várias percepções surgiram; descobrir que fui
uma das primeiras trabalhadoras desta área me ajudou a entender o tamanho
de meu compromisso.
Olhar fotos, guardados, folders... lembrar de algumas pessoas que
passaram por nós e não ficaram; outras que estão conosco, mas escrevendo
outra história... Cada amigo querido que passou, ficando ou não, construiu
conosco esta diretoria, este ―cadinho‖ de amor.
A evangelização de uma criança perdura toda sua infância; deve ser
feita pela Casa Espírita em colaboração com seus pais. Segue a evangelização
do jovem e do adulto. Não é estanque. É para sempre.
Assim é a evangelização do ser... de uma encarnação a outra.
196
Nós trabalhadores da arte, escolhemos ser inseridos num meio onde a
vaidade, o orgulho e o egoísmo tendem a brilhar; assim é o meio artístico fora
dos movimentos religiosos. O ser artístico, por si só, é um ser egóico.
Daí a grande dificuldade de evangelizar estes corações. E a arte os
evangeliza. Evangelizou-me!
Eu, que entrei neste grupo para ―aparecer‖ nos palcos da vida, aprendi o
quão belo é sumir nos bastidores da tarefa cristã.
Sim! Evangelizou-se o nosso ser. Mas não acabou. Estamos ainda em
burilamento, porque o aprendizado é longo. Encontramos o caminho que pode
nos permitir seguir ao lado do Cristo.
Ver o quanto andamos é o que mais aquece o coração.
Ter a certeza de que estivemos amparados todo este tempo, nos aquece
ainda mais. Hoje, já conseguimos tomar consciência de que muitos andaram
conosco para que chegássemos até aqui. São nossos amigos espirituais que
coordenam esta atividade.
Agora, já com essa consciência desperta, o caminho deve ser percorrido
com mais vontade e responsabilidade, pois temos a certeza de não estarmos
sós.
Passaram as nuvens brancas. O céu está límpido. E nós vamos cruzá-
lo, seguindo adiante.
Minhas motivações
Foi num Natal.
Luzes mágicas inundavam o ar e iluminavam o meu coração.
Eu, que sempre gostei dessa época, não poderia ter me encantado com
este mundo numa outra data.
Era uma confraternização de fim de ano para os trabalhadores. O grupo
de teatro ia apresentar ―o Cego Bartimeu‖. Eu não havia visto nenhuma
apresentação dele; conhecia algumas pessoas que faziam o curso de formação
e reciclagem de evangelizadores comigo e só. Eu não sabia o que esperar.
Então as luzes do teatro se acenderam e eu só me lembro do Leo 248
cantando ―Ajudai-me, Filho de Davi; Oh, Senhor, tende pena de mim...‖.
Que apresentação linda!
Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu sabia que queria estar ali,
naquele palco... Isso foi em dezembro de 1991 e passados os feriados de fim
de ano, eu ingressei no Grupo e comecei a participar do laboratório aos
domingos.
Logo em seguida, já fiz minha primeira participação em COMEAM,
tratava-se da 11ª, a primeira do CEFET, cheguei a participar da 12ª, lá
também. Mal sabia que estaria participando efetivamente da 13ª, no Denizard
Rivail, e em todas as demais que ocorreram no Campus, passando de
trabalhadora do multimeios, para coordenadora daquela equipe.
248
Leonardo Novellino, participante do grupo desde 1990
197
Eu não poderia imaginar que estaria neste grupo por de vinte anos; que
ele seria minha maior referência de permanência e que um dia eu estaria
escrevendo, mesmo que de maneira resumida, a sua história.
Não eram trabalhadores buscando instituir uma atividade na Casa
Espírita. Não eram artistas buscando fundar companhia de arte. Eram amigos
se reencontrando. Alguns chegaram primeiro e outros foram se reencontrando
pelo meio do caminho.
Hoje vejo claramente que ao entrar na atividade do teatro na Fundação
Allan Kardec, eu não tinha noção dos meus compromissos com a Casa ou com
a atividade artística em si. Eu brincava – dizendo a verdade – que queria fazer
teatro para ―brilhar nos palcos‖. Até então eu apenas amava ―fazer teatro‖.
Ao longo de todos esses anos atuando nesta Casa, trabalhando nesta e
em outras atividades, percebo que eu mudei muito. Já não sou aquela
adolescente que entrou para o grupo de teatro só porque queria ―aparecer‖. Na
verdade, ―aparecer‖ já não é sequer uma necessidade a ser preenchida.
Após esses anos todos de vivência, o meu interesse pela atividade
artística mudou radicalmente. Divulgar a Doutrina Espírita, dulcificar corações,
propagar a mensagem do Cristo, auxiliar o ser na busca da reforma íntima...
esses são apenas alguns dos motivos que hoje fazem minha alegria ao estar
fazendo arte na Casa Espírita.
Se no início a vontade maior era de fazer grandes peças para fora da
Casa Espírita, com o tempo percebi que a Fundação tornou-se prioridade. De
forma natural, sem que alguém assim determinasse, passei a entender a
importância do trabalho para as atividades da Casa.
Escrever sobre o Grupo, entender os processos pelos quais o mesmo
passou, fez-me entender os meus processos. Entendi que a arte é um
componente fundamental do meu ser. Entendi que o Grupo, enquanto grupo de
amigos, é um componente primordial para a minha vida.
Hoje minhas escolhas são pautadas por eu ser espírita.
E é claro que eu ser espírita foi pautado dia a dia, ano a ano pelas
oportunidades que esta atividade me apresentou. Pelos amigos que aqui eu fiz.
Ser quem eu sou hoje passa fundamentalmente por ser artista. E mais ainda
por eu ter tido a firmeza e a constância necessárias para ser uma artista
trabalhadora do Cristo.
198
ANEXOS
Anexo 01 - Parte de um texto referente a um projeto teatral
199
Anexo 02 - Primeiro Cartaz do Grupo Pyatã
200
Anexo 03 - Relatório de 1991
201
Anexo 04 - Material Gráfico de Marcas...
202
Anexo 05 - Relatório de 1996
203
Anexo 06 - Marcas... em Belém, PA
204
Anexo 7 - Relatório de 1990
205
Anexo 8 - Relatório de 1993
206
Anexo 9 - Relatório de 1994
207
Anexo 10 - Jornal Diário do Amazonas de 05/11/2008
208
Anexo 11 – Curso
209
GRUPO OFICINA DO AMOR: UM CONJUNTO DE BENEFÍCIOS PARA UM
CONJUNTO DE BENEFICIADOS.
Nilza Souza Reis249
Odécio Dandaro Junior250
INTRODUÇÃO
Este artigo tem o objetivo de refletir o quanto a atividade do Oficina do Amor,
pode ajudar os trabalhadores que a executam.
A atividade em si pode ser considerada um tratamento para os seus assistidos
que são também, os próprios trabalhadores que a executam.
Dependendo da amplitude de comprometimentos e compromissos com esta
região amazônica, os trabalhadores envolvidos nesta atividade, podem ser levados a
refletir sobre suas atitudes, sofrendo um processo de autotransformação que os
aproxima cada vez mais do exercício do amor, promovendo a reforma íntima.
A metodologia utilizada para a reflexão neste artigo será a de levantar a forma
como as atividades são desenvolvidas, ligando-as aos benefícios que podem trazer
aos seus beneficiados (trabalhadores-assistidos).
1. OFICINA DO AMOR: INÍCIO, OBJETIVOS E DINÂMICAS DA ATIVIDADE
1.1 Como tudo começou
A ideia de se criar um grupo para atuar junto aos ribeirinhos surgiu quando
três amigas decidiram se reunir para confeccionar artesanato, cuja renda seria doada
a uma instituição que trabalhasse com crianças carentes. Estas amigas se reuniam
nas tardes de sábado e alegremente confeccionavam as peças, muitas vezes em
companhia dos familiares daquela que as recebiam.
Em uma dessas tardes, a reunião estava com ares mais festivos do que o
normal e isto chamou a atenção de uma delas, que interrompeu seu trabalho, para
observar o ambiente. E uma voz lhe sussurrou na acústica da alma: ―é uma
verdadeira Oficina do Amor‖. E isto ficou registrado não apenas em sua memória,
mas em seu coração.
Alguns meses depois, um familiar que visitava a família, comentou sobre a
carência em que vivia a população ribeirinha. Daí surgiu a ideia de se formar um
grupo para levar, no mês de dezembro, cestas básicas e brinquedos para aqueles
que vivem às margens dos rios Amazônicos. Estas reuniões aconteceram por dois
anos, até a realização da primeira viagem.
O Oficina do Amor realizou sua primeira viagem em dezembro de 1996.
Surgiu como um grupo ecumênico e assim seguiu até seu décimo ano, quando o
barco que transportava o grupo quase virou. Em virtude do quase acidente, o grupo
se desfez, ficando apenas uma integrante que não se permitiu desistir e, sendo
trabalhadora da Fak, iniciou aí a busca por novos integrantes.
A partir daí, começou na atividade um processo de transformação, passando a
ser formado apenas por trabalhadores espíritas servindo assim como mais um
249
Trabalhadora da Fundação Allan Kardec – Manaus/AM.
250
Trabalhador da Fundação Allan Kardec – Manaus/AM.
210
laboratório do exercício do Amor, para os trabalhadores da Fak, fora dos muros da
Instituição.
Inicialmente, era realizado apenas o ―Natal dos Ribeirinhos‖, no mês
dezembro. Alguns anos depois, diante das necessidades geradas pelas cheias
frequentes, passou-se a realizar mais uma viagem, no meio do ano. Tais visitas se
voltavam a atender os irmãos dos rios Amazonas, Madeirinha e Solimões.
1.2 Objetivos da Atividade
Com o amadurecimento da equipe, foram delineados os objetivos da atividade,
que são de possibilitar o amparo aos que vivem nas comunidades ribeirinhas, nas
margens dos rios do Amazonas, por meio da mobilização de pessoas de boa
vontade, incentivando-as a doarem um pouco de seu tempo, do seu carinho e da sua
amizade, formando-se uma rede de solidariedade, respeito e amor ao próximo.
Dentro deste objetivo existem outros mais específicos que são o de servir de
oficina para o exercício do amor ao próximo, oferecer reflexões sobre o significado da
verdadeira caridade, levar o trabalhador a refletir sobre a necessidade de
exercitarmos o desapego aos bens materiais e desenvolver no trabalhador a
percepção de que todos, sem exceção, podem ser úteis.
Atualmente as duas viagens são realizadas nas comunidades do rio Cuieiras,
com a diferença que, no meio do ano, tem-se buscado levar o mínimo possível de
coisas materiais, estimulando o trabalhador a oferecer aquilo que de bom já
conquistou, e oportunizando-lhe auscultar seus sentimentos, e assim levá-lo a
perceber seus comprometimentos e compromissos com os povos amazônicos.
1.3 A atividade em si
O grupo tem sua dinâmica organizada com focos destinados aos seguintes
propósitos:
1.3.1 Atendimento, em caráter emergencial, das necessidades materiais, tais
como: roupas, gêneros alimentícios, brinquedos e outros possíveis, dos que vivem
nas comunidades ribeirinhas, nas margens dos rios do Amazonas;
1.3.2 Levar o consolo, o alívio e a esperança em face das dificuldades vividas
pelas comunidades visitadas;
1.3.3 Atenção e dedicação especiais às carências afetivas, morais
apresentadas pelos ribeirinhos;
1.3.4 Relembrar, através da prática em conjunto com a comunidade, a
necessidade da prece como recurso divino de manutenção da fé (Sugere-se aqui a
utilização do Pai Nosso, pela sua característica universal).
Nos meses que antecedem as viagens são realizados encontros mensais
destinados tanto ao estudo de temas que sugerem a caridade, a prática do bem e o
amor ao próximo, como também às deliberações sobre assuntos pendentes, que
digam respeito aos interesses do grupo.
Para ultimar as providências para a efetivação das viagens são realizados
encontros semanais. Os trabalhadores da atividade deverão empenhar-se para se
fazerem presentes nas reuniões agendadas, a fim de que se solidifique a vivência de
um clima de paz, harmonia e vinculação com a atividade, elementos indispensáveis
211
para a consecução dos objetivos estabelecidos. Por isso temos como requisito, para
participar das viagens, a participação nestes encontros que a antecedem.
Para as viagens de dezembro, os trabalhadores preparam uma pequena
apresentação teatral, para os ribeirinhos, com cunho evangélico e temas que
envolvam o meio ambiente.
Durante a viagem, os trabalhadores tomam o desjejum no horário
compreendido entre 06h30min e as 07h30min. Logo após, é realizada a leitura de
uma mensagem seguida de comentários sobre a mesma e uma prece como abertura
dos trabalhos previstos para o dia.
Ao desembarcarem nas comunidades, vão ao encontro daqueles que na
maioria das vezes já lhes aguardam com ansiedade, onde abraços fraternos e
palavras de carinho são trocados. Se estiver programada a apresentação teatral,
busca-se o local ideal na comunidade, para a realização da mesma. Logo após estes
momentos de convivência, onde cada um busca satisfazer os anseios de seus
corações, buscando ressignificar estes encontros, seja com brincadeiras com as
crianças ou um diálogo fraterno, etc. Se estiver programada a apresentação teatral, é
neste momento que a mesma se realiza. Logo após é feita a distribuição do material
que foi levado com esta finalidade. E antes de partir é feito um convite para juntos
fazerem uma prece de encerramento da visita.
O horário entre 12h e 13h é destinado ao almoço e breve descanso. Até as 17
h, todos os trabalhos do dia são encerrados, para que as 18h o grupo possa se reunir
para, após uma prece inicial, realizar uma avaliação do dia, contextualizando-se,
nessa oportunidade, as observações referentes às necessidades de pequenos
ajustes na mecânica de funcionamento, além de servir de ensejo para as reflexões
individuais sobre o quanto os trabalhos do dia serviram de instrumento para a reforma
íntima de cada um.
Logo após estes momentos, os trabalhadores tem o restante do tempo livre,
para fazerem a refeição noturna e o que lhes aprouver.
E assim ocorre durante os dias subsequentes.
Na viagem de retorno para Manaus, o grupo se reúne para uma prece de
encerramento da atividade e avaliação do aprendizado realizado. Preferencialmente
até quinze dias após a viagem,ocorre uma avaliação que conta com a participação
direta dos espíritos (mediúnica).
2. OS BENEFICIADOS
O esclarecimento possibilita à criatura em marcha evolutiva uma melhor
compreensão das Leis de Deus, além de privilegiar, consequentemente, a adoção de
novas posturas em relação ao comportamento do indivíduo diante dos fatos que a
vida diária lhe traz. Assim, o sofrimento alheio se apresenta como uma oportunidade
de exemplificar o desapego às coisas materiais, para se cultivar a prática do bem e
do amor ao próximo, despertando no ser os sentimentos de fraternidade e
solidariedade.
Além do salário amoedado o trabalho se faz invariavelmente, seguido de
remuneração espiritual respectiva, da qual salientamos alguns dos itens
mais significativos: acende a luz da experiência, ensina-nos a conhecer
as dificuldades e problemas do próximo, induzindo-nos, por isso mesmo,
a respeitá-lo, promove a auto-educação, desenvolve a criatividade e a
noção de valor do tempo, imuniza contra os perigos da aventura e do
tédio, estabelece apreço em nossa área de ação, dilata o entendimento,
amplia-nos o campo das relações afetivas, atrai simpatia e colaboração,
212
extingue, a pouco e pouco, as tendências inferiores que ainda estejamos
trazendo de existências passadas.251
Ao embarcar para uma viagem, o trabalhador não apenas vai ao encontro dos
nossos irmãos ribeirinhos, mas principalmente ao encontro dele mesmo, assim como
fez Paulo de Tarso, quando em sua viagem ao Deserto.
O Senhor conferiu-te a tarefa de semeador, tens muito boa vontade, mas
que faz um homem recebendo encargos dessa natureza? Antes de tudo,
procura ajuntar as sementes no seu mealheiro particular para que o
esforço seja profícuo.252
Hoje os trabalhadores da atividade, já percebem a necessidade interior de
reparar o que fizeram no passado em outras encarnações. Muitos vieram de outras
regiões, pelas mais diferentes razões, como que impulsionados a estar nestas plagas,
para colocar em prática seus compromissos assumidos durante seu planejamento
reencarnatório.
A prática do bem é instrumento que nos aproxima de Deus, conforme se pode
concluir observando a passagem evangélica em destaque:
Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com
sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te
acolhemos, nu e te vestimos? [...] Responderá o Rei: - Em verdade eu
vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos
mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes 253
A caridade é a prática que nos redime diante dos inúmeros equívocos que
cometemos na caminhada para a felicidade, conforme assevera Pedro: ―o Amor cobre
uma multidão de pecados‖.
Como que em um processo autoiluminativo, os trabalhadores ora atuam como
executores da atividade e ora como assistidos da atividade. E nessa troca de papeis
vão desenvolvendo o sentimento de irmandade, onde sentem responsáveis uns pelos
outros.
O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos
progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais
adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato
social.254
Assim na realidade o que se percebe é que esta atividade tem como maiores
assistidos os seus próprios trabalhadores, por lhes propiciar muitas experiência e
reflexões, as quais normalmente não são possíveis em seu cotidiano.
3. OS BENEFÍCIOS
Ao retornar de cada viagem, os trabalhadores trazem um manancial de novos
aprendizados, adquiridos no contato com a gente simples e cheia de sabedoria que
fazem da natureza o seu templo, e se sentem estimulados a aplicá-los em seu dia a
dia.
251
Mensagem de Emmanuel: 65 – REMUNERAÇÃO ESPIRITUAL – Livro Perante Jesus
252
Paulo e Estevão - Cap. Rumo ao Deserto
253
Matheus, 25:35 a 40
254
Questão 779 - O Livro Dos Espíritos
213
A senhora Antonina, uma das ribeirinhas que é atendida pela atividade, certo
dia colocou que: ―Quando estou na minha roça capinando, com meu suor derramando
pelo meu rosto, eu sei que meu Pai está me olhando‖.
É um choque de realidade, quando se vê irmãos ribeirinhos que vivem com
tão pouco e com tamanha resignação diante de situações tão adversas, como na
época das grandes cheias. Muitos trabalhadores se sentem tocados no mais
profundo do ser o que os faz ver o quanto possuem e que muitas vezes ainda se
sentem abandonados por Deus.
Os exemplos de fé que os ribeirinhos dão, da fé de quem simplesmente sabe
que não está desamparado, proporciona aos trabalhadores relembrar momentos em
que se desesperaram diante de uma dificuldade, e que depois de solucionada,
perceberam que não era tão grande quanto parecia.
A alegria com que os ribeirinhos abrem as portas de suas casas, ofertando o
pouco que possuem, sem perguntar quem são os trabalhadores que ali chegam, que
fé professam ou até mesmo se a tem, levam os trabalhadores a ver que muitas vezes
tem dificuldades para dar um simples bom dia, um sorriso para aqueles que lhes
compartilham da mesma casa.
Quanta generosidade os irmãos ribeirinhos demonstram ao repartir um
pedaço da caça ou os poucos peixes que conseguiram pescar, com o vizinho que
naquele dia não tem o que comer. Com este verdadeiro exemplo de caridade, os
trabalhadores da atividade por vezes refletem que, já até se sentiram incomodados
com alguém que lhes pediu ―uns trocados‖ para comprar um pão para lhe saciar a
fome.
Os ribeirinhos não sabem os nomes dos trabalhadores que chegam durante a
atividade, mas mesmo assim os abraçam como se fossem velhos amigos. Isto faz
com que estes mesmos trabalhadores lembrem das vezes que chamam de amigos
aqueles a quem mal toleram a presença.
São inúmeros os exemplos de caridade, de amor ao próximo que são obtidos
com a atividade do Oficina. A convivência entre os trabalhadores antes e durante a
viagem também são motivo de muitas reflexões.
São inumeráveis as oportunidades de exercitar os ensinamentos de Jesus, de
refletir sobre tudo que pode ser melhorado intimamente por cada trabalhador da
atividade e principalmente refletir sobre os comprometimentos e compromissos
assumidos nesta região.
4. CONCLUSÃO
Aquele que souber aproveitar todas as oportunidades de crescimento que a
atividade oferece, usufruirá dos frutos como disse Paulo: O lavrador que trabalha
deve ser o primeiro a gozar dos frutos.255
Os frutos virão nesta atividade para aqueles que souberem fazer de cada
momento nela vivido, um momento de reflexão sobre seus atos atuais e do passado.
Todos aqueles que conseguirem fazer esta autoavaliação, poderão entender as suas
relações com esta região e com os que aqui estão, mudando suas atitudes e podendo
conseguir assim aquietar seu coração cumprindo com seus compromissos
assumidos.
255
Paulo: Timóteo, 2:6‖
214
5. O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMA – NILZA
Para escrever este artigo fiz uma viagem nos mais de 20 anos no Oficina do
Amor. Revivi momentos maravilhosos, mas também outros em que vivi conflitos internos
muito grandes diante das dificuldades, que são normais em atividades como esta.
Estes conflitos por inúmeras vezes me fizeram querer desistir e, no momento
exato da desistência, eu recuava e reunia forças que nem sabia que as tinha e
continuava.
Enquanto escrevia este artigo, percebi que os motivos da não desistência, além
do amparo espiritual, que sei que é sempre grandioso, não eram somente por um
sentimento de culpa, que foi sendo trabalhado ao longo destes anos ou tão pouco não
eram por um senso de responsabilidade, conforme me habituei a dizer.
Minha alegria foi tamanha ao descobrir que um sentimento muito mais nobre, tem
me mantido firme. É um desejo grande de fazer o certo, de navegar pelos mesmos rios
existenciais, agora, com a bandeira da paz e do Amor.
Neste mergulho interior, percebi também que durante todos esses anos, estive
preocupada com a condução da atividade e, com isso, muitas vezes exigi do outro aquilo
que ele ainda não podia dar.
Necessário se faz que meu olhar se volte para mim, respeitando o tempo
daqueles que buscam ao meu lado seu próprio aprendizado. Apesar disto sinto que
houve progresso, pois hoje me sinto uma pessoa melhor e mais feliz, pois a cada desafio
superado vejo como uma conquista deste novo ser, que está sendo construído com muito
esforço.
Agora motivada por estas descobertas, sinto um sincero desejo de expandir o
aprendizado, deixando meu coração totalmente disponível para receber o rico manancial
de ensinamentos que o Oficina do Amor proporciona aos seus participantes. E assim
transformar aquele Ser orgulhoso, que um dia habitou estas Terras Amazônicas, em um
humilde aprendiz sequioso por adquirir os ensinamentos que outrora não soubera
aproveitar.
Minha amiga Espiritual me inspirou a seguinte frase: ―passado, presente e futuro
se misturam quando o som e o suave perfume da natureza nos impulsionam a escrever
uma nova e bela história, como a semente que cai da árvore generosa e ao tocar o solo,
agora adubado pelas folhas secas da desilusão e pelos ensinamentos da doutrina
Espírita, começa a germinar. A semente começa seu processo de germinação,
requerendo de mim, a cultivadora, trabalho árduo e carinhoso para que possa crescer
com segurança, vencendo os desafios aqui detectados e os novos que virão‖
Este novo olhar está sendo libertador, dando-me um novo ânimo.
Oficina do Amor, Oficina de luz em minha vida!
Meu sentimento é de gratidão por mais este grande aprendizado.
6. O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO – ODÉCIO
A decisão departicipar da elaboração deste artigo veio quando a
necessidade de compartilhar com outras pessoas tudo que a atividade Oficina do
Amor pode nos trazer de bom, foi maior do que qualquer questão individual que eu
tivesse. Algo me impulsionou nesta direção mesmo tendo ideia de todo o esforço que
isso me seria exigido.
Sempre tenho em mente as palavras de Bezerra de Menezes, que em
mensagem psicofônica através de Divaldo Franco, no 3º Congresso Espírita
Brasileiro em Brasília, no ano de 2010, disse que:
―...firmaste um compromisso com Jesus antes que mergulhasse na
indumentária carnal, de servi-Lo com abnegação e devotamento.
215
Prometeste que Lhe serieis fiel, mesmo que vos fosse exigido o
sacrifício... as mudanças morais são inadiáveis...‖
O que realmente foi ocorrendo durante a elaboração do texto base, foi que
tudo o que sempre foi vivenciado durante as atividades do Oficina do Amor parecia
estar passando como um filme em minha mente. Cada detalhe dos diversos
momentos de preparação para as viagens, de cada momento do que já vivenciamos
no barco do Oficina, cada avaliação pós-viagem, com as mediúnicas específicas,
estavam aflorando em recordações e principalmente em reflexões.
Muita coisa foi reavaliada por mim, durante os momentos a frente do
computador em que estava elaborando parte do texto deste artigo, principalmente a
aplicação de todos os aprendizados em minha vida. Com certeza, esta atividade de
elaboração era necessária em minha vida, para fortalecer muitos conceitos que já
tinha na teoria, mas ainda relutava em aplicá-los em meu dia a dia. Não se trata de
dizer que mudei de uma hora para outra, pois isto seria muita pretensão minha, mas
com certeza foi mais um ―tijolinho‖ que coloquei na escada de minha evolução.
Organização, dedicação, família, amizade, são questões que com certeza
consegui uma melhoria em minhas atitudes, durante estes meses de participação na
elaboração deste artigo.
O sentimento que tenho durante as atividades antes da viagem, durante
cada roupa arrumada, cada brinquedo embalado, cada rancho montado é de que
estou me preparando para devolver cada item material retirado, usurpado, dos que
aqui moravam no passado.
O sentimento que tenho durante a viagem é da necessidade do perdão, da
tentativa de me aproximar dos irmãos que aqui vivem às margens dos nossos rios,
para exercitar o bem, para reparar o mal que fiz anteriormente. Tenho a necessidade
de devolver em amor aos nossos ribeirinhos, tudo que retirei de expectativas, de
sonhos, de realidades e de ilusões no passado.
O sentimento que tenho após a viagem do Oficina do Amor, é de que posso
realizar muito mais, de que devo dar graças Deus por tudo que tenho e por todas as
oportunidades nesta reencarnação de ajudar o próximo, esteja ele às margens dos
rios ou ao meu lado em casa, no trabalho, nas ruas, em todos os lugares onde posso
trocar experiências com meu próximo.
Não é sentimento de que o trabalho foi realizado, não é isso! Tenho o
sentimento de que um pouco do que devia foi resgatado e, que literalmente o ganho
obtido com a viagem, é muito maior para mim do que para qualquer ribeirinho que tive
contato.
Sinto que tenho enormes comprometimentos e compromissos com esta
região. Não é à toa que minha vida tem sido canalizada para esta região. Hoje
entendo minhas idas e vindas para cá. A natureza e as pessoas que aqui habitam me
fazem sentir que tenho muita ligação com todo este conjunto. Daí sinto a necessidade
de aqui estar, conviver e interagir praticando tudo que tenho aprendido nestes anos
de Doutrina Espírita e de tentativa de reforma intima.
Agora, depois destes vários meses de elaboração deste artigo, refletindo
sobre a atividade do Oficina, refletindo sobre o que eu tenho vivido através dela,
refletindo sobre os resultados que ela me trás, vejo que esse ―impulso‖ que tive, foi
obviamente porque esse foi um dos compromissos por mim assumido. Deixar
registrado um pouco destes benefícios que recebo, para que no futuro, outros talvez
possam também ser beneficiados.
Enfim, a atividade do Oficina do Amor me ajuda a tentar colocar em prática
em meu dia, os ensinamentos que Jesus nos deixou. Muitas vezes caio, esmoreço,
216
mas tenho conseguido forças para continuar minha caminhada nesta vida. Com
certeza não é o único instrumento que tenho ao meu alcance, mas com certeza é um
dos que mais me tem dado ferramentas para isso, considerando os
comprometimentos e compromissos de minha realidade.
Agradeço a Deus e aos mensageiros espirituais que ficaram responsáveis
por me guiar nesta jornada, pois muitas vezes quando tudo parecia sem saída,
sempre aparecia uma alternativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2010.
XAVIER, Francisco C. Paulo e Estevão. Pelo Espírito Emmanuel. 40 ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2004.
XAVIER, Francisco C. Perante Jesus. Pelo Espírito Emmanuel. 1ª ed. São Paulo:
IDEAL, 1990.
Bíblia de Jerusalém. PAULUS, São Paulo, 2002.
217
LIDERANÇA COM CONFIANÇA: A OBRA É DO CRISTO!
Tânia Santos de Melo256
No IV Simpósio FAK, escrevi o meu primeiro artigo voltado para esse
importante evento, com o título ―Efetivação do apoio da arte, de forma
ordinária, no processo de melhoria dos assistidos da FAK‖.
Para escrever o artigo, foi necessário refletir sobre algumas questões de
essência como: O que é Arte espírita? Quem é o Trabalhador da Arte Espírita?
Para onde e como queremos caminhar, considerando a diretoria de artes como
atividade meio?257
Ao definir Arte Espírita nos baseamos mais especificamente nos
pensamentos de Emmanuel, na obra O Consolador, e em Léon Dennis, na
obra O Espiritismo na Arte. Para Emmanuel o conceito é bastante profundo:
A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das
criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina
manifestação desse ―mais além‖ que polariza as esperanças da alma
(Emmanuel, O Consolador, Q-161).
Léon Dennis complementa nos indicando os benefícios da arte para o
trabalhador e para quem a contempla:
A Arte é, por si mesma, plena de ensinamentos, de revelações, de
luz. Ela arrasta a alma em direção às regiões da vida espiritual, que é
a verdadeira vida, e que a alma anseia tornar a encontrar um dia
(DENIS, p. 41, 2013).
Estas duas citações traduzem grande parte do que quisemos expressar
no artigo. Mas, no processo de desenvolvimento do trabalho, além de refletir
sobre as questões acima citadas, também foi preciso um olhar sobre a
caminhada do que inicialmente era um grupo de artes na Casa, que passou
posteriormente para uma estrutura de núcleo, para enfim, com as mudanças
estatutárias ocorridas na Fundação Allan Kardec em 2014, passar para a
estrutura de diretoria (DART – Diretoria de Atividades Artísticas), integrando a
área de gestão denominada Aplicação da Mediunidade e da Arte.
Após a contextualização e reflexão dessas questões expostas,
chegamos à compreensão de que a arte reunia em si recursos que facilitam o
aprendizado, minimizam as aflições e inquietudes da alma, propiciam sintonia
com o sagrado e estimulam o exercício da caridade através do trabalho no bem
e da vivência cristã. Somou-se a isso o que estava sendo descrito no novo
Estatuto da FAK, que colocava a DART como atividade especial. Assim, fomos
256
Trabalhadora da Diretoria de Provisões de Recursos Mediúnicos - DPRM
257
Atividade meio era o termo utilizado antes de vigorar o novo estatuto da FAK de 2014, que passou a
classificar a Área Aplicação da Mediunidade e da Arte como atividade especial.
218
impulsionados a atuar de forma sistemática e regular, sobretudo, nas áreas de
atuação ligadas às atividades-fim da Instituição, descritas em seu Estatuto
(FAK, 2014).
Por tudo isso, ao final do artigo, foi colocada uma proposta com o
objetivo de estruturar uma atividade ordinária para a DART de apoio aos
assistidos ligados às atividades-fim da FAK.
A Escolha do tema veio num momento em que assumi um compromisso
com a liderança na diretoria de arte. Um momento diferente de vivência e
aprendizado, ainda que já estivesse vinculada à esta área desde que ingressei
na Fundação Allan Kardec, há aproximadamente vinte e oito anos.
Escrever o artigo foi uma espécie de preparação para entrar de forma
mais profunda na área e enxergar possibilidades de cooperar com a atividade e
com os seus trabalhadores, contribuindo em primeiro lugar para comigo
mesma, naturalmente.
Participante regular da atividade por muitos anos, tinha inicialmente um
compromisso maior com a divulgação da arte, com uma performance mais
voltada para atuação em teatro.
Neste novo momento, me vi convidada a pensar na arte ampliando sua
possibilidade de apoio dentro da FAK, como também na necessidade de
adequar a estrutura da diretoria às demais diretorias da Casa.
Outro aspecto mais evidenciado foi refletir sobre o trabalhador da arte
como médium. Neste sentido, houve maior vínculo ainda com o tema, pois em
minha jornada como espírito tenho identificado cada vez mais o compromisso
com a utilização nobre da mediunidade. Arte e mediunidade não são
meramente composições de uma área de gestão, é uma forma de perceber
minhas potencialidades de espírito imortal e aplicá-las ao bem, independente
da tarefa à qual me vincule.
Pensar no processo da arte na Fundação Allan Kardec me fez refletir
que assim como as atividades, as pessoas também passam por fases e ciclos
e, enquanto trabalhadores espíritas, percebemos a necessidade de olhar a
caminhada e amadurecermos sobre nossos papéis, não somente na casa
espírita, mas na vida.
Já ao pensar no trabalhador da arte como médium, ampliei minha visão
do compromisso que tenho em minha reforma íntima, pois em sendo o
verdadeiro artista o médium das belezas eternas, somos convidados a sermos
pessoas melhores, a nos esforçarmos para alcançarmos as belezas divinas,
que é o que a arte pode proporcionar.
Para sermos melhores é necessário identificarmos o que ainda não é
conquista. É preciso passar por desafios que naturalmente impulsionam o
crescimento do ser. Assim, minhas reflexões acerca da tarefa me fizeram
identificar que um grande desafio vivenciado na área é o de aceitar o papel da
liderança. Olhar mais para o outro. Não ter a atividade em si como o principal
foco tem sido um aprendizado. O líder é aquele que busca apoiar o
desenvolvimento do outro. O equilíbrio entre buscar a harmonia da atividade
219
com o bem-estar dos seus trabalhadores é desafiador. A dedicação, a
amorosidade, a escuta ativa, a paciência, a amizade são atributos necessários
ao líder, assim como a assertividade e a coragem do ―sim, sim; não, não‖.
Neste processo, às vezes sentimos solidão, a solidão daquele que precisa
tomar decisões e nem sempre conta com a aprovação de todos. Neste sentido,
foi importante exercitar a confiança e compreender que fazer o nosso melhor é
o essencial, é o que basta!
Em 2010, o Espírito Carlos Theodoro Gonçalves, através de mensagem
psicofônica recebida pela médium Josie Nobre, trouxe um conceito de líder que
é motivo de grandes reflexões para nós espíritas:
―Líder é todo aquele que compreendeu que a grandeza de seu papel
é a possibilidade de caminhar ao lado das pessoas buscando extrair
o que há de melhor nelas. Líder não influencia por vaidade, líder não
impõe o caminho ditatorialmente, líder não diz o que é melhor por
orgulho. Aquele que lidera com Jesus se aproxima, ama, ausculta a
alma de seu irmão, e dessa convivência salutar aufere o melhor para
si e auxilia o outro a extrair o melhor de si mesmo. Mas para sermos
exitosos neste propósito de liderar desta forma, é preciso sentir-se, é
preciso amar, porque é o amor que permite que acessemos a
sabedoria divina. A sabedoria de Deus não nos habita. Criados como
seres simples e ignorantes e estando em marcha evolutiva, não
somos sábios conhecedores do melhor. E nossa ferramenta de
evolução é o amor. Amamos, e por amar nos harmonizamos com
Deus, e, ao nos harmonizarmos com Ele, temos acesso às Suas
Verdades. A vivência desta harmonia nos propicia o ambiente de
liberdade amorosa, fraternidade e igualdade‖ (Reunião da Diretoria
Colegiada da FAK, em 10/11/2012).
O amigo espiritual nos faz aprofundar a visão do papel do líder e mostra
as oportunidades de crescimento que podemos ter ao exercê-lo. O conceito é
profundo e fala da prática do amor como ferramenta de evolução. Um pouco
diferente dos conceitos aos quais estamos acostumados a ver no mundo
corporativo, há a referência ao aprendizado pela convivência salutar, pela
fraternidade, com o exercício do nosso melhor incentivando e extraindo o
melhor do outro. Dentro da Casa Espírita podemos tender algumas vezes a
zelar mais pela atividade do que pelas relações, por vezes até esquecendo que
os trabalhadores também são assistidos, assim como os que procuram as
atividades na qualidade de apenas assistidos. Se observarmos com atenção,
perceberemos que convivemos mais tempo com os trabalhadores do que com
os assistidos. Isso é motivo para pensarmos sobre com quem realmente
devemos exercitar nossas relações e conviver de forma harmônica, doando o
nosso melhor.
Obviamente desejaremos sempre o melhor para nossas atividades e que
elas transcorram sempre na mais perfeita harmonia, dentro dos conceitos que
trazemos de harmonia. Mas, naturalmente, nessa convivência maior entre
trabalhadores, vão surgir desafios, como: formas de pensar diferente; desafios
da vida pessoal que podem esmorecer à vontade, fragilizando o companheiro;
220
lutas íntimas que podem trazer desequilíbrios temporários; falta de afinidades,
dentre outras circunstâncias que têm ressonância na tarefa, que então se
mostra como grande laboratório de almas, afins ou não, para que mutuamente
se apoiem e exercitem a fraternidade.
Ainda refletindo sobre o meu aprendizado, outro aspecto que amadureci
foi o de compreender que em a obra sendo do Cristo precisamos exercitar mais
a confiança, a fé. Considero de forma mais clara que existe no Plano Espiritual
um projeto para cada atividade, o que nos acostumamos a chamar de matrizes
espirituais. Nosso papel de líder espírita é considerar essas matrizes e nos
esforçarmos para nos aproximarmos ao máximo delas, no processo de
aprimorar as atividades da Casa, de maneira que ao longo do tempo possamos
seguir avaliando as estruturas e se estamos todos crescendo. Porque então me
agastar tanto com questões que fogem ao meu controle? Porque me inquietar
de maneira que a alegria no servir às vezes fica distante? Agora me faço essas
perguntas com maior frequência ou todas as vezes que surge um desafio e
penso em esmorecer. Sendo a tarefa do Cristo, não estamos sozinhos,
existindo uma organização maior do que a nossa visão pode alcançar.
Diante dessas observações, posso dizer que um grande aprendizado
após escrever o artigo, aplicá-lo nas diretrizes e vivenciar a diretoria, foi
aprender a confiar mais na Providência Divina e no apoio dos amigos
espirituais, entendendo que de fato não estamos sós, compreendendo melhor o
termo ―a obra é do Cristo‖. É preciso saber esperar, porque tudo tem seu tempo
Esta é uma lição que eu ainda estou estudando e exercitando. O tempo é de
Deus!
Por todas essas reflexões, considero que o estudo do tema foi muito
importante para meu novo ciclo, iniciado com o papel de diretora da DART. Por
um lado, pelo fato de exercitar fazer o ―download‖ das matrizes da atividade,
considerando que estávamos naquela época num momento em que
precisávamos revisar as diretrizes da diretoria, criadas em 2009. A revisão
também foi impulsionada pelo novo Estatuto da Fundação Allan Kardec, que
colocou a arte como atividade transversal, apoiando as demais áreas da
instituição. O exercício desse ―download‖ nos aproxima mais da espiritualidade
amiga e nos trás a ciência de uma obra que é coletiva.
Por outro lado, a vivência da liderança radiografou necessidades de
melhorias íntimas que antes não enxergava, como o exercício da persistência,
da paciência e da confiança, que estão contribuindo para meu crescimento,
ainda que não estejam consumadas como conquistas. Ou seja, o estudo do
tema me suscitou identificar realizações ainda necessárias e apontou
inquietudes e comportamentos que requerem atenção, me auxiliando assim a
pensar e direcionar minhas realizações futuras.
Os meus compromissos devem estar diretamente ligados às minhas
necessidades, sendo as tarefas apenas os meios para que eu possa atendê-
los. Identificar minhas necessidades é um grande passo para que a tarefa à
qual me vincule seja de fato instrumento para meu aperfeiçoamento.
221
O convite à liderança é um convite ao exercício do amor, vencendo o
personalismo tão arraigado em nós que, na maioria das vezes, queremos o que
é nosso e não verdadeiramente o que é do Cristo.
A confiança deve ser uma busca constante aos que abraçam a Doutrina
Espírita. Ela só será concreta se compreendermos porque devemos assumir
determinados papéis, entendendo o que é preciso fazer, como e porque
devemos fazer. A confiança impulsiona nossos esforços.
Gostaria de concluir com um trecho da mensagem ―Apóstolos de Hoje‖,
do Espírito Irmão Clementino, recebida em 14 de julho de 2014, na atividade do
Correio do Amor:
―Importante observarmos o que, em comum, caracteriza a vitória do
cristão-apóstolo: o amor e a confiança em Deus, o sacrifício pelo
trabalho e a abnegação, responsáveis pela instalação do reino de
Deus em si mesmo. Imperioso compreender a missão do Nazareno e
superar o movimento precípuo de atender a interesses próprios,
vendo no Cristo o meio para consecução desse intento. Somente
assim, teremos condições de sermos pastores de ovelhas. É preciso
confiar na misericórdia divina e reconhecer que a construção do reino
de Deus é longa, especialmente porque começa dentro de nós
mesmos‖.
Sigo, pois, refletindo sobre o que tenho buscado todos esses anos nas
fileiras da lide espírita, estando um pouco mais consciente da necessidade de
confiar em Deus e seguir fazendo o meu melhor, lutando ainda por desenvolver
algumas habilidades para que, através da liderança, possa conquistar um dia
uma conduta verdadeiramente cristã.
222
PRÁTICA DO EVANGELHO NO LAR À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA: UM
RECURSO ILUMINATIVO PARA A FAMÍLIA E AOS TRABALHADORES DA
FAK
Andréa Maciel Schüssler258, Jocelyn Nascimento das Chagas259
1. INTRODUÇÃO
Emmanuel no prefácio, do livro Vinha de Luz esclarece: ―O Evangelho é
o Sol da Imortalidade que o Espiritismo reflete, com sabedoria, para a
atualidade do mundo‖. Desse modo, o Evangelho apresenta às leis morais
ensinadas e vivenciadas por Jesus (ESE, Nota Explicativa 28), [...] referência
para todos os homens que desejam desenvolver-se de forma consciente e
voluntária.
Assim todos aqueles que almejam elevar-se em sabedoria e amor, é
indispensável que o Mestre Divino esteja presente em todos os momentos da
sua vida. Pois quando a luz imperecível da Boa Nova se faz conhecida com os
estudos na Casa Espírita, através da ampla literatura, palestras, podcasts,
entre outros, tem-se o compromisso de espraiar o perfume que a mensagem
exala aos círculos familiares, profissionais, sociais e culturais nos quais estão
inseridos. Conforme assevera Joanna de Ângelis quando recomenda a
importância do Evangelho no Lar:
[...] quanto mais os membros da família convivem em clima de
respeito e de amizade, mais amplas se lhes tornam as facilidades de
entendimento fraternal, predispondo-os à convivência saudável fora
do lar, apesar da complexidade do grupo social e dos problemas
muitos variados (FRANCO, p 143).
É nesse entendimento que nos juntamos às atividades de estudo e
implantação do Evangelho no Lar. Considerando as reflexões geradas pela
experiência na prática, sucedeu a busca por saber se os lares dos
Trabalhadores da Fundação Allan Kardec estão realizando o Culto do
Evangelho no Lar, em seu ambiente doméstico.
Neste contexto, procurou-se prover subsídios que possibilitem uma visão
aproximada deste benefício sugerido por Jesus, há mais de 2 mil anos.
Percebendo os desafios familiares para a concretização do Culto do Evangelho
no Lar, o que possibilitará a estruturação de possíveis ações que estimulem a
vivência do Evangelho também no âmbito familiar.
2. ASPECTOS GERAIS DO EVANGELHO NO LAR
O QUE É O CULTO DO EVANGELHO NO LAR?
O Evangelho no Lar é um encontro semanal em família, no santuário
doméstico objetivando estudar o Evangelho de Jesus à luz da Doutrina
Espírita. Emmanuel, esclarece:
[...] a criatura ama o templo que lhe orienta o modo de ser, contudo,
não se restringe às reuniões convencionais para as manifestações
adorativas, e sim traz o Amigo celeste ao santuário familiar, onde
258
Fundação Allan Kardec – FAK, Manaus, Amazonas, Brasil.
259
Fundação Allan Kardec – FAK, Manaus, Amazonas, Brasil.
223
Jesus, então passa a controlar as paixões, a corrigir as maneiras e a
inspirar as palavras, habilitando o aprendiz a traduzir-lhe os
ensinamentos eternos através de ações vivas, com os quais espera o
Senhor estender o divino reinado da paz e amor sobre a Terra.
(XAVIER, 2012a, p 6)
O Lar é a primeira escola das almas, onde o ser desenvolve-se
moralmente, aprimorando tendências e disciplinando inclinações segundo a
condução recebida. Bezerra de Menezes esclarece: ―Trazer as claridades da
Boa Nova ao templo da família é aprimorar todos os valores que a experiência
terrestre nos pode oferecer‖ (XAVIER, 1986, p 14).
A realização do Evangelho no Lar oportuniza aos participantes, sejam
familiares, amigos, vizinhos e outros, o aconchego familiar, momentos de
reflexão e diálogos amenos sobre os desafios individuais e coletivos
enfrentados naquela ocasião. Tendo por base os ensinamentos de Jesus,
conduzindo a decisões responsáveis e amorosas, conforme afirma o Amigo
celeste:
[...] A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se
não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como
aguardar a harmonia das nações? Se não nos habituamos a amar o
irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como
respeitar o Pai que nos parece distante? Jesus (XAVIER, 2012a, p 7)
E nestes encontros semanais, as palavras luminosas do Mestre ressoam
pela casa, pelos pensamentos dos seus moradores, formando uma psicosfera
de harmonia e paz. Fortalecendo os corações para a sua vida de relação,
consigo e com o próximo.
Quando o ensinamento do Mestre vibra entre as quatros paredes de
um templo doméstico, os pequeninos sacríficos tecem a felicidade
comum. A observação impensada é ouvida sem revolta. A calúnia é
isolada no algodão do silêncio. A enfermidade é recebida com calma.
O erro alheio encontra compaixão. A maldade não encontra brechas
para insinuar-se (XAVIER, 2016, p 6)
Assim, a prece em família é um antídoto benéfico, nas reflexões
advindas das leituras e estudos, cada um observa-se e busca melhorar-se e
consequentemente, aquele ambiente comum.
Na edificação da paz doméstica [...] E, sem dúvida, a prece
representa a indispensável alavanca renovadora, demovendo
obstáculos no terreno duro da incompreensão‖ (XAVIER, 2012b, p
108).
QUAIS OS BENEFÍCIOS FISICOS, PSIQUICOS E EMOCIONAIS DO
EVANGELHO NO LAR?
O Lar é um lugar de acolhimento. E realizar uma vez na semana o Culto
do Evangelho é atrair harmonia, paz e equilíbrio para o ambiente e tendendo
ao benefício moral dos seus moradores. André Luiz nos diz que, quando no lar:
224
São levantadas paredes espirituais com substâncias sublimes do
amor, somente entram, nesse ambiente, Espíritos autorizados,
aqueles que o guardam (XAVIER, 201, p 233).
Portanto, quando se acende a luz do Evangelho nos lares e nos
corações é esperado que os celeiros de sentimentos se multiplique:
[...] Nunca poderemos enumerar os benefícios da oração. Toda vez
que se ora num lar, prepara-se a melhoria do ambiente doméstico.
Cada prece do coração constitui emissão eletromagnética de relativo
poder. Por isso mesmo, o culto familiar do Evangelho não é tão só um
curso de iluminação interior, mas também processo avançado de
defesa exterior, pelas claridades espirituais que acende em torno. O
homem que ora traz consigo inalienável couraça. O lar que cultiva a
prece transforma-se em fortaleza [...] (XAVIER, 2011, p 233).
As vibrações benéficas da prece em família geram no espaço que
circunda a residência, proteções luminosas, que afastam os espíritos infelizes e
emanações inferiores:
[...]. As entidades das sombras experimentam choques de vulto, em
contacto com as vibrações luminosas deste santuário doméstico, e é
por isso que se mantem a distância, procurando outros rumos...
(XAVIER, 2011, p 233).
Nesse contexto, observa-se a casa como uma construção física,
constituída de diversos materiais, com oscilações peculiares e específicas. No
entanto, como tudo no universo é energia e vibração, matéria energia
condensada, as benções benéficas da prece em família geram no espaço que
circunda a residência proteções que evitam a entrada dos Espíritos mal-
intencionados (Lar Espírita Peixotinho, 2017).
BENEFÍCIOS DO ESTUDO DO EVANGELHO NO LAR CONFORME OEL
De acordo com o folheto informativo do Evangelho no Lar, usados na
divulgação junto a Fundação Allan Kardec e as famílias visitadas, encontra-se
os benefícios ocasionados por esta atividade em família:
a) Ajuda o lar a ter um encontro familiar regular, no qual possam ser
estudados, de forma natural e simples, os ensinos de Jesus visando
ao melhoramento moral dos seus membros;
b) Enseja oportunidades para que os membros da família desenvolvam
o hábito de orar juntos e de buscar conscientemente a união e a
harmonia entre todos o que gera, por consequência, clima de
fraternidade para a convivência;
c) Atrai a presença e proteção dos Bons Espíritos para o lar, que por
inspirações benéficas ajudarão na superação das dificuldades;
d) Contribui para a melhoria de adversários espirituais dos membros da
família, face à modificação dos pensamentos e sentimentos dos
componentes do grupo familiar;
e) Transforme o lar em escola hospital espiritual, no momento do
estudo, uma vez que, os Bons Espíritos conduzirão para o ambiente
doméstico Espíritos necessitados de ensinamentos e ajuda, o que
lhes será dado;
225
f) Ajuda a criar, em torno no lar, barreiras de luz, para evitar investidas
de espíritos inferiores e assédios de vibrações negativas, à medida
que os membros da família se esforcem em busca de melhoria nas
relações mutuas;
g) Gera vibrações benfazejas ensejando aos Bons Espíritos a
possibilidade de trabalharem em prol do Bem, ajudando pessoas em
riscos, como os que estão à beira do suicídio, os que estão prestes a
sofrer violências, os lares em desarmonias graves, etc.
OS PROCEDIMENTOS PARA FAZER O ESTUDO DO EVANGELHO NO LAR
Na orientação do Evangelho no Lar, há indicativos de como proceder na
realização deste estudo em família: Preparação do ambiente físico; Preparação
interior dos participantes; Prece inicial; Leitura de uma página do Evangelho;
Convite a que se façam os comentários; Prece de encerramento; e servir a
água fluidificada.
ORIENTAÇÕES COMPLEMENTARES PARA FAZER O ESTUDO DO
EVANGELHO NO LAR
Neste tempo, disposições complementares com intuito de auxiliar e
facilitar a condução do Estudo: Os estudos deverão ser realizados nos mesmos
dias e horários, uma vez por semana; Cada família deve optar por dia e horário
que achar mais adequado para a realização do estudo; Para o estudo pode-se
usar qualquer obra que faça comentários, estudos e interpretação dos ensinos
do Evangelho de Jesus; Em relação à duração do estudo, uma faixa razoável
se situa entre 30 a 45 minutos; Em circunstâncias especiais, a periodicidade e
a duração do estudo do Evangelho pode ser ampliada; O estudo do Evangelho
no Lar não é espaço adequado para atividade mediúnica e pode ser muito
nocivo para toda a família; A presença de visitas não deve constituir-se em
obstáculo para a realização do estudo do Evangelho no Lar; No dia destinado
ao estudo, em especial, todos deverão esforçar-se para a preservação da
harmonia doméstica; Quando acontecer de parte dos familiares estar ausente,
pelo menos um, deve conduzir a atividade no dia e hora marcados;
Encontrando-se toda a família em viagem, as reuniões devem continuar no
lugar e horário onde estiverem.
3. DESENVOLVIMENTO
O presente estudo pode ser percebido como uma pesquisa qualitativa,
descritiva por acercar-se de fatos registrados, analisados, classificados e
interpretados, sem a interferência dos pesquisadores, usando técnicas
padronizadas de coleta de dados (questionário), aplicados aos Trabalhadores
da Fundação Allan Kardec (FAK). Este tipo de pesquisa facilita a obtenção de
uma base de conhecimento sobre o comportamento da população estudada,
referente a prática do Culto do Evangelho no Lar.
1. Métodos
A trajetória metodológica é dividida em três fases: (1) Fundamentação
Teórica, onde são estudados os temas: Aspectos Gerais do Evangelho no Lar,
226
O que é o Culto do Evangelho no Lar, Quais os benefícios físicos, psíquicos e
emocionais do Evangelho no Lar, Benefícios do Estudo do Evangelho no Lar,
Os procedimentos para fazer o estudo do Evangelho no Lar, Orientações
complementares para fazer o estudo do Evangelho no Lar; (2) Aplicação da
Pesquisa e Análise dos Resultados, onde primeiramente estuda-se as
respostas obtidas dos Trabalhadores pesquisados; (3) Apresentação dos
resultados da pesquisa.
2. Resultados e Discussão
DIRETORIAS E TRABALHADORES
A pesquisa foi realizada em todas as Diretorias da Fundação Allan
Kardec.
DADOS DA PESQUISA
1. Número de Trabalhadores x Número de Questionários Respondidos
A Fundação Allan Kardec, possui aproximadamente 629 Trabalhadores, a
pesquisa foi distribuída nas diversas diretoria e 203 Trabalhadores (32%)
responderam o questionário. Portanto, consideramos que o percentual de
respostas obtidas nos permite ampliar os resultados obtidos para todo o universo
de trabalhadores, com segurança matemática.
32% DE RESPOSTAS
800
600
400 629
200 203
0
Total Trabalhadores Total de Respostas
Figura 1 - Respostas recebidas versus total de trabalhadores da FAK
2. Distribuição das respostas por Diretoria
O engajamento das Diretorias da Fundação foi de fundamental importância
para a realização da pesquisa. Obtivemos respostas de todas as Diretorias.
227
DA DAMI DAU DART DAEA DAT
DED DEIJ DAMA DAEI DAF DAP
Figura 2 - Participação de cada Diretoria na pesquisa
3. Prática do Evangelho no Lar
Observa-se neste gráfico que um número expressivo de Trabalhadores realiza
o Culto do Evangelho. Porém, apenas 60% realiza o culto com a participação dos
familiares. E temos um percentual, não desprezível, de 15% dos trabalhadores
que ainda não praticam o Culto do Evangelho no Lar. O que demonstra uma
necessidade de reforçar juntos aos trabalhadores a importância dessa prática.
Não realizam
o Evangelho Realizam
no Lar Evangelho
15% sozinhos
25%
Realizam
Evangelho
com a família
60%
Figura 3 - Engajamento dos Trabalhadores e suas famílias na prática do Evangelho no Lar
4. Participação do Grupo Familiar
Verifica-se sobre esses dados algo relevante quanto a participação dos Jovens
e das Crianças no Evangelho no Lar. A participação dos jovens é maior que a
participação dos adultos das famílias. Porém, a participação das crianças ainda é
pequena, indicando que nas orientações para implantação do Evangelho no Lar
devemos enfatizar a necessidade de incluirmos a participação das crianças como
fator de educação e aprimoramento moral destas.
228
100%
90% 73% 72%
80%
60%
70%
60% 42%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Adultos Idosos Jovens Crianças
Figura 4 - Distribuição, por faixa etária, dos membros da família na prática do Evangelho no Lar
5. A Religião dos membros que compõem a Família
A pesquisa demonstrou que pouco mais de 50% das famílias dos
trabalhadores da FAK são espíritas. Portanto, quase metade das famílias
pesquisadas possuem outras religiões inseridas no contexto familiar.
Outra
Religião;
47%
Espíritas;
53%
Figura 5 - Percentual de famílias não espíritas entre os trabalhadores da FAK
6. Conhecimento da Orientação do Evangelho no Lar
Um percentual, razoável, de Trabalhadores declara desconhecer a orientação
do Evangelho no Lar realizada pela DAF.
não;
23%
Sim;
77%
229
Figura 6 - Percentual de Trabalhadores da FAK que conhecem a atividade de orientação ao E.L.
7. Participação na Orientação do Evangelho no Lar
Temos um número relevante de trabalhadores que declaram nunca ter
participado de uma orientação para a implantação do Evangelho no Lar.
não;
20%
sim;
80%
Figura 7 - Percentual de Trabalhadores que já participaram de alguma orientação para o E.L. na FAK
8. Tentativa de Implantar o Evangelho no Lar
Com relação aos trabalhadores da FAK que ainda não praticam o Evangelho
no Lar, a pesquisa mostrou que a maioria já tentou a implementação dessa
prática, pelo menos, 2 vezes, sem sucesso.
1x
38%
Mais
de 2X
51%
2x
11%
Figura 8 - Tentativas feitas pelos trabalhadores para a implantação do Evangelho no Lar
9. Principais Empecilhos na Implantação do Evangelho no Lar
Os dois maiores empecilhos para a implantação do Evangelho no Lar pelos
trabalhadores da FAK são: a Falta de Motivação para fazer sozinho e a Questão
Religiosa, que podem ter uma ligação entre si. Isso pode ser um indicativo de que
o trabalhador e sua família estejam encarando o Evangelho no Lar como uma
atividade espírita e não como uma ação cristã.
230
Falta Incompati
motivação bilidade de
para fazer horários
sozinho 21%
41%
Questôes
Religiosas
38%
Figura 9 - Principais empecilhos para a Implementação do Evangelho no Lar
10. Principais Dificuldades Durante a Realização do Evangelho no LAR
Para aqueles que praticam o Evangelho no Lar, o cansaço e o sono são os
fatores que mais dificultam a realização dessa prática.
Outros
Agito das 2%
crianças
17%
Cansaço
Sono 49%
32%
Figura 10 - Principais dificuldades enfrentadas a realização do Evangelho no Lar
11. Preparação Para a Realização do Evangelho no Lar
Este item da pesquisa teve como objetivo verificar se a preparação interior é
uma preocupação do trabalhador e da família para a prática do Evangelho no Lar.
O resultado demonstra que quase a metade dos entrevistados não demonstra
esta preocupação.
231
100%
80% 48%
60%
31%
40%
20%
0%
Não consideram a Não se preocupam com a
Preparação interior dos preparação do ambiente
participantes
Figura 11 - Percentual que demonstra preocupação com a preparação interior antes da prática do Evangelho
no Lar.
12. O Uso do Evangelho
A maioria dos trabalhadores utilizam o Evangelho Segundo o Espiritismo como
base para a condução do Culto do Evangelho no Lar. Porém, um percentual não
desprezível utiliza, apenas, Obras Complementares para realizar o Culto.
não
22%
sim
78%
Figura 12 - Utilização do Evangelho como Base para a realização do Evangelho no Lar
13. Realização do Evangelho no Lar Quanto as Ausências da Família
A maioria dos trabalhadores e suas famílias realiza o Evangelho no Lar quando
se ausenta de sua residência.
Não
acontece
28%
Acontece
aonde a
família
está…
Figura 13 - Percentual de trabalhadores que realizam o Evangelho no Lar mesmo distante de casa
232
14. Pessoas Não-Espíritas Que Participam do Evangelho no Lar
Percebe-se que uma parcela importante dos familiares não-espíritas participa
da realização do Evangelho no Lar.
Sim
Não 48%
52%
Figura 14 - Percentual de participação dos membros não-espíritas no Evangelho no Lar
15. Ausência Dirigente o Evangelho no Lar Acontece
A pesquisa demonstra que quando da ausência do dirigente, o Evangelho no
Lar acontece em mais de 50% das famílias.
Não
45%
Sim
55%
Figura 15 - Realização do Evangelho na ausência do Dirigente
16. Oração Pelos Vizinhos
A maioria dos praticantes do Evangelho no Lar preocupam-se pelo bem-estar
de seus vizinhos.
Não
24%
Sim
76%
Figura 16 - Preocupação com a vizinhança, pelos praticantes do Evangelho no Lar.
233
17. BENEFÍCIOS PERCEBIDOS COM A PRÁTICA DO EVANGELHO NO LAR
O Ambiente Harmônico, União Familiar e a Esperança são apontados como os
principais benefícios percebidos pelos praticantes do Evangelho na Lar.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Figura 17 - Principais Benefícios percebidos pelos praticantes do Evangelho no Lar
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trabalhar neste artigo foi uma experiência altamente enriquecedora, nos
proporcionando momentos de muita reflexão e aprendizado. As informações
obtidas com a pesquisa nos permitem levantar alguns pontos importantes
sobre a prática do Evangelho no Lar pelos Trabalhadores da FAK:
1. 15% dos trabalhadores não praticam o Evangelho no Lar (Figura 1). Se
consideramos que 20% dos entrevistados ainda não participaram de
nenhuma orientação nesse sentido (Figura 8), pode haver uma ligação
entre esses dois itens. Isso pode estar demonstrando a necessidade de
intensificarmos a Orientação entre os trabalhadores, o que poderia
ocorrer na reunião de harmonização, ou, nos encontros de avaliação.
2. O número de trabalhadores que realizam o Evangelho sozinhos é de
número relevante. Isso pode ser reflexo de uma ideia equivocada de que
o Evangelho no Lar é uma prática Espírita, quando, na verdade, é uma
prática cristã. O fato de quase a metade dos familiares não-espíritas não
participar do Evangelho no Lar (Figura 15) pode ser uma demonstração
dessa interpretação equivocada, visto que a Questão religiosa foi um
dos fatores apontados como impedância da implementação do
Evangelho o Lar (Figura 10).
3. A baixa participação das crianças no Culto do Evangelho no Lar também
é algo que nos chamou a atenção na pesquisa. Essa informação pode
indicar a necessidade de esclarecimento junto aos trabalhadores sobre
234
os benefícios para a criança, se ela faz parte da atividade junto com os
demais membros da família.
4. Os benefícios da prática do Evangelho no Lar são percebidos de forma
contundente pelos praticantes. As informações coletadas demonstram
que o ambiente doméstico fica mais harmônico, a família mais coesa,
etc, o que gera uma condição propícia para a reforma íntima dos
membros da família e fortalecimento dos laços fraternais.
No mundo atual, quando a família sofre intensa pressão, o Evangelho é
o roteiro para uma família harmonizada. Através das orientações sábias,
amorosas e serenas de Jesus, a família encontra o refrigério para suas dores,
o esclarecimento para o progresso moral de seus membros, a fé e a esperança
para enfrentar as provas do dia a dia.
As evidências nos levam a inferir que o Culto do Evangelho no Lar é
uma das principais ferramentas para a renovação moral do Brasil e do mundo.
O que nos leva a uma última reflexão e busca por resposta: ―Brasil, Coração do
Mundo, Pátria do Evangelho‖ sem a implementação do Culto do Evangelho no
Lar, é possível?
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
(Andréa Maciel Schüssler)
COMPROMETIMENTO
A causa percebida do envolvimento com o tema proposto para o artigo:
―O Culto do Evangelho no Lar‖, emana de uma trajetória de vida sob a
orientação da Doutrina Espírita. É compromisso assumido em fundamentar os
ensinos morais do Evangelho de Jesus primeiramente em mim e ainda levar as
luzes da Boa Nova às pessoas que chegam em minha vida.
REALIZAÇÕES
As reflexões advindas deste estudo, sobre os benefícios do Evangelho
no Lar, confirmam o que foi observado na prática, fazendo há mais de 20 anos
o Culto em meu lar: a importância de criar e manter uma ambiência no
aconchego doméstico sob as luzes da Boa Nova, de esperança, fortalecimento
e harmonia, confiando em dias melhores sucedidas do aperfeiçoamento moral
dos indivíduos que compõe a família. E com esse sentimento, houve a
necessidade de levar, esta experiência de conhecer o Evangelho de Jesus,
além dos muros da Casa Espírita.
COMPROMISSOS A LONGO PRAZO
A Fundação Allan Kardec, tem a atividade de Orientação do Culto no
Evangelho no Lar, vinculada a Diretoria da Família (DAF), divulgada aos
Assistidos da Casa. No entanto, observou-se nas conversas e depoimentos
que alguns Assistidos-Trabalhadores não têm o hábito do Culto do Evangelho
em seus lares. Assim, pensamos em coletar informações, através de
questionário, sobre a prática do Evangelho no Lar pelos Trabalhadores da
Casa. E diante desses dados, sucede definir movimentações de alcance mais
235
amplo sobre a relevância da oração em família, nessa dinâmica demonstrando
que o conhecimento do Evangelho apenas não basta, mas através dos
ensinamentos morais do Cristo aceitar o convite a melhoria interior, trazendo
como consequência o esforço de construir e aprimorar o bem em seu íntimo,
na melhoria comportamental, na retidão de conduta em cada membro familiar.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
(Jocelyn Nascimento das Chagas)
COMPROMETIMENTO
O Evangelho é um tema sempre me foi muito caro. Quando ingressei na
Doutrina Espírita, percebi uma necessidade, imperativa, de trabalhar na sua
divulgação e de buscar a prática do mesmo em minha vida. Isso, com certeza,
se deve a um sentimento que tenho de que já fui um ―aproveitador‖ do
Evangelho.
Hoje, foi me dado a chance de esclarecer-me e aos que me rodeiam, através
do Estudo do ensinamento de Jesus. Está claro para mim, que já falhei nessa
tentativa outras vezes. Portanto, esta oportunidade não pode ser desperdiçada.
REALIZAÇÕES
Realizando o Culto do Evangelho no Lar a 3 anos, pude perceber que o
conhecimento e a prática do Evangelho em família trazem luz, harmonia,
amizade e esperança ao núcleo familiar. Essa prática fortalece os vínculos
entre os membros da família e nos possibilita que possamos levar esta
experiência aos que convivem conosco. Hoje, nos sentimos comprometidos em
evitar situações e discussões que afetem a harmonia de nosso Lar.
As pessoas que nos visitam comentam sobre o ambiente acolhedor e
harmonioso de nossa casa. Na Oportunidade mencionamos que se deve ao
fato de que ali se pratica o Culto do Evangelho o Lar.
Como parte da equipe de orientação do Evangelho no Lar, da FAK,
temos a benção de ouvir testemunhos diversos sobre os benefícios desta
prática e a oportunidade de levar corações a conhecer este presente de Jesus
que é o Evangelho no Lar.
COMPROMISSOS A LONGO PRAZO
Fazendo parte da equipe de Orientação do Culto no Evangelho no Lar,
vinculada a Diretoria da Família (DAF), participamos da divulgação desta
atividade aos Assistidos da FAK. Essa atividade me permitiu perceber que
ainda temos muitos corações que desconhecem Jesus e seus ensinamentos.
Assim, este artigo é a materialização de um compromisso que assumi, com a
divulgação do Evangelho. A longo prazo, procurarei estar ainda mais
engajado, de forma a aproveitar, ao máximo, a oportunidade que me foi dada
de iniciar a reparação dos meus equívocos em relação ao Evangelho.
236
AGRADECIMENTOS
São tantos os que nos auxiliaram nesse artigo que qualquer ensaio de
nominar pessoas cometeria em uma grande injustiça. Ainda assim, não
podemos deixar de agradecer ao nosso orientador Laurindo Campos pela
paciência e dedicação em revisar todos os detalhes do trabalho. A
Coordenadora do Evangelho, Ana Célia por ser uma fonte de inspiração para
todos. Os Diretores e Coordenadores das Diretorias da Fundação Allan Kardec,
que divulgaram a intenção do projeto na distribuição dos questionários com os
seus Trabalhadores.
Agradecimentos especiais aos Benfeitores Espirituais, que nos
acompanham e nos ensinam preciosas lições de sabedoria e perseverança. A
Deus, sempre amoroso e cuidados. O Mestre Jesus que nos ampara, encoraja
e fortalece em nossos ideais no caminho do bem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Folder de Orientação para a Implantação do Culto do Evangelho no Lar.
Fundação Allan Kardec – FAK, Manaus, Amazonas, Brasil.
FRANCO, Divaldo Pereira. Constelação Familiar. Pelo espírito de Joana de
Angelis. 3 ed., Salvador: Editora Leal p. 143.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo (Nota Explicativa 28).
116 ed. FEB, Rio de Janeiro. 1999.
Lar Espírita Peixotinho. Disponível em: <http://www.peixotinho.org.br/
beneficios>. Acesso em: 05 Set 2017.
XAVIER, Francisco Cândido. Jesus no Lar. Pelo Espírito Neio Lúcio. ed. FEB,
Brasília. 2012a.
XAVIER, Francisco Cândido. Culto Cristão no Lar. Luz no Lar. Espiritos
Diversos. 12 ed. Brasília: FEB, 2016.
XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros. Pelo Espírito André Luiz Ed
Especial. Brasília: FEB, 2011.
XAVIER, Francisco Cândido. Evangelho no Lar. Temas da Vida. Pelo Espírito
Bezerra de Menezes. Rio de Janeiro: Ed FEB, 1986.
XAVIER, Francisco Cândido. Prefácio e A Prece Recompõe. Vinha de Luz.
Pelo Espírito Emmanuel. Brasília: Ed FEB, 2012b.
237
APOIO MEDIÚNICO À MELHORIA INTERIOR: REFLEXÕES SOBRE AS
DIRETRIZES DE FUNCIONAMENTO NA FAK
José Laurindo Campos dos Santos 260
Francis Eduardo Sgarbi 261
1 – INTRODUÇÃO
Ao longo de nossas existências, diversos eventos marcantes contribuíram para
evidenciar a necessidade da busca por esclarecimentos íntimos e aprendizagem como
base para compreensão de verdades espirituais e do plano físico. Essa jornada é
certamente orientada pelo plano divino que, de forma específica, nos favoreceu o vínculo
com a Fundação Alan Kardec (FAK), casa que nos acolhe a todos com carinho,
proporcionando a instrução e a oportunidade do trabalho no Bem.
O exercício do trabalho nas atividades da FAK, fortalece em todos, a determinação
na reconciliação dos comprometimentos de existências pretéritas e em abraçar cada novo
compromisso. Tal motivação do compromisso nos levou ao serviço no Tratamento
Espiritual, por meio do Estudo em Grupo para a Melhoria Interior (EGMI), que já na tarefa
de Dirigente de Estudos, temos a oportunidade de participar de reuniões de apoio
mediúnico e assim ampliar a visão e compreensão das vinculações existentes nas salas
de estudos e da natureza espiritual dos assistidos. Percebe-se que espíritos
desencarnados, quando vinculados a espíritos encarnados em Tratamento Espiritual,
motivados por sentimentos inferiores, constituem um agravante à recuperação dos
assistidos.
Objetivando o consolo e o alívio, a reforma intima do ser e a vivência da prática do
Bem dos corações envolvidos, a FAK disponibiliza recursos para o Tratamento Espiritual
que é executado pelo Estudo em Grupo para a Melhoria Interior. A intervenção é
realizada por meio do apoio mediúnico, onde as ações de Benfeitores Espirituais são
dirigidas em favor dos assistidos. Esclarecimentos evangélicos por meio de estudos
proporciona a assimilação de sentimentos renovadores e reformadores, despertando o
amor e a compreensão, permitindo a libertação Espírito-Assistido para o continuar de
suas jornadas. Os instrumentos que operacionalizam as atividades da FAK estão
orientados nas Diretrizes de Funcionamento com propósito de realização eficiente e
segura.
Este trabalho apresenta questões que consideramos essenciais e suas reflexões
sobre as considerações das diretrizes de funcionamento e o que se recomenda na
atividade mediúnica, sobre os assistidos encarnados e desencarnados, sobre os temas
discutidos, e o atendimento dos espíritos vinculados aos assistidos.
2 – A DIRETORIA DE APOIO A MELHORIA INTERIOR NA FAK
A Federação Espírita Brasileira (FEB) fundamenta o Atendimento Espiritual no
Centro Espírita com a passagem, ―Vinde a mim todos vós que estais aflitos e
sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo
que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é
260
Fundação Allan Kardec – FAK, Manaus, Amazonas, Brasil.
261
Fundação Allan Kardec – FAK, Manaus, Amazonas, Brasil.
238
suave o meu jugo e leve o meu fardo.‖ JESUS, Mateus, 11:28 a 30, O Evangelho
Segundo o Espiritismo, cap. VI, it. 1, (FEB, 2006).
O Atendimento Espiritual por conceito, compreende um conjunto de atividades que
objetiva atender, adequadamente, todos os que nos procuram e frequentam o Centro
Espírita com o desejo de obter esclarecimentos, orientações, ajuda e assistência
espiritual e moral diante das circunstâncias da vida.
Para atender a tais propósitos, o objetivo primordial é o de acolhimento de irmãos,
por meio de ações fraternas e continuadas, de acordo com os princípios do Evangelho à
luz da Doutrina Espírita, oferecendo aos que frequentam a Casa Espírita – em especial
aos que o procuram pela primeira vez – o apoio, o esclarecimento, a consolação e o
amparo de que necessitam para vencer as suas dificuldades (FEB, 2006).
Para a realização exitosa do suporte espiritual aos necessitados, a FAK está
organizada pelas atividades principais, que incluem: (a) estudo e exercício do amor; (b)
assistência ao trabalhador e família; (c) correio do amor; (d) aplicação da mediunidade e
da arte; (e) acolhimento e assistência espiritual; e (f) administração e comunicação. Para
a operacionalização plena das atividades foi organizada em diretorias e núcleos, onde as
atividades são instrumentadas via diretrizes de funcionamento, e as mesmas são
avaliadas integralmente e atualizadas regularmente. A Figura 1 ilustra a organização para
o apoio aos trabalhadores e assistidos vigente.
É notado que a FAK dispõe de diversas atividades mediúnicas, que são realizadas
com propósitos específicos e ocorrendo em diretorias específicas. Nossos estudos e
reflexões se atêm às atividades de Acolhimento e Assistência Espiritual na Diretoria de
Apoio a Melhoria Interior (DAMI), das reuniões de Apoio Mediúnico à Melhoria Interior
(AMMI). As reuniões mediúnicas são destinadas à prática da assistência aos espíritos
desencarnados necessitados (vinculados às salas ou membros participantes do EGMI) de
orientação e esclarecimento evangélicos, assim como espíritos orientadores das
atividades que apoiam a todos para que o atendimento ocorra de forma fraterna e segura.
Em caráter específico, a atividade propicia aos membros espirituais dos grupos de
estudo oportunidade para que possam ser acompanhados regularmente, além de
despertar neles os sentimentos do bem, do consolo e da lucidez de sua realidade e da
possibilidade de alívio de suas dores, pelos ensinamentos evangélicos.
Também, permite ampliar a realidade dos dois planos pela interação entre
encarnados e desencarnados, permitindo aos trabalhadores da DAMI uma percepção
autêntica da sala de estudo, ou coordenadoria, por intermédio das orientações, alertas,
convites e ideias alimentadas pelos espíritos envolvidos com as atividades. Ainda,
impactar positivamente na dinâmica de atuação dos encarnados, assim como na forma de
funcionamento da atividade de estudo do Evangelho de Jesus.
2.1 – Suporte à Atividade
A dor ou o amor são os principais motivos que levam alguém a uma Casa Espírita,
buscando consolo, alívio e orientações para suas aflições e esclarecimentos sobre a
realidade espiritual. Uma vez que nunca estamos sós e o convívio com os espíritos
desencarnados é uma constante, os vínculos com assistidos são constituídos das mais
variadas motivações. Uma vez na Casa Espírita, os atendimentos aos assistidos também
são realizados aos desencarnados que os acompanham. Na FAK, o AMMI – Apoio
Mediúnico para a Melhoria Interior – procede o acolhimento nos dois planos, que são
realizados com amor e sentimento de fraternidade, extensiva à toda natureza dos
239
desencarnados, em muitos dos casos, espíritos inimigos dos assistidos encarnados e
frequentadores de atividades nobres.
Figura 1 – Organização para o apoio aos trabalhadores e assistidos da FAK - (Fonte:
FAK, 2017).
Durante as atividades de estudo na FAK, acontecem intensos atendimentos
aos desencarnados que são levados a interagirem com os encarnados das salas para,
sob orientação dos coordenadores da atividade no Plano Espiritual, utilizar as
vibrações e energias produzidas pelos encarnados.
3 – DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE NO AMMI
3.1 – A Forma Geral
As atividades são realizadas nos dias de ocorrência de EGMI, contando com uma
equipe do AMMI específica para o referido dia. Toda a equipe participa da abertura das
atividades da DAMI, com o objetivo de interação com a psicosfera do grupo e da
harmonização, prévia ao encontro, e na sequência, dirigem-se para o local onde ocorrerá
o encontro.
O AMMI organiza um calendário trimestral, onde é indicado a sala a ser atendida e
a DAMI define o tema de estudo na data da reunião. Os dirigentes das salas são
informados sobre o dia de sua participação, devendo haver revezamento dos mesmo para
o atendimento. O atendimento das salas de Estudo em Grupo para os Jovens, Idosos e
Adultos no direcionamento para Consolo e Alívio será feito em duas reuniões mediúnicas
seguidas. As salas de Estudo em Grupo para os Adultos direcionadas para a Reforma
Íntima e a Prática do Bem serão atendidas somente em uma reunião mediúnica.
240
A equipe envolvida na atividade é formada, pelo menos, por um dirigente assistido,
um dialogador, dois médiuns psicofônicos e um médium de apoio. Se por alguma razão o
Dirigente da sala de Estudo em Grupo não puder comparecer à reunião mediúnica, e
contando a Equipe de Apoio Mediúnico com quórum suficiente, a reunião mediúnica
acontecerá normalmente. No advento da equipe de Apoio Mediúnico esteja incompleta de
modo a impossibilitar a realização da atividade mediúnica, o dirigente do Estudo em
Grupo será liberado para retornar à sua sala de estudo, e a atividade de Apoio Mediúnico
à Melhoria Interior seguirá a mecânica de funcionamento, com exceção do intercâmbio
mediúnico, que deverá ser substituído pelo estudo, pelos membros presentes, do tema do
Evangelho previsto para o dia.
Além do atendimento de todas as salas de Estudo em Grupo, serão realizadas
reuniões mediúnicas com o objetivo de atender aos espíritos vinculados às coordenações
e aos seus respectivos trabalhadores, obedecendo-se ao calendário anual de
atendimento às coordenações. Nesta oportunidade, o coordenador e/ou vice-coordenador
será convidado para acompanhar o desenvolvimento da atividade.
A dinâmica a observar será a mesma utilizada para o atendimento das salas,
atentando-se para o fato de que este momento deverá servir ainda para as orientações
dos espíritos para assuntos que dizem respeito às atividades como um todo.
3.2 – O Início da atividade
É recomendado aos trabalhadores da área de Apoio à Melhoria Interior que se
antecipem na chegada à FAK, em tempo hábil para participarem da abertura em conjunto
com os demais trabalhadores da DAMI. Esse momento se mostra muito importante para a
harmonização e o equilíbrio a serem alcançados durante a leitura iluminativa e preces.
Na sequência da abertura, o grupo de trabalhadores segue para a sala de reunião
mediúnica, que já está preparada para a atividade.
3.3 – A atividade mediúnica
O Dirigente da atividade mediúnica fará as apresentações entre o Dirigente de
Grupo da sala a ser atendida e os trabalhadores do AMMI, seguido do acolhimento inicial
de todos os participantes. Na sequência, ocorre o estudo de preparação, utilizando o
tema do Evangelho previsto para o dia, de acordo com a sala a ser atendida.
Depois, o Dirigente da sala faz uma breve avaliação sobre a melhoria do quadro
geral apresentado inicialmente pelos assistidos; sobre os que pouca ou nenhuma
melhoria têm apresentado, omitindo-se as informações que possam identificar os
assistidos, preservando-se a privacidade dos assistidos; sobre o aproveitamento dos
temas explorados para a melhoria interior dos participantes do grupo; sobre a utilidade
que, aparentemente, estão dando aos conhecimentos recebidos; sobre o clima psíquico
do ambiente de estudo; e outras informações que julgar conveniente, de maneira a
contribuir com o fornecimento de material psíquico que possa auxiliar no estabelecimento
de vínculo entre a atividade e a sala programada para o atendimento.
3.4 – Prece inicial
241
Objetivando a preparação do ambiente íntimo, em seguida é feita a prece inicial,
direcionando as vibrações para o atendimento da sala a ser atendida, a fim de reforçar o
vínculo.
3.5 – Intercâmbio mediúnico
Inicia-se então a parte mediúnica, propriamente dita, observando-se o seguinte:
a) Atendimento dos espíritos vinculados aos assistidos da sala
Mantendo a harmonia, a concentração e o preparo íntimo necessário, a equipe
mediúnica se colocará à disposição dos Espíritos que forem encaminhados para o
atendimento. No decorrer do atendimento dos desencarnados, é importante preservar o
silêncio e nos intervalos entre as comunicações para orar pelos sofredores espirituais
presentes, visando a concitá-los à renovação, e como forma de facilitar os processos de
vinculação/desvinculação dos médiuns aos comunicantes.
Os diálogos a serem conduzidos com os desencarnados deverão ter propósitos de
oferecer atendimento às necessidades do irmão comunicante, de forma que fique
evidente a preocupação com o espírito em atendimento.
A manifestação dos sentimentos de amor e compreensão, e a presença do
Evangelho de Jesus no coração dos membros da equipe produzem efeitos de
acolhimentos sinceros, muito importantes no processo de comunicação e de auxílio aos
irmãos encaminhados à reunião.
b) Atendimento de apoio às coordenações e seus trabalhadores
Quando o atendimento for voltado para acolher os espíritos vinculados às
coordenações da Diretoria e seus trabalhadores, o AMMI trabalhará em benefício destes
irmãos desencarnados, procurando envolvê-los com vibrações e preces.
Nessa oportunidade, serão atendidos os espíritos necessitados como em uma
reunião mediúnica costumeira, conduzindo o diálogo com o propósito de aliviar suas
necessidades e conduzi-los ao despertamento e lucidez.
Esse momento será oportuno para acolher, de forma mais específica, as
orientações que possam dar conta da melhoria da dinâmica de atuação das
coordenações e de seus trabalhadores ou para uma breve avaliação da atividade.
No que se refere a avaliações, o grupo mediúnico deverá proceder suas reflexões
em grupo para conferir o propósito do trabalho e sua eficácia e tais impressões poderão
ser elementos uteis para a avaliação da atividade pela Diretoria da FAK.
3.6 – Prece Final
Um membro do grupo mediúnico fará o encerramento com uma prece final,
referente ao tema estudado e agradecendo pelo trabalho realizado e pelo refazimento da
equipe.
3.7 – Encerramento
242
Ao término, o coordenador da reunião solicita as impressões a respeito do
encontro, que manifestará de forma breve e na sequência, após despedidas, deixará o
local, ficando a equipe mediúnica para reflexões, manifestações e aprendizados sobre o
ocorrido durante o intercâmbio mediúnico.
Sobre o teor das comunicações ou as sensações vivenciadas ao longo da
atividade, são restritas às considerações de fórum íntimo, não cabendo ao grupo
mediúnico o julgamento ou a avaliação dos participantes dos dois planos da vida.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Recomenda-se a equipe mediúnica preparo prévio, buscando o equilíbrio psíquico
que será mantido e compartilhado com todos durante todo o encontro. A harmonia dos
participantes contribuirá muito com o êxito da reunião, uma vez que cria ambiente fluídico
protetor de ataques de inimigos da Doutrina. Outro aspecto relevante à equipe mediúnica
é a regularidade nas participações devido a necessidade premente de vinculação e
harmonia com os demais participantes da equipe.
O Dirigente da sala atendida, deverá usar as informações obtidas para sua
reflexão pessoal e avaliar sua participação como Dirigente da sala de estudo, e o
compartilhamento de informações e orientações recebidas, com os assistidos deve ser
feito em caráter geral instrutiva sem menção à atividade mediúnica, uma vez que essa
atividade desperta muita curiosidade entre os assistidos da sala.
O processo de diálogo com os espíritos deve sempre ser pautado no sentimento
de carinho e fraternidade, reforço na esperança e sendo claro a manifestação do amor
para com os comunicantes.
A avaliação da atividade permite reflexões individuais e coletivas, propiciando ao
grupo a verificar se as diretrizes de funcionamento estão sendo observadas ou se solicita
atualizações. O fortalecimento do grupo passa pela vigilância na conduta dos integrantes
e pelo estudo constante da Doutrina Espírita, assim como reconhecer que o esforço
coletivo fortalece a manutenção da finalidade a que a atividade se propõe.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
(José Laurindo Campos dos Santos)
COMPROMETIMENTO
Já passados uma boa parte desta minha encarnação, me dei conta do longo
caminho percorrido para chegar até aqui. Ainda, das inúmeras idas e vindas, das
rejeições dos chamados que o plano superior emitiu para que eu pudesse conhecer e
vivenciar experiências no campo do conhecimento espírita, e principalmente, da
necessidade de assumir as responsabilidades inerentes à uma transformação positiva
em decorrência de meus comprometimentos devido as minhas faltas pretéritas.
Em primeiro momento, não entendia as razões pelas quais acontecimentos de
natureza espiritual ocorriam tão próximo de mim, isso desde bem jovem, ao ponto de
me tornar refratário a toda e qualquer ideia da interação com o mundo dos espíritos.
Naquela época, optei pelo total afastamento e pelo bloqueio de qualquer ação de
conhecer nesse campo. Iludido que estava, defendia a ideia de que a ignorância era
uma benção, não tendo que mudar o meu íntimo e nem ter minha consciência
despertada para meus reais propósitos dessa reencarnação reparadora e cheia de
243
oportunidades iluminativas, uma forma de se contrapor as possíveis graves falhas
produzidas aos outros, em outros tempos e a mim mesmo.
Na vida presente, concentrei meu interesse por estudos diversos, instigado
pela ciência, escritas, livros, etc. Achando que tudo advindo daí seria de utilidade
apenas no campo material, meu principal propósito de atuação. Na verdade, não tinha
noção de que o plano divino já operava em minha vida todo o tempo, fomentando os
ingredientes para meu melhoramento e descoberta das possibilidades de aplicação no
servir ao próximo. Somado a isso, as obras espíritas deixaram claro que mesmo
imperfeito que sou, poderia ser de grande ajuda aos outros e colher frutos de
melhoramentos, caso me permitisse a tal busca. O pilar científico do Espiritismo me
cativou, o incentivo da providência divina, através de pessoas queridas que cruzaram
meu caminho, foi marcante e decisivo para minha tomada de decisão. O estudo
racional e esclarecedor mostrou-me de forma contundente que a mediunidade deixou
de ser algo exótico e socialmente reprovável do passado, tornando-se um instrumento
da misericórdia divina para o aperfeiçoamento do meu ser.
Lamento muito pelos meus grandes equívocos e pelas dívidas contraídas no
passado e as do presente, mas sigo agora convicto de que se a misericórdia Divina
me outorgou a oportunidade de mais essa encarnação e também de trilhar, talvez
dessa vez, a vivência espírita, foi pela certeza que esse ser imperfeito que sou, tem
grande potencial de real transformação. Se a Divindade emitiu tal recomendação, não
posso ignorar, apenas confiar em Deus e consolidar toda essa experiência no íntimo,
pela perseverança no caminho do Bem e no meu futuro espiritual.
REALIZAÇÕES
Tenho participado do Movimento Espírita por mais de três décadas. Em parte
desse tempo, me vinculei à FAK, onde me foi possível atuar em diversas atividades,
que incluem: estudos sistematizados da Doutrina Espírita, cursos diversos, palestras
públicas, atividades assistenciais, dirigentes de grupos (adultos e idosos) e de
reuniões mediúnicas.
Por ter participado de atividades mediúnicas em outras Casas Espíritas de
outras localidades, e com diferentes propósitos e metodologia, experimentei na FAK
uma abordagem mais evangélica, onde Jesus é o modelo a ser seguido e o trabalho
mediúnico no acolhimento dos desencarnados tem os ensinamentos do Cristo como
bússola.
Ao ser convidado para me juntar ao AMMI e sendo trabalhador assistido e
dirigente de sala de Estudo do Evangelho Segundo o Espiritismo, despertou-me o
interesse em expandir meu entendimento sobre as necessidades dos irmãos de sala
(Consolo e Alívio, Reforma Intima, Prática do Bem, Jovens e de Idosos) e das
vinculações existentes com os desencarnados participantes das salas. No início
dessa nova atividade, me nutri de literatura esclarecedoras e das diretrizes orientadora
da atividade, participando de sua última revisão. Na ocasião atual, procuro contribuir
com a atividade na condição de vice-coordenador e como atento aprendiz das lições
presenciadas, estou ampliando minha percepção dos planos físico e espiritual.
Sinto-me abençoado pela oportunidade de participar do AMMI e como
assistido trabalhador nas salas, exercitando o convívio fraterno com os irmãos de
atividade, encarnados e desencarnados, e convencido da importância da tarefa e, com
humildade, aprender mais, transformando-me verdadeiramente para que meu futuro
seja bem melhor por buscar seguir as orientações recomendadas por Jesus.
244
COMPROMISSOS A LONGO PRAZO
Sabedor que todas as atividades da FAK são organizadas com plena sintonia
com o mundo espiritual e que são meticulosamente descritas e orientadas, visando
sempre o bem dos assistidos, os quais nos incluímos, por isso, solicita dos que
abraçam as tarefas do Bem, instrução constante, muita disciplina e principalmente,
doação com Amor. A atividade mediúnica, em especial, tem me proporcionado um
grande prazer, exatamente por requerer essa atenção em todos os momentos.
Tenho aprendido muito com o convívio dos dois planos da vida e torna-se
impossível ignorar as observações, ensinamentos, dramas de corações, histórias
entrelaçadas já presenciadas, que nos levam a profundas reflexões, as quais fazemos
confiando na providência Divina que nos fortalece, estimula e protege a todos.
Assumo como compromissos adicionais de longo prazo o desejo de continuar
os estudos da Doutrina Espírita e da mediunidade em profundidade, atento em praticá-
los por meio do trabalho em atividades que posso contribuir na DAMI e na área do
ensino de temas iluminativos na FAK.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
(Francis Eduardo Sgarbi)
COMPROMETIMENTO
É ciente que nada acontece por acaso! Sinto que estou caminhando na escolha
do gênero de existência e da natureza das provas dessa reencarnação. Sabendo
que a minha programação reencarnatória consiste nas falhas cometidas no
meu passado, percebo que as escolhas referidas pelos Espíritos
Superiores me colocaram na trajetória de deixar o Estado de São Paulo e vim morar
nas terras amazônicas, sendo acolhido por essa casa (FAK) há mais de 10 anos.
Nessa casa, pude perceber de imediato que estava no lugar certo e necessário para
minha reforma íntima e aprimoramento moral.
Hoje, me vejo totalmente comprometido comigo, com essa casa e com essa
atividade, onde nos colocamos a realizar esse artigo no Simpósio da FAK.
REALIZAÇÕES
Nascido em berço espírita, tive o prazer de estudar a Doutrina de forma mais
profunda nessa casa. Vivenciei a experiência de ser um dirigente de sala de Estudo do
Evangelho Segundo o Espiritismo, de ser dialogador da urgência na DAU. Hoje estou
a vivenciar a função de coordenação do AMMI (Apoio Mediúnico à Melhoria Interior) e
sendo dirigente delas nos dias de atividade.
Uma das maiores alegrias além dos amigos que aqui tenho, tive a
grande oportunidade de implantar desde do início, uma nova atividade mediúnica na
casa. Nessa implantação pude analisar com o diretor da DAMI as diretrizes criadas
pela FAK. Juntos realizamos a captação de recursos humanos e materiais para ter o
mínimo exigido para iniciar a atividade, de testar e executar as diretrizes do AMMI até
hoje. Com essa captação de experiências vivenciadas durante esses últimos
anos, tivemos que revisar e ajustar a atual diretriz, devido as necessidades surgidas
durante o desenvolver da atividade.
245
Com essa atividade, tive e estou tendo a oportunidade ímpar de aprender com
os irmãos desencarnados e encarnados, as lições dos dois planos da vida, servindo
para minhas reflexões.
Essa atividade abriu totalmente as minhas percepções sobre a minha vida, da
minha atividade e através das informações obtidas pelas avaliações mediúnicas das
coordenadorias e dos atendimentos das salas, tive um maior entendimento das
necessidades e dinâmicas de funcionamento de toda as demais coordenadorias da
DAMI.
COMPROMISSOS A LONGO PRAZO
Vejo que ainda tenho muito a aprender com essa atividade e com os membros
integrantes desse grupo. Sinto-me responsável ainda em manter o grupo unido de
forma mais fraternal e de tentar cumprir os compromissos necessários para execução
dessa atividade.
Creio que posso ainda contribuir com essa atividade e com a diretoria da DAMI
para que possamos ficar mais próximos das diretrizes do plano superior.
Em resumo, sinto ainda que existe a necessidade da minha presença na
atividade, pois preciso dela para me tornar um ser melhor. Tenho como objetivo maior,
aproximar-me cada vez mais de forma real, sincera e íntima com o nosso mestre
Jesus, nos seus ensinamentos divinos, assim podendo aprender
o verdadeiro significado do Amor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEB, (2006). Orientação ao Centro Espírita. Conselho Federativo Nacional da
Federação Espírita Brasileira. http://www.febnet.org.br/ba/file/ownlivros/orienta.pdf
[20 de setembro de 2017].
FAK, Fundação Allan Kardec. Diretriz de funcionamento da atividade de
atendimento a distância. Manaus-AM, 2008.
KARDEC, Allan. – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Espíritos diversos,
FEB, Rio de Janeiro, 1968.
KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos – Espíritos diversos, FEB, Rio de
Janeiro, 1968.
KARDEC, Allan. A Gênese – Espíritos diversos, FEB, Rio de Janeiro, 1968.
XAVIER, Francisco Candido. Evolução em Dois Mundos, André Luiz, FEB,
Rio de Janeiro,1968.
XAVIER, Francisco Candido. Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz, FEB, Rio
de Janeiro, 1976.
246
A FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC: OS CAMINHOS DE OPORTUNIDADES
PARA A TRANSFORMAÇÃO DO SER NA ERA DE REGENERAÇÃO
José Luiz Camacho 262
1. INTRODUÇÃO
Ao ser interrogado certa vez pelos fariseus quando se daria a vinda do Reino
de Deus, Jesus explica que o reino de Deus não viria de forma aparente e que não
haveria anúncios, como esperavam o povo daquela época, e afirma que o Reino de
Deus já estava ali entre eles, que nada percebendo não entenderam as palavras do
divino Mestre. Em outra passagem, Jesus reafirma suas palavras de orientação com a
máxima: ―Deixai que venham a mim as criancinhas‖. Profundas em sua simplicidade,
essas palavras não continham um simples chamamento dirigido às crianças, mas
também, das almas que gravitam nas regiões inferiores, onde o infortúnio desconhece
a esperança‖ (KARDEC, 2013, p 130).
As duas passagens reforçam a visão da ignorância do povo naqueles tempos.
O sentimento que imperava era o orgulho, o egoísmo e a vaidade, portanto, não
detinham parâmetros para entender profunda e completamente a mensagem divina,
que apresentava o caminho da perfeição relativa, baseada no tripé: do amor a Deus,
acima de todas as coisas; do amor ao próximo e do auto-amor, através do amar a si
mesmo.
A humanidade terrena, assim como o planeta atingiram a maturidade moral e
desta forma a Terra adentra a era de Transição planetária, ciclo entre o Mundo de
Provas e Expiações e o Mundo de Regeneração. Os Espíritos ainda envolvidos na
corrente do mal, para reunirem as condições necessárias de continuar a reencarnar no
planeta, terão de fazê-lo conforme Kardec narra no Evangelho:
Mas aqui não há ilusões, e logo eles se apercebem de que
conquistaram apenas sombras, desprezando os únicos bens sólidos
e duráveis, os únicos que lhes podem abrir as portas dessa morada‖
(KARDEC, 2013, p 60).
Em a Gênese Kardec diz que:
O progresso da Humanidade se cumpre, pois, em virtude de uma lei.
Ora, como todas as leis da Natureza são obra eterna da sabedoria e
da presciência divinas, tudo o que é efeito dessas leis resulta da
vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas
de uma vontade imutável. Quando, por conseguinte, a Humanidade
está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados
os tempos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em
tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita‖
(KARDEC, 2010, p 484).
Este estudo visa esclarecer o conhecimento da Verdade Libertadora, também
apresentada por Jesus com a instrução do ―Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos
262
Fundação Allan Kardec – FAK, Manaus, Amazonas, Brasil.
247
Libertará‖. Que Verdade será esta de que falava Jesus? Serão percorridos os
caminhos do Conhece-te a ti mesmo e do que Buscais? Os dois pêndulos que levarão
o leitor a primeiro se conhecer, perceber seus comprometimentos do passado e
através do compromisso do encarne atual obter os mecanismos necessários para
resgate.
A Verdade que liberta é o autoconhecimento, o autoperdão e o auto-amor. As
Casas Espíritas que seguem as diretrizes que orientam as atividades e que são
filiadas a FEB – Federação Espírita Brasileira, estão preparadas para oferecer os
mecanismos dos quais necessita o homem para atingir o seu aperfeiçoamento moral,
através do exercício de reforma íntima. Nossa Instituição, Fundação Allan Kardec
(FAK), com sua sede em Manaus, Amazonas oferece-nos um conjunto de recursos de
transformação do homem na prática do exercício do Bem.
2. CAMINHOS PARA A REGENERAÇÃO
MUNDO DE REGENERAÇÃO
Como espírito imortal em lutas para progredir por meio de reencarnações
sucessivas, conforme sugere a sinopse, ainda é muito forte em mim as tendências que
foram as causas dos embates passados e que hoje se manifestam gerando tensão.
Estou convivendo de certo com o mesmo sistema que, mal utilizado como ferramentas
para o bem, foram utilizados com o intuito de favorecimento próprio, qual seja, o
Evangelho de Jesus.
Tenho absoluta consciência de que houve desvirtuamento da mensagem de
Jesus no passado, estou tendo oportunidade de, pelo mesmo instrumento utilizado
para o mau proceder, hoje com o mesmo conhecimento, entender que deva ser
utilizado como caminho a soerguer a mim e àqueles a quem desvirtuei pela palavra.
Pondo em prática o Vigiai e Orai de forma eficaz, possa ser este o instrumento
de reconciliação, primeiro comigo mesmo, na construção do autoamor, para que esteja
preparado para oferecer ao outro um sentimento real de esclarecimento.
A cada dia de estudo, onde desempenho a atividade do amor, como facilitador,
venho me dedicando à preparação da temática escolhida com afinco e dedicação.
Selecionando formas e material de fácil assimilação e me doando para que as
dúvidas, se houver, sejam minimizadas e que o entendimento do texto evangélico,
seja compreendido e entendido por todos os que estão presentes, seja no plano
material seja no espiritual, que estão conosco em todas as atividades.
Uma vez convidado para coordenar o Cantinho da Amizade, em sua abertura
às quartas-feiras, compreendi de imediato ser mais uma oportunidade para no trato
com o outro, construir algo de mais paciente, de mais perseverante e de mais
harmonioso combate às tensões e ansiedades normais em mim, se é que assim posso
dizer, pois se para as pessoas é normal, não causando mal algum, quando superado,
o resultado são tensões explosivas e emocionas que desagregam o ambiente
harmonizado.
Richard Simonetti define a diferença que existe entre o estágio atual da
Terra com o próximo, de Mundo de Regeneração:
Que nos Mundos de Provas e Expiações o egoísmo predominante,
resquício da animalidade primitiva, é o elemento gerador de todos os
248
males. No Mundo de Regeneração, consciências despertas para esse
problema estarão empenhadas em superá-lo‖ (SIMONETTI, 2010).
Se nos planos de Provas e Expiações o mal, devido ao orgulho e seu
filho dileto o egoísmo, ainda imperam, neste próximo estágio de evolução do
planeta Terra prevalece no homem a consciência de que o imprescindível é dar
continuidade à luta para vencê-lo com o empenho do Bem. Aqui relembramos o
apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso, quando disse que é preciso combater
com o bom combate. Nos Mundos de Regeneração, o mal não encontra
receptividade nos corações e sendo assim a tendência é desaparecer (TARSO,
2002).
O período compreendido entre Provas e Expiações e Regeneração é
conhecido como de Transição planetária, e este ciclo está se iniciando, de acordo com
a mensagem psicofônica de Bezerra de Menezes, por intermédio da mediunidade de
Marta Antunes Moura, no Centro Espírita Ismael em abril de 2010, a mensagem afirma
que:
Os novos tempos em transcurso no plano físico anunciam uma era de
transformações necessárias à implementação do processo evolutivo
do ser humano. Os dois planos da vida se irmanam e laços de
solidariedade se estreitam, tendo em vista os acontecimentos
previstos‖ (MENEZES, 2010).
Joanna de Ângelis nos traz ao conhecimento as condições renovadoras para
instalação do novo ciclo: ―Opera-se na Terra, neste largo período, a grande transição
anunciada pelas Escrituras e confirmadas pelo Espiritismo‖ (FRANCO, 2006). Vivemos
esse período de transição, quando o mundo de provas e expiações está se
concluindo, mas o de regeneração ainda não está implantado. O período é conturbado
e mais uma vez recorremos à advertência de Joanna de Ângelis, para
compreendermos melhor o atual estágio terreno: O planeta sofrido experimenta
convulsões especiais, tanto na sua estrutura física e atmosférica, ajustando as suas
diversas camadas tectônicas, quanto na sua constituição moral (FRANCO, 2006).
Terremotos, tsunamis, tornados, secas e mudanças climáticas extremas
ocorridas nos últimos tempos dão-nos a certeza da transformação do planeta. Essas
ocorrências têm a ver com os espíritos que ainda caminham nas faixas de
inferioridade e que vão sendo substituídos por outros de consciência mais elevada que
estão reencarnando na Terra, para impulsionar os que já se encontram na escalada da
reforma íntima. Divaldo Pereira Franco na palestra proferida em 2007, faz referência a
esses espíritos (FRANCO, 2007).
Por outro lado, a misericórdia divina tem proporcionado novos encarnes a
enorme quantidade de espíritos que há muito não reencarnavam no planeta segundo
Bezerra de Menezes:
Não longe, porém, nas regiões purgatórias de sofrimento que
assinalam o perfil dos seus habitantes, no mundo espiritual, almas se
agitam, movimentam-se, produzindo ruídos e clamores na expectativa
de se beneficiarem, de alguma forma, com a programação que o Alto
determina (MOURA, 2010).
249
Mesmo com a chegada de espíritos de maior elevação do que nós, encarnados
e desencarnados no planeta, haverá ainda uma imensa quantidade de espíritos
refratários ao Bem e relutantes darão continuidade no envolvimento com o mal, por
ignorância e uma vez não reunindo as condições mínimas para continuar a reencarnar
no planeta, sofrerão o expurgo para planeta inferior, do mesmo modo como Emmanuel
descreve em A caminho da luz:
Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo
um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos
na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta
terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e
da amargura; reencarnariam no seio das raças ignorantes e
primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes.
Por muitos séculos não veriam a suave luz da Capela (XAVIER,1996,
p 35).
Concluindo explanação sobre Mundo de Regeneração, uma questão nos
instiga de como será o espírito que reunir as condições necessárias na prática do bem
uma vez realizada à reforma íntima? No Evangelho Segundo o Espiritismo
encontramos indicação no capítulo ―Há muitas moradas na casa do meu Pai‖:
Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida
moral e material são muitíssimo diversas das da vida na Terra. Como
por toda parte, a forma corpórea aí é sempre a humana, mas
embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. O corpo nada tem
da materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às
necessidades, nem às doenças ou deteriorações que a
predominância da matéria provoca (KARDEC, 2013, p 60).
Nestes mundos as relações entre os habitantes são fraternas e amistosas. Não
há maldades nas relações e jamais são perturbados por sentimentos mesquinhos de
ambição, ódio, ciúmes e outros. O homem não procura se elevar acima do outro, tem
consciência de seu potencial moral e sabe do que é capaz. Busca elevar-se sobre si
mesmo pela busca do aperfeiçoamento. Neste estágio, o homem tem por objetivo
atingir a categoria dos Espíritos puros.
3. OS MECANISMOS DA FAK
Fundada em 21 de outubro do ano 1979, a FAK tem curta existência, mas
longa caminhada. Citado por José Alberto Machado, um dos fundadores, na abertura
do IV Simpósio FAK em 2015, a Casa Espírita foi resultado da transformação do
Hospital Allan Kardec, à época uma simples unidade administrativa da Federação
Espírita Amazonense (FEA). Com o propósito de conduzir a construção física de uma
Instituição para internação de doentes do corpo. A FAK converteu-se, com o tempo,
em um grande hospital de almas. Não somente para lidar com suas dores, mas
também para potencializar suas esperanças, ampliar seus horizontes cognitivos e
apoiá-las no aprendizado do amor. Deixando o cuidado do corpo para os especialistas
do tema, a FAK enveredou pelo compromisso doutrinário, transformando-o em bússola
para a sua rota. Elegendo o Evangelho de Jesus e a Doutrina Espírita como
250
fundamento de vida, começou a experimentar e consolidar dezenas de atividades para
colocar ao alcance de seus frequentadores e trabalhadores as abençoadas luzes do
Espiritismo. Cerca de cinco mil pessoas, entre assistidos e trabalhadores, circulam
pelas dependências da instituição toda semana. A casa, nos momentos de
funcionamento, se expressa em um saudável frenesi que a todos contagia, parecendo
uma abençoada extensão das sagradas instituições espirituais descritas na literatura
doutrinária. A Figura 1 ilustra a atual estrutura organizacional da FAK.
Figura. 1 – Estrutura organizacional da FAK. Fonte: FAK, 2017.
PLANO ESPIRITUAL
A influência dos Espíritos é ocorrência comum em nossas vidas, e Emmanuel
ensina que:
As bases de todos os serviços de intercâmbio, entre os
desencarnados e encarnados, repousam na mente, não obstante as
possibilidades de fenômenos naturais, no campo da matéria densa,
levados a efeito por entidades menos evoluídas ou extremamente
consagradas à caridade sacrificial. De qualquer modo, porém, é no
mundo mental que se processa a gênese de todos os trabalhos da
comunhão de espírito a espírito. Daí procede a necessidade de
renovação idealística, de estudo, de bondade operante e de fé ativa,
se pretendemos conservar o contato com os Espíritos da Grande Luz
(XAVIER, 2015).
Irmão Clarêncio, em mensagem psicografada pela médium Tânia Melo na FAK,
faz menção ao ―download‖ do modus operandi, que em nosso entendimento, pode ser
a quantidade de informações oriundas do Plano Espiritual que estão transformando a
estrutura física e mediúnica da FAK, de forma intensa nos últimos tempos.
A partir do ano de 2010, o Conselho Diretor percebeu que mensagens
espirituais passaram a ser recebidas através da mediunidade de Marcellus Campelo,
em formato de literatura espírita e aproximadamente dois anos de análises e
pesquisas é que teve publicado o primeiro exemplar do livro Galieno. A seguir, os
cuidados eram tão intensos por parte dos responsáveis pela edição da literatura, que a
primeira obra foi toda revisada e no IV Simpósio FAK em 2015, foi relançada a obra
Galieno, acrescida em seu título com a expressão: O imperador que se dobrou ao
Cristo de Deus. Estas duas primeiras obras foram lançadas pela editora Boas Novas.
Em seguida, outras obras do mesmo Espírito Joel foram recebidas pelo médium
251
Marcellus Campelo e editada pela recém-criada Editora Casa Bendita. Pai Nosso,
Homem de Bem e a última obra, Luzes sobre a Amazônia.
Cada obra editada oferece-nos mecanismos de transformações que venham a
oferecer exercícios de conhecimentos voltados para o bem. No livro Pai Nosso, a
interpretação da oração dominical transmitida pelo Nazareno Mestre oportuniza refletir
sobre qual desejo tinha Ele na recomendação da oração. Em O Homem de Bem, o
próprio título já nos incita a ir além da mensagem contida no Evangelho Segundo o
Espiritismo em seu item Homem de Bem; e quanto a Luzes sobre a Amazônia, a
importância do espiritismo nas terras amazônicas. Todas estas obras são de
significante importância para o cristão-espírita.
TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM PARA O BEM
Em tantas atividades na FAK das quais participo, tenho grande identificação
com o Tratamento Espiritual, através da Melhoria Interior, no Estudo do Evangelho
Segundo o Espiritismo, na Área de Gestão de Acolhimento e Assistência Espiritual,
que além da Diretoria de Apoio a Melhoria Interior, também estão vinculadas à Gestão
as Diretoria de Acolhimento, Diretoria de Apoio a Mediunidade e Assistência, Diretoria
de Apoio Espiritual a Infância e Diretoria de Apoio as Urgências. A atividade em
comum na gestão é o acolhimento às pessoas que buscam nossa casa.
Os mecanismos que a FAK oferece para a implantação do exercício na prática
do bem a seus trabalhadores e assistidos de forma geral estão na diversificação dos
estudos dentro das obras básicas e complementares, fundamentadas na orientação do
Espírito da Verdade contida no Evangelho Segundo o Espiritismo:
Espíritas!, amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o
segundo. Todas as verdades são encontradas no Cristianismo; os
erros que nele criaram raiz são de origem humana. E eis que, além
do túmulo, em que acreditáveis o nada, vozes vêm clamar-vos:
Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os
vencedores da impiedade!‖ (Espírito de Verdade,1860).
Encontramos mais uma vez nas palavras da mensagem do irmão Clarêncio o
consolo para nossa reflexão do conceito do Servir na Seara do Cristo:
Ao refletirmos mais profundamente sobre a finalidade desta
instituição e o significado da doutrina de Jesus em nossas vidas,
podemos compreender que essa é a diretriz mais segura que pode
existir‖ (MELO, 2016).
O Exercício de reforma íntima, exigível para todo espírito que busca através do
compromisso resgatar o comprometimento reencarnatório, proporciona alívio para as
aflições dos momentos em que turva o cotidiano e assola o prosseguir. O
aprimoramento se desenvolve no contato com o semelhante que em grande parte das
vezes, são os mesmos com os quais há compromissos de reforma e resgate.
Atuando na Diretoria de Melhoria Interior, como facilitador do Estudo do
Evangelho, percebo as dificuldades comuns dos assistidos. Com o objetivo em
oferecer instrumentos que possibilite a compreensão e entendimento dos temas em
exposição, busco linguagem simples e confortadora, esclarecendo que Deus é
misericordioso e jamais nos desampara. Se nos momentos de maior aflição, no
cumprimento das Leis morais, é o Evangelho de Jesus que nos oferece ânimo e
coragem, que fortalecem a nossa fé. Doar-me no amor que é real em mim,
contribuindo para a harmonia e confiança em quem busca Jesus pela dor e
necessidade do estudo.
Conforme afirmação do espírito Bernardo:
252
os facilitadores do estudo possuem grandes responsabilidades. A
maioria dos que habilitam à transmissão dos conhecimentos espíritas
são os náufragos do passado, no uso da mediunidade e da utilização
dos recursos da Doutrina Espírita como meio de enriquecimento
ilícito, autopromoção ou mesmo de charlatanismo‖ (CAMPELO,
2015).
Como facilitador, ao tomar conhecimento deste comprometimento, revitalizei-
me, e tenho buscado cumprir o possível compromisso, firmado ainda no plano
espiritual antes de reencarnar.
Segundo Irmão Clarêncio:
é certo que assistidos em geral continuarão a ir e vir, pois esta Casa
tem importante papel perante uma grande comunidade que aqui
encontra um hospital, um celeiro de esclarecimento e o conforto para
suas dores mais emergenciais. Porém, os que aqui permanecem por
mais tempo, os assistido-trabalhadores, que ―vivem a Casa‖, tem um
convite especial: identificar e compreender o modus operandi interior
(MELO, 2016).
Desenvolver novas práticas e recursos para não delinquir mais na iniquidade
pode ser este o modus operandi pessoal que transformará a rotina na busca do
processo de transformação. Vitalizar os esforços, visando não repetir as violações do
passado no uso inescrupuloso da mensagem evangélica em benefício próprio, que foi
a causa do comprometimento. Receber nesta encarnação os mesmos espíritos com
os quais compartilhei o comprometimento que impera resgate.
A PRÁTICA DO BEM
Deus criou o homem simples e ignorante, porém, dotou-o de inteligência.
Uns se desenvolveram e se diferenciam pelo mérito adquirido, enquanto outros
estacionaram e assim ainda não obtiveram êxito. No Evangelho Segundo o
Espiritismo, em seu capítulo das Bem aventuranças, citamos Ferdinando,
espírito protetor:
A inteligência é rica de méritos para o futuro, mas, sob a condição de
ser bem empregada. Se todos os homens que a possuem, dela se
servissem de conformidade com a vontade de Deus, fácil seria, para
os Espíritos, a tarefa de fazer que a Humanidade avance.
Infelizmente, muitos a tornam instrumento de orgulho e de perdição
contra si mesmos‖ (KARDEC, 2013, p 121).
A solução que encontramos para este combate interior está na
questão 919 de O Livro dos Espíritos, onde Santo Agostinho
recomenda-nos o exercício do ―Conhece-te a ti mesmo‖ (KARDEC,
2013, p 408).
Reconhecemos ser processo que exija boa vontade e principalmente
elevado esforço para aquisição da própria identidade. Sem esses elementos
não logrará o homem êxito na jornada. Alegando desconhecimento, forçoso é
para o homem perseguir as metas exteriores.
Diz Joanna de Ângelis que a experiência, em qualquer caso, é um meio
propiciador para o autoconhecimento, em razão das descobertas que enseja
àquele que tem a mente aberta aos valores morais, internos. (FRANCO, 2006).
Assim se chega a conclusão de que, sem o conhecimento de si mesmo, difícil
será para o homem compreender as leis que regem o universo, permanecendo preso
253
e condenado pela lei de Causa e Efeito, necessitando depurar seus instintos em
mundos de provas e expiações.
Sócrates, um dos mais conceituados pensadores da antiguidade, já dizia que
devemos nos conhecer antes de procurarmos algo externo. Para desenvolver o
processo de reforma íntima através do autoconhecimento, antes de tudo, é preciso
coragem e confiança, por se tratar de tarefa desafiadora envolvendo questões
profundas do ―EU‖ interior, onde estão registrados os comprometimentos do espírito
milenar que somos. Vencendo as barreiras, desenvolvendo habilidades, teremos
suporte com ganhos contínuos, aumentando a autoestima, proporcionando a paz
interior para enfrentarmos medos e frustrações, sabendo que jamais estaremos sós.
AUTOAMOR
Durante a preparação do artigo, percebi ser Joanna de Ângelis, o Espírito que
mais tem mencionado a expressão autoamor em suas comunicações. O legado maior
que Jesus nos deixou foi o Amarás ao próximo como a si mesmo, e até hoje a
humanidade não conseguiu assimilar o verdadeiro sentido do ―amar ao próximo‖.
Afinal quem é o nosso próximo? Autoamor não é amor próprio, isto é orgulho. Seu
sentido é o constante esforço pelo autoaperfeiçoamento intelecto-moral que é
fundamental para amar ao próximo. São etapas a serem seguidas na elevação de
melhores condições. Autoamar-se é infiltrar a sonda do conhecimento sobre as
ciências que cuidam do ser humano em geral. Os estudos diversificados realizados na
FAK, orientados em suas diretrizes específicas para cada atividade, oferecem os
mecanismos necessários para a prática do bem e transformação do homem em seu
crescimento individual.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando da criação, Deus criou o homem simples e ignorante concedendo a
ele a inteligência e o livre-arbítrio para escolher a obra a ser seguida. Ao longo dos
milênios, o homem adquiriu comprometimentos que através da Lei de Causa e Efeito
utiliza as encarnações para ajustar débitos anteriores.
A ignorância do saber tem por combustível poderoso o orgulho e o egoísmo e
daí provém os conflitos internos e as guerras que proliferam em todo o mundo.
Voltar o olhar para seu interior, na orientação divina do Brilhe a vossa Luz, é ir
ao encontro do Cristo-amor que tem o poder e o dom de transformar almas.
Na era de transição planetária, em que o planeta Terra está sendo preparado
para ascender ao mundo de Regeneração, muitos vem sendo chamados para o
despertar de uma nova Era. Porém, nem todos serão escolhidos. A porta que conduz
o homem ao paraíso divino é estreita e só cabem na passagem por ela aqueles que no
exercício do autodescobrimento, conseguiram transformar a caminhada dos vícios na
matéria pela consciência do autoamor, que embora o legado deixado por Jesus a
todos os Cristãos. Amar a Deus único sobre todas as coisas e ao próximo, que
necessita de ti no exercício da caridade, como a ti mesmo, que encontrou a chama
ardente do Cristo Jesus em seu ser íntimo.
O momento atual do planeta, em sua fase de transição para um mundo melhor,
de Regeneração, não oferecerá condições de reencarne para Espíritos que tem no
egoísmo sua maneira de ser. O egoísmo é antagônico a Caridade e, se Fora da
Caridade não há salvação, é pela misericórdia divina que ainda há espíritos afinizados
com tal sentimento, no processo de escolha de permanecerem no erro ou de se
libertar dessa lepra. Vamos encontrar no Evangelho Segundo o Espiritismo as
palavras de Emmanuel: Expulsai da Terra o egoísmo para que ela possa subir na
escala dos mundos, porquanto já é tempo de a Humanidade envergar sua veste viril,
254
para o que cumpre que primeiramente o expilais dos vossos corações (EMMANUEL,
1861).
Sendo a FAK nossa base de apoio para a construção do Bem, ensejamos as
bênçãos divinas a todos nós!
O QUE APRENDI SOBRE MIM
COMPROMETIMENTOS
Não por acaso, esta será a segunda vez que participo como articulista do
SIMPÓSIO FAK, e no mesmo eixo temático. Da vez anterior, a pesquisa ficou
incompleta, não por falta de tempo, mas pelas barreiras internas que me fizeram
desistir até de participar para os Anais do SIMPÓSIO. Desta vez, desde novembro
passado, dei continuidade às pesquisas sobre o tema de Transformação do homem
do terceiro milênio, que vinha embasada na palestra de Divaldo Pereira Franco sobre
a Transformação do Homem na Era de Regeneração. Na ocasião, em workshop foi
esclarecido os detalhes das orientações para elaboração dos artigos, a nova estrutura
causou em mim um sentimento de frustração, pois saía da linha que eu tinha
pesquisado e pouco ou nada poderia ser aproveitado para a composição deste artigo.
Então, percebi que faltava algo a mais em mim e que eu precisaria
descobrir para não permitir que desistisse de me reconhecer. Lembrei-me do apóstolo
dos gentios quando disse ―combater com o bom combate‖ e assim fui me descobrir.
Quem sou eu? O que busco? Os embates íntimos que venho travando, para não me
desestabilizar estão sendo pesados. Pesado ainda é o fardo desse comprometimento
que não cessa com o tempo, pelo contrário, tem me atraído muito para os impulsos
das causas anteriores e em determinadas situações para as causas atuais das
aflições. Entretanto, a determinação e perseverança são os instrumentos que vêm me
sustentando como em uma corda bamba para não recalcitrar. Acredito assim que o
compromisso assumido quando do planejamento reencarnatório possa ter sido o que
venho buscando por em prática.
REALIZAÇÕES
As reflexões postas em prática ao longo desses seis anos na Fundação
Allan Kardec, têm-me sido válidas em relação aos mais de quarenta, dentro do
Espiritismo. As tarefas as quais me propus a realizar em prol do conhecimento para a
Melhoria Interior nas salas de Consolo e Alívio, Reforma Intima e Prática do Bem,
onde tenho parcela de apoio e desenvolvimento de alguns corações que participam
ou participaram em salas onde estou como facilitador do estudo do Evangelho e hoje
os encontro não somente pelos corredores se dirigindo para as salas de ESDE,
ESME, EDP ou ESEJ ou mesmo para exercerem atividades na DAEA, DED, DAP,
através do Cantinho da Amizade, proporcionam em mim uma gratidão imensa a
Jesus nosso Mestre Divino e Guia.
Poder ouvir aquele que procura e ajudá-lo a construir um novo caminho que
o liberte das chagas e presas do passado e uma vez liberto, sentir-se encorajado
para seguir em frente, é por demais gratificantes.
Assumir desafios em compromissos que exigem extrema responsabilidade
no trato com o outro e no convívio com pessoas de personalidades diferentes e
buscar sempre espelhar-me no que Jesus exemplificou como o melhor a proceder,
255
assim me percebo na condução da atividade do Cantinho da Amizade que
recentemente aceitei a proposta de doação e muito aprendizado.
Estar participando como articulista no Simpósio FAK, estar presente com
atuação efetiva nos treinamentos e seminários e dar minha parcela de contribuição,
serve para que eu me aproxime muito mais do compromisso assumido e assim
reduza boa parte do comprometimento como espírito milenar.
COMPROMISSOS DE LONGO PRAZO
Oportunizar-me o que até hoje não havia feito: conhecer de forma mais
aprofundada o Pentateuco Kardequiana, dedicando-me mais a leitura espírita. Ao
longo dessas décadas de Espiritismo, minha dedicação esteve mais voltada para o
espiritualismo nas obras de Pietro Ubaldi, As Noures, a Grande Síntese; Ramatis com
O Evangelho do Cosmos, Sublime Peregrino a preparação para a vinda de Jesus, A
vida humana e o espírito imortal e outros. Na construção deste artigo fui inquirido por
meu orientador sobre os fundamentos da Doutrina Espírita nas referências
espiritualistas que eu mencionara e fiquei sem saber o que e como responder, porque
percebi que dos livros da codificação tenho maior vivencia e conhecimento do
Evangelho Segundo o Espiritismo, e mesmo assim sem conhecer uma linha da
introdução do mesmo. Que do livro dos Espíritos, alguns poucos capítulos como do
Livro dos Médiuns. O livro Céu e Inferno e a Gênese, jamais li uma só página sequer
para estudar ou mesmo pesquisar.
Com esta descoberta, assumo novos compromissos a médio e longo prazo,
de estabelecer rotina de leituras e estudos das obras básicas e participar ativamente
dos estudos desenvolvidos na Diretoria de Estudos Doutrinários (DED).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPELO, Marcellus. Luzes sobre a Amazônia. Pelo Espírito Joel. 1ª ed. Ed Casa
Bendita, 2015.
FRANCO, Divaldo Pereira. O Homem Integral – Pelo Espírito Joanna de Angelis. 19
ed. Salvador: Editora LEAL, 2006.
FRANCO, Divaldo Pereira Franco. Palestra “Crianças Indigo e Cristais‖. 2007,
Chico Xavier TV. 10 Fev 2013.
FRANCO, Divaldo Pereira. Pelo Espírito Joana de Angelis. Revista espírita – set/out
2006 – nº 256 – páginas 28/9.
KARDEC, Allan. A Gênese – Tradução de Evandro Noleto Bezerra, 5ª edição francesa
(1870) - 1ª edição FEB - Brasília, 2010.
KARDEC, Allan. Missão do homem inteligente na Terra. O Evangelho segundo o
espiritismo . Rio de Janeiro: FEB, 2013.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo – Tradução Guillon Ribeiro,
131 ed – 1ª impressão da edição histórica. Rio de Janeiro: FEB, 2013.
256
MELO, Tânia - psicografia ―Se pretendes crescer, crescei com amor‖. Pelo Espírito
Irmão Clarêncio. Manaus/AM: FAK, 2016.
MOURA, Marta Antunes - psicografia de Bezerra de Menezes em reunião mediúnica
CEI – Centro Espírita Ismael em Brasília – abril/2010.
SIMONETTI, Richard. Disponível em: httpp://www.richardsimonetti.com.br /pinga-fogo
/exibir/108 – ano, 2017.
TARSO, Paulo de - Timóteo 4,7: - A Bíblia de Jerusalém – Paulus Editora - revisão e
atualização na edição de 2002.
XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. Pelo Espírito Emmanuel – edição
22ª – FEB – Brasília, ano 1996.
XAVIER, Francisco Cândido. Mensagem 58 - Sintonia. Roteiros. Pelo Espírito
Emmanuel. Rio de Janeiro: Ed FEB, 1952.
257
3. Compromissos iluminativos
258
3.1 Consequências do conhecimento espírita
REFLEXÕES DE UMA JOVEM ESPÍRITA: COMO SENTIR O QUE
SEI?
Maria Eduarda Machado Parente263
INTRODUÇÃO
O presente artigo é um registro de reflexões de uma jovem espírita que
busca reconhecer seus pontos fortes e fracos, a grandeza dos recursos a ela
destinados pela Providência Divina, tais como: a Doutrina Espírita, a família, os
companheiros espirituais e como eles podem ajudá-la a seguir seu plano
reencarnatório sem relutâncias.
O tema é oportuno, pois na juventude enfrenta-se os primeiros desafios
de ordem familiar e social. Estes, desencadeiam a sensação de desamparo
frente aos compromissos que começam a ser reconhecidos. Sem sentir,
perceber ou compreender o amparo da Providência Divina, muitas vezes o
jovem se sente desestimulado, e questiona se vale a pena seguir no caminho
do Bem.
Frente a estes questionamentos, os desafios familiares, por exemplo,
naturais da fase, são recebidos com incompreensão. Tal incompreensão leva a
supervalorização da dor e a subvalorização das bênçãos que esses desafios
poderiam representar.
Para tanto, estrutura-se uma reflexão que possibilite reconhecer o
amparo da Providência Divina durante a trajetória terrena do jovem espírita, na
perspectiva da autora.
DESENVOLVIMENTO
1. Identidade do Jovem
Joanna de Ângelis (1998,p.13) caracteriza a adolescência como:
―Nessa fase, há um desdobramento dos órgãos secundários
do sexo, dando surgimento aos fatores propiciatórios da
reprodução, como sejam o espermatozóide no fluido seminal e
o catamênio. Os rapazes experimentam alterações na voz,
enquanto as moças apresentam desenvolvimento dos ossos
da bacia, dos seios, o que ocorre com certa rapidez,
263
Jovem estudante e trabalhadora aprendiz na área Correio do Amor
259
normalmente acompanhados pelo surgimento da afetividade,
do interesse sexual e dos conflitos na área do comportamento,
como insegurança, ansiedade, timidez, instabilidade, angústia,
facultando o espaço para desenvolvimento e definição da
personalidade, aparecimento das tendências e das vocações‖.
Partindo da visão de uma jovem espírita, ratifica-se a citação:
1) Nesse momento, encontra-se uma batalha dentro do jovem. Ele
começa a não se enxergar dentro dos grupos que pertencia por
força dos vínculos familiares e, por consequência, enfrenta os
primeiros desafios na busca por firmar as bases de sua
identidade própria. Uma vez que não é nem adulto, nem criança,
já não pode se apoiar completamente nos pais, mas também não
é capaz de seguir sozinho. Até que encontre equilíbrio, o jovem
se sente perdido.
2) Ao mesmo tempo que se sente perdido, ele adentra em seu novo
círculo de socialização e constrói novas amizades. Adentra
também no verdadeiro mundo das tentações. O mundo se mostra
com todos as injunções da carne e, mediante a facilidade com
que os prazeres se apresentam, o jovem é assolado pelo
sentimento de dúvida e insegurança e, sem perceber apoio,
sente-se desamparado.
Ao explorar esses pontos, vê-se a necessidade do jovem espírita passar
por essa fase de transição de olhos abertos e atentos, aproveitando todas as
oportunidades de se conhecer e de se preparar para vida adulta.
Para entrar em contato com seus pontos fracos e fortes, ele precisa de
um espaço com liberdade de escolha para ter experiências, descobrir suas
vocações e estabelecer laços. Uma vez que tem esse espaço e a liberdade
nesse mundo desafiador, necessita perceber o amparo advindo dos recursos
da Providência Divina, quais sejam: o Espiritismo, o acompanhamento dos
amigos do outro plano e as famílias consanguíneas e espiritual, para que passe
por essa fase sem contrair novos compromissos.
2 Doutrina Espírita - Recurso
A Doutrina Espírita, como ciência, vem para acalentar as grandes
dúvidas por meio das explicações dos fenômenos psíquicos que ocorrem na
juventude. Uma vez entendendo os processos pelos quais está passando, o
jovem se sente reconfortado por saber explicar racionalmente o que se passa
consigo.
No aspecto filosófico, a Doutrina Espírita, ao esclarecer o sentido da
vida, traz para o jovem um conforto em relação às suas dores e acende a luz
da consciência. Tendo exposta à sua frente a grandiosidade da vida, o jovem
260
se sente inclinado intimamente a colocar em cheque suas tendências e
comportamentos, podendo seguir um caminho mais tranquilo.
O Espiritismo, por meio do Movimento Espírita, traz o incentivo ao trabalho
no bem, que deve ser iniciado na juventude, mediante a participação do jovem
em atividades que visem ao acolhimento do próximo, mecanismo
importantíssimo na consolidação de seus valores e no seu processo de
autodescobrimento.
― [..] desperta-o para a semeadura por intermédio do estudo, do
exercício da aprendizagem, do equilíbrio moral pela disciplina mental e
ação correta, a fim de poder colher por longos, senão todos os anos da
jornada carnal, os resultados formosos, que são decorrentes do
empenho pela própria dignificação‖ (ANGELIS, 1998, p.16).
3 Companheiros Espirituais - Recurso
As companhias espirituais são de ímpar importância na vida do jovem.
Durante esse período, ocorre um despertar da consciência e, com esse
despertar, nasce uma voz que nunca se cala. Frente ao seu processo de
autoafirmação, o jovem se sente inclinado a dar ouvidos a essa voz, que pode
se chamar ―intuição‖. Como ―[...] de ordinário, são eles que vos dirigem‖
(KARDEC, 2013, p 230) esta intuição muito dependerá de quem são os
companheiros espirituais do adolescente.
Logo, a Providência Divina designou desde cedo um protetor para cada
indivíduo. De índole superior que a de seu protegido, o anjo da guarda busca
sempre auxiliá-lo pela voz da consciência, e está sempre a velar por ele. O
jovem, entretanto, no seu processo de socialização, se liga a alguns grupos de
amigos que podem trazer consigo espíritos em baixa frequência vibratória e,
assim, fecha os ouvidos para as boas instruções do espírito amigo, que se cala
mas espera ansioso a hora que lhe será permitido voltar a ajudar.
Esse acompanhamento se caracteriza uma grande bênção, uma vez
que o jovem se permita senti-lo, por meio das preces, da vigilância e da
participação nos eventos reflexivos realizados para a juventude, que
constituem momentos propícios para ampliar a sintonia com esses dedicados
amigos espirituais. Os grandes encontros confraternativos da juventude podem
representar oportunidade primeira para que se perceba a magnitude do
amparo.
Portanto, há sempre um enviado de Deus a zelar pela criatura, que
permanece ao seu lado por amor a Ele e vela como um pai vela pelos seus
filhos. Alegram-se das alegrias, e se entristecem frente aos desafios não
compreendidos. Sentir essa grandeza permitirá que o jovem não se perceba
desamparado e tenha consigo a certeza de trilhar o caminho melhor.
―Esses seres estão ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Ele quem os
colocou perto de vós; aí estão por amor a Ele, desempenhando uma
bela, porém penosa missão. Sim, onde quer que estejais, vosso anjo
261
da guarda estará convosco; cárceres, hospitais, lugares de
devassidão, solidão, nada vos separa desse amigo a quem não podeis
ver, mas do qual vossa alma sente os suaves impulsos e ouve os mais
sábios conselhos…‖ (KARDEC, 2013, p. 239).
4 Família - Recurso
O jovem espírita sabe do que se constitui a família. Ao contrário de
outros tantos jovens, ele sabe que não pode dizer: ―- eu nunca pedi pra
nascer!‖. Ele é ciente de que pediu, implorou e de que precisa viver com a
família em que veio. Dentro do lar, o adolescente encontra todas as suas
grandes falhas refletidas nos defeitos que vê nos seus semelhantes. Encontra
uma prévia dos problemas que vai enfrentar na sociedade e também encontra
o melhor educandário para sua alma.
A dificuldade do jovem espírita em seus conflitos familiares não é saber,
é fazer. Ele tem noção dos conceitos de família e de suas aplicações, mas
peca no agir. Muitas vezes, na ânsia do reconhecimento imediato e do ego,
busca trabalhar o que aprende em atividades que estão além do cadinho
familiar. Faz a caridade somente para fora de casa, e esquece que a
verdadeira caridade é aquela exercida no dia a dia, frente às pessoas que os
veem levantando da cama. A verdadeira caridade é na família, pois é ali que se
mostram sem máscaras. No lar é que se encontram os recursos de apoio para
o enfrentamento dos desafios da sociedade. Em forma de pais, irmãos, avós e
demais agregados se viverá, com amor, a preparação para a vida adulta.
Uma vez que o jovem busca abrir os olhos para o amparo da
Providência Divina, ele enxergará na família sua chance de redenção pelo
amor, e não pela dor. Portanto, para o jovem, buscar a harmonia no lar deverá
constituir necessidade primeira, se pretende seguir a Jesus.
―Se, portanto, quando fordes depor vossa oferenda no altar, vos
lembrardes de que vosso irmão tem qualquer coisa contra vós - deixai
a vossa dádiva junto ao altar e ide, antes, reconciliar-vos com o vosso
irmão; e depois, então, voltai a oferecê-la‖ (BÍBLIA, Mt., 5,23-24).
A se ligar por vias além das consanguíneas, têm-se a família espiritual.
Compreendendo os espíritos que compartilham tendências e afeições, esses
companheiros se apresentam fiéis por todos os planos da vida. A constituição
dessa família deve ser visada ao se tratar de atar laços com a família
consanguínea. A família universal, fiel, está em constante ligação com seus
membros. Encarnados ou desencarnados, vibram uns pelos outros e mantém
seus pensamentos sempre ligados. Desencarnados, atuam como anjos da
guarda a velar pelos seus protegidos. Uma vez encarnados, se encontram nos
mesmos círculos e às vezes embaixo do mesmo teto para que possam juntos
se aperfeiçoar e crescer em amor. A construção desses laços é edifício do
Espírito, e representa forte estrutura de amparo em sua caminhada.
262
―No Espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela
afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por
se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. A
encarnação apenas momentaneamente os separa, porquanto, ao
regressarem à erraticidade, novamente se reúnem como amigos que
voltam de uma viagem. Muitas vezes, até, uns seguem a outros na
encarnação, vindo aqui reunir-se numa mesma família, ou num mesmo
círculo, a fim de trabalharem juntos pelo seu mútuo adiantamento. Se
uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo
pensamento. Os que se conservam livres velam pelos que se acham
em cativeiro. Os mais adiantados se esforçam por fazer que os
retardatários progridam. Após cada existência, todos têm avançado um
passo na senda do aperfeiçoamento. Cada vez menos presos à
matéria, mais viva se lhes torna a afeição recíproca, pela razão mesma
de que, mais depurada, não tem a perturbá-la o egoísmo, nem as
sombras das paixões. Podem, portanto, percorrer, assim, ilimitado
número de existências corpóreas, sem que nenhum golpe receba a
mútua estima que os liga‖ (KARDEC, 2003, p.90).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O jovem passa por muitas mudanças, e essas são de caráter físico e
espiritual. No meio dessas mudanças, ele se encontra moldando suas
características para a vida adulta. Percebe-se logo que é uma fase de extrema
importância e que merece ser sentida dessa forma. A adolescência não é uma
fase a ser sobrevivida e sim vivida, com todas as suas belezas e dificuldades.
Reconhece-se, entretanto, que o jovem espírita vem adquirindo
conhecimento desde sua infância, e recupera ainda os ensinamentos de
outrora. Na necessidade de firmar suas bases e dar significado aos seus
conhecimentos, ele se utiliza das experiências para validar (ou não) o que
aprendeu. Essas experiências permitem que ele sinta o que sabe.
A Casa Espírita e a Família constituem lugares seguros para essas
experiências, propícios para o trabalho. Os Amigos Espirituais, por sua vez,
representam apoio imensurável na trajetória de descoberta de vocações e de
resistência às dificuldades.
―Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes‖ - Jesus.
(BÍBLIA, JO,13,17)
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
O que suponho ter me levado a escrever esse artigo é a minha
necessidade de registrar, atestar o que aprendi. No início da minha caminhada
como trabalhadora da Casa, eu acreditava saber quais rumos tomaria. Eu
sempre tive certeza do que eu queria ser, de qual ―ramo‖ do trabalho seguir,
mas assim como todas as outras certezas, durante a adolescência, ela foi
sendo descontruída. O artigo representa um atestado de como entendi os
263
convites feitos e um registro validado do que eu aprendi e senti nessa
caminhada.
Minha herança dessa escrita foi a percepção da importância do sentir,
da importância de dar significado ao que sei; logo, sua aplicação é uma busca
diária de construir a ponte entre estas duas ilhas. Minha ponte começou a ser
edificada com meus estudos aprofundados, tem suas bases firmes nos
trabalhos que faço, e continuará a ser construída dia dia frente a cada nova
chance de aprendizado. Trabalhando o sentir, me torno cada vez mais sensível
a ver os desafios da vida como chances de estruturar essa ponte, e é isto que
espero fazer.
Outra herança importante foi o reconhecimento de que sou o filtro que
eu preciso. Na minha vida, sempre estive cheia de fontes de conhecimento e
de amor, e
isso não é fácil. A perspectiva de tantas recomendações sempre gerou em mim
uma ansiedade muito grande para armazenar e internalizar aquilo que me era
dito. Foi necessário que meu HD lotasse para eu perceber que não era tudo
que me servia (e com esta reflexão, logo veio outra pior ―se não tudo, então o
que me serve?‖). A partir desta reflexão, os recursos citados no artigo
conceberam ainda outro significado, eles passaram a ser vistos como
ferramentas para melhorar esse filtro.
Minha principal reflexão durante a estruturação e preparação do artigo
foi que estava tudo bem se eu não conseguisse dar significado a todo o
conhecimento que me passavam, e que também estava tudo bem se eu não
seguisse todas as recomendações que me eram dadas, afinal eu não sou
esponja. Eu sou meu filtro, e ser o meu melhor filtro é o maior sinal de auto
amor que posso me dar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de
João Ferreira de Almeida. Edição online. Disponível em:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/biblia.pdf, acesso em 03out2017.
FRANCO, Divaldo. Adolescência e vida. Ditada pelo espírito Joanna de
Ângelis. 5.ed. Salvador: Leal, 1998.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4ed.
Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro.
14.ed. Brasília: FEB, 2003.
264
APRESENTANDO UM CAMINHO QUE NOS LEVA A FELICIDADE SUPREMA
Raimundo Martins Ferreira*
―Não estamos convocados a querelar e, sim, a servir e a aprender com o
Mestre: nem fomos chamados à entronização do eu, mas, sim, a cumprir os
desígnios superiores na construção do Reino Divino em nós‖ (XAVIER, pelo
Espírito Emmanuel, 21. Ed. 2001, p. 208).
Ao habitarmos um planeta como a Terra, é importante observar certos sinais
que poderão indicar o caminho que nos leva ao Pai Maior. Esses sinais podem surgir
em episódios enquanto somos crianças ou jovens, ou mesmo, na idade adulta.
Continuam em diferentes situações, ao longo da vida de Espírito encarnado. Cabe a
pessoa indagar: O que esses sinais estão sugerindo? Juntos, eles indicam a meta
que o homem deve alcançar?
Este trabalho tem como finalidade demonstrar, através de uma apreciação
dos quatro artigos abaixo, apresentados nos Simpósios FAK passados, possíveis
compromissos que o autor deve ter assumido quando na preparação para a sua
encarnação presente. Será feita uma rápida apreciação de cada artigo, a fim de que
o leitor obtenha um entendimento da ligação entre esses artigos e, em seguida, o
autor fará comentários sobre o significado desses trabalhos, para a sua vida.
ARTIGOS
1. CONTRIBUIÇÃO DO ESPIRITISMO NA FORMAÇÃO DE UM CLIMA
ORGANIZACIONAL HARMÔNICO
Nesse trabalho foram selecionados vários aspectos ligados ao
comportamento do líder (diretor) e dos participantes (professores) em instituições de
ensino. Nesses aspectos, foram identificados aqueles que contribuem a favor ou
contra a harmonia organizacional. Em seguida, foi feita uma análise, à luz do
Espiritismo, com o intuito de apresentar sugestões de como corrigir os aspectos que
dificultam e refinar aqueles que facilitam a harmonia do clima organizacional.
Os aspectos que dificultam a construção de um clima organizacional
harmônico são Ênfase na produção e Indiferença - diretor; Empecilho e
Desobrigação - professores. Os aspectos que facilitam a construção do clima são
Consideração e Dinamismo – diretor; Intimidade e Espírito - professores.
Na análise, dos oito aspectos mencionados, realizada à luz dos
ensinamentos espíritas, foram destacados ‖a importância do exercício do amor em
todas as situações e no entendimento de que o trabalho coletivo é uma oportunidade
que os participantes têm para progredir intelectual e moralmente, rumo à felicidade
suprema‖ (FERREIRA, 2009, p.191)
________
*Trabalhador da Fundação Allan Kardec, Manaus-Am.
265
Com a análise acima realizada, ficou constatada a riqueza dos ensinamentos
espíritas quando aplicados nas diferentes situações, independentemente dos seus
níveis de dificuldades. Atuam na correção de rumos equivocadamente tomados e no
enriquecimento da utilização de rumos corretamente utilizados, para alcançar o bem
maior.
2. CONTRIBUIÇÃO DO LÍDER ESPÍRITA PARA O MOVIMENTO DE
REGENERAÇÃO DA HUMANIDADE
Jesus, através dos seus ensinamentos, apresentados por palavras e
exemplos, visava à regeneração da humanidade. O homem regenerado era aquele
que se transformava em um ser melhor, progredindo, constantemente, nos aspectos
intelectuais e morais.
O Espiritismo continuou o trabalho do Mestre, tornando mais claro o que tinha
sido dito. Os Espíritos-espíritas e os trabalhadores espíritas encarnados continuam
esse trabalho, agindo como educadores no processo de libertação dos seus
semelhantes. Por outro lado,
‗Esse papel educacional se torna mais significativo quando o
trabalhador é visto como líder, capaz de influenciar, com frequência, as
percepções de seus pares sobre diferentes assuntos tratados
coletivamente‘, além de que, esse movimento de regeneração tem no
‗diálogo um dos instrumentos mais eficazes para que o indivíduo pratique a
fraternidade, o respeito à liberdade e à igualdade, a caridade, a humildade e
outros princípios necessários para se atingir o status de homem regenerado.
Por isso mesmo quando se diz homem regenerado é o mesmo que dizer
homem educado‘ (FERREIRA, 2011, p.285).
O papel de liderança do trabalhador espírita deve ser visto como aquele que
está frequentemente refletindo sobre a sua responsabilidade de ser um exemplo de
quem trabalha, de maneira determinada, na sua melhoria moral e na melhoria moral
daqueles que, juntos, participam das mesmas atividades. No desempenho de
funções, hierarquicamente superior ou nas funções de subalternidade, deve estar
ciente de que não perde o seu papel de auxiliar na educação do outro.
3. O DIÁLOGO COMO INSTRUMENTO DE CONSTRUÇÃO COLETIVA EM
ORGANIZAÇÃO ESPÍRITA
O artigo trata da construção coletiva como um processo de ensino-
aprendizagem, onde os participantes de um centro espírita melhor desenvolvem o
seu potencial divino. O instrumento sugerido para que o referido processo se
desenvolva é o diálogo, definido como ―uma conversa, uma discussão, um perguntar
e responder entre pessoas unidas pelo interesse comum da busca‖ (ABBAGNANO,
2000, p. 274). Todavia, para que esse diálogo seja genuíno e não um simulacro, são
selecionados elementos oriundos de fontes que se referem aos trabalhos de
Sócrates, Jesus Cristo e Allan Kardec. Esses elementos estão relacionados abaixo:
266
Partes de diálogos de Sócrates, apresentados nos Diálogos de PLATÃO
(Menon e Fédon) – elementos destacados:
Menon - perplexidade, fazer perguntas, sinceridade, humildade,
determinação, preferência pelo trabalho coletivo;
Fédon - encorajamento da participação de todos, sinceridade,
exame rigoroso de tudo o que for apresentado, aceitar
esclarecimentos, resultados de análise e outros, quando não houver
mais dúvidas.
O Evangelho de João, diálogos de Jesus Cristo com Nicodemos (3:1-12),
com a Samaritana (4:1-26) e Jesus: O caminho para o Pai (14: 1-26) –
elementos destacados:
Nicodemos - confiança e credibilidade, acreditar no potencial divino
do outro, espírito crítico;
A Samaritana - princípio de igualdade, paciência, confiança, espírito
crítico;
Jesus: caminho para o Pai – serenidade, espírito crítico, humildade,
credibilidade do ponto de vista apresentado, amor, possibilidade de
o atual conhecimento ser incompleto.
O livro O que é o Espiritismo escrito por Kardec, diálogo O Céptico –
elementos destacados: grande interesse pela questão, transparência de
propósitos, humildade, espírito crítico, condições mínimas de
conhecimento para participar do diálogo.
Dos elementos mencionados, foram selecionados aqueles que pudessem
caracterizar o diálogo como um instrumento para a construção coletiva de
conhecimentos ou decisões, em organizações espíritas. Assim, os elementos que
devem estar presentes no diálogo são: prioridade pelo uso de perguntas ao invés de
afirmações, preferência pelo trabalho de construção coletiva, vontade firme de
participar para aprender, condições mínimas para participar do diálogo, espírito
crítico, crença mútua no potencial divino do outro, confiança mútua, serenidade,
paciência e encorajamento mútuo da participação efetiva de todos. Esses elementos
devem ser acompanhados de amor e pela observância dos princípios de igualdade,
fraternidade, liberdade, humildade e caridade.
Para uma melhor compreensão desse trabalho, apresentado no III Simpósio
FAK, entende-se que a leitura da sua conclusão poderá ajudar significativamente.
Todos os homens foram criados para, um dia, chegarem à perfeição.
A caminhada é realizada de várias maneiras, podendo, uns atingirem o seu
objetivo mais rapidamente ‗[...] conforme seu desejo e submissão à vontade
de Deus‘ (KARDEC, 2006, p. 126).
No diálogo, como instrumento de construção coletiva, o homem
aprende a lidar com os outros, exercitando o amor e os princípios de
igualdade, fraternidade, liberdade, humildade e caridade. É uma atividade
onde todos os participantes têm a oportunidade de desenvolver a cultura de
ver o seu semelhante como um Espírito imortal, filho do mesmo Pai,
desconstruindo, assim, o hábito de destacar funções temporárias nas quais
o homem é investido, enquanto está na Terra. No diálogo, os participantes
se sentem iguais, têm grande disposição de aprender e de agir
solidariamente.
O processo de construção coletiva, por sua vez, exige, de cada
participante, constante reflexão e pesquisa sobre o assunto que está sendo
267
tratado. Exige, também, disposição para participar e encorajar outros que
participem, efetivamente, da atividade.
Na construção coletiva todos têm a oportunidade de progredir mais
rapidamente e, à proporção que essa prática se solidifica na existência de
cada participante, a sua luz se faz mais intensa, pois alcançou o estágio de
servir incondicionalmente.
A prática da construção coletiva deve, portanto, ser estimulada pelas
organizações espíritas que desenvolvem as suas ações baseadas nos dois
ensinamentos fundamentais, amai-vos e instruir-vos, destacados pelo O
Espírito de Verdade (KARDEC, 1988, p 136. In: FERREIRA, 2013, p 464-
465).
4. CONSTRUÇÃO DA FÉ
Nesse artigo, ―a fé é entendida como um estado de ser, onde o homem atingiu a
certeza da existência de Deus, do seu infinito amor e sabedoria‖ (FERREIRA, 2015,
p.02). Ela é construída, como relatada por Agostinho em sua obra Confissões, e
estudando e praticando a Doutrina dos Espíritos.
Em Agostinho, a construção da fé passa por várias fases de sua vida.
De maneira sucinta, Agostinho dá ideia de sua caminhada em direção a Deus.
Estuda Hortêncio de Cícero, mas esta obra não satisfaz as suas expectativas na
busca de Deus. Estabeleceu contacto com as Sagradas Escrituras, mas não foi
atraído pelos ensinamentos ali encontrados. Foi para o Maniqueísmo, ali ficando
nove anos em contato com os seus seguidores, mas não se satisfez com o que
encontrou. Estudou os livros platônicos, sendo beneficiado com o entendimento da
verdade incorpórea que o ajudou a ter uma compreensão do que é Deus, mas
entendia, que a fonte do conhecimento estava no próprio homem. Precisava,
entretanto, exteriorizar esse conhecimento e o caminho encontrado foi o diálogo,
cujo exemplo pode ser encontrado no seu livro De Magistro.
A presença ativa da sua mãe, Mônica, e do bispo católico Ambrósio, na vida
de Agostinho, muito o auxiliou na sua busca de Deus. Entretanto, o seu estudo do
Antigo e do Novo Testamento, principalmente nas reflexões dos Salmos de Davi e
nas epístolas de Paulo, foram decisivos para o sucesso da sua caminhada em
direção a Deus.
Contribuição do Espiritismo na construção da fé em Deus
Parte da conclusão do artigo apresentado no IV Simpósio FAK, ilustra o papel do
Espiritismo no auxílio ao trabalhador espírita, na construção da fé em Deus:
No processo de construção da fé em Deus, o homem que estuda a
filosofia espírita, examina com cuidado a lógica das explicações dessa
filosofia, compara com o que observa na natureza e estabelece situações
que pode vivenciar para melhor compreender o Ser Maior. Sabe, por outro
lado, que a construção da fé em Deus é avaliada nos momentos que encara
as provações que a vida lhe impõe. Quando pensa que não tem mais
dúvida de que Deus é justo e misericordioso, por exemplo, a sua prova
pode ser a desencarnação de um ser amado, ainda em tenra idade. Nessa
situação, ele mantém a convicção de que Deus é realmente justo e
misericordioso ou entende que esses atributos precisam ser mais bem
268
trabalhados? Ao longo do tempo que for necessário, o homem será testado,
sendo bem sucedido em algumas situações e fracassando em outras.
Através de esforço constante, trabalhará para identificar e vencer os
seus próprios obstáculos até alcançar o estado de fé incondicional em
Deus. Daí em diante, sentirá a presença de Deus nos momentos de
meditação sobre questões que lhe são apresentadas, recebendo respostas,
em forma de símbolos, sobre aspecto ou aspectos importantes do que
precisa saber. É a fé divina surgindo da luz maior, Deus, realizando a
ligação entre o homem e a divindade; a presença de focos de luz,
representando a essência espiritual dos filhos de Deus, nos seus diferentes
níveis de desenvolvimento e a cruz iluminada do Cristo, representando o
exemplo de humildade e de amor por todos os seres viventes (FERREIRA,
2015, p. 284).
REFLEXÕES SOBRE OS QUATRO ARTIGOS E A CAMINHADA DO AUTOR, EM
DIREÇÃO AO MUNDO MAIOR
A responsabilidade advinda de compromissos e comprometimentos inicia
quando o espírito adquiriu noções sobre o seu papel como cidadão do mundo em
que vive. Mesmo quando o espírito já atingiu o nível de entendimento dos deveres
que deve cumprir, ainda tem dificuldades para saber, com clareza, o que fez ou que
deixou de fazer, na vida passada ou na vida atual. Assim, a análise do desempenho
da vida da pessoa é mais palpável quando se considera a vida atual, do que quando
se tenta entender as experiências em outras existências.
Assim sendo, as possíveis interpretações de fatos acontecidos na vida atual,
deverão ser baseadas, principalmente, na lógica dos diferentes dados obtidos sobre
os referidos fatos.
O espírito que acredita no papel decisivo da educação no seu progresso
profissional, desde cedo observa diferentes opções para atingir esse fim. E, ao
decidir sobre o caminho a tomar, se esforça para ser bem sucedido na sua
empreitada.
Entretanto, mesmo tendo segurança da decisão tomada, várias sugestões
surgem para que outros caminhos se apresentem como mais adequados. São
caminhos ilusórios que faz o homem não cumprir com os seus compromissos;
surgindo, assim, possibilidades de cair na malha dos comprometimentos. Mas, a
participação de amigos espirituais e encarnados, mesmo no âmbito familiar, o
auxiliam para que o caminho correto não seja abandonado. O ambiente social,
entretanto, mostra com clareza o caminho do sucesso, do sucesso materialmente
gratificante. Passa, consequentemente, a investir grande parte de tempo e energia
para alcançar esse objetivo. Entretanto, mesmo com todo o seu esforço, não é bem
sucedido.
Segue um caminho provisório, com a intenção de, mais tarde, retornar ao
caminho anterior o qual, aos olhos de experts, lhe traria uma situação materialmente
gratificante. Mas, após um curto período de tempo e mesmo contrariando sugestões
de pessoas interessadas no seu sucesso, transforma o caminho provisório em
caminho definitivo. É o caminho que lhe traz mais alegria, mais vida, mais felicidade.
Retornou, assim, à meta que, mais tarde, se lhe revela como sendo o seu
compromisso, firmado antes de chegar ao planeta Terra.
Inicia o seu trabalho profissional de maneira suave. Mas, com pouco tempo
de desempenho desse trabalho, a vida lhe chama para exercer algo mais
269
desafiador. Daí, começam a surgir as oportunidades para que o seu
comprometimento e o seu compromisso sejam mais destacados. Está exercendo um
cargo de direção com a disposição de servir ao bem comum da maneira mais correta
possível. Usa todo o seu esforço para ser bem sucedido e consegue. Entretanto e
mesmo respeitando todas as pessoas que estão sob o seu comando, pensa em usar
o poder da função para tratar com rigor aqueles que demonstram não estar
comprometidos com o seu trabalho. Mas, sente que essa maneira de agir não lhe
traz bem-estar. Mesmo assim, o uso da função para atingir os objetivos que
considera correto, não lhe abandona com facilidade. Por quê?
Analisando com mais rigor esse tipo de sentimento, questiona: Essa função
de comando já foi exercida em outras vidas? A responsabilidade em atingir os
objetivos organizacionais, por exemplo, lhe fazia ser rigoroso com as pessoas sob
sua responsabilidade? Se positivo, ainda lhe resta resquício desse rigor na vida
atual e deve ser exercido, não em relação às outras pessoas, mas, para consigo
mesmo. É uma oportunidade para se libertar dos seus caprichos.
Participa de cursos, em níveis mais elevados possíveis, para melhor entender
e praticar as suas funções de comando, de maneira cristã. Reflete sobre os
ensinamentos e práticas de diferentes religiões organizadas e, encontra no
Espiritismo, aquela que melhor atende as suas expectativas. Vê na Doutrina dos
Espíritos, não apenas explicações para clarear algumas dúvidas existenciais, mas o
caminho que pode incrementar as teorias mais avançadas da área da administração.
Ao finalizar esses estudos e vivenciando uma cultura onde as pessoas, de um
modo geral, vive a participação democrática nas mais variadas situações,
compreende, definitivamente, que a imposição do mais forte contra o mais fraco não
mais se constitui na melhor maneira de agir. Daí, passa a ter forte atração pelas
teorias que destacam, não somente a necessidade de alcançar os objetivos
organizacionais, mais, igualmente, os objetivos de bem-estar social.
Volta à sociedade que escolheu para viver, onde a imposição de pontos de
vista nas decisões é parte de sua cultura, mas que pode avançar para uma
sociedade de tratamento de iguais. Esse tratamento, entende, pode acontecer na
realização das atividades desenvolvidas nos diferentes tipos de organização.
Estuda o Espiritismo e vê que, em organizações que lhe dão guarida,
também se pode observar a crença na necessidade de se utilizar o princípio da
autoridade, principalmente, pelas pessoas que desempenham a função de comando.
Mas, a própria Doutrina, tem recursos apropriados para, pelo menos, suavizar essa
tendência, a qual tem servido para dividir as pessoas. Para que tal aconteça, basta
que se estudem, com dedicação, os princípios espíritas e reflita sobre a sua
aplicação nas atividades diárias.
Com esse entendimento e com o advento do I Simpósio FAK, um artigo foi
preparado, a fim de destacar, os principais fatores que facilitam ou dificultam a
construção de um clima harmônico, em uma organização educacional. Após
identificar esses fatores, foi aplicado o conhecimento do Espiritismo, a fim de corrigir
ou aprimorar os referidos fatores. Depois da análise de cada fator, dois aspectos
foram destacados para a formação de um clima organizacional harmônico, a prática
do amor e o uso do trabalho coletivo.
No artigo apresentado no II Simpósio FAK, não foram mais utilizados
resultados de pesquisas realizadas em organizações não espíritas. O Espiritismo foi
considerado suficiente para tratar do estudo do líder espírita e sua contribuição para
a regeneração da humanidade. Destacava-se nesse estudo, a necessária aplicação
do amor e do diálogo, nas atividades coletivas, bem como a aplicação dos princípios
270
destacadas em obras espíritas, como fraternidade, liberdade, igualdade, caridade e
humildade. O autor sentia a serenidade do líder espírita na apreciação de diferentes
questões envolvendo os participantes do seu grupo de estudo ou de trabalho. Já
havia segurança na aplicação dos princípios espíritas por ocasião do tratamento das
questões relacionadas a membro ou membros do grupo.
O artigo apresentado no III Simpósio FAK destacava a utilização dos
princípios espíritas, mas acrescentava um tipo de situação bastante desafiadora,
quando tratada em diferentes grupos de estudo ou de trabalho: a participação
coletiva em assuntos referentes à construção de conhecimento ou de decisões.
Desafiadora porque, ainda havia o entendimento de construção coletiva quando os
participantes de um grupo estavam juntos, mesmo quando a contribuição para a
solução de questões se concentrava na participação efetiva de poucas pessoas.
Essas pessoas eram, normalmente, aquelas que ocupavam funções de direção ou
eram dotadas de discursos que constrangiam a participação de outros membros.
Ao ler esse artigo, sentia-se a importância da necessidade do entendimento,
mais completo possível, dos termos diálogo e de construção coletiva, a fim de que
não fossem usados equivocadamente. A observância do uso correto dos princípios
espíritas, notadamente do princípio de igualdade, passaria, assim, a ser parte da
cultura das pessoas que elegem o Espiritismo como sua orientação para a busca de
Deus.
Por outro lado, a prática da construção coletiva, onde se renuncia aos
próprios interesses em benefício do outro ou do grupo, experimenta-se a sensação
de que se está começando a caminhar em um mundo diferente do que se está hoje
vivenciando. Os caprichos e as paixões voltadas à matéria, começam a perder a sua
força, sendo substituídos pela felicidade em aprender ou ver a felicidade nos outros.
O sonho, consequentemente, passa a ser a realização do processo de construção
coletiva, não apenas em alguns grupos, mas, predominantemente, a nível de
instituição.
Aqueles que, mesmo adotando a construção coletiva na produção do
conhecimento ou no processo de tomada de decisão, precisam se fortalecer para
não retornar à prática de imposição de pontos de vista, adotada em tempos não tão
distantes. Esse fortalecimento está na fé em Deus, na sua sabedoria, bondade,
misericórdia e justiça. Quando essa fé ainda não atingiu o nível de fé robusta, como
citada por Kardec, no capítulo XIX, item 2, de O evangelho segundo o espiritismo, é
necessário estudar e analisar exemplos daqueles que construíram essa fé
inabalável. Durante esse processo de estudo e análise, sente-se a beleza do
surgimento de intuições sobre pontos importantes do assunto, fazendo surgir uma
vivência mais próxima da fé incondicional em Deus. Tem-se a compreensão,
todavia, que essa construção ainda está distante de se completar, mas já existe
mais segurança da fé, se se comparar com aquela que existia no início da
preparação do artigo, apresentado no IV Simpósio FAK, cujo assunto era sobre a
construção da fé.
Na elaboração dos quatro artigos mencionados e no comentário sobre a
ligação entre eles, experimentou-se uma solidariedade significativa com amigos
espirituais, indicando que todos esses trabalhos foram frutos de um trabalho coletivo.
Dessa maneira e com as constantes reflexões sobre o papel de diferentes aspectos
desses estudos na vida atual, sente-se um grande progresso na compreensão da
execução do compromisso que leva, em última instância, ao Pai Maior.
271
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. da 1. ed. Alfredo Bosi. Revisão
de tradução e tradução de novos textos Ivone Castilho Benedetti. 4. ed. São Paulo,
SP: Martins Fontes, 2000.
FERREIRA, R. M. Contribuição do espiritismo na formação de um clima
organizacional harmônico: In I SIMPÓSIO FAK, 2009, Manaus. Anais...Manaus,
2009.
_______. Contribuição do líder espírita para o movimento de regeneração da
humanidade: In II SIMPÓSIO FAK, 2011, Manaus. Anais... Manaus, 2011.
________. O diálogo como instrumento de construção coletiva em organização
espírita: In III SIMPÓSIO FAK, 2013, Manaus. Anais... Manaus, 2013,
_______. O diálogo como instrumento de construção coletiva em organização
espírita: In IV SIMPÓSIO FAK, 2015, Manaus. Anais...Manaus, 2015.
XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 21. Ed. Brasília, DF:
FEB, 2001.
272
INTERRELAÇÕES ENTRE O AUTODESCOBRIMENTO POSSIBILITADO
PELA MEDITAÇÃO E O EXERCÍCIO DA MEDIUNIDADE
Jefferson Rebello Pimentel 264
João Carlos dos Santos Jr.
INTRODUÇÃO
É objetivo deste artigo buscar embasamento na literatura espírita sobre
a relação entre os efeitos da prática da meditação e o exercício da
mediunidade. De um conjunto de efeitos que a meditação pode produzir,
destaca-se a compreensão das possíveis contribuições do autodescobrimento
para o aprimoramento do médium.
A relevância desta temática refere-se ao fato de que o homem como
detentor da consciência, que não consiste apenas em ter inteligência ou
desenvolver formulações racionais, vem buscando a felicidade, a longo tempo,
a partir de fórmulas exteriores e pela posse material. Nessa busca, surge a
meditação como um recurso na conquista da plenitude da vida. A Doutrina
Espírita nos mostra que estamos em aprendizado, a caminho da luz. Esse
processo evolutivo exige de nós o desenvolvimento da sabedoria e do
sentimento.
Tomando Jesus como nosso modelo e guia, Emmanuel nos relata 265 que
o Mestre, ao final do dia, finda as tarefas diárias, se recolhia para meditar e
comungar com o Pai. Esse exercício de recolhimento, e de autodescobrimento,
está registrado também em ‗O Livro dos Espíritos‘, pergunta 919-a266, como
uma atividade que nos fortalece em nossa busca evolutiva.
Para apresentar as reflexões propostas acima, organizamos este artigo
em seções. Inicialmente apresentamos o contexto do autodescobrimento,
potencializado pela meditação, destacando os ganhos que podemos obter.
Conceituamos a meditação na ótica da Doutrina Espírita e em seguida
refletimos sobre o exercício da mediunidade, a fim de destacar elementos
indicativos do aprimoramento do médium, a partir do exercício da meditação,
não como único caminho, mas como mais uma possibilidade. Após as
considerações finais, para encerrar o artigo, trazemos um pequeno relato sobre
as aprendizagens construídas na elaboração deste artigo, as quais esperamos
ser úteis também para outros espíritas, interessados no tema da meditação.
264
Trabalhadores da Oficina de Meditação da Fundação Allan Kardec
265
Mensagem “Na Meditação” (Caminho, Verdade e Vida, 28.ed. Brasília: FEB, 2009. Capítulo 168.)
266
(919-a) Concebemos toda a sabedoria desta máxima; porém, a dificuldade é, precisamente, a de
conhecer-se a si mesmo; qual o meio de consegui-lo?
O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave da melhoria individual; mas, direis, como julgar-se a si
mesmo? (Kardec, 2011)
273
DESENVOLVIMENTO
Contexto do autodescobrimento
Palmo a palmo, na escalada evolutiva, o ser vai se enriquecendo de
virtudes, que lhe iluminarão a alma por inteiro. O tempo é o nosso principal guia
e estamos sempre seguindo os ciclos terrenos ao longo de muitas
encarnações.
Dividimos nossas vivências em passado, presente e futuro. É o
parâmetro que temos utilizado para fazer nossos planos e avaliar resultados.
Entretanto, quando se trata da interação entre o nosso espírito imortal e a
impermanência da vida material, sentimos enorme dificuldade. Como aproximar
esses opostos e atingir a essência do ser?
O Espírito não está condicionado ao tempo, já a existência no corpo
físico é temporária. Para os gregos antigos, o tempo humano pode ser medido,
mas o tempo de Deus apenas vivido. Por conta da nossa limitada compreensão
e uso do tempo, na maioria das vezes nos encontramos no passado, apegados
a experiências que já caducaram e não notamos. Em outros momentos, no
futuro, ocupados com planos idealizados que nos façam felizes. Raras
ocasiões no presente. Quando estamos aqui, a mente viaja para lá e, quando
estamos lá, a mente permanece aqui. Sofremos repetindo experiências de
ontem, gatilhos que permanecem vivos na mente, disparados na maioria das
vezes de maneira inconsciente ou ficamos atormentados com as expectativas
futuras, agarrando-nos a elas. A mente presa ao tempo nos impede de uma
visão integral.
É nesse contexto que surge a meditação como um recurso para o
espírito milenar em busca da sua evolução. Uma das motivações para a
apresentação deste artigo surge da necessidade daqueles que hoje valorizam
o tempo do silêncio, sem se ausentarem do mundo e que buscam encarar a si
mesmos, sem o medo do autoconhecimento. Questionamos a nós mesmos:
Por que nos encolher diante dele (o conhecimento de si) se podemos
reverenciá-lo e melhor aproveitar nossa encarnação?
Sendo a meditação um exercício espiritual que nos prepara para a
contemplação e nos propõe um estado de liberação espiritual dos laços do
mundo material, indagamo-nos sobre suas contribuições para o processo de
autodescobrimento e sua conexão com a prática da mediunidade. Não se trata
de apresentar postulados sobre desenvolvimento mediúnico ou um manual de
autodescobrimento, mas da busca do conhecimento do Ser espiritual que
habita o corpo encarnado.
A meditação como recurso para o espírito milenar
A prática da meditação tem sido utilizada milenarmente como processo
de centralidade que envolve três elementos importantes. O primeiro é um foco
interior, um lugar de repouso para as energias mentais e para a percepção. O
segundo é uma atitude de desapego, permitindo que os pensamentos que
distraem venham e sigam sem perturbar a atenção ou adquirir novas energias.
O terceiro é o despertar de uma consciência interior difusa, um estado de
274
espírito diferente daqueles que vivenciamos na vida. Nesse estado mental,
denominado atenção plena, a percepção naturalmente se volta para dentro e
torna-se consciente de si mesma. Nesse estágio, a meditação mantém a
atenção no momento presente, ao ponto de desligar-se do ―tempo presente‖
(horas, dias, semanas...).
Joanna de Ângelis, por intermédio da mediunidade de Divaldo Franco,
faz a seguinte menção:
Meditação é o combustível precioso que mantém o vigor moral.
Meditação é dínamo poderoso que movimenta a máquina da ação.
Meditação é a amiga fiel que corrige com bondade e esclarece com
humildade.
Se desejas, realmente um método eficiente para ser mantido o alto
índice de produtividade, evitando insucessos continuados ou erros
constantes, elege a meditação como hábito salutar em tua vida.
O cristão, e em particular o espírita, tem necessidade de meditar
como o de orar, porquanto se a vigilância decorre da meditação, está
é consequência daquela (ÂNGELIS, 2004, p. 199).
Talvez se pudesse indagar se a prática da meditação seja da cultura dos
orientais e não se aplicaria à dinâmica do ocidente ou que serviria apenas
àqueles ligados a uma religião de conceitos hinduístas. Essa questão nos
coloca a necessidade de desmistificar esse entendimento a respeito da
meditação, mas também de destacar a possibilidade de acolhimento dos
pensamentos em produção contínua. Jason de Camargo (2003) recomenda a
busca do equilíbrio para melhor entender e conhecer a si e ao outro, que
também vive permeado de preconceitos psíquico-educacionais advindos de
cada contexto, sinalizando-nos a importância da meditação:
[...] Quanto mais equilibrada estiver a mente, melhores condições o
sujeito terá de aproveitar o resultado das suas aptidões, porque as
inter-relações mentais se darão sem as barreiras energéticas
produzidas pelo desequilíbrio de algumas partes da psique
(CAMARGO, 2003, p. 44).
O pensamento é uma das potencialidades da alma, e a Doutrina Espírita
vem oferecendo reflexões que favorecem o seu endereçamento à conduta
cristã, baseada na proposta de autoacolher tais pensamentos, liberando-se da
culpa e do arrependimento cristalizado, que gera estagnação e depressão. O
tema pensamento foi objeto de abordagem, em 2011, no II Simpósio da
Fundação Allan Kardec, por Dias e Santos Jr, quando utiliza-se da prece como
exemplo do concurso desse poderoso recurso.
Quando na prece, fixamos nossa ideia e nos concentramos
[meditamos], nosso corpo passa para um estado de serenidade
respiratória, com batimentos cardíacos cadenciados, levando nosso
campo energético para além dos órgãos vitais, sublimando forças
para elevar o pensamento da densidade material para densidade
etérea, adequada para o seu descolamento no fluido universal, onde
todos os seres podem utilizar o pensamento para comunicação.
(DIAS e SANTOS JR, 2011, p. 03). [Grifo nosso]
275
Das muitas informações oferecidas pela Doutrina Espírita, as reflexões
acompanhadas de práticas meditativas operam como elevadores da
consciência, erguendo-a mais à frente. A régua do tempo é uma limitação do
corpo. No plano da mente, os pensamentos são tão reais que quase o tocamos
com as mãos. Tanto que o corpo acompanha o fluxo mental. Ele reage aos
impulsos mentais e mesmo que estejam no passado, ele os vivencia. O espírito
é livre para viver além do tempo e do espaço, enquanto o corpo precisa se
submeter às raízes que tem com o plano físico. Assim, com dedicação e
disciplina vai-se encontrando o ponto de equilíbrio entre os dois mundos para
se vivenciar uma experiência de vida plena e saudável.
Concluída essa etapa do entendimento dos benefícios para o Ser
espiritual da descoberta de si mesmo, os seres estarão aptos e abertos para
perceber, pelo olhar da mediunidade, a dinâmica da meditação.
Mediunidade e Meditação
Falar de pensamento e sua harmonia no momento da meditação traz,
naturalmente, uma ligação quanto ao seu aspecto do fenômeno mediúnico nas
bases apresentadas por Allan Kardec. Na conduta disciplinada da
mediunidade, quando em estado psíquico de meditação, há uma conexão de
pensamento e transmissão de ideias.
Por se compreender que essa percepção é fruto da cooperação de
diversos companheiros de atividades mediúnicas, escolheu-se abordar este
tema neste artigo, não com o objetivo de descrever a fisiologia ou a
fenomenologia do processo mediúnico, mas para evidenciar a ligação
mediunidade-meditação como recurso efetivo de autodescobrimento,
oferecendo traços de evidências àqueles que se desejam aprouver delas.
Kardec, ao falar sobre as evidências que ajudam a perceber a existência
da faculdade mediúnica em ‗O Livro dos Médiuns‘, item 62, apresenta estados
do Ser cujo desenvolvimento podem ser favorecidos pela meditação: ―Nenhum
indício há pelo qual se reconheça a existência da faculdade mediúnica. Só a
experiência pode revelá-la. [...] A única prescrição de rigor obrigatório é o
recolhimento, absoluto silêncio e, sobretudo, a paciência, caso o efeito se
faça esperar‖ (KARDEC, 2010, p. 75). [Grifo nosso]
Ainda Kardec, na mesma obra (item 220, pt. 5º), conversa com um
espírito sobre as razões da interrupção da faculdade mediúnica e daí acolhe-se
uma consideração sobre a meditação introspectiva: ―É também para lhe dar
tempo de meditar as instruções recebidas. Por essa meditação dos nossos
ensinos é que reconhecemos os espíritas verdadeiramente sérios‖ (KARDEC,
2010, p. 238. Grifo nosso).
O aprofundamento da meditação, com a mente sob o efeito do estado
meditativo, favorece a vinculação dos espíritos ao ponto que instruções, pela
via da intuição, facilmente são percebidos como caminhos para a orientação
segura para os bons propósitos reencarnacionistas do Ser. Esse ponto é um
dos ganhos que podem contribuir para o alinhamento com os
276
comprometimentos e compromissos, em consonância com as orientações
recebidas do Espírito Raphael267 na Fundação Allan Kardec.
Manoel Philomeno de Miranda relata sobre a preparação para reuniões
mediúnicas em que convida também à meditação, na obra intitulada ―Reuniões
Mediúnicas‖.
Há problemas compreensíveis gerados pela agitação da vida
moderna, principalmente nos grandes centros urbanos. [...] A solução
para a problemática passa por uma decisão séria: economizar forças,
não gastar energias com o culto à inutilidade; jamais se afadigar por
coisas e valores dispensáveis; meditar, o quanto possível, buscando
colocar a mente em temas superiores quanto edificantes (MIRANDA,
1993, p. 16) [Grifo nosso].
Não obstante a longa jornada humana nas experiências da meditação,
Joanna de Ângelis revela o quão poderoso é este recurso e quanto favorece
essa experiência meditativa e a mediunidade, para o conhecimento profundo
do Ser, nos recônditos do ―inconsciente‖.
[...] que, também através da concentração, da oração, da meditação,
e durante alguns transes nas tentativas das experiências mediúnicas,
o inconsciente faculta a liberação de várias das impressões que nele
jazem, dando origem aos fenômenos anímicos, estudados
cuidadosamente pelo nobre codificador do Espiritismo, com muita
justiça, um dos identificadores dos arquivos do inconsciente, embora
sob outra designação268 (FRANCO, 2013, p. 76).
Ampliando o conceito de médiuns, percebe-se que todos têm diferentes
graus da natureza mediúnica ou medianímica 269, por se encontrar sob
influência da alma, ou seja, um Espírito que passa por trajetória encarnada.
Conscientes, os seres agem como médiuns de si próprios. Nota-se que vários
fenômenos ditos mediúnicos se dão conosco no cotidiano, em plena
convivência com a vida material, expressos nos sentidos ―da carne‖. Como isso
acessa a vida cotidiana na relação familiar, profissional e nos processos de
ligação com Deus?
Para acessar uma das necessidades emocionais comuns de boa parte
da população planetária, encarnada e desencarnada, no entendimento do
perdão e seu reflexo na percepção do autoamor, Pereira e Santos Jr. (2015)
sugerem uma estratégia ligada à meditação na boa convivência com as
emoções.
267
Mensagem „Avaliações e Planejamentos: um Encontro entre Comprometimentos e Compromissos‟
recebida em 05/11/2016, por Aline Pontes, em reunião doutrinária do Conselho Diretor da FAK, revisada
pela Comissão Coordenadora do Correio do Amor em 12/12/16.
268
Talvez a autora se refira ao trecho do Livros dos Médiuns de Allan Kardec: “Frequentemente, pessoas
encarnadas, nessa modalidade de provação regeneradora, são encontráveis nas reuniões mediúnicas,
mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades outras, quando,
na realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da subconsciência (inconsciente) nos trajes mentais
em que se externavam noutras épocas, sob o fascínio constante dos desencarnados que as subjugam.” (O
Livro dos Médiuns. Pt. 2, cap. 14, it. 159) grifos nosso.
269
Faculdade medianímica. – Qualificativo da capacidade própria que permite aos médiuns o exercício da
função de intermediários entre os Espíritos e os homens. ... Médium (latim, médium, meio,
intermediário). Pessoa que pode servir de medianeira entre os Espíritos e os homens. (O Livro dos
Médiuns. cap. 32 – Vocabulário Espírita)
277
A estratégia de vivenciar emoções perturbadoras (mágoa por falta de
perdão), utilizando o bálsamo do auto-amor conduzirá ao alívio do
―fardo pesado‖ e o desabafo que oportunizará facear o Eu com
leveza, promovendo uma ―limpeza‖ das impurezas promovidas por
estas emoções mal sãs, ampliando a sintonia de paz e equilíbrio
interior.
Essa estratégia pode se materializar através da arte como expressão
divina das emoções vivenciadas, na prática da meditação
promovendo exercícios de respiração, aproveitando melhor os
recursos da energia Divina acionada em cada molécula de oxigênio
ingerida liberando a toxidez da alma conturbada por meio do gás
carbônico expelido. (PEREIRA e SANTOS JR, 2015, p. 06).
Pode-se avançar em pesquisas no vasto material produzido por
trabalhadores do Movimento Espírita em todos os cantos do planeta, desde
extensas conclusões cognitivas ao anonimato daqueles que, em silêncio
profundo, apoderam-se desse recurso e potencializam a alma na busca de se
acalmar, concentrar, acolher o próximo, tanto quanto a si mesmo, como a
Espíritos, que buscam a plenitude da vida, em consonância com a vida
Espiritual e as condições que materializam a vida encarnada, proporcionada na
experiência terrestre.
Tem-se diversos relatos das experiências pessoais de amigos e muitos
desconhecidos que vêm cultivando esse nobre hábito de meditar. Isso seria
objeto de pesquisa baseado em entrevistas sistematizadas para mapear tais
percepções. Ousaria dizer, para concluir esse tópico, com as experiências dos
autores que escrevem este artigo, que na vida Espiritual, diversos
companheiros de jornada estão em frequente estado meditativo, na construção
de seus planos reencanatórios, o que resulta, também, em influências a tantos
outros.
CONCLUSÃO
Esse artigo, não se propôs somente a dissertar sobre os benefícios ou
os novos recursos para a mente, possibilitados pelo hábito da meditação.
Trata-se apenas, de uma singela proposta, um convite para que possamos
ouvir nosso silêncio interior e ao desvendar o nosso Eu, nos conectarmos com
sua própria mediunidade, nas bases elucidadas por Kardec, na qual todos
somos médiuns em diferentes graus.
Sugere-se, nesta conclusão, que há largas evidências de grandes
benefícios para o Ser vivente que são alcançadas não somente pelos estudos
e pelas pesquisas sobre meditação, mas também pela experimentação, que os
estados de consciência e de percepção mediúnicas, são favorecidos pela
prática regular da meditação. Exercícios e práticas de meditação que,
comumente, não se ligam a movimentos externos tais como os de marcar dia e
hora.
Partindo-se da evidência de que o mundo físico é parte do mundo
Espiritual e que os seres sempre se encontram sob influência do campo
energético dos Espíritos270, ao trazer a prática da meditação de forma
270
Influência oculta dos espíritos nos nossos pensamentos e nas nossas ações.
278
disciplinada ampliamos nossa percepção com mundo dos Espíritos, uma vez
que nos desprendemos dos atavismo do passado e da ansiedade com o futuro
nos propondo a nos autodescobrir no presente.
Autodescobrimento não é tarefa construída através de fórmulas e não
propomos isso neste artigo. Contudo, pode nos levar a concluir que, capturar
percepções, a partir deste estado presente e meditativo, nos levará, caso
queiramos, a desenvolver a construção do nosso Espírito milenar, alimentados
pelo exercício consciente da meditação.
Enfim, aguarda-se que essa tentativa de trazer uma conexão entre
meditação e mediunidade, pela via do autodescobrimento, tenha ficado
demonstrada nos tópicos abordados neste texto. Pela escolha do leitor,
cumpriu-se o objetivo de permitir que cada um construa suas conclusões a
partir do seu próprio silêncio interior.
Acredita-se que o tema possa ensejar outros companheiros, ligados ou
não a meditação, a trazer, também, suas contribuições nesta matéria e a
aprofundarem o estudo e a vivência pelo olhar a si mesmo.
“O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO” – João Carlos Jr.
Quando me aproximei da atividade da meditação, não estava
procurando algo que fosse ligado a temas do Eu, apenas uma atividade-
exercício para a mente, não sabia nem o porquê de eu participar, além de
desfrutar da companhia de amigos. Era uma jornada sem um compromisso
comigo mesmo. Talvez, como um comportamento de pura inocência.
Aos poucos, fui percebendo que a meditação é uma ponte para acessar
o mundo íntimo de qualquer pessoa que queira experimentar a viagem interior.
Escutar as vozes na mente ou burburinho psíquico, o som do silêncio, as
viagens pelos pensamentos em suas ―marolas‖ de todas as direções e
intensidades, se assim posso descrever as sensações que tenho desfrutado e
que potencializa minha convivência com o meu Eu interior, ampliando minhas
percepções sobre o Ser, onde me encontro, para onde vou e as razões de
estar no presente, em tudo que me relaciono, penso, ajo ou encontro.
Pela singularidade da experiência de meditar, não cabe criar roteiros
para outros, a não ser dizer: Vem! Experimente! São vivências novas a cada
disposição de prová-las! Liberdade dos pensamentos opressores do passado,
das culpas, dos acertos ou das ansiedades do amanhã. Uma relação com
Deus.
Entendo que a meditação é um convite para um trabalho como outro
qualquer, levado à sério, com suas dimensões de disciplina pacificada,
coragem, persistência e ajuda em grupo.
Do ponto de vista espiritual, não se trata de mediunidade ostensiva, ou
seja, que está estabilizada no organismo somático no dizer de Kardec, mas
está em cada espírito, como recurso da alma, descoberto por mim quando me
disponho a meditar. Neste caso, a perspectiva do mundo espiritual é o
ambiente da meditação e não podemos deixar de registrar a influência dos
Espíritos, especialmente, quando na meditação em grupo ou no preparo a
459. Os espíritos influem nos nossos pensamentos e nas nossas ações? “Sob este aspecto, a influência
deles é maior do que imaginais, pois, com muita frequência, são eles que vos dirigem.” O Livro dos
Espíritos, pergunta 459 (Kardec, 2011).
279
qualquer trabalho profissional ou não, que esteja ligado às tarefas realizadas
com o coração sincero e com fé em Deus.
A meditação, quando incorporada à agenda pessoal, pode proporcionar
a desconexão dos tensionamentos mentais diários e daí começar a adentrar no
Eu interior. Aparentemente parece uma tarefa simples, mas os resultados
dependem da renúncia à respostas imediatas, uma vez que meditação é
processo construtivo, sem espera de conquistas, que possam se transformar
em posse, alimentando a estrutura egóica, estabelecendo as regras dos
condicionamentos mentais. Essa é a primeira dificuldade que encontro quando
me deixo levar sem consciência do processo e não ouvindo o som do silêncio
interior.
O que antevejo pessoalmente, ao ficar disponível na meditação, é uma
construção pacífica do Eu, num ritmo regido pela própria maturidade do
Espírito, sem a cobrança de mim mesmo e em sintonia espiritual com as
percepções que o agora me proporciona nos compromissos reencarnatórios
pessoais.
Gostaria de relatar que não cheguei em um estado pleno de meditação,
digo para que não se entenda que este seja o objetivo, mas que o objeto está
no processo de meditar. Quanto mais ―abandono‖ os pensamentos e promovo
um ponto de atenção no agora, a exemplo da respiração, mais esse processo
se consolida. Isso explica o porquê não pareça ser razoável oferecer cursos de
meditação e sim apresentar a proposta do silêncio interior a um grupo de
interessados. O que decorre desse formato é que não se obtém uma sequência
cronológica (típica de conteúdos pedagógicos de aprendizado tradicional) e
não se estabeleça graus de evolução entre os participantes do grupo, pois
cada um está no seu momento, sem correlações e comparações que
favoreçam ou interfiram no aprendizado. Não obstante, as orientações para os
que estão começando num grupo de meditação sejam importantes, porém não
interfere no aprendizado daqueles mais antigos do grupo.
Pelos compromissos no campo da mediunidade em que entendo que
sejam ligados a mim, tenho percebido, cada vez mais, a oferta de recursos
para a alma que possibilitam a melhor convivência comigo mesmo e com o
mundo espiritual, esta potencializada pelo aprofundamento da meditação. Essa
influência tem trazido motivação, inclusive para a elaboração desse artigo, bem
como para assumir responsabilidades futuras nas oportunidades redentoras do
serviço do bem.
“O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO” – Jefferson Rebello
Há 20 anos, quando eclodiu a minha mediunidade de maneira mais
ostensiva e gradativa, não dei muita atenção. Aliás, eu nem sabia se o que
estava acontecendo comigo podia ser definido como tal. Era ―normal‖ ouvir
pensamentos ou sentir-me distante boa parte do tempo, captar e mergulhar em
energias e imagens mentais que me proporcionavam lembranças vivas de um
passado não vivido nesta existência; outras vezes, era a vontade intensa de
dissertar sobre assuntos que eu ainda não tinha interesse e que, logo a seguir,
esclareciam minhas dúvidas antigas.
Depois de estudar e, mais tarde, participando de atividades mediúnicas,
aos poucos, fui entendendo a necessidade de conhecer-me melhor, por isso,
280
encontrei na meditação uma excelente ferramenta no auxílio para o
autoconhecimento, me conduzindo a ter mais compromissos e
responsabilidades no processo anímico e mediúnico. Mas, surgiu uma questão:
Como me preparar para alcançar esse estado? Além da oração e dos meus
constantes estudos, realizei-me na meditação de forma agradável, primorosa,
permitindo melhor colaborar junto aos espíritos que ainda tenho necessidades
de ajustes em amor, em harmonia e compreensão da bem-vinda presença dos
trabalhadores espirituais responsáveis pela jornada de progresso pessoal do
ponto de vista do propósito reencarnatório. Eis uma das razões que me
levaram a escrever sobre o esse tema para o V Simpósio da FAK.
Agora referindo-me a ―Oficina de Meditação‖, que hoje faz parte do
projeto de incubadoras da DAEA, tenho percebido o quanto o silenciamento
mental tem sido útil para o meu desempenho enquanto médium.
Do ponto de vista do todo, aí digo: corpo, mente, espírito e emoção,
olhar apenas uma dessas partes, em detrimento da outra, pouco poderia me
ajudar no desenvolvimento Espiritual. Hoje sei que o equilíbrio reside em tratar
todos os ―corpos‖ para poder desfrutar do bem-estar interior. Tratar dessa
harmonia interior é um dos resultados da prática da meditação disciplinada.
Com o tempo e disciplina, pretendo atingir, enfim, o silêncio profundo da
mente. Ele dirá o que preciso trabalhar dentro de mim, seja nas questões
emocionais, psicológicas ou até mesmo uma situação mal resolvida no
decorrer da vida. Não obstante, a meditação nos convida a voltarmos para o
momento presente e para o nosso centro do Eu divino. Ela induz a afastar
provisoriamente os problemas, a deixar os pensamentos falando sozinhos, a
nos desligarmos de qualquer fator externo para que possamos contemplar o
mundo interno, a voz interior e a nossa centelha divina que conhece o todo do
Ser. Acessando esse ponto central, venho desenvolvendo o autoamor e
contemplando mais de perto e amorosamente aqueles com quem convivo, quer
encarnados ou desencarnados, em sintonia com todo o universo, os bons
sentimentos íntimos.
Tenho procurado olhar para os dias, lembrando que participar de uma
reunião mediúnica não me deixa isento dos deslizes morais. Ao invés, ajudado
pela meditação, procuro vigiar os pensamentos, orar, agradecer, procurar ser
mais atento, gentil com as pessoas e comigo.
AGRADECIMETOS
O agradecimento é um sentimento que nos remete à gratidão. E a
gratidão, pode tomar a dimensão do infinito, sem fronteiras, sem nomes, sem
cor, certos da beleza e profundidade do Ser criado pelo Pai. Mas, uma
particularidade nos sensibiliza na construção deste artigo, a ostensiva ajuda
dos Espíritos e da nossa orientadora Iolete Ribeiro que, com sutileza de seu
perfume e suas mãos de seda, endereçou o encadeamento de todas as ideias,
levando a bom termo a conclusão desta singela tarefa, bem como da
contribuição pessoal dos nossos profundos sentimentos com a meditação.
281
REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. O Livro dos médiuns ou Guia dos médiuns e dos
evocadores. Trad. de Maria Lucia Alcântara de Carvalho. 1a. ed. Rio de
Janeiro: CELD, 2010.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Albertina Escudeiro
Sêco. 2ª. edição. Rio de Janeiro: CELD, 2011.
FRANCO, Divaldo P. Joanna de Ângelis Responde. Espírito Joanna de
Ângelis. Ed. Leal. 4ª. Edição. 2004.
FRANCO, Divaldo P. Vida Desafios e Soluções. Espírito Joanna de Ângelis.
Ed. Leal. 2013.
CAMARGO, Jason de. Educação dos Sentimentos. Porto Alegre: Letras de
Luz, 2001.
DIAS Ailton G.; SANTOS JR., João Carlos. Comunicação pelos Pensamentos.
In: Anais do II Simpósio da Fundação Allan Kardec. Out/2011. Disponível
em www.faknet.org.br. Acessado em 24/09/2017.
MIRANDA, Manoel P. Reuniões Mediúnicas. Projeto Manoel Philomeno de
Miranda, ed. LEAL. 1993.
PEREIRA, Alessandra dos Santos; SANTOS JR,. João Carlos. O Perdão e sua
Aplicabilidade na Construção do Ser Espiritual. In: Anais do IV Simpósio da
Fundação Allan Kardec. Out/2015. Disponível em www.faknet.org.br.
Acessado em 24/09/2017.
282
MEDITAÇÃO: (RE)CONHECENDO SUA POTÊNCIA PARA OS
PROPÓSITOS DO SER IMORTAL
Ana Kalina Moura de Paula
Jefferson Rebello Pimentel
INTRODUÇÃO
Quando se pensa em meditação, geralmente vem à mente a imagem de
um monge oriental ou iogue, sentado de pernas cruzadas, vestindo um pedaço
de pano ou túnica, em concentração profunda. Pitoresco e interessante. Parece
que ele não está fazendo nada. Não poderia haver cena mais antagônica à
realidade das nossas atuais vidas: estressante, corrida e superestimulada.
Joanna de Ângelis considera: ―A vida moderna rica de divertimentos e
pobre de Espiritualidade, arrastando o homem para o exterior, para os jogos
dos sentidos, em detrimento da harmonia que lhe deve constituir a base para
quaisquer outras realizações‖ (FRANCO, 2014, p 2).
Bodian (2011, p 12) descreve que ―No dia a dia, sua mente está
constantemente processando uma barragem de sensações, impressões
visuais, emoções e pensamentos‖. A meditação é a prática e o processo de
prestar atenção e focar a própria consciência. ―Quando você medita, você
estreita seu foco, limita o estímulo que bombardeia o seu sistema nervoso – e
acalma sua mente no processo‖ (2011, p 12). Quando se consegue focar a
consciência através da concentração, se ganha poder. Quando se concentra
melhor, se desempenha melhor.
A meditação é recurso valoroso e de ampla aplicação, qualquer coisa
que se faça, se poderá fazer mais efetivamente quando medita. Trata-se de
mais um dos muitos recursos legítimos disponíveis para a humanidade, nesse
processo de transição planetária.
Então porque a escolha do tema Meditação para o desenvolvimento do
artigo do V Simpósio FAK? Em primeiro lugar pelos resultados positivos 271
experimentados pelos participantes da atividade ―Oficina de Meditação‖
realizada no jardim a cerca de três anos272, quais sejam: auto percepção,
diminuição do automatismo e do medo, bem-estar, serenidade, foco, interação
com Deus através da natureza, entre outros. Em segundo lugar pela
identificação do embasamento evangélico e doutrinário da meditação, inclusive
nas obras complementares e de referência da Doutrina Espírita, com destaque
para a prática da meditação por Jesus - modelo e guia da humanidade.
Também se encontra ampla comprovação científica dos benefícios da
meditação. E por fim, pela recomendação da meditação em quatro artigos
escritos no IV Simpósio FAK (2015).
Diante do exposto, parecia natural que o assunto desse artigo versasse
sobre a ―Oficina de Meditação‖, elegendo-se o Eixo Temático ―Realizações‖.
Entretanto, devido o tema apresentar conteúdo substancial - campo amplo,
profundo e fértil – para investigações, análises e conclusões, sentiu-se a
271
Resultados extraídos da avaliação das atividades da ―Oficina de Meditação‖ realizada no dia
18/09/2017 com a participação de Ana Kalina, Jefferson Rebello, Mari Pio e Teka Santarém.
272
A Oficina da Meditação é atividade da Incubadora da Diretoria das Atividades de Exercício
do Amor (DAEA) da Fundação Allan Kardec e os autores desse artigo são integrantes dessa
atividade.
283
necessidade de realizar uma abordagem inicial, mais afeita ao Eixo Temático
―Compromissos Iluminativos‖, preparando-se a terra, zelando-se para que a
semente desse artigo seja sadia, que produza uma árvore enraizada, robusta,
produtiva.
O título desse artigo ―Meditação: (re)conhecendo sua potência para os
propósitos do ser imortal‖, justifica-se pela necessidade de aproximar-se e
apropriar-se dessa prática fundamental para o estabelecimento da
comunicação interior conosco próprio e com Deus e para tanto delimitou-se a
temática, enquanto uma prática sagrada. O prefixo ―(re)‖ foi justaposto ao tema
visto a meditação ser prática milenar que acompanha os homens e as religiões
ao longo da sua evolução.
O objetivo geral do artigo é reconhecer se há na meditação, potências
que possam auxiliar a alma na realização dos seus propósitos, sendo
necessário então, refletir sobre a importância da meditação, ter noções do
contexto histórico e conhecer a prática e nessa mesma ordem o artigo foi
estruturado, acrescidos da conclusão e da sessão ―O que aprendi sobre mim
mesmo‖.
Os procedimentos metodológicos adotados foram, em primeiro lugar, a
aproximação do exercício da meditação por cerca de três anos. Sendo da
natureza da meditação ser vivenciada, a prática auxiliou na sensibilização e
percepção do tema, criando ambiente propício para as reflexões e conclusões.
Em segundo lugar, o exercício da intuição, utilizada particularmente na
produção do item: ―Por que meditar?‖ Deixar o texto fluir sem o controle
racional, resultou na linha condutora do artigo. Também a participação nas
atividades subsidiárias ao Simpósio - workshop e assessorias - embasou,
orientou e inspirou a produção do artigo. E por fim, formular o problema, coletar
e estudar a literatura, proceder à análise e síntese, interpretar os dados e
apresentar os resultados. Trata-se de uma abordagem inicial da meditação.
DESENVOLVIMENTO
1. POR QUE MEDITAR?
Santo Agostinho (KARDEC, 2002) informa que a característica comum
dos espíritos que habitam a Terra é a rebeldia à Lei de Deus. Situando-se no
grupo de espíritos afinados com o planeta de expiação e provas, o Homem tem
revelada sua real condição de espírito imortal, a superioridade da inteligência e
as qualidades inatas que trazem consigo, indicam que já realizou certo
progresso, entretanto a propensão aos numerosos vícios representa grande
imperfeição moral.
Santo Agostinho (KARDEC, 2002), continuando seu raciocínio,
esclarece o processo pedagógico de Deus para o progresso do Espírito, ao
oportunizar que ele encarne num ―mundo ingrato‖:
Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a
perversidade dos homens e com a inclemência da Natureza, duplo e
árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do
coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade,
faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do
Espírito. – Santo Agostinho (Paris, 1862) [grifo nosso].
284
Em ―O Livro dos Espíritos‖, estes esclarecem Kardec sobre as
consequências do comportamento submisso e rebelde do homem ante a
vontade de Deus:
― 115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus?
Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber.
A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de
os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da
verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles
encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que
Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento.
Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à
meta que lhes foi assinada. Outros, só a suportam murmurando
e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem
afastados da perfeição e da prometida felicidade” [Grifo nosso].
a) — Segundo o que acabais de dizer, os Espíritos, em sua origem,
seriam como as crianças, ignorantes e inexperientes, só adquirindo
pouco a pouco os conhecimentos de que carecem com o percorrerem
as diferentes fases da vida?
―Sim, a comparação é boa. A criança rebelde se conserva ignorante e
imperfeita. Seu aproveitamento depende da sua maior ou menor
docilidade. Mas, a vida do homem tem termo, ao passo que a dos
Espíritos se prolonga ao infinito.‖
Kardec (2013) nos apresenta a parte mais importante da revelação do
Cristo, o ponto de vista inteiramente novo sob o qual considera ele a Divindade
que ―(...) já não é o Deus terrível, ciumento, vingativo, de Moisés; mas, o Pai
comum do gênero humano (...). Enfim, já não é o Deus que quer ser temido,
mas o Deus que quer ser amado‖.
Conscientes da revelação dos verdadeiros atributos de Deus, todos são
convidados a sentir-se filho do ―Pai comum‖, amorosamente disponível para
guiar a Humanidade, desde que, obediente, queira ouvir suas orientações e
conselhos. Deus plantou nas suas criaturas as Leis Divinas, na voz da
consciência, desde que tenha interesse de ouvi-la, fazendo-se necessário
imprimir a sua vontade para o bom uso do livre arbítrio.
A benfeitora Joanna de Ângêlis adverte que ―Deus necessita do silêncio
humano, a fim de fazer-se ouvido por quem deseje manter contato com a Sua
Paternidade‖ (FRANCO, 2015, p 99). Como escutar a Deus se o Homem
permite que a sua ―casa íntima‖ se encontre cheia de ―ruídos discordantes‖?
Quando a criança não quer ouvir a voz dos pais a orientá-la é comum colocar
as mãos sobre as orelhas e gritar, impossibilitando receber a orientação
paterna. Esse comportamento infantilizado, muitas vezes tem sido adotado
quando se permite ser conduzido pela rebeldia.
―[...] Ele (Deus) nos fala ainda no santuário do nosso ser, nas horas
de silêncio e de meditação.
Quando os ruídos discordantes da vida material se calam, então, a
voz interior, a grande voz desperta, se faz ouvir.
Essa voz sai das profundezas da consciência e nos fala de dever, de
progresso, de ascensão.
Há em nós um refúgio íntimo, como uma fonte profunda de onde
podem jorrar ondas de vida, de amor, de virtude, de luz.
285
Aí se manifesta esse reflexo, esse gérmen divino, escondido em toda
alma humana (DENIS, 1911).
É chegado o tempo da seleção do joio do trigo, em obediência à Lei de
Evolução e quis nosso Pai Amorosíssimo que providências sejam tomadas
para resgatar o maior número das suas ovelhas, de despertar o Espírito imortal
da ―Consciência de Sono‖273 em que ainda estagia, fase de subconsciência em
relação às Leis Divinas presentes em si mesmo:
Onde está escrita a lei de Deus?
Na consciência.‖
a) — Visto que o homem traz em sua consciência a lei de Deus, que
necessidade havia de lhe ser ela revelada?
Ele a esquecera e desprezara. Quis então Deus lhe fosse lembrada.
(KARDEC, 2004, questão 621)
É da natureza do espírito imortal necessitar da comunhão com Deus e
Jesus, modelo e guia da humanidade, nos ensina o caminho do recolhimento,
do silenciamento e da comunhão, do diálogo que é composto pelo ato de se
expressar e principalmente pelo ato de ouvir a Deus:
.
Mesmo Jesus, após atender as multidões que se sucediam
esfaimadas de pão, de paz, de luz, buscava o refúgio da solidão para,
em silêncio, poder ouvi-lO no santuário íntimo.
Robustecido pelas poderosas energias da comunhão com o Pai,
volvia ao tumulto e desespero das massas insaciáveis, a fim de
diminuir-lhes as dores e a loucura que tomava conta do imenso
rebanho.
Simultaneamente, porém, proclamou que o Reino dos Céus encontra-
se no coração, no íntimo do ser (FRANCO, 2015).
Alírio Cerqueira Filho propõe o encontro de duas grandes verdades para
se alcançar a evolução, a busca incessante de aperfeiçoamento e apresenta a
meditação como melhor instrumento para adquirir o autoconhecimento
essencial no processo de autotransformação:
―A primeira grande verdade, que necessitamos adquirir, pelo estudo e
reflexão, é a Verdade Universal, que o Evangelho de Jesus é uma
perfeita síntese.
Além desse repositório fantástico da verdade que é o Evangelho,
temos também outro grande repositório da verdade, que é o
Pentateuco Kardequiano, bem como as obras subsidiárias idôneas.
A segunda grande verdade, que necessitamos buscar é a verdade
interior, aquela que trazemos dentro de nós, que será alcançada pelo
autoconhecimento, cujo método mais eficaz é a meditação‖
(CERQUEIRA FILHO, 2009, Apresentação) [Grifo nosso].
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A meditação tem sido praticada há milênios. As suas raízes remontam
ao xamanismo, em meio às culturas de tribo de caça do mundo inteiro, mas foi
refinada nos templos, cavernas e monastérios do Oriente, nos quais as artes
273
Termo da Psicologia Transpessoal citado em CERQUEIRA FILHO, 2012, Apresentação.
286
meditativas floresceram e se espelhou para ambos, o Ocidente e Oriente, em
todas as grandes tradições culturais e religiosas do mundo, existindo inúmeras
técnicas, conceitos, filosofias e posturas diferentes de praticá-la.
Enquanto os meditadores indianos voltavam sua atenção
progressivamente para dentro, procurando pelo sagrado nas
profundezas de seu próprio ser, pensadores ocidentais e teólogos
apontavam para um Deus que aparentemente existia fora do
indivíduo. Ao mesmo tempo, místicos no ocidente brigavam com o
paradoxo de Deus estar ao mesmo tempo dentro e fora e ser-
pessoal e transcendental (BODIAN, 2011, P. 51).
Atualmente, apresenta-se uma tendência de as religiões reviverem suas
próprias tradições meditativas, perdidas com o desuso, a exemplo da ―Reza
centralizadora‖ cristã. Algumas outras estão adaptando as práticas orientais, às
necessidades dos fiéis, a exemplo da Renascença meditativa Judaica.
Embora se possa praticar meditação sem conhecer sua origem,
conhecê-la e ao modo como diversas culturas a utilizaram, posiciona o
observador num contexto histórico espiritual. De onde vem a Meditação? Essa
resposta referencia-se em Bodian (2011) que apresenta breve visão geral
sobre a evolução da meditação como uma prática sagrada em várias partes do
mundo. Das experiências e das culturas apresentadas escolheu-se as
seguintes por sua representatividade:
Xamãs: os primeiros grandes meditadores
Pinturas em cavernas (15.000 anos) retratam xamãs deitados no chão meditando, que através de
estados alterados de consciência (transe), viajavam para o ―Mundo dos Espíritos‖, trazendo
sabedoria sagrada, habilidades de cura, poderes mágicos e benção para o bem da tribo. Utilizam
as práticas meditativas caçando, sentado em devaneios ao lado de fogueiras comunitárias,
contemplando a natureza, focando a mente por meio de tambores ou ritmos; danças com passos
simples repetitivos; às vezes, usando plantas alucinógenas.
A Conexão Indiana
Os Vedas274 (5.000 anos) não citam a meditação, mas apresentavam rituais e canções para os
Deuses que requeriam grande concentração. As práticas evoluíram para uma forma de meditação,
de oração que combinava o uso do controle da respiração e o foco no Divino. Perceberam que
adorador e objeto de adoração são só um e o mesmo, numa profunda introspecção, dando origem
a três das mais conhecidas tradições meditativas da Índia: Ioga, Budismo 275 e Tantra.
A meditação no Judaísmo: Chegando mais perto de Deus
Teve seu desenvolvimento independente, mas pode ter sido influenciada por práticas da Índia e
Sudeste Asiático. Há evidências de meditação nos tempos de Abraão. Os profetas do velho
testamento aparentemente entravam em estados alterados de consciência por meio de jejum e
práticas céticas. Primeira meditação formal utilizava o alfabeto hebraico com o intuito de se tornar
um só com o próprio Criador. Utiliza mantras ou versos sagrados de escrituras para trazer o
praticante mais perto de Deus.
Meditação Cristã: Praticando a reza contemplativa
Os meditadores viviam em solidão e cultivavam a consciência da presença do Divino por meio
mantra - palavra sagrada. A ―Reza meditativa‖ e a ―Prática Contemplativa‖, equivalente da
meditação cristã, tem sua origem na época de Jesus, que rezou no deserto por 40 dias. O
Evangelho cita a orientação de Jesus: ―Quando você rezar, vá para seu mais íntimo e profundo ser
274
As mais antigas escrituras indianas (BODIAN, 2011, p 46).
275
Algumas derivações do Budismo: Theravada, Mahayana, Ch‘an ou Zen, Budismo Vajrayana
(BODIAN, 2011, p 46).
287
e tranque a porta‖. Na Europa medieval foi desenvolvida a prática contemplativa que utilizava o
mantra com uma passagem das escrituras sagradas e refletia-se276, até ser revelado o significado
para a mente.
Meditação entre os Sufis: entregando-se ao Divino com todo o coração
Desde o profeta Maomé 700 d.C. a forma do Sufismo variou, mas o ensinamento básico é o
mesmo: não há nada além de Deus. A meditação consiste em entoar um mantra, em silêncio ou
em voz alta, respirando profundamente e de forma rítmica como um método para entregar-se à
presença Divina a todo momento, a cada respiração, abrindo-se a consciência e o coração para
Deus, o mistério supremo, que reside nas profundezas do seu ser, além do alcance da mente.
A americanização da meditação
Os nativos já conheciam por dezenas de milhares de anos. A América recebeu grande influência
oriental, durante a colonização, com a vinda de orientais em busca de liberdade religiosa e com a
influência do Sufismo e Judaísmo na Declaração de Independência e na Constituição, através de
personagens como Thomas Jefferson e Benjamin Franklin. A partir do século 19, a realização de
um encontro internacional de líderes e professores religiosos foi o ponto de partida para que a
meditação emergisse como uma prática predominante americana: ensinamentos espirituais
orientais a influenciar movimentos educacionais, filosóficos, religiosos e culturais; popularização da
meditação (conversão dos Beatles); comprovação dos benefícios científicos; abertura do ramo da
psicoterapia para a meditação.
Quadro 1 – Visão geral sobre a evolução da meditação como uma prática sagrada
3. A PRÁTICA DA MEDITAÇÃO
Sem questionar que o principal benefício da meditação para o ser imortal
é o autoconhecimento, numerosas pesquisas têm demonstrado os benefícios
físicos e psicológicos proporcionados pela meditação através do relaxamento
profundo do corpo enquanto a mente se mantem alerta. Problemas mentais e
emocionais são aliviados com a prática da meditação. Apresenta-se a seguir, a
lista de benefícios referenciados em Bodian (2011, p 38-41).
Benefícios fisiológicos Benefícios psicológicos
Redução dos batimentos cardíacos durante a Mais felicidade e paz de espírito
meditação silenciosa
Pressão sanguínea mais baixa em indivíduo Menos reação emocional; menos emoções
normais e moderadamente hipertensos negativas intensas e alterações dramáticas de
humor
Recuperação mais rápida do estresse Elevação da empatia
Aumento do ritmo alfa (ondas cerebrais lentas e Elevada criatividade e autorrealização
de alta amplitude que são relacionadas com
relaxamento)
Sincronização aprimorada (ou seja, operação Elevada percepção e sensibilidade
simultânea) dos hemisférios direito e esquerdo
(que combinam positivamente em criatividade)
Níveis de colesterol reduzidos Redução na ansiedade tanto aguda quanto
crônica
Diminuição dos níveis de consumo de energia e Complementa a psicoterapia e outras
oxigênio abordagens no tratamento de vícios
Respiração mais lenta, profunda
Relaxamento muscular
Redução da intensidade da dor
Quadro 2 – Benefícios da Meditação
276
Não deve ser confundido com pensar a respeito e analisar.
288
―Alguns dos mais recentes estudos científicos usam a atual tecnologia
para provar que a meditação regular o faz mais feliz, mais empático e mais
resistente a doenças‖ (BODIAN, 2011, p 59). Pelos motivos supracitados, a
meditação tem-se tornado habitual na vida moderna. Não apenas como
tendência, mas necessidade. É um estado de atenção natural que possibilita
manter o discernimento perante o que possa estar acontecendo, mesmo
quando se trata de algum fato difícil.
O Homem tenta interagir com tudo o que o rodeia e estabelecer
proximidade maior com o que o agrada, entretanto, nem sempre consegue
manter a mente tranquila para contemplar um amanhecer, o cântico dos
pássaros que ainda rodeiam as cidades, o som da água da chuva ou dos rios,
as muitas tonalidades de verde que a floresta possui, o aroma das matas, ou o
simples gesto de ternura presente no olhar de uma criança. Por que será?
Falta concentração, estar presente em cada momento da vida, de maneira
integral. Tem-se que estar presente por inteiro em todas as atividades. A não
atenção para o aqui e agora, leva para longe, para o passado ou para o futuro,
com projeções que talvez não sejam realizadas. Quando menos espera-se, a
luta silenciosa está sendo travada dentro do ser: a ansiedade. É necessário
realizar mudança gradual na maneira como as pessoas se relacionam com a
vida, com o mundo, com as pessoas, com os próprios sentimentos e emoções.
E isso torna-se possível através da meditação. Ornish afirma que quando
começou a meditar e percebeu sinais de paz interior, se surpreendeu porque
―[...] pensava que a paz de espírito viesse do obter e do fazer; agora entendo
que ela vem do ser‖ (apud BODIAN, 2011, p XX). E continua esclarecendo que
―[...] Este é um conceito totalmente diferente sobre o lugar de onde vem nossa
felicidade e bem-estar. Em um dos grandes paradoxos da vida, [...], nós
geralmente acabamos perturbando nossa paz interior durante o esforço para
obter e fazer o que achamos que nos trará a mesma paz‖ (apud BODIAN,
2011, p XX).
Há alguns conceitos comuns nas variadas técnicas de meditação
conhecidas, podendo-se sintetizar: RELAXAMENTO – CONCENTRAÇÃO -
SILÊNCIO. A respiração é um elemento sempre presente na meditação.
Respirar é algo natural e essencial na vida. É o veículo do relaxamento e da
concentração. Para trazer bons resultados, usa-se a respiração como foco. Ela
serve como ponto de referência fundamental a partir do qual a mente
―divagadora‖ é atraída de volta.
Decorrente das práticas da ―Oficina de Meditação‖ observou-se o
potencial da prática Mindfulness277 (atenção plena), que além de simples, de
fácil entendimento, possui base científica. Trata-se de uma forma de estar
presente em si, nos outros e no meio a cada momento. Sua prática tem sido
amplamente utilizada no mundo empresarial, na saúde e educação para
melhorar a atenção e o bem-estar em geral. Embora a experiência budista
tenha definido as bases dessa prática, Mindfulness não depende de qualquer
277
Técnica de meditação elaborada pelo cientista Kabat-Zinn em 1979 com o intuito de ajudar
pacientes com problemas crônicos de saúde e dores. A técnica foi bem sucedida e o programa
virou referência. Kabat-Zinn deu uma dimensão secular ao Mindfulness, evitando que os
interessados na prática a descartassem de antemão por atribuir-lhe um viés religioso. (Fonte:
https://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/201410/Mindfulness-Medita%C3%A7%C3%
A3o-contra-estresse-corporativo.htm. Acesso: 06/10/2017).
289
religião, contexto cultural ou sistema de crenças, podendo ser completamente
secular.
É possível ―desligar os pensamentos‖ ou ficar com a ―mente em branco‖
através da meditação? Talvez..., mas isso não corresponde à experiência
obtida na ―Oficina de Meditação‖. A meditação é sobre estar presente para o
que está acontecendo. No caso da Oficina, há o encorajamento a observar a
riqueza das formas do jardim, suas cores, aromas, sentir-se aconchegado
nesse espaço ao invés de bloquear ou negar pensamentos, sensações e
emoções. O "controle" dos pensamentos não é o objetivo da prática, mas de
iniciar uma nova perspectiva de observação do mundo, com maior liberdade e
mais escolhas, sendo através deste "perceber", a descoberta de que a mente
pode tornar-se mais calma e focada.
Meditar é uma abordagem à vida, um estilo, e as pessoas devem ser
encorajadas a encontrar a sua prática autônoma. Durante os exercícios os
participantes devem ficar à vontade para meditar, numa cadeira, num tapete ou
passeando por um jardim de modo informal, porém atencioso, observando os
detalhes das árvores, por exemplo. É pertinente estimular a meditação durante
a realização de atividades cotidianas: cuidados pessoais, alimentação,
conversas, momentos de estudo e demais atividades rotineiras. Após um
período inicial torna-se mais fácil estabelecer uma prática regular podendo-se
alcançar inúmeros benefícios praticando apenas 20 minutos diários.
A principal vilã do ato de meditar é a distração, porém não precisa ser
vista como problema, a menos que haja algum distúrbio orgânico. Em situação
normal, a distração é o pensamento inquieto que aos poucos vai sendo
educado, com espontaneidade, tornando-se calmo e silencioso.
Pode-se então resumir que a meditação é a voz do silêncio. Deus nos
fala através do silêncio, depois que se fecha a porta de todos os ruídos do ego
físico, mental e emocional, de todos os sentimentos, pensamentos e desejos,
então abre-se, pouco a pouco, a porta da consciência espiritual, e este parece
ser o método mais eficaz de desenvolvimento da consciência, da percepção
sensorial e da intuição. Na prática esses recursos descortinam inúmeras
possibilidades de aplicação para os propósitos do ser imortal, inclusive
obtendo-se resposta aos questionamentos íntimos que são redarguidos pela
própria consciência superior e plano espiritual através de inspirações e
intuições.
É importante manter o hábito do recolhimento para a manutenção da
mente elevada... A continuidade da meditação conduzirá o praticante à
descoberta de outros níveis mentais mais saudáveis, às energias da
solidariedade, da paz, da confiança, da coragem e de tantas outras que o
levará a extirpar o medo, as ansiedades vazias, as preocupações diárias, a ira,
a mágoa e todo lixo poluente da mente humana.
Por fim, é pertinente distinguir a prece, da meditação referenciando-se
em Bodian (2011, p 27):
A reza comum ou suplicante, que invoca Deus por ajuda ou pede
alguma coisa, pode ser feita de forma meditativa, mas tem pouco em
comum com a meditação [ ]. Porém, a reza contemplativa, também
conhecida como oração (o anseio da alma por união com o Divino), é
de fato uma forma de contemplação concentrada na qual o foco é
Deus‖. A prece e a meditação estão ao alcance de qualquer pessoa;
basta começar a acioná-las para iniciar uma vida mental mais
prazerosa para o indivíduo.
290
Mas sem dúvida que é Joanna de Ângelis que sintetiza a distinção entre
meditação e oração ao afirmar que ―Quem ora fala e quem medita ouve‖.
CONCLUSÃO
―Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos
seres espirituais vivendo uma experiência humana‖. A conhecida afirmação de
Teilhard de Chardin bem ilustra a condição do ser imortal encarnado na terra, a
vida terrena é uma interrupção temporária da vida espiritual, sendo o propósito
humano a evolução através do desenvolvimento do sentimento e da sabedoria.
Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, o espírito
reencarnante reveste-se temporariamente da versão ―persona‖ e esquece sua
natureza imortal e seus propósitos espirituais. Entretanto, o Pai amoroso
plantou na consciência humana as Leis Divinas e o Homem pode acessá-las
quando lhe prover. Há de se destacar que o planejamento reencarnatório é
programa traçado amorosamente e o grau de dificuldade a ser superado é
proporcional a capacidade do ser, conclui-se então que, o não cumprimento
dos propósitos reencarnatórios advém do mau desempenho pessoal.
As grandes tradições espirituais concordam que a razão principal do
sofrimento humano é a sensação de acreditar-se estar desconectado de Deus
e da sua própria natureza essencial e Ele em seu infinito amor oferta recursos
preciosos para termos as nossas bússolas nesse ―mundo ingrato‖, e a
meditação é uma delas, auxiliando no contato com a nossa versão ―espírito‖ e
convidando-nos a tomar o leme da embarcação das nossas vidas.
Sobre o processo da meditação Bodian informa que ―Quando medita,
você cria uma ponte para o aparente abismo que o separa e conecta-se com
sua respiração, seu corpo e seus sentidos, seu coração, o presente, e, por fim,
com uma realidade maior‖ (2011, p 234). Há, na meditação, potência
inestimável para servir aos propósitos do ser imortal, ela o empodera,
ensinando que o Ego não é maior que o Ser Essencial, senhor da nossa
intimidade.
Devemos considerar a advertência do Divino Mestre Jesus que ―Andai
enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem‖ (João, 12:35)
exortando o bom uso do tempo e a realização dos compromissos assumidos
para a atual reencarnação.
Cerqueira Filho conclui que ―[...] é fundamental confiar na Providência
Divina e canalizarmos todas as nossas energias para o amor, pois assim elas
jamais serão perdidas. Essencialmente, essas energias – que são do mesmo
teor que a luz do Ser Essencial – vão concorrer para o despertamento de todos
os Espíritos que vivem neste planeta, consoante uma orientação do próprio
Cristo: ―Nenhuma das ovelhas que meu Pai me confiou se perderá‖ (2012, p
186-187).
“O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO” POR ANA KALINA MOURA DE
PAULA
As minhas percepções sobre possíveis comprometimentos dos espíritas
que atuam na Amazônia em relação à meditação diz respeito ao estudo
propiciar a (re)aproximação de Deus. O tema ―Deus‖ e seus atributos são
estudados no Espiritismo mas, na prática, os espíritas agem como se não O
291
sentisse, ao necessitar de intermediários para se aproximarem Dele,
estratificarem as relações hierarquicamente, sentirem culpas e medos,
temerem a morte, julgarem, entre outros.
Refletindo sobre o primeiro mandamento da lei mosaica, ―amar a Deus
sobre todas as coisas‖, complementado e recomendado pelo doce Rabi, de
―amar ao próximo como a si mesmo‖ deveria motivar os espíritas a
estabelecerem uma aliança com Ele, a partir do entendimento de que se há o
propósito de amar a Deus, é necessário estabelecer uma relação.
Do raciocínio de que no presente o Homem encontra oportunidade de
colaborar nas mesmas temáticas do pretérito equivocado, parece plausível que
os espíritas tenham se afastado de Deus e promovido o afastamento de outras
pessoas. Esse afastamento parece não significar um movimento de ceticismo
ou descrença, e sim a desconstrução do amoroso ―Pai Comum‖ e a construção
e imposição de um pai impiedoso, tanto no próprio coração, como nos
corações alheios, através do poder e da violência. Então uma das buscas dos
espíritas deveria ser a reaproximação de Deus, agora sem a necessidade de
intermediadores, com autonomia, onde o ―buscador de Deus‖ sente o amor
diretamente da fonte emanadora, utilizando a meditação como instrumento
para a experiência espiritual direta.
Percebo, na atualidade, as expressões de meditação nas ações de
educação e trabalho no bem realizados no ambiente espírita quando identifico
os esforços dos espíritas em cultivar a serenidade e a paz para poder facilitar o
intercâmbio com os mentores espirituais; utilizar a capacidade de foco e
concentração nos estudos; utilizar a meditação e suas experiências de impacto
emocional para ressignificar o conhecimento e as crenças limitantes; manter a
mente aberta, praticando o ―não julgamento‖; permitir sentir-se amado por Deus
e estender essa amorosidade a si mesmo e aos outros; porque a meditação
tem potencias para auxiliar nos propósitos espíritas.
As reflexões sobre quais poderiam ser as motivações, para o futuro, dos
espíritas em relação à meditação são: a constatação de que a meditação é
tema transversal para a vida pessoal e da coletividade; universalidade da
manifestação da meditação, fazendo-se presente na evolução do Homem e
das religiões face à necessidade de a criatura sentir-se próxima do seu Criador;
potencial ecumênico sem bagagem ideológica; facilitador da fidelidade do
intercâmbio com o plano espiritual e, principalmente, amplo potencial
harmonizador, podendo ser de grande valia se utilizado, antes de iniciar as
atividades espíritas. Conforme indica a benfeitora Joanna de Ângelis, ―Meditar
é uma necessidade imperiosa que se impõe antes de qualquer realização. Com
esta atitude acalma-se a emoção e aclara-se o discernimento, harmonizando-
se os sentimentos‖278. Não poderia deixar de registrar a hipótese de que o
primeiro fluxo de ensinamentos orientais que começaram a chegar no
ocidente279 (1840) possam fazer parte do movimento ―invasão organizada‖ de
implantação das verdades espirituais na terra, combinando a tecnologia
―interior‖ aprimorada no oriente para equilibrar os excessos das rápidas
inovações tecnológicas aperfeiçoadas no Ocidente280.
As minhas reflexões sobre os motivos da escolha da meditação como
objeto de estudo foram primeiramente ter participação da ―Oficina de
278
Citado em FRANCO, 2014, p 3.
279
Citado em BONDIAN, 2011, p 55.
280
Citado em BONDIAN, 2011, p 37.
292
Meditação‖ por cerca de 3 anos acompanhando meu querido amigo Jefferson
Rebello. A vivência da meditação suscitou natural vontade de investigar o
assunto e pareceu apropriado desenvolver um artigo no Simpósio como meio
de obter uma visão mais estruturada do tema. Em segundo, identificar que a
meditação funciona. Senti os benefícios em mim e os demais participantes
também sentiram. E por último, verificar que a prática é fácil e tem potencial
para ser utilizada em toda a Casa e a elaboração do artigo pareceu uma boa
oportunidade para aproximar as pessoas da temática, fazendo-as refletir.
Antes da narrativa faz-se necessário esclarecer que apesar de ter
elaborado este artigo recentemente, as reflexões desse estudo estão
vinculadas aos três anos de prática da meditação, ficando impossível dissociá-
las.
As possíveis relações entre as reflexões que elaborei sobre a meditação
e os desafios que vivencio na ―Oficina da Meditação‖ são primeiramente
relacionadas ao sentimento de despreparo para assumir responsabilidades
como protagonista da Oficina (e de qualquer outra atividade). Este sentimento
é advindo do medo de errar (de novo) e as responsabilizações consequentes.
Quando os medos se instalam, acionam um processo de auto sabotagem e
penso em desistir. Junto ao medo identifico uma pressão psicológica e
espiritual, potencializada pela mediunidade e pela aproximação dos
companheiros do pretérito deixados no caminho. O estudo da meditação fez-
me refletir que os propósitos pessoais foram dimensionados compatíveis à
capacidade de realização e se não os cumpro, a causa está no mau
desempenho pessoal.
Tenho utilizado recursos da meditação para superar este desafio, a
prática da meditação integrada à natureza, um processo além do pensar e
fazer, possibilitando-me experienciar o ser, sentir o amor de Deus. Ao tentar
descrever as sensações e sentimentos que vivencio na meditação, encontro
dificuldades, não porque eles não estejam presentes e vívidos, mas porque a
descrição não cabe nas palavras. Seria um misto de alegria, compreensão,
intimidade, acolhimento, conexão, segurança, felicidade, enfim, amor...
Fortalecida no amor de Deus, tenho exercitado outros recursos, o
silenciamento da mente, onde começo a aproximar-me de mim mesma, me
sentir, me conhecer e me escutar. Outro recurso é o controle dos pensamentos
negativos, expressões do medo. Os pensamentos negativos, começam a ser
questionados. Se suas presenças são reais ou imaginárias? Pertinentes ou
desnecessárias? O recurso do foco, de se manter no presente, está dando
bons resultados, particularmente quando o sentimento de culpa advindo do
passado e a ansiedade do futuro querem dominar o ―agora‖. Aí penso que não
posso mudar o que passou, nem controlar o futuro, só tenho um poder: viver o
presente, fazer diferente do passado e construir um futuro de possibilidades
positivas.
Participo há cerca de 5 anos, como médium, da reunião mediúnica da
Urgência da DAU e os desafios para mim são imprimir compaixão aos meus
sentimentos e ser uma boa intérprete dos espíritos. Na minha avaliação, a
meditação tem sido recurso substancial no desafio de exercer a fidelidade da
comunicação mediúnica, ao promover o poder de concentração, foco, controle
mental, auto-observação e não-julgamento. A resultante é estar exercitando ser
um canal mais desobstruído, procurando remover os meus conceitos e
julgamentos do processo, ficando ―vazia‖, na tentativa de deixar fluir a
293
manifestação fiel do espírito que irá se comunicar, sem deixar de estar atenta,
no controle e consciente da subordinação ao planejamento da equipe espiritual,
apenas procurando não preencher o espaço destinado à manifestação da outra
individualidade. Como consequência tenho observado, tanto da minha parte
quanto dos espíritos, comunicações mais objetivas, com menos tempo nos
relatos das dores e a explicitação das propostas terapêuticas durante os
diálogos.
Sobre reflexões que o estudo do tema meditação me suscitou quanto a
inquietudes espirituais que requerem atenção, identifico o desafio de cumprir
um propósito pessoal que tenho percebido há algum tempo e não me sentia a
altura de realizá-lo, trata-se de uma pesquisa sobre temática vinculada a área
de gestão da Casa. Essa ideia aconteceu durante uma reunião na FAK,
permaneceu e eu tratei de ―despachá-la‖. Durante a finalização desse artigo,
essa ideia apresentou-se intensamente, delineando a forma como devo
conduzir. Senti que meu coração está mais pacificado e tenho a convicção de
que o estudo da meditação e as práticas estão colaborando, particularmente
com a aproximação com Deus, o foco e a valorização do presente fomentando
a autorresponsabilidade.
“O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO” POR JEFFERSON REBELLO
Esse material foi desenvolvido após reflexão individual e com irmãos
queridos do grupo da ―Oficina de Meditação‖, principalmente com a minha
estimada amiga Ana Kalina. É a minha colaboração com o tema ―meditação‖.
Espero que ajude quem também estiver nessa busca do auto encontro.
Ao longo de três anos esse tem sido um caminho solitário e muito
particular na minha vida. Parece que um momento culminante após algumas
experiências singulares, marcada pela dor física, angústias, remorsos e a
necessidade de refletir sobre as perguntas que eu mesmo dirigia à minha
pessoa como um grito de socorro. Um incômodo que também me oportunizou
chorar de alegria ao olhar bem dentro de mim e me sentir um Espírito em
processo de evolução, buscando minhas verdades, logo passando por erros e
acertos comum à toda caminhada.
A vida tem me oportunizado com diversas chances de recomeço. Cada
minuto tem se constituído de momento ideal para rever e traçar novos destinos,
metas, práticas do meu viver. Na minha observação, a maior dificuldade foi a
de perceber o quanto o envolvimento não intencional com essa experiência me
conduzia para as respostas que eu tanto buscava, trazendo de volta a minha
alegria natural e me permitindo um olhar mais amoroso, de perdão. Embora o
contato com o conteúdo da Doutrina Espírita venha de muitos anos, me parece
que o amadurecimento das ideias e a busca pelas verdades do Cristo, somente
há pouco ecoam irresistivelmente no meu ser. Já não mais me preocupo só em
ler ou falar Dele, mas senti-Lo em pensamentos e atitudes.
O exercício da meditação tem me auxiliado para esse meu novo degrau
do sentir e, creio que outros possam também se beneficiar desse instrumento
que conduz ao autoconhecimento, reforçado pela prece no fortalecimento da
fé. Deus nos provê da inteligência e da liberdade para fazermos escolhas. Hoje
tenho mais claridade por onde caminho e o que quero com minhas atitudes.
Ao longo de alguns anos dessa existência terrena ou para muitas outras
oportunidades de aqui retornar, quem sabe na Amazônia, quero cada vez mais
294
aprimorar as potencialidades de sentir o amor do Divino Mestre em meus
aprendizados. Olhar para meus movimentos instintivos que ainda me são úteis
e acolhê-los generosamente; acender em mim a luz da sublimação com o
verdadeiro amor, que por hora possa me parecer ainda distante, mas possível,
pois que alcançou a morada do meu coração. É hora de multiplicar meus
talentos, arar a terra e semear o amor.
Não sinto mais o medo de errar por amor e sim o de errar por não amar.
Amar com integridade e respeito. Viver esse amor de maneira intensa a fim de
me desvencilhar efetivamente de velhos hábitos e construir cada vez mais
atitudes do homem de bem.
REFERÊNCIAS
BODIAN, Stephan. Meditação para Leigos. 2º ed. Rio de Janeiro: Alta Books,
2011.
CERQUEIRA FILHO, Alírio de. Equilíbrio Existencial. Cuiabá: Editora
Espiritizar, 2012.
CERQUEIRA FILHO, Alírio de. Medite e viva melhor, volume 1: Fundamentos
de meditação. São Paulo: Editora Bezerra de Menezes, 2008.
CERQUEIRA FILHO, Alírio de. Medite e viva melhor, volume 2: Evolução:
Aprendizado de amor. São Paulo: 2009.
DENIS, Léon. O Grande Enigma. Brasília: FEB, 2008.
FRANCO, Divaldo. Momentos de Meditação. Pelo espírito Joanna de Ângelis.
Salvador: Leal, 2014.
FRANCO, Divaldo. "Silêncio para ouvir Deus". Pelo espírito Joanna de
Ângelis. Salvador, 2015. Texto psicografado na sessão mediúnica da noite de 9
de fevereiro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador,
Bahia. Disponível
em: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=296. Acesso em:
01/10/2017.
KARDEC, Allan. A gênese. Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Rio de Janeiro: FEB,
2002.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
295
POR QUE AINDA RECEIO DEIXAR ESTE MUNDO? A VISÃO ESPÍRITA DAS
CAUSAS DO TEMOR DA MORTE
Morgana Pereira Filgueiras281
INTRODUÇÃO
A vida após a morte é uma das questões abordadas pelo espiritismo.
Ele ensina, por meio de preceitos racionais, não ser o fim da trajetória corporal,
o cessar da existência, mas um momento de retorno à pátria espiritual e que a
situação do ser no além-tumulo, relaciona-se a uma lei de causa e efeito
conectada ao modo de agir de cada um. Também, esclarece quanto ao auxílio
recebido dos amigos espirituais e da misericórdia divina, independente das
faltas praticadas.
Mesmo diante desses ensinamentos, muitos têm incertezas do porvir
ao desencarne. Outros não conseguem superar a ideia de um destino de
punição rigorosa. Com isso sobrevém desânimo e culpa por conhecê-los, mas
não internalizá-los.
Esquecem-se, todavia, que a visão atual sobre a morte é fruto de
crenças construídas em longa caminhada do Espírito durante diversas
reencarnações e, por isso, reelaborá-las, apesar de ser possível, talvez não
seja tão fácil quanto se espera. Entender essa condição estimula o indivíduo a
ter paciência e indulgência consigo diante de tal dificuldade e a persistir para
superá-la.
Assim, este artigo abordará que as causas do temor da morte
preexistem à memória atual do indivíduo e podem ser obstáculo para
compreendê-la de maneira diversa. Para isso, far-se-á breve explanação a
respeito desse medo. Será discorrido sobre suas razões, tratando da questão
do nada, sendo a destruição do corpo considerada fim absoluto e de que
maneira, no geral, as crenças religiosas entendem a destinação dos culpados
após o desencarne. Versará a respeito da reencarnação como processo de
aprendizagem, possibilitando o acúmulo de conteúdos que formam o ser atual
e da tendência em substituir os antigos lugares de penas físicas e horrendas
pelo umbral.
DESENVOLVIMENTO
1 Temor da morte
Primeiramente, é interessante esclarecer que o temor da morte, conforme
dispõe O Céu e o Inferno (KARDEC, 2013), é parte do instinto de conservação
de todas as criaturas. É imprescindível à manutenção da vida corpórea,
enquanto não se entende sua importância como instrumento para a elevação
espiritual, pois ao menor dissabor ou entrave, o encarnado desistiria da missão
de autoaperfeiçoamento. E, à medida que se compreende a vida futura, esse
medo vai diminuindo.
281
Trabalhadora da Fundação Allan Kardec, vinculada à Diretoria de Apoio à Melhoria Interior- DAMI.
296
Desse modo, o cerne do temor da morte está relacionado à percepção do
porvir ao falecimento do corpo. Tratando sobre isso, a pergunta 941 do Livro
dos Espíritos (KARDEC, 2013, p.423) dispõe:
941. Para muitas pessoas, o temor da morte é uma causa de
perplexidade. Donde lhes vêm esse temor, tendo elas diante de si o
futuro?
―falece-lhes fundamento para semelhante temor. mas que queres! se
procuram persuadi-las, quando crianças, de que há um inferno e um
paraíso e que mais certo é irem para o inferno, visto que também lhes
disseram que o que está na Natureza constitui pecado mortal para a
alma! Sucede então que, tornadas adultas, essas pessoas, se algum
juízo têm, não podem admitir tal coisa e se fazem ateias ou
materialistas. São assim levadas a crer que, além da vida presente,
nada mais há. Quanto aos que persistiram nas suas crenças da
infância, esses temem aquele fogo eterno que os queimará sem os
consumir. Ao justo, nenhum temor inspira a morte, porque, com a fé,
tem ele a certeza do futuro. A esperança fá-lo contar com uma vida
melhor; e a caridade, a cuja lei obedece, lhe dá a segurança de que,
no mundo para onde terá de ir, nenhum ser encontrará cujo olhar lhe
seja de temer.‖
Dessa questão, então, depreende-se haver duas maneiras como as
pessoas vislumbram seu destino após o desencarne e que as fazem recear o
evento morte: a inexistência ou o tormento inexorável oriundo de concepções
religiosas. Serão as causas abordadas a seguir.
2 Causas do receio da morte
2.1 A inexistência ou o nada
A crença na vida futura é um freio para o homem e também um alento.
Freio porque a ideia de haver o nada após a morte, poderia gerar seres
insensíveis à missão do bem, arruinando a experiência presente e tornando
sem sentido a vida social, pois se exacerbaria o individualismo em prol das
satisfações materiais como objetivo existencial.
Alento, por saber que todo desenvolvimento alcançado e os esforços
realizados não foram inúteis, mas há para eles uma razão e um fim, bem como
por compreender não se romperem os laços afetivos criados.
Apesar de trazer esperança, tal concepção é ainda negada e coloca-se o
fim da matéria como fim da existência. No Céu e o Inferno (KARDEC, 2013,
p.19), se ensina que ―A crença da imortalidade é intuitiva e muito mais
generalizada do que a do nada. Entretanto, a maior parte dos que nela creem
apresentam-se-nos possuídos de grande amor às coisas terrenas e temerosos
da morte!‖
Esse apego faz o ser acreditar apenas no que lhe é tangível, ignorando
todo resto. Grandes contribuintes para essa crença do nada, foram importantes
pensamentos filosóficos e sociais. Gerados ao longo de processos históricos,
297
em resposta ao descontentamento com a questão teológica 282, eles reputavam
relevantes somente as coisas perceptíveis pelo mundo corpóreo.
Com esta visão, ao considerar o aparelho orgânico o centro da existência,
é natural a ideia de fim absoluto se tornar pavorosa, ainda mais diante do
instinto de preservação e de saber da impotência em face do evento morte, a
única certeza da vida.
2.2 Concepções religiosas do pós-morte
Cada religião, conforme destaca-se em A Gênese (KARDEC, 2013), teve
uma razão providencial de existir, afinal, todas elas levam o homem a dois
princípios fundamentais: Deus e imortalidade da alma. E, como afirma
Emmanuel em O Consolador (XAVIER, 2014), a escolha de seguir uma ou
outra determina-se de acordo com o estado íntimo de cada um.
Nelas há um conjunto de ensinamentos que devem ser seguidos com o
intuito de obter uma boa condição depois da morte. Segui-los ou não, gera
ganhos ou sanções, respectivamente.
De acordo com O Céu e o Inferno (KARDEC, 2013), essa noção,
perceptível nas mais diversas religiões, de que as penas e as recompensas
experimentadas na vida futura são reflexo do comportamento em vida, é
intuitiva ao homem.
O temor da morte reside, exatamente, na seara das punições. Como entre
os habitantes terrenos, os seres ainda estão galgando a escala evolutiva,
deslizes, certamente, serão praticados e aos infratores são reservados castigos
terríveis283, entre os quais estão o extermínio, a existência de lugares criados
para receber os culpados, onde estes experimentam fome, açoites,
dilacerações, suplícios eternos e outros.
Estas perspectivas, nada atraentes, tinham exatamente a função de
causar pavor. Segundo O Céu e O Inferno (KARDEC, 2013) tanto a doutrina
das penas eternas quanto o inferno material visavam impressionar os homens,
constituindo-lhes freios, que pouco ou nada se sensibilizariam com a ideia de
sofrerem apenas punições morais.
Tais concepções, portanto, eram adequadas ao estágio de entendimento
humano. E é devido a isso, que em algumas religiões havia um duplo ensino.
Um reservado às massas e outro, a alguns iniciados. Observe-se o
ensinamento de Denis (1997, p 20):
As formas materiais, as cerimônias extravagantes dos cultos tinham
por fim chocar a Imaginação do povo. Por trás desses véus, as
religiões antigas apareciam sob aspecto diverso, revestiam caráter
grave e elevado, simultaneamente científico e filosófico. Seu ensino
era duplo: exterior e público de um lado, interior e secreto de outro, e,
neste último caso, reservado somente aos iniciados. […] Todas as
grandes religiões tiveram duas faces, uma aparente, outra oculta.
Está nesta o espírito, naquela a forma ou a letra. Debaixo do símbolo
material, dissimula-se o sentido profundo. O Bramanismo, na Índia, o
282
Para mais esclarecimentos sobre movimentos filosóficos e sociais e a questão religiosa, vide capítulo
XXIII – O século XIX em A caminho da Luz de Emmanuel e primeira parte, item 7 do livro Depois da
Morte de Léon Denis.
283
A fim de ter uma visão mais aprofundada sobre punição e inferno, consultar o capítulo IV do livro O
Céu e o Inferno.
298
Hermetismo, no Egito, o Politeísmo grego, o próprio Cristianismo, em
sua origem, apresentam esse duplo aspecto.
3. Reencarnação
Para o Espiritismo, o comportamento terreno também repercute na
condição da vida após a morte. O sofrimento experimentado pelo ser é moral,
mas pode ser cessado por ele a qualquer tempo e, mesmo o mais feroz
malfeitor, nunca será abandonado. Apesar de ciente de toda a indulgência
divina, ainda há certa hesitação em aceitar a morte como evento natural da
vida, já experimentado tantas vezes devido à lei de renascimento.
A reencarnação, um dos princípios da doutrina espírita, pode auxiliar a
compreender essa dificuldade. Inicialmente, deve ser explicada qual a sua
finalidade. Da questão 167 dos Livro dos Espíritos (KARDEC, 2013), inferem-
se ter ela dois objetivos: reparar e melhorar, ou seja, redimir-se das faltas
cometidas e aperfeiçoar-se moral e intelectualmente para progredir.
Ela se revela, portanto, fruto da misericórdia e da justiça de Deus, que
sabe ser impossível as suas criaturas geradas ignorantes, alçarem-se ao
estado de perfeição em uma só vida.
Dessas afirmações, chega-se à conclusão de, por ser originária da
bondade do Criador, não é pena e, como mecanismo de evolução, possibilita a
aprendizagem do espírito ignorante. Novaes (2003, p 85) esclarece neste
sentido:
O retorno a um novo corpo, através da reencarnação, se dá para o
crescimento do espírito. É um processo educativo, e não punitivo.
Encarado dessa forma, não há um número definido de encarnações
para um espírito. Sobre a chamada ―lei‖ de causa e efeito atua a lei
de misericórdia, que é uma das variantes da lei de Amor. Os
processos não se dão de forma linear, isto é, não se passa pelo que
se causou a outrem na mesma proporção e na mesma intensidade.
As circunstâncias a que um espírito está sujeito numa encarnação
expiatória são sempre atenuadas pela Misericórdia Divina. A
chamada ―lei‖ de causa e efeito não é como a pena de Talião. Não é
―olho por olho dente por dente‖.
Como processo educativo, cujo fim é o aperfeiçoamento, possibilita ao
espírito passar por diversas experiências e ter contato com inúmeros
conhecimentos. Em cada experiência corporal, o que ele apreende torna-se
patrimônio seu, não apagado pela morte, há uma sequência cumulativa. Se
assim não o fosse, todas as vezes que reencarnasse teria de assimilar
novamente algo antes aprendido e jamais evoluiria, contrariando a lei do
progresso.
Conforme destaca Delane (1996), todas essas memórias das vidas
passadas ficam armazenadas no perispírito e estão latentes no encarnado.
Joanna de Ângelis (FRANCO, 2002) diz que o inconsciente coletivo, sem
ignorar a definição original dada pela teoria de Carl Jung, coincide com esses
conteúdos. Ela ainda menciona:
Ninguém nasce, na Terra, na atualidade, como sendo uma tela em
branco, na qual se irão registrar futuros acontecimentos. O Self não é
apenas um arquétipo aptidão, mas o Espírito com as experiências
iniciais e profundas de processos anteriores, nos quais desenvolveu
pródromos do Deus interno nele vigente, face à sua procedência
299
divina desde a criação. É natural, portanto, que possua heranças,
atavismos, reminiscências, inconsciente coletivo e pessoal, face ao
largo trânsito do seu psiquismo no processo evolutivo ao largo de
milênios (FRANCO, 2002, p 69).
Dentre os conteúdos armazenados na memória do ser espiritual, está a
relação dele com a morte, já que Delane (1996) afirma que tudo a que se tem
contato, fixa-se no ser e a lembranças latentes formam os alicerces da
personalidade, pois toda recordação, física ou intelectual tem sua participação
na construção da vida mental.
O modo como se lida com a questão do desencarne, portanto, não está
relacionado somente às vivências atuais. Assim, também, dispõe Joanna de
Ângelis (FRANCO, 2013, p 119) explicando que as crenças pessoais ligadas ao
medo da morte são formadas ao longo de sucessivas vidas:
Entre as várias expressões de medo ressalta o da morte, herança
atávica dos arquétipos ancestrais, das religiões castradoras e
temerárias dos cultos bárbaros, das conjunturas do desconhecido,
das imagens mitológicas que desenharam no tecido social as
impressões do temor, das punições eternas para as consciências
culpadas, dos horrores inomináveis que o ser humano não tem
condições de gerir…
Portanto, o indivíduo acostumado no decorrer de suas existências a negar
ou ignorar a vida intangível, ou por ainda acreditar somente no que impressione
os sentidos, ou porque prefere os gozos terrenos, poderá apresentar
dificuldades em internalizar novos conhecimentos que apregoem o contrário,
isso é compreensível. O mesmo ocorre com aqueles que acreditam em algo
além da existência corpórea e ensinamentos religiosos trouxeram a ideia de
poderem sofrer penas terríveis após o desencarne. Assim corrobora Joanna de
Ângelis (FRANCO, 2013, p 120):
Conforme o Eu profundo considera a morte, povoando-a de
incertezas, gênios do Mal, regiões punitivas ou aniquilamento, dessa
forma a enfrentará. O oposto igualmente se dá. Vestindo a morte de
esperança e encontro felizes, de aspirações enobrecidas, de
agradável despertar, ocorrerá o milagre da vida.
Como foi destacado, talvez haja dificuldade em desconstruir as crenças
negativas em relação à morte e isso não deve ser motivo de desânimo ou
culpa. Cabe ao indivíduo entender sua limitação e que, em contato com os
novos conteúdos, começará a construir outra concepção, para melhor
satisfazer sua razão na evolução atual, mesmo que não consiga internalizá-los
de imediato, mas no decorrer de futuras encarnações.
Além disso, como as causas do temor da morte resumem-se na má
compreensão da vida futura, em o Céu e o Inferno (KARDEC, 2013), elenca-se
que uma maneira eficaz de buscar superar o medo da morte, é considerá-la
sob o ponto de vista espiritual. Concebê-la como apenas uma passagem,
momento de reencontro com familiares e libertação das amarras do corpo,
tentando incutir boas emoções e sensações quando pensar a respeito.
Também, deve-se desvincular a ideia de punição no pós-vida, no sentido
de vingança divina. Buscar compreender que os sofrimentos decorrentes das
imperfeições, acarretados com base na lei de causa e efeito, não são eternos,
300
nem se assemelham à lei de Talião. Sobre isso, tratam os ensinamentos do
Código penal da vida futura (KARDEC, 2013, p 83-85):
11o) A expiação varia segundo a natureza e gravidade da falta,
podendo, portanto, a mesma falta determinar expiações diversas,
conforme as circunstâncias, atenuantes ou agravantes, em que for
cometida.
12o) Não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e
duração do castigo; a única lei geral é que toda falta terá punição, e
terá recompensa todo ato meritório, segundo o seu valor. [...]
13o) A duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado.
[...]
17o) O arrependimento pode dar-se por toda parte e em qualquer
tempo; se for tarde, porém, o culpado sofre por mais tempo. [grifo
nosso]
Além disso, destaca Joanna de Ângelis (FRANCO, 2013, p 119):
O autodescobrimento é terapia salutar para que sejam identificadas
as causa geradoras e, ao mesmo tempo, a conscientização de quais
recursos se podem utilizar para liberação.
Conhecendo o fator responsável pelo medo, antepor-se-lhe-á a
confiança nas causas positivas, que resultarão em futuros equilíbrios
de fácil aquisição.
4 Umbral
Outra questão oportuna é a tendência de substituir o umbral pelos lugares
de sofrimentos físicos e pungentes que geravam o temor da morte, devido a
velhos conceitos ou reminiscências de vidas pretéritas. Para conseguir aclarar
as diferenças entre estes e aquele, primeiro, necessita-se saber sua definição.
No livro Nosso Lar, André Luiz (XAVIER, 1997, p 69-70) apresenta:
[…] começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no
mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres
sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou
no pântano dos erros numerosos. [...]
O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento
de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se
queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura
adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma
existência terrena.
O umbral rompe-se na superfície terrestre, mas não é um local
preestabelecido, como a ideia que se tem de inferno, para onde devem ir os
transgressores a fim de receber castigos externos após o desencarne, já que
conforme o Céu e o Inferno (KARDEC, 2013), o inferno está onde existam
Espíritos sofredores, sem necessidade de lugar circunscrito.
Em Ação e Reação, André Luiz (XAVIER, 1993, p 256) ensina que ―[…] é
o Umbral, situado entre a Terra e o Céu, dolorosa região de sombras, erguida e
cultivada pela mente humana, em geral rebelde e ociosa, desvairada e
enfermiça‖. Os que estão nesta zona, unem-se por causa de sua sintonia.
Além disso, lá as causas dos sofrimentos não são externas, mas a aflição
está no próprio Espírito:
301
5o) Dependente o sofrimento da imperfeição, como o gozo da
perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio, onde quer
que se encontre, sem necessidade de lugar circunscrito.
O inferno está por toda parte em que haja almas sofredoras, e o Céu
igualmente onde houver almas felizes (KARDEC, 2013, p 83).
Cumpre destacar, ainda, conforme disposto em Nosso Lar (XAVIER,
1997, p 71), serem os ―[…] habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos
homens encarnados, separados deles apenas por leis vibratórias‖, ou seja, não
precisa estar morto para interagir com as zonas umbralinas, basta afinar-se
com os que lá estão.
A interação entre os encarnados e os habitantes do Umbral, é
esclarecida, também, na supramencionada obra:
O plano está repleto de desencarnados e de formas - pensamento
dos encarnados, porque, em verdade, todo Espírito, esteja onde
estiver, é um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou
destroem, exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre
presentemente não pode compreender. Quem pensa, está fazendo
alguma coisa alhures. E é pelo pensamento que os homens
encontram no Umbral os companheiros que afinam com as
tendências de cada um. Toda alma é um ímã poderoso. Há uma
extensa humanidade invisível, que se segue à humanidade visível.
(XAVIER, 1997, p 72)
Por fim, lá não existe condenação eterna e sem negligenciar a
necessidade do ser de tanto quanto possível reparar suas faltas e aprimorar-se
o máximo na vida presente, a fim de evitar tormentos futuros, caso vá a essas
zonas de sofrimento, nunca está desamparado. Deus, infinitamente bom e
justo, que sabe serem suas criaturas suscetíveis de falha, estende-lhe sempre
a sua misericórdia, bem como há amparo do anjo da guarda e dos amigos
espirituais, necessitando apenas mudar o padrão mental para perceber o
auxílio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O temor da morte é algo natural, pois faz parte do próprio instinto de
conservação. Mas este medo será diminuído conforme se compreende a vida
futura e a necessidade da experiência corporal como meio de se elevar
espiritualmente.
Entre as causas de receio da vida após a morte, destacam-se a visão de
inexistência de algo além da carne, sendo o perecimento do corpo, o fim
absoluto e as concepções religiosas, que trazem uma perspectiva de castigos
terríveis aos infratores.
Essas causas para o temor da morte, existem, ainda, na memória
espiritual latente do ser, como crenças, dificultando muitas vezes, a
internalização de novos preceitos, que trazem perspectiva diversa, embora
satisfaçam a razão.
Os conteúdos das mencionadas reminiscências constituem-se
experiências vivenciadas por meio do processo educativo da reencarnação,
cujo objetivo é a reparação de faltas e evolução do ser. Essa sucessão de
302
renascimentos, assim como culminaram nas crenças atuais sobre a morte,
diante das novas lições, auxiliarão a construir uma nova visão sobre elas,
mesmo em vidas futuras, caso não se consiga uma mudança de
posicionamento ainda no presente.
Não se pode permitir que devido àquelas crenças, se substitua os lugares
de penitência que fomentavam o temor da morte pelo umbral, pois são
diferentes, já que ele não é um lugar predeterminado de castigos criado para
receber os infratores. O Espíritos lá estão por afinidade, sendo as
características do umbral produto das emanações mentais dos seres humanos.
Temer ir para lá, após a morte, é infundado porque já é possível interagir com
os desencarnados das zonas umbralinas por meio dos pensamentos, bastando
atingir a mesma faixa vibratória.
Assim, com esclarecimentos proporcionados pela pesquisa, é possível
entender, de forma geral, as causas de receio da morte. Mas caberá a cada um
indagar quais delas estão presentes em seu mundo íntimo e de posse do
conhecimento obtido, começar o trabalho de mudança de ponto de vista. Os
obstáculos nessa empreitada não devem ser motivo de culpa ou desânimo,
pois se entende ser fruto de inúmeras encarnações, não só da vida atual. Isso
deve ser motivo de autocompreensão, gerando paciência e acolhimento diante
das próprias dificuldades.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
A escolha do tema relaciona-se à necessidade de íntima de responder:
Por que apesar dos ensinamentos da doutrina espírita, aprendidos desde a
infância, o medo da morte permanece?
Ao aprofundar o estudo sobre o tema, entendi o significado que este
evento tão natural tem para mim. Oscilava entre: o materialismo e a incerteza
de experimentar penas desagradáveis no umbral, por não ter feito suficiente
bem na existência carnal.
Questionando-me ainda mais, encontrei uma das bases do problema:
falta de fé. Tanto em dar primazia ao visível, quanto em não confiar na justiça
divina. E queria saber o motivo disso, então comecei uma análise sobre a
minha caminhada atual para entender desde quando tinha esse pavor,
também, passei a lembrar de mim como um ser espiritual só de passagem.
Algo que não fazia muito, apesar de, constantemente, ao mergulhar na doutrina
e frequentar a Fundação Allan Kardec, ser relembrada da lei de reencarnação.
De posse das descobertas provenientes dessa avaliação, vejo a
necessidade de ressignificar crenças e situações, fazendo um processo
dialético entre o meu conhecimento doutrinário e as respostas oriundas do
processo de autoconhecimento a fim de me reeducar. E isso, me auxiliará não
só com o temor da morte, mas também com outras limitações.
Ademais, com a pesquisa, identifiquei três questões que, apesar do
conhecimento, ainda existem e não deixam de ter relação com a fé: Deus,
concebido como criador distante e ocupado; o mundo espiritual, tido como algo
separado; e o amparo espiritual de entes queridos e do mentor.
A fim de melhor perceber o auxílio, a meditação é prática interessante,
além da comunicação frequente com o anjo da guarda. E, o trabalho no bem,
nos afina com os espíritos sérios e nos prepara um bom caminho para a vida
futura.
303
A morte ainda é vista como perda da vida e não como retorno à pátria
verdadeira. Os acidentes fatais e as doenças terminais, sabemos que não
ocorrem por acaso, e explicamos a nós mesmos racionalmente, mas,
certamente, não gostaríamos de passar por eles. Realmente, são situações
ruins, se enxergadas do ponto de vista carnal.
A morte também é concebida como frustração de planos, por isso sempre,
no imaginário, se quer adiar o seu dia, ou ainda, teme-se ir para o umbral.
Há ainda um abismo entre conhecer a doutrina e vivenciá-la, pois a
registramos no nível cognitivo, mas demoramos a senti-la.
Possíveis razões, talvez estejam na pouca fé, visão muito materialista, no
comodismo e esquecimento de identificar-se como ser imortal. A primeira, no
sentido de ainda não confiar nas leis e sabedoria divinas, o que debilita a
existência de resignação diante da morte. A perspectiva mais carnal que
espiritual, por sua vez, faz tratar a existência corpórea não apenas como um
degrau para evolução do ser, o qual dá prevalência às coisas tangíveis. O
comodismo, a seu turno, visto não em relação ao estudo, nem ao trabalho, mas
em relação a si mesmo, de não questionar-se, o que faz reproduzir os
automatismos e retarda a mudança. E, por último, o olvido da imortalidade,
considerado tanto em agir como se não houvesse um porvir à morte, como ao
querer a perfeição imediata, sempre achando que não fez o suficiente e pode ir
ao umbral.
Visando superar o temor da morte, poderíamos: praticar o
autoconhecimento, para proporcionar o início da mudança de comportamento e
descobrir qual a atividade para a prática do bem será mais adequada às
necessidades evolutivas; manter constante interação com o plano espiritual,
seja por prece, ou, sempre que possível, por atividades mediúnicas a fim de
fortalecer a fé e aprender; passar a nos vermos como ser imortal, cujas atitudes
refletem não só na vida carnal, e buscar sempre a melhora, mas dentro das
possibilidades.
REFERÊNCIAS
DELANE, Gabriel. A Reencarnação. Rio de Janeiro: FEB, 1996.
DENIS, Léon. Depois da Morte. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1997.
FRANCO, Divaldo. Triunfo Pessoal pelo espirito Joanna de Ângelis. 2 ed.
Salvador: LEAL, 2002.
______. O Ser Consciente pelo espírito Joanna de Ângelis. 16.ed. Salvador:
LEAL.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 61 ed. Brasília: FEB, 2013.
______. O Livro dos Espíritos. 93 ed. Brasília: FEB, 2013.
______. A Gênese. 53 ed. Brasília: FEB, 2013.
304
NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz de. Reencarnação: processo educativo.
Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2003.
XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar pelo espírito André Luiz. 47 ed.
Brasília: FEB, 1997.
______. Ação e Reação pelo espírito André Luiz. 15 ed. Brasília: FEB, 1993.
______. O Consolador. 29 ed. Brasília: FEB, 2014.
305
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO E A REVISTA ESPÍRITA:
HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI
Maria Luiza da Cunha Reis 284
INTRODUÇÃO
Bem antes da publicação de ―O Evangelho Segundo o Espiritismo‖, em
1864, e de ―A Gênese‖, em 1868, Allan Kardec tratou do assunto ―Há muitas
moradas na casa do Pai‖ na ―Revista Espírita‖ de 1858. Neste artigo,
pretendemos compreender como o tema foi abordado nessas três publicações,
destacando algumas aprendizagens elaboradas em cada uma delas, refletindo
sobre o que representa para nós espíritas da atualidade sabermos que existem
muitas moradas na casa do pai. Em um primeiro contato com os três textos,
identificamos que existem três enfoques sobre o tema: primeiro, observações e
questionamentos; depois, um detalhamento dos diferentes mundos e de seus
habitantes; e por fim a explicação sobre a chegada desses habitantes, de onde
e por que vieram.
Meu interesse por este assunto surgiu desde criança: primeiro com a
fábula do ―Pequeno Príncipe‖. Encantava-me ouvir aquele menino contar de
sua visita a vários planetas e de seus estranhos habitantes; depois ao ouvir
meu avô dizer os nomes de várias estrelas. Aí eu me perguntava: por que
existem estrelas? Moram pessoas nelas? Os outros planetas também são
habitados? Quem criou tudo isso? E foi atrás destas respostas que passei por
várias religiões até chegar aqui, onde estou, estudando as Leis Divinas,
estudando a Doutrina Espírita.
Para elaborar este trabalho foram selecionadas, como fontes principais
para a análise, as três obras citadas acima: a Revista Espírita, O Evangelho
Segundo o Espiritismo e a Gênese. A seleção dessas obras se justifica pelos
esclarecimentos que trazem sobre o assunto, primeiro com as observações e
perquirições do Codificador, e depois com depoimentos de Espíritos que vivem
nessas moradas, não apenas respondendo perguntas formuladas por Allan
Kardec, mas, confirmando para todos nós, sem nenhuma dúvida, a existência
desses diferentes mundos habitados.
Este artigo está organizado em três seções que seguem a estrutura de
apresentação desse tema no Evangelho Segundo o Espiritismo (KARDEC,
2013a). Em cada seção o tema é analisado a partir das obras centrais fonte de
estudo neste artigo. A primeira apresentará o estado da alma na erraticidade:
como fica após deixar o corpo físico? Para onde vai? A segunda mostrará as
diferentes categorias de mundos: como são esses mundos? Todos são
habitados? Quem os habita e por quê? E a terceira nos falará da causa das
misérias na Terra, dos ―anjos caídos‖ e nos dará uma rápida amostra do que
seja um mundo onde reina o Bem.
284
Trabalhadora da DED-EOS-Estudo de Obras Selecionadas da Fundação Allan Kardec.
306
DESENVOLVIMENTO
1- Diferentes estados da alma na erraticidade
O Codificador começa nos informando que ―a casa do Pai é o Universo‖.
E que as inúmeras moradas citadas pelo Cristo são os inúmeros mundos que
se encontram no Espaço infinito, com seus habitantes em diferentes estados
de evolução, com suas atmosferas apropriadas aos diferentes graus de
adiantamento desses habitantes. Deduz-se daí que: Espíritos de diversas
categorias habitam mundos diversos, de acordo com a sua evolução maior ou
menor; que existem mundos primitivos e mundos mais evoluídos; que enquanto
muitos Espíritos não se podem afastar de seu mundo primitivo de sofrimento,
outros existem que se elevam a mundos felizes, praticando o bem e gozando
da felicidade dos Espíritos venturosos. Isso significa dizer que ao sair da veste
carnal, o Espírito vai para a erraticidade do seu próprio mundo. Para
entendermos melhor o sentido de Erraticidade vejamos o que dizem os
Espíritos sobre este assunto quando Kardec (2013b, Questão 232) pergunta se
a alma no intervalo das encarnações pode ir a todos os mundos e eles
respondem:285
Depende. Pelo simples fato de ter deixado o corpo, o Espírito não se
acha completamente desprendido da matéria e continua pertencendo
ao mundo em que viveu ou a outro do mesmo grau, a menos que,
durante a vida se tenha elevado. Esse o objetivo para o qual deve
voltar-se, pois do contrário, jamais se aperfeiçoaria...
Entendemos assim que, saindo do corpo, o Espirito irá conviver com
aqueles Espíritos com os quais manteve afinidade mesmo quando estava
encarnado, fica na erraticidade do seu próprio mundo, convivendo com seus
iguais, por assim dizer. Logo, não podemos pensar que, saindo de um corpo
que habitou na Terra, o Espírito vá imediatamente habitar Júpiter, por
exemplo, uma vez que seu períspirito não se encontra adaptado, revestido da
atmosfera daquele planeta.
2- Diferentes categorias de mundos habitados
Antes de falarmos das diversas categorias de mundos habitados,
vejamos o que Allan Kardec nos fala sobre a Pluralidade dos Mundos em
―Revista Espírita‖ do mês de março de 1858.
Quem ainda não se perguntou, considerando a Lua e os outros
astros, se esses globos são habitados? (...) Parece, dizem os
cientistas, que a Lua não tem atmosfera e, provavelmente não tem
água; que Mercúrio por ser muito próximo do Sol, deve ter uma
temperatura média próxima a do chumbo fundido; que em Saturno
dá-se o oposto: a luz do Sol deve ser muito fraca e apesar do reflexo
das suas sete luas e do seu anel, não temos um termo de
comparação do frio que faz por lá. Assim, em tais condições,
285
Para entender melhor o conceito de erraticidade consultar as questões 224 e 232
de o Livro dos Espíritos.
307
pergunta-se se seria possível viver nesses astros (KARDEC, 1858, p
109).
E continua Kardec, (1858, p 109):
Antes que a Ciência nos houvesse iniciado na natureza desses astros
se poderia duvidar; hoje no estado atual de nossos conhecimentos,
há probabilidades... Não se concebe que semelhante objeção possa
ser feita por homens sérios.
Em falando da Lua, Kardec, (1858) diz que apesar de não ser detectada
uma atmosfera nesse astro não significa que não exista; que se nunca
tivéssemos visto um peixe, não teríamos como conceber um ser vivendo na
água. E segue dando vários exemplos: de seres que vivem em zonas de calor
tórrido, como os que vivem nas temperaturas extremas dos gelos polares. E
nos faz os seguintes questionamentos:
Como podeis acreditar que Deus tenha feito o mundo somente para
vós? Por que a Terra, pequeno globo imperceptível na imensidão do
Universo, que dos outros planetas não se distingue nem por sua
posição, nem por seu volume, nem por sua estrutura, visto não ser
nem a menor, nem a maior, nem está no centro, nem na extremidade,
porque dentre tantas outras seria a única morada de seres racionais e
pensantes? Que homem sensato poderia crer que esses milhões de
astros que cintilam sobre nossas cabeças foram feitos somente para
recrear os nossos olhos? Qual seria, então a utilidade desses outros
milhões de globos invisíveis a olho nu e que não servem sequer para
nos iluminar? (KARDEC, 1858, p 111).
E o próprio Kardec (KARDEC, 1858, p 111) nos responde dizendo que:
Por um simples raciocínio, que outros fizeram antes de nós,
chegamos a concluir pela pluralidade dos mundos, e esse raciocínio é
confirmado pelas revelações dos Espíritos; que esses mundos são
habitados por seres corporais apropriados à constituição física de
cada globo; e que entre os habitantes desses mundos, uns são mais,
outros são menos adiantados do que nós, do ponto de vista
intelectual, moral e mesmo físico.
E mais nos diz o professor: que não apenas esses globos são habitados
por seres corpóreos, mas que todo o espaço é povoado por seres inteligentes,
de maior ou menor grau evolutivo e que nos são invisíveis por causa do véu
material lançado sobre nossa alma, salvo aqueles que têm o dom da vidência
(que são raros).
Voltando ao ―Evangelho Segundo o Espiritismo‖, Allan Kardec (2013a)
nos mostra as diferentes categorias dos mundos habitados, de acordo com os
ensinamentos dos Espíritos. E que mesmo não se podendo fazer uma
classificação absoluta dos mundos, podemos dividi-los, de uma maneira geral
em três categorias:
Mundos Inferiores;
Mundos Intermédios;
Mundos Superiores.
Vendo esta classificação, compreendemos a grandeza e a perfeição de
Deus, ao criar tantos mundos diferentes, e tantos Espíritos de diferentes
categorias e graus de evolução para povoá-los. E entendemos também que é
308
somente o orgulho e a vaidade do homem que o leva a pensar que a Terra, um
pequeno orbe do nosso sistema solar, que não se distingue em nada dos
outros, seja o único planeta a ser habitado.
3- Destinação da Terra - causa das misérias terrenas
Como vimos na divisão acima feita por Allan Kardec, a Terra está
classificada na categoria de Mundo Intermédio. Em se falando da Terra como
um mundo de provas e expiações, é comum nos admirarmos de tanta maldade
e da enorme quantidade de doenças e enfermidades das mais variadas
espécies. É que infelizmente até hoje, grande número de pessoas ainda
acredita que só ela é habitada. No dizer de Kardec ―faz um juízo acanhado
quem assim pensa pois deve-se considerar que na Terra não está a
humanidade toda, mas apenas uma pequena fração‖. Então, assim como não
podemos dizer que os habitantes de uma pequena vila são os habitantes de
todo um país, devemos compreender que a espécie humana abrange todos os
seres dotados de razão, que habitam todos os inumeráveis mundos do
Universo, e não apenas o planeta Terra. Agora vejamos a situação moral e
material dos habitantes terrenos. Estão todos no mesmo grau de elevação
material e moral? É evidente que não. Se visitamos um hospital, ali só
encontramos doentes; se visitamos uma prisão, ali estão reunidos
delinquentes. Olhemos pois o planeta Terra como sendo uma penitenciária
e/ou um hospital pois em resumo ela é tudo isso: é para onde vêm os Espíritos
rebeldes, que se insurgiram contras as leis divinas.
Vendo toda a maldade, dor e sofrimento que ainda existem no planeta,
que como os humanos continuam a padecer os mesmos males e a praticar os
mesmos vícios e erros há milênios, deduz-se que o planeta nunca sairá dessa
triste condição, nunca ascenderá a um grau maior de adiantamento. Todavia,
engana-se quem assim o pensa: assim como alunos ao final de ano passam
por provas e mudam de classe; assim como doentes saem curados dos
hospitais; assim como presidiários deixam as cadeias após cumprirem suas
penas, assim também os terráqueos deixam o planeta para habitarem mundos
melhores quando se encontram curados de suas mazelas e seus vícios. A título
de ilustração, reportamos um diálogo entre o Espírito que na Terra usou o
nome de Maria João de Deus e foi mãe de Francisco Cândido Xavier, e seu
instrutor no mundo espiritual, e que é retratado no livro ―Cartas de uma Morta‖:
Sabes em que direção está a Terra? – perguntou o bondoso instrutor.
E diante da minha natural ignorância, apontou-me um ponto obscuro
que se perdia na imensidade, recomendando fitá-lo atentamente.
Pareceu-me vê-lo crescer num turbilhão de ventos quentes, parecia-
me contemplar um furacão, a envolver grande massa compacta de
cinzas enegrecidas. Tomada de inusitado receio, desvivei o olhar,
porém meu solícito guia exclamou com brandura: ―Lá está a Terra
com os seus contrastes destruidores; os ventos da iniquidade varrem-
na de polo a polo, entre os brados angustiosos dos seres que se
debatem na aflição e no morticínio. O que viste é o efeito das
vibrações antagônicas, emitidas pela humanidade atormentada nas
calamidades da guerra. Lá, alimentam-se as almas com a substância
amargosa das dores e sobre a sua superfície a vida é o direito do
mais forte. Triste existência a dessas criaturas que se trucidam
mutuamente para viver. São comuns ali as chacinas, a fome, a
epidemia, a viuvez, a orfandade que aqui não conhecemos... Obscuro
309
planeta de exílio e de sombra! No Universo, poucos lugares abrigarão
tanto orgulho e tanto egoísmo! Por tal motivo é que esse mundo
necessita de golpes violentos e rudes (XAVIER, 2011, p 62-63).
3.1- Doutrina dos anjos decaídos
Na ―Revista Espírita‖ de janeiro de 1862, Kardec (1862) apresenta uma
teoria como simples hipótese, acerca da doutrina dos Anjos Decaídos, uma vez
que em palavras do próprio Codificador ―sem autoridade a não ser a de uma
opinião pessoal porque nos faltavam elementos suficientes para uma afirmação
categórica, expusemos a título de ensaio, decidido a abandoná-la ou modificá-
la, se fosse preciso‖.
Em ―A Gênese‖ Kardec (2013c) nos fala da ―Doutrina dos Anjos
Decaídos e do paraíso perdido‖, nos dizendo da progressão física e moral dos
mundos, tanto pela modificação da matéria quanto pela evolução dos Espíritos
que habitam esses mundos. Explica que de acordo com a evolução física e
moral dos seus habitantes, os mundos ascendem a outros patamares, e assim
vão evoluindo, até chegar à categoria de mundo celeste. E que em havendo
essas transformações, ocorrem então as grandes imigrações e emigrações.
Para que se entenda melhor, vejamos como elas acontecem.
Essas chegadas e partidas que são reguladas pela providência divina,
muitas vezes ocorrem através de grandes catástrofes, onde a vestimenta
carnal se rompe, mas o Espírito não perece; essas catástrofes são o agente
que vem impulsionar o progresso desse mundo, tanto no físico, como no
intelectual, como no moral, sem o que muitas vezes tal progresso se faria com
extrema lentidão, mudanças que acontecem tanto no plano dos encarnados
quanto no dos desencarnados. É quando então acontecem as grandes
migrações: os que não se rebelam contra a providência divina, são levados
para mundos mais elevados; enquanto os que perseveram no mal são
excluídos daquele planeta, indo habitar mundos inferiores. Esses seres passam
a viver nesses mundos primitivos expiando seus erros, mas, também
trabalhando para a elevação desse mundo. Pergunta-se: o que esses Espíritos
mais adiantados irão representar para a população de um mundo primitivo,
onde ainda reine a barbárie? Nos diz Kardec (2013c, p, 203): ―serão os anjos
ou Espíritos decaídos, ali estando em expiação; o lugar de onde vieram
representará para esses seres rebeldes o paraíso perdido‖. É o que ele segue
explicando sobre raça adâmica.
Essa raça simbolizada na pessoa de Adão, quando chegou a Terra esta
já era habitada por seres extremamente primitivos, desde tempos imemoriais.
Com a chegada desses ―anjos‖ o planeta Terra passa então por um grande
avanço físico, intelectual e moral, pois esses novos habitantes trazem consigo
aptidões para as artes, para as ciências, etc.. Estando a raça adâmica
expurgada de seu planeta de origem e vindo para um mundo primitivo – Terra
no período de barbárie – essa ideia de queda poderia gerar uma contradição,
pois os Espíritos não podem retrogradar. Mas, devemos entender que não se
trata de um retrocesso espiritual, pois o Espírito não perde o que já conquistou,
como nos diz Kardec:
O seu desenvolvimento moral e intelectual é o mesmo, qualquer que
seja o meio onde se ache colocado; ele está na posição do homem
do mundo condenado à prisão por seus delitos; certamente esse
homem se encontra degradado, decaído do ponto de vista social,
310
mas não se torna nem mais estúpido nem mais ignorante (KARDEC,
2013c, p 195).
Quando Deus em sua infinita bondade e misericórdia expurgou a raça
adâmica para o planeta Terra, um mundo primitivo, Ele teve razão para lhe
dizer: ―Tirarás o alimento da Terra com o suor do teu rosto‖. Mas também lhe
prometeu que enviaria um Salvador e nos enviou seu próprio Filho, Jesus, para
ser o modelo e guia da humanidade terrena, o Mestre que encarnou nesse
planeta para ensinar através de seu exemplo a lei de justiça, amor e caridade,
pois só essa lei é a verdadeira salvação. É também com o objetivo de ajudar na
evolução terrena, que de tempos em tempos, Espíritos superiores descem a
Terra, seres que não têm as mesmas qualidades de Jesus, mas que são
verdadeiros Missionários do Bem e da Luz, que aqui vêm para exemplificar -
através de vidas de sofrimento e dores, e vividas com resignação e fé no
Altíssimo - o verdadeiro Amor, a fim de que se cumpram as vontades do Pai
Criador.
Assim, quando entendemos que Adão não foi o primeiro homem, que
não existe um ―paraíso perdido‖, que ―anjos‖ não caíram na Terra, que as
catástrofes muitas vezes são alavancas de progresso e que Espíritos rebeldes
aqui chegaram para auxiliar o desenvolvimento do planeta, compreendemos
ainda mais a misericórdia e o amor do Criador para com suas criaturas,
primeiramente enviando missionários para os quatro cantos do planeta e
depois enviando seu próprio Filho, Jesus, para nos exemplificar a justiça, o
amor e a caridade.
3.2 - O Planeta Júpiter
Como nos foi dito no início pelo Codificador ―a casa do Pai é o Universo‖.
Sabemos que o mundo dos Espíritos é constituído das almas de todos os
humanos do planeta Terra e de outros planetas, despidos dos seus envoltórios
carnais e que do mesmo modo toda a Terra é animada pelos Espíritos nela
encarnados; e que esses dois mundos são solidários entre si, os homens terão
as qualidades e as imperfeições dos Espíritos aos quais estão unidos. Antes de
discorrermos sobre Júpiter, a título de ilustração citaremos duas informações
que nos foram dadas sobre os planetas Saturno e Marte, respectivamente.
Em ―Cartas de uma Morta‖, o Espírito Maria João de Deus (XAVIER,
2011) revela ao seu instrutor a sua vontade de conhecer Saturno, desde
quando ainda estava encarnada. E, segundo ela, bastou que fixassem em suas
mentes tal desejo, e se viram naquele planeta. E ela nos conta do sol azulado
de Saturno, de onde emana um calor menor, fresco e ameno; descreve as
graciosas habitações; a vegetação que tem uma clorofila azulada; o dia com 10
horas de duração; os seres sem vícios, sem maus costumes e sem guerras;
Saturno dos mares cor-de-rosa.
Em ―Novas Mensagens‖, o Espírito Humberto de Campos (XAVIER,
2014) nos relata sua ida ao planeta Marte. E nos conta de um lugar de
avenidas extensas, atapetadas de flores, de pessoas envolvidas em aura de
profunda tranquilidade, por não viverem mais os flagelos das guerras, das
pestes, ou qualquer outro flagelo social; nos fala do grande templo onde todos
se reúnem para orar pela Terra, pois as nossas emanações nocivas atingem
aquele planeta. Em ―Revista Espírita‘, Kardec (1858) nos apresenta o planeta
Júpiter e nos diz que de todos os planetas ele é o mais adiantado sob todos os
311
aspectos. É o reino do bem e da justiça, porquanto só tem Espíritos bons. E
quando se comunicam conosco, os Espíritos que lá habitam geralmente
sentem prazer em descrever o seu planeta; ao se lhes pedir a razão,
respondem que o fazem com o fito de nos inspirarem o amor ao bem, com a
esperança de lá chegarmos um dia.
Foi através da mediunidade do sr. Victorien Sardou, um jovem literato
das relações de Kardec, que conhecemos Júpiter; e como o sr. Victorien
Sardou não fosse desenhista, um outro Espírito se manifestou
espontaneamente, várias vezes, para descrever o planeta e desenhar as
moradias daquele orbe, o célebre oleiro Bernard Palissy, que viveu no século
XVI. Kardec nos faz uma ressalva inicial sobre os desenhos das moradias
daquele planeta:
Seja qual for, sobre a autenticidade dessas descrições, a opinião dos
que nos poderiam acusar de nos ocuparmos do que acontece nos
mundos desconhecidos, quando há tanto o que fazer na Terra,
rogamos aos nossos leitores não perderem de vista que o nosso
objetivo, como o indica o subtítulo da revista é, antes de tudo, o
estudo dos fenômenos, nada devendo, portanto, ser negligenciado.
Incorreria em erro quem acreditasse que fazemos da revelação de
mundos desconhecidos o objeto capital da doutrina. Para nós, o
essencial será sempre o ensinamento moral, de sorte que
procuramos, nas comunicações do além-túmulo, sobretudo aquilo
que possa esclarecer a Humanidade e conduzi-la ao bem, único meio
de lhe assegurar a felicidade neste e no outro mundo (KARDEC,
1858, p 127).
Para um melhor entendimento e conhecimento de Júpiter,
reproduziremos aqui alguns trechos do texto do sr. Victorien Sardou, ditados
pelo Espírito Bernard Palissy e publicados na revista supracitada.
3.2.1- A Cidade de Júpiter
Júpiter assim como a Terra tem montanhas, rios, lagos e mar. Existem
uma cidade primitiva e antiga e outra mais moderna, com belas casas, riachos
e jardins. Palissy começa falando do estado físico do planeta, temperatura, e
da cidade de Julnius. Como vemos no relato a seguir (KARDEC, 1858, p 353):
Essa cidade primitiva ainda existe, venerada e guardada como
preciosa relíquia e sua arquitetura difere muito da vossa. A cidade
moderna está apenas a algumas centenas de metros abaixo da
antiga. A primeira de nossas luas ilumina toda a cidade baixa: é uma
luz suave, comparável à dos vossos luares; mas, ao lado do lago, a
segunda lua se eleva, emitindo reflexos esverdeados que dão a todo
o rio o aspecto de um vasto prado... É sobre a margem direita desse
rio, que está construída a casa de Mozart... Limitado entre altas
montanhas, o lago se derrama no vale por oito enormes cataratas;
com o auxílio dessas correntes, cavamos na planície uma porção de
riachos, canais e pequeno lagos, reservando a terra firme apenas
para nossas casas e jardins, resultando assim uma cidade anfíbia,
como a vossa Veneza.
3.2.2 - Habitações de Júpiter
312
As habitações de Júpiter são proporcionais aos Espíritos que as
habitam. São graciosas, flutuam de um lugar para outro de acordo com as
necessidades e a vontade de seus moradores.
O corpo material dos animais incapazes de voar necessita de terra
firme; mas o que o nosso corpo fluídico e luminoso exige é uma
habitação aérea como ele, quase impalpável e móvel, a nosso bel-
prazer. Nossos dias e noites têm a duração de cinco horas, e a
imobilidade da morada era um entrave para todas as nossas grandes
obras. Nossa habilidade resolveu esse problema, auxiliada pelo
tempo e pelas condições privilegiadas que o Grande Arquiteto nos
havia concedido. Hoje, pelo deslocamento rápido dessas moradas de
pássaros, nossa existência pelo menos dobrou e, com ela, tudo
quanto se possa conceber de útil e de grandioso (KARDEC, 1858, p
354).
3.2.3 - Corpo dos habitantes de Júpiter
A conformação do corpo é mais ou menos a mesma nossa, porém é
menos material, menos denso e de maior leveza específica. Enquanto
rastejamos penosamente na Terra, o habitante de Júpiter transporta-se de um
lugar a outro, deslizando sobre a superfície do solo, quase sem fadiga, como o
pássaro no ar ou o peixe na água.
São parecidos com os nossos, mas que os habitantes de Júpiter são
grandes e bem proporcionados, opacos, diáfanos ou translúcidos, conforme
sua destinação. Existem sexos diferentes e seus corpos são de uma densidade
tão leve que só encontram termo de comparação nos fluidos imponderáveis...
são impalpáveís e luminosos,... ―sobretudo nos contornos do rosto e da
cabeça, porquanto ali a inteligência e a vida irradiam-se como um foco muito
ardente‖ (KARDEC, 1858, p 349).
A duração de vida é muito maior que na Terra: a média equivale a
cerca de cinco dos nossos séculos, o desenvolvimento é também
muito mais rápido e a infância dura apenas alguns de nossos meses.
(...)
A alimentação está em relação com sua organização etérea...
compõe-se de frutos e plantas e, aliás, a maior parte eles as haurem
no meio ambiente, cujas emanações nutritivas aspiram (KARDEC,
1858, p 117).
3.2.4 - Animais de Júpiter
Assim como o homem, os animais também progridem. E em Júpiter não
é diferente, com a diferença de que lá os animais - que lembram um pouco os
centauros das lendas – são os operários. Tivemos assim uma resumida ideia
desse planeta através da mediunidade de Victorien Sardou. Concluindo, nos
diz Allan Kardec (KARDEC, 1858, p 119):
O planeta Júpiter, apesar do quadro sedutor que nos foi dado, não é,
absolutamente, o mais perfeito dos mundos. Outros há,
desconhecidos para nós, que lhe são muito superiores do ponto de
vista físico e moral, e cujos habitantes gozam de felicidade ainda
mais perfeita: são as moradas dos Espíritos mais elevados, cujo
etéreo envoltório nada mais tem das propriedades conhecidas da
matéria.
313
E, perguntado que foi diversas vezes, sobre a condição do homem
terreno, se essa condição seria um obstáculo à sua passagem direta da Terra
para Júpiter, responde o professor (KARDEC, 1858, p 119):
Sim, deixando a Terra o homem pode ir imediatamente a Júpiter ou a
outro mundo análogo. Pode-se ter certeza disso? Não! Contudo,
poderá ir, visto haver na Terra ainda que em pequeno número,
Espíritos muito bons e suficientemente desmaterializados para não se
sentirem deslocados num mundo onde o mal não tem acesso...
Inserimos esta sucinta descrição de Júpiter primeiro para entendermos
que embora não haja mais o mal naquele orbe, ele ainda não é morada
celeste, e que seus habitantes não são anjos e sim Espíritos mais elevados do
que nós, terráqueos; e depois para entender que, como bem o diz Kardec, nas
três obras acima mencionadas, não existe nada vago no Universo, que cada
estrela, cada galáxia está devidamente povoada com os mais variados graus
de Espíritos. E que estando ainda o planeta Terra envolvido com guerras, ainda
cheio de egoísmo e vaidade, seus habitantes, ao deixarem o corpo físico, não
podem passar a habitar um planeta onde apenas existe o Bem, salvo os que
aqui se encontram exclusivamente em missão divina.
CONCLUSÃO
Em ―Revista Espírita‖ (janeiro de 1862), Allan Kardec nos apresenta um
artigo ―Interpretação da doutrina dos anjos decaídos‖, mas apenas como uma
simples teoria hipotética. Em ―A Gênese‖ (janeiro 1868), o Codificador já nos
explica a ―Doutrina dos anjos decaídos e do paraíso perdido‖, mostrando a
progressão dos mundos pela depuração dos Espíritos que os habitam. Já o ―O
Evangelho Segundo o Espiritismo‖ (1864) traz no capítulo III – intitulado de ―Há
muitas moradas na casa de meu Pai‖ – três tópicos importantes para o
entendimento do tema deste artigo: Diferentes estados da alma na erraticidade;
Diferentes categorias de mundos habitados; Destinação da Terra – causa das
misérias terrenas.
Analisando os tópicos estudados, concluímos que Deus não fez o
Universo com seus incontáveis mundos, galáxias e estrelas por puro
diletantismo: ao contrário, Ele os fez diferentes, e os povoou com Espíritos de
diferentes classes e graus de adiantamento, a fim de que através de seus
próprios esforços e vontade, eles – os Espíritos – evoluam sempre, pois só
depende de cada um a subida rápida para um mundo celeste, ou a estagnação
num mundo inferior. Entendemos que Deus é Pai justo e misericordioso, pois
mesmo ainda havendo resistência de nossa parte, Ele continua a enviar
missionários do Bem e da Paz, para que possamos nos render, enfim, ao Amor
exemplificado por Jesus. Que só depende de nossas ações a regeneração do
planeta Terra onde já vivemos muitas vezes, e de onde não sairemos até que
tenhamos avançado moralmente. E como bem dizem os Espíritos, não tem
nenhuma utilidade saber se um Espírito está na Terra pela primeira ou
vigésima vez. O importante é compreender que se aqui reencarna é porque
ainda precisa aprender lições e resgatar erros às vezes milenares. Então,
aproveitemos cada minuto vivido aqui na Terra, para nossa reforma moral. E
que cada um de nós possa meditar e colocar em prática a frase de Francisco
Cândido Xavier:
314
―Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer
um pode começar agora e fazer um novo final‖.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
Como destaquei no início do artigo, desde muito cedo me perguntava
sobre o porquê das estrelas, se eram habitadas, etc... Ao estudar a Doutrina
Espírita comecei a obter as respostas que tanto procurava; e agora, ao estudar
e reler mais profundamente a Revista Espírita, O Evangelho e A Gênese para a
elaboração deste trabalho, tive não apenas confirmadas mais uma vez aquelas
respostas, mas também a certeza de que existe um Ser Maior, o Criador de
todas as coisas; que não estou na Terra por acaso e sim para aprender a fazer
o bem, através da lei de justiça, amor e caridade, exemplificada pelo Cristo
Jesus, para assim me melhorar e evoluir rumos à outras moradas da casa do
Pai, como Espírito imortal que sou. Ou seja, aprendi que preciso trabalhar
diuturnamente para combater firmemente minhas mazelas e erros, vendo o
companheiro ao meu lado não apenas como um irmão de jornada, mas como o
meu instrumento de aprendizagem, de burilamento a fim de que mais rápido eu
possa me desfazer da bagagem errada que carrego, quiçá por milênios.
REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. Pluralidade dos Mundos. Revista Espírita. Jornal de Estudos
Psicológicos. Ano I, Mar, no 3, 1858.
KARDEC, Allan. Habitações do Planeta Júpiter – pelo Sr. Victorien Sardou.
Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Ano I, Ago, no 3, 1858.
KARDEC, Allan. Ensaio de Interpretação sobre a Doutrina dos Anjos Decaídos.
Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Ano 5, Jan, no 1, 1862.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. [Tradução de Evandro
Noleto Bezerra, da 5ª ed. Francesa de 1866]. 2ª ed. FEB. Brasília. 2013a.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. [Tradução de Evandro Noleto Bezerra,
da 2ª – 12ª ed. Francesa de 1857]. 4ª ed. Brasília: FEB, 2013b.
KARDEC, Allan. A Gênese. [Tradução de Evandro Noleto Bezerra, da 5ª ed.
Francesa de 1869]. 2ª ed. FEB. Brasília. 2013c.
XAVIER, F, C. Cartas de uma Morta. Pelo espírito Maria Joao de Deus. São Paulo:
Lake, 2011.
XAVIER, F, C. Novas Mensagens. Pelo Espirito Humberto de Campos. 14ª ed.
FEB Brasília: FEB, 2014.
315
OVERVIEW DE ARTIGOS: SINTESE DAS REFLEXÕES SOBRE OS
ASPECTOS GNOSIOLÓGICOS E EPISTEMOLÓGICOS DO ESPIRITISMO.
Alessandra dos Santos Pereira286
INTRODUÇÃO
Episteme refere-se à capacidade humana para conhecer que, por sua
vez, impõe duas necessidades: saber como e por que o ser humano é capaz
de conhecer o modo como conhece (gnosiologia – a origem, natureza e limite
do ato cognitivo) e saber qual o fundamento e a verdade sobre o que se
conhece (epistemologia – estudo dos postulados, conclusões, métodos e
limites do conhecimento das diferentes ciências).
Dito de outro modo, a Gnosiologia ocupa-se do ato de conhecer a e
Epistemologia do critério de validade deste conhecimento. Neste sentido, é
importante ter claro que o Espiritismo recorre a epistemologias científicas e
teológicas de outras ciências e religiões para validar o ato cognitivo de
conhecer (gnosiologia) os fenômenos. Além disso, não há clareza sobre o
quanto a Episteme Espírita possa ou deva alicerçar-se por si mesma.
Neste sentido este artigo propõe-se a apresentar uma visão geral dos
artigos: Epistemologia e Espiritismo; Espiritismo e Complexidade:
Aproximações Possíveis; Contribuições da Filosofia e da Psicologia para o
Estudo do Espírito; A Concepção Espírita do Homem, alinhando entre eles uma
compreensão no que diz respeito a temática de acesso ao conhecimento do
Espiritismo.
Após a breve apresentação dos artigos e orientando-se por um mapa
cognitivo e representacional do alinhamento dos artigos, sugere-se a
construção das ideias gnosiológicas e epistemológicas das temáticas
apresentadas como elementos norteadores do acesso ao conhecimento
espírita.
Epistemologia e Espiritismo
O artigo Epistemologia e Espiritismo foi escrito em 2011 e tinha como
objetivo identificar os pressupostos epistemológicos do Espiritismo, bem como,
refletir sobre as influências paradigmáticas desses pressupostos nas práticas
do Movimento Espírita.
Inicia definindo o conceito de Epistemologia como ―uma teoria do
conhecimento que se ocupa dos critérios pelos quais este se justifica,
considerando as circunstâncias históricas, psicológicas e sociológicas que
levam à obtenção deste conhecimento‖ (PEREIRA apud OLIVIA, 2011), bem
como, apresenta a evolução da temática desde Platão com sua ―crença
verdadeira e justificada‖, passando pelas correntes dominantes no século XVIII
das escolas empiristas e seus representantes Bacon, Locke, Berkeley e Hume
que postulavam que o conhecimento deve ser baseado na experiência e das
escolas racionalistas, dos alemães Leibniz e Descartes que postulavam que a
fonte do conhecimento se encontra na razão e não na experiência, até Kant e
suas ―formas a priori‖, Hegel e o método dialético, além do antropólogo
Bateson e sua ―concepção que se tem do objeto‖. Além disso, a primeira parte
do artigo também apresenta uma breve discussão sobre o termo Paradigma
286
Estudante do EADE.
316
introduzido por Kuhn, que se interessava em compreender uma teoria a partir
do seu contexto.
Em seguida o artigo abre um diálogo sobre a proposta epistemológica do
Espiritismo, propondo-se identificar os pressupostos presentes na codificação
kardequiana em seus aspectos científico, filosófico e religioso. Para o aspecto
científico, observou-se que a ciência do Espiritismo é típica de seu tempo, ou
seja, experimentação, observação e análise dos fenômenos a partir de
parâmetros mensuráveis, compatíveis com o raciocínio indutivo. O método era
empírico-racional apoiado na perspectiva de acesso a verdade transcendental
kantiana e, as características filosóficas da metafísica de Kant, também
encontra seu espaço na compreensão de Kardec sobre os fenômenos, uma
vez que este afirma que toda ciência racional deve ser fundamentada em
princípios a priori, dedutivos e independentes da experiência (PEREIRA, 2011
apud KANT, 2002). Além disso, a dialética de Hegel surge como forma de
acesso aos fenômenos espíritas, uma vez que as tradições filosóficas propõem
que de um lado se tem a hipótese empírica e do outro a racionalista e, a
Filosofia Espírita se coloca entre ambas oferecendo uma solução dialética
(PEREIRA, 2011 apud PIRES, 2000). Do ponto de vista religioso o Espiritismo
apresenta-se como revelação, conforme descreve o texto ―O Caráter da
Revelação Espírita‖, no qual esclarece que ―por sua natureza, a revelação
espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da
revelação científica‖ (PEREIRA, 2011 apud KARDEC, 2006), em seguida o
artigo diferencia a revelação teológica da revelação científica. Essa dupla
natureza lança o Espiritismo a uma gnosiologia semelhante ao que ocorre nas
demais instituições religiosas, no entanto, no campo epistemológico não existe
um campo teológico estruturado, ou pelo menos, evidente.
Espiritismo e Complexidade: Aproximações Possíveis
Este artigo, escrito também em 2011, surgiu em função das reflexões
advindas do artigo anterior, uma vez que este deixava clara as questões
epistemológicas do Espiritismo e sinalizava as brechas presentes no
movimento espírita a partir dessas fragilidades. Neste sentido, este artigo
buscou refletir a necessidade de mudanças para alcançar outras possibilidades
de ver, conhecer e pensar o espírito.
O artigo inicia explicando a historicidade da teoria da complexidade, a
partir da explicação dos eixos da simplicidade, estabilidade e objetividade,
como características fundantes da ciência clássica. Segue explicando a
necessidade de mudar crenças básicas para pensar as ciências e estabelece
parâmetros a partir da teoria de sistemas complexos, da instabilidade e da
intersubjetividade como dimensões essenciais para a produção de novos
paradigmas nas ciências.
Em seguida o artigo propõe aproximações entre a proposta da
complexidade e a Doutrina Espírita com vistas a construir pontes de acesso a
entendimentos mais pertinentes com a proposta consoladora do Espiritismo.
Neste sentido: a) a valorização das dificuldades humanas no sentido de
entendê-las como parte do processo de auto-iluminação contribui para a
percepção da relação espírito-corpo como um sistema recursivo; b) a visão
contextual e complexa das situações pode auxiliar os indivíduos a compreender
um fenômeno desorganizado ou caótico como sendo uma etapa necessária
317
para empreender mudanças e; c) a impossibilidade do conhecimento objetivo
da realidade, ou seja, a realidade será algo sempre constituído por quem a
percebe, uma vez que importa saber como a realidade está relacionada com
quem a percebe e significa, constituem a proposta de relação baseada no
Amor, conforme propõe o Cristianismo. Considerando o amor como algo
inerente a diversos sistemas inclusive os sistemas complexos, sendo
fundamental considerá-lo a partir de uma perspectiva autorregulatória.
Contribuições da Filosofia e da Psicologia para o Estudo do
Espírito
Este artigo, escrito em 2013, adotou como proposta descrever as
possíveis contribuições da filosofia e da psicologia que podem ser utilizadas
para estudar o Espírito.
O artigo inicia recordando o texto de Kardec (2006), no preâmbulo do
livro O que é o Espiritismo, quando afirma que "O Espiritismo é uma ciência
que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas
relações com o mundo corporal". Segue dizendo que a Doutrina Espírita sofreu
modificações, à medida em que a ciência se desenvolvia e seus pesquisadores
tornavam-se mais amadurecidos no entendimento de conceitos importantes
para a ciência espírita. Esclarece também que os fenômenos investigados no
Espiritismo são de ordem diferente daquele investigado pela ciência comum
não cabendo juízos de valores entre eles ou acreditando equivocadamente que
o Espiritismo compõe a alçada da ciência comum. No entanto, afirma que
mesmo que ambas as áreas possuam métodos específicos, os conhecimentos
provenientes das ciências tradicionais podem e devem ser aproximados
corroborando com seu caráter progressista e revelador do Espiritismo.
Em seguida apresenta as condições sob as quais as contribuições das
ciências são oportunas para o estudo do Espírito a saber: a condição do
Espírito vivendo no mundo corporal como Espírito encarnado ou Alma,
construindo, desse modo, as articulações entre os conceitos filosóficos de
existência, assumido no texto como a consciência que o Espírito tem de si
mesmo, buscando superar a condição humana para atingir um nível superior
(transcendência). O devir ou vir-a-ser apresentado como uma possibilidade de
ser para o Espírito Encarnado, uma ―promessa de ser‖, projetando-o na
existência e lançando-o na relação com os outros seres, sendo necessário
estar no mundo para se relacionar e abrir espaço para possibilidade de Ser,
através das diversas relações que estabelece com ele. Esse movimento
proporciona o despertar e a transformação do Espírito num ―ser-no-mundo‖,
provocando tensões e essas tensões o mobilizam num processo contínuo de
devir. E por fim o conceito psicológico de diferenciação entendido como o
princípio autorregulador de prazer-desprazer, do funcionamento psicológico
que vai se desenvolvendo e se consolidando no devido tempo, abrindo
possibilidades para relações do Espírito encarnado com o outro, auxiliando-o
na luta para se integrar na existência.
A Concepção Espírita do Homem
Artigo escrito em 2015, propôs-se a elucidar as concepções filosóficas e
religiosas que subsidiam a compreensão do homem para o Espiritismo,
trazendo a contribuição das obras básicas e complementares que auxiliam
318
neste conhecimento, juntamente com a contribuição, pesquisadores que
esclarecem as ideias espíritas.
Inicia revelando que para o Espiritismo o homem deve ser visto como
um ser interexistencial, devido a sua participação tanto na vida corporal como
no mundo espiritual, sendo possível afirmá-lo como um ser bio-psico-sócio-
espiritual (PEREIRA, 2015 apud PIRES,1979). Também esclarece que essa
concepção lança o homem em dois planos existenciais, ora interagindo,
quando imerso na dimensão física, com o mundo espiritual, ora, quando
desencarnado, ligando-se contínua e estreitamente com o mundo material,
numa dinâmica existencial e para além desta.
Parte então, para as concepções a) biológicas: que considera
fundamental valorizar o corpo sem excessos de qualquer natureza, tornando-o
saudável instrumento de manifestação do espírito; b) psíquicas: constituição
tríplice do universo e a natureza trina da consciência humana, entendendo as
três funções estruturais da consciência humana: a teórica, a prática e a estética
como responsáveis por, primeiro, elaborar dados sensíveis, para depois
estabelecer relações com os objetos permitindo a interpretação da realidade e
por fim permitir a fusão afetivo-racional do homem (PEREIRA, 2015 apud
PIRES, 1977); c) sociais: asseguradas na questão 766, na qual os espíritos
respondem a Kardec, quando perguntados sobre a vida social, ―não lhe deu
inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessária a vida de
relação‖ (KARDEC, 2006); e d) espirituais: sinalizadas na Filosofia Espírita que
parte da realidade existencial, que não se restringe ao simples existir, mas que
se amplia no evoluir e no vir-a-ser, esclarecendo que a transcendência humana
é o passaporte para uma compreensão mais acurada da existência.
Gnosiologia e Epistemologia Espírita
A Gnosiologia procura entender a origem, a natureza, o valor e os limites
do conhecimento, em função do sujeito que conhece o objeto. Por outro lado, a
validação do conhecimento é fornecida pela Epistemologia, que se refere ao
estudo do conhecimento relativo ao campo de uma pesquisa na Ciência.
Na discussão sobre o acesso ao conhecimento espírita pode-se
compreender que, no Espiritismo, o aspecto gnosiológico ocorre em função das
experiências pessoais vivenciadas pelos espíritas, no entanto, o aspecto
epistemológico é validado a partir do domínio da ciência comum (Fig.01).
Gnosiologia
Espiritismo
Epistemologia Ciências
Figura 01 – Representação Científica sobre o conhecimento espírita.
319
Todavia, a fragilidade no processo educativo proporcionou uma visão
superficial em relação ao conhecimento espírita, alicerçando-o numa base
teológica semelhante ao que ocorre em outras propostas religiosas,
descaracterizando-o em sua perspectiva filosófica e resumindo o Espiritismo ao
seu mero aspecto religioso (Fig. 02).
Gnosiologia
Espiritismo
Epistemologia Teologia
Figura 02 – Representação Teológica sobre o conhecimento espírita.
Na conclusão de O Livro do Espíritos Kardec explica que falsíssima seria
a ideia que uma pessoa formaria do Espiritismo se o julgasse pela força da
prática das manifestações materiais (...), a verdadeira força do Espiritismo está
na sua Filosofia, no apelo que dirige à razão e ao bom senso (KARDEC, 2006).
Neste sentido a compreensão Epistemológica da Doutrina Espírita é resultado
de um diálogo constante com as ciências contemporâneas, corroborando com
o caráter progressista e não dogmático de seus princípios fundamentais.
O que Aprendi
A busca que cultivo para lidar com as limitações que encontro em mim
mesma é força que me impulsiona a, honestamente, compreender o
Espiritismo em seus aspectos mais profundos. As formas de acessar os
conhecimentos da Doutrina Espírita, chamam a minha atenção, sobretudo,
quando esclarece a maneira como construímos ―verdades‖ ou explicamos a
vida e as experiências pessoais. Essas apropriações do mundo, sempre me
pareceram frágeis ou no mínimo pautadas em entendimentos abstratos
demais, destituídos que quaisquer construções cognitivas intencional e
consciente. Por entender que o Espiritismo é uma fé raciocinada, nunca me
agradou a ideia de acreditar em algo metafísico que não pudesse minimamente
ser passível de entendimentos cognitivos ou metacognitivos. Sendo assim,
percebo o quanto as temáticas que investigo possuem relação comigo mesma
e meu processo pessoal de me apropriar da minha própria fé.
Certamente, essa energia que pulsa em mim e, que caminha na direção
de pesquisar o que pesquiso, é fruto de uma necessidade que me acompanha
nesta existência, mas que provavelmente tem sua origem em outras
existências. A relativa facilidade e a compreensão quase que imediata dos
assuntos, com uma clareza e nitidez que noutras pautas não encontra
ressonância em mim, me fazem pensar o quanto este assunto tem força no
320
meu íntimo, me fazer crer que devo ter comprometimentos pretéritos que me
impulsionam a priorizar essa pauta nos dias atuais. Às vezes, desconfio que
tenho compromissos em facilitar o acesso dessas ideias para outras pessoas,
muito embora, eu duvide que minhas ideias possam interessar a outras
pessoas, escrevo para que eu mesma possa refletir e me apropriar daquilo que
acredito, construindo sentido e significado na minha vivência com o sagrado.
Há algum tempo, tenho refletido o quanto a vida tem sido generosa com
minhas experiências intelectuais, uma vez que me proporciona oportunidades
de aprendizado que poucos tem acesso, além da possibilidade de vivências,
trocas e compartilhamentos com indivíduos, instituições, grupos, eventos que
falam em assuntos importantes na compreensão doutrinária do Espiritismo.
Nestas horas, sempre penso de que modo esse assunto pode chegar aos
espíritas, como auxiliar para que essas temáticas ajudem os espíritas a se
apropriarem mais do Espiritismo, assim como acontece comigo. No entanto,
imagino que a necessidade é mais minha que dos demais, daí percebo como é
agradável conhecer o Espiritismo da maneira como o conheço.
Não saberia dizer se o futuro reserva compromissos maiores com o
Espiritismo ou mesmo com o Movimento Espírita, mas acredito que minha
maior agenda é transformar minhas inquietações em molas propulsoras do
meu desenvolvimento espiritual, dilatando minha fé, abrindo meu entendimento
da vida verdadeira e facilitando minha vivencia no amor.
REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto. 1ª edição, Rio de
Janeiro, RJ: FEB, 2006.
PEREIRA, Alessandra. Epistemologia e Espiritismo. Anais II Simpósio FAK,
2011.
_____ . Espiritismo e Complexidade: Aproximações Possíveis. Anais II
Simpósio FAK, 2011.
_____ . Contribuições da Filosofia e da Psicologia para o Estudo do Espírito.
Anais III Simpósio FAK, 2013.
_____ . A Concepção Espírita do Homem. Anais IV Simpósio FAK, 2015.
321
INTOLERÂNCIA, SEU SIGNIFICADO E LIBERTAÇÃO
João Carlos dos Santos Jr.287
Desde milênios, o homem vem desenvolvendo vida de relação no que
convencionamos de ‗base cultural‘. Que, resumidamente, podemos comumente
conceituar como modo, maneira ou comportamento da maior parte de
indivíduos que socializam um mesmo locus em dada época ou contexto. Daí
deriva estilos literários, filosóficos, na religião, na origem fonética, levando a
expressão da arte e sua exteriorização na música, encenação, moda,
arquitetura e as mais diversas formas de retratar aspectos singulares de um
povo, região, nação o que culminou na popular divisão do mundo na cultura
ocidental e oriental, por tão marcante serem suas diferenças e expressões.
De longo tempo o homem vem se agrupando, imerso em suas
tendências comportamentais, sociais, psicológicas, religiosas, culturais em
diferentes matizes de modelos mentais no qual deseja se apropriar, seguindo
correntes temporais com elos formados por pensamentos comuns, chegando a
extremos, como o Fundamentalismo ou o Fanatismo.
Todo este processo tem sua raiz na busca infinita da individualização do
Ser espiritual ao passar pelos longínquos processos de laboração para
perfeição relativa288 (Kardec, 2010). A cada etapa do processo, vão-se
construindo arquétipos, na linguagem de Carl G. Jung 289, que são importantes
para consolidação do Ser integral.
Com base neste olhar, poderíamos aprofundar e oferecer reflexões para
lapidar arestas deste imenso monolítico, que é a consciência humana, em
análises escatológicas robusta em sua estrutura. Seriam infinitesimais teses
mostrando as causas e consequências das intolerâncias religiosas, filosóficas,
acadêmicas, profissionais, raciais, digitais e tantas outras que campeiam os
povos da Terra. Contudo, o mote deste artigo busca olhar o processo de
intolerância, a partir da trajetória do espírito imortal e oferecer recursos para o
Ser libertar-se das correntes impostas pelo seu próprio psiquismo, quando não
se percebe imerso no ―caldeirão‖ dos pensamentos fixantes do contexto em
que vivemos. O método conduzirá a análise de alguns pontos de vista da
psicologia transpessoal290 e a Doutrina Espírita, em especial atenção aos
textos dos Espíritos de Joanna de Ângelis e Ermance Dufaux.
287
Trabalhador da DEIJ.
288
―a perfeição relativa, aquela de que a humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Mas em que
consiste essa perfeição? Jesus o diz: ―Amar seus inimigos, fazer o bem àqueles que nos odeiam, orar pelos que nos
perseguem‖. Ele mostra com essas palavras que a essência da perfeição é a caridade no seu mais amplo significado,
porque ela traz como consequência a prática de todas as outras virtudes‖ (Kardec, 2010, pg. 290).
289
Carl Gustav Jung foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica. Jung propôs e
desenvolveu os conceitos da personalidade extrovertida e introvertida, arquétipos e o inconsciente coletivo. (Wikipédia,
2017). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung.
290
A Psicologia transpessoal é uma abordagem da Psicologia considerada por Abraham Maslow (1908-1970) como a
"Quarta Força da Psicologia", sendo a primeira força a Psicanálise, seguida da Psicologia comportamental, e a terceira
a Psicologia humanista (Wikipédia, 2017). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_transpessoal.
322
Premissas
A partir da visão científica de tolerância do Dr Abdul Ghaffar, da
University of South Carolina School of Medicine (2017), advém seu oposto
como uma reatividade específica da pessoa. Vem provocado por motivação
que encontrou reação própria, ou seja, partiu do Ser, do seu interior, denotando
o caráter endógeno que melhor descreve o processo tanto da tolerância como
da intolerância.
"Tolerância se refere a não reatividade imunológica específica a um
antígeno resultando de uma exposição prévia ao mesmo antígeno.
Enquanto a forma mais importante de tolerância é não reatividade a
antígenos próprios, é possível induzir tolerância a antígenos não
próprios" (http://www.microbiologybook.org/Portuguese/immuno-port-
chapter16.htm. 2017).
A Declaração Universal dos Direitos do Homem (2017), proclama que
"Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
religião" (art. 18), "de opinião e de expressão" (art. 19) e que a educação "deve
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e
todos os grupos étnicos ou religiosos" (art.26). Tolerância é uma das tantas
virtudes, necessárias para elevar o ser humano à condição de civilidade. Ela
faz parte do processo de desenvolvimento ético de indivíduos e grupos, cuja
meta é levá-los a manter a "disposição firme e constante para praticar o bem".
Implica em dois sentidos. ―Ser virtuoso‖, tanto pode ser um sujeito com
disposição de praticar o bem, como também pode ser "toda pessoa que domina
em alto grau a técnica de uma arte" (Dicionário Aurélio: p.1465), por exemplo,
ser um "virtuose na arte de tocar violino".
Na tradição da filosofia moral, a tolerância não é exatamente
considerada uma "grande virtude" ou "virtude cardinal", tal como é a justiça, a
coragem, a prudência e a temperança ou moderação. Contudo, ela não deve
ser posta do lado das chamadas "pequenas virtudes", como é o caso da
polidez.
A tolerância deve ser vista numa posição especial, de entremeio das
virtudes, sendo mais que respeito, polidez ou piedade. O filósofo Rouanet 291
(2003), a vê "como passagem para um estágio mais civilizado e menos
mecânico de convívio das diferenças". Sinaliza, no entanto, que "as diferenças
não devem ser apenas toleradas, porque do contrário elas se reduziriam a um
sistema de guetos estanques, que se comunicariam no espaço público; deve
ser uma virtude que cause interpenetração entre os diferentes". Ou seja, a
tolerância deve ser um ato constante de prevenção e de educação, próprios.
Comte-Sponville (1999), diz que a tolerância "é uma espécie de
sabedoria que supera o fanatismo, esse terrível amor à verdade". A tolerância é
uma espécie de prevenção contra o dogmatismo, para que este não vire
fanatismo (na dimensão pessoal), fundamentalismo (na dimensão religiosa) e
totalitarismo (na dimensão de Estado de Governo; ou em Administração).
291
Sérgio Paulo Rouanet é um diplomata, filósofo, professor universitário, tradutor e ensaísta brasileiro. É membro da
Academia Brasileira de Letras desde 1992 (Wikipédia, 2017). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/
wiki/S%C3%A9rgio_Paulo_Rouanet.
323
A tolerância, assume, então, o papel de ser o exercício necessário (que
precisamos fazer) para se conquistar a Sabedoria.
Interessante consideração de Comte-Sponville (1999), na sua tese sobre
tolerância: ―A tolerância, como força prática (como virtude), funda-se assim em
nossa fraqueza teórica, isto é, na incapacidade em que estamos de alcançar o
absoluto‖. Se o absoluto não é conhecido, a tolerância obedece uma dinâmica
de processo, construção, etapas que se sucedem até a extensão que o
presente nos permite tocar.
Voltaire dizia apud Comte-Sponville (1999):
―O que é a tolerância? É o apanágio da humanidade. Somos todos
feitos de fraquezas e de erros; perdoemo-nos reciprocamente nossas
tolices, é esta a primeira lei da natureza‖. É aí que a tolerância tem a
ver com a humildade, ou antes, dela decorre, como esta da boa-fé:
amar a verdade até o fim é também aceitar a dúvida em que ela
resulta, para o homem. De novo Voltaire: ―Devemos tolerar-nos
mutuamente, porque somos todos fracos, inconsequentes, sujeitos à
mutabilidade, ao erro. Um caniço vergado pelo vento sobre a lama
porventura dirá ao caniço vizinho, vergado em sentido contrário:
‗Rasteja a meu modo, miserável, ou farei um requerimento para que
te arranquem e te queime?‘ ‖. Humildade e misericórdia andam
juntas, e esse conjunto, no que se refere ao pensamento, conduz à
tolerância (Voltaire dizia apud Comte-Sponville, 1999).
As virtudes, a moral e a conduta humilde e misericordiosa são
conquistas que constroem o Ser, o Espírito imortal para sua regeneração e
evolução.
Quem se pretende possuir "a verdade", ou melhor, "a certeza", termina
sendo intolerante em aceitar outros posicionamentos, se fechando a escuta de
tudo que apresente diferente ou incompreensível ao seu esquema conceitual
de fala e ação. O moralista, por exemplo, é intolerante com os que possuem
valores diferentes do seu; em verdade, sabemos se tratar de um moralista
quanto sofremos a imposição de seus valores, baseado em sua ―certeza
moral‖. O moralista carrega a ambição de impor a todos, universalizando seus
valores como certos. Enfim, "toda intolerância tende ao totalitarismo"
("integrismo", em matéria religiosa). Ser intolerante é manter uma "atitude de
ódio sistemático e de agressividade irracional com relação a indivíduos e
grupos específicos, à sua maneira de ser, a seu estilo de vida e às suas
crenças e convicções".
Do ponto de vista da instituição religiosa que vigiam a moral, essa não
se manteve inerte e publica, no ano 311, o Edito da Tolerância por Galerius292
com vista a harmonizar o culto Romano e dos Cristãos encontrado em
Wikipedia (2017).
Tanto no caso do edito de tolerância de Galérius quanto de Constantino
e Licínio, o texto latino original encontra-se em Lactâncio e apenas uma
tradução grega em Eusébio (HE, Bk. VIII, 17 e X, 5).
EDICTO DE TOLERAÇÃO POR GALERIUS- 311 A. D.
292
Galério Maximiano (em latim: Gaius Galerius Valerius Maximianus; 260 — 311) foi um imperador romano.
Governou, junto de outros, de 305 a 311. Com a reorganização política chamada tetrarquia, promovida por Diocleciano,
Galério foi nomeado césar, com a atribuição de administrar as províncias balcânicas, com capital em Sirmio (atual
Sremska Mitrovica). Wikipedia, 2017. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gal%C3%A9rio.
324
(Ch. 34.) [...] para conferenciar a respeito do bem e da segurança
do império, decidimos que, entre tantas coisas benéficas à
comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal
preocupação. Pareceu-nos justo que todos, os cristãos inclusive,
gozem da liberdade de seguir o culto e a religião de sua preferência.
Assim qualquer divindade que no céu mora ser-nos-á propícia a nós e
a todos nossos súbditos.
Decretamos, portanto, que, não obstante a existência de anteriores
instruções relativas aos cristãos, os que optarem pela religião de
Cristo sejam autorizados a abraçá-la sem estorvo ou empecilho, e
que ninguém absolutamente os impeça ou moleste... Observai,
outrossim, que também todos os demais terão garantia a livre e
irrestrita prática de suas respectivas religiões, pois está de acordo
com a estrutura estatal e com a paz vigente que asseguremos a cada
cidadão a liberdade de culto segundo sua consciência e eleição; não
pretendemos negar a consideração que merecem as religiões e seus
adeptos. [...]
Use-se da máxima diligência no cumprimento das ordenanças a favor
dos cristãos e obedeça-se a esta lei com presteza... (Wikipedia, 2017)
Ermance Dufaux
Nesta seção faz-se a proposta de utilizar um texto de referência:
ESTUDANDO A ARROGÂNCIA I, de autoria de Ermance Dufaux (2010). Tem-
se como objetivo adentrar na vivência Espiritista, por nos dar uma visão mais
completa daquilo que já é possível perceber, no plano encarnado e que nos
cabe utilizar para entender a vida e seu propósito a partir das raízes da
consciência.
Porque a ‗arrogância‘ seria a questão a desvendar no que concerne ao
comportamento intolerante? Qual a relação entre as duas coisas? Por ser a
―Arrogância, eis um tema de extrema importância para ser meditado em nossos
núcleos de amor cristão‖.
Como ponto de partida, essa imperfeição é fruto do egoísmo (amor
exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem) e segundo
Kardec ―é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da
matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não
pôde libertar‐se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua
organização social, sua educação‖ (KARDEC, 2011, pg. 917).
Entender a importância do ego e sua estrutura nas relações com as
coisas e pessoas na sua atual encarnação constitui um seguro roteiro para o
conhecimento de si mesmo, pois ―A sutil diferença entre pensar
excessivamente em si e pensar em si com benevolência pode determinar a
natureza de todos os sentimentos humanos. O excesso de interesse por si
mesmo é um ciclo de ilusões que se repete sustentando o autodesamor em
milênios de perturbação [...] com a edificação da paz interior‖.
Durante muitos séculos de vida em que o estado de consciência sofre
embotamento ―A paixão — ausência de domínio sob gerência da vontade —
ensejou reflexos perniciosos, cujas raízes encontram‐se no egocentrismo – o
estado mental de fechamento das nossas próprias criações‖.
Apesar que a estrutura psicológica do ego em nossas ―linhas de
evolução, o instinto de conservação desenvolveu a posse como sinônimo de
325
proteção‖ a viciação na vida da matéria trouxe o conformismo e os excessos a
qualquer preço, inclusive pelas vias da intolerância na conduta arrogante.
―O princípio que gera a arrogância foi colocado no homem para o
bem. É a ânsia de crescer e realizar‐se. O impulso para progredir. O
instinto de conservação que prevê a proteção, a defesa. Tais
princípios são os fatores de motivação para a coragem, a ousadia, o
encanto com os desafios. Graças a eles surgem os líderes, o
idealismo e as grandes realizações inspiradas em visões ampliadas
do futuro. O excesso de tudo isso, no entanto, criou a paixão. A
paixão gerou o vício. O vício patrocinou o desequilíbrio.
[...] O egoísmo é o sentimento básico. Arrogância é a atitude íntima
derivada desse alicerce de sensações nascidas no coração ocupado,
exclusivamente, com seu ego. Uma compulsiva necessidade de ser o
primeiro, o melhor, manifestada através de um cortejo de
pensamentos, emoções, sensações e condutas que determinam o
raio espiritual no qual a criatura transita (DUFAUX, 2010).
Por predominar naquele que habita o planeta de provas e expiações
traços ou estereótipos de arrogância, se manifesta o inconformismo contínuo e
em desequilíbrio ―esse traço atingiu o patamar de rebeldia e obstinação
enfermiça. A rebeldia tornou‐se um condicionamento psicológico que dilata as
ações da arrogância. Uma lente de aumento que decuplica e acelera as
mutações da autossuficiência‖.
Essa rebeldia e abusos de conduta autoritária leva e ―deságuam nos
comportamentos de intolerância‖.
Quase sempre, essa inquietude da alma alcança o perfeccionismo e
a ansiedade que, frequentemente, deságuam na necessidade de
controle e domínio.
―Egoísmo que na sua mutação transforma‐se em arrogância; essa,
por sua vez, deriva um cortejo de outros sentimentos sob ação do
orgulho e da rebeldia‖ (DUFAUX, 2010).
Sob a motivação do conhecimento de nós mesmo pode-se promover
uma abordagem de auto-amor, plena aceitação das condições psicológicas e
ser feliz na construção de si mesmo pela dinâmica da convivência entre
pessoas ―e as pessoas do que naquilo que são realmente. Por essa razão,
esse processo da vida mental consolida‐se como piso de inumeráveis
psicopatologias da classificação humana‖.
Na visão de Ermance vários comportamentos recorrentes em nossa
sociedade se relaciona com a doença da arrogância. Eis
―outros efeitos dessa doença:
1. Perda do autodomínio.
2. Apego a convicções pessoais.
3. Gosto por julgar e rotular a conduta alheia.
4. Necessidade de exercício do poder.
5. Rejeição a críticas ou questionamentos.
6. Negação de sentimentos.
7. Ter resposta para tudo.
8. Desprezo aos esforços alheios.
9. Imponência nas expressões corporais.
10. Personalismo.
11. Autossuficiência nas decisões.
12. Bloqueio na habilidade na empatia.
326
13. Incapacita para a alteridade.
14. Turva o afeto.
15. Acredita que pode mais do que realmente é capaz.
16. Buscar mais do que necessita.
17. Querer ir além de seus limites.
18. Exigir mais do que consegue.
19. Sentir que somos especiais pelo bem que fazemos.
20. Supor que temos a capacidade de dizer o que é certo e errado
para os outros.
21. Sentir‐se com direitos e qualidades em função do tempo de
doutrina e da folha de serviços.
22. Acreditar que temos a melhor percepção sobre as
responsabilidades que nos são entregues em nome do Cristo.
23. Julgar‐se apto a conhecer o que se passa no íntimo de nosso
próximo.
24. Desprezar o valor alheio‖ (DUFAUX, 2011).
É muito importante para aqueles que se permitem olhar a si mesmo pelo
caminho das mudanças emocionais e o auto encontro, pois:
―[...] Ter autoconsciência é uma das habilidades da inteligência
emocional. Saber dar nome aos nossos sentimentos é fundamental
no processo de crescimento e reforma interior. A arrogância que
costumamos rejeitar como característica de nossa personalidade é
responsável por uma dinâmica metamorfose dos sentimentos‖
(DUFAUX, 2011).
E a autora conclui:
―Considerando tais reflexões acerca dessa doença dos costumes,
teçamos algumas ponderações que nos motivem a algumas
autoaferições à luz da claridade espírita.
Arrogância — Intolerância, inveja, poder, vaidade.
Intolerância — autoritarismo e teimosia.
Inveja — impulso de disputa e comparação.
Poder — perfeccionismo e ansiedade.
Vaidade — Megalomania e presunção‖ (DUFAUX, 2011).
Joanna de Ângelis
Joanna de Ângelis (1990), no texto ‗Jesus e Tolerância‘ desenvolve uma,
mostrando que nos problemas do julgamento das faltas alheias, na visão de
pecado que gera um processo de autoflagelação para se liberar da culpa
―sombra perturbadora na personalidade, responsável por enfermidades soezes,
causadoras de desgraças de vária ordem‖.
Nesse contexto da individualidade por meio dos automatismos ―Julgando
as ações que considera incorretas no seu próximo, realiza um fenômeno de
projeção da sua sombra em forma de autojustificação‖ e a intolerância ―que não
consegue libertá-lo do impositivo das suas próprias mazelas‖.
Por isso, ―A tolerância [...] a todos se impõe como terapia pessoal e
fraternal, compreendendo as dificuldades do caído, enquanto lhe distende
mãos generosas para o soerguer‖. O que não deixa de ser o perdão ao
próximo a partir do conhecimento da dimensão e entendimento de si mesmo.
Na falta de perdão, da intolerância, ―Na acusação, no julgamento dos
erros alheios, deparamos com propósitos escusos e vingança-prazer em
327
constatar a fraqueza dos outros indivíduos, que sempre merecem a
misericórdia que todos esperamos encontrar quando em circunstâncias
equivalentes‖.
Foi Jesus que mais nos mostrou os efeitos em nós mesmos ao olharmos
somente a conduta alheia (―trave dificultando-lhe a visão, e, no entanto, vê o
cisco no olho do seu próximo‖) e julgamentos exarados sempre a partir de
pontos de vista fundos em intolerâncias na vivência dos papeis de autoridade
dentro da família ou nas funções laborais. O que não quer dizer que não haja
―cortes e autoridades credenciadas para o ministério de saneamento
moral da sociedade, encarregadas dos processos que envolvem os
delituosos, e os julgam, estabelecendo os instrumentos reeducativos,
jamais punitivos, pois que, se o fizessem, incidiriam em erros
idênticos, se não mais graves‖ (ÂNGELIS, 1990).
As consequências desta reflexão é que:
―O julgamento pessoal, que ignora as causas geradoras dos
problemas, demonstra o primitivismo moral do homem ainda ‗lobo‘ do
seu irmão.
―O Mestre estabeleceu a formosa imagem do homem que [...] não
solucionou todos os problemas, nem atendeu a todos, como eles o
desejavam. Não obstante, compadecido, os amou, envolvendo-os em
ternura e ensinando-lhes as técnicas de libertação para adquirirem a
paz‖ (ÂNGELIS, 1990).
Joanna diz para atenuar o intolerante: ―Tem compaixão de quem cai. A
consciência dele será o seu juiz. Ajuda aquele que lhe constitui punição. Tolera
o infrator. Ele é o teu futuro, caso não disponhas de forças para prosseguir
bem‖.
Essa conduta não deixa apáticos com relação ao abuso à liberdade de
cada pessoa propondo a passividade e a omissão, mas,
―A tolerância que utilizares para com os infelizes se transformará na
medida emocional de compaixão que receberás, quando chegar a tua
vez, já que ninguém é inexpugnável, nem perfeito‖ (ÂNGELIS, 1990).
O que aprendi
O processo de observar a intolerância em mim, propôs uma nova forma
de auto olhar e a forma com que reflito sobre minhas ações. De repente, as
construções racionais e a relação com o outro se tornam insumos para avaliar
o grau de intolerância que é produzido em meu Ser. Descobri que a
intolerância em mim não é mal a exterminar e sim a aprender, pois a cada
intolerância, revela-se algo de mim que, talvez, não conheça bem e que precisa
ser tratado com amor e daí transformado em bem.
A construção desta reencarnação com a convivência com o outro, numa
postura classificada por mim como intolerante, se transforma em importante
recurso, pois se trata dos reflexos condicionados que trago em mim e por só, já
é um roteiro nobre para a constante agenda íntima.
Não descobri um roteiro sistematizado para mim e nem ao que chamo
de intolerante. Descobri uma jornada pessoal na qual, temas transversais
como: o perdão e o auto amor, matérias abordadas no IV Simpósio FAK, sob o
328
título O PERDÃO E SUA APLICABILIDADE NA CONSTRUÇÃO DO SER
ESPIRITUAL, são etapas no caminho em que me proponho a trilhar.
Lembrando daquela ocasião (IV Simpósio), registrei como conclusão
algo que proporciona uma percepção com o tema tratado: ―A filosofia central
[do perdão] é contribuir para um olhar mais atento e cuidadoso sobre si
mesmo‖ o que denota a conexão entre os dois temas: Perdão e Intolerância,
por ambos oferecem um convite para o autodescobrimento, por meio do amor a
si mesmo. É preciso gostar de si para não negar a intolerância e a falta de
perdão a si mesmo. Não obstante a lição de Jesus, que exalava amor ao ponto
que tocar nas suas vestes promovia cura (vide passagem da mulher
hemorroissa), o convite de Sto. Agostinho para conhecer a si e para se amar é
a direção daqueles que buscam a felicidade. Esse amor a si se doa em
caridade a sua volta nas coisas e às pessoas do planeta, independente do rito
religioso, proposta para transformar a sociedade e suas relações com a casa
em que habitamos (Gaia293).
Sabemos que os níveis de intolerância são em diferentes dimensões e a
sua mensuração é objeto da análise pessoal, mas é seguro afirmar que está
associada à maturidade individual do Espírito eterno e não somente do meio
que o envolve, por isto destaco que essa trajetória transcende uma
reencarnação, uma vez que do inconsciente coletivo e profundo (na
classificação C. G. Jung) traz, a cada etapa vencida na vida consciente, novos
conteúdos que desembocam em pensamentos e atos intolerantes, na mesma
dinâmica em que exerço o perdão. Se a intolerância campeia em nosso reino
mental, menos flexibilidade/razoabilidade temos para perdoar e daí cultivamos
mais intolerância.
Se fosse recomendar algo a um amigo sobre o tema da intolerância,
diria para começar seus estudos íntimos no lar. Talvez não consiga iniciar na
relação com seu pai ou mãe, mas com a esposo/a, irmão, namorado/a, amigo
muito próximo, seja um caminho para que possas ter mais coragem no
mergulho nas águas agitadas do Eu.
Muitas vezes percebo que a intolerância traz no fundo uma vontade de
auto afirmação, fruto do exercício da imposição de ideias. O seu oposto está
ligado à compaixão e sabedoria que são frutos do processo de auto aceitação
e conhecimento de si mesmo capaz de direcionar a compreensão e ajudar
caridoso ao próximo.
Minha jornada pessoal quanto à intolerância não se encerra neste
momento que debrucei-me a escrever, mas continua, descobrindo novas
estruturas psico-mental da jornada espiritual, de acordo com a maturidade em
que nos percebemos melhor.
Outro aspecto, que considero relevante neste aprendizado, está ligado à
percepção espiritual. Cada vez mais se alarga o sentir quando os meandros do
Eu intolerante começam a sobressair em suas ligações com o mundo extra-
físico, tanto nas boas sensações e nas opostas, tudo porque somos Espíritos
em pleno conhecimento das forças da alma, a cada dia aprendemos mais de
nós próprios e nossas relações.
293
Gaia, Geia ou Gé (em grego: Γαία, transl.: Gaía), na mitologia grega, é a Mãe-Terra, como elemento primordial e
latente de uma potencialidade geradora incrível. Segundo Hesíodo, no princípio surge o Caos (o vazio) e dele nascem
Gaia... Wikipedia, 2017. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gaia_(mitologia).
329
Conclusão
Como principal resposta apresentada neste trabalho, pode-se concluir
que, pelo viés do autodescobrimento, o olhar a si, muito se revela da
intolerância na qual somos fruto nas mais diversas situações e matizes dos
relacionamentos.
Esse auto estudo sobre si mesmo, aliado a proposta da conduta cristã
de amor ao próximo e perdão das ofensas (uma das causas da intolerância)
apresenta-se como outra conclusão no campo prático.
Uma visão proporcionada pelo texto é que cada Ser se encontra em
processo dinâmico de consciência individualizada e, portanto, em diferentes
estágios. Tratar o assunto intolerância leva a leitura de várias percepções.
Logo, a aqui ofertada, não representa a totalidade e nem o pleno entendimento
das questões da intolerância.
Olhar o tema da intolerância pela conduta tolerante não se esgota
somente nas reflexões aprazadas neste artigo. Por se tratar de tema vivo, entre
todas sociedades e culturas planetárias, ainda muitos apanhados e vivências
surgirão para dar melhor completude ao que já escrito e que nos parece
ensejar.
REFERÊNCIAS
ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo. Jesus e atualidade. São
Paulo: Pensamento. 1990.
COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes.
Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1999.
DUFAUX, Ermance. Escutando Sentimentos; psicografado por Wanderley
Soares de Oliveira. Belo Horizonte: Dufaux, 2011.
GHAFFAR, Abdul. Imunologia – Capítulo Dezesseis: Tolerância e
Autoimunidade. Tradução: PhD. Myres Hopkins.
http://www.microbiologybook.org /Portuguese/immuno-port-chapter16.htm.
Acesso em 13 Set 2017.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina
Escudeiro Sêco. 5ª. edição. Rio de Janeiro: CELD, 2010.
_____. O Livro dos Espíritos. Tradução de Albertina Escudeiro. Sêco. 2ª.
edição. Rio de Janeiro: CELD, 2011.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:
www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf. Acesso em 29 Set. 2017.
ROUANET, Sergio Paulo. Idéias da Cultura Global À Universal. São Paulo,
Ed. São Marcos, 2003.
WIKIPEDIA. Galerius and Constantine: Edicts of Toleration 311/313 -
Fordham University (em inglês). Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89dito_ de_Mil%C3%A3o. Acesso em 01 Out
2017.
330
VIAJORES DO GRANDE RIO
Bartolomeu Pereira da Silva Junior294
INTRODUÇÃO
Deus é amor, ama de forma incondicional todos (sem exceção ou
condição) os seus filhos. Seu amor se demonstra através de suas leis. Através
dos efeitos recompõem-se as causas. Os que têm olhos de ver e ouvidos de
ouvir despertam para a vida, a vida na sua plenitude. Os ignorantes sofrem e
passam fome diante de um Pai que lhes convida constantemente para o
banquete real do qual deverão tornar-se dignos de frequentar.
Realmente, a ignorância é o mal soberano donde procedem todos os
outros. Se o homem visse distintamente a consequência do seu modo
de proceder, sua conduta seria outra. Conhecendo a lei moral e sua
aplicação inevitável, não mais tentaria transgredi-la, do mesmo modo
que nada faz por opor-se à gravitação natural dos corpos ou a outra
qualquer lei da física (DENIS, 2015, p 226).
As leis divinas que governam o mundo físico e o moral denotam uma
inteligência profunda das coisas por elas regidas.
Não procedem de uma causa cega: o caos e o acaso não saberiam
produzir a ordem e a harmonia. Também não emanam dos homens,
pois que, passageiros, limitados no tempo e no espaço, não poderiam
criar leis permanentes e universais (DENIS, 2015 p 93).
A existência das leis divinas está descrita em dois livros sempre
disponíveis aos nossos sentidos: o livro do universo onde, em caracteres
grandiosos, aparecem as obras divinas, cabendo à ciência do homem
encarnado revelar (tirar o véu); o livro da consciência, no qual estão gravadas
as leis morais, cabendo à religião revelar.
Este artigo começa com um apólogo que traz cenas tipicamente
amazônicas e a partir deste, cada ideia vai se revelando e sendo associada ao
nosso percurso enquanto espírito imortal a caminho da luz.
O livro Depois da Morte, de Léon Denis, editado pela FEB, apresenta um
panorama sobre o Espiritismo; e sua leitura inspira reflexões, reflexões essas
que nos remetem a associar a obra divina do campo material com a do campo
moral. Como estamos no Amazonas, por que não navegar pelos seus
abençoados rios e entender as leis divinas?
DESENVOLVIMENTO
O grande rio segue, em harmonia com a floresta, em direção ao Mar. É
alimentado pelos seus afluentes e pela chuva. Ao longo de seu percurso
existem canoas, barcos e navios, que navegam a favor e contra a sua
correnteza. Dentro das navegações existem passageiros, tripulantes e capitães
que seguem a carta náutica. Ao longo da viagem os participantes podem
mudar de navegação ou de função.
O grande rio segue, em harmonia com a floresta, em direção ao Mar.
294
Trabalhador da Fundação Allan Kardec vinculado à DED.
331
O grande rio é a vida (encarnados e desencarnados) amparada pelas leis
divinas, que regem os dois mundos, o moral (os homens) e o físico (floresta) e
os mantem em perfeita harmonia, seguindo em direção ao Mar que é a vida
maior (vida em plenitude).
―É alimentado pelos seus afluentes e pela chuva.‖
A obra divina é ampla e irrestrita, atua em benefício de todos os seus
filhos independente da religião, etnia ou cor. As diversas formas de se viver a
vida, confluem para a unidade (afluentes), suportadas pela lei de justiça, amor
e caridade (chuva).
―Ao longo de seu percurso existem canoas, barcos e navios, que navegam a
favor e contra a sua correnteza.‖
As embarcações são utilizadas conforme as necessidades de seus
integrantes por isso existem: canoas, barcos e navios. Conforme a vontade da
maioria (consciente ou inconsciente), a navegação segue a favor ou contra a
correnteza. A favor, quando seus componentes entendem as leis divinas e
reconhecem que nela está a sua felicidade. Contra, quando os ignorantes
ocupam o barco e gastam suas forças, tentando navegar contra a correnteza
que é a Lei do progresso. Lei que impele aos filhos de Deus a felicidade tão
almejada, mas que sua condição perispirítica, consequência das suas
escolhas, não permite enxergar.
Os Espíritos atrasados têm envoltórios impregnados de fluidos
materiais. ... Seu organismo fluídico, obscurecido pelas paixões, só
pode vibrar fracamente, e, portanto, suas percepções são mais
restritas. Nada sabem da vida do espaço. Em si e ao seu redor tudo
são trevas (DENIS, 2015, p 162).
O períspirito ou corpo astral é de ordem material e modelável pelas ações
da criatura, quanto mais elevado intelectomoralmente se encontra a criatura,
mais sutil é o seu períspirito e este consegue alçar para regiões distantes da
densa crosta terrestre. Ao contrário, quanto mais atrasada intelectomoralmente
se encontra a criatura, mais pesado é o seu períspirito, ficando esse preso à
crosta terrestre. A densidade e a vibração do períspirito determinam o seu
destino.
Uma lei tão simples em seus princípios quanto admirável em seus
efeitos preside à classificação das almas no espaço .
Devido ao seu peso fluídico e às suas afinidades, ele (o espírito) se
eleva para os grupos espirituais que lhe são similares. Sua natureza e
seu grau de depuração determinam-lhe nível e classe no meio que
lhe é próprio. Com alguma exatidão tem-se comparado a situação dos
Espíritos a dos balões cheios de gases de densidades diferentes que,
em virtude dos seus pesos específicos, se elevam a alturas diversas.
Mas cumpre que nos apressemos em acrescentar que o Espírito é
dotado de liberdade e, portanto, não estando imobilizado em nenhum
ponto, pode, dentro de certos limites, deslocar-se e percorrer os
páramos etéreos (DENIS, 2015, p 189).
―Dentro das navegações existem passageiros, tripulantes e capitães que
seguem a carta náutica.‖
332
As navegações são os grupos de pessoas ou lugares que frequentamos.
Dentro desses grupos, podemos ser: passageiros - escolhe o barco, conforme
a sua experiência, sintonia e consciência e confia plenamente na tripulação,
sendo passivo na navegação. É a criatura que não despertou para a vida
plena, vive a vida como se fosse teleguiado, mas mesmo assim sofre as
consequências das suas escolhas; tripulante - é ativo na embarcação e auxilia
na navegação. É o coração que despertou, sabe como agir em momentos de
tempestade e escuridão; finalmente, o capitão - tem o conhecimento de aonde
quer chegar e segue a orientação de um ser superior. É o cargo mais
importante da embarcação e como todos os outros, dentro de uma
proporcionalidade, sofrerá as consequências das suas decisões e de onde
finalmente chegará à embarcação.
Os espíritos infelizes, que também podem agir como capitães, angariam
para o seu barco aquele que lhe dá guarida e, como eles, buscam a felicidade
nas paixões, desejos, apetites e o que mais ainda os prendem à materialidade.
Esses têm seu perispírito denso e não conseguem ver além de seus limites.
―Muitos, buscando um derivativo a seus males, lançam-se aos encarnados de
tendências semelhantes e os impelem ao crime‖ (DENIS, 2015, p 216).
Os espíritos felizes (benfeitores espirituais ou anjos da guarda),
igualmente capitães, têm como missão trazer para a sua embarcação seus
tutelados, convidá-los para serem passageiros, trabalhar para que se tornem
tripulantes e no futuro capitães.
Os anjos ficam felizes quando da ascensão dos seus protegidos e sofrem
quando de suas quedas.
A carta náutica é elaborada pela Providência Divina.
A Providência é o Espírito superior, é o anjo velando sobre o
infortúnio, é o consolador invisível, cujas inspirações reaquecem o
coração gelado pelo desespero, cujos fluidos vivificantes sustentam o
viajor prostrado pela fadiga; é o farol aceso no meio da noite, para a
salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida (DENIS,
2015, p 230).
―Ao longo da viagem os participantes podem mudar de navegação ou de
função‖.
É o uso do livre-arbítrio. Não há fatalidade e nem casualidade, as
existências são solidárias. Para o homem sofrer as consequências das suas
ações, essas têm que provir do uso do seu arbítrio. Da mesma forma, esse terá
o mérito das suas conquistas, não podendo haver privilégio na obra de um
Deus justo. A cada um segundo a sua obra eis a Lei.
Deus é amor, e fomos criados para sermos felizes.
A alma é criada para a felicidade, mas, para poder apreciar essa
felicidade, para conhecer-lhe o justo valor, deve conquistá-la por si
própria e, para isso, precisa desenvolver as potências encerradas em
seu íntimo. Sua liberdade de ação e a sua responsabilidade
aumentam com a própria elevação, porque, quanto mais se
333
esclarece, mais pode e deve conformar o exercício de suas forças
pessoais com as leis que regem o Universo (DENIS, 2015, p. 230) .
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deus é amor e demonstra o amor pelos seus filhos através de suas leis,
devido ao nosso estado evolutivo, não conseguimos enxergar os benefícios
desse amor e recriminamos a ordem do mundo e suas leis, isto porque
desconhecemos o modo por que se cumprem a vontade divina.
Espírito imortal, encarnado ou livre! Se queres transpor com rapidez a
escala árdua e magnífica dos mundos, alcançar as regiões etéreas,
atira para longe tudo o que torna arrastados os teus passos e pode
obstar-te o voo. Deixa à Terra o que à Terra pertence, e só aspira aos
tesouros eternos; trabalha. Ora a Deus, consola, auxilia, ama, oh!
Ama até ao sacrifício, cumpre o teu dever a qualquer preço, mesmo
que percas a vida. Só assim semearás o germe da tua felicidade
futura. (DENIS, 2015, p 212).
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO?
No IV Simpósio FAK foi trabalhado o tema ―Correlação entre o código
penal da vida futura e os exemplos do livro O Céu e o Inferno‖. E agora um
tema que proporciona o entendimento das leis divinas, ou seja, dentro de mim
vibra a necessidade de entender as leis divinas.
Por ter formação na área de exatas, onde os materiais seguem leis que
constato no meu dia a dia, sempre me pergunto: as leis morais também
seguem um mecanismo? Se sim! Como a lei de Justiça, amor e caridade
interagem com os espíritos ordenados por Deus?
Como o tema foi elaborado associando o palpável: pessoas que viajam
num rio, com as leis morais que não são palpáveis, o tema trabalhado foi muito
esclarecedor.
Quanto aos espíritas que atuam na Amazônia, a cada dia que passa
desperto o quanto temos que observar, preservar e aprender com a harmonia
que existe entre a flora, a fauna, os espíritos encarnados e os desencarnados
que aqui evoluem.
O artigo mostra que os navegantes que nadam a favor da correnteza com
mais facilidade chegarão ao Mar, mas que alguns trocam de barco ou mesmo
de função e sofrem as consequências dessas trocas. Nós espíritas que
estamos no Amazonas devemos ficar atentos ao barco em que estamos, e o
que devemos fazer para merecer ficar dentro de determinados barcos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DÉNIS, Leon. Depois da morte. 28ª ed. 3ª impressão Brasília: FEB, 2015.
334
O QUE APRENDI ESCREVENDO O ARTIGO “IMPORT NCIA DA
AUTONOMIA PARA A LIBERTAÇÃO DO SER”
Iolete Ribeiro da Silva295
INTRODUÇÃO
Neste artigo, apresento uma reflexão sobre aprendizados construídos
durante o processo de estudo e preparação do trabalho apresentado no IV
Simpósio FAK realizado em 2015.
O objeto central desse estudo foi a autonomia. Diante da polissemia
desse termo, delimitei o conceito, utilizado no estudo, a partir das duas
condições essenciais à autonomia comumente apontadas na literatura
acadêmica: a liberdade compreendida como independência de controle externo
e a capacidade de ação intencional. Assim trabalhei com a ideia de que ―uma
pessoa autônoma seria um indivíduo capaz de deliberar sobre seus objetivos
pessoais e de agir na direção desta deliberação‖ (SILVA, 2015, p 256).
Agora em 2017, no V Simpósio, apresento uma reflexão sobre o que eu
aprendi sobre o tema e sobre mim ao elaborar este estudo sobre autonomia.
Inicialmente apresentarei uma síntese do artigo analisado e em seguida
descreverei reflexões sobre o que aprendi sobre o tema, destacando três
questões centrais: minhas percepções sobre possíveis comprometimentos dos
espíritas que atuam na Amazônia, em relação à autonomia; como percebo na
atualidade as expressões de autonomia nas ações de educação e trabalho no
bem, realizados no ambiente espírita; reflexões sobre quais poderiam ser as
motivações, para o futuro, dos espíritas em relação à autonomia. Em relação
aos aprendizados pessoais compartilho reflexões iniciais sobre: os motivos da
escolha da autonomia como objeto de estudo; as possíveis relações entre
essas reflexões e os desafios que vivencio no presente; e por último o que o
estudo do tema me suscitou quanto a inquietudes espirituais que requerem
atenção.
DESENVOLVIMENTO
1. O artigo do IV Simpósio: Importância da autonomia para a libertação do
ser
O artigo foi elaborado a partir de uma meta-análise sobre autonomia,
embasada tanto na literatura espírita quanto no ensinamento expresso no
Evangelho de João: onhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará (JOÃO,
32:8). Relacionei a libertação citada no Evangelho ao exercício da autonomia 296
e a partir dos questionamentos sobre qual é essa verdade, como podemos
conhecê-la e em que consiste a libertação. A pergunta norteadora do estudo
295
Trabalhadora da Fundação Allan Kardec
296
A autonomia é compreendida aqui como a capacidade do espírito espírita usar a sua liberdade, o seu
livre-arbítrio, tomar decisões e agir em consequência dessas escolhas.
335
foi: Qual a importância da autonomia para a nossa evolução espiritual? Para
responder a essa pergunta fizemos uma revisão sistemática de algumas obras
da literatura espírita, de Kardec, Emmanuel e Joanna de Ângelis, buscando
compreender a importância da autonomia na busca da verdade que liberta.
Organizei o artigo em duas seções: a primeira abordou o conhecimento
que liberta; e a segunda tratou da compreensão do que é o processo de
libertação referido por Jesus. Ao abordar as duas temáticas, procurei
apresentar alguns princípios gerais deduzidos dos ensinos recolhidos nas
obras estudadas, relacionando-os ao princípio da autonomia, enquanto adjetivo
da educação.
Jesus nosso modelo e guia nos oferece seu evangelho como roteiro
para a nossa libertação. Temos que conhecer, meditar, sentir, agir conforme o
Mestre nos orienta. Detenho-me principalmente no esforço para compreender o
significado desse ―conhecer‖. Referimos Kardec quando nos afirma que ―a
convicção não se impõe‖, portanto, é preciso ensinar pela persuasão e pela
brandura (KARDEC, 2004, p 361).
Cabe à educação combater as más tendências ancorada em uma
compreensão aprofundada da natureza moral do homem. É necessário
conhecer essa natureza para transformá-la.
A educação enquanto processo que forma caracteres, cria ‗hábitos de ordem,
previdência e respeito consigo mesmo e com os demais, ― hábitos que
permitirão atravessar com menos dificuldade os dias ruins que não pode evitar‘
(KARDEC, 2004, p 306). Entretanto Vinicius (1976) alerta que a educação é
tarefa em que o interessado necessita agir e lutar, desempenhando sua parte;
senão não haverá para ele nem mestre nem salvador. Em síntese, a educação
é evolução individualizada, que se processa de forma consciente e intencional
onde o próprio indivíduo co-opera, convertendo-se em auto-educação (SILVA,
2015, p 259).
Assim destaco a importância da autonomia nesse processo de busca da
verdade que liberta. ―O que caracteriza a autonomia em nosso processo de
libertação é a internalização da Lei de Deus, é assumir nossa parte na criação‖
(SILVA, 2015, p 259).
Com base nas orientações de Joanna de Ângelis, compreendi que o
processo de libertação reside da edificação da consciência no Evangelho de
Jesus. Para isso, é necessário aceitar os desígnios de Deus com alegria, ter
consciência de si, conquistar valores nobres, educar e disciplinar a vontade
(FRANCO, 2014; MACHADO, 2012).
Concluí que a construção de valores cristãos exige o envolvimento do
Ser em experiência significativa. Portanto, é ―somente uma educação
emancipatória que promoverá consciências autônomas que desenvolverão
habilidades de autoregulação que permitem ao espírito dirigir sua própria
conduta‖ (SILVA, 2015, p 262).
2. Aprendizagens sobre a autonomia
Sendo a educação297, uma tarefa central para a Doutrina Espírita,
importa pensar nos possíveis comprometimentos relacionados à autonomia dos
297
Entendida aqui como autoeducação, que na perspectiva do espírito espírita também é sinônimo de
autoevangelização.
336
espíritas que atuam na Amazônia. No capítulo de abertura do livro Luzes sobre
a Amazônia, somos convidados a pensar sobre os nossos débitos com a
região. O ministro Samir nos diz que: ―ao invés da evangelização pelo exemplo
fraternal, violentamos as consciências pela catequização invasiva, sem
respeitar as diferenças e, de fato, mais objetivando as riquezas...‖ (CAMPÊLO,
2015, p 32). Pensamos que essa pista sobre nossa responsabilidade relativa
ao processo de construção da Amazônia nos remete à necessidade de
atuarmos na educação a partir de outra perspectiva, agora ―respeitando a lei
maior da concessão do livre-arbítrio, estimularemos o quanto pudermos a
difusão moral do Cristo em todos os segmentos da sociedade daquela região...
seja no campo social, político, científico ou religioso‖ (CAMPÊLO, 2015, p 32).
Na instituição espírita é relevante compreender o sentido dessa
libertação quando pensamos na autoeducação propiciada pelo engajamento no
estudo espírita e no trabalho no bem. Com esse estudo aprendi que o convite
que a Doutrina Espírita nos faz é para caminharmos com autonomia,
conscientes dos nossos passos e entregues aos designíos de Deus. Isto se faz
progressivamente tanto no âmbito individual quanto no coletivo. O Evangelho
de Jesus está repleto de lições de educação emancipatória que nos guiam na
construção do reino de Deus em nós. Assim pensar sobre o sentido do que
fazemos pode contribuir para tomarmos consciência do que nos move, de
quais são os nossos comprometimentos e colaborar para que nos vinculemos
com o projeto espiritual coletivo e individual.
Se o trabalho da evangelização espírita é o de formação de uma
mentalidade cristã é necessário compreender que o potencial de luz
do nosso espírito deve fulgir em sua grandeza plena. E semelhante
feito somente poderá ser atingido pela educação que nos propicie o
justo burilamento. Mas a educação, com o cultivo da inteligência e
com o aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de
conhecimento e bondade, saber e virtude, não será conseguida tão
só à força de instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim
com a consciente adesão da vontade que, em se consagrando ao
bem por si própria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode
libertar e polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma,
capaz de refletir a Vida Gloriosa e transformar, consequentemente, o
cérebro em preciosa usina de energia superior, projetando reflexos de
beleza e sublimação (XAVIER, 2009, p 27-28).
Como nos alerta Emmanuel, é preciso a adesão da vontade para o
despertar da divindade da alma, num processo autônomo, livre, que se dá
principalmente ao contato do amor do educador, corroborando a afirmação de
Sarmento (2013, p 427) que nos apresenta Jesus como ―o Divino Pedagogo
institui uma nova forma de relacionamento dos homens para com Deus que (...)
concita os homens a tomarem parte na grandiosa Obra de Deus, assegurando-
lhes... ‗sois deuses‘ e filhos do Altíssimo‖.
Nossa atuação como educadores é mais potente, em grande parte, pelo
exemplo do vínculo com o conhecer do que pelo ―conhecimento em si‖.
Portanto, este processo não é apenas instrucional é relacional e pode ser
fortalecido pelos laços do afeto, da solidariedade e da fraternidade entre todos
os envolvidos.
Na atualidade as duas principais ações desenvolvidas por nós,
trabalhadores espíritas, na busca por nosso aprimoramento, são o estudo e o
trabalho no bem. Para avançar na nossa vinculação com a obra do bem, é
337
importante nos questionarmos: o que tem nos motivado a fazer o que fazemos
da forma como fazemos? Não tenho respostas, mas inquietações que, espero
contribuam para uma tomada de consciência gradativa. Daí a importância da
avaliação constante, da abertura para a construção coletiva, da adoção de
metodologias emancipatórias e da compreensão de que estamos igualmente
em aprendizado constante.
―O educador é aquele que deflagra um processo de educação, tocando a
alma do outro, para que ele tome em suas próprias mãos a obra de seu
aperfeiçoamento‖ (FEB, 2013, p. 12). Assim para trazer nossa luz à tona,
através da evangelização espírita com a qual buscamos acessar
conhecimentos que libertam, temos que investir na construção de espaços
educativos que, conforme nos orienta Vinicius (1976), possam despertar os
poderes latentes do espírito, gerando confiança própria, bom senso,
estimulando a vontade, possibilitando a compreensão das interdependências e
da submissão aos desígnios do Cristo.
3. Aprendizagens sobre mim
A questão da autonomia sempre apareceu como dilema em questões
relacionadas ao meu papel de aprendiz e de educadora, seja como mãe, filha,
professora ou trabalhadora espírita. Surgem inquietações relacionadas à forma
de educar a mim mesma, bem como em relação aos limites da minha
intervenção em relação ao Outro com quem convivo nos diversos papéis que
exerço. Qual são as minhas responsabilidades? O quanto interfiro no caminhar
do Outro? Como encontrar um ponto de equilibro?
Buscando referências na Doutrina Espírita, sempre fico maravilhada com
uma pedagogia libertária fundada na lei de amor, que estou longe de
compreender, mas que almejo alcançar no futuro. O amor incondicional, a
benevolência dos benfeitores para conosco, que ainda somos incrédulos,
teimosos, orgulhosos e persistimos em muitos erros, são inspirações para
pensar em como conduzir o esforço de autoeducação. Como nos alerta
Sarmento (2013, p 426):
A iniciativa de amar parte de Deus. É Ele quem primeiro ama e
convida ao Seu amor, mediante a compreensão e aceitação
espontânea das leis naturais que conduzem à perfeição. Jesus,
Modelo e Guia da Humanidade Terrena, Espírito da mais alta
envergadura que a Terra já pode ver (KARDEC, 2011: Questão 625),
também nos amou primeiro e, ciente de que somente vivenciando o
amor poderiam os homens evoluir, dedicou-se a ensinar e a
exemplificar essa lei magnânima em tudo que fez e falou durante todo
o tempo em que permaneceu na Terra (SARMENTO, 2013, p 426).
Tomar o evangelho como caminho ascensional e buscar sincronia com a
Lei de Amor é recurso possibilitado pelo estudo e exercício no bem. Nesse
esforço humilde e limitado, o desafio da convivência com irmãos com diferentes
níveis de consciência tem me oferecido a oportunidade de pensar que além de
cumprir as minhas responsabilidades pessoais, familiares, profissionais é
necessário colaborar com o coletivo. Fazer o melhor que puder, mas também
ser solidária e fraterna, sendo sensível às necessidades do Outro, respeitando
as possibilidades de cada um, encorajando e nos disponibilizando a estar
338
juntos com alegria. É sempre me enxergar como espírito eterno e me vincular
ao esforço de ser melhor a cada dia. Nesse sentido, conhecer é compreender
cada vez mais as minhas responsabilidades, descobrir minhas fragilidades,
investir nas mudanças necessárias. A Lei de Amor nos conecta a todos os
seres ―porque é da lei que os seres, atraídos uns aos outros, se ajudem,
mutuamente, no exercício do amor, do qual não podem fugir‖ (SARMENTO,
2013, p 428).
O estudo do tema me suscitou reflexões sobre as inquietudes espirituais
referidas acima, especialmente sobre a necessidade constante de refletir sobre
qual é a minha colaboração no serviço divino da evolução e entender que a
obra é do Cristo. Nesse sentindo, desafio-me a ampliar a compreensão do que
significa servir, indagando a mim mesma qual é o fundamento das atividades
que realizo na terra. Para quem trabalho.? A quem ofereço o fruto do trabalho
de cada dia? Imagino que essas reflexões me ajudarão a tomar consciência
das minhas necessidades de aprimoramento e fornecerão maior possibilidade
de gradativamente ter mais autonomia na construção da minha trajetória.
Tendo sempre a certeza de que todo trabalho é oportunidade santa (XAVIER,
2008).
Espero, à medida que ampliar e despertar minha consciência, possa
aderir às leis divinas. Imagino que este é um dos compromissos que merecem
minha atenção.
o deixar para trás o pensamento arcaico ou primitivo, consoante o
qual o ser vive guiado pelos instintos, limitado à satisfação dos seus
desejos primários; passando pelo pensamento mágico/mitológico,
consubstanciado, v.g., pela adoção de religiões salvacionistas, nas
quais o ser é salvo de maneira mágica, por uma ―graça‖ divina;
alcançando o pensamento racional, que possibilita aos indivíduos
uma maior compreensão das infinitas possibilidades que os
aguardam no porvir, para, finalmente, atingir-se um patamar evolutivo
no qual o ser se descobre como Filho de Deus e consegue, então, se
ver como o único responsável pelo despertar da sua consciência
(homo noeticus), rumo ao ápice da sua jornada que se verificará com
a perfeita comunhão (consciente) com Deus (SARMENTO, 2013, p.
427-428).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões que compartilho neste artigo são limitadas pelo pouco
conhecimento que possuo, mas são fruto de um esforço sincero de
compreensão, da vontade de saber um pouco mais a cada dia e da grande
motivação em estudar a Doutrina Espírita. Extrair o espírito da letra e resgatar
a mensagem de Jesus como nos ensina Paulo em sua carta aos Romanos
(1:7) é uma das aprendizagens que a Doutrina Espírita tem me proporcionado.
Essa aprendizagem tem sido importante para compreender a pedagogia de
Jesus que tenho traduzido, até este momento, na compreensão de que é
preciso superar condicionamentos, desvelar o sentido do que fazemos, da
importância, da disciplina e da dedicação ao trabalho e do entendimento de
que a tarefa da educação é também tarefa coletiva.
Ser espírita na Amazônia implica em ser sensível às necessidades da
coletividade dessa região, e somar esforços para a produção de novas
relações sociais a partir da minha pequenez e do lugar em que me encontro. É
339
entender que enquanto trabalhadora-assistida em busca de aprimoramento, as
oportunidades de trabalho e estudo que tenho hoje, me vinculam a um projeto
individual, que considero terapêutico, mas também a um projeto coletivo, afinal
não é por acaso que estamos onde estamos.
Tomar consciência dessas responsabilidades me ajudará no futuro a agir
com mais consciência e com intencionalidade na busca por aprender a me
conhecer, a viver, a ser e a amar. Desenvolver exige envolvimento constante
no trabalho do bem aliado ao estudo disciplinado, rumo à emancipação e
despertamento da consciência. Com as bênçãos de Jesus, que possamos
seguir adiante!
REFERÊNCIAS
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CAMPELO, M. Luzes Sobre a Amazônia. Pelo Espírito Joel Manaus: Casa
Bendita, 2015
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Estudo aprofundado da doutrina espírita. Programa Filosofia e Ciência
Espíritas. Disponível em http://www.febnet.org.br/wp-
content/uploads/2013/05/Roteiro-5-Educacao-Espirita.pdf Acesso em 01
Agosto 2017.
FRANCO, D. O despertar do espírito. Pelo espírito Joanna de Ângelis.
Salvador: LEAL, 2014.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
MACHADO, José Alberto da Costa. Desafios do ser: as grandes perguntas de
Jesus. Palestra na IV Semana Espírita de Manaus em 24/07/2012.
SARMENTO, Rosália Guimarães. Lei de Amor: A Lei Fundamental do Universo
na Constituição dos Mundos e dos Seres. Anais do III Simpósio da Fundação
Allan Kardec. Out/2013. Disponível em www.faknet.org.br. Acessado em
24/09/2017
SILVA, Iolete Ribeiro da. Importância da autonomia para a libertação do ser. In:
Anais do IV Simpósio da Fundação Allan Kardec. Out/2015. Disponível em
www.faknet.org.br. Acessado em 24/09/2017.
VINICIUS, P. de C. O mestre na educação. Rio de Janeiro: FEB, 1976.
XAVIER, F.C. Pão Nosso. Mens. 57. Perante Jesus (p. 68). Pelo espírito
Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
XAVIER, F.C. Pensamento e vida. Pelo espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2009. Cap. 5, p. 27-28
340
341
Reforma íntima e regeneração social
A ATUAÇÃO DO ESPÍRITA NA SOCIEDADE: UMA REFLEXÃO À LUZ DA
DOUTRINA ESPÍRITA E DA REALIDADE
Anna Beatriz de Araújo Nobre298
INTRODUÇÃO
A Doutrina Espírita por seu caráter revelador deixa aos espíritas
caminhos que o guiarão em suas obras na Terra.
A reflexão então, se dá em como o espírita utiliza esse conhecimento em
sua atuação na sociedade, e se de fato, está demonstrando interesse nos
problemas sociais fora da Casa Espírita
Em tempos de turbulência moral, onde há embates ideológicos,
religiosos e pelo poder, o espírita tem papel fundamental como instrumento
divino, e não deve se deixar levar pelas paixões e tendenciosidades trazidas de
outrora.
1. O primeiro legado: orientações de Cristo
Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com o que o
salgaremos? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e
pisado pelos homens‖ (Mateus, 5:13). Vós sois a luz do mundo. Não
se pode esconder uma cidade situada sobre o monte. Nem se acende
uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas na luminária, e
assim ela brilha para todos os que estão na casa. Brilhe do mesmo
modo vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas
obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus‖ (Mateus 5:13
a16).
Cristo antes de partir deixou inúmeras mensagens que só hoje vem
sendo melhor compreendidas. Uma delas foi a citação: Vós sois o sal da terra,
vós sois a luz do mundo, que é imensamente propagada em estudos bíblicos.
Não por acaso, as profundas palavras do filho de Nazaré orientam aqueles que
se dizem seus seguidores para que se deixem brilhar com suas ações e
pensamentos para tornarem-se exemplo de Fé e luta, pois segui-Lo não é fácil,
mas é necessário.
Segui-Lo requer não só conhecimento de sua palavra, mas também
coragem de enfrentar as próprias tendências inferiores para poder amar ao
próximo e a si mesmo. E se aquele que se diz cristão não enxerga o próximo
naquele menos próximo, ele aí comete grande falha. Foi assim quando Jesus
responde Quem é meu próximo na parábola do bom samaritano (Lucas 10:30),
ele nos mostra a salvação. O próximo não pode ser distinguido por raça, credo,
cor. Por condição social, por religião ou por onde está localizado
geograficamente. O próximo é todo aquele que precisar de misericórdia, no
momento que for.
298
Espírita, atualmente frequentadora do Porto de Luz Assistencial Espírita.
342
Então, foi Cristo o precursor de todas as lutas sociais:
Ele assentou o princípio da caridade, da igualdade e da fraternidade,
fazendo dele uma condição expressa para a salvação; mas, estava
reservado à terceira manifestação da vontade de Deus, ao
Espiritismo, pelo conhecimento que faculta da vida espiritual, pelos
novos horizontes que desvenda e pelas leis que revela, sancionar
esse princípio, provando que ele não encerra uma simples doutrina
moral, mas uma lei da Natureza que o homem tem o máximo
interesse em praticar (KARDEC, 2016, p 284).
Para muitos, Jesus é revolucionário. Ora, reencarnar num mundo
bárbaro, com pouca noção de convivência social, justiça e amor. Ele trouxe
conceitos que em sua época incomodaram os detentores de poder. Foi ousado
ao desafiá-los, e os surpreendeu, pois o marceneiro de origem humilde virou
referência para multidões em um tempo relativamente curto.
Ele sabia dos percalços que seus seguidores encontrariam, e já havia
adiantado para Pedro, o primeiro a desbravar o caminho com a mensagem de
Cristo: Roguei para que tua fé não desfaleça, e tu, por sua vez, confirma os
seus irmãos (Lc 22, 32). Nas entrelinhas, Ele demonstra compreender que
haveria momentos de provação da fé. Mas incentiva a não desistir.
Cristo deixou em suas obras mensagens atemporais que servem como
norte aos cristãos. E a Doutrina, por seu caráter único, teve o dever de dar
continuidade a essa revolução que Jesus iniciou com suas leis de amor.
2. Para agir como cristão, é necessário vencer a barreira do orgulho e
do egoísmo
O orgulho e egoísmo são as duas principais chagas da sociedade e são
por conta deles que tudo que há de mal no mundo vem à tona: Guerras,
disputas afetivas, ganância, obsessões, etc. Se pelo menos todos aqueles que
se dizem cristãos não fossem orgulhosos e/ou egoístas, certamente a Terra já
estaria em outro patamar no mapa da evolução espiritual.
E no ensejo do orgulho e do egoísmo, nasce a indiferença, que é um
sentimento já notado na atualidade por estudos sociais e agora, pelos espíritas.
Esse sentimento é notadamente conhecido pela apatia em relação ao que
acontece em volta, como se nada mais importasse. Joanna de Ângelis utiliza
os seguintes dizeres para defini-la:
A indiferença, em qualquer situação em que se expresse, é a morte
da ação que induz a criatura ao progresso. (...) A pessoa indiferente,
no entanto, não ouve e nem quer ver, de alguma forma acomodando-
se à situação mental e física em que mergulha‖ (FRANCO, 2017, p
53. Oferenda).
A indiferença então deve ser combatida com o exercício de amor ao
próximo, e isso a Doutrina Espírita, como o Consolador Prometido, por meio
das obras codificadas por Allan Kardec, orienta que ―fora da caridade não há
salvação‖. Por caridade, subentende-se todas nossas atitudes e pensamentos
voltadas ao bem. Assim, existem duas formas de fazer caridade – a caridade
moral que não necessita de nenhum subsídio material para acontecer,
bastando o exercício do amor ao próximo com a indulgência, a paciência, a
343
temperança, etc. E há também a mais conhecida e perpetuada pelas obras
cristãs, a caridade material, que nada mais é que oferecer aquilo que é urgente
e indispensável para a sobrevivência física: alimento, vestimentas, moradia,
etc. (KARDEC, 2013a, capítulo XIII, item 09).
Uma não é mais importante que a outra. Ambas são necessárias para o
progresso da sociedade, visto que, quem tem fome precisa comer e quem sofre
precisa de empatia e amparo.
A caridade então é a chave para a evolução do espírito, e
consequentemente do espírita. Mas enquanto mundo de provas e expiações, a
Terra possui impasses morais que dificultam que as trilhas da regeneração
sejam traçadas, o assunto é discorrido em Obras Póstumas:
A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os
deveres sociais; uma e outra, porém, pressupõem a abnegação. Ora,
a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; logo, com
esses vícios, não é possível a verdadeira fraternidade, nem, por
conseguinte, igualdade, nem liberdade, dado que o egoísta e o
orgulhoso querem tudo para si (KARDEC, 2016, p 278).
Já se sabe que pela caridade se põe em prática os ensinamentos de
Cristo, e ela deve estar fundamentalmente ligada ao sentimento de se querer
vencer o orgulho e egoísmo. Os convites para obrar são feitos, quem quiser
seguir o Mestre, terá essa opção.
3. Como cristão, o espírita também tem um papel na sociedade
Há quase 200 anos, Allan Kardec codificava a Doutrina Espírita. Nela, há
todas as compilações das orientações dos Espíritos a respeito do ontem,
do agora e do porvir.
Essa Doutrina, prometida por Jesus, esclarece, dentre outras coisas,
como ser espírita. Eis as palavras dos espíritos: ―Reconhece-se o verdadeiro
espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para
domar suas inclinações más‖ (KARDEC, 2013a. Capítulo XVII).
O que pode ser inferido dessa passagem do Evangelho é que de fato,
existe um papel a ser cumprido pelo seguidor do Espiritismo, que é o de se
empenhar de forma constante em seu melhoramento íntimo e permanecer na
luta contra as tendências ruins trazidas de outras reencarnações, por exemplo.
Quem nasce dentro da Doutrina, escuta desde os primeiros dias de
evangelização sobre o que vem a ser o ―verdadeiro espírita‖. Muitos acabam
por se colocar em posição inferior e achar que longe estão da salvação quando
leem Kardec discorrer sobre o espírita. Afinal, se convém que é uma
responsabilidade ímpar. Mas é necessário que se compreenda o que isso
realmente significa, antes de interpretar as orientações como um martírio.
Não há indícios, nas obras da codificação, de algo que se relacione com
a santificação, em uma encarnação. Por isso, não há motivos para desesperos,
pensando-se ser impossível melhorar. Não há imediatismos nas orientações do
Espiritismo, mas a sociedade, tal como é, e também por influência de outras
religiões fatalistas, que promovem o autoflagelo com a ideia de que precisam
da perfeição agora. Seria de extrema injustiça do Pai Celestial fazer isso com
seus filhos, sabendo das suas condições atuais nesse mundo.
344
Então, o que se pode apreender da frase, é que a cada passo que se dá
para a melhoria íntima, se está demonstrando o caráter de um verdadeiro
espírita, um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo. Não há fórmula para sê-lo. O
espírita tem em suas mãos ―instrumentos diversos que busca desempenhar
funções multiformes, segundo as injunções que vive‖ (VIEIRA, 1965, p 64). A
família, os amigos, os colegas de trabalho, a vizinhança, um irmão das ruas
que pede uma moeda, todos esses podem por a prova o caráter do verdadeiro
espírita, de acordo com suas reações e ações.
As oportunidades estão ao redor de todos. Não é possível que alguém
diga que não há como melhorar ou fazer o bem, pois num mundo de provas e
expiações como a Terra, em que as mazelas sociais e íntimas ainda coexistem
em supremacia, há muito o que ser feito. Não existe problema insolúvel, e sim
falta de vontade de solucioná-lo. ―Não te desculpes para fugir do trabalho a
fazer: quanto maior o nosso problema, sempre maior a necessidade de
solução‖ (VIEIRA, 1965, p 81).
Se o espírita recebeu o Consolar Prometido por Cristo, ele tem uma
responsabilidade ímpar na propagação da sua mensagem. Assim como Jesus
disse a Pedro que ele era a rocha na qual a sua igreja se edificaria (Mateus
13:16), o espírita é o meio pelo qual a palavra de Cristo deve ser propagada;
Não há espaço para acomodações.
De acordo com entrevistas realizadas com algumas lideranças da região
(NEVES, 2017; MORAES, 2017; AGUIAR, 2017), compreende-se que o
espírita está aos poucos buscando outras formas de atuar, além dos trabalhos
assistenciais. Isso pode ser reflexo de um entendimento mais profundo a
respeito da caridade, que hoje é debatido de outras formas.
A caridade moral é difícil de ser compreendida. Por que ela engloba a
subjetividade do amor, que para o mundo de provas e expiações ainda é
complexo. Talvez por esses motivos, se tenha uma certa apreensão de
posicionar-se perante outros problemas sociais. Isso é percebido por MORAES
(2017) que é atuante no Movimento Espírita regional e já foi também presidente
da Federação espírita Amazonense (FEA) e diz que apesar de haver uma
preocupação a respeito, ainda não há uma estrutura ou movimentação maior.
E quando há uma movimentação a respeito das temáticas, não se
percebe grande interesse por parte da maioria (MORAES, 2017) e isso deve
ser discutido. A dificuldade pode ser refletida e explicada de diversas maneiras,
mas este trabalho não tem como objetivo discorrer os motivos e sim a urgência
da reflexão. O que se deve relembrar é que o processo de regeneração já se
iniciou. Há milênios essas mudanças foram traduzidas como final dos tempos,
mas se sabe que o mundo sempre existirá, o que se transformará é a moral do
mesmo. Dessa forma, a conclusão é:
O que se prepara não é, pois, o fim do mundo material, mas o fim do
mundo moral. É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do
orgulho, do egoísmo e do fanatismo que se esboroa. Cada dia leva
consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a geração que se
vai e a geração nova erguerá o novo edifício, que as gerações
seguintes consolidarão e completarão. De mundo de expiação, a
Terra se mudará um dia em mundo ditoso e habitá-lo será uma
recompensa, em vez de ser uma punição. O reinado do bem
sucederá ao reinado do mal (KARDEC, 2016, p 399.)
345
Diante desse conhecimento, urge a reflexão a respeito da atuação
individual dos espíritas no mundo. Os trabalhos assistenciais são belos,
necessários e um dos passos para o progresso. Mas nos recordarmos que, a
sociedade requer muito mais que pratos de sopa. Pelo conhecimento que foi
dado ao espírita, é necessário dar outros passos e ―Libertar-se das injunções
sociais que funcionem em detrimento da fé que professa e desapegar-se do
‗desculpismo‘ sistemático com que possa acomodar-se a qualquer atitude
menos feliz. A negligência provoca desperdícios irreparáveis‖ (VIEIRA, 1960, p
44).
Fechar os olhos e isentar-se das atuais discussões da sociedade, dos
acontecimentos políticos, das injustiças e calamidades não pode ser atitude de
um cristão verdadeiramente preocupado com o progresso. E quando se fala
isso, não se está dizendo o que é certo e errado e sim, mostra-se uma
demanda, a qual os espíritas não estão acostumados.
A responsabilidade que tem o espírita em viver em sociedade (KARDEC,
2017) mostra que não basta apenas coabitar o planeta com os outros. Precisa-
se de mais. E todos possuem capacidade para isso. O discurso de que não se
está preparado, não é capaz, ou não sabe o suficiente é vírus que assola
muitos companheiros, são ―refrões cediços dos que anseiam dormir, preferindo
que tudo fique como está, a fim de verem amanhã como fica‖ (VIEIRA, 1965, p
109).
Outras vezes, essa inércia pode ser causada por preconceitos
enraizados e muitas vezes velados. Isso na realidade é o que prejudica não só
espíritas, mas como cristãos de toda vertente a aplicarem no dia a dia os
ensinamentos de Cristo.
Emmanuel traz essa reflexão, quando aconselha que o espírita se liberte
dos dogmas e pressões sociais que funcionem em nome da fé, pois como já foi
dito diversas vezes aqui e em várias obras espíritas, o Espiritismo não obriga
nada a ninguém e não impõe regras. Além disso, ele orienta que se
desapeguem de ―desculpismos sistemáticos‖ para certas atitudes infelizes, pois
ser negligente causa grandes dificuldades futuras (VIEIRA, 1960, p. 44). Diante
de tais orientações, tem-se uma oportunidade de reflexão válida, já que
questionam sobre a forma como a fé espírita está sendo utilizada pelos irmãos:
como escudo para respaldar antigas tendências ou como norte para
crescimento moral.
Em consequência das diversas reencarnações vivenciando religiões
dogmáticas, ou também pela questão cultural, pode ser que haja uma
dificuldade de questionar-se ou questionar o que se estuda. Porém essa
questão pode ser um fator de atraso para as discussões modernas e também
se torna preocupante. Alguns autores espíritas já discorrem sobre isso:
É preciso compreender a nossa pequenez diante da grande do
Espiritismo, para que se possa compreender que ainda há muita
coisa a dizer, muita a fazer, antes que o homem na Terra e tenha
transformado‖ (SOUZA, 1999, p 65).
Nas obras básicas, encontram-se alguns trechos que há muito ainda a
ser esclarecido e que ainda não pode ser revelado por conta da pouca
evolução moral dos terráqueos. Mas isso não significaria que os espíritas não
devam discutir os temas de acordo com a realidade em que se vive,
atualmente.
346
Vale ressaltar também que não se pode cobrar comentários de Kardec a
respeito de todos os temas tratados nas Obras. O papel dele, naquele tempo
foi de codificar e se sabe que existiram limitações naturais da época, do
contexto social em que vivia e sua própria percepção de mundo, por isso:
Não se poderia exigir de Kardec o desdobramento de todas as
questões, a análise de todos os problemas solicitados em O Livro dos
Espíritos. Ora, a vitalidade da Doutrina passa pelo exame de todas
essas questões, pois há necessidade de confrontá-las com a
realidade dos dias atuais, para que se possa verificar sua capacidade
de sustentar um diálogo com o homem contemporâneo no que diz
respeito às suas necessidades de conhecimento. Esses estudos
fazem falta no movimento espírita, apesar da extensa literatura com
que já conta. Haverá falta de pensadores? (SOUZA,1999, p 64).
Existe uma orientação que se encontra nas entrelinhas de todo o
conhecimento adquirido pelo estudioso da Doutrina: questione-se. É do
questionamento que se iniciam as grandes mudanças da sociedade e para o
progresso é preciso mudar e melhorar. Essa é a missão dos espíritos
encarnados, auxiliar o progresso da humanidade, melhorar a sociedade em
que estão. (KARDEC, 2017, pergunta 573).
Jesus quando diz para Pedro: ―tu és rocha e por isso constrói nessas
terras a minha Igreja‖ (Mateus 16:18) Ele deixa claro a missão não só de
Pedro, mas de todos os cristãos que habitarão a Terra. O espírita como cristão
pode e deve ser Pedro. Não será com cruzadas, não será com discussões
nefastas, não será com preconceitos, fatalismos e fanatismos. A construção é
com amor:
Todos vós que sonhais com essa idade de ouro para a Humanidade
trabalhai, antes de tudo, na construção da base do edifício, sem
pensardes em lhe colocar a cúpula; ponde-lhe nas primeiras fiadas a
fraternidade na sua mais pura acepção. Mas, para isso, não basta
decretá-la e inscrevê-la numa bandeira; faz-se mister que ela esteja
no coração dos homens e não se muda o coração dos homens por
meio de ordenações (KARDEC, 2016, p 291).
O espírita, enquanto cidadão do mundo não possui tarefa fácil. É de
grande responsabilidade, mas que isso seja um incentivo e não um martírio:
levar o amor em todas as brechas do planeta.
1. A importância da casa espírita nesse processo
Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei
entre vós (Mt 18: 20).
O Cristo com todo amor e sabedoria esclareceu aos homens que para
propagar seus ensinamentos não era necessário um templo grande e bonito,
nem uma multidão de seres. Basta mais de um, fisicamente ou espiritualmente
unidos em prol da Sua palavra, para ele estar presente.
Assim como as Igrejas, Templos ou recantos religiosos, a Casa Espírita
também reúne irmãos com o interesse nos ensinamentos do amor e do bem.
Para chegar na Casa Espírita, a caminhada é diferente para cada irmão.
347
Alguns possuem certa curiosidade, querem saber como funciona e o que fazem
num centro espírita; outros recebem a recomendação de amigos para algum
estudo, e há os que, e mais frequente, chegam pela dor. Não importa como
chegam, e sim que significado dão à esse novo aprendizado.
Para se estruturar, é necessário que a Casa Espírita possua diretrizes e
objetivos. A Federação Espírita Brasileira, e as Federações regionais são
importantes nesse aspecto, pois dão suporte e orientam as casas de acordo
com suas necessidades, mesmo que cada uma tenha a própria autonomia.
Como definição, podemos dizer que os Centros Espíritas ―são núcleos de
estudo, de fraternidade, de oração e de trabalho, praticados dentro dos
princípios espíritas‖ (FEB, 2006, p 19).
Dentro desses princípios espíritas, estão a simplicidade e objetividade
das reuniões. Na Doutrina Espírita não há orientação para adoração de
imagens, rituais, cultos, dogmas, etc. Os que utilizam algum desses itens e se
intitulam espírita, estão cometendo enorme equívoco, pois:
erguem-se os núcleos espíritas como templos verdadeiros, onde
Jesus deve estar representado não por imagens de barro, altares
ornamentados ou estátuas de bronze, mas pelas atitudes
essencialmente cristãs dos seus frequentadores (CRISTIANO, 2009,
p 7).
Irmãos unidos pela causa, isso já basta para reunirem-se em nome de
Jesus.
Dentro do Centro Espírita temos um ambiente regenerador. As vibrações
daqueles que ali estão juntamente com os polos de luz que transitam entre os
irmãos desencarnados que apoiam a causa tornam o ambiente feliz e
agradável. Por esses motivos, alguns trabalhadores frequentam várias vezes
durante a semana no seu centro, dedicando-se arduamente aos trabalhos
doutrinários. Nesse sentido,
compete a cada trabalhador que se propuser a realizar essas
atividades de difusão do Espiritismo, esforçar- -se para superar suas
próprias limitações na vivência dos princípios morais do Evangelho,
transformando-se em pólo aglutinador e motivador de união para a
realização desse trabalho, que contribui para a construção de um
mundo novo inspirado na vivência do Evangelho de Jesus à luz da
Doutrina Espírita (FEB, 2006, p 16).
E não se pode negar que as casas são laboratórios de aprendizados de
diversas ordens. Os irmãos mais esclarecidos aprendem com os mais
humildes; os irmãos estudiosos aprendem com os irmãos práticos; os irmãos
que necessitam de organização aprendem com os outros mais experientes. Os
estudos ofertados são de importância ímpar para a formação do intelecto e da
moral do espírita, pois é nas obras básicas que está o cerne da doutrina.
Um dos trabalhos espíritas que mais caracterizam um Centro Espírita
são as reuniões mediúnicas. A fim de acalentar os corações necessitados,
tratar irmãos adoentados profundamente ou mesmo para fins de estudo e
reflexão, as reuniões mediúnicas são um intenso objeto de aprendizado por
parte de todos os que delas participam. Com a seriedade no preparo dos
irmãos médiuns ostensivos, dos dialogadores e médiuns de apoio, as
348
mediúnicas são, se não, um exemplo vivo de dar de graça o que se tem de
graça.
Para o preparo desses trabalhadores (assim como qualquer outro
trabalho no Centro Espírita) o estudo tem uma importância primordial, pois é
ele que esclarece à luz da Doutrina, as palavras de Cristo. As obras que
direcionam e orientam esses trabalhos estão disponíveis para o trabalhador e
grupos de estudo, pois
o estudo espírita para o médium vai lhe dando os porquês, vai
elucidando-o, a fim de que não aja porque os outros agem, não faça
simplesmente porque o dirigente mandou que fizesse, mas para que
tenha aquela fé raciocinada, a fé-convicção, aquela fé-certeza, na
coerência de quem faz porque sabe o que deve fazer (TEIXEIRA &
FRANCO, 1995, p 111).
A Doutrina Espírita, em suas orientações, nunca ordena algo. Pelo
contrário, diante do livre-arbítrio, ela apenas direciona, à luz do amor de Cristo
e da razão, os caminhos pelos quais podemos alcançar o progresso. O Centro
Espírita, como meio de convivência e escola de amor, tem papel além do que o
estimado no seu plano físico. A dimensão espiritual do Centro o torna ainda
mais impactante para o ambiente em que está inserido. Por isso, pelas obras
codificadas se esclarece a importância da unificação do Movimento Espírita,
por meio das casas. É necessário o diálogo, as visitas, os compartilhamentos,
pois se uma casa cresce é sinal de que mais irmãos trabalham, estudam e são
atendidos. A unificação espírita demonstra a maturidade dos espíritas
(KARDEC, 2013c, cap 29, item 334).
Por mais que se saiba dos desafios que o Centro passa por conta de
divergências de pensamentos, luta por cargos, vaidade e orgulho, é imperioso
lutar fortemente contra essas tendências nefastas e prejudiciais ao objetivo
maior que une os espíritas, e ainda mais, os cristãos: a causa do bem. O bem é
a base para um movimento forte e em A Gênese, o codificador confirma essas
palavras ao discorrer que
É para o fim providencial que devem tender todas as sociedades
espíritas sérias, agrupando ao seu redor todos os que possuem os
mesmos sentimentos; então haverá entre elas união, simpatia e
fraternidade e não um vão e pueril antagonismo de amor-próprio, de
palavras antes que de fatos; então elas serão fortes e poderosas,
porque se apoiarão numa base indestrutível: o bem para todos
(KARDEC, 2013b. Cap XXIX, item 350).
O Centro Espírita é laboratório. A vida fora dele é onde se provará se os
conhecimentos e experiências adquiridas foram suficientes para as nossas
transformações íntimas. Não há hora e nem lugar para por à prova os
ensinamentos estudados constantemente. Se fora da caridade não há
salvação, então o espírita deve estar preparado para:
Ser enfermeiro, consolando os doentes; condutor, dirigindo os cegos;
preceptor, instruindo crianças; costureiro, vestindo os nus; cozinheiro,
saciando os famintos; mentor, indicando o rumo certo aos vizinhos
desorientados; pai, junto aos filhos de ninguém; e irmão de quem
passe ou surja à frente (VIEIRA, 1965, p 64).
349
Como reflexão, fica o questionamento se todo o ensinamento e
aprendizado que se tem dentro da Casa espírita estão sendo de fato levados
para fora dela.
CONCLUSÃO
O Espiritismo de forma clara orienta aos seus seguidores a deixar um
legado aonde quer que vão. Porém, sabemos que o espírita, bem como
qualquer outro ser humano, tem dentro de si tendências que traz de outras
reencarnações, e muitas delas ligadas às suas falhas morais.
Entende-se que seja desafiador, então, lutar contra essas tendências e
agir em prol do próximo e consequentemente em prol da sociedade que se está
inserido. O trabalho é sempre e para sempre.
Com isso, o espírita que assim se considera deve observar com afinco
seus sentimentos, ações e pensamentos perante o mundo e o próximo, para
não cair no marasmo da indiferença, e assim, parar de crescer. Como exemplo,
podemos citar a luta de movimentos sociais liderados por mulheres, que
clamam pela igualdade de direitos civis, já que vivemos numa sociedade ainda
adoecida por problemas como o machismo estrutural. Ângelis comenta sobre
essas lutas com as seguintes palavras:
Perante Deus são iguais os direitos do homem com os da mulher [...].
Realizando os deveres que lhes cumprem, completam-se esses dois
elementos, proprociando-se em harmonia. O feminismo, é
perfeitamente louvável quando proclama a dignidade da mulher, os
seus valores e direitos‖ (FRANCO, 1984, p 54).
Vale ressaltar que os espíritos deixam claro que movimentos como esses,
quando distanciados dos valores de Cristo, acabam por se tornarem mais uma
ferramenta de atraso e não de progresso. Temáticas como o aborto, à qual a
Doutrina Espírita se esclarece contrária, ou a libertinagem sexual, não são
abraçados pelas palavras de Joanna e dos espíritos de luz. Nenhum dos
encarnados, seja homem ou mulher, deve buscar dignidade por meio dessas
duas bandeiras específicas.
E apesar dessas questões serem novas para muitos irmãos espíritas, a
Doutrina já oferece subsídios para essas reflexões em suas obras. Em Obras
Póstumas, encontramos uma fala sobre igualdade, liberdade e fraternidade,
palavras que inclusive foram bandeira da Revolução Francesa:
o princípio da igualdade é um princípio de justiça e uma lei da
Natureza, perante a qual cai o orgulho do privilégio. Provando que os
Espíritos podem renascer em diferentes condições sociais, quer por
expiação, quer por provação, a reencarnação ensina que, naquele a
quem tratamos com desdém, pode estar um que foi nosso superior ou
nosso igual noutra existência, um amigo ou um parente (KARDEC,
2016, p 283).
Não é então algo novo, que fora revelado em obras complementares
recentes. A temática desde a codificação é discutida, e claramente demonstra-
se o papel da justiça no princípio de igualdade: ―Não façais aos outros o que
não quereis que os outros vos façam‖ (KARDEC, 2017, pergunta 822).
350
Por fim, a principal mensagem que se pode adquirir diante essa primeira
pesquisa é que para o progresso moral da humanidade, o espírita tem um
papel social que pode ser realizado, pondo em prática o amor ao próximo em
diversas esferas. É preciso agir.
4.O QUE EU APRENDI
4.1 Comprometimentos
O processo de transição da adolescência para vida adulta me fez
desmistificar muitas crenças que eu tinha sobre mim e das pessoas ao meu
redor. Minhas idealizações e certezas foram pouco a pouco sendo
questionadas pelo meu lado racional e alguns comportamentos mudaram a
respeito de como enxergo a vida e obviamente, a sociedade na qual faço parte.
Como espírita de berço e espírito imortal de encarnações inúmeras, as
quais não tenho como mensurar, percebi em mim inquietudes que de certa
forma dizem muito daquilo que um dia fui. Tendências que trago comigo e que
hoje posso refletir. Sempre fui questionadora, gostava muito de debater e
compreender as coisas. Tenho dificuldades em aceitar convenções da vida em
sociedade, sem me perguntar o porquê daquilo, o que soa, algumas vezes,
como teimosia.
Depois de anos de reflexão e questionamentos, percebo que hoje eu
tenho uma grande responsabilidade. Não é por acaso que sou comunicóloga,
não é por acaso que sou teimosa e nem é por acaso que sou mulher nessa
encarnação. O que isso diz sobre mim: Que hoje, a Anna Beatriz não pode se
deixar submeter aos conformismos. Pois também sou mulher e sei que a
sociedade em que vivo é desigual e devo lutar contra isso. Devo lutar e
propagar isso por meio dos meus conhecimentos, enquanto comunicadora e
acima de tudo, levar Cristo comigo em minha jornada. Eu não posso mais me
calar, abaixar a cabeça e aceitar. É hora de agir. ―Temei conservar-
vos indiferentes, quando puderdes ser úteis.‖(O Evangelho Segundo o
Espiritismo, cap. XIII, item 17). A minha utilidade é não esquecer a mensagem
de Jesus.
4.2 Realizações
Então, se eu nasci espírita, e acima de tudo sou cristã, eu tenho em
mãos uma oportunidade iluminada de levar o Cristo ao meu próximo. Por isso,
desde cedo procurei trabalhar na Evangelização Infantil, mesmo muito jovem.
Após essa etapa, fui evangelizar jovens e participar de trabalhos federativos
que dizem respeito a eventos e movimentações para a juventude amazonense.
4.3 Compromissos de longo prazo
Urge sair da posição em que se está e olhar para o outro com mais
empatia para perceber. Num passado não tão distante eu bradava a quem
351
quisesse ouvir que aqueles que questionavam o sistema no qual vivemos eram
vitimistas, arranjadores de confusão ou simplesmente chatos. Só pelo fato de
fazer eu sair da minha zona de conforto. Hoje eu vejo como fui ingênua, mas
não me martirizo por isso, afinal eu pude acordar. E graças a Doutrina,
encontrei razão para isso:
O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele
reformará a legislação ainda tão frequentemente contrária às leis
divinas; retificará os erros da História; restaurará a religião do Cristo,
que se tornou, nas mãos dos padres, objeto de comércio e de tráfico
vil; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do
coração e vai diretamente a Deus, sem se deter nas franjas de uma
sotaina, ou nos degraus de um altar (KARDEC, 2013a, p 363).
Precisamos juntos acordar. Em nome dos ensinamentos de Jesus, que
convoca-nos, para um programa de reabilitação das pendências morais,
buscando aqueles aos quais ofendemos, torturamos e levamos ao infortúnio.
Estamos vivendo o período das definições espirituais na terra, já não podemos
adiar o encontro consciente com os nossos irmãos infelizes, que permanecem
ligados ao ódio (FRANCO, 2010, p 187).
E por tentar amar ao próximo como a mim mesmo, eu procuro, dia após
dia ser menos egoísta e olhar pelos irmãos que não estão na mesma posição
que eu. E olhar para os irmãos que de alguma forma me oprimem, pois é
necessário que esclareçamos. Não basta perceber o erro. É necessário
esclarecer e a Doutrina nos embasa quando diz que:
O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da
humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu
poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude
de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o
Espiritismo é mais apto, do que qualquer outra doutrina, a secundar o
movimento de regeneração; por isso, é ele contemporâneo desse
movimento (KARDEC, 2013b, cap 18, item 25).
A doutrina não se coloca como a verdade absoluta e não somos nós
quem devemos fazer isso. A doutrina é moldável de acordo com os tempos
para não cair no obsoletismo de algumas religiões que infelizmente arrastam
seus fiéis a uma caricatura.
Como cristã, espírita e comunicóloga eu digo: não posso mais me calar.
Se me calar, eu responderei por essa omissão (KARDEC, 2017, pergunta 642).
É hora de seguir, levar a mensagem e lutar por um mundo melhor. Lutar no dia
a dia, no trabalho, lutar nas ruas, lutar em casa. Meu compromisso é persistir e
lutar por um mundo melhor. Seja evangelizando, seja educando meus filhos,
seja em meu ambiente de trabalho, em minha casa e nas ruas. E essa luta não
é braçal, não é de gritos, é a luta do amor e do conhecimento.
352
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Thiago. Manaus, 20 de set. 2017. Entrevista online concedida a Anna
Beatriz de Araújo Nobre
CRISTIANO, Emanuel. Aconteceu na casa espírita. 8. ed. – Campinas, SP:
Editora Allan Kardec, 2009. 192 p.
DIVERSOS, Autores. A BIBLIA DE JERUSALEM. 1 ed. São Paulo: Paulus,
2016.
FEB. Orientação ao Centro Espírita. Brasília, 2006. Disponível em:
https://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/orienta.pdf, Acesso em: 26 set. 2017
FRANCO Divaldo. SOUZA, José Maria de M. (Org). Joana de Angelis responde.
Cap. Oferenda. 3 ed. Salvador: Leal. Disponível em: http://files.comunidades.net/
portaldoespirito/Joanna_de_Angelis_Joanna_de_Angelis_Responde.pdf. Acesso
em: 07 Set 2017.
FRANCO, Divaldo. Luz viva. p 54. 2 ed: LEAL. Salvador, 1984.
FRANCO, Divaldo. Transição Planetária. Pelo espirito Manoel Philomeno
Miranda. Salvador: Ed Leal, 2010
KARDEC, Allan. Obras póstumas. Edição digital revisada em dezembro, 2016.
Distribuição gratuita: Portal Luz Espírita.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131 ed. Brasília: FEB,
2013a.
KARDEC, Allan. A Gênese. 131 ed. Brasília: FEB, 2013b
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.131 ed. Brasília: FEB, 2013c.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Edição digital revisada e postada em pdf
pela FEB. 2017.
MELLO, Luiz Antonio. A Onda Maldita: como nasceu a Fluminense FM. Niterói:
Arte & Ofício, 1992. Disponível em: Acesso em: 13 out. 1997.
MORAES, Sandra. Manaus, 21 de set. 2017. Entrevista online concedida a Anna
Beatriz de Araújo Nobre
NEVES, Elvis Caldas. Manaus, 15 de set. 2017. Entrevista online concedida a
Anna Beatriz de Araújo Nobre.
TEIXEIRA, Raul. FRANCO, Divaldo. Diretrizes de Segurança. Ed. Fráter:
1995.
SOUZA. Ezio Ferreira de. Espiritismo em Movimento. Ed. Circulus, 1999.
VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Rio de Janeiro: FEB, 1960.
353
VIEIRA, Waldo. Seareiros de volta. 1ª ed. Brasília: FEB, 1965.
XAVIER, Francisco C. Luz no lar - Espíritos diversos, FEB, Rio de Janeiro,
1968.
XAVIER, Francisco C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. FEB, Rio de
Janeiro, 4ª ed. 1959.
354
APÊNDICE A - TÍTULO DO APÊNDICE (se houver)
ENTREVISTA ONLINE – Realizada dia 15/09/17
ELVIS NEVES, Coordenador de Juventude da FEA – Federação Espírita
Amazonense, Evangelizador de Juventude, Dirigente do ESDE na Fundação
Allan Kardec. Elvis já foi Diretor da Área de Infância e Juventude na FAK e
também atuou dirigindo estudos em Florianópolis. Por conta dos muitos anos
de trabalho federativo e participação nas Confraternizações de Mocidades
Espíritas teve oportunidade de viajar Brasil a fora para conhecer e participar de
atividades espíritas em outras regiões;
1. No passado, já houve alguma movimentação das casas espíritas da
região (Manaus) em apoio a projetos sociais (que não sejam
assistencialistas)?
R: Não que conheça
2. Se sim, como era(m) o(s) projeto(s)?
R: Ver resposta acima.
3. Na sua visão o movimento espírita local é antenado às questões sociais
ou somente assistenciais?
R: Entendo que não é antenado. Predomina o assistencialismo, e, em
muitos casos, como moeda de troca pela frequência na Instituição.
4. Há ou já houve algum espaço de discussão acerca de política,
movimentos sociais e ongs na região?
R: Não que eu saiba. O mais próximo que registro, mas de caráter interno
do movimento espírito, é a iniciativa da FEB em esclarecer sobre os aspectos
jurídicos das organizações sociais.
5. Em sua experiência nos outros estados, você enxerga uma
movimentação a respeito das causas sociais?
R: Sim, mas muito tímidas, relacionadas a atendimento a condenados
com foco na ressocialização, participação em conselhos sociais e
desenvolvimento de projetos na área de educação.
355
Entrevista Online com Thiago Aguiar, atual presidente da FEA
QUESTIONÁRIO
- No passado, já houve alguma movimentação das casas espíritas da
região (Manaus) em apoio a projetos sociais (que não sejam
assistencialistas)? Se sim, como era(m) o(s) projeto(s)?
Sim, algumas instituições espíritas em Manaus têm seus próprios projetos
sociais efetivos e adequados a nova legislação do CNAS. Trabalham com o
Apoio Sócio-educativo em meio aberto e Apoio social familiar, incluindo
atividades como reforço escolar, creche e cursos de panificadora.
- Na sua visão, o movimento espírita local é antenado às questões sociais
ou somente assistenciais?
Percebemos que ainda não há uma consciência social efetiva, enquanto que a
ideia assistencialista ainda predomina. Convém relembrar também que o
Movimento Espírita é um movimento religioso jovem, e já tem uma marca na
sociedade, que é a da caridade. Temos muito ainda a crescer!
- Há ou já houve algum espaço de discussão acerca de política,
movimentos sociais e ongs na região?
Sim. A própria Federação Espírita Amazonense, ao longo dos últimos anos,
busca envolver os coordenadores da área de Assistência e Promoção Social
Espírita – APSE para as discussões das políticas públicas e as redes de
assistência social. Sobre os demais temas, temos participado de comitês e
reuniões onde movimentos sociais e minorias sociais se encontram para
discussão, especialmente aqueles promovidos pela Secretaria de Estado de
Justiça, Direitos Humanos e Cidadania – SEJUSC.
- Em sua experiência nos outros estados, você enxerga uma
movimentação a respeito das causas sociais?
Sim, percebemos aqui e ali algumas movimentações. Recentemente tivemos
uma companheira da área de APSE da União Espírita Paraense ocupando um
assento no Conselho Nacional. As participações ainda são pouco comuns,
porém começam a surgir.
356
Entrevista online com Sandra Moraes, ex-presidente da FEA, atuante no mov
espírita
No passado, já houve alguma movimentação das casas espíritas da
região (Manaus) em apoio a projetos sociais (que não sejam
assistencialistas)? - Se sim, como era(m) o(s) projeto(s)?
Inspirados pela bandeira ‖Fora da caridade não há salvação‖, os espíritas
destacam-se na sociedade como uma referencia no terceiro setor. Ao longo
dos anos, as estatísticas mostram que mais da metade do voluntariado no
Brasil constitui-se de espíritas.
A maioria das casas espíritas possui atividades internas na área da promoção
social, que atende a
comunidade carente em seu entorno. São atividades bem diversificadas, como
por exemplo:
distribuição de enxoval para gestantes, distribuição de cesta básica, de roupas
ou sopa para vulneráveis
sociais de rua, idosos, grávidas, crianças. Aulas de artesanato nos conhecidos
Clube de Mães, aula de
feitura de pão, aula de informática, alfabetização de adultos, reforço escolar,
visita a asilos, a
penitenciárias, a hospitais, hansenianos etc.
Até os congressos e semanas espíritas tem pouca participação do público em
geral, sendo prestigiado na
maioria por espíritas.
Observamos poucas iniciativas junto à sociedade além dos muros das casas
espíritas. Algumas
instituições de Manaus promoveram esporadicamente shows teatrais ou
musicais no teatro Amazonas.
Feiras de livros espíritas em praça pública. Exposição em defesa da vida em
shopping center e espaços
culturais de Manaus.Lançamento de selos espíritas na Câmara Municipal e na
Assembleia Legislativa do
Amazonas. Palestras espíritas em universidades. Pré-estreia de filmes de
temática espírita nos
principais cinemas de Manaus. Distribuição de mensagens espírita nos
cemitérios de Manaus no dia dos
finados.
- Na sua visão o movimento espírita local é antenado às questões sociais
ou somente assistenciais?
Há uma preocupação sim, mas não há um conhecimento ou estrutura nas
instituições de como ter uma
participação mais atuante junto à sociedade. Não há capacitação técnica e
administrativa para formação
de trabalhadores para atuar nesta área. Algumas federativas e a própria
Federação espírita Brasileira
357
procuram ter assento nos conselhos municipais, estaduais e nacionais da
Assistência Social. A FEB, por
meio dos órgãos especializados de âmbito nacional, como a AME Brasil e
ABRAME, tem manifestado
seu apoio aos movimentos em defesa da vida, contra o aborto e suicídio.
Na minha visão, o espírita que está no esforço da sua transformação moral,
inserido na sociedade, é um
elemento potencialmente capaz de contribuir para sua melhoria, um cidadão
que pode ser uma
referencia moral no meio em que está inserido. Se forem bons pais, darão boa
educação e
evangelização aos filhos para serem homens de bem. Se forem bons
profissionais, darão exemplos de
conduta digna e honrada influenciando pessoas. Se forem boas lideranças
religiosas serão semeadores
de conhecimento e exemplos que liberta consciências. Enfim, serão cidadãos
mais justos e honestos,
que vivem os valores da ―Liberdade, igualdade, fraternidade‖.
- Há ou já houve algum espaço de discussão acerca de política,
movimentos sociais e ongs na região?
De modo geral há pouca receptividade entre os espíritas sobre a discussão
desse tema. Mas no período
de 2007 a 2010 ,quando foi criado o Comitê Amazonense Brasil sem Aborto,
como um desdobramento
do Movimento Nacional de Cidadania Brasil sem Aborto, e posteriormente o
Brasil sem Drogas e Brasil
sem Armas, a FEA esteve à frente coordenando estes comitês estaduais e
atuando ativamente, junto a
outras vinte lideranças religiosas do Amazonas, principalmente os católicos e
evangélicos, participando
de entrevistas e debates em rádio e televisão, de manifestações públicas como
show pela vida no Largo
São Sebastião, eventos no sambódromo, caminhadas etc.
Em 2013, por ocasião da criação do Movimento Nacional Ativistas da Paz pela
Vida, que se tornou um
grande guarda chuva para causas que não são de interesse dos atuais grupos
políticos (Defesa da Vida,
desarmamento, combate as drogas, defesa de meio ambiente, proteção a
animais etc), apoiado por
espíritas em vários estados do Brasil, uma das vertentes do grupo era criar um
partido político com visão
de futuro para na nova geração que irá atuar nas várias áreas do
conhecimento, inclusive na política.
Mas ao ser apresentado em reunião de dirigentes não houve interesse desses
em conhecer ou apoiar o
movimento.
358
- Em sua experiência nos outros estados, você enxerga uma
movimentação a respeito das causas
sociais?
Não tenho conhecimento de todos os estados, mas alguns que conheço do
Norte, o Amapá tem se
destacado com o lançamento de um curta metragem ―Agora, já foi‖ em defesa
da vida, contra o aborto
e suicídio. O filme ganhou premio de melhor direção e melhor filme no V
Festival de Cinema
Transcendental de Brasília.
O Pará tem sido atuante através do Comitê Paraense Brasil sem Aborto, com
vários manifestos públicos
e marchas pela vida. Os dois estados têm participado, juntamente com
Roraima, dos eventos nacionais
da Abrarte- Assoc Brasileira dos Artistas Espíritas, com eventos para o público
em geral.
Instituições espíritas do Brasil central destacam-se pela presença de médiuns
de cura famosos, que
atraem a atenção de grande público, inclusive internacional.
Várias instituições espíritas do Sul e Sudeste possuem creches, escolas e
hospitais espíritas que tem
grande aceitação do público.
359
A CONTRIBUIÇÃO DAS QUATRO EDIÇÕES DO SIMPÓSIO FAK PARA O
AUTOCONHECIMENTO E PERCEPÇÃO DA MISSÃO INDIVIDUAL
Martim Afonso de Souza299
INTRODUÇÃO
Desde o I Simpósio, em 2009, o autor acima identificado tem participado como
articulista dessa iniciativa da Fundação Allan Kardec, tendo apresentado, desde
então, cinco trabalhos.
Dentro do novo escopo idealizado para o Simpósio, a partir desta quinta
edição, o autor percebeu que não havia refletido sobre sua real motivação para essa
participação constante no evento. Julgou assim oportuno não produzir novo material
para este simpósio (embora estivesse com um planejamento mental para tanto), mas
sim refletir sobre sua produção prévia, no esforço de identificar as buscas que o
mobilizaram nos trabalhos apresentados.
O objetivo deste texto é reunir informações sintetizadas sobre os trabalhos, e
apresentar algumas reflexões sobre motivações, buscas e aprendizados. Em linhas
gerais, tentar-se-á responder à questão de essência, o que o autor aprendeu sobre si
mesmo nessas participações e, ainda, encontrar fragmentos e indícios nos trabalhos
da missão do autor nesta existência.
DESENVOLVIMENTO
1. Trabalhos produzidos e contexto
Esta é a sequência cronológica dos trabalhos apresentados, seus respectivos
objetivos, algumas informações sobre o contexto pessoal do autor e ilações a respeito
da motivação:
- No I Simpósio FAK, em 2009, o autor apresentou o trabalho intitulado
―Fazer o bem faz bem‖, dentro do eixo Compromissos Iluminativos. A proposta era
apresentar características do compromisso com o bem e destacar os efeitos
benéficos que a assunção desse compromisso acarreta para o indivíduo (SOUZA,
2009).
Em fevereiro daquele ano, o autor vira seu filho Pedro nascer. Havia se
afastado por alguns meses das atividades da casa a fim de dar apoio à família, tendo
retornado às tarefas por volta de junho de 2009 (o Simpósio sempre ocorre em
outubro, época de aniversário da instituição).
Talvez o conteúdo do artigo reflita uma justificativa pessoal para a retomada do
trabalho no bem, como se o autor quisesse se convencer da decisão de continuar a
ser um trabalhador da Casa Espírita.
- Em 2011, no II Simpósio, foi a vez de "Relação entre o Decálogo de Moisés
e as Leis Morais Espíritas", também no eixo Compromissos Iluminativos, cujo escopo
era apresentar uma possibilidade de correlação entre as leis morais estudadas pelo
Espiritismo e os Dez Mandamentos (SOUZA, 2011).
299
Trabalhador da Fundação Allan Kardec, atualmente na condição de vice-presidente da área
de gestão Acolhimento e Assistência Espiritual.
360
Por esse período, o autor estava à frente da Diretoria de Assistência Espiritual
Infantil (DAEI), e não identifica nenhuma relação dessa circunstância com a temática
eleita para o trabalho. Em outro momento deste texto essa suposta motivação será
explorada.
- O III Simpósio, em 2013, trouxe dois trabalhos: no eixo Origens foi
divulgado ―Primórdios da Divulgação do Espiritismo no Amazonas: Chegada de Livros
Espíritas a Manaus‖, que teve como objetivo apresentar e contextualizar uma notícia
identificada na imprensa manauara no ano de 1875, dando conta da chegada de um
livro espírita ao estado do Amazonas. Já no eixo O Espiritismo nas Terras
Amazônicas na atualidade veio a lume ―Dez Anos de Assistência Espiritual Infantil na
FAK‖, em que se busca resgatar, em breves anotações, o histórico da assistência
espiritual infantil na FAK, identificar sua evolução ao longo do tempo, apresentar o
panorama atual da atividade e, por fim, especular sobre seus compromissos futuros
(SOUZA, 2013).
Em 2013, o autor continuava à frente da DAEI, e esse fato justifica a escolha
do trabalho que tratou do histórico desta atividade, escrito em conjunto com a então
vice-diretora da atividade. A assistência espiritual infantil foi o primeiro trabalho
desenvolvido pelo autor na casa, desde o ano 2000, atividade na qual teve a
oportunidade de praticamente realizar todas as tarefas existentes e acompanhar de
perto todas as mudanças retratadas no trabalho.
A pretensa motivação sobre o trabalho de cunho histórico será abordada em
outro momento dessas linhas.
- Por fim, no IV Simpósio, em 2015, voltou-se ao eixo Compromissos com o
trabalho ―Relação entre as leis morais espíritas e a oração O Pai Nosso‖, que teve
como objetivo analisar o conteúdo da oração proferida por Jesus e hoje conhecida
como O Pai Nosso ou Oração Dominical [...] buscando vincular os trechos às leis
morais e, por consequência, à lei divina (SOUZA, 2015). Como dito acima, a
vinculação do autor com as leis morais será objeto de item próprio.
Em 2015, o autor fora escolhido vice-presidente da área de gestão
Acolhimento e Assistência Espiritual.
Analisando a produção, não se nota a priori uma conexão evidente entre os
trabalhos, excetuando-se os dois que tratam das leis morais e que foram
considerados pelo autor como partes de um mesmo esforço interpretativo.
2. As Leis Morais
Dois trabalhos são complementares e buscam fazer correlações entre a
terceira parte de O Livro dos Espíritos, Das Leis Morais, com outros textos de
profundo interesse para o Cristianismo e o Espiritismo: o Decálogo de Moisés e a
oração O Pai Nosso.
A respeito destes dois trabalhos, pode-se inferir uma preocupação do autor
para deixar evidente uma espécie de legitimação das leis morais, buscando enxergar
seu conteúdo em outras fontes relevantes para a tradição cristã e espírita. Neste
sentido, uma das conclusões do primeiro trabalho, de certa forma, já antecipava o
segundo:
―As três revelações da história da humanidade revelam, de formas
distintas, a mesma realidade: a lei natural, de origem divina e, por essa
razão, eterna e inderrogável. A abordagem feita por cada uma não
desfigura ou invalida o conteúdo que se deseja trazer à luz e ao
conhecimento de todos. […]
361
Coube a Jesus dar cumprimento à lei moisaica através de sua
exemplificação sem precedentes na História, e cabe ao Espiritismo
esclarecer a humanidade acerca do conteúdo e da aplicação da lei
divina, sempre enfatizando a prevalência da lei do amor sobre as demais‖
(SOUZA, 2011).
O quadro seguinte sintetiza as correlações apresentadas nos dois trabalhos,
tendo como eixo norteador as leis morais.
Decálogo Lei Moral O Pai Nosso
Não farás para ti imagem Adoração Santificado seja o teu nome
esculpida, nem figura alguma
[…].
Guarda o dia de sábado, para Trabalho O pão nosso diário, dá-nos
o santificar, como te ordenou hoje
o Senhor teu D-us.
Não adulterarás. Reprodução E não nos introduzas em
tentação
Não furtarás. Conservação O pão nosso diário, dá-nos
hoje
Não matarás. Destruição Mas livra-nos do mal
Honra a teu pai e a tua mãe, Sociedade Pai Nosso que estás nos céus
como o senhor teu D-us te
ordenou.
Eu sou o Senhor teu D-us Progresso Venha o Teu Reino
[…]. Não terás outros deuses
diante de mim.
Não cobiçarás a mulher do Igualdade Como no céu, também sobre
teu próximo;[…] nem coisa a terra
alguma do teu próximo.
Não dirás falso testemunho Liberdade Seja feita a Tua vontade
contra o teu próximo.
Não tomarás o nome do Justiça, Amor e Caridade Perdoa-nos nossas dívidas,
Senhor teu D-us em vão. como também perdoamos
nossos devedores
Quadro 1: Correlação entre as leis morais, o Decálogo e o Pai Nosso
Talvez essa fixação com o tema das leis tenha duas causas: a formação
jurídica do autor, e uma causa mais transata - sua dificuldade de compreender e
aceitar que, conforme esclarece a questão 621 de O Livro dos Espíritos, a lei divina
está inscrita na consciência. Por ter dificuldade em autoconhecer-se, torna-se mais
cômodo buscar o contato com o sagrado no plano externo, a partir do estudo.
Pode-se identificar, assim, um possível comprometimento do autor: o que se
expressa em sua dificuldade de acessar seu mundo íntimo e de identificar em si o
conteúdo das leis divinas.
2. Missão de escrever?
A ausência de linearidade e coerência entre os trabalhos (à exceção do tema
das leis morais) causou no autor uma certa perplexidade. Dificilmente se é um bom
362
juiz da própria causa, e constatar essa inconstância gerou mais dúvidas ainda sobre
as buscas do autor em cada momento.
Uma possível conclusão é a de que o autor gosta de escrever e identificou nos
simpósios uma oportunidade de exercitar esta arte. Por considerar talvez ser mais
relevante participar do que refletir sobre o conteúdo apresentado, o autor tenha assim
se esforçado para ser articulista em todos os eventos, trabalhando nos textos aquilo
que estivesse ocupando maior parte de suas preocupações. Ausente, assim, um
plano de trabalho de maior profundidade.
Corroborando esse gosto pela escrita, importante recordar que, há alguns
anos, no contexto do Núcleo de Pesquisas Espíritas da instituição, o autor apresentou
um projeto de produção de textos tratando sobre o cotidiano das Casas Espíritas -
Projeto Ariramba. Há um conjunto de algumas dezenas de pequenas histórias,
algumas já utilizadas em atividades de divulgação da FAK. Tal circunstância pode
demonstrar essa vinculação do autor com o universo da escrita, justificando sua
produção constante no âmbito do simpósio.
Intimamente, o autor tem quase como certo esse compromisso com a escrita.
Faz parte de sua missão - a escrita certamente o levou no passado a grandes
equívocos, certamente ligados à sua vaidade, e ressignificar essa relação com as
letras, em novas bases, deve fazer parte dos propósitos de sua existência.
No entanto, essa inconstância no desempenho dessa habilidade pode ter
gerado exatamente a ausência de linearidade em sua produção, o que demonstra
uma necessidade de levar mais a sério essa faculdade e exercê-la com disciplina e
dedicação.
Entretanto, os guias espirituais do autor podem ter aproveitado dessa ânsia por
escrever e deixado algumas dicas, entrevendo algum tipo de linearidade em seus
trabalhos nos Simpósios FAK.
Sob essa ótica, é muito curioso perceber que o trabalho de cunho histórico
produzido fala exatamente do livro espírita. O input para a produção do texto foi a
identificação de pequena notícia na imprensa manauara no ano de 1875, informando
o público amazonense da chegada de um livro espírita à capital.
O plano do trabalho produzido contemplou o panorama inicial da divulgação
espírita no Brasil a partir dos primeiros livros de caráter espírita, editados no país,
com destaque para a atuação da Editora Garnier. Pouca ênfase foi dada ao contexto
histórico em si da sociedade amazonense da época, o trabalho fala mais do livro
espírita em si.
Outro detalhe bem interessante, percebido durante a análise do conjunto da
obra, foi identificar o Decálogo em uma das citações utilizadas no trabalho de cunho
histórico, tratando da importância do livro espírita, segundo Emmanuel:
―Amparados, assim, pela Revelação Nova, não nos esqueçamos de que
a primeira dádiva tangível do Céu para a Terra, nas bases profundas da
introdução ao Cristianismo, foi o Livro dos Mandamentos, de Jeová
para Moisés, na consagração da Justiça, e de que todo o nosso esforço,
nas diversas Casas do Espiritismo Consolador, não é senão o serviço de
revivescência do Evangelho, o Livro Divino, através do qual o Mestre
Crucificado continua regenerando a Humanidade e elevando-a, através
dos seus ensinos de amor e humildade, para os montes celestes da paz
e da redenção (XAVIER, 1991, p. 23)‖ (grifo nosso).
Ou seja, faltam olhos de ver ao autor, pois que as conexões entre seus
trabalhos certamente existem, mas não prescindem de um autoexame mais acurado.
363
Nessa citação conseguimos ver os três eixos presentes: o valor da escrita; as leis
morais; a história da divulgação cristã.
CONCLUSÃO
A preocupação do autor, desde o primeiro Simpósio, era a de participar,
supostamente contribuir para a produção de conhecimento no âmbito da instituição
espírita na qual se movimenta. A busca estava, assim, no plano externo, da
publicidade que sua produção alcançaria e na pretensa contribuição que ofertaria ao
Movimento Espírita.
Em nenhum momento, buscou-se identificar que dinâmicas pessoais estavam
participando dessa elaboração, se as reflexões advindas do estudo poderiam ser
úteis aos objetivos existenciais do autor. Se este movimento ocorreu, não estava
certamente no plano consciente.
A oportunidade que ora se apresenta é dádiva dos céus para ensejar ao autor
a reflexão, antes da desencarnação, a respeito de parte do legado que ofertou ao
mundo, além de ser uma chance de retificar os rumos que têm dado à sua trajetória.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO
A reflexão mais relevante feita é a que leva o autor a se enxergar como
indisciplinado. É como se o vento que soprasse mais forte em determinados
momentos definisse seus rumos, seus pensamentos. Na verdade, esses ventos não
são aleatórios, há uma ordem que os preside.
O autor necessita se conhecer melhor para identificar suas motivações, identificar
nas ocorrências exteriores o comando divino para sua existência e, como rogado
continuamente no Pai Nosso, aceitar com humildade a vontade divina, modificando
sua própria vontade para o necessário e amoroso ajuste àquela.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 6ª ed. de bolso. Rio
de Janeiro: FEB, 2001.
SOUZA, Martim Afonso de. Fazer o bem faz bem. Anais do I Simpósio Fak.
Manaus: Fundação Allan Kardec, 2009.
__Relação entre o Decálogo de Moisés e as Leis Morais Espíritas. Anais do II
Simpósio Fak. Manaus: Fundação Allan Kardec, 2011.
__. Primórdios da Divulgação do Espiritismo no Amazonas: Chegada de Livros
Espíritas a Manaus. Anais do III Simpósio Fak. Manaus: Fundação Allan Kardec,
2013.
__. Dez anos de Assistência Espiritual Infantil na FAK. Anais do III Simpósio Fak.
Manaus: Fundação Allan Kardec, 2013.
__. Relação entre as Leis Morais Espíritas e a Oração ‗O Pai Nosso‖. Anais do IV
Simpósio Fak. Manaus: Fundação Allan Kardec, 2015.
364
XAVIER, Francisco Cândido. Mentores e Seareiros, por Espíritos diversos. São
Paulo: Ideal, 1991.
365
ATANDO FARDOS SOBRE OMBROS ALHEIOS: REFLEXÕES DE UM
PRETENSO ORIENTADOR
José Alberto da Costa Machado300
1- INTRODUÇÃO
O Simpósio FAK, edição 2017, apresentou para os autores de artigos, a
necessidade, bem fundamentada, de se incluir, como parte final de cada trabalho,
uma seção intitulada ―o que aprendi sobre mim mesmo‖, na qual as reflexões
ensejadas sobre si próprio durante a produção pudessem ficar expressadas e servir
para compartilhamento com outros sobre os quais o tema viesse a reverberar. Tal
seção, apresentando três dimensões do aprendizado – comprometimentos,
realizações e compromissos – deveria ser tomada como mero exercício de reflexão e
não como verdade ou diagnóstico sobre as circunstâncias particulares do articulista
(FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC, 2017).
Sugeriu-se, ainda, que os autores já contando com artigos apresentados,
poderiam revisitá-los para extrairem e registrarem, em forma de artigo especial, as
reflexões sobre o que aprenderam sobre si mesmos ao produzirem trabalhos sobre
os temas tratados. É sob esse contexto que este texto é produzido, o qual, versando
sobre reflexões particulares do autor, será redigido na primeira pessoa, como relato
pessoal.
Nas quatro edições do simpósio produzi, como autor único ou em parceria,
vários artigos, dentre os quais, por supor portarem natureza similar, optei por
considerar, para os propósitos deste trabalho, apenas os seguintes: Movimento
Espírita no Amazonas: sistematização de um programa de pesquisa para ampliar o
conhecimento de sua história (Machado, 2009), Uma possível periodização para a
história do Movimento Espírita no Amazonas (Machado, 2009), Ações ecumênicas na
Fundação Allan Kardec: motivações, realizações e planos futuros (MACHADO, MELO
e REBOUÇAS, 2013) e Simpósio FAK: conquistas e atualização em seu programa de
pesquisas (MACHADO, MELO e LIMA, 2015).
Assim, o objetivo deste texto foi registrar a avaliação feita sobre as possíveis
revelações que os conteúdos destes artigos aportam sobre mim próprio, nas três
dimensões antes referidas: comprometimentos, realizações e compromissos.
O intento foi efetivado por meio dos seguintes focos de reflexões: apresentação
resumida de cada artigo, possíveis vínculos entre seus conteúdos, apreciação sobre
o que tais conteúdos podem evidenciar sobre mim mesmo, aportes doutrinários para
fundamentar as apreciações e conclusão.
As contribuições ensejadas pelo trabalho, de fato, possibilitaram aproximar-me
um pouco mais de percepções que, suponho, caracterizam as minhas circunstâncias
enquanto espírito imortal. É possível, também, que os resultados relatados possam
ajudar outros trabalhadores do bem, que experimentem situações similares, a
fazerem suas próprias reflexões. E, ainda, permitiu constatar que a produção da
seção ―o que aprendi sobre mim mesmo‖ parece ser uma estratégia eficaz para levar
o articulista a refletir sobre suas próprias necessidades em vez de se considerar
produtor de conhecimento, apenas, para os outros.
300
Trabalhador da Fundação Allan Kardec, Manaus, Amazonas.
366
2- DESENVOLVIMENTO
2.1- Os artigos considerados
2.1.1- Sobre a sistematização de um programa de pesquisa para ampliar o
conhecimento da história do Movimento Espírita no Amazonas, em 2009.
O artigo foi motivado pelas notícias de que esse movimento teria tido uma
pujança insitada, no início do século XX, que por volta dos anos 30 a 50, do mesmo
século, teria havido quase seu silenciamento e que, a partir dos anos 50, quando se
supunha um movimento em ocaso, eis que se evidenciou um recomeço a partir do
qual ele não parou mais de dinamizar-se até os dias presentes. Motivou-o, ainda, o
advento do Simpósio FAK que, por suposto, demandaria a organização de assuntos
relevantes a serem pesquisados, com indicações de possíveis fontes para orientar os
interessados.
Nesse sentido, seu objetivo foi propor, de maneira sistematizada, um programa
de pesquisas para ampliar o conhecimento da trajetória desse pujante movimento no
Amazonas e reconstruir um nexo lógico no andamento do movimento no estado para,
a partir dessa perspectiva, identificar temas relevantes demandantes de
investigações. De fato, o programa proposto, com pequenos ajustes a cada edição,
tem orientado os trabalhos produzidos no Simpósio FAK.
2.1.2- Sobre uma possível periodização para a história do Movimento Espírita
no Amazonas, em 2009.
O artigo foi um complemento do trabalho referido anteriormente. Justifiquei que,
por ser uma dinâmica social esse movimento teria tido fases diferentes, com suas
características e circunstâncias e que, revendo-as seria possível encontrar uma
lógica para seu desenvolvimento e com isso, formular compreensão mais nítida sobre
sua saga passada e de seus marcos significativos, sobre as pertinências e
circunstâncias de seu presente e sobre as prováveis responsabilidades antevistas
para o futuro.
Assim, o propósito do trabalho foi apresentar uma proposta de periodização
para a história do Movimento Espírita no Amazonas, como mero exercício de
observação e ensaio despretencioso para servir de estímulo para que outros também
o fizessem. Como outras contribuições ainda não surgiram, a proposta apresentada à
época continua servindo de referência para o trato com a questão.
2.1.3- Sobre as motivações, realizações e planos futuros das ações ecumênicas
da Fundação Allan Kardec, em 2013.
Esse artigo foi desenvolvido em coautoria com Orlens da Silva Melo e Gustavo
Rebouças de Lima. As motivações para produzí-lo vieram das experiências bem
sucedidas de aproximação com outras tradições religiosas, tanto em termos de
compartilhamento das visões sobre o sagrado e éticas para a vida, quanto em termos
de práticas do bem, realizadas em conjunto com instituições católicas e evangélicas,
no atendimento a migrantes e a depentes químicos. Inspirados pelos ensinos de
Jesus sobre a necessidade de adorar o Pai em espírito e verdade, elegendo o
trabalho no bem como o fator de identificação dos verdadeiros adoradores do Senhor,
julgou-se que a instituição estava sendo chamada a consolidar sua atuação a
367
respeito e a sistematizar compromissos por meio dos quais a atuação
verdadeiramente ecumênica pudesse se efetivar.
Nesse sentido, o objetivo do artigo foi avaliar as motivações das referidas
ações, identificar as realizações já efetivadas e, com tais perspectivas, apontar
possíveis compromissos futuros. De fato, uma agenda emergiu e tem servido, com
mais ou menos ênfase, de orientação para as atividades institucionais, relativamente
à temática. Entre outros, destacam-se, como itens da agenda: programa de estudos
sobre tradições religiosas, treinamentos para trabalhadores da FAK melhor
acolherem assistidos oriundos de outras formações religiosas, realização bianual de
encontros ecumênicos, realização de eventos artísticos com a participação de
núcleos de outras concepções religiosas, apoio às obras do bem conduzidas por
participante de outras inspirações religiosas, entre outros.
2.1.4 Sobre as conquistas do Simpósio FAK e proposta de atualizações em seu
programa de pesquisa, 2015
Esse artigo foi desenvolvido em coautoria com Orlens da Silva Melo e as
motivações para produzí-lo vieram da percepção de que, após quatro edições,
tornava-se necessário avaliar a pertinência do programa de pesquisa inicial adotado e
as suas atualizações. Havia a perspectiva de torna-lo útil para interessados de
quaisquer outras instituições na região, de fazê-lo menos focado na FAK em si e de
ver refletido, de forma mais fundamentada, temas relacionados com os desafios
futuros dos espíritas em torno da efetivação do conhecimento espírita na
transformação individual e coletiva.
Nesse sentido, o objetivo do artigo foi fazer uma avaliação geral de como os
trabalhos se distribuíram, nas quatro edições do simpósio, pelos temas, subtemas e
assuntos previstos e propor uma atualização de seu conteúdo, considerando as
constatações sobre relevância ou não de assuntos previstos versus ocorridos,
assuntos que se apresentaram demandando enquadramento mais apropriado que os
disponíveis no programa, expectativas mais precisas sobre assuntos referentes aos
desafios futuros dos espíritas quanto à efetivação dos ensinos espíritas como fonte
de melhoria individual e social. De fato, o novo programa resultante, aplicado a partir
desta edição (2017), parece comportar todas essas expectativas e parece, também,
que seguirá sendo útil para dar unidade atualizada às pesquisas que são
apresentadas e para orientar os potenciais articulistas na escolha de assunto,
qualquer que seja o seu interesse e qualquer que seja a obra do bem à qual se filia
nas terras amazônicas.
2.2- Possíveis vínculos entre os conteúdos dos artigos
Apreciando-se os conteúdos é possível identificar algumas características, a
saber:
a) Busca de compreensão do escopo e das lógicas que organizam a realidade – em
todos os artigos há uma procura por nexos, aspectos organizadores, ampliação da
percepção para o ontem, o hoje e o amanhã;
b) Tentativa de estabelecer definições e referências – em todos os artigos é possível
perceber definições, estabelecimento de conceitos, caracterizações, eleição de
critérios para as validações possíveis, inclusive promovendo enquadramentos e
gerando quadros e tabelas para visualizar a percepção adotada como adequada;
368
c) Propósito de influenciar rumos e prescrever ações aos envolvidos com as
temáticas – em todos os artigos há sempre, como resultado, propostas para orientar
os envolvidos em seus rumos futuros, seja com programas de assuntos para as
pesquisas do simpósio, com periodizações para referenciar os fatos do movimento ou
mesmo para apontar agenda de compromissos para o trato do ecumenismo na
instituição.
Tais constatações não implicam que houvesse um propósito ilegítimo, que
seus conteúdos não fossem oportunos ou ainda, que suas contribuições não fossem
dotadas de valor. Ao contrário, todos os esses artigos foram produzidos com esforço
honesto e imbuído do lídimo interesse em servir ao bem comum. E de fato, todos eles
produziram resultados que têm sido, intensamente, úteis para a instituição e o
simpósio que realiza. Porém, é inegável que ao analisá-los, em conjunto, observa-se
essas características permeando-lhes o conteúdo. E isso, obviamente, está
associado às minhas circunstâncias como espírito imortal, como será visto na seção
seguinte.
2.3- Possíveis evidências dos conteúdos dos artigos sobre mim mesmo
2.3.1- Sobre comprometimentos obtidos
Após avaliar os artigos produzidos e os vínculos existentes entre eles, emerge
a pergunta: o que suponho, em minha jornada de espírito imortal, tenha me levado a
escolher esses temas e tratá-los da forma como se apresentam nos textos?
Para responder, é necessário considerar, também, quais têm sido os focos de
minha atuação, como trabalhador atuante do Movimento Espírita, especialmente na
Fundação Allan Kardec. Parte relevante dessa atuação tem sido produzir diretrizes de
atividades, estatutos, planos de trabalho, processos de avaliação, roteiros de
estudos, fundamentação doutrinária, ações do Movimento Espírita, entre outras
similares.
Juntando-se essa atuação com os temas dos artigos analisados, considero
plausível ter obtido comprometimentos em ações como líder religioso, condição na
qual, é possível supor que tenha me conduzido com vontade personalista, pretensão
de fonte sapiente e, com isso, produzido orientações mais para exercitar domínio do
que para apoiar o bem na Terra, consoante as orientações sublimes do Evangelho.
As atividades e buscas de agora, ainda que sejam em posições e temáticas
similares, são permeadas por um intenso desejo de cooperar, virtuosamente, para os
propósitos antes malbaratados ou usados apenas como álibes para o orgulho, em
sua faceta de vontade de superioridade e alheamento da verdadeira forma de
cooperar com o próximo na busca de Deus, como ensinou Jesus: brilhe vossa luz
para que os outros homens, vendo vossas boas obras, também glorifique ao Pai que
está nos Céus.
2.3.2- Sobre as realizações da atualidade
Para esta dimensão do aprendizado, importa responder a pergunta: que
relações posso estabelecer entre essas reflexões e os desafios/inquietudes que
vivencio na realização das atividades às quais me vinculo ou em relação ao tema
objeto da análise?
Em minhas reflexões, quanto a isso, identifico:
369
- determinação intensa de realizar, com empenho e efetividade, todas as
responsabilidades que entendo serem de meu dever e, ao mesmo tempo, de não
insistir ou permanecer, além do que for necessário, em posições de liderança ou de
orientador das obras do bem ao qual me filio;
- vontade íntima de produzir, com maior precisão possível, instrumentos que
permitam ao meu semelhante acessar as verdades doutrinárias e sobre Jesus e seu
Evengalho, bem como, de não tornar complexas demais as orientações e diretrizes
produzidas, criando, assim, novamente, dificuldades para os que ombreiam comigo
na obra do bem;
- preocupação em organizar com solidez e fundamentos racionais o
funcionamento da obra do bem ao qual me filio e, ao mesmo tempo, evitar que se
tornem demasiadamente burocráticas, hierarquizadas e consumidas por atividades-
meios;
- preocupação em administrar e cuidar, engajadamente, do funcionamento da
obra do bem e, ao mesmo tempo, evitar que os responsáveis por tais dinâmicas se
transformem em meros administradores religiosos, afastando-se das atividades fins e
do contado com o aprendizado diretamente com as necessidades do próximo;
- preocupação ostensiva em fundamentar, em fontes doutrinárias, as
produções, orientações e posições adotadas na condição de líder religioso e, ao
mesmo tempo, introduzir erudição desnecessária e ofuscar a simplicidade no trato
com os temas sagrados;
- propósito sistematizado para evitar que as orientações e produções
ensejadas se cristalizem como verdades imutáveis, submentendo-as a avaliações
regulares e, ao mesmo tempo, para evitar que os espaços da obra do bem abriguem
ebulição malsã e confronto de opiniões, quase sempre fonte para dissenções.
2.3.3- Sobre compromissos de longo prazo
Para esta dimensão do aprendizado, importa responder a pergunta: o que o
estudo do tema me suscitou quanto a intenções de realizações ou de inquietudes
espirituais requerendo atenção?
As minhas reflexões, quanto a isso, são:
- compromisso de seguir produzindo contribuições para aprofundar o
conhecimento de Jesus e de seu Evangelho;
- planos de organizar e fundamentar meus aprendizados como condutor de
uma obra do bem, refletindo neles as contribuições que possam ser úteis e, ao
mesmo tempo, as preocupações e cuidados necessários, conforme expostos na
seção anterior;
- vontade de dedicação, de forma mais plena, a atividades mais direta e
regularmente associadas ao meu semelhante e às suas dificuldades existenciais;
- compromisso de seguir tentando, de forma mais insistente, a vivência dos
ensinos do Cristo em todos os aspectos do quotidiano da vida.
2.4- Aportes doutrinários para apreciação das possíveis evidências
370
Jesus, em sublime colóquio com aqueles que tinham a pretensão de mediar a
relação dos homens com Deus, encastelados que estavam no Templo de Jerusalém,
donde ditavam ordenações e julgamentos sobre a vida diária dos judeus, legou-nos
vários ensinos sobre a temática deste artigo, entre os quais destaco:
1 Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, 2 Dizendo: Na
cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. 3 Todas
as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-
as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque
dizem e não fazem; 4 Pois atam fardos pesados e difíceis de
suportar, e os pöem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com
o dedo querem movê-los (Mateus 23, 1-4, grifos meus)
Trata-se de advertência contundente para os que atuam na condição de
líderes religiosos. De fato, a história das religiões, em todos os tempos, tem sido,
marcada por atitudes dessa natureza, que são frutos do orgulho e da insubmissão
dos homens a Deus. Como consequência, as multidões seguem como ―ovelhas sem
pastor‖ distantes das buscas verdadeiramente sagradas e ainda mergulhadas no
primitivismo das guerras, dos vícios e do egoísmo.
E essa é bem a situação que suponho caracterizar a minha condição de
espírito imortal ou, pelo menos, a que mais parece requerer ajustes em minha
consciência. Vejo-me, pois, como atador de fardos sobre ombros alheios, mas pouco
exitoso em fazer o que tenho prescrito ou transmitido como certo aos outros. Desta
feita, entretanto, com pouco mais de lucidez sobre tal circunstância, espero estar
dando a atenção devida a esses passivos da consciência.
No livro Reportagens de Além Túmulo, capítulo ―O irmão Severiano‖, Humberto
de Campos relata a história de Severiano Fagundes, informando que era dos
¨melhores doutrinadores do Espiritismo numa das grandes capitais brasileiras‖,
admirado como palestrante e tido como especialista nos diversos aspectos da prática
mediúnica. Entretanto, além de arbitrátio em seu modos de agir comprazia-se com
certas irregularidades da vida, escudando-se no fato de nunca faltar aos deveres para
com a Doutrina, ser pontual em seus compromissos e não se furtar a qualquer
trabalho para qual era convocado. Era valente e sabia ―animar, corrigir, resolver
problemas difíceis, lançar incentivos eficazes‖, porém esquecia-se da família e não
tolerava a esposa que Deus lhe havia confiado. E, assim, entre casos tristes e
situações pessoais escavrosas, ―continuava impávido no arrojo da pregação‖.
Ao desencarnar, viu-se sem rumo e entre sombras e paisagens confusas, o
que o levou a refletir mais seriamente sobre os detalhes da existência que se
encerrara e a consciência lhe dizia que havia deixado muitas tarefas por fazer, em
virtude da deficiência de seu esforço, sempre tão pronto para ensinar aos outros. Os
remorsos e dores íntimas emergiram, levando-o, certo dia, a chorar copiosamente
rogando socorro divino.
Viu-se, então, diante de entidade superior com quem trava o seguinte diálogo:
— Irmão querido — perguntou o ex-doutrinador, sensibilizado —, por que
sofro tanto, em caminhos sem luz?
— É que acendeste muita claridade nos outros, mas esqueceste de ti
mesmo — esclareceu a nobre entidade com amoroso sorriso.
Severiano começou a explicar-se: lamentou a sua situação, falou
longamente, mas o mensageiro de Jesus interrogou com solicitude
fraternal:
— Irmão Severiano, serviste de fato ao Evangelho?
371
— Sim — replicou o mísero, hesitante —, disciplinei muitos Espíritos
perturbadores, fazendo-lhes sentir os deveres que lhes competiam.
A generosa entidade tomou então de um grande volume e
afirmou com bondade:
— Temos aqui o Evangelho, tal como o estudaste no mundo.
Observemos o que nos diz a lição de Jesus, com respeito à tua primeira
alegação.
E o livro abriu-se, automaticamente, impulsionado por energias
luminosas, apresentando o versículo 4 do capítulo 23, de Mateus: ―Pois
atam fardos pesados e difíceis de suportar e os põem aos ombros dos
homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los‖. (Mt)
Severiano Fagundes ficou muito pálido. Recordou, instintivamente, tudo o
que deixara de fazer no círculo de suas obrigações justas. Como o
generoso amigo espiritual o contemplava em silêncio, sorrindo com amor,
o pobre irmão, que lembrava as lutas da Terra, murmurou:
— Sei que não cuidei de mim, como deveria; entretanto, tive
muita fé.
Essas palavras foram proferidas com enorme desapontamento. Mas o
emissário do Cristo voltou a dizer:
— Vejamos, então, o que nos diz o Evangelho, relativamente à
tua segunda alegação.
E surgiu o versículo 17 do capítulo 2 da Epístola universal de Tiago, em
caracteres radiosos: ―Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta
em si mesma‖.
Severiano baixou os olhos e começou a chorar amargamente, pois só
agora reconhecia que ensinara muito Evangelho aos outros, lendo-o com
leviandade; todavia, não aplicara o código divino à própria vida [...]
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A página de Humberto de Campos prossegue informando que a nobre
entidade anunciou que Severiano reencarnaria novamente para serviço redentor no
bem, mas que não deveria esquecer que, como encarnado, seria também ―Espírito
em doutrinação‖ e que, por isso, era preciso escutar o dever, a luta e o sofrimento
como sendo mensageiros de Jesus, a ensinar o Evangelho na Terra. Informou que
precisava, sim, ser canal da verdade para os outros, mas que era indispensável ser
canal e reservatório ao mesmo tempo, a fim de que, ―como discípulos de um Mestre
tão rico de sabedoria e amor, não venhamos a sucumbir pela miséria própria‖.
Informa, por fim, Humberto de Campos, que ―cheio de lágrimas e esperanças
novas, Severiano Fagundes começou a preparar-se para recomeçar a lição na vida
humana‖.
Com base nas reflexões deste artigo, a história de Severiano bem poderia ser
a de qualquer dos muitos líderes religiosos que, distraídos, prosseguem atando laços
sobre ombros alheios sem, contudo, qualquer esfoço para viver o que ensinam. E, se
a tomasse como símile da minha própria história, eu continuaria relatando, mais ou
menos, nos seguintes termos: tempos depois, em 10 de setembro de 1953, na
pequena vila de Terra Santa, no estado do Pará, Brasil, nas entranhas da bela
Amazônia, nasceria um Espírito cheio de esperanças por superar-se a si mesmo, que
recebeu o nome José Alberto da Costa Machado e que trazia inscrito entre seus
compromissos mais sagrados, alistar-se em obra do bem para divulgar os ensinos de
Jesus, vivenciá-los e ajudar seus irmãos a também afeiçoarem-se ao Divino Mestre.
372
Conseguiria? Por volta de 2017, instado por bendita oportunidade, ensejada
pelo Simpósio FAK, preocupado, começou reflexões sérias para avaliar se estava ou
não conseguindo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC. V Simpósio FAK - Espíritas na Amazônia: suas
buscas nas realizações do passado e do presente, e nas motivações para o
futuro - Tópicos para orientação dos articulistas. Mimeo. Manaus: Fundação
Allan Kardec, 2017.
MACHADO, J. A. C. Movimento espírita no Amazonas: sistematização de um
programa de pesquisa para ampliar o conhecimento de sua história. Anais
do I Simpósio FAK - O ESPIRITISMO EM TERRAS AMAZÔNICAS: origens,
realizações e compromissos, 1, 2 e 3 DE MAIO DE 2009. Manaus (AM):
Fundação Allan Kardec, 2009.
MACHADO, J. A. C. Uma possível periodização para a história do movimento
espírita no Amazonas. Anais do I Simpósio FAK - O ESPIRITISMO EM TERRAS
AMAZÔNICAS: origens, realizações e compromissos, 1, 2 e 3 DE MAIO DE 2009.
Manaus (AM): Fundação Allan Kardec, 2009.
MACHADO, J. A. C; MELO, O. S.; LIMA, G. R. Ações ecumênicas na Fundação
Allan Kardec: motivações, realizações e planos futuros. Anais do III Simpósio
FAK: O espiritismo nas terras amazônicas: origens, realizações e compromissos.
23 a 27 de outubro de 2013. Manaus: Casa Bendita, 2014.
MACHADO, J. A. C; MELO, O. S. Simpósio FAK: conquistas e atualização em
seu programa de pesquisas. Anais do IV Simpósio FAK: O espiritismo nas
terras amazônicas: origens, realizações e compromissos. 09 a 12 de outubro de
2015. Manaus: Fundação Allan Kardec, 2015.
XAVIER, Francisco C. – Reportagens de Além Túmulo, pelo Espírito Humberto
de Campos. FEB, Rio de Janeiro, 13ª ed., 2014.
373
O QUE APRENDI ESCREVENDO O ARTIGO “A EDUCAÇÃO DAS
EMOÇÕES E O AUTOCONHECIMENTO: CAMINHOS DO
APRIMORAMENTO ESPIRITUAL”
Claudia Aparecida de Araújo Pinheiro301
INTRODUÇÃO
O artigo ―A educação das emoções e o autoconhecimento: caminhos do
aprimoramento espiritual‖ teve por objetivo entender o impacto das nossas
emoções na evolução do Espírito imortal.
Quando tomei conhecimento da existência do Simpósio na Fundação
Allan Kardec e dos seus objetivos, senti-me profundamente interessada em
desenvolver uma pesquisa mais aprofundada sobre temas relacionados às
minhas dificuldades, dos quais ainda não havia tido o entendimento devido.
Nesta época, participava do curso de autodescobrimento, com a dirigente
Terezinha, onde escutei pela primeira vez as palavras autodescobrimento e
reforma íntima. Estudava o ESDE (Estudo Sistematizado da Doutrina Espirita),
onde descobri que era um Espírito Imortal – Espírito, já sabia que era, mas
imortal, para mim, foi uma descoberta que mudou a atual encarnação.
Entender que o individuo vive várias encarnações e que em cada uma evolui
um pouco mais, trouxe uma leveza para o processo. Agora, dar um bom
aproveitamento à atual encarnação parecia ser uma escolha. Antes o
sentimento era de fatalidade, que nada poderia fazer, que o sofrimento e os
erros deveriam ser aceitos e que quando fosse a vontade de Deus as coisas
melhorariam. Nesta visão, eu não precisava mudar, nem fazer nada,
contemplar o murmúrio e o vitimismo era natural, consequência de culpas que
nem eu mesma entendia do que.
A Casa se preparava para o IV Simpósio e seus dirigentes visitavam as
salas, convidando os estudantes para participarem como articulistas. Naquela
ocasião, o Professor Raimundo fez o convite na minha sala dizendo que
quando os interessados entram neste processo de estudo e produção de
obras, a espiritualidade que dirige a Casa se aproxima deste para auxiliar.
Movida pela curiosidade em entender como era este processo entre os dois
planos, senti-me motivada a tentar. Nesta época, não percebia em mim a
influência do plano espiritual, nem as intuições que muitos amigos relatavam
receber. Frequentava a Casa há três anos e me considerava no Jardim de
Infância desta imensa escola espírita.
Mesmo sem saber se teria condições intelectuais de realizar o artigo,
mesmo sem ter um tema definido, me candidatei a escrever simplesmente
porque senti ―vontade‖ de participar. Mal eu sabia que já estava sendo
conduzida neste processo pelos amigos espirituais. No próximo encontro, o
301
Trabalhadora da Diretoria de Apoio a Melhoria Interior / Fundação Allan Kardec.
374
tema já piscava como um neon em minha mente: Educando as emoções... Saí
desta reunião e fui direto à Livraria Didier pesquisar livros e iniciei a leitura das
obras. Uma energia tomou conta de mim e o encantamento com o tema foi
intenso. A cada obra, ia me percebendo, fazendo a associação com minhas
mazelas, dificuldades e necessidades tão limitantes. Entendendo os porquês
de muitas coisas e aprendendo a me entender melhor.
Após a leitura, a vontade de escrever brotou ardentemente. Organizava
os dias e os horários que iria me dedicar à elaboração, e o trabalho fluía.
Lembro que em muitos momentos o sono vinha de forma intensa, parava,
deitava e durante aquele pequeno período de sono parecia que ia participar de
uma reunião de trabalho onde discutíamos o tema, recebia orientações e
depois despertava e voltava ao texto, reescrevendo, ajustando e aprimorando.
Depois que percebi este processo já não brigava mais com o sono, eu
esperava o momento para ―tirar minhas dúvidas‖.
Fui orientada pela Joyce Machado, uma pessoa maravilhosa que me
ajudou a expressar meus pensamentos neste artigo, desafio enorme para mim,
pois, me sentia limitada na escrita e na construção do raciocínio lógico,
sequencial e harmônico. No primeiro rascunho abordei tantos assuntos
distintos que fui da criação do ser imortal até o mundo de regeneração. A
minha querida orientadora, foi comigo, encontrando o tom do artigo, o que de
fato queria abordar e limitando o assunto. Em nossas tardes de reflexão, novos
insights iam surgindo e novas conexões com o tema iam acontecendo. Ela me
ajudou a entender como este tema poderia contribuir com a nossa Casa e seus
frequentadores. Saímos do embasamento teórico para a vivência, para a
prática do que propunha esta pesquisa.
Assim o artigo teve como objetivo entender como as emoções humanas
refletem o mundo íntimo do indivíduo e como se expressam no mundo exterior.
E, em um processo de autopercepção, este poderia atuar de forma consciente
na vida, por meio de escolhas mais assertivas, dando ao seu livre-arbítrio o
poder que lhe cabe no auxilio da sua própria evolução.
Neste artigo, adotamos as definições de emoção, sentimento e instintos
apresentadas por Jason de Camargo (2014). Para ele, a palavra emoção
significa mover para fora. Então, as emoções poderiam ser um grande aliado
para o aprimoramento espiritual do ser. Elas são mais fáceis de serem
interpretadas, logo poderiam ser sinalizadores da alma. Já os sentimentos são
mais introspectivos, intrínsecos, nem sempre se tornam perceptíveis.
Buscou-se no estudo das emoções alcançar uma compreensão maior
das sensações humanas, como ponto inicial para buscas posteriores sobre os
sentimentos por trás dos comportamentos. Jason de Camargo (2014) ressalta
que os sentimentos são um conjunto de qualidades morais do indivíduo. Afirma
que sem eles o homem voltaria a barbárie, e, portanto, é um processo
transformacional. Enquanto que os instintos são essas energias modificadas
pelo tempo, originadas da evolução. Os instintos primários adquirem a
sensibilidade em expansão e se configuram nas primeiras emoções,
375
sentimentos e demais elementos da psique em franco desenvolvimento
(CAMARGO, 2014).
O ser através de um processo de autoconhecimento poderá desenvolver a
habilidade de educar as emoções, mudando padrões comportamentais,
assumindo novos desafios no seu aprimoramento espiritual que o levará a
vivenciar novas formas de amor. Para o homem, Jesus é o maior modelo de
referência da plenitude do sentimento do amor que um dia poder-se-á alcançar.
E hoje, em algum grau, cada indivíduo pode segui-Lo, amando-se mais. O
amor ao próximo se torna natural pois vamos sendo mais tolerantes com o
outro. Amando o outro, o indivíduo vai dando passos que o aproximam do amor
a Deus.
As questões de Santo Agostinho no Livro dos Espíritos (KARDEC, 2013), a
partir das questões 909, foram o móvel instigante deste trabalho. Entender
como o processo de mudança era fácil e o que nos faltava era a vontade, me
inquietava fortemente. Instigada pela máxima do ―Conhece-te a ti mesmo‖,
busquei nesta pesquisa entender a mim mesma e como poderia vencer meus
maiores desafios e iniciar um processo de reforma íntima consciente.
O QUE APRENDI SOBRE O TEMA
As emoções fluem do campo mental, exteriorizam no períspirito e
irradiam para o cérebro do corpo físico. Educar as emoções, para contribuir
com o equilíbrio psíquico e neutralizar energias deletérias, é uma forma de
autoamor pois o desequilíbrio destas acarretam transtornos de comportamento
e até doenças físicas.
Neste processo vamos alimentando virtudes essenciais para o nosso
desenvolvimento moral, com escolhas mais assertivas e conscientes, podendo
ir alinhando a atual encarnação com o planejamento reencarnatório, gravados
em cada ser.
O ser humano em sua evolução originalmente foi só instinto, onde o
objetivo maior era a necessidade de conservação. Em um processo evolutivo,
nos vários estágios de desenvolvimento, os espíritas vão assumindo
comprometimentos também em decorrência do uso deliberado dos seus
instintos, que acompanham os costumes das eras vivenciadas e da ignorância,
muitas vezes, de outras eras. Ao longo de muitas encarnações, o ser segue
desenvolvendo sua inteligência, aperfeiçoando certas aptidões que reverberam
em novas outras. Mais tarde, vai desenvolvendo sua inteligência emocional e
passa a perceber seus sentimentos, aprender a lidar com eles, dominando os
negativos, desenvolvendo os positivos, de modo a conquistar o equilíbrio
emocional.
Nesta jornada evolutiva, o ser vai construindo uma vida equilibrada,
visando relações saudáveis através da educação das emoções humanas, e
assim vai adquirindo novas percepções sobre a vida, a relação em sociedade e
vai aprimorando também seus sentimentos e emoções. À medida que sua
moralidade é aperfeiçoada, seus sentimentos acompanham este
376
desenvolvimento, por meio de novas formas de sentir e pensar. Neste
momento, pode contribuir com maior consciência para o bem pessoal e
coletivo, dando passos seguros em suas realizações. Aos poucos, segue
desenvolvendo autoestima, autoconfiança, autodomínio, sempre partindo da
autopercepção dos seus sentimentos, acolhendo as suas emoções de forma
consciente.
As emoções, neste processo, por serem mais espontâneas, por
expressarem corporalmente através da agitação, suor, choro, melancolia e
outros se tornam mais perceptíveis e possibilitam um maior entendimento dos
sentimentos. Estes definem, a estrutura espiritual do ser, produzindo vibrações
emanadas em ondas que se ligam a outras ondas. O sentimento esculpe,
plasma, molda o pensamento, gerando ideias e comportamentos agradáveis ou
desagradáveis. Os pensamentos são dirigidos pelos sentimentos, e, somente
por meio de pensamentos e sentimentos elevados que nosso aprimoramento
moral acontecerá.
Através da educação das emoções, podemos transformar erros do
passado em escolhas iluminativas do presente. Passamos a resgatar débitos
contraídos nesta ou em outras encarnações e vamos assumindo os
compromissos estabelecidos em nosso planejamento reencanatório, por meio
da vontade, instintos impermanentes em sentimentos permanentes, elevando-
os a valores morais. Admitindo a si mesmo o que realmente sente, por meio de
um processo de autoconhecimento, desenvolve novas atitudes resultantes de
suas reflexões e disciplina. Já dizia Santo Agostinho no Livro dos Espíritos que
a mudança acontece por meio de um esforço insignificante (KARDEC, 2013).
Assim o ser humano escolhe a felicidade ou o sofrimento, a saúde ou a
doença, a evolução ou a paralisia. Seguindo as Leis Divinas, encontrará a
plenitude interior, geradoras de sentimentos como o amor e a caridade. Dará
passos importantes na sua evolução espiritual.
Logo o conhecimento é a porta do progresso moral, o qual possibilitará o
entendimento do bem e do mal, enquanto o autoconhecimento é uma das fases
de transformação interior. Pois é na vida de relação que as experiências
iluminativas acontecerão, ora pelo amor, ora pela dor, em uma dinâmica de
ensino onde o homem vai transmutando murmúrio em submissão ao seu
planejamento reencarnarório. Em um mundo de provas e expiações nos
enganamos em ilusões que dificultam nossa marcha.
O convite é vivenciar hoje os conhecimentos adquiridos, servir ao
próximo da melhor forma, sentir o autoamor na luz dos ensinos do mestre
Jesus. Auxiliando o outro, o homem se auxilia, adquirindo mais conhecimentos
sobre si mesmo, revela suas sombras e dificuldades e com disposição de
combatê-las, segue avançando em seu progresso. Assim vai aflorando em nós
a Centelha Divina que temos, possibilitando o homem novo nascer e a
desenvolver o amor em um grau maior.
Quando o homem inicia sua jornada de autoconhecimento, ele muda
suas percepções pessoais, que vai mudar seus pensamentos e
377
consequentemente seu comportamento. Isso acontece no âmbito familiar e
social onde está inserido. Quando muitos homens assumem este movimento,
reverbera uma mudança coletiva de alcance imensurável. Logo a atmosfera da
Terra vai sendo alterada, possibilitando sobressair o bem sobre o mau, levando
ao prelúdio do mundo de regeneração. Isso porque a essência do espírito
imortal é boa, latente de sentimentos nobres e edificantes. Sendo possível ser
ativado este processo também pela educação das emoções, onde portador de
atitudes renovadas, moldadas no bem, com hábitos saudáveis em um caminho
de luz e felicidade aos poucos o Ser afastará os dias de sombra do passado.
O aprimoramento moral faz parte da Lei do Progresso, pela qual,
querendo ou não, todos iremos passar. Este autoaprimoramento individual
acontecerá por meio da transformação dos conhecimentos acumulados em
melhores escolhas. O convite ao ―Conhece-te a ti mesmo‖, busca por meio
desta autoconfrontação o olhar sem enganos aos vícios comportamentais que
podem estar sendo repetidos há milênios. Neste processo, o Ser não esta só!
Pode-se buscar auxílio da espiritualidade, conectanto-se com seu mentor,
alargando a consciência e imprimindo a vontade de mudanças na construção
de novos rumos.
Estudar os pontos fracos, analisando comportamentos indesejáveis
frente a reações de conflito e desequilíbrio, facultará o entendimento dos
sentimentos por trás destes, chegando à causa dos males a serem renovados.
Este processo de identificação poderá ser realizado por meio do
autoconhecimento, com conversa interior, com estudo e com o trabalho no
bem, oportunidade em que quanto mais limpo estiver seu campo mental, mais
percepções poderá colher. Para isso, manter uma rotina de bons hábitos por
meio da prática da meditação, da prece, de bons pensamentos, do evangelho
no lar, boas leituras, músicas edificantes, desenvolvimento de novas virtudes e
atitudes renovadoras, favorecem o nascimento deste novo ser.
Ao aprender a lidar com o que esta dentro, acolhendo com autoamor
para solidificar o equilíbrio interior e assim, não permitir que situações
exteriores adversas causem comportamentos indesejáveis, o indivíduo vai
transformando as adversidades em aprendizado e passando a agir de forma
equilibrada, passando a permanecer em uma faixa vibratória luminosa onde
receberá todos os recursos necessários para vencer suas limitações e más
inclinações.
As Casas Espíritas atuam fortemente no desenvolvimento moral e
intelectual de seus assistidos, por meio de estudos e de práticas no trabalho do
bem. Ampliar o estudo de autoconhecimento, iniciando na autopercepção das
emoções humanas, poderia ser um remédio preventivo para as dores da alma.
Por meio da inteligência espiritual, a Casa contribuiria com a manutenção do
equilíbrio psíquico saudável de seus assistidos, como forma de recurso
terapêutico.
378
CONCLUSÃO
Tornar consciente seus sentimentos através das emoções é um
importante passo para aplicar o processo de autoconhecimento e outro, será
escolher o que fazer com o que se está sentindo. Os sentimentos são naturais,
sempre existiram e sempre existirão. O entendimento que esta por trás destes
é que devem ser observados. Por isso, o processo de autoconhecimento é
importante e a reforma intima será resultante da habilidade em lidar com este
desconhecido.
Este processo de conversa interior levará a um amadurecimento
emocional pois a criatura ao entender o sentido e a finalidade daquela emoção,
poderá agir de forma saudável e fazer escolhas assertivas, sabendo que não
existem emoções ou sentimentos errados e que todos apresentam um
significado educativo na vida íntima do ser. Entender que sentimento e emoção
são vibrações e energias, logo, que obedecem à lei de sintonia, onde o corpo
espiritual atua como um centro magnético atraindo semelhantes, é
fundamental. A decisão de manter-se em boas vibrações parece ser a única
opção.
O autoamor é o caminho para este processo de plenificação do Espírito.
Importante destacar que, o maior sentimento sempre será o amor pois
foi este ensinado por Jesus quando disse: ―Amai a Deus sobre todas as coisas
e ao próximo como a ti mesmo‖, Mateus 22:39. O amor é envolto de
compreensão, respeito ao criador, a criação e a criatura. Desenvolve no
homem sentimentos nobres como a caridade, a gratidão e o perdão. Neste
sentido, é saudável buscar a transformação dos sentimentos egóicos em
nobres e ainda, desta forma poder-se-á tratar várias doenças como depressão
e ansiedade, vencendo o medo e a desesperança.
Quando o homem adquire o equilíbrio mental, ele consegue utilizar suas
aptidões com plenificação, permanecendo em um campo vibracional de mente
sã. No estado de paz interior, a mente encontra terreno fértil para prover sua
plena inteligência de forma ainda mais criativa e poderosa. Assim conhecerá a
verdadeira sabedoria. Portador do domínio interior, Jesus mostrou o que a fé
pode fazer quando curou paralíticos, transformou água em vinho, multiplicou
pães e tantas outras lindas passagens. Talvez o maior desafio no processo
atual da humanidade seja o desenvolvimento da aptidão de amar ao próximo
como a si mesmo, aptidão esta suficiente para mudar toda a historia da
humanidade quando adquirida.
Exaltando o bem existente dentro de si, agora sem culpas, sem
punições, mas com amorosidade, será possível encontrar a serenidade e a
felicidade da qual o Ser é herdeiro.
O QUE EU APRENDI SOBRE MIM
O autoamor.
O autoamor resume tudo que aprendi sobre mim neste artigo. Pude
perceber que tinha desistido de mim mesma e que vivia para representar os
papéis que tinha como mãe, como esposa, como filha, como trabalhadora, etc.
379
Preocupava-me em ser aceita, reconhecida e amada pelo outro, mas eu
mesma não me amava. Em um misto de culpas e autopunição que trazia
gravada em meu Espírito imortal, estava deixando o tempo passar nesta
encarnação. Paralisada em meu processo evolutivo, retardando minha marcha
e sendo levada pela onda do pessimismo e desesperança, sem consciência do
que vim fazer aqui.
Minhas emoções eram relegadas a último plano. Colocava sempre os
desejos, os sonhos, as necessidades dos outros em prioridade máxima. As
minhas necessidades, o que me causava prazer, alegria e felicidade eram
negligenciadas e assim fui me anulando ao longo desta encarnação.
Como a vida é educativa e somos regidos pelas Leis Divinas, a Lei do
Progresso agiu em mim por meio da dor. Atuando de forma cirúrgica em cada
dificuldade, levando-me a me perceber novamente como um ser de luz. Preciso
foi promover o reencontro de mim comigo mesma, e isso aconteceu neste
processo de autodescobrimento. Quando o artigo veio, já encontrou um terreno
fértil para ser semeado.
O entendimento das minhas emoções, de como eu respondia as
dificuldades da vida e, principalmente, que eu era portadora do poder da
escolha, do livre-arbítrio, foi ampliando minha consciência e dando vazão a um
sentimento de pertencimento.
Isso me levou ao autoacolhimento, autoaceitação, autoconfiança, ao
autoamor. Sinto claramente que todos os ―autos‖ estão sendo trabalhados em
mim. A cada dia, novas conexões, novas percepções, novas descobertas.
Agora de forma leve e atuante, entendendo e imprimindo vontade em um
processo diário. Onde cada dia era um dia, em doses pequenas mais
constantes. E fui atraindo para mim situações, coisas e pessoas que iriam me
ajudando nesta mudança.
Pesquisar o artigo, estudar o tema, aplicar na minha vida foi um divisor
de águas profundas do meu ser, pois trouxe para mim mais responsabilidade
sobre minha jornada. Estou em um processo, o estudo não terminou com a
entrega e apresentação do artigo. Diria que ele iniciou ali! Este material serviu
de ponto inicial para muitas outras transformações que vêm sendo realizadas
em mim. Como o assunto me trouxe muito interesse, minhas pesquisas não
pararam, estudo e escrevo sobre inteligência emocional em um blog, fiz cursos
de inteligência emocional e, atualmente concluindo uma formação nesta área,
desenvolvendo uma nova profissão, paralela a atual, para ajudar outras
pessoas.
Todo o processo que passei antes, durante e depois da participação do
Simpósio me possibilitou hoje dar um novo significado à minha encarnação.
Energias de amor, fé, confiança estão sendo trabalhadas em mim a cada dia,
onde sinto o amparo e amorosidade da espiritualidade.
Gratidão a esta Doutrina amorosa que nos ilumina e conduz, aos
dirigentes dos dois planos da vida que conduzem Fundação Allan Kardec por
nos estimular sempre na marcha evolutiva, seja por meio do intelecto ou da
380
moral. Em um lindo caminhar seguimos juntos no progresso que é coletivo e
individual ao mesmo tempo.
Muito obrigada!
REFERÊNCIAS
CAMARGO, Jason de. Educação dos Sentimentos. Porto Alegre:
FERGS,2014.
DUTRA, Haroldo. Palestra: Sentimento. Youtube: Acesso em:
www.youtube.com/watch?v=kEIHKOBJ94ghttps://youtu.be/kEIHKOBJ94g,
Acesso em 05 Set 2014.
ESPIRITO SANTO NETO, Franscisco do. Pelo Espírito de Hammed. Os
prazeres da alma. São Paulo: Boa Nova, 2003.
FRANCO, Divaldo. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. O Ser Consciente.
Salvador: Leal, 2014.
_______. Triunfo pessoal. Pelo Espírito de Joana de Ângelis. 7o. Ed.
Salvador: LEAL, 2013.
_______. O ser consciente. Pelo Espírito de Joana de Ângelis. 17o. Ed.
Salvador: LEAL, 2014.
FILHO, Alírio de Cerqueira. Inteligência das Emoções. São Paulo: Plenitude,
2013.
KARDEC, A. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93o. ed. 1o.
Impressão. Brasília: FEB, 2013.
MONJARDIM, Daniele. Palestra: Malediciência: reciclando os padrões
emocionais que nos levam a maldizer as pessoas e a vida. Youtube:
www.youtube.com/watch?v=Nqyd661-3Sc, 26/01/2012.
OLIVEIRA, Wanderley. Emoções que Curam. Pelo Espírito de Ermance
Dufaux. Belo Horizonte: Dufaux, 2014.
_______. Reforma íntima sem martírio. Pelo Espírito de Ermance Dufaux.
Belo Horizonte: Dufaux, 2014.
TRUCOM, Conceição. Mente e cérebro poderosos. Editora Pensamento.
Cutrix
XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Humberto de Campos. Brasil,
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Brasília: FEB, 2014.
381
REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO COMO AGENTE FUNDAMENTAL
NA QUALIDADE DA PSICOSFERA FÍSICA E ESPIRITUAL
Andréa Maciel Schüssler302
José Laurindo Campos dos Santos303
1. INTRODUÇÃO
A Gênese, codificada por Allan Kardec (1996, p 128), assevera: ―[...]
tudo no Universo se liga, tudo se encadeia; tudo se acha submetido, à grande
harmoniosa lei de unidade, desde a mais compacta materialidade, até a mais
pura espiritualidade.‖ Destarte o pensamento individual ou de uma
coletividade, pode interferir na perfeita disposição estabelecida pelas Leis
Divinas. Quando Jesus alertou sobre o ―Orai e Vigiai‖, estava referindo-se a
observância do mundo íntimo, nas ideias que gravitam na mente, na qualidade
desses sentimentos e emoções que geram os pensamentos e acompanham o
indivíduo.
Contudo todos aqueles que anseiam elevar-se em sabedoria e amor, é
indispensável cultivar a paz, a bondade, a tolerância e todas as qualidades que
trazem alegrias e bem-estar, mantendo assim um psiquismo saudável e
consequentemente uma psicosfera de harmonia e tranquilidade. Do mesmo
modo, para ter-se uma psicosfera física saudável, é imprescindível analisar se
os recursos naturais e materiais consumidos na manutenção da vida diária, são
usados de forma sustentável e consciente, não provocando o desequilíbrio
ambiental.
Portanto é necessário reflexionar: se no universo tudo é energia, é força,
é luz, é atração... quais esferas participam minhas emanações? Qual o teor dos
meus pensamentos? Qual o sentimento que envolve minhas vibrações? Com
quem estou estabelecendo vínculos mentais, emocionais e espirituais
diariamente?
No campo material, perguntar-se: O que faço para manter o Planeta
preservado e torná-lo melhor? Qual a contribuição para a conservação da vida
e da diversidade? Tenho um modo de vida sustentável? Há preocupação com
a poluição da psicosfera física?
E trazendo para o âmbito da Fundação Allan Kardec, essas conjecturas,
entende-se como pertinente observar se a Instituição está oportunizando à
Todos, nos dois planos da vida (Assistidos), uma ambiência saudável? Como
está o preparo do psiquismo dos Trabalhadores para a realização das
atividades? Quais as atividades sugeridas para a melhoria da Psicosfera Física
e Espiritual?
2. ASPECTOS GERAIS DO PENSAMENTO
Penso, logo existo304
302
Trabalhadora da Diretoria de Apoio a Melhoria Interior /Fundação Allan Kardec – FAK,
Manaus, Amazonas, Brasil.
303
Trabalhadora da Diretoria de Apoio a Melhoria Interior /Fundação Allan Kardec – FAK,
Manaus, Amazonas, Brasil.
382
O pensamento, segundo o dicionário: ―é a faculdade de pensar, refletir,
formar ideias, imaginar...‖. A palavra Pensamento vem do latim: pensare, e
significa pesar, isto é medir, avaliar e comparar. Esta capacidade consente aos
seres racionais observar o ambiente em que está inserido, buscando nessa
vivência o seu bem-estar, consoante suas tendências, desejos e vontade.
Segundo Descartes:
A essência do homem é pensar. Sou uma coisa que pensa, isto é,
que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que
quer e não quer, que também imagina e que sente‖.
Deste modo, raciocinar vem de uma motivação, relacionada com a
necessidade do indivíduo nos diversos ambientes (familiar, social, profissional,
cultural, etc.) pelos quais transita. E nestas criações o homem, dispõe de
absoluta liberdade, conforme o Livro dos Espíritos esclarece: ―No pensamento
goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr lhe peias.‖.
Mas como tem liberdade de pensar, também o ser tem responsabilidade
por suas emanações mentais, Descartes, afirma: ―penso, logo existo‖. Assim os
pensamentos influenciam diretamente no comportamento do indivíduo, para o
bem ou para o mal, dependendo de suas ideias. Léon Denis (2013, p 331),
reforça: ―Não há assunto mais importante que o estudo do pensamento, seus
poderes e ação. É a causa inicial de nossa elevação ou de nosso rebaixamento
[...]. ‖.
Com isso, é imprescindível observar a qualidade dos pensamentos que
transitam no mundo íntimo e buscar nas reflexões diárias discipliná-lo, evitando
a produção de formas-pensamentos nocivos. Conforme diz a benfeitora Joanna
de Ângelis, (FRANCO, ano 2014, p 7): ―A criatura humana torna-se o que
pensa, o que sustenta mentalmente e desenvolve até a fixação. ‖
Formas-Pensamentos
As formas-pensamentos ou clichês mentais, são imagens que surgem
na tela mental quando se pensa em algo, semelhante a fotografia de uma
pessoa, animal, objeto, paisagem e outros. A fixação e repetição desta
visualização adquire uma forma bem concreta, análoga a verdadeira.
―[...] Modelamos nossa alma e seu invólucro como os nossos
pensamentos; estes produzem formas, imagens que se imprimem na
matéria sutil, de que o corpo fluídico é composto. Assim, pouco a
pouco, nosso ser povoa-se de formas frívolas ou austeras, graciosas
ou terríveis, grosseiras ou sublimes; a alma se enobrece, embeleza
ou cria uma atmosfera de fealdade‖ (DENIS, 2013, p 331).
Portanto, o pensamento e a vontade são forças plásticas e
organizadoras, ou seja, moldáveis, que podem gerar formas-pensamentos de
acordo com as aspirações, sentimentos de quem as formulou, conforme
expõem Ernesto Bozzano (ano 1970, p.116):
―Estranhamente simbólicas as formas do pensamento [...] A usura, a
ambição, a avidez, produzem formas retorcidas, como que dispostas
304
René Descartes (1596 – 1650), publicou em seu livro ―O Discurso do Método‖, publicado em
1637, o resumo de seu pensamento na frase: je pense, donc je suis (publicação original em
francês), que depois foi traduzida para o latim Ego cogito, ergo sum sive existo.
383
a apreender o cobiçado objeto. O pensamento, preocupado com a
resolução de um problema, produz filamentos espirais. Os
sentimentos endereçados a outrem, sejam de ódio ou de afeição,
originam <formas-pensamentos> semelhantes a projéteis. A cólera,
por exemplo, assemelha-se ao ziguezague do raio, o medo provoca
jactos de substancia pardacenta, quais salpicos de lama.‖
(BOZZANO, 1970, p 22).
―Um pensamento de paz, quando emitido por alguém profundamente
compenetrado desse sentimento, torna-se extremamente belo e
expressivo. Um pensamento colérico, ao contrário, torna-se tão
repugnante, quanto horrível. A avidez e análogas emoções, por sua
parte, originam formas retorcidas, curvas semelhantes às garras do
falcão, com se as pessoas que as emitem desejassem algo empalmar
em benefício próprio. ‖ (p.23).
Assim, formas-pensamentos são a materialização dos pensamentos.
Sendo modelada pelo esforço condensado, observadas pela imaginação,
fortalecidas pelas emoções e sustentadas pela vontade. De acordo com os
tipos de emanações, sucederá a produção das formas-pensamentos: a
qualidade do pensamento determina sua cor; a natureza dos pensamentos
determina a sua forma; e a precisão dos pensamentos determina a nitidez dos
seus contornos.
Compreender que é um ser pensante e emana energia. Essa energia
dará forma ao seu psiquismo, atuando positivamente ou não no ambiente local.
E Joanna de Angelis, afirma (evolução do cérebro): ―o psiquismo dorme no
mineral, sonha no vegetal, sente no animal, pensa no homem. ‖
Psiquismo
Os seres animados pensantes, diz Kardec (1999, q. 71 e 72), são:
―formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais um princípio
inteligente que lhes outorga a faculdade de pensar‖, esclarecem os Amigos
Espirituais:
―[...] a inteligência só por meio dos órgãos materiais pode manifestar-
se. Necessário que o espírito se una à matéria animalizada para
intelectualizá-la. [...] A inteligência é uma faculdade especial peculiar
a algumas classes de seres orgânicos e que lhes dá, com o
pensamento, a vontade de atuar ... [...] a inteligência é uma faculdade
própria de cada ser e constitui a sua individualidade moral. ‖
[...] Somos o que pensamos. [...] (DENIS, 2013, p 332).
Logo, o cérebro é a sede física dos pensamentos do Espírito, a mente
propriamente dita. Isto é, Ele quem dirige todas as atividades e proporciona
condições para a atuação do Espírito no campo físico. Emmanuel afirma: ― O
cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a capacidade de
reflexão que lhe é própria‖ (XAVIER, ano 2017, p. 12).
Depreende-se que o psiquismo, é a animação inteligente que
envolve/circunda o indivíduo, também conhecido como aura ou magnetismo.
Esta atmosfera que gravita em torno do ser, será mais leve ou densa de acordo
com as suas emanações, por exemplo: num estado meditativo, pensamentos
positivos e, em prece todo seu ser refletirá agradavelmente. André Luiz,
elucida:
Articulando, ao redor de si mesma, as radiações das sinergias
funcionais das agregações do campo físico ou do psicossomático, a
384
alma encarnada ou desencarnada está envolvida na própria aura ou
túnica de forças eletromagnéticas, em cuja tessitura circulam as
irradiações que lhe são peculiares. Evidenciando-se essas
irradiações, de maneira condensada, até um ponto determinado de
saturação, contendo as essências e imagens que lhe configuram os
desejos do mundo íntimo, em processo espontâneo de
autoexteriozação, ponto esse do qual a sua onda mental se alonga
adiante, atuando sobre todos os que com ela se afinem e recolhendo
naturalmente a atuação de todos os que se lhe reverem simpáticos.
―Sempre que pensamos, expressando o campo íntimo na ideação e
na palavra, na atitude e no exemplo, criamos formas-pensamentos ou
imagens-moldes que arrojamos para fora de nós, pela atmosfera
psíquica que nos caracteriza a presença ‖ (XAVIER, 2013, p 84).
Psicosfera
Na definição anterior, na fala de alguns estudiosos, entendeu-se por
psiquismo: ―irradiações emitidas por alguém, criadas a partir dos pensamentos,
em concordância com suas emoções e sensações do momento, determinando
vibrações harmoniosas, felizes, conflitivas ou danosas‖. André Luiz, esclarece:
Correntes vivas fluem do íntimo de cada Inteligência, a se lhe
projetarem no ―halo energético‖, estruturando-lhe a aura ou fotosfera
psíquica, à base de cargas magnéticas constantes, conforme a
natureza que lhes é peculiar, de certa forma semelhantes às
correntes de força que partem da massa planetária, compondo a
atmosfera que a envolve (XAVIER, 2013, p 110).
Esta atmosfera invisível que acompanha o indivíduo é o seu cartão de
visitas, percebida por encarnados (sensitivos) e desencarnados. Quantas
vezes se adentra num lugar e sente-se uma sensação de paz, bem-estar ou,
ao contrário, náuseas, dores de cabeça? Esta percepção, denota a realidade
do psiquismo das pessoas que compõem o ambiente, originando uma
atmosfera salutar ou tóxica, chamada de psicosfera. Allan Kardec, ilustra
(Obras póstumas, p.94 e 95):
Entrando na esfera da atividade de um indivíduo, sente-se uma
impressão agradável ou desagradável, segundo os seus fluídos se
casam ou se repelem. Se nós achamos no meio de pessoas, de cujos
sentimentos não compartilhamos e cujos fluidos não se harmonizam
como o nosso, sentimos uma reação penosa [...]. Cada um de nós,
em seu movimento de translação, arrasta consigo a atmosfera
fluídica, como o caramujo arrasta a concha; mas aquele fluido deixa
vestígios da sua passagem, deixa como um rastro luminoso,
inacessível aos nossos sentidos, no estado de vigília, permitindo,
entretanto, aos sonâmbulos, aos videntes e aos Espíritos
desencarnados [...].
Psicosfera é, uma palavra habitualmente usada no espiritismo, definida
como sendo a atmosfera psíquica que envolve uma pessoa ou uma
coletividade. Configurando o ambiente com as vibrações, espraiada em
consonância com as emanações particulares ou do agrupamento. E este
termo, Psicosfera:
Psicosfera ou fotosfera psíquica, é um campo resultante de
emanações de natureza eletromagnética, a envolver todo o ser
humano, encarnado ou desencarnado. Reflete, não só sua realidade
evolutiva, seu padrão psíquico, como sua situação emocional e o
385
estado físico do momento. [...] Espelha o ser integral: Alma,
Períspirito, Duplo etérico, Corpo [...] A aura mostra camadas distintas
e difere de pessoa para pessoa, conforme o sexo, idade, capacidade
mental, saúde, etc.‖ (XAVIER, 2013, p 115).
Logo, a psicosfera ambiental será determinada pela qualidade (ideias,
emoções e sentimentos) da energia mental predominante nos lares, ambientes
profissionais, culturais e religiosos.
3. POLUIÇÃO NA TERRA
Poluição Ambiental
A Terra desprendeu-se da estrela solar, (XAVIER, ano 2013, p. 13)
aproximadamente a 4,5 bilhões de anos e foi confiada aos cuidados de um
Espírito Puro, Jesus. Allan Kardec, fala da Alma da Terra:
Por alma da Terra, pode entender-se, mais racionalmente, a
coletividade dos Espíritos incumbidos da elaboração e da direção de
seus elementos constitutivos. [...] o Espírito a quem está confiada a
alta direção dos destinos morais e do progresso de seus
habitantes[...]‖ (KARDEC, 1996, p 200).
E neste longo caminho de evolução moral, intelectual e material, muitas
transformações ocorreram na superfície terrestre. Inclusive o aumento
expressivo da população:
A população terrestre alcança a passos largos o expressivo
número de sete bilhões de seres reencarnados
simultaneamente, disputando a oportunidade da evolução [...]‖
(FRANCO, 2012, p 104).
Segundo Fritjof Capra: ―Somos moradores da ‗casa Terra‘ e devemos nos comportar
como se comportam os outros moradores dessa casa – as plantas, os animais e os
microrganismos que constituem a vasta rede de relações que chamamos ‗teia da vida‘ ‖
(CAPRA, 2005).
E como as coletividades humanas tem-se comportado diante dos bens
da Terra? Estão cuidando da psicosfera ambiental/física? Usam de forma
consciente os recursos naturais? Consomem realmente o necessário? Tem por
hábito o descarte adequado dos resíduos resultantes das atividades
domésticas, industriais e comerciais?
Allan Kardec, pergunta aos Espíritos (LE, questões 715 e 716): ― omo
pode o homem conhecer o limite do necessário? ‖. E a resposta é bem clara:
―Aquele que é ponderado o conhece por intuição. [...] mas o homem é
insaciável‖.
Olvida-se, quanto mais bens materiais consumidos, mais resíduos são
produzidos. Por isso, reduzir, reutilizar e reciclar são ações práticas que trazem
harmonia entre o consumo consciente e o meio ambiente. Quando o seu ―lixo‖
é posto para ―fora‖, não existe fora, como afirma André Trigueiro (2010, p 12).
Estes detritos serão colocados em algum lugar e possivelmente, contaminando
o ar, solo, subsolo, nascentes, rios, mares e oceanos.
Poluição ambiental é o resultado de qualquer tipo de ação ou obra
humana capaz de provocar danos no meio ambiente, é a introdução
na natureza, de substâncias nocivas à saúde humana, a outros
animais e ao próprio meio ambiente, que altera de forma significativa
o equilíbrio dos ecossistemas. [...] ação de contaminar as águas,
386
solos e ar. Esta poluição pode ocorrer com a liberação no meio
ambiente de lixo orgânico, industrial, gases poluentes, objetos
materiais, elementos químicos, entre outros.
―Problemas causados: A poluição ambiental prejudica o
funcionamento dos ecossistemas, chegando a matar várias espécies
animais e vegetais. O homem também é prejudicado com este tipo de
ação, pois depende muito dos recursos hídricos, do ar e do solo para
sobreviver com qualidade de vida e saúde. Poluentes: Os principais
poluentes ambientais são: chumbo, mercúrio, benzeno, enxofre,
monóxido de carbono, pesticidas, dioxinas e gás carbônico‖
(TRIGUEIRO, 2010, p 42).
A poluição física/ambiental, tem atingido níveis altíssimos em todo o
mundo, não obstante cientistas, movimentos ambientais internacionais e ONGs
estarem alertando para o impacto que o descaso com o meio ambiente poderá
acarretar a curto prazo, como esclarece Emmanuel, (2011, p 64):
[...] a Terra é um plano alegre e formoso de aprendizado. O único
elemento que aí destoa da Natureza é justamente o homem,
avassalado pelo egoísmo. [...] sem que haja qualquer sacrifício de
vossa parte, tendes gratuitamente céu azul, fontes fartas, abundância
de oxigênio, árvores amigas, frutos e flores, cor e luz, em santas
possibilidade de trabalho.
No entanto ainda se escuta: ―estou aqui de passagem...‖ em pleno
século XXI, com tantas tecnologias e recursos disponíveis, o homem ainda não
entendeu a necessidade de cuidar da Mãe Terra, desse lugar que nos acolhe
para estágio evolutivo. Na obra Luzes sob Amazônia, Espírito Joel esclarece
sobre a importância da floresta:
Joel, nas incursões que estou habituada a realizar em nossa região,
comumente as trevas das emanações do pensamento da maioria dos
irmãos vinculados à crosta causam um choque vibracional que nos
exige maiores reposições energéticas posteriormente. Entretanto,
noto que nos aproximamos da crosta amazônica enfrentando as
mesmas trevas, mas não consigo perceber o choque habitualmente
experimentado nos mergulhos na esfera física. Por quê? [...] Esse
fenômeno que experimentas é a primeira benção que vivenciamos
quando nos aproximamos da Floresta Amazônica. A agradável
sensação de reposição energética que sentimos decorre da
transfusão contínua de fluidos benéficos que a vegetação densa da
região nos oferece. Poucas, são, atualmente, as regiões do planeta
nas quais podemos usufruir desse fenômeno da natureza, que age
nos dois planos da vida. Como podemos notar, já na primeira lição, a
floresta viva e preservada é tão importante para o mundo físico
quanto para o auxílio ao mundo espiritual com trabalhos vinculados
ao planeta (CAMPELO, 2015, p 72 e 73).
É preciso perguntar-se: O que está ao meu alcance para tornar esse
planeta melhor e mais justo? Qual a minha contribuição diária para a
preservação da biodiversidade? Tenho um modo de vida sustentável? Há
preocupação com a poluição da psicosfera física?
Urge repensar atitudes, mudar hábitos e tornar-se sustentável.
Porquanto a psicosfera espiritual estabelece-se pelos pensamentos da
coletividade; a psicosfera física constitui-se: ―Quando o homem explora os
recursos da terra e não os reutiliza ou recicla, o meio ambiente se polui com o
387
refugo desses produtos. A poluição impede que os ciclos naturais se realizem
apropriadamente‖ (Portal São Francisco, 2017).
Poluição Espiritual
Você sabia que pode estar poluindo, além do ambiente físico, também o
ambiente espiritual? Isso mesmo! O seu psiquismo interfere para o bem ou
para o mal na psicosfera do ambiente em que estás inserido e
consequentemente no psiquismo da Terra. Joanna de Ângelis, comenta:
[...] o homem ingere e disparte mais terrível poluição, venenosa quão
irrefreável graças ao cultivo de lamentáveis atitudes em que
persevera e se compraz. Referimo-nos à poluição mental que
interfere na ecologia psicosférica da vida inteligente, intoxicando de
dentro para fora e desarticulando de fora para dentro [...] (FRANCO,
1985, p 24).
Nestes embates de mentes em desalinho, ocasionadas pelo desamor,
pelo egoísmo, ambições descomedidas, ódios ... ―é bom lembrar que o planeta
é muito mais resistente do que nós. Na verdade, não é o planeta que precisa
ser salvo, mas nós. ‖ Lembra André Trigueiro (TRIGUEIRO, ano 2010, p.85).
Na fragilidade humana, percebe-se que o perigo não está somente nas
guerras externas e destrutivas, mas nas violentas pelejas no lar, na família, no
trabalho, nas ruas do bairro, no comportamento (FRANCO, 1985, p 24). E
nesta condensação de energia ―A poluição mental campeia livre, favorecendo o
desbordar daquela natureza moral, fator primacial para as horas que são
visíveis e assustadoras‖.
Quais são as suas emanações? Quais são os seus pensamentos? Com
quem você está estabelecendo conexões mentais no dia-a-dia? No universo,
tudo é energia, é força, é luz, é atração. Vibrações atraem vibrações similares,
aproximando as almas por meio do pensamento e dos sentimentos que
irradiam [...]. (SCHUBERT, 2010, p 94).
Lembremos (DENIS, 2014, p 115) que:
[...] exatamente como os sons e a luz, os sentimentos e os
pensamentos se exprimem por vibrações que se propagam pelo
espaço com intensidades diferentes. As vibrações de cérebros
pensantes, de homens ou de Espíritos se cruzam e entrecruzam ao
infinito, sem jamais se confundirem. Em torno de nós, por toda parte,
na atmosfera, rolam e passam como torrentes incessantes, fluxos de
ideias, ondas de pensamentos.
Ao sintonizar numa estação de rádio, a busca é para escutar os ritmos
que aquela programação musical transmite, naquela faixa ouvirá (pop, rock,
meditações, MPB...). Assim acontecem também as vinculações espirituais, que
se estabelecem a partir das emissões do indivíduo, com pensamentos felizes,
visualizações terapêuticas, meditações, todo o ser é inundado de bem-estar,
atraindo Espíritos que vibram na mesma intensidade e valores.
Em contrapartida, cultivando ideias malsãs, de ingratidão, infelicidade
espalha-se no meio ambiente odores fétidos e de pesada densidade que
formam uma pesada atmosfera em torno de si, colaborando negativamente
para a poluição espiritual do planeta:
388
Agora, a visão dilatava-se. Reconhecia, de longe, o peso
considerável do ar que se agarrava a superfície. Tive a impressão de
que nadávamos em alta zona do mar de oxigênio, vendo embaixo,
em aguas turvas, enorme quantidade de irmãos nossos a se
arrastarem pesadamente [...] no fundo lodoso do oceano. [...].
Observem os grandes núcleos pardacentos ou completamente
escuros! ... São as zonas de matéria mental inferior, matéria que é
expelida incessantemente por certa classe de pessoas. [...]. Somente
os homens de mentalidade positiva, na esfera da espiritualidade
superior, conseguem sobrepor-se às influências múltiplas de natureza
menos digna. (XAVIER, 2013, p. 248 e 249)
Evidencia-se que os pensamentos são energias sutis, com cheiro, cor e
peso. E essas emanações, alimentadas pelos sentimentos bons ou ruins de
encarnados e desencarnados, interferem na psicosfera espiritual. Por isso, a
importância do equilíbrio mental, de ideias saudáveis, do bom humor, da
alegria de viver e do ―Orai e Vigiai‖, como aconselhou Jesus. Pois todos são
co-responsáveis pelo ambiente psíquico do lar, das cidades, dos países e do
orbe Terrestre, formados pelos pensamentos individuais e coletivos.
A Gênese, Allan Kardec, expõe que em torno da Terra pululam (tem em
abundância) Espíritos de grau inferior, muito sério e muito grave, uma
quantidade enorme, eles são atraídos pelo pensamento dos habitantes da
Terra. E esta atração são das emanações produzidas pelos Espíritos
encarnados, que sem raciocinar nos resultados não percebem quanto seus
pensamentos em desalinho comprometem a ambiência salutar do planeta.
4. PENSAMENTO COMO PROCESSO DE CURA
Qualidade do Pensamento
Segundo estudiosos, tem-se entre sessenta a noventa e cinco mil
pensamentos no decorrer de 24 horas. Durante a leitura de uma mensagem,
por exemplo, pode-se chegar a ter entre 200 a 300 emanações mentais. Por
isso, será objeto relevante deste estudo, a observação da qualidade desse
número expressivo de pensamentos. Emmanuel esclarece:
O hábito é uma esteira de reflexos mentais acumulados, operando
constante a indução à rotina. [...] A evolução, contudo, impõe a
instituição de novos costumes, a fim de que nos desvencilhemos das
fórmulas inferiores, em marcha para ciclos mais altos de existência
(XAVIER, 2017, p 83).
Neste processo de observação, faz-se necessário identificar quais são
as criações mentais diárias e quais as sensações resultantes desse monólogo
interior; são construtivas, trazem bem-estar ou geram melancolia, ansiedade e
angústia? Para manter idealizações benéficas e saudáveis, é essencial
disciplinar o pensamento. Joanna de Ângelis, sugere: ―Tudo começa no
pensamento, toda vez que lhe advier um pensamento negativo, perturbador,
substitua-o por um pensamento positivo, por um pensamento bom‖.
E para elevar o conteúdo das criações mentais, modificando os
pensamentos aflitivos e desagradáveis, tem-se prescritos terapias alternativas
que, ao longo dos anos de estudos e observações, demonstram ser recursos
fortalecedores e em alguns casos restabelecedores do equilíbrio físico,
psíquico e emocional, como: ―o cultivo da prece, a conversação edificante, o
389
exercício da meditação e da reflexão, as ações nobilitantes, o labor pelo
próximo‖ (segundo Joanna de Ângelis, Após a Tempestade, p. 98) e ainda
produção de imagens nobres em sua tela mental (campos verdejantes, praias,
florestas, jardins floridos); as boas leituras e, os bons autores (impregnam a
alma com beleza e cor); a musicoterapia; a dançaterapia; uso consciente do
jornal, TV e internet (selecionando programas edificantes)... e no contraponto
evitar discussões, gritarias, desiquilíbrios emocionais desnecessários. Léon
Denis, afirma:
Disciplinar os pensamentos significa disciplinar a vida, e escolher
caminhos mais seguros. Na nascente de todos os atos, palavras e
ideias estão os pensamentos. Mudemos a matriz e teremos uma vida
renovada e mais feliz. Lembremo-nos: bem To é a elevada forma de
viver!‖ Redação do Momento Espírita com base no cap. XXIV, do
livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, ed. Feb.
Psiquismo Saudável
Freud fez uma recomendação, que todo médico além de sua
especialidade deveria ser treinado em psicanálise, entendendo que algumas
patologias estavam relacionadas a fatores emocionais ou patológicos, sendo:
artrite, rinite, enxaqueca, gastrite, fibromialgia e outras. Atualmente,
pesquisadores da medicina comportamental (psicoemocional), avaliam
possíveis explicações, para as causas das doenças psicossomáticas, onde
alguns fatores podem desencadear o processo enfermiço. Freud segue uma
linha de entendimento, semelhante com o filósofo romano Juvenal, quando fez
a relação ―mente sã, corpo são‖. Entendendo que são os pensamentos
perturbadores, imprimindo no corpo físico sensações de tristeza, raiva, medo,
culpa, que adoecem as células e podem causar as diversas patologias
conhecidas. Joanna de Ângelis, na psicografia de Divaldo, elucida:
Herdeiro dos seus pensamentos, palavras e atos, o Espírito imprime
através do pensamento, nos tecidos sutis do psicossoma, os futuros
fenômenos que a que será submetido. Mediante o esforço de
readaptação à ordem que foi perturbada pela sua insânia ou
negligencia, os sentimentos se modificam, contribuindo para uma
conduta saudável psicologicamente, que se faz indispensável para a
auto realização e a paz. Os sentimentos devem e podem ser
trabalhados pelo pensamento, mediante formulas simples de esforço
pessoal, que administrem as tendências perversas, cínicas, vulgares
e ciumentas, responsáveis pela permanência nos conflitos
perturbadores que tanto afligem o indivíduo‖ (FRANCO, 2000, p 156).
Estima-se que daqui 20 ou 30 anos não haverá mais no planeta
doenças infectocontagiosas, causadas por bactérias, vírus... serão patologias
no âmbito psicoemocionais. A Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgou
em março deste ano que a depressão é a principal causa de problemas de
saúde e incapacidade em todo o mundo. De acordo com as últimas
estimativas, mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão em todo o
mundo.
Percebe-se que há uma incoerência nos fatos, como é possível com
tantas tecnologias, tantos recursos disponíveis, as pessoas estarem cada dia
mais deprimidas? Na obra (XAVIER, 2017, p 64 e 65), Emmanuel explica:
390
Todos os sintomas mentais depressivos influenciam as células em
estado de mitose, estabelecendo fatores de desagregação [...].
Nossas emoções doentias mais profundas, quaisquer que sejam,
geram estados enfermiços [...]. Os reflexos dos sentimentos menos
dignos que alimentamos voltam-se sobre nós mesmos, depois de
convertidos em ondas mentais, tumultuando o serviço das células
nervosas... [...] não nos esqueçamos, assim, de que apenas o
sentimento reto pode esboçar o reto pensamento, sem os quais a
alma adoece pela carência de equilíbrio interior, imprimindo no
aparelho somático os desvarios e as perturbações que lhe são
consequentes.
Esta desconexão pode estar relacionada com o vazio existencial, que
advêm da perda do endereço de Deus, ou o interesse só e exclusivamente
pelas coisas da matéria. Allan Kardec, traz a reflexão, no livro Obras Póstumas
(p. 134): ―Por que não há de ser assim, se o pensamento e atividade só se
dirigem para a matéria, para as necessidades da carne, eliminando-se então
não só as aspirações, como até a esperança pela vida de além-túmulo? [...]
Para o materialista, a realidade é a Terra, o seu corpo todo, pois que fora dele
nada existe, e o pensamento extingue-se com a desorganização da matéria
[...]‖.
Todavia, a Doutrina Espírita, ensina: ―O princípio inteligente é
independente da matéria. A alma individual preexiste e sobrevive ao corpo‖
(KARDEC, 2013, p. 168). E quando se tem este entendimento e um
relacionamento amoroso com o Criador, busca-se através do estudo e trabalho
desenvolver qualidades morais, adquirindo conhecimentos práticos específicos
que conduzirão a uma vida emocional mais estável e mais feliz.
―[...] o caminho justo para o próprio equilíbrio, sustentando-se em
movimento contínuo, o Espírito identifica, no trabalho ordenado com
segurança, a trilha indispensável para o seu clima ideal de euforia.
Quanto mais enobrecida a consciência, mais se lhe configurará a
riqueza de imaginação e poder mental [...] Seja no esforço intelectual
em elevado labor, na criação artística, nas obras de benemerência ou
de educação, seja nas dedicações domésticas, nas tarefas sociais,
nas profissões diversas, nas administrações públicas ou particulares,
nos empreendimentos do comércio ou da indústria, no amanho da
terra, no trato dos animais, nos desportos e em todos os
departamentos de ação, o Espírito é chamado a servir bem, isto é, a
servir no benefício de todos [...]. (XAVIER, 2013, p 110 e 111).
A felicidade é uma conquista interior do indivíduo. Entendendo a
essência da felicidade, está no autoamor, que a vida precisa ter objetivos e
amar e servir são fatores preponderantes na realização individual, aprendendo
a servir, vou amadurecendo os sentimentos e posso fazer escolhas sadias, de
como viver, sentir e pensar.
5. MUDANÇA E EDUCAÇÃO DO PENSAMENTO
A frase: ―Você pode mudar se quiser! ‖, pronunciada por Ana Guimarães
no Programa Transição, (A força do pensamento, 13:39) parece fácil de
realizar, mudar tendências, hábitos e pensamentos. Na resposta 909, do Livro
dos Espíritos: Os Espíritos afirmam que é muito fácil, que basta um esforço
insignificante.
391
Este empenho mínimo que Eles asseveram, remete-se a uma longa
subida, que será vencida com muito suor, empenho e disciplina. Assim o
burilamento íntimo, são as mudanças necessárias, na forma de pensar que
urgem serem trabalhadas, educadas e conquistadas com perseverança.
Assim, compreende-se perfeitamente que a material mental é o
instrumento sutil da vontade, atuando nas formações da matéria
física, gerando as motivações de prazer ou desgosto, alegria
ou dor, otimismo ou desespero, que realmente não se
reduzem a meras abstrações, pois representam turbilhões de força
em que a alma cria os seus próprios
estados de mentação indutiva, atraindo para si os agentes (por
enquanto imponderáveis), de luz ou sombra, vitória ou derrota,
infortúnio ou felicidade‖ (XAVIER, 2013, p 123).
Allan Kardec, assegura, quando diz: ―Não existem doenças, existem
pessoas adoecidas‖. Neste contexto, pesquisadores do comportamento
humano, observaram que diversas doenças, como câncer, por exemplo, não
estavam relacionadas com a nível cultural, meio familiar e social, condição
financeira, localização geográfica habitada, a raça do indivíduo, escolha
afetiva... visto que adoeciam chineses, como latinos, doutores como
analfabetos. Nesse caso, a pergunta era: Qual o gatilho que faz surgir a
doença? Por que uns adoecem facilmente, em condições privilegiadas?
Enquanto outros desprovidos do necessário, são saudáveis?
―Cada mente é como se fora um mundo de per si, respirando nas
ondas criativas que despede – ou na psicosfera em que gravita para
esse ou aquele objetivo sentimental, conforme os próprios desejos
[...]. (XAVIER, 2013, p 123).
A busca para encontrar as respostas contínua, mas igualmente na
citação de André Luiz, traz o que já foi elucidado, o ser adoece devido aos seus
pensamentos enfermiços e de valor emocional, que inundam todo o campo
mental com uma atmosfera de angústia e tristeza, advinda de ressentimentos,
mágoas, críticas, deboches e crueldades. Gerando os diversos transtornos
emocionais e adoecendo o corpo físico.
―São muitos os efeitos perniciosos no corpo causado pelos
pensamentos em desalinho, pelas emoções desgovernadas, pela
mente pessimista e inquieta na aparelhagem celular‖ (FRANCO,
2000, p 31).
A atuação do pensamento sobre o corpo físico é intensa, perceber quais
ideias permeiam no campo mental é indispensável. Quanto mais consciência
presente, do aqui e agora, mais saudável a aparelhagem psíquico/emocional,
para desempenhar tarefas diárias com relevante êxito, deixando de estar no
―piloto automático‖ ou teleguiado.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração deste artigo trouxe experiências enriquecedoras,
proporcionando reflexões sobre os nossos comprometimentos assumidos, da
renovação do comportamento moral e intelectual, ainda a observância das nossas
más tendências a serem identificadas através da reforma íntima, do nosso viver e
392
do nosso sentir. A Doutrina Espirita possui inúmeras obras orientando o ―orai e
vigiai‖, ensinada pelo Cristo. E buscando seguir esse ensinamento, nossos
desafios existências serão mais suaves, por haver entendimento de como devo
me comportar diante das agruras da vida. Pois como diz um ditado espirita: ―A dor
é inevitável mas o sofrimento é opcional‖.
Assim entendemos que a interferência da humanidade terrestre se faz tanto
a nível espiritual como também ambiental. Nossos pensamentos, que são
sentimentos, mais as emoções produzem em nós um psiquismo saudável ou
tóxico, dependendo da qualidade dessas emanações, contribuindo para uma
psicosfera espiritual de paz ou desequilibrada. Outrossim, nossas ações
relacionadas ao consumo para a manutenção da existência, como: o descarte
indevido, mau uso ou consumismo exacerbado podem comprometer o bem-estar
da vida na Terra.
A espiritualidade nos alerta constantemente, quanto a responsabilidade de
nossas ações físicas e mentais. Nunca se falou tanto em meio ambiente,
sustentabilidade, recursos renováveis, possibilidades novas, novas tecnologias, o
que falta é nossa vontade em fazer o que é preciso, como por exemplo: separar o
lixo doméstico e levar aos locais de coleta seletiva, parece fácil; mas quantas
famílias tem esse hábito?
Além disso, o chamamento vincula-se também com a caracterização do
mundo íntimo, por que vivemos atualmente com tantas comodidades físicas, mas
não temos paz de espirito, estamos ansiosos, angustiados, temorosos. ―[...]
Somos afetados pelas vibrações de paisagens, pessoas e coisas que nos cercam‖
(XAVIER, 2013, p. 86).
Porém temos o livre-arbítrio e nos associamos a seres e coisas, de acordo
com a sintonia mental, que se estabelece pelo comportamento moral e intelectual
que possuo. Então é importante observar em quais esferas gravitam meus
pensamentos, é na poesia, música e leituras edificantes, ou me comprazo em
assistir noticiários deprimentes, filmes sensuais ou conversas maledicentes?
A boa notícia é que podemos realizar uma autoprogramação do meu sentir,
do meu pensar e do meu fazer. Modificando minhas expressões mentais e, nesse
exercício contínuo, observar as maravilhas de ser feliz.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO (Andrea Maciel Schussler)
COMPROMETIMENTO
O motivo relacionado ao artigo ―Pensamentos: Psicosfera, Psiquismo,
Poluição Física e Mental‖, refere-se ao gosto pelo estudo das emanações
mentais advindas da condição de seres pensantes que somos e, quais os
efeitos que esses pensamentos causam no indivíduo e na coletividade onde
está inserido. As irradiações quando de baixo teor produzem resíduos tóxicos e
poluem a psicosfera, bem como, a poluição física, causada ao meio ambiente
por nós, quando descartamos inadequadamente os produtos materiais
consumidos. E nesse sentido, percebi quanto nossos pensamentos e ações
interferem na ambiência que estou inserida. E quanto somos responsáveis por
manter o ambiente físico e espiritual limpo e agradável.
REALIZAÇÕES
As reflexões concernentes ao artigo, sobre a poluição física e espiritual,
confirmam o que os estudos e vivências tem demonstrado. Quando se fala em
393
poluição física percebe-se que as ações são menos complexas para solucionar
a questão: reutilizar, reciclar, reduzir e repensar. Porém, a questão da poluição
da psicosfera espiritual está diretamente ligada com as criações mentais
fabricadas por todos nós. E mudança de hábito, pensamentos, sentimentos e
emoções requer força de vontade e muita disciplina, que nem sempre estamos
dispostos a fazer.
Tenho desde sempre, uma preocupação latente com o meio ambiente, a
preservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável; estudando e
lendo sobre as alterações que a Terra vem sofrendo desde sua formação,
procuro sempre alternativas de melhorar o ambiente físico onde estou inserida.
Aliada a isso aprofundando nas obras de Leon Denis, Ernesto Bozzano, Sueli
Caldas Schubert, Joanna de Ângelis, André Trigueiro... percebi os cuidados
sugeridos tanto com esfera física como também o campo das emoções, dos
sentimentos, das reflexões.
Despertando o interesse por esses temas, poluição da psicosfera física e
espiritual, que a princípio parecem desconexas e, no entanto, ambas interferem
decisivamente, na harmonia do orbe terrestre.
COMPROMISSOS A LONGO PRAZO
A Fundação Allan Kardec, dispõe de atividades assistenciais,
acolhimento e estudo. Com isso, a movimentação de pessoas na Casa é
consideravelmente grande. E ponderando nesse sentido, percebi a
necessidade de haver uma psicosfera acolhedora. Sabendo que essa
ambiência é produzida em grande parte pelos Trabalhadores que participam
das diversas tarefas, o objetivo é demonstrar os benefícios que pensamentos
benfazejos trazem ao indivíduo e ainda por onde transita. A Instituição tem
realizado meditações em grupo no jardim, estudo de obras referentes aos
pensamentos.
E a intenção é ampliar essas vivências, disciplinando o pensamento e
estruturando as conexões sadias com todos, dos dois planos da vida.
O QUE APRENDI SOBRE MIM MESMO (José Laurindo Campos dos
Santos)
COMPROMETIMENTO
Outrora, ainda em um maior grau de ignorância, sinto ter negligenciado
as nobres atitudes mentais e criado pensamentos nocivos aos outros e a mim.
Desta vez, encontro-me rodeado de farto volume de conhecimentos e
condições ideais para refletir sobre as compreensões de pensadores ilustres e
de instruções de como fazer bom uso do pensamento e seus efeitos no espírito
e no físico, e portanto, sem justificativa de não fazê-lo. Em data um pouco
recente, um irmão do plano espiritual explanava sobre os pensamentos
emitidos pelos frequentadores da FAK, e de como somos percebidos pelos
irmãos desencarnados nos corredores da casa. Durante o diálogo, foi-nos
induzido ao questionamento se estamos preparados para habitar os mundos
dos espíritos com a qualidade dos pensamentos que produzimos? Aqui no
plano físico que estamos, nossos pensamentos são disfarçados de outros
encarnados, mas claramente visível no mundo espiritual. Falou-nos que nosso
espírito, é a fonte de nossos pensamentos e que se faz necessário conhece-lo,
394
domá-lo, para fazer bom uso, gerando benefícios para o próprio espírito, seu
entorno e para o orbe onde nos encontramos.
REALIZAÇÕES
A referida experiência, levou-me a imediatas reflexões, sobre minha
inabilidade de apresentar-me espiritualmente verdadeiro em meus
pensamentos por um período curto de tempo, contra que no mundo espiritual
teremos que ser verdadeiros em todo o tempo.
O estudo que o artigo nos proporcionou, concentrado sobre a poluição
física e espiritual, contribuiu para inserir mais detalhes no adensamento do meu
conhecimento e sobre as maneiras que posso implementar para melhorar as
minhas criações mentais e me nutrir delas.
COMPROMISSOS A LONGO PRAZO
Estou assumindo mais um compromisso, o de estudar mais sobre o
assunto e aplicar de forma intensiva nos meus pensamentos, cuidando que ao
mudar, possa perceber o bem que podemos causar a nós, aos outros e
consequentemente, nas atividades da FAK.
Penso que seria muito proveitoso, prepararmos um conjunto de ações
(palestras, cursos, exercícios coletivos, etc) sobre o tema, proporcionando a
todos da FAK com elementos imprescindíveis para a reflexão diária e sua
disseminação onde cada irmão transitar. Além desse aspecto físico, despertar
mais a responsabilidade com o nosso entorno, defendendo a sustentabilidade
do planeta, começando o exercício consciente e verdadeiro, dentro de cada um
de nós.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1970.
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395
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XAVIER, Francisco Cândido. Jesus no Lar. Pelo espírito Neio Lúcio. ed. FEB,
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XAVIER, Francisco Cândido. Mecanismo da Mediunidade. Pelo espírito de
André Luiz. 26ª ed. Rio Janeiro, RJ: FEB, 2013.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo espírito Emmanuel. 28ª ed.
Brasília, DF: FEB, 2011.
XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros. Pelo espírito André Luiz. 46ª
ed. Brasília, DF: 2013.
396
XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. Pelo espírito de Emmanuel.
19ª ed. Brasília, DF: 2017.
XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro. Pelo espírito de Emmanuel. 14ª ed.
Brasília, DF: 2013.
397
3.3 Transição planetária e compromissos iluminativos
TRANSIÇÃO PLANETÁRIA, PENSAMENTOS E PERCEPÇÕES, CONDUTA
E MEDIUNIDADE
João Carlos dos Santos Jr. *
Tanto os pensamentos, representação plena da natureza humana, que
se expressam nas suas criações materiais e nos campos das ciências do
pensamento científico, como na filosofia, na arte e suas multifaces e nas
ciências sociais, entre tantas diversidades, poderíamos ter como elo de ligação
entre os artigos apresentados ―Comunicação pelo Pensamento: Bases
Exploratórias‖; ―Mediunidade, as diversidades de carismas nos tempos de
transição planetária mediunidade‖, ambos apresentados no II, III Simpósio da
Fundação Allan Kardec (FAK), e também nos textos: ―O Perdão e sua
Aplicabilidade na Construção do Ser Espiritual‖ e ―As contribuições doutrinárias
que reafirmam os compromissos dos coadjuvantes da transição planetária‖,
apresentados no IV Simpósio FAK. Vejamos um breve resumo do que trata
estes trabalhos.
No primeiro texto, apresentado no II Simpósio FAK, teve como propósito
documentar os recursos do pensamento como força de comunicação entre
alma-espírito, espírito-alma. Uma revisão das obras de Allan Kardec e dos
Espíritos André Luiz, Emmanuel, Pietro Ubaldi e Ramatis para descrever pela
visão dos Espíritos o pensamento orientado pelo ―gabinete da vontade 305‖. Pelo
fio condutor apresentado, permeando pela fisiologia do pensamento, a ação do
plano espiritual sobre o pensamento de encarnados e desencarnados, além do
poder da sua instrumentação no bem proporcionam àquele que se serve desse
recurso, o artigo ressalta a importância de conhecer o tema e perceber como
ele interfere na intimidade do Ser e no processo de transição planetária que ora
vivemos nosso progresso.
O texto conclui indo de encontro com a recomendação da Doutrina
Espírita quanto à reforma de si mesmo, no dilema moral, como um dos mais
importantes propósitos da reencarnação, o que está em plena consonância
com a dissertação apresentada por Kardec no capítulo ―Os tempos são
Chegados306‖ da obra A Gênese.
305
Aí possuímos o Departamento do Desejo, em que operam os propósitos e as aspirações, acalentando
o estimulo ao trabalho; o Departamento da Inteligência, dilatando os patrimônios da evolução e da
cultura; o Departamento da Imaginação, amealhando as riquezas do ideal e da sensibilidade; o
Departamento da Memória, arquivando as súmulas da experiência, e outros, ainda, que definem os
investimentos da alma. Acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade. A Vontade é a
gerência esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ação mental. Emmanuel. Vontade.
Pensamento e Vida
306
Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto
de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a
realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes
assegurem o bem-estar moral. [...] Nestes tempos, porém, não se trata de uma mudança parcial, de uma
renovação limitada a certa região, ou a um povo, a uma raça. Trata-se de um movimento universal, a
operar-se no sentido do progresso moral. Kardec, A Gênese, Cap. Capítulo XVIII, item 5-6.
398
No segundo artigo, cuja temática é a mediunidade, mas não no sentido
da fenomenologia ou no desenvolvimento da mediunidade mas com o intuito de
―convidar ao leitor a ampliar sua percepção para o contato com as diversidades
de carismas mediúnicos que Deus assim permite e melhor sintonizar com o
processo de transição planetária que ora se observa‖ (SANTOS JR., 2013)
Talvez uma dúvida possa tomar conta do leitor. Porque a mediunidade
tem relação com a transição planetária? Para a resposta vamos citar Suely
Schubert:
O médium do Terceiro Milênio, sob a diretriz da Doutrina Espírita,
poderá dar uma contribuição cada vez maior para o progresso da
sociedade humana. [...] Temos que percorrer ainda o caminho para
um entendimento mais profundo acerca da mediunidade. Quando isto
acontecer, este médium terá as condições imprescindíveis para uma
atuação mediúnica altruística, equilibrada, sendo mais reconhecido e
respeitado e estará, dessa forma, contribuindo, mais decisivamente,
para a regeneração da humanidade. (Entrevista Jornal Evangelho e
Ação, Ano XIX, Nov./2008).
A comunicação dos Espíritos será cada vez mais privilegiada pela via do
pensamento e esse recurso vai conceder a humanidade um grande avanço e
progresso. Os primórdios dessa ciência de comunicação já se iniciaram pelo
caminho seguro da mediunidade de intuição que será cada vez melhor
direcionada de acordo com a conduta e moral daquele que se deixa tocar pelos
bons ventos do futuro consonante sua conduta da sua utilização caridosa e
humilde. A mesma autora reforça essa ideia.
Porque a mediunidade é um meio de comunicação e este, com o
tempo, se tornará mais facilitado, possibilitando aos desencarnados e
encarnados interagirem de forma mais natural. Mas é oportuno
lembrarmos uma advertência de Emmanuel, que sempre me apraz
citá-la: ―Não é a mediunidade que te distingue. É aquilo que fazes
dela‖ (Seara dos Médiuns). In: Jornal Evangelho e Ação, Ano XIX,
Nov./2008
Em seguida, o texto apresenta uma seção de entrevistas que foram
feitas com a base em: ―médiuns que se dedicam a tarefa da mediúnica com
seriedade procurando-se observar aspectos: da vontade, do pensamento, da
sintonia, ligados ao desdobramento e a lembrança, a participação do médium
no processo mediúnico, as gradações da passividade; e todas as observações
que ensejam a educação mediúnica como processo de evolução moral do
espírito em jornada ascensional e que se coadunam com a chegada dos novos
tempos, a transição planetária‖ (SANTOS JR., 2013).
Conclui assim: ―as potencialidades de carismas oferecem uma infinidade
de mecanismos de caminhada ascensional. Apenas o entendimento do
fenômeno mediúnico não é suficiente para apropriar-se positivamente da
pedagogia a que este se propõe. Antes de tudo, a reflexão, a busca no íntimo
da alma, o entendimento e percepção dos condicionamentos psíquicos a que
somos submetidos, são algumas formas de autodescobrimento e
autotransformação do Ser na qual à mediunidade faculta para pôr em marcha a
transição planetária em si. [...] todos viemos dotado de Espírito, tem-se inato
em cada Ser a sede de intercâmbio entre Espíritos, onde de ordinário, estão
nossos vínculos definitivos, este processo de transição em si é ofertado a cada
399
um que se dispuser a utilizar destes recursos entre o Ceú e a Terra‖ (SANTOS
JR., 2013).
Em 2015, visando a participação no IV Simpósio FAK foram escritos dois
trabalhos. Um deles trata sobre a mediunidade, especificamente devido a um
conjunto de mensagens psicografadas em obras literárias recentes (2003,
2010, 2012 e 2013)307 dos Espíritos Bezerra de Menezes, Joanna de Ângelis,
Amélia Rodrigues, Manoel Philomeno, que nos preparam para a transição
planetária, e de sua relação com a missão dos espíritas que ora reencarnam,
além da contextualização de Planeta de Regeneração, temas navegados nas
obras A Gênese, O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos,
ambos de Allan Kardec.
Pela construção dinâmica do artigo, feita por meio de perguntas
elaboradas pelo autor, foi possível identificar em trechos-respostas nas obras
referenciadas dos Espíritos antes citado e daí encadear um conjunto de
reflexões advindas das recentes orientações dos Espíritos que reafirmam
nossos compromissos à cerca do papel e importância dessas mensagens
ligadas à transição planetária.
Conclui o trabalho dizem que: ―a quem quer que seja, para realizar o
enfrentamento dos desafios e dos compromissos na construção das mudanças
interiores que se somarão para a mudança maior do Planeta‖ (SANTOS JR.,
2013) Além de oferecer um olhar sobre a geração que, em curso firme, já
comparece com o papel de protagonista de nossa sociedade e questionando o
leitor: ―Qual a forma que estamos planejando nossas atividades de
evangelização infanto-juvenil face aos avanços tecnológicos? Como estamos
educando nossos filhos achando que são os príncipes da nova era, sem lhes
educar os limites?‖ (SANTOS JR., 2013). E por fim, traz a lúmen a mensagem
de Manoel Philomeno que vem de encontro com o objetivo do artigo: ―Os
momentos que vivemos são de esforço autoiluminação, graças às revelações
que descem à Terra com maior frequência e às informações seguras em torno
do processo de mudança, oferecendo a visão do futuro que a todos espera‖. 308
Por outro lado, percebemos que não nos falta apoio e acompanhamento
do plano superior enquanto não nos deixa faltar as comunicações que nos
motivam a seguir sempre confiantes no amor do Pai eterno. Por isto, foi escrito
outro artigo com o tema do perdão e sua aplicação na vida do cotidiano.
Elaborado também por conta do IV Simpósio FAK, esse teve como
objetivo o de ―propiciar uma reflexão sobre a necessidade do auto perdão,
percorrendo conceitos de perdão adrede estabelecidos no psiquismo humano e
demonstrando estratégias úteis para sua aplicação na vida cotidiana‖. (Pereira
& Santos Jr. 2013)
O enfoque se deu em contextualizar o perdão na história da humanidade
e sua ligação com o Sagrado e a Doutrina Espírita. Na seção que trata das
estratégias, foi preciso defini-las ao melhor propósito que seja: ―não se tratar de
307
Compromissos Iluminativos. Pelo espírito Bezerra de Menezes. 5ª. Edição. LEAL 2003; Entrega-te a
Deus. Pelo espírito Joanna de Ângelis. 1ª. Edição. InterVidas. 2010; Amanhecer de uma nova era. Pelo
espírito Manoel Philomeno de Miranda. 1ª. Edição. Leal. 2012; Vivendo com Jesus. Pelo espírito Amélia
Rodrigues. 2ª. Edição. LEAL. 2013. Transição Planetária. Pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda.
5ª. Edição. Leal. 2013b. Ambos livros pela psicografia FRANCO, DIVALDO PEREIRA.
308
FRANCO, DIVALDO PEREIRA. Amanhecer de uma nova era. Pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda.
1ª. Edição. Leal. 2012.
400
manual de conduta, nem de roteiro a ser seguido passo a passo ou rito
processual, o uso destas estratégias, tem caráter intransferível e são de
propriedade do ser em crescimento, que com uma chave abre portas que
possibilitam acesso a jardins com várias plantas que necessitam de cuidado,
carinho e amor‖. (Pereira & Santos Jr. 2013).
A chave para entender tais estratégias se reflete nessa passagem do
artigo: ―utiliza-se o poderoso recurso de olhar o Ser Integral e buscar
ferramentas que mostrem os ‗porquês‘ dos remorsos e rancores que estão por
trás da falta de perdão. A primeira estratégia que o Espiritismo nos traz, é olhar
o Ser como Espírito em processo educativo e, o mecanismo pedagógico para a
educação do Espírito, como um caminho de reflexão a cada encarnação, é
amorosamente olhar para si mesmo e ―pensar‖ sobre suas chagas e virtudes,
através da compreensão e do auto-amor‖ (PEREIRA & SANTOS JR. 2013).
Eis o cerne e a chave da questão do perdão, o auto-amor ainda melhor
definido por Joanna de Ângelis 309:
―[...] o auto-amor é, sobretudo, auto-encontro, conquista de
consciência de si mesmo, maturidade, equilíbrio. [...]o amor-próprio
deve ser revisto, a fim de ser substituído pelo auto-amor profundo,
sem resquícios egoísticos, geradores do personalismo doentio que
nos leva a conflitos perfeitamente evitáveis. [...] A segurança
psicológica do indivíduo centraliza-se no autoconhecimento, na auto-
identificação, no auto-amor, no ser‖ (FRANCO, 1993).
E por fim, enseja a estratégia de excelência Divina: ―Todos os seres são
dotados de virtudes, que são estratégias divinas para nosso soerguimento
diante daquilo que foi imposto a si mesmo quando incorre em desequilíbrio
moral. Estabelecendo o escudo interno da auto cobrança, ou do chamado
perfeccionismo, como punição ao passado como resultado da falta de auto
amor‖ (Pereira & Santos Jr. 2013).
Além de que: ―A estratégia de vivenciar emoções perturbadoras,
utilizando o bálsamo do auto amor conduzirá ao alívio do ‗fardo pesado‘ e o
desabafo que oportunizará facear o Eu com leveza, promovendo uma ―limpeza‖
das impurezas promovidas por estas emoções mal sãs, ampliando a sintonia
de paz e equilíbrio interior‖ (PEREIRA & SANTOS JR. 2013).
Conclui oferecendo alguns recursos/exercícios cotidianos para facear
nossas intolerâncias:
Essa estratégia pode se materializar através da arte como expressão
divina das emoções vivenciadas, na prática da meditação
promovendo exercícios de respiração, [...] O chorar, dito por Jesus,
―Bem aventurados os que choram...‖ (Mateus 5, 4) exercitado com
coragem e honestidade emocional os ensinamentos do excelso
Amigo. Na adoção da humildade, representada por Pedro, depois da
terceira negação à Jesus, que se comoveu em prantos copiosos
mostrando a toda a humanidade a humildade do grande apóstolo que
se curvou, diante de Jesus e sobre si mesmo, para pedir perdão
(PEREIRA & SANTOS JR. 2013)
―Naturalmente, em paz consigo, a pessoa escolherá a estratégia que
melhor lhe aprouver para dar continuidade na jornada do perdão,
construir virtudes consolidando sua rota mental e ajustando seus
comportamentos e conduta moral a este novo estágio dinâmico.
309
O ser consciente. Pelo espírito de Joana de Angelis, v. 8, 1993.
401
Escolhendo pela autorreflexão, que o leva ao autoconhecimento, e
este, por sua vez o conduz para o auto-encontro, certamente, a
criatura em processo de crescimento assumirá forças para transpor
as dificuldades e alcançar as transformações morais mais sublimes
que lhe foram reservadas‖ (PEREIRA & SANTOS JR. 2013).
Não obstante, esse olhar que nos conduz a escolher a trilha de nossa
evolução consciente, pois já nos foi oferecido diversos recursos pela
proximidade com o Sagrado, agora sob a autoria de nós próprios, o convite é
para sermos protagonistas, em cujo recurso mais tangível está em conhecer
nossos pensamentos e sua educação progressista do ponto de vista moral,
observando o papel do ego nos condicionamentos mentais que geram as
condutas que acabamos por rotular, não tolerar (tema de artigo apresentado no
V Simpósio FAK) de forma extremista, nos cerceando a capacidade inata do
auto perdão e auto amor, revelações postas por Jesus na qual,
costumeiramente, gostamos de aplicar aos outros e não a nós próprios.
São diversos carismas possibilitados pelo olhar da mediunidade, dos
pensamentos, potencializados quando escolhemos perdoar a nós e ao próximo
na qual denotam a trama com que estes assuntos estão interligados nestes
tempos de transição planetária. Talvez, se olhados de forma isolada, não
pareçam estar construídos como uma base firme para observar o Eu e sua
majestade Divina, justamente por contato da visão de pensamento analítico,
estabelecido por Descartes em suas obras o ―Discurso do Método‖ (1637) e
―Meditações Metafísicas‖ (1641), onde este expressa sua preocupação com o
problema do conhecimento, que ficou conhecido como pensamento Cartesiano
com sua percepção dualística, mas que permitiu grandes avanços para o olhar
exterior das coisas/pessoas e suas relações.
O progresso da humanidade revelou uma outra proposta da visão.
Elucidou-se o pensamento sistêmico [Augusto Comte (1798-1857)] ou a visão
holística, na qual permitiu a abordagem da teoria do caos. Pela visão sistêmica,
a doutrina espírita se permitiu olhar a vida como única e ao mesmo tempo
entender o dualismo entre vida e morte, além do fenômeno da mediunidade e
sua fenomenologia.
Pelo olhar sistêmico é nos propormos a escrever nossas percepções
sobre os quatro artigos em tela, todos em direção à transição planetária. O
alinhamento nobre entre o que pensamos, como agimos nas orientações
doutrinárias potencializadas pelas diversas manifestações dos espíritos para
nós, os próprios médiuns de nossa alma, pela conduta bem sentida do perdão
e sua devida aplicação para maturidade do Ser Espiritual, não deixando de
vislumbrar o papel dos que estão reencarnando e comprometidos com a
transição planetária, amplamente registradas no conjunto de orientações
pedagógicas que os espíritos responsáveis pela Evolução do Planeta Azul tem
nos ofertados concluem, em nossa observação, que estamos diante de
poderemos recursos pedagógicos para as mudanças evolucionistas do Ser.
Uma representação em gravura (Figura 1), pode retratar melhor o mapa
cognitivo do elo dos 4 trabalhos apresentados ao logo dos últimos 3 simpósios
FAK.
O que essa figura 1 quer expressar, diz que sob a influência Espiritual
dos ―encarregados‖ de promover a transição planetária, nos chegam diversas
oportunidades e poderosos recursos para nossa regeneração dos aspectos
morais que estão em ascensão progressiva. Essas influências permeiam
402
nossos pensamentos e expressam nas mais diversas formas de mediunidade,
carismas, atitudes ou talentos que possuímos nos serviços de caridade e
humildade na vida reencarnada. De forma transversal, entre pensamentos,
mediunidade (intuições e inspirações) e atitudes nossa conduta de amor para
conosco mesmo e, para aquele outro que por laços e vinculações ainda não
aprendemos a perdoar, traçamos novos voos rumo ao Pai.
Figura 1 – Mapa Cognitivo
Outra forma de mostrar o encadeamento dos trabalhos é apresentado no
quadro de conexão abaixo.
QUADRO DE CONEXÃO
CONDUTA: PERDÃO & AUTO-AMOR IV SIMPÓSIO
INFLUÊNCIA: MEDIUNIDADE E DIVERSIDADE DE III SIMPÓSIO
CARISMAS
VEÍCULO: COMUNICAÇÃO PELOS II SIMPÓSIO
PENSAMENTOS
BASE: TRANSIÇÃO PLANETÁRIA SOB IV SIMPÓSIO
INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS COMPROMETIDOS
O objetivo desse quadro está em sua essência em seu título. Oportuniza
a conexão entre os artigos publicados onde o autor esteve presente, inclusive
em coautoria. Na base dos trabalhos está o grande tema da influência dos
espíritos comprometidos (encarnados e desencarnados) com a transição
planetária. Essa influência chega pelo veículo do pensamento e desemboca
influenciando o exercício da mediunidade, em seu sentido pleno, em que todos
somos médiuns e agimos em nossas relações cotidianas por meio de uma
conduta de auto-amor, perdão a si mesmo e àquele que é o mais próximo de
nós.
Na figura 2 a seguir tem-se outra perspectiva do ordenamento dos
artigos como representação gráfica do quadro de conexão acima.
403
TRANSIÇÃO PLANETÁRIA
O PERDÃO E SUA APLICABILIDADE NA CONSTRUÇÃO DO SER
ESPIRITUAL SOB O TOQUE DO AUTO-AMOR
Comunicação pelo Pensamento Mediunidade, pela diversidade de carismas
As contribuições doutrinárias dos coadjuvantes da Transição Planetária
Figura 2 – Figura retrata Quadro de Conexão
O que aprendi
Pela oportunidade que este momento do V Simpósio FAK me permitiu, a
sensação que pude auferir é que os comprometimentos que tive estão
amplamente refletidos nos compromissos que tenho em que os artigos
acabaram elucidando.
Alguns fatos interessantes:
Em 2011, não havia em meus planos escrever nada sobre espiritismo,
mesmo porque o contato que tive com a doutrina foi em meados de 2009. Não
muito afeito à produção de artigos, fui ao workshop que a Casa ofereceu a
quem se interessasse. Fui por curiosidade. Após alguns minutos, escrevi em
pequeno pedaço de papel o tema do primeiro artigo. Em casa, senti forte
impulso à escrever de um assunto que ―não era minha praia‖. Mergulhei
profundamente nas pesquisas e escrevi algo que até hoje motiva à novas
buscas sobre esse assunto e que melhor explica meu compromisso com a
mediunidade, atividade que hoje sou vinculado tanto no campo da formação de
médiuns, como na tarefa de acolhimento espiritual.
Em 2013, nem de longe almejava trabalhar na Evangelização da
Juventude, aliás, tinha um pensamento intolerante, preconceituoso e radical
sobre a atual juventude, apesar de ter 2 filhos nessa fase. Escrevi o artigo
neste ano questionando e ressaltando o leitor quanto a importância do
processo educativo na Evangelização Espírita Infanto-Juvenil. Não obstante,
em 2015 estava engajado na atividade com os jovens. Sem perceber, havia
revistos todos os meus conceitos com uma docilidade indescritível.
Em 2015, veio uma nova percepção para escrever sobre o perdão.
Passo, até hoje, em grau diferente, da necessidade em me perdoar e assim
como aqueles que magoei. Estava escrevendo para mim, sem perceber. A meu
ver, de forma ousada, recomendei a prática da meditação como estratégia para
aplicar o perdão. Neste mesmo ano, sem motivo bem definido, apenas por
tempo na agenda de sábado pela manhã, iniciei a atividade da meditação na
incubadora ao exercício do amor na DAEA.
Ainda em 2015, decidi por um tempo, não estar disponível como
trabalhador da livraria Didier, meu primeiro posto de trabalho na FAK. Por
aquelas prateleiras desfilam o que há de mais vibrante, a meu ver, na Doutrina
404
Espírita. A materialização do fenômeno mediúnico da psicografia. As obras
percorreram mais de 4 mil quilômetros e chegam ―vivas‖ em nossas mãos. Um
sistema orgânico de pensamentos condensados em livros e revistas. Material
para crianças, jovens, pais, deprimidos, pesquisadores, curiosos como eu. Por
isso, além do artigo sobre o ―Perdão e sua aplicabilidade na construção do Ser
Espiritual‖ decidi olhar o que havia chegado recentemente sobre o tema da
transição planetária. De novo, um foi impulso para conhecer melhor o que está
sendo insistentemente apresentado pelos Espíritos encarregados do assunto e
sua relação com o propósito de minha reencarnação. Nesta hora, última para
os trabalhadores espiritistas, conecto com o Alto, com o que percebo como
mais próximo da vontade de Jesus, em que resumo com as palavras do
Espírito de Manoel Philomeno: ―Jesus! Concede-nos a Tua dúlcida paz, a fim
que sejamos dignos de Ti, hoje, amanhã e sempre.‖310
Diante do influxo dos fatos e seus encadeamentos em minha vida, dei-
me conta que não escrevo para leitores, mas a mim mesmo diante das
necessidades que percebo no convite amoroso a servir, com o propósito
humilde, que bate à porta do meu coração. Refletir sobre essas páginas tomam
ainda maior grandeza quando olho pelo prisma da vida profissional. Quanto
tenho aprendido nessa dinâmica de estudar a mim mesmo, o trabalho no
campo da agronomia no contexto amazônico e os seres reencarnados nos
braços de rios e igarapés que se utilizam da profissão de agricultor. Daí poderia
dizer que teria outro artigo a escrever, aliás, ele foi ventilado em minha mente
na primeira vez que participei do Simpósio da FAK, em 2011. Talvez seja um
compromisso que o futuro poderá elucidar.
Sei que estes temas não estão por todo aprofundados em mim, mas a
trajetória foi estabelecida. As oportunidades que tenho recebido confirmam os
compromissos: mediunidade & meditação; caridade e humildade pelo
acolhimento na DAEA; influência no aspecto profissional para servir como
espírita; aprender a conviver com minha intolerância por meio da
evangelização juvenil. São as páginas da carta viva que desejo registrar e no
futuro olhar com respeito os passos do caminho de volta ao Pai pelas pegadas
de Jesus e seus humildes servidores.
REFERÊNCIAS
DIAS Ailton G; SANTOS JR., João Carlos. Comunicação pelos
Pensamentos. In: Anais do II Simpósio da Fundação Allan Kardec. Out/2011.
Disponível em www.faknet.org.br. Acessado em 24/09/2017.
FRANCO, DIVALDO PEREIRA. Amanhecer de uma nova era. Pelo espírito
Manoel Philomeno de Miranda. 1ª. Edição. Leal. 2012.
FRANCO, DIVALDO PEREIRA. O ser consciente. Pelo espírito de Joanna de
Ângelis, v. 8, 1993.
310
Amanhecer de uma nova era, Manoel Philomeno de Miranda (espírito), Psicografia de Divaldo P. Franco, 1ª.
Edição, p. 174-175, 2012.
405
KARDEC, Allan. A Gênese. Trad. de Guillon Ribeiro. 53a edição – 1a
impressão (Edição Histórica). Rio de Janeiro: FEB, 2013.
PEREIRA, Alessandra dos Santos; SANTOS JR., João Carlos. O Perdão e sua
Aplicabilidade na Construção do Ser Espiritual. In: Anais do IV Simpósio da
Fundação Allan Kardec. Out/2015. Disponível em www.faknet.org.br. Acesso
em 24 Set 2017.
SANTO NETO, Francisco E. Renovando atitudes: pelo espirito Hammed.
Catanduva (SP): Boa Nova; 1997.
SANTOS JR., João Carlos; DIAS, Ailton Geraldo. As contribuições
doutrinárias que reafirmam os compromissos dos coadjuvantes da
transição planetária. In: Anais do III Simpósio da Fundação Allan Kardec.
Out/2015. Disponível em www.faknet.org.br. Acesso em: 24 Set 2017.
SANTOS JR., João Carlos. Mediunidade, as diversidades de carismas nos
tempos de transição planetária. In: Anais do IV Simpósio da Fundação Allan
Kardec. Out/2015. Disponível em www.faknet.org.br. Acesso em: 24 Set 2017.
SHUBERT, Suely C. In: Jornal Evangelho e Ação, Ano XIX, Nov./2008.
Disponível em: http://www.feig.org.br/images/images/JEA/JEA_2008-
11/Scaned_PDF.pdf. Acesso em: 29 Set 2015.
XAVIER, Francisco C. Pensamento e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. 13. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2004.
406
4. Anexos
407
Anexo 01
FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC
V Simpósio FAK
Espíritas na Amazônia: suas buscas nas realizações do passado e do presente, e nas
motivações para o futuro
Termo de Referência
1. Introdução
O Simpósio FAK, iniciado em 2009, consolidou-se como um evento ordinário bianual da
Fundação Allan Kardec, o qual visa a abrir um espaço de compartilhamento de conhecimentos
obtidos por meio da realização de pesquisas sistematicamente aprofundadas a cada edição 311.
Sendo um evento da agenda interna institucional, o simpósio tem como destinatários
fundamentais os seus trabalhadores e estudantes. Porém, pela natureza e propósitos do
mesmo e, tendo em vista o que ocorre com todos os eventos da instituição, sua realização é
construída sob a perspectiva de participação de qualquer integrante do movimento espírita
amazônida.
A partir do tema central: “O Espiritismo nas terras amazônicas” são desenvolvidas
pesquisas relacionadas com a “origem”, as “realizações” e os “compromissos” do movimento
espírita amazônida. A “origem”, como forma de revelar a identidade dos trabalhadores
pioneiros e as características do movimento espírita amazônida iniciante. As “realizações”,
para propiciar espaço de reflexão acerca das atividades realizadas em passado recente e na
atualidade, visando a ensejar a troca de experiências e aprendizados. E, por fim, os
“compromissos iluminativos”, para possibilitar análises acerca dos compromissos, em um
futuro próximo ou distante, dos trabalhadores e das instituições espíritas.
Nas três primeiras edições deste evento (2009, 2011 e 2013) foi buscado o
fortalecimento da compreensão de que os trabalhadores da instituição poderiam transitar do
papel de consumidores de conhecimento para produtores do mesmo. Após constatar o êxito
do intento, pela quantidade e qualidade expressivas dos artigos e relatos produzidos, o cenário
em que foi realizada a quarta (2015) é bem diferenciado em razão da mudança estatutária da
FAK, ocorrida em dezembro de 2014, que alocou o nobre labor da pesquisa sistemática -
compromisso no qual o simpósio está inserido - em área de gestão específica da estrutura
institucional. Essa área, denominada “Correio do Amor”, visa “a ampliação da comunhão com
os propósitos espirituais da instituição, tal como devem ter sido formulados pelos seus
responsáveis espirituais”.
Com isso, o simpósio transformou-se em um instrumento viabilizador do acesso às
matrizes espirituais do planejamento institucional, por meio da pesquisa séria e sistematizada
focada nas necessidades de adequação da instituição, frente aos compromissos de seus
trabalhadores. Os artigos elaborados passaram a ser entendidos como notícias do
planejamento espiritual, produzidas pelos próprios trabalhadores, passíveis de serem
utilizadas como fonte de informação para avaliar a harmonia entre o planejado (projeto
espiritual) e o realizado (ações no plano físico).
Em decorrência dessa percepção, entendeu-se oportuno estabelecer como
compromisso desta quinta edição do simpósio identificar, por meio da investigação de toda a
produção já realizada, os efeitos virtuosos na comunidade interna, no sentido de ampliar a
vivência da solidariedade fraternal orientada pelo Cristo no “amemo-nos uns aos outros”, que
311
“O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá”, frase dita por Kardec na Introdução, item
VIII, de O Livro dos Espíritos.
408
obviamente, sendo a mensagem essencial, haverá de ser o maior objetivo no planejamento
espiritual de qualquer instituição cristã na Terra.
Para os irmãos trabalhadores de outras Casas Espíritas, o convite à participação é
justificado pelo compromisso de todos com a unificação, pois, a troca de conhecimentos e
experiências fortalecerá a ação conjunta no bem, realizada pela união em torno do ideal
espírita. Internamente, esse movimento gerará subsídios para a investigação sobre o papel da
FAK em relação aos seus compromissos com o Movimento Espírita nas terras amazônicas.
Ademais, como preparação para o simpósio, antecedendo os dias de realização efetiva,
são promovidos encontros ecumênicos que buscam dar concretude a um importante
compromisso da instituição, qual seja, o de consolidar, por meio de ações, a compreensão de
que na gênese de todas as religiões da Humanidade está o coração augusto e misericordioso
de Jesus, fonte da unidade substancial das religiões312. Nestas ocasiões, os irmãos que ocupam
a função de liderança em outras concepções religiosas são recebidos na FAK e convidados a
nos ensinar acerca do sagrado de suas religiões e divulgar as obras que a fé os motivou a
realizar. Com isso, constrói-se, por meio do conhecimento e da aproximação fraternal, uma
base para reconhecermo-nos conduzidos pelo mesmo Pastor a despeito de estarmos em
apriscos diferentes:
Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; é preciso que
eu conduza também a elas; ouvirão a minha voz e haverá um [só]
rebanho e um [só] pastor. (João 10,16).
2. Dados de identificação
2.1. Evento: V Simpósio FAK
2.2. Tema: Espíritas na Amazônia: suas buscas nas realizações do passado e do
presente, e nas motivações para o futuro.
2.3. Período: 12 a 15 de outubro de 2017.
2.4. Local: Fundação Allan Kardec.
2.5. Público alvo: trabalhadores da FAK e estudiosos da Doutrina Espírita de
quaisquer instituições do Movimento Espírita da Amazônia que se sentirem
motivados a compartilhar seus conhecimentos e experiências.
3. Objetivos
3.1. Realizar, de forma regular, pesquisas sobre as origens, realizações e
compromissos do Movimento Espírita nas terras amazônicas;
3.2. Utilizar as informações obtidas com as pesquisas para acessar continuamente
o planejamento espiritual da instituição e compreender o compromisso da FAK
com a disseminação do Evangelho de Jesus à luz do Espiritismo, nas terras
amazônicas;
3.3. Ensejar oportunidade aos participantes para experimentarem o sentimento de
união baseada no estudo e vivência dos postulados da Doutrina Espírita
4. Justificativa
A realização do evento planejado se justifica por incentivar a produção de
saberes sobre a realidade na qual atuamos, oferecendo-nos subsídios para uma
atuação futura condizente com o planejamento divino para a redenção da
Humanidade. A missão espiritual do Brasil acha-se bem definida nas palavras de
Bezerra de Menezes citadas abaixo:
312
Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, na obra “A Caminho da Luz”, Capítulo IX, “A Gênese das
Crenças Religiosas” e “ A Unidade Substancial das Religiões”.
409
O Brasil recebeu das Suas mãos, através de Ismael, a missão de implantar no seu solo
virgem de carmas coletivos, com pequenas exceções, a cruz da libertação das
consciências de onde o amor alçará o voo para abraçar as nações cansadas de guerras,
os povos trucidados pela violência desencadeada contra os seus irmãos, os corações
vencidos nas pelejas e lutas da dominação argentária, as mentes cansadas de perquirir
e de negar, apontando o rumo novo do amor para que restaurem no coração a
esperança e a coragem para a luta de redenção313.
Implantar o Evangelho de amor no solo amazônico para que a sua luz se espraie
pelo mundo é labuta que abraçamos ao escolhermos as terras amazônicas como nosso
local de trabalho. Os trechos das manifestações de benfeitores espirituais destacados
abaixo ressaltam esse compromisso:
Lembremos das reuniões que tivemos em que a Espiritualidade Superior nos fez sentir
nossas atividades nas terras amazônicas. Lembremos daqueles momentos singulares
da presença da Natureza na sala em que estávamos, onde a mata surgindo dava o tom
dos nossos compromissos reencarnatórios vindouros. Alguns, como eu, viemos na
frente para darmos o nosso testemunho. Outros, como vocês, vieram após para dar
prosseguimento. E assim nos mantemos unidos, nos revezando no trabalho, ora na
espiritualidade, ora no plano material. [...]
Estamos então imbuídos da continuidade desse projeto, em especial nas terras
amazônicas, onde a vida é pungente. A Natureza presente, unindo os nossos
sentimentos de amor e fraternidade, tem força para disseminar no mundo a palavra
do Evangelho de Jesus.
*…+ as dificuldades materiais vivenciadas nesta terra são ínfimas se comparadas às
possibilidades espirituais que ela oferece. Pensemos nisso, pois a escolha foi nossa e
foi bem feita314.
A natureza do compromisso assumido requer que mapeemos as ações
espiritistas realizadas, para aprender com os que nos precederam; requer também que
reflitamos sobre as nossas próprias ações, para aprender com nossos erros e acertos.
Assim, mais conscientes de nossa responsabilidade individual e coletiva, poderemos
contribuir para o trabalho dos que nos sucederão na tarefa de disseminar o Evangelho
de Jesus à luz da Doutrina Espírita nas terras amazônicas.
O aprofundamento dos estudos realizados em cada edição, a oportunidade do
estreitamento de laços afetivos entre os participantes são também fatores que
motivam a realização do Simpósio FAK. Ademais, a concretização do referido evento
está acorde com ações incentivadas pelos benfeitores espirituais da FAK, como se
depreende da mensagem psicofônica, transcrita abaixo, transmitida em reunião da
Diretoria Colegiada315 desta Casa, no dia 9/5/2009, após a realização do I Simpósio
FAK.
Companheiros de ideal,
O trabalho foi realizado. Concluído, nunca. A labuta pela disseminação, a labuta por
plantar o Evangelho de Jesus em terras amazônicas continua. Mas precisamos registrar
313
Mensagem recebida por via psicofônica pelo médium Divaldo Pereira Franco, em 6/11/1988, no
encerramento das atividades da Reunião do Conselho Federativo Nacional, Brasília-DF. Reformador,
jan.1989, p. 12-14)
314
Mensagem psicofônica transmitida em reunião de apoio ao Encontro de Trabalhadores da Fundação
Allan Kardec, no dia 2/2/2008.
315
Instância colegiada que geria a FAK consoante ao estatuto de 2004.
410
que esta tarefa foi elaborada, foi planejada, teve sentimentos, mas foi racionalmente
executada por aqueles que se envolveram neste mister.
Precisamos registrar a emoção infinita que tomou posse de nós outros no momento da
abertura quando nos vimos retratados por meio daquela peça teatral. As lágrimas,
irmãos, corriam copiosas em nossas faces, tomados de uma profunda emoção por
terem sido capazes de captar a essência dos sentimentos pioneiros quando da
implantação do Espiritismo nas terras amazônicas.
Caríssimos, sobremaneira emocionados, compartilhamos com todos vós aqueles
momentos, mas principalmente emocionados ao perceber a integração dos de hoje
com os de ontem, ao perceber que estão cumprindo com rigor, estão cumprindo com
denodo, estão cumprindo aquilo que programaram. E lembrem-se: é só o começo.
Estamos engatinhando nos nossos ideais. Os primeiros passos foram dados; muito
caminho temos pela frente.
Mantenham-se firmes, irmanados neste ideal, porque nós, do lado de cá, estaremos
auxiliando. Vós outros sabeis que, neste trânsito, ora estaremos aqui, ora estaremos aí
e vice-versa. Mas permaneçamos juntos neste ideal. Essa semente plantada está
certamente sendo bem adubada, no plano espiritual, para que a árvore cresça
frondosa. E os frutos surgirão no porvir.
C’est fini, nunca! Avant, sempre! Carlos Theodoro Gonçalves.
5. Estruturação temática
5.1. Tema Central
Espíritas na Amazônia: suas buscas nas realizações do passado e do presente,
e nas motivações para o futuro.
5.2. Eixos Temáticos
I- Origens: Primórdios das ações espiritistas nas terras amazônicas
Estão contidos neste eixo temático os seguintes subtemas:
1) Contexto histórico e fatos relevantes associados ao advento do
Espiritismo na Amazônia.
Estão classificados neste subtema os seguintes assuntos: a) Manaus, o boom
da borracha e suas conexões internacionais como elementos explicativos da
chegada, instalação e a pujança do Espiritismo no Amazonas, nos seus
primórdios; b) Os liames comuns relacionados com a origem, formação,
militância sociopolítica, atividades profissionais e atos de benemerência
pública dos pioneiros como fatores facilitadores e potencializadores da
divulgação e da credibilidade doutrinária; c) Fenômenos mediúnicos e fatos
inusitados com repercussão na imprensa como meio para trazer à tona a
atuação dos pioneiros frente a tais fatos, buscando encontrar entrevistas,
artigos e outras matérias escritas nos jornais do Amazonas e de outras
regiões, anteriores a 1915, nos jornais espíritas da época (Reformador, O
Mensageiro, O Guia e outros).
2) Vultos históricos da ação espiritista amazonense
Estão classificados neste subtema os seguintes assuntos: a) Informes
biográficos sobre os pioneiros, envolvendo a busca por identificar, com a
maior soma de dados possível, as personalidades que atuaram no início do
movimento, pois que, uma quantidade significativa deles são plenamente
reconhecidos nos anais da história do estado tornando-se relevante saber o
que faziam na sociedade da época, o que fizeram pelo Espiritismo,
repercussão na imprensa de suas desencarnações e outros; b) A
representatividade social dos pioneiros e a estrutura social, política e
411
eclesiástica da época, envolvendo a análise do significado de ser espírita à
época, especialmente para personagens destacadas da sociedade. Trata-se
da tentativa de identificar os papéis sociais que os protagonistas do início
tinham e de fazer inferência sobre os fundamentos de suas convicções e o
respeito que o movimento pode ter tido; c) Personalidades históricas com
evidências de influência espírita, envolvendo a tentativa de identificar
personalidades históricas do estado que, mesmo não tendo militância
espírita reconhecida, demonstraram evidência de influência da Doutrina
Espírita. Neste caso a busca de tal evidência se daria pela análise de suas
obras literárias, feitos sociais, registro de manifestações, informações de
familiares descendentes e de conhecidos próximos e outras. Como
exemplos de personalidades nessas circunstâncias podem ser citados
Alexandre de Carvalho Leal e Álvaro Botelho Maia.
3) As instituições, grupos e publicações espíritas do início.
Estão classificados neste subtema os seguintes assuntos: a) As instituições e os
grupos do início, envolvendo a identificação de instituições e grupos que
atuaram no início da organização do movimento, entre as quais, podem ser
destacadas, a Sociedade de Propaganda Spírita, o Grupo Espírita Filhos da Fé,
Grupo Espírita Consolo dos Aflitos e muitos outros. A tentativa aqui é descobrir
quando e porque foram fundados; o que faziam; endereço de funcionamento;
noticiais de sua atuação; notícias de sua extinção e outros; b) As publicações
espíritas da época, envolvendo a tentativa de identificar, no maior número de
edições possíveis, as publicações espíritas que tiveram alguma regularidade à
época, como por exemplo, Mensageiro, O Guia, O Semeador. Mas, além do
propósito de identificação em si, há a necessidade de trazer à tona o conteúdo
dessas publicações.
II- Realizações: O Espiritismo nas terras amazônicas na atualidade
Categorizam-se neste eixo temático os seguintes subtemas:
1) As instituições espíritas atuais e as características significativas de suas
atuações
Estão classificados neste subtema os seguintes assuntos: a) Circunstâncias
relevantes que influenciaram o período recente do movimento espírita
amazonense, envolvendo a busca por identificação das origens do
dinamismo recente que tem fortalecido o Movimento Espírita no Amazonas,
com destaque para a reunião zonal do Conselho Federativo Nacional, em
1977; a chegada de unidades militares integradas por reconhecidas
lideranças espíritas de outras regiões do pais; o advento da Zona Franca de
Manaus (ZFM) e a migração para o Amazonas de um grande contingente de
comerciantes, industriais, técnicos privados e servidores públicos; a
fundação local da Cruzada dos Militares Espíritas; a criação da Fundação
Allan Kardec e outros; b) As casas espíritas atuais, envolvendo a descrição de
casas espíritas específicas, visando registrar suas atividades e os focos mais
ostensivos de suas atuações. Aqui a intenção é registrar o que cada casa
espírita realiza e quais são os aspectos mais singulares ou específicos de
suas dinâmicas; c) As características mais relevantes do movimento espírita
estadual e sua dinâmica de unificação, envolvendo a busca por identificação
412
das características mais significativas presentes no movimento e as
tendências entrevistas com o propósito de se descobrir as atividades que
mais recebem atenção das casas espíritas a fim de verificar se existe um
padrão ou perfil que possa ser percebido como aquele que mais define o
movimento. Envolve, também, a ampliação da compreensão sobre os
fundamentos do processo de unificação do movimento espírita e das
práticas para dar operacionalidade a esse movimento.
2) Os desafios atuais do Movimento Espírita
Estão classificados neste subtema os seguintes assuntos: a) Adequação das
casas espíritas às demandas sociais atuais e futuras, envolvendo o esforço
para trazer à tona os desafios que as casas espíritas têm para fazer com que
a excelência da doutrina possa, de fato, atender as demandas de uma
sociedade baseada em conhecimento. Isso inclui a análise do nível de
conhecimento doutrinário dos trabalhadores, a discussão sobre ausência de
métodos adequados às demandas que chegam à casa espírita, a proliferação
de literatura superficial, a ausência de cultura baseada na racionalidade, os
riscos da igrejificação e outros; b) Os movimentos da sociedade civil e a
natureza singular das casas espíritas envolve a busca por compreender
como a casa espírita pode atuar e interagir com o seu meio, sem
comprometer os fundamentos de sua existência e singularidade. Isso inclui
as questões relativas à sua natureza institucional e, por consequência, sua
condição perante o ordenamento jurídico nacional; seu envolvimento com a
rede dos serviços assistenciais sociais do mundo e os efeitos disso para a
natureza desses serviços praticados à luz do Espiritismo; suas necessidades
de recursos financeiros para dar suporte ao seu funcionamento e os riscos
de descaracterização ao buscá-los; a necessidade de eficiência em sua
gestão e os riscos de importar modismos técnicos desnecessários ou
incompatíveis com seus fundamentos; e outros; c) As dificuldades para
ampliação do alcance social do Espiritismo, envolvendo a busca por
compreender os melhores e mais adequados caminhos para ampliar o
alcance do Espiritismo, o que implica na necessidade de mais casas espíritas
e em mais localidades; na necessidade de buscar outros métodos capazes de
ampliar a divulgação mas sem perder a qualidade; na compreensão do papel
da Internet e outros recursos técnicos podem ter nesse processo de
ampliação; e outros.
3) A FAK, suas circunstâncias e seu papel junto ao Movimento Espírita.
Os assuntos deste subtema incluem todos aqueles que tenham por foco a
Fundação Allan Kardec.
III- Desafios Futuros
Estão contidos neste eixo temático os seguintes subtemas:
1) Consequências do conhecimento espírita
Estão classificados neste subtema os seguintes assuntos: a) Ressignificação
da compreensão da vida; b) Indícios de uma ordem social fraterna; c)
Desenvolvimento do sentimento de religiosidade.
2) Reforma íntima, regeneração social e transição planetária
413
Estão classificados neste subtema os seguintes assuntos: a) Reforma
individual como base do progresso social; b) Percepções sobre a transição
planetária.
3) Doutrina Espírita e Meio Ambiente
Estão classificados neste subtema os seguintes assuntos: a) O espírita e a
casa espírita no cuidado do ambiente; b) Contribuições doutrinárias para
estudo da relação sociedade-ambiente.
6. Atividades Relevantes
6.1. Programa do Evento
Data Hora Programa
11/10/17 19:30 - Sessão de abertura: Espíritas na Amazônia: suas buscas nas
21:30 realizações do passado e do presente, e nas motivações para o
futuro
12/10/17 8:00 - Sessão de Estudos I: Apresentação de trabalhos e Seção de
12:00 perguntas e respostas
12/10/17 14:00 - Sessão de Estudos II: Apresentação de trabalhos e Seção de
18:00 perguntas e respostas
13/10/17 16:00 - _
20:00
14/10/17 16:00 - Sessão de Estudos III: Apresentação de trabalhos e Seção de
20:00 perguntas e respostas
15/10/17 8:00 - Sessão de Estudos IV: Apresentação de trabalhos e Seção de
12:00 perguntas e respostas
15/10/17 19:30 - Sessão de encerramento: Debate – Compromissos Futuros: análise
21:30 de cenários; Atividade Artística de Encerramento
6.2. Atividades pré-evento
Lançamento do V Simpósio FAK
o Data: 05 de março de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário: 15h.
1º Workshop para autores de trabalhos escritos: definição dos grupos de
pesquisas
o Data: 05 de março de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário: 15h.
2º Workshop para autores de trabalhos escritos: apresentação dos possíveis
temas e respectivos orientadores.
o Data: 23 de julho de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário: 19h.
3º Workshop para autores de trabalhos escritos: harmonização do
entendimento acerca do processo de formulação dos artigos: foco, forma e
essência; definição dos orientadores para cada articulista.
o Data: 22 ou 23 de agosto de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário:
20h.
1º Encontro com os simposistas
o Data: 29 de setembro de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário:
19h30.
IV Encontro Ecumênico: “Fidelidade no serviço do bem”
414
o Data: 06 de outubro de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário:
19h30.
6.3. Atividades pós-evento
a) Avaliação geral (planejamento, execução, resultados e outros);
b) Providências para publicação dos anais.
Obs.: Essas atividades deverão possuir programação detalhada em separado
7. Formas de Participação
Há três maneiras de participação no simpósio: apenas simposista, responsável
por Trabalhos de Estudo e responsável por Relatos de Vivência no Bem.
Os Trabalhos de Estudos são caracterizados por serem produções, envolvendo
pesquisas e reflexões sistematizadas, escritas em formato metodologicamente pré-
definido. Os interessados em apresentá-los devem buscar um orientador dentre os
disponibilizados pela Equipe Pedagógica. A apresentação dos trabalhos deve ser
conforme descrito no item 7.1.
Os Relatos de Vivências no Bem são descrições, metodologicamente simplificadas,
que refletem experiências pessoais na prática do bem e que ensejaram a vivência de
sentimentos enobrecidos. A apresentação dos trabalhos deve ser conforme descrito
no item 7.2.
A participação de todos somente se efetivará mediante a inscrição no Simpósio.
Na Ficha de Inscrição serão solicitados os seguintes dados: nome completo; nome para
crachá; telefone; endereço eletrônico; nome e endereço da casa espírita que frequenta.
As inscrições serão feitas via eletrônica no site www.faknet.org.br. O período de
inscrições para o Simpósio será de 01 de agosto a 15 de setembro de 2017. Todas as
inscrições serão gratuitas.
7.1. Trabalhos de Estudos
Os trabalhos inscritos para as Sessões de Estudos devem abordar assunto
passível de ser enquadrado em um dos subtemas do Simpósio, devendo o autor
indicar, na Ficha de Inscrição de Trabalho disponibilizada pela Equipe Pedagógica o
subtema ao qual seu trabalho mais se vincula. Os trabalhos devem ter o mínimo de
cinco páginas e o máximo de dez, devem ser escritos em linguagem clara e precisa e
devem ser acordes com os postulados da Doutrina Espírita. Devem ainda observar as
normas editoriais a seguir.
7.1.1. Estruturação
Os trabalhos de estudo devem possuir uma estruturação na qual possam ser
identificados, no mínimo, os seguintes elementos: título; autoria; introdução
(delimitação do assunto tratado, objetivos do estudo e sua finalidade e outros
elementos necessários para situar o tema do trabalho), desenvolvimento (exposição
ordenada e pormenorizada do assunto tratado), conclusão (conclusões
correspondentes aos objetivos do trabalho) e referências bibliográficas (relação de
fontes bibliográficas citadas no trabalho);
7.1.2. Configuração
Os trabalhos devem observar as seguintes orientações:
415
a) digitação – em formato Windows Word, na fonte Arial, tamanho 12 para o
corpo do texto e 10 para as citações de mais de três linhas (citações longas),
notas de rodapé, paginação e legenda das ilustrações e das tabelas;
b) espaçamento – simples, entre linhas e entre parágrafos;
c) margens – margens esquerda e superior de 3 cm; direita e inferior de 2 cm;
d) paginação – páginas numeradas progressivamente, em algarismos arábicos,
no canto superior direito da página a 2 cm das bordas superior e direita e
digitadas em papel formato A4;
f) início de parágrafos – cada parágrafo do texto deve iniciar com um recuo
entre 1 cm a 1,5 cm da margem esquerda, equivalente a um toque da tecla
TAB no computador;
g) título do trabalho – em negrito, letras maiúsculas, e com alinhamento
centralizado, separado do subtítulo (se houver) por dois pontos (:);
h) nome do autor (ou autores) – escrito completo, imediatamente abaixo do
título ou subtítulo (se houver), sem abreviaturas, em itálicos e em negrito,
com alinhamento à direita, com maiúsculas nas iniciais, seguido de uma
chamada para nota de rodapé. A chamada far-se-á com um asterisco para o
primeiro autor; dois, para o segundo; três para o terceiro, e assim por
diante. A nota de rodapé, colocada no final da primeira página, dará as
credenciais do autor junto à casa espírita que frequenta;
i) títulos sem indicativos numéricos – em negrito, letras maiúsculas e
minúsculas, alinhados à esquerda (São títulos que introduzem as partes do
trabalho como: Introdução, Conclusão, Referências bibliográficas);
j) títulos com indicativos numéricos – em negrito, letras maiúsculas e
minúsculas, alinhados à esquerda e numerados progressivamente com
algarismos arábicos. (São títulos que introduzem as seções do
Desenvolvimento). A numeração progressiva e a disposição gráfica das
seções seguem o estabelecido na NBR 6024:2003;
k) citações – citações diretas, de até três linhas, devem integrar o texto e
devem estar contidas em aspas duplas. As aspas simples devem ser
utilizadas para indicar citação dentro da citação. As citações longas devem
vir separadas do texto por uma linha em branco, devem ser destacadas com
recuo de 4 cm da margem esquerda, sem aspas e com letra no tamanho 10.
A apresentação de citações observará ainda as normas a seguir:
- supressões – as supressões dentro do texto citado devem ser
indicadas com reticências entre colchetes *…+;
- interpolações, acréscimos ou comentários – As interpolações,
acréscimos ou comentários devem vir entre colchetes [ ].
- ênfase ou destaque – deve vir em negrito, com a indicação [grifo
nosso], se destacado por quem faz a citação, ou [grifo do autor] se o
destaque for parte do texto original, colocada após a chamada da
citação;
416
- sistema de chamada – sistema autor-data, conforme NBR 10520:2002;
l) tabelas– devem seguir as normas de apresentação tabular prescritas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
m) ilustrações, notas de rodapé, referências bibliográficas, apêndices, anexos
– devem seguir as normas pertinentes da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT);
n) referências bibliográficas de obras espíritas – devem observar as sugestões
pertinentes do artigo “Não Esqueça as Fontes”, de Geraldo Campetti
Sobrinho, versão atualizada em outubro de 2009, disponível no site da
Federação Espírita Brasileira:
http://www.febnet.org.br/blog/geral/pesquisas/normalizacao-editorial/.
7.1.3. Template de padronização
A Equipe Pedagógica disponibilizará um documento formatado conforme as
normas citadas nos itens acima de maneira a facilitar a adequação e padronização dos
artigos.
7.2. Relatos de Vivência no Bem
7.2.1. Estruturação
Os trabalhos inscritos para a Sessão de Relatos devem ser registro de ações no
bem experienciadas por trabalhadores das casas espíritas e/ou grupos autônomos, que
repercutiram positivamente na sua maneira de ser e na comunidade assistida, tendo
como cenário de atuação as terras amazônicas. São ações espiritistas que contribuíram
para o fortalecimento da fé, da vivência cristã e do aumento da percepção da
Misericórdia Divina na vida dos que as vivenciaram.
Para efeito de registro nos anais, os Relatos devem ser inscritos com uma
versão escrita resumida da apresentação audiovisual, contendo uma estruturação na
qual possam ser identificados os seguintes elementos: título; autoria; objetivos
(propósito do trabalho); contexto (descrição e comentário sobre a importância do local
e/ou situação onde se verificaram as vivências); relato (descrição das vivências e
comentários sobre sua ligação com o Evangelho de Jesus) e, quando aplicáveis,
considerações finais (recomendações que o autor ou autores julgarem indispensáveis
registrar) e referências (relação de obras citadas no texto). A apresentação escrita terá
o máximo de duas páginas, digitadas conforme as normas editoriais aplicáveis
relacionadas abaixo.
Para efeito de apresentação no simpósio, os relatos serão expostos por meio de
uma exposição audiovisual, descrita no item “atividades paralelas ao evento”,
contendo: fotos que enriqueçam a vivência relatada e um pequeno depoimento
gravado em vídeo. Essa exposição objetiva dar maior visibilidade a esses importantes
testemunhos de ação no bem, haja vista que poderão ser assistidos durante todo o
evento.
7.2.2. Configuração
A versão escrita dos Relatos de Vivência no Bem deve seguir, no que couber, a
configuração descrita para os Trabalhos de Estudos.
7.2.3. Template de padronização
417
A Equipe Pedagógica disponibilizará um documento formatado conforme as
normas citadas nos itens acima de maneira a facilitar a adequação e padronização da
versão escrita dos relatos.
7.3. Normas gerais
7.3.1. Cada trabalho deverá ter um orientador, entre aqueles colocados à disposição
pela Equipe Pedagógica. Este será responsável por acompanhar o trabalho desde os
primeiros passos e realizar a avaliação do conteúdo e, no caso de trabalho de estudos,
por orientar a pesquisa e classificá-lo dentro dos eixos temáticos;
7.3.2. Os trabalhos que vierem a integrar a programação do evento serão publicados
em forma de anais. Assim, ao submeter o trabalho, é pressuposto que o autor ou
autores concordam com essa publicação;
7.3.3. A data final para entrega dos trabalhos será o dia 28 de setembro de 2015;
7.3.4. A apresentação oral de cada trabalho terá a duração de 20 minutos e os
questionamentos do público serão organizados por bloco de apresentações.
7.3.5. O conteúdo dos trabalhos deverá ser condizente com as diretrizes
apresentadas na mensagem “Legendas do literato espírita” (XAVIER, Francisco
Cândido. Ceifa de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 2 ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita
Brasileira, 2010. p.8).
8. Forma de gerenciamento e execução das ações
8.1. Todas as ações e providências relativas ao simpósio serão de responsabilidade da área
de gestão Correio do Amor da instituição, por meio de uma Comissão Organizadora e
de equipes de trabalhos encarregadas da elaboração e execução das atividades
inerentes aos diversos aspectos do evento;
8.2. A Comissão Organizadora designará um coordenador para cada equipe e esta será
responsável pela composição da mesma, pelas reuniões de planejamento, execução
das tarefas e por manter a Comissão Organizadora informada do andamento dos
trabalhos.
9. Os envolvidos e suas atribuições
9.1. Comissão Organizadora
Esta comissão é responsável pela plena realização do evento, o que implica em
acompanhar o andamento do trabalho das equipes, para que os objetivos finais sejam
adequadamente alcançados. Para tanto deve:
Preparar e manter atualizados o Termo de Referência e o planejamento geral
do evento;
Definir e acompanhar as atividades a serem desenvolvidas pelas diversas
equipes envolvidas, designando, para cada uma, um coordenador;
Fomentar junto aos estudantes e trabalhadores da FAK o interesse pela
participação no evento, em especial com a produção de trabalhos;
Criar boletins destinados à divulgação de informações sobre o evento;
Coordenar todas as providências relativas ao planejamento e execução do
evento, de forma a que o mesmo mantenha a conformidade com os objetivos
propostos e a qualidade do conteúdo consentânea com a grandeza do
Espiritismo.
418
9.2. Equipe Pedagógica
Esta equipe é responsável pelo recebimento, análise e orientação dos trabalhos a
serem apresentados, bem como, pela organização dos anais do evento. Para tanto
deve:
Definir normas de produção dos trabalhos que serão apresentados no evento;
Divulgar os subtemas do Simpósio;
Promover atividades para divulgar orientações metodológicas sobre a
produção dos trabalhos;
Realizar oficina para fornecer especificações mais precisas das orientações
metodológicas e fornecimento prévio de modelos de artigos espíritas para os
autores que apresentarem esta necessidade;
Oferecer orientação específica para autores que a requererem;
Receber e avaliar os trabalhos apresentados ajudando, quando necessário, a
ajustar aqueles de conteúdo ou forma insuficientes;
Definir metodologia de apresentação dos trabalhos;
Criar um slide mestre para padronizar o modelo de apresentações;
Receber as apresentações em meio digital, fazer o rastreamento de vírus,
analisar e repassar para a Equipe de Logística;
Coordenar as apresentações de trabalhos e realizar o controle do tempo da
exposição;
Apoiar e orientar os expositores dos relatos de vivências;
Organizar e produzir os anais do Simpósio.
9.3. Equipe de Apoio Administrativo
Esta equipe é responsável pelas seguintes providências:
9.3.1. Subequipe de Secretaria
Manter disponível as versões atualizadas de todo o material produzido para o
evento, incluindo Termo de Referência, planejamentos, formulários e outros;
Registrar as decisões e acertos feitos nas reuniões da Comissão Organizadora e
as equipes;
Expedir convites para as instituições espíritas que sejam potencialmente
interessadas em participar do evento;
Criar e administrar uma conta de e-mail exclusiva para o evento;
Centralizar o fornecimento de informações para quaisquer interessados;
Recolher as inscrições em formulários de papel, lançar no formulário digital;
Providenciar relação dos inscritos para o controle de entrega do material no
evento;
Realizar tabulação e análise das fichas de avaliação;
419
Montar kit para participantes (caneta, bloco, programação, informativos);
Personalizar os crachás para os participantes;
Providenciar ficha de avaliação do evento;
Distribuir o material dos colaboradores do evento com antecedência (crachás e
camisas diferenciadas)
9.3.2. Subequipe de Recepção
Organizar o espaço para o credenciamento dos participantes;
Distribuir o material dos participantes no momento do credenciamento,
conforme relação de inscritos;
Coordenar a alocação dos participantes nos espaços de apresentação dos
artigos;
Montar e desmontar o espaço para a realização das sessões de esclarecimentos
de dúvidas, de acordo com a necessidade, bem como disponibilizar lápis e
papel para os participantes interessados em participar das referidas sessões;
Recolher as perguntas e entregar ao membro responsável da equipe
pedagógica em coordenar as sessões de esclarecimento de dúvidas;
Apoiar as demais equipes em providências operacionais ou logísticas que
facilitem o andamento do trabalho.
9.4. Equipe de Logística
Esta comissão tem por finalidade prover os serviços logísticos para o bom
funcionamento do evento, conforme abaixo:
9.4.1. Subequipe de Apoio Logístico
Planejar e executar a decoração dos ambientes do evento;
Arrumar e manter sempre em ordem os locais do evento, promovendo a sua
programação visual;
Providenciar os lanches para serem servidos nos intervalos e o fornecimento de
água para consumo durante a realização do evento.
9.4.2. Subequipe Médico-Espiritual
Montar sala, no evento, para um plantão de atendimento médico-espiritual,
providenciando medicamentos básicos de primeiros socorros e tendo anotado
número de hospitais e pronto-socorro caso necessite de atendimento de
emergência;
Montar escala de trabalhadores da área do tratamento espiritual e
profissionais da área da saúde, de preferência espíritas, para atenderem no
plantão médico-espiritual.
9.4.3. Subequipe Multimeios
Providenciar o material que será utilizado na apresentação de trabalhos e
atividades afins, tais como: projetor multimídia, notebooks, vídeo, telão;
Providenciar o material para as transmissões simultâneas das apresentações;
420
Providenciar a infraestrutura de som, iluminação e vídeo para todo o evento,
de acordo com as necessidades das equipes pedagógicas e de artes;
Gravar em vídeo das atividades realizadas durante o evento, não só para
enriquecer a videoteca da instituição, como também para formar;
Providenciar equipe técnica para operar a infraestrutura supracitada.
9.5. Equipe de Divulgação
Esta equipe é responsável por:
Criar a identidade visual do evento;
Produzir material de divulgação do evento, inclusive camisas para serem
adquiridas pelos interessados;
Divulgar em todos os âmbitos possíveis da FAK e do Movimento Espírita
Amazonense, por todos os meios adequados, a realização do evento e o
incentivo para a participação;
Divulgar boletins criados pela comissão organizadora;
Criar a ficha de inscrição online, hospedada no site da FAK, e manter uma lista
atualizada de participantes para dar subsídios de informação para as demais
equipes planejarem suas atividades;
Produzir crachás para os participantes e entregar, em tempo hábil, para a
equipe de secretaria de maneira que possa personaliza-los. Para facilitar a
identificação, os crachás devem ser diferenciados entre os tipos de
participantes: responsáveis pela apresentação de artigos, responsáveis pela
apresentação de relatos de vivência, apenas simposistas e convidados;
Planejar e executar o cerimonial.
9.6. Equipe de Finanças
Esta comissão tem por finalidade prover, de acordo com as diretrizes da FAK para o
tema, os recursos financeiros necessários para dar suporte às despesas do evento.
9.7. Equipe de Artes
Esta equipe tem as seguintes finalidades:
Planejar e executar os momentos artísticos;
Elaborar vídeo para divulgação do evento;
Realizar o projeto de som e iluminação das intervenções artísticas.
Anexo 02 - Boletim Informativo No. 1
V Simpósio FAK
O Espiritismo nas terras amazônicas: origens, realizações e compromissos
12 a 15 de outubro de 2017
Boletim Informativo No. 1
1) Apresentação
O Simpósio FAK, iniciado em 2009, consolidou-se como um evento ordinário bianual da
Fundação Allan Kardec, o qual visa a abrir um espaço de compartilhamento de conhecimentos
obtidos por meio da realização de pesquisas sistematicamente aprofundadas a cada edição 316.
Sendo um evento da agenda interna institucional, o simpósio tem como destinatários
fundamentais os seus trabalhadores e estudantes. Porém, pela natureza e propósitos do mesmo
e, tendo em vista o que ocorre com todos os eventos da instituição, sua realização é construída
sob a perspectiva de participação de qualquer integrante do movimento espírita amazônida.
A partir do tema central: “O Espiritismo nas terras amazônicas” são desenvolvidas
pesquisas relacionadas com a “origem”, as “realizações” e os “compromissos” do movimento
espírita amazônida. A “origem”, como forma de revelar a identidade dos trabalhadores
pioneiros e as características do movimento espírita amazônida iniciante. As “realizações”, para
propiciar espaço de reflexão acerca das atividades realizadas em passado recente e na
atualidade, visando a ensejar a troca de experiências e aprendizados. E, por fim, os
“compromissos iluminativos”, para possibilitar análises acerca dos compromissos, em um futuro
próximo ou distante, dos trabalhadores e das instituições espíritas.
Nas três primeiras edições deste evento (2009, 2011 e 2013) foi buscado o
fortalecimento da compreensão de que os trabalhadores da instituição poderiam transitar do
papel de consumidores de conhecimento para produtores do mesmo. Após constatar o êxito do
intento, pela quantidade e qualidade expressivas dos artigos e relatos produzidos, o cenário em
que foi realizada a quarta (2015) é bem diferenciado em razão da mudança estatutária da FAK,
ocorrida em dezembro de 2014, que alocou o nobre labor da pesquisa sistemática -
compromisso no qual o simpósio está inserido - em área de gestão específica da estrutura
institucional. Essa área, denominada “Correio do Amor”, visa “a ampliação da comunhão com os
propósitos espirituais da instituição, tal como devem ter sido formulados pelos seus responsáveis
espirituais”.
Com isso, o simpósio transformou-se em um instrumento viabilizador do acesso às
matrizes espirituais do planejamento institucional, por meio da pesquisa séria e sistematizada
focada nas necessidades de adequação da instituição, frente aos compromissos de seus
trabalhadores. Os artigos elaborados passaram a ser entendidos como notícias do planejamento
espiritual, produzidas pelos próprios trabalhadores, passíveis de serem utilizadas como fonte de
informação para avaliar a harmonia entre o planejado (projeto espiritual) e o realizado (ações
no plano físico).
Em decorrência dessa percepção, entendeu-se oportuno estabelecer como
compromisso desta quinta edição do simpósio identificar, por meio da investigação de toda a
produção já realizada, os efeitos virtuosos na comunidade interna, no sentido de ampliar a
vivência da solidariedade fraternal orientada pelo Cristo no “amemo-nos uns aos outros”, que
316
“O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá”, frase dita por Kardec na Introdução, item VIII,
de O Livro dos Espíritos.
obviamente, sendo a mensagem essencial, haverá de ser o maior objetivo no planejamento
espiritual de qualquer instituição cristã na Terra.
Para os irmãos trabalhadores de outras Casas Espíritas, o convite à participação é
justificado pelo compromisso de todos com a unificação, pois, a troca de conhecimentos e
experiências fortalecerá a ação conjunta no bem, realizada pela união em torno do ideal
espírita. Internamente, esse movimento gerará subsídios para a investigação sobre o papel da
FAK em relação aos seus compromissos com o Movimento Espírita nas terras amazônicas.
Ademais, como preparação para o simpósio, antecedendo os dias de realização efetiva,
são promovidos encontros ecumênicos que buscam dar concretude a um importante
compromisso da instituição, qual seja, o de consolidar, por meio de ações, a compreensão de
que na gênese de todas as religiões da Humanidade está o coração augusto e misericordioso de
Jesus, fonte da unidade substancial das religiões 317. Nestas ocasiões, os irmãos que ocupam a
função de liderança em outras concepções religiosas são recebidos na FAK e convidados a nos
ensinar acerca do sagrado de suas religiões e divulgar as obras que a fé os motivou a realizar.
Com isso, constrói-se, por meio do conhecimento e da aproximação fraternal, uma base para
reconhecermo-nos conduzidos pelo mesmo Pastor a despeito de estarmos em apriscos
diferentes:
Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; é preciso que eu conduza
também a elas; ouvirão a minha voz e haverá um [só] rebanho e um [só] pastor. (João
10,16).
2) Dados de identificação
a) Evento: V Simpósio FAK
b) Tema: O Espiritismo nas terras amazônicas: origens, realizações e compromissos.
c) Período: 12 a 15 de outubro de 2015.
d) Local: Fundação Allan Kardec.
e) Público alvo: trabalhadores da FAK e estudiosos da Doutrina Espírita de quaisquer
instituições do Movimento Espírita da Amazônia.
3) Objetivos
a) Realizar, de forma regular, pesquisas sobre as origens, realizações e compromissos do
Movimento Espírita nas terras amazônicas;
b) Utilizar as informações obtidas com as pesquisas para acessar continuamente o
planejamento espiritual da instituição e compreender o compromisso da FAK com a
disseminação do Evangelho de Jesus à luz do Espiritismo, nas terras amazônicas;
c) Ensejar oportunidade aos participantes para experimentarem o sentimento de união
baseada no estudo e vivência dos postulados da Doutrina Espírita.
4) Estruturação temática
Consultar o artigo “Simpósio FAK: Conquistas e Atualização em seu Programa de
Pesquisas” publicado nos Anais da quarta edição, disponível no site institucional
http://www.faknet.org.br/downloads.
5) Formas de Participação
Há três formas de participação no simpósio: apenas simposista, responsável por Trabalhos
de Estudo e responsável por Relatos de Vivência no Bem.
Os Trabalhos de Estudos são caracterizados por serem produções, envolvendo pesquisas e
reflexões sistematizadas, escritas em formato metodologicamente pré-definido. Os interessados
317
Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, na obra “A Caminho da Luz”, Capítulo IX, “A Gênese das Crenças
Religiosas” e “ A Unidade Substancial das Religiões”.
em apresentá-los devem buscar um orientador dentre os disponibilizados pela Equipe
Pedagógica.
Os Relatos de Vivências no Bem são descrições, metodologicamente simplificadas, que
refletem experiências pessoais na prática do bem e que ensejaram a vivência de sentimentos
enobrecidos. Os interessados em apresentá-los devem buscar um orientador dentre os
disponibilizados pela Equipe Pedagógica.
A participação de todos somente se efetivará mediante a inscrição no Simpósio. Na Ficha
de Inscrição serão solicitados os seguintes dados: nome completo; nome para crachá; telefone;
endereço eletrônico; nome e endereço da casa espírita que frequenta. As inscrições serão feitas
via eletrônica no site www.faknet.org.br. O período de inscrições para o Simpósio será de 01 de
agosto a 15 de setembro de 2017. Todas as inscrições serão gratuitas.
6) Programação do Evento
Data Hora Programa
11/10/17 19:30 - Sessão de abertura: Palestra com arte “Esta é a mensagem”
21:30
12/10/17 8:30 - Sessão de Estudos I: Apresentação de trabalhos e Seção de perguntas e
12:00 respostas
12/10/17 16:00 - Sessão de Estudos II: Apresentação de trabalhos e Seção de perguntas
20:00 e respostas
13/10/17 16:00 - Encontro de Jovens - “Mocidade: ponto de partida para a viagem da
20:00 existência física”
14/10/17 16:00 - Sessão de Estudos III: Apresentação de trabalhos e Seção de perguntas
20:00 e respostas
15/10/17 8:30 - Sessão de Estudos IV: Apresentação de trabalhos e Seção de perguntas
12:00 e respostas
15/10/17 19:30 - Sessão de encerramento: Vídeo de encerramento e Atividade Artística
21:30
a) Atividades pré-evento
Lançamento do IV Simpósio FAK
o Data: 05 de março de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário: 15h.
1º Workshop para autores de trabalhos escritos: definição dos grupos de pesquisas
o Data: 05 de março de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário: 15h.
2º Workshop para autores de trabalhos escritos: apresentação dos possíveis temas e
respectivos orientadores.
o Data: 16 de julho de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário: 19h.
IV Encontro Ecumênico: “Amar ao Próximo Como a Si Mesmo”, a Mensagem Essencial
o Parte 1 - Data: 29 de setembro de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário:
19h30.
o Parte 2 - Data: 06 de outubro de 2017. Local: FAK (Teatro da FAK). Horário:
19h30.
b) Atividades paralelas ao evento
Exposição audiovisual sobre os Relatos de Vivência no Bem.
7) Informações adicionais - Os Anais das quatro últimas edições do simpósio estão disponíveis
na área de download do site da FAK: http://www.faknet.org.br/downloads. Esclarecimentos
adicionais podem ser solicitados por meio do e-mail [email protected].
Anexo 03 - Tópicos para orientação dos articulistas
Fundação Allan Kardec – Área de Gestão Correio do Amor
V Simpósio FAK - Espíritas na Amazônia: suas buscas nas realizações do passado e do
presente, e nas motivações para o futuro
Tópicos para orientação dos articulistas
1- Harmonizando a compreensão
1.1- Entende-se que a obra do bem na Terra é fruto da efetivação, no âmbito físico, de
projeto cujos fundamentos e objetivos têm origem no âmbito espiritual;
1.2- Para que tais fundamentos e objetivos se expressem, no plano físico, em sintonia
com suas fontes espirituais, os benfeitores responsáveis utilizam-se de uma série de
canais ou mecanismos para inspirar os envolvidos com a obra do bem acerca dos
compromissos assumidos;
1.3- Nas instituições espíritas, em geral, existem variadas dinâmicas de interação que
podem ser consideradas como tais canais: os planos de trabalho, as análises regulares
feitas pelos dirigentes institucionais, as mensagens de orientação ditadas pelos
benfeitores, os encontros durante o desprendimento pelo sono. Assim, os
compromissos institucionais vão, paulatinamente, sendo desvelados e materializados no
plano físico;
1.4- Na FAK, além das que são comuns às demais instituições espíritas, há outras
dinâmicas que são entendidas como sendo particularmente propícias a tais interações,
dentre as quais, por exemplo, a formulação e atualização de diretrizes de atividades, a
produção de obras literárias, a realização de diversos serviços de apoio ao trabalhador;
1.5- O Simpósio FAK é entendido como mais um desses mecanismos. Cada articulista, ao
pesquisar e escrever seu trabalho318, está acessando particularidades específicas desse
planejamento espiritual e compartilhando com a comunidade, tornando-se, assim, um
canal a mais pelo qual espraiar-se-ão conhecimentos e reflexões úteis para a
manutenção da instituição em sintonia com os propósitos espirituais desta;
1.6- Para que esse acesso ocorra sob a premissa referida, entende-se que o trabalho a
ser produzido pelo articulista deve ser desenvolvido a partir de sua própria realidade
como espírito imortal em lutas para progredir por meio de reencarnações sucessivas.
Por tal condição, ele é portador de comprometimentos do ontem, de uma agenda de
318
O processo de reflexão do articulista deve ser vinculado ao projeto espiritual da obra do bem à qual se
dedica, como espírita, independente de qual seja ou em qual estado esteja localizada, possibilitando,
assim, caso haja interesse, a participação de qualquer espírita atuante na Amazônia.
iniciativas no bem a serem efetivadas no presente e de compromissos mais amplos em
relação ao futuro319;
1.7- Nesse sentido, o tema sobre o qual ele irá escrever, qualquer que seja, deverá ser
utilizado como um instrumento para refletir sobre seus possíveis comprometimentos
como ser multimilenar, sobre os esforços desenvolvidos no presente, visando minorar
os efeitos daqueles comprometimentos, e sobre os possíveis compromissos de longo
prazo, capazes de lhe impulsionar o progresso real;
1.8- Entende-se, por isso, que o artigo deve ter uma motivação consciente e vinculada
às necessidades do articulista e não como uma produção para outros; embora, em
sendo feito com honestidade, empenho e qualidade o trabalho haverá de ecoar
naqueles simposistas que também tiverem necessidades semelhantes;
1.9- Dando efetividade a tais premissas, o articulista estará ampliando a percepção
acerca de sua missão, seja ela qual for, e contribuindo para a efetivação do propósito
coletivo da obra do bem à qual se vincula, por ser essa obra fruto “da solidariedade que
liga todos os seres presentes ao passado e ao futuro”320321.
2- Efeitos práticos no processo da orientação
2.1- A orientação deverá ser um processo no qual, além das questões metodológicas já
estabelecidas, o orientador atuará como facilitador da reflexão do articulista para que
este consiga, de forma consciente e organizada, vincular-se – na condição de espírito
imortal – às possíveis razões profundas que supõe tê-lo aproximado do tema escolhido
(comprometimentos), as dinâmicas próprias, no presente, que associa a esse tema
(realizações) e os vislumbres que o tema lhe suscita para o futuro (compromissos);
2.2- Sob essa premissa, a orientação pode ser composta das seguintes fases:
a) Fase comum geral: oportunidade em que a coordenação pedagógica do simpósio
apresentará, para todos os candidatos, os propósitos gerais da produção do artigo, tal
como exposto neste texto. Nessa oportunidade serão distribuídos textos
complementares (mensagens e referências bibliográficas) capazes de fortalecer no
articulista a compreensão do que se espera para o processo de produção do artigo.
Também será definido o processo de associação dos orientadores aos articulistas e o
planejamento das atividades;
319
Neste texto, o termo “comprometimentos” está sendo usado para significar situações decorrentes das
ações equivocadas que praticamos no passado. Enquanto o termo “compromissos” significa as
responsabilidades que atraímos para nós em razão da lei de causa e efeito, mas conjugada com o livre-
arbítrio, pois tivemos a oportunidade de escolher a redenção da consciência pela forma de trabalho na
seara do Cristo.
320
O Evangelho Segundo O Espiritismo, item 3, capítulo XX.
321
Por tal expectativa, os dirigentes institucionais deverão avaliar as produções geradas para tentarem
identificar contribuições que possam ser úteis na dinâmica da Casa.
b) Fase comum por orientador: oportunidade em que cada orientador, em conjunto
com o grupo de articulistas sob sua responsabilidade, conduzirá discussões para
aprofundar a compreensão do processo, possibilitará o compartilhamento de
impressões exploratórias entre os membros do grupo e, sobretudo, buscará observar as
motivações que emergirão de cada um;
c) Fase de interação individual: oportunidade, repetida quantas vezes forem
necessárias, para que a orientação se efetive de maneira individualizada, isto é, de
acordo com as circunstâncias particulares de cada articulista. Sendo essa uma fase de
aprofundamento paulatino, supõe-se deva ocorrer, conforme abaixo:
c1) Conversa inicial, para aproximar o articulista das reflexões que se espera
possam emergir no desenvolvimento do trabalho e também para permitir ao
orientador um conhecimento mais particularizado de seu orientando. As
questões para orientar essas reflexões estão no Quadro da próxima seção. Suas
respostas deverão emergir ao longo da produção do trabalho. Entretanto, para
iniciar a aproximação com o tema é fundamental que o candidato tenha, ainda
que como hipótese imprecisa, uma resposta para a questão “O que suponho, em
minha jornada de espírito imortal, tenha me levado a escolher o tema?”
c2) Conversas sucessivas para aprofundar a orientação, ajudar o articulista no
desenvolvimento de seu tema e propiciar balizamentos para a efetivação da
produção por meio das demais questões apresentadas no quadro antes referido.
d) Torna-se claro que a produção do artigo é, em princípio, essencialmente individual,
pois as necessidades de cada espírito são diferentes. Obviamente, poderá haver
situações em que, face possíveis similitudes da história dos articulistas, a produção
possa ser feita por mais de um. Nesse caso, a seção “O que aprendi sobre mim mesmo”,
a ser explicitada mais adiante, deverá ser individual.
3- Efeitos no formato do artigo
3.1- Em razão do que se espera do processo, o texto central deve ser produzido segundo
a metodologia já estabelecida e, ao final do artigo, deverá ter uma seção intitulada “O
que aprendi sobre mim mesmo”, na qual as reflexões ensejadas durante a produção
fiquem expressadas e possam servir para o compartilhamento com outros sobre os
quais o tema venha a reverberar. Os possíveis elementos gerais dessa seção são
indicados no quadro a seguir:
Composição da seção “O que aprendi sobre mim mesmo”
Dimensões do aprendizado
Comprometimentos Realizações Compromissos de longo prazo
Após produzido o texto, o que Que relações posso estabelecer O que o estudo do tema me
suponho, em minha jornada de entre essas reflexões e os suscitou quanto a intenções de
espírito imortal, tenha me levado desafios/inquietudes que vivencio realizações ou de inquietudes
na realização das atividades às espirituais requerendo
a escolher o tema? quais me vinculo ou em relação ao atenção?
tema objeto da análise?
3.2- Registre-se, como fundamental, que o resultado dessa seção deve ser tido como
mero exercício de reflexão e não como verdade ou diagnóstico sobre as circunstâncias
particulares do articulista. Ademais, seu conteúdo deve ser oriundo de construção
própria do autor – no que lhe for possível formular - e não fruto de indução ou de
percepção transferida pelo orientador;
3.3- Na formulação de possíveis respostas para o quadro acima, pode ser útil, para o
articulista, olhar para o tema estudado – qualquer que seja – e tentar, por meio dele,
avaliar o que pode descortinar como aprendizado sobre si mesmo, nas três dimensões
consideradas. O olhar sugerido deve ser feito, quando envolver personalidades e suas
atuações, sem qualquer resquício de julgamento e, exclusivamente, como exercício
íntimo, e não com propósito de registros. Para facilitar tal olhar, sugere-se o quadro
abaixo:
Questões, sobre o tema estudado, que podem ajudar o articulista a refletir sobre si
Eixos mesmo
temáticos Compromissos de longo
Comprometimentos Realizações
prazo
O que, no estudo dos fatos e O que, das análises feitas,
personagens do passado, poderia ser entendido
em minha percepção, como evidências de
poderia ser entendido como possíveis compromissos
Origens
aquilo que pareciam ser as de longo prazo que os
buscas dos envolvidos O que, na atuação e envolvidos no estudo
(razões profundas, não atividades concretas dos tinham ou têm como
explícitas)? envolvidos, poderia ser espíritos imortais?
entendido como aquilo que,
O que, no estudo das de fato, buscaram ou
atividades do presente e da buscam (razões concretas
atuação dos envolvidos, em demonstradas)?
minha percepção, poderia
Atualidade
ser entendido como aquilo
que parecem ser suas
buscas (razões profundas,
não explícitas)?
O que, em relação ao tema O que, na dinâmica geral
estudado, em minha dos espíritas atuantes na O que, em relação ao
percepção, parece plausível Amazônia, poderia ser tema estudado, deveriam
Desafios
associar aos possíveis entendido como aquilo que, ser as motivações, para o
futuros
comprometimentos dos concretamente, os move futuro, dos espiritas
espíritas que atuam na (motiva) em relação ao atuantes na Amazônia?
Amazônia? tema estudado?
Anexo 04 - Slide Mestre IV Simpósio FAK
Anexo 05 - Programação Geral das Apresentações
Data Hora Programa
11/10/17 19:00 - 20:30 Sessão de abertura 1: Espíritas na Amazônia: suas buscas nas realizações do passado e do presente, e nas
motivações no para o futuro
11/10/17 20:30 - 22:00 Sessão de abertura 2: Espíritas na Amazônia: suas buscas nas realizações do passado e do presente, e nas
motivações no para o futuro
12/10/17 8:00 - 12:00 Sessão de Estudos I (Origens): Apresentação (30”) / perguntas e respostas (15”)
12/10/17 08:00 – 08:15 Abertura (Teatro) Abertura (Salão Amor, plano B)
12/10/17 08:15 – 09:00 AS PIONEIRAS: a atuação feminina nos primórdios do FELIX LUIZ DE PAULA: PROPAGANDISTA DOS PRIMÓRDIOS DO
espiritismo do Amazonas ESPIRITISMO NO AMAZONAS
Lenara Barros Muniz de Paula Nunes
Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre Isis de Araújo Martins
José Alberto (Mediador) Robério Braga (Mediador)
12/10/17 09:00 – 09:45 MARCELLINO QUEIROZ: DINAMIZADOR DO PROJETO DO EMÍLIA FREITAS E ARTHUNIO VIEIRA: A MISSÃO EM COMUM
HOSPITAL ESPÍRITA “ALLAN KARDEC” NA AMAZÔNIA
Santa Maria Oliveira de Melo Robério dos Santos Pereira Braga
Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre (Mediadora)
Isis de Araújo Martins (Mediadora)
12/10/17 09:45 – 10:00
Intervalo
12/10/17 10:00 – 10:45 FELIX LUIZ DE PAULA: PROPAGANDISTA DOS PRIMÓRDIOS DO LUIZ FACUNDO DO VALLE: NOTÍCIAS DE SUA ATUAÇÃO NO
ESPIRITISMO NO AMAZONAS MOVIMENTO ESPÍRITA PIONEIRO.
Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre
Isis de Araújo Martins Raimundo Martins (Mediador)
Robério Braga (Mediador)
12/10/17 10:45 – 11:30 EMÍLIA FREITAS E ARTHUNIO VIEIRA: A MISSÃO EM COMUM ANTONIO JOSÉ BARBOSA: o nobre militar que se tornou
NA AMAZÔNIA pioneiro do Espiritismo nas Terras Amazônicas
Robério dos Santos Pereira Braga Lenara Barros Muniz de Paula Nunes
Josie Nobre (Mediadora) José Alberto (Mediador)
12/10/17 11:30 – 12:15 JOÃO FACUNDO DO VALLE: UM BOM COMPANHEIRO NA VIDA MARCELLINO QUEIROZ: DINAMIZADOR DO PROJETO DO
E NA FÉ. HOSPITAL ESPÍRITA “ALLAN KARDEC”
Santa Maria Oliveira de Melo
Joselita Cármen Alves de Araújo Nobre Ísis Martins (Mediadora)
Orlens Melo (Mediador)
12:15 – 14:00 ALMOCO CONFRATERNATIVO
12/10/17 14:00 - 18:00 Sessão de Estudos II (Atualidades): Apresentação (30”) / perguntas e respostas (15”)
14:00 – 14:15 Abertura Abertura
12/10/17 14:15 – 15:00 LIDERANÇA COM CONFIANÇA: A OBRA É DO CRISTO! A FAK COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DO
(O que aprendi escrevendo o artigo “Efetivação do apoio da HOMEM NA ERA DA REGENERAÇÃO
arte, de forma ordinária, no processo de melhoria dos assistidos José Luiz Camacho
da FAK”) Laurindo Campos (Mediador)
Tânia dos Santos Melo
José Alberto (Mediador)
12/10/17 15:00 – 15:45 A ARTE ESPÍRITA COMO INSTRUMENTO DE EVANGELIZAÇÃO OFICINA DO AMOR: UM CONJUNTO DE BENEFÍCIOS PARA UM
DO SER: DAS NUVENS BRANCAS À DART CONJUNTO DE BENEFICIADOS
Samantha Oliveira Gomes da Silva Nilza Reis
Gustavo Rebouças (Mediador) Odécio Dandaro Junior
Josie Nobre (Mediadora)
12/10/17 15:45 – 16:00
Intervalo
12/10/17 16:00 – 16:45 PERFIL DE BUSCA DOS ADULTOS E IDOSOS ASSISTIDOS NA O PASSE COMO TRATAMENTO ESPIRITUAL DO TRABALHADOR:
FUNDAÇÃO ALLAN KARDEC, NO PERÍODO DE FEVEREIRO A EQUILIBRANDO A ENERGIA DOS CHAKRAS, ATRAVÉS DO
JUNHO DE 2017, MANAUS/AM. DESENVOLVIMENTO DA VIRTUDE DO AMOR
Lúcia Alves da Rocha France Luce Gonçalves de Souza
Alessandra Pereira (Mediadora) Ísis Martins (Mediadora)
12/10/17 16:45 – 17:30 APOIO MEDIÚNICO À MELHORIA INTERIOR: REFLEXÕES SOBRE OFICINA DO AMOR: UM CONJUNTO DE BENEFÍCIOS PARA UM
CONJUNTO DE BENEFICIADOS
AS DIRETRIZES DE FUNCIONAMENTO NA FAK Nilza Reis
Odécio Dandaro Junior
José Laurindo Campos dos Santos Gustavo Rebouças (Mediador)
Francis Eduardo Sgarbi
Iolete Ribeiro (Mediadora)
12/10/17 17:30 – 18:15 PRÁTICA DO EVANGELHO NO LAR À LUZ DA DOUTRINA O PASSE COMO TRATAMENTO ESPIRITUAL DO TRABALHADOR:
ESPIRITA: UM RECURSO ILUMINATIVO PARA A FAMÍLIA E AOS EQUILIBRANDO A ENERGIA DOS CHAKRAS, ATRAVÉS DO
TRABALHADORES DA FAK DESENVOLVIMENTO DA VIRTUDE DO AMOR
Andrea Maciel Schussler France Luce Gonçalves de Souza
Jocelyn Nascimento das Chagas Orlens Melo (Mediador)
Laurindo Campos (Mediador)
12/10/17 18:15 – 18:30 Encerramento Teatro Encerramento Salão Amor
13/10/17 19:30 – 21:30 Sessão de Estudos III (Desafios Futuros): Apresentação (30”) / perguntas e respostas (15”)
13/10/17 19:30 – 19:45 Abertura Abertura
13/10/17 19:45 – 20:30 APRESENTANDO UM CAMINHO QUE CONDUZ A FELICIDADE SÍNTESE DAS REFLEXÕES SOBRE OS ASPECTOS
SUPREMA GNOSIOLÓGICOS E EPISTEMOLÓGICOS DO ESPIRITISMO
Raimundo Martins Ferreira
Orlens Melo (Mediador) Alessandra dos Santos Pereira
José Alberto (Mediador)
13/10/17 20:30 – 21:15 A CONTRIBUIÇÃO DAS QUATRO EDIÇÕES DO SIMPÓSIO FAK TRANSIÇÃO PLANETÁRIA, PENSAMENTOS E PERCEPÇÕES,
PARA O AUTOCONHECIMENTO E PERCEPÇÃO DA MISSÃO CONDUTA E MEDIUNIDADE
INDIVIDUAL João Carlos Jr
Martim Afonso Iolete Ribeiro (Mediadora)
Gustavo Rebouças (Mediador)
21:15 – 21:30 Encerramento
14/10/17 15:30 - 20:15 Sessão de Estudos IV (Desafios Futuros): Apresentação (30”) / perguntas e respostas (15”)
14/10/17 15:30 – 15:45 Abertura Abertura
14/10/17 15:45 – 16:30 O QUE APRENDI ESCREVENDO O ARTIGO “A EDUCAÇÃO DAS O QUE APRENDI ESCREVENDO O ARTIGO “IMPORT NCIA DA
EMOÇÕES E O AUTOCONHECIMENTO: CAMINHOS DO AUTONOMIA PARA A LI ERTAÇÃO DO SER”
APRIMORAMENTO ESPIRITUAL” Iolete Ribeiro da Silva
Claudia Aparecida de Araújo Pinheiro
Alessandra Pereira (Mediadora) José Alberto (Mediador)
14/10/17 16:30 – 17:15 POR QUE AINDA RECEIO DEIXAR ESTE MUNDO? A VISÃO INTOLERÂNCIA, SEU SIGNIFICADO E LIBERTAÇÃO
ESPÍRITA DAS CAUSAS DO TEMOR DA MORTE João Carlos Jr.
Morgana Filgueiras Raimundo Martins (Mediador)
Iolete Ribeiro (Mediadora)
14/10/17 17:15 – 17:45
Cantinho da Amizade
14/10/17 17:45 – 18:30 A ATUAÇÃO DO ESPÍRITA NA SOCIEDADE: UMA REFLEXÃO À MEDITAÇÃO: (RE)CONHECENDO SUA POTÊNCIA PARA OS
LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA E DA REALIDADE PROPÓSITOS DO SER IMORTAL
Anna Beatriz de Araújo Nobre
Alessandra Pereira (Mediadora) Ana Kalina
Jefferson Rebello
Raimundo Martins (Mediador)
14/10/17 18:30 – 19:15 REFLEXÕES DE UMA JOVEM ESPÍRITA: COMO SENTIR O QUE O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO E A REVISTA
SEI? ESPÍRITA: HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI
Maria Eduarda Machado Parente Maria Luiza da Cunha Reis
Gustavo Rebouças (Mediador) Ísis Martins (Mediadora)
14/10/17 19:15 – 20:00 REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO COMO AGENTE INTERRELAÇÕES ENTRE O AUTODESCOBRIMENTO
FUNDAMENTAL NA QUALIDADE DA PSICOSFERA FÍSICA E POSSIBILITADO PELA MEDITAÇÃO E O EXERCÍCIO DA
ESPIRITUAL MEDIUNIDADE
Andrea Maciel Schussler
José Laurindo Campos dos Santos (Mediador) Jefferson Rebello
João Carlos Jr.
Alessandra Pereira (Mediadora)
14/10/17 20:00 – 20:15 Encerramento Teatro
Encerramento Salão Amor
15/10/17 08:45 - 12:30 Sessão de Estudos V (Desafios Futuros e Artigos Escolhidos): Apresentação (30”) / perguntas e respostas
(15”)
15/10/17 08:45 – 09:00
Abertura Abertura
15/10/17 09:00 – 09:45 ATANDO FARDOS SOBRE OMBROS ALHEIOS: REFLEXÕES DE ESCOLHA DOS SIMPOSISTAS 3*
UM PRETENSO ORIENTADOR
José Alberto da Costa Machado Iolete Ribeiro (Mediadora)
Orlens Melo (Mediador)
15/10/17 09:45 – 10:30 VIAJORES DO GRANDE RIO ESCOLHA DOS SIMPOSISTAS 4*
Bartolomeu Pereira da Silva Junior José Alberto (Mediador)
Gustavo Rebouças (Mediador)
10:30 – 10:45
Intervalo
15/10/17 10:45 – 11:30 Thiago Aguiar (O que aprendi) ESCOLHA DOS SIMPOSISTAS 5*
Josie Nobre (Mediadora)
Laurindo Campos (Mediador)
15/10/17 11:30 – 12:15 ESCOLHA DOS SIMPOSISTAS 2* ESCOLHA DOS SIMPOSISTAS 6*
Raimundo Martins (Mediador) Alessandra Pereira (Mediadora)
15/10/17 12:15 – 12:30 Encerramento Teatro Encerramento Salão Amor
15/10/17 17:00 - 18:30 Painel “Compromissos Futuros: análise de cenários percebidos no V Simpósio”; Atividade Artística de Encerramento
15/10/17 18:30 - 20:00 Painel “Compromissos Futuros: análise de cenários percebidos no V Simpósio”; Atividade Artística de Encerramento
Anexo 06 - Peça Teatral Abertura
Texto para Abertura do V Simpósio FAK
“O Grande Estudo”
Argumento: Silvio Romano e Anderson Mattos.
Texto: Silvio Romano, com inserções de trechos do Livro “Luzes sobre a Amazônia”,
de Marcellus Campêlo, pelo Espírito Joel, da mensagem “E são chegados os
tempos... outros tempos”, do Irmão Clementino, pela mediunidade de Tânia Melo, e
do texto teatral "Paulo e Estêvão", de Rodrigo Junqueira.
(Cortinas brancas preenchem todo o espaço do palco, inclusive o
piso. Ainda no escuro, sons de floresta preenchem o ambiente. A luz
vai abrindo lentamente sobre três mulheres – Xainã (Beija-flor), Iara
(Senhora das Águas) e Ci (Terra) - que estão no palco. Imagens de
animais, plantas, rios serão projetadas por todo o palco. Inicia-se a
declamação, pelas três mulheres, da poesia "Símbolo", do Livro
“Ritmos de Inquieta Alegria”, de Violeta Branca. Raoni (Chefe e
grande guerreiro), o Coordenador da atividade, aproxima-se ao final
da poesia.)
Xainã - É porque nasci no Amazonas
que tenho a alegria das cachoeiras
a minha voz
o ritmo das águas rolando sobre as pedras
e os meus olhos
são dois muiraquitãs,
com a fosforescência dos olhos das onças...
Iara - E que os meus cabelos tem o reflexo do sol
na escuridão das matas
e o perfume agreste das orquídeas...
que as minhas mãos sugerem gaivotas
voando pelas praias,
ou lenços brancos
dizendo adeus a quem se vai...
que meus versos têm a sonoridade
do canto dos pássaros
e o meu riso a suavidade das espumas...
Ci - E é porque eu sou um poema humano
escrito com a água dos rios
e o sumo dos frutos silvestres
que a tua sensibilidade de homem do sul
acostumado a lutar com o oceano
encontrou em mim um motivo novo
uma festa inédita
na luminosidade da tua vida...”
Xainã - Somos Amazonas!
Iara - Somos Amazônia!
Ci - Somos Natureza!
Todas - Somos Vida!
(Raoni aplaude ao final da poesia.)
Raoni - Muito bem! Uma linda e simbólica homenagem ao continente verde
que nos acolhe! Percebo que já estão todas bastante envolvidas com a
preparação do nosso Grande Estudo.
Ci - E estávamos tão envolvidas que nem percebemos a sua chegada...
Raoni - Intencionalmente busquei chegar de forma a não quebrar a
vibração, pois senti, ao longe, as belas e perfumadas energias emanadas
pela forma como apresentavam a poesia...
Xainã - Buscamos traduzir a essência que a autora imprimiu em seus
versos, declarando seu amor ao estado brasileiro que a recebeu na sua
encarnação como Violeta Branca Menescal de Vasconcelos...
Iara - Até o nome dela é pura poesia: Violeta Branca!
Raoni - É verdade!
Ci - Além da beleza poética e do fato de a mesma falar do Amazonas, nós
escolhemos essa poesia por ela trazer textualmente, dentre os vários que
cita, dois elementos que representam a nossa Casa: o pássaro e a flor.
Xainã - Mais especificamente o beija-flor e a orquídea!
Iara - E nós, como trabalhadoras da arte que somos, não podíamos deixar
de já criarmos o nosso figurino de trabalho para a quinta versão de O Grande
Estudo!
(As três apresentam o elemento que contém a imagem do beija-flor e
da orquídea e que será colocado sobre o figurino inicial.)
Raoni - Só vocês mesmas, meninas!
Xainã - Ora, estamos desencarnadas, mas continuamos artistas!
Iara - Uma vez artista, sempre artista!
Ci - Claro que agora, mais do que nunca, artistas do Cristo!
Raoni - Muito bem! Muito bem! Fico feliz em perceber como estão todas
motivadas para esse trabalho que se avizinha!
Iara - É sempre motivo de muita alegria o trabalho que realizamos junto à
nossa Casa, agora neste plano da vida, em qualquer de suas realizações no
campo da arte, mas é claro que adquire especial significado a realização, a
cada dois anos, do Grande Estudo.
Xainã - Já aprendemos tanto com os trabalhos de pesquisa realizados nas
versões anteriores do Grande Estudo - “O Espiritismo nas Terras
Amazônicas: origens, realizações e compromissos”.
Ci - É fascinante podermos olhar para trás e conhecer o trabalho realizado
por aqueles que nos precederam na Amazônia, trazendo para cá a semente
do Espiritismo e pavimentando a estrada para os que hoje estão encarnados
na região.
Iara - Ao mesmo tempo, é fortalecedor conhecermos os trabalhos hoje
desenvolvidos pelos adeptos da Doutrina Espírita nessa imensa região
amazônica. São tantas as realizações!
Xainã - E tudo isso nos permite pode olhar para o futuro e estabelecermos
os nossos compromissos pessoais e coletivos com essa terra generosa que
nos acolheu.
Raoni - Tudo isso o que vocês falaram é uma realidade sim. Todo o
conhecimento gerado nas quatro versões anteriores de O Grande Estudo são
tão importantes que nos fizeram parar e repensar o objetivo maior desse
Grande Estudo que ora se aproxima.
Ci - Parar e repensar?
Raoni - Parar, pensar, repensar...
Ci - Pensar em que?
Raoni - Em tudo, mas principalmente em nós mesmos...
Ci - Mas não sempre pensamos em nós nos Estudos anteriores?
Raoni - Tudo é uma questão de foco... Acredito que precisaremos fazer uma
pequena viagem no tempo e no espaço para que vocês possam compreender
melhor...
Xainã - Eu acho de suma importância isso. Precisamos estar alinhados com
o convite proposto para o próximo Grande Estudo, senão poderemos estar
intuindo equivocadamente nossos amigos artistas, trabalhadores do plano
físico, na sua concepção artística para o evento.
Raoni - Perfeita a sua observação! Para começar, podemos dizer que o tema
do "V Grande Estudo" é “Espíritas na Amazônia: suas buscas nas realizações
do passado e do presente, e nas motivações para o futuro”.
Iara - Não é mais “Espiritismo nas terras amazônicas” e sim “Espíritas na
Amazônia”...
Raoni - Perfeita a sua observação! E por falar em Espíritas e em Amazônia,
vamos agora à crosta terrestre encontrar dois amigos... Vamos à Manaus!
Iara - Já?
Raoni - Sim! Só mais uma coisa antes de irmos: fiquem atentas ao
convites...
Ci - Convites?
Iara - Que convites?
Raoni - Venham!
(Ao som de música que lembre o movimento das águas, bailarinas
começam a fazer a mudança do cenário. Num determinado momento,
entram em cena Theodoro Gonçalves e Bernardo d’Almeida. Eles
parecem aguardar Raoni, Ci, Xainã e Iara, que entram em seguida.)
Theodoro - Sejam todos bem-vindos!
Raoni - Theodoro! Bernardo! Muito bom reencontrar os amigos novamente.
Essas são Ci, Xainã e Iara, que fazem parte da equipe de artes do Grande
Estudo.
Bernardo - Já tivemos a oportunidade de nos encontrarmos nos estudos
anteriores...
Xainã - É verdade! Em várias ocasiões, por sinal!
Iara - Vocês já estiverem personificados em apresentações artísticas que
conduzimos por ocasião dos Estudos.
Ci - E também já tivemos oportunidades de acompanhar os trabalhos de
pesquisas relacionados com os seus feitos na implantação do Espiritismo nas
terras amazônicas...
Raoni - Que bom que temos estado todos juntos neste trabalho do bem!
Ci - É verdade!
Xainã - Desculpem interromper, mas nosso destino não era a cidade de
Manaus? Não que eu esteja reclamando... Pelo contrário, sinto uma
inexplicável alegria por estar aqui...
Iara - Também estou com essa sensação. É como se eu já tivesse estado
aqui, apesar de não recordar claramente disso...
Raoni - Todos nós temos uma ligação com esse local...
Bernardo - Estamos nos arredores de Manaus, mais precisamente num
"local conhecido como região das lajes, lugar de privilegiada visão do
fenômeno natural chamado 'Encontro das Águas'." - Luzes, pág. 114
Theodoro - "Escolhemos esse local como primeiro ponto do aprendizado
pelo simbolismo que ele encerra para essa cidade que tanto amamos, que
tanto nos emociona o coração." - Luzes, pág. 114
Raoni - Simbolicamente "o rio Negro, consolidado e tranquilo, representa os
povos nativos, harmoniosos e integrados à natureza." - Luzes, pág. 115
Bernardo - Por sua vez "o Solimões representa o povo branco europeu, que
destrói e se agita, procura a sua formação ideal e, como no fenômeno das
terras caídas, busca seu espaço de harmonização com a natureza, à custa da
destruição." - Luzes, pág. 115
Theodoro - "O encontro dos dois rios gigantes, cada qual em sua cor de
contrastante, dá-nos valorosa lição de tolerância, de convivência pacífica e
harmônica, que culmina com a unicidade, mais adiante na formação de um
ser mais forte, mais poderoso." - Luzes, pág. 115
Xainã - Quanta emoção!
Iara - Que "visão maravilhosa, criada pelas 'mãos' abençoadas da natureza,
como que a nos presentear em rogação de paz!" - Luzes, pág. 114
Ci - Essa paz parecer me convidar a mergulhar em mim mesma...
Raoni - Acho que estamos começando a encontrar o que estamos
buscando... Aproveitemos mais um pouco este especial momento... A
natureza nos convida a fazermos uma parada e, por meio dela, olharmos
para nós mesmos... Mergulhemos nos rios de nossas existências, presente
divino do nosso Criador, e busquemos harmonizar as contrastantes águas
que habitam em nós... A unidade irá nos fazer emergirmos mais fortes e
conscientes do que somos e do que precisamos fazer...
(As bailarinas executam coreografia que lembre o “Encontro das
Águas”, caracterizando os Rios Negro e Solimões. Ao final da
coreografia, Theodoro faz com que todos fiquem de mãos dadas e
começa uma prece. Outros personagens seguirão com a prece,
surgindo como por dentro dos rios. Theodoro encerra a prece.)
Theodoro - “Senhor Jesus! Quando caminhamos pela primeira vez por estes
rincões amazônicos, em busca de ouro e dos prazeres do mundo, não Te
conhecíamos como Te conhecemos hoje.
1. Quando vimos, pela primeira vez, esta paisagem maravilhosa, não nos
sensibilizamos como ora o fazemos porque não Te conhecíamos como Te
conhecemos hoje.
2. Quando, pelo nosso egoísmo de mercadores do mundo, eliminamos
nações inteiras, sem ouvir o clamor de mães, velhos e crianças indígenas,
não Te conhecíamos como Te conhecemos hoje.
3. Quando, enfim, Senhor, a nossa ganância atingiu o ápice, ao ponto de
empreendermos ações no sentido de destruirmos a floresta, que é sinônimo
da própria vida amazônica, foi porque não Te conhecíamos como Te
conhecemos hoje.
4. Desta vez, Senhor, a nossa emoção é outra, o nosso sentimento é
diferente!
5. Os olhos se enchem de lágrimas ao contemplar esta maravilha de Deus,
arrependidos da ganância pela busca dos tesouros terrenos.
6. As mãos tremem chorosas, implorando perdão aos irmãos indígenas, pelas
ações de assassínio e de crueldade.
7. A mente suplica oportunidades de reparação, lamentando a ignorância
pela destruição que realizamos, derrubando a floresta, que é a mãe de todos
que habitamos aqui.
8. Hoje, Senhor, já Te conhecemos ao ponto de termos iniciado o nosso
“basta” espiritual, de termos começado o nosso caminho de reparação!
9. Junto com irmãos de outras plagas, ávidos por conhecimento, retornamos
a estas abençoadas terras que nos receberam no passado, desta vez, não
mais com o espírito de ganância e destruição, mas com o sentimento de
colaboração fraternal, para que a mensagem que é tua, de paz, de
preservação e de amor à vida se espalhe pelo mundo.
Theodoro - Abençoa-nos, Senhor, a fim de que sigamos merecedores da tua
santa atenção, da tua bondade e da tua misericórdia, ajudando-nos no
resgate que ainda temos que realizar, pelas imensas dívidas que possuímos
com esta região iluminada pela força de Deus.”
(Ao final, Raoni abraça carinhosamente Theodoro – simbolicamente a
paz entre o branco e o índio. Todos demonstram profunda emoção.)
Bernardo – Muitas outras emoções ainda nos esperam mais à frente! O
convite agora é para continuarmos a nossa caminhada...
Theodoro – Com certeza, meu amigo!
Bernardo – Venham!
(Serão projetadas imagens da Praça de São Sebastião, em especial
do desenho do seu calçamento, que lembram o “Encontro das
Águas”.)
Iara - Eu reconheço esse lugar...
Ci - E quem não conhece a Praça de São Sebastião?
Xainã - É verdade! Eu acho tão lindo esse conjunto de prédios antigos que
circundam a praça...
Raoni - Esses prédios fazem parte de um período da nossa história que se
convencionou chamar de Belle Époque.
Ci - Esses desenhos no piso são em homenagem ao “Encontro das Águas”,
não é?
Bernardo - Sim. E nela ainda temos um monumento que representa um fato
muito importante em nossa história...
Xainã - Que fato é esse?
Bernardo - O monumento representa a abertura dos portos às nações
amigas... O Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas foi uma carta-
régia promulgada pelo Príncipe-Regente de Portugal Dom João de Bragança,
no dia 28 de janeiro de 1808. Por esse diploma era autorizada a abertura dos
portos do Brasil ao comércio com as nações amigas de Portugal.
Raoni - Muito mais do que privilegiar o comércio, tal medida permitiu que o
Brasil se abrisse ao mundo, de maneira que as novas ideias circulantes pelo
dito “Primeiro Mundo” pudessem aportar em terras brasileiras...
Theodoro - “O início da história do Espiritismo em nossa região coincide com
a Belle Époque, em cujo auge se importou para cá a cultura europeia
dominante, particularmente das plagas francesas, trazendo a modernidade
no campo material, de invenções e construções, mas principalmente no
campo das ideias que fervilhavam nos círculos intelectuais europeus.” –
Luzes, pág. 128
Raoni - “Foi assim que inúmeros espíritos se deslocaram das colônias ligadas
à França para vir colaborar com a fixação dos ensinos espíritas na região.” –
Luzes, pág. 128
Theodoro – Interessante pensarmos que esse conhecimento migrou,
naquela época, da Europa, especialmente da França, para as terras
amazônicas através das nossas próprias mãos...
Xainã - Nossas próprias mãos? O que o senhor quer dizer com isso?
Bernardo - Ora, somos herdeiros de nós mesmos! Todo esse conhecimento
é transmitido de nós para nós mesmos, em sucessivos encarnações, agora
na Amazônia, afim de que possamos concluir as tarefas que nós mesmos
iniciamos no passado e que somos, no presente, novamente convidados, a
concluí-las.
Raoni - Uma hora estamos do lado de cá, noutra hora no lado de lá, mas
sempre uns próximos ao outros, todos vinculados aos compromissos
assumidos com esta região.
Ci - Mais do que nunca sinto a importância do Grande Estudo, pois ele
consegue gerar tanto conhecimento.
Theodoro – "O conhecimento, gerado através do estudo, é importante
contribuição, se construído de forma racional, pautado em bases doutrinárias
e em acordo com as ciências sérias, é legado necessário; porém, o convite
principal é o de cada um olhar para a sua jornada." - Irmão Clementino
Bernardo - "Não pensemos, pois, [...] que o compromisso com a frutificação
de conhecimento é mero convite ao intelectualismo ou a tentar identificar
missões grandiosas em sua forma. A missão é grandiosa por sua essência: a
fraternidade, a união, a paz, o amor." - Irmão Clementino
Raoni - E por falar em missão, devemos lembrar que "os exemplos de
grandes nomes da história do Espiritismo, seja nessas terras ou não, é a
busca do traço do missionário que renunciou a si mesmo para poder
contribuir com a obra do Cristo na Terra." - Irmão Clementino
Iara - Isso me lembra Paulo de Tarso - "Já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim..."
(Theodoro, Bernardo e Roani se olham e sorriem. Iara, Ci e Xainã se
entreolham e demonstram curiosidade em relação à atitude dos
três.)
Iara - Eu falei alguma coisa errada? Não foi Paulo quem falou isso?
Xainã - Eu acho que foi ele sim!
Ci - Eu tenho certeza que foi!
Raoni - Calma, meninas! Vocês estão certas! Não foi esse o motivo do nosso
riso...
Iara - Não?
Xainã - Foi por que, então?
Theodoro – É que simplesmente vocês anteciparam o que já iríamos falar
sobre a próxima fase da nossa viagem de estudo...
Ci - Isso prova que estamos em sintonia com o Alto...
Bernardo - Não temos dúvida quanto a isso!
Ci - E onde continuaremos nosso aprendizado?
Raoni - Num templo!
Iara - Um templo?
Xainã - Um templo religioso?
Theodoro – Um templo de arte: o Teatro Amazonas!
Iara - Que maravilha!
Ci - Tudo a ver com a gente!
Xainã - O que iremos fazer? Iremos fazer alguma apresentação?
Bernardo - Especialmente hoje, não... Vamos ter a oportunidade de assistir
um espetáculo, realizado no plano físico, por um grupo de arte espírita.
Theodoro - E tenho certeza que será um momento de grande emoção para
vocês, primeiro pela obra em si, pois é uma adaptação do épico “Paulo e
Estêvão”, obra ditada por Emmanuel e levada ao mundo pela mediunidade
de Chico Xavier...
Ci - Eu adoro esse texto!
Xainã - Já acompanhamos esse trabalho por diversas vezes...
Theodoro - E esse era exatamente o outro motivo... A ligação espiritual de
vocês com a atividade e com os integrantes do grupo...
Iara - Já estou até emocionada!
Ci - Eu também!
(As três se abraçam.)
Bernardo - Calma! Vocês precisam estar bem despertas para essa
apresentação... Ela será diferente de todas as demais que vocês já
participaram, pois o foco agora é bem específico...
(Ouve-se tocar a última chamada.)
Iara - O espetáculo já vai começar!
Raoni - Vamos nos acomodar...
(As cadeiras são viradas para o palco onde se desenvolverá a cena.
As três mulheres sentam nas cadeiras. Os homens permanecem em
pé.)
Cena I - No Deserto (texto de Rodrigo Junqueira)
Saulo - Minha visão! Socorro! Nada vejo!... Sim, percebo uma luz... Agora
alguém caminha para mim... Quanta beleza! Quanta majestade! Vejo sua
túnica feita de pontos luminosos, os cabelos tocam nos onbros, ao modo dos
nazarenos...
Jesus (off) - Saulo!... Saulo!... Por que me persegues?
Saulo - Quem sois vós senhor?
Jesus (off) - Eu sou Jesus!...
(Saulo cai em prantos.)
Saulo - Infeliz que sou! Os pregadores do "Caminho" não estavam iludidos!
A palavra de Estêvão era a verdade pura! Abigail estava certa! Sóis o
Messias! Já não posso enganar-me! Ó Senhor! Não sou digno de tua
misericórdia! Sou um criminoso!
Jesus (off) - Não recalcitres contra os aguilhões!...
Saulo - Sim, Tu me chamaste, mas eu estava cego... Senhor, que quereis
que eu faça?
Jesus (off) - Levanta-te, Saulo! Entra na cidade, e lá te será dito o que te
convém fazer!...
Cena II - Sozinho e cego em Damasco – P&E, pág. 209:
Saulo (sozinho no palco) - “Agora, Senhor, começo a compreender os teus
sublimes desígnios. Não bastava apenas ter a tua presença diante dos meus
olhos, eu precisava de um tempo para transportar-Te para dentro do meu
coração. Foi preciso que eu ficasse sem a luz do mundo para que a Tua luz, a
verdadeira luz, pudesse iluminar os recônditos de minha ansiosa e
determinada alma. Eu já queria fazer tanto em Teu nome, mas foi preciso
que eu parasse, por três longos dias, “para examinar os erros do passado, as
dificuldades do presente e as realizações do futuro. Foi preciso voltar-me
para a minha própria caminhada.”
Cena III - Recobrando a visão (texto de Rodrigo Junqueira)
Ananias - Sois Saulo de Tarso?
Saulo - Não sei mais quem sou...
Ananias - Vim em teu auxílio...
Saulo - E quem te mandou?
Ananias - Aquele que encontraste às portas de Damasco...
Saulo - Jesus, o Messias eterno! Então sois...
Ananias - Ananias...
Saulo - Oh! Quanta vergonha! Vim aqui justamente para prendê-lo e, agora,
vens ajudar-me!
Ananias - Jesus nos diz que Deus, nosso Pai, não quer o sofrimento do
pecador, mas antes a sua regeneração...
Saulo - Que o Senhor possa perdoar meus pecados...
Ananias - Se é da vontade de Deus, o Pai de todos nós, e de seu filho
amado Jesus, nosso mestre e Salvador, que a luz retorne aos teus olhos
agora!
Saulo - Vejo!Posso ver! Glória ao redentor de minha alma! Ananias... Jesus
resgatou-me, serei dele eternamente! Onde poderei obter o evangelho do
Mestre?
Ananias - Tenho aqui as anotações de Mateus, pode levá-las, afinalo já as
sei de cor... O que pretendes fazer agora?
Saulo - Minha vida, como era, não existe mais... Pretendo seguir as pegadas
do Cristo, espalhando Sua mensagem libertador por todo o mundo...
Cena IV - Na Sinagoga (texto de Rodrigo Junqueira)
Paulo - Varões de Israel! Conheceis minha fidelidade às Leis Divinas! E é em
nome de Deus que venho anunciar-vos um fato ignorado até agora. O
Messias prometido pelos profetas já veio. Jesus de Nazaré é o nosso
Salvador!
Doutor da Lei 1 - Como ousas?
Doutor da Lei 2 - O Doutor de Tarso certamente está a nos pregar peças...
Paulo - Jamais preguei peças nas tribunas sagradas. Deus não permitiu que
a minha violência fosse até o fim e consentiu que este mísero servo não
encontrasse a morte sem antes conhecer a luz da crença nova!...
Doutor da Lei 1 - O caso é mais grave do que pensamos... Ele está doente,
não lhe dêem ouvidos... (gargalhadas ecoam)
Doutor da Lei 2 - E pensar que seguíamos as orientações de um louco!...
(Saulo é agredido) E é melhor que seja demência, porque se descobrirmos
tratar-se de traição, terás o mesmo fim de Estêvão!
Cena V - O encontro com Ananias depois da ida à Sinagoga – P&E,
pág. 225:
Paulo (perturbado) – Vejo-me cercado de enormes dificuldades. Sinto-me
no dever de espalhar a nova doutrina, felicitando os nossos semelhantes;
Jesus encheu-me o coração de energias inesperadas, mas a secura dos
homens é de amedrontar os mais fortes.
Ananias – Sim, o Senhor conferiu-te a tarefa do semeador; tens muito boa
vontade, mas, que faz um homem recebendo encargos dessa natureza?
Antes de tudo, procura ajuntar as sementes no seu mealheiro particular,
para que o esforço seja profícuo.
Paulo - Mas, que desejais dizer com isso?
Ananias – No teu caso, deves pensar na lição de Jesus permanecendo trinta
anos entre nós, preparando-se para suportar nossa presença durante apenas
três. Para receber uma tarefa do Céu, David conviveu com a Natureza
apascentando rebanhos; para desbravar as estradas do Salvador, João
Batista meditou muito tempo nos ásperos desertos da Judéia”.
Paulo - Tendes razão... Buscarei o deserto em vez de voltar a Jerusalém
precipitadamente, sem forças, talvez, para enfrentar a incompreensão dos
meus confrades.
Cena VI - Revelando-se para Áquila e Prisca – P&E, pág. 255 a 257
Paulo (demonstrando certa timidez) - Áquila, muita vez, na solidão do
nosso trabalho, tenho pensado na enormidade do mal que te causou o doutor
de Tarso. Que farias se um dia te visses repentinamente em face do
verdugo?
Áquila - Procuraria estimar nele um irmão.
Paulo - E tu, Prisca?
Prisca - Seria ótima ocasião para testemunhar o amor que Jesus
exemplificou em suas lições divinas.
Paulo - Meus amigos, sob a inspiração do Senhor, é justo confessarmo-nos
uns aos outros. Minhas mãos calejadas no trabalho, meu esforço por bem
aprender as virtudes da fé, que ambos têm exemplificados a meus olhos,
devem ser um atestado da minha renovação espiritual. Sou Saulo de Tarso, o
sanhoso perseguidor, transformado em servo penitente. Se muito errei, hoje
muito necessito. Na sua misericórdia, Jesus rasgou a túnica miserável das
minhas ilusões. Os sofrimentos regeneradores chegaram-me ao coração,
lavando-o com lágrimas dolorosas. Perdi tudo que significava honrarias e
valores do mundo, por tomar a cruz salvadora e seguir o Mestre na trilha da
redenção espiritual. É verdade que ainda não pude abraçar o madeiro das
lutas construtivas e santificantes, mas persevero no esforço de negar-me a
mim mesmo, desprezando o passado de iniquidades para merecer a cruz da
minha ascese para Deus.
(Áquila e a mulher contemplam Paulo, com assombro.)
Paulo - Não duvideis da minha palavra. Assumo a responsabilidade dos
meus tristes feitos. Perdoem-me, porém, levando em conta a minha
ignorância criminosa que permitiu a morte de teu pai, Áquila!...
(Paulo começa a chorar compulsivamente. Áquila aproxima-se e o
abraça. O choro de Paulo ainda se torna mais abundante.)
Áquila (jubilosamente) - Irmão Saulo, regozijemo-nos no Senhor, porque,
como irmãos estávamos separados e agora nos encontramos juntos
novamente. Não falemos do passado, comentemos o presente, que nos
transforma por seu amor.
Prisca (com ternura) - Se Jerusalém conhecesse esta vitória do Mestre,
renderia graças a Deus!...
(Os três se abraçam. Áquila afasta-se e exclama satisfeito.)
Áquila - Agora que o Mestre nos reuniu, saíamos do deserto, proclamemos
os favores de Jesus pelo mundo inteiro!
Paulo – Meus amigos, finalmente eu compreendi que, antes de buscarmos o
mundo, “é preciso que cada um atravesse o seu deserto”. Precisamos
atravessar o deserto dentro de nós rumo a Deus, sendo Jesus o único guia
nesta travessia, ruma à verdadeira terra prometida, a Casa do Pai. Agora que
eu atravessei o meu, sinto-me melhor preparado para semear a Boa Nova
pelo mundo inteiro. Vamos!
(Apagam-se as luzes e o elenco de “Paulo e Estêvão” sai de cena.)
Xainã - Espetacular!
Ci - Magnífico!
Iara - Realmente nunca tínhamos olhado esse obra sob esse foco da
construção interior que Paulo precisou para assumir a tarefa para a qual foi
convidado pelo Cristo!
Raoni - Sempre estamos mais afeitos às obras exteriores que os grandes
personagens da história nos ofertaram, que esquecemos de observar
“aspectos da construção que muitas vezes foi silenciosa”. – Irmão
Clementino
Iara - É isso! Agora tudo começa a fazer sentido!
Ci - Isso o quê?
Xainã - O que está fazendo sentido?
Iara - Os convites... Vocês não perceberam? Em lajes, o convite para
pararmos e olharmos o rio, sendo ele, o rio, nós mesmos... Mergulhar em
nós mesmos para nos tornarmos mais fortes com o encontro que faremos
com Aquele que nos sustenta e conduz.
Ci - Na vida de Paulo, percebemos primeiro ele sendo obrigado, em função
da cegueira física, a parar e refletir sobre o passado, o presente e o futuro de
sua vida...
Xainã - Depois, ele resolve fazer isso conscientemente. Para tanto, busca se
isolar no deserto e aproveita o tempo para meditar. Como vimos, ele utiliza o
presente para fazer as pazes com o passado e se projetar para o futuro.
Theodoro – "As obras na coletividade são necessárias e cumprem seus
objetivos. Porém a quem queira ser divulgador da mensagem eterna do
Monte, faça-se missionário no lar, no trabalho, na Casa Espírita, onde quer
que esteja." – Irmão Clementino
Raoni – Individualmente, todos nós somos missionários da própria
iluminação íntima, do próprio crescimento na virtude que é a reunião de
todas as qualidades que definem o homem no mundo - Luzes, pág. 124
(ESE, Capítulo 17, item 3)
Bernardo - “Cada irmão que labuta nas fileiras espíritas, cada cristão, tem
por maior missão a simples tarefa de preparar o seu terreno, retirando as
pedras, que são os defeitos; regando com água, colocando adubo, que é o
desenvolvimento das virtudes, da boa moral; arando a terra porque o
trabalho é instrumento de crescimento e renovação.” – Irmão Clementino
Raoni – “Aquele que não preparou a própria terra, aquele que ainda não
deixou a Árvore florescer em seu próprio terreno interior, não guarde ilusões
de ser jardineiro nas terras de outrem.” – Irmão Clementino
Theodoro – Diante de tudo o que ouvimos, eu tenho a certeza de que
atingimos os objetivos de nossa viagem de estudo. Acredito que cada uma de
vocês, bem como todos aqueles que irão participar da quinta edição de "O
Grande Estudo", já estão espiritualmente preparados para esse importante
momento de suas vidas. Portanto, desejo que "seja esse evento o lampejo, o
momento para reflexão conjunta do fazer individual e coletivo, identificando
a missão a que cada um foi convidado." – Irmão Clementino
(Neste momento, os próprios atores começam a falar de si mesmos
sobre o que buscam. Ao final, indagam para o público.)
Todos – E tu, o que buscais?
Anexo 07 – Peça Teatral Encerramento
MOTIVAÇÕES PARA O FUTURO
(Texto de Silvio Romano, com inserções de trechos dos livros: “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do
Evangelho”, de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel e “Luzes sobre a Amazônia”, de Marcellus Campêlo,
pelo Espírito Joel, e da mensagem “E são chegados os tempos... outros tempos”, de Tânia Melo, pelo
Espírito Irmão Clementino.)
(Projeção de imagens de estrelas no céu. Luciana entra e fica admirando a noite. Anne, Luísa e
Mari entram silenciosamente e Luciana nem percebe a presença das três.)
Mari (calmamente): Luciana!
(Como Luciana não responde, Luísa se aproxima dela e lhe toca o ombro.)
Luciana: Oi! Que bom que vieram!
Luísa: Nós já estávamos aqui há algum tempo...
Mari: E até chamamos por você...
Anne: Mas você parecia estar...
(Luciana interrompe a frase de Anne.)
Luciana: ... Maravilhada! Essa é a palavra certa para expressar o que sinto quando olho para
esse céu... Através dele eu consigo sentir o "olhar" de Deus sobre toda a sua criação... É uma
sensação de plenitude!
Mari: É verdade!
Luciana: Essa é uma das coisas que eu sempre sinto saudades quando estou encarnada...
Mesmo sem saber que é isso que sinto... (risos)
Luísa: Eu também! Aliás, eu não consigo recordar, em nenhuma das minhas encarnações no
orbe terrestre, ter habitado lugares onde pudesse divisar um céu como esse...
Anne (olhando para o céu): É realmente magnífico!
(Áulus e Angélica entram, olham as jovens e fazem, um para o outro, um sinal de afirmativo
com a cabeça.)
Áulus e Angélica: Boa noite!
Luciana, Mari, Anne e Luísa: Boa noite!
Angélica: Mais do que nunca temos a certeza de que todas vocês se encontram prontas para
uma nova ida ao planeta Terra...
Mari: Eu estou bastante ansiosa por essa nova empreitada...
Luísa: Mas, uma pergunta...
Áulus: Diga!
Luísa: Estaremos juntas na mesma família?
Áulus: Não. Vocês estarão em famílias diferentes.
Luciana: Eu não estou entendendo... E por que todo esse planejamento em conjunto, se não
estaremos juntas?
Áulus: Eu falei que vocês não estarão na mesma família consanguínea, mas...
(Angélica interrompe docemente Áulus, tocando-lhe o ombro.)
Angélica: Perdoem o nosso irmão Áulus, mas ele ainda gosta de fazer um certo suspense... Ele
ainda traz consigo as últimas impressões de sua vida como artista dramático...
Áulus: Um artista dramático não expressa bem o meu amor pela arte. Eu acredito que o termo
mais adequado seria um médium do bom e do belo! Ou, se preferirem, de um artista do Cristo!
Angélica: Com toda certeza, meu querido Áulus! Assim como você também estava tentando
alterar esse clima de ansiedade que permeia os corações das nossas amigas... Então,
respondendo à sua pergunta, Luciana, podemos dizer que, em um determinado momento da
trajetória terrestre de vocês, todas irão se encontrar e formarão uma grande família, cujos laços
serão mais forte do que aqueles decorrente do sangue...
Áulus: Uma família unida pelos laços do ideal cristão!
Luciana: Adorei isso!
Mari: Quanta emoção!
Anne: Pelo que pudemos perceber existe todo um investimento da Espiritualidade Superior
nessas nossas encarnações...
Angélica: Muito bem observado! Devemos lembrar que "os tempos de renovação do planeta
Terra já se iniciaram. Em toda parte, os mensageiros do Cristo trabalham incessantemente
ultimando ações para a construção do milênio do espírito, ora em curso". - (Luzes sobre a
Amazônia - A Luz do Candeeiro.)
Áulus: "O homem deste orbe é convidado à decisão pela felicidade futura, com a mudança dos
sentimentos dos egoístas e orgulhosos, em ações de fraternidade mútua, abnegação, desapego
às paixões, num constante exercício de amor." - (Luzes sobre a Amazônia - A Luz do Candeeiro.)
Luísa: Eu fico muito emocionada quando penso que a nossa regeneração está relacionada, de
alguma maneira, com o processo de regeneração planetária.
Luciana: Eu nem sei ainda para onde iremos ou o que iremos fazer, mas eu só sei que vocês
podem contar comigo!
Anne: E comigo!
Luísa: E comigo também!
Mari: Mas para onde mesmo iremos reencarnar, hein?
Angélica: No Brasil.
Anne: E qual o motivo de nós estarmos sendo direcionados para o Brasil nesse momento?
Áulus: Porque é chegado a hora, assim como chegou para outras civilizações, de “o Brasil viver o
seu grande momento, no relógio que marca os dias da evolução da humanidade. - (Brasil,
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho - Prefácio)
Angélica: "Se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e
transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de
um pensamento novo, sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das
atividades humanas com uma nova luz." - (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho -
Prefácio)
Luciana: Essas suas palavras me lembram o que Humboldt falou...
Áulus: Ora! Mas que interessante!
Anne: Quem é esse?
Mari: Eu também não lembro desse nome...
Luísa: Esse nome não me é estranho... Estou tentando me lembrar de onde...
Angélica: Luciana, por que você não aproveita e compartilha com todos o que você aprendeu?
Luciana: É que...
Áulus: Não seja tímida! Vá em frente!
Luciana: Bem, eu lembrei que Alexander Von Humboldt, o célebre geógrafo, naturalista e
explorador alemão, ao visitar o extenso vale do Rio Amazonas, exclamou, extasiado, que ali se
encontrava o celeiro do mundo.
Angélica: Muito bem!
Mari: Ah, agora lembrei!
Luísa: Sim! Sim! Pelo expressão de “celeiro do mundo”, pude recordar da passagem...
Anne: Eu não consigo lembrar mesmo...
Áulus: Mas vejam, "o grande cientista asseverou uma grande verdade. Precisamos, porém,
desdobrá-la, estendendo-a do seu sentido econômico à sua significação espiritual." - (Brasil,
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho - Prefácio)
Anne: Como assim?
Angélica: "O Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos
mais pobres do planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora
de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro." -
(Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho - Prefácio)
Anne: Agora entendi!
Luciana: O Brasil será verdadeiramente o Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho!
Angélica: Precisamos trabalhar para que isso se torne uma realidade no plano físico, minhas
queridas!
Luciana: Mas o Brasil é tão extenso!
Luísa: É quase um continente! Vejam só quanta diversidade de solos, vegetações, climas...
Anne: E quanta diversidade na formação de seu povo...
Mari: Pessoas de todas as raças e regiões do mundo se congregam numa harmonia ainda
desconhecida em muitos lugares do globo terrestre...
Angélica: Na palavras do Mestre a Ismael: "...a doce paisagem dilatada do Tiberíades...". -
(Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho)
Áulus: "Jesus transplantou da Palestina para a região do Cruzeiro a árvore magnânima do seu
Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras
de amor para todas as criaturas." - (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho)
Luciana: Cada vez me sinto mais e mais emocionada e, ao mesmo tempo, mais e mais
preocupada, por fazer parte de tão grandioso planejamento...
Anne: Eu compartilho desse mesmo sentimento da Luciana... Estaremos nós preparadas para
contribuir, de alguma forma, nessa divina construção?
Angélica: Assim como em sua passagem pela Terra, Jesus lança o convite a todos para se unirem
na construção desse novo amanhã, mas também, como outrora, serão os humildes de coração
que atenderão ao seu chamado... Assim como os homens simples que o acompanharam no
primeiro momento, Ele busca sempre aqueles que estão dispostos a se iluminarem com a
realização do trabalho redentor junto à Humanidade.
Luciana: E onde especificamente iremos encarnar (passeando com o dedo sobre o mapa do
Brasil)?
Áulus: O Brasil ainda possui tantas urgências humanas para que se dê cumprimento ao
planejamento divino. Entretanto, uma de suas regiões está a merecer uma atenção especial do
Alto, pois que, para ela, grandes investimentos tem sido realizados no sentido de que ela se
torne não apenas o “pulmão do mundo”, como alguns cientistas a denominaram, mas
principalmente uma usina de energias benéficas e salutares, tão necessárias neste importante
momento de transição planetária.
Mari: Estamos falando da Amazônia brasileira?
Áulus: Sim, estamos falando do Amazônia.
Luísa: A Amazônia, pelo que vemos, é maior que muitos países que já conhecemos...
Luciana: E pela sua extensão, podemos dizer que ela é ainda muito pouco habitada...
Angélica: Sim. Existem pequenas comunidades que só são acessados através dos rios, cujas
viagens chegam a demorar até uma semana... As carências nessas longínquas comunidades são
de toda ordem, mas existe principalmente a carência das palavras que sustentam a alma...
Luísa: Veio à minha mente agora a imagem de Paulo de Tarso, caminhando pelo deserto e
levando às diversas comunidades do mundo conhecido, a Boa Nova que já lhe iluminava o
coração...
Áulus: O valor da missão e a abrangência da ação guardam sublime semelhança, pois que o
deserto a vencer continua sendo o deserto dos corações. Porém, nesta nova jornada, haverá
muita água, sombra e uma floresta verdejante e úmida a lhes aguardar...
Luciana: Percebo que, pelas condições geográficas da região, alguns de seus habitantes são
obrigados a viver quase que num total isolamento...
Angélica: Devemos lembrar sempre que Deus nunca desampara nenhum de seus filhos... Pelo
contrário, está sempre a oferecer oportunidades para a felicidade e a plenitude de todos...
Olhemos sob uma outra ótica essa situação: esses nossos irmãos possuem a oportunidade ímpar
de viverem totalmente em contato com a Natureza, num constante diálogo com o Pai, cuja
presença ainda se faz mais bela nesses lugares...
Luciana: Eu achando que isso era uma coisa triste e, na verdade, é uma oportunidade de
reencontro consigo mesmo e com o Pai!
Anne: Cada vez fico mais entusiasmada com toda essa viagem que se prenuncia para todas nós!
Áulus: Tenho certeza que esse entusiasmo será renovado a cada viagem de barco que vocês
fizerem... O vento, ao soprar em seus rostos, irar murmurar essas nossas conversas novamente
em vossos ouvidos...
Angélica: E lá também terá algo muito especial que os fará recordar sempre desses nossos
momentos de plenitude junto ao Criador. Tenho certeza que todas ficarão muito felizes,
principalmente você, Luciana. Vejam!
Mari: Meu Deus!
Luísa: Que maravilha!
Luciana: Olhem só que céu espetacular!
Angélica: Este, minhas queridas, é o céu que vocês poderão descortinar da Amazônia. Quanto
mais distante e mais carente a comunidade, mais belo será o céu a cobrir e proteger, como um
manto sagrado, os amados filhos daquela região.
Luciana: Eu não sei nem o que dizer... Só emoção (chorando)...
Anne: Nem sei como agradecer por tamanha oportunidade...
Áulus: A melhor maneira de agradecer é contribuir na obra do Cristo, levando o amor e a
caridade à todos os corações necessitados da divina presença do Pai.
Luísa: E onde aportaremos as nossas embarcações nessa empreitada pelo Amazonas?
Angélica: Antes de vós, emissários do Alto estiveram em solo amazônico para implantar as
células iniciais desse imenso projeto.
Mari: Sinto-me mais aliviada em saber que estaremos amparados nessa nobre tarefa que está
nos sendo confiada.
Áulus: Sim. Já existe uma base de amor implantada sobre a região. Muitos corações abnegados
estarão lhes aguardando no Plano Físico e também somarão esforços convosco nesse
enriquecedor trabalho de redenção da Humanidade.
Anne: E como seremos reconhecidas?
Áulus (mudando a voz): “Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem”.
Anne: Não era bem a isso que eu estava me referindo...
Áulus: Sabemos disso, Anne, mas não pude perder a oportunidade de exercitar a minha
dramaticidade...
Angélica: Áulus quis dizer que vocês serão reconhecidas pelo muito amor que dedicarem aos
seus irmãos em Cristo...
Luciana: Então estaremos unidas em torno de uma religião?
Áulus: De início, sim. Mas já é chegado o tempo em que todos estarão unidos em torno da
caridade.
Angélica: Nós já sabíamos que esse seria um ponto que mereceria ser bem esclarecido, por isso
mesmo programamos uma pequena exposição, que será realizada por um irmão muito querido
de todos nós.
(Irmão Clementino entra em cena e se dirige à Angélica.)
Irmão Clementino: Boa noite! Espero não estar chegando atrasado!
Angélica: De maneira alguma, Irmão Clementino! Pontualíssimo, como sempre!
Irmão Clementino: Muita gentileza de sua parte!
Áulus: E como o nosso diálogo já havia convergido para o tema da sua exposição, colocamo-nos
à sua disposição para dar sequência ao mesmo...
Angélica: Tomemos os nossos assentos, por favor!
Irmão Clementino: Muito grato!
(Voltando-se para o público.)
Irmão Clementino: Meus irmãos em Cristo, que a paz de Deus esteja com todos nós!
“E são chegados os tempos... Outros tempos... Os tempos são outros para os corações que
amadureceram e perceberam que o grande edifício do Evangelho de Jesus é morada interior. A
aurora do conhecimento libertador nos faz ver que os templos exteriores, que há muitos
milênios nos dedicamos a construir, foi tempo malbaratado, em que açulamos nossos
instrumentos de progresso em prol do efêmero.
A incompreensão das leis divinas, dos ensinamentos do Cristo, nos fez erguer muitas barreiras
entre Ele e nós.
Embora em novas roupagens religiosas, ainda repetimos rituais, expressões de nossa cegueira
milenar. Porém, quando a luz começa a surgir, eis que os olhos levam um tempo para perceber
o que estava escondido pelas sombras da ignorância e da insensatez.
A árvore do Senhor, quando acolhida em terreno melhor preparado, florescerá. Não nos
confundamos, porém, o convite é mesmo de outrora: cristianizarmo-nos! Aqui sem a pecha de
sectarismo, favoritismo ou orgulho infundado de pertencer a esta ou aquela agremiação
religiosa. O verdadeiro cristão procura pertencer unicamente à Deus, que é o mesmo Pai do
pagão, do ateu, do judeu...
Deixar a Árvore Bendita crescer dentro de si é cultivar o Evangelho em sua vida, em cada ato a
que seja convocado. Eis a condição para a Árvore crescer e frutificar.”
Luísa: Será possível mesmo um dia vivermos todos em torno da caridade?
Angélica: Sim, é possível sim! Essa é a vontade de Deus. E, em sendo a Sua vontade, só depende
de nós torná-la uma realidade em algum ponto da nossa jornada...
Áulus: Importante ressaltar que quando falamos da “nossa jornada”, estamos também falando
da jornada coletiva, mas, antes do coletivo, o mais importante acontece na jornada individual...
Mari: Eu fiquei um pouco confusa agora... Como assim?
Irmão Clementino: “O convite principal é o de cada um olhar para a sua jornada”.
Anne: Tudo isso me causa uma certa apreensão... São tantas coisas a fazer fora e dentro de nós
mesmas...
Luciana: A Amazônia é uma região continental e pouco conhecida... Mas o continente maior
ainda é a região das nossas emoções e, dessa, conhecemos tão menos....
Irmão Clementino: “Ao tempo em que possa parecer serem levados a tantas ações, atividades,
atribuições, nos diversos campos da vida, em verdade carecem do olhar para a essência do
trabalho do Cristo. É possível ser simples e eficiente. Se desejamos novos tempos, outros
tempos, identifiquemos e obremos em nós o que precisa ser regenerado.”
Angélica: Somos sabedores das vossas inquietudes diante de tantos desafios exteriores e
interiores e, por isso mesmo, rogamos ao Alto e recebemos a orientação e a permissão de lhes
descortinar o futuro...
Áulus: Um futuro não tão distante... Um futuro possível...
Luciana: Iremos ao futuro?
Angélica: O futuro já está em nós!
Áulus: Em nossas mãos!
Irmão Clementino: Dentro de nós!
Angélica: Observem!
(A música e a iluminação remetem a um ambiente futurístico. Entra o apresentador com trajes
de uma época futura.)
Apresentador: Meus irmãos em Cristo, muito boa noite! É com imensa alegria que estamos aqui
para realizar a abertura da Centésima Edição do Grande Estudo. Como todos sabem, esse
importante evento de confraternização e união em torno da caridade iniciou-se em uma Casa
Espírita. Com o passar do tempo, novos tempos se fizeram nos corações dos homens, de
maneira que hoje estamos aqui, não mais separados pelas nossas diferenças religiosas, mas
reunidos pela fé que nos liga ao mesmo Pai. Já não mais erguemos muros, hoje construímos
pontes.... Pontes para a renovação do nosso orbe...
E, nessa solene abertura, gostaríamos de convidar irmãos trabalhadores de várias localidades
espalhada pela Amazônia, para apresentarem as suas realizações nestes dois anos que nos
separam do último grande estudo.
Sejam muito bem-vindos!
(Neste momentos entraram vários trabalhadores portando trajes futuristas que lembrem as
atuais religiões. Cada um falará rapidamente de uma localidade da Amazônia e do trabalho
realizado para superar os problemas daquela localidade – identificar localidades e problemas.
Deverá ser projetada um mapa da Amazônia. A cada apresentação, uma luz se acende sobre o
mapa, iluminando a região referida. Ao final, todo o mapa deverá estar iluminado. Depois que
todos se apresentarem, a cena do futuro congela.)
Anne: Se eu mesmo não estivesse vendo, dificilmente acreditaria se alguém me contasse isso...
Luísa: Eu nem sei o que dizer...
Luciana: Eu diria que é motivador poder ver que isso já é uma realidade no futuro e que
depende de nós fazer com que esse futuro aconteça...
Mari: É desafiador!
Luciana: É estimulante!
Áulus: Olhem para a sua jornada e caminhem, confiantes e decididos, em direção ao futuro que
vos aguarda...
Irmão Clementino: Importante que, "ao pensar nos compromissos futuros, não olhemos com
olhar de Ícaro, deslumbrado com a grandeza pela grandeza, mas vislumbremos com o olhar de
Jacó que enxergou a escada longa, inclinada para cima, em subida compassada, avançando com
o esforço de cada passo, simbolizando o progresso moral e intelectual que nos levará a Deus."
Angélica: E para lembrarem de tudo o que conversamos aqui, levem isto...
Luciana: O que é isso?
Áulus: Um presente muito especial para vocês...
(Angélica entrega o presente às jovens, que o abrem delicadamente, mas não o mostram para
o público.)
Mari: Vejam!
Anne: Que linda!
Luísa: Uma flâmula!
Angélica: Não temos a pretensão de sermos Ismael e, muito menos, o Cristo, mas gostaríamos
que esse também fosse o lema que nos relembrasse o nosso sagrado dever com aquela região.
(Ao som da música “Será melhor”, de Plínio Oliveira, será realizada uma coreografia, que
deverá retratar a caminhada do presente até o futuro, de maneira que os personagens “do
presente” se unam aos personagens “do futuro”. Ao final, a flâmula “Deus, Cristo e Caridade”
deverá aparecer ao centro e num plano alto.)
Quando o sol nascer, será melhor
Quando a flor brotar, será melhor
Quando o rio cantar
Canções de verão
Quando a terra for um só torrão
Quero ouvir as aves lá do sul
Quero o leste e o oeste um todo azul
E no céu da mão
Outra mão raiar
Onde a terra é plana e tudo é chão
Pra que a noite seja estrela e luar
E o riso invada os corações
Deus vai trabalhar
E eu vou trabalhar
E quando houver amor será melhor
FIM