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Apostila Construção Histórica Do Conceito Da Adolescência

O documento explora a construção histórica do conceito de adolescência, diferenciando-o de puberdade e juventude, e reconhecendo as influências socioculturais no Brasil. A adolescência é descrita como um período de intensas transformações físicas e psicológicas, marcado por questionamentos de identidade e valores. Além disso, o texto discute as dificuldades de adaptação enfrentadas por alguns adolescentes e a importância de considerar o contexto psicossocial em que se encontram.

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Apostila Construção Histórica Do Conceito Da Adolescência

O documento explora a construção histórica do conceito de adolescência, diferenciando-o de puberdade e juventude, e reconhecendo as influências socioculturais no Brasil. A adolescência é descrita como um período de intensas transformações físicas e psicológicas, marcado por questionamentos de identidade e valores. Além disso, o texto discute as dificuldades de adaptação enfrentadas por alguns adolescentes e a importância de considerar o contexto psicossocial em que se encontram.

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Disciplina Digital

1 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO
CONCEITO DA ADOLESCÊNCIA
Profa. Cláudia Silva Schead dos Santos Schiessl

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final desta unidade você deverá ser capaz de:


• compreender e diferenciar conceitos preliminares dos termos
adolescência, puberdade e juventude;
• compreender a construção histórica do conceito de adolescência/
juventude, reconhecendo as diferenças étnico-raciais e de vivências
que compõe esse fenômeno específico no Brasil;
• reconhecer o desenvolvimento histórico da construção do conceito
da adolescência e a diversidade desse fenômeno no mundo.

INICIANDO O TEMA

Assim como o mundo que os cerca, a realidade psicossocial dos adolescentes


atravessa uma rápida revolução. Em sua contínua transformação, a cultura ocidental que
alimenta o desenvolvimento dos jovens passa, por sua vez, por uma intensa transformação,
sob o impulso da globalização, das novas tecnologias, dos valores emergentes envolvendo
a ética dos direitos humanos, da proteção do meio ambiente, das relações homens-
mulheres, da nova economia etc.. O ser humano, em sua totalidade, depara-se com uma
série de interrogações, e os adolescentes ainda mais.

O que é afinal ser adolescente?

Unidade 1 I Psicologia do Desenvolvimento 1


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O adolescente é uma criatura que já é grande o bastante para fazer várias coisas
(a maioria chatas...), mas... não tem idade o bastante para fazer outras muito mais
interessantes. Cresceu, mas não amadureceu, pode, mas não deve.

Por que afinal esta travessia da infância para a idade adulta é tão incompreendida?

O adolescente não é nem criança, nem adulto, é um tipo humano mutante


capaz de mudanças camaleônicas na aparência, extremamente adaptável ao novo e
naturalmente resistente ao que já foi estabelecido. O que acontece no corpo destas
animadas criaturas é compreensível e bastante visível. Agora entender o que se passa
na cabeça do dito cujo, é outro papo. Acontece que o desenvolvimento psicológico na
adolescência compreende transformações intensas e radicais. O comportamento muda,
as atitudes são surpreendentes e os relacionamentos interpessoais se ampliam. O humor
flutua da alegria intensa ao desespero absoluto em fração de segundos O ânimo, então,
vai do fuzuê à deprê num piscar de olhos. A autoimagem quase sempre é depreciativa,
ninguém está satisfeito com a transformação desse novo corpo. Os adolescentes perdem
os privilégios da infância, antes de alcançar as prerrogativas da idade adulta.

Com a intensificação do processo de intelectualização e do pensamento abstrato,


acontecem os questionamentos dos valores familiares e sociais. É comum acontecer uma
crise religiosa ou de valores. A adolescência afinal não é só um período de desenvolvimento
físico e psicológico, também é uma fase de absorção dos valores socioculturais da
comunidade, e de elaboração de projetos pessoais que impliquem em plena social e
afetiva, onde se acentuam as características de cada pessoa, definindo-se os contornos
de personalidade.

Fase de grandes descobertas, e também de algumas decepções, é quando se sabe


com certeza que vai morrer um dia, que os pais não são perfeitos, que se precisa mesmo
aprender a se virar sozinho, e se descobre que no fundo, todo mundo, todo mundo
mesmo, tem um pouco de medo de crescer.

1.1 CONCEITOS

A adolescência é o período da vida que separa a infância e a idade adulta. Deve-se


situá-la entre 12 e 18 anos, mas a incrível transformação psicológica que se produz nessa
idade às vezes parece ficar muito apertada nesse espaço cronológico. Os adolescentes
do século XXI apresentam uma precocidade surpreendente no seu desenvolvimento, ao
mesmo tempo, que só se tornam realmente autônomos socialmente vários anos após a
maioridade.

Mesmo que a puberdade permaneça sendo inevitavelmente o alicerce desse


período, a realidade psicossocial dos adolescentes evolui tão rápido quanto o mundo no
qual eles conquistam sua independência.

2 Psicologia do Desenvolvimento I Unidade 1


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Quem sou eu? Sou normal?

O que me interessa de verdade?

Como me vejo? Como os outros me veem?

Qual será meu lugar nesse mundo?

Essas questões que definem a busca identidade vigente durante aqueles anos de
metamorfose do corpo e da mente, da personalidade, dos laços afetivos, da necessidade
de estar em grupo e de se diferenciar dos adultos.

Embora não seja obrigatoriamente um período de crise, a adolescência não deixa


de constituir uma fase de turbulências no desenvolvimento, cuja intensidade é pouco
igualada em outras idades da vida. Portanto, em sua maioria, os adolescentes superam os
desafios dessa época e sentem-se bem consigo mesmos. Infelizmente, apesar de diversos
indicadores da adaptação dos adolescentes mostrarem uma melhora na sociedade atual,
uma minoria de jovens sente mais dificuldades de adaptação e precisa de ajuda para
encontrar a sua identidade e/ou minimizar sintomas como a ansiedade crônica.

A palavra “adolescência” deriva do substantivo latino adollacentia, que significa


(crescer em direção à maturidade). Interessante observar que a adolescência, conforme
a literatura tem várias origens etimológicas e caracteriza muito as peculiaridades desta
etapa de vida. Ela também vem do latim ad (a, para) e olescer (crescer), significando a
condição ou processo de crescimento, em resumo o indivíduo apto a crescer. Conforme a
complexidade desta fase, também, podemos encontrar outro termo associado à palavra
adolescência, que vem do latim (adolescer), origem da palavra adoecer.

Temos assim, nessa tripla origem etimológica, um elemento para pensar nessa
etapa de vida: aptidão para crescer, não apenas no sentido biológico, mas também
psíquico, e para adoecer em termos de sofrimento emocional.

Na psicologia do desenvolvimento, adolescência é um constructo teórico referente


a um processo, e não um estado, caracterizado pelas mudanças psicológicas que ocorrem
num período de transição entre a infância e a idade adulta.

A adolescência se inicia com a “puberdade”, período de rápido crescimento físico


e mudanças fisiológicas que levam à maturidade sexual. A puberdade é um “processo
biológico”, que inicia entre 9 e 14 anos, aproximadamente, e se caracteriza pelo
surgimento de uma atividade hormonal de desencadeia os chamados “caracteres sexuais
secundários”.

O termo puberdade origina-se do latim (pubertate – de puber, pelos), que significa


período de passagem e entre infância e adolescência, com sinal da virilidade. A puberdade
termina quando o ciclo se completa e a pessoa se torna capaz de se reproduzir.

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A discussão que viemos tecendo até aqui, torna necessária uma breve diferenciação
entre os termos adolescência e puberdade, termos significativamente diferentes, mas
estreitamente relacionados.

ATENÇÃO
Quando falamos de “adolescência”, temos de pensar em dois elementos básicos:
o primeiro é que temos de considerar que existem distintas experiências
adolescentes, e estes, embora com elementos comuns, dependem dos aspectos
psicológicos e sociais onde vivem o adolescente, o segundo é que necessitamos
compreender que a adolescência tem diferentes fases e que essas têm
características muito peculiares.

Por adolescência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), se costuma


entender o período que se estende dos 12/13 anos até aproximadamente aos 20 anos.
Segundo Outeiral (2008), a psicologia do desenvolvimento do adolescente faz uma divisão
importante para compreensão dessa fase com transformações específicas no início, meio
e fim.

• A adolescência inicial (de 10 a 14 anos) é caracterizada, basicamente, pelas


intensas transformações corporais e alterações psíquicas derivadas destes
acontecimentos.

• A adolescência média (de 14 a 17 anos) tem como seu elemento central as


questões relacionadas à sexualidade, em especial, a passagem da bissexualidade
para a heterossexualidade.

• A adolescência final (de 17 a 20 anos) tem vários elementos importantes a


serem estudados, entre os quais o estabelecimento de novos vínculos com os
pais, a questão profissional, a aceitação de um novo corpo e dos processos
psíquicos do “mundo adulto”.

O autor lembra ainda que se torna extremamente importante, que o psicólogo


considere sempre o processo psicossocial em que passa o jovem e não apenas o período
etário.

Desta forma cada sociedade, por EXEMPLO, poderá definir ritos de passagem
singulares que irão marcar o início e término deste período.

A adolescência é um período que separa a infância e a idade adulta. Do ponto


de vista psicológico, esse período marca a passagem entre a dependência infantil e a
autonomia adulta.

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***Porém, onde se situam precisamente o final da infância e o começo da vida


adulta?

***Quando termina a puberdade e a adolescência?

Os limites exatos da adolescência são difíceis de estabelecer, tendo em vista que


eles diferem dependendo da dimensão do desenvolvimento considerada, seja biológica,
psicológica ou social. No quadro 1, p. 12, pode-se observar alguns critérios que podem
servir para definir o início e o fim da fase da adolescência.

Quadro 1 - Referente aos critérios que podem marcar o início e o fim da adolescência

Dimensão da Critério do início da Critério do fim da


adolescência adolescência adolescência
Início das mudanças sexuais
a) BIOLÓGICA Capacidade de ter um filho.
física.
Aparecimento dos primeiros Domínio do pensamento
b) COGNITIVA
raciocínios abstratos. formal.
Capacidade de definir-
Primeiras tentativas de
se enquanto pessoa
preservar a sua intimidade
c) EMOCIONAL independente, afirmar e
e afirmar a suas escolhas
assumir a sua identidade e
individuais.
escolhas pessoais.
Período em que os pais podem
deixar seus filhos sozinhos em
Idade da maioridade penal,
casa sem serem considerados
d) JURÍDICA que implica, por exemplo, a
negligentes, de acordo com
obrigação de votar.
o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Aparecimento dos
comportamentos de Obtenção da autoridade sobre
participação autônoma nos si mesmo com o consequente
e) SOCIAL papéis coletivos (trabalho) e exercício dos poderes e
construção de uma rede social responsabilidades perante os
pessoal independente da outros.
família.
Fonte: Cloutier, Richard e Drapeau, Sylvie, (2012).

Abordaremos agora, após analisar o quadro 1, outros critérios definidos para


caracterizar o “final”, da adolescência na perspectiva da psicologia do desenvolvimento,
conforme o pediatra Ronald Pagnoncelli de Souza (1987), e teremos uma ideia de como
ela pode ser prolongada.

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a. Estabelecimento de uma identidade estável.

b. Aceitação de sua sexualidade e ajustamento gradativo do papel sexual adulto.

c. Tornar-se independente dos pais.

d. Fazer a escolha de uma carreira ou encontrar uma vocação.

Na mesma perspectiva e acrescentando alguns importantes critérios, um grupo de


estudos da Associação Psiquiátrica Americana, constituído para estudar adolescência,
considera os seguintes critérios para o final desta etapa vital:

• Separação e individuação dos pais;

• Estabelecimento da identidade sexual;

• Aceitação do trabalho como parte integrante do cotidiano de vida;

• Construção de um sistema pessoal de valores morais;

• Capacidade de relações duradouras e de amor sexual, terno e genital;

• Regresso aos pais numa nova relação baseada numa igualdade relativa.

Quanto ao final da adolescência, Outeiral (2008), contribui para a compreensão do


fenômeno acrescentando outros critérios, na perspectiva psicanalítica:

• A puberdade estaria concluída, e com ela o crescimento físico e o amadurecimento


gonodal, em torno dos 18 anos, coincidindo com a soldadura das cartilagens de
conjugação das epífises dos ossos longos, o que determina o fim do crescimento
esquelético;

• O término da adolescência, a exemplo de seu início, é bem mais difícil de


determinar e novamente obedece a uma série de fatores de natureza
sociocultural. Tentando discriminar quais os elementos mais universais na
atualidade que nos possibilitaram assinalar o término da adolescência, relaciono
o preenchimento das seguintes condições:

»» estabelecimento de uma identidade sexual e possibilidade de estabelecer


relações afetivas estáveis;

»» capacidade de assumir compromissos profissionais e manter-se


independência financeira;

»» aquisição de um sistema de valores pessoais e moral própria;

»» relação de reciprocidade com a geração precedente sobretudo com os pais.


Em termos etários, isto ocorreria por volta dos 25 anos na classe média
brasileira, com variações para mais ou menos consoante as condições
socioeconômicas da família de origem do adolescente.

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A discussão que viemos tecendo até aqui, torna necessária uma breve diferenciação
entre os termos adolescência e puberdade, termos significativamente diferentes, mas
estreitamente relacionados.

Vamos analisar agora um quadro resumo indicando e diferenciando termos,


conceitos e processos.

LEITURA COMPLEMENTAR

MOREIRA, Jaqueline de Oliveira; ROSÁRIO, Ângela Buciano do; SANTOS, Alessandro


Pereira dos. Juventude e adolescência: considerações preliminares, Belo
Horizonte, v. 4, p. 457 – 464, dez. 2011.

Portanto, vimos até aqui que as transformações do corpo, ocorridas na puberdade,


impõe ao sujeito a construção de uma nova imagem corporal. Essas modificações solicitam
um trabalho psíquico de significação dessa inusitada condição. Trata-se da adolescência,
que diferente da puberdade, é fenômeno cultural e consiste no processo no qual se
adquirem as características psicológicas e sociais da condição adulta. A adolescência é
marcada, principalmente, por mudanças externas advindas da puberdade e ocasionam
implicações internas.

Segue um quadro resumo, para que você visualize a definição dos termos discutidos
até então, comparando-os e diferenciando-os. Lembrando que esses conceitos serão
fundamentais para o entendimento da adolescência e domínio teórico dos textos e artigos
complementares.

Quadro 2 - Referente a um resumo diferenciando, os termos conceituais da fase Adolescência e Puberdade

ADOLESCÊNCIA:
PUBERDADE:
yy Latim: adolescere - ad (a, para) e olescer (cres-
yy Latim: pubertate: sinal de pelos, barba, penu-
cer) apto a crescer. Adolescer: adoescer. Dolo –
gem.
causa dano ou prejuízo.
yy Fenômeno considerado universal. Fase inicial da
yy Fenômeno considerado psicológico e social;
adolescência;
yy Processo psicossocial gera diferentes peculiarida-
yy Seu início em condições de normalidade física
des conforme ambiente social, econômico e cul-
coincide com todos os povos. Variabilidade indi-
tural;
vidual;
yy Existem distintas experiências adolescentes, em-
yy Processo biológico início entre 9 aos 14 anos;
bora com elementos comuns dependem dos as-
pectos psicológicos e sociais onde vive o adoles- yy Diferenças de gênero;
cente.

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ADOLESCÊNCIA:

yy Sequência Lógica?

yy Puberdade pode suceder a adolescência? PUBERDADE:


yy Termo recente. yy Início das atividades hormonais desencadeadas
pelos “caracteres sexuais secundários”.
yy OMS: 10 aos 16 anos e 16 aos 20 anos.
yy Final da puberdade se dá com o crescimento fí-
yy Critério MSB – Ministério Saúde Brasil e IBGE.
sico e amadurecimento gonodal (função reprodu-
yy OMS – utiliza o termo juventude - 15 e 24 anos tora).

yy Outeiral – jovem adulto.

ADOLESCÊNCIA:

yy ECA: início 12 e término 18 anos; PUBERDADE:


yy Segundo José Outeiral, 2008: yy Puberdade concluída 18 anos (fim do crescimento
esquelético).
yy Adolescência inicial
yy Puberdade Precoce (2 a 3 anos antes do espera-
(10 a 14 anos)-transformação corporal e alteração psí-
do) – mídia, alimentação, estrogênio nos esmal-
quica.
tes e maquiagem;
2. Adolescência média
yy Puberdade Tardia – fatores emocionais ou pouco
(14 a 17 anos)-caracterizada pela sexualidade – Bi estímulos ambientais (desnutrição, distúrbio do
para hétero sono, frio).

3. Adolescência Final (17 aos 20 anos)-multiplicidade


de elementos: profissão, aceitação corpo e indepen-
dência financeira.

ADOLESCÊNCIA: PUBERDADE:
yy Adolescência inicia com as mudanças corporais da yy As mudanças corporais não transformam a pessoa
puberdade e termina com a inserção social, pro- em um adulto, são necessárias outras mais varia-
fissional e econômica desse jovem na sociedade. das e menos visíveis, para alcançar a maturidade.
(alterações cognitivas, sociais e emocionais).
yy Busca de um ser individual – identidade.

Fonte: Schiessl, 2018.

Como fenômeno biológico a puberdade é universal entre todos os povos da espécie


humana. Como fenômeno psicossocial, adolescência não é universal, e, portanto, não
tem o mesmo padrão e significado em todos os povos e culturas, podendo então ser
considerado um fenômeno cultural.

A cultura tem sido sentida e considerada pelos estudiosos das mais variadas áreas do
conhecimento como uma poderosíssima máquina de desenvolvimento das potencialidades
humanas. Já se tornou comum dizer e constatar que ela, quase onipotente, tanto pode
dimensionar o ser humano e suas potencialidades, como atrofiá-los ou até usá-los para
este ou aquele fim, os mais diversos e contraditórios.

8 Psicologia do Desenvolvimento I Unidade 1


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Quais seriam as diferenças culturais que tornam a adolescência uma experiência,


de modo geral, mais ou menos difícil para os jovens na nossa sociedade?

A antropóloga Margaret Mead, visitou várias comunidades com objetivo de


estudar o desenvolvimento do adolescente entre nativos. Contudo, a ideia de que
normas e expectativas culturais ajudam a determinar a natureza da adolescência tem
sido longamente defendida por estudos realizados em diferentes culturas. Além disso,
o trabalho da antropóloga é ainda reconhecido, por ter constituído uma importante
exposição iniciada nesta ideia.

A natureza da adolescência enquanto período de vida pode ser menos rígida e


biologicamente determinada, como é defendida pela hipótese maturacionista de agitação
e tensão. A agitação e tensão manifestadas pelos adolescentes dependem, em grande
medida, das exigências e das expectativas da cultura onde eles estão inseridos.
Na cultura da ilha de Samoa, os principais acontecimentos da vida,
eram encarados e modo franco e aberto. Os aspectos terrenos da vida
eram, também, organizados de forma a que a transição da infância
para a adolescência fosse calma e gradual. Os deveres que lhe eram
atribuídos faziam parte das tarefas principais da vida na ilha, no entanto,
estavam adequados as suas capacidades. Cada contribuição era levada
a sério, recompensada e elogiada de modo igualitário, tendo em conta
as diferentes idades. Em suma, longe de ser um período de agitação
e tensão, a adolescência na sociedade de Samoa, nos anos 20, era um
agradável momento de vida. (CLOUTIER & DRAPEAU, 2012, p. 103).

ATENÇÃO
Pode-se então compreender dessa forma que a adolescência é uma construção
cultural?

Em algumas sociedades tribais não há o equivalente ao nosso conceito de


adolescência. Ainda hoje, a transição da infância para idade adulta é marcada com clareza
através dos ritos de passagem, que são realizados por ocasião do início da maturação
sexual. Tais cerimônias podem variar em complexidade: desde um corte de cabelo até
tatuagens, extração de dentes ou períodos de jejum ou isolamento.

Unidade 1 I Psicologia do Desenvolvimento 9


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A duração desses períodos de iniciação varia, podendo estender-se de alguns dias


até um ano conforme cultura. Mesmo assim não se compara aos anos da adolescência em
nossa sociedade. Ao final de um ritual se concede ao jovem o status de adulto, que ele
assume sem qualquer tensão ou conflito.

Por outro lado, conforme se tornaram mais complexas, as sociedades modernas


industrializadas foram criando, “[...] um intervalo de aprendizagem entre maturidade
biológica e a maturidade social, com consequente retardamento na tomada das
responsabilidades adultas”. (PEREIRA ANTONIO, 2005, p. 3).

Neste sentido, os acontecimentos psicológicos da adolescência não são


necessariamente, em nossa sociedade, apenas um correlato natural das mudanças físicas
da puberdade, mas também uma construção histórica e cultural, produto da complexidade
das mudanças sociais.

Os ritos de puberdade podem ser independentes da puberdade fisiológica,


dependendo da cultura em que se inserem. Na medida em que não estão necessariamente
relacionados com mudanças biológicas, seria mais apropriado falar em cerimônias de
iniciação, ritos de passagem ou ritos de adolescência.

Alguns ritos estão diretamente relacionados com o atingir da maturidade sexual, com
nos casos frequentes das cerimônias associadas à menarca. Nesse sentido, Pereira (2005),
descreve uma experiência entre os índios Tucana, do Baixo Amazonas, imediatamente
antes da menarca, ou seja, da primeira menstruação, a jovem é afastada dos homens, indo
para uma cabana de reclusão, onde permanecerá por 3 meses completos em isolamento.
Após este período o corpo da jovem é pintado e durante 3 dias são celebradas cerimônias
e festas. Imediatamente após esta fase, é permitido jovem se casar.

Nesse caso para essa cultura, o rito da “puberdade” é a cerimônia pública mais
importante de sua vida, mudando seu status de criança para o de mulher.

No caso dos meninos a ocasião pode ser ou não desvinculada das mudanças
fisiológicas. Por exemplo, as cerimônias de iniciação dos Arapesh, são
grandes iniciações públicas, tem lugar a cada 6 e 7 anos e, em função
disso, alguns jovens tem idade e tamanho além da média e já conhecem
algumas das revelações que serão feitas durante a cerimônia. (PEREIRA,
2005, p. 4).

Dessa forma torna-se necessário compreender que a transição da infância ao status


adulto, pode ser tão breve quanto um ritual que serve para assinalar uma sequência de
crescimento, ou pode ser um período de status marginal e de ambiguidade, que pode
durar uma década ou mais. Nos casos em que a criança se torna adulto em mais ou menos
uma noite, e a adolescência pode ser resumida à cerimônia e torna-se difícil pensar
em uma adolescência prolongada, como ocorre na nossa sociedade. No primeiro caso a
transição é rápida e simbólica, no segundo, é um processo.

10 Psicologia do Desenvolvimento I Unidade 1


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LEITURA COMPLEMENTAR

BRÊTAS, Roberto da Silva; MORENO, Rafael Souza; EUGÊNIO, Daniella Soares;


SALA, Daniela Cristina Paquier; VIEIRA, Thais Fernanda; BRUNO, Priscila Rabelo.
Os rituais de passagem segundo os adolescentes. São Paulo, Acta Paul Enferm.
v. 3, p. 404, julho. 2008.

1.3 ADOLESCÊNCIA COMO UM CONCEITO HISTÓRICO

A adolescência não é um período natural do desenvolvimento humano. É um


momento significado e interpretado pelo homem. Há marcas que a sociedade destaca e
significa. Mudanças no corpo e desenvolvimento cognitivo são marcas que a sociedade
destacou. Muitas coisas podem estar acontecendo nessa época da vida no indivíduo e nós
não destacamos, assim como essas mesmas coisas podem estar acontecendo em outros
períodos da vida e nós também não as marcamos, como, por exemplo, as mudanças que
vão acontecendo em nosso corpo com o envelhecimento.

Dessa forma, a adolescência pode ser considerada “historicamente” criada pelo


homem, enquanto representação e enquanto fato social e psicológico. É constituída
como significado na cultura, na história, na linguagem que permeia as relações sociais,
ou seja, fatos sociais surgem nas relações e os homens atribuem significados a esses fatos
(OZELLA, 2002).

Ozella (2002) considera que, na sociedade moderna, o trabalho, com sua sofisticação
tecnológica, passou a exigir um tempo prolongado de formação adquirida na escola.
Além disso, o desemprego crônico/estrutural da sociedade capitalista trouxe a exigência
de retardar o ingresso dos jovens no mercado e aumentar os critérios para esse ingresso.

A adolescência refere-se, assim, na visão sóciocrítica a um período de “LATÊNCIA


SOCIAL”, constituída a partir da sociedade capitalista, gerada por questões de ingresso
no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da necessidade do preparo técnico
e da necessidade de justificar o distanciamento do trabalho de um determinado grupo
social.

Unidade 1 I Psicologia do Desenvolvimento 11


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Desta forma, reconhecemos que há um corpo se desenvolvendo e que tem


características próprias, mas, nenhum elemento biológico ou fisiológico tem
expressão direta na subjetividade. As características fisiológicas aparecem
e recebem significados dos adultos e da sociedade. As marcas do corpo e as
possibilidades na relação com os adultos vão sendo pinçadas para a construção das
significações, para a qual é básica a contradição, que se configura nesta vivência
entre as necessidades dos jovens, as condições pessoais e as possibilidades sociais
de satisfação delas. É dessa relação e de suas experiências e vivências, enquanto
contradição, que se retirará grande das significações que compõe a adolescência:
rebeldia, instabilidades, busca da identidade e os conflitos. Essas características,
tão bem notadas na psicologia, ao contrário da naturalidade que lhes atribui, são
históricas.

Essas questões sociais e históricas vão constituindo uma fase de afastamento


do trabalho e de preparo para a vida adulta. Entende-se, assim, a adolescência como
constituída socialmente a partir de necessidades sociais e econômicas que vão se
constituindo no processo.

1.4 ADOLESCÊNCIA NA HISTÓRIA

A adolescência é um fenômeno recente. Até a Revolução Industrial, não existia


esse conceito. Havia as crianças, e havia jovens prontos para trabalhar e ingressar no
mundo adulto com 13 a 15 anos, ao lado de pais cuja expectativa de vida era de 40 anos.
No século XIX, as condições de saúde e segurança melhoraram. As indústrias passaram
a cuidar melhor de seus trabalhadores e a vida profissional se prolongou. Os jovens não
precisavam mais pegar o lugar de seus pais tão rapidamente. Desde então, não são
crianças vulneráveis e que precisam ficar protegidas em casa, nem adultos que podem
criar sua independência trabalhando. Eram adolescentes, um termo que começou a se
popularizar na década de 1940, graças ao trabalho do psiquiatra alemão Erik Erikson.

Foi provavelmente o século XV que o emprego da palavra “adolescência”, tal qual


a concebemos agora, tenha surgido (COSTA, 2008). Todavia, desde a época dos filósofos
gregos, existia uma concepção teórica do desenvolvimento humano da infância até a
idade adulta.

Embora o estudo científico da adolescência seja recente, as atitudes em relação aos


adolescentes são registradas desde a “Antiguidade”. Platão (427-347 a.C) acreditava que
o caráter de uma pessoa se desenvolvia bastante cedo, em função dos hábitos adquiridos,
também se preocupava com a educação apropriada dos jovens. Muitos conceitos platônicos
são comparáveis àqueles utilizados nas teorias modernas do desenvolvimento humano.
Aristóteles também escreveu sobre o caráter apaixonado e irascível dos jovens.

12 Psicologia do Desenvolvimento I Unidade 1


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A ideia de diferenciar características específicas dos jovens existiu desde a Grécia


antiga com os filósofos, embora se referindo a uma minoria da população. Contudo, foi
somente com o advento do capitalismo, no processo de revolução industrial que foi se
definindo a adolescência tal como conhecemos hoje. (PALACIOS e OLIVA, 2003).

Somente no século XIX e XX, acontecimentos sociais, demográficos e culturais


parecem ter propiciado o estabelecimento da adolescência como período distinto do
desenvolvimento humano. Desta forma, entende-se que a psicologia do adolescente tem
um longo passado com uma curta história.

Embora ainda pouco estudada, a adolescência tem sido vista desde a antiguidade
pelo prisma da impulsividade e excitabilidade. Na Grécia antiga, os jovens eram
submetidos a um verdadeiro adestramento, cujo fim seria inculcar-lhes as virtudes cívicas
e militares, aos 16 anos podiam falar em assembleias. A maioria civil era atingida aos 18
anos, ocasião em que eram inscritos nos registros públicos da cidade (GROSSMAN, 1998).

Assis et al (2003), analisando Platão (séc. IV a C.), observaram que ele enfatizou
características negativas dos jovens, advertindo-os quanto ao uso de bebida alcoólica
antes dos 18 anos, achando que era o mesmo que “colocar fogo no fogo”. Mas, segundo
a análise de Santrock (2003), Platão também considerou que o raciocínio seria uma
característica do homem que só apareceria na adolescência. Por isso, as crianças deveriam
passar mais tempo brincando e os jovens estudando.

[...] ressaltam que Aristóteles (séc. IV a. C) descreveu os jovens, no


século IV a.C., como apaixonados, irascíveis e capazes de serem levados
por seus impulsos. Ele considerava que os jovens eram exageradamente
positivos em suas afirmações e que se imaginavam oniscientes, embora
considerasse que o aspecto mais importante da adolescência fosse a
habilidade para escolher e que a autodeterminação seria um indício de
maturidade. Para ele, o exercício intenso visando competições só deveria
ocorrer três anos após o término da puberdade para não comprometer o
desenvolvimento biológico. (SPRINTHALL e COLLINS, 2009, p.228).

Sprinthall e Collins (2009), estudando Santo Agostinho (séc. V), observaram


que ele abordou questões que considerava relevante em relação aos jovens, inclusive
certa aversão à escola, sugerindo uma educação mais jovial, alegre, tranquila e com
brincadeiras.

Cada cultura irá definir a forma como compreenderá a fase da adolescência, desde
os ritos de passagem singulares, até as expectativas, responsabilidades e esperanças.
Isso possibilita uma significativa variação histórica

Vamos agora analisar o Quadro 3 que mostra a pluralidade de abordagens desse


fenômeno no campo da psicologia do desenvolvimento, construídas durante a história,
com ênfase em aspectos diferentes, inclusive, dicotômicos.

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Quadro 3 - Referente à visão da adolescência

Visão da adolescência Teóricos


Stanley Hall: pioneiro no estudo da adolescência
em 1904. Para ela a adolescência representava um
momento crítico no desenvolvimento humano, com
tensões e conflitos entre os impulsos dos adolescentes
e as demandas da sociedade.
Anna Freud: o aumento dos impulsos sexuais como
Adolescência como
consequência da maturação da puberdade torna
etapa de conflitos
essa fase marcada pela conduta imprevisível dos
adolescentes e pela ambivalência na relação com os
pais e com a sociedade.
Arminda Aberastury e Maurício Knobel: conflitos,
rebeldia, idealismo e tensões são denominados como
síndrome da adolescência normal.
Erik Erikson: em seu modelo de desenvolvimento, coloca
os fatores sociais e culturais, antes da sexualidade.
Enfatiza os novos papéis e as tarefas que a sociedade
demanda dos jovens.
Adolescência com Margaret Mead: seus estudos em Samoa foram
ênfase nos aspectos emblemáticos para situar as diferenças da adolescência
sociais entre as culturas.
John Coleman: nos anos 1980 realizou uma ampla revisão
da leitura empírica sobre adolescência, concluindo que
os dados disponíveis não permitem manter a ideia da
adolescência como caracteriza pelo estresse e tensão.
Fonte: Santos (2009).

LEITURA COMPLEMENTAR

FERREIRA, Teresa Helena Schoen; FARIAS, Maria Aznar: SILVARES, Edwiges Ferreira
de Mattos. Adolescência através dos séculos. Brasília, v. 26, jun. 2010.

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1.4. ADOLESCÊNCIA NO BRASIL

No Brasil, resgatando um pouco a história, percebe-se que alguns acontecimentos


sociais e culturais parecem ter propiciado a emergência da adolescência como um
período importante e distinto do desenvolvimento humano e como campo de estudo com
legitimidade própria.

• Nos últimos 150 anos a sociedade adulta ocidental reconhece a infância e os


anos juvenis dos 6-7 aos 12-13 anos como um estágio especial do crescimento;

• Uma vez reconhecida a adolescência na sociedade seguiu-se um período de


grandes transformações.

• Formulações de leis protetoras do bem-estar e saúde do adolescente, políticas


públicas para garantir seus direitos. O que aconteceu no século passado com
a descoberta da infância, voltou a acontecer neste século com a adolescência.

• No entanto é possível encontrar comunidade e subculturas de algumas sociedades


em que a adolescência não é reconhecida.

O interesse pelo estudo da adolescência inicia-se no Brasil no pós-guerra, onde,


psicólogos, assistentes sociais e médicos psiquiátricos foram convocados pelo estado,
para assistir jovens órfãos de guerra que cometiam pequenos delitos perambulando pelas
ruas em gangs. E que de alguma forma incomodavam a sociedade.

Nessa época vivia-se um momento crítico, muitos jovens reivindicando seus


direitos: direito a voz, ao voto, a políticas públicas que não existiam. O protótipo
da Adolescência na época no mundo estava sendo vinculada ao retratado no cinema
era a “Juventude Transviada”. Aos poucos a sociedade passou a se preocupar com os
problemas levantados, já que eram questões novas a serem trabalhadas, uma delas era
a Saúde do adolescente. O governo brasileiro destinou verbas para programas de saúde
mental. Tentativas fracassadas de intervenção já que a intervenção terapêutica, com
esse público era algo novo, sem estudos nem protocolo específico.

No final dos anos 50 e início dos anos 60, surgem, na abordagem psicanalítica, alguns
novos estudos sobre a compreensão da adolescência, definida como crise de crescimento
complexo com perdas e lutos, que eram vividos com ansiedade e com condutas que
chocavam os valores vigentes.

Surgiu a necessidade de novos estudos, novas publicações e uma nova forma de


ver a adolescência. Na década de 60 surgem as primeiras publicações científicas na área
sobre as causas que determinavam condutas e comportamentos juvenis.

Os pioneiros na América Latina foram Arminda Aberastury e Maurício Knobel


da Associação Psicanalítica Argentina, com a publicação do livro “La Síndrome del
Adolescente Normal”, na universidade de La Plata”, que falava da crise de crescimento
da adolescência que gerava ansiedade.

Unidade 1 I Psicologia do Desenvolvimento 15


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A teoria de Maurício Knobel descreve as características da adolescência normal,


que serão melhor estudadas posteriormente, por meio de uma série de manifestações e
conduta que constituem a Síndrome da Adolescência Normal.

• Busca de si mesmo e da identidade.

• Tendência grupal.

• Necessidade de intelectualizar e fantasiar.

• Crises religiosas.

• Evolução sexual manifesta.

• Atitude social reivindicatória.

• Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta.

• Separação progressiva dos pais.

• Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo

Essas contribuições de Maurício Knobel constituem uma das mais importantes


abordagens ao conhecimento da adolescência, para nossa época.

Maurício Knobel vem, então, para o Brasil divulgar sua teoria, com objetivo de
mostrar e preparar os profissionais que trabalhavam com a adolescência (médicos,
psicólogos, assistentes sociais e professores), os novos estudos e necessidade de
modificações na ação terapêutica desse público.

Esse importante movimento de discussão sobre a prática e introdução de uma


postura terapêutica, para a compreensão da adolescência, rompeu com a ortodoxia
psicanalítica e surgiu o nascimento dos neofreudianos, autores que agregaram as questões
sociais à psicanálise.

Para isso Maurício Knobel teve que passar um tempo no Brasil, organizando grandes
Congressos sobre adolescência, e mobilizando pessoas para disseminar a proposta em
outros estados do Brasil.

• Pioneiro no Brasil (dois polos): Rio de Janeiro: liderado por Carlos Castellar
Pinto; Porto Alegre: liderado por Luiz Carlos Osório.

• Movimento à introdução de uma postura terapêutica que rompeu com a ortodoxia


psicanalítica (Nascimento dos Autores Neofreudianos). Segue o resultado da
conquista desse movimento no Brasil e os avanços consagrados:

16 Psicologia do Desenvolvimento I Unidade 1


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• Criação APPIA (Associação de Psiquiatria e Psicologia da Infância e


Adolescência). Realização de grandes congressos;
• Implantação de equipe multidisciplinar nos hospitais psiquiátricos e
ambulatórios psicoterápicos;
• Criação da revista de psicologia para publicação mensal de artigos sobre a
adolescência;
• Criação ASBRA (Associação Brasileira de Adolescência);
• Adolescência hoje: O direito dos psicólogos de fazerem formação em
psicanálise;
• Criação de ambulatórios para psicoterapia breve e focais aos adolescentes;
• Criação de Medicina especializada na saúde do adolescente (Hebiatria);
• Protocolo de Psicoterapia focada nos adolescentes;
• Novas Teorias de desenvolvimento para a compreensão da adolescência
surgiram;
• Incremento da grupoterapias para esse público específico;

Dessa forma inicia-se todo um movimento no Brasil de mudança de visão da


adolescência e desenvolvimento de novas práticas psicoterapêuticas. Maurício Knobel é
exilado da Argentina, e acaba morando no Brasil, sendo professor da PUC de São Paulo e
trabalhando na clínica atendendo adolescentes por 40 anos.

A literatura mostra que após alguns anos no Brasil o presidente da Argentina


pediu para Maurício Knobel, que era uma celebridade a nível mundial, voltasse ao país
e manda um recado dizendo agora “SOU BRASILEIRO”. Permanece no Brasil criando nas
universidades centros de atendimento ao adolescente, pós-graduação em desenvolvimento
da adolescência.

Enfim, esse foi um breve recorte teórico da história da adolescência no Brasil.

ATENÇÃO
Por que a adolescência passou a ocupar, em nossos dias, o centro do interesse
especulativo e das preocupações dos profissionais da área das ciências humanas?

Unidade 1 I Psicologia do Desenvolvimento 17


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O interesse universal pelo estudo da adolescência atualmente advém de duas


circunstâncias principais:

a. A explosão demográfica de pós-guerra, que trouxe como imediata consequência


o significativo crescimento percentual da população jovem mundial. Basta que
se lembre, que nos últimos 25 anos, a população do Brasil duplicou, para que se
perceba o quanto é significado o contingente de jovens em nosso país. Estima-
se que mais de ¼ da população brasileira é constituída de adolescentes.

b. A ampliação da faixa etária com as características da adolescência, ou seja,


se antes a adolescência era tida meramente como aquela etapa de transição
entre a infância e a idade adulta que coincidia com os limites biológicos da
puberdade, atualmente a adolescência é definida por elementos que, embora
balizados pelas características psicológicas do momento evolutivo em questão,
são marcadamente influenciadas pelas contingências socioculturais.
Assim, o estudo da adolescência hoje extrapola o interesse cognitivo sobre
uma etapa evolutiva do ser humano, por meio dele, procura entender todo um
processo de aquisições e motivações da sociedade em que vivemos.

FINALIZANDO O TEMA

Ao considerarmos a adolescência como um processo histórico, estamos assumindo


que olhar o adolescente atualmente, requer situá-lo em uma sociedade cujas mudanças
vertiginosas nos põem, constantemente, frente a novos valores, novos desafios e
dilemas no campo da Psicologia e da Educação de crianças e adolescentes. O conceito
de adolescência é mutável e as características definidas pelas teorias não podem ser
pensadas de modo descontextualizado.

Falar da adolescência hoje nos leva a falar de temas importantes como violência,
o uso de drogas, as doenças sexualmente transmissíveis, a influência dos meios de
comunicação em massa, o uso abusivo da internet, o consumismo, entre outros.

O consumo de estereótipos construídos e mantidos, principalmente, através da


mídia moldam comportamentos, definem valores e até sentimentos entre os adolescentes.
O que torna mais relevante ainda essa discussão no campo da formação de professores e
demais educadores, especialmente aqueles que trabalham no ensino médio, diretamente
com o público jovem.

Torna-se fundamental desmistificar temas, oportunizar conhecimentos que ajudem


a melhorar as relações docente e discente, refletir sobre a prática pedagógica, entender
o adolescente como ser concreto inserido em um cenário cultural pertencente a uma
classe social, a um tempo e espaços específicos.

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Calligaris (apud BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2001), define a adolescência como um


traço normal da vida moderna, como uma maneira de afirmar a possibilidade de ainda vir
a ser outro. De certo modo, para o autor, ao idealizarmos um modelo de adolescência,
nós adultos estamos buscando reafirmar a liberdade e o campo dos possíveis.

Contudo, não podemos esquecer que o desenvolvimento humano é um ato


contínuo, no qual as diferentes etapas estão profundamente interligadas. A adolescência
se processa na base de uma construção biopsicossocial efetivada na infância, e ao mesmo
tempo, constrói novos alicerces para a vida adulta.

Segue o depoimento escrito de uma adolescente de 17 anos, aluna do terceiro ano


do ensino médio de São Paulo e integrante de um projeto social voltado para a criação
da cultura da paz. “[...] trabalhamos muito para abrir espaço em que adolescentes e
adultos possam se respeitar e viver de uma forma mais feliz cada uma das etapas da visa,
sem ter a necessidade de sufocar qualquer uma”. (CUTOLO, 2002, p. 155).

Queridos alunos, encerramos esta unidade, fazendo uma breve introdução sobre
a adolescência, tomando como referência a concepção de que este é um conceito
construído social, cultural e historicamente, no entanto com questões intrapsíquicas que
precisam ser exploradas.

Para tanto, apresentamos a diferenciação entre adolescência e puberdade,


entendida como o processo das mudanças corporais abruptas e intensas, que marca o
desenvolvimento humano entre a infância e a vida adulta. A partir de tais mudanças, iremos
situar nas próximas unidades as características do adolescente quanto à constituição do
pensamento, formação da identidade e personalidade, sexualidade e afetividade.

Com isto, buscamos apresentar um panorama geral da adolescência e de seus


aspectos centrais e fundamentais para a sua compreensão, a serem discutidos e
aprofundados em unidades subsequentes.

REFERÊNCIAS

ASSIS, S. G., Avanci, J. Q., SILVA, C.M.F., MALAQUIAS, J. V., SANTOS, N.C.,& OLIVEIRA,
R. A representação social do ser adolescente: um passo decisivo na promoção da
saúde. Ciência &Saúde Coletiva, 8, 2003.

BOCK, A.B.; FURTADO, O. TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias – uma introdução ao


estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.

Unidade 1 I Psicologia do Desenvolvimento 19


Disciplina Digital

CALLIGARIS, C. A. Adolescência. São Paulo: Publifolha, 2001.

CLOUTIER, Richard; DRAPEAU, Sylvie. Psicologia da Adolescência. Petrópolis, RJ:


Vozes, 2012.

COSTA, R. A educação na Idade Média: a retórica nova, Notadu: 16, SP, 2008.

CUTOLO, A.P. Adolescência por uma adolescente. In. Adolescências e participação no


cotidiano das escolas. Campinas: Mercado de Letras, 2002. V.C.

GROSSMAN, E. La Adolescência cruzando los signos. Adolescência Latinoamericana, I,


68-74, 1998.

OUTEIRAL, José. Adolescer. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2008.

OZELA, S. Concepções de adolescente/adolescência: Os teóricos e os profissionais.


PUC: SP, 2002.

PALÁCIOS, J & OLIVA, A. A adolescência e seu significado evolutivo. In. Coll, César;
MARCHESI, Álvaro e PALÁCIOS, Jesus. O desenvolvimento psicológico e Educação.
Psicologia Evolutiva. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

PEREIRA, Antônio Carlos Amador. O adolescente em desenvolvimento. São Paulo:


HARBRA, 2005.

SANTOS, Michelle Steiner dos; SILVA, Alessandra; NUNES, Ana Ignez Belém Lima.
Psicologia do desenvolvimento: temas e teorias contemporâneos. Brasília: Liber
Livro, 2009.

SANTROCK, J. W. Adolescência. 8. ed.. Rio de Janeiro, 2003.

SCHIESSL, Cláudia. Slides elaborados para disciplina: psicologia do desenvolvimento


II – Adolescência. 2018.

SOUZA, R. P. Nossos Adolescentes. Porto Alegre: Ed. UFRGS, RG, 1987.

SPRINTHALL, N. A., & COLLINS, W.A. Psicologia do adolescente: uma abordagem


desenvolvimentista. Lisboa: Fundação Caloute Gulbenkian, 2009.

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