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Publicação Original Revista - NeDef169 - Selma Lúcia de Moura Gonzales

O artigo analisa a presidência brasileira do G20 em 2024, destacando inovações nas temáticas abordadas, como a criação de forças-tarefa para combater a fome e a pobreza e mobilizar ações contra a mudança climática. A presidência ocorre em um contexto de fortalecimento da diplomacia presidencial brasileira, com foco em inclusão social e desenvolvimento sustentável. O estudo é exploratório e se baseia em documentos oficiais, sem avaliar a efetividade das propostas apresentadas até o momento.

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Publicação Original Revista - NeDef169 - Selma Lúcia de Moura Gonzales

O artigo analisa a presidência brasileira do G20 em 2024, destacando inovações nas temáticas abordadas, como a criação de forças-tarefa para combater a fome e a pobreza e mobilizar ações contra a mudança climática. A presidência ocorre em um contexto de fortalecimento da diplomacia presidencial brasileira, com foco em inclusão social e desenvolvimento sustentável. O estudo é exploratório e se baseia em documentos oficiais, sem avaliar a efetividade das propostas apresentadas até o momento.

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O G20 Sob a Presidência do Brasil:

o Enfoque Socioambiental, o Incentivo


à Participação Popular e a Busca pelo Consenso*
Selma Lúcia de Moura Gonzales
Doutora em Geografia Humana (USP), Mestre em Gestão do Espaço Regional (UnB) e graduada em
Geografia (UEL). Professora e pesquisadora na Escola Superior de Defesa (linha de pesquisa “Geopolítica,
Diplomacia e Desenvolvimento”) e coordenadora acadêmica do curso de Geopolítica e Defesa.

Resumo Abstract

Este artigo tem por objetivo analisar a presi- This article aims to analyze the Brazilian conduct
dência brasileira do G20, em 2024, identifi- with the G20 presidency in 2024, identifying possible
cando possíveis inovações quanto às temáticas innovations regarding the themes and propositions
e proposições apresentadas, assim como as presented, as well as the construction of consensus
construções de consensos em torno dos temas around the topics discussed. Brazil assumes this role
discutidos. O Brasil assume essa função num in a Brazilian political context where the so-called
contexto político onde ganha força, novamente, presidential diplomacy is gaining strength again.
a chamada diplomacia presidencial. A autora Among the innovations are the creation of two tem-
analisa em particular a criação de duas forças- porary and joint task forces: Task Force for the Launch
tarefa temporárias e conjuntas: Força-Tarefa para of a Global Alliance against Hunger and Poverty;
o Lançamento de uma Aliança Global contra a Task Force for Global Mobilization against Climate
Fome e a Pobreza; Força-Tarefa para a Mobi- Change; and an initiative on Bioeconomy.
lização Global contra a Mudança do Clima; e
uma iniciativa sobre Bioeconomia. Keywords: G20 2024; Brazilian Presidency; Socio-
environmental Approach.
Palavras-chave: G20 2024; Presidência Brasi-
leira; Enfoque Socioambiental.

Artigo recebido: 11.11.2024


Aprovado: 20.11.2024
https://doi.org/10.47906/ND2024.169.04

* Este artigo respeita a grafia em uso no Brasil.

Dezembro 2024
N.º 169 85 Nação e Defesa
pp. 85-105
Selma Lúcia de Moura Gonzales

1. Introdução

Ao divulgar o planejamento dos trabalhos e agenda de atividades desenvolvidas


para a presidência rotativa do G20, ocorrida no período de 1 de dezembro de 2023
a 30 de novembro 2024, o governo brasileiro imprimiu uma frase que se tornaria
a marca dos eventos: Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável. Tal
perspectiva colocou em evidência um posicionamento brasileiro que retomava valores
intrínsecos à presidência do governo Luís Inácio Lula da Silva (Lula) desde o seu
primeiro mandato em 20031: o combate à fome e à desigualdade, agora incorporando
também temas da agenda ambiental, tão premente nos dias de hoje. Para Ramalho
(2024, p. 1) “no futuro, os historiadores que examinarem os dois primeiros governos
de Lula realçarão dois conjuntos de compromissos que marcaram a ação do governo
federal na primeira década deste século: (1) a redução da pobreza, o combate à fome
e à desigualdade; e (2) o compromisso com a democracia e com a gestão participativa
no Brasil e no mundo.”
Tais discursos são retomados no terceiro mandato do governo Lula e inseridos na
agenda brasileira junto à presidência do G20. Isso ficou evidente na alocução do
Presidente no encerramento da 18.ª Cúpula de Chefes de Governo e Estado do G20,
realizado em Nova Déli em 2022, quando lançou os três principais eixos da presidência
brasileira ao G20 que aconteceria em 2024: “(1) inclusão social e combate à fome e
à pobreza; (2) transições energéticas e promoção do desenvolvimento sustentável
em suas dimensões econômica, social e ambiental; e (3) reforma das instituições de
governança global” (Brasil, 2024, p. 4).
Cabe destacar que, pela primeira vez, desde a fundação do Grupo dos 20, em1999,
o Brasil assume essa função no formato atual do grupo. Em 2008 o Brasil havia
presidido o G20, mas o evento tinha nível ministerial.
Tal fato se vincula ao atual contexto político brasileiro onde ganha força, novamente,
a chamada diplomacia presidencial2, que carrega forte influência na indicação do
Brasil para gerir ou liderar alguns fóruns. Pouco tempo após a assunção do cargo, em
janeiro de 2023, o governo já anunciava três tarefas de grandes responsabilidades que
ocorreriam ao longo de sua gestão (2023 a 2026) no que concerne à política externa e

1 Os dois primeiros mandatos do Presidente Lula foram no período de 2003 a 2010.
2 Em 2023, no primeiro ano do seu terceiro mandato, o Presidente visitou 24 países, se reunindo
com chefes de governo ou de Estado de 57 países diferentes. Por meio da chamada diplomacia
presidencial, quando o chefe do executivo se envolve diretamente nas relações internacionais do
país, ajudou a recolocar o Brasil na mesa dos grandes debates e agenda internacionais. Somente
no ano de 2023, dentre as 17 cúpulas em que esteve, Lula representou o Brasil na Assembleia
Geral da ONU, participou da reunião dos líderes do G7 no Japão e do G20 na Índia, liderou o
relançamento da Comunidade dos Países Latino­‑Americanos e do Caribe (CELAC), em Buenos
Aires, participou ativamente no grupo dos BRICS, na África do Sul e discursou na abertura da
COP 28 nos Emirados Árabes Unidos (Martins, 2023).

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O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

inserção internacional do Brasil. A primeira foi a presidência rotativa do G20 (2024),


a segunda, a realização da 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima (Conferência das Partes – COP 30) (novembro de 2025) em Belém, cidade
situada na região Amazônica, e a presidência dos BRICS, também no ano de 2025.
Nesse contexto, este artigo tem por objetivo analisar a condução brasileira na presi-
dência do G20, identificando possíveis inovações quanto às temáticas e proposições
apresentadas, assim como as construções de consensos em torno dos temas discutidos.
Metodologicamente, este artigo apresenta uma pesquisa exploratória com base em
documentos oficiais, e resultados parciais dos trabalhos desenvolvidos ao longo da
presidência brasileira à frente do G20 haja vista que o término desta pesquisa foi
anterior ao encerramento da Cúpula de Líderes em meados de novembro de 2024.
Foram analisadas as proposições, assim como as notas técnicas e conceituais dos
grupos de trabalho. Urge esclarecer que este artigo não tem a pretensão de avaliar a
efetividade das proposições, haja vista que a presidência brasileira à frente do G20
ainda está ocorrendo e tal análise somente seria possível após decorridos tempo sufi-
ciente aos possíveis desdobramentos de tais recomendações. Urge também esclarecer
que, por ser uma pesquisa exploratória, o foco está sobre a dinâmica e estrutura do
fórum e suas particularidades sob a presidência brasileira, o que prescinde de uma
discussão teórica­‑conceitual mais aprofundada.
Esta pesquisa está estruturada em três partes. A primeira apresenta a estrutura e
o histórico da criação do G20, a segunda, a agenda de atividades integrada pelos
grupos de trabalho, forças­‑tarefas e iniciativa e, por fim, os principais resultados e
recomendações.

2. Breve Histórico do G20

Também conhecido como Grupo dos Vinte, o G20 é composto atualmente por 19
países (África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China,
Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México,
Reino Unido, Rússia e Turquia) e duas organizações regionais (União Africana e a
União Europeia). Foi criado no ano de 1999 em um contexto de crises econômicas
internacionais, desde a do México de 1994, passando pela dos Tigres Asiáticos, que
atingiu especialmente Coreia do Sul, Indonésia e Tailândia, e a da Rússia em 1998.
Para Lyrio e Pontes (2024, p. 18), “as crises da década de 1990 ocorreram em meio a
questionamentos sobre as formas ortodoxas de resposta e a profundas divergências
de diagnósticos quanto a causas e tratamento. […] A isso se acrescia o fato de que
os países mais afetados pelas crises não tinham presença significativa nas principais
instâncias internacionais encarregadas de oferecer soluções aos problemas econô-
micos e financeiros globais”. Assim, esse novo arranjo foi pensado para envolver,

87 Nação e Defesa
Selma Lúcia de Moura Gonzales

além dos países do G7, outras economias emergentes e em desenvolvimento, mas


com participação considerável no comércio e fluxo financeiro mundial, a exemplo
da China, Índia, Brasil, Turquia etc.
O G20 foi estruturado inicialmente como um fórum multilateral integrado por
ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais com o objetivo de debater
questões econômicas e financeiras mundiais. Era o G203 financeiro. Foi gestado dentro
do G7, grupo composto pelas maiores economias do mundo, como uma tentativa de
fortalecer a coordenação internacional na área financeira4. A proposta inicial partiu
do então ministro das Finanças do Canadá, Paul Martin, e foi imediatamente aceite
pelo secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers. Em um documentário
sobre a história da criação do G20, de 2018, Paul Martin alerta sobre a necessidade de
cooperação, único caminho para a resolução dos problemas prementes enfrentados
pela comunidade global e que essa foi a ideia por trás da criação do G20. “After
experiencing the financial crises of the 1990s, Martin and Summers were convinced
that the existing Group of Seven was not enough – there needed to be more voices
at the table” (CIGI, 2018).
Gestado e integrado pelos países do G7, a proposta para o G20 incorporou algumas
características daquele fórum, como a ausência de uma estrutura formal e um secreta-
riado, presidências rotativas anuais e indicação de um representante pessoal (Sherpa)5
dos chefes de Estado e de Governo, que participam dos diálogos e supervisionam as
negociações, discutem pontos que formam a agenda da cúpula e coordenam a maior
parte do trabalho, ou seja, são os líderes de cada país que encaminham as discussões
e acordos até a cúpula final com chefes de Estado e de Governo.
Entre 1999 e 2008, o G20 Financeiro teve um papel secundário, pois, após a crise
financeira asiática, a economia global foi se recuperando e crescendo. Entretanto, os
países emergentes estavam insatisfeitos com a estrutura institucional existente, que
não refletia seu peso crescente. No âmbito econômico, o FMI e o Banco Mundial já
não representavam adequadamente as economias em desenvolvimento. No campo
político, surgiram iniciativas como o G4 (Alemanha, Brasil, Índia e Japão) para

3 Importa esclarecer que o G20 Econômico-Financeiro é diferente do chamado G20 Comercial,


criado em 2003 durante a V Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio
(OMC), na Rodada de Doha, por meio de articulação do Brasil e da Índia. É composto apenas
por países em desenvolvimento e concentrou sua agenda em discutir a liberalização do comércio
de produtos agrícolas, diminuindo o protecionismo para que os países emergentes acessassem
os mercados dos países desenvolvidos.
4 “The G20’s work will focus on translating the benefits of globalization into higher incomes and
better opportunities for people everywhere” (G7 Information Centre, 1999).
5 Os Sherpas são uma etnia da região montanhosa do Nepal, que em linguagem tibetana significa
“povo do leste”. São encarregados de acompanhar e ajudar os montanhistas/alpinistas que
almejam chegar ao topo do Monte Everest. Sem suas habilidades, seria quase impossível chegar
ao cume da montanha (Brasil, 2024).

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O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

pressionar por uma reforma do Conselho de Segurança da ONU. No comércio, o


G20 Comercial destacou distorções no mercado agrícola. Mesmo com essas pressões,
o G20 permaneceu focado em discussões econômicas. Para acomodar os interesses
dos emergentes, houve iniciativas como o “G8+5” (com a inclusão de África do Sul,
Brasil, China, Índia e México) e o “processo de Heiligendamm” em 2007, que propôs
uma cooperação mais estruturada. No entanto, os emergentes continuavam apenas
como “convidados” nas discussões, limitados a temas definidos pelos países do G8,
evidenciando a inadequação desse formato para lidar com as mudanças globais e a
ascensão dos países em desenvolvimento (Lyrio e Pontes, 2024).
Em 2008, a crise causada pela quebra do banco Lehman Brothers, nos EUA, se espa-
lhou para diversos países, especialmente europeus, resultando em desaceleração
econômica e desconfiança sobre a saúde da economia mundial. Para Cosendey
(2011), se em 1999 a crise dos países periféricos causou instabilidade financeira no
sistema internacional, em 2008 foi provocada pelos países do centro. Nas palavras
do autor (p. 83):

“quando o G20 Econômico­‑Financeiro foi criado em 1999, na esteira das crises asiática,
russa e brasileira, para congregar os principais países avançados e os maiores países em
desenvolvimento, o mundo havia mudado. Constatava­‑se que a periferia havia crescido
e, pela via da globalização financeira, podia afetar as economias centrais. O Grupo foi
formado […] mas era indisfarçável o objetivo de trazer os grandes países ‘emergentes’ a
práticas e comportamentos considerados adequados para o prosseguimento sem sobres-
saltos da internacionalização dos fluxos financeiros. Quando esse mesmo G20 se tornou
uma reunião de chefes de Estado e de governo esse autodeclarou, em Pittsburgh, em 2009,
o principal foro para a cooperação econômica internacional entre seus membros, o mundo
havia mudado de novo. Era o centro quem gerava a crise e constatava que a periferia era
essencial na recuperação, e que, em boa medida, as práticas e comportamentos antes con-
siderados adequados estavam por trás da maior crise econômica desde a década de 1930”.

Entre 2009 e 2010 as reuniões de cúpula se realizaram duas vezes por ano, a partir de
2011 elas passam a ser anuais. Também, houve uma ampliação na agenda de temas
e os trabalhos são conduzidos ao longo do ano em duas faixas paralelas de atuação,
uma conduzida pelos ministros das Finanças e presidentes de Banco Centrais de
países­‑membros, a outra pelos emissários pessoais dos líderes do G20 (sherpas).
Enquanto a trilha de finanças trata de assuntos macroeconômicos estratégicos, a trilha
de sherpas supervisiona as negociações, discutem os pontos que formam a agenda da
cúpula de líderes e coordenam a maior parte do trabalho. Nas duas trilhas existem
grupos de trabalho temáticos formados por representantes dos governos dos países­
‑membros e dos países e organizações internacionais convidadas (Brasil, 2020, p. 8).
A primeira cúpula de chefes de Estado e de Governo do G20 foi realizada em novembro
de 2008, em Washington D.C., Estados Unidos, por iniciativa do Presidente George

89 Nação e Defesa
Selma Lúcia de Moura Gonzales

W. Bush, objetivando, especificamente, discutir medidas para conter a crise financeira


global. Naquele ano o G20 encontrava­‑se sob a presidência rotativa do Brasil e já havia
ocorrido uma reunião de ministro das Finanças e presidentes de Bancos Centrais no
Brasil, na cidade de São Paulo. Para Lyrio e Pontes (2024), no final de 2008 ainda não
estava claro se o G20 se consolidaria como um foro permanente para crises globais,
para além do âmbito econômico e financeiro. As discussões focavam apenas na crise
financeira global, refletido no título do evento: “Cúpula sobre Mercados Financeiros
e Economia Mundial”. A declaração dos líderes limitou­‑se a compromissos econô-
micos, apontando que a coordenação “inconsistente ou insuficiente” das políticas
macroeconômicas contribuíra para a crise. Do resultado dessa cúpula foi aprovado
o Plano de Ação para implementar reformas no funcionamento das instituições
financeiras e intensificar a cooperação entre reguladores, promovendo participação
mais ampla das economias emergentes.
A foto abaixo ilustra a primeira cúpula de chefes de Estado e de Governo do G20,
com o presidente chinês ao lado do presidente americano, sinalizando um contexto
geopolítico que, alguns anos depois, seria consideravelmente alterado e colocaria
em evidência as fortes disputas geoestratégicas e geoeconômicas entre China e EUA.

Figura 1
Foto dos chefes de Estado e de Governo da 1.ª Cúpula do G20 em Washington (EUA)

Fonte: https://www.g20.org/

O Quadro 1 abaixo ilustra a sequência da presidência rotativa do G20. As reuniões


de Cúpula começam a ocorrer em 2008, sendo a primeira por iniciativa dos EUA.
Nesse ano o Brasil estava responsável por coordenar as reuniões dos ministros das
Finanças e presidentes dos Bancos Centrais. Fato que chama a atenção é a sequência,
desde 2022, de presidências de países do chamado “Sul Global”: Indonésia (2022),
Índia (2023), Brasil (2024) e a próxima, África do Sul (2025).

Nação e Defesa 90
O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

Quadro 1
Presidência rotativa do G20 Financeiro e Cúpula de Líderes

1999 Fundação 2012 México

1999 Canadá 2013 Rússia

2000 Canadá 2014 Austrália

2001 Canadá 2015 Turquia

2002 Índia 2016 China

2003 México 2017 Alemanha

2004 Alemanha 2018 Argentina

2005 China 2019 Japão

2006 Austrália 2020 Arábia Saudita

2007 África do Sul 2021 Itália

2008 Brasil (1.ª Cimeira – Washington) 2022 Indonésia

2009 Reino Unido 2023 Índia

2010 Coréia do Sul 2024 Brasil

2011 França 2025 África do Sul

Fonte: G20 Information Centre (https://www.g20.utoronto.ca/ministerials.html).

Ao longo dos anos foram incorporados às agendas das cúpulas do G20 outros temas,
como combate à corrupção, fortalecimento das instituições globais, desenvolvimento
inclusivo, luta contra o terrorismo, empoderamento das mulheres, desafios ambien-
tais, desemprego e renda, igualdade de gênero, desenvolvimento sustentável, dentre
outros, o que, de certa maneira, trouxe para o interior do G20 Financeiro temas que
também são discutidos em outros fóruns.
Lyrio e Pontes (2024, p. 63) afirmam que “interpolaridade” é o termo que sintetiza,
mais adequadamente, o modo de funcionamento do G20. Significa uma simbiose
entre a crescente multipolaridade e a interdependência entre os países do globo.

“Segundo essa ideia, diversas crises no campo econômico, ambiental ou energético


só poderão ser devidamente enfrentadas por meio de ação internacional coordenada.
Assim, a cooperação é indispensável, mesmo entre potências rivais num contexto mul-
tipolar. E para que esse diálogo ocorra, é importante que existam espaços que propiciem
interação regular entre os líderes, em especial nos momentos de crise e conflagração. É
esse o papel do G20: contribuir para uma governança global mais estruturada, ainda
que imperfeita” (p. 64).

91 Nação e Defesa
Selma Lúcia de Moura Gonzales

3. A Presidência Brasileira do G20

A escolha de país para a presidência rotativa do G20 segue um rito relativamente


informal. A prática consiste em que o país interessado manifeste essa intenção ao seu
grupo de pertença e, posteriormente, são realizadas consultas com todos os membros
do G20 para obter um consenso. Um consenso também surgiu sobre princípios para
orientar a seleção de cadeiras futuras, que deve haver uma rotação anual equitativa
entre todas as regiões e entre países em diferentes níveis de desenvolvimento (G20
Report, 2007).
Os países foram divididos em cinco grupos buscando uma relativa lógica geográfica,
porém não aplicadas a todos os grupos, a exemplo do grupo 1 e 2.

Quadro 2
Grupos do G20 – rotação das cadeiras

Group One GroupTwo Group Three Group Four Group Five


(2001, 2006, etc.) (2002, 2007, etc.) (2003, 2008, etc.) (2004, 2009, etc.) (2005, 2010, etc.)

Australia lndia Argentina France China

Canada Russia Brazil Germany Indonesia

Saudi Arabia South Africa Mexico Italy Japan

United
United States Turkey — Korea
Kingdom

Fonte: G20 Report, 2007, p. 130 (https://www.g20.utoronto.ca/docs/g20history.pdf).

Por meio do Decreto nº 11.561, de 13 de junho de 2023, ficou instituída a Comissão


Nacional para a Coordenação da Presidência do G20 pelo Brasil, contando com a
representação de 39 órgãos e entidades. Esse documento estabeleceu as instâncias
de governança para a participação na presidência rotativa (de 1 de dezembro de
2023 a 30 de novembro de 2024) e na troika6 do G20 (até 30 de novembro de 2025). A
19.ª Cúpula do G20 será realizada nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, na cidade
do Rio de Janeiro.

6 Troika: trio de membros formado pelo último ocupante da presidência do grupo, o atual e o
próximo presidente. O governo que ocupa a presidência coordena o grupo, com apoio dos
outros dois. A troika de 2024 é formada pela Índia (presidência de 2023), Brasil (presidência
de 2024) e África do Sul (presidência de 2025). Esses países integram também o fórum IBAS
(Fórum de Diálogo Índia­‑Brasil­‑África do Sul), uma iniciativa trilateral desenvolvida com o
objetivo de promover a cooperação Sul­‑Sul. O IBAS foi formalmente lançado em 6 de junho
de 2003.

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O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

Além dos 19 países e das duas organizações (União Africana e União Europeias,)
integrantes do G20, Brasil convidou mais sete países a participar do calendário
completo de reuniões e eventos: Angola, Egito; Emirados Árabes Unidos; Espanha;
Nigéria; Noruega; Portugal; Singapura além de 12 (doze) organizações7.
Como o G20 possui uma estrutura informal, sem uma secretaria permanente, a
presidência rotativa organiza os fluxos de trabalho, com o apoio dos demais países
da troika, em duas faixas paralelas de atuação: a Trilha de Sherpas, comandada por
emissários pessoais dos líderes do G20 e a Trilha de Finanças, comandada pelos
ministros das Finanças e Bancos Centrais dos países­‑membros. O Sherpa indicado
pelo governo brasileiro foi o embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos
Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores e a coordenadora
da Trilha de Finanças foi a economista e diplomata Tatiana Rosito, secretária de
Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda. Um fato inovador é que sob a
presidência brasileira as duas trilhas têm se aproximado e trabalhado conjuntamente
desde o início das reuniões do G20.
A estrutura do G20 em 2024 contempla a Trilha de Sherpas, a Trilha de Finanças e
o G20 Social.

3.1. Trilhas de Sherpas

A Trilha de Sherpas em 2024 foi composta por 15 grupos de trabalho, duas forças­
‑tarefa e uma iniciativa. Os temas e os grupos de trabalho têm sido ampliados a
cada cúpula do G20. Em 2022 eram 13 grupos, em 2023 foi acrescentado mais um
(empoderamento de mulheres) durante a presidência da Índia e em 2024, outro grupo
se somou (diálogo sobre pesquisa e inovação), apresentado pelo Brasil.
O quadro abaixo, com informações extraídas da página oficial do G20 Brasil 2024,
resume os temas, objetivos e resultados parciais obtidos pelos grupos de trabalhos,
forças­‑tarefa e a iniciativa da Trilha de Sherpas.

7 Organização das Nações Unidas (ONU); Organização Mundial do Comércio (OMC); Organi-
zação Mundial da Saúde (OMS); Banco Mundial (BM); Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO); Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO); Organização Internacional do Trabalho (OIT); Fundo Monetário Interna-
cional (FMI); Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD);
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Novo Banco de Desenvolvimento (NDB);
Corporação Andina de Fomento (CAF).

93 Nação e Defesa
Selma Lúcia de Moura Gonzales

Quadro 3
Trilha de Sherpas

Grupos de Trabalho

Tema Objetivo Resultados parciais/finais


Promover a cooperação Declaração ministerial por consenso:
internacional para a agricultura quatro eixos: segurança alimentar,
mundial: segurança alimentar, enfrentamento das mudanças
Agricultura

agricultura sustentável, inovação climáticas, inclusão social e combate à


tecnológica e adaptação às fome; promoção de práticas agrícolas
1.

mudanças climáticas. sustentáveis; importância do comércio


local e internacional na distribuição de
alimentos; e o apoio ao desenvolvimento
econômico sustentável.
Formular princípios e padrões Consenso Ministerial sobre Práticas
Anticorrupção

anticorrupção que fortaleçam a Anticorrupção dos países do G20. Apoio


implementação dos principais ao Plano de Ação Anticorrupção do G20
2.

instrumentos internacionais, em (2025­‑2027).


particular a Convenção das Nações
Unidas contra a Corrupção.
Fortalecer os mecanismos de Declaração aprovada por consenso:
comércio e investimento, promover estabelece nove princípios voluntários
Investimentos
Comércio e

o crescimento do comércio global, para orientar os países do G20 na


a coordenação e cooperação entre implementação de políticas que alinhem
3.

as políticas de investimento, o comércio internacional com objetivos


apoiando negociações multilaterais de desenvolvimento sustentável.
e cadeias de ganho de valor globais
inclusivas.
Fomentar discussões e ações que Declaração ministerial publicada, mas
visem ao aproveitamento do com o dissenso da Argentina em tópicos
potencial transformador da cultura específicos (6 a 8). Pautas: diversidade
Cultura

na sociedade, seu impacto na cultural e inclusão social; ambiente


4.

economia e no desenvolvimento digital e direitos autorais; economia


sustentável e inclusivo, bem como criativa e desenvolvimento sustentável
a promoção de uma cultura de paz e preservação, salvaguarda e promoção
e harmonia entre os povos. do patrimônio cultural e da memória.
Estabelecer uma agenda de Declaração ministerial por consenso:
Desenvolvimento

desenvolvimento e redução da necessidade de reduzir as desigualdades


pobreza, em coordenação com dentro e entre os países e promover
os demais grupos de trabalho e oportunidades para todas as pessoas,
5.

engajar países em desenvolvimento independentemente de idade, sexo,


não membros, aos trabalhos do deficiência, raça, etnia, origem, religião
G20. ou status econômico ou outros status.
[continua]

Nação e Defesa 94
O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

Tratar de temas relacionados à Declaração por consenso: compromissos


Economia Digital conectividade, ao governo digital, para garantir infraestrutura, inclusão
à integridade da informação e à digital e melhor conectividade;
inteligência artificial. governo digital para ampliar o acesso
6.

aos serviços públicos; sistemas de


Inteligência Artificial mais inclusivos
e justos; combate à desinformação na
internet e integridade da informação.
Valorização de profissionais da Declaração aprovada por consenso:
educação e a conexão de práticas financiamento adequado, integração
Educação

sobre desenvolvimento sustentável tecnológica, participação da comunidade


7.

entre gestores e profissionais. escolar e valorização dos professores


em todas as esferas, como base de uma
educação inclusiva e de qualidade.
Apoiar os países a abordarem Declaração publicada com dissenso da
a desigualdade de gênero e Argentina. Temas: igualdade de género,
Empoderamento
de mulheres

impulsionar o empoderamento autonomia econômica, economia da


das mulheres em suas diferentes prestação de cuidados, misoginia e
8.

dimensões. Criado em 2023 na violência de gênero e ação climática,


presidência indiana do G20. participação dos esforços de paz
(prevenção e resolução de conflitos,
mediação e operações de paz).
Avançar no acesso e na Declaração aprovada por consenso:
Pesquisa e inovação

transferência de tecnologia para inovação aberta como base para a


os países em desenvolvimento, colaboração global, desenvolvimento de
reduzindo as desigualdades e tecnologias voltadas para a neutralidade
9.

promovendo o desenvolvimento de carbono e a redução de emissões de


econômico inclusivo, justo e gases de efeito estufa e importância da
sustentável. Criado durante o G20 Amazônia para pesquisas focadas na
Brasil. sustentabilidade da floresta tropical.
Discutir a adaptação frente a Consenso na declaração: ampliação
Sustentabilidade

e Climática

eventos climáticos extremos; dos compromissos de enfrentamento


Ambiental

pagamentos por serviços ao acirramento das mudanças do


10.

ecossistêmicos; oceanos; além de clima como a perda de biodiversidade,


resíduos e economia circular. desertificação, degradação dos oceanos e
da terra, seca e poluição no mundo.
Desenvolver ações para criar Declaração aprovada por consenso:
empregos de qualidade e promover emprego de qualidade, trabalho digno,
Emprego

o trabalho decente visando garantir inclusão social, eliminação da pobreza,


11.

a inclusão social e eliminar a combate à fome, tecnologias como meio de


pobreza, com uma transição justa melhorar a qualidade de vida, igualdade
face às transformações digitais e entre homens e mulheres e promoção da
energéticas. diversidade no mundo do trabalho.
[continua]

95 Nação e Defesa
Selma Lúcia de Moura Gonzales

Debater o cenário de transição Aprovados, por consenso, a declaração


Energéticas global para utilização de fontes ministerial e os princípios para
Transições

de energia limpas e sustentáveis transições energéticas justas e inclusivas.


12.

e os caminhos para uma transição


energética justa, acessível e
inclusiva.
Abordar questões críticas Declaração ministerial aprovada por
Redução de riscos

relacionadas à gestão de crises consenso e lançamento de compêndios


e desastres

e catástrofes em escala global. sobre boas práticas de gestão de riscos


13.

Desempenhar papel crucial na em casos de eventos extremos.


promoção da resiliência, prevenção
e mitigação de riscos nos países
membros
Promover o desenvolvimento “Declaração de Belém”, aprovada por
sustentável no setor turístico, com unanimidade, destaca diretrizes para o
Turismo

ações de qualificação e capacitação desenvolvimento sustentável do setor e


14.

com foco na cooperação a cooperação internacional.


internacional e no fortalecimento
das instituições multilaterais.
Abordar questões da saúde global “Declaração de Saúde” aprovada por
e impulsionar a cooperação consenso: compromisso dos países
internacional e ação coordenada, membros em fortalecer a cooperação
Saúde
15.

para a construção de sistemas de internacional em saúde, especialmente


saúde resilientes, com ênfase na em face dos desafios impostos pela
redução de desigualdades. pandemia de Covid­‑19 e outras
emergências sanitárias.
Forças­‑tarefa
Promover o diálogo de alto nível A Força­‑tarefa foi estabelecida pela
contra a mudança do clima

entre governos, instituições presidência brasileira do G20 e teve suas


Mobilização global

financeiras e organismos reuniões inaugurais ao longo de 2024.


internacionais para catalisar o Seu objetivo é consolidar os resultados
alinhamento macroeconômico dos demais grupos de trabalho e
1.

e financeiro global no sentido articular respostas coordenadas das


de implementar os objetivos da Trilhas de Sherpas e de Finanças do G20
Convenção­‑Quadro das Nações ao desafio da mudança do clima.
Unidas sobre Mudança do Clima e
do Acordo de Paris.
[continua]

Nação e Defesa 96
O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

Estabelecer uma Aliança Aprovação da estrutura institucional


Global para angariar recursos da Aliança, por meio de quatro
e conhecimentos para a Documentos Constitutivos: Documento
Aliança Global contra

implementação de políticas Fundacional – “Unidos contra a Fome


a fome e a pobreza

públicas e tecnologias sociais e a Pobreza”; Modelo para a Declaração


comprovadamente eficazes para de Compromisso individual com a
a redução da fome e da pobreza Aliança; Termos de Referência e Marco de
2.

no mundo. A adesão à Aliança Governança; Critérios para conformação


Global está aberta não somente aos da Cesta de Políticas Públicas da Aliança.8
membros do G20, mas a todos os O lançamento oficial da Aliança Global
países interessados. contra a Fome e a Pobreza está previsto
para ocorrer em paralelo à Cúpula de
Líderes do G20, em novembro de 2024.
Iniciativa
Estrutura­‑se em três eixos Definição dos dez Princípios de Alto
Bioeconomia

temáticos: ciência, tecnologia Nível sobre Bioeconomia, voluntários e


e inovação; uso sustentável da não vinculativos.9
biodiversidade; e o papel da
bioeconomia na promoção do
desenvolvimento sustentável.
Fonte: Elaborado pela autora com base em informações disponíveis em:
https://www.g20.org/pt­‑br/sobre­‑o­‑g20/trilhas/trilha­‑de­‑sherpas
8 9

Conforme mostrado no quadro acima, com exceção de duas declarações, as demais


foram concertadas e aprovadas pelos diferentes grupos de trabalho. As declarações
e demais documentos (planos de ação, recomendações, “mapas do caminho” ou
roadmaps e relatórios), necessitam ser aprovados por consenso, o que exige uma
complexa negociação para conciliar posicionamentos por vezes divergentes entre
os Sherpas. Outro aspecto a mencionar é a linguagem do documento, em alguns
casos, bastante genérica e apenas declaratória, não ensejando maiores compromisso.
Conforme esclarecem Lyrio e Pontes (2024, pp. 55­‑56),
“esses documentos não constituem «normas» no sentido formal, estando despidos do
caráter vinculante de resoluções (ou suas variações terminológicas, como decisões ou
diretrizes) adotadas no âmbito de outras organizações internacionais. Não são, tampouco,
«acordos» internacionais que geram obrigações formais. Caso as recomendações deixem
de ser implementadas por um país que integra o G20, não há a previsão de que sofra
represália direta por conta disso, mas são consideráveis o constrangimento e o custo político
do descumprimento, e o risco de que o país venha a enfrentar pressões internacionais e
reprimendas de caráter informal ou unilateral ao esquivar‑se das decisões acordadas”.

8 Para mais informações sobre esses documentos, vide: Final Documents_Global Alliance against
Hunger and Poverty.pdf
9 Vide: G20 Initiative on Bioeconomy (GIB) G20 – High­‑Level Principles on Bioeconomy­‑PT­‑BR.pdf

97 Nação e Defesa
Selma Lúcia de Moura Gonzales

Também, conforme nos informa Lyrio e Pontes (2024), os países do G20 são ligados
pela busca de entendimentos e de consensos por meio de um processo informal
e flexível e não por um quadro jurídico previamente estabelecido, o que advém
daí que os consensos construídos no âmbito do G20 podem influenciar ou mesmo
orientar discussões na ONU ou em qualquer outro foro já estabelecido, porém não
são per se vinculantes.

3.2. Trilha de Finanças

A Trilha de Finanças, diferente da Trilha de Sherpas, está mais voltada para assuntos
macroeconômicos. Está estruturados em sete grupos técnicos, além de uma força­
‑tarefa. O quadro abaixo apresenta uma síntese dos temas tratados em cada grupo.

Quadro 4
Grupos da Trilha de Finanças

Grupos técnicos Temas


São debatidos diretamente pelos ministros das finanças e presidentes
1. Assuntos
de bancos centrais questões relacionadas à estabilidade financeira e
do Setor
ao desenvolvimento de soluções para a área. Não há formalmente um
Financeiro
grupo de trabalho específico.
Criado após a crise financeira global de 2008/2009. Discute políticas
2. Arquitetura
para promover uma arquitetura financeira internacional mais estável,
Financeira
resiliente e equilibrada; questões afetas ao financiamento para o
Internacional
desenvolvimento, gerenciamento da dívida e fluxos de capitais.
Discute questões atualmente relevantes do ponto de vista
3. Economia macroeconômico internacional. Abarca temas conjunturais e
Global estruturais, monitorando riscos e incertezas que afetam o cenário
global e as projeções sobre o desenvolvimento mundial.
Busca mobilizar finanças sustentáveis como meio de garantir o
crescimento e a estabilidade globais, promovendo transições para
sociedades e economias mais verdes, resilientes e inclusivas. Procura
4. Finanças
identificar barreiras institucionais e de mercado a estas finanças,
Sustentáveis
desenvolver opções para superar tais obstáculos e contribuir para
um melhor alinhamento do sistema financeiro internacional com os
objetivos da Agenda 2030 e do Acordo de Paris.
Funciona como uma plataforma inclusiva para os países do G20,
países não pertencentes ao G20 e partes interessadas relevantes para
5. Inclusão aprendizagem entre pares, partilha de conhecimentos, defesa de
Financeira políticas e coordenação. É o principal mecanismo de implementação do
Plano de Ação para a Inclusão Financeira do G20, buscando a inclusão
financeira de pessoas físicas e de Micro, Pequenas e Médias Empresas.
[continua]

Nação e Defesa 98
O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

Discute o financiamento à infraestrutura, incluindo instrumentos


inovadores para mobilizar recursos financeiros. Recentemente,
tem se concentrado em aumentar os recursos para infraestrutura
6.
e desenvolvimento sustentável, com ênfase em cidades e desafios
Infraestrutura
das transições climática, energética e digital. O foco é tornar as
infraestruturas mais resilientes e inclusivas, especialmente em países
em desenvolvimento e vulneráveis.
Centrado em aumentar a eficiência dos sistemas tributários e redução
das desigualdades, com o envolvimento de todos os países-membros
7. Tributação em uma plataforma inclusiva. Não se constitui como um grupo de
internacional trabalho. Os subsídios e formulações construídos entre os países­
‑membros são debatidos e decididos diretamente pelos representantes
dos governos.
Força­‑tarefa
Concebida em 2021, no auge da pandemia de Covid­‑19, como um
fórum para aprimorar o diálogo e a cooperação global em Prevenção,
Força­‑tarefa
Preparação e Resposta (PPR) a pandemias, alinhada à Abordagem de
Conjunta de
Saúde Única e aos objetivos e prioridades da Organização Mundial
Finanças e
da Saúde (OMS). Conta com assistência de sua Secretaria, sediada
Saúde
na Organização Mundial da Saúde (OMS) e com o apoio do Banco
Mundial.
Fonte: Elaborado pela autora com base em informações disponíveis em:
https://www.g20.org/pt­‑br/sobre­‑o­‑g20/trilhas/trilha­‑de­‑financas

Conforme contido no quadro acima, os grupos técnicos da Trilha de Finanças


estão voltados à governança relacionada à macroeconomia, o que inclui entre
seus principais objetivos, a mitigação de riscos na esfera econômico‑financeira
(tarefa que ganhou preeminência no pós‑crise de 2008); a garantia de níveis
adequados de crescimento das economias dos países‑membros; a manutenção
da integridade e resiliência dos sistemas financeiros; e redução de desequilíbrios
globais, evitando‑se, dessa forma, o desencadeamento de crises sistêmicas (Lyrio
e Pontes, 2024, p. 65). Porém, para esses autores, o momento atual é marcado por
retrocessos na coordenação econômica global, como a retomada do protecionismo,
imposição de sanções econômicas e a ruptura de cadeias de valor devido à pande-
mia de Covid­‑19. Países avançados estão adotando políticas industriais agressivas,
contrastando com seu discurso de abertura de mercados, sinalizando que o G20
falhou em promover uma cooperação macroeconômica consistente para reduzir
os desequilíbrios globais.

99 Nação e Defesa
Selma Lúcia de Moura Gonzales

3.3. G20 Social – Grupos de Engajamento

A presidência brasileira do G20 intitulou de G20 Social o espaço de participação e


contribuição da sociedade civil nas discussões e formulações de políticas relacionadas
à Cúpula. O G20 Social inclui atividades de 13 Grupos de Engajamento (engagement
groups), além de iniciativas e eventos coordenados entre trilhas política, financeira
e atores não governamentais e manifestações das sociedades dos diferentes países
do G20, permitindo ampla plataforma para os participantes não governamentais na
formulação de políticas da Cúpula (Brasil, 2023).
Representantes dos engagement groups do G20 definem posições conjuntas sobre os
temas da agenda de cada grupo dentro de seus processos de diálogo independente.
A responsabilidade pelos processos de formação de opinião está inteiramente nas
mãos desses grupos. O trabalho realizado resulta em recomendações que serão
incorporadas aos preparativos da Cúpula de Líderes por meio do processo Sherpa.
Na presidência brasileira do G20, uma sessão de uma das reuniões de Sherpas foi
dedicada exclusivamente à recepção dessas recomendações (Brasil, 2023).
Na sequência, estão listados os atuais engagement groups, o ano de surgimento, em
qual presidência rotativa foram criados e suas áreas de atuação:

– (B20): Business (2010/ presidência do Canadá): conecta a comunidade empresarial


aos governos do G20. O grupo envolve cerca de 1200 representantes empresariais.
– (Y20) Youth (2010/presidência do Canadá): é direcionado a jovens de 18 a 30 anos
e busca possibilitar o diálogo entre jovens dos países membros do G20. Os futuros
líderes de suas nações e do mundo têm a oportunidade de refletir sobre a agenda
prioritária da juventude, influenciar debates e contribuir para a formulação de
políticas públicas.
– (L20) Labour (2011/ presidência da França): representa os interesses dos trabalha-
dores, reunindo representantes dos sindicatos dos países do G20 e das Federações
Sindicais Internacionais, sendo coordenado pela Confederação Sindical Internacional
(CSI) e pelo Comitê Consultivo Sindical (TUAC­‑CSC) da OCDE.
– (T20) Think20 (2012/ presidência do México): reúne think tanks, institutos de
pesquisa do G20 e países convidados e tem por objetivo produzir, debater, conso-
lidar e apresentar ideias sobre como enfrentar os desafios atuais e emergentes que
podem ser tratados pelo G20. Teams tratados em 2024: combate às desigualdades,
à pobreza e à fome; ação climática sustentável e transições de energia inclusivas;
reforma da arquitetura financeira internacional; comércio e investimento para um
crescimento sustentável e inclusivo; transformação digital inclusiva; fortalecimento
do multilateralismo e da governança global.
– (C20) Civil Society (2013/presidência da Rússia): visa assegurar que os líderes
mundiais estejam atentos às recomendações e demandas da sociedade civil orga-

Nação e Defesa 100


O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

nizada. O propósito é promover a proteção do meio ambiente, impulsionar o


desenvolvimento social e econômico e atuar pela garantia dos direitos humanos.
– STARTUP20 (2013/presidência da Rússia): estabelece um diálogo aberto entre as
diversas partes interessadas no ecossistema de startups e tecnologia, assim como
as pequenas e médias empresas (PMEs), destacando as preocupações e desafios
do setor aos líderes do G20.
– (W20) Women (2014/presidência da Austrália): composto por mulheres de setores
da academia, do empreendedorismo e da sociedade civil, que atuam de forma
voluntária, com o objetivo de elaborar recomendações para políticas públicas em
prol do empoderamento econômico de mulheres.
– (S20) Science20 (2017/ presidência da Alemanha): voltado para a área de ciência
e tecnologia. Formado pelas Academias nacionais de ciências dos países do G20,
promove um diálogo entre a comunidade científica e os formuladores de políticas.
– (U20) Urban (2017/ presidência da França): congrega cidades dos países membros
do G20 com o objetivo de promover o debate e a articulação política de recomen-
dações nas pautas de economia, clima e desenvolvimento nas cidades. Participa,
também, do Grupo C40 de Grandes Cidades (C40 Cities), rede global de prefeitos
das principais cidades do mundo que estão unidos em ações para enfrentar a crise
climática, e pelas Cidades e Governos Locais Unidos (United Cities and Local
Governments – UCLG.
– (J20) Supreme Courts and Constitutional Courts (2018/presidência da Argentina):
intercâmbio de ideias e de iniciativas sobre temas jurídicos de relevância na atuali-
dade, de modo a instituir um fórum global para órgãos de jurisdição constitucional.
– (P20) Parliament (2018/ presidência da Argentina): liderado pelos presidentes
dos parlamentos dos países do G20, visa envolver os parlamentos para fortalecer
a colaboração global e garantir a aplicação prática de acordos internacionais nos
países membros do Grupo dos 20. Entre 2010 e 2018, o P20 funcionou no nível de
reuniões de consulta e só foi estruturado em seu formato atual em 2018.
– (SAI20) Supreme Audit Institutions (2022/ presidência da Indonésia): busca o
fortalecimento da cooperação entre as Instituições Superiores de Controle (ISCs)
dos países membros do G20, em um compromisso de promover a transparência,
a responsabilidade e a eficácia na governança global.
– (O20) Oceans (2024 – presidência da Brasil): inicialmente articulados pela Indoné-
sia e pela Índia em 2020, na presidência da Arábia Saudita, o grupo O20 começa
efetivamente a desenvolver seus trabalhos sob a presidência do Brasil em 2024.
Seu objetivo é promover o debate e a articulação de recomendações nas pautas de
economia oceânica, preservação e conservação dos oceanos.

O quadro­‑resumo abaixo mostra a sequência temporal e em qual presidência surgem


os grupos de engajamento do G20.

101 Nação e Defesa


Selma Lúcia de Moura Gonzales

Quadro 5
Grupos de Engajamento do G20
Ano de
Presidência Grupo
criação
2010 Canadá B20 – Business (empresários)
2010 Canadá Y20 – Youth (juventude)
2011 França L20 – Labour (trabalho)
2012 México T20 – Think20 (think tanks)
2013 Rússia C20 – Civil Society (sociedade civil)
2013 Rússia STARTUP20 (startups)
2014 Austrália W20 – Women (mulheres)
2017 Alemanha S20 – Science20 (ciências)
2017 França U20 – Urban (cidades)
2018 Argentina J20 – Supreme Courts and Constitutional Courts (cortes supremas)
2018** Argentina P20 – Parliament (parlamento)
2022 Indonésia SAI20 – Supreme Audit Institutions (tribunais de conta)
2024* Brasil O20 – Oceans (oceanos)
** Entre 2010 e 2018, o P20 funcionou no nível de reuniões de consulta.
* Proposta inicial pela Indonésia e Índia em 2020.
Fonte: Elaborado pela autora.

Como observado no quadro acima, houve um gradual aumento no número de grupos


de engajamento, o que consubstancia também maior participação da sociedade em
temas de relevância para diferentes grupos e setores. Se, por um lado, há uma inten-
sificação na participação social, aspecto extremamente relevante, por outro, há ampla
diversificação das temáticas discutidas no âmbito do G20 e aumento significativo
de declarações10 e recomendações, o que pode gerar uma dispersão nos enfoques
de temas prioritários.
No G20 2024 foi estruturada uma programação específica para os grupos de
engajamento e demais entidades da sociedade civil participantes do chamado
G20 Social, na semana anterior à Cúpula de Líderes. Será a Cúpula Social do G20,
envolvendo 271 atividades autogestionadas, além de plenárias para discutir os
eixos temáticos propostos pela presidência brasileira (combate à fome e à pobreza;
transições energéticas e promoção do desenvolvimento sustentável; e reforma da
governança global). Ao final desse evento será elaborado um documento com a

10 Em 2008, a cúpula do G20 realizada em Washington adotou 95 decisões, com foco em questões
de natureza macroeconômica. Em 2021, em Roma, esse número saltou para 225, perpassando
os mais diversos temas, de meio ambiente a questões de saúde. Lyrio e Pontes (2024, p. 55).

Nação e Defesa 102


O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

síntese das recomendações, e entregue ao presidente da África do Sul, que assume


a presidência do G20 em 2025.

4. Considerações Finais

O objetivo deste artigo foi analisar como se deu a presidência do Brasil junto ao G20,
identificando possíveis inovações quanto às temáticas e proposições apresentadas,
assim como as construções de consensos em torno dos temas discutidos. Para tanto,
foi feito inicialmente um breve histórico do surgimento do fórum chamado Grupo
dos 20 ou G20 Financeiro, situando o contexto histórico de sua criação. Em seguida,
houve um detalhamento da estrutura de trabalho que atualmente ocorre nesse fórum,
com a apresentação de suas trilhas e grupos de engajamento.
Quanto à análise da presidência brasileira do G20 e suas inovações apresentadas,
o primeiro aspecto a considerar é o retorno de uma diplomacia presidencial ativa,
recolocando o Brasil como um incentivador do multilateralismo, do diálogo e da busca
pelo consenso. As responsabilidades assumidas pelo governo do Presidente Lula ao
longo dos seus quatro anos de gestão: presidência do G20, COP 30 e Presidência dos
BRICS corroboram essa afirmação.
Quanto ao lema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável” e as
prioridades propostas pelo Brasil (i. inclusão social e combate à fome e à pobreza;
ii. transições energéticas e promoção do desenvolvimento sustentável em suas
dimensões econômica, social e ambiental; iii. reforma das instituições de governança
global), houve uma reação positiva dos países participantes, inclusive com relação
à proposta de lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, a ser
apresentada ao final dos trabalhos, na Cúpula de Líderes do G20. Lembrando que
o Brasil propôs a criação de duas forças­‑tarefa temporárias e conjuntas e uma ini-
ciativa: (a) Força­‑Tarefa para o Lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e
a Pobreza; (b) Força­‑Tarefa para a Mobilização Global contra a Mudança do Clima;
e (c) Iniciativa sobre Bioeconomia. Pensadas com o objetivo de entregar resultados
tangíveis até o final da presidência brasileira do G20, serão extintas ao final do evento
(Brasil, 2023, p. 15)
Também, outro aspecto positivo foi a descentralização das reuniões preparatórias em
15 cidades­‑sede das cinco regiões Brasil: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília
(DF), Cuiabá (MT), Fortaleza (CE), Foz do Iguaçu (PR), Maceió (AL), Manaus, (AM),
Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (sede da cúpula), Salvador (BA), São
Luís (MA), São Paulo (SP) e Teresina (PI). Considerando a extensão territorial do
Brasil (8.515.767,049 km²) e o número de sua população (212.583.750 habitantes), tal
fato favoreceu maior participação de lideranças regionais, enriquecendo os debates,
especialmente nas Trilhas de Sherpas e nos grupos de engajamento.

103 Nação e Defesa


Selma Lúcia de Moura Gonzales

Quanto às negociações, o contexto geopolítico atual é pouco favorável à construção


de consensos, haja vista a existência de dois grandes conflitos armados em curso
e a Rússia, envolvida em um dos conflitos, integrar o G20. Porém, na avaliação do
embaixador e sherpa brasileiro, Mauricio Lyrio, que coordena a Trilha de Sherpas, o
Brasil conseguiu uma fórmula que já foi usada em outras negociações diplomáticas,
num processo em que a presidência brasileira do G20 emite uma declaração sobre
temas geopolíticos e, com isso, as declarações ministeriais podem ser emitidas nor-
malmente sem ficarem refém de textos de geopolítica. Assim, busca­‑se concentrar
a atenção em resultados concretos e evitar a dispersão de esforços em negociação
de textos que se afastam das reais necessidades das pessoas. O grande número de
aprovações por consenso de declarações e diretrizes e a elevada participação da
sociedade nos grupos de engajamento é um reflexo dessa fórmula de trabalho.
Um outro aspecto a ser mencionado foi a articulação entre as trilhas de Sherpas e
Finanças e a concordância sobre o tema apresentado pelo Brasil, da necessidade
de reforma das instituições de governança global. Ao analisar as declarações dos
grupos de trabalho, constatou­‑se que não houve consenso em dois temas: cultura e
empoderamento das mulheres, o que sinaliza tanto as diferenças culturais quanto
possíveis posicionamentos mais conservadores no que se refere aos costumes em
governos de turno. Um outro tema que exige maior esforço para a construção de
consensos é a questão ambiental e, sobretudo as mudanças climáticas. Tais aspectos
poderão ser mais bem identificados após o encerramento da Cúpula de Líderes e a
publicação da Declaração Final. Fato importante a mencionar foi o desastre ambiental
ocorrido no Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul em 2024, com fortes impactos
em número de mortos e na economia da região, lembrando aos decisores que não é
possível desconsiderar os eventos climáticos extremos e seus impactos, inclusive a
interrelação desse tema com as questões de gênero e culturais.
Conforme esclarece Ramalho (2023), a presidência do G20 2024 buscou aumentar a
participação de grupos marginalizados e Estados menos desenvolvidos, propondo
reformas na governança global, incluindo o sistema de Bretton Woods e a ONU.

“O G20 oferece aos governantes oportunidades de construir consensos sobre as medi-


das necessárias para mitigar riscos e reduzir vulnerabilidades globais. Por não ser uma
organização internacional, não se espera dele ações pragmáticas, mas subsídios a serem
levados aos arranjos de governança global, inclusive para orientar a reforma destes. Sua
informalidade não lhe diminui capacidade de influenciar a agenda global” (2023, p. 2).

Por fim, é possível afirmar que, ainda que o G20 2024 não tenha capacidade de
implementação efetiva dos objetivos acordados, permanece como um importante
fórum para dar voz às aspirações e desafios de diferentes grupos e países em um
mundo complexo e desigual, que não pode prescindir do multilateralismo e do for-

Nação e Defesa 104


O G20 Sob a Presidência do Brasil: o Enfoque Socioambiental,
o Incentivo à Participação Popular e a Busca pelo Consenso

talecimento dos mecanismos de governança global, na busca de mitigar os desafios


geopolíticos, econômicos, sociais e ambientais, tão latentes no século XXI. Relembrando
o que afirmaram o Embaixador Maurício Lyrio, Sherpa brasileiro no G20 2024, e o
diplomata Kássius Pontes: “o papel do G20 é contribuir para uma governança global
mais estruturada, ainda que imperfeita” (2023, p. 66).

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Ramalho, A. J., 2023, A presidência brasileira do G20: credibilidade em favor da governança global
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105 Nação e Defesa

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