12/14/2024
Introdução à Psicologia do Desenvolvimento
Perspectiva Psicanalítica:
Desenvolvimento Psicossocial (Erik Erikson)
Prof. Dr. José Luís Costa
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Aula 2 (Erikson) Departamento de psicologia
Objetivos da aula
1. Apreender os pressupostos da perspectiva teórica psicanalítica sobre o
desenvolvimento infantil: desenvolvimento psicossocial de Erikson (os oito estágios
psicossociais);
2. Adquirir uma perspectiva crítica sobre a teoria de Erikson.
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Erik Erikson (1902-1994):
Teoria do desenvolvimento psicossocial
Erikson foi um psicanalista alemão que originalmente fez parte do
círculo de Freud em Viena:
• O autor modificou e ampliou a teoria freudiana, dando ênfase à influência
da sociedade no desenvolvimento da personalidade;
• Erikson foi um pioneiro, ao assumir a perspectiva do ciclo de vida;
• Enquanto Freud sustentava que as primeiras experiências na infância
moldavam permanentemente a personalidade, Erikson afirmava que o
desenvolvimento do ego estende-se por toda a vida;
• Tal como Freud, Erikson acreditava na mudança qualitativa – ambos
propuseram teorias de estágio.
Perspectiva Psicanalítica do desenvolvimento humano
Adaptado de Papalia e Martorell (2022, p. 23)
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Erik Erikson:
Teoria do desenvolvimento psicossocial
A teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson abrange oito estágios ao
longo do ciclo de vida:
(na teoria dos estágios de Erikson, o processo de desenvolvimento do ego, ou self, é
influenciado por fatores sociais e culturais)
Cada estágio envolve aquilo que Erikson originalmente chamou de “crise” na personalidade:
• Um grande tema psicossocial, muito importante naquela altura, e que até certo ponto
continuará sendo um tema pelo resto da vida1;
• De acordo com o autor, estas questões que emergem de acordo com um cronograma
maturacional, devem ser satisfatoriamente resolvidas para o desenvolvimento de um ego
saudável.
1Importa salientar que Erikson ampliou o conceito de “crise” e mais tarde utilizou o termo “conflito”.
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(Martorell; Papalia; Feldman, 2020)
Erik Erikson:
Teoria do desenvolvimento psicossocial
Segundo Erikson, cada estágio requer o equilíbrio entre um traço positivo e um traço
negativo correspondente:
• Apesar da qualidade positiva dever ser predominante, também é necessário algum
grau da qualidade negativa para um desenvolvimento ideal:
• P. ex., o tema crítico da infância, é confiança básica versus desconfiança básica:
• i.e., é preciso confiar no mundo e nas pessoas, mas também é preciso um
pouco de desconfiança para se proteger do perigo;
• A resposta bem-sucedida de cada estágio é o desenvolvimento de uma
“virtude” (ou força particular), p. ex., no primeiro estágio, a virtude da
esperança.
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Erik Erikson:
Teoria do desenvolvimento psicossocial
Para Erikson, a resolução de crises (ou conflitos posteriores) depende da resolução
alcançada nos estágios anteriores:
O que isto quer dizer, é que a resolução bem-sucedida de uma crise coloca a criança numa
posição especialmente boa para lidar com a próxima crise – um processo que, de acordo com
Erikson, ocorre de forma repetida durante toda a vida:
• P. ex., uma criança que desenvolveu com sucesso o sentimento de confiança na infância
estaria bem preparada para o desenvolvimento de um senso de autonomia – o segundo
desafio psicossocial – na primeira infância:
• i.e., a criança se sentir que outros a apoiam, é mais provável que tente desenvolver as suas
capacidades porque sabe que eles estarão presentes para confortá-la, caso falhe.
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Adaptado de Papalia e Martorell (2022, p. 25)
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Erik Erikson (1950): confiança básica versus desconfiança
Primeira infância
(primeiro estágio – 12 a 18 meses)
• Os bebês humanos dependem dos outros para obter alimento, proteção e
cuidados por um período muito mais longo do que a maioria dos mamíferos;
• De acordo com Erikson, esse período prolongado faz com que o primeiro
estágio do desenvolvimento psicossocial seja centrado na formação de um
sentido de confiança.
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Papalia e Martorell (2022, p. 170)
Erik Erikson: confiança básica versus desconfiança
De acordo com Erikson, é quando os bebês desenvolvem um senso de confiança nas
pessoas e nos objetos:
• Este estágio começa no início da primeira infância e continua até por volta dos 18 meses;
• O ideal é que os bebês desenvolvam um equilíbrio entre confiança (que lhes permite
formar relacionamentos íntimos) e desconfiança (que lhes permite aprender a proteger-se):
• Se predominar a confiança, como deveria, a criança desenvolve a esperança e a crença de
que poderá satisfazer as suas necessidades e desejos;
• Se predominar a desconfiança, a criança vê o mundo como hostil e imprevisível e tem
dificuldade para estabelecer relacionamentos.
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Erik Erikson (1950): autonomia versus vergonha e dúvida
(segundo estágio – 18 meses a 3 anos)
Para Erikson, este estágio do desenvolvimento psicossocial, dá-se quando a criança
atinge o equilíbrio entre a autodeterminação e o controle por parte de outros:
• É um estágio marcado pela passagem do controle externo para o autocontrole;
• Ao ter atravessado a primeira infância com um senso de confiança básica no
mundo e uma autoconsciência florescente, a criança pequena começa a
substituir o julgamento dos cuidadores pelo seu próprio.
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Papalia e Martorell (2022, p. 178)
Erik Erikson: autonomia versus vergonha e dúvida
• A “virtude” que emerge durante esse estágio é a vontade;
• O treinamento do controle das necessidades fisiológicas é um passo importante em
direção à autonomia e ao autocontrole – o mesmo acontece com a linguagem;
• À medida que a criança se torna mais apta a expressar os seus desejos, ela passa a
ter mais poder;
• Segundo Erikson, como a liberdade sem limites não é segura nem saudável, a
vergonha e a dúvida ocupam um lugar necessário;
• As crianças pequenas precisam que os adultos estabeleçam limites apropriados,
desse modo, a vergonha e a dúvida ajudam-nas a reconhecer a necessidade desses
limites.
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Segunda infância Erik Erikson (1950): iniciativa versus culpa
(terceiro estágio – 3 a 6 anos)
Iniciativa versus culpa:
• A necessidade de lidar com sentimentos conflitantes sobre si próprio está na
essência deste estágio do desenvolvimento psicossocial;
• Crianças em idade pré-escolar podem fazer – e querem fazer – cada vez mais;
• Ao mesmo tempo, elas aprendem que algumas das coisas que querem fazer são
aprovadas socialmente, enquanto outras não.
De acordo com Erikson (1982) crianças que aprendem a regular esses impulsos
conflitantes desenvolvem a “virtude” do propósito, a coragem de imaginar e buscar
metas sem serem indevidamente inibidas pela culpa ou pelo medo da punição.
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Papalia e Martorell (2022, p. 232)
Erik Erikson (1950): iniciativa versus culpa
Esse conflito marca uma divisão entre duas partes da personalidade:
1) A parte que permanece criança, cheia de exuberância e ansiosa por
experimentar coisas novas e testar novos poderes;
2) A parte que está a tornar-se adulta, que constantemente examina a propriedade
dos motivos e das ações.
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Erik Erikson (1950): produtividade versus inferioridade
Terceira infância
(quarto estágio – 6 anos à puberdade)
Neste estágio, a criança deve aprender as habilidades produtivas que a sua cultura
requer ou então enfrentar sentimentos de inferioridade:
• Para Erikson, um importante determinante da autoestima é a visão que a
criança tem da sua capacidade para o trabalho produtivo (desenvolve-se no
quarto estágio do desenvolvimento psicossocial);
• Como em todos os estágios de Erikson, há uma oportunidade para o
crescimento, representada pelo sentimento de produtividade, e um risco
complementar, representado pela inferioridade.
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Papalia e Martorell (2022, p. 293)
Erik Erikson: produtividade versus inferioridade
• Nesta etapa, caso as crianças não consigam obter elogios dos adultos ou colegas
nas suas vidas, ou não tenham motivação e autoestima, podem desenvolver um
sentimento de baixo autovalor e, logo, um sentimento de inferioridade;
• Esse é um fator problemático, uma vez que durante a terceira infância, as crianças
devem aprender habilidades valorizadas pela sua sociedade;
• Se as crianças se sentem inadequadas comparadas com os seus pares, elas podem
retrair-se para o seio protetor da família e não se aventurar além do próprio lar.
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Erik Erikson: produtividade versus inferioridade
Por sua vez, desenvolver um sentimento de produtividade envolve aprender a
se esforçar para atingir as suas metas:
• Os detalhes variam de uma sociedade para a outra, p. ex.:
• Os meninos arapesh (Nova Guiné) aprendem a fazer arcos e flechas e a colocar
armadilhas para ratos; as meninas arapesh aprendem a plantar, a semear e a colher;
• Crianças inuit do Alasca aprendem a caçar e a pescar, enquanto crianças de países
industrializados aprendem a ler, a escrever, a fazer contas e a usar computadores.
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Erik Erikson: produtividade versus inferioridade
• O que essas diferentes experiências (cf. slide anterior) têm em comum é uma
ênfase em desenvolver responsabilidade e motivação para progredir;
• Se o estágio for resolvido com sucesso, a criança desenvolve uma visão de si
mesmo como capaz de dominar certas habilidades e de realizar tarefas;
• Mas isso pode ir longe demais: se as crianças se tornam muito diligentes,
elas podem negligenciar as relações sociais e transformar-se em viciadas em
trabalho.
Nota: os pais influenciam fortemente as crenças das crianças sobre competência e, como
resultado, a quantidade de esforço que elas dedicam às diversas atividades.
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Adaptado de Papalia e Martorell (2022, p. 529)
A maioria dos teóricos vê a vida adulta tardia como um estágio de
desenvolvimento com as suas próprias questões e tarefas especiais:
• É um período em que as pessoas podem reavaliar as suas vidas,
concluir o que ficou pendente e decidir como melhor canalizar as suas
energias e passar os dias, meses ou anos que lhes restam.
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Erik Erikson: integridade do ego versus desespero
(oitavo estágio do desenvolvimento psicossocial)
• Para Erikson, as pessoas na vida adulta tardia adquirem um senso de
integridade do ego pela aceitação da vida que tiveram, e assim aceitam a
morte, ou se entregam ao desespero pela impossibilidade de reviver as suas
vidas;
• De acordo com o autor, a integridade do ego na vida adulta tardia requer
constantes estimulações e desafios, o que vem do trabalho criativo.
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Papalia e Martorell (2022, p. 529)
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Erik Erikson: integridade do ego versus desespero
• Para Erikson, a conquista culminante da vida adulta tardia é o senso de integridade do
ego, ou integridade do self;
• Neste estágio, os adultos mais velhos têm de avaliar e aceitar as suas vidas para
poderem aceitar a morte;
• A partir dos resultados dos sete estágios anteriores, os adultos lutam para
conquistar um senso de coerência e totalidade, em vez de se entregar ao
desespero pela sua incapacidade de reviver o passado de forma diferente;
• As pessoas bem-sucedidas nesta tarefa final de integração adquirem o
entendimento do significado das suas vidas dentro da ordem social mais ampla;
• A virtude que pode desenvolver-se nesta etapa é a sabedoria – um “interesse
informado e imparcial pela vida em si diante da morte”.
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Teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson: a sua importância
A teoria de Erikson é importante por diversos motivos:
• Embora as crises que Erikson descreveu fossem específicas a um determinado tempo
e local (p. ex., em outras culturas, nem todas as crianças vão para a escola), o autor
deixou claro que as influências sociais e culturais importam;
• Erikson destacou o relógio social, o momento convencional e culturalmente preferido
para a ocorrência de eventos de vida importantes;
• Além disso, enquanto a abordagem de Freud sugeria que o desenvolvimento parava
na adolescência, Erikson percebeu que este seria um processo para a vida toda;
• Erikson tinha uma visão muito mais positiva sobre o desenvolvimento do que Freud;
• Apesar de ainda reconhecer que as crises podiam ser mal resolvidas, Erikson
deixava espaço para melhorias. Num momento qualquer da vida, o desenvolvimento
poderia mudar de direção de forma positiva, uma crise poderia ser resolvida com
sucesso e um novo ponto forte se desenvolveria.
Papalia e Martorell (2022, p. 27) 22
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Teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson:
Crítica
• Apesar do conceito de crise de identidade ser o que tem produzido mais
pesquisas e debates públicos, constituindo-se como o conceito mais conhecido,
a teoria de Erikson é importante:
• Devido à sua ênfase nas influências sociais e culturais e no desenvolvimento
para além da adolescência.
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Principais Diferenças entre a Teoria de
Freud e de Erikson
• A teoria psicossocial de Erikson foi influenciada pela teoria psicossexual de Freud;
• No entanto, Erikson deu ênfase ao papel da cultura e da sociedade, sendo que
eram muito importantes para ele – 1ª diferença;
• Erikson acreditava que havia espaço para que a personalidade crescesse ao
longo da vida, i.e., há crescimento da personalidade durante toda a vida (Freud
defendia que isso só ocorria na infância) – 2ª diferença.
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Resumo dos Aspetos mais importantes na
Teoria de Erikson
• Erikson acreditava que uma “crise” poderia ocorrer em cada fase do
desenvolvimento, e que esses conflitos envolvem diferenças entre o indivíduo e
as demandas sociais;
• Para o autor, completar com sucesso todos os 8 estágios de desenvolvimento,
resulta na formação de uma personalidade saudável, além da obtenção de
todas as virtudes;
• Para Erikson, as virtudes são as forças de carácter usadas pelo ego para
resolver conflitos;
• Não completar um estágio específico, pode resultar numa habilidade reduzida
para avançar para os outros estágios, e numa personalidade menos
saudável, com um menor conhecimento de si mesmo.
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Propostas de trabalho em contexto de estudo autónomo:
(perspectiva psicanalítica)
• Liste e explore os oito estágios psicossociais de Erikson.
• Mostre duas diferenças entre as teorias de Erikson e de Freud.
Assista ao seguinte vídeo sobre a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial de Erikson:
https://www.youtube.com/watch?v=SIoKwUcmivk
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Referências
FOLQUITTO, C. T. F.; GARBARINO, M. N.; SOUZA, M. T. C. C. Psicologia do desenvolvimento:
teorias e práticas contemporâneas. Rio de Janeiro: LTC, 2023.
MARTORELL, G.; PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. O mundo da criança: da infância à
adolescência. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.
PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento humano. 14. ed. Porto Alegre: Porto Alegre:
AMGH, 2022.
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