Copyright © 2024 Bárbara Birchal
Capa: Bruna Silva
Diagramação: Magda Rodrigues
Leitura Crítica: Danielle Oliveira
Revisão: Timóteo Gomes e Danielle Oliveira
Assessoria: Devassa Literária
ISBN: 978-65-01-22041-3
Todos os direitos reservados.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as
pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios –
tangíveis ou intangíveis – sem o consentimento escrito da
autora. Pirataria (PDF) é CRIME.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Sumário
ALERTA DE GATILHO
Sinopse
Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38 –
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Epílogo – 5 anos depois
Nota da Autora:
Capítulo bônus
Agradecimentos
ALERTA DE SPOILER
ME ACOMPANHE NAS REDES SOCIAIS:
ALERTA DE GATILHO
Preciso informar que este livro é para maiores de 18
anos, nele teremos cenas explícitas de sexo e palavras de
baixo escalão. Também será abordado assuntos como
relacionamento tóxico, crise de pânico, violência e tentativa
de estupro.
Sendo assim, caso você se sinta desconfortável com
algum desses temas ou em algum momento da leitura, não
hesite em priorizar a sua saúde mental fazendo uma pausa
ou até mesmo interrompendo a leitura imediatamente.
Seu bem-estar emocional em primeiro lugar, sempre.
Boa leitura!
Espero que gostem!
Sinopse
Ele é um CEO.
Ela é uma psicóloga.
Ele é reservado.
Ela é tímida.
Ele conquistou seu império sozinho e não tem medo
de se relacionar.
Ela possui um trauma que a acompanhará para
sempre.
Adam Cooper é CEO de uma empresa multinacional
de games. É um empresário desejado, elegante e reservado.
Quando deseja alguma coisa, não mede esforços para
conquistá-la.
Sarah Campbell é uma psicóloga que esconde um
passado sombrio. Ela não consegue se envolver porque
sabe que não existe príncipes encantados.
Quando Adam entra em sua vida, Sarah se vê
desafiada a abrir seu coração novamente. Ele é tudo o que
ela sempre sonhou, mas as sombras do passado ameaçam
seu novo amor. Seu antigo namorado a encontra e está
decidido a tê-la de volta a qualquer custo.
Será que conseguimos de fato superar nossos medos?
Será que só o amor é suficiente para curar um coração
destruído? Será que ambos conseguirão superar os
obstáculos que surgirão para ficarem juntos?
Dedicatória
Dedico este livro a você, leitora, que talvez tenha
vivido ou esteja vivendo um relacionamento abusivo, e
sequer saiba que está nele. Desejo que encontre a força
necessária para romper com esse ciclo. Acredite em si
mesma, no seu poder interior, na sua capacidade de vencer
e, acima de tudo, saiba que você merece um amor genuíno,
repleto de respeito, carinho e afeto.
Lembre-se de que buscar ajuda é fundamental.
Converse com alguém em quem confia e procure
profissionais de saúde que possam te apoiar durante o
tempo que for necessário. Você não está sozinha!
Capítulo 1
Quando eu era criança não imaginava em como a vida
de adulto poderia ser difícil. Engraçado lembrar em como eu
sonhava com o ensino médio, e o tão sonhado dezoito anos,
faculdade, entre outras coisas. Imaginava a minha vida
como a dos filmes de romance, conhecendo meu príncipe
encantado, me casando e tendo filhos, mas infelizmente a
realidade se mostrou muito diferente para mim.
Moro com a minha Tia Irene em um condomínio de
mansões muito prestigiado no bairro Joá, no Rio de Janeiro.
Nossa casa tem uma vista deslumbrante para a Praia da
Joatinga, um lugar que parece simplesmente o paraíso. É
uma praia pequena que possui aproximadamente 300
metros de extensão. Em sua volta tem muitas pedras e
árvores, deixando o lugar ainda mais bonito. A água tem um
tom de azul claro, com ondas bem grandes, fazendo a
felicidade dos surfistas.
Sério, não me canso de contemplar essa vista, me
traz tanta paz.
Claro que é uma mansão gigante só para nós duas
morarmos. São seis suítes, todas com vista para o mar,
algumas salas, duas cozinhas. Na área externa temos uma
piscina gigante com uma hidromassagem, churrasqueira,
salão de jogos e uma área de SPA, com sauna e sala de
massagem.
No início achava tudo um grande exagero, meus pais
são ricos, mas não nessa proporção da Tia Irene, então não
entendia por que uma única pessoa precisava de algo tão
grandioso, mas ela sempre amou uma vida luxuosa e acabei
me acostumando, me tornando alguém que valoriza esse
tipo de coisa.
Me considero uma pessoa tímida, não tenho muito
amigos, na verdade, minha tia é a minha única amiga. Não
posso culpar ninguém além de mim por isso. Tenho meus
traumas e dificuldade de me relacionar, simplesmente não
consigo confiar muito nas pessoas, o que me tornou uma
mulher reservada e prática. Me acostumei com isso e sou
feliz por tê-la ao meu lado. Além do que, aprendi algo
extremamente importante, amar a minha própria
companhia. Vou em restaurantes, cinema, museu, faço tudo
sozinha e tudo bem, gosto de estar comigo. Eu me basto.
— Ah, nem te vi chegando — Tia Irene leva um susto
quando entro na cozinha.
— Oi, tia. Desculpa, não queria te assustar, cheguei
agorinha. — Vou até ela e lhe dou um beijo na bochecha. Ela
é uma mulher maravilhosa, uma inspiração para mim.
— Tudo bem, estava distraída. — Dá de ombros,
pegando um vinho na adega.
— Ah é? Posso saber por quê? — Me sento na bancada
e ela aproveita para pegar mais uma taça para mim. — Por
acaso estava pensando em alguém especial? — Dou um
sorrisinho já imaginando sua resposta.
— Querida, há quantos anos mora comigo? Você sabe
muito bem que já conheci o amor com seu tio, depois que
ele se foi, não quero mais saber de casamento. Não tenho a
menor paciência para lidar com esses velhos chatos, só
quero saber da curtição. — Nos serve o vinho e brindamos.
O que mais amo na minha tia é a liberdade que temos
para conversar sobre tudo e ela não tem papas na língua.
Minha tia foi viúva muito cedo e nunca teve filhos, o que a
fez cuidar de mim como se fosse sua filha. Adoro esse
carinho dela por mim.
— Você não existe. Sabe disso né? — Tomo um gole.
— Fala como se pegasse esses velhos, né? Todo homem que
fica tem pelo menos dez anos menos que você.
— Claro, você acha mesmo que os homens da minha
idade iriam me aguentar? Nem os mais novos me
aguentam. Tenho meus sessenta anos, que foram muito
bem vividos. Ainda sou fogosa, meu bem. — Ela pisca para
mim e morremos de rir.
— Quero ser como você, tia. Essa sua energia é
incrível. — Sorrio.
— Sarah Campbell, a sua energia também é incrível,
querida. Só precisa se permitir um pouco mais. Já te falei
isso algumas vezes, você só tem vinte e cinco anos e
precisa curtir também. — Levanta a sobrancelha como
quem demonstra que está na hora da lição de moral.
— Sim, já falou e venho tentando. — Pego a taça de
vinho e faço círculos com meus dedos na borda.
— Precisamos deixar o passado no lugar que ele
pertence e viver o presente. — Vem até mim e me dá um
abraço. — Seus pais sempre falam isso para você também,
mesmo morando nos Estados Unidos, estão sempre de olho
e se preocupam, assim como eu.
— Sei disso, Tia. Prometo que vou me esforçar mais.
— Tento um sorriso para tranquilizá-la.
— Ótimo. — Bate palmas. — Tenho um evento para ir
nesse final de semana e você vai comigo. Que bom que se
voluntariou.
— Como é? Não falei nada de ir em evento. — Levo
um susto.
— Claro que sim, acabou de falar que vai se esforçar.
Foi claramente um sinal para sua tia querida que irá
acompanhá-la. Chega de ficar aqui sem sair para se divertir.
— Eu saio muito, mas esses eventos são um saco,
zero diversão nisso. — Viro os olhos.
— Querida, sair para museu e coisas assim não conta.
Pelo menos nesse evento vai poder colocar um vestido
maravilhoso, ver pessoas bonitas e dançar um pouco. —
Pega a taça e se mexe na cozinha como se estivesse
dançando valsa com alguém.
— Ai, tia. — Rio da sua performance. — Primeiro que
minhas roupas já são maravilhosas e segundo que não
tenho nem vestido para esse evento específico, vamos
deixar para a próxima.
— Nada disso, já mandei fazer o seu vestido e
chegará amanhã, então não se preocupe. Você vai!
— Esse papo todo foi só para me manipular para ir
né? Você não vale nada! — Balanço a cabeça rindo porque
já sei que perdi essa batalha. Tia Irene é extremamente
engraçada, sabe me convencer a fazer o que quer e não
tem filtro algum.
— Claro, tenho muitos anos de experiência e te
conheço melhor que ninguém. Sabe que me preocupo com
você e quero seu bem. Confia em mim que vai amar esse
evento. — Pisca e serve mais vinho.
— TIA! — Falo arrastado, questionando-a. — O que
você está aprontando? — Olho brava porque sinto que vem
armação por aí.
— Eu? Meu Deus, nada Sarah. Como é desconfiada. —
Se faz de sonsa.
— TIA! Te conheço também, está com aquela cara de
quem armou algo. Está tentando me apresentar para
alguém? — Levanto da bancada e coloco minhas mãos na
cintura.
— Eu? Não. A não ser que queira ser apresentada para
alguém. Quer? — Levanta as sobrancelhas e dá aquele seu
sorriso de travessa.
— Sabe muito bem que não. Estou bem assim. — Falo
firme.
— Aham, claro que está. — Vira os olhos.
— Tiiiiiaa.
— Para com isso, Sarah, vamos tomar nosso vinho em
paz, para de bobagens.
Seguimos bebendo e mudamos de assunto, falamos
sobre outras coisas. Finjo que acredito que ela não está
armando nada, mas sei bem que está. Ela tenta de tempos
em tempos me apresentar a algum sobrinho de alguma
amiga dela, mas minha nossa, nenhum me causa um pingo
de animação.
São todos aqueles mauricinhos que se acham
extremamente bom partido e devem até ser, mas nunca
tem química, bem longe disso, não sai nem uma faísca
pequena. Dessa vez ficarei mais atenta para não cair nessa
armadilha. Vou com ela no evento, mas já vou deixar umas
desculpas prontas pra sair de fininho quando ela se distrair.
Se eu der sorte, não vai demorar muito.
Tia Irene é bem-vista na alta sociedade e tem muitas
amigas. Nesses eventos, elas bebem todas e quando digo
todas, quero realmente dizer todas, e se juntam para
fofocar sobre os convidados. Depois disso elas dançam e
minha tia acaba ficando com alguém discretamente.
Isso ela sabe fazer, viu? Nunca vi alguém ser tão
discreta quanto a esse assunto, ninguém nem sabe que ela
é uma safada, mas acho que está mais do que certa. Fico
feliz que ela aproveita o máximo da vida.
Fico pensando como seria se eu tivesse sido criada
aqui desde nova, muitas coisas não teriam acontecido e
muito provavelmente eu não seria assim, tão desconfiada.
Infelizmente nem tudo é como gostaríamos e coisas ruins
podem acontecer.
Capítulo 2
“Sete anos atrás”
— Bom dia, minha filha! — Minha mãe entra no quarto
com um bolo de aniversário cantando parabéns junto do
meu pai que vem logo atrás. — Parabéns para você, nessa
data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! — Me
levanto da cama, animada, eu amo aniversários.
— Faça um pedido antes de soprar as velas, meu
amor. — Papai fala antes que eu sopre sem pensar em nada.
Fecho os olhos por alguns segundos e penso. O que eu
quero esse ano? Ah o mesmo que desejo há alguns anos,
um príncipe encantado. Tudo bem que esse pedido não deu
muito certo ainda e sei que sou meio velha para essas
coisas, mas sinto que agora com dezessete anos vou
conhecer o meu grande amor, assim como nos filmes. Sopro
a vela com vontade, sentindo que meus sonhos serão
realizados.
— Obrigada mãe, obrigada pai. Amo vocês! — Abraço
os dois bem forte ganhando muitos beijos. Eles são incríveis
e me fazem sentir muito amada, estão sempre presentes
quando preciso.
— Estamos te esperando lá embaixo para tomarmos
café da manhã. Mandamos preparar tudo o que mais ama.
— Mamãe sorri, dá a mão ao papai e saem do quarto para
que eu possa me arrumar para descer.
Minha mãe é a minha melhor amiga, somos
inseparáveis e conto tudo para ela, sei que posso confiar a
ela todos os meus segredos, não que eu tenha algum.
Na verdade, eu adoraria ser daquelas meninas
populares que têm vários caras paquerando e festas para ir,
principalmente aqui nos Estados Unidos que tem uma
cultura forte de cheerleading[1], mas sou a menina tímida,
que não tem amigos e anda sozinha o tempo todo.
Poxa, deveria ter pedido para ser mais sociável, né?
Será que desperdicei o pedido com um príncipe? Poderia ter
pedido amigos. Ah, se bem que se eu encontrar um amor,
ficarei amiga dele e dos amigos dele e aí resolvo dois
problemas de uma só vez. É, foi mais inteligente e
necessário esse pedido.
Podem me achar boba de querer tão nova um grande
amor, mas a verdade é que não preciso viver loucuras
sozinha porque não sou assim, prefiro muito mais viver
loucuras com meu namorado, ter alguém para dividir uma
vida. Com certeza isso é culpa dos filmes da Disney que
sempre vi com a minha mãe. A verdade é que ela encontrou
seu príncipe encantado, meu pai William e eu fui fruto desse
amor. É algo lindo de se pensar né? A relação deles é tão
linda e unida que sonho em ter isso um dia. É, sou bem
romântica, fazer o quê?
Vou ao banheiro, escovo os dentes, penteio o cabelo,
faço um rabo de cavalo e coloco um vestido soltinho para
tomarmos café. Desço as escadas da minha casa correndo,
muito animada.
— Foi rápida hein? — Papai para de mexer no celular e
se vira para mim.
— E quando não sou, pai? — Dou de ombros.
— Tenho várias situações para te falar, mas por ser
seu aniversário, serei legal e deixarei passar. — Pisca seu
olho para mim.
— Hoje é um dia de alegria, há dezessete anos
ganhamos o nosso maior presente. Me lembro até hoje da
emoção quando descobrimos que você estava na minha
barriga, filha. E até hoje, você é o nosso orgulho. Uma filha
atenciosa, amorosa, muito inteligente e que não nos dá
trabalho algum. Somos muito felizes por termos você em
nossa vida. — Mamãe fala se emocionando e papai coloca a
mão em seu ombro demonstrando carinho.
— Ah mãe, eu não poderia ter pedido pais melhores
do que vocês. — Falo com os olhos cheios d’água, vou até
eles e ficamos um bom tempo abraçados.
— Bom, agora vamos tomar nosso café porque você
tem aula hoje e como tem prova, não podemos te deixar
faltar. — Papai me serve com uma xícara de café.
Eles fizeram tudo o que mais amo. Temos frutas,
waffles, panqueca doce, pães, bolo, literalmente tudo o que
pensar tem aqui. Como essa é a minha refeição favorita,
como tudo sem pensar duas vezes, mas deixo o melhor
para o final, a panqueca. Nossa, como sou viciada em
panqueca, tem gosto de infância.
Moramos em Saint Augustine, é bem no interior da
Flórida, acho que tem cerca de dezesseis mil habitantes,
então pode-se imaginar o quão pequeno é. É uma cidade
tranquila de se viver, não tem violência e nem muitas
coisas, quase nada acontece.
Moramos aqui porque papai tem uma imobiliária que
é a única na cidade e na região, então tem as suas
vantagens. Temos muita qualidade de vida, mas o lado ruim
é que são sempre as mesmas pessoas, conhecemos todo
mundo, o que impossibilita a minha busca para o príncipe
encantado, então fica cada vez mais difícil, nessa cidade só
tem sapos.
Subo para meu quarto e me arrumo para a escola.
Estou no segundo ano do ensino médio, sou uma das
melhores alunas de lá e tenho orgulho disso. Escolho uma
saia curta de cor rosa pink, mas na medida certa, e coloco a
blusa do uniforme que é branca. Amo acessórios então uso
bastante colares, brincos pequenos e pulseiras. Para
finalizar o look, calço meu tênis branco todo estiloso com
alguns detalhes rosa na lateral.
— Boa aula, minha filha, te busco no mesmo horário.
— Meus pais me deixam no colégio juntos hoje.
— Obrigada! Me desejem sorte na prova de hoje. —
Sorrio.
— Você não precisa de sorte, meu amor, estudou
bastante e tem conhecimento da matéria, vai sair bem.
— Obrigada, mãe! Até mais tarde. — Me despeço e
sigo o meu caminho.
A prova é logo no primeiro horário, o que eu prefiro.
De fato, mamãe estava certa e me sai muito bem, teve só
uma questão que me pegou, mas depois de um tempo
entendi e a resolvi logo.
O dia vai seguindo sem grandes emoções, como
sempre, mas tudo muda depois do intervalo. Estou sentada
na primeira fila, na minha cadeira de todos os dias, quando
alguém bate na porta da sala. O professor vai atender e um
garoto novo surge. Ele é loiro, tem olhos azuis, é alto, forte
e todo bonitão. Nunca vi um menino tão lindo quanto ele.
Será que é modelo? Com certeza é novo na cidade ou eu
saberia quem é.
Ele entra na sala com a mochila pendurada do seu
lado direito. Tem um jeito de andar que me enlouquece. Na
verdade, acho que todas na sala, porque todas as meninas
estão babando nele. Nossa, que gato!
O professor o manda sentar na cadeira atrás de mim e
isso me dá calafrios. Ele vai ficar bem nas minhas costas?
Ainda bem que estou perfumada e com o cabelo perfeito.
Mas nossa, que estranho!
— Por que não se apresenta para a turma? — Ele pede
ao aluno novo e todos olhamos imediatamente para ele.
— Olá, sou o Jack. Me mudei para cá esse final de
semana com minha família. Gosto de futebol, era o capitão
na minha escola antiga e pretendo entrar no time de vocês.
— Enquanto ele fala não consigo disfarçar a minha cara de
encantada.
Ele é tão confiante falando. Mal chegou e já falou que
vai jogar no nosso time e apesar da nossa cidade ser
pequena, temos um excelente time de futebol americano,
então não é assim, só falar que vai jogar e ponto. Por ele
gostar tanto, deve saber disso e mesmo assim, já chegou se
bancando. Admirável.
— Seja bem-vindo, sou a Chloe, capitã das líderes de
torcida. — Nossa, essa insuportável, já está se mostrando
para ele com esse sorriso falso.
Aposto que daqui a pouco vai tentar ficar com ele. Ela
sempre namora os capitães do time e recentemente
terminou o namoro. Poxa, logo agora? Desse jeito não vou
ter nem chances, que saco. Viro os olhos com os meus
pensamentos e ouço ele rindo baixo atrás.
— Pelo visto vocês não são muito amigas, né? —
Sussurra no meu ouvido e eu gelo.
Fico imóvel. Preciso urgentemente aprender a
disfarçar minhas caretas. Tento manter a calma porque ele
está falando comigo. Ah, nem acredito.
— Não. — Me viro rapidamente para responder com
um sorriso de quem está envergonhada. Queria falar mais
alguma coisa, mas simplesmente não consigo, nada sai,
então olho para frente novamente.
— E como você se chama? — Ah, estou quase tendo
um infarto. Ele está puxando assunto comigo e ainda quer
saber meu nome. Responde Sarah, responde.
— Sou Sarah. Seja bem-vindo a nossa escola. — Me
viro e sorrio tentando fingir que estou calma, mas por
dentro estou super nervosa.
Reparo que ele é muito mais gato quando vemos
assim de pertinho. Nossa, que menino lindo!
— Obrigado, Sarah. — Meu coração bate rápido, a
forma que ele sussurra isso nos meus ouvidos me deixa
estranha. Sinto algo novo dentro de mim.
Tento prestar atenção no que o professor está falando,
mas não consigo. Revivo o momento que ele entra, as
poucas palavras que falamos, várias e várias vezes na
minha cabeça e saber que ele continua atrás de mim, me
deixa ainda mais ansiosa. Será que ele gostou de mim? Por
que ele iria puxar assunto se não tivesse gostado?
Ouço o sino tocar nos dizendo que a aula acabou.
Preciso puxar algum assunto, falar algo com ele, mas o quê?
Pensa Sarah, pensa. Quando ia perguntar se quer alguém
para fazer um tour com ele pela escola, a vaca da Chloe se
intromete.
— Oi, Jack, vem comigo, vou te apresentar ao técnico
do futebol. — Ahhh, eu sabia que ela não ia perder tempo,
mas que ódio!
Tento controlar a minha cara guardando as coisas na
minha mochila. Quem mandou eu sonhar acordada, era
óbvio que isso ia acontecer, né? Não sou tão descolada
quanto ela.
— Beleza. — Ele responde, pelo menos sem muito
ânimo, o que me conforta um pouco. Vejo ele indo em
direção a porta, de repente ele para, olha para trás e fala: —
Até mais, Sarah. — Seu sorriso é tão lindo que
automaticamente sorrio junto.
— Tchau, Jack. — Me despeço ouvindo sinos de
alegria. Acho que isso significou algo, tem que ser.
Ah, nossa! Será que já é o meu pedido de aniversário
se tornando realidade? Será que ele é o meu príncipe
encantando? Ah, eu espero que sim, meu coração já diz que
sim.
Capítulo 3
— Como vocês têm coragem de me apresentar uma
essa estratégia tão falha como essa? — Olho para o meu
computador analisando com raiva o material que está sendo
compartilhado via videoconferência. — Nem quando eu era
adolescente e ainda morava no Japão com os meus pais,
faria um trabalho tão miserável como este. O que estavam
pensando? — Silêncio total, nem se quer o diretor de
marketing responde alguma coisa. — Luiz, estou
aguardando um posicionamento! Estão achando que estão
trabalhando para quem? — Me jogo na cadeira e coloco as
mãos no cabelo. Estou furioso com a incompetência deles.
— Adam, me desculpe. Vou reunir a equipe e prometo
que cabeças irão rolar por isso. – Luiz, esse imbecil, está na
empresa porque já trabalhava aqui quando assumi e tem
pessoas que gostam dele, mas tudo tem limites.
— Luiz, quem é o diretor de marketing dessa
empresa? — Cruzo meus braços, aguardando uma resposta.
— Eu, senhor Adam. — Responde engolindo em seco,
porque sabe que não gosto dele.
— Então de quem é a responsabilidade de revisar o
que te enviam e estar presente em cada etapa da nossa
estratégia? – Fico reto na cadeira e falo pausadamente,
deixando uma atmosfera pesada de propósito.
— Minha, senhor.
— Então concorda comigo que não deve acusar a sua
equipe, não é? Se alguma cabeça terá que rolar aqui, é a
sua. Assuma a sua responsabilidade, Luiz. Já estou cansado
desse trabalho ruim. — Falo firmemente.
— Desculpe, não acontecerá novamente. – Ele
responde secamente, posso sentir a raiva dele por estar
sendo humilhado na frente de todos, mas sou justo.
Não aceito que ele simplesmente coloque a culpa nos
seus funcionários, quando a culpa é totalmente dele.
— Você tem vinte e quatro horas para me apresentar
uma estratégia decente. Estarei observando e não vou
aceitar que mande sua equipe se virar, enquanto não faz
nada. Estamos entendidos? — Coloco meus braços na mesa
e junto as minhas mãos aguardando uma resposta com uma
cara de poucos amigos.
— Sim. Perfeitamente. — Analiso sua feição e sei que
está para explodir.
Ótimo, ele não vai me deixar puto assim sozinho.
— Joana irá lhe passar o horário da reunião amanhã.
Essa, está encerrada. — Desligo a videoconferência e
respiro profundamente. Porra. Odeio esse tipo de coisa, falta
de profissionalismo me tira do sério.
No início da minha carreira, muitos me criticavam, não
acreditavam que trabalhar com desenvolvimento de jogos e
programação daria dinheiro. Poderia facilmente ter entrado
em uma das grandes empresas do ramo, mas decidi voltar
para o Brasil e construir a minha carreira aqui, pois não me
via morando mais no Japão. Meus pais se adaptaram bem,
mas para um adolescente, foi muita mudança.
Abri uma empresa e criei um jogo de RPG, baseado
em histórias medievais. Tive como inspiração o clássico
Senhor dos Anéis. O jogo fez tanto sucesso que uma
empresa americana se interessou. Eles estavam atrás dos
japoneses nesse mercado e não aceitavam continuar nessa
posição.
Viram uma oportunidade com meu jogo de finalmente
alcançarem um patamar de respeito. Acertamos um acordo
bilionário. Foi um mês de duras negociações, mas sou bom
nisso e fui firme, porque sabia o quanto estavam
interessados. Essa parte foi a mais complicada, pois já
tinham um CEO, mas ele era ultrapassado e tradicional,
coisas que a empresa queria deixar para trás, pois
perderam muito mercado com isso. Quando apresentei
alguns projetos para colocar a empresa no patamar que
deveria estar, perceberam que precisavam de mim, muito
mais do que eu precisava deles. No final, incorporamos as
empresas e me tornei o CEO e único representante deles na
América do Sul.
Esse imbecil do Luiz acha mesmo que depois de tudo
o que passei para estar aqui, vou engolir as merdas que ele
faz? De jeito nenhum. Já estou de olho nele há tempos e
dessa vez não darei mais chances. Ele vai apresentar a
estratégia que já sei que não será boa e rua. Irei finalmente
demiti-lo e ninguém poderá fazer nada para segurá-lo. Está
prejudicando a empresa e isso não aceito.
— Joana? – Ligo para a minha secretária. — Mande a
área jurídica e a área do RH discretamente prepararem a
demissão do Luiz. Quero deixar tudo pronto para depois da
reunião.
— Pode deixar, senhor.
— Marque presencial dessa vez. Quero dar a notícia
pessoalmente. Será meu prazer do dia. Aproveite e peça
uma lista ao RH de possíveis substitutos ao cargo. Vamos
ver se conseguimos alguém de dentro. Eu mesmo vou
analisar os currículos, preciso disso ainda hoje.
— Considere feito. – Finalizo a ligação mais tranquilo.
Vou até o meu bar que fica no canto direito da sala e
coloco uma dose de whisky no meu copo. Tomo um gole em
pé mesmo e me sinto mais relaxado. Não costumo fazer
muito isso, mas hoje tenho muito o que fazer e precisava de
um relaxamento imediato. Volto a minha mesa e me jogo na
papelada que está me esperando.
Reparo nas horas e vejo que já está tarde, são 21h e
hoje é segunda, dia de poker com os meninos. Dia de
relaxar e tentar tirar uma grana daqueles sem noção. Não
vou mentir, nem sempre eu ganho, mas nem vou com esse
intuito, vou realmente para trocarmos umas ideias e rirmos
um pouco.
Nossos encontros são todas as segundas, cada
semana na casa de um. Hoje será na casa do Alex.
Gostamos de privacidade, porque compartilhamos
informações sobre nossos negócios, dados que não
podemos deixar pessoas de fora terem conhecimento ou
podem nos prejudicar com isso. Somos muito criteriosos
quando alguém deseja convidar um novo membro para um
dia de jogos, mas isso raramente acontece e prefiro assim.
Sou um homem despojado, mas aprendi a ser discreto
pelo nome da empresa que carrego e pelos bilhões que
possuo na minha conta. Infelizmente, esse é o peso do
dinheiro, nunca sabemos se quem está perto é por amizade
ou interesse, mas com esses três, sei que posso contar.
Desligo meu computador, guardo os documentos
importantes e saio da minha sala de reunião. Me despeço da
minha secretária e pego o elevador em direção a saída. Meu
carro Mercedes Bens Maybach Exelero, está me
aguardando.
Como eu amo esse carro! Ele tem um design
exclusivo, não é apenas um carro de luxo. Cada detalhe do
interior deste veículo é meticulosamente projetado e
montado a mão, o que amplifica ainda mais a sua
exclusividade e desempenho excepcional. Sou
completamente apaixonado por carro de luxo e tenho uma
coleção invejável de carros esportivos.
Adam: Estou a caminho. Chego em 30 minutos. -
Aviso por mensagem.
Estou atrasado, mas hoje resolvo que antes de ir jogar
com eles, vou me divertir um pouco com meu carro. Quero
sentir a adrenalina, nem que seja só um pouco. Entro e ouço
o ronco do motor, prometendo a emoção que preciso e
sorrio. Saio da garagem e meto o pé no acelerador. A
velocidade é eletrizante, uma mistura perfeita de poder e
liberdade. Cada curva, uma nova oportunidade para
explorar os limites do carro e a cada aceleração sinto uma
descarga de adrenalina que faz eu me sentir vivo.
Capítulo 4
Fui dormir ontem com minha tia falando sem parar
sobre esse tal evento que temos para ir. Meu foco hoje é
passar longe dela ou vai vir com essa conversa toda de
novo e estou sem a menor vontade de discutir sobre isso.
em fazer muito barulho e olhando para os lados,
S
passo pelo corredor dos quartos e desço as escadas,
tentando não dar de cara com ela. Chego na cozinha e para
minha feliz surpresa, ela não está lá. Ufa! Deve ter saído
cedo hoje, o que quer dizer que posso tomar meu café da
manhã em paz.
eço para a nossa governanta preparar uma
P
omelete com queijo Brie e damasco, enquanto como uma
salada de frutas que já está pronta. Meu gosto é bem
açucarado, por assim dizer, amo doces e principalmente,
misturar doce com salgado. Nossa, viveria disso se não
fizesse tão mal à saúde. Gosto de me cuidar e por mais que
seja uma gulosa, tento equilibrar durante a semana,
mantendo a minha dieta.
Devoro meu café da manhã e finalizo com duas
xícaras bem grandes de café sem açúcar, reparo que é o
único momento que não faço questão de algo doce. Me
acostumei mesmo a tomá-lo assim.
Volto ao meu quarto, escovo os dentes, pego minha
bolsa, as chaves do carro e saio de casa. Tenho um dia
longo na ONG em que faço parte.
Sou psicóloga e levo meu trabalho muito a sério, me
sinto responsável por cada paciente que conta comigo para
aliviar seus traumas e medos nem que seja através de uma
das minhas sessões.
Chego no nosso consultório, que fica em Botafogo
dentro do horário. Entro na sala abrindo as cortinas de linho,
iluminando tudo suavemente com a luz do sol. Gosto muito
desse meu espaço, eu que decorei, quis trazer um ambiente
acolhedor para as meninas. Sim, a maioria das minhas
pacientes são mulheres.
Pendurei um pequeno quadro com uma paisagem
tranquila do mar na parede principal. Deixei tudo em tons
de azul, branco e bege. Não é um espaço grande, mas é o
tamanho perfeito. Coube exatamente o que eu precisava.
Uma mesa de escritório, um sofá para se acomodarem, uma
poltrona para que eu faça os atendimentos e uma mesinha
de centro para colocar o que precisar.
Temos uma outra sala ao lado que é o nosso
escritório, onde cuidamos das coisas burocráticas, mas
quase não fico lá, prefiro esse meu cantinho montado.
Minha primeira cliente chega em vinte minutos, tenho
tempo de sobra para ajeitar as coisas. Ligo o difusor e
coloco mais algumas gotas de essência de lavanda, ela
sempre ajuda a acalmar os pacientes. Nem sempre a uso,
depende muito de quem vou atender no dia, mas mesclo
com a de capim-limão também.
Vejo que está tudo nos conformes. Enquanto
aguardo o horário da nossa consulta, reflito sobre a
importância de cada encontro. Sei, que para muitos, esse é
um espaço sagrado, talvez o único que ela tenha, onde
poderá se despir dos medos e receios.
Ouço o bater da porta e vou ao encontro de Clara.
— Olá, Clara. Pode entrar, já sabe onde se sentar. —
Lhe dou um abraço carinhoso e demorado. Faço isso com
todas, porque quero que se sintam queridas e amadas.
— Obrigada. — Recebe meu abraço, mas sinto em seu
olhar que algo está errado.
— Então, vamos lá? Vamos falar sobre você? — Sento-
me na poltrona em frente ao sofá e pego meu caderno que
já estava em cima da mesa de centro.
— Hum, sim. — Clara murmura essas palavras, mas
não desenvolve nenhuma frase. Fica calada.
— Que tal começar a me falar como foi a sua semana?
— Tento puxar um assunto para ver se consigo fazê-la se
abrir, quero entender por que está tão distante hoje.
— Ah — Solta um pouco o peso que carrega nos
ombros — Foi difícil. Nem sei por onde começar e ao mesmo
tempo, não estou com vontade de falar. — Aperta uma mão
na outra, demonstrando o quanto está nervosa e
desconfortável.
— Entendo. Sei que temos dias mais desafiadores e
sei que nem sempre é fácil lidarmos com nossos
sentimentos, mas quero te lembrar que estamos em um
lugar seguro e que pode confiar em mim. — Sorrio com
carinho. — Que tal me contar do início, desde que foi
embora na última sessão? Assim pode ser mais fácil para
você deixar as coisas fluírem.
— Sim, isso funciona. — Clara respira fundo e me
conta o que a aflige.
Muitas vezes tenho que incentivar a falarem coisas
não tão importantes, como o que fez logo que saiu da nossa
última sessão, com isso ajudo a romper um bloqueio que
possa estar sentindo na hora.
Falar sobre nós mesmos e nossos sentimentos é algo
muito difícil e sofrido, sei bem a sensação e tento trazer
suavidade a conversa, como se falasse com uma amiga,
apenas isso.
A sessão continua, e a cada desabafo sinto a nossa
conexão aumentar e a sua confiança no meu trabalho
também. Fazemos algumas pausas, pois ela se emociona
algumas vezes e precisa recuperar o fôlego, junto com a
vontade de falar. Tudo isso faz parte do processo de cura.
A hora passa bem rápido, e quando finalizo nossa
sessão ganho um sorriso discreto, de alívio. Isso é mais que
o suficiente para me fazer ganhar o dia.
Escolhi essa profissão porque quero ajudar as pessoas
a encontrarem a luz em suas sombras, a se reencontrarem
com as suas histórias e, acima de tudo, se amarem e se
perdoarem um pouco mais a cada dia. Quero retribuir o que
fizeram por mim, quando mais precisei.
Sigo o dia com os atendimentos numa manhã bem
corrida. Estou com a agenda lotada. Não reclamo porque
amo me sentir útil e sei que estou ajudando essas meninas
a passarem por fases difíceis de suas vidas.
Saio para almoçar em um restaurante que fica na
esquina do consultório, eles tem opções executivas diversas
e saborosas. Resolvo pedir uma salada de rúcula, tomate
seco e muçarela de búfala com salmão, porque preciso
pegar mais leve hoje, exagerei um pouco essa semana.
Enquanto aguardo meu prato chegar, peço minha
água com gás e pego meu Kindle para ler um pouco, abro
no livro que estava lendo. Decolando para o amor: o
magnata e a pilota. Um fato importante sobre mim, eu amo
ler. Amo conhecer lugares e personagens novos, amo
imaginar os cenários e os encontros. Acho que esse
momento resgata um pouco da minha inocência em
acreditar em romances que podem dar certo.
Claro que sonho em um dia ter o mesmo que nos
livros que leio. Poxa, quem é que não sonha com isso? Hoje
sei bem que príncipe encantado não existe, mas queria ter
alguém ao meu lado para compartilhar a vida. Quem sabe
um dia, né? Sonhar não custa.
Me envolvo nas páginas do livro de tal maneira que
nem percebo quando o garçom chega com o meu pedido.
Agradeço envergonhada, porque estava lendo justamente
uma parte mais erótica dos personagens. A personagem
principal, estava toda pelada comendo sushi em cima do
par romântico dela, colocou até shoyu no pau dele. Que
delícia!
Será que ele percebeu? Me olho pelo celular e vejo
que minha bochecha está levemente vermelha.
Nossa! Que situação, estou a tanto tempo sem sexo
que o que me resta são essas páginas para alegrarem meus
sentidos. Eu bem que poderia tentar encontrar alguém para
isso né? Ah, quem eu quero enganar? Não consigo transar
por transar, não é que eu seja virgem, já pedi a virgindade
há anos atrás, mas preciso ter alguma conexão com a
pessoa. O problema é que não permito ninguém romper
essa barreira, então estou lascada.
Ah, ótimo. Serei uma velha encalhada, cheia de teias
de aranha na vagina, quase uma virgem de novo. Ah não,
não acredito que esse será meu destino, sério? Até minha
Tia Irene tem uma vida amorosa muito mais agitada que a
minha, apesar de que ela não conta né, sempre foi assim.
Ela tem a energia de uma adolescente.
Enfim, pelo menos não posso reclamar, e ainda
consigo ter alguns bons orgasmos graças a existência do
universo sexy shop que fabricam bons produtos como o
vibrador, estaria completamente perdida sem eles. No
momento, são o mais próximo de uma relação que tenho,
cuido com bastante carinho dos meus brinquedos, pelo
menos sei o que posso esperar deles.
Isso é muito mais do que podemos esperar de
homens, sei na pele sobre isso.
Capítulo 5
“Sete anos atrás”
Aquela foi a primeira vez que vi o Jack, voltei para a
casa suspirando. Por menor que tenha sido seu ato de só se
despedir de mim, significou muito, porque senti que fui vista
pela primeira vez. Quando eu era mais nova não era bonita,
meu corpo estava desenvolvendo e teve uma época que
tive muitas espinhas e engordei bastante, o que não me
ajudou em nada no quesito garotos.
Mas hoje estou bem melhor, me sinto
verdadeiramente linda, mas como conhecemos todos da
cidade desde criança, fica difícil agora encontrar alguém,
além do que, não me sinto à vontade com o pessoal daqui,
acho que por eles terem me visto na minha pior fase.
Jack ter me notado preencheu um buraco que estava
dentro de mim, afinal quem não quer se sentir bonita e
desejada?
Nos próximos dias não houve muita evolução, mas ele
seguiu sentando-se atrás de mim nas aulas, o que me
deixou nervosa em todas às vezes, ao mesmo tempo eu
gostava. Para mim era um gesto de que ele estava por
perto, por minha causa, ou pelo menos eu imaginava isso.
Na semana seguinte ele pediu um lápis emprestado e
eu fiquei animadíssima. E muitas vezes ele sussurrava algo
no meu ouvido, como “essa aula é muito chata”, “você
parece bem concentrada hein Sarah”, “seu perfume é
bom”. Quando ele disse sobre o meu perfume quase morri
na hora de emoção. Minha mente fantasiosa já imaginou a
gente no altar. Sim, eu sou desse nível, mas me controlei e
só agradeci.
Meu grande problema é que minha relação com
meninos é zero, então eu não tinha experiência alguma, não
sei o que fazer ou o que responder para puxar assunto sem
parecer boba, então na maioria das vezes eu só agradeço
ou rio de algo que ele fala, mas sinto que não é o bastante,
preciso aprender e rápido a interagir ou ele perderá o
interesse por mim. Por que ele está interessado, né? Eu
espero que sim.
Hoje temos mais uma prova e aí estamos livres para o
fim de semana. Eu amo estudar, mas não tem como não
amar o final de semana em casa sendo mimada pelos meus
pais, é o nosso momento de ficarmos o tempo todo juntos, e
não abro mão disso.
Finalizo a prova com facilidade e começo a arrumar as
minhas coisas na mochila para ir embora. Jack como sempre
se sentou atrás de mim. Ele normalmente é bem rápido
para ir embora, acho que é por conta de ter entrado no
nosso time. Inclusive ele bateu um recorde por ser o novato
mais rápido a entrar em um time, não duvidaria se logo
virasse o capitão. Isso quer dizer que já está bem popular e
logo mais não vai nem se quer querer sentar-se atrás de
mim. Saco, a realidade é triste. Mas o fato é que hoje ele
está demorando para arrumar tudo.
— Foi bem na prova hoje, Sarah? — Ele se vira e apoia
na mesa, me olhando.
— Ah sim, gosto dessa matéria. — Sorrio, mas estou
uma pilha de nervos, mas sei que preciso interagir e essa é
uma ótima oportunidade. Se esforça Sarah. — Como você
foi?
— Acho que não tão bem. Quem sabe poderia me dar
umas aulas depois daqui. — Ele continua me olhando e acho
que não consigo esconder a minha surpresa.
— Aula? — Arregalo os olhos e tento disfarçar sem
sucesso.
— Sim, você é boa nisso e eu preciso ir bem nas
matérias para não ter problema no time. — Dá de ombros.
— Ah sim. — Falo qualquer coisa.
— Ótimo. Hoje é ótimo pra isso, podemos ir agora
para a minha casa. — Ele acaba de pegar a sua mochila.
— Hoje? Agora? — Estou surtando com essa
possibilidade, mas não sei se vou conseguir ficar com ele
assim, sem nem me preparar para isso.
— Vai sair com alguém? — Sua feição muda
totalmente, antes estava calmo, tranquilo, mas agora ele
fica sério e bravo? Será?
— Não. — Seu rosto volta a ficar suave como antes. —
Mas tenho que ver com os meus pais, acho que minha mãe
já está me esperando lá fora.
— Ah sem problemas. Ela pode ir até lá em casa e
falar com meus pais. O que acha? — Ele sorri de um jeito
que tudo o que consigo fazer é concordar com a cabeça. —
Ótimo, vamos lá até ela. — Saímos um do lado do outro,
quase como um casal, mas sem as mãos dadas.
Todas as meninas estão me olhando com uma cara
não muito boa, mas dessa vez não vou ligar, estou muito
feliz com esse momento. Minhas borboletas dentro do
estômago estão super agitadas.
— Oi, mãe. — Me aproximo do carro onde ela estava
me esperando. — Esse é o Jack e ele me pediu ajuda para
estudar hoje. Tudo bem se eu for? — A olho com um olhar
que ela vai entender que é o menino que falei a semana
toda. Ela já o conhecia de nome porque seus pais
compraram a casa através da imobiliária do papai.
— Oi, Sra. Mônica, prazer. Meus pais estão lá em casa,
se quiser pode ir com a gente que os apresento a você. —
Ele me surpreende ao falar de forma tão gentil com a minha
mãe.
— Prazer, Jack. Por mim tudo bem, levo vocês até lá.
Podem entrar. — Mamãe sorri de uma forma que sei
interpretar bem, está feliz por mim.
Entramos no carro e vamos para a sua casa. É
simplesmente maravilhosa, bem que papai falou que era a
melhor casa de toda a área. É gigante, uma mansão na
verdade. Sabia que eles eram ricos, mas nem tanto.
Pelas fofocas da cidade, seus pais são donos de quase
tudo em Daytona Beach que é a cidade vizinha a nossa, tem
cerca de 70 mil habitantes, é bem maior do que aqui. Seus
pais comentaram para os meus que eles estavam
procurando uma cidade mais calma, por isso que vieram
para cá, sorte a minha.
Entramos na sua casa e mamãe foi conversar com
seus pais sobre eu ficar lá. Deu tudo certo e ela combinou
que me buscaria em no máximo duas horas, pois mais do
que isso não iria pegar bem. Caramba vou ter duas horas
inteiras só com ele. Que maravilha e que medo.
— Prazer, Sr. Oliver e Sra. Charlotte. — Cumprimento
seus pais.
— O prazer é nosso, querida. Fico feliz que veio ajudar
o Jack na matéria, podem usar o escritório para estudar. —
Pega a sua xícara de chá e dá um gole.
— Mãe, vamos estudar no meu quarto, é melhor. Tudo
o que precisamos já está lá. — Dá de ombros como se não
fosse nada demais, mas eu estou nervosa. Vamos para o
quarto dele?
— Tudo bem. Bom estudo!
— Vem. — Ele pega a minha mão e me leva para o
seu quarto.
Ele está me dando as mãos! Nossa! Como a sua pele
é gostosa! Se mantenha tranquila, Sarah, por favor não vá
pagar mico na frente dele.
Seu quarto é bizarramente bem-organizado,
principalmente para um menino. Tudo está cuidadosamente
no lugar certo e olha que é um quarto gigante, maior que
muitas casas por aí. A decoração é linda nas cores cinza e
preto. No canto direito tem um espaço com um sofá e uns
pufes jogados no chão. Ele me leva até lá e nos sentamos.
Ele está do meu lado.
— Bem bonito o seu quarto, tem bom gosto. —
Observo tudo a volta.
— Sim, é bem bonito. — Ele fala olhando diretamente
para mim, seu olhar me corrói por dentro e engulo seco.
— Vamos começar pelo capítulo quatro? — Mudo o
assunto porque é demais para mim.
— Pode ser. — Dá de ombros.
Passamos uma hora estudando, ele às vezes
encostava em mim comentando algo e isso me deixava
feliz. Gosto de receber seus toques, mesmo que sejam
super-rápidos.
— Que tal uma pausa? — Ele pede.
— Tudo bem. Acho que estudamos bem agora, posso
pedir para minha mãe me buscar já. — Falo um pouco
decepcionada, pegando o meu celular.
— Não, ainda não. – Ele encosta na minha mão me
fazendo guardar o aparelho, levo um susto. — Vamos
conversar um pouco, me fala mais sobre você.
— Sobre mim? — Ele balança a cabeça concordando.
— Ah, não tenho muito o que falar. Sempre morei aqui.
— Você tem namorado ou algum ficante? — Arregalo
os meus olhos. Não esperava esse tipo de pergunta. Ele me
olha sério, esperando uma resposta.
— Não. — Ele sorri.
— Fico feliz em saber disso. — Ele se aproxima.
— Fica? — Ele coloca um fio de cabelo meu atrás da
orelha e meu coração bate muito rápido.
— Fico sim. — Ele pega uma das minhas mãos e faz
carinho.
— E você? Tem namorada? — Engulo seco mal
acreditando que tive coragem de perguntar, acho que é a
adrenalina.
— Não. Desde que cheguei na escola só tenho olhos
para uma pessoa, mas parece que ela não quer nada
comigo. — Ele levanta a cabeça e me olha.
— Sério? — Não sei o que dizer.
— Aham. Tento puxar assunto com ela nas aulas, mas
ela não me dá muita bola. — Será que ele está falando de
mim?
— Talvez ela queira, mas não sabe se expressar. —
Quem sou eu que de repente criei coragem?
— Espero que sim, por isso te chamei para estudar
hoje. Achei que se sentiria melhor sem as pessoas por
perto. — Ele se aproxima mais e mais. Respiro com
dificuldade. — Desde que te vi pela primeira vez, quis estar
perto de você, Sarah.
— Quis? — Ele fica bem próximo a minha boca.
— Como quis. Você é diferente das meninas, não fica
tentando aparecer. É bonita, inteligente e gosto do seu
senso de humor. — Ele olha a minha boca por um longo
tempo. Como eu quero que ele me beije, me beije por favor,
quero gritar, mas não faço nada. — Você já foi beijada
antes, Sarah? — Balanço a cabeça que não, e olho para
baixo um pouco envergonhada porque já sou velha para
isso. — Ei — Ele levanta meu rosto com uma das suas mãos.
— Você é incrível. Posso te beijar?
— Sim.
Ele se aproxima suavemente e encosta seus lábios no
meu. Meu coração está acelerado, parece que estou
sonhando. Seu beijo é carinhoso, gentil, acho que por saber
que é a minha primeira vez está tendo o maior cuidado
comigo. Então ele coloca suas mãos ao redor da minha
cintura e me aperta um pouco. Sinto uma energia quente
subindo pelo meu corpo. Coloco minhas mãos no seu cabelo
e aproveito um pouco desse momento.
— Sarah, como é bom beijar você.
Continuamos nos beijando por um tempo. Ele me
puxa um pouco mais para perto dele e eu vou porque esse é
o momento mais erótico que tive em toda a minha vida.
Sempre li ou vi nos filmes o que era se sentir assim, mas
agora aqui com ele, a realidade é muito melhor. Não nos
desgrudamos, não paramos de nos beijar até que a mãe
dele grita do corredor falando que a minha mãe chegou.
Nossa, quanto tempo ficamos assim? Já deu a hora?
Arregalo os olhos e fico muito nervosa com a situação.
— Já vamos descer, mãe, estamos só finalizando o
último capítulo. — Ele grita.
— Preciso guardar as minhas coisas. — Levanto rápido
e vou colocando as coisas dentro da mochila, nervosa com a
situação.
— Ei. — Ele me para, coloca um fio de cabelo atrás da
minha orelha. — Não fica nervosa com o que houve aqui,
ok? Eu realmente gosto de você.
— Gosta? — Respiro um pouco aliviada.
— Sim. Fico feliz que nunca tenha beijado ninguém,
somente eu. — Sorrio bem sem graça. — Vamos, vou te
acompanhar até a porta. — Ele pega a minha mão
novamente e descemos juntos. — Até mais, Sarah.
— Tchau, Jack.
Meu coração está só alegrias, foi uma loucura? Talvez,
mas foi um primeiro beijo perfeito.
Capítulo 6
— Mas que merda! Tinha certeza de que essa mão era
minha. — Jogo as cartas na mesa.
— No seu sonho, né? Estou dando uma surra em
vocês. — Alex pisca os olhos para mim, eu ignoro
totalmente.
Ele é filho herdeiro de uma rede hoteleira de luxo, é
um empresário de sucesso, como todos nós.
— Hoje, né? Semana passada quem levou uma grana
fui eu. — Rodrigo se intromete.
Ele é um advogado formidável e implacável. Sorte
nossa que é nosso advogado pessoal também. Possui uma
empresa que cuida da área corporativa e só aceita clientes
bilionários por indicação.
— Semana passada já passou, se pensam assim nos
seus negócios, estão ferrados. — Alex tenta nos tirar do
sério, como sempre sem sucesso.
Seu conhecimento nos negócios é impressionante,
aprendi muito com ele no início, mas hoje, sou muito melhor
do que ele.
— Você acha mesmo que esse truque funciona com a
gente? — Rodrigo se serve de mais uma dose de whisky.
— Claramente funciona com o Adriano. — Falo
apontando pra ele sem que ele perceba.
— Que? De que truque estão falando? — Todos rimos
dele.
Adriano é um ótimo amigo, mas um playboy nato. Ele
é herdeiro, mas nunca quis saber da empresa da família,
deixa que os irmãos cuidem disso, enquanto ele só quer
saber de bebidas, festas e mulheres.
— E vem cá Alex, por que está todo alegrinho hoje? —
Pergunto.
— Também reparei nisso Adam, certeza que é algo de
trabalho. — Rodrigo franze a testa cobrando uma resposta.
— Desembucha logo. — Adriano se ajeita na cadeira
daquele jeito despachado dele.
— Meu pai me passou a unidade de Milão, Paris e
Miami para administrar. — Dá de ombros como se não fosse
nada demais, mas sabemos o significado disso para ele.
— Poxa, ficamos muito felizes por você. Sabemos o
quanto trabalha para mostrar que merece tudo o que
conquistou. Temos certeza de que será brilhante nesse
projeto — Levanto-me e vou até ele o cumprimentando com
um abraço rápido, em seguida os outros fazem o mesmo.
— Obrigado, pessoal. — Agradece.
— E falando em sucesso. — Adriano me olha animado.
— Adam, fiquei sabendo sobre o jogo que está
desenvolvendo. Vai ser como aquele primeiro que criou? —
Ele adora meus jogos e sempre acompanha os lançamentos
da minha empresa.
— Tenho uma boa sensação de que sim. Vai ter a
mesma visão por ser um jogo de RPG, mas a estratégia e
finalização desse jogo está ainda mais incrível. Criamos
dentro dele mundos para serem desbloqueados. Estou
apostando alto nesse jogo! — Tomo um gole do meu whisky,
quando termino percebo o quanto estou orgulhoso do que
estamos criando.
— Mal posso esperar para jogar, inclusive quero
exclusividade. Pode me liberar antes até para testar? Sou
bom nisso. — Adriano brinca, mas sei que está falando
sério. Em todos os jogos ele me pede isso e sempre envio
para ele antes do lançamento oficial. Aceno que sim,
confirmando que o farei. — Porra! Perdi de novo, mas que
merda! — Adriano se levanta da mesa jogando as cartas
com raiva. Ele já está perdendo R$20 mil e a noite está só
começando.
— Você não pode estar realmente achando que vai
ganhar, né Adriano? — Alex vira seu rosto olhando
diretamente para ele e levanta a sua sobrancelha
questionando. Seguramos o riso porque ver ele perdendo o
controle, é hilário.
— Vão a merda. — Ele sai atrás da garrafa de whisky
para encher mais um copo e Rodrigo vira-se para mim.
— Vai discursar no evento que horas, Adam? —
Rodrigo pergunta.
— O discurso vai ser às vinte e uma horas para abrir o
leilão, devo ficar mais um pouco e depois vou embora
discretamente, como em todos os anos. — Dou de ombros,
porque sabem que não aguento esses eventos em que sou
obrigado a ir.
— Chegarei próximo a esse horário. — Alex fala e
Rodrigo acena que também. Eles assim como eu,
compartilham da mesma estratégia para ficar apenas o
tempo necessário.
— Vamos para a próxima rodada? — Adriano chega
com duas doses de whisky no copo e senta-se na cadeira. —
Agora sinto que vou ganhar. — Rimos, enquanto Rodrigo nos
dá as cartas.
Ele sempre acha que vai ganhar e sempre perde no
final.
Acordo cedo, como todos os outros dias e vou para a
minha academia. Gosto de me exercitar bem pela manhã,
mesmo que tenha dormido tarde. Sempre acordo cedo, me
acostumei a dormir pouco e prefiro assim.
Minha academia fica em um anexo da minha própria
casa. Construí separado porque gosto de andar na minha
propriedade, aproveitar o espaço que tenho. Moro dentro de
um condomínio de casas no bairro de Joá.
Minha casa conta com quatro suítes para hóspedes,
meu quarto é na cobertura e possui um andar inteiro. Tenho
uma sala profissional de game, claro, com tudo de mais
tecnológico que possa ter no mercado e todos os jogos que
já desenvolvi, bem como meus quadros de troféus. Tenho
outra sala para o poker, onde recebo os meninos também,
nela fica um dos bares que mais gosto, com todos os tipos
de destilados. Na sala principal, tenho a adega climatizada
para quinhentas garrafas de vinhos.
A área externa é a minha paixão, pois além da
academia toda de vidro para não perder a beleza do Rio de
Janeiro, tenho a piscina de borda infinita, jacuzzi, sauna e a
área de churrasqueira. Sou mais caseiro, então ter uma
casa que espelhe quem sou, faz muita diferença. Preciso de
um espaço confortável para receber amigos e poder
descansar quando desejo. Esse projeto ficou perfeito.
Faço uma série completa de exercícios e finalizo com
um mergulho na piscina. Fico ainda uns minutos curtindo o
sol para manter meu bronzeado. Essa rotina logo quando
acordo faz toda a diferença para meu dia seguir bem. Como
lido com uma empresa americana, o fuso horário é
diferente, então consigo adaptar um pouco meus horários e
fujo sempre das horas de trânsito, tendo mais tempo para
me cuidar.
Olho o meu celular e vejo uma mensagem do André,
um dos caras que gosta de apostar corrida comigo de vez
em quando.
André: Hoje às 23h?
Adam: Meia noite.
André: Combinado.
Agora sim estou animado! Depois de cumprir a minha
obrigação, vai ser a minha vez de aproveitar.
Adam: Joana, mande que meu motorista deixe meu
Bugatti Divo a disposição porque usarei ele após o evento.
Comprei esse carro só para isso. Vou fazê-lo comer
poeira. Não vai nem saber o que foi que aconteceu.
Sinto que essa noite vai me trazer boas emoções.
Capítulo 7
Estou a cerca de vinte minutos olhando o vestido que
a Tia Irene comprou para eu usar no evento “Bilionários
solidários”, de hoje. Ele é lindo, perfeito na verdade. É todo
branco com pequenos cristais prateados e veste
perfeitamente ao corpo, valorizando cada curva que tenho,
com um decote maravilhoso, mostrando bem meus seios,
mas de uma forma muito elegante. Quando achei que isso
já seria mais do que suficiente, vi uma calda maravilhosa,
imitando pétalas de rosas brancas que deixa o vestido uma
verdadeira obra de arte.
— Nossa, tia, esse vestido é um sonho. — Falo
emocionada com meus olhos cheios d’água.
— Ah, eu sabia que ficaria perfeito em você. Quando o
vi, tinha certeza de que tinha sido feito para você, querida.
— Ela sorri e me toca nos braços, confirmando o que estou
sentindo também.
— Tia, esse vestido é tão perfeito que poderia usá-lo
no meu casamento, se eu fosse me casar um dia. — Uma
tristeza percorre meu coração.
— Como assim, Sarah? É claro que vai se casar um
dia! Não me venha com essas bobagens, não agora. — Sinto
seu olhar em mim, me repreendendo.
— Ok, Tia, não precisa ficar brava, vamos aproveitar
esse momento mágico. Ele me fez me sentir uma princesa.
— Passo as mãos no vestido, sentindo seu tecido fazendo
contato com a minha pele — Obrigada por isso. — Sorrio.
— Agora sim, de nada querida. Mas ainda vai se sentir
mais princesa ainda quando fizermos a sua maquiagem e
cabelo. Vamos lá que ainda temos muito o que arrumar.
Sinto que essa noite será especial. — Fala viajando, como se
estivesse imaginando tudo.
— Tia! O que foi que andou aprontando? — Viro
imediatamente para ela porque sinto que pelo seu tom de
voz vem armação aí.
— Ai, menina, para de ser chata pelo menos uma vez
na vida. Vamos focar na princesa que está se sentindo e
vamos nos divertir hoje, ok?
— Tia! — Falo incisivamente.
— Ok, Sarah? — Me olha com aquela cara de brava e
de quem não vai receber um não como resposta.
Conheço bem seu temperamento, nem vale a pena
brigar quando veste essa capa de proteção.
— Ok, prometo que vou me esforçar. — Sou sincera,
realmente vou, mas porque estou me sentindo de fato
maravilhosa. Usar vestido de gala tem seus benefícios.
— Ótimo. Vamos ter uma noite memorável. — Minha
tia sai do closet e chama a maquiadora para começar a me
arrumar. Temos três horas para ficarmos prontas, espero
que seja o suficiente.
***
Depois de exatas duas horas e cinquenta minutos
estou pronta. Nossa! Me olho no espelho com o visual
completo e mal posso acreditar no que vejo. Sei que sou
bonita, eu realmente me vejo bem, mas há muito tempo
não me contemplo dessa forma. Meu cabelo castanho
escuro no cumprimento dos meus ombros, junto com a
minha pele branca, fazem um contraste perfeito com esse
vestido.
A maquiadora acertou na maquiagem, fez algo suave
no tom de rosa, destacando meus olhos castanhos claros,
como eu gosto. Minha tia entra nesse momento no quarto
com uma taça de espumante e para.
— Minha menina, como está perfeita. Não terá
ninguém mais bonita do que você nesta festa. — Fala com
os olhos emocionado. — Deixe-me tirar uma foto para
mandar para a sua mãe, ela vai cair de costas quando ver
você assim. Sei que ficará muito feliz.
— Obrigada Tia. Obrigada por esse vestido e por
querer me ver sempre bem. Te amo muito! — Vou até ela e
lhe dou um abraço apertado.
— Ah, minha querida, eu te amo também. Agora
chega que não podemos borrar nossa maquiagem, hoje é
um dia de festa e vamos nos divertir. — Ela se afasta e pega
o celular.
Faço uma pose bem bonita e ela tira algumas fotos
para enviar para a mamãe.
Aproveito que me empolguei e fazemos um vídeo
juntas brindando e mandando beijos para ela. Sei que vai
gostar de receber isso, sempre enviamos tudo o que
fazemos para ela acompanhar de perto e não se sentir mal
por estar longe.
Tomamos mais uma taça de espumante e saímos para
o famoso evento. Até que estou bastante animada. Vai ser
uma armadilha para me apresentar a alguém?
Provavelmente! Mas dessa vez, quero mesmo curtir a festa.
Estou um arraso e estou me amando muito.
Como eu mesma digo para as minhas pacientes,
precisamos desses momentos de relaxamento e precisamos
nos falar diariamente como somos merecedoras e
maravilhosas. Preciso começar a fazer mais o que falo para
elas fazerem. Tenho que ser um exemplo de superação.
Chegamos dentro do horário, quando o motorista abre
a nossa porta do carro para descermos, fico chocada com o
lugar. Estamos em uma casa de festas lindíssima. Sei que
todos esses eventos são de um luxo exorbitante, mas esse é
diferente. Pelo que a minha tia me explicou é o evento mais
esperado do ano, então tudo está impecável. O luxo é
visível, mas ao mesmo tempo, tem um aconchego, não sei
explicar muito bem, mas me sinto feliz aqui. Estou feliz por
ter vindo.
Entramos no salão principal, enquanto minha tia
cumprimenta suas amigas. Pego uma taça de espumante,
prometi que ia me esforçar e vou mesmo, conto com o
álcool para me permitir me soltar um pouco. Ela me chama
e me faz cumprimentar algumas pessoas, até agora tudo
bem. Noto que ela faz sinal para uma amiga que logo abre
um sorriso imenso e vem até nós, acompanhada de um
homem.
Ah, começou. Estava demorando. Da última vez que
vim em um desses eventos, quando pisei no salão, ela já
me empurrou para um neto da sua amiga. Posso adiantar
que não tínhamos assunto nenhum e tudo o que ele falava
era sobre sua riqueza. Isso é tão ultrapassado, não acreditei
que alguém ainda fazia coisas assim.
— Olá, Sarah. Nossa como está linda! — Sua amiga
Flora vem até nós e nos cumprimenta. — Esse aqui é o meu
neto, Breno.
— Olá, prazer. — Digo apenas isso, mas tento dar um
sorriso forçado.
— Prazer, Sarah, realmente está deslumbrante! —
Breno fixa seus olhos em mim, na verdade, nos meus seios.
Minha vontade de virar os olhos é grande, mas pela minha
tia, me seguro.
— Vamos nos sentar, tia? — Pergunto com um olhar
que sei que vai entender.
— Ah sim, claro. Flora, estão na nossa mesa, certo? —
Me olha de volta com um sorriso nos lábios.
— Estamos sim, vamos nos sentar, bom que eles
podem conversar melhor. — Pega seu neto pelo braço e vão
em direção ao nosso lugar. Que ótimo. E eu achando que ia
mega me divertir hoje. Saco.
Seguimos pelo salão, até acharmos o lugar reservado
em nosso nome. Tento me sentar longe do Breno, mas claro,
falho amargamente. Essas duas já combinaram tudo e
deram um jeito de ficarmos perto um do outro. Claro que
deram, né? Até parece que não conheço a peça.
Forço um sorriso e pego mais uma taça de
espumante. Quer saber? Que se foda. Vou me divertir sim, e
se para isso, tiver que aturar esse ser humano aqui do meu
lado, tudo bem. O espumante vai me ajudar a amenizar a
situação. Não posso ser injusta, ele é bem bonito. É loiro,
olhos claros, mas tem uma cara de novinho, acho que é
porque não tem barba. Tão estranho hoje em dia ver
alguém sem barba. Vai que ele é gente boa! Então melhor
eu parar com essa birra chata. Se olhar bem para ele, seus
lábios são bonitos também, será que é bom de cama?
Opa, acho que o espumante já está fazendo efeito
demais. - Rio pensando.
Ah quem eu quero enganar? Por mais que ele seja
bonito e tal, não senti nem uma mísera faísca saindo, nem
um pouco de tesão nele. Será que estou quebrada para o
sexo? Não consigo encontrar alguém que me desperte algo
só em ver a pessoa. Queria tanto sentir isso novamente, o
frio no estômago, a sensação quando estamos perto da
pessoa, o fogo subindo.
Quem sabe um dia?
Capítulo 8
“Sete anos atrás”
O final de semana passou arrastando, não vi o Jack
novamente, mas ele me mandou mensagem no WhatsApp e
conversamos bastante. Estou muito ansiosa para vê-lo no
colégio hoje. Não sei bem o que esperar, afinal ele é popular
e eu não. Estamos em grupos bem separados. Será que ele
vai querer ser visto comigo? Não sei e não quero me
machucar.
oloco uma saia rodada cinza que valoriza a
C
minha cintura fina, junto com a blusa do uniforme e meus
acessórios que amo. Muitas pulseiras, brinco pequeno e
colar. Uso pouca maquiagem normalmente, pensei em
passar um pouco mais, mas no final achei melhor não. Ele
perceberia que foi por causa dele e não quero ser tão óbvia
assim, além do mais ele gostou de mim como eu sou.
Pronta, meu amor? — Mamãe me pergunta e
—
entendo o que ela quer dizer.
Claro que contei tudo para ela. Ela não sabia se ficava
feliz ou preocupada porque achou tudo muito rápido, mas
no final ficou feliz por mim, porque expliquei o quanto ele foi
gentil.
Sim, só nervosa. — Deito minha cabeça no
—
encosto do carro.
É normal, mas por tudo que me falou dele,
—
parece um bom menino. Qualquer coisa me liga, ok?
— Obrigada, mãe, te amo! — A abraço
rapidamente.
ntro na escola e ainda não o vejo, faço meu
E
caminho normal até chegar na sala. Sento-me na cadeira
esperando a primeira aula com o coração apertado. Ele
chega atrasado, quando o professor já estava fazendo a
chamada, então não conseguimos ter muita interação. Só
um “oi” que ele sussurrou no meu ouvido e para mim foi o
bastante para arrancar um sorriso do meu rosto.
Ufa, a aula acabou e temos intervalo. Não quero
ficar igual uma idiota torcendo para que ele resolva falar
comigo, então prefiro sair como sempre faço para dar uma
volta, mas eu não estava preparada para o que aconteceu.
into alguém me puxando suavemente e me
S
dando a mão. Quando olho para as mãos dadas, olho
também para cima e vejo Jack. Meu coração para.
Onde pensa que está indo sem mim? — Sorri
—
de um jeito tão fofo que abro um grande sorriso.
— Oi, Jack. Ah, achei que ia ficar com os seus
amigos.
Vou ficar com você. Vamos para o intervalo
—
juntos, ok? — Balanço a cabeça e saímos andando de mãos
dadas.
laro que todo mundo ficou olhando, não vou
C
mentir e falar que não estava nervosa, estava e muito, mas
ao mesmo tempo, estava adorando toda essa atenção.
Nunca tive isso antes.
Vem cá, tive uma ideia. — Ele me puxa para
—
um canto, onde tem uma porta que nunca reparei.
Entramos sem ninguém nos ver. É tipo um depósito de
limpeza. — Estava doido para ficar sozinho com você, não
consigo parar de pensar no nosso beijo. Quero te beijar
novamente, posso?
— Sim.
ossos lábios se misturam, ele me segura pela
N
cintura e me puxa pra mais perto dele. Continua gentil, mas
sinto uma urgência diferente. Acho que ele ficou pensando
nisso tanto quanto eu. Passo as mãos pelo seu cabelo,
adoro sentir a sua maciez.
Como eu queria te beijar de novo. — Ele puxa
—
bem de leve meu cabelo e me dá um beijo no pescoço. Isso
me excita muito, é definitivamente algo que nunca explorei
antes. — Sei que para você é tudo muito novo e não quero
te assustar, mas quero que se sinta a vontade de me tocar
onde quiser. — Arregalo os olhos com o que ele fala. Onde
eu quiser? Isso está indo rápido demais, mas quero tocar
seu corpo sim.
Coloco minhas mãos nos seus braços. Ele tem
músculos bem fortes, com certeza é do futebol americano.
Ele me pressiona contra uma parede e passa a mão na
minha cintura de forma diferente, descendo um pouco mais,
ficando mais próximo da minha entrada. Sinto uma energia
forte subindo pelo meu corpo, com certeza estou excitada.
A adrenalina me faz passar a mão no seu abdômen e senti-
lo dessa forma me arranca um gemido.
— Porra, não geme assim, olha como você me deixa.
— Ele se esfrega em mim e vejo o quanto está duro, mas
isso me assusta e o empurro suavemente. — Me desculpa.
Não quero te assustar, vamos no seu tempo, só quis te
mostrar o quanto te quero, Sarah.
— Isso está bem rápido para mim Jack. Não me leve a
mal, mas tive meu primeiro beijo na sexta, isso é muito para
mim. Desculpa. — Abaixo a cabeça com vergonha por não
poder ir tão rápido quanto a maioria das meninas da minha
sala vão, mas não quero ultrapassar um limite que sei que
vai me deixar mal.
— Ei, não tem por que se desculpar. Eu que peço
desculpas por ter me empolgado. Vamos no seu tempo,
princesa. — Ele beija suavemente meus lábios e me faz
carinho no rosto, até o intervalo acabar e voltarmos para a
sala, juntos.
Estou vivendo um sonho.
Alguns dias se passam e continuamos da mesma
forma. Ele se senta atrás de mim na aula e em todos os
intervalos, pega a minha mão e saímos juntos. Começamos
a ficar mais com seus amigos. Era o que eu queria, né? Mas
para mim é difícil me enturmar, não sou como ele todo
extrovertido, então fico mais na minha. Tem dias que são
mais difíceis porque sinto os olhares de reprovação das
meninas, principalmente da Chloe que não esconde nem um
pouco sua repulsa por mim. Os amigos dele me tratam bem,
mas sei que é por conta dele, deve ter pedido, sei lá.
Hoje ele foi chamado na sala do técnico, não sei por
que, enquanto isso resolvo ir à biblioteca. Pensei em ficar
com a sua turma, mas vamos ser sinceras, sem ele lá, não
tenho a menor vontade. Pego um livro na estante e me
sento para ler. O Will um dos amigos dele do treino que é o
mais gentil comigo aparece.
— Oi, Sarah, veio pegar um livro também? — Ele se
aproxima.
— Oi, Will, sim. Tinha um tempo que não lia. — Sorrio
e reparo que ele também.
— Surpresa? — Ri — Alguns jogadores também
gostam de ler, apesar de sermos poucos. Posso me sentar
com você?
— Claro. — Aponto a cadeira que está na minha
frente.
— Quis dar um tempo do pessoal? — Arregalo os olhos
sem graça com essa pergunta. — Relaxa, eu também quis,
eles são muita coisa às vezes, até eu fico de saco cheio.
— Jura? Nunca te imaginei dessa forma.
— Sou mais que um rostinho bonito, Sarah. — Ele sorri
e eu morro de vergonha.
Ele de fato é lindo. Alto, moreno e corpo bem sarado.
Sei que faz muito sucesso por aí.
Mudo rapidamente de assunto perguntando sobre o
que está lendo e conversamos bastante. Rio horrores
quando me conta um dia de bebedeira dele numa festa que
passou mal. De repente Jack aparece do nada com uma cara
séria e com raiva.
— Posso saber o que foi de tão engraçado que está
falando com a minha namorada? — O quê? Sou sua
namorada? Ele nunca falou isso, mas gostei.
— Fala, cara, estava só contando algo que houve em
uma festa, nada demais. — Dá de ombros.
— É, Jack, nos encontramos por acaso e ficamos
conversando. Quer se sentar aqui? — Aponto a cadeira para
ele.
— A aula já vai começar, melhor a gente ir. — Ele vem
até mim e me puxa pela mão, me dá um beijo na frente de
todos. Fico sem graça, mas adoro quando ele me beija
assim. — Vai devolvendo o livro que preciso falar algo com o
Will, tá? Sobre o treino. Peguei um lanche para você
também, não sabia se já tinha comido.
— Tudo bem, obrigada. Realmente não comi, vou te
esperar ali fora. — Sorrio e faço o que ele pede.
Me sinto tão protegida por ele, a forma que cuida de
mim, me deixa a cada dia mais apaixonada.
Ele demora alguns minutos e quando aparece, Will
vem logo atrás com uma cara nada boa. Deve ter
acontecido algo no treino.
— Tchau Will, obrigada pela companhia. — Tento falar,
mas ele passa reto e nem me responde. Que estranho.
— Não liga para ele, princesa, está mal-humorado
porque o técnico está duvidando do seu potencial. — Coloca
seu braço ao redor do meu e saímos andando.
— Nossa, jura? E pediram para você falar com ele?
— Sim. Tenho uma novidade. Sou o novo capitão do
time. — Paro de andar e me viro para ele com um enorme
sorriso no rosto.
— Ah, Jack, parabéns! Você conseguiu, sabia que ia
conseguir. Estou feliz por você. — Dou um abraço apertado
e um beijo rápido nos seus lábios.
— Como se sente namorando o capitão do time? —
Arregalo os olhos.
— Estamos namorando?
— Claro que estamos, não está pensando em outro
menino, né, Sarah? — Ele fecha os olhos e aperta um pouco
meu braço.
— O quê? Lógico que não. — Ele solta um pouco. — Ei,
me machucou. — Olho para os meus braços e vejo que ficou
um pouco vermelho.
— Me desculpe, princesa. Fico louco só de pensar
nisso. Sabe o quanto eu gosto de você, ne? — Ele faz
carinho onde me apertou e se aproxima. — Somos tão
perfeitos juntos, juro que vou te proteger de garotos que
não valem nada.
— Olha, está tudo bem! Gosto quando me protege e
fico feliz em saber que estamos namorando. Só quero você.
— Repete isso. — Coloca as mãos no meu rosto
suavemente.
— Só quero você. — Ele me puxa para o canto da
biblioteca, envolve as suas mãos na minha cintura e me dá
um baita beijo de perder o ar.
Eu me derreto em seus braços, meu namorado é
perfeito.
Capítulo 9
Olho no relógio e vejo que já são vinte horas. É, não
posso mais enrolar, tenho que ir para o meu evento. Sou o
anfitrião da noite e é meu dever cumprimentar as pessoas e
garantir que tenham uma excelente experiência, até porque
estão pagando por isso.
O protocolo normal é somente cobrar o valor do
ingresso que é considerável, mas nesse caso, por se tratar
do maior evento da América Latina, fazemos durante toda a
noite uma arrecadação substancial para ONGs através de
doações.
Apesar de não gostar dessa exposição, já me
acostumei com esse tipo de situação, sei que é o preço que
pago pela minha fortuna e pelo cargo que ocupo na
empresa. Ser o CEO é uma grande responsabilidade. É a
minha imagem representando a empresa perante o mundo,
então qualquer passo em falso pode custar muito caro para
ambos. Além disso, assim como eu, minha empresa leva
muito a sério os eventos beneficentes.
Nos últimos anos, ganhamos diversos prêmios pela
qualidade e perfeição do “Bilionários Solidários”. Fazemos
dois ao ano e tomamos muito cuidado ao selecionar as
ONGs participantes. Essa noite será para crianças em
situação de vulnerabilidade social e normalmente esse tipo
de causa faz com que os convidados contribuam mais.
Cada vez que uma pessoa faz a sua contribuição,
mostramos no painel que fica ao centro da festa, junto ao
palco. Por quê? Porque lidamos com homens e mulheres
influentes na sociedade, e principalmente, pessoas de ego
grande. Quando percebem que alguém contribuiu mais do
que eles, tendem a querer fazer uma nova doação e assim
vai a noite toda.
Sinceramente não me importo com o ego deles, mas
se isso incentiva as pessoas mesquinhas a abrirem a sua
carteira e liberar o recurso, ótimo. Eu realmente me
preocupo com essas ONGs e quero que recebam ajuda de
verdade, por isso, mesmo sendo uma noite maçante, fico
aliviado em saber que é por uma boa causa.
Nunca passei fome ou dificuldades mais sérias na
minha vida, mas tenho ciência de que um percentual
grande da população vive em pobreza e preciso fazer a
minha parte para amenizar essa situação. Esperamos
arrecadar hoje muitos milhões de reais.
Coloco meu terno e estou pronto. Opto pelo meu
smoking azul marinho com detalhe preto na gola. Ele é
elegante na medida certa e ao mesmo tempo, me difere dos
outros convidados. Como anfitrião, tenho que usar uma
vestimenta adequada ao meu posto da noite.
Vou ao encontro do meu motorista que já está me
aguardando. Entro no meu Rolls-Royce Spectre 2024, é um
modelo novo, elétrico, na cor cinza claro. Quando vi que
lançaram fui um dos primeiros a comprar. O que posso
dizer? Um evento como esse, merece um carro dessa
magnitude, pelo menos para essa parte da noite, porque
quando tudo isso acabar, tenho uma corrida para ganhar.
Minha casa fica próxima ao endereço da noite, com
isso, chego exatamente às 20h30, bem no horário que
gostaria.
Respiro fundo antes de entrar, porque sei que no
momento que pisar para fora do meu carro todas as
atenções estarão voltadas a mim e a minha empresa. Faço
sinal ao meu motorista que desce primeiro do carro e vem
em minha direção para abrir a porta.
Saio com um sorriso discreto no rosto e aceno para os
paparazzis que já me aguardam ansiosos. Passo pelo tapete
vermelho e faço pose para que eles tenham a oportunidade
de tirar fotos melhores, isso faz parte do jogo. Tenho que
manter uma boa relação com a imprensa e o custo disso,
nesse momento, serão só algumas fotos de bons ângulos.
Aproveito para cumprimentar rapidamente algumas pessoas
e finalmente entro no evento.
Uma das organizadoras me avisa que precisaram
fazer algumas alterações e que irei discursar às 21h20.
Merda! Não gosto de mudanças nos meus horários, ainda
mais assim, mas não tenho o que fazer agora. Deixo claro
que não tolerarei mais atrasos ou mudanças na
programação e sigo fazendo meus contatos com os
convidados.
— Agradeço a sua presença. Pessoas como o senhor
são extremamente importantes para a nossa relação. —
Cumprimento o presidente de uma empresa multinacional.
— Conte comigo, faço questão de estar presente,
ainda mais em uma causa tão necessária quanto essa de
crianças em situações de risco. — Aperta a minha mão e
fala com confiança. Como eu previ, eles adoram esse tipo
de ação solidária.
— Perfeito, fico feliz em ouvi-lo falar isso. Tenho
certeza de que teremos uma boa contribuição hoje, não é
mesmo? — Levanto as sobrancelhas e finjo um sorriso.
— Claro. — Ele se aproxima e fala discretamente —
Serei o maior doador. — Diz orgulhoso. Agradeço e me
despeço gentilmente.
Em cada pessoa que cumprimento, aproveito o ego de
cada um para aumentar a competição entre eles, claro que
discretamente. Sei que funciona porque todos me falam a
mesma coisa. Serei o maior doador hoje. Ótimo. Sinto que
estou fazendo meu trabalho bem-feito. Eles vão jogar
dinheiro tentando mostrar quem tem a maior fortuna e é
exatamente isso que precisamos.
— Fala irmão, como está indo tudo? — Adriano se
aproxima e me estende um aperto de mão com um abraço
discreto.
— Achei estranho não ter te visto ainda, já falei com o
Rodrigo. — Comento enquanto analiso seu jeito, porque
imagino o motivo disso.
— Sim, é isso mesmo que está pensando. — Começa a
rir com uma cara suspeita — Estava com uma menina, sabe
como é.
— Vindo de você, posso muito bem imaginar. Não é
possível que sempre se comporte assim, estamos em um
evento para caridade, Adriano. — Balanço a cabeça em
negação.
— Porra, até você? Está parecendo minha mãe
falando. — Faz uma careta. — Sei que é caridade e pretendo
como sempre fazer uma grande doação, mas posso muito
bem deixar algumas mulheres felizes também.
— Não vou me meter nisso, só cuidado com quem vai
fazer merda, sabe como é nesse nosso meio. — Falo
discretamente, tomando cuidado para que ninguém nos
escute. Não sei por que insisto em trazer consciência se o
cara nunca nos escuta.
— Adam, todas as mulheres que saio, sabem
exatamente o que esperar de mim, ou seja, nada. Se elas
ficarem imaginando coisas, é problema delas, pois não
escondo quem eu sou para ninguém. — Dá de ombros então
respiro fundo. Tenho que ter muita paciência com ele e hoje
não estou a fim.
— Bom, você que sabe o que faz. — Encerro esse
assunto sem sentido.
— Exato. Ah, Alex te falou que teve um imprevisto né?
— Fala mais baixo e discretamente porque não gostamos
que ninguém saiba sobre a nossa vida pessoal e isso o
Adriano respeita.
— Sim, ele me avisou, foi algo na empresa. —
Concordo olhando com cuidado para ver se tem alguém
tentando prestar atenção na nossa conversa.
— Isso. — Acena com a cabeça. — Bom, acho que está
quase na hora do seu discurso. Tudo certo? — Enquanto ele
me pergunta isso, reparo em uma mulher belíssima que
passa por mim usando um vestido branco sexy e elegante
ao mesmo tempo. Paro de prestar atenção no que está
falando. Apenas permito que meus olhos acompanhem a
mulher mais bonita que já vi na minha vida. — Adam?
Adam? — Pergunta mais alto.
— O quê — Levo um susto e viro meu rosto para ele.
— Porra, cara, o que houve com você? Não me ouviu
falando? — Volto a olhar para onde ela estava, mas não a
vejo mais. Merda.
— Quem é ela? — Penso em voz alta, ainda
hipnotizado por sua beleza.
— Ela quem? — Adriano olha para os lados tentando
entender do que estou falando. — Cara, poderia me explicar
por que não estou entendendo! Ficou estranho do nada.
— Ham? — Olho novamente para ele, ainda confuso.
— Desculpa, vi uma mulher que nunca tinha visto antes e
sempre tive a impressão de conhecer todos aqui. — Ao falar
isso, constato que de fato ela deve ser nova no nosso meio.
Seria impossível ter a visto e me esquecido dela.
— Hum, logo você ter ficado assim por um rabo de
saia? Já quero saber quem é ela. Me mostra que logo te
trago todas as informações. — Fala animado tentando
analisar ao nosso redor se encontra alguém desconhecido.
— Não, esquece. Estou falando sério Adriano. — Falo
firmemente — Preciso falar com algumas pessoas, te
encontro na mesa depois, junto com o Rodrigo.
— Ok, estraga prazeres. — Me despeço dele enquanto
resmunga alguma coisa que sinceramente não dou a
mínima. A minha cabeça nesse momento só pensa em uma
única coisa.
Quem é essa mulher misteriosa?
Capítulo 10
“Sete anos atrás”
— Feliz um mês de namoro, princesa! — Jack aparece
na escola com um buquê gigante de rosas vermelhas na
mão. Arregalo meus olhos com essa surpresa linda.
— Ah, que linda, namorado. — Ele ama quando o
chamo assim, fala que gosta que todos saibam que estou
com ele, acho fofo. — Eu amei! — Pego as flores com certa
dificuldade porque realmente é grande. Ele sorri porque
quase não dá para ver meu rosto no meio do buquê.
— Está tão fofa assim, deixa eu tirar uma foto, está
linda. — Amo esse seu jeito carinhoso. Toda hora ele quer
tirar uma foto minha, porque diz que assim o acompanho a
todos os lugares. Imagina como fiquei quando disse isso
pela primeira vez? Faço uma pose e ele tira a foto.
— Não sabia que íamos trocar presente, então acabei
não comprando nada, desculpa. — Falo sem graça me
recriminando por ter dado essa mancada.
— Hum, sei de um presente que vou gostar hoje de
receber. — Levanta uma das sobrancelhas e dá um sorriso
de safado no rosto.
— Jack! — Rio junto.
— Vamos lá no nosso canto para eu te beijar do jeito
que quero? — Descobrimos uma porta do lado de fora da
escola para guardar coisas que não estão usando que quase
ninguém entra, usamos lá para dar nossos amassos.
Nossos beijos estão ficando cada vez mais picantes,
está difícil de controlar, mas ainda sinto que está muito
cedo e amo o quanto ele me respeita.
— Vamos. Acho que hoje vale a pena atrasarmos um
pouco. — Lhe dou a mão e saímos.
— Porra, como eu queria te beijar assim, minha
princesa. — Mal entramos no nosso cantinho e ele já me
encosta na parede. Só deu tempo de deixar as rosas em
uma mesa. — Você é tão gostosa, meu amor! — Eu paro e o
olho nervosa. Ele me chamou de amor?
— Como me chamou? — Ele sorri, se aproxima do
meu ouvido e repete.
— Meu amor. Sabe o que sinto por você, né? — Pega a
minha mão e coloca no seu coração. — Sou apaixonado por
você desde o dia que te vi e a cada dia sou mais. — Olho
pra ele com os olhos cheios d’água pela declaração. — Você
é minha e eu sou seu, para sempre, minha princesa. — Ele
se aproxima e me beija novamente. Eu o puxo para perto de
mim e sinto seu volume grande.
Nossa, como está difícil de controlar.
— Ah, Jack, também te amo! — Falo entre um beijo e
outro. — Sou sua.
— Ah, meu amor. — Ele tira a mão da cintura e vai
descendo e descendo, até chegar na minha entrada. —
Repete.
— Eu te amo, Jack!
— Então confia em mim? — Me olha profundamente e
aceno que sim.
Ele me beija enquanto toca na minha calcinha. Estou
nervosa, mas já estamos assim há um mês, eu também
quero algo e confio nele. Ele coloca minha calcinha pro lado
e seus dedos me tocam. Sinto a excitação e o fogo desse
momento me percorrendo. Nossa, que delícia o sentir ali,
mesmo com os dedos. Ele brinca com o meu clitóris e isso
me quebra.
— Ah, Jack, nossa, que delícia!
— Porra, quando você geme, eu fico louco. Sei que
ainda não está pronta para perder a virgindade e não quero
que seja em um lugar como esse. Você merece muito mais,
mas quero que tenha prazer hoje, meu amor e sou eu quem
vai te dar isso.
Me beija novamente e circula meu clitóris, me fazendo
sentir coisas novas. Já me masturbei antes, mas assim com
alguém, nunca. Ele enfia um dedo dentro de mim e sinto
uma leve ardência, algo estranho, mas bom. Ele continua
me masturbando gentilmente, enquanto me estimula pelo
clitóris.
— Ah, como você está molhadinha para mim. Quero
tanto estar dentro de você, mas vai chegar a hora. — Ele
abre com a sua outra mão sua calça e abaixa sua cueca,
liberando seu pau duro e grosso. — Coloca sua mão nele,
meu amor. Me deixa te sentir fazendo isso.
— Tudo bem, mas tem que me mostrar como, nunca
fiz isso antes.
— Porra, Sarah, você é perfeita. — Ele pega a minha
mão e mostra como ele gosta de ser masturbado, enquanto
isso ele aumenta os toques no meu clitóris e fica com um
dos dedos dentro de mim.
Isso tudo é tão erótico, tão excitante que sinto ela
vindo. Tombo minha cabeça para trás, abro a minha boca e
ele me beija, bem na hora que vou gemer porque acabei de
gozar. Ele vira rapidamente para não me sujar e goza em
seguida.
— Porra, meu amor. Não vejo a hora de ter você por
inteiro. Te amo!
— Ainda preciso de um tempo para isso, mas amei o
que fizemos hoje. Você é meu namorado perfeito.
Ficamos abraçados por um tempo. Tento assimilar
tudo o que aconteceu hoje, tive muitas primeiras vezes
nesse momento e fico feliz que tenha sido com ele. Nos
recompomos e voltamos para a aula, não queremos que
ninguém venha nos procurar.
— Mãe, Jack e seus pais já estão a caminho. Já está
tudo pronto? — Desço as escadas nervosa porque vamos
recebê-los aqui em casa hoje para jantar.
Jack está sempre aqui, ele se dá super bem com meus
pais, eles o adoram, o que me deixa ainda mais grata, mas
é a primeira vez que seus pais vêm também, e por isso
estou nervosa.
— Não se preocupe, querida, está tudo certo. Nossa
como está linda, parece uma princesa mesmo. — Mamãe
está emocionada. — Esse namoro está te deixando feliz,
não é?
— Muito, mãe, ele é tão perfeito. Faz de tudo para me
sentir bem.
— Fico feliz, minha filha, você merece. Pare de se
preocupar com seus sogros, eles já gostam de você. — Pisca
para mim.
— Ah, não sei, eles são tão frios. Nas poucas vezes
que ficamos na casa dele, eles ficaram muito distantes,
quase não estão lá e quando estão, não falam nada.
— Tem pessoas que são assim, mais na deles, mas
isso não quer dizer que é com você. Impossível alguém não
te amar.
— Está falando isso porque é a minha mãe. — Viro os
olhos.
— Estou falando isso porque é uma menina de ouro.
Agora chega de bobeira.
Os pais dele chegam e os acompanho para dentro.
Jack me dá a mão e seguimos juntos, não nos beijamos na
frente dos nossos pais, é estranho. Mamãe puxa assunto
com a mãe dele e papai com o pai dele. Eles se dão bem
também, acho que ajuda terem feito negócios juntos, pois
assim têm mais assuntos em comum.
Meu celular vibra e vejo que é uma notificação do
Instagram. Jack olha para o meu celular e me olha, tentando
ver o que era, mas ignoro, afinal estamos jantando. Ele
chega mais próximo a mim e pergunta discretamente.
— Amor, o que foi isso? — Me olha seriamente
daquele jeito que já conheço bem, está chateado achando
que pode ser algum menino.
— Nada, amor, é bobeira, deixa para lá. — Sorrio.
Ele coloca uma das mãos na minha perna e aperta um
pouco.
— Quem está te mandando mensagens essa hora? —
Sinto um leve ardido pelo aperto, olho brava para ele,
tentando disfarçar para ninguém perceber.
— Amor, foi só uma notificação do Instagram, juro que
não foi nada, te mostro quando acabar. — Me aproximo
fazendo um carinho no seu cabelo. — Está me machucando,
amor. – Falo bem baixinho para que só ele escute.
— Desculpe, minha princesa. — Ele faz carinho na
minha perna. — Preciso cuidar de você, porque é muito
inocente, não quero que as pessoas se aproveitem de você.
— Eu sei, amor, mas para com essas besteiras. Está
tudo bem.
O jantar é tranquilo e são muito educados comigo,
como sempre. Jack fica me chamando para irmos até o meu
quarto, mas com todos aqui não quero, imagina se alguém
nos ver? Vou morrer de vergonha, então tento o controlar
um pouco. Ele não fica muito feliz, na verdade nem eu
porque queria beijá-lo, mas paciência. Quando eles vão
embora, vou até o canto da cozinha que não tem ninguém e
damos um beijo rápido.
Eles vão embora e vou para o meu quarto
cantarolando, pois tudo está perfeito.
— Filha! — Mamãe me chama. — Aconteceu algo no
jantar? Senti vocês um pouco tensos. — Ela se aproxima
com cuidado me perguntando.
— Ah, não foi nada. Jack ficou com um pouco de
ciúmes, mas nada demais. — Dou de ombros.
— Ele é sempre assim, ciumento? Acho que não
comentou isso comigo antes. — Pergunta preocupada.
— Porque não achei que precisava, ele é protetor,
mãe e super entendo. Ele me conta cada coisa que os
jogadores do time fazem também, é só o jeito dele de me
deixar segura. — A tranquilizo. — Juro que está tudo bem,
ele é maravilhoso. Se tenho que aguentar um pouco de
ciúmes para ter alguém como ele ao meu lado, não me
importo. Estou apaixonada, mãe.
Saio sorrindo e cantarolando, enquanto minha mãe
me olha um pouco preocupada, mas é bobagem. Coisa de
mãe, né? Sempre se preocupando com o que não precisa,
sei que ele só quer cuidar de mim e por mim tudo bem.
Gosto da sua proteção, isso é amor.
Capítulo 11
— Querida, não acha que deveria ir com mais calma
na bebida? — Tia Irene se aproxima falando bem próximo ao
meu ouvido, se certificando de que ninguém a escutou.
— Não, acho que estou indo super bem. — Dou de
ombros.
— Acredite em mim quando digo que não está. Tenta
tomar uma água para não passar mal depois. — Ela pega
um copo de água e me entrega discretamente.
— Vou tomar. — Pego o copo e dou um gole longo. —
Mas só porque estou de fato com sede. — Falo logo porque
não quero que pense que fiz isso só porque mandou.
— Ok, o importante é beber água junto. — Abre um
sorriso carinhoso para mim, que me quebra.
— Sei disso, mas de verdade, estou tentando
aproveitar como falei que faria, mas acontece que para isso,
preciso de um ajudante. — Levanto a taça e faço gesto de
brinde no ar.
— Entendo, então vamos nos divertir, estou feliz que
está mesmo disposta a isso. Só lembra da água de vez em
quando. — Pisca para mim e pega a sua taça de espumante,
fazendo um brinde comigo.
Sigo com a minha fiel companheira, a minha taça,
enquanto o Breno tenta puxar algum assunto. Ele já
entendeu que não vai rolar nada, pelo menos espero que
tenha entendido, porque não estou nem um pouco a fim.
Reparo que ele volta a olhar para outras mulheres e
faz uma careta para a avó, o que me confirma que ele sabe
que se deu mal comigo. Ótimo, melhor assim, não estava
mais a fim de fingir que ele não é chato.
Me levanto para ir ao banheiro, quero aproveitar para
desfilar esse vestido lindo por aí. É até um desrespeito com
ele, ficar sentada o tempo todo.
Nossa, a bebida realmente está fazendo efeito, estou
até com vontade de dançar. Bom, foca no banheiro por
enquanto, já está na hora de me retocar também.
Caminho por entre as pessoas, observando tudo a
volta. Realmente esse evento tem muita gente bonita e
requintada, a própria decoração está muito mais clássica e
elegante. Um dos motivos que odeio ir em eventos é o tanto
de rosas que colocam na decoração. Eu odeio, odeio rosas
vermelhas, não posso vê-las. Pelo menos hoje, eles usaram
orquídeas brancas em pouca proporção, deixando tudo mais
orgânico e harmonioso. O anfitrião da noite teve muito bom
gosto em aprovar tudo por aqui. Acabei nem perguntando a
minha tia quem ele era, mas já achei muito nobre a causa
que estamos ajudando hoje, isso contribuiu para ficar mais
animada em participar.
Pensando bem não deve ser muito difícil de adivinhar
quem ele deve ser. Provavelmente algum homem metido e
arrogante que vai ajudar mais por obrigação do que pela
ONG. Posso estar enganada? Sim, mas a maioria é assim,
infelizmente. Nossa, já até posso escutar minha tia falando
que não posso generalizar e tal, mas acontece que posso
sim.
Poxa, cadê esse banheiro que não chega nunca? Passo
perto de alguns grupos masculinos compostos por alguns
homens bem bonitos, mas resolvo manter meu foco e seguir
meu caminho, até por que vou fazer o quê? Ir lá falar com
eles? Estou enganando quem? Não sou assim, sou mais
tímida nesse aspecto e está tudo bem, cada pessoa é de um
jeito, apesar de que eu adoraria ser mais ousada. Existem
também outras formas de demonstrar força e determinação,
isso eu sei bem.
Ah, finalmente vejo a porta do banheiro feminino,
como é longe.
Entro já bem apertada, mas não posso deixar de
reparar na decoração daqui também, condiz com o restante
do salão, não sou entendedora desse assunto, mas tudo
está em perfeita harmonia.
Uso o banheiro e aproveito para retocar meu batom
no tom parecido com a sombra que estou usando, um tom
rosê que realça meus lábios carnudos. Estou me sentindo
muito sexy e poderosa. A bebida está ajudando bastante
também.
Saio do local e escuto no microfone quando informam
que a cerimônia vai começar. Droga, não vai pegar bem eu
estar de pé quando o anfitrião começar a discursar, é uma
falta de educação. Eu que não ficarei nessa situação, melhor
voltar rápido para o meu lugar, acho que dá tempo, se
apertar o passo.
Olho para a frente e sigo focada indo o mais rápido
que posso sem perder a classe, tento não olhar mais nada
ao meu redor para não me distrair, até porque quase todos
já estão nos seus lugares. Não sei bem o que acontece no
minuto seguinte, mas percebo que minha taça que estava
cheia está completamente vazia e tem um homem molhado
com uma cara não muito boa.
— Ah, nossa, eu fiz isso com você? Poxa que
vergonha, não prestei atenção, estava tão focada em sentar
que nem te vi passando. — Me atropelo nas palavras.
— A senhorita deveria olhar por onde anda. — Ele
passa a mão pela sua calça sem nem ao menos olhar para
quem o encharcou, parece bem irritado.
— Mas também, você apareceu de onde? Foi
completamente do nada. — Tento me explicar rapidamente.
— Não sou uma pessoa que passa despercebida! —
Fala com desdém e então me encara.
Seus olhos azuis possuem um brilho intenso que
transmitem sedução. Fico sem reação de imediato, só
analisando seu olhar. Reparo no contorno do seu rosto, na
sua barba fina impecável e em como ele é alto. Percebo que
preciso responder algo e então começo a falar tudo de uma
vez, de forma desenfreada.
— Nossa, olha a sua calça, está molhada. Não se
preocupa que foi espumante, posso dar um jeito, um
momento, não saia daí. — Saio correndo para pegar um
pano, pois não posso deixá-lo ficar dessa forma. — Ah,
ótimo, consegui, vem aqui que vou resolver isso. — Pego o
pano e vou passando sobre a sua calça e só aí percebo o
que estou fazendo.
Fico completamente paralisada, meu rosto pega fogo
de vergonha e por um milésimo de segundo tenho coragem
de olhar pra ele.
— Agradeço por tentar me secar, mas acho melhor eu
fazer isso ou terei problemas maiores. — Ele olha o volume
da sua calça ganhando vida e ao invés de me esconder em
um buraco, fico parada imaginando o pau gostoso que deve
ter dentro da cueca, porque só por essa imagem, me parece
ser incrível.
— Desculpe, não foi minha intenção. — Finalmente
consigo falar algo, mas para piorar, sigo focada no seu
membro e ainda lambo os beiços como se fosse uma louca
tarada, o que não poderia ser menos verdade.
Bebida, o que foi que fez comigo?
— Se continuar me olhando dessa forma, ficará difícil
me conter e ainda tenho um discurso para fazer. — Ele fala
com uma voz grossa e sedutora, o que me deixa mais
interessada.
— Como? Discurso? — Não entendo o que quer dizer
com isso.
— Sim, sou o anfitrião dessa noite. Estava indo ao
palco quando esbarrou em mim. — Ele fala com alguém
através de um ponto de escuta no seu ouvido e avisa que
vai precisar de mais alguns minutos. — Desculpa, mas ainda
não sei o seu nome. — Ele segue me olhando,
provavelmente querendo uma resposta, mas demoro para
perceber que é comigo que está falando.
— Ah, é Sarah. Desculpa, mas bebi champanhe além
do meu normal e ainda estou nervosa com a situação. Te
deixei todo molhado antes de subir no palco para algo
importante. — Sério que escolhi essas palavras? Molhado?
Ah, mas deixei mesmo e quem está toda molhada apesar da
vergonha absurda, sou eu.
Nossa, acabo de me dar conta de que fiquei excitada
por alguém que nunca vi. Parece que recebi desse homem
uma carga elétrica tão forte que acordou meus sentidos.
Será que é isso ou estou muito mais bêbada do que estou
imaginando?
— Acho que valeu a pena. — Fala isso e abre um
sorriso sútil nos lábios, quase como um convite,
complementando seu olhar sedutor.
— O quê? O que valeu a pena? — Pareço confusa
porque esse homem está mexendo com a minha cabeça.
— Valeu a pena ter me “molhado” para te conhecer,
Sarah. É um prazer. — Ele puxa a minha mão e me dá um
beijo. O calor dos seus lábios me tocando percorre todo o
meu corpo. — Preciso ir agora, mas posso contar que me
dará uma dança mais tarde? — Só balanço a cabeça
concordando e ele se afasta.
Fico muitos minutos parada tentando entender o que
foi que aconteceu e mesmo assim, não constatei nada. Só
posso dizer que estou encantada por ele que eu nem ao
menos sei o seu nome.
Nossa, quem é ele?
Capítulo 12
Conversei com mais alguns investidores, mas nada
consegue me distrair o suficiente a ponto de parar de
pensar nela. Naquela mulher que vi rapidamente no salão.
Por que nunca a vi antes? Será que é nova na cidade? Está
apenas visitando ou será que mora aqui?
Preciso descobrir mais sobre ela, mas não a vi
novamente e a procurei bastante. Não saber seu nome ou
nada sobre a sua vida não ajuda muito. Se eu soubesse pelo
menos de qual família ela é, conseguiria descobrir todo o
resto. É, vou dar um jeito nisso!
Recebo um ponto de escuta que me dão para colocar
no ouvido, assim os organizadores do evento podem se
comunicar comigo mais facilmente. Me avisam que farei o
discurso logo mais, em menos de 10 minutos. Assim que
anunciarem no microfone para todos se prepararem, é a
minha deixa para ir até o palco.
Finalmente. Gosto de abrir logo o evento para
encerrar minha noite, apesar de que ter encontrado essa
mulher mudou um pouco meus planos, não poderei ir
embora enquanto não souber seu nome e sobrenome.
Cumprimento rapidamente o CEO de outra empresa
multinacional na qual conheço bem. De repente escuto
repercutindo no salão o aviso de que irá começar em alguns
instantes. Ótimo, é a minha deixa. Me despeço e sigo a
caminho do palco.
Em um determinado momento, percebo que quase
todos estão em seus lugares, é a etiqueta em eventos
sociais assim, mas não a vejo em nenhum lugar. Olho para
minha esquerda e vejo a mulher misteriosa andando
firmemente, aparentemente deve estar indo se sentar.
Penso no que fazer, pois quero cumprimentá-la, mas agora
é um péssimo momento pra isso. Escuto alguém me
chamando e viro meu rosto para o lado, enquanto continuo
andando, faço sinal cumprimentando uma pessoa e no
minuto seguinte sinto uma colisão, seguido de algo gelado
caindo sobre mim. Mas que merda é essa?
Minha reação imediata é ficar irritado com a pessoa
inconveniente que causou tudo isso, ela ainda tem a
audácia de falar que não me viu, como se alguém
conseguisse não me notar. Olho para cima e a vejo. A minha
mulher misteriosa. Apesar da situação e de como estou, não
consigo manter a irritação por muito tempo.
A forma como ela me olha, como ela nota cada
detalhe do meu rosto me deixa desnorteado. Ela responde
algo claramente abalada com a situação comigo, então
pede para esperar porque vai me ajudar a me limpar.
Porra, gostaria muito de entrar no chuveiro com ela e
a fazer me limpar inteiro, mas com a sua boca. Ela volta
rapidamente com um pano na mão. Sabe-se lá onde
encontrou isso, mas passa na minha calça. Lógico que meu
pau reage imediatamente aos seus toques. O que me
surpreende é que apesar de ser delicada e envergonhada,
está parada olhando o meu pau, o que me deixa com mais
tesão ainda.
Conversamos mais algumas coisas e ela lambe seus
lábios de forma sexy, a minha vontade é simplesmente
mandar a merda esse discurso e beijá-la agora mesmo.
Nossa, sinto um tesão absurdo por essa mulher. Além do
seu corpo espetacular, seu jeito meigo e delicado me faz
querer tê-la, principalmente quando encosto em sua pele.
Isso me excita mais.
Porra! Ela ainda fala que me deixou molhado! Seu
jeito envergonhado quando percebe suas palavras, me
deixa ainda mais duro. Se continuar olhando para ela, não
conseguirei me controlar, por isso antes de pedir licença e
sair, combino uma dança mais tarde e me distancio, sem
olhar para trás.
Aviso no ponto de escuta que estou a caminho.
Respiro fundo e me dou alguns minutos para
recuperar a decência, até que estou pronto em cima do
palco para o meu discurso de abertura.
— Primeiramente, boa noite a todos. Agradeço a cada
um que está aqui essa noite apoiando uma causa tão nobre
quanto essa. Conheço pessoalmente o trabalho desta ONG e
garanto a vocês que são de extrema confiança. Eles ajudam
crianças em situações de abandono e fome. Cuidam da sua
saúde, educação e as preparam para o mercado de
trabalho. Todas elas ao completarem dezoito anos saem
empregadas em alguma empresa multinacional, dando a
oportunidade de criarem sua própria sorte e uma nova vida.
Para podermos continuar as ajudando, peço que sejam
generosos na doação. Hoje é sobre nos juntarmos a uma
nobre causa, por isso, cada contribuição é fundamental.
Nossa empresa é a principal investidora e tenho certeza de
que teremos muitas outras empresas junto conosco neste
momento. Aproveitem essa festa que produzimos com
grande estima e preparem as transferências. — Finalizo
agradecendo a alguns patrocinadores e sou ovacionado com
palmas.
Fico feliz que tudo tenha saído dentro do planejado,
mas a minha preocupação está em ver Sarah novamente.
Minha ideia de sair logo após o discurso foi para o espaço,
não vou perder a chance de uma dança com ela, quero
conhecer mais a seu respeito e essa é uma excelente
oportunidade.
Resolvo enviar uma mensagem para o André
desmarcando a nossa corrida. Encontrei algo muito melhor
para hoje.
Adam: Cancelado hoje. Remarcamos depois.
André: Ok.
Vou até o canto e chamo uma das organizadoras que
tenho mais confiança para conversar.
— Paula, preciso que descubra onde uma pessoa está
sentada para mim e mais informações sobre ela e a sua
família. — Falo discretamente me certificando que não tem
ninguém escutando nossa conversa.
— Claro, Adam, me fala o nome e sobrenome dela que
em cinco minutos te informo todos os dados que temos.
— Só tenho o nome dela, é Sarah. Nunca a vi aqui
antes então imagino que é nova na nossa sociedade ou não
costuma vir a esses eventos. Talvez alguém tenha
confirmado seu nome mais em cima da hora. – Constato.
— Ok, sem o sobrenome dificulta, mas seu nome não
é tão comum assim, acho que não teremos dificuldades. Me
fala um pouco sobre a sua aparência, pode ajudar na busca.
— Cabelos curto castanhos, no ombro, olhos
castanhos claros, belíssimos. Está com um vestido branco
deslumbrante com uma calda de pétalas brancas. Não será
difícil encontrá-la, ela é única.
— Certo. Me dê uns minutos que já te informo. —
Aceno com a cabeça e vou para uma mesa no canto do
palco. Preciso de um tempo de privacidade.
Cerca de sete minutos depois, Paula me encontra.
— Seu nome é Sarah Campbell. Está sentada na mesa
21, fica à direita do palco. — Aponta para seu iPad que
consta a disposição das mesas, me mostrando qual a dela.
— Campbell? Não me recordo dessa família, tem mais
alguma informação? — Franzo a testa, tentando me lembrar
de algo sobre eles.
— Sim, ela veio como acompanhante da senhora Irene
Jones. Ela é bem conhecida na alta sociedade. — Abre uma
foto da senhora para me mostrar.
— Ah sim, me recordo dela de outros eventos, ela
apoia ativamente instituições de caridade, acho até que já
falamos com ela sobre uma instituição de apoio a mulheres
que sofreram algum tipo de relacionamento abusivo. É ela?
– Pergunto analisando a foto que vejo a minha frente.
— Exatamente, estamos vendo se no próximo evento,
trazemos essa ONG para apoiar. — Paula confirma as
informações que tenho.
— Qual seu parentesco com a senhora Irene Jones? —
Pergunto.
— Acredito que nenhum, mas não tenho certeza.
Posso conseguir as informações para o senhor.
— Não há necessidade, por hora, se precisar lhe
informo. — Agradeço e saio em busca da Sarah.
Pretendo descobrir tudo ao seu respeito, mas desejo
fazê-lo conversando diretamente com ela, já tenho o que
preciso para isso.
Capítulo 13
Nossa, isso tudo realmente acabou de acontecer?
Estou andando de volta para o meu lugar totalmente aérea.
São muitas informações novas que preciso digerir com
calma, mas vamos aos fatos.
Primeiro: Derrubei um estranho no chão e não
satisfeita deixei cair espumante em sua calça.
Segundo: Falei igual uma maluca e esfreguei
literalmente o pano no pau dele.
Terceiro: Ao invés de pedir desculpas como uma
pessoa normal, fiquei encarando o volume da sua calça
como uma tarada louca.
Quarto: O homem não só era alguém importante, ele
era o anfitrião.
Quinto: Quando ele me tocou, senti uma química que
a anos não sentia por alguém.
Sexto: Fiquei molhada só com a forma de falar
comigo, me instigando e ao mesmo tempo, pela sua
gentileza. Se fosse algum babaca, teria ficado puto, pois foi
bem na hora que ia discursar.
Sétimo: Nunca mais vou esquecer esse homem, e
acabo de perceber que não sei o nome.
Sei que quanto ao nome será fácil descobrir, minha tia
conhece todos e saberá quem ele é. Ótima ideia, com
certeza ela saberá muitas informações importantes.
— Ah, aí está você! Estava preocupada, saiu para ir ao
banheiro e demorou demais. Está tudo bem? — Me olha
com preocupação — Nossa, querida, como está pálida. O
que houve?
— Tia, qual o nome do anfitrião da noite? — Me sento
na cadeira e pergunto o mais discretamente possível.
— O anfitrião? Não sabe? É o Adam. Achei que havia
falado sobre isso. — Parece genuinamente confusa.
Fico um tempo pensativa. Esse é o nome dele então,
Adam. Gosto bastante, é um nome bonito e forte, combina
com ele.
— O que mais pode me falar sobre ele, tia? —
Pergunto ansiosamente, tomando um longo gole de água
que estava na mesa. Preciso urgentemente me hidratar.
— Querida, vai me contar o porquê desse interesse
repentino? Não estou entendendo a curiosidade do nada, a
não ser que... Ah, viu ele de longe e gostou? Não me
surpreenderia, ele é muito cobiçado. — Dá de ombros.
— Cobiçado? — Lógico que ele seria, onde estava com
a minha cabeça? Um homem como ele deve ter todas as
mulheres que deseja e provavelmente é um cafajeste.
Merda.
— Claro, ele é um dos solteiros mais disputados,
apesar de que é super discreto com a sua vida pessoal e
nunca apareceu em sites de fofoca no mal sentido. — Pega
sua taça de champanhe e bebe.
— Ah sim, deveria ter percebido que era um
mulherengo. — Falo magoada, meio cabisbaixa.
— Mulherengo? O Adam? Não, minha querida, não o
vejo dessa forma. Claro que não o conheço profundamente,
mas quis dizer que ele é cobiçado, não mulherengo. Ele me
parece ser um ótimo homem, de muito caráter.
— Hum, mas o que te leva a achar isso? — Pergunto
rezando para que de fato tenha bons argumentos.
— Pelo que soube com as minhas amigas e elas são
ótimas fofoqueiras, como você sabe, ele conquistou a sua
fortuna de forma honesta e através da sua inteligência.
Sempre apoia projetos sociais, inclusive falei com ele sobre
a nossa ONG e está considerando para o próximo evento.
— O quê? Jura? Ele está? — Tenho a sensação de que
meu coração vai saltar pela minha garganta. Além de ser o
homem mais bonito que já vi, ainda tem os valores que
admiro?
— Sim. Agora pode me explicar o que houve?
Conheceu ele? — Levanta a sua sobrancelha.
Olho para os lados e vejo se tem alguém próximo o
bastante para ouvir a nossa conversa, quando vejo que as
pessoas da mesa estão conversando entre elas, sem me
reparar, resolvo contar tudo nos detalhes para Tia Irene. Ela
é a minha melhor amiga e não escondo nada dela. Preciso
de conselhos e ela é a melhor pessoa para isso.
— Ah, minha nossa! Isso é maravilhoso, Sarah! — Fala
super alto e bate palmas de alegria.
— Tia, por favor, não quero que ninguém nos escute.
Posso ter entendido tudo errado. — Olho para os lados um
pouco envergonhada.
— Para com isso, não entendeu nada errado.
Impossível entender errado quando temos volume de calça
envolvidos. — Ela coloca a mão na boca e solta uma risada.
— Além do mais, ele te chamou para dançar mais tarde.
Estou tão animada por você, sabia que seria uma ótima
noite, eu te disse. — A empolgação da minha tia me
contamina.
— Ah, espero que seja isso mesmo, não vou mentir,
fiquei animada, mas sinto um nervosismo e medo também.
— Olho para a taça de champanhe e sei que não deveria
beber mais, porém dou um belo gole mesmo assim.
— Respira, querida, vou te ajudar se precisar, mas
apenas seja você. Ele terá sorte em tê-la na sua vida.
— Obrigada, tia, eu te amo! — Coloco a taça de volta
na mesa, me levanto da cadeira e lhe dou um abraço cheio
de sentimentos e álcool. Ela retribui o carinho e paramos de
falar porque o Adam sobe no palco e pede a atenção pois irá
começar.
Sempre que ouço alguém falar sobre causas sociais,
sinto uma gratidão forte no meu coração, e ouvi-lo falar
sobre isso, me faz gostar ainda mais dele. Minha tia me dá a
mão porque sabe que estou sensível, ela mais que todas as
pessoas, entende o porquê.
Quando ele termina o discurso, as pessoas o
ovacionam. Não é preciso falar por meia hora, basta cinco
minutos com o assunto certo que é o suficiente para se
destacar entre as pessoas. Percebo que Adam é esse tipo de
homem.
Ele desce do palco e não consigo parar de pensar se
de fato irá me procurar. E se falou isso para ser educado? E
se na verdade fala isso para todas? Se bem que a minha tia
saberia. Isso é um dado que as fofoqueiras iriam adorar
saber. De toda forma, confio no julgamento da minha tia.
Tento me acalmar e escolho o champanhe para isso. Sei que
estou bem errada e que deveria beber só água, mas não me
importo.
Estou acostumada a beber, principalmente
champanhe e vinho, são os meus favoritos e são os meus
melhores amigos também. Já me ajudaram em várias
noites. Falando assim parece que sou alcoólatra, mas de
jeito nenhum. Não bebo todos os dias, mas aprecio uma boa
bebida e gosto da sensação de relaxamento que me
provoca, me ajuda a dormir melhor também, o que nem
sempre é possível, pois ainda tenho pesadelos. Não, não
vou pensar nisso agora.
Os minutos vão passando, parecem uma eternidade,
tento permanecer calma, mas me sinto um pouco frustrada
porque ainda não o vi.
— Tia, acho que vou para casa. — Falo desanimada.
— Nem pensar. Vai continuar quietinha aqui comigo.
— Me olha brava. — Para de se sabotar.
— Não estou fazendo isso! — Será que não? Penso. —
Passou muito tempo e não quero me decepcionar mais,
entendi errado e está tudo bem.
— Sarah, ele é o anfitrião, é normal depois da
abertura ter que dar atenção para algumas pessoas. Faz
parte do protocolo e você sabe disso. Se ele não aparecer
em até uma hora, vamos para casa, ok?
— Ok, tia, ok. Vou ao banheiro retocar a maquiagem e
dar uma volta, acho que vai me fazer bem. — Me levanto e
preparo para sair.
— Faça isso, querida. — Me dá um sorriso acolhedor.
Vou até o banheiro olhando discretamente para ver se
o encontro em algum lugar, mas nada dele. Não, não serei
negativa, não agora, mas a insegurança vem batendo forte
em mim, mesmo assim, estou mandando-a para longe.
Retoco o batom e uso um pouco dele para colocar
como blush no rosto, quero dar mais uma corzinha. Ajeito
melhor meu cabelo e me olho por um tempo no espelho.
Nossa, estou linda! Se esse homem não me quiser,
problema dele. Ouviu, Sarah? Falo comigo mesma. Sou uma
mulher linda e incrível. Prometi que vou me lembrar disso
toda hora. Chega de insegurança.
Respiro fundo e saio do banheiro, a fim de voltar
para a mesa da minha tia. Escuto uma música que amo,
chama Vienna do Billy Joel. Escutei ela há muitos anos,
quando era mais nova, naquele filme “De repente 30”,
depois disso virou uma das minhas favoritas. A letra fala
sobre irmos mais devagar, não termos tanta pressa nesse
mundo louco e agitado. Sempre me identifiquei com isso.
Aprendi a me ouvir e escutar as minhas limitações.
Volto a mesa sorrindo e cantarolando a música,
me permito relaxar um pouco, não percebo nada a minha
volta, simplesmente sigo em frente feliz com essa melodia.
Veio em uma boa hora, precisava disso.
Quando percebo, já cheguei na minha mesa, mas
tem alguém no meu lugar conversando com a minha tia.
Espera aí, acho que reconheço essas costas.
— Oi, querida, veja quem veio te procurar. — Ela
olha para mim e depois para ele.
Percebo claramente sua agitação por trás dessa
armadura de socialite. Deve estar pulando de alegria, como
eu estou agora. Claro que alegria contida para não pegar
mal.
— Oi, Sarah. — Ele se levanta, vira seu corpo e
vem até mim olhando diretamente nos meus olhos. Pega a
minha mão e dá um beijo suave. Nossa, lá vem o calor se
alastrando por todo o meu corpo. Um simples toque dos
seus lábios na minha pele é capaz de fazer isso.
— Oi, Adam. — Nem acredito que estou sentindo
essas coisas novamente, tem tanto tempo, tempo demais.
Capítulo 14
“Sete anos atrás”
Nossos três meses de namoro passaram voando.
Conforme a nossa tradição, ganhei um buquê gigante de
rosas vermelhas no aniversário de três meses de namoro,
cada vez maior porque ele sempre acrescenta uma rosa no
mês seguinte.
Jack é cada vez mais carinhoso e principalmente
protetor comigo. Cuida de tudo o que preciso, acho que
estou ficando cada vez mais mimada. Está sempre ao meu
lado nos intervalos das aulas. Ele também continua
ciumento, mas entendo que é a forma dele de cuidar de
mim.
Saímos algumas vezes com a sua turma do futebol,
mas não gosto muito porque Jack fica tenso quando alguém
olha muito para mim e estou a cada dia chamando mais
atenção. Realmente estou ficando mais encorpada, mas
namorar o capitão do time causa isso nas pessoas também,
uma certa curiosidade.
Nossas pegadas também estão cada vez melhores, o
que ele faz comigo não tem explicação. Tenho vontade de
beijá-lo o tempo todo, nunca me canso dele e muito menos
quando ele me masturba. Nossa, é tão bom gozar com seus
dedos.
Ainda não transamos, estamos esperando, mas a cada
dia me sinto mais pronta. Também acho que ele está
ficando louco só com a gente se masturbando. Sei que na
antiga escola ele transava e não quero que ele me ache
muito imatura por não ter feito ainda. Às vezes ele comenta
alguma coisa nesse sentido, mas depois ele pede desculpa
falando que não foi bem o que quis dizer, mas é homem e
precisa disso. Eu entendo, porque sei que ele está sendo
muito paciente, então estou pensando em dar a minha
virgindade de presente a ele, mas ainda não tenho certeza.
Vou ao banheiro na hora do intervalo, entro em uma
das cabines e logo ouço vozes.
— Ai, que saco, não aguento mais essa palhaçada
quando fazem mêsversário de namoro, que coisa ridícula. —
Escuto a voz da insuportável da Chloe e levanto meus pés
do banheiro para não saberem que estou ali.
— Ele está bem apaixonado por ela. — diz Mia, sua
melhor amiga e também líder de torcida.
— Duvido, ela que se faz de virgenzinha e ele fica
louco. Assim que ela liberar, ele termina com ela e
finalmente fica comigo. — Coloco minha mão na boca, mal
acreditando no que estou ouvindo.
— Não sei, Chloe, ele é bem protetor com ela.
— Até parece, Mia, só é assim porque ela segura o
que ele quer, depois disso já era. E sinto que ele é doido
para me ter, acho que só está esperando terminar esse
teatro com ela pra ficar comigo. Eu sim sou a mulher certa
pra ele, vamos combinar. Somos capitães dos nossos times,
isso sim está certo. — Me vem uma vontade de chorar e
gritar que não é verdade, porque ele me ama, mas não o
faço. Seguro o choro e fico ali até que escuto elas saindo do
banheiro.
Estou triste e magoada. Será que elas têm razão?
Será que ele só quer me ter e depois acabou? Será que ele
a deseja? Eu entenderia isso porque de fato ela é linda e
todos os meninos ficam com ela. Não, ele não faria isso
comigo, não é? Isso acabou com a minha vontade de
transar pela primeira vez, a insegurança voltou com tudo.
Volto para a sala calada, tentando disfarçar que chorei.
— O que houve, princesa? Você chorou? — Ele passa a
mão no meu rosto e sente que está um pouco úmido.
— Não é nada, só passei água no rosto. Acho que não
estou me sentindo muito bem e vou para a minha casa. —
Começo a pegar as minhas coisas, mesmo ainda não
estando na hora de ir.
— Sarah. — Ele coloca a mão no meu braço e depois
segura minha mão, interrompendo o que estou fazendo. —
Você não vai embora. Você vai me contar o que foi que
aconteceu. Saiu superbem para ir ao banheiro, estava
sorridente e voltou assim.
Não quero falar ,Jack, só não estou muito bem.
—
— Tento tirar a minha mão da dele, mas ele não permite.
Princesa, você vai me contar e vai ser agora.
—
— Aperta a sua mão na minha. Conheço esse toque, quer
dizer que o chateei e tenho que fazer o que manda para ele
parar. Merda, ainda o deixei chateado comigo, não queria
isso. — Estou esperando e sabe que não gosto disso, meu
amor. — Ele me puxa para o canto da sala.
Não é nada, só umas coisas que ouvi no
—
banheiro e me deixaram triste. — Olho para baixo, para as
minhas mãos porque não quero encará-lo.
Que coisas? Quem falou e o quê? — Aguarda
—
uma resposta.
Deixa para lá, não quero falar. — Ele aperta
—
mais forte ainda. — Está me machucando, Jack. — Sussurro
para ninguém ouvir.
Me fala logo, Sarah, sabe que não vou parar e
—
estou fazendo isso por você. Olha o que me obriga a fazer
para te proteger. — Deixo uma lágrima escorrer e ele a
limpa.
Ouvi a Chloe conversando com a Mia no
—
banheiro, falando que você só se interessa em mim porque
sou virgem, que assim que me tiver, vai me largar e ficar
com ela, porque ela sabe que você a quer. — Desabafo tudo
de uma vez e o peso daquelas palavras me machucam de
novo.
O quê? Elas falaram essa merda? Sabiam que
—
você estava lá? — Seu semblante mudou totalmente, está
furioso, sei disso.
Acho que não, eu entrei antes delas. — Mais
—
uma lágrima cai e tento me segurar para não chorar na
escola.
É claro que sabiam, fizeram de propósito para
—
você ouvir isso. Vagabundas. — Ele limpa mais uma lágrima
minha e levanta meu rosto. — Sarah, eu te amo e isso as
incomoda porque não tenho olhos para mais ninguém a não
ser você. Quando tivermos nossa noite só ficarei mais ligado
em você, porque é o meu vício. A quero o tempo todo e
sempre será assim. — Tento sorri pela declaração, mas
ainda estou afetada. — Vou resolver isso agora mesmo,
quem elas pensam que são para falar assim sobre você?
O que vai fazer? — Pergunto assustada porque
—
ele está com um olhar assassino no rosto, mas já é tarde.
Ele sai em direção a elas.
Chloe, Mia, podem vir aqui no meio da sala,
—
quero bater um papo com vocês. — Fala de um jeito
charmoso, como se fossem amigos.
Elas abrem o maior sorriso do mundo, ainda mais
quando elas me vêm num canto triste.
Oi, Jack, nos chamou? — Chloe chega de
—
mansinho com caras e bocas se insinuando para ele.
— Por acaso falaram merda para minha
namorada ouvir no banheiro?
O quê? — A cara delas de assustadas me faz
—
melhorar um pouco. — Claro que não, nem vimos ela lá.
Não viram, né? Então, ela pode ser ingênua,
—
mas eu não sou. Tenho só um recado para você e para todas
as pessoas que estão aqui. Se falarem algo que possa
magoar a minha mulher, por pequeno que sejam, vão ter
que lidar comigo e acreditem, não vão querer isso. — Ele
fala bem próximo a ela, mas mantendo uma distância
segura. — Sarah é muito mais do que vocês duas juntas.
Quem vai querê-la se todos já a tiveram, Chloe? Você não
chega nem aos pés da minha princesa. — Ele abaixa e
sussurra no seu ouvido. — Não a olhe mais e não dirija a
palavra a ela. Estamos entendidos? — Chloe faz que sim
com a cabeça com a cara mais assustada possível, ela está
apavorada e envergonhada.
Ele volta até mim, me dá a mão e um beijo suave.
Estou em choque, nunca pensei que ele me defenderia
dessa forma, mas esse seu jeito possessivo me deixou tão
segura, tão protegida que senti que ele é meu e eu sou
dele. Não é sobre sexo, é sobre amor.
— Vamos para a sua casa, estou pronta. — Falo
genuinamente apaixonada, não preciso mais esperar e esse
é o momento perfeito. Seus pais estão viajando e teremos
privacidade. Ele nem pensa duas vezes, pega a minha
mochila e de mão dadas, saímos da escola.
stamos em seu quarto, ele coloca uma playlist
E
para tocar e traz uma garrafa de champanhe para
brindarmos e relaxarmos. Diz que vai me fazer bem depois
de todo o estresse, ele quer que a minha primeira vez seja
perfeita e o amo ainda mais por isso.
omamos algumas taças e nos beijamos muito.
T
Estou me sentindo muito melhor, já quase não me lembro
do que aconteceu hoje. Ele me coloca em seu colo, me olha
e pergunta.
— Tem certeza? — Faço que sim com a cabeça,
— Quero ser sua e quero que seja meu.
— Porra, Sarah.
le me beija diferente, não está mais tão gentil
E
quanto antes, ele tem urgência em me ter e gosto dessa
sensação. Puxa meus cabelos e beija meu pescoço. Passo
minhas mãos pelo seu corpo, quero senti-lo totalmente. Ele
tira a minha blusa, o meu sutiã e me deita na cama. Tira a
minha saia e a minha calcinha.
Me sinto totalmente exposta a ele, mas estou segura
e excitada. Ele se abaixa e lambe meu seio. Gosto dessa
sensação, ele ainda não tinha feito isso, assim.
— Me fala o que fazer, o que você gosta. — Peço.
— Me toca, pega meu pau. — Ordena.
Pego seu pau e começo a masturbá-lo levemente,
enquanto ele me beija novamente. Ele passa um dos dedos
no meu clitóris em movimentos circulares e enfia um deles
lá dentro. Sinto aquela ardência de novo, mas é leve. Ele
aumenta a velocidade, diz que é para me lubrificar. Sinto
seu pau ganhando vida na minha mão, ele está duro como
uma pedra. Ele fica excitado com os meus gemidos, sempre
fala isso e é verdade.
Ele se levanta, pega uma camisinha na cabeceira.
— Quero te sentir sem nada, Sarah, comece a tomar
pílula, não quero transar sempre usando isso, ok? — Faço
que sim com a cabeça.
Então ele se aproxima, com calma e me olha nos
olhos.
— Vou ser o mais gentil possível, vai doer um pouco,
mas logo você se acostuma comigo, ok? — Faço novamente
que sim.
— Confio em você, meu amor. — Sorrio e faço carinho
em seu rosto.
Ele então me preenche. De fato, sinto uma ardência,
uma dor não muito gostosa. Ele fica parado enquanto
entendo o que é isso, então com movimentos lentos, ele sai
e entra novamente, de novo e de novo, até que me
acostumo, a dor não vai embora, mas é suportável. Ele me
ajuda colocando um dedo no clitóris, assim sinto mais
prazer.
Não consigo parar de pensar como alguém tão jovem
sabe tanto sobre sexo como ele, mas não me importo e não
quero saber sobre o seu passado, o que importa é o
presente e o futuro dele comigo.
Fazemos amor, não dura muito porque ele mesmo fala
o quanto estava a fim de me ter dentro dele, mas foi
perfeito. Melhor do que eu esperava. Acabamos e ele joga a
camisinha fora e me coloca em seu peito, me abraçando e
fazendo carinho nas minhas costas, se certificando que eu
estou bem.
Estou mais do que bem, dei a sorte grande na vida,
tenho um namorado que me ama, me protege e me
respeita. O que poderia dar errado?
Capítulo 15
Oi, Adam! — Escutar sua voz doce falando meu
—
nome é uma sensação boa.
— Estava conversando com a sua tia, enquanto
te aguardava. — Digo a observando.
— Ah, tudo bem, sem problemas. — Fala e olha
para suas mãos, posso sentir que está nervosa, embora,
não consigo saber ao certo o porquê.
Será por mim? Espero que sim.
— Vim cobrar aquela dança que falamos. Me
permite? — Estico minha mão para ela, convidando-a para
seguir comigo.
Não sou de fazer grandes gestos, principalmente em
eventos como este, onde todos me observam, querendo
qualquer coisa para fazerem as fofocas, mas dessa vez
simplesmente não me importo. Ela é mais importante,
nesse momento.
— Claro, adoraria. — Ela me dá sua mão e a
conduzo até a pista de dança. Embora eu adore dançar, não
o faço em público para não tirarem conclusões precipitadas.
Percebo os olhares curiosos conforme vamos
andando. Todos devem estar se perguntando quem é essa
mulher deslumbrante que está comigo. Tenho orgulho em
pensar nisso.
Usando o ponto de escuta que está ainda no meu
ouvido, peço que mudem a música para algo mais lento,
assim poderei dançar como quero, com o meu corpo bem
colado a ela.
A música começa a tocar imediatamente. Ficamos de
frente, a olho nos olhos, pego em sua mão e coloco a outra
na sua cintura. A trago delicadamente, mas firmemente
para perto do meu corpo. O ar entre nós se torna denso,
carregado de eletricidade.
Sua respiração se torna ofegante, como se estivesse
lutando para controlar a avalanche de emoções que a
tomam. Coloco meu rosto mais próximo do dela e sinto seu
perfume suave, mas marcante.
— Seu cheiro é viciante, Sarah. – Respiro
profundamente e reparo seu corpo reagindo a mim.
A olho e vejo o rubor subindo pelas suas bochechas, a
maneira como ela morde o lábio inferior, tudo isso me diz
que ela sente o mesmo que eu.
Ótimo, sorrio com essa constatação.
Os olhares curiosos, antes discretos, se intensificam,
como se estivessem esperando por um espetáculo. Bom, se
é isso que querem, é isso que irei dar.
Essa mulher merece uma dança de verdade.
A giro pelo salão e ela responde cada movimento meu
com leveza, é como se já dançássemos assim há anos, em
perfeita sincronia. Nossos olhares se intensificam e o seu
sorriso antes tímido, fica mais frequente e encantador.
Nossa, como gostaria de estar sozinho com ela,
de provar seus lábios da forma que imagino, de pegá-la em
meu colo e levá-la para minha cama e a foder como desejo.
Porra! É melhor não pensar nisso. Não quero assustá-
la ficando duro em meio a uma dança.
— Por que nunca te vi antes nesses eventos? — Mudo
o assunto para distrair meus pensamentos.
— Para ser bem sincera, não gosto de eventos
assim. Não sou muito sociável, por assim dizer. Vim hoje de
certa forma por obrigação, para agradar minha tia Irene.
Moro com ela há alguns anos, mas de fato não sou de festas
e sou bem reservada. — Sorri enquanto dançamos ao som
da música que está tocando.
— Eu entendo. Como estamos sendo sinceros,
preciso te confessar que também não gosto desses eventos.
— Sussurro no seu ouvido para que ninguém mais escute.
— Sério? Não gosta? Pelo que minha tia falou tem
que ir em vários, como este.
— Quer dizer que conversou com a sua tia sobre
mim? — Questiono com um sorriso de canto.
Fico intrigado que tenha perguntado mais sobre mim,
tive mesmo a impressão de que não sabia quem eu era. Isso
com certeza me deixou mais interessado. Não aguento
mulher que só vem atrás do que represento.
— Bem, sim. Me desculpe, mas por eu não sair
muito tive que perguntar para ela quem você era. Espero
que não tenha se importado. — A giro e a puxo novamente
para próximo de mim.
— Nem um pouco, só que como você fez a sua
pesquisa sobre mim, acho justo que eu saiba mais sobre
você. Estou em desvantagem e isso não é algo que eu estou
familiarizado. — A analiso enquanto fica em silêncio total.
Percebo que deseja falar algo, mas parece não saber o
quê.
— O que exatamente quer saber? — Ela
finalmente me pergunta, mas percebo que olha para baixo,
tímida.
Gostaria de responder: tudo; mas a forma como age,
ativa meu modo protetor com ela. Coloco as suas mãos no
meu pescoço, mudando a forma que estamos dançando e
antes de colocar a minhas mãos em sua cintura, a coloco no
seu queixo, a fazendo olhar para mim.
— Sarah, não quero que se sinta desconfortável
comigo, muito pelo contrário. Que tal eu te contar algo que
poucas pessoas sabem a meu respeito e depois você me
conta algo assim também. — Vejo um brilho no seu olhar de
curiosidade e dúvida se aceita ou não, mas a curiosidade
vence, quando seus lábios sorriem e ela acena.
— Eu topo. — Me aproximo de seu ouvido para ter
certeza de que só ela vai escutar.
— Desde criança, meus pais me levavam para ajudá-
los em projetos sociais, distribuindo comida na rua para os
desabrigados. Por isso, hoje sou tão ligado a ONGs e sempre
busco ajudar. — Ela solta um “Oh” de surpresa, claramente
não esperava por isso.
— Não fazia ideia. É um gesto muito nobre. — Ela
responde com gentileza.
— Poucas pessoas sabem sobre a minha vida no
Brasil, quando era mais novo. Nunca passei necessidades,
longe disso, mas meus pais sempre quiseram me educar
mostrando que existem pessoas com realidades muito
diferentes da nossa, e que temos uma obrigação social de
ajudá-las, sempre que tivermos condições para isso. —
Digo, lembrando das conversas que tínhamos quando eu
era mais novo.
— Nossa, adorei seus pais. Eles devem ser incríveis. —
Abro um sorriso grande e a olho com carinho.
— Terei o prazer de apresentá-los a você. De fato, eles
são. — Ela sorri radiante, mas ao mesmo tempo parece um
pouco envergonhada por ter dado a entender que gostaria
de conhecê-los.
— Ah, obrigada. Acho que já está ficando um pouco
tarde e preciso ir. — A música acaba e ela se despede. Fico
desapontado por termos ficado pouco tempo juntos, mas a
acompanho até sua tia.
Elas se olham de uma forma que parecem saber
exatamente o que querem dizer somente com esse
movimento de olhar. A tia se levanta da cadeira onde estava
e se despede de todos.
— Foi um prazer vê-lo, Adam. Espero te rever em
breve. — Sempre muito educada.
— Conte com isso! — Respondo enquanto a vejo
se afastar de mim. Porra, como quero essa mulher!
Volto para a mesa em que Adriano e Rodrigo
estão bebendo.
— Cara, o que foi essa dança? — Adriano acaba
de tomar seu gole de whisky, enquanto fala baixinho
evitando que as pessoas o escutem.
— Confesso que também fiquei interessado em
saber. Você nunca faz coisas assim em público. — Rodrigo
passa a mão na sua barba e me analisa daquela sua forma
de advogado.
— Nem eu sei ao certo, mas essa mulher me
deixou intrigado. Não me importei com os olhares dessa
vez, só queria estar com ela. — Pego uma dose do whisky e
tomo um longo gole.
— Não sei o que dizer, é assim que me sinto. —
Adriano como sempre exagerado arregala os olhos.
— Não sei por que o espanto, nunca fui avesso a
relacionamentos como você.
— Sim, mas também nunca esteve em um muito
sério. — Rodrigo pontua.
— Porque assim como vocês, nunca encontrei
uma conexão emocional genuína com alguém. Estamos
sempre cercados de pessoas vazias, que veem apenas a
minha posição como CEO, é raro encontrar alguém que não
seja interesseira e quando a Sarah não soube quem eu era,
algo despertou em mim. Pela primeira vez, vejo uma
possibilidade de uma conexão verdadeira. Nem se quer
sabia que estava procurando isso, pelo menos não até
agora. É um misto de sentimentos novos para mim, mas
sinto que vale a pena. — Apoio o copo na mesa e fico
pensativo.
— Vou mandar levantar mais informações sobre
ela e te entrego tudo amanhã cedo. — Rodrigo informa e
entendo a sua proteção já que é o meu advogado também.
— Não. Dessa vez eu quero descobrir aos poucos.
— Sabe muito bem que não podemos deixar as
coisas ao acaso, Adam, não no nosso meio.
— Eu sei, Rodrigo, mas não há necessidades para
tanto. A sua tia é conhecida na alta sociedade, faz trabalhos
sociais muito sérios. Se eu precisar, te aciono, mas por hora,
não quero, ok?
— Ok, mas se algo estranho surgir, irei investigar.
— Levanta as sobrancelhas me mostrando que não está
pedindo autorização para isso, mas entendo.
— De acordo. — Brindamos e bebemos.
— Vocês são estranhos, é muito mais simples ser
eu e sair pegando todas como faço.
Nunca vou entender por que o Adriano gosta
tanto de ser esse playboy que só vive de festas e curtição,
mas isso também não me importa. Nesse momento tudo o
que quero pensar, é nela. Na Sarah.
Capítulo 16
“Sete anos atrás”
— Tem certeza de que deveria comer essa sobremesa,
princesa? — Jack me questiona, fazendo carinho na minha
perna. — Essa semana já comeu bastante doce, não é, meu
amor? Não quero que se sinta mal ao se olhar no espelho e
ver que não está no mesmo peso que antes.
— O quê? — Pergunto baixinho. — Está falando que
estou gorda? — Olho para baixo, tentando reparar na minha
barriga para ver se engordei.
— Não é isso, meu amor. Me preocupo com a sua
saúde e o seu bem-estar, e percebi que ganhou uns
quilinhos, isso vai te deixar chateada. — Ele aperta a minha
barriga, mostrando que estou com um pouco de gordura no
abdômen, e olha que sou bem magra.
— Poxa, não tinha reparado nisso. — Falo cabisbaixa,
tentando ver a gordura que ele falou.
— Só comentei porque quero o seu bem e tem tantas
meninas me dando mole que não quero que pensem que a
minha namorada não liga para a sua aparência. — Dá de
ombros.
— Quem está dando em cima de você, Jack? — Coloco
as mãos na cintura e o olho com cara feia.
— Quem não está? — Ri sendo bem arrogante. Não
gosto quando ele fica dessa forma e tem sido muitas vezes
ultimamente. — Não se preocupe que só tenho olhos para
você, mas por isso tem que se cuidar. — Talvez ele tenha
razão, não quero perdê-lo.
— Hum, tudo bem. Melhor eu não comer hoje então.
— Coloco a sobremesa longe de mim. Estou com muita
vontade, mas prefiro me cuidar.
— Concordo, deixa que eu como para te ajudar, estou
treinando muito e tenho uma dieta super calórica. Faço isso
por você. — Sorrio sem muita vontade.
Acaba o intervalo e voltamos para a sala de aula.
Entregamos um trabalho para nosso professor, era em dupla
e fiz com o Jack. Na verdade, eu fiz sozinha, ele estava
cansado do treino e entendo. Ele se esforça demais pelo
time, não me custa fazer isso por ele. É o mínimo depois do
tanto que faz por mim, por isso, acabo fazendo alguns
deveres para ele também, sou nerd mesmo e quero que ele
vá bem na escola.
Ele levanta a mão e faz algumas observações sobre o
nosso projeto para o professor, que fica fascinado. Eu que
mencionei isso para ele! Não acredito que falou por mim.
Que saco, ele fez de novo.
— O que está fazendo? Era para eu falar isso. — Falo
discretamente.
— Não seja egoísta, princesa, ele já sabe que você é
muito inteligente, dessa forma eu consigo melhorar a minha
imagem, só isso. — Faz carinho no meu cabelo e pisca para
mim.
Eu? Egoísta? Não foi a minha intenção, penso. Só
queria falar porque fui eu quem fez tudo, mas acho melhor
deixar para lá. Tudo bem se o professor achar que a “sua
ideia é brilhante”. Presto atenção no restante das aulas, até
que o sinal toca e estamos dispensados.
Normalmente vamos para a sua casa, pois seus pais
nunca estão e transamos. Desde que perdi a minha
virgindade com ele, há três meses, não paramos mais. Eu
amo a conexão que temos quando estamos transando, mas
ele às vezes fica diferente, não se importando muito comigo
e gozando rápido. Ele fala que homens são assim, tem
necessidades diferentes da nossa e acho que faz sentido,
ele tem mais tesão que eu, por isso precisa de mais.
Nesse quesito sou uma ótima namorada, mesmo
quando não estou muito a fim de transar, transo por ele,
porque ele me fala o tempo todo o quão incrível ele é, o
quanto as meninas são loucas por ele e adorariam estar no
meu lugar, além do quanto ele me protege e cuida de mim
e ele só me pede para lhe dar o que fisicamente precisa:
sexo.
Como não quero perdê-lo e não quero que ele tenha
pensamentos com outras meninas, faço o que me pede, até
porque não é ruim, pode só não ser tão bom quanto no
início, mas é normal.
O ruim é que hoje não estou muito afim, estou um
pouco desanimada e prefiro ficar quieta em casa, tem tanto
tempo que não faço isso, desde que começamos a namorar,
há seis meses, não passo muito tempo com a minha
família.
Mamãe toda hora reclama que não conversamos mais
tanto quanto antes e sinto tanto a sua falta, mas Jack fala
que isso é coisa de criança, que agora que perdi a
virgindade, sou adulta e que não posso contar esses
detalhes íntimos para mamãe ou ela vai mandar parar de
vê-lo.
Só de pensar nisso meu coração fica apertado. Ficar
sem ele? Nunca! Ele é o meu tudo, meu mundo, descobri
coisas incríveis com ele e sempre falamos que somos para
sempre. Não, não posso permitir. Melhor deixar de falar as
coisas para minha mãe, faz parte do crescimento.
— Vamos, princesa? — Jack pega a minha mão.
— Hoje estava pensando em ir para casa, preciso
estudar e organizar minhas coisas. Mamãe vem me
cobrando cada vez mais. — Ele aperta a minha mão. Sabia
que ia deixá-lo chateado.
— Já está cansada de mim? É isso? Não me quer mais
por perto? — Solta a minha mão e me olha com uma cara
de desdém.
— O quê? Claro que não, amor, não é isso. —
Respondo logo.
— Porque se não quer ficar comigo, conheço algumas
meninas que dariam o mundo para me ter ao lado delas. —
Vira e sai andando, meu coração acelera e fico apavorada.
— Não, amor, do que está falando? — O pego pela
mão. — Não era isso, claro que quero ficar sempre com
você, não fala isso. — Falo igual uma maluca e sinto uma
lágrima escorrendo do meu rosto.
— Só estou falando que se não me quer, vou sofrer,
mas sei que tem outras meninas que me valorizariam mais
do que você. — Dá de ombros.
— Como pode falar isso? Eu te valorizo tanto, sabe o
quanto significa para mim, eu te amo! — Várias lágrimas
descem do meu rosto e sinto como se tivesse levado um
soco no estômago.
— Não chora, meu amor, falei isso porque te amo
tanto, me desculpe. — Ele passa os dedos secando as
minhas lágrimas. — Preciso de você, amor, fica um pouco lá
comigo e depois te levo para casa, ok? — Faço que sim com
a cabeça, não quero magoá-lo.
Então vamos para a sua casa, subimos para o quarto
e transamos como sempre. Faço uns gemidos para fingir
que estou gostando, mas ele goza tão rápido que dessa vez
não preciso fingir que gozei, ele sabe muito bem que não e
não liga.
Hoje sinto uma grande angústia. Não era assim que
eu me sentia no início, quando o conheci. Éramos tão
diferentes, eu era muito diferente, mas acho que isso é o
crescimento, né? Não quero reclamar também, porque Jack
me protege tanto! Não quero ser ingrata.
Ele afasta qualquer menino que chega perto, porque
ele me conta as merdas que a maioria faz com mulher e me
explica que o interesse deles em mim, não é por mim
mesmo, não é pela minha beleza, é somente para afetá-lo,
pois é o capitão do time. Faz total sentido, porque nunca fui
popular, ele me fez assim e preciso respeitá-lo.
Tem momentos que fica nervoso e pode ser um pouco
bruto, mas a culpa é minha, porque faço muita besteira
mesmo sem querer e acabo o aborrecendo. Venho tentando
cada vez mais pensar antes de falar ou fazer algo que o
chateia, quero ser a namorada perfeita para ele.
Fico mais um pouco em sua casa e ele me leva
embora.
— Princesa, descansa um pouco porque está muito
abatida hoje. Gosto de você mais alegre, ok? Deve ser a sua
TPM chegando, resolve isso. — Fala enquanto estamos
dentro do seu carro.
— Me desculpe, acho que deve ser. Estarei melhor
amanhã. — Tento um sorriso para agradá-lo e saio do carro.
— Ei, não esqueceu de nada não? — Ele me grita,
volto até o carro e lhe dou um beijo.
— Te amo, namorado!
— Agora, sim. Te amo, minha princesa. — Ele vai
embora e entro em casa.
Estou com uma vontade de chorar e chorar o dia
inteiro. Saio correndo para o meu quarto e me tranco. Não
posso ficar assim ou vou perdê-lo! Tento me controlar, mas
hoje simplesmente não consigo. A tristeza me invade
fortemente e me permito deixar as lágrimas descerem.
Choro tanto, mas tanto, que soluço. Sorte que não tem
ninguém em casa ou mamãe iria vir atrás de mim.
Nossa, como a minha vida mudou com a maturidade,
acho que é sobre isso que falam sobre ser adulto. Preciso
ser forte e parar com essas criancices.
Me deito na cama, abraço meu travesseiro e permito
que o cansaço por tanto chorar me domine e durmo
profundamente.
Que paz! Seria bom não ter que acordar.
Capítulo 17
inha cabeça está agitada, pensando em tudo o
M
que me aconteceu essa noite. Conhecer o Adam foi
impactante, ele é um homem muito interessante, que fez
meu corpo reagir de forma inesperada. Há tantos anos não
sentia essa química com alguém que é algo a se considerar,
mas ao mesmo tempo, por mais que eu esteja animada com
esse encontro, sei bem como homens podem fingir no início,
como tudo sai de maravilho e perfeito, para uma grande
merda.
Não que eu ache que o Adam é como o Jack, mas
o que eu realmente sei sobre ele? Sei que é um CEO
importante, sei que ele é bilionário e apoia causas sociais.
Pelo seu discurso e pelo que me contou sobre a sua
infância, me parece algo genuíno, senti o quanto se importa
com aquela ONG e o que eles fazem pelas crianças.
Isso com certeza é um ponto positivo e em comum
entre nós, mesmo que provavelmente seja por motivos
diferentes. Sei que mal respirei direito na sua presença, que
ele despertou em mim coisas novas, uma vontade de me
jogar em cima desse homem gostoso e sedutor, mas não
farei isso assim, não depois de tudo o que já passei. A vida
me ensinou a ter cautela e assim o farei.
Quero saber tudo, desembucha logo que estou
—
curiosíssima. — Titia me olha com as sobrancelhas
levantadas, me tirando dos meus próprios pensamentos.
Vou até ela que está na bancada da cozinha, já com uma
taça de vinho na mão.
Caramba, quando foi que pegou isso? Nem
—
reparei. — Constato olhando para ela que ri.
Nem tente mudar de assunto, mocinha. Vamos
—
lá, desembucha. — Toma um gole de vinho e vou pegar uma
água para mim, enquanto penso no que falar.
Ai, tia, foi tudo tão incrível. Dançamos juntos e
—
conversamos um pouco.
E? O que mais? Não pode ser tudo o que tem
—
para me falar, Sarah! — Franze a testa e me olha de cara
feia.
Calma, tia, que ansiosa. — Rio. — Bom, ele
—
falou mais sobre ele, até comentou que também não é fã
desses eventos, parece ser mais reservado, assim como eu.
Sim, pelo que sei, Adam não é de festas e
—
coisas assim, diferente do amigo dele, Adriano. Ele e os
meninos são mais reclusos. — Pondera.
Meninos? Ele tem muitos amigos? — Pergunto
—
curiosa, pois quero saber mais sobre ele.
Sim. Sempre falam sobre eles nas rodas de
—
fofoca, porque são inseparáveis.
— Me conta o que falam, quero saber. — Peço, me
sentando junto a ela na bancada.
— Adriano é um playboy, Rodrigo é um advogado
renomado e Alex que não foi hoje, é um magnata herdeiro
de uma rede de hotéis de luxo mundialmente famosa. Foi
estranho ele não ir, mas deve ter acontecido alguma coisa.
Uau, dossiê completo, adorei. Acho bonita uma
—
amizade assim, fico feliz por tê-la, tia. Você é isso para mim,
sabe disso, né? — Agora a bebedeira está dando lugar para
a minha sensibilidade.
— Sei disso e te amo querida. Agora antes que
fique mais emotiva, me conta mais sobre hoje, sei que tem
mais motivos para esse sorriso. — Ela coloca a mão no meu
ombro e levo um susto, porque nem se quer tinha percebido
que estava sorrindo enquanto falava dele.
— Você não deixa passar nada, né? — Empurro ela
com carinho, brincando.
— Nunca. Agora fala. — Pisca para mim.
— Bom, ele queria saber mais sobre mim, senti que
estava de fato interessado em me conhecer, mas sabe que
não consigo me abrir assim de primeira, então acabei não
falando muito. Acho que ele percebeu esse meu jeito, mais
tímida, porque para me deixar mais confortável,
compartilhou comigo algo que parece que muita gente não
sabe. — Falo essa parte analisando bem a minha tia, porque
se tem uma coisa que tenho certeza, é como ela é curiosa.
— Fala logo, Sarah, não me deixe assim só na
imaginação do que pode ser. — Ela gesticula com as mãos,
daquele jeito dramático dela.
— Você é muito curiosa, sabia disso? — Rio de como
ela está sentada na bancada, apoiando os braços na mesa,
me olhando igual uma maluca.
— Sei muito bem disso, assim como você. Conta tudo
para a sua tia favorita, anda logo.
— Você é a minha única tia, sua cara de pau. — Ela ri
sabendo que falou isso de propósito e decido não enrolar
mais. — Tia, isso não pode sair daqui, ok? — Ela acena que
sim e faz gesto com a sua mão como se lacrasse a boca. —
Desde jovem, ele faz trabalho social nas ruas, algo que seus
pais lhe ensinaram e que ele mantém até hoje por meio das
ONGs. Acabei comentando que seus pais devem ser
pessoas incríveis, e ele disse que adoraria me apresentá-los.
Claro que fiquei um pouco nervosa com o rumo que a
conversa estava tomando, então disse que já estava tarde e
que iria voltar com você. Foi quando ele perguntou se
poderia me ver novamente, e eu disse que sim. Foi isso. —
Titia arregala os olhos e solta uma gargalhada que não
entendo.
— Agora sim, finalmente conheceu alguém, e que
alguém! Nem eu planejaria melhor que isso. Ele é um
partidão e acho que tem tudo a ver com você. — Fica um
pouco pensativa. — Caramba, acho que estou ficando velha,
como não percebi isso antes, que ele era ótimo para você?
Tia, você não está ficando velha, está mais
—
nova a cada dia e foi ótimo não ter planejado, porque sabe
como fico quando faz isso, me travo mais ainda, e teria sido
péssimo. Dessa forma foi mais inusitado, estranho, confuso
e perfeito ao mesmo tempo. — Suspiro.
— Fico genuinamente feliz, agora dê a ele a
oportunidade de te conhecer, ok? Se permita viver isso e
conhecer alguém legal como ele.
— Vou tentar tia, mas toda vez que penso que ele é
incrível, não deixo de me perguntar se é de verdade. Será
que ele é genuinamente assim? Não posso correr mais
riscos, não aguentaria.
— Querida, seu ciclo de amizade é de empresários
renomados e ele nunca está exposto negativamente nas
mídias. Sinto algo positivo pelo Adam, me parece ser
confiável, fora que ele é um homem de verdade, né? Não
um moleque. Agora me promete que vai se permitir
conhecê-lo pelo menos. Promete? — Me olha com uma
súplica nos seus olhos.
Prometo que irei, mas no meu tempo. — Me
—
aproximo dela e encosto em seu ombro pensativa.
É estranho me sentir assim de novo, mas hoje não
deixarei que meus sentimentos falem mais alto, preciso
lidar de forma racional com tudo isso. Meus instintos falam
que ele pode ser algo a mais, mas dessa vez quero gestos
que me provem isso, não somente palavras vazias. As
atitudes dele me dirão se ele vale a pena ou se é melhor eu
sair fora.
Sei que tenho que lidar com meus próprios demônios,
mas eles me ajudarão a não repetir os erros do passado.
Acordo com uma leve ressaca, sei que exagerei um
pouco na noite anterior, mas foi uma exceção, então tudo
bem. Estou com uma leve dor de cabeça, mas me levanto.
Pego uma Neosaldina com um copo de água. Por sorte
imaginei que beberia bastante no evento e liberei a minha
manhã, só tenho atendimento depois do almoço.
Mesmo não estando muito bem fisicamente, resolvo
treinar. Suar um pouco e me exercitar vai fazer bem para
tirar esse álcool todo de dentro de mim. Digito uma
mensagem para o Gabriel, meu sensei, professor de artes
marciais, perguntando se posso ir ao Dojô, que é a escola
de luta. Ele me reponde rapidamente que sim.
reino quase todos os dias, mas hoje devido ao
T
evento, achei melhor não marcar, fiquei na dúvida de como
acordaria, mas já me acostumei a estar lá diariamente e
gosto da rotina, de me manter sempre em alerta.
eixei aquela menina frágil e inocente que todas
D
as pessoas subestimavam no passado, enterrei ela tão
fundo que nunca mais vou achá-la. Hoje sou uma outra
mulher, mais preparada e atenta ao meu redor.
Oi, Gabriel, tudo bem? — Chego no Dojô e o
—
cumprimento. — Obrigada por ter conseguido um horário
para mim.
Oi, Sarah. Acordou disposta hoje? Estava na
—
dúvida se ia conseguir treinar, né?
— Sim, estou um pouco de ressaca, mas pronta.
— Sorrio.
Ótimo. Vamos lá? Primeiro, vamos fazer cinco
—
quilômetros de corrida para aquecer e tirar esse álcool de
você.
que gosto da minha relação com o Gabriel é
O
que ele sabe tudo sobre o meu passado, me ajudou muito
na minha recuperação, mas ele não é uma pessoa que fica
se metendo na minha vida e querendo saber sobre tudo.
Falamos o que tem que ser falado e só, é o bastante. Tenho
um enorme respeito por ele, pelo seu caráter e pelo
trabalho que faz aqui, mas principalmente por sua discrição.
igo o que ele mandou e finalizo o aquecimento.
S
Faço a aula de Krav Maga, ela é muito conhecida por ser
excelente em ensinar defesa pessoal, pois é um sistema de
combate corpo a corpo, que envolve técnicas de luta,
torções, defesa contra armas de fogo ou facas, e golpes
como socos, chutes, cotoveladas e joelhadas. A meta dos
treinamentos é capacitar o aluno a impedir uma agressão,
independentemente da posição da vítima, seja ela em pé,
sentada ou deitada.
Faço há alguns anos, desde que voltei ao Brasil e
comecei a morar com a minha tia. Inclusive foi ideia dela.
Ela conhecia o Gabriel pelo trabalho que ele faz e me trouxe
um dia para conversar com ele. Senti uma conexão
imediata e me encontrei nessa luta. Consegui através dela
ter a confiança de saber me defender, não importa a
situação.
Tenho um imenso orgulho de falar que sou faixa preta,
acabei de conquistar essa faixa e estou muito feliz. Ainda
existe uma acima da minha, que seria a vermelha, mas ela
só é conquistada para quem é mestre nessa arte, como o
Gabriel, e apesar de eu amar, não é o que gostaria, sou feliz
como psicóloga.
Muitas pessoas têm a impressão errada sobre as
lutas, acham que quem as fazem são pessoas agressivas,
que gostam de brigar por aí, mas esse é um conceito
equivocado e falho. É expressamente proibido em todas as
lutas os alunos saírem brigando, isso pode causar expulsão,
inclusive.
O Krav Maga é muito mais sobre melhorar os sentidos
e sobre se defender. Acredito que todas as pessoas
deveriam saber disso, principalmente nós mulheres que
passamos a vida inteira sendo colocadas em situações
complicadas. Saber o que fazer nelas pode ser, muitas
vezes, a diferença entre a vida e morte.
— Vamos, Sarah, acelera esse passo, você não veio
aqui para passear no shopping. Nada de moleza. — Gabriel
me tira dos meus pensamentos.
Combinei quando entrei que ele nunca pegaria leve
comigo e ele vem mantendo sua promessa desde então,
não tem um dia que ele não me tire da minha zona de
conforto.
— Desculpe, já estou de volta!
Consigo me livrar de todos os meus pensamentos e
foco em suas ordens e instruções. Fazemos uma sequência
grande de alongamentos, pois um dos pontos que ele mais
fala é que preciso estar em forma, meu corpo tem que estar
pronto para aguentar tudo, ou só a técnica pode não ser
suficiente, tudo é sobre equilíbrio entre corpo e mente.
Depois de uns 45 minutos, entramos em combate.
Quando terminamos, me sinto muito melhor, sinto
que o álcool saiu totalmente. Normalmente venho à noite,
porque quando acabo me sinto esgotada, como estou
agora. É um treino que nos leva ao limite, mas amo essa
sensação. O bom que ainda tenho uma boa parte da manhã
e posso descansar antes de ir para o consultório.
Pego a minha bolsa, agradeço a ele pelo tempo
novamente e olho meu celular. Vejo uma mensagem não
lida de um número novo, será que é paciente querendo
horário? Quando abro e vejo o nome na tela do WhatsApp
meu coração acelera.
Adam.
Suspiro.
Capítulo 18
“Sete anos atrás”
— Filha, já chega! Está o mês inteiro assim, não
aguento mais te ver sofrendo sem saber o que está
acontecendo. — Mamãe entra no meu quarto e abre a
cortina, deixando a luz entrar.
— Fecha, mãe, estou com dor de cabeça. Não estou a
fim de brigar de novo. — Todos os dias ela fala algo negativo
sobre o Jack e quando não é ela é o meu pai. Um saco, eles
ficam se metendo toda hora na minha vida.
— Não quero brigar, mas precisamos conversar sério.
— Meu pai entra no quarto. Merda.
— Estamos preocupados com você, querida. — Papai
se senta na cama e coloca a mão em uma das minhas
pernas me fazendo carinho.
— Estou ótima, já falei milhões de vezes. — Falo sem
paciência.
— Isso não é verdade. Olha como você mudou desde
que começou a namorar esse menino. Você sempre foi tão
meiga, educada, passava o final de semana conosco me
contava tudo, e agora parece que sou uma estranha para
você, não sei de mais nada. — Vejo uma lágrima descendo
do rosto da minha mãe. Me sinto mal por lhe causar dor,
mas não quero ter essa conversa.
— Não sou mais uma criança, mãe, eu cresci e
precisam entender isso. Jack me protege, cuida de mim, por
isso não preciso mais que façam isso. — Me levanto da
cama e vou para o banheiro.
— Volte já aqui, Sarah, ainda não acabamos. — Papai
se levanta e fala alto.
— Por mim, acabamos sim. Parem de implicar com o
meu namorado, ele é perfeito e me ama muito. Parecem
que querem acabar com a única coisa que me deixa feliz. Se
eu ficar sem ele, eu morro! Então PAREM! — Grito pela
primeira vez com meus pais que claramente se assustam.
— Filha. — Mamãe se aproxima devagar. — Isso não é
saudável. Em qualquer relação ter uma dependência tão
forte a alguém não é bom. Ninguém vai te amar mais do
que nós, seus pais.
— E é por isso que está proibida de vê-lo nesse final
de semana. Estamos fazendo o que é melhor para você. —
Papai completa.
— O QUÊ? — Berro. — Não podem fazer isso, não
posso deixá-lo sozinho o final de semana todo, não posso.
Ele não vai gostar. — Me desespero, começo a gritar e a
chorar ao mesmo tempo.
— Podemos e vamos. Não me importa se ele vai
gostar ou não. Dessa casa você não sai. — Papai me olha
sério de um jeito que nunca vi antes, mas estou cega de
medo.
— Não podem me prender aqui, vou fugir, sumir de
perto de vocês. — Tento ir para a porta, mas me seguram e
não permitem que eu saia.
Fico tão, mas tão nervosa, assustada e apavorada que
começo a sentir falta de ar, suo frio, sinto tontura, náusea e
me sento no chão. Coloco a mão no peito, porque sinto uma
dor forte e palpitações, parece que meu coração está
batendo tão rápido que vai saltar do meu peito. Olho para
meus pais suplicando ajuda e me levam para o hospital.
Fico um dia internada fazendo checkup e tomando
calmante na veia. Não sabia o que estava tendo na hora,
achei que era tipo um infarto ou algo assim. Mamãe e papai
ficaram horrorizados, com medo do que poderia acontecer
comigo.
Passei por uma psiquiatra do hospital. Ela me
perguntou o que aconteceu e o que estava sentindo na
hora. Descobri que tive o meu primeiro ataque de pânico.
Nem sabia o que era isso, mas ela me explicou.
— Um ataque de pânico implica no surgimento súbito
de medo ou desconforto intenso. Quando não estamos bem
emocionalmente e lidamos com uma situação de estresse,
angústia, ansiedade ou medo extremo, é possível sentir
essas dores que comentou. Eles também podem surgir de
forma diferente, através de tremores, espasmos, dormência,
medo de perder o controle, medo de morrer. Está muito
ligado a dor emocional e acredito que na hora estava
passando por uma. — A psiquiatra explica calmamente,
tentando não me assustar.
— Nunca senti isso antes. Esse ataque de pânico pode
voltar? — Estou com medo.
— Sim, mas podemos melhorar isso através de terapia
e alguns remédios para controlar, caso eles surgirem
novamente.
— Terapia? Sou louca? — Arregalo os olhos e olho para
os meus pais, procurando conforto.
— Não, claro que não. Terapia não é para loucos, e
sim, para nos ajudar a lidar com as situações do dia a dia,
como a puberdade, maturidade, dentre outras coisas. São
muitos hormônios nessa fase da vida, com isso é, de certa
forma, normal se sentir mal, triste ou frustrada. A terapia
nos ajuda a nos conhecer e a nos entender, para que esse
tipo de coisa não se repita. — Sorri de forma doce.
— Não sei, preciso pensar. — Limpo uma lágrima.
— Calma filha, vamos conversar e ver o que é melhor
pra você, ok? Agora só tente descansar um pouco porque
ainda está muito agitada. — Mamãe coloca a sua mão sobre
a minha e me faz um carinho.
— Onde está o Jack, mãe? — Observo que não o vi
ainda.
— Não está aqui, pois não pode receber muitas visitas
no hospital. Quando estiver melhor e em casa, ele poderá
visitá-la.
— Agora tente descansar. — Papai me dá um beijo e
me deixam dormir.
***
Me sinto melhor, mas o final de semana foi difícil.
Voltei para casa ontem e meus pais não deixaram o Jack me
visitar, nem ao menos me deixaram usar o meu celular,
falaram que era ordens médicas. Tentei relutar, mas os
remédios que me deram eram tão fortes que só dormi. No
final foi muito bom poder descansar, estava exausta.
Mamãe não quer que eu vá para a escola hoje,
mas eu gosto de estudar e estou com saudades dele. Minha
mãe contou para seus pais e para ele o que houve e
garantiram que estava bem, mas fico angustiada em não
poder ouvir a sua voz. Pego meu celular que ela finalmente
devolveu e vejo uma mensagem dele.
Jack: Oi, minha princesa, fiquei muito preocupado com
você, mas vamos conversar hoje na escola. Te amo!
Fico tão aliviada ao ler isso, não sei por que, mas
estava com medo dele reagir mal a tudo, fiquei dois dias
sem vê-lo e sem qualquer contato, ele não devia estar
muito feliz, mesmo não sendo minha a culpa.
Coloco a minha roupa, uso calças hoje pois está frio e
ainda estou um pouco fraca. Papai vai me buscar assim que
acabar a aula, tento conversar para ficar na casa do Jack,
mas não me deixaram nem terminar. Estou tão cansada que
até para brigar não tenho mais forças.
A verdade é que esse episódio me assustou, achei que
ia morrer e isso mexeu comigo. Talvez seja bom eu ver essa
psicóloga, fazer terapia. De fato, não me sinto mais eu
mesma.
Chego na escola e estranho que não o vejo. Poxa,
achei que chegaria antes para me receber. Vou até a sala de
aula e me sento na cadeira. Ouço vozes no corredor e ao
entrar vejo o meu amor, segurando um buquê de rosas
vermelhas com o dobro de tamanho, não sei como isso é
possível.
— Esse buquê é duplamente especial, por isso o
tamanho. Fazemos hoje oito meses de namoro e você está
melhor, recuperada. — Nossa, eu esqueci completamente
que era nosso aniversário, foi muito forte esses últimos
dias.
Fico feliz por ele ter feito isso. Todos os meses ele me
traz um buquê desses, mas o de hoje está ainda mais
incrível.
— Ah, Jack, é perfeito! — Me levanto e vou até ele.
— Fiquei tão preocupado, minha princesa. — Coloca o
buquê em cima da mesa e põe as suas mãos no meu rosto.
— Não posso te perder, nunca irei te perder, não faça mais
isso comigo! — Seu olhar é profundo, me causa um frio na
espinha, não sei por quê.
— Estou melhor agora, foi só um susto. — Ele me
abraça e então me beija.
— Me conta tudo o que aconteceu! Quero saber nos
detalhes pelo que passou, ok? — Ele me acompanha até a
minha mesa.
— Não quero relembrar tudo, namorado, só precisa
saber que estou melhor. — Ele aperta meu pulso.
— Princesa, quero saber tudo e vai me contar. Faço
isso por você, pelo seu bem. — Poxa não era para chateá-lo
assim, ele só quer cuidar de mim.
Merda, não faço nada certo. Balanço a cabeça
concordando e digo que contarei no intervalo. Ele me solta e
prestamos atenção na aula.
No recreio falo tudo o que aconteceu, conto sobre a
discussão que tive com os meus pais a respeito dele e da
nossa relação, o que senti e o ataque de pânico. Falo sobre
a conversa com a psiquiatra e sobre o tratamento que
preciso fazer com uma psicóloga. Ele escuta atentamente
sem falar nada, o que acho até estranho porque ele sempre
tem algo para pontuar, mas espera eu finalizar toda a
explicação para então dar a sua opinião.
— Minha princesa, fico triste que seus pais pensem
assim a meu respeito. Eu faço de tudo para agradá-los, não
entendo por que me culpam se está crescendo e se
tornando uma mulher independente. Como podem não ver
isso? — Coloca seu braço ao meu redor e faz carinho no
meu ombro.
— Eles só estão sentindo a minha falta, não falaram
por mal. Sei que gostam de você. Logo essa implicância
acaba, ainda mais com esse tratamento que vou fazer. —
Sorrio.
— Tratamento? Como pode fazer isso, meu amor? Eles
querem te manipular com essa tal terapia. Foi por culpa
deles que teve esse ataque de pânico, não vê? Não há nada
de errado com você. Sabe disso, não é? — Ele me pede pra
virar e me fazer olhar nos seus olhos.
— Não sei, Jack, eu realmente não ando me sentindo
muito bem. Acho que pode ser bom para mim, não custa
tentar. — Dou de ombros.
— Claro que custa. Imagina o que as pessoas vão falar
sobre você, ou pior, sobre mim. Vão falar que namoro uma
maluca e que precisa de camisa de força, ou sei lá mais o
que podem pensar. Não pode fazer isso comigo. — Arregalo
os olhos porque não tinha pensado por esse lado.
— Mas como vão saber? Não vou contar para
ninguém. — Falo baixinho.
— Princesa, você confia em mim? — Faço que sim com
a cabeça. — Eu sei o que é melhor para você. Quando
estamos juntos ficamos muito bem. Foi na sua casa com os
seus pais que sofreu desse jeito. Não precisa de médico
para gente doida, precisa somente de mim. — Faz sentido.
Eu realmente nunca tive algo tão forte antes e se tivessem
me deixado vê-lo nada disso teria acontecido.
— O problema é que mamãe vem me buscar para
irmos para casa. Não vou poder desobedecê-los, Jack. —
Falo triste olhando para baixo.
— Vou com você para a sua casa hoje e vou pensar
em algo para ficarmos mais juntos, ok? Meus pais têm muito
poder nessa cidade e vão resolver esse problema. Sinto a
sua falta, preciso de você e nunca vou te abandonar, ok? —
Novamente seu olhar se intensifica.
Por mais que às vezes sinta esse frio na espinha com
o seu jeito possessivo, me sinto segura, porque sei que ele
me ama de verdade.
— Te amo, namorado! Obrigada por cuidar de mim. —
Lhe dou um beijo.
— Sempre, sempre.
Capítulo 19
No trajeto para a minha casa, só consigo pensar na
Sarah, na forma que nos conhecemos e principalmente na
forma que ela me hipnotizou. Meus pensamentos sempre
voltam ao seu sorriso, a sua forma tímida e ao mesmo
tempo sexy de ser, sem fazer esforço algum.
Lembro-me das suas curvas, o volume dos seus seios
por baixo daquele decote, seu corpo colado ao meu
enquanto dançávamos e a vontade enorme de foder ela ali,
no meio do salão, sem me importar com mais nada.
Porra! Vai ser impossível dormir agora. Estou com
muita energia para isso. Olho para o meu carro esportivo e
é como se ele me chamasse. Pego meu celular e clico no
número do André.
— Mudanças de planos, consigo te encontrar em 15
minutos. — Sou direto. Nossas conversas não têm
necessidade de cortesias.
— Ok, te encontro no mesmo local. — Ele responde e
desligo o celular.
Ótimo. Agora encontrei uma forma de queimar toda
essa adrenalina que estou sentindo.
Entro no meu carro e dirijo até o ponto de encontro.
Estou na avenida Niemayer, olhando para o carro ao lado do
meu. É um Mustang Mach 1, um ícone, mas não chega aos
pés do meu. Aceno com a cabeça e vejo o sorriso do André
no outro carro. Ele ama corridas tanto quanto eu e virou um
bom amigo para isso.
Mudamos com uma certa frequência de lugares, mas
esse é o meu favorito. As curvas acentuadas e a vista,
fazem desse lugar o mais bonito e emocionante de todos.
Andamos devagar até o sinal e aguardamos o verde
para começarmos. Estou tranquilo e confiante. Só preciso da
adrenalina, da descarga elétrica que sinto quando estou
com as mãos no volante, quando sinto que a corrida vai
começar. É como se todo o meu corpo emitisse sinais de
aviso, de perigo e isso me deixa acesso, animado e pronto
para o que vem a seguir.
Verde!
Acelero com tudo o carro, assim como o André, mas
nem olho para o lado. Foco no meu trajeto. Mudo a marcha
nas curvas e é como se eu e meu carro fossemos um só. A
forma como dirijo, como deixo as paisagens para trás, faz
com que eu me sinta vivo, não demoro muito e chego no
marco final da corrida, na frente dele.
Sabia que esse carro não iria decepcionar, ele é uma
máquina!
— Joana, venha aqui, por favor. — Ligo para a minha
secretária. Em menos de um minuto ela está dentro da
minha sala. — Como está agenda da semana que vem?
— Todas as reuniões foram confirmadas. O diretor
financeiro fará por videoconferência e as demais serão
presenciais no escritório. — Ela analisa tudo com seu iPad e
me atualiza na mesma hora. — Ah, o gerente de projetos
vem pedindo exaustivamente aquela visita aos
desenvolvedores de jogos para conversar com eles. Posso
agendar para quando?
— Hum, verdade, tem um tempo que não os visito e
gosto de mantê-los estimulados. Libere uma hora entre as
minhas agendas na semana que vem mesmo e combine
com ele.
— Sim, senhor. Farei imediatamente. — Assente com a
cabeça enquanto anota no iPad.
— Obrigado, isso é tudo. — E ela se retira.
Abro minha caixa de e-mails pois preciso responder
algumas pessoas. Enquanto estou lendo uma mensagem de
um investidor minha mente novamente vaga até a Sarah.
Tento me concentrar, mas por mais que eu queira não
pensar nela nesse momento não consigo, é tudo em vão.
Nosso encontro me marcou e sinto que preciso investir nela.
Consegui o número do celular da Sarah através do
cadastro do evento. Todos são obrigados a passar o contato
e e-mail antes, então isso facilitou a minha vida. Não que
seja difícil conseguir o número de alguém, mas assim foi
mais rápido.
Como sou um homem decidido, escrevo uma
mensagem para ela.
Adam: Oi Sarah. Gostaria de vê-la novamente. Que
tal jantarmos hoje às 20h?
Sarah: Sim, adoraria. Em qual restaurante te
encontro?
Adam: Irei te buscar, o restaurante é surpresa.
Sarah: Combinado.
timo. Reservei um restaurante italiano bem
Ó
discreto e exclusivo. É um dos meus preferidos,
principalmente pela privacidade. Você não pode
simplesmente chegar e pedir uma mesa, tem que ter sido
convidado para conhecer, é como se fosse um clube que
precisa ter uma cota. Sei que lá estaremos seguros de
pessoas curiosas, não quero expô-la também.
asso o dia resolvendo coisas do trabalho,
P
inclusive antecipo a reunião com o Luiz, o diretor de
marketing. Não tem por que dar mais tempo se sei que não
irá apresentar nada que preste.
— Luiz, não vamos perder mais o nosso tempo. Essa
apresentação toda não foi nenhuma surpresa para mim,
sabia que apareceria com algo deplorável, como isso. Não
há necessidades de me estender mais sobre o seu trabalho,
sabe bem o que penso e é por isso que está demitido. — Ele
arregala os olhos, com certeza não esperava por isso,
achava que seria sempre protegido, mas tudo tem limites,
ele faz que vai falar algo, mas levanto a minha mão o
interrompendo. — O RH já preparou a documentação, fui até
bem generoso com o acordo do seu desligamento, então já
lhe aviso para assinar agora, pois se sair dessa mesa sem
assinar, te garanto que não receberá nem a metade disso.
into seus olhos furiosos sobre mim, está com
S
ódio, mas sabe como sou no meu trabalho e duvido que vá
tentar algo agora. Ele puxa o documento que está na mesa
a sua frente para ler.
Luiz, tenho um compromisso agora, o Márcio,
—
do departamento jurídico terminará essa reunião. Ele sabe
das minhas condições em caso de ir embora sem
resolvermos isso. — Me levanto e me despeço rapidamente.
Márcio que acaba de entrar, senta-se ao lado de Luiz,
aguardando que assine o contrato. Sei que irá assinar, por
mais raiva que esteja sentindo, não é tão burro assim e
sabe que de fato fui generoso para finalizarmos essa
situação.
Saio mais cedo, pois quero estar mais apresentável no
nosso encontro. Tomo um banho e coloco uma blusa polo
listrada com uma calça social bege. Pego meu relógio e
passo meu perfume para ela.
esolvo ir dirigindo, pois não quero meu
R
motorista nos atrapalhando, posso estar enganado, mas
senti que ela não gosta de muitas pessoas e a última coisa
que desejo é deixá-la desconfortável.
Hoje decido usar o meu Bugatti La Vontuire Noire
preto, é considerado o carro mais caro do mundo, mas não
foi só por isso que o comprei, mas sim porque é uma obra-
prima da engenharia automotiva. Ele é extremante luxuoso,
mas ao mesmo tempo não é chamativo como uma Ferrari,
por assim dizer, o considero mais elegante, tem mais a ver
com a minha personalidade.
hego em sua residência pontualmente, acredito
C
que terei que aguardar algum tempo para que ela esteja
pronta, pois estou acostumado com o atraso feminino, mas
surpreendentemente, como ela já se provou ser, está na
porta me aguardando completamente linda.
Desço do carro para abrir a porta para ela, mas paro
ao analisar ela vindo ao meu encontro. Está usando um
vestido justo preto até o joelho, muito elegante e sexy ao
mesmo tempo.
— Oi, Sarah, está lindíssima! — A cumprimento com
um beijo no seu rosto e percebo ela corando.
— Oi, Adam, obrigada. — Ela sorri sem graça e entra
no carro.
Posso estar enganado, mas a forma que reagiu ao
elogio, me pareceu que ela não lida bem com isso. Dou a
volta e me junto a ela.
— O restaurante fica há uns quinze minutos daqui, é
um italiano. Espero que goste. — Explico enquanto dirijo.
— Eu amo, acertou com certeza. — Abre um sorriso
lindo e sigo até o local. Puxo alguns assuntos sobre quais
músicas ela gosta, para quebrar o gelo e deixá-la mais à
vontade, até que chegamos ao restaurante.
Assim que chego o manobrista pega o carro, enquanto
nos levam para nossa mesa. Esse restaurante é muito
conhecido no meio dos negócios por todos serem muito
discretos. Todos que vêm aqui, cuidam da própria vida.
Cumprimento o chef e os garçons que conheço bem.
Todas as mesas são extremamente luxuosas e exclusivas,
nos dando muita privacidade, o que é perfeito, pois não
quero ninguém cuidando da minha vida. O dono daqui é um
grande empresário e o criou com esse propósito, pois ele
mesmo precisava de espaços assim e não encontrava.
— Já esteve aqui antes? — Pergunto enquanto nos
acomodamos um ao lado do outro. Faço questão de me
sentar ao lado dela, preciso dessa proximidade.
— Não, nunca, mas adorei o lugar. Muito reservado. —
Observa tudo ao redor.
— Sim, é um dos restaurantes mais exclusivos do Rio
de Janeiro e gosto muito de vir aqui. Ninguém irá nos
incomodar. — Ela sorri. — Prefere champanhe ou vinho? –
pergunto.
— Pode ser um vinho tinto, harmoniza bem com a
comida italiana. — Responde e fico surpreso por entender
tão bem sobre vinhos.
— Temos uma especialista em vinhos? — Levanto a
sobrancelha e sorrio.
— Não sei dizer se sou uma especialista, mas aprecio
muito vinho e champanhe, são as minhas bebidas
preferidas. — Dá de ombros.
— Fico feliz, sou um adorador de vinhos também.
Deseja escolher a nossa garrafa? — Pergunto dando a carta
de vinhos a ela.
— Como já conhece aqui, tenho certeza de que
escolherá uma muito boa, na próxima oportunidade, eu
escolho. Que tal?
— Fico feliz que já esteja considerando um novo
encontro. — A olho e vejo que ficou um pouco
envergonhada.
— Bem, se quiser é claro. Não foi bem isso que... — A
interrompo, pois noto que ficou constrangida e não era a
minha intenção.
— Quis dizer que será um prazer vê-la novamente. —
Pego em sua mão carinhosamente. Já reparei que ela tende
a falar muitas coisas quando está nervosa. — Posso sugerir
de comermos o menu degustação? Eles trazem em
pequenas porções as especialidades do restaurante.
— Sim, está ótimo. — Chamo o garçom, ainda
segurando a sua mão e peço a garrafa do melhor vinho tinto
da casa.
— Fico feliz que tenha aceitado meu convite, ontem
não tivemos tanto tempo para conversarmos direito e
gostaria de conhecê-la melhor. — Coloco uma mexa do seu
cabelo atrás da orelha e sinto como seu corpo reage aos
meus toques.
— Ah, quero aproveitar para te parabenizar pelo
evento. Toda a organização foi impecável e foi por uma
causa muito nobre. — Fala enquanto o garçom chega com o
vinho que solicitei.
Ele pede para eu fazer a prova, mas decido que ela
deveria fazer, percebo que fiz bem pela forma que me olha.
Ela acena com a cabeça dizendo que pode me servir.
Brindamos e bebemos.
— Agradeço. Como te falei ontem, não sou fã de
eventos, mas o apoio a causas sociais é muito importante
para mim. Sei dos meus privilégios e do quanto milhares de
pessoas vivem em situações de risco, por isso, uso o meu
cargo e a minha influência para trazer dignidade a essas
pessoas. — Sinto uma facilidade em me abrir para ela, não
sei ao certo porquê, mas tenho gostado de explorar esse
meu lado mais vulnerável.
— Nossa, Adam, fico muito feliz por fazer isso,
compartilho do mesmo sentimento que você. Existem
tantas causas sociais importantes. São tantas pessoas
precisando de ajuda, que qualquer gesto é muito valioso.
Agradeço por ter compartilhado comigo sobre a sua infância
também. Foi importante para mim saber disso. — Pela
primeira vez, sinto ela se abrindo. A forma dela de falar, me
mostra que isso de fato é importante para ela.
— Engraçado, só os meus amigos que tenho como
minha família sabem disso, mas com você me senti
confortável para falar. — Falo pensativo e complemento — A
sua tia é bem respeitada pelo trabalho que faz em ONGs,
você a ajuda também? — Pergunto querendo saber mais
sobre ela.
— Ah, sim. Trabalho diretamente em uma das ONGs
que minha tia apoia. — A olho com surpresa e o garçom se
aproxima com uma das nossas entradas. É uma mini tábua
de frios, com queijo stracciatella e presunto de Parma para
abrir o nosso apetite.
— Não sabia disso. Trabalha em que área lá? —
Pergunto enquanto coloco um pedaço na minha boca.
— Sou psicóloga. Trabalho diretamente com mulheres
que sofrem ou sofreram relacionamentos abusivos. — Não
imaginava que ela trabalhasse em algo assim, mas isso só
me faz ter a certeza de que ela é uma mulher diferente.
— Sarah, isso é incrível — Tomo um gole de vinho e
me aproximo um pouco mais dela — Isso que faz, estar lá
com elas diretamente as ajudando, ouvindo e sendo um
canal para diminuir a dor e angústia delas, é algo admirável.
— Faço carinho no seu rosto e ela permite meus toques
gentis.
— Agradeço, mas a verdade é que estar lá com elas,
saber que estou fazendo a diferença, nem que seja em
pequenos detalhes, faz tudo valer a pena. — A sinceridade
em suas palavras, a forma como descreve, me deixa
fascinado. Sinto uma admiração enorme por ela.
Sem nem perceber, vou me aproximando mais e mais
dela, até que estejamos tão próximos que podemos sentir a
respiração um do outro. Fico alguns segundos assim, pois
quero ter a certeza de que ela quer isso tanto quanto eu,
mas a energia entre nós é surreal e sei que sim, ela se sente
da mesma forma. Isso é tudo o que preciso para tomá-la em
meus braços.
Coloco minha mão em seu cabelo e a puxo
gentilmente, encostando as nossas bocas em um beijo cheio
de desejo. Ardente, como deve ser.
Essa mulher simplesmente confunde toda a minha
cabeça.
Estou ferrado.
Capítulo 20
Desde o momento em que o vi saindo daquele carro
para abrir a porta para mim, senti meu corpo arder de
desejo por ele. Prometi a mim mesma que vou analisá-lo
com calma, que não deixarei meu corpo dominar, mas sim
minha razão. No entanto, depois dessa conversa, da nossa
conexão e de tudo o que ele me disse, já não consigo
suportar tê-lo tão perto de mim. Seu jeito gentil, cavalheiro
e humano me deixa completamente atordoada.
Ele tocou em um aspecto tão importante da minha
vida, e de uma forma tão delicada, que começo a pensar
que vale a pena conhecê-lo mais a fundo.
Nossa boca se encontra de forma urgente, nossos
lábios pressionam-se um contra o outro com uma força que
transmite desejo. A temperatura parece subir e a minha
respiração se torna ofegante. Nossas línguas se moldam
perfeitamente, criando um ritmo que é ao mesmo tempo
carinhoso e fogoso. Sinto seu sabor misturado com o vinho
e tudo o que desejo é nunca mais parar de beijá-lo.
— Estava louco para provar o seu beijo, Sarah. —
Sussurra e me beija novamente, me puxando mais para ele.
— Você é viciante, impossível parar.
— Então não para. — Suplico que continue me
beijando porque isso me traz sensações que preciso
continuar sentindo.
Nossa, se já sinto isso tudo com seus beijos o que dirá
na cama, estou completamente molhada. Como isso é
possível? Isso vai além do que tive com qualquer outra
pessoa.
Nos permitimos curtir o momento por um tempo, mas
lembramos que estamos no restaurante e paramos por
hora. Ele beija meu pescoço, me pegando pela cintura e me
arrepio toda. Como vou resistir a ele?
— Estamos num restaurante, Adam. — Falo querendo
que se controle e não querendo ao mesmo tempo.
— Sim, tem razão. Me desculpe, mas é impossível
ficar longe de você. — Ele se recompõe e me ajeita
também. Acho extremamente atencioso a sua forma de se
preocupar comigo.
Um garçom se aproxima nos servindo com o prato
principal e isso nos deixa mais calmos, por assim dizer.
— Hum, está perfeito. — Falo animada, pois amo
comer e isso aqui está delicioso.
— Sim, agora está. — Ele me surpreende com um
beijo, e isso me deixa feliz.
Seu olhar em mim me deixa tonta, mas preciso
realmente me controlar porque não sou assim. Puxo um
assunto qualquer, quando acabamos de comer.
— Me fala mais sobre você... — Mudo de assunto
intencionalmente, pois está ficando difícil me controlar.
Ele então começa a me contar que ama correr. Tem
um amigo que aposta com ele corridas de madrugada, só
para sentir a adrenalina. A forma como ele fala sobre isso
me empolga. Posso perceber o quanto ele realmente ama o
que faz. Esse homem é muito interessante!
Meu corpo cada vez mais implora para que eu o deixe
me tocar, para que ele me faça sentir ainda mais, mas meu
lado racional insiste em ir com calma.
Estou tentando, como estou tentando!
— Que tal, ao invés de eu te contar sobre isso, te
levar para experimentar? Há coisas que não dá para
explicar, é preciso sentir. A adrenalina de ouvir o motor do
carro, ver as paisagens passando e os concorrentes ficando
para trás, é única. Tenho certeza de que você vai gostar. —
Ele faz um carinho na minha perna e isso acende ainda mais
meus instintos.
Sua mão é forte, grande, firme. Nossa, está difícil me
conter.
— Hum, mas não é perigoso? — Pergunto com
dificuldades enquanto sinto seus toques.
— Um pouco, mas essa é a graça, não é? Te garanto
que comigo não tem com o que se preocupar. Nunca
deixaria que nada acontecesse com você. — O garçom nos
traz a sobremesa.
Adam faz questão de colocar uma colher do Tiramissu
na minha boca. Dou um leve gemido e ele se aproxima.
— Estou me segurando aqui, Sarah, mas ouvir você
gemer assim com esse doce, me deixa louco. — Lambo os
meus lábios e isso é o suficiente para que ele me puxe para
mais um beijo.
Seu gosto agora é doce, o meu preferido. O puxo com
vontade e coloco minhas mãos no seu peitoral. Nossa! Que
corpo é esse? O homem é músculo puro. Como eu queria
tirar essa camisa e ter ele em cima de mim. Sinto um desejo
intenso subir pelo meu corpo.
Pela primeira vez em muitos anos, não me importo
com mais nada e o beijo com desejo. Dessa vez eu coloco a
minha mão no seu cabelo e faço carinho enquanto provo
seus lábios.
Ele se anima e me puxa para mais perto dele, me
colocando em seu colo. Levo um susto pela posição que
estou em um restaurante, mas esse não é um restaurante
qualquer e sei que estamos a sós aqui.
Eu vivo racionalizando tudo, porque sei que preciso,
mas ter um momento como este, não me causará maiores
problemas. O máximo que acontecerá é eu ter tido uma
noite erótica e estou feliz em me sentir assim. Por isso, sim,
vou me permitir viver isso agora.
Sento-me de frente a ele, o olho em seus olhos e o
beijo novamente. Sinto o volume em sua calça crescendo e
sei que ele me quer assim como eu o quero. Ele coloca as
suas mãos nas minhas coxas e sobe delicadamente, como
se pedisse permissão para o que está fazendo.
Está super consentido. Eu quero que ele faça isso, na
verdade, eu desejo loucamente que ele me toque. Enquanto
nos beijamos ele coloca a sua mão por dentro da minha
perna e vai subindo até a minha calcinha. Estou
completamente atordoada com o tesão que estou sentindo.
— Se quiser eu paro. — Ele fala.
— Não para. — Preciso disso. Sei que sexo agora seria
muito para mim, mas isso eu posso e quero ter.
Ele coloca com a sua mão a minha calcinha para o
lado e me toca suavemente. Isso já é o suficiente para
sentir uma energia se espalhando por todo o meu corpo.
Que vontade de transar loucamente com ele! Não que eu
seja virgem, mas para mim o sexo não é só sexo, preciso de
uma conexão e preciso confiar nele antes de me entregar.
reciso liberar esse tesão agora. Ele me olha
P
novamente em busca de aprovação, aceno a cabeça para
que continue.
Como está molhadinha para mim. Que delícia
—
de boceta, como eu queria te chupar agora, mas ainda
teremos tempo para isso.
Isso, continua. — Falo gemendo enquanto seus
—
dedos reconhecem a minha vagina. A sensação de tê-lo ali
me deixa atordoada.
Sinto meu clitóris inchado pela excitação. Ele passa
seus dedos por cima dele, me masturbando em círculos.
Quero gemer alto, mas me controlo. Ele acelera os
movimentos e me beija para abafar qualquer barulho que
eu possa fazer.
Nossa, estou muito sensível, muito molhada, sinto que
vou gozar rapidamente, estou com muito tesão e faz tanto
tempo, tempo demais. Ele passa seus dedos incríveis por
toda a minha boceta, nos meus grandes lábios e nos meus
pequenos lábios e coloca discretamente sua outra mão no
meu seio, por cima do meu vestido. Me toca das duas
formas, estimulando mais ainda meus sentidos.
— Goza para mim, Sarah, quero ouvir você gemendo,
mas agora pelo prazer que estou te dando.
Me contorço quando ele enfia dois dedos dentro de
mim. Ele mete enquanto estimula meu clitóris fazendo
movimentos circulares, tirando e colocando até que sinto,
está chegando. Imagino o pau dele grande e grosso
entrando dentro de mim e isso é o que faltava para um gozo
potente.
— Adam... — Falo o seu nome, enquanto ele me beija,
abafando meus gemidos. Fico abraçada com ele enquanto
sinto os espasmos do orgasmo me deixando.
Nossa, se ele fez tudo isso só me masturbando, como
deve ser quando o seu pau estiver em mim?
— Você é uma delícia. Olha como estou por você. —
Vejo seu volume enorme por dentro da calça.
Sorrio feliz por causar isso nele, mas logo um
momento de consciência me invade e me toco aos poucos
do que acabei de fazer.
— Nossa, Adam, eu não costumo fazer isso, ainda
mais assim, estamos em um restaurante, mas eu me
envolvi pelo momento e nossa, fazia tanto tempo que eu sei
lá, achei que tudo bem, mas não quero que pense… — ele
me interrompe com um beijo suave. Ainda bem, porque
estava descontrolada.
— Não se preocupe, Sarah, não estou pensando nada
de ruim, só o quanto te quero, mas vou respeitar o seu
tempo. Já estou feliz que pude te proporcionar esse
momento. — Ele pisca para mim, me derretendo mais ainda.
Começo a sentir uma segurança com ele, uma
sensação de conforto, provavelmente pelos seus gestos
cuidadosos que são bem diferentes daqueles que “ele” fazia
comigo. Hoje vejo a diferença, gostaria que eu pudesse ter
percebido naquela época.
Capítulo 21
“Seis anos atrás”
Faço dezoito anos depois de amanhã e por
coincidência, eu e Jack completamos dez meses de namoro.
Nossa, quanta coisa aconteceu de um ano para cá, tento
não pensar muito nisso, mas vejo o quanto mudei. Acho que
eu era mais sonhadora, amava passar o final de semana
com os meus pais, vendo os filmes da Disney. Nem me
lembro qual foi a última vez que fizemos isso.
Acho que faz parte do amadurecimento, né? Talvez
seja por isso que estou mais pensativa dessa vez.
Não tive outra crise de pânico, mas sinto todos
tomando cuidados maiores para não me estressarem. Jack
passou a frequentar mais a minha casa, o que fez meus pais
acalmarem. Ele não gosta, porque quando estamos na casa
dele, sempre transamos, mas quando estamos aqui em casa
minha mãe fica de olho. Sei que está perdendo a paciência
com isso, seu humor tem ficado bastante alterado e acaba
descontando em mim, muitas vezes.
Entendo que a culpa é minha por ele está assim,
chateado, mas expliquei que era isso ou não poderíamos
nos ver tanto. Na época ele tentou mudar esse fato, seus
pais conversaram com os meus, ele também, mas ambos
estavam irredutíveis, então cá estamos, nessa situação.
Pelo menos não me obrigaram a fazer tratamento
psicológico, isso Jack me mostrou o quanto seria prejudicial
a nossa relação e não abri mão. Como é algo que tenho que
aceitar, meus pais não puderam me forçar.
No fundo, me fez bem ficar mais em casa do que na
casa dele, não gostava de todos os dias ter que transar
porque ele queria, assim pelo menos, não tenho que fazer
toda hora. Ele nunca me obrigou, nem nada disso, mas fazia
para agradá-lo. Tem muita vagabunda o rondando na escola.
Ele me conta cada coisa que as meninas falam para ele que
tenho vontade de arrancar o cabelo de cada uma delas,
morro de ciúmes, mas sei o quanto ele me ama.
Jack não poderá ir à escola hoje e amanhã porque tem
algum evento para ir com os pais na cidade onde moravam,
não sei ao certo, porque não me explicou direito, como
sempre, mas me prometeu voltar a tempo de comemorar o
meu dia e o nosso aniversário de namoro.
Estou na sala de aula, sentada no mesmo lugar de
sempre quando vejo um aluno novo. Isso que é um milagre,
nunca vem ninguém para essa cidade e temos dois em
menos de um ano? Caramba, ele é bem bonito, moreno,
forte, olhos verdes e alto. Nossa! As meninas vão pular em
cima dele. Sorte a minha que já conquistei o meu amor.
Ele observa a sala procurando um lugar para sentar e
o professor manda se sentar atrás de mim, no lugar do Jack.
Nossa, se ele estivesse aqui não ia gostar nada disso, mas
de fato está fora, então faz sentido.
— Pessoal, temos um aluno novo. Clayton, gostaria de
falar mais sobre você?
— Olá. Sou o Clayton e me mudei recentemente.
Gosto de futebol e videogames.
— Seja bem-vindo. — Meu professor fala e começa a
sua aula.
Acho um pouco estranho ter outra pessoa atrás de
mim que não seja o Jack, acho que me acostumei com a sua
presença o tempo todo, mas consigo prestar atenção na
aula. O sinal apita, eu me levanto para ir para o intervalo,
quando meu professor se aproxima.
— Sarah, poderia fazer um tour pela escola com o
Clayton hoje? Não tivemos tempo de apresentar a escola a
ele e você é uma excelente aluna para isso. — Arregalo os
olhos porque não esperava por essa, mas nunca digo não
aos professores.
— Claro, sem problemas. — Me viro para ele que está
me olhando com um semblante calmo, alegre. — Posso
mostrar agora, vamos?
— Sim, obrigado. — Ele pega a sua mochila e sai
comigo da sala.
Mostro onde ficam as salas que teremos aulas, a
secretaria, a biblioteca, os banheiros, onde almoçamos e a
quadra de futebol, pois lembrei que ele gosta. Conversamos
sobre uma coisa e outra, ele me parece ser um garoto legal,
além de divertido e leve.
— Então, o que achou da nossa escola? Sei que não é
tão grande assim, mas tudo funciona bem. — Sorrio.
— É bem melhor do que imaginava, para ser sincero.
Não tinha muitas expectativas, então me pareceu legal. —
Fala baixinho como se me contasse um segredo, eu rio do
seu jeito falando.
— Eu entendo. É uma cidade muito pequena, mas
logo você se acostuma, eu acho. — Dou de ombros.
— Espero que sim. Algo importante que eu deva
saber? Não quero chegar fazendo merda. — Brinca.
— Bom, tem uma coisa. Por ser uma cidade pequena,
todo mundo sabe da vida de todo mundo. — Me aproximo
mais e sussurro — Isso é bem chato, na real.
— Não gosto de pessoas se metendo na minha vida,
vou ficar ligado nisso. Obrigado pelo alerta. — Fala
sussurrando me imitando e rio ainda mais desse jeito dele.
Conversamos mais um pouco sobre coisas da escola.
Ele me falou sobre como era onde morava e contei algumas
coisas sobre os professores, para já saber como cada um
agia. Acabamos passando o intervalo todo conversando e
foi bem legal. Me senti bem conversando com alguém leve
como ele. Sei bem o quanto Jack consegue ser intenso.
Voltamos para as outras aulas e nos intervalos
conversamos mais. Claro que todo mundo ficou olhando,
mas dessa vez não liguei. Eles falam toda hora sobre a
minha vida, principalmente depois do meu namoro, então
não faz muita diferença o que eu faça, eles vão falar mal de
mim de todo jeito, ainda mais sem o Jack para me defender.
Agora só os ignoro.
— Como foi bom vermos esse filme hoje, filha. Estava
sentindo tanta falta de ficar juntinha assim com você. —
Mamãe me abraça no sofá.
— Também senti, foi muito bom essa sessão cinema.
Bateu até um baita sono agora, acho que vou me deitar. —
Me espreguiço bem cansada.
— Que tal ficar aqui comigo e qualquer coisa seu pai
te coloca na cama? — Mamãe pede.
— Hum, tenho que falar com Jack ainda. Combinamos
de nos ligar. — Falo um pouco sem graça porque sei que vai
ficar chateada.
— Entendo, então tira só uma soneca aqui que seu pai
te acorda para falar com ele quando ele te ligar. Que tal?
Por favorzinho. — Mamãe faz cócegas em mim e me olha
com aquela cara de pedinte fofa.
— Tudo bem, mas pede para ele me acordar, tá?
— Pode deixar. — Me deito no colo dela e permito que
o sono me alcance.
Acordo assustada na minha cama com o despertador
tocando, vejo que já é manhã do dia seguinte. Foi uma boa
noite de sono, apaguei mesmo. Pego meu celular e vejo
várias chamadas e mensagens do Jack.
Jack: Princesa, estou te ligando. Me atende.
Jack: Princesa, atende logo, não gosto de esperar.
Jack: Sarah, o que houve? Quero falar com você
agora.
Jack: Porra, vai ser assim? Depois não reclama se eu
encontrar outra pessoa para me fazer carinho, já que
claramente não está nem aí.
Jack: Sério que está me ignorando? FICOU LOUCA?
Jack: ATENDE ESSA PORRA DE CELULAR AGORA!
Jack: Você que sabe, eu avisei.
Jack: Meu amor, estou com saudades de ouvir a sua
voz de anjo.
Jack: Oi, minha princesa, seu pai falou que está
dormindo. Bons sonhos, te amo.
A sua capacidade de mudar de humor é gigante, acho
que já me acostumei. Antes iria me desesperar, ainda fico
preocupada na verdade, mas sei lá, não mais como antes.
Sei que logo essa fúria passa e ele volta a ser meu príncipe
encantado.
Sarah: Bom dia, namorado, eu apaguei ontem super
cedo. Estou indo para a escola, mas conversamos sem falta
à noite. Te amo e sinto a sua falta.
Ele não me responde, mas deve estar com seus pais
resolvendo o que tinham por lá. Amanhã ele já volta bem a
tempo do meu aniversário.
Sigo o meu dia como sempre. Chego na escola e
passo novamente o dia com o Clayton, acho que seremos
bons amigos. Penso um pouco se Jack ficaria com ciúmes
porque sei como é protetor comigo, mas penso que ele só
faz isso com os meninos porque são péssimas pessoas, não
é ciúmes. Já com o Clayton, sinto que vai gostar, é bem
diferente dos amigos dele que fazem merda.
Ele me parece ser alguém do bem, pelo menos, é
muito divertido e me faz rir bastante. Acho que estava
precisando de dias assim, me sinto tão… não sei, tão…
tão… livre? Feliz? Nossa tinha um tempo que não ria dessa
forma. O que será que aconteceu comigo para ter mudado
tanto assim?
A noite ligo para o Jack várias vezes, mas ele não me
atende. Estranho! Aposto que está me castigando por
ontem, deve ser isso. Me sinto mal por tê-lo deixado no
vácuo, mas o que podia fazer? Não foi por mal, estava
cansada. Agora tenho certeza de que isso é de propósito.
Fico triste com a sua atitude, ele exagera muito às vezes,
percebo isso agora.
Normalmente ficaria deprê e sem dormir, mas não sei,
tive dias tão bons que não estou a fim dessa sofrência.
Resolvo descer e chamar mamãe para ver mais um filme.
Aproveito e conto para ela sobre o aluno novo e o quanto é
divertido, acho que ia gostar dele também. Quem sabe
ficamos melhores amigos, estou precisando de um.
Finalmente dezoito anos. Nem acredito nisso! Estou
feliz porque amo aniversários e estou precisando me
animar. Mamãe e papai me acordaram cantando parabéns
com um lindo bolo nas mãos. Tomamos café juntos e comi a
minha panqueca que há muito tempo não comia. Estava
fazendo dieta para não engordar, mas hoje me permiti.
Coloquei uma saia pink que amo e fui animada para a
escola, finalmente vou ver o Jack! Estranho um pouco
porque ele não me mandou mensagem ou me ligou, mas
imagino que esteja preparando uma grande surpresa para
mim. Estou muito animada!
Chego na minha sala de aula e nem sinal dele. Fico
triste por um momento, mas sei que ele está preparando
algo, ele ama surpresas e estamos fazendo dez meses de
namoro hoje. Clayton se senta ao meu lado porque sabe
que ele volta hoje e era o seu lugar. Aguardo ansiosamente
a sua chegada, mas nada. Que estranho! Quero mandar
uma mensagem, mas não mando porque ele está
preparando uma surpresa e não quero estragar. É isso, só
pode ser! Ele prometeu que estaria aqui e sei que vai estar.
Jack: Princesa, vem até o nosso esconderijo. Estou
aqui te esperando.
Eu sabia! Sabia que ele estava aprontando. Tenho
certeza de que fez uma baita comemoração de aniversário.
Espero o intervalo da aula e vou correndo ao seu encontro.
Pena que eu não estava preparada para o que aconteceria.
Capítulo 22
Estamos voltando para o meu carro e não consigo
parar de pensar em como esse jantar foi surpreendente,
como ela é surpreendente. Não serei hipócrita de falar que
não gostaria de transar com ela. Claro que gostaria, ela é
uma mulher belíssima, educada, gentil, sexy e com curvas
que deixaria qualquer homem caído aos seus pés, mas o
fato é que ela me intrigou.
Foi ainda melhor do que eu esperava. Não posso
deixar de pensar no que me falou depois sobre fazer muito
tempo… Será que havia muito tempo que um homem não a
tocava? Não posso acreditar que uma mulher dessa não
seja tocada sempre. De toda forma, ficaria orgulhoso em ter
esse posto em sua vida.
Abro a porta do carro para ela e me acomodo no
banco do motorista. Seguimos o caminho até a sua casa
conversando sobre assuntos aleatórios e até isso flui muito
bem. Pego na sua mão durante o trajeto e vejo um sorriso
lindo ganhando vida em seu rosto.
— Pronto, está entregue. — Estaciono o carro e saio
para abrir a sua porta.
— Ah, obrigada pelo jantar e pela noite. — Ela sorri
um pouco envergonhada. Coloco a mão no seu queixo e
aproximo meu rosto do dela. Lhe dou um beijo suave em
seus lábios.
— O prazer foi todo o meu. — Sussurro em seus
ouvidos. — Gostaria de te ver novamente, Sarah. Almoça
comigo amanhã? — Vejo seu olhar de surpresa. Confesso
que não havia planejado isso antes, mas sinto quase uma
necessidade em tê-la por perto.
— Hum, sim, adoraria. Posso te encontrar no
restaurante. — Ela fala.
— De jeito nenhum. — Franzo a testa — Irei te buscar
amanhã às 12h, eu insisto. – Já deixo claro que não aceitarei
de outra forma.
— Combinado, até amanhã. — Ela se despede e a
puxo para mais um beijo antes que entre em sua casa.
A vejo indo embora e sinto uma tristeza se instalando.
Adoraria que ela tivesse ido para a casa comigo. Pensei em
chamá-la depois de tudo, mas algo me disse que não era o
momento.
Sarah me intriga. É delicada, tímida, mas ao mesmo
tempo ousada, curiosa e autêntica, sem falar misteriosa.
Todas as mulheres que já saí gostam de falar o tempo todo
sobre elas, sobre o que gostam, o que esperam, o que
fazem, mas ela não.
Eu percebi como o assunto da ONG e causas sociais é
importante para ela. Era nítido na sua forma de falar e no
brilho de seus olhos, como se importava pelas suas
pacientes. Será que existe um motivo a mais? Mas o que
poderia ser? Não faz muito sentido, pode ser só impressão
minha.
Retorno para casa e vou tomar uma ducha antes de
dormir. Não vou conseguir dormir com meu pau desse jeito.
Estou louco imaginando como deve ser estar dentro dela e
preciso liberar essa tensão. Me masturbo pensando na sua
boca, no seu corpo, no seu jeito gemendo falando meu
nome, não demoro muito e gozo com vontade. Agora posso
finalmente tentar descansar.
Passo a manhã toda despachando alguns assuntos
com a minha secretária e revendo as reuniões dessa
semana. Consigo adiantar bastante coisa porque cheguei
bem cedo hoje, sabia que se quisesse almoçar com calma e
aproveitar meu tempo com a Sarah teria que deixar tudo
em ordem para estar mais tranquilo, sem muitas
obrigações.
Por mais que faça a minha própria agenda, sou
extremamente responsável, jamais deixo algum prazo
passar. Como CEO da empresa a minha imagem tem que
ser o exemplo para os funcionários, e por isso sou criterioso
e pontual com a minha equipe.
Desligo meu computador, pego o elevador e saio do
meu escritório. O carro está na porta, como sempre, mas
quando vou entrar, lembro que tem uma floricultura na
esquina e decido comprar flores para levar. Sei que
mulheres gostam desse gesto e acabo de descobrir que sou
romântico. Quero agradá-la, fazê-la se sentir mais
confortável comigo.
Aviso ao motorista que já volto e vou pessoalmente
comprar.
— Bom dia. Gostaria de comprar um buquê de flores,
por favor. — Falo com uma atendente novinha com uma
cara muito simpática.
— Ah, claro, vou te ajudar. Qual a ocasião? — Para de
mexer em um arranjo e vem até mim.
— Um encontro.
— Perfeito. Sei bem o que deve levar, só um minuto
que prepararei para você. — Agradeço e aguardo enquanto
ela traz um buquê belíssimo.
— Obrigado! — Faço o pagamento e volto confiante ao
carro que está me esperando.
Devido aos meus compromissos, prefiro que o
motorista esteja presente para facilitar e não ter que pensar
em carro. Aviso que estou quase chegando através de uma
mensagem.
Durante o percurso, olhando para o buquê nas minhas
mãos, penso o quanto essa mulher vem mexendo comigo.
Não sou muito de me abrir, sou mais reservado, então
nunca saí assim com alguém por vários dias seguidos,
nunca tive esse interesse antes. Gosto de dar tempo ao
tempo, mas com ela sinto uma necessidade contrária.
Quero vê-la o tempo todo, quero desvendar as suas
camadas, é como um desafio para mim, conhecê-la por
inteiro.
Chego pontualmente às 12h. Desço do carro para
aguardá-la e quando a vejo passando pela porta da sua
casa em minha direção, meu coração acelera. Essa mulher
me enlouquece. Abro um sorriso que aumenta quando ela
sorri de volta.
— Está maravilhosa. — Falo quando nos aproximamos.
Ela está vestindo um conjunto branco de saia curta com um
colete. Muito elegante e sexy, como ela é.
— Obrigada. — Ela chega próxima para me
cumprimentar com um beijo na bochecha, mas nem
fodendo. Me viro e a beijo nos lábios.
— Agora sim. Está pronta? — Pergunto.
— Sim, podemos ir. — Ela fala e então me lembro que
ainda não lhe dei o buquê que comprei, acabei deixando
dentro do carro.
— Ah, quase esqueci, só um minuto. — Abro a porta
do carro e pego o arranjo, coloco ele para trás, assim
consigo surpreendê-la. — Feche os olhos. — Ordeno.
— Hum, ok. — Ouço uma risada suave vindo dela. Me
posiciono melhor em sua frente e falo.
— Pode abrir os olhos.
Nunca vou me esquecer desse momento, porque não
estava preparado para isso! Ao invés de ganhar um lindo
sorriso e palavras carinhosas, ganhei uma cara de horror, de
pânico.
Sarah está parada na minha frente, vendo o lindo
buquê de rosas vermelhas que comprei, como se estivesse
visto um fantasma. Ela não se mexe, não fala nada, está
como uma pedra.
— Sarah? Sarah? Está tudo bem? — Encosto uma das
minhas mãos na sua pele e então sinto o quanto ela está
tremendo. Não pode ser frio porque está fazendo uns 35
graus aqui.
Não sei bem o que fazer, porque ela não fala nada,
mas fico preocupado. Sua respiração se acelera, e vejo seu
peito subir e descer enquanto ela puxa o ar
desesperadamente, como se estivesse sem fôlego. Ela se
treme toda, muito mais que antes. Continuo chamando por
ela, mas seu olhar está focado, como se estivesse
congelado no buquê de rosas vermelhas que trouxe para
ela. Tudo é muito confuso.
— Minha tia... — Ela consegue com dificuldades
chamar a tia.
Saio correndo para dentro da casa e peço para o
motorista ficar ao seu lado caso ela desmaie ou coisa assim.
Minha cabeça está girando tentando entender, mas agora
não vou focar nisso, preciso ajudá-la.
— Irene? Irene? — Grito e ela surge assustada.
— Adam? O que houve?
— A Sarah, não sei, está parada, como se estivesse
em choque, só pediu para te chamar. Não sei o que pode
ser. Venha comigo, por favor. — Falo enquanto saímos juntos
até onde ela está.
— Querida, o que houve? — Ela se aproxima e vê o
buquê no chão. — Adam, pelo amor de Deus, tira esse
buquê da frente dela. Respira, Sarah, respira. Estou aqui,
nada vai te acontecer, ok? Olha para mim e somente para
mim. — Ela coloca a sua mão no coração dela e tenta
respirar junto.
Ela chama a empregada e pede que ligue para o
médico da família e fala somente que é a Sarah e que
aconteceu de novo. Mas que porra! O que é que aconteceu
de novo? Ela faz sinal de que está a levando de volta e vou
até elas para ajudá-la, quando ela me barra.
— Adam, me desculpe, mas preciso que vá embora. –
Fico em choque e falo firmemente.
— O quê? Não posso, não com ela assim.
— Eu sei que não está entendendo nada e que quer o
bem dela, mas nesse momento preciso que se afaste. Assim
que ela estiver melhor, te aviso.
— Não, eu preciso… — Ela não me deixa terminar.
— Adam, por favor, vá embora. — Irene fala como
nunca falou antes e me acende um sinal vermelho.
Não conheço muito da Irene, mas pelo que sei e o
pouco que a sua sobrinha me contou, ela é educada e
gentil. Mas agora os seus olhos demonstram uma grande
preocupação. Por mais que eu queira estar presente para
apoiá-la e ajudá-la, entendo que nesse momento, essa é a
ajuda que elas precisam.
Saio do local desnorteado, mas faço por ela. O que foi
que aconteceu?
Capítulo 23
“Seis anos atrás”
Antes de sair da sala, olho para o Clayton e falo
baixinho.
— Jack me mandou mensagem para encontrá-lo lá
fora. Eu sabia que ele estava preparando uma surpresa pra
mim. Mal vejo a hora de apresentá-lo a você. Me acoberta
se perguntarem algo. — Ele concorda e saio discretamente.
Ando em passos largos ao encontro do meu príncipe
encantado. Tem dois dias que não nos vemos e olha o tanto
de coisas que aconteceu. Estou muito animada para contar
tudo a ele. É tão bom sentir que finalmente tenho a
amizade de alguém, sem ser só do Jack.
Abro um sorriso genuíno conforme vou chegando mais
perto do nosso esconderijo, mas quando paro na porta, sinto
um aperto forte no coração, como se fosse uma sensação
ruim. Puxo a respiração e entro.
Está tudo bem escuro, achei que estaria iluminado,
com velas, mas não tem nada. Será que ele já está aqui?
— Jack? Amor? — Pergunto um pouco assustada. Não
estou gostando dessa sensação que cresce dentro de mim.
— Aqui, minha princesa. — Ufa, ouvir a sua voz me
deixa um pouco mais tranquila.
— Não estou te vendo, onde você está? — Fico parada
tentando entender para onde devo ir. Não é que esse lugar
é grande, mas tem umas partes de depósito que me deixa
perdida.
— Mais ao fundo, só seguir reto. — Sigo em frente, me
direcionando pelo som da sua voz.
— Ah, finalmente te achei. — O abraço e abro um
largo sorriso. Ele retribui o abraço, mas quando o vejo, sua
aparência está estranha, macabra. — Está tudo bem? —
pergunto receosa.
— Gostaria que você me dissesse isso. Está tudo
bem? — Ele me olha fixamente e sinto um arrepio subir pela
espinha.
— Como assim? Está. Esqueceu que hoje é o meu
aniversário? — Tento soar leve para melhorar o clima.
— Ah, eu lembro bem... — Ele me entrega dois buquês
de rosas vermelhas tão grandes que não consigo pegar.
Esse com certeza foi o maior que já me deu.
— Ah, que lindas. Dois? Deve ser um pelo meu
aniversário e o outro pelo nosso aniversário de namoro. Eu
amei, namorado. — Analiso cada uma das pétalas das rosas.
Eu amo receber esses buquês, me sinto especial.
— Não, não é por isso que te dei dois buquês dessa
vez.
— Não? Então por quê? — Olho pra ele genuinamente
confusa.
— Um buquê é do nosso aniversário de namoro, pois é
uma tradição. E o outro é para me lembrar e te lembrar que
essa foi a primeira e última vez que me traiu. — Ele se
aproxima, joga o buquê em uma mesa qualquer que tem ao
lado, me pega pelos pulsos e fala. — Você nunca mais, está
me entendendo, NUNCA MAIS, irá fazer o que fez comigo
nesses últimos dois dias. Ficou louca?
— Amor, você está me machucando e não estou
entendendo nada. O que foi que eu fiz? — Olho para suas
mãos me apertando e o olho tentando entender que merda
está acontecendo, mas tudo que vejo quando o olho é fúria,
raiva e ódio?
— Ainda ousa fingir de sonsa para mim? É uma
putinha mesmo. Eu que te fiz ser popular, desejável.
Quando cheguei aqui ninguém queria saber de você, mas
eu te vi. Eu te tornei quem é hoje, e é assim que me paga,
sua piranha? — Ele aperta mais ainda meus pulsos e sinto
uma dor latente.
— Jack, está me machucando muito, por favor me
solta, não estou entendendo. — Uma lágrima escorre do
meu rosto, enquanto continuo suplicando.
— Eu saio dois dias para resolver algo com meus pais
e você arruma um novo namorado? Como ousa manchar a
minha imagem na escola? Todos devem achar que me
chifrou, como pôde fazer isso, sua putinha? Depois de tudo
o que fiz por você?
— Não, você confundiu tudo. Clayton é meu amigo,
tenho certeza de que vão se dar super bem. Ele não é igual
aos meninos que me fala, é gente boa. — Falo o mais rápido
possível, tentando me defender de algo que não fiz.
Eu achei que havia visto raiva em seus olhos naquela
hora, mas quando acabo de falar, o que estava ali não era
ele, não podia ser ele, não era o meu príncipe, era um vilão.
— E ainda ousa a falar o nome dele? — Ele anda para
frente e me prensa na parede, ainda segurando meus
pulsos. — Você é a culpada pelo meu estado, olha como
estou! Tudo o que faço é por amor a você, por proteção.
Agora me responde. O que foi que fizeram nesses dois dias?
Ele te tocou? Ele te comeu?
— O quê? Não! Eu juro, nunca! — Falo desesperada.
Não seguro mais as minhas lágrimas, simplesmente deixo
elas caírem.
— Ele te tocou aqui? — Ele pega com uma das suas
mãos os meus pulsos e com a outra, passa a mão no meu
seio.
A forma como ele fala, como ele me olha, é
irreconhecível e estou com muito medo.
— Não. Eu juro, por favor. — Meu coração acelera,
tenho dificuldades em respirar. — Não estou bem, não
estou, para.
— Ah não venha se fazer de santa para mim agora. Se
estou fazendo isso é por sua culpa. Você me deixou assim,
você. Quero saber, ele te tocou aqui também? — Ele coloca
a mão na minha vagina e aperta um pouco. — Responde
sua piranha! Ele te tocou aqui? Isso tudo é meu! Só meu.
— Não, eu juro. Nunca! Jack, você está me assustando
e me machucando. Por favor, me solta.
— Eu poderia te fazer minha agora, meter tão fundo
dentro de você para que entenda que é minha e sempre
será! Ninguém nunca irá te tocar! Entendeu? — Ele me
pressiona mais e grita as palavras no meu ouvido.
Meu coração está acelerado, minha pressão está nas
alturas, sinto náusea, vertigem, uma agitação estranha,
como se tivesse tomado muitos energéticos, tremor, dor no
peito e uma falta de ar horrível.
— Jack. — Mal consigo falar. — Não estou bem, não
estou, acho que vou…
De repente tudo se acalma, não ouço nada, não vejo
nada, não sinto nada. Será que é assim morrer? Se for, não
quero acordar. Aqui eu tenho paz.
Sinto meu corpo voltando aos poucos, a realidade.
Finalmente abro os olhos, sem ter ideia de quanto tempo se
passou. Minutos, horas, dias? Não sei, mas me sinto um
pouco estranha ainda.
— Mãe? — A chamo.
Estou aqui. — Sinto-a pegando minha mão. —
—
Está melhor, meu bem?
Acho que sim. — Meus olhos se abrem e vejo
—
mamãe e papai um do lado do outro. — Onde estou?
Está no hospital, meu bem. Teve uma crise de
—
pânico forte e desmaiou. Jack estava perto e te socorreu. —
Ouvir esse nome me causa dor física. — Filha? Quero saber
o que houve. Jack contou uma história, mas percebemos
seus pulsos muito vermelhos, com marca de violência. —
Fico zonza ouvindo suas palavras.
Oi, minha princesa. — Escuto meu nome e
—
quando vejo, Jack está na porta do quarto com dois buquês
de rosas vermelhas na mão. — Trouxe para te alegrar, você
nos deu um susto, ainda bem que eu estava por perto para
te socorrer.
O olho com pavor absoluto. Todas as lembranças
vêm em minha mente imediatamente, respiro com
dificuldade, uma falta de ar horrível me invade, sinto uma
dor no peito. Ele anda em minha direção e arregalo os olhos
com medo. Olho para a minha mãe suplicando que faça
algo. Por sorte, acho que ela entende, porque o para
imediatamente.
Jack, ela ainda não está bem para receber
—
visitas, peço que saia do quarto por enquanto. Lhe aviso
quando ela estiver melhor. — Vai em sua direção, o
retirando dali, mas ele não sai.
Ela só precisa de mim, sei que ficará bem
—
comigo ao seu lado. — Ele tenta entrar novamente, mas
meu pai intervém.
Você não entendeu, então serei mais direto.
—
Saia do quarto agora. Sarah precisa descansar e não pode
ter tumulto aqui.
Quando estiver melhor, te chamaremos. —
—
Mamãe completa, tentando fazê-lo ir embora. Ele resmunga
alguma coisa falando sobre os pais, mas estou muito
apavorada para entender o que foi.
Mamãe e papai voltam até mim e tudo o que faço é
chorar.
— O que houve, meu bem? Me conta o que realmente
aconteceu? Estamos só nós dois aqui e juramos que vamos
te proteger, sempre. — Mamãe me dá seu olhar carinhoso.
Tenho medo de contar e mais medo ainda de não contar.
— Filha, você está segura conosco, mas precisamos
saber a verdade. Seja ela qual for, nos conte. — Papai faz
carinho na minha mão e eu desabo totalmente, coloco todo
o meu choro, toda a minha dor, todo o meu medo que
estava preso em algum lugar bem profundo para fora e
conto tudo o que aconteceu para eles.
Ainda estou no hospital e devo ficar dois dias
internada porque meus exames não estão bons. Estou um
pouco desnutrida porque estava exagerando na dieta para
não engordar, Jack gostava de mim bem magra e queria
deixá-lo feliz. Ele tentou me ver algumas vezes, forçando
para entrar, mas meus pais proibiram a sua entrada e sem
perceber, fiquei aliviada com isso.
A psiquiatra conversou novamente comigo e falou
sobre a terapia, dessa vez, com ele longe de mim, decidi
que mal não vai fazer porque sinto que já atingi o fundo do
poço. Ela deve chegar a qualquer momento e estou
nervosa.
— Olá, posso entrar? — A psicóloga bate na porta do
meu quarto no hospital. — Prazer Sarah, sou a Abigail. — A
olho sem graça enquanto a vejo entrando e sentando-se ao
sofá que fica na minha frente.
— Oi. — Não consigo falar mais nada.
— Você já fez alguma sessão de terapia antes? — Quis
saber.
— Não. — Olho para as minhas mãos sem saber o que
fazer.
— Certo. Primeiro quero que saiba que esse é um
espaço seguro. Tudo o que falar ficará entre nós, a não ser
que me autorize a fazer isso, ok?
— Ok.
— Que tal começar a me falar sobre o que aconteceu
para estar aqui hoje? Acha que consegue? — Pergunta com
um olhar carinhoso no rosto.
Fecho os olhos por um minuto, deixo uma lágrima cair
porque lembrar daquele dia me faz muito mal ainda. Não
quero falar, não quero me abrir, quero ficar quieta em
algum lugar que ninguém me ache, mas quando abro os
olhos, vejo pela fresta da porta do quarto mamãe e papai
com olhares cansados e preocupados. Preciso fazer isso por
eles. Sei que já estou quebrada, mas eles não merecem
isso. E assim, eu falo, simplesmente falo.
***
Acordo com meus pais falando com alguém no
telefone pelo viva voz. Decido não abrir os olhos para tentar
escutar mais e descobrir o que está acontecendo.
— Não, ele não vai chegar perto da minha filha e
vocês estão avisados. — Ouço a voz do papai soando bem
grave ao telefone. — Vocês sabem o que o filho de vocês
está fazendo e ao invés de resolverem estão acobertando
suas atitudes? Que tipo de pais são vocês?
— Boa sorte tentando provar uma palavra do que
disseram, nem preciso lembrá-los que conhecemos todos
dessa cidade e o delegado é um grande amigo que convive
com o Jack desde novo. O melhor que podem fazer, para
seu próprio bem e da sua filha, é deixar essa história de
lado. Passar bem. — O pai do Jack desliga o telefone e meu
pai explode de raiva. Levo um susto e eles percebem que eu
estava acordada.
— Minha filha, você ouviu isso? — Soluço de tanto
chorar, não consigo me controlar depois de tudo o que
escutei, mas balanço a cabeça fazendo que sim. Eles vêm
até mim tentando me acalmar e pedindo para que eu não
fique nervosa.
Nossa, como foi que a minha vida desmoronou de
uma hora para outra? Será que eu estava tão cega assim
sobre ele?
Se passaram duas semanas desde que tudo
aconteceu. Estar afastada do Jack está me fazendo bem.
Como pode algo que você amava tanto, virar algo que te
desperta um sentimento tão ruim? Ele continua me
mandando um buquê de rosas vermelhas todos os dias e
quando as vejo, meu sorriso se fecha, um enjoo me invade e
sinto vontade de chorar porque me recordo de tudo daquele
dia.
Conversei sobre isso com a minha psicóloga e
achamos melhor eu não ver mais esses buquês, porque isso
me dá uma leve crise de pânico, como se fosse um gatilho
meu.
Acordo com um susto e uma gritaria enorme.
— Cadê ela? Exijo vê-la agora! — Escuto a voz do Jack,
cada vez mais se aproximando. Fico imóvel, estou
apavorada. Ele está tão irritado que parece muito com o seu
estado daquele dia. — Achei você, minha princesa. — Ele
abre a porta do meu quarto. Está impecavelmente
arrumado, segurando o maldito buquê de rosas vermelhas.
Seus olhos estão como naquele dia, em chamas e meu
coração começa a bater cada vez mais rápido. — Estava
com tantas saudades de você. — Ele chega perto, perto
demais, sinto sua mão encostando no meu cabelo, mas
estou sem reação, não consigo me mover. — Estou aqui
agora e não vou te largar nunca! Ouviu? Nunca, você é
minha para sempre. — Ouvir aquelas palavras me gera um
pânico tão forte que começo a me tremer toda. Meu pai
entra no mesmo instante e como um urso querendo
proteger sua cria, pega o Jack e o arrasta para longe de
mim.
O ouço gritando, falando que nunca sairá da minha
vida porque pertencemos um ao outro e que eu sou
somente dele, para sempre. Mamãe entra no meu quarto e
vem correndo me abraçar, tentando me acalmar. Estou
hiperventilando, tendo mais uma crise de pânico. Sei que
ela está vindo, mas não consigo me controlar, é muito mais
forte do que eu. Sinto a escuridão me tomando, vejo de
relance o olhar apavorado da minha mãe e apago.
Acordo novamente no hospital. Mamãe e papai estão
ao meu lado e assim que vem que estou acordada, respiram
fundo e falam de uma vez.
— Filha, conversamos muito e precisamos fazer o que
é melhor para você. Hoje mesmo irá pegar um voo que a
sua tia Irene conseguiu e morar no Brasil com ela. Ela tem
os recursos para te fazer desaparecer daqui e ter uma boa
vida. Assim que pudermos iremos te ver, mas não podemos
correr riscos por enquanto. — Ouço tudo no automático,
como se fosse um filme. Talvez pelos remédios, me sinto
completamente anestesiada e mal consigo assimilar o que
estão me falando.
Ficamos um tempo abraçados, nós três. Cada um com
seu sentimento, cada um com seu medo e cada um com a
sua esperança de que tudo isso irá passar e dias melhores
virão. Eu espero do fundo do meu coração que sim!
Capítulo 24
Estava ansiosa para encontrá-lo. Me preparei desde
cedo, aproveitei que não tinha agenda com as minhas
pacientes pela manhã e pude com calma escolher o que
vestir, a maquiagem que ia fazer, os acessórios, tudo com a
maior tranquilidade do mundo.
Quando recebi sua mensagem falando que estava
chegando, meu coração saltou da boca. Como é bom me
sentir assim! Viva e cheia de energia. Acho que é a
animação pelo desconhecido, pelo novo, sei lá. Tanto tempo
que não me sentia assim, mas mesmo com esse misto de
empolgação, sei que preciso ir com calma.
Tivemos ontem um bom jantar e vamos almoçar hoje,
não tem por que eu perder a cabeça agora. Ontem eu me
permitir ser a Sarah que eu não sou há muitos anos, me
permiti ser mulher e ter meus desejos supridos, mas hoje
sou a Sarah responsável. Usarei o almoço para conhecê-lo
mais e analisar seu comportamento.
Me olho no espelho e aprovo o look, desço as escadas
de casa e mostro para a minha tia como estou, ela abre um
lindo sorriso e me fala que estou lindíssima. Estou
empolgada, não vou mentir. A companhia toca e vou ao seu
encontro.
Abro a porta, e nossa, que homem lindo. Sério!
Percebo pela forma como ele me olha, que o desejo que ele
sente, é o que eu sinto também. Ele está todo descolado,
usando uma blusa polo branca e uma calça social azul
marinho. Provavelmente estava de terno e tirou, ainda bem,
porque assim consigo ver seus músculos pela camisa.
Nossa! Não ligaria se me perdesse nesses braços.
O que está acontecendo comigo? Não consigo
me controlar, só penso em sexo quando o vejo. Deve ser as
aranhas dentro da minha vagina, implorando por atenção.
Pois vão ter que esperar mais um pouco, sabem que não
consigo assim, preciso ter uma conexão maior com ele.
Acho que estamos no caminho, mas preciso de calma.
le me cumprimenta com um beijo suave nos
E
meus lábios e eu me derreto. Nos cumprimentamos e ele
pede para que eu feche os olhos, parece ter uma surpresa.
Eu sinceramente não sou muito a favor de surpresas, já tive
a minha cota de surpresas negativas na vida e estou de
boa, mas por algum motivo, acho que poderia ser divertido,
eu mal sabia.
uando abro meus olhos, vejo, na minha frente,
Q
um buquê de rosas vermelhas. Meu mundo desaba.
Congelo, travo ou qual nome queira dar.
Eu volto instantaneamente ao passado. É como se
tivesse com os meus dezoito anos novamente e estivesse
ali com ele, com o Jack me dando aquele buquê de rosas
vermelhas que era o meu preferido do mundo e virou o meu
pesadelo.
Só consigo ver na minha frente essa imagem, o resto
não existe. Sei que tem alguém me chamando, mas imagino
que seja ele, aquele monstro voltou. Tremo só de pensar
nisso, sinto todo o meu corpo reagindo a sua presença. Meu
coração acelera, sinto meu peito subindo e descendo, uma
falta de ar enorme me invade e sinto um formigamento nas
mãos junto de uma dor no peito.
Sinto alguém me tocando, será ele? Ele voltou? Mas
não consigo nem se quer reagir e o mandar a merda. Estou
tomada de pânico, um medo absurdo.
Ah não, não, não, por favor não, de novo não. Sei no
meu inconsciente que estou tendo uma crise de pânico, mas
o mais louco é que não consigo me controlar, não consigo
fazer absolutamente nada. Continuo parada sem conseguir
reagir.
Por um momento, sinto que consigo falar algumas
palavras e chamo a minha tia. Falei isso ou imaginei? Merda.
As rosas vermelhas caem, mas continuo olhando para
elas. Ouço no fundo a voz da minha tia, ela está mesmo
aqui?
— Olhe para mim, Sarah!
A olho e vejo que sim, ela está aqui, alguém que eu
confio. Sinto sua mão no meu coração, ela tentando me
manter calma e respirando junto comigo. Isso me ajuda, me
ajudou nas inúmeras outras vezes que acordei de um
pesadelo cheia de medo e com crises de pânico. Nem
mesmo dormindo eu tinha paz, ele sempre me achava.
Tento fazer o que o seu comando manda e consigo
pelo menos andar junto com ela para dentro da casa. Estou
confusa, atordoada. O que estava fazendo lá fora? Estou no
Rio? Continuo muito nervosa, lutando para não perder a
consciência. Ouço a voz do médico me chamando.
— Sarah? Sarah? Está me ouvindo? — Tento falar que
sim, mas não sai nenhum som da minha boca, então aceno
com dificuldades. Meu peito parece que vai explodir, mas de
repente sinto uma tranquilidade e a escuridão me toma.
Aprendi a gostar dessa escuridão. Aqui é tudo sereno
e eu não sinto nada, isso é bom, não sentir.
— Oi, querida. Como você está? — Ouço a voz da
minha tia, enquanto vou acordando devagar. — Tenha
calma, acorde no seu tempo.
— Tia? — Resmungo.
— Estou aqui, meu bem, e não vou a lugar algum. —
Sinto sua mão fazendo carinho nos meus cabelos. A
sensação é boa.
— Tia? Estou em casa? No Rio? — Pergunto confusa.
— Sim, querida. Está no seu quarto, na nossa casa no
Rio. Está segura, meu bem. Te prometo. — Consigo abrir os
olhos e me ajeito, sentando-me na cama. Olho ao redor e
confirmo que sim, estou no meu quarto. Isso me deixa mais
tranquila.
— O que aconteceu? — Sinto um zumbido no meu
ouvido.
— Não se lembra de nada? — Pergunta com aquela
calma que é só dela. Faço que não com a cabeça.
— Não sei, está tudo muito confuso. Parece que tive
um pesadelo com ele, tia. Estava aqui! Segurando um
buquê de rosas vermelhas, como ele sempre fazia. — Falo
esbaforida, agitada e deixo as lágrimas descerem pelo meu
rosto.
— Não, Sarah, ele não está aqui, não era ele, meu
bem. — Ela me abraça e a abraço de volta. — Você teve
uma crise de pânico, foi isso. Agora se acalma que logo vai
se lembrar.
— Lembrar de que? — Pergunto assustada, nos
separando do abraço.
— Descanse mais um pouco e conversamos pela
manhã. Ainda está agitada e confusa pelos remédios que te
demos para se acalmar. Vai se sentir muito melhor amanhã,
e aí nos falamos, ok?
— Tudo bem, tia, estou mesmo muito cansada. — Ela
se despede e me deito novamente, no minuto seguinte,
permito que a escuridão me leve.
Acordo e vejo que já amanheceu pelas luzes que
entram no meu quarto, deve ser cedo ainda. Me espreguiço
e me sinto melhor, essa noite de descanso foi ótima, só
estou com um pouco de dor de cabeça.
Me levanto da cama e vou em direção ao banheiro,
preciso tomar um banho para me recompor. Ligo o chuveiro
e entro. Permito que as águas caiam no meu corpo, no meu
cabelo e fico assim por um tempo. Me sento no chão do box
e continuo relaxando. Começo a tentar me lembrar o que foi
que aconteceu, e como um choque, minha memória vem
com tudo.
Adam! Meu Deus, o que ele vai pensar?
Desligo o chuveiro correndo, me visto e vou atrás da
minha tia, a encontro na cozinha, tomando café.
— Tia, o que foi que aconteceu ontem? Me lembrei
que estava com Adam e aí me deu um blackout. Era ele com
as rosas, não era? — A olho com medo da resposta, apesar
de já saber qual é.
— Sim, querida. Ele trouxe um buquê de rosas
vermelhas como presente. Não tinha como ele saber o que
elas causariam em você.
— E o que aconteceu depois? — Exijo saber.
— Ele foi me chamar, então te trouxe aqui para
dentro, pois o médico estava a caminho. Ele queria ficar
com você, mas sabia que não estava o vendo ali, sabia que
para você ele era outra pessoa, então o mandei embora. Foi
preciso! — Coloco as minhas duas mãos no rosto,
envergonhada por ele e por mim.
— O que foi que eu pensei, tia? Realmente achei que
poderia viver algo de novo? Ele me quebrou. — Deixo as
lágrimas me invadirem.
— Nada disso, Sarah. Nunca mais fale isso! — Diz
brava. — Você merece ser feliz e será. Vem cá! — Tia Irene
me puxa para um abraço. — Recaídas acontecem, mas o
que mais importa é como vamos reagir depois. Vai continuar
caída ou vai se levantar?
— Sempre vou me levantar, tia. Obrigada por estar
comigo, eu te amo tanto! — Lhe dou um beijo na bochecha
emocionada.
Sem ela eu nem sei o que seria da minha vida, não
gosto nem de pensar nisso.
— Também te amo! Agendei um horário com a sua
psicóloga, sei que se sentirá melhor falando com ela. Depois
ligue para o Adam, ele está muito preocupado. Me ligou
algumas vezes querendo saber de você e insistindo para
que viesse aqui nos ajudar. Ele é um bom homem. — Faço
que sim com a cabeça, mas não sei se estou pronta para
essa conversa.
Sinceramente, acho que nunca vou estar.
Capítulo 25
Minha mente não para de me trazer de volta ao olhar
dela naquele momento. Tenho que trabalhar, mas é difícil
tirar aquela imagem de pavor da minha visão. Nunca vi
alguém tão desesperado, com tanto medo assim antes.
Porque era isso, não era? Medo? Tenho certeza que sim.
Ela ficou tão pálida, tão vulnerável, tão amedrontada
que me senti inútil vendo tudo aquilo e pela primeira vez na
minha vida, sem poder fazer nada a respeito, porque não
faço ideia do que está acontecendo.
Tenho certeza de que é algo sério pela gravidade no
olhar e na voz da sua tia. Sempre fui muito bom em ler as
pessoas. Ali, naquele momento, o olhar de preocupação da
Irene me dizia que as coisas não eram boas. Gostaria de ter
ficado e ajudado, fico descontente e contrariado em saber
que não contaram comigo. Me sinto um completo idiota ao
ser o causador disso, mas como eu saberia? Será um tipo de
fobia? Ou será que tem algo pior por trás disso?
Entrei em contato algumas vezes depois do que
ocorreu, mas recebi poucas palavras e nenhuma
justificativa. Eram sempre coisas vagas como, “não se
preocupe, ela está bem”, “ela está dormindo e ainda não
pode atender”, “prefiro que ela converse com você sobre
isso”, “assim que possível, ela irá lhe retornar”.
Porra! Estou angustiado em estar aqui sem fazer
nada. Absolutamente nada. Logo eu que estou tão
acostumado a tomar a rédea de todas as situações. Respiro
fundo e entendo que nesse momento terei que esperar. Não
gosto disso, mas não há o que se fazer.
Retorno ao trabalho e continuo focando nas agendas
do dia. Não é fácil me manter produtivo e inteiro nas
reuniões, mas me esforço porque afinal, sou o CEO. Não
posso permitir que a minha vida profissional se misture com
a pessoal a ponto de me atrapalhar no trabalho, de jeito
nenhum.
— Perfeito. Gostei da apresentação, pessoal! Agora
sim estamos da forma que quero. Vamos manter tudo
conforme conversamos e na semana que vem faremos uma
nova revisão. — Finalizo a última videoconferência com a
nova equipe de marketing. Vejo que são quase 21h.
Bom, agora já está mais do que na hora de ter alguma
notícia, ela com certeza já acordou. Resolvo entrar em
contato com a sua tia.
— Olá, Adam. — Ela atende no segundo toque.
— Boa noite, Irene. Estou ligando para saber como a
Sarah está. Gostaria de falar com ela.
— Ela está melhor. Acordou rapidamente e voltou a
dormir. Sinto muito, mas creio que não será possível hoje.
Melhor falarem amanhã.
— Irene, preciso entender o que houve. Pode me
explicar o que aconteceu? — Pergunto firmemente, mas
sem saber o que pensar.
— Não posso te falar, Adam. Peço desculpas, mas
essa é uma conversa que terá que ter com a Sarah, porque
afinal, é algo dela. Entendo que esteja preocupado e
agradeço de coração pelo carinho com a minha sobrinha,
mas não poderei falar mais, peço que compreenda. — Porra,
compreender é tudo o que desejo, no entanto só recebo
essas palavras vazias, mas percebo no seu tom de voz de
que não irá adiantar forçar.
— Ok, Irene, respeitarei o seu silêncio. Me avise por
favor, quando ela acordar amanhã, pois desejo ir aí vê-la.
— Claro, eu avisarei.
Encerro a ligação ainda mais confuso com essa
situação. Sinto que algo sério aconteceu, talvez algo
envolvendo rosas vermelhas, mas isso não faz o menor
sentido.
Poderia entrar em contato com o Rodrigo e logo teria
um dossiê completo sobre ela, mas sinto que não é o certo
a se fazer. Se é algo grave, como a sua tia e a situação fez
parecer, sinto que não posso romper a sua intimidade dessa
forma. Preciso esperar e torcer para que ela confie em mim
o suficiente para me contar o que aconteceu.
Acordo cedo, são cinco horas da manhã. Me levanto,
vou na cozinha, tomo uma xícara de café bem forte e vou
para a minha academia.
Como é bom malhar com essa vista, impossível não
me animar logo quando acordo. Faço uma série grande de
exercícios, passo quase duas horas malhando, porque quero
suar bastante para desfocar a minha mente da Sarah.
Acabo tudo e dou um mergulho na piscina. O dia está
lindo, quase nenhuma nuvem no céu. Aproveito para tomar
um sol e relaxar um pouco, ainda tenho tempo. Adiantei
muitas coisas ontem quando cheguei em casa, estava com
a mente muito agitada e sabia que não conseguiria dormir,
então aproveitei para resolver coisas burocráticas que
precisavam da minha atenção.
Amo o que faço, especialmente por ainda poder
acompanhar de perto o desenvolvimento dos jogos; essa
continua sendo minha parte favorita. Gosto particularmente
do processo de montar o quebra-cabeça e construir o
mundo onde os personagens irão viver.
Claro que não faço diretamente isso hoje em dia, mas
ainda participo ativamente. Estou sempre indo no
departamento acompanhar os funcionários. Gosto de
prestar atenção, ensinar o que posso e aprender também.
Essa juventude de hoje é muito rápida e tem uma
habilidade com a tecnologia impressionante. Me fazer
presente e me enturmar, me faz bem.
Pensando nisso, tenho que falar para a Joana agendar
uma nova visita técnica a área. Hum, seria bom já começar
a preparar o evento de lançamento do novo jogo. Dessa vez
quero algo diferente, moderno, jovial. Tenho que pensar
com calma como farei para atingir o que desejo.
Tento parar e descansar, mas a minha cabeça
funciona assim, o tempo todo pensando em tudo o que
preciso fazer, como posso me adiantar e estar sempre três
passos à frente dos meus adversários.
Continuo pensando na agenda da semana quando
escuto o celular tocando. Me levanto da cadeira de sol e
olho na tela o nome de quem está me ligando.
Sarah!
Atendo imediatamente.
— Alô? Sarah?
— Oi, Adam. Está podendo falar? — Pergunta com
uma voz suave ao telefone.
— Sim, claro. Como você está?
— Desculpa te ligar assim, sem avisar, mas minha tia
disse que havia entrado em contato...
— Sim, fiquei preocupado com você. Como está? — A
corto porque a última coisa que desejo é ouvi-la me pedindo
desculpas, ainda mais por algo tão pequeno.
— Estou melhor, obrigada, mas envergonhada pelo
que aconteceu. Íamos almoçar e aí... — Ela não fala nada e
eu aguardo um pouco.
— Não tem por que se sentir assim, Sarah. Minha
preocupação agora é com a sua saúde, tenho certeza de
que teremos outras oportunidades para almoçarmos juntos.
— Ah, teremos? — Sinto o receio na sua voz e isso
aperta meu coração. Vê-la assim tão vulnerável mexe
comigo.
— Com certeza. Não está achando que vai fugir assim
de mim, não é? — Ouço uma risadinha no fundo e isso me
causa alívio.
— Não, não quero fugir. Só achei que poderia não
querer mais me encontrar e tudo bem, não tem problema
algum, eu até entendo. Quem é que ia querer sair de novo
com alguém que… — Ela como sempre fala sem parar, ou
seja, está nervosa. Já a conheço o suficiente para saber
disso, e por isso a paro.
— Sarah, te garanto que meu desejo em te conhecer
não diminuiu nem um pouco, pelo contrário, ele aumentou.
Gostaria de entender o que houve naquele dia, mas não
assim por telefone. Podemos nos encontrar?
— Hum, sim. — Ela respira fundo, como se estivesse
tentando decidir o que fazer — Poderia passar aqui em casa
mais tarde? No horário que puder.
— Claro, podemos sair para jantar, se preferir. —
Sugiro.
— Desculpa, mas prefiro ficar aqui, na minha casa. Se
não se importar, peço para prepararem o nosso jantar e
conversamos. — Sinto sua respiração mais agitada, como se
estivesse nervosa com a minha reação.
— Perfeito. Te encontro às 20h, pode ser? — Ouço
discretamente o que imagino ser um suspiro de alívio.
Engraçado, pois sinto o mesmo, alívio por ela ter me
ligado e por querer me encontrar.
— Combinado. Te vejo mais tarde.
Encerramos a nossa ligação. Ainda não sei bem se vai
me contar tudo o que aconteceu, mas sinto que já é um
começo e fico feliz por isso.
Agarrarei essa oportunidade de conhecê-la de
verdade, seja qual for o problema, a ajudarei a resolver. Irei
protegê-la do que for.
Capítulo 26
Desde aquela conversa com a minha tia sobre ter que
me abrir com o Adam, não consigo parar de pensar nisso.
Tudo o que mais quero na minha vida é superar tudo o que
vivi, mas não é tão simples assim se abrir depois de um
trauma.
Hoje eu entendo, depois de muitas sessões e sessões
de terapia que fui vítima, e essa palavra não é algo fácil de
lidar, por tantos e tantos motivos. Eu achava que ser vítima
era sinal de fraqueza, de burrice e de estupidez e isso me
deixava ainda pior. Demorei a assumir que sim, fui vítima de
um homem machista e psicopata que queria me manipular
e me fazer de seu fantoche. Terrível saber que existem
tantos, mas tantos homens por aí iguais a ele, e como eles
não foram e nem serão punidos. É triste pensar nisso, mas é
uma realidade.
Quando estava vivendo aquela situação era tudo tão
normal, natural. Eu nunca veria sozinha que havia algo
errado. Ele se enraizou tanto dentro de mim, daquela forma
falsa de príncipe encantado que eu realmente achava que
era isso que ele era.
Meu Deus, eu tinha apenas dezessete anos, nem
sequer sabia o que era o amor. Quer dizer, sabia o amor
materno e paterno, mas não o de um homem e uma mulher,
então eu fui a preza perfeita. Era só ser um encanto no
início que aos poucos ele ia me mudando, sem que eu nem
percebesse.
Tenho raiva ainda por ter sido tão fraca, boba e
ingênua. Tenho raiva por ele ter destruído, naquela época, o
meu laço de amizade com os meus pais, até isso ele tirou
de mim, a família. Claro, ele precisava me distanciar de
quem eu amava verdadeiramente, porque assim, eu seria
completamente dele. Agradeço muito pela minha família,
sem eles, não faço ideia de como seria a minha vida hoje.
Quando cheguei no Rio, eu era como um bichinho
machucado e amedrontado. Vivia com medo de tudo, não
queria sair de casa porque tinha medo dele aparecer e me
raptar ou me matar. Pode parecer exagero, mas quem vive
algo intenso como eu, realmente sente-se muito vulnerável.
Foram tantas horas com a minha psicóloga, tentando
me abrir, tentando entender o que eu havia feito de errado,
porque sempre achamos que a culpa é nossa, afinal eu
passei dez meses com ele, todos os dias, me falando que eu
estava errada, que a culpa era minha e que eu não era
capaz de me proteger e de me cuidar. Eu acreditei nessas
palavras por tempo demais.
Foi um processo longo e doloroso, pois tive transtorno
de estresse pós-traumático, além da minha crise de pânico.
As noites eram as piores, precisava dormir, mas sabia que
ele ia estar lá me esperando, até nos meus sonhos e por um
período longo tive que fazer tratamento com remédios
pesados, até aos poucos me livrar deles.
Tem muitas pessoas que não entendem
relacionamentos tóxicos e abusivos, por isso virei psicóloga
e tenho a minha ONG. Minha tia Irene e eu somos as donas,
mas pedi para ela tirar meu nome de tudo, pois tenho medo
até hoje dele me achar, prefiro ficar atrás dos holofotes,
gosto assim.
A ideia é atender pessoas que não podem pagar pelo
tratamento que eu tive, sei o quanto ter dinheiro nesse
momento ameniza a dor e quero poder fazer isso por elas,
quero ajudá-las, assim como fizeram comigo.
O Gabriel, meu sensei de Krav Maga, embarcou nessa
comigo. Oferecemos para as meninas que desejam, aulas
de defesa pessoal. É uma forma que encontrei de fazê-las
se sentirem mais forte, mais preparadas. Isso melhorou até
a minha autoestima e vejo isso nelas também.
Me prometi que nunca mais vou me sentir impotente
novamente, mas aqui estou eu, tentando entender como
pude, depois de tantos anos, ter tido essa crise de pânico só
porque vi as malditas rosas vermelhas. Isso quer dizer que
não me curei completamente como achava. Ok, sei que
completamente não estava mesmo, mas não esperava essa
recaída, por assim dizer, pelo menos não nesse ponto.
Por ser psicóloga, venho tentando me analisar, assim
como faço com as minhas pacientes. Tento voltar naquele
momento para entender os meus sentimentos, e o porquê
de algo tão simples ter mexido tanto comigo. É um estudo
que terei que fazer aos poucos, para me curar de vez e
encerrar esse capítulo na minha vida.
Devo isso a mim mesma, porque decidi que quero
conhecer uma nova pessoa, quero me dar a oportunidade
de conhecer o amor, porque aquilo que tive com o Jack, não
era amor, era poder. Poder dele sobre mim. Era uma relação
abusiva que nunca mais terei na minha vida.
Tomo a coragem que preciso para ligar para o Adam e
marco com ele um jantar na minha casa. Ele precisa
entender e pretendo explicar em partes o que houve. Não
conseguirei me abrir totalmente, mas me esforçarei, por
mim mesma.
A campainha toca e sei que ele chegou. Respiro
fundo, uma, duas, três vezes. Fecho os meus olhos e me
dou um tempo para me acalmar. Sei que não estou
totalmente pronta, mas vai ser assim mesmo.
— Oi, Adam. — Vou até ele com o meu coração
acelerado. Ele está tão lindo, como sempre.
Dessa vez, está usando terno e calça social. Imagino
que deve ter tido reuniões hoje. Sei que é um homem
importante, cheio de negócios e ele estar aqui hoje, apesar
de tudo que passou naquele dia, me mostra que se importa
comigo.
— Oi, Sarah. — Ele abre um sorriso encantador. —
Está linda. Fico feliz em te ver. — Ele se aproxima e me dá
um abraço apertado e demorado. — Fiquei preocupado com
você. — Meu coração aquece com esse carinho. Sei que sou
desconfiada, mas ele parece genuíno.
— Ah, obrigada pela preocupação comigo. — Faço um
gesto apontando para o sofá da sala. — Fique à vontade,
por favor. — Nos sentamos no sofá, um ao lado do outro.
— Não há nada a agradecer. — Ele me olha
profundamente, como se estivesse tentando me ler.
— Sei que temos que conversar, mas pensei em
jantarmos antes. Pode ser? — Rezo para que aceite, preciso
relaxar um pouco antes e sei que esse assunto
provavelmente vai acabar com o clima da noite.
— Claro, vamos no seu tempo, Sarah. — Ele coloca a
mão em cima da minha, fazendo carinho.
— Obrigada. — Sorrio. — Posso te oferecer uma
bebida? Um vinho, whisky. O que prefere? — Me levanto e
vou até o nosso bar.
— Você vai beber comigo? — Pergunta.
— Acho melhor não, ainda estou tomando remédio.
Espero que não se importe. — Falo um pouco sem graça.
— Claro que não. Vou aceitar então uma dose de
whisky, sem gelo, por favor.
— Maravilha. — Pego um whisky 21 anos, que é um
dos favoritos da minha tia e sirvo uma dose para ele.
Volto para o meu lugar no sofá e entrego a bebida.
Pego um suco de abacaxi com hortelã para mim e
brindamos.
— A você. — Ele fala e sorrio um pouco sem graça.
Conversamos mais um pouco sobre coisas aleatórias.
Acredito que ele tenha percebido que estou um pouco
nervosa e embarcou na minha, falando de coisas leves.
A minha cozinheira me informa que nosso jantar está
servido e vamos até a mesa que fica na outra sala. Pedi que
fizessem uma comida leve. O menu será: Salada de
presunto Parma com melão, risoto de queijo Brie e um bife
de ancho. Imaginei pela nossa última saída que ele iria
gostar disso, espero ter acertado.
— Isso está ótimo, parabenize a sua cozinheira. — Ele
fala se deliciando com a comida.
— Pode deixar. Ela é ótima, né? Está conosco há
muitos anos e nem sei o que seria da gente sem ela para
nos salvar. Confesso que não sou muito boa na cozinha.
— Hum, bom saber. Para a sua sorte, eu sou. —
Levanto a minha sobrancelha para ele, porque nunca
imaginei isso.
— Sério? Por essa eu não esperava.
— Por que não? — Franze a testa.
— No nosso mundo é tão normal termos pessoas
fazendo tudo por nós que imaginei que, por ser alguém tão
ocupado, não teria o menor tempo e paciência para
cozinhar. — Sou sincera.
— Faz sentido, mas eu gosto de preparar algumas
coisas, às vezes. Claro que não cozinho sempre, porque de
fato não tenho tempo, mas gosto de me aventurar de vez
em quando. Terei prazer em preparar um jantar para você.
— Ele fala confiante e sorrio em pensar que está me
incluindo nos seus planos.
Jantamos com calma e conversamos mais um pouco.
Ele começa a me olhar com aquela cara de quem não quer
mais esperar, quer saber sobre o que houve.
É, não vai dar mais para adiar. Precisamos conversar.
Respiro fundo e começo.
— Que tal nos sentarmos novamente no sofá? Tenho
muito o que explicar.
Capítulo 27
Estou aliviado por vê-la melhor, mas sinto a sua
tensão neste encontro. Sinto que ela deseja se abrir, mas
está com medo. Do quê? Não faço ideia, mas sinto que vou
descobrir logo, logo.
Faço o possível para deixá-la à vontade, quero que se
sinta segura comigo. Nos sentamos no sofá, novamente um
ao lado do outro. Ela não me olha nos olhos, está olhando
para baixo, para as suas mãos enquanto as esfrega.
Com muita sutileza seguro uma de suas mãos e faço
um carinho, com a outra, coloco a minha mão no seu queixo
e a faço me olhar.
— Sarah, não sei o que aconteceu, mas quero te
ajudar. Não fique assim, nervosa, não comigo, por favor. —
Ela me dá um leve sorriso e respira fundo.
— Agradeço por isso, mas quero explicar em partes o
que houve.
— Certo. Quando estiver pronta. — Lhe dou um olhar
carinhoso, cúmplice.
— Primeiro quero que saiba que o que aconteceu
aquele dia nada tem a ver com você especificamente. —
Faço que sim com a cabeça. — Bom, resumidamente
morava nos Estados Unidos com meus pais e quando fiz
dezessete anos conheci um garoto, pelo qual me apaixonei.
Ele era tudo o que eu achava que queria: encantador, gentil
e amoroso. Mas isso foi apenas no início, para me fazer
apaixonar. Depois ele começou, sutilmente, a me manipular
nas pequenas coisas e com o tempo, eu fui mudando. Te
garanto que não foi para a melhor. Ele me afastou dos meus
pais, me deixou dependente da sua presença e me fez
duvidar de mim mesma. — Ela para, e respira fundo. Eu
continuo fazendo carinho na sua mão, como uma forma de
lhe dar forças. — Enfim, ele começou a se tornar mais
violento e eu comecei a ter crises de pânico, por conta disso
parei algumas vezes no hospital.
— Ele bateu em você? — Sinto meu sangue ferver. Só
de imaginar alguém encostando nela, fico tomado pela
raiva.
— Não da forma que você imagina. Ele me apertava
várias vezes quando não gostava de algo que eu fazia ou
dizia, mas nunca me bateu. A agressão dele era mais
emocional, apesar desses apertões serem uma agressão
física também, hoje eu sei disso, mas na época não fazia
ideia, estava cega. — Olha para baixo, acredito que está
chateada relembrando.
— Porra, que filho da puta. — Passo uma das mãos no
meu rosto, sinto um suor de raiva descendo da minha testa.
— Sim, ele era. Quando começamos a namorar, todo
mês ele me dava um buquê enorme de rosas vermelhas e
isso acabou sendo um gatilho para mim. Por isso, quando o
vi segurando aquele buquê nas mãos, eu travei. Era como
se tivesse voltado naquela época e tive uma crise de
pânico.
— Porra! Me desculpa, Sarah. — Me levanto de uma
vez, nervoso. — Eu não fazia ideia, puta merda. Nunca quis
causar algo assim em você. Agora tudo faz sentido. — Falo
rapidamente, mas ela levanta e me interrompe.
— Adam, por favor, não se culpe. Aprendi com muita
terapia que não podemos nos culpar por algo que alguém
nos causou. Não somos culpados, ele é. — Ela segura as
minhas mãos, como fiz com ela e me encara.
— Sinto muito que tenha passado por isso. — Faço um
carinho em seu rosto e ela recebe fechando os olhos. Vejo
uma lágrima caindo na sua face.
— Obrigada. — Ela responde.
— Ele está preso então, né? — Não gosto nada da
forma que ela me olha quando falo essas palavras.
— Infelizmente não. — Me puxa para me sentar
novamente ao seu lado. — Sua família é muito poderosa
onde morávamos e ele nunca pagará pelo que me fez,
então meus pais aproveitaram que eu já tinha dezoito anos
e me mandaram para morar aqui com minha tia Irene. Foi a
forma que encontraram de me tirar daquele pesadelo e
recomeçar a minha vida.
— Não é possível, ele tem que pagar pelo que te fez.
Posso cuidar disso, vou falar agora mesmo com o Rodrigo
e… — Ela me interrompe e vejo o pavor em seus olhos.
— Não. Me promete que não, Adam. — Ela segura as
minhas mãos. — Ele não sabe onde estou e enterrei essa
história, não a desenterre, por favor.
— Mas ele tem que pagar, Sarah. — Falo revoltado.
— Eu mais do que ninguém sei disso, mas nós dois
sabemos como a justiça funciona no mundo e nesse
momento não consigo lidar com isso de novo. Estou aqui no
Rio há sete anos e pela primeira vez em muito tempo, me
sinto melhor. — Suas lágrimas me fazem recuar.
— No meu mundo a justiça vai funcionar, Sarah. Não
vou mentir que deixar para lá é algo difícil para mim, mas
preciso que me prometa que se precisar de ajuda para foder
esse cara, vou ser o primeiro que vai chamar. Eu tenho os
recursos para fazer isso sem que se envolva.
— Eu agradeço, de coração, mas o que eu preciso
agora é seguir com a minha vida.
— Entendo. — Sinto uma sensação horrível em pensar
no que ela teve que passar sozinha, mas preciso respeitá-la.
Sei que não me contou tudo, deve ter muito ainda por trás,
mas acredito que irá me contar quando a hora chegar, não
vou forçá-la. — Quero que saiba que estou aqui por você e
que pode me contar, quando quiser, tudo o que aconteceu.
— Obrigada, Adam, mas isso é tudo o que precisa
saber. — Sinto sua dor no olhar, então a puxo e a abraço
com força.
A pressiono contra o meu coração e deixo que as suas
lágrimas caiam. Ficamos assim por um tempo, até que ela
se acalma e finaliza o choro. Limpo o restante de lágrimas
em seus olhos e lhe dou vários beijos suaves no rosto. Ouço
uma risada e percebo nesse momento que ansiava por isso,
vê-la bem.
Sarah é uma mulher que aparenta ser tão delicada,
tão sensível, mas vejo a força que tem. Passou por muitas
coisas, coisas que nem faço ideia e está aqui hoje, firme,
seguindo a sua vida da melhor forma que encontrou.
Um sentimento de proteção muito grande vai
tomando o meu coração. Sei que ainda estamos nos
conhecendo, mas já sinto uma vontade absurda de protegê-
la a qualquer custo, principalmente depois do que me
contou.
Temos muito o que conversar ainda, quero saber mais
sobre essa crise de pânico, mas sinto que já foi uma
conversa muito desgastante para ela neste momento. Tudo
no seu tempo.
— Que tal vermos um filme? — Sugiro tentando mudar
o clima que se instalou, não quero que ela vá dormir assim.
— Sério? Não precisa ir descansar? Já está um pouco
tarde e não quero te atrapalhar.
— Eu durmo tarde e vai ser bom darmos uma
distraída. Que tal? Te deixo escolher o que quiser. — Levanto
a sobrancelha e ela abre um sorriso lindo.
— Você não deveria ter falado isso. — Se levanta e
liga a TV, depois abre a Netflix e escolhe uma comédia
romântica que acabou de lançar.
Nos deitamos no sofá e ela se aninha nos meus
braços. Gosto mais de filmes de ação, mas achei a escolha
perfeita. Uma comédia romântica é tudo o que ela precisa
para relaxar e isso me basta. Aproveito e, em alguns
momentos, roubo um beijo dela.
Ficamos juntos até tarde, quando me despeço e vou
para a minha casa. Foi um encontro diferente dos que já
tive, mas gostei da nossa conexão, nunca tive isso com
alguém antes e saber que confiou seu passado a mim, me
deixa confiante de que estamos no caminho certo da nossa
relação.
Capítulo 28
Nossa, estou atrasada. Não acredito que perdi o
horário logo hoje que tenho uma paciente cedo. Merda.
Fiquei ontem até tarde conversando com o Adam. Queria
vê-lo novamente essa semana, mas ele precisou viajar para
os Estados Unidos para uma reunião do conselho da
empresa, algo importante, então o jeito foi nos falarmos
todos os dias apenas pelo telefone, então ficamos até tarde
conversando.
Deveria ter desligado para não ficar assim, morta de
sono, mas valeu a pena. Começo a sentir que ele está
conseguindo romper as minhas barreiras, aos poucos. Ele
tem me feito muito bem, especialmente porque é de mente
aberta e não é machista como muitos que conheço, além de
ser bastante romântico.
— Acorda, Sarah! — Minha tia fala e tomo um susto.
— O quê? — Pergunto toda enrolada, enquanto estou
sentada na bancada da cozinha tomando um café.
— Está sonhando acordada? — Ri — Um sonho que
tem nome, né? — Levanta uma das sobrancelhas e me
analisa.
— Ah, tia, pior que sim. O Adam é tão carinhoso e
divertido. É muito bom ter alguém com quem eu posso
conversar. — Suspiro.
— Assim você me magoa. — Ela coloca a mão no
coração de um jeito bem teatral, fazendo o maior drama.
— Ah, para com isso, você sabe muito bem o que eu
quis dizer. — Vou até ela e lhe dou uma empurrada de
brincadeira.
— Sei sim. — Ela ri mais. — Fico feliz por você,
querida. Ele parece ser um bom homem. — Pisca para mim.
— Sim, ele genuinamente parece ser. — Fico em pé
suspirando novamente, pensando o quanto ele vem sendo
incrível.
— Querida? — pergunta.
— Sim? – Falo ainda meio mole, sonhando acordada.
— Você não estava atrasada? – Ela solta uma
risadinha e aponta para o seu relógio no pulso, mostrando
as horas.
— Nossa. — Volto pra realidade, deixo a xícara de
café, pego a minha bolsa e saio correndo em direção ao
carro.
Chego em cima da hora no consultório. Por sorte,
tenho tempo de arrumar tudo quando a campainha toca.
Acho que é a minha paciente, mas vejo um entregador com
uma caixa na mão.
— Senhorita Sarah Campbell? — Pergunta.
— Sim, sou eu. — Falo cheia de expectativas.
— Uma encomenda para a senhorita. — Ele então me
entrega e se despede.
Fecho a porta do consultório e me sento empolgada.
Abro com cuidado e vejo uma caixa enorme de
chocolates de todos os sabores imagináveis. Nossa! Isso era
tudo o que eu queria, amo doces, ainda mais porque estou
de TPM.
Reparo que tem uma carta com meu nome ao lado.
Sarah,
Espero que esses chocolates adocem seu dia que será
agitado. Sinto a sua falta.
Com carinho, Adam.
eu coração dá um pulo de felicidades ao ler
M
isso. Como ele é gentil. Tinha contado para ele ontem que
meu dia hoje seria caótico, mas nunca imaginei que ele
faria um gesto tão delicado como esse.
Sim, ele está conseguindo romper as minhas
barreiras, com esses pequenos gestos. Me sinto nas nuvens.
Gostaria de ter ligado para ele, mas a campainha toca
novamente e vejo que a minha paciente chegou, então
resolvo rapidamente enviar uma mensagem.
Sarah: Adorei os chocolates, vieram em ótima hora.
Obrigada pelo carinho, estou com saudades. Minha paciente
chegou, falamos mais tarde.
olto a realidade e foco no meu atendimento.
V
Agora é a hora de trabalhar.
— Oi, Sabrina, seja bem-vinda. Entre e se acomode.
— Obrigada. — Ela agradece.
— Vamos lá? Vamos falar sobre você?
Passo a sessão muito concentrada na minha paciente.
Esse é um dos únicos momentos do dia que de fato deixo o
Adam fora da minha cabeça. Devo isso a elas, preciso estar
presente para elas, pois sei o quanto esse momento é
importante. Estou aqui como porto seguro, como um lugar
sem julgamentos, um lugar de acolhimento e é isso que
faço.
O melhor momento para mim é quando nos
despedimos e sinto o quanto estão mais leves. Isso faz com
que eu ganhe meu dia. Amo essa sensação de poder, de
fato, fazer a diferença para elas. Espero que hoje tenha
muito dessa sensação, porque estou com o dia lotado.
Como amo ser útil.
Adam: Cheguei agora e me esqueci que tenho uma
festa na casa do Adriano. Sei que não gosta muito de
eventos assim, mas gostaria de ir comigo?
Sarah: De fato não sou muito de festas, mas que
horas vai ser?
Adam: Às 22h, não precisamos demorar, se não
quiser. Acho que você vai gostar; o Adriano sabe fazer uma
boa festa rs.
Sarah: Ele é famoso por isso mesmo rs. Tudo bem,
vou com você, mas não prometo ficar até o final.
Adam: Combinado. Te pego às 21h30.
Sarah. Ok.
Realmente não esperava uma festa hoje, mas preciso
me esforçar, ele vem sendo tão atencioso que é legal da
minha parte conhecer seus amigos também. Estou feliz que
tenha me convidado. De fato, preciso me divertir, pois às
vezes nem me lembro que tenho só 25 anos.
— TIA! — Grito por ela, porque se tem alguém que
sabe dar uma boa opinião do que vestir em uma festa, esse
alguém é ela.
— Nossa, quem morreu? — Ela surge tomando uma
taça de vinho branco.
— Preciso de ajuda! Vou em uma festa e tenho que
escolher uma roupa.
— O quê? Vai a uma festa? — Ela quase se engasga
com o vinho — Chocada!
— Acredite, eu também estou, mas Adam me
convidou. — Dou de ombros.
— Agora tudo faz sentido. — Abre um sorriso. — Estou
gostando disso.
— Tenho certeza de que sim, agora pode me ajudar?
— Suplico com as mãos fazendo drama.
— Com certeza! Não perderia isso por nada. Vamos
para o meu closet.
Pode parecer estranho ir para o armário da minha tia,
que tem mais de cinquenta anos, mas ela dá um show nas
meninas de vinte, inclusive em mim. Além de ser linda, tem
um corpo sarado, por isso que ela fica com muitos caras
mais novos. Muitos pensam que eles estão de olho no
dinheiro dela, pode até ser, mas eu duvido que seja só isso,
ela é bonitona e tem uma energia surreal.
Entrar no seu closet é como entrar no paraíso para
quem ama roupas, sandálias e bolsas de luxo. Ela tem tudo
de melhor e das marcas mais desejadas. Eu gosto de roupas
também, mas como ela, não tem nem como comparar.
— Vamos lá, de quem é a festa? — Pergunta olhando
alguns vestidos.
— Daquele amigo dele, o fanfarrão, Adriano. — Digo.
— Ah, as festas dele são as melhores, meu bem. Não
tem como não se divertir, ele sabe como organizar uma boa
bagunça. — Sorri, deve estar lembrando de alguma festa
que já foi dele.
— E esse sorriso que surgiu aí? Vou querer saber?
— Provavelmente não, querida. — Ri mais um pouco
— É melhor não.
— Tia, você é terrível. — Rio junto só imaginando o
que ela pode ter aprontado.
Ela vasculha bem o seu armário e me mostra um
vestido preto tubinho, simplesmente perfeito. Ele condiz
com o ambiente e com o horário. Tem um decote bonito que
valoriza meu seio. Como está frio, ela me mostra um
sobretudo preto para compor, mas o melhor ela deixa para
o final. Tira do cofre, um conjunto com uma gargantilha
dupla de safira com diamante e um par de brincos perfeito,
que dá todo um incremento ao look.
— Agora sim, está perfeita, querida. No ponto certo
entre sexy e elegante.
— Ah, eu amei, é bem no meu estilo. Sabia que ia
conseguir.
— Claro, quando é que não consigo? — Ela brinca.
— Me deseje sorte hoje, tia. É a primeira vez que vou
conhecer seus amigos, espero que gostem de mim.
— Querida, não se preocupe. Eles vão te amar. — Lhe
dou um beijo no rosto e vou para o meu quarto me arrumar,
pois daqui a pouco ele chegará.
— Oi, Adam. — Vou em direção ao carro, onde seu
motorista está nos aguardando. — Pontual como sempre. —
Sorrio.
— E você, linda como sempre. — Se aproxima e me dá
um beijo. Seu lábio encostando no meu arrepia todo o meu
corpo. Nossa, como senti falta da sua presença física. —
Agora sim, oi, Sarah. — Impossível não sorrir perto desse
homem.
Ele abre a porta do carro e vamos em direção a festa.
Estou sentindo boas energias sobre hoje, acho que vai
ser bem divertido.
Capítulo 29
Me afastei do Rio de Janeiro por alguns dias, pois
viajei para Nova York. Tivemos uma reunião emergencial no
conselho e a minha presença era obrigatória. Como CEO
preciso resolver muitas coisas e isso faz com que tenha que
viajar bastante e sem muita antecedência.
Descobrimos que o nosso concorrente vai lançar um
jogo muito parecido com o nosso e antes da data do nosso
também, ou seja, espionagem. Alguém de dentro da nossa
equipe está passando informações importantes sobre o que
estamos produzindo e isso está munindo o nosso
adversário, o que não podemos permitir.
— Isso não será um problema. — Digo ao conselho.
— Como não? Poderia nos explicar melhor?
— Claro. O nosso jogo será um sucesso e tenho
certeza disso. Por mais que estejam nos copiando, poucas
são as pessoas que sabem do desfecho do jogo, que na
minha opinião, será a melhor parte dele. Então precisamos
ser espertos e jogar essa espionagem a nosso favor. —
Pondero.
Continue a explicação, por favor. — Pedem os
—
diretores que estão presentes.
Sabemos que estão nos espionando, então
—
primeiro precisamos dos melhores detetives para descobrir
quem é a pessoa. — Começo a explicar quando me
interrompem.
E aí, mandamos embora com muitos processos
—
juntos? — Porra, me controlo para não revirar os olhos com
essa ideia pequena.
Não, absolutamente não. — Digo firmemente.
—
— Ainda não falaremos nada para ninguém, vamos usar
essa pessoa para passar informações falsas sobre o jogo, a
fim de fazê-lo ser um fracasso. Precisamos convencer entre
conversas paralelas com as pessoas certas de que isso é o
que fará o sucesso que queremos. Ele passará a informação
para a concorrência e assim, boicotaremos o jogo deles e
usaremos isso de marketing para o nosso. “Venha conhecer
como um jogo deve ser”, algo nesse tom. Sabemos o
quanto esse tipo de alfinetada chama a atenção do público
e, principalmente, da mídia. Eles adoram uma boa briga e
assim, vamos os destruir. – Me encosto na cadeira orgulhoso
do meu plano. Odeio esse tipo de coisa.
Perfeito, isso de fato pode funcionar. Já estou
—
até visualizando as manchetes que mandaremos fazer. —
Fala o diretor de operações da empresa.
— Entrem em contato com o Rodrigo, meu
advogado no Brasil, ele tem os contatos certos para
descobrir em menos de um dia quem é a pessoa. – Na
mesma hora pego o meu celular e envio o contato dele para
o responsável.
inalizamos a reunião e aproveito para resolver
F
mais algumas coisas já que estava lá, como ir aos
escritórios e conversar com investidores. Feito tudo isso,
volto ao Brasil.
osto do que faço, sou extremamente bom nisso,
G
mas confesso que estava com saudades de ver a Sarah.
Ficamos bem próximos nessa última semana, depois do que
ela me contou. Sei que confiou em mim algo muito íntimo e
doloroso e isso me mostrou que ela está disposta a me
conhecer profundamente.
eus sentimentos por ela vêm aumentando a
M
cada dia, sinto algo genuíno, diferente das últimas relações
que tive, se é que posso chamá-las assim. E o mais
estranho é que ainda não tivemos relações íntimas.
Entendo que algo a mais aconteceu com ela e não
quero me sobrepor aos seus desejos de não me contar,
respeito isso, mas sinto que preciso ir com calma, até que
se sinta completamente segura comigo. Não quero lhe
causar mais mágoas, ao contrário, quero lhe dar novas
memórias, memórias que a ajudem a se curar.
ê-la depois desses dias, usando esse vestido
V
preto justo com essa gargantilha que realça ainda mais seu
colo, me deixa maluco. Me concentro para não deixar meu
pau ganhar vida e estragar tudo.
hegamos na casa do Adriano e o que posso
C
falar? Se tem alguém que sabe como festejar, é ele. O cara
transformou sua mansão em uma festa enorme de luxúria.
Não tem outra forma de descrever isso.
Uau, minha tia não estava brincando quando
—
disse sobre as festas dele. — Sarah fala impressionada com
a decoração do lugar.
Adriano é o mestre na arte de se divertir, por
—
assim dizer. — Entramos e sigo para a área que ficamos
quando ele faz esse tipo de evento. — Ele sempre separa
como se fosse um camarote para os amigos mais próximos,
na verdade para nós quatro, quer dizer, nós três porque ele
sempre está rodando e pegando mulheres por aí. Ele sabe
que gostamos de privacidade e por isso, faz uma outra área
só para a gente, com um segurança na porta. — Tento
explicar para ela que fica animada ao saber disso.
Combinamos até nessa parte.
— Ah, perfeito, isso me deixa mais aliviada. —
Sorri.
Estou animado que vai conhecer os meninos,
—
como sabe, somos muito próximos. — Passamos pelo
segurança e vamos para o sofá.
— Também estou. — Ela fala e reparo que não os
vejo ali, provavelmente não chegaram. Envio uma
mensagem no grupo avisando que estamos aqui.
Eles devem estar chegando, enquanto isso,
—
quer beber algo? — Faço sinal para o garçom que vem
imediatamente nos atender.
Olá, gostaria de uma taça de champanhe, por
—
favor. — Ela pede. Fico feliz que tenha parado já com os
remédios e esteja bem.
— E eu uma dose de whisky. — Completo.
onversamos sobre a minha viagem, explico
C
melhor o que aconteceu e falo sobre meu plano em resolver
as coisas. Nunca falaria sobre isso para uma mulher que
estou saindo, mas tenho confiança nela.
— Se houver dúvida sobre quem conta os
segredos da empresa, pode falar para algumas pessoas
coisas diferentes e ver o que a concorrente recebe, assim
saberá quem foi. — Dá de ombros. Fico surpreso com a sua
ideia, porque de fato é muito boa.
Bem pensado, isso de fato funcionaria muito
—
bem, mas nesse caso, temos o Rodrigo investigando e
acredite, ele saberá exatamente quem é. — Tomo um gole
da minha bebida.
Ele é realmente muito bom no que faz, né? –
—
Ela se encosta em mim, estamos no sofá.
Não há ninguém melhor que ele e não falo só
—
porque é meu amigo, ele é uma fera.
Olá, ouvi meu nome? — Rodrigo se aproxima
—
sem que tenhamos percebido.
Finalmente. E aí cara? — O cumprimento —
—
Essa é a Sarah. Sarah, esse é o Rodrigo.
Prazer finalmente conhecê-la. Tenho que te
—
falar que esse aqui fala muito sobre você. — Porra, não
precisava ter falado isso.
Ah, fico feliz em saber disso. — Sarah o
—
cumprimenta — Ele também fala muito sobre vocês.
— Espero que sempre bem. — Levanta a
sobrancelha.
Quase sempre. — Ela brinca e gosto dessa
—
troca deles. Ele se senta conosco e pede um whisky para me
acompanhar.
O que estavam falando quando entrei? —
—
Brindamos quando recebe sua bebida.
Sobre a questão da empresa. — Ele me olha
—
surpreso por ter contato isso a ela e entendo sua
preocupação, mas faço um sinal de que está tudo bem. Ele
é desconfiado até demais.
Sim, até amanhã já saberemos quem foi a
—
pessoa responsável pelo vazamento das informações. — Ele
se acomoda no outro sofá.
Nossa, você é realmente rápido nisso. — Fala
—
impressionada.
Tenho a melhor equipe, eles não param até
—
descobrir tudo em tempo recorde, os pago bem para isso. —
Constata como se não fosse nada demais. Ele está muito
acostumado com isso.
Sabe do Alex? Não o vejo há um tempo. —
—
Pergunto olhando para os lados, vendo se o encontro.
— Ele estava em Miami resolvendo as coisas do
hotel. Pelo que entendi, quando falei rapidamente com ele,
tinha pressa em reformular aquela unidade para ir para as
outras. O projeto parece estar bem interessante.
Ele havia comentado mesmo sobre isso, sabe
—
quando volta? — Coloco a minha mão na perna da Sarah,
pois quero que se sinta acolhida na conversa.
Acredito que por esses dias, porque vai essa
—
semana no poker.
Vocês fazem toda semana, né? — Ela pergunta
—
entrando na conversa.
— Sim, dou sempre uma surra neles. — Brinco.
Aham, dá sim. Não quero te fazer passar
—
vergonha na frente dela, mas não mente assim, vai? —
Morre de rir.
icamos conversando por mais um tempo, até
F
que Adriano chega e lhe apresento a ela.
Ah, finalmente te conheci. Seja bem-vinda a
—
minha casa. — Ele a cumprimenta
— Lindíssima, de muito bom gosto. — Eles embarcam
em uma conversa sobre a decoração do lugar e como ele
mandou trazer algumas coisas de fora. Ela parece se
interessar ou só está sendo educada com meus amigos.
Ele finalmente vai conversar com o Rodrigo, nos
dando uma privacidade que agradeço.
— Finalmente sozinhos. — Me aproximo
novamente e faço carinho no seu rosto, tirando um fio de
cabelo que caiu no seu olho.
la sorri e me olha com intensidade. Seus olhos
E
me dizem tanto que nos perdemos no olhar um do outro. É
visível que há muitos sentimentos entre nós. Nossa
respiração se torna ainda mais intensa.
Sinto que a cada vez que a vejo, fica mais difícil me
segurar, ainda mais quando ela me olha assim, quase
implorando para que eu a faça gozar.
Porra, essa mulher me enlouquece.
Capítulo 30
Adam está se segurando, eu sei e sou grata a ele por
isso. Sei que sou diferente das mulheres que deve conhecer.
Preciso ir mais devagar do que a maioria, mas ele tem sido
tão incrível que a cada dia me sinto mais pronta para novas
coisas.
Estava morrendo de saudades e desde aquele dia no
restaurante, sinto que preciso dele novamente. Senti-lo de
forma mais íntima.
Ele faz umas brincadeiras, tentando amenizar a
tensão sexual que se forma e isso só me faz sentir mais
vontade ainda de pular nele. Claro que não faço isso, mas
quero que ele entenda que podemos ir um pouco além hoje.
Aproveito que os meninos saem de onde estamos e
me aproximo dele, o puxando para um beijo ardente. Um
calor se espalha pelo meu corpo, enquanto a sua mão busca
um contato maior, acariciando meus cabelos. O beijo se
torna mais profundo, cheio de desejo e entrega, cada
movimento trazendo à tona uma onda de emoções.
— Sarah, estamos muito expostos aqui. Vamos para
um local mais reservado? — Ele interrompe nosso beijo e
sussurra no meu ouvido.
— Sim, por favor. — Ele abre um sorriso safado e me
puxa pela mão.
Entrelaçamos nossos dedos e saímos em direção a
uma porta que não havia reparado.
— Este é um espaço onde ele só permite que nós
entremos, então estaremos longe dos olhares curiosos. Não
quero ninguém testemunhando o que desejo fazer com
você.
Sorrio com essa perspectiva. Já aproveitamos bem a
festa e assim me sentirei muito melhor. Ele fecha a porta de
um quarto e me explica rapidamente que é um quarto para
os amigos se precisarem passar uma noite aqui, seja por
jogar poker até tarde ou depois de uma bebedeira. Não
penso muito sobre isso porque não quero saber, não sou tão
ingênua assim.
Ele se aproxima novamente e me acaricia no rosto.
Me olha carinhosamente, como se estivesse pedindo
permissão para isso e decido responder o puxando para
mais um beijo ardente.
Sentir sua boca na minha pele me deixa louca de
tesão. Como senti falta disso, dele, dessa conexão. Agora
que já estamos há mais tempo conversando e nos abrindo
um para o outro, me sinto muito mais confortável em
relação a nossa intimidade. Ele tem sido tão incrível comigo
que a cada dia que passa me sinto mais pronta para me
entregar completamente a ele.
Nosso beijo começa com bastante urgência. A forma
que a sua língua reconhece a minha é surreal. Suas mãos
circulam a minha cintura até que ele me pressiona contra a
parede do quarto.
Me esfrego nele sem qualquer pudor, sinto-me bem
aqui com ele e quero aproveitar da minha forma. Passo a
minha mão na sua cintura, o puxando mais para mim. Sinto
o volume da sua calça e sei que por ele poderíamos fazer
muito mais do que nos beijar, mas por enquanto não dá.
Ele tira as suas mãos da minha cintura e vai subindo,
passando a suas mãos grossas pelos meus seios duros.
Estou tão excitada que parece quase uma tortura. Solto um
gemido quando ele começa a beijar meu pescoço. Isso é
bom, é bom demais!
Resolvo fazer o mesmo e lhe dou beijos suaves na
mesma região. Sinto que ele gosta e tem certa sensibilidade
ali, assim como eu. Ele desce mais as suas mãos, chegando
na minha entrada e me olha com intensidade. Sinto a faísca
saindo de seus olhos, a vontade de me ter é grande,
consigo sentir o mesmo. Ele se segura, por respeito e
preocupação a mim.
Meu sentimento por ele ainda é confuso, mas sinto
uma segurança que nunca senti antes, por isso resolvo que
está na hora da gente se dar mais prazer. Posso me abrir
um pouco mais para isso. Abro um sorriso safado e ele
entende perfeitamente o que quero.
Passa seus dedos carinhosamente por toda a
extensão da minha vagina. Sinto um calor percorrendo
levemente meu corpo. Ele chega ao clitóris e o circula em
movimentos no início suaves, mas logo acelera, me
deixando ofegante.
Com uma das minhas mãos livres, abro a sua calça e
libero o seu pau, que está extremamente duro e grosso por
mim. Olho para baixo para admirar o tamanho dele e ele
gosta da cara que eu faço ao olhar para seu membro.
Nossa! É enorme e deve ser uma delícia.
Começo o massageando com a minha mão, enquanto
ele continua com a sua mão no meu clitóris. Sinto seus
dedos dentro de mim, enquanto o polegar continua me
massageando nesse ponto que me deixa completamente
louca. Queria continuar fazendo o mesmo por ele, mas o
que estou sentindo é tão, mas tão forte, que começo a
gemer e falar seu nome.
— Adam… Nossa, continua... isso…
Ele não para até me fazer contorcer em um orgasmo
delicioso. Sinto os espasmos do meu corpo e coloco o meu
rosto no seu paletó, enquanto me permito acabar de sentir
o relaxamento por essa gozada deliciosa. Nossa, se ele faz
isso apenas com os dedos, o que fará com seu pau dentro
de mim?
Ele sorri, orgulhoso por ter me deixado assim e vejo,
pelas veias pulsando do seu pau, que não posso deixá-lo
assim, preciso retribuir, até porque quero muito senti-lo na
minha boca.
Me abaixo, olhando para ele, até que fico de joelhos.
Desço a sua calça e a sua cueca e finalmente deixo seu pau
completamente exposto. Lambo os meus beiços olhando
para ele que está atento a cada movimento que faço.
Passo umas das mãos por suas bolas, massageando.
Passo a mão na minha vagina que ainda está bem
lubrificada e com isso, uso para o masturbar. Ele fica louco
com esse gesto.
— Porra, Sarah, quer me deixar louco? Puta que
pariu…
Eu sorrio, feliz por causar nele o que ele causa em
mim. Coloco as minhas mãos na sua bunda e enfio seu pau
na minha boca. É enorme e preciso ir aos poucos, até que
consigo engoli-lo. Ele geme, enquanto o chupo
delicadamente. Seu gosto é maravilhoso, não canso de tê-lo
na minha boca.
Aumento a intensidade, dando o máximo de mim, até
que escuto ele falar que não aguenta mais e goza com tudo
na minha boca.
— Isso, engole toda a minha porra. Olha só como
estou por você!
Ele me ajuda a levantar e me leva para o banheiro da
suíte.
— Deixe-me limpá-la antes de voltarmos para a festa.
Seu gesto me deixa encantada. Ele poderia sair fora
porque já teve uma parte do que queria, mas vejo a sua
preocupação e cuidado comigo e isso me enche de emoção.
Vamos juntos para o banheiro e com toda a gentileza do
mundo, ele cuida de mim.
oltamos para a festa e nos servimos com
V
algumas comidas. Tem uma mesa de antepastos cheia de
presunto Parma, Brie com geleia de damasco, caviar, tartar
de atum, salmão, enfim, tudo de melhor. Fico feliz por isso,
porque a nossa brincadeira abriu meu apetite. O garçom me
entrega mais uma taça de champanhe e conversamos um
pouco mais.
Me conta mais sobre como foi se mudar para o
—
Japão? Fiquei curiosa sobre isso. — Pergunto querendo saber
mais dele.
Foi difícil me adaptar. Nos mudamos bem no
—
início da minha adolescência e ser estrangeiro lá não foi
muito agradável, mas aprendi muito com a cultura deles e
principalmente, foi lá que me descobri nos games. — Ele
fica pensativo, como se relembrasse o passado, mas suas
feições estão suaves.
Imagino que ele teve uma boa adolescência, diferente
da minha.
Hum, faz sentido, a cultura é bem oposta à
—
nossa, né? E passar pela puberdade assim, não deve ser
muito fácil, mas que legal que descobriu seu trabalho lá. —
Coloco a minha mão na dele, fazendo carinho enquanto
conversamos.
Sim, os japoneses estão muito a frente nessa
—
questão tecnológica. É uma indústria que fatura bilhões
todos os anos. Existe concorrência, mas uma vez que tem
seu público fidelizado, fica mais fácil saber o que desejam.
— Continuamos falando um pouco mais sobre essa parte da
sua vida.
Gosto de como nos comunicamos, é sempre fácil e ele
está sempre aberto a me falar tudo o que desejo saber.
le para de falar e me olha com intensidade, se
E
aproximando lentamente de mim, me deixando com a
expectativa alta. Nos perdemos novamente nos lábios um
do outro. Nossas mãos buscam o corpo um do outro,
puxando-nos para mais perto, enquanto nossas línguas se
exploram com desejo. O calor se espalha e a respiração se
intensifica, criando uma atmosfera eletrizante.
Nossa, como isso é bom!
Sinto que o momento para e tudo ao redor
desaparece, é como se só existíssemos nós dois no mundo,
mas escuto a voz do Adriano no fundo e volto a realidade.
Como gosto de te beijar. — Ele sussurra no
—
meu ouvido.
— Concordamos nisso também. — Sorrio e
tomamos mais um gole da nossa bebida.
E qual os seus hobbies? Sei que ama passar
—
um tempo com a sua tia e se exercitar. — Ele pergunta.
Contei para ele entre as nossas conversas sobre as
aulas de Krav Maga, mas no sentido de exercícios, não quis
me aprofundar muito, não vi necessidade.
Sou viciada em livros, eu amo ler. É um
—
momento em que me permito transcender para outro lugar,
outros mundos. É bom sentir o que os personagens estão
sentindo e viajar em suas histórias. Eu realmente amo. —
Falo muito empolgada porque isso de fato é uma das
minhas maiores paixões.
— Eu também gosto, mas leio mais assuntos
relacionados ao meu trabalho. O que você prefere? Qual seu
estilo preferido? — Pergunta genuinamente curioso, sinto
que deseja a cada hora me conhecer mais.
Apesar do medo que sinto em me envolver, estou me
abrindo para ele.
Eu amo livros de romances, mas tenho lido
—
muito o gênero fantasia e suspense. Comecei a conhecer
mais livros assim e tenho adorado, fora os de psicologia,
que devoro. Como leio muito, preciso de mais opções para
me manter ocupada, mas estou sempre com meu Kindle na
bolsa.
Então temos uma nerd aqui? — Levanta a
—
sobrancelha brincando.
Com certeza! Com muito orgulho. — Falo
—
firmemente e ele propõe um brinde a isso.
Brincamos sobre ser nerd, porque ele é super. Acho
que mais um ponto em comum para acrescentar.
ecidimos dar uma volta pela festa. A bebida já
D
começou a me deixar mais animada e me sinto feliz por ter
vindo.
Nossa, está lotada. A maioria das pessoas são
mulheres, o que eu já imaginava, mas tem uma quantidade
razoável de homens. Fico impressionada como as pessoas
no geral são bonitas. O próprio Adriano é bonitão com esse
seu jeito playboy safado. O Rodrigo então, tem todo um
charme de homem de negócios sério e sexy, mas ninguém
ganha do meu Adam.
Eita, será que me faz bem pensar nele assim? Como
meu? Ah, quer saber, não quero ficar pensando sobre isso
agora. Quero aproveitar, porque está bem divertido.
— Vamos dançar? — Pergunto ao Adam que me olha
surpreso. Seu sorriso na sequência me arranca um suspiro.
— Com certeza! — Ele me puxa para a pista de dança
e iniciamos uns movimentos ao ritmo da música.
Tinha muito tempo que não me divertia tanto em um
lugar. Acho que perdi a minha adolescência e não pude
aproveitar muito o que as pessoas da minha idade faziam
na faculdade. Essa loucura e azaração, nunca tive, mas com
ele perto de mim, me sinto mais leve. Acho que saber me
defender também me tranquiliza.
Quero só ver algum imbecil tentar algo que acabo
com ele rapidinho.
Esse pensamento me faz rir, porque Adam não faz
ideia disso, seria uma surpresa engraçada, mas espero
mostrar isso quando tivermos nossa primeira noite. Não
será hoje, porque não sinto que é o momento, mas sei que
está próximo. Mal vejo a hora.
Capítulo 31
Acordo um pouco mais tarde que o normal, pois
chegamos de madrugada da festa. Sarah se animou e
dançamos por muito tempo. Foi ótimo vê-la tão à vontade
com os meninos também, eles conversaram bastante e se
divertiram muito. Até o Rodrigo foi dançar um pouco com a
gente, o que é inédito, porque ele é muito reservado.
eixei-a em casa contra a minha vontade, mas
D
sabia que chamá-la para dormir aqui seria um pouco demais
para ela. Ando muito pensativo sobre isso, porque sinto a
cada dia que passa que meus sentimentos por ela são
genuínos e que ela também sente o mesmo, então por que
não tomar um próximo passo? Preciso pensar em uma
forma de não a assustar ao fazer isso.
Olho meu celular e vejo uma mensagem do Rodrigo.
Rodrigo: Pegamos ele. Daniel entrou há um ano na
empresa, provavelmente para espioná-lo. Enviei o dossiê
completo para o seu e-mail pessoal. Melhore a área de
contratação do pessoal ou terá esse problema novamente.
Adam: Ótimo, Rodrigo, obrigado. Farei isso
imediatamente.
omo um banho para acordar, pego o meu café e
T
ao invés de ir para a academia como faço todos os dias,
decido resolver essa questão primeiro, é urgente. Abro o
meu computador e vejo o material que ele me mandou.
Como sempre, o arquivo é completo, tenho todos os dados
pessoais e profissionais do funcionário em questão. Vejo que
já trabalhou na concorrência e que saiu alguns dias antes de
entrar na nossa empresa.
Como ninguém verificou isso? Ou pior, como ninguém
suspeitou disso?
Mando mensagem para a minha secretária para
organizar tudo, mesmo sendo sábado, ela nunca falha. A
pago muito bem para isso e nunca ultrapasso limites, sei
que precisa de descanso também, mas isso é muito
urgente.
Adam: Joana, cancele a primeira reunião de segunda
e coloque uma com o diretor de RH. Quero a equipe
completa no primeiro horário.
Joana: Sim, senhor. Considere feito.
Vejo que na área que o Daniel trabalha, temos um
funcionário antigo e muito fiel a empresa. Eu mesmo falarei
com ele na segunda para colocarmos nosso plano em
prática. Ele passará informações para o Daniel fingindo ser
algo de sucesso, quando na verdade, será o nosso meio
para destruí-los.
Não sou de fazer manipulações assim, mas vão pagar
por tentarem nos sabotar, não tolero esse tipo de
comportamento. Se não possuem capacidade de criar seus
próprios jogos de sucesso que fechem a porta de uma vez
por todas.
Passo o dia todo resolvendo essas pendências e acabo
não vendo a Sarah. Acho que ela precisa de um dia para
processar a nossa relação, e por isso quis lhe dar espaço.
Também quero preparar algo especial para ela, então
preciso de hoje para organizar tudo.
No final do dia lhe envio uma mensagem.
Adam: Oi, Sarah. Gostaria de lhe convidar para irmos
amanhã tomar um café da manhã.
Sarah: Oi, Adam, eu adoraria.
Adam: Posso te pegar às 5h?
Sarah: Nossa, tão cedo? Vai ter lugar aberto? rs
Adam: Sei que é cedo, mas prometo que vai valer a
pena. Vá com uma roupa mais quente, pois estará frio.
Confie em mim.
Sarah: Eu confio.
ssa última mensagem foi o que precisava para
E
ter certeza do meu plano. Estou fazendo a coisa certa. Ela
vai adorar o que estou programando.
stou na porta da sua casa, pontualmente às 5h.
E
A vejo saindo usando uma blusa azul marinho com uma saia
curta preta de veludo e botas até o joelho. Está com o
cabelo preso e batom vermelho. Ela consegue ser sexy em
qualquer tipo de situação. Não poderia estar mais perfeita.
Oi. — A cumprimento com um beijo. — Está
—
linda. — Ela sorri.
Essa roupa está adequada? Você não me deu
—
muitas informações.
Está perfeita, como sempre. Vamos? — Abro a
—
porta do carro e entramos. Faço sinal ao meu motorista e
ele dá partida.
ão vou contar ainda aonde vamos e me anima
N
ver o quanto ela está empolgada. Para deixá-la mais
intrigada, trago uma venda e digo.
Preciso que use isso para não estragar a
—
surpresa. — Mostro a venda em minhas mãos. Ela franze a
testa, tentando se decidir o que acha disso, mas vejo seu
rosto suavizando.
Está me deixando ainda mais curiosa. — Se
—
vira e permite que coloque a venda sob seus olhos.
A ideia é essa! Prometo que valerá a pena. —
—
Pego a sua mão e ficamos de mãos dadas durante o
percurso que demora cerca de vinte minutos. — Chegamos,
mas preciso que ainda fique vendada. Vou te ajudar a sair.
aio primeiro do carro e a pego no colo. Ela solta
S
um gritinho tão gostoso de ouvir que meu pau se anima.
Está difícil me controlar com ela nos meus braços, mas dou
conta.
A coloco no chão quando chegamos.
Pode tirar a venda, porque quero que veja essa
—
parte. — A vejo tirando cuidadosamente a proteção. Seu
rosto entendendo onde estamos a faz arregalar os olhos.
— Adam! Como assim? – Coloca a mão na boca
surpresa.
Combinamos de tomar café da manhã, só não
—
falei que seria no Rio de Janeiro. — Pisco para ela e lhe dou
a mão, a fazendo entrar no meu jatinho privado.
Mas aonde vamos? — Ela pergunta quando nos
—
acomodamos.
Isso ainda não posso falar, vamos demorar um
—
pouco ainda, então pode descansar se quiser.
Você está louco se acha que vou conseguir
—
dormir com toda essa agitação que estou sentindo. — Sorri
animada.
— Para controlar a sua ansiedade, posso te
adiantar que não ficaremos no Brasil, mas não se preocupe,
é perto. — Ela faz que vai perguntar mais alguma coisa,
mas eu faço que não com a cabeça. — Já falei demais, nem
adianta que dessa boca não sai mais nenhuma palavra. —
Ela faz beicinho e então me pergunta.
Ok, não sai mais nenhuma palavra, mas que
—
tal um beijo? — Eu logo trago seu rosto para próximo do
meu e lhe dou um beijo suave, e só consigo parar quando
nos avisam que o jato irá decolar.
nquanto estamos nas nuvens, peço que nos
E
sirvam o café da manhã que mandei preparar
especialmente para ela. Tem seu suco favorito, abacaxi com
hortelã. Ovo Benedict com salmão defumado e avocado.
Torta de pistache com frutas vermelhas que sei que ama.
— Nossa, eu nunca poderia imaginar que
tomaríamos café da manhã assim, no céu. — Fala super
empolgada.
E sabe o que é o melhor? — Levanto a
—
sobrancelha, fazendo um ar de mistério para deixá-la ainda
mais agitada.
— O quê? — Pergunta cheia de curiosidade.
Essa não é a melhor parte. — Dou um sorriso
—
de lado, provavelmente com uma cara de quem está
aprontando.
Não é? — Seus olhos brilham de animação. —
—
Qual é a melhor parte então?
Isso não posso dizer. Terá que esperar até
—
pousarmos. — Dou de ombros, fingindo de sonso.
— Ah, nossa. Você está me matando de
curiosidade, Sr. Adam. — Coloca as mãos na cintura e a
minha vontade é levá-la para a suíte do jato.
Hum, Sr. Adam? Gostei, pelo jeito está valendo
—
a pena. — Passo a minha mão sobre a sua coxa e pisco para
ela que vira os olhos de forma adorável.
omemos e conversamos durante todo o trajeto
C
que durou cerca duas horas e trinta minutos. Por isso quis
sair muito cedo, ela começa agora a entender o motivo.
Quando pousamos, descemos no aeroporto de Buenos Aires,
acho que ela reconhece onde estamos, mas tenho bastante
certeza que não faz a menor ideia dos meus planos.
Preciso que coloque a venda novamente. —
—
Peço carinhosamente.
Adam! O que está aprontando? – Ela coloca a
—
mão na cintura e vê-la assim, me faz abrir um enorme
sorriso.
Algo que vai amar, mas só vou te levar no
—
lugar se estiver usando essa venda. — Aponto para ela.
— Ah, não sabia que você era assim, tão
misterioso. — Ela se vira novamente e coloco a venda em
seus olhos.
ajudo a entrar no carro que está nos
A
aguardando. Seguimos o caminho de mãos dadas e sinto o
batimento do seu coração acelerar quando falo que estamos
chegando.
esço primeiro e a pego no colo só para tirá-la
D
mais fácil de dentro do carro. A levo no colo até estarmos
dentro do local. A coloco no chão para que fique na posição
perfeita, sinto a sua inquietação e sorrio por dentro,
animado com a sua reação.
Sarah. — Me posiciono atrás dela e tiro a sua
—
venda. — Bem-vinda a biblioteca nacional de Buenos Aires.
Somos só nós dois aqui dentro, reservei o local só para a
gente, temos a manhã inteira aqui.
la fica boquiaberta, olha ao redor e percebe
E
onde está. Depois vira para mim e me encontra segurando
uma única orquídea branca na mão.
Quero que esse momento marque uma nova
—
fase na sua vida e por isso essa orquídea branca. Ela me
lembra de você, pois para cuidar dela precisamos de
paciência e dedicação, e é dessa forma que desejo construir
a minha relação com você. Sei que ainda estamos nos
conhecendo, mas se me permitir, quero conhecê-la cada
vez mais. Por isso, gostaria de saber: Quer namorar comigo?
Capítulo 32
esde o momento que saímos da minha casa,
D
sinto borboletas no meu estômago. Não era fácil para mim
confiar, mas a forma como ele age comigo, desbloqueou
esse medo de dentro de mim. Por isso, aceitar colocar à
venda, não foi uma decisão difícil. Percebi naquele
momento que sim, eu confiava nele.
Quando vi o jatinho, mal pude acreditar. Já li
tanto nos livros de romance cenas como essa, onde o
mocinho faz um grande gesto, mas nunca, nunca imaginei
que isso pudesse acontecer comigo, principalmente depois
de tudo o que vivi.
É tudo tão surreal que tenho vontade de me beliscar
para ter certeza de que é tudo verdade. Sim, eu sou
merecedora de algo como isso. Repito para mim mesma.
café da manhã no meio do céu, nas nuvens, já
O
foi tão encantador que novamente nunca, mas nunca
imaginei que estaria vivendo um momento como esse
agora.
stou dentro da biblioteca nacional de Buenos
E
Aires, na Argentina. Ela é simplesmente uma das bibliotecas
mais importantes da América Latina, com um acervo de
mais de dois milhões de livros, manuscritos e documentos
históricos. Sem falar no seu design que é um ícone da
arquitetura moderna e um exemplo do Expressionismo do
século XX.
Claro que como uma boa nerd que sou, estar aqui
significa muito mais do que somente uma viagem para um
outro país e saber que ele sabe disso me faz perceber o
quanto ele me vê, me compreende.
Quando era mais nova, achei que o que Jack fez por
mim no início era ser vista, como estava enganada. Ser
vista é isso, eu comentei o quanto amava livros e ele
preparou em menos de dois dias uma surpresa como essa. E
se não fosse tudo isso o bastante, aqui está ele. Me
entregando o seu coração, segurando uma orquídea branca,
me prometendo paciência, dedicação e proteção.
— Sarah? — Ele interrompe os meus pensamentos e
sorrio com toda a minha felicidade transbordando.
— Sim, mil vezes sim. — Pego a flor e me jogo em
cima dele, o beijando com todo o meu coração.
Ele retribui o meu beijo com ardência. Sorrio quando
paramos e reparo no volume da sua calça.
Está muito difícil me segurar também, mas nesse
momento sei que estou pronta para isso. Ao mesmo tempo
que quero pular nele, preciso conhecer esse lugar incrível
em que estamos.
Pego a sua mão e ando admirada tentando gravar
tudo pelos meus olhos. Pareço uma criança, estou tão
animada que mal consigo me segurar. A biblioteca oferece
amplos espaços de leitura, principalmente no andar de
baixo que tem várias mesas com cadeiras para quem quiser
estudar. Literalmente corro de um lado para o outro
pensando em como terei tempo de olhar e ler tudo o que
gostaria. Ele me explica que teremos cerca de quatro horas
só pra gente, depois terão que abrir para o público.
— Quatro horas inteiras só para nós dois? Isso é mais
que um sonho. Muito obrigada por isso, eu amei.
— É pouco, perto do que merece. — Ele me abraça
por trás e sussurra ao meu ouvido. — Prometo fazer muitas
surpresas assim para você.
Passo quase uma hora e meia olhando cada canto
desse lugar magnífico. São tantos exemplares que só
existem aqui, neste lugar, que mal posso acreditar. O andar
de cima é um espaço que combina funcionalidade e
estética, foi projetado para proporcionar um ambiente de
leitura e estudo confortável e inspirador. Tem janelas
grandes que permite a entrada de luz natural, criando uma
atmosfera acolhedora. Tem opções de espaços individuais
para quem quer privacidade ou grandes mesas para
estudos em grupo.
As prateleiras repletas de livros se estendem, até o
teto, nos fazendo sentir pequenos na imensidão desse lugar.
O salão principal lembra um palácio, na verdade, lembra a
biblioteca do meu filme preferido, A bela e a Fera. Meu
coração continua batendo sem parar de emoção.
Pela primeira vez em muitos anos, me sinto
novamente em um conto de fada, mas dessa vez, encontrei
realmente o mocinho. Estou me sentindo a própria Bela
nesse lugar, mas ele está longe de ser uma fera, sempre foi
um cavalheiro, desde o início.
Olho para os lados e o vejo me observando de longe.
Me deu espaço para que eu pudesse aproveitar como
queria, mas agora, sinto falta dele colado em mim. Estico a
mão o chamando para perto.
Ele vem rapidamente ao meu encontro e me puxa
para mais um beijo. Ele me encosta em uma das mesas de
leitura e me coloca sentada em cima dela.
Sinto o volume do seu pau ganhando vida novamente,
mas não paro. Estamos em um lugar atípico e me sinto
incrível, não teria lugar melhor para a nossa primeira vez e
o desejo tanto, que não quero mais me segurar. Sou dele e
quero que ele seja meu.
— As câmeras estão ligadas? — Pergunto o olhando
com malícia.
— Não, mandei desligar todas, e temos seguranças
garantindo nossa proteção ao redor da biblioteca. Não se
preocupe, estamos sozinhos e seguros. — Fala com aquele
seu jeito de CEO sexy que não resisto.
O sorriso que dou é o suficiente para ele colar as
nossas bocas em um beijo ardente. Ele tira meu sobretudo,
o deixando em uma das mesas ali perto e tira a minha blusa
de manga.
Quando me vê só de sutiã, seus olhos brilham e me
sinto desejada, sexy. Aproveito e o ajudo a tirar a sua
camisa. Nossa, como eu queria ver esses músculos assim,
todo para mim.
Ele puxa meu cabelo e deposita beijos no meu
pescoço. Sua língua em contato com essa área, me deixa
ainda mais excitada. Sinto os pelos da minha pele
arrepiando. Ele desce até o sutiã, liberando meus seios.
— Estava louco para prová-los. — Ele abocanha um
dos meus seios e o chupa com vontade.
Minha auréola está bem sensível e sinto uma onda de
prazer me atingindo. Com a outra mão, ele desce até a
minha saia e arredando a calcinha para o lado, brinca com o
meu clitóris, me deixando ainda mais ofegante.
— Nossa, isso… Ah, que delícia Adam. — Gemo entre
seus movimentos.
Ele abocanha meu outro seio e continua me
estimulando. Enfia um dedo dentro de mim, depois outro e
assim fica por um tempo, até que uma onda grande de
orgasmo me atinge em cheio.
— Isso, goza gostoso para mim. — Pede.
Assim que sinto a última contração da gozada, ele me
deita sob a mesa, tira a minha saia e a minha calcinha.
Ele fica me olhando, me devorando com os olhos. Me
sinto totalmente exposta, vulnerável, mas ao mesmo
tempo, bem. Estou me sentindo incrivelmente gostosa. Ele
tira a sua calça e a sua cueca, liberando seu pau bem duro,
pronto para mim.
Ele se aproxima e sinto a expectativa me atingindo.
Estou louca para que ele me coma, para que ele me faça
dele.
— Vou te foder muito, mas quero sentir seu gosto na
minha boca antes. — Levo um susto quando ele me puxa
um pouco para a ponta da mesa.
Adam coloca meus pés no seu ombro e me chupa com
vontade.
Sua língua sabe exatamente aonde ir, exatamente o
que fazer para me enlouquecer. Dessa vez ele não está
gentil, ele está dominado pelo tesão entre a gente, pela
nossa química e está me devorando. Seu dedo entra
novamente dentro de mim e o atrito disso me faz perder os
sentidos, e sinto novamente o orgasmo me atingindo em
cheio.
— Agora sim você está pronta para mim. — Ele coloca
uma camisinha, me puxa para mais próxima dele e entra
com tudo dentro de mim.
Sentir seu pau grosso é ainda melhor do que na minha
imaginação. Ele me fode com vontade, como se tivesse se
segurado por tempo demais e agora finalmente está
podendo fazer o que quer.
— Nossa, Adam, nossa…
— Agora que é minha, vou te dar prazer todos os dias.
Quer isso? — Pergunta enquanto me fode com tudo.
— Sim, por favor. — Suplico sem nem saber o que
estou suplicando.
Envolvo minhas mãos no seu pescoço e ele me beija,
deixando o nosso contato ainda mais próximo. Me
movimento junto ao seu ritmo e sinto as contrações
chegando.
— Estou quase, quase...
Falar isso é como música para ele, que aumenta ainda
mais seus movimentos e deposita beijos no meu pescoço
que só aumenta a minha sensibilidade.
Sinto meu corpo todo reagir a ele. É algo surreal, que
nunca senti antes. Arqueio meu corpo para trás, apoiando
minhas mãos na mesa e gozo de um jeito tão forte que me
sinto um animal. Ele goza logo em seguida, me abraçando
enquanto sente os espasmos no seu corpo também.
Ele me deita na mesa e ficamos um tempo abraçados,
curtindo esse momento, o nosso momento.
Nossa primeira vez foi perfeita. Isso sim é um sexo de
verdade e estou feliz que tenha sido com ele.
Capítulo 33
A trouxe aqui nessa biblioteca porque queria que ela
soubesse que me importo. Ela me conquistou por completo.
Poder lhe dar esse tipo de alegria me deixa realizado. Estou
aqui olhando para ela e mal posso acreditar que finalmente
ela é minha. Não imagino uma primeira vez melhor para nós
dois do que essa.
Fico pensando o quanto isso significa para ela. Não sei
muito bem todos os detalhes da sua vida, somente o que
quis abrir para mim, mas é o suficiente. O que me importa é
a sua confiança e acredito que isso eu tenho.
Programei ainda algumas coisas para deixar o dia
ainda mais especial.
Precisamos ir, Sarah. A biblioteca vai abrir
—
daqui a pouco e por mais que eu goste de tê-la nos meus
braços, não quero te expor. – A abraço mais um pouco antes
de me levantar.
Sim, tem razão. Vamos voltar agora para o
—
Rio? – Ela se levanta também e pega as suas roupas.
— Não, quem disse que nosso passeio já
acabou? — Ela para e me olha com expectativas.
— Ah é? Tem mais surpresas? — Pergunta
visivelmente animada.
Com certeza. Fiz reserva para almoçarmos em
—
um restaurante Michelin. Aqui tem um de carnes que é
espetacular.
Ah, já ouvi falar, mas ainda não conhecia, não
—
viajo muito. — Fala com pesar.
Não se preocupe que terei prazer em te
—
mostrar o mundo. — Pisco para ela e a puxo para mais um
beijo.
— Eu gostaria disso. — Fala entre um beijo e
outro.
aímos da biblioteca bem no horário combinado
S
e fomos com o meu motorista para o restaurante. O Don
Júlio é muito famoso em Buenos Aires, pois ele é um dos
primeiros restaurantes argentinos a entrar no guia de
estrela Michelin. O corte da carne com sabor único, lhes
deram esse título e com razão.
restaurante é bonito, clássico. Bem na entrada
O
vemos o toldo nas cores de verde e branco, como faixas. Já
o restante do ambiente é todo na cor vermelha. Os móveis
são todos em madeira, trazendo um ar rústico ao local.
le é comandado por um empresário e sommelier
E
que herdou a casa dos pais e avós e transformou a
churrascaria do bairro em um dos melhores restaurantes da
Argentina e América Latina. É impressionante os títulos que
alcançou.
Pedimos o mais famoso dos pratos que é a
tradicional parrilha Argentina. Uma carne suculenta que de
fato merece a fama que tem.
Nossa, estou animada para provar essa carne.
—
— Sarah fala antes de colocar o primeiro pedaço em sua
boca. — Uaaauuu! — Diz animada.
Juro que se fizer essa cara de novo ao comer,
—
vamos precisar ir embora daqui. Vou querer um local mais
privado com você! — Brinco, e ela me dá um tapinha no
ombro.
— Vai, prova também. — Ela então me
surpreende me dando na boca um pedaço de carne. Por
essa eu não esperava, mas Sarah é assim. Diferente das
outras mulheres que conheci.
De fato está divino. Eles nunca erram no ponto
—
perfeito da carne. — Tomo um gole do vinho tinto que
escolhi, pois harmoniza perfeitamente com a nossa refeição.
Conversamos mais um pouco enquanto nos
deliciamos com tudo. A sobremesa também estava divina.
Pedi uma Pasta Frota, que é uma massa de torta crocante,
coberta por uma camada doce e finalizado com doce de
leite. Estava divino e Sarah amou.
E agora, vamos voltar para o Rio? — Ela me
—
pergunta enquanto estamos saindo do restaurante de mãos
dadas.
Ainda não, quero te levar em um lugar para
—
conhecer. O que acha? — Pergunto e vejo sua alegria de
criança animada.
Ah, acho incrível. Estava torcendo para que
—
falasse isso. Esse dia está perfeito. — Eu a paro e lhe dou
um beijo nos lábios.
— Você é perfeita! — Ela sorri e meu coração
aquece.
levo para conhecer um dos bairros mais
A
resignados e caros de Buenos Aires, o Puerto Madero. As
ruas e avenidas são largas, tem vários parques e uma
calçada muito boa para caminhar. Vamos em direção a
Puente de La Mujer que é um dos pontos mais famosos de
lá.
— Sarah, vem aqui, deixa eu te mostrar uma coisa. —
Eu a viro para olhar de frente para a ponte.
— O quê? — Pergunta ansiosa.
— Quase ninguém sabe o que essa ponte
significa, mas repare bem no desenho dela. Quando eles a
projetaram, quiseram colocar um pedaço da cultura
argentina aqui e ela representa um casal dançando tango.
Olha bem a ponta da ponte, não parece aquela abertura de
perna da bailarina quando dança? — Ela então arregala os
olhos e sorrio feliz que ela tenha conseguido ver.
Caramba. Se não me falasse isso, eu nunca
—
saberia, nem passaria pela minha cabeça algo assim. —
Passo meus braços e a abraço por trás.
Sim. E não é só isso. Essa ponte é giratória
—
também, então ela abre sempre quando um navio de porte
maior se aproxima do porto. — Falo em seu ouvido.
Que legal, é muito bem pensado. Por que sabe
—
sobre essas coisas? — Me pergunta genuinamente curiosa.
— Quando estou em uma cidade, gosto de
pesquisar e saber mais sobre o local. Fatos curiosos também
me fazem entender mais da cidade. — Dou de ombros.
Hum. Eu acho bem sexy esse seu jeito de
—
saber tudo e me ensinar. — Ela se vira e fica de frente pra
mim.
Sarah, por que será que sinto que está me
—
provocando? — Sorrio.
— Porque estou. — Ela sorri e a beijo.
Se estivéssemos a sós, o beijo seria diferente
—
desse. — Sussurro em seu ouvido.
Ah é? — Ela pergunta e faço que sim com a
—
cabeça. Ela faz uma cara de safada e fala... — Acho que já
conheci bem Buenos Aires, podemos ir embora. O que
acha?
Agora mesmo. — Entendo a sua deixa e pego a
—
sua mão para voltarmos ao carro que está nos aguardando.
ntramos no jato de volta para o Rio de Janeiro.
E
Depois da decolagem, a chamo para a minha suíte. Ela se
deita na cama e eu a acompanho. A ideia era deixá-la
relaxar um pouco, mas como é possível ficar ao lado dessa
mulher sem fazer nada?
Sarah, é impossível ficar somente deitado ao
—
seu lado, sem fazer nada. Você desperta algo em mim tão
forte que quero tê-la a todo momento. — A puxo para os
meus braços e o seu sorriso de safada é a permissão que
preciso para fazer o que tanto desejo.
Mal posso esperar por isso.
Capítulo 34
Ele me envolve nos seus braços, me puxando para
ele. Saber que sou importante, me deixa louca de tesão.
Tenho descoberto sentimentos novos e sensações que
nunca imaginei sentir, mas não vou pensar nisso agora.
Olho para ele com essa cara de safado gostoso e subo em
seu colo. Vejo a surpresa no seu olhar por me ver tomando a
iniciativa e o beijo intensamente.
Ele me puxa mais para ele e me esfrego no seu pau,
que está duro e pronto para mim. Rebolo bastante,
enquanto passo a mão por todo o seu peito. Quero
aproveitar cada pedacinho desse homem e aproveito bem.
Tivemos a nossa segunda vez juntos e foi incrível, ele
é incrível!
Entro na minha casa depois deste dia incrível sem
acreditar na sorte que tive. Finalmente! Acho que nunca,
nem nos meus melhores sonhos, imaginei um pedido de
namoro com tanto significado como este. Ele pensou em
mim, no que mais amo e fez um gesto tão bonito que me
deixou sem palavras.
— Ah, finalmente voltou. — Minha tia surge com a sua
taça de vinho na mão. — Como foi? — Se senta na bancada
da cozinha e fica me olhando aguardando uma resposta.
— Ah, tia, foi simplesmente perfeito. Você não vai
acreditar! — Me sento junto a ela com um copo grande de
água nas mãos.
— Desembucha, vamos, estou curiosa.
— Está bem, não precisa me apressar. Sabia que você
é curiosa demais? — Pondero.
— Sabia. Fala logo, querida. Meu tempo está passando
e todos os segundos contam. — Ela dá de ombros e ri ao
mesmo tempo.
Conto para ela como foi meu dia e suas expressões de
espanto e felicidade por mim, me fazem grata por ter
alguém como ela na minha vida.
— Ah, precisamos brindar a isso. Finalmente, querida!
Estou tão feliz por você. Vamos abrir um champanhe! — Se
levanta em direção a adega.
— Ah, tia, não. Hoje não. Prefiro te acompanhar
tomando um gole do vinho que já está aberto. Deixamos a
champanhe para outro dia.
— Sério? Logo você que ama champanhe? Estranho.
— Ela me olha tentando identificar o que há de errado.
— É que bebemos no jatinho e amanhã eu tenho
muitos atendimentos, não quero acordar de ressaca. — Ela
levanta a sobrancelha e sorri de lado.
— Ah, beberam no jatinho, é? Talvez na suíte dele? —
Se faz de sonsa perguntando.
— Tia! Você é terrível. — Sorrio.
— Agora sim você tem um homem de verdade para
cuidar e te proteger. — Minha tia fala emocionada.
— Espero que sim, tia, espero que sim.
— Vamos, Sarah, foco. — Dou mais um soco forte no
saco de pancada. — Isso, mais forte Sarah, sei que
consegue. — Gabriel, meu sansei, fala sem parar, me
impulsionando a continuar no ritmo.
— Ah, preciso de um tempo. — Me jogo no chão
exausta. Resolvi vir na hora do almoço, porque uma das
pacientes que tinha, desmarcou, então aproveitei o único
horário vago.
— Nada disso, precisamos continuar, isso foi só o
aquecimento e sabe disso. — Ele estica a sua mão para me
fazer levantar.
— Está muito rígido hoje, estou morta já no
aquecimento. — Falo ainda deitada sem coragem de me
levantar.
— Lembra-se de quando nos conhecemos? Você
estava ansiosa para aprender tudo o que sabe hoje. Eu me
lembro daquela menina com medo de tudo e que queria ser
forte o bastante para ninguém a derrubar. Por acaso se
esqueceu dela? — Levanta as sobrancelhas e me estende
novamente a mão.
— Me lembro perfeitamente dela. Vamos lá. —
Levanto-me em um pulo energizado. Ele sabe o que falar
para me motivar.
— É isso aí. Quero ver o quanto se lembra agora nesse
treino, nada de moleza. Você pediu que nunca te deixasse
fraquejar, então vamos lá.
Faço mais uma sequência de socos e chutes, pulo
corda, faço agachamentos e abdominal e aí ele me leva
para o tatame. Uma das coisas que Gabriel me ensinou foi a
usar o meu corpo e as minhas vantagens ao meu favor.
Querendo ou não na questão física, na maioria das vezes
somos anatomicamente falando mais fracas que os homens,
mas somos mais espertas e conseguimos pensar mais
rápido.
Ele me ensinou a como usar meu corpo contra o
agressor. Existe mil técnicas que podemos aprender para
em situações de perigo, conseguir nos livrar. Claro que
essas foram as primeiras que aprendi, defesa pessoal, mas
hoje luto muito bem, pode ser com alguém mais forte que
eu, não importa, sou muito boa nisso.
Tenho uma motivação que outras pessoas não tem, a
minha vida. Para a maioria é como um esporte, elas não
passaram realmente por algo horrível e assustador, o que
acho uma maravilha, eu não gostaria de ter passado pelo
que eu passei, mas eu ter essas experiências me faz saber
como é se sentir impotente nessas situações.
Até hoje me lembro daqueles dias, quando Jack me
prendeu no nosso esconderijo, ou quando entrou a força no
meu quarto. Eu não fazia ideia do que fazer ou como reagir,
hoje eu sei. Espero nunca ter que me provar, mas se
precisar, sei que sou capaz de me livrar de diversas
situações.
— Anda, Sarah, para de ficar voando nos seus
pensamentos. Já te falei que a concentração é
extremamente importante, pode custar a sua vida.
Entendeu?
— Sim, agora estou focada. Juro. — Continuamos
lutando até estar completamente esgotada, aí ele me libera.
Tomo um banho rápido porque preciso voltar ao
consultório. Me permito rapidamente lembrar do Adam, do
pedido lindo de namoro, da forma gentil que ele me trata e
ao mesmo tempo, da química que temos e de como ele me
deseja sempre por perto.
Volto à minha sala e para a minha surpresa tem uma
caixa enorme de chocolates suíços a minha espera. Uma
das funcionárias que trabalham no escritório ao lado
recebeu e deixou para mim.
Meu coração acelera enquanto pego o cartão que está
dentro. Imagino que seja do Adam, quero muito que seja
dele e não consigo parar de sorrir ao ler as palavras que
estão escritas lá dentro.
“Assim como cada um desses chocolates, você traz
um sabor especial a minha vida. Espero que eles adocem o
seu dia. Te vejo a noite. Adam.”
Ah, como é bom finalmente acreditar que sim, coisas
boas também podem acontecer comigo. Não é só pelo
chocolate em si, mas por ele se mostrar atento ao que eu
falo, por saber que amo doces, ainda mais chocolate e por
querer se fazer presente no meu dia a dia.
Abro meu celular feliz e escrevo uma mensagem.
Sarah: Adorei os chocolates, acertou em cheio.
Obrigada.
Adam: Fico feliz em saber. Te pego às 22h para irmos
em um lugar que vai gostar.
Sarah: Mal posso esperar.
As borboletas dentro do meu estômago se agitam.
Essa expectativa, a ansiedade em encontrá-lo, tudo isso é
tão novo e tão gostoso. Ao mesmo tempo, saber que somos
namorados, que estamos juntos e que mesmo tendo as
minhas cicatrizes, ele está mais do que disposto a cuidar de
mim e me proteger, me deixa mais confiante.
Escuto o bater na porta e isso me desperta dos meus
pensamentos e do sorriso bobo que estou no meu rosto.
Minha paciente chegou e agora preciso me colocar de lado
para cuidar dela.
Estou verdadeiramente feliz, como é bom se sentir
assim!
Capítulo 35
— Senhor Adam? — Minha secretária me liga.
— Sim?
— O senhor Rodrigo está lhe aguardando, posso
deixá-lo entrar?
— Sim, por favor.
— Ah, só para te avisar, a senhorita Sarah já recebeu
a entrega, conforme solicitado.
— Ótimo. Obrigado. — Encerro a ligação.
Rodrigo entra e me olha com um sorriso de lado.
Provavelmente ouviu a nossa conversa, mas não ligo. Joana
sabe que diferente dos demais, ela pode falar coisas na sua
presença. Sorrio de volta e dou de ombros. É o suficiente
para finalizarmos a nossa interação silenciosa e
incorporarmos os empresários.
Ele me passa as informações sobre o espião. No mês
passado, havíamos decidido fazê-lo permanecer na empresa
para passar informações inconclusivas para o nosso
concorrente. Hoje ele vai me trazer o processo completo
para discutirmos os próximos passos.
— Oi, Adam. — Rodrigo entra sério com seu terno
impecável e me cumprimenta.
Apesar de sermos grandes amigos, quando falamos
de negócios, ele é extremamente profissional.
— Oi, Rodrigo. Obrigado por vir. — Ele assente e se
senta na cadeira a minha frente. — O que me trouxe? —
Pergunto.
— Isso daqui. — Ele tira da sua pasta seu iPad e me
mostra um documento repleto de informações sigilosas. —
Aqui está tudo o que precisa saber sobre o funcionário e a
empresa concorrente. Como imaginamos, nosso plano
funcionou perfeitamente. Ele levou todas as informações
falsas para a empresa e o projeto do jogo deles ficou
detestável. O lançamento é amanhã e tenho convicção que
será um fracasso. — Pontua.
— Excelente. Quero que isso sirva como um recado
para as outra empresas, para nunca mais tentarem sabotar
meus projetos, ou irei responder a altura. — Falo
firmemente.
— Eles vão demorar ainda para entender o que
aconteceu. Se acharam tão espertos que nem se quer
desconfiaram do que estávamos fazendo. — Dá de ombros.
— Melhor ainda, dessa forma deixarão o jogo
disponível mais tempo e será o suficiente para manchar sua
reputação. — Sorrio com essa possibilidade cada vez mais
real.
— Sim, tomei a liberdade de conversar com aquela
jornalista que conheço e pedi para fazer uma crítica especial
sobre o jogo deles no dia do lançamento. — Rodrigo me olha
com aquele olhar que entendo bem.
Ele cobrou alguns favores para me ajudar.
— Obrigado. Seu trabalho, como sempre, foi
impecável.
— Conte sempre comigo, ainda mais para acabar com
essas pessoas que acham que podem nos foder. Não fazem
ideia com quem estão mexendo. — Sorrio imaginando a
cena quando entenderem o que fizemos. — Nos vemos hoje
de noite no poker? — Faço que sim com a cabeça e
encerramos a reunião.
Rodrigo fez a gentileza de passar aqui, mas sei o
quanto a sua agenda é lotada. Ele advoga pessoas muito
importantes na sociedade, sua empresa vem crescendo
cada vez mais, assim como a sua reputação. Todos no meio
têm medo de ir contra ele em um processo, e estão mais do
que certos em ter esse receio. Rodrigo acaba com todos em
um piscar de olhos. Sorte que posso contar com ele e com
os meninos.
Olho o meu celular e vejo uma mensagem de Sarah.
Isso é o suficiente para arrancar um sorriso dos meus lábios.
— Porra, não acredito que perdi de novo essa mão. —
Adriano joga as cartas em cima da mesa.
— Qual a novidade nisso, Adriano? Você sempre
perde. — Alex brinca, mas está falando uma verdade.
— Cara, você é péssimo no poker. — Falo constatando
um fato e todos rimos dele que fica mais irritado.
— Vão a merda. — Ele se levanta e vai completar seu
copo com whisky.
— Aproveita e traz mais uma dose para mim também.
— Rodrigo pede. — Afinal, nisso você é bom. — Continua
sacaneando-o.
— Não sei por que sou amigo de vocês, vocês são
péssimos.
— Não fica magoado assim, Adriano, o bom da nossa
amizade é que falamos a verdade e por isso continua nosso
amigo. Não temos culpa se você é ruim nisso. — Dou de
ombros e sorrio junto.
— Ah, que ótimo, virei a pauta. Que tal falarmos mais
sobre o Alex que está todo sumidinho? — Volta com dois
copos na mão e entrega um ao Rodrigo, depois senta-se na
mesa.
— Verdade. Está mesmo sumido. — Rodrigo dá um
gole na bebida. — O que está acontecendo?
— Trabalho, o que mais poderia ser? Meu pai tem me
passado mais responsabilidades na empresa e tenho
alterado bastante coisas nos hotéis.
— Estava por onde dessa vez? Miami? — Adriano
distribui as cartas enquanto pergunta.
— Não, estava em Milão.
— Essa não seria a última unidade a arrumar? Por que
foi para lá? — Pergunto enquanto analiso as minhas cartas.
Minha mão está boa.
— Sim, vai ser a última, mas não posso deixá-la
totalmente de lado. Precisava dar uma olhada nas coisas
por lá, até para ter uma ideia do que fazer. E vocês, o que
tem feito? — Desconversa.
— O mesmo de sempre, já o Adam está namorando.
— Rodrigo joga a primeira carta e recomeçamos o jogo.
— Sim, queria ter a conhecido, pena que estava
viajando.
— Terá oportunidade ainda, podemos marcar algo
entre a gente. Tenho certeza de que vai gostar dela.
— Verdade, eu gostei dela. — Rodrigo fala e me
surpreende — Ela é reservada como nós somos e muito
agradável. Adam não me deixou analisar todo o seu
passado como gostaria, mas sendo a sua tia a Irene,
acredito que seja um bom sinal.
— Não havia necessidade de analisar seu passado
porque ela já me contou tudo o que tenho que saber, isso
basta.
— Algo que precisamos nos preocupar? — Rodrigo
encarna o advogado dentro dele e me analisa.
— Não. Se tivesse algo, sabe que eu falaria. Estamos
muito bem e sei que o nosso relacionamento é sério. Ela é a
mulher da minha vida. — Sorrio com essa constatação.
— Porra. Por essa eu não esperava. — Alex encosta na
cadeira.
— Mas eu sim. — Adriano interrompe. — Ele está
caldinho por ela, tem que ver como fica quando ela está
com ele, todo meloso. — Revira os olhos.
— Você precisa encontrar alguém, sabia? Chega dessa
vida de festas sem sentido. — Falo balançando a cabeça.
— Viu só? Eu não tenho culpa se não querem
aproveitar a vida de vocês ao máximo, eu quero e vou. —
Dá de ombros.
— Aproveitar a vida ao máximo tem outro sentido
para nós, mas não vamos entrar nessa discussão, até
porque preciso ir embora. Combinei de jantar com a Sarah
hoje, por isso pedi para virmos mais cedo jogar. Quero levá-
la no novo restaurante japonês que abriu. — Me despeço de
todos e vou com meu motorista buscá-la.
*****
Sarah está linda, usando um vestido vermelho curto,
de alças finas. Seu cabelo está solto e um pouco ondulado.
Como sempre, usa pouca maquiagem, mas com um batom
vermelho nos lábios, chamando ainda mais atenção.
Porra, como sou um homem de sorte, ela é perfeita e
minha.
A beijo no carro, matando um pouco da minha
saudade dela. Chegamos no restaurante e somos levados
até a minha mesa. Como sempre, pedi a mais reservada
para não sermos importunados. Sentamo-nos um ao lado do
outro.
— Uau, eu amei esse lugar, Adam. Olha só essa
decoração que incrível. — Ela aponta para as paredes que
contêm imagens e vídeos passando por um projetor.
— De fato souberam exatamente como aproveitar
cada espaço e criaram um ambiente diferente e moderno.
— Constato, concordando com ela.
Sarah escolhe nosso vinho e brindamos, enquanto o
garçom anota o nosso pedido. Aceitamos a sugestão do chef
e deixamos que ele nos prepare o que há de melhor aqui,
enquanto isso, a puxo para mais perto de mim.
— Adam! – Ela fala como se chamasse a minha
atenção.
— Sarah! – Entro na brincadeira, mas tiro seus cabelos
do pescoço e lhe dou um beijo.
— Você e suas manias de restaurante. — Ela me olha,
me analisando.
— Quer que eu pare? — Continuo a provocando e
dando beijos onde sei que sente muita sensibilidade.
— De jeito nenhum, mas precisamos nos controlar,
porque aqui não é como o outro. — Porra, pensar naquele
dia, meus dedos dentro dela, fazem meu pau ganhar vida.
— Olha o que fez comigo me fazendo lembrar daquele
dia. — Coloco discretamente sua mão sobre o meu volume.
Ela sorri e me olha com uma cara de safada.
— Que delícia. Adoraria tê-lo na minha boca. — Ela me
provoca falando no meu ouvido.
— Porra Sarah. Vamos embora e voltamos aqui outro
dia.
— Nada disso. Estava louca para conhecer esse lugar.
Calma que teremos muito tempo mais tarde. — Não fico
muito feliz, mas faço o que posso para deixá-la bem e se é
isso que deseja, tudo bem.
Assim que entrarmos em casa, compensarei.
O garçom nos traz as entradas e o prato principal que
consiste em algumas peças selecionadas de haddock,
salmão defumado com azeite trufado, vieiras gratinadas,
entre outras coisas. Tudo estava delicioso, mas o que mais
quero comer não é bem isso.
— Que tal pularmos a sobremesa, Sarah? Estou louco
para estar dentro de você. — A puxo novamente e lhe beijo
com urgência.
Coloco discretamente a minha mão na sua coxa e vou
chegando mais perto da sua entrada, para deixá-la
excitada, assim como eu estou. O bom dela é que já sinto a
umidade na sua calcinha, ela me deseja, assim como eu a
desejo.
— Vamos embora. — Ela sussurra no meu ouvido e na
mesma hora peço a conta.
Entramos no carro e sei que o motorista está ali, mas
farei o máximo para ele não ouvir muita coisa, pois não
consigo me segurar. Sarah me puxa para um beijo e a
coloco no meu colo. Ela envolve suas mãos no meu cabelo e
coloco a minha mão na sua bunda gostosa.
Porra, que vontade de a foder aqui, mas não posso
fazer isso assim. Por sorte o restaurante é perto de casa e
logo chegamos. Saímos do carro e a pego no colo. Ela solta
um gritinho delicioso com o susto, mas quero mesmo seus
gritos quando estiver dentro dela.
A noite está linda, o céu todo limpo, e por isso a levo
para a varanda da minha casa. Preciso senti-la.
— Não vamos entrar? — Me pergunta ainda no meu
colo.
— Agora não. Precisamos usar melhor esse espaço
aqui da varanda, e hoje quero te comer aqui fora. — Escuto
sua risada, aprovando a minha ideia.
A coloco gentilmente deitada no balanço enorme que
tenho e me junto a ela. A beijo com vontade e passo as
minhas mãos na sua coxa. Ela abre os botões da minha
camisa com a mesma urgência que eu tenho.
— Adam... Te quero tanto. — Ela sussurra enquanto
meus dedos empurram a sua calcinha e brincam com o seu
clitóris.
— Porra, Sarah. Está toda molhadinha para mim. —
Enfio um dedo dentro dela e ela se contorce de prazer.
— Me come, Adam! Preciso de você dentro de mim,
agora. Por favor.
Seus gemidos me implorando para fodê-la são demais
para mim. A levanto do balanço e nem ao menos tiro a
nossa roupa. Preciso tanto quanto ela desse contato. Subo
seu vestido e arranco a sua calcinha. Abaixo a minha calça
junto com a minha cueca, sento-me no balanço e a coloco
sentada em mim, de costas.
Meu pau entra dentro da sua bocetinha toda molhada
de uma só vez. Estava tão duro por ela que parecia que ia
explodir. Aproveito a posição e continuo com uma das
minhas mãos massageando seu clitóris, enquanto com a
outra, massageio seu seio.
Ficamos nessa posição, como animais no cio que
precisam desesperadamente transar. Gozamos juntos em
um gemido forte. Sinto meu gozo jorrar por toda a sua
boceta e a sensação é fenomenal.
— Você é uma delícia, Sarah! — A beijo ainda na
mesma posição. Ela faz que vai se levantar e a puxo.
— Onde pensa que vai? — Pergunto.
— Ia me levantar para deitar aqui com você.
— Acha mesmo que já acabei com você? — Pergunto
com malícia.
Então a coloco em pé, tiro a minha calça e a pego no
colo.
— O que está fazendo? — Ela ri — Para onde vamos
agora, Sr. Safado?
— Tomar um banho de piscina e foder mais um pouco.
Pulamos na piscina juntos e ouvir a sua risada de
animação, me deixa ainda mais duro.
— Agora sim, vamos transar muito essa noite. Quero
te fazer conhecer cada cantinho dessa varanda.
— Mal posso esperar!
Capítulo 36
Essa semana dormi quase todos os dias na casa do
Adam. Percebi que agora que somos namorados, e que
confio mais nele, não tem por que ficar com certos pudores,
além de que quero aumentar a nossa interação e conexão.
Sem falar do sexo que é simplesmente incrível. Dormir e
acordar ao seu lado, com sexo noturno e diurno faz o meu
dia ser muito mais produtivo e feliz.
Hoje além de tudo, vai ser um dia importante para
mim. Ele vai conhecer o Gabriel, meu Dojo e vamos ao
centro onde as meninas aprendem algumas técnicas de
defesa pessoal.
Ele veio durante esses dias me falando como gostaria
de conhecer mais a fundo a ONG e como gostaria de fazer
algo para ajudar, então antes de seguirmos nessa linha,
resolvi que precisava dar pequenos passos, como levá-lo
para fazer um treino conosco e conhecer mais das
instalações.
Não posso mentir, estou bem ansiosa quanto a isso. É
algo que era só meu e que agora estou compartilhando com
ele também, mas sinto que estou pronta para mais esse
passo. Vai ser importante para mim que ele veja o que
fazemos lá também.
— Isso tudo é nervosismo? — Adam segura as minhas
mãos que sem perceber, estava esfregando uma na outra.
— Oh, acho que sim. Nunca trouxe ninguém aqui
antes. — Falo sendo sincera com o que estou sentindo.
— Estou honrado por ser o primeiro, mas não tem por
que ficar assim. Tenho certeza de que vou adorar o Gabriel
e principalmente, te ver lutando. — Ele me dá um sorriso
gentil e isso aquece meu coração.
— Tem razão. Falando nisso, está pronto para lutar
comigo? — Dou uma leve empurrada nele para mudar o
clima. Ele levanta a sobrancelha e abre um sorriso que já
conheço bem.
— Mal posso esperar por isso. — Ele me puxa para um
beijo. — Depois da luta, qual será o prêmio para quem
ganhar?
— Hum, vou deixar como surpresa, mas acredite, se
ganhar vai gostar e muito. — Dou uma piscada, bem na
hora que chegamos. Tenho certeza de que ele ia tentar me
fazer dar maiores detalhes sobre esse prêmio, mas a
verdade é que nem eu sei qual vai ser, provavelmente será
eu mesma. Rio dos meus pensamentos, virei uma safada.
Saímos do carro e ele logo vem ao meu lado me dar a
mão para entrarmos juntos. Gosto desse seu lado meio
possessivo e protetor de ficar sempre perto de mim e não
me deixar ficar sozinha. Enquanto entramos no centro,
reparo em seu olhar, analisando todo o lugar.
Vejo o Gabriel, que vem logo na nossa direção com
um sorriso grande no rosto. Sei que ele está feliz por mim,
por finalmente me abrir para alguém. Ele nem precisa falar
isso, vejo na sua expressão.
— Olá! Que bom tê-los aqui. — Gabriel cumprimenta o
Adam com um aperto de mão e me dá um abraço apertado.
Adam faz uma careta que só eu percebo, mas acho graça.
— Prazer. Obrigado por tirar um tempo para me
mostrar tudo. — Ele fala gentilmente.
— Imagina. Quando a Sarah me contou que vinha, foi
ótimo. É sempre bom mostrar o que fazemos para pessoas
interessadas e que podem nos ajudar a melhorar o local.
Vamos andar que já vou mostrando tudo. — Ele aponta para
irmos em direção a uma das salas que tem algumas
meninas fazendo aula de defesa pessoal com um dos outros
voluntários.
— Todos aqui são voluntários? — ele pergunta
interessado.
— Nem todos, mas a maioria sim. Temos alguns
funcionários de faxina e coisas assim, mas os professores
mesmo são todos voluntários. Eles entendem o projeto e o
que queremos fazer para ajudar as meninas.
— Bacana. Pelo que a Sarah me falou, o foco é a
defesa pessoal, correto? — Paramos para ver uma das aulas
que está acontecendo agora.
— Exatamente. Ensinamos as meninas a saírem das
principais situações de violência, desde assalto, a brigas
domésticas e tentativas de estupro. Como pode ver, ali ele
está simulando uma briga doméstica onde ela precisa se
defender rapidamente.
Acabamos de ver a aula e conversamos mais um
pouco sobre o projeto. Achei que ficaria mais nervosa, mas
a verdade é que tê-lo aqui, nesse lugar que significa tanto
para mim, foi muito bom e fácil. Ele faz eu me sentir
tranquila com o meu passado e sou grata por isso.
— Vou deixá-los a sós agora. Se prepare porque ela é
brava. Se tornou uma excelente aluna. — Gabriel se
despede e nos deixa para lutarmos um pouco. Entrego um
quimono para ele.
— Isso vai ser interessante. — Ele levanta a
sobrancelha e se veste rapidamente.
Vamos em direção ao espaço de treinamento e fico
animada com a perspectiva de fazermos isso. Não que eu
espere uma luta mesmo, porque ele não luta, mas vai ser
legal.
Passamos uns trinta minutos no tatame nos
divertindo. Na verdade, ele tentando me segurar e eu
saindo de todas as investidas dele. Claro que não demos
soco um no outro, só brincamos um pouco mesmo, mas foi
muito divertido. Mostrei para ele um dos meus
treinamentos, o que fazemos na aula e ele seguiu tudo o
que mandei.
— Agora que fiz tudo, posso saber qual meu prêmio?
— Ele me encosta na parede do vestiário e me dá um beijo.
— Você é muito safado, sabia?
— E por acaso você não gosta disso?
— Eu adoro. Vamos para casa que vou te dar um
prêmio que vai adorar. — Ele abre um sorriso enorme e me
arrasta de lá rapidamente.
— Espera Adam, vamos tomar um banho aqui
primeiro. — Tento o fazer parar.
— De jeito nenhum. Minha ideia de prêmio envolve o
meu chuveiro. Vamos para casa agora.
Adam me puxa pela mão e vamos em direção ao
carro. Sorrio com a nossa conexão. É tão bom o quanto nos
damos bem também no sexo. O desejo, tanto quanto ele me
deseja, então não achei nem um pouco ruim a ideia de
voltarmos logo, não imagino melhor forma de dar o prêmio
que ele merece.
Chegamos em casa e subimos correndo, como se
fossemos adolescentes mesmo. Confesso que adoro essa
nossa urgência e o provoquei durante todo o trajeto.
Entramos no banheiro e ele me prensa na parede.
— Finalmente a sós, como eu queria! — Ele me beija
do jeito que só ele sabe. Passa as mãos pelos meus seios e
vai descendo até a minha cintura.
Ele então me ajuda a tirar a minha blusa e a minha
calça de ginástica. Eu o ajudo a tirar a roupa também e ver
seus músculos me deixam completamente desnorteada.
Não me canso nunca dessa vista e aqui é ainda mais
especial, porque seu chuveiro tem uma vista lindíssima para
o mar. Parece que estou no paraíso, aqui com ele.
Ele liga a água e deixamos que ela caia na gente. A
temperatura está perfeita e ele vem até mim, abocanhando
meu seio. Embora eu adore quando ele toma a iniciativa,
desta vez é a minha vez de começar a dar prazer.
— Hoje quem vai ganhar um prêmio é você. — Ele
levanta a sobrancelha e me olha com malícia.
— Seus seios já são bons prêmios. — Sorrio, mas faço
que não com a cabeça.
— Acredite, tenho algo bem melhor em mente para
você. — Ele abre um enorme sorriso, enquanto me agacho e
olhando para ele, coloco seu pau grande e grosso todo na
minha boca.
Não é uma coisa fácil a se fazer, mas é como se meu
corpo se ajustasse ao dele perfeitamente. O chupo com
toda a vontade que tenho, em movimentos fortes de vai e
vem, enquanto massageio com uma das minhas mãos as
suas bolas.
Sei o quanto ele gosta disso, seus gemidos me
comprovam, então continuo, cada vez mais rápido, até que
ele geme e solta uma gozada forte na minha boca. Engulo
tudo e ele me ajuda a me levantar.
Adam me pega no colo, com seus músculos deliciosos,
e coloca seu pau dentro da minha boceta, me comendo do
jeito que só ele sabe fazer.
Nossos corpos se unem em um só movimento e com a
velocidade perfeita. Meu corpo se arqueia todo conforme o
gozo vem chegando.
— Adam! — Grito seu nome quando ela me pega
fortemente.
— Isso, goza para mim, goza no meu pau! — Ele
manda e meu corpo obedece em meio aos nossos gemidos.
Ele goza logo depois e nos beijamos.
Agora sim, podemos tomar o nosso banho juntos.
Que delícia é esse homem!
Essa semana Sarah me levou para conhecer algo
importante para ela e isso me deixou pensativo. Também
quero apresentar coisas da minha vida que ela não
conhece, e a única coisa minha que ela ainda não fez parte,
foi a corrida, e quero que conheça esse meu lado, da
adrenalina.
Imagino que ela vai gostar, porque quando nos
conhecemos, comentei sobre isso e vi o brilho em seu olhar,
entusiasmada.
Combinei com o André, pois confio nele o suficiente
para isso. Marcamos meia noite, como sempre. Ia fazer uma
surpresa, mas devido ao horário, precisei contar para ela
que deu literalmente, pulos de animação.
— Já está na hora de irmos? — Ela vem até mim no
meu escritório, vestida com uma calça colada de couro,
uma blusa justa preta e cabelo soltos. Um estilo totalmente
diferente do que ela usa, mas extremamente sexy. —
Exagerei no look? — Ela me olha como se pedisse
aprovação.
— Você está maravilhosa. Tudo o que veste fica
perfeito em você. — Ela abre um enorme sorriso e senta-se
no meu colo.
— Obrigada. Resposta correta. — Brinca e me dá um
beijo ardente.
— Se continuar me beijando assim, vou querer
cancelar essa corrida por motivos melhores. — Coloco seu
cabelo para trás da orelha e sussurro no seu ouvido.
— Nem pensar. Estou muito animada por isso. — Ver
de fato sua alegria, me deixa ainda mais feliz por tê-la ao
meu lado, compartilhando mais esse momento juntos.
— Vamos então? Está quase na hora mesmo. — Ela sai
do meu colo em um pulo e vamos em direção ao carro.
Entro na minha Lamborghini preta e ao meu lado, vejo
Sarah com os seus cabelos esvoaçantes e um sorriso que
mistura nervosismo e excitação, mal contendo a ansiedade
deste momento.
— Você está pronta para a velocidade? – pergunto
lançando um olhar rápido para ela.
— Pronta como nunca! — Afirma decidida com seus
olhos brilhando.
Dirijo em direção a um trecho afastado da cidade,
onde André já me aguarda. O ronco dos motores, misturado
com a risada de Sarah ao meu lado, cria uma trilha sonora
eletrizante. Sinto a adrenalina pulsando em minhas veias.
Paro o carro ao lado do André. Ele cumprimenta do
carro mesmo a Sarah que faz um sinal de volta, com o
sorriso enormes estampado no rosto. Aceno com a cabeça
um gesto que ele conhece bem, para nos preparamos.
Alinhamos o carro no sinal, onde esperamos o verde para
começar e abro os vidros da janela.
Quando a luz se acende, acelero com tudo, fazendo o
carro disparar como um raio. O vento bate em nossos rostos
e escuto Sarah falar ao lado.
— Nossa! Como é rápido — Ela está agitada com tudo
isso.
Manobro com destreza, contornando as curvas
fechadas da avenida Niemeyer e acelerando em alguns
pontos estratégicos.
— Isso, acelera. Vamos ganhar! — Ela grita olhando
para trás para ter a certeza de que André está comendo
poeira.
— Vamos sim, não se preocupe. — Falo concentrado
na pista a minha frente.
Quando cruzo o local da chegada, ver a Sarah
gritando de animação, vê-la nessa emoção toda, importa
mais do que a vitória em si. Percebo que tudo o que me
importa é ela e a nossa conexão.
Ela solta o cinto e pula no meu colo.
— Obrigada por esse momento. Nunca me senti tão
viva. Agora entendo perfeitamente por que ama correr.
— Fico muito feliz que tenha gostado. Te trarei mais
vezes.
— Promete? — Me olha profundamente.
— Prometo. — Sorrio e a puxo para os meus lábios.
Capítulo 37
Amanhã faz quatro meses que estamos juntos e não
poderíamos estar melhores. Eu basicamente durmo todos os
dias na casa dele e faço minha luta pela manhã quando ele
vai malhar, mas hoje tive uma paciente cedo e não queria
deixar de vir.
É engraçado pensar que quase estamos morando
juntos, minha tia brinca sobre isso o tempo todo, mas sei
que fala em um tom “brincando sério”. Antes eu estava com
um pouco de medo de como tudo estava acontecendo
rápido, mas decidi que não quero mais me segurar, não
tenho mais motivos para isso.
Sei que Adam é uma pessoa completamente diferente
do Jack, não só em palavras, mas nas suas atitudes diárias.
Ele me passa, com seu jeito protetor, muita calma e
segurança, além de que eu não sou mais a mesma pessoa
também, hoje sei me proteger e isso me faz estar pronta
para finalmente seguir em frente.
Chego em sua casa, abro a porta com a minha chave
e vou direto para o banho. Ligo o chuveiro e deixo a água
bater nas minhas costas e nos meus cabelos. Nossa,
precisava disso. Ouço um barulho e quando olho para a
porta, vejo Adam me analisando. Meu coração logo bate
rápido por ele. É impressionante que mesmo depois desse
tempo todo, ainda sinto as borboletas no meu estômago
vibrando toda vez que o vejo.
— Oi… Deseja companhia nesse banho? — Pergunta
com aquela cara de safado e aquela voz arrastada bem
sexy.
— Com certeza. Vem cá. — Abro a porta do chuveiro
pedindo que entre.
Tomamos um banho juntos como quase toda as
manhãs e o sexo consegue ser cada vez mais incrível.
— Eu não me canso de te ter assim. — Adam me puxa
em seus braços para ficarmos agarradinhos na cama. — Não
me canso de acordar todos os dias ao seu lado. — Ele me
beija suavemente.
— E eu não me canso de você, do que temos juntos.
Agradeço tanto por ter aparecido na minha vida e por ter
tirado esse medo de me apaixonar de dentro de mim. — O
olho fixamente porque quero que sinta o que quero dizer.
— Sarah, eu nunca imaginei que ter alguém ao meu
lado fosse se tornar tão importante na minha vida. Quando
te vi pela primeira vez, senti algo diferente. Nunca conheci
alguém como você, uma mulher tão forte e tão inteligente.
Você me inspira diariamente com a sua bondade e vontade
de ajudar ao próximo, você me faz querer ser melhor. Eu te
amo e gostaria que viesse morar comigo, oficialmente. —
Ele sorri. — Você aceita? — Fico em choque com a sua
pergunta, mas ao mesmo tempo em paz com a minha
resposta, porque sinto a certeza dentro do meu coração.
— Eu adoraria. — Falo emocionada, com os olhos
cheios d’água.
— Quero que saiba que o que sinto por você é sério e
que estarei sempre ao seu lado, principalmente te apoiando
nas suas lutas, pois elas agora, também são minhas.
— Obrigada Adam. Isso significa muito para mim. —
Eu ainda não disse que o amo, apesar de sentir isso dentro
de mim, mas algo me impede de falar essas palavras.
Ele se aproxima e me beija com paixão, carinho e
amor. Nossa, como eu amo esse homem, quando voltarmos
do nosso evento, quero falar para ele o que sinto.
Finalmente vou me permitir expressar tudo o que está
guardado aqui dentro.
— Bom dia, dorminhoca! — Adam me acorda com o
café da manhã na cama. — Dormiu bem? — Levanta a
sobrancelha com a sua cara de safado.
— Dormiria se eu não tivesse um namorado safado
que me deixou acordada a noite toda.
— E quer dizer que não gostou? — Fala me dando
beijos no meu braço e subindo para o pescoço.
— Não falei isso. — Sorrio. — Posso não dormir direito
para o resto da vida, se esse for o motivo. — O puxo para
um beijo. — Agora sim, bom dia! — Brinco.
— Preparada para a noite de hoje? — Ele fala e isso
me deixa nervosa. Hoje vai ser a noite do evento
beneficente que vai apoiar a minha ONG. Estou tão feliz,
realizada, mas extremamente nervosa. Sei que é besteira e
que seus eventos são sempre um sucesso, mas estou muito
envolvida neste e isso me deixa inquieta.
— Acho que sim. — Tento um sorriso, mas faço uma
careta, ele ri com isso.
— Não tem por que ficar nervosa, amor. Vamos
arrecadar muitos milhões para o seu projeto e será um
sucesso. Sei que não gosta de festas, mas pensa que foi
assim que nos conhecemos, vai ser um jeito gostoso de
comemorarmos os seis meses de namoro. — Sorrio com
esse pensamento.
Nossa, já se passaram seis meses ao lado dele. Sinto-
me leve e feliz com isso. É totalmente diferente de como era
com o Jack, nem gosto de lembrar. Finalmente me sinto
pronta para deixá-lo no passado, como deve ser.
— Tem razão. Será incrível. — Falo mais animada.
— Ah, não sei se viu o que saiu ontem no jornal,
queria te mostrar à noite, mas você me deixou ocupado. —
Ele brinca.
— Deixe-me ver, ontem não vi nada, mal mexi na
internet, precisava de um detox, por assim dizer. — Pego
seu celular e abro a matéria.
Meu coração congela porque aparece uma foto nossa
no evento que nos conhecemos e meu nome completo.
Falando que estaremos juntos hoje à noite e confirmando
que a nossa relação está cada vez mais séria.
— Mas, o que é isso? Por que essa foto? Por que meu
nome? — Falo rapidamente, nervosa com o que vejo.
— Como assim, Sarah? Não entendi. — Pergunta
confuso.
— É uma foto nossa, bem íntima, com meu nome
completo e as informações do nosso evento de hoje à noite.
Onde foi publicado isso? — Continuo apavorada.
— Em todos os lugares, Sarah. Sabe bem que os meus
eventos são os maiores da América Latina. Não estou
entendendo por que a sua preocupação. Nunca escondemos
nossa relação. O que está acontecendo? — Ele se senta na
cama tentando me entender.
— Toda a América Latina? — Me levanto da cama e
ando de um lado para o outro — Mas por que isso? Para
que? Eu não queria aparecer assim na internet, sabe como
sou reservada e… — Adam se levanta e vem até mim me
interrompendo.
— Sarah, tem algo que eu deveria saber que não me
contou? Por que está tão preocupada em nos verem? É algo
sobre o seu passado? — Sinto em seus olhos a sua
preocupação. Ele continua — Você tem medo de que ele
volte a te procurar?
— Talvez. Sei que é besteira, mas esse sentimento é
mais forte do que eu. — Me sinto angustiada com esse
assunto.
— Sarah, ele nunca mais fará nada com você. Eu
estou aqui agora. Você não está mais sozinha, vou sempre
te proteger, sempre. — Ele se aproxima e me abraça bem
forte.
— É, tem razão. — Falo qualquer coisa, mas ainda me
sinto mal com essa situação.
— Não quero que se preocupe com isso, ok? Eu tenho
os recursos necessários para deixá-lo longe e, se precisar,
para destruí-lo, então não permita que a sombra do seu
passado atrapalhe essa noite tão especial para você. — Ele
me olha nos olhos e faço que sim com a cabeça, tentando
um leve sorriso.
— Sim, tem razão. Foi uma bobagem que já passou.
Hoje será uma noite incrível. — Lhe dou um beijo para
disfarçar o quanto estou apavorada e tomo o café que ele
me preparou. Não estou com fome, mas não quero que ele
se preocupe, então resolvo me alimentar bem, porque de
fato, será uma noite longa.
Consegui me acalmar depois que tomamos café
juntos e tomei um banho de banheira. Realmente não faz
sentido me sentir assim, então achei melhor esquecer essa
neurose que tenho. Volto a me animar com essa noite e
principalmente com o meu look.
Minha tia se encarregou do meu vestido, confio de
olhos fechados no bom gosto dela. Ela vem aqui para o
apartamento do Adam se arrumar comigo. Ele contratou
uma equipe completa para nos deixar perfeitas.
— Oi, querida. — Tia Irene se aproxima e me dá um
abraço forte. — Sinto sua falta lá em casa, mas sei que está
em boas mãos. — Ela olha para o Adam que se aproxima.
— Oi, tia, que saudades. — A abraço bem forte.
— Não se preocupe que estou cuidando bem dela,
mas fique à vontade sempre que quiser nos visitar. Será um
prazer recebê-la mais vezes. — Ele a cumprimenta.
— Obrigada, querido. Vai ficar conosco enquanto nos
arrumamos?
— Não, vou deixá-las sozinhas para aproveitarem
melhor. Tenho certeza de que preferem ficar à vontade.
— Ah, de fato quero fofocar com a minha sobrinha.
Principalmente sobre você, melhor não estar, né? — Ela
solta uma gargalhada e eu coloco a mão na cabeça.
— TIA! A senhora não tem jeito. — Sorrio junto.
— Não tinha dúvidas disso, Irene, pois podem
aproveitar que estou de saída. — Ele se aproxima de mim e
me beija rapidamente. — Até mais tarde, amor. — Se
despede da minha tia e vai embora.
— Uau, isso que é química. Vai, me conta tudo. — Ela
me puxa para o sofá e conto para ela as novidades, como
morar aqui de vez. — Nossa querida, estou tão, mas tão
feliz por você. Seus pais ficarão muito contentes também.
Vamos contar para eles?
— Vamos sim, tia, mas depois do evento de hoje.
Estou uma pilha de nervos e quero me arrumar logo.
— Tudo bem, depois contamos. Vamos nos arrumar
com calma para você se tranquilizar. — Concordo com ela e
vamos até a outra sala onde a equipe já está em posição.
Depois de quatro horas nos arrumando, estamos
prontas. O vestido que a minha tia trouxe é simplesmente
perfeito. Ele é todo de cetim frisado, no tom rosa claro,
quase no tom salmão. Tem um decote até próximo do
umbigo, um pouco mais ousado do que gosto, mas por ser
longo com uma calda linda, não me deixou desconfortável,
é bem perfeito, na verdade.
— Qual colar trouxe para mim? — Pergunto para a
minha tia.
— Nenhum. — Dá de ombros.
— Como assim, nenhum? Você sempre me empresta
os seus. — A olho sem entender nada.
— Sim, mas dessa vez o Adam irá resolver essa
questão. — Sorri com uma cara de travessa.
— Será que ouvi meu nome? — Adam aparece na
mesma hora usando um smoking preto lindíssimo e
elegante.
Eles estavam conversando pelo celular? Que safados,
eu nem percebi.
— Vou deixar os pombinhos a sós. — Titia se retira e
fico olhando para ele desconfiada.
— Adam? O que está aprontando?
— Nada que você não mereça. — Ele se aproxima com
uma caixa de veludo na mão. — Isso é para você usar hoje à
noite, amor. — Bastante animada pego a caixa de sua mão
e quando abro fico boquiaberta.
É um colar todo em diamantes, imitando de uma
forma bem delicada as asas de um anjo, com um pingente
no meio em diamante também.
— Adam! Que perfeição. Não sei nem o que falar,
muito obrigada, eu amei. — Me aproximo e lhe dou um beijo
demorado.
— Posso colocar em você? — Faço que sim com a
cabeça e gentilmente ele coloca o colar.
Ficamos os dois na frente do espelho e sinto um amor
enorme dentro de mim. Somos um casal, somos eu e ele,
espero que para sempre.
— Eu te amo! — ele me fala e nos beijamos
novamente.
— Você fez isso? — Entro no salão do evento, depois
de posar para algumas fotos na entrada e fico ainda mais
apaixonada por esse homem.
O salão inteiro está decorado de forma delicada e
elegante com orquídeas brancas. A mesma do nosso pedido
de namoro.
— Sim. Sei que não se sente confortável nesses
eventos, então queria que olhasse ao redor e me sentisse
perto de você. Gostou? — Abro um sorriso enorme.
— Eu amei. Você é perfeito, obrigada por tanto. —
Passo minha mão em seu rosto e lhe dou um beijo
apaixonada.
Não estou nem aí se estão tirando mil fotos ou não.
Sou dele e quero que o mundo saiba.
Eu pedi para mantermos descrição sobre eu ser a
dona da ONG, para seguirmos falando sobre a minha tia,
que está conosco andando e cumprimentando os
investidores e patrocinadores.
Todos compareceram, estamos com a casa lotada.
Fico feliz por isso, de ver que se importam com a causa. Ok,
não vou ser inocente em achar que estão aqui somente pela
ONG, sei que estão aqui pelo Adam e o que ele representa,
mas não me importo. O que importa é o que poderemos
fazer com o valor arrecadado. Vou poder ajudar tanta gente
que isso me deixa muito animada.
Desde que chegamos, sinto algo estranho, uma
sensação de estar sendo observada. Mas aí penso que, é
claro que estou sendo observada, todos estão de olho no
que fazemos porque somos os anfitriões do evento. Tento
colocar a minha neurose de lado e aproveitar a festa, mas
sinto um arrepio na espinha. Como se algo estivesse errado,
apesar de não fazer ideia do quê.
O que poderia dar errado em uma noite como essa?
Capítulo 38 –
Jack Miller
Há seis anos eu espero por esse momento. Quando a
Sarah fugiu de mim, fiquei louco. Por dez meses a
manipulei, a afastei de seus pais, a fiz ser minha e viver
para mim e de repente, ela se foi. Assim, do nada. Por essa
eu de fato não esperava, não sabia que ela e sua família
tinham contatos para isso.
Fiz meus pais pagarem detetives para descobrir seu
paradeiro, mas todos que contratamos voltavam falando a
mesma coisa. “Impossível detectá-la”. Essa menina
conseguiu a proteção de alguém com muitos recursos. Isso
me enlouqueceu, não iria desistir assim, tão facilmente,
mas na medida em que os meses foram passando eu
entendi que não seria tão simples assim. Se ela queria
brincar de pique esconde, daria o melhor jogo possível a
ela.
Nesse meio tempo, me formei e me aprofundei nos
negócios ilícitos da minha família. Meu pai não era rico
somente porque era dono de todos aqueles negócios na
outra cidade, mas sim porque era agiota. Emprestava
dinheiro a pessoas que não podiam pegar empréstimos e
cobrava juros enormes. Se elas não pagassem, bem, havia
várias outras formas de cobrá-los.
Eu segui com o negócio e aumentei ainda mais nosso
poder em toda a região. Resolvi me mudar de cidade,
porque imaginei que se a sua família não soubesse nada
sobre mim, faria a Sarah em algum momento abaixar a
guarda e é aí que eu entraria.
Consegui encontrá-la depois de um tempo e fiquei
sabendo do seu envolvimento com esse Adam. É claro que
mandei investigá-lo e acionei alguns contatos para tentar
prejudicar a empresa dele. Um dos concorrentes é um
conhecido antigo da minha família, então não foi difícil
convencê-lo a espioná-lo e copiar seus jogos de sucesso. O
melhor de tudo é que isso jamais vai apontar para mim; eles
nunca saberão que fui o mandante de tudo.
Acordei hoje com uma foto que fodeu a minha cabeça.
Quando abro a página, vejo ela, a minha Sarah, nos braços
desse filho da puta. Meu sangue ferve. Como ela ousa fazer
isso? Não é possível que ela realmente acredite que acabou.
Eu nunca deixarei acabar, nunca.
Sarah Campbell é minha e somente minha.
Aperto o celular com força e ódio. Empurro a mulher
que está dormindo ao meu lado e a mando ir embora. Ligo
rapidamente para alguns contatos e mando me colocarem
na lista desse evento.
Aviso que vou viajar e reservo um jato para me levar
imediatamente para o Brasil. Vou recuperar o que é meu,
custe o que custar. Esperei tempo demais.
Me arrumo apropriadamente para o evento. Uso um
smoking preto, discreto pois não desejo ser visto, somente
quando quiser que isso aconteça.
Não foi tão simples me colocar na lista desse evento,
o que quer dizer que esse tal de Adam Cooper tem as suas
conexões, mas isso não me importa, eu tenho conexões
obscuras e ele é apenas um CEO bilionário. Não será páreo
para mim e acho bom a Sarah saber disso, tenho um plano
perfeito.
Chego pontualmente ao local e entro antes que os
dois apareçam. Quando a vejo meu coração para. Ela está
perfeita, ainda mais bonita do que me lembro. Seu corpo
está totalmente desenvolvido, está com um decote enorme,
o que me deixa mais puto. Não gosto que olhem o que é
meu. Por um momento me lembro de quando éramos mais
novos e tinha aquela bocetinha só para mim.
Adam se aproxima dela e o vejo beijando na sua boca,
a boca que é minha. A minha vontade é de me jogar em
cima dele e cobri-lo de porrada, até que entenda que não
pode pegar o que é meu, mas respiro fundo, aperto as
minhas mãos e me mantenho parado. Meu momento de
vingança ainda vai chegar e vou aproveitar muito isso.
Enquanto eles andam pelo salão cumprimentando as
pessoas, fico de longe acompanhando cada passo que ela
dá. Olhá-la assim, me deixa louco. Quero senti-la, tocar a
sua pele, encostar a minha boca na dela, sentir a sua
umidade, que era só minha. Só de pensar nisso meu pau
fica duro. Estou completamente atormentado em tê-la de
novo dentro de mim.
Sei que preciso ir com calma ou meu plano para
separá-los não dará certo. Eu esperei seis anos, posso
esperar mais essa noite.
Aproveitem enquanto podem, daqui a pouco tudo vai
desmoronar! — Brindo sozinho com os meus pensamentos.
A sensação de estar sendo observada, ou melhor,
perseguida, aumenta cada vez mais. Sinto algo estranho,
mas não sei dizer o que pode ser. Não me parece somente
nervosismo, me parece algo mais sério e isso está me
deixando em alerta.
Tomo um gole de espumante e sigo acompanhando
Adam por onde vai. Ele não me deixa um minuto se quer
sozinha e o agradeço mentalmente por isso. Tê-lo ao meu
lado me faz sentir protegida.
Olho rapidamente para o lado e tenho a sensação de
ter visto um vulto me olhando. Parecia que tinha um homem
escorado na pilastra, me analisando. Não consegui ver seu
rosto porque saiu rápido demais.
Será que estou vendo coisas? Deve ser a síndrome do
pânico querendo aparecer, mas não vou deixá-la me
controlar mais. Respiro fundo e decido que não irei mais
beber. Preciso estar com as minhas faculdades mentais em
ordem e a bebida pode me atrapalhar nisso.
— Está tudo bem? — Adam se aproxima do meu
ouvido e pergunta preocupado.
— Sim, está. Só um pouco nervosa com o evento, mas
está passando. — Minto e isso me deixa ainda pior.
Eu sinto que posso confiar nele, mas o que eu vou
falar? Acho que estou sendo perseguida e por isso estou
pirando? Ele vai achar que sou louca, e eu realmente estou
me sentido meio louca agora.
— É normal se sentir assim, amor. Está tudo
perfeitamente bem. Vou subir e fazer a abertura. Fique na
mesa junto dos meninos que eles vão te fazer companhia.
Pedi que não a deixasse sozinha. Assim que acabar essa
parte, podemos ir embora se quiser, ok?
— Tudo bem. Boa sorte. — Ele me puxa para
acompanhá-lo até lá, mas interrompo. — Preciso ir ao
banheiro, te encontro assim que acabar. — Ele acena com a
cabeça que sim e nos separamos pela primeira vez.
Ando em direção ao banheiro analisando as pessoas à
minha volta, tento identificar se tem algum desconhecido
me olhando, mas então constato que eu não conheço
muitas pessoas. Isso é loucura! Tenho que parar com essas
minhas neuroses.
Entro no banheiro e aproveito que está sem ninguém
para respirar profundamente. Coloco um pouco de água
atrás das minhas orelhas e na minha nuca. Rio um pouco
pensando em quão boba eu sou. Me ajeito e faço um
retoque na maquiagem e no batom.
Pronto. Agora estou melhor, penso. Saio em direção a
mesa onde Rodrigo, Alex e Adriano estão me aguardando.
Fico feliz em saber que os tenho, eles se tornaram bons
amigos para mim também, gosto de estar perto deles. Fora
que as mulheres ficam loucas ao verem todos juntos, não as
culpo, eles parecem deuses, ainda mais assim de terno.
Vejo o mesmo homem de longe me observando. Eu
sabia que não estava louca. Agora ele anda nos mesmos
passos que eu. Não gosto disso, dessa sensação de perigo
gritando no meu coração. Tento ser rápida para chegar
aonde os meninos estão, sei que irão me proteger seja do
que for, mas de repente ele some novamente.
Olho ao redor, tentando encontrá-lo. Se ele está me
perseguindo quero saber quem é, mas não o encontro.
Adam começa a falar na mesma hora e viro em direção a
ele. Preciso me sentar, isso não é muito elegante da minha
parte.
Quando me viro para ir em direção a mesa, dou de
cara com o homem misterioso, mas ao vê-lo, meu coração
para e é como se eu morresse, ali mesmo.
— Você? — Sussurro mal acreditando no que meus
olhos estão vendo.
— Oi, minha princesa, saudades de mim? — A sua voz
me causa mal-estar.
Essa voz que por muitos anos me atormentou nos
meus sonhos, está de volta.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto petrificada no
mesmo lugar.
— Vim te buscar. Está na hora de parar com esse
teatrinho e voltar para o seu lugar que é ao meu lado. — O
olho em pânico.
Esse pesadelo voltou e diz que veio me buscar? O que
isso significaria para ele? Tento ser racional, mas
simplesmente não consigo, o medo é maior.
— Não sei o que quer dizer com isso, mas não vou a
lugar algum. Estou com o Adam e preciso me sentar. — Saio
em direção a mesa.
Preciso mais do que nunca chegar a eles, mas então
sinto sua mão forte me segurando. Eu sei como me soltar
dessa vez, mas eu esqueci como o medo nos paralisa e por
isso, não faço nada. Fico parada, exatamente no mesmo
lugar.
— Assim que eu gosto. Você lembra como deve me
respeitar? Não gostei da forma que falou. Preciso te lembrar
de que quem manda em você sou eu? Sei que ficamos
afastados por muito tempo, mas isso nunca mais vai
acontecer de novo. Vou permitir que se sente, mas lembre-
se, Sarah, você é minha e estou observado cada passo seu.
Não ouse beijá-lo novamente. Não queremos que ele tenha
um acidente aqui, não é mesmo? — O olho em seus olhos e
vejo aquela raiva, luxúria e terror que já vi muitos anos
antes.
Mas ele não seria capaz de algo assim, seria? Como
vou saber, não o vejo há seis anos, e só dele estar aqui
agora me ameaçando, me faz acreditar que sim, ele seria
capaz. Pensando nem, eu sei que ele seria capaz.
Ele me solta e vou quase que correndo para a mesa.
Me sento rapidamente e olho para a frente, estou tremendo
muito e não quero que ninguém perceba.
— Está tudo bem, Sarah? — Rodrigo se aproxima e me
deixa em alerta.
— Sim, ansiosa por vê-lo falar sobre o projeto. Só isso.
— Disfarço o máximo que posso, porque sei que ele saberia
que tem algo errado.
Rodrigo fareja essas coisas e não quero colocá-lo em
perigo também, não posso.
Ouço Adam falando, mas sinceramente não escuto
uma palavra, não consigo assimilar nada. Somente esse
pesadelo que estou vivendo novamente, mas dessa vez é
pior. Ele está de volta, provavelmente mais psicopata do
que antes e ameaçou o homem que eu amo.
Preciso pensar com calma como agir. Dessa vez,
preciso ser mais inteligente do que ele. Você consegue,
Sarah, falo para mim mesma. Mas será que eu consigo?
Tento prestar atenção no discurso de Adam, mas
realmente não consigo ouvir. Só penso o tempo todo no Jack
e no que isso pode implicar. Eu sabia que aquela foto era
perigosa, algo me dizia que tinha que me manter sempre
escondida, mas que inferno! Preciso me acalmar, não posso
mais permitir que esse medo me consuma, mas foi só ele se
aproximar que o pânico me envolveu.
Meus pensamentos são quebrados pelas palmas,
Adam é aplaudido de pé e me levanto fingindo que está
tudo bem. Ele é cumprimentado por todos e vem em minha
direção. Não sei o que fazer. Onde será que está o Jack?
Tenho certeza de que está me observando. Preciso fazer o
que ele quer agora, não posso deixar Adam correr risco
assim.
— Parabéns pelo discurso! — Rodrigo toma frente.
— Como sempre, mandou bem. — Adriano bate sua
mão nas costas dele em apoio.
— O que achou? — Adam pergunta e tomo um susto
porque estava observando aos arredores.
— Foi ótimo. Obrigada por isso. — Falo um pouco
aérea.
— Está tudo bem? — Ele pergunta com o semblante
preocupado.
Merda! Ele já me conhece e não estou disfarçando
bem.
— Sim, só estou cansada. — Ele me olha calmamente,
ele sabe que tem algo errado.
— Tem certeza? – Vejo seus olhos se fecharem
enquanto me observa, e tento manter a calma.
— Sim. Na verdade, eu acho que hoje vou dormir na
minha tia. Ela comentou que estava sozinha e sei que você
precisa ficar mais um pouco aqui, então acho melhor eu já
ir. — Começo a falar igual uma maluca.
— Sarah. O que está acontecendo? — Ele se aproxima
e coloca a sua mão no meu rosto.
Merda! Não, ele não pode me fazer carinho assim,
Jack vai ver. Discretamente pego uma água que passa,
saindo de seus toques.
— Nada, Adam, só quero descansar.
— Ok, vamos embora então. Não preciso continuar,
você é mais importante.
— Não! — Quase grito. — Prefiro que continue o que
tem que fazer e… — De repente sou interrompida por ele.
Quando o olho, meu pânico se faz presente.
— Olá. Desculpe interromper, mas queria muito
conhecê-lo, Adam. Meu nome é Jack. Sou amigo da Sarah de
algum tempo, fico feliz por vê-la tão bem. — Jack estende a
mão para Adam e parece que vejo tudo em câmara lenta.
— Olá. Seu amigo, amor? — Ele me olha, e tento não
demonstrar o que sinto. — Desculpe, mas não me lembro
dela ter mencionado você antes.
Vejo o olhar de Jack arder; ele está focado, e isso me
assusta. Adam não está sendo muito cortês... Será que
suspeitou de algo?
— Ah, foi algo repentino. Jack estava de passagem
pela cidade, mas já estava indo embora, não é? — Tento
disfarçar e o olho com um olhar de súplica.
— Vou ficar mais uns dias aqui, tenho alguns negócios
para resolver. Quem sabe não nos encontramos
novamente? — Ele pergunta ao Adam e isso me mata por
dentro.
— Claro. — Ele o cumprimenta e Jack vai embora. —
Não sabia que tinha mais amigos, ele não me pareceu
brasileiro. — Volta a sua atenção a mim.
— Ele é amigo dos meus pais. — Sim, eu menti, mas
não posso contar nada agora, não aqui, no meio do evento
dele e sem saber se Jack estava blefando ou não sobre o
acidente. — Estou realmente cansada e prefiro ir para a
casa da minha tia, ok? Nos vemos amanhã.
— Não gosto disso, mas vou respeitar. — Ele se
aproxima para me beijar, mas vejo o Jack observando tudo
atrás dele.
Lhe dou um abraço rápido, pego minha bolsa e me
despeço dos meninos com um aceno.
Merda. Isso tudo foi péssimo. Vou até a minha tia e
falo que precisamos ir embora agora. Não digo nada, mas
sei que ela entende meu olhar como ninguém. Ela pega a
sua bolsa e me acompanha em silêncio até a nossa casa.
Meu pesadelo voltou!
Capítulo 39
Vejo Sarah sair apressada e tenho certeza de que tem
algo errado. Minha vontade era de insistir, fazê-la ir embora
comigo e me contar o que está acontecendo, mas me
lembrei da sua crise de pânico e achei melhor não forçar a
barra aqui neste evento, poderia lhe dar algum gatilho, não
sei.
— Cara, o que houve com a Sarah? Ela estava
estranha. — Alex pergunta. — Aconteceu algo com vocês?
— Não, estávamos bem até agora a pouco. Inclusive a
chamei para morar comigo e ela aceitou. Não sei o que
houve depois que subi no palco. Viram algo? — Pergunto
preocupado, porque não consigo entender a mudança
brusca de personalidade.
— Adam, não queria falar nada, mas vi quando ela
saiu do banheiro e falou com esse tal de Jack. Eles pareciam
bem íntimos, ele inclusive a puxou pela mão discretamente,
mas eu vi. Quando ela chegou na nossa mesa, estava bem
estranha, mas disfarçou dizendo que era nervosismo. —
Rodrigo fala baixo, discretamente para mais ninguém
escutar, só a gente.
— Estranho. Ela nunca me falou desse tal de Jack.
Agora disse que era um amigo dos pais. Pelo que sempre
soube, ela não tinha amigos, somente a sua tia Irene. —
Pondero pensativo.
— Você sabe que gostamos da Sarah, então não me
leve a mal, mas o quanto realmente sabe dela? Porque ela
entrou na sua vida há pouco tempo e estão avançando tudo
bem rápido.
— Sei o suficiente, Rodrigo. Sei que é o seu trabalho
duvidar de tudo, mas a Sarah só é reservada. — Falo isso
para ele, mas tentando me convencer disso também. Isso
tudo foi muito suspeito.
— Cara, será que não foi porque pediu que ela
morasse com você? Às vezes ela deu uma surtada com isso,
eu surtaria.
— Adriano, você surtaria só de namorar com alguém,
imagine morar junto. — Alex comenta para tentar melhorar
o clima e agradeço por isso. — Acho melhor deixar ela
descansar hoje, e amanhã vocês conversam. Deve ter sido
só o nervosismo mesmo.
— Tem razão, Alex, obrigado. — Tento um sorriso para
disfarçar, mas a verdade é que estou muito preocupado. Sei
que não é só isso.
Respiro fundo e sigo o planejamento da noite, ainda
preciso cumprimentar alguns investidores. Pretendo fazer
tudo rápido para poder ir embora o quanto antes. Quem
precisa relaxar agora sou eu.
Antes de ir embora, chamo o Rodrigo no canto.
— Agora está na hora de fazer o que faz de melhor,
Rodrigo. Investigue isso. Preciso saber todo o passado de
Sarah e quem é esse tal de Jack que apareceu aqui assim.
Não sei, mas não fui com a cara dele, tem algo errado aí.
— Considere feito, falarei agora mesmo com o meu
contato e teremos o dossiê completo o quanto antes. Sinto
que tem algo maior acontecendo. — Agradeço e nos
despedimos.
Adam: Como você está, amor? Arrecadamos mais do
que podíamos imaginar. Tenho certeza de que poderá fazer
muito mais através da sua ONG. Nos vemos amanhã no
almoço?
nvio uma mensagem para a Sarah, tentando ver
E
se consigo mais alguma informação dela, mas fico sem
respostas. Ela nunca deixou de me responder antes, o que
confirma mais uma vez as minhas suspeitas de que tem
algo errado.
hego
C em casa e paro para pensar
detalhadamente nos fatos. Sinto que a presença do Jack no
evento não foi por acaso. Ela nunca me falou dele, mas o
apresentou como amigo da família, o que com certeza não
é. Seu olhar angustiado e preocupado me dizia tanto. Já a
conheço o suficiente para identificar esses pequenos
detalhes.
Porra! Odeio que ela não esteja aqui comigo agora.
Resolvo me deitar porque pensar nessas merdas não
vai me levar a lugar algum e preciso estar bem para
resolver seja lá o que for que está acontecendo.
cordo cedo e vejo que não tem mensagem
A
alguma de Sarah ainda. Faço a minha musculação e me
arrumo para o trabalho. No caminho para o escritório, ligo
para ela, mas não me atende. Porra, isso está me
preocupando e muito.
Adam: Amor, está tudo bem? Estou preocupado. Vou
passar na sua tia agora para conversarmos, ok?
Sarah: Oi, amor. Agora não, estou aqui conversando
com ela e não seria uma boa hora. Vamos almoçar. Te
mando o endereço de um restaurante, ok?
Adam: Ok, te pego às 12h.
Sarah: Não, tia Irene vai me levar.
Adam: Não gosto disso.
Sarah: Ela vai em uma loja ali do lado, por isso vou
com ela.
Adam: ok.
om, novamente tudo bem estranho, mas pelo
B
menos ela me respondeu. Isso vai bastar por enquanto.
Chego no endereço que ela me mandou, é
relativamente perto da sua casa. Esse é novo, nunca viemos
nesse restaurante antes. Me aproximo da entrada e a vejo
de relance lá dentro, sentada. Como ela é linda, não me
canso de admirá-la.
Dou mais um passo e paro. Percebo que ela está com
alguém na mesa. Achei que seria só nós dois, mas
paciência. Ando novamente e vejo o Jack, aquele cara que
me apresentou ontem como amigo da família, pegando em
sua mão.
Não gosto nada disso. Ele coloca uma mão no seu
rosto e vejo claramente ela fechando os olhos. Mas que
porra é essa?
Minha vontade é entrar e acabar com essa palhaçada,
mas sei que preciso ver mais, tenho que entender o que
está acontecendo aqui. Ele parece falar algo que não
consigo ouvir, estou longe para isso, mas ela permanece de
olhos fechados. Então ele se aproxima e a beija.
Sinto um mal-estar físico, fico tonto, com vontade de
vomitar só em ver essa cena. Sempre lidei com muitas
merdas sendo CEO de uma multinacional, mas confesso que
essa é uma das mais difíceis que tive que lidar. Quero entrar
e meter porrada naquele homem, mas sigo intacto, frio.
Agora é o momento de ser racional.
Pego o meu telefone, tiro uma foto dessa cena
deplorável, envio por mensagem para o Rodrigo e ligo para
ele.
— Descobriu algo? Tenho certeza absoluta de que
esse Jack não é quem afirma ser. Olha o que te enviei.
— Estou quase. Já levantamos muitas coisas, mas
ficaram de me entregar tudo em até uma hora. Logo vamos
conseguir montar esse quebra-cabeça, mas por enquanto,
por mais difícil que seja, não faça nada e vá embora. Melhor
que não te vejam aí até sabermos com o que estamos
lidando.
— Certo. Me avisa assim que tiver as informações. As
câmeras na saída do evento já foram enviadas também
para seu e-mail. — Encerro a ligação com o sangue
fervendo.
No que foi que se meteu, Sarah?
Capítulo 40
— Por que saímos daquela forma do evento, Sarah? O
que está acontecendo? — Mal entramos na porta de casa e
minha tia questiona.
— Tia, ele me achou! — Falo com peso na minha voz e
sento-me no sofá, nervosa com tudo o que aconteceu.
— Como assim? Quem te achou? — Minha tia segue
confusa.
— Ele tia. Meu maior medo se tornou realidade. Jack
está aqui. — Minha tia me olha horrorizada, coloca a mão no
peito e se senta comigo no sofá.
— Como?
— Imagino que pela foto que apareceu minha e do
Adam em todos os lugares. Eu sentia que isso não seria
bom, eu sabia disso.
— O que ele quer? — Pergunta ainda em choque.
— Disse que quer me levar de volta e ameaçou o
Adam, tia. — Deixo as lágrimas descerem pelo meu rosto.
— Ameaçou? Ah, meu Deus. O que foi exatamente
que ele te disse?
— Disse que eu seria dele de novo e que eu não podia
mais encostar no Adam ou ele sofreria um acidente ali
mesmo. Fiquei apavorada, não sabia o que fazer. Por isso
falei que ia dormir com você e pedi que fôssemos embora.
— Falo rapidamente.
— Calma, querida. — Titia me abraça. — Precisamos
ter calma. Você não contou nada para o Adam?
— Como? Não poderia correr o risco de algo ruim
acontecer com ele. Nunca me perdoaria, ainda mais nessa
noite tão importante para todos. Também não podia
atrapalhar o evento. O que vou fazer, tia? O que vou fazer?
— Vou ligar para quem te tirou dos Estados Unidos
naquela vez, ele é da minha mais alta confiança e vai saber
como nos proteger. Me dê alguns minutos, tome uma água
enquanto isso e não faça nada, ok? — Balanço a cabeça
concordando e vou até a cozinha pegar um copo de água.
Estou me tremendo toda e tentando não perder o
controle. Sinto a dor no peito se instalando, o arrepio, a
tontura, mas não. Dessa vez vou conseguir controlar a
minha crise de pânico. Preciso me controlar, não só por
mim, mas pela minha família.
Faço alguns exercícios de respiração que venho
treinando desde que tudo aconteceu e pego um calmante
que está na bancada da cozinha, preciso dele para suportar
o que está por vir. Titia demora uns vinte minutos, o que me
deixa ainda mais nervosa. Por que essa demora toda?
Recebo uma mensagem que imagino ser do Adam, merda.
Jack: Muito bem, se comportou direitinho essa noite.
Vamos nos encontrar amanhã, enviarei a hora e o endereço,
é bom que apareça. Pelo bem do Adam, é claro.
Arregalo os olhos e coloco a mão na boca. Meu Deus!
Respiro novamente com dificuldades e volto a chorar
compulsivamente. Logo quando tudo estava dando certo na
minha vida, esse traste vem tentar estragar tudo? Ele já não
fez o suficiente? Já não me quebrou o bastante?
— Querida, não chora. Já providenciei uma escolta
armada e vários seguranças para nos proteger. Chegarão a
qualquer momento. Ele vai averiguar mais sobre o Jack, pois
precisamos saber o que aconteceu na sua vida nesses
últimos seis anos. Precisamos saber quem esse psicopata se
tornou. Eu errei e te peço desculpas. O menosprezei, achei
que nunca mais precisaríamos nos preocupar com isso, mas
vamos resolver. Te prometo isso. — Minha tia me coloca em
seus braços e fico assim por bastante tempo.
Ela me acompanha até o meu quarto e fica ali comigo
até eu dormir. Tomei mais um remédio para isso, então não
foi tão difícil assim.
Acordo por volta de 9h e vejo a ligação e a mensagem
que Adam acabou de me enviar. Não tenho condições de
conversar com ele agora, por isso marco um almoço. Preciso
dessa manhã para pensar no que fazer.
Desço as escadas de casa e vejo lá fora a quantidade
de seguranças que a minha tia contratou. Isso me deixa
mais tranquila e ao mesmo tempo nervosa, mostra que tudo
isso é real. Não foi só um pesadelo.
— Bom dia, querida. Conseguiu dormir? — Titia de
aproxima segurando uma xícara de café e me entrega.
— Sim, os remédios fizeram efeito. — Me sento na
bancada da cozinha.
— Sarah, eu andei pensando e precisa contar a
verdade para o Adam. Posso te proteger, mas não sei no
que o Jack se envolveu. Adam tem recursos mais que
suficientes para lidar com ele.
— Ah tia, minha cabeça está uma bagunça. — Passo
as mãos na minha testa — Sei que o mais sensato seria
contar tudo ao Adam, mas ao mesmo tempo tenho medo de
envolvê-lo e que algo lhe aconteça.
— Sei disso, mas vai realmente cometer o mesmo erro
do passado em excluir quem te ama de algo tão sério como
isso? Vai perder tudo o que finalmente conquistou na sua
vida por medo, de novo? — A escuto atentamente.
Cada palavra me toca profundamente. Quando tudo
aconteceu, prometi a mim mesma não cair nos mesmos
padrões, e lá estava eu, quase repetindo-os. Jack é um
predador que prefere vítimas solitárias, pois assim é mais
fácil dar o bote. Sua estratégia é sempre isolar a vítima para
que ela se sinta sozinha e sem apoio, isso torna muito mais
fácil para ele agir.
Merda. Quase cai nessa de novo.
— Tem toda razão, tia. Obrigada por isso, eu
realmente precisava ouvir. Vou contar a verdade para o
Adam. Ele precisa saber e eu confio nele. — Me levanto e a
abraço apertado.
Estou dentro do carro com o nosso motorista, que na
verdade é um dos seguranças contratados. Achamos melhor
garantir a minha segurança nesse trajeto até o Adam. Estou
nervosa, com medo, mas decidi que vou enfrentar isso de
cabeça erguida e sei que ele vai me ajudar e me proteger.
Repito para mim algumas vezes, sem parar. “Você
consegue, dessa vez será diferente.” “Você consegue, dessa
vez será diferente”.
O segurança para o carro e sei o que isso significa.
Está na hora. Desço do carro e entro no restaurante.
Percebo que Adam ainda não chegou. Ele é sempre muito
pontual, mas olho no relógio e vejo que estou quase dez
minutos adiantada.
A atendente me acompanha até uma mesa. Agradeço
e peço uma água com gás enquanto o aguardo. Pego meu
celular para ver se tem alguma mensagem dele, bem na
hora que alguém se senta na minha mesa.
Olho para cima, esperando que ele finalmente tenha
chegado, mas, para minha infeliz surpresa, não poderia
estar mais enganada.
Jack está sentado à minha frente com um sorriso
nojento nos lábios. Vê-lo assim me desperta sentimentos
estranhos. Já fui tão perdidamente apaixonada e cega por
esse homem que não conseguia enxergar o peso quase
grotesco, da sua forma de ser.
— Olá, minha princesa. Achou mesmo que poderia
marcar um encontro com seu namoradinho sem que eu
soubesse? — Gelo na cadeira, mas sigo me mantendo forte.
— Não vamos fazer cena, estamos em um restaurante
e vim apenas almoçar, não sei do que está falando. — Tento
parecer indiferente.
— Hum, não sabe? Acha mesmo que pode me
enganar? — Seus olhos têm uma intensidade que me
causam um arrepio.
— Jack, por que está aqui? Já se passaram muitos
anos, não entendo por que aparecer assim, de repente. —
Falo de forma delicada, não quero deixá-lo estressado, mas
busco tentar dialogar e entender.
— Sim, você fugiu de mim por muitos anos, mas não é
possível que tenha acreditado que eu não te acharia. — Ele
fala com desdém, como se fosse ridículo esse meu
pensamento.
— Mas por que me achar? Tenho certeza de que
conheceu muitas mulheres interessantes.
— Claro que sim, mas você é a minha princesa e sou
seu príncipe, lembra? Eu te fiz mulher, eu te fiz conhecer
tudo no mundo e agora acha que pode se livrar de mim?
Nunca. — Seu tom me deixa apreensiva. Ele não está nem
tentando ser delicado como antes e isso me dá medo.
— Jack, por favor, Eu construí uma vida aqui, te
suplico que me deixe em paz. Pelo que tivemos lá atrás,
vamos esquecer isso. — Ele me interrompe.
— Esquecer? Você só pode estar louca. O que esse
filho da puta fez com você? — Me olha com ódio. — Acha
que não sei que ele já te tocou? Tocou no que é meu. Ele
ainda está vivo, mas isso vai depender de você, Sarah.
— Não estou entendendo. — Engulo seco.
— Ele só está vivo porque quero você de volta e sei
que facilitará as coisas para mim se tiver preocupada com a
vida dele. — Dá de ombros como se estivesse falando algo
óbvio.
— Não pode estar falando sério. Jack, você não faria
algo assim, não é? — Aproximo meu corpo do dele, mesmo
com medo, mas preciso encará-lo para ver com o que estou
lidando.
— Eu faria tudo por você, Sarah, você é a minha
obsessão. — Ele toca a minha mão e decido deixar, apesar
de querer sumir daqui. — Deixe-me te tocar, há tempos
desejo sentir minha mão no seu rosto. — Respiro fundo e
fecho meus olhos.
Não vou conseguir encará-lo sem mostrar o meu
desprezo por ele me tocando. Preciso ganhar tempo e essa
é a forma que tenho para isso.
— Esperei seis anos por esse momento, por tê-la
novamente para mim. — Então me pegando completamente
desprevenida ele me puxa e me beija.
Gostaria de dizer que o empurrei imediatamente, mas
fiquei em pânico, em choque. Senti-lo nessa intimidade
comigo me fez reviver tudo o que passamos em questões
de minutos. Não o beijei de volta, mas fiquei parada, sem
saber o que fazer e me odeio por isso. Anos me preparando
para sair de uma situação dessa e simplesmente não pude.
— Você já foi melhor nisso, Sarah, mas não se
preocupe, teremos tempo para resolvermos. — Ele se
distancia e continuo perplexa.
— Já chega. Estou indo. — Me levanto para sair, mas
um homem entra na minha frente.
— Ainda não, meu bem. Temos muito o que conversar,
acho melhor se sentar. — Faço sinal de que vou embora
mesmo assim, mas então ele fala a única palavra que
poderia me fazer ficar. — É sobre o Adam, acho que vai
querer saber disso.
Viro novamente para ele e sinto a sua felicidade em
ver que estou cedendo. Psicopata nojento. Me sento, cruzo
os braços e falo.
— Estou ouvindo.
Ele então revela seu plano. Quando soube do meu
encontro com Adam, forçou aquele beijo para que ele visse
e pensasse que eu o traí. Contou que Adam saiu dali quase
imediatamente depois, e, pelo jeito que estava, ele
certamente acreditou.
Conforme ele vai falando os detalhes, vou ficando
tonta, enjoada. Sinto uma dor no peito tão profunda que
sinto que vou desmaiar, mas não mostro isso a ele. Tento
ficar a mais inexpressiva possível, mas tem um momento
que simplesmente não aguento.
— Quero que o encontre a noite e termine tudo de
uma vez por todas, tenho certeza de que facilitei bastante
as coisas para você. Ele provavelmente acha que é uma
interesseira traidora, então imagino que será tranquilo. —
Fala com desdém.
— Não posso fazer isso. — Sussurro.
— Ah, meu bem, não só pode, como vai. Se não fizer
por você, faça por ele, ou eu juro que mato o desgraçado.
Tem até a meia noite de hoje para resolver isso e se o beijar
novamente, saberei. Saberei de tudo o que falar para ele,
então muito cuidado. Estamos entendidos?
Não consigo me mover da mesa. Fico parada, sem
reação. Ele se levanta e vai embora. Me deixando com os
meus pensamentos. Eu achei que conhecia o inferno, mas
estava errada. Agora sim, estou nele.
Capítulo 41
Cancelo as minhas reuniões de hoje, porque depois de
tudo o que vi naquele restaurante, preciso pensar. Estou
confuso, sem saber ao certo o que é real e o que não é.
Eu conheço a Sarah. Mesmo tendo pouco tempo
juntos, nossa relação foi profunda, com uma conexão
intensa, e sei que ela não faria algo assim comigo. Droga!
Não acredito que isso esteja acontecendo justo agora.
Depois de deixá-la com a tia para se arrumar antes do
evento, pedi licença e fui comprar um anel – um anel de
noivado. Não ia convidá-la para morar comigo sem um
compromisso sério; não sou esse tipo de homem. Planejava
fazer o pedido logo após o evento, já que, até então,
acreditava que isso significava muito para ela. Mas tudo
desmoronou.
Tomo mais uma dose de uísque de uma vez só.
Preciso de algo forte para me ajudar a lidar com tantas
sensações e sentimentos conflitantes.
Ouço um barulho na porta da frente e vejo Rodrigo
entrando, com o iPad nas mãos.
— Conseguiu as informações? — Mal o cumprimento e
já pergunto.
Minha ansiedade se mistura à esperança de
finalmente descobrir o que está acontecendo.
— Sim. Vamos nos sentar porque a situação é séria. —
Aceno afirmativamente e nos dirigimos ao meu escritório,
onde teremos mais privacidade.
Pelo olhar dele, percebo que essa conversa exigirá
cuidado.
— Adam, não sei até que ponto a Sarah te contou
sobre seu passado, mas… — interrompo-o ao notar seu jeito
cauteloso, refletindo sobre como abordar o assunto.
— Sei do relacionamento abusivo que ela teve com
um cara quando morou nos Estados Unidos. Não conheço
todos os detalhes, mas ela compartilhou algumas coisas,
como sua crise de pânico e situações semelhantes. — Ele
assente, confirmando que está ouvindo.
Rodrigo então abre um arquivo repleto de
informações, incluindo fotos da Sarah com esse Jack, tiradas
quando eram mais jovens.
— Certo. O que ela não contou é que esse homem é o
Jack. Ele é quem causou tanto sofrimento a ela. — Levanto-
me da cadeira do escritório, tomado por uma explosão de
raiva.
— Porra! É óbvio. Como pude não perceber isso?
Agora tudo faz sentido. O medo e a angústia que vi em seus
olhos naquele dia, e eu não fiz nada. NADA! — Começo a
andar de um lado para o outro na sala.
— Calma, Adam. Precisamos ser racionais. Sei que
você está frustrado, e acredite, eu também estou. Estava lá
e também não fiz nada. Não tínhamos como saber. A
questão é que o problema é mais profundo. A Sarah te
contou algumas coisas, mas tive acesso aos laudos do
hospital, e a situação foi mais séria do que ela deve ter
mencionado.
Rodrigo me mostra todos os laudos e tudo o que seu
contato descobriu sobre a vida do Jack, desde antes de
conhecer a Sarah. Infelizmente, ela não foi a única vítima
dele. A cada palavra que ele me conta, sinto uma crescente
vontade de matar esse filho da puta. Estou tenso, com o
corpo rígido pelo ódio que sinto.
— Tudo o que ele fez minha Sarah passar, ele vai
sofrer em dobro. Garanto isso, Rodrigo.
— Concordo, mas precisamos ser inteligentes. Como
te falei, além de ter contatos importantes, ele é um
psicopata, e por isso precisamos agir com cautela. O mais
sensato agora é, de fato, nos afastarmos da Sarah.
— Porra, Rodrigo. Como você pode dizer uma coisa
dessas? — Olho para ele, incrédulo. Depois de tudo o que
me contou, ele sugere que eu me afaste?
— Adam, o cara tem uma obsessão louca por ela. Se
te vir por perto, vai colocar a vida dela ainda mais em risco.
— Respiro fundo e analiso com calma o que ele diz. De fato,
essa é a primeira regra das estratégias: fingir que acredito.
Fiz isso agora mesmo com a minha situação do jogo, e vou
ter que fazer novamente. Que merda.
— Ok, mas precisamos bolar um plano certeiro. Não
pode haver falhas. — Falo firmemente.
Nos sentamos e começamos a analisar todas as
informações com cuidado, até que finalizamos e Rodrigo vai
embora.
Pego mais uma dose de whisky e deixo que o líquido
desça pela minha garganta, trazendo um entorpecente
momentâneo. Volto ao meu bar e, antes que consiga pegar
outra dose, a vejo entrando pela porta.
Meu desejo é sair ao seu encontro, colocá-la nos meus
braços e nunca mais soltá-la, mas preciso protegê-la a
qualquer custo, mesmo que isso signifique protegê-la dela
mesma. Se a Sarah souber de algo que estamos planejando,
pode colocar sua própria vida em risco, e isso eu nunca
permitiria.
— Adam? — Ela se aproxima cautelosamente.
— Estou aqui. — Respondo de forma seca, sem me
mover em sua direção.
— Precisava conversar com você. — Ela olha para
baixo, hesitante, e isso me angustia, mas preciso fazer o
que é certo.
— Sobre o que exatamente? O beijo que vi mais cedo
no restaurante? Acho que isso já deixou claro que acabou,
não é? — Lembrar desse momento me causa um desgosto
que não consigo ignorar.
Mesmo sabendo que foi uma armação, vê-la sendo
tocada por outro me deixa possessivo.
— Sinto muito por tudo isso. Vim devolver sua chave e
pedir que não me procure mais, que não vá perto da casa
da minha tia e que não fale mais comigo. Talvez um dia
você entenda tudo, talvez não, mas quero que prometa que
não vai se aproximar do Jack. Deixe-o em paz. — Ela fala,
colocando a chave na bancada à sua frente. Seus olhos
estão cheios d'água, e vê-la tão vulnerável me quebra. —
Adeus, Adam. — Ela simplesmente sai, e eu não consigo
dizer nada.
Qualquer coisa que eu disser irá estragar tudo, porque
não posso lidar com ela assim. Saber que ela acredita estar
passando por tudo isso sozinha, que pensa que eu
terminaria nosso relacionamento dessa maneira, que eu
acreditaria nessa palhaçada, me deixa arrasado. Mas sei
que ela não está pensando racionalmente.
O trauma do que viveu deve estar enraizado de tal
forma que ela acreditou facilmente que tudo havia acabado.
Tento me apegar à ideia de que isso será temporário,
apenas até termos montado tudo o que precisamos contra
aquele desgraçado.
— Até logo, meu amor! Eu sempre irei te proteger. —
Falo para mim mesmo, pois ela não pode mais ouvir.
Capítulo 42
“Só mais um pouco. Só mais um pouco, você
consegue. Está quase lá. Não olhe para trás, siga em
frente”. Falo repetidamente para mim mesma. Não posso
chorar, não aqui, não agora.
ntro no carro, onde meu segurança está me
E
aguardando e sentada no banco de trás, me permito
finalmente desabar e choro como nunca chorei na minha
vida.
icar de frente com Adam e ouvir ele falar que
F
acabou, foi como um soco forte no meu estômago. O filha
da puta do Jack conseguiu exatamente o que queria. O pior
é saber que não posso me defender, que preciso que ele
acredite nessas coisas para a sua própria segurança. Se Jack
fizer qualquer coisa a ele, eu nunca me perdoaria, preferiria
morrer junto.
dam conquistou um espaço no meu coração que
A
é difícil de explicar. Quando passamos por um trauma muito
forte na vida, como eu já passei, é normal se fechar para o
mundo, principalmente para novas relações, mas o jeito que
ele lidou com tudo o que contei foi tão delicado, tão gentil e
tão honrado que sem nem perceber ele foi entrando na
minha vida e ficando. Eu o amo tanto, mas tanto que faço o
sacrifício que for por ele, nem que para isso, eu perca parte
do meu coração. Não seria a primeira vez, mas pelo menos,
ele vale a pena.
eu celular vibra e olho para a tela, meu
M
estômago revira na mesma hora.
Jack: Muito bem, minha princesa, tomou a decisão
certa. Amanhã vamos almoçar.
enho vontade de mandá-lo a merda, de falar o
T
nojo que sinto dele, mas não o faço. Respiro fundo e resolvo
respondê-lo. Não é hora para fazer uma besteira, não depois
de tudo o que passei.
Sarah: Jack, fiz tudo o que me pediu, mas preciso de
alguns dias para processar essas últimas horas. Por favor,
eu te imploro, por mim, por nós.
Jack: Muito bem. Como sou generoso com você, lhe
darei um dia, mas somente isso. Não faça nenhuma
estupidez. Estou sempre observando, lembre-se disso.
Sarah: Obrigada, muito obrigada.
Jogo o celular no chão do carro com ódio por ter
que fingir ser submissa a ele.
“MERDA”. Dou um grito alto cheio de dor. O
segurança me olha, mas não fala nada. Ele sabe pelo que
estou passando e deve estar acostumado com pessoas
muito piores do que eu. “AHHHH”. Grito mais uma vez, o
que me faz sentir um pouco melhor. Respiro fundo, tentando
me controlar.
Chego na minha casa e abro a porta sem forças. Estou
esgotada, fisicamente e emocionalmente. Titia vem ao meu
encontro com uma cara não muito boa. Merda, o que será
que aconteceu agora? Vou em sua direção com receio do
que irá me falar.
Sarah, demorou muito, como foi tudo? — Ela
—
me puxa para sentar-me no sofá.
Um inferno, eu estou vivendo o pior dos meus
—
pesadelos, tia. — Passo as mãos na minha testa. Minha
cabeça está latejando.
Ah, querida. — Ela me envolve em um abraço
—
apertado. — Me conta o que aconteceu? — Conto tudo para
ela, detalhadamente.
Será que o Adam me odeia, tia? Por que isso
—
está acontecendo comigo? Por quê? Eu já não sofri o
bastante com aquele infeliz? Por que me fazer passar por
algo assim? — Me desespero em seu colo e deixo que as
lágrimas caiam novamente.
— Ah minha querida, chore. Precisamos deixar
sair o que temos dentro de nós. Não sei por que isso está
acontecendo com você, mas quero que saiba que agora é
diferente. Não está sozinha, estou junto com você e vamos
achar uma forma de resolver isso. Adam vai te perdoar
quando souber a verdade e um dia ele saberá, mas
precisamos ir com calma, porque Jack é mais perigoso do
que pensávamos. — Pontua com pesar.
O que quer dizer com isso? — Me levanto do
—
seu colo e a olho apreensiva.
Ela respira fundo e explica.
— Descobrimos que ele está envolvido com
agiotagem. Não é simplesmente um cara rico, milionário.
Seus contatos são de pessoas ruins, então precisamos ter
cautela. — A escuto falar, mas não sinto choque com essa
informação. Acho que no fundo eu já sabia que Jack seguiu
caminhos obscuros pela vida.
Não me surpreende, tia. A forma como ele
—
falou, como fez a sua ameaça, sabia que não estava
blefando. Analisando friamente ele é um psicopata e precisa
saber que está no controle ou fará uma loucura, então o
certo a se fazer agora é entrar no jogo dele. Vou fingir que
faço tudo o que ele quer, até encontrar uma forma de pegá-
lo.
— Como assim, Sarah? Não gosto disso. — Ela se
levanta.
Ele queria que eu me afastasse do Adam e isso
—
já fiz, então ele vai ver que estou obedecendo suas ordens.
Sei que aquele doente me quer de volta, então posso
ganhar um tempo com isso. Preciso que descubra o que
podemos usar contra ele e a sua família, enquanto isso, vou
tentar descobrir algo também, mas terá que ser
diretamente com ele, e para isso, terei que encontrá-lo
algumas vezes.
— De jeito nenhum. — Gesticula com as mãos
nervosa.
Tia, eu não acho que temos outra saída. Você
—
mesma disse que ele é perigoso, não acho sensato
tentarmos irritá-lo. O melhor a fazer é encontrá-lo em
lugares públicos, onde sei que vai se segurar, assim posso
fingir que estou mudando de ideia. — Respiro fundo e vou
até ela. Seguro a sua mão e a olho nos olhos. — Preciso que
não saia de casa de jeito algum, sei que é ruim, mas preciso
saber que está segura e sei que ele não passará desses
portões. Não seria louco de encarar nossos seguranças e
chamar tanta atenção, mas na rua a senhora estaria muito
vulnerável. — Imploro com os olhos.
Quer que eu me esconda enquanto corre risco?
—
Não, de jeito nenhum. — Franze a testa e fala irritada.
— Dessa vez é diferente. — Solto o ar que nem
sabia que estava segurando — Você estando salva nada
pode me abalar, e o domínio pelo medo que ele tem sobre
mim acabará. Ele já me tirou o Adam, o único homem que
amei na vida e vou fazê-lo pagar por isso.
Ah, minha menina, vamos conseguir passar
—
por isso. Sei que sim. — Ela me abraça.
itia não concorda com as minhas palavras, mas
T
sei que me obedecerá. Eu sou uma outra mulher agora.
Ainda tenho meus medos e pânicos, mas Jack me quebrou
de tal forma que não me importa mais. Dessa vez será
diferente.
Capítulo 43
Acordo depois de poucas horas de sono, determinado
a resolver essa questão o quanto antes. Pensei em cancelar
minhas reuniões para focar nisso, mas percebi que seria
péssimo para a imagem que quero passar.
O melhor a se fazer é seguir com a minha agenda
normalmente, como sempre, para que Jack não desconfie
dos meus planos. Ele acreditará que estou ocupado demais
tentando trabalhar para não pensar em Sarah, sem
perceber minha real intenção.
Abro o celular que Rodrigo trouxe ontem para mim.
Ele também providenciou celulares para Alex e Adriano,
entregues por alguém de sua confiança. Vamos nos
comunicar apenas por essa linha, pois não podemos confiar
na privacidade do meu celular, já que Jack sabia do meu
almoço com Sarah.
É possível que ele tenha descoberto isso hackeando o
celular dela, o que é mais provável, dado o nível de
segurança dos meus dados. Ainda assim, não vou arriscar.
Com alguns minutos livres antes de ir ao escritório,
aproveito para conversar com os meninos, que
provavelmente não estão entendendo muito bem o que está
acontecendo.
Adam: Aumentem a segurança de todos. Não se
coloquem em situações arriscadas sem necessidade.
Adriano: Porra, como assim? Não dá para falar isso e
não explicar.
Alex: Concordo com ele nessa.
Adam: Vou ligar rapidamente para vocês, atendam.
Explico resumidamente o que descobrimos e a
decisão que tomei. Ambos concordam que foi a melhor
atitude neste momento.
Adriano, ainda de ressaca, prometeu ficar em casa e
se manter quieto até termos mais informações. Alex, por
sua vez, disse que conversará com seu chefe de segurança
e colocará apenas os seguranças de sua máxima confiança
ao seu lado.
Minha cabeça está cheia de pensamentos, mas, por
ora, não há mais nada a fazer. Já acionei quem precisava
para obtermos mais informações, e agora é só esperar.
Sigo para o escritório e cumpro todos os
compromissos do dia.
— Alguma novidade? — Atendo a ligação de Rodrigo
assim que ouço o toque.
— Sim. Está em um local onde pode falar? — Ele
pergunta com um tom que conheço bem. Descobriu algo
sério.
— Sim, estou sozinho na minha sala. O que você
descobriu?
— Jack estava nos investigando há muito mais tempo
do que imaginávamos. Parece que ele é o responsável pelo
vazamento das informações do novo jogo que vai lançar. —
Mal posso acreditar no que estou ouvindo; fico
completamente confuso.
— Como isso é possível, Rodrigo? — Me levanto,
sentindo uma inquietação crescente. — Isso já não foi
resolvido? Não era meu concorrente o responsável?
— Esse é o ponto, Adam. Isso era exatamente o que
ele queria que acreditássemos. Pesquisei mais a fundo com
um contato que tenho em Nova York e descobrimos que o
CEO da empresa envolvida na espionagem é um homem
corrupto, amigo próximo dos pais do Jack. Fazem negócios
juntos há anos, e você já imagina o tipo de negócio.
— Droga! Como deixamos isso passar? Esse cara
chegou perto demais, Rodrigo. — Ando de um lado para o
outro, irritado com tudo o que estou ouvindo. — Quero ele
longe da Sarah e longe da gente. Precisamos derrubá-lo o
quanto antes.
— Sei disso, e já estou tomando providências. Ele tem
muitos contatos influentes que preferem não ser expostos,
mas nós temos ainda mais recursos. Ele vai cair, mas
precisamos seguir nosso plano. Ele tem que acreditar que
não sabemos de nada e que tudo está dando certo para ele.
— Concordo com a cabeça, mesmo que ele não possa me
ver.
— Certo. Fiz o que precisava com a Sarah, foi difícil,
mas já mandei alguns seguranças à paisana ficarem na cola
dela o tempo todo. Não posso deixá-la tão sozinha assim. E
se eu não posso estar ao lado dela para protegê-la, preciso
garantir que alguém estará. — Falo com dificuldade. Essa é
a coisa mais difícil que já fiz na vida, e deixá-la pensando
que a abandonei me deixa revoltado.
— Sim. Estamos acompanhando cada passo que
aquele filho da puta dá. Ele provavelmente vai encontrá-la
em breve, e estaremos atentos o tempo todo.
— Ele não pode fazer nada a ela, Rodrigo. Nada ou eu
o mato. — Só em pensar nesse cara perto da minha mulher,
perco a cabeça.
Nunca fui um homem violento, mas nunca vivi uma
situação como essa.
— Não vamos perder a cabeça aqui, Adam. Ele pagará
no tempo certo. Vou te atualizando de tudo.
— Obrigado, irmão. — Me despeço e desligo a ligação.
Estou com os meus sentimentos à flor da pele. A cada
minuto, tudo pode acontecer, mas coloquei os melhores
seguranças à disposição da Sarah. Eles sabem os riscos e o
que estou disposto a fazer para garantir sua integridade.
Sei que farão um bom trabalho; precisam fazer. Falta
pouco para pegarmos ele!
Capítulo 44
Ontem o dia se arrastou, mas pelo menos consegui
não ver a cara do Jack. Fiz o que ele mandou, então ele me
deu esse “espaço”, como se eu merecesse por ter sido uma
“boa garota”. Sei que isso não vai durar para sempre, mas
fico relativamente feliz por ficar sozinha, se é que posso
falar isso.
Minha tia conseguiu todas as informações possíveis da
família dele. Quais as propriedades que são donos, o que é
real e o que é fachada. Quais são os outros negócios que
possuem, como funciona esse lance de agiota. O que me
surpreendeu foi ver que quando Jack assumiu algumas
coisas dos pais, sua fortuna cresceu ainda mais e de forma
no mínimo suspeita.
Não sou boba para achar que foi tudo de forma legal,
ainda mais vindo dele, provavelmente a maior parte da sua
grana veio de ilegalidades. Então é só o que tenho que
focar. Ela precisa me dar mais detalhes se eu quiser
descobrir algo realmente pertinente. Só isso não vai me
levar a lugar algum.
Penso um pouco no que posso fazer e por mais que eu
não deseje vê-lo, sinto que seria melhor se esse contato
viesse de mim. Isso pode baixar um pouco a sua guarda.
Não sei ao certo, mas o fato é que preciso tentar.
Titia não saiu de casa e não tive contato com mais
ninguém, pois preciso ser discreta mais do que nunca.
Peguei licença de uns dias na ONG e pedi para outra
psicóloga seguir com meus atendimentos. Quase morri por
ter que fazer isso, porque minhas pacientes significam o
mundo para mim, mas não tenho condições emocionais
para ajudá-las agora, não com tudo isso que estou
passando.
Sarah: Jack, gostaria de encontrá-lo para conversar.
Podemos almoçar hoje no francês da rua Dias Ferreira às
12h?
Jack: Que bela surpresa, minha princesa. Sim, te vejo
lá. Mal posso esperar.
into um calafrio percorrendo a minha espinha
S
enquanto falo com ele, mas não posso mais me esconder
aqui, preciso saber onde estou metida e como posso sair
disso.
ento me vestir de forma neutra, mas bonita. Ele
T
sempre gostava que eu me arrumasse bem para ele e não
gostava de roupas muito decotadas ou coisas assim. Como
o quero de bom humor, irei com uma roupa que sei que vai
aprovar. Escolho um vestido de cor bege longo e solto, ele
tem uma pegada mais elegante e não mostra muito as
minhas curvas.
Deixo os cabelos soltos e escolho acessórios clássicos,
como colar fino de solitário e brinco do conjunto. Uso um
scarpin não muito alto na cor preta e batom rosa claro para
fechar a imagem perfeita de uma bela mulher inocente.
Pego a minha bolsa e sinto um enjoo na mesma hora.
Sento-me correndo e sinto uma leve tontura. Saco! Sei que
fico assim quando estou nervosa, mas essa hora não é hora
para sentir isso. Preciso aprender melhor a me controlar.
Não estou tomando meu remédio para os nervos porque ele
tende a me deixar um pouco lenta e nesse momento não
posso me dar esse luxo. Preciso estar totalmente esperta
para absorver toda e qualquer informação.
Respiro fundo e consigo não vomitar. Ótimo. Desço as
escadas de casa e me deparo com a minha tia e seu olhar
de tristeza. Ela está com medo, eu sei, também estou, mas
cansei de ser movida a ele.
— Não se preocupe. — Coloco minha mão no seu
rosto. — Prometo me cuidar e estou levando alguns
seguranças comigo. Ele não vai fazer nada em público.
— Não sei por que tem tanta certeza disso. — Fala
com pesar.
— Se ele quisesse fazer uma cena, já teria feito. Ele
teve milhares de oportunidades para isso e se me lembro
bem, ele sempre quis se passar por bonzinho na frente das
pessoas. Provavelmente isso não mudou.
— Ok, me dê notícias por favor, e vê se não demora.
— Faço que sim com a cabeça e vou até o carro onde meus
seguranças já estão aguardando.
Paro na frente do restaurante e respiro profundamente
antes de entrar. Reparo que ele não chegou ainda, estranho.
Da última vez ele já estava me esperando. Sento-me em
uma das mesas com maior visibilidade. Não sou burra de
ficar em um local mais reservado, essa é a forma de tentar
me preservar. Peço uma água com gás enquanto espero.
Meus seguranças ficam do lado de fora, mas estão de olho
em tudo o que acontece aqui dentro. Achei que se os
trouxesse para cá, daria uma mensagem ruim ao Jack e não
quero isso.
Aguardo cerca de dez minutos, até que o vejo
entrando no restaurante. Meu coração congela, sinto um
embrulho no estômago e um nervosismo ainda maior que
me assola. Achei que seria mais fácil vê-lo, mas a verdade é
que por mais que tenha me preparado a vida inteira para
esse momento, não é como imaginei.
— Oi, minha princesa. Sentiu a minha falta? — Ele se
aproxima e me puxa para um beijo na boca. Viro na hora e
ele beija a minha bochecha. Sinto repulsa em ter seus lábios
encostando na minha pele. — Vamos ter que melhorar a sua
recepção, amor. Isso não me agrada e não queremos isso,
não é mesmo? — Ele fala com um tom muito educado,
aposto que é para ninguém desconfiar.
— Oi, Jack. — Tento pronunciar algo enquanto ele se
senta.
— Hum, gosto mais de namorado. Lembra o quanto
amava me chamar assim? — Pede um chope para o garçom
e o manda não nos incomodar por enquanto.
— As coisas mudaram. — Falo quase em um sussurro.
— Sim, mudaram, mas é por isso que estamos aqui,
não é mesmo? Para fazê-las voltar ao que eram antes. — Ele
sorri de forma maquiavélica. As pessoas ao meu redor
podem não perceber, mas eu vejo a malícia em seus olhos.
— Jack, eu fiz tudo o que me pediu. O Adam me odeia,
nunca mais o verei novamente, mas não precisamos
continuar com isso, já conseguiu o que queria. — Tento
implorar para que me deixe em paz.
— Meu amor, estou só começando. — Ele toma um
gole longo de chope. — Você realmente acha que depois de
seis anos escondida, eu vou simplesmente vir aqui pedir
que termine um namoro e pronto? — Ele solta uma
gargalhada.
— Não entendo. Existem tantas mulheres, por que eu?
— Pergunto angustiada.
— Desde quando te vi, sabia que seria a presa ideal.
Era nítido no seu olhar de adolescente boba o quanto queria
atenção, o quanto precisava se sentir amada. Vi um
potencial enorme em você. É bonita, tem um corpo gostoso,
e principalmente, é perfeita para se manipular. Não é tão
simples encontrar alguém com tantas características que
me agradam, mas o que me ganhou mesmo, foi essa sua
bocetinha. Meter em você todos os dias era meu hobby
favorito. Não pode realmente achar que não vou ter isso de
novo, não é? — Ele encosta na cadeira como se tivesse me
contado uma história romântica.
Tento falar, mas não consigo dizer nada, estou
apavorada. Não sei o que pensei, mas com certeza nunca
imaginei que ele estaria pior.
— Não fique assim, princesa. Vou te dar uma casa de
contos de fadas. Já mandei preparar tudo como sempre
sonhou. — Ele se aproxima e coloca os dois cotovelos sobre
a mesa.
— O que quer dizer com isso? — Meu coração bate
cada vez mais rápido com medo da resposta.
— Seremos só eu e você para sempre. Você será
minha todos os dias, quantas vezes eu quiser e você vai me
amar. Ah, Sarah, você vai aprender a me amar. — Seu olhar
fica frio, vejo um ódio dentro dele e percebo que meu plano
nunca dará certo.
Olho para fora a procura dos meus seguranças, mas
não vejo nenhum. Merda! Para onde que eles foram?
— Espero que não esteja procurando seus seguranças.
Digamos que eles estão ocupados no momento. — Jack olha
lá para onde eu estava olhando.
Eu arregalo os olhos preocupada com o que pode ter
acontecido.
— O quê? — Volto meu olhar a ele e vejo novamente
aquele sorriso maligno em seu rosto.
— Sarah, Sarah, Sarah, eu até gosto desse seu jeito
meio atrevida, achando que pode comigo. Se quer brincar,
preciso que saiba com quem está se metendo. — Ele pega
seu celular, mexe procurando algo e me mostra em seguida.
— Como? Por que isso? — Vejo as fotos da tia Irene e
dos meus pais em seu celular, fotos do dia a dia, em casa,
fotos que não são só tiradas da internet.
— Seus pais estão vivendo a vida como se nada
tivesse acontecido, então acredito que não contou nada a
eles, o que fará o meu trabalho ser muito mais simples, fácil
e eficiente. — Respiro com dificuldades, mas tento ainda
dialogar com esse monstro.
— Jack, para que isso tudo? Qual o seu problema? —
Me altero um pouco sem pensar, mas o pavor me domina.
— Meu problema? Problema? Princesa, o problema
aqui é você e cansei desse joguinho. Você vai ser minha
quer queira ou não. Seja por bem ou por mal. — Ele balança
o celular na minha frente, deixando bem claro a sua ameaça
a eles.
Sinto uma revolta dentro de mim, uma raiva enorme
me dominando. Raiva por novamente estar em uma
situação em que sou oprimida. Não tenho o que fazer, a não
ser me submeter a ele. Mas não posso fazer isso, estou
confusa, não sei o que pensar e sinto uma sensação
estranha pelo meu corpo.
Não posso mais ficar aqui, não posso, preciso me
levantar. Automaticamente me levanto e tento ir em direção
a porta, mas sinto uma mão me apertando o pulso. Todo
aquele ódio por passar dez meses aguentando isso vem
com tudo e como em um reflexo, me viro e em um só golpe
solto a mão dele de mim e dou um soco forte na sua cara.
Merda!
Capítulo 45
Jack Miller
Quando Sarah propôs esse almoço achei intrigante.
Hoje era seu prazo, fui muito bonzinho em lhe dar um dia.
Isso é o que ela pensa. Precisava disso para conseguir todas
as fotos e informações da sua família.
A separação dela e do Adam foi até muito fácil e
dentro do esperado, mas imaginei que encontraria
obstáculos para levá-la de volta aos Estados Unidos.
Aproveitei para estudar a casa da tia dela também. Sei que
ela mandou fazer uma segurança alta, de primeira
qualidade. Não faz muito sentido arrancá-la de lá a força,
chamaria muita atenção e me tomaria tempo e dinheiro
além do necessário.
Precisava de um plano melhor, mais bem elaborado
para convencê-la a ir embora comigo por livre e
“espontânea” vontade. Nada como uma boa ameaça para
fazer isso, não é? Ver a sua cara de pavor quando mostro as
fotos dos seus pais, é como foder ela de novo. Porra! Estou
excitado com essa sua carinha para mim. Foderia ela aqui,
em cima dessa mesa com todos olhando para entenderem
que ela e essa bocetinha são minhas.
Imagino que agora ela vai ceder, agora ela vai me
implorar para deixá-los em paz, e que fará tudo o que eu
mandar. Sim, essa é a hora. Esse e o momento que tanto
esperei, mas ela se levanta como se fosse embora.
Como ousa? Não a liberei.
A pego pelo pulso, como já fiz milhões de vezes, mas
sinto um golpe forte no meu rosto e caio em cima de uma
mesa. Mas que porra foi essa? Me viro e me dou conta do
que aconteceu. Ela teve a audácia de encostar a mão em
mim? Olho para ela com ódio nos olhos.
Ela esqueceu o lugar dela, mas vou lembrá-la. Me
preparo para lhe dar um tapa bem dado naquela sua cara
de sonsa, vou fazê-la me respeitar. Quando dou o golpe, ela
segura a minha mão e vejo um segurança alto atrás dela
vindo em cima de mim.
— O que está acontecendo aqui? — Com certeza não
é o segurança dela, porque já dei um jeitinho de deixá-los
ocupados, afinal quatro pneus furados dá um pouco de
trabalho. Esse deve ser o do restaurante.
Algumas vozes dos clientes se fazem presentes.
Algumas pessoas que estavam almoçando se levantam e
falam:
“Se machucou moça?” “Não encoste nela.” “Que
absurdo.” “Chame a polícia.”.
Um tumulto se forma ao meu redor e preciso resolver.
A polícia agora não seria nada bom, nada bom mesmo.
Merda! Olha o que essa filha da puta me faz passar.
— Calma pessoal, me desculpa. Foi tudo um mal-
entendido. — Levanto as mãos em rendição, tentando me
mostrar como arrependido. Me viro para outra mesa, onde
vejo um casal que falaram sobre a polícia. — Peço desculpas
por isso, mas eu e minha namorada estávamos
conversando e sabe o que acontece quando as emoções
falam mais alto. Viram como ela me atacou, não é? Ela tem
comportamentos assim, fica violenta e só quis me defender.
Percebo que depois de algum tempo, eles vão se
acalmando e caem na minha conversa. É só falar que sou a
vítima que apesar de ser claramente o contrário, sempre
acreditam na palavra do homem. Ainda bem que a nossa
sociedade de merda é assim. Viro novamente para mandar
Sarah se sentar e percebo que ela sumiu.
Porra! Quero gritar, mas não posso.
Preciso fingir para que não haja maiores problemas
aqui, tudo o que eu não quero é chamar atenção dessa
forma. Tento disfarçar a minha cara de fúria e falo
novamente para as pessoas que ainda estão me olhando
que foi apenas um engano. Elas parecem aceitar
rapidamente, porque logo voltam a sua atenção ao seu
almoço e cuidam das suas vidas de merda.
Peço a conta e deixo uma excelente gorjeta para os
garçons que estavam presentes e principalmente ao
segurança. Falo que é para os “inconvenientes que posso
ter causado”, ou seja, “Toma essa grana para calar a sua
boca e você não viu nada aqui.”
Eles aceitam, claro que eles aceitam. Vou embora do
restaurante.
Entro no meu carro que estava na porta a minha
espera. Penso em seguir para o meu esconderijo, não é bom
andar por essa área por enquanto, posso correr o risco de
ser reconhecido e meu plano ir embora para o espaço. Mas
quando lembro do que a Sarah fez, ligo o foda-se e vou em
direção a casa da sua tia.
Ela acha que venceu a batalha, mas isso é uma guerra
e o que tenho preparado para ela é algo que ela nunca
sonhou nem no seu pior pesadelo.
Essa mulher vai achar um jeito de me amar, quer ela
queira ou não.
Capítulo 46
Minhas mãos estão tremendo com o golpe que dei na
cara do Jack e de como consegui facilmente pegar o soco
que iria me dar. Me sinto bem, poderosa com essa situação,
afinal me dediquei anos ao Krav Maga para conseguir lidar
com situações como essa e estou orgulhosa de mim. Apesar
de treinar anos para isso, tinha dúvidas se seria capaz de
reagir quando o momento chegasse, mas sentir seu toque
de novo, daquela forma, foi um gatilho. Meu corpo
simplesmente tomou conta, ele sabia o que fazer para me
defender dessa vez.
Olhar para seus olhos e ver a fúria neles, me deixou
perplexa. Não tenho certeza de que fiz a coisa certa, mas
algo precisava ser feito. Vejo a discussão no restaurante e
aproveito esse momento para sair de lá. Jack estava
tentando apaziguar a situação e foi falar com um casal que
estava sentado ao nosso lado. Por um momento pensei em
pedir ajuda, em falar que ele estava me ameaçando, mas
quem eu quero enganar?
Sei melhor do que ninguém, quantas mulheres são
vítimas de maus tratos, de agressões pelo parceiro e nada
acontece. Quantas e quantas mulheres aparecem lá na ONG
contando barbaridades que sofreram? A maioria delas são
de família mais humilde, que tem filhos envolvidos, na
maioria pequenos e tem muito medo de perderem a guarda
das crianças para o pai agressor e por isso preferem
aguentar.
Quantas delas já apareceram com o olho roxo, queixo
quebrado, usando a desculpa mais conhecida de todas que
é “Caí da escada”, “Bati na porta do armário”, “Sou muito
desastrada, acabo me machucando sem perceber”.
Aprendi da forma mais cruel a verdade: as pessoas
até se preocupam na hora que vivenciam algo, mas o
homem pelo simples status de ser homem, facilmente
consegue reverter e ainda chamam a mulher de louca, de
maluca, de pirada.
Claro que existem situações em que a justiça é feita,
mas infelizmente são poucos os casos e contra o Jack, sei
que não posso sozinha.
Entro no primeiro táxi que vejo passando. Reparei
rapidamente que alguns dos meus seguranças pareciam
estar agachados, resolvendo algum problema do carro, mas
eu que não iria ficar lá para ver o que era.
Nossa, isso está ganhando uma proporção que nunca
pensei.
Peço para que me leve para o endereço que é da casa
da minha tia, é o único lugar que me sentirei mais segura,
por hora. No trajeto relembro de tudo o que conversamos,
das fotos que ele me mostrou e da forma que falou sobre
meus pais. Sinto que ele já tem tudo planejado.
— Ele vai usá-los contra mim. — Falo em voz alta sem
perceber.
— O que disse senhora? — O taxista me pergunta.
— Nada, desculpa. Estou pensando alto.
Volto a me concentrar para não falar o que não devo.
Eu realmente pensei que poderia jogar contra esse homem,
que poderia entrar dentro da loucura dele e sair vitoriosa,
mas hoje tenho certeza de que não tenho a menor chance.
Ele está muito à frente de mim.
Eu sei que quero defender o Adam, mas isso está fora
de controle e se algo acontecer com qualquer um deles por
minha causa, sabendo que eu poderia pelo menos ter
tentado algo, nunca vou me perdoar.
Resolvo mandar uma mensagem para o Adam
implorando para que me encontre.
Sarah: Adam, podemos nos encontrar? Preciso falar
urgente com você.
hego na casa da minha tia e pago o taxista.
C
Entro olhando para os lados, com medo de ter sido seguida,
afinal, sei que ele sabe onde moro, ele sabe de tudo. Minha
tia vem ao meu encontro e percebe a cara de pânico que
estou.
— Sarah, o que aconteceu? — Ela me acompanha até
a cozinha, onde pego um copo de água e sento-me na
bancada.
— Tia, é muito pior do que pensávamos. — Abaixo a
minha cabeça. — Ele tinha fotos de todos e ameaçou vocês.
— O quê? — Ela se assusta e coloca a mão na boca. —
Como foi isso? Que tipo de fotos?
— Fotos pessoais. Sua, da mamãe e do papai. Ele
deixou escapar que você está protegida, mas que meus pais
não, pois moram nos Estados Unidos, que é onde ele
domina e que não devem fazer ideia do que está
acontecendo aqui. Seriam presas fáceis.
— Que horror, querida. — Ela se senta comigo na
bancada.
— E isso não é o pior, tia.
— Como, não é? Fala logo, Sarah, estou nervosa. —
Ela pega o meu copo d’água e toma um gole.
— Ele me segurou pelos pulsos e eu dei um soco nele.
Ele caiu na mesa e me olhou com tanta raiva que estou com
muito medo. Mais medo do que antes. — A olho esperando
uma reação, mas nada.
Titia fica paralisada na mesa, sem reação.
— Tia? – A chamo.
— Você bateu nele? — Faço que sim com a cabeça. —
Muito bem, querida, muito bem. Fico feliz que o tenha feito.
— Fico confusa com a sua fala. — Você se defendeu
diretamente pela primeira vez. Estou orgulhosa de você por
isso. Sei que está com medo da reação dele, também estou,
não vou mentir, mas quero que a partir de agora, sempre
escolha se defender. Sempre, ouviu?
Suas palavras me comovem e permito que agora, aqui
com ela, as minhas lágrimas saiam. Sei que ela não está
falando somente desse gesto contra ele. Ela está falando de
toda a minha história de violência e abuso psicológico. Ela
está falando que basta, não vou mais passar por isso, não
estou mais sozinha. Tenho agora a quem pedir socorro. Na
verdade, sempre tive, mas hoje vejo isso.
— Mandei mensagem para o Adam. Decidi que vou
contar a verdade. — Falo fungando e limpando uma das
lágrimas do meu rosto.
— Fez o certo. Ele precisa saber e sei que vai nos
ajudar. Ele pode contra o Jack. — Faço que sim com a
cabeça e peço licença par ver meu celular, porque acabei
não olhando se ele me respondeu.
Adam: Estou indo para aí agora.
Sarah: Não. Estou indo para sua casa.
Fico tão aliviada que ele me respondeu assim, que
mal penso no que estou fazendo. Simplesmente pego a
minha bolsa, a chave do carro e vou ao seu encontro, mal
consigo avisar a minha tia que estou saindo.
Agora, enquanto caminho pela rua, sinto um pavor
por ter agido por impulso; tudo o que eu pensava era que
precisava vê-lo. Precisava!
— Tia, estou dirigindo, não posso falar agora. — Digo
pelo bluetooth do carro ao atender o telefone.
— Sarah, você saiu correndo, nem esperou os
seguranças. Para onde você está indo? — ela pergunta,
aflita. É possível perceber o quanto a deixei preocupada em
seu tom de voz.
— Desculpa, tia, mas estou indo ver o Adam. Não
pensei, só saí. Peça para os seguranças irem ao meu
encontro em sua casa. Te dou notícias depois que falar com
ele, ok?
— Tudo bem, mas me avise mesmo. Não gosto de te
ver assim na rua.
Despeço-me dela e continuo prestando atenção nas
ruas. Está tudo escuro, pois já está ficando tarde, e isso só
intensifica o receio que cresce dentro de mim. Uma parte da
rua é mais escura e não é o lugar ideal para andar mesmo
sendo em um bairro nobre. Mas agora é tarde demais para
voltar.
Não sei o que imaginava, mas com certeza não era
isso. Vejo um carro vindo em minha direção, acelerando
demais para ser um veículo comum. Depois de tudo o que já
vivi, sei que algo está errado.
Pego meu celular e tento ligar para o Adam, mas
estou em uma área sem sinal. Decido então abrir o
WhatsApp e mandar uma mensagem de áudio para ele.
— Adam, sei que poderia ter falado isso tantas vezes
antes e me arrependo amargamente por não ter dito. Eu
realmente queria, mas tudo o que aconteceu me impediu.
Essas palavras estavam travadas dentro de mim, e agora
sinto medo de que nunca mais possa te falar isso. Você
precisa saber: você me salvou de inúmeras formas e me fez
conhecer o verdadeiro amor. Os dias e os meses que
tivemos juntos significaram mais do que anos da minha vida
na escuridão. Eu consegui me erguer sozinha, mas você
trouxe a luz que faltava. No lugar da dor e do medo, você
me deu paz e tranquilidade. No lugar do abuso, você me
ofereceu proteção. E eu que nunca pensei que viveria uma
história de amor, vivi a mais bela de todas. Eu te amo hoje e
para sempre!
Com lágrimas nos olhos e dificuldade para respirar,
consigo proferir essas palavras antes de sentir o forte
impacto de uma batida.
Sinto-me confusa, tonta e um pouco desnorteada.
Olho ao meu redor e tenho a sensação de estar em um
filme, com tudo acontecendo muito rapidamente. Jack abre
a porta do carro e coloca algo em meu rosto.
— O quê? Me larga! — grito, mas logo sou envolvida
por um cheiro tão forte que perco a consciência.
Estava com saudades de você, escuridão; é bom te
encontrar novamente.
Capítulo 47
Estou no meu escritório em casa, revisando todas as
informações que temos até agora, quando recebo uma
mensagem de Sarah. A forma como ela pede para me
encontrar me diz que algo está errado.
Respondo imediatamente que vou até ela, mas, ao
passar pela porta de casa, recebo uma mensagem
informando que ela está vindo.
Entro em contato com um dos meus seguranças, que
tem estado com ela o dia todo, para entender o que está
acontecendo. Assim, quando ela chegar, já terei uma noção
do que houve.
Ele me conta que Sarah e Jack se encontraram em um
restaurante e houve um estresse; parece que ela deu um
soco nele. Quando ele ia reagir, meus seguranças estavam
prontos para entrar no restaurante e retirá-la de lá, mas ela
aproveitou a confusão para sair e pegou um táxi que a
levou para a casa da tia.
Depois, ela saiu do nada, tão rapidamente que
quando perceberam, já estava longe. Pelo que ouviram da
conversa da tia com os seguranças dela, ela está a caminho
da minha casa e eles também estão vindo para cá.
PORRA! Olha tudo pelo que minha mulher está
passando e eu longe dela. Que merda! Jogo um vaso que
estava sobre a mesa no chão, e ele se estilhaça em mil
pedaços.
O que me acalma é que ela está vindo para cá e
nunca mais vai sair. Que se dane esse plano; já tenho
informações suficientes para destruí-lo, e não vou mais ficar
longe dela.
Os minutos passam, e a apreensão cresce dentro de
mim, como um aperto no coração, me dizendo que algo
está errado. Já era para ela ter chegado.
Pego meu celular para verificar se há alguma
novidade, mas nada. Ligo para ela, e dá caixa postal. Sei
que aqui perto tem uma área com sinal ruim; pode ser isso.
Não aguento mais esperar; preciso sair e ver se a encontro
no caminho. Só há uma rota que ela poderia ter tomado.
Pego meu carro e, junto com alguns seguranças, faço
o trajeto, como se estivesse indo para a casa da tia dela,
mas nada me preparou para a cena que vejo.
Seu carro está amassado no lado do motorista, mas
não há sinal dela em lugar nenhum.
— Vasculhem tudo e tentem encontrar alguma pista,
qualquer coisa! — Ordeno aos meus seguranças, que
imediatamente começam a analisar o local.
Abro a porta do motorista e olho no chão, tentando
encontrar seu celular ou qualquer objeto dela, e o encontro
no canto do carro. Não sei se ela escondeu ou se realmente
não teve tempo de pegá-lo, e esse pensamento me
atormenta.
O que fizeram com você, meu amor?
Uso a senha que ela me deu uma vez e consigo
desbloquear o celular, aliviado ao perceber que ela não
mudou. Vejo então a mensagem que ela me mandou, mas
não tinha chegado porque aqui não pega sinal.
Respiro fundo e escuto o áudio.
Meu coração para, e é como se eu esquecesse como
respira; me falta ar. Estou completamente impactado com
suas palavras, sem conseguir me mover.
Pela primeira vez na vida, sinto algo próximo do que
deve ser a morte; algo dentro de mim morre com a
possibilidade dessa mensagem ter sido um adeus, com a
chance de tê-la perdido para sempre.
Não, não posso permitir isso. Onde quer que você
esteja, meu amor, vou te salvar.
Acordo com uma dor enorme na cabeça. Mal consigo
abrir os olhos, tudo está girando e tenho dificuldades em
me levantar. Estou deitada? Nem isso tenho certeza, mas
aos poucos, vou me acostumando com a dor e me dou
conta do que aconteceu.
Onde é que estou? Aos poucos a minha visão vai
melhorando e consigo reparar em algumas coisas. Estou
deitada em uma cama, com cobertas que me parecem
familiar. Olho para o lado e vejo a decoração do lugar. É na
cor cinza e preto. No canto direito tem um espaço com um
sofá e uns pufs jogados no chão.
O quê? Eu conheço esse lugar, penso. Na mesma hora
ouço o barulho de alguém entrando e então, eu o vejo.
— Olha quem resolveu acordar. Bem-vinda, minha
princesa. Estava ansioso para que acordasse. — Ele entra e
fica em pé na minha frente, me olhando com uma cara de
lunático.
— Jack, onde eu estou? — Mal consigo balbuciar essas
palavras.
— Não, não e não. É namorado, lembra? Vamos tentar
de novo? — Ele gira o dedo em negação, como um maluco.
Engulo seco, não quero brigar até entender o que está
acontecendo, então faço o que ele manda.
— Namorado, onde eu estou? — Pergunto.
— Ah, agora foi bem melhor. — Ele se aproxima um
pouco e isso me assusta. — Não se preocupe, agora está sã
e salva. — Faço cara de confusa. — Princesa, não está
reconhecendo esse lugar? Mandei preparar para você se
sentir bem. — Ele gira o corpo apontando para todos os
lados, a fim de que eu veja o que aponta.
— O quê? Não entendo. — Meu raciocino está lento e
não consigo acompanhar o que ele fala.
— Tudo bem, eu te explico. Recriei meu quarto da
adolescência. Aonde vínhamos todos os dias depois da aula,
assim se sentirá em casa novamente. — Olho ao redor e
consigo ver o que ele quer dizer.
Todos os mínimos detalhes estão aqui. Ele recriou de
forma perfeita o pior lugar da minha vida.
— Lembra, amor? — Ele se senta ao meu lado. Isso
me causa arrepios. — Era aqui que eu metia gostoso em
você depois da aula. Porra! Só em pensar em entrar dentro
de você, já fico duro. Olha como me deixa! — Ele pega a
minha mão e coloca em cima da sua calça para ver seu
volume grande.
Tento tirar a minha mão, mas ele segura meus pulsos
fortemente. Me viro e consigo dar um leve golpe nele, mas
não é o suficiente. Estou tão fraca que não faço os
movimentos completos e perco o ar.
— Estou amando ver esse seu lado selvagem,
princesa. Te domar vai ser ainda mais gostoso. Eu gosto da
princesa, mas esse seu jeito de agora, desperta algo a mais
em mim.
— Por que me sinto assim? O que você fez? — Passo
as mãos nos meus olhos, sinto uma tontura forte e tento
não apagar.
— Pesquisei mais depois do golpe que me deu, e
percebi que a luta era algo sério. Quando li a respeito achei
que era uma zoeira e não dei a mínima, mas agora sei do
seu potencial e não queremos um acidente, não é? Então te
dei, digamos que um remedinho para que não fique tão
agressiva. Vou te deixar descansar um pouco mais, mas não
se preocupe. Estarei de volta logo. Bons sonhos, princesa.
Luto contra o sono que me invade, não posso apagar
assim. Tenho medo do que pode me acontecer, do que ele
pode fazer comigo, mas é muito mais forte do que eu e
assim, antes de apagar novamente, rezo para que alguém
me salve, para que alguém me tire desse pesadelo.
Capítulo 48
Saímos do local do acidente, pois estar lá poderia
chamar muita atenção.
Falo com a tia da Sarah, Irene, e ela me conta sobre a
conversa que teve com ela antes de tudo acontecer. Sinto o
peso em sua voz e a angústia por não saber onde está.
Compartilho desse sentimento, mas me mostro forte e
prometo que vou encontrá-la e trazê-la de volta para as
nossas vidas.
Decido montar uma operação em minha casa.
Dispenso os funcionários, mesmo sendo de confiança; acho
melhor assim, para garantir nossa segurança e poder
discutir qualquer coisa sem correr riscos de exposição.
— Preciso dos melhores, entendeu? Pago o que for
preciso, mas tem que ser agora! — Finalizo a ligação com
um contato que tenho há anos. Ele é um militar com
contatos que abrangem todas as esferas, legais ou ilegais.
Neste momento, preciso usar os recursos que tenho a meu
favor. Não me importo com quem terei que trabalhar para
obter o resultado que desejo. Sarah é minha única
prioridade, e preciso resgatá-la o quanto antes.
Pego meu celular e vejo as mensagens dos meninos.
Já os avisei sobre o que aconteceu.
Adriano: Estou chegando em cinco minutos.
Alex: Também estou a caminho, chego em 15
minutos.
Adam: Já estão liberados pela segurança para entrar.
Como a ameaça é bem real e tomou outras
proporções, achamos mais inteligente permanecer juntos
até que tudo esteja resolvido. Rodrigo já está aqui em casa,
contatando outras pessoas que possam ter mais
informações sobre o Jack. Precisamos descobrir o que
realmente aconteceu.
Sabemos que ele é um psicopata, mas mesmo eles
têm fraquezas, e pretendo usá-las a nosso favor. Estamos
certos de que algo sobre sua vida pessoal nos dará uma
vantagem.
Ainda não sabemos o paradeiro deles, mas é apenas
uma questão de tempo. Enquanto isso, estou coordenando a
equipe de resgate. Contratei os melhores profissionais que o
dinheiro pode pagar.
O maior erro do Jack foi nos subestimar e não saber
com quem estava lidando. Ele escolheu as pessoas que vão
destruí-lo, e nem perceberá o que está acontecendo. Farei
com que ele se arrependa de ter ameaçado as pessoas que
amo. Ele vai conhecer meu lado sombrio e implorar pela sua
vida!
Adriano, Alex, Rodrigo e eu estamos na sala, reunindo
todas as evidências que conseguimos nas últimas duas
horas.
— Rodrigo, descobrimos algo relevante que ainda não
sabíamos? — Pergunto enquanto me sento no sofá com um
copo de whisky na mão.
— Sim, Adam. Acabei de receber a confirmação de
uma suspeita que tinha. — Ele pega o celular e mostra uma
foto de uma mulher.
— Quem é ela? — Adriano pergunta.
— Ela parece nova. Será que tem a mesma idade da
Sarah? — Alex questiona, ampliando a imagem.
— Essa é a Mia. — Rodrigo toma a palavra. —
Descobrimos que ela conheceu o Jack antes mesmo da
Sarah. Na verdade, ele não se mudou para a cidade dela à
toa. Foi acusado de estupro na cidade em que morava e,
para abafar o caso, seus pais pagaram uma quantia
significativa de dinheiro. Eles acharam mais sensato sair de
lá até que as coisas se acalmassem.
— PORRA! — Levanto-me com raiva. Todos ficamos
em silêncio, sentindo o peso dessa informação. Uma onda
de repulsa e indignação me invade, e percebo o ódio
refletido nos rostos dos meus amigos.
— Esse cara merece o pior. — Alex bate com força o
copo na mesa.
— E ele terá! — Digo, determinado. — Vamos fazê-lo
pagar por tudo que fez, não apenas à Sarah, mas a todos
nós.
— Já estou em contato com a Mia e seus pais. —
Rodrigo informa, e aceno com a cabeça em concordância.
— Ótimo. O que mais temos de informações
importantes? Sabemos onde eles estão? — Adriano
pergunta, enquanto volto a me juntar a eles.
— Eles estão em um terreno afastado, cerca de 150
quilômetros da capital. É dentro de uma comunidade, mas
fica longe das residências. O acesso ao local é complicado,
quase ninguém vai para essas áreas, especialmente devido
à violência do lugar. — Falo, e todos ficam atentos.
— Ponto de droga? Venda de armas? Qual é a
situação? — Alex pergunta.
— Drogas, tráfico. — Respondo.
— Temos acesso à planta do local para analisarmos
onde ela pode estar? — Alex questiona, e Rodrigo balança a
cabeça, afirmando que sim. Ele então nos mostra a planta
no computador.
— Ok. Não é uma planta tão ruim assim. O único
problema é a quantidade de quartos; ela pode estar em
qualquer um deles. — Coloco a mão no queixo, ponderando
sobre como agir. — Rodrigo, precisamos de alguém lá
dentro para nos passar informações.
— Deixa comigo. — Ele se levanta e vai fazer uma
ligação.
Tudo está caminhando conforme o planejado, mas
agora precisamos de mais agilidade. Cada minuto conta, e
não consigo suportar ficar aqui sabendo que Sarah está nas
mãos desse psicopata.
Ainda estamos na minha casa. Convidei todos que
participarão, direta ou indiretamente, do resgate da Sarah
para estarem aqui. Hoje, montaremos o plano de ação e
todos precisam estar totalmente cientes dele.
Lucas, o especialista em tecnologia, está no seu
laptop, mapeando a área da comunidade onde Sarah está
presa. Ele tem acesso a informações de seguranças e às
câmeras de vigilância do tráfico de drogas na região,
conseguindo invadir o sistema de forma bastante simples,
na verdade.
— Precisamos ser rápidos e discretos. — Digo, olhando
nos olhos de cada um ali presente. — Sarah provavelmente
está nesta parte da comunidade que é vigiada
constantemente. — Aponto para a tela do computador com
um marcador a laser, indicando onde acreditamos que ela
se encontra. — Quando conseguirmos entrar, teremos que
agir sem chamar a atenção.
— E como você planeja fazer isso? Não podemos
simplesmente invadir a área. — Adriano interrompe,
preocupado. Ele está nervoso com essa operação, e eu o
entendo.
— É aí que entra o nosso truque. — Rodrigo pede a
palavra e explica: — Vamos usar um baile funk que
acontece ali perto hoje à noite para nos infiltrarmos.
— Exato. — Álvaro, o capitão da equipe, toma a
palavra, explicando com calma para que todos entendam.
— Na comunidade, haverá muitas pessoas, permitindo que
nos misturemos. Usaremos roupas normais como disfarce.
Isso será mais arriscado, pois não poderemos usar coletes à
prova de balas, ou eles perceberão.
— E como vocês farão para se aproximar do
esconderijo? Isso ajudará apenas a entrar na comunidade,
não? — Alex coloca a mão na testa, tentando considerar o
que falamos.
— É aí que a Clara entra. — Clara é uma das agentes
que contratamos, especialista em disfarces e situações
como essa. — Ela estará vestida adequadamente para o
ambiente do funk e, em um determinado momento, fingirá
estar bêbada. Como o esconderijo fica bem próximo ao local
do baile, ela irá andando, fingindo que se perdeu porque
estará alcoolizada. — Ele a olha, e ela parece concentrada.
— Então, ela vai pegá-los de surpresa e neutralizar os
guardas, se necessário. — Ela acena que sim.
— Isso não será um problema. — Clara garante. —
Estou acostumada a fazer esse tipo de serviço. Os
traficantes que estão acobertando o Jack não têm
treinamento tático; só aprenderam a atirar e mal sabem
lutar corpo a corpo. São novos recrutados e não têm
treinamento algum. — Ela dá de ombros, como se estivesse
prestes a entrar em um shopping. Clara foi extremamente
bem indicada; já fez tantas missões que nem sabem ao
certo o número, e de todas saiu vitoriosa.
— E se algo der errado? Precisamos de uma saída
rápida. — Osmar, um dos militares que contratei, questiona.
— Eu conheço uma passagem secreta pela zona da
mata que leva até os fundos da comunidade. — Álvaro
afirma. — Uma vez lá dentro, teremos que ser rápidos.
Lucas, consegue resolver as câmeras no momento do
resgate? — Álvaro se vira para Lucas, que continua
mexendo em seu laptop.
— Sim, mas precisarei de alguns minutos. — Ele
responde, digitando freneticamente alguns códigos no
laptop. — Conseguirei desativar por um curto período;
teremos uma janela de tempo antes que eles percebam
algo errado. Farei parecer que há problemas de internet no
local, assim a comunicação deles ficará falha, enquanto a
de vocês estará funcionando normalmente.
— Perfeito. — Eu digo. — Isso significa que lá dentro
eles acharão que a rede caiu e poderemos continuar
acompanhando tudo em tempo real? — Pergunto, pois
quero ter certeza de que poderei monitorar cada passo do
que está acontecendo. Não posso deixar Sarah sozinha.
— Sim, exatamente, Adam. — Lucas me garante.
— Então é isso. — Olho novamente para cada um
deles e sinto a determinação que emana do grupo. —
Vamos nos preparar e garantir que Sarah esteja segura. O
resgate será hoje à noite.
Com um aceno de cabeça, o grupo continua
discutindo os detalhes, cada um contribuindo com a parte
que será responsável, para que tudo fique alinhado como
deve ser. Estou confiante de que juntos podemos enfrentar
os desafios que estão por vir e sairemos vitoriosos. Vou
protegê-la, custe o que custar!
Capítulo 49
cordo, mas não abro meus olhos. Sinto alguém,
A
ou melhor, ele, tocando nos meus cabelos enquanto
balbucia alguma coisa.
Sentia falta de te tocar assim, sabia? Seus
—
cabelos, a sua pele, me faz lembrar daquela época tão boa
que era a nossa vida. Eu era o capitão do time de futebol
americano, você fazia minhas tarefas, voltávamos para casa
juntos e comia você. Toda minha, era isso que era e é isso
que será novamente.
into uma repulsa enorme ouvindo as suas
S
palavras, mas não me movo, continuo fingindo que ainda
não acordei. Não quero ter que falar com ele ou pior, não
quero que tente algo contra meu corpo.
reciso pensar em uma forma de lidar com isso,
P
mas sinceramente não consigo imaginar uma solução. Nem
se quer sei onde estou. Preciso entender o que pretende,
mas como dialogar com ele?
Sabe que eu sei que está acordada, não é,
—
princesa? Não precisa fingir, sei pela sua respiração que já
despertou. — Ele me vira e abro os olhos para olhá-lo. Como
ele poderia saber?
Jack. — Ele me olha com uma cara feia e
—
entendo o que quer dizer — Namorado? — Ele acena a
cabeça que sim. — Onde exatamente estamos?
Princesa, tenho certeza de que não te droguei
—
tanto assim. Já falei que estamos no meu quarto de
antigamente. — Ele ainda passa seus dedos no meu cabelo
e decido deixar.
— Sim, namorado. Mas quero dizer, ainda
estamos no Brasil, certo? Onde o quarto está, exatamente?
Ah bom, acho que posso falar porque você não
—
vai a lugar nenhum mesmo. — Ele parece pensativo, como
se considerando o que pode ou não me informar. — Sim,
estamos no Brasil por enquanto, tenho assuntos pendentes
para resolver e somente por isso não fomos embora, ainda.
Mas logo te levarei para onde tudo começou.
Assuntos pendentes? Que tipo de assuntos? —
—
Tento de forma dócil continuar perguntando. O quanto mais
souber, acho que é melhor.
Não se preocupe com nada, amor. Não quero
—
que a sua cabecinha fique cheia de coisas desnecessárias.
— Ele bate com o dedo indicador na minha cabeça.
Estou preocupada com você, na verdade. —
—
Falo a primeira coisa que penso para mudar o assunto.
Jack é egocêntrico, pode ser que acredite na minha
preocupação. Ele abre um sorriso enorme, acho que
funcionou.
Ora, ora, ora. Por essa eu não esperava tão
—
cedo assim. Está realmente preocupada comigo? — Ele me
analisa e sei que preciso falar algo que o convença.
Sim, sempre me preocupo com você e sabe
—
disso, mas estou confusa ainda com tudo o que aconteceu.
Esses remédios não ajudam muito. Me sinto tonta, muito
dopada. Poderia repensar em não me dar mais eles? —
Encosto a minha mão na dele, em forma de carinho e
seguro a minha cara de horror a tudo isso.
Hum, não sei. Não estou convencido de que
—
posso confiar em você ainda, amor. — Ele vira seu rosto e
eu passo uma das minhas mãos na sua pele, fazendo
carinho, assim como eu fazia na adolescência.
— Se me quer de volta, namorado, precisa
também confiar em mim, assim como estou tentando fazer
com você. — Tento um olhar mais delicado.
Está confiando mais em mim? — Balanço a
—
cabeça que sim e sorrio levemente.
Ele ainda não está convencido, sei disso, mas sei que
um lado dele quer muito acreditar em mim.
Prometo que não irei mais lutar, mas por favor,
—
me deixa estar consciente de tudo. — Me sento com calma,
bem delicadamente, enquanto ele me olha desconfiado.
Chego próxima e lhe dou um abraço. — Preciso disso. — Falo
e tento esconder minha cara de nojo, não sei se esse
psicopata está gravando algo ou não. Sinto ele cheirando o
meu cabelo e passando os dedos sobre mim.
stou apavorada, com medo do que ele possa
E
imaginar ou querer fazer com essa interação, mas não
tenho outra opção, preciso mais do que nunca fingir que
estou voltando a ser a antiga Sarah, ou estarei ferrada.
le me afasta gentilmente e sorri para mim.
E
Passa seus dedos no meu pescoço e se aproxima dando um
beijo ali. Meu corpo fica em choque, com medo do que vem
agora, mas não me mexo. Continuo parada, imóvel e deixo
que ele faça isso. Por pior que seja, afastá-lo seria burrice.
Como eu senti falta de te encostar, Sarah. —
—
Ele fala entre um beijo e outro — Como eu me masturbei
pensando nesse momento, onde te teria de volta. — Ele
coloca novamente a minha mão em cima da sua calça me
mostrando seu pau duro e pronto para me ter.
Merda, merda. Preciso pensar em algo e rápido.
Sabe namorado, tenho que confessar que
—
também senti a sua falta. Mas estou muito dopada agora.
Quando fizermos isso, quero estar inteira, quero senti-lo por
completo, mas não me sinto bem agora. — Coloco a minha
mão no seu rosto e me aproximo da sua boca, tremendo de
pavor, mas tento me segurar. Lhe dou um beijo rápido nos
seus lábios e tento sorrir. — Me prometa que não vai me
drogar? Quero poder aproveitar esses momentos.
Ah, meu amor, sim. Vamos ter a nossa noite de
—
amor e estará bem para sentir todo o meu tesão por você.
Descanse que volto mais tarde para te ver. — Ele se
aproxima novamente e me dá um beijo rápido na boca. Me
esforço para retribuir, mas me faço de fraca, para que ele
veja que não tenho condições.
le sai do quarto e sinto a adrenalina passar.
E
Estou tremendo muito, tenho vontade de gritar, chorar,
cuspir e passar as mãos tirando seu gosto nojento de mim,
mas não o faço. Não sei se tem câmeras e não passei por
tudo isso para me queimar agora.
Me viro para o canto da parede, coloco o lençol até o
meu cabelo e me encolho toda, como se fosse de fato
dormir. Fecho os olhos e rezo, rezo muito forte por um
milagre.
Jack não volta a noite como disse que faria. Sinto um
alívio enorme por isso, mas ao mesmo tempo fico pensando
no que pode ter acontecido para que ele não aparecesse.
Mil ideias vêm na minha cabeça, mas gosto de sonhar que
Adam está tentando me resgatar.
Sei que a nossa última conversa foi péssima e que
talvez ele nem saiba o que aconteceu comigo, mas sei que
a minha tia vai tentar me socorrer e imagino que ele seja a
pessoa que ela vai procurar. Eu espero do fundo do meu
coração que ele acredite nela. Preciso de um milagre para
me dar forças para sair desse pesadelo.
Merda! O enjoo voltou. Que saco, cada dia que passa
ele vem mais forte. Saio correndo para o vaso e vomito. Fico
ali sentada, quase que abraçado a privada, mas não tenho
muitas forças para sair dali.
Jack me prometeu que não me drogaria mais e o
estranho é que hoje quando acordei, já não me sentia mais
dopada quanto antes. Mas então por que me sinto assim?
Provavelmente o que ele me deu era tão forte que ainda
não saiu do meu sistema. Deve ser meu corpo querendo
expulsar isso de dentro de mim.
Merda! Mais uma quantidade significativa de vômito
descendo pela descarga. Volto me arrastando para a cama,
viro de lado e me deito encolhida. Tento respirar
profundamente para ver se me sinto melhor, mas esse mal-
estar não sai de mim. Depois de bastante tempo sem
melhoras, um cansaço me toma e acabo dormindo
novamente.
Acordo um pouco melhor, mas sinto ainda uma
tontura, uma fraqueza. Percebo que mal toquei na comida
que me deixaram mais cedo. Pego a bandeja e resolvo que
tenho que tentar me alimentar. Ficar assim, desse jeito não
me levará a lugar nenhum. Mal conseguiria me defender, se
precisasse.
Pego um pedaço do misto quente e coloco na minha
boca. Está frio, mas parece descer bem. Percebo que estou
faminta e consigo comer tudo. Tomo bastante água, mas
logo começa novamente os enjoos. Pelo menos dessa vez,
consigo segurar a comida dentro do meu estômago.
Olho ao redor do quarto e tento analisar com detalhes
tudo o que tem lá. Desde que estou aqui, por incrível que
pareça não tive tempo para isso. Fiquei tão assustada e tão
dopada que mal saí da cama.
Deve ter alguma coisa aqui que possa me ajudar a me
defender se precisar. Algum objeto, algo que talvez seja
pontudo? Vasculho cômoda por cômoda e nada. Tem alguns
objetos normais de quarto, que até posso usar para algo,
como quebrar o abajur na cabeça dele, mas não é bem o
que queria.
Vou para perto da pia do banheiro e tento ver se acho
algo ali. Percebo no chão um pedaço de madeira caído.
Hum, isso pode servir. Tem uma ponta que se eu usar de
forma correta, posso causar algum estrago. Nada muito
bizarro, mas o suficiente para que eu ganhe uns minutos
para escapar.
Pego a madeira e volto até a minha cama. Preciso
escondê-la perto de mim e aqui é o local perfeito para isso.
Discretamente, para que se ele estiver vendo algo na
câmera, não pareça que estou fazendo isso, me deito e
consigo esconder dentro do colchão. Fico um pouco nessa
posição, como se estivesse descansando.
Resolvo voltar ao banheiro para ver se encontro mais
alguma coisa. Reparo que ele deixou alguns produtos de
higiene pessoal, além da escova de dente. Estranho que
não me lembro disso estar aqui ontem, mas realmente não
reparei em nada. Reviro os itens e vejo que ele colocou até
absorvente, pelo menos me dará uma dignidade.
Continuo olhando, mas não encontro nada. Volto até a
cama e me deito de novo, porque o enjoo está voltando.
Fecho os olhos implorando para que passe logo, mas ao
fechar a primeira imagem que vem na minha cabeça é a
imagem do absorvente. Me levanto de uma só vez.
NÃO PODE SER!
Ando com dificuldade, de um lado para o outro do
quarto, que não é grande, tentando me lembrar de quando
foi a última vez que menstruei.
— Era para ter descido antes, mas com toda essa
loucura do evento, estava tão ansiosa, depois apareceu o
Jack e acabei não reparando nesse atraso. — Penso em voz
alta.
Desde então estava tão ocupada com toda essa
merda acontecendo na minha vida que não percebi. Como
pude não perceber? Será verdade?
Coloco a mão na minha barriga e sinto um sentimento
forte me invadindo, um desespero profundo porque se for
verdade e faz sentido ser, não estou mais sozinha e mais do
que nunca, preciso sair daqui. Seja como for, ele não pode
desconfiar de nada. Se ele sonhar ou imaginar que carrego
um filho do Adam dentro de mim, não faço ideia do que é
capaz, mas vindo dele, só posso contar com o pior.
— Acho que ele nos mata. — Um frio percorre a minha
espinha e ao mesmo tempo uma força surreal de coragem
me domina.
— Ele nunca encostará na gente, meu amor. Mamãe
promete que fará o que for para nos manter vivos. — Falo
de olhos fechados, conversando com o bebê que sinto que
carrego dentro de mim. — Vamos ficar bem.
Sinto as lágrimas descendo dos meus olhos. Não era
para ser assim. Era para eu saber disso junto com o Adam.
Estaríamos em casa e eu faria uma surpresa para ele. Ele
me tomaria nos seus braços e me beijaria com todo o seu
amor, agora por nós dois. Esse pensamento me traz
felicidade e angústia. Olho para o teto do quarto, imagino
que seja o céu e imploro.
Adam, onde quer que você esteja, por favor nos
encontre. Nos salve, meu amor.
Capítulo 50
— Estamos todos reunidos antes da operação de fato
começar, porque preciso ressaltar que a prioridade é
resgatar Sarah intacta. Vocês são os melhores dos melhores
e por isso, conto com vocês para uma extração perfeita e
sem surpresas. Estamos entendidos? — Pergunto enquanto
todos estão junto comigo no esconderijo próximo de onde
Sarah está.
— Sim, senhor. — Um coro da equipe se faz presente,
enquanto cada um já está vestido e pronto para a extração.
— A segunda prioridade é me trazer o Jack com vida,
porém, não precisa ser intacto se ele não colaborar. — Todos
acenam que entenderam suas ordens.
Dou o sinal e eles seguem para o combinado. Coloco
meu fone e acompanho tudo pelas telas dos notebooks,
onde mostram as câmeras de segurança em tempo real.
Respiro fundo algumas vezes. É agora!
scuto ainda de longe a música vibrante do baile
E
funk ecoando pelas ruas da comunidade. Vejo pelas
câmeras luzes a laser, iluminando a noite com cores
brilhantes.
Rodrigo está ao meu lado. Os meninos também
viriam, mas achamos que quanto menos pessoas melhor
para a operação obter sucesso. Eles podem nos ajudar mais
se tiverem longe, em caso de algo der errado.
ucas, que está cuidando da parte tecnológica da
L
operação está aqui comigo, ele atualiza as câmaras para
que possamos acompanhar todos os passos da equipe. Ele
também causa uma pane no sistema de comunicação deles,
mas irão achar que é falha de internet.
Precisamos ser rápidos, pois não tenho certeza
—
se há alguém lá dentro capaz de resolver essa pane que
estou criando. — Lucas nos avisa.
Vemos o Capitão Álvaro e mais dois da equipe
chegando ao local. Estão usando roupas simples como
bermudas e camisetas, para não chamar a atenção. Clara
aparece mais ao longe, usando um vestido colorido que a
faz parecer frequentadora habitual dali. Todos se misturam
a multidão, sorrindo, dançando e se separam, cada um
assumindo uma posição estratégica que lhes permitem
manter a vigilância.
— Vejo mais pessoas do que o previsto. Parece que
contrataram seguranças extras no perímetro. Encontrei a
porta dos fundos que dá acesso ao esconderijo, mas não sei
até onde conseguirei chegar. Vou me aproximar e mantenho
vocês informados. — Clara nos avisa pelo ponto,
disfarçando a conversa como se estivesse falando com
alguém no local.
Vejo pela câmera que Clara está com um copo de
cerveja na mão. Ela claramente está andando torta como se
de fato estivesse muito bêbada. Ela visualiza alguns
traficantes próximos do ponto onde ela tem que entrar.
Antes deles a verem, percebo ela subindo seu vestido para
ficar bem curto, ajeita os seios, joga o cabelo para o lado e
vai até eles. Ela sorri e continua no disfarce. Vejo a cara
deles de quem estão gostando do que veem. Mal sabem o
quanto a Clara é fatal quando precisa. Logo vão descobrir.
Osmar, o militar se posiciona na parte de trás, onde
fará a extração deles. O vejo olhando o perímetro e
identificando se há possíveis ameaças ali.
— Vejo algumas pessoas aqui também. Droga! Será
que alguém nos delatou? Não era para ter tanta gente
assim. O que fazemos? Abortamos a missão? — Ouço a voz
dele pelo ponto, e meu coração aperta.
Não há a menor chance de abortarem isso. Eles
precisam resgatá-la, precisam.
— Negativo. Repito, negativo. Vamos seguir conforme
planejado. Temos mais companhias, mas somos treinados
para isso. A prioridade permanece a mesma. Vamos em
frente. — A voz do capitão Álvaro me traz um alívio
imediato.
Clara faz sinal para o capitão que vai até ela. Os
homens que estavam ali, encontram-se no chão, como
previ. Ambos conseguem os levar para um canto, onde não
serão vistos por outras pessoas.
O grupo consegue entrar, aparentemente sem
despertar suspeitas, passando por um pequeno corredor
que leva a uma área menos iluminada. Eles fazem sinais
uns para os outros, como se identificassem quantas pessoas
tem ali. Vejo um pedindo para que siga a direita, enquanto o
outra dá a volta e segue para a esquerda.
Osmar vê um dos traficantes se aproximando, mas
rápido como um relâmpago se lança contra ele, cobrindo a
boca do homem e o imobilizando, dando um mata leão para
deixá-lo desacordado. Ele joga alguns matos em cima dele.
Assim, por ser à noite, não irão perceber nada.
Olho para o relógio nervoso, precisamos agir mais
rápido, muito mais rápido. O tempo passa e eles não
comunicam nada comigo. Estou com o coração na mão, é a
vida da mulher que eu amo. Saber que estou aqui, só
coordenando me deixa frustrado, mas sei das minhas
limitações. Eu ali, só causaria maiores dificuldades, aqui
pelo menos, consigo garantir que não tenhamos problemas.
Ando de um lado para o outro, os olhos fixos na tela
do computador que mostra as câmeras e a equipe em ação.
Paro imediatamente ao perceber que a câmera congelou.
Perdemos o sinal de vídeo com eles.
— Lucas, o que foi isso? Que merda aconteceu agora?
— Vou até ele correndo.
— Perdemos o sinal, ou melhor, cortaram nosso sinal.
— Ele responde, com uma expressão confusa.
— Como assim, cortaram o sinal? Como é possível? —
Falo em um tom alto, sentindo o estresse e o nervosismo do
que isso pode significar.
— Acho que fomos descobertos.
Essas palavras fazem meu coração parar. Não
podemos ser descobertos. Sarah ainda está lá. O que isso
significaria para ela? Não, absolutamente não. Eles
precisam achar um jeito de tirá-la de lá. Precisam!
Passo os piores dez minutos da minha vida, sem poder
ver nada, no completo escuro, com a comunicação de áudio
também intermitente. Então, finalmente, ouço algumas
vozes.
— Vai, vai, vai. Rápido. — Parece ser Osmar, mas não
tenho certeza.
— Jogue a fumaça. Vamos lá, é agora. — Outra voz,
que parece ser do capitão Álvaro.
— MERDA! — Escuto isso e dou um pulo para trás,
colocando as mãos na minha cabeça.
Merda? Como assim, merda? Quem disse isso? Fico
ainda mais nervoso, andando de um lado para o outro, até
que escuto as palavras que, depois de tanto tempo, me
trazem alguma tranquilidade.
— Encontramos ela. — Clara fala ao fone.
Essa simples frase é capaz de mudar meu mundo. A
encontramos, finalmente a encontramos. Porra! Sinto uma
lágrima descendo dos meus olhos.
Mal posso esperar para tê-la nos meus braços
novamente!
Capítulo 51
Ouço um barulho alto de música vindo lá de fora,
parece um funk. Escuto passos, um barulho de chave
abrindo a porta e me levanto. Não tem janelas nesse
cômodo, mas pelo tempo que estou aqui e pelo tipo de
refeição que eles me trazem, imagino que já seja noite.
— Oi, minha princesa, estava com saudades de mim?
— Jack entra no meu quarto e fecha a porta atrás dele,
antes de se aproximar.
Reparo que está com uma mão para trás, como se
escondesse algo.
— Oi, namorado. — Tiro uma força de dentro de mim e
finjo um sorriso. —Estranhei que não passou aqui antes.
Aconteceu algo? — Tento tirar alguma informação dele.
— Ah, sabia que sentiria minha falta. — Ele se senta
na cama ao meu lado. Passa a mão no meu cabelo e mesmo
com desgosto, finjo gostar do seu toque. — Olha o que
trouxe para você. — Ele me mostra um buquê pequeno de
rosas vermelhas. Isso embrulha meu estômago e sinto um
pavor subindo por mim. Ele continua. — Não é tão grande
como as de antigamente, mas assim que voltarmos seu
quarto será todo de rosas vermelhas. — Sinto uma vontade
enorme de chorar, com medo disso que ele falou se tornar
real, mas penso nos meus pais, na minha tia e nessa
possível gravidez e consigo suportar.
— Obrigada. — Com muita dificuldade sinto o cheiro
da rosa para agradá-lo, assim como fazia antigamente.
Dessa vez, consigo controlar minha crise de pânico. — Está
tudo bem? — Tento novamente perguntar. Tenho que
conseguir extrair informações úteis dele. Sei que tem algo
acontecendo e preciso descobrir o que é.
— Claro que sim. Estava cuidando da nossa saída
definitiva do Brasil para os Estados Unidos. — Ele analisa a
minha reação e tento não aparentar pânico.
— Ah, vamos embora para a nossa cidade? —
Pergunto questionando se vamos voltar para onde
morávamos, mas ele balança a cabeça em negativa e eu
franzo a testa, sem entender o que quer dizer então.
— Não. — Fala gesticulando com seus dedos,
novamente em negativa. — Vou te levar para um lugar que
ninguém nunca irá nos atrapalhar. — Ele se aproxima e
cheira o meu cabelo. Meu corpo gela com essa
aproximação, mas não faço nada.
— O que quer dizer com isso, namorado? — Odeio
falar essa palavra, namorado. Sinto cada vez mais o medo
me invadindo, mas sei que se quero enganá-lo, preciso
continuar no personagem.
— Exatamente isso, princesa. Nunca mais vou dividir
a sua atenção com mais ninguém. Será somente minha,
como tem que ser. — Engulo seco e sinto os batimentos do
meu coração acelerando.
Ser dele não é uma opção, nunca mais serei, mas finjo
novamente.
— Mas já sou sua, não? Não precisamos ir embora
somente por isso. — Ele me olha nos olhos e vejo um brilho
vindo do seu olhar.
— Repete. — Ordena.
— O quê? — Pergunto confusa.
Esse jeito mandão me deixa sempre em estado de
alerta, hoje sei o que vem em seguida quando está assim.
— O que acabou de falar. Repete, agora mesmo. — Ele
pega as suas mãos e segura meu rosto.
— Sou sua, Jack. — Então ele me beija.
Sinto pavor em senti-lo novamente me tocando, em
sentir seus lábios no meu e sem conseguir me controlar,
uma lágrima desce do meu rosto.
— Também estou emocionado, meu amor. Finalmente
te tenho de novo. — Ele me beija novamente e mesmo
sentindo um nojo absurdo, eu tento retribuir.
Não faço por mim, faço pensando na gravidez que
acredito ter. Se eu negar isso a ele, sei que o fará a força e
não vou correr o risco de machucar meu filho.
Ele passa uma das suas mãos pelo meu corpo,
descendo até o meu peito e os toca como fazia
antigamente.
— Porra. Como você é gostosa. Como eu senti falta de
te ter assim. Olha como estou princesa. Pronto para te
comer. — Ele pega minha mão e coloca sob a sua calça.
Minha mão fica dura. A vontade que tenho é de
apertar tanto seu pau que ele nunca mais possa usar na
vida, mas sei que não posso fazer isso agora.
— Também quero isso, mas vamos com calma, Jack,
teremos a vida toda juntos. Ainda não me sinto bem. —
Tento arrumar uma desculpa para que ele pare com isso,
mas ele agarra meu pulso fortemente.
— Esqueceu quem manda no seu corpo? — Ele me
olha e faço que não com a cabeça. — Já tive muita paciência
com você, mas é melhor entender que quem manda na sua
boceta e nos seus gemidos, sou eu. Entendeu? — Faço que
sim com a cabeça, sentido dor e medo dele.
Ele volta a me beijar como se nada tivesse
acontecido.
— Deite-se. — Ordena. Respiro fundo e faço o que
manda. — Fica paradinha, não ouse se mexer. — Ele então
levanta a minha blusa e abocanha meus seios.
Fecho os olhos para tentar não ver o que está
acontecendo, mas as lágrimas caem cada vez mais de mim.
Ele abre a minha calça, desce até o joelho, desce a
minha calcinha e passa a sua mão na minha entrada. Me
contorço de agonia, sentindo seus dedos ali.
— Mandei ficar parada, não ouviu ou precisa que te dê
uma apertada para entender? — Fico quieta novamente.
Ele está daquele jeito que conheço bem, atordoado.
Ouço o barulho do seu zíper, dando a entender que
está libertando seu pau. Ele se aproxima e passa seu pau na
entrada da minha boceta e isso começa a ser demais para
mim. Achei que seria forte, que poderia com isso, mas essa
situação está insuportável.
— Ah, como senti falta disso. Abre os olhos, princesa.
Veja como ele fica por você. Como ele te quer, como eu te
desejo. — Continuo com os olhos fechados e ele grita mais
uma vez. — Abre a porra dos olhos! — Faço o que manda e
o que vejo é um monstro descontrolado com malícia nos
olhos.
Sinto um ódio, uma raiva tão grande por esse homem
que simplesmente não vou mais fingir porra nenhuma.
Fecho a cara e pela primeira vez, me permito o olhar com o
que de fato sinto. Desprezo. Ele franze os olhos, tentando
identificar a minha mudança brusca de feição, mas não dou
tempo para que entenda que estava fingindo o tempo todo.
Com o peso da minha perna, o jogo no chão.
Como posso permitir que ele esteja dentro de mim?
Posso estar carregando o filho do Adam, o nosso filho.
Nunca permitirei isso. Ele não vai me tocar nunca mais.
— Porra, Sarah. Quem você pensa que é? Ele se volta
contra mim de forma violenta, mas dou outro golpe nele,
bem no seu saco. Ele cai, contorcendo-se de dor e tento me
levantar, mas ele consegue agarrar meu pé e me jogar no
chão.
Bato na parede e me lembro do pedaço de madeira
que deixei ali. Estico meu braço e o alcanço. Antes que ele
possa me agarrar de novo, pulo em cima dele e enfio o
pedaço na sua garganta. Vejo o sangue saindo enquanto
continua deitado no chão. Merda, errei a artéria, mas isso
vai deixá-lo imóvel por um tempo.
Fico parada em cima dele por alguns segundos, acho
que entendendo o que acabei de fazer. A adrenalina sobe e
minha mão começa a tremer. Não, não vou ter um momento
de pânico agora.
Preciso lidar com isso, preciso continuar, falo para
mim mesma. Minha família e o Adam ficariam orgulhosos de
mim agora, estou lutando por mim e por eles.
— O quê? — Ele balbucia algumas coisas, enquanto
percebo que está perdendo a consciência.
Procuro a chave que o vi colocando em seu bolso. A
encontro e me levanto. Arrumo a minha roupa antes de sair
em disparada até a porta. Consigo abrir e coloco
cuidadosamente, meu rosto para fora, para ver se tem
alguém ali no corredor. Por sorte não tem.
Escuto um barulho muito alto, o que poderia ser isso?
Merda. Não sei o que está acontecendo, mas vou andando
em sentido a um corredor. Viro à direita, depois a esquerda
e ando mais um pouco. Me sinto tonta, enjoada, estou
tremendo, mas a adrenalina continua me ajudando a me
manter de pé.
Olho para trás para ter certeza de que não tem
ninguém atrás de mim e sigo meu caminho. Não sei para
onde ir, mas não vou ficar parada. Olho para o chão e vejo
uma fumaça aparecendo do nada. Sinto um cheiro ruim e
uma tontura maior do que antes me toma. Isso não me
parece da gravidez, parece ser…
Antes de apagar, escuto alguém falar.
— Encontramos ela, avise-o.
— Não, não, por favor, não. — Sinto que falo algumas
palavras antes da escuridão me dominar, mas não tenho
certeza se falei ou sonhei.
Só sei que ele não pode me encontrar de novo, não
depois disso.
Capítulo 52
Despenco na cadeira, coloco as mãos na minha testa
e respiro aliviado pela primeira vez em muito tempo, ela
está a salvo.
Rodrigo me dá o espaço que preciso e depois vem ao
meu encontro, comemorar. Só vou ficar totalmente tranquilo
quando ela estiver nos meus braços, mas saber que está a
caminho, já me deixa mais em paz.
Aguardo os minutos mais longos da minha vida. Ela
demora cerca de quinze minutos para chegar aonde
estamos. Quando a vejo, meu coração para.
Clara a leva imediatamente para uma ambulância que
contratei para fazer os primeiros socorros. Preciso ter
certeza de que ela está bem, de que não está ferida.
Vou ao seu encontro e a abraço na maca. Só em sentir
seu cheiro, sua pele junto a minha, tenho a certeza de que a
tenho novamente em minha vida.
Deixo com dificuldades que os enfermeiros façam o
que vieram fazer, um checkup básico, antes que a leve para
um hospital. Fico a vigiando um pouco de longe, enquanto a
operação continua. Agora só falta aquele filho da puta para
me sentir completo. Preciso colocar as minhas mãos nele.
Algum tempo depois, sou informado que Jack está a
caminho com alguns ferimentos. Ótimo. Era assim que eu
queria mesmo.
— Adam? — Rodrigo vai até onde estou e me chama.
— Jack está aqui, já o trouxeram.
— Pode amarrá-lo na cadeira. — Me viro e peço ao
capitão Álvaro que está o segurando. Ele acena que sim e
com a ajuda de Osmar, o amarram.
— O que está pensando em fazer com ele? — Rodrigo
se aproxima e sussurra no meu ouvido. Respiro fundo
tentando pensar o que de fato quero fazer.
— Não sei exatamente. — Olho para baixo tentando
colocar meus pensamentos em ordem.
— Adam, não faça uma idiotice. Esse verme não
merece, o pegamos. Pronto! Deixe-me lidar com ele. —
Rodrigo fala com cuidado, me analisando conforme suas
palavras saem de sua boca.
Não respondo nada, só me viro e olho para o Jack. Vê-
lo daquela forma, apagado e com uma cara horrível já me
causa uma satisfação. Só não sei se é o suficiente.
— Preciso pensar. — Respondo ao Rodrigo e me viro
novamente. — Ele está desacordado a quanto tempo? —
Pergunto diretamente ao capitão.
— Cerca de uns quinze minutos. Injetamos nele uma
substância para apagar, mas deve passar o efeito daqui a
pouco. — Informa sentando-se na cadeira. Parece cansado.
— Ok, me avisem assim que ele acordar. — Eles
acenam que sim com a cabeça e decido ir até a Sarah.
Já deu tempo suficiente de a examinarem para
verificar se ela está bem.
A cada passo que dou ao encontro dela faz meu
coração acelerar. Será que já acordou? Quando a deixei com
os enfermeiros, ainda estava desacordada, provavelmente
por conta da fumaça que jogaram. A ideia era apagar os
traficantes para facilitar a fuga, mas sabíamos que ela
poderia ingerir, por isso tomamos muito cuidado na
dosagem. O caso do Jack foi diferente, além da fumaça, ele
ganhou um coquetel no pescoço.
— Ela está bem? — Me aproximo da ambulância que
colocamos na parte de trás da rua e pergunto ao enfermeiro
responsável.
— Sim. Ela estava um pouco desidratada, mas a
colocamos no soro com vitaminas para repor a sua energia.
Não é nada grave, mas recomendo fazer mais alguns
exames no hospital. — Aceno com a cabeça, pois já
pretendia depois de tudo isso, levá-la para fazer os exames
necessários. Inclusive deixei uma consulta agendada com
meu médico de confiança, assim sei que não me fará
perguntas.
— Poderia nos dar licença? Gostaria de um momento
a sós com ela. — Ele faz que sim com a cabeça e se retira.
Me sento ao lado da sua maca e a olho dormindo.
Parece plena, apesar de tudo que aconteceu, seu semblante
está melhor do que quando chegou. Deve ser o soro
fazendo efeito. Passo a mão nos seus cabelos e sinto ela
mexendo, parece estar acordando.
— Adam? — Seus olhos abrem com certa dificuldade,
mas ela parece me identificar rapidamente.
— Sim, amor. — Sorrio aliviado.
— Você está aqui! — Ela murmura com dificuldade,
imagino que por tudo o que passou.
— Estou, Sarah, estou aqui com você. Está segura
agora. — Pego a sua mão e faço carinho para que possa me
sentir ali.
— Eu não sabia se conseguiria voltar. — Seus olhos
brilham e vejo as lágrimas querendo sair. — Foi tão
assustador, Adam. Eu pensei, por um momento, que nunca
mais o veria.
— Não fale isso, meu amor. — Gentilmente me
aproximo e lhe dou um beijo suave na boca. — Eu estaria
perdido sem você. Nunca mais passaremos por isso, ouviu?
Está segura comigo. — Ela acena que sim. — E me perdoa.
— Ela me olha confusa. — — Desde o incidente na ONG, eu
já sabia sobre o Jack. Afastá-la foi a forma que encontramos
para mantê-la segura, até que eu tivesse as informações
necessárias para acabar com ele — Explico.
— Adam, você me salvou. — Ela se ajeita na maca e a
ajudo a se sentar. — Eu errei por não ter confiado em você
antes e peço desculpas também por isso. — Sarah me olha
nos olhos e finamente deixo as lágrimas caírem.
— Meu amor, não tem nada o que se desculpar.
Vamos deixar tudo isso no passado. Ok? — Ela sorri e faz
que sim com a cabeça e nos abraçamos.
— Mesmo estando com medo, algo dentro de mim me
dizia que iria vir me salvar. Eu sabia que iria me proteger,
Adam. — Ela coloca sua mão no meu rosto, como se
reconhecendo a minha pele.
— Sempre, meu amor. Sempre te protegerei. —
Seguro seu rosto delicadamente, deixo meus polegares
também o acariciarem. — Nada vai nos separar novamente,
nada.
A olho nos olhos e ver a mulher que amo tão forte e
ao mesmo tempo tão vulnerável, aperta meu coração. Com
um gesto suave, levo minha mão até os seus ombros e faço
uma massagem ali fazendo-a relaxar um pouco. Ela sorri,
um sorriso que ilumina seu rosto e a tensão que havia antes
se dissipa lentamente.
Me inclino e deposito um beijo suave em seus lábios,
quero ir com calma, quero deixá-la confortável e segura
aqui comigo.
Ouço um barulho e fico alerta, alguém está se
aproximando. Olho para os lados e vejo Rodrigo andando
em nossa direção.
— Oi, Sarah. Como se sente? — Pergunta preocupado
com ela.
— Agora estou bem, Rodrigo. Obrigada por estar aqui,
por ter me ajudado. — Ela sorri demonstrando genuína
gratidão a ele.
— Não há nada que agradecer. Estamos felizes e
aliviados que não está mais em perigo. — Ele se vira para
mim e completa. — Ele acordou, estão te chamando para
sairmos logo daqui. Faço que sim com a cabeça e antes de
me levantar da maca, Sarah coloca a sua mão na minha e
pergunta.
— Quem acordou? Ele está aqui? — Me olha com os
olhos arregalados aguardando uma resposta.
Faço que sim com a cabeça, confirmando. Ela respira
fundo e faz sinal de que vai se levantar.
— Onde pensa que vai, amor? — Imediatamente a
paro. Ela ainda está debilitada para se levantar.
— Vou até ele, junto com você. — Fala firmemente.
— Nem pensar. Precisa descansar. — Coloco minhas
mãos gentilmente nos seus ombros, impedindo que se
levante.
— Preciso encará-lo. — Ela me olha com toda a sua
força e determinação. — Ele foi o responsável por quase
destruir a minha vida. Não vou ficar aqui deitada enquanto
você vai lá sozinho falar com ele. Vou junto e pronto. Estou
a salvo, não temos mais o que temer. Preciso disso. — Ela
me encara implorando com os olhos.
— Ok, mas fique perto de mim. — Ela acena que sim
com a cabeça.
Vamos ao encontro desse filho da puta.
Jack está sentado em uma cadeira, seus pulsos e
tornozelos amarrados firmemente e reparo em um
machucado no seu pescoço. Sinto uma satisfação ao vê-lo
assim. Estou de mãos dadas com a Sarah e me preocupo
em como irá reagir ao vê-lo, mas ela me surpreende mais
uma vez, se mostrando forte e firme ao meu lado.
O que me chama a atenção ao ver Jack, é o seu olhar
frio e calculista, uma expressão de desprezo pintada em seu
rosto. Estamos rígidos em frente a ele, tentando controlar o
misto de raiva e alívio que sinto.
— Você se acha esperto, não é, Jack? — Falo com a
voz carregada de tensão, mas ele continua olhando para o
nada. — Pensou que poderia escapar das consequências dos
seus atos? — Pergunto e fico um pouco à frente de Sarah,
mas ele nem se quer reage, continua imóvel.
— Jack, como pode fingir que não se importa? —
Escuto a voz de Sarah se dirigindo a ele.
Pensei por um momento que ele não iria conversar
conosco, mas escuto uma risada baixinha vindo dele.
— Porque não me importo. — Ele ri mais alto. — Eu fiz
o que quis e vocês não podem mudar isso. A vida é um jogo
e sempre joguei para ganhar, princesa. — Dá de ombros
como se falasse de algo simples.
— Você destruiu vidas! — Sarah dá um passo à frente,
o encarando. Não gosto disso, dela estar tão perto dele,
mesmo que amarrado, mas sinto que ela precisa desse
momento, então dou mais um passo, para ficar mais perto,
se precisar. — Você pensa mesmo que isso é um jogo? As
pessoas que machucou, as famílias que você destruiu. Isso
não é algo que se possa ignorar.
— Ah, mas é exatamente isso que faço. Eu ignoro!
Sabe por quê? Porque não me importo com ninguém. Todos
devem apenas saciar as minhas vontades, assim como você
fazia com meu pau, princesa. — Ouvir essas palavras, ele
falando assim com ela, faz crescer uma onda de ódio dentro
de mim e imediatamente vou até ele e dou um soco forte na
sua cara. Ele cospe sangue.
— Nunca mais ouse falar assim com ela, ou vai se
arrepender, entendeu? — Enfio o dedo na sua cara, falando
de uma forma que o deixe ainda mais irritado. Também sei
fazer isso.
— Ah é? E o que vocês vão fazer? — Ele nos olha com
sarcasmo. — Me prender? Me torturar? Isso não me assusta.
— Ele ri com desdém. — Vocês sabem que não podem me
parar. Nunca estarão a salvo de mim. — Estou pronto para
dar um soco na sua cara pela segunda vez, quando Sarah
vai até ele como uma leoa e lhe dá um soco forte no
estômago.
Ele sente o golpe na mesma hora, porque perde o ar.
— Gostou disso? — Ela se abaixa um pouco longe e
fala na sua cara. — Nós já te paramos. Você é quem está
preso aqui e temos o que precisamos para te colocar atrás
das grades. — A olho com orgulho, porque sei o quanto isso
significa para ela.
Enfrentar os seus medos, os seus demônios e é isso
que Jack é, um demônio.
— Provas? Isso é hilário. — Tenta rir para disfarçar que
está com dor, podemos ver isso claramente. — Existem
buracos na lei, sempre há uma forma de escapar. — Dá de
ombros como se fosse esperto.
Esse cara de fato é louco, mesmo preso se acha mais
esperto do que todos nós.
— Jack, permita-me me apresentar. — Rodrigo que até
então estava calado no canto da sala, vendo a situação,
resolve falar. — Isso até poderia ser verdade se eu não fosse
o advogado que fará você passar a sua vida inteira
implorando misericórdia. — Jack o analisa, mas tenta fingir
que não liga e ri.
— Não importa quem seja, sou norte-americano e
terão que me entregar a Interpol. Não serei julgado aqui e
tenho contatos suficientes lá para me tirarem dessa. — Ri
como se tivesse ganhado a partida, mas Rodrigo ri junto. Ele
o olha confuso.
— É tão burro a ponto de já me soltar informações,
não que eu precise, porque já sei tudo sobre a sua vida,
inclusive o nome dos seus amiguinhos lá fora. Fique
tranquilo, pois posso e vou advogar no seu caso nos Estados
Unidos. Ah, quero que saiba de um detalhe, nunca perdi um
caso, e o seu, eu terei ainda mais prazer em resolver. — Jack
o olha como se estivesse duvidando de suas palavras e fico
feliz por ter Rodrigo como amigo.
— Ah, Jack, eu se fosse você ficaria apavorado. Você
não conquistou só um inimigo como eu, que já lhe daria
problemas para a vida toda, mas conquistou um advogado
brutal que fará de tudo para acabar com você. — Falo me
aproximando bem perto dele. O olho de forma superior e
finalizo. — A batalha está só começando Jack, vamos ver até
onde vai aguentar.
O deixo resmungando alguma coisa sozinho e saímos
do local. Rodrigo cuida para que todos os procedimentos
sejam feitos da forma certa para que possamos usar o que
temos a nosso favor, quando o julgamento começar.
Acompanho Sarah que está se sentindo fraca para
fora, está na hora de irmos para o hospital. Ela precisa fazer
uma consulta com meu médico para repor as suas
vitaminas e nutrientes. Depois finalmente poderemos ir
para a nossa casa.
Capítulo 53
Estou deitada na cama do hospital. Abro os meus
olhos sentindo a luz suave do dia se fazendo presente. Puxo
o ar e sinto o sol batendo no meu rosto e um calor
reconfortante me atinge.
Adam está ao meu lado, segurando a minha mão
enquanto parece dormir. Nossa, ele também deve estar
exausto. Depois desses dias de dor e luta, finalmente sinto
que essa tempestade vai se acalmar.
Passo umas das minhas mãos no seu cabelo, lhe
fazendo carinho por um tempo. Esse silêncio, essa
tranquilidade era tudo o que eu precisava. Fecho meus
olhos novamente e fico assim, curtindo esse momento.
— Oi, meu amor. — Falo quando vejo Adam
despertando.
Ele passa a mão no seu rosto e sorri ao me ver bem.
— Oi, amor. Como você está? — Pergunta preocupado
me analisando.
— Estou bem. — Falo o acalmando quando o médico
entra no quarto com um semblante sério, mas acho que
deve ser só o jeito de médico mesmo.
— Bom dia! Como está se sentindo hoje, Sarah? — Ele
me pergunta.
— Bem, acabei de falar para esse daqui que estou
bem. — Cutuco o Adam que sorri aliviado. — Tudo em
ordem? Estou liberada para ir para casa? — Pergunto
esperançosa.
Chegamos ontem e Adam achou melhor que
ficássemos aqui tendo todo o suporte necessário. Como
tenho as minhas dúvidas, também achei melhor aguardar o
resultado dos exames.
— Sim, mas antes quero conversar com os dois. Tenho
uma notícia importante para dar. — Meu coração bate
rápido porque acredito que seja sobre a minha suspeita,
algo me diz que é isso sim.
— O que é, doutor? — Adam pergunta aflito e olho
para ele que parece confuso, preocupado.
Não quis dividir minhas dúvidas com ele ontem
porque não era o local, não queria que soubesse lá, naquele
lugar.
— Após o exame, confirmamos algo. — Diz com
suspense. Sinto Adam quase gritando com ele para saber o
que é. — Parabéns, você está grávida. — Ouvir essas
palavras confirmando o que eu já sabia, simplesmente é
algo sensacional.
Permito que algumas lágrimas invadam meus olhos.
Me viro para o Adam e o vejo em choque.
— Grávida? — O médico faz que sim com a cabeça.
— Acreditamos que já tem cerca de oito semanas. —
Ele sorri, e sai, nos deixando a sós.
— Meu amor. — Ele se vira para mim com os olhos
arregalados. — Você não só voltou para mim, como me
trouxe um lindo presente? — Seu jeito doce de falar me
deixa ainda mais encantada por ele. Ele está olhando para
minha barriga com um sorriso enorme no rosto. — Você está
carregando nosso filho, ou filha, aqui dentro. — Ele passa as
mãos fazendo carinho na minha barriga.
— Sim, amor. Na verdade, senti uns sintomas lá e
suspeitei. Eu sentia que estava grávida. — Explico para que
ele não entenda errado.
— Vai ficar tudo bem agora, nós vamos ficar bem. Eu
prometo. — Faço que sim com a cabeça. Ele então se
levanta um pouco e beija a minha barriga, me
surpreendendo com mais esse gesto amoroso. — Amo
vocês!
— Nós também te amamos muito, Adam. — Ele me
olha emocionado e eu me acabo de chorar, mas porque
estou feliz.
Tenho ele e meu bebê aqui comigo e finalmente pude
falar em voz alta, depois de tudo, que o amo. Nossa, como o
amo!
Essas semanas têm sido um pouco estranhas, o que
sei que é normal, considerando tudo o que passei. Não é
fácil voltar à rotina, embora eu esteja tentando. Adam tem
sido maravilhoso comigo – ou melhor, conosco. Seu cuidado
e carinho me fazem ter certeza de que, finalmente, sou
verdadeiramente amada. Conversamos muito sobre tudo o
que aconteceu, e ele me contou em detalhes suas suspeitas
e as descobertas sobre Jack, incluindo o fato de ele estar
por trás da sabotagem na empresa de Adam.
Eu não fazia a menor ideia, mas como poderia? A
obsessão de Jack parecia não ter fim..., mas agora sei que
acabou.
Desde que voltei, tenho feito muitas sessões de
terapia. Agora, estou oficialmente morando com Adam.
Depois de tudo o que aconteceu, estar longe dele
simplesmente não fazia sentido. Minha psicóloga tem sido
essencial para me ajudar a lidar com as emoções que
voltaram à tona. Parece que estar naquele esconderijo me
fez reviver tudo o que aconteceu quando eu era
adolescente.
— Amor, está tudo bem? — Adam entra na sala,
interrompendo meus pensamentos.
— Sim. — Estico as mãos, chamando-o para sentar
comigo no sofá.
— Tem certeza? — Ele se junta a mim. — Sabe que
pode compartilhar qualquer coisa comigo, não sabe?
— Eu sei, mas às vezes é difícil falar. — Respiro fundo.
— Tudo ao seu tempo, amor. Só quero que tenha
certeza de que não está sozinha. Eu estou aqui. — Ele me
puxa para seus braços, oferecendo o conforto que preciso.
— É só que estar lá, com ele, naquele lugar, naquele
quarto que ele recriou, trouxe muitas lembranças...
lembranças que eu preferia esquecer. — Ele acaricia meus
cabelos, me apoiando em silêncio, me dando espaço para
organizar os pensamentos. — Quando era mais nova, eu
acreditava de verdade nele. Acreditava que o que ele fazia
era amor. Depois, com os abusos e as crises de pânico, eu
estava tão triste e infeliz que parecia normal, como se
crescer significasse aquilo. É estranho porque, para quem
nunca viveu isso, parece óbvio, mas para quem vive o
abuso diariamente, nada disso é claro.
— Ah, meu amor, como eu queria ter te conhecido
antes, como queria que nada disso tivesse acontecido com
você. Mas eu sinto tanto orgulho da mulher que você se
tornou. Sabe disso, não sabe? — Ele me olha com carinho, e
faço que sim com a cabeça. — Você poderia ter escolhido
tantos outros caminhos, mas dedicou a sua vida a essa
profissão e criou uma ONG para ajudar pessoas que
passaram pelo que você passou. Isso só prova o quanto
você é forte e guerreira. — Olho para ele com os olhos
marejados, emocionada pelas suas palavras.
— Obrigada, amor. Ter o apoio de vocês tem sido
essencial para mim. Me sinto mais forte e segura de que
fizemos a escolha certa com relação ao Jack. Ele vai pagar
por tudo, porque juntos, nós o faremos pagar.
Conversamos mais um pouco e decidimos assistir a
um filme de romance da Disney. Ele insistiu que estava na
hora de eu voltar a ver o que amava quando era criança, e
concordei. Não vou mais permitir que Jack ou qualquer outra
pessoa tenha tanto poder sobre mim a ponto de me afastar
das coisas que me fazem bem.
Sou uma nova Sarah, e quero ser um exemplo para
esse bebê que carrego dentro de mim. Quero que ela saiba
que, não importa o que aconteça na vida, sempre podemos
dar a volta por cima e lutar pela nossa felicidade.
Quase um mês se passou, e hoje me sinto muito
melhor. Descobrimos que vamos ter uma menininha, e eu
não poderia estar mais feliz com essa notícia.
Voltei às minhas atividades normais e, principalmente,
para minhas pacientes. Nossa, como eu estava sentindo
falta disso, delas, da oportunidade de poder ajudá-las.
Hoje, Adam acordou um pouco mais cedo do que eu e
não está na cama. Achei estranho, já que ele sempre me
espera para descermos juntos. Confesso que estou amando
essa nossa rotina. Ter ele assim, tão próximo, me faz tão
bem, especialmente a forma doce como ele me acorda.
Sorrio com esse pensamento. Nossa conexão que já
era ótima, evoluiu para algo indescritível, algo que eu
sequer consigo explicar de tão perfeito.
Ouço um barulho no corredor e olho para a porta,
imaginando que seja ele vindo me acordar. Fecho os olhos e
finjo que estou dormindo, porque quero que ele volte para a
cama.
Sinto-o se aproximando devagar, provavelmente para
não fazer barulho e me assustar. Parece que ele coloca algo
na cama, pois sinto um peso levemente diferente do que
seria só ele. Então, ele sussurra no meu ouvido enquanto
acaricia meu cabelo.
— Acorda, meu amor, tenho uma surpresa para você.
— Na mesma hora me levanto, empolgada, curiosa para ver
o que ele inventou.
Quando abro os olhos, vejo uma linda bandeja de café
da manhã, cheia de tudo que eu adoro, me esperando.
— Ah, que perfeito! — digo, animada.
— Pela rapidez com que você levantou, acho que
alguém aqui não estava realmente dormindo, né? — Ele
ergue a sobrancelha, e eu dou uma risadinha.
— Já tinha acordado, mas ouvi você chegar e quis
enrolar. Valeu a pena. Mas o que estamos comemorando? —
Pergunto curiosa, já que não lembro de nenhuma data
especial para hoje.
— Estamos comemorando a vida. Desde que te
recuperei há cerca de um mês, junto com o nosso presente
mais lindo, meu coração finalmente encontrou paz. Nunca
imaginei sentir tanto amor por alguém como sinto por você
e, agora, pela nossa menina também. Acordo e durmo
realizado por ter vocês na minha vida, e nada significa mais
para mim do que a felicidade de vocês. É por isso que não
posso esperar mais para fazer isso.
Ele pega uma caixinha de joias que estava escondida
atrás dele. Então, se levanta da cama e se ajoelha. Meus
olhos se arregalam, mal acreditando no que ele está prestes
a fazer.
— Sarah Campbell, há muito tempo desejo te fazer
essa pergunta. Sou seu e sempre serei, você tem todo o
meu coração, por isso preciso saber. Quer se casar comigo?
— SIMMM! — Me jogo em cima dele, morrendo de
alegria por esse momento. — A verdade, Adam, é que sou e
sempre serei sua também. Eu te amo!
Ele coloca o anel lindo de diamante no meu dedo e
me dá um beijo apaixonado, cheio de amor e significado.
Meu corpo imediatamente reage aos seus toques e
ele abre um sorriso que conheço bem. Ele coloca
rapidamente a bandeja no chão e me deita novamente.
Beija meu pescoço, meu seio e deposita beijos na minha
barriga, até chegar próximo a minha entrada.
Sorte que não estou de calcinha, depois da noite de
ontem, digamos que não fazia sentido usar. Ele abre as
minhas pernas gentilmente e passa sua língua em volta da
minha vagina.
A onda de excitação me invade e coloco a minha mão
no seu cabelo.
— Que tal eu te dar um orgasmo de café da manhã,
minha noiva? — Ele fala entre uma lambida e outra. Ouvir a
palavra noiva, aquece meu coração e me deixa ainda mais
ansiosa por tê-lo.
— Ahh… Sim! Por favor, meu noivo. — Peço entre um
gemido e outro, usando também a minha nova palavra
favorita do momento.
Ele então vai com tudo e me chupa com vontade.
Adam sabe exatamente como fazer um sexo oral. Sua língua
se movimenta perfeitamente ao redor do meu clitóris, me
deixando ainda mais excitada e quando estou quase
implorando por mais, ele se concentra em movimentos
rápidos junto com seu dedo que entra de uma vez dentro de
mim.
— Ah, que delícia. Olha como já está pronta para mim,
amor.
— Sempre vou estar. — Falo enlouquecendo com seus
movimentos.
— Porra, Sarah! Sou louco por você.
Como se quisesse me dar um presente, ele enfia outro
dedo dentro e mete com tudo, enquanto continua me
chupando. Isso é o suficiente para me fazer gozar de uma
vez.
— Agora vou te comer, como você merece! — Ele vem
com seus músculos fortes até mim e me dá um beijo
ardente.
O puxo e ele entra com seu pau gostoso em minha
boceta, de uma vez. Arqueio as minhas costas, sentindo o
impacto de tê-lo dentro de mim, mas já estou acostumada
com seu volume grande e grosso. Temos praticado bastante,
por assim dizer.
Ele inicia um entra e sai devagar, sentindo o nosso
momento junto, sem pressa. Como eu amo quando começa
assim, temos tanta conexão que até nisso é perfeito. É
como se ele soubesse o tipo certo de sexo que quero a cada
momento juntos.
Aumentamos nossos movimentos, até estarmos
suados e a ponto de gozar novamente. O beijo quando sinto
os espasmos no meu corpo, ele se junta a mim e goza em
seguida.
Estamos deitados na cama, eu estou em seu colo
aproveitando esse momento tão gostoso quando ele me
chama. Eu o olho, esperando o que tem para me dizer.
— Te amo, Sarah!
Capítulo 54
Esses últimos meses passaram tão rápido que ainda
sinto como se tudo tivesse acontecido ontem. Estamos
ansiosos com isso e Adam está como um pai babão, compra
tudo o que vê pela frente para a nossa menina.
Estamos nos Estados Unidos, na Flórida, passamos
algumas semanas aqui. Mamãe e papai finalmente,
puderam se juntar a nós. Desde que tudo aconteceu, eles
tinham medo de me encontrar e meu paradeiro ser
descoberto pelo Jack, então passamos os últimos seis anos
nos falando somente por vídeos.
Fiz questão que Adam e meus pais se conhecessem
logo e morri de emoção com esse encontro. Esperei tanto
para terem eles assim, junto a mim, e a sua netinha que
está na minha barriga, crescendo bem e saudável.
Hoje é o dia do tribunal, onde vamos saber o destino
do Jack. Como ele é americano, o julgamento terá que ser
sobre as leis americanas. Sorte que ainda assim, Rodrigo
continuará sendo advogado de acusação, pois ele tem
licença e pode advogar aqui também. Claro que o
julgamento será todo em inglês, que é a minha língua natal.
Adam e Rodrigo, por serem empresários renomados na
sociedade, também são fluentes, então não teremos
problemas quanto a isso.
Estou extremamente ansiosa e nervosa com tudo isso.
Sabemos como a justiça muitas vezes funciona - ou, melhor,
não funciona - e tenho receio de que as coisas não saiam
como planejado. O que me tranquiliza é saber que o Rodrigo
está cuidando dessa parte. Não há ninguém melhor para
isso, então confio que estamos em boas mãos.
— Está pronta, meu amor? — Adam entra no quarto e
me analisa. Provavelmente preocupado em como estou me
sentido.
— Estou. — Respiro fundo e vou até ele. — Não se
preocupe comigo. Estou ansiosa, mas estou confiante.
— Você é uma mulher incrível, amor. Tenho muito
orgulho de tê-la ao meu lado. — Ele me puxa para um beijo
apaixonado e saímos em direção ao carro que está nos
aguardando.
Entrar nesse lugar me causa calafrios, porque sei o
que me espera quando a audiência começar. Eu e a Mia, a
garota que Jack de fato estuprou, teremos que testemunhar
contra ele. Relembrar todas as situações que passamos é
difícil, mas necessário.
Desde que Rodrigo me explicou em detalhes como
tudo aconteceria, eu sabia que seria doloroso, mas que
tinha que fazer isso, por mim, pela minha filha e por todas
as mulheres que já passaram situações como essa, ou até
mesmo piores e que nunca tiveram a oportunidade que
estou tendo, de colocar o agressor atrás das grades.
A nossa justiça é muito falha, principalmente para
quem tem mais dinheiro e pode abafar as coisas, mas nesse
caso, podemos lutar e vamos lutar, mesmo que seja em
outro país.
— Sarah, pode me acompanhar? Vai começar e
preciso que esteja no local de testemunhas, junto com a
Mia. Ela está bem nervosa e acho que vai ajudar, se estiver
com ela. — Rodrigo me pede e concordo com a cabeça.
— Certo. Vou agora mesmo. — Me despeço do Adam
que está com uma cara péssima.
Dou um abraço nos meus pais e na Tia Irene que se
juntou a nós.
— Vai dar tudo certo, querida. — Titia me fala durante
o abraço.
Sentir o apoio deles, me dá a força que preciso para
seguir em frente.
— Sei que vai dar certo. Confio nisso. — Dou um
sorriso para tentar tranquilizar seus corações agitados e
sigo Rodrigo até o local indicado.
Sento-me ao lado da Mia, pego em sua mão e sorrio
gentilmente para ela.
— Obrigada por estar aqui, sei o quanto é difícil, mas
precisamos encerrar isso para seguirmos com as nossas
vidas. Só imagino o que tenha passado com o Jack, mas ele
vai pagar. Vamos fazê-lo pagar. — Ela me olha mais
confiante e faz que sim com a cabeça.
O julgamento começa e ficamos na sala afastadas.
Não saber exatamente o que está rolando, me deixa
ansiosa, mas ao mesmo tempo é bom não ouvir as mentiras
que devem estar inventando sobre nós.
A coisa mais comum nesses casos é tentar fazer o
homem de vítima e a mulher de louca, de safada e de
vadia. É a forma que muitos já se safaram, inclusive.
A nossa sociedade é muito falha, basta a palavra de
um homem contra a de uma mulher, que acreditam que ele
é o certo. Muitas coisas já mudaram para melhor, mas ainda
estamos muito longe de ter uma sociedade justa. A culpa
ainda acaba sendo da vítima. Mas hoje não, hoje ele pagará
pelos crimes que fez.
Estamos há três horas aguardando até que me
chamam. Decidimos que eu seria a primeira, porque isso
daria força para a Mia seguir depois. Dou outro abraço nela
e vou acompanhada pelo oficial.
A porta do tribunal se abre com um rangido. Hesito
por um breve momento, sentindo o peso do ar naquele
local, mas respiro fundo e sigo o meu caminho. Meu coração
segue acelerado e cada passo que dou, parece ecoar no
silêncio que faz aquele ambiente.
Nunca estive em um julgamento, mas parece bastante
com o que vemos em filmes, a sensação é horrível. Passa
tudo de novo pela minha cabeça e sinto medo, mas não
deixo que isso me impeça de continuar.
Encaro Jack com ódio, mas ao memo tempo com
satisfação por vê-lo subjugado. Depois de todos os tramites
e de dar todo o meu depoimento, o vejo sorrindo, como se
gostasse de tudo o que falei, quase como se sentisse prazer
nisso.
Filho da puta doente!
Minha vontade é de dar umas porradas na sua cara e
quebrar todos os seus dentes para ver se continuaria
sorrindo, mas o oficial me acompanha de volta ao lugar que
estava com a Mia.
Foi difícil dizer tudo o que precisava, especialmente ao
ver a reação daquele psicopata. Ainda assim, sinto um alívio
por finalmente compartilhar minha história.
Olho para a Mia, que é a próxima, pego em sua mão e
falo:
— Você consegue. Faça ele pagar pelo que te fez. —
Ela fecha os olhos por alguns segundos, e quando os abre,
vejo que está reunindo coragem.
Com um aceno, ela confirma e sai acompanhada do
oficial.
Como já testemunhei, Rodrigo conseguiu uma
permissão para que eu acompanhe o depoimento de Mia.
Fico discretamente em um canto, longe de olhares curiosos,
mas ainda assim me sinto segura.
A tensão na sala é palpável, pois Mia realmente sofreu
o abuso; ela não teve, digamos, a mesma chance que eu
tive de impedir que isso acontecesse.
Ela começa a falar, e sinto meu peito apertar. É
pesado, pesado demais.
Capítulo 55
Ouvir o depoimento de Sarah foi difícil. Porra! A
vontade que tenho é de levantar agora, ir até aquele
homem e acabar com ele com minhas próprias mãos.
Se não estivéssemos em um tribunal, eu
provavelmente já teria feito isso, e desta vez nem o Rodrigo
conseguiria me parar, ninguém conseguiria. Respiro fundo,
cogitando sair da sala para tomar um ar e esfriar a cabeça,
mas anunciam que será a vez de Mia. Preciso ficar, por ela e
por Sarah. Prometi que acompanharia tudo até o fim, e vou
manter minha palavra.
Todos na sala estão em choque com o depoimento de
Mia. Eu, que sempre me considerei um homem forte, me
pego chorando, tomado por um sentimento horrível ao
pensar que tudo o que ela relatou poderia ter acontecido
com a Sarah.
Olho ao meu redor e vejo as expressões dos outros,
inclusive a do juiz. É impossível ouvir tudo isso e
permanecer indiferente. Foi pesado demais; ela sofreu tanto
e era tão jovem. Baixo a cabeça e respiro fundo, tentando
assimilar tudo o que ouvi hoje.
Assim que Mia é liberada do testemunho, uma equipe
de médicos e psicólogos já a espera para oferecer apoio.
Reviver tudo isso deve ter despertado sentimentos intensos,
e sei que ela vai precisar de ajuda, não apenas hoje, mas
por muito tempo.
Tomei providências para que ela e sua família tenham
acesso ao tratamento que necessitarem para o resto de
suas vidas. Quero mostrar a ela que ainda existem homens
de bem e que é possível ter uma vida feliz. Ela merece isso.
A coragem que demonstrou ao reviver os detalhes do pior
dia de sua vida me dá a certeza de que, apesar de tudo, ela
ficará bem.
Pela primeira vez, olho para Rodrigo e percebo que ele
estava certo. A morte para esse psicopata seria uma saída
fácil demais. Ele merece pagar pelo que fez, lentamente,
sofrendo dia após dia, como fez essa menina sofrer, como
fez a minha Sarah sofrer.
Não, ele não vai morrer e farei questão de cuidar
pessoalmente para que isso não aconteça.
O advogado de defesa tenta justificar como se tudo
tivesse sido consentido, como se ambas tivessem tentado
seduzi-lo e que Jack só agiu como agiu porque elas queriam.
O que me causa nojo é que muitos estupradores usam
essa mesma desculpa e saem impunes. Eles manipulam a
situação de forma a fazer as vítimas, as mulheres, se
sentirem culpadas. Mas não dessa vez. Não comigo e com
Rodrigo no controle de tudo.
Usamos todas as provas que tínhamos contra os
crimes que ele tentou cometer contra a minha empresa,
aumentando ainda mais a ficha de denúncias contra ele.
Jack é julgado culpado por unanimidade. Conforme
Rodrigo solicitou, aceitaram que ele não fosse condenado à
pena de morte, mas sim à prisão perpétua. O olhar de Sarah
e Mia melhora um pouco quando a sentença é anunciada,
pois a agonia delas era insuportável.
Elas se abraçam emocionadas e choram juntas. Não é
um choro de tristeza, mas de alívio, de justiça finalmente
sendo feita, mesmo após tantos anos.
Aperto a mão de Rodrigo e o abraço. Sempre serei
grato por tudo o que ele fez por elas e por mim. Sabia que
ele faria a justiça que tanto precisávamos.
— Preciso te pedir mais um favor. — Falo sussurrando
para Rodrigo. — Preciso de um minuto a sós com o Jack,
antes que o levem daqui. — Rodrigo levanta uma
sobrancelha e me observa, avaliando. — Não farei nada, se
essa é a sua preocupação, pode ficar presente.
— Ok, estarei presente. Me dê uns minutos para
organizar isso. — Faço que sim com a cabeça, e ele se
retira.
Vou até Sarah e a abraço apertado.
— Sinto muito por tudo o que você passou, amor. E
mais ainda por você ter guardado isso dentro de si. Ouvir o
quanto lutou para que ele não te tocasse só me faz te amar
ainda mais, e eu nem achava que isso fosse possível. Te
amo muito! — Ela me abraça de volta, permitindo que as
lágrimas continuem a cair do seu rosto.
Após alguns minutos, Rodrigo me chama, e eu peço
para que eles sigam para o apartamento enquanto eu
resolvo alguns detalhes burocráticos. Vou me juntar a eles
depois. Sarah me olha com desconfiança, mas não diz nada.
Confia em mim o suficiente para sair sem questionamentos.
Entro em uma cela, e os dois policiais responsáveis
pela segurança do local nos dão licença para ficarmos a sós
com Jack. Ele está sentado em uma cadeira, algemado, para
evitar que faça algo contra nós.
— O quê? Veio rir da minha cara? — Ele grita, e eu
sorrio.
— Não, não perderia meu tempo só para isso. — Me
aproximo dele e me sento na cadeira à frente. — Preciso te
contar algo que vai te interessar.
— Não quero saber nada sobre vocês. Quero que se
danem. Você e aquela puta da Sarah. — Ouvir ele falar o
nome dela dessa forma me enche de raiva, e não hesito em
dar um soco em sua cara.
Rodrigo me observa, mas faço sinal para ele ficar
tranquilo.
— Já avisei sobre falar dela assim, não é? Pois bem,
não me escutou antes, mas escutará agora. — Ele me
encara, visivelmente enfurecido, com o sangue escorrendo
da boca.
— O que vocês querem? — Ele pergunta, com um
olhar desafiador.
— Queremos te contar como será a sua vida a partir
de agora. — Sorrio, e Rodrigo se aproxima, com um olhar
frio.
— Perderam seu tempo vindo aqui só para falar que
vou para a prisão? Isso já é óbvio, porra. — Ele resmunga,
mordendo o próprio ódio.
— Sim, você vai para a prisão, mas não pense que sua
vida lá será fácil. — Ele arregala os olhos, começando a
entender o que estamos dizendo. — Na cadeia, você vai ser
tratado da pior forma possível, como eles costumam fazer
com pessoas como você. Todos os dias, quando for dormir,
tome cuidado. Nunca se sabe o que pode acontecer. —
Sorrio ao ver a expressão dele mudar.
— Ei, espere aí. Estão me ameaçando? É isso que
querem dizer? — Ele grita, desesperado. — Tenho meus
contatos, nada vai acontecer comigo. — Fala em uma
tentativa ridícula de se mostrar superior.
Antes de sair, me viro e falo com um sorriso
enigmático.
— Assim como tinha aqui, né? — Sorrio de forma
debochada. — Logo vai descobrir. Seu pesadelo está só
começando. O que causou a elas faremos dez vezes pior, e
isso vai durar a sua vida inteira. — Fico de frente para ele,
mantendo a calma, tentando parecer o mais relaxado
possível. — E não se preocupe em tentar suicídio quando
não aguentar mais, também não deixaremos que tire a sua
vida. Seria fácil demais. Bem-vindo ao seu inferno. — Retiro
de uma pasta, uma rosa vermelha, como as que dava para
a Sarah, e deixo em cima da mesa.
Ele me olha, realmente apavorado pela primeira vez,
e sinto uma sensação boa, de conclusão.
Agora, saímos, nos sentindo vitoriosos com esse
julgamento.
Capítulo 56
Três meses se passaram e hoje é o nosso casamento.
Não consigo acreditar que finalmente vamos trocar nossos
votos e ser chamados de marido e mulher.
Confesso que queria ter casado antes, como Adam
sugeriu, especialmente agora que estou no nono mês de
gravidez e com a barriga enorme. Mas tantas coisas
aconteceram que achei melhor esperar um pouco, e
acredito ter feito a escolha certa.
Agora, me sinto feliz e em paz, sabendo que tudo foi
resolvido. Precisei desses meses para lidar com os novos
traumas e ressignificar algumas coisas que ainda estavam
dentro de mim. Adam foi simplesmente perfeito durante
todo esse processo. Me apoiou imensamente, esteve
presente, protetor, como sempre. Tenho certeza de que ele
foi essencial para a minha cura completa.
Não tenho mais pesadelos à noite, consegui voltar ao
meu consultório e retomar o atendimento às minhas
pacientes. Ele tem nos ajudado muito com a parte
financeira da ONG e, hoje, mais do que nunca, entende a
importância do trabalho que fazemos. Graças a isso,
estamos conseguindo ajudar cada vez mais mulheres.
No mês que vem, vamos inaugurar um centro de
acolhimento para mulheres que desejam sair de casa, mas
não têm para onde ir e, por isso, muitas vezes continuam
vivendo com o abusador. Vamos oferecer a elas a
possibilidade de mudar suas vidas, dar-lhes o poder de
escolher um novo caminho.
Isso me emociona profundamente, ainda mais com os
hormônios da gravidez à flor da pele.
— Querida, vamos começar a nos arrumar? — Titia
entra no meu quarto, seguida da minha mãe.
— Não estou nem acreditando que esse dia chegou. —
Mamãe me abraça apertado.
— Nem eu, estou nervosa, confesso. — Olho para elas
com os olhos cheios d’água.
— Não tem por que, querida. É uma cerimônia para
apenas dez pessoas, você mesma fez questão disso, então
fique tranquila. — Faço que sim com a cabeça.
Só convidamos os meninos, Alex, Adriano, Rodrigo,
minha tia, meus pais e os pais dele.
— Verdade, tia, queria que fosse só quem de fato
importa, como tem que ser. — Sorrio e sento-me na cadeira
de maquiagem.
— Está certíssima. Apesar de que se fosse eu, daria
uma baita festa, mandaria até Adriano organizar. Aquele
menino sabe fazer uma boa bagunça. — Titia ri.
Ela e Adriano se tornaram bons amigos. Claro, os dois
gostam de um motivo para beber.
— E está se sentindo bem, filha? Confesso que achei
uma loucura fazer isso agora, poderíamos esperar para
depois que ela nascesse. — Mamãe fala novamente a
mesma coisa que falou a semana toda.
— Eu sei, mãe, eu sei, mas queria estar casada com
ele antes que nossa filha nascesse. Sei lá, pode parecer
bobo, mas eu gostaria que fôssemos oficialmente um casal.
— Dou de ombros. — E cadê o papai, mãe? — Pergunto a
olhando enquanto pega meu vestido e o coloca na cama.
— Tá certo, filha, tem razão. Seu pai e seus sogros já
estão lá embaixo, bebendo com Adam e os meninos. Posso
pedir para a maquiadora entrar, filha? — Faço que sim com
a cabeça.
Peço uma maquiagem leve, não quero nada muito
forte, até porque a cerimônia será intimista, ao pôr do sol
na nossa casa mesmo. Eu e Adam conversamos muito sobre
onde faríamos o casamento e não tinha por que
escolhermos outro lugar, se não aqui. O espaço exterior da
casa é enorme e belíssimo, temos uma vista linda para a
praia de Joatinga e ver o pôr-do-sol daqui é mágico.
Estou com o cabelo e a maquiagem prontos. Vou até a
cama para olhar o vestido que minha tia Irene me ajudou a
escolher. Ele é clássico, mas justo, destacando bem a minha
barriga, porque quero que ela seja uma parte importante da
cerimônia. Afinal, ela é fruto do nosso amor.
— Vem, querida, vamos te ajudar a colocar. — Titia e
mamãe me auxiliam a vestir.
— Ah, minha filha! Olhe só para você, está perfeita! —
Mamãe me abraça emocionada.
Eu me olho no espelho e sorrio nervosa. Observo meu
reflexo, meu vestido lindo de noiva, simples e elegante,
como eu queria e acaricio a minha enorme barriga.
Descemos as escadas com cuidado, e sou conduzida
até a área decorada no jardim, onde todos nos esperam. O
ambiente está deslumbrante, como uma cena de filme. A
luz do sol, quase se pondo, cria um contraste lindo de cores.
O pequeno altar que montaram está perfeito, ainda
mais bonito do que eu imaginava, todo em orquídeas
brancas, lembrando-me das palavras de Adam quando me
pediu em namoro. Sorrio, relembrando aquele momento.
— Filha, você está belíssima! Tenho muito orgulho da
mulher que se tornou. Eu te amo! — Papai beija a minha
testa e me dá seu braço para que possamos começar.
Obrigada por tudo, pai. Eu também te amo! –
—
Dou um beijo no seu rosto bem quando escutamos a música
começar, é a nossa deixa.
o momento que começo a andar em direção ao
N
Adam, meu mundo para e só consigo focar nele, na sua
presença. O brilho em seus olhos reflete o amor profundo
que sente por mim e pela nossa menina.
Obrigado! — Ele estende a mão para o meu
—
pai e o cumprimenta. — Eu assumo daqui. — Essa frase
significa tantas coisas para mim. Ele de fato assumiu toda a
proteção que poderia ter, todos os cuidados conosco. Sei
que estou segura com ele. — Vocês duas estão lindíssimas,
meus amores. — Fala olhando para a nossa filha também e
meu coração bobo derrete ainda mais.
cerimônia começa, escutamos com atenção as
A
palavras carinhosas do celebrante. Ele pede para que
façamos nossos votos e Adam resolve começar.
Sarah, desde o momento em que te vi pela
—
primeira vez, soube que meu coração era seu. Quando te
pedi em namoro, te disse que, assim como essas orquídeas,
nossa relação precisaria de paciência e dedicação, e é assim
que quero construir a minha vida ao seu lado. Continuarei
presente, cuidando e protegendo não só você, mas também
nossa filha. Viverei para ser um excelente marido e um
excelente pai. Tenho muito orgulho da mulher forte,
determinada e incrível que você é. Nossa filha tem muita
sorte em tê-la como mãe. Te amo hoje e sempre!
— Adam, você me salvou muito mais do que imagina.
Me trouxe de volta o amor, a confiança em ter alguém ao
meu lado e me deu a nossa família. — Acaricio a minha
barriga. — Eu nunca imaginei que sentiria tantas emoções e
viveria tantas coisas boas ao seu lado, mas quero te dizer
que, pela primeira vez na minha vida, estou em paz e
genuinamente feliz. Obrigada por ser minha proteção, por
ser meu companheiro e por ser o melhor homem que já
conheci. Eu te amo! — Vejo uma lágrima escorrendo pelo
seu rosto, enquanto um sorriso suave se forma em seus
lábios.
O celebrante finaliza a cerimônia e finalmente nos
beijamos.
O segundo capítulo da minha vida finalmente está
prestes a começar.
Quando me sento à mesa que preparamos, sinto um
líquido estranho escorrendo pelas minhas pernas. Não, não
pode ser xixi, eu jamais faria isso nas calças e muito menos
no meu casamento. Mas então, me dou conta do que
realmente aconteceu: minha bolsa estourou!
— Ah, nossa. Logo agora, filha? — Olho para baixo,
assustada, e encontro os olhos de Adam, que está
paralisado, entendendo o que está acontecendo.
— Minha filha vai nascer! — Ele grita e todos olham
para mim com os olhos arregalados.
Fico sentada enquanto Adam manda o motorista
preparar o carro com pressa. Ele me pega no colo e me leva
até o veículo. Mamãe e Tia Irene já estão com a minha bolsa
e vão comigo. Adam e mamãe se sentam atrás, um de cada
lado, me segurando as mãos, enquanto Tia Irene vai na
frente, ao lado do motorista.
Por sorte, o trajeto não demora muito e logo estou
dentro do hospital, no quarto que Adam mandou preparar
enquanto estávamos a caminho. Sinto uma dor imensa, mas
já senti dor por muitos anos da minha vida. Agora, é uma
dor diferente: meu bem mais precioso está vindo ao mundo.
Então, eu aguento. Eu sei que aguento!
— Oi, meu amor, sou eu, papai. — Adam pega nossa
filha no colo, emocionado. — Sim, sou seu papai, e essa
mulher forte é a sua mamãe. — Ele a mostra para mim, e eu
sorrio, cansada, mas imensamente feliz. — Nós te amamos
muito, muito, Thalía.
Escolhemos esse nome porque, em grego, significa
florescer e alegria. Queria que fosse algo significativo e
único, porque a minha menina é única e trouxe à tona um
lado materno que eu nunca soube que tinha, nos trazendo
tanta alegria que simplesmente fazia sentido.
Cuidadosamente, pego a pequena no colo de volta.
Adam está ao meu lado e me dá um beijo suave na testa e
outro na nossa filha. Uma onda intensa de emoção e
gratidão me invade. Apesar de tudo o que passamos,
estamos aqui juntos, felizes e realizados com o maior
presente que poderíamos ter. Está tudo bem, tudo vai ficar
bem.
— Obrigada por tanto, Adam. Eu te amo! — Ele sorri e
me acaricia os braços, onde estou segurando nossa menina.
— Estou pronta, minha filha, pronta para ser a sua mãe. Eu
te amo!
— Vamos te proteger de tudo, meu amor. Amo vocês!
— Adam completa, emocionado.
Ficamos ali, no quarto, abraçados, curtindo esse
momento só nosso. Nossos amigos e familiares entram,
trazendo balões e sorrisos. Respiro profundamente, sabendo
que nossa vida está apenas começando.
Fim.
Epílogo – 5 anos depois
— Amor, já pegou tudo? — pergunto a Adam enquanto
coloco Zoe no colo.
Nossa segunda menina já tem quatro anos, e
escolhemos esse nome para ela porque significa vida.
— Sim, está tudo no carro. Vou pegar Thalía. Vão indo
para lá — ele fala mais alto para que eu o escute.
Ter duas meninas foi muito significativo para mim,
depois de tudo o que passei. Sinto que é uma forma de
Deus me mostrar que tenho duas mocinhas para proteger,
junto, claro, do pai maravilhoso que elas têm.
Nossas filhas me mostraram o que é amor materno —
um sentimento indescritível. Segurar um filho pela primeira
vez traz uma emoção tão forte e poderosa que me sinto
capaz de qualquer coisa por elas.
Entro no carro, e logo eles se juntam a nós.
— Mamãe, a tia Marina e o tio Léo já estão lá
esperando? — Thalía pergunta animada. Ela adora esses
tios.
Marina é esposa de Alex[2], e Léo é seu melhor amigo;
ele se tornou também um dos meus melhores amigos. Eles
são muito especiais para nós.
— Sim, meu amor. Esqueceu que a tia Marina é pilota?
Ela vai levar a gente até lá — Respondo, acariciando seus
cabelos.
— Uau, que demais! — Ela arregala os olhos, muito
animada.
— E o tio Alex também vai estar lá. Vamos nos divertir
muito — Adam complementa.
Elas amam o tio Alex, mas ficam especialmente
animadas para brincar com Marina e Léo.
Chegamos ao aeroporto, onde eles já nos esperam. As
crianças descem correndo do carro, e vamos logo atrás.
Nosso motorista leva nossas bagagens até o local de
despacho.
— Nossa, nunca imaginei que viajar com crianças
fosse essa loucura. Onde estava com a cabeça quando
inventei essa viagem para a Disney? — Comento, meio que
para mim mesma.
Adam chega perto, me puxando em seus braços.
— É uma loucura, sim, mas é a melhor das loucuras.
Ver as crianças no lugar favorito delas vai ser muito
especial, amor. Ainda mais com nossos amigos lá também
— Ele diz, me olhando com um olhar apaixonado.
— Te amo muito. — É incrível como o tempo passou, e
nosso amor só aumentou.
— Ah, minha nossa, como o amor é lindo, mas vocês
poderiam vir aqui dar oi para a gente, né? — Léo chega com
a mão na cintura, falando daquele jeito que sempre nos faz
abrir um enorme sorriso.
— Oi, amigo! Estava com saudades. — Dou um abraço
apertado nele.
— Ah, então agora vai ficar nesse grude todo com o
Léo? Não esquece que fui eu quem os apresentou, e, no
caso, hoje sou eu a pilota. Acho que mereço um pouco mais
de consideração, né? — Marina aparece logo atrás, vestida
com seu uniforme de piloto, bem fodona.
Vamos usar o jatinho do Adam, e Marina será a pilota.
— Você tem toda razão, mas as crianças correram
para você primeiro. — Falo, abraçando-a, enquanto Adam já
cumprimentou todos e está conversando com Alex.
— Ai, gatas, estou tão animado com essa viagem. Mal
posso esperar para ver a carinha das crianças quando
chegarem no parque. Elas vão pirar de emoção. Talvez eu
chore, já vou avisando.
— Então vamos chorar juntos, porque é bem capaz de
eu me emocionar também. — Digo, segurando a mão dele
como se dividíssemos um segredo.
— Ai, pelo amor, vocês hoje estão demais, hein? —
Marina faz uma careta. — Que tal chorarmos menos e nos
divertirmos mais? — Rimos com nossa amiga super prática,
que já nos chama para entrarmos no avião.
O voo para Orlando é longo, então precisamos fazer
uma parada rápida para reabastecer o jato e continuar a
viagem. Poderia dizer que foi tranquilo, mas com toda essa
turma a bordo, foi uma loucura, embora uma loucura das
boas.
Chegando ao hotel do Alex, arrumamos nossas coisas.
Ele é dono de uma luxuosa rede hoteleira ao redor do
mundo e recentemente abriu uma filial aqui. Reservou todo
o andar da cobertura para nós. Nem preciso dizer o quanto
as crianças adoraram, mas nada se comparou ao dia
seguinte, quando finalmente chegamos ao parque.
— Amor? — Adam me chama, abraçando-me por trás.
— Finalmente te trouxe aqui, onde todos os sonhos se
tornam realidade. — Permito que algumas lágrimas
escapem.
— Mamãe? Por que você está chorando? — Thalía,
minha mais velha, estica os bracinhos, pedindo colo,
preocupada.
— Ah, meu amor, mamãe está chorando de felicidade.
— Adam pega a Zoe no colo, e eu seguro a mão dela. —
Estou vivendo tudo o que sempre sonhei, com seu papai e
vocês na minha vida. — Nos abraçamos por alguns
instantes, mas logo elas ficam ansiosas para explorar o
parque, e as deixamos ir.
— Gato, fica aí com as crianças, porque preciso levar
essas gatas para ir naquela montanha-russa rapidinho.
Acabei de ver meu príncipe encantado e não posso perder
essa chance. — Léo fala para Adam, que ri, já acostumado
com nosso amigo e seu entusiasmo para encontrar um
romance.
— Não era você que não queria namorar? — Pergunto,
levantando a sobrancelha.
— Claro que quero. Agora sinto que estou finalmente
pronto.
— Ai, amigo, que bom. Você falava de mim na época
do Alex, mas no fim, também tem suas questões com
relacionamento — Marina comenta enquanto caminhamos
até o brinquedo.
— Sim, pode ser, gata. Mas acho que ver o amor que
vocês encontraram, estando tão felizes assim, me fez
querer me abrir para isso também. — Nós duas soltamos
um gritinho de animação.
— Ah, mas espera aí que você não me engana. Tenho
certeza de que não acha que aquele cara ali vai ser seu
namorado — Marina aponta para o homem que Léo está de
olho.
— Ah não, pelo amor, gata. Ele é lindo e gostoso, mas
só falei isso para vocês virem comigo. Ele é só para curtir
aqui na Disney. Quero namorar, mas até lá, posso conhecer
alguns sapos também. — Caímos na gargalhada.
Sou muito grata por essa amizade, porque eles me
trouxeram algo que nunca tive na adolescência: amizades
de pessoas da minha idade, que me fazem tão bem. Marina
é super empoderada, a mulher mais foda que conheço, e
Léo é esse amigo brincalhão que faz de tudo para nos ver
felizes e é super leal.
Vamos juntos no brinquedo e saímos depois de gritar
muito. Foi intenso. Olho para o lado e vejo Marina com uma
cara péssima, pálida.
— Amiga, o que houve? — Pergunto, preocupada.
— Não sei, estou estranha, acho que vou… — Ela nem
completa a frase e vomita na lixeira mais próxima.
Mal tenho tempo de ajudá-la, quando vemos Alex, seu
marido, chega na hora.
— Amor? De novo esses vômitos? Isso não está muito
normal. Não acho que foi a comida dessa vez — Ele
comenta, preocupado.
Eu e Léo trocamos olhares e soltamos um grito em
uníssono.
— Ahhh, não acredito! Vômitos? Você deve estar
grávida! — Falo animadíssima, enquanto vejo Adam
chegando com as crianças.
— Quem está grávida? — Ele me olha com os olhos
brilhando, e eu viro a cabeça, rindo desse meu marido que
adora a ideia de ter mais menininhas.
— Eu com certeza não sou — Léo brinca. — Mas a
Marina… estou falando isso há dias, mas ela insiste que
estou viajando.
— Vamos hoje mesmo comprar um teste pra você
fazer, amor — Alex diz para Marina, que arregala os olhos,
olhando para a própria barriga.
— Será, gente? Nossa, eu até pensava em ter filhos
um dia, mas nunca imaginei que seria assim, sem planejar,
viajamos tanto… — Ela comenta enquanto resolvemos nos
sentar.
Alex traz uma água para ela, e continuamos
conversando.
Vamos em vários brinquedos, mas decidimos que
Marina deve pegar leve. Se ela estiver mesmo grávida, é
melhor evitar alguns deles. Eu e Aadam levamos as
meninas para os shows das princesas, que estavam
ansiosas para ver, e claro, eu também.
À noite, chegamos ao hotel e, depois de colocar as
meninas para dormir, vamos ao quarto de Alex e Marina
para ver como ela está. Quando abrimos a porta, nos
deparamos com uma cena de pura comemoração: Léo está
lá dentro, literalmente pulando na cama, gritando sem
parar.
— Gata! Vamos ter uma gatinha aí dentro! Ahhh, mal
posso esperar! — Adam me olha, e sorrimos ao mesmo
tempo, parabenizando os dois, porque entendemos que
Marina realmente está grávida.
Essa viagem não poderia ser melhor!
Voltamos ao Brasil há alguns dias e descobrimos que
Marina não está apenas grávida, mas terá trigêmeos!
Quando nos contaram, ficamos sem palavras, apenas
sorrindo, porque, sinceramente, isso é a cara deles. Nunca
foram de seguir as regras da sociedade; Marina sempre
disse que gosta de criar as próprias regras, e agora, com
três de uma vez, parece que o universo concorda.
— Caramba, para quem não tinha nenhum, agora nos
ultrapassaram de uma vez só, amor. — Adam se aproxima,
me ajudando a tirar o vestido.
— Estou tão feliz por eles. Serão pais incríveis!
— Sim, serão. Sabe o que mais seria incrível? — Ele
beija meu pescoço, e já começo a entender onde essa
conversa vai parar.
— Humm?
— Se a gente tentasse mais uma filha agora. O que
acha? — Dou uma risadinha, achando fofo o quanto ele
adora ser pai de meninas e ainda quer outra.
— Acho que podemos treinar, né? Vai que... — Me viro
para ele e o beijo apaixonadamente.
Sou a mulher mais feliz do mundo. Tenho uma família
cheia de amor, e hoje eu sei que sonhos realmente se
tornam realidade.
Fim.
Nota da Autora:
Quem leu “Decolando para o Amor: O Magnata e a
Pilota” pode ter percebido que a história do Adam e da
Sarah tomou um rumo diferente neste livro. Como cada
história é única, ajustamos alguns detalhes importantes
para trazer o melhor para vocês.
Ah, e se você ainda não leu esse livro, vou deixar aqui
um capítulo bônus para dar um gostinho do que a história
da Marina e do Alex tem a oferecer: muitas risadas e, claro,
muito romance hot.
Capítulo bônus
“Onde foi que joguei a minha calcinha?” — penso.
Estou há uns vinte minutos procurando no quarto
inteiro, mas claro que não faço a menor ideia, não estava
muito preocupada com isso ontem à noite.
Nossa, essa escuridão também não está ajudando,
mas pelo menos o homem apagou. Eita, qual era o nome
dele mesmo? Ah isso também não importa.
Vou tentar recapitular. Conheci ele no bar do hotel, foi
uma cantada idiota, mas ele era gato. Bebemos horrores,
subimos para o quarto e ele quase não achou as chaves
quando entramos. Ele me colocou na bancada da cozinha e
começamos a nos pegar.
Ah, certeza que foi nessa hora que tirou a minha
calcinha. Lembro que ele a jogou em algum lugar e me
chupou logo depois. Essa parte foi a melhor da noite. Na
verdade, ele é bom de língua, já o resto, bem mais ou
menos, para não falar que foi ruim.
“Concentra Marina” — penso de novo.
Ah, não vai ter jeito, melhor deixar ela de presente
para esse menino do que arriscar ele acordar antes que eu
vá embora.
Saio andando de fininho até a porta, aproveito para
ficar olhando se acho a calcinha perdida em algum lugar,
mas realmente ela sumiu por aí.
Será que esse safado escondeu para ele? Não duvido
de mais nada hoje em dia. Bom, espero que ele goste,
porque ela era linda, toda de renda com uma cor forte, bem
rosa Pink e fio dental. Ficava ótima no meu tom de pele. Sou
aquela mulher que luta pelo bronzeado, adoro aquela
marquinha de biquíni na bunda e essa calcinha ainda
realçava isso, super sexy.
Tenho que lembrar de comprar outra porque ela é
matadora.
“Marina se concentra” — falo para mim mesma.
Preciso ir embora logo, porque só de pensar nele se
levantando agora, um arrepio sobe pela minha pele. Eu
odeio esse momento super constrangedor, onde tudo o que
eu quero é sair correndo e o cara vem querer dormir de
conchinha comigo. Uó!
Consigo abrir a porta do apartamento com todo
cuidado do mundo, dou uma última olhada para ver se ele
ainda está dormindo e sim, ele está capotado.
Ufa, liberdade! Consegui. Fui embora sem ele
perceber.
Ah, como é bom sair escondida depois do sexo, ainda
mais com esse cara meio estranho. Sério, ele falava umas
coisas engraçadas quando estava transando,
principalmente quando ele achava que eu ia gozar, sendo
que eu estava super longe disso. Nessa hora então, se já
estava difícil chegar lá, ficou literalmente impossível, só
conseguia me concentrar para não dar uma mega risada na
cara dele.
Ele gemia assim: “TOMA, TOMA, TOMA, TOMA”.
Nossa, eu queria morrer de rir nessa hora. Só ficava
pensando: “Toma o que, meu filho? Esse sexo ruim? Uma
vontade de te fazer evaporar?” Só se for isso. Ainda bem
que nem passei meu celular para ele. Esse aí nunca mais.
Hoje o dia vai ser super corrido. Tenho um voo para
fazer saindo aqui de Miami para o Rio de Janeiro, onde eu
moro. Nossa, estou morrendo de saudades da minha
terrinha, dessa vez fiquei quase um mês longe, quase não,
acho que deu exatamente isso.
A primeira coisa a saber a meu respeito: Sou pilota de
voos privados. Eu amo essa minha vida, poder viajar para
vários países diferentes, nunca estar parada no mesmo
local, conhecer outras culturas e principalmente outras
línguas que é a minha parte preferida, mas quando fico
muito tempo sem voltar, começo a sentir um pouco de
saudades daquela loucura que é o Rio de Janeiro. Podem
falar mal a vontade da violência, e tal, mas a beleza e a
energia das pessoas, não existe em nenhum lugar do
mundo.
Virei pilota há mais ou menos oito anos, e o
engraçado é que os meus pais são engenheiros bem-
conceituados. Não tenho nenhum piloto ou aeromoça na
família para ter me inspirado, mas desde pequena, quando
viajava com meus pais, sentia que era ali onde eu
pertencia, no meio das nuvens.
Pode parecer clichê e talvez até seja, mas não tem
como você estar a milhares de quilômetros do chão, vendo
a imensidão que é o mundo e achar que seus problemas são
enormes. Isso trouxe toda uma perspectiva nova sobre a
vida. Toda vez que me encontro numa situação angustiante,
paro um pouco, respiro e em algum momento durante o voo
fico só contemplando o céu, as nuvens, as estrelas. Aquele
infinito sempre ilumina a minha mente. Consigo perceber
que talvez eu esteja colocando muita energia em algo que
posso resolver de outra forma.
Ser pilota é a minha vida. Sou completamente
apaixonada pelo que faço. Claro que nem tudo é perfeito
né? Não existe isso. É bem mais fácil ser pilota de voo
privado do que comercial, isso com toda certeza. Em um
voo comercial você lida com um avião e uma tripulação
muito maiores, entre outras coisas chatas, mas a maior
semelhança entre ambos são alguns passageiros sem noção
que ainda tenho que aturar e principalmente os copilotos.
Ah, os copilotos. Essa é a segunda coisa a saber a
meu respeito: Tenho uma vontade enorme de bater a
cabeça de vários nas aeronaves, mas como sou uma boa
pessoa, a ideia só passa vagamente pela minha cabeça.
Não vou mentir, dependendo de quem seja e o quanto
forem babacas, imagino a cena e isso me faz feliz, mesmo
que momentânea, porque sei que é errado. E quem eu
quero enganar? Não bato nem em baratas, o que dirá em
um ser humano. Apesar de ter bastante certeza de que
alguns estão mais para animais.
A verdade é que ser mulher e pilota mata aqueles
homens imbecis de ódio. Eles super fingem na minha frente
que acham legal, mas eu sei as merdas que falam pelas
minhas costas. A melhor parte disso é que eu sei e não dou
a mínima. Podem falar o que quiser, no final, quem é a
pilota sou eu, não eles. Como diz o menino que transei mais
cedo: “TOMA, TOMA”. lembrar disso me faz rir de novo.
Terceira coisa a saber a meu respeito: tenho muita
confiança em mim e no que posso conquistar, além de amar
o look de pilota, fico uma gata de uniforme, fora que me
sinto mega foda quando vou passando no aeroporto e na
rua e sinto os olhares de todos em mim. Não vou negar, eu
adoro. Também sou fã de moda, viciada em bolsas de luxo,
é a minha segunda paixão e eu gosto de ousar em algumas
roupas, tentar coisas diferentes, acho que meu humor
aparenta muito nas minhas roupas, eles andam em total
sincronia.
— Boa tarde, Brian — falo em inglês, apertando a mão
do controlador de voo do aeroporto de Miami[3].
— Boa tarde, Marina — Ele cumprimenta em inglês.
O “Marina” sai com um sotaque muito engraçado e eu
preciso me controlar para não rir, mesmo eu já estando
acostumada com isso, não deixa de ser divertido.
— Preciso que junte a equipe para fazermos o briefing
do voo[4] — falo de forma séria, pois isso é muito
importante, não dá para brincar aqui.
Nos reunimos e começamos a fazer os preparativos.
Gosto de chegar com bastante antecedência, pelo menos
duas horas antes do voo decolar, assim consigo analisar os
dados com calma. Vemos o tempo, como o clima está tanto
agora em Miami como a previsão no trajeto até o Rio de
Janeiro. Analiso o plano de voo e se o avião teve alguma
alteração técnica, por menor que seja, é fundamental
verificar. Converso também com a equipe de solo[5], depois
faço uma inspeção visual vendo o avião por fora, pois todos
os detalhes podem impactar no andamento do voo.
— Tudo certo. Vou me dirigir ao jatinho. Aguardo o Sr.
Henrique lá. — Me despeço de todos.
Esse trajeto entre Miami e Rio de Janeiro, já fiz
algumas vezes, mas é diferente de dirigir um carro e já
conhecer a estrada. No caso do avião, depende de muitas
coisas externas, mas tudo está dentro do esperado. Jamais
colocaria a minha e outras vidas em risco.
— Olá, Marina, boa tarde. Como você está, minha
querida? Hoje finalmente voltamos para casa. — Henrique
vem me cumprimentar na cabine. Sempre de forma muito
carinhosa, temos uma relação maravilhosa.
— Estou ótima e pronta para um voo bem agradável.
— Falo dando meu melhor sorriso. Sei o quanto ele não
gosta de voos longos. Apesar de viajar sempre, ele ainda
tem medo de altura.
A decolagem foi bem tranquila. Durante o voo, o
piloto monitora constantemente os instrumentos da
aeronave, como altímetro, velocímetro, bússola e sistemas
de navegação, para manter a aeronave na rota correta, na
altitude e velocidade adequadas, e na maior parte do tempo
isso funciona com o piloto automático ligado.
Pilotar um jato no meio das nuvens e do céu é uma
experiência que desperta todos os nossos sentidos. A visão,
o som, o toque e até mesmo o cheiro do ar fresco
contribuem para uma experiência sensorial completa. É algo
que te faz sentir vivo, vibrante e completamente imerso no
momento presente. É uma mistura de liberdade, emoção,
tranquilidade e admiração.
O voo demora exatamente seis horas e meia, como
planejado e o pouso foi um sucesso também. Essa é a parte
mais estressante para mim. Muitas pessoas podem achar
que a decolagem é o mais difícil para o piloto, ou talvez as
várias horas do voo em si, mas a verdade é que, a parte
mais importante e complicada é na hora de pousar.
Depois de me formar, fiquei alguns anos como
copiloto, acho que foram uns 3 anos, fazendo o
procedimento inicial do voo e deixando um piloto mais
sênior fazer o pouso, porque de fato, não é para iniciantes.
Hoje, com toda a minha experiência, faço muito bem, mas
não deixa de ser estressante, sempre fico um pouco tensa,
mas nossa, mesmo com tudo isso, com toda essa
adrenalina, como eu amo minha profissão, ser pilota é o
meu grande amor.
CONTINUE LENDO EM:
Agradecimentos
Agradeço aos meus leitores, que dedicaram seu
tempo e energia para mergulhar nas páginas deste livro.
Espero que a história que criei tenha tocado seus corações e
proporcionado momentos de emoção e reflexão. Este tema
se tornou algo muito importante para mim, pois, embora eu
nunca tenha vivido uma experiência como a retratada, sei
que milhares de mulheres enfrentam diariamente situações
semelhantes. Espero que, de alguma forma, meu livro possa
ajudá-las.
Gostaria de expressar minha gratidão também a todas
as pessoas que me apoiaram ao longo desta jornada de
escrita e tornaram possível a realização deste livro.
Agradeço especialmente à minha leitora beta, Lari, que me
apoiou durante o processo criativo; à Danielle, minha
assessora e revisora crítica, que entende minha escrita e foi
fundamental para entregar a obra final para vocês; aos
meus gestores de tráfego, Shay e Vicente; e ao nosso grupo
de autoras, que me ajuda a cada dia nos altos e baixos da
vida de escritora. Vocês são um presente!
Com gratidão,
Bárbara Birchal.
ALERTA DE SPOILER
O próximo livro será sobre o nosso advogado sexy
favorito, RODRIGO! Preparem-se para uma história de tirar o
fôlego. Ele vai chegar com tudo, e bem antes do que
imaginam! Estão preparadas? Eu não sei não, rs...
Me acompanhe nas redes sociais @birchalescritora
para ficar por dentro de todos os detalhes. Lá compartilho
atualizações, spoilers e novidades com minhas leitoras.
NÃO ESQUEÇA DE AVALIAR! É MUITO
IMPORTANTE PARA MIM.
Muito obrigada por ler o meu livro! Se eu puder fazer
um pedido, por favor, avalie-o no Kindle e deixe seu
comentário sobre o que mais gostou. Isso vai me ajudar
imensamente. É superimportante!
Beijos,
Bárbara.
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Email: [email protected]
[1]
(animadora de torcida)
[2]
Personagens do livro: Decolando para o Amor – O Magnata e a Pilota.
[3]
AirPort Miami Dade
[4]
(reunião de informação tática)
[5]
(quem cuida da parte manual do avião, eles fazem o
check e abastecimento)