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Seduzida Pelo Mafioso (Paixao P - Elisete Duarte

Este documento é uma obra de ficção que apresenta a história de Simon e Paola, personagens que lidam com ambientes decadentes e desafios pessoais. Simon está em um bordel planejando a destruição de seu inimigo, enquanto Paola, uma garçonete, enfrenta dificuldades financeiras e considera uma proposta de trabalho em um hotel de luxo. A narrativa explora temas de sobrevivência, desejo e a luta contra circunstâncias adversas.

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Seduzida Pelo Mafioso (Paixao P - Elisete Duarte

Este documento é uma obra de ficção que apresenta a história de Simon e Paola, personagens que lidam com ambientes decadentes e desafios pessoais. Simon está em um bordel planejando a destruição de seu inimigo, enquanto Paola, uma garçonete, enfrenta dificuldades financeiras e considera uma proposta de trabalho em um hotel de luxo. A narrativa explora temas de sobrevivência, desejo e a luta contra circunstâncias adversas.

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Copyright © 2024 Elisete Duarte

Capa:
Giovana Martins
Preparação de Texto e Revisão:
Carla Santos e Cleidi Natal
Diagramação:
Carla Santos

Esta obra segue as regras do novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produto da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados.


É proibida a cópia total ou parcial desta obra.

***

Conheçam a loja dos livros FÍSICOS e autografados da autora:


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Elisete Duarte
SUMÁRIO

PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
BIOGRAFIA
FALE COM A AUTORA
PRÓLOGO

SIMON

Segurando um copo de uísque, olhei em volta daquele ambiente


decadente. As paredes do bordel estavam sujas e desgastadas, as luzes
fracas e amareladas mal iluminavam o lugar, criando uma atmosfera de
degradação que beirava o insuportável.
Foquei meus pensamentos no plano para destruir o meu maior
inimigo. Cada detalhe precisava ser meticulosamente calculado como peças
de um quebra-cabeças mortal. A mente trabalhava a mil por hora quando
uma mulher se aproximou. Bonita, sim, mas o perfume barato que ela usava
se misturava ao cheiro de álcool e cigarro.
Com um sorriso lascivo, ela sentou-se no meu colo.
— Vamos brindar, bonitão — disse ela, esfregando-se
provocativamente contra mim.
A bunda dela se movia com habilidade e eu não consegui evitar a
reação. Meu pau cresceu instantaneamente, superando a podridão ao meu
redor. Tomado pelo desejo, agarrei firme o quadril da mulher e a levantei do
meu colo com autoridade.
Ela entendeu o recado e se ajoelhou na minha frente, olhando para
mim com um brilho de malícia nos olhos. Abri minha calça, liberando meu
pênis rígido e latejante da cueca. A profissional o pegou pela base e
abocanhou a glande inchada, quase estourando de tesão.
A sensação era intensa, um mix de prazer e antecipação. A língua
dela se movia com habilidade, lambendo e chupando com uma destreza que
me fez cerrar os punhos. Eu olhava para baixo, observando cada
movimento, a boca dela me engolindo, deslizava apertado para dentro. O
prazer crescia a cada segundo com as sucções constantes. A pressão na base
do meu pau aumentava enquanto ela acelerava e desacelerava o ritmo,
brincando com minhas sensações. Meu corpo tensionou, cerrei meus
punhos com mais força tentando postergar a explosão do orgasmo, mas o
limite estava próximo.
De repente, a porta do bar se abriu com um estrondo e um homem
armado entrou, mirando em mim e atirou.
— Puta merda! — exclamei, sentindo o impacto da bala no peito.
A dor foi instantânea e intensa, fazendo-me acordar de repente, suando frio.
Num impulso, peguei minha arma debaixo do travesseiro, ainda sentindo o
peso da realidade ao meu redor.
Respirei fundo, rindo do sonho, meu pau ainda estava duro como
uma rocha. Esse mundo de caos e violência era meu habitat natural, mas
bordel eu só entrava nos luxuosos, com mulheres escolhidas a dedo.
Meu celular tocou em seguida, e eu o atendi.
— Seu jatinho está pronto para a viagem, chefe.
Em poucas horas, começaria a execução do plano que havia
arquitetado por décadas.
— Excelente! Chego em breve. — Encerrei a ligação.
A destruição do meu maior inimigo estava prestes a se concretizar.
CAPÍTULO 1

PAOLA

Enquanto eu preparava a bebida do cliente, me sentia incomodada


com o som estridente da música competindo com as vozes embriagadas dos
clientes do bar, junto a isso aquele cheiro de cigarro e álcool invadindo
minhas narinas. Me sentia exausta, talvez por isso as dores nas pernas
estavam tão intensas, a ponto de o desconfortável suor escorrer
incessantemente por minha testa.
— Droga! — Movia as pernas na tentativa de buscar alívio, mas
nada adiantava. — Mas do que adianta reclamar, Paola Tyler?! —
resmunguei para mim mesma passando o braço na testa.
O fato era que esse ambiente era tedioso para mim, me sentia um
peixe fora d'água em meio àquela confusão. E como se não bastasse, um
bêbado idiota, e sem-noção, ainda gritou nos meus ouvidos:
— EI, GOSTOSA, ME SIRVA O COQUETEL ESPECIAL DA
CASA! — A ousadia do cliente embriagado não me irritou mais do que o
murro que ele deu no balcão de madeira.
Revirei os olhos, mas engolindo duro a regra da casa, que era ser
simpática com o cliente.
— Para já! — Esbocei um sorriso forçado quando a minha vontade
era mandá-lo ir se danar, mas me segurei.
Apesar do salário miserável, eu não podia colocar esse emprego de
garçonete em risco. Aqui, na pequena e pitoresca cidade na região de
Appalachia, West Virginia, nos Estados Unidos, as oportunidades de
emprego estavam escassas, ainda mais nesse momento difícil que estava a
minha vida.
Não era esse o futuro que sonhei para mim aos 18 anos. Imaginava
que estaria me preparando para entrar em uma Universidade de Medicina.
“Um sonho distante perante a minha realidade!”
As circunstâncias me jogaram nesse mundo sujo de bebida e
desespero. Minha mãe, uma alma perdida nas garras das drogas e álcool,
não conseguia manter um emprego estável, deixando toda a carga sobre os
meus ombros.
"Uma sombra que paira sobre mim e Liliana." Ela não conseguia
nem cuidar de si mesma, quanto mais de mim e minha irmã mais nova, de
dois anos. Para eu poder trabalhar todas as noites, eu contava com a ajuda
da generosa vizinha da minha casa para cuidar da Liliana. A única forma de
manter minha inocente irmã segura.
Confesso que, às vezes, dava vontade de jogar tudo para o alto e
seguir o meu caminho. No entanto, essa tal liberdade era proibida para mim.
Não tinha sequer tempo para cuidar de mim mesma. Resumindo: era um
luxo ao qual eu não podia ter.
Graças a Deus que faltavam só mais alguns minutinhos e essa
espelunca encerraria as atividades. Comemorava enquanto preparava a
bebida do cliente, escondendo a angústia que borbulhava dentro de mim.
Por dentro, eu chorava em demasia.
— Quero a dose da sua melhor bebida, senhorita. — A voz daquele
homem que acabou de ocupar a cadeira em frente ao balcão era calma,
exatamente como o seu semblante. Usando roupa casual e elegantemente,
um blazer cinza claro sobre uma camiseta branca.
— Só um instante, por favor.
Ele assentiu e aguardou paciente, seus olhos castanhos corriam por
mim me analisando curiosamente, me constrangendo, confesso.
Eu conhecia esse homem de vista; comentavam pela cidade que ele
trabalhava no novo hotel à beira da rodovia. Havia rumores que o luxuoso
estabelecimento cinco estrelas, frequentado pelos mais abastados, oferecia
entretenimento exclusivos para adultos, direcionado ao público masculino.
O que poderia ser verdade, afinal de contas, as mulheres que trabalhavam
por lá eram lindas e vinham de fora da cidade.
Seus olhos inconvenientes persistiam em me medir da cabeça aos
pés.
“O que ele estaria fazendo nessa espelunca?”, pensei incomodada,
servindo a bebida dele.
— Seu drinque! — Coloquei o copo sobre o balcão sem que ele
desviasse os olhos de mim.
— Evan Smith. — Em vez de agradecer, ele disse seu nome e
estendeu a mão grande. Segurei-a, mas o olhando ressabiada. — Sou dono
do hotel da rodovia — começou ele.
— Eu sei quem é o senhor — respondi educada.
— Certo! Então irei direto ao ponto. É o seguinte: duas das minhas
garçonetes não compareceram ao trabalho, então preciso contratar novas
com urgência. Você toparia ganhar um extra?
Torci a boca, imaginando o tipo de trabalho naquela hora da
madrugada.
— Desculpa, mas não sou garota de programa.
— Está equivocada, o ambiente do meu hotel é refinado, então
chamamos as garotas de damas de companhia — antecipou-se em sua
defesa.
Grunhi, sem ver a diferença.
— Ainda assim, se trata de prostituição, sr. Smith — reforcei e ele
deu de ombros.
— De fato, o público masculino se destaca no meu hotel, e ele
ganhou fama justamente pelo exímio atendimento exclusivo com as
garçonetes escolhidas a dedo. Uma reputação que não posso perder. A sua
amiga ali — apontou na direção da Giulia, atendendo no outro extremo do
balcão, colega de trabalho e minha vizinha. Inclusive, é a mãe de Giulia
quem cuida da Liliana para eu poder trabalhar. — Ela aceitou a minha
proposta. Você e sua amiga têm todos os requisitos necessários para o
atendimento especial aos meus hóspedes.
Giulia tem aproximadamente 1,65m, corpo esguio e bem
proporcionado, cabelos longos ondulados e loiros, com mechas douradas
que brilham ao sol. Seus olhos são azuis, enquanto os meus são castanhos
como os meus cabelos, longos e lisos.
Pendi minha cabeça o olhando com indignação.
— Obrigada, mas não tenho interesse.
— Tem certeza? — insistiu retirando um cheque do bolso interno
do paletó e o ergueu diante dos meus olhos.
“Caramba!”, exclamei mentalmente, impressionada com tantos
dígitos e seguiu me instigando:
— Se escolher trabalhar, eu pago adiantado —ressaltou. Meus
olhos cresceram e brilharam em todos aqueles dígitos.
A oferta de Evan tinha um tom tentador, quase irresistível,
resolveria todos os problemas da minha vida por um período de até três
meses. Confesso que a necessidade fez meus olhos brilharem, faltava tudo
em casa: comida, remédios, além do aluguel, que estava atrasado. Era uma
oportunidade em milhão, algo que não se podia simplesmente ignorar...
Além de que eu não precisava mais dar o sangue nesse ambiente imundo,
parecia um sonho me ver livre de todos esses homens bêbados e
barulhentos e que não perdiam a oportunidade de dar em cima de mim. As
luzes fracas e coloridas que, para os frequentadores, serviam para criar uma
atmosfera de mistério, para mim criava um ambiente de terror. Mas os meus
princípios falaram mais alto.
— Tenho certeza, senhor. É melhor procurar outra candidata — dei
por encerrado o assunto e mesmo assim ele insistiu:
— Pense melhor. Se mudar de ideia, estarei na recepção do hotel.
— Entornou a bebida, jogou o dinheiro sobre o balcão e se levantando, saiu
desviando dos alcoolizados pelo salão.
— Pessoal, o bar está fechado! — alguns minutos depois o dono do
bar anunciou pelo alto-falante, já diminuindo o som da música e as luzes
sendo parcialmente acesas.
— Ufa! — sussurrei aliviada, retirando o avental e dirigindo-me à
sala do proprietário para pegar o meu pagamento do dia de trabalho. Ele
estava em sua mesa, com o envelope branco em mãos.
— O restante eu pago amanhã, Paola. — Em sobressalto,
preocupada, eu peguei o envelope e o abri imediatamente, e quase infartei
com aqueles poucos trocados.
“É brincadeira!” Meu coração pulsava na minha garganta. O
encarei com indignação. Saí de casa pensando onde poderia economizar: se
na alimentação ou medicamentos, ou nas necessidades tão fundamentais. E
o valor dentro do envelope dava apenas para pagar o transporte de volta
para casa.
— Céus! — O desespero tomava conta de mim.
— Algum problema, Paola? — A voz rouca de Elijah soou
intimidadora como de costume, e não me amedrontava.
— Todos os problemas... — explodi. — Eu preciso de mais
dinheiro para suprir as necessidades do dia, Elijah.
— Sem drama, garota! Eu pago a diferença na próxima, o
faturamento da noite não foi bom. — A desculpa esfarrapada de Elijah me
fez cerrar os punhos, mas eu sabia que não adiantaria reclamar.
Minha mente ansiava por um futuro diferente, mas meu presente
era um beco sem saída. E eu me via presa entre a necessidade de sobreviver
e o desejo de escapar. Como uma marionete nas mãos do destino, lutando
para não ser engolida pelo abismo que era a minha vida. Então resolvi
embarcar em uma noite de sexo por dinheiro. Eu precisava da grana. Sonhei
com uma primeira vez com um príncipe encantado, alguém que eu amasse,
mas nada era pior do que esse lugar, onde a esperança parecia se esvair
junto com a fumaça dos cigarros.
— Agora saia que preciso pagar os outros funcionários! —
ordenou o crápula apontando o dedo indicador direito para a porta.
“Filho da puta, OTÁRIO, explorador, sem-vergonha!”, desabafei
em pensamento, consumida pela raiva.
Procurei por Giulia, ela já tinha ido para o hotel. Então, enviei
mensagem para a mãe dela e avisei que meu trabalho se estenderia ao
amanhecer.

***
Enquanto eu caminhava pelo quarteirão rumo ao hotel, o receio de
como seriam as próximas duas horas de trabalho me tomava. E essa
incerteza me deixava inquieta, meu coração se encontrava apertado de
preocupação com a minha irmãzinha de apenas dois anos. Era a primeira
vez que saía do trabalho às duas da manhã e não estava indo diretamente
para casa.
— Deus, por favor, cuida da Liliana para mim! — implorei em voz
alta, minha prece misturava-se ao suave rugido dos motores dos carros que
passavam, e ao farfalhar eventual das folhas nas árvores densas ao longo da
estrada.
A fachada imponente e reluzente do hotel contrastava com a
escuridão ao redor, preenchendo-me de uma ansiedade crescente. Ao
adentrar o saguão, fiquei boquiaberta com a grandiosidade do lugar.
— Nossa... — balbuciei, observando a diversidade fascinante de
homens elegantes e descolados, jovens e maduros, que circulavam pelo
local. Era evidente que o ambiente era voltado para um público masculino e
abastado.
— Com licença! — Arregalei os olhos, impactada pelo timbre
grave e masculino vindo de trás de mim. Virei-me e dei de cara com um
homem de rosto másculo, barba bem-feita, vestido de terno preto. Parecia
um deus do Olimpo.
— Ah, desculpa! — Dei um passo para o lado, desobstruindo a
passagem. Com um olhar penetrante, castanho, ele acenou brevemente com
a cabeça e, em passos fortes e decididos, caminhou pelo saguão, deixando
um rastro de perfume amadeirado no ar.
“Que homem!” Um suspiro escapou dos meus lábios.
Evan Smith surgiu no saguão e logo foi interceptado pelo deus do
Olimpo. Eles trocaram olhares e vieram na minha direção.
— Ah, caramba! — sussurrei, congelando no lugar. O que será que
eles querem comigo?
CAPÍTULO 2

PAOLA

Meu coração batia mais rápido, uma mistura de nervosismo e


curiosidade me invadia. Quando finalmente chegaram perto, Evan sorriu e o
deus do Olimpo ficou a um passo atrás dele, para atender o seu celular, que
começou a tocar.
— Estou feliz que tenha aceitado o trabalho, Paola. — Enquanto
Evan falava, o deus do Olimpo, que atendia o celular, corria os olhos pelo
meu rosto. Senti um arrepio com aquele olhar profundo e charmoso dele.
— Vou resolver isso agora. — Sua voz grave e forte soou áspera
enquanto desligava o telefone, sua mão grande e firme foi até o bolso
interno do paletó, e eu observei encantada as veias sobressalentes e os
dedos longos. Então ele se virou para Evan: — Conversamos depois, Evan.
Desapareceu do saguão, deixando-me com um suspiro e a sensação
de ter encontrado um enigma irresistível.
Evan me conduziu até uma suíte muito luxuosa e com um armário
repleto de vestidos de gala. Ele deu-me a liberdade de escolher qual usar.
Tomei um banho, não tinha lingerie e descartei a que usava. Optei por um
vestido longo azul-claro, tecido tipo cetim, tomara que caia e uma fenda
que se estendia até a coxa. Impecável! Delineava minha silhueta,
destacando meus seios, e combinando perfeitamente com o tom castanho
dos meus cabelos e olhos. Um funcionário nos levou até o bar.
Minha presença não passava despercebida, à medida que avançava
pelo hotel, percebia os olhares masculinos que se voltavam na minha
direção, mas eu procurava mesmo era pelo deus do Olimpo. Ainda insegura,
mantinha meus passos firmes e tentando transmitir tranquilidade no meu
olhar, e não encontrei a Giulia.
Em cada espaço do hotel, a festa se desenrolava. Homens
circulavam pelos bares, flertando com mulheres vestidas elegantemente.
Atrás do balcão somente homens estavam no atendimento.
Eu escolhi me sentar na cadeira em frente ao bar, um canto que não
havia ninguém.
Então um homem cheiroso e falando ao celular se sentou ao meu
lado. Reconheci a fragrância e o timbre, me arrepiei toda, e olhei-o de
perfil.
— Que mão! — exclamei encantada com ela segurando o aparelho
celular ao ouvido.
— O que você chama de edição rara? — indagou o homem à
pessoa com quem conversava ao celular, emanando poder. — Ano 1640 vai
agradar... — pausou ouvindo a outra pessoa. — Não estou interessado em
números, apenas adquira e faça sua parte, caralho. — Depois ele enfiou a
mão no bolso do paletó e praguejou um palavrão ofensivo retirando a mão
vazia. A voz forte do cara era absurdamente atraente. — Te ligo daqui a
pouco. — Em seguida ele se levantou e me encarou ao mesmo tempo que
depositou o telefone sobre o balcão. — Deixarei o meu celular aqui, assim
não encontrará dificuldade em cuidar do meu lugar... — acrescentou ele,
então saiu a passos largos em direção à porta de vidro e deixou o ambiente.
— Confia demais nas pessoas... — de certa forma ironizei e
levantei a minha mão e acenei para o garçom pedindo um suco.
Bebericava devagar enquanto corria meus olhos ao redor,
analisando todos aqueles homens elegantes quando, de repente, nossos
olhos se encontraram quando ele cruzava a porta de vidro em retorno ao
bar. Confesso, ele mexia comigo, com as minhas emoções.
A admiração à sua masculinidade ficou ainda mais aguçada em
mim com o poder e magnetismo daquele homem extraordinário
caminhando em minha direção. Seus passos enérgicos eram intimidadores,
e era humanamente impossível não notar sua presença. Todas as mulheres o
encaravam, interessadas, até mesmo as que já tinham seu par.
Então, ele veio ocupar a cadeira ao meu lado com seu olhar me
analisando, talvez verificando se eu tinha os requisitos necessários para ele
explorar sexualmente e sequer teve a educação de agradecer por eu ter
cuidado do seu celular, o que me irritou nele.
Ele então baixou a cabeça, pensativo.
— Um obrigado estaria de bom tamanho. — Não resisti em atacar,
indignada a sua postura fria e travei a boca arrependida com os meus
impulsos.
Suas mãos repousaram ao lado do celular e seus dedos começaram
a batucar na madeira. Só então ele virou o rosto e me encarou. Perdi o
fôlego com aquele olhar gélido, castanho-escuro, penetrando nos meus.
Senti-me acuada, mas ao mesmo tempo, atraída por aquele ser masculino
me olhando profundamente nos olhos.
— Se faz questão de um obrigado, então, OBRIGADO! —
salientou em tom de voz em pura arrogância. Antes mesmo que eu pudesse
formular uma resposta à altura, ele pegou o celular e fez uma ligação, como
se eu fosse completamente invisível para ele.
Internamente eu estava fervendo.
"Seu grosso!", resmunguei mentalmente.
Havia algo diferente e intrigante nesse homem, o timbre de sua
voz, por exemplo, gotejava austeridade. E então, no meio da conversa veio
a seguinte frase:
— Não há espaço para erro. — Entendi a frase como um aviso,
então ele encerrou a ligação.
Sobressaltei quando inesperadamente a mão dele pousou sobre a
minha, que repousava no balcão, meu corpo inteiro reagiu ao contato. Meu
coração disparou de tal forma que me impossibilitou de respirar, sua energia
adentrava por meus poros e parecia circular junto ao meu sangue em
minhas veias, sentia a quentura e aquele calor me fez suar, deixando-me
trêmula e sem fôlego.
De repente, levantou-se e o gesto fez com que o perfume gostoso
adentrasse pelo meu olfato, afetada por aquela delícia de fragrância, engoli
em seco, sua mão segurou na minha com autoridade.
— Vamos dançar — ordenou, arrastando-me em direção à pista de
dança, eu freei meus pés.
— O que pensa que está fazendo?
Ele grunhiu, me olhando com um sorriso surpreso e lembrou-me.
— Trabalha aqui, foi o que o gerente ou dono do hotel informou,
certo? — indagou.
— É o meu primeiro dia... — respondi, assentindo com a cabeça,
acanhada e assustada.
— Então, vamos fazer dele inesquecível! — O homem não me deu
chance de protestar ou recusar. Tomou-me para dançar, dominando a
situação completamente.
Meu cérebro estava perdido com as letras tentando formar
palavras, não conseguia formalizar umazinha sequer com os nossos corpos
encaixados perfeitamente!
Eu me via completamente rendida ao charme desse homem
misterioso. Enquanto dançávamos colados, ele me envolvia entre seus
braços, experimentava sensações que nunca senti antes. Tive alguns
momentos de preliminares e, sério, nada se comparava a essas novas
sensações que esse deus grego estava me proporcionando. Era algo novo,
surpreendente e eu não resistia. Deixava rolar. Primeiro, pela grana
generosa; e segundo, porque ele era um desconhecido e eu nunca mais o
veria na vida.
Deslizava suas mãos pelo meu corpo, me deixando arrepiada e
excitada. Beijou meu pescoço e cheirou minha pele enquanto suas mãos
dominadoras me seguraram pelos quadris e me pressionou contra o seu pau,
duro como rocha.
“Nossa!” Arfei sem conter meus gemidos de tesão, nesse instante
seus lábios cobriram os meus num beijo sufocante e surreal.
— Você é uma delícia, garota — rosnou, enlouquecido.
Uma mão subiu e seus dedos percorriam suavemente minha nuca
enquanto sua língua explorava cada canto com uma destreza, como se ele
estivesse mapeando cada parte minha, revelando meus segredos mais
profundos em cada movimento. Se nessa pegada inicial enviava arrepios de
prazer por todo o meu corpo, imaginava como seria ele me tocando por
inteira.
Meu desejo estava à flor da pele e ele sentia a minha rendição.
Deslizou uma de suas mãos pelas minhas costas, me fazendo tremer com
seu jeito dominante, sentia minha vagina latejar, queimando e toda
molhada.
— Eu quero você, garota! — Eu não conseguia mais resistir, só
queria saber como seria uma noite de sexo intenso com um homem mais
velho... sem compromisso. — Vou foder você até não aguentar mais... —
sussurrou com a boca colada na minha orelha.
O homem respirou profundamente, preenchendo o espaço entre nós
com o som da sua respiração enquanto continuava a conduzir a dança.
Então, ele afastou a cabeça, seus olhos estreitados buscando os meus como
se estivesse pedindo a minha permissão.
Engoli em seco absorvendo cada detalhe do seu rosto de traços
fortes. Sua barba cerrada dava-lhe um ar ainda mais viril enquanto seu rosto
quadrado, e as sobrancelhas grossas, conferiam-lhe uma expressão intensa e
decidida. Seus olhos pareciam muito mal e a sensação era que capturava
minha alma, mas a realidade era que eu me sentia atraída em demasia pelo
desconhecido, por sua aura magnética.
O homem sinistro, que era uma mistura perturbadora de perigo e
beleza, esboçou um sorriso sedutor.
— Eu, eu... — As palavras não vinham, eu o queria, mas estava
com medo, e ele, experiente, percebeu.
— Não precisa ter medo — ele murmurou com a voz rouca,
pressionando minhas costas com mais força contra sua ereção, que pulsava
e vibrava contra mim, aumentando meu tesão a cada segundo. — Vai se
queimar na fogueira... vai arder, mas não de dor e sim, de prazer.
Ele me arrastou para um canto escuro, suas mãos deslizaram pela
fenda do meu vestido até tocar minha intimidade encharcada. Um tremor
percorreu meu corpo.
— Sem calcinha... — ele rosnou, sentindo minha umidade
escorrendo entre seus dedos.
Suas palavras diretas alimentavam o frenesi dentro de mim. Eu
queria desesperadamente sentir aquele homem irresistível, ansiosa para a
promessa de êxtase que ele sugeria.
— Gostou? — perguntei num sussurro carregado de desejo.
Mergulhando com a minha mão entre nossos corpos, agarrei seu membro
pulsante. “Nossa!”, pensei, arrepiando-me ao sentir sua dureza quase
rasgando a calça. Inspirei fundo, buscando equilíbrio e nas pontas dos pés,
provoquei-o, apertando-o com mais firmeza. — O calor já está derretendo
entre as minhas pernas.
Ele rosnou em desespero, aumentando ainda mais minha vontade.
Com um sorriso malicioso, ele me puxou em direção a um
corredor, entramos pela porta das escadas. Me levou a um canto onde o
sensor logo desativou e as luzes se apagaram. Naquele momento, eu só
queria experimentar, sentir aquele pau dentro de mim, não importava onde
ou como. Ele me beijou com voracidade e me virou de costas, colando sua
ereção na minha bunda e eu, com o rosto curvado, era beijada por ele.
— Quero sentir sua boceta. — Devorava minha língua, suas mãos
atrevidas erguiam meu vestido enquanto me abraçava forte por trás, me
pressionando contra sua ereção pulsando. Esfregando aquele imenso
volume em minha bunda, suas mãos apertaram minhas coxas internas e seus
dedos voltaram para a minha vagina molhada e quente. Pressionando meu
clitóris, rosnou e prendendo minha garganta disse de forma instigante:
— Ela é tão quente, macia... o sabor deve ser delicioso, garota. —
Seu elogio me deixou ainda mais excitada e gemi quando ele afundou os
dedos em mim, me penetrando deliciosamente, e a outra mão apalpando
meus seios sensíveis. Deitando minha cabeça em seu peito, eu rebolava e
gemia, entregue às suas carícias.
Ansioso, ele mordeu meu pescoço e seu chato do celular apitou.
Ele leu rapidamente a mensagem, recolocou o celular no bolso e colou sua
boca em meu ouvido:
— Estou atrasado, mas antes vou satisfazer seus desejos mais
profundos. Confie em mim e venha comigo. — Aquelas palavras
desencadearam um arrepio tremendo em mim... ”Uau!”.
— Claro — respondi, extasiada enquanto ele segurava minha mão
e me conduzia pelas escadas até o andar superior, onde estava hospedado.
O quarto do hotel era espaçoso e luxuoso, com uma cama macia.
— Vem aqui. — Lançando-me contra a porta, que se fechou, com
um braço de cada lado do meu rosto me encurralou ali, e me prensando
gostoso, ele me beijava, sugava minha língua e quando fiquei sem fôlego,
abriu o decote do meu vestido e degustou de cada seio meu, que estava sem
sutiã, mordiscando os bicos sensíveis, me fazendo gemer. O cara era bom
nisso. Então repousou suas mãos em meus ombros e me colocou de joelho
em sua frente.
O volume gigantesco em sua calça pulsava como o meu coração.
Ele abriu o cinto e abaixou sua calça e cueca de uma vez, retirando
com os pés, mostrando todo seu tesão na minha frente e me deixando sem
palavras. Seu pênis era grande, grosso e cheio de veias, com a cabeça
brilhante e quase explodindo de desejo.
— Ele é maior do que eu imaginava. — Eu salivava só de olhar
para ele, louca para chupá-lo e sentir todo seu prazer.
— E quer sentir sua boca em volta dele. — Ele o pegou pela base e
colocou na minha boca. Fechei meus olhos deslizando minha língua ao
redor da cabeça, provando o sabor daquele pau que eu tanto queria dentro
de mim. Ele agarrou meus cabelos e mais uma ordem surgiu: — Olha para
mim.
Conectada com seus olhos, eu escorregava minha língua por todo o
comprimento, segurando-o pela base e estimulando-o com meus lábios e
língua.
— Isso, chupa meu pau... assim. — Ele gemia e me elogiava, me
deixando ainda mais excitada e ousada. — A quentura da sua boca é
demais... — ele urrava e me fazia sentir poderosa, completamente entregue
ao sexo oral eu fazia sucção constantes levando o homem ao delírio, às
palavras sujas que o desconhecido dizia me excitava mais e mais.
De repente, sem um aviso, nada... ele me puxou para cima, meu
impulso foi levar minhas mãos ao seu paletó e abri-lo para explorar cada
pedacinho do peitoral dele. Precisava conhecer mais desse homem, só que
não tive tempo, ele me colocou de bruços na cama, me ordenando que
ficasse de joelhos e empinasse a bunda. E daí, começou a me torturar.
— Meu Deus! — roguei com sua língua forte deslizando por
minha intimidade latejante, exposta na cara dele. Explorando tudo de mim e
me fazendo gemer alto de prazer.
— Sabor bom da porra! É melhor do que imaginei... — ele urrou e
eu, com meu coração batendo a mil no peito, sentia minha excitação
escorrer enquanto ele me chupava faminto e com voracidade, me fazendo
gemer alto. Eu já não aguentava mais e torcia para ele me penetrar logo.
Ele pegou um preservativo na carteira do paletó e cobriu seu pênis
ereto e deitou-se sobre o meu corpo, que tremia ali na cama; e, pela
primeira vez, senti-me apreensiva e revelei:
— Eu sou virgem.
Ele ficou surpreso, mas isso só aumentou o seu desejo por mim.
Ofegante, ele encaixou seu pau entre as minhas pernas.
— Só relaxa, garota! — E com cuidado, ele me penetrou,
afundando em mim centímetro por centímetro, aguardando minha vagina se
adaptar a ele. Se existia dor, ela foi camuflada pelo prazer intenso. Ele me
beijava e chupava meu pescoço, ombros e orelhas enquanto me penetrava
cada vez mais fundo, me levando às nuvens.
— Seu corpo é delicioso — urrava estocando nas minhas
profundezas e eu ali, gemendo entorpecida. Estava abraçada a um tesão
absurdo, sensações que jamais imaginei que existissem.
Sua respiração quente e acelerada no meu ouvido me deixava ainda
mais excitada e finalmente, chegamos ao ápice juntos, em uma experiência
intensa e inesquecível. Ele me mostrou um prazer que eu nunca havia
conhecido antes e me fez sentir importante.
Depois encostou a testa na minha cabeça. Eu podia sentir seu
coração acelerado em minhas costas, assim como o meu. Nossos corpos
suados se fundiram em um só. Quando finalmente nossas respirações
normalizaram, ele se afastou o tirando de dentro de mim.
Senti uma pontada de decepção ao vê-lo levantar-se da cama, pegar
sua calça e se dirigir ao banheiro sem dizer uma palavra. Eu sabia que era
apenas sexo, mas, ainda assim, me senti desprezada com sua indiferença.
Ele voltou vestido e com os cabelos arrumados, me encarando com
um olhar vazio. Não havia emoção em seus olhos, após alguns segundos de
silêncio, o homem jogou um maço de dinheiro sobre a cama.
— Para você! — disse de forma rude e humilhante.
— Eu já recebi o pagamento, não quero o seu dinheiro — respondi,
mas prometendo a mim que essa noite de sexo por dinheiro, seria um
segredo que levarei para o túmulo.
— Você que sabe, deixe aí para a camareira — disse apenas antes
de sair do quarto com passos firmes.
A porta do quarto se fechou com um estrondo, deixando-me
sozinha no silêncio que se seguiu. Com um suspiro, comentei em voz alta:
— Grosseirão e gostoso.
A lembrança dos seus toques ainda fazia o meu coração bater
descompassado quando meu celular tocou. O número era da mãe da Giulia.
— Caramba! — exclamei apavorada, lendo a mensagem em
pânico, que pedia para eu retornar com urgência para casa.
Saltei da cama num movimento ágil, tomei uma ducha rápida e
vesti-me às pressas enquanto as palavras da mãe da Giulia ecoavam em
minha mente.
"Meu Deus, proteja a Liliana", era tudo que eu conseguia pensar.
Toda minha preocupação estava na minha irmãzinha. E então, peguei o
dinheiro sobre a cama.
— Desculpa, camareira! — Saí mandando mensagem para a
Giulia, colocando-a par da situação.
Ao me ver desesperada, o gentil Evan providenciou um carro, com
vidros lacrados, para me levar. E inusitadamente a rodovia estava
congestionada àquela hora da madrugada. O cheiro de algo queimando e a
poluição sonora das buzinas preenchia o ar, criando uma cacofonia
angustiante que parecia ecoar dentro do meu peito. Veículos e mais veículos
se juntavam e fumaça se espalhava pelo ar.
— Algum carro lá na frente deve estar pegando fogo — disse o
motorista.
— Tem certeza de que não há algum atalho? — Minha voz saiu em
tom de urgência, refletindo minha crescente aflição. O tempo era precioso e
cada minuto perdido aumentava a pressão sobre os meus ombros.
— Calma, Paola! — Giulia segurou firme minha mão dando seu
apoio, desconfiava que ela sabia o que estava acontecendo e jurava que não.
Estava visível que me poupava de sofrimento.
O motorista olhou para mim pelo retrovisor, seus olhos
transmitiam preocupação.
— Conheço um atalho, mas é uma região deserta — ele alertou
antes de eu dar qualquer ordem.
— Por favor, não há tempo a perder. Faça o que for necessário —
implorei, sentindo a ansiedade se transformar em desespero.
— A senhorita é quem manda. — Imediatamente ele manobrou o
veículo, tentando encontrar uma rota alternativa em meio ao caos.
O tráfego caótico transformava a rodovia em um verdadeiro
labirinto. Minha mente estava a mil, mas então tivemos sorte. O motorista
virou em uma rua estreita, cercada por vegetação alta e havia apenas um
carro na nossa frente. Por um momento respirei aliviada. No entanto, o
alívio durou pouco.
De repente, um furgão preto com vidros lacrados ultrapassou nosso
carro em alta velocidade, forçando o motorista a jogar o carro para o
acostamento.
— Passa, seu folgado! — xingou o motorista e voltou para a
estradinha.
O furgão também ultrapassou o veículo à frente, mas depois
ganhou certa distância e atravessou na estrada, bloqueando o caminho
daquele veículo. As portas do furgão se abriram e três homens enormes,
com o rosto coberto e armas em punho, desceram.
— Puta merda! — eu e Giulia gritamos a plenos pulmões.
CAPÍTULO 3

PAOLA

— Caramba! — exclamou o motorista prudentemente, pisando no


freio com força, os pneus do carro derrapando sobre a estrada de terra,
levantando uma nuvem de poeira que encobriu o veículo.
Um grito escapou dos meus lábios quando ouvi os estalos dos tiros,
e meu coração disparou enquanto me encolhia no banco de trás.
— Tira a gente daqui, pelo amor de Deus, moço! — implorei com
meu coração na garganta. O desespero tomava conta dentro do carro.
— Moço, moço! — Giulia em pranto, gritava... — Vamos morrer,
Paola. — Giulia fechou os olhos e se enfiou entre os bancos. O tiroteio
parecia vir de todos os lados, e eu mal conseguia respirar de tanto medo.
Lágrimas embaçavam minha visão enquanto eu rezava para que nenhuma
bala nos atingisse.
O motorista ligava para a polícia quando os tiros cessaram.
Curiosa, ergui a cabeça, ignorando a advertência do motorista.
— Não, não se levanta, senhorita. — No entanto, minha
curiosidade era mais forte e não resisti. Foi então que vi os homens
encapuzados retirarem o homem vestido de terno do seu carro e o jogarem
dentro do furgão. Intrigantemente, o porte e a cor do terno eram
semelhantes ao homem misterioso que transei. Mas ele estava de costas, eu
não conseguia confirmar se era ou não ele. E logo o carro saiu em
disparada, se embrenhou entre a vegetação e sumiu de nossa visão.
O motorista inspirou profundamente e soltou todo o ar de uma
única vez.
— Estamos vivos, vamos sair logo daqui — disse aliviado e
retornou com o carro para a rodovia. Sorte que o trânsito já havia liberado.
De fato, a fumaça era de um carro incendiado e os bombeiros já
controlavam o fogo.
Ele levou a mim e Giulia até próximo ao nosso bairro.
Ao chegarmos, carros de polícia e ambulâncias estavam em frente
à minha casa. O desespero tomou conta de mim. Corri como uma louca,
quebrando a barreira dos policiais ao redor da minha casa e entrei.
— É a minha casa! — disse, entrando em desespero, que foi maior
ao deparar com a minha mãe caída sobre o assoalho de madeira, sua boca
espumava enquanto os socorristas davam os primeiros socorros.
— Mãe! — gritei em prantos, me jogando ao lado do corpo dela e
a abraçando forte, pedindo para ela resistir. — Resiste, mãe. Por favor! —
As lágrimas saíam como cachoeiras dos meus olhos, implorando para que
minha mãe resistisse. Sabia da gravidade, reconhecia o que ocorria: uma
overdose, e não era a primeira vez. Mas dessa vez parecia mais grave.
A cena tocava a todos presentes na casa, fazendo-nos chorar em
desespero, envolvidos em uma tristeza avassaladora.
— Por favor, dê espaço para a equipe médica trabalhar. — O
policial segurou meu ombro e me afastou do corpo da minha mãe para que
pudessem fazer o socorro. As lágrimas ardiam em meus olhos. Meu coração
apertado implorava silenciosamente para que minha mãe resistisse. Mas ela
não resistiu...
— Mãe! — De repente, tudo ao redor ficou mais difícil. O policial
segurou na minha mão e não me deixou chegar perto. — Me deixa, eu
quero ficar perto da minha mãe, MÃEEEEE! — eu gritava desesperada.
— Eu sinto muito! — dizia o policial com gentileza, mas firme.
— Por favor, cuide bem da minha mãe — implorei com a voz
embargada pelo choro, sentindo cada palavra pesar no meu peito. Por mais
desajuizada que ela fosse, ainda assim, era a minha mãe e eu a amava.
Mesmo que minha mente estivesse repleta de incertezas e medos,
saí correndo da casa, desesperada para encontrar a minha irmãzinha.
Chegando na casa vizinha, vi Liliana nos braços da mãe de Giulia.
— “Pola, Pola”. — Liliana, aquela garotinha linda e saudável, dava
os bracinhos quando me viu.
— Liliana, meu amor, eu estou aqui agora. Vamos ficar juntas, está
bem? — Minha voz tremia enquanto tentava transmitir à minha irmãzinha
uma calma que não existia em mim.
Um sorriso frágil apareceu em seu rostinho inocente quando a
abracei com força, meu corpo tremia com a dor e o medo de que me
consumiam por dentro.
— Você está segura comigo, eu prometo — sussurrei, desejando
com todas as minhas forças que minhas palavras fossem verdadeiras.
O policial se aproximou, interrompendo nosso momento de
conforto.
— Será preciso que você nos acompanhe até a delegacia para
esclarecimentos sobre o Carter, namorado de sua mãe — disse ele, com
uma expressão séria.
Franzi o cenho, surpresa com a notícia. Carter não aparecia há mais
de um ano, então por que ele estaria envolvido agora?
— Já vou, senhor — respondi, tentando disfarçar minha apreensão.
Antes de sair, a mãe de Giulia me deu mais uma informação
preocupante.
— O namorado da sua mãe apareceu por aqui, mas ele saiu um
pouco antes de tudo acontecer. Os dois se despediram com abraços e ela
entrou sozinha em casa — informou a mãe da Giulia.
Suspirei, revirando os olhos com o comportamento irresponsável
de Carter. Era um viciado que se envolvia com minha mãe, deixando um
rastro de destruição por onde passava.
— Provavelmente ele e minha mãe exageraram no consumo das
drogas — respondi, tentando disfarçar minha apreensão, mas o sequestro
veio em minhas lembranças.
— Quando estávamos vindo para cá, presenciamos um sequestro.
O policial deu um aceno de cabeça.
— De fato houve uma denúncia e já está sendo averiguado. Eu
aguardo a senhorita na viatura — informou o policial.
Enquanto eu me preparava para partir, o celular da mãe de Giulia
tocou. Ela atendeu e, depois de uma breve conversa, entregou-me o
telefone.
— É o senhor Henry Paterson — informou ela, com uma expressão
séria, deixando-me ainda mais nervosa.
Tio Henry era um empresário bem-sucedido, além de Senador nos
Estados Unidos. Ele tentou algumas vezes internar a minha mãe, mas nunca
conseguiu. Segundo meu tio, antes da minha mãe se perder na vida, ela era
a queridinha e protegida do meu avô, mas de repente se tornou uma
descabeçada. Na minha infância, eu passei muitas noites sozinha e com
medo em casa enquanto ela se afundava na escuridão.
Peguei o celular com hesitação, sentindo um nó se formar na
garganta. Decidi colocar a ligação no viva-voz para que a mãe da Giulia
pudesse participar da conversa.
— Oi, tio — cumprimentei, tentando manter a voz firme.
— Eu sinto muito pela sua mãe, querida — disse ele com a voz
embargada, e pude sentir sua tristeza atravessar a linha telefônica. — Eu
vou cuidar de vocês duas, fique tranquila. Já estou contratando uma babá
para cuidar da Liliana, e você irá para uma instituição famosa em Exeter,
New Hampshire, aqui nos Estados Unidos, para fazer Ciências Políticas, se
preparar para trabalhar comigo.
Embora a dificuldade da vida não me permitisse pensar em
faculdade, ainda assim, se eu pudesse traçar o meu caminho, a Medicina
estaria nos meus planos.
Confusa, olhei para a Giulia e sua mãe em busca de orientação. A
mãe dela, com um sorriso encorajador, me incentivou a aceitar a proposta.
— Aproveite a oportunidade, filha — encorajou-me ela, e senti um
misto de gratidão e incerteza invadir meu coração.
Inspirei fundo, beijei a face da Liliana e, após um breve momento
de reflexão, aceitei o convite do meu tio, decidida a enfrentar os desafios
que estavam por vir.
***

No aeroporto, segurei Liliana em meus braços, sentindo o peso da


despedida pesar em meu peito. As lágrimas borbulhavam em meus olhos
enquanto eu olhava para o rostinho inocente da minha irmãzinha, que
parecia não entender o que estava acontecendo.
— Não quero ir, Liliana. Não quero te deixar — sussurrei. Minha
voz estava embargada pela emoção.
Liliana, com seus dois aninhos, olhava para mim com seus grandes
olhos curiosos, sem compreender completamente o que estava acontecendo.
Ela esticou os bracinhos para abraçar-me, como se quisesse me consolar.
— Mana... — disse Liliana com sua vozinha adorável.
Apertei-a ainda mais contra mim, sentindo meu coração apertar
com a angústia da separação que se aproximava. Eu queria proteger Liliana
de tudo, e, por enquanto, meu tio Henry era o nosso apoio. Eu me formaria,
me estabilizaria financeiramente e a levaria para morar comigo.
— Eu te amo tanto, Liliana. Você vai ficar bem, eu prometo. O tio
Henry vai cuidar muito bem de você — murmurei enquanto as lágrimas
rolavam pelo meu rosto, ciente de que, em todas as oportunidades como
férias e feriados, eu estaria junto com ela.
Charlotte Walton, a prima de terceiro grau de Henry, uma mulher
antipática, esperava impacientemente ao nosso lado, olhando para o relógio
e suspirando irritada. Tio Henry, tão ocupado, não pôde comparecer e a
enviou para cuidar de tudo.
Os cabelos curtos e loiros de Charlotte combinavam perfeitamente
com o vestido longo e sofisticado que usava. Seus olhos azuis, quase de
vidro, percorreram-me com um olhar frio e distante enquanto eu segurava
Liliana em meus braços.
— Paola, precisamos ir. — Sua voz soou refinada, mas com um
tom de impaciência.
Hesitei por mais um momento, relutante em soltar a minha irmã.
Finalmente, com um suspiro pesado, dei um último beijo na testa da minha
irmãzinha e a entreguei à Charlotte.
— Cuide dela, por favor — supliquei, meus olhos implorando por
segurança para a minha irmã.
Charlotte apenas acenou com a cabeça, em uma expressão
impassível.
— Ah, estava me esquecendo. — A mulher retirou de sua bolsa um
livro com tema político.
— Um livro?
Charlotte deu de ombros à minha indagação.
— Sabe como seu tio é fissurado por livros, mas a parte boa é você
se familiarizar com a política. Aproveita e leia durante o voo. — Afastou-se
rapidamente com Liliana. Assisti enquanto as duas se afastavam, sentindo
meu coração se despedaçar em mil pedaços. Eu sabia que precisava seguir
em frente, mas o vazio deixado pela separação era quase insuportável.
CAPÍTULO 4

SIMON

Quatro anos depois...

Eram sete horas da manhã e o sol de Miami já ardia como fogo lá


fora, seus raios invadiam a sala de reunião em um dos arranha-céus do
centro financeiro, iluminando a imponente mesa de madeira maciça. Era ali
que eu liderava a Energia Solaris Inc.
Com um olhar penetrante, analisei cada rosto presente no
ambiente, acionistas e funcionários de alto escalão, aguardando minhas
palavras com expectativa. Ergui minha voz impondo autoridade.
— A partir de hoje, as regras vão mudar. Decidi concorrer à
presidência dos Estados Unidos e não posso mais me dar ao luxo de lidar
com problemas. Quero soluções! — Minha voz ecoou pela sala e pude ver a
surpresa nos olhares ao meu redor. — E se alguém aqui não se achar apto a
desempenhar suas funções com as novas regras, que se manifeste agora,
pois estarei em busca de profissionais competentes que atendam aos meus
anseios. — Coloquei em um tom calmo, porém firme, deixando claro que
não toleraria indecisões.
Um dos acionistas, acho que o mais ousado, decidiu questionar
minha mudança de postura.
— Simon, o que está acontecendo? Você havia desistido da eleição,
não estava mais no páreo para a candidatura presidencial. O que mudou? —
indagou, com uma insuportável desconfiança.
Deslizei minha mão pela barba, respirando fundo em busca de
paciência, antes de responder. Encarei-o com determinação.
— Minhas prioridades mudaram e é hora de todos se adaptarem a
essa nova realidade. — Minha declaração foi feita com segurança e
precisão. — Mais alguém tem algo a dizer? — Fitei um por um ao redor da
mesa e ninguém mais se arriscou.
Então, com um gesto brusco, esmurrei a mesa para enfatizar minha
decisão.
— Esta reunião está encerrada. Todos podem sair. — Minha ordem
foi direta, sem espaço para questionamentos.
Enquanto todos saíam em silêncio, foquei na grande janela do chão
ao teto. Meu coração queimava com a mesma intensidade da temperatura de
Miami. Havia tanto a decidir e executar, que eu me sentia aprisionado
dentro daquela sala.
“Ser reconhecido como o CEO bilionário e proprietário da maior
empresa de energia renovável dos Estados Unidos, a Energia Solaris Inc.,
não estava nos meus planos”.
No entanto, o destino havia traçado esse caminho para mim e eu
estava predestinado a aceitar esse gigantesco desafio. Minha influência não
se limitava apenas ao mundo dos negócios; ela se estendia à economia, ao
meio ambiente e até mesmo à política. Minha ambição desmedida me
impulsionava incessantemente em direção a um único objetivo: conquistar a
Casa Branca.
"E a qualquer custo", pensei comigo mesmo, ciente de que minha
habilidade em manipular situações políticas me daria uma vantagem crucial
nessa jornada. Despacharia meu maior concorrente para o último lugar da
fila e depois o eliminaria.
— Meta principal — profetizei em voz alta e segui até o bar.
Precisava de uma dose do melhor uísque. Coloquei três grandes pedras de
gelo; o som do gelo contra o vidro se misturou às batidas leves na porta
antes dela ser aberta.
Era a senhorita Isa Miller, minha secretária, e ela estava muito
interessante, os seios quase explodiam pelos primeiros botões da camisa
branca sob o terno justo ao corpo, moldando suas curvas.
“Bem gostosa!” Seus cabelos ruivos sobre os ombros, os lábios
carnudos e naquele momento aquela imagem feminina instigou o meu
apetite sexual. Uma presença ideal para me saciar.
— Desculpa entrar sem bater, sr. Simon Costello. Enviei uma
ligação do sr. Julian Smith, mas acho que o telefone da sua mesa deve estar
fora do gancho — informou a mulher, indo até a minha mesa e colocando o
telefone no gancho.
Julian Smith era o chefe do meu gabinete.
— É sobre o encontro em Miami Beach, às 20h — avisou ela.
Ocorrerá um importante evento político. Os pré-candidatos à
presidência dos Estados Unidos vão se reunir para um encontro na cidade.
— Achei que fosse sobre as primárias. — Antes da eleição
presidencial geral, cada partido político realizava primárias em estados
individuais.
— Pode recolher os papéis sobre a mesa e organizá-los, por favor.
— Apontei com minha mão que segurava meu copo de uísque.
Enquanto eu falava ao telefone, observava Isa curvada sobre a
mesa atendendo a minha solicitação.
“Ela é uma delícia!", o pensamento sacana cruzou minha mente
enquanto ela balançava a sua bunda provocativamente. Já duro, corri meus
olhos por suas curvas e suspirei de desejo.
Eu mal conseguia conter a excitação que tomava conta de mim,
meu pau estava tão duro que parecia que ia explodir o zíper da minha calça.
— Sem dúvida, estarei presente nessa reunião. É uma ótima
oportunidade para declarar minha candidatura à presidência — confirmei
presença animando o chefe do gabinete. Ouvi um risinho dele de: “é isso
aí”.
— Sua presença vai causar alvoroço entre os adversários políticos
— Julian comentou.
— Essa é a ideia, Julian.
Enquanto ele explicava a importância da minha presença, me
aproximei da gostosa segurando o copo.
— Eu queria estar lá para ver as caras deles quando você chegar
— Julian disse.
— Bem, no momento estou ocupado, Julian. — Parei a poucos
centímetros da bunda da minha secretária e guardei o celular no bolso do
paletó. Isa percebeu que despertou minha atenção e empinou-se ainda mais,
esfregando aquela delícia no meu membro latejante.
— CARALHO! — rosnei com meu corpo tremendo de tesão e meu
coração acelerado enquanto eu pressionava minha ereção, quase
explodindo, contra a sua bunda.
— Simon... — ela gemeu meu nome de forma íntima e eu não
consegui me segurar. Ela me incentivou a continuar, e eu estava tão
excitado que só queria enterrá-lo todo em sua boceta.
Coloquei o copo de uísque sobre a mesa e segurei firme nos
quadris dela, puxando-a contra mim.
— Estava com saudades de sentir tudo isso na minha bunda — ela
declarou, endireitando-se.
— Vamos matar logo essa saudade — eu disse rouco, com ela
deitando com cabeça em meu peito, me dando espaço para apertar os seus
seios gostosos, comprimindo-a contra mim enquanto ela rebolava nele. —
Se prepara que vou te foder com força, sem piedade — sussurrei no ouvido
dela, que gemeu erguendo seus braços até suas mãos embrenharem nos
meus cabelos, dizendo que era toda minha.
Com desejo incontrolável, abri sua blusa e liberei seus seios,
apertando-os contra mim. Depois, ergui sua saia, acariciando o interior de
suas coxas e afastando sua calcinha. Toquei em sua boceta molhada e
quente, deslizando meus dedos sobre seu clitóris e penetrando-a com força
enquanto mordia seu pescoço, sentindo seu corpo tremer em meus braços.
Penetrei meus dedos, ela estava tão quente, molhada... deliciosa, e
levei-os à boca para sentir seu sabor, lambi e fiquei louco com o gosto bom.
Louco de tesão, ergui toda sua saia, ela debruçou sobre a mesa e eu sentei-
me na cadeira. E com sua bunda na minha cara, afastei sua calcinha e
chupei sua boceta, lambendo-a deliciosamente até me saciar.
— Você é muito bom nisso, chefe — ela elogiou, inflando meu
ego. Então, ainda mais excitado, me levantei, abri minha calça e liberei o
meu pau, quase explodindo de desejo. Coloquei um preservativo e penetrei-
a sem misericórdia, sentindo-a se contrair ao meu redor, metia vigoroso e
arrancava seus gemidos de prazer enquanto eu gemia roucamente. Socava
com força, sem compaixão e ela aguentava firme, pedia mais e delirava no
meu pau.
Sentia seus músculos comprimindo meu pênis, quase esmagando
divinamente, me levando ao ápice. Ela chegou primeiro.
— EU VOU GOZAR! — gritou, e eu mal conseguia me segurar.
Estava enlouquecido, mas não queria gozar no preservativo. Puxei seus
cabelos, sugando sua língua enquanto ela tinha um orgasmo intenso.
Quando ela terminou, eu estava extasiado, penetrei-a mais um
pouco, fodendo-a com força até que eu estivesse prestes a explodir. Sentei-a
na minha cadeira e tirei o preservativo, colocando o meu pau em sua boca.
— Chupa — ordenei com os dentes cerrados e pressionei a parte
de trás da cabeça dela para engolir o máximo que conseguisse, observando
a safada chupar ansiosamente.
Urrei quando alcancei meu clímax, meus jatos fortes encheram sua
boca quente e deliciosa. Satisfeito e com a tensão aliviada a pressa me
atingiu, pensando que tinha muito a fazer até a reunião das 20h. Esperei ela
engolir até a última gota e tirei da boca dela.
— Compromissos me esperam — avisei indo para o banheiro.
— Foi o melhor sexo com você, chefe. — Minha secretária ofegou
e eu concordei. Eu poderia atender ao pedido dela; uma boa transa sem
compromisso, precedendo reuniões tensas, encaixava como uma luva. Às
vezes, até ajudava nas decisões mais difíceis.
— Com minha nova vida agitada — comecei observando seu belo
corpo, ela arrumou suas roupas —, você pode esperar para repetir essa
experiência novamente.
— Estarei esperando ansiosamente, sr. Simon Costello.
Segui ao banheiro, fiz minha higiene e quando retornei para a sala,
Isa ajeitava os papéis. Saí a mil, para ter tempo de preencher todas as
lacunas até as 20h.
CAPÍTULO 5

PAOLA

A dor de viver longe da minha irmãzinha estava finalmente


chegando ao fim.
"Graças a Deus!"
Peguei meu celular sobre a mesa do escritório do hospital e respirei
aliviada. Disquei o número do telefone do tio Henry e esperei, com o meu
coração acelerado, aguardando ansiosa.
No primeiro ano em Exeter, com milhões de compromissos, não
consegui visitar Liliana em Miami, porém, mantínhamos contato frequente
por videochamadas. Mas nos últimos três anos sim, eu visitei minha irmã a
cada seis meses, mas, ainda assim, era pouco. Agora, formada e com um
emprego garantido, me reconstruí aqui em Exeter. Consegui entrar no curso
de Medicina e, para completar minha felicidade, precisava ter Liliana ao
meu lado.
"Chegou o momento de trazê-la para morar comigo. Uma
promessa que fiz à minha irmãzinha!"
Tio Henry atendeu a ligação.
— Surpresa receber sua ligação, estava aqui pensando em você,
Paola.
— Transmissão de pensamento — respondi, confiante de que meu
tio entenderia minha posição. Foi então que ele jogou aquela bomba sobre
minha cabeça.
— Sua irmã não anda muito bem de saúde e necessita da sua
companhia. Eu preciso da sua presença aqui em Miami, Paola.
Meu coração quase parou. Uma onda de desespero me envolveu.
— O que aconteceu com a Liliana? — perguntei com a voz
trêmula.
Henry tentou me tranquilizar.
— Liliana está bem, mas tem tido crises constantes de asma. E
estou em época de eleição, preciso de alguém de confiança para cuidar
dela.
Senti medo, preocupada sobre a saúde de Liliana.
— Claro, claro! Estou indo imediatamente para Miami e... —
Comecei a explicar.
Ele logo me interrompeu:
— Já providenciei sua passagem. E precisará estar
criteriosamente, às 20h, no endereço que enviei por mensagem, nos
encontraremos lá.
— Eu prefiro ir diretamente até a minha irmã — me opus e ele riu
de forma carinhosa.
— Levarei a Liliana comigo. Seja pontual e não perca o voo —
disse no seu tradicional autoritarismo, mas ele era um homem amoroso e
generoso. Sempre o agradecerei por tudo que fez a mim e a minha irmã. —
Agora que está formada, você está preparada e assim, você também me
ajudaria nas eleições, quero você aqui. Afinal, essa foi a razão para
matriculá-la em uma universidade de Ciências Políticas — acrescentou ele.
“Quero você aqui.” Essa frase dele ecoava forte em minha mente.
Olhava pela janela do escritório observando as crianças,
aproveitando a tranquilidade do ambiente cercado pela natureza, eu estava
no meu novo emprego, o emprego dos meus sonhos. O Centro de Saúde e
Cuidado Criança Feliz em Exeter, New Hampshire, Estados Unidos, perto
da universidade onde me formei em Ciências Políticas. Um ambiente
acolhedor e qualidade para crianças que precisam de cuidados médicos,
com programa de terapia assistida por animais. Por enquanto eu atendia
como monitora, mas tão logo me formasse em Medicina, minha função
seria atender como médica pediatra.
— Paola, você está aí? — chamou meu tio, interrompendo minha
dor. Minha emoção me detonava, meu coração apertava enquanto eu
absorvia deixar Exeter. Não podia ignorar as palavras de meu tio, mas
estava difícil expressar o quanto isso me entristeceu; ficar por muito tempo
em Miami estava longe de estar nos meus planos, mas estar com a minha
irmãzinha, nesse instante, era prioridade.
— Estou sim, tio. Mas posso te ligar em cinco minutos? — Não
podia falar naquele momento, não ali, onde as lágrimas escorriam dos meus
olhos e poderia ser presenciado pelas crianças.
— Estou ansioso para você vir morar em Miami, Paola — disse
tio Henry.
Eu não queria morar, queria apenas passear em Miami. Nessa
cidade, nesse Complexo Hospitalar com Creche, eu construí uma nova vida.
Não havia como ser diferente convivendo em um lugar especial, que tinha
um grande significado para mim.
Aqui, nesse espaço, passei boa parte do meu tempo nos últimos
anos. Aprendi muito com esse ambiente acolhedor e humanizado, esse
centro de Saúde e Cuidado Infantil Integrado despertou ainda mais minha
paixão pela medicina.
“Mas, como sempre, o destino parecia ter outros planos para
mim”.
Anah, minha amiga e uma das sócias desse Centro de Saúde e
Cuidado Infantil Integrado, estava ocupada, então com meu coração partido
ao meio, angustiada, dei com a mão sinalizando que a
aguardaria no meu apartamento. Ela assentiu entendendo meu sinal, então
caminhei em direção à porta de saída, antes de desistir da viagem.
Saindo do hospital caminhei alguns minutos pela larga calçada até
o edifício luxuoso onde eu morava na cobertura.

***

Minhas malas já estavam prontas na sala, abri a porta da varanda e


fui recebida pela brisa suave acariciando meu rosto. Retornei a ligação, tio
Henry atendeu no primeiro toque.
— Desculpa, estava ocupada.
— Imagina! Você ouviu sobre o voo? — indagou ele.
— Ouvi sim, tio — respondi desanimada.
Ele grunhiu, contestando.
— Entendeu exatamente o que deve ser feito, minha sobrinha? —
insistia ele.
Eu entendi claramente. E criticar o irmão da minha mãe seria
injusto; afinal, ele fez muito mais do que minha própria mãe fez pela
família. Ele comprou esse apartamento para mim, um bom lar, e bancou
todos os meus estudos.
— Sim, claro, tio! Pode ficar tranquilo — respondi, ouvindo um
suspiro de alívio do outro lado da linha.
— Eu preciso muito de você aqui, tá. — Assenti com um meneio
de cabeça, suspirando profundamente desgostosa. — Deve sair neste
minuto para o aeroporto, por favor — ele implorava gentilmente e assim
mesmo apertou meu coração; não queria ir, não agora!
— Minhas malas já estão prontas, não se preocupe. — Arrumei
minhas malas para outro propósito, que eu decidi postergar mais um tempo.
— Obrigado por poder contar sempre contigo, Paola — agradeceu
e encerrou a ligação.
Sufocada, precisei de ar para respirar; saí para a varanda, coloquei
minhas mãos no parapeito e ali, diante da paisagem magnífica, deixei meu
olhar vagar pelo cenário deslumbrante diante de mim, mais triste do que
nunca.
Ouvi os latidos que alegraram o meu coração entristecido e, em
seguida, a porta se abriu. Anah entrava com um dos meus pequenos
tesouros em seus braços. Além de minha amiga e sócia do hospital, era ela
quem ajudava a manter minha vida e casa organizadas.
Os latidos eufóricos e os abanos de rabo dele tinham a capacidade
de mudar meu ânimo. Era apaixonada por crianças e animais.
— A mamãe vai morrer de saudades, Duck — disse num tom
carinhoso, tirando-o do colo de Anah e apertando-o entre meus braços.
— Nossa, são poucos dias... O tempo de ir buscar a Liliana e voltar
— brincou Anah, alheia ao que de fato ocorria. Inspirei sem conseguir
segurar as lágrimas. — O que houve, Paola?
Contei em detalhes sobre as intenções do tio Henry, ela
empalideceu e levou a mão direita sobre os seus lábios, preocupada.
Compreendia o meu sofrimento.
— Com um bom tratamento, logo a sua irmã estará recuperada. —
Sua força era uma alegria.
— Amém! — orei confiante. — Vai cuidar de tudo por aqui para
mim, amiga?
— Cuidar das crianças, da saúde delas e dos animais é o que sei
fazer de melhor, Paola. Vá sossegada que eu cuido de tudo por aqui para
você, querida — prometeu, me fazendo rir de amor por essa pessoa
maravilhosa que ela era.
— Eu sei que posso contar contigo, Anah... E agradeço do fundo
do meu coração — abracei o fofinho do Duck. — Eu não quero deixar
vocês aqui sozinhos, eu não quero — resmungava, com as lágrimas
transbordando dos meus olhos, tamanha minha dor.
— Pense na recompensa de abraçar sua irmã.
Rindo e chorando com meu coração saudoso, eu movia a cabeça de
cima a baixo.
— Verdade! Tenho fé de que, em breve, trarei a Liliana para morar
com gente aqui em Exeter.
— Estarei aqui orando fervorosamente por vocês, e não se
preocupe, minha menina. — Anah abraçou a mim e meu dog lindo. — Eu
prometo que cuidarei para que todos fiquem bem, minha querida... Será
apenas por um período, até o fim das eleições, e durante esse tempo você
virá nos visitar com frequência. — Anah tentava tranquilizar meu coração,
sem sucesso.
Eu negava com a cabeça; estava arrasada, despedaçada.
— Pra mim é uma eternidade, é difícil aceitar que terei que deixá-
los, mesmo que temporariamente. A minha vida é aqui em Exeter, me
formar em Medicina e seguir uma carreira médica aqui, você entende?
Duck começou a latir como se respondesse, fazendo eu e Anah
rirmos apaixonadamente por esse animalzinho maravilhoso.
Duck é da raça Basset Hound, com sua pelagem caramelo e branca.
Ele tem a síndrome da espinha curta (SEA), uma condição rara em cães,
caracterizada por uma formação anômala das vértebras da coluna. Essa
anomalia congênita faz com que a coluna seja mais curta do que o normal, o
que pode causar problemas neurológicos e de locomoção. Embora sua
principal dificuldade seja na locomoção, o uso de cintas ajuda a estabilizar a
coluna e aliviar o desconforto.
— Converse direito com seu tio Henry, seja sincera e eu tenho
certeza de que ele compreenderá e aceitará sua nova vida. — Grunhi diante
do seu conselho sábio, mas que não resultaria em nada positivo.
— Para o meu tio a política é o único caminho que todos da família
devem seguir, ele não dá opções a ninguém. — Respirei exausta, mas
sentindo a obrigação em pagar minha dívida com ele. — Irei ajudá-lo nas
eleições, darei tudo de mim, farei o impossível, tudo o que estiver ao meu
alcance para ele conquistar o seu objetivo, a Casa Branca, e então abrirei o
jogo. Ele será o primeiro a saber de tudo; eu viverei a minha vida e não a
dele — afirmei incisivamente.
Anah riu com orgulho da minha determinação.
— Não posso me atrasar para o voo — disse, lembrando-me das
horas. — Deu tudo certo, Anah?
— Sim, depois passei no pet shop e deixei a Luna no banho. —
Luna é a outra cachorrinha pug que adotei. — Em seguida fui ao veterinário
para a fisioterapia do Duck. Pode viajar despreocupada. — Anah transmitia
segurança, o que me deixava tranquila. Aos 45 anos, ela era formada em
Enfermagem, uma das grandes inspirações para eu ter me arriscado no
exame para ingressar na universidade de Medicina. Além de ser uma
mulher experiente, ela era muito carinhosa e atenciosa.
Segurei cuidadosamente sob as patas do Duck e o ergui, olhando
em seus olhos e sorrindo, já com o coração sentindo tanta saudade.
— Vai cuidar de tudo por aqui, né, seu lindinho? — perguntei ao
cachorro. — Na primeira oportunidade, eu corro aqui para ver vocês.
Duck pareceu entender quando começou a latir como se
respondesse afirmativamente.
— Você é um fofo, sabia? — Voltei a abraçá-lo com ternura. Essa
bola de pelo trouxe muitas alegrias a essa casa.
— Vem cá, me dá um abraço, querida — Anah disse com carinho,
me envolvendo em seus braços acolhedores, e eu desabei em um choro
copioso. Ela era o que eu podia chamar de mãe, cuidava de mim e
organizava a minha vida do jeito que a minha mãe não teve capacidade de
fazer. O vício manteve minha mãe reclusa em seu próprio mundo,
infelizmente!
— Pegou tudo?
— Sim, tudo está na mala — garanti desviando sobre as malas no
meio da sala.
— Não se descuide nem por um segundo... — orientou ela,
afastando-se e colocando alguns fios grudados pelas lágrimas do meu rosto
atrás da minha orelha. — Promete para mim, filha?
Balancei a cabeça, suspirando profundamente.
— Eu prometo. — Voltei a abraçá-la e agradeci por tudo o que ela
tem feito por mim, então outro suspiro surgiu quando eu me despedia
brevemente de Duck, meu fiel companheiro de quatro patas, entregando-o
nos braços acolhedores de Anah. Segurando minha mala com firmeza, saí às
pressas do apartamento, determinada a seguir em frente, apesar da aflição
em meu coração.

***

Alguns minutos antes das 20h, o avião pousou suavemente no


aeroporto de Miami. A saudade da Liliana doía e não era pouco. Assim que
liguei o celular, uma mensagem do tio Henry piscou na tela, e não pude
deixar de sorrir ironicamente.
"Pontual como sempre", murmurei para mim mesma, conhecendo
bem a exigência de meu tio por pontualidade.
A mensagem instruía-me a ir diretamente do aeroporto para a
reunião, destacando que um carro sedan preto me aguardava na saída. Com
pressa, peguei minha mala e me dirigi apressadamente para fora do saguão.
Logo avistei o elegante veículo se aproximando e um chofer,
impecavelmente vestido em um terno negro e gravata-borboleta, desceu
para abrir a porta para mim.
— Boa noite, senhorita Paola. Por favor, entre e acomode-se —
disse o chofer cordialmente enquanto eu entrava no veículo luxuoso.
— Boa noite — respondi com um sorriso agradecido.
O carro executivo percorria suavemente pelas ruas movimentadas
de Miami, as luzes dos prédios e das ruas se destacavam enquanto eu
observava a cidade passar pela janela e notava ruas congestionadas, carros
buzinando impacientemente, ônibus parados, bloqueando as pistas.
— Trânsito intenso, não? — comentei e o chofer assentiu que sim
com a cabeça.
— E certamente vai piorar, senhorita Tyler. Justamente hoje se
inicia a greve do transporte público em Miami.
Mas o contratempo não tirava o glamour de Miami Beach àquela
hora da noite. Meu coração apertado de saudade por Exeter contrastava com
a agitação. O veículo acessou a Collins Ave, passando pela marina repleta
de iates e barcos reluzentes, adicionando uma pitada de melancolia à minha
viagem.
Ao chegar em frente ao luxuoso hotel, o chofer desceu e abriu a
porta para mim, cumprimentando-me com um sorriso gentil.
— Aqui estamos, senhorita Paola. O hotel é um dos lugares mais
refinados da cidade.
— Agradeço muito, foi uma viagem tranquila — agradeci
retribuindo o sorriso enquanto ajustava o vestido ao corpo, frente única
plissado, sem mangas, colado ao corpo, laço na cintura em cetim, a
elegância exigida pelo meu tio.
— Se precisar de mais alguma coisa, estarei à disposição —
acrescentou o chofer antes de retornar ao volante e se afastar. Com um
último aceno, atravessei as portas de vidro adentrando o hotel, preparada
para enfrentar o que quer que viesse pela frente.
Fui recebida por um saguão deslumbrante, onde a grandiosidade se
revelava em cada detalhe. Lustres imponentes iluminavam o ambiente,
destacando a opulência das decorações e o requinte dos móveis. O elevador
me levou ao andar superior em frente à porta de onde seria o evento.
Ao parar na entrada do evento, meus olhos buscaram
freneticamente pelo tio Henry. Homens trajando ternos impecáveis,
políticos conhecidos e influentes empresários, suas famílias, filhos e
mulheres deslumbrantes em vestidos elegantes se misturavam em uma
atmosfera carregada de poder. Garçons habilmente serviam bebidas e
petiscos aos convidados e quando parei em um grupo de homens na varanda
externa numa conversa distraída, todos fumavam charutos, meu coração
quase parou por um momento.
"Puta merda", murmurei para mim mesma, meus olhos capturaram
o homem misterioso do hotel à beira da rodovia na cidade onde eu nasci,
aquele que estive nos braços dele e jurava que nunca mais o veria.
Ele estava impecavelmente vestido em um terno preto, de perfil,
envolto na conversa com o grupo de homens, completamente alheio à
minha presença. Aquela figura exalava uma aura de poder e magnetismo,
atraindo todos os olhares femininos presentes. Fiquei momentaneamente
paralisada, incrédula com o encontro e meu nervosismo só aumentou
quando avistei o meu tio Henry, elegantemente trajado em um terno azul-
marinho, se aproximando.
— Tio! — sem condições de me expressar, exclamei apenas,
embora sustentando meu sorriso. Tudo em mim era um total desgoverno.
— Esperava por você, querida. — Ele segurou em meu braço e,
enquanto me cumprimentava com um beijo na bochecha, afastou-me
temporariamente da presença hipnotizante daquele ser masculino. Mas
provavelmente percebeu meu tremor. Eu suava frio.
— Está tudo bem, Paola? Você parece um pouco tensa —
perguntou ele, notando minha inquietação.
— Só meio desconfortável. Afinal, é um ambiente novo para mim.
— Tentei disfarçar ao máximo e esperava convencê-lo.
Ele continuou em um tom incentivador:
— Não se preocupe, minha querida. Você é uma jovem brilhante,
sua presença irradia calor e vitalidade aonde quer que vá e atrai as pessoas.
Todas vão se encantar com você, logo vai se acostumar com esse mundo
político.
“Eu duvido muito.” Infelizmente, não tinha política nas veias, e
tampouco no coração.
— Não precisa ficar tímida, estamos todos aqui para o mesmo
desígnio — acrescentou meu tio em um tom encorajador, mas não
conseguiu dissipar minha ansiedade.
Contrariada, suspirei enquanto o observava; era um homem de
cabelos e barba grisalhos, já aos 60 anos. Por um breve instante, considerei
compartilhar com tio Henry minha paixão pela Medicina, mas o momento
não soava apropriado.
— E a Liliana, como ela está?
— Linda como você e está por aí. — Ele virou o rosto para dentro
do salão procurando-a. Meu coração batia tão forte que mal conseguia
respirar de tanta saudade da minha irmãzinha.
Então avistei a maravilhosa Liliana entretida com outras crianças,
com os cabelos loiros cacheados caindo suavemente sobre seus ombros.
— Liliana? — chamou tio Henry enquanto eu não continha minha
emoção. As lágrimas jorravam dos meus olhos e lavavam a maquiagem do
meu rosto.
Quando ela me viu, correu ao meu encontro com os braços abertos.
— Paola, Paola! — ela gritava, me fazendo chorar mais ainda.
— Oi, maninha. — Suspirei, rindo e chorando ao mesmo tempo, a
tomando em meus braços. — Saudades, que saudades.
Após o abraço apertado, eu soltei minha irmãzinha e me abaixei à
sua frente, segurando delicadamente seu rostinho entre as minhas mãos,
seus olhos grandes e expressivos, na inocência dos seus seis anos,
brilhavam de alegria.
— Você melhorou? Eu estava morrendo de saudades, Liliana —
sussurrei, com a voz embargada pelo choro.
— Fiquei com falta de ar, mas eu melhorei.
— Você está tão linda, maninha. — Liliana sorriu com o meu
elogio de irmã coruja.
— Também senti muita saudade, Paola. Você vai ficar aqui agora?
Tentava conter a emoção que transbordava dentro de mim e, antes
que eu pudesse responder, meu tio Henry interveio com veemência:
— Sim, Liliana. Sua irmã vai ficar conosco a partir desse
momento. Sua vida é ao meu lado na política — afirmou ele com
convicção.
Eu o encarei, insatisfeita com aquela imposição, mas engoli em
seco, decidindo não o confrontar por enquanto. Mesmo porque, eu estava
em dívida com ele. Primeiro, eu o ajudaria nas eleições, em seguida,
declaro meus desejos e ambições e então retornarei para a minha vida em
Exeter. É lá que escolhi fazer o meu curso de Medicina.
Decidi que, após a campanha, faria tudo o que pudesse para levar
Liliana para morar comigo. Seria um recomeço para nós duas, longe das
sombras do passado e perto de um futuro promissor.
— Oba! — comemorou minha irmãzinha, fofa e tagarela. — Paola,
sabia que meu nome significa flores? — ela começou a rir, e seu riso era
contagiante.
— Que legal! Eu nunca soube que o nome Liliana significasse
flores! — eu disse, toda apaixonada enquanto ela assentia com a cabeça,
orgulhosa do próprio nome, então encarei o meu tio.
Logo uma mulher bonita e jovem se aproximava. Seus cabelos
castanhos também eram cacheados quanto os da fofa da minha irmã.
Tio Henry a abraçou pela cintura.
— Abigail, minha sobrinha Paola chegou, finalmente. — Meu tio
me comunicou que havia se casado.
— Seu tio fala muito de você, Paola. Muito prazer.
— O prazer é todo meu — retribuí o cumprimento apertando sua
mão.
— Venha comigo que quero te apresentar meu vice-presidente —
disse meu tio beijando a esposa e pedindo a ela para levar Liliana ao
playground.
— Tchau, Paola. — Inesperadamente a fofura da Liliana abraçou
minha cintura. Então, ela saiu de mãos dadas com Abigail.
— Vamos entrar.
Tio Henry conduziu-me para dentro do salão.
“Não é possível!” Ele me guiava justamente na direção do grupo
de homens onde estava o homem misterioso.
— Não me conformo desse cretino comparecer a esse encontro —
protestou meu tio entredentes.
Não segurei minha curiosidade.
— De quem está falando, tio?
— Simon Costello, o idiota na roda vestido de terno preto —
informou ele deixando claro o tamanho do seu desafeto.
Ainda em dúvida, eu questionei, porque havia dois homens de
ternos preto.
— Qual deles? — Estava mega curiosa.
— O de barba é o Simon Costello, o outro de terno preto é o
Benjamin, um amigão do meu partido, ele era o mais cotado para a vaga de
vice-presidente na minha chapa, mas o partido optou pelo Davi Johnson.
Vou acabar com a raça desse safado do Simon Costello, ele não perde por
esperar! — emendou rosnando entredentes, emitindo todo o seu ódio.
“Céus, desafeto do meu tio!”
Senti um aperto no peito, como se o ar tivesse desaparecido
enquanto me aproximava dele.
“Ah, meu Deus!!!”
Eu não estava preparada para confrontá-lo. Queria fugir dali, para
bem longe, mas meus pés pareciam presos ao chão. Sentia temor em estar
me aproximando daquele ser masculino, que deixou muito mais do que
marcas profundas. E ainda um inimigo declarado da família. Tinha medo de
que meu tio percebesse meu nervosismo e me questionasse a razão disso.
Meu coração começou a acelerar quando, a alguns passos deles,
meu tio chamou um tal de David Johnson. Todos do grupo olharam em
minha direção, inclusive “ele”. A pulsação dentro do meu peito
assemelhava-se às batidas de tambor. O receio de que ele pudesse ouvir me
tomava. Cada passo em direção a ele era como uma aproximação ao
desconhecido, uma jornada rumo ao abismo do medo.
— David, essa é a Paola Tyler, a minha sobrinha. — A voz alta,
exalando orgulho, do meu tio adentrou em meus ouvidos, no entanto, meus
olhos seguiram presos com aqueles olhos profundos me encarando daquele
jeito. Sem a menor chance de desviar.
A sensação de estar diante dele, com seu olhar gélido perfurando
minha alma, era avassaladora, quase insuportável. Eu mal conseguia
respirar, receando que qualquer sinal de perturbação fosse abrangido pelo
meu tio, ao meu lado, com um sorriso confiante.
— A famosa Paola Tyler — David Johnson disse atraindo minha
atenção, seus olhos cresciam em cima de mim. Aproximou-se e colocando a
mão em meu braço, me cumprimentou com um beijo na face como se
fôssemos íntimos. E então notei sobre os ombros dele o desafeto do meu
tio, Simon Costello, de olhar poderoso saindo da roda e vindo em nossa
direção.
— Paola Tyler. — A voz grave e rouca emitiu uma intimidação que
me desestruturou. Meu coração, em seu pico, causou em mim uma vertigem
ligeira, mas ainda assim, capaz de me fazer perder a noção de tempo e
espaço. Sentia meu rosto queimar notando o olhar suspeito do meu tio sobre
mim.
“Se acalme e disfarce, Paola”, me aconselhava mentalmente
enquanto respirava fundo, presa ao olhar dele, a mão grande cheias de veias
sobressalentes levaram o copo com uísque aos lábios grossos, contornados
pela barba bem-feita.
Seu rosto másculo era belo demais, mas seu olhar transmitia
ameaça, o que me deixava perdida, assustada. Na verdade, eu estava
apavorada com a possibilidade de meu tio descobrir que eu estive com ele
alguns verões atrás, e o agravante: por dinheiro!
— De onde Simon Costello conhece minha sobrinha? — Tio
Henry perguntou, com o maxilar travado, endurecendo o olhar. Meus olhos
se arregalaram e, diante do olhar poderoso de Simon, balancei a cabeça
sinalizando para ele não dizer nada.
Então tio Henry repetiu a pergunta para mim, e detalhe, em tom
autoritário:
— Você o conhece de onde, PAOLA? — frisou calmo e em bom
tom.
Tentei manter a voz firme e ri junto, tentando disfarçar.
— Como eu poderia conhecer, tio? — Tremeu, minha voz tremeu,
sim. — Eu passei boa parte da minha vida em Exeter, ocupada demais com
os estudos. — Tentei ser convincente, mas Henry não parecia muito
satisfeito.
Deu um passo à frente de Simon Costello, que não recuou e
manteve seu olhar ao meu, ignorando tio Henry. Esse homem tinha uma
força e poder surpreendentes.
— A conversa é entre nós dois, Simon Costello — pontuou tio
Henry, sem conseguir intimidá-lo. Ele respirou fundo e exalando cinismo,
jogou seu olhar impassível sobre o meu tio. — Quando me informaram que
resolveu ser meu concorrente na eleição, eu duvidei...
Simon, com arrogância, abriu um sorriso petulante.
— A minha candidatura é um problema para o poderoso Henry
Paterson? — Simon praticamente zombou, irritando Henry, que riu, mas era
de nervoso, embora ele tentasse disfarçar.
Então tio Henry deu mais um passo e encarou Simon, e ainda na
sua arrogância disse:
— Você nem mais ninguém são páreo para mim, todos sabem que
sou o favorito à eleição para a presidência dos Estados Unidos.
— Boa sorte! — Simon respondeu com uma nota de ironia em sua
voz e me encarou.
Seu olhar foi sedutor, deixando-me de pernas bambas. Ele então
pegou um copo de uísque da bandeja de um garçom que passava naquele
momento e saiu caminhando elegantemente pelo salão, poderoso em seus
passos decididos, e se juntou ao grupo de homens.
— Não creio que esse miserável me deixou falando sozinho? —
explodiu tio Henry, com sua voz exalando raiva. — Estou inconformado,
nunca ninguém ousou fazer algo assim. Esse Simon não perde por esperar!
— Então meu tio acenou para um homem do outro lado do salão e me pediu
licença para se juntar a ele.
Sufocada, ainda com a sua presença imponente ecoando em minha
mente, eu peguei o caminho do corredor dos banheiros. Necessitava de um
refúgio privativo onde eu pudesse respirar, acalmar meus nervos.
Adentrei no banheiro, tão sofisticado quanto toda a instalação. Os
lustres dourados, que iluminavam o ambiente opulente, coberto de mármore
bege no piso e nas paredes, não conseguia clarear as ideias em minha
mente. A angústia tomava conta de mim, me sentia mergulhada em um
turbilhão de emoções conflitantes.
Ao ligar a torneira e deixar a água fria escorrer sobre minhas mãos,
eu buscava em vão um alívio para o desespero que me consumia.
— Estou ferrada! — admiti em voz alta, reconhecendo a gravidade
da situação em que me encontrava.
Simon Costello, o homem que eu havia conhecido, agora era o meu
maior rival na disputa pela presidência, um inimigo declarado do meu tio
Henry.
A sensação de impotência me envolvia enquanto eu esfregava a
mão molhada em minha nuca, buscando alguma forma de acalmar meus
nervos.
— Com tantos políticos, por que justo ele competiria com meu tio?
Céus! — A lealdade que devia ao meu tio me fazia sentir um tipo de
remorso, deixando-me em um estado de conflito interno.
Após retocar a maquiagem e tentar me recompor diante da situação
desafiadora, saí do banheiro e quase enfartei com a presença enigmática de
Simon Costello.
— Ai, Jesus! — deixei escapar por meus lábios, minhas pernas
pareciam gelatinas, mas conseguia me manter em pé. Ele me aguardava
próximo à porta.
— Está muito assustada, PAOLA TYLER — provocou com sua
voz de timbre forte e assustador.
Sua presença imponente, e sua aura de prepotência me deixaram
momentaneamente sem palavras. Era como se eu estivesse diante do
próprio diabo, emanando seu fogo e queimando o meu corpo. Sentia-me em
chamas com seu olhar penetrante e misterioso. Na verdade, um olhar
perigoso na sua expressão mal-humorada.
— Com licença! — Em total desgoverno, físico e emocional, eu
escorreguei para o lado, tentando desviar dele, mas antes que eu pudesse ter
êxito, Simon segurou firmemente meu queixo e ergueu minha cabeça,
exigindo que eu encarasse seus olhos intimidadores.
— O titio poderoso não sabe como você ganhava a vida em
Appalachia, em West Virginia, certo?
Confesso que estava paralisada diante da sua força dominante,
ainda assim, encontrei forças.
— Não sabe nada de mim, me solte... — Ele apertou mais os dedos
em meu queixo e inclinou sua cabeça roçando seu nariz na pele do meu
pescoço. Cheirando e destilando sua energia, eu tremia da cabeça aos pés.
— Sei pouco de você, mas farejo o seu medo, Paola Tyler — frisou
endireitando a cabeça, conectando nossos olhares. — Está com medo do seu
titio — provocou Simon, com sua voz carregada de malícia. Puxou-me para
mais perto, seu hálito quente me paralisou. — Mas eu não julgo você, sabe-
se lá o que ele poderá fazer se descobrir que a sobrinha dele se relacionou
intimamente com o seu maior rival.
CAPÍTULO 6

SIMON

— Eu não sei do que você está falando — ela respondeu sem


hesitar. Seus lábios carnudos mal conseguiam articular as palavras, mas o
som ecoou em minha mente, fazendo meu coração bater com a mesma
intensidade desconhecida de quatro anos atrás.
Seus olhos castanho-escuros eram profundos o suficiente para
parecerem enxergar através de mim, exatamente como naquela noite no bar
do hotel.
"Em meio àquela madrugada turbulenta, Paola foi a calmaria que
eu não sabia que precisava."
Lembro-me dela sentada na cadeira em frente ao bar, me olhando
da mesma forma, trazendo uma paz inesperada em uma noite conturbada. O
doce aroma que emanava de sua pele macia mexia com os meus instintos
mais primitivos, transportando-me de volta às montanhas de Appalachia,
em West Virginia. A sensação dela em meus braços desafiava meu
autocontrole e despertava um desejo ardente em mim.
Arrepios percorriam minha espinha, desestabilizando meu habitual
calma e frieza. Essas emoções não eram bem-vindas em minha vida, mas ali
estavam, tomando conta de mim de forma incontrolável. Paola despertava
sentimentos e sensações que eu jamais imaginei serem possíveis para
alguém como eu. Era perturbador, desconcertante e, ao mesmo tempo,
excitante.
— Vou te fazer lembrar — declarei, deslizando minha mão do
queixo até sua nuca, trazendo seus lábios aos meus. Ela tentou resistir.
—Nãoooo. — Suas mãos empurraram o meu peito, mas eu a beijei
com uma intensidade que roubou seu fôlego e também a resistência que ela
tentava impor.
O contato íntimo entre nós me enlouqueceu, meu pau ficou sem
espaço dentro da minha calça enquanto toda aquela sensação fazia meu
coração aquecer de uma forma que eu não estava acostumado a sentir.
"Inadmissível!", mentalizei, bloqueando esses sentimentos e me
concentrando no que realmente importava: destruir um inimigo implacável,
Henry Paterson. O fato de descobrir que a garota linda e virgem que havia
me seduzido em Appalachia era sobrinha de Henry, soou como uma grande
oportunidade de usá-la como isca para abater o meu oponente.
Na pausa para respirar prendi as laterais do seu rosto delicado e
perfeito, e zanzava meus olhos por ele todo, aos lábios tremendo e
entreabertos, sua respiração estava rasa, os olhos mais escurecidos, sinal da
sua excitação. Eu sentia o cheiro do seu desejo exalando de sua respiração
curta e me instigava em foder com ela, chupar sua boceta, que deveria estar
uma delícia, eu tinha certeza.
— Tenho certeza de que se lembrou — a desafiei e dei as costas,
mas no primeiro passo ela se pronunciou:
— Não aconteceu nada em Appalachia, eu nunca te vi na vida.
Ajeitando a gravata, esbocei um riso, seu temor preenchendo o
corredor significou uma grande oportunidade e já articulava em qual
posição eu a colocaria na guerra contra Henry Paterson. Estrategicamente,
segui andando e ouvi seus passos apressados às minhas costas, logo ela
ultrapassou-me e se colocou à minha frente, agarrando as golas do meu
paletó, os olhos castanhos ejetaram desespero, e ele estava desenhado em
seu semblante.
— Não nos conhecemos, compreendeu? — Ali era uma súplica e
me agradou.
— Preciso de um bom e forte motivo para esconder do Henry
Paterson que não conheço a sobrinha dele. — Desafiei-a com um aceno de
sobrancelha, provocando-a.
A bela travou a mandíbula irritada e esse gesto a deixou mais
sensual.
— Quer barganhar, é isso que está tentando, sr. Simon Costello? —
A maneira como seus lábios articulavam meu nome me cobriu de um tesão
absurdo. Eu lutava contra os impulsos de arrastar essa garota deliciosa para
dentro do banheiro e possuí-la, saciar o desejo que explodia dentro de mim.
— A política costuma ter um preço — disse, deslizando a ponta
dos meus dedos por sua pele, vendo-a estremecer ao meu toque. Paola
inspirou profundamente, visivelmente em dificuldade. Seu tremor era tão
intenso que parecia que não tinha forças para nada, e tentou me responder:
— Não é a política — Ela soltou meu paletó. — E, sim, os que
participam dela. Existem políticos de valor e os que tem seu preço; seu
caso, tipo de pessoa que odeio.
— Vamos confirmar esse ódio, garota! — Enlacei sua cintura com
um braço e abri a porta, arrastando-a para dentro do banheiro e
encurralando-a contra a porta.
— O que pensa que está fazendo, cara? — retrucou numa voz que
não conseguia disfarçar sua entrega, no momento em que eu trancava a
porta com a chave.
Com um braço de cada lado do seu rosto, olhava no fundo dos seus
olhos.
— Independentemente de qual seja a sua história, Paola Tyler, não
justifica tanto medo de Henry Paterson? — torcia para uma confissão de
algum tipo de ódio pelo tio, torcia para ela ser uma aliada, mas me enganei.
Ela projetou o queixo, me enfrentando corajosamente.
— Não te devo satisfações, me solta senão vou começar a gritar. —
Sua ameaça fez todo o meu sangue subir à cabeça e perdi o controle,
precisando fechar minha mão para não apertar os dedos em sua delicada
garganta. Mas estávamos em um local público, então recuperei meu bom
senso.
“Ainda é cedo, Simon!”, lembrei-me em pensamento. Então a
soltei, evitando escândalos, mas não me afastei, seguindo preso em seus
olhos.
— Seu tio deve ter feito algo de ruim para todo esse medo, não é
mesmo? — insisti, precisando de mais informações para saber o caminho
certo a trilhar.
Sustentando meu olhar, Paola respirou fundo, depois passou a
língua ao redor dos lábios, molhando-os e deixando-os ainda mais
apetitosos, fazendo-me desejar devorá-los.
— Não se trata de medo, e sim, de respeito. E para sua informação,
Henry Paterson é o melhor tio do mundo, é gentil, diferente de você, um
grosseiro mal-educado.
Ergui minhas sobrancelhas, frustrado com sua resposta, mas o
amor pelo tio também tinha seus benefícios.
No entanto, sua insolência despertou algo em mim. Com um
movimento rápido, peguei seu cabelo e a puxei para um beijo intenso, a
princípio ela resistia, mas eu a envolvia naquele beijo, sugava sua língua
saborosa com vigor, ela foi perdendo o fôlego e deixando de resistir e de
pernas bambas, se entregava. Esse beijo intenso despertou em mim uma
vontade irrefreável. Sem deixá-la recuperar o fôlego, deslizei minhas mãos
pelo seu corpo, apertando seus seios sobre o vestido, sentindo seus gemidos
em meus lábios enquanto ela me encorajava a explorar cada vez mais seu
corpo. Com ousadia, segui baixando minhas mãos pela lateral de seu corpo,
apertando suas coxas e subindo o vestido aos poucos.
Ao chegar na barra do vestido, meus dedos encontraram o elástico
de sua calcinha, e com um movimento rápido, afastei-o e encontrei sua
boceta molhada, enlouqueci.
— Caralho! — Envolvido no momento, urrei enquanto mordia seu
lábio inferior com a intensidade certa, o que só aumentou meu desejo por
ela. Queria possuí-la, mas se cedesse agora, desviaria do meu plano. Eu não
podia me deixar levar pelo impulso. Tinha um plano a seguir e Paola era
apenas uma peça nesse jogo, então apenas a provocava, resvalando meus
dedos em sua intimidade e sentindo seus gemidos e corpo se contorcer sob
o meu toque. Escorreguei minha boca por sua face até seu ouvido e
sussurrei: — Não vou te perder de vista, garota! — Minha voz, carregada
de ameaça, ecoou no espaço.
Afastei-me e a encarei com um sorriso satisfeito, percebendo em
seu semblante uma mistura de excitação e medo do que eu havia acabado de
declarar.
— Fica bem longe de mim, seu cretino! — ela ordenou, ainda sob
o efeito da minha pegada. — E do meu tio também...
Então, calado, deixei-a sozinha na dúvida enquanto saía do
banheiro com um ar de superioridade. Agora, eu tinha certeza de que ela
não seria uma aliada, mas também não seria uma inimiga difícil de ser
controlada. E isso só tornava tudo mais interessante.
Caminhando pelo corredor em direção ao salão onde ocorriam os
eventos políticos, eu lutava para conter a avalanche de emoções que
percorriam meu corpo. Meu desejo estava mais forte, intenso, o pau duro
como uma rocha. Há quatro anos eu relutei em escolher ela para satisfazer
os meus desejos carnais, pensei até que, sem resistir, peguei na mão dela e a
tirei para dançar. Pressentia que ela era um problema, ou seja: diferente de
todas as mulheres com quem já estive, tanto que agora enfrentava
dificuldades para impedir todas essas reações prazerosas. O cheiro da pele
de Paola, o sabor dos lábios dela, tudo isso impregnou-se em mim, me
enfeitiçando e tornando impossível qualquer tentativa de bloqueio.
— Maldição! — praguejei, passando a mão pelo cabelo,
contrariado com meus sentimentos fora de controle. Tracei planos que
precisavam ser executados com perfeição. Mas reconhecia que algo
estranho estava acontecendo comigo, e eu não podia permitir que isso
interferisse nos meus objetivos.
Após ajustar meu terno, e meu pau latejando a ponto de explodir na
calça, a linda e elegante Charlotte entrou no corredor.
— Simon, meu querido! Estava louca para te encontrar.
— Encontrou! — respondi, ainda com meus pensamentos dentro
do banheiro com a sobrinha do meu maior inimigo.
Os cabelos curtos e loiros combinavam perfeitamente com o
vestido longo. Seus olhos azuis, quase de vidro, capturavam a luz do largo
corredor, destacando sua beleza. Ela se aproximou sem timidez, seus braços
delicados cruzaram em meu pescoço e estremeci com seu ventre roçando
em minha ereção ultrassensível de tão rígida, e instintivamente segurei sua
cintura. Seus lábios tocaram suavemente minha barba enquanto ela
cochichava em meu ouvido:
— Que delícia de recepção... — Passou a língua ao redor da minha
orelha e se esfregou mais nele, me deixando maluco. — Bem, o terei todos
os dias já que vamos nos casar.
Enquanto tentava processar suas palavras, meu olhar desviou para
Paola, que saía do banheiro. Engraçado foi me sentir incomodado com a
outra ali, dependurada em meu pescoço sob o olhar dela. Revoltei-me
comigo mesmo por permitir que esses sentimentos contrassensos e
desconexos tomassem conta de mim. Não tinha tempo para administrar
essas emoções; precisava bloqueá-las, eliminá-las de mim.
— Charlotte Walton. — A voz suave de Paola reverberou em mim,
agradou meus ouvidos e causou um arrepio na minha espinha.
— Paola Tyler! — Charlotte pronunciou com uma perceptível
pitada de ironia, mas me olhando como se estivesse buscando algum
interesse meu na concorrente.
Percebia um lampejo de inveja também no olhar da Charlotte,
olhando para Paola com desdém.
— Eu não sabia que estava livre do cativeiro — provocou
Charlotte, desencadeando um olhar fulminante de Paola, que não baixou a
cabeça.
— O nome correto é uma instituição de ensino, onde se prepara
futuros líderes, Charlotte. — A resposta pontuada de Paola veio com um
sorriso sutil, mas carregado de confiança. Seus olhos brilhavam com
consignação enquanto enfrentava Charlotte. — Infelizmente são
oportunidades para poucos, não é mesmo?!
Saiu caminhando em seus passos sensuais e firmes, que irritou
profundamente Charlotte.
— Esse pedestal é fictício, logo, logo, vai se desfazer em pó e irá
despencar dele, sua vaca — murmurou Charlotte entredentes, morrendo de
ciúmes da garota se afastando, e fiquei interessado para conhecer a história
da sobrinha do calhorda do Henry.
— Pelo jeito conhece bem essa moça.
— Sim, conheço e algo me diz que você também a conhece —
jogou verde com seus olhos fixos nos meus, tentando captar a informação.
— Equívoco seu!
— Paola Tyler é filha da irmã problemática da família, e passou a
ser a queridinha do Henry Paterson. Quando a mãe dela partiu do mundo,
vítima de overdose, eu quem fiquei responsável de cuidar das coisas para o
meu primo Henry. Ele não mediu esforços, investiu uma grana alta para
formá-la em Ciências Políticas. — Seu tom de voz transbordava desprezo e
amargura. — Acho ridículo como ele a protege tanto, como se ela fosse
especial. Mas, claro, todos sabem que não passa de uma menininha
mimada, que só está onde está por causa do poder do tio.
Seus comentários derramavam cobiça e ressentimento, revelando
sua verdadeira natureza mesquinha e competitiva.
— Mas vamos esquecer dessa trouxa e prosseguir planejando o
nosso futuro, querido. — Seus braços retornaram ao redor do meu pescoço.
Respirei fundo e encarei os olhos quase vidrados dela. O futuro
estava sendo traçado, Paola foi agregada a ele. Restava saber se agora
Charlotte seria relevante ou não.
— Por que está me olhando desse jeito surpreso, Simon? Você foi
categórico em dizer que, se decidisse se candidatar à presidência dos
Estados Unidos, eu já seria sua eleita.
— Essa conversa requer um outro ambiente, Charlotte — respondi,
retirando suas mãos do meu pescoço.
— Você muda a cada dia, sabia? — reclamou e com razão. Novas
prioridades surgiam todos os dias me obrigando a traçar novas estratégias.
— O mundo está em constante transformação, Charlotte! —
desconversei, segurando seu braço e conduzindo-a pelo corredor em direção
ao salão.
Ao adentrarmos o salão, respirei fundo, preparando-me para
enfrentar os homens influentes e os políticos que usavam a política a seu
bel-prazer. Meus olhos varriam o ambiente, identificando cada figura
poderosa presente, mas foi Paola quem fisgou a minha atenção novamente.
Enquanto a garota era apresentada a todos do grupo por Henry Paterson, e
com muito entusiasmo, notava o quanto ela evocava um carisma
surpreendente que me obrigava a ficar ali, analisando-a. Charlotte também
estava focada no mesmo ponto que eu, e era palpável seu desconforto. Ela
não se segurou:
— Essa exposição da Paola me irrita. Vem comigo, Simon. — Não
querendo ficar de fora da roda social, Charlotte segurou minha mão e me
puxou até o grupo de pessoas, visivelmente incomodada com a proximidade
de Paola.
Quando Henry Paterson nos viu juntos, seus olhos se estreitaram
sob as sobrancelhas grisalhas, exibindo um misto de interesse e
desconfiança. Ao nos aproximarmos, ele cumprimentou Charlotte com um
sorriso forçado.
— Ah, prima Charlotte! — disse Henry, parecendo menos
entusiasmado do que suas palavras sugeriam.
— Como vai, primo? — ela respondeu, segurando minha mão com
firmeza.
— Estou bem, pronto para a eleição, Charlotte — Henry respondeu
com consistência. Seu olhar se voltou para mim, vertendo de uma intenção
que não pude ignorar, mas mantive minha expressão impassível.
— Ter confiança em si próprio é bem legal, Henry. — Senti certo
sarcasmo na voz de Charlotte. — No momento irei me empenhar no
trabalho da campanha do meu futuro marido para presidente dos Estados
Unidos.
Um leve sorriso escapou dos meus lábios ao ver a reação
desconfortável de Paola com a presença de Charlotte ao meu lado. Era
visível o incômodo que importunava ela.
Os olhos de ódio mortal de Henry chegavam a ser divertidos, e eu
apenas arqueei levemente as sobrancelhas em confirmação.
E aproveitei para fazer uma alusão sutil ao conhecimento que tinha
sobre Paola, deixando-a visivelmente apreensiva.
— E você, Paola Tyler, pretende se candidatar a algum cargo?
Afinal, se formou em Ciências Políticas, atendendo um pedido do seu
querido tio... — perguntei, observando sua reação com interesse.
Ela ficou vermelha com minha indireta, visivelmente apreensiva
com minha questão inesperada. Então, deu um suspiro prolongado,
engolindo muito ar, expandindo seus pulmões. Os peitos estufados
deixaram-na muito sexy.
— Se você não o conhece, como ele sabe tanto de você? —
indagou Henry, lançando um olhar penetrante na direção da sobrinha bem
corada.
— Eu quem dei ao Simon essa informação — interveio Charlotte
rapidamente, fazendo Paola respirar aliviada. Ignorei a todos, focando
apenas em provocá-la.
— Me deve uma resposta, Paola! — insisti, observando-a
atentamente.
— Está enganado, sr. Simon Costello — declarou ela, desafiadora.
— Eu não lhe devo resposta alguma, mas como fui bem-educada, graças ao
meu tio querido — ela pegou na mão do velho cretino, que não poupou
suspiros de orgulho —, responderei que todo conhecimento adquirido
durante o meu curso, estará voltado a campanha e vitória certa de Henry
Paterson à presidência dos Estados Unidos.
— Discordo em você perder seu tempo com terceiros, senhorita
Paola. Acredito que você tem potencial para algum cargo político, servir sua
nação — respondi com calma, trocando olhares significativos com ela.
Charlotte, percebendo a tensão, entrou na conversa:
— As mulheres estão se destacando na política, por isso eu
pretendo ingressar no meio, talvez como senadora — Charlotte disse com
tamanha confiança e beijou o meu braço.
No entanto, Henry debochou da ideia, respondendo com farpa:
— Ah, Charlotte, por favor! Você? Senadora? Sejamos realistas, na
minha humilde opinião ainda tem que se preparar muito para conseguir ser
eleita a vereadora.
Um leve riso escapou dos meus lábios ao ver a reação de Paola, ela
sorria atrás dos lábios fechados, comemorando a invertida que levou e isso
fez com que Charlotte ficasse ruborizada e envergonhada, sentindo-se
indignada com a maneira como Henry a desmereceu na frente de Paola.
Mas ela não hesitou em rebatê-lo:
— Todos, inclusive você, primo, sabem que tenho sim, capacidade
para me candidatar a qualquer cargo de alto escalão na política dos Estados
Unidos.
Reparava em Paola, que parecia desconfortável nesse ambiente
político. Seu celular começou a tocar dentro de sua bolsa. Disparadamente,
ela saiu da roda e caminhou em direção à saída. A guerra de palavras entre
os primos seguiu.
Meus planos iam além dessas medíocres discussões, então decidi
encerrar minha participação naquela cena.
— Estou atrasado para o próximo compromisso — disse, pedindo
licença e me retirando do salão, deixando os dois ali, perplexos e sem
entender completamente o que acabara de acontecer.
Ao cruzar a porta, deparei-me com ela falando ao celular, lágrimas
escorrendo de seus olhos.
— Eu queria tanto estar aí, mas no momento não posso... cuida
bem de todos, tá? — Até no tom embargado de voz, ela esbanjava
sensualidade, mas também uma intrigante serenidade.
Balancei minha cabeça para expulsar toda aquela minha
curiosidade que ia além dos meus planos.
Parei em sua frente, analisando-a com atenção, ela suspirou
engolindo o choro.
— Eu ligo daqui a pouco — ela avisou a pessoa com quem falava
do outro lado da linha, desligou o celular e o apertou entre os dedos, sem
desviar os olhos dos meus. — O que você quer, Simon Costello? —
perguntou, com os olhos marejados. Minha vontade ia além de secar
somente suas lágrimas, se estendia ao desejo de abraçá-la, consolá-la e isso
era monstruoso para mim, ultrapassava os limites das minhas regras, o
oposto dos meus objetivos. Portanto, estava totalmente fora de cogitação.
Ela era, e deveria continuar sendo, apenas uma peça no tabuleiro de xadrez.
— Eu não sei, ainda, mas vou descobrir — disse, e saí em direção
à porta que dava ao estacionamento.
CAPÍTULO 7

PAOLA

As palavras desse homem ecoavam em minha mente como um


trovão, cada sílaba ressoava ameaça e perigo iminente.
"Meu Deus do céu, esse cara vai ME FERRAR!", exclamei
desesperada, angustiada, com meus olhos acompanhando cada passo
decidido de Simon Costello se afastando.
Sentia-me completamente perdida com a cena ao meu redor
desmoronando lentamente diante dos meus olhos. Meu coração batia
descompassado, repercutindo o medo que me consumia por dentro. A
simples ideia de que a minha história com Simon Costello, ocorrida há
quatro anos, pudesse vazar e chegar aos ouvidos do meu tio, me fazia
tremer de pânico. Eu imaginava vividamente a reação de Henry, sua
expressão de desaprovação, a tormenta que viria em seguida.
De repente, Charlotte saiu em disparada do salão e gritando por ele
a plenos pulmões:
— Simon, Simon? — Ela fechou a cara ao me encontrar ali, à
porta. Seus olhos analisavam meu rosto com desconfiança e era incômodo.
Eu apenas a encarava em silêncio, mas seu alvo cruzou a porta sumindo do
nosso campo de visão, dando pressa na mulher, que saiu correndo como
uma maluca atrás dele.
Um alívio nesse momento, em que ainda estava processando o
reencontro com Simon, na verdade, petrificada pelo medo. E curiosa para
saber mais sobre ele, pesquisei nas redes sociais e encontrei uma matéria
completa, um currículo de se impressionar:

Simon Costello, CEO bilionário da “Energia Solaris Inc.” com sede em


Miami, cidade onde nasceu. Empresa com grande influência no mercado
de energia que trabalha para reduzir o impacto ambiental. O papel
central de sua empresa na transição para fontes de energias mais limpas
e sustentáveis não só lhe rendeu uma imensa riqueza, mas também um
poder e uma influência incomparáveis, o colocando entre os homens mais
poderosos do mundo.

— Caramba, o homem é forte! — exclamei boquiaberta. E foi


quando uma voz soou do outro lado da porta, baixa, mas clara o suficiente
para que eu pudesse ouvir cada palavra entre tio Henry e David, que
concorreria como vice-presidente na chapa.
— Precisamos agir com firmeza, David. Simon Costello vai nos
causar problemas, ambos conhecemos a popularidade dele e não queremos
importunação durante a companha, certo?
— Concordo plenamente, Henry.
— Aliás, não era nem para esse calhorda estar existindo. —
Entrou a voz do meu tio.
— Você diz: existindo na disputa? — questionou David.
— Em tudo, mas, enfim... precisamos montar uma estratégia que
seja eficaz para neutralizá-lo dessa vez, antes que seja tarde demais.
— É disso que se trata. Nosso dever é destruí-lo, não apenas em
termos de reputação e nas urnas. Devemos impedir que ele chegue tão
longe — disse David.
Senti um calafrio pelo corpo com o teor da conversa. Ouvia as
palavras implacáveis e sinistras de meu tio, e cheia de intenções sombrias
que deixavam os cabelos de minha nuca em pé. Meu coração martelava
dentro do peito, prestes a saltar pela boca. Era como se o peso do mundo
repousasse sobre meus ombros, sufocando-me lentamente, deixando-me
sem fôlego.
“Como assim, destruir Simon Costello não somente nas urnas?
Misericórdia!” O impacto daquelas revelações me deixou atordoada, minha
mente girava em confusão e temor.
— Pode contar comigo, Henry — continuou David. — Estou
totalmente comprometido com essa causa e farei tudo o que estiver ao meu
alcance para garantir que saiamos vitoriosos dessa eleição.
— Ótimo, rapaz! Precisamos agir com determinação e rapidez.
Olhos bem abertos, não podemos dar brechas para que Simon ganhe mais
terreno. Vamos mostrar a ele quem manda de verdade neste jogo político.
E então, como se não bastasse a angústia que já me sufocava, tio
Henry saiu pela porta acompanhado por seu vice, com seu rosto sério e
gélido. Seus olhos encontraram os meus, penetrantes e desconfiados, e eu
engoli em seco, tentando disfarçar o pânico que me consumia por dentro.
— Estava te procurando, querida. — Henry persistia no olhar fixo,
fazendo-me sentir como se estivesse sob um holofote.
— Estava ao telefone. — Tentei manter a calma, responder da
forma mais tranquila possível, mas, por dentro, eu estava em frangalhos. —
Falava com a babá dos meus cachorrinhos, meus bebezinhos de estimação
— emendei rapidamente, lutando para manter a voz controlada.
— Cachorrinhos? Você tem essas criaturas em casa? — As
palavras duras do meu tio me atingiram em cheio, deixando-me atordoada e
sem chão.
— Sim, sãos os meus bebês... amo demais! — respondi
incisivamente, sem compreender toda aquela frieza. Ele simplesmente
ignorou meus sentimentos.
— Francamente, Paola, você deveria considerar doá-los. Sua vida
está prestes a mudar e não há lugar para essas distrações quando você
estiver atuando fortemente na política. Cuidar de animais de estimação é
um luxo que você não pode mais se permitir.
Meus olhos se arregalaram em choque diante do comentário
maldoso e engoli em seco, surpresa e magoada com a crueldade de suas
palavras. Era a primeira vez que via aquela sua faceta, tão distante do
homem gentil e carinhoso que conhecia. Nunca ele havia sido tão rude e
insensível, mas eu me esforçava para manter a compostura.
— Com todo respeito, tio... meus cachorros são parte da minha
família. Eu jamais consideraria me desfazer deles. Além disso, cuidar dos
meus animais me traz paz e felicidade, algo que acho essencial para manter
o equilíbrio na minha vida, especialmente em momentos de estresse como
este.
Discordando, Henry franziu o cenho diante da minha indignação,
mas eu não podia me dar ao luxo de me deixar abalar. Não agora. Não
quando minha vida estava em jogo. Era hora de tomar uma posição, de lutar
pelo meu futuro. Considerei um momento adequado para declarar os meus
planos: seguir meu caminho na área da saúde. Resolvi ser sincera e dizer
que meu compromisso com ele era tão somente até o fim das eleições.
Entretanto, o espertalhão percebeu minha contrariedade e
imediatamente mudou o assunto:
— Sobre Simon Costello, ainda estou intrigado pela forma como
ele se dirigiu a você. Tem certeza de que não se conhecem? — desafiou-me
com seu olhar curioso em mim.
Vi-me encurralada, lutando para encontrar uma resposta que não
me entregasse. Eu sabia que precisava jogar esse jogo com maestria ou
perderia o seu respeito, e isso estava fora de cogitação.
— Eu já expliquei e acredito que não seja necessário repetir
novamente, certo? — O esforço para não gaguejar me deixou até esgotada,
a ponto de alterar minha respiração, fiquei sem fôlego.
O olhar dele se estreitou, cheio de suspeita, mas fiz o possível para
me manter calma. Não podia deixar que ele percebesse o quanto eu estava
assustada.
— Está tudo bem, querida — ele disse, subitamente mais ameno.
— Estou feliz em poder contar com você na campanha. Você é de
confiança, alguém em quem posso confiar nesta jornada, certo?
Fiquei sem palavras, chocada com a reviravolta da situação.
Convenci-me de que devia muito ao meu tio para contestar, pelo menos por
enquanto. Trabalharia ao lado dele, esperando o momento certo para tomar
as rédeas de minha própria vida.
E então, como se a montanha-russa de emoções que eu já estava
enfrentando não fosse suficiente, Henry lançou mais uma bomba:
— E para completar minha alegria, ficaria muito feliz se você e
David se casassem. Ele, além de ser um bom rapaz — David já abriu um
sorriso de aprovação —, como ele é estreante na política, será bom para
manter as aparências perante os eleitores, e acredito que vocês formariam
um lindo casal — disse com um sorriso afável, deixando claro que não era
uma simples sugestão, mas uma imposição.
— Espera, o quê? — questionei, balançando a cabeça em negativa,
constrangida, surpresa e atônita com a proposta absurda. Meus cabelos
caíram desordenadamente sobre o meu rosto, e eu os tirei com uma
sacudida brusca da cabeça enquanto minhas mãos tremiam levemente ao
meu lado. — Me casar com o David? — Virei meu olhar para ele, a
incredulidade me dominava.
— Estou dentro! Seria ótimo para ambos os nossos interesses —
afirmou David, com um sorriso de aprovação.
— E-eu... — Tentei esconder minha incredulidade, forçando um
sorriso falso nos lábios. Cruzei os braços sobre o peito, tentando conter a
agitação que se apoderava de mim. Por dentro, meu mundo estava
desabando e eu me sentia entre a cruz e a espada, sem saber para onde me
virar. — Não estou preparada e não é minha intenção me casar, por
enquanto — neguei, causando um sorriso estranho em meu tio.
— Quando você coloca em palavras: “por enquanto”, é porque
ainda tem dúvidas e isso é positivo. Pois bem... — Então repousou sua mão
no ombro de David e me olhando disse convicto: — David é um
galanteador experiente, não tenho dúvidas de que ele conquistará seu
coração em dias.
— Isso não resta dúvidas — o metido respondeu, confiante em seu
poder de sedução.
“Idiota!”
— Ótimo, então está decidido. David, prepare-se para assumir esse
novo papel — decidiu tio Henry, tomando as rédeas da situação sem eu me
posicionar, nada...
Nunca havia passado pela minha cabeça um casamento por
negócios, especialmente com alguém como David. Ele era alto, forte e até
charmoso, mas não tinha nada que fizesse os meus olhos brilharem.
— O casamento é inadequado, bem como desnecessário, tio. —
Minha voz soou firme, e pude perceber que isso atingia o coração de Henry.
David, notando a tensão instaurada, pediu licença e retornou ao salão.
— Ah, desculpa, minha querida. — E meu tio começou a falar: —
Esse ogro aqui pede perdão por minha postura. São tantos detalhes para
resolver que acabo extrapolando as coisas. Não se preocupe, eu garanto que
vamos nos sentar e conversar, é importante expor o seu ponto de vista —
respondeu, suavizando sua atitude brusca.
Senti minha resistência enfraquecer diante de suas palavras
habilidosas.
— Está bem, tio. Eu entendo — murmurei.
Ele conseguia minar meus argumentos com tanta facilidade que era
difícil não me deixar envolver pelo afeto aparente.
— Sabe, Paola! Sempre trabalhei com afinco e total dedicação,
tamanha dedicação que fui abandonado pela sua tia. Mas também não posso
culpá-la, oferecia ausência ao invés de atenção, negligenciei alguém que
merecia carinho. Mas eu não vou cometer o mesmo erro. Abigail, e
especialmente você e a Liliana, terão toda a minha atenção. — Segurou
meu rosto obrigando-me a encará-lo. — É uma mulher preparada para o
futuro, estou orgulhoso de você, querida. Valeu cada centavo investido nos
seus estudos — enfatizou a última frase como se fosse uma cobrança.
Bem, se não foi essa a intenção dele, a carapuça me serviu. Mais
do que nunca honrarei meu compromisso com ele, pagarei por cada
centavo. E ele seguiu me perguntando se poderia contar comigo.
— Sempre, tio. — Num misto de sentimentos, assenti com a
cabeça em concordância. Atingida por uma sensação de responsabilidade
ainda maior.
Satisfeito, segurou minha mão.
— Eu sou um afortunado por ter alguém tão inteligente e confiável
como você ao meu lado — destacou tio Henry e seu gesto de beijar a minha
mão foi excessivo, expondo-me a um sentimento de constrangimento.
Minha raiva inicial foi substituída por uma profunda gratidão. — Agora
vamos entrar.
Vi-me sendo conduzida para dentro do salão, com o braço dele
envolto ao meu. Era uma sensação estranha, como se estivesse numa cilada,
presa em uma situação desconfortável.
Durante todo o evento, me sentia cada vez mais sufocada.
“Esse evento não acaba nunca”, resmungava mentalmente,
exausta. Queria estar mais ao lado da Liliana, graças a Deus ela estava
melhor. Queria estar em casa, não conseguia me concentrar com meu
coração em Exeter.
E o pior é que o evento parecia se arrastar interminavelmente. Não
apenas os candidatos à presidência estavam presentes, mas também
deputados e senadores, democratas e republicanos, todos tendo seu
momento para expor suas ideias. Durante as eleições presidenciais, havia
uma renovação parcial do Congresso dos Estados Unidos, com votações
para deputados e senadores.
Estava tudo muito monótono, quase insuportável, até que algo
mudou com a entrada de ninguém menos que Mila Welsh, minha colega de
quarto e amiga da universidade. Bem, diferente de mim, ela cursou Ciências
Políticas por vocação. Mila sempre foi a simplicidade em pessoa, mas, ali
no palco, ela brilhava com tantas joias finas que usava.
— Boa noite a todos! — Seus olhos castanhos percorreram o salão
em um cumprimento geral, mas não encontraram os meus. Seus cabelos
cacheados, agora alisados e longos até a cintura, conferiam-lhe uma
aparência mais madura.
Mila explicou que estava representando um candidato a deputado,
e em nome dele pediu desculpas pela ausência. E, sério, minha amiga
discursava perfeitamente. Terminando, me desvencilhei da mesa e corri
para encontrá-la no salão, onde ela conversava com alguns dos políticos que
discursaram.
— Você brilhou no palco, Mila — elogiei, parando logo atrás dela.
Ela suspirou, reconhecendo a minha voz e virou o rosto para me olhar
descrente.
— Amiga! — Ela me abraçou supercontente, deixando um sorriso
no meu rosto. — Tinha uma ponta de esperança de te encontrar aqui —
disse ela com sinceridade.
Suspirei, resignada.
— Para esses eventos que nos preparamos, né? — respondi com
certa tristeza.
Mila assentiu com a cabeça. Ela conhecia tudo sobre mim,
inclusive a paixão pela Medicina, mas, discreta como sempre, não entrou no
assunto. Conversamos sobre a universidade, sobre os amigos que deixamos
para trás e ela me contou que estava namorando um velho rico.
Ergui minhas sobrancelhas nada surpresa.
— Velho rico e generoso, com tantas joias belíssimas! — comentei
me baseando no colar de pequenas pedras, que não tinha dúvida de que
eram diamantes, e um relógio de grife, daqueles de valor astronômico.
— Pois é, amiga, ele tem negócios de ouro e faz questão que use
todo esse exagero — disse sem modéstia, olhado para o relógio no seu
pulso e começamos a rir.
— E agora, me conta como estão os seus bebês, amiga? E o Duck,
morro de saudades daquele peludo. — Sua pergunta arrancou até lágrimas
dos meus olhos.
— Ah, Mila! Queria estar em Exeter com eles agora mesmo — fui
sincera e ela me abraçou com carinho.
— Fica tranquila, você vai conseguir resolver isso.
— Sim, sim — garanti convicta, passando as costas das minhas
mãos pelo rosto para secar as lágrimas. — Ao fim das eleições, estarei de
volta ao meu lar e continuarei o curso de Medicina. E levarei minha irmã
para morar comigo.
— A Liliana vai pirar com seus doguinhos, sabe que eu sempre
lembro daquele fofo do Duck, amo aquele cãozinho — declarou Mila e, no
exato momento em que o meu tio se aproximou, e claro, ouviu a nossa
conversa. Ele rosnou sutilmente, deixando claro sua contrariedade. Mas não
comentou o assunto, apenas se apresentou para Mila como o meu tio, e eu
percebi que eu deveria fazer o mesmo.
— Mila, este é o meu tio Henry — anunciei, sentindo um nó de
tensão se formar em meu estômago. — Tio, esta é Mila, minha melhor
amiga da universidade.
Mila, completamente alheia à atmosfera tensa, ficou encantada e
segurou a mão do tio Henry com entusiasmo.
— É uma honra conhecê-lo, sr. Paterson! Sou sua maior fã! —
exclamou ela, com um brilho nos olhos.
Eu me vi presa em uma situação desconfortável e precisava sair
dali rapidamente.
— Que tal sairmos e colocarmos a conversa em dia, Mila? —
sugeri, com total apoio da minha amiga.
— Adorei a ideia, Paola. Inclusive, vou te levar ao Rooftop em
plena Lincoln Road, além de ser um lugar charmoso, eles servem drinks
sensacionais! — respondeu Mila empolgada.
Mas David se aproximou jogando um balde de gelo sobre a nossa
animação:
— Infelizmente, as ruas de Miami, geralmente movimentadas,
agora estão congestionadas além do imaginável, por causa da greve. Mas
podem aproveitar do jantar ou o bar aqui do hotel, é um espaço excelente —
garantiu ele.
Qualquer coisa para fugir do clima político, então olhei para Mila e
perguntei:
— Bar ou restaurante, Mila?
Ela nem teve tempo de responder.
— Irei reservar uma mesa para o jantar, e também quartos, pois
não há previsão de normalização — dominou David, enlaçando a minha
cintura e curvou a cabeça até os seus lábios roçarem em meu ouvido. —
Seu voo foi longo, deve estar exausta. — Como se fôssemos íntimos, ele
beijou minha bochecha e saiu em direção ao restaurante.
Tio Henry também pediu licença e foi se juntar a um grupo de
homens.
Mila arregalou os olhos, impressionada com o gesto de David.
— O que aconteceu aqui, Paola? — indagou marota.
— Meu tio veio com uma conversa de casamento com o David —
disse pegando na mão dela e caminhamos pelo elegante salão com um
aperto no peito me dominando. Minha insatisfação crescia a cada momento.
Mila me encarava especulativa, percebendo, é claro, minha aflição.
Minha amiga sempre soube ler minhas emoções nos meus olhos e atitudes.
— Você parece meio tensa? — perguntou ela, franzindo o cenho
tão logo cruzamos o saguão do hotel. Escolhemos o bar. Sentia-me infeliz,
asfixiada, como se estivesse presa em um emaranhado de sentimentos.
— Estou me sentindo fora do meu ninho — respondi, aguardando
a recepcionista que nos conduziria até a mesa no ambiente intimista.
Grandes janelas panorâmicas ofereciam vistas deslumbrantes do
oceano, criando um cenário verdadeiramente memorável. O conforto dos
móveis e a decoração combinavam elementos modernos com toques
clássicos.
— Acha mesmo que o seu tio não aprovaria a Medicina?
— Embora eu não tenha comentado nada a respeito, eu sei que o
perfil dele será criticar até me fazer desistir. Mas consegui um emprego no
hospital, o salário é muito bom, minha situação financeira se estabilizou, dá
para levar a Liliana para morar comigo e ainda dá conta de eu pagar o curso
sem depender do dinheiro dele. Ninguém vai me desviar do meu caminho.
Em dúvida, ela deu sua opinião:
— Henry Paterson não me parece tão controlador, amiga.
Enquanto éramos conduzidas até uma mesa próxima à janela, eu
analisava aquela questão posta por Mila sem ter como concordar com ela
diante das últimas opiniões do meu tio: seus comentários repugnantes sobre
meus cachorrinhos e seu insistente desejo de me casar com David Johnson,
um homem que mal conhecia. Se isso não é ser controlador, eu não imagino
o que seja.
— Eu tinha essa visão do meu tio e no evento fui apresentada para
um novo Henry Paterson — desabafei com um suspiro pesado, vagando
meu olhar pelo ambiente.
— Casar-se com David Johnson não parece tão ruim, Paola.
Deixei transparecer a certeza que corroía meu íntimo.
— É me arrastar para algo que não quero — afirmei com todas as
letras.
Mila me ouviu com atenção e falou:
— Entendo como você se sente, Paola. Mas sabe quem é David
Johnson?
Dei de ombros sem interesse e ela prosseguiu mesmo assim:
— Ele é de uma família influente na política e magnatas dos
navios, Paola. Único herdeiro! — ela informou com se aquilo tivesse
grande importância para mim. Não, não tinha! Política passava longe das
minhas prioridades. Diante da ausência do meu entusiasmo, ela continuou:
— David Johnson significa estabilidade, amiga. A gentileza que demonstrou
contigo pode ser uma oportunidade para que você possa alinhar a carreira
política e a Medicina — sugeriu ela, tentando me confortar, e eu relutava.
Suas palavras não conseguiam penetrar o ciclone de pensamentos
que me assolava. Eu sabia que resistir à vontade de meu tio não seria fácil,
especialmente quando ele estava determinado a moldar o meu destino
conforme seus próprios desejos.
Enquanto o garçom anotava os pedidos, David surgiu à porta do
bar. Sua presença imponente preencheu o ambiente.
— Boa noite, senhoritas. Espero não estar interrompendo nada
importante — cumprimentou ele, moldando um sorriso charmoso nos
lábios.
— Não se preocupe, David. Estávamos apenas conversando sobre
o evento de hoje e alguns assuntos pessoais — explicou Mila, gentilmente.
Ele se juntou a nós e logo a conversa se voltou para a política, para
os interesses e planos de Henry Paterson. Mila se surpreendia com as
palavras de David enquanto eu permanecia em silêncio. Minha mente
flutuava entre o passado doloroso e o presente incerto.
Os pensamentos sobre Simon Costello, seu olhar penetrante e sua
presença magnética invadiam minha mente. Era uma sensação
desconcertante, uma mistura de atração e repulsa, que eu não conseguia
compreender. A lembrança de seu rosto másculo e seu jeito confiante
desencadeava uma torrente de emoções conflitantes dentro de mim,
alimentando uma chama que eu não ousava admitir.
David e Mila continuaram a conversar, alheios à minha
desconexão.
— De fato, Mila! A política pode ser um terreno complicado, mas
também é empolgante — disse David voltando-se a mim. — Está um pouco
quieta, Paola. Tudo bem?
— Sim. Só estou um pouco cansada do voo.
— Seu quarto já foi reservado. — Ele sorriu cheio de si e jogou
sobre a mesa a chave elétrica.
— Obrigada, David. E se não se importam, acho que vou para o
quarto.
— Eu a acompanho. — Muito cavalheiro, David se levantou e,
com a mão em minhas costas, guiou-me pelo salão em direção à porta de
saída.
Ao entrarmos no elevador, sua proximidade me incomodava. Ele se
mostrou interessado em minha vida em Exeter, a ponto de se colocar em
minha frente. Enquanto perguntava, sua mão veio em meu braço e deslizava
por todo ele. Até que ela subiu até minha face e ele ousou me beijar, virei e
seus lábios tocaram meu rosto. A tentativa foi uma afronta que me fez
tremer de indignação, mas me contive, mantendo uma fachada de
cordialidade e foi quando o elevador parou e a porta abriu.
— Boa noite — me despedi, mas o insistente saiu também do
elevador.
— Só um minuto, Paola. — Segurou minha mão e se colocou à
minha frente. Seus olhos transbordavam segundas intenções, claramente
perceptíveis. — Você é uma mulher incrível, sabia? — O idiota deu um
passo à frente e eu recuei um. — Compreendo que a forma como Henry
mencionou casamento a assustou. Mas só me dê uma chance de corrigir a
má impressão.
— Agora não é um bom momento, David — determinei com voz
ríspida e ele abriu um sorriso cínico.
— Tudo bem! Sou paciente e perseverante, sei que conquistarei
você. — Piscou e entrou no elevador, ainda parado no andar.
— Vai sonhando! Ninguém vai manipular a minha vida, SEU
TONTO! — deixei escapar em um tom alto de voz, claramente emputecida,
indignada.
Sentia-me como um boneco decorativo, colocado aqui e ali
conforme a vontade de meu tio e agora, aparentemente, de David. A
sensação de impotência me consumia devido ao fardo de minhas
obrigações, no entanto, essa pressão duraria até o fim das eleições.
Ou não me chamo Paola Tyler.
A determinação não amenizou minha angústia, o tapete macio sob
meus pés parecia afundar, como se me puxasse para dentro de um abismo
de desespero. As lágrimas rolavam livremente por meu rosto como um
desabafo.
Dei o primeiro passo em direção à porta do quarto que David
reservou para mim, mas, de repente, a porta em frente ao elevador se abriu
e, antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, uma mão firme
envolveu minha cintura, puxando-me para dentro do ambiente escuro, meu
coração parecia querer sair pela boca.
— O que pensa que está fazendo? — contestei sem tempo de
reação com a porta se fechando atrás de mim.
— Oferecendo ajuda quanto a manipulação que estão impondo a
você, Paola. — A voz profunda de Simon reverberou, ressoando em minha
mente como um trovão longínquo durante uma tempestade.
CAPÍTULO 8

PAOLA

— Costumeiramente, você escuta atrás da porta, Simon? —


protestei, ofegante. Meus olhos detectavam apenas um vulto na penumbra,
mas meu olfato se deliciava com o frescor de banho recente.
Então, ouvi um passo, seguido pelo clique do interruptor da luz.
— Céus! — exclamei em choque, com meu coração acelerando e
subindo pela garganta, ameaçando me sufocar. Não era pelo fato de ser o
Simon, mas sim, porque ele estava envolto apenas por uma toalha branca
que realçava os contornos de seu corpo escultural.
— Somente quando as pessoas costumam pensar alto demais. E
você precisa de ajuda, sua tristeza é palpável e eu posso fazer isso —
respondeu calmamente, uma naturalidade que eu não possuía.
Estava nervosa com sua presença magnética, com aquele peitoral
incrível bem na minha cara.
Gotas de água escorriam de seus cabelos molhados, delineando os
músculos definidos que eu não conheci em Exeter, enquanto sua barba
molhada adicionava um ar ainda mais selvagem e misterioso ao seu olhar
penetrante. Seu físico imponente, adornado por uma tatuagem
impressionante que se estendia do ombro ao braço, emanava uma aura de
poder e perigo, desafiando-me a resistir à sua presença irresistivelmente
charmosa e ameaçadora.
Esse homem era uma tortura, no entanto, não deixaria transparecer
o descontrole que ele causava em mim e disfarcei, escorregando para o
lado.
— Você é a última pessoa a quem eu pediria ajuda — salientei,
tentando emitir um sorriso debochado enquanto me encostava na mesa ao
lado.
Uma fina linha de sorriso cínico se desenhou em seus lábios
carnudos, e meu ser ansiava por provar mais.
— Na hora do aperto, com a necessidade não escolhe quem, Paola.
O importante é ser salva — desafiou-me rouco e detalhe: com aqueles olhos
enervantes percorrendo curiosamente meu corpo.
"Não me abandone, Deus, me ajuda!", rogava ao Divino, pois
estava à beira do desabamento com minhas pernas bambas, meu corpo todo
tremendo e não era pouco.
— Sou esse alguém que pode chamar de salvador, só me dizer —
insinuou com o olhar fixo em minhas coxas marcadas no tecido.
Percebi imediatamente sua ereção crescer, ficando incrivelmente
visível na toalha. Inalei profundamente e prendi o ar nos pulmões, da
mesma forma que meu olhar ficou preso naquele pau enorme, marcando
perfeitamente na toalha, me deixando apavorada.
— É estranho que ainda esteja no hotel, eu vi você saindo. Você e a
Charlotte — desconversei, tentando encontrar um espaço para respirar
diante desse homem poderoso.
Ele negou com um estalo da língua, numa arrogância assustadora:
— Não sei da Charlotte, e a greve bloqueou a cidade, me
prendendo aqui. Por que não aproveita a oportunidade para você se livrar
daqueles que a importunam? — insinuou e caminhou em minha direção.
Meu corpo todo reagia àquela aproximação, mas, de repente, ele
desviou de mim e começou a folhear alguns papéis que estavam sobre a
mesa.
— O que você quer, Simon, ou melhor, qual a sua história com o
meu tio? — Possessa, eu fui atrás dele que seguiu de costas para mim, me
ignorando e aumentando minha irritação. — Eu sinto a hostilidade entre
vocês, e vai além da política. Quem é você de verdade? — indaguei
entredentes, mas sentindo arrepios pelo corpo com o rastro de seu banho
fresco.
Bruscamente ele se virou de frente para mim, sua mão prendeu
meu queixo e puxou-me para bem perto dele. Arfei ao seu toque, era como
um choque elétrico, enviando arrepios pela minha espinha e fazendo minha
pele arder com uma sensação elétrica, e esse olhar, então? Escurecido e
demoníaco, emitindo ameaça, mas confesso que me sentia atraída por sua
presença grotesca. Estremeci quando seus olhos desceram até minha boca e
ele suspirou, dizendo entredentes, raivoso:
— Sou alguém que pode trazer paz ao seu espírito.
— Está louco! — debochei, grunhindo inconformada com a minha
vulnerabilidade perante ele. — Eu não quero a sua ajuda, você não sabe
nada sobre mim e eu nem te conheço.
Seus olhos se estreitaram em nítido desafio e, antes que eu dissesse
mais alguma coisa, sua mão prendeu minha nuca me fazendo tremer, bem,
eu já estava instável diante desse homem seminu. Ele me puxou e selou os
nossos lábios.
— Seu corpo me conhece, sinto o tremor sob meus dedos —
insinuou engolindo os meus lábios com os dele num beijo forte e vigoroso,
sugava minha língua e meus gemidos de prazer, me deixava sem forças,
completamente submissa.
Por mais que eu tentasse, não conseguia lutar contra o ataque
impiedoso e irresistível desse homem, que poderia deixar mais marcas. O
poder que ele exercia sobre mim ultrapassava todos os limites, mas eu não
tinha ânimo para lutar. O frescor de seu banho, seu magnetismo, sua forma
de me beijar, tudo conspirava para que eu me entregasse completamente ao
momento, permitindo-me ser beijada e me envolver ao ponto do meu corpo
inteiro reagir.
Minha vagina molhou e latejava, meu clitóris pulsando de desejo
por aquele homem misterioso e deliciosamente perigoso.
Sem pensar duas vezes, Simon me empurrava em direção à cama e
me empurrou sobre o colchão. Ofegante e com muito tesão, observava ele
erguer o meu vestido e pegar na minha calcinha. E numa brutalidade
excitante, sua mão puxou forte, rasgando-a do meu corpo. Estremeci,
delirando.
“Minha nossa!”
Suas atitudes eram surreais, sentia uma vibração, um desespero na
expectativa que ampliou com ele jogando a toalha, que o cobria, no chão e
revelando seu corpo nu e excitado.
Seu olhar faminto me devorava enquanto ele passava os dedos com
calma por todo meu sexo, respirando pesadamente ao sentir minha umidade
intensa. Em seguida se posicionou entre minhas pernas, apertando minhas
coxas com força e me puxando para perto de si. Senti seu pau duro e quente
pressionando contra mim, e gemi alto ao sentir suas mãos fortes segurando
meus quadris com firmeza.
Sem aviso algum, Simon entrou em mim com força, rispidez,
fazendo-me delirar de prazer e sentir meu corpo sendo preenchido por ele
me fez esquecer da importante proteção. Eu me entreguei completamente
àquele momento, perdida em sensações avassaladoras. Diante do desejo por
esse homem, eu nem raciocinava mais.
— Essa boceta... — rosnou ele. Suas estocadas eram intensas e
desesperadas. Agarrando os lençóis abaixo de mim, eu me entreguei
completamente àquele sexo forte, selvagem e imprudente. Nossos corpos se
moviam em perfeita sincronia, gemendo e delirando um no corpo do outro.
Não havia espaço para carinho ou delicadeza, e nem sentia falta,
apenas o prazer intenso e desenfreado que nos consumia. Ele se deitou
sobre mim com seu corpo forte, suado, incrível e enterrei minhas unhas nas
suas costas, minhas pernas envolveram sua cintura enquanto ele me
dominava com sua pegada boa e seu desejo incontrolável.
— Ah, caralho! É bom te foder, você é tão apertada, Paola. Eu
poderia te comer assim a noite inteira!
Estremecia com a sua fala excitante, queria dizer que estava
amando cada centímetro do seu pau gostoso dentro de mim, mas soaria
íntimo ao extremo e declinei de dizer, mas não reprimi os gemidos. Já sentia
espasmos e estava chegando ao meu limite.
Devorando minha boca num beijo sedento, ele me comia, me fodia
como se não houvesse amanhã!
— Vou gozar, não consigo me controlar com essa boceta quente e
estreita me esmagando. — Urrou doido enquanto o suor escorria pelo nosso
corpo, nossas respirações ofegantes se misturavam e nossos gemidos
ecoavam pelo quarto.
E naquele momento não existia mais nada além de nós dois ali,
entregues ao prazer e à luxúria. Finalmente, chegamos ao ápice juntos, em
um orgasmo intenso e avassalador que nos deixou sem fôlego.
Entrelaçados, ainda ofegantes e suados, nos olhamos por um breve
momento, um instante em que recobrei minha consciência me lembrando da
minha negligência em transar sem nenhuma proteção.
— Sai de cima de mim, SAI! — gritei ainda com minha respiração
a mil e o empurrei. Ele caiu na cama e eu saí dela e corri para o banheiro,
sem acreditar que deixei-me levar até aquele ponto.
“Imperdoável!”
Mas se tratando dele, com ou sem proteção, se mostrava ser
perigoso.
CAPÍTULO 9

SIMON

Com o meu coração martelando no peito, atingindo seu ritmo mais


acelerado, eu cruzei as mãos debaixo da cabeça, observando cada
movimento de Paola enquanto ela saltava da cama com uma expressão de
puro pânico. Pegou a calcinha ou o que sobrou dela ali, no chão, e correu
em direção ao banheiro com seus passos ligeiros, mas suaves... Ali, eu
gravava cada detalhe dessa garota em minha mente.
Assim como a energia solar é captada e transformada em
eletricidade útil, intrigantemente a presença dela era capaz de iluminar até
mesmo os cantos mais escuros de minha existência. Trazia o calor que
percorria meu corpo em uma mistura ardente de desejo e frustração. Eu
ansiava por tê-la mais e mais, por tê-la completamente sob meu domínio.
No entanto, esses impulsos me enchiam de indignação, pois eu sabia que
não podia permitir que sentimentos crescentes florescessem em meu peito.
“Paola é tudo o que eu não posso ter.” Normalidade, afeto, uma
vida sem caos. A vida fez de mim um homem destituído de emoções, mas a
simples presença dela era capaz de abalar as minhas convicções mais
profundas.
“A sobrinha de Henry Paterson não pode passar de uma peça no
tabuleiro, ela passou a ser parte crucial do meu plano para derrotá-lo”,
repeti mentalmente essas palavras como um mantra, tentando afastar
qualquer desvio do meu propósito.
Alguns minutos depois, Paola saiu do banheiro. Seu peito ofegante
denunciava uma agitação interna e mexia comigo profundamente. Meu pau
cresceu apenas com a ideia de que ela poderia estar sem calcinha, não havia
como ela usá-la rasgada. Seus olhos cravaram nele, crescendo
assustadoramente, e ela ofegou, trazendo o olhar de volta aos meus olhos,
encarando-me com coragem, mas também com um toque de
vulnerabilidade. Tudo nela mexia comigo de uma forma inexplicável.
— Então, decidiu desabafar comigo, contar seus temores? —
provoquei, louco para jogá-la na cama e saborear mais do seu delicioso
corpo.
Ela soltou uma gargalhada, tentando parecer indiferente, mas
falhando enquanto seu corpo tremia visivelmente.
— Me deixe em paz, Simon. — Sua voz firme contrastava com a
incerteza em seu olhar.
Levantei-me da cama rapidamente, com meu pau quase explodindo
de tão duro, fazendo-a dar um passo para trás com meu movimento
repentino. Apesar do tesão, sorri de forma cínica antes de me dirigir ao
banheiro, deixando a sozinha no recinto.
O som do chuveiro se misturou com a batida da porta do quarto,
proporcionando um breve alívio. Precisava esfriar a cabeça, ou seja, as
cabeças!
Segurei meu pênis latejante, rosnei, desesperado por mais ação. A
glande estava tão cheia e brilhante, que parecia que iria explodir.
Após o banho, percebi que minha concentração estava desviada
por causa da Paola, e eu precisava de um tempo para organizar meus
pensamentos. Logo após, ouvi uma batida na porta do meu quarto. Um frio
na barriga me irritou, pois, por um momento breve, pensei que poderia ser
Paola retornando. No entanto, rapidamente me lembrei de que era o jantar
que havia pedido. Vesti o roupão e atendi o garçom que trazia um carrinho
repleto de alimentos.
— Boa noite, senhor.
— Boa noite! — retribuí dando-lhe passagem para entrar com o
carrinho adornado com brilhantes travessas de prata.
— Espero que desfrute do seu jantar.
— Obrigado. Parece tudo muito apetitoso.
— Estamos à disposição, caso precise de mais alguma coisa. Tenha
uma excelente refeição.
— Agradeço. Tenha uma boa noite você também.
Ergui a cúpula de inox, um vapor aromático emanava da travessa
preenchendo o ar com uma fragrância que não estimulou o meu apetite;
minha fome era de outro tipo e tinha o nome de Paola Tyler. Sabia que
seguir por esse caminho podia me distrair e arruinar os meus planos. Então,
caminhei até o frigobar, servi-me de uma dose generosa de uísque, tomei e
tirando o roupão, caí na cama nu, meu pênis em ereção pressionava o
colchão. Respirei pesadamente e cerrei os olhos para afastar a obsessão de
ter Paola em meus braços.

***

Despertei, e ainda era madrugada, com o eco das vozes pelo


corredor do hotel, um lembrete sonoro de que um novo dia havia começado.
Levantei-me da cama com um misto de ansiedade e excitação, abrindo as
cortinas para revelar a espetacular vista do mar se estendendo diante de
mim. Os primeiros raios de sol da manhã pintavam o céu com tons
dourados, e aquele brilho sobre as águas era o mesmo que eu via nos olhos
de Paola – algo que iluminava e se tornava perigoso.
— Eu preciso vê-la apenas como uma oportunidade para derrubar
meu oponente — murmurei para mim mesmo enquanto seguia para o
banheiro.
Um banho rápido e revigorante me aguardava, e logo eu estava
pronto, vestido e preparado para enfrentar o dia que se anunciava
desafiador.
Optei por dispensar o café da manhã no quarto, ciente de que
precisava me preparar para a batalha que se seguiria após o anúncio da
minha candidatura à Casa Branca.

***

Dirigindo pelas ruas movimentadas de Miami, minha mente estava


imersa em estratégias. Pensava nos primeiros passos para colocar os meus
planos em prática, visualizando cada detalhe do que precisava ser feito,
Paola fazia parte integrante das minhas estratégias, uma peça-chave que
poderia ser utilizada nessa empreitada, no entanto, meu corpo inteiro reagia
às lembranças daquela garota, os momentos eróticos.
— CARALHO, SIMON! — exasperei apertando o volante entre
meus dedos a ponto de quebrar ossos. Seu perfume doce e envolvente ainda
pairava no ar, sua voz ressoava em meus ouvidos como uma melodia
tentadora. Cada lembrança, cada momento compartilhado parecia se
manifestar fisicamente dentro de mim, despertando sensações que eu lutava
para controlar. — Não pode se dar ao luxo dessa distração, cara! — adverti,
acessando o bairro de Miami repletos de arranha-céus reluzentes, refletindo
os raios do sol do amanhecer.
O edifício da Energia Solaris Inc. se destacava no horizonte com
sua arquitetura moderna e imponente, simbolizando o poder e a influência
da empresa no cenário empresarial da cidade.
Entrando no estacionamento, notei o carro esportivo logo atrás e
reconheci Charlotte. Bufei com insatisfação. A mulher estacionou bem ao
lado do meu carro e desceu vestida de forma exuberante. Ela usava um
vestido justo e decotado, em tons vibrantes de vermelho, realçando suas
curvas esbeltas.
Charlotte se aproximou, simulando ar de tristeza.
— Custava me ligar e avisar quando saiu do hotel? — intimou ela
em tom de reprovação. Ela tentou ficar no meu quarto, mas eu consegui
despistá-la.
— Tinha uma reunião e não poderia me atrasar — expliquei sério e
caminhei em direção ao elevador, e a mulher atrás de mim.
Um nó se formou em meu estômago, eu não estava com tempo
para ela naquele momento, mas ela parecia determinada a não me deixar
escapar. Entrei no elevador com acesso à minha sala e, para minha
indignação, ela entrou com tudo, sem ser convidada.
— O que houve contigo, Simon? — Dependurou-se no meu
pescoço, seus olhos de vidro travaram nos meus. — Eu sou uma peça
essencial para você ganhar as eleições. Eu conheço os caminhos para
derrotar Henry Paterson nas urnas. Você precisa de mim ao seu lado — ela
insistiu, com seu tom de voz carregado de convicção.
Ergui as sobrancelhas à beira da explosão, minha paciência foi se
esgotando rapidamente com as palavras incessantes de Charlotte.
Segurei seus pulsos, afastando suas mãos de mim com firmeza.
— Charlotte, eu trabalho melhor sozinho. Não preciso de ninguém,
especialmente alguém que fala mais do que age. — Minha voz era ríspida,
recordando do tratamento que ela recebeu do Henry por falar em excesso.
Mas ela continuava a insistir, irritando-me ainda mais. — O dia que
aprender a equilibrar a quantidade de palavras, me avise, Charlotte.
Ela riu, sem entender a gravidade da situação. Pacientemente,
expliquei:
— Quem fala demais escorrega nas próprias palavras e se torna
inútil. — Estabeleci limites, mas ela fingia não entender.
Por sorte, a porta do elevador se abriu. Educadamente apertei o
botão para o elevador descer diretamente ao estacionamento e saí, mas abri
os braços em frente a porta, impedindo a sua passagem para a sala.
— Vou ligar para você, Charlotte. Mas agora preciso de um
momento sozinho — disse com consistência, aguardando a porta se fechar
e, enfim, o elevador começar a descer.
Suspirei aliviado por me livrar daquela situação.
Sentei-me em minha imponente cadeira executiva enquanto a luz
matinal infiltrava pela janela de parede a parede, exibindo o cenário do
centro financeiro de Miami, seus arranha-céus, os raios de sol refletiam
sobre a mesa.
Com um gesto firme, pressionei o telefone na mesa e chamei Isa
Miller com meu tom autoritário, que ecoou pela sala. Um segundo depois,
ela entrou na sala usando um terno bege.
— Quero todos os projetos em andamento na minha mesa,
especialmente os antigos de quatro anos atrás. Traga tudo em até uma hora
— ordenei, com firmeza.
O olhar de surpresa no rosto da minha secretária não passou
despercebido por mim. Ela ousou questionar a necessidade de revisão dos
projetos antigos, alegando que já haviam sido analisados por mim
anteriormente.
— Seu papel nesta empresa é executar minhas ordens, não as
questionar — declarei, com minha voz tingida de impaciência.
Esperava vê-la corar de constrangimento, pedir desculpas ou algo
do tipo, mas não! Para minha surpresa, Isa Miller não demonstrou qualquer
sinal de vergonha. Pelo contrário, ela suspirou, revelando uma expressão de
interesse.
— Uau! — exclamou e mordendo o lábio inferior, colocando as
mãos nos quadris e balançando em direção à mesa. — Essa atitude
dominante realmente me atrai, chefe...
Ela se espremeu entre mim e a mesa, me obrigando a empurrar a
cadeira um pouco mais para trás. Minha secretária então levantou a saia
para revelar que não estava usando calcinha.
"Boceta perfeita!", elogiei em meus pensamentos, com aquela
delícia exposta diante de mim. No entanto, mesmo com toda tentação,
estranhamente não me senti inspirado. Inadmissivelmente, o aroma do
perfume de Paola ainda estava impregnado em minha pele, o sabor de seus
lábios ainda presente em minha boca.
“Merda!", praguejei descontente. Era preciso acabar com aquilo,
nenhuma mulher deveria ter controle sobre mim.
O Universo pareceu conspirar a meu favor quando meu celular, no
bolso do paletó, começou a tocar.
O toque diferenciado indicava uma emergência iminente.
Os olhos frustrados da minha secretária encontraram os meus e, em
um gesto rápido, segurei suas mãos e as abaixei, esticando seu vestido para
cobri-la.
— Tenha os documentos aqui em uma hora, por favor, não se
atrase — dispus com consistência, movendo-a para o lado. Tirei o celular
do bolso e lancei lhe um olhar significativo, sinalizando que precisava
atender a ligação imediatamente.
— Julian Smith pediu para lembrá-lo do almoço na data de hoje —
informou ela num tom sufocado de voz.
— Eu não me esqueci — disse simplesmente em tom de
encerramento.
Esperei até que ela fechasse a porta atrás de si antes de atender.
— A ordem é ligar sempre no mesmo horário — reiterei
severamente, deixando claro que as coisas deviam ser feitas conforme as
regras.
— A quebra das regras deve-se a uma emergência. — A voz
inconfundivelmente metálica e quase mecânica do meu fiel escudeiro se
defendeu. O tom frio, e claro, carregava uma apreensão palpável.
— O que houve dessa vez? — intimei, já imaginando do que se
tratava. Não tolerava a incapacidade das pessoas em administrarem
problemas.
— A situação chegou a um nível insustentável, Simon! —
esbravejou meu fiel escudeiro. — Ou você me dá liberdade para agir do
meu jeito ou não haverá como controlar a situação. — Aquela imposição
dele me irritou densamente.
— Se considera incapaz para o cargo, peça para SAIR! — pontuei,
perdendo a paciência.
Ele se explicou:
— Eu entendo a sua posição, mas há casos que exigem ações
rigorosas, e você sabe disso muito bem.
— ESTAMOS DIANTE DE UMA EXCEÇÃO, CARALHO! —
vociferei no meu limite. Inspirei profundamente e expirei, buscando o
equilíbrio que me fugia. As pessoas confundiam certas aberturas com
liderança e isso acendia o meu furor.
E respingou nele.
— Peço desculpas, Simon. Vou continuar seguindo as regras
minuciosamente — cedeu ele, respirando decepcionado.
— Que assim seja — respondi com um tom forte, colocando-o em
seu lugar. — Aguarde a minha ligação, compreendeu?
Encerrei a ligação antes dele responder, jogando o celular sobre a
mesa com um baque audível que reverberou pela sala. O som do impacto
ecoou brevemente, preenchendo o silêncio que se instalara.
Com um suspiro, voltei minha atenção ao levantamento dos dados
da empresa. Tinha algo grande a realizar e não podia perder tempo com
questões secundárias, especialmente com a inserção de Paola nos novos
planos. Recordar dela, fazia meu corpo reagir com um frio na barriga, uma
aceleração cardíaca e uma vontade incontrolável de procurá-la.
— Tenha santa paciência, Simon! — adverti-me e recostei na
cadeira. Ergui os braços e cruzei as mãos atrás da cabeça, respirando fundo
na tentativa de afastar esses pensamentos. Porém, o visual do centro
financeiro nessa manhã em Miami, só alimentava ainda mais as minhas
lembranças dos momentos quentes e picantes com Paola no hotel. — É
imprescindível manter distância emocional dessa garota. — Uma certeza
incontestável.
Ela já ocupava grande parte dos meus pensamentos e controlava
minhas reações corporais. Aquela vontade irreprimível de repetir a
experiência me dominava por completo, o que era intolerável para um
homem como eu, que raramente repetia as mulheres em sua cama. Sempre
repudiei apegos emocionais, pois eles significavam perder o controle sobre
a minha vida e afugentar do meu verdadeiro desígnio.
CAPÍTULO 10

PAOLA

O sol invadia o quarto do hotel através das janelas, banhando meus


pés na cama com seus raios dourados, como se quisesse me despertar das
míseras horas de sono. Mas essas horas foram tão insuficientes para
descansar e raciocinar, especialmente depois do reencontro com Simon.
— Droga! — Olhei as horas no celular sobre o móvel de apoio,
ainda não era sete horas da manhã. Virei-me de lado na cama e fechei meus
olhos em uma tentativa desesperada de encontrar o sono, mas como
poderia?
A verdade é que a adrenalina daquele encontro ainda pulsava forte
dentro de mim!
“E os toques e beijos possessivos de Simon...”
Eles se infiltraram na minha pele, deixando uma marca inapagável
até mesmo na minha alma, poluiu tudo. Eu estava completamente
impregnada por ele e não tinha forças para fazer uma limpeza emocional.
Resumindo: depois que saí do quarto dele e vim para esse, tomei
um banho gelado para refrescar o meu corpo em chamas, e respirava
aliviada por fazer uso contínuo de contraceptivo, pois sabia que estava em
período fértil. Depois do banho me joguei na cama, e ainda não tinha
dormido. Em cada tentativa de adormecer eu fracassei, assim como minha
resistência ao poder que Simon exercia sobre mim.
Encontrá-lo aqui em Miami e descobrir que ele era um dos maiores
desafetos de Henry, um rival em potencial, foi um baque muito, mas muito
assustador. A sua relação hostil com o meu tio indicava o tamanho do juízo
que deverei adotar.
"Estou em apuros!", pensei, em relação ao meu desleixo. Não
resistir a ele me fazia sentir culpada. E deveria dar um basta nisso.
Lutar ao lado de meu tio para derrotá-lo nas eleições, adotarei
como meu Norte.
Meu celular tocou, quebrando o silêncio do quarto e interrompendo
meus pensamentos. Era o meu tio Henry.
— Alô? — Atendi o celular.
— Paola, querida, está pronta? Estamos te esperando na
recepção. — A voz dele soava urgente do outro lado da linha.
— Estou indo agora mesmo, tio. Já estou a caminho da recepção
— respondi, me levantando e não resisti em ir primeiro até a sacada. Dei
um bom dia ao oceano de Miami Beach se estendendo diante de mim antes
de correr ao banheiro e tomar uma rápida ducha GELADA!

***

Optei por um estilo formal, um vestido azul-marinho justo, na


altura dos joelhos, e chequei o visual diante do espelho ao lado da porta do
quarto e aprovei. Prendi meus cabelos num coque para dar um ar mais
elegante como o meu tio apreciava, peguei uma bolsa preta e averiguei se
os óculos de sol estava dentro dela e saí do quarto. Na recepção, a voz doce
da minha adorável maninha gritou meu nome:
— Paola, Paola? — Ela correu ao meu encontro na sua simpatia
espontânea e contagiante enquanto abraçava a minha cintura.
— Você passou bem a noite, lindinha, não teve mais falta de ar?
Ela negou meneando a cabecinha.
— Eu sarei, não tive mais crises de asma, Paola.
— Amém! É um imenso alívio ouvir isso, Lili. — Abracei-a forte
contra o meu peito. E ali, com todo meu amor e carinho, pedia a Deus pela
saúde da minha maninha. Porque ela era a prioridade.
— Você vem para a nossa casa, né? Quero te mostrar o meu quarto.
Suspirei emocionada com seu jeitinho carinhoso, impressionante
como ela grudou em mim. Confesso que minha irmãzinha era a única que
suavizava a dor das saudades de Exeter, o meu lar!
Tio Henry, que se aproximava, foi quem respondeu:
— Sim, Liliana! Após a reunião do partido sua irmã vai para casa
comigo. — A fofa resmungou frustrada e se afastou cruzando os seus
bracinhos e fazendo beicinho, lançou um olhar triste ao nosso tio.
— Suas reuniões demoram, tio Henry. — A fofa da minha maninha
estava tão tristinha que cortava o coração.
— É algo que você precisa se acostumar, Liliana. Faz parte do
trabalho do seu tio e será uma realidade para Paola a partir de agora — ele
declarou com uma frieza cortante como uma navalha, surpreendendo-me
pela falta de sensibilidade com a criança.
Tomei as dores dela e me abaixei, segurando seu rosto rosado e
lindo entre as minhas mãos, sussurrei suavemente:
— Fica tranquila, sua irmã aqui vai apressar a reunião para que
possamos logo conhecer seu quarto, tá bom?
Essas palavras foram suficientes para trazer um sorriso radiante ao
seu rosto. Liliana começou a falar animadamente sobre o seu quarto, e eu
dividi minha atenção entre ela e Abigail que, descontente com o
comportamento do marido, o advertiu em um sussurro que só eu consegui
ouvir:
— Sua sobrinha é sábia, Henry! Aprenda com ela que não é o que
se diz, mas como se diz. — Eu concordava plenamente com Abigail e não
pude evitar erguer meus olhos para o meu tio, acenando sutilmente em
concordância.
Tio Henry apenas ergueu as sobrancelhas em desaprovação, mas
permaneceu em silêncio, observando Liliana enquanto ela se expressava
com entusiasmo.
— No meu quarto tenho várias bonecas que ganhei de presente no
meu aniversário, das minhas amigas da escola! — À medida em que Liliana
falava animadamente, seus olhinhos brilhavam de empolgação, os meus
também cintilavam, mas eram de lágrimas.
— Ganhar várias bonecas de presente no dia do nosso aniversário é
o máximo! — respondi, sorrindo para a minha amada irmã.
Ela vibrava de felicidade e se animou a falar mais sobre os seus
desejos.
— Minhas amigas têm cachorro, eu queria tanto ter um, mas o tio
Henry não gosta de cachorros! — reclamou, balançando as perninhas. O
ímpeto de comentar sobre os meus e dizer que a levaria para conhecê-los
me tomou, no entanto, reprimi aquela vontade conhecendo a opinião do
meu tio.
E, claro como o esperado, ele fez um comentário talhante:
— Cachorros são uma confusão, além de sujar a casa toda, é
desaconselhável para quem sofre de asma.
Os olhos dela encheram-se de lágrimas.
— Mas eu vou sarar e quero um cachorrinho — falou ela com seu
rostinho se contorcendo em tristeza.
Henry logo tentou corrigir ao perceber meu olhar de advertência:
— Cachorros são perigosos para a sua saúde, Liliana. Mas eu
prometo que, após as eleições, vou levar você a uma fazendinha com outros
tipos de animais bonitinhos.
Meu coração se apertou ao imaginar a gravidade da situação.
— Qual é o prognóstico exatamente, tio Henry? — intimei.
Ele deu de ombros.
— Depois te mostro os resultados dos exames, Paola. O importante
é que, por ora, as crises estão controladas... — tentou me tranquilizar, mas
foi em vão.
— Quanto tempo ela vem sofrendo dessa doença?
— Alguns meses — respondeu com ar de preocupação.
— Não podia ter omitido esse fato de mim — o adverti.
— Tem razão, Paola! — admitiu, colocando a mão em meu ombro.
Seus olhos transbordavam arrependimento. — Mas tudo o que fiz foi
pensando em você, querida. Na sua futura carreira política, por isso evitei
qualquer distração. Dediquei todo o meu tempo aos tratamentos dela e, por
isso, ela está estável. Precisava de você aqui, para me ajudar. —
Envergonhei-me diante daquela verdade.
— Obrigada! — agradeci-o, em seguida abracei minha irmã e
enquanto a segurava, prometi em seu ouvido que daria um jeito de levá-la
logo a alguma fazendinha onde poderia passar o dia com animais,
especialmente cachorrinhos e flores. Seu rostinho brilhou com alegria e, ao
sussurrar que seria nosso segredo, seus olhos brilharam com expectativa. E
para vê-la ainda mais radiante, acrescentei: — Que tal sairmos à noite para
comer um delicioso lanche?
Minha irmã até suspirou.
— Eu quero... — vibrou ela ganhando meu coração.
Meu tio sorriu também e foi gentil:
— Eu libero o motorista Rony para levá-las ao shopping. É até
bom, porque assim você cuida da sua irmã, Paola. Tenho um casamento de
uma amiga que eu e a Abigail temos que estar presentes.
Pisquei para ela e minha pequena, cheia de entusiasmo, piscou de
volta, ofegante e feliz.

***

Saímos do hotel em um comboio, o aparato de segurança se


estendia à quarteirões. Eu não vi David em nenhum momento, o que foi um
alívio. Precisava discutir essa pauta de casamento melhor com tio. Entendia
o seu afeto, compreendia que tudo o que fazia era pensando no meu bem-
estar, mas um casamento por acordo não poderia acontecer. Reconstruí
minha vida, que de passagem era maravilhosa em Exeter. Aquele lugar era,
e sempre seria o meu lar. Nada e ninguém iria mudar isso.
“NADA”, perseverei mentalmente.
Ao chegarmos no comitê do partido, foi um desfile de reuniões e
conversas desinteressantes para mim. Meu tio me apresentou a diversos
candidatos do partido, mas tudo era chato e tedioso. Todos combinaram de
se reunir para o almoço em um restaurante próximo do comitê e lá fomos
nós.
O restaurante escolhido foi na região de South Beach, conhecida
por suas praias e pela movimentada vida noturna, o que o tornaria um local
atrativo para políticos e celebridades. A vista era espetacular, com vistas
deslumbrantes para o mar.
David Johnson já estava à mesa quando chegamos, e ele acenou
para o grupo. Enquanto os homens se acomodavam, vi David se levantar
para me cumprimentar com um abraço e um beijo no rosto.
— Você está deslumbrante hoje — elogiou ele, percorrendo-me de
maneira indiscreta com seu olhar.
Agradeci da maneira mais formal que consegui e ele puxou a
cadeira ao seu lado para que eu me sentasse.
— Obrigada, David — murmurei, tentando manter a compostura
diante de sua atenção.
Interagia com todos à mesa, mas confesso que achava complicado
a forma que David não tirava os olhos de mim, tipo malicioso e percorrendo
todo o meu corpo de forma indiscreta, me incomodando pra caramba! Não
conseguia evitar o toque inconveniente dele sobre a minha mão, que
repousava sobre a mesa. Sentia-me desconfortável a ponto de considerar
uma tremenda falta de respeito.
— Com licença — pedi e fingi ir ao banheiro, mas mudei o destino
para uma varanda charmosa usada pelos fumantes.
A brisa fresca do mar acariciava meu rosto enquanto eu observava
a paisagem deslumbrante. O silêncio da varanda era invadido apenas pelo
som das ondas quebrando suavemente na praia. De repente, um carro de
luxo parou em frente ao restaurante e três homens elegantemente vestidos
de terno desceram, e então ele foi o próximo a descer, tirando seus sexys
óculos de sol.
— Simon! — murmurei, com meus olhos capturados por aquele
ser masculino e extremamente sedutor.
Uma onda de tremores percorreu todo o meu corpo, um frio
intenso se formou em meu estômago, meu coração começou a bater
descompassadamente e minha garganta pulsava, deixando-me sem fôlego.
Simon estava magnífico, super atraente vestido com um sofisticado
terno azul-marinho, que destacava seus ombros largos e seu porte
imponente. Ele cumprimentou o motorista do tio Henry com um aceno sutil
de cabeça, e exatamente nesse minuto seu olhar penetrante encontrou o meu
ali, na varanda, e senti como se estivesse encarando a minha alma.
— Por que você mexe tanto comigo, deus do Olimpo? —
murmurei, com o meu coração em desordem, cheio de emoções
contraditórias. Descobrir que Simon era um adversário perigoso para o meu
tio foi o mesmo que levar uma facada no peito. Não queria me ver no meio
do conflito entre esses dois homens.
Inspirei profundamente, tentando recompor-me para retornar logo à
mesa, mas, ao sair da varanda, esbarrei com ele. Seus olhos sedutores, suas
sobrancelhas grossas e sua barba rente conferiam-lhe uma aura máscula e
poderosa, quase divina.
— Está fugindo de mim, Paola? — Sua voz rouca, grave e perigosa
ressoou em meus ouvidos, fazendo o meu bom senso vacilar.
— Por que eu fugiria? — tentei responder com indiferença, mas
sabia que fracassei.
— Acho que porque tem medo de ser vista comigo — ele
provocou, acompanhando suas palavras com um piscar de olho.
Cada palavra que ele proferia parecia deslizar por minha pele,
envolvendo-me em um turbilhão de sensações. A vontade de beijar seus
lábios grossos e de ser envolvida por seus braços fortes beirava o
incontrolável.
— É razoável temer ser vista contigo, Simon. Afinal, você não é
bem-visto na sociedade em que eu VIVO — pontuei assistindo um sorriso
debochado nos lábios dele, mas que não perdeu seu charme. — Me faça um
favor, Simon Costello, fica bem longe de mim, ok? — pedi e, antes que eu
pudesse tentar desviar dele para sair da varanda, ele segurou suavemente
minha garganta.
— Infelizmente, a distância entre nós será impossível de ser
mantida — emitiu com uma voz carregada de desejo enquanto me
empurrava de volta à varanda e me apoiava em um pilar cercado por
vegetação. Ali, escondidos de olhares curiosos, seu olhar penetrante
percorreu o meu rosto, deixando-me nervosa e ansiosa para sentir os seus
lábios tocando os meus. Ele me olhou intensamente enquanto falava: —
Estou concorrendo à presidência dos Estados Unidos e seu tio também, e
certamente nós nos veremos com frequência. — Seus olhos então desceram
para os meus lábios, ligeiramente entreabertos. Eu precisava mantê-los
assim para poder respirar, já que meu coração batia tão rápido que parecia
que ia explodir.
— Desde que você fique longe de mim, está tudo bem — tentei
manter a indiferença, mas um sorriso de dúvida escapou dos lábios de
Simon. Ele deslizou a mão para a minha nuca, fazendo arrepios percorrerem
minha espinha, e ousou me beijar.
Um beijo ardentemente intenso, urgente, deixando minhas pernas
bambas.
A mão livre dele segurou firme meu quadril e deslizou para agarrar
minha bunda, pressionando-me contra sua ereção. Sentia sua virilidade
rígida vibrando no meu abdômen. Minha calcinha estava ficando molhada
de um desejo absurdo. Esse homem me proporcionava um prazer
indescritível, algo surreal. Ansiava por fazer sexo novamente com ele;
desejava com toda a minha alma senti-lo dentro de mim. Estava a um triz de
pular em seu colo, envolvida no êxtase do desejo que sentia por ele,
esquecendo por um momento toda a razão e o conflito que nos cercava.
Queria mais, queria ficar ali, entregue a esse beijo, mas sabia que não podia.
— Para, para com isso... — murmurava em sua boca, mas sem
conseguir reagir à delícia que era ser beijada por seus lábios possessivos e
deliciosos. O homem mordeu meu lábio inferior enquanto eu me derretia
toda por ele. — Eu não acredito que negligenciei com a proteção na noite
passada — admiti.
— Se você faz uso de contraceptivo, está segura, Paola. Você é a
única mulher que transei sem camisinha. — Sua revelação tirou o peso da
minha consciência. — E quanto a mim?
— Seguro, essa foi a minha primeira relação sem preservativo.
Ele voltou a engolir os meus lábios com os dele ao final da minha
resposta e, de repente, passos se aproximando da varanda me salvaram.
Simon tirou suas mãos torturantes de mim e recuou.
Permanecemos ali, ambos ofegantes, com nossos olhares se
encontrando em uma comunicação intensa e que dizia tudo: o quanto nos
desejávamos.
— Paola, você está na varanda? — A voz repentina de tio Henry
ressoou como o rugido de um leão bravo, pronto para atacar sua presa.
Senti-me como se estivesse prestes a ser devorada por um animal
selvagem e a necessidade de fugir era quase palpável.
— Não saia daqui até que eu chegue à mesa, Simon — ordenei,
apontando o dedo indicador. Ele apenas esboçou um sorriso cínico e
confiante em seus lábios grossos, acenando com a cabeça antes de eu me
afastar rapidamente para evitar que ele fosse visto pelo meu tio.
Tio Henry estava a poucos passos de entrar na varanda e, graças a
Deus, eu consegui sair a tempo de evitar que ele se deparasse com o seu
desafeto. Ele ficaria escandalizado ao ver que eu estava com o seu
concorrente, é claro que eu diria que foi um encontro por coincidência, mas
eu não confiava em Simon. Com a animosidade entre os dois, Simon
poderia usar isso a seu favor e me prejudicar com o meu tio, e eu precisava
evitar isso a todo custo.
— Você está bem, querida? — Tio Henry, segurando o seu celular,
questionou analisando meu rosto, que deveria estar mais vermelho do que
um tomate bem maduro.
— Sim, claro — menti, respirando fundo para alimentar meus
pulmões e clarear a minha mente. Havia uma névoa em minha cabeça que
me impedia de raciocinar. Simon me atraía como um ímã era atraído pelo
metal. Era uma atração irresistível e perigosa, uma sensação inusitada e
única que eu não conseguia explicar.
— Por acaso, você chegou a encontrar Simon Costello por aí?
Congelei com a questão, mas sacudi a cabeça, dando de ombros,
tentando transparecer indiferença.
— Não. Por que perguntou?
— Achei que estivesse perdido pelo estabelecimento, já que sua
comitiva está no restaurante, mas deixa pra lá... O David tem um
compromisso e precisa ir, mas faz questão de se despedir de você — disse
ele, olhando fundo nos meus olhos com desconfiança enquanto eu rezava
para que ele não fosse bom em ler expressões. Não conseguia controlar meu
desconforto e tremor, receando que ele percebesse.
Entregou-me o seu celular.
— Antes fale com sua irmã, ela está ansiosa para o passeio no
shopping.
Peguei o aparelho transbordando de amor, só minha linda
irmãzinha para trazer tranquilidade ao meu coração.
— Oi, Liliana!... Claro que vamos ao shopping, está tudo
combinado. — Olhei para o tio Henry em busca de confirmação. Ele
assentiu com a cabeça.
— Já até liberei o Rony para ficar à disposição de vocês duas.
— Obrigada — agradeci num murmúrio e voltei a falar com a
minha irmã. — Daqui a pouco estarei em casa. Beijos, maninha. —
Despedi-me dela e olhei para meu tio. — Agora vamos ao David, tio. Seria
deselegante da minha parte não me despedir dele, não é mesmo?
Peguei na mão dele e o levei em direção à mesa, quer dizer, o
afastei de Simon.
CAPÍTULO 11

SIMON

“Simon, Simon!”, advertia-me mentalmente. “Qualquer distração


e seus planos correm o risco de serem arruinados.”
Sentia-me sufocado e precisei afrouxar um pouco o nó da gravata.
Mas não adiantou nada! Meu coração estava acelerado de um jeito insano,
parecendo querer romper minhas costelas com a força dos batimentos.
Fechei minha mão e, com o punho cerrado, bati forte contra o meu peito, na
esperança de recuperar a minha lucidez.
A verdade é que eu estava no mundo real; o problema era o desejo
avassalador que ela despertava em mim.
“Caramba!”
Paola conseguiu desviar meu bom senso e equilíbrio. No entanto,
era crucial retornar à racionalidade e enxergá-la como uma moeda de troca,
em vez de me sentir tão insanamente atraído. Não podia me dar ao luxo de
permanecer nesse estado de vulnerabilidade.
Respirei fundo e, renovado, retornei ao restaurante.
Meu olhar percorreu o espaço refinado com uma vista
deslumbrante para o mar, mas nada captou minha atenção mais do que a
cena de David Johnson ao lado da mesa abraçado a Paola.
— Porra! — Um rosnado surdo escapou dos meus lábios,
revelando a fúria e o ciúme que me consumiram.
Sentia meu sangue ferver, pulsando com intensidade em minhas
veias ao me deparar com aquele palhaço naquela intimidade com ela.
— Paola é minha, não dele — murmurei entredentes, mal
conseguindo controlar minha raiva. Fechei meus punhos com força,
sentindo as articulações doerem enquanto me segurava para não correr até
lá e arrancá-la dos braços daquele canalha, para depois, eliminar esse
camarada da face da Terra.
Eu era um homem que colecionava vitórias, sem nunca ter
conhecido a derrota.
Uma sensação de posse ardente queimava dentro de mim. Não
conseguia suportar a visão de outro homem tocando-a. Era insuportável,
como se ela fosse minha propriedade exclusiva. Indignação e confusão me
consumiam, incapaz de entender como esses sentimentos se intensificavam
em meu peito, especialmente considerando quem eu era.
A voz de Julian Smith atravessou minha ira, fazendo-me desviar o
meu olhar do casal para ele.
— Simon? — Com o braço erguido, Julian acenava para mim, o
que atraiu a atenção de todos à mesa de Henry Paterson.
O safado do tio da Paola, sentado ao lado de Benjamim, estreitou
os olhos, fuzilando-me.
"Para a sua infelicidade, verme, eu tenho o corpo blindado!",
pensei enquanto devolvia o aceno ao cretino num tom ameaçador. Com
passos deliberados, fui até a mesa deles.
A voz de Henry, alta e áspera, superou o murmúrio da multidão no
restaurante. Ele estava se gabando de sua próxima reunião, que seria na sua
casa, com líderes e autoridades que aconteceria pouco antes das eleições e
ia repetir esse evento, claramente organizado para passar credibilidade e
reforçar sua posição de favorito. Ele usou essa mesma estratégia para apoio
político às vésperas de quando foi eleito senador.
“Idiota!”, pensei e, nesse minuto, o canalha calou a boca, o sorriso
arrogante esmoreceu em seus lábios. E Benjamin, o único à mesa educado,
me cumprimentou com um aceno de cabeça apenas.
Ao lado da mesa, pude sentir a tensão de Paola. Ela ficou vermelha
e deu um passo para trás, o que não passou despercebido ao tio. Henry
levantou-se imediatamente, a carranca no seu rosto se intensificou, seus
olhos se estreitaram com um olhar penetrante fixados nos meus, tentando
me intimidar.
— Se veio até minha mesa esperando ser convidado para se juntar
a nós, perdeu seu tempo, meu caro. — Suas palavras pairaram no ar,
pesadas e ameaçadoras como um machado prestes a cair.
Um sorriso cínico brincou em meus lábios, no entanto, a
determinação de aço em meus olhos se manteve enquanto eu desviava o
olhar para a Paola, antes de responder com superioridade para Henry:
— Seria um imenso desprazer sentar-se à mesa com você, Henry
— respondi, ajustando o punho da camisa dentro do paletó e mantendo o
contato visual com ela, que estava claramente desconfortável. — Só vim
cumprimentar sua sobrinha Paola Tyler.
Meu tom era calmo, mas carregado de subentendidos e Paola sentia
a tensão, corando ainda mais e parecendo nervosa.
— Já disse seu "oi", agora saia, Simon Costello. — Os olhos de
Henry faiscavam com hostilidade disfarçada sob uma capa de civilidade. O
homem queria era partir para a briga física, uma motivação maior para
mim.
Eu me divertia; o medo de Paola a tornava ainda mais atraente aos
meus olhos.
— Ainda não a cumprimentei. — Fui até ela. — Como vai,
senhorita Tyler? — Segurei em seu braço e sentia seu tremor sob os meus
dedos, então beijei sua face, ardendo em fogo, bem próximo ao ouvido dela.
— A minha proposta de salvá-la desses abutres continua em pé — sussurrei,
sentindo-a estremecer.
— Sempre prepotente! — acusou-me aquele velho asqueroso. — E
se afaste da minha sobrinha, ela e David firmaram um compromisso.
Aquela informação aumentou a urgência de acabar com a raça
desse Henry Paterson e seu candidato a vice-presidente dos Estados Unidos,
David Johnson. Segurei minha onda enquanto Henry seguia defecando pela
boca.
— E não pense que vai ganhar essa disputa tão facilmente, Simon.
Eu farei o possível e o impossível para garantir que seu nome se apague nas
urnas — o verme declarou. Sua voz estava carregada de uma consignação
que, em breve, derreteria como gelo.
“A morte para você é um presente que eu não lhe darei, Henry
Paterson! Você irá pagar com a mesma moeda que usou. Além de cavar sua
própria cova na presença das mesmas pessoas que você procura
impressionar.”
— Boa sorte, então — respondi com um sorriso desafiador e me
afastei, deixando o homem bufando como um touro bravo.
Ao passar por Paola, propositalmente esbarrei em seu braço. Um
choque elétrico percorreu meu corpo, fazendo-me respirar fundo para
controlar a irritação. Eu não podia me permitir perder o controle; precisava
manter-me firme e contido.
— O que foi fazer na mesa do seu concorrente? — especulou
Julian assim que me acomodei na cadeira à sua frente. Ele me encarava com
um olhar perspicaz, seus olhos verdes brilhavam com curiosidade. Seu rosto
era marcado pelas linhas da experiência dos seus 40 anos, três anos a mais
do que eu.
— Apenas passei para cumprimentar meu adversário, quero dizer,
provocar — respondi, dando de ombros enquanto acenava para o garçom e
pedia a minha bebida. Eu carecia de algo forte para acalmar os nervos.
Julian, não convencido, inclinou-se levemente a cabeça para o lado
como se estivesse prestes a decifrar um enigma.
— Seu concorrente ou a sobrinha dele, Simon? Por isso a escolha
desse restaurante, sabia que estariam aqui? — questionou com uma imensa
desconfiança.
A pergunta causou um frio na minha barriga. Lancei um olhar de
soslaio para Paola e, nesse instante, ela estava olhando em minha direção.
Quando nossos olhares se encontraram, ela arfou assustada e voltou a
conversar com David, ao seu lado, o que me fez perder o controle. Estava
por um fio de sacar o meu revólver e descarregar naquele atrevido. Mas
respirei fundo, advertindo-me mentalmente. A organização e o controle
sempre foram pilares do meu mundo e Paola estava começando a bagunçar
minha estrutura. Por ela eu estava perdendo a capacidade de raciocinar
friamente. Tomar uma atitude impensada revelaria ao mundo quem
realmente sou.
Julian insistia em me olhar insistentemente.
— A proximidade com qualquer membro da equipe de Henry pode
nos fornecer os insights necessários — afirmei.
Julian e os outros integrantes à mesa balançaram a cabeça em
concordância.
— Charlotte, a prima e Paola, sobrinha... Hum, não deixa de ser
um plano estratégico, Simon — mencionou Julian. — Ah, por falar na
Charlotte, ela deve estar chegando por aí, prometeu que viria em nossa
reunião.
Eu só precisava ter em mente que a proximidade com Paola
também representava um perigo. Era imprescindível aprender a separar a
emoção da razão, pois quando estava perto dela, a emoção sempre
prevalecia. Como agora, vendo aquele tal David passando a mão pelo
ombro dela, aproximando seus corpos.
Ergui a mão chamando o garçom.
— Um whisky duplo.
— Alguma marca específica, senhor? — perguntou o funcionário.
Escolhi um daqueles que dão um soco no estômago e fazem os
problemas temporariamente desaparecerem. Nesse tempo, esforcei-me para
reatar meu juízo e conter minha explosão.
Enquanto os homens à mesa discutiam políticas, campanhas e
estratégias para viagens pelos Estados Unidos, eu reconhecia a importância
de cada planejamento para uma campanha bem-sucedida.
Então, a elegante Charlotte entrou no restaurante. Seus passos eram
firmes, sua postura impecável. Todos os presentes não puderam deixar de
notar sua presença marcante. Ela se aproximou da mesa onde eu estava com
a minha equipe.
— Oi, amor! — E antes que eu pudesse reagir, ela se curvou e
tentou me beijar. Eu, porém, escapei do contato, desviando o rosto para o
lado. Percebi o olhar de Paola sobre nós e isso só aumentou minha tensão.
Charlotte, então percebeu que Henry e Paola estavam no
restaurante.
— Que coincidência encontrar Henry aqui — disse com um sorriso
irônico.
— Nem tanto, este restaurante é o favorito dos políticos de Miami
— consertou Julian.
Ela moveu os ombros e se aproximou da mesa deles. Observava-a
e notei que ela não foi tão bem recebida como gostaria, notei a reserva do
primo com Charlotte. Logo ela retornou bufando de raiva.
Ao sentar-se ao meu lado Charlotte comentou, esnobando Paola,
que ir ao shopping com a "chatinha e mimada" da Liliana era o programa
oferecido por Henry para Paola.
— Como assim? — indaguei curioso.
Na sua revolta, ela narrou:
— Quando cheguei a mesa para cumprimentar o Henry, ele
combinava da boboca da Paola ir ao shopping mais tarde com sua irmã,
Liliana — dizia revirando os olhos com um ciúme que não cabia nela.
— Irmã? — Eu já tinha investigado e sabia que Liliana era
sobrinha de Henry, e agora, com o comentário de Charlotte, concordava que
Paola e a criança tinham os mesmos traços semelhantes.
— Sim, Paola e Liliana são irmãs. E quando a mãe viciada faleceu,
eu fui a pessoa designada pelo Henry a ir até a cidade e cuidar de tudo.
— Sobre ter cuidado de tudo você já havia mencionado — a
lembrei.
— É verdade! Infelizmente, a Paola se tornou essa tonta
manipulável! — Charlotte rosnou brava e pediu sua bebida.
Após trocar algumas palavras com Julian e os outros à mesa,
levantei-me.
— Senhores. — Todos os olhares se fixaram em mim, inclusive os
da outra mesa. Especialmente os de Henry e sua sobrinha. Charlotte,
notando, bufava furiosa. Eu segui discursando: — As discussões de hoje
foram produtivas e essenciais para o progresso de nossos planos. —
Lançando um olhar aos curiosos da outra mesa, troquei um olhar tenso e
rival com Henry. — Agradeço a todos pela colaboração e dedicação. No
entanto, é importante lembrar que nossa jornada está apenas começando.
Precisamos permanecer unidos e focados em nossos objetivos comuns. —
Minha voz ressoou com autoridade, ecoando pelo restaurante.
O olhar de Henry continuou duelando com o meu.
Julian e os demais à mesa assentiram em aceitação, reconhecendo a
seriedade das minhas palavras.
— Com isso, encerro nossa reunião de hoje. Que possamos
continuar avançando juntos rumo ao sucesso — concluí, observando
Charlotte se levantar.
— Fique e termine o seu jantar, Charlotte — demandei. Ela hesitou
por um momento, até notar que Paola ainda estava no restaurante.
Concordou em ficar e se acomodou à cadeira novamente.
Saí com passos firmes, deixando para trás minha aura de liderança.
O caminho desafiador à frente só me trazia confiança, sabia como
superar qualquer obstáculo.
CAPÍTULO 12

PAOLA

— Você já analisou a possível influência dos sindicatos nos votos


da região? — indagou um dos assessores de tio Henry, folheando um
relatório.
— Certamente, é uma variável crucial a ser considerada. Estamos
trabalhando em algumas abordagens para lidar com essa questão —
respondeu outro membro da equipe.
As vozes à mesa do restaurante se misturavam em um zumbido
constante, discutindo estratégias políticas e planos para a próxima
campanha eleitoral. Confesso que não conseguia prestar atenção, não com
David Johnson ao meu lado. Suas investidas evoluíram para beijos
inesperados em minha bochecha. A minha vontade era dar uma patada nele
e constrangê-lo. O inconveniente agia de maneira a fazer os outros
pensarem que éramos namorados, e isso me perturbava absurdamente.
Refletia sobre o que estava acontecendo em minha vida. Eu não me
sentia feliz nesse mundo de política e agora a situação piorava cada vez
mais, ainda sentia o sabor dos lábios possessivos de Simon, minha pele
arrepiava a cada lembrança de suas mãos em meu corpo.
“Impossível evitar esse envolvimento emocional com ele. Por que,
destino, por que colocou um potencial inimigo no meu caminho?”
Eu sabia que precisava blindar meu coração contra ele, pois estaria
sendo ingrata com meu tio, depois dele ter socorrido a mim e a minha
irmãzinha tão fofa. Meu coração acelerou aquecido quando mentalizei
minha irmãzinha, tão espertinha.
— Liliana, a princesinha do meu coração — sussurrei para mim
mesma, sentindo uma mistura de amor e proteção.
— O que você disse, Paola? — David escutou meu sussurro, seus
olhos analisavam-me e não me agradava.
— Estava aqui conversando em voz alta com os meus pensamentos
— respondi rápido, na esperança dele prestar atenção aos colegas e não.
— Vem aqui. — O atrevido, de novo, passou a mão pelo meu
ombro e colocou seus lábios em meu ouvido. — Gostaria de ler seus
pensamentos, Paola — sussurrou ele com um sorriso abusado.
Eu me segurava para não perder o recato e mandá-lo à merda. Mas
estava complicado, especialmente porque, cada vez que meus olhos se
encontravam com os de meu tio, ele abria um sorriso de aprovação, como se
estivesse gostando do que via. Isso só me deixava ainda mais possessa.
Revirei os olhos em busca de alívio e só encontrei fardo com meus olhos se
encontrando com a prima insuportável.
“Será verdade aquela história dela, de noivos?”, indaguei
mentalmente.
No dia do evento político ela mencionou que Simon era o seu
futuro marido e, quando veio até a mesa cumprimentar, a idiota disse que
veio para a reunião do seu noivo.
Admito: o ciúme daquela safada com Simon bateu forte e me
destruiu. Eu me senti completamente arrasada. Simplesmente não conseguia
resistir a ele e isso só aumentava a minha frustração.
— Acho que já está na hora de irmos, não é mesmo? Preciso me
preparar para passar a tarde e à noite com a Liliana — disse, tentando
disfarçar o desconforto.
Foi um alívio o meu tio concordando comigo. Me acompanhou até
a porta do restaurante, onde o motorista, Rony, já aguardava para me levar
até a sua casa. Ao sair pela porta, respirei fundo àquela brisa da tarde
batendo suavemente contra o meu rosto, o que fez aumentar minha
ansiedade para estar com minha irmã.
— Senhorita Paola. — O educado motorista, uniformizado com
terno cinza grafite, abriu a porta de trás do luxuoso veículo, após algumas
recomendações do seu chefe.
— Obrigada — agradeci e me acomodei com a ansiedade tomando
conta de mim. Eu mal podia esperar para estar ao lado da Liliana
novamente, para compartilhar momentos que não tivemos chance.
O sol dourado do entardecer banhava Miami Beach enquanto
seguíamos em direção a Fisher Island, para a residência do meu tio. O
bairro era luxuoso, com mansões imponentes e jardins bem-cuidados.
Ao chegarmos à mansão, o motorista entrou na garagem e me
deixou na entrada principal.
Ao descer do carro, a sensação de estar em casa tomou conta de
mim. O jardim exuberante, os pássaros cantando e o ar puro da ilha
contribuíam para criar um ambiente acolhedor e tranquilo. Abigail já me
aguardava à porta da casa, onde fui recebida calorosamente.
— Que bom tê-la aqui em casa, Paola — disse Abigail, abrindo os
braços para me receber em um abraço acolhedor.
— Obrigada, Abigail — respondi, devolvendo o abraço com
carinho.
— Vamos entrar — convidou a esposa do meu tio, me guiando
para dentro.
O ambiente era rodeado de elegância e sofisticação. Do teto alto do
hall com as paredes revestidas por um papel de parede suave, com nuances
de bege e creme, descia um lustre lustroso, lançando uma luz suave e
acolhedora sobre o espaço. O conforto e luxo se estendia até a sala de estar;
móveis estofados em tecidos macios ocupavam o espaço, dispostos de
maneira aconchegante ao redor de uma lareira. Tapetes persas adornavam o
piso de mármore polido, obras de arte elegantes decoravam as paredes e o
mais encantador, e usada como peça decorativa no ambiente, estava a
estante embutida de livros com portas de vidro e trancadas a chave, para
proteger suas obras raras e antigas de valor inestimável.
Abigail sorriu.
— Sua irmã está muito ansiosa esperando você. Vou avisar que
chegou — disse ela, mas não foi necessário.
Liliana, linda usando um vestido florido, já descia as escadas
gritando meu nome e, claro, radiante como sempre.
— Paola, Paola você chegou! — exclamou ela em um entusiasmo
de arrancar lágrimas dos meus olhos e seus bracinhos abraçaram forte
minha cintura.
— Desculpe a demora, Liliana. Eu juro que não quis me atrasar,
querida — disse, retribuindo o abraço e sentindo meu coração se encher de
amor ao estar ao lado dela novamente, envolvida pelo calor e pela sua
alegria contagiante.
Abigail sorriu ao ver nosso carinho e sugeriu:
— Por que não vão para o jardim aproveitar o restante da tarde
juntas?
— Não! — protestou Liliana imediatamente. — Vou mostrar o
meu quarto para a Paola. Tenho certeza de que ela adoraria conhecer
minhas bonecas — sugeriu Liliana com um brilho nos olhos, e nem me deu
tempo de responder porque pegou minha mão e me levou em direção as
escadas.
Eu e Abigail nos entreolhamos incapazes de resistir à doçura e ao
encanto de Liliana naquela empolgação toda.
— Paola, você vai amar o meu quarto! — disse Liliana.
— Tenho certeza que sim, amor.
A cada degrau que subíamos, sentia-me mais próxima dela, mais
conectada como irmãs que somos.
Liliana falava animadamente sobre suas aventuras. A fofa, em sua
espontaneidade, descrevia suas brincadeiras no jardim, suas aulas de piano,
sobre suas amiguinhas da escola e até mencionou novamente sobre o seu
desejo de ter um cachorrinho, o que ampliou a saudades de casa, Exeter!
— Se conhecer meus pets, tenho certeza de que vai se apaixonar
por eles, maninha. — Ela até suspirou quando eu disse aquilo.
— E quando você pode me levar até sua casa, Paola?
Abracei fortemente a minha joia preciosa recordando do nosso
passado, ela que foi e continua sendo o meu raio de sol nos dias mais
sombrios. Apoiei o queixo sobre sua cabeça e desabafei com a voz
embargada:
— O quanto antes possível, querida. O quanto antes... — solucei e
engoli o choro, não queria transmitir minha tristeza por estar longe de casa.
Liliana sorriu e seus olhos brilharam com uma emoção intensa.
— Você gostaria de morar comigo em Exeter, Liliana? — sondei,
vendo o brilho de esperança em seus olhos.
Liliana ficou encantada, eu falei um pouco do Duke, chorando em
soluços ao me lembrar dele.
A bonitinha trouxe seus dedinhos em minha face, secando minhas
lágrimas indagando:
— Você ama os seus cachorrinhos, né?
Rindo e chorando ao mesmo tempo, eu sacudia cabeça afirmando.
— E amo você também, irmãzinha. — Abracei-a com força,
prometendo que ainda moraríamos juntas onde quer que fosse.
Chegamos ao corredor longo, largo e decorado belamente, o tapete
era muito legal e a mesa com enfeites interessantes, havia um vaso com
flores naturais e o mais interessante era uma almofada redonda e estufada
que me chamou atenção.
— Nossa, almofada com penas? — Curiosa, corri para pegar a
almofada e abracei. — São tão macias...
— Abigail adora essa almofada com penas — explicou Liliana, e
reparei que ela estava descosturando.
— Então precisamos avisar a Abigail para costurar essa almofada
para que as penas não voem. Agora me apresente seu quarto, estou curiosa.
O quarto de Liliana era um verdadeiro sonho cor-de-rosa. As
paredes eram decoradas com papel de parede floral e cortinas rendadas
adornavam a janela, permitindo que a luz do sol filtrasse suavemente para
dentro do ambiente. Uma cama com dossel, coberta por uma colcha cor-de-
rosa com bordados delicados ocupava o centro do cômodo. Ao redor havia
uma variedade de brinquedos e bonecas cuidadosamente organizadas. Uma
grande estante exibia uma coleção de bonecas de porcelana, cada uma
vestida com trajes finos e detalhes impecáveis. Ao lado da cama, uma caixa
de brinquedos transbordava de bichinhos de pelúcia e outros brinquedos
coloridos.
Liliana sorriu orgulhosa enquanto mostrava cada cantinho do seu
santuário.
— Olha, Paola, essas são minhas bonecas favoritas! — Ela
apontava para a estante. — A minha cama é tão macia!
Eu não pude deixar de sorrir ao ver o brilho nos olhos de minha
irmã.
— Seu quarto é um sonho, Liliana! Você tem tantas coisas bonitas
aqui. — Corria meus olhos ao redor com admiração e notei algumas caixas
de remédios.
Liliana assentiu, toda orgulhosa.
— Eu adoro passar o tempo aqui brincando com minhas bonecas.
Mas, agora que você está aqui, podemos brincar juntas!
Me aproximei e a tomei em meus braços, sentindo uma onda de
amor e gratidão por ter minha irmãzinha junto de mim. Estava tão
empolgada para passar a tarde com ela, compartilhando momentos
preciosos e fortalecendo ainda mais o vínculo especial que tínhamos.
— Agora vou me arrumar para o nosso passeio — informei e ela
fez questão de me levar ao quarto que fora preparado para mim. Era o
último do corredor.
A vista de Fisher Island era deslumbrante e o quarto era luxuoso e
confortável. Minha mala já estava lá, trazida pelos funcionários. Havia
poucas opções de roupas casuais na minha bagagem, então coloquei um
vestido tubo preto que ia até a canela, combinando com uma sandália
rasteira. Amarrando os cabelos em um rabo de cavalo baixo, peguei minha
bolsa e estava pronta para sair. Foi quando fui surpreendida com a babá que
nos acompanharia até o shopping.
Não me importei, o importante era estar com Liliana.

***

O sol já se punha no horizonte quando chegamos ao shopping. O


motorista nos deixou na porta e Liliana entrou empolgada, segurando minha
mão. Passamos por uma loja de departamentos com várias roupas legais, e a
babá percebeu meu interesse em adquirir algumas peças.
— Por que você não leva a Liliana para brincar no parque
enquanto eu faço minhas compras? — sugeri e ela prontamente concordou.
Combinei de nos encontrarmos no parque depois.
Escolhi várias peças de roupas e fui direto para o fundo da loja,
onde se localizava o privativo e amplo provador. Quando ia retirar o
vestido, a porta do provador se abriu e meu coração deu um salto ao ver no
espelho a imagem de Simon.
“Puta merda!”
Engoli duro na tentativa do meu coração descer ao seu devido
lugar. O homem estava um arraso, como sempre, e aquela presença me
deixava completamente vulnerável. O tolo do meu coração disparou e uma
mistura de sentimentos tomou conta de mim.
Ele se aproximou e seu olhar intenso prendia o meu no espelho.
— Paola... — ele pronunciou meu nome com aquela voz rouca que
me fazia arrepiar.
— Simon... — Minha voz soou fraca, minha mente tentava
processar sua presença inesperada. — O que está fazendo aqui?
— Vim te encontrar, eu sabia que você viria ao shopping hoje —
informou, com um sorriso torto arrancando o meu fôlego.
Meu coração trabalhava no seu pico, eu me sentia como uma presa
encurralada pelo predador.
— Você... você sabia? — murmurei, tentando encontrar as palavras
certas, mas fui incapaz de formular uma resposta coerente, tampouco
disfarçava minha confusão.
— Eu sabia— confirmou, dando um passo em minha direção.
Charlotte veio à minha mente, ela ouviu no restaurante quando eu
conversava sobre o shopping com o meu tio.
Seus olhos perturbadores corriam pelo meu corpo e pude sentir seu
perfume inebriante. Eu delirava, mas sabia que precisava manter minha
guarda levantada.
— É melhor sair do provador, S-Simon. — Eu até tentei manter a
voz firme, no entanto, falhei. O tremor esteve presente, na verdade, ele
estava em todo meu corpo sob seu olhar ardente. Então eles voltaram aos
meus, nos olhávamos profundamente e o tempo pareceu parar, a tensão
entre nós era palpável e eu lutava para sustentar minha dignidade.
Ele chegou mais perto o suficiente para repousar suas mãos em
meus ombros.
“Caramba!”
Inspirei prendendo todo o ar dentro dos meus pulmões. A mão dele
queimava minha pele, ardia enquanto se espalhava pelo meu corpo.
Minha mente estava uma bagunça de emoções conflitantes. Por um
lado, eu sabia que deveria conservar minha guarda alta, mas por outro, estar
perto de Simon só me fazia desejar coisas que eu sabia que não deveria
desejar.
— Por que você não faz o que pedi, Simon? — perguntei, lutando
para dominar a minha voz trêmula.
— Porque... — ele começou, suas mãos escorregaram dos ombros
aos meus braços e elas deslizavam, acariciando minha pele, a mão dele me
torturava, enviava arrepios de excitação. Então, ele deu um suspiro
profundo e falou uma verdade que eu não conseguia disfarçar: — Porque
não é o que você quer. — Prendeu meus quadris, me pressionando contra
ele. Arfei enlouquecida de tesão e fechei os olhos sentindo o pulsar do seu
peito contra as minhas costas e a pulsação em sua calça contra minha
bunda.
— O que você quer de mim, cara? — perguntei em um resquício
de voz.
Ciente da minha rendição, ele roçou os lábios no meu pescoço e
sussurrou no meu ouvido:
— Você me deixou na mão na varanda do restaurante, me deixou
com muito tesão.
Senti sua respiração quente no meu pescoço enquanto suas mãos
percorriam meu corpo. O desejo pulsava dentro de mim, fazendo minha
vagina latejar. Minha calcinha já sofria no tsunami. Eu sabia que ele me
queria, e era recíproco.
De repente, ele levantou meu vestido até a cintura, me deixando
exposta, e pude sentir seu pau quente, duro como pedra, contra a minha
pele. Um arrepio percorreu meu corpo inteiro, fazendo meus seios incharem
e doerem contra o tecido do vestido. Eu estava tão excitada que mal
conseguia me conter.
Ele enterrou o rosto na curva do meu pescoço e sussurrou no meu
ouvido:
— Eu quero foder você, eu quero sentir sua boceta apertada em
torno do meu pau — Simon rosnou, esfregando sua ereção irresistível em
mim, e sua boca molhada em meu pescoço. Os pelos de sua barba faziam
cócegas deliciosas enquanto sua respiração quente mandava ondas de
arrepios pela minha espinha.
Aquelas palavras estavam longe de serem românticas, mas era
excitante demais, e me deixava entorpecida, só aumentaram meu desejo, me
deixando ainda mais molhada e pronta para ele. Eu queria ser
completamente dominada por aquele homem, receber tudo o que ele me
oferecia, me preencher e me levar ao êxtase.
Sem dizer mais nada, ele levantou minha bunda, levei minhas
mãos ao espelho me apoiando, entendendo que era hora de ceder. Eu queria
aquele pau enorme entre as minhas pernas, me enlouquecendo de prazer.
Ele movia seu corpo sutilmente, fazendo seu pau sair e depois empurrando
de volta, roçando sobre a minha calcinha ensopada. Minha vagina doía, as
contrações estavam intensas e ele gemia de desejo no meu cabelo, sua
respiração quente me deixava ainda mais louca. Meu corpo inteiro doía de
desejo, e ele gemia com tesão, soltando meu cabelo e o deixando ainda mais
bagunçado.
Eu queria me virar, pular no colo dele e ser enterrada por aquele
gigante pulsante. Mas ele era perspicaz demais, sabia dos meus desejos e
me mantinha sob seu controle. Eu estava completamente rendida a ele.
Então, senti seus dedos me tocando, afastando minha calcinha.
Estremeci com aquele movimento ousado e delicioso dele, e logo ele
enterrou tudo em mim. Fechei os olhos, mordendo meus lábios por dentro
para segurar meus gemidos de prazer enquanto seus dedos acariciavam meu
clitóris e ele socava tudo aquilo em mim, de uma forma enlouquecedora e
respirando pesado, pronunciava rouco palavras obscenas e excitantes que
me levavam às nuvens.
Ele socava sem dó nem piedade, indo e vindo de forma alucinante.
Seus dedos deslizando entre minhas dobras molhadas e escorregadias, não
continha os gemidos quando tocavam meu clitóris sensível, alternando com
apertões em meus seios, me levando à beira do orgasmo. Eu me entreguei
completamente, deixando que ele me levasse ao êxtase mais uma vez.
Aquele homem sabia exatamente como me fazer alcançar o pico do
prazer, e eu estava completamente à mercê dele. Virei a cabeça um pouco e
seus lábios capturaram os meus num beijo feroz e exigente, roubando o meu
fôlego. E assim, entre gemidos silenciosos e suspiros, nos entregamos ao
prazer mais intenso e selvagem que já sentimos.
Ele segurou minha garganta, colando sua testa na parte de trás da
minha cabeça, esperando nossas respirações normalizarem. Senti meu corpo
tenso sob seu toque enquanto ele me segurava com firmeza. Então, ele saiu
de dentro de mim, virou-me para encará-lo e, prendendo minha nuca pelos
cabelos, me beijou ardentemente. Sua língua explorava cada canto da minha
boca, um beijo único, algo diferente e que eu nunca havia experimentado
antes. Meu coração batia tão rápido que parecia prestes a explodir, e esse
homem tirava o meu ar e o meu juízo.
Então, ele me soltou, deixando-me ali sem condições de respirar.
Ajustou suas roupas, ajeitou os cabelos e avisou:
— Nos vemos daqui a pouco.
— NÃO! — me exaltei apavorada ao lembrar de Liliana e da babá.
Ele ergueu as grossas sobrancelhas, surpreso com minha exasperação. Eu
estava desesperada para manter aquela situação longe da minha irmã.
Uma linha de sorriso frio e cínico se desenhou em seus lábios
grossos, que eu já estava viciada neles.
“Céus!”
— Essa sua vontade não transmite convicção, Paola! — ressaltou,
trazendo seu dedo polegar no meu lábio entreaberto. Ele começou a
esfregar com certa sensualidade, deixando-me de pernas bambas e ainda
mais ofegante. Eu me manifestei com dificuldade:
— O que você pretende, o que quer de mim, Simon? — murmurei,
sentindo-me indefesa diante dele. Seus olhos pareciam vasculhar minha
alma em busca de respostas enquanto ele ria de forma indecifrável.
— Eu ainda estou decidindo — disse, escorregando a mão em meu
braço. Sua mão era poderosa e me domava. Então, ele saiu a passos
decididos do provador, com cuidado para não ser visto.
E eu fiquei como? Atordoada é claro, tanto que precisei me
encostar à parede do provador. Meu coração não desacelerava comigo ainda
sentindo o calor da sua pegada avassaladora. Seu perfume ainda estava
impregnado em minha pele, me colocando completamente enfeitiçada. Mas,
ao mesmo tempo, uma vozinha dentro de mim alertava que eu precisava
encontrar minha lucidez. Simon era tudo o que eu não deveria querer
naquele momento.
Respirei fundo, tentando acalmar minha mente agitada. Eu sabia
que me envolver com ele seria um grande erro, especialmente com tudo o
que estava em jogo.
— Foco, Paola — sussurrei para mim mesma em voz baixa. —
Você precisa encontrar o seu juízo.
Desisti de comprar roupas e me concentrei em coisas mais
importantes. Saindo do provador, segui em direção ao encontro de Liliana e
sua babá.
CAPÍTULO 13

SIMON

Andava pelo shopping, puto comigo mesmo, relembrando da gente


no provador, meu pênis seguia rígido e apertado na calça. Eu a desejava
mais e desesperadamente, e isso ia contra as minhas regras.
— Caralho! — esbravejei em um tom alto de voz enquanto fechava
minhas mãos com força, indignado com a minha fraqueza. — Paola é o meu
inferno, a minha punição. Paola é tudo o que eu não posso ter —
resmunguei, sentindo a frustração me dominar.
Resolvi procurar um canto onde pudesse relaxar e acalmar o meu
desejo insaciável. Optei por um restaurante vazio naquele momento. Me
joguei em uma mesa isolada, com a cara fechada e os punhos cerrados.
Estava complicado segurar minhas emoções, meu corpo estava em chamas,
eu a queria mais do que tudo, ela era a única coisa que ocupava minha
mente.
Um agravante, já que planejava usá-la como peça-chave no meu
plano para derrubar o maldito Henry Paterson. A chance de dar errado era
enorme, considerando minha dificuldade em separar o emocional do
racional.
— Um uísque duplo! — pedi alto para a garçonete. Quando a
bebida chegou, tomei tudo de uma vez, sentindo o líquido queimar a minha
garganta.
— Ei, você parece bem chateado. Algum problema? — A
garçonete permaneceu por perto e tentou puxar conversa, mas estava sem
condições de dialogar. Tudo na minha mente estava focado em Paola.
— Milhões deles — respondi friamente enquanto jogava o dinheiro
sobre a mesa e saía para encontrá-la pelo shopping.
Desta vez, estava resolvido a manter a mente clara e sob controle.
Precisava usá-la com sabedoria em meu plano para dar a Henry Paterson o
que ele merecia. Mas ao encontrá-la no playground, percebi que algo dentro
de mim havia mudado radicalmente. As emoções que eu tanto lutava para
suprimir voltaram com força total ao vê-la. Sua alegria enquanto abraçava
Liliana pela cintura e girava com ela entre beijos e risadas, era
simplesmente contagiante. Seu sorriso leve e fácil me desconcertava, e me
peguei rindo feito um bobo – eu, um homem que nunca conheceu esse tipo
de emoção.
— Como vou sair dessa enrascada? — questionava a mim mesmo
ciente da dificuldade.
Assim como a energia solar era captada e transformada em
eletricidade útil, eu podia sentir que a presença de Paola energizava e
revigorava minha própria vida, sentia ela como uma fonte inesgotável de
luz, capaz de iluminar até os cantos mais escuros da minha existência. Ela
trazia um calor agradável e irresistível ao mundo frio em que eu estava
acostumado. Agora, se representava sucesso ou fracasso, eu não fazia ideia.
As observei por um tempo, sem saber o que fazer em seguida. Por
enquanto, me contentei em apenas observar. Sua irmã e a babá se afastaram
e nesse instante os olhos expressivos de Paola percorreram ao redor como
se estivesse me procurando, e me encontraram ali, sondando-a.
— Não — compreendi os movimentos dos seus lábios dizendo um
não, mesmo assim eu caminhei na direção dela e notava como seu rosto,
belo e meigo, começava a corar.
Era evidente que ela tremia visivelmente com minha aproximação,
e seus olhos transmitiam medo, medo de seu tio descobrir que ela mantinha
contato com o seu maior rival. Mas isso só a tornou ainda mais atraente
para mim.
— Vai embora daqui — Paola insistiu quando cheguei perto dela.
— Calma, não precisa ter medo do meu charme! — provoquei,
enfiando minhas mãos nos bolsos da calça e adotando uma expressão
marota, me divertindo com seus nervos à flor da pele. — Não irei tocar em
você em público, a não ser que me peça — acrescentei, desejando
profundamente tocá-la e sentir sua vibração.
Ela estufou o peito, fechou as mãos e comprimiu os punhos,
mostrando sua indignação com minha questão. Eu esperava uma ofensa,
mas ela me surpreendeu.
— Não quero ser vista com você. Vaza, cara! — Ela foi dura, mas
deixou escapar um suspiro.
Ficamos ali nos olhando, e foi como se todo o resto do mundo
desaparecesse. Não pude deixar de me encantar com aquela mistura de
meiguice e força que emanava dela, fazendo-a parecer mulher e adolescente
ao mesmo tempo. Seu olhar era intenso, uma conexão que ia além das
palavras. Era como se entre nós existisse um vínculo inexplicável, pulsante
e inegável. Estava com dificuldade em compreender como ela conseguiu
romper as muralhas que eu construí em minha vida, capaz de alcançar as
profundezas do meu ser.
Paola respirou profundamente com o retorno da sua irmã e da
babá.
— Ele é o seu amigo, Paola? — perguntou a criança simpática que,
aliás, tinha os mesmos traços.
— Eu sou amigo do seu tio Henry Paterson, estava passando e
reconheci a sua irmã. Muito prazer, Simon Costello — adiantei na resposta
estendendo minha mão, e a menina segurou, colocando um sorriso amplo
nos lábios, causando um furor em Paola, que me fuzilava com o olhar.
— Muito prazer, eu sou a Liliana, irmã da Paola — disse,
indicando Paola com um movimento de cabeça.
— É, vocês duas se parecem bastante.
Paola respirou fundo, acenando com a cabeça para que eu fosse
embora.
— O senhor Simon estava de passagem, não é mesmo, senhor
Simon? — frisou ríspida, adotando uma postura grosseira, incomodada com
a minha presença, o oposto da babá. Os olhos da mulher se arregalaram um
pouco, ela me olhava de cima a baixo como se não acreditasse no que
estava vendo. Ela então não se conteve:
— Oi, eu sou Maria, a babá da Liliana — se apresentou,
suspirando apaixonada por mim e desaprovando Paola, que grunhiu
incrédula com a cena. Eu aproveitei para provocar mais.
— Prazer em conhecê-la. Sou Simon Costello. — Estendi a mão
para cumprimentá-la.
— Ah, eu sei quem é você, Sr. Costello. É um imenso prazer
conhecê-lo — Maria respondeu, ajeitando os cabelos e a roupa,
visivelmente preocupada com sua aparência enquanto Paola ainda parecia
não acreditar. — Vamos tomar um lanche depois, por que não fica mais um
pouco? — sugeriu Maria.
O olhar preocupado de Paola recaiu sobre mim e ela balançou a
cabeça, tentando me dissuadir de aceitar o convite.
— É uma boa ideia! — Liliana vibrou, batendo palmas.
— O senhor Simon está com pressa — interveio Paola.
— Não estou com tanta pressa assim — contestei para a
infelicidade de Paola. — Se fazem questão da minha presença, eu vou com
vocês.
Paola bufou e fechou os olhos, dando-se por vencida.
— Eu posso ir mais um pouquinho no carrossel, antes de a gente ir
lanchar? — Liliana estava bem empolgada.
— Claro, claro — respondeu a babá, finalmente desviando o olhar
de mim para a irmã de Paola ali, com seus olhos expressivos analisando-
me. — Vamos lá! — Pegou na mão de Liliana, que olhou para a irmã com
um sorriso radiante.
— Eu já volto, Paola! — avisou e saiu com sua babá na maior
animação, e conseguiu arrancar um sorriso leve dos meus lábios.
Estranhava meu novo eu, não conhecia essa interação de família, mas
confesso que soou legal.
Paola me encarou com ar de preocupação.
— Vai me complicar com o meu tio — declarou nervosa.
— Relaxa, deixei claro que nos encontramos por acaso aqui no
shopping.
— Sei que essa sua aproximação tem algo a ver com o meu tio e eu
não irei entrar no seu jogo.
— Não vamos falar de política. — Curioso, emendei uma questão:
— Então, como era a vida para você em Appalachia, na Virginia? —
perguntei, olhando-a nos olhos.
— Antes me responda por que estava em Appalachia naquela noite,
não foi porque sabia que eu morava lá, como aqui no shopping, certo?
Inclusive, naquela noite foi tragédia em cima de tragédia, presenciei um
sequestro e de longe a vítima lembrava você.
Acabei rindo da sua insinuação.
— Não fui eu o sequestrado em Appalachia. E estava na cidade
porque a minha empresa está envolvida em um projeto de desenvolvimento
sustentável na região, trabalhando para implementar tecnologias limpas e
sustentáveis para beneficiar a comunidade local. Agora me fala da sua vida
naquela época.
Paola respirou fundo.
— Era difícil. Muito difícil — respondeu parecendo um pouco
desconfortável.
— E como você acabou trabalhando no hotel de entretenimento
adulto? — continuei querendo entender melhor sua história.
Paola olhou para baixo por um momento antes de responder:
— Bem... — ela hesitou. — Naquela noite, o dono do bar onde eu
trabalhava como garçonete não pagou minha diária, e eu precisava do
dinheiro para levar comida e remédios para casa.
Eu assenti, compreendendo a situação.
— E quanto à sua mãe, o vício dela... isso teve algum impacto em
suas decisões? —perguntei, atento aos seus olhos.
Ela olhou para mim com uma expressão especulativa, e em seguida
balançou a cabeça negativamente.
— Nem irei perguntar de onde tirou essa informação. — Sua voz
estava um pouco tensa.
— Charlotte comentou por cima — admiti.
Houve um breve silêncio, então pude notar uma pontada de ciúmes
nos olhos dela. Aquilo inflou meu ego. Eu sabia que deveria proteger o meu
coração, mas não conseguia. Impossível evitar com esses sentimentos
crescendo dentro de mim.
— Charlotte é sua noiva? — indagou num murmúrio.
— Não. — A resposta foi incisiva e em tom de encerramento. —
Agora é a sua vez de responder a minha questão — insisti. Ela persistiu
hesitante, mas depois assentiu com a cabeça.
— Sim, a condição da minha mãe influenciou em minhas decisões
— pronunciou em voz baixa. — Mas... não acho que você deveria ficar
perguntando sobre isso.
Entendi sobre o assunto ser sensível, mas estava determinado a
entender melhor a situação dela.
Do nada, Paola começou a narrar sua vida como se estivesse se
defendendo.
— Nunca fui garota de programa.
— Presumi que não, afinal de contas, até aquela noite era virgem
— a interrompi, mas isso não a desestimulou a continuar.
— A necessidade me obrigou a aceitar a proposta do dono do hotel.
Minha mãe era uma viciada em drogas e todas as responsabilidades da
Liliana, na época com dois anos, ficavam sobre minhas costas. — Lágrimas
rolavam pelo rosto. Eu não resisti e segurei sua mão, mas ela se assustou
com essa ternura e puxou a mão, se libertando.
Paola então continuou, ainda com voz embargada:
— Minha mãe morreu naquela noite, de overdose — revelou com
pesar, olhando para o chão, visivelmente emocionada.
Fiquei chocado com essa revelação. Passei a mão nervoso pelos
cabelos, minha mente em turbilhão. Permaneci em silêncio e Paola
percebeu a mudança no meu estado.
— Você está bem? — ela perguntou com preocupação.
Recuperei-me e respondi com firmeza que sim, apenas balançando
a cabeça em afirmativo. Em seguida, perguntei quantos anos ela tinha na
época.
— Dezoito anos — respondeu ela.
Fiz uma rápida conta mental, agora ela tinha vinte e dois.
— E você, quantos anos tem? — Ficou curiosa.
— Trinta e sete anos — respondi, sentindo-me um pouco tenso.
Suas sobrancelhas se ergueram, claramente surpresa. Vi os lábios
de Paola se abrirem como se ela estivesse prestes a fazer uma pergunta
sobre mim, mas fui interrompido pelo grito de fome de Liliana:
— Vamos comer lanches!
Enquanto caminhávamos em direção à lanchonete escolhida por
Liliana, afinal a menina conduzia a todos com total liderança, ela me
encantava a cada segundo, principalmente a interação calorosa entre ela e
Paola. As duas riam, se abraçavam e conversavam animadamente pelo
caminho.
— A gente pode vir ao shopping todos os dias, Paola? — Liliana
perguntou, abraçando sua irmã com força.
— Sempre que você quiser, Lili. — Paola foi para a frente da irmã
e moldou o rosto de bochechas rosadas entre as suas mãos delicadas.
— E você também não pode esquecer de me levar na fazendinha
onde tem animais, cachorrinhos e flores.
— Não posso esquecer! Vamos compensar todo o tempo que
ficamos longe uma da outra.
— Oba! Será que o tio Henry vai deixar eu ir morar com você?
Quero muito conhecer o Duck.
Percebi uma lágrima solitária escorrer do olho da Paola quando ela
respondeu:
— A gente conversa depois com ele, ok? — A menina afirmou com
a cabeça. — Ah, você vai conhecer o Duck e a Luna.
Liliane abriu a boca ao mesmo tempo que arregalou os olhos,
empolgada.
— São dois cachorros?
— Sim, minha linda!
— Os pelos dos cachorros podem desencadear a asma da Liliana
— alertou a babá, comprimindo os lábios no semblante de pesar.
— Eu tomo os remédios direitinho e a crise não vem. — A doce
Liliana fez cara de quem iria chorar e sua irmã carinhosa logo a alegrou
com seu jeito especial de lidar com a criança.
— Não, não chore, Lili. — Beijou o topo da cabeça da irmã e a
encarou nos olhos. — Sem tristeza, querida. Estamos aqui no shopping para
nos divertir, vamos aproveitar, né? — Um sorriso de orelha a orelha
sobrepôs a carranca de Liliana.
— Sim, sim.
Paola tomou-a em seus braços.
Admirava a sua personalidade radiante. Seu jeito gentil e
compassivo, sua generosidade e empatia eram como um verdadeiro
"sunshine", irradiando calor humano por onde passava.
Chegamos à lanchonete movimentada. O ambiente interno era
acolhedor, com mesas ocupadas por famílias e grupos de amigos. Liliana
escolheu uma mesa no canto, ela quem tomou as rédeas, à medida que
arrastava a cadeira e indicava que ocuparia aquele lugar.
— Simon, sente-se aqui, de frente para a Paola. Eu fico ao seu
lado, e você, Maria, senta-se aqui. — Indicou a cadeira da ponta com sua
mãozinha.
Seguimos as instruções da garota e nos acomodamos à mesa.
— Essa lanchonete é uma ótima escolha, Liliana. O que você
costuma pedir aqui? — perguntei, iniciando a conversa.
— Eu sempre peço o cheeseburger, é o melhor da cidade! —
respondeu ela, animada.
— E eu vou de sanduíche de frango com batata frita! — Escolheu
Paola, piscando para Liliana.
Enquanto aguardávamos os pedidos, aproveitamos para conversar
mais. Paola contou algumas histórias engraçadas de sua infância em
Appalachia, enquanto Liliana fazia caretas e gestos exagerados para ilustrar
as dela, eu me vi envolvido pela animação que ela trazia para a mesa.
— Simon, você sabia que Liliana significa flores? — A simpática
garota me fez erguer as sobrancelhas, surpreso. Olhei para a sua irmã, que
deu de ombros, expondo um sorriso sedutor nos lábios.
— Fiquei sabendo quando cheguei na cidade — explicou Paola.
— Para mim também é uma novidade! E vou pesquisar sobre o
assunto. — Eu estava todo emotivo nessa mesa com essas pessoas. Uma
família! Algo com o qual eu não estava acostumado.
— Agora não é mais — Liliana disse, já emendando outro assunto
com sua irmã.
Eu observava tudo, a conexão entre as duas e a energia positiva
que irradiavam.
Após um momento delicioso na lanchonete, Liliana queria brincar
mais um pouco antes de ir embora e suplicou para que eu a esperasse
retornar. E bastou a babá e a criança se afastarem para eu ser surpreendido
com a mão da Paola pegando a minha, segurando fortemente.
— Você precisa ir embora, Simon. — Ela me arrastou até o
elevador que acabara de abrir a porta, mas eu enlacei sua cintura a levando
para a porta das escadas comigo. Segurei seu rosto com perseverança
enquanto a porta se fechava, meus olhos devoravam os dela com luxúria.
— O que pensa que está fazendo? — A resposta foi meus lábios
capturando os dela em um beijo feroz, voraz, como se eu estivesse
reivindicando o que era meu por direito. Explorava cada centímetro da sua
boca.
Sob meu domínio seu corpo reagia, respondendo ao meu toque
com uma urgência que a assustou.
— Para com isso, eu não posso... — murmurou em meus lábios.
Atendi ao seu pedido afastando apenas um pouco os meus lábios, sem
desconectar nossos olhares.
— Você pode tudo, Paola... basta querer sua liberdade e eu a liberto
das garras do seu tio Henry. — Ali deveria ser apenas um negócio, mas não
era bem assim que ocorria com o desejo pulsante queimando entre nós.
— Eu não preciso da sua ajuda porque eu não estou presa ao meu
tio, eu apenas tenho uma dívida que tenho a obrigação de sanar.
— Não existe liberdade quando se vive nas teias de Henry
Paterson, minha cara — frisei em tom de aviso.
— Meu tio é apenas um concorrente seu na presidência dos
Estados Unidos, e não um monstro como quer me convencer. — Com a
respiração ofegante e um semblante de medo, ela apartou de mim com certa
brutalidade, abriu a porta e retornou para o shopping. Ainda a ouvi
chamando pela Liliana e a babá com urgência para irem embora.
CAPÍTULO 14

PAOLA

A caminho da saída do shopping eu mal podia respirar e o


responsável era o meu coração, involuntariamente ele batia descompassado.
A sensação dos toques possessivos de Simon ainda reverberava em
minha pele, deixando-me confusa e perturbada.
— Pelo amor de Deus, Paola, se controle! — implorava pelo meu
bom senso fechando minhas mãos com força na tentativa de conter o tremor
e nada, então comecei a entrelaçar os dedos nervosamente.
Minha esperta irmãzinha percebeu meu nervosismo e olhou para
mim com preocupação estampada em seu rosto angelical.
— Paola, você está estranha! — analisou ela, segurando minha
mão com carinho.
A babá também notou minha agitação e se aproximou, lançando-
me um olhar inquisitivo.
— Está tudo bem, senhorita Paola? — indagou a babá com uma
expressão de preocupação.
Forcei um sorriso e assenti, tentando acalmar os meus próprios
nervos.
Enquanto entrávamos no carro, Liliana não conseguiu conter sua
curiosidade infantil.
— Por que o Simon não esperou para se despedir de mim? — Sua
questão veio num tom aborrecido.
O motorista, que até então permanecia em silêncio, olhou-nos pelo
retrovisor do para-brisa, mostrando interesse na pergunta da minha irmã.
Senti um calafrio e rapidamente conectei os pontos.
Lembrei-me do momento em que Simon cumprimentou o
motorista no restaurante mais cedo e a realidade começou a se desenrolar
diante dos meus olhos.
Desviando o olhar do motorista, desconversei habilmente e abracei
minha irmã com ternura.
— Liliana, querida, vamos conversar sobre isso depois, tudo bem?
— sugeri, tentando desviar a atenção da situação desconfortável.
Comecei a fazer perguntas a Liliana sobre sua noite no shopping,
ansiosa pela necessidade de desviar o foco daquela conversa delicada. Por
dentro, no entanto, eu sabia que precisava ser cautelosa e atenta aos olhares
e gestos ao meu redor, consciente de que cada movimento poderia revelar
mais do que eu estava disposta a admitir; e outra, estava no temor desse
encontro chegar ao conhecimento do tio Henry.
“Ele vai se chatear, com certeza!”
O toque do meu celular tirou-me dos meus devaneios, era uma
mensagem da Mila dizendo que precisávamos nos encontrar para um bom
bate-papo.

Paola: Vamos deixar marcado para amanhã à noite, Mila.

Digitei a mensagem pensando que seria bom espairecer a minha


cabeça.

***

A lua brilhava no céu, lançando seu manto de estrelas sobre a


mansão Fisher Island do tio Henry, criando uma noite agradável. Mas meu
humor mudou rapidamente quando percebi que o carro de Charlotte estava
estacionado em frente à mansão.
“Que saco!”
Não queria de jeito nenhum encontrar aquela mulher.
Assim que o carro em que estávamos entrou na garagem, a imensa
porta social se abriu e por ela surgiu a víbora. Ela estava estonteante, tinha
que admitir, envolta em dourado, suas joias reluziam na noite, destacando-
se em seu vestido de gala exagerado. Era óbvio que aquele traje só
combinava com eventos de alto padrão. Lembrei-me de que o tio havia ido
para um casamento e concluí que Charlotte também estivera lá. Seu olhar
esnobe, ao perceber que eu estava dentro do carro, não passou
despercebido.
Liliana desceu primeiro do carro.
— Charlotte! — disse Liliana, toda animada.
A nojenta abriu os braços para recebê-la, dando um abraço forçado
na minha irmãzinha, a falsidade daquela mulherzinha era nítida.
— Oi, Liliana. Como foi sua noite no shopping? — perguntou a
pérfida em seu repelente e irritante sorriso forçado.
— Foi incrível! Nós encontramos o amigo do tio Henry, o Simon, e
ele até tomou lanche conosco! — exclamou Liliana, empolgada.
De imediato o olhar de Charlotte recaiu sobre mim, causando-me
um calafrio.
— Que interessante — disse entredentes. — Acabamos de chegar
do casamento, tenho certeza de que Henry ficará muito feliz quando souber
que encontrou o "melhor amigo" dele no shopping e que ele fez companhia
a vocês no lanche. — A cascavel, destilando seu veneno, me tirou do sério,
mas não houve tempo de me manifestar.
Liliana não percebeu o tom sarcástico de Charlotte e assentiu
animadamente.
— Claro! Vou contar a ele agora mesmo!
Eu fazia um esforço descomunal para não dar na cara lambida dela.
E não queria causar um escândalo na frente de Liliana.
— Como pode ser tão sem-noção — a repreendi e Charlotte abriu
as mãos e a cara de pau sinalizava tipo: “Do que você está falando?”.
Tive que conter a vontade de repreendê-la duramente, não valia a
pena com a Liliana presente.
— Charlotte, acho que você deveria se preocupar mais com seus
próprios assuntos, não acha? — Joguei com tom de animosidade para
poupar minha irmã do contratempo.
Na maior arrogância, ela se aproximou de mim, ficou frente a
frente comigo e sorriu diabolicamente antes de dizer:
— Boa sorte com o titio Henry.
E saiu toda pomposa em direção ao seu carro. Nesse momento, um
de seus saltos finos ficou preso em uma rachadura no concreto e ela tentou
continuar andando sem perceber, fazendo um movimento cômico e
desengonçado. De repente, ouviu-se um estalo alto e lá estava Charlotte,
equilibrando-se com um salto quebrado.
— Inferno! — praguejou nervosa, tentando manter a pose
caminhando em direção ao carro, ou seja, mancando. Mas a cena era tão
ridícula, que Liliana soltou uma gargalhada contagiante. Eu me segurei,
mas logo estava rindo também, até a Maria caiu no riso.
— Não estou vendo graça nenhuma. — Ela ainda não baixou a
guarda nas palavras, diferentes do seu estado. A filha da puta estava
vermelha de raiva e frustração, tentando manter alguma dignidade enquanto
mancava até o seu carro com o salto quebrado balançando
descontroladamente, desiquilibrada como ela era.
“Aqui se faz, aqui se paga, sua vagabunda!”, pensei quando queria
gritar para todos ouvirem. Mas repudiar em cima de alguém que estava
sendo humilhado não era do meu perfil.

***

Cruzando a grande e imponente porta de entrada, fomos atingidas


pelo cheiro de cigarro e álcool, uma combinação que me fez relembrar meu
passado como garçonete em um bar e naquele instante, compreendia a
intenção da mau-caráter Charlotte. Tio Henry estava jogado sobre o sofá em
frente à lareira, ainda vestido com o terno, fumando e visivelmente
alcoolizado. E Abigail, sua esposa, tentando levá-lo para a cama.
— Não me torre a paciência, mulher! — gritava ele e, ao nos ver,
tio Henry se levantou com dificuldade, falando com a língua presa e
enrolada, claramente embriagado. — Meninas! Que bom que chegaram! —
disse ele com dificuldade para se expressar.
Seus olhos estavam arregalados e ele parecia confuso e chegou
muito próximo, exalando um hálito fortíssimo de álcool, que se espalhava
pelo ambiente. Meu estômago embrulhou de uma forma que me deu até
ânsia de vômito.
— Henry, por favor, vamos para o quarto! — A pobre Abigail,
preocupada com a Liliana, implorava com a voz apavorada.
Tio Henry se virou para ela, com os olhos injetados de raiva, e
gritou:
— Quem você pensa que é para me dizer o que fazer, sua
insolente?!
Abigail se encolheu diante de sua ira, sentindo-se impotente e
pequena.
Peguei Liliana pela mão e a levava em direção às escadas, mas Tio
Henry chamou.
— Não subam antes da minha riqueza, a minha joia rara me dar um
abraço de boa noite. — Tio Henry cambaleava em nossa direção, deu uma
forte tragada no cigarro, em seguida ele se inclinou abraçando Liliana,
soltando fumaça bem rente aos nossos rostos, obrigando-nos a inalar.
Liliana, toda inocente, comentou sobre o Simon:
— Tio Henry, encontramos o seu melhor amigo, o Simon. Ele até
tomou lanche conosco! — disse Liliana, radiante.
Henry, furioso, disse:
— Não tenho amigos com esse nome, Liliana! Conheço um
bandido que quer roubar minha eleição para presidente, mas ele não vai
conseguir! NÃO VAI CONSEGUIR... — meu tio começou a gritar fora de
si, agindo como os bêbados do bar, estúpido e grosseiro.
Naquela gritaria, ele deixou o cigarro cair no tapete, que
rapidamente começou a pegar fogo. O cheiro de queimado misturado com o
odor de álcool tornou o ambiente ainda mais sufocante.
— Meu Deus, o carpete está pegando fogo! — exclamei, alarmada.
Tio Henry, em sua embriaguez, tentou apagar o fogo com as mãos
trêmulas, mas acabou escorregando e caindo de bunda no chão. Abigail
soltou um grito de desespero, chamando os empregados que rapidamente
vieram em socorro e tentavam conter as chamas com um extintor.
— Cuidado, Henry! — gritou Abigail, enquanto se apressava para
ajudá-lo.
A cena era caótica e surreal. Tio Henry, bêbado e ambíguo, tentava
se levantar enquanto o fogo se espalhava pelo tapete persa supercaro,
criando uma situação ainda mais tensa. Eu me sentia impotente diante
daquela situação, sem saber como agir.
— Tio, por favor, deixe-me ajudar! — implorei, correndo para
pegar um pano para tentar abafar as chamas.
Finalmente, com a ajuda de Abigail e funcionários, conseguimos
extinguir o fogo, mas o estrago já estava feito. O tapete persa com preço das
mais caras obras de arte, estava chamuscado e o clima tenso pairava no ar,
tornando a noite ainda mais angustiante.
Liliana, assustada com o tumulto, agarrou-se a mim com força
enquanto tio Henry, ainda no chão, olhava para nós com uma mistura de
vergonha e irritação.
— Desculpe por isso, meninas. Não sei o que deu em mim... —
murmurou ele.
Olhei-o com compaixão, ciente de que aquela não era a sua
verdadeira essência, mas sim, uma versão distorcida causada pelo álcool.
Assenti com a cabeça apenas e peguei na mão da minha irmã, a conduzindo
em direção as escadas, tentando ao máximo protegê-la daquela conjuntura
desordenada.
Entramos no quarto dela e a fumaça do cigarro não afetou minha
irmãzinha asmática, mas a mim, “putaquepariu!”, me atingiu em cheio,
ocasionando uma crise de tosse, falta de ar e chiado no peito.
— Paola, você está doente? — perguntou segurando minha mão,
com seus olhos assustadíssimos, fixos nos meus. Apertava meu coração
assistir ao seu desespero. Ela não tinha idade para essa excessiva
preocupação.
— Já, já, eu melhoro, amor — garanti entre uma tossida e outra.
Não convencida, seus braços abraçaram a minha cintura tentando me
confortar.
— Eu tenho minha bombinha de asma, Paola. Você quer usar? —
ofereceu, com seus olhinhos transbordando preocupação.
— Não, querida! — respondi entre tosses, sentindo minhas costelas
doerem. — Não é asma, deve ser apenas uma alergia à fumaça do cigarro.
Agravou, me obrigando a correr para o banheiro, e me joguei
debaixo do chuveiro, roupa e tudo, acreditando que o causador era o cheiro
impregnado na minha pele e roupa.
— Vou no seu quarto buscar uma camisola pra você, Paola —
avisou ela e tão carinhosinha saiu do banheiro.
Não mais que um minuto, minha princesinha retornou com uma
camisola curta, branca, eu já estava me secando e recuperada da tosse. Mas,
ainda assim, com a musculatura rígida. Voltamos ao quarto e me acomodei
nos pés da sua cama, sentia fadiga extrema, até minha energia dissipou.
Liliana pegou minha mão, ajudando-me a levantar e nos deitamos
nos travesseiros macios.
Deitadas de lado, uma de frente para a outra, a princesa carinhosa
começou a acariciar o meu rosto com sua mãozinha delicada e quente. Sua
ternura era reconfortante, mas eu sabia que precisava encontrar as palavras
certas para acalmar seus temores.
— Obrigada pela sua ajuda, graças a você eu estou melhor. —
Beijei sua testa, mas seu semblante seguia perturbado e logo descobri o
motivo.
— Por que o tio Henry estava tão nervoso, Paola?
Engoli em seco, tentando encontrar uma maneira suave de explicar
a situação para a minha irmãzinha.
— Não se preocupe, linda. O tio Henry só estava um pouco
confuso porque... porque ele bebeu um pouco demais — respondi, tentando
minimizar a gravidade da situação.
Liliana franziu a testa, ainda sem entender completamente e
murmurou com um tom aflito:
— Eu estou com medo dele. Você me leva para morar com você?
Meu coração apertou ao ouvir suas palavras:
— Vem aqui, meu amor. — Eu a abracei com força, tentando
transmitir todo o meu amor e proteção. — Não precisa ter medo, minha
princesinha. E assim que for possível, vou te levar para morar comigo.
Nunca mais iremos nos separar, estaremos sempre juntas. Eu prometo! —
sussurrei, beijando de novo a sua testinha e sentindo as lágrimas se
acumularem nos meus olhos.
Ficamos ali, abraçadas por um longo tempo, compartilhando o
calor e a segurança mútua. Logo, a exaustão se abateu sobre nós, e
acabamos adormecendo, cercadas pela fragrância reconfortante dos
travesseiros.
CAPÍTULO 15

SIMON

O frenesi das ruas movimentadas de Miami estava dentro de mim,


assim podia classificar meu coração, assemelhando-se a uma tempestade
em decorrência dos meus devaneios. Paola me assombrava como um
fantasma sedutor, com aquele jeito todo especial, aquele olhar que me
hipnotizava.
Não conseguia esquecer aquela boceta apertada, quente e molhada!
Cada lembrança dela nos meus braços causava um furor, inclusive dentro da
minha calça. Cada sorriso, cada toque. Seu perfume envolvia minha roupa,
o carro, o ar, tornando tudo ainda mais envolvente, e sabia o quanto estava
errado em permitir aquilo tudo fluir.
— Estou fodido! — praguejei, irritado com minha distração.
Aumentei o ar-condicionado, tentando controlar a temperatura. Meu pau
estava tão duro que mal cabia na calça.
Sua presença trazia prazeres além dos carnais; a luz que ela trazia à
minha escuridão com seus raios dourados, como o sol, beirava ao surreal.
Era irresistível, viciante. Eu me via cada vez mais mergulhado nesse
turbilhão de emoções, sem encontrar uma saída clara. E isso era perigoso,
ameaçava meus planos de escorrerem ralo abaixo.
— Eu preciso manter o controle, focar nos meus objetivos —
murmurei para mim mesmo, tentando me trazer de volta à realidade. Eu
precisava, sim, dela, mas para a concretização dos meus planos; e por essa
razão era imprescindível afastar a emoção da razão.
Em mais alguns minutos, acessei a Star Island, a ilha artificial
privada em Biscayne Bay, conhecida por suas propriedades ultraluxuosas,
habitadas por celebridades e magnatas.
— Boa noite, senhor Costello. — O segurança saiu para fora da
guarita para me cumprimentar e eu acenei com a mão.
Dezenas de outros seguranças invisíveis caminhavam comigo para
todo lugar, gostava assim, segurança discreta. Entrei com o carro na
garagem da impressionante mansão refletindo luxo e grandiosidade. A
propriedade era toda rodeada por um jardim impecável com direito a fontes
de água e estátuas clássicas. Grandes janelas de vidro emolduradas por
molduras elegantes, que permitiam a entrada abundante de luz natural e o
toque final da sofisticação estava nas imponentes colunas de mármores
decorando a ampla varanda.
Entrei sem me deparar com funcionários. Na verdade, concedi
férias a quase todos. Só mantive a cozinheira, e em horário comercial,
gostava do silêncio.
Fui direto para o quarto, no segundo andar da casa. A vista era de
tirar o fôlego, com janelas amplas que mostravam o horizonte reluzente de
Miami à noite. Cada móvel e detalhe refletia o luxo e o requinte. Uma
ducha parecia essencial para afastar a perturbação. No banheiro, a água
gelada não era suficiente para acalmar o meu corpo em chamas de desejo
por Paola, resultando numa ereção eterna.
— Adoro quando você está molhado, querido. — De repente, fui
surpreendido com a Charlote em frente à porta do banheiro.
Bufei em desaprovação ao meu descuido, pois me esquecia de que
a mulher tinha autorização de entrada direta na casa, possuía até uma chave
que eu precisava recolher.
— O que você quer aqui, Charlotte? — perguntei fechando o
registro do chuveiro. Seus olhos fixos em meu pênis subiram devagar, fez
uma pausa no meu peitoral e só então me encarou. — Eu te fiz uma
pergunta?
A atmosfera mudou completamente com minha questão.
— Por que você está dando atenção a essas pessoas, Simon? — Ela
avançou em minha direção com os olhos faiscando de raiva.
— Do que você está falando? — Fui para o closet e ela veio atrás
de mim. Vesti uma calça de moletom cinza.
— O que pretende com essa Paola e aquela irmãzinha irritante
dela? — ela disparou.
Minha irritação cresceu.
— Eu não devo satisfações a ninguém, especialmente para você,
Charlotte — respondi, tentando manter a calma.
Ela começou a chorar, apelando para as minhas emoções.
— Eu sinto falta do antigo Simon, aquele que me fez tantas
promessas, até de casamento. Por que você mudou tanto? Por que está me
tratando assim? — ela lamentou.
Revirei os olhos, impaciente.
— Eu acho que já lhe falei que as minhas prioridades mudaram,
Charlotte. Eu não sou o Simon de antes. Esse Simon aqui, diante de você,
não é manipulável como você gostaria — expliquei, esperando que ela
finalmente entendesse.
— Por favor, Simon. — Ela segurou o meu pescoço com
desespero. — Não me vire as costas. Eu te amo! — implorou.
Mas eu estava irredutível.
— Você precisa sair daqui, Charlotte. Agora — disse firme.
Ela continuou insistindo, ameaçando:
— Se pensa que pode me descartar, está equivocado. Eu vou fazer
o que for preciso para ficar ao seu lado.
— Esse seu tipo de jogo já é manjado, Charlotte. Você precisa ir
embora. Nesse instante! — reforcei sem ela desistir.
Continuou insistindo, ameaçando e pontuando suas ações, mas eu
não me deixei abalar.
— E isso inclui eliminar qualquer obstáculo, até mesmo a
insignificante Paola — ela emendou.
O azar dela é que eu não costumava ceder às ameaças. Prendi seu
queixo entre os meus dedos, a olhando no fundo dos seus olhos, curioso
para saber até onde ela iria.
— Não seria tão tola! Mexer com a sobrinha querida de Henry
Paterson é o mesmo que cutucar um vespeiro — desafiei.
— E nem vou precisar sujar as minhas mãos, Simon — começou
com arrogância. Eu só ouvia atento, curioso para o desenvolvimento do seu
raciocínio. — O próprio tio Henry vai tomar as providências quando souber
que a sobrinha queridinha dele é uma traidora. Está mancomunada com o
seu maior rival para derrotá-lo.
— Nossa, isso é o que podemos chamar de teoria da conspiração
— ironizei.
Ela riu de puro triunfo.
— Eu não sou idiota. Você já conhecia a Paola de outros carnavais,
eu sei. Naquele dia do evento eu percebi o olhar entre vocês dois.
De saco cheio, peguei seu braço.
— Vem comigo. — E a levei para fora do quarto. A guiava rumo à
saída e ela protestava.
— Desculpa, querido, desculpa! — ela implorava. — Eu não
queria dizer nada disso, me perdoa.
Abri a porta.
— Tchau, Charlotte — disse, fechando-a com sua insistência
tentando retornar.
Depois de fechar a porta, ainda pude ouvir suas últimas tentativas
de manipulação:
— Eu conheço as fraquezas do meu primo Henry, sou o melhor
caminho para você o vencer nas eleições — persistiu ela e se exaltou do
outro lado da porta com a minha falta de interesse. — AINDA VAI ME
PEDIR DESCULPAS DE JOELHOS, SEU INGRATO!
“É mais fácil eu morrer do que eu me ajoelhar para alguém”,
pensei deixando escapar uma risada amarga. Era irônico como Paola
conseguia me tirar do controle mesmo à distância. Ela estava me mudando,
até reencontrá-la ninguém havia me colocado de quatro como ela fazia.
Respirei fundo e retornei ao quarto.
Exausto, me joguei de bruços na cama e logo adormeci.
***

Na manhã seguinte acordei com os raios solares atravessando o


vão da cortina da porta da sacada, banhando o quarto em uma luz suave e
dourada. Paola insistia em minha mente, mas não da forma como deveria.
Ela era apenas uma peça em meu jogo de xadrez, parte de meus planos,
mas, ainda assim, uma avalanche em meu coração, fazia-o pulsar com a
mesma intensidade que meu pau endurecido.
Depois de um banho rápido, escolhi um terno cinza claro e fui
imediatamente para a Energia Solaris Inc. Eu precisava confirmar as
assinaturas de todos os contratos e garantir que tudo estivesse em ordem.
Ao chegar à empresa, cumprimentei a minha secretária em voz
alta:
— Bom dia, senhorita Miller.
Ela respondeu com um sorriso:
— Bom dia, Sr. Costello. Tenho alguns recados para o senhor...
Interrompi, fazendo um gesto com a mão.
— Agora não é hora para isso. Tenho um assunto de extrema
urgência e importância para tratar. Qualquer outro assunto pode esperar até
que eu resolva isso.
Enquanto estava ocupado em meu escritório, ouvi vozes
masculinas na sala da minha secretária e reconheci a voz do senador.
— Henry Paterson — murmurei e, para me certificar, empurrei
minha cadeira, ajustei a gravata e me aproximei da janela. A avenida lá
embaixo estava bloqueada com carros pretos e vidros lacrados, toda a
segurança necessária para um senador nos Estados Unidos. Um sorriso de
satisfação surgiu em meus lábios, mas fui interrompido pelo telefone, que
tocou.
Antes que eu pudesse atender, ouvi uma confusão vindo da sala da
secretária.
— Senhor Paterson, por favor, não posso deixá-lo entrar sem aviso
prévio! — disse Isa, tentando bloquear a entrada.
— Senhorita, eu não preciso ser anunciado. E vou entrar com ou
sem sua permissão — grunhiu Henry, mostrando-se indignado.
Voltei a cadeira e ajeitei a gravata, aguardando ansioso pelo
confronto iminente com meu rival. A porta se abriu e surgiu Henry Paterson
usando um terno preto, acompanhado de seu exército de seguranças. Isa
Miller tentava se explicar atrás dele, mas Henry entrou falando
rispidamente em sua forma característica:
— Fiz questão de vir pessoalmente para te dar um aviso, Simon
Costello! — Henry disparou, avançando em minha direção com um olhar
furioso. Seus punhos estavam cerrados, indicando sua irritação.
Ri debochadamente, cínico, mas minha expressão estava séria. Os
cantos da minha boca ergueram-se em um sorriso sarcástico, pensando na
sobrinha dele.
— E que aviso seria esse, Henry Paterson? — perguntei,
desafiador, levantando uma sobrancelha diante da sua bravata.
Henry ficou sério, seu olhar penetrante denunciava sua fúria.
— Fica bem longe da minha sobrinha ou tomarei providências.
— Mesmo? — Cruzei meus braços na altura do meu peito, o
olhando com olhos estreitos. — E que providências seriam essas?
— Não vou dizer a você, Simon, mas esteja certo de que estou
disposto a qualquer coisa para mantê-lo longe da minha família.
Mantive meu semblante confiante, erguendo-me levemente da
cadeira com as mãos apoiadas na mesa.
— Se era somente isso, o seu aviso foi dado, agora pode sair —
ordenei incisivamente, o irritando.
— Está me mandando embora porque é um fracote para debater
com o oponente, vai levar uma lavada nas urnas.
— Bem, a pauta quando entrou aqui era um aviso sobre sua
sobrinha, mas já que entrou no campo político, saiba, Henry, que você não
tem a menor chance. Eu vou governar esta nação — respondi com firmeza.
Meu tom de voz era carregado de confiança.
Henry sentiu a ameaça, seu rosto mostrava preocupação, mas ele
tentou disfarçar com um sorriso irônico.
— Não sonhe alto demais, Simon. Você jamais me vencerá nas
urnas.
Eu sorri com arrogância, minha postura ereta e os olhos exalando
segurança.
— Sou popular, sou a inovação e você sabe muito bem disso.
Henry fez uma pausa, seu olhar passando por mim antes de dizer:
— Espero que a sua segurança esteja garantida, especialmente para
aquelas pessoas que você ama — finalizou com sua expressão tornando-se
sombria.
Franzi os olhos diante daquela ameaça estendida. Normalmente eu
não me preocuparia, exceto...
Pausei com o meu raciocínio porque meus neurônios começaram a
fazer a conta. Suas palavras carregavam um peso maior do que um simples
aviso. Havia uma sugestão, algo sutil e sinistro. Minha mente começou a
formular diversas possibilidades, cada uma mais preocupante do que a
anterior.
— E a sua segurança está garantida, Henry Paterson? — Voltei a
me sentar, batendo levemente os dedos na mesa com firmeza, mostrando
meu poder. Ele apenas suspirou forte. — Não tem certeza, não é mesmo? —
zombei, tirando o senador do sério, que deu mais um passo à frente
bufando, e eu prossegui: — Você conhece minha força, Henry, por isso está
aqui agora. Acho que é hora de você ir embora. Tenho muito o que fazer ao
invés de ficar batendo boca, não tenho como aliviar seu medo de competir
comigo, sinto muito.
Henry se alterou, fechou os punhos e esmurrou a mesa. Eu ergui as
sobrancelhas e o aguardei, petulante, com meu olhar desafiador.
— É um homem muito atrevido, sabia?
— E seguro em tudo o que faço — pontuei. — Ao contrário de
você. E de novo, se de fato você não estivesse tão inseguro, Henry, estaria
ocupado com sua campanha — provoquei, mantendo-me inalterado.
Henry ficou furioso e fez uma forte ameaça, com seu rosto
vermelho de raiva:
— Não se atreva a se aproximar da Paola e da Liliana, Simon. Elas
são intocáveis para você!
Com um sorriso confiante, apenas acenei para Henry sair,
mantendo minha expressão serena, mesmo diante de sua ameaça, mas as
palavras daquele traste refletiam em minha mente:
“Espero que sua segurança esteja garantida, especialmente para
aquelas pessoas que você ama.”
Essa frase de cunho de ameaça se estendia além de mim e acendeu
em mim um sinal de alerta.
Meu celular tocou assim que a gangue de Henry Paterson deixou a
minha sala. Tranquei a porta e atendi.
— Simon? — Já me preparei ao ouvir aquele tom de voz soando
emergencial do outro lado da linha.
CAPÍTULO 16

PAOLA

O suave ronco de Liliana reverberou em meus ouvidos,


despertando-me lentamente. Ao abrir os olhos, fui recebida pela visão
reconfortante de minha amada irmã em um sono profundo em meus braços.
— Sua linda! — suspirando apaixonada, murmurei inaudível,
sentindo um misto de amor e saudade de casa.
Exeter era o meu verdadeiro lar, para onde eu levaria essa minha
fofa irmã para morar comigo. Fechei meus olhos e me lembrava dos latidos
dos meus cãezinhos brincando pelo apartamento. A lembrança provocou
uma onda de emoção que encheram meus olhos de lágrimas.
Com delicadeza, apertei Liliana, que dormia tão serenamente com
seus traços angelicais iluminados pelos primeiros raios de sol que
adentravam pela janela. Era uma cena tão bela e reconfortante que dava
mais certeza de que eu lutaria por ela, faria o possível e o impossível para
levá-la para morar comigo.
Ainda sentia as sequelas da fumaça do cigarro que o tio Henry
soprou em meu rosto. Agradeci imensamente a Deus por não ter afetado
Liliana.
O rosto másculo e divino de Simon povoou minha mente, suas
mãos poderosas e dominadoras, como ele todo, percorreu meu corpo como
se estivessem ali, naquele momento, deixando-me arrepiada.
Ao olhar o relógio veio um baita susto, já passava das nove da
manhã e havia prometido a Anah que ligaria às oito e meia.
— Caramba! — murmurei e, com cuidado para não acordar
Liliana, desembaracei-me de seus braços, levantei-me da cama e fui para o
meu quarto.

***
— Beijos enormes no coração de todos vocês. — Quase meia hora
depois e estava difícil encerrar a ligação, mas era necessário.
Apertei o celular entre as minhas mãos, sentindo um aperto no
peito. Meus olhos estavam marejados enquanto era torturada por uma carga
de emoções que tomavam conta de mim. A saudade de casa estava me
consumindo. Apenas ouvir as vozes, os latidos dos cãezinhos no fundo da
ligação, era pouco para aplacar a falta que eu sentia.
Prometi a mim mesma que, na primeira oportunidade, escaparia
para matar essa saudade. Meu coração ansiava pelo conforto de Exeter, pelo
calor da casa e pelas lembranças felizes que lá residiam. Ficar longe faltava
a maior parte de mim, e eu sabia que a única alternativa de preencher o
vazio seria retornando.
Tomei um banho relaxante e ainda assim me sentia fadigada e com
uma dificuldade de respirar, tomei os medicamentos. E desci para tomar o
café da manhã. Descendo os degraus, ouvi um choro baixo, quase
sufocante. Era a Abigail. Ela estava na sala, num canto ao lado da escada,
ainda vestida com a camisola sobre uma elegante capa floral. Meus pés
alcançaram o piso de mármore da sala e quando ela me viu, rapidamente
passou as mãos pelo rosto e tentou sorrir, disfarçando que estava chorando.
— Paola, me faz companhia no café da manhã? — perguntou ela
quase soluçando e me preocupando.
— Será um prazer — respondi e saímos pela ampla porta de vidro
que dava para a área gourmet.
À nossa frente, a área da piscina olímpica se estendia, cercada por
um jardim exuberante. A brisa matinal soprava suavemente enquanto nos
sentávamos em uma mesa perto da piscina, coberta por um elegante guarda-
sol.
— Nossa, só de olhar o colorido dessas frutas minha boca se enche
de água — comentei rindo, tentando trazer alívio para aquela mulher em
franco sofrimento. Mas era uma realidade, meus olhos brilhavam na fruteira
repleta de belas e suculentas frutas.
Peguei uma maçã e levei aos lábios, observando a tristeza de
Abigail, e ela falava assuntos triviais para disfarçar.
— Nessa época do ano as frutas são bem doces — disse enquanto
se acomodava na cadeira e se servia. — E esse clima está agradável, não
concorda? — Abigail suspirou, forçando um sorriso enquanto mexia o café.
Eu assenti, percebendo que ela estava tentando, mas fracassando,
em esconder seu desânimo.
— E tenho que chamar os jardineiros, o jardim precisa de alguns
reparos.
— Pare de querer se fazer de forte, Abigail. Estou aqui, pode
desabafar — eu a incentivei amorosamente.
Ela suspirou, parecendo aliviada com a oferta de apoio.
— A cena da noite passada foi terrível, Paola. A bebedeira, o
incidente do incêndio... envergonhou Henry e o deixou frio —
confidenciou, desviando o olhar. — Mas logo faremos as pazes, como
sempre fazemos após contratempos.
— Você é daqui de Miami mesmo? — perguntei com um sorriso
gentil, tentando iniciar uma conversa mais pessoal.
Ela hesitou antes de responder:
— Sou de Ohio — ela disse vagamente, evitando detalhes, me
colocando certa suspeita.
— Tem contato com sua família? — continuei tentando mostrar
empatia enquanto a observava afastar o olhar, sua expressão tensa
denunciava desconforto.
— Você está bem, Paola? — ela indagou, examinando-me
atentamente. — Estou te achando um pouco ofegante e pálida.
Passei as mãos pelo rosto, reflexiva. Abigail tinha razão; o efeito
persistia, tornando-se preocupante. Suspirei, decidindo aguardar um pouco
mais. Se o remédio não fizesse efeito, buscaria orientação médica para uma
avaliação e tratamento adequado.
— Acho que é alergia à fumaça do cigarro do tio Henry, ontem à
noite. Mas já tomei um antialérgico e logo melhora — expliquei. — Graças
a Deus, não afetou a Liliana — acrescentei erguendo as mãos em sinal de
agradecimento.
Abigail assentiu com um olhar compreensivo, mas seus olhos
denotavam inquietação.
— Seu tio perde a noção de tudo quando abusa do álcool — ela
admitiu. Seu olhar pesaroso refletia o nervosismo.
— Isso acontece com frequência? — Fiquei curiosa enquanto
levava minha mão sobre a dela, buscando confortá-la.
— E como está se saindo na política, Paola? — Ligeira, ela mudou
drasticamente de assunto e, em respeito à sua decisão, me retratei:
— Desculpa, eu não queria ser inconveniente.
Ela balançou a cabeça em negativa.
— Não, imagina! — respondeu rápido.
— Mas quero que saiba que, se precisar, pode contar comigo, tá
bom? — acrescentei com um tom acolhedor.
— Você é incrível, Paola. Liliana puxou muito de você — elogiou
Abigail, demonstrando gratidão.
Tio Henry chegou com sua comitiva de seguranças, interrompendo
nossa conversa. Ocupou a cadeira ao lado da esposa e se serviu do café da
manhã, com seus olhos fixos em mim. Com uma expressão culpada, tentou
se redimir:
— Paola, você estará livre das atividades da campanha na próxima
semana. Aproveite para viajar pela Flórida, conhecer melhor os pontos
turísticos. — Meu coração quase explodiu de alegria, aproveitaria a
oportunidade para ir a Exeter. — E em um pedido de desculpas, eu tenho
um presente para você. — Retirou uma caixa do bolso de dentro do paletó e
me entregou. Ao abrir, meu queixo caiu, quase se apoiava sobre a mesa com
aquele relógio de ouro, cravejado de diamantes.
— É magnífico, tio — agradeci emocionada por um presente
daqueles e pensando que era a cara da Mila. Valia uma fortuna!
— Era da sua avó e nada mais justo do que ficar com a neta mais
velha. Use-o, por favor.
Agradeci colocando a joia no meu braço, sentindo um misto de
gratidão e euforia. Pela generosidade do meu tio e, claro, pela oportunidade
de viajar para o meu lar.
— Viajarei amanhã cedo, pois hoje marquei de me encontrar à
noite com minha amiga, Mila, o senhor conheceu-a no evento. E vou
aproveitar o dia na piscina com a Liliana. — Enquanto falava, olhei para o
céu, analisando o lindo dia ensolarado.
Tio Henry, com um olhar animado, ponderou:
— Mila parece ser uma boa moça, é de pessoas boas que devemos
estar rodeados.
Concordei de imediato.
— Viajarei na manhã seguinte — reforcei.
Ele ficou satisfeito e falou sobre fazer um planejamento dos pontos
turísticos que eu deveria conhecer, tentando amenizar o clima tenso entre
nós e, nesse minuto, David Johnson, vestido impecavelmente de branco e
com os seus cabelos bem penteados, cruzou a porta da sala à área gourmet.
— Bom dia, pessoal! — cumprimentou a todos com um sorriso
enquanto eu observava de onde estava sentada.
David Johnson se aproximou e, de forma íntima demais para o meu
gosto, repousou a mão em minhas costas e me beijou na face, o que me
deixou desconfortável.
— David, que bom vê-lo! — disse tio Henry, convidando-o para se
sentar à mesa e tomar café conosco.
— Então, Henry, como foi a reunião? — perguntou David
enquanto mexia o café na xícara.
Henry, visivelmente pensativo, deu um gole na bebida antes de
responder:
— Acredito que produtiva, David. Discutimos os pontos
importantes, ficou tudo muito bem elucidado.
Em seguida, Henry entrou na conversa política e o assunto do
casamento entre mim e David veio à tona novamente. Ele falou sobre a
necessidade de estarmos todos em família, e detalhe: olhando para mim
com expectativa.
Decidi enfrentar meu tio de uma vez por todas:
— Na verdade, tio Henry, ainda não tenho uma opinião formada
sobre isso. Tenho assuntos pendentes em Exeter, que pretendo resolver
antes. Além disso, a Política não será o meu foco, e sim, a Medicina. Após
as eleições, pretendo seguir os meus próprios planos. — Já expus sem
“mimimi”, olhando firme para Henry enquanto desenvolvia minha opinião.
— E com a sua autorização, é claro, gostaria de levar a Liliana para morar
comigo.
— Paola, você está mesmo precisando de uma folga para colocar
as ideias no lugar. Mais do que nunca, é importante que você tire uma
semana de descanso e coloque juízo na sua cabeça. — Henry passou a mão
sobre a barba grisalha, visivelmente irritado.
David, surpreso com a sugestão, permaneceu em silêncio
observando a cena.
O confrontei com humildade.
— Eu reconheço quando as pessoas são boas para mim, e o senhor
deu a mim e a minha irmã o melhor. Então, eu ficarei ao seu lado até o final
das eleições. Mas, depois, pretendo retornar a Exeter para o meu curso de
medicina e, com a sua bênção, levar Liliana para morar comigo.
Ele pareceu refletir por um momento, com seu olhar perdido em
pensamentos antes de se fixar em mim novamente.
— Então está combinado, Paola. O importante é que esteja ao meu
lado até o fim das eleições. Tenho certeza de que, até lá, você estará
apaixonada pela Política e, sem dúvidas, pelo David também, optando por
ficar por conta própria. Mas, por enquanto, faça uma viagem, assim analisa
melhor seu futuro, e promissor! — Henry se voltou para David. — David,
acompanhe a Paola nessa viagem. Será uma ótima oportunidade para vocês
se conhecerem melhor. E minha sobrinha precisa de conselhos; você, como
é organizado, pode ajudar com isso — Henry concluiu, olhando para David
como se estivesse lhe dando uma missão.
Então, tio Henry se levantou abruptamente, chamou sua comitiva e
saiu, interrompendo nossa conversa. David não se despediu, apenas se
levantou e o acompanhou.
— Incrível o dom que Henry tem de organizar tudo ao modo dele!
— exclamou Abigail, sem tempo de dizer mais nada, pois Liliana surgiu na
área gourmet com a cara amassada e os cabelos desgrenhados, indicando
que acabara de acordar, mas seu sorriso era tão amplo que iluminava o
ambiente.
Eu fiquei satisfeita e já imaginava minha irmãzinha correndo pelo
meu apartamento, o Duck e a Luna latindo pelos quatro cantos, sentia uma
alegria imensa com a possibilidade.
— Por que você não me acordou, Paola? – perguntou fazendo um
biquinho.
— Ah, Liliana, eu queria que você descansasse mais um pouco.
Precisamos estar fortes para a disputa de natação na piscina!
A fofa vibrou graciosamente, começando a dançar de felicidade.
Ela correu para a porta.
— Que legal! Eu vou vestir o meu biquíni agora mesmo!
Eu sorri, vendo a empolgação da minha irmã.
— Tome o café da manhã primeiro! — eu disse, tentando disfarçar
minhas emoções. Mas Liliana estava tão animada que nem ouviu.
— Ela é uma fofura! — comentou Abigail enquanto Liliana
continuava sua jornada rumo à porta, deixando-nos sorrindo com sua
energia contagiante.
— É maravilhosa! — acrescentei com meu coração apertado
dentro do peito, vagando pelas lembranças dolorosas do passado. Pensava
na minha mãe, na oportunidade que ela perdeu de ver a filha linda, que ela
trouxe ao mundo, crescer.
Minha mãe perdeu tanto devido às drogas, fora abandonada pelo
namorado, morreu sozinha, e essa lembrança sempre trazia uma dor
profunda ao meu peito. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu
balancei a cabeça para dissipar essas memórias dolorosas. Eu sabia que
agora estava em uma nova fase da minha vida. Após as eleições e resolver a
dívida com meu tio, eu conduziria meu próprio caminho. E, em meus
planos, Liliana estava incluída.
“Eu não abrirei mão dela”, pensei e me levantei apressada e
caminhei rapidamente até o vestiário, o local onde várias roupas de banho
estavam à disposição.
Antes de abrir a porta, David me chamou, me virei e nesse minuto
me desequilibrei e levei a mão ao peito dele para não cair.
— Opa! — A mão dele segurou firme a minha cintura e ficamos
tão próximos que David suspirou preso em meus lábios, e expos sua
vontade. — Eu queria muito beijar você, Paola.
— Vai ficar querendo, David — respondi o empurrando para longe
de mim.
Com um olhar estranho, o inconveniente falou botando um sorriso
compreensivo nos lábios:
— Entendo que você esteja com ressalvas sobre o casamento,
Paola — começou ele com aquele sorriso presunçoso —, mas vai gostar,
afinal, eu sou um cavalheiro e farei de tudo para te fazer feliz.
Cética de que aquilo estivesse realmente acontecendo, revirei os
olhos diante da petulância dele e o encarei com firmeza.
— Eu não me casarei contigo — determinei sem titubear. Minha
voz sinalizava o desprezo, o que não lhe agradou.
— Por que não? — questionou ele autoritário, dando um passo à
frente.
— Não chegue perto de mim senão quiser levar uma joelhada nas
bolas! — Sem hesitar, acertei uma joelhada certeira em suas partes baixas, o
ajuizado recuou um passo. — Rapidamente eu entrei no vestiário, ouvindo-
o fazer ameaças de que eu iria me arrepender, que mulher alguma o
rejeitava.
Preferi ocultar o ocorrido e me concentrar no dia ao lado da minha
irmã.

***
Olhava para o meu reflexo no espelho enquanto escolhia uma
roupa, me recordava do David e um ódio daquele imbecil tomava conta de
mim. Mas sacudi a cabeça para dissipar o episódio com tio Henry e David,
afinal de contas, depois de tudo, eu e minha irmãzinha nos divertimos muito
na piscina. Foi um dia maravilhoso!
Escolhi um vestido curto e rodado, com bolso pelo lado de dentro e
sem mangas, misturando o chique com o casual. A bolsa e a sandália de
couro adicionavam um toque especial ao visual.
— O que acha, Liliana? — perguntei a ela, que estava sentada nos
pés da minha cama observando-me. Depois do dia divertido na piscina, ela
ficou grudada comigo e eu estava amando demais.
Liliana levantou os olhos, admirando o look.
— Ficou incrível, Paola! Você sempre arrasa. — Ela sorriu tão
amorosa e encorajadora, se levantou e veio me abraçar gostoso. Como eu
amava esses momentos de cumplicidade com ela.
— Deseje-me sorte! — Eu dei um estalado beijo em sua bochecha.
— Boa sorte, irmã! Você vai arrasar! — Liliana respondeu sorrindo
enquanto eu saía pela porta. Pelo caminho, liguei para a Mila no intuito de
marcarmos o local para nos encontrarmos.
— Pensei em um bar ótimo, localizado em Coral Gables, por estar
longe da agitação de Miami. O ambiente tem atmosfera exclusiva e
coquetéis elaborados, um lugar que atrai uma clientela mais discreta.
— Para mim está perfeito, Mila. Mande o endereço por mensagem
que vou chamar um táxi.
— Enviando agora — disse ela e encerrou a ligação.

***

O vento fresco batia contra o meu rosto enquanto as luzes da


cidade passavam rapidamente pela janela do carro. O taxista chegou rápido
em Coral Gables, uma área residencial elegante e tranquila. Ao chegarmos
perto do bar, um furgão preto atrás de nós começou a acelerar, impedindo o
motorista do táxi de parar em frente ao estabelecimento. Ele então avançou
alguns metros, na parte mais escura e estacionou, permitindo que eu
descesse.
— Povo impaciente! — reclamou o motorista.
— Obrigada — agradeci, observando o táxi virar na primeira
esquina. Percebi o furgão dando ré. Meu coração começou a bater
descompassado quando percebi que algo estava errado, parecia estar
revivendo o episódio de quatro anos atrás.
— CARAMBA, DEVE SER POR CAUSA DESSE RELÓGIO
CARO! — Meu grito ecoou pela noite e eu acelerei meus passos, tremendo
de medo.
Por sorte, um carro branco apareceu e ficou atrás do furgão. Corri
na direção do bar, rezando para chegar lá em segurança quando fui
surpreendida por uma mão segurando meu braço.
— SOCORRO... — achei que gritava, mas a minha voz saiu em
um sussurro trêmulo com meus olhos arregalados de puro pavor.
Aquele homem enorme, com a cabeça coberta, me puxava pela
calçada, entrando comigo em uma esquina. Eu me sentia como uma boneca
de pano sendo manobrada por mãos invisíveis, incapaz de resistir.
— Continue correndo! — ordenou aquela voz familiar, me
conduzindo até um sedã estacionado.
— Simon? — perguntei com o coração batendo desacertado e
tremendo de medo.
Ele não respondeu, apenas me empurrou para dentro do carro.
Assim que entrou, tirou o gorro e fechou a porta.
— Eu mesmo — disse Simon, firme enquanto ligava o carro.
— Por que está aqui? Por que está usando um gorro? O que está
acontecendo? — Minha voz tremia de medo.
— Precisamos sair daqui, urgentemente — disse ele com a voz
cortante como um punhal.
Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver alguns homens virando
a esquina. Eu estava sendo arrastada para um pesadelo, sem saber se
conseguiria acordar. A incerteza do destino me consumia, mas não havia
nada que eu pudesse fazer agora, a não ser confiar em Simon e esperar pelo
melhor.
— Coloque o cinto de segurança — mandou ele, dando ré e
virando com tudo na próxima esquina à direita.
Peguei meu celular para chamar a polícia, mas Simon falou
duramente:
— Se está ligando para a polícia, devo dizer que não vai adiantar...
— Então vou ligar para o meu tio — respondi desesperada.
— Está se arriscando. Esse sequestro pode ter o dedo de Henry
Paterson.
Entrei em choque com aquela informação.
— Sequestro? Do que você está falando?
— Apenas confie em mim — disse ele, se calando e pisando fundo
no acelerador.
O carro voava na pista e eu me encontrava ali, impotente, orando
silenciosamente por ajuda Divina. Precisava desesperadamente de uma
chance para sobreviver àquela noite aterrorizante.
Simon acessou a rodovia, pensando que estávamos seguros, mas o
furgão reapareceu atrás de nós. Ele afundou o pé no acelerador, mas o carro
acelerava em alta velocidade enquanto eu me sentia cada vez mais
aprisionada naquela situação desesperadora.
O furgão chegou mais perto, Simon pegou um atalho, mas o furgão
se manteve firme nos seguindo e obrigando Simon a fazer curvas bruscas
em esquinas e saltando sobre lombadas, lançando meu corpo de um lado
para o outro. Eu cerrava os olhos com força, em pânico, e muitos momentos
traumáticos da minha infância inundaram o meu ser. Lembrei-me das
situações difíceis em que minha mãe me envolvia, das pessoas ameaçadoras
que ela trazia em casa, dos momentos de medo que eu tanto tentava
esquecer. E ali, em meio ao desespero, eu sentia novamente o mesmo pavor,
mas agora em uma escala muito maior.
Após um tempo que pareceu uma eternidade, finalmente parecia
que Simon havia despistado o furgão. A calmaria me fez observar à minha
frente, via a pista iluminada pelo farol do carro enquanto o manto de
estrelas cobria o céu noturno. O murmúrio da natureza ao redor chegou em
meus ouvidos, o cheiro de vegetação invadiu minhas narinas.
— Você está bem, Paola? — A voz dele repercutiu como um trovão
ensurdecedor e me trouxe de volta à realidade.
— Para onde está me levando? — perguntei com minha voz
trêmula de medo.
— Não pensei nisso ainda! Estive ocupado tentando nos salvar —
disse ele e a tensão no ar era quase palpável.
— Por que acha que são sequestradores e não assaltantes? E como
você apareceu do nada, Simon? — Milhões de questionamentos
perambulavam por minha cabeça. Estava confusa, assustada! Estava certa
de que esse homem misterioso estava escondendo algo obscuro por trás de
sua fachada.
— São milhões de motivos. — Novamente, o tom ameaçador em
sua voz me fez estremecer.
Mas eu estava decidida a não permanecer ali indefesa, tentei abrir a
porta do carro, mas descobri que estava trancada, ele controlava as trancas
em algum lugar embaixo do volante.
— Simon, você não tem o direito de me manter presa nesse carro,
abre a porta que vou descer. — Minha voz saía desesperada, mas ele
permanecia impassível.
— Descer não é uma opção — me respondeu. Sua voz firme
refletia pelo carro enquanto seus olhos me observavam de lado.
— Então vamos direto para uma delegacia de polícia! — sugeri,
sem ver outra saída.
— Antes, precisamos descobrir o que está acontecendo —
anunciou ele, reforçando sua desconfiança em relação à polícia e sacou uma
arma da cintura e engatilhou, eu congelei.
— Você está armado? — balbuciei com meu coração batendo a
mil, ele dirigia com as duas mãos e o revólver ali, em prontidão.
— Não pode me manter presa nesse carro, abre a porta que vou
descer — insistia. Não me importava com o lugar deserto, os perigos ao
redor daquele. Tinha comigo que nada era mais perigoso do que ele.
Então, um forte impacto atingiu o carro e interrompeu meu
raciocínio.
— Isso foi um tiro? — escapou dos meus lábios e logo outra bala
acertou o carro, fazendo-o balançar.
— CARALHO! — praguejou Simon. Seus olhos sinistros fitavam
o retrovisor enquanto pisava fundo no acelerador. — Estamos seguros, o
carro é blindado — garantiu ele, eu olhei para trás e vi o furgão e outro
carro, também preto, nos seguindo. Desta vez, havia um homem com a
cabeça para fora da janela do furgão com arma em punho e disparando
contra nós, percebi que estavam com silenciador. — Tire o relógio do pulso,
agora.
— Por quê?
— Faça logo o que mandei — vociferou e eu, claro, diante da
circunstância, obedeci sem pestanejar e o entreguei. Simon lançou a joia
pela janela.
Eu mal estava conseguindo respirar de tanto nervosismo.
Sentindo o medo tomar conta de mim, eu lutava para encontrar
uma saída, mas estava presa naquele carro, à mercê de Simon e dos perigos
que me cercavam. E assim, enquanto as luzes da cidade se afastavam, eu
me via cada vez mais mergulhada em um pesadelo do qual não sabia se
conseguiria escapar.
O medo tomava conta de mim, meu corpo tenso, minha mente em
turbilhão. Então, o carro passou sobre uma lombada ou algo semelhante,
senti meu corpo se projetar e, nesse instante, senti um forte impacto na
cabeça e uma escuridão envolveu-me por completo.

***
Ouvia o som de água ao meu redor, como se estivesse mergulhada
nas profundezas de um oceano, sufocada pela escuridão. Sombras
envolviam minha consciência, sem entender como ou por que eu estava ali.
Em meio ao desespero, lutava para encontrar uma luz que me guiasse de
volta à superfície. Finalmente emergi desse estado de torpor e abri os meus
olhos. Em vez de água, respirei o ar fresco e revigorante. Estava deitada em
uma cama macia, em um lugar desconhecido. A janela em estilo colonial
vibrava ao vento, e o som da água era a chuva torrencial lá de fora.
Minha visão vagou ao redor do ambiente, absorvendo cada detalhe,
ali havia apenas uma cama, uma cômoda com algumas gavetas, um frigobar
preto e um fogão de quatro bocas.
— Que lugar é esse? — perguntei a mim mesma num resmungo,
pois ainda estava sem forças para me mexer.
As paredes de madeiras escuras e os móveis simples conferiam ao
local um ar rústico, como a mesa redonda no canto do quarto com apenas
uma cadeira.
Uma brisa suave acariciava minha pele, trazendo consigo o doce
perfume das flores e um intrigante frescor de banho recente. Foi então que
ouvi o som do registro sendo fechado, meu coração disparou ao me virar na
cama para deparar com uma porta entreaberta, e dali escapava o sutil vapor.
Meus olhos se arregalaram ao ver Simon sair do banheiro apenas
enrolado na toalha na cintura.
— Você está bem? — perguntou com a voz rouca e grave, e aliado
ele todo, eu despertei totalmente.
Mas também quem resiste àquele seu porte grande e imponente?
O peitoral musculoso, a tatuagem que se estendia do ombro ao
braço recebia as gotas de água que escorriam dos seus cabelos molhados, o
volume marcante do seu pênis sob a toalha, cada detalhe desse homem me
encantava e me deixava sem fôlego. Mas logo me lembrei do que ocorreu,
da arma na mão dele.
Sobressaltada, sentei-me na cama e questionei:
— Aqui não é um hospital, muito menos a delegacia onde eu
deveria estar.
O homem simplesmente não respondeu, continuou com aqueles
enervantes olhos castanhos perambulando curiosos pelo meu corpo ali na
cama, e fixou nas minhas coxas. Desci meus olhos notando minhas pernas
totalmente expostas pelo vestido que subiu com o movimento brusco
quando me sentei.
Imediatamente, sua ereção marcou visivelmente na toalha. Inalei
muito ar e o prendi nos pulmões, da mesma forma como meu olhar ficou
preso naquele pau enorme marcando perfeitamente na toalha.
— Simon? — ele grunhiu e caminhou em direção à mesa de canto,
ignorando-me e aumentando minha irritação. Possessa, levantei-me e fui
atrás dele, sentindo arrepios pelo corpo com o rastro de seu banho fresco.
— Eu falei com você, por acaso está surdo?
Ele continuou de costas.
— Por que me trouxe para cá? Você me sequestrou, é isso, não é?
Bruscamente ele se virou de frente para mim, prendendo meu
queixo e puxando-me para perto dele. Arfei perante seu olhar escurecido e
demoníaco, emitindo ameaça, mas confesso que me sentia atraída por sua
presença grotesca. Estremeci quando seus olhos desceram até minha boca e
ele suspirou, dizendo entredentes, raivoso:
— Deveria era me agradecer por estar viva, garota!
— Agradecer? — debochei, grunhindo inconformada. — Eu achei
que fosse um assalto, você acusou meu tio de sequestrador, mas você
aparecer em meio ao caos soou suspeito demais...
— Tenho os meus contatos, e me informaram que você estava
sendo seguida.
Comecei a rir achando tudo aquilo inacreditável.
— Ah, sim! Todo mundo com os olhos sobre mim... — eu
ironizava, rindo cética. — Quem garante que tudo aquilo não foi um teatro,
melhor: uma cilada sua para pegar o meu tio. Está me usando para atrair seu
oponente, não foi isso?
Ele não respondeu.
— Se me trouxe para esse lugar é porque me sequestrou, Simon!
— afirmei com toda certeza desse mundo, e ele me fuzilou com seu olhar
severo, de causar medo.
CAPÍTULO 17

SIMON

Perambulando os olhos pela face meiga de Paola, sentindo a


maciez de sua pele sob os meus dedos e vendo seus lábios carnudos, que
eram um convite ao meu desejo, percebi o quanto queria protegê-la, tê-la
para mim. Naquele momento notei que, mesmo sempre estando no
comando, estava começando a entender o que era perder o controle dos
sentimentos.
— Não se tratou de assalto, e eu só dei uma força para você
sobreviver, Paola. Você não está em cativeiro, está livre para ir quando
quiser, mas esteja ciente de que, ao retornar para a civilização, poderá
morrer num piscar de olhos. — Soltando o seu queixo, me dirigi à cômoda.
Paola suspirou profundamente quando virei as costas para ela. Abri
a gaveta e percorri os olhos procurando algo para vestir.
— Está dizendo que meu tio está tentando me matar? — indagou,
ainda descrente.
Peguei uma calça de moletom cinza e me virei de frente para ela,
tirando a toalha e ficando nu. Seus olhos desceram para o meu pênis que
estava duro, era impossível manter a compostura com ela tão próxima. Seu
rosto corou por completo enquanto eu respondia:
— Exatamente isso que está me parecendo. — Seus olhos subiram
me encarando e ela engoliu seco, comigo sorrindo malicioso diante da
minha nudez enquanto eu vestia a calça.
— Absurdo isso...— ela contestou. — Preciso ligar para o tio
Henry, avisar o que está acontecendo. — Ela se virou e caminhou até o
móvel de apoio onde estava sua bolsa quando joguei a realidade sobre ela.
— Já parou para pensar que o seu tio querido, Henry Paterson,
pode ser o seu maior inimigo, Paola?
Ela parou na metade do caminho e respirou fundo, suas costas
subiram e desceram com sua respiração.
— Isso com certeza é uma mentira! — murmurou nitidamente
incerta e voltou-se de frente para mim. Percebi lágrimas enchendo seus
olhos, aquela realidade a abalava e não era pouco.
— Então, se acha que estou mentindo, vá em frente, pegue então o
seu celular — a desafiei com um aceno de cabeça para onde estava sua
bolsa — e avise para Henry Paterson o seu paradeiro. Vai, liga!
Ela abertamente hesitou e foi a minha oportunidade, me aproximei
dela, farejando o cheiro do seu medo e percebendo seu nervosismo com a
minha proximidade.
A encarei no fundo dos seus olhos.
— Eu falei que podia salvar você, Paola. Mas agora eu quero
salvar você daquilo que você não sabe.
Ela balançava a cabeça. Não se segurando, começou a chorar
totalmente perdida.
— Do que você está falando?
— Por algum motivo, e que eu pretendo descobrir qual, Henry
Paterson mandou sequestrar você e seguramente não era para protegê-la.
— Não. — Paola sacudia a cabeça, relutando em acreditar. — Era
um assalto, aquele relógio era caro pra caramba e...
— Precisava de dois carros para praticar um assalto, Paola? — a
lembrei.
Seus olhos arregalaram assustados, analisando minha acusação.
— O que está falando é um absurdo sem procedência. — Ainda
estava em dúvida.
— Sinto muito, mas não é absurdo, garota. Você não conhece
Henry Paterson.
— Está mentindo! — começou a rir como se eu tivesse contado
uma boa piada. — Confio mais no meu tio, que socorreu a mim e minha
irmã, do que em você, cara. Que é esse homem misterioso e com atitudes
obscuras, você estava armado no carro, por que anda armado? E quem é o
seu contato eficiente que o alertou para que aparecesse em um passe de
mágica?
Impaciente, prendi sua nuca obrigando-a a me encarar.
— Henry Paterson se esconde atrás da fachada generosa e
benevolente, ele é a verdadeira raposa em pele de cordeiro, manipulando a
todos ao seu redor para alcançar seus objetivos sombrios.
Irredutível em crer, ela continuava movendo a cabeça de um lado
para o outro.
— Se não confia em mim, então saia agora por aquela porta e vá se
encontrar com seu tio. Só esteja preparada para se arrepender depois —
blefei, é claro, jamais a deixaria à mercê daquele merda.
Sou um homem das trevas, mas, ainda assim, Henry Paterson
conseguia ser um monstro pior do que eu.
— A escolha é sua, mas saiba que se sair, vai ficar por sua conta e
risco — declarei, soltando-a e seguindo em busca de um pente para ajeitar
meus cabelos. Paola hesitou, permanecendo estática e respirando fundo, no
mesmo lugar. Seus seios inflavam a cada respiração profunda, despertando
um desejo irresistível de tê-los em minha boca.
Então ela baixou os olhos, como se estivesse decidindo o que fazer,
deu-me as costas e foi pegar sua bolsa, mas se atrapalhou e derrubou o
controle da TV e a tela se acendeu, revelando a seguinte manchete.
“Tiroteio à Beira do Lago: Quatro Mortos em Confronto Entre
Gangues.”
Os olhos castanhos de Paola se arregalaram diante da filmagem,
reconhecendo nossos perseguidores: Os dois carros que nos seguiam,
marcados visivelmente pelos projéteis em suas carrocerias. Manchas de
sangue podiam ser vistas nos bancos e no interior dos veículos. A cena
transmitia de fato uma sensação de caos e violência, destacando a gravidade
do confronto entre as gangues.
— V-você... os matou, Simon? — Sua voz saiu entrecortada
tamanho o seu desespero, então, amedrontada ela agarrou sua bolsa e saiu
correndo pela porta.
— Droga! — praguejei, correndo atrás dela. Ao sair, me deparei
com os fortes ventos daqui, ao sul de Miami, em um rancho nos arredores
da Reserva Natural Everglades. A chuva intensa encobria o horizonte, a
vegetação tombava sob a fúria do vento, e no céu, as nuvens carregadas
mandavam uma tempestade.
Paola era rápida, corria descalça na direção do lago e se
distanciava, a merda era que a região de pântanos e manguezais era muito
escorregadia e perigosa. A pé eu não alcançaria a tempo dela se aproximar
do perigo, então eu retornei e fui até o estábulo próximo, onde um cavalo já
estava selado, pois meus planos era cavalgar com ela quando a chuva
parasse.
Montei no cavalo cuja pelagem era negra e brilhante, e fui atrás
dela.
— Espera, Paola! — gritei ao vê-la correndo desesperadamente
para longe de mim e o perigo nítido, ela corria pela borda do lago, seus pés
afundando na grama úmida. — Se afasta do lago, Paola! — gritei
novamente, meu coração batendo forte no peito. Certamente a vegetação
espessa ao redor dela, e a chuva quase criando um manto não a deixavam
enxergar o risco. A área era habitada por crocodilos.
Meus gritos de alerta e o som dos cascos de um cavalo se
aproximando a fizeram olhar para trás.
— Se afasta do lago! — reforcei, cavalgando velozmente em sua
direção. Nossos olhos se encontraram por um breve instante, mas Paola não
teve tempo para reagir. Seu pé escorregou em uma raiz molhada e ela
perdeu o equilíbrio, caindo de cabeça no lago gelado.
A água a engoliu com um baque surdo, interrompendo seu grito de
surpresa. Ela emergiu rapidamente, tossindo e tentando se agarrar em algo
para se manter à tona. Desesperado, freei o cavalo subitamente ao ver a
cena, horrorizado ao testemunhar ela na água.
Saltei do cavalo e corri para a beira do lago, desesperado para
alcançá-la.
— SOCORRO! — Suas mãos se estenderam na minha direção e
antes que o pânico pudesse se instalar completamente, não hesitei e pulei na
água sem pensar duas vezes.
Nadei com destreza, alcancei-a e a agarrei firmemente, trazendo-a
de volta à superfície.
Ela me abraçou pelo pescoço, soluçando em meio às lágrimas.
— Simon — murmurava chorando e tremia de frio em meus
braços. Senti o choque do mergulho repentino e o frio da chuva penetrando
em sua pele. Com cuidado, a peguei no colo e a envolvi ainda mais em meu
abraço, tentando aquecê-la com o calor do meu corpo.
— Shhh, está tudo bem agora. Você está segura — murmurei,
acariciando seus cabelos molhados enquanto a chuva continuava a cair ao
nosso redor.
Abracei-a com mais cuidado, protegendo-a do frio da chuva.
— Vou cuidar de você. Não precisa ter medo. Eu estou aqui.
Sabia que precisava agir rápido para aquecê-la e evitar que ela
entrasse em hipotermia. A Levei para um lugar mais abrigado sob as
árvores. A coloquei sentada suavemente sobre o gramado e me sentei ao
lado dela.
— Vem aqui. — Puxei-a para o meu colo, ela se sentou sobre mim,
cruzando suas pernas ao meu redor. Nossos olhos se comunicavam e ali eu
tive a certeza de que nada nem ninguém era tão importante na minha vida
quanto ela. E por ela eu faria qualquer coisa. Com uma ternura que nem sei
de onde vinha, limpei as lágrimas de seu rosto e abracei suas costas, unindo
nossos peitos, a mantendo aquecida entre os meus braços enquanto os
pingos d'água nos envolviam.
— Está melhor? — sussurrei ao ouvido dela, sentindo-a estremecer
em meus braços.
— Eu não sei, Simon! — respondeu com voz embargada e
tremendo muito, ela se afastou o suficiente para conectar nossos olhares. —
Eu não sei de mais nada. — Balançava a cabeça negando e as lágrimas
rolando bochecha abaixo, eu apenas analisava-a com meu coração
implodindo por ela. — Um lado meu diz que você está me usando para
levar vantagem sobre o meu tio nas eleições, e eu deveria fugir de você,
ficar do lado do meu tio, eu deveria ter medo de você, mas não... Sinto uma
atração magnética, quanto mais eu tento resistir, ela me puxa na sua direção,
você me transmite uma falsa proteção, mas engraçado que eu preciso, não
sei explicar... — ela soluçou, me fazendo rir como um pateta. — A polícia
vai investigar e descobrir que você foi o assassino daqueles homens, é só
uma questão de tempo e eles chegam em você, Simon.
Ri da sua inocência.
— Garanto que isso não vai acontecer, Paola.
— Mas... mas...
Eu a interrompi.
— Falamos sobre o assunto em outro momento, tá bom?
Ela ria chorosa, descrente.
— Você é o diabo, não é?
Ri da sua questão:
— De fato, o meu mundo é o inferno — concordei, colocando seus
cabelos molhados atrás da orelha e beijei seus lábios arroxeados e frios com
suavidade, eles tremiam.
— Mas só me responda: Você matou aqueles homens, né? —
balbuciou em meus lábios com insegurança.
Moldei seu rosto entre minhas mãos, olhado no fundo de seus
olhos temerosos.
— Ou era eles ou você... Somente mortos aqueles caras desistiriam
da missão, entendeu?
Paola balançava a cabeça em negativa, alguns fios molhados
enroscaram em seu rosto.
— Quem é você de verdade, você é um assassino? — perguntou
tirando os fios do rosto e percebi as pontas dos seus dedos arroxeados.
— De vilões... — respondi rapidamente. — Vim de um mundo de
maldade, confesso. Tenho sangue em minhas mãos, mas isso não quer dizer
que eu seja uma pessoa má. Ou seja, em minhas mãos não tem sangue
inocente.
Paola engoliu duro e perguntou:
— O que você tem a ver com aquele sequestro na minha cidade?
— indagou batendo os dentes, o tremor de frio inclusive, nos lábios agora
azulados, era preocupante.
Inspirei profundamente, aquela sua pergunta de quatro anos atrás
tocou bem na ferida.
A tirei do meu colo.
— Precisa de um banho quente, vem. — Segurei em sua mão ainda
temendo um pouco e a levei até o cavalo.
Retornamos à cabana.
CAPÍTULO 18

PAOLA

Diante da porta da cabana, Simon desceu do cavalo e estendeu os


braços para que eu descesse. Hesitei.
Com os braços estendidos e seu rosto sendo molhado pelas gotas
da chuva intensa, meu coração batia descompassado. Meu corpo doía, a
fadiga estava insuportável, mas sobrepunha a ânsia que eu sentia por ele,
até minha alma clamava por esse homem, mas, ao mesmo tempo, um medo
profundo me consumia. Esse homem de gestos gentis era também um
assassino perigoso e imprevisível, e tentava me convencer de que o tio
Henry era tudo o que ele representava. Eu estava tão confusa...
“Tão confusa...”
— Temos que entrar, o tempo vai piorar. — O som de sua voz
rouca e grossa competiu com os trovões e raios que cortavam o céu, e a
chuva despencava implacável lá de cima. Não me restava outra opção senão
inclinar-me, aceitando sua ajuda para me descer do cavalo.
O homem me pegou com tanto jeito em seus braços, como se eu
fosse feita de porcelana frágil, e em seu colo me levou para dentro da
cabana. Seu peitoral forte, molhado pela chuva, pressionava contra o meu
corpo, fazendo arrepios descerem pela minha espinha. Suas mãos
deslizavam suavemente sobre minha pele, enviando ondas de calor por todo
o meu corpo, contrastando com o frio da tempestade lá fora.
— Precisamos nos aquecer, imediatamente — disse ele, me
levando em seu colo para o banheiro.
O ambiente estava impregnado com o aroma suave de sabonete,
criando uma sensação de frescor. Simon me colocou dentro do boxe, sem se
afastar muito de mim e ligou o chuveiro. A água morna caía sobre nós,
gerando uma atmosfera reconfortante e acolhedora. Suas mãos estavam ao
meu redor juntando nossos corpos. Aos poucos fui sendo aquecida pela
água e pela proximidade dele.
Respirávamos forte, com nossos corpos colados debaixo da água
do chuveiro. Eu tremia sentindo o corpo forte, tenso contra o meu. Essa
tensão era evidenciada dentro da sua calça de moletom, pressionando contra
o meu ventre.
“Meu Deus!” Havia milhões de questões, mas eu não conseguia
colocar para fora. As dúvidas eram massacradas pelas intensas e irresistíveis
sensações.
Eu não conseguia entender por que estava me permitindo esse
momento íntimo com ele, ou como poderia estar experimentando um prazer
tão forte. Também não resisti aos seus lábios procurando os meus para um
beijo. Nossas línguas se entrelaçavam, explorando cada canto da boca do
outro, esquentando ainda mais o clima. Ousado, mordendo meu lábio
inferior, ele introduziu sua língua em minha boca.
— Você me deixa louco, Paola — sussurrou entre os beijos
desesperados, sua voz carregada de desejo, que também era o meu.
Ansiosos para nos sentir mais, nossos corpos se pressionavam com
mais vigor, nossas mãos percorriam inquietas cada centímetro da pele um
do outro. Ele agarrou minhas nádegas com firmeza, apertando-me contra
ele enquanto sua ereção pulsava, exatamente como o meu coração
acelerado.
— Eu quero sentir você.
Enquanto seus lábios engoliam os meus, suas mãos ergueram meu
vestido com urgência, rasgando minha calcinha sem hesitação. Seus dedos
tocaram entre meus lábios vaginais, encontrando meu clitóris inchado,
escorregadio e quente.
— Caralho! — Um rosnar de desejo escapou de seus lábios
enquanto eu gemia em resposta ao toque. Seus lábios escorregavam pela
minha face, pelo meu pescoço comigo arqueando cabeça, dando-lhe todo o
espaço.
Ele desceu a calça o suficiente para liberar seu pau enorme e
repleto de veias inchadas que fez minha vagina até doer de tanto tesão,
sentia minha excitação escorrer por entre minhas pernas.
— Eu preciso de você. — Segurou minha cintura, e quando ia me
erguer para o seu colo, a realidade me bateu. Com um empurrão o afastei de
mim, saindo do alcance de suas mãos ávidas.
— Você é um assassino confesso e perigoso — resmunguei com a
água do chuveiro misturando-se com minhas lágrimas enquanto eu me
encolhia em mim mesma, com a dúvida que ele jogou no ar.
— Paola — murmurou rouco.
— Fica longe de mim, Simon. — Recuei afastando das suas mãos
e saí do boxe. Me enxuguei com roupa e tudo, envolvendo-me na toalha e
voltando para o quarto, deixando Simon para trás, no banheiro.
Meu coração estava em guerra. Enquanto me afastava, uma parte
de mim desejava desesperadamente voltar atrás, mergulhar nos braços dele
e me entregar ao calor daquele corpo. Mas eu sabia que precisava de juízo,
precisava colocar minha cabeça no lugar. No entanto, era difícil quando o
meu corpo inteiro ardia de desejo.
Despi-me da roupa molhada e me joguei debaixo dos lençóis,
tentando afogar meus sentimentos. O som da água do chuveiro ainda
ecoava, indicando que Simon devia estar passando pelo mesmo tormento
que eu. Alguns minutos depois ele voltou ao quarto e meu olfato se deliciou
com a fragrância fresca dele, impregnando o ar ao redor.
Sentia ele parado me olhando ali na cama. Me virei para o lado
dele. Ele estava com uma toalha enrolada na cintura, olhar pensativo.
— Eu quero ir embora daqui, Simon — disse quase afogada na
minha emoção, a voz embargada.
Comprimindo os lábios, ele moveu a cabeça de cima para baixo,
concordando lentamente.
— Assim que melhorar o tempo — respondeu baixo, olhando para
o chão, evitando meu olhar.
— Quer que eu saia da sua cama?
— Relaxa, arrumo uma cama no chão para mim.
Foi até a cômoda, vestiu-se com uma calça de moletom preta,
pegou um lençol e forrou o chão ao lado da cama e se deitou, sumindo do
meu campo de visão. Me virei para o outro lado, reprimindo meu corpo
ardente. Imaginar aquele homem bonito, por quem eu estava tão atraída,
musculoso e viril, deitado no chão, tão ao meu alcance, me deixou
extremamente nervosa. Tudo em mim latejava de ansiedade e eu estava
muito tensa; meus seios roçavam no lençol e estavam doloridos de tanto
desejo reprimido.
Queria falar com ele, mas estava com medo de ele perceber minha
fraqueza. Precisava dele, do seu conforto. Escutava sua respiração pesada.
Suspirei, tentando me acalmar. Era difícil lidar com tudo isso, com
todas as revelações. O que Simon disse sobre meu tio Henry era
perturbador. Será que ele realmente queria me matar?
— Simon, eu não sei o que fazer — admiti. Minha voz saiu
trêmula, quase um sussurro.
Ele se levantou e se deitou ao meu lado, mas sobre o lençol,
evitando o contato direto. A proximidade dele era um consolo, mesmo sem
nos tocarmos.
— Vai ficar tudo bem, Paola — murmurou ele, a voz baixa e
reconfortante. Me virei de frente com ele, o lençol como barreira entre nós.
Seu olhar estava cheio de preocupação. — Estou aqui com você.
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Sentia-me
perdida e apavorada. Simon, percebendo minha angústia, estendeu a mão e
acariciou meus cabelos com delicadeza, seus dedos deslizando suavemente
entre os fios.
— Eu não sei em quem acreditar — confessei entre soluços, os
olhos fixos nos dele.
— Sei que é difícil, mas sou mais confiável do que o seu tio. Henry
é alguém bem diferente do que apresenta à sociedade. Aquele homem tem
planos sombrios.
— Mas ele é minha família — retruquei, a voz falhando, os lábios
trêmulos.
— Família nem sempre significa segurança. Às vezes, são aqueles
mais próximos que nos ferem mais profundamente.
O peso das suas palavras caiu sobre mim como uma verdade dura
de aceitar. A minha mãe é um exemplo claro do que Simon acabou de falar,
o fato dela ter colocado pessoas de mau-caráter dentro de casa feriu a mim e
a minha irmã profundamente. Ele continuou a acariciar meus cabelos, seu
toque suave foi me acalmando aos poucos.
— Mas eu não quero que se preocupe, estou aqui contigo, disposto
a cuidar de você, nada vai te acontecer, eu prometo — assegurou com plena
convicção.
“Cuidar de mim ou me usar para os seus propósitos de destruir
Henry Paterson?”
Caramba, ele me confundia demais.
— Eu queria muito, muito mesmo acreditar... Por que se importa
comigo, Simon? — Meus olhos buscavam os dele, esperando respostas.
— Eu me faço essa mesma pergunta, Paola. — Ele transmitia
sinceridade. E seguiu declarando: — Você caiu de paraquedas na minha
vida e a realidade é que você passou a ser muito importante nela. — Se
fosse mentira, então ele era um exímio mentiroso.
Ainda tremendo um pouco, perambulei meus olhos por aquele
rosto masculino, por aqueles lábios grossos que adorava beijar, refletindo
sobre o fato dele ter me resgatado do perigo, ainda em dúvida se não foi
armação, mas ponderava se ele merecia ou não um: "obrigada" por salvar
minha vida.
— Acreditar em você está complicado, Simon. Tudo está tão
confuso, minha mente cheia de ressalvas... — Minha voz saiu baixa,
carregada de incerteza enquanto meu coração transbordava em calor.
— Compreendo, mas para a sua própria segurança, é necessário
um voto de confiança.
Apesar do medo e da confusão, uma faísca de confiança crescia
dentro de mim, deixando-me dividida se deveria ou não reprimir essa
sensação de segurança que ele transmitia.
— Deixa-me te aquecer — ele murmurou, abraçando meu corpo,
notando meu tremor.
Eu deitei minha face sobre seu peito e ali, ouvindo seus suaves
batimentos cardíacos em meio à tempestade de emoções, relaxei.
Era uma delícia aquele vínculo que transcendia tudo o mais, no
entanto, extremamente perigoso!
Os braços fortes, quentes e dominadores de Simon ficaram ao meu
redor, me prendendo a ele. O que me enchia de paixão e amor. Desde a
nossa primeira transa, ele esteve presente em meus pensamentos. A semente
que ele semeou brotou mais forte do que a própria planta.
Eu estava dividida e com medo. Apesar do meu tio Henry
demonstrar seu controle sutil sobre a minha vida, uma situação que me
deixava profundamente desconfortável, era complicado acreditar em Simon
quando ele dizia que meu tio era uma verdadeira raposa em pele de
cordeiro. Simon estava acusando Henry de ser quem não era enquanto ele
mesmo era um assassino.
Ele não respondeu quando perguntei o que tinha a ver com o
sequestro, na primeira noite em que estivemos juntos, bem, ele não
respondeu quase nenhuma das minhas perguntas. O fato era que o homem
sequestrado há quatro anos se parecia muito com ele, era do mesmo porte e
usava um terno semelhante.
“Em quem acreditar?”
Nunca poderia me apaixonar por alguém assim. Fechei os meus
olhos, tomada pela dúvida, e adormeci.
Despertei de um breve cochilo, toda minha articulação doía e não
restava dúvida de que a exposição ao frio e à umidade desencadeou isso.
Ainda presa dentro dos braços fortes e quentes, a preocupação com a minha
irmãzinha me bateu. Se Henry Paterson fosse realmente quem Simon
acusou, então Liliana também corria riscos.
“Você está encrencada, Paola.”
Simon raptou o meu coração e eu devia repensar melhor sobre o
assunto.
Me sentindo triste, com um peso enorme sobre as minhas costas,
me sentia muito, mas muito dividida. Tirei os braços dele de mim e saí com
cuidado da cama, olhando-o ali, em seu sono profundo, um sorriso bobo
pelo meu rosto, analisando cada detalhe do seu rosto másculo, lindo e
sinistro!
Coloquei o vestido molhado, meu corpo dolorido pedia um
relaxante muscular. Na minha bolsa até havia remédios, mas ela já era,
estava no fundo do lago junto com o meu celular. Saí da cabana nas pontas
dos pés, evitando qualquer ruído para não o acordar.
O cavalo estava amarrado em frente à cabana, um magnífico
cavalo negro, relinchando suavemente enquanto eu passei a mão pela sua
pelagem brilhante.
— Você pode me tirar daqui, amigão? Estou precisando de ajuda
para sair desse lugar ermo.
O fofo relinchou suavemente como um convite, então o montei.
— Vamos lá, me tire daqui. — Ele saiu cavalgando sob os pingos
de chuva. Eu tremia de frio, assim como a temperatura fria da água e
daquela manhã cinzenta, como o meu coração...
Saindo pela portaria, alcançamos uma estrada de terra e nesse
instante uma caminhonete prata, cabine dupla, parou ao meu lado. A janela
abaixou e vi o motorista, um homem forte, um cowboy bonito de olhos
verdes e lábios carnudos, barba por fazer, usando chapéu de boiadeiro e
uma camisa branca, aberta nos primeiros botões, exibindo um forte peitoral
tatuado.
— Parece que uma tempestade está chegando e não está apropriado
para andar a cavalo, moça — alertou em tom confiante, alguém que sabia o
que estava falando.
— Estou tentando encontrar o caminho de volta para a civilização.
Será que você poderia me ajudar?
— Claro, moça — respondeu sorrindo. — Entra na caminhonete.
Eu te levo até a cidade.
Desmontei do cavalo e dei um tapinha reconfortante nele.
— Volta para casa, amigo — murmurei, vendo o animal partir em
galope pelo caminho que viemos. Em seguida, entrei na caminhonete.
— Só preciso parar em um posto de combustível e abastecer a
picape, tudo bem? — o cowboy falou com sua voz grave, mas calma.
— Tudo bem, obrigada. Não sei o que faria sem você — respondi
com um sorriso fraco.
Olhando pela janela, ainda presa nas acusações do Simon sobre o
meu tio, senti um emaranhado de sentimentos na cabeça. Preocupada com
minha irmã e com saudades de casa, a ansiedade me sufocava.
Logo que o cowboy, homem de poucas palavras, entrou no posto,
pensei em pedir o celular dele e avisar ao meu tio onde estava, mas declinei
pensando nas acusações de Simon, poderia rastrear o celular do coitado e
ele se ferrar. No entanto, faltava dinheiro e também seria incoerência dar o
endereço de onde eu estava ao tio Henry.
— Você poderia me emprestar algum dinheiro, esqueci minha
bolsa e preciso comprar um remédio para dor de cabeça — menti. O
homem, muito gentil, me emprestou de imediato. — Valeu!
Enquanto ele abastecia, eu fui direto ao telefone público e não foi
para o meu tio que liguei.
Ao atender, não consegui segurar a emoção ao ouvir a voz da
minha amiga Anah do outro lado.
— Anah, como estão meus bebês? — Minha voz embargada
chamou sua atenção.
— Paola, o que houve? Está tudo bem? — ela perguntou,
preocupada. — O senhor Henry Paterson ligou inúmeras vezes aqui no
telefone do seu apartamento e eu não atendi.
Solucei, a emoção dominava o meu ser enquanto a orientava:
— Por favor, nunca atenda o telefone fixo de casa, especialmente
se for o número do meu tio Henry. Promete, Anah.
— Claro, Paola. Pode deixar que não atendo — Anah prometeu
solenemente.
Em seguida, liguei para o meu tio para tranquilizá-lo. Ele quase
chorou ao ouvir minha voz:
— Paola, minha querida, você está bem? — A voz do meu tio
soou aliviada do outro lado da linha, contradizendo as acusações de Simon.
— Não dormimos a noite toda preocupados com você, filha. A sua amiga,
Mila, nos disse que não apareceu no bar onde combinaram de se encontrar.
Estávamos desesperados, aguardando as 24h para acionar a polícia — ele
explicou, sua preocupação estava evidente em cada palavra.
— Estou bem, tio. Desculpe pela preocupação — eu disse,
sentindo o nó na garganta. — Encontrei alguns amigos que se formaram
comigo em Exeter, e eles me arrastaram para uma festa. Estava tarde e eu
bebi um pouco, então resolvi pernoitar por lá. Mas já estou voltando para
casa.
— Custava avisar esse seu velho tio, filha? Eu não infartei porque
sou forte.
Solucei sentindo remorso por mentir para ele, mas também estava
confusa.
— Me perdoe, tio... Por favor!
— Claro que te perdoo, eu te amo, minha sobrinha. Você e a
Liliana são minhas riquezas.
Ele tocou no assunto viagem, o que me assustou bastante diante
das circunstâncias. Antes precisava ter certeza com o que estava lidando, até
de Exeter considerei necessário me manter distante até sanar todas as
dúvidas.
CAPÍTULO 19

SIMON

O toque do celular arrancou-me do meu sono profundo. Abri os


olhos, ainda meio sonolento, procurando por Paola ao meu lado, mas só
encontrei o vazio. O quarto estava silencioso, exceto pelo som dos pingos
da chuva caindo no telhado. O lençol ao meu redor estava frio, indicando
que ela já havia saído há algum tempo. O perfume sutil de seu corpo ainda
pairava no ar, evocando uma sensação de saudade dentro de mim enquanto
o celular continuava a tocar.
Saí da cama para pegar o celular sobre a cômoda e atendi.
— Encontrei Paola Tyler na estrada em frente ao rancho, parei no
posto para abastecer. Levo-a de volta para o rancho?!
— Leve-a para onde ela quiser ir — ordenei, ouvindo um rosnado
do outro lado da linha.
— Tem certeza disso, chefe? — Ainda estava em dúvida.
— Absoluta — fui curto e ríspido, causando estranheza nele.
— Eu não sei o que está acontecendo contigo, mas é você quem
manda — disse ele e encerrou a ligação.
Na verdade, nem eu sabia direito o que estava ocorrendo comigo.
Paola era como uma superbactéria resistente a antibióticos, que causou em
mim uma infecção que não sarava. Liberá-la, após eu ter revelado sobre seu
tio, abria um precedente perigoso. Mas estava disposto a arriscar porque
não sabia as razões, porém o fato era que o meu instinto dizia que eu podia
confiar nela. Nesse jogo, ela jogaria ao meu lado.

***
Tomei uma ducha rápida, deixando a água quente escorrer pelo
meu corpo tenso. Vesti-me com agilidade, mas meus pensamentos estavam
tumultuados. Sentia-me importunado pelos fortes sentimentos que
desenvolvera por Paola, mas não tinha como lutar contra aquilo. Era algo
muito mais forte do que eu, algo que me consumia por dentro.
Enquanto caminhava em direção à garagem, atrás da cabana,
verifiquei a condição do carro após o ataque.
— Merda! — A blindagem protegera o veículo, impedindo que a
bala atravessasse, mas deixara sinais na lataria e poderia causar
especulações.
Enviei uma mensagem por aplicativo para os meus contatos,
pedindo uma carona até Miami. Pouco tempo depois, um sedã de luxo preto
chegou com a mesma placa do carro alvejado. Um homem magro, de pele
bronzeada e muito bem-vestido, que eu não o conhecia ainda, mas sabia que
fora escolhido a dedo por minha equipe, desceu do veículo.
— Obrigado por vir tão rápido — agradeci, cumprimentando o
especialista em limpeza com um aceno de cabeça. “O especialista”, era
como ele era identificado.
— Sem problemas, senhor. Estou aqui para ajudar sempre no que
precisar — respondeu o homem com uma expressão séria.
Assenti, reconhecendo a dedicação dele. Entrei no carro, pronto
para seguir em frente com meus planos.
Passei em casa antes e me troquei.
Ao chegar ao meu gabinete em Miami, estava determinado. Meus
olhos brilhavam com a sede de vitória e vingança. Eu estava ansioso para
acabar com a raça de Henry Paterson, física, emocionalmente e
financeiramente... Aquele verme iria pagar por suas decisões e ações.
O gabinete ficava em um bairro movimentado de Miami, com uma
fachada imponente que refletia o poder e a influência que eu buscava. Ao
entrar, cumprimentei as pessoas que estavam trabalhando em minha
campanha.
Enquanto percorria os corredores, os trabalhadores se dirigiam a
mim com entusiasmo, compartilhando atualizações sobre o progresso da
campanha.
Um dos membros da equipe, empolgado, exclamou:
— Simon, conseguimos garantir uma grande entrevista com um
influente jornalista hoje à tarde! Estamos prontos para mostrar ao público o
que você tem a oferecer.
Assenti, agradecendo o trabalho árduo.
— Excelente trabalho! Vamos aproveitar ao máximo essa
oportunidade.
Enquanto isso, uma mulher de aparência elegante e sedutora se
aproximou de mim, seu olhar ejetava admiração. Não a conhecia, mas
fiquei curioso.
— Você é nova por aqui? — perguntei, analisando-a com atenção
para entender suas intenções. Afinal, eu era o próprio analisador e farejador
de espiões. Mas aqui dentro era apenas um influente empresário e candidato
à Presidência da República.
Ela se inclinou em direção ao meu ouvido, sussurrando com um
sorriso malicioso:
— Hoje é o meu primeiro dia, sr. Simon Costello. Se precisar de
qualquer coisa além de apoio político, você sabe onde me encontrar.
Mantive o decoro, respondendo com um sorriso educado:
— Agradeço a boa intenção. Vamos ter uma conversa quando eu
tiver um momento livre.
O trabalho no gabinete estava a todo vapor. As pessoas se
movimentavam rapidamente, atendendo telefonemas, preparando
documentos e coordenando eventos. Eu sentia a energia e o
comprometimento de todos, e isso me dava ainda mais força para seguir em
frente.
Entrei na sala de Julian Smith, observando o ambiente agitado e
senti que estava no controle. Podia ver em seus rostos a confiança e o
respeito que tinham por mim.
— Bom dia! — o chefe do gabinete me cumprimentou meio
atarefado, mexendo em vários papéis sobre sua mesa a medida em que
algumas pessoas o auxiliavam.
— Como andam as coisas? — perguntei, puxando a cadeira e me
sentando em frente a ele. Julian mal me olhou nos olhos de tão ocupado, o
que me agradou.
Julian levantou os olhos brevemente, havia um brilho de
expectativa em seu olhar.
— Estamos empenhados, inclusive, temos algumas entrevistas
importantes agendadas e estamos preparando materiais que destacarão suas
conquistas. Além disso, temos uma equipe trabalhando exclusivamente na
análise de todos os discursos e aparições públicas de Henry, procurando
inconsistências e pontos fracos. Ah, Simon! Outra coisa importante é que,
apesar de ainda ser cedo, estou insistindo num debate entre você e Henry
em rede nacional. Ainda não está confirmado, mas estamos pressionando as
emissoras.
Respirei fundo, imaginando as possibilidades. Um debate seria a
oportunidade perfeita para começar a manchar a honra e a capacidade de
Henry Paterson. Daria um jeito de delatar o meu concorrente sem me expor.
Os segredos obscuros daquele verme, se ventilado no debate em rede
nacional, com a influência que ele possuía, não teria como brecar o começo
de sua derrocada. Expor Henry de surpresa aos olhos do mundo gerava
grandes expectativas em mim.
“O vagabundo vai ficar bem encrencado com a mídia e a justiça.”
— Trabalharei o dia todo aqui, quero acompanhar de perto a
abordagem com as emissoras, garantindo que o debate saia de fato.
A preocupação com Paola era constante, e por isso fiquei tão
determinado a antecipar esse debate em rede nacional. Sabia que tiraria o
sossego de Henry, forçando-o a se defender publicamente. Isso, por sua vez,
provisoriamente tiraria os olhos do tirano sobre ela.
“Tinha urgência em descobrir o que estava por trás do atentado
contra Paola.”
O dia foi uma correria no gabinete, todos trabalhavam
freneticamente para atender às demandas da campanha e Paola não saía da
minha mente: ela nos meus braços no rancho, sua pele macia e o perfume
que ainda parecia pairar ao meu redor, tudo o que ela representava muitas
vezes tiravam minha concentração.
O desejo crescia dentro de mim, minha ereção se erguia dentro das
calças, obrigando-me a respirar fundo para me controlar.
Mas eu lutei contra isso. Não podia permitir que os meus
sentimentos influenciassem nos meus objetivos, ele poderia agregar e não
interferir. Ao final da tarde recebi uma mensagem do motorista do Henry,
um espião infiltrado e meu aliado. Seus documentos falsos davam a ele o
nome de Rony. Contudo, seu nome verdadeiro era oculto, era uma regra
exigida para todos os membros. Identificava ele apenas como: “Motorista”.

Motorista: Acabei de pegar Liliana, a irmã de Paola, na escola e


estava levando-a para casa. A menina está triste e desabafando, e acredito
que você gostaria de ouvir. Se for do seu interesse, então liga agora nesse
número que deixo ligado.

Senti um calor no coração ao ler o nome de Liliana. Estava


profundamente envolvido com Paola e isso inevitavelmente incluía sua
irmã, que ela tanto amava. Se proteger Paola significava também proteger
Liliana, então eu faria isso sem hesitar.
Pedi licença e me dirigi a um canto mais reservado. Com o coração
tumultuado, disquei o número do motorista e esperei ele atender. Houve um
breve silêncio, seguido pelo som abafado de um carro em movimento.
Então, ouvi a voz suave de Liliana, carregada de tristeza.
— Você tem medo do tio Henry? — perguntou ela. Sua voz era
quase um sussurro de medo.
— Não, por que está perguntando? Aconteceu alguma coisa? — o
motorista perguntou.
Houve um breve silêncio antes de Liliana continuar, sua voz agora
era mais baixa e cheia de temor.
— Estou com medo do tio Henry. Ele está diferente, ontem à noite
ele ficou bravo porque a Paola não dormiu em casa, e eu acho que ele
brigou com a tia Abigail, eu a vi chorando. Tenho medo de que ele brigue
comigo também. — Sua voz era quase um sussurro de pavor.
Vindo do cafajeste do Henry, isso não me surpreendia em nada.
Entretanto, meu coração apertou ao ouvir isso, porque me lembrei da minha
própria infância. Compreendia o temor da criança, pois vivi tudo isso em
proporções até maiores no meu mundo.
O motorista tentou acalmá-la:
— Não, Liliana. Ninguém vai deixar isso acontecer. Você contou
para a sua irmã?
— Não. A Paola chegou hoje e foi no médico, eu não a vi, e o tio
Henry falou que eu não posso contar isso para ela.
“Safado esse Henry!”, xinguei mentalmente, fechando os punhos,
imaginando-me quebrando os dentes daquele miserável.
— É importante que sua irmã saiba — o motorista aconselhou e
eu concordei. A ligação foi encerrada, acho que logo chegariam à mansão.
Senti uma raiva fria e uma nova firmeza. Henry Paterson tinha que
ser destruído.
Enviei uma mensagem:

SIMON: Continue me atualizando, especialmente sobre as irmãs.


Quero toda cobertura em torno das duas.

Dei uma série de ordens detalhadas a todos os envolvidos,


delineando todo o trabalho que deveria ser feito em uma campanha
presidencial nos Estados Unidos. Estava decidido a alcançar meus
objetivos, não importava o que fosse necessário.
— Boa noite, pessoal!
Já era madrugada e chovia forte quando deixei o gabinete.
Dirigindo rumo a Star Island sob a chuva torrencial, a água caía como se o
céu estivesse tentando expurgar os próprios demônios, assim como eu. Os
faróis cortavam a escuridão, refletindo nas poças no asfalto. Entre pontes
iluminadas e estradas arborizadas, minha mente estava em desordem,
focada na imagem de Paola. O desejo que sentia por ela era desconcertante,
me amaldiçoava por me sentir tão vulnerável. Nunca permiti que alguém
mexesse tanto comigo.
De repente, ela, Paola, se materializou diante dos meus olhos.
Quase não podia acreditar. Parada em frente à casa, debaixo de uma
pequena cobertura e sob a luz amarelada, parecia uma visão celestial. Aos
meus olhos, parecia um anjo que nunca acreditei que existisse. Sua presença
era uma mistura de euforia e felicidade.
— Linda — sussurrei, respirando profundamente afetado. Meu
coração disparou. Ela estava deslumbrante, vestindo uma calça jeans clara
que delineava perfeitamente suas curvas, e uma blusa floral que acentuava
sua cintura fina. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto,
com alguns fios soltos emoldurando seu rosto angelical.
“Cada vez mais vinham as provas de que Paola era a luz em
minha escuridão.”. Ela mudava todo o meu panorama, a certeza estava
nessa capacidade de transformar meus dias cinzentos em jornadas cheias de
cor e vida, como um raio de sol que atravessava uma tempestade,
iluminando tudo ao redor.
Estacionei o carro bem em frente onde ela estava e desci
rapidamente.
Cada passo que dava em direção a ela parecia aumentar a
intensidade do meu batimento cardíaco. Paola estava ali, parecendo abatida,
seus olhos estavam ligeiramente vermelhos e sua respiração parecia pesada.
Deu uma profunda inalada quando cheguei perto, e a visão de seu peito se
expandindo a cada inalada, aumentava a minha vontade de tocá-la, mas me
controlei, focando no seu olhar.
— Oi. — Minha voz ecoou mais suave do que eu pretendia.
Ela engoliu em seco ao ouvir minha voz, sua expressão vulnerável
refletia os sentimentos que também a dominavam.
— Tem muitas coisas que ainda preciso te perguntar, Simon... —
balbuciou ela, com a voz embargada.
Assenti gentilmente com a cabeça, compreendendo a profundidade
das emoções dela.
— Vamos entrar no carro para nos proteger da chuva — sugeri,
segurando seu braço com delicadeza.
Guiei-a até meu carro, abri a porta para que ela entrasse e depois
dei a volta pela frente do veículo.
CAPÍTULO 20

PAOLA

Caminhando ao lado de Simon, eu era tomada por um frio


imensurável na barriga, por essa razão eu mantinha certa distância. A única
maneira de resistir o peso da sua presença. Mas não teve como evitar o
esbarrão ao entrarmos pela grande porta de madeira maciça. Um choque eu
levei, e fez a corrente percorrer pelo meu corpo.
“Para com isso, Paola!”, advertia-me mentalmente para pensar
apenas no que importava. Eu precisava entender quem era o verdadeiro
Henry, mas, mais do que isso, eu queria saber quem era Simon e o que ele
pretendia. Qual era a verdadeira história por trás daquele homem misterioso
que tinha um poder incompreensível sobre mim.
Cada passo ecoava pelo hall de entrada imponente, onde um lustre
de cristal pendia do teto alto, lançando reflexos cintilantes por todo o
ambiente, refletindo o luxo discreto e a sofisticação masculina que
dominavam o ambiente. Minhas mãos tremiam ligeiramente, nervosa e
fadigada, piorou mais após ter caído no lago de água fria. Minha condição
se misturava com a agonia das acusações de Simon sobre o meu tio.
— Você está bem? — Simon perguntou, com um olhar preocupado
enquanto se aproximava, quase tocando o meu braço. Meu corpo respondeu
com outro inoportuno arrepio.
— Estou... só cansada. — Minha voz saiu quase um sussurro,
comigo dando um passo para trás. Só distante eu estaria segura, não podia
me permitir fraquejar agora.
— Uma consulta médica é necessária nesse caso — ele ressaltou, e
sério: fiquei com uma forte impressão de que ele sabia que procurei um
centro de saúde.
— Eu já fiz isso, Simon. É só fadiga e dores musculares da chuva e
por ter caído no lago. — Aquele momento da queda ainda me assombrava.
Ele assentiu, embora seus olhos enervantes continuassem a me
estudar com preocupação, me intimidando.
A cada passo, eu tentava focar em qualquer coisa que não fosse a
proximidade perturbadora com ele, por exemplo, na decoração da sala. Os
móveis eram de linhas retas e cores neutras, os objetos decorativos, as obras
de artes, como os tapetes, davam um toque de sofisticação com o chão de
madeira polida.
— Nossa, tudo aqui é lindo! — sussurrei, respirando
profundamente. Estava deslumbrada com a beleza ao meu redor, mas minha
mente não conseguia deixar de pensar nas perguntas que precisavam de
respostas.
Simon parou por um momento, observando-me com uma
intensidade que me fez estremecer. Sua mão tocou levemente meu ombro e,
novamente, senti o arrepio.
— Vamos nos sentar — sugeriu em um tom suave. — Quer uma
bebida?
— Um pouco de água, por favor — pedi, tentando acalmar meu
coração veloz.
Ele indicou o sofá de couro creme, de três lugares, e se dirigiu ao
bar de mogno escuro e decorado com detalhes em bronze, iluminado por
luzes embutidas que destacavam uma coleção impressionante de bebidas
finas e cristais brilhantes.
Eu me sentei na pequena poltrona giratória em frente,
considerando uma barreira de segurança. Sabia que, na presença dele,
minha resistência era frágil e eu carecia de respostas, de garantia para o
futuro, não o meu, mas das pessoas que eu amava, elas sim, eram minhas
prioridades.
Observava ele no bar, uma série de copos de cristal perfeitamente
alinhados cintilava sob a iluminação suave da prateleira. Atrás do balcão,
um grande espelho ampliava a sensação de espaço.
— Paola, está realmente tudo bem? — insistiu ele, interrompendo
meus pensamentos enquanto vinha em meu encontro com a água.
— Sendo franca, eu estou afogada em um oceano de
questionamentos e incertezas — admiti pegando o copo oferecido por ele e
tomei um gole para acalmar meus nervos. — Por que os assassinatos foram
anunciados na mídia como guerra entre gangues? Eu não entendo...
Ele deu de ombros como se fosse óbvio.
— É assim como funciona nesse mundo, tudo é ajustado de forma
que não ganhe os holofotes das autoridades.
Grunhi levando a minha mão à boca, incrédula. Aquilo lembrava o
meu passado, as pessoas que minha mãe sempre esteve envolvida e se
tornava apavorante.
— Esse mundo que menciona é da máfia, Simon?
— É a realidade que te rodeia, Paola. — Sua sinceridade me fez
fechar os olhos e ele seguiu em frente. — Eu sinto muito!
— Que tipo de crimes meu tio pratica, caramba?! — perguntei
nervosa. — E isso te coloca também no meio do crime, é sacanagem me
deixar no vácuo. Quem você realmente é? — A voz da minha razão gritava
como louca que eu deveria desconfiar.
Simon respirou fundo, seu olhar se tornou sério e intenso.
— O seu foco não deve ser eu, Paola, e sim, Henry Paterson.
Meu corpo congelou e a insinuação dele repercutiu como um alerta
sobre Liliana, que estava na casa do tio Henry nesse momento.
— Então abre o jogo comigo, seja honesto... Quem é ele de
verdade? — implorei quase em desespero. Eu não sabia mais em quem
confiar. — Por que você diz que estou em perigo? — Minha voz tremia.
Simon se aproximou, parando a poucos centímetros de mim, o
duro era me manter impassível diante da sua presença avassaladora. Eu
recuei, afundando as costas no encosto do sofá.
— Henry Paterson é tudo, menos o que ele se apresenta a todos. —
A voz de Simon soou ríspida, intensificando a rigidez nas minhas
articulações, que já estavam inflamadas pela queda no lago.
— Já disso isso, e ainda é vago. Pelo amor de Deus, seja mais
claro! — insisti, sentindo a necessidade urgente de compreender o caos ao
meu redor. — Eu preciso saber para me defender, defender a Liliana.
— Como se chamava sua mãe? — perguntou ele desviando da
conversa e foi sentar-se no sofá de três lugares em frente a mim. Seus olhos
castanhos, intensos e intimidadores me observaram por entre suas grossas
sobrancelhas.
Senti meus olhos marejarem ao lembrar da vida turbulenta de
minha mãe.
— Seu nome era Elizabeth, Elizabeth Tyler. — Minhas palavras
estavam cheias de mágoa.
— Por que você não carrega o sobrenome Paterson? — ele quis
saber.
— Carter sempre foi o namorado da minha mãe e teve uma época
que ele sumiu do mapa, nesse período, a minha mãe conheceu outro homem
com quem se casou às pressas porque ficou grávida de mim. E naquela
época, magoada com meu avô, ela então escolheu adotar o nome desse
marido. Ele também desapareceu sem deixar rastros, nem sei se ele está
vivo, como também não sei se realmente ele era o meu pai. Só Deus é quem
sabe! — Fui sincera, abrindo minhas mãos no ar. — As drogas tiraram o
juízo da minha mãe. Ela nos obrigou, a mim e a Liliana, a viver um
cotidiano miserável. O Carter, o namorado viciado, reapareceu e deve ser
pai da Liliana, fez das nossas vidas um inferno.
Fiz uma pausa, lembrando com amargura.
— No último dia de vida dela, enquanto eu estava trabalhando no
hotel, e com você, aquele ordinário a visitou. Eles se drogaram juntos e o
cafajeste foi embora, deixando-a para morrer sozinha de overdose.
O semblante de Simon ficou estranho, como se algo o tivesse
atingido profundamente. Notei sua mudança, mas ele rapidamente se
recompôs, sua curiosidade ainda era evidente.
— E como era a relação dela com Henry Paterson, seu tio? —
especulou me intrigado.
Minha desconfiança aumentou com seus interrogatórios. Levantei-
me, encarando-o com firmeza.
— Por que você quer saber tanto sobre a minha vida, perguntando
sobre a minha mãe? Qual é a sua verdadeira intenção, Simon?
Ele desviou o olhar por um instante e então respondeu:
— Minha intenção é ser presidente dos Estados Unidos. Tenho
uma equipe que trabalha para a minha segurança e descobriram que Henry
Paterson tem conspirado contra mim.
Embora soubesse que havia mais obscuridade em tudo que o
cercava, ainda assim, imediatamente me lembrei de algumas partes da
conversa que ouvi entre o meu tio e David quando estava em frente ao
salão, no primeiro dia que cheguei em Miami:
“Precisamos agir com firmeza, David. Simon Costello vai nos
causar problemas, ambos conhecemos a popularidade dele e não queremos
importunação durante a campanha, certo?”
“Não era nem para ele estar existindo. Precisamos montar uma
estratégia que seja eficaz para neutralizá-lo antes que seja tarde demais.”
Olhei nos olhos de Simon, analisando o que ele disse e a conversa
entre o meu tio e David. Respirei fundo, sentindo o pânico tomar conta de
mim. As peças do quebra-cabeças começavam a se encaixar, dando sentido
ao que ele havia comentado sobre a conspiração. Meu coração acelerou e
me deixou sem fôlego e apavorada. Poxa! Considerava o tio Henry como
um porto seguro.
— E agora? — O desespero tomou conta de mim e não pude conter
as lágrimas.
Simon, comovido, se levantou do sofá e veio até mim, segurando a
minha mão gentilmente. Seus polegares enxugaram minhas lágrimas
enquanto ele segurava meu pescoço. Seus olhos, tão lindos, sérios e duros,
cravaram nos meus.
— Cuidar de você passou a ser a minha missão.
Fechei os meus olhos, fungando, e ele continuou, sua voz rouca
fazia o meu coração tremer de amor.
— Querendo ou não, vou proteger você e sua irmã de todo mal.
Ele não respondeu nada do que perguntei, tudo seguia um mistério
sem fim, mesmo assim, o meu coração derreteu de paixão e amor. Inquiri a
mim mesma se realmente acreditava que o único objetivo desse homem
arrogante e frio era chegar à Casa Branca. Sentia, sabia, quase tinha certeza
de que havia outra causa que Simon não revelava. Ele era um assassino
confesso, mas não representava perigo para mim ou para aqueles que eu
amava. Sentia a proteção exalando dele, mas também estava ciente de que
isso poderia ser apernas uma ilusão, resultado dos crescentes sentimentos
em meu coração.
“Eu nunca poderia me apaixonar por alguém assim!”, reforcei em
pensamento e especulei:
— Chegar à Casa Branca é cuidar de toda uma Nação, Simon. O
que você pretende fazer?
Ele sorriu confiante e com completa segurança.
— Vou repetir o que já te disse: Não é porque eu cresci na maldade
e tenho sangue nas mãos que eu seja uma pessoa má, Paola. — Era incrível
seu poder de passar credibilidade.
— Impossível interpretar com você falando em enigmas, não diz
nada com nada... — reclamei, incrédula com ele sorrindo carinhoso.
Então garantiu em sua voz rouca:
— Você não precisa se preocupar, Paola. Você não está sozinha.
Inspirei profundamente, comprimindo os lábios enquanto buscava
equilíbrio e juízo. O clima esquentava com aquele olhar intenso. Simon me
puxou para um beijo de língua, que não recusei. Tudo nele era irresistível.
No meio daquele beijo, o amor pela minha família cresceu em meu
peito. Encontrei forças e prometi que não mais choraria. Não havia tempo
para lamentos, apenas para ação. Precisava ajeitar as coisas enquanto ainda
havia tempo, mas não poderia me precipitar. A urgência, sim, mas sempre
com discrição e cautela. Se Simon estivesse certo, se Henry Paterson fosse
realmente um mafioso, e o atentado de fato fosse direcionado a mim, então
significava que minha irmã estava em risco.
Nem me preocupava mais comigo, mas precisava garantir a
segurança de Liliana. Afastei os meus lábios dos de Simon, tocando as
pontas dos meus dedos na barba dele, que recebeu o carinho de olhos
fechados. Beijei com pressa o seu queixo e disse:
— Preciso ir embora e cuidar da Liliana.
Simon sorriu, confiante e sedutor.
— Como disse antes: cuidar de vocês passou a ser uma missão
para mim, ou seja, Liliana já está sendo cuidada. Ela está bem.
Franzi o cenho, rindo especulativa.
— É claro! Já havia percebido que tem olhos pela mansão —
confirmei e ele disse indiretamente.
— Ofícios de uma missão. — Desconversou, é lógico! Simon era
mestre em escorregar das questões.
— Que missão, droga? Seja claro!
— No momento, sua concentração deve ser direcionada
exclusivamente em sua irmã, ela precisa de você.
Meu coração subiu à garganta, querendo sair pela boca. O tom de
sua voz desencadeou uma aflição sem precedentes em mim.
— O que aconteceu?
— Ela está assustada em virtude de algumas discussões entre
Henry e a mulher dele.
Balancei a cabeça, sofrendo com aquela informação e sentindo na
minha pele o medo de minha irmã, eu passei diversas vezes por isso no
passado, das discussões agressivas e ameaçadoras entre minha mãe e seus
homens, e não permitiria que Liliana passasse pelo mesmo tormento.
Recuei de suas mãos e foi quando o seu celular tocou, ele pegou o aparelho
e olhou movendo a cabeça em reprovação, percebi na tela do aparelho o
nome Charlotte.
— Se Charlotte está te ligando é porque há algo entre vocês.
Ele grunhiu com impaciência.
— Eu sou um homem livre, desimpedido, Paola — frisou
incisivamente, desligando o aparelho.
— Ainda tenho as minhas dúvidas! — retruquei enciumada e achei
melhor me mandar dali e ficar grudada na Liliana. Corri em direção à saída.
Com a mão na maçaneta da porta, ouvi a voz forte e poderosa de
Simon ressoar:
— Fica mais um pouco... — ele pediu, frustrado.
Virei-me, sorrindo com mil e algumas ideias de como me manter
longe com a Liliana da mansão.
— Como você mencionou, Liliana precisa de mim e concordo
contigo. Não vou arredar o pé de perto dela, jamais. Vou programar um
passeio com ela amanhã cedo. Mas nem preciso dizer onde será esse
passeio, já que você tem olhos pela mansão do meu tio — disse, esperando
ansiosamente que ele aparecesse por lá.
Simon abriu um sorriso devasso, daqueles de molhar a calcinha.
— Espera, deve estar chovendo e você precisa de carona até sua
casa?
Minha mente pecaminosa já imaginava o cenário: o carro flutuando
na estrada, nessa madrugada, enquanto Simon dirigia e eu cavalgava nele.
Algo bem provável com a atração que sentia por esse homem gostoso. A
vontade de aceitar a carona, ou mesmo de voltar e me pendurar no pescoço
dele, era quase irresistível.
“Melhor não!”, concluí em pensamento.
Reprimi o desejo, respirando fundo.
— Estou de carro — disse, tentando soar convincente, mas a
desconfiança no rosto de Simon era evidente. Ele franziu a testa, seus olhos
escureceram com a dúvida.
— Deixei estacionado a dois quarteirões daqui — menti,
rapidamente saindo de perto antes que ele pudesse questionar mais.
Precisava entender suas reais intenções antes de ceder à tentação de ficar.
Eu saí correndo, tentando afastar-me da tentação que ele
representava.
As gotas de chuva continuavam a cair, e o vento gelado chicoteava
meu rosto enquanto eu me dirigia ao portão. Foi quando vi Charlotte
chegando em seu carro esportivo, vestida com um vestido de gala
deslumbrante, mas seu rosto estava contorcido de fúria.
Ela baixou o vidro do carro e eu pude ver o ódio brilhando em seus
olhos azuis, parecendo uma fera selvagem, como um lobo pronto para
atacar.
— Você! — gritou Charlotte, seus olhos faiscando de raiva. — O
que você pensa que está fazendo aqui, na casa do meu homem?
Eu arqueei uma sobrancelha, ficando parada e observando a louca
gritando dentro daquele carro luxuoso, talvez com medinho da chuva
molhar os seus cabelos lambidos.
— Seu homem? — perguntei, com a ironia pingando da minha
voz.
O rosto de Charlotte ficou vermelho de fúria.
— Ele me pediu em casamento, sua vadia!
Fiz cara de deboche.
— Hum, mas ele me disse que você não passa de uma aventura,
alguém para saciar os desejos profanos dele. — Enfeitei um pouco mais o
pavão.
— Simon disse o que qualquer homem diria quando quer comer
uma boceta mais rodada que ventilador em dias quentes! — ela vociferou,
abrindo a porta do esportivo e desceu soltando faíscas pelos olhos.
Enquanto ela caminhava na minha direção, inusitadamente, e igual
ao outro dia, o salto de uma de suas sandálias quebrou, fazendo-a mancar de
um jeito quase cômico. Sua embriaguez apenas aumentava o espetáculo.
Sua aproximação era desajeitada. Ela tropeçava a cada passo, mas
continuava a avançar, mancando e xingando, aproximando-se
perigosamente.
— Precisa rever a loja onde compra os seus calçados, buscar por
melhor qualidade, “amiga”!
— Sua vagabundinha... — pronunciou entredentes, muito raivosa e
se aproximando desengonçada.
Eu ria, não acreditando que ela estava tão desesperada. Não me
ofendi, afinal de contas, conhecia o meu valor, até esse momento Simon era
o único homem que eu estive intimamente. Continuei a encarando
friamente.
Quando ela estava quase perto, simplesmente me afastei com
apenas um passo lateral. Ela tropeçou e caiu pesadamente no chão. No
mesmo instante, um carro passou, espirrando água da chuva acumulada
sobre ela.
Charlotte ficou completamente encharcada, sua maquiagem
escorrendo e os cabelos grudados no rosto. Ela parecia uma visão patética
de raiva e humilhação, com as mãos trêmulas de fúria.
— Água é uma fonte de vida — eu disse, tentando conter o riso. —
Mas, às vezes, ela pode ser cruel, lavando tudo e revelando as verdadeiras
faces das pessoas.
A mulher endemoniada se levantou com dificuldade, com suas
mãos trêmulas de ódio.
— Amanhã quem estará na sarjeta é você, sua piranha idiota! —
gritou ela, com a voz carregada de ódio.
Ri novamente, dessa vez sem esconder meu divertimento, e
comecei a caminhar elegantemente pela calçada, ouvindo os xingamentos e
ameaças de Charlotte se perderem na noite chuvosa.
— Você vai morrer, Paola! — ouvi ela gritar, mas continuei
andando sem me preocupar.
Aquela cena ridícula apenas reafirmava minha determinação.
Precisava manter minha irmã segura e descobrir a verdade por trás de
Simon e Henry, custasse o que custasse.
Chamei um táxi de aplicativo para voltar para casa.

***

Chegando à mansão do meu tio, cumprimentei os seguranças com


um aceno e um sorriso rápido. Eles assentiram, habituados às minhas idas e
vindas. Entrei na casa silenciosa, onde todos já estavam dormindo. Abri a
porta do quarto de Liliana devagar. O quarto estava na penumbra, apenas
iluminado pelo fraco brilho da lua filtrado pelas cortinas. O som do vento
uivando lá fora era o único ruído que quebrava o silêncio da noite.
Liliana estava deitada, o rosto sereno em meio aos lençóis macios.
Aproximei-me e me deitei ao lado dela, envolvendo-a em um abraço cheio
de carinho. Senti seu corpo pequeno e quente se aninhar contra o meu, e um
suspiro de contentamento escapou dos seus lábios.
— Que bom que está aqui comigo, Paola — murmurou Liliana,
sonolenta, com a voz abafada pelo sono.
— Eu também estou feliz de estar aqui, minha pequena —
sussurrei, beijando sua testa macia. — Amanhã vamos acordar cedo para
passear.
Apesar de seu sono pesado, um sorriso radiante se formou nos
lábios dela, mas logo voltou a adormecer nos meus braços.
Fechei os olhos, sentindo uma onda de amor e proteção por minha
irmãzinha. Sorrindo, deixei o cansaço tomar conta de mim, mas não antes
de fazer uma oração silenciosa:
“Deus, por favor, não deixe que seja verdade o que Simon disse
sobre o tio Henry. Proteja-nos de qualquer mal que ele possa tramar contra
nós.”
A última coisa que senti foi a batida suave do coração de Liliana
contra o meu peito, e a certeza de que faria qualquer coisa para mantê-la a
salvo.

CAPÍTULO 21

SIMON

Um toque insistente do celular atravessou meu momento especial,


quando estava quase gozando, e silenciou. Abri os olhos, deitado de bruços
na cama, com meu pau espremido contra o colchão, dolorido de tão duro e
latejando.
— Maldição! — grunhi inconformado, pois Paola já tomava conta
até dos meus sonhos. Virei-me de costas na cama, a luz do sol inundava o
quarto. A ereção erguia o lençol, formando uma barraca. Muito excitado eu
me masturbava, mas nesse segundo o celular voltou a chamar.
Ainda sonolento, estiquei uma mão até o móvel de apoio ao lado
da cama. Era o motorista de Henry, meu espião na casa de Henry Paterson.
Atendi o telefone, ainda com a voz rouca de sono.
— Onde elas estão? — perguntei movendo a mão de cima para
baixo. Envolvido no tesão absurdo, comprimia a glande sensível, quase
estourando.
— As deixei no endereço que te enviei, senhor. Estão seguras.
Olhei firme para o visor do celular, verificando as horas. Já passava
das nove da manhã. Agradeci rapidamente e desliguei o celular, saltando da
cama, ainda rindo da minha situação. Eu estava até parecendo um
adolescente de 17 anos. Apressei-me para o banheiro e tomei um banho
ligeiro, a água fria ajudou a diminuir a ereção persistente. Vesti uma roupa
casual que combinasse com um parque aventura.

***

O parque temático de eco aventura, no coração de Miami, ficava


aproximadamente a dez minutos da minha casa. Fiquei impressionado com
a fachada imponente, adornada com esculturas de animais selvagens e
plantas tropicais, que anunciavam as aventuras que aguardavam lá dentro.
O movimento era intenso, com pais e crianças ansiosos para entrar,
suas risadas e vozes animadas enchendo o ar.
Depois de comprar o ingresso, entrei. Meus olhos buscavam
incessantemente por Paola. Ri de mim mesmo, surpreso pela emoção que
senti quando a encontrei ao lado de sua irmã. Liliana, toda sorridente,
alimentava um pequeno canguru.
Inspirei profundamente! Era um sentimento novo, algo nunca
experimentado antes. Sua irmã também era adorável, a menina ria
encantada e Paola a observava com tanto amor, que meu coração foi tocado
profundamente. O contraste do dia ensolarado, após a noite anterior
chuvosa, tornava a cena ainda mais perfeita e significativa.
Num instante, Paola olhou ao redor e nossos olhos se encontraram.
— Simon. — Seus lábios se moveram junto a um sorriso de orelha
a orelha, me cativando prontamente.
— Oi. — Acenei com a mão indo na direção das duas irmãs.
Paola estava deslumbrante, usando a camisa amarrada na cintura.
Seus cabelos dançavam ao vento, agitados pela brisa suave daquela manhã.
A visão dela, tão radiante e cheia de vida, fez meu coração acelerar.
Paola cochichou algo no ouvido da irmã, que estava ocupada
alimentando o animal com a maior felicidade, e em seguida, veio me
encontrar.
— Então você veio — murmurou.
O perfume floral dela era embriagante, envolvendo meus sentidos.
— Estou aqui — disse, segurando sua cintura e beijando-a na face.
Meu desejo, no entanto, era tomá-la em um beijo intenso. Recebeu meu
cumprimento de olhos fechados, o que me instigou ainda mais, mas me
segurei. A contragosto, eu recuei após o beijo em sua irresistível face macia
e cheirosa.
Seus olhos percorriam meu rosto, especulativos.
— Algum problema? — indaguei notando que algo a perturbava.
— Encontrei a Charlotte em frente à sua casa e foi um desastre. —
Tombei a cabeça sobre o ombro, visivelmente interessado. Ela suspirou,
claramente ainda abalada. — Ela estava furiosa e insistiu em dizer que
vocês são noivos, que você a pediu em casamento.
Revirei os olhos, irritado pela enésima vez com a interferência de
Charlotte.
— Não fui eu quem a pediu em casamento. Charlotte está
enganada. — Minha voz saiu firme, mas meu coração batia forte com a
revelação que eu não podia fazer.
Seus olhos me analisavam, tentando decifrar minhas palavras, a
tensão entre nós era palpável. Ela mordeu o lábio, um gesto que sempre me
deixava louco.
— Charlotte mentiu, Simon? — questionou Paola e eu dei de
ombros em desinteresse. Seus olhos expressivos se estreitaram em suspeita.
— Como eu posso confiar em ti? Você fala muito pouco de si...
Pela primeira vez, senti um ímpeto de abrir o livro da minha vida.
Reprimi essa vontade. O livro deveria se manter fechado, pela segurança
dela e da sua irmã.
— Esqueça a Charlotte. — Toquei seu rosto, acariciando sua
bochecha com o meu polegar. — Vamos focar em você e Liliana.
Ela fechou os olhos novamente, inclinando-se ao meu toque. O
momento era intenso, carregado de emoções não ditas. Mesmo com todas as
complicações, a atração entre nós era inegável, uma força que parecia nos
puxar cada vez mais juntos, não resisti e a tomei em meus braços dando-lhe
um abraço forte, nossos corações batiam fortes, na mesma frequência.
— É impossível esquecer, impossível fingir que nada está
acontecendo. — Ela arqueou a cabeça o suficiente para os nossos olhos se
conectarem. — Não conheço você, Simon, e sua acusação me faz suspeitar
do meu tio, tanto que nem contei nada a ele, não dei parte à polícia sobre o
que aconteceu, e era o que eu deveria fazer... — Ela suspirou, a angústia era
evidente em seu olhar.
— Não foi à polícia porque, no fundo, confia em mim.
— Estou extremamente confusa — ela grunhiu, rindo, sacudindo a
cabeça de um lado a outro, e seguiu desabafando: — Não sei onde me
agarrar, me sinto como um barco à deriva, perdido em mar aberto. Tem
horas que, ao seu lado, sinto uma segurança inexplicável. Outras vezes, do
lado do meu tio, e na maioria das vezes, não me sinto segura em nenhum
dos lados. Você se esconde atrás da fachada de um empresário bem-
sucedido no ramo de energia, e meu tio, atrás de um político influente e
querido pelo povo. Acho que, seja qual for a corda que devo me agarrar,
acabarei afogada.
De repente, a voz animada de Liliana quebrou a tensão.
— Paola, Simon! Venham me ajudar a alimentar o canguru! — ela
chamou, em sua voz cheia de entusiasmo infantil.
A conversa ficou em suspenso. Paola e eu trocamos um olhar, em
um silêncio cheio de compreensão mútua. Era hora de deixar as
complicações de lado e dar atenção à sua irmãzinha.
— Vamos lá, não podemos decepcioná-la. — Eu disse, com um
sorriso que tentava esconder a complexidade dos meus sentimentos.
Caminhamos até onde Liliana estava e a alegria em seu rosto era
contagiante, sem dúvida alguma o parque era um paraíso tropical, repleto de
vida selvagem e aventuras ecológicas. O sol brilhava intensamente e o ar
estava impregnado com o cheiro de flores exóticas e folhas verdes.
— Olha só, Simon! — Liliana exclamou, apontando para um
canguru que parecia tão ansioso quanto ela para ser alimentado.
— Vamos lá, pequena. — Incentivei, pegando um punhado de
ração e ajudando-a a estender a mão sob o olhar atento de Paola com um
sorriso terno. O canguru se aproximou cautelosamente e logo estava
comendo direto da mão dela.
Era impossível não me sentir envolvido pela felicidade pura de
Liliana. E dali a líder criança nos guiou para a área dos lêmures,
maravilhada com os pequenos primatas.
— Eles são tão fofos! — ela exclamou, segurando cuidadosamente
um pedaço de fruta para um dos lêmures.
— E muito curiosos também — Paola acrescentou, rindo quando
um lêmure tentou pegar mais frutas de sua mão.
Eu me senti parte de algo genuíno e puro. Era uma vida diferente
da qual estava acostumado, mas uma que começava a me cativar de
maneiras que eu não esperava.
Enquanto caminhávamos pelo parque, Liliana correu adiante, suas
risadas ecoavam entre as árvores.
— Ela realmente está feliz — comentei, mais para mim mesmo do
que para Paola.
— Sim, ela está. — A voz de Paola era suave e cheia de emoção.
— E você também parece estar gostando.
— É uma vida diferente — admiti. — Boa, mas também
preocupante.
Seus olhos expressivos recaíam sobre mim, cheios de curiosidade.
— Preocupante por quê?
— Porque me faz querer algo que não sei se posso ter — respondi
honestamente.
Ela suspirou divagando, mas ali, sob a liderança da Liliana não
havia como refletir sobre nada além de entrar na onda da diversão.
Parando na lanchonete, pedimos hambúrgueres e batatas fritas. A
pequena e encantadora irmã de Paola, radiante, contava histórias sobre os
animais que havia visto.
— Simon, você viu aquele pássaro gigante? Parecia saído de um
filme! — ela exclamou, mordendo o seu hambúrguer.
— Sim, vi sim — respondi, rindo. — E acho que ele gostou de
você.
A conversa fluía perfeita, depois do lanche, compramos pipocas e
continuamos nossa exploração. A cada canto, um novo riso, uma nova
descoberta. Os peixes coloridos no lago foi a próxima atração.
— Eles parecem pintados à mão — comentou, fascinada.
Paola e eu trocamos olhares cúmplices. Estávamos vivendo um
momento único, uma bolha de felicidade em meio a tantas incertezas.
Quando o sol começou a se pôr, sentamo-nos em um banco,
observando o céu mudar de cor.
— Hoje foi incrível! — Liliana disse, seu rosto brilhava de
felicidade.
— Foi mesmo — concordei, sentindo uma paz interior que nunca
experimentei antes.
Paola segurou sua irmã com um carinho puro e prometeu:
— O tio Henry me concedeu uma semana de descanso, e vou
passá-la todinha contigo, maninha.
Liliana vibrou de felicidade.
— Oba, oba! — Sua alegria era contagiante e me senti orgulhoso
de Paola por lidar com tanto amor e intensidade com sua irmã.
Peguei na mão dela e a apertei, sorrindo, como se dissesse:
"Parabéns".
Sob o céu em mudança de Miami, analisei o rumo que o meu
caminho estava tomando. Concluí que seria um calhorda se arrastasse as
duas comigo. Elas mereciam um mundo melhor do que eu poderia oferecer.
Já estava quase na hora do fechamento do parque, mas Liliana
queria aproveitar ao máximo. Correu para o parque infantil, havia um vovô,
de aproximadamente 80 anos, cuidando da sua neta, Liliana começou a se
divertir num brinquedo após o outro. Eu e Paola a observávamos, lado a
lado. Quando me virei para Paola, a puxei para um beijo terno e calmo. Não
conseguia sentir outro sentimento senão paixão por essa garota.
Durante a pausa do beijo, Paola começou a falar, ainda com os
lábios próximos aos meus:
— Quando você está aqui conosco, parece que é um homem
honrado, livre de qualquer suspeita.
Ela tinha motivos de sobra para essa desconfiança. Os planos eram
apenas completar a missão e desaparecer, mas ela mudou minha trajetória.
E quando eliminei seus sequestradores, acabei revelando a ela a minha real
natureza. Mas eu escolhi salvá-la e não me arrependo.
Afastando a cabeça, busquei o seu olhar e perguntei, curioso:
— Agiu corretamente em não contar ao seu tio sobre o atentado
que sofreu. — Ela apenas suspirou, ainda em dúvida se tinha feito a coisa
certa. — O mandante não sabe que fui eu quem a livrou dos homens.
Paola respirou fundo e então contou:
— Realmente ele deu a entender que não sabe de nada, me tratou
com todo carinho e preocupação por eu ter dormido fora de casa sem avisar.
Agora, ele sabia que eu encontraria minha amiga Mila no bar. Ou seja,
estou abraçada a dúvida, com minha cabeça cheia de medos.
O medo exalava dela, e aquilo me tocou. Eu não queria assustá-la,
mas precisava deixá-la em alerta. Precisava confirmar se de fato Henry
Paterson tentou matar sua sobrinha. Conhecia os métodos de Henry e sabia
que ele era capaz de atrocidades, mas precisava de certeza para tirá-la dos
cuidados daquele verme. Precisava entender os motivos de seu tio querer
vê-la morta.
Segurei nos ombros de Paola, olhando-a nos olhos, e prometi:
— Vou cuidar de você e da sua irmã. Se quiser, posso tirá-las da
cidade.
Paola negou de imediato.
— A mesma desconfiança que você plantou sobre o meu tio Henry,
eu sinto sobre você também.
Sorri, achando interessante sua colocação, e a abracei. Ela
encostou a cabeça no meu peito, enquanto eu beijava o topo de sua cabeça e
observava Liliana no brinquedo. Me chamava a atenção do velho estar
conversando com ela enquanto a sua neta estava sozinha em outro
brinquedo. Com meus olhos atentos em Liliana, ouvi uma mulher correndo
e gritando em direção à criança brincando sozinha.
— Alba? — Aquela mulher pegou na mão da menina gesticulando
e saiu com a garota.
E quando passava por mim e Paola ouvi sua advertência:
— Alba, não pode se afastar da sua família, entendeu?
— Aquele vovozinho disse que ia me levar no brinquedo mais
legal — explicou-se a garota, acendendo-me o sinal de alerta.
Meu celular tocou.
— Só um instante, Paola. — Atendi de imediato ao ver o número
do motorista de Henry.
— Fique atento, Simon! Vocês estão sendo vigiados — disse o
motorista.
— Já percebi! — disse com os olhos naquele velho no maior bate-
papo com Liliana.
CAPÍTULO 22

PAOLA

O olhar de Simon mudou drasticamente, encarando aquele vovozinho


conversando com Liliana. Seus olhos faiscavam emitindo um ódio mortal, eu não
compreendia que maldade poderia haver naquele senhor inofensivo, usando bengala e
boina, com seus cabelos mais brancos que as nuvens.
— Vamos tirá-las do parque e atrair esse cidadão para longe para não causar
alvoroço — orientou Simon. — Agora. — Sua voz se transformou em um timbre forte,
que eu desconhecia, com uma impressão de eco e desligou o celular. — Busque rápido
a sua irmã, mas de forma natural.
Na dúvida, fiz o que ele mandou sem questionamentos. Chamei Liliana.
— Liliana, vamos, está na hora de ir embora — tentei soar casual.
— Mas eu quero brincar mais um pouco! — ela protestou, fazendo beicinho.
Lembrando da urgência na voz e gestos de Simon, abracei minha irmã e
sussurrei em seu ouvido:
— Já está tarde, minha linda. Precisamos poupar energia para amanhã.
Prometo que vamos nos divertir muito.
Ela sorriu animadinha e concordou.
— Tá bom, mana. Amanhã eu quero ver os leões de novo! — disse e deu
tchau com a mão ao senhorzinho. Ele acenou com um sorriso gentil.
Enquanto nos afastávamos, senti uma leve dor nas articulações das mãos,
provavelmente devido a tensão do momento para esse sintoma familiar surgir.
“Momento inoportuno.” Ignorei a dor.
Simon parecia diferente, com ares de um segurança que captou o perigo.
Ainda tinha dúvidas sobre o caráter dele, mas optei por seguir suas orientações. Orava
para não estar fazendo uma burrada, mas no fundo, na parte mais profunda de mim,
tinha uma certeza de que Simon era do bem, embora fosse um assassino.
“Caramba!” Ri da minha própria confusão, pois não sabia mais de nada.
Simon pegou Liliana no colo com a desculpa de que ela estava cansada e
queria poupá-la. Ela riu, toda cheia de si com o carinho. Depois entrelaçou os dedos da
sua mão nos meus e nos conduziu para fora do parque. Sentia o perigo no ar e estava
sem fôlego de tão rápido que batia o meu coração.
Enquanto caminhávamos no sentido oposto ao estacionamento, Liliana
falava sem parar sobre o seu dia maravilhoso e o quanto estava apaixonada pelos
animais. Eu apenas ria, apreensiva.
Ao chegarmos perto da saída, Simon entregou Liliana ao motorista Rony,
certeza de que ele era os olhos do Simon dentro da casa do meu tio. E logo o instruiu
autoritário:
— Leve Liliana para um lugar seguro e não a perca de vista. — Simon jogou
a chave do seu carro ao motorista.
O motorista entregou a chave do carro do tio Henry a Simon e saiu
apressado com Liliana. Mas Simon não disse para onde a levariam e isso me
desesperou. Comecei a protestar, chorando e balançando a cabeça.
— Simon, onde estão levando a Liliana? — perguntei, com a voz trêmula de
preocupação e lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Eu não vou me afastar da
minha irmã! — gritei, começando a caminhar na direção em que o motorista havia ido.
Simon rapidamente fechou os dedos em meu pulso, puxando-me de volta
para ele. Com uma firmeza surpreendente, segurou nas laterais do meu rosto,
forçando-me a olhar em seus olhos.
— Paola, confie em mim. Ela estará segura. — A voz dele era intensa,
carregada de urgência. — Precisamos tirar você daqui, agora.
Eu tremia, o desespero transbordava em meus olhos, mas algo na intensidade
de Simon me fez parar e ouvi-lo.
— Não existe mais dúvida. Agora tenho certeza de que Henry quer matá-la.
Se você não seguir as minhas orientações, ele vai te matar, fazer parecer um assalto e
sair ileso.
Com o coração na mão, respondi que era um absurdo desconfiar de um
velhinho indefeso.
— Confie em mim, Paola. Ele não é apenas um velhinho. Vou te provar.
Aceitei seguir Simon. Ele segurou minha mão e nos levou até o carro do
motorista de Henry. Abriu a porta de trás para mim. Respirei fundo, contrariada, e
entrei no carro. Saímos do estacionamento em direção a uma estrada mais deserta.
Simon dirigia em alta velocidade quando percebi que estávamos sendo
seguidos. Ele acelerou, depois freou bruscamente e saiu da pista, obrigando o carro
que nos seguia a passar por nós. Entrou à direita e pegou um atalho, com o carro ainda
nos seguindo.
Simon sacou um revólver da cintura com uma habilidade que lembrava
cenas de filmes de mafiosos. Parou o carro bruscamente, mantendo os olhos no
retrovisor. Dois homens desceram do carro atrás de nós, fortemente armados e se
aproximavam. Em seguida, desceu o velhinho, que eu achava inofensivo. Ele segurava
um revólver, apontando diretamente em nossa direção.
— Abaixe-se e se proteja! — ordenou Simon, rispidamente, saindo do carro
e se distanciando para se colocar como alvo principal, protegendo-me dentro do
veículo.
Abaixei-me, mas não pude deixar de espiar pela janela. Simon se moveu
com precisão, rendendo um dos bandidos, contorceu o braço dele forçando-o a atirar
no companheiro. O tiro acertou o peito do outro homem, que caiu no chão apagado,
em seguida pegou a mão desse bandido e o fez acertar a própria perna, ele caiu
contorcendo-se de dor.
O velhinho foi o terceiro a ser atingido, no braço que segurava a arma,
fazendo-o cair no chão, gemendo. O homem ferido na perna tentou se levantar, mas
Simon, implacável, pegou a mão do bandido morto e posicionou a arma em direção a
ele, e um disparo certeiro, acertou a testa do homem que deve ter morrido de imediato.
Simon fez parecer, e incontestavelmente, que os bandidos se mataram entre si. Entendi
ali como ele agiu com os anteriores que tentaram me sequestrar.
Cada movimento de Simon foi calculado e eficiente. Se aproximou do
velhinho, com seus olhos queimando de determinação e fúria. Estava claro que Simon
era um mafioso ou algo parecido, alguém altamente treinado e perigoso.
O velhinho, apavorado, começou a gritar, tremendo de medo.
— Pelo amor de Deus, não me mate! — ele implorava, a voz familiar ardeu
em meu peito e minha alma. Desci do carro indo na direção dele.
Simon se aproximou, com a arma ainda apontada, seus olhos frios e sem
piedade.
— Por favor, eu sou apenas um velho! — o velhinho choramingou, sua voz
quebrada e desesperada.
Meu coração batia descompassado e a cena diante de mim parecia surreal.
Simon, sem desviar o olhar, manteve a arma firme, mas algo nos olhos do velhinho
parecia mexer com ele.
— Fique aí, Paola! — ordenou Simon, sua voz agora estava um pouco mais
controlada, mas ainda cheia de autoridade.
— Eu estou aqui para protegê-las, por favor, não me mate! — gritou
novamente, me arrepiando dos pés à cabeça. Dessa vez, a voz era outra e eu a conhecia
realmente.
— Carter?
Eu tremia, sem saber o que pensar ou sentir. A realidade estava longe do que
eu imaginava e tudo parecia um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.
— Sim, é esse verme mesmo — pronunciou Simon, com os olhos faiscando
de ódio. — Tire a máscara, seu covarde.
Olhei séria para Simon. A resposta dele indicava que ele conhecia bem
Carter. Lembrei-me de uma oportunidade que comentei sobre a minha vida e
mencionei o nome Carter. Naquela ocasião, Simon ficou estranho.
Simon se abaixou e pegou Carter pelo colarinho, colocando-o de pé. Carter
era um homem de aproximadamente 40 anos, de cabelos grisalhos e ralos, com uma
expressão cansada e olhos cheios de medo. Seus ombros estavam curvados e ele tremia
visivelmente.
Simon pressionou o cano do revólver contra a nuca de Carter, que fechou os
olhos e começou a chorar como um bebê.
Eu estava desconfiada de Simon, mas não sentia pena de Carter. Simon
ordenou friamente:
— Desembuche e conte pausadamente e em detalhes. Eu quero nomes e
motivos. — Ele acionou o gatilho como ameaça, e então Carter começou a delatar.
— Foi o Henry Paterson que nos contratou para eliminar as sobrinhas —
confessou Carter de imediato.
Uma onda de frustração, mágoa e medo me invadiu. Meu corpo tremia e
minhas mãos estavam geladas. Sentia meu coração batendo na garganta, formando um
nó que quase me impedia de respirar. Meu peito doía e minhas articulações pareciam
mais rígidas que o normal. Sintomas que não me abandonavam. Simon, percebendo
meu estado, me olhou preocupado, mas não pôde se aproximar, ocupado em arrancar a
confissão do crápula do ex de minha mãe.
— Por quê? — murmurei, com minha voz quase inaudível.
Carter desviou o olhar, sua expressão de culpa era evidente.
— É pelo seu envolvimento com Simon, o maior rival de Henry na política
— disse ele, não convencendo Simon que, furioso, deu um murro no estômago de
Carter.
— Você está mentindo! — gritou Simon. — Isso contradiz com o que disse
antes, que era para eliminar as sobrinhas. Liliana não estaria no pacote de mortes se eu
fosse o motivo.
Carter abaixou a cabeça, assentindo.
— Tem razão. Mas não sei exatamente os motivos para querer as duas fora
do mapa. Eu estava disposto a proteger a minha filha, por isso me aproximei dela no
parque. Iria fugir com Liliana, mas eu não contava que o motorista de Henry Paterson
fosse um espião. — Sua voz era sincera, quase implorando por misericórdia.
Eu estava paralisada, lutando para entender a magnitude da traição de meu
tio Henry e a complexidade da situação em que me encontrava. As palavras de Carter
ressoavam em minha mente e a realidade de nossa vulnerabilidade era avassaladora.
Simon chacoalhava Carter, a frustração e a fúria estampadas em seu rosto.
Carter, visivelmente apavorado, implorava por clemência.
— Eu juro, Simon, eu juro que é só isso! — Carter gritava, estremecendo. —
Eu não sei de mais nada! Por favor, não me entregue ao Henry. Eu não posso morrer!
Eu, escondida e observando a cena, levei a mão à boca, lágrimas rolavam
livremente pelo meu rosto. A visão de meu tio sendo descrito como um monstro me
devastava.
Simon apertou ainda mais a mão em Carter, com seu olhar penetrante.
— Não me convenceu, seu bandido medíocre! — Sua voz era fria e
calculista. — Mas vou deixá-lo partir. E entenda uma coisa, isso não é liberdade. Sua
verdadeira liberdade virá apenas quando você colocar a mão na consciência, delatar
Henry ao mundo e salvar a sua filha.
Soltando Carter, Simon deu um passo para trás, observando enquanto Carter
cambaleava, recuperando o equilíbrio enquanto o sangue escorria do seu braço.
Percebi que o tiro o pegou de raspão. Eu, ainda chorando, sentia uma mistura de alívio
e confusão. Não conseguia conciliar o carinho de Simon com sua crueldade necessária.
— Por favor, vá antes que eu mude de ideia — ordenou Simon, apontando
para uma direção. Carter não perdeu tempo, saindo apressadamente.
Depois que Carter desapareceu, Simon se virou para mim. Ele enxugou uma
lágrima do meu rosto, seu toque era surpreendentemente suave.
— Eu fiz isso por você, Paola. Quero que você saiba que estarei do seu lado,
sempre.
Eu não conseguia respirar, sequer me mover. Tudo doía em mim, meu corpo,
minha alma.
Ele se aproximou e sua mão tocou o meu rosto em forma de concha.
Respirei, trêmula, olhando aqueles dois corpos. Estava ainda fora de órbita.
— Você os matou. — Saiu apenas um fio de voz e Simon me tomou em seus
braços.
— Não! Eu salvei você — sussurrou em meu ouvido, mas eu estava
apavorada.
— Ok, mas precisamos chamar a polícia, contar tudo o que está
acontecendo.
Simon grunhiu, balançando a cabeça como se eu fosse muito ingênua. E
acho que no mundo dele eu era mesmo. Agora entendia a frase que ele disse no dia do
acidente no lago, quando perguntei se ele era o diabo e ele respondeu que seu mundo
era mesmo o inferno. Eu estava me aprofundando nesse mundo de trevas e isso me
assustava.
— Não confio na polícia, não por enquanto. A denúncia chega nas pessoas
erradas e tudo volta à estaca zero. Mas não se preocupe. Estarei tomando uma
providência que a Nação vai investigar Henry Paterson. Nesse caso, ele não vai se
arriscar.
Cada vez mais, eu enxergava o meu tio como um monstro.
— Henry Paterson é mesmo um assassino? — Eu tentava processar tudo.
Apesar dos métodos de Simon, sentia que ele procurava me proteger. Eu sentia e não
sentia confiança nele.
Então, capcioso, ele sugeriu:
— Tem um jeito de sanar suas dúvidas. Pegue seu celular e ligue para a
polícia, se identifique como da família do Henry Paterson, diga que tentaram
sequestrar você e sua irmã e que precisam de ajuda, então verá a mágica acontecer.
O temor tomou conta de mim.
— E você?
— Não importa como e de onde, mas eu estarei vigiando vocês. — Ele
repousou a mão em minhas costas. — Vamos nos afastar para que, quando o motorista
trouxer sua irmã, ela não presencie todo esse cenário.
Logo em seguida, Simon enviou uma mensagem ao motorista. Ele não levou
mais que dois minutos para chegar. Então, largou o carro e ele e Simon saíram de cena.
Peguei o meu celular e disquei o número da polícia conforme as instruções de Simon.
— O que está acontecendo, Paola? — Liliana, inocente, não presenciou toda
aquela violência. Peguei na mão da minha irmãzinha e beijei o topo de sua cabeça.
— Está tudo bem, meu amor. Vem comigo. — Nos sentamos sob uma árvore
e permanecemos ali, abraçadas, até o socorro chegar. E chegou rápido.
Henry Paterson chegou em seu carro executivo, junto com os seguranças, e
uma viatura policial que fazia a sua escolta do carro. Enquanto os carros oficiais
pararam próximo a mim e a minha irmã, a viatura circulou ao redor dando sinais claros
de que procurava por mais alguém. O que era intrigante e confirmava as acusações de
Simon, pois, para um sequestro de membros da família de um senador influente, havia
pouca ou nenhuma movimentação da polícia. Então a viatura parou ao lado dos outros
carros, apenas um policial fardado desceu dela. Henry e seus seguranças, com as mãos
à cintura, desceram em seguida. Percebi que Henry estava acomunado com a polícia, e
que eu e minha irmã corríamos sérios riscos. Mas, como uma boa artista, montei o meu
espetáculo. Corri para abraçar o meu tio, aliviada e agradeci.
— Tio, estou tão aliviada que o senhor está aqui, obrigada, obrigada!
Ele apenas assentiu de cabeça, pois estava muito ocupado, ainda atento
procurando algo entorno, seus homens também zanzavam por ali. É claro que ele
procurava por Simon, estava na cara.
O policial foi até a cena do crime e retornou fazendo poucas perguntas,
dando a impressão de que já sabia exatamente o que ocorreu no local. Nem
perguntaram do Rony, muito menos quem atirou em quem.
Eu dizia que o motorista saiu correndo atrás do terceiro atirador, criava o
meu cenário, enquanto o policial apenas trocou olhares estranhos com Henry e sacudia
a cabeça em negativa. Não restavam dúvidas para mim: Simon estava mesmo certo. A
verdadeira personalidade de Henry Paterson estava escondida atrás da fachada de um
influente senador e empresário. Eu entrei no jogo, menti descaradamente.
Henry sabia do meu envolvimento com Simon, mas ele fingia ser o melhor
tio do mundo, carinhoso e atencioso. Liliana ficou encantada com ele, beijando e
abraçando-o. Tadinha.
— Graças a Deus, vocês estão salvas e bem. Vocês são minhas joias raras, e
eu vou cuidar de vocês. — Henry nos abraçou com um visível carinho falso. Liliana
não entendia de nada e até soltou um: “eu te amo, tio”.
Ele se afastou com seus homens e o policial, mas eu ouvi o teor da conversa:
— Vamos fazer uma limpeza aqui... — Do restante nada mais escutei.
Depois, tio Henry, agindo como um tio protetor, colocou a mim e a minha
irmã no carro. Nos levou até o portão de casa e requisitou que um dos seguranças no
carro ficasse na casa, cuidando bem da gente. Depois se dirigiu a mim:
— Eu gostaria de conversar à noite sobre você fazer uma viagem para
relaxar, você e a Liliana — Henry disse com um sorriso quase paterno.
Engoli em seco, uma viagem que poderia ser a nossa morte. “Ô cacete!”
— Ok, tio — respondi, expondo um sorriso falso, estava era me borrando de
medo. Mas sabendo que, a partir daquele momento, não podia contar com a polícia.
Somente Simon parecia ser o meu deus, meu herói.
“Tanto faz.”
Assim que o carro virou a esquina, segurei na mão da Liliana, que reclamava
estar exausta. Entramos na casa, estava silenciosa, então seguimos pela porta de vidro
e área gourmet, e saímos por um portão pequeno de serviço.
— Aonde vamos, Paola? — perguntou minha irmã.
— Tenho uma surpresa para você, bonitinha — respondi rindo cheia de
mistério e ela vibrou.
Simon logo estacionou o carro ao nosso lado.
Ele abriu a porta e nós entramos.
— Eu falei que estaria por perto. — Piscou ele, e nos levou até um hangar na
região de Miami, onde havia jatos executivos estacionados. Um deles já estava com o
motor ligado. A área era deserta, com luzes brilhando nas pistas e alguns poucos
funcionários cuidando das aeronaves.
O Rony, motorista de Henry, estava por ali e abriu a porta do lado da Liliana.
— Nós vamos voar? — perguntou Liliana toda eufórica.
— E será muito divertido. — Rony segurou na mão da minha irmã e a levou
em direção a aeronave. Simon me puxou para os seus braços, tentando me acalmar.
— Vocês ficarão seguras — garantiu ele.
Afastando-me, segurei no colarinho da camisa de Simon, exigindo
explicações:
— Quero saber a verdade, Simon. No que meu tio está metido? — insisti,
com minha voz tremendo de emoção. — Revele o verdadeiro caráter dele.
Simon me olhou nos olhos, a amplitude do momento estava refletida em seu
semblante sério. Então, ele me beijou com ternura. Afastando-se, esfregou os
polegares nos meus lábios. Recebi o carinho com os olhos fechados e respiração
acelerada, muito apreensiva e assustada.
— Prometo que, quando vocês duas estiverem seguras, você conhecerá o
verdadeiro Henry Paterson.
Ele desceu do carro e contornou a frente do veículo. Seu magnetismo era
inegável, cada movimento calculado e seguro. Meu coração estava cada vez mais
apegado a ele, apesar de todo o medo.
Simon me chamou me levando em direção à aeronave e pegou minhas mãos.
— Vou cuidar de vocês, eu prometo.
De repente, fui pega de surpresa ao sentir uma dor aguda nas articulações e
um calor subir pelo meu corpo. Bem, surpresa não seria o caso, pois desde a queda no
lago de águas frias, vinha sentindo esses incômodos. Minhas pernas fraquejaram.
Simon imediatamente percebeu, segurando-me firme.
— Paola, o que está acontecendo? Seu rosto ficou pálido. — A preocupação
era evidente em sua voz.
Respirei fundo, tentando me recompor.
— Estou bem, muita coisa para processar... Só... só preciso de um momento
— consegui dizer, embora minha voz estivesse fraca.
A dor diminuiu e consegui me recuperar rapidamente. Simon me olhou nos
olhos, ainda aflito.
— Quando estiver em segurança, vão te dar um celular e você liga para o
Henry Paterson, avise que ficou assustada com tudo e resolveu sair de férias com a
Liliana por alguns dias.
Eu não entendia como isso poderia funcionar, e precisava das medicações...
— Meu tio não vai acreditar... e os remédios... A Liliana toma medicamentos
para asma — expliquei e ele respondeu com total segurança.
— Certamente que não! Mas... vai ficar quieto, não fará nada até ter a
certeza de que o Carter esteja eternamente mudo. Ele nunca colocará seus interesses
em risco.
Arquei a cabeça com os olhos arregalados, com as ideias povoando minha
mente…
— O quê, Carter não fugiu? — perguntei dúbia.
— Mas ele volta... — garantiu com um sorriso sarcástico. — Até que eu
arranque toda e as informações necessárias, ele terá a chance de respirar. E sobre os
medicamentos, tranquilize-se você e sua irmã encontrarão todo apoio no seu destino...
Agora, vá!
— Tá bom! — respondi nervosa. Na verdade, nosso futuro era incerto, meu
e da minha irmãzinha. Mas o que eu podia fazer? Estava como naquele conhecido
ditado: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Me restava confiar. Uma voz
gritava dentro de mim que eu podia confiar; se ela estava certa, eu pagaria para ver.
Ele beijou minha testa e eu embarquei na aeronave.
Nossos olhos se conectaram até a aeronave decolar. No meu coração havia
uma mistura de medo e esperança, e fiz uma prece silenciosa para que tudo acabasse
bem, e para que eu não estivesse enganada ao confiar em Simon.
CAPÍTULO 23

SIMON

Meus olhos seguiram a aeronave sobrevoando, sentindo o peso


enorme da responsabilidade por Paola e sua irmã. Ver o jatinho se afastando
no céu era como ver um pedaço do meu próprio destino escapando entre as
nuvens. Meu coração estava tomado por um senso avassalador de proteção.
Cada fibra do meu ser sabia que eu precisava proteger aquelas meninas a
qualquer custo.
"Estou proibido de errar." Não podia deixar espaço para Henry
Paterson agir, especialmente contra Paola. Ela se tornara mais importante
para mim do que minha própria missão, mais crucial do que qualquer
vingança que eu pudesse planejar.
O motorista chegou ao meu lado, também contemplando o avião.
Ele quebrou o silêncio:
— A vida não se cansa de nos surpreender, não é mesmo?
Seu comentário parecia ter sido arrancado da própria alma do
destino. Grunhi, rindo amargamente, passando a mão pelos cabelos.
— Pois é! — pausei, refletindo sobre os acontecimentos recentes
enquanto observava o avião sumir no horizonte. O destino havia jogado
mais responsabilidades sobre as minhas costas do que eu jamais poderia
imaginar. Nunca pensei que encontraria um anjo autêntico e brilhante na
minha busca por vingança. Algo tão improvável, pois, no meu mundo de
morte e violência, a fuga dos anjos era inevitável. — O destino redesenhou
meu mapa, adicionando ruas sinuosas e cheias de curvas. Agora, é preciso
segurar firme o volante para não perder o controle.
— Você dá conta, Simon — disse ele confiante, e eu assenti,
respirando profundamente.
— Eu preciso dar conta — respondi com a verdade crua e
inescapável no meu coração.
Eu sabia que cada decisão tinha que ser precisa. Com Paola e
Liliana sob minha proteção, o jogo havia mudado. Não se tratava mais
apenas de vingança, mas de garantir que elas estivessem seguras em um
mundo onde a traição e a violência eram constantes. Estava preparado para
enfrentar qualquer desafio, qualquer ameaça, porque no final das contas, eu
tinha algo — alguém — muito mais valioso para proteger.
— Preparou a chegada das duas irmãs no destino? — me
certifiquei. O motorista afirmou que sim. — Ótimo. Capturaram o Carter
conforme eu pedi?
— Sim, chefe! Ele está dopado no porta-malas do carro.
— Bom trabalho! Providencie uma excelente acomodação para ele
e você desapareça por um período, eu aviso quando precisar de você.
— Sim, senhor! — assentiu o motorista e se foi.
Eu segui rumo à minha casa. No caminho, liguei para o gabinete,
usando o telefone exclusivo de Julian, a intenção era apressar o debate.
— Julian, em que pé está o debate em rede nacional? — perguntei,
sem rodeios.
— Estamos quase lá, Simon — respondeu Julian, com um toque de
orgulho na voz. — Consegui negociar com uma grande emissora. Estamos
90% certos de que eles aceitarão. O problema é que querem o debate para
daqui a três dias. Isso é praticamente impossível de organizar a tempo.
Interrompi sua ladainha antes que ele pudesse se alongar.
— Três dias está perfeito. Estou preparado para esse debate. Quero
que você garanta isso, Julian. Não importa o que precise fazer.
Ele hesitou por um momento, mas depois riu, demonstrando sua
eficiência.
— Vou fazer o possível, Simon. Pode deixar comigo.
— Ótimo. — Era imprescindível que algumas dúvidas fossem
jogadas no ventilador, para que a mídia e os eleitores começassem a
questionar Henry Paterson. Especialmente a polícia. Queria que eles se
sentissem obrigados a investigar as acusações. Algumas coisas podiam ter
mudado nos meus planos, mas não mudou o fato de que primeiro Henry
Paterson seria humilhado, para depois ser aniquilado. — Conto contigo,
Julian — intimei.
Ocupado se defendendo perante a justiça e seus eleitores, Henry
desviará os olhos da Paola. Um jogo bom!
— Entendido. Vou garantir que tudo corra conforme planejado.
Desliguei o telefone, ciente de que cada movimento precisava ser
meticulosamente calculado, considerando o poder e a influência de Henry
Paterson, algo que não podia negar. O cretino vinha agindo há décadas sem
ser importunado.
"Seu reinado está prestes a terminar. Para mim, não é apenas uma
promessa; é uma missão de vida."

***

Em casa, eu troquei o terno por uma roupa casual, mas bastante


elegante. Estava indo para o rancho ao sul de Miami, nos arredores da
Reserva Natural Everglades, o lugar onde Paola havia caído no lago, e onde
vivemos momentos intensos. Chegando à propriedade, o sol brilhava, mas o
lugar era afastado e parecia deserto, como uma propriedade de temporada
raramente visitada.
Entrei na cabana, o perfume sutil de Paola ainda pairava no ar. O
cowboy, que era parte da minha equipe, estava ali, amarrando seu cavalo.
— Simon — ele me cumprimentou. — O hóspede está bem
acomodado, como você solicitou.
— Muito bem. Vamos lá. Preciso dar as boas-vindas ao nosso
amigo Carter — respondi.
Seguimos até uma área disfarçada do rancho. Tiramos algumas
folhas e detritos, revelando uma tampa no solo. Ao abrir, descemos para um
bunker úmido e escuro. Havia uma prateleira com apenas quatro garrafas de
água e quatro latas de alimentos enlatados. Um banheiro sem papel
higiênico e um pano forrado no chão. A iluminação era fraca, sustentada por
uma bateria com energia para apenas quatro dias.
Carter estava sentado no chão, com os olhos arregalados de medo.
O cowboy se aproximou e encostou a arma na nuca dele, fazendo-o tremer.
— Por favor, pelo amor de Deus, não me mate! — ele implorou.
— A morte sem dor e sofrimento é um presente que eu não estou
disposto a te dar, Carter — frisei, sinalizando com minha mão direita para o
cowboy abaixar a arma. Arrastei uma cadeira, virei-a e me sentei com uma
perna de cada lado, cruzando os braços sobre o encosto.
Encarei Carter com cinismo.
— Você tem duas opções — comecei friamente. — Cuspir a
verdade agora ou ficar aqui trancado e morrer sozinho, esquecido. Você tem
comida e água para apenas quatro dias. Ah, e claro, vai sofrer de abstinência
sem suas drogas.
— Eu amava a mãe da Paola, sabe? — começou Carter, tentando
jogar com minha paciência. — Fomos felizes por um tempo. Eu amava a
minha filha, mas fui um covarde... As drogas me tornaram dependente e
incapaz. Foi por isso que sumi.
Rolei os olhos, impaciente.
— Qual o acordo que fez com Henry Paterson para o meu
sequestro em Appalachia, West Virginia, há quatro anos?
Carter arregalou os olhos amedrontado.
— Cara, isso faz muito tempo e você está aqui vivo e...
— Cala a merda da boca e responda as minhas perguntas — o
intimidei.
Ele tinha uma expressão confusa e aterrorizada, como um animal
encurralado, no entanto, seguiu calado.
Dei um aceno de cabeça ao cowboy, que se aproximou e enfiou o
cano do revólver dentro do ouvido de Carter. Ele fechou os olhos com força
e começou a gritar, apavorado.
— Por favor, pelo amor de Deus, não atire! — gritou o cagão, com
a voz trêmula e desesperada.
— Chega de enrolação e responda corretamente à minha questão,
CARALHO! — exasperei, com uma expressão ameaçadora.
— Tá, tá, tá... — começou Carter, respirando fundo. O cowboy
retirou a arma do ouvido dele e se afastou um pouco à minha sinalização.
Carter olhou para ele apavorado e começou a falar: — Há quatro anos havia
rumores de que você seria um possível candidato à Presidência dos Estados
Unidos. Henry Paterson queria impedir. Como você estaria na cidade da
Elizabeth, minha namorada, ele me contratou para fazer o serviço. Passei
algumas horas com ela, nos divertimos e fui quando chegou a hora de fazer
o meu serviço, só que que chegaram primeiro e sequestraram você... —
Pausou Carter, me olhando especulativo. Eu o fitava impassível. — O que
ocorreu naquele sequestro, Simon? Não houve denúncia, alarde... tudo foi
abafado, e no dia seguinte você já estava na sua empresa, trabalhando
normalmente.
— Quando se tem muito dinheiro, se pode pagar alto por um
resgate — respondi apenas, emendando outra questão. — Você matou a
mãe da sua filha naquela noite, Carter.
— Claro que não! Ela estava bem quando eu saí da casa dela.
Provavelmente ela, como sempre, fora de controle no consumo, usou até ter
overdose. Com a morte da Elizabeth, Henry Paterson garantiu que cuidaria
muito bem da minha filha Liliana e mandou eu desaparecer até a poeira
baixar.
— Cuidaria tão bem e, de repente, decidiu matar as sobrinhas. Por
quê, Carter?
— Eu também quero descobrir, Simon! — ele gritou. O desespero
era evidente na voz.
— Eu já falei, sem enrolação... Te dou dois minutos e depois
acabou todas as suas chances — falei, segurando o relógio no pulso e
olhando para o tempo que passava.
O merda começou a implorar:
— Por favor, Simon, deixe-me sobreviver. Eu faço qualquer coisa
para salvar a minha filha. Se quiser, mato Henry Paterson para que você não
precise sujar suas mãos! — implorou Carter.
Parei na saída, refletindo sobre a oferta. Eu já havia decidido que
Carter faria o serviço sujo, não como o matador, mas ele se passaria como
vilão por fazer as denúncias já todas preparadas. Sabia que ele toparia
qualquer coisa por dinheiro. Todo o meu plano era importante, mas não
mais do que garantir que a imagem e a honra de Simon Costello
permanecessem ilibadas. Contudo, esse interrogatório era crucial para
descobrir o verdadeiro motivo de Henry Paterson querer suas sobrinhas
mortas.
— Vamos ver, Carter. Vou pensar no seu caso — disse, com um
sorriso frio, antes de sair do bunker, deixando-o na escuridão de sua nova
realidade.

***

De volta à cabana do rancho, o cowboy aguardava minhas


próximas instruções. A expressão dele era de expectativa, querendo saber o
que fazer a seguir.
— Carter tem suprimentos para quatro dias — avaliei, mantendo
minha voz firme e controlada. — Estou confiante de que em três dias tudo
estará resolvido. Aguarde minhas novas instruções.
Ele assentiu, compreendendo a gravidade da situação. Caminhei
até o meu carro e segui em direção a Miami. Durante o trajeto, peguei meu
telefone e fiz uma ligação importante.
— Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? — disse a voz
metálica do outro lado da linha, carregada de ironia.
Grunhi com um leve sorriso no canto dos lábios, reconhecendo o
atrevimento. Mas eu sabia da importância desse homem na organização.
Seu serviço era impecável.
Respirei fundo, controlando o impulso de recolocá-lo em seu
devido lugar.
— Estou ligando para reforçar que as sobrinhas de Henry Paterson
são hóspedes VIP e devem ser bem tratadas. Em três dias, entrarei em
contato novamente.
— Entendido, Simon. Elas serão tão bem tratadas! Estou
garantindo pessoalmente que tudo corra conforme o planejado.

***

Na manhã seguinte, vesti um terno azul-escuro impecável e segui


para o escritório da Energia Solaris Inc. A luz matinal filtrava pela janela de
parede a parede, iluminando o cenário do centro financeiro de Miami. Tão
logo me acomodei na imponente cadeira executiva, o telefone sobre a mesa
tocou, interrompendo o silêncio. Minha secretária transferiu a ligação de
Henry Paterson.
— Simon. — A voz do farsante soou agressiva, quase cortante. —
O que está fazendo com minhas sobrinhas? — Ligando a esse horário é
porque ele certamente já recebeu a ligação da Paola conforme a minha
instrução.
Eu sorri ironicamente, já antecipando essa reação.
— Suas sobrinhas? E como elas estão? — perguntei, fingindo
desentendimento para provocar.
A ira de Henry era sólida do outro lado da linha. Ele começou a
gritar, descontroladamente:
— VOCÊ É UM HIPÓCRITA E NÃO PERDE POR ESPERAR...
VOU ACABAR COM VOCÊ ANTES DE UM PISCAR DE OLHOS.
Soltei uma gargalhada desafiadora, deixando claro que suas
ameaças não me intimidavam.
— O que vai fazer, mandar me matar? Porque nas urnas você não
tem a menor chance e sabe disso. Ou vai me denunciar à polícia? Acho que
não, né? — provoquei sem misericórdia.
— Eu me arrependo de muitas coisas na minha vida, mas o maior
arrependimento é você existir.
Eu revirei os olhos, mantendo o tom de desdém.
— Eu estou aqui, Henry. Onde está sua coragem? Por que não veio
pessoalmente? Seria devido ao medo?
Henry ignorou meu desafio e continuou com sua voz fria e
ameaçadora:
— Quero que saiba que, independentemente do que esteja
planejando, já está fadado ao fracasso.
— Eu sou um colecionador de vitórias, Henry Paterson. E em
breve terei mais uma para o meu currículo — pontuei, pensando no debate
que se aproximava.
Julian havia ligado mais cedo com a feliz notícia de que conseguiu
um horário para o confronto e logo Henry seria convidado.
Ouvi o praguejar de ódio de Henry do outro lado da linha, antes de
ele desligar na minha cara enquanto eu ria de satisfação. O senador estava
acuado e sua situação iria piorar com seu sofrimento gradual e inevitável.

***

Três dias depois...

Nos bastidores da emissora de TV, a tensão era palpável. A


preparação estava em seu auge, com luzes, câmeras e toda a parafernália
técnica contribuindo para o clima de nervosismo e expectativa. Eu me
sentia pronto para enfrentar Henry Paterson.
Ele chegou acompanhado de seus seguranças, com Charlotte a
tiracolo. Seus olhos, claros como vidro, atentos e curiosos, observavam
tudo ao redor. Os meus cruzaram os de Henry Paterson; a hostilidade era
inconfundível.
— Costello — Henry rosnou, com a voz carregada de desprezo. —
Está pronto para mais uma derrota humilhante?
Sorri, mantendo a calma.
— Sempre pronto para um bom confronto, senador. Só espero que
suas palavras hoje sejam mais contundentes do que suas ações.
Charlotte observava cada palavra, intrigada. Henry estreitou os
olhos, claramente irritado.
— Cuidado, Simon. Alguns desafios têm consequências fatais.
— E algumas ameaças não passam de palavras vazias — retruquei,
mantendo o meu tom controlado. — Veremos como você se sai hoje.
Charlotte, ainda curiosa, se aproximou de mim assim que seu
primo se afastou para se organizar para o debate. Com uma tonelada de
anéis valiosos nos dedos, ela apoiou as mãos abertas sobre o meu peito.
— O nível de ódio entre você e Henry vai além das eleições, não
é? — Ela jogou o verde, com os olhos analíticos fixos em mim. — Teria a
ver com a protegida dele? Paola e a irritante irmãzinha dela estão
desaparecidas. Disseram que foram viajar, mas algo me diz que tem seu
dedo. O que será, Simon?
Ri com superioridade e respondi friamente:
— Pergunte ao seu primo.
Baforando, ela apertou os olhos, fuzilando-me com o olhar.
— Vai se arrepender pelo seu desprezo — avisou, caminhando toda
pomposa.
Sentado em meu lugar no palco, aguardei enquanto o jornalista
conduzia as introduções. Senti uma onda de saudade de Paola, e os três dias
longe dela pareciam uma eternidade, mas ela estava segura, pois Henry
estava em silêncio absoluto, ou seja, ele precisava capturar o Carter antes de
tomar qualquer medida. Meus contatos me mantinham informado sobre sua
procura incansável por Carter.
De repente, o jornalista recebeu uma informação em seu ponto de
ouvido. Ele parou, visivelmente surpreso.
— Recebemos uma ligação de última hora de Carter Jenkins. Ele
fez uma denúncia bombástica: Henry Paterson tem envolvimentos com
quartéis militares e é um facilitador-chave na logística dos Estados Unidos.
Ele usa essa posição para facilitar o transporte de drogas através das redes
logísticas militares.
O choque tomou conta do estúdio. A revelação de Carter
transformou o debate em um verdadeiro campo de batalha. Aproveitei a
surpresa geral para atacar.
— Henry, você tem algo a dizer sobre essas acusações? — Minha
voz estava carregada de ironia.
Henry, visivelmente abalado, tentou se recompor.
— Isso é uma mentira deslavada! — ele retrucou. Seu tom era mais
defensivo do que agressivo. — Essas acusações são infundadas e sem
provas!
— O público merece a verdade. Uma explicação detalhada, Henry.
Henry me lançou um olhar furioso, mas eu mantive o meu
semblante calmo e confiante. A tensão no estúdio era quase tangível, e eu
podia sentir que os telespectadores em casa estavam igualmente engajados.
— Vou providenciar todos os documentos necessários para provar
minha inocência. Isso é um golpe baixo e desesperado do meu oponente. —
Respirou fundo e deixou o palco ganhando uma enxurrada de vaias.
— Vamos fazer um breve intervalo — disfarçou o jornalista.
A transmissão entrou no intervalo e os olhares no estúdio eram de
pura incredulidade e expectativa. A revelação de Carter havia mudado
completamente o jogo. A batalha estava apenas começando quando o meu
celular tocou. O número no visor despertou minha total atenção. Atendi ali
mesmo.
— Simon, é urgente. — A voz autoritária e respeitável soou. —
Paola está na UTI entre a vida e a morte. Lúpus. Ela escondeu a gravidade
e três dias sem os medicamentos, chegou ao ponto crítico.
— Lúpus? — Meu coração apertou com a notícia. A preocupação
com Paola me dominava, mas uma preocupação maior surgiu: aquele
homem do outro lado da linha estar me ligando. Ressabiado, perguntei: —
Por que você está ligando? A Paola sabe de você?
A voz forte e intimidadora ressoou com firmeza, mas me
tranquilizou:
— Ela nunca me viu na vida. Ao saber do diagnóstico, resolvi vir
ao hospital, mas não me aproximei, tem a minha palavra. Ninguém além
das pessoas que você recrutou, a dedo, estão com a Paola.
Respirei aliviado, mas ainda assim, aflito. Precisava ver com os
meus próprios olhos. Eu não queria que Paola conhecesse as pessoas do
meu mundo. Eu a desejava com a força da minha alma, e queria protegê-la
a todo custo. Por Paola, eu sangraria, morreria, e até renunciaria ao que
sentia por ela. O futuro era incerto e eu não queria envolvê-la no meu
mundo de violência e sombras.
— Paola não pode saber de nada por enquanto.
— Tudo está correndo como você planejou.
— Estou a caminho — disse, e sem hesitar, saí do palco como um
relâmpago, sem dar satisfação a ninguém. A preocupação por minha Paola
dominava os meus pensamentos.
CAPÍTULO 24

SIMON

Corri até o estacionamento da emissora e peguei meu carro,


dirigindo o mais rápido possível até o hangar onde as aeronaves executivas
da Energia Solaris Inc. estavam à minha disposição. Ao chegar, um jato
particular já estava preparado para decolar. Embarquei e, em minutos,
estávamos no ar, rumo ao estado americano de Nevada.
O voo foi longo e exaustivo. O pôr do sol tingia o céu em tons de
laranja e roxo, uma beleza que não consegui apreciar devido à ansiedade
que corroía meu interior. Finalmente, pousamos no aeroporto de Las Vegas
e fui direto ao hospital particular da cidade, o Hospital Saint James.
Localizado em uma área tranquila e arborizada, o hospital era um
complexo moderno e bem equipado.
Na recepção, inadmissivelmente eu estava sendo aguardado por
William Anderson. Desaprovei visivelmente a presença daquele senhor de
60 anos, elegante, dono dos hotéis e cassinos mais famosos de Las Vegas, a
rede Imperial Lux Resorts. E se não bastasse, trazia com ele o Christopher,
de 37 anos, de feição séria e, como de costume, elegante e atraindo a
curiosidade das mulheres no ambiente. O cara tinha mesmo um físico
imponente com traços nobres e barba bem-feita.
— Não deveriam estar aqui — pontuei, evidenciando a rispidez na
minha voz.
Christopher, enfezado, se aproximou me peitando, seus olhos
esverdeados fuzilavam os meus.
— Você, querendo ou não, estaremos sempre do teu lado, cara! —
Seu tom autoritário e forte nunca me intimidava e o confrontei.
— Agradeço, mas quero que vão embora. Paola não pode saber
quem vocês são. Eu só enviei Paola e Liliana para Las Vegas porque sabia
que vocês poderiam fazer a cobertura da mansão.
— Simon, estamos aqui para ajudar — disse William, tentando ser
amigável. — E não se preocupe, estamos de olho em todos que enviou para
a mansão — emendou, tentando me tranquilizar.
— Tudo está sob controle, Simon — garantiu Christopher. — Ida
está cuidando bem das irmãs, inclusive, ela está no quarto com a Paola.
— Valeu, agora se mandam daqui. — Apertei as mãos dos dois
homens, com meu semblante ainda carregado de desaprovação. Eles se
despediram e saíram, deixando-me finalmente seguir para a UTI.
Na recepção do hospital, me identifiquei e fui rapidamente
conduzido até a UTI. Cada passo que eu dava parecia mais pesado, a
preocupação e o medo cresciam dentro de mim.
Quando finalmente cheguei à porta do quarto, respirei fundo ao vê-
la naquela situação desesperadora. Estava deitada na cama, cercada por
máquinas que monitoravam seus sinais vitais. O som dos monitores
preenchia o ambiente, os apitos regulares marcavam o ritmo de seu coração.
Ela estava em coma induzido, sua pele tão pálida!
— Paola! — murmurei e entrei com o coração apertado ao vê-la
naquela condição.
Ida, que estava sentada numa poltrona ao canto, se levantou e saiu,
dando-me a privacidade que eu necessitava.
Aproximei-me devagar, sentindo uma onda de vulnerabilidade rara
me envolver. A morte nunca foi um tabu para mim, muitas ocorreram e eu
estava acostumado. Paola somava a outra pessoa por quem eu daria minha
vida para salvar, mas ela, em especial, naquela cama, me fazia sentir
impotente. Uma sensação desconhecida para mim, que sempre estive no
controle de tudo.
Curvei-me, encostando os meus lábios em sua testa. O calor de sua
pele irradiou pelo meu corpo, originando uma sensação estranha em mim,
medo, eu acho!
— Você está proibida de morrer — murmurei. Meus lábios
tremiam ligeiramente, tentando transmitir a força que eu próprio precisava.
Com uma vulnerabilidade rara, admiti: — Pela primeira vez na minha vida,
sentia insegurança. Acostumado a resolver tudo, diante da sua saúde eu não
sei como agir.
Ela se moveu como se me ouvisse... e ouviu.
— A Liliana... — balbuciou sufocada e, logo, seu batimento
cardíaco elevou. Rapidamente enfermeiras e médicos entraram no quarto.
— O senhor precisa sair um momento. — Me colocaram para fora
mesmo contra a minha vontade. Do vidro, eu observava aflito os
procedimentos médicos. Cada momento parecia durar uma eternidade, cada
expressão no rosto da equipe me deixava mais apreensivo.
Eles ajustaram os aparelhos, administraram medicamentos, e
tentaram estabilizar seu estado. Eu não podia fazer nada além de assistir,
sentindo meu coração bater descontrolado no peito. Quando tudo se
estabilizou, o médico saiu da sala, e eu, nervoso e desesperado, me
aproximei de imediato.
No corredor, eu não consegui me controlar.
— Ela vai ficar bem, né, doutor? Com certeza, ela vai sair dessa,
certo? — Minha voz saiu num tom desesperado e carregado de autoridade,
eu queria arrancar do médico a certeza de que Paola iria se recuperar. As
lágrimas, inéditas nos meus olhos, ameaçavam cair.
O médico, complacente e habituado com situações como essa,
bateu em meu ombro e me conduziu à sua sala, tentando me acalmar.
— A doença está ativa. Paola está passando por uma crise de lúpus.
Estamos ajustando o tratamento para conseguir que a inflamação seja
controlada.
Eu o interrompi, com a minha voz grave e cheia de medo:
— Isso não é suficiente. Preciso que ela sobreviva, doutor. Faça o
que for preciso. Não me interessa o custo. Apenas... salve-a.
O médico me olhou nos olhos em sua expressão de puro
profissionalismo.
— Estamos fazendo tudo o que podemos. O tratamento é complexo
e delicado, mas estamos confiantes de que ela pode melhorar. Uma equipe
médica vai se reunir para discutirmos o caso da paciente. Nos encontramos
em breve no quarto, senhor Simon.
Respirei fundo, tentando acalmar a tempestade dentro de mim, mas
a ansiedade ainda pesava no meu peito como uma âncora. Cada segundo
sem uma resposta positiva era uma tortura. No entanto, eu precisava
acreditar que Paola, a minha Paola, sairia dessa.
Eu só conseguia pensar em estar ao lado dela, segurando sua mão,
prometendo que tudo ficaria bem.
CAPÍTULO 25

PAOLA

Um sussurro do Simon, misturado a um som constante de apitos,


ressoava na minha cabeça, atordoando-me.
— Vocês têm que salvá-la! — percebia o tom de ameaça.
Em seguida ecoou outra voz masculina:
— Se acalma, por favor, senhor Simon. É um ambiente de UTI.
“UTI”, tentei me mover sem sucesso, estava paralisada ali e isso
me angustiava. “Será que estou entre a vida e a morte?” Cada momento
parecia um pesadelo sem fim. Outra voz, também masculina, garantia que
estavam fazendo tudo o que podiam, mas a minha condição só piorava.
— Façam o que for necessário, mas ela precisa sobreviver! —
ordenava Simon em tom ríspido.
— Estamos fazendo tudo o que podemos, senhor. Mas... — a voz
hesitou — a situação dela é extremamente crítica. Estamos ansiando por um
milagre. Se a inflamação não diminuir e os órgãos não começarem a
responder ao tratamento, temo que não haja mais nada que possamos fazer.
Aquelas palavras ressoaram como uma sentença de morte.
— Não me importa o que vocês precisam fazer. Eu quero que ela
viva, entendeu? Se algo acontecer a ela, vocês terão que lidar comigo.
A partir desse momento, respirações pesadas sobrepunham as
vozes. Todos ficaram em silêncio, diferente da minha emoção. A
determinação feroz de Simon, demonstrando que eu era importante para ele,
me impulsionou a continuar tentando me mover. Meu corpo entrou em uma
batalha intensa, cada respiração era um esforço. No fundo da minha mente,
eu sentia a presença de Simon.
Os médicos pediram gentilmente para o Simon aguardar fora do
quarto.
— Eu preciso de você, Paola — ele sussurrou, segurando a minha
mão. — Por favor, lute. Eu preciso que você lute. — Sua voz era distante,
mas reconfortante. Era como se, mesmo à beira da morte, eu pudesse sentir
sua força me puxando de volta.
Sentia os médicos em torno de mim, o tempo passava devagar,
cada segundo era como um teste de resistência. Eles conversavam entre si,
pedindo para ajustarem os medicamentos, monitoravam meus sinais vitais e
tentavam de tudo para estabilizar minha condição. Era um esforço
desesperado contra o inevitável.
Depois ouvi passos, rugidos de porta e o silêncio passou a ser o
meu único companheiro. Um tempo longo enquanto eu sofria ali, sem poder
abrir meus olhos, sem poder mover-me. Uma eternidade, era essa minha
sensação, passei até a ouvir os rangidos da porta.
Alguém respirou aliviado e disse:
— A inflamação está diminuindo lentamente, seus sinais vitais
mostram uma leve melhora.
— Sim, está respondendo aos tratamentos. Um sinal de esperança
— outra voz confirmou.
Os médicos ainda estavam cautelosos, mas havia uma nova
determinação nos tons de vozes. E alguém chamou por Simon, que logo
pegou minha mão e beijou.
— Eu sabia que você era forte, Paola. Eu sabia que você não
desistiria — ele sussurrou com ternura e uma esperança renovada.
— Agora é aguardar ela acordar — disse um dos médicos e, nesse
instante, senti minha consciência se distanciando até tudo se apagar.

***

Abri os olhos lentamente contra a luz forte e estéril. O teto branco


parecia inclinar-se sobre mim, sufocante e opressor.
— Estou viva? — perguntei num murmúrio enquanto corria meus
olhos ao redor, em desespero.
O ambiente começou a se formar em minha visão embaçada. Era
uma mistura de branco e cinza, com máquinas zumbindo suavemente,
monitorando cada um dos meus sinais. Uma janela de vidro enorme
permitia a visão do corredor movimentado, onde enfermeiros e médicos
passavam apressados, suas vozes abafadas ecoavam suavemente pelo
ambiente silencioso.
Então, me recordei de ouvir Simon desesperado com os médicos,
lembrei-me da mansão de luxo ao qual Simon hospedou a mim e a Liliana
em Las Vegas, situada em um lugar remoto e cercado por desertos áridos e
montanhas distantes, onde eu e Liliana estávamos isoladas há três dias.
— Liliana!
Olhando ao redor desesperadamente, procurei qualquer sinal dela.
Minha mente estava enevoada, tentando lembrar o que havia acontecido. As
últimas memórias antes do apagão eram fragmentadas, mas eu me lembrava
da dor insuportável, da fraqueza que me consumia. A crise de lúpus havia
sido a pior de todas e tudo se apagou depois.
— Liliana!
Tentei me mover, mas uma dor profunda irradiou pelo meu corpo,
forçando-me a ficar imóvel. Notei que estava conectada a um soro
intravenoso, com outros equipamentos ligados ao meu corpo, monitorando
meu estado. O cheiro característico de desinfetante hospitalar preenchia
minhas narinas, reforçando a realidade do lugar em que estava.
Uma onda de pânico tomou conta de mim, meu coração acelerou,
minha respiração tornou-se rápida e superficial.
— Liliana — queria gritar, mas sem forças, apenas sussurrei com
uma voz rouca, quase inaudível. A preocupação pela minha irmã crescia
dentro de mim, apertando o meu peito. — Liliana — repeti, desta vez um
pouco mais alto, mas ainda assim sem força.
De repente, vi uma figura familiar através do vidro da UTI. Era a
senhora Ida, a bondosa senhora, de uns 60 anos, que Simon havia
contratado para cuidar de mim e minha irmã. Ela tinha uma voz doce e
relaxante que sempre conseguia me acalmar. Quando ela entrou no quarto,
senti um breve alívio.
— Por favor, tente ficar calma, senhorita Paola. — Sua voz era
suave, mas havia uma urgência subjacente. — Você está segura agora.
— Liliana... minha irmã... — Tentei falar, mas minha voz falhou, a
preocupação estava clara em meus olhos.
Ida se aproximou da cama, pegando minha mão com delicadeza.
— Calma, querida. Está tudo bem. — Sua voz era como um
bálsamo, mas eu ainda estava agitada.
Há três dias isolada, sem comunicação... Eu escondi minha
doença... Lúpus.
— Minha irmã, preciso saber dela.
Minhas lágrimas começaram a escorrer, a preocupação me
dominava. Ida chamou a enfermeira e ficou ao meu lado, segurando minha
mão e prometendo que minha irmã estava bem.
— Vamos cuidar de tudo. Sua irmã está sendo bem-cuidada, eu
prometo.
Queria acreditar, queria me acalmar, mas como? Longe de casa, e
agora, longe da minha irmãzinha, não havia a menor condição de nada, a
não estar ao lado dela, junto dela. O nervosismo se elevou ao seu pico, não
conseguia respirar, então fechei os meus olhos e permaneci com eles bem
cerrados quando novamente escutei aquele sussurro ao meu ouvido:
— Você vai ficar bem, eu prometo— A voz rouca e grave de Simon
trazia-me a paz que eu procurava.
— Hummm... — resmunguei, abrindo meus olhos. Meu coração
aqueceu com a sua imagem, lindo e maravilhoso.
— Estou sonhando? — Minha voz estava trêmula. — Você é uma
miragem?
Aquele deus balançava sutilmente a cabeça de um lado para o
outro.
— Eu estou mesmo aqui — assegurou ele, apanhando o meu rosto
entre suas mãos. Sua aparência estava cansada, mas ele parecia ainda mais
atraente do que nunca. — A partir de agora estarei sempre aqui para você,
Paola.
— Eu ouvi sua voz...
Ele riu com ternura.
— É provável, afinal eu briguei com os médicos enquanto você
dormia profundamente.
Solucei alto, sem conseguir conter minhas lágrimas.
— Não... não chore, por favor... — ele implorou, curvando a
cabeça até sua testa juntar à minha.
O calor de suas mãos, da sua testa contra a minha, e da sua
respiração era um conforto de proteção que eu nem compreendia por quê.
Eu não sabia de mais nada, estava tão perdida! Meu tio era um vilão, e
agora meu futuro era incerto. Descobri a lúpus aos meus dezessete anos, e
nunca a doença havia atingido o seu auge. Eu não compreendia meus
sentimentos, a dor, as emoções afloradas, as lágrimas...
— Você sumiu por longos três dias, Simon — pronunciei entre
lágrimas.
Simon riu carinhosamente, beijando minha testa.
— Tudo por sua segurança — sussurrou. A sua voz me envolvia
em uma promessa implícita de proteção misturada com uma aura de
mistério e perigo. Eu me sentia incapaz de resistir, ao mesmo tempo,
continuava temerosa. A realidade era que eu sentia um alívio profundo ao
ouvir essas palavras sendo pronunciadas por esses lábios grossos,
circundados pela barba. Por alguma razão desconhecida, eu sabia, sentia
que estava segura com ele ao meu lado.
Então, a expressão do Simon ficou séria.
— Você não podia ter negligenciado seus remédios para lúpus.
Jamais deveria ter ficado sem eles, garota.
Eu assenti com as lágrimas caindo livremente.
— Vacilei, eu sei. Sempre soube que a interrupção do tratamento
poderia desencadear o surto grave da doença, afetando vários sistemas do
meu corpo e colocando a minha vida em risco, e o pior que se aliou ao
estresse e as situações traumáticas dos últimos dias... Eu não posso morrer
ainda, Simon. — Eu pensava na minha casa em Exeter, em Liliana... Não
conseguia pensar em mim mesma.
“Tenho tanto a resolver.”
— Não! Você não vai morrer. — Acariciava meu rosto com uma
compreensão profunda, seus dedos desenhando linhas de carinho na minha
pele. — A situação ainda é crítica, você precisa de monitoramento contínuo
e tratamento intensivo para estabilizar sua condição e prevenir danos
permanentes. Mas eu prometo, você vai se recuperar e sair dessa.
— Você promete? Você por acaso é algum deus? — brinquei com
um meio sorriso, tentando aliviar a tensão.
Ele me abraçou com força e cuidado ao mesmo tempo, e se deitou
ao meu lado na cama, apoiando seu rosto no meu peito, bem sobre o meu
coração. O calor do seu corpo se misturou ao meu, criando uma sensação de
segurança e amor, que eu nunca havia experimentado antes. Sentir seu
coração batendo contra o meu era um conforto indescritível, quase como se
ele estivesse emprestando sua força para me manter viva.
— Eu não! Mas já entrei num acordo com Deus, fiz um pacto com
Ele.
Senti algo estranho em mim. “Como um assassino poderia ter
acesso a Deus?”, questionei, pensando no quanto Simon parecia afastado
de tudo que era Divino.
— Sério? Você, um assassino, fez um acordo com Deus? —
perguntei, irônica.
Simon riu, um som rouco e carinhoso.
— De fato, eu não sou o tipo de pessoa a quem Deus daria atenção.
Mas o acordo não é para mim, é para você.
Acariciei os cabelos dele, puxando-o para que ele erguesse a
cabeça e olhasse nos meus olhos. Ele respirou fundo enquanto eu zanzava
os olhos por aquele rosto magnífico e seu olhar penetrante. Quando ele
abriu um sorriso de derreter calcinhas, meu coração derreteu junto.
"Eu permiti que meu coração fosse raptado por esse homem
misterioso e sinistro, de quem eu sabia tão pouco.”
Simon pareceu entender minhas dúvidas.
— Sei o que você está pensando, Paola, e concordo com você.
Estreitei os olhos e perguntei diretamente:
— Você também lê pensamentos agora?
— Não, não preciso ler pensamentos. Tenho consciência de que
alguém como eu é indigno da atenção de Deus. Ainda não fiz o acordo, mas
vou tentar fazer um em seu nome e de Liliana. Quem sabe, Deus me
atenda? Afinal de contas, como já te disse, eu tenho sangue nas mãos, cresci
em meio à maldade, mas isso não quer dizer que eu seja uma pessoa má.
Ri sem entender nada.
— Quem é você, Simon? Quem é você de verdade? Quais são suas
reais intenções? Não acredito que você queira apenas ser Presidente dos
Estados Unidos. O que aconteceu com Carter? Por que o meu tio Henry
quer matar a mim e a Liliana? — Milhões de perguntas brotavam em minha
mente.
Simon enfiou o seu rosto na curva do meu pescoço me arrepiei
com o calor da sua respiração.
— No momento certo, você ficará sabendo — pronunciou baixo,
quase inaudível.
Uma equipe médica entrou no quarto, interrompendo nosso
diálogo. Enquanto os médicos me examinavam, meus pensamentos
flutuavam nas minhas dúvidas, mas uma coisa eu sentia e era quase
palpável: “Ele é minha âncora em meio à tempestade”. Essa frase ficará
gravada em meu coração para sempre. Lágrimas silenciosas rolaram pelo
meu rosto enquanto eu o sentia tão perto.
Simon não era uma opção, mas ele passou a ser... Eu precisava de
um herói, aquele que cuidaria de tudo para mim e garantiria que eu nunca
estivesse sozinha nesta luta.
Depois que os médicos saíram do quarto, Simon me fez prometer
que esqueceríamos Henry Paterson e Carter até que o lúpus entrasse em
remissão e eu tivesse alta.
***

Foram alguns dias de internação seguindo à risca os tratamentos


especializados, isso incluía: medicação, fisioterapia, reintroduzindo formas
de exercício físico gradualmente. Simon não arredou os pés do hospital.
Trabalhava por videoconferência com a empresa e o seu gabinete enquanto
eu, também por vídeo, batia o maior papo com a Liliana. Ela estava
encantada com a mansão e apaixonada pela dona Ida, que cuidava de nós
como se fosse nossa mãe, algo que nossa mãe nunca fez. Também, algumas
vezes liguei, escondido, para Exeter, por segurança.
Finalmente, obtive alta e Simon me levou para a mansão em Las
Vegas. Durante o percurso, as paisagens desérticas da região passavam
rapidamente pelas janelas do carro, a vastidão do deserto pintada com tons
alaranjados pelo sol poente. Simon fazia questão de me apresentar cada
ponto ao longo do caminho.
— Esse é o Lake Tahoe — disse ele, apontando para um lago à
distância. — Costuma ser um lugar tranquilo para relaxar, especialmente ao
pôr do sol.
Observei o lago de águas cristalinas, seus reflexos dourados sob a
luz do sol no fim de tarde, e senti uma paz momentânea.
— É lindo — murmurei, sentindo-me um pouco mais leve. Incrível
como Simon conseguia me acalmar diante da batalha que eu enfrentava.
Batalhas! Essa era a definição correta.
Os olhos castanhos e misteriosos dele deixaram momentaneamente
a estrada à frente, recaindo sobre mim com uma ternura que me tocou
profundamente. Ele estendeu a mão e segurou a minha, apertando-a
suavemente.
— Sei que você está passando por muita coisa — começou em voz
baixa e cheia de preocupação. — Mas quero que saiba que não está sozinha,
iremos superar isso juntos.
Ele se incluindo na minha vida era tudo e muito mais, a emoção
tomou conta de mim. Sorrindo lindamente, sua mão tocou meu rosto, e
como era reconfortante! Levei a minha sobre a dele e a apertei agradecida e
ainda mais apaixonada.
— Obrigada, Simon. Obrigada por surgir a tempo na minha vida e
na da minha irmã. — Se eu estava ou não certa em confiar tanto nele,
passou a ser irrelevante diante dos meus sentimentos. De qualquer forma,
eu precisava dele e em demasia!
Ele sorriu, sua compaixão refletia em seus olhos.
Continuamos a viagem com ele firme na apresentação da região.
Apontou para uma colina coberta de pinheiros em flor.
— E ali é a Floresta dos Pinheiros — falou com um sorriso suave.
— No verão, fica coberta de flores. Um verdadeiro espetáculo da natureza
que a Liliana precisa conhecer.
Comecei a rir ao me lembrar da minha princesinha mencionando
que seu nome significava flores.
— Minha maninha vai amar com certeza — disse, imaginando a
beleza das flores em meio às montanhas.
— Visitei algumas vezes — acrescentou ele, voltando seu olhar
para mim por um breve momento. — Talvez possamos ir juntos quando
você estiver melhor, incluindo a Liliana, é claro.
A ideia de explorar aquele lugar com ele me trouxe um conforto
inesperado.
— Vamos amar.
Depois me mostrou a antiga mina de ouro, transformada em
museu, e uma pequena cidade histórica que agora era uma atração turística.
Finalmente, chegamos à mansão.
— Aqui estamos.
O portão de ferro se abria lentamente. Seguimos pela alameda
ladeada por ciprestes altos. A fachada da mansão começou a surgir,
imponente e elegante, com suas colunas clássicas e a escadaria de mármore
que levava às grandes portas de madeira maciça.
Simon estacionou o carro e desceu rapidamente para abrir a porta
para mim.
— Bem-vinda de volta ao seu novo e temporário lar, Paola.
Senti um nó na garganta, emocionada com o cuidado e a dedicação
que ele estava demonstrando. Enquanto caminhávamos juntos em direção à
entrada da mansão, desviou seus olhos até a colina, lá no topo, havia uma
bela casa avarandada e que parecia estar habitada, percebia-se
movimentações de pessoas e veículos.
— Mora alguém naquela casa, Simon?
— Lá é onde eu hospedo amigos especiais — respondeu
rapidamente e segurou minha mão novamente, entrelaçando nossos dedos.
— Não importa o que ou como aconteça, independentemente de qualquer
situação, eu estarei presente na sua vida — ele disse, parando por um
momento para olhar em meus olhos. Senti naquela fala um preparo para o
que estava por vir e fiquei assustada.
— Se eu te perguntar mais detalhes, eu terei?
— Em breve todos os detalhes estarão em posse de todos, eu
prometo.
Eu sabia que, apesar de toda a incerteza e perigo que nos
cercavam, a sua presença me tornava mais forte para enfrentar qualquer
coisa.
Na elegante sala, ouvimos as gargalhadas da Liliana vindo do lado
de fora da casa.
— Sua irmã parece feliz — disse Simon, rindo também, e me
levando com ele até a parte externa.
— Paola! — gritou Liliana de alegria ao me ver. — Vem, entra na
piscina! — Liliana estava eufórica na água. — A água está uma delícia, bem
quentinha!
— Eu providenciei essa piscina para você se exercitar, Paola. A
água é terapêutica, vai ajudar na sua recuperação — explicou Simon.
— Obrigada — agradeci-o, sendo interrompida por Liliana.
— Vem, Paola, vem — insistiu minha irmã.
Eu hesitei, não sabendo se seria recomendado, afinal tinha acabado
de sair do hospital. Simon percebeu minha dúvida e, com um sorriso
tranquilo, incentivou:
— Vá até lá!
Me aproximei da borda, morrendo de saudades da maninha, e não é
que a sapeca pegou na minha mão e, de surpresa, me puxou para dentro da
água com um entusiasmo contagiante. Logo, estávamos brincando, jogando
água uma na outra e rindo, leves e soltas. O abraço forte que
compartilhamos dentro da piscina parecia restaurar algo dentro de mim.
Simon, encantado com a nossa felicidade, se abaixou na beira da
piscina. Liliana, com um brilho maldoso nos olhos, pediu a mão dele.
— Dá a sua mão, Simon — ela riu erguendo as sobrancelhas. Por
fim, ele a atendeu e foi puxado também para dentro da água.
Começamos uma verdadeira algazarra, uma guerra de água onde
um jogava água no outro, uma intimidade única que cobria o meu coração
com uma paixão ainda maior.
— Vamos bater ao mesmo tempo na água, pessoal! — Liliana
gritou, radiante. — Um, dois, três, agora!
Espirrou água por todos os lados, um momento de pura alegria que
parecia aquecer o coração de Simon.
Liliana nadou até o outro extremo da piscina, onde estava a
discreta senhora Ida. Simon e eu ficamos ali, sorrindo um para o outro. Ele
não resistiu aos seus sentimentos e me puxou para si, me beijando com
fervor. Foi um beijo romântico e intenso, carregado de emoção e carinho.
Por um momento, esquecemos todas as dificuldades e nos permitimos
simplesmente viver aquele instante de felicidade.
A intensidade do momento fez minhas dores nas articulações
ressurgirem, embora fracas. Prudente, avisei Simon:
— Simon, acho melhor sairmos... não quero abusar.
Muito preocupado com meu estado de saúde, ele fez uma piada
carinhosa.
— Então, nada de guerra de água para você por enquanto... —
Subitamente me pegou no colo e saiu da piscina comigo em seus braços.
Nossas roupas molhadas deixavam poças de água pelo caminho até
o quarto dele. O quarto era espaçoso, com janelas grandes que ofereciam
uma vista deslumbrante das montanhas ao longe. A decoração era elegante e
acolhedora, com tons suaves e móveis de madeira escura. Ele me levou até
o banheiro e entrou comigo debaixo do chuveiro de água quente. Ali,
abraçados sob a água morna, nos beijamos devagar, um beijo meloso, mas
ardente, despertando desejo em cada toque. A sensação do calor da água e
do seu corpo atlético originava arrepios intensos que centralizavam para o
meio das minhas pernas.
CAPÍTULO 26

PAOLA

As mãos grandes de Simon deslizavam pelas minhas costas com


uma delicadeza que refletia o tremor no meu corpo. Sentir sua respiração
quente e a firmeza do seu corpo contra o meu me deixava louca.
— Paola — Simon murmurou, puxando-me para mais perto, as
batidas do seu coração, rítmicas e intensas, reverberavam em mim.
Com uma urgência desesperada, ele tirou minhas roupas molhadas,
deixando-me nua diante dele.
— Você é linda! — murmurou. Seus olhos devoravam cada
centímetro do meu corpo. Seu olhar parou nos meus seios, com bicos
endurecidos, e depois desceu até a minha boceta, já úmida de tanto tesão.
Arfei ao sentir sua respiração pesada.
O homem que eu desejava mais que tudo se despia, tirando calça e
cuecas juntas, revelando seu enorme e ereto pênis.
Suspirei ao admirar o porte de Simon, e não resisti a passar minha
mão pelo seu peitoral forte. Com os dedos, tracei a linha da tatuagem que ia
do ombro ao peito, explorando cada gomo do seu abdome, sentindo sua
pele arrepiar sob o meu toque.
— Vem aqui! — Ele me puxou para um abraço apertado e seus
lábios tomaram os meus em um beijo calmo, que logo se transformou em
algo luxurioso e ardente.
Eu sentia seu pau pressionando entre as minhas pernas, pulsando
de excitação. O líquido quente escorria da minha vagina e eu apertava as
pernas, comprimindo aquele pau duro entre elas, arrancando gemidos de
Simon.
— Porra, que delícia! — ele gritou, tomado pelo tesão, e chupou
meus lábios com selvageria, enfiando a língua dentro da minha boca de
forma excitante. — Será que está liberada, Paola? — sussurrou.
— Conforme o médico, a atividade sexual pode ser retomada
quando não há mais dores articulares significativas ou outras manifestações
do lúpus, que possam interferir no prazer durante o sexo. Estou me sentindo
ótima! — afirmei, sem dores nas articulações, o desejo de tê-lo inteiro
dentro de mim dominava cada pensamento. Não abriria mão desse
momento magnífico.
— Perguntou ao médico? — questionou incrédulo, olhando
diretamente nos meus olhos com um sorriso se formando nos lábios grossos
e que eu achava lindo demais.
Suspirando, enfiei a mão entre nós.
— Lógico! — respondi, pegando firme na base daquele pau
enorme. — Estava louca para sentir isso tudo. — Movi a mão pelo membro
pulsante, sentindo as veias sobressalentes e a glande robusta quase
estourando. Simon gemia de prazer, tomando minha boca e devorando-a
com uma competência voraz.
Eu o masturbava com vigor enquanto a voz rouca pronunciava
palavras que me levavam às nuvens, que queria me foder, queria me comer,
queria enterrar o seu pau centímetro por centímetro dentro de mim.
Desceu a mão, dedilhando entre as dobras da minha carne.
— Essa boceta é uma delícia — sussurrava ele, com sua voz rouca
de tesão. — Vou te foder com cuidado, mas não espere clemência, garota.
— Me preparou correndo os dedos pela região sensível enquanto eu
estremecia. Seu polegar pressionava meu clitóris e eu gemia alto, mordendo
os lábios.
O tarado voltou a lamber os meus mamilos, me deixando fora de
mim. Sentia contrações dolorosas e deliciosas na minha vagina, enquanto os
bicos dos meus seios roçavam contra o peitoral agitado de Simon. Ele
estava extremamente excitado e não escondia isso.
Simon explorava meu corpo sob a água do chuveiro, beijando-me e
passando as mãos pelo meu corpo, apertando meus peitos, arrancando meus
suspiros de tesão. Seus beijos eram selvagens, seus lábios chupavam os
meus com fervor. Ele repousou suas mãos nos meus ombros, me guiando a
me ajoelhar. Com dedos longos, fechou-os em torno do seu pênis e colocou-
o na minha boca.
— Chupa gostoso, Paola — mandou ele, de acordo com meu
gosto. Esse autoritarismo do meu mafioso era delirante. Agarrou meus
cabelos, rosnando a cada lambida da minha língua quente. Sorvi ele todo
para dentro da minha boca, originando até ruídos e até o limite da minha
garganta, retornava raspando suavemente os dentes e levando Simon à
loucura, ele tremia elogiando minha boca, dizendo que eu sabia chupar seu
pau direito, que eu era única, que eu era dele, somente dele. Eu suspirava
cheia de si, ainda mais apaixonada.
Ele me puxou devagar para cima e tomou posse dos meus lábios,
sussurrando que queria me comer, mas que não me deixaria fazer esforço.
Saímos do boxe e ele me levou até a borda da banheira, onde me fez sentar
no seu colo. Mesmo com a boceta lubrificada, o pau de Simon escorregou
para dentro de mim apertado e ele falou palavrões. Sua voz estava cheia de
desejo.
— Caralho, você é muito estreita, gostosa demais...
Simon abraçou minha cintura, seus movimentos cadenciados,
subindo e descendo por meu corpo, enterrando-se profundamente dentro de
mim. Gemíamos em uníssono e eu sentia a tensão crescente à medida que
meu corpo respondia a cada investida. A respiração se tornava cada vez
mais ofegante.
— Simon... — murmurei. Minha voz estava entrecortada, afogada
no prazer, na paixão. — Você é o único homem com quem já transei na
vida. — De repente, senti a necessidade de confessar.
Ele parou por um instante, o olhar fixo nos meus olhos, sua
expressão era uma mistura de surpresa e outro sentimento indecifrável, que
eu não conseguia identificar. Então, ele sorriu, seus olhos se enevoaram de
forma intrigante.
— Se é assim, a minha responsabilidade aumenta, Paola... — A
voz rouca e cheia de suspense me intrigou. Ele notou e acrescentou: —
Aumenta um milhão de vezes. Você não tem ideia do quanto isso significa
para mim.
Não era exatamente o que eu esperava ouvir e me chocou, admito!
Ao terminar a frase, ele afundou novamente dentro de mim, mais
profundamente, o movimento foi carregado de uma nova intensidade, como
se quisesse marcar aquele momento em nossas almas. Seus lábios
encontraram os meus e ele me beijou, estava com o sabor e forma diferente,
era mais formal, sei lá! Estava complicado definir. Cada movimento, cada
toque, era uma declaração silenciosa, cujo verdadeiro significado eu não
conseguia decifrar.
Eu podia sentir as batidas aceleradas do seu coração contra o meu
peito e o tremor em suas mãos enquanto ele me segurava firme. A sua
emoção transbordava igualmente à minha, eu não estava enganada... Nossa
conexão era visivelmente inquebrável.
— Eu vou te proteger para sempre. — A promessa dava a entender
que lia os meus pensamentos. Nosso beijo se intensificou e nos movíamos
juntos em perfeita harmonia. Cada gemido, cada suspiro nos aproximava do
êxtase. Eu sentia segurança com ele, mas não estava certa dos seus
sentimentos. — Você é minha, Paola. Só minha — murmurou ele contra
meus lábios, gozando dentro de mim.
Eu gozei junto, um sentimento avassalador de amor e desejo me
envolvia. Mas, quanto a ele, restava um caminhão carregado de dúvidas.
Quando ele dizia que eu era dele, poderia ser apenas sobre o ego,
sobre posse e nada mais. Afinal de contas, eu não conhecia a verdade por
trás de Simon Costello, mas deixei para lá. Precisava muito dele e em todos
os sentidos.
Voltamos ao chuveiro, terminamos o banho em silêncio, nossos
corpos ainda se tocavam de forma íntima e reconfortante. Ao retornar ao
quarto, caímos na cama, ainda nus e molhados. Eu deitei pressionando o
rosto contra o peito de Simon, e ele me abraçou com força; seus braços
firmes ao meu redor.
Ele hesitou, seu olhar fixo no teto, como se estivesse escolhendo
cuidadosamente suas próximas palavras. Acariciou meus cabelos com uma
ternura inesperada antes de finalmente falar:
— Paola, enquanto você estava em coma no hospital, o mundo
estava desmoronando. — Seu tom de voz emitia uma gravidade que fez
meu coração acelerar. Levantei a cabeça rapidamente, meus olhos
especulativos e atentos buscando os dele.
— O que você quer dizer com isso, Simon? — perguntei,
apreensiva.
Ele esticou a mão até o móvel ao lado da cama e pegou o controle,
ligando a TV embutida na parede. A tela iluminou-se diretamente na
manchete do dia do debate entre Simon e Henry Paterson.
Eu empalideci ao ouvir o anúncio do jornalista:
— Recebemos uma denúncia de última hora de Carter Jenkins. Ele
afirma que Henry Paterson tem envolvimentos profundos com quartéis
militares e facilitava o transporte de drogas através das redes logísticas
militares.
Espantada, sentei-me na cama com meu olhar distante enquanto
processava a informação.
— Para Carter saber disso, ele deve ser íntimo do meu tio... Será
que o tio Henry se aproximou do Carter para obter informações sobre a
minha mãe, sobre a nossa família? — murmurei, perdida em meus
pensamentos.
Simon se sentou ao meu lado, segurando meu rosto entre as mãos e
forçando nossos olhares a se encontrarem.
— Carter trabalhava para Henry Paterson, não há dúvida —
garantiu ele. — Mas fui eu quem passou essa denúncia sobre o transporte
de drogas para Carter.
Fiquei atônita, meus olhos estavam arregalados.
— Por que não denunciou à polícia? — questionei, repleta de
confusão e medo.
Simon riu ironicamente, balançando a cabeça.
— A influência de Henry Paterson é imensa. Qualquer denúncia
contra ele seria abafada. Sua gangue garantiria que todos os delatores
desaparecessem. Agora, Henry estará ocupado defendendo-se dessas
acusações.
Ponderei por um momento antes de perguntar com firmeza:
— Eu gostaria de saber quando Carter começou a trabalhar para o
meu tio. Foi antes ou depois de conhecer a minha mãe? E por que ele
aceitou te ajudar a derrubar Henry? E por que tentar matar a mim e a
Liliana?
Simon suspirou, pegando o celular no móvel de apoio e ligando um
áudio.
— Embora eu não acredite, Carter argumentou que, para proteger a
Liliana, ele trabalharia do meu lado. Vou te mostrar alguns trechos do que
ele disse.
A gravação começou, a voz de Carter preencheu o quarto:
— Há quatro anos, havia rumores de que você seria um possível
candidato à Presidência. Henry queria impedir isso. Ele me contratou para
fazer o serviço quando você estivesse na cidade da Elizabeth, minha
namorada. Mas quando chegou a hora, você foi sequestrado... O que
aconteceu naquele sequestro, Simon? Não houve denúncia, tudo foi
abafado. No dia seguinte, você estava de volta ao trabalho.
— Você matou a mãe da sua filha naquela noite, Carter — acusou
Simon na gravação.
— Ela estava bem quando eu saí. Provavelmente teve uma
overdose. Henry prometeu cuidar de Liliana e me mandou desaparecer.
Mas agora quero descobrir por que ele quer matar as sobrinhas. Eu faria
qualquer coisa para salvar Liliana, até matar Henry, se necessário.
Funguei, chateada após ouvir o áudio.
— Ele não está mentindo. A vizinha confirmou que viu Carter se
despedindo da minha mãe, naquele dia. Mas, enfim... que mundo sujo! —
exclamei.
Simon me abraçou, apertando-me contra o seu peito.
— Sinto muito que você esteja passando por isso — murmurou ele.
— Então, era mesmo você naquele sequestro há quatro anos? E por
que tem casa em Las Vegas? Pesquisei sobre você, nasceu em Miami —
perguntei, o encarando.
Simon apenas respondeu deixando tudo vago.
— Quando se é mais esperto que o bandido, ganhamos a parada. E
digamos que essa casa seja de temporada, curto os cassinos de Las Vegas...
Ele continuou, sem me dar a chance de especular mais:
— Em quatro dias voltaremos a Miami.
— O quê? — hesitei. A realidade me preenchia de temor. As
acusações de Simon e Carter contra o meu tio ecoavam em minha mente,
reforçadas pelo seu comportamento recente.
Eu já não acreditava que eu e minha irmã éramos tão valiosas
quanto tio Henry repetia transbordante em orgulho: “Minhas joias raras!”.
— Fica tranquila, Paola. — Simon me levou entre os seus braços
fortes e quentes. Equivocada ou não, era assim que me sentia em relação a
ele: protegida.
Não havia outro modo. Vulnerável e sem poder contar com o meu
tio, restava-me confiar em Simon, pelo menos até que eu me recuperasse.
Agradecia a Deus a todo instante pela saúde estável da Liliana, pelas suas
crises de asma terem desaparecido, nem medicamentos foi mais necessário.
— Você e Liliana vão morar comigo, sob minha proteção. O
castelo de Henry Paterson está ruindo e é só uma questão de tempo para
virar pó. Prometo que vocês estarão seguras comigo.
Assenti, ainda processando tudo, rodeada de dúvidas e incertezas.
CAPÍTULO 27

SIMON

Dois dias depois...

O avião decolou e logo estávamos sobrevoando as nuvens rumo a


Miami. Minha Paola, fragilizada, observava Liliana sentada no banco em
frente, seus olhinhos encantados, admirando as nuvens.
— Vem aqui, amor. — Abracei-a e beijei sua face. — Tudo bem?
— Ela assentiu de cabeça e a repousou no meu ombro.
Nada estava bom, não com a volta do lúpus. A doença de Paola
voltou com força, afetando seu sistema respiratório e deixando-a debilitada.
E não havia muito o que eu pudesse fazer além de permanecer ao seu lado.
Com meu coração pesado, tomei a decisão de antecipar a volta para Miami.
Precisava estar lá, devido aos meus compromissos na empresa e na política,
mas, mais do que isso, precisava garantir que Paola recebesse o melhor
cuidado possível.
— Não queria que minha irmãzinha estivesse passando por isso,
Simon — sussurrou Paola inspirando profundamente, até os limites dos
seus pulmões e expirou de uma única vez e, entristecida, cerrou os olhos.
Eu beijei suavemente suas pálpebras, em seguida sua testa e sussurrei, para
Liliana não escutar:
— Logo tudo isso vai acabar e vocês terão uma vida de paz.
Paola paralisou e, desconfiada, me encarou especulativa.
— E você se encaixa nessa vida de paz, Simon?
Não, eu não me encaixava nessa vida de paz que prometia a ela,
mas não poderia ser honesto, não ainda. Talvez nem no futuro seja possível.
Com um baita aperto o coração, algo que nunca senti antes, a envolvi dentro
dos meus braços, proporcionando-lhe o máximo de conforto que eu podia.
Olhei para Liliana, que começava a cochilar.
— Tudo vai ficar bem — pronunciei, tentando imprimir uma
certeza que eu não sentia inteiramente.
Perto de Miami começou uma forte turbulência em virtude de uma
ventania na região, olhei pela janela e vi a cidade se aproximando.
— Estamos chegando — murmurei sobre os seus cabelos sedosos e
perfumados. Paola suspirou, um som fraco, mas cheio de emoção e
levantou a cabeça devagar, seus olhos encontrando a vista deslumbrante da
cidade lá embaixo.
Miami parecia um tapete de luzes, brilhando sob o céu noturno.
— Não sei se estou feliz por estar voltando — sussurrou dando
uma forte inalada e me fitou. Seu rosto estava pálido e sua respiração era
um pouco dificultosa. Felizmente, o médico liberou-a para viajar,
recomendando que ela fosse tratada em casa, onde poderia receber os
cuidados necessários. — Eu só queria uma vida normal, só isso.
Seu desejo era algo que eu não podia oferecer. Inspirei
profundamente, consternado à minha realidade. Segurei seu queixo e a
puxei para um beijo que foi recebido com o fechar dos seus olhos.
— Eu vou garantir essa vida normal para você, eu prometo, Paola
— disse cada palavra carregada de uma verdade silenciosa. Por ela, eu
sangraria, por ela eu morreria... Até conhecê-la, o único sentido da minha
vida era acabar com Henry Paterson. Mas agora Paola trouxe um novo
objetivo: cuidar e proteger. Nunca imaginei que fosse tão prazeroso cuidar
de alguém tão especial como ela.
Ela riu baixinho, um grunhido suave que deixava clara sua
incredulidade, e depois baixou os olhos, visivelmente chateada.
— Você não responde às minhas perguntas e agora fala se
excluindo da minha vida...
Desviei o meu olhar, lutando contra o desejo de confessar a
verdade, minha expressão até endureceu ao tentar esconder a dor interna
que me corroía.
— O castelo do seu tio está prestes a ruir. É só uma questão de
tempo para virar pó — afirmei convicto.
Henry Paterson sofria fortes pressões da opinião pública e da
justiça, cobrando explicações sobre as denúncias. Apesar do crápula tentar
desqualificar Carter, alegando que ele era um viciado sem credibilidade, sua
popularidade estava em queda livre. A mídia e as autoridades estavam
implacáveis, exigindo respostas. Henry estava desesperado, tentando provar
a fragilidade das acusações. Contudo, para subir nas pesquisas novamente, a
alternativa do bandido seria eliminar Carter de vez. Sem um acusador
oficial e provas robustas, ficaria o dito pelo não dito.
“Eu darei o Carter a ele, mas nunca o perdão.”
— Como sempre, se esquiva das minhas indagações... — Sem
desconectar nossos olhares, ela sorria movendo a cabeça de um lado para o
outro.
— Essa é minha vida, Paola. Esse sou eu!
Ela ainda processava tudo, visivelmente com dúvidas e incertezas.
Seu olhar, no entanto, começou a mostrar uma faísca de esperança.
— Você é o mistério em pessoa, mas quer saber? — Arqueei
expondo um sorriso curioso e aguardei ela finalizar seu raciocínio. — A
certeza de que você não é apenas Simon Costello, o grande empresário que
está disputando a Presidência do País, para trabalhar pela nação, e o
comportamento e ações de Henry Paterson sinaliza que tenho que acreditar
em você, apesar de ser um assassino.
Balancei a cabeça negando.
— Eu salvei vocês... — frisei e ela riu.
— Eu agradeço e me sinto em dívida contigo. Tão logo eu me
recupere, posso até trabalhar na sua campanha... — a esperta jogava o
verde. — Continue em nossas vidas, Simon... — emendou com o meu
silêncio.
E causou em mim uma mistura de carinho e temor, pois a única
coisa que não permitiria era que ela e sua irmã ficassem expostas.
— Vamos deixar para pensar nisso depois. — Beijei sua testa e ela
acomodou em meu peito e adormeceu.
Quando chegamos em casa, vi o carro esportivo de luxo de
Charlotte estacionado na frente. Meu coração disparou e um medo frio se
instalou em mim. Eu sabia que isso não ia ser bom.
— O que está acontecendo, Simon? — Paola perguntou,
percebendo minha preocupação.
— Charlotte está aqui — respondi, tentando esconder o pânico na
minha voz. Liliana, ao nosso lado, olhou curiosa pela janela.
Quando nos aproximamos, Charlotte saiu do carro esbanjando ar
de superioridade. Seus olhos azuis de vidro fuzilavam o para-brisa do nosso
carro. Assim que nos viu, ela começou a gritar:
— Então é verdade! Simon, você está mesmo com essa
insignificante da Paola e a irritante da irmã dela!
Pedi licença e saí do carro, tentando evitar um escândalo maior.
— Charlotte, por favor, não aqui — tentei acalmá-la.
— Você não deveria ter proibido a minha entrada na casa, Simon!
— ela gritou, furiosa. — E essa ingrata da Paola! — Apontava para dentro
do carro. — Traindo Henry Paterson, a pessoa que fez tudo para tirar ela e a
sua irmãzinha idiota da sarjeta!
— Charlotte, você não sabe nem metade da história — repliquei,
tentando manter a voz firme.
— As acusações do Carter são falsas! — ela insistiu, com os olhos
brilhando de raiva. — Ele não passa de um viciado irracional e Henry
Paterson já está firme em sua defesa, e claro que não terá a menor
dificuldade em provar isso! — Tirando os fios de cabelos que o vento
levava aos seus olhos, ela gritava a ponto de alguns curiosos vizinhos,
saírem para fora de suas casas.
— Estou curioso para ver como será a defesa daquele verme — eu
ri já contando com vitória nesse primeiro passo. — Diante das provas não
há argumento.
Charlotte riu histérica.
— Palavras mentirosas jogadas ao vento não são provas, Simon —
ela defendia o indefensável, o vento não dava trégua, cobrindo seu rosto e
ela brigando para se livrar do cabelo. — Vento chato! — reclamou quando o
vento intensificou esvoaçando a saia e o cabelo ao mesmo tempo, deixando-
a confusa, Charlotte não sabia se segurava a saia ou o cabelo, optou pelo
cabelo e a saia elegante ergueu toda.
Todos que presenciavam o escândalo ficaram surpresos ao ver que,
presa à cinta-liga dela, havia três colheres de prata, claramente roubadas de
algum bar de luxo ou festa. A visão foi tão inesperada e ridícula que
ninguém segurou o riso.
— Charlotte, o que é isso? — perguntei, em choque.
Charlotte, envergonhada e furiosa, tentou baixar a saia e se
recompor, mas o dano já estava feito. Os vizinhos que assistiam à cena
riram abertamente, transformando sua entrada dramática em uma piada
pública.
— Isso não é da sua conta, Simon! — ela gritou, tentando manter a
dignidade, mas era tarde demais. Ridicularizada, entrou no seu carro
esportivo e saiu em alta velocidade, derrapando os pneus.
Paola desceu do carro com Liliana, que não compreendia bem, e
perguntou:
— Por que a Charlotte colocou as colheres na meia dela?
Eu e Paola nos entreolhamos rindo, mas logo virou uma
gargalhada.
— O que foi, por que vocês estão rindo?
— Só achando engraçado a mão leve de Charlotte, vamos entrar.
— Paola carinhosa segurou firme na mão da irmã e entramos em casa.
Liliana ficou encantada com o ambiente.
— Fica à vontade para conhecer seu novo lar, Liliana, que vou
levar a sua irmã para o quarto dela, ok?
— Tá bom, Simon.
Já havia solicitado o preparo do quarto para a Paola, com todo o
equipamento necessário para o seu tratamento e contratei uma enfermeira.
Ela deitou-se na cama, exausta, e eu me sentei ao seu lado, segurando sua
mão.
— Logo a enfermeira que contratei vai chegar, e olha! Vamos
superar isso juntos — prometi, olhando em seus olhos.
— Se é correto eu não sei, mas o fato é que eu acredito em você,
Simon — ela respondeu, sorrindo com uma força que me inspirou
profundamente. — E eu vou lutar.
A batalha estava apenas começando, mas eu estava mais do que
pronto para encará-la. Paola, exausta, fechou os olhos e cochilou. Beijei sua
testa e saí do quarto. No corredor, ouvi sua voz baixa vindo do interior do
quarto e, sem conter a curiosidade, encostei meu ouvido na porta.
— Oi, Anah! Eu liguei para saber como estão todos por aí em
Exeter. — Seu tom entrecortado dizia que ela chorava. A quietude se
arrastou por alguns segundos e então sua voz surgiu novamente. — Que
bom... que bom! — Mais silêncio, e ela falou a seguir: — É o Duck... —
Agora ela ria ao citar seu cachorro. Lembrei-me de quando ela falou dele
para Liliana no dia em que nos encontramos no shopping. Ela chorava, mas
também ria. — Sério que esse cachorrinho está ouvindo a minha voz?
Espera, vou colocar aqui no viva-voz também.
Então, latidos ressoaram baixo lá dentro e Paola ria apaixonada,
saudosa. Eu também sorri, seu jeito carinhoso não era apenas com todos ao
seu redor, mas ela também amava animais.
— Tive uma crise de lúpus, mas agora estou bem, medicada... Eu
não sei ainda quando vou retornar, está meio complicado por aqui, mas
fique atenta, Anah. Não atenda nunca o telefone da residência, ok?
Obrigada... fica com Deus. Beijos.
Fiquei ali, pensativo, do outro lado da porta. Quem seria essa Anah
e como seria a vida dela em Exeter? As palavras de Paola me mostraram
uma faceta dela que eu ainda não conhecia totalmente, uma vulnerabilidade
que a tornava ainda mais preciosa para mim.
Quando tudo ficou quieto lá dentro do quarto, desci as escadas e,
pela porta de vidro que dava para a área externa da mansão, vi Liliana
correndo ao redor da piscina. Seus cabelos esvoaçavam ao vento forte da
noite, que balançava as árvores e a vegetação com vigor. A visão da menina
me causou uma admiração profunda, uma alegria que contrastava com a
ventania agitada. Havia uma tranquilidade naquela noite que eu nunca havia
experimentado em meu mundo de caos e interesses.
— Você está com fome, Liliana? — perguntei, pensando em
preparar uns lanches.
— Muita fome! — respondeu ela e veio à minha frente. — Simon,
você gosta da Paola? —perguntou de repente, pegando-me de surpresa.
Eu ri.
— Claro que gosto muito de você e da sua irmã.
— Não, eu quis dizer... Gostar de namorar? — ela retrucou,
sorrindo com ingenuidade.
Antes que eu pudesse responder, faróis e o barulho de motores e
portas batendo interromperam nosso momento. Olhei para a entrada da casa
e vi a comitiva de Henry Paterson. Ele desceu do carro cercado por
seguranças, todos com as mãos na cintura. O segurança da guarita tentou
barrar a entrada, mas Henry avançou quintal adentro.
Meus seguranças invisíveis surgiram de todos os lados, fazendo
Henry hesitar.
— Não quero confusão, só vim buscar minhas sobrinhas, ou darei
queixa de sequestro — Henry rosnou.
Liliana, assustada, correu para dentro da casa.
— Vá embora, Henry. Paola e Liliana são minhas convidadas e não
querem ir com você.
Henry ficou furioso.
— Vou chamar a polícia.
— Duvido. Não quer expor ainda mais as acusações que pesam
sobre você.
Henry respirou fundo, parecendo a ponto de me agredir.
— Onde está Carter?
— Precisa rever sua equipe, se não consegue encontrar um simples
viciado. Vasculhou o país todo e não conseguiu? — debochei, com gosto,
mexendo com o brio do canalha. Como bem-informado que sou, estava com
todas as provas de que Henry Paterson e sua gangue fizeram uma varredura
na minha vida, mas somente rodopiou como uma barata tonta, eu estava a
mil anos-luz à frente dele.
Henry deu um passo à frente.
— Quem está por trás de você, Simon Costello? — perguntou
entredentes e eu zombei virando a cabeça para trás.
— Não tem ninguém atrás de mim, Henry Paterson.
Ele rosnou fechando as mãos com força.
— Do que você sabe? Porque lembrar você não lembra,
impossível. Carter não tem informações, você está passando a ele... —
afirmou categórico.
Antes que eu respondesse, Henry olhou além de mim e chamou
Paola e Liliana.
— Você duas, venham comigo, agora!
— Não! Eu e minha irmã ficaremos aqui — respondeu Paola,
firme, abraçando Liliana.
Henry olhou para mim com raiva antes de se virar para Paola.
— Paola, você é adulta e dona das suas decisões, mas Liliana vai
comigo. Tenho a guarda legal dela. — Ele estendeu a mão para Liliana. —
Venha, Liliana, vamos para casa.
Liliana se desesperou, agarrando-se ainda mais à irmã.
— Não quero ir! — ela chorava, o pânico em sua voz era palpável.
Henry, percebendo que a situação estava fora de controle, se
preparou para dar mais um passo, mas eu o interrompi, firme:
— Ela está bem-cuidada aqui. Vá embora sem causar mais
transtornos.
Henry hesitou, olhando para mim com ódio.
— Vou chamar a polícia.
Repensei sobre a situação, se Henry realmente detinha a guarda
legal de Liliana, a polícia daria razão a ele, e Liliana teria que acompanhá-
lo. Era um direito legal que ele poderia fazer valer, mesmo que a situação
emocionalmente fosse muito difícil para Paola e Liliana.
— Fique calma, ninguém vai nos separar — Paola enfrentou Henry
corajosamente, acariciando as costas da irmã. Sua voz, embora firme, saiu
entrecortada e baixa: — Se precisar, eu irei com você, maninha.
Henry notou sua fragilidade e se aproximou, notando a palidez de
Paola e sua respiração ofegante.
— Está doente?
— Estou bem — a sobrinha mentiu sem o convencê-lo.
Henry grunhiu indignado e disse:
— Não há a necessidade de olhos clínicos para diagnosticar a
doença existente.
— Sim, a Paola tem lúpus e está em tratamento domiciliar, e eu
vou cuidar dela — Liliana respondeu inocente.
— Paola precisa de um hospital — Henry disse, encarando-me.
— Está bem-cuidada aqui. Vá embora sem causar mais tumultos
— ordenei, já sem paciência com aquele verme.
— Está tudo bem, Simon. Eu vou com a Lilian... — Paola não
conseguiu finalizar a frase, fraquejou e teve um breve desmaio.
Desesperado, corri para socorrê-la.
— Paola, querida! — Segurei seu rosto, preocupado.
Ela abriu os olhos devagar, pálida e fraca.
— Simon, estou tão cansada...
— Eu sei, querida. Vai ficar tudo bem, estou aqui com você.
Henry, irritado, percebeu a conexão e rosnou:
— Sabia, vocês se conheciam mesmo.
— Isso não te interessa, Henry. Vá embora agora ou enfrentará as
consequências! — ordenei, pegando Paola no meu colo.
Ele hesitou por um momento, mas a determinação em meus olhos
o fez dar um passo para trás. Paola apertou os braços ao redor do meu
pescoço.
— Vamos subir e descansar, Paola. — Olhei para Henry com
desprezo. — Paola precisa de cuidados, e a Liliana ao lado dela vai ajudar
na recuperação. Amanhã, discutiremos sobre a Liliana retornar para sua
casa.
Henry suspendeu as sobrancelhas irredutível.
— Eu posso cuidar da Paola em casa — teimou, elevando minha
ira.
— AMANHÃ! — determinei com voz forte, assistindo um olhar
de predador pronto a abocanhar sua presa. — Esta é a última vez que aviso,
Henry. Saia daqui ou sua vida será exposta não em conta-gotas, mas de uma
só vez. — Ele sentiu, seu olhar de predador se tornou acuado, temeroso.
— Eu vou destruir você, Simon — ameaçou com os olhos
estreitados.
— Boa sorte, Henry Paterson — respondi secamente, o encarando.
— Meu erro foi deixar você existir.
— O seu maior erro, concordo!
— Daqui a dois dias, tenho uma reunião importante em minha casa
e quero a minha família toda reunida. Ou melhor, quero almoçar com a
minha sobrinha Liliana, amanhã. Senão venho com a polícia buscá-la —
pontuou e muito embravecido ele saiu com sua comitiva.
O chefe da minha segurança perguntou se precisava de ajuda.
— Sim, cuide da Liliana, faça lanches para ela. Os outros, fiquem
de prontidão. Avise quando a enfermeira chegar.
Levei Paola até o quarto. Ela estava melhor e se deitou e eu a
abracei com ternura. Ela murmurou:
— O que meu tio quis dizer com “O que você sabe? Porque
lembrar você não lembra”?
Beijei sua testa.
— Não pense nisso agora. Apenas descanse.
Ela dormiu antes que eu terminasse a frase.
— Nada de ruim vai acontecer com você e Liliana — prometi
suavemente.
CAPÍTULO 28

PAOLA

Sentia uma quentura agradável e abri os olhos lentamente, o sol da


manhã entrando suavemente pela janela, banhava meu corpo com uma luz
dourada. O quarto que Simon preparara para mim era aconchegante, com
paredes de um azul-claro e móveis de madeira escura, que exalavam uma
sensação de tranquilidade. As cortinas leves balançavam com a brisa suave
que entrava pela janela aberta. Enquanto meus olhos se ajustavam à luz, a
noite anterior invadiu minha mente como uma avalanche. Meu coração
apertou ao lembrar do ultimato de meu tio Henry: “levar Liliana até a hora
do almoço”.
— Eu irei com ela — decidi me sentando à cama, notando a minha
respiração estável.
Eu me sentia renovada naquela manhã e disposta a enfrentar o que
fosse necessário. Não podia permitir que Liliana fosse levada à força, me
anteciparia a levando pessoalmente, protegendo-a do estresse e do trauma, e
ficaria por lá também.
“Jamais deixarei minha irmã aos cuidados de Henry.”
Saía da cama quando ouvi o som de água correndo no banheiro.
Em seguida, passos se aproximaram, com o olhar fixo na porta eu aguardei.
Uma mulher de cerca de 40 anos, vestida de enfermeira, entrou no quarto.
Seus cabelos estavam presos em um coque impecável e seus olhos
mostravam uma mistura de profissionalismo e gentileza.
— Bom dia — ela cumprimentou emitindo um sorriso suave. —
Como você se sente essa manhã?
— Renovada, de certa forma — respondi, tentando sorrir de volta.
— Você é a enfermeira?
— Sim, sou eu. Meu nome é Amanda — ela informou. — Parece
que sua doença está respondendo bem ao tratamento.
Ela se aproximou da cama, segurando alguns comprimidos e um
copo d'água. Agradeci enquanto pegava os medicamentos.
— Sabe se Liliana já acordou? — perguntei.
— A menina Liliana ainda está no último sono. O senhor Simon
também — ela respondeu com um tom tranquilizador.
Levantei-me da cama, sentindo uma nova energia. Tomei um
banho revitalizante, deixando a água quente lavar os meus medos e
preocupações. Vesti algumas peças de roupas que comprei em Las Vegas, a
escolha foi simples e leve: uma calça legging e uma blusa que chegava até o
cós da calça, diferente do que estava acostumada a vestir.
Uma onda de emoções me atingiu com força.
Com os cabelos ainda molhados, caminhei até o quarto de Simon.
— Uau! — murmurei, com uma onda de emoções me atingindo
com força àquela visão que fez meu coração acelerar. Ele estava de bruços,
completamente nu, seu corpo másculo se destacando na luz suave do abajur.
Cada músculo parecia esculpido, surgindo o impulso irresistível de tocá-lo.
Andando nas pontas dos meus pés, meus passos quase inaudíveis
no carpete macio, eu me aproximei, meus olhos percorriam as linhas
definidas de seu corpo e a vontade de tocar sua pele era avassaladora.
Queria sentir a textura sob meus dedos, traçar as curvas dos músculos que
tanto admirava, ser envolvida por seus braços fortes que sempre me faziam
sentir-me segura. Fazendo os cálculos dos próximos capítulos, as
oportunidades tornavam escassas e não deixaria essa passar.
Toquei suavemente as pontas dos dedos no seu ombro, deslizando
pela tatuagem que descia ao braço e, suspirando, Simon respirou fundo, se
mexendo levemente ao meu toque e se virou de frente na cama, sua ereção
tomava forma, fazendo os meus olhos brilharem.
— Oi, bonita. Você está melhor? — perguntou com a voz suave e
cheia de carinho.
— Sim — respondi, tentando sorrir, mas o peso do meu coração
era evidente. As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, traindo as
palavras que tentava usar para tranquilizá-lo.
Em meio a um suspiro misturado a um sorriso de pesar, senti a
profundidade do meu sentimento por ele. Simon se tornara imprescindível e
minha única opção de futuro. Eu precisava dele... e como precisava.
Reparando nas lágrimas e sem dizer uma palavra, ele pegou minha
mão.
— Vem aqui. — Puxou-me gentilmente para o seu colo, um joelho
de cada lado do seu quadril e então ele me abraçou de frente, correndo suas
mãos em minhas costas, me apertando, nossos peitos unidos, rostos juntos.
— Paola — ele sussurrou afastando a cabeça o suficiente para nossos
olhares se encontrarem, comunicando uma cumplicidade e paixão
silenciosa, nossas respirações se misturavam. Eu o beijei.
Precisava sentir Simon mais uma vez; essa poderia ser a última,
então a despedida teria que ser completa. O beijava e me esfregava nele, o
provocando, logo seu pau rígido e pulsante cutucava gostoso sobre o tecido
da legging, me deixando molhada, me enlouquecendo, o enlouquecendo.
Excitado, ele começou a morder meu lábio, alternando com chupadas na
minha língua, depois escorregou os lábios molhados pela minha face,
lambendo minha orelha e pescoço, retornando à minha boca, desesperado
tamanha a excitação.
— Paola, você não deveria me provocar assim — murmurou entre
beijos, suas mãos abraçando minha bunda e me apertando contra ele. E
devorando a minha boca, deitou me puxando contra o seu corpo viril, sua
ereção entrou em meio às minhas pernas e ondas de arrepio percorriam meu
corpo. Eu estava tomada por uma excitação incontrolável.
Simon parecia apreensivo em fazer sexo comigo, preocupado com
minha recuperação. Mas eu me sentia renovada, com objetivos claros e isso
incluía não deixar Liliana sozinha na casa do tio Henry. Segurei o rosto de
Simon, olhando profundamente em seus olhos transbordando de tesão.
— Estou ótima, Simon. Eu preciso de você, por completo —
declarei.
Voltou a me beijar com paixão, desejo e saiu da cama exibindo
aquele pau enorme, ereto e cheios de veias, arfei sedenta por ele. O cara
piscou sacana e rapidamente arrancou minha calça legging junto com a
calcinha. Seus olhos estreitados, transbordando de tesão, admirou minha
vagina depilada.
— Linda... — elogiou e se jogou sobre meu corpo, beijando-me
com possessividade. Seus lábios desceram pelo meu pescoço. Agarrada aos
lençóis embaixo de mim, eu arqueei a cabeça contra o colchão, entregando
tudo para ele explorar.
Seus lábios mamaram meus seios e eu sentia cócegas dos pelos da
barba tocando minha pele. Ele chupou os bicos dos meus seios, arrancando
gemidos de prazer de mim e dele. Simon desceu beijando meu abdome até
chegar à minha vagina. Abri minhas pernas e ele cheirou com satisfação e
sussurrou:
— Seu cheiro é viciante, bom pra porra. — Rapidamente curvou-se
passando a ponta da língua entre meus lábios vaginais sensíveis. Inspirei e
prendi todo o ar em meus pulmões enquanto ele degustava dela toda. Me
levando à loucura, eu delirava na sua língua experiente que amava de
verdade. Não havia mais volta, eu o amava demais... — Boceta deliciosa —
rosnou Simon, com seus olhos brilhando de desejo nos meus enquanto
lambia minha intimidade com voracidade.
— Simon, não para... Por favor... — gemi, sentindo ondas e mais
ondas de prazer se espalharem por todo meu corpo.
Ele intensificou os movimentos, chupando e lambendo minha
boceta com mais fervor. Meu corpo tremia, os arrepios se transformavam
em uma corrente elétrica de prazer. Quando finalmente retornou, beijando
minha boca com força, ele me penetrou de maneira avassaladora.
— Simon! — gemi, com ele estocando dentro de mim com força,
naquele entra e sai divino, no ritmo e paixão.
— Você é minha, Paola. Só minha — murmurou ele entre
estocadas, a voz rouca e carregada de desejo.
— Sim, Simon, só sua... — respondi, entregando-me
completamente a ele. E era no sentido literal.
Nossos gemidos se misturavam em meio aos corpos suados e em
êxtase. Ele tirava e arremetia precisamente e intenso, cada movimento nos
trazia mais perto de um orgasmo esmagador. Finalmente, atingimos o
clímax juntos.
— CARALHO! — Simon gemeu alto, aprofundando tudo dentro
de mim e no mesmo momento em que eu explodi. O mundo pareceu
explodir em cores e sensações, um momento de pura conexão e prazer
como nenhum outro.
Ele caiu na cama de frente comigo e me abraçou, unindo nossos
peitos, nossos corações batendo forte na mesma frequência. Nossos corpos
suados e respirações apressadas se misturavam. Ali, comecei a sofrer por ter
que partir e não contive a emoção. Lágrimas começaram a jorrar, alguns
fios de cabelo colaram-se ao meu rosto úmido.
Simon afastou a cabeça em busca dos meus olhos e sorriu, um
sorriso charmoso, sedutor, mas, acima de tudo, protetor.
— Eu não vou permitir que Henry Paterson leve a sua irmã. Fica
tranquila — ele sussurrou, passando os dedos pelo meu cabelo, afastando as
mechas molhadas do meu rosto. Movi a cabeça de um lado para o outro,
negando.
— Eu levarei a Liliana pessoalmente, Simon — declarei de uma
vez. Simon fechou a cara, desaprovando. — Eu já decidi.
— Nunca — determinou autoritário.
Eu rebati:
— Se é como diz, não tenho nem como denunciar meu tio. Não há
crimes, a polícia é conivente, enfim... Eu não quero que Liliana fique
traumatizada. Nós, querendo ou não, meu tio tem a guarda dela. Não
dificulte as coisas, por favor!
— Aquele filho da puta do caralho! — praguejou Simon com a
fúria estampada no semblante, pois sabia que eu estava certa. Ele se
levantou da cama, passando a mão pelo cabelo, e me encarou pensativo.
Saí da cama e fui para a sua frente, colocando minhas mãos sobre
seu peito nu, quente, que se movimentava em um ritmo frenético.
— Eu preciso contratar um advogado para requerer a guarda com
urgência.
Ele suspirou, meneando a cabeça em negativa. Segurou em meus
pulsos e disse com confiança total:
— Vou agilizar as coisas. Você terá a guarda da Liliana num piscar
de olhos. Vou contratar, sim, o melhor advogado, mas o serviço dele será
apenas formalizar a documentação de guarda.
— Como você vai agilizar, o que pretende fazer Simon? —
questionei, confesso que preocupada. Imaginando as atrocidades que ele,
um assassino, poderia fazer com o meu tio.
Ele respirou pesaroso, em seguida me aninhou em seus braços e
ali, sentindo o calor e a segurança que emanavam dele, com seu queixo
apoiando em minha cabeça, ele foi curto e grosso:
— Nada além do que já está no script. — Beijou minha cabeça.
Eu poderia questionar, criticar, mas não!
— Eu só quero ter uma vida normal, tranquila...
Apertando-me um pouco mais entre seus braços forte, ele me
respondeu:
— Eu prometo que vai conhecer o verdadeiro Henry Paterson,
você e o mundo... Então terá a sua tão sonhada vida normal e tranquila, um
recomeço. Eu garanto a você.
Nem questionei, retruquei, nada... porque já sabia que não teria
respostas... Simon era uma incógnita, um homem envolto em segredos. Mas
quem não os tem? Cada um de nós esconde verdades que, em algum
momento, nos levam a enfrentar nossos demônios interiores. Diante dos
acontecimentos dos últimos dias, eu não sabia discernir se estava diante de
uma batalha entre o bem e o mal ou entre uma guerra do mal disputando
território, quem poderia garantir que não? Tudo estava tão confuso!
De fato, eu não conhecia o meu tio, mas também não conhecia
Simon. Gostava dele e, de alguma forma, confiava em razão do meu
instinto. Aguardaria Simon agilizar as coisas, na esperança de conhecer os
dois, tanto Henry quanto Simon. Só esperava que Simon não fosse tão
canalha como ele pintava o meu tio.
Ele me pegou de surpresa no colo.
— Se você vai embora, então temos que aproveitar mais um pouco
— disse ele, beijando-me com ternura enquanto me levava de volta para a
cama.
— Você é um tarado! — provoquei, rindo.
— A culpa é sua por ser tão gostosa — ele respondeu com um
sorriso malicioso.
Enquanto ele me deitava na cama, um pensamento doloroso
atravessou minha mente: aquele momento poderia ser o nosso último.
Talvez fosse a despedida que eu tanto temia. As lágrimas voltaram, mas
Simon não parecia notar, ou talvez preferisse ignorar.
Ele me beijou com paixão e nós rimos, conversando animadamente
enquanto nossos corpos se aproximavam novamente. Cada toque, cada
palavra, era um lembrete da conexão que compartilhávamos e da incerteza
que nos aguardava. Eu queria aproveitar cada segundo, gravar cada detalhe
na memória, porque não sabia o que o futuro reservava.
Eu só podia esperar que ele estivesse certo e que, de alguma forma,
tudo isso fosse apenas o começo de algo maior.
CAPÍTULO 29

SIMON

Enquanto Paola tomava uma ducha, me dirigi à cozinha para


preparar o nosso desjejum e dar início na preparação do terreno para pegar
Henry Paterson ciente de que precipitar os planos poderia dar errado.
— Mas que se foda! — disse confiante que tudo daria certo. Tinha
pressa de livrar Paola desse tormento todo, o chato é que assim a afastaria
de mim mais cedo do que eu gostaria.
Paola era tudo que eu não podia ter, um amor proibido que só
poderia trazer dor. Meu modo de viver, perigoso e tumultuado, contrastava
brutalmente com a tranquilidade e normalidade que ela ansiava, e diante da
sua doença ela precisava de sossego. O pensamento de colocá-la em risco
me deixava chateado, mas eu sabia que meus sentimentos por ela eram
profundos e verdadeiros.
Caminhei até o interfone ao lado da porta da cozinha. A tela
mostrava imagens da rua, revelando um movimento fora do comum para
aquela hora da manhã. Em uma das esquinas, um pai ensinava o seu filho a
controlar um avião de brinquedo, que voava sobre o telhado da minha casa.
Claro, aquilo era um drone. Outros olhares vigilantes estavam espalhados
pela região, todos monitorando meus movimentos.
— Tolos! — resmunguei.
Peguei o telefone e liguei para o Cowboy. O primeiro passo era
tirar todos os olhares de cima de mim, uma medida crucial para poder me
movimentar sem ser seguido.
— Cowboy, vamos dar o Carter ao inimigo. — Minha voz saiu
grave e firme. — Ele pode ser capturado, no entanto, ele precisa sobreviver
tempo suficiente para que possamos arrancar dele o porquê de as mortes das
sobrinhas estarem nos planos de Henry Paterson. Conto com você para isso.
Cowboy, um homem de poucas palavras, apenas confirmou com
um “ok”.
— Coloque o Carter em vídeo. Vamos fazer uma conferência —
ordenei.
Dois minutos depois, Carter apareceu na tela, seu nervosismo era
evidente. Ao lado dele, o Cowboy permanecia imponente, seus olhos fixos
na tela, transmitindo segurança.
— Carter, escuta bem. — Minha voz reverberava pelo alto-falante.
— Você vai ser solto em um ponto movimentado de Miami. Henry vai
mandar todos os seus homens atrás de você. Mas fique tranquilo, capturado,
eu e o Cowboy garantiremos sua segurança.
Carter engoliu em seco, seus olhos nervosos varriam a tela.
— Tem certeza de que é necessário eu ser a isca? — ele
perguntou.
Suspirei, mantendo a calma, mas com firmeza na voz:
— De ambos os lados, sua morte seria iminente. Mas você está
com sorte, se jogar do meu lado pode sair vivo dessa. Henry vai capturar
você, mas não vai tocar em um fio do seu cabelo depois que receber uma
ligação anônima.
— Que ligação? Henry é poderoso e impiedoso, e vai me matar,
sim. — Carter estava aflito.
— Se tranquilize, cara! Você é uma peça-chave para derrubar
Henry, cuidaremos para te manter vivo — expliquei, reforçando a
necessidade de proteger Paola e sua irmã. — Confie em mim, tenho tudo
sob controle.
O Cowboy assentiu em silêncio, seu olhar duro e determinado
reforçava as minhas palavras. Carter respirou fundo, ainda nervoso.
— Não falhe comigo, Carter — avisei, em tom de ameaça.
Carter olhou para mim, depois para o Cowboy e finalmente
assentiu. O plano estava em movimento e cada peça tinha que estar no lugar
certo. Desliguei o vídeo e falei ao telefone com o Cowboy.
— Me coloque em vídeo o momento da soltura do Carter. As irmãs
estão indo para a mansão de Henry Paterson esta manhã. Mantenha os olhos
nas duas e a segurança da Liliana deve ser redobrada. Carter é medíocre e
pode usar a Liliana como moeda de troca com o senador.
— Tem a minha palavra, chefe — Cowboy respondeu.
Desliguei e imediatamente fiz outra ligação, mas dessa vez para
Las Vegas. No segundo toque, ouvi a voz metálica e quase mecânica do
meu fiel escudeiro, ele quem cuida de tudo para mim.
— Estava ansioso aguardando sua ligação, chefe — notei o tom
de alívio em sua voz.
— Liguei para você estar preparado, está chegando o momento —
afirmei, certo do sucesso. Tudo corria conforme o planejado.
Meu fiel escudeiro de Las Vegas soltou um ar ruidoso de alívio.
— Em tempo, chefe. Eu ia mesmo te ligar! Como informei na
nossa última ligação, a situação chegou a um nível insustentável, mesmo
oferecendo uma acomodação de rei, está difícil segurar a fera por aqui.
— O anime, diga que a tortura está chegando ao fim, só precisa
mais um pouco de paciência. Abra o jogo completamente, mas veja — o
alertei — tem o script em mãos, não desvie um milímetro dele, entendeu? O
plano não pode ser mal compreendido. E mais um detalhe importante:
depois que contar tudo, diga que eu sinto muito e desejo a ele uma
grandiosa sorte, ok?
— Deixa comigo, chefe — ele respondeu antes de desligar.
Depois aguardei na cozinha o momento da soltura do Carter.
Quando a chamada chegou, fui até o interfone e abri as imagens da rua.
Enquanto observava Carter sendo deixado em um ponto movimentado de
Miami, simulando uma fuga desesperada, prestava atenção na
movimentação das redondezas de casa.
“Bingo!”, Cowboy observava de longe, transmitindo ao vivo as
imagens de Carter correndo. Na imagem do interfone, vi o avião pousando
e sendo guardado dentro de uma sacola. O pai segurou a mão do filho e os
dois entraram em um carro e saíram em disparada. Outras movimentações
de pessoas suspeitas também deram no pé.
— Henry, bandido decadente, mordeu a isca! — comemorei
aliviado. Agora podia sair com Paola e Liliana sem olhos sobre nós.

***

A caminho de Fisher Island, onde ficava a residência do infame


Henry Paterson, sentia a tensão nos meus músculos, a mandíbula cerrada e
a força com que segurava o volante enquanto analisava tudo ao nosso redor,
tudo estava limpo. Conhecia os métodos de agir de Henry Paterson e sabia
que todo o efetivo dele estavam ocupados na caça ao Carter.
— O céu está tão lindo — comentou Liliana, entristecida,
rompendo o silêncio opressivo, ela estava no banco de trás do carro e nesse
instante passávamos por marinas repletas de iates luxuosos e ruas ladeadas
por palmeiras majestosas.
Ela tinha razão.
— Sim, está mesmo — murmurei, tentando manter a voz calma,
mas sentindo a tensão aumentar. A paisagem era deslumbrante, com a
manhã ensolarada iluminando as águas cintilantes de Miami Beach. No
entanto, a beleza do cenário contrastava com meu coração pesado e minha
alma sombria, ansiosa para estourar os miolos daquele estorvo.
Olhei para Paola ao meu lado, seu rosto estava até corado, com
olhos fixos à frente. Seus dedos entrelaçados no colo tremiam levemente,
denunciando sua ansiedade.
Levei minha mão sobre a dela.
— Tem certeza do que está fazendo, Paola?
— Qual a minha opção? — Sua voz soou cheia de dor, deu-me um
lance de olhar e estavam marejados. — Meu tio tem a guarda e eu jamais
deixaria Liliana sozinha.
Irritado com a situação, eu apertei o volante com tanta força, que
meus dedos doíam. A necessidade de conter minhas vontades sombrias era
esmagadora; queria destruir Henry, eliminá-lo da face da Terra. Mas tomar
uma atitude drástica agora colocaria não apenas a segurança de Paola e
Liliana em risco, mas também a minha própria.
“Enclausurado eu não findaria meus planos”.
Chegamos à mansão de Henry Paterson, o lugar que eu sabia ser
perigoso para elas. A ilha Fisher, com suas vistas deslumbrantes e aura de
exclusividade contrastava terrivelmente com a realidade sombria que
aguardava as duas lá, e Paola sabia disso. A insegurança e o medo estavam
explícitos em seu semblante e gestos.
Henry estava em reunião na varanda e visivelmente tenso, alguns
homens da política, Benjamim e David, seu vice na chapa, eram os únicos
que eu conhecia ali no ambiente, e dois seguranças apenas. O restante
estava em ação. Todos tomando café como se fosse uma manhã qualquer.
Henry abriu um sorriso provocador ao nos ver, um sorriso que me deu
vontade de sacar minha arma e apagar o covarde, mas me contive.
— Vai ficar tudo bem, Liliana — tentei confortar, mas minha voz
saiu forçada. Liliana, com os olhos cheios de gratidão e medo, também
desceu do carro e agradeceu-me com um tímido "obrigada".
Paola curvou-se no banco e deu-me um abraço, um pedido de
socorro silencioso que eu reconhecia bem. Eu sussurrei em seu ouvido:
— Eu não vou demorar para vir buscar você e sua irmã, eu
prometo. Ou melhor, para te animar, te busco depois da reunião de Henry
Paterson e como prometi, já com o advogado contratado para formalizar o
documento da guarda da Liliana.
Ela suspirou emocionada, moldando meu rosto em suas mãos
suaves e delicadas, enquanto as pontas dos dedos afagavam minha barba.
Seus olhos perambulavam pelo meu rosto como se estivessem gravando
minha imagem em suas memórias.
— Tão fácil assim, Simon? — Eu assenti sorrindo atrás dos meus
lábios travados. Ela ria em agradecimento, ansiosa, tudo. — Mas, por favor,
tenha cuidado — seu pedido saiu do fundo do coração.
Um beijo em sua face foi a despedida que tivemos e desceu do
carro e de mãos dadas com Liliana, elas entraram no covil dos leões. A
visão de suas costas cruzando pelos homens e depois desaparecendo pela
porta me deixou possesso. Estava ali, segurando-me, lutando contra a
vontade de resolver tudo com violência imediata.
Enquanto Henry continuava a me olhar com aquele sorriso
provocador, Charlotte saiu pela porta, lançando-me algum tipo de aviso
pelo olhar. A presença da prima soou como um mau prenúncio, faltou um
resquício para eu me lançar para fora do carro e ir buscar Paola com a sua
irmã. Mas muita coisa estava em jogo, então eu liguei o carro. Olhei para o
meu alvo uma última vez.
Henry não tirava aquele sorriso provocador dos lábios, mas
mantive o controle, respirei fundo e sussurrei:
— Aguarde, Henry. O que é seu está guardado.
Pisei no acelerador e o carro disparou em alta velocidade, os pneus
derrapando no asfalto. O rugido do motor ecoou pela manhã tranquila
enquanto minha mente fervilhava de planos e sentimentos. Eu sabia que
essa batalha estava longe de terminar e que, por Paola, eu faria qualquer
coisa.
Parti em direção à Energia Solaris Inc. O trajeto foi silencioso,
exceto pelo som do motor do carro e do vento batendo contra as janelas.
Meu peito estava apertado, confesso receoso. Meus pensamentos estavam
fixos em Paola e na necessidade de manter meu foco. Eu aguardaria por lá,
preparando-me para iniciar o ponto decisivo do meu plano.
Cada detalhe tinha que ser perfeito, e eu sabia que não poderia
falhar. A segurança das duas dependia disso. E mesmo que meu coração
estivesse dividido, minha mente estava determinada. O senador de araque
não tinha ideia do que estava por vir.
CAPÍTULO 30

PAOLA

Segurei firmemente a mão de Liliana ao entrarmos na mansão.


Cada passo que dava no hall ecoava em meus ouvidos, amplificando meu
medo e receios. Para a minha infelicidade, cruzei com a safada da Charlotte.
Ela se colocou bem na nossa frente, bloqueando o caminho com um sorriso
malicioso se espalhando pelo rosto.
— Olha só quem decidiu aparecer — a víbora pronunciou com o
seu tom transbordando de sarcasmo. Os olhos claros correram da minha
cabeça aos pés, avaliando-nos com desdém. O ar de vitória dela me irritava
profundamente.
Olhei diretamente em seus olhos, tentando aparentar serenidade.
— Com licença — pedi, embora estivesse querendo dar na cara
dela. Mas precisava respeitar Liliana, que não merecia presenciar
confusões. Tentei desviar, mas Charlotte se recolocou no caminho.
— Calma! — Ela ergueu uma sobrancelha, fingindo inocência.
Grunhi, indignada e pendi a cabeça para sussurrar para Liliana:
— Vai direto para o seu quarto, maninha.
Minha irmã, muito esperta, obedeceu e saiu correndo na direção
das escadas. Encarei Charlotte, cerrando os punhos.
— Vai sair da minha frente ou terei que atropelar você, sua
cleptomaníaca? — desafiei, dando um passo à frente.
— E você, um cadáver ambulante — disfarçou a vagabunda
expondo aquele sorriso petulante e desviou o olhar para as escadas, onde
Liliana já estava quase no final da subida. — Sua irmã, que já foi tão
doentinha, parece bem, mas você, branca desse jeito... — ironizou com seus
lábios curvando-se em um sorriso cruel.
Meu coração bateu forte, mas conservei a postura.
— Eu não vou pedir de novo, Charlotte — dei um ultimato.
Finalmente, ela saiu da frente e rapidamente se dirigiu para a
varanda.
"Mulher insuportável!", pensei enquanto caminhava em direção as
escadas. Minha mente vagava até Simon. Ele era um mistério, um homem
cheio de segredos, mas eu não tinha outra alternativa. Flutuava nas dúvidas,
no nada. Não havia mais ninguém em quem confiar. Sentia-me dividida
entre o medo e a esperança, tentando acreditar que ele cumpriria sua
promessa de não demorar.
Quando pisei no carpete persa, recém-trocado após o incêndio
causado pelo cigarro do tio Henry, a voz de Abigail preencheu o ambiente.
— Paola, venha aqui, por favor.
Congelei, com meu coração alçando voo à minha garganta.
Desesperada, só pensava em me trancar com Liliana no quarto. O medo do
que Henry poderia fazer comigo e com minha irmã me consumia. Se ele
realmente quisesse nos matar, eu teria que protegê-la a qualquer custo.
Fechei os olhos e orei rápido para o Simon cumprir sua promessa. Respirei
fundo, buscando o equilíbrio necessário e me virei.
Abigail estava em pé ao lado de um homem, grisalho e bonito,
vestido com um jaleco médico. Ele estava sentado no sofá em frente à
lareira. Abigail sorriu e disse:
— Paola, este é o Dr. Jonathan, o médico que cuida de toda a nossa
família. Ele veio a pedido do seu tio Henry para cuidar de você.
O Dr. Jonathan se levantou, pegou uma maleta e se aproximou. O
olhar dele era intenso, quase perfurante.
— A reincidência do lúpus pode ser fatal se não for controlada
corretamente — disse ele, o que eu já conhecia de cabo a rabo, conhecia
muito de medicina.
“Nem a pau que esse cidadão colocaria as mãos em mim, não sou
doida!”, pensei. Meu pânico ficou no ápice com a percepção de que ele era
um capanga do meu tio, enviado para me matar clinicamente.
— Agradeço a preocupação, mas não preciso de médico no
momento, Abigail. Estou bem, medicada e me recuperando rapidamente —
expliquei botando um sorriso falso nos lábios, uma medida necessária para
disfarçar o meu nervosismo. Quando dei um passo para subir as escadas,
Henry, David, seu vice na chapa, e a insuportável Charlotte entraram na
sala.
Henry falou com autoridade:
— Paola, é fato que você precisa de um médico. O lúpus é uma
doença grave e deve ser monitorada constantemente.
O Dr. Jonathan assentiu.
— Seu tio está certo. O lúpus pode causar complicações sérias,
especialmente se não for tratada adequadamente.
Rebati, contrariando meu tio:
— Conheço bem a doença. Tudo que é possível já foi feito e estou
me recuperando — perseverei.
— Henry, a Paola tem o direito de seguir o tratamento com um
médico da confiança dela — interveio Abigail em meu favor, recebendo um
olhar de: “se coloque no seu lugar, mulher!” do seu marido.
— Ninguém te chamou na conversa, Abigail — retrucou meu tio
enquanto Charlotte, sorrindo satisfeita com a patada que Abigail levou, se
aproximou de mim, colocou as costas da mão na minha testa e debochou:
— É uma negligência recusar ajuda, você não parece nada bem.
Está péssima, pálida, parecendo um gesso ambulante.
Meu receio se transformou em raiva. Dei um passo à frente, pronta
para dar um tapa em Charlotte, mas ouvi Liliana me chamando lá no topo
das escadas:
— Vem logo, Paola.
Em respeito à minha irmãzinha, recuei, mas enfrentei meu tio:
— Não preciso de médico por enquanto.
Ele, possesso, segurou meu braço com firmeza.
— Você vai aceitar que o Dr. Jonathan a examine. Precisa estar
bem para a minha reunião amanhã. É importante minha família reunida, e
não é somente por isso, eu tenho a responsabilidade de zelar pela saúde das
minhas sobrinhas.
Liliana ameaçou descer os degraus com a atitude do nosso tio,
causando constrangimento nele. Ele continuou num tom mais ameno, quase
paterno:
— O Dr. Jonathan é um excelente médico, o melhor dos Estados
Unidos. Ele controlou a asma de Liliana. Aliás, doutor, já que vai examinar
a Paola, aproveite e confira a saúde da Liliana, medique-a se for necessário,
pois não quero que minha joia rara tenha uma recaída, doutor —
acrescentou meu tio e abraçou a minha cintura.
— Vamos subir, querida — disse ele me conduzindo escada acima
com o médico logo atrás. Temerosa, acabei aceitando suas imposições
enquanto procurava uma maneira de sair dessa situação.
Quando chegamos ao andar dos quartos, o celular de Henry tocou e
ele atendeu de imediato.
— Carter, tem certeza de que é ele que capturaram? — Sua
rispidez se misturava a certo alívio. Afastou-se a certa distância em busca
de privacidade para conversar ao telefone, mas atenta, ouvi bem. —
Coloquem esse traidor no foguete e o mande para Vênus, o quero derretido
igualmente aquele vacilão metido a espertalhão que vai derreter nas urnas.
Na hora, percebi que o "vacilão" se tratava de Simon. Fechei os
olhos e agradeci. Sentia que a ajuda estava a caminho.
Encerrando a ligação, logo entrou outra. E o que tio Henry ouvia
não parecia ser nada bom, pois ele travou, endureceu o olhar e a mandíbula,
começou a ficar vermelho como fogo e quando desligou, rosnou nervoso,
passou a mão pela barba do queixo ao pescoço e disse ao médico:
— Dr. Jonathan, deixe para examinar as meninas depois, eu quero
participar da consulta — pontuou erguendo o braço acima da cabeça,
estalou os dedos e começou a descer as escadas, seguido pelo doutor.
Eu e Liliana entramos rápido no quarto dela e nos abraçamos forte,
muito forte. Liliana me olhou com os olhos cheios de medo.
— Estou com medo, Paola — disse ela, com a voz trêmula.
Afaguei suas madeixas com delicadeza, desejando acalmá-la.
— Tudo vai ficar bem, maninha. Eu estou aqui para cuidar de você.
Liliana hesitou, olhando para mim com seus grandes olhos
inocentes.
— O tio Henry é malvado...
Desconversei, tentando não a traumatizar.
— Vamos falar de outra coisa, tá?
Ela sorriu, mas sua esperteza não me deixou escapar.
— Paola, você está me enganando. Eu sei que o tio Henry é
malvado.
Ri, achando minha irmã fofa.
— Você é muito inteligente, sabia? Um dia a gente vai morar
juntas em Exeter e você vai conhecer muita gente legal, crianças lindas
como você... todos os meus cachorros.
— Eu quero conhecer o Duck!
— Vai ser um prazer apresentar você para ele.
Comecei a falar sobre o meu cãozinho Duck quando Charlotte
entrou de súbito no quarto.
— Cachorros? Esses pulguentos? Criança com asma não pode com
pelos sebosos. Liliana!
— É sério! — bufei com o sangue subindo à cabeça. Irada, peguei
na mão de Charlotte e a levei para fora do quarto. Antes de fechar a porta,
olhei para Liliana com firmeza. — Fica aqui dentro do quarto e tampe os
ouvidos.
Já no corredor, Charlotte puxou o braço, tentando se livrar do meu
aperto.
— Você acha que eu tenho medo de você, sua enferma? —
desafiou, com os olhos ardendo de raiva.
Sem hesitar, dei um tapa estalado na cara dela.
— Isso é para você aprender a ficar no seu lugar, sua insuportável!
Charlotte ficou furiosa, os olhos faiscando. Quando avançou para
revidar, tropeçou no tapete e caiu de forma desajeitada, derrubando a
mesinha cheia de enfeites no processo. A queda foi tão barulhenta e
espalhafatosa que ela acabou de pernas para o ar, com um vaso de flores
virado sobre a cabeça, pétalas e água escorrendo pelo cabelo.
— Filha da puta! — xingou ainda soberba e soltando fogo pelas
ventas enquanto tentava se levantar rapidamente, mas ao se apoiar na
cadeira, a almofada, já descosturando, estourou, espalhando penas escuras
de aves por toda parte. Em segundos, Charlotte estava coberta de penas,
parecendo uma galinha desengonçada. — Meus cabelos, minha roupa... —
ela chorava desanimada.
— Ah, meu Deus, que desastre! — gargalhei, não conseguindo
conter a risada. — Está perfeita assim, você está vestida adequadamente,
como a galinha que é!
Charlotte se levantou com os olhos cheios de ódio e vergonha, os
cabelos pingando e as penas grudadas por todo o corpo. Tentou se
recompor, mas estava visivelmente desajeitada e ridícula.
— Paola, você nunca ficará com o Simon! Ele é meu, e se não for
meu, não será de mais ninguém! — gritou, tentando se equilibrar
emocionalmente enquanto tirava penas do cabelo. Sem esperar resposta,
virou as costas e desceu as escadas apressada, nitidamente escondendo o
embaraço.
Fechei a porta com um sorriso satisfeito, determinada a proteger
Liliana e enfrentar qualquer obstáculo que surgisse. A imagem de Charlotte
coberta de flores e penas era um incentivo inesperado e delicioso.
CAPÍTULO 31

PAOLA

Dormir se tornou uma tarefa impossível. A cada ruído da casa, meu


coração batia mais forte e o medo crescia. Não arredei o pé do quarto da
Liliana, permanecendo ao seu lado como uma sombra protetora.
Funcionários foram enviados para nos chamar às refeições, mas nos
recusamos a descer. Cada prato, cada copo de água, tudo era trazido para o
nosso pequeno refúgio.
A noite avançava quando ouvimos o rugido dos carros chegando e
os murmurinhos dos convidados para a reunião promovida por Henry
Paterson.
Corri até a sacada, reconheci empresários influentes, políticos
poderosos e autoridades desembarcando de seus veículos de luxo e o medo
crescia dentro de mim. Eu sentia o perigo cada vez mais próximo.
“Simon, onde você está?”, pensei, com o pânico me dominando.
Ele prometeu vir nos buscar após a reunião, mas será que cumpriria? A
tensão só aumentava a cada minuto que passava.
Esses eventos eram comuns perto das eleições, mas esse, em
especial, carregava um peso diferente. Henry precisava desesperadamente
desse apoio político, especialmente após a denúncia de Carter durante o
debate. Surpreendentemente, ele estava conseguindo virar o jogo, pintando
Carter como um viciado que levou a minha mãe, Elizabeth, ao vício e à
morte por overdose.
As estratégias de Henry estavam funcionando, sua popularidade
não estava mais em queda. Isso me deixava ainda mais apreensiva. Ele
estava conseguindo manipular a opinião pública e isso me desesperava.
Estava certa de que não conhecia quem era Simon de verdade, mas o fato
era que somente ele poderia nos libertar dessa teia de mentiras e
manipulações.
Enquanto observava a movimentação lá fora, uma sensação de
desamparo tomava conta de mim.
Precisávamos sair daqui, mas sem Simon, sem um plano, tudo
parecia impossível. Ele tinha que vir. Tinha que nos tirar dessa prisão
dourada antes que fosse tarde demais. Ou senão arriscaria por conta própria.
“Vou fugir para algum lugar remoto nesse mundão afora e levarei
a Liliana comigo.” Nunca a largaria para trás.
Tio Henry entrou no quarto sem bater. Liliana e eu demos um pulo,
o temor era evidente em nossos olhos. Ele nos obrigava a participar da
reunião. Queria toda a família reunida para manter as aparências, já que a
reunião seria televisionada.
Recusei veementemente e ele não aceitou.
— Vocês vão descer comigo, agora — determinou ele com
autoridade, sem espaço para contestação.
Tentei argumentar mais uma vez, meu coração batia rápido e não
teve como. Henry estreitou os olhos, endurecendo sua expressão.
— Não estou pedindo, Paola. Estou ordenando — salientou duro.
— Quero que a imprensa registre toda a família reunida e feliz... Todos
deverão estar com sorrisos largos nos lábios. Não estraguem isso para mim.
Liliana apertou minha mão, tremendo. Eu olhei para ela, tentando
transmitir alguma coragem, mas pela Liliana, por esse traste ter sua guarda,
eu sabia que não tinha escolha.
— Vamos, Lili. Faremos o que ele quer — sussurrei, estampando a
calma. Achei melhor não expor minha irmã a esse tipo de discussão.
Ele sorriu friamente.
— Assim está melhor. Vistam-se rápido, estão atrasadas. Ficarei no
corredor aguardando as duas.

***
Caminhamos até a sala, sentindo o peso do mundo em nossos
ombros. As câmeras e os flashes cegantes capturavam cada movimento.
— Obrigado, obrigado! — O senador, intitulá-lo como tio estava
doloroso para mim, ao nosso lado disfarçava agradecendo com um sorriso
estampado em seu rosto e acenava, encenando o papel do tio perfeito
enquanto a tensão crescia no ar.
Sentia a sua apreensão, estava desenhada na sua expressão sombria
por trás dos risos falsos, ele encarava a mim e sua esposa Abigail a todo
instante, engraçado que até ela o olhava com ares de desprezo.
Provavelmente as discussões que ocorreram entre eles abalaram o
relacionamento.
Diante das pessoas importantes ali no ambiente e todos os
holofotes, ele disfarçava bem, contando com a vitória.
— David! — Ele acenou para o seu vice, tentando me aproximar
do idiota que eu tanto desprezava. No entanto, eu fingia simpatia,
aparentando para todos aqueles holofotes, e só pensava no Simon, orando
para ele resolver tudo como prometera.
Entre uma conversa e outra com seus convidados, pessoas
influentes na política, economia, empresarial, até autoridades dos Estados
Unidos, meu tio repetia a todos que aprovava um casamento meu com
David Johnson. Ele aproveitava a ocasião e dava em cima de mim. E em
todas as oportunidades, agarrada na mão da Liliana, eu fugia como o diabo
foge da cruz.
Chegou o momento do discurso do senador. Ele, com uma
expressão autoritária, chamou a nossa família para ficar ao lado dele.
— Paola, Liliana e Abigail, se aproximem. Quero vocês ao meu
lado durante o discurso. — Uma estratégia, um movimento calculado para
exibir uma fachada de unidade familiar.
Liliana hesitou, ela não queria chegar perto dele.
— Vamos ficar juntas, tudo bem? Não solto sua mão. — Apertei
sua mão com força, tentando transmitir uma segurança que eu mesma não
sentia.
— Senhoras e senhores, minha querida família está aqui comigo.
— Henry Paterson sorriu para a plateia, mas seu olhar me fez estremecer.
De repente, a porta da frente se abriu dramaticamente e Charlotte
entrou, deslumbrante em um vestido de gala. Seus saltos altos ressoaram
pelo salão, chamando a atenção de todos. Ela desfilava como se estivesse
em uma passarela, sua confiança evidente.
— Desculpem o atraso, queridos! — exclamou a safada com um
sorriso brilhante. — A família está toda reunida!
Ela caminhou com graça, mas antes que pudesse se posicionar ao
lado de Henry, ele a interrompeu, ainda mantendo um sorriso educado:
— Charlotte, querida, este momento é reservado apenas para a
família imediata. Agradeço sua presença, mas poderia nos dar um
momento? — A voz estava carregada de falsa cordialidade.
Os convidados mais próximos não conseguiram conter risadas
abafadas.
“Nossa, essa idiota não dá uma dentro!”, pensei me contendo para
não rir.
Charlotte, claramente constrangida, abriu um sorriso sem graça e
fuzilou-me com o olhar.
— Claro, primo Henry — disse ela com um tom ressentido e se
afastou.
— Vamos continuar — disse Henry, forçando um sorriso enquanto
todas as câmeras focavam nele, tudo era televisionado ao vivo.
Nesse instante, percebi Charlotte saindo pela porta lateral,
visivelmente chateada.
Henry respirou fundo, ajustou a gravata e começou o seu discurso
com uma voz carregada de confiança:
— Queridos amigos e colegas, quero expressar minha profunda
gratidão a cada um de vocês. O apoio que tenho recebido tem sido
fundamental. Sinto-me extremamente confiante na nossa vitória, e é graças
ao esforço conjunto de todos os presentes aqui hoje.
Ele fez uma pausa, deixando suas palavras ecoarem pelo salão. As
luzes das câmeras brilhavam intensamente, capturando cada expressão.
— Agradeço a cada membro do nosso partido pelo
comprometimento e dedicação. Juntos, estamos construindo algo grandioso,
algo que beneficiará a todos desta nação.
A plateia aplaudiu com entusiasmo. Alguns membros do partido
começaram a abrir malas, lançando confetes sobre Henry, que sorriu ainda
mais amplamente.
De repente, Benjamim, um amigo fiel de Henry, se levantou e se
adiantou pedindo a palavra:
— Agora é a minha vez, senhoras e senhores, com licença. — Sua
voz reverberou pelo salão. — Faço questão de falar algumas palavras.
Ele olhou para o Henry, que abriu um sorriso largo de felicidade,
claramente apreciando o gesto.
“Lá vem a rasgação de seda desse patético!”, pensei, ultrajando
Benjamim mentalmente como um baba-ovo, um escroto puxa-saco. Só
podia imaginar os elogios rasgados que esse cretino faria.
Inspirei, fadigada de tudo isso, sabendo que somente merdas
seriam evacuadas do esgoto de sua boca.
— Henry, meu querido amigo, você é um líder extraordinário —
começou Benjamim, com a voz embargada de emoção. — Seu
compromisso com a justiça, sua dedicação incansável e sua visão para um
futuro melhor são inspirações para todos nós.
Os nojentos aplausos ecoaram novamente e Henry, com um sorriso
triunfante, assentiu, claramente saboreando cada palavra.
— Você tem a nossa lealdade incondicional, Henry — continuou
Benjamim. — Juntos, vamos alcançar grandes feitos. A sua vitória é a nossa
vitória!
Os confetes continuavam a cair, cobrindo Henry como se fossem
uma chuva de glória. A multidão estava em êxtase, mas tudo que eu
conseguia pensar era em como essa cena toda me enojava.
“Vamos, Simon, onde você está?”, o chamava desesperada, minha
esperança ia se esvaindo a cada segundo. “Nos tire daqui, por favor...”
— Vocês não conhecem o verdadeiro e ilustre Henry — continuou
o babaca apontando para a caixa dourada na estante de livros. — Eu o
admiro tanto que há quatro anos lhe dei um exemplar raro de um livro, uma
edição de 1640.
Um coro de palmas explodiu pelo salão.
Os convidados pediam para Henry mostrar o livro. Ele, orgulhoso,
pegou a chave e se dirigiu à estante, pegou a caixa dourada e a colocou
sobre a mesa. Ele abriu a bela caixa, sob os olhares curiosos dos presentes,
revelando o livro. Suspiros de “Oh” se espalharam pela sala, todos
encantados com a originalidade da capa.
— Este foi um dos melhores presentes que já recebi — disse
Henry, segurando o livro com cuidado. — Tenho uma verdadeira fixação
por livros antigos e raros. Cada um deles conta uma história única, e esse
exemplar é uma verdadeira joia. Agradeço verdadeiramente, Benjamim.
Ele começou a folhear as páginas lentamente, mostrando as
ilustrações impecáveis. A sala estava em silêncio, todos absorvidos pela
beleza do livro e pelas palavras de Henry. Para sua surpresa, um pouco mais
da metade do livro havia um fundo falso guardando um chumaço de papéis
que caíram no chão. Fotos e documentos com letras garrafais com a
seguinte frase se espalharam:

“Dossiê completo sobre os crimes de Henry Paterson.”

Isso chamou a atenção dos repórteres e cinegrafistas que filmavam


tudo e transmitiam em tempo real.
As autoridades presentes se aproximaram e verificaram os
documentos. Toda a denúncia feita por Carter estava ali, provas robustas
que a imprensa capturou como um furo de reportagem, tudo televisionado.
Henry ficou petrificado, sem saber como agir. A tensão no ar era
palpável e então ele recebeu uma ligação. Atendeu, e eu estava perto,
reconhecendo a voz de Simon em alto tom. Curiosa, me aproximei,
esticando a cabeça ao lado do aparelho para ouvir melhor.
— Henry Paterson, não sabia que seu próprio amigo, Benjamim,
estava comigo, não é mesmo?
Desesperado, meu tio correu em direção ao seu escritório e se
trancou lá dentro, apressei em ir à cozinha e saí para o quintal dando a volta
até a janela, estava com o vão aberto onde eu pude ouvir a conversa
claramente, porque tio Henry colocou o celular sobre a mesa, acionou viva-
voz e com as duas mãos sobre a mesa disse entredentes:
— Quem está por trás de você, Simon Costello?
Escutei o riso cínico de Simon e depois o tom ameaçador:
— Me diga: você esperava cavar sua própria cova na presença
das mesmas pessoas que você sempre procurou impressionar? Não, né?
Confessa, minha jogada em aproveitar a reunião com líderes e autoridades
foi impecável. É foda, né? Produzir provas contra si mesmo, com
documentos incriminadores escondidos no local mais improvável e ainda
disfarçados como parte da decoração que você tanto se orgulha. Está numa
situação complicada, não é mesmo?! E tem prisão perpétua chegando por
aí...
— Não existe provas suficientes para uma perpétua — apontou
alto, o que me fez rir.
— De onde veio as provas apresentadas tem muitas outras... —
Após essa declaração de Simon, Henry Paterson respirou fundo, do lado de
fora sentia o quanto de medo ele exalou, e Simon seguiu em frente: — Bem,
sua prisão é inevitável, mas você ainda tem a chance de sair dessa situação
de forma aparentemente “honrosa”, ou o todo-poderoso terá que suportar
a humilhação de uma prisão perpétua. Tem amigos na polícia que podem te
ajudar, peça socorro a eles. — Entendia naquela frase de Simon, uma
indireta para Henry Paterson decidir seu próprio destino.
A ligação foi encerrada.
Eu olhava para o meu tio ali, mudo. Falar o que diante de tantas
evidências esmagadoras? Sentia certo alívio, entendendo quando Simon
disse que eu teria a guarda de Liliana num piscar de olhos e essa parte era o
que mais me confortava.
Liliana surgiu e pegou na minha mão.
— O que está acontecendo aí na janela, Paola? — inocente, ela
perguntou confusa.
— Nosso tio, que se julgava invencível, está prestes a enfrentar as
consequências de seus atos. — Nesse minuto, a casa estava sendo cercada
por viaturas policiais. Já me sentindo aliviada, sussurrei de volta, enquanto
Liliana balançava a cabeça ainda sem compreender completamente.
— Vamos entrar, maninha.
Na sala, os sons dos cliques das câmeras, os murmúrios da plateia
e o zumbido dos microfones criavam uma cacofonia que só aumentava a
tensão do momento. Eu estava em choque com a revelação, assim como as
autoridades presentes, cujas expressões de incredulidade refletiam a
verdade incontestável que veio à tona.
Um policial de alta patente batia forte na porta do escritório, para
Henry abrir ou a porta seria derrubada. A tensão se tornou insuportável e
meu tio cedeu.
— Henry Paterson, você está preso sob a acusação de múltiplos
crimes. Tem o direito de permanecer calado. Tudo o que disser poderá ser
usado contra você no tribunal.
O rosto de Henry ficou pálido enquanto as algemas eram colocadas
em seus pulsos. Ele tentou resistir, mas a força das evidências e a presença
das autoridades tornavam qualquer resistência inútil.
— Isso é um absurdo! Eu sou inocente! — Henry gritou, tentando
se libertar.
Enquanto Henry era escoltado para fora, meu coração batia
acelerado. Eu não queria ficar nem mais um segundo naquela casa.
Assustada, segurei firme na mão de Liliana e comecei a correr em direção à
porta de saída.
Henry, mesmo algemado, tentou nos impedir.
— Vocês não vão a lugar algum! — gritou, lutando contra os
policiais.
— Não, tio Henry! Nós vamos embora! — eu gritei de volta,
decidida a sumir desse clima pesado, tirar minha irmã daqui.
Henry então ergueu os braços e prendeu a Liliana entre eles.
— Paola, socorro! — gritou minha maninha, desesperada e em
prantos.
— Se você quiser ir, Paola, vá. Mas Liliana fica, homens como eu
não ficam presos por muito tempo, é só o tempo dos meus advogados
atuarem. — Mesmo naquela situação, ele não perdia a pose de poderoso.
— Solte minha irmã, seu estúpido! — gritei, indo para cima dele,
disposta a afrontar com todas as minhas forças, mas os policiais me
impediram, pois se aproximaram para libertar Liliana das garras daquele
doido.
— Eu tenho a guarda dela! — insistia aos berros enquanto os
homens da lei erguiam os braços dele para que Liliana se soltasse, mas o tio
Henry dificultava e os policiais iam devagar, evitando assim ferir minha
irmã.
Eu não pude conter minha raiva. Avancei sobre ele, tentando
libertar minha irmã. Abigail, então, surgiu ao nosso lado e deu um beliscão
bem dado no braço de Henry.
— Solte-a, Henry! — gritou Abigail, com as lágrimas escorrendo
pelo rosto. — Você é um monstro!
Henry, furioso, pendeu a cabeça, agredindo com uma testada na
cabeça de Abigail.
— Você é minha esposa! Vai me obedecer!
— Eu nunca fui sua esposa de verdade. Fui vendida a você pelo
meu pai em troca de dívidas de tráfico! — Abigail desabafou, com a voz
tremendo de ódio e dor. — Mas chega! Não serei mais sua prisioneira!
Eu chorava, com pena de Abigail, compreendendo a profundidade
de seu sofrimento. Minha irmã finalmente foi libertada.
— Vá, Paola. Salve sua irmã.
— Eu tenho a guarda legal da Liliana — insistiu tio Henry e então
veio a denúncia de Abigail.
— Mas não deveria ter — Abigail retrucou vingativa, lançando um
olhar firme para as câmeras, que filmavam tudo. — É preciso investigar o
Dr. Jonathan, o médico da família.
— Cale sua boca, mulher! — ameaçou meu tio, sem intimidá-la.
Abigail continuou:
— Ouvi ontem uma conversa entre Henry Paterson e o Dr.
Jonathan sobre prescrever novos e mais fortes medicamentos de asma para
Liliana. O doutor disse que Liliana não precisava de tais medicamentos
porque ela não tinha a doença. E meu ilustre carrasco — ela pausou,
encarando o tio Henry com um olhar penetrante — deixou claro para o
profissional da saúde que ele estava ali apenas para obedecer e não
questionar.
Meu sangue ferveu ao ouvir aquilo. A raiva tomou conta de mim e
perdi o controle, avançando sobre aquele monstro.
— Seu maldito! — gritei, tentando socar seu rosto, mas os policiais
me seguravam. — Queria eliminar a gente dessa forma sórdida, usar a asma
como desculpa e o assalto... por isso me deu aquele relógio valioso de
presente, para usar como álibi. Como você pode ter coragem? E por que
queria se ver livre da gente, POR QUÊ? — berrei, minha voz reverberou
pelo ambiente. Liliana, assustada, começou a chorar e agarrou minha mão,
tentando me puxar para longe daquele lixo. A ideia de que um dia eu o
considerei todo-poderoso me enojava.
Eu estava com sangue nos olhos e o coração partido, mas Liliana
era a minha maior prioridade.
— Vem, Paola, vem... — A pobrezinha chorava, suas pequenas
mãos tremiam.
— Vou sim, meu amor. — A abracei forte, prometendo que tudo
ficaria bem, mesmo que a promessa parecesse impossível.
Abigail então fixou seus olhos reveladores em David Johnson, que
olhava tudo com uma expressão curiosa e confusa.
— Você também é mais uma vítima de Henry Paterson, David. —
Ele balançou a cabeça, perplexo. — O casamento entre você e Paola não
passava de uma estratégia. Sendo o único herdeiro da maior companhia
marítima, Henry pretendia usar a empresa para a sua logística criminosa.
Henry negava, mas a verdade estava clara. David o encarou,
endurecendo sua expressão.
— Vou lutar com todas as minhas armas para que você apodreça
atrás das grades, Henry Paterson. — Então, visivelmente ultrajado, David
deixou o ambiente.
Liliana, ainda chamando por mim, estava claramente assustada, seu
corpinho tremendo de medo.
— Leve a sua irmãzinha daqui, Paola — incentivou-me Abigail,
com sua voz derramando empatia. Eu a olhei, sentindo uma onda de
compaixão por sua situação. Nunca havia passado pela minha cabeça que
Abigail fosse uma prisioneira dentro daquela casa, na vida do nefasto Henry
Paterson.
— Por favor, senhorita Paola, se afaste — reforçou o policial,
olhando-me com compaixão.
Começou-se um murmurinho ao redor, todos espantados com tudo
aquilo. Eu, abraçada por uma gratidão imensa pelo gesto de Abigail, me
sentia devastada e determinada.
— Obrigada, Abigail — sussurrei, segurando minha irmã pela
mão. Corremos em direção à porta. Eu só queria sair imediatamente daquele
ambiente tóxico.
Henry, enfurecido, irredutível, tentou nos seguir, mas foi detido
pelos policiais. Assim que saímos à varanda, avistei o carro de Simon
estacionado em frente à casa. Ele saiu do veículo, lindo e maravilhoso,
atraindo todos os holofotes para ele, jornalistas e câmeras, todos queriam
entrevistá-lo, mas ele não deu atenção a ninguém, seu foco era eu e Liliana.
Aliviada e apaixonada, corri para os seus braços.
— Simon, por favor, tire-nos daqui! — implorei, segurando firme
em seu abraço caloroso. As lágrimas corriam pelo meu rosto enquanto
sentia a segurança e o amor emanarem de cada toque seu. Estar nos braços
de Simon era sentir um porto seguro, um abrigo contra toda a tempestade
que nos cercava. Sua presença, forte e protetora, me enchia de uma paz
indescritível.
— Calma, meu amor, estou aqui com vocês. Eu sempre estive. —
Sua voz, rouca e grave, soou em meus ouvidos como um bálsamo enquanto
seus lábios subiram e beijaram o topo da minha cabeça.
O calor de suas mãos passando da minha cabeça aos meus cabelos
e pelas minhas costas, irradiava uma sensação de proteção e conforto que
me acalmava profundamente.
— Você tinha razão, Simon — murmurei aos soluços, bem
próximo ao seu ouvido, poupando minha irmã de ouvir aquela barbárie. —
Tio Henry é um mostro e queria nos matar mesmo. Abigail o denunciou lá
dentro, diante das câmeras, que Liliana nunca foi doente. Ele queria matá-la
com os medicamentos. Ele queria matar a gente, Simon. — A emoção
explodiu e Liliana também ficou assombrada.
Abraçada à cintura de Simon, ela começou a chorar.
— Simon, eu quero sair daqui — implorava, chorosa.
Aquele homem gentil pegou na mão da minha irmã e na minha,
nos levou até o seu carro, abriu a porta e garantiu:
— Prometo, vocês estão seguras agora. — Seu tom firme
transmitia total confiança. Ele nos colocou no carro e fechou a porta.
— Paola! — Liliana me abraçou forte, assim como eu a abraçava.
Aliviadas por finalmente estarmos a salvo, era como nos sentíamos.
Henry não desistia e, como um lunático declarado, gritava sem
parar por Liliana quando Simon entrou no quintal, aproximando-se de seu
maior rival, mantendo uma expressão de calma implacável.
CAPÍTULO 32

SIMON

Os planos ainda não estavam completamente concretizados, mas


chegou o momento da parte principal: confrontar Henry Paterson, o homem
que fez de mim o monstro que sou hoje, mas me sentia como se uma pedra
de concreto tivesse sido retirada dos meus ombros. Durante toda a minha
vida, carreguei essa rocha e agora, finalmente, ela havia sido removida.
Aproximei-me do quintal da casa, Henry sustentava um olhar de
ódio e desafio, mesmo algemado.
— É um prazer ver você, Henry — provoquei, deixando escapar o
veneno em minha voz. Seu rosto ficou vermelho de raiva, mas ele se
controlou, consciente dos crimes que pesavam sobre ele e da iminência de
uma prisão perpétua.
Enquanto voltava em direção ao meu carro, meus olhos se fixaram
na imagem de Paola, minha Paola, abraçada a sua linda irmã. Sentia meu
coração oprimido dentro do peito. A cada segundo, aproximava-se o
momento de nossa despedida.
“Merda!”, exclamei em pensamento. Não era para estar com essa
tristeza toda, pois eu sempre soube que Paola era tudo o que eu não poderia
ter, mas eu a queria para mim. Seria egoísmo da minha parte. Ao meu lado,
no meu mundo de caos, ela nunca teria a vida tranquila e pacífica que
sonhava. Com lúpus, ela precisava de tudo isso e eu não era o cara certo
para ela.
“Nunca seria.” Inspirei profundamente e entrei no carro.
— Simon. — Paola, emocionada, sentada no banco de trás,
aproximou-se do meu banco e me abraçou. Suas mãos macias, delicadas e
quentes cruzaram em meu peito enquanto seus lábios molhados
sussurravam em meus ouvidos: — Obrigada, eu te amo, Simon...
Pela primeira vez na minha vida, senti meus olhos marejados. Uma
dor sem precedentes tomou conta do meu peito, meu coração sangrava e
doía. Eu sabia que não podia retribuir o seu amor da forma que ela merecia.
— Vou levar vocês duas para a minha casa até que tudo isso
chegue ao seu fim — murmurei, com a voz embargada, sabendo que
aquelas palavras eram ao mesmo tempo uma promessa e uma despedida.
Não era o que Paola esperava ouvir e isso ficou visível quando ela
respirou de maneira magoada e retornou ao banco.
Durante todo o percurso até Star Island, em Biscayne Bay, Paola
permaneceu agarrada à sua irmã. Minha cabeça era uma desordem
completa, com pensamentos rodopiando como uma tempestade. Faltava
pouco para o desfecho completo e a cada centímetro que a distância
diminuía, meu coração parecia prestes a explodir. Estava abalado por saber
que teria que deixá-las, imaginando como seria minha vida sem ela. Com
ela, aprendi o prazer de estar em família, aprendi a amar. Tudo que era
proibido para mim...
“O inferno, esse é meu destino.”
A casa estava em silêncio e Liliana, ainda assustada, não soltava da
irmã. Tentei animá-la, oferecendo-me para preparar um lanche, mas ela
negava o tempo todo. Paola conversava carinhosamente com a menina,
tentando tranquilizá-la, mas nada adiantava. Ofereci o quarto de hóspedes e
levei as duas até lá.
Quando entramos no quarto, observei as irmãs. Paola se agachou
ao nível de Liliana, segurando suas pequenas mãos entre as suas.
— Liliana, está tudo bem agora. Eu estou aqui com você, prometo
que nada de mal vai acontecer — Paola falou com uma ternura que me
tocou profundamente. Seus olhos, brilhando com lágrimas não derramadas,
mostravam a força e o amor incondicional que ela sentia pela irmã.
— Mas eu tenho medo, Paola... — a criança respondeu com sua
voz tremendo enquanto segurava a irmã com mais força.
— Eu sei, meu amor. Eu também tenho medo às vezes. Mas
quando estou com você, tudo fica melhor. — Paola acariciou os cabelos de
Liliana, seus gestos eram suaves e reconfortantes. — Vamos ficar juntas e
nada vai nos separar.
— Nós vamos morar em Exeter com seus cachorros?
O olhar de Paola encontrou os meus, carregado de receio e
esperança.
— Claro. — Paola aninhou a irmã em seus braços. — Ninguém
mais separa a gente, lindinha.
— A gente pode ir amanhã, Paola? — insistiu toda empolgada.
Paola, rindo com ternura, explicou à irmã:
— Você tem alguns dias de aula até fechar o semestre. Depois, vou
pedir a sua transferência na escola e nós nos mudaremos, com certeza —
garantiu e Liliana suspirou ansiosa.
— Você promete, Paola? — Liliana buscou confirmação nos olhos
dela.
— Prometo, minha flor. Sempre estarei aqui para você. — Depois
de prometer à pequena, visivelmente insegura, beijou-lhe a testa. — Você é
minha querida... — emendou, aninhando-a dentro dos seus braços, num
abraço invejável.
Observei a cena com um nó na garganta. A profundidade do
vínculo entre as duas irmãs era palpável e emocionava qualquer um. Minha
vontade de protegê-las só aumentava, mesmo sabendo que, no fundo, meu
amor por Paola era algo que eu deveria manter escondido.
— Vamos, vou te levar até a cama para você descansar. — Paola se
levantou, ainda segurando Liliana pela mão, e a guiou até a cama de
hóspedes. — Quer que eu fique aqui até você dormir?
— Sim, sim, sim... — Liliana murmurou, deitando-se e segurando
a mão de Paola com força.
O mais belo de assistir eram os sussurros, palavras suaves de
conforto do meu amor proibido ao ouvido de sua irmã. Eu me afastei para
dar-lhes privacidade.
Fui para o quarto ao lado, uma suíte ampla com uma vista
impressionante, mas naquela noite nada me parecia mais vazio.
Sentei-me na cama, encostando as costas na cabeceira. Liguei a TV
e o noticiário logo começou a falar sobre o escândalo envolvendo Henry
Paterson. As notícias eram um lembrete constante de tudo o que havia
acontecido, eu não conseguia evitar de me sentir aliviado e culpado ao
mesmo tempo.
De repente, Paola entrou no meu quarto.
— Liliana dormiu? — perguntei, ela respondeu que sim, mas
olhando para a TV. Com seus olhos fixos na manchete, ela levou a mão aos
lábios enquanto lágrimas escorriam por suas bochechas.
— Henry Paterson acaba de se suicidar numa cela da delegacia,
vítima de bala de fogo. Estão investigando como ele teve acesso a arma. —
A repórter anunciou e Paola soluçou, visivelmente abalada.
— É uma tragédia. — Ela fechou os olhos e eu fui abraçá-la, forte,
tentando oferecer o máximo de conforto que podia. — Ouvi pela janela do
escritório, você sugerindo ao celular para o meu tio buscar ajuda com os
amigos policiais dele... — Ela declarou fazendo meu coração errar sua
batida. Por alguns segundos me mantive quieto, diferentemente da minha
mente trabalhando com afinco em busca de uma resposta que não a
chocasse, então optei por trabalhar com a verdade.
— Nunca que o poderoso Henry Paterson saberia lidar com a
humilhação, então eu apenas dei a dica de pedir ajuda aos seus amigos
policiais corruptos — respondi baixo, esperando sua reação.
A reação da bela garota foi buscar conforto abraçando minha
cintura. Ficamos ali juntos, sentindo o calor um do outro, compartilhando a
dor e o alívio daquele momento.
O celular tocou, interrompendo nosso momento. Era o Cowboy
dizendo que, com a morte de Henry Paterson, Carter teria uma revelação
importante em troca da sua liberdade. Entregá-lo às autoridades
competentes para julgar seus crimes fazia parte do plano.
— Dependendo da declaração, podemos estudar o que ele
requisitar.
— Eu quero a Paola como testemunha! — disse o covarde,
gritando do outro lado da linha.
Paola ouviu, é claro que sim. Joguei meu olhar na direção dela em
busca da sua autorização. Ela moveu a cabeça sinalizando que sim.
— Estou aqui, Carter. Pode falar.
Coloquei o celular no viva-voz e Carter, nitidamente chateado,
começou a falar:
— Paola, eu amava a Elizabeth. Na verdade, aprendi a amar sua
mãe. Mas o meu vício em drogas me tornou fraco. O avô de vocês amava a
filha, uma moça doce, educada e romântica, mas ele, o seu avô, não
concordava com o caráter do Henry. Seu tio aprontou tanto que o seu avô o
deserdou e deixou todo o patrimônio para Elizabeth. Então, Henry me
contratou para conquistá-la, viciá-la nas drogas e sumir com ela de Miami.
Paola interrompeu muito indignada.
— Então é por isso, por dinheiro que ele nos chamava de joias
raras? Para nos usar e nos destruir?
— Sim. Henry planejava matar vocês duas para ficar com a
herança. E eu ia sequestrar Liliana, porque ela seria a única herdeira e eu
botaria a mão em tudo.
— Seu cafajeste! — murmurou Paola.
— Agora chega! — Acabando com a tortura eu desliguei o celular,
sabendo que o Cowboy faria a coisa certa com Carter.
Paola fechou os olhos...
— É duro saber que não deram chance à minha mãe — Paola
murmurou, visivelmente angustiada. Ver sua dor e o sofrimento estampados
em seu rosto me partia o coração. Eu a abracei com todo o meu amor e
carinho, a levei até a cama e nos deitamos. Estava decidido que, mesmo à
distância, eu a protegeria de qualquer coisa que viesse a seguir.
Paola, exausta, adormeceu em meus braços, mas eu não conseguia
fechar os olhos. Tudo parecia enevoado em minha mente. Com o coração
despedaçado, sabia que não podia mais adiar o inevitável.
Já era madrugada e eu estava ali, abraçado ao corpo macio e quente
que fazia meu coração acelerar e minha mente fervilhar com pensamentos
de desejo. Meu corpo reagia intensamente à proximidade dela e, sem
conseguir me controlar, senti meu membro endurecer dolorosamente dentro
da calça.
Paola se moveu, virando-se de costas para mim. O contato da sua
bunda deliciosa contra a minha ereção me deixou à beira da loucura. Ela
arfou ao sentir a pressão pulsante contra ela e, instintivamente, empinou
mais a bunda, querendo sentir mais.
— Simon... — ela murmurou com seu tom carregado de desejo.
Sem conseguir resistir, afastei os cabelos dos ombros dela e
comecei a beijar seu pescoço, subindo até sua face enquanto esfregava
minha ereção contra ela. Paola gemia baixinho, seus sons de prazer
intensificavam o meu desejo.
Minhas mãos deslizaram pelo corpo dela, apertei seus seios
enquanto murmurava em seu ouvido:
— Eu te quero, Paola. Quero sentir seu sabor...
Ela gemeu em resposta, entregando-se completamente. Desci as
mãos pela barriga dela e entrei pelo cós da calça e, ao encontrar sua boceta
molhada, não pude evitar um rosnado alto de puro tesão.
— Você está tão molhada para mim... — sussurrei, deslizando um
dedo pelo seu clitóris enquanto ela gemia mais alto.
Desesperado por mais, ajoelhei-me na cama e tirei a calça dela,
suspirando ao vê-la apenas de calcinha. O formato da sua boceta marcava
na lingerie, me provocando ainda mais. Agarrei a calcinha e a arranquei do
seu corpo perfeito, que ofegou com a brutalidade excitante.
Passei minhas mãos pelo seu corpo, sentindo a pele arrepiada
enquanto ela gemia agarrada aos lençóis embaixo dela, então ajeitei-me
entre suas pernas, segurando seus quadris firmemente. Levei minha boca
até aquela delícia, saboreando devagar e intensamente. Paola, agarrada aos
meus cabelos, pressionava minha cabeça contra ela enquanto gemidos
escapavam de seus lábios.
— Oh, Simon... — gemia enquanto enterrava seus dedos em meus
cabelos, puxando-me para mais perto.
Deslizei minha boca pela barriga, deixando um rastro molhado de
saliva e continuei subindo até seus seios, mamando neles com fervor. O
som das chupadas era intenso, cada sucção trazia mais e mais gemidos altos
dela.
— Simon, eu te quero tanto... — ela murmurou, respirando
ofegante, seus olhos fechados de prazer.
Subi até os seus lábios, beijando-os com veracidade, mordendo seu
lábio inferior antes de descer novamente até sua intimidade implorando por
mais, chupando-a até me fartar. Seus gemidos energizaram e ela segurava
os lençóis com força, completamente entregue ao prazer.
Depois de me fartar, saí da cama e tirei minha roupa. Seus olhos
brilhavam enquanto observava meu corpo e tatuagem. Principalmente,
quando olhava para o meu pau ereto, latejando.
Peguei minha ereção pela base e coloquei na sua boca deliciosa e
única. Ela me chupava com vontade, arrancando gemidos profundos de
mim. Eu estava muito sensível e disse ofegante:
— Quero te foder, mas dessa vez com calma. Quero provar cada
segundo.
Deitei-me atrás dela, abraçando seu corpo e penetrei-a lentamente.
A sensação de afundar naquela caverna estreita e muito molhada era divina.
Acariciei o seu clitóris sentindo a estremecer enquanto nos movíamos
juntos, e gemíamos na mesma intensidade.
— Simon, você me faz sentir tão bem... — o gemido abafado
estava repleto de paixão e amor.
— E você me traz uma luz que eu nunca tive — revelei, apertando-
a contra mim.
— Ah... Simon... — ela arfava entorpecida, com movimento mais
rápidos, urgentes.
Nossos corações batiam em uníssono, nossos corpos se moviam
em perfeita harmonia. A conexão entre nós era surreal, cada toque, cada
movimento elevava nossas almas. O orgasmo veio avassalador, um clímax
intenso e demorado nos deixou exaustos e entrelaçados.
Nos abraçamos forte, sabendo que aquele momento seria eterno em
nossas memórias, mesmo que nossas vidas seguissem caminhos separados.
— Durma como um anjo, linda! — abraçando-a como se estivesse
querendo fundir nossos corpos em apenas um, eu sussurrei em seu ouvido.
CAPÍTULO 33

PAOLA

De repente, um estrondo me acordou.


— Meu Deus! — Assustada, abri meus olhos e olhei ao redor
tentando me situar.
O som barulhento era dos trovões acompanhados de relâmpagos.
As cortinas brancas balançavam levemente com a brisa que entrava pela
janela entreaberta, trazendo um cheiro fresco de chuva para dentro do
quarto, tempestade era o mais correto dizer. Tempestade essa que despertou
toda a tragédia do dia anterior, tudo veio como uma avalanche sobre a
minha cabeça.
O lugar na cama onde Simon se deitara estava vago. Uma sensação
de vazio e perda apertou o meu peito. Lembrei-me de tudo que ele havia me
dito, suas palavras ressoavam em minha mente como um eco doloroso.
— Simon? — com meu coração acelerado, o chamei me sentando
rapidamente na cama. Minha voz competia ao som da chuva, batendo com
força contra as janelas, um som que se misturava aos trovões e ao rugido
distante do vento.
Levantei-me ainda esperançosa de reencontrá-lo no banheiro, mas
ele não estava lá. Apesar do medo que ainda sentia, uma euforia tomou
conta de mim. Estava pronta para uma nova fase da minha vida, uma
renovação. Finalmente, a paz e a tranquilidade reinariam em minha vida.
Estava apaixonada por Simon, profundamente apaixonada. Arrepiada,
lembrava dos toques das mãos grandes dele em meu corpo, seus lábios
possessivos devorando os meus.
Com pressa de resolver logo a questão da guarda da Liliana e partir
para Exeter, onde morria de saudades de todos, tomei uma ducha rápida e
saí do quarto. Precisava da ajuda dele para contratar um advogado.
— Hummm... — Respirei aquele aroma agradável espalhado no ar
enquanto descia as escadas, o cheiro de café fresco despertou um apetite
que estava oculto. Meu estômago roncou de fome e então ouvi o tilintar de
talheres e pratos vindo da cozinha. Segui o som.
A cozinha da casa de Simon era ampla e convidativa, com
bancadas de mármore e armários brancos que contrastavam lindamente com
o piso de madeira escura. A luz da manhã, embora acinzentada, iluminava o
ambiente, refletindo nos utensílios de aço inoxidável.
— Senta aqui comigo, Paola. — Liliana estava sentada à mesa de
canto, fazendo seu desjejum com a ajuda de uma funcionária simpática, que
sorriu calorosamente ao me ver. Uma mulher de meia-idade com cabelos
grisalhos, presos em um coque elegante.
— Bom dia, Paola. Sou Marta, a governanta. Estava de férias e
retornei ao trabalho hoje.
— Bom dia, Marta. Prazer em conhecê-la — respondi, apertando
sua mão. Beijei minha irmã, mas minha mente estava ansiosa para falar
com Simon.
— Simon está com um homem bonito no escritório dele — Liliana
avisou, seus olhos inocentes brilhando de curiosidade. — Mas ele está com
cara de bravo essa manhã.
Ergui as sobrancelhas, intrigada. Resolvi ir ao escritório verificar.
Quando coloquei a mão na maçaneta, ouvi uma voz grave e de
certa forma, intimidante, vindo lá de dentro e que não era de Simon.
— Entendi perfeitamente, Simon Costello.
Girei a maçaneta e abri a porta, deparando-me com um homem
cuja beleza era de tirar o fôlego. Ele tinha o porte e a aparência de um deus
grego, alto e robusto, com um terno elegante que realçava ainda mais sua
presença imponente. Os olhos masculinos recaíram surpresos sobre mim.
— Você deve ser a Paola Tyler — pronunciou o homem belo. Seus
olhos verdes-escuros e misteriosos, escondidos sob grossas sobrancelhas,
percorriam meu rosto. A barba bem aparada dele dava-lhe uma aparência
intimidante e, ao mesmo tempo, sedutora.
— A própria — confirmou Simon e ele parecia doente, o tom de
sua voz mais rouco indicava que estava resfriado. Seu traje essa manhã era
impressionante; ele não usava o tradicional elegante terno, mas estava
igualmente elegante em uma camisa branca de linho, calças de sarja azul-
marinho e sapatos de couro marrons. A simplicidade como se vestia
realçava sua beleza natural e seu porte atlético. — Entre, Paola —
convidou-me ele formalmente, o que causou estranheza. Ele parecia sério e
distante, uma atitude que me decepcionou profundamente.
Simon caminhou educadamente em direção à porta, beijou minha
face de leve.
— Você está resfriado? — não resisti em perguntar. Ele sorriu se
fazendo de desentendido.
— Por que a pergunta?
— Estou achando sua voz diferente, Simon.
— Ah, é minha garganta que está arranhando um pouco — disse
com desinteresse, em seguida colocou a mão em minhas costas, guiando-me
até perto do homem charmoso.
— Paola, este é Christopher Williams, o advogado que cuidará da
documentação da guarda de Liliana.
Christopher, com um sorriso educado, estendeu a mão. Eu a
apertei, tentando não deixar transparecer minha preocupação com a atitude
fria de Simon.
— Muito prazer, senhorita Paola. — A voz de Christopher era tão
firme quanto seu aperto de mão.
— O prazer é meu — respondi, mas meus olhos estavam
concentrados em Simon, na distância que ele mantinha, na formalidade
perturbadora.
O advogado começou a explicar os caminhos que deveríamos
seguir para a guarda de Liliana, que não teria dificuldades pelo Carter estar
preso, e que devido aos crimes que recaem sobre ele, provavelmente será
condenado a prisão perpétua. Ele também exemplificou todos os detalhes
sobre a herança deixada pelo meu avô para a minha mãe, Elizabeth. O
tempo estimado por ele era desanimador.
— Tanto tempo assim? — exclamei, respirando fundo e soltando
de uma única vez.
— Infelizmente, há burocracias a serem seguidas e não posso
prever exatamente quanto tempo levará — explicou Christopher.
Respirei fundo novamente, tomada pela ansiedade que corroía
minha paciência. Precisava ver todos em Exeter, matar a saudade, e queria
levar Simon comigo. Necessitava dele mais do que nunca. Diante das
circunstâncias, decidi que traria Exeter até Miami, alugando uma casa, se
fosse preciso, até que toda a documentação estivesse pronta. Não voltaria à
casa onde meu tio Henry morou.
“Nunca mais.”
Depois de tudo elucidado, Christopher se despediu e foi embora.
Sentindo um impulso de paixão e com trilhões de assuntos
importantes para falar com ele, além de estar curiosa para entender a
pergunta que tio Henry fez a ele sobre quem estava por trás dele, aproximei-
me de Simon e o abracei pela frente.
— A gente tem tanto a conversar, né? — sussurrei, derretendo-me e
abocanhando seu queixo de forma assanhada. Mas isso o constrangeu. Ele
arqueou a cabeça, fugindo dos meus lábios.
— Agora não será possível — respondeu, cortante como uma
navalha, trazendo suas mãos à minha cintura e simplesmente me afastando
com sutileza. A falta de calor no toque de suas mãos era um golpe cruel. —
Eu sinto muito — emendou.
O choque percorreu meu corpo como uma corrente gelada. Ele
parecia ausente, quase irreconhecível. Sua atitude devastadora ressoava
com algumas frases que ele já havia dito, indicando que não se incluía na
minha vida. Agora estava claro que não eram apenas palavras jogadas ao
vento, mas uma intenção real de me afastar. O escritório, de repente, parecia
um lugar estranho e opressor.
— O que aconteceu? — murmurei, incrédula. Ele zanzou seus
olhos, hoje amanhecidos estranhos e distantes, como se pensasse no que
responder, me assustando. — Simon?
— Os últimos dias foram difíceis, talvez por essa razão eu não
acordei muito bem esta manhã — se retratou, pedindo desculpas. Em
seguida, beijou minha face, senti um nó na garganta, uma bola de angústia
que me impedia de respirar direito, eu percebia os seus gestos, tão desiguais
do habitual e inevitavelmente eu fui lançada em um abismo de dor.
“Está me descartando, e seria assim?”, perguntei a mim mesma
em pensamento com meus olhos ardendo, mas segurei as lágrimas,
recusando-me a mostrar fraqueza.
— A gente conversa à noite? — A impressão era de que nem para
sua própria casa ele retornaria, tamanha a frieza nos seus gestos e olhar. —
Você ainda precisa me explicar por que meu tio te perguntou quem está por
trás de você. Trabalha para alguém, Simon Costello?
Ele se manteve sério e disse:
— Terei um dia corrido com reuniões importantes no gabinete e na
minha empresa, preciso ir. Tenha um excelente dia.
Ele caminhou rumo a porta, meu coração se partia um pouco mais
a cada passo dele se distanciando.
Demorou alguns minutos para me recuperar. Então liguei para
Anah e combinei com ela para trazer todos para Miami.

***

Levei Liliana até a escola de táxi naquela manhã, tentando deixar


para trás a tragédia que nos atingira. A chuva deu uma trégua, mas o céu
carregado indicava que ela viria novamente e com força. Liliana, inocente e
cheia de energia, já não pensava no ocorrido; na cabecinha dela só existia o
Duck, meu cachorro e da gente morando juntas. Ela falava da mudança e do
meu peludo amado com tanta animação que me fazia sorrir.
— Não vai demorar muito para conhecê-lo, meu amor. —
Combinei com a Anah de buscá-los no aeroporto, mas não diria a Liliana,
queria fazer surpresa.
“Até imagino a carinha dela quando conhecer todos.”
— Eu quero que seja logo, Paola — a minha linda reclamou
chorosa.
— Calma, garotinha. — Abracei-a calorosamente. — Terá todo
tempo do mundo, e irei alugar uma casa para todos nós morarmos aqui, em
Miami, até terminar o semestre na escola. Depois a gente se muda para
Exeter de vez.
Seus olhos brilharam de alegria, mas então sua expressão mudou
para uma preocupação infantil.
— Você brigou com o Simon? Ele estava com a cara de bravo...
Sorri com o coração apertado.
— Não, meu amor. O Simon só está cansado. Ele vai voltar ao
normal, prometo — prometi a ela algo que nem eu sabia se era verdade. —
E você vai ter uma grande surpresa no final da aula!
— O que é, Paola? — perguntou ela, curiosa e empolgada.
— Ah, isso é surpresa! — respondi, rindo.
Quando a deixei na escola, dei um abraço apertado e um beijo na
testa dela.
— Eu venho te buscar na saída, tá bem?
Ela assentiu, sorrindo e correu para dentro.
Enquanto eu voltava para o táxi, meu telefone tocou. Era David
Johnson.
— Alô, Paola? — A voz dele soava hesitante.
— Sim, David? — respondi, tentando nutrir simpatia.
— Eu queria pedir desculpas por tudo. Sei que errei ao me deixar
levar pelo Henry. Tenho política na veia, sabe? Meu pai, um magnata do
ramo de navios, sempre se conservou afastado da política, mas quando o
Henry ofereceu a oportunidade de ser vice na chapa, eu fiquei tão animado
que acabei ficando cego — David confessou, com uma mistura de
arrependimento e frustração.
— Está tudo bem, David — tentei confortá-lo. — Todos na vida de
Henry Paterson foram vítimas de alguma forma.
David fez uma pausa, parecia que estava lutando para encontrar as
palavras certas.
— Sobre a cremação do Henry Paterson... — ele começou, com
uma voz pesada de hesitação.
Suspirei profundamente, olhando para o céu.
— Desculpe, Deus, mas eu não estou preparada para isso —
murmurei. Depois, voltando minha atenção para David, acrescentei: — Eu
simplesmente não consigo.
— Tudo bem, Paola. Eu entendo — ele respondeu com uma
compaixão sincera. — Tem alguém aqui que quer falar com você.
O telefone foi passado e, do outro lado, ouvi a voz familiar de
Abigail.
— Paola, foi um prazer conhecer você e Liliana — Abigail disse,
sua voz suave e calorosa. — Agora, estou voltando para a minha casa em
Ohio, darei um tempo para mim, mas no futuro, gostaria muito de revê-las.
— Será um imenso prazer, Abigail — respondi, sentindo um calor
reconfortante em seu convite. — Desejo-lhe boa sorte.
— Igualmente, Paola. Boa sorte — ela respondeu com um tom de
sincera amizade.
Desliguei o telefone, minha conversa com Simon pela manhã não
saía da minha cabeça, conferi as horas no visor do meu celular e ainda daria
tempo de visitar Simon no gabinete antes de partir para o aeroporto.
Precisava resolver a tensão que pairava entre nós.
Quando desci do táxi em frente ao comitê, meu coração parou de
bater.
— Eu não acredito! — balbuciei, sufocada com os meus olhos
capturando aquela imagem terrível, massacrante. A vadia da Charlotte
estava agarrada ao pescoço dele enquanto seus lábios se moviam
freneticamente, as mãos de Simon seguravam a cintura dela sem demonstrar
que iria afastá-la como fez comigo hoje de manhã. A cena era como uma
faca cravada no meu peito. Me sentindo péssima, rejeitada e enciumada
acima de tudo, aproximei-me deles. Uma dor imensurável me tomava. —
Olá!
— Olha ela aí, Simon! — esnobou Charlotte, agora Simon tirou a
mão da víbora. — Está feliz em botar a mão na fortuna do Henry Paterson,
querida?
Senti a provocação de Charlotte um motivo forte para dar na cara
dela, mas mantive minha expressão serena, apesar da mágoa que
borbulhava dentro de mim.
— Simon, você me deve uma explicação, não acha? — questionei,
tentando esconder o tremor na minha voz.
— Talvez não exista mais explicação, Paola — respondeu ele,
direto e incisivo, despachando-me sem piedade.
A dor da rejeição me atingiu como um soco no estômago.
— Então é assim? Eu não passei de uma ferramenta para destruir
Henry Paterson?
Charlotte lançou um olhar especulativo para Simon, o mesmo que
eu. Seu rosto refletia uma surpresa inquietante.
— Você está envolvido com o Benjamin, Simon? Ajudou o
Benjamin a tramar a queda do meu primo? — indagou ela, perplexa.
Simon, sempre tão firme em suas convicções, agora estava ali, se
mostrando perturbado com nossa pressão. Ele me encarou pensativo, seus
olhos dizendo “sinto muito”, antes de se voltarem para Charlotte. Meu
coração apertou, como se estivesse sendo esmagado por duas mãos
invisíveis.
"Caramba!", pensei, comprimindo os lábios para segurar as
lágrimas. Ver aquele olhar de Simon, cheio de afinidade por Charlotte, me
destruiu por dentro.
— É sério, Simon? — a megera o questionou enquanto eu me
remoía por dentro. — Estou aqui tentando me desculpar pelos meus atos
impensados quando é você que tem de pedir desculpas por destruir o meu
primo — insistiu ela.
Simon me fitou uma última vez antes de responder friamente:
— Um dia, a casa cai para todo criminoso, e Henry Paterson era
um bandido. Com licença, tenho uma reunião inadiável.
Ele se virou e caminhou em direção à garagem. Entrou no carro e
saiu, e quando o carro passou, ele evitou meus olhos, o que doeu ainda
mais.
"Que droga!"
Engoli o choro. Meu coração em frangalhos, sangrava e doía
demais!
— Eu estou achando que ele deu um ponto final no relacionamento
de vocês, Paola. Está chorando... Ah, coitadinha! — Charlotte, cruelmente
não perdeu a chance de zombar, mas eu mal prestei atenção. Nada
conseguia me abalar depois desse fora.
Derrotada, dei as costas a Charlotte e voltei para a casa de Simon,
estremecida e decidida a sair de lá, imediatamente.
Arrumei todas as minhas coisas e as de Liliana, em seguida iria à
procura de um hotel em Miami que aceitasse animais de estimação e tivesse
playgrounds.
Enquanto esperava o táxi na calçada, vi o carro de Simon
estacionado. Ele não estava sozinho, conversava com outro homem, mas eu
não conseguia vê-lo direito. Eles se cumprimentaram com um aperto de
mãos e então, o homem ao qual eu não via o rosto saiu do carro em seu
terno elegante azul-marinho, se revelando e me deixando embasbacada.
— Simon? — perguntei num murmúrio a mim mesma, incrédula
enquanto olhava para o homem no volante, que também era o Simon. —
São dois Simons? — O Simon de terno atravessou a rua, indo em direção a
um outro carro estacionado.
O Simon que permaneceu no veículo seguiu para a garagem de sua
casa. Eu sabia, sentia com toda a força da minha alma que o Simon do outro
lado da rua era o verdadeiro, o meu Simon. Larguei as malas na calçada e
corri em sua direção. Ele abriu a porta do carro e, antes de entrar, gritei:
— Espera, Simon!
Ele parou imediatamente e virou-se para mim. O mundo ao nosso
redor parecia desaparecer. Seus olhos castanhos, cheios de emoção,
encontraram os meus e senti uma onda de reconhecimento e amor me
invadir. Cada detalhe, cada traço do seu rosto era exatamente como eu
lembrava.
— Simon, Simon... — perdida, confusa, eu repetia seu nome, meu
coração batia descontrolado à medida que me aproximava dele. Cada passo
que eu dava, sentia a confirmação de que aquele era o meu Simon. O
homem que eu amava, que conhecia cada toque, cada suspiro, cada batida
do coração, quando finalmente cheguei perto o suficiente, falei:
— Ele... — apontei para a garagem — você...? — As palavras não
saíam quando ele, na sua pegada fenomenal, aquela que pega a gente de
surpresa, me envolveu em seus braços com uma urgência que quase me
tirou o fôlego. Me beijava com tanto amor e ardor que fez o meu coração
quase parar. — Simon — balbuciava dentro de uma euforia que não cabia
em mim.
Suas mãos entraram por baixo dos meus cabelos, pressionando
seus lábios nos meus. Eu agarrei suas costas, me entregando completamente
àquele beijo, aqueles apertos dentro dos braços fortes dele. Sentíamos como
se estivéssemos sufocados, presos num momento eterno de pura emoção.
Eu tinha certeza agora. Aqueles toques quentes, o beijo possessivo.
Sim, era ele, o meu Simon, o homem que eu tive tantas vezes em meus
braços. Precisava entender, precisava perguntar o que estava acontecendo,
mas estava ocupada demais em seus braços, curtindo todos os sentimentos e
sensações. O mundo ao nosso redor se desfez; naquele instante, éramos
apenas nós dois, como se o universo inteiro conspirasse para nos unir.
Ah, como eu o amava.
— Paola... — murmurou rouco contra os meus lábios, a voz forte
era a dele e estava impregnada de uma mistura de alívio e paixão. Seus
olhos marejavam e ele respirava pesadamente, como se cada palavra lhe
custasse um enorme esforço. — Desculpe-me... Eu te magoei tanto, mas
não podemos ficar juntos. É perigoso para você, não posso colocar sua vida
em risco...
— Simon... — Desesperada em perdê-lo, segurei seu rosto entre
minhas mãos, meus dedos afagando sua barba, obrigando-o a me encarar.
Suas pálpebras cerraram brevemente ao sentir meu toque, mas eu me
mantive firme. — Quem tem que decidir isso sou eu, não você.
Ele abriu os olhos com sua expressão triste e resoluta.
— Você merece uma vida de paz e tranquilidade, nada disso eu
posso garantir, Paola.
Eu balançava a cabeça disposta a não desistir.
— Me conta a sua história, me deixa escolher, por favor...
— Tudo o que posso oferecer é caos e violência — ele disse, com a
voz embargada, suspirando fundo. — Você merece o melhor, mas eu só
trago o pior.
— Por favor! — insisti, minhas lágrimas de desespero
derramavam, eu seguia agitando a cabeça de um lado ao outro, apavorada
em perdê-lo. — Por favor! Me deixa decidir, me conte sua história —
persisti.
Ele meneou a cabeça negativamente, com os olhos tristes e
molhados de lágrimas.
— Você viverá melhor sem mim, pode ter certeza. — Sua voz
falhou, e ele desviou o olhar por um momento antes de voltar a me encarar.
— Deve seguir sua vida. Mas eu sempre estarei por perto.
— Não, Simon. — Recusei-me a aceitar, com meus olhos fixos nos
dele, cheios de convicção. — Eu quero saber a sua história, Simon.
O céu estava carregado, e apenas algumas gotas de chuva
começavam a cair, criando um cenário contrastante com a nossa dor. Ele
hesitou, seu peito subia e descia rapidamente com a respiração pesada.
— Eu preciso conhecer sua história, e quem é aquele homem igual
a você que entrou na sua casa — insisti com a voz firme, apontando com
meu dedo indicador para a entrada da casa.
Ele riu do meu jeito.
— Independentemente de conhecer a minha história, você não tem
a opção de escolha, Paola. Eu não posso ter laços afetivos, desaparecerei da
sua vida, entendeu?
Eu não respondi, é claro que não responderia.
— Esta discussão fica para depois, Simon.
— Vamos entrar que vou apresentá-lo a você — disse segurando
minha mão com firmeza enquanto atravessávamos a rua.
Ele pegou minhas malas na calçada e entramos na casa. Lá dentro,
o outro Simon estava atrás do balcão do bar, servindo-se de uma bebida.
Quando nos viu, ele se endireitou e, com um sorriso gentil, disse:
— Paola, eu peço desculpas pela forma fria com que a tratei. Eu
não podia contar a verdade, pois prometi ao meu irmão, Alexander. — Ele
olhou para o meu Simon ali, de mão dadas comigo, o chamando de
Alexander!
— Alexander? — perguntei dúbia com meu olhar passando de um
para o outro. Eram idênticos!
— Sim, Paola. O meu verdadeiro nome é Alexander Williams —
informou ele. A revelação me paralisou.
— Christopher Williams. O advogado é o que seu?
— Ele é o meu irmão adotivo — explicou Alexander.
— Eu, Simon Costello, sou o irmão biológico, Alexander me
sequestrou em Apalachia há quatro anos. Eu nem imaginava que tinha um
irmão, muito menos, gêmeo. — Conforme ele falava, eu revivia
mentalmente o momento do sequestro.
— Estava indo para minha casa naquela noite e presenciei esse
sequestro — declarei.
— Pois é! Fui a trabalho e meu próprio irmão me sequestrou, me
manteve em cativeiro em Las Vegas por todo esse tempo enquanto usurpava
o meu lugar — disse humorado.
Grunhindo, Alexander soltou a minha mão, cruzou os braços
encarando o irmão e rebateu:
— Você não estava em cativeiro de jeito nenhum, Simon. Ficou
hospedado em uma casa requintada de Las Vegas com uma vista espetacular
e recebeu tratamento de rei. Tudo isso para protegê-lo de Henry Paterson,
aquele verme contratou o Carter para matar você naquela noite.
Simon Costello riu e foi abraçar seu irmão, batendo nas suas
costas.
— A princípio eu fiquei bravo, sim, Alexander. Não suportava
aquele seu fiel escudeiro me chamando de fera. — Ambos riram. — Além
do mais, eu acreditava que os pais que me criaram fossem os meus pais
biológicos... É verdade, recebi tratamento de rei na sua casa e agradeço por
tudo que fez, Alexander. Salvou a minha vida, vingou nossa família e ainda
resolveu tudo sem manchar a minha imagem. Você é incrível, irmão.
Alexander sorriu, visivelmente emocionado.
— Estou feliz por estar aqui com meu irmão gêmeo — disse
Alexander. — A nação terá um grande presidente dos Estados Unidos.
Os irmãos se abraçaram mais uma vez. Simon Costello pediu
licença e se retirou, deixando Alexander e eu à vontade para conversarmos
melhor.
— Irmãos gêmeos! — ainda estava confusa.
— Exatamente — confirmou Alexander e voltou a abraçar minha
cintura, suspirando profundamente enquanto me olhava nos olhos. — Como
já foi revelado, Henry Paterson desde sempre teve envolvimentos profundos
com quartéis militares e era um facilitador chave na logística dos Estados
Unidos. Ele usava essa posição para facilitar o transporte de drogas através
das redes logísticas militares. E por que eu sei disso tudo? Simplesmente
porque os meus pais biológicos, meu e do Simon Costello, foram vítimas
desse esquema no passado.
Senti um nó na garganta, o coração acelerado.
— O que aconteceu com seus pais? — perguntei, quase
sussurrando.
— Meu pai trabalhava como funcionário de uma embarcação
militar e quando descobriu o esquema de transporte de material ilícito,
decidiu denunciar Henry Paterson. — Alexander pausou por um momento,
buscando equilíbrio na profunda respiração, a dor era evidente em seu rosto.
— Henry, para proteger seu esquema criminoso, ordenou a execução da
minha família. Assassinos enviados por Henry invadiram nossa casa e
mataram meus pais. Minha mãe havia acabado de dar à luz ao Simon e o
levaram com eles. Mas o que não sabiam era que eu ainda estava no ventre
da minha mãe.
— Que horrível, Alexander! — Estava perplexa com aquelas
revelações horríveis.
— Mas eu tive sorte, meu pai adotivo era de uma família poderosa
de mafiosos, foi ele que encontrou minha família atacada. Todos nesse
mundo têm muito a perder, então, sem alarde, fizeram o meu parto no local,
me adotaram e me levaram para Las Vegas. O resto fizeram a faxina, meus
pais verdadeiros ficaram como o casal que resolveu viajar pelo mundo, se
aventurar em algum lugar paradisíaco e assim ficou registrado a história da
minha família. Mas a verdade nunca foi escondida de mim. Eu cresci com
espírito de vingança.
— Meu tio se arrependeu de ter salvado seu irmão — comentei me
lembrando da conversa do meu tio com David no dia que cheguei em
Miami. — Ouvi uma conversa entre ele e o seu vice, sobre o fato de que
Simon Costello nem deveria existir.
— Aquele bandido, Henry Paterson nos tirou a chance de sermos
irmãos, de crescermos juntos — suspirou consternado, apertando meu
coração. Segurei sua mão e pressionei em sinal de apoio.
— Mas agora vocês podem compensar esse tempo, se tornarem
unidos e...
— Sem chance! — Alexander me interrompeu incisivamente. —
Simon é um cara correto e não quero mudar isso.
Uma maré de emoções tomou conta de mim.
— Parece até obra do destino. Quando cruzou meu caminho, você
salvou a mim e a Liliana das garras do malvado Henry Paterson...
— E você, a mim. — Ele sorriu, um sorriso triste, mas cheio de
carinho. — Naquela noite quando cruzei contigo no saguão do hotel e
depois, sentada em frente ao balcão, me senti puxado até você como um
ímã, até pensei em resistir, mas foi impossível e te puxei para dançar.
Depois que te conheci, houve muitas mudanças no meu ser. Sempre fui
alguém desprovido de emoções. Nunca imaginei que conheceria essa jovem
encantadora e sentiria tamanha conexão. Você surgiu como uma luz intensa
e dourada que iluminou minha escuridão, Paola.
Meus olhos lacrimejaram de amor por esse homem.
— Alexander... — sussurrei com minha voz embargada. — Eu te
amo. E é com você que eu quero estar, seja qual for o caminho, não importa
onde...
Ele me puxou para mais perto, seus olhos brilhavam com uma
intensidade que quase me fez desmoronar, e me beijou mais uma vez, sentia
naquele beijo uma despedida e me desesperei.
— Não pode me deixar, Simon...
— Alexander — corrigiu ele em meus lábios e segurou meu
pescoço, alisando as laterais da minha boca com seus polegares. — Eu sou
um homem caçado, sempre haverá os buscadores por justiças, eu não posso
colocar você e sua irmã em risco. Precisa de paz até mesmo para manter sua
doença adormecida. Eu sinto muito, mas preciso ir, Paola. E largou meu
pescoço, o meu desespero aumentou e segurei na mão dele.
— Simon, fica comigo mais um pouco, por favor!
— Desculpa, dê um abraço meu em Liliana. — Ele ia entrar no
carro, mas eu segurei sua mão.
— Por que você mesmo não dá o abraço na minha Irmã? Ela vai
amar. A gente passa na escola e então você me dá uma carona até o
aeroporto, pode me levar?
Seus olhos espremeram sob a sobrancelha grossa e bem desenhada.
— Minha família está chegando de Exeter.
— Seus filhotes peludos? — ele disse no seu melhor tom de
humor, mas acompanhado de tristeza, e eu assentindo esperançosa de que
ele mudasse de ideia. — Você vai comigo, por bem ou por mal, você
escolhe! — O intimei e ele inclinou a cabeça sobre o ombro direito com
seus olhos charmosos e sedutores estreitados.
— Tudo bem — cedeu e olhou as minhas malas na calçada. — Por
que as malas?
— Ficarei hospedada em um hotel até conseguir alugar uma casa
aqui, em Miami, ficaremos na cidade até terminar o semestre da Liliana.
— Legal.
Partimos, cada um refletindo no silêncio de nossos pensamentos.
CAPÍTULO 34

SIMON

Tão logo Liliana saiu da porta da escola, veio correndo ao meu


encontro.
— Simon, Simon — a criança de sorriso estonteante chamava
somente a mim, eu até ganhei um beijo espontâneo na face. Me sentia
importante e isso repercutiu num calor em meu coração junto com a
angústia de me afastar delas.
— Como você está, Liliana? — perguntei afagando as pontas dos
seus cabelos. Ela suspirou toda alegre.
— Estou curiosa. — Mirou sua irmã ao meu lado em silêncio. —
Falou para o Simon que hoje você vai fazer uma surpresa, Paola?
O olhar tristonho de Paola recaiu sobre mim, me destruindo por
completo.
— Falei sim, e acredito eu que ele também está curioso. — Ela deu
uma leve levantada nas sobrancelhas bem-feitas, seus olhos brilhavam e
notava que eram as lágrimas brotando.
— Bem curioso, vamos logo à surpresa. — Abri a porta do carro
para as irmãs.

***

Dirigindo em direção ao aeroporto, sentia meu coração pesado com


o iminente adeus. Cada quilômetro nos aproximava do destino e
intensificava minha aflição. Olhei de relance para Paola ao meu lado e uma
dor profunda me golpeou o peito. Eu a amava com todo o meu ser; queria
tocá-la, segurar sua mão, sentir seu calor. O toque suave de sua mão na
minha pele e seu riso encantador eram tudo o que eu desejava. Seus olhos
brilhavam quando falava de algo que amava, eu queria perder-me para
sempre nesse brilho.
Mas sabia que não podia. Esse sonho, essa felicidade, agora era
impossível. As lágrimas se acumulavam em meus olhos, mas eu me forçava
a mantê-las contidas, focando na estrada à frente. Cada batida do meu
coração parecia um lembrete cruel de que nosso tempo estava se esgotando.
“Esse amor intenso que eu sinto deve ser sufocado pelo bem
delas.” A segurança de Paola e sua irmã era a minha prioridade.
Minha vida era um perpétuo tumulto, um mar de violência e perigo
que eu não podia permitir que engolfasse Paola. Ela merecia paz, uma vida
sem medo, algo que eu nunca poderia oferecer. A merda era que o
pensamento de a deixar, de viver sem ela, me destruía por dentro, mas era o
único caminho possível.
Entrei com o carro no estacionamento a insistência de Paola, ela
fez questão que eu entrasse com elas. Liliana, curiosa, virou-se para mim
com um sorriso intrigado.
— A surpresa é no aeroporto? — perguntou a menina com seus
olhos brilhando de excitação.
Paola levou a mão entre os bancos, pegando a de Liliana e sorriu.
— Sim, maninha. Segura a ansiedade e prepara o coração.
Liliana ficou ainda mais eufórica, sua mente começou a formular
possibilidades.
— Será que tem a ver com seus cachorros? — perguntou ela,
dando ênfase ao Duck, o cachorro favorito de Paola.
A relação das irmãs era impressionante. A forma como se
entendiam e apoiavam uma à outra sempre me tocava fortemente. Esse
momento só piorava meu estado emocional, me lembrando do quanto eu
queria estar presente na vida dessa família, que aprendi a amar, que mudou
a minha vida e trouxe luz à minha escuridão.
Olhei para Paola e vi esperança e apreensão em seus olhos.
Mas, por mais que eu desejasse, nosso destino não nos permitia
ficarmos juntos. Ela precisava ser salva do caos que meu mundo
representava.
Saímos do carro e enquanto caminhávamos em direção ao
terminal, meu coração batia forte. Nuvens pesadas dominavam o céu,
deixando escapar apenas algumas gotas, como se o mundo inteiro estivesse
à beira de um grande acontecimento, à espera do inevitável.
Ao longe, avistei uma mulher empurrando um carrinho, carregando
duas casinhas apropriadas para cachorros, e algumas malas, e em seus
braços, um garotinho muito bonito. Quando viu Paola, o menino começou a
gritar, estendendo os pequenos braços:
— Mamãe! Mamãe!
Parecia que o mundo tinha parado. Olhei para Paola com os olhos
arregalados, choque e emoção se misturavam. Ela começou a chorar e
compreendi a verdade devastadora. A mulher se aproximou e o garotinho,
aparentando uns 3 anos, falava no seu idioma próprio:
— Mamãe, mamãe. — Paola ria e chorava ao mesmo tempo, o
amor dela transbordava por aquela criança enquanto a pegava nos braços.
— Meu filho... — Abraçando-o com força, cobria o seu rosto de
beijos incessantes. — Meu filhinho, a mamãe estava morrendo de saudades,
tantas saudades! — ela soluçava, com lágrimas escorrendo enquanto
entregava e recebia todo aquele carinho intenso e desesperado.
— Como ele chama, Paola? — sua irmã perguntou inocentemente,
talvez sem entender ainda as circunstâncias.
— Esse é o Nathan, meu filho e o seu sobrinho, maninha.
Liliana suspirou com olhos arregalados e boca aberta, eufórica.
— Eu sou tia do Nathan, que legal! — ela vibrava abraçada a uma
alegria que arrancou risos emocionados de todos, inclusive os meus. A
menina chegou a dar pulos de felicidade.
Eu estava ali, paralisado sem condições de me mover. Meu coração
trabalhava no seu ápice. Olhando para o menino, Nathan, via nele o reflexo
de mim mesmo. Então Paola se aproximou de mim, aquele menino nos
braços dela me olhava com interesse, mas com certo receio.
— Você foi e continua sendo o único homem na minha vida!
Nathan é o nosso filho, Simon... Alexander — corrigiu com sua voz
tremida, mas havia firmeza ali.
— Alexander? — questionou Liliana, perdida.
— Sim, meu nome é Alexander Willians, mas depois sua irmã
explica melhor para você — respondi à questão da Liliana, conectado a
Paola e ao garoto... — Meu filho? — As lágrimas começaram a brotar nos
meus olhos. Senti uma dor profunda, sabendo que tudo o que tinha feito
agora colocava minha própria carne e sangue em risco. Acariciei o rosto de
Nathan e ele olhou para mim com curiosidade. Não havia dúvida: ele era
meu filho.
— Segure o seu filho no colo, Simon — incentivou-me ela
trocando o meu nome, o que fazia dela uma pessoa especial e ali, sabia que
faltaria tudo na minha vida sem ela. Paola era a melhor pessoa deste mundo,
ela trouxe muito mais que luz à minha vida...
Meus olhos marejavam enquanto segurava o nosso filho. Senti o
amor crescer instantaneamente, mas junto com ele, veio o medo. Sabia dos
riscos, das pessoas que sempre viriam atrás de mim, por ser quem eu era,
por tudo o que fiz. Estava apavorado pelo que isso significava para a Paola
e nosso filho.
— Estou com fome, Paola — reclamou Liliana.
— Prazer em conhecer você, Nathan! — Não foi possível reter a
emoção, senti a minha voz sair embargada. — Eu preciso ir. — Com o
coração pesado, entreguei Nathan de volta para a mãe e murmurei um
adeus.
Então, virei-me e comecei a caminhar em direção à saída do
aeroporto.
— Simon, espera! — gritou Paola, trocando meu nome, sua voz
coberta de desespero. Ouvi ela chamando Anah e pedindo que levasse
Liliana para lanchar em um dos restaurantes perto das áreas de animais de
estimação no Aeroporto Internacional de Miami. Pediu que cuidasse de
todos com muita atenção e garantiu que não demoraria para voltar. Então,
correu atrás de mim.
Cada passo era uma luta contra a vontade de voltar atrás. Ela me
alcançou, caminhando ao meu lado, implorando para conversarmos. Eu
estava perdido, a raiva e o medo misturavam-se com o amor e a dor.
— Você não podia ter feito isso comigo, Paola! — gritei com
minha voz trêmula de emoção.
— Aconteceu, mesmo a gente usando preservativo, Simon —
explicou ela. — Guardar segredo todo esse tempo não foi fácil.
— Sou um homem marcado para morrer, indigno de ter um filho.
Só posso trazer destruição e violência. Adeus, Paola!
Acelerei o passo, desesperado até o estacionamento. Entrei no
carro e, antes que pudesse dar partida, ela entrou ao meu lado.
— Saia do carro, Paola! — ordenei com minha voz austera. Mas
ela não se moveu.
— Não, Alexander. Eu quero você em minha vida — respondeu,
decidida.
Liguei o carro e saí em disparada do aeroporto, as lágrimas
escorrendo pelo meu rosto. O silêncio era pesado, mas Paola não disse
nada, esperando-me acalmar. Eu não sabia como essa história iria acabar.
Saímos do aeroporto e peguei a rodovia, sentindo o peso do adeus
próximo esmagando meu peito. Dirigir ao lado dela, sabendo que em breve
teria que deixá-la, era insuportável. Cada fibra do meu ser queria estender a
mão e tocá-la, dizer a ela o quanto a amava, mas eu sabia que não podia. A
segurança dela e da família vinha em primeiro lugar.
A tempestade começou a se formar no horizonte e logo estávamos
no meio de ventos fortes. Galhos de árvores começaram a flutuar no ar e
pedras de granizo bateram contra o carro. Eu procurei um abrigo
rapidamente, desviando dos obstáculos que a tempestade trazia.
Vi uma placa para o Virginia Key Beach Park e virei em direção a
ele. Estacionei o carro em uma clareira cercada por árvores densas, que nos
ofereciam alguma proteção contra a fúria do tempo. Desliguei o motor,
recostei-me no banco e passei as mãos pelo rosto, descendo pela barba e
pescoço, batendo no peito, tentando aliviar a tensão instaurada em mim e
que refletia a devastação externa da tempestade.
— Paola, eu não vou fugir da minha responsabilidade. Vou cuidar
de tudo para que você, nosso filho, e sua família tenham todo o conforto e
segurança — declarei, virando-me para ela.
Paola se ofendeu e começou a chorar, o desespero era evidente em
sua voz.
— Eu não preciso de dinheiro, Alexander. Eu preciso de você ao
meu lado, nosso filho precisa de você!
A tensão explodiu dentro de mim e esmurrando o volante, gritei:
— Eu sou uma péssima companhia para vocês! Uma má influência
para Nathan! Ele não merece crescer assim. Quero um futuro calmo e
promissor para ele e vou garantir isso, mas longe de mim.
Paola explodiu e me chamou de covarde. Com o sangue fervendo,
agarrei seu queixo e puxei seu rosto para perto do meu, deixando nossos
olhos se encontrarem. A respiração dela estava ofegante, os olhos molhados
pelas lágrimas. Eu queria beijá-la, mas me contive, sabendo que ela era uma
tentação.
— Isso não é covardia, Paola, é prudência. Juízo. Eu não sou digno
de ser pai. Esse garoto merece um pai decente, de vida ilibada, não um
mafioso como eu. Eu não sou exemplo para ninguém. — As lágrimas
começaram a escorrer, apesar do meu esforço para me manter firme e
rígido.
— Você não tem culpa da vida que teve, Alexander. Não importa o
que você fez, o que importa é quem você quer ser agora. — A voz dela era
cheia de emoção.
— Você faz parecer fácil, Paola, mas não é — rebati, tentando me
manter duro, mas a luta interna era visível.
— Eu amo você, Alex. — Paola caiu em prantos e isso me
comoveu profundamente. Sem conseguir resistir mais, a puxei para os meus
lábios e a beijei com força. Ambos estávamos chorando, mas a excitação
crescia junto com a tempestade lá fora.
O beijo profundo e apaixonado me excitava, meu tesão crescia
rapidamente, meu pau endureceu a ponto de doer dentro da calça. O sabor
doce da sua saliva intensificava meu desejo.
Desesperado para sentir mais dela, soltei seu queixo e segurei seu
braço.
— Vem aqui — disse, com a voz rouca de desejo. Levei-a para o
meu colo, Paola se ajoelhou no meu banco com um joelho de cada lado,
sentou-se sobre o meu pau duro e gemeu ao senti-lo pulsar contra seu
corpo.
Nosso beijo se tornou ainda mais urgente, devorava a boca
molhada, macia e deliciosa, chupando sua língua e mordendo seus lábios
com fervor enquanto ela rebolava sobre mim.
— Eu quero você — murmurei rouco com as minhas mãos
passeando por suas costas delicadas, explorando cada curva, cada músculo
tenso de excitação. Deslizei os dedos por baixo de seu cabelo, segurando
firme sua nuca, pressionando seus lábios contra os meus e a apertando para
baixo, fazendo-a sentir cada centímetro de meu membro quase explodindo
de tão duro.
Eu a queria de qualquer jeito.
— Eu te quero, Paola — repeti enlouquecido, minha voz vertendo
desejo e necessidade.
Eu estava completamente tomado pelo desejo, cada fibra do meu
ser ansiando por ela. Meus lábios deslizaram do seu queixo, descendo por
seu pescoço enquanto ela arqueava a cabeça, dando-me todo o espaço que
eu precisava. Desabotoei a camisa dela com as mãos tremendo de desejo,
revelando seus seios nus. Sem sutiã, seus mamilos rígidos imploravam por
atenção.
Abocanhei um dos mamilos, sugando e chupando com força,
arrancando seus gemidos profundos de prazer. Eu estava desesperado,
faminto por mais dela. Queria sentir cada parte do seu corpo, queria provar
o seu gosto. Os vidros do carro estavam completamente embaçados e o som
da tempestade, do lado de fora, parecia amplificar nossa privacidade e
urgência.
Nos jogamos no banco espaçoso de trás e entre suas pernas eu
desci meus lábios pelo seu corpo, explorando cada centímetro da sua pele
macia. Quando alcancei a borda da sua calcinha, deslizei-a para baixo,
expondo sua intimidade molhada e quente. Segurando seus quadris a ergui
até minha boca, passei a ponta da língua entre seus lábios vaginais úmidos,
sentindo seu sabor único que eu estava viciado.
— Você está tão pronta para mim, Paola... Seu sabor é
maravilhoso... — murmurei entre as lambidas. Degustei do seu clitóris,
comecei a chupar e lamber, saboreando cada gota do seu prazer. — Estou
viciado nesse gosto, não consigo parar. Eu te amo, Paola. Não sou mais
capaz de guardar os meus sentimentos só para mim.
Seus olhos brilharam com uma mistura de surpresa e desejo. Não
aguentando mais, me ajeitei no banco, tirando minha calça rapidamente.
Meu pau ereto estava duro e pulsante, apontando para cima e ela se sentou
olhando meu pau com desejo ardente.
— Quero sentir seu sabor, Alex — disse ela, e sem hesitar, se
inclinou e caiu de boca, seus lábios envolveram a glande robusta e
brilhante.
— Ele é todo seu! — rosnei segurando seus cabelos, puxando-a
para mim, sentindo a boca quente e úmida dela me envolver. Meu corpo
todo tremia de desejo enquanto ela lambia e chupava, cada movimento me
levando à beira da loucura.
Ela passou a língua pela glande, fazendo-me gemer alto. Sua boca
apertada e quente descia e subia nele latejando, e quando ela raspou os
dentes suavemente, eu quase perdi o controle.
— Boca gostosa da porra! — Soltei um gemido rouco, minhas
mãos tremiam enquanto abria os botões do meu terno e da camisa. Paola
subiu os lábios molhados pelo meu peitoral, beijando-me forte.
Ajeitei-me no banco espaçoso do carro e com um movimento
firme, guiei Paola para que se deitasse de costas e aguardei o seu tempo,
considerando sua saúde. Sua respiração estava pesada e ela empinou o
bumbum, oferecendo-se a mim.
— Prometo que vou devagar.
— Eu estou bem, meu amor — respondeu convicta, seu corpo
trêmulo e pronto me deixou ainda mais louco de desejo.
Posicionei-me atrás dela, meu pau pulsava de tão duro e comecei a
penetrá-la fundo, sentindo o seu calor úmido me envolver. Paola gemeu
alto, um som que parecia ecoar pelo carro, intensificado pela tempestade lá
fora. Minhas mãos tremiam enquanto massageavam seu clitóris, alternando
entre carícias suaves e apertões em seus seios.
— Você é tão gostosa. Me contaminou, garota — sussurrei em seu
ouvido, tremendo todo dentro de um tesão absurdo.
Ela arqueou ainda mais as costas, gemendo e murmurando meu
nome, pedindo por mais. Cada movimento meu era acompanhado por um
gemido seu e a intensidade do momento nos consumia. Eu beijava e
mordiscava seu pescoço, saboreando cada pedacinho dela.
— Simon... não, Alexander, eu te amo — ela repetia, sua voz
entrecortada pelo prazer.
Aumentei o ritmo, estocando profundamente, sentindo cada
centímetro dela se apertar ao meu redor. Minhas mãos deslizaram por seu
corpo, apertando sua cintura, segurando firme enquanto eu me movia dentro
dela com fervor. Meus lábios não deixavam seu pescoço, a sensação de sua
pele contra a minha era intoxicante e sentia meu próprio clímax se
aproximar.
Cada estocada era mais intensa que a anterior, nossos gemidos se
misturavam com o som da tempestade. Eu sentia meu corpo todo se
preparar para o orgasmo, e Paola não estava muito atrás. Seus gemidos
aumentaram, seu corpo tremendo enquanto ela gozava intensamente, o
prazer a consumindo.
— Eu te amo, Paola — agora saía a solto e coberto de emoção.
Nosso clímax veio quase ao mesmo tempo, meu corpo explodindo
de prazer enquanto me enterrava profundamente nela, sentindo cada pulsar
do seu corpo em resposta. Ficamos assim, conectados, respirando juntos,
nossos corpos ainda vibrando do orgasmo.
Ela virou a cabeça ligeiramente, nossos olhares se encontrando e
sorriu. Naquele momento, soube que estávamos completamente entregues
um ao outro, envoltos em uma paixão que nada poderia abalar.
— Fica comigo, Alex... Fica com a gente! — minha garota
sussurrou, seus olhos brilhando de expectativa, a mão trêmula acariciando
meu rosto.
Sorri, já totalmente convencido e nesse minuto ela se virou de
frente para mim, suas mãos tocando levemente meu peito.
— Isso é um sim? — desafiou-me esperançosa, mordendo o lábio
inferior.
Suspirei profundamente, segurando suas mãos.
— Estou negligenciando muitas coisas, mas fico apenas na
condição de vocês terem seguranças fortemente armados, 24 horas por dia.
Ela riu e chorou ao mesmo tempo. As lágrimas rolavam pelo rosto
dela enquanto tentava falar:
— Está bom, seguranças 24 horas por dia.
Acariciei seu rosto, limpando suas lágrimas.
— Tem que seguir as minhas rígidas regras, não poderá sair um triz
fora da linha.
Paola balançou a cabeça vigorosamente, seus olhos fixos nos meus.
— Não irei sair fora da linha, desde que eu possa terminar a
faculdade de Medicina em Exeter.
Torci o nariz em discordância, mas ponderei por um momento
antes de responder:
— E depois nos mudamos definitivamente para Las Vegas...
Paola ergueu as sobrancelhas, pensativa, suas mãos agora
repousavam em meus ombros.
— Eu trabalho em Complexo Hospitalar com Creche em Exeter,
cuido de crianças.
Assenti, tentando encontrar um equilíbrio.
— Tenho certeza de que em Las Vegas há ótimos hospitais onde
poderá atuar, Paola.
Ela me olhou intensamente, buscando respostas nos meus olhos.
— Quem é você em Las Vegas, Simon? Quero dizer, Alexander?
Suspirei, sabendo que essa revelação era inevitável.
— Digamos que sou um magnata do setor de cassinos e hotéis de
luxo. Empresário legítimo e influente.
Paola sorriu, aliviada e roçou a ponta de seu nariz no meu.
— Bem, eu topo desde que seja com você, meu amor.
Beijei sua testa, sentindo uma onda de amor e preocupação.
— Bem, ainda assim, sei que estou fazendo a coisa errada, mas eu
te amo. Vem aqui.
Abracei-a apertado, sentindo seu corpo relaxar contra o meu.
— Você é minha, só minha! — declarei, segurando-a firmemente,
sentindo o calor do seu corpo contra o meu. Ficamos assim por alguns
minutos, absorvendo o momento até que a intimei a retornarmos ao
aeroporto para buscar nossa família.
— Como foi sua gravidez, Paola? — perguntei assim que
acessamos a rodovia de volta ao aeroporto, curioso e preocupado.
Ela suspirou, seu olhar ficando distante enquanto relembrava.
— Não foi fácil esconder a gravidez do meu tio. Quem me ajudou
foi Anah. Conheci ela numa consulta pré-natal em Exeter, e por obra do
destino, nos tornamos amigas. Ela, sabendo da minha paixão pela medicina,
me ofereceu um emprego no complexo hospitalar e creche, onde consegui
dar sequência à minha vida. Anah, além de amiga, me tratou como mãe,
cuidou do meu filho e dos meus animais.
— E o Nathan, me conta um pouco sobre o temperamento dele...
— Pedi, ansioso por conhecer mais sobre o filho que ainda não conhecia.
Paola sorriu, seu rosto foi se iluminando ao falar do pequeno
Nathan:
— Ele tem três anos e alguns meses. É um garoto feliz, sempre
com um sorriso no rosto. Tem um gênio bom, é carinhoso, curioso e adora
brincar com os animais. Parece um raio de sol, trazendo alegria a todos ao
seu redor.
Meu coração apertou de emoção, sentindo uma pontada de
felicidade e saudade ao mesmo tempo.
— Essas características ele puxou da mãe dele. A luz que você
trouxe para a minha vida, Paola, é a mesma que ele traz para a sua.
Paola tocou delicadamente no meu rosto enquanto eu dirigia, seus
dedos suaves transmitiam um conforto indescritível.
— Agora é a sua vez de falar, Alexander.
Sacudi a cabeça, já sinalizando que não.
— Não posso compartilhar com você, há muita coisa que fiz das
quais não me orgulho.
Paola moveu os ombros e, colocando um sorriso compreensivo nos
lábios, disse:
— Então vamos deixar registrado o dia de hoje como o seu
renascer. Quando estivermos velhos, na sala, rodeados pelos nossos filhos e
netos, nossas lembranças a partir de hoje serão narradas.
Encarei-a com desafio, mas também com uma ponta de esperança.
— Tem certeza de que quer uma vida comigo, Paola?
— Certeza absoluta — respondeu, deixando a cabeça descansar no
meu ombro.
Meu coração se encheu de uma felicidade intensa, percebendo a
nova oportunidade que a vida estava nos oferecendo.
Chegamos no aeroporto. Caminhávamos de mãos dadas enquanto
eu arquitetava em minha mente um esquema rígido e eficiente de segurança
para todos. Sentia-me inseguro, mas ao mesmo tempo, superfeliz. Paola
havia se tornado minha nova razão de viver e a vontade de buscar meios
para viver em paz com minha família, sem riscos, era inigualável.
Encontramos nossa família em uma área com poltronas. Anah
estava sentada em uma delas, observando Liliana e Nathan brincarem com
os cachorros dentro de suas casinhas. Liliana estava radiante com seu
sobrinho e eu suspirei apaixonado pelo meu filho Nathan. Quando ele viu a
mãe dele, correu ao encontro dela.
— Mamãe? — Se jogou em seus braços. Eu quase chorei de
emoção e levei minha mão ao rosto do meu filho.
— Oi, Nathan — disse suavemente, acariciando seu rostinho. —
Você é um garoto muito bonito e esperto.
Paola olhou para nós, seus olhos brilhando com lágrimas.
— Nathan, esse é o seu papai.
Nathan franziu a testa, confuso.
— Papai?
— Sim, eu sou o seu papai — confirmei, estendendo os braços. —
Vem aqui.
Peguei-o nos braços e o ergui acima da minha cabeça, arrancando
gargalhadas de alegria de Nathan. Paola olhou para nós com seus olhos
cheios de ternura.
— Nathan já está apaixonado pelo pai dele — disse ela, com a voz
embargada de emoção.
Anah também estava com lágrimas nos olhos, observando a cena
com um sorriso comovido e disse:
— Vou aproveitar para dar um passeio pela cidade, eu encontro
com vocês depois, tá bom?
— Está bem, minha amiga! — Paola deu um beijo em sua face,
mas Anah a abraçou forte. Elas se olharam por alguns segundos, um olhar
de agradecimento e depois Paola pegou na minha mão.
Saímos do aeroporto e caminhamos em direção ao estacionamento.
Paola soltou os cachorrinhos e os colocou na coleira, Duck deixou Liliana
confusa.
— Por que ele usa essa cinta? — perguntou ela, acariciando o
cachorro.
— Duck tem a síndrome da espinha curta (SEA), uma patologia
rara que afeta cães — explicou Paola. — É uma má formação óssea das
vértebras da coluna vertebral, resultando em uma coluna mais curta do que
o normal.
Liliana ficou ainda mais apaixonada pelo cachorrinho, o pegou no
colo e o abraçou carinhosamente, o cachorro latia e lambia sua face,
fazendo todos rirmos. Nathan, no meu colo, estendeu os braços para a sua
tia Liliana, também querendo entrar na algazarra com o Duck. Cheguei
perto, ele abraçou a Liliana e o Duck, ainda latindo todo feliz.
— Não ficarei fora dessa. — Paola correu abrindo os braços e
abraçando a todos nós. Finalmente, todos juntos, formamos um círculo
apertado de carinho e promessas. Abracei Nathan com todo o amor que eu
tinha, sentindo uma nova determinação crescer dentro de mim.
— Para onde nós vamos? — quis saber Liliana.
— Por enquanto, para um hotel maravilhoso e de frente ao mar,
que aceita pets e que tenha playground para vocês, crianças, se divertirem
— respondeu o meu amor.
— Oba! — Liliana e Nathan gritaram em coro de felicidade e
nessa alegria contagiante, entramos todos no carro. Me sentia renovado
como uma promessa de um futuro melhor.
— Prometo que cuidarei de todos vocês — declarei cheio de
emoção, pensando que a minha tempestade feroz foi apenas um prelúdio
para o nascer do sol mais brilhante. — Paola, Liliana, Nathan, vocês são
minha vida agora.
Os cachorros sentiam a boa energia, Duck e Luna latiam pulando
nas crianças, completando o quadro perfeito de nossa nova família.
BIOGRAFIA

ELISETE DUARTE

Nasceu em 1 de novembro de 1967, na cidade de Osasco, em São


Paulo. Hoje vive em Barueri com seu marido e seu filho.
Descobriu seu dom da escrita em 1998 quando começou a sofrer
com a Síndrome do Pânico. Na mesma época, teve um sonho com um
senhor de óculos que lhe entregou um caderno de brochura e um lápis já
desgastado e pediu a ela que escrevesse muito, porque assim aliviaria a dor
de sua alma. Daí em diante não parou mais.
Publicou: Talvez um dia, Além dos Olhos, Eternamente Eu,
Príncipe Imortal, Meu vizinho, minha perdição, Conexão imortal, Um dom
perigoso, De repente, você, entre outros.
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