DEMÊNCIA
— Titulo: — Publicado por:
Demências. Laboratório de Reabilitação Psicossocial
FPCEUP/ESTSPIPP.
— Autores do texto: Rua Dr. António Bernardino de Almeida,
Paula Portugal, Tiago Coelho e Catarina 400 — 4200 - 072, Porto.
Gonçalves.
— Versão original:
— Local: Laboratório de Reabilitação Psicossocial.
Porto, Portugal. (2020). Demências. A Doença Mental não
é um Bicho de Sete Cabeças – Projeto de
— Data: Literacia em Saúde Mental e Bem-estar.
Porto, Portugal. Porto: Laboratório de Reabilitação Psi-
cossocial FPCEUP/ESTSPIPP.
— Design gráfico:
Beatriz Lebasi.
ÍNDICE
O QUE É TER “A CONDIÇÃO”? 1
VIVER COM A CONDIÇÃO (SINTOMAS, DIFICULDADES E LIMITAÇÕES) 2
SINAIS DE ALERTA 3
O QUE PROVOCA A CONDIÇÃO (CAUSAS E FATORES DE RISCO) 6
TRATAMENTO 7
ONDE PROCURAR AJUDA 8
COMO LIDAR COM A CONDIÇÃO (CONSELHOS PRÁTICOS PARA OS UTENTES, 9
FAMILIARES E AMIGOS)
SABIAS QUE... 11
BIBLIOGRAFIA 12
O QUE É TER
A CONDIÇÃO?
A demência é uma síndrome causada por doença cerebral, geralmente crónica
e progressiva, caracterizada por um declínio cognitivo significativo, particularmente
ao nível de funções mentais como a memória, pensamento, orientação, linguagem,
cálculo e julgamento. Esta condição conduz usualmente à perda de autonomia e
independência, com impacto significativo na vida de familiares e cuidadores.(1-4)
Existem diferentes formas de demência (determinadas pela doença na sua
base) e com manifestações clínicas distintas, sendo as mais comuns a doença de
Alzheimer (perfazendo 60-70% dos casos), a demência vascular, a demência de
corpos de Lewy e a demência frontotemporal.(3-5)
Apesar de não afetar apenas pessoas idosas a demência é uma das principais
causas de incapacidade em grupos populacionais mais envelhecidos.(3) O aumento
da longevidade tem-se traduzido no aumento do número de casos da síndrome,
desafiando a sociedade a refletir sobre o planeamento de cuidados de saúde
e sociais. Paralelamente, existe ainda hoje uma falta de conhecimento sobre as
características desta síndrome, resultando por vezes na estigmatização do doente e
em barreiras à procura de apoio clínico.
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VIVER COM
A CONDIÇÃO
(SINTOMAS, DIFICULDADES E LIMITAÇÕES)
A demência afeta cada pessoa de forma diferente, dependendo da doença
de base e das características do próprio indivíduo. Não é apenas o dano cerebral
que determina como a demência afeta alguém, mas também outros fatores como a
personalidade da pessoa, eventos de vida e ambiente onde se insere.(3)
Os sintomas de demência podem variar desde uma pequena perda de memória
a graves dificuldades na comunicação e na tomada de decisões lógicas e coerentes que
tornam impossível realizar atividades diárias sem ajuda de terceiros.(3) De uma forma
geral, a demência está associada a uma deterioração gradual da cognição acompanhada
de sintomas psicológicos (e.g. depressão, ansiedade, delírio, alucinações) e alterações
comportamentais (e.g. agitação, agressão, apatia).(1, 4)
2
SINAIS DE ALERTA
Usualmente, a progressão da doença pode ser dividida em três fases. No en-
tanto, é importante perceber que nem todas as pessoas com demência apresentarão
todos os sintomas, nem na mesma altura.(3, 4) Assim sendo, na fase inicial da doença, os
sintomas passam muitas vezes despercebidos ou são frequentemente desvalorizados,
uma vez que as pessoas exibem essencialmente problemas de memória (dificuldade
para realizar novas aprendizagens ou para recordar informação recente), que são tra-
dicionalmente associados ao próprio processo de envelhecimento. Todavia, nesta fase
inicial podem ainda surgir dificuldades ao nível da orientação temporal (confundir o dia
ou o mês) e espacial (perder-se em alguns locais), assim como dificuldades em tomar
decisões.
3
À medida que a demência progride para a fase intermédia, os sintomas tornam-
-se mais claros, podendo incluir dificuldades ao nível da comunicação, da resolução
de problemas e no reconhecimento dos outros. Podem também surgir alterações do
humor, mudanças do comportamento como maior desinibição ou deambulação persis-
tente, assim como dificuldades claras em atividades diárias como tomar a medicação
ou no arranjo pessoal. Na fase avançada, as pessoas com demência provavelmente te-
rão grandes dificuldades para reconhecer os seus familiares ou amigos próximos, assim
como podem apresentar um comportamento que pode ser perturbador e angustiante
para as pessoas à sua volta. Essencialmente, esta fase é caracterizada por uma deterio-
ração severa das funções mentais, inatividade e dependência.(3, 4)
4
Na fase avançada, as pessoas com demência provavelmente terão grandes di-
ficuldades para reconhecer os seus familiares ou amigos próximos, assim como podem
apresentar um comportamento que pode ser perturbador e angustiante para as pesso-
as à sua volta. Essencialmente, esta fase é caracterizada por uma deterioração severa
das funções mentais, inatividade e dependência.(3, 4)
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O QUE PROVOCA
“A CONDIÇÃO”
(CAUSAS E FATORES DE RISCO)
A demência é causada por danos cerebrais resultantes de um processo patoló-
gico. Apesar de a idade se constituir como o maior fator de risco para a demência, esta
síndrome não afeta exclusivamente pessoas idosas nem é uma consequência inevitável
do envelhecimento (i.e. não faz parte do envelhecimento normal, mas é particularmen-
te mais comum em populações mais velhas). Outros fatores de risco referem-se a doen-
ças específicas e aspetos modificáveis relacionados com o estilo de vida. Estes incluem:
hipertensão na vida adulta, diabetes Mellitus, hábitos tabágicos, baixa escolaridade,
inatividade física e cognitiva, obesidade, dietas desequilibradas, consumo excessivo de
álcool, depressão na vida adulta e isolamento social.(4, 6-8)
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TRATAMENTO
O tratamento da demência depende da sua causa. A maioria das demências é
progressiva e culmina na morte (e.g. doença de Alzheimer), não havendo atualmente cura
ou tratamento que impeça a sua progressão. Existem tratamentos farmacológicos que
permitem estabilizar temporariamente e atrasar o declínio cognitivo, especialmente em
fases mais iniciais da síndrome. Existem também medicamentos destinados a aspetos
como a agitação ou sintomatologia depressiva.(8, 9) Contudo, mudanças positivas na
sintomatologia psicológica e comportamental resultam com maior frequência de
tratamentos não-farmacológicos. Efetivamente, existem diferentes abordagens
psicossociais destinadas a promover o bem-estar físico, psicológico e social do doente
e seus familiares e cuidadores. Estas podem promover o relaxamento e tranquilidade
do doente, a estimulação das suas capacidades para atrasar o declínio associado à
síndrome, assim como podem facilitar o desempenho diário do doente e prestação
de cuidados através do aconselhamento e sugestão de modificações ambientais. A
promoção da formação, apoio constante e descanso do cuidador é também um aspeto
fundamental para melhorar a qualidade de vida de todos os afetados pela demência.(4)
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ONDE
PROCURAR AJUDA
A primeira linha de resposta em caso de demência (ou suspeita de demência)
pode referir-se aos cuidados de saúde primários, em que o clínico geral poderá analisar
os sintomas e encaminhar para uma consulta de especialidade. O diagnóstico poderá
surgir na sequência da consulta de especialidade (neurologia ou psiquiatria, idealmen-
te da área da geriatria). Consequentemente, o tratamento farmacológico deverá ser
identificado (devendo ser revisto com a progressão da doença). As respostas a nível
de tratamento não-farmacológico e prestação de apoio e cuidados podem assumir
diferentes formas. Usualmente os familiares do doente procuram apoio de centros de
dia, de estruturas residenciais para pessoas idosas e/ou da rede nacional de cuidados
continuados integrados. Existem várias entidades, públicas e privadas, que prestam
serviços úteis em caso de demência, como para a prestação de cuidados básicos ou
intervenções terapêuticas junto de doentes e/ou cuidadores.(3, 4) A Associação Alzhei-
mer Portugal é uma entidade de referência na área de apoio a doentes e familiares de
pessoas com demência (não apenas doença de Alzheimer), realizando ações e provi-
denciando serviços de extrema relevância (e.g. apoio telefónico diário).
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COMO LIDAR
COM “A CONDIÇÃO”
(CONSELHOS PRÁTICOS PARA OS
UTENTES, FAMILIARES E AMIGOS)
A prestação de cuidados é fundamental para corresponder às necessidades do
doente e para manter a sua dignidade. Contudo, essa tarefa é complexa e desafian-
te, principalmente se tivermos em conta, não só o declínio gradual das capacidades,
mas também as alterações comportamentais associadas à demência. Neste sentido, é
fundamental que o cuidador possua a informação e apoio necessários para garantir a
adequabilidade dos cuidados prestados e a sua própria qualidade de vida. No vasto
conjunto de estratégias que podem ser fornecidas aos cuidadores de pessoas com de-
mência, podemos destacar apenas alguns aspetos como:
— Estabelecer uma rotina diária:
esta rotina será facilitadora do dia-a-dia
do cuidador e do doente. O planeamen-
to da rotina deve incluir atividades diárias
(e.g. preparação de refeições, gestão da
casa, cuidado pessoal) e espaço para o
cuidador cuidar de si. É importante para
o cuidador perceber que só poderá pres-
tar cuidados adequados se tiver equilíbrio
ocupacional e bem-estar geral.
9
— Promover a participação do do-
ente: o cuidador deve incentivar o doente
a contribuir para as tarefas diárias dentro
do possível, de forma a que permaneça
estimulado e não se exacerbe a perda de
competências. Da mesma forma, deve-se
procurar facilitar as atividades de interes-
se do doente para que este seja capaz de
se envolver minimamente.
— Facilitar a comunicação: não se
deve excluir o doente de conversações;
deve-se dar tempo ao doente para que
este expresse os seus pensamentos, sen-
timentos e necessidades, sem o inter-
romper; deve-se procurar compreender
o motivo para algumas expressões que
possam não fazer sentido à partida; de-
ve-se manter contacto ocular com o do-
ente, expressando afeto e boa disposição
sempre que possível; deve-se comunicar
clara e lentamente com o doente, colo-
cando apenas uma questão de cada vez;
deve-se evitar censurar comportamentos
ou destacar erros.
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SABIAS QUE...
FACTOS, NÚMEROS E CURIOSIDADES:
— A demência não faz parte do enve- — O custo global da prestação de cui-
lhecimento normal; dados a pessoas com demência a nível
mundial estima-se que ronde os 818 mil
— A demência não afeta apenas pesso- milhões de dólares;
as idosas;
— Portugal é o quarto país da OCDE
com maior proporção de pessoas com
— Existem aproximadamente 50 mi-
demência.
lhões de pessoas com demência em
todo o mundo;
— A doença de Alzheimer refere-se a 60-
70% dos casos de demência.
— A nível mundial, um novo caso de
demência é diagnosticado a cada três
segundos. — A demência é uma das maiores causas
de incapacidade e dependência em todo
o mundo.
— Demência é atualmente a sétima
maior causa de morte no mundo.
— Cuidadores de pessoas com demência
estão frequentemente sobrecarregados e
— Diagnóstico e tratamento precoce em sofrimento.
contribuem para a manutenção da qua-
lidade de vida dos doentes e seus fami-
— Pessoas com demência são frequente-
liares durante mais tempo.
mente estigmatizadas e os seus direitos
muitas vezes não são respeitados.
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BIBLIOGRAFIA
1. Prado JÁ-L, Jiménez-Huete A. Neuroimagen en demencia. Correlación clíni-
co-radiológica. Radiología. 2019;61(1):66-81.
2. Robles MJ, Cucurella E, Formiga F, Fort I, Rodríguez D, Barranco E, et al. La
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7. Aguirre-Milachay E, Alva-Díaz C. ¿ Es posible reducir la prevalencia de de-
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9. Alzheimer´s Association. Alzheimer’s Disease Facts and Figures. Includes a
Special Report on Alzheimer’s Detection in the Primary Care Setting: Connecting Pa-
tients and Physicians 2019;15(3):321-87.
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