Leitura Obrigatria Dominick LaCapra Trauma Histria Memria Identidade.
Leitura Obrigatria Dominick LaCapra Trauma Histria Memria Identidade.
Trauma, história,
memória, identidade:
oque resta?
Paris: Gallimard,
*Ver, por exemplo, NORA, Pierre (ed.). Les Lieux de mémoire.
Oxford:
1984. 3v.; OLICK,Jeffrey K. et al. (ed.). The Collective Memory Reader.
SCHWARZ, Bìl (ed.).
Oxtord University Press, 2011; RADSTONE, Susannah;
Press, 2010;RICCEUR,
Memory, History, Debates. New York: Fordham University
Blamey and David Pellauer.
Paul. Memory, Histor, Forgetting. Transl. Kathleen
STONE, Dan (ed.). The Holocaust
ncago: University of Chicago Press, 2004; KANSTEINER, Wult.
Historical Methodology. New York: Berghahn, 2012;
Critique of Collective Memory
Pndng Meaning in Memory:AMethodological 2002; KANSTEINER, Wulf.
Studies. History and Tlheory, n. 41,p. 179-197, May
Intellectual History of the Cultural
Genealogy of a Category Mistake: A Critical 193-221, 2004. Ver tambéno
Trauma Metaphor. Rethinking History, n. 8, p.
meu History and Memory after Auschuitz, esp. cap. 1.
131
ToAUMA HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE: O QUE RESTA?
da
des1merecer o valor e a inportância pesquisa de arquiv,
relato, sem útima possibilidade, isto é. a esforços de memória podem estar sujeitos a crítica, mas isso não leva
concentrar na de a
vou me história (ou à historiografia). De nem a desconsiderar todas as abordagens da memória nem a mini-
colocar
questões à
vouindicar em que aspectos as maneiraMemneesóra mizar a pressão
às vezes traumática do passado e seu
envolvimento
sariamente seletiva, padro, assim comO as
em arquivos
escritos
podem, como a proprna
histórreiiasvinbadisecaamdas
obras que
memória.
Com o
presente, ou sua intrusão nele. Defendo a
história de uma abordagem crítica, mas que não desmereça o estudo
relevância para a
histórico,
estatuto suplementadas e meSImo contestadas ser problem da memória, do traumae da formação de identidade, e discuta novos
ticas e utilmente memória. Na realidade, o que ou
por umapelo à
liga
comgu trabalhos importantes, assim como indique apertinencia continuada
os váios casos
neles, da
com os quais
memória
trabalho
lido é a questão do
traumática (ou dos
da memória) que se
papel da
efeitos concetua l
pós-traumáticos)
m ente
memoa
de alguns trabalhos já mais antigos na área,
Emtrabalhos recentes, o trauma ocupa, e muitas vezes com boas
razões, um lugar importante nos estudos da memória.93 Oraunma
memória (ou do
pós-traumáticos esuplementa fontes escritas, às
vezes
a efeito contrapöe destaca de manera marcante a importância do afeto e de seu im
Écaroque os próprios arquivOs esCritOs COstumam ser renost
relatos baseados na
corrigindo- pacto na memória, apontando tanto para a memóia traumática na
forma de efeitos pós-traumáticos (compulsões à repetição, reações
de testemunhos e de vários memória, Oque é
indicação adicional da dubiedade de uma dicotomia
e o renmemorado ou oral. O que gera ansiedade e se
entreO esctito história genuína, incluindo historiadores que haviam se destacado no estudo da
tionamento na história escrita pode ser projetado
aques- abre memória, como Pierre Nora e Henry Rousso. Rousso, em sua obra de 1994
espécie de bode expiatório,"exclusiDevament e Vichy un passé qui ne passe pas (Vichy um passado que não passa; estudo dedicado
na memóna como uma àmemória do regime colaboracionista estabelecido na França sob
qualquer nazista] (em coautoria com Eric Conant), apontou a memóia judaica como
ocupacão
modo, é enganoSO ver a memória apenas ou mesmo distintamente
como o locus de uma tentativa de absorver a história ou como ums excessiva, e Nora, emn entrevista de 2006, chegou a se referir à sua anterior
menção a uma "tirania" acrescentando-lhe uma acusação de "terorismo" de
busca equivocada de patrimônio, um passado mais real ou "presente" uma memória agressiva" e "patológica" no discurso público francès. (Ver
ou identidade não problemática (ou "políticas identitárias"), Certos ROTHBERG, Michael. Multidirectional Memory: Rememnbering the Holocaust in the
Age of Decolonization. Stanford: Stanford University Press, 2009. p. 269.) Sobre
essas e questões correlatas, ver também o lúcido relato de Carolyn ]. Dean, em
Talvez se possa detectar aqui uma inversão do processo de que trata Aversion and Erasure: The Fate of the Victim after the Holocaust (Ithaca, NY: Comell
Jacques
Derrida em uma dimensão de seu Of Grammatology (transl., with a preface, University Press, 2010). A suspeita ou mesmno rejeição dos estudos da memória.
Gayatri Chakravorty Spivak, 1967; Baltimore: Johns HopkinsUniversity Pres, assim como a postulação de uma oposicão decisiva entre história e
memóna,
1974; edição de 40° aniversário em 2016) edição brasileira: Da manteve-se em certas abordagens da história. Ver, por exemplo, HARTOG
Paulo: Perspectiva, 1973|. Como observei no capítulo 1, gramatologua. a0 François. Time and Heritage. Museum, n. 57, p. 7-17, 2005; KLEIN, Kerwin Lee.
pode-se priig
documentos escritos em relacão à oralidadee à memória e ao mesm0 tcuy Onthe Emergence of Memory in Historical Discourse.
Representations, n. 69, p.
colocar como bode expiatório o 'outro" 127-150, 2000; e SPIEGEL, Gabrielle. Memory and History: Liturgical Time
subordinado ao projear
euM, seam quais forem, de ansiedade no self ou na entidade dominant and Historical Time. History and Theory, n. 41, p. 149-162, May 2002 (em que
argumento
a
geral que eu extrairia de Derrida é que a escrita eaoralidade (ou spiegel chega àquestionável conclusão de que a historiografia moderna postula
memória) são sistemas de inscrição de traços instituídos que podemopert uma aguda divisão entre passado e presente e mant¿m opassado no pASsado).
diferentemente em contextos históricos e SOciais variados, mas não devemser Ver um lúcido panorama eeral em LUCKHURST. The Trauma Question. E
interpretadosdeem termos de uma oposição binária decisiva quefuncione como0 Dem a acauteladora inquirição etnográfica dos usos e abusos politicos de se
mecanismo
2 Na
bode
expiatório. ear ao trauma e àvitimização em FASSIN, Didier; RECHTMAN, Richard.
década de
1990, Cxpressaramfortes 1he Empire of Trauna: An Inguiry into the Condition of Victimhood [2007). Transl.
Teservas eaté uma historiadores
franca hostilidade importantes
a estudos da na
memória
Françacomo nocivosaums Kachel Gomme, Princeton: Pinceton University Press, 2009.
133
132
rOAUMA, HISTÓRIA, MEMÓRIA, IDENTIDADE: OQUE RESTA?
Supceerdlaidboo.Á-hNen
recorrentes, nunca totalmente bem-S não repetidamente revivido ou confundido com ele.
mas talvez do VivOS ,
mas
passado relativamente recente o trauma se tornou
modo viável, investigar o traumae os efeitos Apenas em um
diso,
importante
de modo
quenào
investigaçãode
Imais
tiquem
outros
isolados, ao
contrári0,
problemas significativos,possam
aS
pós-raunaticoy
ser
cOmo Teliglaacdooess
à geraisentre história e memória, envolvendo o papel do teste.
umapreOcupação
e
historiogratia, mesmo com respeitO a eventos
na
oestilo de
deveria ser evidente. Ainda assim,
uma abordagem predominante na historiografia, em sua
abuso,traumatpodeicOSm,
Traumas e trauma. Tal narrativa pode ser como um biombo de memória que
formas
de violência e
genocídios e outras perturbadores, talvez traumáticos ou, em termos
como vínculos e imitar o que poSsa oculte fenômenos
envolver duplos adequação. Mas há dimensõesser
que
grau de
algum ser
compodem representadas, e devem, da maneira m
do reprtraeusmaenttiacd,g
mais lúcida e
mais gerais,
turalmente
problemas que pediriam abordagem diferente, mas cul-
variável, não codificável. Notadamente em certas áreas
literária e em formas correlatas de teoria crítica, a reação
vínculo usual, que precisa ser da crítica
possível. Um duplo uma orientação amenizadora pode levar ao extremo oposto de
precisa
por quem quer que lide com o traumático, está bem expresso no negocado interpretar o trauma como uma incompreensível afronta à compre-
psicanalistas
subtítulo de um livro de dois
sentença final do
franceses, que brincam ensao.5 Nessa vertente, otrauma assume as vezes a forma de uma
com uma variação da Tractatus, de experiência totalmente indizível, um vácuo de ilegibilidade, o "real'"
Wit genstein:
Sobre aquilo de que nãose pode falar, não se pode calar. 94 Pois silencios
lacaniano insimbolizável, ou mesmo o sublime objeto de infindável
nodem também talar åsua maneira e ter uma dimensão perfo melancolia e impossível luto.
iva que nãoédesprovida de significado objetivo e força morl A.
próprias rupturas ou lacunas de um relato, como um testemunh
coma rei.
podem atestar expernências disruptivas e se relacionar 5 Ver, de Cathy Caruth, Undlaimed Experience: Trauma, Narative, and History
(Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1996). Uma linha de pensamento
vência de um trauma que faz o passado colapsar dentro do presente, infuente (mas não a única) no trabalho da autora enfatiza a maneira como o
fazendo-0 parecer ou ser sentido como mais "real" e "presente" "trauma, portanto, parece evocar a dificil verdade de uma história que é constituída
do que as circunstâncias contemporäneas. Quanto ao trauma, uma pela própria incompreensibilidade de sua ocorrência". Em contraste com a
simples postulação não ésuficiente para se distinguir passado de memória traunmática enquanto "Aashback ou reencenação traumática", que, para o
sobrevivente, presumivelmnente expressa "tanto a verdade de umn evento como a
presente, e pode funcionar para ocluiro papel do trauma edos verdade de sua incompreensibilidade", a narrativa e a integração àmemóna rAzem uma
efeitos pós-traumáticos. A capacidade de fazer uma distinção ete perda de precisão e, além disso, "outro desaparecimento, mais profundo: a perda,
tiva, não enganosa, depende de perlaborar aexperiência traumatia Justamente, da incompreensibilidade essencial do evento (traumático], a força de
epós-traumática de uma maneira que requer, inter alia, trabalho Sua afronta àcompreenso" (CARUTH, Cathy. Recapturing the Past: Introduction.
de memória que situeotrauma em um passado relacionado cou In: CARUTH, Cathy led.]. Trauma: Explorations in Memory. Baltimore: Johns
Hopkins University Press, 1995. p. 153-154). O evento traumáico, que traz
uma "experiência de choque'" incompreensível, parece supor, pelo menos via
4 Ver DAVOINE, Françoise; GAUDILLIERE, Jean-Max. Historyad ThaunA. Seus eteitos posteriores, unm estatuto valorizado ou mesmo sublnne que bloqueia
MANDEL dcompreensão histórica e talvez até processos de perlaboração.
Transl. Susan Fairfield. New York: Other Press, 2004. Ver também Irauma,
Slaveryin Amenia oODre esse e tennas afins, ver especialmente nmeu Wniting History, Wnting
Naomi. Against the Unspeakable: (lthaca, NY:
Charlottesville: University Complicity, the Holocaust, and
of Virginia
dssimconmo History in Transit: Experience, ldentity, Cntical Theory
Press, 2006.
135
134
TOAJMA, HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE: O QUE RESTA
de fato um aspecto
causas sâo
trauma e suas
O
história, que
como
deveser
não
algo que
disfarçado ou negado.
evOca uma p roe
experiências ar
i
incompreensibilidadenm
Mas
tein
rpen
ret
te &a Em Haunting Legacies: Violent Histories and Transgenerational Trau-
leva em conta trabalhos bem
umlivroimportante que
de situar otrauma em anteriores,
trauma dimensoes dos eventos e das
esenca ma,
Gabriele
Schwab destaca o valor
é
obscurecer
quese
prestam a uma
compreensão mesmo que
incidÃncia do trauma ou mitigar e traumatco%
limitada eque pode e
históriasde violência mais amplos. Ela enfatiza especialmnente oestudo
transmissão inter ou transgeracional do trauma e seus efeitos ou
contextos
efeitos. Essas
a
ajudar aevitardimensões incluem esforços para elaborar e
pós-traumáticosscompulsivos ao possibilitar
contrapOT-pseerlaboraseus
a da
Sintomas nos descendentes, tanto de vítimas quanto de perpetradores.
último respeito, muito importante para Schwabe também em
eteitos
co, abrirfuturos possíveis e diminuir ou eliminar causas
preconceito, eleição de bodes de julgamentotraunacrti. Aesse
nsmais gerais é o trabalho, baseado em entrevistas e testemunhos
de Dan Bar-On, com judeus e alemães, israelenses e palestinos."
históricos,como o
extremas diferenças de riqueza,
status e poder. 97 expiatórios e
Imas;insuficientemente validada, parece ser que traumas que ocasionem mudanças
2004), esp. cap. 3, "Trauma psicossomáticas profundamente disruptivas podem ter
Cornell University Press,
Vicisitudes". Ver também BALL, Karyn. Disciplining theStudies: Its Criticsad consequências genéicas.
Esse argumento controverso concernente àtransmissão genética de efeitos do
137
136
COMPREENDER OUTKOS
TOAUMA. HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE: O QUE RESTA2
presenteemrelação
a crimes ou transgressoes que não perturbar
foram Não seria plausível que filhos de perpetradores fossem as
pera-
borados (ou, em seu conceito preferndo, "introjetados'» , em contraste sombrados por crimes cometidos pela geração de seus pais?
com incorporados, conmo uma espécie de inconsciente Reconhecer os efeitos transgeracionais desse assombramento
para se libertar., mas cujas
não reprimido não desculpa ou absolve de modo algum esses
que não exerce pressão "criptas" descenden
ser expostas e desencriptadas). Um exemplo famoso que Abraham devem tes de perpetradores de assumir responsabilidade por seu
explora éo fantasma do pai de Hamlet. que, legado. Ao contrário, tal perspectiva sistêmica sugere que
Cometeu um crime secreto, nào assumido. que
segundo especula
ele, gs ness0as não têm escolha, exceto ser reativas e
sem trégua para assombrar seu melancólico filho, Uma
Condiciona
seu retomo
responsabilidade pela história que herdaram, não importa
assumir
elementar dessa linha de pensamento éé que um espectro ou fantasma implicaçio de que lado da divisão tenham nascido. E nesse
ocontrovertido termo
sentido que
seja como metáfora, seja como alucinação, éuma forma de Kollektivschuld, isto é, a transmissão
traumática ou de efeito pós-traumático.
memóna transgeracional de culpa e vergonha, pode ser usado de
Schwab éuma acadêmica criada na Alemanha do pós-guea maneiras produtivas (p. 26).
que entrelaça em seu relato a memória de algumas das suas expe Eu preferiria me referir aos sentimentos de culpae vergonha dos
nências como criança que cresceu numa nação que échamada de descendentes relacionados àtransmissão transgeracional de sintomas
perpetradora. Ela ressalta a importância de fenômenos que talvez ou eteitos do trauma - processo que, segundo Schwab, não deveria
nunca cheguem a constar de um arquivo escrito:"Crianças de uma Ser
negado, melancolicamente afirmado ou tornado sublime, e sim
geração parental traumatizada [...] tornam-se ávidos leitores de arduamente perlaborado. Nisso os descendentes de vítimas e de per
silencios e vestígios da memória escondidos em um rosto que esu petradores podem talvez compartilhar algo importante, pois herdam
congelad0 em pesar, com um sorriso forçado que não e Sentuo um fardo pelo qual não são culpados, mas podem se sentir ass1m, e
Como muito adequado, um surto de raiva sem motivaçao apatc pelo qual eles, dentro de certos limites, respondem e podem
assum1r
responsabilidade. Também observaria que, apesar do culto nazIsta da
dureza, que pode servir para impedir atraumatizaço dos perpetrado-
of Empathy. New York: Oxford University Press, 2017, que reúne umacoleçio res, casos de
de
ensaios com material
trauma de perpetradores junto àtransmissåo de efeitos
maneiras interatuantes deinformativo sobre trauma
tentar compreender
transgeracional e explora
o passado Com a major precsi0 traumáicos adescendentes de perpetradores irianm contradizer abem
e empatia possiveis. conhecida asserção de Himmler em seu discurso (ou discursos) de
99 Esses textos
estão em parte reunidos em The Shell and the Kenel,. editado&
Posen de outubro de 1943 de que a matança nazista de judeus não
traduzido, com comentário, por Nicholas Rand(Chicago::UniversityofChicago ena causado nenbuma deformacão lou dano em nóS, em
nossa
Press,1994. v. 1). alma, em nosso caráter" (keinen Schaden in unserem Innern, in unserer
139
138
oAUMA HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE: O QUE RESTA?
julgado. Quase no
final do filme, em uma
viagem a Lviv
guerra,
Wächter foi indiciado, mas fugiu e nunca foi
(Lemberg,
dificuldade de conseguir testenmunhos de
trevistadorrecorra a
truques e mesmo a
perpetradores Lanumnzman ,
mentiras, comosem que oen-
a
sob os nazzistas), onde eles visitam uma sinagoga incendiada e cam-
posde extermínio próximos, Niklas, cada vez mais perturbado pela
indisposição de Horst em aceitar os crimes do pai, conclui que não
guarda de Treblinka, Franz
Suchomel. No
diálogo
com o
2015 de Adam
Benzine,
mann (em termos
que
Claude Lanzmann: espectros
do
lembram perturbadoramente o testemunho
document
Shoah,áioLanz-
de pode mais compartimentalizar sua amizade com Horst ou divorciar
ahomem de suas Visoes e apegos inaceitáveis 101
em Shoah) narra a terrível surra Hásinais de que Niklas Frank fosse assombrado de forma
de Abrahan1 Bomba que darecebeu perturbadora por sua relação com o pai, que praticamente não
ao ser flagrado com uma câmera por outro ex-integrante SS. A
Jchncia de perpetradores em cometat suas açoes, especialme. demonstrava afeto por ele na intância e tinha fortes suspeitas (com
quanto a práticas genocidas, é
uma das razões
pelas quais se fica in- toda probabilidade infundadas) de não seropai biológico de Ni
clinado a levar muito asério e dar
especial klas. Sands reporta as palavras de Niklas: "Eu sou contra a pena
destaque
a certos trechos de morte', disse ele sem emoção, exceto para o meu pai'", Niklas
dos discuSOs de Himmler em Posen, em outubro de 1943,
pois neles
temos um grande protagonista do Holocausto que em certo sentido
carrega na sua "carteira uma pequena foto em branco e preto. Uma
imagem do corpo de seu pai, estendido numa cama de campanha,
testemunha não para gente de fora, quando poderíamos esperar m
houvesse evaso e tergiversação, e sim para o alto escalão, que pode. inerte, tirada poucos minutos após seu enforcamento, com uma
mos supor que esteja sintonizado com o que Himmler está dizendo etiqueta grudada no peito". Desse bizarro memento mor, Niklas diz:
«Todo dia olho para issopara relembrar a mim mnesmo, para
Às vezes, filhos de perpetradores ainda mais importantes podem ter certeza de que ele estámorto". 102
se mostrar mais dispostos a entrevistas. Nesse sentido é pertinente o Como talvez mnuitos outros filhos de perpetradores (mesmo
documentário de Philippe Sands, A Nazi Legacy: What Our Fathers o filho mais exemplar de Martin Bormann), Horst von Wichter
Did (2015), que mostra extensas entrevistas com os filhos de dois tenta dissociar ou dividir o pai em uma persona boa e outra rUim,
mportantes perpetradores, Niklas, filho de Hans Frank (Gauleter para se aferrar àe afirmar a boa, e, sem muita
|chete provincial] do Generalgouvernement [a porção da Polona a má. O bom paiétipicamente o homem de família,
assertividade, rejeitar
ocupada pelos nazistas)), e Horst, filho de Otto von Wächter (Gal privado, que
ofilho ainda pode amar, enquanto o mau pai éo homem
leiter da Galícia). Apesar de amigos desde a infanciae com o fardo ae poliico
envolvido e talvez comprometido com a ideologia nazista e mesmo
passados aparentemente similares, Niklas e Horst têm reações bem com os crimes correlatos. Horst, no entanto, faz uma dissociaçao
divergentes (e, sem dúvida, sobredeterminadas). Niklas Frank craca
duramente erepudia com veemência seu pai ee os CrimeS quecomne-
teu, enquanto Horst von Wächter se mantém como filho devotado e Ver tambémo livro mais abrangente de Sands, baseado em memória, testemunho
defende as ações do pai do jeito como as vÁ. Hans Frank foi julgado Oral e documentos de arguivo, East West Street: On the Origins of Genoiade and
es againstHumanity. Uma das epigrafes desse livro, que muitas vezes lembra
0 estilo um texto de W. G. Sebald. é do artigo de Nicolas Abraham "Notes
Para unma tradução desse trecho do discurso de Himmler, ver AHolocaust Reader, On the Phantom" (1975): Ogue assombra não são os mortos, mas as lacunas
editado etraduzido por Lucy Dawidowicz(West Orange, NJ: Behrman House, deixadas dentro de nós pelos segredos de outros
1976), p. 133. .
ESANDS, East West Street, p. 350.
140 ]41
TRAUMA, HISTORIA, MEMORIA, IDENTIDADE: O QUE RESTA2
142 143
CO TRAUMA, HISTORIA, MEMORIA, IDENTIDADE:O QUE RESTA
]44 145
TPAUMA, HISTORIA, MEHORIA, 1DENTIDADE. O QUE RESTA
intelectuais destacados) ao
extremamente oe trata igualmente de locais de trauma.
Tenho sugerido que se voltar para a experiencia eo testemu
sobreviventes ede outros (como controverso nho enseja necessariamente uma preocupação com amemória, Uma
sobre olevante de internos de livro de 19%6
de Jean-François
Steiner
1943). Ver também olongo e
Treblinka
cáustico comentário, em foma de (2 de agosto de consideração importante é que em certos casos a história oral que
se apoia em memórias, apesar de suas dimensões problemáticas, é
envidada em 1968 a Steiner, por Richard Glazer.,sobrevivente carlevante.
ta-testemunho
do
(Glazer especialmente importante, ja que pode não haver
critos,ou pelo menos haver poucos, se é que algum,documentos
foi testemunha-chave entrevistada no Shoah, de Lanzmann.) Seu es-
comentário sobre
/holocaustcontroversies.blogspot.com//2006/10/richard-
Steiner está em http://
giazar-on-jean-francois.htnl (aceso em: 15 dez. 2015). Opai de Steiner
num subcampo de Auschwitz. Opróprio Steiner serviu por um arno (1959)
francês na Argélia e, ainda
Moreu
como
menos poderosos e pelos
deixados pelos
oprimidos. Esse é bem o caso dos indigenas
norte-americanos e seu tratamento por meio de desastroso assédio
paraquedista no exército em seus 20
anos, eScreveu nas mãos do governo dos Estados Unidos e de seus cidados da
seu relatoficionalizado, de aparencia histórica (o que ele chamou de
encenada"), ao que parece para compensar o que achou vergonhoso em judeus no "naraçào "corrida para o Oeste". Note que a oposição binária entre história e
Holocausto supostamente "indo como cordeiros para o abate". Para ele, tal imagem memória obscurece as maneiras como a história escrita, e não apenas
pode ser contestada por uma versão do levante de Treblinka - que, não obstante a memória, pode ser afetada por ideologia, emoção,
autointeresse
parece apresentar certos herolCOS resistentes comoexcepcionais, em contraste com emanipulação, assim como por fontes arquivisticas problemáticas,
acumplicidade de muitos internos, entre eles os Sonderkommandos. Movido por um logo, sujeitas a questionamentos quanto àsua condição de relato
senso de solidariedade em relação acompanheiros internos e pelo dever de memóra
de chegar àverdade o mais fielmente possível, Glazer ficou ultrajado com olivro preciso do passado. E lugar-comum que a moderna historiografia,
de Steiner erelatou suas muitas distorções,como aglorificação notadamente (mas não sÑ) na Alemanha, com uma figura-chave
autointeressada, não como Leopold von Ranke, surgiu em simbiótica relaçåo com um
informada e estreita do levante. Sentiu incômodo particular com a representaçao
distorcida do Kapo Kurland, que entre os prisioneiros era altamente respeitado etoi
membro senior do comitê revolucionário, Glazer conclui: "Você não
devena ter
escrito essas elaboraçöes crueis e sensacionalistas sobre e DELORIA, Barbara et al, (ed.). spirit & Reason: The Vine Deloria, Jr., Reader.
pessoas reais, cOm seus lo
reas, que ex1stiram de fato hánãomuitotempo e são Pretace by Wilma P. Mankiller. Golden, CO: Fulcrum Publishing, 1999.
mais próximos e queridos teriam o lembradas, de modo ques
direito de faze-lo vir a público testemunhar-se SPRUCE, Duane Blue: THRASHER, Tanya (ed.). The Land Has Memory.
algum deles tivesse vivido ou tido Sobre Glazer, ver
também MOYN. AHolocaust dinheiro suficiente para isso". Washington, DC: Smithsonian Institution, 2008. Sobre indígenas, e
114
Controversy, 137-14O.
p.
Ver, por exemplo, DEER,John (Fire) Lame; ERDOES Richard. Lame. DerSecker Speeialmente sobre sociedades indigenas norte-anericanas, ver CAJETE,
of Visions: The Life of a Sioux GTegory. Native Sience: Natural Laus of Interdependence. Preface by Leroy Little
Medicine Man. New Yok: Simon &Schuster, 1972, Bear, JD. Santa Fe. NM: Clear Light Publishers, 2000.
148 149
ToAlMA. HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE.O QUE PESTA?
carregado de emoção, E
nacionalisno acentuado, maneirainfluente, uma
sonTurncr
postulou, de
Estados Unidos. chegando aapresentá-la
Frm
e derck lack
fronteira aberta
doadministrador do século XIX Frans Carl Valck. Nas palavras de
Stoler, o
arquivo abriga "tipos de
documentação sensibilidades
e
oeste dos norte-americana - uma COmo uma
fronteira que poderia ser base hesitantes [...] Grades de
da demoCracia
aberta ou geradora de
democracia apenas ao e o paisperl16-
IncertoS e
inteligibilidade
apartirde conhecimento incerto; inquietações foram criadas
e ansiedades deram
ccbida comonorte--americanos que habitavam. terrntono
incomum sentido a eventOS e
osindigenas
comparárevteraisbàaqlhueadlao,s
forças afetivasse clareza enganosa de suas rupturas
porforças, entre elas ideológicas,
na memória, com suas supressoes, repressões e inchusöes, que esSa evocação do arquivo escrito como
Quanto à medida em
afetivamente carregado
em jog0
exclusões e distorções seletivas. às vezes problematico constitui uma dimensão significativa de sua
Um livro recente dá uma viso do arquivo como natureza, 1SSO no mínimo mostra tal dimensão de modo a
tornála tão
máica: trata-se do muito elogiado Along the Archival "fonte" proble- confiávele não confiável quanto a memória, e dá pouco estímulo a
Grain:
Anxieties and Colonial Common Sense, de Ann Laura Stoler.17 Epistemic uma oposição decisiva entre ambas.
busque um relato do passado o mais preciso possível, StolerEmbora Em seu aclamado Allure of the Archive no Brasil,O sabor do ar
arquivo da Companhia Holandesa das Índias Orientais da trata
o quivol, Arlette Farge, que trabalha com arquivos judiciais (inclusive
de 1830 à de 1930 não como mero repositori0 de fatos, mas coma década relatórios policiais), defende argumento paralelo ao de Stoler.I1S O
um processo moldado em bo0a parte por invest1mentos afetivos d, sugestivotítulo frances éLe Goút de l'archive, com "goúr" (usualmente
administração de nível médio, encarregada de lidar coma populacão traduzido por"gosto") tendo uma gama de conotações mais sen
miscigenada das Indias Orientas Holandesas, notadamente no caso sualmente estética do que "all1ure" apelo], dada em especial por sua
proximidade com "dégoût" ("nojo"), não tanto seu oposto, comno
seu perigoso suplemento que às vezes ameaça emergir quando Farge
h6 Com oressurgimento político de asserções evoca as esquisitices eexasperações de sua experiência com arquivos.
desvinculadas dos fatos e mesmo da Embora declare sua paixão por eles e sua busca de traduzi-los em
técnica da grande mentira (conte uma grande mentira prejudicial e defenda sua
opinião), tais visões esta£o longe de ser coisa do passado. Um narrativas convincentes, não distorcedoras, autoquestionadoras, Farge
membro cristo do Tea Party, William Strong, da autoproclamado
Pensilvånia, apoiador de ve o arquivocomo um "quebra-cabeça de eventos obscuros, cheio de
Donald Irump, declarou a um repórter, após uma visita ao Novo lacunas", marcado por rupturas e dispersåo... titubeios e silêncios.
Eles se autodenominam nativoS MeXICO:
norte-americanos, mas qualquer um com juzo
perteito sabe que a América era desabitada e que alguns Um caleidoscópio a girar diante dos olhos" (p. 94). Como Stoler,
Cae agora querem a terra, chamam a si de indigenas vierani pae Farge faz frequentes referências a Michel Foucault, mas pode-se
nativos, no sentido de pr1metos i
tempo jel primeiros em direito e que, portanto, estão tambem apontar para a obra de Derrida Mal de arquivo: una inmpressa0
Reportado por CHACÓN, Daniel I. Santa Fe New autorizados a 0cupa
P.A-4. Mexican, June l0, 2
117
s FARGE,
STOLER, Ann Laura. . Along the Archival Grain: Epistemic Anxieties and Colonidl Arlette. Allure offthe Archive [1989]. Preface by Natalie Zemon Davis.
Transl. Thomas SScott-Railton. New Haven: Yale University Press, 2013.
Common Sense. Princeton: Princeton
University Press, 2000. |Eaçao brasileira: O sabor do arquivo. São Paulo: Edusp, 2009.|
150 151
COMPREEHDIA OUTROS rAAUMA, HISrORIA, MIMORIA, IDENTIDADE oQUP RISIA!
relaciona oarquivístico a una Co umsentido expandido, o arquivo pode ser visto como
feudiana, emquecle
problemas, quc inclui memória, Mtrimcada, at ondo textos publicacdos e artetatos disponíveis, Esse o caso
vertiginosasérie de
virtualidade, assombramento
e o político, 19 Depois da
Hamlet. temos ainda uma referência
mesaliaunsäoidalea0, especialmente quando
dimensões menos
são lidos ou interpretados atentando-se às
manifestas ou secretas, até ocultas ou crípticas,
fantas1nado pai de
aparentenmente
nietzschiana, à "chegada academicoenidognaica,
de um
quepoden
estar coleCtadas às dimensões correlatas de
sociedade e
que, no fuuturo e, portanto, apto a conccb-lo futuo,
umacademico
com o
fantasna" (p. 39).Sem ousar
ria conversar
meu relato a uma interpretação
COnverSar
com 0
fantasna c restringindo
persistentes como cfeitos pós-traumáticOs, cu delinitada ensaiossignificativos do livro, ode Ann Curthoys, "The History of Killing and
de apariçöes
Tla que outra
tradução do título francês Mal d' obserovgaa-
archive, anal
por the Killing of History", levanta aquestio da confiabilidade dos arquivos ede
seIS USO% Cabusos políticos, ao exAminar o debate sobre as alegações de Keith
COm "mal de mer" ("enjoo de
mar"), seria "enjoo de
qual afebre scria apenas umsntoma
possível, co outro,
talvez mais
arquivo",
do Windschuttle (notadamente emseu Fabriation of Aboriyinal History, de 2002)
Aue certos historiadores fabricavan evidências para cxagerar a existencia e
premente, seria a vertigen, mCsiO OW quem sabe especialmenteno aprevalência de violncia contra aborigenes na Tas1nania. Odebate também
historiador com paixo por arquivos. Avertigem pode ser induzida levantou as questòes do conflito cntre as compreensòes do ireito pelo Ocidente
epelos indigenas, a rejeição da tradiçào oralindigena junto àvalidaço exclusiva
em arquivos quando se está assoberbado pelo excesso de infornaç£o de documentaçio Cserita, o apelo ao positivismo cxtremo como pretexto para
ou perturbado por sua escassez, jå que ambos podem, de nanei onegacionisnno (como o caso de Robert Faurison, na França) e o papel da
atordoante, tornar problemáticas Ou contestáveis as asserções e nar. perniciosa ficção legal no sistenajurídico australiarno (com frequência referida
rativas fundamentadas no que está presente (Ou ás vezes ausente. como adoutrina da tena ullius), que ncgou legitimidade juridica a aborigenes
sob oargumento de que a Austrália pré-conquisa era desprovida de poder
interpolado ou presumido) cm relação a um arquivo. O estatuto do soberano c, portanto, cra ua terra de ninguén na qual os aborigenes, que ali
arquivo , claro, adicionalmente complicado pelo jogo de forças que cstavam há 50 mil anos, £o erani pessoas conlegitiidade processual para
acompanha acriaço e composição ao longo do tempo daquilo que requerer dircitos sobre aterra, umadoutrina rescindida apenas no caso Mabo, em
é(ou não é) colocado e preservado nele, " 1992. Em sua contribuição, "The Colonial Archive on Tral", Adele Perry faz
unrelato sinilar concernente à deslegitinnaçio pró-colonialista da história oral
indigena,do dircito terra cda comprecnNio do direito no caso DelQamuk1V V.
"DERRIDA, Jacques, Arhive Pewr: A I'eudian presion |1995), Trasl. Ernic BritishColunbia, de 1991, anulado pela Suprema Corte do Canadá, em 1997,
l'anowitz, Chicago: Uiversity ofChicago Pres, 199%. |Edição brasileira: Ma com aconcluso le que adecisio aiterior "£o havia dado suticiente atençao
dr anquive: uma impressdo fendiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.| a0 arquiv0 oral" (p. 344). Oaspecto geral tratado as várias contribuiçòcs é que
Ver. por cxcplo, o rclato cnn LINENIHAL, Edward I, Peseving Memory' 0 arquivo colonial Omtiequència tem sicdo ldo IO passado, notadannente enm
Tie Strugyle to Create Amerna's Holocaust Musewn, New York: Casos jurídicos, como um bastiio do colonialisuno, c a leitura tem se apodo
Colimba
Univerity Pres, 2001, Ver tanbén1 BURTON, Antoinette (cd.). A«dim picamente avalidação do cverito e em depreciar ou rejeitar o orl, assincono
Stories: Fas, Iions, und the henór, uma orentacåo hostil oue nfelizuente comum na historiogtata
Pres, 2005, Expand1ndo a noçioWVriting of Iistory. IDurb: Duke University
de arqurvo para incluir várias fontes não (Ouvencional. Em Dust: Ue Awhiv and Cultural History (New Brunswick:
cOnveno)as, otadanente elatos oaiN. Burtou, )a sa introduçao, n kgers University Press, 200),Carolyn Steeuan coloca oque cla aprevena
que, "ao destacar u)a
VIA "omeçar a varicdade de históras sobre arquivos",sua coletinca
co ono na criica de Derrida cu wlla aterializaçlo do arquivo comO toOute
de pociu
dspesar a aura que agoTa a Doçãodos intecosa
que literalmente causa tebre no lhistoriador dedicado que
arquivos'rcas, especalmente
(p. 6). aqueles co) 0% qus os histotadores lhdaco"
tém unt gonit de lndure. Elu tanbénn trata das condiçoes bastante tepukivas
a peoes
Tanbem tenta dos historiadores
contapo01e-se ao "clativo yleuco colocas sobre de suas viayes de pesquusa ha luglaterra, com cstadascm hoten tos quais a
pesos, cstruturs politics que o rqIvo hinórias quc de cama podeareivillicar esttuto de arquivo e tazer a pee
Dàoewevem" (p. 90), Etre os
vários TeparMesuo La auNèci de tntasmas.
153
TOAUMA, HISTÖRIA, MEMORIA, IDENTIDADE: O OUE PESTA
154 155
COMPREENDER OUTROS
TRAUMA, HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE:O QUE DESTA 2
un)a
nundial, e não simples questão de documentopapal posterior, de 2001, impôs restrições adicionais, entre
sido
sistémico e
os aleatórios ou de algumas poucas "maçâs podres"
pesquisadorrestritoaos
documentos escritos individu-
no clero. Um
disponíveiOsquenãopareceteria
obrigação do bispo ou de outro superior de enviar resultados de
elasainvestigação preliminar ao
Vaticano, onde as autoridades iriam
ido muito longe na investigação desse problema. uma
decidirse ocaso seria processado no Vaticano ou devolvido àdiocese
do clero ofensor não apemas pela local paraacusação. Doyle, Sipe e Wall notam ainda:"Como os arqui-
a proteçåo
cvidente éImas
porjuízes, tan1bém pela hierarquia da igreja até seus niveis masou
altos,incluindo o episcopado e o Vaticano. Julgando a part1r de sua
pocia vOs doSanto Oficio, agora conhecidos como CDF(Congregação para
a Doutrina da Fé], estão vedados ao escrutínio externo, é
ou suprimir a questa0, assim como de muitas de número de casos enviados aele impossível
postura de evitarcautelosas. a preocupação da hierarqula
suas declarações parece ter determinar o entre 1962 e o presente
(p. 51). Com base em entrevistas entre 1960 e 1985 com 1.500 padres
reputação da igreja do que com o
o status e a Ou comseus parceiros sexuais, Sipe estimou que 6 por cento dos pa-
sido mais com
das vítimas ou em chegar à verdade. Um fator-chave que dificuta destino dres estavam sexualmente envolvidos com menores, 20-25 por cento,
secreto . a
Joterminar aextensão exata o problma e o status com mulheres adultas, e 15 por cento, com homens adultos (p. 58)
centralizados no Vaticano, nos quais as
dos arquivos
sobre abuso
presumivelmentetêm sido guardadas há
correspondente no Vaticano do Fattomuito tempo.
informaçoes dadosamplamente confirmados por estudos posteriores (p. 68, 212).
Oanto ao dano feito as vitimas, Slpe e seus Coautores registram a
Marco Polito, o
em uma declaração no
filme de Alex Gibney, Mea Quotidiano,
maxima
incidência de trauma e sintomas pOS-traumáticos e se referem a uma
Shadou Catcher: The Epic Life and lmmortal membros). Curtis tornou-se um firme, até indignado defensor doe
Nights ofthe oferece um bom exemplo daimportância
Ed1ard Curtis,
e da história
oral enm checar, contestare talvez mudar
da Pumahotogrmeapmhsora of direitos dos povos indigenas, incluindo seu
praticarsuas religiões e outros costumes, em
direito de continuar a
uma epoca em que essas
dominante. 2 (Aqui, apesar
das dimensões traumatizantes,do narrat1va práticas eram n-o apenas
desaprovadas por muitos, mas também na
colonizadores eindígenas norte-americanos. contito realidade tornadas ilegais, com processos por infrações
cntre
nào parecem ter sido
confrontadas com a dificuldade
experiência traumáticaimediata ou pós-traumática
:
teparastemserem
deunhapersl-acborhayare
a ser
ou
aplicadosaté a estudantes de
representassem Suas
que podiam
culturas nativas que
participassem
cerimônias e seu modo de vida.29
de lembrar e dar
testemunho.) Afamosa última resistência capazes
de sempre ameaçado de ser processado e às vezes encarcerado, entre-
Curtis.
em Little Bighorn, em junho de 1876, logo se tornou ocasião Custer vistou (com a
assistência de seu
amigo próximo e associado, O
uma história
nacional de trágico heroísmo
e proeza para Alexander Upshaw) três nativos crows (ou apsarokas)
nativo
militar, alcan. crow
batedores
çando um status quase mítico, que recentemente passou por uma (Goes. Ahead[Vai à Frente], Hairy Moccasins [Mocassins Peludos] e
significativa desmistificação. Edward S. Curtis, o hite Man Runs Him |O Homem Branco o Comanda]
Sombras"[Shadow Catcher do título do livro de Egan, é,
de "Apanhador
ou
- um nome
que parece irônico). Os três haviam servido com Custer contra os
devenia
ser, bem conhecido por seus 20 volumes com mais de 2.200 sioux, os cheyennes e os arapahos, e observaram o comportamento
de numerOSOs povos indigenas, assim Como por seu
fotos de Custer em Little Bighorn. Suas
etnográfico eseu papcl na preservação de líínnguas nativas. Sua
visão
conhecimento memorias convergiram em uma
contranarrativa de Custer como um covarde, se não um traidor, gue
foi nâo apenas justificadamente aguçada pela crescente sensibilidade permitiu que seu oficial, major Marcus Ren0, objeto de extrema
àinjustiça a que estavam sujeitos os indigenas norte-americanes antipatia mútua, entrasse em luta contra os indigenas reunidos em
mas também moldada às vezes pela então disseminada ideia de aue Little Bighorn, sem o auxílio ou apoio de Custer. Custer
os indigenas eram uma raça em extirnção (tema de uma de suas mais
esperou
nas margens da batalha, atéas forças militares
famosas fotos de navajos, que, éclaro, não desapareceram e são norte-americanas sob
Reno sofrerem perdas significativase se retirarem. Então
Custer, na
o maior povo indígenas norte-americanos, com cerca de 300 mil expectativa de uma vitória gloriosa, entrou na batalha e liderou seus
soldados para a sua destruição. Esse comportamento pareceu estra
nho aos indígenas crows que o observaram, um dos
12* EGAN, Timothy. Short Niglhts of the Shadow Catcher. New York: Houghton quais (White
Mifflin Harcourt, 2012; ver esp. p. 164-175. Quase todo aspecto da carreira Man Runs Him) "disse que implorou a Custer para que
interce
de Custer, e nada mais que a batalha de Little Bighorn (ocorrida em
1876, desse, repreendendo-o por deixar os soldados morrerem", mas _em
quando o Exército dos Estados Unidos foi derrotado por forças indigenas
lideradas pelos míticos Sitting Bull (Touro Sentado) e Crazy Horse (Cavalo
Louco); as montanhas de Black Hills. regiâo onde se desenrolou a batalha, Curtis não é
tida com0 sagrada pelas populacões nativas, incontroverso. Apesar de tentar aumentar oreconhecimento
as condições adversas e dos maus tratos aos
tornaram-se ainda mais cenuan a indigenas, e de se contraPor d
nacionalismo estadunidense quando se decidiu esculpir em uma delas, o Mou cstereotipos negativos a respeito deles, suas fotografias tèm sido vistas como
Rushmore, orosto de quatro presidentes dos país], Continua aser vivamente onantizando os indígenas e. apesar de seus próprios sacrificios tinanceiros ao
Contestado, e ao tratar de Custer fica-se em terreno instável. Para uma boa Capreender seu vasto projeto, Dassaram a ter un preço cada vez mais dto,
ideia dos problemas na historiografia sobre Custer, ver a resenha de Thomas como premios icônicos buscados por colecionadores. Uma recente exposiça0
Powers, "Custer's Trials: ALife on the Frontier of a New America, byT.J de alguns de
seus trabalhos e o de artistas indigenas no Museu de Arte de
Stiles"
(New York Review of Books, IDec. 17, 2015, p. 78-80). Powers rresssalta
oinvestimento afetivo fortenmente positivo de muitos historiadores (inchuindo
Porland
oLegado tem
por título "Fotógrafos Nativos Americanos Contemporâneos e
de Edward Curtis" (ver http:/ /portlandartmuseum.org/exhibitions/
Stiles) em Custer e em sua
representaçao. contemporary- -native--photographers/. Acesso em: 12 maio 2016).
158 159
TOAUMA, HISTORIA, MEMORIA, IDENTIDADE. O QUE PESTA2
University of California Press, 2004. CO livro de Varon é um óimo exemplo de Com a existência do Estado de Israel e seu poder militar (seus
historia comparada crítica, ao tratar conjuntamente, mesmo atento às diterenças aliados, notadamente os Estados Unidos, n-o foram mencionados),
entre ambos, do Baader-Meinhof alemão e do Weather Underground dos havia, para Netanyahu, uma diferença decisiva entre antes e agora:
Estados Unidos. "Diferentemente de nossa situacao durante o Holocausto, quando
13
SEGEV, Ton. The Seventh Million: The Israelis and the Holocaust. New York: eramosindefesos como folhas ao vento, agora temos grande poder
Hill&wang, 1993.
132 Ver ESLER, Gavin. How Nazi Adolf Eichmann's Holocaust Trial Uniied
Israel. BBC World News, Apr. 6, 2011. 1Disponível em: htp:///www.bbc.com/ Ver FULL Transcript of Netanyahu Speech tor Holocaust Remembrance Day.
news/world-12912527. Acesso em: 1° jun. 2016. Sponivel em: htp://www.timesofisrael.con/full-transcript-of-netanyahu
Peech-tor-holocaust-remembrance-day/. Acesso em: +dez. 2015.
162
163
hALMA HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE: O QUE DESTA
COMPREENDER OUTROS
qualquer missão'"
-oternmo hebraico seria " Shoah"). No decorrer dela, quase 750 mil
detender. e cle cstá pronto para Na ex árabespalestinosfugiram ou foram expulsos de suas casas, o
tensão
para cm que CSsas declaraçòcs possam ser tomadas ao pé da letra
nos
que crioue
reconhecendo aforça da imenso problema de refugiados para eles, seus descendentes
como memória
ao
oufazer vistas
talvezuso ideológico e político dela, Netanyahu pareceria estar
quadro de referência de seus
traumatica paraIsracleo Oriente Médio em geral. Olançamento previsto de
um
166 167
COMPREENDER OUTROS
TRAUMA, HISTÓRIA, MEMÓRIA,
IDENTIDADE: OQUE RESTA?
168 l69
TRAUMA, HISTÓRIA, MEMÓRIA.
COMPREENDER OUTROS IDENTIDADE: OQUE RESTA?
questioé muito pertinente a uma numarelação cooperativa, mas outras vezes sob o
Essa autointeressado controle dos humanos l44 hegemônico e
sobre animais.
da história,
da memória
e do trauma, e demanda
permitamlevantar apenas certas atquestenção, disembora
cus åo apontei para a óbvia
Já especificidades e questão de se a multiplicidade de dife-
restriçòes óbvias
mais ou
menos
contrOVersas öes, tomular similaridades tanto entre
em uma humanos quanto
e tentar renças,
algumas afirmações
discussões adicionais.
Eric Baratay ao apresentar seu
instigar entreestes
e os animais pode ser
totalizada
quejustifiquea postulação de um hiato ou rupturaoposição
decisivabinária
entre
Como escreve
Le Point de vue
animal: une autre version
de l'histoire: A ambihicisotósoria,estcons-udo "humano e o animal - uma ruptura ela mesma às
trauma fundacional vezes vista
truída por sociedades humanas, é sempre contada Como Uma aven-os como uim afastandoo humano animalidade
e doinstinto para levá-lo ao reino "mais elevado"dada cultura. 145
tura que diz respeitoapenas aos humanos (l'homme). No entanto,
ou ainda participam Talvez, em
termoS mais básicos, seja possível questionar aprópria
animais têm participadofenômenos
grandes eventos ou
dos
Baratay destacando que mesmo
abundantementPode-e se
lentos da civilização" 43 dos motivação que induz repetidas vezes na história o desejo de
Critérios decisivos (mas recorrentemente situar
mutáveis, contestáveis
reforçar a asserção de os
ao universal e ao global são geralmente restritasrefer(Como
a
humanos. ências erecalibrados) que presumivelmente separam ou criam um hiato
entre humanos e outros animais. Num sentido
Abservado anteriormente, o genocidio, mesmo quando estend importante, um
grupos nacionais ou étnicos, continua oeimento transtormador serna que o próprio sintoma a ser
a outros que náo confinado
a humanos, excluindo espécies animais, e a noção nerlaborado - em termos psiquicos, éticos e políticos - fosse esse
Crimes Contra ahumanidade não
e de crimes
contra humanida.
a
relacionada de desejo repetitivo, aparentemente compulsivo, decorrente da fxacão
de ou outros animais.) Envolver-se no problema levantado nr antropocèntrica, e o impulso de ter conhecimento seguro, essencial.
Baratay exigiria estender a pesquisa além dos humanos e realcar arespeito do que significa exatamente ser humano. (Pode estar
aimportância de descentrar e situar os humanos em uma rede da em jogo também uma busca mais ou menos deslocada de reden.
relacões mais ampla. Envolveria um cuidadoso estudo comparati c£o" da animalidade e incorporação.) Esse reconhecimento pode
vo de memória, trauma, afeto e 1dentidade com respeito a outros servir para fomentar uma orientaço outra que não a antropocên
animais, e uma comparação não injusta entre humanos e outros trica, que é voltada para demonstrar uma suposta autoidentidade
animais com ênfase em suas interações e coevolução. E destacaria a esuperioridade humanas, quando não o excepcionalismo, e com
múua dependência num contexto ecológico mais amplo, às vezes excessiva facilidade serve para justificar usose abusos humanos de
outros animais.
BARATAY, Eric. Le Point de vue animal: une autre version de l'histoire. Paris: *Nesse relato, pela atencão dada ao trauma e a seus efeitos, concento-me na
Editions du Seuil, 2012. p. 11. Tradução minha. No entanto, a obra de ultima eventualidade, mas sem negar em nenhum sentido relações mais pos1tvas
Baratay, junto àde outros, indica que estão ocorrendo mudanças. Ver também e benéficas entre humanos e outros animais que ambos possam relembrar muito
BARATAY, Eric; HARDOUIN-FUGIER, Elizabeth. Zo: AHistory of bem. Tais relações são cruciais para impedir ou se contrapor aos eteitos do
Zoological Gardens in the West. Transl. Oliver Welsh. London: Reaktion Books,
2004. Um exemplo importante do maior interesse dos historiadores nessas
rauma, como evidenciado no papel de certos animais em terapias para humanos,
sim cono no posível sucesso de cuidar de animnais traumatizados.
questoes éaedição especial de History and Theory, v. 52 (Dec. 2013), editada e
com introdução de Gary David Shaw. Em seu lúcido ensaio introdutório, Shaw EsSa chamada passagem da natureza à cultura foi abordada por muitos, como
elucida o aumento do interesse histórico por animaise suas relações com Dgmund Freud e Claude Lévi-Strauss, Pode-se defender que esteja em jogo
humanos, assim como os problemas teóricos,outros
conceituais e metodológicosque a Queda e no pecado original, em que a serpente é colocada como tator de
Peso", e os humanos se senarann do restante da natureza.
acompanham esse giro.
171
170
COMPREENDER OUTROS TRAUMA, HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE o QUE
RESTA?
observado no
capítulo 2, Frans de
Waal, seu liAni.yro Aimal,148Singer argumenta
que o capitalismo
de espirituosotítulo Ar We Smart Enouçh to Know HowemSmart
Conno Livesof
"especismo", quetem
existidoem
muitas não o causou
inteligência e e culturas regimes políticos,
e, euacrescentaria. cuja própria história ao longo do tempo e do es-
enfatiza os diversos tipos de
mals Are?,
diterentesanimais,
como notáveis feitos cognitivos eda m em
ele defende diferenças de grau, nåo de
habimemór
lidadeia
l46 paço
oferece vaasto campo
otimista que a de
para
pesquisa
Pacelle quanto comparativa.
às
Mas, de maneira
Como Darwin, animais, e
observa que "as alegações detipo, entre
singulari
menos
básicasob
possibilidades de mudanca
o capitalismo, Singer indica como a
humanOS e outros
percorrem um ciclode quatro estágios: bás1ca motivação de lucro
nentadopode impor barreiras a uma economia humana
tipicamente são
claudirdesonr
epetidas
dade achados,
são desafiadas por novos vão oumorale agravar a exploraço de outrOS animais (e,
muitas vezes,
para a
aposentadoria eentão
sâo descartadas num túmulo
que se interprete a complexa
canteos- ser óbvio,
também de outros humanos). Sem
ve-as
cstruturaiscom respeito à relação entre humanos e
como deve
como mudanças
similaridades e diferenças com oapoio qualquer configuraçãocritériode
so"(p. 126). Mesmo de outros animais,
ctaca com aprovaça0 Ceras reTomas, como a proibicão. na
suposto
questão de se, e de que CalifQrnia e na União Europeia, de
de diferenciação, permanece a maneira, 1S50 engradados
para vitelas e porcas
validaria oS usos e abusos humanos de outros animais - uma grávidase de gaiolas em bateria para galinhas poedeiras, recintos ex-
que teria de ser tratada
nâo em bases questão
estritamente cientificas. Bente confinadores que impedem movimentos básicos como
eticas epolíticas. Uma consideração inicial é que, dado que os ani- mas
deitar ou girar." Mas Singer observa também oquanto
ficar em pé,
humanos, uma notadamente nos Estados
mais estão sob supervisão e controle condição ética éainda permitido, Unidos, com seus go-
é de que modo
mo se
mínima em seu tratamento permite que vivanm, os federais e estatais amigaveis aS negócios, mesmo diante do
assim como morram, notadamente quando såo mortos para co. significativo ativismo público de defesa dos "direitos animais" que
mo humano. (Essa tem sido, e claro, uma importante preocupacão com freguência fracassa em fazer parte da ação govermamental e da
na obra de Temple Grandin, que tratou de maneiras de impedir ou pauta dos grandes partidos politicos. Ele observa que "a esmagadora
pelo menos mitigar a traumatização de an1mais em abatedouros ) maioria de vitelas, porcos e galinhas poedeiras vai [..] ainda ser man
Essa condição está longe de ser aceitavelmente atendida em muitas tida enclausurada, em grandes galpões superlotados, eas refomas não
empresas do agronegócio e emn fazendas industriais, 147 fazem nada para mudar o modo como são transportados e abatidos.
Uma avaliação matizada das possitbilidades e dos limites de re Enenhuma dessas reformas tampouco toca na produção industrial
forma sob ocapitalismo éoferecida por Peter Singer em "Open the de frangospara alimento, o que John Webster, profesor de criação
Cages!", uma resenha do livro de Wayne Pacelle The Humane Eco animal na Escola de Ciência Veterinária da Universidade de Bristol,
nomy: How Inovators and Enlightened Consumers Are Transfoming the ]descreve como em magnitude e severidade, o exemplo mais
grave e sistemático da desumanidade do homem em relação a outro
1* DE WAAL. Are We Smart Enough to Know How Snart Animals Are?. De Waal
oferece uma visão geral da pesquisa recente e uma vasta bibliogratia. Seu
trabalho mostra também a possível extenso de vínculos, respeito e ateto entre PACELLE, Wayne. The Humane Economy: How Innovators and Enlightened
os humanos e os animais com os quais Consumers Are Transforning the Lives of Animals. New York: HarperCollins,
interagem.
Não épreciso apelar a distinções descabidas entre câes e outros animais 0u 2016. Aresenha de Singer está na New York Review of Books, de 12 de maio de
posiçöes enganosas entre oOcidente eacultura chinesa para achar inacentave U10, P. 22-26. Pacelle tornou-se, em 1° de junho de 2004, presidente e CEO
o"festival da carne de cachorro', em Yulin, que envolve práticas como mutilar, da Humane Society dos Estados Unidos.
torturar e ferver cães vivos, ao que parece pela equivocada crença de que o 149 Ess
Essa restrição de aspecto-chave da câmara de tortura "little
trauma eo estresse realcem o sabor da carne.
movimentos era um
ce lpouca folga), por exemplo, na Torre de Londres.
172 173
TRAUMA, HISTORIA, MEMORIA, IDENTIDADE: OQUE
COMPREENDER OUTROS RESTA?
vigentes, não
sencicnteUSinger
acrescenta: "Os
problennas da se práticas
estruturas
especial1mente Os pobres. Oponto
podem ser opção viável para todos,
animal
de trango nào se
devemapenas ao
rastosgalpôcs superlotados, com
fato de as aves
u1
serem
ar fedendo à produço
amôniaCriaddeas em outros
animais
e
não
mais geral e que o
ésimples questão de livre tratarmento de
escolha ou de gosto.
acumulados. Oproblema
mais fundamental é Seus questão ética política, cuja natureza problemática
dejetos que oS É conta de uma complexa rede de requer que se
rapidamentetrangos
vezes
de hojesâo
ciados para crescer tres
1950. Agora eles estão
mais
prontos para o que os
tentedar
e de ser.
queligamhumanos e outros animais com diferentes modos similaridades diferenças
Criados na década de certas áreas,
as
decisões parecem ser mais
quando tem apenas
seis semanas, e suas penas imaturas no Mercado Em
outras. Tenho prontamente visíveis
sugerido uma consideração
que
frangos aguen-
26). Como há 8 bilhões de
(p. queem básica e que
tam o peso ganho" nos Estados Unidos, 2,6 animais são
tratados ou
anualmente para abate bilhões de
aves criados o modo Como outros
quando1isso estásob controle obrigados a viver antes
crônica pelo último terço de sua curta vida.
Em Vivem de morrer, humano, écondição propi-
em dor
deploráveis condições desses animais, o discurs0 do às relaçào
trauma pode
ciatóriacrucial paradecisões
a
adicionais que tenham isso
como pres-
parecer eufemístico. 151 Suposto. Muitos, talvez maioria, dos aspectos da criação industrial e
emerja do questionamento de importantes componentes da experimentação
animal para osuposto
Oque penso que uma divisão beneficiode humanos são injustificáveis e
radical entre humanos e outros
animais não éuma
onentação ser
mercantilização, à concepço de outros seres como "bensditados
tendema
pela
dogmática, etalvez
autoenaltecedora. por exemplo, de simples,o de huma-
vegetarianismo ou se opor a qualquer forma de defender s"easua redução a objetos de controle manipulativo subscrito pela
nos*
175
174
COMPREENDER OUTROS
TRAUMA, HISTÓRIA, MEMORIA, IDENTIDADE: OQUE RESTA?
176 177
COMPREENDER OUTROS
178