Protocolo de Psilotropia Guiada
Autor: Kaiki Cristo
Data (término do documento): 30/03/2021
Localidade: Londrina, Paraná - Brasil
Contato:
[email protected] INTRODUÇÃO
Este protocolo destina-se àqueles que estiverem em busca de colaborar
para com o crescimento espiritual e cura interior do seu próximo, atuando como
guia psilotrópico. Um guia age para com seu guiado, como um mentor
espiritual, impulsionando-o em sua jornada de desenvolvimento pessoal através
das experiências espirituais - psicodélicas ou enteógenas - obtidas com
cogumelos psilocibinos, junto a um grupo de [cinco] elementos importantes
para alcançar o caminhar desta jornada, que serão detalhadamente abordados
aqui neste protocolo.
Porém, a prática de trabalhar com psicodélicos para fins espirituais e
curativos, não é nova e é utilizada há milhares de anos por civilizações
complexas que construíram suas culturas ao redor de diversos componentes de
conexão com a natureza. Todas essas culturas remontam princípios importantes
a serem considerados sobre estes elementos psicodélicos, que foram repassados
entre gerações até chegar no atual momento, onde estamos desenvolvendo
práticas mais adequadas ao contexto social contemporâneo-ocidental.
Essas novas práticas, ainda precisam considerar esses princípios
milenares, de respeito à medicina, ritualização das experiências, utilização de
cantorias especiais, dentre outros, porém também precisam encarar o desafio de
desenvolver uma abordagem mais acessível à sociedade comum em que
estamos contextualizados. Tendo isto, há algumas décadas, guias clandestinos -
principalmente nos EUA (com LSD, cogumelos psilocibinos e cacto peiote com
mescalina) e no México (mais atualmente com o 5-MeO-DMT, extraído do
veneno e da pele do sapo bufos alvarius ) - desenvolveram colaborativamente
práticas de cura através dos psicodélicos, a partir de estudos de cientistas da
década de 1950, onde alguns - visionários - espalharam conhecimento sobre
esses ‘remédios naturais’ para todo o mundo ocidental.
Os guias psicodélicos clandestinos desenvolveram e espalharam técnicas
e procedimentos importantes entre eles, e muitas pessoas têm se beneficiado do
uso dessas técnicas em sessões psicodélicas. O Protocolo de Psilotropia Guiada
tem como referência - dentre outras - manuais e escritos feitos por esses guias e
cientistas visionários, que trouxeram informações valiosas baseadas em
pesquisas científicas muito bem elaboradas. Este protocolo visa reunir todas as
principais informações compartilhadas por essas pessoas, com foco nos
cogumelos que contém psilocibina. Visando informar os candidatos a Guia
Psilotrópico, para se tornarem mentores espirituais - e não terapeutas, pois a
Psilotropia Guiada não se trata de terapia - enriquecedores para toda a sociedade
em que estiver inserido.
Ter habilidades em diferentes áreas de tratamentos poderá ser útil para o
trabalho de um guia psilotrópico, porém é extremamente importante que este
seja acima de tudo entusiasta da evolução humana - e da vida como um todo -, e
sinta o desejo profundo de tornar as pessoas comuns mais conscientes de si
mesmas e do universo ao seu redor.
É necessário que o candidato a guia concorde que “[...] negar a qualquer
pessoa o acesso a qualquer faceta da realidade em nome da religião, ciência,
medicina ou lei não serve ao indivíduo nem à sociedade.” - Dr. James Fadiman -
pois “sempre que as oportunidades de auto-realização são suprimidas ou correm
o risco de estarem perdidas, há um imperativo moral para protegê-los e
restaurá-los.” Portanto, de acordo com o que disse o doutor Fadiman, um
cientista importante expoente da área de pesquisa sobre psicodélicos, este
protocolo é uma tentativa de proteger e restaurar valiosas oportunidades para
que pessoas auto-realizem o acesso a diferentes facetas da realidade, através de
um processo espiritual puro e direto em relação a essas facetas.
“O que normalmente chamamos de ‘realidade’ é apenas aquela fatia do
fato total que nosso equipamento biológico, nossa herança linguística e nossas
convenções sociais de pensamento e o sentimento nos possibilitam apreender.
[...] O LSD [e outros psicodélicos] nos permite cortar outro tipo de fatia.”
(ALDOUS HUXLEY, MOKSHA LSD)
Este protocolo procura oferecer diretrizes seguras e amplamente testadas
- no campo científico e popular - onde aqueles que as seguirem em suas sessões
psicodélicas guiadas estarão auxiliando profundamente pessoas no seu processo
de desenvolvimento espiritual e cura interior, mesmo que essas pessoas já
utilizaram psicodélicos por prazer, estudos de percepção ou para
autoconhecimento, assim como para aqueles que nunca provaram algum
composto psicodélico.
É necessário entender que mesmo tendo diretrizes ou não, muitas pessoas
vão utilizar substâncias psicodélicas por conta própria - e estão as utilizando há
anos -, portanto este protocolo busca trabalhar com “informações factuais que
podem reduzir o uso indevido e aumentar os benefícios conhecidos [...]” dessas
substâncias psicodélicas, como endossa o Dr. Fadiman, em seu livro “The
Psychedelic Explorer's Guide: Safe, Therapeutic, and Sacred Journeys” (uma
das importantes referências para este documento), quando diz que informações
como essas, neste momento, “não podem deixar de serem úteis”.
CONSIDERAÇÕES LEGAIS
Os cogumelos psilocibinos não são considerados ilegais no Brasil, pois
não há em nenhum lugar das portarias da Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) - quem é responsável por dizer qual substância é
considerada ilícita - a menção ao Psilocybe cubensis (nem outra espécie), ou
seja, ela nem autoriza nem proíbe o uso e o cultivo dos cogumelos psilocibinos.
A resolução da Anvisa deixa evidente que a preocupação seria apenas com a
síntese e extração dos alcalóides. Além do mais, a lei antidrogas (lei nº 11.343,
de 23 de agosto de 2006, sancionada pelo então presidente Lula Inácio) não faz
nenhuma alusão a fungos, somente à plantas. Como qualquer biólogo sabe, estes
são reinos bem diferentes entre si e uma palavra não serve para designar a outra.
É improvável que estes cogumelos sejam proibidos no Brasil, pelo fato
desses fungos estarem espalhados por todo território nacional, e poderem ser
encontrados em locais de comum acesso, como no quintal de casa, por exemplo.
Portanto o principal desafio desse protocolo é contra os preconceitos, e não
contra a lei ou algum regulamento.
Porém, acima de tudo e de qualquer propósito que possa ser relacionado
ao escrito em questão, este protocolo de maneira alguma, incentiva o uso de
quaisquer substâncias ilícitas, que causem potencial vício ou qualquer outro tipo
de prejuízos à saúde das pessoas em geral, seja através de qualquer ação e
atividade praticada a partir deste protocolo.
Assumindo que muitas pessoas já estão utilizando cogumelos psilocibinos
através de suas próprias vias - e irão muito provavelmente continuar -, este
protocolo visa reduzir potenciais danos de mal uso, e ampliar os benefícios
conhecidos por serem adquiridos através de experiências profundas com esses
fungos. Oferecendo informações e diretrizes excepcionais para uma experiência
segura, e que extraia aprendizados valiosos para o desenvolvimento espiritual e
cura interior, das pessoas que se proporem em participar de sessões guiadas
através deste protocolo.
CONTEÚDO
A importância do protocolo
Glossário
CAPÍTULO I - PREPARANDO PARA A VIAGEM
Informações primordiais
Os 5 elementos essenciais
O que um guia precisa saber
As três fases para uma sessão psilotrópica
Fase um: Preparação
Microdosagem de cogumelos
CAPÍTULO II - A VIAGEM PSILOTRÓPICA
Fase dois: A Sessão
Os seis estágios da sessão
Estágio um: Preparando e ingerindo
Estágio dois: Iniciando a experiência
Estágio três: Abertura e Libertação
Estágio quatro: Platô
Estágio cinco: O Deslize Suave
Estágio seis: O Fim da Sessão
CAPÍTULO III - PÓS-SESSÃO PSILOTRÓPICA
Fase três: Integração
Informações adicionais ao processo de Psilotropia Guiada
Perguntas frequentes
Código de ética
Considerações Finais
Referências
A importância do protocolo
“O fato de um guia fazer uma diferença significativa na qualidade da
experiência ressalta a diferença entre os psicodélicos e quase todos os outros
medicamentos. A diferença não é apenas que a planta ou ‘droga’ abre a pessoa
para uma gama mais ampla de experiências, mas também que a direção, o
conteúdo e a qualidade geral das experiências podem ser focados e aprimorados
com orientação.” (James Fadiman, The Psychedelic Explorer’s Guide)
Este protocolo tem como objetivo oferecer sugestões e diretrizes para
guias psicodélicos - com foco nos enteógenos psilocibinos. Essas diretrizes
destinam-se a promover o espiritual, e não o recreacional. Onde a maior missão
é apoiar o aumento da compreensão espiritual das pessoas em geral, e minimizar
experiências negativas. Com o cuidado de favorecer ao máximo a segurança e o
sagrado das experiências psicodélicas/enteogênicas.
“Muitas pessoas que nunca tiveram uma sessão guiada, apreciam o quão
as experiências psicodélicas impactaram e melhoraram suas vidas. Porém
muitos que esperam ter experiências espirituais ou enteogênicas usando um
psicodélico, não sabem como alcançar e permanecer aberto a esses níveis de
consciência. E poucas pessoas que possuem o desejo de ajudar outras pessoas
em suas viagens psicodélicas, tiveram o benefício de serem ensinadas”. No
entanto, como continua Fadiman, “a presença de um guia experiente facilita
muito a probabilidade de alcançar níveis expandidos de consciência, e de
relembrar e integrar as experiências.” A importância deste protocolo é
justamente formar guias experientes para poderem auxiliar os viajantes a
permanecerem abertos a níveis amplos de consciência, visando desenvolver
sessões guiadas que produzem experiências espirituais/enteogênicas que
promovam em seus participantes desenvolvimento espiritual e cura interior.
Segundo o Dr. Fadiman, um estudo que utilizou cerca de cem pessoas que
tomaram um medicamento psicodélico, e foram orientadas por guias em sessões
como descritas neste protocolo, relatou que 78% dos participantes disseram que
“foi a maior experiência da minha vida”, e esta resposta permaneceu a mesma
até para aquelas pessoas que já tiveram experiências com psicodélicos por
várias vezes. Este documento descreve importantes informações, para que
pessoas em geral possam, em suas experiências, se beneficiar de um guia
experiente, tendo material psicodélico suficiente, e estando em um ambiente de
suporte.
Glossário
Desenvolvimento espiritual: um processo de evolução do ser, adquirido através
da reunião entre este ser e uma consciência universalista, onde neste processo o
indivíduo restaurará e fortalecerá sua conexão de unidade com um todo
universal.
Cura interior: capacidade mental que remete a uma Inteligência de Cura interna,
onde a mente irá buscar por resolver traumas profundos através do
enfrentamento direto, onde sistemas arquetípicos e transpessoais podem vir à
tona para auxiliar neste processo de cura dos traumas.
Enteógeno: qualquer psicodélico usado especificamente para aumentar a
probabilidade de espiritualidade da experiência. Etimologia: derivado de um
termo grego que significa "aquilo que faz com que Deus seja conhecido ou
experimentado dentro de um indivíduo''.
Guia: Alguém com considerável experiência pessoal e conhecimento de estados
alterados da consciência, com e sem o uso de psicodélicos. Um guia ajuda os
outros a experimentar toda a gama de estados enteógenos e fornece suporte
quando as experiências são desafiadoras.
Psicodélico: O termo geral para o espectro da consciência ampliada através de
substâncias que alteram o estado dessa consciência. Estas incluem LSD-25,
mescalina (e o cacto peiote que contém mescalina) e psilocibina (e os
cogumelos que contêm psilocibina) bem como outras plantas e substâncias.
Cogumelos psilocibinos: São o corpo frutífero dos fungos do gênero Psilocybe,
onde seu ingrediente ativo é a psilocibina, uma substância psicoativa do tipo
psicodélico. Os cogumelos psilocibinos mais encontrados no Brasil são os
psilocybe cubensis.
Sessão: O período de tempo (geralmente em torno de 6 horas, no caso dos
psicodélicos psilocibinos) onde ocorrerá a experiência guiada entre um guia e
um praticante, em conjunto com elementos essenciais para a extração segura e
enriquecedora desta experiência.
Ambiente externo: os arredores, principalmente físicos, mas também a
atmosfera do espaço para a própria sessão.
Assistente/Acompanhante: o assistente, referido alternadamente como
acompanhante, é, muitas vezes, mas não necessariamente, um amigo próximo
ou parente, que cuida do viajante após uma sessão, bem como durante o período
de reentrada inicial.
Substância: o psicodélico específico usado para facilitar a viagem. No caso
deste protocolo, irá ser focado nos cogumelos psilocibinos. Onde o mais comum
no Brasil e mais destacado neste documento, é o da espécie psilocybe cubensis.
Viajante: A pessoa tomando um psicodélico.
Cenário interno: estado mental e corporal do viajante predispostos perante as
experiências. Incluindo condições psicológicas especiais portadas durante uma
sessão.
Musicalidade: a arte de utilizar músicas, nesse caso para auxiliar no processo de
envolvimento com as experiências enteógenas.
CAPÍTULO I - PREPARANDO PARA A VIAGEM
Informações primordiais
Os 5 elementos essenciais
Para que um indivíduo possa alcançar um estado amplo de consciência,
que podemos chamar de estado enteógeno, onde poderá obter um
desenvolvimento espiritual e cura interior, será necessário ir além do uso
esporádico de cogumelos psilocibinos. E o guia deverá compreender isso, e
oferecer aos praticantes os elementos essenciais para essas experiências serem
não só enriquecedoras, mas também seguras e confiáveis.
A Psilotropia Guiada, na prática, acontecerá nas sessões psilotrópicas,
onde acontecerá a reunião desses elementos para assegurar a [mais] confiável
extração dessas experiências. Numa sessão, deverão ser reunidos cinco (5)
elementos essenciais, que são:
Por que esses elementos são importantes?
1) Substância/dose: este é o elemento básico, é o responsável por levar o
indivíduo numa viagem interior, para uma realidade alternativa que irá
desafiar seu Ego e o introduzir numa Espiritualidade extremamente
evolutiva para o Ser, e curativa para o sofrimento interno. Não será a
substância que efetivamente fará esta evolução, e a cura interna - e sim o
próprio praticante -, mas ela conduzirá o indivíduo numa jornada onde
essa evolução e cura serão promovidos. A dose da substância também faz
muita diferença na experiência. Cientistas observaram que utilizando em
torno de 30ml de psilocibina - ingrediente ativo dos cogumelos
psilocibinos -, um indivíduo poderá alcançar um estado de consciência
desejável para uma experiência enteógena, portanto convertendo para
cogumelos p. cubensis desidratados - que possuem em média 6,25 ml de
psilocibina por grama - uma dose desejável será entre 3 a 5 gramas. Cada
pessoa terá uma dose mais adequada, portanto numa sessão o guia deverá
iniciar por uma baixa dosagem, e durante ela aumentar caso necessário. A
recomendação é que os viajantes comam diretamente o cogumelo
desidratado, adicionando mel ou cacau para auxiliar na degustação. Para
que o guia tenha os cogumelos prontos para a sessão, deverá adquirir
antecipadamente, e de preferência ter um estoque em um local lacrado
com sílica atóxica. Para adquirir os cogumelos, o guia poderá pesquisar
locais - de preferência em sites seguros - que vendem corretamente esses
fungos. Numa pesquisa rápida pela internet é fácil encontrar várias lojas
virtuais (lembrando que a venda, e o cultivo, de cogumelos psilocibinos
não é ilegal no Brasil). Caso o guia queira cultivar esses fungos, o que
não é difícil de fazer e recomendável por este protocolo, poderá utilizar
este guia de cultivo feito pelo site Mundo dos Cubensis, e/ou navegar
pelas informações disponíveis no maior fórum brasileiro de micologia
com foco no psilocybe cubensis, Teonanacatl.org, onde possui uma vasta
coleção de informações ricas sobre o cultivo, com diversas discussões da
comunidade.
2) Conhecimento: É extremamente necessário que o participante tenha o
conhecimento suficiente sobre sua experiência, conheça os contextos
histórico e científico desse fungo e dos psicodélicos em geral. Para assim
saber o que irá passar em sua mente, e ter importantes noções sobre
estados extraordinários da consciência. Isso é realmente muito
diferenciador nas experiências, pois atingirá diretamente o estado
psicológico em que o praticante estará no momento da sessão. O guia
deverá trazer as informações factuais necessárias para este conhecimento,
que não só incluem uma contextualização histórica e científica, mas
também informações sobre o processo da experiência: a preparação, a
sessão e a integração. Todos os passos que acontecerão neste processo
deverão ser informados e discutidos entre o guia e o viajante, para assim
construírem juntos o conhecimento necessário para obterem a experiência
que desejam.
3) Cenário Interno & Ambiente Externo: A disposição mental, crenças,
esperanças, medos, personalidade, expectativas, e intenções do
participante, junto o seu estado espiritual, psicológico, emocional e
corporal - que competem ao cenário interno - irão refletir diretamente em
sua experiência, assim como a atmosfera do ambiente físico - externo -
em que ele estará. Portanto é necessário ‘configurar’ esses pontos para
que estejam de acordo com a experiência, e possam auxiliar
positivamente no desenvolvimento espiritual e no processo de cura
interior. O guia deverá trabalhar dedicadamente para auxiliar o praticante
na preparação do seu cenário interno, com uso de aconselhamento
comportamental, respirações guiadas, meditação, rezas e orações, para
preparação psicológica, emocional e espiritual. E dietas especiais com
alimentos leves e exercícios físicos, para preparação corporal. Assim
como preparar o ambiente físico, onde o espaço deve ser profissional,
privado, seguro, decorado de forma atraente, relaxante e confortável. A
transmissão do som para outras pessoas que não estão envolvidas deve
ser limitada (ou preferencialmente inexistente). Estar dentro de um
ambiente acolhedor, seguro e protegido permite que o participante (e os
guias) se livrem de preocupações com interrupções e facilita a
experiência interna desejada para o praticante. Este ambiente poderá ser
uma sala, quarto ou área externa segura que comporte uma cama ou sofá
confortável para o praticante se deitar na sessão, um assento ao lado da
cama onde ficará o guia, e disposição suficiente de espaço para objetos
pessoais do participante, e outros que o guia colocará para auxiliar na
experiência. Os itens que devem estar disponíveis numa sessão, e que
auxiliarão bastante num processo positivo, são: lençóis, cobertores (e
edredons), manta, travesseiros, lenços umedecidos, toalhas, balde ou
recipiente de lixo plástico (para eventuais vômitos), sistema de música
com fones de ouvidos e alto-falantes, máscara para dormir, água, lanche
para pós-sessão, pequena mesa para altar pessoal - que são todos itens
que podem ser considerados indispensáveis - e alguns outros itens
alternativos - e opcionais - como cartas espirituais (com mensagens
positivas), taça tibetana, gongo, sucos e frutas, flores frescas (uma rosa é
bastante tradicional e recomendável), instrumentos musicais, materiais de
arte, lápis e papel.
4) Musicalidade: Em todas as culturas milenares que utilizam psicodélicos
em seus rituais de passagem e medicinais, os fazem na presença musical
de batuques, chocalhos, e outros instrumentos musicais. Os indianos e
tibetanos - junto a várias culturas complexas e antigas orientais -
estudaram por milhares de anos a música como meio de elevação
espiritual. Os cientistas já estudaram e encontraram uma importante
relação entre música e experiência psicodélica, através de certos tipos de
faixas que auxiliam nessas experiências. Portanto esse é um elemento
muito importante, e será enriquecedor para o praticante estar ouvindo
músicas preparadas para esse momento, em sua sessão psilotrópica. Um
importante cientista inglês do Imperial College (Londres) chamado
Mendel Kaelen que participou de uma pesquisa de psicodélicos (com
LSD) onde colaborou com a pesquisa pioneira que usou ressonâncias
magnéticas e magnetoencefalografia para mapear o cérebro humano sob o
efeito de LSD pela primeira vez na história, estudou sobre o efeito das
músicas que os participantes dos estudos do Imperial College tiveram
durante suas experiências psicodélicas. Ele junto com outros
pesquisadores concluíram que os resultados deste estudo “reforçam uma
convicção antiga de que a música adquire um caráter mais intenso e
ganha maior significado sob a influência de drogas psicodélicas", ao
perceberem - inclusive através de neuroimagem - que os participantes
dos estudos ao ouvirem as músicas relataram visões mais complexas -
imagens autobiográficas em especial. "Frequentemente, os participantes
tinham alucinações vívidas de olhos fechados, interativas também. Não
foi como se estivessem assistindo a um telão, cujas imagens os
entretinham; eles vivenciaram interações pessoais com essas imagens"
contou Kaelen relacionando a música como elemento diferenciador numa
experiência psicodélica. Porém Kaelen conclui que “em suma, a trilha
existe somente para servir ao processo terapêutico central; isto é, para
auxiliar a jornada extremamente pessoal que se desenrola por trás dos
olhos fechados do paciente”, portanto a música possui um caráter
diferenciador, porém apenas se combinado com os outros elementos
essenciais. Os tipos de músicas que através do intenso e dedicado estudo
desses cientistas sobre musicalidade, que melhor poderão ser utilizados
numa sessão são variados, mas seguem o padrão de músicas calmas e
relaxantes para o início (podendo ser música ambient, músicas clássicas e
outros), algumas mais condutivas e emotivas para o processo de
crescimento e pico do efeito (podendo ser músicas clássicas mais
envolventes, clássico moderno, músicas ambientes mais emotivas de
artistas como Robert Rich e Brian Eno) e músicas mais diversas para o
final da sessão (onde poderão ser músicas selecionadas pelos
participantes, músicas para meditação, ou sons de natureza). Algumas
playlist já criadas poderão ser utilizadas, são elas: A playlist (spotify)
utilizada pela equipe da universidade de John Hopkins (EUA) em suas
pesquisas psicodélicas (utilizando músicas clássicas predominantemente),
uma outra playlist (no spotify) utilizada pela equipe do Imperial College
(criada pelo Mendel Kaelen, com músicas mais contemporâneas e
ambient), uma outra playlist (no spotify) também criada por Kaelen
porém mais alternativa, com maior incidência de músicas de cultura
indiana, duas playlists criadas pelo autor deste protocolo (também no
spotify) porém separadas entre fase inicial (pré-pico) e fase posterior
(pico e pós-pico) (podendo o guia controlar melhor as músicas conforme
o andamento do efeito), e uma playlist completa no Youtube também
criada pelo autor deste protocolo. Todas essas playlists públicas foram
criadas especialmente para sessões psicodélicas (portanto também
psilotrópicas), levando em consideração todo o complexo andamento de
uma experiência enteógena. Nenhuma playlist é cem por cento certa,
portanto o guia deverá ouvi-las e discutir com o viajante qual melhor
caminho seguir, podendo também criar suas próprias playlists (o que é
mais desejável). A forma mais recomendável para se utilizar as músicas
nas sessões, é através de fones de ouvidos para o participante, e
alto-falante no ambiente, onde mesmo o praticante tirando seu fone, ainda
continuará imerso na musicalidade ao seu redor.
5) Guia Psilotrópico (ou psicodélico): Por fim, se torna extremamente
necessária a presença de um guia nessas sessões, para que possa prover
todos esses elementos, e que também sua presença auxilie na trajetória
espiritual do participante. O guia deverá oferecer o devido conhecimento,
auxiliar na preparação psicológica, emocional e corporal do praticante,
proporcionar um ambiente seguro, playlists selecionadas para uma
viagem enriquecedora, e também fazer as intervenções quando
necessário, sabendo o momento certo de intervir, mas mantendo sempre o
foco - e a confiança - na inteligência de cura interna do participante, o
encorajando sempre em se sentir seguro e confiante para enfrentar os
desafios da experiência. O papel do guia é atender às necessidades físicas
e pessoais e outras necessidades interpessoais dos participantes, com total
atenção e aceitação aberta, evitando “cuidar”, psicanalisar, determinar,
rotular, diagnosticar ou confundir-se.
Os guias devem estar cientes da variedade de diferentes teorias que
foram desenvolvidas para entender a natureza da mente consciente e
inconsciente, que se manifesta sob a iluminação dos enteógenos.
Atualmente, esses modelos ainda estão em desenvolvimento e são
abrangentes, à medida que os seguidores de Grof observam a Matriz
Primitiva do Nascimento, os freudianos observam Édipo, os junguianos
veem arquétipos e os neurocientistas veem a supressão da rede de modo
padrão. É necessário um entendimento dessas diferentes teorias - dentre
outras - para qualquer guia que supervisiona uma experiência
psicodélica/psilotrópica.
O Guia Psilotrópico deverá oferecer aos praticantes todos os 5
elementos, contendo experiência em todos eles e os oferecendo com a
melhor qualidade que puder. Uma sessão que utilize esses elementos
juntos, poderá levar o participante a uma profunda jornada de
autocompreensão e cura interior.
O que um guia precisa saber
As informações a seguir foram traduzidas de um trecho que foi retirado
do livro “The Psychedelic Explorer’s Guide” escrito pelo doutor James Fadiman
PH.D., e foi traduzido pelo autor deste protocolo com intuito de compartilhar o
conhecimento adquirido por este brilhante e expoente cientista, sobre as
informações que um guia precisa saber para guiar uma jornada
psicodélica/psilotrópica. Este pequeno trecho expõe sugestões para guias,
resoluções de possíveis problemas a serem enfrentados e sobre o contexto das
sessões. Todas as informações dispostas também estão disponíveis publicamente
no site https://www.entheoguide.net, que tem disponível diretrizes para viajantes
e guias, onde diversos guias contribuem para esse conhecimento, com a
liderança de Fadiman. Segue o trecho:
“Sugestões para o Guia:
Guiar alguém em uma jornada psicodélica é um trabalho sagrado. Você
está lá para garantir que a sessão seja ao máximo segura e benéfica, para
aumentar a probabilidade do viajante entrar em estados transpessoais ou
transcendentes, para minimizar as dificuldades e para honrar a confiança que o
participante depositou em você. Não é necessário ter muitas informações
especializadas para ser um guia excelente. Os pré-requisitos essenciais são
compaixão, intuição e amor/gentileza. No entanto, além dessas qualidades, é
valioso ter conhecimento básico em certas áreas: a gama de efeitos possíveis, os
princípios básicos de vários aspectos espirituais de tradições e um senso de
como e quando compartilhar idéias e conceitos úteis com o viajante. Suas
sugestões nos momentos certos podem ajudar o viajante a fazer uma descoberta
ou reter uma visão importante. [para alcançar este senso é necessária vasta
experimentação]
Gama de efeitos: qualquer experiência psicodélica pode incluir uma ampla
gama de respostas, reações, visões e dramas internos, do êxtase ao aterrorizante.
Às vezes, você precisa reassegurar ao viajante que uma certa experiência,
mesmo que perturbadora, é normal e que passará. Em outros casos, pode ser
necessário ajudar uma pessoa a lidar com um problema de sintoma físico.
Raramente, pode ser necessário obter ajuda externa. Um grupo significativo de
desinformação sobre psicodélicos foi divulgado. Portanto, como parte da
preparação para qualquer viagem, é essencial dissipar ideias falsas sobre os
efeitos psicodélicos. Um site bem mantido que discute desinformação sobre
LSD e outras substâncias que expandem a mente podem ser encontradas
acessando https://en.wikipedia.org e pesquisando em "lendas urbanas sobre
drogas ilegais". Veja também www.snopes.com.
Permanecendo centrado: quanto mais centrado você estiver como um guia, mais
eficaz você será. Quanto mais você souber sobre você e quem quer que esteja
orientando, mais provavelmente você deve ser capaz de permanecer centrado e
tranquilo durante toda a sessão. Se você está mais confortável, será mais fácil
para o viajante fazer a transição de um estado de consciência para outro. Depois
de revisar centenas de sessões em diferentes configurações, Timothy Leary e
Richard Alpert (Ram Dass) [outros dois expoentes deste universo], enquanto
ainda ensinavam em Harvard [quando a universidade possuía um programa de
pesquisa com psilocibina chamado Psilocybin Project, nos anos de 1960],
concluíram que, na maioria das situações, um viajante ficava angustiado quando
o guia tornou-se inseguro, incerto ou chateado.
Tradições sagradas: os viajantes podem ou não começar com sua própria
orientação religiosa. Além disso, não é incomum que um viajante encontre seres
ou experimente estados de consciência descrita em tradições diferentes da sua.
Você pode reduzir qualquer ansiedade sobre tais encontros, caso ocorram,
preparando-se para ser solidário e respeitoso com qualquer tradição que surja.
Porque cada tradição tem seus próprios símbolos e descrições de estados
superiores, é improvável que você possa saber sobre todos eles. Os níveis mais
altos de todas as tradições podem ser essencialmente os mesmos, mas nossa
capacidade de compreender e integrar estados alterados será única. Por
exemplo, cada uma dessas abordagens para estar mais perto de Deus surge de
uma tradição diferente: querer estar ciente de Deus e ainda permanecer
separado; anseio por amar e interagir com Deus, mas não perder a identidade
pessoal; ou fundindo-se totalmente com Deus. Seu apoio à intenção inicial do
viajante sobre experiência espiritual ou religiosa é a melhor maneira possível de
começar. No entanto, esteja disposto a realinhar, em outras palavras, permaneça
aberto e presente para tudo o que ocorre. Uma resposta útil a qualquer
experiência que amplie o senso de realidade de um viajante durante a sessão é
convidar gentilmente essa pessoa a ir mais fundo, dizendo: "Sim! Isso é bom.
Gostaria de saber mais?" Quando um viajante se sente seguro, a capacidade de
alcançar maiores alturas, e também para lembrar e integrar a experiência, é o
mais provável.
Trabalhando com o medo: Se um viajante tem experiência limitada com estados
alterados, ele ou ela podem ficar assustados quando dimensões familiares de
identidade começam a se dissolver. Um guia pode aliviar esse medo, discutindo
essa possibilidade como parte da preparação. Quando um viajante olha
diretamente para um complexo emaranhado de memórias, desejos,
inseguranças, e outros fios internos não resolvidos, uma reação natural pode ser
ficar com medo; esclareça que o sentimento de medo é normal e vai passar. Suas
garantias tornarão possível ao indivíduo processar o medo mais facilmente.
Durante os momentos de medo, você pode usar um toque suave e sugerir uma
respiração profunda. Observe qualquer mudança na profundidade ou padrão de
respiração. Respiração superficial ou respiração ofegante sugerem resistência,
enquanto uma respiração profunda e lenta geralmente ocorre quando uma
barreira está sendo dissolvida.
Problemas comuns para guias:
Intenções: reveja suas próprias esperanças e medos para o viajante e para você
mesmo antes da sessão começar. Tenha cuidado para não pretender ou esperar
um resultado específico. A tarefa é manter o espaço para a jornada de seu
viajante, não definir metas.
Ponto de vista: você pode esperar que a pessoa que você está orientando
concorde com você sobre certas questões, especialmente as espirituais. É natural
querer isso (você é humano, acima de tudo), mas é perturbador expressar essas
opiniões durante a sessão. Se recolha, se você sentir que seu próprio ponto de
vista pode ser um problema que pode interferir com sua objetividade.
Relacionamento com o viajante: Se você é amante ou cônjuge do viajante, pense
bem antes de ser o guia dessa pessoa. Se o relacionamento for um problema
para algum de vocês, permita que outra pessoa seja o guia. Se sentimentos
sexuais surgirem em você ou no viajante (e eles costumam acontecer), permita
que os sentimentos existam como você faria com qualquer outra parte da
experiência. No entanto, não faça sexo, mesmo se solicitado. Em um cenário
enteogênico, qualquer atuação irá restringir a experiência do viajante e pode ser
confuso.
Limites sociais: Desconfie de seus próprios julgamentos sobre a vida pessoal do
viajante e relacionamentos. É importante não sugerir uma avaliação de qualquer
relacionamento específico durante a sessão, a menos que essa intenção tenha
sido acordada apropriadamente. Sua aprovação ou a desaprovação de qualquer
relacionamento pode facilmente interromper o próprio processo do viajante de
descoberta.
Expressão transpessoal: durante as sessões enteogênicas, os viajantes
geralmente irão vivenciar reinos além de seus egos pessoais. Como resultado,
eles podem sofrer transições transformacionais. Lembre-se de que há um
número infinito de maneiras de encontrar Deus e inúmeras maneiras de
descrever essa descoberta. Deixe o viajante ficar com suas próprias realizações.
Como prática geral, incentive o viajante a coletar experiências, guarde a
discussão sobre eles para posterior revisão e reflexão, e nem mesmo tente
entendê-los à medida que ocorrem.
Quando cancelar ou adiar: por qualquer motivo, se você tiver a intuição de que
o momento está errado, a pessoa não está bem preparada ou não fez o que você
acha que fez na preparação necessária, ou que você não é o guia certo, não
hesite em atrasar ou cancelar a sessão. Especificamente na preparação para uma
sessão, se alguém expressa que sua intenção é mergulhar profundamente no
sofrimento, na escuridão ou na natureza do mal, seja cauteloso. A menos que
você tenha treinamento psicoterapêutico relacionado a estados alterados, você
deve considerar seriamente não orientar essa pessoa. Pessoas que começam com
essas intenções, muitas vezes ficam presas em partes infernais de suas próprias
psiques e podem se danificar. Se você não tem certeza de que pode lidar com os
problemas que podem surgir, você está certo e não deve orientar tal sessão.
Sugira que esta pessoa trabalhe em um contexto terapêutico não psicodélico.
Isso não significa negar o valor e a utilidade de experiências extremamente
negativas, mas entrando nesse reino como o foco principal para um experiência
psicodélica com um guia inexperiente pode ser traiçoeira.
Contexto:
Os seguintes fatores são importantes na determinação da configuração [de uma
sessão].
Ambiente imediato: tudo o que é necessário para uma viagem segura com
infinitas possibilidades é uma sala organizada e confortável com um sofá ou
cama em que o viajante possa descansar, uma cadeira confortável para o guia e
fácil acesso a um banheiro. Ter uma variedade de travesseiros e cobertores
macios à mão geralmente é uma boa ideia. É melhor se a sala puder ser isolada
de imagens e sons externos, incluindo vozes de pessoas, animais de estimação e
telefones. Seu objetivo é criar e manter um ambiente simples que apoie o
silêncio interior. Em caso de dúvida, tornar o espaço ainda mais simples. A
maioria dos guias experientes preferem começar a sessão dentro de casa com
música para que a mente do viajante seja a fonte primária para o que se
desenrola. Dito isso, um cenário ao ar livre tem suas vantagens. Vento, folhas
agitadas, pássaros, córregos, rios, ondas do oceano - a conexão da natureza pode
se tornar uma parte essencial da sessão. Quando questionado sobre tomar um
psicodélico, Albert Hofmann tinha apenas uma recomendação: "Sempre leve na
natureza." Se você decidir por um ambiente ao ar livre, a experiência pode ser
extrovertida, mas, mesmo fora de casa, a música ajuda. Com uma dose
enteogênica suficiente, dentro ou fora de casa, o viajante tende a querer gostar,
um equilíbrio ideal pode ser permitir que mais segmentos intensos ocorram
dentro de casa, e depois saiam para fora mais tarde na sessão. O fundamental é
manter a segurança e o apoio físico, pessoal e psicológico.
Incenso: há séculos, o incenso faz parte de muitos rituais enteógenos e servem
como mais uma forma de orientar e acompanhar o viajante.
Música: a maioria das culturas que usam plantas para cura, adivinhação ou
revivificação espiritual usam música para facilitar a transição de um nível de
consciência para outro e para melhorar a sensação de segurança ao fornecer
suporte não verbal. Com ou sem a ingestão de psicodélicos, tambores, cânticos,
danças e cantos são usados em todo o mundo para guiar mudanças na
consciência. A música provou ser inestimável para ajudar as pessoas a viajarem
para além de seus padrões habituais de pensamento. A música apóia e sugere,
então escolha com sabedoria.
Durante uma sessão, a música se torna uma tapeçaria de som em camadas ricas
e muitas vezes evoca emoções fortes. Para a maioria das pessoas, a música
parece vir de dentro do próprio corpo e não é apenas sentido como som, mas
também pode ser percebido como cor, forma, textura, odor ou gosto. Fones de
ouvido são adequados. Alto-falantes estéreo próximos à cabeça de uma pessoa
são bons e permitem movimentos mais livres. Discuta a música selecionada.
Seleções de músicas podem ser sugeridas por guias [como exemplos citados
anteriormente] e pelo viajante. Se alguma seleção não parecer correta durante a
sessão, o viajante deve ser capaz de sinalizar ou dizer: "Por favor, mude a
música". Fique com o que estiver tocando por mais alguns minutos para ter
certeza de que o pedido é apropriado e não apenas uma forma de o viajante
expressar uma reação ou simplesmente tentar manter o controle. Explique na
sessão de preparação como, em estados mais profundos de consciência, o
viajante poderá até não ouvir a música. No entanto, mesmo assim, a música tem
um propósito de proteção, como a rede de um trapezista. Tenha pelo menos oito
horas de música para poder escolher ou mudar as seleções conforme necessário.
Recomendações musicais: quando o psicodélico começar a fazer efeito, coloque
o playlist da pessoa para começar a música. Muitos guias têm sua própria
coleção de músicas de sessões anteriores que podem ser usadas a partir desse
ponto. Em qualquer caso, use música na qual você e o viajante concordem ou
certifique-se de que ele confia em suas escolhas. A música clássica tende a
parecer apropriada para a maioria das pessoas, mesmo que elas não tenham
escolhido. A montanha misteriosa de Hovhaness, o réquiem de Faure, cantos
gregorianos, piano solo, piano com um ou dois outros instrumentos, flauta
desacompanhada, ragas e gravações indígenas de bateria podem ser usadas de
forma eficaz. Qualquer coisa com palavras, o viajante pode entender como uma
distração e não deve ser jogado após a primeira hora. Música eletrônica pode ser
considerada emocionalmente manipuladora e potencialmente problemática. No
meio da tarde (depois de cerca de seis horas [quatro horas no caso dos
psicodélicos psilocibinos]), quase qualquer escolha musical será apreciada, mas
nas primeiras horas mais intensas, a seleção de músicas é importante. Perto do
final da sessão, se solicitado, toque qualquer música que o viajante desejar,
incluindo peças com palavras. Ouvir música com os olhos fechados aumenta
seu valor e seu impacto potencial. Uma máscara, uma almofada para os olhos ou
uma toalha dobrada ou lenço torna mais fácil para a música ser experimentada
internamente. (Existem facetas valiosas da consciência para entrar com os olhos
abertos ou fechados, mas muitos guias recomendam que um viajante passe a
maior parte do tempo, especialmente durante o período de consciência
intensamente elevada, com os olhos fechados. Um guia disse: "É incrível o
quanto se pode 'ver' com os olhos fechados.")
Substância: O próprio LSD [e a psilocibina também] é quase completamente
metabolizado bem antes de seus efeitos de pico serem sentidos. Parece agir
como um catalisador, criando um ambiente no qual outras reações podem então
ocorrer. O LSD [e os cogumelos psilocibinos] serve como um lubrificante,
permitindo que certas capacidades interajam umas com as outras mais
facilmente, permitindo assim uma expressão mais completa das funções latentes
do cérebro. Experiências variam de uma mudança sutil na percepção a
mergulhos de tirar o fôlego em outras realidades. Outras substâncias
psicodélicas são metabolizadas em taxas diferentes; no entanto, cada substância
permite que a consciência se expanda além de seus limites habituais.
Dose: [...] Se o viajante estiver tomando psilocibina, 30 miligramas são
chamados de "dose alta segura". O peso corporal e o metabolismo não parecem,
em si próprios, decidirem variáveis na seleção da dose certa para um indivíduo.
Recursos de informações sobre doses para uma variedade de psicodélicos
podem ser encontrados em www.erowid.org/psychoactives/dose/dose.shtml.”
As três fases para uma sessão psilotrópica
Uma sessão psilotrópica contendo os cinco elementos essenciais, onde o
guia responsável conhece as informações primordiais para desenvolvê-la, será
precedida por uma Fase de Preparação. Após ela, acontece então a Fase da
Sessão, e posteriormente a Fase de Integração.
Fase um: Preparação
O processo de preparação, visa preparar o cenário interno do viajante e do
guia, buscando atentar-se na preparação psicológica, espiritual, emocional,
corporal, assim como também examinar, compartilhar informações, esclarecer
intenções, estabelecer um acordo sobre o processo e documentar o
consentimento entre o guia e o participante. O guia deverá reunir-se com o
viajante (poderá ser por videoconferência) quantas vezes forem necessárias
durante esse processo de preparação, para atingir todos esses objetivos.
Geralmente são necessárias de duas a quatro reuniões, de uma ou duas horas
cada.
Primeiramente, antes de tudo, será muito importante que o guia aplique a
quem estiver interessado em participar de sessões psilotrópicas (e enteógenas no
geral), um procedimento de triagem. As experiências psicodélicas não são para
todos e, para evitar causar danos (tanto ao participante quanto ao guia), é
importante uma triagem hábil baseada em boas informações. Existem certas
condições psicológicas que não é recomendado serem relacionadas com o uso
de substâncias enteógenas, principalmente as condições psicóticas. Os seguintes
fatores (critérios de exclusão) devem ser considerados no procedimento de
triagem:
1) Idade - o participante deve ser legalmente um adulto.
2) Uma vida estável (incluindo a moradia) é importante, pois muito estresse
externo pode resultar na falta de capacidade de refletir sobre o processo
interno.
3) Se for do sexo feminino - não esteja grávida ou amamentando.
4) Presença de qualquer condição médica incapacitante, incluindo, entre
outras, doenças cardiovasculares/hipertensão.
5) Diagnóstico ativo ou histórico de quaisquer distúrbios psiquiátricos
psicóticos graves, como transtorno bipolar, esquizofrenia e transtornos de
personalidade, pois esses indivíduos têm maior risco de desestabilização
prolongada. O guia deve estar atento especificamente para distúrbios de
personalidade borderline e narcísica, pois são difíceis de diagnosticar. O
teste de Maclean para transtorno de personalidade borderline está
facilmente disponível. Uma pontuação de 7 ou mais é um diagnóstico.
Não deve haver um diagnóstico histórico ou ativo de distúrbios
neurológicos, como acidente vascular cerebral, epilepsia ou lesão cerebral
grave, para minimizar o risco de eventos adversos (por exemplo, induzir
uma convulsão). Pacientes com demência moderada/avançada não são
capazes de dar consentimento informado.
6) Devido ao risco teórico da síndrome da serotonina, deve-se evitar
participantes que fazem uso recente de antidepressivos tricíclicos,
inibidores da recaptação de serotonina (antidepressivos mais comuns),
MAOIs e Hipericão. Indivíduos com estabilizadores de humor (por
exemplo, lítio, ácido valpróico) ou medicamentos antipsicóticos (por
exemplo, haloperidol, risperidona) implicam no diagnóstico de uma
doença mental grave e, portanto, devem ser considerados com cautela.
7) Atuais pensamentos suicidas ou homicidas.
8) Problemas de controle de raiva (devem ser cuidadosamente avaliados).
9) Pais com qualquer distúrbio psicótico ou bipolar, devido ao risco
aumentado de um “cérebro vulnerável” a um distúrbio psiquiátrico
subjacente por meio de histórico genético/familiar.
10) Conflitos de casais devem ser abordados com cautela. Se um casal é
tratado e uma pessoa decide deixar a outra, existe o risco de que o guia
seja responsabilizado.
11) A incapacidade de refletir e assumir a responsabilidade é um
problema. Os participantes que têm dificuldade em refletir sobre suas
emoções, sistemas de crenças etc., e assumir a responsabilidade por suas
ações tornam o processo de cura mais difícil para o sujeito e para o guia.
12) Um participante que tenha dificuldade em dar ouvidos ao guia e
receber informações durante a sessão preparatória provavelmente terá
dificuldade em obedecer durante a sessão. Também esteja ciente dos
participantes que têm um forte apego à sua ‘história’. Aqueles que
acreditam que conhecem todos os seus problemas e sabem no que
precisam trabalhar tendem a ter sessões difíceis. Ser ‘humilhado pelo
medicamento’ faz parte do caminho para a cura e o crescimento.
[Este tópico possui a tradução de trechos do livro “Manual for Psychedelic
Guides”, de Mark Haden (2019).]
Após esse procedimento de triagem, o viajante poderá ser orientado a
preparar suas condições psicológicas, espirituais, emocionais e corporais,
antecipadamente à sessão (sendo recomendável que comece pelo menos três
dias antes). É interessante começar por incentivar o participante a tentar levar
esses dias de uma forma mais leve, tentar não se envolver profundamente nas
situações da vida, principalmente as negativas. Quando algo preocupante
acontecer, orientar a tentar ‘deixar para após a sessão’, onde o praticante poderá
analisar a situação de uma forma mais ampla. Aplicar a prática diária de
meditação é muito recomendável (como a prática de meditação ZAZEN por
exemplo, dentre outras), pois irá acostumar a mente a entrar neste processo de
ampliação da consciência, que é promovido também pela meditação. O guia
deve saber que práticas meditativas possuem o mesmo poder espiritual e de cura
interior do que os enteógenos, porém estes são mais acessíveis para o contexto
cultural em que a sociedade brasileira contemporânea está. Mas pensar que os
enteógenos são elementos da natureza que conduzem a mente humana para o
mesmo horizonte que a meditação conduz, é pertinente a um guia responsável.
Práticas de respiração guiada também podem ser muito benéficas nesse
processo (como a do método Wim Hof, por exemplo), pois podem auxiliar o
participante a manter seu corpo e mente energizados para uma experiência que
exigirá intensamente de ambos.
Alguns participantes podem sofrer incômodos estomacais, enjôos,
vômitos e diarreia, que podem ser causados pela ingestão dos cogumelos. Esse
efeito não acontece sempre, mas é normal e não preocupante. Para evitar que o
viajante tenha certos desconfortos, o guia poderá orientá-lo para nesta fase de
preparação aplicar uma dieta de alimentos leves, evitando especiarias e
condimentos fortes, bebidas gaseificadas, café puro e bebidas alcoólicas (assim
como outras drogas), se concentrando em alimentos como:
● Leite, iogurte, mingau, vitamina;
● Bolacha maizena, cream-cracker, torradas;
● Suco de frutas;
● Gelatina, mamão, banana maçã, fruta cozida;
● Sopa de legumes, sopa de macarrão, sopa de arroz;
● Carne bovina magra, frango sem a pele;
Um exemplo de cardápio diário poderá ser fornecido pelo guia para auxiliar na
dieta do participante, como este daqui.
Alguns desconfortos estomacais podem ocorrer pelo fato de que para os
cogumelos psilocibinos poderem fazer efeito no cérebro, seu ingrediente ativo -
a psilocibina - precisa ser ‘processada’ pelo suco gástrico estomacal,
tornando-se então psilocina, o composto químico que irá realmente conectar-se
em certos neurônios no cérebro sendo levado pela corrente sanguínea. Este
processo pode causar desconfortos, ainda mais se estiver em contato com
alimentos pesados no estômago. Uma técnica útil que poderá ser utilizada nesse
caso é misturar o cogumelo triturado em uma solução ácida, para que em tese
faça o trabalho de desfosforilação da psilocibina em psilocina, semelhantemente
como aconteceria no estômago. Não há comprovação científica ainda, porém a
teoria é que com o uso dessa técnica o processamento estomacal é pulado, e os
efeitos desconfortáveis poderão ser reduzidos. Os praticantes relatam também
que tomando essa solução (que em tese teria a psilocina pura), o efeito poderá
ser mais intenso, e iniciar mais rapidamente. Porém as informações se tratam
apenas de relatos, e a recomendação principal continua sendo comer os
cogumelos diretamente, adicionando mel ou cacau para auxiliar na degustação.
Esta técnica é chamada de ‘Lemon Tek’, onde utiliza o suco de limão
como a solução ácida, que poderá ser feita da seguinte maneira:
1. Pulverizar cogumelos secos suficientes para a experiência. Se não puder
pulverizar os cogumelos, cortá-los no menor tamanho possível.
2. Colocá-los num recipiente (copo).
3. Espremer quantos limões forem necessários para que o pó/pedaços de
cogumelos fiquem submersos no suco de limão.
4. Deixar a mistura reagir por 15~30 minutos, misturando-a a cada 5
minutos.
5. A Lemon Tek está pronta.
Importante: Essa ‘receita’ foi escrita por um membro do fórum Teonanacatl, que
poderá ser lido aqui, porém a recomendação é que o guia pesquise mais a fundo
caso queira aplicá-la para seus viajantes. Não é necessário introduzir esta
técnica numa primeira experiência do participante, mas caso haja desconfortos
estomacais maiores, ela poderá ser útil.
Ainda no processo de preparação mental, o viajante poderá ser
incentivado a se conectar mais profundamente com suas relações espirituais, se
assim as tiver. O aumento da quantidade e qualidade de orações, rezas,
comunhões, e outros ritos espiritualistas, poderá auxiliar o participante a
fortalecer sua força espiritual. Também será benéfico tentar estar mais em paz
para com a vida em geral, nesses dias que precedem a sessão.
Durante a fase de preparação, uma parte muito importante será o guia
compartilhar informações e esclarecimentos sobre intenções e o procedimento
da sessão, discutindo sobre esses temas em suas reuniões de preparação. Para
essas reuniões o seguinte deve ser considerado:
1. Esclareça as intenções do participante - seja específico. Parte desse
processo é avaliar o grau em que o participante está comprometido com a
experiência e que fará o trabalho necessário para maximizar a chance de
um resultado positivo. Às vezes, colocar intenções por escrito ajuda a
esclarecer. A melhor recomendação aqui é não elaborar intenções
específicas, como “conseguir um emprego” ou “curar uma doença”, mas
que sejam intenções abertas para o aprendizado com essas experiências,
da forma com que for.
2. Se o espaço da sessão estiver disponível, mostrá-lo ao participante (onde
poderá ser via fotos) pode reduzir a ansiedade potencial do desconhecido.
3. Descreva o processo de orientação - como um processo de apoio à
Inteligência de Cura Interna do participante, com uma abordagem não
diretiva. O participante será informado de que será encorajado a
‘permanecer interno’ o máximo possível. Isso significa que eles passarão
a sessão deitados, com óculos e ouvindo música com fones de ouvido. A
conversa é possível, mas não incentivada. Mais conversas acontecem com
os empatógenos (por exemplo, MDMA, 3MMC) e menos conversas são
apropriadas para os psicodélicos clássicos (por exemplo, LSD,
psilocibina). Há muitas razões para conversas mínimas ou inexistentes
durante a maior parte da experiência. Uma razão é que a comunicação
verbal vem de um lugar do ego e da identidade pessoal (a linguagem
implica inerentemente na dualidade e separação do sujeito/objeto), e o
objetivo neste trabalho é permitir o espaço para a experiência não-dual.
Aqui os terapeutas - que realmente querem fazer terapia - podem tirar o
poder da inteligência de cura interior dos participantes.
4. Discuta a regra do ‘toque não-sexual’. Qualquer comportamento sexual
entre guias e participantes é estritamente proibido. Este acordo garante
que nem o participante e nem o guia serão explorados, ao mesmo tempo
em que promove um ambiente seguro para oferecer conforto/cura durante
a sessão.
5. Discuta a possibilidade de contato físico com o participante na forma de
toque ou massagem. O guia e o participante devem negociar uma
distância física confortável entre si durante as sessões, e os guias devem
permanecer atentos a quaisquer possíveis alterações no nível de conforto
do participante com seu grau de proximidade. Discuta também o processo
de olhar suave ou contato visual prolongado e informe o participante que
ele terá opções de como o contato visual poderá ser usado.
6. Discuta a regra de ‘não deixar o espaço’. O participante deve entender a
importância e concordar que permanecerá no espaço da sessão até a
conclusão. No final da sessão, é responsabilidade do guia avaliar a
estabilidade emocional do participante e o grau em que os efeitos
diminuíram antes de permitir que o participante saia.
7. Discuta a regra de ‘nenhum dano é causado’. O participante deve
concordar em se abster de se auto-prejudicar, prejudicar outras pessoas e
danos à propriedade. O participante concorda que cumprirá a solicitação
do guia para interromper se, no julgamento do guia, o participante estiver
envolvido em qualquer comportamento que seja perigoso para si, para os
outros ou para o espaço. O participante concorda que atenderá às
solicitações do guia, mesmo que não pareça ser do interesse dele
enquanto estiver em seu estado alterado da consciência.
8. Se houver dois guias, pelo menos um deles estará sempre presente na sala
durante toda a sessão. Exceto por breves períodos ocasionais em que um
guia de cada vez pode sair da sala, os dois se comprometem a permanecer
na sala com o participante durante toda a duração das sessões até que os
efeitos emocionais e físicos do medicamento acabem.
9. O participante é incentivado a criar um ‘altar pessoal’ onde fotos de
família, amigos, objetos significativos, espirituais e/ou arte são colocadas
em uma mesa ao lado da cama. Discuta com o participante o que
especificamente eles gostariam de trazer para a sessão. Além do altar,
evite envolver o participante na mudança da sala (por exemplo,
localização dos móveis etc.), pois os guias devem incentivar os
participantes a não resistir e não tentar controlar nada. Focar nos objetos
na sala pode ser uma distração para o trabalho interno necessário.
10.O participante é incentivado a chegar à sessão experimental com o
estômago relativamente vazio. Um café da manhã muito leve (frutas,
iogurte) é desejável. Sugira que o participante use roupas confortáveis e
folgadas para a experiência, sem maquiagem (que pode ficar bagunçada)
ou fragrância/perfume (que pode ser ofensivo ou alergênico para alguns).
11. Ensine ao participante uma técnica de relaxamento, pratique isso com ele
e peça que pratique em casa. A técnica de relaxamento sugerida é:
a) comece respirando profundamente e devagar por 1-2 minutos;
b) concentre-se em como isso promove relaxamento;
c) respire e sinta o relaxamento em músculos específicos;
d) esteja atento às sensações da respiração;
e) repita a palavra “relaxe” ou “paz” ao expirar;
12. Discuta a importância do trabalho de integração após a experiência. As
revelações geralmente ocorrem durante as experiências com os remédios,
mas se elas não se manifestam em mudanças subsequentes na
vida/comportamento, essa oportunidade é perdida. Discuta a importância
de ter alguém que apoie essa integração. Pode ser um terapeuta particular,
um familiar próximo, etc. Se o participante acreditar que apenas a
experiência os ‘consertará’, assegure-lhes que isso é extremamente
improvável e incentive o participante a considerar a experiência como um
passo em uma longa jornada.
13.Discuta o processo de confidencialidade e como isso funciona para o guia
e o participante.
14.Sugira que o participante não faça grandes mudanças na vida (pedir o
divórcio, deixar o emprego) por alguns dias após a experiência. Aguarde
até que o processo de integração seja solidificado antes de fazer grandes
mudanças na vida.
15.Discuta a questão da expressão emocional. Informe o participante que
expressões emocionais intensas são bem-vindas, se parecer adequado
para eles. Discuta com antecedência formas seguras de expressar
sentimentos (por exemplo, gritar é bom mas quebrar coisas ou machucar
pessoas não).
16.Discuta como o participante voltará para casa após a sessão. Dirigir por si
só não é uma opção que deve ser considerada. Um acidente de carro após
a experiência mais espiritual ou significativa da vida de alguém torna a
integração subsequente um desafio.
17.As opções de pagamento para o serviço são discutidas e acordadas.
18.Introduza ao viajante os seguintes conceitos:
a. Tomar um medicamento psicodélico é como estar em uma viagem
de canoa no rio. Seu guia estará sempre com você, mas você é
quem está remando no rio da auto-exploração.
b. Você não está sozinho. Um guia estará sempre com você. Seu
ambiente estará seguro e você receberá todo o suporte necessário.
c. O remédio abrirá um mundo de possibilidades para você. Usando
foco e atenção, você tem o poder de escolher quais partes de sua
experiência deseja explorar.
d. Siga o fluxo da sessão. Se você estiver tendo dificuldades,
lembre-se de que o grau de sofrimento geralmente é igual ao grau
de resistência. Confie no processo e deixe acontecer.
e. Se você sentir medo, fique curioso sobre o que está trazendo isso à
tona - o medo está em você. É melhor enfrentá-lo e explorá-lo do
que continuar evitando o medo.
f. Mantenha a percepção do que está acontecendo em seu corpo e
fique curioso sobre as áreas de sensação ou dor.
g. Quando você se encontrar com turbulência, ansiedade ou
inquietação, use a técnica de relaxamento e meditação que vem
praticando. A melhor maneira de abordar esse trabalho é com
calma e foco, como uma prática de meditação.
h. Preste mais atenção em como você se sente do que no que pensa.
Desconfie da “história” ou do que você acha que sabe.
i. Acima de tudo, mantenha a gratidão. Confie no medicamento,
confie no processo e confie na sua própria inteligência de cura
interna.
Após o guia compartilhar e discutir com o viajante sobre todos esses
temas importantes, ele deverá então fornecer um Termo de Consentimento
Informado, um documento muito importante confeccionado pelo guia, que irá
estabelecer que o participante recebeu informações completas sobre todos os
riscos e benefícios potenciais ao participar de uma sessão psilotrópica. O
viajante deverá ter todas as suas dúvidas respondidas, e assinar voluntariamente
o formulário de consentimento informado. As áreas abrangidas pelo Termo de
Consentimento Informado deverão seguir a seguinte diretriz:
‘O participante das Sessões de Psilotropia Guiada...
❏ concorda em participar de uma experiência psicodélica guiada;
❏ compreende os riscos e benefícios envolvidos;
❏ concorda em participar do processo discutido (por exemplo, permanecer
no espaço durante o dia da experiência);
❏ concorda em participar do processo de integração após a experiência;
❏ entende a importância da confidencialidade;
❏ compreende o processo de coleta de informações/documentação;
❏ concorda com o valor e o processo de pagamento;
[Este tópico possui a tradução de trechos do livro “Manual for Psychedelic
Guides”, de Mark Haden (2019).]
Microdosagem de cogumelos
Muitas pessoas podem ter dificuldades em passar por uma experiência
psicodélica pela primeira vez, especialmente os mais velhos e conservadores. A
essas pessoas, e também a qualquer um que se interessar, poderá ser muito útil
fazer um uso microdosado de cogumelos psilocibinos, antes da sessão
psilotrópica. Pois poderá oferecer sutis efeitos impactantes, que irão
devidamente apresentar este universo psicodélico para a pessoa em questão.
A microdose de psicodélicos está em crescimento popular, pois mostra
ser muito benéfica para algumas pessoas, mesmo não substituindo uma sessão
de uso completo de psicodélicos. ‘Microdosar’ é o ato de consumir quantidades
sub-perceptíveis de psicodélicos, que são efeitos sutis, mas que podem ter uma
influência perceptível. Uma dose sub-perceptiva de cogumelos psilocibinos, é
em torno de 200/500mg do cogumelo desidratado (preferencialmente triturado).
Algumas pessoas utilizam microdoses no tratamento da depressão ou
ansiedade, e geralmente obtêm um resultado positivo. Alguns especialistas
também relatam que as microdoses de psilocybe cubensis ajudam a aumentar a
consciência espiritual, melhorar os cinco sentidos, ajudam nos transtornos de
humor e ansiedade, e nos vícios, como o tabagismo.
O interesse popular pela microdosagem cresceu bastante após a
publicação do livro “The Psychedelic Explorer's Guide” do Dr. James Fadiman.
Neste livro, Fadiman relata a microdosagem como uma subcultura de uso
psicodélico. O livro do Dr. Fadiman introduziu formalmente o termo
‘microdosagem’ no mainstream do mundo psicodélico.
O Dr. James Fadiman recomenda tomar um microdose uma vez a cada
três dias. E elaborou uma espécie de calendário para o uso correto da
microdosagem dos psicodélicos.
O calendário de microdosagem sugerido por Fadiman é:
● Tomar uma microdose de cogumelo no dia 1.
● Não tomar microdose no dia 2 e no dia 3, fazendo anotações das
diferenças sentidas.
● Então, tomar outra microdose de cogumelos no dia 4.
A ideia não é modificar a rotina do microdosador, mas sim integrar os
benefícios desta prática, buscando melhorar o seu cotidiano. Como essa prática
ainda carece de estudos científicos que concluam um resultado mais claro,
sendo que este uso oferece complicações por ser de uma dose muito baixa
confundindo-se facilmente com um efeito placebo, este protocolo não
recomenda o uso da microdosagem de cogumelos como prática psilotrópica,
mas poderá ser muito útil para o momento inicial de apresentação para uma
sessão de Psilotropia Guiada, e para o pós-sessão como forma de cultivar os
efeitos posteriores da experiência. O guia poderá oferecer cerca de 1.5g de
cogumelos desidratados ao participante, para efetuar em torno de três
microdoses, durando entre uma semana e dez dias, focando em conduzir o
praticante a participar da sessão psilotrópica assim que se sentir confortável e
seguro para tal.
CAPÍTULO II - A VIAGEM PSILOTRÓPICA
Fase dois: A Sessão
No dia da sessão psilotrópica o guia deverá ter passado pelo processo
inteiro de preparação, se atentando a todos os pontos. Na sequência, serão
colocadas informações pertinentes para o procedimento da sessão após esse
processo de preparação, em detalhes separados por cada estágio. Ao todo serão
seis (6) estágios, onde o guia estará trabalhando tanto passiva quanto
ativamente. As descrições a seguir representam estágios que foram relatados por
muitos guias e viajantes; no entanto, um espectro de variações pode ocorrer e
ocorre. As informações a seguir contém traduções de trechos descritos por guias
experientes divulgadas no livro “Manual for Psychedelic Guides”, de Mark
Haden, e instruções divulgadas pelo Dr. Fadiman nas suas diretrizes para
viajantes e guias, e no seu livro “The Psychedelic Explorer’s Guide”. Todas as
diretrizes e métricas utilizadas foram adaptadas para sessões utilizando
cogumelos psilocibinos.
Os seis estágios da sessão
Estágio um: Preparando e ingerindo
Considerações ao guia:
Saiba que você e o viajante estão prestes a criar um espaço sagrado
juntos. No dia da sessão, um café da manhã leve e de fácil digestão com frutas
ou torradas, se desejar, está bom. Se o viajante expressar antecipadamente que
deseja fazer uma oração, expressar gratidão ou invocar qualquer tradição
espiritual, você pode montar um altar ou simplesmente sentar-se em silêncio
juntos. Você poderá dizer ao viajante: “Você está conscientemente tomando uma
substância para se abrir para quaisquer ensinamentos de que possa precisar neste
momento. Nem você nem eu sabemos quais serão esses ensinamentos ou como
podem ocorrer. Irei lhe fornecer um local seguro para as explorações e estarei
disponível para ajudá-lo em qualquer dificuldade. Tudo o que você aprende que
é real vem de dentro de você - não de mim, ou da própria substância. (Adaptado
de Greer & Tolbert, 1998). Alguns guias oferecem o psicodélico de forma
formal, servindo em comprimidos, cápsulas ou materiais vegetais em um
pequeno prato ou tigela atraente, e oferecendo água em um copo de cristal de
vinho ou mesmo uma taça de metal.
Quando o participante chegar, receba-o e faça um rápido ‘check-in’ para
garantir que nenhum dos problemas de triagem seja aparente. A intoxicação por
outras substâncias e drogas deve ser considerada e, caso presente, não continue
com a experiência. Pergunte sobre o consumo recente de alimentos, pois muitos
alimentos no estômago podem retardar o processo e criar um ‘problema de
vômito’, o recomendável é que o viajante tenha feito um jejum de cerca de
quatro horas, não mais do que isso pois poderá causar complicações após a
sessão como hipotermia e desmaio. Convide o participante a usar o banheiro,
pois ‘começar vazio’ é útil para evitar uma distração futura.
Início da Sessão:
Os tópicos a seguir devem ser abordados antes que o participante ingira
os cogumelos, e depois que o participante esteja confortavelmente sentado na
cama. Embora todos os tópicos a seguir devam ter sido discutidos em detalhes
durante as sessões preparatórias, é importante discutir esses pontos novamente
no início da sessão psilotrópica. É preferível que os participantes entendam cada
uma dessas questões. Simplesmente declarar a questão é menos eficaz para
garantir a compreensão e o acordo dos participantes.
1. Pergunte ao participante sobre suas intenções para esta sessão específica,
mas esteja ciente de que a resposta pode vir de um lugar referente a uma
‘história’ e ego. Se houver uma discussão, promova a intenção de relaxar,
permanecer presente, permitir sentimentos e expressões. O objetivo é
prestar atenção autenticamente e permanecer aberto a todas as
experiências.
2. Pergunte sobre a compreensão do viajante sobre a regra do ‘toque
não-sexual’. Qualquer comportamento sexual entre os guias e o
participante é antiético e é explicitamente proibido. Este acordo garante
ao participante que sua vulnerabilidade aumentada não será explorada, ao
mesmo tempo em que promove um ambiente seguro para oferecer
conforto físico durante a sessão de tratamento.
3. Pergunte sobre a compreensão dele sobre a possibilidade de contato físico
na forma de toque carinhoso ou massagem. O guia e o participante devem
negociar uma distância física confortável entre si durante o processo
preparatório, e o guia deve permanecer atento a quaisquer possíveis
alterações no nível de conforto do participante com seu grau de
proximidade física.
4. Pergunte sobre o entendimento dele sobre a regra de ‘não deixar o
espaço’. O participante deve concordar que permanecerá na área da
sessão até a conclusão. No final, é responsabilidade do guia avaliar a
estabilidade emocional do participante e o grau em que os efeitos dos
cogumelos psilocibinos diminuíram antes de permitir que o participante
saia.
5. Pergunte sobre sua compreensão da regra de ‘nenhum dano é causado’. O
participante deve concordar em se abster de se prejudicar, prejudicar
outras pessoas e/ou danos à propriedade. O participante deve concordar
que cumprirá a solicitação do guia para interromper se, no seu
julgamento, o participante estiver envolvido em qualquer comportamento
que seja perigoso para si mesmo, para os outros ou para o espaço.
6. Mencione que pelo menos um guia deve estar presente na sala o tempo
todo durante toda a sessão psilotrópica. Além de breves períodos
ocasionais em que um guia pode sair da sala (por exemplo, intervalos
para o banheiro), se houver mais de um guia no sessão, eles devem se
comprometer a permanecer na sala com o participante durante toda a
duração da sessão de tratamento, até os efeitos emocionais e físicos
diminuírem. Se houver apenas um guia para a sessão, deve ser discutido o
fato de que essa pessoa precisa estar brevemente ausente.
7. Discuta o ‘processo do banheiro’ (mais detalhes abaixo).
8. Informe ao participante que o objetivo é ‘permanecer interno’ o máximo
possível. Isso significa que eles são incentivados a passar a sessão
deitados, com máscaras de dormir, ouvindo música através de fones de
ouvido. Embora sejam incentivados a permanecer internos, o participante
pode optar por tirar a máscara de dormir e/ou os fones de ouvido a
qualquer momento. O participante também tem a opção de solicitar
períodos de silêncio, e os guias têm a opção de fazer ajustes no programa
musical para se adequar à experiência que se desenrola. Os guias devem
ter como objetivo usar a música para apoiar a experiência sem serem
invasivos.
9. Incentive o participante a criar um ‘altar pessoal’, onde fotos de família,
amigos, objetos significativos, espirituais ou obras de arte são colocadas
em uma mesa ao lado da cama.
10. Explique os próximos passos:
a. O participante tomará o remédio;
b. O guia oferecerá uma meditação guiada e exercícios de respiração;
c. O guia ou os guias ficarão em silêncio e a música guiará a
experiência.
11. Dê os cogumelos, oferecendo a possibilidade de comê-los com mel ou
cacau, para auxiliar na degustação (aqui poderão ser oferecidas cápsulas,
ou uma solução Lemon Tek, se for preferível); a dose previamente
acordada é ingerida pelo participante.
12. Ofereça uma experiência de relaxamento guiado. Especificamente,
pergunte ao participante se eles gostariam de experimentar uma
meditação guiada para ajudar no processo de relaxamento e, se a resposta
for ‘sim’, o guia irá iniciar devagar e pacificamente com uma meditação
guiada. Um exemplo de meditação guiada:
“Essa meditação relaxante começa com a respiração profunda e
lenta e o relaxamento da respiração em diferentes partes do corpo.
Em seguida, o guia descreve como essa experiência pode produzir
mudanças na percepção e responder com “Isso não é interessante?
...”! As cores podem ser mais vivas, seu corpo pode se sentir
diferente, seu corpo pode ser maior ou menor, você pode ver a
música. Mensagem básica para a sessão: confie no rio, confie na
jornada, confie em seu próprio Curador Interno, confie na
sabedoria de sua própria mente, confie em nosso relacionamento.
Solte, esteja aberto. Deixe a música te levar. Confie no remédio
sagrado.”
13. Peça ao participante para colocar os fones de ouvido e a máscara de
dormir e, em seguida, inicie a playlist de música.
Estágio dois: Iniciando a experiência
Considerações para o guia:
Depois de ingerir o cogumelo, alguns viajantes podem querer se mover
pela sala e conversar normalmente. Se possível, é melhor para a pessoa ficar
quieta e reflexiva. No entanto, você precisa ser responsivo e permitir que o
viajante faça o que vier naturalmente, especialmente se houver alguma
ansiedade. À medida que a substância faz efeito, o viajante deve ser convidado a
se deitar e começar a ouvir sua própria música ou a da escolha do guia. Se, após
a parte inicial, uma pessoa continuar a se sentar e falar ou se mover próximo, ele
ou ela pode precisar de uma dose de reforço. Isso pode ser dado uma hora ou
mais na sessão sem problemas. Uma segunda dose deve ser cerca de metade da
dose inicial. Antes de dar o reforço, verifique e descubra o que a pessoa está
passando. O guia deve oferecer presença e escuta empática, comunicação
não-diretiva e suporte à Inteligência de Cura Interna do participante. A presença
empática inclui fornecer um ambiente sem julgamento, que oferece permissão
psicológica para falar de forma aberta e honesta. É preciso ouvir além e através
das palavras faladas para obter significados mais profundos, reconhecer o
sofrimento do outro e validar os sentimentos do participante. O objetivo da
comunicação durante o início e o meio da sessão é fornecer respostas
minimalistas, que comunicam uma presença empática e, portanto, permitem ao
participante experimentar a conexão com os guias.
Embora o objetivo seja incentivar o participante a ‘permanecer interno’ e
deitar-se, se o participante insistir em se movimentar pela sala, o guia poderá
chamar sua atenção para várias partes da sala que são inspiradoras ou bonitas.
Por exemplo, o guia pode oferecer uma flor ou um baralho de cartas com
‘espírito animal’ e permitir que o participante reflita sobre o significado da carta
sacada. Uma profunda jornada espiritual vai se desenrolar, quase sempre
começa antes da segunda hora acabar. Se após duas horas, com ou sem a dose
extra, o viajante ainda estiver acordado e interagindo, não dê outra dose. A
necessidade de continuar a se mover ou se relacionar com outra pessoa
geralmente é um sinal de resistência ao interior e deve ser respeitado. Sugira
caminhar ao ar livre, ouvindo música sentado. Não continue a pressionar por
uma sessão enteógena.
Dosagem: uma dose muito baixa pode diminuir a intensidade ou profundidade
da experiência; uma grande dose pode impedir que o que acontece seja
lembrado ou mesmo compreendido. Na dúvida, comece com uma dose menor
com a possibilidade de um reforço.
Movendo-se imprevisivelmente: Esteja pronto para mover um travesseiro
rapidamente para proteger a cabeça (ou outra parte do corpo) de qualquer
superfície dura, se os movimentos do participante forem imprevisíveis e
puderem resultar em ferimentos.
Fazendo perguntas pessoais ao guia: Se forem feitas perguntas pessoais ao guia,
o objetivo é demonstrar integridade pessoal e dar uma resposta honesta, mas não
deixar o material pessoal interferir na experiência do participante. Por exemplo,
se perguntado ‘por que você faz este trabalho’? Uma resposta que seria
apropriada é: ‘Descobri que estados alterados de consciência são muito úteis em
minha própria vida e estou honrado por ter a oportunidade de apoiar as
profundas jornadas de cura de outras pessoas - fico fascinado com a experiência
de ser humano e consigo comemorar toda a experiência humana durante essas
sessões - obrigado por confiar em mim para guiá-lo’ ou simplesmente ‘hoje é
sobre você e sua experiência, podemos conversar mais sobre mim e minhas
experiências mais tarde’. Antes de responder a perguntas pessoais, é útil
considerar se a auto-exposição se refere à experiência do participante e ajuda-o
a se conectar ao guia. Integridade com o mínimo de auto-exposição é o objetivo.
Estágio três: Abertura e Libertação
Considerações para o guia:
Ouça, observe e seja sensível aos estados mentais mutantes do viajante.
Durante este período que começará cerca de duas a três horas após a ingestão
dos cogumelos, se você fizer pouco mais do que monitorar a música e
permanecer por perto, dando apoio, será ótimo. Se você precisar acalmar as
ansiedades do viajante, um lembrete de que ele ou ela escolheu ter esta
experiência pode ser útil. É durante esta fase que o viajante tem maior
probabilidade de estar em contato com uma unidade de toda a existência.
Algumas pessoas vão descrever isso como "ver Deus", outras "se juntarem com
Deus", enquanto para outros ainda se torna uma experiência de "ser Deus”. Este
estado inclui a compreensão de que não apenas você, mas também todos os
outros são Deus. Seja qual for a forma que assuma, sua principal
responsabilidade é apoiar a pessoa que tem essa realização. Especialmente neste
ponto, não é incomum que os guias experimentem o que é conhecido como um
contato alto. Sem tomar qualquer substância, um guia pode relembrar memórias
vivas ou ter sensações de estar novamente sintonizado em estados de
consciência expandidos. A música e/ou estar com alguém passando por
experiências e exibindo comportamentos que você pode ter feito no passado
pode acender sensações que ecoam ou recriam seu próprio passado de viagens.
Esses estados são naturais, geralmente agradáveis e não precisam interferir no
seu papel como guia. Ao longo do dia, se precisar ir ao banheiro, vá. Se um guia
espera muito, o viajante pode perceber seu desconforto e ficar confuso. Mesmo
se você for o único guia, certifique-se de ir quando precisar e dizer ao viajante
que você está partindo para poucos minutos. Quando você voltar do banheiro, se
achar necessário, mencione que você se foi há apenas alguns minutos. Nesses
poucos minutos, muito tempo interior pode ter acontecido para o viajante.
Tornando-se cada vez mais ansioso e agitado: A melhor resposta à ansiedade de
um participante é primeiro demonstrar uma presença calma e compassiva.
Segurar a mão do participante e oferecer declarações gentis como as seguintes
podem ser úteis: ‘confie no remédio’ ou ‘confie no seu curador interno, ele irá
mostrar o que você precisa ver’ ou ‘respire fundo e lentamente’ ou ‘está tudo
bem’ ou ‘você está indo muito bem, tudo isso faz parte do processo’. Às vezes,
o trabalho corporal, em que você incentiva o participante a se mover da cama
para o tapete no chão e oferece massagem em pontos de pressão, é uma maneira
de focar novamente o participante. Geralmente, a ansiedade não é uma
experiência ‘ruim’ e o objetivo é apoiar o participante a permanecer com a
experiência até que sua Inteligência de Cura Interior mude-a. Às vezes, é
apropriado ajudar o participante a mudar o foco, e mudar a música é uma boa
maneira de reorientar. Somente em circunstâncias extremamente raras, e como
último recurso quando a segurança é um problema, o participante pode receber
um medicamento (isto é, um benzodiazepínico), para ajudá-lo a relaxar. Quando
considerado apropriado pelo guia com necessária assistência médica.
Se o participante ficar extremamente emotivo: Uma presença calma e
compassiva é a modalidade terapêutica preferida, e isso ajuda os participantes a
gerenciar sua própria ansiedade. Embora isso seja verdade, respostas
emocionais intensas não são incomuns em experiências de cura psicodélica em
resposta à turbulência/trauma interno do próprio participante. O principal
objetivo do guia é manter a calma, o foco é manter uma presença compassiva,
entendendo que a Inteligência de Cura Interna do participante está guiando essa
intensa liberação emocional e que essa é uma parte importante da jornada de
cura do participante. Se esse processo for uma experiência estimulante para o
guia, será importante discutir no relatório pós-sessão. Os participantes,
geralmente, estão muito ‘sintonizados’ com as emoções dos guias e a
necessidade de manter a calma na presença de turbulência emocional é
fundamental. A abordagem geral é não conter restrições.
Tentando sair do local: Memorize uma declaração que o guia deverá repetir
quantas vezes for necessário para que o participante fique no espaço apropriado.
Por exemplo: ‘Eu entendo que você quer sair, mas esta sala é um espaço seguro
e nós dois vamos ficar aqui e lidar com essa experiência juntos’ ou ‘eu entendo
que você tem medo, juntos vamos lidar com isso e juntos vamos ficar nesta sala
onde é seguro’. Ou planeje uma distração, por exemplo, ‘gostaria de lhe mostrar
uma coisa’ e retire um baralho de cartas espirituais.
Vômito: Alguns participantes irão vomitar durante a experiência psicodélica
com cogumelos psilocibinos. Ter um balde (ou uma lata de lixo vazia de
plástico) disponível é importante. Ser solidário sem incentivar ou desencorajar o
processo de vômito é o objetivo. Ter toalhas limpas, luvas (etc.) para limpar
rapidamente o participante ou a cama é importante.
Incontinência urinária ou fecal: Acidentes de incontinência são mais comuns na
Ayahuasca, mas podem ocorrer com qualquer medicamento psicodélico. É útil
ter o seguinte disponível: capa de cama à prova de acidentes, lenços
umedecidos, toalhas, luvas e sacos de lixo (para controlar o odor). Algumas
roupas de ‘tamanho único’ também podem ser úteis se as roupas do participante
ficarem sujas. Discutir como lidar com essa possibilidade rara e desagradável
com antecedência pode ser útil.
Alarme de incêndio ou acidentes externos: No caso de um alarme ou uma
emergência em que o participante e os guias são obrigados a deixar o espaço, o
objetivo é integrar essa experiência no processo geral. O processo é para que
guia ou os guias escoltem o participante para fora do local, minimizando o
contato com outras pessoas e encontrando um espaço o mais tranquilo e natural
possível. Caminhar para um parque local e focar no ambiente bonito é a
resposta ideal.
Estágio quatro: Platô
Após o período de reconhecimento enteogênico, é chegado o estágio de
Platô, onde a música é opcional. Geralmente ocorre após cerca de quatro a cinco
horas após o participante ingerir os cogumelos. O guia pode baixar
gradualmente o volume do som ou até desligar ou alternar períodos de silêncio e
música como for requerido pelo viajante.
Considerações para o guia:
O viajante pode relatar que teve ou ainda está tendo uma vasta expansão
de identidade, de fazer parte da criação do universo ou da formação das estrelas.
O viajante pode relatar ter experimentado uma recapitulação de criação pessoal,
indo de espermatozóides e óvulos durante o nascimento. Outros terão entrado
no que parecia ser evolução em si ou o que parecia ser vidas passadas. Onde
quer que o viajante relate ter estado ou ser, sua função é ouvir, apoiar e
esclarecer apenas se solicitado. Mantenha a conversa no mínimo. Se o viajante
estiver confuso ou chateado, ofereça segurança. Coloque a mão suavemente no
braço dele e diga algo como: ‘Você pode deixar para lá; você está indo bem.’
Esse toque reconfortante geralmente é tudo o que é necessário. Guias
experientes aprendem a intuir quando é apropriado dizer algo. Normalmente, é
mais do que o suficiente apenas estar com o viajante.
Indo ao banheiro: O participante pode ficar instável de pé e precisar de ajuda
para ir ao banheiro. O guia deve oferecer o braço para o participante segurar
enquanto caminham para o banheiro. Outra alternativa é que o participante
possa descansar as mãos nos ombros do guia e os dois andam - de frente para a
mesma direção - com o participante ‘rebocado’. À medida que o participante
entra, o guia fecha a porta atrás dele e afirma que ele espera do lado de fora e
estará lá para ajudá-lo a voltar para a sala da sessão quando terminarem. O guia
deve poder acessar o banheiro (abrindo a porta trancada) em caso de
preocupação e, se necessário, informar fortemente o participante que é hora de
retornar à sala de experiências.
Estágio cinco: O Deslize Suave
Neste estágio, que perdurará após cerca de cinco horas da ingestão dos
cogumelos pelo participante ou até que o guia e o viajante concordem em seguir
em frente, devem ser oferecidos petiscos simples (por exemplo, frutas frescas ou
secas, nozes, biscoitos, suco). A água deve estar disponível o tempo todo. O
viajante pode ou não optar por comer alguma coisa. (Se uma maçã estiver
incluída, você poderá ouvir um comentário sobre Adão e Eva.) O guia deve
comer se estiver com fome.
Considerações para o guia:
Se você foi solicitado a ajudar a criar uma ponte entre as experiências
místicas e o eu pessoal do viajante, excelentes ferramentas para fazer essa
conexão incluem uma flor, espelho e fotos de família. A flor preferida é um
botão de rosa, de preferência uma que está apenas começando a se abrir. O
viajante deve olhar para ele, desde que pareça atraente. Pode demorar até meia
hora. Se o viajante apenas olhar para ele, cheirá-lo e devolvê-lo, ofereça uma
segunda oportunidade e sugerir uma análise mais aprofundada. No entanto, se
não houver interesse, esteja pronto para avançar.
Outra forma de aprofundar as conexões feitas durante a sessão é convidar
o viajante para olhar em um espelho de mão em tamanho real. O viajante pode
ver seu próprio rosto envelhecendo ou se tornando mais jovem, e também pode
ver pessoas de diferentes sexos, idades e raças de diferentes períodos históricos.
Se isso ocorrer, incentive o viajante a continuar a pesquisar o espelho. Se o
viajante ficar preocupado ou com medo, sugira que ele se concentre nos olhos
no espelho. Os olhos geralmente permanecem constantes durante as mudanças e
são tranquilizadores. Mesmo que você tenha passado por uma experiência
semelhante em uma jornada própria, não ofereça uma interpretação do que está
sendo visto. Se o viajante deseja fazer um trabalho mais pessoal, ofereça fotos
de pessoas e lugares que foram trazidos para a sessão. O viajante pode olhar
para uma única imagem por tanto tempo como uma hora. Depois de comentar
ou sentar em silêncio, o viajante pode colocar essa foto para baixo e pedir outra.
Não se intrometa com suas ideias ou opiniões, especialmente se você
conhece as pessoas nas fotos. Uma pessoa pedindo sua venda ocular de volta é
uma indicação do retorno a mais limites de percepção familiares. A pessoa
ainda é apenas levemente identificada com sua personalidade, mas já se
identificou com seu corpo. Se um viajante chegou com um resfriado, uma
alergia ou dor de algum tipo, esses sintomas costumam desaparecer durante a
sessão e podem voltar nesse período. Curas completas ou parciais de condições
físicas podem acontecer. Por exemplo, o Dr. Andrew Weil, o defensor mais
conhecido da medicina complementar, que sofreu de uma alergia severa e
vitalícia a gatos, essa alergia desapareceu durante uma sessão de LSD e nunca
mais reapareceu. Se o viajante trouxe música para a sessão, este é um excelente
momento para ouvi-las. Este também é um bom momento para revisar as metas
ou perguntas escritas antes da sessão. Item de cada vez em voz alta. Tal como
acontece com as fotografias, discuta ou interprete o mínimo possível. Não
sugira uma resposta ou mesmo uma direção a menos que seja perguntado.
Algumas pessoas vão querer discutir suas percepções e realizações; outros não o
farão.
À medida que o remédio desaparece, permita uma discussão empática e
‘não diretiva’. A essência do que se entende por ‘não-diretivo’ repousa no
momento das intervenções. Não é uma proibição de envolvimento mais ativo
sob circunstâncias apropriadas. De fato, há ocasiões em que o fracasso em
oferecer orientação de maneira sensível seria problemático, assim como ser
excessivamente diretivo é problemático. O essencial é que o ritmo da sessão
permita que o próprio processo do participante se desenvolva espontaneamente;
que os guias permitam tempo suficiente para esse desdobramento antes de
oferecer orientação. Por exemplo, se um participante estiver se sentindo preso, a
abordagem inicial deve encorajá-lo a sentir essa experiência, confiando que a
Inteligência de Cura Interior guiará a resposta. Quando o guia oferece
orientação, deve ser feito no modo de investigação e convite compassivo e
colaborativo, deixando a escolha para o indivíduo. Oferecer orientação em
horários específicos, dentro do contexto de uma sessão que permitiu e
incentivou a Inteligência de Cura Interna do participante a assumir a liderança
geral e respeitou as opções do participante em seguir as orientações sugeridas, é
totalmente compatível com a definição de uma abordagem não-diretiva.
A comunicação não diretiva também usa convite, e não direção. Por exemplo:
● “Nós encorajamos você a ...”
● “Este pode ser um bom momento para ...”
● Em vez de “respire” (que é uma declaração diretiva), diga “respirando”,
pois isso é sugestivo e acompanha a experiência dos participantes.
● Refletir de volta ao participante o que eles estão dizendo para continuar a
conversa sem ser direto.
● Trabalhar com a Inteligência de Cura Interna do participante para resolver
a expressão de sentimentos dolorosos.
● “Estou aqui com você, use sua respiração e fique com ela o máximo que
puder. Sei que isso é difícil, mas também sei por experiência que essa é
uma parte importante da cura. Experimentar e expressar isso plenamente,
passar por isso em vez de se afastar é a maneira de realmente curá-lo ”.
Com uma combinação de escuta empática, perguntas e observações, os
guias facilitam dois aspectos complementares do processamento dessas
experiências desafiadoras: por um lado, enfrentando e até amplificando a
experiência, a fim de permitir o desenvolvimento espontâneo do processo de
cura, e por outro lado, esclarecendo, compreendendo e ganhando novas
perspectivas sobre experiências passadas e emoções dolorosas.
Estágio seis: O Fim da Sessão
A sessão de Psilotropia Guiada deve terminar após seis a oito horas dos
viajantes terem ingerido os cogumelos psilocibinos.
Caso ainda o viajante esteja passando por turbulências durante o estágio
final, em que o sofrimento emocional persiste e ele não consegue processar e se
mover espontaneamente, as etapas a seguir podem ser úteis. Na maioria dos
casos, essas etapas devem ser executadas sequencialmente, passando para a
próxima etapa apenas se necessário:
1. Pergunte: “Do que você tem consciência no seu corpo”? Essa pergunta
ajuda o participante a tomar consciência do vínculo entre emoções
angustiantes e quaisquer manifestações somáticas. Fazer esse link e
sugerir ‘respirar nessa área e permitir que sua experiência se desdobre’
pode ser a única intervenção necessária. A aplicação de ‘toque
terapêutico’, ou uma leve pressão da mão do guia na área da dor, pode
ajudar a resolver o problema.
2. Incentive o participante a ‘usar sua respiração para ajudá-lo a permanecer
o mais presente possível com esta experiência’. Diga “entre novamente
para permitir que sua Inteligência de Cura Interior trabalhe com isso”. Se
o participante ainda estiver sob a influência do remédio, adicione: “o
remédio ajudará a que isso aconteça”.
3. Se o participante estiver bastante agitado (ansioso, se movimentando na
cama, abrindo os olhos), pode ser útil segurar a mão dele ou colocar a
mão suavemente no braço, peito ou costas ou em uma área onde ela/ela
está sentindo dor, tensão ou outros sintomas físicos. Esse toque nutritivo
pode ser tranquilizador e ajudar a redirecionar a atenção para a
experiência interior, mas só deve ser feito com a permissão do
participante. A aplicação de ‘toque terapêutico’ ou uma leve pressão da
mão do guia na área de dor pode ajudar a resolver o problema.
4. Pergunte: “Existe algum conteúdo (imagens, memórias ou pensamentos
específicos) surgindo com esses sentimentos”? Nesse caso, os guias
podem incentivar uma discussão mais aprofundada. A oportunidade de
colocar a experiência em palavras pode, por si só, ser terapêutica,
especialmente nesse ambiente seguro. Essa conjuntura também pode ser
uma abertura para o guia ajudar o participante a explorar conexões entre
sintomas atuais e experiências traumáticas passadas, bem como uma
oportunidade para começar a colocar essas experiências em perspectiva
em sua vida atual.
5. Após esse período de conversação, e periodicamente durante a sessão,
incentive o participante a ‘voltar para dentro’, a se concentrar em sua
própria experiência interior.
6. Se o participante continuar a expressar ou exibir sofrimento emocional,
tensão ou dor somática, poderá ser indicada uma massagem de natureza
mais focada ou outra técnica complementar, de acordo com o treinamento
e a experiência dos guias nessa área.
À medida que a sessão está chegando ao fim, pergunte ao participante se
ele gostaria de refletir sobre sua intenção inicial e quaisquer conclusões que ele
tenha refletido sobre a experiência. Os objetivos são esclarecer e solidificar as
lições aprendidas. Pode ser útil no processo de integração pedir ao participante
que escreva um parágrafo sobre a experiência e dê a ele a opção de fazer isso
agora ou em casa naquela noite para retornar no dia seguinte durante o dia após
a sessão de integração. Ter um acompanhante preparado para receber o viajante
após a sessão será muito útil para a experiência em geral, portanto o guia deverá
informar a este acompanhante considerações importantes para o momento
pós-sessão.
Considerações para o assistente/acompanhante:
O acompanhante é um amigo ou parente, de preferência alguém com
experiência com psicodélicos, que cuidam do viajante quando a sessão termina.
Ele ou ela deve chegar para levar o viajante da sala de sessão para a casa do
viajante, se possível, ou para a do assistente. Durante a noite de reentrada do
viajante, o assistente não deve julgar, ser gentil, aberto para ouvir e confortável
com o silêncio. Longos períodos de silêncio indicam que o viajante ainda está
entrando e saindo da experiência e pode estar tendo percepções significativas. O
assistente deve fazer anotações, se solicitado. É uma boa ideia oferecer uma
refeição leve com alimentos simples. Se o viajante tomar medicamentos, depois
de uma sessão, uma pessoa pode entrar e sair do sono a maior parte da noite. Se
uma pessoa gostaria de ir dormir, mas não consegue relaxar o suficiente para
fazer isso, leite morno, chá de camomila ou apenas uma única taça de vinho
podem ajudar. As pessoas preferem não tomar nada, permitindo que a sessão
termine naturalmente, e assim dormem normalmente na maioria das vezes.
Se houver o trabalho de guias em pares (o que é recomendável que seja
um homem e uma mulher), eles têm a responsabilidade de trabalhar ativamente
no relacionamento entre si. Isso é importante porque um fluxo fácil de
informações maximizará o aprendizado para ambos os guias e, mais importante,
quaisquer conflitos de relacionamento não resolvidos entre os guias
provavelmente serão percebidos pelo participante e desviarão a eficácia da
sessão. Portanto, os parceiros orientadores precisam trabalhar com antecedência
para discutir como analisarão as sessões (por exemplo, sempre falando sobre o
equilíbrio de suas duas vozes, quaisquer interrupções percebidas pelo outro,
qualquer coisa que incomode e questões de contratransferência). O
interrogatório também é importante - a pergunta “como foi esse processo para
você” é importante para manter a comunicação aberta
CAPÍTULO III - PÓS-SESSÃO PSILOTRÓPICA
Após a sessão de Psilotropia Guiada, o viajante deverá passar por um
intenso e longo período de integração, para que sua experiência possa ser
devidamente integrada no seu cotidiano, e assim promover o desenvolvimento
espiritual e a cura interior, que só poderão ser promovidos se cultivados neste
processo de pós-sessão. Às vezes, os participantes sentem mais ansiedade,
confusão e desorientação por um período de tempo após uma intensa
experiência psicodélica. Geralmente, isso não é uma preocupação de longo
prazo se for gerenciada com habilidade.
O processo de integração começa no dia seguinte à experiência e pode
continuar por quantas semanas ou meses forem necessários para facilitar o
processo. Se o guia também for um terapeuta, todas as suas técnicas terapêuticas
específicas são apropriadas durante o estágio de integração, desde que a
Inteligência de Cura interna do participante também esteja continuamente
envolvida. As informações utilizadas para esta fase referem-se a tradução de
trechos do livro “Manual for Psychedelic Guides” de Mark Haden, e ao livro
“The Psychedelic Explorer's Guide” de James Fadiman.
Fase três: Integração
Considerações ao guia:
“É bom encontrar o viajante pelo menos uma vez logo após a sessão para
ajudar com o processo de integração, preferencialmente na manhã seguinte à
sessão. Além disso, esteja disponível conforme necessário. Saber que você está
lá, se necessário, parece ser quase tão valioso quanto você realmente fazer ou
dizer qualquer coisa em especial. Antes da sessão, certifique-se de aprender
sobre o sistema de suporte do seu viajante: família, amigos, pessoas no trabalho
e pessoas na igreja, mesquita ou templo, bem como se for apropriado em
quaisquer reuniões posteriores, sugira que algumas dessas pessoas possam ser
úteis enquanto outras não, pelo menos por um tempo.” (J. Fadiman)
Os Objetivos do Processo de Integração são:
1. Reduzir experiências/sentimentos negativos após a experiência
psicodélica.
2. Trabalhar nas idéias obtidas durante a experiência.
3. Manter uma conexão positiva com o guia.
4. Melhorar (e construir novas) conexões com outras pessoas que apoiam
mudanças emocionais e comportamentais saudáveis.
Processo inicial durante a sessão de integração:
1. Comece com a pergunta geral do tipo “como você está?”
2. Pergunte sobre os aspectos positivos e desafiadores da sessão
psilotrópica.
3. Discuta as intenções do participante (que foram discutidas no processo de
preparação).
4. Pergunte sobre o ambiente doméstico ou contatos sociais significativos
após a experiência. Interações com outras pessoas (por exemplo, parceiro,
família ou amigos) que não apoiam podem ser problemáticas para o
processo de integração e refletir sobre essas conversas de uma perspectiva
de cura pode ser útil
5. Se o participante relatar aumento da ansiedade ou desorientação
angustiante, explique que isso é comum e parte natural do processo de
cura. Talvez use a analogia do hematoma e do inchaço que ocorrem nos
traumas físicos, que são dolorosos e angustiantes, mas parte do ciclo
natural de cura que inevitavelmente ocorre. Explique que o processo para
lidar com isso é focar no básico, como: boa dieta, exercícios leves,
conversar sobre questões subjacentes com um conselheiro, boa higiene do
sono, apoio social, evitar álcool/cafeína/medicamentos sem receita
médica.
6. Faça um exame detalhado das ‘lições aprendidas’ na experiência
psilotrópica.
7. Elabore um plano de integração atuando com base nos insights.
8. Discuta como o trabalho real está apenas começando e as ‘lições
aprendidas’ são rapidamente desaprendidas se não trabalharmos duro para
mudar nossos pensamentos/comportamentos/sentimentos/
relacionamentos. Durante a experiência psicodélica, a pessoa percebe os
laços inconscientes (geralmente prejudiciais à saúde) que podem gerar
padrões e emoções aparentemente automáticas de comportamento. O
desafio da integração é formar novos laços saudáveis do inconsciente e,
em seguida, escolher conscientemente como agir com esses novos laços.
Os antigos laços não desaparecem rápido e completamente, mas precisam
lentamente ficar inativos à medida que os novos laços são reforçados.
Laços inconscientes são como bíceps - quanto mais você os exercita, mais
fortes eles ficam. A integração tem a ver com criar e extrair
repetidamente processos internos saudáveis. Mudar comportamentos que
são conduzidos por laços inconscientes geralmente é desconfortável a
princípio e é necessário apoio e compreensão para persistir no caminho
desse caminho de cura.
9. Discuta como o participante pode melhorar os relacionamentos existentes
com a família, amigos e comunidade e construir novas conexões que
apóiam as mudanças emocionais e comportamentais positivas que estão
sendo processadas.
10. Peça feedback para ajudar a melhorar o processo de orientação no futuro:
a. O que achou do guia da sessão?
b. O que achou da sala/música/espaço?
c. Você se sentiu seguro?
d. A preparação foi adequada?
e. Você pode oferecer algum feedback para ajudar a melhorar a
experiência no futuro?
Integração ao longo do tempo:
O processo de integração pode ser curto ou pode levar muitos anos. O
objetivo é fazer as mudanças psicológicas, sociais, emocionais, ambientais ou
físicas necessárias para melhorar a qualidade de vida do participante. O guia
psilotrópico/psicodélico pode ser a pessoa que apoia esse processo ou pode ser
um terapeuta externo, conselheiro, amigo ou membro da família. A principal
mensagem é que os cogumelos (e outros psicodélicos), por si só, não são uma
cura, mas essas experiências cuidadosamente estruturadas podem resultar em
insights profundos que precisam ser adotados para fazer mudanças a longo
prazo.
Frequência: em quanto tempo o viajante pode experimentar novamente?
Quantas vezes?
“Como acontece com a maioria das outras experiências positivas,
geralmente queremos fazer isso de novo. No entanto, as viagens psicodélicas
não são como a maioria das outras experiências. Se você as fizer novamente em
breve, você não pode esperar que elas tenham o mesmo efeito. A regra é a mais
profunda da experiência, quanto mais tempo você esperar antes de fazê-lo
novamente. O ‘Guild of Guides’ sugere um mínimo de seis meses entre viagens
enteogênicas porque leva pelo menos esse tempo para que o aprendizado e os
insights sejam absorvidos e integrados em sua vida. Uma pesquisa conduzida na
Fundação Internacional para Estudos Avançados em Menlo Park, Califórnia, ao
longo de um período de seis anos, descobriu que demorou pelo menos um ano
inteiro para se arraigar mudanças de personalidade e estabilizar. Muitas pessoas
que tiveram experiências verdadeiramente profundas não tiveram desejo por
alguns anos, ou mesmo nunca mais novamente, por quaisquer sessões
subsequentes. Outra advertência em resposta a essas perguntas é que ‘perseguir
o alto’ quase nunca funciona. É como tirar uma foto em cima de outra no
mesmo quadro de filme - uma dupla exposição. As duas imagens vão se
obscurecer. No entanto, se você avançar o filme para que um quadro não
exposto esteja disponível, a próxima imagem capturada será fresca e pode ser
tão significativa à sua maneira quanto a primeira. Se [o participante] sentir que
absolutamente deve tomar um psicodélico novamente o mais rápido possível, é
provável que precise enfrentar algum problema que esteja evitando. Esse
sentimento não é um comando do Eu superior para tomar um psicodélico, não
importa o quanto queira que seja.
A opção é marcar uma sessão com um terapeuta [que tem experiência
com psicodélicos] para ver o que foi descoberto ou encoberto. Lembre-se de que
sua experiência não foi simplesmente ‘induzida por drogas’, mas foi facilitada
por uma mistura da substância, o guia, sua intenção e outros fatores únicos à sua
situação no momento. Negligenciar qualquer uma dessas variáveis pode
diminuir o valor para você de qualquer sessão subsequente. Espere pelo menos
mais um mês e veja o que parece certo.” (J. Fadiman)
No entanto, algumas pessoas podem precisar de mais sessões do que
outras, e eventualmente com maior frequência. Geralmente aqueles que sofrem
de alguma condição depressiva, ansiosa ou relacionada a vícios, tendem a
correlacionar naturalmente, e inconscientemente, a experiência psicodélica com
fatores relativos a essas condições. E portanto o processo de integração deverá
envolver esses fatores, para que no cotidiano essas condições possam diminuir
seu estado de sofrimento. Porém, em casos mais profundos dessas condições -
ou mais graves -, as pessoas podem enfrentar dificuldades mais adversas, e
acabarem precisando de mais sessões para auxiliar nesta jornada. Se for um caso
dessa natureza, o guia deverá conduzir o participante para um terapeuta
especializado nessas condições, que tenha tido contato com experiências
psicodélicas (se o guia já não for esse terapeuta). E a recomendação é que
construa-se um grupo de pessoas ao redor deste participante para ampará-lo
durante todo o processo. Neste grupo podem incluir o guia, o terapeuta, amigos,
conselheiros, familiares e outros que voluntariamente se propuserem a ajudar.
Ainda assim o recomendável é um período de três a seis meses para uma nova
sessão, porém mantém-se a ideia de aguardar um mês, e observar as condições
do participante. Fazendo isso todos os meses, com muita atenção, este grupo de
apoio poderá fazer importante diferença durante o processo de integração.
Informações adicionais ao processo de Psilotropia Guiada
Perguntas frequentes
O guia pode utilizar cogumelos durante a sessão?
R: A recomendação máxima é que o guia não utilize nenhuma substância
durante a sessão, caso ele precise, ele poderá fazer uma sessão para ele mesmo
antecipadamente à sessão do participante.
O guia poderá fazer uma sessão para si mesmo? Como?
R: Um guia psilotrópico experiente e cuidadoso, com o conhecimento adquirido
será capaz de efetuar uma sessão de Psilotropia Auto-guiada. Que consiste em
reproduzir uma sessão psilotrópica padrão (com todos os elementos), porém
onde ele estará sendo também o viajante. Neste caso, a recomendação é que o
guia esteja com algum acompanhante, que foi devidamente preparado
antecipadamente pelo próprio guia. A preparação deve ser feita com base no
conhecimento e experiência do guia em questão.
Quantos guias é recomendável ter numa sessão?
R: O ideal, se possível, é haver dois guias, um homem e uma mulher. As vezes e
de forma imprevisível, um viajante pode preferir o apoio de um gênero ou de
outro. Dois guias tornam a tarefa de guiar mais fácil para os guias e permitem
que eles façam pequenas pausas durante a sessão. Porém, caso se trate de
sessões predominantemente particulares, um guia deverá ser suficiente.
Por que o ideal é um guia homem e uma mulher?
R: A presença de energias masculinas e femininas é a situação ideal, pois
construirá um ambiente de maior equilíbrio energético. Além disso, será mais
acessível a qualquer pessoa, caso alguém se sinta mais confortável na presença
masculina ou feminina.
Qualquer pessoa pode ser um guia?
R: A princípio o guia precisará passar por um processo de aprendizagem, que
incluirá uma grande contextualização histórica e científica, junto ao estudo deste
Protocolo de Psilotropia Guiada, que deverá ser aderido. Qualquer pessoa,
exercendo qualquer profissão, que passe por esse processo, poderá ser um guia
desde que tenha as predisposições vocacionais de auxiliar o próximo em sua
jornada de desenvolvimento pessoal e espiritual, o que a os profissionais de
saúde em geral, líderes religiosos, e terapeutas alternativos acabam se
destacando mais.
Uma sessão precisa ser acompanhada por um médico/psiquiatra?
R: Não há a necessidade de uma sessão de Psilotropia Guiada ser acompanhada
diretamente ou pessoalmente por um psiquiatra, pois não se trata de um terapia
e nem qualquer outro tipo de tratamento psicológico (ainda que tenha benefícios
terapêuticos).
Numa sessão pode haver a colaboração de xamãs ou curandeiros?
R: A colaboração de xamãs ou curandeiros já acontece através dos estudos
antropológicos que os guias deverão fazer em sua formação, para que leve em
consideração as práticas dessas culturas, porém não se trata também de uma
prática xamânica, e nem indígena - os índios sabem fazer isso melhor do que
nós -, mas se trata de uma prática voltada à sociedade urbana, num formato mais
culturalmente ‘adequado’ a ela.
As sessões de Psilotropia Guiada podem ter alguma conotação religiosa?
R: A Psilotropia em si pode ser considerada uma neo-religião, onde nessa
perspectiva ela é revolucionária pois não necessita da devoção dos participantes,
mas sim apenas de seus interesses em participar das sessões. As experiências
espirituais irão acontecer, independentemente do crivo ou crença, portanto de
certa forma pode ser considerada uma religião ‘pura’. Mas por outro lado, toda a
prática foi baseada também na forma com que a Ciência tratou e trata os
psicodélicos em geral, desde a década de 1950. Os guias também deverão
estudar sobre essas abordagens, e levá-las para as sessões (que levam em
consideração o set & setting, por exemplo, que é utilizado nas terapias
psicodélicas).
Código de ética
As informações a seguir foram baseadas no Código de ética descrito no
livro “Manual for Psychedelic Guides”, de Mark Haden, e traduzido e adaptado
pelo autor deste protocolo, com o intuito de estabelecer um procedimento ético
e responsável perante a prática de Psilotropia Guiada.
Portanto,
Cada experiência envolvendo psicodélicos é única, carrega um certo grau
de mistério e também alguns riscos. O participante e os guias assumem
responsabilidades especiais ao cultivar um relacionamento único. Para gerenciar
esses riscos, o seguinte código de ética deverá ser considerado:
Intenção
Os guias psilotrópicos devem praticar e servir a sociedade de maneiras
que cultivem a consciência, a empatia e a sabedoria. As práticas de Psilotropia
Guiada devem ser planejadas e conduzidas de forma a respeitar o bem comum,
com o devido respeito pela segurança, saúde e ordem públicas. Uma vez que o
aumento da consciência adquirida com essas práticas pode catalisar o desejo de
mudança pessoal e social, os guias devem ter cuidado especial para ajudar a
direcionar as energias daqueles a quem servem, bem como as suas próprias, de
forma responsável que reflita uma consideração amorosa por toda a vida.
Integridade:
Os guias devem se esforçar para estar cientes de como seus próprios
sistemas de crenças, valores, necessidades e limitações afetam seu trabalho e
procurar aconselhamento de outros guias ou um supervisor ao enfrentar
conflitos com relação a esses aspectos de sua identidade. Durante as práticas de
Psilotropia Guiada, os participantes podem estar especialmente abertos a
sugestões, manipulação e exploração; portanto, os guias prometem proteger os
participantes e não permitir que ninguém use essa vulnerabilidade de maneiras
que prejudiquem os participantes ou outras pessoas.
Competência:
Os guias participam apenas quando são qualificados por meio de
experiência pessoal, treinamento e educação. Isso inclui um conhecimento
profundo dos contextos envolvendo os fungos psilocibinos, dos efeitos das
substâncias psicodélicas em geral, bem como o Protocolo de Psilotropia Guiada.
Eles devem demonstrar habilidade na abordagem terapêutica não diretiva e nos
princípios de uma orientação psicodélica, mantendo a consciência atenta às
necessidades do participante.
Saúde e Segurança:
Os guias devem fazer os preparativos para proteger e promover a saúde e
a segurança de cada participante, mantendo sua própria saúde e segurança. Isso
inclui reconhecer que pode haver períodos em que o participante possa estar
sensível ou vulnerável. Esses períodos exigem premeditação quanto à garantia
dos cinco (5) elementos essenciais. Conheça as ações a serem tomadas se
houver um desastre natural imprevisto, problema significativo com o
edifício/espaço (por exemplo, incêndio, inundação) ou uma emergência médica.
Limites Saudáveis:
Comunicação, confiança, conexão, honestidade e confidencialidade
devem ser estabelecidos e respeitados pelos participantes e pelos guias. Os
limites de comportamento dos participantes e guias devem ser esclarecidos e
acordados antes de qualquer sessão. Os guias estão cientes de possíveis
transferências, contratransferências, diferenciais de poder e outros aspectos
relacionados às formas de relacionamento dos participantes/guias e assumem a
responsabilidade de manter sempre os limites éticos profissionais. Os guias são
responsáveis por conhecer os sintomas da fadiga por compaixão e por tomar
medidas pessoais para evitar os efeitos negativos; eles se esforçam para
promover uma presença profissional centrada e alegre. É uma responsabilidade
importante do guia saber quando eles precisam interromper sua prática de cura
para evitar a exaustão.
Presença Empática Compassiva:
Através da presença total e compassiva do guia, o viajante expande sua
consciência e aprende mais sobre estar presente nos níveis pessoal e
interpessoal. Com a disposição e a dedicação do guia em ser um ouvinte sem
julgamento, ele/ela facilita um nível profundo de confiança e compartilhamento
de maneira profunda, pessoal e genuína. É estabelecida uma conexão íntima
entre o guia e o participante, criando um conjunto ideal, onde o guia deverá
praticar a franqueza e o respeito pelas pessoas cujas crenças podem
aparentemente entrar em contradição com as suas.
Ser Membro Funcional de uma Equipe:
A orientação psicodélica geralmente acontece no contexto de uma equipe.
Um guia experiente entende o contexto mais amplo de seu trabalho, pois o
trabalho psicodélico requer muitas pessoas com uma ampla gama de origens e
habilidades, e são necessários relacionamentos positivos para que a equipe
funcione bem. Criar e manter relacionamentos construtivos com os outros
membros da equipe raramente é fácil e requer a intenção específica de trabalhar
na construção e manutenção de relacionamentos, tempo, energia, tolerância,
respeito pelas habilidades dos outros, auto-divulgação e confiança. Os guias
psilotrópicos irão se relacionar e trocar informações e conselhos entre si para
enriquecer o processo de Psilotropia Guiada.
Considerações Finais
Este protocolo remonta informações compartilhadas por dois expoentes
importantes para o mundo enteógeno como um todo. O primeiro é o doutor
Ph.D. James Fadiman (nascido em 27 de maio de 1939), um psicólogo e escritor
americano. Ele é reconhecido por seu extenso
trabalho no campo da pesquisa psicodélica.
Ele foi cofundador, junto com Robert Frager,
do Instituto de Psicologia Transpessoal, que
mais tarde se tornou a Sofia University, onde
foi professor de estudos psicodélicos. Ele
trabalhou com os psicodélicos vastamente
durante a década de 1950/1960, e é autor,
dentre diversas obras, do livro “The
Psychedelic Explorer's Guide: Safe,
Therapeutic, and Sacred Journeys”, ao qual
serviu de vasta referência para o protocolo em questão.
O segundo importante personagem é o canadense Mark Haden
(Vancouver, British Columbia, Canadá), que trabalha há anos na área da
educação pública sobre dependência e drogas ilegais, especialista em assuntos
como redução de danos de drogas em geral, prevenção sobre drogas em escolas,
e saúde pública para drogas ilegais. Mark é
Diretor Executivo da MAPS Canadá
(Associação Multidisciplinar de Estudos
Psicodélicos), uma importante associação de
incentivo para estudos psicodélicos em geral. Ele
é autor do livro “Manual for Psychedelic
Guides”, obra que possui vastas informações
para guias psicodélicos, com um trabalho
conjunto de guias experientes, que também
serviu de forte referência para a produção deste
protocolo.
Ambos os autores defendem a ideia de que estas experiências -
enteógenas - precisam ser abordadas através de uma perspectiva responsável,
principalmente perante ao contexto social desinformado em que a maioria das
sociedades vivem em relação a estes compostos psicodélicos. Há não muito
tempo atrás, milhares de pessoas estavam utilizando drogas psicodélicas em
contexto cultural em larga escala, com movimentos contraculturais embutindo
ideologias sociais nestas práticas, com frases do tipo “turn on, turn in, drop out”
de Timothy Leary, encorajando jovens a se desvencilhar da sociedade comum,
através do uso desses enteógenos. Sem dúvidas, foi a primeira vez na história da
humanidade, possivelmente, em que esses enteógenos foram utilizados em
massa como forma de desconexão social, muito pelo contrário de como é visto
em culturas indígenas milenares, que os utilizam como uma ferramenta
pró-social. Aqui não se discute se tal movimento foi bom ou ruim, benéfico ou
maléfico para a sociedade em geral, ou coisa parecida. Mas é fato que tais
movimentos espalharam a prática enteógena pelo mundo, sem se atentar
necessariamente a um ‘protocolo’ a ser sugerido. Até aqui, o lema sempre foi
‘use do seu jeito’.
Pessoas como Fadiman e Haden, acreditam que estas práticas precisam
ser mais responsáveis, para que realmente possam alcançar o real potencial -
espiritual - que elas podem oferecer. Toda cultura rica da natureza, que utiliza os
enteógenos como práticas medicinais e de passagem, o fazem através de ritos
rigorosos, acompanhados por pessoas experientes e sábias, comprometidas em
trabalhar a favor da jornada de autocompreensão promovida pelo uso desses
componentes da natureza. O autor deste protocolo também acredita nesta ideia,
e por isso decidiu produzir este documento, com foco em oferecer diretrizes
confiáveis para o uso urbano destas práticas tão enriquecedoras ao ser.
Referências
Este protocolo não poderia ter sido produzido sem as importantes
informações traduzidas e/ou adquiridas nas seguintes fontes de referências:
The Psychedelic Explorer's Guide: Safe, Therapeutic, and Sacred Journeys -
https://www.amazon.com.br/Psychedelic-Explorers-Guide-Therapeutic-Journey
s/dp/1594774021 (James Fadiman, 2011)
Manual for Psychedelic Guides -
https://www.amazon.com/Manual-Psychedelic-Guides-Mark-Haden-ebook/dp/
B08MB98F26 (Mark Haden, 2019)
Legislação para com cogumelos mágicos:
https://teonanacatl.org/threads/cultivo-e-uso-de-cogumelos-e-a-nova-lei-anti-dro
gas.803/ (Fórum Tenonanacatl)
https://pt.quora.com/É-permitido-no-Brasil-cultivar-e-consumir-cogumelos-aluc
inógenos (Quora)
Os 5 elementos essencias: https://www.filipsilva.com/psilotropia
Pesquisa científica sobre música e psicodelia (Mendel Kaelen):
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0924977X16300165
(Revista Science Direct)
https://www.vice.com/pt/article/8qm4gv/as-dicas-de-um-cientista-para-montar-u
ma-trilha-sonora-para-viagens-de-lsd (Vice)
Pesquisa de imagem cerebral durante o efeito do LSD:
https://www.vice.com/pt/article/vvz4b4/cientistas-obtiveram-pela-1-vez-imagen
s-do-nosso-crebro-sob-efeito-do-lsd (Vice)
Diretrizes para Viajantes e Guias, de James Fadiman, Ph.D.:
https://www.entheoguide.net/blog/2018/7/1/guidelines-for-voyagers-and-guides
(Entheoguide)
Dieta leve - Orientação nutricional:
https://www.gamedii.com.br/especialidades-nutricao/372-dieta-leve
(GAMEDII)
Discussão sobre a Lemon Tek:
https://teonanacatl.org/threads/discussão-sobre-lemon-tek.9294/ (Teonanacatl)
Guia de cultivo para P. cubensis
(https://drive.google.com/file/d/1zJAHGNXlHzXrVQ0hJQYPJLAE2f4MOy6j/
view): https://www.mundodoscubensis.com (Mundo dos Cubensis)
Code of Ethics for Spiritual Guides -
https://csp.org/docs/code-of-ethics-for-spiritual-guides (Council on Spiritual
Practices)
Guia para micro dosagem de Cogumelos Mágicos Psilocybe Cubensis -
https://www.naturezasana.com/guia-para-micro-dosagem-de-cogumelos-magico
s-psilocybe-cubensis/ (Natureza Sana)
James Fadiman - https://en.wikipedia.org/wiki/James_Fadiman (Wikipedia)
Mark Haden - https://www.markhaden.com (Site pessoal)