Rafaela Zanotto Casagrande
O Sufrágio e a Primeira Onda
Feminista
U. Curricular: História da Época Contemporânea
Docente: Rui Bebiano
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2018
1. Um mundo em mudança
A partir de 1880, uma nova espécie de mulheres começou a emergir. Essas mulheres
se distinguiram e atraíram olhares porque ocupavam funções tradicionalmente reservadas
para homens. Nomes como Rosa Luxemburgo, Madame Curie e Beatrice Webb ficaram
famosos no campo das ciências políticas, físicas e económicas. Apesar de serem uma
minoria, sobretudo das classes média e alta, romperam com alguns padrões da época e por
isso geraram olhares curiosos (Hobsbawn, 1988). A condição da mulher perante a sociedade
estava em transformação na direção de um movimento de emancipação feminina. Essa
evolução foi reflexo de um contexto de mudanças, mas não foi linear e uniforme. Atingiu
diferentemente tempos, espaços e ordens sociais.
Um dos primeiros aspetos que teve efeito na condição das mulheres foi a transição
demográfica. Como afirma Hobsbawn, a condição das mulheres trabalhadoras pouco mudou,
exceto num aspeto crucial: agora tinham muito menos filhos (Hobsbawn, 1988). As taxas de
natalidade e mortalidade estavam muito melhor coordenadas e isso afetou diretamente a vida
feminina. A taxa de mortalidade infantil de menores de 1 ano teve uma descida
impressionante o que leva a mudanças significantes na mentalidade das mulheres. Notável,
também, foi o impacto da queda da taxa de natalidade. As mulheres terem menos filhos
significava a diminuição dos riscos que cada gravidez trazia e ainda maior disponibilidade
de tempo para trabalhar. Essa redução pode ser resultado de casamentos mais tardios das
mulheres, elevação do número das que não casam ou formas de controlo da natalidade
(Hobsbawn, 1988).
O controle da natalidade indica um enraizamento de novos valores e novas
expectativas na esfera do trabalho das mulheres. Mas poucas foram verdadeiramente
afetadas. De fato houve mudanças culturais e no âmbito das mentalidades, as famílias
estavam menores e os pais se preocupavam cada vez mais em dar as melhores oportunidades
para cada filho (Hobsbawn, 1988). «Ora, famílias menores permitiam que, a cada criança, se
dedicasse mais tempo, cuidados e recursos» (Hobsbawn, 1988, p. 246). Mas essa nova
mentalidade exigia das mulheres uma maior atenção e tempo aos seus filhos. A verdade,
como indica Hobsbawn, é que a maioria das mulheres continuava fora da «economia»1.
1
Na década de 1890, na Alemanha, apenas 12% das mulheres casadas estavam «ocupadas»,
enquanto para os homens casados a percentagem era de 95 (Hobsbawn, 1998).
1
Outra mudança que teve grande impacto na esfera do trabalho das mulheres do fim
do século XIX foi o decréscimo das indústrias familiares. Quando a casa de habitação se
separou do local de trabalho as mulheres foram largamente excluídas da economia - ficando
dependentes economicamente dos homens - e confinadas ao serviço doméstico. Essa nova
economia que contava com a separação da casa e local de trabalho levou a um padrão de
divisão sexual-económica e a função primária da mulher era de dona de casa.
Pode encarar-se a industrialização do século XIX como um processo que tendia a
expulsar as mulheres, e particularmente as mulheres casadas, da economia (Hobsbawn,
1988). A família devia ter um «ganhador de pão», que era o homem, e só em caso de
necessidade a mulher ajudaria na renda familiar, como um extra. Essa perspetiva de a renda
da mulher ser somente complementar justificava os baixos salários pagos. Num ciclo de
causa e consequência, a mulher trabalhando por menor salário gerava concorrência para os
homens, desse modo, procurando eliminar a competição, confinavam suas mulheres à casa
ou a funções mal remuneradas. A chance de uma mulher conseguir ganhar rendimento
suficiente era mínima, então a melhor chance de conseguir um apoio financeiro era o
casamento. Entretanto, como referido a cima, as mulheres casadas em sua grande maioria
eram restringidas a funções domésticas e familiares. Como diz Hobsbawn, tudo conspirava
para manter a mulher casada em situação de dependência. A maior parte delas trabalha,
algumas são pagas, outras não. (Hobsbawn, 1988).
Por volta da viragem para o século XX a posição das mulheres na sociedade começou
a mudar. Alterações estruturais, como a tecnologia, alteraram a realidade dos empregos para
as mulheres. Novos setores de empregos maioritariamente femininos, como lojas e
escritórios, impactaram na diminuição dos serviços domésticos. Vale destacar também o
crescimento da educação básica que levou muitas mulheres a profissão do ensino.
A educação feminina também teve sua realidade transformada no fim do século XIX
e inícios do século XX. É notável a expansão da educação secundária feminina. Não ocorreu
nas mesmas proporções em toda Europa2, mas o crescimento é notável e o fato de ter se
tornado um fenómeno quase normal não tem precedentes. No entanto, vale lembrar que as
2
Na Alemanha, em 1910, o número de meninas que frequentava escola secundária chegou
a 250000. Ao passo que na Itália, eram cerca de 7500 alunas (Duby & Perrot, 1990a, p.
293).
2
meninas não recebiam a mesma educação ou uma educação tão boa quanto os meninos da
mesma idade, «às raparigas não se ensina filosofia e deveriam fazer trabalhos de agulha»
(Duby & Perrot, 1990a, p. 293).
As mulheres começaram a ser admitidas nos estudos universitários a partir de 1860
na Rússia, EUA e Suíça, na Áustria somente em 1897 e na Alemanha de 1900-1908 (Berlim)
(Hobsbawn, 1988). A educação universitária revelou menos disparidade quantitativa entre os
países, no entanto, a adesão em geral era bem menor e o ensino continuou desigual com o
masculino. Nas vésperas da Grande Guerra os índices europeus variavam entre 4500 e 5000
alunas nas universidades em países como Alemanha, França e Itália. Duby aponta como
motivo «As numerosas resistências, nomeadamente em medicina, uma certa falta de
ambição, o desvio para o sufragismo das forças femininas, têm seus efeitos: as mulheres são
ainda muito pouco numerosas no ensino superior em 1914» (Duby & Perrot, 1990a, p. 284).
Essa expansão se deu de forma ambígua: por um lado, aumentou de forma expressiva
o número de meninas que frequentava escola, o ensino feminino se laicizou e até criou-se
escolas profissionais de ensino3 para as mulheres. Por outro, perpetuou-se a visão do modelo
de mulher ligada com as funções domésticas que tinha como função contribuir para felicidade
do lar (Duby & Perrot, 1990a). Os conteúdos propostos para educação feminina revelam essa
posição, «a mulher não é votada sem limitações à ciência, e para além da escola primaria, as
aprendizagens que lhe são oferecidas são muito limitadas». Ainda, «recusa-se ensinar às
raparigas o latim e a filosofia, bem como as disciplinas cientificas avançadas». Os homens
da viragem do século XIX/XX se inseriam ainda dentro de uma longa tradição que via a
educação das mulheres como um perigo que poderia desviá-las de sua verdadeira natureza,
temem que «demasiados conhecimentos livrescos desviem as mulheres da sua missão de
esposas e mães». Desse modo, muitos desses avanços não se realizam para cumprir com os
interesses das mulheres, mas sim dos seus companheiros. Jules Ferry, por exemplo, justifica
sobre a laicização do ensino, que quer dar «companheiras republicanas aos homens
republicanos, sendo o único meio de evitar o divorcio intimo entre a mulher crente e o marido
livre-pensador» (Duby & Perrot, 1990a).
3
Em 1864, na Bélgica, se fundou a Associação para o Ensino Profissional das Mulheres,
por iniciativa do senador Bischoffsheim. A primeira escola profissional abre as suas portas
em Abril de 1865. Privada e não confessional tem como objetivo ir além do simples ensino
doméstico e ministrar igualmente ensino teórico (Duby & Perrot, 1990a, pp. 285–286)
3
No entanto, «se a economia esta assim a ser masculinizada, também a política estava.
Numa democracia avançada, na qual o direito de voto, tanto local como nacional, foi alargado
após 1870, as mulheres eram sistematicamente excluídas» (Hobsbawn, 1988). A política
tornou-se assunto para homens enquanto as mulheres estavam confinadas aos espaços
privados aos quais pertenciam por «natureza». Os homens eram o sexo dominante e as
mulheres seres humanos de segunda-classe, sem direitos cívicos não podem nem ser
chamadas de cidadãs.
2. A primeira onda feminista
Por volta dos anos 1850/1860, o movimento feminista começou a ganhar uma forma
mais organizada e permanente na Europa e na América do Norte. Essa organização mais
sofisticada marcaria o inicio do que os historiadores chamam de «primeira onda» feminista,
que duraria cerca de três gerações, culminando na conquista do direito ao voto pelas mulheres
durante ou logo depois da Primeira Guerra Mundial (LeGates, 2011).
A primeira onda não foi linear nem homogénea. Na verdade, esse movimento foi
diversos movimentos, protagonizados por mulheres diversas que se ligavam e se
identificavam pelo seu género e buscavam um objetivo comum, a livre escolha sobre suas
vidas. As principais reivindicações eram reflexo das mudanças que estavam ocorrendo no
mundo da época, como direito a educação, cultura, trabalho, independência económica,
aumento salarial e direito à participação política. Essas mulheres e seus objetivos rompiam
com um paradigma de mulher tradicional, reclusa ao mundo privado de sua casa e que
deixava para os homens os assuntos da vida pública (LeGates, 2011).
Nessas primeiras décadas, o movimento feminista não tem uma organização central
ou uma ideologia oficial, nem um líder forte reconhecido. A ideologia feminista não foi
criada por nenhuma fundadora, mas emergiu de diferentes situações e diferentes contextos
(LeGates, 2011). Os principais teóricos, como John Stuart Mill, August Babel, Charlotte
Perkins Gilman ou Clara Zetkin, eram também ativistas, faziam discursos, apresentavam
petições e angariavam fundos. Como cita Marlene LeGates, “they disagreed with each other,
were agitators before they were theorists, and produced no single spokeswoman or unifying
text”. Essa falta de unidade teórica é compreensível pela forma diversa que o movimento
surgiu e pela tradicional exclusão feminina do mundo académico, então não viam a
teorização como uma prioridade (LeGates, 2011).
4
Apesar de estarem cada vez mais convencidas que o género podia unir mulheres de
diferentes contextos sociais por uma luta comum, o movimento seguiu diferentes
ramificações condicionadas pelos países, classes, ideias, «raças» e vertentes políticas. Como
identifica LeGates, os historiadores têm caracterizado duas maiores vertentes do movimento,
em geral descritas como feminismo maternal ou social e feminismo liberal ou dos direitos
iguais. O feminismo maternal argumenta que a mulher, por causa de seu «instinto maternal»,
tem uma contribuição única e vital para a sociedade, que os valores da cultura feminina
equilibrariam a competitividade e aspetos destrutivos da cultura masculina. Já as feministas
liberais, se mantém inspiradas na ideologia liberal de direitos iguais, baseada na premissa de
uma essência similar de todos os seres humanos. Como Hedwig Dohm propôs, “Human
rights have no gender” (LeGates, 2011, p. 244).
As feministas maternalistas estavam convictas da existência de uma moral feminina
sensível e de um espírito de abnegação, que Carolyn Johnston chamou de “the power of love,
rather than love of power” (LeGates, 2011). É importante levar em conta o contexto dessa
perspetiva e não somente as narrativas de género predominante que evocava a feminilidade
a partir da maternidade, da dedicação à família e do confinamento das mulheres à casa. Mas
também - e principalmente - as experiências de vida das mulheres. Então, algumas feministas
subverteram o significado desse discurso hegemónico de género que recusava as mulheres
os direitos à cidadania, e transformaram-no em arma para exigir direitos políticos. Em suma,
o maternalismo usou a lógica da diferença de género para reivindicar um papel político
assente em valores femininos e de cariz maternal.
LeGates salienta que o maternalismo é sugerido como uma proposta de romper com
a estrutura masculina e propor uma ideologia alternativa baseada nas experiências e valores
femininos. Numa visão otimista, seria uma transformação profunda nas categorias
masculinas, ao invés de simplesmente alargá-las para incluir as mulheres – suscitando aí uma
divergência do feminismo liberal (LeGates, 2011).
A justificação do voto feminino fundamentava-se nessa peculiar diferença que
convertia as mulheres em representante de valores mais humanos, menos contaminado pelo
poder politico e, portanto, mais capazes de zelar pelo bem-estar moral e pelos interesses
gerais da sociedade. Exalta a capacidade maternal das mulheres e sua projeção na sociedade
no seu conjunto. Parte da ideia da maternidade, como eixo da identidade feminina, e evoca
5
os valores que se atribuem ao papel maternal de dedicação e cuidado da família, mas na
perspetiva da sua aplicação na sociedade. Deste modo, a política e o voto convertiam-se numa
extensão ao social do papel desempenhado pela mulher no seio da família (Nash, 2004).
Nessa perspetiva o sufrágio feminino não era visto como uma concessão de um direito civil
individual, mas como um reflexo do espírito maternal feminino. Dessa forma, não
representava uma ameaça a ordem social existente ou aos valores tradicionais.
Na prática, sobretudo nos Estados Unidos e Inglaterra, o maternalismo floresceu
numa distinta política cultural feminina caracterizada pela formação de sociedades
missionárias voluntarias e grupos de ação social e cultural. Dessa forma, nos quarenta anos
que precederam a conquista do voto feminino, as mulheres tiveram uma enorme influência
política através dessas ações. Vale ressaltar que as participantes eram sobretudo mulheres
brancas da classe média focadas em problemas urbanos de apoio social. Esses programas
fomentaram a possibilidade de mulheres permanecerem solteiras e se dedicarem a
austeridade ou então de dedicaram mais tempo para suas carreiras, porque o que se presava
era a ação maternal, podendo ser «espiritual» ou social, não exclusivamente a maternidade
biológica (LeGates, 2011). Ou, nas palavras de Mary Nash, «considerava o dever feminino
da maternidade como algo que ia além da própria maternidade biológica para abranger a
maternidade social» (Nash, 2004).
O que favorecia essa dinâmica era que esses países anglófonos tinham um governo
central relativamente fraco, o que deixava espaço para as mulheres iniciarem e comandarem
seus próprios programas sociais. A realidade na Europa continental era diferente. Na
Alemanha, por exemplo, o Estado foi pioneiro em proporcionar políticas de apoio social. Na
França, as mulheres das classes altas podiam se dedicar a projetos filantrópicos, mas a
administração desses estava sob alçada da Igreja ou do Estado (LeGates, 2011). Então, as
mulheres acabaram ganhando menos espaços para exercer influência política através de
medidas sociais tidas como maternalistas nos países anglófonos citados. Nesse contexto da
Europa continental, o feminismo maternal aparece como uma demanda mais radical para as
mulheres se inserirem na política pública e para o estado intervir em favor das mães e
crianças. Essa questão interviria profundamente na estrutura e nas relações da família, pois o
homem era ainda legalmente considerado a cabeça da casa.
6
As maternalistas não concordavam sobre todos seus objetivos, mas aceitavam sobre
a licença maternidade remunerada, serviços gratuitos como clínicas de saúde e leite. As mais
«radicais» ainda argumentavam que o reconhecimento devia ser estendido para todas as mães
independente do estado civil, e que as mulheres deveriam controlar todos aspetos a respeito
da maternidade, inclusive acesso ao «birth control» e opção de aborto (LeGates, 2011).
A visão feminista da maternidade não necessariamente representava uma visão
conservadora ou complacente com a ordem social existente, mas era vista como uma via para
conquistar melhorias e direitos para as mulheres e mães. Usando o discurso maternalista, as
mulheres conseguiram espaços para serem ouvidas. Como exemplifica LeGates sobre o caso
da Alemanha na viragem do século «feminists used motherhood to claim a voice for women
in public debates about venereal disease, prostitution, and abortion», ou então Nash citando
«o maternalismo e a diferença de género foram elementos-chave no discurso feminista
francês, de finais do século XIX (Offen, 1943; Cova, 1997)». Apesar de divergirem a cerca
a importância e do significado da maternidade, concordavam em usar isso para representar
os interesses das mulheres e para participar das decisões que as afetassem.
Como explica Marlene LeGates, o maternalismo é apresentado como uma alternativa
consciente para o feminismo liberal, mas muitas, talvez maioria das feministas da «primeira
onda», recusavam aceitar que os feminismos maternal e liberal eram mutuamente exclusivos.
«The liberal goal of self-realization was never an abstraction. Feminists generally viewed
equal rights, including the right to vote, as means for self-fulfillment and social reforms
rather than an end in itself and tended to define fulfillment in terms of service to their
communities» (LeGates, 2011). Para elas, essas duas vertentes eram complementares, e não
contraditórias.
As feministas liberais defendiam o principio da igualdade de direitos em defesa do
voto. Apoiadas nos argumentos igualitários propostos pelos filósofos do direito natural,
desde os séculos XVII e XVIII, e também dos pressupostos do liberalismo politico do século
XIX (Nash, 2011). A corrente sufragista liberal defendia o direito ao voto nas mesmas
condições que se aplicavam aos homens adultos. Isso implicava, em países como a Inglaterra
em que o direito universal masculino só foi alcançado em 1918, que a busca pelo voto
feminino não era baseada na igualdade universal de direitos, mas num sufrágio restringido
por requisitos económicos e de património. Entende-se que era uma opção lógica focar em
7
quebrar a barreira do género, ao invés de exigir uma reforma completa para voto universal
feminino e masculino, no entanto levou a dissidência de grupos de esquerda que queriam ter
votos de classe representado. Até por volta dos anos 1880, o sufragismo igualitário também
excluía as mulheres casadas, já que essas não podiam possuir propriedades. Em 1882, na
Inglaterra a lei sobre a propriedade das mulheres casadas mudou, «Instaurando o regime da
separação de bens, o Married Women’s Property Act de 1882 reconhece ao mesmo tempo à
mulher a plena capacidade de dispor da sua fortuna e a de fechar contratos» (Duby & Perrot,
1990b). Assim, a mulher casada possuiria registro de propriedade que permitiria ser incluída
no caso de aprovação do voto censitário. Essa lei proporcionou uma nova luz para muitas
que buscavam a liberdade, mas algumas sufragistas continuaram com dúvidas sobre o
assunto, pois conseguir o voto para mulheres casadas parecia mais distante (LeGates, 2011).
3. O despertar do sufragismo e movimentos anti sufragista
Quando o sufrágio foi proposto pela primeira vez pelas feministas foi rejeitado pela
maioria por ser considerado muito radical. Essa mentalidade apoiada em padrões culturais
tradicionais e conduta de género da sociedade foi difícil de ser quebrada, nota-se pela data
tardia que esse direito foi alcançado em muitos países. Por volta de 1850, os direitos civis
masculinos estavam alargando progressivamente por diversos países. O debate sobre direitos
políticos estava aceso e alguns viam que a emancipação da mulher era um passo essencial
em direção a uma sociedade liberal. Durante as últimas décadas do século XX até a 1ª Guerra
Mundial a luta pelos direitos políticos e pelo voto converteu-se no eixo central do movimento
de mulheres (Nash, 2011).
As feministas europeias que reivindicavam questões económicas, educacionais e de
direitos legais eram vistas como moderadas, as que demandavam voto eram vistas como
radicais. Nas palestras e congressos internacionais o assunto do sufrágio não era debatido por
ser considerado uma questão perigosa, como exemplifica Marlene LeGates «In 1878 and
again in 1889, at two international women’s rights congress held in Paris, the organizers
refused to allow suffrage, “this is dangerous question” to be discussed» (LeGates, 2011).
Por que a demanda pelo sufrágio feminino pareceu tão radical? Mary Nash explica,
«recusaram o sufrágio feminino por este colocar em perigo a família, os valores culturais
tradicionais e a ordem social» (Nash, 2004). Dar direitos políticos para as mulheres,
8
significava permitir sua entrada na esfera pública, lugar que era monopólio masculino.
Saindo da esfera privada, a mulher sairia do seu lugar natural, abandonaria seu papel de «Fada
do Lar» e comprometeria a estrutura social.
Os antis sufragistas alegaram que a entrada das mulheres na esfera pública significaria
o abandono do lar, o que teria consequências desastrosas para a ordem social patriarcal
existente (Nash, 2004). Contornar a tradicional posição da mulher na família a dando direitos
políticos, subverteria os papéis de género e ameaçaria a base de subordinação da mulher na
sociedade. As mulheres se tornariam indivíduos livres e autónomos, não mais dependente do
pai ou marido. Como cidadãs individuais, estabeleceriam uma relação direta com o Estado,
reivindicando seu espaço político. «By demanding a permanent, public role for all women,
suffragists began to demolish the absolute, sexually defined barrier marking the public world
of men off from the private world of women» (DuBois, 1975; LeGates, 2011).
Como citado a cima, o debate e o movimento sufragista não foi facilmente aceito e
foi considerado uma ideia radical pois rompia com a ordem social vigente. Como
consequência, nasceram diversos movimentos anti sufragista buscando descredibilizar essas
mulheres e evitar a possível concessão de direitos. Os movimentos anti sufragistas foram tão
diversificados como os feministas, tendo várias organizações que tinham ideologias e
métodos diferentes, dependendo do contexto político de cada país. Em países onde o voto
masculino era mais restrito, a ideia de sufrágio feminino era considerada ainda mais extrema.
Algumas atitudes foram requeridas de pronto com o surgimento do debate sufragista:
o sistema legal em muitos países não estava preparado para essa reivindicação, talvez
considerassem tão distante que a constituição não proibia o voto feminino, não especificavam
que eram direitos masculinos ou então se referiam que era apenas um direito do chefe de
família – o que causava um vazio legal onde as mulheres viúvas chefes de família podiam
aproveitar para votar4. Essa adaptação foi ocorrendo progressivamente conforme os países se
4
Como foi o conhecido caso da portuguesa Carolina Beatriz Ângelo que foi a primeira
mulher a votar em Portugal. O direito de voto na I República era concedido ao chefe de
família, sem especificar o sexo dos eleitores. Carolina, viúva e chefe de família, usou esse
argumento para votar. Então, a partir 1913 a lei foi especificada para que só os chefes de
família do sexo masculino pudessem eleger e ser eleitos (Pimentel, Irene Flunser, 2013. Blog:
jugular.sapo.pt).
9
deparavam com essas imprecisões da lei, por exemplo, «in the United States, the word “male”
was introduced for the first time into federal Constitution in 1868» (LeGates, 2011).
O movimento anti sufragista tomou forma e se organizaram através de Ligas ou
Associações. Na Grã-Bretanha, por exemplo, em 1908 foram criadas duas ligas Anti
Sufrágio, uma de mulheres e outra de homens, que se fundiram em 1911 na chamada Liga
Nacional Contra o Sufrágio Feminino. A filiação era maioritariamente masculina. Se
apoiavam na ideia que os interesses das mulheres estavam muito bem representados pelos
homens e que o voto feminino ameaçava a virilidade do governo. O discurso de género foi
usado para ressaltar a incapacidade da mulher para política, afirmando que as aptidões
naturais femininas eram voltadas para o lar, enquanto os homens tinham os atributos
necessários, a racionalidade, inteligência e capacidade de juízo. Ainda na Inglaterra, a Liga
considerava que «conceder o voto à mulher poderia abrir caminho não só para a sua
representação parlamentar, como também para a sua presença no governo do Estado, algo
que era inconcebível para o pensamento anti sufragista» (Nash, 2004, p. 113).
Argumentavam que uma mulher no governo de Estado tiraria a credibilidade do Império
Britânico por parte das suas colônias, colocando em risco o próprio Império. Para isso, a
sufragista Lady Selborne deu uma resposta categórica que expõe a contradição desse
pensamento:
Algumas pessoas tentaram alarmar-nos relativamente à Índia, mas é impossível crer que os
nativos que se submeteram durantes tanto tempo à obediência a uma Rainha (a Rainha
Victoria) recusaria a obediência a um Rei, só porque este consentiu a participação de um
determinado número de mulheres na eleição da Câmara dos Comuns.
(Rover, 1967:46; Nash, 2011)
Por outro lado, os grupos anti sufragistas acusavam a ilegitimidade da mulher ser
considerada cidadã, pois se entendia que o exercício da cidadania implicava defender a pátria
pelas armas, como soldados. Uma questão que vai ser impactada profundamente em
decorrência do desempenho das mulheres na Primeira Guerra Mundial. No entanto,
aceitavam a participação feminina moderada na política municipal, cumprindo com o espírito
das obras maternalistas de intervenção e apoio social à comunidade local.
10
A imprensa e a propaganda das campanhas anti sufragistas tiveram um papel muito
importante para a descredibilização do movimento perante a mentalidade social e podiam ser
muito agressivas. «Utilizaram, por exemplo, a caricatura como mecanismo destrutivo ao
ridicularizar as sufragistas, atribuindo-lhes traços de fealdade ou de masculinização» (Nash,
2011). As caricaturas buscavam satirizar as sufragistas, retratando-as como mulheres que
abandonavam seus deveres domésticos e sua família, e que invertiam os papéis de género. A
imprensa projetou as sufragistas como figuras masculinizadas ou como mulheres feias e
solteironas que deviam estar caladas. Também foi constante insinuações acerca das mulheres
se tornarem sufragistas por não satisfazerem os seus instintos sexuais (Nash, 2011). Esses
mecanismos de propaganda buscavam intimidar e tirar a credibilidade dessas mulheres
perante a sociedade. Serviu como uma repressão psicológica que abalava a autoconfiança
desse grupo e de mulheres que poderiam querer participar do movimento.
Apesar de toda essa reação de oposição aos direitos civis e políticos às mulheres, o
movimento sufragista consegui ganhar espaço e fazer reivindicações que impactaram na
forma das mulheres se verem e serem vistas na sociedade.
4. O movimento sufragista e a conquista do voto na Inglaterra
Na Inglaterra na década de 1830 já apareceram alguns artigos reivindicando o
sufrágio feminino como um direito. Em 1832 uma petição foi apresentada para o Parlamento
pedindo o voto para todas mulheres não casadas que possuíssem as condições necessárias em
termo de igualdade com o voto masculino (Banks, 1981). No entanto, essa solicitação não
era resultado de nenhum movimento organizado ou de campanhas para o sufrágio feminino.
O movimento sufragista na Inglaterra começou propriamente na década de 1860, a
partir de campanhas mais organizados que propuseram debate com o Parlamento e reforma
eleitoral. Em 1866, os políticos liberais John Stuart Mill e Henry Fawcett, apresentaram no
Parlamento uma petição para a obtenção do voto sem distinção de sexo, a qual foi assinada
por 1499 mulheres. A partir do fracasso dessa medida, surgiu o sufragismo como movimento
social (Nash, 2011). Em 1867, grupos locais dedicados a questão sufragista se reuniram e
formaram a «National Society for Womens’s Suffrage» (Banks, 1981). O sufragismo inglês
teve duas linhas principais com diferentes formas de atuação. Nas primeiras décadas os
pedidos ao direito civil se basearam numa estratégia mais moderada, sobretudo com base em
11
petições e lobbying com os partidos políticos. No início do século XX, perante ao relativo
fracasso da estratégia moderada, surgiu um método mais radical e militante na luta pelos
direitos políticos.
A vertente sufragista moderada buscava alcançar os direitos políticos femininos
através do debate parlamentar. Se organizavam em grupos de pressão e negociavam com
partidos para facilitar uma resolução que eliminasse as restrições políticas para as mulheres.
Utilizavam as seguintes medidas de atuação: recolha de assinaturas para petições; atrair a
atenção dos membros do Parlamento quando estes apareciam nos seus distritos eleitorais;
notificar qualquer moção, amigável ou hostil, apresentada na Câmara dos Comuns sobre
questões eleitorais; escrever cartas pedindo aos parlamentos locais o seu apoio ao sufrágio
feminino; e, nas campanha eleitorais, exigir a cada candidato uma declaração de
compromisso relativamente à eliminação dos entraves ao sufrágio feminino (Rover, 1967;
Nash, 2011). Ainda, faziam constantemente petições parlamentares, «na década de 1870,
conseguiram apresentar uma proposta individual de sufrágio feminino todos os anos, à
exceção de 1875» (Nash, 2004, p. 117). Juntamente com essas medidas, as sufragistas
moderadas buscaram através da propaganda conscientizar a sociedade da legalidade e
legitimidade de seu pedido.
No fim da década de 80 do século XIX, entretanto, o sufrágio feminino ainda parecia
uma causa distante. Um dos principais problemas era a aparente falta de suporte entre as
próprias mulheres e a crescente influência do movimento anti sufragista. Ainda, os partidos
políticos estavam inseguros em se aproximar da causa. O partido Liberal tinha medo de que
o voto feminino iria aumentar o número de votantes do partido Conservador, porque as
mulheres não eram somente consideradas naturalmente conservadoras, mas que
provavelmente seriam influenciadas mais facilmente pela Igreja (Banks, 1981). Como o
pedido de sufrágio era requerido na igualdade do masculino, e na Inglaterra o voto ainda
censitário, aumentaria a representação da classe de proprietários. No entanto, a liderança do
partido Conservador, que poderia se interessar por esses possíveis votos, não se aproximou
da causa nessas primeiras décadas por uma posição ideológica anti sufragista.
Na viragem do século o movimento sufragista entrou numa nova fase, o apoio entre
as mulheres aumentou e o movimento trabalhista começou a ganhar espaço na política inglesa
(Banks, 1981). Vale ressaltar as medidas maternalistas tiveram grande impacto nesse
12
aumento do suporte feminino ao movimento sufragista. Inspiradas pelos benefícios sociais
do trabalho voluntário proposto pelo feminismo maternal, essas mulheres acreditavam que o
voto poderia ser uma importante ferramenta para transformação da sociedade por ação social
feminina. Ainda mais importante foi o apoio entre as mulheres do movimento trabalhista por
causa do recém-formado «Independent Labour Party» que era feminista desde o começo
(Banks, 1981). Porém, a relação do movimento sufragista com o Labor Party iria se tornar
tão problemática na prática quanto a relação com o partido Liberal, e pelo mesmos motivos.
Acreditavam que proposta de estender o voto, limitado como era para «chefes de família»,
para incluir mulheres, resultaria negativamente para as causas da classe trabalhadora e
atrasaria a conquista do voto para as mulheres trabalhadoras (Banks, 1981). Desse modo, o
partido trabalhador ficou divido entre quem apoiasse o sufrágio mesmo limitado e quem não
aceitasse nada menos que o sufrágio universal. Em 1907, o Labor Party rejeitou oficialmente
qualquer extensão de sufrágio que fosse baseado em requisitos económicos/propriedade.
Em mais de quarenta anos de luta, as mulheres britânicas não conseguiram alcançar
o direito ao voto. Como consequência do fracasso da estratégia moderada e da retirada de
apoio do partido trabalhador, surgiu uma «voz alternativa sufragista, dura e militante que
rompia com os esquemas tradicionais de conduta de género das mulheres refinadas da
burguesia» (Nash, 2011,). Nesse contexto Emmeline Pankhurst emerge como o rosto
carismático do sufragismo radical em que as militantes passam a ser conhecidas por
suffragettes. Em 1907, após perder o apoio do Labor Party, a WSPU – Women’s Social and
Political Union, fundada por Pankhurst em 1903 – buscou suporte no Partido Conservador.
Com essa aliança, a WSPU adaptou sua campanha, «at the same time it changed its campaign
from one for adult suffrage to one for a limited franchise on the same terms as man» (Banks,
1981).
Agora, a ênfase na extensão limitada do voto era compartilhada pelos dois modelos
sufragistas, sendo o que diferenciava as moderadas das radicais era a tática (Banks, 1981). O
modelo das suffragettes se baseou através de estratégias violentas e de uma luta de ação
direta, o objetivo era conseguir publicidade e atenção do Parlamento. Compreenderam de
realização de comícios políticos, criação de obstáculos, recusa ao pagamento de multas e na
desordem pública. Nas palavras de Emmeline Pankhurst na sua autobiografia My own story
(1914):
13
Cavalheiros, as vossas leis não nos prestam atenção. Nós colocamos a liberdade a dignidade
da mulher acima de todas essas considerações, e vamos continuar com esta guerra como o
fizemos no passado; mas não seremos responsáveis pela propriedade que sacrificaremos, ou
pelo prejuízo que a propriedade sofrerá por consequência.
(Nash, 2011:119)
Entre 1907 e 1908, as suffragettes celebraram mais de 3.000 comícios públicos,
venderam mais de 80.000 publicações e apresentaram-se como candidatas em oito eleições
locais (Nash, 2011). Ainda, desenvolveram uma estratégia de intervenção em comícios
públicos de políticos. Essa tática garantia a cobertura da imprensa e dava publicidade à causa
sufragista. Além disso, rompia com a posição tradicional de que a mulher deveria ouvir
calada aos comícios políticos. Essas estratégicas eram incompatíveis com a condição
feminina e trouxe impacto no questionamento das posições de género.
Como parte da frustração da campanha, o movimento foi se tornando mais violento
(Banks, 1981, p. 116). «A radicalização da militância induziu ao aprisionamento das
suffragettes, criando na opinião publica um imaginário coletivo de mártires pela causa
sufragista» (Nash, 2004, p. 121). Quando o aprisionamento vulgarizou e os relatos da
brutalidade policial se divulgaram, gerou uma onda de indignação e apoios a liberdade,
fazendo o governo Inglês tomar medidas para libertação de prisioneiras que faziam greve de
fome com estado de saúde grave. Como salienta Olive Banks, as táticas das sufragistas não
foram suficientes, «even in their most violent phase they were never sufficiently a threat to
exert real pressure on the government and their action alienated some of their supporters and
strengthened the hands of the anti-suffrage campaigners» (Banks, 1981).
Em decorrência do «Parliament Act» de 1911 os poderes dos Lords começaram a ser
freados e o sufrágio adulto masculino parecia uma conquista próxima. Desse modo, em 1912,
o Labour Party se sentiu seguro para retomar seu apoio ao sufrágio feminino e prometeram
se opor a qualquer reforma eleitoral que não incluísse as mulheres. Uma lei foi proposta para
esse efeito, mas acabou por ser recusada, o que desencadeou a fase mais destrutiva da
militância sufragista antes do colapso da guerra. A reforma eleitoral virou uma questão de
primeira ordem com debates turbulentos no Parlamento e com agravamento da violência
14
sufragista. No entanto, com o rebentar da 1ª Guerra Mundial, a reforma eleitoral masculina e
feminina foi adiada, marcando um tempo de tréguas.
As sufragistas abandonaram a luta pelo voto e se dedicaram à causa bélica. Com o
fim da guerra, as mulheres da Grã-Bretanha foram incluídas na reforma eleitoral como
reconhecimento pelos seus méritos e desempenho durante esse período conturbado. Em 1918
foi introduzido o sufrágio universal masculino e sufrágio limitado para as mulheres com mais
de 30 anos e com posses financeiras elevadas. Restringindo o sufrágio feminino basicamente
por idade, o governo tranquilizou o medo que muitos ainda tinham de que o país iria ser
governado por mulheres, mas também evitou inclinação conservadora que teria em limitar o
voto com base na propriedade (Banks, 1981). As sufragistas Britânicas tiveram de esperar
até 1928 para verem reconhecido o sufrágio universal feminino, em igualdade de condições
relativamente aos homens (Nash, 2011).
5. Conclusão
A atuação das mulheres no movimento sufragista, tanto moderado quanto radical, não
se limitaram a mera reivindicação dos direitos políticos. Suas atitudes questionaram o papel
da mulher na sociedade e sua relação com o espaço público. Agiram de acordo com a ideia
das Pankhurst e viram que numa sociedade de predomínio masculino, existiam mais vínculos
a unir as mulheres do que elementos a dividirem-nas (Nash, 2004, p. 119). A causa sufragista
impactou nas mentalidades e deu oportunidade para as mulheres passaram a frequentar novos
espaços e exercerem outros papéis sociais além dos tradicionais remetidos a maternidade e
vida doméstica. As mulheres tomaram a frente do movimento e assim ganharam
autoconfiança para utilizar sua autonomia. Como observou Olive Banks, «Perhaps the most
striking thing about feminism is the extent to which it has been a movement of women and
not just for women».
É importante lembrar que a conquistas de direitos políticos para as mulheres não foi
uniforme. Nomeadamente, alguns dos países que conseguiram direitos políticos a partir dessa
primeira onda feminista foram: Holanda, URSS, Canada, Estados Unidos, Suécia e Grã-
Bretanha. Em muitos casos, não foram votos universais, mas restringidos por idade, «raça»
ou condição socioeconómica. Nas décadas subsequentes, diversos países estenderam o voto
às mulheres, mas não como resultado de pressão feminista e não houve mudanças estruturais
15
sobre a situação das mulheres nessas sociedades (Hobsbawn, 1995, p. 306). Nessa segunda
fase de concessão de votos, é notável o exemplo da Espanha (1931), Brasil (1932), Itália
(1945), Grécia (1952) e França (1944) – sendo que os dois últimos foram países pioneiros ao
sufrágio masculino (Duby & Perrot, 1990b; Ramirez, Soysal, & Shanahan, 1997). Até os
anos 1960, na maioria dos países onde se realizavam eleições as mulheres haviam adquirido
o direito de voto, com exceção da Suíça (1971) e de alguns países islâmicos (Hobsbawn,
1995).
Hobsbawn explica que desde que as mulheres em tantas partes da Europa e da Améria
do Norte tinham conseguido o grande objetivo do voto e direitos civis iguais depois da
Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, os movimentos feministas haviam trocado
a luz do sol pelas sombras. No entanto, a partir da década de 1960, uma nova onda feminista
começou a florescer nos Estados Unidos e se espalhou rapidamente. Essa nova luta feminista
proporcionou debates e mudanças em setores como divórcio, aborto, liberação do código
moral religioso, assistência social e «raça». As mulheres, então, começaram a conquistar
espaço de atuação efetiva na política e ocupavam a chefia de Estado em diversos países,
figuras como Indira Gandhi, Benazir Bhutto e Isabel Perón. Não obstante, o efeito não é
homogéneo e universal, em muitos desses países, mesmo com lideranças femininas as
mulheres continuaram sendo remetidas a cidadãs menos importantes. Diante disso, o
movimento feminista organizaria novas ondas e aparece na luta pela igualdade entre homens
e mulheres até os dias de hoje.
O movimento sufragista proporcionou às mulheres algo muito mais transformador
que o direito político, uma visão diferente sobre seu lugar no mundo. Desse jeito,
progressivamente, viram seu potencial, se posicionaram e lutaram para mudar sua condição
de vida. O sufragismo deu às mulheres a capacidade de autoconhecimento e confiança no seu
poder transformador.
16
Bibliografia:
- Banks, Olive. (1981). Faces of Feminism. (pág. 118-150)
- Hobsbawm, E. J. (1988). A era dos impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra. (pág.
242-274)
- Hobsbawm, E. (1995). Era dos extremos: o breve século XX. Editora Companhia das Letras.
(pág. 307-313)
- Duby, G., & Perrot, M. (1990). História das mulheres no Ocidente. Porto: Afrontamento, 1.
(Volume 4, pág. 283-295) (Volume 5, pág. 29-88; 552-560)
- LeGates, Marlene. (2011). In their Time. A history of Feminism in Western Society. (pág.
197-281)
- Nash, M. (2004). As mulheres no mundo. História, desafios e movimentos. (pág. 109-130)
- Ramirez, Francisco & Soysal, Yasemin & Shanahan, Suzanne. The changing logic of
political citizenship: cross-national acquisition of women’s suffrage rights, 1890-1990.
American Sociological Review, 62, 1997. (pág. 735-745)
- Vaquinhas, Irene Maria. (2005). As mulheres no Mundo Contemporâneo. (pág. 52-55)
17