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Transferência e A Clínica Psicanalítica Das Psicoses

O artigo explora a relação entre transferência e o tratamento psicanalítico das psicoses, destacando que Freud inicialmente considerava a psicose como um desafio à psicanálise devido à falta de resposta dos psicóticos ao tratamento. Com a contribuição de Lacan, novas abordagens foram propostas para estabelecer um laço transferencial, visando mitigar o sofrimento e promover a estabilização do paciente. O texto discute a evolução teórica e as dificuldades enfrentadas na aplicação da psicanálise às psicoses, enfatizando a importância da transferência no processo terapêutico.

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Transferência e A Clínica Psicanalítica Das Psicoses

O artigo explora a relação entre transferência e o tratamento psicanalítico das psicoses, destacando que Freud inicialmente considerava a psicose como um desafio à psicanálise devido à falta de resposta dos psicóticos ao tratamento. Com a contribuição de Lacan, novas abordagens foram propostas para estabelecer um laço transferencial, visando mitigar o sofrimento e promover a estabilização do paciente. O texto discute a evolução teórica e as dificuldades enfrentadas na aplicação da psicanálise às psicoses, enfatizando a importância da transferência no processo terapêutico.

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Psicologia USP, 2024, volume 35, e190030 1-10

1
Artigo
Transferência e a clínica psicanalítica das psicoses
Priscila Henrique de Amorim Santosa*
Max Cavalcanti de Albuquerquea
Cleyton Andradea
a
Universidade Federal de Alagoas, Instituto de Psicologia. Maceió, AL, Brasil

Resumo: Desde o início do desenvolvimento de sua teoria, Freud observara que os psicóticos não respondiam
ao tratamento psicanalítico, levando à ideia de que à psicose corresponderia um mecanismo de constituição
diferente. Aos poucos, a transferência passou a ser alvo da investigação que conduzisse à descoberta de um modo
a lidar com a psicose. Mas as descobertas freudianas foram insuficientes para se estabelecer um laço transferencial
satisfatório para os psicóticos. Com Jacques Lacan, alguns conceitos freudianos sofreram modificação, com a
criação de operadores próprios, surgindo a erotomania, consequência estrutural e lógica do vínculo entre analista
e psicótico. Sendo assim, este artigo busca demonstrar uma clínica possível, sob a perspectiva psicanalítica, para
o tratamento da psicose, a partir do estabelecimento do laço transferencial, por meio do manejo apropriado
do gozo, que promova estabilização e consiga mitigar o sofrimento, como saída possível para o problema da
indicação do tratamento psicanalítico aos psicóticos.

Palavras-chave: psicanálise, psicose, transferência.

Introdução ou até mesmo de um irmão ou de outra pessoa com


precedência sobre o paciente, devendo ser consideradas
A psicose sempre foi um desafio à psicanálise. Desde não só expectativas conscientes, mas também as retidas
Freud, à medida em que desenvolvia sua teoria para lidar ou inconscientes, na produção de tal investimento.
com as afecções psíquicas, ficava claro que os psicóticos Acontece que a transferência, segundo essa
não respondiam, da mesma forma que os neuróticos, concepção, não trazia resultados alentadores para os casos
ao tratamento psicanalítico, fazendo surgir a ideia de que de psicose, durante o tempo em que Freud desenvolveu
à psicose correspondia um mecanismo de constituição sua investigação e seus estudos, tendo até mesmo,
peculiar. O ponto crucial na relação entre o analista e em seu texto Um estudo autobiográfico (Freud, 1925/1996),
analisando é o modo como se instala a transferência, afirmado uma ausência de perspectiva terapêutica.
e esta passou a ser o nó central e o alvo da investigação Segundo ele, faltaria aos psicóticos a capacidade para
que pudesse conduzir à descoberta de um modo peculiar uma transferência positiva, impedindo assim a aplicação
para lidar com a psicose e suas particularidades. do principal recurso da técnica analítica. Apesar disso,
Considerada, em O seminário, livro 11: os quatro Freud nunca abriu mão de pesquisar e estudar a psicose
conceitos fundamentais da psicanálise (Lacan, 1964/2008), e seus respectivos mecanismos, como é possível observar
como um dos conceitos fundamentais da psicanálise, quando se realiza um exame, ainda que breve, de seu
a transferência é, para Freud, o motor propulsor do percurso nesta investigação.
tratamento analítico, seu modo de operar e gerar efeitos, Segundo Mezêncio (2011, p. 9), apesar de o termo
condição sem a qual a análise não avança. O laço psicanálise ter aparecido em obras freudianas posteriores,
transferencial opera como pano de fundo da regra de ouro tem-se como escrito inaugural do método os Estudos
da psicanálise, a associação livre, tendo como mecanismo sobre a histeria (Freud, 1895/1996), dando início à
o deslocamento, efetuado pelo paciente, de seus afetos investigação das afecções mentais, inclusas aí, além da
cotidianos, para a figura do analista. histeria, as obsessões e psicoses, cujos tratamentos não
Segundo Freud (1912/1996), o investimento feito eram eficazes, nos moldes da medicina e da psicologia
pelo analisando se ligará a um dos clichês presentes em vigentes. Observa-se que Freud intencionava criar um
seu psiquismo, incluindo o analista numa das séries que método de tratamento, sem qualquer contraindicação,
o doente elaborou até o momento da análise. É decisiva, e com claro caráter psíquico, em virtude da causalidade
ainda, para esse deslocamento a figura paterna, materna, que descobrira na etiologia da histeria afastando-se da
medicina, afeita a causas degenerativas e hereditárias
*Endereço para correspondência: [email protected] como base dos transtornos mentais.

http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564e190030
Priscila Henrique de Amorim Santos, Max Cavalcanti de Albuquerque& Cleyton Andrade
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Nesse começo de desenvolvimento de sua teoria, e Sobre a psicoterapia (Freud, 1905a/1996), nas quais
Freud se utilizou da via da hipnose, que logo fora abandonada, dá detalhes das indicações e contraindicações ao
por ter se apresentado com limitações que desautorizavam o procedimento analítico, incluindo como condições ao
seu uso, entre as quais, o fato de que não era um tratamento tratamento: capacidade de estado psíquico normal,
causal, agindo apenas sobre os sintomas, que retornavam e exigência de inteligência e ética, livre disposição para a
indicavam uma ineficácia terapêutica. Porém, outros dois análise, limite superior de idade e risco para a vida do
motivos levaram Freud a abandonar a técnica da hipnose: paciente. Apesar de não explícito, inicialmente, termina por
a dificuldade do manejo e a incapacidade dos doentes qualificar a psicose como imprópria à psicanálise, apesar
mentais de se deixarem hipnotizar. Quanto ao primeiro de acrescentar que considera possível que, “mediante uma
inconveniente, argumenta com a existência da sugestão, como modificação apropriada do método, possamos superar
impeditivo de produzir efeitos sem a presença do médico essa contraindicação e assim empreender a psicoterapia
a quem o paciente atribuía poder, e por quem manifestava das psicoses” (Freud, 1905a/2006, p. 250).
sentimentos de amor, motivo pelo qual não era possível dar Quase concomitantemente à obra acima citada,
crédito científico a uma técnica com uma ingerência desse é publicado o caso Dora, em Fragmento da análise de um
tipo. Verificou mais tarde, entretanto, com o desenvolvimento caso de histeria (Freud, 1905b/2006) quando, então, o autor
do método psicanalítico, que tais perturbações de origem aponta, pela primeira vez, a importância da transferência
amorosa não eram intrínsecas à hipnose, e insistiram em como indispensável ao êxito do tratamento, apesar de seu
aparecer, fazendo-o desenvolver o manejo desta manifestação caráter paradoxal de resistência à cura. Segundo Mezêncio
que viria a se chamar transferência. O segundo inconveniente (2011, p. 30), “essa irrupção do pulsional logo se mostrou de
dizia respeito à falta de inclinação dos doentes mentais em se caráter irredutível, obrigando à obtenção de outra espécie
deixarem hipnotizar, o que colocava uma barreira na técnica, de aliança, usando-se o obstáculo como alavanca”.
uma contraindicação aos psicóticos. Assim, levando-se em A partir de então, Freud busca descobrir em
conta a intenção de Freud, constante em toda sua obra, que o método psicanalítico deve ser modificado para
em desenvolver sua teoria para todas as afecções mentais, permitir sua aplicação também aos psicóticos, e, para isto,
e movida pelo paradigma da causalidade psíquica, a hipnose passa a se corresponder com Carl Jung, psiquiatra suíço,
foi abandonada. e Karl Abraham, psiquiatra alemão. Em correspondência
Freud, então, passa a utilizar a cura pela fala, talking mantida com Jung, transcrita em Mezêncio (2011, p. 32),
cure, adotando o método de associação livre, e a regra Freud, depois de afirmar a distinção do mecanismo das
fundamental da psicanálise, “que estabelece que tudo psicoses, relata sobre a transferência que, “na ausência
que lhe venha à cabeça deve ser comunicado sem crítica” dela o paciente deixa de fazer esforço ou de ouvir quando
(Freud, 1912/1996, p. 118). A partir daí, desenvolve sua lhe submetemos nossa tradução”. Entretanto, não se tem,
teoria para explicar como a resistência, presente no laço ainda, nesse momento, como inexistente a transferência
transferencial, participa da dinâmica das neuropsicoses de na análise dos psicóticos, exceto para aqueles gravemente
defesa1, entre as quais se incluíam a histeria, as obsessões, acometidos. Também, nesse período, Freud começa a
a psicose. Em As neuropsicoses de defesa (Freud, 1894/1996) abordar as hipóteses de autoerotismo, as modalidades de
e Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa recalque para a psicose e a importância do componente
(Freud, 1896/1996), Freud admite que o mecanismo de homossexual da libido na paranoia.
recalque, comum à histeria e à obsessão, é a separação entre Segundo Mezêncio (2011), Freud propôs a Jung,
a representação incompatível e o afeto, diferenciando-se em 1907, pesquisar a hipótese de que os esquizofrênicos
pelo destino deste último, que seria a inervação somática investem sua libido autoeroticamente, em vez de ligarem-na
(conversão) e a representação obsessiva (substituição), aos objetos exteriores, impedindo-os de estabelecerem
respectivamente. Já no caso da psicose, o mecanismo qualquer laço transferencial. Além disso, suas ideias sobre
funciona com a rejeição tanto da representação incompatível o papel da libido homossexual no desencadeamento da
quanto do afeto, a fuga para a psicose, desligando-se da paranoia advêm da relação que teve com Wilhelm Fliess,
realidade. Até esse momento, não havia contraindicação médico alemão, com quem se correspondeu até 1902,
à aplicação da psicanálise às psicoses, cujo tratamento ocasião em que acusou Freud de plágio, fato interpretado
tinha por objetivo o restabelecimento das representações por este como um desencadeamento paranoico. Ademais,
rejeitadas pelo paciente. o pai da psicanálise também sugeriu a Karl Abraham a
No começo do século XX, à medida em que o ideia do autoerotismo na esquizofrenia, tendo este, em seu
método era investigado e estudado, algumas dificuldades trabalho, confirmado a ausência de investimento libidinal
surgiram, modificando-se o panorama das restrições nos objetos, e o retorno ao estágio do autoerotismo,
quanto à sua aplicação. No início da primeira década, nestes doentes, o que explicaria também a falta de
Freud publicou duas obras sobre a técnica da psicanálise, transferência com a qual se lida em seu tratamento. Como
O método psicanalítico de Freud (Freud, 1904/1996) se observa, “existe um ponto comum evidente entre
estes autores: o destaque para o papel da transferência
1 Termo utilizado por Freud para designar, conjuntamente, os tipos de no desenvolvimento de uma técnica para o tratamento
neurose e psicoses, mas que foi abandonado em seus escritos posteriores. das psicoses” (Mezêncio, 2011, p. 44).

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Entre 1911 e 1915, Freud publica seus escritos de narcisismo, e a incapacidade de transferência dos
técnicos, onde a importância da transferência e de seu psicóticos, em sua elaboração. Curiosamente, Freud
manejo para superar as resistências, no tratamento (1911/1996) determina como fator desencadeante da psicose
psicanalítico, é colocada em destaque, e funciona como de Schreber, justamente, a transferência com seu médico
indicador da emergência do recalcado ao substituir os Flechsig, estabelecida como recomposição de suas relações
sintomas pela instauração da neurose de transferência, familiares, como uma transposição do afeto destinado, antes,
atualizando o inconsciente. Em corolário disso, Freud faz ao irmão e ao pai. Segundo Freud, ainda, a psicose (a doença,
a primeira contraindicação do tratamento das psicoses, propriamente dita) promove desorganização e sofrimento
ligada à transferência, ao afirmar a impossibilidade psíquicos, sendo pois o delírio sua tentativa de cura.
de “influência ou cura”, com os paranoicos, em que a Mezêncio (2011, p. 67-68) faz um resumo da
transferência é negativa (Freud, 1912/1996, p. 118). análise freudiana do caso Schreber, argumentando ser
Aqui, começa-se a inferir que a mudança do a manifestação da libido homossexual em direção a seu
método psicanalítico, pensada por Freud para acolhimento médico, por transferência, a causa ativadora da doença,
dos psicóticos, poderia ter como parâmetro a existência e levando Schreber, ao desta se defender, transformar a
da transferência, uma vez que o analista sempre seria fantasia do desejo em delírio de perseguição. Acrescenta
objeto de investimento libidinal, ficando reservado a que “a substituição de Flechsig por Deus permite a
este o adequado manejo para evitar os efeitos danosos solução do conflito, com o retorno da libido transferida
de um eventual laço negativo. ao médico de volta ao pai (Deus)”. Esta estabilização é
Apesar de tal conclusão, Freud, em 1914, elabora descrita por Freud como o retorno da libido, antes retirada
seu conceito de narcisismo, e reformula, de consequência, dos objetos: inicialmente, dedicando uma experiência
a teoria da libido, fato que vai provocar mudanças profundas, hostil ao médico, que gerou o delírio de perseguição, e,
em sua teoria psicanalítica, notadamente, na seara das posteriormente, transformando sua natureza negativa,
psicoses. Com efeito, até então, a primeira teoria da libido, devotando amor ao pai, tornando-se a mulher de Deus,
que dava fundamento às neuroses de transferência, tinha via delírio de amor, ambos decorrentes da lógica de
por base a dualidade: pulsões de autoconservação e sexuais, derivação gramatical à fórmula do amor homossexual por
e o consequente conflito entre libido e interesse do eu. projeção, em que se modificam a ação e o objeto amado,
Em Sobre o narcisismo: uma introdução, Freud, entretanto, respectivamente (Freud, 1911/1996, p. 71).
afirma que o desenvolvimento sexual humano segue uma Nos anos de 1915 e 1916, Freud, em suas
sequência em que os instintos autoeróticos estão presentes Conferências introdutórias sobre psicanálise, voltará a
desde o nascimento, são inatos, enquanto o narcisismo (aqui articular as neuroses narcísicas com suas (im)possibilidades
denominado de primário) se forma a partir de uma nova de tratamento analítico, alegando que a psicanálise das
ação psíquica que se acrescenta ao autoerotismo, dando neuroses narcísicas dificilmente terá êxito, em virtude
existência a partir daí ao Eu e à libido. Posteriormente, do “muro” narcísico intransponível, devendo o método
esse investimento inicial do Eu é revertido parcialmente ser substituído (Freud, 1917a/1996, p. 423). Ademais,
aos objetos, dando origem a dualidade: libido do Eu e ratificando, em Freud (1917b/1996, p. 447-448), acrescenta-se
libido do objeto. que “aqueles que sofrem de neuroses narcísicas não têm
Os psicóticos, ainda, segundo Freud (1914/1996), capacidade para a transferência ou apenas possuem traços
abandonariam o interesse em face do mundo externo, insuficientes da mesma. . . . . não manifestam transferência,
retirando deste a sua libido, sem substituí-lo por outras e, por essa razão, são inacessíveis aos nossos esforços e
pessoas ou coisas na fantasia (assim como o fazem os não podem ser curados por nós”.
neuróticos). Neste caso, a libido retirada do mundo Posteriormente, com a definição da nova dualidade
externo seria destinada ao Eu, surgindo, assim, um modo pulsional, na década de 20 (pulsão de vida e de morte),
de proceder que se denominaria narcisismo secundário. Freud (1924a/1996) cria uma nova classificação de suas
Assim, Freud pode relacionar as neuroses de transferência afecções psíquicas, baseada no conflito e na divisão
à libido do objeto e as psicoses à libido do Eu, criando, do eu, em três grupos: neurose narcísica ou melancolia
assim, a denominação de neuroses narcísicas, para estas (eu vs supereu), psicoses (eu vs mundo externo) e neuroses
últimas. Segundo Ferrari e Laia (2009, p. 205), a partir (eu vs isso). No entanto, teve que ir mais além, para explicar
das noções de narcisismo, Freud caracteriza a paranoia como, na neurose, assim como na psicose, pode existir
“pela regressão da libido a uma relação de objeto narcísica uma perturbação da relação do paciente com a realidade.
pautada pela imagem unificada do corpo”, e a esquizofrenia Assim, em Freud (1924b/1996), introduzem-se suas duas
“pela regressão a um objeto autoerótico e que se impõe etapas da constituição: na neurose, ignora-se a realidade,
como um corpo fragmentado pelas pulsões”. e depois repara-a, via fantasia ou evitação; na psicose,
Nesse momento teórico, há que ser aberto um rejeita-se a realidade, para, em seguida, criar uma nova.
parêntese para que se aborde o texto freudiano sobre o caso Apesar de tais construções teóricas freudianas,
Schreber (Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico permaneceu indefinida a solução de como estabelecer
de um caso de paranoia – dementia paranoides), o qual um laço transferencial satisfatório para os psicóticos,
escrito, anteriormente, em 1911, já adiantara a concepção e o status quo de seu trabalho em busca de uma adaptação

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Priscila Henrique de Amorim Santos, Max Cavalcanti de Albuquerque& Cleyton Andrade
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do método psicanalítico para o tratamento dos psicóticos não Com o primeiro ensino de Lacan (1953-1963),
se modificara, situação que permaneceu até a sua morte. estabelecem-se, na seara da psicose, como conceitos
referenciais, “a foraclusão do Nome-do-Pai no lugar do
Psicose e transferência em Lacan Outro e elisão do falo, a regressão tópica ao estádio do
espelho e um desregramento de gozo (por falta do arrimo
Com Jacques Lacan, a psicanálise teve um retorno fálico)” (Quinet, 2006, p. 26).
a Freud, e, a partir de 1951, seja com seu ensino oral, Posteriormente, em O seminário, livro 11:
seja por meio de escritos, alguns conceitos freudianos os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (Lacan,
sofreram modificação, enquanto Lacan criava seus 1964/2008), dando início ao seu segundo ensino, Lacan
próprios conceitos e operadores. resolve tirar o foco, em sua teoria, do registro simbólico e
Em seu O seminário, livro 3: as psicoses (Lacan, da lógica significante, deslocando-o para o registro real,
1955-1956/1988), Lacan elaborou o mecanismo constitutivo com a formulação do conceito de objeto a. O problema do
da psicose, articulando-o a uma operação simbólica que desencadeamento deixa de ser a busca por significantes e
ocorre no âmbito da linguagem. Com base nos conceitos passa a ser a invasão do gozo. Segundo seu novo ensino,
freudianos de afirmação (Bejahung), negação (Verneinug) o sujeito neurótico é dividido pelo significante, e o objeto
e expulsão (Ausstoßung), Lacan afirma a fundação do a é o resto que deve ser extraído pela operação da função
simbólico na Bejahung primordial, referindo-se ao fálica, que permite o limite do gozo. Na psicose, contudo,
significante. Assim, propõe que aqueles submetidos à o objeto a não é extraído, e o psicótico o leva consigo no
Bejahung, terão a afirmação (a inscrição simbólica), ainda bolso, e isto promove os fenômenos elementares, além de
que possa ser recalcado ou desmentido, posteriormente; dar existência real ao Outro, que tem o saber, “persegue,
enquanto que os outros ficarão sob os efeitos da Verwerfung, ama, modifica o corpo do psicótico, altera sua vontade,
a rejeição ou foraclusão. impõe-lhe pensamentos” (Guerra, 2010, p. 67).
Esse mecanismo, combinado à lógica significante, Ainda, nesse seminário, Lacan elabora uma
explica a constituição da psicose, nos seguintes termos: modificação no conceito de transferência, criando uma
função inexistente até então, o sujeito suposto saber,
a operação constitutiva da psicose, a Verwerfung, como o pivô sobre o qual giram os três aspectos da
será tida por Lacan como foraclusão do significante transferência, presentes na obra freudiana, de maneira
primordial que veicula a Lei e a condição do desejo, esparsa: repetição, resistência e sugestão, fenômenos que
e que ele denomina significante Nome-do-Pai. se produzem na experiência analítica.
No ponto em que o Nome-do-Pai estaria inscrito, Lacan diferencia transferência e repetição, e funda
na psicose responde no Outro um puro e simples o sujeito suposto saber deduzindo-o da regra fundamental
furo. Trata-se de uma inscrição que não se faz, da psicanálise e de sua implicação lógica de que tudo
ao contrário da Bejahung, que implicaria exatamente que se diz significará algo. Trata-se de uma suposição
a inscrição desse significante primordial. (Guerra, estrutural, quer dizer, “a teoria do sujeito suposto saber
2010, p. 30) situa a transferência como consequência imediata daquilo
que Lacan chamou de discurso analítico” (Miller, 1988b,
Na medida em que aquilo, que seria uma marca p. 99), não o que o analista fala, mas “à estrutura da
inaugural, é rejeitado e não consegue se tornar uma situação analítica”.
representação, permanece fora, no âmbito do real. Daí,
é possível explicar o que Freud dizia, quando analisava o Erotomania
caso Schreber, ao afirmar que “a verdade é, pelo contrário,
como agora percebemos, que aquilo que foi internamente Seja como uma categoria autônoma de uma
abolido retorna desde fora” (Freud, 1996/2011, p. 78), nosologia, seja apenas como um sintoma, pode-se
o que em termos da teoria lacaniana, significaria: aquilo afirmar que a erotomania é um tipo de delírio em
que não foi simbolizado, retorna no real, por meio dos que o doente imagina ser amado por outra pessoa.
fenômenos elementares. Segundo Dalgalarrondo (2008), essa pessoa possui
Além disso, é possível divisar, ainda, neste seminário, alguma projeção social ou importância para o delirante,
as condições clínicas do desencadeamento. Segundo e abandonará tudo para se casarem, sendo, geralmente,
Guerra (2010, p. 38-39), existe uma tríade de situações que, “mais rica, mais velha, de status social mais alto que o da
articuladas, promove o processo de desencadear a psicose: paciente” (p. 221), além de ser relativamente frequente
a foraclusão do Nome-do-Pai (condição estrutural), a quebra que a pessoa escolhida seja o médico ou a médica do
de uma de suas identificações imaginárias, e uma condição indivíduo. Segundo Clérambault, citado por Mezêncio
específica: quando a casualidade dos acontecimentos da (2011), desenvolve-se em três estágios: esperança,
vida convoca, ao psicótico, o Nome-do-Pai foracluído em despeito e rancor, variando desde o otimismo, passando
oposição simbólica ao sujeito (a falta de significantes), pela ambiguidade, e finalizando com o ódio. Entre as
ou seja, toca no ponto onde falta Um-pai, no lugar em que o certezas do delirante, podemos citar: infelicidade e
sujeito não pôde chamá-lo antes, é satisfeita esta condição. incompletude do objeto sem o sujeito; e entre os seus

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Transferência e a clínica psicanalítica das psicoses
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atos: vigilância e proteção, conversas indiretas, além da com ares de apaziguamento entre o próprio Schreber e a
falsa impressão de todos nutrirem simpatia e interesse figura de seu pai, aqui assumida por “seu Deus”.
pelo romance. Findo o primeiro ensino de Lacan (1953-1963),
Em momento algum de sua obra, Freud relaciona e estabelecidos os conceitos que serviriam de base para
a erotomania ao conceito de transferência, por ele sua teoria sobre as psicoses, a clínica dos psicóticos,
cunhado. No caso Schreber, no entanto, busca reforçar contudo, ainda se ressentia de uma resolução no nível
sua tese de ser o desejo homossexual, em casos de transferencial, o que fazia perpetuarem-se os riscos de
paranoia, o que provoca defesa em forma de delírios desencadeamento, associados ao tratamento.
de amor (erotomania), de perseguição, de grandeza Com a formalização do conceito do sujeito
(megalomania), de ciúme. Para tanto, como já descrito suposto saber, em O seminário, livro 11: os quatro
acima, elabora as derivações gramaticais, a partir da conceitos fundamentais da psicanálise, e a consequente
fórmula do amor homossexual por projeção, em que qualificação do analista como o mediador que traduz
se modificam a ação e o objeto amado, originando, o sem-sentido do dito para uma significação, processo
respectivamente, o delírio de perseguição e a erotomania. nomeado por Jacques-Allain Miller (1988a, p. 97) como
Por sua vez, Lacan esteve em contato com a “impostura congênita da psicanálise”, poderia se pensar,
erotomania desde a sua tese de doutorado, Da psicose segundo Michel Silvestre, citado por Mezêncio (2011),
paranoica em suas relações com a personalidade, a estrutura do sujeito suposto saber como conveniente
de 1932 (Lacan, 2011), na qual se aborda o caso Aimée, para o tratamento analítico da psicose, como efeito da
em que a paciente sofria com delírios de perseguição, foraclusão do Nome-do-Pai, uma vez que se conjugariam
megalomania e erotomania, cujo objeto desta última era a significação em suspenso, fundamento da demanda
o Príncipe de Gales. Lacan, nesta obra, acolhe a tese de de análise do psicótico, e a suposição de que o analista
Freud, estabelecendo que a paranoia da paciente teria sido poderia dar-lhe sentido.
uma defesa contra um desejo homossexual, utilizando a Entretanto, e por outro lado, com a teoria do sujeito
terceira parte da análise do caso Schreber para elaborar as suposto saber se conseguiu desvendar o motivo pelo
deduções gramaticais, a partir da fórmula da erotomania, qual o laço transferencial, estabelecido com o analista
sobre os delírios da paciente. e que caracteriza o vínculo analítico, tem o condão de
Segundo Mezêncio (2011), Lacan, na referida tese, promover o desencadeamento do psicótico. Tomando
ainda que inadvertidamente, começa a decifrar o enigma como base a tríade: foraclusão do Nome-do-Pai, a quebra
ínsito ao tratamento possível para os psicóticos, pois da identificação imaginária, e encontro com Um-pai,
aponta, em alguns trechos, os pontos em torno dos quais o se ao entrar em análise, o psicótico coloca o analista
problema seria solucionado: “as relações da transferência em uma posição de saber, este poderá assumir o lugar
com o desencadeamento, a relação com o médico – seja de Um-pai, levando o sujeito ao desencadeamento da
de caráter persecutório ou erotomaníaco – que substitui psicose, antes já estruturada.
o sintoma, constituindo o material primordial do Em momento ulterior, Lacan, em 1966, citado
tratamento: o sintoma analítico, ou seja, a transferência por Mezêncio (2011) alega que a relação de Schreber
e as dificuldades do manejo” (p. 98). com seu médico se configura como uma espécie de
Posteriormente, Lacan retoma o tema das psicoses “erotomania mortificante”, acrescentando que tal relação
em seu O seminário, livro 3: as psicoses (1955-1996/1988), é característica da posição na qual somente a lógica do
tomando como base o caso Schreber, e o estado da arte tratamento introduz, advertindo que algo semelhante
da psicose, ainda orientado pelos conceitos freudianos, ocorre na clínica psicanalítica em que o analista assume
confirmando a impossibilidade de seu tratamento no a posição de sujeito-suposto-saber. Conclui, assim,
âmbito da psicanálise. Dois anos depois, em um dos que a erotomania “decorre da estrutura e da lógica da
seus escritos mais importantes sobre o tema, publicado relação analítica e tem conexão com a modalidade de
em 1958: De uma questão preliminar a todo tratamento transferência na psicose” (p. 103-104).
possível da psicose (Lacan, 1958/1998), o autor volta a Assim, tem-se que, se a erotomania, com seu
questionar a existência de transferência do psicótico, qualificativo de mortificante, é consequência estrutural
abordando como esta poderia ser manejada, diante das e lógica do vínculo entre analista e psicótico, e se
dificuldades que se apresentava. a transferência, por aquela induzida, tem o poder de
Nesta análise, Lacan dá destaque à estrutura do desencadear a psicose, o problema da contraindicação
delírio, o qual, por se constituir numa perturbação da do tratamento analítico aos psicóticos persiste e tem
relação com o outro, deveria estar relacionado com a que ser resolvido por outra via. Com efeito, apesar de a
transferência, e começa a colocar em evidência a saída erotomania de transferência ser um padrão para a análise
elaborada por Schreber, em seu delírio erotomaníaco, de psicóticos, abre-se, por outro lado, a possibilidade
como uma defesa contra a invasão do desejo homossexual de se investigar como se poderia conceber o manejo
e o primeiro delírio persecutório contra seu médico. Nesse desse laço erotômano, suas consequências terapêuticas,
caso, a erotomania estaria repleta da presença das figuras de modo que o psicótico não situe o analista, na posição
paternas, por meio da transferência, sendo uma solução de um Outro perseguidor.

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Ao dar relevo, em sua teoria para o registro do discurso. Desse modo, o analista deve ter uma posição,
real, com os conceitos de objeto a e de gozo, o problema segundo Zenoni citado por Meyer (2007), de não saber,
do desencadeamento passa a ser a invasão do gozo. ou seja, a transferência deve estar assentada no sujeito
Segundo seu novo ensino, como já dito, o psicótico suposto não saber, sendo que este saber não é suposto,
traz consigo o objeto a no bolso, e isto promove os mas sim realizado pelo próprio sujeito psicótico.
fenômenos elementares, além de dar existência real Desse modo, no tratamento da psicose, deve-se
ao Outro perseguidor. Segundo Maleval, citado por operar a partir de um esvaziamento de saber prévio sobre
Mezêncio (2011), Lacan, a partir de 1964, desiste da lógica o psicótico, por parte do analista. Essa posição é benéfica
significante e passa a investigar o manejo da transferência, para que não ocorra uma relação intrusiva, persecutória
tendo por base “uma axiomática do gozo: assim situa o de transferência, contribuindo para a construção de um
psicótico como um sujeito fora do discurso, invadido por Outro mais moderado (ZENONI, apud Meyer, 2008).
um gozo desordenado . . e que é capaz de desenvolver Segundo Beneti, citado por Mendes (2005),
uma ‘erotomania de transferência’” (p. 105). o psicótico, na maioria das vezes, convida o analista a ser
Portanto, levando-se em conta que a erotomania, um Outro absoluto que seja capaz de suprir o rasgo no
como modalidade de transferência para os psicóticos, tecido simbólico; em outras palavras, propõe-lhe seu gozo.
carrega paradigmaticamente, o caráter mortificante, Nesse ponto se faz necessário que o analista não ceda
vertente de gozo do Outro, pode-se pensar em uma a essa demanda, fazendo intervenções a partir de uma
direção de tratamento, por meio de um manejo apropriado posição subjetiva, sem ocupar o lugar que, ocasionalmente,
do gozo, de artifícios que promovam uma estabilização e seja-lhe concedido, para evitar o papel de perseguidor,
consigam dar conta de seu sofrimento, como uma saída diante do qual o psicótico passaria a ser objeto. Assim o
possível para o intrincado problema da indicação do fazendo, o analista estabelece um manejo transferencial
tratamento psicanalítico para os psicóticos. apropriado, dirigindo-o com o intuito de propiciar um
limite às experiências que invadem o psicótico, e que o
Manejo da transferência deixam sem chance de qualquer resposta.
Esse manejo ocorrerá justamente quando o analista
Estabelecida a erotomania como modalidade se posicionar como secretário do alienado, posição esta
de transferência para o tratamento psicanalítico com cunhada por Lacan (1988), correspondendo a esse lugar
os psicóticos, é necessário que o analista proceda a de sujeito suposto não saber, de esvaziamento. Desse
algumas intervenções, seja de caráter ativo, seja de modo, o Outro deixará de ser tão absoluto e intrusivo,
caráter omissivo, que possibilite dar conta do vínculo e passa a ser mais moderado para o psicótico.
erotômano que envolve a respectiva relação dual, Assim, se a erotomania é a posição do sujeito
de modo que o psicótico não se veja mortiferamente tomado, psicótico, como objeto do Outro, o secretário do alienado
o que impossibilitaria qualquer tipo de êxito na condução é a posição do analista na relação transferencial com esse
do tratamento. Tais intervenções é o que denominamos sujeito. Sobre essa ênfase do saber do psicótico, Lacan
de manejo ou manobra da transferência. (1998, p. 592) diz que o psicanalista “certamente dirige
Ademais, para se pensar a clínica com os o tratamento, o primeiro princípio desse tratamento
psicóticos, assim como uma transferência possível, lhe é soletrado logo de saída . . . não se deve de modo
é preciso que não se considere o estudo das neuroses uma algum dirigir o paciente”. Deve-se, dessa maneira,
condição para a abordagem da psicose. De fato, segundo secretariar o sujeito, dirigindo o tratamento, mas não
Meyer (2008), isto significaria a criação de um muro impondo um saber ou um querer a ele. Essa posição de
quase que insuperável, já que Freud teorizou o conceito secretário, segundo Mendonça (2012), a partir da crítica
de transferência ao escutar os neuróticos, motivo pelo lacaniana, não diz respeito a uma impotência por parte
qual não há como aplicá-lo à psicose, naqueles termos. do analista, mas da capacidade de dar crédito à fala do
Enquanto a transferência na neurose é pautada pelo sujeito, e a intervir para auxiliar a construção de uma
sujeito suposto saber, como acima referido, na clínica da barreira ao gozo invasor.
psicose, de acordo com Meyer (2007), é justamente essa Segundo Zenoni, citado por Meyer (2007), a função
suposição de saber, como suporte da transferência, que de secretariar o alienado implica o acompanhamento do
deve ser questionada. A crença delirante de que o Outro trabalho do psicótico, sendo uma das características dessa
sabe, e consequentemente invade o sujeito, obriga-nos a função, seguir a direção que o sujeito indica. Portanto,
pensar uma transferência que não esteja fundamentada não compete ao psicanalista a função de interpretação,
nesse pressuposto. já que isso poderia comprometer a transferência e o
Lacan, em seu O seminário, livro 3: as psicoses próprio tratamento. Com efeito, a interpretação, muitas
(Lacan, 1955-1956/1988), enfatiza a importância que deve vezes, contém a dimensão de enigma, o que pode se
ser dada agora ao saber do próprio psicótico, e convida os desdobrar em um caráter persecutório para o psicótico,
analistas a se posicionarem como secretários do alienado, fazendo-o se interrogar sobre o que o analista quis
a acompanharem o psicótico a partir da escuta do que ele dizer, inclusive, preenchendo as condições necessárias
tem a dizer e do saber da diferença que caracteriza seu e suficientes ao desencadeamento, como acima já referido.

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Transferência e a clínica psicanalítica das psicoses
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Nessa postura de silenciamento para dar lugar às Enquanto, no primeiro caso, o analista silencia para
construções do psicótico, a partir da noção do secretário dar voz ao psicótico, no segundo, ele trabalha como
do alienado, o analista se colocaria, segundo Mendes um secretário não muito discreto, fazendo oposição
(2005), como alguém que presencia a relação do sujeito aos momentos mortíferos. Dessa forma, faz limite ao
com o Outro. O “analista daria, a partir de um certo gozo desordenado que invade o psicótico. Saliente-se,
apagamento de si próprio, a possibilidade de estar na aqui, mais uma vez, que ao falar em orientação do gozo,
presença de um sujeito suposto não saber, podendo é preciso deixar claro que o que é possível ser orientado,
então, representar um vazio onde o sujeito vai colocar direcionado, é o tratamento, e não o sujeito.
seu testemunho” (MENDES, 2005, p. 23). Maciel (2008) ao apresentar alguns casos clínicos,
É importante que se frise, nesse particular, ilustra o recurso ao manejo da transferência por meio dessa
que o termo testemunha, de origem jurídica, corresponde posição de testemunha, e de auxílio e acolhimento por
à pessoa que vai a Juízo depor, sob as penas da lei, parte do analista. A autora apresenta o fragmento do caso
sobre o que sabe a respeito dos fatos que estejam sub intitulado Lúcio, que era um paciente psicótico atendido
judice, e seu depoimento toma o nome de testemunho. em um consultório particular, por um psiquiatra que
Alguns autores, contudo, confundem a posição do recomenda a suspensão de seus remédios antipsicóticos,
analista, incluindo-o como testemunha, atribuindo a e é atendido, também, por uma analista no mesmo local.
esta palavra seu sentido comum, ou seja, de pessoa que Após essa suspensão da medicação, Lúcio volta a apresentar
presencia algum fato; daí o analista seria testemunha do fenômenos elementares frequentemente, e diz a analista que
depoimento do psicótico. Deve ser salientado, apesar de como tem muita coisa acontecendo, ele precisa conversar
tais entendimentos, que o único que exerce, realmente, mais lá. Diante disso, ela disponibiliza um maior número
a função de testemunha nessa relação é o psicótico com de atendimentos. Lúcio comparece aos atendimentos e
o seu depoimento, uma vez que cabe ao analista um “conta diversas manobras que precisa fazer em seu dia a
papel mais abrangente do que simplesmente testemunhar dia principalmente no que diz respeito à convivência com os
ou presenciar o testemunho do psicótico. vizinhos” (Maciel, 2008, p. 36). Sendo assim, a analista passa
Com efeito, o psicótico apresenta ao analista seu a se colocar como uma testemunha do que esse paciente tem
testemunho, sua relação penosa com o Outro que o invade, a “conversar”, cultivando um lugar muitas vezes de silêncio,
as construções a respeito de suas experiências, sua condição mas sempre indicando que ele tinha sua atenção, e sempre
de objeto perante o Outro. O analista, por sua vez, acolhe reafirmando um lugar onde o paciente pudesse “depositar
o testemunho do psicótico, sem qualquer juízo de valor seu saber construído” (Maciel, 2008, p. 36).
ou de saber, disponibilizando-lhe um espaço de escuta, A partir disso, pela primeira vez, Lúcio acaba por
onde ele possa construir um Outro mais moderado e seja não optar pela internação, e sim aposta em permanecer
capaz de se reconhecer e se localizar perante este; mais fazendo uso desse espaço que lhe foi disponibilizado.
do que apenas presenciar ou “testemunhar” o testemunho Conseguindo, inclusive, manter sua convivência social,
do psicótico, o analista deve acolhê-lo, ajudá-lo a construir “localizando o espaço de tratamento como o espaço
um sentido para sua fala. Esta é a dinâmica: testemunho para onde pode direcionar seu delírio” (Maciel, 2008,
do psicótico e acolhimento do analista. p. 36). Alguns meses depois, seu psiquiatra indica que
Assim, cabe ao analista disponibilizar um espaço ele retorne ao uso da medicação, e Lúcio nesse momento
ao psicótico onde ele possa direcionar a interpretação localiza os atendimentos que teve com analista como uma
dos fenômenos que lhe ocorrem, acolhendo-a de bom etapa decisiva, podendo indicar a necessidade em outros
grado. O psicótico, por sua vez, dá seu testemunho sobre momentos e situações, de uma testemunha.
sua condição de objeto diante do Outro, interpretando os Outro fragmento desse mesmo caso é abordado por
fenômenos e conferindo-lhes algum sentido (Maciel, 2008), Maciel (2008) para ilustrar de modo breve outro manejo da
o que, contudo, não significa que o analista seja passivo: transferência, que foi abordado por Soler (1991), no que diz
respeito à orientação de gozo. Deixando claro, mais uma
O psicanalista, ao ocupar o lugar de secretário, para vez, que se trata de uma orientação de gozo no tocante ao
além de afirmar a posição do sujeito de testemunha tratamento, e não uma direção do sujeito. Lúcio também
aberta do discurso do Outro, pode ajudá-lo a construir participava de uma igreja, e essa participação, além de
um sentido para isto que ele testemunha. Assim, algumas convocações feitas pela igreja, faz com que Lúcio
seu papel é ativo, o que significa não apenas registrar responda com delírio, sendo essa resposta, para ele, muito
o que a testemunha relata, mas tomar seu testemunho invasiva e sem contenção. Várias falas do paciente indicam
“ao pé da letra”. (MEYER, 2008, p. 310) que a Igreja acaba se tornando para ele um Outro sem lei,
invasivo e perseguidor. Diante dessa situação, a analista
Além desse manejo, Soler, citada por então se coloca de modo ativo, “dizendo que é preciso que
Mendes (2005), aponta também uma outra manobra ele não vá tanto à Igreja e que ele pode escolher como vai
transferencial, que é a de orientação de gozo. O analista, acontecer sua participação, podendo se afastar quando
assim, deveria operar uma vacilação entre a posição de achar necessário” (Maciel, 2008, p. 37). Ou seja, o próprio
acolhimento do testemunho e a de orientação de gozo. paciente indica que a relação com a igreja tem um excesso,

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e ao dizer isso à analista, coube a ela acolher essa fala, contornos, mais do que em qualquer outra circunstância,
esse elemento simbólico e “devolver a ele como forma de de uma grande singularidade, podendo ser adjetivada como
interdição” (Maciel, 2008, p. 37). Logo: a clínica do “um-dia-de-cada-vez”, na qual a construção
deve partir dos caminhos indicados pelo próprio sujeito,
A intervenção de orientação do gozo deve estar conforme os fatos cotidianos da vida se lhe apresentam.
pautada na indicação do sujeito, para que diante É como se o psicótico vivesse numa corda bamba de
dessa orientação do analista ele possa construir encontros com o Outro. De fato, impossível definir uma
uma maneira de ele mesmo fazer essa barra. estabilização que se faça eterna, ou duradoura o suficiente,
Lúcio, algum tempo depois, afirma: “Eu quero pois as vicissitudes do dia a dia sempre hão de tirar o
continuar aqui com você pra manter o equilíbrio, psicótico de uma posição de gozo satisfatória, e o furo do
um equilíbrio que eu nunca tive. Pra quando eu for simbólico, a todo o momento, estará a lhe desafiar.
rezar o terço, por exemplo, não achar que tem ali Outrossim, é razoável inferir que, de fato, existe
uma pessoa iluminada”. (Maciel, 2008, p. 37) uma clínica possível, sob a perspectiva psicanalítica, para
o tratamento da psicose, sendo o ponto-chave para tal
Assim, nesses dois fragmentos apresentados, conclusão a existência de um laço transferencial. Apesar
nota-se que o analista deverá intervir seja de modo mais de não se configurar como um vínculo nos moldes do
ativo ou omissivo, sempre levando em consideração o tratamento para os neuróticos, a transferência, nesse caso,
saber daquele sujeito, mas sempre buscando dar conta do assume a modalidade de uma erotomania, que decorre da
vínculo erotômano que envolve essa relação, evitando, dessa estrutura e da lógica da relação analítica, e que precisa
maneira, que o psicótico se veja mortiferamente tomado. ser adequadamente manejada pelo analista, para que não
Diante desses manejos, nota-se que apesar do evolua à sua forma mortificante de se apresentar.
constante impasse na obra freudiana quanto à possibilidade Importante salientar que é bastante comum a
de tratamento da psicose, Lacan, segundo Mezêncio (2011), referência ao aforismo lacaniano, proferido em Abertura da
coloca um fim a esta indagação ao dizer que o analista não seção clínica (Lacan, 1977, p. 9), segundo o qual “A psicose
deve retroceder diante da psicose. De fato, a transferência é aquilo frente a qual um analista não deve retroceder em
na psicose é o ponto-chave para a construção de uma saída nenhum caso”2. Entretanto, a partir do que foi largamente
possível para esse impasse, ou seja, para a possibilidade exposto, pode-se asseverar que inexiste afirmação de
de tratamento analítico nesses casos. inspiração tão freudiana quanto essa. De fato, uma rápida
Segundo Laurent, citado por Mezêncio (2011), incursão no percurso histórico nos autoriza assegurar que,
Lacan buscou em sua obra elaborar as condições em momento algum de sua investigação e terapêutica, Freud
para o acolhimento do psicótico, adequando a ele recuou diante de sua inesgotável sede de conhecimentos
o dispositivo analítico, não tomando como base a e interesse científico, sempre buscando desvendar os
neurose, e considerando, como premissa, a ideia de mistérios que circundavam a estrutura psicótica, mesmo
que o dispositivo tem que se adequar a cada um que quando contraindicava seu tratamento, ocasiões em que
lhe dirija uma demanda. Assim, a indicação de um não obedecia a tal restrição em seu exercício particular.
tratamento analítico deve ser feita individualmente, em Imprescindível observar, por dizer respeito
cada caso, não partindo de uma proposição universal: às soluções possíveis para o psicótico, que, além do
tratamento analítico, via erotomania de transferência,
Desse modo, a questão da indicação toma a existem outras saídas que o psicótico adota, fora do
formulação: o encontro com o analista é útil ou não? ambiente analítico. Com efeito, temos como exemplos
Em lugar de saber se o caso é acessível à psicanálise, de estabilizações psicóticas, entre outras: a passagem ao
afirma-se que não há contraindicação ao encontro ato, a metáfora delirante, invenção ou criação de uma
com o analista, ainda que o produto desse encontro obra, e a sublimação criadora. Quer dizer isto que, com
não seja, a rigor, uma análise. (Mezêncio, 2011, p. 29) certa frequência, o psicótico mesmo elabora uma saída
para lidar com o Outro que o invade, dispensando a
Daí, tem-se que o analista deverá analisar no que o necessidade de um analista ou de um tratamento clínico.
tratamento analítico pode ser útil àquele sujeito, adotando Portanto, é fundamental que se frise, uma vez
algum manejo transferencial, de acordo com o caso, e com a mais, que a psicanálise, não sendo a solução única ao
relação do psicótico com o Outro. A psicanálise, assim, busca psicótico, apenas será válida quando o analista lhe for útil,
de alguma forma ser útil ao psicótico, ao fazer do ambiente ou seja, quando o encontro com o discurso analítico se
analítico uma experiência, um espaço de apaziguamento lhe apresentar de uma utilidade tal que ele possa colocar
para aquele sujeito. seu investimento libidinal em uma relação transferencial
capaz de produzir-lhe um espaço de existência, criando
Considerações finais meios de regrar o gozo e de barrar o Outro.
Diante de tudo que foi exposto, observa-se que a 2 No original: La psychose, c’est ce devant quoi un analyste, ne doit reculer
clínica psicanalítica da psicose, a todo o momento, adota en aucun cas.

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Transferência e a clínica psicanalítica das psicoses
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Transference and the psychoanalytic clinic of the psychosis

Abstract: Early in his theoretical developments, Freud noticed that psychotics did not respond to the psychoanalytic treatment,
suggesting that psychosis would correspond to a different constitution mechanism. Gradually, transference became the target of
investigation for discovering a way to tackle psychosis. However, Freud’s findings were insufficient to solve the issue of establishing
a satisfactory transference bond with psychotics. Jacques Lacan modified some Freudian concepts to create his own operators and
coined erotomania, the structural and logical consequence of the bond between analyst and psychotic. This article proposes a
possible clinic, from a psychoanalytic perspective, as a possible treatment route for psychosis by establishing a transference bond
via the appropriate management of jouissance, which promotes stabilization.

Keywords: psychoanalysis, psychosis, transference.

Transfert et la clinique psychanalytique des psychotiques

Résumé : Au début de ses développements théoriques, Freud a observé que les psychotiques ne répondaient pas au traitement
psychanalytique, indiquant qu’un mécanisme de formation différent correspondrait à la psychose. Progressivement, le transfert
est devenu la cible de la découverte d’une manière pour faire face à la psychose. Jacques Lacan a modifié certains concepts
freudiens pour crée des opérateurs propres et a inventé l’érotomanie, la conséquence structurelle et logique de la relation entre
analyste et psychotique. Cet article propose une clinique possible, dans la perspective psychanalytique, comme solution possible
au traitement de la psychose à partir de l’établissement du transfert par le biais du maniement approprié de la jouissance qui
conduise à la stabilisation.

Mots-clés : psychanalyse, psychose, transfert.

La transferencia y la clínica psicoanalítica de las psicosis

Resumen: Desde el comienzo del desarrollo de su teoría, Freud observó que los psicóticos no respondían al tratamiento
psicoanalítico, lo que dio lugar a la idea de que la psicosis correspondía a un mecanismo de formación diferente. Gradualmente,
la transferencia se convirtió en el objetivo de la investigación que podría conducir al descubrimiento de una manera peculiar para
hacer frente a la psicosis. En el estudio de Jacques Lacan, algunos conceptos freudianos se han modificado con la creación de
operadores propios, y emergió la erotomanía como consecuencia estructural y lógica de la relación entre el analista y el psicótico.
Así, este artículo busca demostrar una posible clínica desde una perspectiva psicoanalítica para el tratamiento de la psicosis,
basada en el establecimiento del vínculo transferencial, a través del adecuado manejo del goce que promueva la estabilización y
logre mitigar el sufrimiento, como una posible salida al problema de indicar tratamiento psicoanalítico a los psicóticos.

Palabras clave: psicoanálisis, psicosis, transferencia.

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