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Práticas Pedagógicas de Filosofia No Ensino Fundamental

A disciplina de Prática Pedagógica em Filosofia no Ensino Fundamental explora a relação entre senso comum e senso crítico, destacando a importância do espanto e da admiração na busca pelo conhecimento. A mitologia grega é apresentada como uma forma primária de explicar o mundo, que precedeu o surgimento do pensamento filosófico, e a filosofia é vista como um desenvolvimento gradual que complementa as narrativas míticas. O curso visa capacitar os educadores a guiar os alunos na investigação crítica e reflexiva sobre esses temas.

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Práticas Pedagógicas de Filosofia No Ensino Fundamental

A disciplina de Prática Pedagógica em Filosofia no Ensino Fundamental explora a relação entre senso comum e senso crítico, destacando a importância do espanto e da admiração na busca pelo conhecimento. A mitologia grega é apresentada como uma forma primária de explicar o mundo, que precedeu o surgimento do pensamento filosófico, e a filosofia é vista como um desenvolvimento gradual que complementa as narrativas míticas. O curso visa capacitar os educadores a guiar os alunos na investigação crítica e reflexiva sobre esses temas.

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Prát. Pedag. Filosofia no Ensino


Fundamental

Unidade 1
Senso comum e senso crítico

Aula 1
O senso comum e a narrativa mitológica

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Descubra como o espanto, a admiração e a inquietação impulsionaram o ser humano na busca


pelo conhecimento. Os conhecimentos aqui adquiridos poderão ser utilizados em sua futura
prática docente de forma a despertar o senso investigador que se desencadeia pelo espanto.
Convidamos você a participar dessa aula que antecipa e mostra os desafios do ambiente
profissional.

Ponto de partida
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Olá, estudante!
É uma grande honra estar aqui com você. Esperamos que a sua jornada seja de muito
aprendizado.
Nesta aula, abordaremos aspectos do conhecimento indispensáveis para o desenvolvimento do
pensamento filosófico. O conhecimento é uma ferramenta humana que passou por diversas
evoluções. Originado por meio de contos, fábulas e estórias, o senso comum representa uma das
mais simples e importantes categorias do pensamento humano. Com a evolução da
humanidade, o senso crítico ganha espaço, e é, atualmente, personificado por meio das ciências
e da filosofia.
Imaginamos que, em algum momento da sua vida e da sua trajetória acadêmica, você já tenha se
questionado o seguinte: qual é o sentido das coisas? Por qual razão os acontecimentos do
mundo ocorrem de tal modo? Essas são as questões que você deve enfrentar junto de seus
alunos em sala de aula. Esse questionamento marcou também o começo do conhecimento
filosófico. Essa curiosidade remonta ao mundo mitológico, em que figuras do imaginário
determinavam os eventos da natureza e as ações dos humanos na Terra.
Segundo Pondé (2019, p. 10), essas questões nos ligam até hoje aos gregos antigos:

Há uma distância histórica enorme entre os gregos antigos e nós, mas eles
continuam sendo aqueles que fizeram todas as perguntas que nos orientam até hoje.
De onde viemos? Por que existe o universo? Há mesmo o Bem e o Mal? Devo buscar
uma vida honesta? Vale a pena ser bom? A linguagem descreve o mundo tal como ele
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é? O que é o amor? Existem formas distintas de amor? Como é a vida após a morte?
Os deuses existem? E se existem, têm um plano para nós? O que é uma vida política
justa? Como organizar essa vida? Enfim, tudo.

Imagine um mundo sem explicações, onde o desconhecido reina absoluto. É nesse cenário que
surge o Thaumázein. O termo Thaumázein (do grego θαυμάζειν) significa a admiração, a
perplexidade e o espanto que o mundo causa. É o primeiro impulso que nos leva ao filosofar. O
Thaumázein se apresenta como um convite para desbravar o conhecimento ao qual todos
podem acessar, o espanto e a admiração que nos impulsionam na busca por respostas.
Diante do espanto causado por esse mistério, através de mitos o ser humano se volta para um
conjunto de crenças e saberes compartilhados para explicar o mundo. A mitologia surge como
uma forma de dar sentido ao universo, tecendo narrativas sobre a origem do mundo, da natureza
e da própria humanidade. Deuses, heróis e criaturas fantásticas povoam essas histórias,
oferecendo explicações para os eventos naturais e sociais.
Esse é o cenário que você está prestes a desbravar, um cenário desconhecido e indagador!

Vamos começar!

A filosofia é reconhecidamente uma criação do povo grego, cuja contribuição para a civilização
ao criar um modo completamente novo de pensar é inestimável. Tanto os povos do Oriente (que
alcançaram a civilização antes dos gregos) quanto os próprios gregos apresentaram um rico
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panorama de crenças, cultos religiosos, manifestações artísticas, conhecimentos e habilidades


técnicas, além de instituições políticas e organizações militares que refletiam suas estruturas
sociais. No entanto, apenas os gregos criaram a filosofia. Segundo Reale (1993, p. 11), “a
‘filosofia’, seja como indicação semântica (isto é, como termo lexical), seja como conteúdo
conceitual, é uma criação peculiar dos gregos”.
As categorias do pensamento desenvolvidas pelos gregos, como é o caso da lógica, precisaram
ser replicadas por sociedades orientais para desenvolver suas ciências. Para Aristóteles,
responsável por categorizar a filosofia nos moldes que conhecemos hoje, foi pelo Thaumázein
(espanto) que os homens chegaram à origem da atividade filosófica. Segundo Aristóteles, esse
estado de espanto e admiração inicia com questões mais simples, como o estudo dos astros, e
depois avança para questões mais complexas, com problemas relativos à criação de todo o
universo. Platão associa igualmente a origem da filosofia a esse estado de espanto. O
Thaumázein era considerado, deste modo, o impulso inicial para o filosofar.
Agora você já sabe que a filosofia se origina por meio do espanto e da admiração causados pelo
Thaumázein. No entanto, existe um período pré-filosófico da cultura grega em que as respostas
para esse incômodo causado pelo Thaumázein recorrem à religiosidade propagada pelo
pensamento do senso comum. O senso comum se baseia nas experiências pessoais, portanto é
um conjunto de conhecimentos, crenças e valores compartilhados por uma comunidade ou um
grupo social. Essa espécie de conhecimento remete às análises mais básicas do ser humano
sobre as coisas do mundo. Embora Aristóteles não tenha empregado explicitamente esse termo
em suas obras, sobre essa noção de senso comum, ele diz que “a sensibilidade é comum a todos
os animais” (Aristóteles, 2006, p. 287), o que demonstra que eles possuem a capacidade de
perceber o mundo ao seu redor. A sensação é, portanto, a categoria humana que se relaciona
diretamente com o mundo e se manifesta através da experiência.
O termo “experiência” remete às investigações e às observações da natureza preconizadas pelos
filósofos pré-socráticos Tales, Heráclito, Anaxímenes, Anaximandro e sistematizadas por
Aristóteles. Por experiência se entende na filosofia, de modo geral, todo o conhecimento obtido
através dos sentidos, isto é, tudo aquilo que se conhece através do tato, olfato, paladar, visão e
audição. Essa noção de experiência abrange todos aqueles capazes de perceber os objetos e os
fatos que os rodeiam através de seus sentidos. A experiência é, portanto, uma relação de ao
menos um dos sentidos com aquilo que pode ser captado por ele. Considerando a experiência
enquanto mecanismo de formação para o senso comum, as primeiras respostas para o
incômodo causado pelo espanto e pela admiração do Thaumázein estão diretamente ligadas a
essa forma primária de conhecimento.
A mitologia grega era a manifestação do senso comum na Grécia antiga, e foi também a primeira
hipótese para sanar as dúvidas geradas pelo Thaumázein. Com suas histórias de deuses, heróis,
monstros e criaturas fantásticas, a mitologia é muito mais do que um mero conjunto de estórias.
Ela é uma rica fonte de conhecimento sobre a cultura, a religião e a filosofia da Grécia Antiga. Os
mitos gregos oferecem uma visão de mundo complexa e detalhada, explicando a origem do
universo, a criação da humanidade, a natureza dos deuses e a relação entre os seres humanos e
o divino. Através dos mitos, os gregos antigos buscavam compreender o mundo ao seu redor,
dando sentido aos eventos naturais, às doenças, à morte e à vida após a morte. Então, agora,
convidamos você a investigar a mitologia grega e o seu importante papel na elaboração de
respostas.
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O estado de espanto e de admiração causado pelo desconhecido exige apenas uma coisa:
respostas. Para desempenhar esse papel, a mais básica fonte de conhecimento é requisitada, a
qual é compreendida pelas vivências e experiências do cotidiano. As questões fundamentais da
sociedade grega que exigiam respostas eram, além da origem de tudo, seus temores. Os gregos
queriam saber como ocorriam os fenômenos da natureza que afetavam suas vidas, e as
respostas fornecidas pelos mitos eram uma forma de combater o constante estado de espanto
causado pelo Thaumázein.
Por definição, os mitos gregos eram narrações (compartilhadas pela fala) do duelo entre as
forças divinas que interferiam diretamente na vida dos homens, em suas guerras e no seu dia a
dia. Essas narrações mitológicas explicavam a origem da natureza, dos castigos e dos males do
mundo, ou seja, a narrativa mítica é uma genealogia da origem das coisas a partir de lutas e
alianças entre as forças que regem o universo. Para Leite (2001, p. 10), “o mito é a possibilidade
de se poder retomar, sobre a forma da reificação, o real já demonstrado, mas não inteiramente
dado”. O mito é uma forma de explicar aspectos da realidade que não podem ser observados
diretamente pelos sentidos, mas que dos sentidos depende seu mais básico conhecimento.
Alinhado a esse pensamento, Brandão (1986, p. 35) diz que o mito é a narrativa de uma criação.
Brandão considera que o mito “é o relato de uma história verdadeira, ocorrida nos tempos do
princípio, quando, com a interferência de entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir”.
É correto afirmar que as explicações fantasiosas e religiosas da mitologia precedem o
surgimento de um pensamento lógico e racional representado pela filosofia. Por outro lado, é um
equívoco pensar que a mudança de uma explicação cosmogônica para uma explicação lógica do
universo ocorreu instantaneamente, como da noite para o dia. Nesse sentido, o nascimento da
filosofia deve ser entendido como um processo gradual e de longa duração. A filosofia surge
como um pensamento complementar ao mito. Uma das evidências desse processo gradual de
transição está em Platão. A filosofia platônica é permeada de alegorias que compõem a cultura
grega para promover, gradualmente, uma evolução na forma de pensar. De acordo com Pondé
(2019, p. 11), “o mito da caverna do Platão é uma grande metáfora geral da filosofia como um
despertar para o pensamento mais profundo, mais consistente e menos vítima da ignorância. É o
próprio mito fundante da filosofia”.
Apesar de explicar o mundo por meio de histórias fantasiosas de deuses, semideuses, criaturas
mitológicas e simples experimentos do cotidiano (senso comum) seja muito distante das
explicações filosóficas e científicas que apresentamos atualmente, essa foi uma explicação útil
para os gregos antigos. É importante que você se atenha ao papel que a mitologia proporcionou
para a evolução do pensamento grego, e não apenas às próprias histórias de caráter fantasioso.
A função da mitologia na sociedade grega antiga foi fundamental, ainda que superada pela
filosofia. Embora o mito se apegue ao campo do fantástico e de crenças religiosas, suas
explicações levaram à compreensão de que o espanto era algo que poderia ser combatido.

Vamos exercitar?
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O senso crítico (caraterístico da filosofia e do campo científico) é a capacidade de analisar


informações e ideias de forma lógica, racional e objetiva. Seu principal objetivo é questionar
crenças e suposições, buscando uma fonte segura de conhecimento. Embora o conhecimento do
senso comum não possua o rigor do senso crítico, sua contribuição para diversas questões da
humanidade nunca deixou de ser valorizada. Na filosofia, por exemplo, o conhecimento derivado
de crenças e experiências cotidianas, isto é, o conhecimento do senso comum, contribuiu para o
seu próprio surgimento. O conhecimento propagado através dos mitos serviu para criar um solo
fértil de investigações para que o conhecimento lógico, racional e crítico pudesse florescer, isto é,
para que a própria filosofia pudesse nascer.
Em sala de aula, você tem a oportunidade de guiar os seus alunos nessa jornada de descobertas
filosóficas. Através de atividades, como debates, questionamentos e análise de textos, você pode
despertar a curiosidade natural dos estudantes e incentivá-los a pensar criticamente sobre o
mundo ao seu redor, iniciando através dos conhecimentos prévios deles.

Saiba mais
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Para explorar outras perspectivas acerca desse tema, indicamos a obra O mundo de Sofia, de
Jostein Gaarder. O livro narra a história de Sofia Amundsen, uma adolescente de 15 anos que
recebe misteriosas cartas filosóficas de um filósofo. Ele se tornou uma ferramenta valiosa para a
introdução da filosofia na educação básica em diversos países. O Mundo de Sofia oferece uma
maneira acessível e envolvente de apresentar aos jovens os principais conceitos e debates
filosóficos.
Recomendamos também a obra A filosofia vai à escola?, de Renê José Trentin Silveira. Essa obra
analisa os fundamentos filosóficos e pedagógicos e as implicações político-ideológicas do
Programa de Filosofia para Crianças, criado por Matthew Lipman.

Referências
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ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Giovanni Reale. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
ARISTÓTELES. De anima. Trad. Maria Cecília Gomes dos Reis. São Paulo: Editora 34 Ltda., 2006.
BRANDÃO, J. de S. Mitologia Grega. Volume I. Petrópolis: Vozes, 1986.
LEITE, J. L. A. Do simbólico ao racional: ensaio sobre a gênese da Mitologia Grega como
introdução à Filosofia. Salvador: Editora EGBA, 2001.
PLATÃO. Teeteto. Trad. Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2008.
PONDÉ, L. F. Filosofia do cotidiano: um pequeno tratado sobre questões menores. São Paulo:
Contexto, 2019.
REALE, G. História da Filosofia Antiga I. São Paulo: Loyola, 1993.

Aula 2
Os mitos diante do senso crítico

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A mitologia é um tema muito rico em histórias, não é mesmo? Que tal aprofundar esse tema em
uma aula que pode auxiliar na sua atuação profissional? A crença religiosa é o que há de mais
representativo nos mitos, mas você sabia que todos os aspectos da vida humana já foram
orientados pelos deuses da mitologia? Convidamos você a participar dessa aula que mostra os
desafios e as relações do mito na vida do seu estudante!

Ponto de partida

Olá, estudante!
É uma grande honra continuar essa jornada com você. Desejamos uma excelente aula!
Nesta aula, abordaremos aspectos indispensáveis para o desenvolvimento do pensamento
filosófico. A filosofia surge com o propósito de apresentar respostas para os princípios básicos
da realidade, do conhecimento e da existência humana. Esse papel desempenhado pela filosofia
não é, entretanto, exclusividade desse campo do saber, isto é, as questões que são objeto do
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pensamento filosófico, nas quais os filósofos se debruçaram ao longo dos séculos, não são
exclusividade desse pensamento sistematizado, lógico e racional. Respostas para os princípios
da realidade, do conhecimento, da natureza e para os aspectos da vida humana remontam a um
período que antecede a própria filosofia.
Buscando resolver questões pertinentes de sua época, o mito grego representa uma função
primordial no nascimento da filosofia. Uma das principais funções dos mitos é dar sentido à
existência humana, por meio dos deuses e das explicações sobre a origem de todas as coisas. A
genealogia e a hierarquia dos deuses e semideuses foram reunidas e compiladas na obra
Teogonia, de Hesíodo, poeta grego do século VIII a.C. Dividida em duas fases, essa obra explica a
origem do universo (cosmogonia vem do grego kosmos (universo) e gonia (origem, nascimento).
Ela se refere ao estudo e à narrativa da origem e formação do universo e do mundo.) e a origem
dos deuses (teogonia do grego theus (deus) e gonia (origem, nascimento). Ela revela a
genealogia e a origem dos deuses em uma religião ou mitologia específica.). Além disso, o poeta
reflete sobre a justiça divina e a punição. Essa reflexão permite ao grego antigo pensar sua
conduta a partir da ética dos deuses.
O caráter metodológico apresentado pela cronologia do mito grego pode ser explorado em sala
de aula para introduzir a questão aos estudantes. Julgar a origem do mundo é uma tarefa
daquele que pertence a esse mundo e por ele foi originado. Refletir acerca de sua própria origem
é uma forma de inserir o aluno ao contexto da cosmogonia e da teogonia. Questões que podem
auxiliar nessa inserção são, por exemplo, “O que você imagina que existia antes do nosso
mundo?” e “Como você acha que o universo surgiu?”. Ainda, podem ser questões mais
particulares sobre a origem das coisas, tal como “Qual é a origem do seu nome?”. Esses
questionamentos levarão o estudante a refletir que, para tudo que existe, buscamos oferecer uma
origem de sua existência, uma resposta para explicar o seu fundamento. Outra relação a ser
explorada é a característica humana dos deuses gregos. Relacionar a capacidade de se alimentar
e de se reproduzir, a possibilidade de se ferir ou a afetação por sentimentos, assim como
acontece com os humanos, é mais uma maneira de aproximar e sensibilizar o aluno com o tema.
Em sua obra Convite à Filosofia, Chauí (2000) oferece alguns exemplos de narrativas míticas que
confirmam essa aproximação dos deuses gregos com a vida humana:

Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa
Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os
restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual,
nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, sedento e
miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer amado.
Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo se
sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito,
ficando ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida. (Chauí, 2000, p. 33)

A fome, a sede, a genealogia, a relação sexual, o amor e tantos outros sentimentos que afetam
os deuses são também características humanas, ou dos humanos são apropriadas para a
construção da narrativa mítica. Acentuar essa aproximação dos deuses com o ser humano é
uma maneira de aproximar o mundo do estudante com o mundo mitológico. Entender a
perspectiva de uma sociedade que viveu há mais de dois mil e quinhentos anos demanda
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abstração e compreensão de suas particularidades, então, quanto mais elos forem identificados
com essa sociedade antiga, mais fácil se tornará a compreensão de sua realidade.

Vamos começar!

O principal papel desempenhado pelos mitos para o povo grego é o de oferecer respostas às
questões do Thaumázein (espanto). O mito inaugura uma trajetória que se inicia na Grécia
Homérica, entre os séculos VIII e V a.C., e precede a era de ouro da Grécia Clássica, entre os
séculos VII e III a.C. Embora esse período considerado a era de ouro da Grécia tenha sido
marcado por grandes avanços na filosofia, na arte, na arquitetura e na literatura, os mitos
continuaram a ser uma fonte de inspiração para artistas, escritores e filósofos. O completo
abandono dos mitos demora a acontecer pelos gregos. A transição de um pensamento
justificado pela crença religiosa (mito) para um pensamento lógico e racional (filosofia) é
demorada. É natural que uma forma completamente nova de analisar o mundo não substitua a
visão precedente da noite para o dia. A mudança de paradigma do pensamento grego é
diacrônica; trata-se de uma evolução no modo de pensar e de enxergar o mundo.
As respostas oferecidas pelos mitos revelam o modo como os deuses se comportam entre si,
como eles agem em relação ao mundo e ao ser humano. Os atos divinos visam estabelecer uma
ordem no mundo, logo as ações dos deuses levam o homem a pensar que haja uma ética
normatizadora dessas ações. Ser punido ou agraciado por uma divindade pressupõe a existência
de valores e virtudes morais. Quando houver uma boa conduta, uma ação que atenda aos valores
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e às virtudes morais empregados pelos deuses, essa ação será recompensada. Quando ocorrer o
contrário, isto é, quando a conduta derivar do vício ou da ausência desses valores, essa conduta
será reprovada e punida pelos deuses. O mito de Prometeu e de Pandora oferece um exemplo
dessa ética nos mitos:

Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha
de fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado
num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os
homens também. Qual foi o castigo dos homens? Os deuses fizeram uma mulher
encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas
maravilhosas, mas nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e,
cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram
todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim,
a origem dos males no mundo. (Chauí, 2000, p. 33)

As histórias dos mitos manifestavam os valores e os códigos morais dos deuses. A narrativa
mitológica orientava, deste modo, a conduta ética do ser humano. Considerando que o mito
oferecia respostas e influenciava o ser humano nos mais diversos aspectos da vida, a ética
observada nos mitos era mais um guia para ação humana. O que é preterido pelos deuses deve
ser evitado, enquanto aquilo que eles consideram digno de reconhecimento e louvor deve ser
perseguido com fervor.
Enfatizando a dicotomia entre o bem e o mal, entre aquilo que deveria ser buscado e o que
deveria ser evitado, os mitos promoviam um agir ético na sociedade grega. O medo da punição
dos deuses impulsiona os gregos a evitar o mal, conduzindo-os à prática do bem. Há evidências
de que a mitologia doutrinava a conduta do povo grego1, mas o que justificava essa confiança de
que os mitos eram traduções confiáveis dos valores e das virtudes morais dos deuses? Por que
os gregos depositavam tamanha confiança nos mitos, a ponto de orientar sua conduta por meio
de fábulas que poderiam ser apenas invenção do imaginário popular? A forma como os mitos
eram transmitidos e os responsáveis por sua comunicação explicam tal confiança.
A mitologia é um conjunto de histórias, crenças e práticas que narram as origens do universo,
dos deuses e de outros seres sobrenaturais, buscando explicar os fenômenos da natureza, o
mundo e a vida humana. Cada uma dessas histórias é chamada de mito. Por definição, “a palavra
mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar
alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar)”
(Chauí, 2000, p. 32). O mito é transmitido por narrativas, e quem narra o mito grego é o poeta-
rapsodo. Esse artista grego é considerado um escolhido pelos deuses, que lhe revelam o
passado primordial para que ele possa conhecer a origem de tudo e transmitir aos seres
humanos. A crença de que o artista é escolhido pelos deuses concede-lhe autoridade e
confiabilidade em suas histórias. Hesíodo e Homero são os nomes lembrados quando se pensa
nesses poetas-rapsodos. Para Reale (1993, p. 9), “os poetas constituíram-se o veículo de difusão
de suas crenças religiosas”.
Com sua autoridade concedida pelos deuses, o poeta-rapsodo era a figura que ditava o
comportamento humano, ou seja, aquilo que o poeta revelava era lei moral imposta pelos deuses.
O medo da punição pela prática de ações reprováveis era fator decisivo no comportamento dos
gregos. A punição não era, como consideramos hoje em dia, um ato realizado pelos homens por
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meio de suas leis, mas, sim, um ato executado pelas divindades do Olimpo2. Pelas narrativas
mitológicas, o povo grego era informado acerca de quais atos eram aceitos pelos deuses e quais
eram reprováveis, e assim tomavam suas decisões. Para Malinowski, o mito é indispensável para
a civilização grega, pois

ele exprime, exalta e codifica a crença; salvaguarda e impõe os princípios morais;


garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas para a orientação do homem. O
mito é um ingrediente vital da civilização humana; longe de ser uma fabulação vã, ele
é, ao contrário, uma realidade viva, à qual se recorre incessantemente; não é,
absolutamente, uma teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma verdadeira
codificação da religião primitiva e da sabedoria prática. (Malinowski apud Brandão,
1986, p. 41)

Além de sua notória função religiosa, a sabedoria prática oferecida pelo mito torna-se também
uma regra importante do convívio social grego. No entanto, essa condição é temporária. O
paradigma do mito como fonte orientadora da vida humana é gradualmente superado. Alguns
fatores contribuíram para a superação dos mitos, levando ao despertar da criticidade no
pensamento da sociedade grega. Esses fatores, ou condições, compreendem diversas áreas da
vida humana. Condições econômicas, sociais, histórias e políticas levaram o povo grego a
superar o mito e sua autoridade de guia da vida humana.
Entre essas condições do despertar da criticidade do povo grego, destacam-se as viagens
marítimas e a invenção do calendário. Conhecer outros lugares em que a mitologia afirmava
serem territórios ocupados por deuses e perceber que eram, na verdade, ocupados por outros
seres humanos levou o povo grego a desacreditar das fábulas e reduzir a autoridade do poeta-
rapsodo. Com a invenção do calendário, criar uma forma de calcular o tempo significou se
desprender das explicações dos fenômenos naturais como força e desejo das divindades. Dividir
o tempo pelas estações do ano e pelas horas do dia levou o grego a perceber um fato
importante: a repetição. A repetição no comportamento da natureza fez o ser humano perceber
que se trata de algo natural, que é próprio da manutenção da vida e da natureza, e não um poder
incompreensível dos deuses.
A autoridade dos mitos como guia da vida humana e a credibilidade do poeta-rapsodo, aos
poucos, diminui. É um processo gradual que se inicia entre o final do século VII a.C. e o início do
século VI a.C. Questionamentos sobre as crenças tradicionais até então propagadas pelos mitos
e a busca por uma compreensão mais profunda do mundo marcaram o despertar da criticidade
na cultura grega. Um fator que demonstrou esse despertar da visão mitológica para uma visão
crítica foi a invenção da política. A criação de espaços públicos para decidir entre os homens o
destino da população remove o caráter decisivo, punitivo e autoritário que os deuses possuíam
sobre a humanidade. Essas mudanças da cultura grega precedem o nascimento da filosofia, que
se inicia justamente como a personificação do senso crítico.

Vamos exercitar!
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A cronologia do mito grego oferece um rico material para o ensino de filosofia na sala de aula.
Através da análise crítica dos mitos gregos, os estudantes podem ser incentivados a desenvolver
o pensamento crítico, apreciar a literatura e a cultura e refletir sobre a condição humana e sua
própria condição no mundo. Ao utilizar a Teogonia e a Cosmogonia como ferramentas
pedagógicas, é possível despertar a curiosidade deles, incentivando-os a investigar diferentes
mitos e histórias do seu cotidiano.
Com sua narrativa, os mitos retratados pelo poeta-rapsodo oferecem uma oportunidade para
introduzir os estudantes ao mundo da filosofia, da cultura grega e da mitologia. Explorar a
tradição mitológica grega e a tradição mitológica romana, reconhecendo suas semelhanças e
diferenças, é uma forma de inserir o aluno no tema e oportunizar diferentes interpretações do
mundo em que ele vive. Você também pode incentivar seus estudantes a criarem suas próprias
histórias. Utilizar a mitologia como inspiração para a criação de textos ficcionais, como contos,
poemas ou peças teatrais, é uma forma de seus alunos expressarem a criatividade através da
arte e da literatura.
É importante que os questionamentos em sala de aula possam ser relacionados ao mundo do
estudante. A abstração é uma capacidade humana fruto do amadurecimento da crítica, logo
relacionar os conceitos do pensamento crítico aos objetos do cotidiano é uma forma de treinar
essa capacidade. A proposta de explorar o caráter metodológico da cronologia do mito grego em
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sala de aula para introduzir os alunos à Cosmogonia e à Teogonia é extremamente interessante e


rica em possibilidades. Através da análise da narrativa mítica, você pode despertar a curiosidade
natural dos alunos, incentivar o pensamento crítico e promover uma imersão profunda na cultura
e na história da Grécia Antiga.

Saiba mais

Diversos povos, de diferentes regiões do planeta, explicaram o mundo por meio da mitologia. A
mitologia não é exclusividade dos gregos antigos. Você já sabe que os romanos também
contaram com os mitos para explicar sua realidade e orientar suas vidas. Apresentar uma gama
de explicações mitológicas contribui para fixar a noção da importância dos mitos na história.
Para explorar essas outras perspectivas acerca dos mitos, indicamos a obra O Livro de Ouro da
Mitologia, de Thomas Bulfinch.
Recomendamos também a leitura da obra Mitologia e filosofia, de Luc Ferry. Esse livro busca
despertar as metáforas adormecidas presentes em nossa linguagem cotidiana e explora os
mitos como fonte de lições de vida e sabedoria filosófica profundas.

Referências
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BRANDÃO, J. de S. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1986.


CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
HESÍODO, Teogonia: a origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 2009.
LEITE, J. L. A. Do simbólico ao racional: ensaio sobre a gênese da mitologia grega como
introdução à filosofia. Salvador: Editora EGBA, 2001.
PONDÉ, L. F. Filosofia do cotidiano: um pequeno tratado sobre questões menores. São Paulo:
Contexto, 2019.
REALE, G. História da Filosofia Antiga I. São Paulo: Loyola, 1993.

Aula 3
O senso crítico

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A filosofia é uma ferramenta usada para entender o mundo e para confrontá-lo. Viver no
desconhecido pode ser uma experiência assustadora e, ao mesmo tempo, surpreendente. O
encontro com o novo, com novas respostas, é uma das engrenagens que dão sentido à vida.
Refletir sobre o que já se conhece é esclarecedor, e questionar a verdade estabelecida é
fundamental. E então, vamos refletir?

Ponto de partida

Olá, estudante!
É uma grande honra continuar essa jornada com você. Desejamos uma excelente aula!
A filosofia surge com o propósito de apresentar respostas para os princípios básicos da
realidade, do conhecimento, da existência humana e de suas ações. Para responder a essas
questões, a narrativa mitológica precisou ser superada, isto é, as respostas fornecidas pelos
mitos gregos se tornaram insuficientes devido às evoluções nos diversos campos da vida
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cotidiana do povo grego. Explicar o mundo por meio dos deuses e dos valores impostos nas
fábulas contadas pelo poeta-rapsodo não justifica mais a realidade com a qual os gregos se
deparavam. Conhecer novos lugares e inventar mecanismos de controle dos fenômenos da
natureza e das relações humanas são alguns dos fatores que motivaram essa guinada do
pensamento grego. Não houve, entretanto, uma ruptura repentina do pensamento mitológico
para o pensamento crítico. O pensamento crítico nasce como um processo de reavaliação das
próprias fábulas dos mitos, ou seja, surge como uma reflexão das respostas vigentes.
Considerando esse cenário, qual foi a diferença das respostas oferecidas pelos mitos para as
respostas formuladas por meio de um senso crítico? E por que essas novas respostas são mais
aceitáveis do que as respostas anteriores? Qual foi o critério usado pelo povo grego para
justificar o conhecimento? Formular essas questões é uma maneira de introduzir os estudantes
no assunto e, além disso, conhecer suas hipóteses acerca do tema. Lembre-se de que seus
alunos são curiosos e são detentores de conhecimento. Utilizar o conhecimento prévio deles
pode ser muito proveitoso para o desenvolvimento de sua aula.
Respondendo a essas questões, apresentaremos, nesta aula, o que qualificou o pensamento
crítico a substituir gradualmente o senso comum amplamente aceito na Grécia entre os séculos
VIII e V a.C. Para começar, entenderemos quais são as características do senso crítico.

Vamos começar!
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É da natureza humana procurar saber qual é a origem das coisas, e as narrativas mitológicas
inauguram essa fase especulativa da Grécia Antiga. Com suas fábulas propagadas pelo poeta-
rapsodo, os deuses exercem protagonismo na conduta da vida humana e da natureza como um
todo. O mito explica a ordem do mundo e tranquiliza, por hora, a curiosidade das pessoas. No
entanto, com o passar do tempo e com o desenvolvimento da sociedade grega, suas explicações
fabulosas carecem de uma coisa: lógica!
De acordo com Chauí, a narrativa que substitui a narrativa mitológica, ou a narrativa do senso
comum, se apresenta por meio de duas características. A primeira delas é negativa, “isto é, um
dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da
experiência cotidiana, ao que ‘todo mundo diz e pensa’, ao estabelecido” (Chauí, 2000, p. 9). Essa
característica é essencial para que haja um pensamento crítico, pois, ao negar o juízo vigente, se
abre espaço para a dúvida. Alterar o título de verdade inquestionável de um conhecimento
previamente estabelecido para um conhecimento dubitável é permitir que ele seja investigado.
Negar a verdade do senso comum não significa apenas desacreditá-lo, mas, sim, retirá-lo da
posição privilegiada de verdade que ele ocupa e colocá-lo para enfrentar o tribunal da razão.
Significa testar suas explicações, a fim de compreender se essas são razoáveis para orientar a
vida.
A segunda característica é positiva e, quando somada à característica negativa, o senso crítico
se constitui. Para Chauí (2000, p. 9), essa segunda característica é representada pela
inquietação, “isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações,
os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso
tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira”.
Embora os termos “negativo” e “positivo” sejam contraditórios, as características positiva e
negativa do senso crítico se complementam, formando um conjunto de questionamentos
necessários para desenvolver um senso crítico.
Ao submeter o juízo vigente ao tribunal da razão, a narrativa mitológica se torna objeto de
investigação. Para David Hume (2009), filósofo escocês do século XVIII, certos elementos
inexplicáveis senão por eles mesmos são acolhidos com base na confiança, logo a fragilidade de
seus fundamentos pode não resistir a uma investigação mais rigorosa, tal como a investigação
proposta pelo senso crítico. Esse é o caso da narrativa mitológica.
De acordo com Reale (1993, p. 6), “antes do nascimento da filosofia, os poetas tinham
importância extraordinária na educação e na formação espiritual do homem grego, muito mais
do que tiveram entre outros povos”. Ao apresentar respostas para as questões do mundo e da
natureza humana, os mitos estão fundados na confiança do poeta e na ampla aceitação do
senso comum. É justamente essa confiança atribuída aos poetas que indica uma fragilidade nos
mitos. Não há evidências, apenas confiança. A escassa confiabilidade faz da narrativa mitológica
um alvo do senso crítico, e por essa nova forma de pensamento ela é atacada. A atitude crítica
objetiva destronar não apenas a narrativa mitológica, mas, sim, toda aquela resposta que não
resistir aos seus questionamentos.
O caráter crítico dessa atitude entre os gregos é peça fundamental para o surgimento da
filosofia. Formada com encadeamentos lógicos entre seus enunciados e baseada na razão (e
não mais na crença religiosa e na palavra do poeta), é criada a narrativa lógico-crítica que dá
origem à filosofia. A lógica apresentada em seus argumentos é fator determinante para essa
guinada no pensamento grego. É a lógica que oferece confiança a esse raciocínio. Através da
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lógica, é possível discernir o verdadeiro do falso, o razoável do irrazoável ou o consistente do


inconsistente. Não cabe mais a uma pessoa ou aos deuses a autoridade das explicações. A
própria estrutura dos argumentos fornece a evidência para as explicações sobre o mundo, sobre
a vida e sobre a origem das coisas. Com essa nova ordem de pensamento, gradualmente, a
narrativa mitológica é substituída por essa nova narrativa lógico-critica.
Os filósofos gregos partem do pressuposto de que a crítica é um caminho para se chegar à
verdade, sendo a verdade o objetivo da filosofia grega. Reale (1993, p. 12) entende que a filosofia
surge como um conhecimento que objetiva buscar a verdade, afirmando que “o escopo ou fim da
filosofia está no puro desejo de conhecer e contemplar a verdade. Em suma, a filosofia grega é o
desinteressado amor pela verdade”. Para Chauí (2000, p. 9), “a Filosofia começa dizendo não às
crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o
que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a
primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: ‘Sei que nada sei’”. A máxima socrática de
admitir sua ignorância é o reconhecimento de que as respostas que possuíam eram
insuficientes.
O sentimento de thaumázein (admiração, espanto), o mesmo que motivou o surgimento das
respostas mitológicas, desperta mais uma vez o povo grego. Neste sentido, a narrativa lógico-
crítica desempenha um papel análogo ao da narrativa mitológica, isto é, o papel de elucidar as
perguntas ainda sem respostas razoáveis, ou de desvendar os mistérios do desconhecido. Os
filósofos gregos Platão e Aristóteles acreditavam que a filosofia, enquanto uma narrativa lógico-
crítica da realidade, também era produto do thaumázein.
Aristóteles (1987, p. 214) diz que “foi, com efeito, pela admiração que os homens, assim hoje
como no começo, foram levados a filosofar, sendo primeiramente abalados pelas dificuldades
mais óbvias, e progredindo em seguida pouco a pouco até resolverem problemas maiores”. Em
um diálogo entre Sócrates e Teeteto, Platão reconhece igualmente que a admiração está
intimamente ligada ao surgimento da filosofia. “Pois é bem de um filósofo essa afecção: o
espantar-se. Com efeito, não é outro o princípio da filosofia, senão esse” (Platão, 2020, p. 79).
Diferentemente das narrativas mitológicas, as respostas para o thaumázein seguem, desta vez,
critérios mais rigorosos. E a criticidade, por sua vez, é um elemento fundamental da filosofia. Ela
se manifesta através das ideias, dos argumentos e das teorias que buscam a verdade. O
questionamento crítico de crenças, preconceitos e suposições marcam o início desse senso
crítico. Exercendo seu ofício, cabe ao filósofo grego analisar e examinar com rigor e
profundidade as perspectivas que lhe aparecem e criar perspectivas.
Enquanto um processo de descobrimento por meio da crítica, a filosofia utiliza da argumentação
lógica para fundamentar suas respostas e seus questionamentos. O motivo pela escolha da
lógica é que ela permite ao filósofo avaliar a validade dos argumentos, identificar falhas e
inconsistências e construir argumentos sólidos para defender suas próprias ideias. Nesse
processo de análise crítica, o filósofo busca compreender também o significado preciso dos
conceitos utilizados em diferentes teorias e argumentos. O objetivo é sempre o mesmo: evitar
falhas e construir um argumento sólido que busque a verdade.
A criticidade na filosofia está intimamente ligada à busca pela verdade. Não se trata de defender
apenas suas próprias ideias, mas, sim, de alcançar um conhecimento objetivo e verdadeiro sobre
o mundo e as questões que dele decorrem. No entanto, a busca pela verdade é desinteressada.
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Essa é uma visão defendida por Aristóteles na obra Metafísica, segundo apresenta Reale (1993,
p. 12):

Conforme escreve Aristóteles, os homens, ao filosofar, ‘buscaram o conhecer a fim de


saber e não para conseguir alguma utilidade prática’ [...] E Aristóteles conclui:
‘Portanto, é evidente que nós não buscamos a filosofia por nenhuma vantagem a ela
estranha. Ao contrário, é evidente que, como consideramos homem livre aquele que é
fim para si mesmo, sem estar submetido a outros, da mesma forma, entre todas as
outras ciências, só a esta consideramos livre, pois só ela é fim a si mesma’.

A filosofia é um fim em si mesmo, e seu objetivo é resistir às enganações ao buscar a verdade. O


filósofo não busca, segundo Aristóteles, uma utilidade prática na filosofia. Trata-se de uma
atividade contemplativa para simplesmente entender o mundo, para tão somente saber. A
filosofia não nasce para que o filósofo possa obter vantagens a seu favor. A filosofia é
desinteressada por conter em si seu próprio fim, isto é, “é fim a si mesma porque tem por
objetivo a verdade, procurada, contemplada e desfrutada como tal” (Reale, 1993, p. 12).
Trata-se de um contínuo processo reflexivo em busca da verdade, busca essa que explica
também o propósito do nascimento da própria filosofia. E para que o propósito de sua existência
seja cumprido, a criticidade é característica permanente da filosofia, chamada também de
reflexão crítica. A reflexão crítica é um processo contínuo na filosofia. O filósofo não apenas
questiona e analisa ideias, mas também reflete sobre o próprio processo de investigação,
buscando constantemente identificar seus próprios vícios e limitações, a fim de corrigi-los.

Vamos exercitar?
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A filosofia surgiu da necessidade de ir além dos mitos para compreender a realidade, o


conhecimento, a existência humana e as ações. Através de um processo gradual de reavaliação
crítica dos mitos, o senso crítico floresceu, buscando novas compreensões e fundamentos
racionais.
Para Aristóteles, todos os homens aspiram ao saber. Trata-se de uma característica da natureza
humana. Logo, exercitar a sabedoria é naturalmente desejável por todos. Para ele, filosofar é uma
necessidade primária. Considerando essa necessidade, incutir a atividade filosófica aos
estudantes é a tarefa professoral do filósofo. Você pode, no exercício da profissão, despertar o
senso crítico em seus estudantes.
Gilles Deleuze e Felix Guattari (1997), na obra O que é filosofia?, definem a filosofia como a
criação de conceitos. Rompendo com a tradição grega, para eles, a filosofia não se resume à
mera contemplação ou reflexão. Essa criação de conceito se faz presente desde o início e
perpassa toda a história da filosofia. Não obstante, os autores argumentam que não se deve
ignorar a história da filosofia ou tampouco se esconder atrás da história. Apropriar-se de
conceitos e ressignificar conforme as suas necessidades é, em certa medida, o grande trunfo da
filosofia. Deleuze e Guattari veem na filosofia, deste modo, uma atividade prática. E entendemos
que estimular a prática dessa atividade é propriamente o papel do docente em sala de aula.
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Saiba mais

O caráter reflexivo e crítico da filosofia é um marco dessa nova ordem de pensamento


inaugurada pelos gregos. Embora esse seja um entendimento que surge na Grécia antiga,
filósofos do período moderno e contemporâneo compartilham desse entendimento e orientam
seus escritos de acordo com esse preceito. Um ótimo exemplo é a obra Meditações Metafísicas,
de René Descartes (1596-1650). Nessa obra, Descartes questiona tudo que acredita saber,
buscando um fundamento sólido para o conhecimento.

Referências
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ARISTÓTELES. Tópicos; Dos Argumentos Sofísticos; Metafísica (Livro I E II); Ética a Nicômaco;
Poética. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
BRANDÃO, J. de S. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1986.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a Filosofia?. Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. São
Paulo: Editora 34, 1997.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 2009.
HUME, D. Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de
raciocínio nos assuntos morais. Trad. Déborah Danowski. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
LEITE, J. L. A. Do simbólico ao racional: ensaio sobre a gênese da mitologia grega como
introdução à filosofia. Salvador: Editora EGBA, 2001.
PLATÃO. Teeteto. Texto estabelecido e anotado por John Burnet. Trad. Maura Iglésias e Fernando
Rodrigues. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio; São Paulo: Edições Loyola, 2020.
PONDÉ, L. F. Filosofia do cotidiano: um pequeno tratado sobre questões menores. São Paulo:
Contexto, 2019.
REALE, G. História da Filosofia Antiga I. São Paulo: Editora Loyola, 1993.

Aula 4
Do senso crítico à ciência
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Você já parou para refletir sobre o profundo impacto da ciência em nosso mundo e sua incrível
evolução ao longo da história? A ciência, como a conhecemos hoje, é fruto de um longo processo
histórico, marcado por descobertas, debates e revoluções de pensamento. Nesta aula,
desvendaremos os germes da ciência, investigando seus primórdios e como ela se desenvolveu
ao longo do tempo.

Ponto de Partida
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Olá, estudante!
É uma grande honra continuar essa jornada com você. Desejamos uma excelente aula!
A ciência é um sistema de conhecimento que busca compreender o mundo de forma objetiva,
imparcial e confiável. É uma ferramenta humana em constante evolução, moldada e guiada por
um método bem estabelecido. O método está para a ciência como a reflexão crítica está para a
filosofia. A filosofia surge com o propósito de apresentar respostas para os princípios básicos da
realidade, do conhecimento, da existência humana e de suas ações. Para cumprir essa tarefa, a
filosofia realiza um movimento reflexivo, isto é, a atividade filosófica questiona as explicações
vigentes e suas próprias explicações. O método científico, por sua vez, estabelece uma série de
regras para orientar suas buscas, deste modo a ciência depende de um método em seus
procedimentos.
Você pode facilmente identificar métodos que utiliza para executar tarefas no seu dia a dia.
Essas tarefas podem ser simples ou complexas, e o método pode exigir muitas ou poucas
etapas. Sempre que você quiser justificar suas hipóteses, isto é, sempre que quiser demonstrar
que seus raciocínios possuem fundamentos sólidos, precisará apresentar os caminhos que te
levaram a uma tal conclusão. O método é um instrumento que fornece segurança para as suas
ações, pois por ele se sabe que determinados processos te levam em segurança a determinado
resultado. Esse processo se repete inúmeras vezes, inclusive na vida dos seus estudantes.
Pensar a ciência não é tarefa apenas do cientista ou do filósofo. A ciência, a partir de seus
métodos e de seus resultados, pode ser observada no dia a dia de qualquer pessoa. A ciência
não se resume a experimentos em laboratórios, fórmulas ou teorias complexas; ela atravessa
diversos aspectos da realidade habitual do ser humano. Questionar, investigar e formular
hipóteses fazem parte do processo da ciência. Através de experimentos práticos e observações
cuidadosas, você pode transformar a sala de aula em um laboratório de exploração para os seus
estudantes. A capacidade de pensar criticamente também é papel da ciência. Mostrar aos
estudantes os princípios científicos por trás de objetos e atividades cotidianas oferece a eles
uma nova perspectiva sobre o mundo, uma nova maneira de enxergá-lo, problematizá-lo e
entendê-lo.
Se a ciência pode ser definida pelo rigor de seu método, por que não o aplicar a temas familiares
aos estudantes? Entendemos que essa seja uma ótima maneira de introduzir a ciência a eles.
Diminuindo a distância entre a ciência e a vida cotidiana, conseguimos aproximá-los do nosso
tema.

Vamos começar!
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A filosofia instaura na Grécia antiga uma nova ordem de pensamento. O pensamento filosófico é
produto da crítica e da reflexão que nasce com a admiração que o grego tem com o mundo. Para
Reale (2007, p. 3), o germe da ciência está na própria atividade filosófica, isto é, “por causa de
suas categorias racionais, foi a filosofia que possibilitou o nascimento da ciência e, em certo
sentido, a gerou. E reconhecer isso significa também reconhecer aos gregos o mérito de terem
dado uma contribuição verdadeiramente excepcional à história da civilização”.
A filosofia antiga revela que o seu objetivo consiste em uma busca incessante por uma
explicação verdadeira e puramente lógica e racional da totalidade das coisas. A ciência, por sua
vez, se baseia na razão e na lógica para formular seus argumentos e explicar determinado
aspecto do mundo. Ambos os instrumentos da cognição humana, a filosofia e a ciência, se
baseiam na razão e na lógica para produzir e explicar seus conceitos. No entanto, uma questão
de perspectiva as distingue e torna a filosofia o próprio germe da ciência. Seguem duas
passagens que reforçam essa ideia:

No que se refere ao conteúdo, a filosofia quer explicar a totalidade das coisas, ou seja,
toda a realidade, sem exclusão de partes ou momentos dela. A filosofia, portanto, se
distingue das ciências particulares, que assim se chamam exatamente porque se
limitam a explicar partes ou setores da realidade, grupos de coisas ou de fenômenos.
(Reale, 2007, p. 11)
Há aí uma sutil diferença que marca o ponto de distinção entre a Ciência e a Filosofia.
A razão filosófica, ao pensar a totalidade, se dá conta que aquilo que ela captou da
totalidade não passa de uma parte do todo, ela não pode se contentar com essa parte
achando que essa parte é o todo. (Leite, 2001, p. 104)
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A ciência é, para a filosofia, uma parte da explicação do todo. Ela pretende explicar racionalmente
certos aspectos do mundo, enquanto a filosofia se propõe a explicar a totalidade das coisas.
Outro aspecto que revela que a ciência antiga, em seu primórdio, é uma parte da filosofia é o
pensamento socrático. Considerado o pai da filosofia, Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.) é conhecido
por seu método de investigação chamado “maiêutica”. Para além das características de seu
método, o objetivo de Sócrates com a maiêutica era desenvolver o senso crítico e, por meio
deste, buscar a verdade. Reconhecer a própria ignorância é a máxima da filosofia socrática. Essa
máxima é eternizada por Platão em seus diálogos através da célebre frase “só sei que nada sei”.
Reconhecer seus limites e buscar a verdade faz de Sócrates um claro representante do marco
inaugural da atitude científica.
Enquanto um pensamento descompromissado com a verdade, o senso comum se caracteriza
pela inocente crença de que o mundo pode ser perfeitamente explicado tal como ele nos
aparece. Isto é, o mundo pode ser explicado diretamente, sem qualquer recurso, a partir
unicamente das próprias percepções sensíveis que interagem com o mundo. A crença do senso
comum é uma crença sem compromisso com a justificação1. Ela se baseia na subjetividade de
cada indivíduo, julgando as qualidades das coisas de acordo com opiniões individuais e
generalizando os fatos semelhantes com poucas evidências. Por se formar através dessas
características, o senso comum é permeado de incertezas e preconceitos.

Por serem subjetivos, generalizadores, expressões de sentimentos de medo e


angústia, e de incompreensão quanto ao trabalho científico, nossas certezas
cotidianas e o senso comum de nossa sociedade ou de nosso grupo social
cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade
que nos cerca e todos os acontecimentos. (Chauí, 2000, p. 316)

A ciência, ou a atitude científica, surge na filosofia e se apresenta primeiramente como ciência da


natureza. Seu objetivo é identificar uma unidade nos fenômenos da natureza através da
identificação de suas causas. Sobre a divisão das ciências, Aristóteles (384/383 a.C. - 322 a.C.)
foi o primeiro responsável por categorizar seus ramos, sendo estes três:

1) as ciências teoréticas, que procuram o saber pelo saber e que consistem na


metafisica, na física (em que é incorporada também a psicologia) e na matemática;
2) as ciências práticas, que usam o saber com a finalidade da perfeição moral: a ética
e a política;
3) as ciências poiéticas, isto é, que tendem a produção de determinadas coisas.
(Reale, 2007, p. 193)

Para Aristóteles, a metafísica tem por objetivo a busca das primeiras causas. Embora para o
filósofo seja a metafísica a mais elevada das ciências, pois “em função dela que todas as outras
ciências adquirem seu justo significado prospectivo” (Reale, 2007, p. 195), a experimentação é
insubstituível nessa busca. O interesse de Aristóteles pelas ciências empíricas, herança dos
filósofos da physis2, surge em decorrência desse objetivo da metafísica, e inaugurou, deste
modo, o método experimental das ciências. A observação dos dados empíricos tem por objetivo
o descobrimento das causas; em um processo causal, a investigação experimental é o que torna
possível descobrir a origem da primeira causa.
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O método experimental de Aristóteles, apesar de suas diferenças com o método da ciência


moderna, representou um marco inaugural no desenvolvimento do conhecimento científico. Entre
suas características, destaca-se a observação rigorosa, a coleta de dados, a classificação e
organização dos dados coletados, a formulação de hipóteses para explicar os fenômenos e o
teste para refutar ou confirmar as hipóteses. As características do método experimental de
Aristóteles contribuíram para a construção de uma base sólida para a ciência moderna.
A certeza é a mais notável e a mais importante característica da ciência moderna. A filosofia
socrática, de forma análoga, revelou a importância da certeza a partir da busca pela verdade.
Embora o método experimental de Aristóteles tenha fornecido as bases para o método
experimental da ciência moderna, alguns fatores afastavam seus resultados do objetivo da
ciência, que é a certeza. O escasso interesse de Aristóteles pela matemática é um dos pontos
que limitava seu método experimental. Tal desinteresse limitava sua capacidade de quantificar e
modelar os fenômenos naturais observados. Outro fator é a ausência de uma experimentação
controlada, ou seja, a experimentação promovida por Aristóteles dependia basicamente da
observação direta dos dados no mundo, sem que os seus experimentos fossem realizados em
um ambiente controlado (laboratório).
Outro aspecto que limitou seu método experimental foi sua própria filosofia. A visão teleológica
de Aristóteles contaminou sua interpretação dos dados e a formulação de suas hipóteses. Ao
acreditar que os objetos e eventos têm um propósito final predeterminado, o compromisso de
Aristóteles não era apenas com seu método experimental de investigação mas também
demonstrar a ocorrência de sua visão teleológica a partir desse método.
Esses fatores limitantes do método experimental de Aristóteles são, de certo modo, corrigidos
pela ciência moderna. Não obstante, o método de Aristóteles também pode ser considerado o
germe da ciência moderna. E para que o pensamento do filósofo pudesse ser conhecido pela
modernidade e seus pensadores, a Idade Média exerceu papel crucial. Foi graças à preservação e
à tradução das obras de Aristóteles feitas pela Igreja que o seu método experimental de
investigação foi revelado. Suas obras serviram de combustível para a revolução científica
ocorrida entre os séculos XVI e XVII. Esse período marca a evolução do método experimental e a
consolidação das ciências modernas.
Embora a ciência moderna evolua para diversos outros campos além da ciência experimental
preconizada por Aristóteles, sua necessidade para a evolução do pensamento científico é
imprescindível. Francis Bacon (1561-1626) é um dos representantes dessa evolução e superação
do pensamento aristotélico. Com seu método indutivo de investigação, uma das mudanças feitas
por Bacon para promover mais segurança às conclusões científicas foi a criação de laboratórios
controlados.
Para corrigir as limitações do método experimental de Aristóteles, a ciência moderna contou
também com grandes nomes da ciência moderna, os quais foram responsáveis por
incomensuráveis mudanças de paradigmas da história. Entre eles, destacam-se Nicolau
Copérnico (1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642) e Isaac Newton (1643-1727). Alinhada a esse
pensamento, Chauí (2000, p. 22) diz que “graças aos gregos, no século XVII da nossa era, o
filósofo inglês Isaac Newton estabeleceu a lei da gravitação universal de todos os corpos da
Natureza”.
Copérnico, com seu modelo heliocêntrico, desafiou a crença dominante e abriu caminho para
uma nova visão do universo. Galileu refinou os instrumentos de investigação e aproximou a
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ciência da estimada certeza científica. Em sua contribuição, ao revisitar o método experimental


de Aristóteles, sendo fortemente influenciado por Bacon, Newton herdou a valorização da
experiência e da lógica, concebendo, assim, a sua filosofia natural. O método newtoniano
solidifica as ciências naturais no campo científico e influencia, inclusive, a própria filosofia
moderna. David Hume, John Locke e George Berkeley são alguns dos filósofos modernos
fortemente influenciados pelo método científico de Newton. Hume, por exemplo, defende que
essa ciência experimental é igualmente consistente, em razão de seus critérios, quando
comparada a outras ciências, e “muito superior em utilidade, a qualquer outra que esteja ao
alcance da compreensão humana” (Hume, 2009, p. 24).
A aprimoração do método experimental pelos pensadores da modernidade consolida a ciência
como guia para a certeza. A ciência, impulsionada agora pela força das evidências que
sustentam suas hipóteses, se ergue como um instrumento seguro e confiável na busca da
verdade. Através do rigor metodológico, da experimentação meticulosa, da análise crítica, de sua
clareza e de sua objetividade, a ciência se torna um guia para o conhecimento e para a
compreensão do mundo.

Vamos exercitar?
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A ciência é um campo de estudo dedicado a explicar os eventos do mundo. Sua proposta é que, a
partir de um método rigoroso, consiga promover uma poderosa ferramenta para compreender
aspectos do mundo de maneira confiável. A filosofia, com sua categorização racional e em seu
objetivo de compreender a totalidade das coisas, é a responsável por sistematizar os campos
científicos. Considerando esse panorama, a ciência não é estranha à filosofia e tampouco
deslocada da vida cotidiana, pois seu método se apropria justamente dos aspectos do mundo e
da vida para compreendê-los. O grande trunfo da ciência é a utilização de um método rigoroso,
um tal rigor que possa garantir a certeza em suas respostas.
Se a ciência explicar o mundo e a vida, embora sua produção dependa de um método
propriamente científico, não cabe apenas ao cientista essa tarefa. O mundo é compartilhado por
todos. Cientistas, filósofos, estudantes, crianças, adultos e idosos convivem entre si e
compartilham dos objetos do mundo e de suas relações, como poderia, deste modo, ser papel
apenas do cientista apresentar as respostas para a vida? Todo mundo, à sua maneira, busca
compreender e explicar constantemente o mundo em que vive. Então, o que difere as respostas
da ciência para as respostas do senso comum? É justamente o método científico.
Embora seja o método um divisor de águas na explicação da ciência e do senso comum, ele não
é uma característica inata a apenas algumas pessoas. O método é um processo adquirido. Por
meio de um sistema de regras, estudos e testes, o método científico pode ser aplicado por todos.
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Da mesma maneira que o método experimental de Aristóteles foi conhecido, difundido, aplicado
e melhorado ao longo da história, o método científico moderno, como conhecemos hoje, pode ser
igualmente apropriado por qualquer um. A consciência de que o método científico pode explicar
as próprias questões dos estudantes é uma maneira de fazê-lo perceber a sua importância e a
sua palpabilidade.

Saiba mais

A ciência pensada enquanto um método para explicar a natureza e os fenômenos do mundo


implica, indiretamente, uma explicação para a natureza humana. Em consonância com esse
pensamento, o filósofo David Hume (1711-1776) escreve a obra Tratado da natureza humana.
Para Hume, essa obra é uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos
assuntos morais e explicar em sua totalidade o comportamento e a natureza humana. Dividida
em três livros, essa obra trata do entendimento humano, das paixões e da moral,
compreendendo-os através de regras gerais e princípios fundamentais. Levando em conta a
enorme extensão da obra, indicamos a leitura da Seção 1, da terceira parte do primeiro livro
(Livro I, Parte 3, Seção 1), intitulada Do conhecimento. Recomendamos também a leitura da
Seção 12 da obra Uma investigação sobre o entendimento humano do mesmo autor.
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Referências

ARISTÓTELES. Tópicos; Dos Argumentos Sofísticos; Metafísica (Livro I E II); Ética a Nicômaco;
Poética. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
BACON, F. The New Organon. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
COVENTRY, A. Hume: a guide for the perplexed. London; New York: Continuum, 2007.
HUME, D. Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de
raciocínio nos assuntos morais. Trad. Déborah Danowski. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
LEITE, J. L. A. Do simbólico ao racional: ensaio sobre a gênese da Mitologia Grega como
introdução à Filosofia. Salvador: Editora EGBA, 2001.
REALE, G. História da Filosofia: filosofia pagã antiga, v. 1. Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus,
2007.

Aula 5
Revisão da unidade

Ponto de chegada
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Olá, estudante!
Durante as aulas, você estudou sobre a mitologia grega e a sua origem, o surgimento do senso
crítico em antagonismo ao senso comum e os germes da ciência antiga e da ciência moderna.
Esses conhecimentos são necessários para desenvolver a competência desta unidade, a qual
exige que você compreenda o que é e qual é a importância do conhecimento baseado no senso
comum, assim como daquele baseado no senso crítico. Para desenvolver a competência desta
unidade, é fundamental que você identifique a importância da mitologia na evolução do
pensamento grego. O sentimento do Thaumázein, inicialmente superado pelo mito, é o primeiro
impulso a caminho da atividade filosófica. A superação do mito como forma de explicar o mundo
é uma realidade, mas isso não diminui a sua relevância para compreender a história do
pensamento grego, da filosofia e da ciência.
A filosofia grega, também nascida do espanto e da admiração diante do desconhecido, embarcou
em uma jornada intelectual em busca da verdade. Com sua ênfase na criticidade, a filosofia
representa um marco fundamental na história do pensamento humano, moldando a visão de
mundo e influenciando a forma como pensamos e agimos até hoje. Através da razão, do
questionamento e da crítica, os pensadores gregos desbravaram novos territórios do
conhecimento, abrindo caminho para a ciência e moldando nossa visão de mundo. A busca pela
verdade, desinteressada e movida pela sede de saber, era um processo contínuo de reflexão e
análise crítica. É importante que você conheça a diferença entre essas duas explicações do
mundo, a mitológica e a filosófica, embora surjam de um mesmo sentimento. Em um processo
de evolução do pensamento, a mitologia é parte integrante do trajeto empreendido pelos gregos
até o nascimento da filosofia. Seguindo a mesma análise, a ciência enquanto produto da filosofia
também se conecta, em certo grau, à mitologia.
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Trata-se de uma evolução no pensamento de maneira associada, concatenada de tal modo que a
deficiência de uma explicação se torna responsável pelo surgimento de outra explicação. De
acordo com esse raciocínio, a ciência antiga, enquanto produto da filosofia, é responsável pelo
desenvolvimento da ciência moderna. A ciência moderna, com seu rigor metodológico, se tornou
um guia fundamental para a compreensão do mundo.

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Uma das maneiras de aproximar seus alunos da filosofia é relacioná-la com a vida cotidiana.
Demonstrar a evolução do pensamento grego, partindo das explicações mitológicas, do senso
comum, até o desenvolvimento da ciência que conhecemos hoje é outra maneira de motivar seus
estudantes. Nenhum conhecimento prestigiado nasce pronto; é um processo que requer tempo e
superações. Nesta videoaula, apresentaremos, a partir da evolução do pensamento grego, modos
de sensibilizar os estudantes da Educação Básica ao conteúdo desta unidade.

É hora de praticar!
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Para que você se aproxime da realidade profissional do curso de Filosofia, apresentaremos


um cenário hipotético da atuação docente na Educação Básica. Esse cenário está diretamente
relacionado ao conteúdo estudado nesta unidade. Deste modo, veremos como é possível
introduzir os conceitos filosóficos aos estudantes de modo a aproximá-los ao pensamento grego
e às suas implicações na vida cotidiana.
Você, como docente de filosofia na Escola Parnaso Sophia (escola fictícia), está enfrentando o
desafio de engajar seus estudantes do ensino médio em um estudo sobre a evolução do
pensamento grego, desde o thaumázein até as contribuições de Platão e Aristóteles. Considere
que esta aula será o primeiro contato de seus alunos com a filosofia em sala de aula. A ideia que
eles têm da filosofia é a de que ela não serve para nada. Por desconhecerem sua relevância e sua
prática, pensam que ela é ineficaz para tratar dos problemas da vida ordinária. Como você pode
criar uma atividade que estimule o interesse dos estudantes, promova a compreensão dos
conceitos filosóficos e os leve a refletir sobre a relevância dessas ideias na sociedade
contemporânea? Quais recursos pedagógicos e estratégias de ensino poderemos utilizar para
tornar o conteúdo mais acessível e interessante para os estudantes?
Na Escola Parnaso Sophia, localizada em uma comunidade urbana diversificada, você enfrenta o
desafio de despertar o interesse dos estudantes em um assunto muitas vezes considerado
abstrato e distante de suas realidades. Apesar dos recursos limitados e das turmas numerosas,
você está firme em seu propósito, que é o de tornar a filosofia acessível e relevante para eles.
Existem diversas formas de lidar com esse problema na sala de aula. Conduziremos, portanto,
uma maneira que consideramos adequada para tratar do problema proposto.
Iniciando a primeira aula, você pode utilizar recursos visuais simples, como vídeos curtos,
imagens ou cartazes, para contextualizar o pensamento grego e a sua evolução ao longo do
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tempo. Você pode começar destacando como a curiosidade e o espanto diante do mundo,
compreendido pelos gregos como thaumázein, foram elementos essenciais na história da
filosofia e no desenvolvimento do povo grego, desde os tempos antigos até os dias de hoje.
Ao introduzir o conceito de thaumázein, você incentiva os estudantes a refletirem sobre suas
próprias experiências de admiração e espanto, conectando esses sentimentos à busca por
conhecimento e compreensão. Você utiliza exemplos do cotidiano deles para ilustrar como o
thaumázein, esse sentimento primordial do pensamento grego, pode ser encontrado em
situações simples, como observar o céu estrelado ou questionar a origem das coisas ao nosso
redor.
À medida que as aulas avançam, você pode explorar a transição do pensamento grego do mito e
das explicações do senso comum para o surgimento da filosofia e do pensamento crítico. Você
utiliza textos adaptados de filósofos antigos, como Platão e Aristóteles, para discutir ideias
complexas de forma acessível, incentivando os estudantes a expressarem suas próprias
opiniões e questionamentos. As passagens desses filósofos sobre o thaumázein são um bom
exemplo, e você pode encontrá-las nas obras Teeteto, de Platão, e Metafísica, de Aristóteles.
Você também aproveita o momento para destacar a importância da filosofia no desenvolvimento
da ciência, mostrando como o espírito de questionamento e investigação dos antigos filósofos
gregos ainda ressoa nos avanços modernos. Você relaciona os conceitos filosóficos abstratos,
como a busca pela verdade e a natureza do conhecimento, a questões concretas do mundo
contemporâneo, como a ética, a política e os avanços tecnológicos.
É fundamental que você crie um ambiente de aprendizado inclusivo e estimulante, nos qual todos
os estudantes se sintam encorajados a participar e a explorar suas próprias ideias. Esse
ambiente pode abarcar objetos do cotidiano deles, como jogos, filmes, desenhos ou brincadeiras.
Você sabe que o seu compromisso com a educação e com o ensino da filosofia pode fazer a
diferença na vida de seus alunos. Capacitá-los a pensar criticamente e a questionar o mundo ao
seu redor também é seu papel.

Dê o play!

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A filosofia é uma atividade racional que se difere em grau do senso comum. Enquanto a filosofia
encara o mundo a partir de conceitos e de reflexão, o senso comum manifesta suas crenças pela
aparência das coisas. Embora essa diferença seja contrastante, o senso comum é fundamental
para o aprimoramento da investigação filosófica. Convidamos você a participar dessa conversa
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em que discutimos como o diálogo entre o senso comum e a filosofia pode ser benéfico a
ambos.

Assimile

A linha do tempo oferece uma visão panorâmica da evolução do pensamento grego até os
germes da ciência moderna, facilitando a compreensão da complexidade e da interconexão do
conhecimento científico. Através da linha do tempo, o estudantes pode identificar os principais
pensamentos, suas ideias e suas contribuições para o desenvolvimento da filosofia e da ciência.
Esse Objeto de Aprendizagem (OA) permite ao aluno visualizar a relação entre os diferentes
períodos históricos e compreender como o conhecimento filosófico e científico se
desenvolveram ao longo do tempo.
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Figura – Evolução do pensamento grego. Fonte: Elaborado pelo autor.

Referências
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ARISTÓTELES. Tópicos; Dos Argumentos Sofísticos; Metafísica (Livro I E II); Ética a Nicômaco;
Poética. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
BRANDÃO, J. de S. Mitologia Grega. Volume I. Petrópolis: Vozes, 1986.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a Filosofia?. Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. São
Paulo: Editora 34, 1997.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 2009.
HOMERO. Ilíada; Odisseia. Trad. Carlos Alberto Nunes. 25. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2015.
LEITE, J. L. A. Do simbólico ao racional: ensaio sobre a gênese da Mitologia Grega como
introdução à Filosofia. Salvador: Editora EGBA, 2001.
PLATÃO. Teeteto. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio; São Paulo: Edições Loyola, 2020.
REALE, G. História da Filosofia Antiga I. São Paulo: Loyola, 1993.

Unidade 2
Educando o olhar: aprendendo a ver o que poucos veem
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Aula 1
Doxa, pistis, dianoia e noésis

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Nesta aula, aprenderemos sobre os graus de conhecimento platônico a partir do Mito da Caverna,
entendendo conceitos, como doxa, pistis, dianoia e noésis, os quais são basilares para trabalhar
com os estudantes. Assim como a analogia de Platão, neste vídeo, utilizaremos também outros
exemplos de analogias para melhor compreensão da classe.

Ponto de partida
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Olá, estudante e futuro docente de filosofia!


Iniciaremos mais uma unidade de Práticas Pedagógicas em Filosofia na Educação Básica e,
dessa vez, buscaremos educar o nosso olhar para aprender a ver o que poucos veem. Prepare-se,
pois, ao buscarmos entender esse processo, adentraremos o mundo da filosofia e
participaremos de uma jornada fascinante das diversas formas de conhecimento rumo ao cerne
da existência humana. Nesta primeira aula, mergulharemos em um tema que há séculos instiga a
mente dos pensadores: Doxa, Pistis, Dianoia e Noésis. Conceitos fundamentais para
compreendermos a natureza e as nuances do conhecimento e para enfrentarmos os desafios
que a vida nos apresenta.
Imagine uma aula de introdução à Lei da Gravidade, com uma abordagem tradicional do ensino.
Inicialmente, o professor ministra o conceito: corpos massivos possuem atração mútua em força
diretamente proporcional ao valor da massa e inversamente proporcional ao valor da distância
(ANJOS; 2024). Depois, apresenta matematicamente o fato com a fórmula F = G.(Mm/d²). A
turma passa, então, a fazer dezenas de cálculos. Alguns começam a levantar questionamentos,
mas logo a aula termina e a turma volta para casa, sentido à velha força da gravidade de sempre
que acabaram de estudar.
Curiosamente, Newton fez o caminho oposto ao construir para si o conhecimento de tal lei.
Diariamente, a Lei da Gravidade já lhe era presente, mas ele não a contemplava em sua plenitude
até que um fenômeno o despertou a questionamentos: maçãs se moviam para o solo, mas,
aparentemente, a lua permanecia no céu. E assim iniciou uma investigação com observação,
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análise, questionamento, hipóteses, testes, constatação e cálculos matemáticos, até que, um dia,
a lei surgiu. O curioso questionador contemplou um conceito, contemplou a verdade.
Newton não começou com a definição formal de força e movimento, mas, sim, com uma
experiência sensorial e uma compreensão intuitiva do mundo ao seu redor. Seu famoso episódio
da maçã caindo pode ser considerado como uma instância em que ele percebeu uma verdade
fundamental sobre o universo antes mesmo de expressá-la em termos matemáticos e
conceituais. Sua mente trabalhou de dentro para fora, do fenômeno observado para o princípio
geral. E, talvez, poderia ser natural imaginar que assim seria a construção do conhecimento.
Imagine que, em uma aula de Filosofia, diante de um dilema complexo, crenças de diversos
estudantes são postas à prova, pois há um debate acalorado sobre um assunto controverso. O
professor, no entanto, percebe que muitas posições levantadas estão baseadas em meras
opiniões, sem fundamentação sólida. Nesse momento, ele se coloca em um desafio. Como levar
cada estudante a saber se suas convicções são verdadeiras? Como ajudá-los a discernir entre o
que é mera aparência e o que é conhecimento genuíno?
Nesta aula, veremos o papel do filósofo, na perspectiva de Platão, cuja busca consiste em sair da
superficialidade para o pleno conhecimento da verdade, para, então, revelá-la aos que ainda
contemplam as sombras. É nesse ponto que os conceitos de doxa, pistis, dianoia e noésis se
revelam cruciais.

Vamos começar!
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Para começar a estudar a filosofia ocidental, é imprescindível a leitura de A República, de Platão.


Platão, além de ser o responsável por eternizar Sócrates, é tido como um dos pensadores mais
influentes da história, influenciando não apenas a filosofia, mas também a ciência, a política, a
religião e a cultura de maneiras profundas e duradouras. Ele é o fundador da filosofia ocidental,
estabelecendo temas investigados até hoje, como ética, epistemologia, metafísica, política e
estética, além de conceitos, como Bem supremo e transcendente, que influenciaram o
pensamento religioso e filosófico em várias culturas. Ele defendia a importância do diálogo e do
questionamento sistemático na busca pela verdade. Seu método filosófico, que envolve a
investigação crítica das crenças e a busca pela coerência e consistência, continua a ser uma
influência central na prática da filosofia. E foi esse filósofo que introduziu o que temos falado até
agora, a Teoria das Ideias, em que, por trás das aparências sensíveis do mundo físico, existe um
mundo de realidade eterna e imutável, composto por formas ideais que são a verdadeira
essência das coisas.
Grande parte de seu legado está na obra já citada, A República, em que Platão não apenas
descreve um ideal de governo, mas também explora questões metafísicas e epistemológicas, em
uma abordagem profundamente simbólica e alegórica, buscando revelar verdades mais
profundas sobre a natureza humana e a realidade.
Na obra, Sócrates, o personagem principal, discute uma série de temas, incluindo justiça, política
e conhecimento, através de uma série de argumentos e metáforas complexas. Uma das
passagens mais famosas e emblemáticas é o Mito da Caverna, que ilustra a jornada do
conhecimento e a natureza da realidade.
Ao abordar o Mito da Caverna, Platão apresenta alegoricamente a jornada do conhecimento
humano e a natureza da realidade. Nele, prisioneiros estão acorrentados desde a infância em
uma caverna, virados para uma parede de fundo da caverna, sem poder olhar para outra direção,
e de costas para um muro que impede a entrada da luz solar de fora da caverna. Eles não
conseguem se mover e estão impossibilitados de olhar para trás ou para os lados. Na parede,
são projetadas sombras de representações de coisas que estão fora da caverna. Para isso, há
um fogo no local, atrás do muro, em um ponto mais elevado, para que a luz do fogo chegue ao
fundo da parede, e atrás do muro, do lado do fogo, homens passam erguendo as representações
do mundo externo para que as sombras sejam projetadas e vistas pelos prisioneiros. Desse
modo, os cativos observam apenas essas sombras de representações de coisas do mundo
externo projetadas na parede à sua frente. Eles acreditam que essas sombras são a realidade, e
elas são a única realidade que conhecem. Até que um deles é libertado. Sim, um dos prisioneiros
é libertado de suas correntes e forçado a se virar em direção à luz. Inicialmente, ele fica
desorientado e desconfortável com a luz, incapaz de compreender o que vê, mas logo é
conduzido gradualmente para fora da caverna. Avista o muro, as pessoas manipulando algo,
observa que esse algo tem formatos diferenciados, observa a luz que bate nesses objetos, a
sombra que se forma na parede que via, vê a fogueira… E ao longo do trajeto enfrenta resistência
e estranhamento à medida que seus olhos se ajustam à luz intensa.
Finalmente, o prisioneiro emerge completamente da caverna e se encontra diante do sol.
Inicialmente, a luz é tão brilhante que ele mal consegue enxergar qualquer coisa. Pelo contrário,
fica por um bom tempo completamente cego. No entanto, à medida que seus olhos se adaptam,
ele começa a perceber a verdadeira natureza do mundo exterior. Ele vê as formas reais dos
objetos que outrora via somente a sombra de suas representações, identifica cada um dos seres
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e objetos. Nisso ele constata a beleza da natureza e a vastidão do céu. Essa experiência é
avassaladora e transformadora, revelando uma realidade muito mais rica e complexa do que ele
jamais imaginou e fica realmente maravilhado.
Percebendo o quanto sofrera dentro da caverna, olhando apenas as sombras e acreditando ser a
verdade, volta entusiasmado, a fim de libertar os ainda cativos. De volta ao fundo da caverna,
esse homem livre, que pela analogia faz o papel do filósofo, tira os cativos de suas correntes e
conta tudo o que viu. No entanto, ele é desacreditado e assassinado pelos prisioneiros da
caverna, os quais decidem continuar contemplando as sombras no fundo da caverna.
Nessa analogia, a caverna representa o mundo sensível no qual vivemos, limitado pela percepção
sensorial. Os prisioneiros acorrentados simbolizam a humanidade em sua condição de
ignorância, presos pelas ilusões do mundo material e cultural. As sombras projetadas na parede
refletem as ilusões e os enganos que percebemos no mundo sensível. A libertação do prisioneiro
representa o despertar intelectual e a busca pela verdade, que, muitas vezes, é dolorosa e
desconfortável. E a ascensão à luz do sol simboliza a compreensão da verdadeira natureza da
realidade, a descoberta das formas ideais e universais que constituem a essência das coisas.
Platão (2002) defendia que conhecemos realmente as coisas somente no mundo das ideias,
enquanto no mundo sensível nos relacionamos apenas com sombras da representação da
realidade. Ver uma maçã cair de uma árvore não é ter o conhecimento exato da Lei da Gravidade.
O observador poderá ter apenas uma opinião (doxa), sendo a opinião de algo mutável. Segundo o
filósofo, a opinião, até chegar à verdade, passa por algumas etapas. Da opinião temos,
inicialmente, a suposição (eikasia) e, depois, a fé (pistis), para então ir à inteligência (noésis), que
inicia o entendimento ou os pensamentos discursivos ou lógicos (dianoia) até chegar à ciência
(episteme).
A jornada do conhecimento, do mundo das sombras à luz do sol, ilustra a busca filosófica pela
verdade e pela sabedoria, uma jornada que Platão considerava essencial para uma vida
plenamente realizada. Essa jornada representa a transição do mundo sensível (doxa e pistis)
para o mundo inteligível (dianoia, noésis e aletheia), em que a verdadeira realidade é revelada.
Doxa e pistis referem-se ao conhecimento derivado da percepção sensorial e da crença,
respectivamente. São formas de conhecimento que estão sujeitas a ilusões e enganos, como as
sombras na caverna. Já dianoia e noésis são formas mais elevadas de conhecimento, que
envolvem raciocínio e insight intelectual. Aletheia, por sua vez, significa verdade ou
desvelamento, representando a compreensão última da realidade.
E nisso tudo há o eidos, conceito central na filosofia de Platão. Refere-se às formas ideais e
universais que constituem a essência das coisas. Enquanto o mundo sensível é imperfeito e
mutável, o mundo das formas é eterno e imutável, representando a verdadeira realidade por trás
das aparências.
Assim, o Mito da Caverna e os conceitos de doxa, pistis, dianoia, noésis e aletheia presentes no
eidos ilustram a busca humana pelo conhecimento verdadeiro e a natureza da realidade última.
Platão nos convida a transcender as limitações da percepção sensorial e das crenças
superficiais para alcançar uma compreensão mais profunda e verdadeira do mundo.
Agora a pergunta que fica é: como transitar de um mundo para o outro?
Newton, ao observar a queda da maçã, se perguntou: “Por que a maçã cai e a lua não?” (Gaarder,
1995, p. 228). Diante das percepções sensoriais, os conhecimentos estão limitados às nossas
opiniões (doxa). É uma percepção subjetiva diante do que é mutável. Algo mutável assume a
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condição de não-ser, pois em si admite o ser algo que deixará de ser e, portanto, não é (Reale,
1990), ou seja, no mundo sensível, além do conhecimento estar no nível da opinião, o eido não é.
Por outro lado, há no eido a sombra da representação da aletheia. E por ser mutável, há no eido a
possibilidade.
Cabe, então, à pessoa presa diante das sombras a problematização. A dúvida sempre existe no
não saber. Quando um professor ensina uma Lei de Newton, é comum que alguns estudantes
tenham dúvidas. Na dúvida, eles assumem o não saber, o que já é positivo. Para Sócrates, grande
mestre de Platão,

as pessoas que encontrava na ágora realmente não sabiam o que pensavam saber.
[...] Muitas pessoas eram boas em várias coisas em que faziam [...] Mas nenhuma
dessas pessoas era verdadeiramente sábia. Elas realmente não sabiam do que
estavam falando. (Warburton, 1962, p. 2-3)

Reconhecer que não sabe é reconhecer uma verdade que não está em você. Assim, a
problematização é transformar os fenômenos e entes em problemas. Problema é tudo o que é
passível de possibilidade. E possibilidade é algo possível de encontrar em algo que é mutável. É o
momento em que se criam as perguntas. Ter dúvida é um ato passivo; ter pergunta, ativo. É
quebrar a corrente e colocar em dialética a pergunta de como algo pode ser e não-ser, de modo
que a opinião passa ao estágio da fé (pistis).
A fé está acima na percepção. Na carta ao povo hebreu no primeiro século, seu autor, do qual não
há um consenso acadêmico ou teológico, define “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a
prova das coisas que não vemos” (Hb 11:1). O que se acredita ganha mais valor ao que se
percebe. Atualmente, temos enfrentado, por exemplo, questões da pós-verdades, pseudociências
e culturas de conspiração levando pessoas a acreditar em simulações do real. As sombras na
caverna tornam mais opaco o muro que impede a entrada da luz do sol. Temos crenças no que é
real e no que é irreal. As certezas, nessa fase, podem voltar a nos acorrentar e, portanto, as
perguntas precisam voltar ao exercício da dialética. A fé ainda é subjetiva, mas, diferente da
opinião, há um grupo que compartilha a mesma fé, o que não a torna verdade.
Por muitos séculos, a sociedade tinha uma cosmovisão geocêntrica do universo. Pelo sensível,
as pessoas inferiam os movimentos cosmos a partir do observador. Ao fazer perguntas, o
conhecimento foi construído pelo campo da lógica. É o que, para Platão, foi representado como
uma fogueira dentro da caverna. Não preso mais ao sensível ou às crenças, o conhecimento é
construído por insights e raciocínios. Ao mesmo tempo que essa luz ilumina, ela contribui para a
formação das sombras. São essas as falácias que enganam e acorrentam o pensador distraído.
Todavia, o raciocínio aponta para a verdade. Porém, o raciocínio não é a verdade em si, mas
apenas um protótipo do real. Por isso, quem transita pela caverna rumo à sua saída deve criar
mais dialéticas para quem sabe, um dia, contemplar o universo fora da caverna sob a luz do sol.
Quando isso acontece, o trabalho da filosofia se finda. É o nascimento da ciência ou da doutrina.
Ambas passíveis de serem questionadas para nascer, então, novas filosofias ou acorrentar
multidões no fundo de uma caverna que contemplam sombras ao chamá-las de verdade.

Vamos exercitar?
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Nesta aula, vimos o nível do conhecimento e como o indivíduo passa de um nível ao outro.
Citamos como exemplo o conhecimento sobre a Lei da Gravidade e como Isaac Newton
supostamente passou por esses níveis e como um professor tradicional transita por eles para a
construção do conhecimento com seus estudantes. Platão, por exemplo, para apresentar sua
teoria dos níveis do conhecimento, contou uma história que, aproveitando da sua própria
analogia, era apenas sombra da representação do que ele realmente tinha para apresentar.
Depois, falamos sobre o professor de filosofia diante de um debate acalorado entre seus
estudantes, cuja maioria dos argumentos era pautada em mera opinião subjetiva, e o docente se
desafiou a contribuir para que os estudantes avaliassem suas convicções e propusessem
ferramentas para alcançar o nível mais elevado do conhecimento sobre aquele tema.
Diante do dilema inicial, percebemos que nossas opiniões superficiais foram incapazes de nos
fornece uma solução satisfatória. No entanto, ao aplicarmos os conceitos de doxa, pistis, dianoia
e noésis, adquirimos uma nova perspectiva. Utilizamos a dianoia para analisar as diferentes
argumentações, discernindo entre aquelas baseadas em meras opiniões e aquelas embasadas
em um conhecimento sólido. Ao exercitar a noésis, alcançamos uma compreensão mais
profunda do assunto, transcendendo as aparências e acessando a essência da questão.
Ao refletir sobre essa situação e a aplicação dos conceitos estudados, convidamos você a
considerar como esses fundamentos filosóficos podem ser empregados em suas vidas. Como
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podemos cultivar uma mentalidade mais crítica, baseada na análise racional e na busca pela
verdade? Como podemos desenvolver uma fé fundamentada não apenas em crenças
dogmáticas, mas também em um entendimento genuíno? Que outros caminhos podemos
explorar para aprimorar nosso conhecimento e enfrentar os desafios que a vida nos apresenta?
Essas são questões que, ao longo desta jornada filosófica, nos convidam a uma reflexão
constante e profunda.

Saiba mais

Aproveite para estudar filosofia platônica de maneira mais simples, compreendendo os


problemas e as propostas dos diálogos descritos no livro A República, de Platão. Nesta obra,
José Trindade Santos aborda temas importantes da constituição da Filosofia na perspectiva de
Platão de modo a ser trabalhado em sala de aula e na vida.
Leia também o Capítulo 1 da obra Filosofia como Esclarecimento, dos autores Guimarães, Araújo
e Pimenta, que traz o esclarecimento antigo ou grego sobre a filosofia de Sócrates, Platão e a
tarefa da filosofia.

Referências
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ANJOS, T. A. dos. Lei da Gravitação Universal. Brasil Escola, 2024. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/fisica/lei-gravitacao-universal.htm. Acesso em: 9 abr. 2024.
GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
MARTINS, M. F. Fundamentos filosóficos. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A.,
2017.
PLATÃO. A República. São Paulo: Scipione, 2002.
REALE, G. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus Editora, 1990.
SANTOS, J. T. Platão: a construção do conhecimento. São Paulo: Paulus Editora, 2012.
WARBURTON, N. Uma breve história da filosofia. Porto Alegre: L&PM, 1962.

Aula 2
A essência e a aparência

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Neste vídeo, abordaremos os conceitos de essência e aparência e como o sujeito se relaciona


com os entes à sua volta. Em todo ente, há sua essência, o que ele é, seu devir, no entanto, ao
mesmo tempo que no mundo sensível a essência se revela, ela também se esconde. Estando
submetido ao tempo em constante mudança, o sujeito busca a essência em meio à aparência.
Vamos entender melhor? Então, assista ao vídeo e ótima aula!

Ponto de partida

Olá, estudante e futuro docente de filosofia!


Imagine, em um pequeno colégio, distante das grandes cidades, um professor de História se
destacava não apenas por sua erudição, mas também por sua peculiaridade: ele temia os
estudantes. Talvez, pela falta de confiança na juventude, ou simplesmente pelo receio de não ser
compreendido. Todos os dias, ele se isolava em sua sala, mergulhando em livros e documentos
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antigos, evitando ao máximo o contato com os estudantes e se aproximando das histórias de


conflitos e conquistas ao longo dos anos.
Um dia, porém, tudo mudou. Um jovem estudante, de olhos curiosos e sorriso cativante, chamou
sua atenção. No início, o professor resistiu à ideia de se aproximar, convicto de que todos os
alunos eram indisciplinados e desrespeitosos. No entanto, aos poucos, a presença do rapaz
começou a despertar algo diferente nele.
Durante as aulas, o aluno demonstrava interesse genuíno por tudo que o seu mestre podia
oferecer, fazendo perguntas pertinentes e participando ativamente das discussões. O professor,
ainda relutante, percebeu que não podia ignorar a conexão que estava se formando entre os
dois.
À medida que os dias se passavam, o professor começou a enxergar além das aparências. Ele
descobriu que, diferente da ideia que formara, os estudantes não eram apenas indisciplinados,
mas seres humanos em busca de conhecimento, compreensão e conquistas.
Todavia, entre todos os cem mil alunos que tivera, esse de agora era único no mundo. O
professor não precisava de nenhum garoto que não passava de um aluno, mas desse precisava.
Chegou o dia da formatura do jovem aluno. Enquanto ele se preparava para deixar a escola e
seguir seu rumo profissional, o professor percebeu o quão significativa tinha sido sua jornada
juntos. Em um momento de despedida, o aluno expressou sua gratidão pelo professor, revelando
como suas aulas tinham mudado sua perspectiva sobre o ​mundo.
O professor, emocionado, reconheceu que havia julgado os alunos de forma precipitada. Ele
compreendeu que o verdadeiro valor do ensino não estava apenas nos livros, mas nas relações
humanas que se formavam ao longo do caminho. E citando Saint-Exupéry (2015, p. 70), deu o
seu último ensinamento: "O essencial é invisível para os olhos". O professor percebeu que o
verdadeiro valor da educação residia na conexão humana, que transcende as barreiras do medo e
do preconceito.
Essa história ilustra um fenômeno muito comum em relação à percepção que indivíduos têm em
relação à realidade. Será que a primeira impressão é a que fica? E a impressão que fica é a
realidade? Será que a filosofia pode nos fornece instrumentos para educar o nosso olhar para
lidarmos com a vida, as coisas e as pessoas apenas mais próximas pelas suas essências do que
pela aparência? Como a filosofia contribui para essa reeducação do olhar?
Nessa aula, abordaremos o ser e parecer, a essência e a aparência e como vivemos em um
mundo de aparência.

Vamos começar!
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Platão, um dos filósofos mais influentes da história, explorou em suas obras uma série de
conceitos fundamentais para a compreensão da realidade e da existência humana. Entre esses
conceitos, destacam-se a dualidade entre essência e aparência, bem como a relação entre ser e
devir. Nesta aula, examinaremos esses temas sob a perspectiva platônica, discutindo suas
implicações filosóficas e sua relevância até os dias atuais.
Por um lado, os objetos, os sentimentos, a natureza e todos os outros entes com os quais nos
relacionamos são conhecidos em graus diferentes pelo sujeito. Por outro lado, de que maneira os
entes em si se revelam ao sujeito? Será que apenas com uma observação mais atenta o sujeito
compreenderá na plenitude a totalidade do objeto a ser conhecido? Ou o objeto em si não revela
totalmente a sua essência, deixando apenas a sua aparência? E será que há aparência em meio à
essência?
O que se pode afirmar é que vivemos em um mundo de aparência e que o ideal é quando a
aparência é exatamente como a sua essência. Ainda porque não é natural percebermos que
vivemos de aparência. Tendemos, como os cativos que contemplam as sombras no Mito da
Caverna, a acreditar que o que vimos é o real em sua perfeita forma, mas, pelo menos, a essência
está sempre lá escondida por trás da aparência, o que pode levar ao insight de buscá-la em um
processo filosófico.
A essência significa o ser, é o que o ente é, independentemente da sua existência; já a aparência
designa como o ente aparece no mundo sensível. Vamos entender melhor a dualidade da
essência e aparência em Platão.
Para Platão (Duka, 2024), a realidade que percebemos por meio dos nossos sentidos é apenas
uma sombra imperfeita do mundo verdadeiro, o mundo das Ideias ou Formas. Essas Ideias são
essenciais perfeitas e imutáveis, das quais todas as coisas sensíveis são apenas imitações ou
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cópias. Por exemplo, a cadeira que vemos no mundo sensível é apenas uma cópia imperfeita da
Ideia de cadeira, que existe no mundo das Formas.
A Matemática pode ser um bom exemplo disso. Na aparência, podem-se pegar uma maçã e,
depois, ganhar mais uma maçã e teremos a soma de duas maçãs, mas evidentemente isso não
traz na plenitude o 1+1=2. Na essência, presumimos dois entes idênticos (1 e 1), mas, quando
aparece uma criança tendo seus primeiros contatos com os números, ela perceberá que, mesmo
que em outro dia ela tiver uma das maçãs do dia anterior e ganhar novamente uma maçã, ela não
chegará ao mesmo resultado das duas maçãs do dia anterior.
Essa dualidade entre essência e aparência é central na filosofia platônica. Enquanto a essência é
a verdadeira natureza ou forma de algo, a aparência é apenas uma manifestação sensível e
passageira dessa essência. Platão usa a conhecida metáfora da caverna para ilustrar essa
dualidade: os seres humanos estão presos em uma caverna, vendo apenas as sombras das
verdadeiras Formas projetadas na parede, sem nunca terem acesso direto ao mundo das Ideias.
A relação entre ser e devir é outra questão fundamental na filosofia de Platão. Enquanto o ser
refere-se àquilo que é permanente, imutável e eterno – ou seja, as Ideias –, o devir diz respeito ao
mundo sensível, caracterizado pela mudança, pela impermanência e pela multiplicidade. Para
Platão, o mundo sensível está em constante fluxo e transformação, enquanto o mundo das
Formas é estável e imutável.
Essa relação entre ser e devir pode ser entendida como uma tensão entre o mundo ideal e o
mundo material. Enquanto o mundo ideal é o reino da verdade e da perfeição, o mundo material é
caracterizado pela ilusão e pela imperfeição. No entanto, é importante ressaltar que, para Platão,
o mundo sensível não é totalmente desprovido de valor. Ele serve como um meio para alcançar o
conhecimento das Ideias, através do exercício da razão e da dialética.
As ideias de Platão sobre essência e aparência, bem como sobre ser e devir, têm profundas
implicações filosóficas e continuam a influenciar o pensamento contemporâneo. A dualidade
entre essência e aparência, por exemplo, levanta questões sobre a natureza da realidade e a
possibilidade do conhecimento objetivo. Até que ponto podemos confiar nos nossos sentidos
para compreender o mundo ao nosso redor? Como podemos acessar as verdades universais que
estão além da nossa percepção sensorial?
Além disso, a relação entre ser e devir nos leva a refletir sobre a natureza da mudança e da
transformação. Enquanto o mundo sensível está sujeito à impermanência e à multiplicidade, o
mundo das Formas representa a estabilidade e a unidade. Essa tensão entre o ser e o devir nos
confronta com questões sobre a natureza do tempo, da identidade e da mortalidade.
Em suma, os conceitos de essência e aparência, assim como de ser e devir, presentes na filosofia
de Platão, continuam a desafiar e inspirar os filósofos e pensadores contemporâneos,
oferecendo uma rica fonte de reflexão sobre a natureza da realidade e da existência humana.
A filosofia de Platão é marcada por uma profunda reflexão sobre a natureza da realidade e a
busca pela verdade além das aparências. Em seus diálogos, Platão desenvolveu o conceito da
essência que se esconde e se revela, assim como a ideia de um mundo que não muda,
oferecendo insights importantes sobre a natureza do ser.
Para Platão (Duka, 2024), a essência de todas as coisas reside no mundo das Ideias ou Formas,
um reino transcendente de perfeição e eternidade. Essas Ideias são as verdadeiras realidades,
das quais o mundo sensível é apenas uma cópia imperfeita e transitória. No entanto, Platão
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sugere que a essência das coisas se esconde por trás das aparências, sendo acessível apenas
através do exercício da razão e da contemplação filosófica.
Voltando ao exemplo da Matemática, agora Geometria Euclidiana, para ser mais específico.
Sabemos que uma circunferência é o conjunto de todos os pontos em um determinado plano que
possuem uma distância igual a um ponto comum. Com essa forma, essa ideia, deparamo-nos
com formas circulares na natureza, em objetos, na lousa da aula de Geometria e até no
computador. Podemos, nessas imagens, perceber que há por trás essa essência de um ponto
comum que possui a distância igual aos pontos da forma geométrica, mas nenhuma das
imagens será um verdadeiro círculo, é apenas uma aparência do que é um verdadeiro círculo.
Segundo Platão (Duka, 2024), as coisas no mundo sensível são meras manifestações imperfeitas
das formas perfeitas e eternas que existem no Mundo das Ideias. Já a verdadeira essência das
coisas estaria revelada na razão e contemplação filosófica. O professor que temia seus
estudantes, narrado no primeiro momento da aula, compreendeu o que é um estudante não com
aqueles com quem sempre se encontrava ou apenas com o garoto curioso e entusiasmado com
quem ele conviveu. Ambos os casos eram apenas aparências. O fato foi que o garoto o provocou
para uma reflexão. O professor sabia que tinha um aluno especial que o cativara, só que a partir
desse encontro ele compreendeu que estava apenas fixado na aparência.
Além da dualidade entre essência e aparência, Platão também discute a ideia de um mundo que
não muda, em contraste com o mundo sensível, caracterizado pela impermanência e pela
mutabilidade. Esse mundo imutável é o reino das Ideias, no qual as Formas eternas e perfeitas
residem. Para Platão, as Ideias são imutáveis e transcendem o tempo e o espaço, fornecendo um
padrão de referência estável e objetivo para o mundo sensível.
Diante de um senhor de idade, é natural imaginar que esse tenha sido um menino e pensado e
agido como tal. Anos se passam e, 20 anos após a sua morte, pergunta-se sobre sua essência.
Quem seria descrito? O idoso ou o menino? Perceba que estamos sujeitos ao tempo, e a cada
instante deixamos de ser quem somos para assumir uma nova identidade. Assim, algo que é,
mas deixa de ser, para a filosofia simplesmente não é, não tem a característica do ser, não é a
essência, mas apenas a aparência, é simplesmente o devir. De mesmo modo, algo só pode ser se
não estiver sujeito ao tempo.
Essa concepção de um mundo que não muda está relacionada à noção de verdade objetiva e
universal. Enquanto as coisas no mundo sensível estão sujeitas à mudança e à variação, as
Ideias permanecem constantes e inalteradas. Assim, para Platão, o conhecimento verdadeiro é
aquele que se baseia nas Ideias imutáveis, em oposição às opiniões subjetivas e instáveis do
mundo sensível.
Os conceitos platônicos da essência que se esconde e se revela, assim como do mundo que não
muda, têm implicações profundas para a filosofia e para a compreensão da realidade. Eles nos
convidam a questionar a natureza das coisas e a buscar além das aparências superficiais em
busca da verdadeira essência. Ainda, eles levantam questões sobre a possibilidade do
conhecimento objetivo e sobre a relação entre o mundo sensível e o mundo das Ideias.
A reflexão sobre a essência, desde a filosofia medieval até o pensamento existencialista, revela
uma evolução complexa e variada de significados. Inicialmente confrontada com a concepção
cristã de Deus como Ser absoluto e eterno, cuja essência não pode ser separada de sua
existência, a noção de essência adquiriu diferentes interpretações ao longo do tempo. Spinoza,
por exemplo, definiu a essência como algo concebido em si e por si, concluindo que somente
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Deus é verdadeiramente essência e existente. Com Hegel, a essência é vista como uma fase no
processo de constituição do absoluto, culminando na unidade entre ser e manifestação. Para
Husserl, a essência é uma quididade "irreal", mas "verdadeira", acessível através da análise
fenomenológica.
Na contemporaneidade, esses conceitos continuam a influenciar o pensamento filosófico,
especialmente no contexto da epistemologia e da metafísica. Eles nos desafiam a questionar
nossas percepções e crenças e a buscar uma compreensão mais profunda da natureza da
realidade. Em última análise, os conceitos platônicos da essência e do mundo imutável oferecem
uma perspectiva fascinante sobre a natureza do ser e da existência humana.

Vamos exercitar?

Nesta aula, falamos sobre a essência e a aparência e iniciamos com a história de um professor
que tinha uma visão distorcida de seus estudantes. Visão distorcida é algo muito comum de
acontecer, e isso pode gerar preconceito e discriminação.
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Daí, questionamos: como a filosofia pode educar nosso olhar para não lidarmos com a vida, as
coisas e as pessoas apenas por sua aparência, mas ver mais próximo a verdadeira essência?
Na história, vimos na prática a ação do sujeito no mundo sensível de Platão. Contemplamos a
sombra da representação do real, além de “projetarmos” no mundo sensível os conceitos, falsos
ou verdadeiros, nos entes que lhes são percebidos.
Vimos o conceito de Devir e que a essência se esconde e se revela. Desse modo, a reflexão e a
consciência de que a natureza da identidade de algo não é sua aparência, e é importante olhar
além das aparências superficiais e buscar compreender a essência verdadeira de cada ente. Um
bom exercício é olhar primeiramente a si e questionar sobre sua aparência para si e para o outro
e perceber que há risco de preconceito, que pode levar à discriminação ou até a idolatria.
Perceber também que rótulos podem estar associados a ações isoladas de um indivíduo ou até
de algo que não se é mais, pois todos estamos em transformação. Sendo assim, até em ações
que faltaram virtudes confirmadas não são suficientes para rotular.
Desse modo, compreendemos os níveis de conhecimento de Platão, os quais, por meio da
dialética e de um incessante exercício filosófico, são indispensáveis para alcançar a essência,
mas é imutável que, ainda que não chegue a essa plenitude, no instante do agora, há a
possibilidade para buscar mais conhecimento e agir com virtude para com esse ser que se revela
apenas na aparência.
O professor tinha um conceito de juventude e um conceito de indisciplina e, assim que aparecia
alguma sombra do que seria esse conceito de jovem, ele lhe colocava o conceito da indisciplina.
Até que ele conheceu um garoto mais a fundo e compreendeu não apenas quem tinha aparecido,
mas que ele realmente seria.

Saiba mais
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Neste link, você terá acesso ao trabalho do professor da UNESP, Pedro Angelo Pagni, intitulado A
Filosofia da Educação Platônica: o Desejo de Sabedoria e a Paideia Justa (Capítulo 3), em que ele
apresenta ideias do pensamento platônico para vivificar e abrir horizontes para reflexões e ações
pedagógicas.

Referências
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CABRAL, J. F. P. A estética na filosofia de Platão e Aristóteles. Brasil Escola, 2024. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-estetica-na-filosofia-platao-aristoteles.htm. Acesso
em: 23 abr. 2024.
CHAUÍ, M. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
DUKA, M. Platão. Todo Estudo, 2024. Disponível em:
https://www.todoestudo.com.br/filosofia/platao. Acesso em: 23 abr. 2024.
GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
JAEGER, J. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
PAGNI, P. A.; SILVA, D. J. Introdução à Filosofia da Educação: temas contemporâneos e história.
São Paulo: Avercamp, 2007.
PESSANHA, J. A. M. Platão: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
PLATÃO. A República. São Paulo: Scipione, 2002.
PORFÍRIO, F. Platão. Brasil Escola, 2024. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/platao.htm. Acesso em: 23 abr. 2024.
REALE, G. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.
SAINT-EXUPÉRY, A. de. O pequeno príncipe. Porto Alegre: L&PM, 2015.
WARBURTON, N. Uma breve história da filosofia. Porto Alegre: L&PM, 1962.
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Aula 3
A essência e a existência

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Nesta aula, aprenderemos sobre o projeto do homem na existência. Afinal, o que é existir?
Considerando tudo o que foi visto sobre essência e aparência, o que de fato existe?
Começaremos a pensar em essência e existência a partir da filosofia clássica e o seu decorrer na
história.

Ponto de partida
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Olá, estudante e futuro docente de filosofia!


Um grande filósofo, certa vez, teve o rumo de sua história transformada diante do
questionamento sobre quem ele seria. Daí vieram os questionamentos sobre a verdadeira
essência das coisas até surgir a teoria que a essência está no mundo das ideias. Isso posto,
suponhamos que o filósofo tivesse dado a plena definição de sua essência para, em seguida, ser
indagado novamente: “Já que você é isso que você acabou de me dizer, responda-me mais uma
coisa: você existe?”. Sabendo que a essência não é acessível plenamente no mundo sensível,
surge um novo questionamento relacionado à existência. O que está ao nosso redor existe? Essa
essência das coisas existe? Qual é a relação entre ser e existir? Afinal, o que é existir?
Esse será o tema desta aula, mas, antes de falarmos sobre a essência e existência, leia
atentamente a história fictícia e permita-se fazer algumas reflexões sobre sua vida ou de alguém
que você já acompanhou de perto.
Na ​tranquila casa da periferia, um pai de meia-idade, chamado Marcos, encontrava-se
constantemente em um dilema com seu filho pré-adolescente, Lucas. Todas as tardes, ao invés
de se dedicar aos estudos como deveria, Lucas preferia passar horas escrevendo letras de rap,
criando batidas e tentando cantar suas composições na batida que ele mesmo produzia. Era
uma rotina frustrante para Marcos, um viúvo que trabalhava incansavelmente para garantir o
melhor para seu filho.
Certo dia, ele decidiu confrontar Lucas sobre sua falta de comprometimento com os estudos. Em
um longo sermão, expressou sua decepção e preocupação com o futuro de seu filho, enfatizando
o esforço que fazia para garantir uma boa educação para o garoto. Ao final do sermão, Marcos
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decidiu tomar uma medida drástica: confiscar o celular de Lucas, que era sua ferramenta
principal para produzir e compartilhar sua música nas redes sociais. Dirigindo-se ao sótão para
esconder o aparelho, o homem foi tomado por uma onda de nostalgia ao se deparar com uma
guitarra velha e empoeirada.
Aquela guitarra, outrora tocada com fervor na adolescência de Marcos, representava os sonhos
que ele próprio havia tido de se tornar um grande rock star. Olhando para o instrumento,
começou a questionar a si mesmo: ele era apenas o pai trabalhador, responsável por garantir o
sustento da casa, ou ainda era o jovem sonhador que um dia acreditou que sua música poderia
mudar o mundo?
Refletindo sobre suas próprias escolhas e seus sonhos não realizados, Marcos percebeu que
estava privando seu filho de algo essencial: a oportunidade de seguir seus próprios sonhos e
paixões. Com uma nova compreensão, ele desceu do sótão e devolveu o celular a Lucas,
prometendo apoiá-lo em suas aspirações musicais.
A partir daquele dia, pai e filho trabalharam juntos para equilibrar os estudos de Lucas com sua
paixão pela música, reconhecendo que ambos eram importantes para o seu desenvolvimento e a
sua felicidade. E assim, a casa da periferia continuou a ser um lugar onde os sonhos não apenas
eram permitidos, mas também encorajados a florescer.
A partir dessa narrativa, algumas questões estão por vir. Quem é o Marcos? O que será de Lucas?
Somos os nossos sonhos ou somos o conflito do que somos com o nosso sonho? Ainda sem
resposta, existimos todos os dias e a cada instante. Mas, o que é essa dialética entre a essência
e a existência? Vamos falar sobre isso?

Vamos começar!
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Desde os primórdios da filosofia, a questão da essência e existência tem sido uma das mais
centrais e intrigantes para os pensadores. Ela envolve a busca pela compreensão do que torna
algo o que é, sua essência, e como essa essência se manifesta na existência concreta, no mundo
empírico. No âmbito humano, essa questão ganha uma dimensão particularmente fascinante,
pois nos deparamos com o devir que pensa sobre sua essência e se apresenta no mundo
sensível. O ser humano não só possui uma essência, independente da consciência, mas também
é alguém que constantemente se projeta, se reinventa e se define através de suas escolhas e
ações. Desse modo, exploraremos essa temática complexa, examinando como a essência e a
existência se entrelaçam na condição humana e como o homem pode ser compreendido como
um projeto que se projeta.
Para iniciarmos, então, distinguiremos essência e existência. A essência refere-se àquilo que
define a verdadeira e permanente natureza de algo, independentemente de sua existência no
mundo dos sentidos. Por outro lado, a existência se trata da manifestação, constituída de
presença, ação e interação, de determinado ente, no mundo dos sentidos, com seu espaço e
tempo. Assim, enquanto a essência é estável e atemporal, a existência é dinâmica, contingente e
está sujeita a mudanças.
Nesse caso, pensar a essência humana é encontrar atributos presentes em todos os indivíduos
da espécie, ao longo da história, independentemente de suas singularidades. Muito tem-se
afirmado a respeito do conceito de ser humano ao longo da história e dificilmente chegaremos
em sua aleteia. Em Platão e Aristóteles, o ser humano é a dualidade de corpo e alma, já
Descartes (1596-1650) traz uma dualidade do corpo e da mente. Enquanto o dualismo sugerido
por Donne (1572-1631) é entre o eu e o outro (Benedict, 2014, p. 85). Embora o intenso debate
sem fim, esse estudo já nos leva a entender que o ser humano busca definir a própria espécie em
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suas características distintivas, como a racionalidade, a consciência de si mesmo, a capacidade


de agir moralmente e a busca por significado.
Diferente da existência, em que a essência se manifesta de maneira única e singular. O ser
humano existe, e sua existência não é passiva, pois ativamente projeta sua própria existência. Ele
é um projeto que se projeta, um ser que constantemente busca dar forma e significado à sua vida
através de suas escolhas, ações e aspirações.
Essa ideia de que o humano é um projeto que se projeta é central para a filosofia existencialista,
iniciada por Kierkegaard e intensamente difundida por pensadores, como Jean-Paul Sartre e
Martin Heidegger.
Para Kierkegaard (2008, p. 33), o ser humano é um ser temporal que tem na sua existência o
objetivo da eternidade. Já em Sartre (1973, p. 15), o homem é condenado à liberdade, o que
significa que ele é totalmente responsável por sua própria existência e pelo sentido que atribui a
ela. Em outras palavras, o homem é livre para escolher seus valores, seus objetivos e seu modo
de vida, mas essa liberdade vem acompanhada de uma angústia existencial, já que cada escolha
implica renúncias e consequências.
Heidegger (2012), por sua vez, concebe o homem como um ser-no-mundo, que está imerso em
um contexto cultural, social e histórico que influencia sua maneira de ser e agir. No entanto,
mesmo diante dessas influências externas, o homem sempre retém uma certa liberdade de
escolha e uma capacidade de transcender seu contexto imediato através de um processo de
autenticidade e autoconhecimento.
Assim, podemos entender o ser humano como um ser que está sempre em processo de se
tornar, de se realizar, de se definir. Sua existência é um constante projeto de si mesmo, uma
busca incessante por significado, autenticidade e plenitude. Cada escolha, cada ação, cada
experiência contribui para moldar sua identidade e seu destino.
No entanto, essa liberdade e responsabilidade inerentes à condição humana podem ser fonte de
angústia e incerteza. O ser humano se vê confrontado com o desafio de escolher em um mundo
onde as opções são múltiplas, e os caminhos, nem sempre claros. Ele se depara com a
necessidade de confrontar suas próprias limitações, incertezas e contradições, enquanto busca
dar sentido e coerência à sua vida.
Nesse sentido, a filosofia oferece ferramentas conceituais e reflexivas para enfrentar os dilemas
e desafios da existência, levando a questões, como liberdade, responsabilidade, autenticidade e
sentido da vida. O indivíduo pode desenvolver uma compreensão mais profunda de si mesmo e
do mundo ao seu redor e, assim, encontrar formas mais autênticas e significativas de viver. Note,
porém, que a essência e a existência humana são inseparáveis e interdependentes. O ser
humano é, ao mesmo tempo, um ser enraizado em uma essência compartilhada e um ser que se
projeta no mundo através de suas escolhas e ações. Enquanto sua essência é imutável, sua
existência é um constante processo de autoconstrução e autodescoberta em um chamado a
confrontar suas próprias limitações e contradições, mas também a abraçar sua capacidade
única de criar significado e beleza em um mundo muitas vezes caótico e imprevisível.
Na exploração filosófica sobre a dicotomia entre essência e existência, investiga-se o que
significa ser e viver no mundo, ainda mais no âmbito humano, em que não apenas existimos mas
também buscamos compreender o significado mais profundo de nossa própria existência. Em
muitos aspectos, a existência humana pode ser vista como algo mais do que simplesmente estar
presente no mundo. Viver vai além da mera existência; implica experienciar, sentir, pensar, agir e
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relacionar-se de maneira significativa com o mundo ao nosso redor. Viver é engajar-se com a
vida, significando os momentos da existência, construindo ou reconstruindo conceitos nesses
momentos em que também há uma transformação ativa de si.
Diferente de todos os outros seres vivos, ao questionar a própria existência, surge a angústia de
como viver a vida. Por um lado, há uma sociedade que apresenta um modelo, mas que é
facilmente constatado, que está associado ao seu tempo e espaço; enquanto, por outro lado, há
um modelo criado por um sujeito fruto do tempo, espaço, meio e sociedade em que vive, e que
também tem sua essência eterna e imutável. Um ser que se identifica com as pessoas ao seu
redor enquanto paradoxalmente encontra sua identidade se diferenciando delas. Com esses dois
modelos de como agir na existência, há a dicotomia de agir com o modelo tido como imposto e o
modelo tido como criado. Essa busca por como ter uma vida plena e significativa muitas vezes
nos confronta, então, com a questão do equilíbrio entre uma vida intensa e uma vida medíocre. A
vida intensa por vivê-la pelas paixões, desafios e novas experiências que levam o sujeito a
acreditar na conformidade de sua real essência.
Ao passo que a vida medíocre parece nos oferecer uma certa segurança e estabilidade, um
conforto na rotina e na previsibilidade do dia a dia. Medíocre vem da palavra média, como se a
mediocridade é se contentar em viver conforme a média da sociedade. Em Platão, vimos que
essa média contemplava o devir e desconhecia a essência. Desse modo, a vida medíocre pode
nos deixar com um sentimento de vazio e insatisfação, como se estivéssemos perdendo a
oportunidade de realmente viver plenamente.
No cenário do rock gaúcho dos anos 1980, há uma música que foi bastante tocada em
importantes rádios de todo o país, chamada Infinita Highway1. Nela, o eu-lírico vive um dilema de
correr pela highway (vida intensa) ou viver na cidade (vida medíocre). Na cidade, ele vive e morre
tendo de tudo ao redor, não tendo nada a perder, mas sentia sempre que algo lhe faltava. Todavia,
na highway, correndo a 110, 120, ou 160, o eu-lírico afirma que só quer saber até quando o motor
aguenta, além de lamentar a solidão. Um desafio que muitos enfrentam em busca de qualidade
de vida, então, propõe encontrar um equilíbrio entre a vida intensa e a vida medíocre, ou seja,
reconhecer a importância de buscar a plenitude e a realização pessoal, sem cair na armadilha do
excesso e do extremismo. Significa também valorizar a estabilidade e a segurança, sem se
contentar com uma vida de conformismo e monotonia.
O equilíbrio entre uma vida intensa e uma vida medíocre envolve aprender a viver com
intensidade, mas também com sabedoria; a buscar novos desafios, mas também a apreciar os
momentos de tranquilidade e contemplação; a seguir nossas paixões e aspirações mas também
a cultivar relacionamentos significativos e conexões profundas com os outros.
Voltando ao exemplo da canção da banda gaúcha, ela fala muito sobre esse conflito com
interdiscursos do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, que aborda o tema da liberdade. Para
ele (1973), a existência precede a essência.
Uma de suas falas é que a existência é o período em que nascemos e morremos. Enquanto
estamos no meio desse caminho, nós existimos e, nessa existência, uma das questões que
muitas vezes é levantada, é a razão da existência. A busca dessa razão leva o sujeito a buscar
essa essência. Todavia, na afirmação de Sartre, presumimos que, segundo ele, buscamos algo na
existência em que não há significado. Afinal, o homem é um ser pelo qual o nada vem ao mundo
(Sartre, 2002).
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Então, vem o conceito de liberdade. Não importa o que fizeram comigo, mas o que eu faço com o
que fizeram comigo (Sartre, 1973). Então, uma das coisas que fizeram comigo foi ter me
colocado para existir e sou plenamente livre para, por exemplo, criar ou aceitar um sentido para
isso. No entanto, sabendo que esse sentido foi criado, entende-se que não faz mesmo sentido,
dando ao sujeito ainda mais liberdade.
Existem dois lugares em que o sujeito é livre para estar: ou na vida medíocre, ou na vida intensa.
A vida medíocre é um porto seguro criado pela sociedade, que traz um padrão para se viver. Já
na vida intensa, as regras são criadas pelo próprio sujeito. É fascinante e arriscado poder
explorar até o infinito essa liberdade. Note que infinito é uma sensação não confirmada no
mundo empírico, pois o que temos é algo em que a cada novo instante existe, dando um
entendimento de que isso sempre se dará nos próximos instantes. Assumir algo como infinito,
como exemplo uma dízima periódica, é admitir que, terminando, algo continuará a existir, porém,
para isso, deveria ter esse fim. Desse modo, o que aceitamos como infinito é algo que pensamos
ser permanente no mundo temporal, mas que apenas assume o advérbio ainda. Dito isso, a
escolha por viver as próprias regras tem como premissa de que o inferno são os outros (Sartre,
1970), mas, se a existência não tem significado, um significado possível é viver intensamente
sabendo que um dia deixará de existir, já que a grande razão da existência é existir.
A vida medíocre é viver sem vida, anular a sua essência em prol de viver em segurança,
segurança essa que amedronta o sujeito a viver a liberdade. A vida medíocre traz aprovação
social, ganhos materiais e afetivos, assim como um sentimento de vazio e um impasse consigo
mesmo. Na vida intensa, em que se vive a liberdade do indivíduo, não há a obrigação de se
identificar e há uma maior independência com instantes passados e futuros, pois busca-se viver
intensamente o presente. Um dualismo comum para quem está propenso à vida intensa é estar
mais propenso à solidão. Nisso, a liberdade torna-se também uma prisão. Uma prisão em que,
para Sartre, todos estão. Conforme o pensador, quando somos livres, assumimos as
responsabilidades e as angústias da liberdade (Sartre, 1973).
Com isso, muito se questiona se a liberdade não passa de mera ilusão. Por outro lado, questiona-
se também se a segurança oferecida na mediocridade também não é uma ilusão, uma vez que
não sabemos aonde chegaremos, só sabemos que deixaremos de existir, indiferente das nossas
opções. Encontrando, ou criando, ou ignorando o significado da existência. O vazio pode ser
encontrado também na vida intensa, ainda mais na busca por um sentido que, talvez, possa não
ser encontrado. O surgimento de dúvidas e indagações ao pensar na vida, na essência e na
existência. Todavia, a dúvida é o preço da pureza, e é inútil ter certeza (Sartre, 1974). Regras
sociais nos limitam, mas dão segurança, no entanto a ​segurança nos tira os caminhos pelos
quais desejamos percorrer. Indiferente da escolha, não somos aquilo que queremos ser, mas
somos o projeto que estamos vivendo (Sartre, 1973).
Uma forma comum de pessoas viverem essa dualidade é com os “pés no chão” e a “cabeça nas
nuvens”, vivendo o medíocre e flertando mentalmente com a intensidade. Viver o dualismo da
sua essência pode ser ainda mais angustiante. No entanto, encontrar um equilíbrio requer
autoconhecimento, autenticidade e um compromisso firme com nossos valores e propósitos
mais profundos. Requer também coragem para enfrentar os desafios e as incertezas da vida
com resiliência e determinação.
Kierkegaard traz uma perspectiva diferente sobre a mediocridade e intensidade. Sendo ser
temporal vivendo a cada instante, o passado ajuda-nos a compreendê-la enquanto o futuro nos
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oferece para vivê-la. Para ele, era essencial encontrar uma verdade para querer viver e morrer,
mesmo que fosse subjetiva, pois é essa que toca o indivíduo. Com essa verdade, o sujeito se
encontra livre a afastar-se de si mesmo ou aproximar de sua essência. A liberdade nos leva ao
poder de escolhas que junto a elas uma tríade de possibilidades que leva o sujeito a uma
angústia. Essa dor, no entanto, leva a um risco.
Arriscar é permitir que a dor seja passageira, enquanto não arriscar é torná-la permanente. Nossa
existência, portanto, nos leva a escolher, e sobre isso Kierkegaard fala a respeito de três estágios
da existência: estético, ético e religioso. No estético, a escolha vem do desejo e do prazer,
buscando uma satisfação imediata e egoísta, deixando que essas sensações guiem o sujeito. Já
no ético, o sujeito toma suas decisões pelas responsabilidades e pelos deveres; embora o sujeito
tenha mais controle de suas decisões, ele age em prol de uma sociedade, afastando-se de suas
subjetividades. Mas, em um mergulho de si mesmo, por meio de sua transparência, atinge um ser
que o criou e aceita suas próprias limitações. Diante desse estágio, encontra o absoluto. Nisso,
encontra a sua verdadeira individualidade e toma consciência de uma finalidade maior para a sua
vida.
Viver é mais do que simplesmente existir. É abraçar plenamente a nossa humanidade, com todas
as suas complexidades, contradições e possibilidades. É encontrar significado e propósito em
cada momento, mesmo nos mais simples e cotidianos. É aceitar o desafio de viver uma vida
autêntica e significativa, em que cada experiência, por mais intensa ou medíocre que seja,
contribui para a nossa jornada de autoconhecimento e crescimento pessoal.

Vamos exercitar?
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Nesta aula, vimos o conceito do existencialismo a partir da relação entre Marcos e Lucas,
utilizados para ilustrar a nossa essência em ação ao longo da nossa história, com os nossos
pensamentos, atitudes, influência no meio de interação e transformações do próprio indivíduo.
Assim, fomos questionados a respeito da essência dos nossos personagens, mas aprendemos
que, no existencialismo, Marcos não é, assim como Lucas também não, pois eles somente
existem, logo não são, pois existir é estar sujeito à dialética de deixar de ser a cada instante para
assumir uma nova identidade a partir do que se projeta como resultado da dicotomia entre a vida
intensa e a vida medíocre.
A dialética entre essência e existência é um conceito fundamental no existencialismo que se
refere à relação entre a natureza essencial ou inata de um ser e sua existência concreta e
individual. Enquanto a essência de algo se refere à sua natureza fundamental, a existência trata-
se da realidade concreta desse algo, ou seja, a sua manifestação no mundo.
Por isso, no existencialismo, a existência precede a essência. Isso significa que, antes de
qualquer definição ou determinação de uma essência fixa, o indivíduo existe no mundo, e é
através de suas escolhas, ações e experiências que ele molda sua essência.
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Saiba mais

Na tese de Doutorado: Existencialismo e ensino de filosofia, o autor Massoco aborda o tema da


existência e essência com o foco no ensino de filosofia no ensino nos anos finais, para trabalhar
temas, como liberdade, angústia e responsabilidades. É uma ótima dica de leitura para contribuir
a se aprofundar no conhecimento sobre o existencialismo e sobre a prática didática de forma
relevante e ​envolvente.
MASSOCO, C. W. F. Existencialismo e ensino de filosofia. 2021. Tese (Doutorado em Educação
Escolar) – Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2021.

Referências
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BENEDICT, G. Filósofo em 5 minutos: 80 respostas para 80 perguntas absurdamente difíceis. Rio


de Janeiro BestSeller, 2014.
HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Trad. Fausto Castilho. Campinas: Ed. da Unicamp; Petrópolis: Vozes,
2012.
KIERKEGAARD, S. La enfermedad mortal. Madrid: Editorial Tratta, 2008.
SARTRE, J.-P. Huis Clos. Paris: Gallimard, 1970.
SARTRE, J.-P. O existencialismo é um humanismo. Trad. Rita Correia Guedes. São Paulo: Abril
Cultura, 1973.
SARTRE, J.-P. O muro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
SARTRE, J.-P. O Ser e O Nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 11. ed. Trad. Paulo Perdição.
Petrópolis: Vozes, 2002.

Aula 4
Entre o real e o ideal

Videoaula
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Nesta aula, você aprenderá sobre conflito entre o ideal e o real do ser humano, enfatizando as
visões de Hegel, Rousseau e Nietzsche. Esses conceitos contribuem muito para o debate da
filosofia contemporânea e ajudarão a conduzir seus futuros estudantes na contextualização da
filosofia em questões do dia a dia.

Ponto de partida

Olá, estudante e aspirante a docente de filosofia!


Vamos a uma história para entrarmos em mais algumas questões filosóficas?
Cinderela era uma garota órfã que vivia sob os cuidados de sua madrasta, uma mulher cruel que
a tratava com desprezo e a submetia a várias privações. Dia após dia, Cinderela realizava todas
as tarefas da casa, sonhando sempre com uma vida melhor. Sua única alegria era imaginar-se
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em uma festa de máscaras que estava para acontecer na cidade, na qual poderia escapar
temporariamente de sua realidade sombria.
A grande festa de máscaras tinha como convidados todos os moradores da cidade. Mas, por
medida de segurança, uma vez que ninguém seria reconhecido, para ir à festa era necessário se
inscrever no site e, na entrada do evento, apontar o celular para um QR Code que liberaria o
acesso da pessoa. Cinderela viu sua chance de realizar seu sonho. No entanto, um infortúnio
aconteceu quando o seu celular foi danificado pela filha da madrasta, a qual ainda rasgou a sua
máscara por pura inveja.
Desolada, Cinderela recebeu a visita de sua madrinha, uma pedagoga habilidosa que a ajudou a
confeccionar uma nova máscara, inspirada no folclore brasileiro. Além disso, a mulher emprestou
seu próprio celular para que Cinderela pudesse entrar na festa, com a condição de voltar antes da
meia-noite para devolvê-lo.
Na festa, Cinderela encantou a todos com sua dança e seu carisma, especialmente um garoto
exemplar da cidade. Eles dançaram forró juntos e, por um breve momento, Cinderela sentiu-se
como se estivesse vivendo um conto de fadas. No entanto, quando o garoto a convidou para uma
conversa mais reservada, ela teve que sair correndo, pois já era meia-noite.
O garoto, ao encontrar o celular de Cinderela jogado no chão da entrada da festa, empreendeu
uma busca pela cidade para encontrar sua dona, por meio da impressão digital. Finalmente, ele
descobriu quem era a proprietária do celular e por quem, após muitas conversas, se apaixonou e
com quem se casou, tornando a madrinha de Cinderela a mulher mais feliz da cidade.
Inspirado em um conto de fadas dos irmãos Grimm, essa história contada trouxe alguns
elementos mais próximos da realidade de seus futuros estudantes. Assim também muitas
coisas que vivenciamos parece uma ficção, um sonho, um ideal.
A nossa Cinderela, assim como nós, é uma personagem ativa que toma decisões e age em seu
contexto histórico. Tanto com a sua realidade quanto com os seus ideais. Aliás, é comum no ser
humano conviver com a dicotomia do que é ideal e do que é real. Voltando para a história de
Cinderela, entre o real e o ideal, o que a filosofia pode nos auxiliar para compreender qual desses
dois fatores teve maior relevância para suas tomadas de decisão? Afinal de contas, o que move o
mundo, o real ou o ideal?
Pronto para filosofar sobre viver entre o real e o ideal?
Bons estudos!

Vamos começar!
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A dualidade entre o real e o ideal tem sido uma fonte inesgotável de reflexão e debate também no
universo da filosofia. Desta vez, o real assume aquilo que percebemos com nossos sentidos,
tangível e palpável, enquanto o ideal é o reino das ideias, não o Mundo das Ideias de Platão, mas
uma ideia mais subjetiva, a qual envolve conceitos abstratos e uma concepção do que seria
perfeito. Perceba que, embora a Aletheia (o que na filosofia antiga se compreendia como a
própria verdade de alguma coisa) ainda possa não ter sido atingida, o ser humano age em sua
existência, tendo para si devir (o que se apresenta no mundo sensível e está em constante
mutação) como real e, preso a certo instante, possui perspectiva de como poderia estar ante a
percepção de como está para, então, agir em sua existência. Essa dicotomia entre percepção e
perspectiva intriga filósofos há séculos, levantando a questão se são as ideias que movem o
mundo e se há outras forças em jogo.
Desde os tempos antigos, filósofos, como Platão (Porfírio, 2024), argumentaram que as ideias
são as verdadeiras forças propulsoras do mundo. Para eles, as formas ideais são entidades
eternas e imutáveis que constituem a essência do real. O mundo sensível, por sua vez, é apenas
uma sombra imperfeita dessas formas. Nessa visão, as ideias moldam a realidade de acordo
com seus padrões perfeitos, influenciando todas as manifestações da existência.
No entanto, filósofos empiristas, como John Locke (Chauí, 2000) e David Hume (2004),
contestaram essa visão, argumentando que as ideias derivam da experiência sensorial e não têm
uma existência independente da mente humana. Para eles, o que move o mundo são as
percepções sensoriais e as interações concretas com o ambiente. Nessa perspectiva, as ideias
são produtos da mente humana, mas não têm um poder intrínseco para moldar a realidade.
Uma abordagem intermediária surge com o idealismo alemão, especialmente representado por
Hegel. Para Hegel (2002), o que move o mundo não são as ideias em si, mas o processo dialético
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do espírito humano em busca de autoconhecimento e autorrealização. Nessa visão, as ideias são


instrumentos para a compreensão da realidade, mas é o movimento do espírito em direção à
síntese de opostos que impulsiona a evolução histórica e cultural.
Por outro lado, filósofos pragmatistas, como William James (1979) e John Dewey (1974),
argumentam que o que realmente importa não são as ideias em si, mas suas consequências
práticas e a utilidade na resolução de problemas concretos. Para os pragmatistas, as ideias são
ferramentas para lidar com os desafios da vida cotidiana e devem ser avaliadas com base em
sua eficácia na promoção do bem-estar humano.
Como se vê, é um tema bastante discutido, porque atinge a subjetividade do indivíduo. Na
literatura, no auge do renascimento, Thomas More (2002) escreveu o livro Utopia, que apresenta
uma sociedade marcada pela justiça, igualdade e paz. O autor, claramente, idealizou uma
sociedade que, não por acaso, recebeu o nome de “não-lugar” (livre tradução da palavra utopia),
pois, ao descrever mais profundamente a sociedade utópica, ele trouxe também suas próprias
contradições e limitações, como o controle, a restrição de liberdade e o desestímulo para a
produtividade. Uma pergunta possível para se fazer poderia ser: o que idealizamos pode ser real?
Ou até mesmo: o que idealizamos pode ser o ideal?
Ainda que possa ser impossível alcançar um estado de perfeição absoluta na realidade, no
conflito entre real e ideal, coloca-se em jogo “o que é possível idealizar” e “o que é possível
realizar”. Quando nos deparamos com a sociedade criada por More, na qual todos os bens são
compartilhados igualmente, não há propriedade privada, e a educação é valorizada como um dos
seus pilares fundamentais, podemos fazer um paralelo com os pensamentos de Karl Marx, mas
se atendo à grande distinção sobre a forma de compreender o real e o ideal. Para Marx e Engels
(1999), o motor da história é a luta de classes e as relações de produção capitalistas. Eles
argumentam que são as condições materiais de existência que determinam a consciência
humana, e não o contrário. Assim, nessa concepção, são as condições econômicas e sociais que
moldam a realidade, e não as ideias.
Indo para a análise política e social e a questão do que move o mundo, encontramos a obra O
Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau, filósofo francês que contribui muito para o debate
da construção civil. Para Rousseau (2002), são as relações de poder e as estruturas sociais que
determinam o curso dos acontecimentos. Embora ele aborde temas bastantes realistas, como a
desigualdade social e a injustiça, argumentadas pelo autor como forças que moldam o mundo,
suas críticas partem da premissa de um mundo ideal, no qual a igualdade e a justiça são forças
motrizes que guiam a ação humana. Desse modo, temos que a crítica do real pressupõe um
ideal.
Todavia, por crítica, é indispensável citar o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1977), que, por
sua vez, critica a posição de que simplesmente ideias possam ser forças motrizes do mundo,
uma vez que ele, em Assim Falou Zaratustra, argumenta que as ideias são meras construções da
mente humana e que o verdadeiro motor da existência é a vontade de poder. Veja, portanto, que,
entre o real e o ideal, estão mais associados aos objetos, Nietzsche traz um terceiro ponto, mas
associado ao sujeito: desejos. Imagine, por exemplo, a situação hipotética de um mundo em que
a realidade consiste em muitas pessoas passando fome e há um consenso universal de que o
ideal é que todas as pessoas sejam bem alimentadas. Eis que você está comendo um delicioso
banquete em um piquenique em uma praça pública com a sua família e, quando já saciado,
percebeu que sobrou apenas a última fatia de torta de frango com requeijão que você ainda não
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experimentou, mas passa uma criança de oito anos nitidamente desnutrida na sua frente. Você
sabe da realidade e tem seus ideais, mas o que te moverá será o seu desejo. Se você comer a
torta, será levado pelo seu desejo. Se entregar a torta à criança, para Nietzsche, também, pois,
segundo o filósofo, são os instintos, os desejos e os impulsos individuais que impulsionam a
ação humana e moldam a realidade, não as ideias abstratas.
Diante dessas diferentes perspectivas filosóficas, é evidente que a questão sobre o que move o
mundo não tem uma resposta simples ou única. Enquanto algumas correntes enfatizam o papel
das ideias na formação da realidade, outras destacam a importância das condições materiais,
das relações sociais ou dos impulsos individuais. No entanto, todos eles desempenham um
papel possível na movimentação do mundo e na formação da nossa compreensão dele.
Em meio ao extremos entre ideal e real, surgem, na história, as correntes filosóficas que se
propõem a debater o tema. O idealismo é uma corrente que atribui primazia às ideias, aos
conceitos ou às formas sobre a realidade material. Ele postula que a realidade última é de
natureza mental, espiritual ou conceitual, e que o mundo material é derivado ou dependente das
ideias ou dos conceitos. Platão contribuiu significativamente para o idealismo ao propor a
existência de um reino de formas ideais além do mundo sensível. Sua filosofia influenciou
profundamente o desenvolvimento do idealismo ao longo da história, e seu legado continua a
inspirar discussões sobre a natureza da realidade, da mente e do conhecimento.
Os pensamentos de René Descartes, Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Immanuel Kant tiveram um
impacto significativo no desenvolvimento do idealismo, cada um trazendo contribuições distintas
que ajudaram a moldar essa corrente filosófica ao longo dos séculos XVII e XVIII (Vieira; Martins;
Brugnerotto, 2018).
Na vertente do idealismo cartesiano, René Descartes, que é frequentemente considerado o pai do
racionalismo moderno e um dos pioneiros do idealismo, em sua obra Meditações sobre Filosofia
Primeira, destaca a importância do pensamento e da razão na compreensão da realidade,
defendendo uma abordagem epistemológica baseada na dúvida metódica e na busca por
fundamentos indubitáveis para o conhecimento. Para Descartes (1973), o pensamento é a
essência da existência, e a mente humana é capaz de alcançar verdades universais e
necessárias através da razão pura. Reconhecido por famosa frase atribuída a ele, esse pensador
propõe a existência de uma realidade ideal, composta por ideias claras e distintas, que são
acessíveis à mente racional.
Já Georg Wilhelm Friedrich Hegel exerceu profunda influência para a filosofia alemã do século
XIX, com suas obras A Fenomenologia do Espírito e Ciência da Lógica, ao enfatizar a importância
do processo dialético na compreensão da realidade e da história, elaborando, assim, a filosofia
do Idealismo Dialético, pelo qual lida com a realidade como concebida por um processo dialético
de desenvolvimento e autoconhecimento na mente humana. Para Hegel (2002), a realidade é
fundamentalmente espiritual e só pode ser alcançada através da compreensão das contradições
inerentes à realidade e da síntese das dialéticas.
Já Immanuel Kant propôs uma abordagem única ao idealismo conhecida como idealismo
transcendental. Em sua obra Crítica da Razão Pura, ele argumenta que o conhecimento humano é
moldado pelas estruturas a priori da mente humana, ou seja, conceitos e categorias que são pré-
existentes à experiência empírica. Para Kant (2012), a realidade não é uma coisa em si mesma,
mas, sim, uma construção da mente humana baseada em nossas formas de percepção e
entendimento. Ele distingue entre o mundo fenomênico, que é acessível à experiência sensível, e
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o mundo noumênico, que é além da nossa capacidade de conhecimento. Assim, Kant contribuiu
para o idealismo ao argumentar que a realidade é moldada pela estrutura cognitiva da mente
humana.
Mas, ao contrário do idealismo, o realismo, corrente filosófica que sustenta a existência de uma
realidade objetiva e independente das mentes humanas, defende que o mundo externo existe
independentemente das percepções ou concepções individuais e que pode ser conhecido
através da observação empírica e da experiência sensorial. Essa corrente veio como resposta ao
idealismo, oferecendo uma visão que valoriza a realidade material e objetiva e lida com uma
existência independente que pode ser estudada e compreendida através da investigação
científica e da observação direta.
Aristóteles, o filósofo grego do século IV a.C., tem uma relação estreita com o realismo, em
contraste com Platão, seu mentor, pois Aristóteles propôs uma abordagem mais empirista e
científica para o estudo da realidade, argumentando que a investigação sistemática dos
fenômenos naturais poderia levar ao conhecimento das causas e dos princípios subjacentes à
existência. Sua abordagem científica e empirista influenciou o pensamento ocidental por séculos
e continua a ser uma fonte de inspiração para os realistas contemporâneos.
Hoje, podemos entender essa corrente filosófica basicamente por quatro vertentes. O Realismo
Metafísico defende a existência de uma realidade objetiva independente da mente humana; o
Realismo Científico valoriza o conhecimento científico como acesso privilegiado à realidade; o
Realismo Crítico reconhece a realidade objetiva, mas ressalta a mediação da mente na
construção do conhecimento; o Realismo Ontológico destaca a importância da existência das
coisas, independentemente da consciência ou percepção.
Várias vertentes surgiram, assim como vários pensadores, e mesmo que sejam mais conhecidos
por outras correntes filosóficas, contribuíram bastante para o realismo. Francis Bacon, um dos
principais expoentes do empirismo, argumentava que o conhecimento deveria ser fundamentado
na observação e na experimentação, rejeitando especulações metafísicas e deduções abstratas.
Ao promover um método indutivo de investigação, Bacon influenciou o pensamento realista ao
destacar a importância de uma abordagem sistemática e baseada em evidências empíricas para
entender o mundo.
Jean-Paul Sartre (2002), com sua análise da existência humana, contribuiu para o realismo, pois
afirma que a experiência humana é moldada pela existência de uma realidade objetiva. Arthur
Schopenhauer (2001), por sua vez, analisa que a vontade e a representação podem ser
interpretadas como uma forma de realismo em relação à natureza, uma vez insatisfatória e
ilusória da existência humana, tornando-se força motriz por trás de todas as coisas e das
representações do mundo. Já Ilkka Niiniluoto (2002) defende que as teorias científicas devem
ser interpretadas como representações verdadeiras do mundo, e que a realidade é independente
da mente humana.
Essa corrente tem influenciado muito na educação, por exemplo. O realismo filosófico é aplicado
para transmitir conhecimento objetivo aos estudantes, em que o professor desempenha um
papel central na transmissão das verdades científicas, sem considerar as características
individuais dos alunos. Porém, muitas outras áreas têm sido influenciadas por essa corrente.
John Locke (2000), expoente do Realismo Empírico e um dos precursores do liberalismo,
enfatizava pelos princípios realistas de autonomia e liberdade a ideia de direitos naturais,
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incluindo o direito à propriedade, influenciando a concepção de mercado como um espaço onde


os indivíduos podem buscar seus interesses pessoais de forma livre e justa.
Por outro lado, Marx e Engels (1999) ofereceram uma contribuição única para o realismo através
de sua análise materialista da história e da sociedade. Com o Realismo Materialista, eles
enfatizam a importância das condições econômicas e materiais na formação da consciência
humana e na determinação dos conflitos sociais.

Vamos exercitar?

Nesta aula, vimos o conceito do realismo e do idealismo a partir da história de Cinderela. Ela não
era ideal, mas real. Sua madrinha não era fada, logo, muito provavelmente, ela não conseguisse
fazer um vestido de gala e transformar uma abóbora numa belíssima carruagem em um passe de
mágica, mas confeccionou uma máscara com suas habilidades de pedagoga e emprestou o seu
próprio celular. Com essa história, fomos desafiados a nos questionar se é o ideal ou se é o real o
maior influenciador para as tomadas de decisão.
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Cinderela tinha os seus sonhos e a sua realidade. A própria história mostrou que, ainda que
tivesse seu ideal, a moça teve a sua dança com o garoto de maior destaque da festa. Enquanto,
no ideal, ela conhece um rapaz para ser feliz para sempre. Na dança, Cinderela está a rodar ainda
submetida ao tempo, vivendo o real, com as limitações de sua vida cotidiana, como a de ser uma
adolescente com a falta de um celular e com conflitos familiares.
Essa dicotomia entre o mundo idealizado e a realidade concreta reflete a complexidade da
existência humana, em que os sonhos e as esperanças, muitas vezes, colidem com as
dificuldades e as imperfeições da vida cotidiana. Por isso, não há um consenso na filosofia sobre
o que move o mundo ou até o que tem maior impacto nas tomadas de nossas decisões, surgindo
uma linha filosófica voltada ao ideal e uma linha filosófica voltada ao real.

Saiba mais

John Locke foi um filósofo britânico do século XVII, cujas ideias tiveram um impacto profundo na
compreensão do realismo. Ele é mais conhecido por sua teoria do empirismo, a qual argumenta
que todo conhecimento vem da experiência sensorial. Locke foi também um defensor ardente do
liberalismo político, argumentando que o governo deve ser baseado no consentimento dos
governados e que os indivíduos têm direitos naturais inalienáveis. Sua importância para a
compreensão do realismo reside na forma como ele destacou a importância da experiência e da
observação como fundamentos do conhecimento humano, influenciando subsequentemente o
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desenvolvimento da filosofia e da ciência modernas. Compreender Locke, um livro que aborda


suas ideias, oferece uma linguagem tranquila e uma ótima didática para aprofundar o tema do
realismo, tornando o complexo entendimento de Locke mais acessível e compreensível para os
interessados no assunto.

Referências

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000​​.


DESCARTES, R. Discurso do método. Trad. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Difel, 1973.
DEWEY, J. Textos Selecionados. São Paulo: Abril Cultural, 1974.
ENGELS, F.; MARX, K. O manifesto comunista. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
HEGEL, G. W. F. A fenomenologia do espírito. Petrópolis: Vozes, 2002.
HUME, D. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. Trad. José
Oscar de Almeida Marques. São Paulo: UNESP, 2004.
KANT, I. Crítica da razão pura. Trad. Fernando Costa Mattos. Petrópolis: Vozes, 2012.
JAMES, W. Pragmatismo; O significado da verdade. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 2000.
MORE, T. A Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2002.
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro, 1977.
NIINILUOTO, I. Critical Scientific Realism. Oxford: Clarendon Library, 2002.
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PORFÍRIO, F. Platão. Brasil Escola, 2024. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/platao.htm. Acesso em: 5 maio 2024.
ROUSSEAU, J.-J. Do contrato social. São Paulo: Martin Claret, 2002.
SARTRE, J.-P. O Ser e O Nada: Ensaio de Ontologia Fenomenológica. 11. ed. Trad. Paulo Perdição.
Petrópolis: Vozes, 2002.
SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. Trad. M. F. Sá Correia. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2001.
VIEIRA, S. E. F.; MARTINS, P. H.; BRUGNEROTTO, L. P. A Filosofia e sua possível contribuição
educacional para pensar os desafios contemporâneos. Cadernos UniFOA, Volta Redonda, v. 13, n.
37, p. 59-68, 2018. Disponível em: https://revistas.unifoa.edu.br/cadernos/article/view/1612.
Acesso em: 22 maio 2024.

Aula 5
Revisão da unidade

Ponto de chegada

Olá, estudante e aspirante a docente de Filosofia!


Durante as aulas, você estudou sobre os graus platônicos do conhecimento, a teoria dos dois
mundos, a aletheia presente no eidos, o ser e o devir, a essência que se esconde e se revela, o
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mundo que não muda, o homem como um projeto que se projeta, viver e existir e vida intensa e
vida medíocre. Esses conhecimentos são necessários para desenvolver a competência desta
unidade, a qual exige conhecer e analisar o modo como se desenvolve o exercício filosófico
como forma de ver a realidade sob outro prisma​​.
É natural que alguém se indague com essa abordagem, uma vez que já é um senso comum
compreender que enxergar é um papel do órgão olho, enquanto filosofar é papel de outro órgão.
No entanto, fomos convidados a duvidar não somente daquilo que vemos, mas de qualquer
percepção vinda por um dos órgãos dos sistemas sensoriais do corpo humano. Afinal, tudo que
percebemos pelos sentidos é passível de mudança, podendo deixar de ser o que é a todo
instante, o que nos leva a concluir que o que afirmamos saber somente por esse prisma é mera
opinião do observador.
No entanto, as próprias contradições apresentadas por tal algo observado pode incitar o
observador a não se prender ao grau do conhecimento em que se encontra, mas buscar a
verdade com exercício, primeiramente de humildade, para reconhecer que não a detém, e
posteriormente levantar questionamentos dialéticos que o colocará em uma posição de opinião
para a fé. A fé é um estágio consciente de que há pontos que ainda não foram confirmados
empiricamente. Disso, aquele que busca a verdade, renomeia sua fé para hipótese e, ainda com
questões dialéticas, segue a verdade por um caminho lógico com raciocínio matemático. Na
filosofia, ao contrário do que se acredita, buscam-se perguntas, e não respostas, e as suas
perguntas questionam as respostas já estabelecidas.
Todavia, aquilo que é observável pelos sentidos, ainda que mutável e não revelando por completo
sua verdadeira essência, possui em sua aparência sinais da realidade. Portanto, todos os graus
de conhecimento possuem o seu valor quando educamos o nosso olhar. Saber que a essência se
esconde e se revela.
Só que quando o que é revelado é um ser livre, que atua se projetando por meio de decisões,
interações e transformações, o olhar deve ser expandido, pois, ainda que haja uma essência,
discute-se agora sobre alguém que existe sendo capaz até de viver negando toda sua
individualidade em prol de toda uma comunidade ou viver intensamente assumindo os riscos de
sua própria liberdade.
Portanto, esse olhar filosófico em busca da verdade sempre se revelará nos impasses das teses
e antíteses, o mundo sensível e o mundo das ideias, o real e o ideal, para então conseguir viver a
vida com as mãos na rédea, ainda com a cabeça na lua, mas os pés firmes no chão.

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Prát. Pedag. Filosofia no Ensino


Fundamental

Diversas linhas filosóficas oferecem exercícios para aprimorarmos nossa visão da realidade.
Muitas vezes, o pensamento de um filósofo sobre o modo de compreendermos a essência das
coisas nos parece contradizer o pensamento de outro, ou então uma abordagem aparentemente
nem chega a tangenciá-la. Neste vídeo, veremos se há algum diálogo ou dialética nesta maneira
de olhar a realidade.

É hora de praticar!

A educação é um processo contínuo, realizado por toda uma sociedade, e que contribui para a
formação integral de um indivíduo. Neste sentido, a escola, como um dos agentes para a
formação integral, oferece conhecimento e habilidades, tanto acadêmicas como sociais,
essenciais para um cidadão. Desse modo, um adolescente tem nesse ambiente não só a
oportunidade de se preparar para uma carreira acadêmica e/ou profissional no futuro como
também de lidar com situações presentes no seu dia a dia que exigem certo desenvolvimento
social e emocional além de responsabilidade civil e moral. Por outro lado, a escola deve
constantemente repensar os seus objetivos e métodos para atuar de forma significativa na vida
de cada um de seus estudantes.
Desta forma, em uma pequena e bucólica cidade interiorana, marcada por sua arquitetura
colonial e avenidas de paralelepípedo, há um colégio com mais de meio século de história​​, que
tem sido grande referência para a formação da maioria da elite da região e de um considerável
número de bolsistas, mas agora se encontra diante de um desafio. Primeiramente, a cidade, que
afeta diretamente a toda comunidade escolar, se encontra despreparada para atender e
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proporcionar acessibilidade aos seus habitantes PCDs (pessoas com deficiência). Outra questão
ainda mais séria é a turma do primeiro ano do ensino médio, que tem se apresentado com
pensamentos, falas e atitudes capacitistas.
Isso posto, o coordenador do ensino médio, na reunião que precede a volta às aulas das férias de
julho, solicita aos professores desenvolverem um projeto multidisciplinar que engaje todos os
alunos em prol dos PCDs, aproveitando o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, em 21
de setembro, quando uma ação deverá ser feita pelos estudantes para sensibilização da cidade.
Já na reunião, todos os professores se animaram. O professor de Educação Física disse que faria
atividades para sensibilizar os estudantes com experiências em que eles pudessem se sentir no
lugar dos PCDs. A professora de Inglês disse que traria materiais em inglês que abordassem o
tema. O professor de Língua Portuguesa deu a ideia de falar sobre expressões capacitistas, o de
Literatura ainda não estava certo da obra que traria para eles lerem, mas o de Redação estava
certo de que a turma faria uma cartilha de orientações sobre acessibilidade e inclusão. A
professora de Matemática e de Física se juntaram para pensar em uma estrutura física para
acessibilidade. A professora de Biologia e o professor de Química pensaram em desmistificar
alguns preconceitos falando do tema pela parte orgânica e medicamentosa, enquanto os
professores de História, Geografia e Sociologia apresentariam o aspecto social e legal desta
questão e as lutas de direitos. Já o professor de Arte faria uma obra que apresentasse a
subjetividade de um PCD.
Com todos os professores já tendo se manifestado, a pessoa responsável pelas aulas de
Filosofia se propôs a contribuir com o projeto na parte de "educar o olhar". Como as habilidades e
competências da matéria de Filosofia podem contribuir para o projeto? Como a disciplina
Filosofia pode agregar na proposta de algum dos outros professores? Há alguma ideia de outro
professor que poderia ajudar no projeto que você desenvolverá?
Como responsável pelas aulas de Filosofia para aquela turma, você compreende que o ​
desenvolvimento de um projeto multidisciplinar para a matéria de Filosofia que busca educar o
olhar diante da questão do capacitismo e da luta da pessoa com deficiência possa seguir uma
tríade de caminhos exitosos, mas que seria primordial que a pessoa com deficiência fosse
“olhada” e, por meio de exercício filosófico, pudesse buscar a sua verdadeira essência.
Sendo assim, um caminho que você pode seguir para desenvolver esse projeto é, primeiramente,
levar os estudantes a associarem o Mito da Caverna com o grau de conhecimento que eles
devem passar para buscarem a verdade do PCD. No primeiro instante, a sala poderia ser dividida
em grupos, para se aprofundar em um tipo de deficiência. Desse modo, cada grupo assumiria
uma deficiência (física, visual, auditiva, mental e múltipla). Então, em seu projeto, você pode pedir
para que cada um escreva a opinião que teria sobre esse público.
Para desenvolver um projeto tão complexo como esse, é importante analisar como outros
profissionais podem te ajudar e como você pode contribuir para outros projetos. Por exemplo,
após as atividades de Educação Física, Matemática, Física e Literatura, muitas opiniões poderão
ser mudadas, por isso é importante colocar no projeto momentos de intersecção de sua matéria
com as outras. Seria bom planejar uma volta ao conceito de Platão, enfatizando as dialéticas,
para que os estudantes tenham a humildade de perceber que o conhecimento que obtiveram
ainda está distante da verdadeira essência. Por isso, prepare um momento, logo após a
experiência que tiveram com outras matérias, para que façam questionamentos sobre essa
vivência, a história que leram e as preocupações que precisaram começar a ter. E você pode
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também oferecer algumas questões, se a turma estiver com um pouco de dificuldade para
expressar.
Com os questionamentos, os estudantes podem começar a criar suas hipóteses, mas, em
paralelo a isso, serão desafiados a compreender as falsas crenças embutidas nas falas
capacitistas apresentadas nas aulas de Língua Portuguesa.
Para contribuir com o raciocínio lógico, o conhecimento trazido nas aulas de Biologia, Química e
Inglês terá grande valia. Com isso, coloque em seu planejamento uma forma para que cada
estudante manifeste, com a ajuda das aulas de Arte e Redação, um ponto de admiração por um
PCD.
Neste projeto, cuidado com as expectativas. A conscientização, assim como o caminho para fora
da caverna, é longo, por isso lembre-se de que cada passo é uma vitória. Não tenha a pretensão
de que adolescentes conseguirão chegar à verdade em um projeto de um bimestre, mas é
possível provocá-los sobre a essência. Para trabalhar a questão da essência e da aparência, por
exemplo, pode-se fazer uma sessão de foto pela cidade, capturando imagens de ambientes e
pessoas e, depois, pedir para que os estudantes escrevam uma legenda positiva para cada uma
das fotografias.
Já quanto à existência, as ciências humanas poderão agregar muito, desafiando os estudantes a
escreverem um manifesto de como atuar para conquistar novos direitos e garantir os já
conquistados, sendo primordial salientar o direito a existir.
Por fim, trabalhar o ideal e o real, levando os estudantes a entenderem que tanto para os PCDs
quanto para cada um deles, vivemos o real e, quando não podemos transformar o real,
conseguimos modificar o ideal.

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Para ser um professor relevante, ​além de chegar ao pleno conteúdo da matéria, é preciso
também alcançar o estudante e engajá-lo à transformação do conhecimento em habilidades e
competências significativas à essência e à existência. Para isso, pode-se trazer história de
filósofos, notícias do dia a dia, questões já feitas por eles, entre outros materiais. Neste podcast,
você verá o relato de um professor que trabalhou os temas dessa unidade com adolescentes do
ensino médio em uma escola pública.
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Assimile
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Doxa, Pistis e Dianóia. Fonte: Elaborado pelo autor.

Referências
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BENEDICT, G. Filósofo em 5 minutos: 80 respostas para 80 perguntas absurdamente difíceis. Rio


de Janeiro: BestSeller, 2014.
DUKA, M. Platão. Todo Estudo, 2024. Disponível em:
https://www.todoestudo.com.br/filosofia/platao. Acesso em: 23 abr. 2024.
GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
MARTINS, M. F. Fundamentos filosóficos. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A.,
2017.
PAGNI, P. A.; SILVA, D. J. Introdução à Filosofia da Educação: temas contemporâneos e história.
São Paulo: Avercamp, 2007.
REALE, G. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.
WARBURTON, N. Uma breve história da filosofia. Porto Alegre: L&PM, 1962.
VÁRIOS AUTORES. O livro da filosofia. São Paulo: Globo, 2011
,

Unidade 3
Da vida superficial à vida profunda
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Aula 1
Vida autêntica e inautêntica

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Olá, estudante, receba as boas-vindas!


Nesta aula, conheceremos o conceito de “vida autêntica e inautêntica", que será desenvolvido em
três tópicos.
No primeiro tópico, intitulado “Entre levar a vida e ser levado por ela”, refletiremos sobre como
podemos pensar sobre proatividade versus reatividade enquanto competências que poderão ser
trabalhadas, futuramente, entre os estudantes na Educação Básica. O segundo tópico será “Os
valores-guias de uma vida autêntica”, no qual discutiremos como apresentar em sala de aula a
formação de valores para uma vida autêntica. Por fim, no tópico “Sendo o artífice de si”, veremos
como o conceito de autorrealização e autodesenvolvimento pode ser trabalhado com
adolescentes e turmas do ensino básico em geral, mostrando que ser o artífice de si mesmo
implica assumir a responsabilidade pela própria vida.
Ao longo desta aula, esperamos que você adquira novos conhecimentos para usar em sala de
aula. Bons estudos!

Ponto de partida
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Olá, estudante!
Iniciaremos com um questionamento: o que é ser feliz? À primeira vista, pode parecer uma
pergunta simples, ou um tanto complicada, a depender do ponto de vista do interlocutor que fizer.
Outro apontamento que você pode fazer é que, para responder a essa pergunta, é necessário
saber o que é felicidade, não é mesmo? No entanto, não respondemos aos questionamentos
iniciais, apenas iniciamos a tentativa de refletir sobre o que é uma vida autêntica, ou o que seja o
contrário, uma vida inautêntica, ou conforme o pensamento do professor Clóvis de Barros Filho
(2012): qual a vida que vale a pena ser vivida?
A partir das indagações iniciais, temos o tema central desta aula, denominado “vida autêntica e
inautêntica”, o qual remete à nossa existência como seres históricos que constroem a vida no
cotidiano junto a outros seres, dando sentido à própria existência, e a isso podemos chamar de
momentos felizes.
Para iniciar nossos estudos, teremos a reflexão intitulada “Entre levar a vida e ser levado por ela”,
questão que aborda a ideia de proatividade versus reatividade na vida. Levar a vida implica tomar
as rédeas, fazer escolhas conscientes e agir de acordo com seus objetivos e valores. No
segundo tema, você verá a abordagem intitulada “Os valores-guias de uma vida autêntica”. Quais
seriam esses valores? Será que uma vida autêntica é aquela em que há alinhamento entre o que
se valoriza e como se vive? Identificar os valores-guias é fundamental para essa autenticidade.
Na sequência, como último tópico, teremos o tema “Sendo o artífice de si”, ideia que nos
remeterá ao conceito de autorrealização e autodesenvolvimento.
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Refletir sobre esses temas pode proporcionar insights valiosos sobre como trabalhar o ensino
prático de filosofia, tornando o aprendizado dos nossos estudantes mais significativo e alinhado
com seus valores e suas aspirações.

Vamos começar!

Iniciaremos nossa reflexão de um modo um tanto que peculiar: conversaremos sobre a vida.
Essa é uma questão que nos convida a pensar sobre a diferença entre ser proativo ou reativo em
nossa existência, e novamente temos a pergunta: qual é a vida que vale a pena ser vivida?
Começaremos por entender o que significa "levar a vida". Quando falamos isso, estamos nos
referindo a assumir o controle de nossas ações e decisões. É como ser o capitão do próprio
navio, navegando com um mapa e uma bússola, definindo o destino e ajustando as velas
conforme necessário. Levar a vida implica fazer escolhas conscientes, estabelecer objetivos e
agir de acordo com nossos valores e princípios. É um modo de vida ativo, em que somos os
principais responsáveis pelo nosso caminho.
Agora, contrastaremos isso com o conceito de "ser levado pela vida". Imagine-se como uma folha
carregada pelo vento, sem controle sobre a direção ou o destino. Ser levado pela vida sugere uma
postura mais passiva, em que as circunstâncias externas e o ambiente ao redor têm um papel
maior em ditar o curso dos acontecimentos. Nesse modo de vida, as pessoas tendem a reagir
aos eventos em vez de agir para moldá-los. É como estar em um barco à deriva, sem remos ou
vela, à mercê das correntes e tempestades.
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A questão central aqui é: em que medida estamos sendo agentes ativos de nossa própria
existência ou meros espectadores? Essa é uma reflexão importante, porque a maneira como
escolhemos navegar pela vida tem um impacto significativo em nossa felicidade, realização e até
mesmo no nosso legado.
Ser proativo não significa que teremos controle total sobre tudo o que acontece conosco. A vida
é cheia de incertezas e desafios inesperados. No entanto, adotar uma postura proativa significa
que estamos mais preparados para enfrentar esses desafios, adaptar-nos e tirar o melhor
proveito das situações.
Proatividade na vida é o primeiro de sete hábitos que tornam as pessoas altamente eficazes.
Segundo Covey (2017), é a essência, a qual nos ensina que nossa vida é produto de nossas
escolhas, e não de nossas condições. Ser proativo significa assumir a responsabilidade por
nossa própria vida, agir em função de nossos valores e não ser um produto do ambiente ou das
circunstâncias.
Por outro lado, uma abordagem reativa pode nos deixar à mercê das circunstâncias, fazendo
com que nos sintamos impotentes ou vítimas das situações. Isso pode levar a sentimentos de
frustração, arrependimento e insatisfação.

Uma vez que somos, por natureza, proativos, nossa vida só será consequência das
condições e condicionamentos se deixarmos que estes fatores controlem nossa
mente, por decisão consciente ou omissão. Se esta foi nossa opção, tornamo-nos
reativos. As pessoas reativas são afetadas somente pelo ambiente físico. Se o tempo
está bom, elas se sentem bem. Caso contrário, mudam a atitude e a performance. As
pessoas proativas carregam o tempo dentro de si. Faça chuva ou faça sol, não
interessa, elas avançam graças a seus valores. E, se um de seus valores é realizar um
trabalho de qualidade, ela não depende do tempo estar assim ou assado. As pessoas
reativas também são afetadas pelo ambiente social, pelo ‘tempo social’. Quando as
pessoas as tratam bem, sentem-se bem, quando acontece o contrário, assumem uma
postura defensiva ou protetora. As pessoas reativas constroem sua vida emocional
em torno do comportamento dos outros, permitindo que a fraqueza alheia as
controle. A capacidade de subordinar um impulso a um valor é a essência de uma
pessoa proativa. Os reativos são levados pelos sentimentos, circunstâncias,
condições e ambiente. Os proativos são guiados por seus valores, cuidadosamente
pensados, selecionados e interiorizados. (Covey, 2017, p. 43)

Então, como podemos cultivar uma atitude mais proativa em nossas vidas? A literatura nos
apresenta algumas orientações, tais como: autoconhecimento, planejamento, responsabilidade,
flexibilidade e ação. Falaremos sobre como podemos cultivar uma atitude mais proativa em
nossas vidas. Ser proativo é uma habilidade essencial que nos permite assumir o controle de
nossas vidas e nos direcionar para onde queremos ir. O primeiro passo para ser proativo é o
autoconhecimento. Conheça seus valores, suas paixões e seus objetivos. Isso serve como uma
bússola para guiar suas decisões e ações. Quando você sabe o que é importante para si mesmo,
fica mais fácil tomar decisões alinhadas com seus objetivos de vida.
O próximo passo é o planejamento. Estabeleça metas claras e crie planos de ação para alcançá-
las. Ter um plano dá direção e propósito à sua vida. Lembre-se de que um objetivo sem um plano
é apenas um desejo. Portanto, coloque seus objetivos no papel e trace um caminho para alcançá-
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los. A responsabilidade é outro aspecto crucial da proatividade. Assuma a responsabilidade por


suas escolhas e pelas consequências delas. Isso fortalece sua capacidade de influenciar sua
própria vida. Quando você se responsabiliza por suas ações, você se empodera para fazer
mudanças positivas.
Além dos passos já ditos, sabemos que a vida é imprevisível, diante disso, a flexibilidade é a
chave para a resiliência. Esteja aberto a adaptar-se e ajustar seus planos conforme necessário.
Às vezes, as circunstâncias mudam, e precisamos ser flexíveis para nos adaptarmos a essas
mudanças. Isso não significa desistir de nossos objetivos, mas, sim, encontrar novas maneiras
de alcançá-los. Por último, mas não menos importante, é a ação. Não espere as condições
perfeitas; tome a iniciativa e aja. Pequenos passos consistentes podem levar a grandes
mudanças. A proatividade é sobre fazer as coisas acontecerem, não esperar que elas
aconteçam.
Finalizamos a primeira abordagem desta aula. Esperamos que você tenha refletido sobre os
principais elementos que nos mostram como levar a vida e ser levado por ela. Em resumo,
cultivar uma atitude proativa envolve autoconhecimento, planejamento, responsabilidade,
flexibilidade e ação. É importante que você compreenda esses conceitos para que possa,
futuramente, desenvolver essas habilidades em seus estudantes da Educação Básica.
Vamos à nossa segunda abordagem, começando com um questionamento: por que fazemos o
que fazemos? Para ilustrar essa primeira questão, rememoraremos a cena do filme Tempos
Modernos, de Charles Chaplin. Seu filme foi consagrado na história do cinema, não pela sua
atualidade e efeitos especiais, mas pela sutileza com que foi pensado. Mesmo que você não o
tenha assistido, talvez já tenha visto a cena à qual me refiro. A cena clássica mostra Carlitos
(Charles Chaplin) como um operário que está em uma linha de montagem e precisa produzir sem
parar. Para isso, a empresa inventa uma máquina com uma linha de montagem que alimenta
uma esteira automaticamente, e com isso Carlitos não pode parar de trabalhar. A rotina do
trabalho de apertar parafusos é tão intensa que ele fica automaticamente repetindo os tiques
depois, a qualquer momento.
Em uma certa parte da cena, ele enlouquece e começa a apertar qualquer tipo de coisa que
pareça um parafuso, inclusive os botões da roupa do supervisor. Depois, e esse é o grande tempo
da simbologia, ele cai na máquina, cai na engrenagem, e é essa uma das cenas mais conhecidas,
porque ele cai nos dentes da engrenagem da máquina e vai passando por todos os dentes e sai
ileso do outro lado, e essa é a simbologia. Ele é parte da máquina, ou seja, ele não possui mais
desejo, vontade, necessidade e propósito. Se ele não fosse parte da máquina, ele teria sido
triturado por ela, mas ele se integra tão bem com a máquina, tornando-se parte dela. Compor a
máquina significa que ele não é mais nada.
O filme fala sobre a necessidade de humanização do mundo do trabalho, assim como representa
o questionamento com o qual iniciamos este tópico: por que fazemos o que fazemos? Será que
também vivemos no automático, como o Carlitos? Aqui, a palavra automático pode significar o
mundo do trabalho, as relações humanas, os valores éticos, os valores morais, ou seja, quer nos
levar a refletir sobre quais os valores que guiam a nossa vida. E agora, perguntaremos
diretamente a você: quais valores tornam sua vida autêntica?
Viver autenticamente significa ser fiel a si mesmo, aos seus valores e às suas crenças, mesmo
diante dos desafios e das pressões da vida. Mas, quais são esses valores-guias? Exploraremos
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alguns valores que podem compor esse guia, tais como: a autenticidade, a coragem, a
integridade, o respeito, a compaixão e o crescimento pessoal (Jaspers, 2022).
O primeiro valor-guia é a autenticidade em si. Ser autêntico significa ser verdadeiro consigo
mesmo, não tentar ser alguém que você não é. Isso envolve conhecer seus próprios
pensamentos, sentimentos e desejos e expressá-los de forma genuína. Por segundo, a coragem
é essencial para uma vida autêntica. Muitas vezes, ser verdadeiro consigo mesmo exige coragem
para enfrentar o medo, a incerteza e o risco. A coragem nos permite seguir nosso próprio
caminho, mesmo quando é difícil. O terceiro, a integridade, significa ser honesto e ético em todas
as nossas ações. Uma vida autêntica é construída sobre a base sólida da integridade, em que
nossas ações estão alinhadas com nossos valores e princípios.
Seguindo a listagem, temos o respeito, um valor fundamental para viver autenticamente. Isso
inclui respeito por si mesmo e pelos outros. Respeitar a si mesmo significa valorizar sua própria
dignidade e bem-estar. Respeitar os outros significa reconhecer e valorizar a dignidade e os
direitos de cada pessoa. Em conjunto ao respeito, encontra-se a compaixão como a capacidade
de sentir empatia pelos outros e agir para aliviar o sofrimento. Uma vida autêntica é marcada
pela compaixão, em que nos preocupamos genuinamente com o bem-estar dos outros. Por
último, temos o valor que constrói os anteriores, o crescimento pessoal. Viver autenticamente
significa estar comprometido com o aprendizado contínuo e o desenvolvimento pessoal. Isso
nos ajuda a evoluir como indivíduos e a viver de acordo com nosso potencial (Clemente, 2022).
Como você pode conhecer, os valores-guias para uma vida autêntica associados com a
sinceridade formam uma característica marcante de indivíduos autênticos, verdadeiros e
transparentes em relação aos seus pensamentos, sentimentos e desejos. São pessoas
acolhedoras, prontas para auxiliar sempre que necessário; são seguras de si, mantendo firme
seus valores e não se retraindo ao expressar suas ideias e seus pontos de vista (Perissé, 2004).
Cada indivíduo vivencia diversas situações ao longo do tempo que influenciam sua conduta,
convicções e, até mesmo, suas incertezas. Entretanto, é viável desenvolver a autenticidade. É
importante considerar que esse é um caminho que demanda tempo e requer dedicação diária em
pequenas ações. Vale a pena investir nisso, afinal, os ganhos são diversos, inclusive com
impacto positivo na saúde psicológica.
Junto à importância de ter valores, ser artífice de si, ou melhor, ter responsabilidade e
direcionamentos ativos, é uma abordagem significativa para desenvolver com seus estudantes.
Certamente, você já foi indagado com a seguinte pergunta: o que você vai ser quando crescer?
Essa é uma das perguntas clássicas quando estamos iniciando nossa vida escolar. No primeiro
dia de aula, ou no desenrolar dos nossos primeiros anos na escola, você ouviu essa pergunta
uma ou mais vezes, provavelmente. E relembrando essa pergunta, a memória que gostaríamos
de suscitar em você é: a resposta que você deu a essa pergunta foi o caminho que você escolheu
trilhar? Independentemente de ter se tornado aquilo que você respondeu ou não, queremos que
pense sobre o caminho, ou seja, você foi artífice das suas escolhas? O que significa ser artífice
de si mesmo? Nessa linha de raciocínio, trabalhe isso com suas turmas.
“Sendo o artífice de si" é um conceito que nos convida a refletir sobre a nossa capacidade de
moldar e construir a nossa própria existência, assumindo o papel de criadores de nós mesmos.
Mergulharemos nessa ideia e descobriremos como podemos nos tornar verdadeiros artífices de
nossas vidas.
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Para começar, entenderemos o que significa ser um artífice. Um artífice é alguém que cria, que
constrói, que dá forma a algo. Quando aplicamos esse conceito a nós mesmos, estamos falando
sobre a capacidade de moldar nossa própria personalidade, valores, crenças e ações. É assumir
a responsabilidade pela obra-prima que é a nossa vida.
O primeiro passo para ser o artífice de si mesmo é o autoconhecimento. É essencial conhecer
nossas forças, fraquezas, desejos e medos. Isso nos permite entender o material com o qual
estamos trabalhando e nos dá a clareza necessária para começar a moldar nossa existência de
acordo com nossa verdadeira essência. A autenticidade é o próximo passo. Ser autêntico
significa viver de acordo com nossos valores e crenças mais profundos. É expressar quem
somos verdadeiramente, sem nos esconder atrás de máscaras ou tentar ser alguém que não
somos. A autenticidade é a assinatura do artífice em sua obra.
Com base no que foi desenvolvido até aqui, para trabalhar em sala de aula o tema “Sendo o
artífice de si", comece indicando para os estudantes exercitarem os itens da listagem a seguir,
não esquecendo de dizer o quanto é importante adotar uma abordagem prática e reflexiva:

Autoconhecimento: dedique tempo para a introspecção. Reflita sobre suas paixões,


seus valores e seus objetivos. Mantenha um diário para registrar pensamentos,
sentimentos e insights sobre si mesmo.

Definição de metas: estabeleça metas claras e específicas que estejam alinhadas


com seus valores e suas aspirações. Crie um plano de ação com etapas concretas
para alcançar essas metas.

Desenvolvimento de habilidades: identifique habilidades que você deseja desenvolver


ou aprimorar para se tornar a versão desejada de si mesmo. Busque recursos, como
cursos, livros ou workshops, para adquirir essas habilidades.

Reflexão e avaliação: reserve um tempo regularmente para avaliar seu progresso em


relação às suas metas. Seja honesto consigo mesmo sobre o que está funcionando e
o que precisa ser ajustado.

Ação consciente: tome decisões conscientes que estejam alinhadas com quem você
deseja ser. Lembre-se de que cada escolha é uma oportunidade para moldar sua
própria vida.

Resiliência: aceite que desafios e obstáculos fazem parte do processo de


crescimento. Desenvolva resiliência para superar adversidades e aprender com as
experiências.

Busca por feedback: peça feedback de pessoas de confiança para obter perspectivas
externas sobre seu desenvolvimento. Esteja aberto a críticas construtivas e use-as
para melhorar.

Equilíbrio: encontre um equilíbrio entre trabalho, estudos, lazer e descanso. Cuide da


sua saúde física, mental e emocional.
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Comunidade e relacionamentos: construa relacionamentos saudáveis e significativos


que apoiem seu crescimento pessoal. Participe de comunidades que compartilhem
seus valores e interesses.

Reflexão contínua: mantenha a prática da reflexão como uma parte integrante da sua
vida. Esteja aberto a revisar e adaptar seus planos à medida que você evolui e
amadurece.

A jornada de ser o artífice de si mesmo não é fácil. Enfrentaremos desafios, críticas e obstáculos.
Aqui, a resiliência se torna crucial. A resiliência é a capacidade de se recuperar diante das
adversidades, de se adaptar e continuar moldando nossa vida, mesmo quando as circunstâncias
são difíceis. Neste caminho trilhado, temos que fazer escolhas. A autodeterminação é o poder de
fazer escolhas que estão alinhadas com nossa visão de vida. É a capacidade de direcionar nosso
destino, tomar decisões conscientes e agir de acordo com o que acreditamos ser o melhor para
nós. Ser o artífice de si mesmo é exercer esse poder de escolha de forma responsável e sábia.
“O trabalho mais difícil é o trabalho sobre si mesmo”. Essa frase é de um autor desconhecido,
mas complementa nosso entendimento sobre o trabalho que devemos empreender para a busca
de moldar quem queremos ser. Somos como rochas brutas, sem polimento, sempre em processo
de transformação, aprendendo continuamente sobre nós mesmos e buscando evoluir, seja por
meio de momentos de triunfo ou dificuldades que nos obrigam a nos reinventar.
Neste trabalho duro sobre si mesmo, a versão futura aguarda a decisão de deixar a versão antiga
para trás e iniciar essa nova fase. Ao olhar no espelho, reconheça o companheiro que esteve ao
seu lado nos momentos difíceis, que nunca o abandonou e nunca o abandonará. Honre essa
pessoa, renove-se e compreenda que, ao passar por essa transformação, novas escolhas e
despedidas definitivas serão necessárias, especialmente em relação às companhias que
escolhemos para caminharmos juntos.
Ser o artífice de si mesmo é um processo contínuo. Não é um estado a ser alcançado, mas uma
jornada constante de crescimento e evolução. Estamos sempre em construção, aprendendo,
moldando-nos. A beleza de ser o artífice de si é que nossa obra-prima nunca está completa;
sempre há espaço para aprimoramento e inovação. Ser o artífice de si é assumir o papel ativo na
construção de nossa própria vida. É um convite para sermos autênticos, resilientes,
determinados e em constante crescimento. Cada um de nós tem o potencial de ser um grande
artífice, capaz de criar uma vida que reflita nossa verdadeira essência e valores.
Com mais essa reflexão, você se coloca no caminho do aprendizado dos valores que orientarão a
sua prática pedagógica de tal forma que você poderá trabalhar esses conteúdos com os seus
futuros estudantes.

Vamos exercitar?
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Olá, estudante!
Iniciamos nossa aula com o questionamento: o que é ser feliz? No entanto, não respondemos
aos questionamentos iniciais, apenas iniciamos a tentativa de refletir sobre o que é uma vida
autêntica, quais seriam os valores guias para uma vida autêntica, e como abordar a necessidade,
a responsabilidade e a proatividade para que os estudantes entendam o que é ser artífice de si.
Agora é o momento de exercitar os conhecimentos e pensar em uma resposta que englobe os
temas refletidos e resolver a problemática inicial: qual a vida que vale a pena ser vivida?
A reflexão central que responde aos questionamentos pode ser a abordagem que fizemos sobre
o tema “Sendo o artífice de si", em que foi apresentada uma lista com alguns passos para
trabalhar em sala de aula. Você se recorda que foi indicado iniciar o exercício de maneira prática
e reflexiva? Nesse sentido, retomaremos a lista:

Autoconhecimento.

Definição de metas.

Desenvolvimento de habilidades.
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Reflexão e avaliação.

Ação consciente.

Resiliência.

Busca por feedback.

Equilíbrio.

Comunidade e relacionamentos.

Reflexão contínua.

Ao indicar essas práticas, você exercitará ativamente o tema, mostrando aos estudantes como
construir uma existência autêntica e alinhada com seus verdadeiros valores e aspirações.
Com as reflexões desenvolvidas e as indicações desse exercício, chegamos ao final dessa aula.
Os temas trabalhados continuam a nos convidar a assumir um papel ativo na construção de
novas aprendizagens no ensino de filosofia em sala de aula.

Saiba mais
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Indicamos algumas leituras que te ajudarão a aprofundar os seus conhecimentos e compreender


ainda mais os temas discutidos nesta aula:
Essa obra propõe materiais e sistemas de ensino em filosofia, com o objetivo de contribuir para o
desenvolvimento profissional do docente que atua na educação básica. Nesse contexto, o autor
realiza um panorama sobre os conceitos filosóficos relativos à educação e ao desenvolvimento
humano e discute o papel das novas modalidades de ensino na aprendizagem da filosofia.
FARIA, A. A. Educação em filosofia na contemporaneidade produção de materiais e sistemas de
ensino em filosofia. Curitiba: InterSaberes, 2023.
A obra aborda a importância e os métodos de ensinar filosofia para crianças em idade escolar.
Discute maneiras de introduzir conceitos filosóficos de forma acessível e estimulante para os
estudantes do ensino fundamental. Oferece sugestões de atividades, leituras e discussões que
podem ser adaptadas para o contexto escolar.
SILVA, K. F. da. Filosofia no ensino fundamental. Curitiba: InterSaberes, 2023.
O livro apresenta uma retrospectiva histórica da aplicação dos conceitos pedagógicos,
transitando por várias correntes do pensamento para ajudar o leitor a compreender as origens e a
evolução do processo educacional. Além disso, destaca a importância de conhecer os métodos
pedagógicos ao longo dos séculos, para analisá-los e aplicá-los de forma responsável. A
intenção é gerar um debate crítico e pluralista a respeito do ensino.
TRIGO, L. G. G. Pensamento filosófico um enfoque educacional. Curitiba: InterSaberes, 2013.

Referências
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Fundamental

BROGE, V. A coragem de ser autêntico. HSM Management, 2020. Disponível em:


https://revistahsm.com.br/post/a-coragem-de-ser-autentico. Acesso em: 24 fev. 2024.
BARROS FILHO, C. A vida que vale a pena ser vivida. Petrópolis: Vozes, 2012.
CLEMENTE, M. Não force, a vida flui. São Paulo: Ágora, 2022.
CONZATTI JUNIOR, L. Autenticidade, escolha e autonomia: o indivíduo acima da ética e da
estética em Kierkegaard. 2022. 117 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Universidade de
Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2022. Disponível em: https://abre.ai/i0AV. Acesso em: 24 fev. 2024.
COVEY, S. R. Os sete hábitos de pessoas altamente eficazes. São Paulo: Best Seller, 2017.
GONÇALVES, M. A. S. Construção da identidade moral e práticas educativas. Campinas: Papirus,
2016.
JASPERS, K. Caminhos para a sabedoria: uma introdução à vida filosófica. Petrópolis: Vozes,
2022.
PERISSÉ, G. A arte de ensinar. São Paulo: Saraiva, 2004.

Aula 2
Uma vida sem reflexão não merece ser vivida

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Nesta aula, exploraremos o tema “Uma vida sem reflexão não merece ser vivida”, a partir do
pensamento de Sócrates, que defendia a importância da reflexão para uma vida autêntica.
Discutiremos como a reflexão sobre a vida a partir da filosofia nos convida a examinar
criticamente nossas crenças e ações. Abordaremos a distinção entre uma vida superficial (zoé) e
uma vida examinada (biós) e refletiremos sobre nossas próprias escolhas. Além disso,
investigaremos a evolução da racionalidade humana e sua relação com a consciência. Ao longo
da aula, seremos encorajados a pensar sobre quem somos e como podemos viver de maneira
mais autêntica e plena. Obter esses conhecimentos será importante para que você inclua em sua
futura prática pedagógica o desenvolvimento de habilidades socioemocionais em seus futuros
estudantes. Bons estudos!
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Ponto de partida

Nesta aula, você é convidado a refletir a partir do pensamento de Sócrates: “A vida sem reflexão
vale a pena ser vivida?”. Diante do contexto radical vivido pelo filósofo, olharemos para a
realidade escolar, para o nosso cotidiano em sala de aula. Qual tipo de vida estamos ensinando?
Será que estamos vivendo e ensinando uma vida biós, ou uma vida zoé? Esse questionamento
será um dos tópicos que veremos.
Sócrates demonstrou a importância da razão para a vida autêntica, mas será que a humanidade
foi sempre racional nas suas escolhas? A trajetória do ser humano, desde suas origens animais
até o desenvolvimento da racionalidade, é um tema fascinante que perpassa diversas áreas do
conhecimento, incluindo filosofia, biologia e antropologia. Nesta aula, refletiremos o tema “Da
animalidade à racionalidade”, buscando compreender como a humanidade se distinguiu de
outras espécies animais por meio do desenvolvimento da racionalidade e quais implicações isso
tem para nossa compreensão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.
Na busca por responder aos questionamentos propostos, nosso último tema será “Vida e
Consciência”. Veremos que a dimensão racional está intrinsecamente relacionada com a
consciência de ser e estar no mundo. A reflexão é o ato de pensar profundamente sobre nossas
ações, crenças e valores. É um processo que nos permite entender quem somos, o que
queremos e como podemos viver de maneira autêntica e plena. Sem reflexão, corremos o risco
de viver de forma automática, seguindo padrões e normas sem questioná-los.
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Vamos começar!

Iniciando pelo pensamento de que “a vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”, atribuído a
Sócrates, neste tópico refletiremos sobre qual o tipo de vida estamos ensinando. Será que em
suas aulas os alunos vivem uma vida biós, ou uma vida zoé? Você percebeu dois termos
diferentes nesta pergunta? Sim, temos o termo biós e zoé, que serão os dois termos que guiarão
a reflexão neste tópico sobre qual o tipo de vida devemos viver e ensinar.
Para apresentar o significado desses termos, primeiramente, a origem deles está relacionada ao
contexto do pensamento grego. Na filosofia clássica, especialmente na tradição grega, as
noções de "biós" e "zoé" representam duas dimensões distintas da vida. Esses conceitos foram
explorados por diversos filósofos, incluindo Aristóteles, e têm sido revisitados ao longo da
história da filosofia (Nicolau, 2021)

Zoé: refere-se à vida em seu aspecto mais básico e universal. É a vida que é compartilhada
por todos os seres vivos, desde as plantas e os animais até os seres humanos. Zoé diz
respeito à simples existência biológica, à sobrevivência e à continuidade da vida. Nesse
sentido, é uma noção que enfatiza a vida como um fenômeno natural e biológico.

Biós: em contraste, refere-se à vida humana em seu aspecto qualitativo, à maneira como a
vida é vivida. Está relacionada à vida como um projeto, à existência dotada de significado,
propósito e valores. Biós envolve as escolhas, ações e práticas que configuram uma forma
particular de viver, uma "vida boa" no sentido ético e moral. É a vida considerada em seu
contexto social, cultural e político.
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A distinção entre zoé e biós é fundamental para compreender a visão grega clássica da vida
humana. Enquanto zoé é comum a todos os seres vivos, biós é específico aos seres humanos e
reflete a capacidade de criar e viver de acordo com princípios éticos e políticos. “[...] para um
grego não havia apenas uma palavra para vida; havia a zoé, que é a vida natural e comum a todos
os seres viventes, e a bíos, que seria a forma ou a maneira de viver de um indivíduo e de uma
coletividade” (Nicolau, 2021, p. 1).

Para um grego e para a vida em comunidade de um grego em sua polis, predomina a


bíos, sendo a zoé excluída da polis, condenada à esfera privada, ao oikos, à
administração da casa, da família e dos negócios — atividade menor para um pleno
cidadão grego que tem como máxima nobre a atividade política de deliberar sobre os
temas da cidade. A exclusão da zoé é a fundação da polis grega e, assim, a fundação
da política [...]. (Nicolau, 2021, p. 1)

Além do contexto grego, encontramos também a definição do termo vida na Bíblia, a qual
apresenta o entendimento de três tipos de vida: bios, psiqué e zoe. Bios é a vida biológica e
carnal; psiqué é a nossa alma; zoe é a vida do espírito. No sentido religioso, a vida que mais se
adequa aos homens é a zoe, a vida conduzida pelo espírito de Deus.
Essa diferenciação foi retomada e aprofundada por filósofos contemporâneos, como Hannah
Arendt (1999) e Giorgio Agamben (2012), que exploraram as implicações políticas e éticas dessa
distinção. Em particular, Agamben (2012), destaca como, na modernidade, as fronteiras entre zoé
e biós se tornaram cada vez mais tênues, levando a uma "biopolítica" na qual a vida biológica se
torna objeto de controle e regulação políticos. Enquanto zoé representa a vida em seu aspecto
biológico e universal, biós se refere à vida humana como um projeto ético e cultural, marcado por
escolhas, valores e significados. Essa distinção é central para a compreensão da vida humana na
filosofia clássica e continua a ser relevante nas reflexões contemporâneas sobre ética, política e
biopolítica.
Imagine uma floresta cheia de plantas e animais. Todos eles estão vivos, certo? Eles crescem, se
alimentam, se reproduzem. Essa é a zoé, a vida em seu aspecto mais básico, a vida biológica. É a
vida que compartilhamos com todos os seres vivos do planeta. É como se fosse o mínimo
necessário para dizer "estou vivo".
Agora, pense em todas as coisas que fazemos além de apenas sobreviver. Trabalhamos,
estudamos, criamos arte, participamos de comunidades, temos sonhos e objetivos. Isso é o biós,
a vida humana com significado, é a vida humana com todas as suas particularidades, escolhas e
valores. É o que faz cada pessoa ter uma história única.
Após conhecermos os conceitos de biós e zoé, qual a relação podemos fazer com o pensamento
de Sócrates de que "uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida"? O que ele queria dizer
com isso? Ele estava falando sobre a importância do biós, da vida com significado. Para
Sócrates, simplesmente existir (zoé) não é suficiente. É importante pensar sobre nossas ações,
questionar nossas crenças e buscar um propósito. Isso é o que torna a vida verdadeiramente
valiosa (Pereira; Vicente, 2010).
Você sabe dizer por que isso importa? Esses conceitos nos ajudam a entender que há uma
diferença entre apenas estar vivo e viver uma vida plena. Zoé é como a base, a vida biológica que
todos temos, mas biós é a construção que fazemos em cima dessa base. É onde entram nossas
escolhas, nossa cultura, nossa moral. Quando refletimos sobre nossas vidas, estamos
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trabalhando no nosso biós. Estamos buscando entender o que nos torna únicos e o que
queremos alcançar. Estamos dando sentido à nossa existência. E é por isso que Sócrates
valorizava tanto a reflexão. Para ele, e para muitos filósofos após ele, uma vida rica em biós, uma
vida examinada, é o que realmente vale a pena ser vivida.
Nos tópicos anteriores, você refletiu sobre a importância de levar e ensinar uma vida com
significado, ou seja, uma vida em que as decisões sejam tomadas com base na razão. No
entanto, ao olharmos para a história, será que podemos dizer que as escolhas que foram
tomadas refletiram a racionalidade do homem, ou a animalidade que é intrínseca à natureza
humana? Entenda animalidade como a pulsão natural do homem em satisfazer os seus desejos,
e não nos referimos somente ao desejo sexual, mas ao desejo de poder e todas as formas de
sobreposição hierárquica que a humanidade já conquistou na história de dominação de povos
superiores para com povos inferiores (Mattos; Silva; Gama, 2019).
Segundos pesquisas arqueológicas, nos primórdios da existência humana, éramos movidos
principalmente por instintos básicos: sobrevivência, alimentação, reprodução. Essas são
características que compartilhamos com outras espécies animais. Nesse estágio, nossa vida era
regida pelas necessidades imediatas, sem espaço para reflexão ou questionamentos profundos.
A transição para a racionalidade começou com o despertar da consciência. Gradualmente,
começamos a perceber a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor de uma maneira mais
complexa. Esse processo é acompanhado pelo desenvolvimento da linguagem, que nos permite
comunicar ideias abstratas e compartilhar conhecimento. Com a consciência, surge a
capacidade de raciocinar. Passamos a questionar nossa existência, a buscar explicações para os
fenômenos naturais e a refletir sobre nossas ações. A racionalidade nos permite planejar, criar
estratégias e tomar decisões baseadas em lógica e evidências, em vez de meros impulsos
instintivos.
Na Grécia Antiga, filósofos, como Sócrates e Platão, exploraram profundamente essas questões.
Sócrates, com seu método dialético, incentivava o questionamento constante como meio de
alcançar a verdade. Platão, por sua vez, destacou a importância das ideias abstratas e da busca
pela sabedoria como forma de elevar a alma.
Na modernidade, filósofos, como Descartes e Kant (Aranha; Martins, 2005), deram continuidade
a essa tradição. Descartes, com seu famoso "Penso, logo existo", colocou a razão no centro da
existência humana. Kant, por sua vez, enfatizou a autonomia da razão e a importância do dever
ético, fundamentando a moralidade na capacidade de agir segundo princípios racionais.
Entretanto, a racionalidade não é isenta de desafios. O excesso de confiança na razão pode levar
ao racionalismo extremo, ignorando a importância das emoções e da intuição. Além disso, a
capacidade de raciocinar traz consigo a responsabilidade de fazer escolhas éticas e de buscar
um sentido para a vida. A jornada da animalidade à racionalidade é uma busca contínua pelo
equilíbrio entre nossos instintos básicos e nossa capacidade de pensar e refletir. É essa
capacidade que nos permite criar arte, ciência, filosofia e todas as maravilhas da cultura humana.
Mas, como Sócrates nos lembra, uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida (Pereira;
Vicente, 2010).
Vamos ver como a razão tem impulsionado avanços incríveis para a humanidade, mas também
como, em certos momentos, a irracionalidade tem levado a atos que contradizem nossa própria
humanidade. Ao longo da história, a racionalidade humana proporcionou avanços notáveis em
várias áreas; na ciência, foram as diversas descobertas científicas que transformaram nossa
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compreensão do universo, desde a teoria heliocêntrica de Copérnico até a teoria da relatividade


de Einstein e a exploração espacial; quanto à tecnologia, tivemos o desenvolvimento de
ferramentas, máquinas e tecnologias digitais, que revolucionou nossa forma de viver e interagir
com o mundo, sem deixar de mencionar a medicina, com tantos avanços médicos, como a
descoberta dos antibióticos e o desenvolvimento de vacinas, que salvaram inúmeras vidas e
melhoraram nossa qualidade de vida.
No entanto, a história também está repleta de exemplos de irracionalidade e ações que desafiam
nossa humanidade. Muitas guerras foram travadas com base em ideologias, causando
sofrimento e destruição; há também a discriminação e a intolerância que a história mostra por
inúmeros casos de discriminação racial, étnica, religiosa e de gênero, em que a irracionalidade do
preconceito prevaleceu sobre a compreensão e o respeito mútuo. Temos também, como
exemplos da irracionalidade, os desastres ambientais causados pela exploração irracional dos
recursos naturais, que levou a desastres ecológicos e à crise climática, ameaçando a vida no
planeta.
Conforme você pode ver, a história é marcada pela tensão entre racionalidade e irracionalidade.
Enquanto a razão nos permite alcançar grandes feitos, a irracionalidade pode levar a ações
destrutivas. Portanto, é crucial buscar um equilíbrio, no qual a razão guie nossas ações, mas sem
ignorar as emoções e os valores que também fazem parte da nossa natureza.
Considerando a reflexão sobre a importância da racionalidade, temos, agora, o foco na
consciência. Você já se se viu fazendo alguma coisa sem ter consciência disso? Acreditamos
que sim. Esse fato é conhecido pelo ditado popular que diz “agir no piloto automático”. Verdade
ou não, esse questionamento remonta há mais ou menos 1.500 anos, quando o filósofo Santo
Agostinho questionou se a consciência é contínua ou se estamos conscientes apenas em certos
momentos do tempo. Será que ele respondeu a essa pergunta? Muitos filósofos tentaram
desenvolver alguma resposta sobre isso, bem como estudos modernos tentaram.
A consciência é um tema central na filosofia, pois está intimamente ligada à nossa capacidade
de pensar, sentir e entender o mundo ao nosso redor. Mas, como os filósofos clássicos viam a
relação entre vida e consciência? Listaremos alguns nomes. Primeiro, temos Sócrates, que ficou
conhecido por sua máxima "Conhece-te a ti mesmo". Para ele, a vida só vale a pena ser vivida se
for examinada. A consciência, nesse sentido, é a chave para entender a si mesmo e buscar a
virtude. Sócrates nos encoraja a questionar constantemente nossas crenças e ações para viver
de forma autêntica e ética. O segundo foi discípulo de Sócrates, Platão, o qual acreditava que a
verdadeira realidade está no mundo das formas ou ideias, que é acessível apenas pela mente ou
pela consciência. Para Platão, a vida da alma é mais importante do que a vida física, e a
consciência é o que nos permite contemplar as verdades eternas e viver uma vida virtuosa. E
como terceiro nessa linha de pensadores clássicos, temos Aristóteles, aluno de Platão, que tinha
uma abordagem mais naturalista. Ele via a vida como caracterizada por funções biológicas, mas
destacava que os seres humanos são únicos por sua capacidade de raciocinar. A consciência, ou
mente, é o que nos permite entender o mundo e viver de acordo com a razão, buscando a
felicidade e a realização (Bergson, 2009).
Após os pensadores clássicos, temos as correntes filosóficas dos Estoicos e Epicuristas, com
suas visões divergentes. Na era helenística, os Estoicos e Epicuristas ofereceram visões
diferentes sobre a vida e a consciência. Os Estoicos acreditavam que a vida boa vem de viver em
harmonia com a natureza e usar a razão para manter a paz interior. Já os Epicuristas viam a
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felicidade como o objetivo da vida, com a consciência nos ajudando a fazer escolhas sábias para
alcançar o prazer e evitar a dor.
Chegamos, então, a Santo Agostinho (Aranha; Martins, 2005), mencionado no início, o qual, no
período medieval, enfatizou a busca pela verdade divina e a importância da consciência interior
para se conectar com Deus. Temos também Tomás de Aquino (Aranha; Martins, 2005), por outro
lado, que integrou a filosofia aristotélica com a teologia cristã, vendo a razão como uma dádiva
divina que nos permite entender a ordem moral do universo.
A partir desta breve descrição sobre a consciência encontrado em alguns dos filósofos
mencionados, percebemos que a consciência não é um fenômeno estático; ela evolui. Ao longo
da história da vida na Terra, podemos observar um aumento gradual na complexidade e
profundidade da consciência. Essa evolução é paralela ao desenvolvimento biológico e
neurológico dos organismos. No ser humano, a consciência atinge um patamar único, pela
característica mais distintivas da consciência humana que é a capacidade de autoconhecimento.
Somos capazes de refletir sobre nossos próprios pensamentos e emoções, de nos questionar e
de buscar um entendimento mais profundo de quem somos. Esse processo de autoexame é
fundamental para o crescimento pessoal e para a busca de uma vida autêntica e significativa.
Ao longo da história da filosofia, vemos uma busca contínua para entender a relação entre vida e
consciência. Essas reflexões clássicas nos convidam a pensar sobre como vivemos nossas
vidas hoje. Será que estamos vivendo de forma consciente e examinada? Estamos buscando a
verdade, a virtude e o significado em nossas ações? Em última análise, a consciência é o que nos
permite buscar um significado para a nossa existência. Ela nos dá a capacidade de transcender o
imediato, de sonhar, de criar e de aspirar a algo maior. A jornada da vida, enriquecida pela
consciência, é uma busca contínua por compreensão, por conexão e por propósito.

Vamos exercitar?
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Na reflexão inicial, você foi convidado a pensar a partir da célebre indagação de Sócrates de que
“uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”. Essa problematização servirá como exercício
que você poderá utilizar com seus alunos.
A partir da indagação de Sócrates, discorremos durante a aula como ele não negou seu
pensamentos, seus ensinamentos, ou os juízos emitidos sobre os valores da sociedade
ateniense. Sócrates tinha plena certeza das consequências que a faculdade do pensar poderia
trazer, mas não deixou de pensar por si próprio, desta forma ele viveu e praticou seus
ensinamentos, levando uma vida como zoé, e não como biós. Você se recorda desses termos?
Lance em sala de aula o questionamento de Sócrates e, depois, reflita com seus alunos os dois
termos que apresentamos:

Zoé: refere-se à vida em seu aspecto mais básico e universal. É a vida que é compartilhada
por todos os seres vivos, desde as plantas e os animais até os seres humanos. Zoé diz
respeito à simples existência biológica, à sobrevivência e à continuidade da vida. Nesse
sentido, é uma noção que enfatiza a vida como um fenômeno natural e biológico.

Biós: em contraste, refere-se à vida humana em seu aspecto qualitativo, à maneira como a
vida é vivida. Está relacionada à vida como um projeto, à existência dotada de significado,
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propósito e valores. Biós envolve as escolhas, ações e práticas que configuram uma forma
particular de viver, uma "vida boa" no sentido ético e moral. É a vida considerada em seu
contexto social, cultural e político.

Trabalhamos a distinção da vida zoé e da vida biós, termos que você também poderá abordar
com seus alunos, levando-os a responder ao questionamento socrático sobre a vida com
sentido. Segundo o legado de Sócrates, a vida não deve ser vivida apenas superficialmente e sem
questionar profundo as coisas, sem perguntar sobre quem somos. Para o filósofo grego, a vida é
um constante exercício de questionamento, de busca por sabedoria e de autoconhecimento. É
somente através da reflexão e da análise cuidadosa de nossas atitudes e pensamentos que
podemos evoluir e nos tornar seres humanos mais autênticos e realizados.
Ao desenvolver essa abordagem com seus estudantes, eles certamente entenderão o que
Sócrates queria dizer com a afirmação “uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”. Ele
acreditava que a reflexão e o questionamento eram essenciais para alcançar uma vida virtuosa e
significativa. Não se tratava apenas de questionar por questionar, mas fazer uma reflexão que
levasse a compreender de forma profunda as ações, os valores e a escolhas feitas. Para ele, viver
sem questionar, sem buscar o conhecimento e a verdade, era como viver em um estado de
ignorância e ilusão.

Saiba mais
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Para continuar aprofundando seus conhecimentos sobre os temas estudados nesta aula, confira
as indicações de leitura a seguir:
A obra busca tornar acessível o estudo da filosofia para um público amplo, incluindo estudantes
e interessados sem formação específica na área. O autor se propõe a desmistificar a filosofia,
apresentando-a de maneira clara e aplicável ao cotidiano. REZENDE, J. Filosofia simples e
prática. Curitiba: InterSaberes, 2020.
O artigo expressa uma abordagem sobre a individualidade, o estar consciente e o livre-arbítrio
nos elevam acima de todas as outras espécies; são as nossas garantias. CARDOSO, M. Você tem
consciência da vida que leva? Vida Simples, 2021.
O autor discute a consciência como um fenômeno central da experiência humana, enfatizando
sua natureza subjetiva e a forma como ela se manifesta na percepção do mundo e de si mesmo.
FERNANDES, M. A. Consciência, vivência e vida: um percurso fenomenológico. Rev. Abordagem
Gestalt, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 29-41, jun. 2010.
Esta obra lhe oferece elementos teórico-metodológicos para que possa pensar sobre sua prática
docente e desenvolver formas de planejamento e organização que contribuam para suas aulas.
Para favorecer a compreensão dos elementos que compõem o processo de ensino e
aprendizagem da filosofia no ensino médio, é importante realizar uma análise dos elementos que
permeiam o cotidiano escolar, refletindo sobre as concepções de sujeito nesse contexto, a
função da filosofia no currículo acadêmico e os aspectos inerentes à aprendizagem filosófica.
MENDES, A. A. P. Didática e metodologia do ensino de filosofia no ensino médio. Curitiba:
InterSaberes, 2017.

Referências
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Fundamental

AGAMBEN, G. O Aberto, o Homem e o Animal. Lisboa: Edições 70, 2012.


ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 2005.
ARENDT, H. O Que é Política?. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
BERGSON, H. A consciência e a vida. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
MATTOS, M. S. S. K. de; SILVA, G. P. da; GAMA, R. F. da. O Problema da Consciência: por onde
começar o estudo? Revista Brasileira de Educação Médica, v. 43, n. 1, p. 175-180, 2019.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/FtHDcZpysc4F6yXKnmKRqMj/?format=pdf.
Acesso em: 26 fev. 2024.
NICOLAU, G. G. Zoé e Bíos: entre a Política em Aristóteles e o pensamento de Giorgio Agamben.
Medium, 2021. Disponível em: https://abrir.link/tPnQG. Acesso em: 26 fev. 2024.
PEREIRA, C. A.; VICENTE, J. J. N. B. A consciência da existência em Sêneca. Griot: Revista de
Filosofia, v. 1, n. 1, p. 1-15, 2010. Disponível em:
https://www.redalyc.org/journal/5766/576665142002/html/. Acesso em: 26 fev. 2024.

Aula 3
A vida que vale a pena

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Olá, estudante! Bem-vindo à nossa videoaula sobre "a vida que vale a pena ser vivida"! Neste
encontro, exploraremos diferentes perspectivas sobre o significado da vida, abordando conceitos,
como a vida pensada, ajustada e prazerosa. Você descobrirá, a partir da reflexão de filósofos
diversos, como ensinar conceitos sobre a vida e o autoconhecimento e trabalhar em sala de aula
reflexões com temas sobre escolhas para uma existência mais plena e satisfatória.

Ponto de partida

O que torna uma vida verdadeiramente valiosa? A partir desse questionamento, podemos
encontrar respostas que indiquem diversas formas de conceber a vida, desde a busca pela
tranquilidade até a busca por intensidade e propósito.
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Como equilibrar nossas aspirações, nossos valores e a realidade cotidiana para criar uma vida
que valha a pena ser vivida? Esse é o desafio que propomos como problematização. A reflexão
que faremos será uma caminhada para descobrir como os diferentes aspectos da vida podem
ser harmonizados para alcançar a realização pessoal, e para isso veremos alguns filósofos que
refletem esses temas e que podem nos ajudar a desenvolver estratégias de ensino.
A concepção de uma vida valiosa oscila entre a busca pela tranquilidade e a busca por
intensidade e propósito, e essa dualidade reflete a complexidade da existência humana, em que a
serenidade e a paixão são vistas como aspectos complementares de uma vida plena. Na busca
pela tranquilidade, encontramos eco na filosofia estoica, na qual autores, como Sêneca e Epicteto
(Ulmann et al., 2012), enfatizam a importância da paz interior e da aceitação do que está fora de
nosso controle. Eles argumentam que a verdadeira felicidade reside na ataraxia, um estado de
serenidade inabalável. Essa perspectiva é reforçada por pensadores contemporâneos,
destacando a importância de viver no momento presente para alcançar a paz interior.
Por outro lado, a busca por intensidade e propósito é destacada pela filosofia existencialista, que
vê a vida como um projeto a ser ativamente construído, defendendo a ideia de que a vida adquire
significado através de nossas escolhas e ações autênticas. Essa noção sugere que o propósito é
fundamental para a realização humana.
A integração dessas perspectivas indica que uma vida valiosa não é uma escolha entre
tranquilidade e intensidade, mas, sim, um equilíbrio entre ambas. A tranquilidade nos oferece a
base para enfrentar os desafios da vida com serenidade, enquanto a busca por intensidade e
propósito nos impulsiona a viver de forma autêntica e significativa; é na harmonia desses
aspectos que encontramos a verdadeira arte de viver.
A partir do contexto apresentado, você, como um futuro docente, poderá abordar esses temas
em sala de aula de várias maneiras.

Vamos começar!
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Iniciamos explorando o conceito essencial que pode indicar o primeiro passo para uma vida bem
vivida, ou seja, uma "vida pensada", em que a reflexão e a tomada de decisões conscientes
moldam nossa existência. Esse tema seria ideal para uma aula de filosofia. Você concorda? Esse
tema indica que refletir para sobreviver é um conselho comum entre os pensadores, visto que
grande parte das situações que enfrentamos resultam das escolhas que fazemos diariamente.
No entanto, nem sempre a vida segue um plano pensado, visto que algumas ações e reações
ocorrem de forma automática, sem a necessidade de reflexão, por exemplo, escovar os dentes
enquanto pensamos em outra coisa qualquer. Dedicamos muita reflexão para entender nosso
propósito neste mundo, selecionando entre as opções consideradas e descartadas, explorando
diferentes caminhos que, muitas vezes, são ignorados (Barros Filho, 2012).
Como seria uma vida com qualidade? Para alcançar uma qualidade de vida satisfatória, é
essencial sair do próprio ego e pensar além de si mesmo. Estamos todos conectados em um
universo em comum, por isso, é necessário fazer escolhas conscientes para viver de forma
plena. Ao analisar nossa própria existência e buscar o autoconhecimento, podemos identificar e
alcançar os objetivos que almejamos.
É possível viver uma vida somente prazerosa? Estamos sempre em busca de satisfação,
almejando sempre o máximo de prazer. Bebemos quando estamos com sede e comemos
quando estamos com fome. No entanto, é importante notar que, muitas vezes, o prazer está
diretamente ligado ao sofrimento. Por isso, quanto maior a falta, maior a possibilidade de
encontrar prazer nas coisas simples da vida, sendo essa a esperança dos necessitados e o tédio
dos privilegiados. A interação com a realidade e com a espiritualidade é uma parte essencial da
nossa jornada educacional e social. Enquanto para alguns pode parecer uma ferramenta de
controle, para outros é uma maneira de se conectar com o indescritível presente no universo.
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Como viver com todas as potencialidades? A existência está intimamente ligada à energia, ou
seja, à força que temos disponível a cada momento para viver. É fundamental perceber a energia
em todos os momentos, a disposição de estar presente na vida e interagir com ela, o que nos
torna únicos, é nossa e de mais ninguém.
Ao pensar em uma vida significativa, os desafios que enfrentamos internamente ficam evidentes,
levando-nos, muitas vezes, ao isolamento e à solidão. Por isso, a interação social é fundamental,
uma vez que não conseguimos viver de forma totalmente autônoma. A vivacidade é uma
característica essencial para uma vida plena e, quando estamos imersos nela, nem percebemos
o tempo passar, a conexão com o mundo é tão gratificante que não desejamos outra experiência
(Alves, 2013).
Você percebeu que, no decorrer deste tópico, cada parágrafo iniciou com um questionamento?
Essa estratégia é uma das maneira de desenvolver a prática do ensino de filosofia, e com isso
instigar a participação em uma aula no ensino básico. Ao longo da sua aula, você poderá
convidar seu alunos a refletir sobre a própria vida, os valores e como desejam moldar seu futuro.
Pensar uma aula em forma de questionamentos é iniciar uma jornada de autoconhecimento e
descoberta de como ensinar a viver de maneira autêntica e realizada.
Prosseguiremos com a análise da vida que vale a pena ser vivida, enfatizando a importância da
contribuição social, dos valores morais e das relações interpessoais na construção de uma vida
valiosa. A pergunta que conduzirá este tópico será: é possível viver sozinho no mundo?
Obviamente, sua resposta é: não!
Existir é interagir. É se conectar. Somos seres sociais. Somos seres incompletos e em constante
evolução. Somos incompletos porque sem o outro não existimos. Não faz sentido pensar "eu e o
mundo". Devemos pensar "eu como parte integrante do mundo", ou seja, só é possível viver em
um mundo em que o “eu” e o “outro” convivam. Adquirimos conhecimento por meio de nossas
interações com o mundo e com outros indivíduos, procurando soluções para os desafios,
construindo conhecimento.
Considerando a reflexão sobre a impossibilidade de viver sozinho no mundo, encontramos mais
uma questão que você pode utilizar para desenvolver os conteúdos de filosofia na prática
educativa: como eu e o outro podemos equilibrar as aspirações, os valores e a realidade
cotidiana para criar uma vida que valha a pena ser vivida? Essa questão trata especificamente de
uma possibilidade de trabalhar a capacidade da fundamentação dos valores éticas que estão na
base de uma vida em sociedade, pois o ser humano é um ser moral. Sendo um ser-no-mundo,
também só se realiza na coexistência, no encontro com o outro, e nesta convivência, nesta
coexistência, naturalmente têm que existir regras que coordenem e equilibrem esta relação
(Cescon; Sangalli, 2021)
Um segundo ponto que envolve a prática do ensino de filosofia é desenvolver uma conversa com
os alunos sobre algo que todo buscam: uma vida equilibrada. Que tal perguntar na sala de aula:
vocês já pararam para pensar o que isso significa? É como se estivéssemos em uma corda
bamba, tentando não cair nem para um lado nem para o outro. De um lado, temos as aspirações,
que são os sonhos e objetivos que nos motivam a seguir em frente. Do outro lado, estão os
valores, que são os princípios que nos orientam em nossas decisões e ações. E, claro, não
podemos esquecer do chão que estamos pisando: a realidade cotidiana, com todos os seus
desafios e oportunidades (Amaral, 2023).
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Como eu consigo equilibrar tudo isso? Se algum aluno fizer essa pergunta, você está no caminho
certo, está ensinando na prática o que é filosofar. Responda que a primeira coisa a fazer é olhar
para dentro de si mesmo. Sim, isso mesmo! Precisamos conhecer bem quem somos, o que
valorizamos e o que realmente queremos alcançar na vida. Muitas vezes, acabamos seguindo o
que os outros esperam de nós, mas é importante lembrar que cada um tem seu próprio caminho.
Quando temos clareza sobre nossas aspirações e valores, o próximo passo é enfrentar a
realidade do dia a dia. Sabemos que nem tudo será perfeito, e haverá momentos em que
precisaremos ser resilientes e nos adaptar às situações. Mas, o importante é não perder de vista
o que queremos alcançar a longo prazo (Crisostomo, 2021).
Outro ponto essencial na busca por equilibrar as aspirações, os valores e a realidade cotidiana
para criar uma vida que valha a pena ser vivida é saber definir prioridades e estabelecer limites.
Isso nos ajuda a focar no que é realmente importante e a não nos sobrecarregarmos. E, claro,
não podemos esquecer de cultivar boas relações e buscar apoio nas pessoas ao nosso redor,
pois ninguém vive sozinho, não é mesmo? Por fim, lembre-se de que uma vida equilibrada é um
processo contínuo. Estamos sempre aprendendo, crescendo e fazendo ajustes no caminho. E é
isso que torna a vida tão interessante e gratificante!
Então, convidamos você a refletir com seus futuros estudantes sobre a própria vida e a se
comprometerem com esse processo de busca por equilíbrio. Lembre-se de que, no mundo, cada
pessoa é única e tem potencial para criar uma vida que não só vale a pena ser vivida, mas que
também traz realização.

Vamos exercitar?
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Revisitaremos a problematização inicial: como equilibrar nossas aspirações, nossos valores e a


realidade cotidiana para criar uma vida que valha a pena ser vivida? Conforme os estudos,
abordamos o tópico “os valores subjacentes às escolhas que eu faço e que refletem nos outros”.
Demonstramos como a prática de iniciar os tópicos por “questões” leva à interação entre os
diferentes conceitos abordados, podendo fornecer um caminho para o ensino dos tópicos de
filosofia de forma prática.
A problematização "Como equilibrar nossas aspirações, nossos valores e a realidade cotidiana
para criar uma vida que valha a pena ser vivida?" desafia os estudantes a refletir sobre a
complexidade de viver de forma autêntica e significativa em um mundo em constante mudança.
Para abordar essa questão, é crucial explorar como os diferentes aspectos da vida podem ser
integrados harmoniosamente.
Primeiramente, os estudantes devem ser incentivados a identificar suas aspirações pessoais e
seus valores fundamentais. Isso pode ser feito através de atividades reflexivas, como a escrita de
diários, discussões em grupo e autoavaliações. Ao entender o que é mais importante para si, o
estudante pode começar a traçar um caminho que esteja alinhado com seus ideais.
Em seguida, é importante abordar a realidade cotidiana, a qual, muitas vezes, apresenta desafios
e limitações. Os estudantes devem ser estimulados a desenvolver habilidades de resolução de
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problemas e adaptabilidade para navegar por situações complexas. Isso pode incluir o estudo de
casos práticos, simulações e a análise de cenários reais em diferentes contextos profissionais.
Para relacionar os conteúdos da aula com a futura vida profissional, os estudantes podem ser
encorajados a explorar como suas aspirações e valores se traduzem em escolhas de carreira e
práticas profissionais éticas. Isso pode envolver pesquisas sobre diferentes profissões,
entrevistas com profissionais da área e discussão de dilemas éticos comuns no ambiente de
trabalho.
Ao longo da aula, é essencial manter um ambiente que promova a curiosidade e o engajamento.
Isso pode ser alcançado através de métodos de ensino interativos, como debates, trabalhos em
grupo e o uso de tecnologias educacionais. Além disso, é importante oferecer feedback contínuo
e apoio aos estudantes, ajudando-os a refletir sobre seu aprendizado e a aplicá-lo de forma
prática em suas vidas.
Concluindo: a problematização proposta desafia os estudantes a pensar de forma crítica e
integrada sobre suas vidas, incentivando-os a buscar um equilíbrio entre suas aspirações, seus
valores e a realidade cotidiana. Ao fazer isso, eles estarão mais bem preparados para criar uma
vida que não apenas vale a pena ser vivida, mas também é enriquecedora e alinhada com seus
objetivos profissionais e pessoais.

Saiba mais
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Para aprofundar os estudos nos temas referentes ao ensino de Filosofia, segue uma relação de
títulos que podem ajudar nessa tarefa:
O livro aborda diferentes estratégias pedagógicas, incluindo o uso de recursos digitais, como
plataformas on-line, aplicativos e mídias sociais, para facilitar o engajamento dos estudantes e
promover uma aprendizagem mais significativa. Crisostomo destaca também a relevância de
adaptar o ensino de filosofia às demandas contemporâneas, incentivando o pensamento crítico,
a reflexão autônoma e o diálogo construtivo. CRISOSTOMO, A. L. Novas metodologias e
tecnologias para o ensino de filosofia. São Paulo: Saraiva, 2021.
A obra propõe uma abordagem didática voltada especificamente para o ensino de filosofia no
nível médio. O autor discute a importância de uma metodologia que seja capaz de despertar o
interesse dos estudantes pela filosofia, promovendo o desenvolvimento do pensamento crítico e
reflexivo. Gallo apresenta estratégias pedagógicas que incluem a utilização de textos filosóficos,
debates, projetos interdisciplinares e atividades que estimulam a análise e a argumentação.
GALLO, S. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas:
Papirus, 2022.
O livro aborda questões fundamentais sobre a natureza da filosofia e sua relevância na educação
contemporânea. Kohan discute diferentes abordagens pedagógicas para o ensino de filosofia,
enfatizando a importância de uma prática que promova o pensamento crítico, a autonomia
intelectual e a capacidade de questionar. KOHAN, W. Ensino de filosofia. Belo Horizonte:
Autêntica, 2013.

Referências
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AMARAL, M. F. do. Pedagogia das competências e ensino de filosofia: um estudo da proposta


curricular do estado de São Paulo a partir da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores
Associados, 2023.
BARROS FILHO, C. A vida que vale a pena ser vivida. Petrópolis: Vozes, 2012.
CESCON, E.; SANGALLI, I. J. (org.). Filosofia e o mundo da vida. Porto Alegre: Edipucs, 2021.
CRISOSTOMO, A. L. O ensino de filosofia a partir da BNCC. São Paulo: Saraiva, 2021.
ULMANN, R. A. et al. Filósofos – Clássicos da filosofia Vol. I: de Sócrates a Rousseau. Petrópolis:
Vozes, 2012.

Aula 4
Os valores do século XXI

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Nesta aula, trabalharemos a flosofia para o século XXI, abordando como estudar e ensinar
filosofia em um mundo em rápida transformação. Discutiremos os valores do século XXI, entre o
Niilismo e a celeridade das mudanças na sociedade atual, e como esses conceitos são
fundamentais para compreender e trabalhar questões éticas e morais. Você estudará conteúdos
relevantes para nossa prática profissional, pois as reflexões seguirão uma tendência com a
literatura da atualidade, mostrando visões para compreender o mundo complexo e promover uma
reflexão crítica e ética. Ao longo desta aula, esperamos que você adquira novos conhecimentos
para usar em sala de aula durante a sua futura prática profissional. Bons estudos!

Ponto de partida

Olá, estudante!
Nesta aula, falaremos sobre a filosofia para o século XXI, como estudar filosofia? E mais, como
ensinar filosofia no século XXI? Esses questionamento serão a problemática que tentaremos
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exercitar.
Normalmente, pensaremos na história da filosofia, pois tanto o estudo como o ensino da área
filosófica devem passar pelos autores tradicionais e clássicos que viveram há muito tempo.
Esses filósofos da Antiguidade viveram em um mundo historicamente muito diferente do nosso,
e a filosofia trabalhada a partir da reflexão que realizaram mostra questões que transcendem a
história. Assim, a ideia de bem, a justiça, a beleza, a existência, a felicidade e os valores sempre
se colocarão como questões humanas, pois são preocupações comuns da Antiguidade e do
nosso tempo.
A partir deste contexto, você, como docente, de que maneira trabalharia os valores do século XXI
a partir da filosofia? A ideia de começar pelos valores pode ser importante para pensar nas
questões e nos problemas da nossa realidade, os quais serão centrais para o hoje e para o nosso
futuro.

Vamos começar!

Iniciamos nossa reflexão a partir de algumas questões mais importantes para pensarmos o
mundo hoje, as quais passam pelos valores, pois são a base para pensarmos questões
referentes a cinco desafios mundiais que filósofos, cientistas, autoridades acadêmicas e de
opinião pública já alertaram por décadas. A começar pelo desafio tecnológico, o desafio político,
o desafio do desespero e esperança, o desafio da verdade e, por último, o desafio da resiliência. A
ideia desses cinco desafios é refletida na literatura, tendo como um dos autores o filósofo e
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intelectual Yuval Noah Harari (2018). O autor propôs, para cada um dos cinco desafios, várias
reflexões que se referem à vida das futuras gerações quanto à possibilidade de suas
continuidades ou não e ao futuro que se espera para as gerações que haverá.

Num mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder. Em teoria,


qualquer um pode se juntar ao debate sobre o futuro da humanidade, mas é muito
difícil manter uma visão lúcida. Muitas vezes nem sequer percebemos que um debate
está acontecendo, ou quais são suas questões cruciais. Bilhões de nós dificilmente
podem se permitir o luxo de investigá-las, pois temos coisas mais urgentes a fazer,
como trabalhar, tomar conta das crianças, ou cuidar dos pais idosos. Infelizmente, a
história não poupa ninguém. Se o futuro da humanidade for decidido em sua
ausência, porque você está ocupado demais alimentando e vestindo seus filhos —
você e eles não estarão eximidos das consequências. Isso é muito injusto, mas quem
disse que a história é justa? (Harari, 2018, p. 7)

Tendo apresentado a reflexão de Harari, você percebeu que o campo intelectual tem produzido
muito material e que, se o futuro docente for atualizando suas leituras a partir da conjuntura das
atualidades, a temática de como ensinar filosofia no século XXI não será um desafio, pelo
contrário. A partir dessas ideias, falaremos sobre dois temas essenciais para compreender o
mundo em que vivemos: o niilismo e a celeridade das mudanças. No mundo contemporâneo,
estamos cercados por uma multiplicidade de informações e enfrentamos mudanças rápidas em
todos os aspectos da vida. Essas questões levantam reflexões profundas sobre o sentido da
existência e nossa capacidade de adaptação.
Trabalharemos o tema "Valores do século XXI: entre o Niilismo e a celeridade das mudanças na
sociedade atual", explorando duas abordagens essenciais para compreender o mundo em que
vivemos. Discutiremos primeiro "O niilismo e a busca de sentido", que nos levará a refletir sobre
as questões existenciais e filosóficas que emergem com uma nova urgência no mundo
contemporâneo.
Em um mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder. Em teoria, qualquer um
pode se juntar ao debate sobre o futuro da humanidade, mas é muito difícil manter uma visão
lúcida. Muitas vezes, nem sequer percebemos que um debate está acontecendo, ou quais são
suas questões cruciais. Bilhões de nós dificilmente podem se permitir o luxo de investigá-las,
pois temos coisas mais urgentes a fazer, como trabalhar, tomar conta das crianças, ou cuidar
dos pais idosos. Infelizmente, a história não poupa ninguém. Se o futuro da humanidade for
decidido em sua ausência, porque você está ocupado demais alimentando e vestindo seus filhos
– você e eles não estarão eximidos das consequências. Isso é muito injusto, mas quem disse
que a história é justa? (Harari, 2018).
O nosso segundo tópico, "A celeridade das mudanças", nos levará a compreender a velocidade
que as transformações ocorrem em todos os aspectos da vida contemporânea. A celeridade das
mudanças é uma característica marcante da sociedade atual, impulsionada, principalmente, pelo
avanço tecnológico e pela globalização. Essas mudanças afetam todos os aspectos da vida
humana, desde a economia até a cultura e a identidade individual.
Na última abordagem, falaremos sobre "Adaptação e resistência às mudanças", considerando
que, diante desse panorama desafiador, é essencial refletir sobre nossa capacidade de
adaptação e nossa resistência às mudanças. A filosofia nos convida a questionar não apenas o
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que está mudando, mas também como estamos mudando e o que essas mudanças significam
para nossa compreensão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.
Todas essas reflexões estão na base do seu futuro trabalho docente, que pode ser bem
satisfatório, pois, quando a literatura é usada para respaldar a reflexão que precisamos para a
sala de aula, a aprendizagem dos nossos estudantes pode aumentar e muito.
Iniciaremos este tópico usando da abordagem clássica da filosofia pela indagação. Como a
filosofia pode nos ajudar a compreender e a trabalhar os valores do século XXI?
Vivemos em uma era de rápidas transformações, na qual questões, como justiça, beleza,
felicidade e existência, continuam sendo fundamentais, assim como eram na Antiguidade (Harari,
2018). Mas, como abordar esses conceitos em um mundo marcado pelo niilismo, onde, muitas
vezes, os valores tradicionais são questionados ou até mesmo rejeitados?
Primeiramente, entenderemos o que é niilismo. O termo vem do latim nihil, que significa "nada".
Na filosofia, o niilismo é muitas vezes associado a uma visão de mundo que nega a existência de
significado ou valor inerente à vida. Essa perspectiva ganhou força no início da era moderna e se
intensificou na era pós-moderna, com filósofos, como Friedrich Nietzsche, discutindo a "morte de
Deus" e o colapso dos sistemas de valores tradicionais.
Então, como podemos trabalhar os valores do século XXI nesse contexto niilista? Uma
abordagem é começar pelo questionamento crítico dos valores existentes. Isso não significa
rejeitar todos os valores, mas, sim, examinar quais deles ainda são relevantes para nós hoje e por
quê. Podemos nos perguntar: o que consideramos justo em nossa sociedade atual? O que é
considerado belo no mundo contemporâneo? Como definimos a felicidade na era digital?
Além disso, podemos explorar novos valores que emergem em resposta aos desafios do nosso
tempo. Por exemplo, questões, como sustentabilidade e justiça social, ganharam destaque,
refletindo uma preocupação crescente com o meio ambiente e a igualdade. Esses valores nos
convidam a repensar nosso relacionamento com o planeta e uns com os outros.
Até aqui, você pode acompanhar uma primeira abordagem para chamar a atenção do seu futuro
estudante diante da reflexão sobre o século XXI e o seu próprio destino como participante da
história na atualidade. Para tornar essas discussões mais concretas, podemos usar exemplos do
mundo real e incentivar os alunos a trazer suas próprias experiências e perspectivas. Isso pode
incluir debates em sala de aula, análise de casos atuais e até projetos que abordem questões
sociais relevantes (Gallo, 2022).
Assim, ensinar filosofia no século XXI envolve não apenas olhar para trás, para os filósofos
clássicos, mas também olhar ao redor e para frente, reconhecendo os desafios e as
oportunidades do nosso tempo. Ao fazê-lo, podemos ajudar os alunos a navegar no mundo
complexo e, muitas vezes, niilista em que vivemos, equipando-os com ferramentas para pensar
criticamente e agir eticamente.
Agora, indicamos como proposta a reflexão de uma segunda abordagem de ensino. Desenvolver
o tema das ações individuais que refletem na vivência coletiva, ou seja, trabalhar a ética e a
moral.
Vivemos em um período de transformações rápidas e constantes, impulsionadas pela tecnologia,
pela globalização e por outros fatores. Mas, como essas mudanças afetam nossa compreensão
de valores éticos, morais e a dignidade da vida?
Em primeiro lugar, consideraremos o impacto da tecnologia. A internet e as redes sociais
trouxeram uma avalanche de informações à nossa disposição. No entanto, esse acesso fácil e
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rápido nem sempre se traduz em conhecimento profundo. Estamos cercados por dados, mas,
muitas vezes, nos falta a capacidade de analisá-los criticamente e de extrair significados
relevantes. Como resultado, podemos nos encontrar em um estado de superficialidade, em que
as reflexões profundas são substituídas por opiniões rápidas e efêmeras (Harari, 2018).
Essa superficialidade também se reflete em nossas relações éticas e morais. Em um mundo que
valoriza a rapidez e a eficiência, as considerações éticas são relegadas a segundo plano.
Decisões são tomadas com base na conveniência ou no lucro, sem uma reflexão cuidadosa
sobre suas implicações morais. Como podemos cultivar uma ética que esteja à altura dos
desafios do nosso tempo, que exige que sejamos ágeis, mas também profundamente
conscientes e responsáveis?
Além disso, a celeridade das mudanças afeta a maneira como percebemos a dignidade da vida.
Em uma sociedade que prioriza o consumo e a acumulação de bens, corremos o risco de
esquecer o valor intrínseco de cada pessoa. A dignidade humana pode ser eclipsada pela busca
incessante por status e riqueza. Como podemos reafirmar a importância da dignidade humana
em um mundo que, muitas vezes, parece valorizar mais os objetos do que as pessoas?
Por fim, é importante refletir sobre a valorização dos bens materiais em detrimento da
convivência familiar e comunitária. A pressão para ter mais e ser mais pode levar ao isolamento
e à fragmentação das relações sociais. A família e a comunidade, que tradicionalmente são
espaços de suporte e solidariedade, podem ser enfraquecidas por essa ênfase no materialismo.
Como podemos resgatar o valor da convivência e do compartilhamento em uma sociedade que
promove o individualismo e a competição?
Para concluir, a celeridade das mudanças na sociedade atual nos apresenta vários desafios
éticos e morais. É crucial que, como docentes de filosofia, estejamos atentos a essas questões e
busquemos maneiras de navegar nesse mundo em constante transformação de forma ética e
consciente (Rocha, 2015). Agora, você tem gatilhos para abrir para um debate com seus
estudantes, então faça a experiência de questionar sua sala de aula: como vocês veem esses
desafios em suas próprias vidas e como acreditam que podemos enfrentá-los?

Vamos exercitar?
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Revisitaremos a problematização inicial, com o questionamento: como estudar filosofia? E mais:


como ensinar filosofia no século XXI?
Conforme os estudos, você pode acompanhar que a problematização apresentada envolveu duas
questões principais: como estudar e como ensinar filosofia no século XXI. Elas são fundamentais
porque, embora a filosofia trate de questões atemporais, como bem, justiça, beleza, existência,
felicidade e valores, o contexto em que vivemos hoje é muito diferente daquele em que viveram
os filósofos clássicos. Portanto, é necessário repensar as abordagens para estudar e ensinar
filosofia de maneira que faça sentido no mundo contemporâneo.
Para resolver essa problematização de forma didática, podemos seguir os caminhos sugeridos.
Começar o ensino de filosofia pelo questionamento crítico dos valores existentes é uma maneira
de abordar a filosofia no século XXI. Isso envolve examinar quais valores ainda são relevantes
hoje e por quê. Além disso, é importante explorar novos valores emergentes em resposta aos
desafios atuais, como sustentabilidade e justiça social. Depois, refletir com os estudantes sobre
como o contexto niilista e as rápidas transformações na sociedade atual afetam nossa
compreensão de valores éticos e morais. É crucial refletir sobre como a tecnologia, a
globalização e outros fatores influenciam nossa percepção da dignidade da vida, das relações
éticas e morais e do valor da convivência familiar e comunitária.
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O terceiro caminho sugerido para o ensino de filosofia é levar a turma da educação básica a
pensar sobre ética e moral na era digital. Tema interessante, não acha? Desenvolver o tema das
ações individuais que refletem na vivência coletiva é outra abordagem importante. Isso envolve
discutir como as mudanças impulsionadas pela tecnologia e pela globalização afetam nossa
compreensão de valores éticos e morais e como podemos cultivar uma ética que esteja à altura
dos desafios do nosso tempo.
Para relacionar a problematização com os conteúdos da aula, você pode destacar a importância
de abordar a filosofia de maneira crítica e contextualizada, considerando os desafios e as
oportunidades do século XXI. Isso envolve não apenas olhar para trás, para os filósofos
clássicos, mas também olhar ao redor e para frente, reconhecendo as questões relevantes do
nosso tempo.
Além disso, é importante incentivar os estudantes a refletirem sobre as possibilidades adicionais
de resolução. Isso pode incluir discussões em sala de aula, análise de casos atuais, projetos que
abordem questões sociais relevantes e debates sobre como enfrentar os desafios éticos e
morais em suas próprias vidas. Ao abordar a filosofia no século XXI dessa maneira, podemos
ajudar os alunos a navegar no mundo complexo em que vivemos, equipando-os com ferramentas
para pensar criticamente e agir eticamente.

Saiba mais
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Indicamos algumas leituras que te ajudarão a aprofundar os seus conhecimentos e a


compreender ainda mais os temas discutidos nesta aula:
Esta obra de apoio para professores revela caminhos para transformar a exibição de filmes na
sala de aula em um recurso rico, lúdico e extremamente sedutor. Descreve os procedimentos
básicos para analisar um filme e indica numerosas atividades práticas, com sugestões de títulos
e de abordagens por disciplina ou por temas transversais.
NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2011.
Essa obra é uma coletânea de importante contribuição para o debate acerca do ensino de
filosofia no atual cenário da educação brasileira. O objetivo dos autores é tornar o ensino de
filosofia nas escolas algo democrático, assim como mostrar a importância do acesso à
educação como um todo para todos. Além disso, eles buscam discutir as questões didáticas e
referentes à formação docente e sua importância para esse processo de transformação.
SANCHEZ, L.; SILVA, W. da. Filosofia presente: ensaios para novas transformações. São Paulo:
Paco e Littera, 2021.
O livro oferece reflexões sobre formação docente em Filosofia a partir do olhar daqueles que
estão diretamente envolvidos com o tema – docentes e discentes de cursos de licenciatura em
Filosofia de diferentes universidades brasileiras. Reúne textos dos organizadores e de
professores na forma de relatos de experiência, que são uma forma de expressão bastante usual
nas áreas de ensino e de educação, mas pouco encontrada nos textos de filosofia.
TOMAZETTI, E. M.; ALMEIDA JÚNIOR, J. B. de; VELASCO, P. D. N. Formação e experiências de
docência em filosofia. Porto Alegre: UFSM, 2022.

Referências
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GALLO, S. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas:
Papirus, 2022.
HARARI, Y. N. 21 lições para o século 21. São Paulo: Cia das Letras, 2018.
ROCHA, R. P. da. Ensino de filosofia e currículo. Porto Alegre: UFSM, 2015.

Aula 5
Revisão da unidade

Ponto de chegada
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Olá, estudante!
Durante as aulas, você estudou temas que versaram sobre a passagem de uma vida vazia para
uma vida com sentido, ou seja, falando em linguagem filosófica, significa que fazer filosofia é
realizar um processo investigativo reflexivo que seja crítico, rigoroso, profundo ou "radical",
abrangente, ou que busque totalidades referenciais significativas sobre ou com base naquelas
certas questões, às quais já nos referimos sem, ainda, indicá-las.
As reflexões nos levaram a contemplar a competência de abordar a metodologia do ensino de
filosofia para vencer a superficialidade cotidiana rumo a um pensamento crítico-reflexivo
profundo. A filosofia caracteriza-se e, portanto, diferencia-se das demais formas de
conhecimento pelo método e pelos procedimentos que utiliza para buscar as respostas.
Começamos nosso diálogo refletindo sobre o papel da filosofia ao longo da história das
atividades humanas. É inegável que ela é uma das maneiras de buscar entendimento e o
conhecimento que as pessoas criam para tentar compreender a realidade em que estão inseridas
e a si mesmas dentro dessa realidade. Existem diversas maneiras de adquirir conhecimento:
através do mito, da religião, da arte, do senso comum, da ciência e da filosofia. Em algumas
ocasiões, enfrentamos desafios para distinguir claramente cada uma delas e, principalmente,
para reconhecê-las como fontes de conhecimento que, unidas, podem colaborar conosco no
árduo processo de compreender tanto a nós mesmos quanto a realidade, auxiliando-nos a guiar
nossa conduta neste mesmo universo.
Conhecemos bem a importância de mantermos uma atenção constante em relação a todos os
tipos de conhecimento, já que corremos o risco de cometer erros ao utilizá-los, tanto na sua
criação quanto na sua aplicação. Pois bem, a Filosofia é uma das formas de conhecimento. Mas,
o que a caracteriza como igual e, principalmente, como diferente das demais? Você conheceu
que a filosofia se assemelha às demais áreas do saber, uma vez que consiste em um conjunto de
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métodos mentais ordenados que buscam fornecer respostas confiáveis para questões que
surgem na vida humana ou que são formuladas durante reflexões mais profundas. De certa
forma, poderíamos afirmar que a filosofia se distingue das demais modalidades de saber, pois se
dedica primordialmente a certos questionamentos, utilizando uma abordagem singular, com o
intuito de gerar respostas em constante abertura, uma vez que são constantemente
problematizadas.
Esperamos que o estudo sobre viver a autenticidade da vida a partir da reflexão filosófica seja o
início da prática do ensino de filosofia com argumentos sólidos, capazes de nos explicar, orientar
e referenciar em nossas vidas. Contudo, temos consciência de que não são infalíveis e, por isso,
buscamos constantemente revisá-los e questioná-los. Essa busca constante e desafiadora é o
que chamamos de investigação filosófica, e deve ser realizada por você, enquanto estudante de
Filosofia, e desenvolvida entre os seus futuros estudantes.

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Esta aula abordará a influência da filosofia na vida das pessoas e a prática do ensino de filosofia
através do projeto "Filosofia Viva". Você estudará como ela pode ser aplicada na vida cotidiana e
na sala de aula, tornando o aprendizado mais significativo e conectado com as experiências dos
estudantes. Ao final da aula, você terá compreendido a importância de abordar a filosofia de
forma viva e interativa, estimulando o pensamento crítico e a reflexão sobre valores sociais.
Convidamos você a acompanhar a leitura dos tópicos para explorar como a filosofia pode ser
uma ferramenta poderosa na formação de indivíduos reflexivos e críticos. Esse conteúdo é
importante para a sua prática profissional, pois proporciona estratégias para tornar o ensino de
filosofia mais relevante e envolvente, preparando os alunos para enfrentar os desafios da
sociedade contemporânea. Vamos começar!

É hora de praticar!
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Suponha que, enquanto estudante de Filosofia, você iniciou o seu estágio como professor
assistente em uma escola de ensino médio chamada "Luz do Saber". A escola é reconhecida por
seu programa inovador de ensino de humanidades, que busca integrar a filosofia à vida cotidiana
dos estudantes. Assim, você se encontra com ânimo para, diante dessa oportunidade, aplicar
seus conhecimentos filosóficos de forma prática e significativa.
Durante suas primeiras semanas de estágio, você observa que muitos estudantes parecem
desinteressados e desconectados das aulas de Filosofia. Inspirando-se no texto Os Instrumentos
do Filosofar, você percebe que, assim como o avô acalmou o neto contando uma história, poderá
usar narrativas e histórias filosóficas para envolver os estudantes e tornar a filosofia mais
acessível e relevante para eles.
Conversando com o seu professor supervisor de estágio, você propõe um projeto chamado
"Filosofia Viva", no qual as aulas de Filosofia são complementadas com sessões de contação de
histórias filosóficas, debates sobre dilemas éticos contemporâneos e atividades que estimulem a
reflexão sobre os valores que guiam a sociedade. Você acredita que, ao tornar a filosofia mais
viva e conectada à experiência dos estudantes, eles serão capazes de compreender melhor seu
papel na construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Suponha, ainda, que o seu professor supervisor de estágio solicitou um texto escrito por você,
para justificar a importância do seu projeto a partir das respostas às seguintes interrogações:
como as histórias e narrativas filosóficas podem ser utilizadas para estimular o interesse e a
participação dos estudantes nas aulas de Filosofia? De que maneira o ensino de filosofia pode
contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico e ético dos estudantes, ajudando-os a
compreender e questionar os valores que guiam a sociedade? Quais são as principais
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dificuldades enfrentadas na integração da filosofia à vida cotidiana dos estudantes, e como o


projeto "Filosofia Viva" pode superá-las?
Além de responder a essas indagações, você se propôs a escrever sobre quanto os estudantes
da educação básica e todas as pessoas de um modo geral necessitam da filosofia para serem
investigadoras, reflexivas, críticas, rigorosas, profundas e abrangentes.
Para iniciar o texto solicitado pelo professor, você realizou as seguintes definições:

Investigadoras: fundamental aprimorar a realização de investigações que levem a


respostas satisfatórias para as dúvidas que surgem.

Reflexivas: práticas reflexivas que nos ajudem a enxergar as coisas de outra maneira
e a evoluir constantemente em nossas ideias e conceitos. É importante dedicar
tempo para pensar e repensar, buscando sempre novos horizontes e perspectivas. A
reflexão nos permite aprimorar nosso pensamento crítico e nossa capacidade de
análise, tornando-nos mais conscientes e mais preparados para enfrentar os desafios
do mundo contemporâneo.

Críticas: capazes de pôr em crise seus "achados". Refere-se à sua capacidade de


questionar, analisar e avaliar de forma profunda as ideias, as crenças, os valores e as
práticas sociais, culturais e políticas. Claro que, para sermos críticos, é necessário
sermos reflexivos: temos de ser capazes e habituados a "rever" nossos pensamentos.
Só rever, porém, não basta: é preciso rever de maneira crítica. No entanto, podemos
acrescentar que "rever a sós", isto é, sozinhos, solitariamente, também não basta: é
necessário buscar a ajuda dos outros nos momentos de diálogo (não de polêmica),
em que os pontos de vista são expostos, trocados, avaliados e, se necessário,
revistos. É indispensável saber aliar as revisões solitárias com as revisões solidárias.
É assim que nós fazemos, ou nos tornamos nós mesmos: nas relações, de
preferência revistas e revisitadas, com a realidade, com os outros e nas relações com
nós mesmos. Somos sempre originalmente construídos com base nas relações que
estabelecemos.

Rigorosas: implica uma abordagem metódica e ordenada para o pensamento, que


busca evitar ambiguidades, generalizações precipitadas e erros de raciocínio.

Profundas: dispostas a não parar na superfície dos fatos, das coisas, das situações e,
por conseguinte, a não parar na superfície das análises relativas a tudo.

Abrangentes: isso significa ser imparcial e estar aberto a enxergar os acontecimentos,


os cenários, os objetos, sob diferentes perspectivas, analisando tudo de forma ampla
e contextualizada, considerando cada detalhe como parte de um todo maior. Tudo se
encaixa nos contextos interligados em que ocorrem.

Essa é uma grande aspiração ou carência do ser humano, e a filosofia é, principalmente, o tipo de
sabedoria que se dedica à elaboração, de forma bem fundamentada, dessas totalidades de
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referências significativas. No entanto, por ser crítica, está constantemente colocando suas
elaborações à prova. Por isso, o processo histórico da filosofia nunca cessa.
Na proposta de ensino da "Filosofia Viva", é fundamental que todos participem dessa produção
tão importante para suas vidas. Só assim as pessoas aprenderão a avaliar criticamente
quaisquer respostas às questões de fundo que se lhes apresentem e poderão participar da
produção das respostas que lhes sejam verdadeiramente convenientes ou que, ao menos, assim
lhes pareçam pelos argumentos produzidos.
Nessa proposta de projeto, os estudantes conhecerão que a filosofia, enquanto disciplina e
prática de pensamento, desempenha um papel fundamental na formação de indivíduos capazes
de investigar, refletir, criticar, ser rigorosos, profundos e abrangentes em sua compreensão do
mundo. Essas habilidades são essenciais não apenas para os estudantes da educação básica,
mas também para todas as pessoas em geral, pois elas são fundamentais para o
desenvolvimento de um pensamento autônomo e crítico, que é crucial para a participação ativa e
consciente na sociedade.
Além disso, a filosofia pode proporcionar aos estudantes ferramentas para analisar criticamente
as informações e as crenças que recebem, permitindo-lhes formar suas próprias opiniões de
maneira informada e fundamentada. Isso é particularmente importante em uma era marcada
pela abundância de informações e pela proliferação de discursos polarizados.
Portando, a filosofia é essencial para a formação de indivíduos investigadores, reflexivos, críticos,
rigorosos, profundos e abrangentes. Ao integrar a filosofia de forma eficaz nas práticas
pedagógicas da educação básica, nós, profissionais da educação, poderemos preparar os
estudantes para enfrentar os desafios da vida contemporânea com uma mentalidade
questionadora e uma abordagem crítica e reflexiva.

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Olá, receba as boas-vindas ao nosso podcast "Para que serve filosofia?". Neste episódio,
exploraremos a importância e o papel da filosofia em nossas vidas, indo além dos livros e das
salas de aula para descobrir como essa disciplina milenar pode enriquecer nossa compreensão
do mundo e de nós mesmos. Convidamos você, estudante, a mergulhar conosco nessa jornada
de questionamentos e reflexões. Junte-se a nós para desvendar o fascinante universo da filosofia
e sua relevância no século XXI.
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Diagrama: A filosofia e suas ramificações. Fonte: elaborada pelo autor.

Esse diagrama apresenta a filosofia como um campo central, com ramificações para áreas, como
pensamento crítico, reflexão ética, compreensão da existência, desenvolvimento do raciocínio
lógico e consciência cultural e social. Cada uma dessas áreas está interligada com a filosofia,
destacando sua relevância em diversos aspectos da vida e do conhecimento.

Referências
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AMARAL, M. F. do. Pedagogia das competências e ensino de filosofia: um estudo da proposta


curricular do estado de São Paulo a partir da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores
Associados, 2023. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/211357.
Acesso em: 26 maio 2024.
CESCON, E.; SANGALLI, I. J. (org.). Filosofia e o mundo da vida. Porto Alegre: Edipucs, 2021.
Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/208154. Acesso em: 26
maio 2024.
CRISOSTOMO, A. L. O ensino de filosofia a partir da BNCC. São Paulo: Saraiva, 2021.
,

Unidade 4
Aplicação prática de filosofia na educação básica

Aula 1
Pensando o senso crítico como atividade
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Olá, estudante! Bem-vindo!


Esta aula abordará a introdução e a problematização do ensino de filosofia na educação básica,
destacando a importância de escolher métodos adequados para engajar alunos do ensino
médio. Você estudará duas abordagens principais: o lugar da filosofia na educação básica e a
prática da filosofia por meio dos filósofos e suas obras, explorando como esses métodos podem
ser aplicados em sala de aula. Ao final da aula, você terá compreendido as vantagens e os
desafios de cada abordagem e como elas podem ser adaptadas para promover o pensamento
crítico e o interesse dos estudantes pela filosofia. Convidamos você a acompanhar a leitura dos
tópicos para uma compreensão mais profunda de como a filosofia pode ser ensinada de forma
eficaz no contexto escolar. Esse conteúdo é importante para a sua prática profissional, pois
proporciona ferramentas e insights para desenvolver um ensino de filosofia mais dinâmico e
relevante, capacitando você a inspirar e motivar seus estudantes na exploração de questões
filosóficas. Prepare-se para reflexão. Vamos começar!

Ponto de partida
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Qual é o ponto de partida? Essa é a questão mais comum no início de um novo ano letivo, sendo
a maior preocupação de todo professor de Filosofia, especialmente aquele que está começando.
Devo começar com o surgimento da filosofia na Grécia Antiga? Devo começar com Sócrates ou
com os pré-socráticos? Ou devo começar com os conceitos filosóficos, como a questão do Ser?
Ou seria melhor abordar a Ética? Aliás, quem nunca se deparou com essa dúvida? O problema é
que, por falta de orientação sobre o tema, o profissional acaba seguindo os métodos tradicionais
das universidades, que consistem em apresentar um texto filosófico em sala de aula para depois
discuti-lo ou debatê-lo com os estudantes. Isso pode ser adequado para o ensino superior, mas o
professor deve estar ciente de que esse não deve ser o único método de ensino de filosofia para
os estudantes do ensino médio (Crisostomo, 2021).
Ao lecionar Filosofia no ensino básico, é importante considerar que se está lidando com
indivíduos mais jovens (na maioria dos casos). Portanto, não se deve subestimar a importância
do conteúdo filosófico nem a abordagem que guiará esse público para alcançar seus objetivos. A
estratégia selecionada terá um impacto significativo nesse processo (Perissé, 2004)
Como docente de Filosofia, é importante conhecer quatro abordagens distintas que podem ser
adotadas, uma espécie "quatro caminhos para ensinar filosofia". São elas:

1. Por meio dos filósofos e das suas obras.


2. Por meio da história da filosofia.
3. Por meio das áreas da filosofia.
4. Por meio dos temas ou das questões filosóficas.
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O objeto de estudo é o mesmo: a filosofia. A dessemelhança é que cada um segue por caminhos
distintos. Por exemplo, inevitavelmente, todos os métodos deverão ensinar sobre os filósofos,
independentemente de ter uma via própria para isso. Sócrates, Platão e Aristóteles deverão ser
mencionados nos quatro caminhos, porém a diferença está no foco do método.
Nesta aula, você, como futuro docente, verá o primeiro dos quatro planejamentos de ensino
comentados anteriormente, correspondente ao método de ensino “por meio dos filósofos e das
suas obras”. O mais importante é saber que, ao eleger o seu método preferido, o profissional
deve entender que ele será o norte de seu planejamento. Todavia, isso não impede que esses
métodos possam ser mesclados durante o ano letivo.
Para exercitar os conhecimentos sobre o caminho do ensino de filosofia, temos a seguinte
problematização: um dos principais desafios no ensino de filosofia é encontrar um equilíbrio
entre a profundidade e a complexidade das questões filosóficas e a necessidade de torná-las
acessíveis e compreensíveis para os estudantes, especialmente aqueles que estão sendo
introduzidos ao componente curricular pela primeira vez. Como os professores podem simplificar
conceitos filosóficos sem perder a essência e a profundidade do pensamento filosófico?
Direcionamentos realizados, vamos aos estudos!

Vamos começar!

Iniciamos a reflexão sobre o papel da filosofia na escola e dialogaremos a respeito de algumas


práticas que podem ser usadas para repensar o sentido e o recorte deste componente no modelo
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vigente da educação básica. Entendemos a filosofia na escola como uma prática propriamente
filosófica. Portanto, trata-se de imaginar o professor de Filosofia, inicialmente, como um filósofo.
Como isso é possível?
Para começar, conheça uma característica anterior à disciplinarização desse campo de
conhecimento, em uma cena anedótica do período originário da filosofia e que guarda algo de
irônico e reminiscente até nossos dias. Conta a história que Tales de Mileto caminhava
observando o céu quando, de repente, caiu em um buraco. A cena teria provocado o riso de sua
criada, que presenciara o episódio. Ela ainda teria comentado, nas palavras de Platão, que Tales
estava ocupado observando o que se passava no céu e mal via o que estava próximo aos
próprios pés. O mesmo escárnio, complementa Platão, teria acompanhado todos os que se
ocuparam da filosofia (Amaral, 2023).
Como repensar a prática filosófica em sala de aula começando com essa ideia da queda em um
buraco? O buraco seria o momento em que as coisas mais importantes – e as mais corriqueiras,
são solapadas na base (conceitual, moral, cientifica), quando seus fundamentos parecem perder
o chão com a dúvida e a investigação permanentes. E de que maneira o próprio riso pode ser
profícuo para o filosofar? O riso seria o gesto provocador para iniciar a problematização daquilo
que parece bem fundamentado.
Diante desse contexto, o trabalho docente é notar e explorar como as competências para ensinar
extraem do conteúdo filosófico (autores e suas filosofias) os procedimentos críticos do
pensamento e a atitude do professor e do estudante engajados no filosofar. Logo, ensinar
filosofia por meio de competências nada mais é do que ensinar a filosofar.
Quando falamos em competências para ensinar, significa que cada docente é livre para escolher
a abordagem e o método que desejar. Cada método tem suas vantagens e desvantagens, logo
cabe ao professor estudá-los, testá-los e tentar aplicar o mais conveniente para seu alunado,
sempre, claro, respeitando o limite de exigência da faixa etária. Inclusive, o docente poderá
lecionar através de um método em um determinado ano e trocar de método no ano posterior
(exemplo: por meio de temas de filosofia na 1ª série de 2015 e por meio de história da filosofia
na 1ª série de 2016). Poderá também trabalhar por meio de um método em uma determinada
série e com outro método em outra série (por exemplo: filósofos e suas obras na 1ª série e áreas
da filosofia na 2ª série). Até mesmo os objetivos podem ser modificados entre um método e
outro. Por exemplo, ao analisar a obra Ética a Nicômaco (filósofos e suas obras), o professor
pode ter como objetivo clarear ou solucionar uma questão moral atual em vez de ilustrar toda a
ética de Aristóteles (área da filosofia). O ideal é que o profissional procure trabalhar com o
mesmo método durante todo ano e com as mesmas séries, porém pode-se considerar que a sala
de aula é o seu laboratório, isto é, erra-se e acerta-se até chegar a um resultado satisfatório
(Crisostomo, 2021).
O ensino de filosofia por meio dos filósofos e das suas obras também poderia ser intitulado
grandes mestres da filosofia. Ensinando filosofia através dos filósofos e de suas respectivas
obras, o professor deverá ser bastante criterioso, haja vista que são centenas de filósofos e,
provavelmente, não será possível ensinar sobre todos. Assim, concentre seu furor pedagógico
para os principais pensadores: os filósofos clássicos. Aliás, como afirmamos, o professor deve
ter em mente que está lecionando para o ensino médio, e não para a graduação. É claro que
dependerá do conteúdo e do objetivo que o professor quer focar. Por exemplo, o docente
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pretende lecionar sobre o Empirismo, porém lhe falta tempo, então, ele pode trabalhar o conceito
apenas em Locke e Hume e dispensar Bacon e Berkeley (Amaral, 2023).
O que devemos evitar é a supervalorização de um filósofo. Por exemplo, o professor tem só um
bimestre para falar dos filósofos modernos, então tenha cuidado para não se prolongar nos
filósofos do movimento iluminista. Da mesma forma, cuidado para não detalhar a biografia dos
filósofos, isto é, deve-se apenas mencionar aquilo que é importante para o seu entendimento. Se
o profissional acha que isso é importante, então deve procurar destacar os pontos cuja vida está
atrelada à sua filosofia e obra.
Naturalmente, não é necessário descrever e discutir todas as obras dos principais filósofos.
Bastam as principais, isto é, as clássicas do autor. Ainda assim, caso não tenha tempo (e não
terá mesmo!), sendo possível, divida a apreciação dessas obras para os anos seguintes. A leitura
desses filósofos pode ser enriquecida com textos de comentadores. E ainda: aproveite para
mencionar os filósofos brasileiros e sua contribuição para a cultura e a filosofia de nosso país.
O famoso Abbagnano (2007) nos apresenta, melhor dizendo, nos disponibiliza conteúdo acerca
de mais de cento e setenta filósofos. A coleção Os Pensadores, por sua vez, deixa-nos algumas
dezenas deles para serem trabalhados com nossos estudantes. Se o método enfatiza o
pensamento dos filósofos, acreditamos que, se o professor conseguir apresentar os clássicos, já
terá feito um bom trabalho.
E quanto à leitura das suas obras, procure selecionar as de fácil entendimento, pois a maioria dos
adolescentes tende a rejeitar os filósofos tediosos. Se tiver que ler, com certeza, não será por
prazer, mas por interesse dos preciosos "pontos” para compor a média final. Outra consideração
importante: procure, na medida do possível, trazer as obras para sala de aula, a fim de que os
estudantes se familiarizem com seus escritos. Lembre-se: só passamos a desgostar ou gostar
de algo a partir do momento que o conhecemos.
Particularmente, achamos esse método bastante interessante e proveitoso, até porque, se não
fossem os filósofos, o que seria da filosofia?

Vamos exercitar?
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Revisitaremos a problematização inicial: como os professores podem simplificar conceitos


filosóficos sem perder a essência e a profundidade do pensamento filosófico?
A resolução dessa problemática passa pela compreensão de que é possível simplificar conceitos
filosóficos sem perder a essência e a profundidade do pensamento filosófico através de métodos
didáticos que contextualizem os conceitos e os tornem relevantes para os estudantes. Isso
envolve conectar a filosofia com experiências cotidianas, utilizar exemplos práticos e promover
discussões que permitam aos alunos explorarem e aplicar os conceitos de maneira significativa.
Por exemplo, ao abordar o conceito de "justiça" de Platão, o professor pode iniciar uma
discussão sobre situações do cotidiano dos discentes nas quais a justiça é questionada, como
em casos de bullying na escola ou desigualdades sociais observadas em suas comunidades.
Outra estratégia é propor dilemas morais e éticos para discussão em grupo, incentivando os
estudantes a aplicarem conceitos filosóficos para resolver esses dilemas. Isso não apenas
facilita a compreensão dos conceitos, mas também desenvolve habilidades de pensamento
crítico e argumentação.
A problematização se relaciona com o desafio de tornar a filosofia acessível e atraente para os
alunos do ensino médio, que podem encontrar dificuldades em compreender conceitos
abstratos. Ao simplificar esses conceitos sem perder sua profundidade, os professores podem
estimular o interesse dos alunos e incentivá-los a refletir criticamente sobre questões filosóficas.
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Para resolver a problemática, é essencial que os professores sejam criativos em suas


abordagens de ensino, utilizando estratégias, como analogias, metáforas, histórias e atividades
interativas, que facilitam a compreensão dos conceitos filosóficos. Além disso, é importante
encorajar os estudantes a expressarem suas próprias ideias e questionamentos, criando um
ambiente de aprendizado colaborativo e reflexivo.
Possibilidades adicionais de resolução incluem a integração de recursos multimídia, como
vídeos e podcasts, que podem proporcionar uma abordagem mais dinâmica e visual aos
conceitos filosóficos. Outra estratégia é a utilização de projetos interdisciplinares que conectem
a filosofia com outras áreas do conhecimento, mostrando aos estudantes a aplicabilidade e a
relevância dos conceitos filosóficos em diferentes contextos.

Saiba mais

Para aprofundar os estudos dos temas referentes ao ensino de filosofia, segue uma relação de
títulos que podem ajudar nessa tarefa:
O livro aborda diferentes estratégias pedagógicas, incluindo o uso de recursos digitais, como
plataformas on-line, aplicativos e mídias sociais, para facilitar o engajamento dos estudantes e
promover uma aprendizagem mais significativa. O autor também destaca a relevância de adaptar
o ensino de filosofia às demandas contemporâneas, incentivando o pensamento crítico, a
reflexão autônoma e o diálogo construtivo.
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CRISOSTOMO, A. L. Novas metodologias e tecnologias para o ensino de filosofia. São Paulo:


Saraiva, 2021.
A obra propõe uma abordagem didática voltada especificamente para o ensino de filosofia no
nível médio. O autor discute a importância de uma metodologia que seja capaz de despertar o
interesse dos estudantes pela filosofia, promovendo o desenvolvimento do pensamento crítico e
reflexivo. Gallo apresenta estratégias pedagógicas que incluem a utilização de textos filosóficos,
debates, projetos interdisciplinares e atividades que estimulam a análise e a argumentação.
GALLO, S. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas:
Papirus, 2022.
O livro aborda questões fundamentais sobre a natureza da filosofia e sua relevância na educação
contemporânea. Kohan discute diferentes abordagens pedagógicas para o ensino de filosofia,
enfatizando a importância de uma prática que promova o pensamento crítico, a autonomia
intelectual e a capacidade de questionar.
KOHAN, W. Ensino de filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

Referências

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.


AMARAL, M. F. do. Pedagogia das competências e ensino de filosofia: um estudo da proposta
curricular do estado de São Paulo a partir da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores
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Associados, 2023. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/211357.


Acesso em: 26 maio 2024.
CRISOSTOMO, A. L. O ensino de filosofia a partir da BNCC. São Paulo: Saraiva, 2021.
PERISSÉ, G. A arte de ensinar. São Paulo: Saraiva, 2004.
ULMANN, R. A. et al. Filósofos - Clássicos da filosofia Vol. I: de Sócrates a Rousseau. Petrópolis:
Vozes, 2012.

Aula 2
Pensando o senso crítico como atividade

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Olá, estudante! Bem-vindo!


Esta aula abordará o método de ensino que integra a história da filosofia para engajar os
estudantes. Você estudará conceitos, como a recepção filosófica na educação básica. Ao final da
aula, você terá compreendido como a filosofia pode ser ensinada utilizando a história da filosofia
para responder às grandes perguntas sobre pensamento, ação e vida. Acompanhe esse conteúdo
importante, pois oferece estratégias para desenvolver o pensamento reflexivo em sala de aula.
Vamos começar!

Ponto de partida
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Começaremos nossa aula pesando o contexto da sala de aula, local em que você, futuro
professor, desenvolverá sua prática de ensino da filosofia. Dentre as várias abordagens para
ensinar filosofia, a abordagem por meio da história da filosofia é uma das que podemos utilizar
como forma de contextualizar e chamar a atenção dos estudantes. Mas, como podemos chamar
a atenção deles e mantê-la?
Para responder a essa pergunta, recorreremos ao conceito de recepção filosófica, um tema
desenvolvido pela autora Agnes Heller (Horn; Mendes, 2016). Para tratar da recepção filosófica, a
autora recorre ao conceito de atitude filosófica como resposta a um carecimento que ela
expressa em três perguntas radicais:

Como devo pensar?

Como devo agir?

Como devo viver?

A tentativa de responder a essas questões vitais é mediada pela recepção que as pessoas têm
da filosofia. Por isso, a filosofia é uma forma de objetivação por meio da qual ocorre a satisfação
de uma necessidade vital e da superação da vida cotidiana. A satisfação dessa necessidade
pode ser observada quando analisamos a recepção que os sujeitos têm da filosofia.
A partir da fundamentação exposta, a abordagem que intentamos é relacionar a prática
pedagógica em filosofia na educação básica por meio do ensino com a abordagem da história da
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filosofia, para buscar as resposta das perguntas (Como se deve pensar? Como se deve agir?
Como se deve viver?). Esses são os apontamentos iniciais; agora, vamos ao estudos. Como
problemática para esta aula, você deve refletir sobre como o professor pode trabalhar os
principais acontecimentos da história da filosofia, enfocando, obviamente, as ideias filosóficas?
Direcionamentos realizados, vamos aos estudos!

Vamos começar!

Para a autora, há muitos modos de recepção dessa ciência, que podem ser completas ou
parciais e caracterizam três tipos de receptores: estético, entendedor e filosófico. Ressaltamos, a
esse respeito, que toda forma de recepção é mediada pelo mundo vivido e pela forma como o
receptor se relaciona com ele.
Sobre a recepção filosófica dos estudantes do ensino médio, na concepção de Heller (1983), a
atitude filosófica é uma resposta unitária às perguntas radicais citadas anteriormente (Como se
deve pensar? Como se deve agir? Como se deve viver?) (Horn; Mendes, 2016). As respostas a
essas questões são produzidas à medida em que se define a filosofia como um sistema de
objetivações polifuncionais que buscam satisfazer os carecimentos radicais do ser humano,
como a compreensão das relações de subordinação e domínio existentes no interior da
sociedade da qual fazem parte todos os seres humanos, e não somente os filósofos
profissionais, leitores e exegetas dos textos clássicos de filosofia.
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A filosofia é uma forma de objetivação por meio da qual ocorre a satisfação de uma necessidade
e a superação da vida cotidiana. Ao objetivar-se, o ser humano rompe com a vida cotidiana,
assumindo-se como inteiramente humano, apropriando-se de um projeto, uma obra ou um ideal,
superando a heterogeneidade da vida cotidiana, concentrando todas as suas energias para
realizar, conscientemente e de forma autônoma, a atividade humana. Significa, por um lado, que
concentramos toda a atenção sobre uma única questão e suspendemos qualquer outra
atividade. A filosofia é, portanto, uma objetivação por excelência, pois é a crítica da realidade e
contribui para que o ser humano tenha consciência máxima de seus atos e de sua própria
essência (Horn; Mendes, 2016).
A satisfação dessa necessidade pode ser observada por meio da análise da recepção que os
estudantes fazem da filosofia. Para a autora, há muitos modos de recepção da filosofia, que
podem ser completas ou parciais, e caracterizam três tipos de receptores: estético, entendedor e
filosófico. Considerando que toda forma de recepção é mediada pelo vivido e pela maneira como
o receptor se relaciona com ele, toda forma de recepção da filosofia é sempre um mal-entendido,
pois são infinitas as formas de interpretação dos sistemas filosóficos.
Assim, toda recepção filosófica é uma compreensão a partir de um ponto de vista e uma
cosmovisão específica, o que não significa dizer que esse ponto de vista e a cosmovisão
específica sejam uma recepção filosófica. A aprendizagem filosófica não ocorre de modo
aleatório e da mesma forma para diferentes concepções de filosofia.
A recepção da filosofia realizada pelos sujeitos do ensino médio é mediada praxiologicamente
pelo trabalho docente, e o carecimento dessa ciência não surge de modo espontâneo, mas é
provocado e instigado pela mobilização e pela problematização docente. Certamente, reside aqui
o grande desafio docente no exercício da mediação praxiológica, que é o de instigar o
carecimento da filosofia para que o sujeito do ensino médio se coloque diante das perguntas
propostas pela filosofia radical.
A participação ativa dos estudantes no processo formativo, como agentes sociais reflexivos e
cidadãos efetivos, expressa um compromisso institucional e pessoal pela formação filosófica,
científica e cultural. Requer, além do amadurecimento didático-pedagógico coerente que vincula
diferentes pessoas para a consolidação de um projeto ao humano, em formação, uma percepção
histórico-social e uma autorreflexão crítica que o desperte para a consciência do meio em que se
encontra e do movimento político-cultural que o afeta (Crisostomo, 2021).
A tarefa da educação para uma formação integral é criar as condições de leitura e interpretação
crítico-reflexiva sobre obras clássicas que registram, a partir de seus autores, a compreensão dos
problemas inerentes às suas abordagens teórico-reflexiva e sociopolítica, sem perder de vista o
presente histórico que afeta os estudantes (Gallo, 2022). Por outro lado, a educação como
formação integral também traz consigo o proposto de instituir um diálogo maduro com o
divergente para fundamentar um movimento convergente de ações que garantam o
discernimento sobre ideologias hegemônicas que descaracterizam o humano na sociedade
regida pelo mercado. É tarefa da reflexão formativa resgatar a educação da irracionalidade
mercadológica, funcional e adaptativa que se abate sobre os jovens, especialmente do ensino
médio. Nesse sentido, a reflexão filosófica pode se fazer presente (e seria imensamente
importante que o fizesse) nas distintas etapas formativas que compõem o processo educacional,
desde as séries iniciais até a pós-graduação (Rocha, 2015).
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A construção do espaço formativo pelos agentes formadores vincula docentes e estudantes no


debate sobre a tarefa do pensar e do agir humanos no mundo. O desafio se amplia na medida em
que a ação reflexiva precisa extrapolar os limites da reprodução conceitual e a imitação ou
reprodução da realidade. Pensar exige abertura para a crítica, que constitui as bases da
autonomia racional e da emancipação subjetiva, face ao espírito massificado que se enraíza
objetivamente na cultura oficializada. O sistema político-econômico e sociocultural em que nos
encontramos se instituiu pelo anseio da dominação.
Recorrer à filosofia como uma atitude autorreflexiva para pensar sobre a sua importância e a sua
finalidade no processo educacional é uma condição que se torna determinante para os
estudantes do ensino médio do Brasil dessa segunda década do século XXI. Ela ajuda a superar
a letargia intelectual que as redes sociais e os meios de comunicação de massa desenvolvem na
cultura, atingindo diretamente a forma de pensar e agir de muitos de nossa geração. A atitude de
indicar aos estudantes como seres pensantes e atuantes no meio social (como inquiridores dos
fatos que são postos socialmente a nós), enquanto indivíduos e agentes políticos, revela o
sentido da construção da autonomia e da emancipação humana no mundo, concretamente
pensadas a partir do lugar social em que atuam como pessoas e como estudantes dedicados
(Trigo, 2013).
A prática do ensino da Filosofia por meio de sua história oferece uma abordagem rica e profunda
para entender como as ideias filosóficas evoluíram e foram influenciadas por variados contextos.
Ao adotar essa metodologia, os professores têm a oportunidade de não apenas transmitir o
conhecimento filosófico, mas também de demonstrar como a filosofia está intimamente ligada
às circunstâncias históricas e culturais. Esse método enfatiza a importância de entender a
filosofia como uma disciplina viva, que se desenvolve e muda com o tempo (Amaral, 2023).
Por meio da história da filosofia, o professor tem a oportunidade de mostrar toda a formação da
filosofia, a partir da Antiga Grécia até os dias atuais. Trabalhar por essa via tem a vantagem de
demonstrar uma evolução cronológica das ideias filosóficas, pelo menos as mais importantes.
Isso implica, certamente, conhecimento de História da parte do docente, pois envolve
contextualização política, social, econômica, cultural e religiosa da época em que o conteúdo
está se concentrando.
Neste método, o professor deve abordar todas as divisões históricas, a saber:
a) Idade Antiga.
b) Idade Média.
c) Idade Moderna.
d) Idade Contemporânea.
Em cada fase, o professor deve trabalhar os principais acontecimentos, enfocando, obviamente,
as ideias filosóficas. Vale destacar que não se trata de um ensino de História puramente, mas da
evolução ou do desenvolvimento da filosofia na história. Essa é a vantagem desta via. Neste
método, por ser mais extenso, o ideal é que se trabalhe de maneira conjunta com filósofos, obras,
doutrinas ou temas filosóficos. Algo que não podemos esquecer é que o conteúdo de história da
filosofia é abrangente, e nem mesmo em um curso de graduação, em quatro anos, os
professores conseguem trabalhar todos os conteúdos (Silva, 2023).
Desse modo, o professor pode já prever que não será possível trabalhar (ou esgotar)
determinado assunto em apenas um bimestre, ou semestre. Por exemplo, a história da filosofia
contemporânea é muito mais intensa e volumosa do que a história da filosofia medieval. Logo,
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deverá usar de bom senso para selecionar os melhores conteúdos e saber dividi-los nos quatro
bimestres, e até mesmo, quando possível, entre os três anos do ensino médio.
Para tornar esse ensino mais eficaz, o professor pode incorporar uma abordagem interdisciplinar,
conectando a Filosofia com outras áreas do conhecimento, como literatura, artes, ciências e
política. Por exemplo, ao explorar o Iluminismo na Idade Moderna, ele pode mostrar como as
ideias filosóficas de liberdade e razão estavam interligadas com a literatura da época e os
movimentos revolucionários. Essa conexão ajuda os estudantes a verem a filosofia não como um
conjunto isolado de ideias, mas como uma parte integral da vida humana e de sua constante
busca por entendimento e significado (Silva, 2023).
Além disso, a utilização de recursos visuais e tecnológicos pode enriquecer significativamente as
aulas de filosofia. Ferramentas, como mapas conceituais, cronologias interativas e plataformas
de realidade virtual, podem transformar a maneira como os conteúdos são apresentados,
tornando-os mais acessíveis e estimulantes para os estudantes. Esses recursos permitem que
eles visualizem as conexões entre diferentes filósofos, períodos e ideias, facilitando uma
compreensão mais profunda e integrada da matéria (Gallo, 2022).
Para aprofundar o engajamento dos alunos, é crucial que o professor fomente debates e
discussões em sala de aula. Encorajá-los a questionar e argumentar sobre as teorias filosóficas
promove habilidades críticas de pensamento e permite que eles se envolvam ativamente com o
material. Essa prática também pode incluir a simulação de diálogos ou debates históricos, em
que os estudantes assumem os papéis de filósofos específicos, defendendo suas ideias em um
contexto imaginado.
O professor também pode se beneficiar da implementação de métodos de avaliação
diversificados. Em vez de confiar apenas em provas escritas, a avaliação pode incluir projetos
criativos, como ensaios de opinião, apresentações orais e até mesmo blogs ou podcasts nos
quais os alunos exploram as ideias filosóficas. Essas formas de avaliação podem oferecer aos
discentes mais oportunidades para expressar seu entendimento e suas perspectivas individuais
sobre os temas estudados (Trigo, 2013)
Além das aulas teóricas, excursões educativas a locais de significado histórico ou filosófico
podem proporcionar aos estudantes uma experiência direta do contexto em que certas ideias
filosóficas foram desenvolvidas. Visitar museus, bibliotecas antigas ou locais históricos
relacionados a figuras filosóficas notáveis pode trazer uma nova dimensão ao aprendizado,
tornando-o mais palpável e impactante.
A integração de seminários e palestras com especialistas em filosofia e áreas correlatas pode
enriquecer ainda mais o currículo. Esses eventos proporcionam aos alunos a oportunidade de
ouvir e interagir com acadêmicos e profissionais, possibilitando uma compreensão mais ampla
das diversas correntes e debates filosóficos contemporâneos (Gallo, 2022).
Além de empreender uma abordagem histórica para o ensino da filosofia, outra questão
importante que deve ser levada em consideração é a formação continuada para o professor. É
importante que o professor de Filosofia permaneça atualizado com as pesquisas e discussões
contemporâneas na área. Isso não só enriquece sua capacidade de ensino, mas também garante
que o conteúdo oferecido aos estudantes seja o mais relevante e atual possível. A formação
contínua do professor, por meio de cursos, workshops e conferências, é essencial para manter a
qualidade e a profundidade do ensino de filosofia.
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Vamos exercitar?

Revisitando a problematização inicial: como o professor pode trabalhar os principais


acontecimentos da história da filosofia, enfocando, obviamente, as ideias filosóficas?
Alguns encaminhamentos para que você, futuro professor, possa ter fundamentos para a sua
prática do ensino de filosofia, para trabalhar efetivamente a história da filosofia por meio de suas
divisões históricas. O professor pode organizar o conteúdo destacando os principais filósofos,
obras e movimentos de cada período, sempre em diálogo com os contextos históricos, sociais e
culturais. Vejamos como isso pode ser aplicado em cada divisão histórica mencionada:
a) Idade Antiga: o foco pode estar nos filósofos pré-socráticos, que exploraram questões
cosmogônicas e metafísicas, como Tales, Anaxímenes, Heráclito, Sócrates, Platão e
Aristóteles, os quais formularam questões éticas, políticas e epistemológicas que ainda
são fundamentais.
b) Idade Média: fusão entre o pensamento grego antigo e as doutrinas cristãs, judaicas e
islâmicas. Filósofos, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, são essenciais para
entender a filosofia escolástica.
c) Idade Moderna: o Renascimento e o surgimento do método científico são cruciais aqui.
Pensadores, como Descartes, Spinoza e Leibniz, revolucionaram a maneira de pensar sobre
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o conhecimento e a existência.
d) Idade Contemporânea: nesta fase, o professor pode explorar o existencialismo de Sartre
e Heidegger, o pragmatismo de William James e o estruturalismo de Foucault. As duas
guerras mundiais, a Guerra Fria, a era digital e as questões relacionadas à bioética e à
tecnologia também podem ser abordadas, destacando filósofos contemporâneos, como
Peter Singer e Judith Butler.
Utilizando essas divisões históricas como guias, você, como futuro professor, pode criar um
panorama que não só informa sobre as ideias filosóficas mas também demonstra como elas são
uma resposta ou um reflexo dos desafios e das circunstâncias de seu tempo. Isso permite aos
estudantes uma compreensão mais profunda e contextualizada da filosofia, preparando-os para
aplicar esse pensamento crítico em suas próprias vidas e sociedades.

Saiba mais

Para aprofundar os estudo nos temas referentes ao ensino de filosofia, segue uma relação de
títulos que podem ajudar nessa tarefa:
O livro aborda diferentes estratégias pedagógicas, incluindo o uso de recursos digitais, como
plataformas on-line, aplicativos e mídias sociais, para facilitar o engajamento dos estudantes e
promover uma aprendizagem mais significativa. Crisostomo destaca também a relevância de
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adaptar o ensino de filosofia às demandas contemporâneas, incentivando o pensamento crítico,


a reflexão autônoma e o diálogo construtivo.
CRISOSTOMO, A. L. Novas metodologias e tecnologias para o ensino de filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2021.
A obra propõe uma abordagem didática voltada especificamente para o ensino de filosofia no
nível médio. O autor discute a importância de uma metodologia que seja capaz de despertar o
interesse dos estudantes pela filosofia, promovendo o desenvolvimento do pensamento crítico e
reflexivo. Gallo apresenta estratégias pedagógicas que incluem a utilização de textos filosóficos,
debates, projetos interdisciplinares e atividades que estimulam a análise e a argumentação.
GALLO, S. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas:
Papirus, 2022.
O livro aborda questões fundamentais sobre a natureza da filosofia e sua relevância na educação
contemporânea. Kohan discute diferentes abordagens pedagógicas para o ensino de filosofia,
enfatizando a importância de uma prática que promova o pensamento crítico, a autonomia
intelectual e a capacidade de questionar.
KOHAN, W. Ensino de filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

Referências

AMARAL, M. F. do. Pedagogia das competências e ensino de filosofia: um estudo da proposta


curricular do estado de São Paulo a partir da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores
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Associados, 2023. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/211357.


Acesso em: 26 maio 2024.
CRISOSTOMO, A. L. O ensino de filosofia a partir da BNCC. São Paulo: Saraiva, 2021.
FARIA, A. A. Educação em filosofia na contemporaneidade produção de materiais e sistemas de
ensino em filosofia. Curitiba: InterSaberes, 2023.
GALLO, S. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas:
Papirus, 2022.
HELLER, A. A Filosofia Radical. Tradução de: COUTINHO, C. N. São Paulo: Brasiliense, 1983.
HORN, G. B.; MENDES, A. A. P. Ensino de filosofia: método e recepção filosófica em Agnes Heller.
Educar em Revista, Curitiba, n. 62, out./dez. 2016, p. 279-294.
ROCHA, R. P. da. Ensino de filosofia e currículo. Porto Alegre: UFSM, 2015.
SILVA, K. F. da. Filosofia no ensino fundamental. Curitiba: InterSaberes, 2023.
TRIGO, L. G. G. Pensamento filosófico um enfoque educacional. Curitiba: InterSaberes, 2013.

Aula 3
Desenvolvendo a racionalidade

Videoaula

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Olá, estudante! Bem-vindo!


Esta aula trabalhará a abordagem prática da filosofia considerando as suas áreas de
conhecimento. Você verá que é possível ensinar filosofia por diferentes áreas, como Ética,
Lógica, Metafísica e Epistemologia, relacionadas com trabalhos de campo para analisar e
compreender questões do mundo real. Ao final da aula, você terá compreendido a importância do
ensino da filosofia para o desenvolvimento de habilidades críticas e reflexivas e como é possível
integrar a filosofia com outras disciplinas e aplicações práticas. Você será capaz de formar uma
base sólida de raciocínio crítico e competência argumentativa, essenciais em qualquer área
profissional – especialmente na docência. Vamos começar!

Ponto de partida
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Exploraremos um tema fundamental para o desenvolvimento do pensamento crítico e da


capacidade de argumentação: o desenvolvimento da racionalidade, que deve ser um dos
resultados da aprendizagem da prática filosófica. Abordaremos esse tema partindo da
perspectiva do ensino de filosofia, desde os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) até a
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e como essa disciplina pode ser ensinada através de
suas diversas áreas de conhecimento.
A Filosofia, como você sabe, é uma disciplina que estimula o questionamento e a reflexão crítica
sobre questões fundamentais da existência, do conhecimento, da moralidade, da estética, entre
outros. Os PCNs, implementados na década de 1990, já apontavam esse componente como uma
ferramenta essencial na formação de um pensamento crítico, capaz de articular diferentes
sistemas teóricos e conceituais. Essa perspectiva foi mantida e expandida com a introdução da
BNCC, na qual a Filosofia não apenas continua a ser uma disciplina essencial, mas também se
integra de maneira mais ampla nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, demonstrando seu
caráter transdisciplinar e a sua capacidade de dialogar com diferentes áreas do conhecimento.
Ensinando filosofia por meio de suas áreas de conhecimento, podemos oferecer aos estudantes
um rico panorama de como o pensamento filosófico se desenvolve e se aplica. Áreas, como
Ética, Lógica, Metafísica e Epistemologia, fornecem diversas lentes através das quais os
estudantes podem examinar e compreender o mundo. Cada área oferece um conjunto específico
de ferramentas e questões que ajudam a aprofundar o entendimento sobre variados aspectos da
realidade e do pensamento humano.
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Para tornar a filosofia ainda mais tangível e relevante, propomos uma problematização que será
central nas nossas discussões: como as áreas de conhecimento da filosofia podem ser
aplicadas em um trabalho de campo para analisar aspectos do mundo real? Esse
questionamento leva você a refletir sobre a filosofia para além das salas de aula e dos textos,
colocando-a em diálogo direto com o mundo que nos cerca. Ao realizar trabalhos de campo, os
estudantes têm a oportunidade de aplicar conceitos filosóficos para investigar e interpretar
situações e fenômenos reais, o que não só enriquece a experiência educacional como também
prepara você, estudante, para usar o pensamento filosófico em contextos práticos e diversos.
Assim, durante essa aula, você será encorajado a pensar sobre como essa abordagem conceitual
pode ser usada para entender melhor as dinâmicas sociais, culturais e políticas do nosso
ambiente. Esse enfoque aprofundará seu conhecimento filosófico e desenvolverá habilidades
valiosas que são aplicáveis em sua futura prática profissional como docente. Vamos aos
estudos!

Vamos começar!

Para continuarmos discutindo o tema da prática do ensino de filosofia, convidamos você a refletir
sobre o ensino de filosofia dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC). Todos os educadores sabem da importância do ensino de filosofia
para os adolescentes. Eles precisam de uma orientação. Aliás, para formarmos cidadãos críticos
e participativos, como recomendam os PCNs em diversos trechos, a Filosofia é a disciplina mais
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adequada. Esse documento governamental dedica um capítulo para os "Conhecimentos de


Filosofia" (Parte IV) e destina um papel primordial para a filosofia no ensino médio. Isso fica mais
claro quando se enfoca a interdisciplinaridade (PCNs, 1999). O conceito interdisciplinar passou a
apontar a necessidade de se ir além de uma prática científica meramente disciplinar, buscar as
conexões existentes entre todos os saberes e tentar abrir os canais de diálogo entre todas as
comunidades especializadas (La Salvia; Cunha Neto, 2021).
Nesse sentido, a Filosofia é transdisciplinar, como afirmam os PCNs:

Possuindo uma natureza transdisciplinar, a Filosofia pode cooperar decisivamente no


trabalho de articulação dos diversos sistemas teóricos e conceptuais curriculares,
quer seja oferecida como disciplina específica, quer, quando for o caso, esteja
inserida no currículo escolar sob a forma de atividades, projetos, programas de
estudo. (Brasil, 1999, p. 341)

Esse caráter interdisciplinar e formativo da filosofia já era reconhecido pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) através da antiga redação do art. 36, cuja norma mencionava
no seu §1º: "Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal
forma que ao final do Ensino Médio o educando demonstre [...] inciso III: domínio dos
conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania" (Brasil, 1996, [s.
p.]).
Podemos dizer que essa foi uma boa tentativa do legislador se não fosse a ineficácia da norma.
Todos nós sabemos que toda lei deve ser clara e eficaz no seu mandamento, pois, do contrário,
não será obedecida. A lei era "bonita e interessante" nas suas palavras, todavia não respondia a
algumas questões de organização, a saber: em quais séries será lecionada a filosofia? E quantos
tempos de aula? Temos profissionais qualificados suficientes? Essas eram as questões até
então.
Existia a norma, mas não havia a regulamentação dela. Outrossim, como podemos ver, tais
disciplinas deveriam existir, porém, pela antiga redação, não eram obrigatórias. Logo, o seu
cumprimento era desnecessário. Assim, as escolas a interpretavam como "recomendação". A
mudança só ocorreu em 2008, com a publicação da Lei nº 11.684, cuja norma deu nova redação
ao art. 36, que diz o seguinte: "O currículo do Ensino Médio observará o disposto na seção I deste
capítulo e as seguintes diretrizes: [...] IV - serão incluídas a Filosofia e Sociologia como
disciplinas obrigatórias em todas as séries do Ensino Médio" (Brasil, 2008, [s. p.]).
Desta forma, todos os colégios de todo país, seja particular ou público, deveriam incluir tais
disciplinas no seu currículo. Assim, a Filosofia (e a Sociologia) se tornou matéria constante do
currículo básico do 1º, do 2º e do 3º anos do ensino médio, qualquer seja a modalidade dessa
etapa (técnico, formação geral, magistério e ensino de jovens e adultos). Isso demonstra um
grande avanço na mentalidade dos conselheiros de educação e legisladores de nosso país. A
situação estava caminhando para a consolidação do ensino de filosofia, com a proposta de
aumentar a carga horária no ensino médio e incluí-la no ensino fundamental (Murcho, 2008). No
entanto, com a aprovação da Lei nº 13.415/2017, conhecida também como Novo Ensino Médio
(NEM), a Filosofia perdeu sua posição como disciplina, passando a ser incorporada em estudos e
práticas, e seus temas foram distribuídos e separados na área de conhecimento chamada
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA).
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Chegamos, então, à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na qual a Filosofia é “contemplada
enquanto componente curricular da área de Ciências Humanas e Sociais aplicadas. Sendo
conferida a filosofia, inclusive, a função de ampliação e aprofundamento da base conceitual e
construção de argumentos e raciocínios” (La Salvia; Cunha Neto, 2021, p. 1).
A BNCC na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – integrada por Filosofia, Geografia,
História e Sociologia – propõe a ampliação e o aprofundamento das aprendizagens essenciais
desenvolvidas até o 9º ano do ensino fundamental, sempre orientada para uma educação ética.
Entendendo-se ética como juízo de apreciação da conduta humana, necessária para o viver em
sociedade, e em cujas bases destacam-se as ideias de justiça, solidariedade e livre-arbítrio, essa
proposta tem como fundamento a compreensão e o reconhecimento das diferenças, o respeito
aos direitos humanos e à interculturalidade e o combate aos preconceitos (Brasil, 2018).
Conforme você viu, a evolução da inserção da Filosofia nos currículos educacionais brasileiros,
desde os PCNs até a BNCC, foi uma trajetória que revela uma contínua valorização da área, não
apenas como uma disciplina isolada, mas como uma essencial facilitadora do diálogo
interdisciplinar e transdisciplinar. Os PCNs já apontavam para a necessidade da Filosofia em
articular os diferentes sistemas teóricos presentes no currículo escolar, o que evidencia a
relevância da disciplina para uma formação holística e integrada. Ao posicionar a Filosofia desta
forma, os PCNs lançaram as bases para uma educação que valoriza o pensamento crítico e a
capacidade de integrar saberes diversos e habilidades fundamentais em um mundo cada vez
mais complexo e interconectado.
Com a implementação da BNCC, vê-se uma expansão e formalização desse papel
transdisciplinar da Filosofia, integrando-a à área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Essa
reconfiguração curricular reflete uma abordagem mais flexível e adaptativa em relação à inclusão
da Filosofia, em que a disciplina não é mais vista apenas como um conjunto de conteúdos a
serem transmitidos, mas como um meio de desenvolver competências essenciais, como a
construção de argumentos e o aprofundamento conceitual (Aspis, 2004). Tal abordagem é
decisiva para formar estudantes capazes de realizar julgamentos éticos e de apreciar a conduta
humana à luz de valores, como justiça e solidariedade, respondendo, assim, aos desafios
contemporâneos de uma sociedade plural e multifacetada.
Portanto, a transição dos PCNs para a BNCC não apenas preserva mas também amplia o papel
da filosofia no currículo escolar. Essa transição sugere uma prática de ensino que vai além da
transmissão de conhecimento, focando na formação de um pensamento crítico e reflexivo, que é
crucial para a cidadania ativa. Nesse sentido, a prática pedagógica em Filosofia deve ser
constantemente revisada e adaptada para atender a esses objetivos, utilizando metodologias
que fomentem a interação entre diferentes áreas do saber e que promovam uma educação
verdadeiramente transformadora. Essa evolução curricular demonstra um compromisso com a
formação de indivíduos não apenas instruídos, mas também conscientes de seu papel enquanto
agentes de mudança social.
A prática do ensino da filosofia por meio das suas áreas oferece uma abordagem
multidimensional, permitindo que os estudantes explorem diversos aspectos do pensamento
humano e suas aplicações práticas na vida cotidiana.
O ensino da filosofia, quando organizado por meio das diversas áreas que a compõem, como a
Ética, a Lógica, a Metafísica, a Epistemologia, entre outras, apresenta uma oportunidade rica para
os estudantes desenvolverem um pensamento crítico e compreensivo sobre o mundo. Cada área,
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com seus conteúdos e perguntas específicas, serve como um ponto de partida para investigar as
grandes questões da vida e do conhecimento humano. Por exemplo, a Ética convida os alunos a
refletirem sobre o que consideram certo e errado, enquanto a Epistemologia os desafia a pensar
sobre a natureza e os limites do conhecimento humano. Essa abordagem ajuda a tornar a
filosofia relevante para os estudantes, vinculando as discussões filosóficas a problemas e
situações reais (Crisostomo, 2021).
As áreas da filosofia são os campos de saber filosófico. Ao escolher esse método, o professor,
tal como na história da filosofia, deve ter uma visão panorâmica da disciplina e entender que
essas áreas foram sendo constituídas e desenvolvidas não somente no início da filosofia (na
Grécia Antiga), mas ao longo dos séculos, através do trabalho dos próprios filósofos e
historiadores da filosofia. Assim, esse método de ensino trabalha com as principais ramificações
da filosofia, a saber:
1. Metafísica.
2. Lógica.
3. Teoria do Conhecimento.
4. Filosofia da Ciência.
5. Ética.
6. Política.
7. Estética.
8. Filosofia da Linguagem.
Alguns autores ampliam essa divisão, acrescentando outros ramos, como a filosofia da história e
até a filosofia analítica, assim como a filosofia da educação e a filosofia do direito; entretanto,
particularmente, podem ser considerados como campos autônomos da filosofia, como também
partes específicas dela. Ademais, trata-se de ensino médio e, por esse motivo, não há
necessidade de trabalhar tais campos (Carvalho; Cornelli, 2013). Já a filosofia da linguagem tem
a sua peculiaridade. O seu objeto de estudo está muito ligado à lógica, e parece uma subdivisão
desta. Até o século passado, não era reconhecida como independente. Contudo, há algum tempo,
é consenso entre os autores que ela conquistou sua autonomia no conhecimento filosófico.
Nesta sugestão, o arranjo das áreas segue conforme a afinidade do professor. Por exemplo, a
Metafísica está sendo lecionada no mesmo bimestre que a Lógica; já a Política, junto com a
Ética. Assim, você, futuro professor, pode incluir nesta abordagem de ensino por áreas o campo
da "cultura", da “tecnologia”, da “informação” etc. Embora esses tópicos não se constituam uma
área filosófica específica, eles possuem sua importância, até porque são muito discutidos em
quase todos os campos da filosofia. Também, pode ser destacada a filosofia brasileira neste
método de ensino. Assim, os estudantes podem ter a oportunidade de aprender – pelo menos
um pouco – sobre o desenvolvimento do pensamento brasileiro e perceber que a tradição
europeia não é a única do universo filosófico (Carvalho; Cornelli, 2013).
Vale lembrar que as respectivas áreas podem ser deslocadas de sua ordem ou até mesmo de
período. A ordenação abaixo é apenas um modelo para orientação do trabalho do professor de
Filosofia, e não uma cartilha inflexível. Como afirmamos, a ordenação dependerá da realidade e
da avaliação de cada profissional.
Além disso, ao explorar as diferentes áreas da filosofia, os professores podem facilitar uma
aprendizagem interdisciplinar que conecta conceitos filosóficos com outras disciplinas. Por
exemplo, a relação entre Ética e Ciências Sociais pode ser explorada em discussões sobre justiça
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social e direitos humanos, enquanto a Lógica pode ser integrada ao ensino de Matemática e
Ciências, fortalecendo o raciocínio lógico dos alunos. Essa abordagem não só enriquece a
experiência educacional como também promove uma compreensão mais profunda e abrangente
dos temas estudados, preparando os estudantes para enfrentar complexidades em várias
esferas da vida (Santos, 2023).
Por fim, a prática de ensinar filosofia através de suas diferentes áreas permite que os estudantes
desenvolvam habilidades de argumentação e debate. Ao se debruçarem sobre diferentes
perspectivas e teorias filosóficas, eles aprendem a construir argumentos coerentes e bem
fundamentados, além de desenvolverem a habilidade de analisar criticamente os argumentos
dos outros. Isso é essencial não apenas para o desenvolvimento acadêmico, mas também para a
formação de cidadãos capazes de participar ativamente na sociedade, debatendo e defendendo
ideias com clareza, respeito e profundidade. Assim, o ensino da filosofia, articulado através de
suas várias áreas, não apenas educa os alunos em conteúdo, mas também os equipa com
ferramentas vitais para o engajamento civil e profissional.

Vamos exercitar?
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Revisitando a problematização inicial: como as áreas de conhecimento da filosofia podem ser


aplicadas em um trabalho de campo para analisar aspectos do mundo real? Para abordar a
problematização, as áreas de conhecimento da filosofia podem ser aplicadas em trabalhos de
campo para analisar aspectos do mundo real, pois possibilitam uma conexão direta entre teoria
filosófica e observação prática, levando os estudantes a aplicar conceitos abstratos a situações
e contextos concretos. Isso os encoraja a ver a filosofia não apenas como uma disciplina
acadêmica, mas como uma ferramenta viva para entender e interagir com o mundo ao seu redor.
A partir desta base, eles podem explorar questões éticas, políticas e epistemológicas dentro de
um contexto real, o que reforça seu aprendizado e desenvolve sua capacidade de pensamento
crítico e aplicação prática dos conhecimentos filosóficos.
A resolução dessa problemática passa pela compreensão de que o ensino da filosofia deve
ultrapassar os limites do teórico e alcançar o prático através de atividades que engajem os
estudantes no mundo exterior à sala de aula. Por exemplo, ao estudar ética, eles poderiam ser
levados a investigar dilemas morais em organizações locais, enquanto estudos em
epistemologia poderiam envolver análises de como o conhecimento é construído e disseminado
em museus ou centros científicos. Esse tipo de atividade não só solidifica a compreensão dos
conceitos filosóficos mas também torna-os relevantes para os estudantes, proporcionando uma
experiência de aprendizado mais integrada e significativa.
A problematização se relaciona diretamente com a necessidade de tornar a filosofia acessível e
aplicável, mostrando aos estudantes que as questões filosóficas não são apenas debates
acadêmicos, mas têm implicações reais e tangíveis. Ao conectar as áreas da filosofia com
investigações de campo, os discentes podem ver o impacto direto da filosofia em diversos
aspectos da sociedade, como políticas públicas, ética empresarial e debates culturais. Essa
conexão ajuda a despertar um interesse mais profundo pela disciplina e incentiva uma
abordagem mais ativa e participativa no estudo filosófico.
Para resolver a problemática, os educadores podem desenvolver programas de estudo que
incluam trabalhos de campo planejados, nos quais os estudantes possam observar e analisar
questões filosóficas no contexto do mundo real. Isso pode incluir visitas a tribunais, para
discussões sobre justiça, ou a empresas, para explorar questões de responsabilidade
corporativa. Através dessas experiências, os estudantes podem aprender a aplicar a teoria
filosófica a situações práticas, desenvolvendo habilidades de análise, síntese e argumentação.
Possibilidades adicionais de resolução incluem a criação de parcerias com organizações
comunitárias, ONGs e instituições culturais, em que os alunos podem ser envolvidos em projetos
que requerem uma compreensão filosófica, como desenvolvimento comunitário, sustentabilidade
e direitos humanos. Tais parcerias não só enriquecem a experiência educacional dos estudantes
mas também fortalecem a relevância social da filosofia, demonstrando sua aplicabilidade em
diversas áreas da vida cotidiana.

Saiba mais
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Para aprofundar os estudos nos temas referentes ao ensino de filosofia, segue uma relação de
títulos que podem ajudar nessa tarefa:
Este livro aborda técnicas e metodologias específicas para o ensino de filosofia no nível médio,
propondo formas de aproximar os estudantes dessa disciplina de maneira eficaz e engajadora.
Discute estratégias didáticas adaptadas às peculiaridades do pensamento filosófico, enfatizando
a importância da interação e do diálogo crítico em sala de aula. O autor explora também como a
filosofia pode contribuir significativamente para o desenvolvimento crítico e reflexivo dos
estudantes.
GALLO, S. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas:
Papirus, 2022.
A obra explora as relações entre o ensino de filosofia e a estruturação curricular nas escolas. O
autor analisa como a filosofia é integrada aos currículos escolares e discute os desafios e as
possibilidades dessa integração. O livro visa a uma compreensão mais ampla de como o ensino
de filosofia pode ser adaptado às demandas educacionais contemporâneas, sugerindo que a
filosofia é essencial para formar cidadãos conscientes e críticos.
ROCHA, R. P. da. Ensino de filosofia e currículo. Porto Alegre: UFSM, 2015.
A obra foca no ensino de filosofia para estudantes do ensino fundamental, argumentando a favor
de sua introdução precoce nas escolas. A autora discute métodos e práticas para ensinar
conceitos filosóficos básicos a jovens estudantes, com o objetivo de estimular o pensamento
crítico desde cedo. O livro oferece recursos didáticos e sugestões de atividades que podem ser
incorporadas ao currículo para enriquecer a experiência educacional dos alunos nesta fase
crucial de aprendizado.
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SILVA, K. F. da. Filosofia no ensino fundamental. Curitiba: InterSaberes, 2023.

Referências

ASPIS, R. P. L. O professor de filosofia: o ensino de filosofia no ensino médio como experiência


filosófica. Cad. CEDES, v. 24, n. 64, dez. 2004. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ccedes/a/kqstMxcRZhW8YgYzJtrY4Cm/?lang=pt. Acesso em: 18 abr.
2024.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 10 abr. 2024.
BRASIL. Lei nº 9.394, 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional. Brasília: Presidência da República, [2024]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 26 maio 2024.
BRASIL. Lei nº 11.684, de 2 de junho de 2008. Altera o art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a
Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. Brasília: Presidência da
República, [2024]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11684.htm#:~:text=L11684&text=LEI%20N%C2%BA%2011.684%2C%20DE%202,n
os%20curr%C3%ADculos%20do%20ensino%20m%C3%A9dio. Acesso em: 26 maio 2024.
BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis n º 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007,
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Fundamental

que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de


Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de
1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à
Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Brasília: Presidência da
República, [2024]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 10 abr. 2024.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação,
1999. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14Filosofia.pdf. Acesso em: 10
abr. 2024.
CARVALHO, M.; CORNELLI, G. (orgs.). Ensinar filosofia: volume 2. Cuiabá: Central de Texto, 2013.
Disponível em:
https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/401647/1/Filosofia%20e%20forma%C3%A7%C3
%A3o_Vol_2.pdf. Acesso em: 18 abr. 2024.
CRISOSTOMO, A. L. O ensino de filosofia a partir da BNCC. São Paulo: Saraiva, 2021.
LA SALVIA, A. L.; CUNHA NETO, O. O que pode o ensino de filosofia na BNCC?. REFilo – Revista
Digital de Ensino de Filosofia, v. 7, 2021. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/refilo/article/view/67379/45580. Acesso em: 18 abr. 2024.
MURCHO, D. A natureza da filosofia e o seu ensino. Educ. e Filos., Uberlândia, v. 22, n. 44, p. 79-99,
jul./dez. 2008. Disponível em:
https://www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/5397/1/ARTIGO_NaturezaFilosofiaEnsino.
pdf. Acesso em: 18 abr. 2024.
SANTOS, A. F. dos. O ensino da filosofia concebido especificamente para a arte de filosofar.
Revista FT, v. 120, n. 23, 2023. https://revistaft.com.br/o-ensino-da-filosofia-concebido-
especificamente-para-a-arte-de-filosofar/. Acesso em: 18 abr. 2024.

Aula 4
Avaliando as mudanças no contexto da aprendizagem de filosofia

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Esta aula abordará as transformações no ensino de filosofia, destacando o perfil do docente


moderno, a importância de métodos de ensino baseados em temas filosóficos e o uso inovador
de mapas mentais como ferramenta pedagógica. Você estudará estratégias do docente de
filosofia atuando como um facilitador de diálogo e um estimulador do pensamento crítico, além
das metodologias centradas em questões filosóficas e a aplicação de mapas mentais para
melhorar a compreensão e a análise dos estudantes. Ao final da aula, você terá compreendido
como essas inovações pedagógicas podem ser aplicadas para tornar o ensino de filosofia mais
dinâmico e relevante, adaptando-se às necessidades e realidades dos alunos contemporâneos.
Vamos começar!

Ponto de partida

Olá, estudante! Bem-vindo!


Nesta aula, falaremos sobre o perfil do docente de filosofia e das metodologias de ensino
centradas em temas ou questões filosóficas. Também, consideraremos novas estratégias de
ensino da filosofia pelo uso de mapas mentais. A filosofia, como disciplina, tem enfrentado
desafios significativos e oportunidades únicas no contexto educacional moderno. Com o advento
de novas tecnologias e metodologias pedagógicas, o ensino de filosofia também passou por
transformações importantes, as quais afetam diretamente como os estudantes interagem com
os conceitos filosóficos e como os professores transmitem seu conhecimento.
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Assim como nas demais áreas, o perfil do professor de Filosofia tem se diversificado. Antes
visto, principalmente, como um transmissor de conhecimento, o docente moderno é agora
também um facilitador de diálogo e um provocador de pensamento crítico. A capacidade de
engajar os estudantes em reflexões profundas e significativas é mais valorizada do que nunca,
exigindo dos docentes uma sólida formação filosófica combinada com habilidades pedagógicas
adaptativas.
Com as diversas mudanças do ensino médio, mover-se de uma abordagem estritamente
histórica para uma que é mais temática ou baseada em questões permite uma maior conexão
com os interesses e as realidades dos estudantes. Essa metodologia não só facilita a
compreensão dos princípios filosóficos, mas também promove a aplicação desses conceitos a
problemas contemporâneos, tornando o aprendizado mais relevante e dinâmico.
Você, como futuro docente, deve aprender a explorar a filosofia no contexto educacional
contemporâneo, e isso requer uma abordagem que é tanto reflexiva quanto pragmática. O
docente de Filosofia, ao adaptar-se a esse novo paradigma, deve estar preparado para não
apenas disseminar conhecimento, mas também para inspirar questionamentos e promover um
ambiente de aprendizado que estimule a curiosidade e o pensamento crítico. A introdução de
temas e questões filosóficas relevantes ajuda a contextualizar o aprendizado e a torná-lo mais
aplicável à vida dos estudantes, incentivando-os a ver a filosofia não como um conjunto estático
de conhecimentos, mas como uma ferramenta viva para compreender e transformar o mundo ao
seu redor.
Em paralelo, a avaliação da aprendizagem em filosofia também necessita de inovação. Os
métodos tradicionais de avaliação, como provas escritas e ensaios, estão sendo
complementados ou substituídos por técnicas que permitem aos estudantes demonstrarem seu
entendimento de maneiras mais visuais e integradas, como os mapas mentais. Esses mapas não
apenas ajudam os alunos a organizarem e relacionarem conceitos de maneira lógica, mas
também permitem que demonstrem sua capacidade de síntese e de pensamento crítico de
forma criativa e personalizada.
Diante das mudanças no ensino de filosofia e da introdução de novas metodologias de avaliação,
surge a seguinte problemática para nossa reflexão e discussão: como a implementação de
mapas mentais como ferramenta de avaliação pode influenciar a compreensão dos estudantes
sobre temas complexos da filosofia, melhorando sua capacidade de análise crítica e síntese?
Essa questão nos desafia a considerar as vantagens e as possíveis limitações dos mapas
mentais na avaliação da aprendizagem filosófica, especialmente em um ambiente educacional
que valoriza tanto a profundidade quanto a aplicabilidade do conhecimento. Vamos aos estudos!

Vamos começar!
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O estudo da filosofia no ensino médio depara-se com desafios elementares que podem se
apresentar como entraves à prática educativa. O primeiro deles é o fato de que muitos
professores, licenciados em Filosofia, não vivenciaram o processo formativo do qual serão agora
responsáveis. A Filosofia, bem como a Sociologia, sempre foram tratadas como disciplinas de
menor valor, frente à aplicabilidade acadêmica das demais áreas de conhecimento (Caes, 2017).
O segundo desafio é articular temas do estudo filosófico à realidade dos estudantes,
considerando o perfil deles: jovens, imersos no mundo tecnológico, habituados a receber e
processar uma quantidade imensa de informações cotidianamente. Enfim, é necessário
contextualizar e significar a filosofia para o público jovem, o qual não foi estimulado a pensar
nem tampouco desenvolver o senso crítico.
E o terceiro é realizar efetivamente o exercício do pensar, e não a mera retomada de um percurso
histórico que contextualiza o surgimento e a evolução da filosofia como forma de conhecimento,
mas que não se basta, pois não nutre a reflexão, não incentiva o pensar, não exercita o poder de
abstração e compreensão radical dos fenômenos e, consequentemente, da realidade.
As perspectivas surgem exatamente a partir dos desafios que nos são apresentados.
Percebemos, então, que os saberes da experiência, adquiridos no período escolar, são essenciais
à formação do docente. O educador, porém, que não dispõe desses saberes deve buscar
preencher sua lacuna de formação do nível médio nas oportunidades encontradas no nível
superior ou na formação continuada, em nível de pós-graduação, para que realmente possa fazer
uma articulação entre a teoria (leia-se temas de discussão) da filosofia e a prática docente
(aspectos didáticos-pedagógicos) (Kohan 2013).
Para a superação do segundo entrave, que é a contextualização dos temas à realidade social e
ao interesse dos estudantes, cabe ao professor a visão multirreferencial e a resiliência, ou seja, a
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capacidade de se adaptar às mudanças, atuar e conviver em um mundo que está em constante


transformação. Para Antunes (2004, p. 13), resiliência é “a capacidade de pessoas, grupos ou
comunidades não só de resistir às adversidades, mas de utilizá-las em seus processos de
desenvolvimento pessoal e crescimento social”. Essas são duas características essenciais para
o professor de filosofia que pretende realizar um trabalho de qualidade alinhado às demandas
dos estudantes e da sociedade contemporânea.
A terceira perspectiva diz respeito à criatividade docente. Segundo estudos de Amabile (1999), a
criatividade reúne três elementos básicos: domínio de conteúdo, habilidades criativas e
motivação intrínseca. Em outras palavras, podemos afirmar que o professor precisa dominar os
assuntos de sua área de formação, precisa ter pensamento flexível e estar aberto à experiência e,
sobretudo, estar ciente de sua responsabilidade como educador, formador de mentes. Esse
equilíbrio entre o conteúdo e a forma, entre os temas de discussão e as estratégias de
aprendizagem, resultará em um trabalho de real sentido para os estudantes.
As perspectivas aqui apresentadas nos remetem a questões referentes aos aspectos didáticos
do ensino de filosofia, o que nos leva à conclusão de que é preciso estabelecer critérios para o
desenvolvimento da disciplina de Filosofia. Dada a especificidade de seus temas de estudo e a
importância dos seus objetivos de formação, essa disciplina precisa apresentar uma articulação
harmoniosa entre conteúdo e forma.
O trabalho docente envolve duas dimensões essenciais: o conteúdo e a forma, o domínio de
conhecimentos que o professor precisa possuir e a habilidade prática de abordar tal conteúdo a
partir de uma metodologia adequada, cumprindo com um planejamento educacional que garanta
a consecução dos objetivos de formação e, consequentemente, a aprendizagem se efetive.
Sendo assim, espera-se conhecer o perfil adequado do professor de Filosofia, identificando seus
saberes, ou seja, reconhecendo as competências essenciais à prática educativa e a necessidade
da postura problematizadora do professor (Guimarães et al., 2014).
Na prática do professor problematizador, não deve haver limites para as possibilidades. Como
intermediador nesse processo de crescimento dos estudantes, o problema se torna fonte de
crescimento para eles, ressignificando conceitos ou criando outros. No caminho do ensino-
aprendizado, o professor problematizador contribui como mediador do conhecimento frente aos
seus alunos, provocando, bem como mostrando-lhes possibilidades de caminhos a serem
seguidos. Não apenas informando as regras e os conteúdos como detentor do conhecimento. A
necessidade de um educador compromissado com a busca da renovação tanto de conteúdo
como de atitudes criadoras tem sido uma constante. A busca da compreensão dessa
incompletude do homem faz com que busque o entendimento do seu aqui e agora com o mundo
(Pondé, 2019).
Compreendemos, enfim, que o professor ideal é mais que uma fonte ou provedor; é alguém que
guia em direção às fontes, um organizador das oportunidades de aprendizagem e um instrutor
das técnicas de investigação e reflexão. Seus conhecimentos não são ingredientes na educação
que se deve aprender e, depois, usar, senão como um catalizador que promove reações de
aprendizagem e desenvolvimento como consequência do encontro entre as capacidades
humanas e o caudal crescente de conhecimentos.
A prática do ensino da filosofia por meio de temas ou questões filosóficas é a quarta abordagem
para o ensino de filosofia que você, como futuro docente, precisa conhecer como abordagens
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distintas que podem ser adotadas e que entendemos como uma espécie de "caminhos para
ensinar filosofia" (Kohan, 2013).
Os jovens são atraídos por assuntos relacionados ao seu cotidiano. Os temas de seu interesse,
muitas vezes, são ignorados na escola. Os temas de filosofia podem oportunizar essa vivência
para nossos estudantes, sendo sempre bom lembrar que eles mantêm contato com a filosofia
somente na escola. Por isso, trabalhar com temas ou questões de filosofia requer sensatez e
atualidade. Não podemos dizer que o professor deva suspender as questões filosóficas clássicas
para trabalhar exclusividade as questões juvenis, como sexo, drogas e violência. No entanto, ele
pode, por exemplo, explorar a mitologia grega associando ao surgimento da filosofia e,
oportunamente, à superstição popular. Será uma aula muito atrativa, pois os estudantes são
fascinados por lendas, mitos e crendices (quem, não é?). Basta observar como filmes e livros
sobre o tema são produzidos e vendidos. Imagine criar um mapa mental de títulos de livros que
podem atrair os estudantes e serem utilizados para ensinar filosofia. Consideraremos obras que
mesclam elementos de mitologia, questões contemporâneas e filosofia de maneira acessível e
interessante (Pondé, 2019).
Uma das vantagens de temas ou questões filosóficas é que se pode aprofundar assuntos não
muito discutidos pela sociedade, como a ética profissional. Outra vantagem desse método é que
não se exige uma ordem cronológica dos conteúdos; inclusive, o docente pode variar de temas a
cada bimestre, dependendo do seu foco. Por exemplo, pode-se lecionar sobre a filosofia moral
epicurista, no Período Helênico, e pular para a "moral kantiana", no século XIX, na aula seguinte.
Trabalhar por esse método é uma forma tão livre que o professor pode, aleatoriamente, lecionar
para os estudantes sobre determinada área filosófica, ou algum filósofo clássico de sua
preferência, bem como determinado período histórico da filosofia. Por exemplo, pode explorar os
Diálogos de Platão, os quais são escritos antigos, mas, ao mesmo tempo, atuais. Pode-se
aproveitar esse ensejo e explorar temas do cotidiano dos adolescentes, como amor, corrupção,
sexualidade, morte, beleza, entre outros. E isso pode tomar várias aulas (Caes, 2017).
Nesse método, o professor pode analisar a filosofia de um grande pensador junto a um filósofo
menos conhecido. Pode-se, igualmente, criar e desenvolver temas filosóficos. Por exemplo, pode-
se debater a filosofia de Platão versus a filosofia de Nietzsche. Enfim, o mais importante é o fio
condutor, isto é, o tema ou a questão a ser trabalhada durante o período do planejamento
(bimestral, trimestral etc.) (Kohan, 2013).
A abordagem temática no ensino de filosofia permite que o educador integre diversos aspectos
do conhecimento filosófico de maneira que ressoe com as experiências e os interesses dos
estudantes. Por exemplo, ao discutir a ética na era digital, os alunos podem explorar questões
contemporâneas, como privacidade, vigilância e a ética da inteligência artificial. Isso não apenas
torna o aprendizado mais relevante, mas também ajuda a demonstrar como a filosofia se aplica
diretamente aos desafios modernos.
Além disso, essa abordagem flexível permite que o docente introduza filósofos que, talvez, não
sejam comumente abordados em um currículo tradicional. Por exemplo, pode-se incluir filósofos
africanos, asiáticos, ou mesmo contemporâneos que abordam questões de colonialismo, pós-
colonialismo e globalização. Essa inclusão enriquece o debate e promove uma compreensão
mais ampla e diversificada da filosofia (Gallo, 2022).
Outra possibilidade interessante é a utilização de formatos alternativos para explorar temas
filosóficos, como debates em classe, teatro filosófico ou projetos de escrita criativa. Esses
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métodos podem ser particularmente eficazes em engajar os estudantes e em estimular uma


participação mais ativa. Por exemplo, um projeto pode envolver os alunos escrevendo diálogos
no estilo de Platão sobre temas modernos, ou mesmo encenando julgamentos que explorem
dilemas éticos complexos (Crisostomo, 2021).
O uso de tecnologias modernas também pode ser um aliado poderoso nessa abordagem.
Ferramentas, como fóruns on-line e blogs, permitem que os estudantes discutam ideias
filosóficas fora do ambiente tradicional da sala de aula, promovendo uma contínua troca de
ideias que pode ser particularmente estimulante e enriquecedora (Crisostomo, 2021).
Em conclusão, ensinar filosofia através de temas ou questões filosóficas não apenas facilita o
engajamento dos estudantes, mas também promove uma aprendizagem mais dinâmica e
aplicada. Essa abordagem permite que eles vejam a filosofia como uma ferramenta viva e
relevante, capaz de abordar as questões mais prementes de suas vidas e da sociedade
contemporânea. Ao fazer isso, o ensino de filosofia torna-se não apenas educativo, mas também
profundamente transformador.

Vamos exercitar?
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Revisitando a problematização inicial: como a implementação de mapas mentais como


ferramenta de avaliação pode influenciar a compreensão dos estudantes sobre temas complexos
da filosofia, melhorando sua capacidade de análise crítica e síntese?
Para criar um mapa mental, pode-se escolher títulos de livros que podem atrair adolescentes e
utilizá-los para ensinar filosofia. Consideraremos obras que mesclam elementos de mitologia,
questões contemporâneas e filosofia de maneira acessível e interessante. Aqui estão algumas
sugestões organizadas por temas relevantes:

Mitologia e filosofia:

O Herói Perdido, de Rick Riordan, introduz elementos da mitologia grega e romana em um


contexto moderno, o que pode ser usado para discutir conceitos de heroísmo e destino.
Circe, de Madeline Miller, oferece uma reinterpretação rica da mitologia grega através da
perspectiva de uma deusa menor, abrindo caminhos para discussões sobre ética e a natureza
humana.

Filosofia e questões contemporâneas:

Extraordinário, de R. J. Palacio, explora temas de empatia, ética e justiça social, ideal para discutir
filosofia moral.
O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, proporciona uma discussão sobre culpa, redenção e o
conflito entre o bem e o mal.

Existencialismo e identidade:

O Estrangeiro, de Albert Camus, é um clássico do existencialismo, que trata de questões de


alienação e escolha, adequado para discussões mais profundas sobre o sentido da vida.
Quem é Você, Alasca?, de John Green, explora questões de perda e busca por significado, temas
centrais no existencialismo.

Utopias e distopias:

Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, permite discutir conceitos de sociedade, controle


governamental e resistência, ligados à filosofia política.
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, é uma leitura clássica para explorar ideias sobre
tecnologia, liberdade e ética.

Filosofia clássica em contextos modernos:

Sophie's World, de Jostein Gaarder, é uma introdução explícita à filosofia ocidental através de
uma narrativa envolvente e acessível, perfeita para jovens leitores.

Reflexões sobre a vida e a morte:

A Culpa é das Estrelas, de John Green, traz discussões sobre existencialismo, amor e
mortalidade, adequadas para conectar os adolescentes a tópicos filosóficos profundos.
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Esse mapa mental pode ser visualizado como um diagrama interativo, com cada livro ligando-se
a diferentes temas filosóficos, mostrando como eles podem ser aplicados em discussões em
sala de aula. Se precisar de mais detalhes sobre algum livro ou tema, uma boa pesquisa em sites
de comentários literários e de cinema pode ajudar.

Saiba mais

Para aprofundar os estudos nos temas referentes ao ensino de filosofia, segue uma relação de
títulos que podem ajudar nessa tarefa:
Apresenta ao leitor os mecanismos do universo da ficção e da vida à nossa volta. Como se fosse
pouco, o autor nos brinda com a formulação de uma teoria cinematográfica, marcada não só por
conceitos como energia, mas também pela paixão devotada ao cinema. Culminância de uma
trajetória de investigações, a obra nos mostra que a crítica pode ser uma forma de arte.
SOUZA, E. de. Os filmes pensam o mundo. Porto Alegre: ediPUCRS, 2021.
A obra baseia-se em pensadores contemporâneos e na obra do escritor Raymond Williams
(1921-1988) para analisar por que alguns produtos audiovisuais se sobressaem a outros. Para
tanto, enfoca o filme brasileiro Marighella e a série britânica Years and years. Cruzando as
narrativas desses produtos com o tempo em que suas histórias se inserem, o autor aponta
elementos residuais, dominantes e emergentes que devem ser levados em conta para o sucesso
das produções. Obra fundamental para profissionais e estudantes do audiovisual brasileiro
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(produtores, veículos, agências), profissionais de pesquisa de mercado e pesquisadores


acadêmicos.
MOURA, L. Como analisar filmes e séries na era do streaming. São Paulo: Summus, 2023.
O livro aborda diferentes estratégias pedagógicas, incluindo o uso de recursos digitais, como
plataformas on-line, aplicativos e mídias sociais, para facilitar o engajamento dos estudantes e
promover uma aprendizagem mais significativa. Crisostomo também destaca a relevância de
adaptar o ensino de filosofia às demandas contemporâneas, incentivando o pensamento crítico,
a reflexão autônoma e o diálogo construtivo.
CRISOSTOMO, A. L. Novas metodologias e tecnologias para o ensino de filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2021.

Referências

Amabile, T.M. (1999). Attributions of creativity: What are the consequences? Creativity Research
Journal, 8,423-426.
ANTUNES, C. Resiliência: a construção de uma nova pedagogia para uma escola pública de
qualidade. Petrópolis: Vozes, 2004
CAES, V. Tópicos Especiais de Filosofia Contemporânea. Curitiba: InterSaberes. 2017.
CRISOSTOMO, A. L. Novas metodologias e tecnologias para o ensino de filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2021.
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GALLO, S. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas:
Papirus, 2022.
GUIMARÃES, B. et al. Filosofia como esclarecimento. São Paulo: Autêntica, 2014.
KOHAN, W. (org.). Ensino de filosofia: perspectivas. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
PONDÉ, L. F. Filosofia do cotidiano: um pequeno tratado sobre questões menores. São Paulo:
Contexto, 2019.
BRASIL. Ministério da Educação - MEC. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) 2019.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ Acesso em: 10 Abr. 2024.
BRASIL. Lei 11.684. De 2 de junho de 2008. Disponível em:
https://legis.senado.leg.br/norma/582106 Acesso em: 10 Abr. 2024.
BRASIL. Lei 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm Acesso em: 10 Abr.
2024.
BRASIL. Ministério da Base Nacional Comum Curricular (MEC). Parâmetros curriculares
nacionais (PCNs). Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14Filosofia.pdf
Acesso em: 10 Abr. 2024.
CRISOSTOMO, Alessandro Lombardi. O ensino de filosofia a partir da BNCC. São Paulo: Saraiva,
2021. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/
LA SALVIA, André Luis; CUNHA NETO, Osvaldo. O que pode o ensino de filosofia na BNCC? REFilo
- Revista Digital de Ensino de Filosofia, v. 7, 2021. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/refilo/article/view/67379/45580 Acesso em: 18 Abr, 2024.
MURCHO, Desidério. A natureza da filosofia e o seu ensino. Educ. e Filos., Uberlândia, v. 22, n. 44,
p. 79-99, jul./dez. 2008. Disponível em:
https://www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/5397/1/ARTIGO_NaturezaFilosofiaEnsino.
pdf Acesso em: 18 Abr, 2024.
ASPIS, Renata Pereira Lima. O professor de filosofia: o ensino de filosofia no ensino médio como
experiência filosófica. Cad. CEDES, v.24, n.64, Dez. 2004. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ccedes/a/kqstMxcRZhW8YgYzJtrY4Cm/?lang=pt Acesso em: 18 Abr,
2024.
CARVALHO, Marcelo; CORNELLI, Gabriele (Orgs.). Ensinar filosofia: volume 2 Cuiabá, MT: Central
de Texto, 2013. Disponível em:
https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/401647/1/Filosofia%20e%20forma%C3%A7%C3
%A3o_Vol_2.pdf Acesso em: 18 Abr, 2024.
SANTOS, Alexandre Ferreira dos. O ensino da filosofia concebido especificamente para a arte de
filosofar. RevistaFT, v. 120, n. 23, 2023. https://revistaft.com.br/o-ensino-da-filosofia-concebido-
especificamente-para-a-arte-de-filosofar/ Acesso em: 18 Abr, 2024.

Aula 5
Revisão da unidade
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Ponto de chegada

Durante as aulas, você estudou temas que versaram sobre métodos para o ensino de filosofia
que contemplassem, acima de tudo, novas práticas docentes.
Esses fundamentos remetem à competência desta unidade, que é compreender o modo como a
filosofia se faz presente na prática vivencial do mundo da vida no contexto escolar. Assim,
pensar a filosofia, ao adentrar o contexto escolar, transcende a mera abstração teórica e torna-se
uma ferramenta vital para a compreensão do mundo da vida. No ambiente educacional, a prática
filosófica incentiva os estudantes a questionarem a realidade cotidiana, estimulando uma análise
crítica das suas experiências e interações. Esse exercício reflexivo permite que eles reconheçam
e descontruam preconceitos, desenvolvam uma visão crítica sobre a sociedade e, sobretudo,
cultivem a capacidade de diálogo e argumentação fundamentada. Assim, a Filosofia se
manifesta não apenas como um campo de estudo, mas também como uma prática vivencial que
enriquece o processo de formação integral dos indivíduos, preparando-os para atuarem de
maneira consciente e ética na vida escolar e além dela.
Ensinar requer tomar decisões, definir metas e objetivos a serem atingidos de acordo com as
diretrizes educacionais estabelecidas, levando em consideração as particularidades locais,
regionais e estaduais. No entanto, o mais importante é se comprometer com a formação
completa de indivíduos, visando à construção de uma sociedade equilibrada, em um mundo onde
a igualdade social, o respeito e a preservação da vida sejam valores reconhecidos e praticados
diariamente.
Analisando por esse ponto de vista, o ato de ensinar, mais especificamente ensinar filosofia, não
se resume apenas a transmitir conteúdos pré-definidos dentro dos limites curriculares do ensino
médio. Ensinar é uma ação política. Política porque está relacionada à vida em sociedade na
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polis. Polis era o termo utilizado pelos gregos antigos para se referir ao espaço público que
constituía a cidade-comunidade, o local onde os "cidadãos" buscavam uma vida melhor. Dessa
forma, a dimensão política da existência (Bios) para os antigos era construída através da
participação política, que requeria um sentido estético e ético das ações humanas na
preservação do espaço público, do ambiente compartilhado de melhoria da vida.
Diante dessas circunstâncias, surge um dos questionamentos fundamentais para o educador de
Filosofia no ensino médio: transmitir conhecimentos filosóficos ou estimular o pensamento
filosófico? O que exatamente envolve ensinar filosofia? Quais são as habilidades e os
conhecimentos necessários para incentivar o pensamento filosófico? Como a história da filosofia
ou a filosofia da história se relacionam com a escolha entre ensinar filosofia ou instigar o
pensamento filosófico? Existe uma distinção entre transmitir conhecimentos filosóficos e
estimular o pensamento filosófico?
Um ponto fundamental no exercício da docência em filosofia é que, nos dias atuais, estamos
imersos em um cenário educacional que adotou em todas as áreas do conhecimento a
linguagem do engajamento acadêmico na construção de um pensamento crítico. Vamos
compreender melhor a partir deste estudo.

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Esta aula abordará a influência da filosofia na vida das pessoas e a prática do ensino de filosofia
através do projeto "Filosofia Viva". Você estudará como a filosofia pode ser aplicada na vida
cotidiana e na sala de aula, tornando o aprendizado mais significativo e conectado com as
experiências dos estudantes. Ao final da aula, você terá compreendido a importância de abordar
a filosofia de forma viva e interativa, estimulando o pensamento crítico e a reflexão sobre valores
sociais. Convidamos você a acompanhar a leitura dos tópicos para explorar como a filosofia
pode ser uma ferramenta poderosa na formação de indivíduos reflexivos e críticos. Esse
conteúdo é importante para a sua prática profissional, pois proporciona estratégias para tornar o
ensino de filosofia mais relevante e envolvente, preparando os estudantes para enfrentar os
desafios da sociedade contemporânea. Vamos começar!

É hora de praticar!
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Prát. Pedag. Filosofia no Ensino


Fundamental

Questionamentos fundamentais para o educador de Filosofia no ensino médio são: transmitir


conhecimentos filosóficos ou estimular o pensamento filosófico? O que exatamente envolve
ensinar filosofia? Quais são as habilidades e os conhecimentos necessários para incentivar o
pensamento filosófico? Como a história da filosofia ou a filosofia da história se relacionam com a
escolha entre ensinar filosofia ou instigar o pensamento filosófico? Existe uma distinção entre
transmitir conhecimentos filosóficos e estimular o pensamento filosófico?
Perguntas como essas surgem ao refletirmos sobre o ensino de filosofia no ensino médio. Essas
questões se tornam mais significativas ao considerarmos as reflexões anteriores, que
destacaram a importância da filosofia para práticas interdisciplinares. Não é nosso objetivo
abordar exaustivamente os desdobramentos dessas questões, mas refletir sobre as escolhas e
decisões em relação ao ensino de filosofia e ao desafio de promover o pensamento filosófico.
Pensaremos a seguinte situação: você, recém-formado em Filosofia, assume seu primeiro
emprego como professor de Filosofia na Escola Modelo, uma instituição inovadora que preza
pela aplicação prática do conhecimento. A escola possui um ambiente diversificado, com
estudantes de várias origens sociais e culturais. Você enfrenta o desafio de tornar suas aulas de
Filosofia relevantes e engajadoras para uma classe do ensino médio, composta por estudantes
pouco familiarizados com o pensamento filosófico.
Embora entusiasmado, você percebe que seus alunos têm dificuldade em ver a relevância da
filosofia em suas vidas diárias. Assim, você precisará desenvolver métodos que não só os
envolvam, mas também os ajudem a aplicar o pensamento filosófico na análise de problemas
contemporâneos. Como utilizar temas atuais para despertar o interesse dos estudantes pela
filosofia? Quais estratégias pedagógicas empregar para facilitar a compreensão dos conceitos
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Fundamental

filosóficos? De que maneira encorajar os alunos a aplicar o pensamento filosófico na resolução


de problemas cotidianos?
Considerando uma estratégia pedagógica para solucionar esse problema, você decide integrar
temas contemporâneos, como tecnologia, mídia social e ética ambiental, em suas aulas,
utilizando métodos, como debates, estudos de caso e projetos grupais. A segunda estratégia é
introduzir a análise de textos filosóficos que se relacionam diretamente com esses temas,
incentivando os alunos a formularem suas próprias questões e soluções. Ao fazer isso, você não
só reforça a aplicabilidade da filosofia, mas também promove uma aprendizagem ativa e
participativa:
Em uma das aulas, você propõe um debate sobre "A ética na era digital". Prepara materiais que
incluem textos clássicos e contemporâneos sobre ética e tecnologia e organiza um debate em
sala. Os estudantes são encorajados a discutir e refletir sobre as implicações éticas das redes
sociais, privacidade de dados e inteligência artificial, aplicando os conceitos filosóficos
discutidos. Essa abordagem ajuda-os a conectar a filosofia com questões reais e atuais,
aumentando seu interesse e seu engajamento na disciplina.
Dessa forma, desenvolver a capacidade de reflexão requer o estímulo da criatividade diante dos
problemas fundamentais enfrentados pelas sociedades contemporâneas, ou seja, proporcionar
debates filosóficos para os estudantes do ensino médio, nos quais eles possam ser incentivados
a refletir, à luz do pensamento filosófico, sobre as oportunidades, as limitações, as contradições
e os paradoxos impostos pela atualidade às diferentes comunidades humanas e à humanidade
em geral. Nesse processo colaborativo de reflexão, entre professores e estudantes, é possível
perceber, a partir da perspectiva da filosofia da história, que as pessoas, em qualquer tempo e
lugar, têm sido desafiadas a enfrentar as questões apresentadas pelo mundo.
Por fim, é importante considerar que a vivência do pensamento como requisito para o ensino da
filosofia pode se tornar mais marcante ao envolver os estudantes em debates interdisciplinares,
proporcionando uma compreensão integrada dos saberes obtidos em diferentes áreas do
conhecimento. Dessa forma, o ensino da filosofia surge como uma oportunidade de questionar a
lógica utilitária que limita nossa percepção da vida, das relações e do mundo ao nosso redor.
O ensino de filosofia precisa estar receptivo a essas novas correntes. Assim como um filme
marcante, uma peça teatral impactante, um romance envolvente ou uma novela instigante, a aula
de Filosofia no ensino médio deve estar à altura da intensidade do pensamento e das
experiências dos jovens. Estar à altura significa elevar a si mesmo e ao próximo. Isso é
elegância. E esse objetivo não pode ser alcançado desconsiderando as potenciais habilidades e
virtudes dessa juventude que deseja explorar mais a fundo a vida. Além disso, assim como um
bom filme, a aula de Filosofia deve ser capaz de acolher o inesperado.

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Fundamental

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Para que serve filosofia?


Olá, receba as boas-vindas ao nosso podcast "A Filosofia e a Esperança". Neste episódio,
exploraremos um tema muito interessante ligado à filosofia: a filosofia como exercício da
esperança. Inspirado pelo legado de Paulo Freire, queremos que você pense o tema da
esperança, entendida não apenas como expectativa passiva, mas como uma ação ativa, que
pode transformar nossa abordagem ao ensinar e aprender filosofia. Convidamos você, estudante
a pensar como podemos usar a filosofia para enfrentar questões contemporâneas.

Olá, estudante.
Clique aqui e acesse sua atividade prática.
Texto BNCC de apoio
Bons estudos!

Assimile

Roteiro: métodos ou modos para ensinar filosofia


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Fundamental

ENSINAR FILOSOFIA: QUATRO MÉTODOS


1. POR MEIO DOS FILÓSOFOS E SUAS OBRAS
Exemplos de filósofos

Platão: A República.

Nietzsche: Assim Falou Zaratustra.

Objetivos

Conhecer a vida e o contexto dos filósofos.

Analisar obras-chave para entender suas teorias.

Metodologia

Leituras dirigidas das obras.

Discussões em sala sobre as ideias principais.

2. POR MEIO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA


Períodos importantes

Antiguidade.

Idade Média.

Modernidade.

Objetivos

Compreender a evolução do pensamento filosófico.

Identificar as influências históricas nas teorias.

Metodologia

Linha do tempo interativa.

Aulas temáticas focadas em períodos específicos.

3. POR MEIO DAS ÁREAS DA FILOSOFIA


Ramos principais

Ética.

Metafísica.
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Fundamental

Lógica.

Objetivos

Explorar questões fundamentais de cada área.

Aplicar conceitos às situações atuais.

Metodologia

Estudos de caso para ilustrar conceitos.

Projetos de pesquisa em grupos.

4. POR MEIO DOS TEMAS OU DAS QUESTÕES FILOSÓFICAS


Temas comuns

Liberdade versus Determinismo.

Inteligência artificial e ética.

Objetivos

Promover o debate crítico e reflexivo.

Relacionar temas filosóficos com o mundo atual.

Metodologia

Debates em sala.

Análises críticas de casos contemporâneos.

Este mapa mental textual oferece uma visão geral estruturada das diferentes abordagens para
ensinar filosofia, facilitando o entendimento de como cada método pode ser aplicado em um
contexto educacional.

Referências
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Fundamental

AMARAL, M. F. do. Pedagogia das competências e ensino de filosofia: um estudo da proposta


curricular do estado de São Paulo a partir da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores
Associados, 2023. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/211357.
Acesso em: 3 jun. 2024.
CESCON, E.; SANGALLI, I. J. (orgs.). Filosofia e o mundo da vida. Porto Alegre: EDIPUCS, 2021.
Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/208154. Acesso em: 3 jun.
2024.
CRISOSTOMO, A. L. O ensino de filosofia a partir da BNCC. São Paulo: Saraiva, 2021.

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