NATURALISMO
VITÓRIA CRISTINA, JULIA BENEVIDES, ISABELLA SOUSA,
GABRIELA MALVINO E SAMUEL SAID
Joana d'Arc, Pintura naturalista de Jules Bastien-Lepage, de 1879
O QUE É
O Naturalismo foi um movimento literário que surgiu no final do século XIX e é uma forma mais extrema
do Realismo. Ele queria mostrar a vida como ela realmente é, sem enfeites ou idealizações, usando um
olhar mais científico. Os escritores naturalistas acreditavam que o ser humano era muito influenciado
pelo ambiente em que vive, pela sua origem familiar e pelos instintos, quase como se fosse um
experimento da natureza. Por isso, suas histórias costumam focar em personagens marginalizados,
explorando temas como miséria, violência e desigualdade de forma bem detalhada e direta.
PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS
Determinismo: Os personagens são influenciados pelo
meio social, biológico e histórico, ou seja, seu destino é
determinado por fatores externos.
Cientificismo: Uso de teorias científicas (como a teoria de
Darwin) para explicar o comportamento humano.
Descrição detalhada: Narrativa com riqueza de detalhes
para tornar a obra mais realista.
Personagens marginalizados: Prostitutas, criminosos,
doentes mentais e operários são comuns, pois representam Les Foins
a face mais crua da sociedade. Por Jules Bastien-Lepage
1877
Instintos e animalização: Ênfase nos impulsos primitivos Pintura naturalista
do ser humano, muitas vezes comparando-o a um animal.
Crítica social: Denúncia das desigualdades e injustiças, com
uma visão muitas vezes pessimista da sociedade.
CONTEXTO HISTÓRICO
O Naturalismo foi um movimento literário que apareceu na Europa na
segunda metade do século XIX. Surgiu a partir do Realismo e pretendia
aplicar os princípios científicos à literatura. O objetivo era retratar a
realidade de forma objetiva e impessoal, destacando os aspetos mais
sombrios e deterministas da natureza humana.
O Naturalismo foi influenciado pelo positivismo de Auguste Comte,
pelo determinismo de Hippolyte Taine e pelas teorias evolucionistas
de Charles Darwin, que defendiam que o comportamento humano
era determinado por fatores biológicos, sociais e ambientais.
A industrialização trouxe consigo novas questões sociais, como a
exploração da classe trabalhadora, a pobreza e a marginalização. O
Naturalismo procurava mostrar a realidade de forma direta e sem
rodeios.
O Romantismo idealizava a realidade e focava-se no individualismo, e
isso fez com que perdesse popularidade. O Naturalismo surgiu como
uma reação a essa forma de pensar, procurando mostrar o mundo de
forma mais verdadeira e objetiva.
Papyrus or Paper Reed Growing in the Ciane, Sicily
Por Marianne North
1870
PRINCIPAIS AUTORES ESTRANGEIROS
Émile Zola (1840-1902)
Escritor francês considerado o principal representante do
Naturalismo. Suas obras, como "Germinal" (1885), abordam
questões sociais e a influência do meio sobre o indivíduo.
Eça de Queirós (1845-1900)
Escritor português que introduziu o Naturalismo em
Portugal com obras como "O Crime do Padre Amaro" (1875),
que critica a moralidade e o clero da época.
Thomas Hardy (1840-1928)
Novelista e poeta inglês conhecido por obras que retratam
o pessimismo e as dificuldades humanas, como "Tess of the
d'Urbervilles" (1891).
PRINCIPAIS AUTORES NACIONAIS
Aluísio Azevedo (1857-1913)
Considerado o precursor do Naturalismo no Brasil, suas obras "O
Mulato" (1881) e "O Cortiço" (1890) retratam questões sociais e
raciais, além das influências do meio sobre o indivíduo.
Adolfo Caminha (1867-1897)
Destacou-se por obras como "A Normalista" (1893) e "Bom-
Crioulo" (1895), esta última abordando temas como a
homossexualidade e a marginalização social.
Raul Pompeia (1863-1895)
Autor de "O Ateneu" (1888), romance que critica a sociedade
brasileira do final do século XIX através da vida em um
internato.
ALUÍSIO AZEVEDO
Um pouco sobre
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís, no
Maranhão, em 1857. Ele foi um dos principais escritores do
Naturalismo no Brasil.
Inicialmente se destacou como caricaturista e jornalista, mas se
tornou conhecido por seus romances que criticavam a sociedade
brasileira do século XIX.
Sua obra mais famosa, O Cortiço (1890), é um marco do Naturalismo
no país, explorando temas como determinismo, luta de classes,
racismo e exploração social. Outros romances notáveis incluem O
Mulato (1881), que denuncia o preconceito racial, e Casa de Pensão
(1884), que retrata a hipocrisia da sociedade carioca.
Azevedo também escreveu contos, crônicas e peças teatrais. No final
da vida, afastou-se da literatura e ingressou na carreira diplomática.
O MULATO (ALUÍSIO AZEVEDO)
Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do
Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia
sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões
faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham
reverberações de prata polida as folhas das árvores nem se mexiam
as carroças de água passavam ruidosamente a todo o instante,
abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e
pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher
as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva
alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos
faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.
O clima influencia o estado da cidade e das pessoas, tornando elas lentas
e cansadas. (Determinismo)
Podemos ver uma descrição bem detalhada e realista, fazendo quase com
que o leitor sinta o calor e o ambiente
Crítica social, a população negra aparece em atividades de trabalho e
serviço, reforçando a desigualdade da época
O MULATO (ALUÍSIO AZEVEDO)
A Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre. De um casebre
miserável, de porta e janela, ouviam-se gemer os armadores
enferrujados de uma rede e uma voz tísica e aflautada de mulher,
cantar em falsete a "gentil Carolina era bela", doutro lado da praça,
uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo,
seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas,
apregoava em tom muito arrastado e melancólico: Fígado, rins e
coração!" Era uma vendedeira de fatos de boi. As crianças nuas, com
as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhargas
maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada os
ventrezinhos amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam,
empinando papagaios de papel.
Personagens marginalizados, a vendedora e a mulher do
casebre mostram a realidade das classes mais pobres
Crítica social, descrição da desnutrição e das más condições
de vida das crianças pobres
O MULATO (ALUÍSIO AZEVEDO)
Um ou outro branco, levado pela necessidade de sair, atravessava a rua, suado
vermelho afogueado, à sombra de um enorme chapéu-de-sol. Os cães, estendidos
pelas calcadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos
irascíveis, mordiam o ar querendo morder os mosquitos. Ao longe, para as bandas
de São Pantaleão, ouvia-se apregoar: "Arroz de Veneza! Mangas!
Macajubas!" Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de
sabão da terra e aguardente. O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava
a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço.
Da, Praia de Santo Antônio enchiam toda a cidade os sons invariáveis e monótonos
de uma buzina, anunciando que os pescadores chegavam do mar; para lá
convergiam, apressadas e cheias de interesse, as peixeiras, quase todas negras,
muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as
tetas opulentas.
Animalização, o ser humano é comparado com um animal
Descrição detalhada e cienticismo, cada detalhe do ambiente é descrito
minuciosamente para criar um retrato fiel da realidade. as peixeiras são descritas de
forma exagerada, quase grotesca, destacando a observação minuciosa do autor sobre
as características físicas e sociais dos personagens
OBRIGADO