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10 Perguntas e Respostas Sobre o Trabalho Com As Relacoes Etnico Raciais Na Escola

O documento aborda a Lei 10.639, que torna obrigatória a inclusão da história e cultura africana e afro-brasileira na educação, destacando a importância da educação na luta contra o racismo. Apesar da lei estar em vigor desde 2003, a implementação ainda enfrenta desafios, como a falta de formação adequada dos professores e a necessidade de um trabalho contínuo ao longo do ano letivo. O texto também enfatiza a importância de abordar a temática de forma abrangente e não apenas em datas comemorativas, promovendo uma valorização real da identidade negra na educação.

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10 Perguntas e Respostas Sobre o Trabalho Com As Relacoes Etnico Raciais Na Escola

O documento aborda a Lei 10.639, que torna obrigatória a inclusão da história e cultura africana e afro-brasileira na educação, destacando a importância da educação na luta contra o racismo. Apesar da lei estar em vigor desde 2003, a implementação ainda enfrenta desafios, como a falta de formação adequada dos professores e a necessidade de um trabalho contínuo ao longo do ano letivo. O texto também enfatiza a importância de abordar a temática de forma abrangente e não apenas em datas comemorativas, promovendo uma valorização real da identidade negra na educação.

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perguntas-e-respostas-sobre-o-trabalho-com-as-relacoes-etnico-raciais-
na-escola
Publicado em NOVA ESCOLA 28 de Outubro | 2020

Lei 10.639

10 perguntas e respostas
sobre o trabalho com as
relações étnico-raciais na
escola
Obrigatória desde 2003, a história e cultura africana e afro-
brasileira ainda enfrenta dificuldades para chegar
efetivamente na escola. Tire suas dúvidas sobre a lei 10.639
Paula Salas

Crédito: Getty Images


A Educação é vista como uma chave importante para transformar o racismo
estrutural e cultural. Além de uma formação com olhar para a diversidade, a
escola pode contribuir muito para valorização da história e cultura africana e
afro-brasileiras – apagadas das páginas dos livros didáticos.
“As crianças negras aprendem sobre diversas culturas [na escola]. Elas precisam
também aprender sobre aquelas que são mais próximas delas. Dessa forma fica
mais fácil valorizar a identidade de cada um”, diz Larissa Reis, pedagoga, editora
do Museu Virtual de Contos Africanos e Itan (MUCAI), mestra e doutoranda em
Educação e Contemporaneidade na Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Como forma de garantir que a história, cultura e formação do povo negro nas
áreas social, econômica e política do Brasil fosse pautado na Educação Básica,
em 2003 foi aprovada a Lei 10.639 que institui a obrigatoriedade de tratar do
tema. No entanto, mesmo 17 anos após a implementação da lei, ainda há um
longo trabalho a ser feito neste campo. Confira 10 perguntas e respostas para
entender como o tema se articula com a escola:
1) O que é a Lei 10.639 de 2003?
Conhecida como a lei que estabelece a obrigatoriedade de incluir o trabalho
com história e cultura da África e afro-brasileira, a 10.639, de 2003, altera a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996.
Ela propõe “o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinentes à História do Brasil”.
Ela também prevê no calendário escolar a inclusão do dia 20 de novembro
como “Dia Nacional da Consciência Negra" – apesar disso, o tema não deve ser
tratado pontualmente na data ou mês comemorativo, mas durante todo o ano.
Em 2008, uma nova alteração feita pela lei 11645, passou a incluir também a
luta, cultura e formação dos povos indígenas no Brasil.
África e afrobrasilidades ainda mais presentes na escola
Entenda neste Nova Escola Box como reconhecer e valorizar a influência da
história e cultura africana na formação da sociedade brasileira
acesse o box

2) Por que a Lei 10.639 foi criada?


Desde o início dos grupos do movimento negro, a Educação foi vista como uma
área focal para combater o racismo e gerar transformação. “É um campo que
lida com a criação de uma memória, com a possibilidade de reforçar ou criar
outras histórias, pluralizar as histórias oficiais”, explica Tatiane Cosentino
Rodrigues, professora no Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas na
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenadora Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros na mesma instituição.
Por conta disso, os movimentos buscaram não apenas garantir o acesso à
Educação, mas também olharam para os conteúdos que eram ensinados.
Tatiane explica que desde as discussões para a construção da Constituição de
1988, os grupos tentaram incluir a pauta na legislação, mas foi apenas em 2003,
depois de muitas tentativas, que tiveram a conquista do marco legal para incluir
na LDB a obrigatoriedade de tratar na escola das relações étnico-raciais.
3) Como foi a implementação da Lei?
Entre o marco da lei (resultado de discussões promovidas pelos movimentos
sociais) e a sua implementação há um longo caminho de obstáculos
pedagógicos, de políticas públicas e que perpassam a cultura. Existe um
consenso pelos especialistas de que, apesar dos avanços na temática e na
obrigatoriedade da lei, ainda não existem práticas pedagógicas bem
consolidadas no Brasil.
A pesquisa Práticas Pedagógicas de Trabalho com Relações Étnico Raciais na
Escola na Perspectiva de Lei 10.639/2003, coordenada pelo Programa de Ações
Afirmativas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), traçou em 2009
um panorama das experiências por todo o país e apontou a falta de visibilidade
e acompanhamento das ações – dificuldade ainda presente.
Os especialistas também percebem a reprodução do racismo estrutural e
resistência na abordagem dessas temáticas na escola. Por isso, para ter uma
real transformação é preciso rever a cultura escolar, as relações, currículos e
práticas a partir do reconhecimento da diversidade como um direito. “O
educador precisa firmar o compromisso com o tema”, afirma Gina Vieira Ponte,
professora de Língua Portuguesa na rede do Distrito Federal.
4) Por que, apesar de ser Lei desde 2003, o tema
ainda não é amplamente trabalhado nas escolas?
A pesquisa Práticas Pedagógicas de Trabalho com Relações Étnico Raciais na
Escola na Perspectiva de Lei 10.639/2003 apontou que é a dificuldade de
implementação não se dá pelo desconhecimento da obrigatoriedade do
assunto, mas porque a forma de trabalhá-la ainda gera dúvidas.
“Os professores conhecem [a Lei 10.639], tem uma sensibilização sobre o tema,
mas isso não chega a uma modificação dos conteúdos”, explica Tatiane. Em
geral, foca-se na ideia de que não pode discriminar, mas não há um
aprofundamento. “Faltam materiais de referência para o docente e gerar um
conhecimento próximo da escola sobre esse assunto”.
Existem também relatos de professores que se sentem desconfortáveis de
tratar as relações étnico-raciais por não sentirem que têm domínio do tema.
Por isso, há ainda a necessidade de garantir esses conteúdos e discussões na
formação inicial e continuada dos professores.
“É essencial para que o professor possa criar esse ambiente de debate. O
educador bem preparado é capaz de problematizar, trazer temas, de criar
possibilidades e discussões muito mais interessantes para seus alunos”, afirma
Juarez Xavier, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e
coordenador do projeto Educando para Diversidade. Para preencher a lacuna
de formação é necessário incentivar um diálogo com diferentes áreas do
conhecimento, pesquisar materiais e práticas que possam ser boas referências
para a escola.
Juarez aponta também um problema da falta de apoio das políticas públicas
federais que engajem e incentivem um regime de colaboração entre secretarias
de Educação para levar a discussão de fato para as salas de aula.
"O nosso grande problema é a ausência de mecanismo institucional para o
cumprimento da política". Por falta desse trabalho amplo, há falta de práticas
sistemáticas – característica observada pela pesquisa de práticas pedagógicas
do tema. Ou seja, as iniciativas partem do interesse de um professor e não da
escola ou da rede, por isso são pontuais e pouco divulgadas.
5) É necessário criar um componente curricular
específico para tratar das relações étnico-raciais?
Não, a expectativa é de que o tema seja incluído de forma transversal nos
componentes curriculares trabalhados durante toda a Educação Básica, como
indica a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Antes disso, em 2004, foram criadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, que definem os princípios que devem orientar o trabalho
pedagógico neste tema e podem ajudar o professor e escolas a guiarem seus
trabalhos. Portanto, a temática não é um conteúdo extra, mas ele pode
aparecer dentro de outros que já estão previstos.
“Podem continuar a trabalhar o que está previsto, mas ampliar as fontes, ser
um conteúdo que alia. As possibilidades estão no dia a dia, na experiência das
crianças e na comunidade”, afirma Tatiane.
Por exemplo, é possível apresentar contos de tradição africana ou propor uma
brincadeira de Mancala, jogo de lógica muito popular em diversos países da
África, cujo objetivo é colocar o maior número possível de sementes em um dos
espaços do tabuleiro - saiba mais sobre o jogo.
Leve as brincadeiras africanas para sua turma
Conheça brincadeiras de origem africana e entenda como utilizá-las com sua
turma. No Nova Escola Box também disponibilizamos as regras de Mancala com
um tabuleiro para baixar.
acesse o box

6) Basta trabalhar relações étnico-raciais apenas na


época da Consciência Negra?
Não, espera-se que o trabalho seja desenvolvido no cotidiano da escola durante
todo o ano escolar. “Reduzir para novembro é reduzir a discussão. É preciso ser
uma prática diária de valorização e empoderamento. Não dá para falar de
negritude só em novembro”, afirma Larissa.
Leia também: Como apoiar e fortalecer o trabalho de professores negros
na escola

7) Como surgiu o Dia da Consciência Negra?


O Dia da Consciência Negra foi instituído a partir da lei 12.519, de 2011. A data
escolhida para celebrar foi o dia 20 de novembro, pois nesse dia é o aniversário
de morte de Zumbi dos Palmares (1655-1695), líder do Quilombo dos Palmares
e figura importante na luta contra a escravidão.
Há quem questione não ser o dia da abolição da escravatura (13 de maio), mas
a escolha do dia 20 de novembro está relacionada com garantir o protagonismo
dos negros na resistência e luta contra a escravidão. A data é resultado do
trabalho dos movimentos negros para evidenciar a desigualdade dos povos
negros na sociedade e é uma oportunidade para refletir e valorizar as
contribuições do povo africano para a formação da cultura brasileira. Antes
disso, a data já fazia parte do calendário escolar, como instituído na lei
10.630/2003.

Vídeo: https://www.youtube.com/embed/xKhoBezWnto
9 planos de aula sobre questões raciais para uso a distância
Confira sugestões para inspirar a preparação de aulas focadas nas culturas afro-
brasileiras e indígenas.
VEJA OS PLANOS

8) Quais são os pontos de atenção para não


trabalhar o tema de forma preconceituosa?
É preciso tomar cuidado para a Educação não reforçar o preconceito enraizado.
Por isso, é importante não tratar da história e cultura africana e afro-brasileira a
partir unicamente da história da escravidão.
"É um equívoco representar só o lugar da dor e do sofrimento, como se não
houvesse resistência ao longo desses 300 anos [de escravidão], porque reforça
uma ideia de que as pessoas negras são fracassadas", afirma a professora Gina.
Por isso, é indicado que exista uma formação dos professores específica para a
temática, que eles busquem boas referências para se aprofundarem na
discussão.
Garantir a escuta da experiência dos professores negros também pode ajudar.
“Essa temática tem que ser trabalhada por todos, mas eu acredito: quem já
vivenciou o racismo carrega uma história. Eles precisam ser ouvidos. Às vezes,
não são ouvidos nem pela escola”, afirma Larissa.
Ampliar as discussões para além da sua sala de aula, compartilhar as práticas e
experiências com outros professores, com a gestão escolar e as famílias são
caminhos que podem reunir propostas interessantes e alinhadas aos desafios
da comunidade em que está inserida. “Não é só o professor fazer sua prática
antirracista, mas compartilhar e ter esse diálogo de forma ampla”, diz a
pesquisadora da UNEB.
9) Por que algumas pessoas falam de ter
Consciência Humana e não Consciência Negra?
Para Tatiane, a negação ou resistência ao foco das experiências das populações
negras é um exemplo prático do racismo enraizado.
“A gente está falando de um país que tem na sua base histórica mais de 300
anos como um país escravocrata, deixamos de ser um país escravocrata há 130
anos”, afirma Gina.
Por isso, ainda é preciso garantir momentos específicos para pensar essas
relações e garantir a representatividade da história e cultura africana e afro-
brasileira. Vale reforçar, portanto, que a proposta de “Consciência Humana” é
mais uma forma de invisibilização das narrativas dos povos negros.
10) O que muda para trabalhar o tema no ensino
remoto?
Trabalhar as relações étnico-raciais não é um conteúdo extra (veja mais na
pergunta 5) e pode ser contemplado nos conteúdos priorizados para trabalhar
durante o ensino remoto.
É importante mesmo neste cenário não deixar de lado essas discussões. Um
caminho possível para fazer isso a distância é procurar materiais
disponibilizados on-line em sites temáticos, como é o caso do Museu Virtual de
Contos Africanos e Itan (Mucai).
Criado por Larissa, com o apoio de crianças do 4º ano, o site oferece propostas
pedagógicas a partir da perspectiva transdisciplinar utilizando contos
tradicionais africanos e afro-brasileiros. “Foi uma forma de valorizar a história a
partir de referências de contos orais trazidos pelos africanos que vieram”,
explica Larissa. Ela também conta que um dos maiores aprendizados, além de
conhecer as narrativas, foi ouvir as crianças e aprender com elas.
Os alunos relataram suas experiências de vida, conversaram sobre a beleza
negra, autoestima, autoimagem, tudo a partir da realidade e histórias delas.
Conheça também algumas propostas de práticas no NOVA ESCOLA BOX:
- África e afrobrasilidades ainda mais presentes na escola
- Leve as brincadeiras africanas para sua sala
- Todo cabelo é lindo: um projeto para valorizar as diferenças

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