Análise de indicadores de sustentabilidade da pesca artesanal no

munícipio de Alenquer, Pará, Brasil

Analysis of sustainability indicators of artisanal fishing in the municipality of

Alenquer, Pará, Brazil

Luiz Augusto Rodrigues Ferreira1

Keid Nolan Silva Sousa2

Resumo

Este trabalho objetivou avaliar, através da aplicação de um modelo de avaliação de

indicadores, a sustentabilidade da atividade pesqueira em Alenquer-Pa. O MESMIS
foi à base metodológica escolhida para desenvolvimento do estudo. A coleta de dados
foi feita entre os anos de 2012 a 2015. Foram realizadas entrevistas com pescadores
experientes na pesca e diretores da Colônia de Pescadores Artesanais Z-28. A analise
estatística analisou os parâmetros mínimos (MIN), médios (MED), desejáveis (P75),
máximos (MAX), Índice Relativo de Sustentabilidade Média (IRSM) e o Índice
Relativo de Sustentabilidade (IRS). Foram realizadas 602 entrevistas com pescadores e
pescadoras, desse total, 70% do sexo masculino (421 homens) e 30 % do sexo feminino
(181 mulheres). Os resultados foram compostos de 28 indicadores de sustentabilidade,
distribuídos nos atributos: Produtividade; Estabilidade, Resiliência e Confiabilidade;
Adaptabilidade; Equidade; Autogestão. A atividade pesqueira no município de Alenquer
apontou um IRSM de 47% e um IRS de 24%. Todas as variáveis distribuídas nos
diferentes atributos apresentaram abaixo do sustentável para a pesca. Os baixos valores
encontrados nos indicadores de sustentabilidade obtidos no estudo são reflexos da
falta de políticas públicas para o gerenciamento do setor pesqueiro nesse município. A
cooperação entre os diversos dos atores locais envolvidos na exploração dos recursos
pesqueiros, mais a gestão comunitária dos recursos comuns seguindo os princípios
de produtividade, estabilidade, resiliência e confiabilidade; adaptabilidade; equidade
e autogestão podem funcionar como um meio de prevenção para pesca com retorno
satisfatório para os pescadores nas dimensões social, econômica e ambiental.

Palavras-chave: Atividade pesqueira; MESMIS; Sustentabilidade pesqueira.

Abstract

The objective of this work was to evaluate the sustainability of the fishing activity in
Alenquer-Pa, through the application of an indicator evaluation model. MESMIS was
the methodological base chosen for the development of the study. Data collection was

1 Graduado em Engenharia da Pesca pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA); Mestre em Recursos Aquáticos
Continentais Amazônicos pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). E-mail: [email protected]
2 Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará (1997), mestrado (2000) e doutorado (2005)
em Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Professor Associado da
Universidade Federal do Oeste do Pará no Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA)
Recebido para publicação em 12/07/2019 e aceito em 07/12/2021
Ambiência Guarapuava (PR) v.16 n.1 p. 1022 - 1035 Jan/Mar 2020 ISSN 2175 - 9405
DOI:10.5935/ambiencia.2020.01.02
 done between the years of 2012 to 2015. Interviews were conducted with fishermen
experienced in fishing and directors of the Z-28 fishermen’s Colony. The statistical
analysis analyzed the minimum parameters (MIN), mean (MED), desirable (P75),
maximum (MAX), Relative Average Sustainability Index (IRSM) and Relative
Sustainability Index. A total of 602 interviews were carried out with fishermen
and fisherwoman, of which 70% were men (421 men) and 30% were women (181
women). The results were composed of 28 sustainability indicators, distributed in
attributes: Productivity; Stability, Resilience and Reliability; Adaptability; Equity;
Self-management. The fishing activity in the Alenquer municipality showed an IRSM
of 47% and an IRS of 24%. All the variables distributed in the different attributes
presented themselves below the sustainable for the fishing. The low values found in
the sustainability indicators obtained in this study, are reflections of the lack of public
policies for the management of the fishing sector in this municipality. Cooperation
between the various local actors involved in the exploitation of fishery resources, more
community management of common resources, following the principles of productivity,
stability, resilience and reliability; adaptability; equity and self-management can function
as a means of preventing fishing with a satisfactory return for fishermen in the social,
economic and environmental dimensions.

Keywords: Fishing activity; MESMIS; Fishery sustainability;

INTRODUÇÃO

A sustentabilidade da pesca é uma expressão largamente utilizada quando se fala de

exploração dos recursos pesqueiros na Amazônia (ISAAC; ALMEIDA, 2011). Esse termo
surge da necessidade de manter a produção pesqueira através do tempo, superando as tensões
ecológicas e as pressões socioeconômicas (COTRIN, 2017). Apesar da importância da manutenção
dos estoques pesqueiros para a população amazônica, poucas são as informações a respeito das
potencialidades e as vulnerabilidades dessa atividade (ISAAC; RUFFINO; MELLO, 2000).
Nesse contexto, torna-se dificultoso medidas de gestão para pesca.
Na mesorregião do Baixo Amazonas, onde município de Alenquer está inserido, conta
com um referencial teórico sobre a atividade pesqueira retratando diferentes aspectos, tais
como: características da atividade pesqueira, antropologia da pesca, organização dos pescadores
artesanais, entre outros (BARTHEM; FABRÉ, 2004). Nessa região, a pesca passa por um processo
de expansão e intensificação em nível regional, em termos do recurso e do perfil do pescador
(ALMEIDA et al., 2009; SOUZA; FRAXE, 2010). Porém, essa situação é pouco diagnosticada e
invariavelmente subavaliada em estudos disciplinares sobre o tema (RUFFINO, 2008; SOUZA;
FREITAS, 2009; SANTOS; FERREIRA; VAL, 2014).
Os pescadores artesanais estão inseridos em uma dinâmica ecossistema/território que vem
sofrendo alterações ambientais e influências das externalidades conflitantes como fazendeiros,
grileiros, turistas, pescadores amadores, políticos e outros (COTRIM, 2009). Para entender essa
dinâmica ambiental, as ciências pesqueiras vêm buscando exaustivamente, por meio das mais
variadas técnicas de análise, subsidiar as tomadas de decisão para promover o uso sustentável
dos recursos pesqueiros (FAO, 2016). E isso, somente é alcançado se a atividade pesqueira for

FERREIRA, L. A. R; SOUSA, K. N. S. 1023

compreendida à luz de uma concepção embasada no tripé Homem, Recurso pesqueiro e Ambiente
(HILBORN; WALTERS, 1992).
Masera; Astier; Lopez-Ridaura (1999) descrevem a necessidade da composição de alguns
atributos para se estabelecer uma situação de sustentabilidade de um sistema, como é o caso da
pesca artesanal, os quais são: produtividade, a qual refere-se à propriedade de gerar bens e serviços
e representa os ganhos, os rendimentos em um determinado período de tempo; estabilidade, que
é entendida como a propriedade de manter os níveis de bens, proporcionados ao longo do tempo
em uma situação não decrescente; resiliência, a qual é a capacidade do sistema oscilar dentro de
limites e retornar ao seu estado original logo após a ocorrência da perturbação; confiabilidade,
referindo-se à capacidade de possuir e manter os benefícios desejados em níveis próximos ao gerado
em condições normais; adaptabilidade, está relacionada à flexibilidade do sistema, caracterizada
pelas flutuações de suas variáveis, proporcionando maior sustentabilidade que as atitudes de
simples resistência; equidade: é entendida como a capacidade do sistema de distribuir de forma
equânime, os benefícios, produtos e serviços gerados, garantindo padrões mínimos de qualidade
de vida; autogestão: é a capacidade de regular e controlar suas relações com a situação exterior.
Uma das formas de avaliar a dinâmica pesqueira é através do uso de indicadores, os quais
funcionam como instrumentos que permitem mensurar as modificações nas características de
um determinado sistema e avaliam a sustentabilidade em diferentes padrões. Para tanto, torna-se
necessário definir padrões, parâmetros ou descritores e indicadores que mensurem, monitorem e
avaliem a sustentabilidade (ASTIER et al., 2002; DEPONTI; ECKERT; AZAMBUJA, 2002;
PICCOLO et al., 2015).
A ideia de avaliar a sustentabilidade através do uso de indicadores surgiu na Conferência
Mundial sobre o Meio Ambiente (Rio-92), conforme registra seu documento final, a Agenda 21. A
proposta era definir padrões sustentáveis de desenvolvimento que considerem aspectos ambientais,
econômicos, sociais, éticos, culturais, etc. A questão central está no fato da compreensão do que
é e como medir sustentabilidade, sendo que essa expressão exige um complemento, portanto a
questão que segue é: sustentabilidade do quê, onde e por quê? (DEPONTI, 2002).
O uso de indicadores de sustentabilidade auxiliam na transmissão de informações sobre
complexos processos, eventos ou tendências (ABBOT; GUIJT, 1999). Por essas características,
ajudam a conseguir respostas concisas em relação à questão que está sendo monitorada
(KRAHENHOFER, 2001; GLIESSMAN, 2005; PASQUALOTTO; GODOY; VERONA,
2013). Com isso, permitirá definir estratégias de manejo adaptativo, que confiram em um sistema
de equilíbrio entre sustentabilidade ecológica, econômica e social (BOCKSTALLER, 1997;
FERREIRA et al., 2012; EVANGELISTA-BARRETO et al., 2014).
Nos últimos anos foram criadas novas ferramentas (modelos) capazes de transformar
noções teóricas de sustentabilidade em conceitos práticos. Esses modelos de apoio à decisão são
essenciais para orientar sistemas produtivos, a exemplo da pesca artesanal, do extrativismo e da
agricultura, para a sustentabilidade (HANSEN, 1996). Atualmente, um dos métodos que está
sendo usado em vários países latino-americanos com considerável sucesso é o método MESMIS
(Marco para Avaliação de Sistemas de Manejo de Recursos Naturais Incorporando Indicadores de
Sustentabilidade), a fim de mostrar uma avaliação sistêmica de um agroecossistema (MASERA;
ASTIER; LOPEZ-RIDAURA, 1999).

1024 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.16 N.1 Jan/Mar 2020
 A avaliação da sustentabilidade da pesca através da metodologia MESMIS tem como
base a analise de sistemas produtivos dentro de seus aspectos sociais, econômicos e ambientais, o
que tem se mostrado como método inovador e promissor, pois a utilização dessa técnica permite
identificar como é compreendido o uso dos recursos naturais pelos próprios usuários dos recursos
(MASERA et al., 2008).
Nesse cenário de necessidade de estudos aplicados para o gerenciamento dos recursos
pesqueiro, este trabalho teve como objetivo avaliar através da aplicação de um modelo de avaliação
de indicadores baseado na metodologia MESMIS a sustentabilidade da atividade pesqueira no
município de Alenquer-Pa.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O município de Alenquer (figura 1) está integrado na mesorregião do Baixo Amazonas

e a microrregião de Santarém, onde se encontra às margens do Paraná Surubiú, afluente direto
do rio Amazonas, com uma área territorial de 23.645,452 km2 e uma população de 52.626
habitantes (IBGE, 2010).

Mapa 1: Localização do município de Alenquer-Pa.

A metodologia MESMIS
O modelo de avaliação escolhido neste estudo foi baseado no processo metodológico
denominado MESMIS. A escolha desse método recaiu sobre uma série de qualidades e vantagens
em relação a outros métodos de avaliação de sustentabilidade de agroecossistemas referendadas

FERREIRA, L. A. R; SOUSA, K. N. S. 1025

 por Matos Filho (2004). O MESMIS permite a análise e retroalimentação do processo de
avaliação, apresenta uma estrutura flexível para adaptação a diferentes níveis de informações e
características técnicas locais e permite o monitoramento do processo ao longo de um determinado
tempo (DEPONTI, 2002).
A metodologia MESMIS as etapas são descritas conforme relatos Souza; Martins; Verona
(2012), da seguinte maneira: determinação do sistema participante do estudo; avaliação dos
pontos críticos do sistema; seleção dos indicadores; medição e monitoramento dos indicadores,
construção de índices comuns para os indicadores; emissão de um juízo de valor sobre os sistemas
avaliados. Com a finalização da sexta etapa, o primeiro ciclo se completa, possibilitando o início
de um novo ciclo.

Coleta de Dados

O estudo foi realizado em parceria da Colônia de Pescadores e Pescadoras Artesanais

Z-28 do município de Alenquer, sendo que o trabalho foi divido em duas etapas, na primeira, foi
priorizada a coleta de informações sobre a organização social dos pescadores artesanais, utilizando
dados fornecidos pela Colônia Z-28 nos anos de 2012 e 2013. Essas informações foram obtidas
através de entrevistas aos diretores da Colônia de Pescadores e Pescadoras Artesanais Z-28, além
da coleta de informações do banco de dados dos pescadores associados nessa entidade de classe.
Na segunda fase, foram aplicadas entrevistas aos pescadores com experiências de mais
de dez anos de atividade pesqueira entre os anos de 2014 e 2015. O instrumento de pesquisa
utilizado foi do tipo formulário semiestruturado com questões abertas e fechadas, considerando
diferentes aspectos da atividade pesqueira. Para cada pescador, antes de iniciar as entrevistas, foi
disponibilizado e lido ao entrevistado um Termo de Consentimento e de Livre Esclarecimento
(TCLE), em que tiveram a garantia exclusiva de anonimato e a garantia da lisura necessária da
execução da pesquisa.
O formulário de pesquisa da pesca foi projetado para a escala de nível local, levando em
consideração aspectos temporais dos pescadores e organizados em variação de quantidades (Qtd) e
variedades (tipos) das respostas. As variáveis foram agrupadas e classificadas em atributos (quadro
1) de Produtividade; Estabilidade, Resiliência e Confiabilidade; Adaptabilidade; Equidade;
Autogestão, como preconiza as fontes de literatura de referência (LÉLÉ, 1993; GIDSA, 1996;
CONWAY, 1994; MASERA et al., 2008; SILVA et al., 2013).

Quadro 1 - Lista de indicadores candidatos de vulnerabilidade e potencialidade, relacionados com as forças e

fraquezas e respectivos atributos de sistema.

ATRIBUTO FORÇAS E FRAQUEZAS INDICADORES

Produtividade • Disponibilidade de recursos • Va r i e d a d e d e e s p é c i e s
pesqueiros exploradas (tipos);

• Preço de venda das espécies

pescadas (R$ por Kg);

• Tecnologia empregada na
pesca (Tipos);

1026 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.16 N.1 Jan/Mar 2020
 ATRIBUTO FORÇAS E FRAQUEZAS INDICADORES
• Produção anual da região (Kg
por ano);

• Produção por família (Kg por

família);

• Produção por pescaria (Kg por

individuo).

• Áreas de pesca disponíveis

Estabilidade, Resiliência e • Perda de diversidade cultural; • Moradores por família (Qtd);
Confiabilidade • Falta de serviços públicos de • Residências (Qtd);
saúde e educação de qualidade;
• Faixa Etária da População
• Alta migração para centros (Idade);
urbanos.
• Grupos familiares (Qtd);

• Grupos familiares de
pescadores (Qtd);

• Composição da renda familiar

(Tipos de Renda).

• Renda mensal por pescador

(R$)
Adaptabilidade • Potencial de ecoturismo na • Alternativas de renda caso a
floresta e no rio; pesca seja comprometida (Tipos);

• Habilidades artesanais das • Aproveitamento do descarte

mulheres; do pescado (Tipos);

• Degradação dos recursos • Alcance máximo da pesca

naturais locais; artesanal (Km);

• Alta vulnerabilidade • Coleta de frutos e sementes

ambiental por conta de acessos; em áreas naturais protegidas (Tipos).

• Poluição industrial.
Equidade • Baixos rendimentos familiares; • Renda total por família
discriminada por fonte (R$ por família);
• Baixa rentabilidade dos
sistemas produtivos; • Renda per capita (Renda
total/População);
• Falta de emprego no local;
• Contribuição da Pesca para a
• E m p r e g o s g e r a d o s p o r renda familiar (R$ por família);
fábricas;
• Contribuição de bolsas e
• Empregos ger ados pela subsídios para a renda familiar (R$ por
prefeitura. família);

• Contribuição de empregos
fabris para a renda familiar (R$ por
família);

• Contribuição de ser viços

urbanos/rurais para a renda familiar
(R$ por família);

• Contribuição de outras fontes

para a renda familiar (% por família).

FERREIRA, L. A. R; SOUSA, K. N. S. 1027

 ATRIBUTO FORÇAS E FRAQUEZAS INDICADORES
Autogestão • Investimentos do ICMBio/ • Organizações cooperativas ou
IBAMA na gestão da pesca no associativas (Qtd);
município de Alenquer;
• Vinculação da população à
• Baixa capacidade organizativa associações e cooperativas (Qtd);
e cooperativa;
• Capacitações realizadas (Qtd,
• Falta de plano de manejo da Tipo);
da atividade pesqueira do município de
Alenquer; • Pescadores capacitados (Qtd);

• Preponderância de mão de • Registro de visita técnica aos

obra desqualificada . pescadores (Qtd)

• Áreas de pesca manejadas

Tratamento estatístico dos dados

As informações coletadas foram armazenadas em planilhas eletrônicas com o auxílio do o
software EXCEL 2010. Para analise da estatística descritiva, foram considerados os parâmetros
mínimos (MIN), médios (MED), desejáveis (P75), e máximos (MAX). Os valores para nível
ótimo (MAX), e um nível não desejado de sustentabilidade (MIN) seguiram literatura de
Mitchell; May; Mcdonald (1995). O valor médio (MED) neste estudo, representa a situação
avaliada do indicador considerando a media das variáveis analisadas. O valor do Índice relativo
de Sustentabilidade Média (IRSM) e Índice Relativo de Sustentabilidade (IRS) foi calculado
tirando a média aritmética da média dos indicadores de sustentabilidade.
A denominação de índice relativo de sustentabilidade se dá pelo fato de que os indicadores
podem variar relativamente ao sistema avaliado. Os valores do percentil 75 (P75) representam
referências do próprio sistema com avanço além da média, tornando-se referência para melhoria
do IRS (SILVA et al., 2013).
Para melhor avaliação dos indicadores, os dados foram convertidos em percentuais para
homogeneizar os resultados a serem aplicados na produção dos gráficos, e no calculo do IRS. Assim,
foi possível ter uma pontuação que simplifica a comparação de diferentes sistemas, melhorando
a apresentação dos resultados em gráficos do tipo Radar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o presente estudo e realização da metodologia MESMIS foi imprescindível a

participação dos atores locais. Nesse cenário, foram realizadas 602 entrevistas com pescadores e
pescadoras artesanais filiados a Colônia de Pescadores e Pescadoras artesanais Z-28 do município
de Alenquer. Desse total de entrevistados, 70% são do sexo masculino (421 homens) e 30 % do
sexo feminino (181 mulheres).
Foram selecionados 28 indicadores de sustentabilidade da pesca artesanal para município
de Alenquer-Pa. Tais indicadores foram distribuídos nos atributos Produtividade; Estabilidade,
Resiliência e Confiabilidade; Adaptabilidade; Equidade; e Autogestão. Com os dados obtidos,
foi calculado o IRSM e IRS da pesca para o município de Alenquer-Pá (quadro 2) e elaborado
o Gráfico radar resultante da avaliação de sustentabilidade da pesca artesanal (figura 1).

1028 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.16 N.1 Jan/Mar 2020
Figura 1 - Gráfico radar de Produtividade, Estabilidade, Resiliência e Confiabilidade, Adaptabilidade, equidade e
Autogestão resultante da avaliação de sustentabilidade da pesca artesanal no município de Alenquer-Pa.

FERREIRA, L. A. R; SOUSA, K. N. S. 1029

 A aplicação dos indicadores permite reconhecer os pontos críticos e falhos na sua
estrutura (FERRAZ, 2003). Evidencia-se que a pesca apresentou muitos pontos críticos, em
todos os indicadores, para manutenção da atividade pesqueira no munícipio de Alenquer,
apontando fragilidades sociais, econômicas e ecologias. Em todos os atributos, obtiveram-se
indicadores de sustentabilidade falhos para funcionamento sustentável, levando a um IRSM
47% e a um IRS de 24%. Silva et al. (2013) encontraram resultados semelhantes, analisando
uma comunidade pesqueira do entorno da Floresta Nacional do Ibura no nordeste brasileiro,
com um IRSM de 26% e o IRS de 33%. Cotrim; Miguel (2009) e Cotrim (2017), avaliando
índices de sustentabilidade para sistema de produção da pesca, compararam diferentes
indicadores dentro e entre dimensões compostos por índices de dados econômicos, ambiental,
social e político com resultados, expressando valores muito desiguais entre as dimensões
analisadas demonstrando desequilíbrio que proporcionou um índice de sustentabilidade baixo.
No atributo de Produtividade, nota-se que os indicadores espécies exploradas;
tecnologia empregada na pesca; áreas de pesca disponíveis; variedade anual da produtividade;
dependência de outros recursos; produção por pescaria; e preços de venda das espécies
exploradas mostraram-se com P75% encontrado, com índice de sustentabilidade abaixo (32%,
23%, 18%, 43%, 13%, 25%, 28%) do sustentável. Apesar disso, cabe destacar, que tanto as
espécies exploradas, tecnologias empregadas na pesca e a produção por pescaria são bastante
dependentes dos aspectos ecológicos das espécies de peixes e do nível da água, fato este
corroborado por Mérona (1995).
Dentre as variáveis do atributo estabilidade, resiliência e confiabilidade, percebe-se que,
apesar de ter registro de renda mensal familiar ao nível de R$ 2.440,00 (MAX), a maioria dos
pescadores ganham mensalmente entre de R$ 450,00 (MED) e R$ 830,00 (P75). Também é
preocupante a situação de alguns pescadores, mais próximas do limite mínimo registrado de
R$ 200,00 (MIN). Outro ponto importante é a satisfação com a atividade de pesca, a qual
para a maioria dos entrevistados apresentou-se insatisfatória devido a muito esforço praticado
nas pescarias e pouco retorno econômico. Também o estado de saúde deixa insatisfeito os
praticantes da pesca, que acabam correndo risco de acidentes relacionados à profissão, fato
este destacado também por Andrade (2007) . Para Isaac (2006), a falta de oportunidades
para a educação formal e profissional, bem como a ausência, na maior parte dos casos, de
conhecimentos sobre as regras básicas de gerenciamento de negócios em uma sociedade
estritamente capitalista, faz do pescador, principalmente o de pequena escala, um trabalhador
sem instrumentos culturais, sociais e econômicos para melhorar a sua condição de vida.
A Adaptabilidade através dos indicadores alternativas de renda, caso a pesca seja
comprometida; novas espécies exploradas; novos métodos de pesca; oportunidade de emprego;
novas áreas de pesca; e aproveitamentos do descarte do pescado apontaram para uma situação
crítica. O P75% de sustentabilidade encontrado em todas esses indicadores apresentaram
para menos de 15%. Esse cenário indica uma ineficiência no uso dos recursos pesqueiros e
áreas de pesca, devido à adoção de processos produtivos exploratórios da pesca degradantes
ao meio ambiente, pelo esforço excessivo praticados na pesca. Castelo; Mcgrath; Beck (2011),
avaliando a sustentabilidade dos recursos haliêuticos em pequena escala na região do Baixo
Amazonas, também relatou uma exploração desordenada na pesca. A partir desse cenário,
há necessidade de gerenciar a pesca com adoção de politicas publicas com uma perspectiva
ampla, com grande ênfase na relação entre as pescarias, o ecossistema e as comunidades
exploradoras dos recursos.

1030 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.16 N.1 Jan/Mar 2020
 No atributo de Equidade, pode-se notar que o indicador de sustentabilidade contribuição
da pesca para renda familiar, embora seja a principal componente econômico das famílias dos
pescadores, atingiu um P75% encontrado de 60%, entretanto somente essa renda não gera ganho
econômico suficiente para o sustento das famílias dos pescadores. A contribuição de bolsas e
subsídios para renda familiar obteve um P75% encontrado de 25% e outras fontes de renda teve
um P75% encontrado de 35%, ou seja, subsídios governamentais contribuem para o sustento
familiar dos pescadores e pescadoras do município de Alenquer. Andrade (2007) também relatou
a importância ao acesso aos programas de inclusão social e geração de renda (bolsa escola, bolsa
alimentação, agente ambiental comunitário, aposentadorias e pensões) na composição da renda
familiar. Esses auxílios governamentais contribuem para equidade social dos pescadores através
do comprometimento e no respeito por direitos fundamentais de cada cidadão.
Os indicadores de Autogestão, em sua maioria, não apresentaram registros de ocorrência,
nesse caso, os pescadores não são assistidos com capacitações, organizações/cooperativas/
associações comunitárias, registro de visitas técnicas aos pescadores e manejos de áreas de pesca,
fato este também encontrado por Silva et al. (2013). Contudo a Colônia de Pescadores e Pescadoras
Artesanais Z-28 vêm realizando capacitações de seus filiados com o intuito de formar lideranças
comunitárias para colaborar no gerenciado e organização do setor pesqueiro no município de
Alenquer.
Embora haja orientação e fiscalização promovidos pelos órgãos públicos municipais e
estaduais contra a pesca praticada de forma irresponsável, diante do quadro do atributo de
Autogestão, há a necessidade de educação ambiental para os pescadores filiados a Colônia Z-28,
na busca de fortalecer a conscientização dos pescadores de seu papel como agente de participação,
proteção e manejo da atividade pesqueira e do uso dos habitats de pesca. Segundo Evangelista-
Barreto et al (2014), essas praticas de gestão são imprescindíveis para garantir a sustentabilidade
e qualidade do ambiente e seus recursos naturais.
Mcgrath et al. (2009) relatam um experimento regional de manejo realizado no Baixo
Amazonas, o qual está desenvolvendo uma política básica e elementos institucionais para uma
abordagem ecossistêmica para o manejo de várzea. Essa iniciativa nasceu dos movimentos de
base das comunidades ribeirinhas que, preocupadas com a excessiva pressão da pesca comercial
sobre os recursos pesqueiros locais, tomou o controle dos lagos locais e implementou acordos
coletivos regulando a atividade de pesca.
Os pescadores têm consciência do estado atual da pesca no munícipio de Alenquer.
O processo de exploração dos recursos pesqueiros nesse município necessita passar por um
gerenciamento envolvendo vários segmentos sociais abrangendo gestores de nível Federal como
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade, nível Estadual com Secretaria de Meio Ambiente,
nível Municipal presentes em Alenquer-Pa como Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Coordenadoria de Pesca, Além de entidades de classe e organizações comunitárias como a Colônia
de Pescadores Z-28. Assim, a pesca poderá manter não somente seus rendimentos como também
a preservação do pescador.

CONCLUSÃO

FERREIRA, L. A. R; SOUSA, K. N. S. 1031

 Indicadores de sustentável baseado na metodologia MESMIS mostrou-se um instrumento,
para a análise de nível local, bastante eficaz para monitoramento da atividade pesqueira. Os baixos
valores encontrados nos indicadores de sustentabilidade obtidos no estudo são reflexos da falta de
políticas públicas para o setor pesqueiro no município de Alenquer-Pa. Devem-se buscar medidas
de ordenamento economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente responsável para que
não haja esgotamento do recurso pesqueiro, como também tem proporcionar aos pescadores e suas
famílias um melhor padrão de vida.
A cooperação entre os diversos dos atores locais envolvidos na exploração dos recursos
pesqueiros, mais a gestão comunitária dos recursos comuns seguindo os princípios de produtividade,
estabilidade, resiliência e confiabilidade; adaptabilidade; equidade e autogestão podem funcionar
como um meio de prevenção para pesca com retorno satisfatórios para os pescadores nas dimensões
social, econômica e ambiental.
Contudo o presente estudo investigou a sustentabilidade da pesca, retratando um estado
temporal. Para melhor entendimento, devem-se promover pesquisas que ajudem a entender a
atividade no município de Alenquer, isso deve ser feito com a repetição de estudos através do uso de
indicadores ao longo de outros espaços temporais, e ainda da comparação desses dados com outras
comunidades de pescadores semelhantes a esta em outras regiões da Amazônia.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Colônia de Pescadores e Pescadoras Artesanais Z-28 a parceria e
esforços dedicados para execução desse trabalho.

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