Disciplina: História do Ensino de História.
Thiago Pizza
Questões e problematizações propostas para discussão sobre os textos.
Síntese dos textos.
O primeiro texto é de autoria de Circe Bittencourt, intitulado “Abordagens Históricas
Sobre a História Escolar”. O texto tem como objetivo central a discussão sobre as pesquisas
do ensino de História, e a história da disciplina em seu percurso de escolarização. Bittencourt
(2011) vai utilizar como fonte as teses, dissertações, e produções de 1988 a 2009, separando
em dois segmentos, o momento inicial de publicações entre 1988 e 1996 e um segundo
momento de crescimento entre 1997 e 2008. A autora destaca que se deve levar em
consideração as identidades plurais e significativas na hora do aprendizado, destacando que as
pesquisas e os pesquisadores na sua maioria dialogam com os referenciais de diferentes
campos das ciências sociais, mas sem perder o total diálogo com a produção historiográfica,
os pesquisadores também identificam a história escolar como conhecimento específico, sem
ser autônomo, na qual a autora chama atenção que é um setor construído em função da
necessidade de uma prática.
O segundo texto para problematização e propostas de discussões foi “História do
Ensino de História no Brasil: Uma periodização” de Maria Schmidt, na qual a autora se
propõe uma investigação sobre a construção da história como disciplina escolar no Brasil,
utilizando como fonte os resultados de pesquisas já realizada em manuais de didática da
história destinado a professores, com o objetivo de identificar elementos indispensáveis da
construção da História do ensino de História. A autora discute diferentes abordagens para o
ensino de História no Brasil nos anos de 1980- 1990, destacando a problemática da separação
entre História acadêmica e a Didática da História e como essa separação pode resultar na
fragmentação dos conteúdos e na priorização de uma abordagem instrumental, afastando a
dimensão crítica e emancipatória que a disciplina deve oferecer.
O texto “Saberes e Práticas Docentes e Ensino de História: Temas, Conceitos e
Referencias (1970 – 2014)” de Nadia Gaiofato e Ana Monteiro foi o terceiro selecionado, na
qual remonta uma análise sobre a produção acadêmica de saberes e práticas docentes, usando
periódicos acadêmicos das áreas de Educação, Ensino e História, no
período de 1970 a 2014. As autoras identificam que há um diálogo com conceitos da
educação, mas tornando-se necessário um aprofundamento teórico sobre os saberes e práticas
docentes, na qual poucos analisam o porquê docentes pensam e agem de determinada forma,
criando lacunas nas pesquisas, além da utilização de termos como “saberes” e “práticas” serem
usados como substantivos, se fazendo necessário explorá-los com mais sensibilidade
conceitualmente, concluindo que a partir de 2006 se consolida um crescimento de trabalhos
baseados na Educação Histórica, gerando tensões no campo acadêmico, mas trazendo novas
problematizações.
Articulações, contribuições e problemáticas dos materiais.
Fica necessário destacar que os textos selecionados convergem para a preocupação
com o ensino de História e sua aplicabilidade em sala de aula, refletindo sobre como a
pesquisa acadêmica tem avançado na compreensão desse campo. Observa-se, a partir da
década de 1980, com o processo de redemocratização do Brasil e a necessidade de renovação
curricular (Bittencourt, 2011), um crescimento das produções científicas voltadas à docência,
consolidando a História como disciplina e permitindo um olhar mais crítico sobre sua prática.
No entanto, percebe-se que ainda há uma tensão entre a formação acadêmica do docente e o
ensino escolar, como aponta Maria Schmidt (2012), o que evidencia a dificuldade de articular
o aprofundamento teórico dos conceitos com a prática docente. Essa questão se conecta às
reflexões de Nadia Gaiofato e Ana Monteiro (2016), ao pensarem o agir do professor em sala
de aula e os desafios com seu próprio habitus, influenciado por crenças, experiências e
valores. Assim, cabe refletir sobre a importância de articular a produção historiográfica, a
didática da História e os saberes docentes, evitando abordagens que possam comprometer a
dimensão crítica e emancipatória da disciplina.
Nadia Gaiofato e Ana Monteiro (2016) refletem sobre o agir do docente em sala de
aula, percebendo a dificuldade de trazer contribuições sobre a subjetividade do docente,
quando perguntado por que pensam e agem de determinada forma. Essa reflexão auxilia em
o agir como docente da disciplina, percebendo como sujeito que se adapta ao campo, e não
consegue se afastar do habitus, (conceito de Bourdieu apresentados pelas autoras). Mesmo
atuando como docente, não deixará de ser um sujeito dotado de
suas as crenças, experiências, valores e emoções, cabe refletir, como isso influência em
minhas decisões em sala de aula?
Questões para discussão.
As pesquisas sobre o ensino frequentemente deixaram lacunas de como os docentes
significam sua própria prática, priorizando aspectos pedagógicos e históricos. Ao mesmo
tempo, há o risco de um excesso de ênfase na subjetividade, deslocando o foco do ensino
como prática social e disciplinar. Gostaria de trazer a questão de como valorizar a
subjetividade do professor sem perder de vista a relação com os saberes históricos e
pedagógicos que estruturam o ensino de História? Como articular essas estruturas?
Continuo na mesma linha de raciocínio, na qual questiono em como investigar na
prática esses processos do docente, quais ferramentas poderiam ser acrescentadas para
enriquecer as pesquisas?
Maria Schmidt (2012) problematiza a separação entre a história acadêmica e o ensino
de História, o que pode levar a uma fragmentação dos conteúdos e a um ensino
instrumentalizado. Ao mesmo tempo, Nadia Gaiofato e Ana Monteiro (2016) apontam a
necessidade de aprofundar os conceitos de "saberes" e "práticas" docentes, mas não
descartam a problematização do distanciamento entre teoria e prática. Como superar essa
lacuna garantindo que a formação do professor esteja conectada com a realidade do ensino,
na qual pode promover uma articulação entre a cultura histórica e a cultura escolar que vá
além da simples instrumentalização do ensino de História, garantindo um aprendizado
significativo e emancipatório para os estudantes?
BITTENCOURT, Circe F. Abordagens históricas sobre a história escolar.
Educação e Realidade, Porto Alegre, v.36, n.1, p.83-104, jan/abr 2011.
SCHMIDT, Maria A. M. S. História do ensino de História no Brasil: uma proposta
de periodização. Revista de História da Educação – RHE, Porto Alegre, v.16, n.37, maio/ago
2012, p.73-91.
GONÇALVES, Nadia G.; MONTEIRO, Ana Maria F. C. Saberes e práticas
docentes e ensino de história: temas, conceitos e referenciais (1970-2014). Educação em
Revista, Belo Horizonte, v. 33, e156257, 2017.