A Função Social da Escola enquanto Organização
Social
Precisa-se ter clara a função da Escola enquanto organização social na
medida em que se pretende formar cidadão como elemento ativo na
sociedade. Para isso é imprescindível realizar uma prática pedagógica
competente e socialmente comprometida, levando-se em consideração as
grandes dificuldades econômicas, sociais e culturais de nosso país.
Formar o cidadão não é responsabilidade apenas da escola, no entanto,
como local privilegiado do trabalho em relação ao conhecimento, ela tem
grande participação deste conhecimento, pois recebe crianças, jovens e
adultos por certo número de horas, durante anos de suas vidas,
possibilitando- lhes construir saberes indispensáveis para a sua inserção
social.
Apesar disso, excluem-se da escola os que não conseguem aprender, como
também são excluídos do mercado de trabalho os que não têm capacidade
técnica, porque não aprenderam a ler escrever e contar. É negado a esses
cidadãos o exercício da cidadania por desconhecerem os valores morais e
políticos que devem fundamentar a vida de uma sociedade livre,
democrática e participativa.
Ao se estabelecer comparação entre o período de 1964-1985 e o período
atual é possível observar duas formas de hegemonia cultural: a cultura
ideológica, onde se presencia o povo de braços cruzados assistindo a tudo
sem poder interferir, talvez pelo medo de repressão e o período atual, que
apesar da alienação, constitui-se num período pacífico.
A escola precisa considerar as práticas de nossa sociedade, sejam elas de
natureza econômica, política, social, cultural, ética e moral. Há de se
considerar, também, as relações diretas ou indiretas destas práticas com os
problemas específicos da comunidade local a que se presta serviço. Por isso
é fundamental que a escolas da atualidade conheça as expectativas e suas
necessidades como forma de sobrevivência, valores, costumes e
manifestações culturais e artísticas. É através desse conhecimento que a
escola pode atender a comunidade e auxiliá-la na ampliação e
transformação do mundo.
A democratização do saber pode ser entendida enquanto processo que
permite: às classes subalternas elaborar e divulgar uma concepção de
mundo organicamente vinculada aos seus interesses e não, simplesmente,
como um instrumento ideológico empregado pelas classes dominantes para
a conquista ou manutenção de sua hegemonia.
A educação e a escola constituem um espaço de luta; espaço esse onde se
dá a disputa pela hegemonia da cultura, e por isso é sempre alvo de
constante ofensiva neoliberal, mesmo porque a escola consiste numa das
principais conquistas sociais e está envolvida na produção da memória
histórica e dos sujeitos sociais. O abandono do discurso sobre a
democratização e apologia da retórica da qualidade é um exemplo da
ofensiva antidemocrática que os setores neoconservadores colocam em
prática contra o ensino e contra os direitos das minorias oprimidas. Cabe a
escola, nesse momento, voltar-se contra esse processo e assumir o seu
verdadeiro papel que é o de formar cidadãos críticos e formadores de
opinião através de uma escola efetivamente comprometida com a
transformação social.
Se o que se deseja é uma escola realmente democrática e viva, que cumpra
a sua função torna-se necessário abrir as portas para a comunidade,
ampliando os atuais limites de participação; isto significa que, além de rever
as relações internas e a gestão é necessário estabelecer parcerias que
possam funcionar como uma espécie de mão dupla, isto é, a escola deve
receber ajuda para solucionar os seus problemas e ao mesmo tempo deve
colaborar para a melhoria de vida para a população local.
Além da participação dos pais a escola pode estabelecer parcerias com
outras estruturas sociais para ampliar, somar e potencializar esforços no
sentido de melhorar a qualidade do ensino oferecido a sua população. No
entanto, não é qualquer parceria que poderá ajudar, antes de tudo é preciso
considerar as grandes metas do projeto político pedagógico da escola, o qual
definirá quem poderá colaborar, e com quem é possível partilhar esse
trabalho.
No processo de discussão coletiva acontece o repensar sobre a prática, os
professores se descobrem como sujeitos de uma prática intencionada, com a
oportunidade de combinar o seu fazer pedagógico com a reflexão. E pensar
sobre a prática implica buscar alternativas para mudanças, tomar decisões
para a inovação da prática educacional. Nesse sentido, a ação pedagógica
poderá se consolidar realmente numa práxis transformadora. Esse processo
é importante, pois “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na
palavra, no trabalho, na ação-reflexão. (2003, p. 92).
Gadotti (1991) reconhece que embora Paulo Freire não defenda o princípio
da não directividade na educação como faz a psicoterapeuta Carl Roger, não
resta dúvida de que existem muitos pontos comuns na pedagogia que eles
defendem, sobretudo no que diz respeito à liberdade de expressão
individual, às crenças na possibilidade de os homens resolverem eles
próprio, seus problemas, desde que motivados interiormente para isso. Para
Rogers, assim como para Freire, a responsabilidade da educação está no
próprio estudante possuidor das forças de crescimento e auto-avaliação. A
educação deve ser o senhor de sua própria aprendizagem. E a aula não é o
momento em que deve despejar conhecimentos no aluno, nem as provas e
exames é o instrumento que permitirão verificar se o conhecimento continua
na cabeça do aluno e se este o guarda na cabeça do jeito que o professor
explicou. A educação deve ter uma visão do aluno como uma pessoa inteira,
com sentimentos e emoções.
Para que se possa entender o aluno como possuidor de força de
conhecimento, e senhor de sua própria aprendizagem há de se investir na
qualidade. A qualidade não deve constituir hoje uma reivindicação a ser
recuperada por aqueles setores que lutam pela defesa e pela transformação
da educação. O significado da qualidade e, conseqüentemente, a definição
dos
instrumentos apropriados para avaliá-la, são espaços de poder de conflito
que não devem ser abandonados.
Então a escola precisa se democratizar através da conquista e da imposição
de um novo sentido dos critérios de qualidade empregados no campo
educacional por (neo) conservadores e (neo) liberais. A escola deve
sustentar que não existe um critério universal da qualidade, ainda que os
intelectuais reconvertidos assim o pretendam.
Existem diversos fatores históricos que respondem a diversos critérios e
intencionalidades políticas. Um é o que pretende impor os setores
hegemônicos: o critério de qualidade como mecanismo de definição e
dualizarão social. O outro que deve ser conquistado é o da qualidade como
fator indissoluvelmente unido a uma democratização radical da educação e a
um fortalecimento progressivo da escola.
Estudos importantes a respeito da gestão da escola vêm merecendo
destaques no tocante à educação e da função da escola. Nesse sentido,
Horta afirma:
A escola como uma instituição que deve procurar a socialização do saber, da
ciência, das técnicas e das artes produzidas socialmente, deve estar
comprometida politicamente e ser capaz de interpretar as carências
reveladas pela sociedade, direcionando essas necessidades em função de
princípios capazes de responder ás demandas sociais (2000,p.48)
Portanto, cabe à escola tornar-se um dos agentes de mudança social e
constituir-se num espaço democrático, garantindo ao educando o direito de
usufruir a construção do conhecimento, oferecendo aos professores uma
educação continuada, viabilizando uma gestão (direção, coordenação e
supervisão) mais democrática e atuante, criando propostas alternativas para
uma possível superação de problemas escolares.
Nesse sentido para Gadotti (1997), a participação na gestão da escola
proporcionará um melhor conhecimento do funcionamento da escola e de
todos os seus atores, proporcionará um contato permanente entre
professores e aluno, o que leva ao conhecimento mútuo e, em conseqüência
disso aproximará também as necessidades dos alunos dos conteúdos
ensinados pelos professores.
Diante de tudo isso, pode-se dizer que tais mecanismos são capazes de
gerar um processo de democratização das estruturas educacionais por meio
da participação de todos na definição de estratégias, organização da escola,
na redefinição de seus conteúdos e fins. Enfim, recuperar o sentido
educativo no âmbito da gestão escolar.
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Revista Nova Escola, Grandes Pensadores, edição especial, julho, 2008.
Aluno do 8º semestre do curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências
[1]
Educacionais em Vera Cruz – BA
Pedagogo – Psicopedagogo, Especialista em Gestão de RH e Metodologia
[2]
e Didática do Ensino Superior.