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2 70253 Filosofia Do Ensino de Filosofia

O texto explora a expressão 'Filosofia do Ensino de Filosofia', destacando sua origem e desenvolvimento desde a década de 1990 no Brasil. O autor discute a importância de integrar abordagens filosóficas e pedagógicas no ensino de filosofia, enfatizando que a formação de professores deve incluir uma reflexão filosófica sobre a prática de ensinar. A partir de iniciativas como o Grupo de Estudos Sobre Ensino de Filosofia (GESEF) e congressos, o autor busca estabelecer um campo de pesquisa que articule a filosofia com a educação.

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O texto explora a expressão 'Filosofia do Ensino de Filosofia', destacando sua origem e desenvolvimento desde a década de 1990 no Brasil. O autor discute a importância de integrar abordagens filosóficas e pedagógicas no ensino de filosofia, enfatizando que a formação de professores deve incluir uma reflexão filosófica sobre a prática de ensinar. A partir de iniciativas como o Grupo de Estudos Sobre Ensino de Filosofia (GESEF) e congressos, o autor busca estabelecer um campo de pesquisa que articule a filosofia com a educação.

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Silvio Gallo 156

Problemata - Revista Internacional de Filosofia


v. 15. n. 1 (2024), p. 156-160 ISSN 2236-8612
doi:10.7443/problemata.v15i1.70253

FILOSOFIA DO ENSINO DE FILOSOFIA1

PHILOSOPHY OF PHILOSOPHY TEACHING

Silvio Gallo2

Resumo:

A pedido da comissão organizadora do V Encontro do GT Filosofar e Ensinar a Filosofar da ANPOF,


este texto procura elucidar o sentido da expressão Filosofia do Ensino de Filosofia a partir do
histórico da linha de emergência da qual o autor fez parte. Narra-se uma série de ações que, desde a
década de 1990, foram desenvolvidas a partir da perspectiva de uma filosofia do ensino de filosofia
– permitindo a constituição de um campo de pesquisa filosófico-educacional sobre o ensinar
filosofia.

Palavras-chave: Ensino de Filosofia; Problema filosófico; Filosofia do Ensino de Filosofia.

Abstract:

At the request of the organizing committee of the 5th Meeting of the ANPOF WG Philosophizing and
Teaching to Philosophize, this text seeks to elucidate the meaning of the expression Philosophy of
Philosophy Teaching, based on the history of the emergency line to which the author belonged. It
recounts a series of actions that, since the 1990s, have been developed from the perspective of a
philosophy of philosophy teaching e and allowed the constitution of a field of
philosophical-educational research on teaching philosophy.

Keywords: Philosophy Teaching; Philosophical Problem; Philosophy of Philosophy Teaching.

1
O presente texto é uma transcrição, revisada pelo autor, do vídeo enviado à mesa temática “A
constituição do campo do ensino da filosofia: história e epistemologia”, por ocasião de sua
participação no V Encontro do GT Filosofar e Ensinar a Filosofar da ANPOF.
2
Professor titular aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
Atua junto ao PPGE da FE-Unicamp. E-mail: [email protected]. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3808560029763904. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2221-5160.

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Filosofia do ensino de filosofia 157

Já há alguns anos, a gente vem falando, aqui no Brasil, em torno de uma


filosofia do ensino de filosofia. Mas o que nós queremos dizer quando usamos essa
expressão? Do que exatamente nós estamos falando quando falamos em uma
filosofia do ensino de filosofia? Todo o fenômeno no campo da educação, do ensino,
tem uma série de emergências, uma série de proveniências, se a gente quiser
utilizar a expressão proposta por Michel Foucault, quando ele fala em uma
genealogia, em uma busca do surgimento de determinados fenômenos. E o mesmo
se dá aqui quando falamos então da questão da filosofia do ensino de filosofia no
Brasil.
Nesta oportunidade, eu vou comentar com vocês alguns elementos em
torno de uma das linhas de emergência da filosofia do ensino de filosofia entre nós.
A linha na qual eu participei desde os seus inícios e de que venho participando nos
últimos anos. Buscando, com isso, então, ajudar a trazer alguns elementos para
esclarecer essa questão, para que a gente possa pensar contemporaneamente a
problemática da filosofia do ensino de filosofia aqui no Brasil.
É importante, então, dizer para vocês que no ano de 1995, na Universidade
Metodista de Piracicaba, onde eu trabalhava junto com alguns outros colegas e na
qual nós tínhamos uma Licenciatura em Filosofia, um curso de formação de
professores de filosofia, nós começamos a pensar mais especificamente essa
problemática do ensino. Uma vez que nós formávamos professores, nós queríamos
compreender o que exatamente nós estávamos fazendo com a formação do
professor de filosofia, quais eram as condições para os estudantes que, graduados
nesse curso, iam para as redes de ensino, especialmente para a rede pública de
ensino. Alguns também com experiência nas redes privadas, mas,
fundamentalmente, os alunos iam para a rede pública de ensino, aqui no interior
do estado de São Paulo. Nós queríamos então qualificar da melhor maneira
possível esse processo de formação do professor de filosofia.
Depois de algumas tentativas e de algumas iniciativas, em 1995 nós
fundamos o Grupo de Estudos Sobre Ensino de Filosofia, que recebeu a sigla GESEF,
formado por vários professores do curso de licenciatura em filosofia da
Universidade Metodista de Piracicaba, mas também por professores de outras
instituições, professores de escolas públicas do interior de São Paulo, estudantes
do nosso curso de licenciatura em filosofia e outras pessoas interessadas. Naquela
época, nós nos reuníamos normalmente aos sábados, porque era o tempo de que a
gente dispunha, fora das nossas atividades gerais, cotidianas de trabalho, e nos
pusemos então a discutir essa perspectiva do ensino de filosofia.
Um marco importante nessa trajetória, nesses debates que fomos fazendo é
que, no ano de 1999, nós participamos em Brasília, na Universidade de Brasília, do
Congresso Internacional de Filosofia com Crianças e Jovens, que foi organizado
naquele ano pelo nosso colega Walter Kohan, que então trabalhava na UnB e que
era na época presidente do ICPIC, o International Council for Philosophical Inquiry
with Children, a associação internacional que cuida dos projetos de filosofia para
crianças. Walter, na qualidade de presidente desse Instituto, trouxe o evento para o
Brasil, para Brasília, o sediou na UnB, mas quis dar um pouco mais de abrangência
ao debate sobre a filosofia para crianças, fazendo então um congresso em torno da
prática filosófica com crianças e jovens.

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Nesse congresso, nós tivemos uma mesa redonda sobre filosofia no ensino
médio, na qual eu participei junto com outros colegas do Uruguai, da Argentina, da
França. Essa mesa redonda foi muito concorrida, foi muito debatida. Lembrem-se,
estávamos em 1999, em 1996 tínhamos tido a aprovação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação brasileira, na qual se contemplava o ensino de filosofia, a
presença da filosofia no ensino médio brasileiro. Se contemplava de uma forma
muito ampla, porque se falava na necessidade de conhecimentos de filosofia (e
sociologia) na formação para a cidadania dos nossos jovens, e isso gerou um
intenso debate sobre o que significava, então, ensinar filosofia. Como deveríamos
ensinar filosofia? Que filosofia é essa que deveria ser ensinada nesse contexto?
É a partir dessa mesa redonda e de todo o debate que se fez lá em Brasília
sobre esses elementos que nós saímos de lá desse congresso com o objetivo de
realizar, o quanto antes possível, um congresso que articulasse os professores de
filosofia no ensino médio brasileiro para que a gente pudesse mapear o que estava
sendo feito, para que a gente pudesse começar a construir caminhos mais
específicos para o ensino de filosofia na educação média brasileira. Foi a partir
desse debate então, em 1999, que nós nos propusemos a organizar, na mesma
Universidade Metodista de Piracicaba, na qual havíamos criado o GESEF alguns
anos antes, o Congresso Brasileiro de Professores de Filosofia, que aconteceu nos
primeiros dias do mês de dezembro do ano 2000.
Foi um congresso bastante interessante, no qual participaram professores
das várias regiões brasileiras de vários estados brasileiros, no qual participaram
também convidados estrangeiros da Itália, da França, do Uruguai, da Argentina,
pelo menos esses que eu me lembro mais diretamente agora nesse momento. E no
qual nós pudemos então discutir essa perspectiva do ensino de filosofia.
E quando nós reunimos os textos das conferências e mesas redondas
realizadas nesse Congresso Brasileiro de Professores de Filosofia, que foi publicado
como um dos volumes da coleção Filosofia e Ensino da editora Vozes, então
coordenada pelo nosso colega Walter Kohan, nós demos como título desse volume
da coleção Filosofia e Ensino, “Filosofia do Ensino de Filosofia”, porque julgamos
que isso traduzia bem a perspectiva que nós queríamos trabalhar em relação ao
ensino da filosofia.
No que consistia essa questão? Ela consistia justamente na constatação que
nós fizemos que, no caso da filosofia, não bastava que nós pensássemos o ensino
desde um ponto de vista pedagógico. Mas, nós defendíamos, então, e continuamos
defendemos desde então, a perspectiva de que o ensino da filosofia traz implicadas
também questões estritamente filosóficas. Portanto, discutir o ensino da filosofia
não é apenas discutir pedagogicamente o ensino de filosofia. Precisa ser também
discutir filosoficamente o ensino de filosofia. Daí a expressão “filosofia do ensino
de filosofia”.
É importante dizer que, quando nós defendemos a ideia de uma filosofia do
ensino de filosofia, em hipótese alguma nós estamos prescindindo de uma
pedagogia do ensino de filosofia. Quando nós defendemos que o ensino de filosofia
precisa ser pensado filosoficamente, nós não estamos de modo algum dizendo que
o ensino de filosofia não deva ser pensado pedagogicamente. Muito pelo contrário.
Nós sabemos que há toda uma série de elementos pedagógicos implicados no
ensino de filosofia. Há toda uma contribuição absolutamente necessária que nós

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precisamos ter dos especialistas no campo da educação, no campo da didática, no


campo das teorias e metodologias de ensino para que o ensino de filosofia possa se
realizar. Mas, nós julgamos que, mais do que isso, nós precisamos também – é um
acréscimo, não é uma substituição – de um trato filosófico sobre o ensino de
filosofia. Portanto, de uma filosofia do ensino de filosofia.
E foi isso que nós procuramos desenvolver desde então e vimos
desenvolvendo desde então. E com isso, nós fomos então nos articulando com
outros colegas de diferentes lugares do Brasil e do mundo que também tematizam
essa perspectiva. Eu poderia, por exemplo, chamar a atenção de vocês para o caso
do professor Michel Tozzi, na França, que há muitos anos trabalha com essa
dinâmica de pensar filosoficamente o ensino de filosofia, ainda que não
necessariamente ele nomeie isso de uma filosofia do ensino de filosofia. Ou, o
nosso colega Alejandro Cerletti, da Argentina, que vem também insistindo muito
nisso nos últimos anos, e sobretudo contribuindo com a perspectiva de pensar o
ensino de filosofia como um trato, como um problema filosófico. Então, todas essas
dimensões vão se articulando nessa perspectiva de se tentar trabalhar o ensino de
filosofia desde a perspectiva da própria filosofia.
Isso veio atravessado também como uma crítica à concepção de licenciatura
que nós tínhamos no Brasil naquela época (estamos falando ainda da década de
1990), na qual reinava um modelo de formação de licenciatura que era conhecido
como o modelo 3+1. Durante três anos, se fazia a formação básica no departamento
de filosofia, se constituía, portanto, um bacharelado em filosofia, e com mais um
ano se realizava a licenciatura em filosofia. Ou seja, se fazia uma espécie de
complementação pedagógica ao longo de um ano, no qual as disciplinas
pedagógicas habilitavam aquela pessoa que já tinha obtido os conhecimentos de
filosofia específicos no departamento de filosofia, habilitava essa pessoa a lecionar
filosofia. Nós tínhamos críticas bastante duras a esse modelo – e temos ainda hoje
–, porque sabemos que esse modelo ainda impera em algumas universidades
brasileiras, em alguns cursos de formação esse modelo continua existindo.
Sobretudo por que esse modelo de algum modo desincumbia os professores de
filosofia, os especialistas de filosofia dos departamentos de filosofia, de lidar com
as questões relativas ao ensino da disciplina. Então, era muito comum que os
professores dissessem “bom, aqui no departamento de filosofia vocês aprendem
aquilo que é a filosofia. Se vocês quiserem ser professores, vocês vão até o
departamento de educação, até a faculdade de educação cursar as disciplinas
pedagógicas para poder fazer licenciatura”. E com isso, o que esses professores
estavam dizendo? Que a problemática do ensino da filosofia não era uma
problemática estritamente filosófica, ela era exclusivamente pedagógica.
Então, quando a gente força um pouco o pêndulo para o lado contrário,
quando a gente força a barra no sentido de falar em uma filosofia do ensino de
filosofia, é justamente por que a gente queria reivindicar a importância e a
necessidade de que, no ensino da filosofia, nós também pensássemos
filosoficamente as questões relativas a esse ensino. E por que isso? Porque nós
sabemos que há toda uma didática da filosofia intrínseca ao próprio ato de
filosofar. A própria dimensão do produzir filosofia, há uma implicação ou há uma
série de implicações nesse ato de produzir filosofia, que implica que aquele que
ensina filosofia deve também pensar filosoficamente sobre o que significa essa
prática de ensinar filosofia, de transmitir filosofia a outras pessoas. Ou seja, um
professor de filosofia não é formado em um modelo em que ele aprende o conteúdo

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de filosofia, de um lado, e aprende a transmitir a filosofia, de outro lado. No próprio


aprendizado da filosofia, já é atravessado por um aprendizado da
transmissibilidade da filosofia, da comunicação no ato filosófico.
É por essa razão, então, que nós chamamos a atenção naquele momento e
continuamos chamando a atenção, desde então e até hoje, em torno da necessidade
de uma filosofia do ensino de filosofia. E eu repito porque acho importante repetir:
não prescinde dos conhecimentos pedagógicos, ao contrário, necessita dos
conhecimentos pedagógicos, dialoga intensamente com os conhecimentos
pedagógicos, mas também afirma ser necessário uma pesquisa no campo do ensino
da filosofia, um trato filosófico com o ensino da filosofia.
E desde a década de 1990 até os nossos dias, com esse desenvolvimento em
torno de uma filosofia do ensino da filosofia, a gente foi constituindo no Brasil esse
campo de pesquisas como o campo de Ensino de Filosofia. Campo no qual uma
série de questões vão ser de grande importância e vão nos fazer constituir essa
possibilidade do desenvolvimento de uma pesquisa filosófica sobre o ensinar
filosofia.

Recebido em: 03/2024


Aprovado em: 05/2024

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