REDAÇÃO – MURILLO
TURMA: 3ª SÉRIE E CURSO
DATA: 02/12/2024
MÚSICAS DA MPB NA REDAÇÃO
01) PAULINHO DA VIOLA – SINAL FECHADO
Olá, como vai? Talvez nos vejamos, quem sabe?
Eu vou indo, e você, tudo bem? Quanto tempo, pois é, quanto tempo
Tudo bem, eu vou indo correndo Tanta coisa que eu tinha a dizer
Pegar meu lugar no futuro, e você? Mas eu sumi na poeira das ruas
Tudo bem, eu vou indo em busca Eu também tenho algo a dizer
De um sono tranquilo, quem sabe? Mas me foge à lembrança
Quanto tempo, pois é, quanto tempo Por favor, telefone, eu preciso beber
Me perdoe a pressa Alguma coisa rapidamente
É a alma dos nossos negócios Pra semana, o sinal
Pô, não tem de quê Eu procuro você, vai abrir, vai abrir
Eu também só ando a cem Prometo, não esqueço
Quando é que você telefona? Por favor não esqueça, não esqueça
Precisamos nos ver por aí Não esqueço, adeus
Pra semana, prometo
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02) TIAGO IORC – DESCONSTRUÇÃO
Amanheceu tão logo se desfez
Quando se viu pela primeira vez Se abriu nos olhos de um celular
Na tela escura de seu celular Aliviou a tela ao entrar
Saiu de cena pra poder entrar Tirou de cena toda a timidez
E aliviar a sua timidez Alimentou as redes de nudez
Vestiu um ego que não satisfez Fantasiou o brio da rotina
Dramatizou o view da rotina Fez de sua pele sua sina
Como fosse dádiva divina Se estilhaçou em cacos virtuais
Queria só um pouco de atenção Nas aparências todos tão iguais
Mas encontrou a própria solidão Singularidades em ruínas
Ela era só uma menina
Entrou no escuro de sua palidez
Abrir os olhos não lhe satisfez Estilhaçou seu corpo celular
Entrou no escuro de seu celular Saiu de cena pra se aliviar
Correu pro espelho pra se maquiar Vestiu o drama uma última vez
Pintou de dor a sua palidez Se liquidou em sua liquidez
E confiou sua primeira vez Viralizou no cio da ruína
No rastro de um pai que não via Ela era só uma menina
Nem a própria mãe compreendia Ninguém notou a sua depressão
O passatempo de prazeres vãos Seguiu o bando a deslizar a mão
Viu toda graça escapar das mãos Para assegurar uma curtida
E voltou pra casa tão vazia
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Lúmen Enem e Vestibulares
03) CLARA NUNES – O CANTO DAS TRÊS RAÇAS
Ninguém ouviu Nada adiantou
Um soluçar de dor
No canto do Brasil E de guerra em paz
De paz em guerra
Um lamento triste Todo o povo dessa terra
Sempre ecoou Quando pode cantar
Desde que o índio guerreiro Canta de dor
Foi pro cativeiro
E de lá cantou E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Negro entoou Ai, mas que agonia
Um canto de revolta pelos ares O canto do trabalhador
No Quilombo dos Palmares Esse canto que devia
Onde se refugiou Ser um canto de alegria
Fora a luta dos Inconfidentes Soa apenas
Pela quebra das correntes Como um soluçar de dor
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04) CHICO BUARQUE – O MEU GURI Rezo pra ele chegar cá no alto
Essa onda de assalto está um horror
Quando, seu moço, nasceu meu rebento Eu consolo ele, ele me consola
Não era o momento dele rebentar Boto ele no colo pra ele me ninar
Já foi nascendo com cara de fome De repente acordo, olho pro lado
E eu não tinha nem nome pra lhe dar E o danado já foi trabalhar, olha aí
Como fui levando, não sei explicar Olha aí, ai é o meu guri, olha aí
Fui assim levando e ele a me levar Olha aí, é o meu guri
E na sua meninice ele um dia me disse Meu guri
Que chegava lá Chega estampado, manchete, retrato
Olha aí Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Olha aí Eu não entendo essa gente, seu moço
Olha aí, ai é o meu guri, olha aí Fazendo alvoroço demais
Olha aí, é o meu guri O guri no mato, acho que 'tá rindo
E ele chega Acho que 'tá lindo de papo pro ar
Chega suado e veloz do batente Desde o começo, eu não disse, seu moço
E traz sempre um presente pra me encabular Ele disse que chegava lá
Tanta corrente de ouro, seu moço Olha aí
Que haja pescoço pra enfiar olha aí
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Chave, caderneta, terço e patuá Olha aí, é o meu guri
Um lenço e uma penca de documentos Olha ai
Pra finalmente eu me identificar, olha aí Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, ai é o meu guri Olha aí, é o meu guri
Olha aí, é o meu guri Olha aí
E ele chega Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Chega no morro com o carregamento Olha aí, é o meu guri
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador Olha aí
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Lúmen Enem e Vestibulares
EXEMPLOS DE PARÁGRAFOS COM REPERTÓRIO MUSICAL:
EXEMPLO 01:
Tema: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet (ENEM 2018)
Em sua canção “Pela Internet”, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de informações disponibilizadas pelas plataformas digitais para seus usuários.
No entanto, com o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos por empresas de aplicativos e redes sociais, essa abundância vem
sendo restringida e as notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura atual apta a moldar os hábitos e a informatividade
dos usuários. Desse modo, tal manipulação do comportamento de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de
enfrentamento.
EXEMPLO 02:
A obra musical "Admirável Chip Novo", da cantora brasileira Pitty, retrata a manipulação das ações humanas em razão do uso das tecnologias, que findam por
influenciar o comportamento dos indivíduos. Não obstante, tal questão transcende a arte e mostra-se presente na realidade brasileira a partir da filtragem de
dados na internet e sua utilização como ferramenta de determinação de atitudes, consequência direta do interesse do mercado globalizado e da
vulnerabilidade dos usuários. Assim, torna-se fundamental a discussão desses aspectos, a fim do pleno funcionamento da sociedade.
EXEMPLO 03
Tema: Invisibilidade e Registro Civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil (ENEM 2021)
“Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro; chave, caderneta, terço e patuá; um lenço e uma penca de documento pra finalmente eu me identificar”. Os versos
da música “O meu guri”, que compõe o álbum “Almanaque” de Chico Buarque, retratam a realidade de pobreza e de invisibilidade de pessoas periféricas, as
quais, devido à ausência de documentos formais, como a certidão de nascimento, inexistem para o Estado. Nessa perspectiva, é possível traçar um paralelo
entre o conteúdo lírico e o Brasil contemporâneo, uma vez que a irrealização da cidadania apresentada na música, advinda da falta de registro civil, é uma
tônica atual e urgente. Desse modo, entre os principais fomentadores desse cenário, destaca-se não só a inoperância governamental, mas também a
desigualdade social.
EXEMPLO 04
Tema: Impactos do uso das redes sociais na saúde mental dos jovens brasileiros
“Amanheceu tão logo se desfez; se abriu nos olhos de um celular; aliviou a tela ao entrar; tirou de cena toda a timidez”. Os versos da música “Desconstrução”,
do cantor popular Tiago Iorc, expõem a história de uma jovem que busca o celular como refúgio. Em consequência, a garota se depara com um mundo vazio
e massificado, predicados que a fazem se sentir ainda mais infeliz. Nessa perspectiva, é possível traçar um paralelo entre o conteúdo da canção e o Brasil
contemporâneo, uma vez que inúmeras pessoas têm, cotidianamente, sua saúde mental afetada por conteúdos compartilhados nas redes sociais. Dessa
maneira, convém analisar as principais causas e consequências desse nefasto impasse nos jovens brasileiros.
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