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EF - Relatório - 2 Saída - Campo - Hidrogeologia

O relatório apresenta um estudo hidrogeológico das formações geológicas com alta porosidade e formações cársicas em locais como Pateira de Fermentelos e Luso, realizado como parte do mestrado em Engenharia Geológica na Universidade de Aveiro. O objetivo é entender a dinâmica dos aquíferos na região, incluindo a caracterização das águas e a importância das zonas de recarga. O documento também discute a evolução geológica e os problemas ambientais associados aos sistemas aquíferos locais.

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EDIVALDO FREITAS
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EF - Relatório - 2 Saída - Campo - Hidrogeologia

O relatório apresenta um estudo hidrogeológico das formações geológicas com alta porosidade e formações cársicas em locais como Pateira de Fermentelos e Luso, realizado como parte do mestrado em Engenharia Geológica na Universidade de Aveiro. O objetivo é entender a dinâmica dos aquíferos na região, incluindo a caracterização das águas e a importância das zonas de recarga. O documento também discute a evolução geológica e os problemas ambientais associados aos sistemas aquíferos locais.

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UNIVERSIDADE

DE AVEIRO
2023

HIDROGEOLOGIA

HIDROGEOLOGIA DOS MEIOS POROSOS.


HIDROLOGIA DE MEIOS CASIFICADOS.

Edivaldo Hady Coelho de Freitas


Nº Mecanográfico: 110876
Mestrado em Engenharia Geológica
Ano letivo 2022 - 2023

Aveiro
Janeiro de 2023
UNIVERSIDADE
DE AVEIRO
2022

Edivaldo Freitas 110876


Hidrogeologia dos meios porosos.
Hidrologia dos meios carsificados.

Relatório apresentado à Universidade de Aveiro para


cumprimento dos requisitos necessários à obtenção da aprovação
na disciplina de Hidrogeologia ministrada pelos Professor
Doutor Eduardo da Silva e Professor Doutor José Lopes Velho,
Departamento de Geociências.

Aveiro
Janeiro de 2023
Índice
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 4
1.1. Objetivo geral .............................................................................................................. 4
1.2. Objetivos específicos ................................................................................................... 4
2. Pateira de Fermentelos. ...................................................................................................... 4
2.1. Enquadramento geológico .......................................................................................... 5
2.2. Geologia local ............................................................................................................... 6
2.3. Evolução geológica recente da Pateira de Fermentelos. .......................................... 7
2.4. Importância hidrogeológica – zona de recarga. ....................................................... 8
2.5. Sistema aquífero Cretácico de Aveiro ....................................................................... 9
2.6. Problemas ambientais ............................................................................................... 11
3. Luso – Penacova. ............................................................................................................... 12
3.1. Quimismo da água..................................................................................................... 12
4. Castellum de Alcabideque. ............................................................................................... 13
4.1. Enquadramento geológico. ....................................................................................... 13
4.1.1. Estratigrafia e Litologia ........................................................................................ 13
4.1.2. Tectónica ................................................................................................................ 14
4.2. Nascente cársica......................................................................................................... 15
4.3. Quimismo da água..................................................................................................... 15
5. Olho do Dueça e Grutas Associadas ................................................................................ 16
5.1. Enquadramento geológico. ....................................................................................... 16
5.2. Gruta do Algarinho ................................................................................................... 17
5.3. Soprador do Carvalho .............................................................................................. 18
5.4. Quimismo da água – sistema aquífero Sicó-Alvaiázere. ........................................ 19
6. Referências bibliográficas................................................................................................. 20

3
1. INTRODUÇÃO
A saída de campo realizada no dia 07 de dezembro de 2022, teve como intuito efetuar
uma visita de estudo no âmbito da disciplina de hidrogeologia relativa a componente
prática, na qual foram visitados os seguintes locais: Pateira de Fermentelos - Luso;
Penacova – Alcabideque; Olhos do Dueça.

1.1. Objetivo geral


Este relatório teve como propósito fazer um estudo hidrogeológico das formações
geológicas com um índice de porosidade significativo e formações carsificacdas nos
locais visitados, além de permitir a aquisição do conhecimento técnico-científico.

1.2.Objetivos específicos
Para dar respostas ao principal propósito desta saída, foram traçadas as seguintes
tarefas:

• Estudar o sistema cretácico de Aveiro – sistema multiaquífero em meio


sedimentar poroso e multicamada, intrusão salina, piezometria,
sustentabilidade do recurso água (Pateira de Fermentelos), processo de recarga
em aquífero confinado;
• Caracterizar a captação de água relacionada com rochas quartzíticas – meios
fraturados, quimismo, hidrotermalismo, produção industrial, geologia
regional (Luso);
• Estudar a nascente cársica, abastecimento romano a Conímbriga, estrutura de
abastecimento. Qualidade da água – Castellum de Alcabideque;
• Estudar a nascente cársica, grutas e a importância do Maciço de Sicó – Olho
do Dueça.
2. Pateira de Fermentelos.

A Pateira de Fermentelos é uma lagoa natural que faz parte de uma zona húmida
localizada entre Aveiro e Águeda. Corresponde à parte terminal do rio Cértima,
imediatamente a montante da confluência deste com o rio Águeda (Figura 1).

A origem da Pateira de Fermentelos deve-se por um lado à configuração da zona terminal


do rio Cértima, com uma extensa planície aluvial cercada por elevações que estrangulam
a passagem do rio Cértima antes de este desaguar no rio Águeda e por outro lado, deve-
se à ação do Homem, que ao longo dos tempos permitiu a expansão da superfície de água
livre, conduzindo à configuração atual desta lagoa. A área ocupada pelo espelho de água
da Pateira de Fermentelos varia entre cerca de 3 km2 na época seca e cerca de 9 km2 na
época húmida, em situações de cheia (Sena, 2007) (extraído de Dinis, Sena & Costa,
2013).

Fig. 1 – Vista panorâmica da lagoa da Pateira de Fermentelos (fonte: https://www.cm-


agueda.pt/viver/ambiente-e-sustentabilidade/biodiversidade-e-conservacao-da-natureza/sitios-
ramsar/pateira-de-fermentelos).

2.1.Enquadramento geológico
Em termos da geologia regional, a Pateira de Fermentelos localiza-se no extremo norte
da Bacia sedimentar Lusitaniana, próximo do contacto entre as formações
mesocenozóicas desta bacia sedimentar e os xistos paleozóicos e pré-câmbricos do soco
(Figura 2).

A Bacia Lusitaniana corresponde a um fosso alongado segundo a direção NNE-SSW


originado em regime distensivo durante o Mesozóico, onde se depositaram sedimentos
detríticos e carbonatados (Kullberg et al., 2000). Os sedimentos detríticos, que
predominam no setor norte da bacia, foram alimentados de oriente e ocidente (Horst das
Berlengas) pelo Maciço Hespérico. Estes sedimentos detríticos registam uma evolução
paleoambiental condicionada por importantes oscilações do nível médio do mar e por
alterações nos volumes de detritos transportados para a bacia Lusitaniana, originando

5
variações laterais do tipo de rochas e da sua espessura (Ribeiro et al., 1979) (extraído de
Dinis, Sena & Costa, 2013)..

Fig. 2 - Bacia Lusitaniana com enquadramento da área de estudo, a partir de Alves et al. (2002)
(extraído de Dinis, Sena & Costa, 2013).

2.2.Geologia local
A Pateira de Fermentelos está cercada por rochas sedimentares detríticas,
fundamentalmente continentais, do Cretácico a Oeste, Norte e Sul e do Triásico a Este.
No topo aplanado das elevações mesozóicas assentam terraços fluviais plio-plistocénicos.
O fundo dos vales está coberto por aluviões lodosas e silto-argilosas que, no vale do
Cértima exibem zonas com areias e areões bem calibrados (Figura 3). A forma e posição
da Pateira de Fermentelos estão relacionadas com uma depressão alongada, de 12 km,
que se estende desde Aguada de Baixo até Eirol. O traçado sinusoidal da Pateira de
Fermentelos revela um forte controlo estrutural, condicionado, particularmente, por
estruturas NW-SE e NE-SW, que se cruzam com outras grosseiramente N-S (Dinis, 2004)
(extraído de Dinis, Sena & Costa, 2013).
Fig. 3 Mapa geológico da Pateira de Fermentelos (a partir de Barbosa, 1981, Teixeira & Zbyszewski,
1976 e Barra, 1998) (extraído de Dinis, Sena & Costa, 2013).

2.3.Evolução geológica recente da Pateira de Fermentelos.


A origem e evolução das bacias cenozóicas, onde se inclui a Bacia do rio Vouga, assentes
sobre os sedimentos mesozóicos da Bacia Lusitaniana, está associada a episódios de
tectónica compressiva durante o Cenozóico – a orogenia Alpina (Cunha & Reis, 1995).
Durante o Quaternário, depositaram-se, no Baixo Vouga, extensas planícies aluviais e
areias marinhas e eólicas. A regressão gradual ocorrida durante o Quaternário baixou o
nível de base do rio Vouga, conduzindo ao encaixe da rede hidrográfica e erosão parcial
dos terraços, cujos testemunhos se preservam no topo aplanado das 10 elevações
mesozóicas que caracterizam todo o Baixo Vouga (Barbosa, 1981). A formação da Pateira
de Fermentelos, ocorrida durante o Quaternário, parece estar inicialmente associada a
uma secção especialmente deprimida de um sistema fluvial plistocénico (Dinis, 2004).

7
Em seguida, durante o Holocénico, a sua evolução relaciona-se com a evolução a Ria de
Aveiro que, em termos geomorfológicos, não constitui uma ria, mas antes um sistema
laguna ilha-barreira (Figura 4). Durante a transgressão flandriana (cujo máximo ocorreu
há 4 a 5 mil anos), no lugar desta laguna existia um golfo onde confluíam os rios Vouga,
Águeda e Cértima (Girão, 1922 e Souto, 1923, in Dinis, 2004). Ao longo da evolução
recente da Pateira de Fermentelos, os seus limites foram condicionados pelas variações
do nível do mar, afluxo de detritos e, sobretudo, pelo jogo tectónico que provocou um
basculamento generalizado das superfícies suportadas por sedimentos plio-quaternários
para NW. Por vezes são aparentes basculamentos locais em sentidos diferentes (Dinis,
2004) (extraído de Dinis, Sena & Costa, 2013).

Fg.4 - Evolução recente da Ria de Aveiro (modificado a partir de Alveirinho Dias et al.,
1998) (extraído de Dinis, Sena & Costa, 2013)..

2.4.Importância hidrogeológica – zona de recarga.


Nas zonas ribeirinhas da Pateira de Fermentelos existem muitos poços que captam a água
do aquífero freático, que é constituído principalmente por areias e cascalhos dos terraços
quaternários, e arenitos cretácicos. Os arenitos cretácicos que afloram na zona a Oeste da
Pateira de Fermentelos fazem parte da zona de recarga do Sistema Aquífero Cretácico de
Aveiro, que constitui uma reserva de água subterrânea estratégica para toda a região do
Baixo Vouga (Marques da Silva, 1990). Este sistema aquífero (com uma área total de 890
km2) estende-se na direção E-W, desde Fermentelos até ao Oceano Atlântico, e na direção
N-S, desde Ovar até Mira. Na zona das Gafanhas e em Mira, capta-se água subterrânea
do Sistema Aquífero Cretácico de Aveiro, a cerca de 300 a 400 m de profundidade, que
tem aproximadamente 20 mil anos (Condesso de Melo, 2002) (extraído de Dinis, Sena &
Costa, 2013).

2.5.Sistema aquífero Cretácico de Aveiro


Saraiva et al. (1982) definiram a litologia das formações hidrogeológicas cretácicas da
região de Aveiro, bem como os traços gerais da sua geometria. Constatou-se que tanto os
xistos que afloram a Este dos sedimentos cretácicos, como a estrutura de afunilamento
destes em direcção ao mar, funcionam como barreiras negativas. Identificou-se um
aumento da mineralização da água do sistema aquífero Cretácico de Aveiro com a
profundidade (Sena, 2007).

Peixinho de Cristo (1985) realizou um estudo abrangente do sistema aquífero Cretácico


de Aveiro, calculando volumes de recarga e descarga do sistema, e verificando que a
existência de intercalações argilosas e de uma cobertura muito pouco permeável na maior
parte da área do sistema aquífero dificultam a sua recarga. O autor verificou também, um
notável aumento dos volumes de extracção para fins industriais e municipais que,
conjugados com a lenta e difícil recarga do sistema, induziram um acentuado e gradual
rebaixamento dos níveis piezométricos. Neste trabalho, foi realizada uma descrição geral
das características hidroquímicas do sistema ( extraído de Sena, 2007).

Marques da Silva (1990) definiu o modelo geométrico e principais direcções de fluxo do


sistema aquífero Cretácico de Aveiro, classificando-o de multicamada. Foram definidas,
também, as superfícies piezométricas em regime natural, ligeiramente inclinada para o
mar e, a superfície influenciada pela extracção, bem como o funcionamento hidráulico
regional e a distribuição espacial das fácies hidroquímicas, identificando fácies
bicarbonatadas cálcicas e calco-sódicas na zona de recarga, tornando-se cada vez mais
cloretado-sódicas para o litoral. A partir de análises isotópicas, o mesmo autor identificou
águas mais jovens na zona oriental e mais antigas na zona ocidental do sistema aquífero.
Através do estudo de sondagens para captação de água subterrânea foram definidas
camadas guia que permitem identificar o conjunto aquífero principal.

Oliveira (1997) investigou a capacidade de troca catiónica (CTC) de três níveis argilosos
presentes na sequência sedimentar cretácica, concluindo que os valores de CTC são
bastante homogéneos nos três níveis argilosos, ocorrendo alguma discrepância local,
devida provavelmente à influência de minerais carbonatados. O abrandamento das águas

9
do sistema aquífero, ao longo das linhas de fluxo, pode dever-se a processos de flushing,
que consiste na expulsão de águas marinhas congénitas, acompanhada de intercâmbio de
bases.

Carreira (1998) realizou o estudo das paleoáguas de Aveiro, concluído que o sistema
aquífero Cretácico de Aveiro está isolado do sistema aquífero Quaternário e que o
primeiro não revela qualquer indício de intrusão marinha, apesar da inversão do fluxo
observada no litoral norte. A autora constata que as águas do sistema estão subsaturadas
em calcite, dolomite e gesso, com ligeiro aumento dos respectivos índices de saturação
segundo o sentido de fluxo subterrâneo. Foram detectadas águas com 18000 anos na
região central da bacia, que se terão infiltrado Interacções água subterrânea – água
superficial na zona da Pateira de Fermentelos (Portugal) 10 durante o último máximo
glaciar, quando o nível do mar – situado entre 100 a 130 m abaixo do nível actual –
induziu um aumento do gradiente hidráulico e favoreceu a recarga do sistema.

No âmbito do projecto PALAEAUX, Condesso de Melo et al. (2001) determinaram a


distribuição de paleoáguas no sistema aquífero Cretácico de Aveiro, bem como o seu
significado paleoambiental e o seu potencial como reserva estratégica de água.

O nível base de qualidade da água do sistema aquífero Cretácico de Aveiro foi definido
no âmbito do projecto Baseline - Natural Baseline Quality in European Aquifers: A Basis
for Aquifer Management (Condesso de Melo et al., 2003), permitindo identificar zonas
onde determinadas condições da água são naturais e outras onde a degradação da sua
qualidade se deve a fenómenos de contaminação.

Marques da Silva (1990) e Condesso de Melo (2002) verificaram o rebaixamento


acentuado da superfície piezométrica devido ao aumento da extracção de água
subterrânea a partir dos anos 60, originando duas depressões importantes: uma na zona
central do sistema aquífero, com cotas abaixo do nível do mar e outra na região noroeste
onde se observa inversão do fluxo natural.

Condesso de Melo (2002) afirmou que, apesar da rápida recuperação dos níveis
piezométricos verificada a partir de 1997, devido à redução do caudal de bombagem por
parte de alguns municípios, os níveis voltaram a descer, obrigando a restrições quanto ao
licenciamento de captações por parte do INAG, através da Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento da Região Centro (CCDR-Centro, 2005). Condesso de Melo (2002)
alargou a área de estudo do sistema aquífero para sul de Vagos e identificou uma redução
da transmissividade das camadas mais permeáveis do sistema aquífero, na zona onde
afloram, comprometendo a recarga efectiva do mesmo. A autora constatou que a descarga
do aquífero se dá principalmente através da bombagem, para além da descarga natural
para o mar, através de nascentes localizadas na zona freática e para a Pateira de
Fermentelos e zonas húmidas adjacentes.

Sena (2007) determinou a recarga actual do aquífero que parece variar temporal e
espacialmente. O estudo hidrogeoquímico do aquífero revelou três partes distintas: uma
zona de recarga com águas recentes, uma zona intermédia com águas gradualmente
menos oxidantes e de idade holocénica a pré-industrial e uma terceira zona com águas
redutoras, datadas do Plistocénico superior- Holocénico inferior. Neste trabalho foi
realizado um modelo matemático de fluxo e foi realizada a modelação da evolução
hidrogeoquímica do sistema aquífero ao longo da principal direcção de fluxo. As
conclusões confirmam a falta de sustentabilidade da exploração actual dos recursos
hídricos subterrâneos. (fonte: Sena, 2007)

2.6.Problemas ambientais
Em 2003, um dos grandes problemas que afetou a zona em estudo foi a pantanização da
Pateira de Fermentelos, sobretudo na zona das ilhotas, em havia provocado a morte de
peixes e a proliferação do mosquitos.

(fonte: https://www.publico.pt/2003/03/31/local/noticia/fermentelos-receia-problemas-
ambientais-e-de-saude-publica-289524)

Atualmente, este lago está sendo afetado por vários problemas de poluição e eutrofização,
especialmente devido à industrialização e práticas agrícolas, que contribuem para o
enriquecimento dos nutrientes da água. Este processo culmina com a enorme quantidade
de Eichhornia crassipes (Mart.) Solms, uma planta infestante em Portugal que, por vezes,
cobre toda a superfície da água, esgota a qualidade da água e afeta todas as espécies
endémicas (Almeida, 2006).

11
3. Luso – Penacova.

• Aquífero Termal do Luso, onde a circulação se faz a maiores profundidades e em


que a temperatura da água, nas emergências, é da ordem dos 27ºC.
• Aquífero Hipotermal do Luso, em que a circulação se faz a profundidades que não
excedem os 200 m e em que a temperatura média da água, nas emergências, é da
ordem dos 17ºC.
• Aquífero Termal de Penacova, que se localiza na zona de Penacova, com uma
extensão inferior à dos anteriores, com uma circulação intermédia e em que a água
apresenta uma temperatura média da ordem dos 20ºC, nas nascentes.
• Aquífero Suspenso da Cruz Alta, cuja distinção dos outros aquíferos é feita a partir
da composição química da água.

A recarga faz-se, fundamentalmente, a partir da precipitação sobre a plataforma aplanada


que corta os quartzitos, em parte coberta por depósitos mais recentes. A fracturação
facilita a recarga e a subsequente circulação em profundidade. A presença de acidentes
cortando os quartzitos e o contacto com formações menos permeáveis, condicionou a
presença de nascentes, a ocidente, a Fonte de S. João, Fonte Termal do Luso, e, a oriente,
as Fontes termais de Telha, Caldas e Penacova. A presença destas zonas de descarga, dá
origem a uma partição de águas subterrâneas, sendo o sector drenado pelas nascentes
ocidentais, o mais importante (Almeida e outros, 2000).

Sob o ponto de vista isotópico também se podem fazer considerações acerca dos tempos
de permanência das águas em cada um dos aquíferos que constituem o sistema aquífero
do Luso. Assim, de acordo com os valores apresentados no quadro A12.1, as águas do
Aquífero Hipotermal são mais recentes do que as do Aquífero Termal, enquanto as águas
do Aquífero Termal de Penacova são de idade intermédia. Os valores de oxigénio-18
indicam que se trata de águas meteóricas tendo origem na mesma área de recarga (Vieira
da Silva et al., 2000).

3.1.Quimismo da água.
Quanto a composição química da água dos aquíferos que compõem o sistema aquífero do
Luso – Penacova, foram apresentados por Vieira da Silva et al., 2000, valores de
parâmetros para cada um dos aquíferos:
Quadro 1 - – Valores de parâmetros para cada aquífero do sistema Luso - Penacova. (fonte: Almeida e outros,
2000

4. Castellum de Alcabideque.

4.1.Enquadramento geológico.
4.1.1. Estratigrafia e Litologia

Geologicamente, as principais formações aquíferas que compõem a zona de Castellum de


Alcabide que são constituídas por dolomitos, calcários compactos e calcários dolomíticos
compactos, por vezes com intercalações margosos do Liásico.

Ribeiro et al. (1979) refere que as unidades antigas são de calcários e dolomitos a que se
seguem calcários e margas com xistos betuminosos, progressivamente mais carbonatados
com a aproximação ao Liásico superior, terminando em calcários maciços algo
cristalinos. No Liásico superior mantém-se a natureza calcário-margosa, já menos
dolomítica, que se representa por margas brandas e calcários (brandos, compactos ou
sublitográficos em plaquetas), por vezes com intercalações de biostromas ( extraído de
Almeida, 2000) (Figura 6).

As espessuras são muito variáveis, conhecendo-se valores entre 106 m (região de


Almalaguês e os 242,5 m (Torre de Vale de Todos).

13
Fg.6 - – Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Penela-Tomar. (fonte:
Almeida e outros, 2000)

4.1.2. Tectónica
A tectónica é condicionada pelos acidentes tardi-hercínicos que afectaram o soco e cujare
activação influenciou a cobertura mesozóica (Ribeiro et al., 1979). No bordo leste
algunsacidentes correspondem a roll-overs subordinados a falhas normais lístricas, típicas
do regimeextensional inicial do Fosso Lusitânico (Crispim, 1986, Crispim e Ribeiro,
1986).

As direcções de fracturação deste sistema são: (1)tardi-hercínicas, (2) associadas


àabertura do fosso lusitaniano, (3) béticas, (4) e ainda as relacionadas com a ascensão
dasformações diapíricas de idade triásica. A fracturação tardi-hercínica está representada
poracidentes NNE-SSW a ENE-WSW e os respectivos conjugados NNW-SSE a NW-SE.
Sãoainda de referir os acidentes tardi-hercínicos de direcção N-S, por vezes de grande
extensão ecom importantes escarpas, de que se destaca a falha de Coimbra, que estabelece
o limite Wdeste sistema entre Coimbra e a região de Condeixa-A-Nova e que segundo
Brum Ferreira(1981) apresenta nesta região uma escarpa entre 50 a 100 m de expressão.
A direcção deabertura do fosso lusitaniano está representada por acidentes NNE-SSW e
N-S. As falhas deorientação bética apresentam-se com direcções ENE-WSW.

Cabral e Ribeiro (1988) afirmaram que esta região está afectada por diversos acidentes
de movimentação recente. Assim, nesta região são registados os seguintes acidentes:
lineamentos correspondentes a possíveis falhas activas – orientações NNE-SSW, NNW-
SSE e NW-SE;falhas prováveis de movimentação desconhecida, com orientação N-S;
falhas prováveis deinclinação desconhecida, com componente de movimentação vertical,
com orientação E-Wque flecte para NE-SW ou N-S à medida que caminha para o contacto
com o soco hercínico.O contacto com o maciço hercínico faz-se por uma falha cuja
orientação é essencialmente N-S, de inclinação desconhecida e componente de
movimentação vertical.

4.2.Nascente cársica.

O sistema aquífero é cársico, com o substrato formado pelos Grés de Silves, que
marginam o sistema aquífero a nascente. As sequências calco-margosas do Liásico médio
e superior constituem a parte superior do sistema aquífero.

Dos 245 km2 de área total do sistema, apenas uma parte é coberta por rochas com aptidão
aquífera significativa, correspondentes às formações da base do Liásico. As áreas
restantes, são ocupadas por formações sobrejacentes, também de idade liásica, mas de
carácter calco-margoso, ou francamente margoso. No entanto, é provável que parte destas
áreas correspondam a zonas de recarga das formações aquíferas. De facto, em certas
regiões, por exemplo nas imediações de Rabaçal, a quase ausência de uma rede de
drenagem superficial organizada e a presença de depressões fechadas, apoia a hipótese de
uma drenagem vertical para as camadas subjacentes.

Neste sistema, conhecem-se algumas cavidades e zonas de descarga: a de Alcabideque é


amais importante. Outra nascente importante é a do Dueça. Contudo, esta nascente, embor
asituada em calcários liásicos está relacionada com um importante sistema de drenagem
subterrânea que inclui não só os calcários do Liásico, mas também do Dogger.

4.3.Quimismo da água.
No quadro abaixo, estão representados os valores paramétricos da composição química
da água do sistema aquífero Penela-Tomar realizado em 1999:
15
5. Olho do Dueça e Grutas Associadas

5.1.Enquadramento geológico.
O Sistema Espeleológico do Dueça desenvolve-se no sector mais setentrional do estreito
maciço calcário Castelo do Sobral-Alvaiázere. Juntamente com o maciço de Condeixa-
Sicó, e separados por uma complexa zona de fracturação e dobramento, estas duas sub-
unidades geomorfológicas de calcários calcomargosos e calcodolomíticos, correspondem
às chamadas Serras e Planaltos Calcários de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (CUNHA, 1988).

Este sistema situa-se no concelho de Penela, distrito de Coimbra, num sector de grande
complexidade morfológica e estrutural, com fraturas de orientação diversa a
condicionarem os afloramentos de calcários dolomíticos (Liássico Inferior), de margas e
calcários margosos (Liássico Médio e Superior) e de calcários (Dogger). Esta zona onde
o sistema se desenvolve encontra-se atualmente quase isolada do resto do maciço em
termos de circulação cársica subterrânea, excepto a SW, onde um istmo de calcários o
liga ainda a este. A Este, os calcários fazem contacto com os xistos do Maciço Hespérico
ao longo de uma zona de intensa fracturação de orientação N-S. A Norte, NNW, S e SSE,
a erosão normal e cársica levaram ao total desmantelamento da parte superior da estrutura
anticlinal, deixando expostas margas liássicas, pouco carsificáveis e permeáveis. A
evolução do nível de base na orla do afloramento apresenta uma história complexa, só
possível de estudar após uma futura síntese dos trabalhos espeleológicos em curso. É, no
entanto, possível afirmar que esta teve uma importância determinante na génese e
evolução das galerias do sistema, o qual é formado por um intrincado cruzamento de
perdas-ressurgências, em diferentes estágios de atividade hídrica (NEVES, et al., 2003).
5.1.1. Tectónica

O olho da dueça enquadra-se na tectónica do maciço Sicó-Alvaiázere é condicionada


pelos acidentes tardi-hercínicos que afetaram o soco e cuja reativação influenciou a
cobertura mesozóica (Ribeiro et al., 1979).

No bordo leste, alguns acidentes com respondem a roll-overs subordinados a falhas


normais lístricas típicas do regime extensional inicial do Fosso Lusitânico (Cirspim,
1986; Crispim e Ribeiro, 1986).

O maciço é constituído um conjunto de blocos e delimitados por falhas, onde por vezes
se desenvolvem estruturas em sinclinal e em anticlinal. De entre estas estruturas dobradas
há a salientar o anticlinal da Serra do Rabaçal, que apresenta um eixo de atitude N77º, e
que se encontra afetado por desligamentos conjugados N30ºE e N40ºW (Crispim, 1986)
(extraído de Almeida, 2000). Além desta estrutura em blocos basculhados e por vezes
com dobramentos, a região é ainda afetada por diáclases e fraturas, além obviamente de
numerosas falhas que definem os referidos blocos.

5.2.Gruta do Algarinho

A Gruta do Algarinho é uma ressurgência, aberta em 1998 com o auxílio de uma retro-
escavadora. A progressão na gruta revelou-se relativamente fácil, sendo condicionada,
sucessivamente, por pequenos sifões, que impediam a continuação da exploração durante
o Inverno. Após aguardar pela descida do nível das águas, a exploração deparou-se com
um sifão permanente, a cerca de 1800 m da entrada, denominado Sifão Terminal do
Algarinho, alvo de duas tentativas de mergulho, ambos sem sucesso, por este ser de
exploração difícil e perigosa, devido ao seu fundo arenoso.

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Fig.7 – Gruta do Algarinho (fonte: Neves e outros, 2005)

5.3.Soprador do Carvalho
A gruta do Soprador do Carvalho, também conhecida por Gruta Talismã, foi
descoberta em 1992 pelo Grupo de Arqueologia e Espeleologia de Pombal (GAEP)
após a indicação do Sr. António Dias, um habitante da aldeia de Taliscas. A
desobstrução de uma pequena fenda com uma forte corrente de ar conduziu ao interior
de uma cavidade com um rio subterrâneo de características únicas, provavelmente o
maior curso de água subterrâneo que se pode percorrer sem auxílio de técnicas de
mergulho, em Portugal. A exploração e estudo da gruta ficaram comprometidos nos
anos seguintes, uma vez que o GAEP se mostrou incapaz de prosseguir sozinho e
inviabilizou a colaboração com outros grupos. Só em 1999 são retomados pelo
coletivo os trabalhos de exploração e topografia do Soprador do Carvalho, tendo em
meia dúzia de incursões desobstruído novas galerias e realizado mais de 2000 m de
topografia (Neves e outros, 2005).
Fig.8 – Soprador do Carvalho (fonte: Neves e outros, 2005)

5.4.Quimismo da água – sistema aquífero Sicó-Alvaiázere.


No quadro a seguir estão representados os parâmetros físico-quimicos do sistema aquífero
Sicó-Alvaiázere genericamente:

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6. Referências bibliográficas

Dinis P, Sena C, Costa M, 2013 – Manual do projeto Geologia: Recursos, Riscos e


Património. Agência Ciência Viva & Departamento de Geociências da Universidade de
Aveiro.

Almeida A., 2006 – Avaliação da qualidade da água na Pateira de Fermentelos – caso de


estudo na área de projeto.

Neves, J., Pessoa, M., Redinha, N., 2005 – O sistema espeleológico do Dueça.
Explorações 1998 – 2005. CIES; NEC.

Almeida, C., Mendonça, J., Jesus, M., Gomes, A., 2000 – Sistemas aquíferos de Portugal
Continental.

Sena, C., 2007 – Interações água subterrânea – água superficial na zona da Pateira de
Fermentelos (Portugal). Departamento de Geociências – Universidade de Aveiro.

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