UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
MESTRADO ACADÊMICO EM SERVIÇO SOCIAL
Síntese raízes coloniais e universalização da questão social
Disciplina: Serviço Social e Questão Social
Docente: Ana Arcoverde
Beatriz Maria Corrêa da Costa
Recife, julho de 2024
Síntese raízes coloniais e universalização da questão social
Silva (2014, p. 41) demarca que a compreensão de questão social a ser abordada na
sua obra a entende como sinônimo de antagonismo, exploração, contradição, conflitos
e lutas sociais geradas no interior da sociedade capitalista brasileira. Se traduz,
historicamente, pelo enfrentamento da servidão indígena, pelo enfrentamento da
expropriação do negro e, fundamentalmente, pelas mais recentes lutas por melhores
condições de vida e trabalho.
A autora apresenta as perspectivas teóricas e metodológicas de Caio Prado Júnior
(1970), Sérgio Buarque de Holanda (1995) e Gilberto Freyre (2002) sobre os
elementos históricos que definiram o traço da nossa sociedade.
Prado Júnior – perspectiva marxista, revelando as contradições presentes no
processo colonizador – capitalismo primitivo
Sergio Buarque de Holanda – importância do saber indígena – identificação do caráter
da sociedade e do povo brasileiro – tese do personalismo do colonizador como
“homem cordial” – este traço ainda é muito atual
Gilberto Freyre – tem uma visão conservadora e idílica, fantasiosa da realidade, talvez
romantizada das relações estabelecidas entre a casa grande e a senzala – percebe a
miscigenação entre brancos, negros e indígenas como elemento fundante da
formação socioeconômica do país, bem como a família patriarcal
Após apresentar as perspectivas dos autores citados, a autora demarca que a visão
de Prado Júnior será priorizada, pois aponta que é necessário conhecer o passado
colonial do Brasil para que se possa compreender o presente e as razões da
dependência econômica, social e cultural – sentido econômico do processo de
povoamento ou exploração.
Tratado de Tordesilhas – Portugal e Espanha, este primeiro ficando o direito de posse
e exploração da terra.
Capitanias hereditárias – primeira forma de organização política, econômica e social
(descentralizada) – adotada para povoar a terra e produzir riqueza para a coroa. Este
projeto fracassou por não haver passividade por parte da população nativa
escravizada que já ocupavam o território antes da invasão.
Primeiros germes da nossa questão social – relação de acumulação baseada na
profunda exploração do trabalho escravo.
A sociedade colonial brasileira surge de um projeto ambicioso de expansão de riqueza
e poder das monarquias europeias – estava saindo da idade dos feudos e castelos
para entrar na modernidade capitalista. Portanto, o Brasil foi colonizado nos marcos
do capitalismo mercantil europeu e se estruturou na grande propriedade rural.
Setores predominantes: lavoura, incialmente de açúcar e depois de café.
O trabalho escravo foi a principal ferramenta utilizada, sendo justificado pelo baixo
custo de sua mão de obra/força de trabalho não remunerada. “O colono não veio para
trabalhar, apenas para conduzir”.
Somente os filhos das elites recebiam instrução de qualidade, não muito diferente do
que vemos atualmente. A maioria da população estava fora da escola ou recebendo
um ensino muito básico, o que, segundo a autora, mantinha um nível cultural muito
baixo.
E foi da grande lavoura de açúcar, permeada pelas relações de classe que se derivou
a estrutura socioeconômica do país e seus problemas sociais vistos até hoje, às vezes
em configurações diferentes. Valorização do escravo enquanto mercadoria.
Holanda (1995) explica o significado da nossa colonização como uma empresa
comercial – modo de produção pré-capitalista – ânsia de prosperidade, riqueza fácil –
traço personalista dos colonizadores.
Freyre (2002) aponta o pátrio poder da aristocracia rural (patriarcado) como elo da
nossa formação sem maiores conflitos – uma colonização baseada na convivência
tranquila entre o senhor e o escravo – essa relação é apontada como matriz do que
somos enquanto nação: sem conflitos e sem problemas sociais.
Prado Júnior (1970) mostra as contradições presentes no processo econômico da
colônia – conflitos sociais – uso forçado e constrangido do trabalho escravo – dados
ambientais, como a depredação dos solos (falar das tragédias climáticas/exploração
da Amazônia) – exploração abusiva da da mão de obra escrava de negros e indígenas
– Para ele, o sentido da colonização é, sobretudo, econômico e aconteceu por meio
de feitorias comerciais, não apenas de povoamento.
Prado Júnior afirma que havia um capitalismo, mesmo que primitivo e que não se
apresentou nos moldes burgueses.
Os povos indígenas resistiram à exploração dos colonizadores. A legislação lusitana
autorizava a escravidão negra, mas tinha ressalvas quanto à escravidão indígena, o
que não impediu que os nativos fossem escravizados.
A colonização cristalizou um problema social não resolvido: o racismo.
Freyre afirma que foi a partir da miscigenação que as distâncias entre brancos, negros
e indígenas foram vencidas. A autora afirma que Freyre e Holanda descartam a
existência de um preconceito racial. A relação entre senhor e escravo oscilava de
dependente para protegido em alguns momentos.
A autora afirma que, olhando pela ótica de Holanda e Freyre, se pode acreditar que
havia uma harmonia social entre negros, indígenas e brancos, bem como ausência de
contradição e resistência por parte dos explorados.
Centralidade na figura do senhor rural – relação do senhor com os escravos muitas
vezes vista como uma relação de proteção – o sentido de família só existia na casa
grande, sendo a organização dos escravos vista de forma promíscua –
A sociedade colonial estava dividida entre: proprietários rurais, que eram os donos
das terras e dos escravos; uma camada média, composta de profissionais liberais e
alguns funcionários públicos; e a grande massa de escravos e de homens livres
pobres, quase sempre desempregados ou subempregados. Esses homens, em sua
maioria, eram analfabetos e não possuíam nenhuma qualificação profissional.
O desemprego foi um fator importante naquele período, pois a produção se
concentrava na lavoura, o que reduzia as possibilidades de emprego para a
população.
Em suma, o Brasil Colônia foi uma sociedade resultada de uma composição ética da
população nativa, os indígenas, somada aos negros escravizados e depois se somou
aos marinheiros e comerciantes que vinham para comprar produtos exóticos para
vender na Europa.
A medida de riqueza muda a partir do fim do tráfico de pessoas negras, em 1850.
Anteriormente a riqueza era capitalizada no escravo e agora passava à terra: quem
possuísse maior quantidade de terras era o mais rico.
O sistema colonial encontra sua completa ruina com a Revolução Industrial. Nesse
processo, que não foi linear, a figura do senhor de engenho foi deixada de lado quando
a população começa a ocupar a cidade, acompanhada do surgimento da burguesia,
que se beneficia do fomento da vida urbana.
No período monárquico, a questão social foi assumida parcialmente pela sociedade e
pelo Estado, apenas para salvar o regime político e a economia escravista. Vemos
aqui os primeiros indícios de uma questão social manifesta.
Surgimento de novas classes sociais (comerciantes urbanos e pequenos industriais
fabris) já com feições burguesas. A população continha cerca de 1 milhão de
escravizados negros e mestiços com alto coeficiente de analfabetismo e uma mão de
obra de baixa qualificação técnica.
A economia passou por uma transição de patriarcal de consumo para patriarcal de
exportação, com pouca importância para o mercado interno. O sistema colonial se
esgotou muito mais por razões econômicas do que políticas. Destaca a contribuição
dos movimentos sociais para o processo de emancipação da Colônia.
1889- Com o início da República há um avanço no plano político e no plano das ideias
no Brasil. Contudo, ao priorizar a modernização administrativa, foram poucas as
iniciativas realizadas no que diz respeito à questão social no país. Apenas algumas
tentativas isoladas podem ser mencionadas, como por exemplo, as preocupações de
Rui Barbosa.
Sociedade da época era caracterizada por traços do trabalho escravo, do extermínio
da população indígena, do preconceito social e de domínios patrimonialistas,
associados ao domínio autoritário.
Pensamento social formado por diferentes matizes ideopolíticas, do nacionalismo
autoritário ao marxismo revolucionário. A classe trabalhadora, antes servil, transforma-
se em classe operária como protagonista principal do processo de legitimidade da
questão social no Brasil.
As primeiras décadas do século XX significaram o início de implementação de
medidas de uma legislação social que passou a definir ações de proteção ao trabalho.
Ainda não havia o reconhecimento pleno pelo Estado da questão social, e a Igreja
Católica, sempre atrelada a ele, só se preocupava em legitimar sua doutrina social.
Nessa fase, a caridade e a filantropia são redimensionadas a partir de uma visão de
sociedade propagada pelo pensamento liberal.
Recusa dada burguesia brasileira em aceitar qualquer medida que implicasse na
diminuição de seus privilégios “senhoriais”, direta ou indiretamente econômico.
Referências
SANTOS, Josiane Soares. “Questão Social”: particularidades no Brasil. São Paulo:
Cortez, 2012.
SILVA, Ivone Maria da. Questão Social e Serviço Social no Brasil: fundamentos
sócio-históricos. Campinas: Papel Social; Cuiabá: EdUFMT, 2014.