EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS
VARAS CRIMINAIS DA COMARCA DE SANTOS/SP
Autos do Processo n.º
MARIANO, nacionalidade, estado civil, policial civil,
inscrito no CPF/MF de n.º ___ e RG de n.º___, residente e domiciliado
à _____, Santos/SP, vem, mui respeitosamente, à luminar presença de
Vossa Excelência, por meio de seu procurador devidamente
qualificado nos autos do processo em epigrafe, requerer, pelos
motivos que passa a expor, com base no art. 316 do CPP a:
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA
DOS FATOS
1. No dia ___, às ____, o requerente, policial civil em pleno
exercício de sua função, enquanto conduzia diligência em
determinada loja de automóveis, SUPOSTAMENTE, para que não
levasse o comerciante a delegacia, exigiu dinheiro dele pois alguns
dos carros que estavam na loja careciam de documentação legal.
2. Motivo pelo qual foi PRESO EM FLAGRANTE DELITO pela
corregedoria da polícia civil, sob o pretexto de que incorria no crime
previsto no artigo 316 do Código Penal , vejamos:
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa.
3. Ademais, Nobre Julgador, a autoridade policial, por sua vez,
deixou de arbitrar fiança, visto que, a pena máxima para o delito em
questão supera o limite de 4 (quatro) anos disposto no artigo 322 do
Código de Processo Civil.
4. Já em sede policial, enquanto ouvido perante interrogatório,
negou TODAS as acusações formuladas e explicou que estava,
apenas, averiguando uma denúncia anônima a respeito do local que
ocorria a diligência.
5. A referida denúncia informava o requerente de que a loja em
questão estaria, supostamente, guardando peças de veículos, e
veículos, furtados, frutos de atividades criminosas.
6. Ocorre que, para a surpresa do requerente, a denúncia começou
a se concretizar quando ele decidiu ser mais incisivo em sua
investigação, momento no qual, o comerciante que ali estava, a
vítima, LHE OFERECEU DINHEIRO PARA QUE DESSE FIM À
INVESTIGAÇÃO.
7. A vítima, por sua vez, também ouvida em sede policial,
argumentou que o requerente era visita recorrente do
estabelecimento e que, em todas as vezes, solicitou que a vítima lhe
desse dinheiro para que não iniciasse um procedimento de
investigação.
8. Ao final das interrogações, o delegado competente pelo caso,
entregou ao requerente a nota de culpa e remeteu a comunicação de
prisão em flagrante ao Juízo competente, procedimento esse que foi
realizado no prazo correto de 24 (vinte e quatro) horas.
9. Já em mãos do Juízo competente, para julgamento da lide, para a
surpresa do requerente, foi reconhecida a legalidade da prisão e,
ainda, foi ela convertida em prisão preventiva, sob o pretexto de,
garantir a ordem pública, a conveniência da instrução criminal e a
aplicação da lei penal, e com base na gravidade do delito, com pena
máxima superior a 4 anos, o que autoriza a decretação da prisão
preventiva, nos termos dos artigos 312 e 313, inciso I do CPP.
10. Desta forma, o requerente, que se viu sem escolhas face a prisão
indevida que está enfrentando, traz os seguintes argumentos e
razões para que possa ter sua liberdade e dignidade reconquistada.
DO DIREITO
11. Vossa Excelência, dada devida vênia, o requerente JAMAIS,
poderia ter sido preso com base no acima alegado, uma vez que,
basta uma simples leitura do caso para se perceber que a
fundamentação é deveras fraca e carece em substancia jurídica
necessária para tirar um dos bens mais preciosas do ser humano,
sua liberdade.
12. No caso em testilha, em nenhum momento, foi, sequer,
considerada a possibilidade de impor ao requerente alguma das
medidas cautelares dispostas no artigo 319 do Código de Processo
Penal, vejamos:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas
condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
atividades;
II - Proibição de acesso ou frequência a determinados
lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao
fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante
desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - Proibição de manter contato com pessoa
determinada quando, por circunstâncias relacionadas
ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer
distante;
IV - Proibição de ausentar-se da Comarca quando a
permanência seja conveniente ou necessária para a
investigação ou instrução;
V - Recolhimento domiciliar no período noturno e nos
dias de folga quando o investigado ou acusado tenha
residência e trabalho fixos;
VI - Suspensão do exercício de função pública ou de
atividade de natureza econômica ou financeira quando
houver justo receio de sua utilização para a prática de
infrações penais;
VII - Internação provisória do acusado nas hipóteses de
crimes praticados com violência ou grave ameaça,
quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de
reiteração;
VIII - Fiança, nas infrações que a admitem, para
assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar
a obstrução do seu andamento ou em caso de
resistência injustificada à ordem judicial;
IX - Monitoração eletrônica.
13. Ora, Ínclito Pretor, com base em todos as opções possíveis,
trazidas, de medidas diversas da efetiva prisão do requerente
possíveis, tem-se, in casu, que a prisão, além de desnecessária, foi
medida que extrapolou as necessidades da situação.
14. Já que, no artigo 286, § 6, do Código de Processo Penal resta
disposto que a prisão preventiva só será aplicada caso incabível sua
substituição por outra medida cautelar constante no rol do artigo
319 deste mesmo códex e, no caso em testilha, como ao final restará
demonstrado, além de incabível a prisão preventiva, deveria ter sido
aplicada alguma dessas medidas se fosse necessario.
15. Ademais, e, pode-se argumentar que, muito mais importante que
o argumentado anteriormente ventilado, tem-se que, se atentarmo-
nos ao quanto resta disposto no artigo 312 do Código de Processo
Penal, os requisitos para a prisão preventiva do requerente
NÃO ESTÃO PRESENTES!
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada
como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal
ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo
estado de liberdade do imputado.
16. Como disposto no referido artigo , existe a necessidade de que,
pelo menos, 1 (um) de 3 (três) elementos estejam presentes para que
seja decretada a prisão preventiva.
17. No que diz respeito a garantia da ordem pública, tem-se que
este elemento se encaixa nos casos em que o requerente
possivelmente voltaria a delinquir, todavia, no atual caso concreto o
preso é policial civil, com renda fixa e casa, não existe qualquer
indicio de que ele voltaria a delinquir.
18. Quanto a conveniência da instrução criminal, sendo o
requerente cidadão de bem, trabalhando, inclusive, para garantir o
bem da sociedade, ele não teria qualquer motivo para ameaçar
testemunhas, destruir provas, o que seja, o requerente nunca faria
esse tipo de ato atentatório ao andamento do processo legal.
19. E, finalmente, quanto ao objetivo de assegurar a aplicação da lei
penal, como exposto anteriormente, o suplicante, além de fazer
parte dos quadros da própria polícia civil, é também cidadão de
bem, com casa e renda própria, desta forma, nada há que se falar na
necessidade de mantê-lo preso para que a lei penal seja aplicada
corretamente.
20. Outrossim, somado a isso, em nosso ordenamento jurídico
vigente, além dos elementos acima elencados, se faz necessária a
existência do “fumus comissi delicti” representado, em nosso
direito processual, pela prova da materialidade do crime e por
indícios suficientes de sua autoria.
21. Excelência, impossível alegar que exista qualquer prova robusta
suficiente de materialidade e autoria, o que existe, no caso em
testilha, são apenas alegações de ambos os lados e uma única
denúncia anônima.
22. Ainda assim, só esses 3 (três) elementos e a existência do
“fumus comissi delicti” , mesmo que existentes no caso concreto,
não bastam, é necessário que, como dispõe o artigo 313, inciso I, do
Código de Processo Penal, a pena máxima do delito seja igual, ou
superior, a 4 (quatro) anos, vejamos:
art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será
admitida a decretação da prisão preventiva:
I - Nos crimes dolosos punidos com pena privativa
de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
23. Exposto tudo isso, no caso em testilha, apesar da pena máxima
do crime que incorre o solicitante ser, de fato, superior a 4 (quatro)
anos, o artigo 313 só pode decretar a pena preventiva do réu quando
algum dos pressupostos do artigo 312 estiverem presentes.
24. Ou seja, a interpretação correta deve ser feita, inicialmente,
pelo artigo 313, aonde se verificará o cabimento de algum dos
incisos e, só então, se somara o artigo 312, assim, se ao final o
requerente se encaixar em ambos os artigos, cumulativamente,
poderá, enfim, ser decretada a prisão preventiva, porém, percebe-se
que no caso em estudo, não foi o que ocorreu.
25. Logo, com base no trazido até então, tem-se que, a decisão que
decretou a prisão preventiva do solicitante foi extremamente
infundada e imotivada indo, mais uma vez, em total e completo
desacordo com a norma vigente, como disposto no artigo 315 do
Código de Processo Penal e, ainda, no § 2 do artigo 312 desse
mesmo códex.
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou
denegar a prisão preventiva será sempre motivada e
fundamentada.
art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada
como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal
ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado
de liberdade do imputado.
§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve
ser motivada e fundamentada em receio de perigo e
existência concreta de fatos novos ou
contemporâneos que justifiquem a aplicação da
medida adotada.
26. Vale destacar ainda que, o argumento da gravidade do delito
trazido no conteúdo decisório como motivo da ordem de prisão
preventiva, por si só, não é suficiente para autorizar um decreto
prisional.
27. Posto isto, nítido que, no caso concreto, é impossível que seja
decretada a prisão preventiva do requerente, já que não existem
elementos suficientes para tanto, motivo pelo qual ela deve ser
revogada.
DOS PEDIDOS
28. Desta forma, o que se requer neste momento, nada mais é que
seja decretada a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, bem
como seja expedido o alvará de soltura, com base no artigo 316 do
Código de Processo Penal e, em seu lugar, seja aplicada, caso Vossa
Excelência considerar necessário, alguma das medidas cautelares
constantes no artigo 319 deste mesmo códex.
29. Sendo o que se tinha a expor e requerer, leva-se a presente
situação a altiva apreciação de Vossa Excelência, para que surtam
os devidos efeitos de direito.
Termos em que,
Pede deferimento.
Local e data.
Nome do Advogado
OAB