IBC – EBD 2020 – Como Ler a Bíblia
Lição: 1 – Introdução à Teologia Bíblica
Data: 24/04/2022
Leituras Diárias:
Segunda: Gênesis 1
Terça: Gênesis 3
Quarta: Gênesis 12.1-3
Quinta: Êxodo 12.1-42
Sexta: 2 Samuel 7
Sábado: Mateus 1
Domingo: Apocalipse 21
Introdução:
Estamos iniciando uma nova série de estudos na Escola Bíblica Dominical,
chamada “Como Ler a Bíblia”, e a proposta desta série é aprendermos como ler
a Bíblia considerando sua história maior, ou seja, o plano redentor de Deus
revelado em toda a Escritura.
Os irmãos Nick Roark e Robert Cline escreveram em seu livro “Teologia
Bíblica” que “a Bíblia é uma história divinamente inspirada. Ela conta essa
história por meio de uma coleção de narrativas, canções, poesias, provérbios de
sabedoria, Evangelhos, epístolas (ou cartas) e literatura apocalíptica. Juntas,
essas formas diversas contam uma verdadeira história sobre a obra salvífica de
Deus desde o início dos tempos”. E é sobre esta história que queremos conhecer
e guardar em nossa mente para, quando lermos porções das Escrituras,
identificar o que lemos dentro dessa história maior.
Eles ainda dizem o seguinte: “é possível honrar as Escrituras e mesmo assim
lê-las e usá-las equivocadamente, deixando de ver o grande quadro que Deus
concebeu. Contudo, felizmente, o autor da Bíblia nos deixou pistas claras sobre
a mensagem principal da história dele”.
Sendo assim, o que pretendemos estudar ao longo deste ano é sobre esta
história maior revelada em toda a Escritura, que é chamada de Teologia Bíblica,
que é “um modo de ler a Bíblia como uma única história de um único autor divino,
que culmina (ou atinge seu ponto mais alto) em quem Jesus Cristo é e o que Ele
fez; então, cada parte da Escritura é entendida em relação a ele. A teologia
bíblica nos ajuda a entender a Bíblia como um grande livro constituído de vários
livros menores que contam uma única grande história”.
2. Qual é a Grande História da Bíblia?
Os irmãos Nick Roark e Robert Cline disseram que “a história da Escritura é
a história de Deus. É a história de Deus, o Rei. A Bíblia começa e se encerra
com um Deus glorioso, que é criador e governador soberano de todas as coisas
(Gênesis 1; Apocalipse 20-22), o qual existe por toda a eternidade como Pai,
Filho e Espírito Santo. Deus, e apenas Deus, governa e reina sobre sua criação.
Este mundo, o nosso mundo, é um mundo que ele criou bom. É o seu mundo, e
ele governa sobre tudo. A história da Escritura é a história do Rei. Ela é por inteiro
sobre ele e sobre sua glória”.
a) O REI CRIA
Como começa essa história? Essa história começa com o começo de
tudo, e o registro desse começo encontramos em Gênesis 1.1: “No princípio
Deus criou os céus e a terra”. Deus criou tudo o que existe e, como Criador de
todas as coisas, ele reina sobre tudo. Veja o que diz o Salmo 103.19: “O
SENHOR estabeleceu o seu trono nos céus, e como rei domina sobre tudo o que
existe”.
O livro de Gênesis relata que Deus criou os céus e a terra, como diz o Pr.
Ackley: “Com Sua palavra poderosa”. E ao proferir Suas palavras poderosas, o
Rei moldou e preencheu Sua criação com terras, mares, plantas e animais,
preparando um bom lugar para que o ápice de Sua criação, o homem, habitasse
nele. Gênesis 1.27 registra isso deste modo: “Criou Deus o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.
De modo diferente das outras criaturas, o homem foi criado por Deus para um
relacionamento singular com Ele. Como a coroa da criação do Rei, Adão e Eva
foram criados à Sua imagem, e eles desfrutavam do privilégio de habitar na
abundante presença de seu Rei. Deus pretendia que Sua imagem fosse
espalhada por toda a terra por meio deles, como vemos em Gênesis 1.28: “Deus
os abençoou, e lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e
subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e
sobre todos os animais que se movem pela terra’”.
Juntos, Adão e Eva foram criados para desfrutar da boa criação de Deus de
acordo com a palavra dEle. No entanto, nesse relacionamento havia instruções
claras. É o que encontramos em Gênesis 2.16-17: “E o SENHOR DEUS ordenou
ao homem: ‘Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da
árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer,
certamente você morrerá’”. Deus deu a Adão uma lista de deveres e
compromissos e prometeu bênção para a obediência e maldição para a
desobediência.
b) O REI AMALDIÇOA
Como vimos, a história da Escritura começou com uma história feliz. No
entanto, a bênção de Gênesis 1 e 2 dá lugar à desobediência e maldição em
Gênesis 3. Em vez de guardar e proteger o lugar e a humanidade (Adão e Eva),
Adão falhou. Ao invés de obedecerem à voz de Seu bom Criador e Rei, Adão e
Eva obedecem com insensatez às palavras enganosas de uma criatura, a
serpente.
Pela primeira vez em nossa história, encontramos o vilão, a Serpente, que
mais tarde será conhecida na Escritura como Satanás, o Diabo. A Serpente
enganou Eva ao perguntar em Gênesis 3.1: “...Foi isto mesmo que Deus disse:
‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?”.
Até esse ponto da história, apenas Deus, em Sua múltipla sabedoria,
determinou o que era bom em Sua criação. Porém, a Serpente enganou a Eva,
fazendo-a negar a palavra de Deus e duvidar da bondade dEle. A Serpente
tentou Eva a se rebelar contra o seu bom e sábio Rei, e a partir de então
acontece o que encontramos em Gênesis 3.6: “Quando a mulher viu que a árvore
parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável
para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu
marido, que comeu também”.
Em vez de confiar sabiamente na boa palavra de seu bom Rei, Adão e Eva se
rebelaram contra Ele e ouviram a voz da serpente. E as consequências do
pecado deles foram completamente catastróficas. A tentativa de transferir a
culpa logo surgiu (Gênesis 3.12). A maldição previu que haveria contendas entre
homem e mulher e, além disso, os frutos amargos de sua rebelião cósmica
seriam a morte, o julgamento e o exílio. Em vez de abençoar, Deus os
amaldiçoou por causa de sua rebelião (Gênesis 3.14-19).
No entanto, mesmo em meio a toda essa catástrofe, Deus deu um vislumbre
de esperança futura, uma promessa de redenção. O Senhor prometeu que uma
semente de Eva um dia esmagaria a Serpente. É o que encontramos em Gênesis
3.15: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o
descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”.
Por causa de sua rebelião, Adão e Eva foram banidos do jardim e exilados
para longe da presença do Rei. A vida sob a maldição não era como a vida no
bom mundo que Deus havia planejado.
c) O REI JULGA
A vida a leste do Éden, infelizmente, ia de mal a pior. Com a entrada do pecado
no mundo, as coisas seguiam terrivelmente erradas no bom mundo do Rei.
Apenas alguns capítulos depois da Criação, encontramos o seguinte: “O
SENHOR viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda
a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal”
(Gênesis 6.5). As inclinações do coração humano não buscavam mais honrar a
Deus; em vez disso, homens e mulheres desejavam seguir o mal
“continuamente”.
Porém, um homem chamado Noé encontrou graça aos olhos de Deus
(Gênesis 6.8). O Senhor determinou que julgaria o mundo por meio de um dilúvio
e que mostraria misericórdia para com Noé e sua família (Gênesis 6-8). Por meio
de um homem, um povo foi salvo.
Contudo, mesmo depois do dilúvio, a rebelião global contra o Rei
continuou e o problema do coração humano permaneceu. Em vez de honrar,
refletir e engrandecer o nome do Rei, as pessoas buscaram engrandecer seu
próprio nome (Gênesis 11.4). Deus então as espalhou, pois tinha outros planos.
Ele faria o Seu próprio nome conhecido por todo o mundo, e faria isso por meio
de Seu escolhido: Abraão.
d) O REI ABENÇOA
O plano de Deus de espalhar Sua glória por todo o mundo parecia ter sido
frustrado pela Serpente e pelo pecado. Ainda assim, o Rei não apenas julgava.
Ele também abençoava. O Senhor chamou e abençoou um homem de Ur dos
caldeus, cujo nome era Abrão, depois conhecido como Abraão. Deus prometeu
engrandecer o nome desse homem e abençoar o mundo por meio dele e de sua
descendência. Ele planejou criar um povo especial por meio de Abraão. Além
disso, Ele planejou abençoar o mundo por meio da semente de Abraão, como
vemos em Gênesis 12.2,3:
“Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome,
e você será uma bênção. Abençoarei o que o abençoarem e
amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos
da terra serão abençoados”.
O Senhor prometeu abençoar Abraão e sua família com domínio e uma
dinastia. Porém, havia um problema gritante em tudo isso: Abraão era velho e
sua esposa, Sarai, depois chamada de Sara, era estéril. De uma perspectiva
humana, qualquer possibilidade de Abraão ter um filho parecia, na melhor das
hipóteses, duvidosa. Contudo, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado
para justiça (Gênesis 15.6).
Deus manteve Sua promessa e uma criança nasceu como um milagre para
Abraão e Sara, ambos em idade avançada. A partir desse ponto no Antigo
Testamento, o restante da história foca na família de Abraão: Isaque (Gn
22.17,18), Jacó (Gn 35.11) e os doze filhos de Jacó (Gn 49).
Ainda que o livro de Gênesis se encerre com a família de Abraão fora da Terra
Prometida, o futuro era radiante. Jacó profetizou que nos últimos dias um “rei
leão” viria da linhagem de seu filho, Judá. Veja o que diz Gênesis 49.10: “O cetro
não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de seus descendentes, até
que venha aquele a quem ele pertence, e a ele as nações obedecerão”.
Esse futuro Rei seria Aquele que esmagaria a Serpente, restauraria a bênção
de Deus ao mundo e reinaria sobre um povo para a glória de Deus!
e) O REI RESGATA
Deus prometeu abençoar Abraão e sua família, e fazer deles muito mais
numerosos que as estrelas dos céus. Essa promessa começou a ser cumprida
conforme Israel se multiplicava no Egito (Êxodo 1.7). O povo de Israel foi
escravizado por faraó e sofria sob o governo de um rei cruel (Êxodo 1 e 2). Eles
clamaram a seu verdadeiro Rei para resgatá-los da servidão, e Deus “se
lembrou” das promessas da aliança (Êxodo 2.23,24).
Assim o Senhor Se revelou a Moisés (Êxodo 3) e o designou para libertar os
israelitas. E, por meio dele, Deus resgatou Seu povo do Egito pela Sua mão
poderosa e pelo sangue de um cordeiro imaculado (Êxodo 12). A libertação em
seguida do povo de Israel no mar Vermelho fez com que todo o povo celebrasse
seu resgate (Êxodo 14). Isso fez com que Moisés louvasse ao seu poderoso Rei
e declarasse: “O SENHOR reinará eternamente” (Êxodo 15.18).
O resgate do povo de Deus de sua servidão no Egito demonstra a todo o
mundo que não há ninguém como o Senhor. Ele é Rei e reinará para sempre.
f) O REI ORDENA
Depois de resgatar o seu povo do Egito, o Senhor os trouxe ao monte Sinai,
assim como havia prometido. Quando se revelou a Moisés, o Senhor disse: “Eu
estarei com você. Esta é a prova de que sou eu quem o envia: quando você tirar
o povo do Egito, vocês prestarão culto a Deus neste monte” (Êxodo 3.12). Antes
de levá-los à boa terra que o Senhor havia prometido a Abraão, Deus revelou no
Sinai Suas boas palavras ao Seu povo.
Veja o que o Senhor disse ao povo de Israel: “Agora, se me obedecerem
fielmente e guardarem a minha aliança, vocês serão o meu tesouro pessoal
dentre todas as nações. Embora toda a terra seja minha, vocês serão para mim
um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êxodo 19.5-6). Deus pretendia que
a santidade de Israel refletisse a santidade do seu Rei (Levítico 19.2).
Ao confiar nas boas palavras de Deus e obedecê-las, Israel seria um povo
único, que manifestaria a sabedoria de seu Rei a todos os povos da terra
(Deuteronômio 4.4-6). No entanto, assim como Adão, Israel provou ser um filho
infiel que desobedecia às boas palavras de Deus. Mesmo enquanto Moisés
estava recebendo a revelação de Deus no monte Sinai, o povo estava muito
ocupado fazendo ídolos para si no pé da montanha (Êxodo 32). O Rei fez uma
aliança com o povo e o povo violou esta aliança.
Deus prometeu que Sua presença não se apartaria de Israel, mas Ele ainda
julgaria aquela geração ímpia. Eles estavam destinados a vaguear pelo deserto
por quarenta anos antes de pôr os pés na Terra Prometida. Durante esse período
de peregrinação, o Rei habitou no meio do povo, no Tabernáculo, e,
pacientemente, providenciou o necessário a cada passo do caminho. Porém,
uma vez mais, Israel se recusou a caminhar pela fé (Números 14.11;
Deuteronômio 1.32; 9.23; Salmo 95).
Nesse ponto da história, fica claro que o problema do coração que
atormentava a humanidade desde a rebelião de Adão ainda permanecia
(Deuteronômio 31.20,21). Também está claro que, se nada mais fosse mudar,
deveria haver expiação pela incredulidade do povo e que seu coração deveria
ser transformado. Mas como? A esperança por essa mudança reside no futuro.
Os sacrifícios expiatórios repetitivos, ordenados pelo Senhor no Sinai,
apontavam para um futuro sacrifício, necessário e definitivo. E mesmo Moisés
contemplava um dia em que o Rei circuncidaria o coração de Seu povo
(Deuteronômio 30.6), quando o Espírito de Deus seria derramado sobre todos
(Números 11.29).
g) O REI GUIA
Depois de quarenta anos de peregrinação no deserto, o povo é finalmente
conduzido por Deus à terra que Ele lhe prometeu, por meio de Seu servo Josué
(Gênesis 13.15; Êxodo 3.8). Deus prometeu dar aquela terra ao Seu povo (Josué
1.2,3), e demonstrou que Ele é um rei totalmente confiável (Josué 21.43-45; cf,
23.14): “De todas as boas promessas do SENHOR à nação de Israel, nenhuma
delas falhou; todas se cumpriram” (Josué 21.45).
Contudo, conforme a história se desenrola, torna-se mais claro que, ainda que
Israel estivesse na Terra Prometida, o coração do povo permanecia no mundo.
Depois da morte de Josué, em vez de considerar seu aviso e obedecer às
palavras de Deus, Israel fez o que parecia certo aos seus próprios olhos, e a
maldade transbordou. O resumo deste desfecho trágico encontramos em Juízes
2.11-12.
Ainda que soubesse que o Senhor era o seu Rei, Israel O rejeitou e desejou
um rei como o das nações vizinhas (Juízes 17.6; 18.1; 21.25). Como era de se
esperar, a escolha de Israel, Saul, não foi a escolha de Deus, pois o Senhor
desejava um rei segundo o Seu próprio coração (1 Samuel 13.14; Atos 13.22).
Foi, então, que Deus escolheu alguém da linhagem de Judá, de acordo com
Gênesis 49.9-12. Seu nome era Davi, o filho de Jessé.
h) O REI GOVERNA
Então o Senhor fez uma aliança com Davi, que desejava construir uma casa
para Deus, uma tarefa que caberia, por fim, a Salomão. Deus planejou que o
reinado de Davi em Israel manifestasse ao mundo atento a sabedoria e o
governo maravilhoso de Deus (2 Samuel 7.11-13). A esperança de um reino justo
de um Rei eterno em um trono eterno estava vinculada a Davi e à linhagem de
sua família.
Salomão tornou-se rei de Israel depois de seu pai e construiu uma
impressionante casa para o Senhor. O templo concluído era glorioso (Salmo
48.1-3,9-11), e a fama e a riqueza de Salomão eram grandes (1 Reis 10). As
promessas de Deus a Davi, e mesmo as promessas feitas a Moisés, pareciam
estar se cumprindo (1 Reis 8.56). Ainda assim, a catástrofe se avizinhou, pois o
sábio Salomão falhou tolamente em acatar as advertências de Deus.
Em vez de governar e guiar o povo de Deus de acordo com a boa Palavra de
Deus, Salomão juntou para si muito ouro (2 Crônicas 9.13-21), cavalos e
carruagens poderosos (1 Crônicas 9.25-28) e várias esposas (1 Reis 11.3), o
que acabou se tornando a receita para o desastre, tal como Deus havia advertido
(Deuteronômio 17.14-20).
Como Deus respondeu? O Senhor disse a Salomão que iria tirar o reino dele
(1 Reis 11.11-13). O reino acabou dividido, assim como Deus havia prometido
(1 Reis 12.16-20). Israel se dividiu entre o Reino do Norte (Israel) e o Reino do
Sul (Judá). Boa parte dos reis do reino dividido falharam em destruir os altares
idólatras (2 Reis 17.7,8). Tal rei, tal reino.
i) O REI EXPULSA
Assim como aconteceu com Adão, a desleal rebelião do povo de Israel os
levou ao exílio no oriente, quando Israel e Judá foram expulsos da boa terra de
Deus (2 Reis 17.18,23). O Reino do Norte foi exilado para a Assíria, em 722 a.C.,
e o Reino do Sul, Judá, para a Babilônia em 586 a.C. Em Sua paciência, Deus
levantou profeta após profeta para anunciar arrependimento ao povo
desobediente (1 Reis 14.15). Contudo, o povo foi obstinado e se recusou a acatar
os repetidos avisos de Deus.
Em vez de adorar o verdadeiro Deus, eles adoraram o que era falso, fizeram
ídolos para si, e até mesmo sacrificaram seus próprios filhos aos seus deuses
falsos (2 Reis 17.17). Deus, o Rei, expulsou o Seu povo assim como Ele havia
advertido (Levítico 26.33; Deuteronômio 28.63-67). O impacto do juízo no exílio
foi imenso: sem rei, sem terra, sem templo, apenas lágrimas. Tal fato demonstrou
mais uma vez a santidade de Deus e as consequências mortais de se rebelar
contra Ele.
j) O REI PROMETE
Ainda assim, mesmo em meio aos horrores do Exílio, os servos de Deus, os
profetas, acenderam a esperança e a mantiveram revigorada no coração do
povo. A realidade do Exílio foi mesclada com a promessa do incrível retorno para
a terra dos pais (Jeremias 16.13-15). Essa esperança profética olhava para além
das devastações do Exílio e focava na chegada de um futuro Rei como Davi
(Ezequiel 34.23). Deus também prometeu fazer algo surpreendente: estabelecer
uma nova aliança (Jeremias 31.33,34).
Todas essas incríveis esperanças, no entanto, foram mescladas com a
chegada de uma figura misteriosa, o Servo do Senhor, que seria da genealogia
de Davi e ungido pelo Espírito de Deus (Isaías 11.1-3). Esse servo seria de Israel
e traria o povo de Deus de volta para o Senhor (Isaías 49.5).
Além disso, o plano do Rei de abençoar o mundo e cumprir a promessa feita
a Abraão estava conectado com essa figura davídica futura (Isaías 49.6). Os
profetas aguardavam Sua vinda e ansiavam pela chegada de Seu reino eterno
(Isaías 9.6,7). Quando esse Rei finalmente viesse, traria salvação para Seu povo
(Isaías 52.10).
Contudo, como esse futuro Rei da linhagem de Davi resgataria o Seu povo de
seus pecados? Os profetas disseram que o Rei seria esmagado e morto, não
pelas transgressões Dele, mas pelas de Seu povo (Isaías 53.5).
k) CHEGA O REI
E, finalmente, o tão aguardado Rei chega. O próprio Rei dos reis veio resgatar
um povo para o Seu louvor e redimir rebeldes que estavam perdidos. Depois de
anos de trevas, a Luz do mundo finalmente veio ao mundo (João 1.9). A Palavra
eterna, que estava com Deus e era Deus, se tornou carne e habitou entre nós
para fazer Deus, o Pai, conhecido (João 1.14,18). Assim como Deus havia
prometido, o Rei era verdadeiramente o filho de Davi e de Abraão (Mateus 1.1).
O infinito filho de Deus se tornou uma criança. O eterno filho de Deus se tornou
um homem. E esse homem, esse Rei, seria chamado Jesus, “...porque ele
salvará o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1.21). O Diabo, a antiga
Serpente, buscou parar Jesus no início do Seu ministério. Contudo, onde Adão,
Abraão, Moisés, Davi, Salomão e Israel falharam, Jesus venceu ao confiar na
boa palavra de Deus.
Depois de Sua vitória no deserto, Jesus começou a proclamar o evangelho de
Deus, anunciando: “...O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam
nas boas novas!” (Marcos 1.15). Ele reúne Seus seguidores e os ensina sobre
Seu reino (Mateus 13). O governo e o reino de Deus se manifestam
poderosamente por meio do ministério terreno de Jesus.
Ainda assim, Jesus não era o tipo de rei que o mundo esperava. O reino que
Jesus anunciava não seria estabelecido pelos meios terrenos (João 18.36). Mais
que isso, Jesus não era nem mesmo o tipo de rei que Seu próprio povo esperava
(João 1.11). Jesus insistentemente declarou a Seus seguidores que, ao invés de
ser abraçado e celebrado, Ele seria rejeitado. Em vez de ser honrado e
venerado, Ele seria o primeiro a ser traído e levado à morte como um criminoso
em uma cruz romana. Esse tão aguardado Rei seria crucificado.
l) O REI SOFRE E SALVA
O caminho diante do Rei Jesus O levava diretamente para a cruz. Assim como
o Senhor havia prometido por intermédio de Seus profetas, o Servo do Senhor
traria salvação por meio de Seu sofrimento no lugar dos rebeldes. E, assim como
o Senhor prometeu em Gênesis 3.15, a semente de Eva um dia esmagaria a
cabeça da Serpente, mas Seu calcanhar seria ferido. Na cruz, Jesus sofreu a
terrível maldição do pecado e foi sacrificado como um substituto em favor dos
pecadores. Na cruz, Ele derramou Seu sangue como um sacrifício pelos
pecadores e estabeleceu a nova aliança prometida (Lucas 22.20). Jesus deu
Sua vida como um resgate por muitos (Marcos 10.45), se tornando a perfeição
substitutiva e a punição substitutiva da qual Seu povo precisava
desesperadamente.
Nada pode impedir Jesus de redimir o Seu povo. Nem mesmo a morte. Seu
amor provou ser mais forte do que a morte e mais profundo do que o inferno.
Depois de três dias, Jesus ressuscitou dos mortos. As primeiras visitantes de
Seu túmulo já vazio foram recebidas por anjos que deram as notícias
espantosas: “Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito” (Mateus 28.6).
Ao ressurgir dos mortos, o Rei Jesus começou a obra da nova criação, a qual
foi primeiro prometida no Antigo Testamento. Por meio da ressurreição de Cristo,
essa realidade do fim dos tempos passou a invadir a era presente. Jesus
ressuscitou e demonstrou que era exatamente quem Ele disse ser durante Seu
ministério terreno. Agora, 2.000 anos depois, o Senhor Jesus convoca todos os
rebeldes a abandonarem seus pecados e crerem nEle. A resposta que Jesus
requer de todos é que creiam nEle ou serão condenados (João 3.16-18). O Rei
ressurreto promete salvar todos os que creem nEle.
m) O REI ENVIA
Ao ressuscitar dos mortos, Jesus manifestou ao céu e à terra que Ele é o Rei
todo-poderoso. Jesus convoca Seus discípulos para irem e fazerem mais
discípulos (Mateus 28.18-20). Seguir o Rei significa ajudar outros a também O
seguirem. Assim, Jesus comissiona Seus seguidores para irem por todo o mundo
e fazerem discípulos de todas as nações.
Jesus já tinha deixado claro que Ele precisaria ir e retornar ao céu para que
enviasse Aquele que ajudaria a capacitar os discípulos tanto a seguirem a Ele
quanto a serem testemunhas dEle a todo o mundo. Um pouco antes de subir ao
céu, Jesus concede o Seu Espírito a Seus discípulos (Atos 1.8). De acordo com
Jesus, a vinda do Espírito Santo convenceria o mundo (João 16.7-11).
Assim, Jesus subiu ao céu, e Ele e Deus Pai derramaram sobre a igreja, no
Pentecostes, o Espírito Santo prometido (Atos 2.1-41). O que começou naquele
dia em Jerusalém, em certo momento, propagou-se não apenas entre os judeus,
mas também entre os gentios. O plano de Deus para abençoar todas as nações
por meio da semente de Abraão estava se cumprindo. Igrejas locais eram
constituídas, e essas igrejas plantavam mais igrejas. Para ser mais preciso,
essas igrejas enfrentavam muitos obstáculos. Ainda assim, mesmo diante da
perseguição e confrontadas com problemas internos e externos, nada podia
impedir o avanço do evangelho.
Assim, por meio do testemunho e da obra dos apóstolos, liderados por Pedro
e Paulo (antes chamado de Saulo), e por meio de milhares de cristãos anônimos,
o evangelho avançou em poder (Atos 9.31). Lucas registra essa marcha
desimpedida ao prover uma série de declarações sumárias por todo o livro de
Atos. Cada uma dessas declarações manifesta que Jesus é Rei e que Seu reino
se estabelecerá completa e definitivamente (Atos 6.7; 12.24; 16.5; 19.20).
As gloriosas boas-novas acerca do que o Rei Jesus tinha feito e estava
fazendo se espalharam – de Jerusalém para a Judéia e Samaria e, finalmente,
para os confins da terra. Assim como o Rei havia prometido (Atos 1.8).
n) O REI REINA
No Antigo Testamento, vemos os profetas convocando o povo de Deus a
confiar no Senhor e a viver fielmente, em amor e obediência, sob o governo e o
reinado dEle. Do mesmo modo, as cartas do Novo Testamento explicam e
aplicam o que significa viver como povo de Deus sob o reino do Rei Jesus
ressurreto e exaltado.
Desse modo, todas as Escrituras podem tornar os crentes sábios para a
salvação por meio da fé em Cristo Jesus. É o que o apóstolo Paulo escreve em
2 Timóteo 3.16,17. Por todas as cartas do Novo Testamento, os autores bíblicos
destacam e revelam quem é o Rei Jesus e o que Ele fez com graça em favor dos
pecadores indignos. E, então, convocam seus leitores a seguirem Jesus em
confiança e obediência, tudo para Sua glória.
As cartas destacam Aquele em quem todos os crentes colocaram sua eterna
esperança e confiança. Esse é o que morreu e ressuscitou, cumprindo a
promessa a nova aliança e proporcionando um vislumbre da nova criação. E é
isso que a igreja representa: um povo comprado pelo sangue de Cristo, enchido
e congregado pelo Espírito, unido pela fé no evangelho, governado pela Palavra
de Cristo, manifestando a múltipla sabedoria de Deus aos governos e
autoridades nas regiões celestiais (Efésios 3.10).
Ainda que Jesus esteja ressurreto e já esteja reinando, Seus seguidores
vivem em uma tensão entre o já e o ainda não. O Rei Jesus já está edificando
Sua igreja agora, mas Seu reino ainda não foi estabelecido em glória de modo
definitivo. Jesus sofreu e, então, entrou na glória; os que O seguem devem
fazer o mesmo. Os crentes sofrem agora, mas serão glorificados em Cristo
quando Ele voltar. Essa gloriosa esperança, mesmo em meio às difíceis
provações e perseguições, inspira vidas de entrega e obediência ao nosso
Senhor e Rei.
o) O REI RETORNA
A história da Escritura começa com Deus governando e reinando como Rei
sobre todas as coisas e com um povo santo que deveria viver para o Seu
louvor. Assim, é coerente que a Bíblia se encerre com a promessa de Jesus,
Aquele que ressuscitou e reina, de que voltará, reunirá, julgará e fará novas
todas as coisas, entre elas, um novo povo com quem Deus outra vez se
agradará em habitar.
O final da história, registrada por João no livro do Apocalipse, provê um
vislumbre de como a história acabará. O retorno do Rei é a esperança
abençoada de todos os que confiaram em Jesus. Enquanto esperam por esse
retorno triunfante, Seus seguidores buscam viver de maneira moderada, justa e
piedosa, capacitados pela graça de Deus (Tito 2.11-14).
Contudo, aqueles que se recusam a obedecer à convocação mundial de Cristo
para o arrependimento enfrentarão um terrível julgamento “...quando o Senhor
Jesus for revelado lá dos céus, com os seus anjos poderosos, em meio a chamas
flamejantes. Ele punirá os que não conhecem a Deus e os que não obedecem
ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Tessalonicenses 1.7,8). Quando
o Rei retornar, a rebelião universal contra Seu reino bom, justo e santo será
esmagada. Jesus declara que, para “...os covardes, os incrédulos, os
depravados, os assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os que
praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos – o lugar deles será no lago
de fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte” (Apocalipse 21.8; veja
21.6-8). O Diabo, o antigo inimigo de Deus, será lançado no lago de fogo para
ser “...atormentados dia e noite, para todo o sempre” (Apocalipse 20.10).
Mesmo no julgamento, o Rei será glorificado. Todavia, o fim da história
também manifesta gloriosa salvação, pois o futuro reino de Deus inclui crentes
em Jesus de cada tribo, língua e nação. Pecadores redimidos de todas as
nações louvarão, abençoarão e honrarão ao Leão da tribo de Judá, Semente de
Abraão, Filho de Davi, Cristo Jesus, o Senhor. Mas por quê? João nos diz que
Ele é digno dessa adoração porque foi morto (Apocalipse 5.9,10).
O final da história não apenas prevê um povo redimido dentre todas as nações,
mas também contempla a chegada de um mundo completamente renovado. O
Rei promete fazer novas todas as coisas, incluindo novos céus e uma nova terra
(2 Pedro 3.13). Nessa Nova Jerusalém, nessa cidade santa, Deus, o Rei, mais
uma vez habitará com Seu povo. A presença do pecado, da morte, das lágrimas
e da dor serão substituídas pela presença de Deus (Apocalipse 21.4).
O bom mundo de Deus, que agora está manchado pelo pecado e pela morte,
será tornado novo. As coisas antigas terão passado. Além disso, todos os que
pertencem ao povo de Deus finalmente estarão juntos na gloriosa presença de
Deus, na presença de seu Rei, para sempre.
3. Conclusão:
O verdadeiro cerne da mensagem bíblica é o bom e justo reino de Deus sobre
todo Seu povo e sobre toda a Sua criação. Portanto, a história da Escritura, a
história da Bíblia, é a história de Deus, o Rei, e de Seus propósitos amorosos e
graciosos de salvar um povo para Si mesmo, a fim de que esse povo se deleite
em Sua gloriosa presença para sempre. Entender essa história nos traz ao
centro de toda a realidade. Venha logo, Rei Jesus!