Vod Epistemologia 1c23a
Vod Epistemologia 1c23a
Epistemologia
Teoria
Racionalismo
Para os racionalistas, que têm Descartes como figura central, a verdade só pode ser alcançada pela
razão. Eles partem da ideia de que os sentidos são enganosos e, por esse motivo, incapazes de nos
revelar o conhecimento verdadeiro. Somente os princípios lógicos (matemáticos) podem servir de
base para os conhecimentos seguros. Nessa perspectiva, todos os homens possuem uma gama de
ideias inatas (ideias trazidas desde o nascimento).
O método cartesiano
Para Descartes a razão consiste no uso do bom senso para “julgar de forma correta e discernir o
verdadeiro do falso”. Mas, embora todos os homens possuam o bom senso, em certa medida, para
além de possuí-lo é necessário aplicá-lo bem. E aplicá-lo bem significa aplicá-lo segundo um
método. Por isso, em sua obra mais famosa, intitulada Discurso do método (1637), Descartes
apresenta o método cartesiano, composto por quatro regras para bem conduzir a própria razão.
Vejamos:
O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu
não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente
a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se
apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não
tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.
O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em
tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para
melhor resolvê-las.
O terceiro, o de conduzir por ordem os meus pensamentos, começando
pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a
Filosofia
As quatro regras descritas acima são chamadas, respectivamente de regra da evidência; regra da
análise; regra da síntese e regra da enumeração.
Dúvida metódica
A dúvida cartesiana pode ser caracterizada como metódica, porque é ordenada, lógica e tem um
desenvolvimento controlado, com um determinado fim. Além disso, ela é também radical, porque
atinge todo o conhecimento que temos e hiperbólica (exagerada), porque considera como falsas
todas as opiniões que apresentem o menor indício de dúvida. Em sua obra intitulada Meditações
Metafísicas (1641), ele demonstra a aplicação da dúvida, bem como quais são as suas etapas.
Vejamos:
● 1ª dúvida (argumento dos sentidos): Já fui mais de uma vez enganado por minha
sensibilidade. Ora, se os sentidos já me enganaram uma vez, que garantia tenho eu de que
não me enganarão novamente?
O que sobrevive: as impressões sensíveis mais fortes (de minha própria existência, por
exemplo).
O que resiste: os elementos básicos da percepção sensível (cor, tamanho, textura, tempo, etc.)
e as verdades matemáticas.
1
Op. cit., p. 37-38.
Filosofia
● 3ª dúvida (argumento do gênio maligno): Ora, e se houver uma ser todo-poderoso que me
engana a cada vez em que eu julgo possuir um conhecimento verdadeiro? É possível
concebê-lo, portanto é razoável duvidar.
Mas, pensando bem, encontramos uma certeza em meio a tanta dúvida. Se estou duvidando, estou
pensando. Ora, se para duvidar é preciso pensar e só posso pensar se existir, duvidar da minha
existência confirma exatamente o contrário, isto é, que eu existo! (é justamente aqui que surge
aquela famosa frase: Cogito, ergo sum ou “Penso, logo existo''). Há agora um ponto fixo indubitável.
Com base na certeza da sua existência, Descartes passa a deduzir uma série de outras certezas.
Nessa reconstrução do edifício do conhecimento, só que agora sob bases seguras, as mais
importantes verdades que Descartes acreditou provar foram:
Se é através da minha capacidade de pensar que posso garantir a minha própria existência, mesmo
que eu ainda não saiba de qualquer outra coisa (nem se tenho corpo), portanto, é esta capacidade
de me pensar que define: minha essência é a racionalidade, é a capacidade de pensar.
Dentre todas as ideias que possuo, ainda sem saber se existe algo além de mim, há uma ideia
diferente de todas as outras: a ideia de Deus. Esta ideia se diferencia por não dizer respeito a um
ser finito, como as outras, mas sim a um ser infinito. Ora, de onde pode me ter vindo esta ideia? Ela
não pode ter vindo de mim, pois eu sou um ser finito, enquanto esta ideia é infinita. Como o menor
não pode dar origem ao maior, então o finito não pode gerar o infinito. Assim, essa ideia não pode
ter sido gerada por mim. Há, portanto, um Ser infinito que pôs esta ideia em mim. A este ser chama-
se Deus. Sendo infinito, Deus possui necessariamente todas as perfeições, tanto de poder, quanto
morais.
Prosseguindo, se há um Deus perfeitamente poderoso e bom, então o mundo à nossa volta também
existe de fato, pois um Deus assim não permitiria que eu me enganasse tão radicalmente a respeito
da realidade. É compatível com a bondade infinita de um ser todo-poderoso permitir que eu me
engane às vezes, mas não que eu me engane sempre. Graças a Deus, portanto, pode-se dizer com
certeza, que o mundo exterior à minha mente é real.
Por fim, se foi a descoberta do cogito, isto é, a descoberta de minha capacidade racional que
legitimou todo o meu saber, obtido de modo seguro e, ao contrário, tudo o que eu percebia pelos
sentidos era desconfiável, então não há dúvida de que a razão é o fundamento último do
conhecimento humano e que só ela nos dá segurança na busca da verdade. Os sentidos, ao
contrário, só têm valor sob o comando da razão. Dessas conclusões Descartes estabelece então
que:
● O ser humano é composto pelas duas, sendo sua parte essencial a res cogitans.
Descartes formula então uma concepção metafísica dualista e idealista, onde a existência é
formada por matéria e ideia, sendo a ideia (ou razão) preponderante por ser confiável.
Empirismo
Para os empiristas, dentre os quais se destacam John Locke, Francis Bacon e Hume, só é possível
alcançar a verdade, conhecer as coisas, a partir da experiência, ou seja, através dos sentidos. Para
eles, a mente humana é uma tábula rasa, ou seja, uma folha de papel em branco, completamente
sem conteúdo. Ao longo da vida, o homem adquire seus conhecimentos a partir da experiência
sensível.
John Locke
John Locke foi um médico, filósofo e político inglês nascido em Wrington, no ano de 1632.
Considerado como um dos mais importantes teóricos do conhecimento, foi o responsável por
sistematizar as ideias da corrente filosófica moderna conhecida como empirismo.
Profundamente influenciado pelo contexto político de sua época, Locke se destacou não só como
um filósofo contratualista (teórico do contrato social), mas também como o “pai do liberalismo
político”. Suas principais teorias acerca da origem e do alcance do conhecimento estão na obra
intitulada Ensaio sobre o entendimento humano; já as concepções políticas estão presentes nos
seus Dois Tratados Sobre o Governo.
Opondo-se ao inatismo de Descartes e Ralph Cudworth (seu contemporâneo), Locke propõe que
não existem ideias inatas (ideias que já nascem com os homens, como a ideia de Deus). Para ele,
o homem nasce como uma tábula rasa (uma folha em branco), isto é, desprovido de qualquer
conhecimento e de qualquer ideia previamente impressa em sua alma. Assim, todo o nosso
conhecimento é adquirido ao longo da vida, através da experiência sensível imediata e de seu
processamento interno.
Filosofia
Nessa perspectiva, a partir da experiência sensível com os objetos e com os fenômenos, surgem as
ideias simples. Em seguida, por meio de processos como a combinação, a comparação e a
abstração dessas ideias simples surgem as ideias complexas. Por isso, Locke defende que nossas
ideias provêm de duas fontes distintas, quais sejam, a sensação e a reflexão.
Desse modo, por meio da sensação, nós percebemos as qualidades dos objetos, que podem ser
primárias ou secundárias. As qualidades primárias são sempre objetivas, isto é, existem nos
objetos, independentemente do sujeito que os contempla. Por exemplo, o movimento, o repouso, o
número, a configuração, a extensão, entre outros. As qualidades secundárias, por sua vez, são
aquelas que variam de acordo com o sujeito e que, portanto, são subjetivas. Por exemplo, a cor, o
som, o sabor, entre outros.
Além disso, por meio da reflexão, a alma (intelecto) processa os objetos apreendidos pelos
sentidos, dando origem às ideias que não são passíveis de surgir a partir da experiência, tais como
a ideia de Deus, de substância etc. Após todo esse processo, o conhecimento pode ser expresso
por meio da linguagem, um conjunto arbitrário de sinais, que constituem a marca sensível das
ideias.
Francis Bacon
O filósofo Francis Bacon (1561-1626) foi um importante intelectual de sua época, tendo participado
também da vida política inglesa chegando, inclusive, a ser chanceler no governo do rei Jaime I.
Como filósofo, foi um grande crítico da ciência dedutiva aristotélica, alegando que para o
desenvolvimento da ciência era necessário um método de descoberta e análise mais eficiente,
focado numa investigação mais rigorosa, precisa e empírica, como ocorre no método indutivo.
Bacon inicia sua reflexão acerca do conhecimento humano alegando que certos preconceitos e
noções falsas, dificultam a apreensão correta da realidade. Tais preconceitos correspondem aos
chamados ídolos. Concebendo a ciência como uma prática, isto é, como uma atividade, Bacon se
opõe ao pensamento contemplativo, presente tanto em Aristóteles quanto na Escolástica. Para ele,
a ciência deve ser objetiva e produzir efeitos reais na vida humana. Por isso, para proceder
corretamente, os cientistas devem se afastar dos possíveis enganos do pensamento.
O termo ídolo vem de eidolon (que em grego significa “imagem”, “simulacro” ou “fantasma”), Bacon
o utiliza ressaltando o sentido de “vazio” da palavra. No âmbito religioso, ídolo é uma representação
de algo divino a ser adorado, mas que não é a própria divindade, sendo assim, uma representação
vazia e, em última instância, um engano. Assim, Bacon atribui à palavra ídolo, no contexto de sua
teoria, o sentido de “erro habitual”, “preconceito”, “noção enganosa” e “equívoco”. Segundo ele,
existem quatro tipos de ídolos:
Filosofia
Os ídolos da tribo são aqueles preconceitos inerentes à natureza humana que surgem, devido ao
próprio hábito, nas comunidades como verdades dadas e não questionadas (a palavra “tribo” aqui
faz referência à espécie humana). Nesse sentido, os “ídolos da tribo” se diferenciam do espírito
científico, na medida em que as hipóteses levantadas pela ciência precisam estar de acordo com
os fatos. Assim, Bacon entende que a astrologia, por exemplo, é uma falsa ciência, dadas as suas
generalizações apressadas.
Os ídolos da caverna (provavelmente uma alusão à alegoria da caverna de Platão) têm sua origem
não na comunidade, como os “ídolos da tribo”, mas sim em cada pessoa ou indivíduo. Assim, por
conta das características individuais, ou mesmo pela educação a que um indivíduo é submetido,
surgem falsas ideias às quais a ciência precisa se opor. Os ídolos da caverna, portanto, decorrem
dessas características que, para Bacon, “perturbam” o espírito humano.
Os ídolos do foro (ou ídolos do mercado) são aqueles que decorrem da linguagem, através da qual
são atribuídas palavras a certas coisas que são inexistentes ou mesmo palavras confusas às coisas
que existem. Nesse sentido, há diversas controvérsias às quais nos apegamos apenas por questões
linguísticas. Como exemplo, temos palavras que se referem a coisas inexistentes como “primeiro
motor”. Bacon observa que as pessoas, para viver em sociedade, precisam se relacionar e isso
acontece através da comunicação. O mau uso das palavras bloqueia o intelecto e produz enganos
e inverdades. As palavras, em vez de elucidar, podem levar os homens a controvérsias e mal-
entendidos.
Os ídolos do teatro se referem às teorias ou reflexões filosóficas que, muitas vezes, estão
mescladas com a teologia, com o saber comum e, até mesmo, com superstições profundamente
arraigadas. Nesse sentido, ele compara os sistemas filosóficos a fábulas que poderiam ser
representadas no palco. Bacon atribui a formulação dos ídolos do teatro à credulidade, tradição e
negligência, que permitem que pensadores insiram no ambiente científico pensamentos viciosos.
Filosofia
Método indutivo
De acordo com Francis Bacon, a ciência é uma técnica, de modo que os conhecimentos científicos
devem servir ao homem no objetivo de instaurar o que ele chamou de imperium hominis, isto é, o
império do homem sobre todas as coisas. Atribui-se a ele, a máxima scientia potentia est, que em
latim significa “conhecimento é poder”, cuja intenção é, justamente, promover o domínio da ciência
sobre a natureza e expandir a prosperidade humana.
Bacon critica a análise da realidade baseada no método lógico-dedutivo aristotélico, que seria,
segundo ele, um método estéril, ou seja, incapaz de ampliar o conhecimento e o domínio humano
sobre a natureza. Suas conclusões acerca do conhecimento dão conta da necessidade de
reproduzir e experimentar os fatos, um a um, quantas vezes forem possíveis e necessárias, para a
partir daí, interpretá-los e induzir leis gerais. Por isso, em sua obra intitulada Novum Organum (1620),
ele defende que a ciência deve se basear no método indutivo, isto é, ela deve analisar a realidade
indo sempre do particular para o geral.
O objetivo do método de Bacon é constituir uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais.
Para ele, a descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico, mas
sim da observação e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento
verdadeiro é resultado da concordância e da variação dos fenômenos que, se devidamente
observados, apresentam a sua causa real. Para isso, no entanto, deve-se descrever de modo
pormenorizado os fatos observados para, em seguida, confrontá-los com três tábuas que
disciplinam o método indutivo:
● Tábua da presença: responsável pelo registro de presenças das formas que se investigam;
● Tábua da comparação: responsável pelo registro das variações que as referidas formas
manifestam.
Com isso, seria possível eliminar causas que não se relacionam com o efeito ou com o fenômeno
analisado e, pelo registro da presença e variações seria possível chegar à verdadeira causa de um
fenômeno. Estas tábuas não apenas dão suporte ao método indutivo, mas fazem uma distinção
entre a experiência vaga, composta por noções recolhidas ao acaso e a experiência escriturada, ou
seja, a observação metódica e passível de experimentações e verificações empíricas.
David Hume
David Hume nasceu em 7 de maio de 1711 na cidade escocesa de Edimburgo. Foi um filósofo,
ensaísta e historiador que ficou conhecido pela radicalidade de seu empirismo e pelo ceticismo
Filosofia
presente em seu pensamento. Hume criticou desde os pensadores empiristas, como Francis Bacon,
com seu método empírico indutivo; até os racionalistas, como Descartes, com sua crença na
possibilidade de alcançar um conhecimento verdadeiro e indubitável. Suas principais obras são o
Tratado da Natureza Humana e a Investigação sobre o Entendimento Humano.
David Hume é um pensador cético, ou seja, ele duvida que haja a possibilidade de alcançarmos um
conhecimento indubitável. Para ele, o entendimento humano possui limites bastante estreitos, afinal
de contas, estamos submetidos aos sentidos e aos hábitos, o que nos leva a produzir
conhecimentos que, na melhor das hipóteses, são apenas prováveis.
A origem do conhecimento
Hume é considerado um empirista radical, pois, segundo ele, o conhecimento deriva sempre das
percepções individuais, que podem ser impressões ou ideias. A diferença entre impressões e ideias
é apenas o grau de vivacidade com que afetam a nossa mente. De um lado, as impressões são
percepções originárias, por isso são mais vivas, como ver, ouvir, sentir dor etc. De outro lado, as
ideias são percepções mais fracas por serem derivadas, isto é, por serem “pálidas cópias” das
impressões. Desse esquema conceitual, podemos concluir que não existem ideias inatas em nossa
mente. Portanto, todas as nossas ideias são derivadas das impressões sensíveis.
Há, no entanto, ideias complexas, que surgem da associação de ideias simples por meio da nossa
imaginação. Assim, se combinamos em nossa mente a ideia de “lobo”, por exemplo, com a ideia
de “homem”, podemos formar a ideia de “lobisomem”. Essas associações de ideias ocorrem de três
formas distintas, combinando-se por semelhança, contiguidade e causalidade.
● A associação por semelhança ocorre quando uma impressão se liga a uma ideia anterior já
contida na mente, como uma rememoração. Hume exemplifica que uma pintura sobre um
lugar ou uma pessoa nos remeteria a pensar sobre o lugar ou a pessoa em si.
● A associação por causalidade ocorre quando se observa uma relação de causa e efeito
entre determinados fenômenos. Hume utiliza a ferida como exemplo de causalidade, pois
pensar numa ferida invariavelmente leva a pensar sobre a dor conseguinte.
Crítica à causalidade
Antes de David Hume, a teoria da causalidade era aceita como um princípio autoevidente e, portanto,
inquestionável. Retomando a tradição filosófica desde Aristóteles, a causalidade pode ser descrita
mais ou menos nos seguintes termos:
Com isso, podemos observar que o princípio segundo o qual todo ser contingente deve ter uma
causa foi utilizado por Tomás de Aquino, na sua terceira via, para demonstrar que se o mundo é
contingente, ele deve ter uma causa necessária, que é Deus. Do mesmo modo, Descartes utilizou o
princípio segundo o qual causa e efeito devem assemelhar-se um ao outro para demonstrar a
existência de Deus. Segundo ele, a ideia de Deus é infinita e, portanto, não pode ser causada pelo
homem, que é um ser finito, uma vez que a causa e o efeito não se assemelham. Assim, se temos
a ideia de Deus é porque Ele, que é infinito, a colocou em nós.
A crítica de Hume se dirige sobretudo à ideia de que dada uma causa, seu efeito deve seguir-se
necessariamente. De acordo com ele, "a razão jamais pode mostrar a conexão entre dois objetos,
mesmo com a ajuda da experiência e da observação de sua conjunção constante em todos os casos
passados”. Portanto, o que nos faz inferir que um objeto ocorre necessariamente a partir de outro,
ou seja, estabelecer relações de causa e efeito não é a racionalidade, mas sim o hábito. Em outras
palavras, nós estamos habituados a buscar padrões entre coisas que se seguem, como a fumaça e
o fogo, por exemplo. Contudo, esses padrões, que chamamos de causalidade, se fundamentam
apenas na repetição de experiências que tivemos e não em argumentos racionais.
O problema da indução
Em seguida, Hume afirma que nós temos uma tendência a interpretar nossas inferências como leis
da natureza (como acontece no método indutivo). Nossos hábitos e crenças nos fazem formular
supostas leis e supostas conexões necessárias entre eventos que, em última análise, são apenas
sucessões de fatos e sequência de eventos sem nenhum nexo causal. Por termos habitualmente
Filosofia
observado esses fenômenos se sucederem, acreditamos que eles ocorrerão novamente, o que não
é garantido, segundo o filósofo escocês. Por exemplo, o fato de termos visto o Sol nascer,
diariamente, até hoje, não nos garante que ele nascerá amanhã. Ou seja, a partir da observação de
vários fenômenos particulares (cada dia em que vimos o Sol nascer) não há como ter certeza da
generalização (que o Sol nascerá todos os dias).
Filosofia
Exercícios de fixação
1. Qual das etapas abaixo não faz parte das regras propostas por Descartes para bem conduzir
a própria razão?
(A) Evidência
(B) Análise
(C) Síntese
(D) Antítese
5. Assinale a alternativa que corresponde à associação de ideias que ocorre quando se observa
uma relação de causa e efeito entre determinados fenômenos.
(A) Associação por impressão
(B) Associação por causalidade
(C) Associação por contiguidade
(D) Associação por semelhança
Filosofia
Exercícios de vestibulares
1. (Enem, PPL, 2020) Na primeira meditação, eu exponho as razões pelas quais nós podemos
duvidar de todas as coisas e, particularmente das coisas materiais, pelo menos enquanto não
tivermos outros fundamentos nas ciências além dos que tivemos até o presente. Na segunda
meditação, o espírito reconhece entretanto que é absolutamente impossível que ele mesmo,
o espírito, não exista.
DESCARTES, R. Meditações metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
2. (Enem, 2012)
TEXTO I
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar
inteiramente em quem já nos enganou uma vez.
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
TEXTO II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem
nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta
ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar
nossa suspeita.
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
3. (PUC 2009) São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana. Para melhor
apresentá-los, assinalamos os nomes: Ídolos da Tribo, Ídolos da Caverna, Ídolos do Foro e
Ídolos do Teatro.”
BACON. Novum Organum..., São Paulo: Nova Cultural, 1999, p.33.
(A) Os Ídolos da Tribo e da Caverna são os conhecimentos primitivos que herdamos dos
nossos antepassados mais notáveis.
(B) Os Ídolos do Teatro são todos os grandes atores que nos influenciam na vida cotidiana.
(C) Os Ídolos do Foro são as ideias formadas em nós por meio dos nossos sentidos.
(D) Através dos Ídolos, mesmo considerando que temos a mente bloqueada, podemos
chegar à verdade.
(E) Os Ídolos são falsas noções e retratam os principais motivos pelos quais erramos quando
buscamos conhecer.
4. (PUC 2009) “Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada,
frustra-se o efeito. Pois a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à
contemplação apresenta-se como causa é regra na prática.”
BACON. Novum Organum..., São Paulo: Nova Cultural, 1999, p.40.
5. (Enem 2015) Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de
compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a
experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar
Filosofia
6. (Enem 2020) Adão, ainda que supuséssemos que suas faculdades racionais fossem
inteiramente perfeitas desde o início, não poderia ter inferido da fluidez e transparência da
água que ela o sufocaria, nem da luminosidade e calor do fogo que este poderia consumi-lo.
Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidades que aparecem aos sentidos, nem as causas
que o produziram, nem os efeitos que dele provirão; e tampouco nossa razão é capaz de
extrair, sem auxílio da experiência, qualquer conclusão referente à existência efetiva de coisas
ou questões de fato.
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Unesp, 2003.
7. (Unesp 2018) Posto que as qualidades que impressionam nossos sentidos estão nas próprias
coisas, é claro que as ideias produzidas na mente entram pelos sentidos. O entendimento não
tem o poder de inventar ou formar uma única ideia simples na mente que não tenha sido
recebida pelos sentidos. Gostaria que alguém tentasse imaginar um gosto que jamais
impressionou seu paladar, ou tentasse formar a ideia de um aroma que nunca cheirou.
Quando puder fazer isso, concluirei também que um cego tem ideias das cores, e um surdo,
noções reais dos diversos sons.
John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano, 1991. Adaptado.
9. (UEA 2014) Se não há na alma nenhuma ideia inata: se a alma é semelhante a um papel
branco, white paper, ou, como traduziram seus tradutores latinos, uma “tábula rasa” (tábua
rasa) na qual nada está escrito, e tudo vem a ser escrito posteriormente pela experiência: se
não há, pois, ideias inatas, o problema que se apresenta é o problema de qual seja a origem
das ideias; e este é o problema que Locke trata com maior profundidade.
(Manuel Garcia Morente. Fundamentos de filosofia, 1967.)
Locke respondeu a questão referida pelo excerto, sustentando filosoficamente que as ideias
(A) são as condições a priori da experiência empírica.
(B) mascaram os verdadeiros interesses egoísticos dos homens.
(C) nascem da captação pelos sentidos do mundo exterior.
Filosofia
10. (Enem 2014) É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio
processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer
a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente
nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.
SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
Gabaritos
Exercícios de fixação
1. D
A antítese não pertence às quatro regras propostas por Descartes. Elas são, respectivamente,
a regra da evidência; regra da análise; regra da síntese e regra da enumeração.
2. C
A dúvida cartesiana pode ser caracterizada como metódica, porque é ordenada, lógica e tem
um desenvolvimento controlado, com um determinado fim. Além disso, ela é também radical,
porque atinge todo o conhecimento que temos e hiperbólica (exagerada), porque considera
como falsas todas as opiniões que apresentem o menor indício de dúvida. Portanto, a
alternativa C é o gabarito da questão.
3. B
A alternativa B é a única que apresenta apenas qualidades primárias, quais sejam, movimento,
repouso e número.
4. D
A alternativa D é a única que apresenta somente qualidades secundárias, quais sejam, a cor,
o som e o sabor.
5. B
A associação por causalidade ocorre quando se observa uma relação de causa e efeito entre
determinados fenômenos. Hume utiliza a ferida como exemplo de causalidade, pois pensar
numa ferida invariavelmente leva a pensar sobre a dor conseguinte.
Filosofia
Exercícios de vestibulares
1. A
Apesar de criticar o ceticismo de sua época, Descartes reconhecia a importância da dúvida
na produção do conhecimento filosófico. Afinal, conhecimento sem reflexão é opinião, pois
não há o que justifique esse conhecimento como verdadeiro. Por isso, Descartes faz uso da
dúvida como instrumento, transformando a proposta do ceticismo em uma etapa para a
consolidação de um conhecimento seguro.
2. E
Os autores possuem opiniões divergentes no que diz respeito à natureza do conhecimento.
Para Descartes, os sentidos não são confiáveis, por isso a formação do conhecimento deve
basear-se na razão. David Hume, por sua vez, defende que os sentidos são a fonte de todo o
conhecimento. Desse modo, ela faz a distinção entre as “impressões” recebidas pelos
sentidos e as ideias que são lembranças, menos intensas, das impressões sensíveis.
3. E
Francis Bacon desenvolveu o que foi chamado de “crítica dos ídolos”, correspondente a uma
tipologia de imagens que impedem o conhecimento da verdade. Para ele, os ídolos podem
ser:
Ídolos da caverna: [corresponde às] opiniões que se formam em nós por erros e defeitos de
nossos órgãos dos sentidos. São os mais fáceis de corrigir por nosso intelecto;
Ídolos do foro: são as opiniões que se formam em nós como consequência da linguagem e
de nossas relações com os outros. São difíceis de vencer, mas o intelecto tem poder sobre
eles;
Ídolos do teatro: são as opiniões formadas em nós em decorrência dos poderes das
autoridades que nos impõem seus pontos de vista e os transformam em decretos e leis
inquestionáveis. Só podem ser refeitos se houver uma mudança social e política;
Ídolos da tribo: são as opiniões que se formam em nós em decorrência de nossa natureza
humana; esses ídolos são próprios de espécie humana e só podem ser vencidos se houver
uma reforma da própria natureza humana.
4. D
Francis Bacon, filósofo empirista inglês, é considerado um dos fundadores do método
científico moderno. Baseado no raciocínio indutivo, o método científico mais adequado para
o domínio da natureza seria a observação dos fenômenos naturais, como se afirma na
alternativa [D].
5. A
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que os conteúdos
das ideias no intelecto têm origem na sensação. Ou seja, como um empirista radical, ele
considera que todos os conteúdos em nossa mente provêm da experiência sensível. Note-se
que, apesar da aparente correção, a alternativa E está errada, uma vez que as ideias têm como
fonte as sensações, isto é, os dados provenientes dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e
paladar) e não os sentimentos.
Filosofia
6. D
David Hume foi um filósofo empirista e, portanto, defendia que todo o conhecimento humano
era apreendido através da experiência sensível. Nesse sentido, para que haja conhecimento,
é necessário vivenciar os fenômenos do mundo.
7. D
John Locke é um dos principais representantes do empirismo. Segundo ele, as ideias são
resultado da experiência humana com objetos reais e empíricos, isto é, passíveis de serem
captados por meio dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar) exatamente como
apresenta a alternativa D.
8. C
Adquirir conhecimentos sólidos e fundamentados sobre os fenômenos que nos rodeiam torna
o mundo compreensível e permite ao ser humano exercer um controle sobre a natureza.
Exercer esse controle foi parte do projeto iluminista, representado pela máxima de Francis
Bacon “Scientia potentia est” (conhecimento é poder). Do mesmo modo, Descartes defende
que o conhecimento e o domínio da natureza são úteis, na medida que satisfazem as nossas
necessidades, por meio da invenção de uma infinidade de utensílios e favorecem a
conservação da saúde.
9. C
Para John Locke, não existem ideias inatas (ideias que nascem com o homem como, por
exemplo, a ideia de Deus), o homem nasce como uma tábula rasa, desprovido de qualquer
conhecimento, sem nenhuma ideia pré-formada em sua alma. Locke vai defender que nossas
ideias serão criadas empiricamente a partir da sensação e da reflexão.
10. D
É justamente a dúvida metódica, radical e hiperbólica que conduz Descartes à conclusão da
própria existência, através do cogito, isto é, do pensamento. Esta é a primeira certeza e,
portanto, o primeiro conhecimento inabalável, que serve de base para todas as demais
certezas.