(2º) O Que Faz Sintoma para Um Corpo (Eric Laurent)
(2º) O Que Faz Sintoma para Um Corpo (Eric Laurent)
O sintoma lido por Freud faz falar o corpo, mas esse sintoma fala, então, a
língua do pai: é sintoma do pai, pelo qual a histérica se interessa por amor.
0 eixo em tom o do qual gira a organização do sintoma histérico é o amor do
pai e a identificação. É o que lemos, no setímo capítulo de Massenpychologie
\“Psicologia das massas e análise do eu” j, intitulado “A identificação”, no qual
43
Freud apresenta as três diferentes identificações sistematizadas por ele ao
longo de sua obra.
Identificações freudianas
Esta [tosse foi] uma imitação de seu pai (cujos pulmões estavam afetados) e
poderia agir como expressão de sua estima e zelo por ele. [...] Evidenciava algo
[como]: “Sou filha de meu pai. Tenho um catarro, exatamente como ele. Ele
me fez ficar doente, como fez também a mamãe. É por causa dele que tenho
essas paixões selvagens, que são punidas com a doença (Freud, 1905a: 60-1).
44 O A V ESSO DA B IO P O L Í T I C A
Lacan inverte a perspectiva que consiste em tomar o fio da história da
psicanálise para definir o sintoma primeiro, fundamental. Será mesmo por
que Freud inventou a experiência analítica a partir da análise do sintoma
histérico que este seria o sintoma por excelência? Certamente não! Freud
pôde começar a experiência por essa via, mas é preciso em seguida dar um
passo a mais para generalizar e passar do sintoma que fala ao sintoma que se
escreve em silêncio, que não é mais comunicação, porém escrita. Essa passagem
é necessária em nome da experiência do próprio tratamento analítico. No fim
de longas análises, constata-se efetivamente que o sintoma não se desvanece
depois de ter sido interpretado por múltiplos efeitos de sentido sucessivos.
Há restos sintomáticos em que se desvela a forma lógica fundamental do sinto
ma como o que se escreve sobre o corpo e não fala, não passa pela experiência
de fala, pois deixa de interessar-se pelo sentido. Essa estrutura desvelada no fim
da experiência deve ser considerada primeira. É ela que Lacan encontra, a céu
aberto, em Joyce - que está diretamente conectada com seu gozo, tal como
veremos adiante.
Freud encontrou o sintoma histérico que lhe falou em função do interesse
que os sujeitos histéricos mulheres lhe despertaram. Ele soube transformá-lo
num desvio suplementar, graças ao artefato do discurso analítico e a seu ope
rador, o sujeito suposto saber, que permite produzir os efeitos de sentido
tratados pela fala sob a transferência. Como a experiência analítica é também
experiência de fala, poder-se-ia dizer que ela, de início, situa o sujeito em po
sição de fazer falar seu sintoma. Uma vez dado o passo lacaniano, o sintoma
se limita a uma pura escrita sobre o corpo, ele não fala. Abre-se na análise,
desde então, uma experiência que não passa pela fala.
O “sintoma histérico de mulher” se distingue, portanto, de uma mulher
“sintoma do corpo de um homem”. Três modos de gozo podem ser resgatados
aqui: aquele do sintoma histérico como sintoma de um outro, aquele de uma
mulher como sintoma de um outro corpo e aquele do sinthoma do falasser.
46 O A V ESSO DA B I O P O L Í T I C A
Essa identificação com o sintoma supõe um sintoma prévio no Outro,
um sintoma com o qual, em seguida, o sujeito se identifica e que quer dizer
alguma coisa, que fala. Eu, o sintoma, falo, e digo: “Sou a filha de papai. Tenho
um catarro como ele”. Freud desenvolve a mensagem do sintoma e, ao mes
mo tempo, a face de fixação de gozo tomado do pai:
O sintoma histérico fala, pois passa pelo Outro, pela fala, embora seja
fundado sobre a escrita de um traço (trait). Ele supõe no horizonte, segundo
Freud, a identificação e, no fundamento desta, um amor primeiro, o amor
do pai, como laço ao Outro. Ele também se articula ao Dois. Por isso, Lacan
sublinha que a mulher histérica se mostrou necessária para que a psicanálise
fosse tomada como talking cure, “cura pela fala”: “foi a partir das histéricas -
histéricos sintomas de mulheres [.„]» foi a partir dos histéricos sintomas que
a análise pôde fincar pé na experiência” (Lacan, 1976a: 569). Mas aquém do
sintoma histérico, como falam os corpos? Falar lalíngua do corpo é procurar
saber, com Lacan, como o sintoma do Um-sozinho ( Un-tout-seul), que não fala,
pôde passar ao estatuto de sintoma articulado ao Outro, articulado ao Dois.
O Q U E FA Z S IN T O M A PA R A U M C O R P O 45
acontecimento de corpo, uma emergência de gozo. (...) Há histeria quando
há sintoma de sintoma, quando você faz sintoma do sintoma de um outro,
ou seja, sintoma no segundo grau (Miller, 2014: 26).
3 D ois textos de Lacan têm esse m esm o título e devem ser, com efeito, diferenciados por suas
datas: “ Joyce, o sintom a” (1975) é o texto pronunciado p o r ele n o dia 16 de ju n h o de 1975 e
estabelecido p or Jacques-Alain M iller com base nas notas de Éric Laurent; “ Joyce, o Sintom a”
(1976) é o texto que ele reescreveu para a publicação no ano seguinte, sim ultaneam ente a
O Seminário, livro 23:0 sinthoma. A m b os foram publicados em 1987 n o livro Joyce com Lacan,
organizado p o r Jacques Aubert, com prefacio de Jacques-Alain M iller (Paris: Navarin, 1987,
p. 21-29 e 31-36, respectivamente). O prim eiro foi novam ente publicado em 2005, com o tí
tulo “ Joyce, o sintoma. Conferência dada n o dia 16 de ju n h o de 1975, n o grande anfiteatro da
Sorbonne, na abertura do v Sim pósio International James Joyce”, na edição de O Seminário,
livro 23: o sinthoma (Paris: Seuil, 2007, p . 157-65). O segundo, publicado a segunda vez em
1979, em Joyce & Paris, Actes du v* Symposium International James Joyce (Presses Universi-
taires de Lille/Éditions du c n r s ), foi novam ente publicado em 2001, na edição francesa de
Outros escritos, com o título “ Joyce, o Sintoma” (Paris: Seuil, 2001, p. 560-9).
4 “Esse S em inário n s .i., realizado e m 1974-1975, devia ter term inado n a con ferên cia ‘Joyce,
o sintom a” (M iller, 1987:11). la c a n , p ortanto, to m o u -a co m o p o n to de partida para sua
leitura de Joyce realizada em seu Sem inário seguinte, o vigésim o terceiro.
5 A citação de Lacan foi extraída da aula de 18 de fevereiro de 1975 de “ Le Sém inaire, Livre
x x n : R.s.1.” (1974-5), ainda inédito.
O Q U E FA Z S IN T O M A PA R A U M C O R P O 47
O àk %,-ÇOS\aSS», SKKV
sagem; mas sua consistência não é apenas semântica. [...] É por isso que
o sintoma, se suportado por uma estrutura idêntica àquela da linguagem, não é
articulado num processo de fala, mas “inscrito em um processo de escrita” (: u).6
Assim, se o sintoma pode ser lido, é por já estar inscrito, ele mesmo, num
processo de escrita. Como formação particular do inconsciente, ele não é
uma significação, mas a relação desta com uma estrutura significante que o
determina (Lacan, 1957a: 444-5).
48 O A V ESSO DA B I O P O L Í T I C A
Se alguma coisa dá conta do fato notado por Clive Hart [importante joyceano ]
de que, no final, acabamos cansados de seguir os passos de Joyce [aque
les de Joyce em Finnegans Wake], é o que prova que os sintomas de vocês
são a única coisa que, tanto para vocês como para qualquer um, interessa,
O sintoma em Joyce é um sintoma que não lhes concerne em nada, é o sinto
ma na medida em que não há chance alguma de ele enganchar alguma coisa
do inconsciente de vocês (Lacan, 1975c: 165).
Lacan utiliza “a sua” num sentido que não é a língua materna, aquela de
papai e mamãe. Supõe-se que a sua fosse o gaélico, do qual Joyce conhecia
apenas algumas palavras - ele fez seus estudos em inglês e, em casa, falava-
-se inglês, mas há rumores de que os membros da família falavam um pouco
mais de gaélico. Lacan ainda acrescenta o seguinte: “É isso que se constata no
que faz de Joyce o sintoma, o sintoma puro do que concerne à relação com a
linguagem, na medida em que ela é reduzida ao sintoma” (: 166).
Se Joyce é desabonado do inconsciente, ele é diretamente conectado com
seu gozo, considerando que curto-circuita lalíngua. Seu sintoma é conectado
à linguagem, mas desconectado de lalíngua e ligado (branché) em seu gozo:
Joyce tem “uma relação com joy, o gozo, tal como ele é escrito na lalíngua in
glesa - por ser essa gozação, por ser esse gozo a única coisa que, do seu texto,
podemos pegar. Aí está o sintoma [...], na medida em que nada o vincula ao
que constitui a própria lalíngua” (: 167). Nessa ligação (branchement) no gozo,
O Q U E FA Z S IN T O M A PA R A U M C O R P O 49
ele jubila por todos os cantos. O desligamento da lalíngua inconsciente faz
com que não se pegue a particularidade de sua relação com o inconsciente.
Em contrapartida, ele permanece conectado à linguagem e vai criar unica
mente consigo a literatura da Irlanda, um texto que seja, para a literatura
moderna, digno do que Ibsen fez para a Noruega. Sua vontade de “forjar na
forja de [sua] alma a consciência incriada da [sua] raça” (Joyce, 1916:362) será
levada a seu termo. Ele faz existir a Irlanda como umbigo e vai revirar (boule-
verser) a literatura irlandesa e, além dela, a literatura mundial.
O desabonamento do inconsciente é igualmente desconexão com lalín
gua. Em compensação, a conexão de Joyce, 0 sintoma se faz com a linguagem.
Lacan pôde dizer também que Lacan eleva lalíngua à potência da lingua
gem: “o sintoma é puramente o que lalíngua condiciona, mas de certa ma
neira Joyce o eleva à potência da linguagem, sem torná-lo com isso analisável”
(Lacan, 1975c: 167).
Lacan acabou se decepcionando com suas primeiras formulações sobre
Joyce, o Sintoma. É que colocava o nível bem alto. Ao reescrever sua confe
rência, retoma, pois, esse ponto e precisa o caráter de gozo do sintoma fe
chado sobre ele mesmo, “autista”, ligando-se ao corpo como acontecimento:
“Deixemos o sintoma no que eje é: um acontecimento de corpo, ligado a que:
se o tem, se tem ares de tê-lo, se o areja, desde que se o tem. Isso pode até
ser cantado, e Joyce não se priva de fazê-lo” (Lacan, 1976a: 569). Em événe-
ment (“acontecimento”), ressoam, em francês, o verbo latino e\’enire, vir de
fora, chegar, e o substantivo eventus, “procedente de” (issue) (Greisch, 2015).
O acontecimento é "tudo 0 que chega”, com uma dimensão de surpresa ou de
contingência, antes que se possa estabelecer o sentido desse encontro. Apre
sentar assim o sintoma é acentuar sua dimensão fora de sentido. Isso supõe
separar o corpo como superfície de inscrição do gozo e o corpo-Um do indi
víduo, vindo daí a oposição entre sintoma e sintoma histérico:
Assim, indivíduos que Aristóteles toma como corpos podem não ser nada
além de sintomas, eles próprios, em relação a outros corpos. Uma mulher,
por exemplo, é sintoma de um outro corpo. Quando isso não acontece, ela
resta {reste) com o chamado sintoma histérico, com o que queremos di
zer último. Ou seja, paradoxalmente, só lhe interessa um outro sintoma
(Lacan, 1976a: 569).
50 O A V ES SO DA B I O P O L Í T I C A
sado apenas no sentido do sintoma e não em sua letra de gozo. Para reforçar
a surpresa e a irrupção da letra de gozo, Jacques-Alain Miller fala da “emer
gência” do gozo traumatizando o corpo que o experimenta.
7 n . do. t. N o original: lom , que, em francês, evoca o term o Vhomme (“o h o m em ” ). A ssim ,
sigo aqui a opção adotada em Outros escritos, p orqu e u om evoca fôn ica e coloquialm ente,
n o p ortu guês falado no Brasil, “ u o m i”. H om ofon icam en te, em francês, le corps que l o m a
(aqui trad uzid a co m o “o corp o que L O M tem ” ) tam b ém pod e ser escutada literalm ente
com o “ o corp o que se tem ” (le corps que Fon a ).
O Q U E FA Z S IN T O M A P A R A U M C O R P O 51
Enfim, em “Joyce, o Sintoma” (1976), temos de nos haver com outra con
juntura, em que o corpo não é mais corpse, conjunto vazio, e se encontra
diretamente ligado no gozo. Pode-se dizer que o corpo é tomado, deferido
(se quiserem dizê-lo assim), pelas três dimensões, r , s e 1, como máquina de
gozo mais além do imaginário do que tem uma imagem e do que não tem,
marcado de início pela dissimetria da sexuação. Há o corpo lado homem e
aquele lado mulher; dissimetria, portanto, de suas respectivas relações com o
sintoma-escrita. O homem, quanto a ele, não pode ser o sintoma de um ou
tro corpo, pois ele tem o seu corpo. Do lado homem - nos esquemas da sexu
ação e, portanto, de modo algum de um ponto de vista do corpo biológico
o sintoma advém como acontecimento de seu corpo.
Desde a primeira frase de “Joyce, o Sintoma” (1976), estamos mergulha
dos - como, aliás, em Joyce - numa certa obscenidade do sexo. O sintoma,
nesse sentido, advém ao homem como encontro com o gozo: “Joyce, o Sin
toma, a ser escutado como Jesus, a Rola [Jésus la Caille]: é seu nome” (Lacan.
1976a: 565) - nome de gozo, poderíamos acrescentar. Por que Jesus la Caille?
Essa não é uma referência frequente em Lacan. Trata-se do título do primeiro
romance de Francis Carco - membro da mesma família de Carcopino, gran
de latinista francês publicado em 1914. Talvez o que chamou a atenção de
Lacan tenha sido o ano de 1914, pois foi quando Joyce começou a escrever
Ulisses e publicou Dublinenses. De todo modo, Jésus-la-Caille nos conta his
tórias muito pândegas de um proxeneta homossexual, na língua pesada e
pitoresca de Carco. Lacan condui esse parágrafo marcando o homem com
uma letra suplementar, o Z , que é a inicial de uma das gírias que (em francês
designam o falo:8“É que somos zomens”. No parágrafo seguinte, ele continua
“ u o m [ l o m ] : em francês, isso diz exatamente 0 que quer dizer. Basta escrevê-lo
foneticamente, o que lhe dá uma faunética (com faun...) à sua altura: o eic-
bsceno [eaubscène]. Escrevam isso com elob... para lembrar que o belo não e
outra coisa” (: 565). Portanto, juntemos os pontos do grafo e teremos: u o m =
z e l o b . A palavra zeb (“zezinho” ) é atestada em francês desde 1880 (Rev 1
Cellard, 1980: “zob”}; é importada do árabe, em que tem o mesmo sentic
com sua companheira de injúria, zebbi, a que se acrescenta um possessiv:
“o meu”. Notemos, brevemente, que a introdução desse termo na língua frar
cesa é contemporânea do nascimento de Joyce: 1882 (eles, portanto, passarar
a existir juntos, se posso dizer assim).
8 n . do x Trata-se da palavra zob, que, a fim de m anter a m esm a letra inicial, pode-se fc
corresponder, no Brasil, ao term o “ zezinho”, com o o qual se designa coloquialm ente o p i a i
52 O A V ESSO DA B IO P O L ÍT
Não nos esqueçamos de que “Joyce, o sintoma” (1975) também começa
m-
va por uma evocação nua e crua do falo, por ocasião de um erro no título
m
impresso no programa do Simpósio de que Lacan participava, e que o tinha
Üo
deixado realmente fulo da vida:
fie
« 31,
Eles sequer sabem o que é Jacques Lacan, Jules Lacue também poderia lhes
se
servir - aliás, essa é a pronúncia inglesa do que chamamos, na nossa língua, la
mo
queue [o pau]. Por que eles imprimiriam Joyce, 0 sintoma? Jacques Aubert lhes
Én-
comunicou assim, e então ele meteram Jacques, 0 símbolo (Lacan, 1975c: 161).
sai-
O Q U E FA Z S IN T O M A P A R A U M C O R P O 53
. T IC A
sem o qual nãohaum que seja dingno (ding)l dunome diomem” (Lacan,
1976a: 565). O “hescabelo” condensa ele mesmo, em sua escrita, o Es (Isso)
freudiano com o qual ele homofaunisa o h de “homem” e o esse, ou seja, “ser”
em latim. O ser homem se escreve helessecrêbelo. Essa frase, que se lê ele se
crê belo, a se escrever como 0 escabelo, sem 0 qual não tem quem seja digno do
nome de homem, realiza o enodamento das três dimensões, r, s e 1: o imagi
nário com “ele se crê belo”, o real com “das Ding” (Lacan, 1959-60:55-86) e o
simbólico com o sistema dos nomes, o “nome de homem”
Lacan insiste em seguida no real: “ u o m se lumaniza (se lomellise) cada um
mais que o Oütro” (Lacãn, 1976a: 565). O neologismo se lomelliser (“se luma
niza” ) certamente ecoa 0 mito lacaniano da lamela (lamelle):
uma forma infinitamente mais primária da vida [...]. Ao quebrar o ovo, faz-se
o Homem, mas faz-se também a Homelete. Suponhamo-la como grande
panqueca a se deslocar qual a ameba, ultra-achatada para passar sob as por
tas, onisciente por ser conduzida pelo puro instinto de vida, imortal por ser
cissípara. Eis aí algo que não seria bom sentir escorrer sobre o rosto, sem
ruído, durante o sonho, para lhe apor um lacre (Lacan, 1964b: 845).
Esse mito permite a Lacan fazer perceber o que seria um órgão libidinal
que se guiaria pelo real, que não teria necessidade nem do sujeito aristoté-
lico da percepção, nem de corpo, nem de homúnculos multiplicados pelos
mitos das neurociências como módulos que tomam a forma de zonas ce
rebrais - cada uma percebendo e tratando a informação para nos ligar ao
real e traduzi-lo como realidade. As mais belas imagens provenientes de uma
ressonância magnética, formadas por máquinas de ponta, munidas dos mais
O A V ESSO DA B I O P O L Í T I C A
54
sofisticados algoritmos, só podem oferecer o que têm de hipóteses escondi
das, dando consistência à forma homuncular como aparelho tradutor.
Lacan prossegue:
A não ser por seu nome, que trocaremos pelo nome mais decente de lamela
(do qual a palavra omelete [omelette], aliás, não passa de uma metástase),
essa imagem e esse mito parecem-nos apropriados tanto para representar
quanto para instaurar aquilo a que chamamos libido. A imagem que nos
apresenta a libido tal como ela é, ou seja, um órgão, o que faz com que seus
costumes a aparentem muito mais que um campo de forças. Digamos que é
como superfície que ela ordena esse campo de forças (: 846).
O Q U E PA Z S IN T O M A PA R A U M C O R P O 55
muito sofisticada e opõe o que se diz e o que é preciso fazer. “Molhem-se”
(Mouille) é um imperativo, uma ordem, tal como “Goza!” (Jouis!). Ele é dito
como imperativo “a la canquer um”9 (Lacan, 1964: 189), ao modo de um
“dizem”. Daí, a dimensão que ele implica, a resposta à ordem que não é sim
plesmente “G’ouço!” “Goza!” (fou is/), mas também que é preciso se molhar.
Trata-se não somente do corpo como superfície de inscrição, mas do corpo
como lugar de gozo. E esse gozo é pensado em sua articulação não mais com o
falo do lado inconsciente, e sim com o Isso (o Es freudiano). Não ao erguer-se
(Hisse), mas ao es (hesse).
Depois de ter situado o falo e os lumans (lomelles) em curto-circuito do
significante, Lacan pode retornar ao corpo lumanizado, que é do registro
do ter, de um ter primeiro, e não do ser: “ u o m , u o m de base, u o m kitemum
corpo e só-só Teium (nan-na Kum). Há que dizer assim: ele teihum (ahun)...,
e não: ele éum... (corp/aninhado) (cor/niché)” (Lacan, 1976a: 565).10 O porta
dor da mandioca (cornichon) se encontra, antes de tudo, enganado (corniché),
corpo aninhado no centro de três dimensões que o atravessam. Ele não é o
“ u o m de base” apenas porque ele é o ponto de partida dessa nova localização
da relação entre o corpo e os gozos? Do mesmo modo, em “ u o m (escrito
como u .o .m .) ” (: 567), Lacan enfatiza a dimensão da letra, de maneira muito
joyceana, com a escrita de pontos de reticência, essa figura de estilo, o despa-
recimento da palavra, a elipse ou a aposiopese, tão cara a Joyce que faz dela a
marca de seu estilo. Ela tem certamente seu avesso com o monólogo de Molly
Bloom no episódio final de Ulisses, “Penélope” (Joyce, 1922a: 1131-204), que
não comporta mais um único ponto, ao contrário da epifania. A voz da mu
lher não é mais velada pela doçura, ela tem toda a maldade da voz feminina
do Supereu.
56 O A V ESSO DA B I O P O L Í T I C A
I
*-se Sobre esse “teihum” (ahun), Lacan conclui: “É o ter, e não o ser, que o ca
|ÉtO racteriza. Há uma terência (avoiement)u no ‘que que você tem?’ com que ele
sizn se interroga ficticiamente, por ter sempre a resposta. Tenho isso, é seu único
ÜHK1- ser” (Lacan, 1976a: 565). Essa passagem é esclarecida de modo particularmente
luminoso depois do curso de Jacques-Alain Miller sobre o ser e a existência.
O ter está antes do “que que você tem?” A via do ter, entre o ladrido (aboiement)
W°
mo e a declaração (aveu), está do lado da existência e do dizer, do lado do ser que
ip-se passa pelo dito como “interrogação fictícia”, sempre precedida pela resposta da
existência do corpo. Apenas com a filosofia como discurso sobre o saber que
s io enfatiza o ser é que se produz a inversão que faz passar o ser antes do ter:
mun O que faz a z...ona chamada epistêmica, quando se põe a sacudir todo mun
§ do, é fazer o ser vir antes do ter, quando o verdadeiro é que u o m tem, a prin
• " 2- cípio. Por quê? Isso se sente e, uma vez sentido, demonstra-se (: 565).
»ao Essa frase retoma e condensa o efeito que Heidegger notou quando o
* io sujeito da ciência, o sujeito cartesiano, vem estabelecer seu império sobre o
iúco mundo. Ele submete o ser à sua “vistoria” (arraisonnement), à sua possibi
feto lidade de se reduzir a uma representação, pois “o ser do ente é desde então
M- buscado e encontrado no ser-representado do ente” (Heidegger, 1938: 81).12
.üaa Então, esquece-se de que é preciso, de início, ter um corpo, condição para que
#ei3y o gozo - a presença no corpo dos instrumentos de gozo, do objeto a - venha
1 me se inscrever nele. O gozo se experimenta; “isso se sente”. E é após essa prova
issu- pelo gozo que se produzem os efeitos de saber próprios aos efeitos sígnifican-
Hfca tes sobre o corpo. O saber inconsciente abrirá a via para a demonstração do
que é preciso entender por efeitos de saber. Lacan inverte o sentido da certeza
proveniente do cogito cartesiano. Para Descartes, o que se sente é o pensa
mento e, daí, por demonstração (ergo), a certeza do ser se dá. Para Lacan, o
"ra
que se experimenta é o gozo a partir do fato de que o corpo o tem. Desse
* t íor- corpo marcado por acontecimentos de gozo, por traumas de lalíngua, virão,
em seguida, efeitos inconscientes de sentido, assimilados por Lacan a efeitos
4f e e de saber. Trata-se de outro tipo de demonstração, um ergo pelo gozo.
prmo
-r.no”
u n . d o t. Avoiem ent n áo é u m a palavra d icion arizada em francês e, sem dú vid a, p o r ter
®áo a
ressonância com o verbo avoir (“ ter” ), foi bem trad uzid a p o r “terência”, que ta m p o u co
sra ao
existe em português, m as evoca o que d iz respeito ao ter, o que se tem . M as é im portante
• -cia
acrescentar que avoiement evoca tam bém aboiem ent (latido, ladrid o) e aveu (declaração).
m edi-
12 Ver, tam b ém , p. 88, adiante.
: ic a O Q U E FA Z S IN T O M A P A R A U M C O R P O 57
A M U L H E R SINTOMA
Há uma inversão das relações, uma anterioridade do ter sobre o ser, que re
siste a uma dialética.
Dizemos que é para ser o falo, isto é, o significante do desejo do Outro, que
a mulher vai rejeitar uma parte essencial da feminilidade, nomeadamente
todos os seus atributos na mascarada. É pelo que ela não é que ela pretende
ser desejada, ao mesmo tempo que amada. Mas ela encontra o significante
de seu próprio desejo no corpo daquele a quem sua demanda de amor é en
dereçada [...]. Se de fato sucede ao homem satisfazer sua demanda de amor
na relação com a mulher, na medida em que o significante do falo realmente
a constitui, como dando no amor aquilo que ela não tem, inversamente seu
próprio desejo do falo faz surgir seu significante, em sua divergência remanes
cente, dirigido a “uma outra mulher”, que pode significar esse falo de diversas
maneiras, quer como virgem, quer como prostituta (Lacan, 1958c: 694-5).
Ela sem dúvida conseguirá ter esse falo que é um significante - é o que digo,
um significante - tê-lo, real, no homem. É inclusive o que faz com que ela
esteja numa posição muito privilegiada, a mulher, e com que seus problemas
58 O A V ESSO DA B IO P O L Í T I C A
afetivos tenham uma relativa simplicidade em comparaçao com os do homem,
mas essa relativa simplicidade não deve nos cegar (Lacan, 1958-9:529).
Para além de todas as sublimações do amor, o desejo tem uma relação com
o ser - mesmo na forma mais limitada, mais medíocre, mais fetichista e, re
sumindo, mais estúpida - mesmo na forma-limite em que, na fantasia, [sub-
sistej um signo, o signo do a minúsculo como resto significante das relações
com o Outro. No entanto, no fim das contas, será a esse a minúsculo que a
mulher atribuirá o valor de prova última de que é realmente a ela que o Ou
tro se dirige. Um homem pode mesmo amá-la com toda ternura e devoção
que se possa imaginar e, ainda assim, se desejar outra mulher - e mesmo que
O Q U E FA Z S IN T O M A P A R A UM C O R P O 59
ela saiba que o que o homem deseja nessa mulher é seu sapato, ou a barra
de seu vestido, ou sua maquiagem [portanto, os elementos fetiches propria
mente ditos] -, é desse lado que se produz a homenagem ao ser (: 531-2).
14 Jacques-Alain M iller cita esta passagem de Lacan: “sua angústia [aquela da m ulher] se di
apenas diante do desejo do O u tro, que, afinal de contas, ela não sabe m u ito bem o que
encobre’* (Lacan, 1962-3: 222-3).
à oarra
nenhuma mediação, o que lhe supre sua própria falta. Lacan situa aí a pri
rr o p r ia -
meira ligação direta da mulher no corpo do homem: uma mulher é angústia
s—*)- diante de um desejo, se ele pode ser qualificado de verdadeiro, isto é, de um
desejo que não pode ser transparente para ele mesmo.
irnagem ao
Seguindo a leitura feita por Jacques-Alain Miller, em O Seminário, livro 10:
fazer, em
a angústia, os corpos encontram-se aliviados de toda mitologia e de toda
tia capta a
dramaturgia edipianas. É o corpo como organismo libidinal que aparece
;• de, desde
em primeiro plano. Uma separação anatômica, concomitante e solidária
sasa mulher
com uma ligação, aparece primeiro, anterior à operação do Outro, à castra
ção. Somos assim introduzidos ao corpo do mito da lamela que substitui o
falo em causa na castração. Concluamos, portanto, com Jacques-Alain Miller.
A partir de O Seminário, livro 10, não é mais o registro de um nome que
garante a cadeia significante no lugar do Outro, mas sim a libra de carne, o
órgão separado que é preciso liberar como subconjunto de gozo: “é preciso
[acques-
que o sujeito destaque [...] um órgão gozo [que vai se tomar, em Lacan, o]
: ter. Esse
mais-de-gozar, [...] o que, do gozo, não se deixa tamponar pela homeostase,
Lacan parte
pelo princípio do prazer” (: 99).
io homem,
i O P O L ÍT IC A
O Q U E FA Z S IN T O M A P A R A U M C O R P O 6l
u o m fala com seu corpo, tomado nas consistências s, s e i: “Ele tem (in
clusive seu corpo) por pertencer ao mesmo tempo a três... chamemo-las de
ordens” (: 565). [O termo “ordem” reforça a dimensão, primeiramente rela
cionada ao supereu, do modo de dizer imperativo]. Testemunha isso o fato
de que ele tagarela para se azafamar com a esfera que faz para si um escabelo”
(: 565). Eis aí uma tese que retoma a fórmula canônica do corpo deferido
(corps décerné). É a incidência das ordens r , s e 1 que, sem nenhum agente
específico, toma o corpo - este, a um só tempo, pertence às três. Notemos o
quanto o falasser lacaniano se opõe, por princípio, às teses cognitivistas que
supõem uma inscrição natural de traços (traces) significantes no cérebro do
indivíduo, identificado com seu corpo. Para Lacan, trata-se do corpo como
ex-sistência, pertencente a três consistências distintas. A segunda frase da ci
tação de Lacan - extremamente bem montada - combina, com efeito, essas
três consistências em sua própria escrita: encontram-se aí, ao mesmo tempo,
a fala (“ele tagarela” ), o é preciso fazê-lo, molhar-se etc. (“para se azafamar” ), e
a forma imaginária do corpo, o inchado (“a esfera”). Trata-se de “fazer assim
decair a esfera, até aqui indestronável em seu supremo escabelo”, e é por isso
que Lacan demonstra “que o s.K.belo é primeiro, porque preside a produção
de esfera” (: 565). A unidade é dada aqui nesse termo enigmático, “escabelo”,
escrito como “s.K.belo”, que não é o corpo e que mistura o Es, o Isso freudia
no, na forma de duas letras fora de sentido, s.k., e o belo do inchado (subida
no escabelo). Essa novidade, “s.K.belo”, destrói 0 poder, o prestígio, o imagi
nário do corpo e promove a escrita (s.k.).
De início, notemos a primazia da escrita do escabelo (retornaremos a esse
ponto)15 nas três dimensões r , s e 1 do nó borromeano. Não é o indivíduo
que é primeiro, mas certa ciffação (s.k.). O indivíduo, reduzido ao corpo, é
abordado antes de tudo pelo imaginário, confusão introduzida por Aristóte
les, que se orientava pelo pensamento e sua relação com a forma do corpo:
O homem pensa com sua alma. A ciffação do sintoma nas três dimensões ou
ordens permite a Lacan atribuir ao nó borromeano as funções destinadas
ao falo na dialética do ser e do ter. No final de “A significação do falo”, Lacan,
com efeito, escreveu: “Vislumbra-se a razão desse traço (trait) nunca elucida
do no qual, mais uma vez, avalia-se a profundidade da intuição de Freud, ou
seja, porque ele afirma que há somente uma libido [que haja somente uma
única libido já era, em 1958, um problema para Lacan, que jamais aceitou essa
questão sem procurar dar-lhe a razão lógica, o que acontecerá com as fór-
62 O A V E S S O D A B IO P O L Í T I C A
mulas da sexuação), mostrando seu texto que ele a concebe tendo natureza
masculina. A função do significante fálico desemboca, aqui, em sua relação
■ sria- mais profunda: aquela pela qual os antigos nele encarnavam o Nous e o Logos”
p á to (Lacan, 1958c: 695).
Sobre esse mesmo ponto, em “Joyce, o Sintoma” (1976), lê-se o seguinte:
“Aristóteles [...] escreve que o homem pensa com sua alma. No que se prova
w rn te ria que u O M a tem, ela também, o que Aristóteles traduz pelo Nous. Quanto
«r ; o a mim, contento-me em dizer: nó, menos alarido” (Lacan, 1976a: 566).
I b que O nous é um termo de início atestado por Platão. Os noumena são as ideias
Ík> do que a inteligência (nous) capta, ao passo que a vista só pode atingir as coisas
Ipwno visíveis, os oromena. Os nomena são as Ideias que não podemos perceber pe
| & ci- los sentidos, mas somente pelo intelecto (Auroux, 1990, verbete “noumène” ).
|(i«ssas No discurso filosófico, Aristóteles conecta o corpo com o logos pela inteli
ier.po, gência, que permite apreender esse logos que não se apresenta pelos sentidos.
ir \ e No discurso psicanalítico, Lacan conecta, de início graças ao falo, o corpo e
§pám os efeitos de sentido do gozo, que não se apresentam muito pelos sentidos.
#P SSO Depois, ele dirá que o corpo se articula ao gozo pelo nó de três consistências
ffecão e a adjunção do sinthoma.
Jjfeelo” “Menos alarido”, escreve Lacan. Entretanto, sai-se aturdido da tentativa
líBÜa- de se fazer não pensar com nossa alma, mas de simplesmente falar com nosso
pbída corpo. De início, é preciso o corpo como superfície16em que vem se inscrever
Itegi- o gozo, antes da esfera. Depois, uma vez que a fala passará ao dizer, virão os
efeitos significantes, o saber que daí se resgata: “o verdadeiro é que uom tem,
tmtise a princípio. Por quê? Isso se sente, e uma vez que se sente, isso se demonstra”
m ino (Lacan, 1976a: 565). Essa mesma lógica é formulada por Lacan em O Semi
■r-. •. é nário, livro 20: mais, ainda da seguinte maneira: “Falo com meu corpo, e isto,
• 'te sem o saber. Digo, portanto, sempre mais do que sei” (Lacan, 1972-3:108).
mo: Três tempos, portanto, podem ser resgatados. Há, de início, uma emer
« s ou gência de gozo, um “isso se sente”, que é traumatismo, impacto de gozo que se
.las escreve como sintoma na superfície do corpo escavado (raviné) pelas nuvens
.acan, significantes.17Em seguida, uma fala passa ao dizer, que não pode ser recolhido
ffccida- no tempo primeiro sem equívoco; portanto, sem o saber - o acolhimento
«o, ou do trauma será sempre marcado pela defasagem (écart) irredutível entre
a .ma escrita e fala que sustenta a existência dos equívocos. Depois, vem o tem
m essa po de saber, que só pode ser deduzido no a posteriori dos equívocos da fala.
tí fór-
W. IIC A O Q U E FA Z S IN T O M A P A R A U M C O R P O 63
Quando se fala com seu corpo, é importante notar que é sem o saber. O saber
vem em seguida, no terceiro tempo, à medida dos equívocos de lalíngua, pois
digo sempre mais do que sei. É quando se lê O Seminário, livro 20 com “Joyce,
o sintoma” que esses três tempos se desdobram.
A C O N S I S T Ê N C I A DO “ F A Z E R S I N T O M A ”
Uma mulher pode fazer sintoma para um outro corpo, pois ela é o lugar de
um gozo Outro, que não é aquele desse outro corpo.18Isso vale para não todas
as mulheres, pois uma mulher é enigma (Outro para ela mesma) a ser deci
frado. Essa decifração passa não pela inteligência da Ideia do feminino, e sim
pela leitura do sintoma que ela encarna como mulher em termos de conden
sação de gozo fora do corpo para um outro corpo diferente do seu. Em con
trapartida, uma mulher pode ter um estilo de amor erotômano, isto é, que ela
impulsione seu parceiro a lhe falar dela. Como contraponto, uma mulher se
escreve como signo ou como enigma (Lacan, 1956:31). Encontramo-nos aqui
confrontados com um quiasma inesperado entre fala e escrito que se joga nos
dois sexos e dá nova consistência ao sintoma.
18 Isso sem precon ceito quanto às anatom ias dos corpos. Se, para Freud, “ a anatom ia é o
destino” (Freud, 1924:121), não é assim para Lacan, qu e considera que os sujeitos se colo
cam do lado hom em o u do lado m ulher com relação às suas escolhas de gozo, prestes a
interrogarem e m segu ida essa escolha.
64 O A V ESSO DA B I O P O L Í T I C A
Co p y r ig h t © 2016, Éric Laurent
2016, Navarin/Le Cham p freudien
“ L’Envers de la biopolitique.
Une écriture pour la jouissance”
IM A G E N S D A C A P A
Leila Danziger. Série um poema e um talit #2,2009.
Impressão jato de tinta sobre papel de algodão, 60 x 45 cm.
Edição: 5 +2 p .a .
Éric Laurent. Foto: Emma Barthère
C A P A , P R O JE T O G R Á F I C O E P R E P A R A Ç Ã O
Contra Capa
r ■
Laurent, Éric
O avesso da biopolítica. Uma escrita para o gozo / Éric Laurent ;
[tradução de Sérgio Laia, Leonardo Scofield, Vera Avellar Ribeiro]. -
Rio de Janeiro : Contra Capa, 2016.
(Coleção Opção Lacaniana, v. 13)
248 p.
Bibliografia
ISBN 978-85-7740-200-7
16-0313 e c o 150.195
v ___________________________________ y
ín dices p ara catálogo sistem ático:
1. Psicanálise
2016
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ÉRIC L A URE N T
O avesso da biopolitica
Uma escrita para o gozo
TRADUÇÃO
Sérgio Laia
com a colaboração de
Leonardo Scofield
Vera A vellar Ribeiro