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II Capítulo

O capítulo II da Constituição Dogmática Lumen Gentium enfatiza a eclesiologia do Povo de Deus, destacando a salvação comunitária em oposição ao individualismo. A nova compreensão da Igreja, como um povo unido em Cristo, busca reabilitar a dignidade de todos os batizados e promover uma participação ativa na evangelização. A eclesiologia do Povo de Deus, proposta pelo Vaticano II, visa superar o clericalismo e resgatar a comunhão e a corresponsabilidade entre todos os cristãos.

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II Capítulo

O capítulo II da Constituição Dogmática Lumen Gentium enfatiza a eclesiologia do Povo de Deus, destacando a salvação comunitária em oposição ao individualismo. A nova compreensão da Igreja, como um povo unido em Cristo, busca reabilitar a dignidade de todos os batizados e promover uma participação ativa na evangelização. A eclesiologia do Povo de Deus, proposta pelo Vaticano II, visa superar o clericalismo e resgatar a comunhão e a corresponsabilidade entre todos os cristãos.

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CAPÍTULO II

2 - A ECLESIOLOGIA DO POVO DE DEUS

A primeira característica da eclesiologia do capítulo II da Constituição


Dogmática Lumen Gentium refere-se ao aspecto comunitário da salvação. O projeto de
Deus é que os homens se salvem comunitariamente e não isoladamente. Ele constitui
um povo, Israel. Isso põe em xeque o individualismo que predominou e predomina em
nossas igrejas. Individualismo espiritual e teológico. O Povo de Deus foi constituído
para comunhão de vida, caridade e verdade. O individualismo faz que cada cristão seja
uma ilha. E Penazzolo lembra que:

A vontade de Deus foi constituir as pessoas num só povo. Escolheu, por isso,
a Israel como seu povo e com ele estabeleceu sua aliança. Foi na história
desse povo que Deus se manifestou com seus desígnios, santificando-o para
si. Mas tudo isso, diz a constituição Lumen Gentium, aconteceu em
preparação e configuração para aquela nova e perfeita aliança que se
estabeleceria em Cristo, chamando de entre judeus e gentios um povo, que
junto crescesse para a unidade, no Espírito, e fosse o novo povo de Deus.
Esse povo messiânico tem por cabeça Cristo, que fez do novo povo “um
reino de sacerdotes.1

Aproximadamente do final da Idade Média até o vaticano II a caraterística


principal da eclesiologia era o institucionalismo e o juridicismo. A igreja era equiparada
a hierarquia. Essa tendência de fixação no visível da Igreja iniciou-se no fim da Idade
Média e foi ampliada como reação a reforma protestante. Os teólogos e canonistas
responderam aos ataques da Reforma ao papado e à hierarquia, acentuado precisamente
as caraterísticas que os adversários negavam. Com isso surge um novo modelo de Igreja
que chegou até nossos dias e fez morada entre nós.

Como reação à definição da Igreja como sociedade, 1943, Pio XII escreveu a
encíclica Mystici corporis Christi e tentou integrar a noção bíblica de Corpo de Cristo à
noção de sociedade perfeita, porém o acento ainda foi muito institucional e juridicista.
Na encíclica o Papa e os bispos são designados como juntas e ligamentos do Corpo de
Cristo e, por exercerem o sagrado poder do corpo no corpo, são os primeiros e
1
PANAZZOLO, Igreja comunhão, participação, missão, p. 99

19
principais membros. Na encíclica percebe-se um conceito societário de corpo,
adquirindo a realidade visível certo privilégio em detrimento do primado da graça como
princípio sobrenatural.

A precedência da dignidade dos batizados reabilita o primado da graça sobre o


institucional. A incorporação a Cristo pelo batismo é decisivo. Essa incorporação é o
que reveste o não-cristão da dignidade do ser cristão. A diferença está em ser ou não
cristão, e não na hierarquização dentro do Povo de Deus. Não se pode pensar, dentro do
seio do Povo de Deus, em cristãos de primeira e segunda classe. A dignidade de ser
cristão está na participação na morte e ressurreição de Jesus e na efusão do Espírito
Santo, e não no lugar que se ocupa dentro do Povo de Deus.

A participação nos serviços, mandatos, carisma e a até mesmo a especial


participação do bispo no único sacerdócio de Cristo, não faz alguém ser mais ou menos
cristão. O pastoreio exercido pelos bispos não os coloca na situação de donos da Igreja.
O rebanho é de Deus.

Na Igreja, o único privilégio é ser cristão, e a hierarquia está em função do Povo


de Deus, para amá-lo e servi-lo. O dinamismo de morte e ressurreição iniciado no
batismo, que exige constantemente conversão, deve marcar a vida de todos os cristãos.
Todos são chamados à santidade universal na igreja. A hierarquia considerada como
privilégio distorcia a ideia que os cristãos tinham e ainda tem dos ministros ordenados.
Enganam –se os que pensam que os que exercem o ministério ordenado já estão
investidos de santidade.

A vocação de todos os cristãos à santidade e principalmente da dignidade de


todos os cristãos, permitem colocar os ministérios exercidos na Igreja no seu justo lugar,
enquanto se ordenam ao crescimento do Povo de Deus. Os ministérios devem ser
assumidos na perspectiva do serviço e não do poder, se não se torna anti-evangélico. E
vale a pena lembrar que muito ministros ordenados pensam erroneamente que fazem um
favor ao Povo de Deus.

A instituição é necessária, mas é um meio e não um fim em si mesma. Dada sua


qualidade de meio, deve continuamente adaptar-se às circunstâncias e ser renovada. Se a

20
instituição não promove a comunhão entres os homens, se torna inútil, e não presta
nenhum serviço ao Povo de Deus.

Uma nova consciência missionária surge dentro da Igreja. Todo o Povo de Deus
é missionário e deve se comprometer na construção do Reino de Deus. Portanto:

Ao apresentar a Igreja como Povo de Deus, o Concílio se situou, de uma vez,


para além da distinção orgânica e funcional da hierarquia e do laicato, no
nível comum a todos: o batismo.
“Um só Senhor, uma só fé, um só batismo”: essa afirmação da Escritura
recebia de repente todo o seu relevo. É o mesmo batismo que faz de todos os
cristãos filhos do Pai, irmãos em Cristo, santificados pelo Espírito Santo.2

A evangelização é confiada a todo povo de Deus que, por participação no


sacerdócio de Cristo, está investido na mesma missão de Cristo, ou seja, promover a
unidade dos homens entre si e com Deus.

O reconhecimento dos carismas dentro das Igreja abre novas perspectivas para a
participação de todo o Povo de Deus na organização e renovação de toda a Igreja. O
centralismo de todos os serviços na pessoa do ministro ordenado faz com que os cristãos
se sintam objeto de evangelização da instituição. Como essa nova eclesiologia do Povo
de Deus, os cristãos incorporados a Cristo, tornam-se sujeito da evangelização e
partícipes do projeto da construção do Reino de Deus.

2.1 - Clericalismo como obstáculo de uma Igreja Povo de Deus

Na beira das comemorações dos 50 anos do início do Concílio Vaticano II, um


dos grandes vícios, da era da cristandade, e que notoriamente precisa ser extirpado do
seio da Igreja é o clericalismo. Ele se torna um obstáculo para a Igreja se tornar Povo de
Deus, onde se viva a comunhão e a participação. Ainda hoje, ouve-se muito em nossas
comunidades frases como: “A igreja é dos padres”. Expressões como essa nos revela
que existe um vasto caminho a ser percorrido, no sentido de levar a consciência que
todo cristão é corresponsável e assim se torna parte integrante de um mesmo corpo, de
uma mesma Igreja sem divisões de classes.

2
SUENENS, A co-responsabilidade na Igreja de Hoje: Trad. Dom Paulo Evaristo Arns, O.F.M,
Petrópolis: Vozes, 1969, p. 22
21
Teologicamente é possível pensar numa Igreja mais democrática 3. “O vaticano
II se inscreve na linha da “democratização” pelo relevo dado ao Povo de Deus, pela
insistência da Hierarquia como serviço, pela criação de certos organismos que
favorecem os métodos democráticos de governo.” 4 É estimulante presenciar a forma de
ser Igreja das Comunidades Eclesiais de Base, que se torna mais condizente com o
espírito do Vaticano II. Nas CEBs vê-se mais comunhão e participação, mais ligação
entre fé e vida, e da prática dessas comunidades nasce uma série de novos ministérios
conforme as necessidades que vão aparecendo. Marins lembra que:

As CEBs estão procurando ser, em meio do povo oprimido, uma crítica


profética e um sinal concreto de nova fraternidade que radica na experiência
da paternidade do Deus de Jesus Cristo, uma igreja que nasce do povo,
alinhada com a pobreza, o serviço, a abertura a missão libertadora.5

A eclesiologia do Povo de Deus, uma eclesiologia de comunhão desejada pelo


Vaticano II demanda esforço conjunto de todo batizado. E para isso deve-se sempre
retornar ao espírito do concílio que resgatou esse modelo de Igreja como nos exorta
Comblin:

Por isso, voltar ao Vaticano II seria reabilitar o conceito de Povo de Deus foi
a contribuição teológica principal do Vaticano II e que esse conceito
condicionou todos os documentos conciliares. Mais ainda, “povo de Deus” é
o conceito que mais expressa o “espírito” do Vaticano II. Se quiséssemos
numa palavra exprimir o que trouxe à Igreja que ela é povo de Deus.6

Muitas distorções estão enraizadas no seio da igreja pela força da história. A


imagem da Igreja como Povo de Deus deve iluminar a Igreja em toda a sua ação
evangelizadora e transformadora.

2.2 – O Povo de Deus na Lumen Gentium

A constituição dogmática sobre a Igreja do Concílio ecumênico Vaticano II, a


Lumen Gentium, apresenta a Igreja como novo Povo de Deus e “a finalidade do
capítulo II era mostrar a realização do mistério da Igreja na história e a realização

3
(cf. SUENENS, p.123) A Igreja é democracia? (...) A partir do momento em que se acentua o papel do
laicato, pode parecer que se queira negar o caráter hierárquico da Igreja. Nada disso acontece, sob a
condição de compreender em que sentido a Igreja acolhe a democracia em seu seio, e em que contexto
histórico se insere não a própria santidade , mas seu modo de realiza-la.
4
SUENENS, A co-responsabilidade na Igreja de Hoje. P. 124
5
MARINS, Comunidade eclesial de base: na América Latina. São Paulo: Paulinas, 1977, p. 12
6
COMBLIN, O povo de Deus. São Paulo: Paulus, 2002, p. 9
22
concreta da sua catolicidade7”. A Imagem do Povo de Deus peregrinante se impôs a
outras imagens bíblicas, usadas pela eclesiologia e também presente na Lumen Gentium,
mas que não mereceram um capítulo próprio na Constituição.

De fato, a Igreja em sua realidade profunda pode ser apreendida numa única
imagem ou definição, dado seu caráter de mistério. A Igreja é mistério no seu peregrinar
porque tem sua origem no êxodo de Deus Trinitário, que saiu de si para comunicar-se
com o homem e reconciliá-lo consigo. Ela é mistério pela contínua presença do Espírito
do Ressuscitado que a vivifica e a coloca constantemente em movimento rumo ao Reino
de Deus. Por ser fruto da iniciativa divina e pela presença do Espírito, a Igreja
transcende qualquer imagem ou definição humana. Sendo assim, a nova consciência da
Igreja tem de si mesma como Povo de Deus, partindo das reflexões conciliares,
inaugurou certamente uma nova era para a eclesiologia. Portanto:

Os padres conciliares queriam realizar mudanças profundas na eclesiologia.


Queriam expressar essa vontade de mudanças escolhendo o tema do Povo de
Deus. Não foi inadvertência. Os padres conciliares queriam explicitamente
essas palavras, entendendo-lhe muito bem o sentido. Queriam inaugurar nova
época e pôr ponto final a uma época ultrapassada. Sabiam muito bem que
durante uma história de quase 700 anos a eclesiologia católica se concentrou
de tal modo na hierarquia que os leigos apareciam como objetos passivos dos
cuidados dessa hierarquia. Era justamente isso que eles queriam mudar. 8

A intenção de Deus foi sempre unir a humanidade num povo; com a nova
aliança, que Cristo realiza no seu sangue, nasce o novo Povo de Deus. “Aprouve a Deus
santificar e salvar os homens não singularmente, sem nenhuma conexão uns com os
outros, mas constituí-los num povo, que O conhecesse na verdade e santamente o
servisse”.9

Os batizados fazem parte deste Povo e recebem a dignidade de filhos de Deus. A


meta desse povo e o Reino de Deus que deve ser construído na comunhão, na caridade e
na verdade. O povo de Deus é enviado ao mundo como luz das nações.

O povo de Deus é um povo sacerdotal pela unção do espírito. Tanto o sacerdócio


comum dos fieis como o ministerial, apesar de distintos, são participação do mesmo
sacerdócio de Cristo.10

7
COMBLIN, O povo de Deus. p. 19
8
COMBLIN, O povo de Deus, p. 20
9
LG, nº 9
10
LG, nº 10
23
O exercício do sacerdócio comum se dá pela participação nos sacramentos e pela
prática das virtudes. Pelo testemunho, os cristãos participam do múnus profético de
Cristo e em virtude da unção do Espírito Santo, não podem se enganar no ato de fé.11

A santificação e condução dos cristãos não se dão apenas pelos ministérios e


sacramentos, mas também pelos carismas que tornam os cristãos aptos aos serviços e
ofícios que contribuem para a renovação e incremento da Igreja.12

O Povo de Deus deve estender-se a todo o mundo e, mantendo a sua unidade,


permanecer em comunhão pelo Espírito Santo. Pertencem à unidade do Povo de Deus,
mesmo que de modo diverso, os fieis, os que creem em Cristo e todos os homens de boa
vontade são chamados a salvação.13

A Igreja está ligada a todos os batizados pela união do Espírito Santo que age em
todos os cristãos santificando-os por seus dons e graças. Mesmo os não cristãos estão
ordenados ao Povo de Deus.

A intenção conciliar é de valorizar altamente a expressão e resgatar a teologia do


Povo de Deus e de assim propor a fé e à meditação, uma riqueza maior de doutrina
eclesial e de estímulos de vida Cristã.

Depois de quase 50 anos da promulgação da constituição Lumen Gentium sobre


a Igreja, a única saída viável consiste em retomar os princípios enunciados naquele
tempo e que não foram promovidos de modo suficiente.

2.1 – Imagem Bíblica do Povo de Deus

A imagem da Igreja como povo de Deus se enraíza na Sagrada Escritura. De fato


“Ao propor de novo o tema povo de Deus no centro da eclesiologia, o Vaticano II é fiel
a uma das suas orientações básicas que era o retorno à Bíblia.”14 Existe uma relação
entre a Igreja e Israel, do Antigo ao Novo Testamento, decerto que:

O conceito de povo de Deus procede da Bíblia, não podia deixar de


manifestar a continuidade entre a Igreja e Israel, o povo de Deus do Antigo

11
LG, nº 12
12
LG, nº 12
13
LG, nº 13
14
COMBLIN, O povo de Deus. p. 29
24
Testamento com o qual está articulado o povo do Novo Testamento. A
Teologia paulina foi um esboço de articulação teórica.15

O Padre José Comblin continua:

Esse enraizamento da Igreja em Israel torna mais manifesto o seu caráter


concreto, histórico. O povo de Israel situa-se no meio dos povos, com todas
as características de povo. A Bíblia constantemente insiste na relação entre
Israel e os outros povos da terra. Por ser povo de Deus, o povo de Israel não
deixa de ser humano – com todos os valores e todos os pecados dos povos da
terra. O novo povo de Deus não será menos humano nem menos sujeito a
todos os desafios da história, suas quedas e sua glórias, virtudes e vícios que
os profetas mostraram no Antigo Testamento.16

No Antigo Testamento, em virtude da eleição divina “Pois tu és um povo


consagrado a Iahweh teu Deus; foi a ti que Iahweh teu Deus escolheu para que
pertenças a ele como seu povo próprio, dentre todos os povos que existem sobre a face
da terra”17; “Ouve-me, Jacó, Israel, a quem chamei, eu sou; sou o primeiro e sou
também o último”.18 e da aliança:

“Ele disse a Moisés: “Sobe a Iahweh, tu, Araão, Nadab, Abiú e setenta
anciãos de Israel, e adorarei de longe. Só Moisés se aproximará de Iahweh;
os outros não se aproximarão, nem o povo subirá com ele”. Veio, pois
Moisés e referiu ao povo todas as palavras de Iahweh e todas as leis, e todo o
povo respondeu a uma só voz: “ nós observaremos todas as palavras ditas por
Iahweh.” Moisés escreveu todas as palavras de Iahweh; e levantando-se de
manhã, construiu um altar ao pé da montanha, e doze estrelas para as doze
tribos de Israel. Depois enviou alguns jovens dos filhos de Israel, e
ofereceram holocaustos e imolaram a Iahweh novilhos como sacrifício de
comunhão. Moisés tomou a metade do sangue sobre o altar. Tomou o livro da
aliança e o leu para o povo, e eles disseram: ‘Tudo o que Iahweh falou, nós o
faremos e obedeceremos.” Moisés tomou do sangue e o aspergiu sobre o
povo, e disse: “Este é o sangue da Aliança que Iahweh fez convosco, através
de todas essas cláusulas.”19

Israel se compreende como Povo de Deus “Para que ele hoje te constitua como
seu povo, e que ele próprio se torne teu Deu, conforme te falou e segundo havia jurado
a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó.” 20 E ainda: “Mas eu lhes ordenei isto: escutai a
minha voz, e eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo. Andai em todo caminho que
eu vos ordeno para que vos suceda o bem.” 21 , povo santo, povo consagrado a Deus
“Pois tu és um povo consagrado a Iahaweh teu Deus; foi a ti que Iahaweh teu Deus
escolheu para que pertenças a ele como seu povo próprio, dentre todos os povos que
15
COMBLIN, O povo de Deus., p. 29
16
COMBLIN, O povo de Deus., p. 30
17
Dt 7,6
18
Is 48,12
19
Ex 24, 1-8
20
Dt 29,12
21
Jr 7,23
25
existem sobre a face da terra.” 22 ; e ainda: “Sim! Tu és um povo consagrado a Iahaweh
teu Deus: foi a ti que Iahaweh escolheu para que pertenças a ele como seu povo
próprio, dentre todos os povos que existem sobre a face da terra.” 23; “Vós sereis para
mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Estas são as palavras que dirás aos
filhos de Israel.”24, povo mediador e testemunho para os outros povos: “Não vos
apavoreis, não temais; não vo-lo dei a conhecer há muito tempo e não o anunciei? Vós
sois as minhas testemunhas. Porventura existe um Deus fora de mim? Não existe outra
Rocha: eu não conheço nenhuma!”25 ; também encontramos essa mediação no livro dos
Gênesis: “ Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem.
Por ti serão benditos todos os clãs da terra.” 26 Israel é o Povo. Os outros povos são
nações estrangeiras. Na sua história, Israel vive a expectativa de uma nova aliança “Eis
que dias virão – oráculo de Iahweh – em que selarei com a casa de Israel (e com a casa
de Judá) uma aliança nova.” 27; “Concluirei com eles uma aliança de paz, a qual será
uma aliança eterna. Estabelece-lo-ei e os multiplicarei, porei o meu santuário no meio
deles para sempre.”28 E dessa nova aliança nascerá um novo povo e sobre este povo
Deus infundirá o seu espírito: “Porei no vosso íntimo o meu espírito e farei com que
andeis de acordo com os meus estatutos e guardeis as minhas normas e as
pratiqueis.”29

A nova aliança, prometida e esperada pelo povo de Israel, se realiza no sangue


de Cristo: “Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: “Este cálice
é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória
30
de mim.” Os fieis a Cristo, regenerados pela palavra de Deus viva e eterna “Fostes
regenerados, não de uma semente corruptível, mas incorruptível, mediante a Palavra
viva de Deus, a qual permanece para sempre.” 31, não da carne da água e do Espírito
“Respondeu-lhe Jesus: “em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e
do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu a carne é carne, o que
22
Dt 7,6
23
Dt 14,2
24
Ex 19,6
25
Is 44, 8
26
Gn 12,3
27
Jr 31,31
28
Ez 37,26
29
Ez 36,27
30
1Cor 11,25
31
1 Pd 1,23
26
nasceu do Espírito é espírito.”32. A novidade do Povo de Deus no Novo Testamento
consiste na convocação do Pai em Cristo e na efusão do Espírito Santo.

2.2 – Igreja dos Pobres33

Uma das grandes experiências dos Homens é que o concílio levou a Igreja a
imitar o Cristo pobre. “Pois o nosso Deus é o Deus dos pobres, o libertador dos pobres
e não há nada mais evidente na teologia da Bíblia. Se Deus é o defensor dos pobres, a
sua defesa será assumida pelo seus profetas.” 34 Esta exigência teve uma grande
repercussão nas salas conciliares. A pobreza de Cristo deve ser um dos mais claros
sinais que façam visível a Cristo na face da Igreja. Sendo assim, a pobreza evangélica
consiste um dos grandes temas do Concílio Vaticano II.

A expressão Igreja dos pobres possui um conteúdo teológico que está


intensamente expresso na constituição, mas que facilmente foge a nossa percepção, de
fato, uma leitura superficial não compreenderá essa imagem nascida a partir dos
documentos e sobretudo na Lumen Gentium. A pobreza evangélica sem deixar de ter
uma dimensão econômica e coincidir assim com o sentido comum da palavra, primeiro
e acima de tudo em seu sentido Bíblico, significa uma atitude de alma e um estado de
vida feito de humildade, de desapego dos bens terrestres, de um grande amor e respeito
a Deus.
Jesus Cristo não santificou a pobreza econômica pura e simplesmente, mas a
pobreza em espírito. É fácil ver que aos pobres neste sentido, segundo os Evangelhos,
pertenciam Zacarias e Isabel, a família de Lázaro em Betânia, José de Arimatéia e
Nicodemos, que não eram pobres materialmente e que se sabe, não renunciaram a seus
bens. Mas possuíam a pobreza em espírito.

A doutrina expressa de Cristo, convence que a pobreza econômica se predispõe à


pobreza evangélica e que a pobreza evangélica leva com certa necessidade abraçar a
econômica. Contudo seria um erro, compreender que todos os economicamente pobres

32
Jo 3,5-6
33
O objetivo da igreja dos pobres define-se diretamente no interior das maiorias pobres e oprimidas. A
partir desta perspectiva e da afirmação positiva do direito das maiorias à vida, a Igreja dos Pobres declara
a ilegitimidade de um Estado opressor ou de um sistema que ameaça a vida do povo.
34
COMBLIN, O povo de Deus., p. 256
27
são também evangelicamente pobres e que todos os economicamente ricos o são
também no sentido em que o Evangelho amaldiçoa os ricos.

E naqueles que economicamente possui bens Kloppenburg, lembra que:

E a Igreja dos pobres diz o mesmo, com maior força, àqueles que tem de
sobra, que vivem na abundância, que vivem no luxo. Diz-lhes: “Olhai um
pouco ao redor! Não vos dói o vosso coração? Não sentis remorso na
consciência por causa da vossa riqueza e abundância? Se não – se quereis
somente ter sempre mais, se o vosso ídolo são o lucro e o prazer – recordai
que o valor do homem não é medido segundo aquilo que ele tem, mas
segundo aquilo que ele é”. Portanto, aquele que acumulou muito e acha que
tudo se resume nisto, lembre-se de que se pode valer (no seu íntimo e aos
olhos de Deus) muito menos do que algum daqueles pobres e desconhecidos
– que talvez possa “ser muito menos homem” do que ele.35

Diante da reflexão sobre a Igreja como novo povo de Deus, é preciso salientar a
práxis libertadora. De fato, como esse novo jeito de ser Igreja é expresso nas CEBs , que
sublinha valores fundamentais do Evangelho, que responde mais direta e
existencialmente aos homens do nosso tempo. As Comunidades eclesiais de base é a
concretização deste modelo de igreja pobre, servidora, profética e libertadora é o que
veremos no próximo capítulo.

35
KLOPPENBURG, Boaventura. Igreja popular. Rio de Janeiro: Agir, 1983, p. 234
28

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