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Intervenção E Cuidados Não Tardios em Saúde Mental

O artigo discute a importância da saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil, enfatizando a necessidade de uma abordagem integrada que envolva famílias, escolas e serviços de saúde pública. Destaca a prevalência de transtornos mentais nessa faixa etária e os impactos negativos associados, além de sugerir a implementação de políticas públicas e a capacitação de profissionais para promover um atendimento eficaz. A colaboração entre diferentes setores é essencial para garantir o desenvolvimento saudável e o bem-estar emocional das crianças e adolescentes.
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Intervenção E Cuidados Não Tardios em Saúde Mental

O artigo discute a importância da saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil, enfatizando a necessidade de uma abordagem integrada que envolva famílias, escolas e serviços de saúde pública. Destaca a prevalência de transtornos mentais nessa faixa etária e os impactos negativos associados, além de sugerir a implementação de políticas públicas e a capacitação de profissionais para promover um atendimento eficaz. A colaboração entre diferentes setores é essencial para garantir o desenvolvimento saudável e o bem-estar emocional das crianças e adolescentes.
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IOSR Journal Of Humanities And Social Science (IOSR-JHSS)

Volume 29, Issue 5, Series 5 (May, 2024) 01-06


e-ISSN: 2279-0837, p-ISSN: 2279-0845.
www.iosrjournals.org

Intervenção E Cuidados Não Tardios Em Saúde Mental


Na Infância E Adolescência: A Importância Da Parceria
Entre Famílias, Escolas E Serviços De Saúde Pública.
Renata Trivelato Felício Cenedesi, Maria Cristina Moura-Ferreira2,
Maria Aparecida De Almeida Araujo1, Joana Darc Ferreira Da Silva1,
Nídia Helena Mareco Fernandes Dantas Amaral1,
Maria Teresa Pinheiro Ribeiro1, Arlete Do Monte Massela Malta1,
Mario Angelo Cenedesi Júnior1
1
Universidad De Ciencias Empresariales Y Sociales, Argentina
2
Universidade Federal De Uberlândia-Mg, Brasil

Resumo:
Este artigo aborda a importância da saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil, destacando a
necessidade de uma abordagem integrada e abrangente para enfrentar os desafios relacionados aos
transtornos mentais nessa faixa etária. A análise enfoca a influência dos determinantes sociais na saúde
mental, evidenciando a prevalência dos transtornos mentais entre crianças e adolescentes e os impactos
negativos associados a essas condições. São discutidos também os diferentes atores envolvidos na promoção da
saúde mental, incluindo escolas, famílias e profissionais de saúde, bem como as políticas e serviços disponíveis
para atender a essa demanda. Destaca-se a necessidade de uma abordagem interdisciplinar e integrada, que
considere não apenas os aspectos clínicos, mas também os contextos sociais, familiares e escolares das
crianças e adolescentes.
Palavras-chave: saúde mental, crianças, adolescentes, determinantes sociais, políticas públicas.
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Date of Submission: 01-05-2024 Date of Acceptance: 10-05-2024
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I. Introdução
A atenção voltada à saúde mental de crianças e adolescentes, assim como o seu reconhecimento como
uma questão de saúde pública, é uma vertente recente e tem sido considerada como um dos principais desafios
da Reforma Psiquiátrica Brasileira (NUNES, 2016).
No Brasil, diversas pesquisas têm fundamentado uma considerável prevalência de transtornos mentais
em crianças e adolescentes, indicando que de 12,7% a 23,3% do total desse grupo no país enfrentam algum tipo
de transtorno mental, com 3 a 4% desses casos necessitando de tratamento intensivo (RONCHI, 2010).
Ainda de acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), as crianças e
adolescentes representam cerca de 30% e 14,2% da população mundial, respectivamente. Nessas populações,
são observadas elevadas taxas de prevalência de transtornos mentais. Uma revisão de literatura internacional
revelou uma média global de 15,8% na taxa de prevalência de transtornos mentais nessa população. Essa taxa
tende a aumentar proporcionalmente com a idade, com uma média de 10,2% entre os pré-escolares e 16,5%
entre os adolescentes. No Brasil, os estudos registraram taxas de prevalência de 7 a 12,7%, indicando que uma
em cada quatro a cinco crianças e adolescentes no mundo apresenta algum transtorno mental (THIENGO,
2014).
A maior parte da população infantil e adolescente no Brasil vive em condições adversas e está exposta
a diversas situações de estresse, o que aumenta o risco de desenvolvimento de problemas de saúde mental.
Múltiplos fatores influenciam a saúde mental dessa população, sendo que quanto mais expostos aos fatores de
risco, maior o potencial impacto na saúde mental (OPAS, 2015). Entre os transtornos mais frequentes nessa
população estão a deficiência mental, o autismo, a psicose infantil e os transtornos de ansiedade (GOMES,
2015).
Conforme estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente, de acordo com o Art. 7°, "é garantido
às crianças e aos adolescentes o direito à proteção da vida e à saúde, por meio da implementação de políticas
sociais públicas que viabilizem um nascimento e desenvolvimento saudável e equilibrado, em condições dignas

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de existência" (ISHIDA, 2009). A saúde mental e os transtornos mentais são mais complexos e interligados do
que algumas condições físicas, exigindo intervenções mais abrangentes. Deve-se considerar a interação entre o
ambiente em que a criança está inserida, fatores genéticos, neurobiológicos e até mesmo eventos que ocorreram
durante a gravidez. Outros aspectos individuais, como sono, nutrição e atividade física, também desempenham
um papel importante, assim como o ambiente familiar, comunitário e escolar, bem como a organização da
sociedade e questões sociais, como pobreza, desigualdade, racismo e discriminação.
Assim, esse é um ensaio acadêmico que trata sobre os cuidados em Saúde Mental de crianças e
adolescentes.

II. Metodologia
No contexto de um ensaio acadêmico sobre a Saúde Mental de Crianças e Adolescentes, no Brasil, a
metodologia desempenha um papel crucial na análise e compreensão dessas condições de saúde. Uma
abordagem metodológica robusta pode envolver a combinação de métodos quantitativos e qualitativos para
examinar as complexas relações entre determinantes sociais e saúde. Isso pode incluir a análise de dados
demográficos e epidemiológicos para identificar padrões de incidência e prevalência de doenças em diferentes
grupos sociais, bem como estudos qualitativos que exploram as experiências e percepções das comunidades
afetadas. Além disso, pesquisas participativas e colaborativas com indivíduos e grupos marginalizados podem
ser essenciais para entender os contextos sociais e culturais que moldam as disparidades de saúde. Ao adotar
uma abordagem metodológica abrangente e inclusiva, os pesquisadores podem contribuir significativamente
para a identificação de políticas e intervenções eficazes que abordem as raízes sociais das doenças e promovam
a equidade em saúde no Brasil.

III. Resultados E Discussão


A ocorrência de transtornos mentais em idade precoce está associada a uma série de consequências
negativas, como suicídio, abuso de substâncias, incapacidade de viver de forma independente, problemas legais,
evasão escolar, dificuldades econômicas e até problemas de saúde física, como doenças cardiovasculares. Esses
transtornos podem impactar negativamente tanto a vida do indivíduo quanto aqueles ao seu redor,
comprometendo a sua vida adulta de forma significativa. No entanto, apesar de entendermos a importância de
cuidar do bem-estar mental e emocional das crianças e adolescentes, ainda enfrentamos desafios relacionados
ao reconhecimento e ao estigma dessas condições.
Durante muito tempo, acreditava-se que os transtornos mentais não afetavam crianças e adolescentes.
Somente recentemente, na década de 1950, a psiquiatria da infância e adolescência se tornou uma área de
estudo e especialização. Hoje, sabemos que isso não é verdade e que os sinais e episódios de doenças mentais
podem ocorrer desde a tenra idade. Muitas vezes, esses sinais são interpretados erroneamente como
comportamentos normais da idade ou até mesmo intencionais e interpretados como birra, manha ou má
educação.
Tais interpretações, muitas vezes avolumadas por informações desajustadas e sem respaldo
profissional, podem delongar o acesso ao diagnóstico e tratamento adequados. Por outro lado, mesmo quando
um transtorno mental é reconhecido, nem sempre há apoio suficiente disponível. Ao contrário de outras
doenças, transtornos mentais muitas vezes não recebem a mesma compreensão e empatia, sendo associados à
fraqueza ou características indesejáveis de personalidade. Isso pode criar estigma e discriminação dentro da
família ou da escola, por exemplo, fazendo com que alguns pais sintam medo de serem culpabilizados pelo
estado de saúde de seus filhos, dificultando ainda mais a procura por serviços de saúde necessários.
Reconhecer e abordar os transtornos mentais em uma idade precoce, visando promover um
desenvolvimento saudável e bem-estar emocional ao longo da vida é fundamental, no entanto requer uma visão
abrangente e integrada, considerando não apenas os fatores individuais, mas também o ambiente e o contexto
social e afetivo em que as crianças e estão inseridas.
A intervenção no campo da saúde mental implica uma ampla área de conhecimento e ações que se
destacam por sua natureza inter e transdisciplinar, além de sua abrangência intersetorial. Diversos campos de
conhecimento se entrelaçam no âmbito da saúde mental, como medicina, psicologia, filosofia, sociologia,
pedagogia entre outros (LANCETTI & AMARANTE, 2012). A busca, o quanto antes, por atendimento
adequado e profissionais especializados no campo da saúde mental são passos importantes para garantir o
cuidado necessário às crianças e adolescentes.
O Atendimento Institucional Especializado em Saúde Mental na Rede Pública para Crianças e
Adolescentes no Brasil
A promoção da saúde mental de crianças e adolescentes emergiu como uma prioridade nas diretrizes
da Organização Mundial de Saúde, devido à disparidade na atenção dedicada a esse grupo etário, quando
comparada às fases de desenvolvimento adulto e idoso. A falta de reconhecimento da importância da saúde

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mental na infância e adolescência pode acarretar consequências adversas ao longo do desenvolvimento,


prejudicando a capacidade produtiva e a integração social desses indivíduos quando adultos (RAMIRES, 2009).
O Brasil utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS) para abordar a saúde mental na infância e na
adolescência. Dentro desse sistema, existe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que engloba diversos
serviços comunitários, incluindo atenção básica, atenção especializada, urgência e emergência, atenção
hospitalar, cuidados residenciais temporários, estratégias de desinstitucionalização e reabilitação psicossocial.
No entanto, a atuação do sistema suplementar regulado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) é insuficiente, já que os planos de saúde oferecem cobertura limitada e inadequada para os transtornos
mentais.
Nos últimos anos, surgiram os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) como parte da Rede de
Atenção Psicossocial, com uma modalidade específica chamada CAPSi, que atende crianças e adolescentes com
transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas,
além de outras situações clínicas que dificultam a socialização e a realização de projetos de vida.
Mais recentemente, conforme a nota técnica n° 11 de 2019, foram incluídas no sistema de atenção
psicossocial as Equipes Multiprofissionais de Atenção Especializada em Saúde Mental e as Unidades
Ambulatoriais Especializadas. Essas equipes são compostas por médico psiquiatra, psicólogo e assistente social,
e oferecem atendimento integrado e multiprofissional através de consultas e psicoterapia em ambulatórios
gerais e especializados, policlínicas e ambulatórios de hospitais gerais e hospitais psiquiátricos.
O objetivo desses serviços é estabelecer uma conexão entre a atenção primária oferecida nas Unidades
Básicas de Saúde (UBS) e os CAPS, ampliando o acesso para pessoas com transtornos mentais de gravidade
moderada, como transtornos de humor, dependência química e transtornos de ansiedade.
As definições impostas pela RAPS não indicam a obrigatoriedade dos serviços, mas estabelecem
parâmetros operacionais e requisitos para financiamento. Portanto, a disponibilidade dos serviços depende da
vontade dos municípios, de um processo de credenciamento e da disponibilidade de recursos financeiros. Por
isso, é difícil determinar com precisão o número exato de CAPSi disponíveis. Em um levantamento realizado
em 2014, foram identificados apenas 208 CAPSi registrados no CNES, distribuídos em apenas 23 estados do
Brasil. Esse número claramente é insuficiente.
Uma ação importante que merece destaque é a realização de um censo com o objetivo de avaliar os
estabelecimentos ambulatoriais da RAPS, investigando variáveis como estrutura, profissionais, ações e serviços
oferecidos, além da percepção das pessoas que utilizam esses serviços. Inicialmente previsto para 2020, o censo
foi adiado para 2021 devido à pandemia da Covid-19.
Atualmente, a equipe responsável está refinando os instrumentos de avaliação dos estabelecimentos de
forma psicométrica e busca criar um observatório de qualidade assistencial para a rede, com informações úteis
para os gestores. Um próximo passo a ser considerado em termos de políticas públicas seria a realização de
estudos de implementação, levando em conta os diferentes contextos sociogeográficos e epidemiológicos do
país.
De fato, as políticas públicas deveriam ser constantemente acompanhadas por análises e diretrizes de
implementação. Não obstante, é importante ressaltar que é necessário um esforço contínuo para melhorar e
expandir os serviços de saúde mental para crianças e adolescentes. O sistema suplementar precisa ser
aprimorado e oferecer cobertura adequada para os transtornos mentais, além de ser fundamental investir na
capacitação das equipes profissionais, garantindo um atendimento de qualidade e o apoio necessário para esses
indivíduos em suas jornadas de recuperação.
Assim, é essencial que o Brasil continue aperfeiçoando seu sistema de saúde mental, visando atender
de forma completa e eficiente as necessidades das crianças e adolescentes que enfrentam transtornos mentais.

A contribuição da Escola
As escolas também têm um papel fundamental na promoção da saúde mental amplamente estabelecido
a partir do artigo 205 da Constituição Federal que baliza a Educação como um direito contemplando o indivíduo
em seu desenvolvimento pleno, ou seja, em sua integralidade:

“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho”.

A participação da escola na promoção da saúde mental pode ser embasada também no Artigo 29 da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que estabelece que a escola deve promover o desenvolvimento
integral das crianças, afirmando o compromisso da educação infantil com o desenvolvimento físico,

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psicológico, intelectual e social das crianças de até cinco anos (Brasil, 1996). Posteriormente, no artigo 36,
parágrafo 5º, destaca-se a necessidade de um currículo de ensino médio que leve em consideração a formação
integral do aluno, abordando os aspectos cognitivos e socioemocionais (Brasil, 1996).
A responsabilidade da escola na promoção da saúde é reiterada nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) para as quatro primeiras séries do ensino fundamental, onde se enfatiza a importância de desenvolver nos
alunos atitudes positivas em relação à sua própria saúde e à saúde da comunidade (Brasil, 1997).
Professores e demais profissionais da educação podem observar sinais precoces de problemas
emocionais e comportamentais nos alunos. Portanto, é importante que esses profissionais estejam capacitados
para oferecer o suporte necessário, seja por meio de ações preventivas, como campanhas de conscientização, ou
ao encaminhar alunos para atendimento especializado, pois a saúde mental é fundamental para o
desenvolvimento saudável das crianças. Problemas como ansiedade, depressão, transtornos de comportamento e
déficit de atenção podem afetar negativamente seu desempenho acadêmico, relacionamentos sociais e qualidade
de vida.
Acredita-se que seja extremamente relevante que os professores sejam capacitados para lidar com
questões de saúde mental, uma vez que eles acompanham o desenvolvimento psicossocial e cognitivo das
crianças ao longo do tempo. É importante definir junto ao Programa Saúde na Escola, ações preliminares de
prevenção e promoção da saúde mental e explicar seus fundamentos, a implementação de estratégias de
promoção e prevenção da saúde mental, que podem abranger os aspectos cognitivos e socioemocionais.
Vale pinçarmos aqui uma tendência que está tomando força no ambiente escolar: a medicalização.
Crianças e adolescentes do ensino fundamental têm sido alvos desse movimento. Uma evidência dessa
medicalização é o aumento no consumo de metilfenidato (medicamento para o Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade) no Brasil, como relatado pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos
Controlados (SNGPC). Em 2009, o consumo médio mensal foi de 46.466 caixas, enquanto em 2011 esse
número aumentou para 101.071 caixas/mês (ANVISA, 2012).
Uma possível razão deste fluxo pode ser o que Marçal e Silva 2006 argumentam, de que há um grande
número de alunos sendo encaminhados para clínicas de saúde mental pelas escolas, indicando que problemas de
aprendizagem e indisciplina em sala de aula estão sendo entendidos como problemas de saúde. A necessidade
urgente de formação e capacitação dos profissionais que lidam com a assistência à criança em diversos setores
tem sido enfatizada como forma de combater a medicalização da infância.
Brzozowski e Caponi (2013) definem a medicalização como o processo de transformar problemas que
não eram considerados médicos em problemas médicos. Isso significa enxergar e tratar os eventos da vida das
pessoas apenas sob uma perspectiva médica. Como resultado, o conhecimento médico ganha hegemonia na
concepção, explicação e tratamento dessas condições medicalizadas.

A Contribuição da Família
As famílias desempenham um papel crucial na promoção da saúde mental de seus filhos. Um ambiente
familiar estável, amoroso e compreensivo é fundamental para o desenvolvimento emocional das crianças e
adolescentes. Entretanto, o cuidado com os filhos tem se apresentado como uma tarefa bastante complexa na
sociedade contemporânea.
São diversos os deveres e exigências relativos à educação e desenvolvimento das crianças até a vida
adulta, aos quais os pais estão submetidos. Segundo Melman (2001): “pais e mães precisam estar
constantemente informados e atentos aos mínimos detalhes, aos menores desvios que envolvam o
desenvolvimento emocional, escolar, sexual, esportivo e das habilidades sociais de seus filhos”.
Comumente os pais expressam estar inseguros em relação ao modo como lidam com os filhos e, diante
da incerteza em resolver dificuldades domésticas, frequentemente recorrem aos especialistas com a expectativa
de encontrar respostas rápidas ou ainda diagnósticos que fundamentem a insegurança no cuidado e educação
dos seus filhos. De acordo com o autor, se esses sentimentos de insegurança e desconforto incidem sobre boa
parte dos pais, a emergência do adoecimento psíquico em algum membro da família agrava drasticamente esse
quadro.
Melman (2001) aponta ainda que, em geral, o adoecimento de um membro da família representa um
forte abalo, que desestrutura os modos habituais de lidar com situações cotidianas, de modo que, muitos
familiares não sabem como agir diante dos problemas.
A maneira como as famílias interagem com seus filhos, orientam, apoiam e expressam amor e afeto
pode ter um impacto significativo no desenvolvimento emocional e psicológico das crianças.
Quando a família está presente e ativamente envolvida na vida de seus filhos, criam um ambiente
seguro e acolhedor, onde as crianças se sentem valorizadas e amadas. Esse tipo de ambiente contribui para o
fortalecimento da autoestima, confiança e resiliência nas crianças, elementos cruciais para uma boa saúde
mental.

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A proximidade entre pais e filhos possibilita uma maior percepção dos sinais de problemas emocionais
ou comportamentais que a criança possa enfrentar. Os pais podem identificar prontamente sintomas de
ansiedade, depressão, estresse ou dificuldades de relacionamento, buscando ajuda profissional quando
necessário. As família também desempenham um papel essencial na educação emocional das crianças ao
discutir abertamente sobre sentimentos, ensinar habilidades de regulação emocional e encorajar a expressão
saudável de emoções, estão contribuindo para o desenvolvimento de recursos emocionais nas crianças,
fundamentais para enfrentar os desafios da vida.
Na vida dos adolescentes, a participação dos pais é fundamental para um desenvolvimento saudável
nessa fase. Nesse período, os adolescentes passam por diversas transformações físicas, emocionais e sociais,
enfrentando desafios como a pressão dos colegas, a construção da identidade e o processo de tomada de
decisões. Os pais que se envolvem ativamente nesse processo, oferecendo suporte, orientação e estabelecendo
limites adequados, têm maior probabilidade de auxiliar os adolescentes a enfrentar esses desafios de maneira
positiva.
Ou seja, a presença da família na saúde mental de crianças e adolescentes é essencial para criar um
ambiente emocionalmente saudável, promover o desenvolvimento de habilidades emocionais, identificar
precocemente problemas e oferecer o apoio necessário para enfrentar os desafios do desenvolvimento pleno.

IV. Conclusão
A saúde mental tem se tornado uma preocupação crescente em nossa sociedade contemporânea. As
crianças e adolescentes estão enfrentando cada vez mais cedo desarranjos emocionais e comportamentais, o que
demanda uma atenção especial por parte das famílias, escolas e profissionais de saúde. Nesse contexto, a
percepção a respeito do comportamento da criança e do adolescente, o acolhimento, atendimento e as
intervenções profissionais são essenciais para promover a saúde mental e o bem-estar destes.
No Brasil, uma grande parte da população infantojuvenil vive em condições adversas e exposta a
situações prejudiciais à saúde mental. Assim, é grande o risco de desenvolverem transtornos psiquiátricos,
favorecendo o fracasso escolar e o comprometimento dos relacionamentos interpessoais.
Em tempo, precisamos considerar que as classificações diagnósticas são mutáveis ao longo do tempo,
na medida em que refletem o “estado da arte” das evidências e consensos acumulados em um determinado
momento sociohistórico. Por isso, necessitam de constante aperfeiçoamento à medida que emergem novas
evidências científicas e consensos sociais
Atualmente, a orientação da política de saúde mental para crianças e adolescentes é coordenada pelo
Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, entre as principais metas para fortalecer essa política, destaca-se "a
elaboração de estratégias para promover a colaboração interinstitucional da saúde mental com setores
historicamente envolvidos no apoio à infância e adolescência: saúde geral, educação, assistência social, justiça e
direitos" (Couto et al, 2008, p. 391). Esse enfoque ressalta a importância da participação de outros setores, mas,
de acordo com os mesmos autores, isso não ocorre de maneira satisfatória, uma vez que frequentemente se
observa uma abordagem isolada e fragmentada. Esse desafio, provavelmente, tem suas origens na falta de
preparo dos profissionais tanto no setor da saúde quanto em outros para lidar com questões relacionadas à saúde
mental, apresentando obstáculos cuja superação é condição essencial para alcançar a integralidade do cuidado
em saúde, uma das diretrizes fundamentais do SUS.
Sendo assim, o reposicionamento do transtorno mental — e, essencialmente, da saúde mental — como
elemento integrante do projeto público de atenção à saúde na infância e na adolescência, juntamente com a
vacinação, a nutrição e a atenção perinatal, representa uma prioridade absoluta.
A saúde mental das crianças e adolescentes demanda uma atenção especial por parte das famílias,
escolas e profissionais de saúde. O atendimento e as intervenções adequadas são fundamentais para promover o
bem-estar emocional e comportamental nas crianças. A capacitação dos profissionais e o cuidado na utilização
de medicamentos são aspectos cruciais nesse processo. É necessário um esforço conjunto para garantir um
ambiente saudável e acolhedor para o desenvolvimento integral.
Precisamos definitivamente consolidar uma parceria entre a escola, os pais e os profissionais de saúde
para realizar um diagnóstico preciso dos potenciais transtornos de aprendizagem, tais como TDAH (Transtorno
do Déficit de Atenção e Hiperatividade), dislexia, entre outros. Com essa abordagem conjunta e atenta, torna-se
viável buscar uma intervenção adequada, que pode envolver terapias, orientações específicas e, em
determinadas situações, a administração de medicamentos sob a supervisão de um profissional de saúde.

Referências
[1] Marçal, V. P. B., & Silva, S. M. C. (2006). A Queixa Escolar Nos Ambulatórios Públicos De Saúde Mental: Práticas E Concepções.
Psicologia Escolar E Educacional, 10(1) 121-131.
[2] Brzozowski, F. S., & Caponi, S. N. C. (2013) Medicalização Dos Desvios De Comportamento Na Infância: Aspectos Positivos E Negativos.
Psicologia: Ciência E Profissão, 33(1), 208-221.
[3] Brasil. Ministério Da Educação. (1996). Lei De Diretrizes E Bases Da Educação Nacional. Brasília, Df.

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[4] Brasil. Ministério Da Educação. (1997). Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução Aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, Df.
[5] Gomes, R. S. “É Assim Que Deve Ser”. ................................ O Governamento Das Famílias E Os Serviços De Assistência Em
Saúde Mental Infantil. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal De Pernambuco, Programa De Pós–Graduação Em
Psicologia, Recife – Pe, 2015
[6] Melman, J. Família E Doença Mental: Repensando A Relação Entre Familiares EProfissionais. – 3ª Ed. São Paulo: Escrituras,
2008.
[7] Nunes, Ck. Kantorski, Lp. Coimbra, Vcc. Interfaces Entre Serviços E Ações Da Rede De Atenção Psicossocial Às Crianças E
Adolescentes. Rev Gaúcha Enferm. 2016 Set;37(3). Disponível: Https://Doi.Org/10.1590/1983-1447.2016.03.54858
[8] Opas- Organização Pan-Americana Da Saúde. Saúde Mental Dos Adolescentes. Brasília (Df); 2015. Disponível:
Https://Www.Paho.Org/Pt/Topicos/Saude-Mental-Dos-Adolescentes
[9] Thiengo, Dl. Cavalcante, Mt. Lovisi, Gm. Prevalência De Transtornos Mentais Entre Crianças E Adolescentes E Fatores
Associados: Uma Revisão Sistemática. J Bras Psiquiatr. 2014;63(4):360-72. Disponível: Https://Doi.Org/10.1590/0047-
2085000000046

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