Dissertação - Carla Ferreira - Jan2014
Dissertação - Carla Ferreira - Jan2014
Sector Público:
Constrangimentos na Adopção das
IPSAS
Lisboa
2013
Harmonização Contabilística no Sector Público:
Lisboa, 2013
1
The greatest benefit that would flow from harmonization would be the comparability of
international financial information.
[John N. Turner]
2
Agradecimentos
Ao Mestre José Maria Pedro, meu coorientador, pelas proveitosas conversas e conselhos
transmitidos ao longo do trabalho, pelas correcções, sugestões e atenta revisão
ortográfica da dissertação, pela procura de especialistas para responder às entrevistas e
pela amizade.
Ao meu marido Luís e às minhas filhas Andreia e Sara pelo apoio familiar, pela
paciência e compreensão reveladas ao longo deste trabalho, principalmente na fase
final.
3
Resumo
4
Abstract
With the Memorandum signed with the TROIKA in 2011, the Government took "extend
adoption to any Central Administration the Official Public Accounts, which allow the
integration of the three aspects of accounting - the budget, the sheet and analytical - and
so know more accurately the budgetary and equity of public entities, as well as meet the
costs of goods and services produced." The implementation of uniform and comparable
practices on an accrual basis for all sectors of the public administration is crucial to the
harmonization of accounting systems in accordance with the International Public Sector
Accounting. This thesis aims to address the impact of the implementation of
International Public Sector Accounting Standards (IPSAS) and the Public Sector,
particularly the consequences of this implementation on Public Accounts and hence
what changes may occur in the National Accounts. The research undertaken aims to
identify the facilitating or hindering factors concerning the implementation of IPSAS in
the Portuguese Public Administration. The analysis focuses on existing international
standards, the current situation of the Public Administrations and on the opinion of
experts in the field of accounting.
5
Índice
1. Introdução .............................................................................................................. 11
6
4.2.2. Organismos Nacionais................................................................................ 58
5. Conclusões .............................................................................................................. 75
7. ANEXO 1 ................................................................................................................ 90
8. ANEXO 2 ................................................................................................................ 93
7
LISTAS DE SIGLAS
AP – Administração Pública
CE – Comissão Europeia
CP – Contabilidade Pública
CN – Contabilidade Nacional
DF – Demonstrações Financeiras
EM – Estado Membro
8
GerFIP – Gestão de Recursos Financeiros em modo partilhado
II – Instituto de Informática
OE – Orçamento do Estado
9
PDE – Procedimento dos Défices Excessivos
SI – Serviço Integrado
SP – Sector Público
UE – União Europeia
10
1. Introdução
Um dos problemas que se colocam para a concretização desta medida decorre das
divergências existentes entre a Contabilidade Pública e a Contabilidade Nacional, e da
necessária aproximação destes sistemas contabilísticos que Portugal utiliza na
apresentação das contas, conforme citado por Carvalho (2002), “(...) a Contabilidade
Pública é uma contabilidade micro, de centenas de entidades e regem-se por normas
essencialmente contidas num Plano Oficial de Contabilidade. A Contabilidade Nacional
é macro, é um conjunto detalhado de contas e de quadros que permitem dar uma visão
completa da actividade económica de um País.”.
1
Regulamento (CE) nº 2223/96, do Conselho, de 25 de Junho de 1996, relativo ao Sistema europeu de
contas nacionais e regionais na Comunidade, publicado no Jornal Oficial – L310, de 30 de Novembro de
1996.
11
Para tal, o Estado deve dispor de sistemas de informação e instrumentos de gestão
adequados à aplicação de forma normalizada de um único Plano Oficial de Contas
consistente com os princípios das IPSAS.
Houve decisões quanto à natureza das entidades das Administrações Públicas que
fizeram variar o perímetro de consolidação orçamental e trouxeram problemas
acrescidos de consolidação (a divida “escamoteada” com artifícios legais quanto à
natureza das entidades, exemplos: hospitais EPE), que o SEC veio clarificar e recolocar
no perímetro da consolidação e que se encontra expresso na nova LEO.
2
TROIKA – Equipa constituída por três responsáveis que negociaram as condições de resgate financeiro
em Portugal, um da Comissão Europeia, um do Banco Central Europeu e outro do Fundo Monetário
Internacional.
3
Lei do Enquadramento Orçamental – Lei nº 52/2011, de 13 de Outubro.
12
Também a conclusão da reforma da adopção da contabilidade patrimonial generalizada
a toda a administração pública deverá ser uma prioridade para que a médio/longo prazo
seja possível a implementação das IPSAS.
O Estado deve prestar contas da utilização dos dinheiros públicos ao cidadão que,
enquanto accionista, exige do Estado rigor e transparência nas contas e
responsabilização por parte dos seus executores, que por sua vez é reflectido na
apresentação da Conta Geral do Estado (CGE).
Neste estudo, numa primeira fase, importa perceber como será feita a convergência da
contabilidade pública aplicada ao Sector Público Administrativo para a contabilidade
nacional das Administrações Públicas, já que esta implica a transição de uma
contabilidade na óptica de caixa para uma óptica de compromissos.
4
O sector das AP (Sector Público Administrativo - SPA) divide-se em quatro subsectores: Administração
Central (Serviços Integrados e Serviços e Fundos Autónomos), Administração Local, Administração
Regional e Segurança Social. A estrutura do Sector Público Português inclui para além do SPA o Sector
Público Empresarial e o Sector Empresarial Local.
13
A aplicação das IPSAS depende muito da normalização contabilística e da contabilidade
de acréscimo aplicada ao Estado em sentido lato. O efeito da consolidação e
ajustamentos das contas públicas será menor quanto maior for a adopção da
contabilidade de acréscimo.
Portugal tem de proceder à harmonização contabilística e à adopção das IPSAS por este
ser também um imperativo na União Europeia, nomeadamente nos países pertencentes à
União Monetária. Acresce a este condicionalismo, que uma grande diversidade
contabilística perturba os utilizadores dos mercados financeiros, as empresas
multinacionais e as uniões económicas.
Também importa referir que o processo de harmonização poderá ser facilitado pela
mudança ocorrida na forma de gestão do Estado nas últimas décadas. No âmbito da
chamada new public management (nova gestão pública), que enfatiza o desempenho em
detrimento da conformidade legal, novos princípios têm sido referidos como é o caso da
economia, eficiência e eficácia. Por via destes três “E´s”, como são tratados, a
“accountability” ganha uma grande relevância e consequentemente, todos os ciclos
relacionados com a orçamentação, prestação de contas e controlo (Pinto e Santos,
2005).
14
Conhecer as bases da proposta de racionalização do sector público,
nomeadamente na gestão financeira pública;
Descrever o novo Modelo de organização da Gestão Financeira Pública
decorrente da proposta governamental;
Compreender as justificações históricas e de contexto internacional;
Identificar e analisar as alterações previstas;
Avaliar as vantagens e os constrangimentos da adopção das IPSAS;
Identificar eventuais diferenças entre a normalização e a harmonização no
sistema contabilístico adoptado.
1.4. Metodologia
15
A entrevista semiestruturada foi utilizada para colhermos as opiniões de especialistas e
principais intervenientes na respectiva área de estudo.
A presente dissertação foi estruturada em três partes, para além da Introdução e das
Conclusões.
Apesar de ter sido incluído um ponto na parte dois com a opinião de informadores
qualificados que foram entrevistados, optamos por recorrer aos resultados das
entrevistas realizadas em complemento à descrição da pesquisa bibliográfica e análise
documental e isso ocorrerá ao longo da dissertação.
Na segunda parte, faz-se uma breve síntese da actual Reforma da Contabilidade Pública
Nacional e Internacional, identificando as características e alterações do novo modelo
de organização no Sector Público referente à Gestão Financeira Pública, terminando
com uma síntese da opinião de vários especialistas entrevistados no âmbito deste
trabalho (ver desenvolvimento no Anexo 2).
16
2. Enquadramento Teórico
Esta nova perspectiva, a New Public Management, parece ter sido facilmente adoptada
pelas diversas administrações públicas, generalizando-se, e Hood (citado por Carvalho,
2001, p. 46) afirma mesmo que esta “é uma das mais surpreendentes tendências
internacionais na administração pública”. Para tal terão contribuído inúmeros factores,
interdependentes, de ordem social, económica e política dos quais se destacam:
Na realidade torna-se difícil de explicar a elevada popularidade da NPM, uma vez que
muitos dos argumentos explicativos parecem não encaixar nas expectativas encontradas
nos vários países da OCDE e que implementaram a NPM (Hood, 1995), o que
provavelmente significa que variados factores terão influenciado, em diferentes graus, a
sua adopção nos diversos países.
17
Segundo Carvalho (2001) os princípios da NGP implicam uma mudança na forma como
os serviços públicos estão organizados e no modo como são geridos, defendendo-se
uma maior preocupação com os cidadãos e as suas necessidades, o que justifica a maior
flexibilidade da gestão pública. O modelo da NGP assenta nos princípios da redução das
diferenças entre o sector público e o sector privado e do maior foco atribuído à
responsabilidade baseada nos resultados, em vez da preocupação exclusiva com a
responsabilidade sobre actividades e processos.
Sendo certo que diversas experiências indicam que algumas das funções do Estado
podem ser «privatizadas», também é certo que existe um núcleo duro de funções
essenciais que o Estado deve manter na sua esfera imediata (as funções que garantem a
coesão social). E é tendo em conta estas funções que fará sentido discutir o modelo
organizativo e de gestão da administração pública (Carapeto e Fonseca, 2006). Para
Carapeto e Fonseca (2006), algumas correntes mais recentes já ultrapassaram o
endeusamento da gestão privada (cuja aplicação colheu diversas experiências menos
positivas em vários países), defendendo um novo modelo de gestão pública que liga o
modelo burocrático à sociedade civil, através da noção de tape management. Ou seja,
uma gestão que tende a assentar, não na aplicação linear de técnicas de gestão do sector
privado, mas na introdução de formas de transparência, de accountability, de
participação e de equidade sobre o modelo burocrático, para modernizar e minorar as
suas disfunções.
Portugal começa nos inícios dos anos 90 a acompanhar o ritmo da mudança que se
verifica nos Países mais desenvolvidos, sendo fundamental actuar no aumento da
transparência e da responsabilidade do serviço público prestado.
18
administração com a introdução de técnicas de gestão inspiradas nos modelos da gestão
do sector privado (onde se incluem, designadamente, as alterações ao estatuto
profissional dos funcionários públicos), balizada por preocupações de eficiência e
eficácia (Bilhim, 1998), e a iniciativas de desburocratização e de aproximação da
administração pública aos cidadãos, nomeadamente através da simplificação de normas
e procedimentos administrativos e da redução do peso da administração central.
19
Nas últimas décadas, no âmbito da New Public Manangement, a Contabilidade Pública
tem conhecido reformas consideráveis a nível mundial, (citado por Jorge, 2012, p. 48)
das quais se podem destacar as seguintes características gerais (Vela Bargues, 1996;
Brusca e Condor, 2002; Benito el al., 2007):
Por outro lado, os Países da União Europeia passaram também a elaborar informação
para as entidades europeias, dando-se especial relevo às restrições impostas no âmbito
do controlo do deficit público e da obediência ao estabelecido pelo Sistema Europeu de
Contas.
20
Esta contabilidade utiliza o Método de Escrituração Contabilística das partidas simples
ou unigrafia que consiste na inscrição em cada conta dos movimentos que lhe são
respeitantes, sem qualquer interligação com inscrições feitas em outras contas.
Existem excepções que estão previstas na Lei do Enquadramento Orçamental (art. 12º-
D), relativamente ao caracter anual do Orçamento, ou seja, situações de caracter
plurianual que devem estar obrigatoriamente previstas no conteúdo do orçamento, por
exemplo, na possibilidade de contratar despesas em ano diferente da sua execução, sem
necessidade da sua previsão no Orçamento do ano em que estas estão a ser
contratualizadas.
Para Pinto e Santos (2005) a utilização do sistema de gerência actual, facilita o controlo
dos défices excessivos e sucessivos, assim como torna mais célere o fecho da Conta
Geral do Estado, pois é mais fácil fechar contas por Tesouraria do que por conta
corrente com diversas entidades. Porém, por outro lado, esta opção coloca alguns
problemas na elaboração da contabilidade nacional, uma vez que os pagamentos de
dívidas de orçamento findos devem estar contidos nesses anos económicos e não no de
pagamento, colocando-se a mesma situação para as receitas liquidadas em anos
diferentes da sua cobrança.
21
saldo orçamental, registo de cobranças cujos reembolsos e restituições serão apenas
visíveis no ano seguinte), e ainda, a dificuldade na concretização de indicadores da
economia, eficiência e eficácia por não prever a inclusão de dados operacionais e
económicos.
Esta contabilidade utiliza o Método das partidas dobradas ou digráfico onde todo o
débito numa conta origina um crédito noutra ou noutras e vice-versa.
A nova gestão pública exige cada vez mais informação sobre a aplicação dos meios
financeiros, bem como a uniformização de critérios contabilísticos de modo a verificar
que na realização das despesas públicas, os requisitos de economia, eficiência e eficácia
a par da conformidade legal e regularidade financeira, são respeitados.
22
Esta adopção tem a sua justificação no facto de a contabilidade de base de caixa não
permitir determinar os activos e passivos da entidade, não reconhecer os custos e
proveitos como numa base de acréscimo, incentivar a um comportamento não
económico, dificultar a avaliação de “capitais próprios” inter-gerações. Ou seja, não
permite analisar se uma geração está a viver “dentro das suas possibilidades” ou se está
a consumir recursos que não está a produzir, comprometendo as gerações futuras
(Carvalho, 2009).
Para os peritos entrevistados no âmbito desta dissertação, apesar dos dois sistemas de
contabilidade (caixa e compromisso) serem complementares na prestação de informação
para o SEC, a contabilidade na base de compromissos pede mais informação do que a
contabilidade na base de caixa, modelo muito limitado e em desuso.
23
2.3. A Contabilidade Nacional
O sector das administrações públicas agrega todas as unidades institucionais cuja função
principal é a produção de bens e serviços não mercantis. A unidade institucional pública
é mercantil se for financiada principalmente pelas famílias, pelos empregados e por
empresas de seguro privadas. Neste caso, os preços dizem-se economicamente
significativos e os custos de produção são cobertos pelas vendas em mais de 50 por
cento. O critério dos 50 por cento deve ser aplicado tendo em conta uma série de anos.
O cumprimento deste critério é importante dado que caso a entidade pública não o
cumpra, contará para o cálculo do défice e da dívida das administrações públicas, o que
24
pode levar à “derrapagem” destes indicadores (Revista da OTOC, ano XIII, nº152,
citado por Rodrigues, Out., 2012, p. 41).
A autora supracitada referia que “Infelizmente, muito dos gestores públicos não estão
alertados para a necessidade de seguir de perto este indicador, nem sabem como se
calcula.”.
Existindo uma ligação estreita entre a informação produzida pela Contabilidade Pública
e pela Contabilidade Nacional, é essencial que os procedimentos estejam uniformizados
e que a legislação seja coerente entre si e com o que estabelece o SEC 95. Neste
contexto, a correta determinação dos encargos assumidos e não pagos é de
extraordinária importância para efeitos de determinação do défice na óptica de Contas
Nacionais.
25
compromissos assumidos pelas entidades públicas, tendo surgido a Lei nº 8/2012, de 21
de Fevereiro, que vem estabelecer as regras aplicáveis à assunção de compromissos e
aos pagamentos em atraso das entidades públicas.
26
2.4. Divergências entre a Contabilidade Pública e a Contabilidade Nacional
Em função da evolução das estruturas das economias modernas dos países que integram
a União Económica e Monetária (UEM), houve necessidade de alterar o actual SEC,
com o objectivo de se obterem informações comparáveis, actualizadas, fiáveis e
harmonizadas sobre a estrutura da economia e a evolução da situação económica de
cada Estado-Membro.
Actualmente, a União Europeia usa o Sistema Europeu de Contas (SEC 95), mas no
próximo ano entra em vigor o novo sistema nacional de contas, ou seja, o SEC 20105
que vem alterar alguns critérios no apuramento das contas nacionais. No Relatório do 1º
Trimestre de 2013 do Conselho das Finanças Públicas6, da análise efectuada às contas
das Administrações Públicas é entendido que o novo SEC poderá agravar o défice
referindo que “A aplicação, a partir de 2014, do recém-aprovado SEC 2010 levará à
integração de mais empresas públicas no perímetro das administrações públicas. Assim,
constituem fatores de risco, que poderão conduzir a um aumento da dívida pública: (i) a
reclassificação de empresas que se encontram fora do perímetro das administrações
públicas, e (ii) o reconhecimento de pagamentos em atraso a fornecedores como
componente da dívida pública. Eventuais reclassificações de investimento das PPP
poderão ter também impacto na dívida, de sinal ainda desconhecido.”
No Regulamento do novo SEC pode ler-se que este sistema é um quadro contabilístico,
compatível a nível internacional, que descreve de forma sistemática e pormenorizada o
total de uma economia (isto é, uma região, um país ou um grupo de países), as suas
componentes e as suas relações com outras economias na sua totalidade. O regulamento
salienta o facto da metodologia do SEC 2010 ter a mesma estrutura do SEC 95 nos
primeiros treze capítulos, mas com novos onze capítulos sobre aspetos do sistema que
refletem desenvolvimentos em matéria de medição das economias modernas, ou de
utilização do SEC 95 na União Europeia.
5
Regulamento (UE) nº 549/2013, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de maio de 2013, relativo
ao sistema europeu de contas nacionais e regionais na União Europeia, publicado no Jornal Oficial da
União Europeia - L174, de 26 de junho de 2013.
6
O Conselho das Finanças Públicas é um órgão independente, criado pelo artigo 12.º-I da Lei de
Enquadramento Orçamental (Lei n.º 91/2001, de 20 de agosto), aditado pelo artigo 3.º da Lei n.º 22/2011,
de 20 de maio, que procedeu à 5.ª alteração daquela Lei. Tem por missão proceder a uma avaliação
independente sobre a coerência, o cumprimento dos objetivos definidos e a sustentabilidade das finanças
públicas, promovendo, simultaneamente, a sua transparência.
27
Para além das alterações conceptuais, o SEC 2010 tem diferenças importantes no que
respeita ao âmbito, com novos capítulos sobre as contas satélite 7 , as contas das
administrações públicas e as contas de resto do mundo. Além disso, os capítulos sobre
as contas trimestrais e as contas regionais foram significativamente ampliados.
Já na relação das IPSAS com o SEC concluem os entrevistados que estas têm como
principal utilizador o gestor de cada entidade contabilística, enquanto o SEC preocupa-
se com a contabilidade nacional e a prestação de contas à UE (macro), a outra é de uma
contabilidade micro que está relacionada com a contabilidade pública. Infelizmente a
contabilidade nacional não se entende com a informação do POCP. Uma adopção total
das IPSAS aproximaria os dois sistemas.
Para Rodrigues (2012) a divergência existe pelo facto dos serviços e fundos autónomos
(SFA) conseguirem implementar a contabilidade da base do acréscimo e dos serviços
integrados (SI) continuarem a aplicar a base de caixa modificada, que provoca
dificuldades na consolidação de contas entre entidades dos SFA e dos SI. Para além da
base de registo, existe outra divergência importante entre a CP e a CN que resulta da
valorimetria utilizada nas transacções. Assim, as diferenças que podem ser encontradas
entre a CN do sector das AP e a CP resultam (Jesus, 2008):
7
As contas satélites fornecem uma estrutura ligada à contabilidade central e que permite que a atenção
seja focada num determinado campo ou aspecto da vida económica e social no contexto das contas
nacionais; exemplos comuns são as contas satélite para o meio ambiente, ou de turismo.
28
informação, quer da CP quer da CN) (Revista da OTOC, ano XIII, nº152, citado por
Rodrigues, Out., 2012, p. 41).
Para Pollitt e Bouckaert (2004, p. 67) as reformas orçamentais têm sido generalizadas e
conduzidas por dois principais factores externos.
29
A primeira razão tem a ver com a restrição do crescimento da despesa pública por
razões macroeconómicas, em muito relacionadas com os altos e baixos da economia. A
segunda razão está relacionada com a melhoria de desempenho dentro do sector público
para os tipos de orçamento e gestão financeira que podem estimular uma maior
eficiência ou eficácia, ou melhor qualidade, ou uma mistura dos três.
Em vez das dotações financeiras anuais dos orçamentos serem gradualmente ajustadas,
legalizadas, de forma que no fim da legislatura de cada Governo fossem prestadas
contas, o processo orçamental tornou-se intimamente ligado com a medição do
desempenho da gestão operacional.
Uma segunda reacção para a poupança foi, talvez, mais compatível com a melhoria do
desempenho, decorrendo do modo seguinte: o ministério central fixa um conjunto de
políticas com tectos gerais, mas dentro daqueles responsabiliza, delega a alocação de
determinados serviços, programas ou projectos a políticos locais e/ou gestores. Esta
abordagem faz permitir a determinação local de prioridades.
30
nacional. A falta de coincidência entre o universo das entidades consideradas em
contabilidade pública e em contabilidade nacional, para além de ser um factor de
fragmentação do orçamento, tornava difícil a comparação das duas ópticas
contabilísticas, não contribuindo assim para a transparência da informação (Relatório do
Orçamento de Estado, 2013).
31
Neste momento pretende-se a apresentação das contas nacionais de acordo com um
modelo de normalização contabilística em Portugal que abranja simultaneamente o
SEC95, as IFRS e as IPSAS, que só é possível com a aplicação de políticas firmes e
claras, com a formação intensiva dos políticos e funcionários da Administração, de
forma a contribuir para uma maior cultura de accountability e de rigor na gestão dos
recursos públicos.
Os valores apresentados podem estar correctos, mas até que ponto estes serão
confiáveis? Todas as transacções foram registadas, e estão registadas com precisão? Isto
é, em efeito, uma auditoria do desempenho do sistema da organização de auditoria
interna.
32
3. Reforma da Contabilidade Pública em Portugal
33
Gestão Orçamental e dos Recursos do Estado) com o objectivo de difundir o POCP a
todos os Ministérios da Administração Pública.
8
O GeRFiP, é uma solução para os domínios da gestão contabilística e financeira e consubstancia a
implementação do Plano Oficial de Contabilidade Pública. Insere-se num projecto de desenvolvimento e
disseminação da solução em modo partilhado, incluindo a concepção e implementação do sistema,
respectivas infra-estruturas e serviços de suporte, sendo desenhada numa lógica modular, por blocos
funcionais, e integrada com as restantes aplicações da família GeRALL.
9
O Decreto-Lei nº 25/2007, de 7 de Fevereiro, cria a Empresa de Gestão Partilhada de Recursos da
Administração Pública (GeRAP), que é uma entidade pública de cariz empresarial nos moldes previstos
no regime do sector empresarial do Estado, a quem compete assegurar o desenvolvimento de serviços
partilhados no âmbito da Administração Pública, assumindo-se também como entidade gestora da
mobilidade.
10
O Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat) é a organização estatística da Comissão
Europeia que produz dados estatísticos para a União Europeia e promove a harmonização dos métodos
estatísticos entre os estados membros.
34
Dificuldade de integração de processos pré-existentes;
Falta de manuais de utilizador das aplicações;
Rigidez do sistema, interfaces pouco amigáveis e módulos que funcionam mal
(com incorreções);
Pouca formação dada aos serviços e inadequada no timing;
Falta de confiança na informação obtida;
Demora na resolução dos problemas, por parte das equipas de apoio;
Sistema mal adaptado a organismos com autonomia financeira;
Falta de conhecimento técnico das equipas de apoio.
A solução informática RIGORE que evoluiu para o sistema actual GerFIP, suportado
pela ESPAP 11 , encontra-se actualmente implementada em mais de 300 organismos
públicos, para o que terá contribuído a sistematização, uniformização e disseminação
massiva desta solução.
Estavam então reunidas as condições para que pudesse ser possível a accountability, de
forma integrada e real, concretizando o principal objectivo do POCP, ou seja, a criação
de condições para a integração dos diferentes aspectos – contabilidade orçamental,
patrimonial e analítica – numa contabilidade pública moderna, que constitua um
instrumento fundamental de apoio à gestão das entidades públicas e à sua avaliação.
11
Através do Decreto-Lei n.º 117-A/2012, de 14 de junho, concretiza-se a criação da Entidade de
Serviços Partilhados da Administração Pública, I. P. (ESPAP, I. P.), que assume a missão e atribuições do
Instituto de Informática, da Empresa de Gestão Partilhada de Recursos da Administração Pública, E. P. E.
(GeRAP), e da Agência Nacional de Compras Públicas, E. P. E. (ANCP), que são extintos, por fusão.
35
o POCP até harmonizou procedimentos, já que a partir do Regime de Administração
Financeira até havia organismos autónomos que usavam o POC. Mas a lentidão da
aplicação do POCP nos organismos com autonomia administrativa, o desadequado
sistema informático, alguma falta de formação técnica das pessoas, a ausência de
sanções para o não cumprimento de um sistema que deveria ser obrigatório,
reconhecendo-se que por vezes não haviam condições para cumprir esta
obrigatoriedade, foram factores mais que suficientes para o atraso na implementação do
POCP. Se este estivesse já implementado, as entidades teriam mais experiência com a
contabilidade em base de acréscimo, o que diminuiria as divergências na apresentação
de contas entre a Contabilidade Pública e o SEC. Também os sistemas de informação
foram o impulso para a difusão do POCP, mas não são o suficiente.
Como o POCP não estabeleceu os princípios que devem estar subjacentes a uma
adequada consolidação de contas, foi publicada a orientação genérica nº 1/2010, através
da Portaria nº 474/2010, de 1 de Julho, com o objectivo de enquadrar num normativo
específico, os princípios orientadores à consolidação de contas por parte do universo das
administrações públicas.
36
com determinados objectivos em termos de rigor orçamental que têm necessariamente
de ser aferidos em função da informação produzida também na óptica das contas
nacionais, tendo a consolidação de contas um papel fulcral nesta informação a produzir.
Assim, a norma de consolidação de contas para o sector público administrativo deve ter
por base um conteúdo que tenha como referência o previsto nas normas nacionais,
consentâneo com o estabelecido na Directiva n.º 83/349/CEE (Sétima Directiva), e
internacionais, nomeadamente as International Public Sector Accounting Standards
37
(IPSAS), Normas Internacionais de Contabilidade do Sector Público, emitidas pelo
International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB), que são, na
generalidade dos casos, baseadas nas Normas Internacionais de Contabilidade (NIC)
emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB).
Desta forma, a consolidação de contas deve permitir avaliar o desempenho dos diversos
subsectores e, de igual forma, a comparabilidade externa com outros sectores
institucionais, nomeadamente os da União Europeia, numa óptica consistente com o
Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais — SEC 95.”
Até porque as IPSAS, sendo baseadas em princípios e não em regras, dirigidas para o
relato financeiro em regime de acréscimo, poderão ser a única maneira de tornar
facilmente comparável as respectivas economias e empresas globais numa União
Económica e Monetária, conseguindo-se uma harmonização dos modelos de informação
financeira de natureza estatística e contabilística.
Foi referido também pelos especialistas entrevistados que será necessário assegurar
sessões de divulgação dos novos normativos e modelos para que exista uma adequada
compreensão por parte de todos os utilizadores. Há muitos dirigentes com formação na
área, mas o problema é quererem usar essa informação. Também é essencial a
preparação dos dirigentes/gestores públicos – em todos os níveis – para usarem a
informação do POCP. Este é um dos passos mais importantes. Não basta ter um sistema
actual e sofisticado, para gerir melhor, é necessário que os dirigentes o saibam utilizar
com eficiência. Uma grande parte do pessoal dirigente dos serviços públicos não
conhece a contabilidade patrimonial e não foi treinado para gerir numa lógica
38
empresarial ou NPM, por isso se considera indispensável a formação deste grupo de
pessoal em contabilidade de gestão.
Ainda sobre a trajectória a adoptar na reforma da gestão financeira Pollitt (2001) refere:
“um primeiro passo é, por vezes, simplesmente publicar algumas informações sobre o
desempenho ao lado dos documentos do orçamento anual (embora possa ser difícil ou
impossível de se relacionar performances específicas de dotações financeiras
específicas). Um segundo passo é começar a alterar o formato e o conteúdo do próprio
orçamento, normalmente, afastando-se o orçamento item de linha para algum tipo mais
sensível ao desempenho de categorização, ou tentando ligar orçamento com um novo
processo de gestão estratégica. Um terceiro passo e mais ambicioso é alterar o
procedimento do orçamento em si, por exemplo, por alteração dos incentivos para os
gestores dos orçamentos ou por fundamentalmente alterar a estrutura ou o momento da
discussão do orçamento, ou mesmo por tentar alterar o papel do legislador no processo
orçamental (Pollitt, 2001). Durante quase meio século muitos países tiveram
dificuldades consideráveis e persistentes na tentativa de estabelecer laços estreitos entre
o desempenho dos programas e dotações orçamentais (General Accounting Office 1997;
Pollitt 2001)”. Não há nenhuma razão particular para acreditar que a última geração de
reformas orçamentais vai desfrutar de um sucesso ligeiramente maior do que os esforços
anteriores.
39
Quadro 4.3 – Trajectórias do Orçamento
A mudança para a contabilidade de dupla entrada marca uma mudança significativa dos
registos, inscritos nas contas duas vezes: uma como um crédito e outra como um débito.
Se os salários são pagos, por exemplo, o montante envolvido pode ser mostrado como
um crédito para a conta da organização de caixa central e, simultaneamente, um débito
para a conta de salários. Esta abordagem baseia-se na perspectiva de que a organização
é uma empresa separada, em que os seus activos totais devem, por definição,
permanecer iguais ao seu capital mais os seus passivos (Balanço).
40
está equilibrada, e na medida em que as ligações para o desempenho são explicitadas.
Mas se os sistemas de dupla entrada estão confinados a um nível elevado e a
contabilidade se confina a uma função muito centralizada, longe do nível da gestão,
então o impacto sobre a maioria dos gestores pode ser limitado.
Por outro lado, a aplicação de sistemas de acréscimos não é igualmente simples para
todos os diferentes tipos de serviços e circunstâncias, e as reformas podem criar
incentivos perversos, bem como vantagens (Gillibrand e Hilton 1998: Pollitt 2001;
Straw, 1998). Quando a reforma tem lugar, tem sido frequentemente um passo-a-passo,
movendo-se de projectos-piloto para projectos de escala maior, ou de uma parte do
sector público para os outros (que significa que às vezes as distorções podem surgir
durante os períodos longos de transição, quando uma parte do sector público está
operando de acordo com um conjunto de princípios de contabilidade e outro está
seguindo um conjunto diferente).
12
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico é uma organização internacional de
34 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado, que
procura fornecer uma plataforma para comparar políticas económicas, solucionar problemas comuns e
coordenar políticas domésticas e internacionais.
41
Membros. Por conseguinte, define as regras relativas aos quadros orçamentais dos
Estados-Membros que são necessárias para garantir o cumprimento da obrigação
prevista no artigo 126.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE),
de evitar défices orçamentais excessivos. Por um lado, a disciplina orçamental
desempenha um papel essencial na salvaguarda da União Económica e Monetária e, por
outro, a estabilidade financeira baseia-se na confiança (Relatório da CE, 2013). Este
relatório analisa um dos instrumentos capazes de garantir esta confiança e de melhor
medir e prever a situação orçamental: as normas de contabilidade pública harmonizadas
e baseadas no princípio da especialização (ou do acréscimo).
42
empresas quando reformam os sistemas de contabilidade. Além disso, diferentes países
que estão a planear a introdução de contabilidade de exercício num futuro próximo não
utilizarão as IPSAS como um ponto de partida. Países como a Lituânia, a Suíça e a
Suécia são na sua maioria inspirados por IPSAS.
As razões para usar esses padrões internacionais são de dois tipos. De acordo com os
peritos em contabilidade do sector público das jurisdições que optam por aplicar a
IPSAS, acham que é mais eficiente fazer uso do conhecimento do IPSASB. Algumas
jurisdições, por outro lado, escolhem não aplicar as IPSAS, pelo facto de as IPSAS
ainda serem relativamente desconhecidas. A segunda razão pela qual algumas
jurisdições optam por não aplicar as IPSAS é a predominância de normas de
contabilidade da empresa. Apesar do facto das IPSAS serem baseadas em IFRS/IAS,
que são as normas internacionais de contabilidade da empresa, o poder das regras
contabilísticas de negócios específicos de cada país retarda o processo de cumprimento
IPSAS. A fim de superar este problema, é necessário uma alteração cultural. Como essa
alteração pode levar tempo, concluiu-se que ainda há um longo caminho a percorrer até
ao cumprimento das IPSAS por completo (Christiaens & Reyniers, 2009).
43
plurianual; Orçamento em Programas; Contabilidade patrimonial; Instituições
orçamentais independentes.
c) As regras orçamentais numéricas, específicas para cada país, que contribuem para a
coerência da condução das políticas orçamentais pelos Estados-Membros com as
obrigações que lhes incumbem nos termos do TFUE, expressas em termos de um
indicador sumário do desempenho orçamental, tal como o défice orçamental, os
empréstimos públicos, a dívida pública ou uma das suas componentes mais importantes;
44
3.4. Novo Modelo de Organização – Gestão Financeira Pública
Cada Ministro é responsável pelo estrito cumprimento dos limites orçamentais fixados
no respectivo Ministério, cabendo-lhe, designadamente, a responsabilidade de corrigir
eventuais desvios. O exercício desta responsabilidade individual de cada Ministro, bem
como da responsabilidade de controlo global das contas públicas por parte do Ministério
das Finanças, é dificultado pela elevada fragmentação do processo orçamental. Com o
objectivo de mitigar esta dificuldade de controlo, cada Ministro designou, interlocutores
políticos e técnicos (coordenadores dos programas orçamentais) para o
acompanhamento e controlo da execução orçamental junto do Ministério das Finanças.
Este processo permitiu uma redução significativa do impacto da fragmentação
orçamental no plano do controlo orçamental (Relatório do Orçamento de Estado, 2013).
Este objectivo está actualmente fixado em −0,5 % do PIB, no caso português. Quaisquer
desvios a esta regra devem ser corrigidos nos anos seguintes, contrariando-se desta
45
forma a tendência passada de acomodação sistemática dos desvios orçamentais. A regra
orçamental aplica-se a partir de 2015, devendo as revisões anuais do Programa de
Estabilidade e Crescimento a apresentar entretanto prever a trajectória de ajustamento
compatível com a concretização do objectivo definido.
A Orçamentação por Programas (OP) assenta num elemento crucial que é “let the
managers manage”, o que implica uma descentralização do poder de decisão, com um
fortalecimento simultâneo do sistema de controlo interno para colmatar essa
descentralização. Assim, apesar de os decisores serem mais responsabilizados pelos
resultados que apresentam, também beneficiam de uma maior flexibilidade na afectação
dos recursos que lhe foram atribuídos. Os fluxos de capitais na Administração Pública
deverão resultar de uma adequada resposta às seguintes questões – Quem gasta?; Como
se gasta?; Porque se gasta?; Onde se gasta?; Quanto se gasta?; e Quando se gasta? A OP
visa dotar a despesa pública de maior transparência fornecendo as respostas para estas
questões, já que os Programas reflectem de forma mais evidente as prioridades que o
Governo inscreveu no seu programa e nas Grandes Opções do Plano.
46
Na Avaliação do Processo Orçamental em Portugal que consta do Relatório da OCDE
de 2008 já eram feitas recomendações à necessidade da reforma do processo
orçamental, sendo expresso o seguinte: “A OP compreende a criação de um ciclo
plurianual de planeamento, programação, orçamentação, controlo e avaliação do
desempenho da actuação do Estado, com vista a garantir aos contribuintes uma melhor
aplicação dos seus impostos, contribuindo para uma despesa pública que maximize os
efeitos socioeconómicos (outcomes) capazes de melhorar o seu nível de bem-estar, i.e.,
potenciar o value-for-money dos cidadãos. Assim, com a OP pretende-se aprimorar o
processo de alocação dos recursos públicos, tornando a actuação das entidades
envolvidas mais clara, responsável e transparente, enquadrada por três princípios base:
accountability, plurianualidade e enfoque nos resultados”.
47
Em termos de processo de elaboração orçamental, mantendo o orçamento por
programas já implementado anteriormente, preconiza-se um processo de orçamentação
de base zero (artigo 21º A da LEO), em que cada entidade sob o OE justifica
detalhadamente todas as despesas para as actividades pretendidas de acordo com os
objectivos e programas estabelecidos, e apresenta alternativas para a concretização de
tais actividades (Revista da OTOC, ano XIII, nº153, citado por Jorge, Out., 2012, p. 42).
A LEO prevê que a prestação de contas por parte de todas as entidades públicas deverá
ser feita com base no POCP, com excepção das entidades que aplicam o Sistema de
Normalização Contabilística (SNC) ou que elaborem as suas contas em conformidade
com as normas internacionais de contabilidade (artigo 11.º da LEO).
Como referido anteriormente, a adopção do POCP tem sido um processo muito moroso,
ainda que se tenha registado um importante progresso nos últimos anos. O Governo está
empenhado em concluir esta importante reforma de adopção de uma contabilidade
patrimonial para a Administração Pública. A adopção de sistemas de informação de
gestão modernos e a utilização da informática de gestão é uma opção crucial da
modernização do processo orçamental. A adopção destes sistemas deve também obrigar
a um redesenho de processos e de procedimentos orçamentais e contabilísticos.
No âmbito da assistência técnica prevista no PAEF, foi sugerido que fossem utilizados
os princípios da International Public Sector Accounting Standards (IPSAS) na
apresentação de contas das entidades do sector público. De acordo com as instituições
internacionais, a adopção destes princípios contabilísticos aumentaria a transparência na
prestação de contas e a responsabilização. Contudo, o reporte de informação em base de
caixa manter-se-ia uma parte importante do processo de prestação de contas devido à
necessidade de prever as necessidades de tesouraria e financiamento em termos globais.
48
A missão deste Conselho consiste em pronunciar-se sobre os objectivos e cenários
orçamentais, a sustentabilidade das contas públicas e o cumprimento das regras relativas
ao saldo orçamental, à despesa da administração central e ao endividamento das regiões
autónomas e autarquias locais (artigo 12.º -I da LEO).
Como havia sido referido na introdução desta dissertação, entendemos que para além
das referências da opinião dos informadores qualificados entrevistados colocadas ao
longo deste estudo, seria importante e uma mais valia concentramos a informação destes
especialistas num único ponto.
49
Alguns especialistas entendem possível conciliar a base de acréscimo com a actual base
de caixa modificada usada no subsistema orçamental. Para estes devem existir
subsistemas de contabilidade e relato orçamental, para além do financeiro.
Calendarização realista;
Generalização da contabilidade do acréscimo nos diversos sectores da AP;
Alteração da base em que é preparado e executado o orçamento, que ainda é em
base de caixa;
Harmonização da informação contabilística e económica do Sector Público com
o SEC;
Eliminação dos diferentes planos sectoriais públicos;
Grande programa de formação de quadros e divulgação visando o envolvimento
dos interessados, a par de uma pilotagem do organismo normalizador;
Aprovação de um sistema de contabilidade único que se aproxime das NICSP e
do SEC;
Criação de nichos exemplificativos da adopção do POCP;
Decisão politica.
Para os especialistas a existência de vários planos sectoriais não faz qualquer sentido,
uma vez que estes podem provocar obstáculos na harmonização de procedimentos e a
não efectivação do POCP.
Na AP, a introdução de reformas ocorre a um nível mais lento. Basta relembrar que a
LEO (2001) consagrava a adopção do POCP nos organismos dotados de autonomia
administrativa e tal só recentemente começou a ocorrer. Apesar de lenta e de necessitar
50
de maior ênfase normalizador a adopção do POCP foi fundamental na harmonização de
procedimentos contabilísticos aproximando-se da terminologia SEC.
Neste seguimento, considera-se que existem alguns riscos, e ainda mais sem que, antes
de avançar para uma nova reforma financeira, se faça uma avaliação da anterior, ficando
a ideia do consumo inútil de recursos públicos.
A relação entre as IPSAS e o SEC é muito ténue, os fins são distintos. As IPSAS são
normas de relato financeiro para uma entidade micro, o SEC é o sistema de contas para
relatar informação macro. A adopção das IPSAS, por preconizarem uma contabilidade
em base de acréscimo, pode permitir alguma melhoria na conciliação da informação
entre a contabilidade micro e as contas nacionais, mas enquanto os orçamentos (micro)
continuarem em base de caixa, haverá sempre ajustamentos.
51
existe uma consciencialização no sentido de melhorar e uniformizar a informação
financeira e de responsabilizar os governantes, resultando dai uma predisposição para
criar mecanismos como tal.
Mas, neste momento, o Estado não está preparado com auditores independentes capazes
de efectuar um controlo da aplicação das medidas orçamentais e das IPSAS. Tal como
acontece agora, os auditores independentes, nomeadamente os revisores oficiais de
contas, precisam e continuarão a precisar, mesmo que adaptando as IPSAS, de ter um
maior conhecimento das regras da gestão orçamental na AP.
52
Na opinião dos especialistas as entidades e actores responsáveis pela auditoria das
entidades públicas deveriam ser os Revisores Oficiais de Contas, as Inspecções-Gerais e
o Tribunal de Contas.
Para além do que já foi referido será desejável que exista conformidade de todos os
Estados-membros da UE às IPSAS. O relevo dado às restrições, ao deficit público e à
conformidade do SEC por parte da UE, obriga a que exista uma articulação entre as
IPSAS e as regras específicas do SEC. Esse é o objectivo da adopção das IPSAS ou das
EPSAS.
53
Para Garrido e Sanabria (2001), a harmonização contabilística internacional não é um
processo previsível e unidireccional, com a sua origem na harmonização formal e o seu
resultado na harmonização material. A competitividade dos mercados financeiros exige
um comportamento pró-activo das empresas cuja harmonização das suas práticas
contabilísticas se reflecte na evolução da harmonização da regulamentação
contabilística. Por outro lado, a adopção de normas internacionais de contabilidade não
implica, necessariamente, um aumento da qualidade e transparência da informação
contabilística, na medida em que a interpretação e aplicação prática dessas normas está
sujeita a um conjunto de influências e estímulos enviesadores de todo o processo.
54
normas harmonizadas para a contabilidade do sector público aumentaria a transparência,
a comparabilidade e a viabilidade e constituiria a base para uma melhor governação no
sector público. Ao nível macroeconómico, a crise financeira acentua a importância de
dispor de dados financeiros e orçamentais atualizados e fiáveis e evidencia as
consequências da apresentação de informações financeiras incompletas e
insuficientemente comparáveis no sector público (Relatório CE, 2013).
55
responsabilização e melhoraria a qualidade do processo de tomada de decisão, uma vez
que a informação disponível deve ter em conta, de forma comparável, a totalidade dos
custos e benefícios futuros. Além disso, a perspetiva de uma maior integração financeira
e orçamental da UE realça a necessidade de dispor de normas de contabilidade
harmonizadas para o sector público, para que as decisões orçamentais nacionais possam
ser avaliadas a nível da UE. Para efeitos de responsabilidade e transparência, as
entidades públicas devem comunicar de forma exaustiva e comparável a utilização que
fazem dos recursos públicos, bem como o seu desempenho. Muitos dos principais
objetivos definidos na Diretiva 2011/85/UE do Conselho, por exemplo, maior
transparência e responsabilidade do sector público, e bem assim estatísticas fiscais mais
fiáveis, atualizadas e comparáveis, exigem um instrumento contabilístico e de reporte
que seja comum, harmonizado e pormenorizado (Relatório CE, 2013).
56
As normas do IPSASB procuram que seja possível comparar as demonstrações
financeiras ao nível mundial, mas este órgão regulador é de caracter privado e não tem
poder suficiente para exigir o cumprimento das IPSAS (Brusca, I. & Montesinos, V.,
2012, p. 183).
No site do IPSASB, consultado em 27/10/2012, podia ler-se que: “(...) As IPSAS são
estabelecidas pelo International Federation of Accountants (IFAC), uma federação
privada. Eles, portanto, não têm força vinculativa. A elaboração das normas, contudo,
foi promovida e financiada na maioria pelo Fundo Monetário Internacional e pelo
Banco Mundial.”
As IPSAS estão a ser preparadas para a aplicação por entidades que adoptam o regime
de acréscimo e o regime de contabilidade de caixa. O objectivo do IPSASB é servir o
interesse público através do desenvolvimento de normas de contabilidade de alta
qualidade e de outras publicações, para uso das entidades do sector público em todo o
mundo na preparação de relatórios com finalidade geral (IFAC, 2012).
57
"A adoção de contabilidade de exercício pelos Estados-Membros representaria um
passo histórico no sentido de conseguir a transparência governamental e servir o
interesse público", disse Andreas Bergmann, presidente do International Public Sector
Accounting Standards Board (IPSASB). "O desenvolvimento de normas de
contabilidade de alta qualidade como as IPSAS vai exigir um rigoroso processo para
garantir que as EPSAS sejam semelhantes. O IPSASB disponibiliza especialistas de
contabilidade pública da UE para total cooperação e recursos na produção, adoção e
execução das EPSAS."
58
de forma eficaz e que as administrações públicas sejam responsáveis por essa gestão
perante os seus cidadãos, os seus representantes, os investidores e outras partes
interessadas.
O artigo 126.º do TFUE e o Protocolo n.º 12 sobre o procedimento relativo aos défices
excessivos (PDE 14 ), anexo aos Tratados, especifica que a relação entre o défice
orçamental programado ou verificado e o produto interno bruto (PIB) não deve exceder
os 3 %, ao passo que a relação entre a dívida pública e o PIB não deve, em princípio,
ultrapassar os 60%. A Comissão segue de perto estes constrangimentos impostos às
políticas orçamentais nacionais, a fim de assegurar o bom funcionamento da união
económica e monetária. Quando um Estado-Membro não respeita os limites impostos e
13
O Pacto de Estabilidade e Crescimento foi aprovado em 1997. Composto por três textos legais, visava
ao nível do seu ‘braço preventivo’, o reforço da supervisão das situações orçamentais e a coordenação das
políticas económicas e, ao nível do seu ‘braço correctivo’, a clarificação da implementação prática do
procedimento dos défices excessivos. Estes objectivos traduziram-se no compromisso de respeitar no
médio prazo um saldo orçamental próximo do equilíbrio ou em excedente, na obrigatoriedade de
apresentação e avaliação de Programas de Estabilidade e de Convergência, a serem actualizados
anualmente pelos Estados-Membros, e na definição das circunstâncias excepcionais, dos prazos a
respeitar e das sanções a aplicar no âmbito do procedimento dos défices excessivos. Resolução do
Conselho Europeu de 17 de Junho de 1997 (97/C236/01), Regulamento do Conselho (CE) nº 1466/97 de
7 de Julho e Regulamento do Conselho (CE) nº 1467/97 de 7 de Julho.
14
O procedimento em caso de défice excessivo está previsto no artigo 126.° do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia. Este artigo obriga os Estados-Membros a evitar défices excessivos
nos orçamentos nacionais. O valor de referência para a existência de um défice público é de 3 % do
Produto Interno Bruto (PIB).
59
se considera que essa situação é mais do que meramente excepcional e temporária, é
lançado o PDE.
O artigo 3.º da Directiva 2011/85/UE estabelece que, «no que diz respeito aos sistemas
nacionais de contabilidade pública, os Estados-Membros devem criar sistemas
contabilísticos que abranjam, de forma integral e coerente, todos os subsectores da
administração pública e contenham as informações necessárias para gerar dados de
exercício, com vista à elaboração dos dados baseados no SEC 95». Assim, o artigo
reconhece a incoerência essencial entre as contas do sector público, que apenas registam
fluxos de caixa, e o facto de a supervisão orçamental da UE se basear no princípio do
acréscimo contemplado no SEC 95. Para tal, é necessário transformar os dados da
contabilidade de caixa em dados de contabilidade de acréscimo, através de
aproximações e ajustamentos que envolvem estimativas macroeconómicas. Além disso,
nos casos em que não existem contas elaboradas numa base de acréscimo ao nível
60
microeconómico, as transacções financeiras e os balanços têm de ser elaborados a partir
de várias fontes diferentes, o que dá azo a uma «discrepância estatística» entre o défice
compilado através de contas não financeiras e o défice compilado através de contas
financeiras (Relatório da CE, 2013).
Com o intuito de restaurar a confiança e prevenir futuras crises na zona euro e na UE,
procurando a estabilidade económica foi reforçado em 13 de Dezembro de 2011 o Pacto
61
de Estabilidade e Crescimento (PEC), que passou a vigorar com um novo conjunto de
regras para a supervisão económica e orçamental. Estas novas medidas, o chamado "six-
pack" 15 , são feitas de cinco regulamentos e uma directiva proposta pela Comissão
Europeia e aprovada por todos os 27 Estados-Membros e Parlamento Europeu
(MEMO/11/988, 2011).
As IPSAS assentam na ideia de que a gestão moderna do setor público, conforme com
os princípios de economia, eficácia e eficiência, depende de sistemas de informação de
gestão capazes de fornecer informações atualizadas, precisas e fiáveis sobre a situação e
o desempenho económico e financeiro de um Estado, como seria o caso com qualquer
outro tipo de entidade económica. Atualmente, há 15 Estados-Membros da UE que
estabelecem algumas ligações às normas IPSAS nas suas normas nacionais de
contabilidade pública; desses, nove baseiam as suas normas nacionais nas normas
IPSAS (ou pelo menos orientam-se por elas), cinco fazem algumas referências a essas
normas e um aplica-as a certos setores das administrações locais. No entanto, apesar de
reconhecerem o valor incontestável das IPSAS, nenhum Estado-Membro as aplicou na
íntegra.
15
O pacote de seis medidas compõe-se por um pacote legislativo de seis relatórios sobre governação
económica.
62
Tal como sucede com qualquer outra atividade económica, a gestão e o controlo da
eficácia e da eficiência do sector público dependem da gestão e do controlo da sua
situação económica e financeira e do seu desempenho.
O uso de IPSAS por governos em todo o mundo vai melhorar a qualidade das
informações financeiras fornecidas por entidades públicas, o que é crítico para os
investidores, contribuintes, e ao público em geral a entender o impacto das decisões
16
O Grupo dos 20 (ou G20) é um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais
das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia. Foi criado em 1999, após as sucessivas
crises financeiras da década de 1990. O G-20 estuda, analisa e promove a discussão entre os países mais
ricos e os emergentes sobre questões políticas relacionadas com a promoção da estabilidade financeira
internacional e encaminha as questões que estão além das responsabilidades individuais de qualquer
organização.
17
O FSB foi criado para coordenar a nível internacional o trabalho de autoridades financeiras nacionais e
organismos internacionais de normalização e de desenvolver e promover a implementação de medidas
eficazes de regulação, supervisão e outras políticas do sector financeiro. Ele reúne autoridades nacionais
responsáveis pela estabilidade financeira em importantes centros financeiros internacionais, instituições
financeiras internacionais, agrupamentos sectoriais internacionais de reguladores e supervisores, e
comités de peritos do banco central. O FSB é presidido por Mark Carney, governador do Banco da
Inglaterra.
63
tomadas pelos governos em relação ao seu desempenho financeiro, posição financeira, e
fluxos de caixa. A adopção global dessas normas vai facilitar a comparabilidade de tais
informações numa base global e ajudar nas decisões de gestão interna na alocação de
recursos (planeamento e orçamento), monitoramento, prestação de contas e
sustentabilidade a longo prazo. Como um conjunto universal de normas de
contabilidade do sector público, as IPSAS também fornecem uma melhor informação
sobre os riscos sistémicos associados às responsabilidades do governo, e representaria
um passo significativo em alcançar a transparência financeira dos governos nacionais
em todo o mundo. Além disso, os relatórios financeiros usando IPSAS suportam a
capacidade de conduzir a uma alta qualidade da auditoria de demonstrações financeiras
dos governos, de fornecer uma base sólida e critérios adequados em que auditores (na
maioria dos casos, os auditores do sector público e as instituições supremas de
auditoria) podem realizar o seu trabalho.
64
Ainda no prefácio às IPSAS, diz o ponto “17. Além de preparar demonstrações
financeiras com finalidade geral, uma entidade pode preparar demonstrações financeiras
para outras partes (tais como organizações do governo, legislatura, e outras partes, que
desempenhem uma função de supervisão) que possam pedir demonstrações financeiras
à medida para satisfazer as suas necessidades específicas de informação. Tais
demonstrações são referidas como demonstrações financeiras de finalidade especial. O
IPSASB incentiva o uso de IPSAS na preparação de demonstrações financeiras com
finalidade especial sempre que apropriado.”.
O ponto 22. refere que o “O IPSASB pretende também facilitar o cumprimento das
IPSAS em regime de acréscimo por meio do uso de disposições transitórias em certas
normas. Quando existam disposições transitórias, elas podem conceder a uma entidade
tempo adicional para satisfazer os requisitos completos de uma IPSAS específica com
base no acréscimo ou proporcionar dispensa de certos requisitos quando se aplicar
inicialmente uma IPSAS. Uma entidade pode em qualquer altura adoptar o regime de
contabilidade de acréscimo de acordo com as IPSAS. Neste momento, a entidade deve
aplicar todas as IPSAS de regime de acréscimo e pode escolher aplicar quaisquer
disposições transitórias numa IPSAS individual com base no acréscimo.”.
Ou seja, para estes existe uma distinção entre as ipsas (em minúsculas) - normas
internacionais de contabilidade do sector público – e IPSAS (em maiúsculas), ou seja,
direito internacional público normas de contabilidade.
65
A primeira categoria inclui, por exemplo, as definições de "deficit" e "dívida", utilizada
no cálculo dos rácios financeiros sob o Tratado de Maastricht18 e no cumprimento dos
requisitos de condicionalidade do Fundo Monetário Internacional (FMI)19.
No caso Português no que respeita à adopção das IPSAS, numa primeira fase importa a
uniformização decorrente da aplicação do POCP às administrações públicas e só depois
poderão existir condições para implementação das IPSAS.
18
O Tratado de Maastricht, também conhecido como Tratado da União Europeia (TUE) foi assinado a 7
de Fevereiro de 1992 na cidade holandesa de Maastricht. O Tratado de Maastricht foi um marco
significativo no processo de unificação europeia, fixando que à integração económica até então existente
entre diversos países europeus se somaria uma unificação política. O seu resultado mais evidente foi a
substituição da denominação Comunidade Europeia pelo termo actual União Europeia.
19
O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização internacional que se iniciou em 1944 na
Conferência de Bretton Woods e que foi formalmente criada em 27-12-1945 por 29 países-membros
(homologado pela ONU em abril de 1964). O objetivo declarado do FMI era ajudar na reconstrução do
sistema monetário internacional no período pós-Segunda Guerra Mundial. Os países contribuem com
dinheiro para o fundo através de um sistema de quotas a partir das quais os membros com desequilíbrios
de pagamento podem pedir fundos emprestados temporariamente. Através desta e outras atividades, tais
como a vigilância das economias dos seus membros e a demanda por políticas de auto-correção, o FMI
trabalha para melhorar as economias dos países.
66
A aplicação do POCP a toda a AP constitui uma forma de facilitar a aplicação IPSAS
para o sector público, apesar das diferenças de uma forma geral que podem surgir entre
os dois normativos (nacional e internacional) nomeadamente, com a terminologia
aplicada, depois com algumas diferenças na contabilização que é reflectida nas DF e por
fim nas notas/relato dos anexos às DF.
Sem classificar positiva ou negativamente a adopção das IPSAS, até porque é prematuro
fazê-lo, referia Jorge (2012): “preferimos apenas listar resumidamente algumas das
alterações que se podem esperar:
Tendo em conta o que precede, o artigo 16.º, n.º 3, da Diretiva 2011/85/UE exige que se
proceda a uma avaliação da adequação das IPSAS aos Estados-Membros (Relatório CE,
2013).
4.3.2.1. Constrangimentos
67
ser os custos para os Estados-Membros, embora esses custos sejam provavelmente
significativos. Os custos dependem grandemente da escala e do calendário da aplicação
da contabilidade de acréscimo, da dimensão e complexidade do sector público e do grau
de exaustividade e fiabilidade dos sistemas existentes. Além disso, a experiência revela
que os Estados-Membros podem considerar conveniente modernizar os seus sistemas de
gestão das finanças públicas ao mesmo tempo que introduzem novas normas
contabilísticas (Relatório da CE, 2013).
O Relatório da CE (2013) faz uma análise aos custos potenciais de uma harmonização
contabilística com base na experiência dos países para os quais existem dados
disponíveis, referindo que os custos na passagem de um sistema de contabilidade de
caixa para um sistema de contabilidade de acréscimo são muito elevados, podendo
elevar-se a 50 milhões de euros (apenas para a administração central e excluindo-se os
outros níveis da administração pública), dando o exemplo de um país da UE de média
dimensão. Este montante poderia incluir, por exemplo, as despesas com a aplicação das
novas normas, bem como os correspondentes instrumentos contabilísticos informáticos
centrais, mas não os custos associados a uma reforma completa do sistema de
informação financeira. Nos Estados-Membros de maior dimensão, e, por exemplo,
naqueles em que existem sistemas autónomos de administração regional ou sistemas
públicos mais complexos, bem como naqueles que não tenham realizado progressos no
que respeita à aplicação da contabilidade de acréscimo, estes custos podem ser muito
mais elevados, especialmente se a transição para um sistema harmonizado de
contabilidade de acréscimo for acompanhado de reformas mais amplas das práticas
contabilísticas e de informação financeira. Para um Estado-Membro de menor
dimensão, que disponha já de sistemas nacionais de contabilidade de acréscimo, os
custos poderão ser inferiores a 50 milhões de euros. Acresce que a aplicação de sistemas
de contabilidade de acréscimo nos Estados-Membros exigiria ainda à Comissão um
investimento significativo em termos de liderança, conhecimentos periciais e recursos.
68
O Relatório da CE relata os pontos de vista expressos pelas autoridades dos Estados-
Membros e por outros interessados durante a consulta pública20 e, a conclusão geral é
dupla: por um lado, parece claro que as IPSAS não podem simplesmente ser aplicadas
nos Estados-Membros da UE tal como o são atualmente; por outro, as IPSAS
constituem uma referência incontornável para o estabelecimento de contas
harmonizadas do setor público na UE.
20
Public consultation — Assessment of the suitability of the International Public Sector Accounting
Standards for the Member States: Summary of responses.
69
suficientes para garantir uma resposta, com a necessária rapidez e flexibilidade,
à procura de novas normas e orientações sobre as questões ligadas à evolução do
contexto orçamental, em especial na sequência da crise.
Por outro lado, a maioria das partes interessadas reconhece que as IPSAS constituiriam
um quadro de referência adequado para o desenvolvimento futuro de um conjunto de
normas de contabilidade do setor público europeu, a seguir referido como European
Public Sector Accounting Standards (EPSAS).
4.3.2.2. Vantagens
70
Este relatório refere as seguintes vantagens na adopção da contabilidade de acréscimo
ao nível microeconómico no sector público:
Os governos que usam a base de caixa não podem ser transparentes, o seu relato apenas
apresenta uma parte da fotografia. (Revista da OTOC, ano XIII, nº152, citado por
Rodrigues, Out., 2012, p. 45).
71
“24. A Norma Internacional de Contabilidade do Sector Público (IPSAS) 1,
"Apresentação de Demonstrações Financeiras" inclui o seguinte requisito:
27. O IPSASB crê que a adopção das IPSAS juntamente com a divulgação da
conformidade destas conduzirá a uma significativa melhoria na qualidade do relato
financeiro com finalidade geral pelas entidades do sector público. Isto, por sua vez, é
provável que conduza a avaliações melhor informadas das decisões de imputação de
recursos, feitas por governos, aumentando por este meio a transparência e a prestação de
contas.”.
72
transparência que é esperado do sector privado (Revista da OTOC, ano XIII, nº152,
citado por Rodrigues, Out., 2012, p. 44).
73
usadas as IPSAS. Por esta razão os gestores financeiros e contabilistas terão uma
responsabilidade e participação acrescida na luta global contra a corrupção no governo.
74
5. Conclusões
75
tratadas de forma passiva por políticos, gestores e executores. Muitos foram os factos
que provaram que importantes regras económicas europeias não foram respeitadas por
alguns governos nacionais, acabando por afectar outras economias.
Portugal enquanto membro da União Europeia não pode tomar soluções políticas e
orçamentais para resolver os seus problemas de forma individual, pois qualquer decisão
tomada pode trazer consequências para outro EM, por isso tem que reformular e
readaptar as políticas à realidade actual para estar preparado para dar respostas mais
rápidas aos novos desafios globais.
Desta forma foi “sugerida” a utilização das IPSAS, como referência, para o normativo
contabilístico nacional, contribuindo para a melhoria da compreensibilidade, fiabilidade
e comparabilidade da informação financeira entre os subsectores que compõem o sector
público administrativo e por outro lado possibilitando a comparação das economias e
empresas inseridas na UEM e internacionalmente.
Conforme foi referido ao longo deste trabalho, foram vários os factores que terão
contribuído para agravar a situação de fragilidade da gestão financeira em que nos
encontramos, entre eles podemos referir os seguintes:
76
A falta de normalização de procedimentos contabilísticos no sector público;
A lentidão e não aplicação do POCP em toda a AP;
A prática usual de utilização da contabilidade numa óptica de caixa, sem a
correta aplicação dos princípios e procedimentos subjacentes a esta
contabilidade, como exemplo o momento do registo de compromissos;
A ausência ou pouca preparação dos gestores, por vezes com desconhecimento
das matérias financeiras da contabilidade pública;
A ausência de decisores políticos com poder para “obrigar” o cumprimento das
leis.
Para correcção dos factos referidos, foram muitas as alterações sofridas na gestão
financeira pública, principalmente nos últimos três anos, sendo já visível o progresso
nas alterações e propostas definidas no âmbito do PAEF, restando-nos saber se Portugal
aprende a “lição” e se sairá a ganhar com esta nova reforma “financeira”.
O art. 11º da Lei do Enquadramento Orçamental (LEO), prevê que a prestação de contas
por parte de todas as entidades públicas deva ser feita com base no POCP, com
77
excepção das entidades que aplicam o Sistema de Normalização Contabilístico (SNC)
ou que já elaborem as suas contas em conformidade com as normas internacionais de
contabilidade.
21
O PREMAC e respetivo plano de trabalhos, aprovado no dia 20 de julho de 2011, visou os objetivos de
redução permanente de despesa e de implementação de modelos mais eficientes para o funcionamento da
administração central.
78
utilização dos seus recursos humanos. Estava assente a ideia “(…) de repensar e
reorganizar a estrutura do Estado, no sentido de lhe dar uma maior coerência e
capacidade de resposta no desempenho das funções que deverá assegurar, eliminando
redundâncias e reduzindo substancialmente os seus custos de funcionamento.”
Apesar das possíveis vantagens, são de referir algumas críticas à forma como o processo
de centralização foi conduzido, observando-se falhas na implementação da estrutura
organizacional, devido à ausência de preparação prévia de procedimentos necessários
para a migração das estruturas. Foram feitas alterações no decorrer do processo de
centralização, e as estruturas eram ajustadas sempre que eram detectadas falhas, pouca
divulgação e clarificação dos objectivos pretendidos, preocupação extrema pelos
decisores na apresentação de resultados, com o objectivo do cumprimento dos
compromissos assumidos no âmbito do PAEF, que resultou numa desorganização e
pouca orientação para atingir os objectivos definidos de forma eficiente.
A conclusão da implementação do POCP pode permitir que num futuro a médio e longo
prazo seja possível ao Estado elaborar o Orçamento do Estado e as demonstrações
financeiras num sistema unificado em base de acréscimo baseado nas IPSAS ou
EPSAS, harmonizadas com as IFRS e com o futuro SEC 2010.
Para que isso seja possível, todas as entidades do Estado devem adoptar um sistema de
contabilidade na base do acréscimo no sector público, visto ser um instrumento
necessário para evitar algumas das manipulações que são permitidas pela contabilidade
de caixa, em que o pagamento pode ser antecipado ou adiado de forma a ser registado
no período que a administração decida.
79
elaboração do orçamento e de controlo orçamental. Com efeito, a contabilidade de
acréscimo deve ser vista como um complemento da «pura» contabilidade de caixa e não
como uma alternativa. Ao fornecer uma imagem completa da situação económica e
financeira e do desempenho das entidades, a contabilidade de acréscimo coloca a
contabilidade de caixa no seu contexto global (Relatório da CE, 2013).
O SNCP poderá ser mais bem sucedido do que o POCP, pois pretende-se mais do que
uma normalização da contabilidade “visão interna local”, ou seja, quer-se chegar mais
longe alcançando harmonização contabilística “visão externa global”.
Referia Jorge (2012, p. 49) que “(…) a falta de harmonização continua ainda a ser um
problema entre os sistemas de Contabilidade Pública, nomeadamente entre Estados
membros da UE e mesmo até entre diferentes níveis de governo no mesmo país.”
O Relatório do Orçamento do Estado para 2013, refere que, foram iniciados os trabalhos
no sentido da utilização dos princípios da Internacional Public Sector Accounting
Standads na apresentação de contas das entidades do sector público.
80
Há também que ter presente que, apesar de a contabilidade de acréscimo ser um sistema
mais complexo do que a pura contabilidade de caixa, a grande variedade de normas,
planos e procedimentos contabilísticos e sistemas informáticos, bem como de normas e
práticas de auditoria que frequentemente coexistem – mesmo no seio de um subsetor da
administração pública de um único Estado-Membro sugere que a sua harmonização
permitiria reduzir a burocracia e os custos, o que, a médio e a longo prazo, compensaria
largamente o investimento previsto.
Ainda sobre a adopção das IPSAS referiam os autores (Toudas, K. & Poutos, E. &
Balios, D., 2013) que o sistema está projetado e testado em conformidade com as leis
específicas, códigos e princípios, a segurança é garantida, o financiamento e aprovação
são garantidos, e o trabalho é feito e refeito, se necessário. A configuração padrão é
apenas uma preliminar no longo processo de reforma de contabilidade num governo. O
processo é repetido para todos os governos de um país, e para todos os governos ao
redor do mundo.
Assim, para além das vantagens na adopção das IPSAS concluímos que existem alguns
constrangimentos que se colocam ao nível internacional e nacional que devem ser
ponderados e analisados.
81
A não obrigatoriedade da implementação das normas internacionais pelos
governos;
Aplicação de um conjunto de requisitos de contabilidade uniformes para todos
os governos, sem ter em conta os diversos ambientes e cultura.
Como refere Jorge (2012), ainda sem estar concluída a reforma do POCP, já Portugal
está a preparar a adopção das IPSAS, e mesmo que as alterações previstas entre os dois
normativos estejam relacionadas apenas com questões terminológicas, certo é que não
havendo avaliação da reforma inacabada do POCP, não se consegue prever na sua
plenitude o impacto que as IPSAS possam ter na contabilidade pública. Este poderá ser
um constrangimento na adopção das IPSAS para além daqueles que a seguir indicamos:
82
A dependência da decisão politica.
Como referido anteriormente as IPSAS poderão servir de “base” à futura adopção das
EPSAS, mas porquê percorrer o caminho das IPSAS, se podemos já começar a preparar
a implementação das futuras EPSAS?
Só com a conjugação dos diversos factores anteriormente referidos será possível obter-
se um Balanço do Estado na prestação de contas (CGE), que é de extrema importância e
crucial para a obtenção não só das previsões das cobranças de receitas e pagamentos, de
despesas de um determinado ano económico, mas principalmente para a possibilidade
deste apresentar o conjunto de cobranças e pagamentos resultantes de créditos e dividas
de um determinado ano económico.
83
Recomendações
84
6. Referências bibliográficas
Brusca, I. & Montesinos, V. (2012). La reforma del sector público y las normas
internacionales de contabilidad: el caso de España. Contaduría Universidad de
Antioquia, 60, 179-207.
85
Hood, C. (1995). The “new public management” in the 1980´s: variations on the theme.
Accounting Organizations and Society, vol. 20 n.º2/3, pp.93-109.
86
Rodrigues, L. & Guerreiro, M. (2004). A Convergência de Portugal com as Normas
Internacionais de Contabilidade. Lisboa: Publisher Team.
Toudas, K., Poutos, E., Balios, D. (2013). Concept, Regulations and Institutional Issues
of IPSAS: a critical review. European Journal of Business and Social Sciences, Vol. 2,
n.º 1, pp. 43‐54.
Fontes Legais
87
Directiva 2011/85/UE do Conselho, de 8/11 – Estabelece requisitos aplicáveis aos
quadros orçamentais dos Estados-Membros
SEC 95
SEC 2010
88
Web do IPSAS – Disponível em: http://www.ipsas.org/
Web do IFAC – Disponível em: http://www.ifac.org/, Letter to the G-20: IFAC Urges
G-20 To Take Action Against Inconsistent, Unreliable Public Sector Financial
Reporting
89
7. ANEXO 1
GUIÃO DA ENTREVISTA
90
GUIÃO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
I . Identificação do entrevistado
1. Instituição
2. Nome
3. Função desempenhada
91
11. Está a AP preparada para criar mecanismos que assegurem a transparência
da informação financeira e accountability das instâncias de governação?
12. Existe algum risco de implementar uma nova reforma financeira, sem que as
anteriores reformas tenham ficado concluídas na sua plenitude?
13. O que tem de ser feito para que seja possível adoptar os princípios das
IPSAS no curto/médio prazo (até por volta de 2015)?
14. Está a Administração Pública dotada de recursos humanos capazes para
responder rapidamente a esta mudança (para as IPSAS)?
15. Os sistemas de informação contabilísticos actuais são compatíveis com
adopção das IPSAS?
16. Os decisores (Dirigentes, Técnicos, etc) da AP estarão preparados para usar a
informação produzida por um sistema baseado nas IPSAS?
17. Quais os benefícios para o controlo da Administração Pública decorrentes da
adopção das IPSAS?
18. Em que medida a aplicação das IPSAS poderá resultar numa maior
transparência e rigor na apresentação da Conta Geral do Estado?
19. Está o Estado dotado de auditores independentes capazes de efectuar um
controlo sobre a aplicação das medidas orçamentais e das IPSAS nos
organismos públicos?
20. Quem deve auditar as contas das entidades públicas?
21. Podemos considerar que as mudanças serão acompanhadas por todos os
membros da União Europeia?
22. Uma vez que os Estados Membros passaram também a elaborar informação
para as entidades europeias, podemos assumir que será dado especial relevo
às restrições impostas no âmbito do controlo do deficit público e da
obediência ao estabelecido pelo SEC?
92
8. ANEXO 2
Resposta ao questionário
93
Entrevistado Q 1. Vantagens da contabilidade de compromissos face à
contabilidade de caixa
E–1 Antecipar novas obrigações susceptíveis de gerar endividamento.
E-2 Permite informação não só dos recebimentos e pagamentos mas
também dos compromissos assumidos e por pagar.
E–3 Reforça a “accountability” e a transparência das contas públicas,
facilita a comparação internacional, reforça a qualidade das decisões de
políticas económicas e financeiras, aumenta a eficiência da produção da
informação financeira.
E–4 Permite o reconhecimento, mensuração e relato de elementos das contas
públicas que vão para além das despesas e receitas, nomeadamente,
ativos, passivos, gastos e rendimentos. Permite maior transparência nas
contas públicas, sobretudo porque permite mais e melhor informação
para accountability e tomadas de decisão, por parte de gestores e
também por parte de financiadores. Permite melhor informação para
avaliar a sustentabilidade financeira das entidades públicas e, em última
instância, dos governos.
E–5 Permite o reconhecimento de custos e proveitos independentemente do
seu pagamento e cobrança, como a mensuração e relato de elementos
como ativos, passivos, custos e proveitos. Estas diferenças resultam em
mais e melhor informação e em maior transparência das contas
públicas.
Entrevistado Q 2. Interacção dos dois sistemas contabilísticos para prestação de
informação SEC
E–1 Complementares do sistema de informação contabilístico.
E–2 A base de compromissos pede mais informação do que a base de caixa,
modelo muito limitado e em desuso.
E–3 É possível conciliar a base de acréscimo com a actual base de caixa
modificada usada no subsistema orçamental. Deve existir subsistemas
de contabilidade e relato orçamental, para além do financeiro.
E–4 Para o reporte no âmbito das contas nacionais (PDE) segue-se o SEC
95, assente na base de acréscimo. A fonte de informação para as contas
nacionais, no que respeita ao sector das AP vem do relato orçamental,
da Conta Geral do Estado que é ainda em base de caixa e alguns
ajustamentos, de várias categorias, têm que ser feitos para reconciliar os
valores que vêm das contas públicas, para passar para as Contas
Nacionais. Porém nesta conciliação, há ajustamentos que nada têm a
ver com as diferentes bases contabilísticas.
E–5 Estes dois sistemas contabilísticos relacionam-se no apuramento das
contas Nacionais. Apesar do SEC 95 assentar já na contabilidade de
acréscimo, a execução da Conta Geral do Estado, fonte de informação
para as contas Nacionais, é ainda em base de caixa. Esta divergência
obriga a alguns ajustamentos para reconciliar os valores que vêm da
94
CGE. Contudo, há ajustamentos nesta conciliação que não têm a ver
com as diferentes bases contabilísticas, mas com outras coisas como a
tipologia de certas operações, que entram ou não para o
défice/excedente na ótica das Contas Nacionais.
Entrevistado Q 3. Principais problemas na transição da contabilidade pública
(óptica de caixa) para a contabilidade nacional (na óptica de
compromissos)
E–1 Adaptação da cultura organizacional e a necessidade de formação
específica de quadros.
E–2 A atual contabilidade pública não é elaborada na base de caixa.
E–3 A contabilidade na óptica de caixa reflecte apenas os pagamentos e
recebimentos e não os compromissos plurianuais.
E–4 Reconhece-se que se os países adoptarem as IPSAS, algumas
divergências são esbatidas, outras ainda se têm que tentar resolver
mudando critérios quer das IPSAS quer do SEC, e outras irão
permanecer sempre. Não haverá nunca uma reconciliação a 100%, não
esquecemos os propósitos da contabilidade pública e das contas
nacionais são diferentes, os seus utilizadores também e, como tal, por
muito que seja desejável um alinhamento ao máximo, por exemplo, os
défices calculados num e noutro sistema nunca serão exactamente o
mesmo valor.
E–5 Considerando que os propósitos e utilizadores da contabilidade pública
são diferentes dos da contabilidade nacional, é seguro dizer que a
transição/convergência nunca será feita a 100%, sendo exemplo disso o
facto de que os défices calculados por cada um dos regimes nunca serão
iguais. Para além dos ajustamentos relacionados com as bases
contabilísticas, outros terão também que ser feitos aos critérios de
ambos os regimes.
Entrevistado Q 4. Alterações necessárias para que seja possível a harmonização
da informação contabilística e económica (políticas e princípios
definidos na SEC)
E–1 Politica normalizadora visando a harmonização e intensa formação de
quadros.
E–2 Acabar com os diferentes planos sectoriais públicos e aprovar-se um
sistema de contabilidade único que se aproxime das NICSP e do SEC.
E–3 Generalização da contabilidade do acréscimo nos diversos sectores da
AP.
E–4 Teria que ser alterada a base em que é preparado e executado o
orçamento que ainda é em base de caixa. Se o relato orçamental já fosse
em acréscimo, a conciliação com o SEC era maior.
E-5 A harmonização da informação contabilística e económica do Sector
Público com o SEC, seria melhor alcançada se o orçamento fosse
preparado em base de acréscimo, e não em base de caixa conforme
95
acontece.
Entrevistado Q 5. Criticidade da adopção do POCP para a harmonização de
procedimentos contabilísticos
E–1 Fundamental como aproximação à terminologia SEC.
E–2 Foi um passo importante para que a contabilidade pública em Portugal
permitisse dar muita da informação exigida pelo SEC.
E–3 A adopção do POPC nos diversos subsectores da AP constitui o
primeiro passo para a adoção generalizada da base do acréscimo, que é
o suporte para a elaboração das contas necessárias ao Eurostat.
E–4 Sendo o POCP em base de acréscimo, se já fosse implementado as
entidades teriam mais experiência com esta base, mas continuando o
orçamento em caixa, as divergências com o SEC continuarão a existir,
além de outras divergências nada têm a ver com a base contabilística.
E–5 Sim. Contudo, apesar da aprovação ter ocorrido há já 15 anos, apenas
recentemente é que muitos organismos, designadamente da
Administração Central, é que o começaram a implementar e nem
sempre bem, sendo o orçamento do Estado ainda elaborado e executado
em base de caixa. Se o POCP estivesse já implementado as entidades
teriam mais experiência com a contabilidade em base de acréscimo, o
que diminuiria as divergências entre a Contabilidade Pública e o SEC.
Entrevistado Q 6. Avaliação da adopção do POCP até ao momento
E–1 Lenta e carece de maior ênfase normalizador.
E–2 O grau de implementação do POCP não é elevado, infelizmente, ao
contrário da implementação do POCAL, POC educação e POC-MS.
E–3 Inicialmente o POCP foi aplicado aos organismos dotados de
autonomia administrativa e financeira e nessa altura era quase nula a
experiência entre as Administrações Públicas, com a aplicação da base
de acréscimo e com a própria contabilidade por partidas dobradas ou
digrafia. Neste momento passados 16 anos sobre a aprovação do POPC
a implementação é plena ou quase e os organismos já apresentam o B e
DR.
E–4 Nalguns organismos correu muito mal, sobretudo nos organismos
integrados, nos SFA não. A implementação foi boa e o POCP até
harmonizou procedimentos, já que a partir da RAFE até havia
organismo autónomos que usavam o POC.
E–5 Nos organismos da Administração Central, a adopção é ainda recente e
em muitos casos mal executada. Contudo, nos serviços autónomos
(SFA) a implementação foi boa, sendo de referir que havia inclusive
organismos autónomos que anteriormente ao POCP aplicavam o POC,
em consequência do Regime de Administração Financeira (RAFE).
Entrevistado Q 7. Factores facilitadores
E–1 Formação de quadros e criação de nichos exemplificativos.
E–2 O investimento na formação.
96
E–3 A solução informática RIGORE que evolui para o sistema atual GerFip,
suportado pela ESPAP encontra-se actualmente implementado em mais
de 300 organismos públicos, para o que terá contribuído a
sistematização, uniformização e disseminação massiva desta solução.
E–4
E–5
Entrevistado Q 7. Factores de entrave
E–1
E–2 Dificuldade de alguns responsáveis em aderirem ao novo sistema
contabilístico.
E–3 Lentidão da aplicação do POCP nos organismos com autonomia
administrativa.
E–4 Desadequado sistema informático, alguma falta de formação técnica das
pessoas, ausência de sanções para o não cumprimento de um sistema
que deveria ser obrigatório, apesar de admitir que poderiam não haver
condições para cumprir esta obrigatoriedade.
E–5 Falta de um sistema informático adequado, falta de formação técnica
dos trabalhadores públicos e resistência destes à mudança, e talvez até
pela inexistência de sanções que deveriam ser aplicadas pela não
adopção do POCP, sendo este de adopção obrigatória.
Entrevistado Q 8. Lógica subjacente à existência de vários planos sectoriais
E–1 Dificuldade de harmonização de procedimentos e da não efectivação do
POCP.
E–2 Não faz sentido a existência de vários planos sectoriais.
E–3 Não faz sentido, deve ser criado um sistema contabilístico público
suficientemente abrangente, apoiado numa estrutura conceptual e
desenvolvido em normas contabilísticas que sejam adequadas a
enquadrar as especificidades dos vários sectores, à semelhança do que
se verifica no SNC para as empresas, em que é sistema único para os
vários sectores de actividade.
E–4 Não concordo com a existência de vários planos de contas. Poder-se-
iam ter criado regras de consolidação e estava completo. Já as regras da
contabilidade de custos sim, porque é informação que não faz parte da
prestação de contas.
E–5 Não me parece relevante este ponto. Ou seja sim e não. O plano previsto
no POCP seria o suficiente com alguns ajustes menores de forma a
englobar as diferenças que existem entre os vários sectores, e com a
criação de regras de consolidação. No entanto o facto de haver planos
sectoriais também não é problemático. Sendo que nesses planos há
apenas diferenças substanciais nas regras da Contabilidade de Custos
dada a sua natureza específica relativamente a cada sector.
Entrevistado Q 9. Relação das IPSAS com o SEC e vantagens da sua aplicação
E–1
97
E–2 As IPSAS têm como principal utilizador o gestor de cada entidade
contabilística; O SEC preocupa-se com a contabilidade nacional e
prestação de contas à UE. Uma é micro outra é macro. Infelizmente a
contabilidade nacional não se entende com a informação do POCP.
Uma adopção total das IPSAS aproximaria os dois sistemas.
E–3 A contabilidade na base de acréscimo, generalizada na AP, com base
nas normas internacionais permitirá evoluir para a consolidação de
contas e para uma elaboração das contas nacionais macro para efeitos
estatísticos mais fácil, embora seja necessário eliminar algumas
diferenças de critério em termos de reconhecimento e mensuração.
E–4 A relação é muito ténue, os fins são distintos. As IPSAS são normas de
relato financeiro para uma entidade micro, o SEC é o sistema de contas
para relatar informação macro. A adopção das IPSAS, por preconizarem
uma contabilidade em base de acréscimo, podem permitir alguma
melhoria na conciliação da informação entre a contabilidade micro e as
contas nacionais, mas enquanto os orçamentos (micro) continuarem em
base de caixa, há sempre ajustamentos.
E–5 Os fins são diferentes. As IPSAS são normas de relato financeiro a nível
micro, enquanto o SEC é um sistema de contas que relata a informação
a nível macro. Porque as IPSAS instituem uma contabilidade em base
de acréscimo, a sua adopção pode melhorar a conciliação entre a
contabilidade micro e as contas nacionais. É contudo de referir que as
IPSAS não abordam as matérias de elaboração e execução dos
orçamentos. Que num país como o nosso são fundamentais.
Entrevistado Q 10. Contributo das IPSAS para uma gestão da AP centrada nos
três E’s
E–1 As reformas contabilísticas são catalisadoras de mudança.
E–2 Penso que não.
E–3 A contabilidade na base de acréscimo reforça a accountability e a
transparência das contas públicas, facilita a comparação internacional,
reforça a qualidade das decisões de políticas económicas e financeiras, é
conciliável com a base de caixa, que continua a fornecer informação
importante, designadamente quanto à liquidez da posição orçamental e
aumenta a eficiência da produção de informação financeira.
E–4 Não. É óbvio que boas tomadas de decisão assentam em boa informação
financeira, e as IPSAS, enquanto proporcionando informação em base
de acréscimo, são tidas como um normativo que permite informação de
elevada qualidade, mas o mesmo pode ser advogado para o
POCP/Planos sectoriais, já em acréscimo. Não obstante termos boa
informação financeira, as decisões podem ser tomadas sem atender a
essa informação e apenas por vontade política, ou seja, o facto de existir
um bom instrumento para melhor gestão, não quer dizer que seja
necessariamente usado.
98
E–5 Apesar das IPSAS proporcionarem informação em base de acréscimo e
de serem tidas como um normativo que faculta informação de alta
qualidade, o mesmo pode ser dito relativamente ao POCP. Assim,
apesar de se dispor já de boa informação financeira, as decisões podem
ser tomadas em inconsideração com esta informação e apenas por
vontade política, não estando por isso o uso das IPSAS necessariamente
ligado a uma boa gestão na AP no sentido dos 3 E´s.
Entrevistado Q 11. Preparação da AP para a criação de mecanismos que
assegurem a transparência financeira e accountability das instâncias
de governação
E–1 Fundamental para o sucesso de qualquer reforma.
E–2 A transparência da informação tem mais a ver com a cultura de um País
ou dos gestores. Não são as IPSAS que vão permitir uma maior
transparência.
E–3 Actualmente a AP utiliza ou já começa a utilizar a contabilidade de
acréscimo, pelo que estão lançadas as bases para a transparência da
informação financeira na medida em que os compromissos plurianuais
inerentes às decisões politicas tomadas sejam evidenciados.
E–4 Sim. Alguma prova disso é o facto de quererem avançar para o
SNC/IPSAS.
E–5 Considerando a vontade actual em criar um Sistema de Normalização
Contabilística (SNC) para o Sector Público e em adoptar as IPSAS,
creio que se poderá dizer que sim pois medidas como estas mostram que
existe uma consciencialização no sentido de melhorar e uniformizar a
informação financeira e de responsabilizar os governantes, resultando
dai uma predisposição para criar mecanismos como tal.
Entrevistado Q 12. Percepção do risco de se iniciar uma nova reforma financeira
sem a conclusão das precedentes
E–1 O risco é enorme, ficando a ideia de consumo inútil de recursos
públicos.
E–2 Sim, existe risco.
E–3 Sim. Na AP a introdução de reformas ocorre a um nível mais lento.
Basta relembrar que a LEO (2001) consagrava a adopção do POCP nos
organismos dotados de autonomia administrativa e tal só recentemente
começou a ocorrer. Creio que a transição para as IPSAS nos organismos
que já utilizam o POCP há vários anos será mais fácil do que naqueles
que apenas recentemente passaram a usar este referencial contabilístico.
Também será muito importante a vontade e empenhamento do poder
politico.
E–4 Sim. Deveria ser feito um balanço/avaliação da anterior reforma
(POCP/Planos sectoriais) antes de se avançar para a próxima, mas
também entendo que há alguma urgência em que se avance com
algumas mudanças, nomeadamente porque está a haver problemas em
99
sede de consolidação de contas. Mas para os organismos que já aplicam
a base de acréscimo, o risco, por exemplo, de se avançar para as IPSAS
é reduzido, ou seja, entendo que os organismos estão preparados,
porque já têm experiência com a base de acréscimo.
E–5 No caso dos organismos que já aplicam a contabilidade em base de
acréscimo o risco de se avançar para uma reforma financeira será
reduzido considerando que o regime das IPSAS é o mesmo. O mesmo
não acontece com os restantes que ainda aplicam a base de caixa, sendo
estes o exemplo de uma reforma que ainda não foi concluída. Neste
seguimento considero que sim, existem alguns riscos, e ainda mais sem
que antes de avançar para uma nova reforma se faça uma avaliação da
anterior.
Entrevistado Q 13. Factores essenciais à adopção dos princípios das IPSAS até
cerca de 2015
E–1 Calendarização realista, grande programa de formação e divulgação
visando o envolvimento dos interessados, a par de uma pilotagem do
organismo normalizador.
E–2 Apenas uma decisão politica.
E–3 Terão que ser desenvolvidos os elementos estruturantes do sistema –
estrutura conceptual, normas, plano de contas e demonstrações
orçamentais e financeiras.
E–4 Ajustar sistemas informáticos e dar formação às pessoas, pois as IPSAS
são acréscimo mas algumas diferenças há com as actuais regras e base
de acréscimo do POCP, e eventualmente será importante zelar por
contas elaboradas por um TOC e certificadas por auditores/ROC.
E–5 Será necessário criar/ajustar os sistemas informáticos às normas das
IPSAS e dar formação especializada aos trabalhadores públicos, sendo
ainda de maior urgência a transição plena para uma contabilidade em
base de acréscimo a nível central e nos serviços integrados (organismos
da administração central).
Entrevistado Q 14. Presença de recursos humanos habilitados para lidar com as
IPSAS
E–1 Não existem.
E–2 Haverá necessidade de formação mas penso que esse não é o problema.
E–3 Esta mudança de paradigma na elaboração das contas dos organismos
públicos irá implicar a necessidade de um esforço significativo ao nível
da formação e poderá vir a sofrer alguns constrangimentos, tendo
presente a não renovação dos recursos humanos na AP nos últimos anos
nas áreas de suporte administrativo.
E–4 Alguns organismos sim, pois as pessoas já lidam com a contabilidade
patrimonial e de custos, mas noutros, designadamente na Administração
Central e serviços não autónomos, terá que haver um grande
investimento em formação, ou mesmo contratações de pessoas com
100
habilitações em gestão e contabilidade pública.
E–5 No caso dos serviços em que o POCP está devidamente implementado,
os trabalhadores estão já familiarizados com a contabilidade em base de
acréscimo estando assim mais habilitados a uma rápida adaptação às
IPSAS, ao contrário do que acontece, em grande medida, na
Administração Central e serviços integrados. Independentemente,
considero que terá que se investir na formação dos trabalhadores, e mais
intensivamente nos da Administração Central e serviços não autónomos,
podendo-se justificar algumas contratações de pessoal com habilitação
em contabilidade pública e vasto conhecimento e compreensão das
IPSAS.
Entrevistado Q 15. Compatibilidade dos SI com a adopção das IPSAS
E–1 Não são compatíveis.
E-2 A alteração é similar ao com aconteceu com a revogação do POC e
entrada do SNC na privada. Uma mudança de linguagem e de
paradigma.
E–3 Os sistemas de informação contabilísticos atuais necessitarão de
ajustamentos em termos, designadamente de nomenclatura de contas,
mas creio que no essencial estarão aptos a suportar as alterações que se
perspectivam.
E–4 Terão que haver algumas adaptações das TI, pois os planos de contas
têm que ser ajustados, também por força da Lei dos Compromissos.
E–5 Os sistemas informáticos terão que ser ajustados ao previsto pelas
IPSAS, tendo em conta as diferenças dos planos de contas, e também
por força da Lei dos compromissos e pagamentos em atraso.
Entrevistado Q 16. Preparação dos decisores para usar a informação produzida
pelas IPSAS
E–1 Não estão preparados.
E–2 Não estão. Na administração pública predomina e continuará a
predominar a óptica orçamental, de tesouraria e de compromissos. Esse
é o problema da adopção das IPSAS que tem uma visão
exageradamente económica e patrimonial.
E–3 Será necessário assegurar sessões de divulgação dos novos normativos e
modelos para que exista uma adequada compreensão por parte de todos
os utilizadores.
E–4 Alguns sim. Há muitos dirigentes com formação na área. Mas o
problema é quererem usar essa informação.
E–5 Alguns estão, nomeadamente os que têm formação em contabilidade
pública. Mas o problema é não quererem usar essa informação em
conformidade com as vontades politicas.
Entrevistado Q 17. Benefícios para o controlo da AP decorrentes da adopção das
IPSAS
E–1 Qualidade da informação, comparabilidade, auxiliar à tomada de
101
decisões.
E–2 O actual sistema de controlo já é satisfatório. A adopção das IPSAS tem
outras vantagens e uma possível adaptação não tem como justificação
um maior controlo da AP.
E–3 Reforço da accountability, transparência das contas públicas, facilita a
comparação internacional, reforça a qualidade das decisões de politicas
económicas e financeiras.
E–4 São genericamente os trazidos pela base de acréscimo, a que se juntam
os benefícios em sede de consolidação de contas (as empresas
municipais e públicas usam já as IFRS e a consolidação beneficia com
as IPSAS que são próximas das IFRS) e, claro, os relacionados com a
harmonização internacional.
E–5 Alguns estão, nomeadamente os que têm formação em contabilidade
pública. Contudo, e como referi anteriormente, por vezes interfere não a
incapacidade de usar a informação produzida, mas o não a querer usar
em conformidade com as vontades politicas.
Entrevistado Q 18. Contributo da adopção das IPSAS para uma maior
transparência e rigor na CGE
E–1 Sim pelos motivos da resposta na questão anterior.
E–2 Permite uma maior comparabilidade e uma aproximação entre as contas
individuais e as contas do Estado elaboradas pelas regras do SEC.
E–3 As IPSAS ou EPSAS contribuirão para uma maior comparabilidade da
Conta Geral do Estado de Portugal.
E–4 A CGE é o relato da execução do OE. Se este é em caixa, a execução
também é. As IPSAS nada têm a ver com o orçamento, pelo que não
vejo consequências directas na transparência e rigor da CGE.
E–5 Dado que as IPSAS não têm impacto no Orçamento do Estado e
respectiva execução (CGE), não vejo de que forma poderão afetar a
transparência e rigor da mesma.
Entrevistado Q 19. Presença no Estado de auditores independentes capazes de
efectuar um controlo da aplicação das medidas orçamentais e das
IPSAS
E–1 Neste momento não está preparado.
E–2 Tal como acontece agora os auditores independentes, nomeadamente os
ROC precisam e continuarão a precisar, mesmo que adaptando as
IPSAS, a um a maior conhecimento das regras da gestão orçamental na
AP.
E–3 Actualmente o Estado não dispõe de auditores independentes que
procedam à certificação das contas dos organismos públicos. Os
revisores de contas têm desenvolvido os procedimentos de certificação
de contas em organismos que impõem a existência de um fiscal único.
E–4 Não disponho de informação para responder. Mas entendo que a
aplicação correcta de um normativo contabilístico, nomeadamente das
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IPSAS, deve ser assegurada por auditores, com certificação de contas,
através de uma opinião independente.
E–5 Não tenho um conhecimento vasto dos auditores de que o Estado está
dotado para lhe puder responder objectivamente. Concordo contudo que
a aplicação das IPSAS deverá ser acompanhada com certificação de
contas independente.
Entrevistado Q 20. Entidades e actores responsáveis pela auditoria das entidades
públicas
E–1 ROC’S, IG’S, TC.
E–2 ROC e TC.
E–3 IGF e o TC.
E–4 Auditores independentes, sem prejuízo do TC, cuja auditoria é de outro
caracter, muito mais de forma legal.
E–5 Para além do TC, auditores independentes.
Entrevistado Q 21. Conformidade de todos os Estados-membros da UE às IPSAS
E–1 É desejável.
E–2 Esse é o objectivo
E–3 A CE pronunciou-se sobre as IPSAS no contexto da UE e após consulta
aos EM, identificou alguns problemas que condicionam a aplicação
direta das IPSAS nos EM, pelo que recomenda a adopção das EPSAS
definidas a partir das IPSAS e com as necessárias adaptações.
E–4 Sim. No relatório de março da CE houve um pronunciamento para que
as IPSAS sejam transformadas em EPSAS, estas sim serão
generalizadas aos EM. Portugal já caminha para as IPSAS.
E–5 Para além dos EM que estão já a caminhar para a implementação das
IPSAS (como é o caso de Portugal), tem-se constatado, por parte da CE,
uma vontade em transformar as IPSAS em EPSAS (European Public
Sector Accounting Standards), sendo da opinião que pelo menos essas
deverão ser generalizadas e acompanhadas por todos os membros da
UE.
Entrevistado Q 22. Relevo dado às restrições ao deficit público e à conformidade
à SEC por parte da EU
E–1 Tem que haver articulação entre as IPSAS e as regras especificas do
SEC.
E-2 Esse é o objectivo da adopção das IPSAS ou das EPSAS.
E–3 A evolução para a contabilidade de acréscimo nos organismos públicos
e a criação de um sistema de normalização contabilístico para a AP,
integrado e coerente, permitirá facilitar a tarefa de controlo do deficit
público pelo INE.
E-4 Estatísticas fiáveis são fundamentais para monitorar estes agregados
(deficit e divida pública) e a base de acréscimo, porquanto permite
melhorar a convergência das contas públicas com as contas nacionais,
tem aqui alguma contribuição.
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E–5 Estando toda a informação financeira uniformizada e em base de
acréscimo, depreende-se que será naturalmente mais fácil e propício o
controlo da obediência ao estabelecido pela SEC e do défice público.
No entanto a fiabilidade das estatísticas financeiras, que estão na base
do controlo da disciplina orçamental, tem sido questionada na UE.
Nesse seguimento, a UE aprovou um pacote legislativo (six pack) que
prevê a aplicação de directivas, por parte dos Estados-membros, que
melhorem esta fiabilidade, e a recomendação da adopção de EPSAS.
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